83
PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL

Te Mandei Um Passarinho Prosas e Versos de Indios Do Brasil

Embed Size (px)

Citation preview

  • PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • Presidente da RepblicaLuiz Incio Lula da Silva

    Ministro da EducaoFernando Hadad

    Secretrio de Educao Continuada, Alfabetizao e DiversidadeRicardo Henriques (?) . Andr Luiz Figueiredo Lzaro

    Diretor do Departamento de Educao de Jovens e AdultosTimothy Ireland

    Coordenadora TcnicaFernanda Teixeira Frade Almeida

    ColaboradorTancredo Maia Filho

    Ministrio da Educao

    Esplanada dos MinistriosBloco L 7 andar Sala [email protected]

  • te mandeium passarinho...

  • OrganizaoIra MacielJose Ribamar Bessa FreireNietta MonteNbia Melhem Santos

    Coordenao pedaggica e de produoIra Maciel

    Coordenao temticaJos Ribamar Bessa Freire

    PesquisaNietta MonteJos Ribamar Bessa Freire

    Edio e seleo iconogrficaNbia Melhem Santos

    Reprodues fotogrficasBernardo Santos Cox

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Ano 2007

    Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro poder ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrnicos, mecnicos, fotogrficos, gravao ou quaisquer outros sem autorizao prvia por escrito do Ministrio da Educao ou dos autores.

    Nohghgsdhgsd, Cwtrwetrw. Te mandei um passarinho... / Nofgsfgsgs. Braslia :Ministrio da Educao, 2007.

    80 p. : il. ; 33 cm. -- (Literatura para todos ; v. 1)

    ISBN: 00-000-0000-0

    1. Nogfsgfsgfdhg. 2. Literatura brasileira. I. Ttulo.

    CDD B000.0 CDU 000.000.0(00)-00

    D000

    Imagem da CapaColar, pente e pingente Krah

    Acervo Museu de Arqueologia e Etnologia da USP. Fotografia de Wagner Souza e Silva.

  • Braslia2007

    1a edio

    te mandeium passarinho...

  • importante saber que no

    s a escrita em papel que vlida.

    Sabe por qu?

    Porque nosso povo j viveu muitos

    anos sem participar da escrita e

    diretamente comunicaram

    uns com os outros atravs da voz,

    dos gestos ou dos desenhos.

    Nelson Xacriab

    O Igap, de Jos Custdio Marques Memc

  • 7>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • Pssaros namorando. Escultura em pedra encontrada em Joinville, Santa Catarina. Coleo Museu Arqueolgico de Sambaqui de Joinville.

    8

  • 14 >> PARTE 1 Histrias moram dentro da gente 42 >> PARTE 2 Esta terra tem vida50 >> PARTE 3 Por que isso se passa comigo?

    64 Veja aqui quem te mandou um passarinho

    70 Bibliografi a: os pesquisadores que estudaram esses grupos

    75 Autores, fontes e referncias bibliogrfi cas das imagens

    77 Autores, fontes e referncias bibliogrfi cas dos textos por ordem de apario

    81 Glossrio

    >>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL 9

  • Caras leitoras e caros leitores,

    Trillum in et dolore vendreet ullum et aliquat, vel dolor ipit wis ex el ut alis augait nos-

    tie do consent irit, sum nostincilis dunt wissim dolendi onulput incillamcon ut aliquat ut

    eum dolorer augiamcommy niam, sustie doloborem do duipisi.

    Secte facipit luptatum ipit augait et prat ver adigna acin hent lum zzriure commy nisit ea

    facip ex eugait praestis augait nulpute dignis exercing ex er am, quisit nummy num vel

    iuscilit adip et ulput alis adionsed del ullaoreet praestrud dit digna feu feumsandre modo

    ea feugiamet verat.

    Delent at lut vel utatio ex eugait pratum at, sequat. Ing el utpat. Ut luptat illute mo-

    digna consent augue veniam, quipit nullan heniam, quamcom modiat, venit, quatie vulla

    conum duis augiam in hendre vero odolore minibh et nulputate dit accum iusciduisl enis

    adit aute con venim duis er alismodip eui tat, quat wisisis ad dipsum quipis.

    Dip ea feuguer aliquismolum vulla feugiatie do dolum elessed eu feui ex eugait, volo-

    reet wisi tionsed modolum doloreraesto eummod tionull uptat, voluptat lor inibh eum

    iriure modolorer augiam dolor irit ad te diam init vendiam quatuercilla feuguero del ut

    alisiscil ing et, sequissit incin ut nos dolore facidui psusci te do esed doloreet. Pat nullup-

    tatum dolor sisit etuercidunt in ullandignibh eugiat, con voluptat dignit ulput luptat. Sum

    Carta ao leitor

    10

  • zzril duipisi blandip ero dolorperat, quatet elit in velit, susci blan henit nummy

    nis amcon vulla feui tetum augait lummodo lorero core magna conullamcore

    feu feu faccum eugueriustie faci blam, vullam zzrilis doluptat wisim autpatu

    mmodole. Am nonsed te consed minis ectet alis dolor si. At. Dui bla feugue

    modolum modiam, quat praessis dignim ad tin henim num venibh et ipit adi-

    pisi el ea con enis ation vullaor autet at. Delesed tis nostis augiam zzriliquip

    enim nit vullut ad magnit dolor am am, quat laorercilit la feugait vulputp atue-

    rat. Ut nulput lutate min ut amet lutpat lam, cons eu faccummy nim incipis ci-

    pit, sum ilismod tio ex er sequipit in vercilla aliscipisi eugueros elis nullut nibh

    ero odoless iscillamet alit eu facincilla facilisim ip er iriure doloreet luptat ad

    ero et ulput vullandrem volortionse corper in velesenim duis dolenim eugait

    digna facipsum zzriureet ulput laorper iliquat. Ommy niatie tionsed min velis

    aut ex exer aliqui blamet lum dolor amcorem quatet.

    Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade

    Ministrio da Educao

    Rplica de cermica Marajoara

    11>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • Irillum in et dolore vendreet ullum et aliquat, vel dolor ipit wis ex el ut alis augait nos-

    tie do consent irit, sum nostincilis dunt wissim dolendi onulput incillamcon ut aliquat ut

    eum dolorer augiamcommy niam, sustie doloborem do duipisi.

    Secte facipit luptatum ipit augait et prat ver adigna acin hent lum zzriure commy nisit

    ea facip ex eugait praestis augait nulpute dignis exercing ex er am, quisit nummy num

    vel iuscilit adip et ulput alis adionsed del ullaoreet praestrud dit digna feu feumsandre

    modo ea feugiamet verat. Delent at lut vel utatio ex eugait pratum at, sequat. Ing el utpat.

    Ut luptat illute modigna consent augue veniam, quipit nullan heniam, quamcom modiat,

    venit, quatie vulla conum duis augiam in hendre vero odolore minibh et nulputate dit ac-

    cum iusciduisl enis adit aute con venim duis er alismodip eui tat, quat wisisis ad dipsum

    quipis. Dip ea feuguer aliquismolum vulla feugiatie do dolum elessed eu feui ex eugait,

    voloreet wisi tionsed modolum doloreraesto eummod tionull uptat, voluptat lor inibh

    eum iriure modolorer augiam dolor irit ad te diam init vendiam quatuercilla feuguero

    del ut alisiscil ing et, sequissit incin ut nos dolore facidui psusci te do esed doloreet.

    Ira Maciel

    Consultora Pedaggica

    Prefcio

    12

  • Iyana Pital, de Amatiwan Trumai

    13>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • Escultura em pedra em forma de pssaro, encontrada em Cubatozinho, Joinville, Santa Catarina.Coleo Museu Arqueolgico de Sambaqui de Joinville.

    >> PARTE 1

    Histrias moram dentro da gente

    14

  • Para mim e para meu povo, ler e escrever uma tcnica, da mesma maneira que algum pode aprender a dirigir um carro ou a operar uma mquina. Ento a gente opera essas coisas, mas ns damos a elas a exata dimenso que tm. Escrever e ler para mim no uma virtude maior do que andar, nadar, subir em rvores, correr, caar, fazer um balaio, um arco, uma fl echa ou uma canoa.

    Quando aceitei aprender a ler e escrever, encarei a alfabetizao como quem compra um peixe que tem espinha. Tirei as espinhas e escolhi o que eu queria.

    Na nossa tradio, um menino bebe o conhecimento do seu povo nas prticas de convivn-cia, nos cantos, nas narrativas. Os cantos narram a criao do mundo, sua fundao e seus eventos. Ento, a criana est ali crescendo, aprendendo os cantos e ouvindo as narrativas. Quando ela cresce mais um pouquinho, quando j est aproximadamente com seis ou oito anos, a ento ela separada para um processo de formao especial, orientado, em que os velhos, os guerreiros, vo iniciar essa criana na tradio.

    Airton Krenak

    >>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL 15

  • Menino se prepara para o Jawari, de Amatiwan Trumai

    16

  • Histrias moram dentro da gente, l no fundo do corao. Elas fi cam quietinhas num canto. Parecem um pouco com areia no fundo do rio: esto l, bem tranqilas, e s dei-xam sua tranqilidade quando algum as revolve. A elas se mostram.

    Daniel Munduruku

    Ns, os povos indgenas, hoje estamos comeando a sonhar do fundo dos mais de 500 anos que passamos mergulhados no tnel do tempo. Du-rante esse longo tnel foram exterminadas muitas culturas como as ln-guas indgenas. Ofi cialmente, hoje so faladas 180 lnguas, mas sabemos que existem muitas mais ainda pelas fronteiras dos rios. O que quero di-zer que os 500 anos para ns comearam ontem. S agora nos ltimos anos que estamos com os direitos de ter uma comunicao atravs da escrita na nossa lngua prpria. Como um processo novo para os ndios e para os educadores, encontram-se vrias interrogaes no ar. Como as andorinhas voando para pegar moscas em sua alimentao numa tarde de temporal. Mas o tnel do futuro mostra que somos capazes de realizar os sonhos que sempre tivemos, como povos diferentes e valorizados dentro de ns mesmos e espiritualmente...

    Joaquim Mana Kaxinaw

    Os brancos desenham suas palavras, porque seu pensamento cheio de esquecimento. H muito tempo guardamos as palavras de nossos antepassa-dos dentro de ns, e as continuamos passando para nossos fi lhos.

    Davi Kopenawa Yanomami

    A canoa dotempo

    17>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • A histria vem de um tempo longo,mdio,

    recente.

    De ontem, hoje, amanh.

    Histria passado, histria presente.A histria como o mundo, porque no tem fi m.

    um caminho muito longo.Enquanto o tempo vai passando, mais histrias vamos construindo.Histria passado, histria presente.

    A histria no s do ser humano. Tambm dos encantados, dos animais, da fl oresta, dos rios e dos legumes.

    Histria est em todo lugar do mundo.

    Adalberto Maru Kaxinaw e Joaquim Mana Kaxinaw

    Kwarup, de Amatiwan Trumai >>

    Histria passado, presente

    18

  • histria presentepresente

    19>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • Quando no existia nada,era assim que comeou o incio.

    S havia escurido.O espao, onde no existiam

    os materiais para formar gentes.

    Existia o espao frio,o espao vazio,o espao triste,

    Existia o espao sem idias.

    Na escurido, existia uma VOZ que soava.Esta voz a presena de Miio,

    que a Yep-Bahuri-MahsAs msicas andavam danando,

    fazendo carinho.

    Primeiro, ela tinha um corpo em forma de vento, invisvel.

    Ela possua a Vida da Almaem forma de vento,

    estava sentada.

    Dentro desta voz,dentro do vento

    vivia por si mesma uma Mulher, chamada Yep.

    Ela era chamada Yep-Bahuri-Mahs, Gente (femin.) Terra,

    Gente que apareceu por si mesma.Ela apareceu no meio de sons musicais.

    No meio de nuvem branca brilhosa.Ela Gente (femin.) Msica Sagrada.

    Primeiro, surgiu um estrondo grande.De cor de jenipapo.

    No meio de cor rsea, grande raio formava um crculo.

    Quando se formou a luz, o raio fi cou no horizonte,

    perto onde estava sentada uma Mulherno banco dela.

    Assim era a origem da Yep-Bahuri-Mahs.

    Msicas andavam em forma de redemoinhos de vento,andavam em volta dela.

    Fazendo-lhe carinho,entrando-lhe no corpo dela,

    atravs dos ossos e dos pensamentos.

    20

  • Vivia sozinha no espao vazio.No incio, no criou nada,nem a terra, nem gentes.

    A Yep-Bahuri-Mahs no tinha Caminho Delicado de Passagem,

    nem Nihsma, nem Nihsohpe.

    Tinha um corpo invisvel,de Pedra-quartzo,

    em forma de osso de bacia.

    Assim ela vivia, fazia a sua prpria Vida.Depois, a Yep-Bahuri-Mahs

    pensou de descer para a Casa de Yep-wii.

    Antes de descer, a Yep fez a Cerimnia de Mo- puhtiro.

    Assoprou nesta Terra,defumando para baixo.

    Estava para vir na Casa da Terra,para criar a Terra e as humanidades

    com as Cerimnias delae pensou para criar a Terra e formar a Vida.

    Trocou o nome, antes de criar a terra,

    fi cou chamada Yep-Bhko.

    Yep-Bhko pensou em Bahses,criou Cerimnias fortes,

    e fez assim a Cerimnia de soprochamada Dit-bahser, Cerimnia da Terra,

    chamada tambm Dit-h-amsoko bahser.

    Ela vinha da Casa de Ventodentro do Osso,

    no Cigarro da Formao da Gente.Para chegar na Casa de Terra,

    desceu e trouxe a vida.

    Desceu para casa de Yep-wii. assim que comeou, no princpio,

    antes de criar a Terra e o Dia.

    Fim do Primeiro Tempo

    Gabriel dos Santos GentilTawaran, mito que fala do namoro entre a moa e um peixe.De Amatiwan Trumai

    21>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • No princpioeram as guas

    Peixe azul, de Jos Custdio Marques Memc

    22

  • No princpio s existiam as guas. Toda vastido do mundo era recoberta de gua. Foi quando

    apareceu o Girador, o equilbrio de todo o movimento, trazendo Au e seu povo. O Girador semelhava-se a uma grande

    igaaba, um imenso pote que pairou sobre as guas. Dele desceu Au, um ser altivo e luminoso, e ergueu abrigos

    para seu povo. Trabalhou duro, construiu sobre as guas imensos tneis transparentes que se confundiam com elas. Ergueu sete cidades e fez seu povo habit-las.

    O povo de Au eram seres transparentes com ps palmiformes e nadadeiras sobre o dorso. Deixaram o Girador e habitaram as sete cidades. Durante muito e muito tempo ali viveram tranqilos, sem que nada os perturbasse. Au tomava conta de seu povo e zelava

    para que houvesse completa harmonia entre eles e a Natureza. Contudo, um dia, Au, que se acostumara

    a contemplar o nascer do sol e a saud-lo, viu as guas que se moviam em intensas correntes e faziam

    remoinhos, fruto da ao de Anhang. Desde que chegara, Au tinha respeitado todas as

    regras ditadas pelo Girador, fazendo seu povo tambm cumpri-las. E dentre essas regras estava a de que ele e seu

    povo no deveriam se aproximar de stios em que houvesse desequilbrios naturais. Desatento a essa regra, Au se aproximou do movimento das guas. Acercou-se do remoinho e percebeu que podia enxergar o fundo das guas, constitudo do mesmo material de que era feito o Girador, o barro.

    Au foi tragado pelo remoinho, desceu e tocou o fundo. Ao faz-lo, a terra levantou-se e afl orou acima das guas, fazendo a terra fi rme. (...) Au e seu povo, depois da violao, sofreram grandes transformaes. As sete cidades foram cobertas pelas guas encantadas. O povo de Au passou a ser o povo encantado,

    que habita o fundo das guas. Perderam sua aparncia fsica e transformaram-se em energias. So essas, os caruanas.

    Zeneida Lima, neta de paj Sacaca

    23>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • Origem efundamento da

    palavra segundo os Guarani

    24

  • palavra Quando a terra no era,

    no meio das trevas originais,

    quando no havia o conhecimento das coisas,

    o nosso Primeiro Pai Nhamandu

    fez fl orescer em si o fundamento da palavra,

    convertendo-a na prpria sabedoria divina.

    Mito Guarani recolhido por Leon Cadogan

    25>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • As serpentes queAs serpentes que roubaram aroubaram a

    26

  • As serpentes que roubaram a noite

    Fazia pouco tempo que o mundo era mundo e que as garras da ona ainda no haviam crescido e j reinava a insatisfao. E isso porque a noite nunca chegava ela, que iria permitir que pessoas e animais repousassem um pouco.

    O sol brilhava sem parar nos cus e nenhum daqueles infelizes conseguia sequer tirar uma pequena soneca! Os raios ardentes do sol queimavam tanto e durante tanto tempo que todos preferiam levantar. Apenas o papagaio continuava a protestar, mas to alto, que toda a fl oresta o ouvia, porm o sol pouco se importava com toda aquela gritaria e seguia brilhando to alegremente como antes.

    Aps um certo tempo, o papagaio fi cou rouco, e os outros seres arrastavam-se como sombras. No leito dos rios quase no se via uma gota dgua a correr. Felizmente, um belo dia, os ndios descobriram quem havia escondido a noite: as serpentes!

    Ento, os lderes da aldeia organizaram uma reunio para indicar aquele que deveria ir

    falar com as serpentes para que elas libertassem a noite. A escolha caiu sobre o jovem Karu Bemp, por ser guerreiro valente e excelente corredor.

    Karu Bemp foi falar com Surucucu, a grande chefe das serpentes.

    A morada de Surucucu fi cava escondida no fundo da fl oresta virgem, embaixo das folhas espalhadas pelo cho, e nem os macacos gostavam de se aproximar daquele lugar misterioso. Quem se atreve a me incomodar? gritou a serpente, erguendo a cabea. Sou eu, Karu Bemp, o grande guerreiro respondeu. Dizem que as serpentes esconderam a noite. Se me devolverem a noite, darei arco e fl echas como presente do meu povo. De que me serviriam o arco e as fl echas? riu Surucucu. No tenho mos para manej-los. Meu rapaz, tens de me trazer outra coisa.

    Aps dizer essas palavras, ela deslizou por entre as folhas e desapareceu, e Karu Bemp se viu sozinho.

    Voltou aldeia de mos vazias, e todos fi cavam quebrando a cabea para descobrir o que dar serpente.

    Finalmente, depois de muito pensarem, imaginaram que uma matraca contentaria a serpente, pois um objeto que agrada a todos, e nenhum animal possui um objeto desses.

    Fizeram ento uma matraca, cujo som era ouvido para alm das plancies e das

    >>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL 27

  • montanhas. E Karu Bemp ps-se novamente a caminho.

    Dessa vez, Surucucu estava esperando-o. Sei que me trazes uma matraca disse ela. Evidentemente, no coisa que se despreze, mas como vou us-la? No tenho nem mos nem ps... Vou prend-la em tua cauda disse Karu Bemp, e imediatamente ps mo obra.

    Mas que aconteceu? Ou a matraca tinha perdido a voz ou a cauda da serpente no era sufi cientemente forte para balan-la. Quando ela tentou chacoalhar sozinha, ouviu-se apenas um ch-ch-ch-ch parecido com o rudo que as folhas secas fazem quando se espalham pelo cho. No, isso eu no quero. Mas, para que no digam que sou insensvel, te darei uma breve noite declarou afi nal a serpente. Deslizou para dentro do ninho e retornou trazendo um saquinho de couro, que entregou a Karu Bemp. Deves saber que uma noite longa custa muito caro: nem por dez matracas eu poderia te dar uma disse a serpente. Nesse caso, o que queres em troca? Conversei com as outras serpentes a esse respeito e decidimos que trocaremos uma noite longa por uma jarra cheia daquele veneno que teu povo coloca nas fl echas. Mas que ireis fazer com esse veneno? recomeou Karu Bemp.

    Sua pergunta no recebeu resposta. Surucucu deslizou sob as folhas. A matraca presa cauda fez-se ouvir por um momento, e depois a serpente desapareceu.

    Caminhando lentamente, Karu Bemp retornou aldeia com o saquinho de couro. Tinha esperana de que a noite curta seria sufi ciente para todos,

    mas em seu esprito permanecia o receio de um novo encontro com a serpente.

    Assim que os ndios abriram o saquinho, o mundo foi invadido pelas trevas e todos caram num sono profundo, mas no por muito tempo. Passados alguns instantes, o sol voltou a brilhar, expulsou a escurido para trs das montanhas e despertou sem piedade os adormecidos.

    Todo dia acontecia a mesma coisa, e logo ocorreu aquilo que Karu Bemp temia: perceberam que uma noite to curta no bastava para descansar e todos comearam a juntar veneno s vezes uma gota para encher a jarra.

    O jovem retornou fl oresta pela terceira vez. Dessa vez caminhava com cuidado, pois tinha receio de tropear e deixar cair a jarra. Surucucu estava enfi ada em seu ninho, e via-se apenas sua cabea. Ao lado dela havia um enorme saco, bem cheio. Eu sabia que voltarias disse ela ao recm-chegado. V, preparei um saco que contm uma noite longa.

    Karu Bemp entregou-lhe a jarra e perguntou, curioso:

    28

  • Escuta, por que as serpentes precisam de veneno? Porque somos pequenas e fracas respondeu Surucucu e precisamos ter presas venenosas para nos defender... mas no tenhas medo: darei a cada serpente apenas uma pequena quantidade de veneno, a fi m de que no possamos realmente fazer mal a ningum... Mas que... estranhou o guerreiro, preocupado. Bem, j est com o saco. Deves lev-lo para a tua aldeia e s abri-lo quando chegares l. Se soltares a noite cedo demais, a escurido vai impedir-me de distribuir o veneno a cada serpente como pretendo, e as conseqncias recairiam sobre todo o mundo...

    Com essas palavras, ela se despediu e, sem tardar, convocou todo o povo das serpentes e comeou a distribuir o veneno. Surucucu foi a primeira a se servir...

    Karu Bemp voltou para a aldeia, carregando a bolsa com todo o cuidado. Pensava no que a serpente havia lhe dito e por isso no percebeu que o papagaio, excitadssimo, voava acima dele, gritando: Venham ver, ele est trazendo

    a noite, Karu Bemp est trazendo a noite longa!

    Evidentemente, todos os que l estavam podiam v-lo com os prprios olhos. Os macacos, loucos de alegria, saltavam no topo das rvores; o jacar fazia ondas com o pouco de gua que ainda restava. A ona, impaciente, arranhou-se. Solta a noite agora mesmo, o que ests esperando? gritou ela, atirando-se sobre Karu Bemp.

    Antes que Karu entendesse o que estava acontecendo, a ona arrancou a bolsa de suas mos e abriu-a.

    Uma densa escurido caiu sobre a selva, surpreendendo a todos. Animais e pessoas procuravam caminhos para voltar a suas casas e esbarravam uns com os outros. Mas o pior foi o que aconteceu com as serpentes da chefe Surucucu: elas se atiraram sobre a jarra, empurrando-as umas s outras, e cada uma passou nas presas tanto veneno quanto podia. Em vo Surucucu tentava acalm-las, dizendo que havia veneno sufi ciente para todas. Por fi m, acabaram derrubando a jarra.

    Mas quando, ao fi nal de uma longa noite, voltou o dia, todos puderam perceber as conseqncias do que a ona havia feito: as serpentes tinham se tornado inimigas poderosas e audaciosas que, com suas presas envenenadas, matavam todos aqueles que se aproximavam. Apenas o povo das Jibias no foi atingido, e sempre avisava os ndios com sua matraca.

    Depois desse episdio, as serpente nunca mais foram amigas cada uma procura viver sua vida sem se preocupar com a dos outros.

    Os Munduruku e os animais adoraram ter conseguido a noite de volta. Assim, podem descansar durante a noite para iniciar um novo dia mais dispostos e alegres.

    Daniel Munduruku

    29>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • CuruCuru

    30

  • Curupira

    CURUPIRA o dono da mata e

    mora nas sapopemas da sumaumeira.

    Ele gosta de silncio e est

    sempre andando para cima e

    para baixo na fl oresta.

    Quando cansa, senta-se sobre

    um jabuti, que lhe serve de banco.

    Dizem os velhos que ele tem os

    cabelos compridos, corpo peludo,

    olhos pretos e ps virados.

    Existem vrios tipos de Curupira:

    o pai da sumaumeira, o dono do

    jabuti, o dono dos outros

    animais, o Curupira macho e

    o Curupira fmea.

    O Curupira faz medo aos caadores

    batendo nas razes das rvores.

    Ele atrai e encanta as pessoas.

    Quando o Curupira ataca, o nico

    jeito de mat-lo batendo no seu

    corpo com um pedao de pau podre.

    Mas antes de morrer ele sempre diz:

    Professores Ticuna

    Se um dia eu me acabar,fi ca outro no meu lugarguardando tudo o que meu.

    >>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • Macunama e

    Crdito da obra

    32

  • Waimesa-Podole

    Mayuluapu, ndio Taurepang, narrou essa histria para o pesquisador alemo Theodor Koch-Grnberg, em 1912. (verso da edio em espanhol para o portugus de Jos R. Bessa Freire).

    Um dia Macunama e seu irmo Manpe saram e encontraram Waimesa-Podole, o pai dos lagartos. Ningum podia se aproximar dele, porque sua lngua era muito comprida e com ela agarrava todos os animais. Macunama disse: Vou ver o bicho.

    Manpe aconselhou: No vai no. Ele vai te pegar e te engolir.

    Macunama respondeu: Que nada! Eu vou sim.

    Manpe voltou a dizer: Cuidado, meu irmozinho. O bicho vai te pegar.

    Mas Macunama no escutou o conselho. Assim, Manpe o deixou ir. Macunama foi conferir. Aproximou-se do bicho. Ento, Waimesa-podole prendeu Macunama com sua lngua e o engoliu.

    Manpe voltou pra sua casa e contou pra todo mundo que o pai dos lagartos havia devorado Macunama. Ento, todos os irmos se uniram, querendo matar Waimesa-Podole com fl echadas. Manpe disse: No vamos fl echar na barriga, mas somente na cabea. E a, todos foram pra l.

    De p, parado diante do bicho, Manpe bateu no cho com um basto e disse: Vem agora, vem, Waimesa-Podole e me devora, como fi zeste com meu irmo.

    Os outros irmos se aproximaram pelos dois lados para fl echar. Quando o lagarto botou a grande lngua pra fora para agarrar Manpe, os irmos dele dispararam suas fl echas bem na cabea do animal, matando-o. Depois, abriram suas tripas. Ali estava Macunama. Saiu vivinho e disse:

    Vocs viram s como lutei com esse bicho! Depois disso, voltaram para sua casa.

    33>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • Z Bernab era um ndio da Serra Grande muito trabalhador, gostava de caar e de andar amontado: o seu cavalo era um bode muito forte.

    Bernab sentiu falta de uma vaca e saiu pela mata em seu bode.Foi encontrar sua vaca em cima de uma serra, correu atrs, desceram o barranco,

    embaixo ele derrubou a vaca, mas quebrou um quarto. Ele viu que no tinha jeito, l mesmo no mato, ele matou a vaca e a esquartejou.

    Amarrou dois quartos nas correias da cela, montou no bode e saiu rasgando caatinga. Chegando adiante, viu o bode se torcendo. No que olhou para trs, viu uma ona pintada montada na garupa do bode, comendo a carne.

    Largou o seu chicote na cara da ona, que pulou no cho e saiu correndo. Bernab botou o bode atrs dela. Chegando na frente, a ona pulou numa trincheira de pedra. Quando a ona pulou, Bernab agarrou o rabo da ona. A ona pulou e Bernab fi cou com o couro da ona na mo.

    Alguns dias depois, ele voltou para buscar o resto da carne. No caminho encontrou com a ona j encabelada. A ona tinha comido o resto da carne. Mais na frente percebeu seu gibo melado. No que experimentou, viu que era mel. Seguiu caminho, encontrou um enxu s o buraco. que na carreira atrs da ona, ele passou dentro de enxu e no viu.

    Severino Bandeira AtikunHistria coletada pela Professora Maia Joslia Atikum

    Histria Bernab

    Karuat, de Matari Kaiabi34

  • Papagaio catlico

    O homem tinha um Papagaio e o Papagaio andava solto. Quando ele queria botar na corrente botava; ele pedia para soltar: Me solte, que eu vou andar. A disse que ele soltava o Papagaio e dizia:

    Cuidado louro, seno o Gavio te pega. O Gavio pega Papagaio.

    Ele: S num eu.A comeou a andar: Quando foi um dia,

    disse que ele j estava no quintal da cozinha, o Gavio chegou, paco! E o Papagaio gritou:

    Me acuda Joo! Chega que o Gavio vai me levando.

    Com aqueles gritos penosos... Reza a o tero, Joo! Reza a o

    santofcio, Joo, que o Gavio vai me comer! Valei-me, Nossa Senhora!

    O Papagaio e o Gavio subindo... A disse que Joo correu:

    Lembre-se do..., lembre-se da espingardinha, meu Papagaio.

    Ele fez:, pu!De surpresa, o Gavio amoleceu a perna

    e soltou. Soltou, ele caiu no cho, saiu correndo, conversando e Joo atrs, e o Gavio foi-se embora. E ele entrou. Quando chegou dentro de casa, Joo disse:

    Olhe, louro, o que era que eu lhe dizia? Quase que voc morre!

    A ele disse: Foi, foi. Mas eu te batizo Simo, essa

    e outra mais no.Pronto acabou a histria do Papagaio.

    Margarida Maria de Jesus Kiriri

    O buritizal e os animais, de Cidberght Custdio Marques Nupaweec

  • No meu pensamento de antigamente,

    quando eu era menino,

    o mundo, eu pensava

    que era que nem tocaia,

    a terra remendava com o cu.

    O sol,eu pensava que eram muitos,

    passava dias e dias. A noite, eu pensava que era

    que nem fumaa,

    porque quando o sol ia embora,

    a noite vinha cobrir o mundo.

    O cu,eu pensava que era que nem ferro,

    nunca acaba.

    A chuva, eu pensava que era alguma pessoa,

    que morava no meu cu e derramava gua.

    A gua,eu pensava que eram alguns bichos grandes,

    esturrando em cima do cu.

    Eu pensava que a terra remendava

    com o cu

    36

  • O homem,eu pensava que s ns mesmos vivamos,

    s ns mesmos, o povo Kaxinaw.

    A lngua, eu pensava que todo mundo falava

    na nossa lngua mesmo, o Kaxinaw.

    Um dia, eu vi um branco chegando na nossa casa, falando diferente. Mas eu pensava que quando

    eu fosse casa dele, ele ia falar em Kaxinaw. Um dia, eu fui viajar com meu pai, para ver onde

    estava a terra remendada com o cu. Ns amos descendo o rio e quando passaram alguns dias

    perguntei ao meu pai onde estava a terra remendada com o cu. Meu pai me disse que no estava

    remendada a terra com o cu. Que o mundo muito grande e no tem fi m...

    Noberto Sales Tene Kaxinaw

    Cu, terra e gua, de Maiu Ikpeng

    37>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • My mam mapy ga ep to t pra to xp p ky ep. Kanay ixap p ky waye toxawaba pg towa kany iya owe waye

    totra xahwip tem wk tem ike owe et towya my mam xo kany iyat taburabe

    ixp p mabitt tem towa kany pe: Toto nw waye mapy ga t mapra

    ikug peten kanay peitet to wya wk tem ten te et tabet.

    My ye: yet ike towa Toto nw et tabet.

    MAPY(MULHER)

    38

  • ANTIGAMENTE A MULHER ENGRAVIDAVA NA BATATA DA PERNA.

    QUANDO CHEGAVA NO DIA DE NASCER, O BEB ABRIA A PERNA DA ME.

    DA O BEB J NASCIA ANDANDO, MAS AS MULHERES NO GOSTAVAM

    DE ENGRAVIDAR NA PERNA, ELAS ACHAVAM MUITO PESADO CARREGAR

    O BEB NA PERNA. POR ISSO QUE O TOTONEW CASTIGOU AS MULHERES.

    TOTONEW FALOU PARA ELAS:

    AGORA VOCS VO CARREGAR OS BEBS DE VOCS NA BARRIGA,

    S QUE VOCS MULHERES VO SOFRER MUITA DOR NA HORA DOS PARTOS,

    PARA VOCS APRENDEREM A ME OBEDECER.

    POR ISSO A MULHER SENTE MUITA DOR NA HORA DO PARTO.

    Pem Marli Arara Escrito nas duas lnguas pela autora

    MULHER(MAPY)

    39>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • Nitio x potar cunhangSetuma sacai wa

    Curum ce mama-mamaneBaia sacai majau

    Nitio x potar cunhangSakiva-au

    Curum monto-montoqueTiririca-tyva majau.

    No gosto de mulherde perna muito fi naPorque pode me enroscarcomo cobra viperinaNo gosto de mulherde cabelo alongadoPorque pode me cortarcomo tiririca no roado

    40

  • As mulheres com a mandioca, de Amatiwan Trumai

    41>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • 42

  • Acutipuru ipur nerupec

    Cimitanga-miri uquer uaruma.

    Acutipuru, me empresta o teu sonopara minha criana tambm dormir.

    Cano de ninar em Nheengaturecolhida por Francisco Bernardino de Souza

    Rede com fi os de algodo

    e tucum dos ndios Kuikuro

    43>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • >> PARTE 2

    Esta terra tem vida

    44

  • Eu sou a gua que mata a sedeOnde eu no estiver

    Voc se lembra de mim.Aturi Kaiabi

    Os pescadores, de Amatiwan Trumai

    45>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • 46

  • Correr das pedras

    Rio da vida, gua claraCorrer das pedrasPeixes grandes, peixe pequenoO sol nasceuNa curva dos rios, guade novo correu, dentro do riogua linda, friazinha,fi ca entrando no meu corpoamando, beijando e bebendodevagarSempre mata coraoNo meu entrandoNo peito sozinha deixandoEmbora amor choreCorrer.

    Perank Panar

    Qualquer vida muitadentro da fl oresta

    Se a gente olha de cima, parece tudo parado.Mas por dentro diferente.A fl oresta est sempre em movimento.H uma vida dentro dela que se transformasem parar.Vem o vento.Vem a chuva.Caem as folhas.E nascem novas folhas.Das fl ores saem os frutos.E os frutos so alimentos.Os pssaros deixam cair as sementes.Das sementes nascem novas rvores.E vem a noite.Vem a lua.E vm as sombrasque multiplicam as rvores.As luzes dos vaga-lumesso estrelas na terra.E com o sol vem o dia.Esquenta a mata.Ilumina as folhas.Tudo tem cor e movimento.

    Professores Ticuna

    >>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • Esta terra que pisamos o nosso irmo. Por isso que a terra tem algumas condies e por isso que o Guarani respeita a terra, que tambm um Guarani. O Guarani no polui a gua, pois o sangue de um Kara. Esta terra tem vida, s que ns no sabemos. uma pessoa, tem alma o Kara. A mata, por exemplo, quando um Guarani vai cortar uma rvore pede licena, pois sabe que uma pessoa que se transformou neste mundo. Esta terra aqui nosso parente, mas uma pessoa acima de ns. Por isso falamos para as crianas no brincarem com a terra, porque ela foi um Kara e at hoje ela se movimenta, s que ns no percebemos. Por isso quando os parentes morrem, a carne e o corpo se misturam com a terra. Por isso que temos que respeitar esta terra e este mundo que a gente vive.

    Alexandre Acosta GuaraniHistria coletada por Marcos Moreira Guarani

    Floresta e manejo, de Aldemir Bina Kaxinaw

    48

  • O que no tem mdicotem mata

    Antigamente no tinha mdico, num tinha nada nem doutor.Eram s as razes onde eu falo: nossa tradio

    e nosso povoso o povo da raize da terra.

    Que a terra nossa carne e nossa vidae a gua nosso sangue e nossos nervos.

    A raiz os nervose a gua o sangue.

    Emlio Gomes de Oliveira Xacriab,

    Floresta e manejo, de Benki Asheninka

    >>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL 49

  • Geografi a o que Geografi a onde o rio est.Onde o municpio est. para onde vem o sol. para onde vai o sol.Este rio para onde vai? diviso das guas. igarap, igap, lago, aude, mar. a medio da terra, a demarcao. fotografi a, desenho, cor, um mapa.Geografi a o entendimento da aldeia e do mundo.Do nosso mundo e do mundo do branco. a cidade, o Brasil e os outros pases. a histria do mundo.O mundo a terra, a terra a aldeia.O rio que cai num outro rio.Que cai num outro rio.Que cai no mar.Geografi a o depois do mar...

    Professores Indgenas do Acre

    Grafi smo Wajpi, desenhado por Jawarua

    Os Wajpi usam seus grafi smos para pintar o corpo e na decorao de objetos, como cestos, vasos e tecidos.

    50

  • Sonhou um canto e cantouE seu canto era belo e bom sol lua mata rioBrasil nem era BrasilMuito antes de ColomboMuito antes de CabralAqui vivia uma genteFalando lngua de vidaVivendo uma vidaTal que at parece cinema.At parece um sonhoO que era natural.

    Jonado Saban Nambikwara

    Pssaro vermelho

    Akaikuni, de Amatiwan Trumai

    51>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • >> PARTE 3

    Por que isso se passa comigo?

    Quando voc forQuando voc for,me chama em voz baixa.Da eu fi co contigo.Mas a tua voz no chega de verdade.Como sentircheiro de fl or na bocada minha fl or?

    Edson Ix Kaxinaw

    52

  • ... o amor uma sensao atraente, que deixa muitas vidas em pnico. Portanto, o amor um produto que deve ser usado com cuidado, quando for com bastante freqncia. O amor como voc correr desesperadamente. De repente, pode se chocar com alguma coisa que estiver na sua frente e ser atropelado.

    Ento, no caso do amor, devemos prestar bem ateno: para onde correr, a distncia que vamos correr, se podemos correr

    Joaquim Mana Kaxinaw

    >>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL 53

  • Te mandei em passarinhoPatu miri pupPintadinho de amareloIporanga ne iau

    54

  • Te mandei um passarinhodentro de uma cestinhaPintadinho de amarelo,

    e bonito como voc.

    55>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • Eu vou contar para voc como que o namoro e o casamento do povo Patax. Quando um rapaz e uma moa Patax comeam a se gostar, um dos dois toma a iniciativa, jogando em direo ao outro uma pedrinha bem de mansinho, sem que ningum possa perceber. Naquele momento, os dois trocam olhares e sorrisos.

    A partir da, comea, ou melhor, passam a se jogar pedrinhas e a se encontrar s escondidas. Quando querem se casar, o rapaz joga na moa, na jovem ndia, uma fl or. Se ela pegar a fl or, porque aceita se casar com o rapaz, mas, se ela no pegar, por-que no aceita o casamento. Depois que a moa pegar a fl or eles vo conversar com os pais e os caciques. A partir dessa conversa, toda a comunidade fi ca sabendo que vai haver casamento na aldeia.

    Desse dia em diante, os pais comeam a se preparar para a cerimnia matrimonial de seus fi lhos. O noivo comea a preparar sua casa e seu roado e, diariamente, pega uma pedra com o peso equivalente ao da noiva.

    No dia do casamento, os pais dos noivos, juntamente com os caciques, marcam o lugar de onde o noivo comear a carregar a pedra. O rapaz carrega a pedra at o local onde ser realizado o casamento. Chegando l, ele pe a pedra no cho e, ali mesmo, os noivos trocam de cocar e, naquele momento, realizada a cerimnia.

    Depois da realizao do casamento, todos os membros da comunidade vo para a casa dos noivos beber cauim e festejar at o raiar do novo dia. Geralmente, os Patax se casam bem novos, entre doze e treze anos, mas hoje isso j est mudando e esto casando entre quatorze, dezesseis e at dezoito anos.

    Kantio Patax e outros

    O casamentotradicional

    56

  • Casamento Patax, de Kantyio Patax

    >>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL 57

  • Passam os anos, passa a vida,Passa o tempo, passam as coisas,Passam perto de mim as pessoas,Passa dentro de mim o amor.

    Por que isso comigo se passa,Se j nem sei mais quem sou?

    Miguel Panemaxeron Surui

    Tudo passa

    Grafi smo Wajpi, de Muruti

    58

  • Eu no tenho minha aldeia

    Eu no tenho minha aldeia

    Mas tenho o fogo interno

    Da ancestralidade que queima

    Que no deixa mentir

    Que mostra o caminho

    Porque a fora interior

    mais forte que a fortaleza dos preconceitos.

    Ah! J tenho minha aldeia

    Minha aldeia Meu Corao Ardente

    a casa de meus antepassados

    E do topo dela eu vejo o mundo

    Com o olhar mais solidrio que nunca

    Onde eu possa jorrar

    Milhares de luzes

    Que brotaro mentes

    Despossudas de racismo e preconceito.

    Eliane Potiguara

    59>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • O contraditrio

    Quem aquele que se diz civilizado.

    Que criou o antdoto, que elimina a vida.

    Que destri o mundo num toque de dedo.

    Que se engrandece porque detm a morte.

    Que envenena a terra, a gua e o ar que geram vida.

    Que sufocou sabedoria milenares.

    Que massacrou as verdadeiras civilizaes.

    Que hoje parece estar arrependido.

    Que hoje nos quer como quando nos encontrou

    Andila Incio Belfort Kaingng

    60

  • gua namora com a pedraA pedra sempre feliz vai fi car

    A gua corre no rio e esse rio cai no mar

    O ar segura o mundoE o mundo segura o mar de novo

    Os dois seguram os homens, e os homens,ser que vo segurar?

    Yanin Kaiabi

    Quem vai segurar?

    Arakuni, de Amatiwan Trumai

    * Esse mito muito bonito porque fala do incesto de Arakuni com sua irm, que foi desoberto pela me porque sua pintura corporal era diferente da dos outros homens e ela fi cou impressa no corpo da irm.

    >>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL 61

  • 62

  • Veja aqui quem te mandou um passarinho

    Arara (RO) No Brasil, quatro povos diferentes so denominados Arara. A histria aqui narrada dos

    Arara de Rondnia, que sempre habitaram o Igarap de Lourdes e falam a lngua Karo, nome

    pelo qual so tambm conhecidos. Karo, na lngua deles, significa arara. Eles se pintavam com

    jenipapo, faziam furo no nariz, onde penduravam uma pena de arara. Nos anos 1920, o contato

    com o branco provocou doenas e muitas mortes. Os sobreviventes trabalharam como serin-

    gueiros. Hoje, so 170 ndios em duas aldeias, onde a escola alfabetiza na lngua karo e ensina o

    portugus. A palavra towa nas narrativas uma marca para prevenir que no viram o que esto

    contando, apenas ouviram.

    Atikum Conhecidos no sculo XVIII como Um, os Atikum, em 2006, somavam 5.852 indivduos

    vivendo em 16 aldeias localizadas na Reserva da Serra do Um, no municpio de Carnaubeira da

    Penha (PE). L so identificados como os caboclos da Serra do Um. possvel chegar a cinco

    dessas aldeias por estrada, as demais s a cavalo ou a p. So bons agricultores. Em plena caa-

    tinga, plantam milho, mandioca, feijo, mamona e frutas como goiaba, laranja, pinha e banana.

    No falam mais a lngua Atikum, s mencionada no tor, que uma dana com cnticos rituais,

    que expressam a religiosidade do grupo e contm em suas letras o registro, entre outros, das

    plantas e razes medicinais.

    Guarani Em 1.500, os Guarani eram os senhores da costa atlntica, desde a Barra da Canania (SP)

    ao Rio Grande do Sul. Hoje, vivem em aldeias localizadas em dez estados brasileiros, com uma

    populao de 47.692 indivduos. Ocupam ainda territrios na Argentina, Paraguai, Uruguai e

    Bolvia. Esto divididos em trs grupos: Mby, andva e Kaiow. A maioria da populao bi-

    lnge e fala, alm do guarani, o portugus ou o espanhol. Mas na lngua guarani que circulam

    as narrativas, a poesia, o canto, as rezas e os rituais religiosos. Vivem da agricultura e da venda

    do artesanato: cestaria, colares, pulseiras, adornos, chocalhos e figuras de animais, esculpidas em

    madeira.

    Ikpeng Eles se chamam Ikpeng, mas eram conhecidos como Txico. Viviam no rio Jatob (MT), fora

    do Parque Indgena do Xingu (PIX). Contataram com os brancos em 1964, quando doenas re-

    duziram a populao a menos da metade. Foram, ento, transferidos, em 1967, para dentro do

    PIX. Hoje so 342 pessoas, que protegem a rea da ao dos madeireiros. Lutam para recuperar

    63>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • o antigo territrio. Falam e escrevem uma lngua Karib, usada na escola, onde aprendem tambm

    o portugus. Aprenderam a filmar com a ONG Vdeo nas aldeias. Produziram vdeo de rara bele-

    za: Das crianas Ikpeng para o mundo, onde mostram a aldeia, as famlias, brincadeiras, festas e

    modo de vida.

    Kaiabi Narrativas mticas, cantos e histrias de guerra mostram que os Kaiabi eram um povo tradi-

    cionalmente guerreiro, que morava em grandes casas no norte de Mato Grosso e no sul do Par.

    Suas terras foram invadidas por seringueiros, madeireiros e fazendeiros. Em 1966, muitos deles

    aceitaram ser transferidos de avio para o Parque do Xingu, mas alguns ficaram l. Em 2006, ha-

    via um total de 1.619 ndios kaiabi, divididos em trs grupos. Eles vivem hoje em casas pequenas e

    cultivam dezenas de plantas. Os homens fabricam cestos ornamentados, redes, tipias e peneiras

    com desenhos sofisticados. As mulheres tecem algodo. Cantam e fazem poesia em sua lngua

    materna e em portugus.

    Kaingng Eles so 28.875 ndios em trinta terras indgenas (SP, PR, SC, RS), mas somam mais de 30

    mil se forem contadas as famlias que vivem hoje nas cidades. Ocupavam um vasto territrio que

    chegava at a atual Argentina. Os primeiros contatos de alguns kaingang com os portugueses da-

    tam do sc. XVI. Mas s no final do sc. XVIII que comea a invaso de suas terras, processo que

    se estendeu aos dias de hoje. Suas narrativas mticas foram recolhidas por vrios estudiosos desde

    1882, quando foi registrado o mito da origem do povo Kaingang, no qual aparecem os heris

    Kam e Kairu, dois irmos que criaram o mundo e as regras de comportamento para os homens.

    Karaj De onde vieram os Karaj? Do fundo do rio, onde viviam. Eram os Berahatxi Mahadu, o povo

    do fundo das guas. Um dia, descobriram a passagem para a superfcie e boiaram no rio Araguaia.

    L, encontraram doenas e morte. Tentaram voltar, mas a passagem estava fechada. assim que

    o mito conta a origem deles. Tiveram contato com jesutas (1658) e com bandeirantes (1718).

    Hoje, 2.593 karaj moram em 29 aldeias na ilha do Bananal (TO). Fazem roas, pescam, fabricam

    bonecas, artesanato de palha, madeira e barro. Antes, tatuavam na face dois crculos, que agora

    so apenas desenhados durante as festas. Cinco escolas bilnges funcionam para 425 alunos.

    Kaxinaw Eles se chamam Huni Kuin (gente verdadeira), falam o htxa kuin (lngua verdadeira) e

    so o maior povo indgena do Acre: 5.820 pessoas.No Peru vivem mais 1.500. Suas terras foram

    invadidas no perodo da borracha (1870-1914), quando cem mil nordestinos entraram no Juru

    e Purus. Alguns ndios ainda hoje trazem o brao gravado com as iniciais FC (Felizardo Cerqueira),

    nome do patro que os submeteu ao trabalho forado. Junto com outras etnias, criaram associa-

    es, construram escolas, formaram professores, pesquisaram e ilustraram os livros que escreve-

    ram com o Kene Kuin (desenho verdadeiro) usado na pintura corporal, na cermica, na tecelagem

    e na cestaria.

    64

  • Kiriri O nome dado pelos tupis do litoral do Nordeste a um outro povo que vivia no serto foi kiriri,

    que significa calado. Os Kiriri, catequizados pelos jesutas no sc. XVIII, esqueceram sua lngua,

    mas o portugus que falam hoje tem marcas dialetais do Kipe. Perseguidos pelos diretores de

    ndios no sc. XIX, perderam suas melhores terras, que haviam sido reconhecidas pelo rei de

    Portugal, em documento de doao. Hoje, 1.612 Kiriri vivem em terras na boca da caatinga, no

    norte da Bahia, recuperadas depois de muita luta. Vivem da agricultura, da coleta de frutos e do

    artesanato. Reaprenderam a danar o tor, ritual que um smbolo de identidade e de unio dos

    ndios do nordeste.

    Krah Timbira o outro nome mais genrico pelo qual so conhecidos os Krah, que vivem no Tocan-

    tins, em aldeias onde as casas ocupam um espao circular e se ligam por uma via ao ptio central.

    A histria do contato comea no sculo XIX, quando fazendas de gado invadem suas terras. Eram

    mais de 4 mil e foram reduzidos a 400 em 1940. Hoje so 2.184 ndios. So bilnges. Falam a

    lngua Krah, na qual narram a origem do mundo, a visita ao cu e ao fundo das guas, a cura das

    doenas, como obtiveram as plantas da mulher-estrela, como tiraram o fogo da ona e com quem

    aprenderam a corrida de toras. Gostam muito de msica, que um dos aspectos importantes da

    sua vida ritual.

    Krenak Eles se chamam Borun, nome de sua lngua. Foram apelidados de Aimor pelos tupi, e de Bo-

    tocudo pelos portugueses, devido ao botoque usado nos lbios. Mas hoje so conhecidos como

    Krenak, nome de um cacique. O seu territrio era a Mata Atlntica (BA) e o vale do rio Doce (MG

    e ES). D. Joo VI, em 1808, declarou guerra aos Botocudos, confiscou suas terras, distribudas

    como sesmarias, permitindo a escravido dos prisioneiros de guerra por at vinte anos. Os ltimos

    Botocudo so hoje 204 ndios que recuperaram no Supremo Tribunal Federal pequena parte das

    terras. Os mais velhos falam Borun e contam histrias de Mart-Khamaknian, o heri civilizador

    da humanidade.

    Kuikuro Hoje 509 kuikuro vivem em grandes malocas ovais de trs aldeias do Parque do Xingu (PIX).

    Entre eles, no esto mais os donos das narrativas Agatsip e Nahu dois velhos sbios enterra-

    dos recentemente com a cerimnia dos mortos: o Kuarup. Sabiam tudo: cantos, rituais, histrias.

    Para eles, o cu, com as estrelas e constelaes, era um livro aberto, onde liam acontecimentos

    mticos e a origem das coisas. Os Kuikuro falam sua lngua e o portugus, dependendo da idade

    e do sexo. Produzem os famosos colares e cintos de caramujo. Danam o Yamaricum, que conta

    a revolta das mulheres. Aprenderam a filmar, ganhando prmios com o vdeo O dia em que a lua

    menstruou.

    Macuxi Eles falam uma lngua da famlia Karib. So 32.933 indivduos, dos quais 23.433 vivem no

    Brasil, em Roraima, e 9.500 na Venezuela. Depois do contato, substituram as grandes malocas

    65>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • circulares por casas retangulares, cobertas com folhas de buritizeiro, cho batido e paredes de

    barro seco e at mesmo por casas de alvenaria. Na luta pela terra, suas aldeias foram invadidas

    em 2004 por fazendeiros, que destruram e incendiaram dezenas de casas, postos de sade e

    escolas, alm de ferir um ndio bala. Apresentam variaes das narrativas comuns com os Tau-

    repang sobre Macunama, o heri mtico, astuto e sagaz, que converte homens, animais e peixes

    em pedras.

    Marajoara No existiu um povo Marajoara. Os arquelogos chamam de cultura marajoara o estilo

    de antigos povos ceramistas que viveram na ilha do Maraj (PA) entre os anos 400 e 1300 d.C.

    Sua cermica bonita e refinada - urnas, vasos, tigelas, pratos, tangas, adornos - representa seres

    mitolgicos da floresta: cobra, jacar, tartaruga, lagarto, coruja, macaco. A arte marajoara

    uma linguagem, s que em vez de falada ou escrita, visual. Cria narrativas grficas que contam

    histrias, expressam crenas, emoes e idias. Os estudiosos acham que servia para registrar,

    armazenar e divulgar o conhecimento. Esse estilo de vida desapareceu muito antes da chegada

    dos portugueses ao Par.

    Munduruku Documentos portugueses falam que o Munduruku, dono do vale do rio Tapajs, era um

    povo guerreiro, conhecido por mumificar as cabeas dos inimigos mortos. Desde o final do sculo

    XVII, resistiu s tropas de guerra que queriam escraviz-lo. Depois, foi aldeado por missionrios. O

    sarampo dizimou parte da populao. Hoje so 10.065 pessoas cujas terras esto ameaadas pelo

    garimpo de ouro e grandes projetos hidreltricos. Tocam nas flautas parasuy canes tradicionais

    que contam seus mitos e sua histria. Criaram escolas, uma associao, e organizaram a assem-

    blia geral do povo Munduruku. Mantm rede de radiofonia de comunicao entre as dez aldeias

    (PA, AM e MT).

    Nambikwara Rondon calculou que em 1915 havia 20 mil falantes de da lngua Nambikwara em

    seus vrios dialetos. Foram reduzidos a 990, devido ao contato, s epidemias e produo da

    borracha. Eles se recuperaram e hoje j so 1.715. Procuram usar a tecnologia moderna para for-

    talecer suas tradies. Vivem em dez terras indgenas (RO e MT), algumas delas ameaadas pelo

    garimpo e pela febre da soja, inclusive a rea sagrada onde habitam os espritos dos antepassa-

    dos, com os rios contaminados por agrotxicos, as nascentes destrudas e a formao de crateras

    encharcadas de mercrio. Tcnicos garantem que nem todo o ouro retirado da rea paga um

    projeto de recuperao.

    Nheengatu Nheengatu no um povo, mas uma lngua, conhecida nos documentos coloniais como

    lngua geral. Existiram dois idiomas que permitiam a ndios de etnias diferentes se comunicarem en-

    tre si e com os portugueses: Lngua Geral Paulista (LGP) e Lngua Geral Amaznica (LGA). Essa lti-

    ma, falada pela maioria dos amazonenses at o sculo XIX, registrou narrativas, poesias e canes.

    66

  • Sua base era o tupinamb, usado pelos jesutas como lngua de catequese. Recebeu influncia de

    outras lnguas indgenas e africanas e do portugus. Hoje, o Nheengatu, que significa lingua boa,

    falado no rio Negro. Foi declarado lngua co-oficial no municpio de So Gabriel da Cachoeira

    (AM) em 2002.

    Panar Conhecido como Krenakore ou ndios gigantes por causa de suas enormes bordunas, o Pa-

    nar, povo agricultor, ocupava um territrio no rio Peixoto Azevedo, sudeste do Par. Contatado

    em 1973 na abertura da estrada Cuiab-Santarm, a populao de 400 pessoas diminuiu em dois

    teros por doenas e massacres. Os sobreviventes, levados em avio para o Parque do Xingu, vive-

    ram l mais de vinte anos. Em 2001, ganharam indenizao na Justia e recuperaram as terras de

    onde foram retiradas 30 fazendas. A populao de 303 indivduos criou associao para gerenciar

    a indenizao e desenvolver projetos de educao, capacitao e manejo de recursos naturais.

    Patax Existem dois povos com esse nome: um o Patax H-h-he, o outro o Patax, os ndios

    do descobrimento, que resistiu a cinco sculos de invaso de seu territrio e hoje vive em nove

    terras indgenas (BA e MG), parte delas no Parque Nacional do Monte Pascoal, recuperadas em

    1997. So 10.897 indivduos, 40 deles capacitados como monitores de turismo. O contato per-

    manente com turistas muda o modo de vida, mas reafirma o orgulho tnico, como registrou o I

    Encontro de Pesquisadores Patax, em 2007. A ltima falante de Patax ainda vivia em 1983. Dei-

    xaram de falar a lngua, mas suas narrativas, canes e poesias sobrevivem em portugus, como

    o mito fundador Txopai Itoh.

    Potiguara Eles se misturaram com os brancos. No so mais ndios. Perderam a lngua e esto

    vestidos. So sertanejos. Esse foi o argumento do governo da Paraba, em 1919, para vender as

    terras dos Potiguara, no vale do Mamanguape, reconhecidas antes pelo rei de Portugal (1599)

    e por D. Pedro II (1850). Hoje, 11.424 Potiguara de 33 aldeias plantam, criam animais, pescam,

    fazem artesanato. Continuam a luta pela terra, mantendo o vigor de sua identidade. Danam o

    tor, celebram as figuras mticas dos tapuios coronga e canind, aprendem noes bsicas de tupi

    ministrado pela USP e se organizam. Em 2004, elegeram um prefeito, dois vice-prefeitos e onze

    vereadores Potiguara.

    Sacaca Quando os portugueses chegaram ao Par (1616), chamaram os povos da ilha do Maraj, es-

    timados em cem mil habitantes, pelo nome genrico de Nheengaiba (lngua ruim), porque falavam

    lnguas diferentes da usada na catequese. Um desses povos, hoje extinto, era o Sacaca, que resistiu

    s tropas de guerra e escravido at o acordo de paz assinado com o padre Vieira (1659). Foram

    aldeados e explorados como remeiros e vaqueiros. Seus pajs conheciam tanto as plantas medicinais

    que sacaca passou a significar curandeiro em Nheengatu. Em algumas geraes, adotaram a Lngua

    Geral e depois o portugus, lnguas que registraram suas narrativas mticas e seus conhecimentos.

    67>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • Surui (RO) H dois povos Surui: Aikewara (PA) e Paiter (RO). Trata-se aqui do Surui Paiter (gente de verda-

    de), contatado em 1969, cujas terras foram invadidas por estrada, garimpeiro, madeireira e grileiros,

    quando o Programa Polonoreste investiu em Rondnia 1,55 bilhes de dlares. Hoje, 1.007 surui de

    onze aldeias tm luz eltrica, casa de zinco, roa, escola bilnge e igrejas crists que reprimem os

    pajs, numa tenso entre o tradicional e o novo. Festejam o Mapima (criao do mundo) e celebram

    o natal. Seus cantos exaltam a luta do heri Waii. Fazem cermica, cestos, colares, cintos e redes em

    pequenos teares com roda de barro. Criaram o Frum Surui para defender o meioambiente.

    Taurepang Eles so 22.935 ndios, dos quais 22.353 esto na Venezuela, onde so conhecidos como

    Pemn, e 582, no Brasil. Moram em Roraima, na rea Indgena Raposa/Serra do Sol com os Maku-

    xi e os Wapixana. Seu jeito de viver foi estudado em 1911-1913 pelo pesquisador alemo Koch-

    Grnberg, que registrou muitas narrativas Taurepang, entre as quais as histrias de Macunama,

    que deram origem a um dos livros mais importantes da literatura brasileira. Com as demais etnias,

    organizaram o Conselho Indgena de Roraima (CIR), que lutou para demarcar suas terras invadidas

    por fazendeiros. Depois de batalhas jurdicas, a rea foi, enfim, homologada, em abril de 2005.

    Ticuna A lngua Ticuna no parece com qualquer outra e por isso considerada isolada. nessa

    lngua, dita tonal porque usa diferentes alturas na voz, que o povo Ticuna, autodenominado Ma-

    guta, registrou a memria da floresta, celebrando os protetores da mata. Organizou associaes,

    formou professores, escreveu livros, abriu museu, biblioteca e 93 escolas bilnges em aldeias do

    rio Solimes, que tm luz eltrica, rdio e televiso. Eles so no Brasil 32.613 pessoas; no Peru,

    4.200 e na Colmbia 4.535. Seus livros contm suas cincias, com inventrio dos animais e mapas

    da vegetao: plantas medicinais, ervas, frutas, resinas, arte, festas, mscaras, danas, contando

    tudo com palavras e imagens.

    Trumai Eles vivem no Parque Indgena do Xingu (PIX), junto com 5 mil ndios de 14 etnias distribudos

    em 49 aldeias, em rea de 27.974 km, todas com lnguas prprias, mas com muitas coisas em co-

    mum. Esses povos ficaram conhecidos depois de duas expedies (1884-1887) do etnlogo alemo

    Von den Steinen. O Trumai ficou reduzido a 27 pessoas em 1947 devido a guerras intertribais e do-

    enas causadas pelo contato. Hoje so 147 indivduos, que falam uma lngua isolada e o portugus

    em diferentes graus de bilingismo. Vivem em trs aldeias e na cidade de Canarana. So agricultores

    e artesos. Ensinaram aos demais o ritual do Jawari, celebrado hoje por todos os povos do Xingu.

    Tukano A cobra grande entrou no universo pela porta da gua, subiu os rios Negro e Uaups, levando

    dentro dela todos os povos. Foi deixando cada um em seu lugar. assim que narrada a origem

    de 16 povos que falam lnguas diferentes, mas pertencem a mesma famlia lingstica. Um deles

    o Tukano, que no Brasil so 6.241 pessoas e na Colmbia, 6.330. Moram nos rios Uaups e Tiqui

    (AM), so exogmicos, isto , s casam com algum que fala outra lngua, e patrilineares, ou seja,

    68

  • os filhos e a me moram na comunidade do pai. Esto organizado na FOIRN Federao das Orga-

    nizaes Indgenas, que est publicando as histrias na srie Narradores do Rio Negro.

    Tupinamb Esse era o nome de povos do tronco lingstico tupi, que ocupavam o litoral, de So

    Paulo at Belm. Foram os primeiros que tiveram contato permanente com os colonizadores.

    Cultivavam roas comunitrias, plantavam e teciam algodo. Sua arte plumria, registrada na

    Bahia pela carta de Caminha, encantou os europeus, como o manto que hoje est no Museu da

    Dinamarca. Considerados extintos, desapareceram do mapa do Brasil. Ressurgiram em 1997, em

    Ilhus (BA). Hoje so 2590 ndios, que falam o portugus e mantm uma Associao que realizou

    o Seminrio da Juventude Tupinamb (2005). A memria oral lembra ainda o ltimo massacre

    que sofreram (1937).

    Wajpi Esse povo vivia no baixo Xingu at o sculo XVII. Cruzou depois o rio Amazonas e foi morar no

    Oiapoque. Hoje eles so 756 pessoas no Amap e 412 na Guiana Francesa. Vivem em 40 pequenas

    aldeias e registram seus saberes e suas narrativas na lngua que falam da famlia Tupi-Guarani, com-

    binando a palavra com a arte grfica da pintura, conhecida como kusiwa. Usam tintura de urucum,

    gordura de macaco, sumo de jenipapo e resinas perfumadas para pintar o corpo, a cermica, as cuias,

    os tecidos e a cestaria. Agora usam tambm caneta e papel. A arte wajpi de desenhos coloridos foi

    declarada pela Unesco, em 2002, obra prima do patrimnio oral e imaterial da humanidade.

    Xacriab Hoje so 7.450 pessoas que vivem em 25 aldeias no vale do Peruau (MG) e representam 70%

    dos eleitores do municpio de So Joo das Misses. Criaram escolas, formaram professores, se alfa-

    betizaram, editaram quatro livros de literatura com suas narrativas e um CD com vozes dos velhos

    que ainda falam xacriab, a maioria s fala portugus. Elegeram o atual prefeito e trs vereadores

    indgenas. Mas tiveram que lutar muito desde 1728 quando obtiveram o registro de posse da terra, o

    que no impediu que fosse invadida por fazendeiros (1969-1987), com assassinato de trs lderes. Em

    2003, uma barragem construda pela Codevasf inundou terras da aldeia Barra do Sumar.

    Yanomami A populao total de 30.875 pessoas. A metade vive no lado venezuelano e a outra metade

    mora em 255 aldeias em Roraima e no nordeste do Amazonas. Seu territrio, que abriga o Pico da

    Neblina, foi invadido por 40 mil garimpeiros, responsveis pela morte de 1.500 ndios entre 1987 e

    1992, quando foi finalmente demarcado. Eles falam quatro lnguas aparentadas entre si. A histria do

    contato recente, pode ser contada atravs da vida de Davi Kopenawa, que hoje o principal porta-

    voz de seu povo. Seu grupo foi aniquilado por epidemias aps contatos com o Servio de Proteo ao

    ndio e a misso evanglica Novas Tribos do Brasil. Davi conta que quando viu o primeiro branco, feio,

    esbranquiado e peludo, achava que era um canibal que ia com-lo.

    Jos Ribamar Bessa Freire - Autor da pesquisa e do texto

    69>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • Autores, fontes e referncias bibliogrfi cas das imagens

    Capa, colar, pente e pingente Krah. Acervo Museu de Arqueologia e Etnologia da USP. Foto-

    grafia de Wagner Souza e Silva.

    Pginas 6 e 7, O Igap, de Jos Custdio Marques Memc. In Ticuna Pinturas da Floresta. OGTP,

    Alex Chacon, Jussara Gruber. Rio de Janeiro: CCBB, 2004.

    Pgina 8, escultura em pedra do acervo do Museu Arqueolgico de Sambaqui de Joinville, in An-

    tes, histrias da pr-histria. Rio de Janeiro: CCBB, 2004.

    Pgina 11, rplica de cermica Marajoara, www.arteindigena.com.br

    Pgina 13, padro grfico muito caracterstico do Alto Xingu, de Amatiwan Trumai. Foi assinalado

    pelo autor pelo nome de Iyana Pital. Tcnica: nanquim sobre papel 1988. Assinado Amati.

    Pgina 14, escultura em pedra do acervo do Museu Arqueolgico de Sambaqui de Joinville. In

    Antes, histrias da pr-histria. Rio de Janeiro: CCBB, 2004.

    Pgina 16, Menino se prepara para o Jawari, de Amatiwan Trumai. O Jawari o mais impor-

    tante ritual da cultura Trumai. Tcnica mista sobre carto 1977. Assinado Amati.

    Pgina 19, Kwarup, de Amatiwan Trumai. O Kwarup o ritual funeral cone do Alto Xingu. Tcnica:

    nanquim sobre papel 1978. Assinado Amati.

    Pgina 21, Tawaran, de Amatiwan Trumai. Tcnica mista sobre carto 1977. Assinado Amati.

    Pgina 22, Peixe azul, de Jos Custdio Marques Memc, in Ticuna Pinturas da Floresta.

    Pgina 26, detalhe de painel de autoria da equipe da OGPTB Organizao dos Professores Ticuna

    do Brasil, in Ticuna Pinturas da Floresta.

    Pgina 30, Buritizal, de Joo Clemente Gaspar Metchiic, tcnica: gouache, in Ticuna Pinturas da

    Floresta.

    Pgina 31, Karuat, de Matari Kaiabi, desenho, in Livro das guas. Professores Indgenas do Parque

    do Xingu, Maria Cristina Troncarelli (orgs) So Paulo: ISA, ATIX, 2002.

    70

  • Pgina 35, O Buritizal e os Animais, de Cidberght Custdio Marques Nupaweec, tcnica: gua-

    che, in Ticuna Pinturas da Floresta.

    Pgina 37, Cu, terra e gua, de Maiu Ikpeng, in Livro da guas.

    Pgina 41, As mulheres com a mandioca. Amatiwan Trumai.

    Pginas 42 e 43, redes Kuikuro, www.arteindigena.com.br

    Pginas 44 e 45, Os pescadores. Pintura, tcnica: leo sobre tela 1997. Assinado Amatiwan

    Trumai.

    Pgina 46, Piracema, guache de Joo Otaviano do Carmo Filho Teracic, in Ticuna Pinturas da

    Floresta.

    Pginas 48 e 49, desenhos dos agentes agroflorestais Aldemir Bina Kaxinaw e Benki Asheninka, in

    Calendrio Floresta e Manejo, editado pela Comisso Pr-Indio do Acre e a Secretaria de Coordenao

    da Amazonia, Ministrio do Meio Ambiente, Brasilia, 2002.

    Pgina 50, grafismo Wajpi, de Jawarua, in Kusiwa: pintura corporal e arte grfica Wajpi. Domini-

    que Gallois e ndios Wajpi. Museu do ndio Funai. Centro de Trabalho Indigenista, Ncleo de Histria

    Indgena e do Indigenismo. RJ. 2002.

    Pgina 51, Akaikuni, de Amatiwan Trumai, leo sobre tela, 2000.

    Pgina 53, Brinco Karaj in A Plumria indgena brasileira. Sonia Ferraro Dorta e Marlia Xavier Cury.

    So Paulo: Edusp. 2000.

    Pgina 57, Casamento Patax, de Kantyio Patax, in O povo Patax e sua histria. Angthichav,

    Arariby, Jassan, Manguad e Kantyio. Minas Gerais: MEC/Unesco/SEE-MG, 1997.

    Pgina 58, grafismo Wajpi, de Muruti, in Kusiwa: pintura corporal e arte grfica Wajpi.

    Pgina 61, Arakuni, de Amatiwan Trumai, tcnica mista sobre carto, 1977.

    Pgina 62, Manto xamnico confeccionado pelos ndios Tupinamb no sculo XVII e levado para

    a Europa por Maurcio de Nassau. Acervo do Museu de Histria Natural da Dinamarca. (SUBSTITUIDO

    TEMPORARIAMENTE PELO COCAR)

    71>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • Autores, fontes e referncias bibliogrfi cas dos textos por ordem de apario

    Nelson Xacriab. Escrita em papel.

    In ALMEIDA, Maria Ins (org). Literatura Xacriab em lngua portuguesa. OEIY, UFMG, MEC, 2006.

    Ailton Krenak. Ler e Escrever uma tcnica.

    In BESSA FREIRE, Jos R. La presencia de la literatura oral en el proceso de creacin de bibliotecas ind-

    genas en Brasil. Mxico. Conaculta. 2004. (Memria del Segundo Encuentro Internacional sobre Biblio-

    tecas Pblicas. Puerto Vallarta, Jalisco.Mexico)

    Davi Kopenawa Yanomami (com Bruce Albert). Descobrindo os brancos.

    In NOVAES, Adauto (organizao.) A Outra margem do Ocidente. So Paulo. Cia. Das Letras. 1999.

    Daniel Munduruku. Histrias moram dentro da gente.

    www.danielmunduruku.com.br

    Joaquim Man Kaxinaw. A canoa do tempo.

    In SHENIPABU Miyui. Histria dos antigos. Organizao dos professores indgenas do Acre e Comisso

    Pr-ndio do Acre. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2000.

    Adalberto Maru Kaxinaw e Joaquim Man Kaxinaw. Histria passado, histria

    presente.

    In MATOS, Claudia; MONTE, Nietta (orgs). Antologia da Floresta. Professores ndios do Acre, Rio de

    Janeiro: CPI/AC, 1998.

    Gabriel dos Santos Gentil. A criadora do Mundo.

    In GENTIL, Gabriel dos Santos. Mito Tukano. Quatro Tempos de Antiguidades. Histrias proibidas do

    Comeo do Mundo e dos Primeiros Seres. Tomo I. Frauenfeld : Verlag Im Waldgut, 2000.

    Zeneida Lima. No princpio eram as guas.

    In LIMA, Zeneida. O Mundo Mstico dos Caruanas da Ilha do Maraj. Belm, Par Edies CEJUP, 2002.

    Pablo Ver. A origem e o fundamento da palavra segundo os guarani.

    In CADOGAN, Leon. Ayvu rapyta: textos mticos de los Mby-Guaran del Guair. So Paulo: USP, 1959.

    72

  • Daniel Munduruku. As serpentes que roubaram a noite.

    In MUNDURUKU, Daniel. As serpentes que roubaram a noite e outros mitos. Ilustraes: Crianas Mun-

    duruku da aldeia Kato. So Paulo: Editora Peirpolis,2001

    Autoria coletiva: professores Ticuna. Curupira.

    In GRUBER, Jussara Gomes (org.). O livro das rvores. Professores e ilustradores Ticuna. So Paulo: Glo-

    bal, 2000

    Mayuluaipu. Macunama e Waimesa-Podole.

    In KOCH-GRNBERG, Theodor. Del Roraima al Orinoco.Trs tomos. Caracas: Ernesto Armitano Editor. 1981

    Severino Bandeira Atikun. Bernab.

    Histria recolhida pela professora Maria Joslia em entrevista com Severino Bandeira Atikun, na aldeia

    Baixo.

    Margarida Maria de Jesus Kiriri. Papagaio Catlico.

    In MOTTA, Erimita; CORTES, Cllia (orgs). Histrias Kiriri. MEC/ SEF, Universidade Federal da Bahia, 2000.

    Noberto Sales Kaxinaw. Eu pensava que a terra remendava com o cu.

    In MATOS, Claudia; MONTE, Nietta (orgs). Antologia da Floresta. Professores ndios do Acre, Rio de

    Janeiro: CPI/AC, 1998.

    Marli Peme Arara. Mulher MaPay.

    In ARARA, Marli Peme. Projeto Aa. Curso de Formao de Professores. Porto Velho. Secretaria de Edu-

    cao de Rondnia. 2006

    Annimo. Mulher de Perna Fina.

    Recolhido por dois viajantes alemes Spix e Matius, em maro de 1820, no rio Urari, afluente

    do rio Madeira.

    In BESSA FREIRE, Jos Ribamar. Rio Babel: a histria das lnguas na Amaznia. Rio de Janeiro, Ed. UERJ

    e Atlntica Editora. 2004

    Annimo. Acupitiru.

    Cano de ninar em Nheengatu, recolhida em 1873, pelo cnego Francisco Bernardino de Souza, autor

    desta traduo.

    In BESSA FREIRE, Jos Ribamar. Rio Babel: a histria das lnguas na Amaznia. Rio de Janeiro, Ed. UERJ

    e Atlntica Editora. 2004

    Aturi Kayabi. gua que mata a sede.

    In TRONCARELLI, Maria Cristina; Professores Indgenas do Parque do Xingu. Livro das guas. So Paulo:

    ISA, ATIX, 2002

    73>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • Perank Panar. Correr das Pedras.

    In TRONCARELLI, Maria Cristina; Professores Indgenas do Parque do Xingu. Livro das guas. So Paulo:

    ISA, ATIX, 2002

    Autoria coletiva: professores Ticuna. Qualquer vida muita dentro da floresta.

    In GRUBER, Jussara Gomes (org.). O livro das rvores. Professores e ilustradores Ticuna. So Paulo: Glo-

    bal, 2000

    Alexandre Acosta Guarani. Esta terra que pisamos o nosso irmo.

    Depoimento indito do Sr. Alexandre Acosta (60 anos), em lngua guarani, recolhido e traduzido pelo

    professor guarani Marcos Moreira em 2004 na Aldeia Jataty, Canta Galo-RS. Curso de Formao de

    Professores Guarani do Sul e Sudeste. Mdulo de Histria ministrado pelo professor Jos R. Bessa

    Emlio Gomes de Oliveira Xacriab. O que no tem mdico tem mata.

    In ALMEIDA, Maria Ins (org). Com os mais velhos. OEIY, UFMG, MEC, 2006.

    Autoria coletiva: professores indgena do Acre. Geografia, o que .

    In GAVAZZI, Renato (org). Geografia Indgena. Professores do Parque do Xingu, Instituto Socioambien-

    tal, ISA, MEC, 1998

    Jonado Saban Nambikwara. Pssaro Vermelho.

    In Prticas pedaggicas e Linguagem - 3 grau indgena. Seduc-MT/Unemat/Funai/MEC. Barra do Bu-

    gres-MT, 2005.

    Edson Ix Kaxinaw. Quando voc for.

    In MATOS, Claudia; MONTE, Nietta (orgs). Antologia da Floresta. Professores ndios do Acre, Rio de

    Janeiro: CPI/AC, 1998.

    Joaquim Man Kaxinaw. O amor.

    In MATOS, Claudia; MONTE, Nietta (orgs). Antologia da Floresta. Professores ndios do Acre, Rio de

    Janeiro: CPI/AC, 1998.

    Annimo. Te mandei um passarinho.

    Cano recolhida em 1874 no Par por Couto de Magalhes.

    In BESSA FREIRE, Jos Ribamar. Rio Babel: a histria das lnguas na Amaznia. Rio de Janeiro, Ed. UERJ

    e Atlntica Editora. 2004

    Kanatyo Patax e outros. Casamento Tradicional.

    In ANGTHICHAV; ARARIBY; JASSAN; MANGUAD E KANTYIO. O povo Patax e sua histria. Minas

    Gerais: MEC/Unesco/SEE-MG, 1997.

    74

  • Miguel Panemaxern Surui. Tudo passa.

    In MATOS, Claudia; MONTE, Nietta (orgs). Antologia da Floresta. Professores ndios do Acre, Rio de

    Janeiro: CPI/AC, 1998.

    Eliane Potiguara. Eu no tenho minha aldeia.

    In POTIGUARA, Eliane. Metade cara, metade mscara. So Paulo: Global, 2004.

    Andila Incio Belfort Kaingng. O contraditrio.

    In Prticas pedaggicas e Linguagem - 3 grau indgena. Seduc-MT/Unemat/Funai/MEC. Barra do Bu-

    gres-MT, 2005.

    Yanin Kaiabi. Quem vai segurar.

    In TRONCARELLI, Maria Cristina; Professores Indgenas do Parque do Xingu. Livro das guas. So Paulo:

    ISA, ATIX, 2002.

    Avaju Poty. Borboleta Amarela.

    In Guata Por. Opora O canto sagrado guarani. CD. Curitiba. Fundao Cultural. 2000

    75>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • Glossrio

    A criadora do mundo

    O autor, Gabriel Gentil, do povo tukano, falecido recentemente, era kumu, ou seja, curador e conhe-

    cedor das plantas medicinais, mestre de cerimnias e de cantos. Falava portugus e tukano. Escreveu

    esses mitos que foram publicados na Sua (2000) em edio bilnge.

    Miio As msicas eram gente. Esse personagem mtico gente-msica, ou Yep, a Primeira Mulher, que tocava por si mesma.

    Yep a primeira personagem feminina do Mito da Criao da Terra. A palavra Yep do idioma antigo, usada em cerimnias religiosas. Forma outras palavras compostas como Yep-r, ou

    Tambor da Terra, o primeiro nome do Trovo, Yep-Bahuri-Mahs, gente-terra que apareceu

    por si mesma.

    Nihsma e Nihsohpe significam o Caminho Delicado de Passagem, que une o Outro Mundo ao Nosso Mundo, nessa Terra. Na linguagem corrente conhecido como Yahp (vagina).

    Yep-wii nome de uma Casa do Mito da Criao, que ficava abaixo do nvel da nossa Terra. um lugar provisrio, para passar o tempo, um lugar de transformao de vida de gentes que so

    mandadas de volta para a Terra, depois de terem existido com outras formas de vida. L no existe

    morte, nem velhice, nem nascimento, nem doenas.

    Mo- puhtiro cerimnia sagrada realizada na Casa do Vento antes da criao da Terra

    Yep-Bhko nome de uma das esposas do Yep-r, ou Tambor da Terra, o primeiro nome do Trovo

    Bahses cerimnia sagrada. Buhtyr-bahses: cerimnia para que o rapaz no seja preguioso e seja trabalhador.

    Dit-bahser cerimnia do sopro, uma das cerimnias sagradas do Mito da Criao.

    Dit-h-amsoko bahser cerimnia da terra, outra cerimnia sagrada.

    76

  • No princpio eram as guas

    Au ser altivo e luminoso, personagem mtico do mundo dos Encantados, que vive no fundo das guas, de onde nasceram todas as coisas.

    Igaaba palavra do Nheengatu, lngua de base tupi, plenamente incorporada ao portugus regional da Amaznia. Significa vaso de barro, pote para gua, urna funerria.

    Palmiformes que tm a forma de palma, com os dedos dos ps unidos por uma membrana.

    Anhang ou ananga duende da floresta, protetor dos animais selvagens. Castiga os caadores pre-dadores que matam a caa sem critrios. Anda montado num veado branco com olhos de fogo e

    quem o v tem febre e alucinao. Os missionrios o identificaram, de forma equivocada, como

    o diabo.

    Caruanas na pajelana cabocla da Ilha do Maraj, so as energias liberadas pelas guas, que orien-tam os pajs para curar os doentes e so chamadas atravs de cantos. Carus so as energias de

    pessoas que desaparecem nas guas.

    Origem e fundamento da palavra, segundo os Guarani

    Nhamandu Nos textos mticos dos Mby-Guarani, Nhamandu Nosso Primeiro Pai, criador do mundo.

    Curupira

    Sapopema tipo de raiz das grandes rvores, com uma base chata, de feitio triangular. Em Nheengatu, sapu raiz e pema achatada. Sumaumeira uma rvore das florestas inundveis, com um tron-

    co enorme, flores brancas e frutos contendo uma fibra parecida com o algodo.

    Historia Bernab

    Encabelando significa que o pelo est crescendo novamente.

    Enxu uma grande colmia.

    77>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • Mulher

    Totonew um dos deuses dos ndios Arara.

    Acutipuru

    Acutipuru animal mamfero, roedor, de cauda comprida e enfeitada, que dorme o dia todo, depois de passar a noite em plena atividade. Segundo o estudioso italiano que viveu no Rio Negro (AM),

    vrias etnias acreditam que sob a forma de acutipuru que a alma das pessoas sobe ao cu, logo

    que o corpo acaba de apodrecer.

    Esta terra que pisamos

    Karai Hoje o termo karai, para os guarani, se refere ao sbio, ao velho portador de sabedoria.

    78

  • Outros livros desta coleo

    At wis ex el ut alis augait nostie do

    consent irit, sum nostincilis dunt

    wissim dolendi onulput incillamcon ut

    aliquat ut eum dolorer augiamcommy

    niam, sustie doloborem.

    Secte facipit luptatum ipit augait et

    prat ver adigna acin hent lum zzriure

    commy nisit ea facip ex eugait praestis

    augait nulpute dignis exercing ex er

    am, quisit nummy num vel iuscilit adip

    et ulput alis adionsed del ullaoreet

    praestrud dit digna feu feumsandre

    modo ea feugiamet verat.

    At wis ex el ut alis augait nostie do

    consent irit, sum nostincilis dunt

    wissim dolendi onulput incillamcon ut

    aliquat ut eum dolorer augiamcommy

    niam, sustie doloborem.

    Secte facipit luptatum ipit augait et

    prat ver adigna acin hent lum zzriure

    commy nisit ea facip ex eugait praestis

    augait nulpute dignis exercing ex er

    am, quisit nummy num vel iuscilit adip

    et ulput alis adionsed del ullaoreet

    praestrud dit digna feu feumsandre

    modo ea feugiamet verat.

    Chico e a cidadeO encontrodo cordelcom o Rap

    79>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL

  • 80

  • SUPERNOVA PROJETOS EDITORIAIS

    Coordenao de produoCristina Guimares

    Projeto grfico e capaRibamar Fonseca

    Reviso do textoAlessandro Mendes

    Auxiliar de produoAdriana Mattos

    A fonte de texto a Versailles, corpo 11,5, projetada por Adrian Frutiger em 1984, serifada, baseada nos tipos franceses desenhados no sculo 19.

    Impresso para o Ministrio da Educao em ... de 2007.

    Produo grfi ca e editorial

    >>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL 81

  • POPO YJU

    Popo YjuAra OwyOpawaer hey Por

    EjapoWaiemeandekwerupe

    Avaju Poty Guarani

    BORBOLETA AMARELA

    Borboleta amarelaNo cu azulInfinita beleza

    No fazer mala ningumInfinita beleza