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TempoLivre N.º 243 Dezembro 2012 Mensal 2,00 www.inatel.pt Entrevista Isabel Jonet: “As pessoas têm de ser mais solidárias” Destacável de 16 páginas Hotéis Inatel Os dias tranquilos

Tempo Livre Dezembro

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TempoLivreN.º 243Dezembro 2012Mensal2,00 €

www.inatel.pt

Entrevista Isabel Jonet: “As pessoas têm de ser mais solidárias”

Destacável de 16 páginas

Hotéis InatelOs dias tranquilos

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Sumário

Revista Mensal e-mail: [email protected] | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Fernando Ribeiro Mendes Vice-Presidente: José ManuelSoares; Vogais: Jacinta Oliveira Santos e Álvaro Carneiro Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Nº Pessoa Colectiva: 500122237Director: Fernando Ribeiro Mendes Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Teresa Joel Colaboradores: António Costa Santos, CarlosBarbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Magalhães de Castro, José Jorge Letria, José Luís Jorge, ManuelaGarcia, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, Maria Mesquita, Pedro Barrocas, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Sousa Ribeiro, Susana Neves, Vítor Ribeiro. Cronistas:Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Fernando Dacosta, Joaquim Letria, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada deSant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA, Telef. 210027000 Publicidade: Direcção de Marketing (DMRI) Telef. 210027189; Impressão: Lisgráfica - Impressão eArtes Gráficas, SA - Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de pro-priedade na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 142.351 exemplares

Na capa

DESTACÁVEL DE 16 PÁGINAS

Dias tranquilosnos hotéis InatelA TL dá conta, em 16páginas bem ilustradasdesta edição, dos novospreços e virtualidades dasmúltiplas e atractivasunidades hoteleiras daFundação Inatel. Espaçosrenovados e diversificados,situados em diferenteslugares do continente eregiões autónomas, oshotéis Inatel são uma boaalternativa de repouso elazer para os associados ebeneficiários da Fundação.

5 EDITORIAL

6 CARTAS E COLUNA

DO PROVEDOR

8 NOTÍCIAS

16 CONCURSO

DE FOTOGRAFIA

38 MEMÓRIA

Igrejas Caeiro

40 OLHO VIVO

42 A CASA NA ÁRVORE

63 O TEMPO E AS PALAVRAS

Maria Alice Vila Fabião

64 OS CONTOS

DO ZAMBUJAL

66 CRÓNICA

António Costa Santos

45 BOA VIDA

62 PASSATEMPOS

18ENTREVISTA

Isabel JonetLíder de 20 bancos alimentares quemovimentam diariamente 600 pessoas eenvolvem mais 36 mil em cada uma dasduas campanhas anuais de recolha dealimentos, Isabel Jonet manifesta umnatural orgulho na sua activa e profundaligação ao "maior movimento nasociedade civil portuguesa desde o pós-guerra".

24TERRA NOSSA

Aveiro: a arte e o marA ria dá a Aveiro um carácter singularno conjunto das cidades portuguesas.Mas a dita "Veneza" nacional soubeprojectar-se além ria. O crescimentoeconómico, iniciado no final do séculoXIX com a via-férrea, criou umaburguesia dinâmica e cosmopolita. Auniversidade, projecto nascido nadécada de 70 do século XX, trouxe umnovo élan à cidade.

30ARTESANATO

Júlia RamalhoHá meio século que das mãos de JúliaRamalho, uma das mais prestigiadasoleiras de Barcelos, saem figuras debarro com uma assinatura própria.

35TEATRO AMADOR

O grupo intergeracional de teatro amador(40 actores dos oito aos 89 anos), criadopelo Teatro da Trindade, no âmbito doAno Europeu do Envelhecimento Activoe da Solidariedade entre Gerações, temasas e consegue voar.

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Editorial

Fernando Ribeiro Mendes

Este é o primeiro número da Tempo Livreeditado sob a responsabilidade da novaAdministração da Fundação INATEL. Énatural, por isso, que aproveite o ensejo

para transmitir a todos os Associados algumas men-sagens simples sobre como se irá orientar o nossotrabalho nesta grande instituição, ao iniciarmoseste novo ciclo da sua vida já longa.

A Fundação INATEL, sendo a herdeira da velhaFundação Nacional para Alegria no Trabalho, e doInstituto Nacional para o Aprovei tamento dosTempos Livres dos Trabalhadores que sucedeu àque-la, na era democrática, tem atualmente uma missãobem definida. Promove as melhores condições paraa ocupação dos tempos livres e do lazer de todos,desenvolvendo e valorizando o turismo social, acriação e fruição cultural, a atividade física e despor-tiva, bem como a inclusão e a solidariedade social.Nesta medida, é parte integrante dos instrumentosde politica pública orientados para a realização dacidadania social.

Tal como se destaca na presente edição, a INA-TEL propõe dias tranquilos, designadamente atra-vés da sua rede de hotéis, a uma população debeneficiários cuja plena realização pessoal passa econtinuará a passar, em todas as idades da vida,pela ocupação do tempo livre de forma ativa e cria-dora, colocando ao alcance de todos o direito aolazer, a fruição cultural e o desporto. O que é aindamais importante quando estamos confrontadoscom o duro facto de vivermos tempos inquietosque nos obrigam a mudar o nosso modelo de vida,excessivamente alavancado no crédito abundanteque hoje não é mais sustentável.

Dito isto, há que repensar as nossas formas deintervenção. Trata-se de salvaguardar o essencial daactividade INATEL em todas as suas vertentes.Desde logo no acesso à nossa oferta turística e hote-leira, cuja qualidade crescente é por todos reconhe-cida, e que queremos projetar ainda mais através deprogramas para todos, sem prejuízo da necessária

diferenciação que se exige a quem serve gente dife-rente, com gostos e sensibilidades variadas, queimporta respeitar e satisfazer da melhor maneira pos-sível. Mas também pelo apoio às atividades culturaise desportivas, com tanta expressão nos milhares deCCD que, em todo o país, mobilizam tanto jovenscomo seniores para numerosas e ricas iniciativas decultura, na música, no canto, no teatro ou nas belasartes, bem como para a prática e a competição des-portiva. Brevemente, iniciaremos programas nas tra-dicionais e em novas áreas de intervenção INATEL,diversificados e mobilizadores. Nos tempos inquie-tos que vivemos importa fazer mais com menos, cha-mando à participação energias latentes no universoINATEL, ao mesmo tempo que o procuramos alargar.Em todas estas frentes de intervenção queremos cha-mar às nossas atividades mais e mais cidadãos ecidadãs e, neste sentido, aprovamos já a isenção dataxa de inscrição para novos associados no ano de2013.

Daremos a maior atenção aos programas sociaisdirigidos aos que têm especiais necessidades. Emtempos de austeridade orçamental teremos de serparticularmente inovadores a este respeito. Lazer etrabalho não são oposições irredutíveis, antes sedevem apoiar mutuamente, criando emprego paradesenvolver o lazer ao mesmo tempo que se ofere-cem ocupações de tempos livres aos que trabalham.

Também a Revista Tempo Livre irá conhecernovo formato no próximo ano, mais compaginadoàs restrições orçamentais de 2013, mas cada vezmais próxima de todos.

Ao iniciar funções, a nova Administração quer-vos dizer, sem margem para dúvidas: nós confia-mos nos associados INATEL. A vós só vos quere-mos pedir o benefício da dúvida quanto ao trabalhoque ora iniciamos.

Sendo quadra de festa familiar e religiosa, que-remos também desejar-vos Feliz Natal e Bom AnoNovo. n

Presidente da Fundação INATEL

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Dias tranquilos em tempos inquietos

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Cartas

Coluna do Provedor

Carta da prisãoEncontro-me detido no Estabelecimento Prisionalde Castelo Branco, e tive o prazer de ler a revista"Tempo Livre", que me foi oferecida por alguém, esobre a qual deixo aqui expresso o meu parecermuito positivo, e as minhas felicitações pelo ópti-mo trabalho que desenvolvem e produzem.

Aproveito também para vos dizer que a leitu-ra é algo muito importante para mim (e paraoutros reclusos, claro), pois aqui o tempo é maispesado que o tempo do mundo real, aqui ele nãocorre, não anda, pura e simplesmente se arrasta,e arrasta mui vagarosamente… As revistas, os li -vros, os textos são efectivamente bons compa -nheiros, digo até amigos, porque muitas vezesconseguem até levar-nos em grandes viagens semsequer podermos partir.

Luís Esteves, E. P. de Castelo Branco

“Palavras da Lei”A resposta à pergunta constante na página 75, darevista "Tempo Livre" de Outubro, está errada.Visa esta tão só tranquilizar o consulente. A res-posta correcta é: "face ao testamento outorgadopela tia do consulente, a sobrinha da testadoranão lhe sucede, não tem qualquer direito à

herança". Sucedendo-lhe como única herdeiratestamentária a esposa do consulente e na hipó-tese desta não lhe sobreviver, a sua filha.

Qualquer pessoa pode dispor, por testamento,da totalidade do seu património desde que nãotenha herdeiros legitimários. São herdeiros legiti-mários: o cônjuge, os descendentes e os ascen-dentes (art. 2157º do Código Civil).

No caso em apreço, a tia do consulente nãotem herdeiros legitimários. Logo pode dispor datotalidade do seu património a favor da tia doconsulente, e na hipótese desta não lhe sobrevi-ver, a favor da filha deste. Assim, a esposa doconsulente, ou a filha deste, na eventualidadedaquela não sobreviver à testadora, será a únicaherdeira da testadora, não havendo quem lheprefira ou com ela concorra à sucessão naherança aberta por óbito da testadora.

Alberto da Costa Santos, sócio nº 14340

50 anos na INATELCompletam, este mês, 50 anos de ligação àFundação Inatel os associados: Manuel JoãoRamada Anacleto, do Porto; Isidoro Mendes FelixRibeiro, de Portalegre; Virgílio Pereira Fernandes,Lisboa.

MUITOS SÃO os associados que estão preocupados com

o futuro da INATEL e que, por diversas ordens de razão,

manifestam as suas opiniões. Num universo de 250.000

associados individuais, mais os cerca de 4000 colectivos

(Centros de Cultura e Desporto), sem esquecer os milhares

de utentes dos diversos Programas da Fundação, são múlti-

plos os ecos que nos chegam, dessas preocupações:

– Será que a INATEL vai acabar? Será que a suas

funções sociais se mantém? Será que o seu património se

conserva, se melhora e é aumentado sem o guloso apetite

de concorrentes privados?

São perguntas legítimas, suportadas nos objectivos

estatutários de serviço público da Fundação, cujo acção –

de inegável importância na economia social do país – está

em perfeita sintonia com a Constituição da República que

estabelece: "Incumbe ao Estado assegurar o desenvolvi-

mento sistemático de uma rede de Centros de Férias, em

cooperação com organização social". É uma norma do arti-

go 54 (alínea D) da Constituição de 1976 que tive a honra

de subscrever e que as revisões de 1982, 1989, 1992, 2005

confirmam.

O rigor de uma gestão, pautada por critérios de com-

provada competência e acompanhada de perto e certifica-

da por uma fiscalização homologada pelo Ministério da

tutela e pelos órgãos sociais, com a participação dos

Sindicatos, assegurará a eficácia da modernização estatutá-

ria da INATEL, com vista à auto sustentabilidade.

A INATEL não é nem poderá ser uma simples agência

de negócios. A Fundação tem funções sociais que o Estado

deve preservar, com a participação activa e atenta das cen-

trais sindicais nos seus órgãos estatutários. A INATEL é, há

muitas décadas, um organismo transversal da sociedade

portuguesa, um espaço único, familiar e plural de convívio,

lazer e cultura de sucessivas gerações. E esta é uma das

importantes bases sociais: a solidariedade familiar. Todos

os anos se festejam os que atingem os 50 anos de ligação ao

INATEL. Porque as suas memórias são a História da INA-

TEL, a matriz das suas funções sociais.

O Mundo está nas mãos daqueles que têm a coragem

de sonhar, lutar e viver os seus sonhos. E dizia Jean-Paul

Sartre: "Não importa o que passado fez de mim. Importa é

o que farei com o que o passado fez de mim." n

A correspondênciapara estas secções

deve ser enviadapara a Redacção de

“Tempo Livre”,Calçada de Sant’Ana,

nº. 180, 1169-062Lisboa, ou por e-mail:

[email protected]

Kalidá[email protected]

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Notícias

Por decisão do Conselho de Ministros (Reso -lução nº 41/2012), entrou em funções nopassado dia 30 de Outubro o novo Con -selho de Administração da FundaçãoInatel, substituindo o anterior CA, cujo

mandato tinha, entretanto, cessado. O novo CA tem aseguinte composição:

FERNANDO RIBEIRO MENDES, presidente, economista,doutorado em ciências económicas pelo Institut d' EtudesPolitiques de Paris. Exerceu diversos cargos e funções nosector privado e no sector público, nomeadamente as deSecretário de Estado da Segurança Social (1995/1999) eda Indústria, Comércio e Serviços (2001/02). Ensina noInstituto Superior de Economia e Gestão em Lisboa e tempublicado diversos trabalhos sobre temas de políticassociais e de responsabilidade social.

JOSÉ MANUEL DA COSTA SOARES, vice-presidente,licenciado em Engenharia Civil pela Faculdade deEngenharia da Universidade do Porto, membro de váriosconselhos de administração em empresas privadas, foivogal do Conselho Administração da EP – Estradas dePortugal, Entidade Pública Empresarial (EP – Estradas dePortugal, E. P. E.), foi eleito em vários mandatos comovereador da Câmara Municipal de Paços de Ferreira, foimembro do Conselho Geral da Santa Casa da Misericórdiade Freamunde, foi presidente da Assembleia Geral daAssociação Humanitária dos Bombeiros Voluntários deFreamunde. Foi galardoado com a Medalha de Ouro de

Altruísmo e Mérito do Município de Paços de Ferreira, porrelevantes serviços prestados ao Concelho.

ÁLVARO DA SILVA AMORIM DE SOUSA CARNEIRO,vogal, mestre em Sociologia do Trabalho, doutorando emCiências do Trabalho no ISCE, detentor de várias pós-gra-duações, eleito vereador da Câmara Municipal de Lisboa,professor universitário do ISCTE-IUL (convidado), técni-co superior na Câmara Municipal de Cascais, membro doConselho Científico e Directivo do OPBPL-ISCTE-IUL,tem obras publicadas, membro de várias associações,condecorado e tem um louvor por serviços prestados naCâmara Municipal de Lisboa. Possuidor de várias açõesde formação tem desenvolvido múltiplas iniciativas,acções e actividades em instituições sociais, culturais edesportivas.

JACINTA DO ROSÁRIO FERNANDES OLIVEIRA SANTOS,vogal, licenciada em Filosofia, pela Faculdade de Letras daUniversidade do Porto, pós-graduada em Comunicação eMarketing Político, pelo Instituto Superior de CiênciasSociais e Políticas, da Universidade Técnica de Lisboa, emestranda em Ciência Política no mesmo Instituto. Inicioua sua actividade profissional na Rádio e em Televisão. Foiprodutora, realizadora e apresentadora de programas noGrupo Renascença. Produziu e coordenou, em articulaçãocom organismos públicos e privados, eventos de âmbitocultural e recreativo. Exerceu ainda assessoria na área dacomunicação política e consultadoria em comunicação emarketing.

Nova Administraçãoda Fundação Inatel

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Fernando Ribeiro Mendes José Manuel Soares Álvaro Carneiro Jacinta Oliveira Santos

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l "Fomentar o intercâmbio entredirigentes, quadros superiores equadros técnicos das duasInstituições" e "promover o mútuoconhecimento das respectivasinstalações e equipamentos, bemcomo dos serviços prestados pelassuas unidades de hospedagem, eainda o contacto com o mercado locale seu potencial turístico", são algunsdos pontos centrais do protocolo quea Fundação Inatel celebrou, emNovembro último, com o ServiçoSocial do Comércio do Estado deMinas Gerais (SESC MG), no Brasil.O acordo, rubricado pelos presidentee vice-presidente da Inatel,respectivamente, Fernando RibeiroMendes e José Manuel Soares, e pelosDirector e SuperintendenteHospitalidade e Turismo do SESCMG, respectivamente Rodrigo PenidoDuarte e Luiz Neves de Souza,

abrange, ainda, o mútuo acesso dosassociados das duas entidades àsrespectivas unidades hoteleiras e deférias. As duas organizações –assinala o documento – consideramser do seu interesse darcontinuidade ao intercâmbio deexperiências nas áreas em que

desenvolvem as suas actividades, emparticular, fomentando ointercâmbio cultural e o turismosocial".Presentes, também, no acto deassinatura do acordo, osadministradores da Fundação, JacintaOliveira Santos e Álvaro Carneiro.

“Da Terra e da Água”

l A Inatel Porto foi palco, no

primeiro dia de Dezembro, do

lançamento do livro "Da Terra e

da Água", de José Manhente,

edição Mosaico de Palavras. A

apresentação, no auditório da

Fundação, esteve a cargo de

Sérgio Almeida, jornalista do

"Jornal de Notícias".

Protocolo Inatel/ Minas Gerais

l Na Galeria de Arte do Casino doEstoril está patente, até 13 docorrente, a exposição fotográfica"Olhando pelo Mundo", de AlexandreCosta, João Vicente, Álvaro Barcelose António Herrarte. A exposiçãofotográfica do projecto "Olhando peloMundo" é fruto de um livro de doisfotógrafos voluntários da AssociaçãoMédicos do Mundo. Um sonho que começou com umlivro oferecido por João Vicente aAlexandre Costa, no Natal de 2010 e,como os sonhos também se realizam,teve o seu início a 26 de Dezembro2011. De Alcochete partiram para aTierra del Fuego, na Argentina e, desul para norte, chegaram ao Alasca,nos Estados Unidos, através de

dezasseis países. Ao longo dosterritórios visitados foramprivilegiados os transportes terrestrese marítimos de cada país, seguindo arota da estrada pan-americana. Aexposição serve, igualmente, comoplataforma de lançamento do livrocom o mesmo nome, com o qual osautores pretendem contribuirsolidariamente para a AssociaçãoMédicos do Mundo.

“Olhando pelo Mundo”

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Prémio Literário Agustina Bessa-Luís

l Com o romance "A Vida Inútil de José Homem", a

psicóloga Marlene Correia Ferraz (Viana do Castelo,

1980) venceu a 5ª edição do Prémio Literário

Revelação Agustina Bessa-Luís, destinado a autores

com menos de 35 anos. O Júri, presidido por Vasco

Graça Moura, ao eleger o romance "A Vida Inútil de

José Homem", tomou em consideração "uma

apreciável desenvoltura narrativa e uma relação

criativa com a língua portuguesa". O romance – refere

ainda a acta do Júri – "evidencia situações dramáticas

da memória histórica portuguesa africana, num

enquadramento interessante e, em certa medida,

original".

Notícias

l O projecto europeu Calypso e,designadamente, odesenvolvimento do sectorturístico dirigido a públicosseniores – onde Portugal, atravésda Fundação Inatel, é um dospaíses pioneiros nodesenvolvimento deste sector deactividade – foi o tema central daintervenção de Rui Calarrão (nafoto) na conferência comemorativado Dia Europeu do Turismo,realizada em Bruxelas.Presente na capital belga emrepresentação da Inatel, oresponsável dos programas deturismo sénior em Portugaldestacou, ainda, na sua

intervenção, a importância e opeso que este segmento dapopulação significa para o sectorturístico e, naturalmente, para aeconomia do país.Promovida no âmbito do DiaMundial do Turismo, a conferênciade Bruxelas pretendeu promover adiscussão sobre como a herançaindustrial europeia podecontribuir para a diversificação daoferta turística na Europa e, emsimultâneo, como odesenvolvimento de estratégias naárea do turismo podem constituiruma forma de evitar o aumento dodesemprego e da depressãoeconómica.

Dia Europeu do Turismo

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Page 11: Tempo Livre Dezembro

A Fundação INATEL tem ao dispor dos

seus Beneficiários Associados diversas

formas de pagamento da sua

quotização anual, designadamente

através de débito directo, multibanco,

CTT, Payshop, cheque e numerário, e

através de uma das várias Agências

Distritais.

Como campanha de motivação para a

adesão ao sistema de débito directo, a

Fundação INATEL promove, durante o

período de 1 de Dezembro de 2012 a 15

de Fevereiro de 2013, uma campanha

de Adesão ao Débito Directo, com

oferta de dois vouchers de estadia nas

unidades hoteleiras da Fundação:

1.Voucher de 20% de desconto em

qualquer reserva (sem limite de noites),

quarto duplo, em regime APA, válido

até 30.06.2013.

2.Voucher de 1 noite extra, em igual

regime ao da reserva efectuada, válido

até 27.12.2013.

Condições: os vouchers são válidos nas

unidades hoteleiras da Fundação Inatel,

excepto na UH Graciosa e durante a

época especial; sujeitos a disponi -

bilidade, não podendo ser utilizados

cumulativamente, nem em simultâneo

com outras campanhas em vigor.

A campanha destina-se aos

beneficiários associados individuais e

aos equiparados a beneficiários

associados da Fundação INATEL que

adiram ao pagamento da quota anual

pelo sistema débito directo, para

regularização da quota de Associado

INATEL.

Para tal, basta aderir ao pagamento da

quota anual pelo sistema de débito

directo, através dos seguintes meios:

multibanco ou de home banking, via

internet, utilizando as referências

indicadas no aviso de pagamento;

numa das Agências Distritais da

INATEL, na sede da Fundação INATEL,

na Calçada de Sant’Ana, n.º 180 - 1169-

062 (secção de Associados) ou em

qualquer Agência Distrital da

Fundação INATEL, das 10h00 até às

17h00, de segunda a sexta-feira.

oferta de 2 vouchers nos hotéis Inatel

Adira ao débito directoa forma de pagamento mais cómoda e segura

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Page 12: Tempo Livre Dezembro

Notícias

l A Fundação INATEL, através dasua Agência de Beja, em parceriacom as autarquias de Beja, Serpa eAlmodôvar e outras entidadeslocais, associou-se às celebraçõesdo Ano Europeu doEnvelhecimento Activo e daSolidariedade Entre Gerações coma realização do espectáculo"Gerações do Cante – AlentejoSolidário" cuja estreia decorreu a 7de Novembro, no Teatro Pax Júlia,em Beja, com a participação degrupos corais dos três concelhos ede um coral de Castro Verde.

A iniciativa – repetida em Serpa eAlmodôvar – visou, ainda,contribuir para a preservação evalorização do Cante comopatrimónio cultural imaterial deelevada singularidade esimultaneamente proporcionar àcomunidade local e ao públicoinfanto-juvenil a possibilidade dedesfrutaram e assistirem a umespectáculo inovador erepresentativo da riqueza ediversidade das práticas musicaisde tradição oral do BaixoAlentejo.

Inatel promove Cante alentejano

l Com o romance "O agente da Catalunha", (ed. Planeta), Cesário Borga faz a sua

estreia no mundo da ficção. Numa Lisboa onde política, guerrilha e espionagem

traçam os rumos da Europa, o antigo jornalista da RTP, Flama, Capital, Diário de

Lisboa e O Jornal, apoiado no seu conhecimento da história peninsular do século

XX, viaja pela sangrenta guerra civil espanhola com uma surpreendente história de

amor entre o português Jorge, 'rebaptizado' Jordi, miliciano das barricadas

republicanas, e a bela guerrilheira catalã, Alba. De regresso a Lisboa numa missão

de combate aos regimes dos dois ditadores ibéricos, Jordi – agora Jorge – enfrenta a

GNR e apaixona-se pela compatriota Isaura…sem deixar de amar Alba. Com elas,

em Lisboa, desafia o destino, deambulando pelos bairros embalados pelo fado e

povoados de gente resignada…

“O agente da Catalunha”

12 TempoLivre | DEZ 2012

“Dei por mim,a brincar…”

l "Dei por mim, a

brincar…" traz ao Museu

da Água de Coimbra uma

nova forma de abordar o

que é a responsabilidade

social de todos nós. O

ninho não é apenas um

berço de pássaros, é

também símbolo de

protecção e união. É o

tema da exposição da

pintora Teresa Gonçalves

Lobo, patente até 14 de

Janeiro no belíssimo

espaço museológico que

se enquadra no Parque da

Cidade, edifício que

outrora albergou a

Estação de Captação de

Água.

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Page 13: Tempo Livre Dezembro

“Vidas de Enfermeiras”

l Reparar a lacuna da historiografiaportuguesa da segunda metade doséculo passado sobre a história dasmulheres na área da saúde foi oobjectivo de Marília de Freitas, autorado livro "Vidas de Enfermeiras",editado pela LusoCiência. Licenciadaem História pela Faculdade de Letrasde Lisboa, Mestre em CiênciasSociais e antiga enfermeira e docentena Escola de Enfermagem de SaúdePública, a autora apresenta 25biografias de enfermeiras portuguesas– nascidas entre 1860 e 1949 – queexerceram a sua actividade tanto naárea da prestação directa de cuidadoscomo nas áreas da docência, dagestão e investigação. Vinte e cinco

mulheres cujo percurso – assinala oprefácio de Teresa Santos – contradiz"o estigma da proveniência social eda incompetência geral".

"Um Novo Portugal"

l Editado recentemente pela Fronteira

do Caos, o livro "Um Novo Portugal –

ideias de, e para um país", é uma

colectânea de artigos publicados ao

longo dos últimos 25 anos em diversos

jornais e revistas pelo sociólogo e

jornalista Octávio dos Santos. Como

sublinha o autor, em jeito de prefácio, o

livro "ilustra" a sua "evolução pessoal,

mental, ideológica, de (inconsciente)

republicano comunista, na esquerda, a

(consciente) monárquico conservador,

na direita", tendo em comum, "em todo o

percurso, inalterável, sempre a vontade

de apontar, denunciar, problemas e de

propor, expor, soluções".

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Page 14: Tempo Livre Dezembro

Notícias

l Lista dos premiados no sorteio dospremiados do concurso MostrasGastronómicas, promovido pelodepartamento de Turismo e HotelariaInatel:1º prémio - Um cruzeiro noMediterrâneo, para duas pessoas, emcamarote duplo exterior. SorteadaAnabela de Jesus Vitor Manuel, Lisboa;2º prémio - Uma viagem no programaBelezas do Sul, para uma pessoa, emregime de meia-pensão. SorteadoFernando Gonçalves, Torres Vedras; 3ºprémio - Uma viagem no programaBelezas do Sul, para uma pessoa, emregime de meia-pensão. SorteadoAntónio Henrique de Moura, Gaia; 4ºprémio - Uma viagem às Flores, para

uma pessoa (viagem, alojamento,pensão completa). Sorteada MaricaHelena Caldas Pereira, Caldas daRainha; 5º prémio - Um Cruzeiro noDouro, dois dias, para duas pessoas.Sorteado Mário Jorge MouraCasanova, Matosinhos; 6º prémio -Uma Viagem nacional da FundaçãoInatel, quatro dias, para duas pessoas.Sorteado Feliciano M. Carvalho,Valença; 7º prémio - Uma Viagemnacional da Fundação Inatel, dois dias,para duas pessoas. Sorteada MariaClara Santos, Albufeira; 8º prémio -Uma Viagem nacional da FundaçãoInatel, dois dias, para duas pessoas.Sorteado António Boleo Teles, Teixoso;9º prémio - Uma estada na UH Vila

Ruiva, cinco dias, para duas pessoas,em pensão completa. Sorteada AnaCarpinteiro, Santo André; 10º prémio -Uma estada na UH Albufeira, cincodias, para duas pessoas, em pensãocompleta. Sorteada Maria VandaCaroça, Lisboa; 11º prémio - Um fim-de-semana na UH Piodão, dois dias,para duas pessoas, em pensãocompleta. Sorteada Lina Benedito,Azeitão.

Premiados do concurso Mostras Gastronómicas

Pormenor do sorteio

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Page 16: Tempo Livre Dezembro

XVII Concurso “Tempo Livre” Fotografia

[ 1 ][ 1 ] Sérgio Guerra, S. João do EstorilSócio n.º 204212

[ 2 ] Ana Antunes,Póvoa de Stª. IriaSócio n.º 314302

[ 3 ] Ricardo Deodato,MafraSócio n.º 516217

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[ a ] Américo Monteiro, PedrosoSócio n.º 63451

[ b ] Paulo Sousa, SardoalSócio n.º 391686

[ c ] Maria Silva, CacémSócio n.º 493267

Menções honrosas

Regulamento

1. Concurso Nacional de Fotografia darevista Tempo Livre. Periodicidademensal. Podem participar todos osassociados da Fundação Inatel,excluindo os seus funcionários ecolaboradores da revista Tempo Livre.

2. Enviar as fotos para: Revista TempoLivre - Concurso de Fotografia, Calçadade Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa.

3. A data limite para a recepção dostrabalhos é o dia 10 de cada mês.

4. O tema é livre e cada concorrentepode enviar, mensalmente, um máximode 3 fotografias de formato mínimo de10x15 cm e máximo de 18x24 cm, empapel, cor ou preto e branco.

5. Não são aceites diapositivos e asfotos concorrentes não serãodevolvidas.

6. O concurso é limitado aosassociados da Inatel. Todas as fotosdevem ser assina ladas no verso com onome do autor, morada, telefone enúmero de associado da Inatel.

7. A «TL» publicará, em cada mês, asseis melhores fotos (três premia das etrês menções honrosas),seleccionadas entre as enviadas noprazo previsto.

8. Não serão seleccionadas, nomesmo ano, as fotos de umconcorrente premiado nesse ano.

9. Prémios: cada uma das três fotosse lec cio nadas terá como prémio duasnoi tes para duas pessoas numa dasunidades hoteleiras da Inatel, durantea época baixa, em regime APA(alojamento e pequeno almoço). Oprémio tem a validade de um ano. Opre miado(a) deve contactar a redacçãoda «TL». Nota: De acordo com a tabela emvigor, a época alta inclui fins desemana.

10. Grande Prémio Anual: umaviagem a esco lher na Brochura InatelTurismo Social até ao montante de1750 Euros.A este prémio, a publicar na «TL» deSetembro de 2013, concorrem todasas fotos premiadas e publicadas nosmeses em que decorre o concurso.

11. O júri será composto por doisresponsáveis da revista T. Livre e porum fotógrafo de reconhecido prestígio.

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Isabel Jonet “As pessoas têm de sermais solidárias…”Líder de 20 bancos alimentares que movimentam diariamente 600 pessoas eenvolvem mais 36 mil em cada uma das duas campanhas anuais de recolha dealimentos, Isabel Jonet manifesta um natural orgulho na sua activa e profundaligação ao "maior movimento na sociedade civil portuguesa desde o pós-guerra". A recente polémica e as críticas de que foi alvo não a afectaram.Solidariedade é palavra de ordem de Isabel Jonet, consciente de que a estruturaque dirige é vital para a sobrevivência de mais de 300 mil portuguesesaltamente carenciados. "Estou aqui pelas pessoas que precisam…", sublinha atambém presidente da Federação Europeia de Bancos Alimentares, convicta deque, tal como noutros momentos difíceis da nossa História, os portuguesessaberão "dar a volta" à grave crise actual.

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O Banco Alimentar (BA) obteve, em 2008, umaajuda de 170 mil toneladas de víveres para umuniverso de 250 mil pessoas. Em 2012, osnúmeros serão, certamente, outros?Temos, actualmente, 20 bancos alimentares con-tra a fome espalhados por todo o país que emconjunto apoiam 2.160 instituições. E são essasinstituições que estão a distribuir alimentos a 336mil pessoas. Como funciona a distribuição?Os bancos alimentares não entregam comidadirectamente à população. Existe um extensoleque de instituições de solidariedade social deâmbito nacional que o BA selecciona e acompa -nha na sua actividade. Essas instituições entre-gam a comida sob a forma de cabazes de alimen-tos ou de refeições confeccionadas servidas emlares de idosos, creches, lares de crianças. O papeldo BA, desde há 20 anos, centrou-se na estrutu-ração de uma vasta rede de apoio às instituições.Nós apoiamos as instituições e as instituiçõesapoiam, por sua vez, as pessoas mais carenciadas. O número de pessoas carenciadas, auxiliadaspelo BA, aumentou, portanto, nos últimos anos…Esse acréscimo é, no meu entender, consequên-cia de duas coisas: por um lado há mais bancosalimentares e portanto podemos abranger maisinstituições e mais pessoas; mas, por outro lado,há uma deterioração na situação financeira demuitas famílias, nos últimos anos, fruto dodesemprego, mas também do endividamento. Enão podemos esquecer o facto de haver, no nossopaís uma grande franja da população idosaempobrecida, muito empobrecida. São pessoasatingidas por aquilo a que eu chamo a pobrezaestrutural. Há, em Portugal, um milhão de idososque vive com menos de 280 euros por mês, e há1 milhão e 800 mil pessoas que vive com menosde 600 euros mensais. E essas pessoas que vivemcom os 600 euros, são pessoas que vivem depensões e que vêem o seu valor reduzido peloaumento dos impostos, como o IVA, e ficamnuma situação muito difícil. E os desempregados vêem o respectivo subsídioa diminuir…O primeiro grande surto de desemprego foi em2009, e há muitas pessoas que estão agora a ficarsem subsídio de desemprego. A situação quevivemos agora é particularmente crítica e é porisso que as pessoas têm que ser ainda mais soli-

dárias, porque muitas das pessoas que forampara o desemprego em 2009, neste momento fica-ram sem o subsídio de desemprego.E a situação tende a piorar, porque a perspecti-va de superação da crise é muito longínqua…ou seja, os bancos alimentares vão ter que daruma resposta maior. Mas, essa não será a boaresposta…Pois não. O ideal era que os bancos alimentaresnão precisassem de existir. Porque significavaque não havia pessoas que precisavam de ajudaalimentar. A ajuda alimentar não é comparávelcom mais nenhuma outra. Quando uma pessoapede ajuda para comer, está a pedir aquilo que éa base da sua vida. É a base de tudo. Quando seprecisa de ajuda para comer é quando se chegouao limite do desespero. Em Portugal, há, feliz-mente, uma almofada de segurança que são asInstituições de SolidariedadeSocial (ISS) que muito contri-buem para minimizar a situação.Sei que está a colaborar numarede semelhante para a Grécia…Estive lá, recentemente, com esseobjectivo e essa rede é vital. Aocontrário de Portugal, onde aIgreja Católica estruturou, háséculos, uma rede de instituições– misericórdias, conferências deSão Vicente de Paulo, paróquias, conventos –com uma vasta obra social, na Grécia, a IgrejaOrtodoxa não tem essas ligações, porque não temesta vocação e falta uma rede estruturada deassistência social, de emergência social. OsEstados, os Governos, por muito que queiram,não conseguem chegar a cada pessoa, porque nãotêm a rede montada. Uma coisa é falar deemergência, outra coisa é falar de direitos garan-tidos. Todos nós queremos que o Estado garantadireitos. Todos, independentemente da nossaideologia, e do credo. Mas, temos que acudir asituações de emergência, precisamente porquehá pessoas que precisam de ajuda para comer. É o Estado social em causa?Quando me vêm falar em garantir o EstadoSocial, para garantir o Estado social temos querepensar todo o modelo que existe subjacente àconcepção de Estado social, numa Europa e nummundo onde por exemplo a esperança de vidaaumentou de 60 para 80 anos, onde muitas pes-

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Entrevista

“Quando umapessoa pede ajudapara comer, está apedir aquilo que é abase da sua vida”

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Entrevista

soas vivem largos anos com uma pensão de refor-ma. Então, é este modelo que não é sustentável, eé por isso que temos de repensar o modelo, exac-tamente para que ele se possa manter, para acu-dir às situações de emergência. Nós, todos, gosta-ríamos que houvesse prosperidade económica,só que a Europa mudou…Mas o problema não se esgota no aumento dalongevidade. Em causa estará a necessidade decrescimento económico, um problema europeuface ao crescimento dos chamados países emer-gentes noutros continentes…A Europa mudou, o peso da Europa no mundomudou muito. Não é só com a abertura da China,há a Índia, o Brasil, África … São, de repente, paí-ses para os quais não olhávamos com tantaatenção, porque estávamos quase fechados numaEuropa que se julgava auto-suficiente. E o que é

que aconteceu? Estes paísescomeçaram a competir com osprodutos europeus e com toda aeconomia europeia em condiçõesde concorrência desigual. Então,o que é que nós temos hoje?Temos países que não têm essesdireitos sociais garantidos, apare-cem no mercado com produtosmais baratos, feitos com saláriosbaixos, onde não há garantias

nenhumas. De facto, eu não gostava nada que oEstado Social e aquilo que são as conquistas debem-estar que a Europa e esta União Europeiatrouxeram a seguir à Segunda Grande Guerra fos-sem postos em causa. Por isso mesmo é que háque repensar todo este modelo para não serempostos em causa.É, também, presidente da federação europeiados bancos alimentares e sabe que há 80 mi -lhões de europeus na pobreza……E 18 milhões de europeus com fome. Umasituação impensável há bem pouco tempo e,sobretudo, era impensável que os Estados mem-bros não iam estar unidos numa resposta deemergência. E aquilo que se passa é que, aindamuito recentemente, a presidência do Chiprepropôs o corte de 20% nas políticas de coesão, eas políticas de coesão são aquelas onde as políti-cas sociais se integram. E o que acontece é, derepente, vemos a reconstrução europeia do pós-guerra posta em causa nos seus pilares de âmbi-

to social. E isso é muito preocupante. O facto demetermos a cabeça debaixo da areia não vai fazercom que se consiga mudar. O empobrecimento é inevitável?O empobrecimento é inevitável, mas eu pensoque na vida de muitos de nós esse empobreci-mento é, sobretudo, um defraudar de expectati-vas e de hábitos. Quando eu andei na universi-dade – acabei o curso há 30 anos – havia umadezena de carros estacionados. Hoje, todas asuniversidades têm grandes parques de estaciona-mento porque muitos dos alunos vão de carro.Portanto, há toda uma maneira diferente de viver.Dou-lhe outro exemplo: os meus dois filhos maispequenos, uma vez por semana, podem comerum gelado. E uma vez, houve um meu filho quedisse assim: Oh mãe, posso comer um hambúr-guer McDonald's? Um hambúrguer às cinco datarde? Mas, você quer comer um bife às cinco datarde? E ele respondeu-me: Não, mãe, aquilo éuma sanduíche. Ou seja, há toda uma maneiradiferente de olhar para a vida: para mim, umhambúrguer é uma refeição, um almoço. Para ele,é uma sanduíche. As sociedades evoluem…Esta maneira de olhar para o mundo, que mudoumuito rapidamente, envolve um conflito geracio-nal, um conflito determinado por diferentes pers-pectivas ou valores relativamente aos bens, àmaneira como olhamos para os bens. E os paísesemergentes vão enfrentar, futuramente, estes pro-blemas. A China não tinha, até há pouco, asmínimas condições, mesmo de habitabilidade, evemos, hoje, uma vasta e crescente classe médiachinesa absorver aquilo que é a nossa maneira deviver europeia. E, portanto, daqui a uns anos, elestambém vão sofrer daquilo que nós estamos apadecer agora. Um futuro sombrio, em perspectiva?Eu acho que é um cenário de reajustamento. Hásempre reajustamentos que são necessários…quando os rios vão cheios de mais, transbordam,e têm que voltar ao leito normal. A natureza éuma grande mestra. No caso português, pensoque o que tinha acontecido é que se calhar nãoolhávamos com realismo para aquilo que eramtodas as capacidades reais, económicas, não sófinanceiras, dos vários países da zona em queestamos integrados. E o que é certo, é que nãotemos praticamente indústria, a produção portu-

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“As críticas nãome afectam nadaporque eu não estouaqui por mim, estouaqui pelas pessoasque precisam”

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guesa é muito reduzida. Agora, começam a apa-recer algumas pequenas empresas, muito eficien-tes, muito tecnológicas. E, eu penso que é istoque vai salvar Portugal. Um conjunto de peque-nas empresas que vão gerar outra vez o auto-sus-tento. Porque nós perdemos essa noção. Aqui, àvolta de Alcântara, a maior parte das merceariase a maior parte do pequeno comércio, que erampara sustento de uma família, fecharam. Porqueas pessoas entenderam que não valia a pena.Nestes últimos tempos, houve uma grande des-valorização do trabalho, e do trabalho enquantodignificante para o homem. Mas o desemprego não pára…Há muito desemprego. O desemprego é, talvez, omaior flagelo que há na sociedade portuguesaactualmente. E vai aumentar muito no próximoano. Mas temos de ser realistas e procurar adap-tarmo-nos e superar as dificuldades. Vai ser difí-cil, mas eu acho que os portugueses já tiveramoutras alturas em que souberam resistir e dar avolta. E acredito que vamos dar a volta.A emigração tem crescido… é uma das alterna-tivas?A Europa já não é destino para os nossos emi-grantes. Nos anos 60, saíram muitos emigrantespara a Alemanha, França, Luxemburgo. E deixa-ram, sobretudo o Norte do país, num estado dedesertificação tremenda. A emigração está, defacto, a aumentar, o problema é que os que vãoemigrar agora são pessoas qualificadas, e nósvamos perder uma geração de pessoas qualifica-das que vão para o Brasil, vão para Angola, vãopara os EUA, para a Inglaterra, para a Alemanha.Mas pode ser que voltem. Tenhamos esperançaque voltem e que o país seja capaz de criar con-dições atractivas para que voltem. Há muitas empresas que apoiam o BancoAlimentar?O Banco Alimentar vive basicamente dos donati-vos, doações diárias de excedentes da indústriaagro-alimentar, da agricultura, dos mercadosabastecedores. Há, também, os produtos de umprograma comunitário de apoio alimentar acarenciados. E há os produtos originários dasduas grandes campanhas anuais de recolha: acampanha de Maio e a campanha de Dezembro.Essas campanhas são muito importantes para osBancos alimentares, porque só elas permitemangariar produtos relativamente aos quais não há

excedentes de produção. Por exemplo, não háexcedentes de produção de azeite, nem de atum,nem de salsichas, nem de arroz, nem de massa.Produtos mais duradouros…… E, relativamente aos quais não há excedentesde produção. Porque, por exemplo, a coca-colaaguenta muito tempo, mas não é um produtobásico. Nós podemos ter o armazém cheio decoca-cola, se calhar havia quem gostasse, masnão é um produto básico, e os produtos básicossão os mais necessários no dia-a-dia.O programa europeu de apoio alimentar pareceestar, no entanto, em risco…Vai acabar da forma como o conhecemos. Omodelo actual do programa comunitário de apoioalimentar, criado há 20 anos, termina em 2013. Apartir de 2014, funcionará outro programa que éum fundo para as pessoas mais desprotegidascriado pelos estados-membros,com uma dotação bastante infe-rior à do actual programa comu-nitário, com muito menos verbas.Haverá menos produtos. Por issotemos lançado um conjunto deoutras iniciativas, caso, por exem-plo, da campanha papel por ali-mentos, e que nos ajudam a con-seguir colmatar um pouco odecréscimo dos produtos quevêm no âmbito desses programase até do decréscimo das doaçõesda indústria agro-alimentar.Como principal responsável do nosso BancoAlimentar sabe quais são as zonas do país maisafectadas…Neste momento é claríssimo: à volta de Setúbal,no Grande Porto, em Braga e aqui nas zonas maisperiféricas de Lisboa. São áreas onde havia mui-tos imigrantes que trabalhavam na construçãocivil. Esta indústria atravessa uma enorme crise,não há obras públicas, e estas pessoas, com pou-cas qualificações, não arranjam emprego em maislado nenhum. Daí o aparecimento de bolsas depobreza. E muitos imigrantes já começam aregressar aos seus países, ao Brasil e aos países deLeste, por exemplo. O mesmo não acontece comos imigrantes africanos, eles não vão voltar acasa, porque a situação nos seus países não émelhor e muitos deles já são portugueses. Temos,assim, à volta de Lisboa, comunidades de popu-

“… fiz uma opçãode vida. E quando sefaz uma opção devida pelovoluntariado como eufiz, que envolve todaa minha família, éuma vocação devida”

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Entrevista

lação africana com elevadas taxas de natalidade eproblemas de desemprego ou com empregosclandestinos e, portanto, sem protecção socialdeclarada, mas com acesso às urgências dos hos-pitais e os filhos às escolas… São pessoas quevoltarão aos seus países.Adquiriu, graças às suas funções, uma raraexperiência e conhecimento da sociedade por-tuguesa… Não admite ter outros cargos oufunções? A nível governamental, por exemplo?Não aceitava.Porquê?Porque eu penso que cada pessoa tem as suascaracterísticas e as suas competências. Eu, numadeterminada fase da minha vida, fiz uma opçãode vida. E quando se faz uma opção de vida pelovoluntariado como eu fiz, que envolve toda aminha família, é uma vocação de vida. Então,nunca poderia assumir nenhum tipo dessasfunções, não é o meu perfil.Pelo que vejo, e sinto, as reacções negativas sus-citadas pelas suas declarações num programatelevisivo não a afectaram muito?Penso que houve um conjunto de más interpre-tações e, depois, o que houve foi uma bipolari-zação estranha da sociedade portuguesa, que pas-sou muito pelas redes sociais. E, nas redes sociaishá muito soundbytes. As pessoas não lêem, nãoouvem e comentam por cima. Mas, sobretudocomentam anonimamente e impunemente. Eportanto, permitem-se todo o tipo de comentáriosmesmo que sejam descontextualizados. As pes-soas que ouviram a totalidade da entrevista per-

ceberam a mensagem que eu quis transmitir. E éuma mensagem clara e realista. O que se verifi-cou é que há muitas pessoas que falam só porfalar, sem saber aquilo que estão a falar, ignoran-do o contexto e o conjunto das minhas palavras.Depois, a comunicação social amplifica... Eu,francamente, tinha que lhe dizer isto: não meafectou nada porque eu não estou aqui por mim,estou aqui pelas pessoas que precisam. E tenhoum imenso orgulho em todos os voluntários etodos os colaboradores dos 20 bancos alimenta-res que vão continuar a fazer tudo aquilo que é asua missão, porque há quem precise. No dia emque não houver quem precise, então nós espera-mos não estar cá.Então, aí já pode ter outras funções, outro papelna sociedade?Pois é, mas eu tenho muitas coisas. Há, tam-bém, a Entreajuda. O banco alimentar contra afome de Lisboa esteve na génese da sua criação.A Entreajuda existe há oito anos, funciona tam-bém aqui na Avenida de Ceuta, e tem um objec-tivo estatutário mais estruturante e menosassistencialista. A Entreajuda proporcionagestão e organização às instituições do terceirosector e abriu um banco não alimentar, umbanco de bens e equipamentos, com o maiorsite português de voluntariado, que é a bolsa devoluntariado, com projectos também na área desaúde. Portanto, eu ainda tenho muito com quelidar, além de que tenho cinco filhos… e espe-ro ter muitos netos! n

Eugénio Alves (texto) José Frade (fotos)

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Terra Nossa

AveiroA ria, singular acidente hidrográfico da costaportuguesa, resultante do recuo do mar, dá a Aveiroo seu carácter singular. A primeira referênciaescrita conhecida de Aveiro consta do testamentoda condessa Mumadona Dias, no século X, querefere Suis terras Alauario et Salinas.

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rteeo marrteeo mar24a28.qxp_sumario 154_novo.qxd 11/27/12 5:01 PM Page 25

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Olugar, mais tarde, foi elevado avila, mas a instabilidade daligação entre a ria e o mar manti-veram Aveiro e a região apagada einsalubre por largos períodos. Em

1759, D. José promoveu-a a cidade e em 1808 foifinalmente concluída com sucesso a barra, ocanal que fendeu as areias do litoral até ao ocea-no e permitiu Aveiro respirar com outro desafo-go. Cresceu o movimento do porto, as salinasprosperaram e a pesca avançou, ao mesmo tempoque novas ideias políticas faziam o seu caminhono país, e o liberalismo encontrava em aveirensescomo José Estêvão uma das mais combativasfiguras. (Esse lastro revolucionário ficaria edurante o século XX iriam realizar-se na cidadeos Congressos da Oposição Democrática, iniciati-vas de luta contra o Estado Novo.)

O caminho de ferro chegou a Aveiro em 1864e o crescimento económico e a industrializaçãoiam tornar-se uma realidade, desenvolvendo-senovas actividades como a cerâmica, e no virar doséculo XIX para o século XX, uma burguesia acti-va marcará a face da cidade com as suas casasArte Nova.

Da Arte Nova à Arquitectura ContemporâneaA Art Nouveau, a Arte Nova, foi um movimentoartístico internacional que deixou marcas emvárias cidades do país, e em Aveiro de forma par-ticular. Filho da burguesia urbana foi um estiloque atingiu a sua máxima expressividade naarquitectura e nas artes aplicadas. Tudo aconte-ceu em três décadas, dos finais de Novecentos atéà I Grande Guerra.

Em Aveiro o exemplo mais eloquente desta arte

orgânica onde brilham as linhas dinâmicas ondu-lantes é a Casa Major Pessoa. Com uma situaçãoprivilegiada, debruçando-se sobre o Grande Canal,a casa, da autoria do arquitecto Francisco da SilvaRocha, o principal protagonista da Arte Nova nacidade, foi construída entre 1907 e 1909 e serviude habitação até 1995. Agora, desde o início de2012, é o Museu Arte Nova de Aveiro, funcionan-do como "centro interpretativo da extensa rede demotivos Arte Nova disseminados por toda a cida-de de Aveiro", como esclarece o folheto entregueaos visitantes. São 28 os espaços classificados,diversificados nas suas funções, e proporcionandoum passeio que se estende praticamente por todoo aglomerado urbano. A maioria está ali em volta,a Casa dos Ovos Moles, onde, sim, se pode sabo-rear e adquirir o refinado doce, a férrea Praça doPeixe, o edifício da Assembleia Municipal, antesCapitania do porto, e avançando, ao fundo doCanal do Côjo, a volumosa fábrica JerónimoPereira Campos, adaptada a novas e diversificadasfunções.

Mas na cidade nada é estanque, nem podiaser, e ao mesmo tempo que o visitante se estendepelas ruas os seus sentidos vão captando sons,cheiros, vida, no plano do património construídovai encontrar outros testemunhos, anteriores eposteriores à erupção da Arte Nova e que sãomatéria contemplativa, prazer para os olhos.

Tal é o caso do Museu de Aveiro, acomodadono antigo convento de Jesus, onde a PrincesaSanta Joana se recolheu. O museu "propõe umavisita segundo duas vertentes: o percurso monu-mental – dependências do antigo convento, comoa Igreja, Coro Alto, Sala de Lavor e capelas devo-cionais; e a exposição permanente – colecções de

Terra Nossa

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“Ovos-Moles…”

Os ovos-moles de Aveiro surgiram como

forma de dar destino às gemas de ovo que

sobravam das claras que as freiras dos

vários conventos aqui existentes utilizavam

para engomar os hábitos. Extintos os

conventos no século XIX, o fabrico de ovos

-moles transitou para mãos 'profanas' sem

que, certamente, tal lhes alterasse as

qualidades, além de que abriu a todos a

possibilidade de saborear uma iguaria que

diríamos divina.

Revelando-se sob a forma de elementos

marinhos, conchas, búzios, peixes,

envolvidos em massa de hóstia, ou então em

barricas de cerâmica ou madeira de choupo

(que não altera as qualidades da massa), os

ovos-moles de Aveiro, massa muito cremosa

obtida através de açúcar em ponto e gema

de ovo, foram o primeiro produto da doçaria

portuguesa a receber a certificação de

Identificação Geográfica Protegida. Diversos

estabelecimentos da cidade comercializam

os ovos-moles, especialmente nas

proximidades do Canal Central.

1. Exemplo de janelaArte Nova2. Antiga Capitania3. Fachada do museude Arte Nova4. Ponte do canal deS. Roque5. Interior do museude Arte Nova6. Centro cultural e decongressos7. Sé Catedral8. Túmulo de SantaJoana, no Museu deAveiro

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Terra Nossa

história e de arte do Museu, dos séculos XIV - XVao século XIX ..."

E agora, fazendo uso de uma liberdade que ostextos permitem, saltamos até novas zonas cita-dinas, até ao Campus Universitário de Santiago.A Universidade, um projecto nascido na décadade 70 do século XX, trouxe um novo élan à cida-de, e também a forte projecção do nome Aveiro.Dezenas de edifícios distribuídos por uma vastaárea constituem um corpo onde intervieram osmais prestigiados arquitectos portugueses,situação que enriqueceu a cidade com a oferta denovas linguagens nesse campo. Fugindo à citaçãode todos os nomes que ao longo dos anos foram

deixando a sua marca no Campus, abre-seexcepção ao edifício da biblioteca, cuja autoriacabe a Álvaro Siza Vieira.

A Ria, os Moliceiros e as BicicletasOs moliceiros eram embarcações da ria, hoje são(essencialmente) embarcações da cidade. Omesmo acontece com o mercantel, de maiortamanho, e que era usado no transporte de sal eoutras mercadorias. O moliceiro é uma embar-cação esguia, marcada por um elegante exotismo,leme de grandes dimensões, proa e popa altas erecurvas, ostentando pinturas em cores vivas quequase sempre incidem na interpretação de temasbrejeiros. Concebidos para a recolha de moliço –plantas aquáticas abundantes na ria e usadascomo fertilizante - os moliceiros foram salvos dodesaparecimento pelos prazeres do turismo. Opalco, onde se movem no presente, são os canaisda cidade: Canal Central, Canal de São Roque,Canal do Côjo, Canal das Pirâmides, Canal doParaíso. É do Canal Central, que faz a sua trajec-tória pelo coração de Aveiro, que usualmente par-tem os passeios fluviais que se tornaram obriga-tórios em qualquer visita à cidade. Dali avança-sepelos demais caminhos de água que sulcam acidade conduzindo até locais como o bairro daBeira Mar, com as suas casas simples reflectindoum arco íris de cores na água, ou a marinha de salda Troncalhada, convertida em ecomuseu.

Outra forma de ver e sentir a cidade, desafia-dora e com mais autonomia, é numa BUGA, bici-cleta de utilização gratuita de Aveiro. Não tem oestatuto de ícone da ria e da cidade, como o moli-ceiro, mas já faz parte da paisagem urbana, umaprenda que a cidade oferece aos seus habitantese a quem a visita. n

José Luís Jorge (texto e fotos)

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GUIA

INFORMAÇÕES

Posto de Turismo (Turismo do

Centro de Portugal);

Rua João Mendonça, 8,

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Tel. 234 420 760

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Ecoria, Tel. 967 088 183;

RiaNorte, Tel. 968 888 897;

Viva a Ria, Tel. 969 008 687

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Artesanato

Ocaminho de Braga a Galegos deSão Martinho parece longo detanto ziguezague. O trajectoafina pelo diapasão minhoto,especialmente na nota da

sinuosidade, com muitas curvas e contracurvas.Alcança-se o destino e parece que nem chegamosa sair dos subúrbios de Braga. Mas a continuida-de das aglomerações urbanas não é unânime:aqui e ali irrompem entre o casario cenários decourelas e vinhedos em latada, coisa tipicamentenortenha e minhota.

Já em Galegos de São Martinho, não há queandar muito para percebermos que pisamos terrade oleiros. As ruas são pródigas em placas aanunciar oficinas de artistas, uns mais velhos,outros ainda pouco mais do que debutantes, quenisto das artes do barro, como em tantas outras, otempo é o grande mestre.

Num certo trecho, corta-se por uma quelha àdireita e logo ali damos com um painel oficio-so, desses certificados pela autoridade autár-quica, a informar os forasteiros da vizinhançado ateliê de Júlia Ramalho: só há que volverduas vezes à esquerda num espaço de meiacentena de metros, ignorar outras placas alusi-vas a oficinas de artistas concorrentes e esta-mos à beira de uma casa alva, sem nada que adistinga particularmente das demais das redon-dezas. No quintal, porém, a cerâmica vidradaem tons de mel fincada nos muros anuncia queestamos a dois passos da oficina do nome maiordas artes do barro na freguesia: Júlia Ramalho,

a ceramista que herdou o apelido e a arte dafamosa Rosa Ramalho, sua avó.

Uma vida a moldar o barroRosa Ramalho, a grande referência na mestria dofigurado popular de Barcelos, dispensa apresen-tações. É dos nomes maiores da arte popular emPortugal, evocado no Museu da Olaria deBarcelos, não vá o viajante passar distraído poraquelas terras.

Júlia Ramalho não precisa, bem entendido, dacaução do apelido familiar. Ao fim de cinquentaanos a moldar o barro, Júlia conquistou, também,um lugar privilegiado no universo dos ceramistaspopulares em Portugal e é recordada, igualmente,no acervo do Museu da Olaria. Para quem apre-cie andanças museológicas, há uma surpresa noateliê de Júlia Ramalho: uma sala com centenasde peças expostas, algumas delas réplicas deencomendas de clientes.

Não é improvável que se dê ali de caras comalgum artista concorrente a mirar as peças, à pro-cura de uma que lhe caia no goto. No dia em quepassamos por lá, Júlia Ramalho recebia a visitade um membro do clã Baraça, outra família deconhecidos oleiros barcelenses. "É assim mesmo,de vez em quando compramos uns aos outros",explicou o visitante. Uma espécie de espionagemindustrial à escala minhota?

Júlia está a preparar uma fornada, não tardaráa acender o forno – que agora é eléctrico – daí aumas horas. Tem um dos filhos ao lado, e ambosmoldam a estrutura base de uma figurinha sim-

Júlia Ramalho“Será que fui eu que Há meio século que das mãos de Júlia Ramalho, uma das mais prestigiadasoleiras de Barcelos, saem figuras de barro. Herdou a arte da avó, RosaRamalho, mas afirmou uma assinatura singular nas peças de característicovidrado cor de mel que têm o seu nome.

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ples, para responder a uma encomenda de váriasdezenas de peças. Um tipo de trabalho rotineiro,mais "alimentar" do que estimulante. Que grandeartista, afinal, os não teve?

O primeiro boneco saiu-lhe das mãos há bemmeio século, tinha dez anos. "Aprendi com aminha avó, há mais de cinquenta anos. Era umbonequinho. Tenho o retrato e um bonequinhoigual ao pé do retrato. Foi a primeira peça que medeu dinheiro". O boneco apareceu depois deoutros brinquedos: "Eu já fazia gaiolas para grilos,fazia cestinhas para brincar… As gaiolas quempagava era a rede do capoeiro. Ia ao capoeiro dasgalinhas e desfazia a rede, fazia-lhe um buraco…e com aquele araminho é que eu fazia a gaiola".Eram tempos em que toda a infância era obriga-da a inventar. "Costuma-se dizer que a necessida-de faz o engenho e como a canalha não tinhaacesso a brinquedos, fazia os seus próprios brin-quedos".

Se a avó ensinou ou não, isso é outra história,porque está bem de ver que ensinar e aprendersão duas coisas distintas. "Nem era preciso ensi-nar, basta a gente ser criada no mesmo sítio eestar a ver, a gente vai deixando desenvolver aimaginação…". Não tardou a começar a trabalhara sério: "Eu tinha aí treze ou catorze anos, masnão me colectei, a minha avó também não…".Mas a lei andava atenta, como sempre, aos queestão mais à mão de semear – ou de colectar:"Depois ainda andaram aqui a querer mandá-laprender…".

Sob o mesmo tecto, neta e avó trabalhavamlado a lado, mas não formavam bem uma equipa."A minha avó trabalhava aí sentada e eu traba -lhava com ela, trabalhávamos as duas, mas eunão trabalhava para ela. Alguns netos trabalha-vam, davam umas horas, e ela pagava, mas eununca trabalhei para ela". O acordo entre as duasjá dava a entender que Júlia haveria de seguir o

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e fiz isto?”

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Artesanato

seu próprio caminho dentro da arte. "Ela trabal-hava desse lado e eu deste… No fim eu punha onome dela, mas a peça era para mim! E o dinhei-ro da venda dava-o aos meus pais".

Júlia Ramalho conciliou esses primeiros anosde aprendizagem da modelação do barro com asobrigações escolares, saltando de um para outromundo. "Comecei a trabalhar aos dez anos e játinha saído da escola, da terceira classe. Masdepois voltei à escola para fazer a quarta… e vol-tei para fazer a quinta e a sexta. Quando tinhaoportunidade de fazer mais um ano de escolari-dade, ia fazer". Júlia Ramalho não precisou daescola para ser quem é – as actividades escolareseram um complemento um tanto suspeito, e deduvidoso prestígio, aliás, num tempo e numaterra em que a prioridade era assegurar o rendi-mento familiar. "Eu devia estudar, mas com dezanos já fazia peças que davam dinheiro, então…A minha mãe não queria que eu fosse estudarporque depois me habituava a ser malandra. Omeu pai deixava, mas lembro-me de ouvir aminha mãe dizer ao meu pai: 'depois habitua-se aandar aí com a saca dos livros e não quer traba -lhar, nós não temos dinheiro para a pôr a estudare depois ela tem de vir para casa e não vai querertrabalhar'. E eu ouvi aquilo e ainda fiquei mais

desgostosa e desisti de teimar". Júlia tornou-sequem é sem a escola ou apesar da escola – e tal-vez o excesso de escola, um ano ou dois a mais,quem sabe?, a tivessem subtraído à arte da olariae ao universo cultural minhoto e português. Aescola foi um intervalo, afinal, na vida verdadei-ra, a da criação artística.

A sala de trabalho é ampla, uma dezena demetros de comprimento por cinco ou seis de lar-gura, o forno ao fundo, bancadas e prateleiras àvolta, e a velha mesa, que já serviu outrasgerações, junto a uma janela. É aí que Júlia e ofilho António se sentam a moldar o barro. De vezem quando, como se não estivéssemos ali mesmoao lado, lança uma pergunta ao filho: "Sabes oque a Teresa ontem me disse?" A Teresa é uma

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filha, professora, que volta e meia mete as mãosno barro. "Já me rende, mãe". A filha professoraajeita-se, mas mais certo é ser António a fazer-secontinuador da tradição familiar. "Andou porInglaterra, agora está aqui a trabalhar comigo".

"Isto é tudo galos!"Tem ideia de quantas peças já fez? "Milhares…Gostava de as ver todas juntas… Há peças que eufiz uma vez porque alguém me pediu… Outras,fico a olhar para elas e pergunto será que fui euque fiz isto"? Júlia não tem cópias de todas, só àsvezes faz um exemplar para guardar, daquelaspor que ganha mais afecto. De algumas, conservafotografias. A mania das réplicas vem de longadata, "há para aí setecentas e tal peças", a maioriaencaixotadas.

Há figuras que se tornaram emblemáticas dasua produção. Os "Pecados" e a "Medusa", porexemplo. E muitas outras, de timbre satírico.Continua a inventar? "Que remédio! A últimaainda só está na imaginação. Vão fazer o festivalda moda em Barcelos e eu é que costumo fazer asprendas…".

Uma parte do que sai do ateliê corresponde,efectivamente, a encomendas institucionais. "Vaihaver também um encontro de coros, tenho que

pôr os galos a cantar… Não temos outra maneira,isto é tudo galos…", ironiza, rematando a graçacom uma gargalhada. Muitos fregueses particula-res, nacionais e estrangeiros, procuram-na nasfeiras – como a do Estoril, que frequenta há déca-das – e pedem-lhe peças. "Se não gostarem, nãohá problema eu fico com elas".

Arte ou profissão, o Estado abstém-se de taisdistinções: "Vou fazer também cem galos para aCâmara, esses têm de ser facturados… Senãovêm aí o Vítor a dizer 'você andou a fazer peçassem factura' e depois é que são elas!" Para que nãohaja dúvidas sobre o ministro, da classe dos quese ocupam só de contas, Júlia imita-o falandoarrastadamente.

A mestria desta grande oleira de Barcelos nãose cinge ao barro, que anda a moldar há cinquen-ta anos. Há tempos passou por Barcelos umaequipa de televisão japonesa e ela foi a estrela dafita, com instantâneos de trabalho e muita con-versa para um documentário. E não só: os nipó-nicos fartaram-se de merendar em casa dela,rojões e sarrabulho incluídos. Parece que ficaramencantados com a arte culinária de Júlia. Afinal,não são também os rojões, de certa maneira, umaexpressão de arte popular minhota? n

Humberto Lopes (texto e fotos)

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Teatro da Trindade

Aideia de constituir um grupo de teatro ama-dor, do Teatro da Trindade, defendida peladirectora artística, Cucha Carvalheiro, paraquem "fazia todo o sentido, não só ofereceraos associados da Fundação e ao público do

Teatro a fruição cultural, mas também a oportunidade depassarem pela experiência da criação", aguardava a oportu-nidade de concretização.

O projecto adiado foi substituído por algum envolvimen-to de amadores, muitos deles associados da Fundação Inatel,que participaram em produções e co-produções, nomeada-mente, em "Vozes de Trabalho", 2010, "Vale" e "Barioná",2011, "As ruas são tão tristes, precisam de mais luz", 2012.

No âmbito das comemorações do Ano Europeu doEnvelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações,o antigo projecto de criar um grupo de teatro amador, teve ajusta ocasião para se materializar, foi então quando a direc-tora do TT desafiou Catarina Gonçalves,"para o dirigir e ela teve a ideia feliz de neleinteressar a Santa Casa da Misericórdia".

Para encontrar pessoas interessadas emintegrar este grupo de teatro intergeracional,a Santa Casa teve um papel relevante nadivulgação, difundiu a informação tantonos lares de idosos, como nos centros deapoio à infância.

O grupo "transformou-se num projectomaior: intergeracional, e de verdadeirainclusão social, uma vez que a Catarinaconseguiu juntar jovens e idosos institucio-nalizados, a outros cidadãos de todas as ida-des e proveniências, operando um daquelesmilagres com que o Teatro, arte colectivapor excelência, tantas vezes nos surpreendee gratifica", sublinha Cucha Carvalheiro.

Durante os ensaios, o apoio da Santa Casa foi extrema-mente importante para viabilizar a presença de alguns deles,muitos não tinham meios para suportar as despesas de trans-porte, outros não tinham níveis de autonomia de mobilida-de. Algumas assistentes sociais, que acompanharam quemnecessitava de apoio, "a determinado momento tiveram von-tade de integrar o grupo", – recorda Catarina – desde o inícioe no decorrer do processo de criação, todas as pessoas quemostraram vontade de participar, "foram bem-vindas".

"Segredos" partilhadosNo verão passado, ao fim de sete sábados, sete manhãs, e trêsdias de ensaio, o esperado "bando de aves" – rouxinol, pavão,coruja, pato, papagaio, arara, ganso, pombo, águia, andorin-ha, pica-pau, rola – invadiu o palco do Teatro da Trindade.

O espectáculo "Segredos", durante quatro dias, encheu asala com música e alegria, encantou e envolveu o público,

“Um bando de gente felizque voa”

O grupo intergeracional de teatro amador, constituído por quarenta actores, dois oitoaos 89 anos, alguns deles utentes de estabelecimentos da Santa Casa da Misericórdia

de Lisboa, criado pelo Teatro da Trindade, no âmbito do Ano Europeu do EnvelhecimentoActivo e da Solidariedade entre Gerações, tem asas e consegue voar.

TERESA GONÇALVES/SCML

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Teatro da Trindade

convidado a participar na dança. A construção do espectá-culo surgiu da ideia de contar uma história, baseada noconto infantil "Pinóquio", e o grupo foi desafiado a salientaro que há "de mais ou menos importante" nesta narrativa.

Catarina Gonçalves, partindo da história do "Pinóquio", queconsidera "ter um peso moralizador excessivo", pretendia falardos valores que estão na base da construção de uma sociedadeequilibrada – verdade, integridade, medo, mentira - e que cadaelemento do grupo falasse dos seus próprios valores, paraencontrar em si próprios o que há de comum nos outros.

Ao longo das sessões foram partilhados muitos segredos,algumas pessoas revelaram uma relação difícil com o pas-sado, com vontade de estar com os outros sem estarem mar-cadas pelo seu universo social e história de vida. Algunssegredos foram a base de construção do espectáculo. "Foi –lembra Catarina – um trabalho de filtração de emoções, deconfiança, de partilha, onde todos éramos pessoas comsegredos. O 'lucro' subjectivo deste projecto é impossívelquantificar, mas a formação de consciências, o desenvolvi-mento do sentido crítico e a elevação de auto-estima, sãouma enorme conquista". Foi um trabalho de multidisciplina-ridade, corpo e voz, canto, dança, leitura de poesia, rigor detécnica, posicionamento em palco, ritmo, com acesso àdimensão total da construção do espectáculo, cenografia,figurinos, construção de cena, luz e som.

O principal objectivo de Catarina foi que este "bando degente feliz que voa", formado por um grupo de pessoas com-pletamente distintas, de diversas proveniências sociais, cul-turais, ideológicas, etárias, tivessem suficiente confiança para"subir ao palco, com a dimensão e a dignidade do Trindade".

Nos últimos dias de ensaio foram criados "pilares de con-fiança e energia de grupo", o que no início lhes parecia assus-tador diluiu-se num ambiente de segurança, com a mensa-

gem de que "não devemos ter medo daquilo que nos faz sen-tir bem".

A direcção do TT teve – acrescenta Catarina Gonçalves –uma necessidade moral e social de tentar optimizar os recur-sos, potenciando a criação de projectos que fazem necessa-riamente parte da missão de um Teatro público e, por isso,não acrescentou despesa à produção deste espectáculo, cujacenografia teve o apoio da Câmara de Lisboa, que ofereceuramos e troncos de árvores, a Santa Casa, por sua vez, contri-buiu com centenas de folhas, recolhidas nos espaços verdesdos centros de apoio, e toda a equipa do TT colaborou para aconcretização deste projecto.

Produzir mais esperançaCom experiência já na direcção de outros grupos, Catarinadescobriu "com esta equipa fantástica de pessoas, que faziaisto o resto da vida". O grupo intergeracional incluiu ele-mentos dos CCD da Fundação, estagiários da escola alemã,profissionais da Casa da Moeda, cidadãos vários no activo,aposentados, crianças e adolescentes.

É o caso de Maria Helena, 66 anos, jornalista aposentada,que adiou o sonho da representação "ao longo da vida profis-sional". Já aposentada, participou em telenovelas e séries tele-visivas, onde se cruzou com Cucha Carvalheiro que a informada criação do grupo. Interessada em dedicar o resto da vida aum trabalho sem limite de idade, "pisar este palco teve umgrande significado, já que é uma das salas mais bonitas deLisboa". Actualmente encena uma peça de Natal, com o grupode teatro da Casa da Moeda e quer continuar no grupo interge-racional. "É uma pena esta paragem devido às obras", lamenta.

Célia, 56 anos, espanhola, residente em Lisboa, há 18anos, ao saber da criação deste grupo sentiu que era "a opor-tunidade de realizar um grande sonho". Teve uma sensação

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Catarina Gonçalves, encenadora Maria Helena Célia Fernanda

FOTOGRAFIAS: JOSÉ FRADE

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de convívio familiar, "junto dos mais novos, era criança, aolado dos jovens, era adolescente, e com os mais idosos, eraadulta… foi uma experiência muito rica, quero continuar,para melhorar o meu desempenho".

Fernanda, 51 anos, administrativa, soube do casting atra-vés de uma amiga no Facebook, teve curiosidade, e a expe-riência "superou tudo o que pudesse imaginar". O convívioajudou-a a ultrapassar um período difícil da vida, "todosestavam ligados por um gosto, tudo parecia mágico".

Paulo, 40 anos, formado em psicologia, integra um grupode teatro amador do ISPA, recorda que "foram criados laçosmuito fortes entre as pessoas, e que a diferença de idades sedissipou… era curioso ver o olhar dos novos dirigido aosmais velhos, com respeito, e como Patrícia, 89 anos, olhavapara todos com um olhar jovem". Considera ter evoluídocomo actor. "Pisar o palco do Trindade foi muito enriquece-dor, espero continuar".

Marisa, 33 anos, doutoranda em Comunicação e Artes,movida por uma paixão pelo teatro, quando soube do castingatravés do Facebook do TT, apresentou-se na audição, ondetodos foram escolhidos. Depois foi o deslumbramento, o grupo"tão heterogéneo, tem uma força, uma magia, que tornou tudomais especial… sinto falta, estou desejosa de continuar".

A direcção da Santa Casa já manifestou interesse emapoiar a continuidade do projecto, com o empréstimo de umasala, durante o período de obras do TT. "As gerações maisjovens e as mais antigas – acentua Catarina – precisam deacreditar que é essencial materializar, no nosso código gené-tico está inscrita a vontade de construir, mas têm de ser dadasmais ferramentas operacionais. As pessoas sentem necessi-dade de ser produtoras de vida e geradoras de esperança".

Em breve, o grupo intergeracional terá um novo projec-to, um olhar construtor vai motivá-los a voar mais, «a partirdas palavras e do amor das árvores» (A. Ramos Rosa). n

Teresa JoelPaulo Marisa

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Memória

Oprograma, que incluía nomes tão diversoscomo Jaime Cortesão, Aquilino Ribeiro,Natália Correia, António Silva ou JoãoVillaret ou de brasileiros que passavam,então, por Lisboa, como Maria Della Costa

ou Erico Veríssimo, foi emitido entre Outubro de 1954 eNovembro de 1960. A censura acabou por proibir o "Perfil"depois de uma entrevista de Caeiro ao escritor ManuelMendes.

Fátima e revolução soviéticaIgrejas Caeiro gostava de dizer que tinha nascido num anode contrastes: 1917, o ano da revolução soviética e, simul-taneamente, o do aparecimento da Virgem de Fátima.

Quando morreu, em 19 de Fevereiro deste ano, com 94anos, foi referido como "um nome marcante e dos maispopulares da rádio, do teatro, do cinema e da televisão emPortugal". Assim foi de facto. Igrejas Caeiro (Francisco), filhode gente humilde, aos 10 anos já trabalhava como paquetenuma firma para ajudar ao sustento da família. Caeiro con-tava, com alguma graça, que foi exactamente por essa altu-ra que a mãe lhe fez umas calças compridas. Paquete duran-te o dia, estudos à noite e ainda arranja tempo para se inte-ressar por teatro frequentando um curso da arte de dizer erepresentar. Tinha então 17 anos.

À procura de um actorAos 22 anos, Caeiro cumpria o serviço militar em Taviramas não desligava do que se passava em Lisboa e foi assimque, regressado à capital, decidiu concorrer ao concurso "Àprocura de um actor", iniciativa do "Diário de Lisboa", coma colaboração da Emissora Nacional e do Teatro Nacional D.Maria II. De eliminatória em eliminatória, Caeiro conseguiuo primeiro lugar. Em 8 de Maio de 1940, Francisco IgrejasCaeiro, 23 anos, pisa o palco do primeiro Teatro do paísinterpretando a peça de Ramada Curto, "O Caso do Dia". Foio início de uma grande e feliz carreira que se estenderia aocinema, à rádio, à televisão. E sempre ajudando a família.

A rádio aparece na vida do actor quando um dirigente daEmissora Nacional lhe pergunta se não quer ser locutor. Erao tempo de grandes nomes como João da Câmara, Maria de

Resende, Olavo d'Eça Leal. Como diria um dos intérpretesde "Casablanca", para Igrejas Caeiro foi o início de uma belae longa amizade. Rádio e Caeiro unidos para sempre.

Zequinha e LeléUm encontro com Irene Velez deu em casamento e, três anosdepois, deu em "Zequinha e Lelé". Nelson de Barros e AnibalNazaré escreviam os diálogos e o casal namorava à modaantiga: ela, a "Lelé" à janela e ele, o "Zequinha", na rua. Osdiálogos eram divertidos mas Vasco Santana, o "Zequinha",tinha um processo de representar que desmanchava o maissisudo. Igrejas Caeiro dizia que uma das razões para o gran-de êxito dos diálogos ficava a dever-se àquele ar característi-co que o Vasco, o "Zequinha", sabia imprimir em contrastecom o tom de ingénua de Irene Velez, a "Lelé".

Uma nota de quinhentos…Primeiro foi "Portugal a Cantar", a seguir o "Comboio dasseis e meia", depois a "Volta a Portugal em Bicicleta" e, final-mente, o grande êxito que arrastaria multidões e seria oponto máximo da carreira de Caeiro. Falo de "OsCompanheiros da Alegria", um espectáculo ao vivo que seapresentava por Portugal inteiro com Igrejas Caeiro na apre-sentação, bons artistas de variedades e um concurso cha-mado "À procura de uma estrela", onde Caeiro dava umanota de quinhentos aos concorrentes. Por essa altura, anos50, os portugueses repetiam a toda a hora o slogan inventa-do pelo apresentador: "Uma nota de quinhentos não se podedeitar fora…" O espectáculo ia percorrendo o País e acaboupor ser transmitido pelo Rádio Clube Português. O êxito foital que se dizia que Igrejas Caeiro ainda ia ser candidato àPresidência da República… A verdade é que o apresentadore empresário reconhecia que a sua popularidade estava noauge, que ganhava muito dinheiro e as lotações esgotadasrepetiam-se. E três anos passados, com os bolsos cheios,Igrejas Caeiro decide alugar o Teatro da Trindade para, alémdo programa "Os Companheiros da Alegria", apresentar tea-tro todas as noites. É quando chega o despacho ministeriala proibir Caeiro de trabalhar em qualquer actividade depen-dente da Direcção de Espectáculos. Motivo? A resposta aum inquérito onde Caeiro elogiava Nehru, chefe do

Perfil de Igrejas Caeiro"Perfil de…" foi exactamente assim que Igrejas Caeiro chamou à série de entrevistas querealizou para o Rádio Clube Português com nomes destacados da cultura, do espectáculo, davida portuguesa dos anos cinquenta e sessenta.

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Governo da União Indiana, quando já se preparava ainvasão de Goa, Damão e Diu.

Nasce o "Perfil de um ArtistaImpedido de apresentar "Os Companheiros da Alegria" aovivo, Igrejas Caeiro recorre à Rádio produzindo programasinfantis, teatro, e criando o já citado "Perfil de um Artista".Ficaram para a História cerca de 300 entrevistas com perso-nalidades da cultura, do desporto, do espectáculo. EntreOutubro de 1954 e Novembro de 1960, Caeiro entrevistoumuita gente de todos os quadrantes (do Padre RaulMachado e Bibi Ferreira a Cardoso Pires ou Tónia Carrero).Igrejas Caeiro reconhece que trabalhar no Rádio ClubePortuguês num programa como o "Perfil" só foi possível por-que Marcelo Caetano tinha chegado à Presidência. Foi eleque lhe levantou a suspensão. "Era um homem afável e inte-ligente". Entre todos os entrevistados do "Perfil", Caeiro des-tacava Jaime Cortesão, Aquilino Ribeiro e José CardosoPires, mas também António Sérgio e Fernando Namora.

O cinema e o teatro na vida de CaeiroPode dizer-se que Igrejas Caeiro foi um verdadeiro "homemdos sete instrumentos", pois entretanto já participara em fil-mes de Leitão de Barros ("Camões"), de António LopesRibeiro ("Amor de Perdição"), de Manuel Guimarães ("OTrigo e o Joio") e ,desde há muito, que pensava em ter umteatro onde pudesse apresentar peças e autores do seu agra-do. Aconteceu em 1969. Fundou então o Teatro Maria Matosque inaugurou com "O Tombo no Inferno", de AquilinoRibeiro, seguida de "A Relíquia", de Eça de Queiroz. Seguem-se as proibições e os cortes da Censura. Caeiro perde muitodinheiro e decide desfazer a sociedade. "Desfeita a socieda-de, proibido de trabalhar em público, julguei que estava per-dido. Foram momentos muito tristes da minha vida."

A festa do 25 de AbrilO 25 de Abril apanha Caeiro na Emissora Nacional e, quan-do o convidaram para ser deputado da AssembleiaConstituinte, contou ele, até chorou. "Era a alegria imensa depoder contribuir para a reconstrução do país, em liberdade".Foi deputado, dirigente do Partido Socialista, vereador daCâmara Municipal de Cascais, director de programas daEmissora Nacional. Reformado, já sem teatro, sem rádio, semtelevisão, aceitou a presidência da Fundação Sara Beirão queajudava os mais idosos, principalmente artistas. A SociedadePortuguesa de Autores atribuiu-lhe o Prémio de Consagraçãode Carreira em 2005 e a Medalha de Honra em 2007.

Francisco Igrejas Caeiro morreu no dia 19 de Fevereirodeste ano. Tinha 94 anos. n

Maria João Duarte

Igrejas Caeiro numa apresentação no antigo cinema Mundial. Em baixo,com Santos Fernando e Ferro Rodrigues, uma famosa dupla de Humoristas

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Olho Vivo

Animaçãocontraa ansiedade

As crianças que vêem desenhos animados antes de seremanestesiadas e operadas denotam menos ansiedade face à intervençãocirúrgica, segundo um estudo publicado na revista da associaçãoInternacional de Anestesistas IARS. A experiência foi feita na Coreiado Sul e os desenhos animados reduziram a ansiedade em 130pacientes com idades entre os 3 e os 7 anos, que iam ser submetidasa pequenas intervenções cirúrgicas como a extração das amígdalas.

Elefante que fala

Um elefante asiático chamado Koshikconsegue imitar a fala humana,proferindo várias palavras em coreanoque são imediatamente entendíveispelas pessoas. O animal enfia atromba na boca para proferir os sons.O paquiderme está a ser estudado poruma equipa da universidade deViena.

Bactériasfalantes

As bactérias falam umascom as outras através demoléculas que produzempara comunicar. Ofenómeno é importante napropagação de umainfecção. Agora, cientistassuecos estão a afirmar queas células do nosso corpotambém se "avisam" umasàs outras dos perigos deinfecção e ataques dasbactérias. O estudo é dauniversidade deLinköping e foi publicadona revista PLoSPathogens. A descobertapode melhorar otratamento de infecçõesresistentes aosantibióticos.

Bebésde Verão

Um estudo da faculdadede economia dauniversidade da ColumbiaBritânica revela que adata de nascimento deuma pessoa pode afetar asua ascensão até ao topoda hierarquia de umaempresa. Dos 500presidentes de conselhosde administraçãoestudados, só 6,13 porcento nasceram em Junhoe apenas 5,97 em Julho.Em comparação, 12,53por cento da amostranasceram em Março e10,67 por cento em Abril.As razões ainda estão pordescobrir.

Catatua engenhosa

Uma catatua austríaca, de seu nomeFígaro, criada em cativeiro em Viena,está a surpreender os zoólogos por sercapaz de construir ferramentas,habilidade que as suas congéneres nanatureza nunca demonstraram ter.Fígaro usa o bico e as garras para cortarpaus que lhe permitem chegar aobjectos desejados que estejam fora doalcance. As capacidades de Fígaro estãoa ser estudadas por cientistas de Oxfordque têm filmado a ave em pleno fabricoe utilização dos utensílios.

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António Costa Santos ( textos)

E o cabelo crescerá

O medicamento americano para o glaucoma, bimatoprost, causa oreaparecimento de cabelo nas pessoas calvas. Tem sido exploradocomercialmente para fazer crescer as pestanas, mas os dadospublicados na revista Faseb são os primeiros a mostrar que a drogapode fazer recrescer cabelo humano a partir do couro cabeludo maisliso. Este tratamento para a calvície está a ser estudado por umaequipa da universidade britânica de Bradford.

O bocejodos cachorros

Que o bocejo é contagioso toda agente sabe. E que o ser humanovai ficando progressivamente maissusceptível ao contágio, à medidaque cresce e envelhece, também.Agora, um estudo publicado narevista científica Cognição Animalprova que essa susceptibilidade aobocejo dos outros também nãoafecta os cachorros de tenra idade,aumentando à medida que o cãose torna adulto. Segundo o estudo,o bocejo por contágio é um sinalde empatia com os próximos,ausente nos bebés humanos e nascrias caninas.

Figurinha milenar

Arqueólogos da Universidade deBarcelona descobriram na grutade Can Sadurni, em Begues, amais antiga figurinha humana daPenínsula Ibérica, um torso comum braço completo e metade deoutro, que foi datada de há 6500anos. Há alguns meses, osmesmos arqueólogos revelaram nazona os mais antigos vestígios daprodução de cerveja.

Medo diminui a distância

Cientistas ingleses publicaram uma investigação na revista CurrentBiology que indica que o medo afecta a nossa percepção da distância aque se encontra o que nos provoca esse receio. Os psicólogos queestudam as fobias concluíram que julgamos mais perto do que estáefectivamente qualquer objecto que constitua uma ameaça à nossaintegridade.

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Numa crónica de 1889, publicada noJornal de Horticultura Prática, EduardoSequeira sugere que se adopte umramo de laranjeira ornamentado com

luzes, brindes e flores de camélia como "árvore donatal" portuguesa, em vez de se usar o pinheiro e oazevinho. Uma sugestão que fundamenta emrazões geográficas e culturais: "Mas no norte,n`aquellas regiões onde a neve impera, cobrindodesde bem cedo tudo com o seu branco lençol, osvegetaes resistentes, e por isso os vegetaes sagra-dos, os vegetaes queridos, são o pinheiro e o aze-vinho (…) Mas entre nós, o azevinho e o pinheironão teem as tradicções do norte, e tanto podemelles servir para árvore do natal, como outra qual-quer".

Através destas afirmações é possível deduzirque apesar do azevinho (Ilex aquifolium L.) ser umsímbolo da quadra natalícia em muitos paíseseuropeus, reminiscência das Saturnália – festivida-des romanas de culto a Saturno que se realizavamno mês de Dezembro e implicavam troca de pre-sentes, entre eles ramos de azevinho – em Portugal,no final do século XIX era um "símbolo importa-do", destinando-se esta Aquifoliaceae sobretudo aoutras práticas. Evidentemente, a adopção desta

moda estrangeira agravou a tendência para aextinção do azevinho (sobretudo a "árvore fêmea",que produz as atractivas e tóxicas bagas verme -lhas) tornando-se necessário implementar medidaslegais que o protegessem, como veio a efectivar-sea 4 de Dezembro de 1989, através do Decreto-Leinº 423/89, que proíbe e penaliza com pesadas coi-mas o corte do azevinho espontâneo.

O abate de azevinho em Portugal estava entãoancestralmente ligado a outras práticas e cele-brações, como é possível confirmar pela leiturade "Tradições Populares e Portugal", de 1882.Escreve o seu autor, o linguista, arqueólogo eetnógrafo José Leite de Vasconcellos: "A`meia-noute do S. João vae muita gente colher o aze-vinho; andam em roda d`elle a dançar, a tocarviolas e a cantar: "Azevinho, meu menino, /Aquite venho colher, /Para que me dês fortuna/Nocomprar e no vender, /E em todos os negócios/Emque me eu me metter." Nesta ocasião deitam-lhevinho em borrifos; depois cortam-no e põem-no àentrada de casa, ou em sítio escondido." E o pro-lífico investigador, acrescenta ainda: "Quandotroveja, é também bom queimá-lo".

A atribuição de poderes benignos, protectores emágicos a esta "planta relíquia" que poderá ter apa-recido na Terra há cerca de 15 milhões de anos, coe-xistia em Portugal com o seu aproveitamento napecuária. Numa edição de "O Archivo Rural", de1860, exalta-se o seu uso na alimentação dos ani-mais, sobretudo enquanto "forragem verde" dasvacas leiteiras. Conhecedor da agricultura daBretanha, Olímpio Leite escreve: "Este azevinho dá-se aos animaes tres vezes por dia, triturado e mis-turado com feno. (…) As vacas leiteiras exigem de150 a 200 kilogrammas, 4 por cento do peso brutode feno, para serem convenientemente nutridas".

Árvore sagrada dos celtas, o azevinhosempre cresceu na lentidão.

A Casa na árvore

Susana Neves

Azinhasde Natal

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Fotos: Susana Neves

O reconhecimento do valor nutricional dasjovens folhas de azevinho justificava ainda a suautilização na ementa dos cavalos destinados "aacções de natureza militar".(Fernando Catarino, "Do Casta -nheiro ao Teixo", FLAD, Público,2007). E quando a mobilizaçãodos animais por via nutricionalnão era suficiente utilizavam-seos ramos flexíveis da árvorecomo chibatas para os forçar aotrabalho.

Outra utilização perversa doazevinho aparece descrita nabibliografia oitocentista: apa -nhar passarinhos com o viscoda casca. O processo deextracção e a aparência dovisco sugeriu aos autores umaadjectivação fortemente visuale repulsiva, veja-se o texto de"Flora Pharmaceutica", 1825: "A casca interiorbem limpa da exterior, reduzida a pasta pormeio da contusão mettida em hum vaso, e postade parte até apodrecer, e então lavada para selhe separarem as fibras lenhosas dá o optimovisco aucupario, que he huma massa resinosa,verde, mollissima, plastica, hum tanto fluida,

tenacissima, ductil em compridissimos fios,adhesiva".

A todas estas utilizações (sem falar das artesa-nais e medicinais), a árvoresagrada dos celtas sobreviveu.Em Portugal, so bre tudo nonorte, é possível ainda encon-trar alguns espécimes isoladosde grande porte, mas somentenas serras do Gerês (na matado Ramiscal), Monchique eSintra sobrevivem vários espé-cimes juntos, ou seja, é possí-vel ver um azival, azevinhalou aziveiro, possível sub-bos-que de um antigo carvalhal.

O azevinho não se impor-ta de viver à sombra dos car-valhos ou de outras árvorescuja companhia aprecia.Toda a sua aplicação está em

crescer um centímetro por ano para atingir umalongevidade multissecular. As agulhas das fo -lhas dos ramos inferiores (razão do seu segundonome científico) e o veneno das bagas (a que sãoimunes as aves disseminadoras das sementes)foram algumas das suas sábias estratégias paraviver no prazer da lentidão. n

O primeiro nomecientífico "ilex"resulta dasemelhança entreas folhas doazevinho e daazinheira (Quercusilex L.);"aquifolium" querdizer folha comagulha

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l CONSUMO Mais segurança na circulação rodoviária é o objectivo da novaregulamentação comunitária sobre veículos automóveis e pneus. Pág. 46 l

LIVRO ABERTO Em destaque, o novo livro de António Lobo Antunes, "Não ÉMeia Noite Quem Quer", e "Citações e Pensamentos de Camilo CasteloBranco", Pág. 48 l ARTES As obras de João Vieira, falecido em 2009, voltam aser mostradas até 31 de Janeiro próximo, na Galeria Valbom, em Lisboa. Pág. 50

l MÚSICAS Com "Rui Veloso e Amigos", o autor e intérprete "revisita", comoutros cantores, 13 dos seus mais popularizados temas. Pág. 52 l NO PALCO

"Timão de Atenas", de Shakespeare, no Teatro deAlmada, assinala o regresso de Joaquim Benite àencenação. Pág. 54 l CINEMA EM CASA Trêsexcelentes documentários em foco: É na Terra Não éna Lua, de Gonçalo Tocha, sobre a ilha do Corvo;

Women are Heroes; e Oceanos. Pág. 55 l GRANDE ECRÃ "Amor", de MichaelHaneke, premiado em Cannes, retrata de forma sóbria e ao mesmo tempodura e subtilmente comovente o drama de um casal de octogenários. Pág. 56 l

INFORMÁTICO A PT lança, este mês, o cloudPT um serviço de cloud storageonde podem ser armazenados e geridos todos os documentos digitais. Pág. 58 l

AO VOLANTE À semelhança das evoluções a que assistimos nos produtostecnológicos do dia-a-dia, o novo modelo 208 da Peugeot marca umverdadeiro salto de gerações. Pág. 59 l SAÚDE Os sintomas – tosse, febre,expectoração e dores musculares que não cedem, ou se agravam – devemalertar-nos para uma eventual pneumonia. Pág. 60 l PALAVRAS DA LEI Emquestão, um caso de doação com reserva de usufruto em inventário comreclamação da relação de bens apresentada. Pág. 61

BOAVIDA

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Boavida|Consumo

Carlos Barbosa de Oliveira

Entrou em vigor, no dia 1 de Novembro, um conjun-to de regras que impõem novas regras de segurançapara os veículos a motor.Entre as medidas agora tornadas obrigatórias –

resultantes da entrada em vigor do regulamento geral desegurança aprovado em 2009 – merecem destaque:

Sistema de alerta para o cinto de segurança. O assentodo condutor estará equipado com um sistema de alerta (visu-al ou auditivo) de esquecimento do cinto de segurança, queavisará o condutor que deve apertar o cinto de segurança.

Cadeiras para bebé. Os veículos deverão estar equipadospelo menos com dois pontos de encaixe para as cadeiras debebé (ISOFIX), que deverão estar totalmente integrados nosassentos traseiros. Estes pontos de encaixe podem ser utiliza-dos com as cadeiras de bebés compatíveis, o que permitiráuma melhor estabilidade para a cadeira do bebé;

Indicadores de mudança de velocidade. Os automóveisterão de ser equipados com indicadores de mudança develocidade, de molde a ajudar os condutores a economizarcarburante e a reduzir as emissões de CO2.

Segurança da bagagem. Os assentos traseiros contíguos àmala bagageira deverão ser suficientemente resistentes paraproteger os passageiros contra a movimentação da bagagemem caso de uma colisão.

Alerta para perda de ar dos pneus. Os pneus dos veícu-los de passageiros deverão estar equipados com umsistema de controlo da pressão dos pneus que detectetoda a perda de pressão de ar e o assinale ao condutor.O risco de furo será assim reduzido de maneira signi-ficativa. Os furos podem causar graves acidentes,pelo que a boa pressão dos pneus irá garantirtambém obter-se uma distância de tra -vagem mais curta, mais economia decombustível e uma redução das emissõesde CO2.

A preocupação com uma melhorsegurança dos pneus está igual-mente patente noRegulamento 1222/2009,sobre rotulagem de pneus, queentrou também em vigor no pretérito

dia 1 de Novembro.Assim, desde aquela data, os pneus novos destinados a

veículos ligeiros, comerciais e pesados comercializados naUE (independentemente da sua origem) terão nova rotu-lagem/etiquetagem obrigatória reflectindo os respectivosníveis de desempenho.

Pretende-se, com a nova rotulagem, clarificar a quali-dades dos pneus, especificamente quanto a três atributos: aresistência ao rolamento; a aderência em piso molhado e oruído exterior de rolamento

Esta informação irá permitir uma maior e melhor infor-mação sobre o produto a adquirir, ajudando a fazer melhoresescolhas e uma maior sensibilização sobre a importância dospneus na segurança rodoviária.

A nova rotulagem/etiqueta apresenta algumas seme -lhanças com as etiquetas de eficiência energética que já exis-tem nos electrodomésticos e abrange três áreas específicas:(ver caixa Interpretação das etiquetas)

Eficiência energética (consumo de combustível). O pneué classificado de A a G, de acordo com a resistência ao rola-mento e que pode resultar numa poupança de até 7,5% decombustível;

Segurança. A classificação do pneu é igualmente esta -belecida de A a G, de acordo com a distância de travagemem piso molhado, que se pode traduzir numa diminuição deaté 18 metros na travagem 80 km/h-0 km/h;

Conforto acústico.O pneu é classificado através da repre-sentação das ondas sonoras e do valor absoluto em dB doruído exterior de rolamento.

A informação agora disponibilizada ao consumidor per-mitirá comparar mais facilmente os pneus entre si e, desse

modo, influenciar as decisões de compra dos con-sumidores, no sentido de escolher pneus mais

seguros, mais silenciosos e mais eficientes emtermos energéticos.

É importante, no entanto, pedir o acon-selhamento do revendedor para conhecer o

desempenho global do pneu que pretendeadquirir. Normalmente é um

profissional especializadoque o poderá ajudar a fazera escolha mais apropriadapara o seu veículo. n

Automóveis mais segurosAssegurar mais segurança na circulação rodoviária é o objectivo da nova regulamentação comunitáriasobre veículos automóveis e pneus que entrou em vigor no pretérito dia 1 de Novembro.

46 TempoLivre | DEZ 2012 JOSÉ ALVES

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Page 63: Tempo Livre Dezembro

Como interpretar a etiqueta/rótulo do pneu

A primeira informação

apresentada (à esq. da

etiqueta) está

relacionada com a

resistência ao rolamento à qual está

associada um ícone de uma bomba

de combustível, e vai de uma escala

de A (verde) a G (vermelho),

significando A uma maior eficiência

e/ou uma menor resistência ao

rolamento. Quanto menor for a

resistência, menor será a energia

despendida e a quantidade de

combustível gasto.

A segunda informação

(à dir. da etiqueta)

refere-se à aderência

em piso molhado. Está

associada a um ícone retratando

condições climatéricas adversas

(nuvens e chuva), e vai igualmente de

uma escala de A a G, significando que

um pneu de classe A garante uma

distância mais curta de travagem

(uma melhor prestação em termos de

travagem, portanto).

A terceira e última

informação (na parte

inferior da etiqueta) é

de carácter ambiental,

relacionado com o ruído exterior de

rolamento. A informação aqui

prestada está associada ao ícone de

um altifalante emitindo umas ondas

(num máximo de três) e medido em

decibéis. A um maior n.º de ondas

coloridas corresponderá um pneu

mais ruidoso (podendo produzir até

mais 6 decibéis de ruído do que um

pneu com apenas uma onda

colorida).

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Boavida|Livro Aberto

António Lobo Antunes, Camilo,a ideia de Deus e tempo de biografias

Carreira das Neves nos revela de que forma a ideiade Deus atravessa civilizações, culturas e épocas,sintetizando e aprofundando tudo aquilo que, noHomem, é inquietação, ansiedade, desejo de imorta -lidade e temor da morte. Um livro que, muito maisdo que dar respostas, abre caminho para novas medi-tações e perguntas. A não perder, por crentes e nãocrentes.

Em matéria de textos biográficos de qualidade,destaque para "Rómulo de Carvalho/ António Gedeão -Príncipe Perfeito" (Editorial Estampa), uma viagem delembranças e afectos pela vida do poeta e cientistacumprida pela sua filha, a escritora Cristina Carvalho,que escreveu uma obra vinda do coração mas que abreportas para quem queira ter um conhecimento maisdetalhado e profundo da obra e da vida do autor de"Lágrima de Preta". Destaque também, com a chancelada Oficina do Livro, para uma nova edição de MariaBarroso – Um Olhar sobre a Vida", da autoria da jorna -lista e escritora Leonor Xavier, também biógrafa de RaulSolnado e do ex-ministro de Marcelo Caetano, RuiPatrício.

Para quem se interessa pelo período dramático da

José Jorge Letria

Este é o 28º livro de uma das mais importantesvozes de sempre e uma das mais justamenteinternacionalizadas da literatura portuguesa,por conseguir retratar de forma ao mesmo

tempo lírica, épica e trágica o Portugal que fomos esomos.

Em época de comemorações camilianas, a Casa dasLetras acaba de lançar "Citações e Pensamentos deCamilo Castelo Branco", com organização de PauloNeves da Silva, mais um título para enriquecer umacolecção de referência que inclui citações, pensamentose aforismos de alguns dos maiores nomes da literaturamundial, de Jorge Luís Borges a Eça de Queirós. Umlivro para ter à cabeceira e para ir lendo e relendo, aomesmo tempo que se descobre ou redescobre a obra doautor de "A Queda dum Anjo".

Do exaustivo, rigoroso e fascinante trabalho dereflexão filosófica e teológica do Padre Carreira dasNeves, membro da Academia das Ciências, nasceu"Deus Existe? Uma Viagem Pelas Religiões" (EditorialPresença), obra de cerca de 450 páginas na qual

Já com um livro pronto para publicar em 2014, António Lobo Antunes, mantendo o pendular ritmo deprodução de um grande escritor profissional, lançou "Não É Meia Noite Quem Quer" (D. Quixote), paramuitos um dos seus melhores livros e aquele que aparenta ter uma maior carga autobiográfica,embora, na realidade, todos os romances a tenham, de uma maneira ou de outra.

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Guerra Colonial que, na recta final da ditadura, custoua vida a dezenas de milhares de portugueses eafricanos, a Oficina do Livro editou "Heróis doUltramar - Histórias de Bravura nos Campos deBatalha da Guerra Colonial", de Nuno Castro, e "OsQue Vieram de África - O Drama da Nova Vida dasFamílias Chegadas do Ultramar", de Rita Garcia.Depois de mais de três décadas de quase silêncio epreconceito sobre este tempo e este drama históricoassiste-se à profusão, quase moda, de edições sobre aguerra e o fenómeno do retorno, sendo convenienteque o preconceito ideológico que gerou a longa omis-são não dê agora origem a uma glorificação apologéticade um período da História Contemporânea que deveráser abordado e analisado com serenidade, rigor e dis-tanciamento e nunca com ligeireza e inclinação para o"fait-divers". Não será esse o caso dos dois títulos aquimencionados, mas nunca é de mais deixar o alerta,pois a matéria, mesmo havendo no governo uma quase

maioria de ministros e secretários de Estado comorigem nas ex-colónias, continua a ser sensível, con-troversa e marcada por formas várias de ressentimentoa que a política e a ideologia não costumam seralheias.

Destaque, por outro lado, para duas obras de ficçãonarrativa de qualidade, a ter em conta nas escolhas parao Natal: "O Bairro da Estrela Polar" (Casa das Letras), doescritor, criminalista e autarca Francisco Moita Flores, eainda para "A Ilha" (D. Quixote), do grande escritor hún-garo do século XX Sándor Márai.

As Edições Sílabo deram à estampa "A Fenome -nologia Enquanto Lugar Total da Vida – Diálogo poético-amoroso entre Merleau-Ponty e alguns pensadores eartistas", da escritora e ensaísta Gilda Nunes Barata,autora de uma obra já extensa e diversificada que tam-bém incluir a literatura infantil. O presente ensaio aces-sibiliza ao público a tese de doutoramento da autora emFilosofia na Universidade Nova de Lisboa.n

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Boavida|Artes

Rodrigues Vaz

Apresentada em jeito de homenagem pelo seufilho, o conhecido músico Manuel João Vieira,ele próprio igualmente artista plástico, estaexposição, que se intitula Década e integra um

conjunto de peças produzidas entre 1985 e 2008, traduzcom eficácia as grandes linhas da sua obra, que se desen-volveu ao longo de mais de cinco décadas fundamental-mente sob o signo do experimentalismo interdisciplinarem torno de duas temáticas: o corpo e a letra. Do corpo,especialmente ligado aos primeiros trabalhos e aos actosperformativos então realizados em Portugal como pioneiramanifestação, João Vieira chega à letra, registando a partirda forma do corpo as possibilidades gráficas da sua trans-formação em letra.

Como diz no excelente e completo catálogo PauloSimões Rodrigues, "À semelhança do que sucede com asmáscaras, rostos reduzidos à estilização dos seus elemen-tos estruturantes mais simples – as cores, os tons, as tex-turas, os traços e as formas –, as imagens apropriadas nãodeixam de ser reconhecíveis. Mas é esse "efeito de seme -lhança", como foi notado atrás, que afirma, precisamente,a autonomia da recriação, projecção no mundo de umolhar sobre a pintura do passado – reforçada pela alte -ração irónica dos títulos."

ARMANDA PASSOS NA GALERIA SÃO MAMEDE

Por seu turno, igualmente a galeria São Mamede apresen-ta um peso pesado da arte em Portugal, a artista portuenseArmanda Passos a Lisboa, que regressa com a exposiçãointitulada Óleos de Pequeno Formato, que ali vai estarpatente até 15 de Janeiro de 2013. Natural de Peso daRégua, Armanda Passos vive e trabalha no Porto, onde selicenciou em Artes Plásticas pela Escola Superior de BelasArtes. A sua pintura coloca-se num lugar sem precedênciatanto pelos temas plásticos elegidos – as famosas "mu -lheres de Armanda" – como pelos acentos do respectivotratamento. Daí a sua forte e tão sedutora originalidade noquadro das tendências da pintura atual.

O Corpo e a Letra de João Vieirana Galeria Valbom, em LisboaTrês anos após a sua morte, as obras do artista plástico João Vieira voltam a ser mostradas até 31 deJaneiro próximo, na Galeria Valbom, em Lisboa, o que foi o seu espaço preferencial durante os seusúltimos anos de vida.

Pinturas de João Vieira(em cima) e ArmandaPassos

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Como salienta a historiadora de Arte Sylvie Deswarte-Rosa no texto de apresentação do catálogo, "Mais do quehistórias, Armanda cria, direi eu, "quadros poéticos", ouantes como explica Lessing no Laokoon (Berlim, 1766),"fantasmas poéticos" ou "sonhos acordados". Afinal, qual-quer um de nós é provavelmente capaz de ter sonhosacordados, se ficarmos atentos e nos prepararmos paraisso. Mas só muito poucos o fazem. Fê-lo Opicinus deCanistris no século XIV nas imagens cartográficasantropomorfas criadas em segredo ao longo da noite emAvinhão durante o Grande Cisma; fê-lo HieronymusBosch no século XV nos Países Baixos em vastas visõesdelirantes como o tríptico das Tentações de Santo Antãodo Museu das Janelas Verdes, em Lisboa. Armanda Passosentra nesta genealogia de artistas."

METÁFORAS

Por sua vez, o Centro Cultural de Cascais apresenta até 30do corrente uma exposição de Mariam Nowinski, profes-sor na Academia de Belas Artes de Varsóvia e reitor da

Faculdade de ArtesVisuais e Design doInstituto Polaco-Nipónicode Tecnologia daInformação de Varsóvia,intitulada A Metáfora noCartaz e no Desenho.

Trata-se de uma exu-berante colecção de car-tazes e desenhos caracteri-zados por visualidade eimaginação surpreen-dentes da qual ressalta acriatividade pura deste

mestre designer polaco. A sua arte já circulou por toda aEuropa culta, foi às Américas e ao Extremo-Oriente,chegando finalmente a Portugal sob o patrocínio daEmbaixada da Polónia em Lisboa, numa iniciativa conjun-ta da Fundação D. Luís I e do Pelouro da Cultura daCâmara Municipal de Cascais. n

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Em tempo de crise, o CD acaba por ser uma alternativa menos dispendiosa para as prendas de Natal.Em defesa da cultura e da indústria nacionais, aqui se sugerem dois trabalhos de autores portuguesese/ou uma oferta economicamente mais arrojada, para os apreciadores de ópera.

Vítor Ribeiro

Aprimeirachamada deatenção vaipara o álbum

"Rui Veloso e Amigos",no qual o autor e intér-prete parte à "revisitação"de 13 dos seus mais po -pularizados temas, nacompanhia de oficiais domesmo ofício.

Rui Veloso consegue surpreender-nos não só no planoformal, designadamente no que se refere à natureza dosarranjos musicais, mas também na escolha dos amigosconvidados, oriundos de "escolas" e gerações muitodiversificadas.

No material de promoção fornecido à ComunicaçãoSocial destacam-se os duetos com os Expensive Soul ecom Camané, nos temas "Mr. Dow Jones" e "Conceição",respectivamente.

Mas os melómanos podem ainda ser surpreendidospelas intervenções de gente tão diversa como JorgePalma, Afonso Pais, Luís Represas, Rão Kyao, Carlos doCarmo, Dany Silva, Maria João e Mário Laginha, JPSimões, Bernardo Sassetti, Ricardo Ribeiro, Tito Paris eZeca Medeiros.

Este encontro de Rui Veloso com amigos encerra com"Fado Pessoano", no qual intervêm Manuel João Vieira,Boss AC, Ana Sofia Varela, Paulo Flores, Lura, Tcheka,Zé Ricardo, Manecas Costa e Luanda Cozetti.

"PARTO" DE VICENTE PALMA

Não menos surpreendente é o álbum de estreia do can-tor e compositor Vicente Palma, cerca de 30 anos, com otítulo genérico "Parto".

Este primeiro trabalho de grande fôlego de Vicenteintegra 14 temas, 13 dos quais com textos e músicas dopróprio cantor. A excepção é "Para Rosalía", cantiga de

Boavida|Músicas

José Niza e Curro Enríquez popularizada por AdrianoCorreia de Oliveira.

Filho do cantautor Jorge Palma, Vicente trabalhou aolongo dos anos com o pai, cujas naturais influências ojovem músico não renega, antes pelo contrário.

Vicente foi, no entanto, trilhando o seu próprio ca -minho e é hoje, sem dúvida e com mérito, um composi-tor de invulgar consistência e um intérprete de vozsegura e cristalina.

"Parto" não será talvez um trabalho de fácil adesãopor parte do chamado grande público. Constata-se, deresto, que Vicente Palma não optou pela via da facili-dade, ao conceber um CD que o coloca no patamar dosnossos melhores jovens compositores. O futuro próximoda música portuguesa passa por este Vicente Palma.

VOZES DA ÓPERA ITALIANA

No âmbito do catálogo EMI Classics, acaba de publicar-se a colectânea "Voices of Italian Opera", uma caixa comum total de cinco CDs.

Mais de quatro dezenas de cantores imortais inter-pretam outros tantos temas de entre os mais emblemáti-cos da ópera italiana, gravados no século XX.

Os melómanos poderão encontrar ali as vozes de,entre outros, Carlo Bergonzi, Montserrat Caballé, MariaCallas, José Carreras, Enrico Caruso, Beniamino Gigli,Tito Gobbi, Alfredo Kraus, Mario del Monaco…n

Rui Veloso e Vicente Palma: o presentee o futuro da música portuguesa

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Boavida|No Palco

Maria Mesquita

Imaginemos uma sala de "chat"… uma das actuaisjanelas dialogantes da Net, mas em vez de funcionarpor um computador, ser mesmo uma sala, grande,com várias pessoas, muitas pessoas, todas diferentes

e todas iguais. Cada uma com os seus ideais, maneira deser e interesses próprios, falando de futebol, música,política, dos filhos, dos cães e gatos, revelando façanhasou inventando uma vida que, simplesmente, não é real.Esta é a história de "O Grande Salão", um local que seespera complexo e ao mesmo tempo supérfluo, onde todosquerem saber da vida uns dos outros, mas depois dizemque não, que existe uma grande falta de privacidade e queas pessoas se expõem cada vez mais. Será acima de tudoum espaço de lazer, onde se pode dizer tudo, expressarqualquer coisa, tanto como forma de declaração universalde felicidade, como de pena e purga. Um espaço onde sefala, sobretudo, da vida neste planeta, mas à escalahumana e instantânea.

FICHA TÉCNICA: Direcção: Martim Pedroso; Dramaturgia:

Martim Pedroso, Nelson Guerreiro; Co-criação e Interpretação:

Catarina Guerreiro, Chullage, Elmano Sancho, Hugo

Bettencourt, Inês Rosado, Íris Cayatte, João Villas-Boas, Juana

Pereira da Silva, Manuel Sá Pessoa, Maria Ana Filipe, Maria

Stattmiller, Marina Albuquerque, Miguel Damião, Paula Só,

Paulo Duarte Ribeiro, Pedro Castanheira, Sandra Simões,

Sofia Ferrão, Tânia Leonardo; Assistência à encenação:

Patrícia Carreira; Som/luz: Nuno Barracas; Direcção técnica:

Mafalda Oliveira; Produção: ZDB, Materiais Diversos

"A MÃE", DE TREMBLAY…

"Pelo prazer de a voltar a ver" é a peça em cena no TeatroAberto até 23 de Dezembro. Obra autobiográfica do cana-diano Michel Tremblay com várias representações inter-nacionais, a peça é um hino às relações mãe/filho, semnos deixar levar pela vaga sensação, um quanto bizarra,por vezes, do complexo de Édipo. Nesta encenação, asatenções focam-se sobretudo na mãe do narrador, umamulher cheia de vida, provocando risos e lágrimas a todosos que se encontram na plateia, e a quem está ao ladodela, evocando a sua presença, em palco. É ela que roubaa cena, com os seus monólogos e diálogos com o filho, talcomo as nossas mães o fazem quando estão presentes emqualquer sala. É acima de tudo uma homenagem de amora quem nos deu a vida e nos criou.

FICHA TÉCNICA: Autor: Michel Tremblay; Versão, Dramaturgia

e Encenação: Marta Dias; Cenário: Rui Francisco; Figurinos:

Bernardo Monteiro; Realização: Vídeo Nuno Neves; Luz: Tasso

Adamopoulos; Interpretação: Luís Barros e Sílvia Filipe

UMA 'LIÇÃO' EM ALMADA

"Timão de Atenas", de Shakespeare, estreia a 20 deDezembro no Teatro Municipal de Almada, regressandodepois em Janeiro, para uma apresentação mais prolonga-da. É o regresso de Joaquim Benite à encenação com ahistória exemplar de um mecenas, homem de bem, gene -roso, mas ingénuo que constata – ao ver-se arruinado – aindiferença, e até escárnio, dos outrora beneficiários dasua generosidade…Timão saberá, no entanto, dar-lhes, aosfalsos 'amigos' (e a todos nós) espectadores a devida lição.Uma peça didáctica em tempo de sombras e desilusão…

FICHA TÉCNICA: Autor: William Shakespeare; Encenação:

Joaquim Benite; Interpretação: Luís Vicente, Marques

D'Arede, Paulo Matos, Ivo Alexandre, André Gomes, Alberto

Quaresma, Manuel Mendonça, Miguel Martins, João Farraia,

Pedro Walter, Celestino Silva, Teresa Gafeira, Joana

Francampos, Jeff de Oliveira; Versão dramatúrgica: Yvette K.

Centeno; Cenário: Jean-Guy Lecat.

De “O Grande Salão” à 'lição' de Timão…Facebook, a rede social mais famosa e utilizada no mundo, é o ponto de partida para a encenação de "OGrande Salão", com estreia marcada para 19 do corrente no Teatro Municipal de São Luiz.

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Page 72: Tempo Livre Dezembro

É NA TERRA NÃO É NA LUA

Documentário longo e origi-

nal realizado na pequena ilha

do Corvo, no arquipélago dos

Açores, em

pleno Oceano

Atlântico. Olhar

fresco assinado

pelo jovem rea -

lizador Gonçalo

Tocha que nos

transporta para o dia-a-dia da

população local, os seus

hábitos e tradições e a difícil

condição insular. Depois da

sua primeira obra, Balaou

(2007), Gonçalo Tocha assina

agora um filme mais eficaz,

em forma de registo diário da

sua passagem pela remota

ilha açoriana. Com um olhar

atento, o realizador recorre à

voz off para fazer avançar a

narrativa, bem como a

fotografias antigas da ilha

para ajudar a compreender a

evolução desta ilha única.

TÍTULO ORIGINAL: É na Terra

não é na Lua; REALIZADOR:

Gonçalo Tocha;

Documentário; Portugal,

180m, Cor, 2011; EDIÇÃO:

Alambique

WOMEN ARE HEROES

Estreado no final do último

Verão, Womens are Heroes é

um filme inovador assente no

trabalho do fotógrafo J.R, que

captou rostos de mulheres

inscritos em painéis nas ruas

de alguns dos locais mais

pobres do mundo. Das favelas

do Rio de Janeiro, passando

pelo Quénia e pelas ruas da

Índia, até ao

Cambodja, o

filme é uma

belíssima

homenagem

às mulheres.

Seleccionado

para a semana da crítica do

festival de Cannes de 2010 e

com uma passagem tímida

pelas salas nacionais, o filme

é o resultado do material fil-

mado enquanto o autor

fotografava e entrevistava as

mulheres nos diferentes

locais por onde passou. Nas

palavras sábias foi uma tenta-

tiva de "captar a essência da

humanidade" na paisagem

urbana através de murais com

imagens poderosas.

TÍTULO ORIGINAL: Women are

Heroes; REALIZAÇÃO: J.R;

Documentário; França, 80m,

Cor, 2011; EDIÇÃO: Leopardo

Filmes

OCEANOS

Oceanos é um trabalho docu-

mental que procura captar a

realidade dos oceanos numa

perspectiva ambiental.

Realizado em autênticos san-

tuários marinhos, o filme, pro-

duzido pela Disney, é assinado

por uma dupla de realizadores,

Jacques Perrin e Jacques

Cluzaud, que viajou por mais

de 70 locais distintos.

Oferecendo uma visão

única sobre os mares do pla -

neta, o filme segue a rota das

baleias, acompanha a busca

de alimento das gaivotas,

observa as

inúmeras

espécies mari -

nhas e deixa

um retrato

completo da

vida dos

mares.

Vencedor do César para me -

lhor documentário em 2011, e

nomeado para outros

prémios, o filme é o resultado

de um apurado e complexo

processo de produção, dadas

as dificuldades enfrentadas

pela equipa na rodagem do

documentário.

TÍTULO ORIGINAL: Oceans;

REALIZAÇÃO: Jacques Perrin e

Jacques Cluzaud; Docu -

mentário; França/Suiça/

Espanha, 104m, Cor, 2009;

EDIÇÃO: Zon Lusomundo

NINGUÉM SABE

Esta é história de quatro cri-

anças que durante semanas

viveram sozinhas num

pequeno apartamento.

Deixadas pela mãe, ausente por

motivos de trabalho numa

outra cidade, as crianças procu-

ram sobreviver, com pouco

dinheiro e comida,

sem se fazerem

notar no prédio

onde vivem. Mas,

a sobrevivência

tem um custo …

Drama insólito, eivado de

humanismo, Ninguém Sabe é

um trabalho sensível que abor-

da com rigor o quotidiano

árduo destes jovens. Inspirado

num facto real – que ficou co -

nhecido como o "caso das qua-

tro crianças abandonadas de

Nishi-Sugamo, em 1988 – e

assinado pelo realizador

nipónico, Hirokazu Koreeda, é

um filme belíssimo que conta

com um elenco de jovens

actores competente num regis-

to impressionante (Yagira Yuya,

que interpreta o mais velho dos

quatro irmãos, ganhou o

Prémio de Melhor Actor em

Cannes). Imperdível!

TÍTULO ORIGINAL: Dare mo

Shiranai; REALIZAÇÃO: Hirokazu

Koreeda; COM: Yuya Yagira,

Ayu Kitaura, Hiei Kimura;

Japão, 141m, cor, 2004;

EDIÇÃO: Leopardo Filmes

Três excelentes documentários dominam esta selecção mensal: É na Terra Não é na Lua de GonçaloTocha sobre a ilha do Corvo; Women are Heroes do fotógrafo J.R dedicado à condição feminina eOceanos sobre a vida marinha assinado por uma dupla em grande forma. A fechar um grande filmejaponês, baseado num facto real e insólito: Ninguém sabe de Hirokazu Koreeda sobre quatro crianças,sozinhas, num apartamento em Tóquio. Sérgio Alves

Do Corvo às crianças de Tóquio...

Boavida|Cinema em Casa

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Page 73: Tempo Livre Dezembro

Boavida|Grande Ecrã

Modos de verVem aí "O Hobbit", último filme do neo-zelandês Peter Jackson, a insistir, suspeita-se, num modeloestafado de entretenimento. Valha-nos Haneke e Hitchcock!

sequência captados praticamente num único décor – omundo dos personagens, George e Anne. E, se olharmosbem, bem no fundo, "Amor" reflecte uma visão de muitodaquilo que também sabemos serem pedaços da nossarealidade.

E que dizer do regresso, este mês, às salas de "Vertigo –A Mulher que Viveu Duas Vezes", eleito este ano o melhorfilme de todos os tempos pela revista de cinema britânicaSight & Sound? Antes do mais, que os filmes deHitchcock não envelhecem, pelo contrário continuam acausar um permanente e invulgar interesse, – não apenaspelas histórias mas fundamentalmente pela forma comoelas nos são contadas – que não cessa de mexer com oespectador mais exigente. Isto quer dizer também que atotalidade da obra de Alfred Hitchcock permanece viva, -e bem –, para além dos tempos. De modo que, ao rever"Vertigo", em cópia restaurada (obrigado, Midas Filmes), opúblico cinéfilo de hoje vai ter o enorme privilégio deolhar/ver um certo cinema do passado e nele descobrir aforça do poder da imagem, com os seus mistérios, som-bras e paixões, que nunca mais esquecerá. E isso é belo,porque não só desejará prolongar esse prazer visual, comose sentirá tentado a fixá-lo na retina da memória como umdos grandes momentos, raros e sublimes, da história docinema. n

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Joaquim Diabinho

Não valerá a pena chover no molhado, isto é,lamentar que as opções de Jackson tenhamsucumbido a uma visão pós-moderna que vêno recurso sistemático às imagens computo -

rizadas o meio por excelência para atingir o fim: a criaçãode um outro modelo de cinema que sacrifica quase tudo oresto, como ficou bem patente há anos no híper exibi-cionismo visual que empestou "King Kong", o "remake" docélebre clássico de 1933, realizado por Merian Cooper eErnest Schoedsack. Seguirá "Hobbit" o mesmo caminho?Na dúvida, se verá lá mais para o meio do mês.

Conhecida que é a predilecção de Michael Haneke pelouniverso humano e os tempos que vivemos, não surpreen-derá de todo o seu particular interesse pelo envelhecimen-to e a morte que estão no cerne de "Amor", seu últimofilme premiado em Cannes este ano. O que é surpreen-dente é a solidez da sua narrativa, a forma sóbria e aomesmo tempo dura e subtilmente comovente comoHaneke põe em cena o drama de um casal de octogenários– George e Anne, professores de música clássica – desen-cadeado pela enfermidade de um deles, a proximidadeinexorável do sofrimento e da morte. O que surpreendeainda é o modo como Haneke nos dá a ver – em planos

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Boavida|Tempo Informático

Soluções de armazenamento:Nuvem ou SuperDisco rígido

da nuvem é a disponibilidade de acedermos aos nossosficheiros em qualquer lugar com qualquer dispositivoligado à Net. Para mais espaço e menos acessibilidade,apenas quando estivermos junto ao disco externo em

casa ou no local para onde otransportarmos, o que não émuito cómodo, pagaremospor um preço que podeoscilar entre os 250 e 360Euros. Fabricantes comoIomega ou a dLink apresen-tam soluções de dois discosNAS, para a gravação emparalelo. O IomegaStorCenter ix-200 possuidois discos rígidos que tra-

balham em conjunto. Existe nas configurações de 1T, 2Te 4T sendo essa a soma da capacidade de armazenamen-to dos dois discos. Possui também uma porta de redegigabit, uma porta USB e o transformador de energia. Onovo D-Link Cloud NAS DNS 320L tem dois discos de 1Terabyte mas podem ser instalados 2 discos de 3Terabytes. Ligado ao router oferece a funcionalidadeCloud da dLink para acesso e sincronização remota. n

Procurar no Google por "free cloud storage"( Skydrive,Google drive, DropBox, Media Drive, Symform, etc)

Gil Montalverne [email protected]

Etudo isso ocupa cada vez mais espaço. E tudoisso queremos guardar. Nada queremos perder.Pois bem. Podemosfazê-lo.

As empresas aproveitaram asmodernas tecnologias para nosfornecer dois meios diferentes:Um em suportes físicos degrande capacidade e o outro emsuporte virtual, a que foi dado onome de "cloud" ou nuvem,sendo garantido que qualquerdeles é seguro de forma a nãoperdermos o que nelesguardamos. Discos externos de grande capacidade estãofisicamente junto de nós e é possível trabalhar com doisem paralelo de forma a tudo o que é gravado num seja aomesmo tempo gravado no outro (sistemas NAS). A proba-bilidade de avaria nos dois ao mesmo tempo é quase nula.O alojamento na "cloud" existe algures em grandes servi-dores com réplicas espalhadas em diversos locais. Teremosacesso aos nossos ficheiros onde quer que nos encon-tremos e com qualquer dispositivo de ligação à Net. Aopção dependerá das nossas preferências: espaçonecessário, facilidade de acesso e respectivos custos. Oespaço na nuvem é gratuito numa variedade de ofertas,cuja lista indicamos no final desta página, mas semprelimitado a 5, 7 ou 10 gigas de capacidade. Para maisespaço, paga-se uma pequena mensalidade. Teoricamentee fazendo registo em todas elas seria possível ter mais de100 gigas.

Entretanto a Portugal Telecom anunciou o lançamentopara Dezembro da cloudPT um serviço de cloud storageque permitirá que todos os portugueses tenham 16 Gb deespaço na "nuvem" onde poderão armazenar e gerir todosos seus documentos digitais. Como dissemos a vantagem

Quem se lembrar dos tempos em que guardávamos ficheiros em disquetes, entretanto descontinuadas,e também das Zips e Jazes, com 120, 250 e 1000 megabytes, também hoje obsoletas, à medida que osficheiros iam sendo cada vez maiores, depara agora com outros dispositivos e formas para armazenaraquilo que não quer perder: vídeos, fotografias, backups, etc.

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Boavida|Ao volante

Novo Peugeot 208 O despertar dos sentidosÀ semelhança das evoluções a que assistimos nos produtos tecnológicos do dia-a-dia,o novo modelo 208 da Peugeot marca um verdadeiro salto de gerações.

Carlos Blanco

Compacto, ágil e eficiente, o 208 está à frente doseu tempo. A sua ergonomia e o seu espíritointuitivo projectam-no sempre para mais mo -dernidade. Encarnação de uma regeneração

desejada pela marca do leão, sob todos os ângulos, o novo208 concretiza e sublima os novos códigos estéticos damarca e suscita instantaneamente a emoção. Grelha flutu-ante, assinatura luminosa, faróis traseiros em boomerang,cada detalhe foi desenhado em total coerência. Com linhasesculpidas e atléticas, simultaneamente puro e sofisticado,o seu estilo projecta a marca francesa para uma mo -dernidade renovada e sedutora.

O interior do novo 208 desmultiplica a promessa deinovação do estilo exterior. O seu design apurado e defini-tivamente contemporâneo reflecte-se num habitáculo ori -ginal e moderno, que alia conforto, elegância e tecnologia.Com o seu posto de condução intuitivo e uma habitabili-dade generosa, a vida a bordo do 208 proporciona um sen-timento de bem-estar imediato.

Com o 208, a ergonomia do interior foi inteiramenterepensada e simplificada. O painel de bordo integra umTouch Screen que está posicionado de forma ideal aoalcance dos nossos dedos. A partir do nível Active, o con-dutor tem acesso às diversas funções (rádio, kit mãoslivres Bluetooch, leitura de ficheiros de música através daligação USB ou em streaming áudio). Conectividade eespírito intuitivo enraízam assim o 208 no seu tempo ereforçam a ligação íntima e natural entre o automóvel e oseu condutor.

Com a aplicação Peugeot Connect Apps, o 208 propõeainda uma chave 3G dedicada a cada condutor com GPSintegrado. Mediante pagamento de uma mensalidade, osocupantes do 208 têm acesso à Internet a partir do seuveículo através de um abrangente portal multi-serviços eaplicações práticas e seguras que simplificam o dia-a-dia.

Informações de trânsito ViaMichelin, estado dos esta-cionamentos mais próximos, estações de serviço maisbaratas, meteorologia, guias Michelin, função de roadbook,

call center da Peugeot, enfim toda uma panóplia quedisponibiliza uma oferta rica de serviços conectados.

O novo 208 conseguiu a façanha de ser compactoaumentando a sua habitabilidade, com espaço nos lugarestraseiros e um porta-bagagens mais generoso, aliado a umrendimento a nível da arquitectura muito optimizado. Otecto panorâmico (opcional) em vidro desmultiplica a sen-sação de espaço e contribui para o bem-estar dos pas-sageiros.

O 208 que ensaiámos proporciona uma regeneração daexperiência de condução. Incorpora as noções de agili-dade e de eficiência. Para uma redução máxima do pesodo veículo, foi levada a cabo uma verdadeira "caça aoexcesso de peso", para gerar, de uma forma global, uma"espiral virtuosa", em benefício do domínio do consumo,das emissões de CO2, da segurança passiva e dos desem-penhos do automóvel.

No que respeita a motorizações, a nova geração demotores de três cilindros (diesel e gasolina) permite obteruma verdadeira melhoria em termos de consumo e deemissões de CO2, proporcionando ao mesmo tempo umbom nível de desempenho. As versões de 1.0 e 1.2 VTipermitem ao 208 propor versões a gasolina com emissõesde CO2 de 99g/km e de 104g/km. As suas potências vari-am entre os 68 e os 115 cavalos.

Os preços do novo Peugeot 208 em Portugal (disponí -vel em versões de 3 e 5 portas) variam entre os 12.700euros e os 21.550 euros. n

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Boavida|Saúde

Pneumonias adquiridasna comunidadeOs sintomas – tosse, febre, expectoração e dores musculares que não cedem, ou se agravam, com otratamento habitual da gripe – devem alertar-nos para a eventualidade de estarmos perante umapneumonia. Neste caso, é necessário que o doente seja rapidamente observado pelo médico.

M. Augusta Drago medicofamí[email protected]

Odoente com pneumonia tem dificuldade emrespirar, porque os seus pulmões estão infla-mados e infectados. Os líquidos retidos nosalvéolos pulmonares impedem que se realizem

as trocas gasosas que aí têm normalmente lugar. A respi-ração é difícil e a baixa na concentração de oxigénio emcirculação provoca a sensação de falta de ar, cianose(lábios e unhas roxas), o doente tem tosse com expecto-ração abundante, dor torácica acutilante quando inspira ea temperatura sobe causando suores e calafrios.

A pneumonia adquirida na comunidade, no inverno,durante os surtos de gripe, é uma doença aguda, causadapor bactérias claramente identificadas e para as quais hátratamento. No entanto, não deixa de ser uma grande pre-ocupação para os profissionais de saúde, pois é a primeiracausa de internamento hospitalar entre a população maisidosa e também a responsável por um número significati-vo de óbitos que aumenta com a idade dos doentes e coma presença de patologias crónicas, frequentes nestes gru-pos etários.

As pneumonias no idoso institucionalizado são quatrovezes mais frequentes do que no idoso a viver na comu-nidade. Neste grupo etário, esta doença pode apresentar-se com sintomas diferentes do adulto jovem. Os idososmuitas vezes queixam-se de falta de apetite, prostração e,com frequência, de alterações do estado mental.

O risco de pneumonia no idoso aumenta na presençade desnutrição, tabagismo, doença respiratória crónica(bronquite, asma, enfisema, etc.), insuficiência cardíaca,insuficiência renal, diabetes, doença psiquiátrica e todasas doenças debilitantes ou malignas.

Os agentes responsáveis pela pneumonia tanto podemser vírus como bactérias ou fungos. No entanto, asinfecções por bactérias são as mais frequentes. A maiorparte das bactérias que causam pneumonia são habitantesusuais das nossas vias respiratórias. Mantêm-se inofensi-vas, enquanto o sistema imunitário do seu hospedeiro seencontrar íntegro, mas no momento em que este ficadebilitado as bactérias potencialmente patogénicas ga -nham força, multiplicam-se e difundem-se pelo organis-mo, causando a pneumonia.

A pneumonia tem tratamento e este depende do agenteou agentes patogénicos que estão na sua origem. Quantomais precocemente se iniciar o tratamento, melhor será oprognóstico. Mas, como sempre, o melhor tratamento é aprevenção e esta reveste-se da maior importância, dada agravidade destas infecções em especial naquele grupo depessoas, acima referidas, com maior risco.

Duma maneira geral, a prevenção deve ser feita apartir dos 50 anos com a vacinação anual

contra a gripe. Para as pessoas commais de 65 anos deve juntar a essa avacina contra o pneumococo e nãoesquecer os cuidados globais de saúde,como a higiene oral, o posicionamentocorrecto na cama, o controlo dasdoenças crónicas, a conservação damobilidade, uma alimentação saudávele o apoio familiar.n

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Page 77: Tempo Livre Dezembro

Boavida|Palavras da Lei

? Uma tia minha, mulher de muitas posses e bens, fez-me

uma doação sob reserva de usufruto, devidamente

registada, sobre um seu imóvel até ao seu falecimento. A

minha tia faleceu, o meu tio casou de novo e, passados alguns

anos, faleceu. A sua viúva abriu Inventário e apresentou como

único bem na relação o imóvel sobre o qual recaia a doação

com reserva de usufruto. Reclamámos da relação de bens

apresentada, juntando registos que provavam a existência de

outros bens; no entanto, o advogado que nos representava, em

sede de conferência de interessados declarou que prescindia

da nossa reclamação. Nos autos ficou como único bem a

minha casa; pedi ao tribunal para aceitar de novo a

reclamação, o que me foi recusado.

Pode-se requerer a redução por inoficiosidade na parte da

casa, ou unicamente sobre o usufruto? E posso pedir

responsabilidades à advogada que prescindiu da reclamação,

apesar de estar com os documentos em causa?

Sócio devidamente identificado - Porto.

Pedro Baptista-Bastos

Analisando esta situação do nosso sócio, comece-mos pela estranha decisão de, em sede de confe -rência de interessados, a minha colega ter pres -cindido da reclamação.

O nº 1 do artigo 1352º do Código de Processo Civil deter-mina que: "resolvidas as questões suscitadas susceptíveis deinfluir na partilha e determinados os bens a partilhar…" oque significa que o juiz já deveria ter nos autos a oposiçãopor vós aduzida, bem como os registos dos outros bensimóveis e/ou de crédito de acordo com o artigo 1343º doC.P.C., quanto mais não fosse para dar cumprimento ao nº 3do artigo 1353º do C.P.C, que nos diz que, em conferência deinteressados, o Juiz delibera sobre a "... forma de cumpri-mento dos legados e demais encargos da herança." Tivesseou não havido oposição tempestivamente apresentada noprazo legal, a minha colega poderia, durante a conferênciade interessados, ter apresentado "quaisquer questões cujaresolução possa influir na partilha", nos termos da alínea b)do nº 4 do artigo 1353º do C.P.C., isto é, suscitado oficiosa-

mente a junção dos documentos que determinariam aexistência doutros bens em questão.

Logo, deveria ter havido não só oposição ao inventárioassim como, durante a conferência, a apresentação de qual-quer facto ou prova susceptível de influenciar, determinar eresolver que bens entrariam na partilha, os documentosreferidos que determinariam não só a existência de outrosbens, assim como a prova pleníssima da existência dadoação sob reserva de usufruto sobre o imóvel.

Por isso, aconselho-o a ir ao Tribunal requerer certidão doauto da conferência de interessados, de modo a verificar oporquê da minha colega ter prescindido da reclamação.Munido desse documento, pode exigir explicações à minhacolega e, se não ficar satisfeito, apresentar queixa aoConselho Distrital da Ordem dos Advogados da área.

A questão da redução por inoficiosidade da doação recaisobre o lado da viúva; reduzir por inoficiosidade umadoação é uma acto que defende quaisquer excessos queafectem o montante da quota disponível que cabe a umherdeiro legitimário, e ela vai, com certeza, requerer nosautos a redução da doação efectuada sobre o único imóvelque falsamente arrolou.

Daí que a questão final seja: como poderemos defender onosso sócio? Pode defender-se já nos termos do nº 2 do arti-go 1365º, opondo-se à redução como donatário e fazendo verao Tribunal que existem outros bens em causa; vai ser notifi-cado para se opor antes das licitações sobre o imóvel. Alémdisso, quer nos momentos processuais descritos no nº 2 doartigo 1373º do C.P.C., e especialmente no nº 1 do artigo1388º do C.P.C., pode o nosso sócio defender-se requerendoa anulação da partilha, demonstrando que a viúva, sabendoda existência de outros bens, ocultou-os com dolo e má fé.

No entanto, para agir adequada e rapidamente e saber empormenor o momento processual destes autos, aconselho-o aentrar em contacto com outro advogado. n

Doação com reserva de usufrutoem Inventário – Conferênciade Interessados

JOSÉ ALVES DEZ 2012 | TempoLivre 61

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Page 78: Tempo Livre Dezembro

Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos

(Todas as letras nas HORIZONTAIS) 1-PIA; CAPTARA; ZEF. 2-AM;VALA; TETA; MU. 3-R; AEIOU; RIERA; G. 4-COMI; ELVAS; TRAÍ. 5-OMEGA; AOS; FEDRA. 6-SOMADA; Z; CASEIS. 7-UNO; TIR. 8-CAV-ALO; M; ATOLAM. 9-AREIA; GEO; ÂNIMO. 10-CERA; MELÃO; EROS11-E: ALIAR; LUCRO; S. 12-LA; ARMA; AVIA; NA. 13-ARO;AERÓBIO; LIS.

SOLUÇÕES

ClubeTempoLivre > Passatempos

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15Palavras Cruzadas | por José Lattas

HORIZONTAIS: 1-Lavabo; Adquirira; Cidade onde esteve cativo D.

Fernando, após o desastre de Tanger, em 1437 (invertido). 2-Antes do

meio-dia (sigla); Fosso; Seio; Macho. 3-As primeiras letras ou rudi-

mentos de qualquer arte ou técnica; Apelido do treinador chileno, que

em Portugal, treinou as equipas do Belenenses, do Benfica, do Porto e

do Sporting. 4-Manjei; Concelho do distrito de Portalegre; Apunhalei.

5-Fim; Preposição e artigo (pl.); Personagem de drama de Eurípides. 6-

Acumulada; Concilieis. 7-Singular; Transportes internacionais rodo-

viários (sigla). 8-Mamífero da família dos Equídeos; Enlodam. 9-Praia;

Prefixo de origem grega, que expressa a ideia de terra; Firmeza. 10-

Mandriice; Fruto com polpa suculenta, doce, branca ou amarelada;

Deus do amor, na mitologia grega. 11-Federar; Benefício. 12-Nota

musical; Meio; Despacha; Sódio (s.q.). 13-Circulo; Que tem necessi-

dade de ar ou oxigénio livre, para viver; Rio que banha Leiria.

VERTICAIS: 1-Moderados; Freguesia do concelho de Vila Real de

Santo António. 2-Prefixo que se emprega quando o radical começa

por b ou p; Elemento de composição que traduz a ideia de ombro;

Medida agrária; Analogia. 3-Consentimento; Certa. 4-Apelido; Barco

de pesca usado na zona de Setúbal. 5-Desaba; Bajula; Calor. 6-Planta

de onde se extrai um suco resinoso e amargo, que se utiliza em

medicina; Medida de tempo que corresponde à revolução da Terra

em torno do Sol; Chupe. 7-Nome feminino; Brotar. 8-Apelo; Lisonja.

9-Após; Galga (invertido). 10-Apelido; Serviços secretos de infor-

mação e espionagem dos Estados Unidos; Escutei. 11-Preposição;

Abastada; Vício. 12-Engenhos; Agrava. 13-Queima; Janota. 14-

Preposição; Marchará (invertido); Dono; Níquel (s.q.). 15-Escapavas;

Contusão (pl.).

Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos

ClubeTempoLivre > Passatempos

Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos

N.º 43Preencha a grelha com osalgarismos de 1 a 9 semque nenhum deles serepita em cada linha,coluna ou quadrado

ClubeTempoLivre > Passatempos

N.º 43 SOLUÇÕES

62 TempoLivre | DEZ 2012

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Page 79: Tempo Livre Dezembro

Étempo de partida. Nervosas, as velas, pandas já, estre-mecem no vento na ânsia de zarpar. Gemem as enxár-cias, retesadas pelo esforço de firmarem os altos mas-tros e os mastaréus, e os madeirames do bojo – pino

verde dos verdes pinos do rei Dinis – rangem suavemente soba carícia húmida da língua desse enganoso mar de beira-cais.

O mar. Mar Oceano. Mar nosso. Universo abissal devora-dor de homens e embarcações, morada do Leviatão, comquem coabitam os monstros que ilustram as cartas de mareardos imaginativos cartógrafos holandeses.

De Cristóforo Colombo, soubera ter visto três sereias a sal-tar bem alto no mar, tão feias, porém, com suas caras dehomem, que nem necessitara da ajuda divina para lhes resis-tir como Ulisses. Por Pero Roiz Soares, tivera notícia de “umpeixe que seu comprimento podia ser até dez léguas das deHolanda” e cujos olhos distavam quase uma légua um dooutro e tinham cinquenta pés de diâmetro. Viera morrer àpraia, sufocado com uma ilha que engolira, à míngua de ali-mento. Quando se desfizera aquele corpo monstruoso e a ilhase separara dele, vira-se que os seus habitantes se encontra-vam gelados nos matos de que ela estava coberta. No seu ven-tre, tinha ainda uma embarcação inteira e muitos pedaços deoutras, talvez perdidas em algum naufrágio.

De outros monstros assim ouvira relatos, de fenómenosestranhos, como a de uma luz fantasmagórica que em noitesde tempestade se acendia no alto da mastreação, a quedavam o nome de Fogo de São Telmo, e de outros cuja lem-brança o faz benzer-se três vezes, invocando o auxílio de S.Jorge e S. Telmo, tactear com a mão direita e relíquia que amãe lhe pendurara ao pescoço e com a esquerda, o saquinhocom o poderoso pó de sapo virgem, que, a ocultas, lhe deraa velha ama.

Como tantos outros antes dele e muito outros depois dele,acompanha a expedição como língua, turgimão ou jurabaça(do malaio jurubahasa), intérprete, co-artífice de vagaexpansionista como de outra jamais se falou, e fá-lo encap-

sulado nos seus medos, nas suas crenças e nas suas supers-tições.

A sua presença é indispensável para o êxito das missões; àsua competência nas línguas autóctones se deve a implantaçãodo português, como língua franca onde quer que chegue. Nãoobstante, semi-deus na Grécia antiga pela sua capacidade demediador linguístico, capaz de múltiplas tarefas simultâneas(intérprete, assistente de governadores e de juízes, administra-tivo), não lhe é poupado qualquer dos sofrimentos do maishumilde dos marinheiros da frota.

Por isso, no momento da partida, ele olha o mar e treme.No ano da graça de 2012, tradutora de profissão, ainda que

não intérprete, preparo-me para escutar a estrangeira que dasgermânicas paragens vem trazer-nos as missangas, os espe-lhos e as palavras de salvação, como, in illo tempore, os nos-sos álvares e tantos outros dos nossos levaram a outras gen-tes primitivas em terras ignotas. Deve ter-se enganado,porém, na rota, a teutónica senhora, ou desconhecer (ela ouos seus serviços diplomáticos – aterroriza-me a sugestão doMostrengo de que possam ter sido os nossos…) que é visitade um país com uma língua soberana, talvez sombria como afome, mas com uma articulação própria, uma musicalidadeprópria, toda em clave de Fá em quarta linha, porque é muitodiferente aqueloutra, sua filha, quente e luminosa, porém,como o sol dos trópicos, gerada em duros trabalhos pelosnossos cavaleiros do mar, em que a descuidosamente esco-lhida intérprete nos transmite as suas boas novas e nos fere olegítimo orgulho na nossa língua vexada.

No país vizinho, eurocrata demasiado importante parafalar a sua língua, prefere, mais uma vez, afirmar-se numfluente espanhol involuntariamente entremeado de envergo-nhadas palavras portuguesas… Por isso, oiço e tremo.

Quem defenderá a desprezada língua que os nossos lín-guas deram ao Mundo e por que os nossos cavaleiros do marderam a vida?

Feliz Natal, Senhoras e Senhores Leitores! n

Lamento por uma língua vexada[…] E era uma vez um mar e em seus/ pergaminhos de esmeralda / os reis e os pontífices lavraram / a escritura dasilhas, das antilhas / dos continentes com seus promontórios e seus vales. / […] Mar Oceano de Dionisios e do Infante/ no fim do mar sem fim. / […] E os cavaleiros do mar galopam as águas / no sertão do mar […] E navegam o espaço/ para onde? / E navegam o tempo / para quando? E navegam a espuma /para quê? […] Nas espumas do mar só eu leio agora / seus nomes esquecidos / e celebro seus nomes marinheiros.[…]Gerardo Mello Mourão, in: Invenção do Mar, Carmen Saeculare, Ed. Record, Rio de Janeiro, 1997

O Tempo e as palavras

Maria Alice Vila Fabião

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Àporta lateral da igreja, a que dá acessoàs capelas mortuárias, o primeiroencontro de quem chegava era comos fumadores. Ao que dizem os médi-

cos e as estatísticas, estão estes entre os primeirosa transitar para o lugar central da reunião fúnebredesignada por velório. Silêncios, rostos fechados,aqui e além conversas sobre as virtudes do fale-cido ou, mais amplas, acerca da triste inevitabili-dade da morte.

Em ajuntamentos tais, no entanto, sobrevivemoutras preocupações e programas que suspen-dem a vénia a quem é riscado do número dosvivos. Há olhares para os relógios, a medir otempo para se apresentar num jantar festivo,outras cuidando de chegar a casa a horas deassistir à transmissão de um jogo de futebol.

Uma mulher de vestido amarelo destoava umpouco da mancha predominantemente escuraque assinalava a entrada. Destoava também pelasrisadinhas, de todo inadequadas na circunstân-cia, com que sacudia conversas brandas. Alguémcomentou, ouvindo-a, que ela tinha sido namora-da do morto na distante época da faculdade. Elembrou, como nesses tempos, sim, eram natu-rais os risos e folguedos, mais não fosse pelaessencial alegria agora perdida pelo homenagea-do – alegria de viver.

Não era a mulher de amarelo, contudo, quemdespertava a maior curiosidade. Essa, apontava aum homem vestido de luto total, dos sapatos aofato e à gravata. Todo de negro.

– Não sei. Mas para tão rigoroso luto será fami-liar, talvez residente em terra distante.

Passeando-se sozinho pelo pátio fronteiro, ohomem puxava fumaça e ia espreitando quemchegava para, lépido, expressar a mágoa pelofalecimento. Acontece que entre o vasto númerode amizades do extinto se encontrava gente aquem se dá o mal pensado nome de figuras públi-cas. Então, o homem de preto aproximava-se,

estendia ambas as mãos prendendo nelas a dorecém-chegado, e dizia, magoadamente:

– Que perda! Que perda!Alguns o abraçavam, sem palavras, uma can-

tora famosa foi mais longe:– Imagino a sua dor. Todos estamos chocados

por esta notícia horrível.E o homem:– Que perda! Que perda!Entrou na capela e olhou a viúva, enrolada

com a filha num abraço de desgosto e de encora-jamento para o suportar. Junto à urna, perfiladocomo em sentido, um senhor alto permanece deolhos fechados, dir-se-ia que recordava episódiospartilhados com quem se despedira do mundodos vivos.

Deveria ser alguém importante, deduziu ohomem de luto total, pois a ele se dirigiam outrasfiguras importantes. E assim discorrendo, aproxi-mou-se também ele abordou a figura hirta edisse:

– Que perda! Que perda!Com o tempo, a capela regurgitava de gente e

tanta gente pesarosa adensava a tristeza domomento. Crescia, também, a cobertura de florescolocadas junto à urna, como salpicos de festa deum adeus definitivo.

O homem de luto completo voltara à rua, jun-tando-se aos pequenos grupos de fumadores ou,simplesmente, dos que ali recordavam obras ouqualidades humanas do agora inexistente. Viuuma senhora a limpar ao lenço os olhos humede-cidos e de pronto se aproximou a afirmar como aentendia:

– Que perda! Que perda!Puxou pelo maço de cigarros e afastou-se um

pouco quando um jovem o abordou, pedindo:– O senhor desculpe o atrevimento, mas

importava-se de me dar um cigarro? Raramentefumo, mas em alturas destas parece que um ciga-rro ajuda a suportar.

O homem de luto

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Os contos do

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– Ora essa – disse o senhor de luto perfeitoestendendo o pacote de cigarros. E logo acrescen-tou:

– Que perda! Que perda!– Se há pessoas que deviam viver para sem-

pre, o meu tio era uma delas – disse o rapaz.– Ai era sobrinho? Bem compreendo. Mas

nem era necessário pertencer à família para pen-sar o mesmo. Que perda! Que perda!

Ainda esboçou o rapaz uma interrogação,sobre quem era e de onde vinha aquele senhortão de luto, nunca o vira nas reuniões familiaresou de companhias mais próximas. Desistiu,porém, de prosseguir a conversa e foi sentar-se naborda de um canteiro a saborear o fumo.Levantou-se, de pronto, ao ver chegar o presiden-te da câmara, de quem recebeu condolências, talcomo as recebeu o próprio homem totalmente depreto que correria a aproximar-se. Embora não oconhecesse, o presidente da câmara não foi

insensível ao trajar lutuoso do homem e apertou-o num abraço.

– Que perda, senhor presidente! Que perda!–Disse ele.

Choram-se os mortos mas é importante que osvivos se tratem e na hora sacramental do jantarfoi-se esvaziando o templo. Em certo momento,junto à urna, o homem esmeradamente de pretonotou apenas a figura quebrada da viúva com afilha por companhia. Em respeitosos passos selhe acercou então e, de joelho em terra, segurou-lhe as mãos e disse, em voz ainda mais magoada:

– Que perda! Que perda!Respondeu a senhora com um choroso "obri-

gada" e o homem continuou a prendê-la pelasmãos. E acrescentou:

– Sei que não é a melhor altura, mas o senhordoutor devia-me uns dinheiros. Não se preocupeagora, temos tempo. Depois do funeral, com sualicença, irei visitá-la. n

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Oano de 2012 ficará na História, entreoutras razões, porque houve quemesperasse que ele trouxesse o fim domundo, segundo os intérpretes mais

competentes do calendário dos maias. Caso aprofecia se cumprisse, acabava-se a própriaHistória. Portanto, 2012 safou-se à tangente denunca mais ser recordado. Nem ele, nem anonenhum. Devemos estar contentes por isso, sebem que os observadores portugueses mais cíni-cos afirmem que teria sido melhor que a profeciamaia se cumprisse, uma vez que 2012 é paraesquecer e 2013 será de susto. Mas isso são os crí-ticos, uns pessimistas e exagerados.

Ao contrário dos profetas da desgraça, temosprovas do que afirmamos. E a melhor prova deque o mundo não acabou é termos chegado aimprimir esta crónica. Fôssemos acreditar na pro-fecia e nem escrevê-la, quanto mais publicá-la.Agora, o próprio leitor pode fazer o teste. Bastaguardar a revista até ao fim do mês e experimen-tar reler a presente crónica, digamos, no dia deNatal, quando a consoada terminar e já não hou-ver mais nada para fazer. Uma consoada em quese divide meia posta de bacalhau e três batataspor seis parentes come-se num foguete e ascrianças, como ficaram a chuchar no dedo no quetoca a presentes, vão querer deitar-se cedo parairem experimentar de manhã os brinquedos dochinês, antes que estes deixem de funcionarcomo é costume.

O Pai Natal devia estar sem bateria e não leuas SMS que lhe enviaram (os miúdos já nãoescrevem cartas, mandam mensagens, ou deixam

os pedidos no voice mail e, se por acaso se porta-ram mal, esperam que o Pai Natal não tenhaFacebook e, portanto, não haja visto as fotografiasque foram publicando: "O Zezinho a gozar com aprofa LOL"; "Eu a dar banho ao gato da minhairmã e a ela LOL"). Por isso, não houve prendasde jeito. Ou então foi porque o velhinho das bar-bas, emigrante na Lapónia, afinal é português enão recebeu o décimo terceiro. Mas não falemosde coisas tristes, neste mês da Popota, da paz e daalegria.

Pronto, como estávamos a dizer, se o lei-tor reler esta página nessa altura, é por-que a vida humana não se extinguiu eprossegue em 2013, ao contrário de

quatro feriadinhos, pois, devendo por isso ficaragradecido à sorte.

É certo que o IRS do próximo ano vai ir-nos aobolso muito acima das nossas possibilidades; éverdade que o desemprego vai aumentar mais doque os subsídios e que qualquer dia um empregoserá o primeiro prémio do Totoloto e mesmoassim só em semana de jackpot; é provável quetenha de entregar a casa ao fisco, por conta doIMI, e ir viver com a família para um campo derefugiados no Iraque ou no Líbano – há sempresítios onde a vida é mais fácil que em Portugal,basta que não ande por lá a troika –, mas, vendobem, o que é isso comparado com o fim domundo anunciado pelos maias?

Vá, um Natal Mais ou Menos para todos e um2013 Assim-Assim, pelo menos. São os meusvotos – e não são em branco. n

Um Ano Novo assim-assim

Crónica

AntónioCosta Santos

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