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Técnicas de Psicoterapia Breve Raquel Ayres de Almeida As psicoterapias breves são terapias de objetivos limitados por terem suas metas mais reduzidas e mais modestas que as do tratamento psicanalítico, cuja meta fundamental é tornar consciente o inconsciente. Essa limitação dos objetivos terapêuticos é uma das principais características do procedimento da PB e aparece em função das necessidades mais ou menos imediatas do indivíduo. Esses objetivos podem colocar-se em termos da superação dos sintomas e problemas atuais da realidade do paciente. O foco aparece, então, como orientador de toda teoria e condição essencial de eficácia em psicoterapia breve, muitas vezes chamada de psicoterapia focal. O foco ou conflito focal refere-se ao conflito ou situação atual do paciente, subjacente ao qual existe o conflito nuclear exacerbado. Esse foco deve ser resolvido por ação direta e específica, negligenciando os outros aspectos da personalidade. Fiorini (2004) deu a essa estratégia de atenção seletiva o nome de “omissões deliberadas”, no qual se deve deixar passar material atraente sempre que este se mostre irrelevante ou afastado do foco. Como é praticamente impossível que uma pessoa tenha apenas um conflito, visto a policausalidade de uma psicopatologia psicodinâmica, é preciso detectar determinadas situações conflitivas mais significativas em determinado momento, que são as que precipitam a consulta. Há que se fazer uma diferenciação entre a psicoterapia focal e a psicoterapia breve: na primeira, procura-se resolver a queixa do paciente ou um conflito predominante; na segunda, trata-se de ajudar a encarar os diversos conflitos predominantes que determinam variados quadros na psicopatologia psicodinâmica. (Knobel, 1986). Enquanto no tratamento psicanalítico a duração não é determinada de antemão, prolongando-se durante anos, nas terapias breves é comum que se fixe um prazo previamente, e que seja mais curto, em geral alguns meses. Essa peculiaridade se justifica pelo fato de que, “quando se fixa um prazo de encerramento, este cria invariavelmente uma situação bastante diferente (...) influenciando de modo decisivo os diferentes aspectos do vínculo terapêutico, em especial a finalização do tratamento”. (Braier, 1991, p. 19). Esses princípios, a dizer foco e temporalidade, norteiam todas as formas de PB. Existem outros princípios que variam de acordo com a fundamentação teórica de cada abordagem, variando consequentemente as técnicas utilizadas por cada uma. Nessa seção, serão expostas as técnicas de alguns autores em PB, a saber, Knobel(1986), Gilliéron (1986), Braier (1991) e Fiorini (2004). Esses autores foram selecionados a partir de uma identificação prévia da autora com a aplicabilidade de sua técnica e referencial teórico dos mesmos.

Técnicas de Psicoterapia Breve

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Tcnicas de Psicoterapia BreveRaquel Ayres de AlmeidaAs psicoterapias breves so terapias de objetivos limitados por terem suas metas mais reduzidas e mais modestas que as do tratamento psicanaltico, cuja meta fundamental tornar consciente o inconsciente. Essa limitao dos objetivos teraputicos uma das principais caractersticas do procedimento da PB e aparece em funo das necessidades mais ou menos imediatas do indivduo. Esses objetivos podem colocar-se em termos da superao dos sintomas e problemas atuais da realidade do paciente.O foco aparece, ento, como orientador de toda teoria e condio essencial de eficcia em psicoterapia breve, muitas vezes chamada de psicoterapia focal. O foco ou conflito focal refere-se ao conflito ou situao atual do paciente, subjacente ao qual existe o conflito nuclear exacerbado. Esse foco deve ser resolvido por ao direta e especfica, negligenciando os outros aspectos da personalidade. Fiorini (2004) deu a essa estratgia de ateno seletiva o nome de omisses deliberadas, no qual se deve deixar passar material atraente sempre que este se mostre irrelevante ou afastado do foco.Como praticamente impossvel que uma pessoa tenha apenas um conflito, visto a policausalidade de uma psicopatologia psicodinmica, preciso detectar determinadas situaes conflitivas mais significativas em determinado momento, que so as que precipitam a consulta. H que se fazer uma diferenciao entre a psicoterapia focal e a psicoterapia breve: na primeira, procura-se resolver a queixa do paciente ou um conflito predominante; na segunda, trata-se de ajudar a encarar os diversos conflitos predominantes que determinam variados quadros na psicopatologia psicodinmica. (Knobel, 1986).Enquanto no tratamento psicanaltico a durao no determinada de antemo, prolongando-se durante anos, nas terapias breves comum que se fixe um prazo previamente, e que seja mais curto, em geral alguns meses. Essa peculiaridade se justifica pelo fato de que, quando se fixa um prazo de encerramento, este cria invariavelmente uma situao bastante diferente (...) influenciando de modo decisivo os diferentes aspectos do vnculo teraputico, em especial a finalizao do tratamento. (Braier, 1991, p. 19).Esses princpios, a dizer foco e temporalidade, norteiam todas as formas de PB. Existem outros princpios que variam de acordo com a fundamentao terica de cada abordagem, variando consequentemente as tcnicas utilizadas por cada uma.Nessa seo, sero expostas as tcnicas de alguns autores em PB, a saber, Knobel(1986), Gilliron (1986), Braier (1991) e Fiorini (2004). Esses autores foram selecionados a partir de uma identificao prvia da autora com a aplicabilidade de sua tcnica e referencial terico dos mesmos.A tcnica proposta por Knobel (1986) se sustenta em quatro princpios: no-transferencial, no-regressiva, elaborativa de predomnio cognitivo, e mutao objetal (experimentar uma nova vivncia de uma situao conflitiva). Segundo o autor, a entrevista inicial fundamental para determinar o futuro da relao teraputica, que pode iniciar ou acabar nesse momento. Essa entrevista deve permitir fundamentar um diagnstico holstico, bio-psico-social, fenomenolgico e metapsicolgico, para assim, determinar que tipo de tratamento se ir realizar.Nessa entrevista, deve-se avaliar a capacidade egica, as estruturas mais ou menos patolgicas e mais ou menos rgidas, os mecanismos de defesa utilizados na entrevista e os potenciais do entrevistado, sua capacidade intelectual, de simbolizao e abstrao, suas limitaes totais, sua tonalidade afetiva diante de determinados assuntos e problemas apresentados. A modalidade relacional, ou seja, sua forma bsica de comportamento e relacionamento com o terapeuta, um aspecto fundamental a ser determinado. Deve-se registrar tambm as manifestaes transferenciais, que ajudam a compreender os problemas apresentados, alm das contratransferenciais que podem direcionar o tratamento. Um fator importantssimo para o autor na entrevista inicial avaliar os aspectos resistenciais do entrevistado, assim como sua disponibilidade para umaterapia, ou seja, a motivao real do prprio paciente.O autor salienta que a entrevista inicial geralmente no ocorre em uma nica sesso ou um nico encontro. Ao final da entrevista deve-se efetuar a devoluo do material, atravs do qual se faz uma avaliao da entrevista, formulao de um diagnstico e uma proposta teraputica.Uma vez decidida a proposta de psicoterapiabreve, e aceita pelo paciente, deve-se formalizar a relao contratual que dar os limites mais precisos do enquadre psicoteraputico e o colocar dentro de uma realidade operativa. Fiorini (2004) e Braier (1991) tambm se ocupam desse tema. Os autores concordam que na entrevista inicial que se fala de acordos especficos ou contrato, no qual se deve falar o que uma psicoterapia, de quais so os papis a serem desempenhados pelo terapeuta e o paciente, e o que se espera que cada um faa, da necessidade de antecipar resistncias e de uma formulao realista do que se espera de uma psicoterapia de pouca durao, na qual, diante da possibilidade de no resoluo dos problemas, se ajudar o paciente a entend-los melhor e a enfrent-los com maior capacidade. Alm desses aspectos, deve-se tambm abordar a questo dos honorrios, frias e horrios, e propor uma durao.Gilliron (1986) vive um momento de passagem da psicanlise para as psicoterapias breves e por isso sua tcnica no to ativa. Para ele, o enquadre psicoterpico compreende os dados fundamentais que delimitam o campo da PB, dado que modifica as condies da interao dinmica. Sua tcnica, desenvolvida em Lousanne, se baseia essencialmente na limitao temporal e a disposio face a face. O autor pede ao paciente que indique o tempo que ele se atribui para resolver suas dificuldades, no limitando ele prprio o tempo de tratamento.Gilliron utiliza a associao livre, sem determinar previamente o problema consciente a ser tratado, ou seja, no enfoca uma problemtica a ser tratada e no exige do terapeuta uma atitude ativa. O terapeuta, de acordo com sua tcnica, deve ter sua ateno flutuante. Segundo o autor, a funo do enquadre criar uma situao relacional prpria para favorecer a atividade do terapeuta e sua eficcia.As intervenes do terapeuta devem favorecer as associaes e permitir tomadas de conscincia, mas no deve dirigi-lo.A PB de Braier (1991) orientada em direo ao insight, ou seja, o principal propsito da terapiadinmicabreve propiciar ao paciente a aquisio de insight por meio de interpretaes. O autor define insight como a aquisio do conhecimento da prpria realidade psquica. Essa busca de insight dirigida para as relaes do sujeito com os objetos externos de sua vida cotidiana e presente, sendo portanto limitado e no regressivo. Braier afirma que na PB no conveniente favorecer o desenvolvimento da regresso nem de uma neurose transferencial, dado que as condies do paciente e/ou enquadramento no so apropriadas para tais fins. Para o autor, a aquisio de insight por parte do paciente a forma mais apreciada de se conseguir o fortalecimento de seu ego.O trabalho teraputico em PB, segundo Braier, tem como caracterstica substancial o foco, ou seja, estar enfocado para determinada problemtica do paciente, que adquire prioridade, dada sua urgncia e/ou importncia, enquanto se deixam de lado as demais dificuldades. Para isso, h uma eleio dos conflitos a serem tratados. Braier utiliza o conceito de ponto de urgnciaque corresponde situao psquica inconsciente de conflito que, pela ao de fatores atuais, predomina no sujeito num dado momento, sendo motivo de determinadas ansiedades e defesas. (Braier, 1991, p.44). O ponto de urgncia pode ser inerente ao foco ou ser relativamente estranho a ele.O autor, em sua tcnica, admite a associao de diversos elementos ou recursos teraputicos, como psicodrogas, tcnicas grupais, comunitrias, alm das intervenes verbais no-interpretativas (assinalamentos, sugestes, fornecimento de informaes, etc.). O planejamento da PB de Braier compreende um plano de tratamento prvio ao desenvolvimento do mesmo, no qual se fixam os pontos fundamentais do processo teraputico alm das metas e da durao do tratamento.A teraputicabrevede Fiorini (2004) orienta-se fundamentalmente no sentido da compreenso psicodinmica dos determinantes atuais da situao de doena, crise ou descompensao, alm de uma compreenso psicodinmica da vida cotidiana do paciente e compreenso da estrutura da personalidade como uma subestrutura, visto que no encerra em si a totalidade das determinaes da estrutura doena. Fiorini, partindo do pressuposto de que o paciente capaz de conservar grau varivel de comportamento realista adaptativo, refere que a estratgia de PB deve levar em conta quais capacidades se acham invadidas por conflitos e quais se acham livres delas, organizando os recursos do indivecursos do indivevar em conta quais capacidades se acham invadidas por conflitos e quais se acham livres delas, organizando os duo de forma malevel. Dessa forma, se orienta para o fortalecimento das reas livres de conflito, caracterizando a psicoterapiabrevecomo psicoterapia do ego.O autor afirma que uma das caractersticas bsicas das teraputicas breves operar com uma estratgia multidimensional, j que o indivduo doente surge como um objeto complexo, multideterminado por fatores suscetveis de integrar estruturas diversas, tornando-se necessria a flexibilidade na escolha da tcnica. Esse princpio da flexibilidade se aplica no s individualizao desta, mas tambm remodelao peridica da estratgia e das tticas em funo da evoluo do tratamento.Segundo a teoria de Fiorini o terapeuta deve desempenhar naterapiabreveum papel essencialmente ativo, dispondo para isso, de uma ampla gama de intervenes. Sua participao orienta a entrevista de modo mais direto, no permitindo que o curso daterapiaseja entregue espontaneidade do paciente. Para isso, o terapeuta elabora um plano de abordagem individualizado a partir da avaliao da situao total do paciente e compreendendo a estrutura dinmica essencial de sua problemtica. Fiorini chama esse plano de projeto teraputico, que estabelece metas a serem atingidas em prazos aproximadamente previsveis. Essa orientao estratgica das sesses significa focalizao do esforo teraputico, atravs do qual o terapeuta atua mantendo um foco, que seria a interpretao central sobre a qual se baseia todo o tratamento.Outro aspecto importante da tcnica de Fiorini a limitao das possibilidades de regresso transferencial em virtude das condies de enquadre, visto que o tempo limitado de tratamento torna indesejvel o desenvolvimento de uma intensa neurose transferencial. Nessa tcnica tambm no se busca a regresso, sendo a recomendao geral a orientao constante para a realidade, fortalecendo no paciente sua capacidade de discriminao.REFERNCIAS BIBLIOGRFICASBraier, E.A. (1991).Psicoterapiabrevede orientao psicanaltica. So Paulo: Martins Fontes.Castro, E.R. & Guarn, M.R. (1985). Un modelo de PsicoterapiaBreveen pacientes hospitalizados con grave enfermedad somtica.Rev. Col. de Psiquiatra.14 (2), 244-257.Fiorini, H.J. (2004).Teoria e Tcnicas de Psicoterapias. So Paulo: Martins Fontes.Freud, S. (1893-5). Estudos sobre a Histeria. In Freud, S. (1996).Obras Completas, vol. II. Rio de Janeiro: Imago.Gilliron, E. (1986).As Psicoterapias Breves.Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.Gilliron, E. (1993).Introduo s Psicoterapias Breves.So Paulo: Martins Fontes.Knobel, M. (1986).PsicoterapiaBreve. So Paulo: EPU.Oliveira, I.T. (1999). Psicoterapia PsicodinmicaBreve: dos Precursores aos Modelos Atuais.Psicologia: Teoria e Prtica. 1(2), 9-19.

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