84
N.º 233 Janeiro 2012 Mensal 2,00 euros Fado Orgulho nacional Diáspora Marrocos Perfil Adriana Porfólio Tibete Entrevista com José Alberto Sardinha, etnomusicólogo TempoLivre www.inatel.pt

Tempo Livre Janeiro 2012

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Tempo Livre Janeiro 2012

Citation preview

Page 1: Tempo Livre Janeiro 2012

N.º 233Janeiro 2012Mensal2,00 euros

FadoOrgulhonacional

Diá

spor

a M

arro

cos

Per

fil A

dria

na P

orfó

lio T

ibet

e

Entrevista comJosé Alberto Sardinha,etnomusicólogo

TempoLivrewww.inatel.pt

01_Capa_233:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 9:22 Page 1

Page 2: Tempo Livre Janeiro 2012
Page 3: Tempo Livre Janeiro 2012

Sumário

Revista Mensal e-mail: [email protected] | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: CarlosMamede Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: António Costa Santos, António Sérgio Azenha, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Humberto Lopes, JoaquimDiabinho, Joaquim Magalhães de Castro, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Lurdes Féria, Manuela Garcia, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, MariaMesquita, Pedro Barrocas, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, BaptistaBastos, Fernando Dacosta, Joaquim Letria, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA,Telef. 210027000 Publicidade: Direcção de Marketing (DMRI) Telef. 210027189; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA - RuaConsiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade naD.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 149.456 exemplares

Na capaFoto: José Frade

16ENTREVISTA

Fado: um orgulhoportuguêsDias depois da consagraçãopela UNESCO do Fadocomo património dahumanidade, fomos ouvir oetnomusicólogo JoséAlberto Sardinha, autor de"A Origem do Fado" - umlivro baseado numapreciosa e bemdocumentada pesquisa quecontraria a tese da origemafro-brasileira do maiscélebre género musical donosso País.

5 EDITORIAL

6 CARTAS E COLUNA

DO PROVEDOR

8 NOTÍCIAS

14 CONCURSO

DE FOTOGRAFIA

41 PORTFÓLIO

Himalaias – na rota dos Jesuítas portugueses

46 PERFIL

Adriana

48 MEMÓRIA

Maria Clara

50 JUSTIÇA E SOCIEDADE

52 OLHO VIVO

54 A CASA NA ÁRVORE

79 O TEMPO E AS PALAVRAS

Maria Alice Vila Fabião

80 OS CONTOS

DO ZAMBUJAL

82 CRÓNICA

António Costa Santos

57 BOA VIDA

76 CLUBE TEMPO LIVRE

Passatempos e Novos livros

24DIÁSPORA

Portugueses em MarrocosMarrocos nunca foi um destinoconvencional da emigraçãoportuguesa. Mas há, actualmente,muitos quadros portugueses atrabalhar na região, ainda que com"um pé cá e outro lá", a par de genteque investiu a longo prazo e está nopaís vizinho de pedra e cal.

30AVENTURA

GeocachingA caça ao tesouro, que parecia emdesuso, continua a existir e agoranuma versão hi-tech para miúdos egraúdos.

36PRAZERES

Bruges a capital da cerveja"Terra de cerveja e chocolate, decanais e charretes, Bruges é o sítioideal para fazer um périplo pelahistória da cerveja. Se tiver tempo evontade há mais de quatro centenaspara provar."

03_Sumario:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:09 Page 3

Page 4: Tempo Livre Janeiro 2012
Page 5: Tempo Livre Janeiro 2012

Editorial

Vítor Ramalho

Servir mais e melhor

Este é o primeiro número da 2012. Por essefacto, não poderia deixar de referir aaprovação pelo Conselho de Adminis -tração do Plano de Actividades e do

Orçamento. Os instrumentos aprovados estão na linha do

Plano Estratégico e da Carta de Missão para o trié-nio 2011-2013. Com vista ao reforço do futuro daInatel, persistir-se-á, assim, na requalificação dosequipamentos afectando-se em investimentosmais de nove milhões de euros.

Este esforço é desenvolvido apesar da fortediminuição da subsidiação pública e das conse-quências da crise, que afectarão o produto internobruto, o consumo e o emprego.

Não desfalecemos, porém, no reforço da auto-sustentabilidade, com orgulho na modernização ena qualidade dos bens e serviços que a Inatel pres-ta. No primeiro trimestre, impulsionaremos a TVcorporativa, continuaremos a dar corpo à imagemuniforme das Agências, daremos um maior impul-so à internacionalização e jamais perderemos devista a defesa da empregabilidade, acompanhandoesta preocupação com uma estratégia adequada deformação profissional.

Prevemos, por isso, que o valor global do orça-mento se fixará em 68,5 milhões de euros e o deexploração de 59,5 milhões, com um resultadofinal positivo de 26 mil euros.

Este orgulho está também presente no facto daInatel ter participado na candidatura do Fado apatrimónio imaterial da humanidade, enquantomembro da comissão respectiva da UNESCO.

É útil, a propósito, recordarmos que à data dapassagem do 75º aniversário da Inatel patrociná-mos, entre outras, a obra " A origem do Fado", deJosé Alberto Sardinha, um dos maiores investigado-res da música tradicional portuguesa, obra essa queficará como testemunho para o conhecimento e

para a divulgação do que o povo português tem demais singular. Daí a oportunidade da entrevista como seu autor que, de forma exaustiva e documentada,defende a origem nacional deste género musicalpopular, agora consagrado internacionalmente.

Falar da música, aqui e agora é também recor-dar o Dr. Serra Formigal, que teve responsabilida-des na direcção da FNAT e no Teatro da Trindade,tendo dado um contributo inestimável à ópera,através da Companhia Portuguesa de Ópera de quefoi director. É mais uma das muitas personalidadesque com invulgar mérito serviram a Inatel e aquem é devida uma homenagem. Recordá-lo aquie agora é honrar com justiça a sua memória.

Memória que está também presente no Museudo Relógio, recentemente inaugurado no PalácioBarrocal em Évora, onde funciona a nossa agência,dando assim também uma valorização à cidade deÉvora, ao distrito e ao país, estimando-se que, nesteano de 2012, o museu atinja os 100 mil visitantes.

O passado não pode, porém, fazer esquecer emnenhum momento o futuro.

Essa é a razão para a modernização que está emcurso na Inatel, nela incluindo requalificação e aqualidade da decoração das unidades hoteleiras,também agora reforçada com as excepcionais foto-grafias que passarão a enquadrar a unidade da Fozdo Arelho a que se seguirão todas as outras.

Por fim, este número, não poderia deixar de pros-seguir com a referência da presença exaltante dePortugal e dos portugueses no mundo, agora atravésde uma reportagem bem ilustrativa do que somosatravés do retrato da nossa diáspora em Marrocos,país a que nos ligam importantes laços históricos.

Todas estas razões justificam a continuação dapreferência da leitura da 'Tempo Livre' pelos bene-ficiários a quem desejamos e às respectivas famí-lias um bom ano de 2012, sendo nossa obrigaçãoprocurar continuar servi-los mais e melhor. n

JAN 2012 | TempoLivre 5

05_Editorial_233:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:09 Page 5

Page 6: Tempo Livre Janeiro 2012

6 TempoLivre | JAN 2012

Cartas

Coluna do Provedor

“Sempre em Férias”

Pertencemos ao grupo que iniciou o ProgramaSempre em Férias, e gostaríamos de vos felicitarpela excelente iniciativa e organização.Tratando-se de uma nova experiência, foi comalguma relutância que aderimos ao projecto. Noentanto, estamos agora a terminar os primeirosseis meses, e é com enorme prazer e satisfaçãoque vos comunicamos que o Programa se reve-lou muito interessante e que estamos a adorar aexperiência. Seja a nível de alojamento, alimen-tação, actividades e animações diversas, fomos

em todos os aspectos surpreendidos pela positi-va. Gostaríamos ainda de vos felicitar pelas alte-rações previstas para o próximo ano que, esta-mos certos, virão tornar o programa ainda maisinteressante e, assim o esperamos, aumentar onúmero de aderentes. Expressamos os nossossinceros agradecimentos ao INATEL e a todos ostécnicos envolvidos, felicitamos-vos pela exce-lente iniciativa.

Ilda Santos Silva e Fernando FerreiraEsteves (por e-mail)

VÁRIOS ASSOCIADOS vêm manifestando assuas preocupações sobre as eventuais conse-quências para a Inatel da crise que o paísatravessa, nomeadamente as alterações depreçário, ainda que, admitam justificadas.

A Fundação é evidente que corresponde auma realidade sociológica, totalmente diferen-te da de qualquer entidade congénere existen-te em Portugal e possui, cada vez mais, umgrande prestígio internacional como testemu -nhou ainda em Dezembro último, o Semináriosobre o Turismo Social co-organizado com aComissão Europeia sobre o Programa "Calipso"e a presença de responsáveis do turismo de 18países europeus.

Para os que usam linguagem do mercado eda concorrência, "Inatel" é, acima de tudo,uma marca de grande impacto comercial;porém para os utilizadores mais antigos (e nãosó os mais velhos) é, sobretudo, uma parteimportante das suas memórias que trazem arecordação das suas primeiras férias com ver-dadeiro descanso (sem tarefas domésticas),onde os filhos tiveram praia pela primeira vez.Para os filhos são as lembranças das primeirasbrincadeiras na praia, dos primeiros ralhetespor se molharem em sítios mais distantes davigilância paterna; e outras lembranças mais

vivas quando chegou a juventude, com osnamoricos de férias.

Acresce ainda as recentes memórias dos"jovens" do turismo sénior cujas experiências deconvívio os fazem sentir, novamente, gente,como testemunhava uma utente que afirmavaque " até as rugas se lhe haviam desaparecido dorosto". E os programas jovens? Inolvidáveis! AInatel é diferente, é família! O Trindade, ondepela primeira vez assistiram a um espectáculo deópera ou o Estádio 1º de Maio, palco da primeiragrande manifestação do 25 de Abril de 1974.

Daí todo o interesse e carinho, como algo deseu estivesse a transformar-se, embora, acredi-tem, que para melhor. É como se de um filhose tratasse quando atinge a maioridade; tal equal!

Os tecnocratas não entenderão esta lingua-gem usada por utópicos humanistas. Porém, autopia é, afinal, uma visão de um futuro que épreciso começar a construir no presente, comlição e aprendizagem do passado. Ou, comodizia, Óscar Wilde, "O progresso é a realizaçãoda utopia". Acreditamos nisso! Com todo o res-peito pelos números que não podem esquecera autosuficiência e de equilíbrio das contas,que os seus beneficiários/associados não serãoesquecidos. n

A correspondênciapara estas secções

deve ser enviadapara a Redacção de

“Tempo Livre”,Calçada de Sant’Ana,

nº. 180, 1169-062Lisboa, ou por e-mail:

[email protected]

Kalidá[email protected]

06_Cartas:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:10 Page 6

Page 7: Tempo Livre Janeiro 2012
Page 8: Tempo Livre Janeiro 2012

Notícias

l Advogado de profissão, JoséManuel Serra Formigal, falecido emLisboa, sua cidade natal, no passadodia 11 de Dezembro, aos 86 anos,teve um papel destacado na vidacultural portuguesa, designadamentenas áreas do teatro e da ópera.Responsável pela criação daCompanhia Portuguesa de Ópera doTeatro da Trindade, que dirigiu de1962 até final de 1974, sob a égide daFNAT, teve um papel decisivo nodesenvolvimento nacional do setor daópera, principalmente quanto acantores, maestros e encenadores e,por outro lado, na divulgação doespetáculo lírico, sobretudo junto dosassociados da FNAT e dos Sindicatos.

Foi também presidente doConselho de Administração do TeatroSão Carlos (1981-1988), nummandato que incluiu a criação daOrquestra Sinfónica do TNSC e aescolha de João de Freitas Brancocomo Director Artístico e deProdução.

Incentivado pela mãe, EtelvinaSerra, actriz e cantora de mérito, queo levou, em pequeno, ao teatro, aosconcertos, à ópera e proporcionando-lhe o ensino da música, SerraFormigal teve, então, o privilégio deadmirar grandes atores do passado(Amélia Rey Colaço, Palmira Bastos,Laura Alves, Alves da Cunha, JoãoVillaret, Vasco Santana, António

l Cerca de sete centenas de senioresmarcaram presença na Gala de Nataldo passado dia 13 de dezembro naSalão Preto e Prata do Casino Estoril,uma iniciativa que assinala oencerramento dos programas Sociaisda Fundação Inatel.

No uso da palavra, o Presidente daFundação Inatel evocou, após oalmoço, o importante contributodaqueles que com o seu trabalholutaram por uma vida melhor e que,agora, podem usufruir de justos ereconfortantes dias de lazer. VítorRamalho assinalou, na oportunidade,a importância das iniciativasgovernamentais que o Inatel gere parasegmentos específicos da populaçãoportuguesa - sénior, jovens ou outros -afirmando que "através da vossaparticipação reforçam-se aseconomias locais e gera-se riquezapara o Estado que recupera parte doseu investimento através das receitasde IVA".

A anteceder o espetáculo "Omelhor de La Féria", foramdistinguidos os melhoresprestadores de serviço dosprogramas Conversa Amiga, TurismoJúnior, Sempre em Férias, AbrirPortas à Diferença, TurismoSolidário, Turismo Sénior e Saúde eTermalismo Sénior casos de: HotelOnix, Hotel Caravela, Inatel Piodão,Inatel Albufeira, Inatel Vila Ruiva,na categoria de melhor unidadehoteleira e nas restantes categoriasas Termas de S. Vicente, a Agência

Avic, o Casino da Figueira, oespetáculo "Isto só Visto" de LuisAleluia, "Fado, História de um Povo"de Filipe Lá Féria e os animadoresFilipa Cardoso e Diogo Alves. NoPrograma Turismo Júnior 2011 amelhor colaboração foi para aDireção de Negócios pessoais/Gestãode segmentos Jovens da TMN.

Foram, ainda, entregues os prémiosdo concurso de fotografia e texto dosprogramas seniores a Isilda Raposo eAntónio Santos Martins na categoriade fotografia, Manuel Redondo Pato e

Gala Sénior

8 TempoLivre | JAN 2012

Aurelina Madeira, 98 anos, distinguida com o galardão "Super Sénior". À direita, Tiago Pessoaentrega prémio a Domingos Silva do Casino da Figueira da Foz

José ManuelSerra Formigal

08a12_NOT:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:12 Page 8

Page 9: Tempo Livre Janeiro 2012

Silva, entre outros) e assistir aespetáculos de ópera, nos anos 30 e40 do século passado, com figurascomo Schipa, Volpi, Gigli, Alcaide,Stracciari, Galeffi, Bechi, Tajo,Caniglia. "O espectáculo lírico -escreveu Serra Formigal na TL -exerceu em mim o fascínio de umteatro total pela simbiose da músicacom a acção dramática em que aquelapenetra e ilumina esta, dando-lheinsubstituível força expressiva."

Conjugando a prática do Direitocom a sua paixão pela ópera, SerraFormigal marcou a história doTrindade (1962-74), com umaprogramação anual assente em duastemporadas: a primeira, de teatro

declamado, com duração de cerca deseis meses, e a segunda numasucessiva temporada de ópera, demaio a julho.

Atuaram, no teatro, trêscompanhias dirigidas por AntónioManuel Couto Viana (até 1967),Francisco Ribeiro, (até 1969) e AméliaRey Colaço (de 1970 a 1974). Agrande novidade foi, porém, aconstituição da CompanhiaPortuguesa de Ópera do Teatro daTrindade e do Centro de Preparação eAperfeiçoamento de Artistas Líricos,dirigido, entre outros, por TomásAlcaide e Gino Bechi. A ação doCentro foi vital quer para o bomdesempenho da Companhia de Ópera

quer para o aperfeiçoamento erevelação de novos valores do nossoteatro lírico, casos, entre outros, deHelena Cláudio, Zuleika Saque, ElsaSaque, Elisette Bayan, FernandoSerafim, José Lopes, João Pessanha,Vasco Gil e João Veloso.

Nas treze temporadas (1963 a1975) a CPOTT apresentou cerca de650 récitas para 570 mil espetadores(Lisboa, Província, Ilhas Adjacentes,Angola e Espanha) num reportórioque incluiu os grandes compositoresde ópera, incluindo as óperasportuguesas e autores dos séculosXIX e XX: A Serrana de A. Keil,Rosas de Todo o Ano e Crisfal deRui Coelho.

Celeste Cortez Silvestre na categoriatexto e no vídeo a António CortezSilvestre. Os premiados receberamestadias gratuitas em unidadeshoteleiras da Inatel.

No final da sessão Vítor Ramalhohomenageou Aurelina da ConceiçãoMadeira, de Tomar, com a distinçãode "Super Sénior" pelos seus 98 nataise pela preferência e participação nasiniciativas da Inatel.

O evento contou com a presençade Tiago Pessoa, Chefe do Gabinetedo Ministro da Solidariedade eSegurança Social; João NunesAbreu, Assessor do Ministro daSaúde; José Madeira Serôdio, doInstituto Nacional de Reabilitação,I.P., Alexandre Oliveira do IEFP -Instituto de Emprego e FormaçãoProfissional, Sérgio Azougado daAssociação dos Deficientes dasForças Armadas, João Barbosa daAssociação das Termas de Portugal emuitas outras individualidades quedireta ou indiretamente estiveramligadas aos programas geridos pelaInatel.

Convívio InatelA sala principal do Trindade foi palco, em

dezembro, de um animado de divertido convívio

natalício dos trabalhadores da Sede da

Fundação Inatel. Sob o tema a "rabanada",

grupos de trabalhadores de cada um dos

departamentos da Fundação subiram ao palco

com o respectivo número musical alusivo à

quadra festiva, com destaque para os dotes

vocais de Elsa Ramos. A festa incluiu o

visionamento do filme "Sinfonia Imaterial" de

Tiago Pereira e uma intervenção do presidente

da Inatel, encerrando com um lanche onde,

obviamente, sobressaiu a saborosa rabanada.

JAN 2012 | TempoLivre 9

08a12_NOT:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:12 Page 9

Page 10: Tempo Livre Janeiro 2012

l O Conselho de Administração daInatel apresentou, em dezembro, aoMinistro da Solidariedade e daSegurança Social, parahomologação, o Plano deAtividades e Orçamento para 2012.

Estes documentos, já aprovadospela Administração e ConselhoFiscal, prevêem, no essencial, acontinuação das requalificaçõesdos equipamentos com umadotação de mais 9 milhões deeuros, na linha do que ocorreu em2011 (o investimento previsto foineste ano de 10,55 milhões deeuros) e um resultado positivo de26 mil euros.

Este esforço - como sublinha a

Ordem de Serviço do Conselho deAdministração da Inatel - foi e vaiser alcançado apesar da muito fortediminuição da subsidiação públicae das consequências da crise,procurando-se reforçar a auto-sustentabilidade da Fundação e adefesa do emprego, adequando-seos recursos humanos aos desafiosdo futuro.

Nenhuma casa se constrói peloteto. Não era possível encarar-se ofuturo da Inatel com confiança senão se privilegiasse nesta fase arequalificação dos equipamentospara uma oferta de qualidade dosbens e serviços e com um esforçode modernização. Não havendo

qualidade não há pura esimplesmente competitividade.

Chegou a hora de se reforçaremoutros objetivos, incluindo neles acomponente internacional e sê-lo-ão seguramente.

Não há - conclui o documento -que recear o futuro da Inatel apesardos sérios constrangimentos dacrise. E não há porque o essencialda estratégia definida foisalvaguardada, com o contributode todos os trabalhadores,defendendo-se a empregabilidade,com aumento de qualidade daoferta e com acrescidaspreocupações em servir mais emelhor os nossos beneficiários.

Plano de Actividades e Orçamento 2012

Notícias

l Para celebrar a quadranatalícia, cerca de quatrocentenas de associados devários distritos do paísparticiparam na GrandeFesta de Natal, umainiciativa da direção deTurismo da Fundação quedecorreu nas instalações daInatel na Costa deCaparica.

O evento incluiu umjantar tipicamentenatalício e diversosespetáculos, com dança ao som dogrupo "Pão com Manteiga", cançõespor Carlos Mendes e a participaçãode vários fadistas em homenagem àdecisão da Unesco de considerar oFado património imaterial dahumanidade.

Comungando do espírito solidárioda quadra, a Fundação Inatel

atribuiu dois euros por cadainscrição à Raríssimas - AssociaçãoNacional de Deficiências Mentais eRaras, receita que, em conjunto coma resultante da venda de brindespela mesma associação no decorrerda Festa, irá ajudar a construir aCasa dos Moinhos, um centro dereabilitação em regime de internato

e semi-internato,indispensável para apoiaros doentes e famílias destadoença que, infelizmente,afecta crianças e adultos.

Durante o evento, a Inatelsorteou doze atrativasviagens entre osparticipantes, para destinosnacionais e internacionais,tendo sido contemplados osseguintes associados:Fernando Gonçalves, MariaS. Ferreira, Luís Vitorino e

Adriano Antunes, de Coimbra;António M. Nogueira e Raúl S.Teixeira, de Aveiro; Adriano L. Silva,de Viana do Castelo; António S.Guerreiro, de Setúbal; José P. Calha,de Portalegre; Mª Cândida Serra, daCovilhã; Mª Valentina Ferreira, deFaro; Luis Manuel Pessanha, deLisboa.

Natal na Caparica

10 TempoLivre | JAN 2012

08a12_NOT:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:12 Page 10

Page 11: Tempo Livre Janeiro 2012

l Inaugurado no passado dia 15 dedezembro, nas instalações da Inatelem Évora, o pólo do Museu doRelógio de Serpa que poderá atingir,ainda este ano, os 50 mil visitantes -admitiu o seu diretor EugénioTavares d'Almeida, filho de AntónioTavares d'Almeida, fundador egrande impulsionador do invulgar evalioso espólio, sedeado, desde 1972,na cidade de Serpa.

O novo responsável do Museuagradeceu o importante apoio daFundação Inatel à concretização doprojeto, salientando a qualidade eamplitude do espaço, integrado nohistórico Palácio do Barrocal, alvo deprofundas obras de requalificação eque alberga, a par da Agência deÉvora, o arquivo central daFNAT/INATEL.

Eugénio Tavares d'Almeidaadiantou, também, que é objetivo dafamília melhorar, aumentar e projetaro novo museu eborense e citou, apropósito, a própria placa deidentificação, escrita em Português,espanhol, inglês e japonês, comoaposta forte no "mercadointernacional".

Acompanhado por outrosmembros do Conselho deAdministração e quadros dirigentes

da Inatel, Vítor Ramalho manifestoua "grata satisfação" da Fundação pelaimportância de uma iniciativa "muitopositiva" para as duas entidades epara a própria cidade em termos deaumento do número de turistas evisitantes que poderão desfrutar de"um grande e rico espólio cultural". Opresidente da Inatel revelou aindaque ao ser contatado pelosproprietários do Museu não tevedúvidas quanto à oportunidade einteresse do projeto, coincidente comas obras de recuperação do palácio.

Com uma equipa de guias,mestres-relojoeiros e um gestor-conservador, o Museu- recorde-se -repara, produz e comercializarelógios de qualidade a preçosacessíveis.

O bilhete normal custa dois euros.Para seniores ou grupos de 20pessoas o valor é de 1,5 euros. Ascrianças até 10 anos não pagam.

Fado Patrimónioda Humanidade

l A Fundação Inatel,

representada pela vogal da

Administração, Cristina

Baptista, esteve presente, em

novembro, na 6ª Sessão do

Comité-Intergovernamental

para a Salvaguarda do

Património Cultural Imaterial

da UNESCO, em Bali, na

Indonésia, que aprovou a

candidatura do Fado como

património da humanidade.

A Fundação INATEL, recorde-

se, tem o estatuto de

organização não

governamental acreditada para

prestar serviços de assistência

técnica à UNESCO. Composto,

por 24 países, o Comité-

Intergovernamental, tem, entre

outras, competências para

apreciar e decidir sobre as

candidaturas apresentadas

pelos Estados Partes (Estados

que ratificaram a Convenção) à

inscrição do património

cultural imaterial na lista

representativa do património

cultural imaterial da

humanidade; e na lista do

património cultural imaterial a

necessitar de medidas

urgentes de salvaguarda e

protecção.

Cristina Baptista manifestou à

"TL" o alto significado que teve

para a Inatel a decisão da

Unesco, lembrando o apoio

que a Fundação deu, desde o

primeiro momento, à

candidatura do Fado.

Inaugurado Museu Relógio em Évora

JAN 2012 | TempoLivre 11

08a12_NOT:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:12 Page 11

Page 12: Tempo Livre Janeiro 2012

Notícias

l Doze dos participantes no cursointensivo de formação de novosagentes de arbitragem para ostorneios de Futebol de 11 da Inatelreceberam, no passado dia 20 de

dezembro, os respetivos diplomas,entregues pelo administrador daFundação, Moreira Marques, porCarlos Móia (Fundação SL Benfica)e por Rosário Farmhouse, do AltoComissariado para a Integração eDiálogo Intercultural.

Para Moreira Marques, quedestacou a qualidade e importânciada formação, orientada pelo ex-árbitro e quadro da Inatel, AntónioRola, é objetivo da Fundaçãoprosseguir nesta área, incluindo apossibilidade de formação de árbitrosde outras modalidades, como obasquetebol.

VI Concurso Vídeo Inatell A Fundação INATEL deu a conhecer ao

grande público, em dezembro, os melhores

filmes de curta-metragem candidatos ao

seu 6º Concurso de Vídeo. Constituído

fundamentalmente por jovens realizadores

oriundos de escolas ou em início de

carreira, o programa englobou filmes de

ficção (Prémio INATEL) e documentários

(Prémio Património Imaterial) e um terceiro

Prémio Jovem Realizador, até aos 25 anos.

Apostada no apoio e fomento das várias

vertentes da sua atividade cultural, caso do

sector do cinema e do audiovisual, a

Fundação, recorde-se, apoiou, em 2011, a

produção do filme de Tiago Pereira

"Sinfonia Imaterial", estreado no dia 17 de

maio no Teatro da Trindade.

Na apresentação dos filmes do 6º

concurso - realizada no Cinema City

Classic de Alvalade - foram exibidas 16

curtas metragens e anunciados os filmes

vencedores. A saber. Prémio Fundação

INATEL - "Corpos", de Frederico Ramos

Lopes; Prémio Património Imaterial - "Lugar

do Tempo", de Manuel Guerra; Prémio

Jovem Realizador - "Adeus Amor", de

Henrique Prudêncio.

Novos Árbitros Inatel

l Vasco Lourenço, do Sporting deLamego, foi o grande vencedor da 26ªMaratona de Lisboa, com o tempo de2h22m e 02 segundos, seguido de

Daniel Peixoto (Adercus, 2.28.29) eCarlos Santos (SL. Benfica, 2.28.57).A vencedora feminina foi AnabelaTavares (CRD Arrudense - 2.50.15),seguida de Lídia Pereira (CPMangualde - 2.58.39). Na maratonapor estafetas, classificaram-se,respectivamente, nos três primeiroslugares o GDR Reboleira/G FisioDesporto, o NúcleoOeiras/SportZonee a Odimarq Alumínios-A.

A competição, recorde-se, teveinício e final no Parque Desportivo 1ºde Maio da Inatel.

26ª Maratona de Lisboa

l A Fundação Inatel celebrou, em dezembro, um protocolo de

cooperação com o Sindicato da Carreira de Investigação e

Fiscalização do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, representado

pelo seu presidente Acácio Patrício Pereira. Acompanhado pelo

vogal da Administração, José Moreira Marques, o presidente da

Fundação, Vítor Ramalho, lembrou a importante função do SEF

num tempo de globalização e acentuado fluxo migratório. O

responsável sindical agradeceu, por sua vez, o significado do

acordo que permitirá aos associados do SCIF- SEF ter acesso aos

serviços e espaços de cultura, lazer e desporto da Inatel.

Protocolo Inatel/SCIF-SEF-

12 TempoLivre | JAN 2012

08a12_NOT:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:12 Page 12

Page 13: Tempo Livre Janeiro 2012
Page 14: Tempo Livre Janeiro 2012

XVI Concurso “Tempo Livre” Fotografia

14 TempoLivre | JAN 2012

[ 1 ]

[ 3 ]

[ 2 ]

14e15_Conc_Fotog:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:14 Page 14

Page 15: Tempo Livre Janeiro 2012

[ a ] Maria Silva, CacémSócio n.º 493267

[ b ] Sérgio Guerra, S. João do EstorilSócio n.º 204212

[ c ] Fernando Ledo, Viana do CasteloSócio n.º 343708

Menções honrosas

Regulamento

1. Concurso Nacional de Fotografia darevista Tempo Livre. Periodicidademensal. Podem participar todos osassociados da Fundação Inatel,excluindo os seus funcionários ecolaboradores da revista Tempo Livre.

2. Enviar as fotos para: Revista TempoLivre - Concurso de Fotografia, Calçadade Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa.

3. A data limite para a recepção dostrabalhos é o dia 10 de cada mês.

4. O tema é livre e cada concorrentepode enviar, mensalmente, um máximode 3 fotografias de formato mínimo de10x15 cm e máximo de 18x24 cm., empapel, cor ou preto e branco.

5. Não são aceites diapositivos e asfotos concorrentes não serãodevolvidas.

6. O concurso é limitado aosassociados da Inatel. Todas as fotosdevem ser assina ladas no verso com onome do autor, morada, telefone enúmero de associado da Inatel.

7. A «TL» publicará, em cada mês, asseis melhores fotos (três premia das etrês menções honrosas),seleccionadas entre as enviadas noprazo previsto.

8. Não serão seleccionadas, nomesmo ano, as fotos de umconcorrente premiado nesse ano

9. Prémios: cada uma das três fotosse lec cio nadas terá como prémio duasnoi tes para duas pessoas numa dasunidades hoteleiras da Inatel, durantea época baixa, em regime APA(alojamento e pequeno almoço). Oprémio tem a validade de um ano. Opre miado(a) deve contactar a redacçãoda «TL».

10. Grande Prémio Anual: umaviagem a esco lher na Brochura InatelTurismo Social até ao montante de1750 Euros.A este prémio, a publicar na «TL» deSetembro de 2012, concorrem todasas fotos premiadas e publicadas nosmeses em que decorre o concurso.

11. O júri será composto por doisresponsáveis da revista T. Livre e porum fotógrafo de reconhecido prestígio.

[ b ]

[ a ]

JAN 2012 | TempoLivre 15

[ 1 ] Luis Gaspar, LisboaSócio n.º 265869

[ 2 ] Camillo Lopes,Rio MaiorSócio n.º 504366

[ 3 ] Mafalda Pereira,Quinta do AnjoSócio n.º 236339

[ c ]

14e15_Conc_Fotog:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:14 Page 15

Page 16: Tempo Livre Janeiro 2012

Entrevista

O seu livro "A origem do Fado" contraria, emabsoluto, uma tese, até agora dominante, daorigem afro-brasileira do Fado…As obras que estudam a origem do Fado são a deJosé Ramos Tinhorão, que apresenta uma teseafro-brasileira, com origem numa dança - o lun-dum - dos escravos e trazida para Portugal com oregresso da Corte do Brasil. É uma tese que parte,desde logo, de um preconceito ideológico muitomarcado que é o da luta de classes. Ou seja, oFado era uma dança do povo oprimido, recupera-da mais tarde pela burguesia. É o que defende oautor, num livro de cerca de oitenta páginas,"Fado, Dança do Brasil, Cantar de Lisboa - O Fimde um Mito". E há Rui Vieira Nery com o livro "Para umaHistória do Fado"Vieira Nery dedica ao assunto julgo que duasdezenas de páginas e que diz mais ou menos isto:o Fado terá nascido no Brasil, a partir de uma sín-tese cultural do lundum. Não diz que nasceu dolundum, porque é um ritmo tão contrário ao pró-

prio ritmo do Fado. Daí a afirmar que é uma sín-tese cultural, uma expressão bonita…Daí nasceuo Fado bailado, uma dança dos mestiços brasilei-ros que veio com a Corte para Portugal. Não seionde descobriu isso. É verdade que as primeirasnotícias do Fado como género musical são brasi-leiras, mas isso não significa que o Fado tenhanascido no Brasil. Apenas comprova que, naque-la data, existia no Brasil.Mas com origem em Portugal? Para mim, ao contrário destes dois autores, via-jou', sim, mas de Portugal para o Brasil.

Para Vieira Nery, portanto, veio com a Corte,não sei como, talvez no porão…e, depois, emLisboa, sofreu uma nova síntese cultural quetransformou a dança numa canção. Facto que elenão explica como porque a dança era de ritmoseróticos, sensuais, e transformou-se nesta cançãodolente e melancólica, não se percebe como, masa síntese cultural parece que explica isso tudo.Diz isto em vinte páginas, não aprofunda oassunto. Afirma que é preciso basear as coisas em

José Alberto Sardinhaetnomusicólogo

Fado, o orgulho portuguêsAutor do livro "A origem do Fado", considerado pelo eminenteetnólogo Benjamim Pereira "um marco categórico e da maiorimportância no panorama da bibliografia etnomusicalportuguesa", José Alberto Sardinha, advogado de profissão eetnomusicólogo por paixão, falou à "TL" da longa e aturadainvestigação que lhe permitiu concluir que o fado, ao contrário datese corrente nos meios académicos, não tem origem afro-brasileira, mas é, antes, um género popular bem português que aUNESCO agora consagrou como Património da Humanidade.

16 TempoLivre | JAN 2012

16a22:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:16 Page 16

Page 17: Tempo Livre Janeiro 2012

JAN 2012 | TempoLivre 17

16a22:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:16 Page 17

Page 18: Tempo Livre Janeiro 2012

Entrevista

documentos mas toda a teoria dele não se baseiaem qualquer documento.Como refere no seu livro, a 'descoberta' daorigem portuguesa aconteceu, de certo modo,por acaso…É verdade. O Fado não fazia parte da minha pes-quisa nem sequer das minhas preocupações. Souum investigador da música rural e nas minhaspesquisas fui gravando alguns fados bailados eromances tradicionais, canções narrativas que opovo em certas ocasiões intitula de fados. Emrelação aos fados bailados tinha a ideia de seremfados vindos de Lisboa, mas integrados na tradiçãorural. Gravava, entrevistava. Sucedeu, então oseguinte: desde sempre as canções narrativas, quesão sucedâneos dos romances, tinham para mimum certo sabor a fado, uma toada que me lembra-va o fado e que me incomodava. E interrogava-me:

mas que raio, venho eu para aqui,para uma aldeia desconhecida deMiranda do Douro ou da BeiraAlta, ou do Douro Litoral ou doAlentejo e ouço umas velhotascantar à maneira do fado. E pensa-va que era uma forma de cantarinfluenciada já pelos artistas narádio, que cantavam daquelamaneira e elas davam-lhe aquelatoada. Até que um dia, há sempreum dia, estando na Beira Alta,

onde gravei, durante uma tarde inteira, uma ve -lhota que cantou uns sete ou oito romances, todosdiferentes, com melodias também diferentes,todas com balanço e sabor a fado, e garantindo quejá a avó e a bisavó cantavam exactamente assim.Teve aí a primeira sensação de ter feito umadescoberta?Ao sair dali, ao fim do dia, tudo aquilo ressoavana minha cabeça. E lembrava-me de um concer-to de jazz de Miles Davis e Dizzy Gillespie emCascais, e de no dia seguinte aquela música con-tinuar a ressoar na minha cabeça. Aconteceu omesmo com os romances que escutei daquelavelhota, aquele sabor a fado... e, de repente, pen-sei, se ela me garantisse - como outras que graveime garantiam - que tinha aprendido daquelamaneira, da tradição oral… porque é que isto temde ser de Lisboa? E porque não, antes, um pro-longamento dos romances? Foi uma revoluçãocompleta no meu espírito.

A investigação assumiu, a partir daí, outrorumo?Decidi direccioná-la, e fi-lo durante mais de vinteanos, para a pista dos ceguinhos e para os roman-ces tradicionais de todo o país. E entrevistei gru-pos de cegos que tinham uma vida absolutamen-te extraordinária. Por exemplo, um grupo deVinhais, que é paradigmático, de dois cegos comdois ou três não cegos, vinha numa carroça,puxada por mulas, a partir de Março, para as fei-ras. Estacionavam também em Lisboa na Feira daLuz, andavam também na Baixa, nas ruas, iamaté ao Alentejo e, em Outubro, regressavam.E cantavam o quê?Eram os fados de faca e alguidar, as histórias dedramas e tragédias que conheciam ou que os seusacompanhantes liam no jornal. O cego fazia aletra, encaixavam nalguma música que já sabiamou noutras músicas da tradição oral. E a con-clusão a que cheguei foi a de que o Fado, no seuestado primitivo era uma canção que contavauma história, era um poema narrativo. Aliás, aprimeira definição histórica de Fado dicionariza-da é de 1878, no Dicionário de Moraes, que diz"Fado - poema do vulgo de carácter narrativo emque se narra uma história real ou imaginária dedesenlace triste, ou se descrevem males, a vidapenosa de uma certa classe, como no fado domarujo, da freira, etc. Música popular com umritmo e movimento particular, que se toca ordi-nariamente na guitarra e que tem por letra ospoemas chamados fados ". Ou seja, de início, ofado era a história só depois é que se tornou umamúsica.A evolução para os diferentes tipos de fado vaiacontecer, entretanto, em Lisboa…Em Lisboa, claro, havia mais casas de esmoler emais público e foi, na verdade, em Lisboa que osfidalgos descobriram os fados já na fase da taber-na, porque os cegos e os músicos de rua canta-vam também nas tabernas. Os taberneirosdavam-lhes a sopa e a dormida na carvoaria eeles cantavam à noite para a clientela. Masdurante o dia davam as suas voltas, cantavam assuas histórias e também coisas para bailar e, àsvezes, duelos cantados ou ao desafio.Essa evolução, da fase popular e espontânea doFado para a artística e literária, começa aindano século XIX?Foi quando o Conde Vimioso e outros fidalgos

18 TempoLivre | JAN 2012

“O Fado, no seuestado primitivo erauma canção quecontava uma história,era um poemanarrativo.”

16a22:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:16 Page 18

Page 19: Tempo Livre Janeiro 2012

descobriram o lado pitoresco do Fado e levaram-no para os Salões, onde a Severa também cantou,levada pelo Vimioso. Aquilo caía mal…DizTinhorão que a burguesia se apropriou de umacoisa popular, coisa horrível…Eu digo: aindabem que a nobreza gostou, porque senão aconte-cia ao Fado o mesmo que ocorreu com outrosgéneros populares. Teria morrido, teria ido para ocaixote do lixo da História. Em suma, a nobrezareabilitou o Fado e, depois, a classe média, comoa nobreza estava acima e gostava, começou aimitá-la. Na verdade, se não fosse a nobreza terachado graça a classe média nunca teria adopta-do algo que vinha do povo. Aí o Fado começou aabrilhantar os serões familiares e seguiu, maistarde, para a revista, assumindo a forma artística.Isto ainda na segunda metade do século XIX. ASevera morre em 1846. Ele começou a cantar nossalões no começo da década de 40 e será a partirdaí que entra em moda.A sua tese parte, então, do princípio de que aorigem está na província?Não, eu não digo que nasceu na província e veiopara Lisboa. Nasceu, sim, de um substratocomum a toda a comunidade nacional, a todo opaís e que, mais tarde, cristalizou de formas dife-rentes em Lisboa e em Coimbra.A tese de uma certa influência árabe tambémnão é aceite por si…mas os árabes estiveramdurante vários séculos entre nós e as suas raízespermanecem quer na língua quer noutrosaspectos da sociedade portuguesa. E o cantotradicional árabe é igualmente dolente,melancólico e conta histórias…Não podemos dizer que a dolência de umacanção seja necessariamente árabe. Não é umacaracterística exclusiva dos árabes. Foram expul-sos de Portugal em meados do século XIII e doresto da península em finais do século XV. Mas amúsica que hoje conhecemos do Fado e, even-tualmente do século XIX, através de recolhas datradição oral não tem nada sequer a haver com amúsica dos séculos XIII, XIV ou XV. A evoluçãodas formas musicais vai-se adaptando ao gostomusical de cada época. A forma musical do sécu-lo XVI é completamente diferente da do séculoXIX., quer a nível erudito quer a nível popular. Anível erudito também há uma tradição que oscompositores herdam de uma geração anterior. Mas essa tradição não radica também na

adopção e prática pelos povos de uma determi-nada expressão musical?A nível popular, dentro da oralidade, o povo,como entidade colectiva não cria nada. A criaçãocolectiva é um mito. A criação é necessariamen-te individual. O criador popular cria em funçãode uma herança, de um paradigma musical queherda e com base no qual compõe. Faz, assim,evoluir a música popular que vai evoluindotambém ao longo dos tempos conforme os gostose as modas. Tal como acontece na música erudi-ta. Beethoven compôs da forma que compôs porque antes dele houve Mozart e Hayden e, antesdestes, houve Bach e Monteverdi. A tradição eru-dita também proporciona aos compositores indi-viduais uma herança colectiva dentro da qualeles compõem e avançam.

Da tradição popular conhecemos o que veioda Idade Média, eventualmentecom influências árabes, masdepois temos a Renascença, Hápeças eruditas da Renascença quenecessariamente ditam o gostopara a música popular. Veja-se oséculo XIX: temos as valsas deStrauss e de outros compositoreseruditos anteriores que mais tardese popularizaram e que maestrosde bandas filarmónicas tambémcompuseram. Ou seja, a estruturada valsa, da polcas, da contradança, da mazurka,existe a nível erudito, mas, depois, e pelo fenó-meno da imitação, os músicos semi-eruditos vãoadoptá-la ao nível popular. O povo capta e vaitransformando com harmónicas, com violas, etc.Portanto, toda esta mistura, toda esta evolução éque gera a música popular.Como explica a diversidade no Fado - corrido,mouraria, menor, tango, rigoroso, viana, vitória,coimbra, canção… O Fado recebeu, ao longo do tempo, os contribu-tos mais variados. Como disse, há pouco, elevirou moda e passou à Revista e, neste contexto,a vaga do Fado é total, toda a gente gostava deFado. Passou-se o mesmo com a polca na Europacentral. Foi a polcamania, os chapéus e coletes àpolca. Era moda e vendia, como hoje se diria. Oscompositores semi-eruditos do final do séculoXIX receberam o fado mas tinham toda a escoladas tunas, das bandas e compunham marchas,

“A nobrezareabilitou o Fado e,depois, a classemédia, como anobreza estava acimae gostava, começou aimitá-la.”

JAN 2012 | TempoLivre 19

16a22:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:16 Page 19

Page 20: Tempo Livre Janeiro 2012

Entrevista

valsas, polcas, mazurkas e por aí fora, de talmodo que nos primeiros discos punha-se o títuloda canção que dizia fado-marcha, fado-valsa,fado-polca…e a partir daí o fado recebe inúmeroscontributos.

Depois de escrever o livro sobre as Tunas doMarão, encontrei o Benjamim Pereira, últimorepresentante da grande escola da Etnologia por-tuguesa - os outros, Ernesto Veiga de Oliveira,Jorge Dias e Fernando Galhano, já morreram -num restaurante de Vila Verde. Perguntou-me oque estava agora a fazer e respondi-lhe que anda-va às voltas com a origem do Fado. "O Fado? -

interrogou-se - Então tu, um investigador damúsica rural estás agora a perder tempo com oFado". Ele tinha, como Lopes Graça uma visãonegativa do Fado. Confessei-lhe que nunca anda-ra à procura das raízes do Fado, mas que elas éque vieram ter comigo.Benjamim Pereira declarou-se "fascinado" coma leitura do seu livro e sublinha no prefácio queele "demonstra a fragilidade da base de susten-tação" da tese afro-brasileira".A minha tese é a primeira que diz: não há misté-rio no assunto. O Fado provém directamente deum género poético - musical popular que é o

20 TempoLivre | JAN 2012

16a22:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:16 Page 20

Page 21: Tempo Livre Janeiro 2012

romanceiro tradicional. Depois, nem a tese deRuy Vieira Nery nem qualquer outra consegueexplicar e que considero importantíssimo, que éa origem da palavra. Porque é que se chamouFado a uma dança brasileira? Na minha investi-gação ouvia pessoas que diziam: fulano cantafados de feira, fulano canta fados da Bíblia -histórias da Bíblia.

Colhi no Dicionário de Bluteau (1827) umprovérbio popular que diz o seguinte: "Põe a mãono teu seio/ não dirás do fado alheio". Trata-se deum conceito - ao contrário do fado/destino emCamões - mais prosaico, de episódios de vida,desfechos, casos de vida. Um ceguinho de feirasanunciava o seu produto deste modo: "Escutaiagora o triste fado da Isaurinha que se deixouenganar …", etc. Depois o povo pedia, Ti Chicocante aí o fado da Isaurinha. Os primeiros fadostinham o nome da principal personagem, porqueeram histórias de vida, eram narrativos. Esta é aorigem da palavra.Gostava já nessa altura do Fado?Não, não gostava particularmente do Fado. Bebiatambém essa influência do Lopes Graça. Na rea-lidade, a minha geração desprezava o Fado. Erapara nós, do ponto de vista estritamente musical,uma coisa menor. Lopes Graça desprezava apobreza musical do Fado.Ficou, naturalmente, feliz pela decisão daUnesco de considerar o Fado património dahumanidade…Claro, é muito importante, sobretudo porquereconhece internacionalmente um fenómenopopular. Os fenómenos populares são poucoreconhecidos quer a nível nacional quer a nívelinternacional.Qual foi a reacção à sua obra, nomeadamentedos que defendem teses diferentes?Sabe, em Portugal vive-se das capelinhas. A teseafro-brasileira tem um grande defensor, o RuyVieira Nery, que tem os seus pergaminhos acadé-micos e, como tal, não gosta de ver as suas ideiaspostas em causa. E, naturalmente, reagiu mal.Para ele, o meu livro é péssimo. O Fado tem rece-bido, diz ele, os contributos mais variados e notá-veis, de historiadores e investigadores, exceptonum caso, o meu. Escreveu isso no "Jornal deLetras". Claro que o meu era o mau porque punhaem causa a sua tese. A maioria não se pronunciasobre a questão das origens, pois não há estudio-

sos que tenham aprofundado a matéria. Nãoquestionam, e como tal são recebidos pelosacadémicos com toda a reverência.E a reacção por parte do meio, dos fadistas?Da parte dos fadistas e do meio fadista tenhorecebido os melhores elogios, até entusiásticos. Écurioso analisar isto. Os fadistas não são particu-larmente estudiosos. A Amália, por exemplo,teve um grande desgosto quando lhe disseramque o Fado não vinha do tempo de AfonsoHenriques. Para ela tratava-se de uma cançãonacional. Os fadistas não são estudiosos nem teó-ricos, mas têm a intuição de quemconhece a música e o Fado pordentro. E nunca engoliram essahistória afro-brasileira porquesentem que não é possível. Aliás,a tese brasileira nunca explicacomo é que uma dança se trans-forma num canto dolente, nãoexplica nem pode explicar. Éinexplicável. Os fadistas têm aquitambém uma certa dose de nacio-nalismo por verem que afinal oFado é português, é nosso. Eudigo-lhes que não é por isso, nãoé uma questão de nacionalismo,mas para eles o importante osaber-se que é português.Costuma ir aos Fados?Houve um período nos anos 90em que fui frequentemente, aoBairro Alto, à Bica, a colectivida-des populares. Agora tenho idomenos, mas espero voltar.Algum(a) fadista que aprecieparticularmente? Dos novos, gosto da Ana Moura, da TeresaTapadas. Dos veteranos, ainda vivo, apreciomuito o João Braga, o João Ferreira Rosa…oCarlos do Carmo tem uma belíssima voz masacho que é sobretudo um belíssimo cantor. Amaioria das suas peças não são fados.

Há tempos, pediram-me, do "Expresso" queescolhesse dez fados. Estive uma tarde inteira àsvoltas com a tarefa e escolhi quatro narrativos doFrutuoso França, do Linhares Barbosa, doBritinho, outro da Lucília do Carmo, um corridomenor do Marceneiro, o fado corrido da MariaTeresa Noronha, um mouraria também do

JAN 2012 | TempoLivre 21

“Tive a felicidadede ser colaborador daInatel no tempo deTomás Ribas, umhomem do folclore.Fizemos colóquiospor todo o país…”

“Os fadistas nãosão teóricos, mas têma intuição de quemconhece a música e oFado por dentro. Enunca engoliram essahistória afro-brasileira…”

16a22:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:16 Page 21

Page 22: Tempo Livre Janeiro 2012

Entrevista

Marceneiro e, claro, o "Povo que Lavas no Rio" daAmália.Terminou com este livro a sua investigaçãosobre a origem do Fado?Tenho outros projectos em curso. Sairá em breveum livro sobre as danças populares do CorpusChristi de Penafiel e continuo a investigar. Tenho

um grande arquivo e tenciono edi-tar outros trabalhos. Gostava,claro, de investigar mais o Fado,até para sustentar melhor algumasfragilidades que este livro neces-sariamente tem. Irei fazê-lo aospoucos, consoante a minha vidaprofissional também o permita.Tem vasta obra publicada noâmbito da etnologia, não será

fácil conciliar a vida profissional de jurista coma investigação…Os meus clientes fazem-me, muitas vezes, essapergunta. Publiquei um livro sobre as tradiçõesmusicais da Estremadura que tem mais de 700páginas. "Como é que o sr. tem tempo para istotudo?". A minha advocacia, não sendo centradaem Lisboa, não deixa de ser mais absorvente que ade Lisboa. Mas o tempo organiza-se. Tive necessi-

dade de comprar, durante décadas, muitos li vrosem alfarrabistas. Não podia dar-me ao luxo de con-sultas na Biblioteca Nacional. Constitui umabiblioteca muito grande e exaustiva de etnografiaportuguesa que tenho em casa. Se não fosse isso, aalternativa era a Biblioteca Nacional. Depois esta-beleci, durante as férias e, em alguns fins-de-sema-na, expedições musicais a determinadas regiõesdo país. Fiz isso ao longo de 35 anos.E a família?Cheguei a levar os meus filhos, um de cada vez.Depois eles cresceram. Pude, assim, conhecer atradição musical de todo o país. Tive ainda a feli-cidade de ser colaborador da Inatel no tempo deTomás Ribas, um homem do folclore. Fizemoscolóquios por todo o país com o Pedro Ferré, aMadalena Farrajota e também o Mesquitela Lima.Isso deu-me um conjunto de conhecimentos deterreno, teóricos e de ranchos folclóricos muitointeressantes. E escrevo geralmente à noite,depois de jantar.Gosta de Fado, mas não de Futebol…Gosto, gosto, mas não tenho a Sport TV. Vejoalguns jogos mais importantes em canal aberto,mas não tenho o vício…nem posso ter, porquenão teria tempo para outras coisas.Conheceu Amália?Não, e tenho pena. Fiz algumas tentativas masnão foi possível. Mas cito no livro uma entrevis-ta muito interessante que ela deu ao "Indepen -dente", feita por Paulo Portas e ao Miguel EstevesCardoso. Á pergunta sobre quando começou acantar o Fado, ela fala de uma viagem, aos 12anos, num cacilheiro e diz: "lembro-me do barco.Cantei um fado que os ceguinhos cantavam (euaprendi o fado pelos ceguinhos), cantei aquilotudo. No barco toda a gente chorava…".Amália a corroborar a sua teseÉ um testemunho importante…Mesmo VieiraNery admite que os ceguinhos cantavam fados,mas, no seu entender, aprendiam em Lisboa elevavam-no para a província…Veja bem!Sabe que a Amália e Zeca Afonso encontraram-se uma única vez, em 1984, num convívio doClube de Jornalistas, e Zeca teve palavras demuita admiração pela arte de Amália…É natural. E, repare, ele começou a cantar o Fadoquando estava na universidade e cantava belissi-mamente fado de Coimbra. n

Eugénio Alves (texto) José Frade (fotos)

22 TempoLivre | JAN 2012

“Pesquisei,durante 35 anos, portodo o país, a nossatradiçãomusical…”

16a22:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:16 Page 22

Page 23: Tempo Livre Janeiro 2012
Page 24: Tempo Livre Janeiro 2012

24 TempoLivre | JAN 2012

Diáspora

Portugueses em Marrocos

Uma comuni

24a29:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:18 Page 24

Page 25: Tempo Livre Janeiro 2012

JAN 2012 | TempoLivre 25

nidade volátil

Marrocos nunca foi um destino convencional da emigraçãoportuguesa. Mas há, actualmente, muitos quadros portugueses atrabalhar na região, ainda que com "um pé cá e outro lá", a parde gente que investiu a longo prazo e está no país vizinho depedra e cal.

24a29:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:19 Page 25

Page 26: Tempo Livre Janeiro 2012

Diáspora

Oliveira Martins referiu-se, a propó-sito das aventuras lusitanas nonorte de África, nos séculos XV eXVI, ao carácter instável da pre-sença portuguesa naquelas terras:

"Ficávamos nas praças de Marrocos como a bordodas nossas naus; porém, as naus iam, vinham li -vremente pelos mares (...), ao passo que as praçasde África eram pontões imóveis, ancorados, cons-tantemente batidos pelas vagas da mourama tem-pestuosa...". Os tempos e os contextos que enqua-dram o regresso dos portugueses a esta África pró-xima, cinco séculos depois, são diferentes e des-crevem-se com as mesmas pinceladas com quesão descritas as mudanças globais nas últimasdécadas. Globalização económica, deslocalizaçãode empresas multinacionais, maior circulação decapitais de investimento, maior mobilidade depessoas e tecnologias, eis as condições contem-porâneas que contextualizam a presença deempresas e quadros portugueses em Marrocos.

O contexto é, também, o de uma crise que esti-mula os portugueses a partir. Marrocos mantém-se, por ora, a salvo das actuais turbulências,

graças em certa medida aos investimentos públi-cos em curso, que têm contribuído para dinami-zar a economia. Muitos são os projectos dessetipo em que se envolvem empresas lusitanas oumultinacionais deslocalizadas de Portugal paraMarrocos, o que levou à constituição de umapequena comunidade de portugueses. Ao contrá-rio do que acontecia nos tempos evocados pelohistoriador, é uma comunidade razoavelmenteenraizada, capaz de construir laços e pontesinterculturais. Mesmo se a proximidade e asactuais vias de comunicação permitem deslo-cações frequentes a Portugal.

Um pé cá e outro láMarrocos nunca foi um destino habitual da emi-gração portuguesa. A actual presença lusitana éprotagonizada fundamentalmente por quadrossuperiores, ao serviço de empresas portuguesasou de multinacionais deslocalizadas para o paísvizinho, onde os salários e custos de produçãosão mais baixos. Há, também, alguns empresá-rios, estabelecidos sobretudo em Rabat eCasablanca.

26 TempoLivre | JAN 2012

Vista do novoaeroporto deMarraquexe. Napágina da direita, decima para baixo,embaixador JoãoRosa Lã, Carlos Silvae Fernando Monteiro

24a29:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:19 Page 26

Page 27: Tempo Livre Janeiro 2012

O embaixador de Portugal em Marrocos, JoãoRosa Lã, sintetizando os factores de atracção dosinvestimentos portugueses, salienta que "com aabertura económica e a modernização começadano reinado de Moahamed VI surgiram mais opor-tunidades de negócios e o país constituiu-se numgrande estaleiro de obras". Foi nestas circunstân-cias que avançaram para Marrocos muitas empre-sas lusitanas (cerca de centena e meia), "que inter-vieram em vários sectores, da construção civil aostêxteis, da indústria de componentes para automó-veis às telecomunicações, fundando a segundarede de comunicações móveis, e realizando muitasobras públicas". Exemplos da presença portuguesanesse domínio: a construção de um grande túnel ede um sector da auto-estrada Casablanca-Agadir,de barragens, de um troço de linha de caminho deferro no norte, a electrificação de vias-férreas, tre-chos da auto-estrada Fez-Oujda. "Em toda a partehá grandes obras feitas por portugueses", nota oembaixador, que crê que o ritmo deve abrandar. "Aeuforia da construção está a acabar e há empresasportuguesas estão a descobrir outros sectores",acrescenta. Mas há, ainda, grandes obras em cursoou a iniciar-se em breve. É o caso da construção dalinha de TGV, para a qual empresas portuguesasganharam alguns concursos.

A criação da zona franca de Tânger atraiuempresas lusitanas, além de multinacionais. Foineste quadro que "na última década, a presençaportuguesa começou a caracterizar-se porhomens de negócios, quadros de empresas e tra-balhadores", contrastando com o panorama nosanos 60 do século passado, quando a comunida-de portuguesa era constituída sobretudo por exi-lados políticos e pescadores. "Os primeirosregressaram a Portugal, mas da comunidade depescadores restam ainda algumas pessoas, gentemodesta na maior parte". Actualmente, a comu-nidade portuguesa "é muito volátil" e, frequente-mente, a perspectiva destes quadros, num con-texto de maior mobilidade, é a de não se veremcomo emigrantes. "Não se inscrevem noConsulado e não se consideram emigrantes".Serão à volta de 1500, segundo o embaixador, euma parte desloca-se frequentemente a Portugal,para manterem contacto com a família. Se hácasos de portugueses estabelecidos em Marrocoshá muitos anos, as actuais experiências de expa-triados portugueses no país vizinho são mais

JAN 2012 | TempoLivre 27

24a29:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:19 Page 27

Page 28: Tempo Livre Janeiro 2012

Diáspora

caracterizadas por uma situação do género "umpé lá e outro cá".

Portugal mora ao ladoUm caso típico da presença portuguesa emMarrocos é a de Fernando Monteiro, engenheirodos quadros de uma multinacional que deslocali-zou uma fábrica para Marrocos e lá foi abrindo,entretanto, outras. Está a trabalhar no país hácerca de oito anos, entre Kenitra e Tânger, ondeestão localizadas as unidades fabris Dá apoio naformação técnica para novos projectos de pro-dução, entre outras actividades.

A experiência de trabalho no Maghreb cedomudou a perspectiva que tinha do país: "A primei-ra vez que vim a Marrocos disse que não regressa-ria. Um ano depois convidaram-me para vir traba -lhar cá e não estou arrependido". O ambiente sociale cultural causou alguma estranheza inicial, masforam nuvens de pouca dura. "Sinto-me bem,tenho muito bons relacionamentos com as pessoasdaqui". A desempenhar funções semelhantes,Fernando Monteiro já passou pela Ucrânia,Roménia, Eslováquia e Tunísia. Mas não hesita nacomparação com essas experiências europeias: "Eudou-me melhor aqui". Trabalha actualmente comuma equipa plurinacional que integra trabalhado-res marroquinos, lituanos e romenos.

Fernando Monteiro tem residência emMarrocos, mas desloca-se, em média, uma vez pormês a Portugal. Sempre de automóvel, graças àmobilidade facultada pelas auto-estradas, quepermitem uma ligação "rápida" entre Algeciras e o

norte de Portugal, a sua região de origem. "Emtodos estes anos só fiz uma viagem de avião". Odesenvolvimento das comunicações atenua clara-mente o "exílio" e não é a distância que o impedede se sentir próximo da família: "Todos os diasligo para casa e contacto com colegas de Portugal".

Portugal: mais dificuldadesdo que compensaçõesUm dos casos mais exemplares de longa per-manência em Marrocos é o do empresário CarlosSilva, que reside há cerca de dezassete anos emRabat. Está à frente de uma empresa de captaçãode água que utiliza tecnologias de ponta e temcomo principal cliente o Estado marroquino. Éuma empresa líder de mercado, que empregacerca de 70 trabalhadores.

"Marrocos é um país onde há ainda muito porfazer", diz, recordando ao mesmo tempo que emPortugal há "excesso de oferta e pouca procura".O volume de obras públicas em Marrocos repre-senta um factor de atracção de empresas estran-geiras e as condições são actualmente melhoresdo que eram antes para o investimento estrangei-ro. "Antigamente, havia barreiras que impediamas empresas estrangeiras de investirem livremen-te. Hoje há redução de impostos, há menosbarreiras, mas não quer dizer que seja fácil. Omercado parece estar aberto, mas existem barrei-ras invisíveis". Se, por um lado, a nível burocrá-tico, as condições são as mesmas das empresasmarroquinas, há outros contratempos, que de -correm de "choques culturais".

28 TempoLivre | JAN 2012

Metro de Rabat e, àdireita, estaçãoferroviáriade El-Jadida

24a29:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:19 Page 28

Page 29: Tempo Livre Janeiro 2012

Carlos Santos acrescenta que só com deter-minação é possível ultrapassar esse tipo deobstáculos, o que nem sempre acontece comalgumas empresas portuguesas, que desistemao fim de algum tempo. "A minha empresa temsucesso porque não nos acomodamos à manei-ra mais fácil de fazer as coisas. Por vezes não éo caminho mais curto, mas é o que leva maislonge". A prudência e a descrença em vitóriasfáceis acompanham o percurso deste empresá-rio português em terras onde outrora Portugalteve a sua maior derrota militar: "No meu caso,a estratégia foi crescer devagar e ir aprendendo;agora, a estratégia é não crescer mais, para não

acontecer o mesmo que vi acontecer com outrasempresas".

Não obstante as dificuldades, Carlos Silvaafirma-se satisfeito com a vida que tem em Rabat,"muito mais tranquila do que em Portugal", quevisita ocasionalmente, em negócios ou para revera família. É em Marrocos que tem a sua residên-cia, e é aí - e em França - que os filhos fazem osseus percursos escolares. "Sinto-me bem aqui,sou feliz em Marrocos, faço o que gosto de fazer.Há dificuldades aqui, mas tenho compensações.Em Portugal há outras dificuldades, mas nestemomento não há compensações". n

Humberto Lopes (texto e fotos)

JAN 2012 | TempoLivre 29

“Vim por dois ou três anos e acabei por ficar…”

O envolvimento de empresas e quadros

portugueses em Marrocos teve um

incremento significativo nos últimos

anos. Daí a necessidade de fundar a

Associação de Negócios Portugal-

Marrocos, em finais de 2007. O objectivo

genérico da associação é, nas palavras

do seu presidente, José Maria Teixeira,

"apoiar as empresas portuguesas que

estão a apostar no país, as empresas

marroquinas que estão interessadas em

investir em Portugal e, também, os

quadros portugueses que estão em

funções na direcção de multinacionais

instaladas em Marrocos". Entre as

acções levadas a cabo pela associação

contam-se conferências, uma semana

gastronómica e a apresentação do filme

"Fados", de Carlos Saura. "Tentamos dar

a conhecer Portugal e proporcionar

contactos profissionais".

As informações disponibilizadas pela

associação podem ser de grande valor

para os investidores lusitanos: "Durante

algum tempo, a internacionalização das

empresas portuguesas foi mais para os

PALOP e para Espanha. Quando se

pensou em Marrocos, pensou-se na

facilidade. Mas começou-se a descobrir

que o mercado aqui é mais complexo, é

preciso perceber como funciona". O país

exige uma outra abordagem dos

investidores: "Percebeu-se que é preciso

ter uma visão de futuro. Houve apostas

mal feitas, para ganhar posições de

mercado a curto prazo".

José Maria Teixeira esteve até algum

tempo atrás na situação de expatriado

temporário, como responsável por uma

multinacional na zona do Maghreb. Nas

mesmas funções passou por

Moçambique e pelo Egipto. Está há treze

anos em Marrocos, em Casablanca.

"Vim por dois ou três anos e acabei por

ficar". Quanto à forma como os

portugueses vivem a experiência de

trabalho no país, fala de uma prática de

ligação ininterrupta com Portugal. "Há

muitos portugueses que encaram isto

como se fossem do Porto e

trabalhassem em Lisboa". Di-lo a

propósito da integração social e cultural

no país de acolhimento e de trabalho, e

do efeito desse modo de estar: "O tempo

livre que teriam para desenvolver

relacionamentos fora do trabalho vai

para a família e para as viagens". A sua

atitude foi sempre outra, contrariando

um fechamento cultural e social. "A

minha experiência de vida de expatriado

mostra que o expatriado clássico tende

a ligar-se apenas ao meio dos

expatriados. Mas eu procurei sempre

ligar-me às pessoas do local, e isto

facilita o sentimento de se estar bem no

país". Para além das relações de

trabalho, esse é um domínio

fundamental de integração: "Todos os

países são bons a partir do momento

em que temos uma rede de amigos e de

contactos sociais". n

24a29:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:19 Page 29

Page 30: Tempo Livre Janeiro 2012

Aventura

Émais ou menos isto que é um geo-cacher, ou seja, alguém que praticaa atividade de lazer conhecida porgeocaching, um jogo criado emMaio de 2000 pelo norte-america-

no Dave Ulmer e que tem conquistado milharesde fãs em todo o mundo. Portugal não é exceção.O geocaching não é nada mais do que um upgra-

de dos jogos de caça ao tesouro da nossa infância,em que com uma bússola e um mapa partíamoscom os amigos à descoberta de um tesouro que osnossos pais tinham escondido, normalmenteuma caixa com brinquedos ou doces. A caça aotesouro, que parecia em desuso, continua a exis-tir e agora numa versão hi-tech para miúdos egraúdos.

DescobertasÉ com a ajuda de um GPS que se joga ao geoca-ching. No site da Groundspeak - www.geoca-ching.com - onde qualquer pessoa se pode regis-tar, estão registadas mais de um milhão e qui -nhentas mil caches e em Portugal existem maisde oito mil. No mundo inteiro existem cincomilhões de geocachers, doze mil só no nossopaís. O site fornece uma lista de caches, que basi-camente são caixinhas ou tupperwares, com asrespetivas coordenadas para introduzir no GPS etentar a sua sorte à procura desse pequeno tesou-ro. O que encontra lá dentro? Um logbook paraefetuar o registo e, se a cache tiver uma boadimensão, alguns brindes ou souvenirs paratroca. Ao mesmo tempo que procura esses tesou-ros, descobrem-se novos monumentos, locais eum pouco da história. "Nasci e cresci em Lisboa,mas quando comecei a fazer geocaching, há qua-tro anos, descobri algumas esplanadas, praças epormenores da cidade que nunca tinha visto",recorda António Valente, de 58 anos, conhecidono mundo do geocaching por Wolfraider.

Hermínio Veiga, de 51 anos, tem uma opiniãosemelhante. Este oficial da Marinha, conhecidopor SawCastro, sempre foi um apaixonado pelaSerra da Arrábida, mas após o geocaching redes-cobriu os encantos escondidos deste patrimónionatural. "Desde pequeno convivi de perto com

Caça ao tesourodo GeocachingUm Indiana Jones dos tempos modernos à procura de pequenostesouros escondidos pelo mundo fora.

30 TempoLivre | JAN 2012

30a34:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:21 Page 30

Page 31: Tempo Livre Janeiro 2012

JAN 2012 | TempoLivre 31

30a34:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:21 Page 31

Page 32: Tempo Livre Janeiro 2012

Aventura

esta Serra, mas nunca como desde que iniciei aprática do Geocaching a conheci tanto e tão inti-mamente. Vistas maravilhosas, grutas esqueci-das, caminhos quase impenetráveis, rochedosmajestosos, escarpas desafiadoras, praias fantás-ticas e muito mais", conta à Tempo Livre. Hátesouros escondidos que põem a resistência físi-ca do geocacher à prova, fazendo-os sentir esta-rem a viver as aventuras do filme "Os Salteadoresda Arca Perdida", como a cache "SaltaDouro", noGerês, que exige descidas de rappel, canyoning eescalada perto de cascatas, num percurso quepode durar mais de cinco horas. António Valentepassou pela experiência e considera-a a cache"mais difícil" que já fez.

Arte e engenhoPorém, nem todas as caches obrigam a esteesforço. As citadinas, por exemplo, exigem arte,engenho e, sobretudo, discrição ao estilo do"Inspetor Gadget". O importante é evitar chamar

a atenção dos muggles, as pessoas não pratican-tes desta atividade. Na zona da Grande Lisboaexistem centenas de caches escondidas, algumasem locais onde todos os dias passam milhares depessoas que nem desconfiam que ali se escondeum pequeno tesouro, como no Miradouro de SãoPedro de Alcântara, na Praça Luís de Camões ouno Panteão Nacional. Matthias e Simone Lange,que usam o nickname Rote Teufel, estiveramrecentemente em Lisboa de férias e durante qua-tro dias aproveitaram para descobrir 30 caches.Este casal alemão pensa que foi uma boa formade conhecer a capital portuguesa. "Essa é a razãopela qual fazemos geocaching. Conhecermoslocais novos, mas não da maneira como faria umturista. Vemos com os mesmos olhos de um nati-vo e, graças a isso, conseguimos ver muito maisdo que um simples turista".

O casal elege "Passeio à beira Tejo", no Parquedas Nações, a sua cache preferida. Matthias eSimone revelam à Tempo Livre que já visitaram

32 TempoLivre | JAN 2012

30a34:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:21 Page 32

Page 33: Tempo Livre Janeiro 2012

"27 países por causa do geocaching" e que têmfeito imensas amizades. Também AntónioValente, que esteve de férias este verão naDinamarca, não resistiu a alimentar o "vício" comum grupo de amigos. "Fizemos 24 horas de geo-caching sem parar e descobrimos 255 caches, umrecorde nacional", conta este professor de edu-cação física, que soma 5908 caches, algumasdelas feitas com os seus alunos, valendo-lhe oquarto lugar do ranking. "É um passatempo, masàs tantas começamos a trabalhar para os númerose dá gosto ser o primeiro a abrir o logbook e escre-ver FTF (First to Find)". O geocacher Prodrive é olíder nacional, com cerca de 7000 caches encon-tradas. Por outro lado, quem detém mais cachesescondidas, conhecidos como Owners (pro-prietários), é o Eterlusitano, com 268.

Hermínio Veiga está na oitava posição do ran-king e diz que não sofre da "febre" de ser o pri-meiro a fazer FTF, mas que já cometeu algumasloucuras nesse sentido, como "sair às duas da

manhã de casa porque foram publicadas duascaches na Mata da Machada e ir para o meio domato de lanterna à procura delas ou acordar àscinco da manhã para ser o primeiro a chegar auma cache publicada na Arrábida na noite ante-rior". A corrida para ser o primeiro é incentivadapelo próprio filho, mas o resto da família partilhao gosto pelo geocaching. SawCastro é muitasvezes acompanhado pela mulher quando vai à"caça", mas não é o único que gosta de fazer emfamília. Nuno_Ka,

Todas as idades…Tigre_das_Arábias e Lufi69 são outros exemplos epartilham a visão que esta é uma atividade paraqualquer idade. Dependendo do grau de exigência,Luís Semião (Lufi69) gosta de contar com o filho de10 anos, considerando-o "um excelente compinchapara encontrar tupperwares". O geocachingtambém serve de desculpa para ir passar algunsdias fora. "Já aproveitei as instalações da Inatel do

JAN 2012 | TempoLivre 33

30a34:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:21 Page 33

Page 34: Tempo Livre Janeiro 2012

Aventura

Luso e de Cerveira para passar miniférias, incluindono roteiro o geocaching", acrescenta. Já RicardoManuelito (Tigre_das_Arábias) parte à aventuracom a mulher, os três filhos e até "um batedor dequatro patas" que chama amigavelmente de Geocão."O geocaching tem o cuidado de identificar ascaches aconselhadas a crianças e as que não são,logo podemos planear sempre as nossas viagens apensar em todos". Este vigilante, de 32 anos, senteque as relações familiares se fortalecem com esta ati-vidade, por aliviar o stress dos adultos e retirar osmais pequenos do mundo "virtual" das consolas.

Nem um bebé recém-nascido está impedido defazer geocaching. Nuno Almeida, conhecido porNuno Ka, foi pai de Lourenço há cerca de ano emeio e com apenas três dias de vida o pequenoKAzito, como "batizou" o pai, já estava a registar aprimeira cache à porta do Hospital São FranciscoXavier. Na verdade, o geocaching começou aindana barriga da mãe, que na véspera do parto anda-va com o marido à procura de caches. "Estava emBelas quando senti contrações. No dia seguinteentrei no hospital e o bebé nasceu", recorda AnaAlmeida, de 32 anos, que até já teve a ideia decriar o evento GeoBaby para juntar "os muitos geo-cachers que levam os filhos". Desde então KAzitojá acompanhou os pais em mais de duas milcaches. "Há quem faça isto pelos números, eu façopelo convívio da família. Antes de conhecermos ogeocaching ficávamos em casa a ver filmes, a par-tir do momento em que começámos a fazer nuncamais ficámos em casa", diz Nuno Almeida, de 34anos, que mesmo assim ocupa o 16º lugar na hie-rarquia nacional com cerca de 4200 caches. Comoresume Hermínio Veiga, há "geocachers desde ocolo da mãe até ao avô com o neto às cavalitas etodos se divertem". n

HMC (texto) HMC e D.R. (fotos)

Glossáriol Cache - Caixa ou tupperware escondidol DNF - Did Not Find. Acrónimo usado quando um geocacher não encon-

tra a cache escondida l FTF - First to Find. Acrónimo utilizado pelo geocacher no logbook físico e

virtual de uma cache, para assinalar o facto de ser o primeiro a descobrirl Geocoins / Travel Bugs (Trackables) - Items colecionáveis adquiridos no

site www.geocaching.com que se deixam nas caches para troca; o seu

percurso pode ser registado e acompanhado onlinel Ground Zero (GZ) - O ponto onde o nosso GPS indica que chegámos às

coordenadas da cache l Logbook - Bloco de papel obrigatório na cache para o geocacher regis-

tar fisicamente a sua visital Muggle - Não geocacher. Baseado na expressão "Muggle" dos filmes de

Harry Potter que designa um não mágicol Spoiler - Informação em texto ou fotografia que pode revelar a localiza-

ção exacta de uma cache, "estragando" assim o prazer de a descobrirl TFTC - Thanks For The Cache. Acrónimo usado pelos geocachers no log-

book físico e online para agradecerem mais uma cache descoberta com

sucesso

34 TempoLivre | JAN 2012

30a34:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:21 Page 34

Page 35: Tempo Livre Janeiro 2012
Page 36: Tempo Livre Janeiro 2012

Prazeres

Com inúmeros canais, é alcunhadade "Veneza do Norte" e atrai todosos anos milhares de visitantes.Jóia da coroa da Flandres, é per-feita para descobrir a pé ou de

barco. Tem como uma das principais atracçõesturísticas a bonita praça central onde fica ocampanário, Belfry, símbolo da cidade. Foiconstruído no século XIII, tem 88 metros dealtura e no seu topo tem um carrilhão com 47sinos. Vale a pena subir os 366 degraus e des-frutar de uma vista completa sobre a cidade Énesta praça que desde o ano 958 se realizatodos os Domingos uma grande feira. Ao redorda praça, bonitas casinhas alinhadas, de facha-das coloridas, albergam restaurantes e cafés.Muito perto, na Praça Burg, a CâmaraMunicipal e a Igreja do Santo Sangue, sãooutros dos ex-libris da cidade. A câmara foiconstruída entre 1376 e 1420 e o prédio mais

antigo de Bruges.Vale a pena visitar

também a Catedral de SãoSalvador. A sua torremantém-se intacta desde aIdade Média. Se gosta depintura, não perca oGroeninge mu seum, ondepode apreciar uma magnifi-ca colecção de arte flamen-ga.

Para os apreciadores dechocolate, Bruges é tambémo destino perfeito. Para alémde ter um Museu doChocolate, onde pode ficar asaber a história desta gulo-seima e provar algumas das

suas variedades, tem ainda diversas lojas comchocolates de todas as cores e feitios AChocolate Line é considerada das melhores.

Capital da Cerveja"Terra de cerveja e chocolate, de canais e charre-tes, Bruges é o sítio ideal para fazer um périplopela história da cerveja. Se tiver tempo e vonta-de há mais de quatro centenas para provar."

País da cerveja, por excelência, na Bélgicaexistem mais de 450 variedades desta bebida.Só em Bruges, pequena cidade medieval alcu -nhada de "Veneza do Norte", há mais de 80 cer-vejarias. Umas intimistas, outras mais baru -lhentas, umas modernaças, outras do mais tra-dicional possível. Mas (quase) todas com umamística especial. Algumas apresentam listascom 400 rótulos disponíveis. Das pretas à loi-ras, às assim-assim, atenção à graduação, váriascervejas belgas chegam aos 11 graus. Nada queatrapalhe os belgas que dizem ter como lema: "beber uma cerveja quando a equipa ganha etambém quando a equipa perde".

Seja lá o lema ou a equipa que for, o que nãose deve perder é uma visita às cervejarias deBruges. Entre 80, seguem-se as cinco melhores.

2BeÉ uma três em um: esplanada, bar e loja. Ficamesmo à beira do canal e tem uma vista fabulosa,cenário ideal para meia dúzia de fotos. Logo àentrada, um grande painel expõe centenas degarrafas e copos de várias marcas de cerveja. Àdireita fica a entrada da loja, onde é possível com-prar não só bebidas como também produtos belgagourmet, de bolachas a compotas, pickles ou cho-colates. Ao fundo o bar dá acesso directo à espla-nada. Há cerveja de garrafa, mas também de

A “Veneza do Norte”Bruges é considerada uma das cidades mais bonitas da Europae desde 2000 que o seu centro histórico é Património Mundialda Unesco.

36 TempoLivre | JAN 2012

36a39:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:25 Page 36

Page 37: Tempo Livre Janeiro 2012

36a39:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:26 Page 37

Page 38: Tempo Livre Janeiro 2012

pressão, esta última servida em copos originais,em formato de cone. Para pousá-los é precisorecor rer a uma tábua de madeira com uns buracos. Aberto todos os dias das 11h00 às 19h00.

Wollestraat, nº 53

Halve MaanMais do que uma cervejaria, a Halve Maan éhoje em dia a única fábrica de cerveja que semantém na cidade de Bruges. Em 1918 haviamais de 30 em actividade, mas aos poucostodas foram mudando para os subúrbios. Hoje,a Halve Maan é o sítio ideal para ficar a sabermais sobre a história desta bebida. Todos osdias, entre as 11h00 e as 15h00, há visitas guia-das de 45 minutos de duração, com direito aprova. Brugse Zot Blond é a cerveja mais recen-te da casa e para acompanhá-la há um menucomposto de vários pratos cozinhados, tambémeles, à base de cerveja. O jardim é outro dosbons "spots" para aproveitar uma tarde de sol. Aberto todos os dias das 10h00 às 18h00.

Walplein, nº 26

Vlissinghe

Datada de 1515, reza a história que esta é a cer-vejaria mais antiga de Bruges. Ideal para os diasquentes, tem um agradável jardim nas traseiras,onde é possível relaxar ao sabor de umaPoeperings Hommelbier, considerada uma dasmelhores entre as novas cervejas que surgiramnos últimos anos. Se a visita for de Inverno, nasala interior vale a pena admirar outro dos ex-libris locais: a maior e também mais antigalareira de Bruges. Se tiver fome, não deixe deprovar as panquecas com gelado.Encerra às Segundas e Terças. Ao Domingo está

aberto das 10h00 às 19h00 e nos restantes dias das

11h00 até sair o último cliente. Blekersstraat, nº 2

Brugs BeertjeCom uma lista de 250 cervejas e um ambientemuito especial, esta pequena cervejaria, demesas de madeira e paredes forradas a anún-cios antigos, é já um ícone da cidade. Misturagente local com turistas e tanto avós como paisou filhos. A média luz e a música em volumebaixo compõem o ambiente, mais intimista doque boémio.

Na Bruges Beertje aproveite para experimen-tar uma das cervejas da cervejeira Regenboog,uma jóia local muito difícil de encontrar. Amaioria da produção é exportada, principal-mente para os Estados Unidos. Acompanhecom um prato de queijos e enchidos da região.É servido com pão e salada.Encerra à Quarta-feira. Nos restantes está aberto

das 16h00 à 1h00. Kemelstraat, nº 5

CambrinusEntre todas as cervejarias existentes em Bruges,esta é a que tem a maior variedade de cervejas,cerca de 400 no total. Entre muitas especiais,destaca-se a La Rulles Estivale, consideradauma das melhores cervejas da província doLuxemburgo.

Para acompanhar peça a entrada especial dacasa - saladinha de camarão, melão com pre-sunto, bacon com pinhões e arenque de mari-nada.Está aberto todos os dias a partir das 11h00. Não

tem hora de fecho. Philipstockstraat, nº 19

Catarina Serra Lopes (texto e fotos)

Prazeres

38 TempoLivre | JAN 2012

GUIA

COMO IR

A TAP voa três vezes por dia de Lisboa para Bruxelas. Tarifas à volta dos

100 euros por pessoa, já com taxas incluídas.

No próprio aeroporto de Bruxelas pode apanhar o comboio para

Bruges. A viagem dura cerca de uma hora e o bilhete custa 15 euros

por pessoa.

DORMIR

No Boutique Hotel Relais Bourgondisch Cruyce. Fica mesmo no centro

histórico da cidade, à beira do canal e tem apenas 16 quartos, cada um

decorado à sua maneira. É considerado um dos hotéis mais

românticos da Europa. Nas zonas comuns bem como em alguns dos

quartos estão expostas valiosas obras de arte.

Quarto duplo a partir de 210 euros.

COMER

Breydel De Coninck, considerado o melhor restaurante da cidade para

comer a especialidade local, as Moules frites - mexilhões

acompanhados de batatas fritas. Peça as à Provençal, em molho de

vinho branco com pimento e cebola. Para sobremesa o gelado caseiro

de caramelo é a cereja no topo do bolo. Preço médio por pessoa: 35

euros.

36a39:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:26 Page 38

Page 39: Tempo Livre Janeiro 2012

36a39:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:26 Page 39

Page 40: Tempo Livre Janeiro 2012
Page 41: Tempo Livre Janeiro 2012

TERRA DE MOSTEIROS, alta montanha, lagos erotas de peregrinação lendárias, o Tibete continuaa ser uma das mais belas regiões do planeta.

O Tibete era desconhecido no Ocidente até aoinício do século XVII, quando jesuítas portuguesesinstalados em Goa, entusiasmados pelos rumoresde que ali existiriam comunidades cristãs, abremcaminho a uma série de aventureiros, que apenastrês séculos depois ousam partir em busca dasriquezas dessa nação.

Em 1624, após uma dura travessia dos "desertosde neve" que separam a Índia do Tibete, o padreAntónio de Andrade, acompanhado pelo leigoManuel Marques, chega a Tsaparang, a capital doreino tibetano de Guge, na actual região de Ngari.Eles são os primeiros ocidentais a visitar o Tecto do

Mundo, na altura associado ao mítico reino doCataio. Em 1626, os padres Estêvão Cacela e JoãoCabral partem de Bengala, rumo ao planalto tibe-tano. Também eles esperam encontrar o Cataio,identificado desta vez com o Shambala dos relatosdos lamas. Eles são os primeiros europeus a chegarao Butão, ao Sikkim, ao Nepal e ao Tibete Central.

Em 1631, o padre Francisco de Azevedo visitaTsaparang, utilizando no regresso um trajecto dife-rente que o conduz a Leh, capital do reino tibetanodo Ladakh. Azevedo é o primeiro europeu apercor rer essas paragens, actual território da UniãoIndiana. Outros jesuítas se seguiriam. Gonçalo deSousa, Francisco Godinho, João de Oliveira, Alanodos Anjos, António Pereira, Manuel Dias, Antónioda Fonseca, Nuno Quaresma e Ambrósio Correia.

Se para o viajante atento, uma visita ao Tibete éuma experiência única, para um português podeser mais especial ainda. O Tibete é um dos últimosdestinos dos Descobrimentos, apesar de obrascomo 'Os Lusíadas' valorizarem uma nação demarinheiros ligada ao mar e ignorar os que se aven-turavam pelo interior dos continentes, como foi ocaso destes jesuítas que desafiaram os Himalaias. n

Joaquim Magalhães de Castro (texto e fotos)

HimalaiasNa rota dos jesuítas

portugueses

Portfólio

41a45:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:26 Page 41

Page 42: Tempo Livre Janeiro 2012

Port

fóli

o

41a45:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:27 Page 42

Page 43: Tempo Livre Janeiro 2012

41a45:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:27 Page 43

Page 44: Tempo Livre Janeiro 2012

Port

fóli

o

41a45:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:27 Page 44

Page 45: Tempo Livre Janeiro 2012

“Em 1624, após umadura travessia dos"desertos de neve" queseparam a Índia do Tibete,o padre António deAndrade, chega aTsaparang”

41a45:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:27 Page 45

Page 46: Tempo Livre Janeiro 2012

Paixões

Há dez anos trocou Lisboa por Boston com osonho de se tornar musicoterapeuta. Umaaventura que começou com uma audiçãointernacional em Paris e através da qual gan-hou uma bolsa de estudo para a Berklee

College of Music, aquela que é considerada a maior facul-dade independente de música do mundo.

Ainda completou o primeiro ano de estudos emMusicoterapia, mas o ambiente hospitalar, o ver crianças eadultos doentes, "foi muito duro " e fê-la mudar de um cursomais medicinal para outro mais musical onde, revela,"aprendi um pouco de tudo: produção, escrita de canções,harmonia e tantas outras áreas da música; mas também teveoutras áreas, como a história da arte, o que foi muito bom emuito completo para mim".

Mas o curso de Berklee havia de lhe proporcionar vanta-gens que dificilmente encontraria na Europa: "Boston tem amaior concentração de universidades, desde Harvard aoMIT, passando pela Universidade de Berklee; é um ambien-te único a nível de vivência e de convivência com pessoasde outras nacionalidades". E a música começou a fazer maissentido.

E a Adriana que aos 18 anos deixou Lisboa com o cursosuperior de flauta transversal debaixo do braço começavaagora, suavemente, a construir a carreira musical.Terminados os estudos, fez uma panóplia de trabalhos naárea da música: em bares, em concertos, em estúdios, emorquestras, todo o tipo de situações, como instrumentista ea cantar e isso, afirma, "Deu-me muita bagagem para o quesou hoje como artista e como músico".

E o primeiro álbum intitulado "Adriana" (2009) surge demúsicas que foi escrevendo nos intervalos dessas diferentesexperiências. É gravado ainda nos Estados Unidos, pelaUniversal, mas Adriana, por essa altura, volta a preferirviver deste lado do Atlântico, onde actualmente se encontra- mas viaja com alguma regularidade ao país que a acolheudurante sete anos.

O tema "Cara ou coroa" passa nas rádios e fica no ouvi-

O que é que Adriana temEm 2009 pôs muita gente a trautear "Cara ou coroa", tema que passou muito bem nas rádiose acabou por ser o empurrão que necessitava para começar a trilhar uma carreira a solo.Depois dos festivais de Verão, de pisar palcos de norte a sul, aí está Adriana a apresentar "Oque tinha de ser", o mais recente trabalho.

46 TempoLivre | JAN 2012

46e47:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:28 Page 46

Page 47: Tempo Livre Janeiro 2012

do. Daí vai um passo até ao fim do anonimato. Começa asubir aos palcos. A cantar e a tocar flauta transversal - o ins-trumento que já um dia disse ser a sua segunda voz. Mastambém sabe tocar piano e viola.

Música talismã, "Cara ou coroa" havia ainda de sernomeada nesse ano para os Globos de Ouro como melhorcanção. Do primeiro trabalho saem temas para a bandasonora da novela "Meu Amor", vencedora de um Emmy, oque lhe permite alargar a audiência.

Sobe a parada e para o agora editado "O que tinha deser" a cantora e compositora trabalhou afincadamente."Foquei-me e todos os dias de manhã acordava e ficava alihoras na escrita, como se fosse um emprego, foi tudomuito pensado".

Os críticos têm dificuldade em catalogar a música deAdriana. Há ali uma mistura feliz de jazz, bossa nova, unslaivos de música pop. Com ela cai por terra o argumento demuitos músicos de que é difícil cantar na língua lusa. Dosonze temas que compõem este segundo trabalho, apenasnum deles cedeu a escrevê-lo em inglês: "Vivi muitos anosnos EUA mas pensava sempre em português e é muito maisconfortável falar na língua portuguesa; é mais fácil escreverem inglês mas quando se consegue uma boa canção em por-tuguês - o que um dia irei conseguir (risos) - acho que sabebem".

Nos seus temas, não em todos, perpassa uma subtil crí-tica social - basta ir além do refrão de "Cara ou coroa". "Estoumuito grata pelo que tenho, mas não deixo de observar equerer saber o que se passa à minha volta; como músico éimportante o entretenimento, mas também o relacionar aarte à vida, e representar a nossa geração".

"Agora queres…?"Em modo de balanço do que já foi feito, Adriana está grataao sucesso obtido mas confessa que "foi tudo feito commuita calma; porque tenho a noção de que o meu públiconão é o das grandes massas, é uma coisa que tem de serconstruída, o que também de certa forma é o caminho daspedras, mais sólido, mais seguro".

E o caminho deste sucesso "é uma construção, é raro serde um dia para o outro". E continua: "Implica persistência,impaciência e trabalho, muito trabalho; a pessoa pode tertalento, mas se não fizer nada é pouco provável que as coi-sas andem para a frente"

Tem como objectivo último cada vez fazer melhor músi-ca e fazê-la chegar o mais longe possível. E a internaciona-lização é o próximo passo. Sem querer especificar, afirmaque gostaria de começar pela Europa. "Há interesse de algu-mas pessoas lá fora mas ainda não estão marcadas datas deconcertos, tudo tem o seu timming e é algo que tem de ser

bem feito". Ou não fosse ela uma assumida perfeccionista."Intensa e um pouco impaciente, simpática apesar de tudo",afirma por entre risos.

Na juventude estudou música clássica, ouvia músicapop-rock pela rádio. Mas, apesar de ser filha de um dosmaiores divulgadores e críticos de jazz, José Duarte, estegénero musical só o veio a aprofundar quando chegou aBerklee. Depois de terminado o curso, nos espectáculoscantava covers e era sempre jazz e bossa nova, o que lhedeu um grande conhecimento nessas áreas. "Agora nestesúltimos anos é que estou a aprofundar mais o estudo dojazz e quando peço discos ao meu pai ele diz: Agora que-res?" (risos). n

Manuela Garcia (texto), José Frade (fotos)

JAN 2012 | TempoLivre 47

46e47:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:28 Page 47

Page 48: Tempo Livre Janeiro 2012

Memória

Era o tempo da opereta "A Costu -reirinha da Sé" (8 de Janeiro de1943) que foi um êxito enorme etinha no elenco, além de MariaClara, o António Silva, Costinha,

Josefina Silva e António Vilar, que também seestreou na mesma opereta. Atentos os produtoresda Valentim de Carvalho convidaram Maria Clarapara gravar a cantiga. E, claro, o disco foi umêxito.

Rainha da RádioEm 1960, Maria Clara foi eleita Rainha da Rádiopelos leitores da revista Flama mas já antes, em1946, tinha ganho o primeiro prémio doConcurso de Cantadeiras da Emissora Nacional.Nascida em Lisboa no dia 5 de Outubro de 1923,foi no Grupo Dramático da Escola dosCombatentes que Maria Clara começou a interes-sar-se pela vida artística. Aos vinte anos, umempresário de visão decidiu lançá-la como pri-meira figura na opereta "A Costureirinha da Sé".Estreia no Porto com grande êxito e igual alvoroçoem Lisboa, no Parque Mayer. Nessa altura, a críti-ca do Diário de Notícias, Manuela de Azevedoescreveu: "A Costureirinha da Sé" é uma operetamuito bairrista dos portuenses e tem linda músi-ca. E muito especialmente tem a protagonizá-laMaria Clara, que o público, sempre fiel à juven-tude e a uns olhos bonitos, aplaudiu de pé."

E o Porto aqui tão perto…Lisboeta assumida, nascida na Travessa dasAlmas a Campo de Ourique, como é que MariaClara troca Lisboa pelo Porto? Ora por amor, natu-ralmente… Cantava ela na "Costureirinha da Sé"quando um jovem universitário se apaixonou por

Maria ClaraA “linda costureirinha”Não era costureirinha mas cantou as costureirinhas com a suavoz doce e bem timbrada.

48 TempoLivre | JAN 2012

Uma pose da artistano auge da suapopularidade

48e49:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:34 Page 48

Page 49: Tempo Livre Janeiro 2012

aqueles olhos bonitos e nunca mais arredou péda "linda costureirinha". Demorou tempo até queMaria Clara aceitasse o namoro daquele que viriaa ser o seu marido, Júlio Machado de Sousa Vaz,neto do ex-presidente da República, BernardinoMachado. A cantora e actriz casou, nesse ano de1943, e passou a viver no Porto vindo de vez emquando a Lisboa para participar em espectáculos,no teatro de revista, em programas de Rádio.Maria Clara, que na realidade se chamava Mariada Conceição Ferreira, juntou ao seu nome osapelidos Machado Vaz.

Menino sensível e ternoSeis anos depois do casamento, Maria Clara foimãe de, como alguém disse, "um menino sensívele terno" que herdou o nome do pai, Júlio. Essemenino, nascido a 16 de Outubro de 1949, é onosso conhecido psiquiatra e sexólogo JúlioMachado Vaz, que, em entrevistas várias, confes-sou que, em pequeno, ia muitas vezes com a mãepara os espectáculos e a escutava deliciado.Considerada a força motriz dafamília, Maria Clara tinha apenasa quarta classe mas decidiu ins-crever-se num instituto paraaprender línguas, e o filho Júliohabituou-se a vê-la a coser e aouvir a "Emissora Dois" tardesinteiras. O marido, professorcatedrático, gostava muito de aouvir cantar e ficava orgulhosoquando o público a aplaudia deli-rantemente. Pelo que contou ofilho, a mãe cultivava fortementea sua privacidade mas não seencolhia quando era a hora decantar e os aplausos choviam detodos os lados. Ainda é o filho que fala de MariaClara quando, depois dos programas de TV, ela oavisava: "Cuidado, eu sei como são as coisas…"ou quando lhe telefonava para criticar uma frasemenos correcta. A cantora benfiquistaJá vimos que Maria Clara era alfacinha de gema,nada e criada na zona de Campo de Ourique,com passagem por uma das SociedadesDramáticas mais emblemáticas de Lisboa, (OsCombatentes). E era também benfiquista assumi-da, benfiquismo que contagiou o pequeno Júlio e

o tornou fanático do chamadoGlorioso.

Na vida de Maria Clara háum episódio que merece sercontado: quando decidiu con-correr à Emissora Nacional denada lhe serviram os elogios detoda a Imprensa (voz clara, cris-talina, bem timbrada) porque aestação nem sequer a admitiu.O marido, homem de esquerda,que pertencia à oposição, teriasido, diziam, o obstáculo…

Mas Maria Clara não seimportou muito com o facto

porque, dizia, o que lhe interessava era ter ouvi-do da boca de Alfredo Marceneiro o maior elogio:"a menina canta muito bem, canta mesmo muitobem." E o que o Ti Alfredo dizia era sagrado.

Falei atrás da cantiga que mais a celebrizou, "ACostureirinha da Sé", mas também não haviaoutra que cantasse tão bem "Figueira da Foz","Marcha do Centenário" ou "Zé aperta o laço".

Maria Clara morreu há dois anos (1 deSetembro de 2009). Tinha 85 anos e deixou sau-dades. n

Maria João Duarte

JAN 2012 | TempoLivre 49

Capa de um dosdiscos que a artistagravou para a“Alvorada”.Ao lado, Maria Clarafotografada pelofotógrafo dos artistas,Silva Nogueira

48e49:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:34 Page 49

Page 50: Tempo Livre Janeiro 2012

50 TempoLivre | JAN 2012

Justiça e Sociedade

António Bernardo Colaço

Notícias do tipo, "agrediu o avô";"explode caixa ATM e rouba"; " nego-ceia ouro roubado"; "casal burla ido-sos no monte"; "incendiário em fla-

grante"; "fez justiça por suas mãos"; "esfaqueadaem rixa no café", "pai viola filha", "político con-denado por corrupção", "furtada por esticão earrastada"; "a maior apreensão de droga", cobremos jornais e a TV. E aí está o quadro - modelo defactos geradores de insegurança.

Apesar de promessas, as autoridades res-ponsáveis não alcançam melhorar os modelos desegurança do cidadão. Esta ineficácia tem noentanto servido ao vulgo para advogar soluçõescomo, a justiça privada ou confiar a segurançainterna aos militares ou ainda a reposição depena de morte, sem se medirem as consequên-cias nefastas que daqui podem decorrer. Não seacredita nem na justiça nem na polícia.

A segurança não tem nem pode ter um alcan-ce absoluto. Tê-lo-ia sim, se o homem tivesse umcompleto domínio sobre as forças da natureza esobre as acções do homem malfeitor. Daí, a ges-tação do sentimento de insegurança com níveisvariáveis consoante a fonte donde dimanam. Sãoos vulcões; o arsenal de armas nucleares dosdiversos países; o ódio religioso e fundamentalis-mo; a guerra; a fome e a pobreza; o despedimen-to descontrolado e trabalhadores com salário ematraso.

É a crise com o ror das medidas restritivas doOE/2012, que ninguém sabe até quando ou atéonde. Há finalmente, a criminalidade, violadoradirecta dos valores sociais, valores do Estado e

Por uma segurança sustentável

Segurança que se pede; insegurançaque se sente; segurança que sepromete; insegurança que vitima.Até onde irá isto parar numa alturade crise e instabilidade social?

que o Código Penal prevê. E é esta última a maispreocupante por afectar no imediato o nosso quo-tidiano, a tranquilidade na casa e na rua e umavivência social calma.

É o caso da insegurança objectiva quando apessoa é vítima directa do facto e nada há a fazer.O problema fulcral é todavia o lado subjectivoque o sentimento de insegurança comporta, o"estado de espírito" constante, relativo à crimina-lidade, que nos vai corroendo intimamente, algopotenciado pelos órgãos noticiosos e a formacomo o fazem; daí surgindo a expectativa - quan-do serei a próxima vítima?

Esta indagação ocorre, não quanto aos factoscriminosos em si, mas fundamentalmente quan-do se sente o alheamento, a ineficácia e a impro-dutividade das instituições responsáveis - oEstado, o legislador, a justiça e a polícia - em asse-gurar o mínimo sustentável de segurança paragerar a medida de confiança necessária em comoa tranquilidade está salvaguardada.

Ficam aqui alguns correctores para que ocidadão entenda melhor a sua protecção emsociedade:

- se "o polícia prende e o juiz solta" é porque ojuiz de instrução não dispõe de uma lei que per-mita a prisão preventiva ou internamento emestabelecimento educacional adequado (tratan-do-se de menor). Ora, cabe ao Governo ouParlamento alterar a lei processual penal que per-mitam a não - soltura;

- imediata implementação do modelo correctode policiamento de proximidade, como medidainstitucional de defesa social preventiva, por Leida Assembleia da República, prevendo a efectivaparticipação dos organismos representativos dasociedade civil com a participação da estruturapolicial.

- executoriedade às resoluções dos ConselhosMunicipais de Segurança.

- implementação de policiamento de giro oupresencial também nocturno e abertura de postosde atendimento permanentes.

Voltaremos ao assunto.n

50a55_OV_CA:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:35 Page 50

Page 51: Tempo Livre Janeiro 2012
Page 52: Tempo Livre Janeiro 2012

Olho Vivo

Para onde fugir

Chama-se Kepler 22B o novo planetadescoberto pelo observatório espacial Kepler,a 600 anos-luz do sistema solar da Terra. Émaior que o nosso, gira em torno de umaestrela um pouco menor que o Sol,mas está numa zona de confortoem órbita que leva osastrónomos a calcular quetem condições paraalbergar vida. Este não é oprimeiro planetaconsiderado habitável -há pelo menos mais dois- mas é o primeiro a serapontado pela NASAcomo reunindo condiçõespara a existência de vida. Aviagem é um pouco demorada,mas se ficarmos sem sítio ondeviver, dá jeito ter sítio para onde fugir.

A velha Soja

O homem domesticoudefinitivamente a soja há 3mil anos, na China, masuma equipa dearqueólogos daUniversidade de Oregondescobriu provas de que oalimento foi adoptadomuito antes por outrasculturas. Uma versão dasoja com 9500 anos, jádiferente da espécieselvagem, foi desenterradanuma ilha japonesa. Não étão grande como a quecomemos actualmente,mas denota algumaselecção das sementes.

Desculpascriativas

As pessoas mais criativastêm tendência a esticar oslimites éticos, inventandojustificações maisplausíveis para os seusmaus comportamentos.Uma maior criatividadeajuda os indivíduos aresolver tarefas difíceis emvários domínios, mastambém contribui paraencontrar desculpas paraos actos indevidos. Estaconclusão foi publicada narevista da Associação dePsicólogos Americanos e éfruto de um estudo decientistas sociais daUniversidade de Harvard.

O homem não pensa só em sexo

Os homens pensam mais em sexo do que asmulheres, mas um novo estudo sugere que tambémpensam mais que a mulher noutras necessidadesbiológicas, como a comida e o sono. O estudo daUniversidade do Ohio também desmente o mito deque o homem pensa em sexo de 7 em 7 segundos:tais pensamentos ocorrem em média 19 vezes pordia, contra 10 da mulher. O homem também pensa18 vezes em comer e 11 vezes em dormir, contra 15vezes e 9, respectivamente, por parte delas.

52 TempoLivre | JAN 2012

Mar Ressuscitado

O Mar Morto, além de estar 425 metros abaixo do nível... do mar, temuma taxa de sal da ordem dos 34 por cento. A extrema salinidade fez oscientistas pensar que seria impossível a completa evaporação das suaságuas. Ainda assim, escavações no leito, realizadas nos últimos dez anospor uma equipa israelita, provam que há 120 mil anos o Mar Morto seesvaziou completamente. Depois, com o tempo, terá ressuscitado.

50a55_OV_CA:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:36 Page 52

Page 53: Tempo Livre Janeiro 2012

António Costa Santos ( textos) André Letria ( i lustrações)

Primeiro cão viveu na Ásia

Cientistas suecos estudaram o ADN dos cães de todo o mundo e concluíramque os primeiros lobos domesticados viveram a sul do rio Iang-tsé, no sul da

China ou no sudeste asiático, e não no Médio Oriente, como até agora seacreditava. Os estudos anteriores que apontavam para a origem do melhor

amigo do homem nas terras da Palestina não incluíam dados do sul da Ásia.Bastou estudar os genes dos actuais cães chineses para corrigir a história.

Foi você que pediu um mamute?

Cientistas russos e japoneses preparam-se para clonar um mamute lanudo,espécie extinta há 10 mil anos, a partir das células de um pedaço de animal

encontrado em bom estado de conservação nopermafrost (solo congelado) da Sibéria. Oaquecimento global está a fazer derreteralgumas camadas do solo siberiano e estão a

aparecer ossos de mamute aindacom medula, de onde são extraídascélulas que os cientistas vãoimplantar em óvulos de elefantes-

fêmeas. Dentro de cinco anos, teremosmamutes, dizem os especialistas. Para quê,

não se sabe.

Olhosinvernosos

Uma equipa deespecialistas em belezaobservou os olhos decinco mil mulheres nasdiferentes estações do anoe concluiu que as olheirassão mais frequentes noInverno. A mudança éuma ilusão de óptica. Afalta de luz solar torna apele mais pálida eenfatiza os papos sob osolhos. A falta de vitaminaD, gerada pelo sol, econsequente diminuiçãoda serotonina, que dá umar "saudável" aos rostos,aumenta a fadiga e fazdescair a pele.

A culpaé do marido

As "bocas" dos homensrelativamente àcapacidade das mulherespara conduzirem umautomóvel como deve sersão as culpadas dosdefeitos de condução dequem as ouve. Um estudodas autoridades detrânsito britânicas revelaque o aumento daautoconfiança femininaao volante faz crescer ahabilidade das mulherespara guiar, estacionar eorientar-se na conduçãode um carro. Tudo o quediminua esseconvencimento de quesão capazes contribuipara que façamdisparates.

Spinops sternbergorum

Chama-se Spinops sternbergorum onovo dinossauro portador de três paresde cornos no crânio, além de um, àrinoceronte, no nariz, descoberto porestudiosos londrinos. Os fósseis de umaespécie desconhecida até hoje,aparentada com o triceratops, foramdesenterrados há 90 anos, em Alberta,Canadá, mas os ossos foram parar aosarmazéns do Museu Nacional de HistóriaNatural britânico e aí ficaram esquecidos quase cem anos. O animal, apesar dasua feia aparência de grande predador, era herbívoro, coitado.

JAN 2012 | TempoLivre 53

50a55_OV_CA:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:36 Page 53

Page 54: Tempo Livre Janeiro 2012

Se as flores masculinas e femininas daaveleira ("Corylus Avellana L.") abris-sem todas ao mesmo tempo haveriauma tal produção de avelãs que seria

preciso exportá-las para outros planetas. É queuma só inflorescência masculina (amentilho)pode libertar 4 milhões de grãos de pólen! Odesencontro com a discreta floração feminina(glomérulos) que se lhe pode antecipar no tempo(espécie protogínica) ou atrasar (protândrica) épois mais uma astúcia da natureza para moderaras ambições expansionistas desta "Betulaceae",

A serpente ao colo

"Ser cabeça de avelã" significa nãoter juízo, estranha afirmaçãoassociada à árvore da sabedoria.

A Casa na árvore

Susana Neves

ou quem sabe, resolver os seus problemas "con-jugais".

Existente no planeta desde o Terciário, inte-grada na alimentação dos povos do Mesolítico(na Escócia foram encontrados vestígios deavelãs torradas que datam de cerca de 7720 a.c.),a aveleira, avelaneira ou avelanzeira ensinou aquem a quer "produzir" a arte de combinar dife-rentes espécies acasaláveis. Além disso, confor-me nos explicou António Costa, 72 anos, resi-dente no concelho de Santa Comba Dão, emViseu (distrito onde se produz a maior quantida-de de avelãs do país), no aveleiral, avelal ou ave-lanal é preciso conhecer as direcções do ventoque há de sacudir os amentilhos pendentes em"cachos", transportando na rota certa as nuvensde pólen fertilizante.

Apreciadora de solos húmidos, susceptível aoataque de ácaros e "tortulhos" (cogumelos), a ave-leira de pomar - podemos observá-la na Casa daFonte, em Santa Comba Dão - reclama, em todosos momentos do seu ciclo de crescimento e pro-dução, o saber e a paciência de quem a trata. Aténa apanha do fruto, a avelaneira despista o apres-sado e o curioso. "Um curioso não sabe apanharavelãs, porque não distingue as duvidosas das deboa qualidade. E o comprador quer qualidade",explica António Costa, atribuindo ao processomoroso da apanha, feita a partir do chão ("a árvo-re não pode ser varejada") e ao baixo preço doquilo de avelãs os motivos para que em Portugaleste fruto seco, de sabor agradável e altamentecalórico ("é o mais rico dos frutos oleaginosos",defende Michel Roussillat, "Le Noisetier", ActesSud)) não supere a produção da castanha.Quanto ao não aproveitamento da acção adstrin-gente e venotónica do óleo das folhas de avelei-ra os motivos parecem resultar da ignorância dosseus efeitos terapêuticos.

Debaixo dos nossos pés, as folhas caídas daaveleira, "estrume biológico", fazem um tapete dediferentes tons de castanho onde ainda é possívellocalizar um amentilho, uma avelã, solta ouainda no invólucro foliáceo recortado, onde sedesenvolveu. Em Dezembro, altura da nossa visi-ta a Viseu, as árvores despidas já apresentavam

54 TempoLivre | JAN 2012

50a55_OV_CA:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:36 Page 54

Page 55: Tempo Livre Janeiro 2012

Fotos: Susana Neves

os primeiros amentilhos mas a grande eclosão dopólen só acontece em Março e a apanha faz-se "apartir da segunda semana de Agosto". "É precisolavá-las, porque o rato camponês também lhestoca, e junto ao tronco é possível muitas vezesencontrar apenas um monte de cascas", explicaAntónio Costa, cujo ar saudável é uma boa garan-tia de conhecimento: "Um punhado de avelãs emjejum ajuda a descarregar os rins, mas não sepode ultrapassar essa quantidade". E a senhoraIdalécia que nos acompanhou ao Avelal da Casada Fonte, recorda a utilização da avelã "no docede abóbora e no bolo rei"; mais tarde ficaremos asaber que a avelã congelada, com casca, duramais do que um ano, sem azedar. Mas nenhumdos nossos simpáticos interlocutores nos fala doritual de deitar avelãs sobre a cabeça do noivodurante a boda (Ucrânia) ou de as espalhar juntoà cama de núpcias promovendo a fertilidade docasal, um costume frequente em vários paíseseuropeus.

E no entanto, entre nós, cantou-se e dançou-sea "Bailia" ou "Bailada das Avelaneiras", da autoriado clérigo e trovador espanhol medieval Aires

Nunes, maravilhosamente interpretada porZeca Afonso, onde se associa a floração daárvore à consumação do desejo amoroso.Diz a pícara cantiga: "Por Deus, ai amigas,mentr'al non fazemos,/so aqueste ramo fro-lido bailemos;/e quen ben parecer, comonós parecemos,/se amigo amar,/so aquesteramo sol que nós bailemos, verrá bailar".

Símbolo do fecundo e erótico entendi-mento entre homem e mulher, algumas len-das sobre a aveleira, associam-na à reconci-liação de forças desavindas ou ameaçado-ras, como as serpentes pacificadas porMercúrio (o mensageiro dos deuses), ou no casoda cultura celta identificam-na à sabedoria inte-rior e à inspiração artística.

Entre nós, da aveleira não se tira a pequenavara bifurcada que em França permitia descobrirlinhas de água subterrâneas, minas, objectos per-didos ou vítimas de assassínio. Com ela não sefaz nem magia branca nem feitiçaria e, talvez porpreconceito contra a fertilidade descuidada, diz-se que "ser cabeça de avelã" é sinónimo de não terjuízo. n

JAN 2012 | TempoLivre 55

50a55_OV_CA:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:36 Page 55

Page 56: Tempo Livre Janeiro 2012
Page 57: Tempo Livre Janeiro 2012

l CONSUMO Que fazer quando nos for proposto um serviço sem emissão

de factura, acenado com um preço mais baixo? Pág. 58 l LIVRO ABERTO

Em destaque "As Grandes Batalhas da História" (Clube do Autor), que

percorre um largo tempo histórico que vai de Kadesh e Maratona aos

nossos dias. Pág. 60 l ARTES O Museu de Arte Antiga apresenta os séculos

áureos da escultura espanhola com a exposição "Cuerpos de Dolor". Pág.

62l MÚSICAS Luís Represas e João Gil celebram 35 anos de carreira com

um album comum. Registo ainda dos novos álbuns dos "Lady

Antebellum" e "The Kooks". Pág. 64 l NO PALCO Atenção às peças em

cena, em Lisboa, no TNDMII e na Barraca e no Teatro da Cerca de São

Bernardo, em Coimbra. Pág. 66 l CINEMA EM CASA "Super 8" e "Planeta

dos Macacos: a Origem", duas sugestões de ficção

para abertura de um ano de real e rigorosa

austeridade. Pág. 68 l GRANDE ECRÃ Em Janeiro, há

um punhado de importantes estreias com um

denominador comum: os comportamentos e

motivações do espírito humano. Pág. 69 l TEMPO INFORMÁTICO

Cuidado: muitas das boxes descodificadoras da TV digital que invadiram

o mercado são de linha branca ou marca desconhecida. Pág. 70 l AO

VOLANTE Quase meio século depois, a Renault faz reviver o mítico

Gordini, lançando três modelos da brilhante série: o Clio, o Twingo e o

Wind. Pág. 71 l SAÚDE A flatulência, em si, não constitui uma doença, mas

diminui a qualidade de vida. Regras a ter em conta. Pág. 72 l PALAVRAS

DA LEI As árvores do nosso quintal podem incomodar os vizinhos…

Uma situação prevista no Código Civil português. Pág. 73

BOAVIDA

66

JAN 2012 | TempoLivre 57

57a73_BV233:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:44 Page 57

Page 58: Tempo Livre Janeiro 2012

Boavida|Consumo

Carlos Barbosa de Oliveira

São sobejamente conhecidos casos de prestadoresde serviços que propõem aos seus clientes doispreços para prestar determinado serviço. Adiferença reside na emissão da factura.

Muitos consumidores, pensando apenas na possibili-dade de poupar os 21% do IVA, aceitam de imediato aproposta e dispensam a factura. Acontece, porém, queao fazê-lo não só estão a contribuir para ludibriar oEstado (não pagam a sua quota parte do IVA e permitemao prestador de serviços fugir ao pagamento do impostocorrespondente ao serviço prestado) como também estãoa ludibriar-se a eles próprios, pois se alguma coisa corrermal, ficam impossibilitados de accionar a garantia.

O caso que a seguir se descreve (verídico...) é umbom exemplo. A consumidora foi na "canção deembalar" e agora vê-se fortemente penalizada.

Em Setembro de 2010, Vera (nome fictício) vendeu asua casa e contratou uma empresa de mudanças paraembalar e guardar nos seus armazéns um conjunto demóveis e utensílios, até ter pronta a casa que entretantoadquirira. Pelo transporte pagou 800€ e pelo armazena-mento acordou pagar uma verba mensal de 200€.

Em Abril de 2011, pronta a nova casa, Vera telefonoupara a empresa, solicitando que lhe entregassem os seushaveres na nova morada. A empresa fez a entrega nadata aprazada, mas nesse mesmo dia começaram as sur-presas: ao montar os móveis, Vera repara no seu mauestado de conservação (pretos de humidade, madeirasinchadas de água, o que por exemplo a impediu de mon-tar a cama, pois as peças não encaixavam).

Na manhã do dia seguinte telefona para a empresa areclamar, tendo obtido uma resposta que considerou sur-realista: " Lamentamos o sucedido, mas não fizemos depropósito!".

Vera insistiu que tinham de resolver o problema eindemnizá-la, mas do lado de lá do fio apenas recebeu avaga promessa de que iriam tentar solucionar o proble-ma no prazo de três dias. Entretanto, começa a abriralguns caixotes e constata que os prejuízos são aindamaiores. Livros, fotografias, documentos pessoais, etc.,

estavam irreconhecíveis, por força da água que entrarapara os caixotes. No quarto, formara-se uma poça deágua entretanto derramada do interior do colchão. Aosprejuízos materiais - avaliados em mais de cinco mileuros - juntavam-se agora danos morais irreparáveis,fruto dos danos causados em alguns bens cujo valorafectivo não tem preço. Havia ainda algumas peças emfalta, cujo paradeiro a empresa desconhece.

Com ou sem factura?Quando lhe propuserem a prestação de um serviço sem emissão de factura, acenando-lhe com umpreço mais baixo, recuse. Se aceitar, não só está a pactuar com uma fraude, como a correr riscos quelhe podem provocar, mais tarde, alguns dissabores. Como no caso que aqui se relata.

58 TempoLivre | JAN 2012 ANDRÉ LETRIA

57a73_BV233:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:44 Page 58

Page 59: Tempo Livre Janeiro 2012

Ao fim de três dias, a funcionária da empresa (o ge -rente recusou-se sempre a falar com a consumidora) apre-senta uma solução. Como prova de boa vontade, a empre-sa manifestava-se disponível para fazer a participação dosdanos à seguradora (embora a lei não exija que estasempresas tenham seguro!), desde que Vera procedesse aopagamento do IVA, retribuindo a empresa com o seudever de emitir as facturas. A consumidora não gostou da

proposta e decidiu recorrer aos serviços de um advogado. Independentemente do desfecho que esta situação

venha a conhecer, vale a pena reter o seguinte:- A consumidora, lesada pelo mau serviço prestado

pela empresa, foi parcialmente culpada por esta situaçãopois, ao aceitar não pagar o IVA, sabia que punha emrisco os seus direitos, em caso de reclamação. Por outrolado lesou o Estado, ao eximir-se da sua obrigação depagar IVA e exigir factura dos serviços prestados, pas-sando assim de vítima a ré;

- O dinheiro que poupou no IVA vai certamentegastá-lo com o advogado que contratou e, mesmo assim,sem a certeza de ser ressarcida integralmente dos seusprejuízos;

- A empresa também subtraiu ao Estado o pagamentodo IRC que era obrigada a efectuar. Mas como as coisascorreram mal, deve ter concluído que mais lhe valia exi-gir à consumidora o pagamento do IVA, e pagar o IRC,remetendo a obrigação de indemnizar para a seguradora;

- No meio de todo este imbróglio, pergunta-se: oincumprimento das obrigações fiscais de ambas aspartes (no caso de tudo ter corrido bem...) beneficiaquem?

Parece-me inequívoco que as empresas são as princi-pais beneficiadas e os prejudicados serão sempre os con-sumidores que, fruto da fuga ao fisco daquelas enti-dades, vão ver os impostos agravados pelo Estado, queprecisa de obter receitas.

Para o consumidor pode parecer benéfica a soluçãode não pagar IVA mas, se antes de aceitar estas pro-postas pensasse que haverá sempre outros consumidoresa fazer o mesmo e que as empresas, com esta atitude,estão a auferir lucros vultosos e indevidos, chegaria ra -pidamente à conclusão de que irá pagar, por via doagravamento de impostos sobre os rendimentos do tra-balho (ou outros...), quantias ainda mais avultadas doque aquelas que ufanamente se eximiu a pagar em deter-minado momento.

Exigir factura é não só um dever cívico, mas tambémuma questão de bom senso. Por isso, quando lhe pro-puserem situações destas, saiba sempre dizer não. E senum estabelecimento comercial (nos restaurantes aprática é vulgar) lhe perguntarem "deseja factura?",aproveite para lhes dar uma reprimenda, dizendo que aentrega da factura não é algo que dependa da vontadedo consumidor, mas sim uma obrigação de quem prestaum serviço. Logo, não é preciso perguntar! n

JAN 2012 | TempoLivre 59

57a73_BV233:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:44 Page 59

Page 60: Tempo Livre Janeiro 2012

Boavida|Livro Aberto

Da história das batalhase dos homens à perenidadedos temas clássicos

marca para sempre quem se aventura a lê-lo. E essa éuma aventura do espírito e do conhecimento humanosao seu nível mais profundo.

SOBRE UM OUTRO TEMPO também marcado por guerras eoutros conflitos que moldaram a história do Ocidente, éo excelente ensaio histórico "1494 – o Papa, os Reis e oMercenário"(Casa das Letras), de Stephen R. Brown, queexplica em que condições e com que objectivos foi assi-nado o Tratado de Tordesilhas, numa época em quePortugal e Espanha, com os oceanos por diante, reparti-am entre si o controlo do mundo conhecido e do prestesa descobrir, com todos os interesses de ordem política,material e geoestratégica que se encontravam em jogono final do século XV. Um livro fascinante sobre umtempo há muito ultrapassado na História da Europa edo mundo.

EM MATÉRIA DE FICÇÃO narrativa recente e de qualidade,os destaques são vários, começando pelo excelente"1Q84" (Casa das Letras), do consagrado escritor japonêsHaruki Murakami, autor de culto para muitos leitoresportugueses. Destaque, como sempre, para o novoromance de Mário de Carvalho "Quando o Diabo Reza"-,agora com a chancela da Tinta da China, e invariavel-mente com o brilho de uma escrita única no panoramada literatura portuguesa contemporânea, para"Anatomia dos Mártires"(D. Quixote), o novo romancede João Tordo, que tem como tema o assassinato deCatarina Eufémia, figura icónica da resistência à ditadu-ra e sobretudo da história do PCP, e para as reedições de"Voo Nocturno e Correio do Sul" (Casa das Letras), tex-tos poderosos de Antoine de Saint-Exupéry, juntos numsó volume, enquanto se aguarda a reedição da obra-prima "Cidadela", do mesmo autor, de "Os TrêsMosqueteiros" (Publicações Europa-América), de

José Jorge Letria

Hoje, um país como a Alemanha nem sequerprecisa do horror destrutivo de uma guerrapara impor a sua vontade e os seus interessesao resto da Europa, coisa que Hitler e o nazis-

mo quiseram fazer e temporariamente conseguiramatravés de invasões, destruições massivas e genocídios.Hoje, quem comanda as verdadeiras guerras não são osgenerais ou o medo do nuclear, mas sim o quartel-gene -ral dos mercados e das sinistras agências de "rating", quejá conseguiram transformar o projecto da UniãoEuropeia numa caricatura débil do sonho que esteve nasua origem.

Até por isso, é importante conhecer a história dasgrandes batalhas que moldaram a história dahumanidade. Daí que o destaque de abertura vá para "AsGrandes Batalhas da História" (Clube do Autor), que per-corre um largo tempo histórico que vai de Kadesh eMaratona até à Tempestade no Deserto. Um livro opor-tuno e muito bem documentado que nos faz encarar estaevidência: as duas guerras mundiais do século XX tiver-am origem na Europa e nada nem ninguém nos garanteque, com distintas configurações militares e sociais, opesadelo não possa renascer um dia destes.

TENDO A II GUERRA MUNDIAL como pano de fundo, "Vidae Destino" (D. Quixote), de Vassili Grossman é uma dasgrandes narrativas mundiais do século, por alguns com-parada, no fôlego, na intensidade dramática e napujança narrativa, ao mais do que clássico "Guerra ePaz", de Leon Toltoi. Estamos em presença de uma obrafundamental em que se misturam o conhecimento danatureza e da condição humana com a vivência do hor-ror que sempre caracteriza tempos de excepção e rup-tura. Um livro que, falando dos homens e da guerra,

Não é possível compreender a história dos povos sem se compreender o modo como foram afectados,condicionados ou favorecidos pelas guerras em que estiveram envolvidos.

60 TempoLivre | JAN 2012

57a73_BV233:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:44 Page 60

Page 61: Tempo Livre Janeiro 2012

Alexandre Dumas, para o romance "Ave de Mau Agoiro"(D. Quixote), de Camilla Lackberg, e ainda, com amesma chancela, para a reedição do clássico de MichelTounier "Gaspar, Belchior & Baltasar".

DESTAQUE AINDA para "Os Últimos Dias de PôncioPilatos" (Casa das Letras), narrativa histórica de Paula

de Sousa Lima, e para o lançamento, com a chancela daÁtica, do inédito do sempre surpreendente e inesgotávelFernando Pessoa, com o título "A Demonstração doIndemonstrável".

Muitas e diversificadas leituras, mesmo com a criseem fundo e a incerteza do futuro teimosamente pre-sente. n

57a73_BV233:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:44 Page 61

Page 62: Tempo Livre Janeiro 2012

Boavida|Artes

Rodrigues Vaz

Pela primeira vez, Portugal tem o privilégio deacolher mais de três dezenas de esculturas degrandes mestres espanhóis - desde o declinarda Idade Média ao ocaso do Período Barroco -,

como Berruguete, Juan de Juni, Pompeo Leoni, GregorioFernández, Alonso Cano, Pedro de Mena, Pedro de Sierraou Salzillo.

Sem dúvida que se trata de uma exposição inquietante -ascetas, mártires, virgens, Cristos crucificados - capaz deprovocar no visitante uma impressão que ultrapassa asfronteiras da estética, todavia inquestionável, numa impor-tante chamada de atenção para a relevância do acervo destemuseu espanhol.

A MULHER AFRICANA DE LÍVIO DE MORAIS

De certo modo dentro do sagrado, se bem que dedicada

especificamente à mulher africana como mãe e como luta-dora, pode ser considerada igualmente a exposição que oartista plástico moçambicano Lívio de Morais apresenta atéfins de Janeiro na novel Galeria Apolo 70, em Lisboa.

Na linha de Malangatana, que soube aliar com grandeeficácia e expressividade o vigor dos muralistas mexicanosàs principais linhas de força da iconografia africana, Líviode Morais realça com invulgar criatividade a imagem damulher africana como protagonista da nova África que estáa despontar para um futuro cheio ainda de nuvens mascom muitas esperanças.

A VANGUARDA VEM DE ESPANHA

Neste começo de ano em tempo inevitável de crise, é, tal-vez por isto mesmo, a altura de olhar (e encarar) o futuro.

Tal como a exposição "Cuerpos de Dolor" é igualmentede Espanha que vêm os sinais das vanguardas actuais. Ainstalação artística que a artista espanhola Mercedes Lara

Da Arte Sacraàs últimas vanguardasAbarcando os séculos áureos da escultura espanhola, a exposição "Cuerpos de Dolor. A imagem dosagrado na escultura espanhola (1500-1750)" constitui uma importante amostra, a vários títulos, dasimportantes colecções do Museu Nacional de Escultura (Valhadolid, Espanha), conhecido como o"Prado da Escultura".

62 TempoLivre | JAN 2012

57a73_BV233:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 14:46 Page 62

Page 63: Tempo Livre Janeiro 2012

apresenta, até 5 de Fevereiro próximo, no Centro Culturalde Cascais, a primeira exposição desta artista espanhola emPortugal, vale bem uma deslocação pelo que significa comodetecção dos últimos sinais da modernidade artística anível mundial.

Partindo de uma afirmação de Einstein, de que "Oespaço está a ser retorcido e curvado continuamente pelamatéria e pela energia que se movem dentro dele, e o tempoflui a diferentes velocidades para diferentes observadores",Mercedes Lara confronta-nos com uma mostra queintervém sobre a sala de exposição não só provocando alte-rações de luz, tornando assim diferente tanto o tempocomo o espaço, mas também o conceito de abordagem àobra, onde cada uma das peças está dentro de uma caixa,como se de uma caverna se tratasse, na qual foi feito umorifício através do qual se vê o que lá se passa.

O outro artista espanhol que agora nos visita é JavierLeón, que apresenta na Paços Galeria Municipal, em TorresVedras, a exposição "Urdidura e Silêncio", dando especial-mente corpo a processos de concentração físico-mental,que resultam em representações de grande valor decorati-vo e de acutilante intervenção. Recorrendo especialmente aexercícios de concentração próximos da meditação, o artis-ta utiliza com eficácia a repetição de elementos plásticosbásicos, numa tentativa de fugir de si mesmo, uma manei-ra de transcender o seu "eu", n

JAN 2012 | TempoLivre 63

Javier León apresenta na Paços GaleriaMunicipal, em Torres Vedras, a exposição"Urdidura e Silêncio"

Em baixo, desenho de Lívio de Morais emexposição até fins de Janeiro na novel GaleriaApolo 70, em Lisboa

Na página da esquerda, “Virgem das Dores”.Mais de três dezenas de esculturas de grandesmestres espanhóis – desde o declinar da IdadeMédia ao ocaso do Período Barroco – expostaspela primeira vez em Portugal

57a73_BV233:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:44 Page 63

Page 64: Tempo Livre Janeiro 2012

"Luís Represas e João Gil" é o título genérico do trabalho discográfico com o qual os dois músicos eintérpretes estão a celebrar 35 anos de carreira. Novidade são também os novos álbuns dos "LadyAntebellum" e dos "The Kooks".

Vítor Ribeiro

Membros fundadores dos "Trovante", nos idosde 1976, Represas e Gil juntaram-se agora,pela primeira vez em duo desde a extinçãodo grupo no início da década de 90, para

nos apresentarem treze temas originais, com a marcaindelével de uma cumplicidade construída no passado, aolongo de muitos anos de trabalho conjunto.

Papel de relevo no álbum em questão tem ainda oletrista e compositor João Monge (ex-"Ala dos Namorados"),que com João Gil subscreve cinco dos treze temas.

O bom gosto e a simplicidade caracterizam este traba -lho discográfico de dois autores incontornáveis da músicaportuguesa produzida nas últimas décadas e em fase degrande maturidade criativa. Represas e Gil fazem parte doque resta do núcleo duro de compositores e intérpretesportugueses que melhor cantam o nosso quotidiano.

"Luís Represas e João Gil" merecem a nossa melhoratenção. E, já agora, parabéns pelos 35 anos de carreira. Oalbum está disponível nas seguintes edições: "Edição

Boavida|Músicas

Standard", com 13 temas; "Edição Especial Limitada"(digipack) na qual, ao alinhamento da edição standard,junta-se um DVD-extra com um documentário homónimo,realizado por Aurélio Vasques, que inclui um "making-of"da gravação do disco, entrevista e cinco videoclips; e"Edição Digital".

“LADY ANTEBELLUM”

Os "Lady Antebellum" lançaram um novo álbum, com otítulo genérico "OwnThe Night", na sequên-cia da recenteatribuição de mais umGramy Award.

Este trabalhodiscográfico integra 13canções, a última dasquais na modalidade deum "bonus track", com

uma versão acústica do mais celebrado tema do grupo,"Need You Now". Os "Lady Antebellum" constiuiram-seem 2006, em Nashville, EUA, e integram Charles Kelley,Dave Haywood e Hillary Scott.

Influenciados, no início, pela música country, os "LadyAntebellum" acabaram por criar um estilo próprio, bempersonalizado, no concorrido mundo da pop.

“THE KOOKS”

A banda britânica "The Kooks" lançou o seu terceiroálbum, com o título"Junk of The Heart". Nonovo CD são-nos apre-sentados 12 temas destegrupo surgido emBrighton, em 2004, noâmbito do chamado"indie rock", rock inde-pendente, cujos autores

tentam evitar os circuitos dominantes de edição e dis-tribuição discográfica. n

“Luís Represas e João Gil”: 35anos de carreira e cumplicidade

64 TempoLivre | JAN 2012

57a73_BV233:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:44 Page 64

Page 65: Tempo Livre Janeiro 2012
Page 66: Tempo Livre Janeiro 2012

Boavida|No Palco

Maria Mesquita

Escreveu Jorge Luis Borges: "Uma lenda não é umainvenção arbitrária mas sim uma deformação ouuma ampliação da realidade". Para AlexandreHerculano, este seu texto, agora transformado

para os palcos do Teatro Dona Maria II, poderia ser consi -derado "uma crónica-poema, lenda, ou que quer que seja"e, na realidade, tudo tem de místico para se deixar enrolarnas lendas que povoam o imaginário Lusitano.

Ano de 749 D.C., na Península Ibérica. Os Visigodos,após um período de adaptação aos costumes romanos, tor-nam-se "bárbaros" refinados. Detêm o Poder político e(a)Moral da Península. Mas tudo tem um fim. A Sul, forçasdo Norte de África começam a sua conquista, no que vaiculminar no califado do Al-Andaluz. Mais a norte da penín-sula, as gentes da Galiza e Astúrias não se deixam intimidar.

Eurico torna-se monge por obrigação, mas a suadevoção é para Hermengarda, amor impossível. Contudo,após a queda do reinado Godo, Eurico retorna às armas, asua sede de matança é mais poderosa que ele e, à suavolta, apenas encontra destruição. Uma nova ordemimpôs-se. Julga, então, poder voltar a ser feliz com aamada. Surge novo entrave e, ao desistir de Hermengarda,abraça a Morte em mais batalhas travadas contra o povodito invasor. Hermengarda enlouquece.

A personagem de Eurico pode ser apelidada de pes-simista, mas também de um profundo sentido patriótico.Não se tendo deixado abalar por um Amor que seria

sacrílego, optou pela exaltação patriótica que, resultará nofuturo Reino de Portugal. Uma história, narrada, porém,só por mulheres.

FICHA TÉCNICA: A partir do romance de: Alexandre

Herculano; Dramaturgia e versão cénica: Ana Vaz, Cristina

Carvalhal, Graça P. Corrêa, Inês Rosado, Pedro Filipe Marques

e Sara Carinhas. Desenho de luz: José Álvaro Correia;

Coordenação de projecto: Cristina Carvalhal.Com: Cristina

Carvalhal, Inês Rosado, Sara Carinhas; Co-produção: TNDM II

e Causas Comuns

RUMOR

"Rumor", peça escrita por Mário de Carvalho, está já emcena no palco d'A Barraca até fins de Fevereiro. Para rir,mas acima de tudo, para reflectir sobre a nossa própriacondição enquanto membros de uma sociedade.

Embora situada durante a queda do Império Romano,"Rumor" tem muito a ver com o nosso próprio quotidiano,com as nossas atitudes, com a nossa forma de ser. É asegunda vez que Mário de Carvalho trabalha com a com-panhia de Hélder Costa e Maria do Céu Guerra e, uma vezmais, com um texto irónico e incomodativo. Toda a tramagira em torno de um grupo de personagens que vãomudando de atitude e pensamento à medida que vãoouvindo rumores sobre o que se passa politicamente emseu redor. Não há melhor arma do que o Medo que sepossa soltar sobre uma comunidade, seja grande ou peque-na e é assim que a política muitas vezes funciona ou vaiganhando terreno pelo declínio da moralidade. A cor-rupção é então explorada até à exaustão, pois neste caso,não se baseia só em favores financeiros ou de cargos políti-cos. A corrupção é a humana, em que pessoas adultas,supostamente confiantes no que são e sabem, acabam porsucumbir a outros ideais que não os seus… Muito actual!

FICHA TÉCNICA: Texto: Mário de Carvalho; Encenação: Maria

do Céu Guerra; Direcção Plástica: José Costa Reis; Elenco:

João D'Avila, Jorge Gomes Ribeiro, Paula Guedes, Rita

Fernandes, Ruben Garcia, Sérgio Moras e Vânia Naia;

Assistência de Encenação: Sérgio Moras; Fotografias: MEF -

Movimento de Expressão Fotográfica

Do amor e da morteCristina Carvalhal pegou num dos textos mais emblemáticos de Alexandre Herculano, "Eurico, Opresbítero", e transformou-o, com nova abordagem e encenação própria. Até 29 de Janeiro, na SalaEstúdio do Teatro Nacional D. Maria II, está em cena a "Paixão segundo Eurico".

66 TempoLivre | JAN 2012

57a73_BV233:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:46 Page 66

Page 67: Tempo Livre Janeiro 2012

“ANIMAIS NOCTURNOS”

Até 29 do corrente, a Escola da Noite tem em cena"Animais Nocturnos", de Juan Mayorga, uma peça que sedesenvolve a partir da chantagem exercida sobre um imi-grante sem-papéis numa cidade dos nossos dias. O autori-tarismo, a discriminação, a solidão e uma "incomunicaçãogeneralizada" são alguns dos temas fortes do texto, semmaniqueísmos nem respostas fáceis.

Mayorga é um dos mais importantes dramaturgosespanhóis contemporâneos. Na sua recente vinda aCoimbra, no âmbito das Jornadas organizadas pel'A Escolada Noite, relembrou o contexto em que nasceu esta peça.Em 2002, o Royal Court Theatre, de Londres, pediu avários dramaturgos europeus que escrevessem peças cur-tas sobre políticas dos seus países. Juan Mayorga escolheua lei de imigração, pela forma como ela "divide asociedade em duas: há homens com documentos e home-ns sem documentos". Explorando a forma como estas leisestabelecem uma diferença "entre uns e outros" e como"tornam tentadora, para cada homem com papéis, a possi-bilidade de dominar o outro", escreveu a peça "O bom vi -

zinho". Posteriormente, desenvolveu o texto e compôs"Animais Nocturnos" - acrescentando à intolerância e aoabuso sobre os fracos por parte dos que se sentem superi-ores os temas da solidão, da incomunicação e da procurade liberdade nas sociedades contemporâneas.

Com encenação de António Augusto Barros, o novoespectáculo d'A Escola da Noite mantém a ambiguidade eos pontos "em aberto" do próprio texto, numa cadeia deliberdade e imaginação que se completa apenas na leiturae na reflexão que for capaz de suscitar no espectador.

FICHA TÉCNICA: Animais Nocturnos: texto Juan Mayorga;

tradução António Gonçalves; encenação António Augusto

Barros; interpretação Maria João Robalo, Miguel Lança,

Miguel Magalhães, Sofia Lobo; cenografia António Augusto

Barros, João Mendes Ribeiro; figurinos Ana Rosa Assunção;

desenho de luz Danilo Pinto sonoplastia Eduardo Gama

Coimbra, Teatro da Cerca de São Bernardo: 5 a 29 de Janeiro

de 2012; quinta a sábado, 21h30; domingos, 16h00. Os preços

variam entre os 6 e os 10 Euros e é aconselhável a reserva

prévia de lugares.

57a73_BV233:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:46 Page 67

Page 68: Tempo Livre Janeiro 2012

SUPER 8

Verão de 1979: numa cidade

industrial do Ohio, um grupo

de seis adolescentes procura

ocupar o tempo de férias

preparando as filmagens de

um filme de ter-

ror caseiro. Uma

noite, enquanto

filmavam na

estação fer-

roviária da

cidade assistem

a uma colisão assustadora de

uma carrinha com um vagão

de carga. Fica tudo registado

na pequena câmara de Super

8, o grupo começa a desconfi-

ar que a colisão não foi ape-

nas um acidente e que o

exército esconde algo impor-

tante e terrível…Com um

elenco jovem e um argumento

original, J. J.Abrams conta-nos

uma história com traços de

ficção científica e mistério

que, aliada à qualidade dos

efeitos especiais, agradou à

crítica e ao público. Produzido

por Spielberg, "Super 8" é

uma viagem aos melhores

tempos de juventude de um

grupo de adolescentes e lem-

bra os filmes de aventuras dos

anos 80 como E.T. (1982) ou

Os Goonies (1985).

TÍTULO ORIGINAL: Super 8;

REALIZAÇÃO: J.J. Abrams; COM:

Elle Fanning, Joel Courtney,

Kyle Chandler, Bruce

Greenwood; EUA, 112m, Cor,

2011; EDIÇÃO: Zon Lusomundo

LARRY CROWNE

Larry Crowne, veterano da

Marinha, trabalha num

armazém e leva uma vida

tranquila até ao dia em que é

despedido. Falta-lhe, apesar da

experiência, um grau académi-

co superior para progredir na

carreira. Tem dificuldade em

encontrar trabalho e quase

perde a casa, até que, um dia,

que um vizinho aconselha-o a

inscrever-se numa universi-

dade local…A sua vida

começa a mudar: faz novos

amigos, compra uma pequena

lambreta, estuda economia,

começa a trabalhar num

restaurante… e apaixona-se

pela sua pro-

fessora

Mercedes! "O

regresso de

Tom Hanks à

realização é

uma aposta

feliz. Na melhor tradição do

cinema norte-americano de

narrar histórias de vida inspi-

radoras, o filme tem dois pesos

pesados do cinema actual - o

próprio Tom Hanks e Julia

Roberts - combina drama e

boa-disposição com uma

estrutura simples, narrativa

fluída e um final feliz. Coisa

rara no cinema actual.

TÍTULO ORIGINAL: Larry Crowne;

REALIZADOR: Tom Hanks; COM:

Tom Hanks, Julia Roberts,

Bryan Cranston, Cedric The

Entertainer, Pam Grier; EUA,

98m, Cor, 2011; EDIÇÃO: Zon

Lusomundo

PLANETA DOS MACACOS:

A ORIGEM

Will Rodman é um jovem

cientista que procura desco-

brir a cura para a doença de

Alzheimer e cria uma subs -

tância chamada ALZ-112 para

tentar combatê-la. Todavia,

esta possui um efeito curto, e

passado algum tempo, o

corpo consegue produzir anti-

corpos que acabam com o

efeito da substância. Os

macacos, que são usados

como cobaias de

laboratório,

reagem de forma

diferente à subs -

tância pois esta

aumenta a sua

inteligência e a sua relação

com os homens começa a

mudar …Baseado no livro "La

Planète des Singes", de Pierre

Boulle, o filme é uma metáfo-

ra poderosa sobre os perigos

que a Ciência e a investigação

científica enfrentam quando

procuram lidar com algumas

das doenças e problemas

mais delicados da

humanidade.

TÍTULO ORIGINAL: Rise of the

Planet of the Apes;

REALIZAÇÃO: Rupert Wyatt;

COM: James Franco, Freida

Pinto, Andy Serkis, John

Lithgow, Brian Cox; EUA, 105m,

cor, 2011; EDIÇÃO: Pris

PEQUENAS MENTIRAS

ENTRE AMIGOS

Todos os anos, Max, um bem

sucedido empresário da

restauração, e Véro, a esposa

ecologista, convidam um

grupo de amigos para a sua

bela casa de praia a fim de fes-

tejar o aniversário de Antoine

e o início ao Verão. Um dos

amigos, Ludo, é vítima, porém,

de um grave acidente, antes da

sua partida de casa, em Paris.

Apesar disso, o grupo mantém

a viagem e todos eles carregam

os seus próprios problemas e a

forma de os enfrentar nas

férias anuais. Sucesso maior

em terras gaulesas, o filme

aborda com

inteligência e sen-

sibilidade as

relações de

amizade e amor,

com situações

quer de dor quer de alegria,

marcadas pela ausência de um

deles. Escrito e realizado pelo

actor Guillame Canet, o filme

é uma oportunidade única de

ver alguns dos melhores talen-

tos do cinema francês actual e

recorda um clássico norte-

americano do género: "Os

Amigos de Alex" (1983).

TÍTULO ORIGINAL: Les Petits

Mouchoirs; REALIZAÇÃO:

Guillame Canet; COM: François

Cluzet, Marion Cotillard, Benoit

Magimel, Jean Dujardin;

França, 154m, cor, 2010;

EDIÇÃO: Zon Lusomundo

A desafiar este o novo ano, que se antevê dolorosamente real e 'austero', seleccionamos dois recentes filmesde ficção científica: "Super 8", homenagem, com traços realistas, à geração de 1980, e "Planeta dos Macacos:a Origem" que questiona o papel da ciência e a relação dos homens com os primatas. Completam a escolhaduas sugestões bem mais "realistas": "Larry Crowne", e "Pequenas Mentiras entre amigos". Sérgio Alves

Realidade e ficção

Boavida|Cinema em Casa

68 TempoLivre | JAN 2012

57a73_BV233:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:46 Page 68

Page 69: Tempo Livre Janeiro 2012

Boavida|Grande Ecrã

Em torno da humanidadeA última semana do ano (mais exactamente no antepenúltimo dia, chegou às salas "O Deus daCarnificina", o último Polansky sobre o "bullying") já terá dado o tom: em Janeiro há um punhado deimportantes estreias cujo denominador comum é testemunharem sobre os comportamentos emotivações do espírito humano ou, - como no portentoso documentário de Herzog -, "decifrar" osmistérios da origem da Humanidade.

Joaquim Diabinho

Da luta política da activista pró-democracia eprémio Nobel da paz., Aung San Suu Kyicontra o governo militar autoritário birmanêsfala "Um Coração Dividido" ("The Lady", no

original, em cartaz dia 12). O que visívelmente interessaa Luc Besson é, no entanto, focalizar-se na história deamor passional e infinito - que nada fará vacilar: nem aseparação forçada, nem o isolamento, nem a morte -entre a militante pacifista e o seu marido, Michael Aris.Apesar de Besson ter sido criticado por excesso de sim-plismo (p.e., como retrata a luta de AungSan Suu Kyi contra o poder militar), ofilme resulta numa interessante reflexãosobre a coragem feminina (tal como aJeanne D'Arc...de Besson) de um dossímbolos maiores da luta determinada deuma mulher que sacrificou a sua felici-dade em nome de um nobre ideário.

DO NORTE-AMERICANO ALEXANDER PAYNE

(autor do fabuloso"Sideways") chega a 19 àssalas "The Descendants", uma comédiadramática centrada na vida familiar e, emespecial, na relação que se restabelece entre

um pai e suas duas filhas adolescentes na sequência deum acidente de barco que coloca a sua mulher em estadocrítico. Payne, que não brinca em serviço, não deixa deimpregnar o filme de um tom humorístico por vezes iróni-co nem se retrai a convocar (pelo gozo, certamente) doisgrandes mestres do cinema clássico como Billy Wilder eJean Renoir. Talvez que por essa e "outras" ousadias habi -tuais a Associação de Críticos de Cinema de Los Angelesse tenham convencido da justeza em nomeá-lo "the bestfilm of the year".À frente do "cast", o brilhante GeorgeClooney.

EM "PAIXÃO", MARGARIDA GIL propõe-nos (a partir de 19)uma viagem "aos abismos do desejo e da relação humana".Apreciada pelo rigor e economia do seu "cinema teste-munho" de questões existenciais e sociais, a cineasta de"Relação Fiel e Verdadeira" prossegue segura na obser-vação dos comportamentos. João Lucas, Ana Brandão,Sandra Faleiro e Gonçalo Amorim, entre outros, entra -nham-se bem nos personagens. O argumento (co-assinadopor Gil) e os diálogos são da autoria da escritora MariaVelho da Costa. A ver vamos.

QUANTO A "THE CAVE OF FORGOTTEN DREAMS" ("SonhosEsquecidos", título em português. Será?) o maior do elo-gios que se poderá fazer a Werner Herzog é a de que o seu

estatuto de visionário está de boa saúde erecomenda-se. Senão vejamos: realizar umdocumentário com cameras 3D na célebregruta de Chauvet (sul de França) que con-serva centenas de pinturas rupestresespectaculares criadas à mais de 30.000anos, à época do homem de Neandertal sópode significar, primeiro que tudo o resto,uma viagem visual, fa bulosa, fantástica ememorável. Para mais, Herzog traduziuem imagens documentais inesquecíveisuma autêntica aventura pedagógica e cul-tural. De visão obrigatória também paracrianças e jovens. n

JAN 2012 | TempoLivre 69

57a73_BV233:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:46 Page 69

Page 70: Tempo Livre Janeiro 2012

Boavida|Tempo Informático

Ano novo e novidades

Gil Montalverne [email protected]

Ninguém dispensa hoje em dia a Televisão. Apassagem para a Televisão Digital Terrestre ouTDT torna impossível a ligação directa ao sinalpor satélite. Os anúncios e avisos multi-

plicaram-se chamando a atenção para a compra de umabox ou caixa descodificadora que transforma esse sinalnum sinal digital, com muito melhor qualidade. Mastalvez não saibam que entre as múltiplas boxes queinvadiram o mercado e anunciadas como baratíssimas,grande parte delas são de linha branca ou marca desco -nhecida, sem garantia assegurada por fabricante idóneo.Sugerimos portanto a TRIAX TR-41, uma box para a TDT,de grande fiabilidade, rapidez e funcionalidadesavançadas com gravação de vídeo HD, apresentada pelaSatCab numa excelente relação qualidade-preço. A longaexperiência da Triax na criação de soluções para a TDT naEuropa é já uma garantia. Esta box não só confere novasfunções a televisores mais antigos e prolonga a sua utili-dade, como apresenta características fundamentais: grandesensibilidade na captação de canais mesmo em zonasonde a potência do sinal não seja a mais correcta; rapidezno zapping; gravação e sua memorização graças à memóriainterna (4 MB flash e 64 DDR); porta USB para gravaçãoem disco externo ou numa pen, com funções de avanço,recuo, pausa e retoma de TV em directo; leitura deficheiros Mpeg2, Mpeg4 e DivX; baixo consumo com tem-porizador e stand-by automáticos; suporte para televisorescom entradas analógicas (SCART ou A/V); comando à dis-

O ano que agora principia tem sido apresentado como algo de muito difícil onde imperam a austeridadee os sacrifícios. Portanto cumprirá a cada um conhecer exactamente até onde podem ir as prioridadesnesta tecnologia. Mas ela não pára e há coisas que são de facto necessárias e outras que podem trazer-nos algum proveito ou prazer de que necessitamos para que também a vida não pare.

tância com controlo remoto para gravação. Aocontrário de muitas boxes disponíveis no merca-do, cujo argumento de venda é o preço, a TriaxTR-41 é actualmente a melhor aposta na relaçãopreço-qualidade. PVP 59,90 €. Claro que encontramais baratas mas o barato às vezes - e é o caso -sai caro.

JÁ OUVIRAM FALAR DOS EBOOKS. Uma espécie detablet onde pode arquivar vários livros num sólugar. É útil para levar para férias, viagens, etc.

Evita o peso dos vários volumes de papel que teria detransportar. E vai escolhendo a seu gosto. A TREKSTORapresenta o mais completo leitor de livros digitais na suacategoria de preços, o eBook Reader 3.0 com PVP aconse -lhado de 69,90 €. Com ecrã a cores de 7'' (17,8 cm) nadiagonal, pode ser usado ao alto ou na horizontal, possuigestão de marcadores, ampliação (zoom) e ajuste do tipo etamanho da letra. Além disso, pode ser também usadocomo leitor de MP3 e visualizador de fotografias. Oarmazenamento de 2 GB admitindo ainda cartõesmicroSD até 32 GB significa uma capacidade para mi -lhares de livros eBook em 275 gr de peso. A bateria depolímeros de lítio dá uma autonomia de leitura de 8 horasou até 30 horas na reprodução de música. Os eBooksserão, ou já são, o futuro. n

70 TempoLivre | JAN 2012

57a73_BV233:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:46 Page 70

Page 71: Tempo Livre Janeiro 2012

Boavida|Ao volante

Os novos Gordini de “avant-garde”Nas décadas de 60 e 70 a Renault dominava os vários campeonatos de Ralis com o seu modelo Gordini,tendo, em Portugal, o saudoso José Carpinteiro Albino, vencido, em 1967, o primeiro Rali de Portugal.

Carlos Blanco

Agora, volvido quase meioséculo, a marca francesa fazreviver o mítico Gordini,lançando três modelos da

brilhante série: o Clio, o Twingo e oWind. Deste trio, somente o desporti-vo Wind não é vendido em Portugal.

As suas marcantes listas brancassobre uma carroçaria azul, regressama Portugal associadas aos pequenosmodelos Twingo e Clio RS, quevestem, nesta versão ainda maisdesportiva, motores a condizer: 1.6 agasolina com 133 cavalos (21.500euros) e 2.0, também a gasolina, com203 cavalos (29.950 euros).

No interior merece destaque o volante em couro, pretoe azul com duas bandas brancas e a alavanca da caixa develocidades com punho azul e assinatura Gordini.

Dos dois modelos ensaiados, destaque para o desporti-vo e elegante Clio Gordini RS, com o pormenor da letra"G" associada à lâmina aerodinâmica do tipo F1 em bran-co no pára-choques dianteiro e os retrovisores brancos.

No habitáculo, uma harmonia preta, azul e brancaveste o espaço, dos estofos ao volante. Cada detalhe foiobjecto de uma atenção extrema. Os bancos desportivos dotipo bacquet ostentam a marcação Gordini e recebem umaconfecção inédita em couro, homenagem aos míticosGordini do passado. A excluvisidade Gordini égarantida pelas chapas numeradas de sérielimitada, que identificam o número deprodução de cada carro.

No que toca ao Twingo, mostra-se um carro que integra o estiloúnico da marca Gordini e odesempenho RS. Cada deta -lhe foi objecto de umaatenção extrema a pensarnos adeptos de emoçõesfortes que se revêem naexpressão "o direito à diferença".

Mas, a cereja no topo do bolo dos novos Gordini é semdúvida o roadster Wind que, infelizmente, não será co -mercializado em Portugal, mas que tivemos a oportu-nidade de apreciar em Paris.

Trata-se de um conversível que vem com um acaba-mento diferenciado. O modelo ganha também um tectoretráctil em preto brilhante aerófilo (que abre em escassos12 segundos) e rodas com jantes de liga leve de 17 pole-gadas, que o tornam ainda mais desportivo.

O Wind é comercializado comduas motorizações a gasolina:

1.2 com 100 cavalos de potên-cia (17.769 euros) e uma

versão mais potente, compropulsor 1.6 com 133cavalos (18.816 euros).

Deste novo modelo damarca do losango foi feitauma edição limitada de

200 veículos.Em nota de rodapé final, e

embora saibamos a crise com que nosdebatemos, não deixamos de aqui deixar

um desafio à Renault Portugal: porque não queorganizar um troféu Gordini? n

JAN 2012 | TempoLivre 71

57a73_BV233:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:46 Page 71

Page 72: Tempo Livre Janeiro 2012

Boavida|Saúde

Alguns conselhospara combater a flatulênciaA flatulência é uma queixa que, só por si, não leva o doente a procurar o médico, mas quando inquirido,revela em geral um grande alívio por poder partilhar uma situação que lhe provoca constantementedesconforto e embaraço.

M. Augusta Drago medicofamí[email protected]

Aflatulência, em si, não constitui uma doença,mas diminui a qualidade de vida. As pessoasreferem incómodo com o seu próprio corpo -distensão do abdómen pela excessiva produção

de gases, dores abdominais do tipo cólica, que podem serfortes, com ruídos hidro-aéreos e que ocorrem nas alturasmais inoportunas. Junta-se a isto a sensação desagradávelde se sentirem apertadas dentro das suas roupas.

Acontece muitas vezes recusarem convites para sair efugirem a eventos sociais, porque receiam não conseguircontrolar a saída intempestiva dos gases que habitam nosseus intestinos e perguntam desanimados - o que é que euposso fazer?

Os gases que habitam o nosso tubo digestivo têmduas origens: uns, em menor quantidade, sãoresultado da deglutição do ar. Esta situação, aque chamamos aerofagia, agrava-se com aansiedade; outros, em maior volume, sãoproduzidos nos intestinos. São o resulta-do das reacções químicas que acom-panham a digestão de alimentos quecontêm fibras, como os cereais, asleguminosas e as frutas. As bac-térias intestinais também con-tribuem para a produção de gases,quando da fermentação de fibrasmais resistentes, como o grão, assementes, a batata mal cozida, etc.

Quanto mais tempo os alimentosdemorarem nos intestinos, maisprobabilidades existem de se pro-duzirem gases. É esta a razão porqueas pessoas que sofrem de obstipaçãotambém se queixam de flatulência. Oodor destes gases torna-se mais inten-so e desagradável quando se con-somem alimentos proteicos, tais como

carne, ovos, peixe, leite ou queijo. Existem mais alimentosque originam gases fétidos. São, entre outros, os brócolos,a cebola, o alho e a cerveja

Não há regras alimentares que se apliquem uniforme-mente a todas as pessoas, pois existem alimentos quecausam flatulência a umas pessoas e não causam a outras.Em geral, os alimentos que provocam mais gases são oleite nas pessoas que têm deficiência em lactase (enzimaque decompõe a lactose), o pão saloio, as leguminosas,tais como ervilhas, favas, grão-de-bico, etc.

Tanto o leite como as leguminosas e os cereais contêmnutrientes muito importantes para a nossa saúde, peloque não podemos eliminá-los totalmente. O mais sensatoé tentar investigar, por grupos de alimentos, aqueles que

causam mais perturbação. É frequente aconselhar aspessoas a fazerem um registo dos ali-

mentos consumidos e dos sin-tomas durante algum tempo,

até encontrar um padrãode comportamento

intestinal. No caso de sus-peitar de alguns alimentos,

elimine-os da sua dieta, um decada vez, até identificar o/os cau-sador/es das suas queixas.

Em regra, é sempre benéficocomer devagar, num ambiente tran-quilo, mastigando bem e em peque-nas porções. Beba pausadamente eevite bebidas gaseificadas.Confeccione os pratos com pouca gor-dura, use ervas aromáticas e condi-mentos como o gengibre. Coza bem asmassas e torre o pão para reduzir asfermentações. Demolhe o feijão e o grãoe, se possível, retire-lhes a pele.Consuma o iogurte o mais próximo dadata de fabrico e, depois das refeições,experimente tomar um chá de hor telã. n

72 TempoLivre | JAN 2012 ANDRÉ LETRIA

57a73_BV233:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:46 Page 72

Page 73: Tempo Livre Janeiro 2012

Boavida|Palavras da Lei

? Possuo uma casa numa aldeia do Alentejo

(prédio urbano com terreno 900m2).

O vizinho de um dos lados tem algumas árvores,

nomeadamente pinheiros e sobreiros no seu terreno;

o sobreiro mais próximo encontra-se a 2,60 metros

da extrema, prolongando-se a copa para cima da

minha propriedade, com a consequente sombra e

queda de folhagem para cima dos meus citrinos.

Gostaria de falar cordialmente com o proprietário

mas sabendo, previamente, o que a Lei prevê para

estes casos.

Sócio devidamente

identificado - Évora

Pedro Baptista-Bastos

Estas questões, por mais simples que possam pare-cer, foram previstas no nosso Código Civil. UmCódigo Civil é um livro muito interessante dadoque, sob as normas jurídicas, terminologia e con-

ceitos legais, estão contidas quase todas as situações da vidade todos nós, desde o momento da concepção até à morte,passando por sociedades, casamentos consumados ou não,enfim, uma fascinante combinação da vida humana.

Assim, estamos diante de uma situação de "Plantaçãode árvores e arbustos", prevista nos artigos 1366º a 1369ºdo Código Civil, uma desses casos da vida que podemocorrer a qualquer um de nós.

E a nossa lei civil, no nº 1 do seu artigo 1366º, afirmaque é lícito ao "dono do prédio vizinho…arrancar e cortaras raízes que se introduzirem no seu terreno e o tronco ouramos que sobre ele propenderem, se o dono da árvore,sendo rogado judicial ou extrajudicialmente, o não fizerdentro de três dias". O nosso leitor e sócio vai ter umaamável conversa com o seu vizinho, e pede-lhe para cortaros ramos, o que ele certamente fará.

E, para evitar este género de pequenos inconvenientes,pode ainda, nos termos do artigo 1356º do Código Civil,murar, valar, ou tapar a sua propriedade de qualquermodo, de maneira a que os ramos não o incomodem mais.

Com boa vontade tudo se resolve. Aproveito para dese-jar a todos os sócios, colaboradores e leitores da "TempoLivre" um Feliz Natal e um excelente Ano Novo de 2012.Tudo se resolverá pelo melhor! n

ERRO: Errei na apresentação da solução jurídica da minhacrónica na revista de Dezembro 2011. Com efeito, quer eu,quer outros advogados, receberam, nos conjuntos de normaspublicados na nossa ordem jurídica e que lhes são enviadosvia mail, um diploma, sob a forma de norma nacional. Essanorma é brasileira. Recebi o aviso dias após do envio dacrónica, e quando já não era possível substituir o que escrevi.

Pelo meu erro, e pela indução em erro que possa tercausado aos leitores da revista "Tempo Livre", apresento asminhas desculpas.

Aos leitores, os meus votos de Feliz Natal e PrósperoAno Novo. PBB

Árvores quese prolongam.Tapagens

JAN 2012 | TempoLivre 73

57a73_BV233:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:46 Page 73

Page 74: Tempo Livre Janeiro 2012

Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos

N.º 33Preencha a grelha com osalgarismos de 1 a 9 semque nenhum deles serepita em cada linha,coluna ou quadrado

(horizontais): 1-MO; APRE; AMAR; AI. 2-A; REUMATICO; V. 3-RUM;L; A; O; H; CIA. 4-RALAR; M; PAÇOS. 5-LAR; MITIGAR; DIZ. 6-USAR;B; R; I; PISE. 7-I; M; LEITURA; F; R. 8-SABE; I; O; A; RICO. 9-ALA;IRISARA; COS. 10-HIENA; O; ANDAR. 11-COA; C; T; S; D; ROR. 12-O; MATUSALEM; U. 13-RH; ESTA; MESA; PI.

SOLUÇÕES

ClubeTempoLivre > Passatempos

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

N.º 33 SOLUÇÕES

Palavras Cruzadas | por José Lattas

HORIZONTAIS: 1-Multidão; Irra; Prezar; Grito de dor. 2-Indivíduo atacado de reumatismo. 3-Bebida alcoólica destiladado melaço de cana-de-açúcar; Serviços secretos americanos(sigla). 4-Amofinar; Alcácer. 5-Chaminé; Acalmar; Aconselha.6-Aplicar; Amasse. 7-Estudo. 8-Compreende; Abonado. 9-Renque; Dera as cores do arco-íris a; Mealheiro. 10-Mamíferocarnívoro, que vive na África e na Ásia; Andamento. 11-Rio dePortugal, afluente da margem esquerda do Douro; Abundância.12-Patriarca antediluviano, que viveu muitos anos. 13-Ródio(s.q.); Pronome demonstrativo (fem.); Planalto; Símbolo darazão da circunferência pelo diâmetro (mat.).

VERTICAIS: Verticais:1-Abismo; Nome feminino; Aparência. 2-Larvas que se criam nas feridas dos animais; Planta da famíliadas Liliáceas, muito usada como condimento. 3-Maritimo quenão tem amor à profissão (Bras.). 4-Atitude; Pronome pessoal.5-Descascam; Povos que habitavam a região do actual Peru. 6-Ruténio (s.q.); Riacho; Todo o terreno (sigla). 7-Ave de grandeporte, que habita nas planícies da Austrália; Rio que nasce emEspanha e banha Mirandela. 8-Que tem mirto. 9-Junto; Tio daAmérica. 10-Nota musical; Adejara; Disparata. 11-Topar;Sistema montanhoso, que atravessa longitudinalmente, toda aAmérica do Sul. 12-Letra grega; Nome por que também sedesigna o cânhamo-de-manila. 13-Coligir. 14-Divindade egíp-cia, esposa de Osíris e mãe de Horus; Tinjo. 15-Imposto sobreo valor acrescentado; Signos sem valor próprio (arit.); Nome dehomem.

74 TempoLivre | JAN 2012

74_PASSAT:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:49 Page 74

Page 75: Tempo Livre Janeiro 2012
Page 76: Tempo Livre Janeiro 2012

BERTRAND EDITORA

IMPÉRIO

Steven Saylor

Continuando a saga épica

sobre Roma e o seu povo, a

obra traça o destino da

aristocrática família Pinário

durante

gerações: das

maquinações

de Tibério à

loucura de

Calígula, da

decadência de Nero à Idade

de Ouro de Trajano e

Adriano, são muitos os

momentos dramáticos que

definiram toda uma era.

ANDAM FAUNOS PELOS

BOSQUES

Aquilino Ribeiro

Este romance lançado em

1926 reaviva lendas e

crenças beirãs, através da

imagem do

fauno que

vagueia

pelos

bosques

em busca

de

donzelas desprevenidas.

Fala-nos do belo e divino, da

relação com o desconhecido

e retrata um conjunto de

sacerdotes, analisando-lhes

a fé e a vida.

AGENDA 2012 - PRAÇA

DA ALEGRIA

Com dicas e

conselhos

sobre saúde,

culinária,

jardinagem,

beleza e

decoração, esta agenda irá

ajudá-lo a organizar e

programar o seu dia a dia.

O GATO DAS BOTAS

Stella Gurney

O Gato das Botas é um

simpático bichano com

imensos truques na manga.

Tem um plano para

transformar o seu amo

mandrião num abastado

nobre. Uma história divertida

com janelas pop-ups.

EDITORIAL CAMINHO

DICIONÁRIO DE LUÍS DE

CAMÕES

Vítor Aguiar e Silva

Elaborado por especialistas

nacionais e estrangeiros,

este é o

primeiro

dicionário

dedicado à

vida e obra de

Camões.

Constitui um vasto e rico

"Thesaurus da camonística

contemporânea" com

informações sobre toda a

sua obra.

HISTÓRIAS E LENDAS DE

ÁFRICA

Ana Maria Magalhães e

Isabel Alçada

Um livro de contos

tradicionais, lendas,

narrativas

históricas e

curiosidades

de vários

países

africanos e

de vários povos que

representam as culturas

deste imenso e misterioso

continente. Inclui mapas e

informações sobre usos,

costumes e natureza, sem

esquecer uma referência ao

Vale de Rift, berço da

humanidade.

A obra revela a extraordinária

riqueza cultural africana.

EDIÇÕES COLIBRI

AS BIBLIOTECAS DE

CASTELO DE VIDE E A

EDUCAÇÃO POPULAR

(1863-1899)

Filomena Sousa Bruno

Em finais do séc. XIX surge

em Castelo de Vide, por

iniciativa associativa, a

primeira biblioteca do

distrito de Portalegre.

Oferecia um acervo

documental diversificado

que disponibilizava

gratuitamente à

comunidade local. Uma obra

que pretende preservar a

memória e origem da atual

Biblioteca Laranjo Coelho.

EUROPA FEDERAL E A

QUARTA REPÚBLICA

O FUTURO DAS RELAÇÕES

ENTRE PORTUGAL E A

UNIÃO EUROPEIA

António Covas

Portugal

precisa de

uma Europa

Federal e de

uma 4ª

República

que não se esgote na mera

revisão Constitucional do

país. A obra analisa as

relações com a europa e as

influências nos Estados

Membros.

D. DINIS - ACTAS DOS

ENCONTROS SOBRE D.

DINIS EM ODIVELAS

A notável tradição histórica

de Odivelas,

deve-se, em

parte, ao

legado de El-

Rei D. Dinis.

Reconhecido

pelo desenvolvimento da

atividade agrícola e pelo

impulso que deu à educação

e ensino, acreditando serem

alicerces da nação, o Rei-

Agricultor ou O Lavrador, foi,

ainda, poeta/trovador e autor

de Cantigas de Amigo e de

Amor.

EDITORIAL PRESENÇA

A MULHER DO TIGRE

Téa Obreht

Destacada em missão de

solidariedade, Natalia, uma

jovem médica recebe a

notícia da morte do avô,

ocorrida em circunstâncias

pouco claras. Ao recorda-se

ClubeTempoLivre > Novos livros

76 TempoLivre | JAN 2012

76e77_NL:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:50 Page 76

Page 77: Tempo Livre Janeiro 2012

dele e das

suas

histórias,

convence-se

que ele

passou os

últimos dias em busca de

uma das suas personagens.

Sem descuidar a sua missão

e para desvendar o mistério

segue uma pista que a

conduz à mulher do tigre.

Uma evocação sublime dos

Balcãs.

O PRIMEIRO ANO DE UMA

ESCOLA FANTÁSTICA

Margarida Fonseca Santos

O Colégio das Artes vai

receber, pela primeira vez,

alunos cheios de

expectativas em relação ao

novo projeto de ensino. E, foi

ali que Tiago descobriu que

gostava de Teatro, enquanto

Teresa percebeu que o jazz

era mais divertido que a

música clássica.

OS CAVALEIROS DA

MONTANHA

Maria Teresa Maia Gonzalez

Um grupo de

amigos

montados nos

seus cavalos

subiram a

uma

montanha encantada para

conquistar um castelo

abandonado. Enquanto se

divertiam, um grupo rival e

temível lançou-lhes um

desafio...

MIL E UMA IDEIAS PARA

LIDARES COM O TEU

MUNDO

Theresa Cheung

Para ajudar as

adolescentes

a integrar-se

de forma

equilibrada

num grupo de

amigas é fundamental

manter e reforçar a

confiança em si própria. Um

livro com segredos que

orienta as jovens a trilhar um

caminho equilibrado e de

sucesso.

EUROPA-AMERICA

OS APÓSTOLOS DA FÉNIX

Lynn Sholes e Joe Moore

Durante a

abertura do

túmulo de

Montezuma

na Cidade

do México a

equipa de

escavação descobre que os

restos mortais do

imperador desapareceram.

Nesse momento, com

exceção da jornalista

Seneca que escapa por um

triz, todos os presentes são

assassinados.

Empenhada em desmistificar

os motivos da tragédia,

Seneca persegue um trilho

letal que a leva ao tempo de

Cristo.

SUBMUNDO

Robert Finn

Quando se é ladrão é difícil

conhecer a rapariga certa. E,

quando

isso

acontece,

há sempre

alguma

coisa a

atrapalhar.

Ficar preso no metro, ser

apanhado um tiroteio…

enfim…se conseguir

sobreviver tem de convencê-

la a dar o seu número de

telefone.

Um policial que se desenrola

ao ritmo de um comboio em

alta velocidade.

CURA

Robin Cook

Laurie Montgomery aproveita

a remissão do

neuroblastoma do seu filho

para

regressar ao

Gabinete de

Medicina

Legal de

Nova Iorque.

E, pela

frente, tem de resolver a

estranha morte de um ex-

investigador detentor de uma

patente extremamente

valiosa sobre células

estaminais e, um puzzle

altamente perigoso, que

pode pôr em causa a vida do

seu filho. Conseguirá a

médica legista ter êxito e

resolver o caso?

GB COLLECTION

LUXO E CHARME NA

HOTELARIA EM PORTUGAL

Gabriela Botelho

Uma magnífica edição que

integra em 20 Unidades

Hoteleiras de luxo e charme

de vários pontos do país,

incluindo a Inatel na ilha das

Flores e Linhares da Beira.

PAULUS EDITORA

AS MINHAS PRIMEIRAS

ORAÇÕES

Thereza Ameal

Para

ensinar e

incentivar

as crianças

a rezar, este

livro

apresenta um conjunto de

orações para diversas

situações e ocasiões.

OS PIRATAS QUE

ROUBAVAM VERDADES

Rita Vilela e Ana Sofia

Caetano

De forma

divertida o

livro ajuda a

criança a

refletir sobre

os problemas do universo e a

sua relação com os outros.

Inclui ficha com questões

para promover a

comunicação.

Glória Lambelho

JAN 2012 | TempoLivre 77

76e77_NL:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 10:50 Page 77

Page 78: Tempo Livre Janeiro 2012
Page 79: Tempo Livre Janeiro 2012

Há muito que vivemos juntos, partilhando, deforma mais ou menos equitativa, mais oumenos pacífica, um T3 junto ao mar: eu, quetenho de manter as finanças do nosso estra -

nho agregado quase familiar sem intervenções do FMI esem, mesmo assim, faltar com o necessário ao sustentocomum, e tendo ainda em conta a minha humana confi-guração vertical, ocupo, por direito próprio, todo oespaço acima do pavimento de todos os compartimentos;eles, brevilíneos, milimétricos, em quem pressinto umcarácter dissimulado, matreiro, com uma inequívocatendência para a clandestinidade, habitam, por interessepróprio, o espaço sob o tão injustamente celebrado "soa -lho flutuante" do meu quarto e da biblioteca, ondepodem dar largas ao seu indiscutível interesse pelas"belles lettres".

A Leitora, ou o Leitor, que tenha lido a crónica deDezembro de 2009 já terá compreendido que me refiro aosLepismas (traça-dos-livros), cuja sobrevivência sob o meutecto se deve apenas à minha mais profunda rejeição dapena de morte.

A sua presença nesta crónica explica-se, porém, pelofacto de um dos elementos da sociedade, esquecendo ahabitual manha, me ter conduzido ao livrinho que paramim é um pequeno diário de viagens há muito esquecidonum mundo de papel e palavras, e para ele uma grande dis-pensa bem fornida.

Com ele nas mãos, tudo é, subitamente, silêncio e ausên-cia à minha volta. Como Unamuno, "desterro-me na memó-ria", uma memória metodicamente devorada pelo lepismana superfície de uma dezena de fotografias.

Maio de 1959. Na Ilha dos Monges Pardos =Schiermonnikoog - uma ilha de 18x4 km, nascida das tem-pestades no Mar do Norte, no extremo setentrional da costafrísia dos Países Baixos, que ficou a dever o seu nome, e oda sua actual liliputiana capital, aos seus primeiros habi-tantes, Monges de Cister, que vestiam hábito cinzento e, até1580, ali possuíam uma pequena exploração agrícola, des-

truída por uma das grandes tempestades que periodica-mente varrem a ilha.

De olhos fechados, refaço de memória o percurso deentão - visita breve, precedida pela travessia em barco avapor, demasiado frágil, evidentemente, quanto a mim, quevivo fascinada pelo mar, mas visto de terra firme.

Cerca de uma hora de paf, paf, paf, por entre névoasespessas, sacudidos pelas tradicionalmente agitadas águasdo Mar do Norte, o acolhimento recebido faz-nos sentir reisda ilha. Deslocamo-nos a pé ou de bicicleta, que não são per-mitidos carros, através de uma curta estrada primitiva e deextensos areais, povoados por centenas de espécies de aves,que ali nidificam, e por uma que outra foca, aparentementedemasiado cansadas para prestarem atenção a forasteiros.

A nossa nacionalidade portuguesa vale-nos os serviçosvoluntários de guia de um dos habitantes, pescador de pro-fissão. Trineto de um polaco naufragado, aproveita para,numa algaraviada, que o nosso colega neerlandês nos traduzpara espanhol, nos revelar alguns segredos da ilha. Nos vel-hos tempos da pirataria, por exemplo, o grande negócio doshabitantes, que viviam preponderantemente da pesca, tinhasido a recolha de salvados de naufrágios, frequentes na zona,sobretudo graças à ajuda que os ilhéus davam às ondas e aosventos, acendendo ardilosamente fogueiras nos pontos maispropícios ao desastre. Não obstante - diz pesaroso - só con-seguiram um navio inglês carregado de pipas de vinho doPorto, de que - segredo de polichinelo - ainda alguns privile-giados bebiam, vez por outra, um copinho muito pequenino.

Ainda na memória, abro os olhos no presente. Nos lábiosainda o sorriso com que acabo de ouvir a história; nocoração o temor da viagem de regresso.

Para Octávio Paz, "a memória é um presente que nuncaacaba de passar"; para o Petit Robert, é, desde 1050, "a facul-dade de conservar estados de consciência passados, e tudoquanto a eles se encontra associado"; para mim, é algo deterrível quando o temos e de igualmente terrível quando operdemos.

Feliz 2012, Senhoras e Senhores Leitores! n

Hoje são as mãos a memória. / A alma não se lembra, está dorida / de tanto recordar. Nas mãos, porém, / resta a lembrançado que tiveram.[…] Pedro Salinas, "La memoria en las manos", in : Largo Lamento (1975) Trad. MAVF

O Tempo e as palavras

Maria Alice Vila Fabião

JAN 2012 | TempoLivre 979

Era uma vez...na ilha dos monges pardos

79a82_233:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 12:22 Page 79

Page 80: Tempo Livre Janeiro 2012

Eram quarto à conversa na mesa de canto do CaféVioleta. Falou-se da crise com críticas repartidaspor governantes de cá e de fora; discutiram fute-bol com queixas desencontradas de erros dos

árbitros; por fim, e como em regra acontecia, o debate cen-trou-se nas mulheres, mais em concreto na fina arte doengate. Foi aí que Jota Lourenço afirmou:

- Nesse aspecto, não há ninguém que supere o LídioBarbosa. Nenhuma mulher lhe resiste. Nem uma.

Reclinado e trocista, Jaime Dinis disse:- Não vamos exagerar. Provavelmente, o tipo só avança

para as que se mostram interessadas.Todavia, as palavras do amigo deixaram-no a cismar: e se

um tipo assim, considerado irresistível, tentasse seduzir suafrágil mulher, Vera Helena? Nada a recear, conclui. Nãopoucos o teriam tentado nos tempos em que era considera-da a beleza suprema da faculdade. Mas só a ele, Jaime Dinis,concedera todos os sins.

Nessa tarde, chegado a casa, observou com mais atençãoos modos e expressões da mulher. Continuava linda, talvezmais que nunca, na maturidade dos seus trinta e oito.Decerto despertaria cobiças, bem vira já olhares gulosos,alguns de visitantes de sua casa. Ela, no entanto, nem davasinais de se aperceber. Indiferente, superior, vogava comouma deusa sobre os desacertos às regras.

Zangou-se com ele próprio por lhe ter ocorrido tal dis-parate mas não conseguiu evadir-se da questão. "Nenhumamulher lhe resiste. Nem uma" - afirmou o arguto JotaLourenço, apontando a um tal Lídio, Barbosa de apelido.

Quem era? Que poder de sedução teria o macaco paraganhar fama de infalível conquistador?

Os pensamentos rodopiavam-lhe na mente e crescia aatracão para um jogo perigoso. Por instantes, envergonhava-se do impulso de sujeitar a mulher a um teste mas já nãoconseguia evitar que o contra-senso passasse a propósito.

Procurou então saber onde poderia encontrar o afamadomarmanjo que embeiçava as mulheres. E soube: Lídio

Barbosa era proprietário de um pequeno bar - justamente oBar Bosa - e pouco tempo decorreu até Jaime Dinis se sen-tar num banco ao balcão.

Ali estava, então, alto, seco, cabeleira farta, o famosoLídio. A primeira observação levou-o a considerar que, comefeito, ele bem podia ser modelo ou galã de telenovelas. Masdaí a sacar as mulheres todas - em particular a dele - existiainvencível distância.

Lídio aproximou-se com um sorriso profissional e o novocliente julgou ver um teclado de piano só com teclas bran-cas.

- Vodka com água tónica - pediu.Reforçando o sorriso, Lídio disse:- Gostamos do mesmo.- Mas não das mesmas - gracejou Jaime a puxar a con-

versa para o que lhe interessava.- Quem sabe? - retrucou o outro.- Espero que não, dizem que você é perito a seduzir mu -

lheres.- Não me queixo.O diálogo atingira o ponto exacto para Jaime Dinis des-

carregar o seu estranho plano. Mas confiante. Previa aderrota daquele presunçoso na tentativa de encantar VeraHelena.

- Quer mesmo? - acautelou Lídio. - Olhe que já uma vezme fizeram um repto semelhante e foi tiro e queda. Bem searrependeu o tonto de me ter desafiado.

A gargalhada de Jaime Dinis foi um pouco forçada. Masdisse:

- Com a pessoa em causa, você não tem o mínimo dehipóteses.

- Veremos.

No sábado à tarde, Vera Helena retocava-se parasair e o temerário ligou para Lídio:- Venha ter aqui. Seguimo-la no meu carro,depois você faz o seu número. Prepare-se para

o fracasso.Reconheceu que um incómodo nervosismo o assaltava

quando o homem do bar disse:- Prepare-se o meu caro amigo. Vai ter uma surpresa.Vera Helena instalou-se na esplanada fronteira ao rio e o

imprudente parou o carro em lugar adequado para a obser-var sem ser observado.

- Vá lá, então.Viu Lídio palmilhar a distância como se caminhasse

numa passarela. "Que estou eu a fazer?" - interrogou-se e,pela primeira vez, temeu as consequências da sua obtusadecisão.

Por uns minutos, Lídio Barbosa acomodou-se a mesa

Jogo perigoso

80 TempoLivre | JAN 2012 ANDRÉ LETRIA

Os contos do

79a82_233:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 12:22 Page 80

Page 81: Tempo Livre Janeiro 2012

próxima da mulher, sem desviar os olhos dela. Depois apro-ximou-se e dirigiu-lhe algumas palavras.

O coração do vigilante bateu mais forte. Em pé, o sedu-tor consagrado continuava a falar, lançando a rede. O passoseguinte e óbvio seria arrancar convite para se sentar aolado dela.

Assustado, o requisitante da diligência chupava o fumode mais um cigarro. E, de súbito, aquilo. A mulher desenhacom um braço o gesto irritado de afastar o atrevido. Assimpareceu. Assim foi. Vencido, o campeão dos engates afasta-se em passadas céleres pelo lado oposto da esplanada.

- "Yess!" - grita o jubiloso consorte no interior do carro.Debate-se ainda na dúvida se deve culpar-se pela canalhiceou regozijar-se pela experiência. Sacode os ombros, nadainteressa agora a não ser saborear o resultado.

Prepara a retirada. Cuidado, a mulher não pode avistar ocarro que, na manobra, passará rente à esplanada. Admira-a, tranquila como sempre, agora folheando uma revista.Apetece-lhe ficar mais um pouco nessa contemplaçãoembevecida.

"Que se passa?" - Agita-se quando, inesperadamente, a vêsorrir para alguém que chega. Um homem. "Quem é estegajo?" Não o conhece mas, pelo que nota, ela conhece-obem. Beijam-se e o observador atinge o nível mais alto daperturbação. Deixa tombar a cabeça sobre o volante quandoo olhar alcança que as mãos dele tomam posse das mãos damulher.

Arranca e acelera, exasperado.

Caminha de um ao outro lado da sala em passossem destino. Pensa na atitude a tomar quandoela reentrar em casa. Não, não lhe dirá que a viucom o amante ao sol da esplanada. Vai apenas

esperar a mentira que há-de trazer quanto ao modo comopassou a tarde. E com quem.

O ruído da chave na fechadura informa que ela está devolta.

- Olá! - saúda, com o sorriso largo que, aparentemente,não difere do que é costume.

- Olá sussurra ele, impaciente pelas palavras reveladorasda falsidade.

Observa-a a despir o casaco e escuta-lhe as palavras quesolta no mais alegre dos tons:

- Nem imaginas o que aconteceu!- Onde? - interroga ele, certo de que vai apanha-la no pri-

meiro engano.Mas ouve:- Na esplanada do rio. Fui para ali sossegar com um café

e uma revista, chato foi saltar-me um parvo que queria con-versa. Lá o mandei à vida dele. E depois, que surpresa, que-rido, que surpresa!

- Surpresa?- Sim, apareceu-me o Augusto, meu antigo colega da

faculdade e grande amigo. Não o via haverá uns quinzeanos, andou por esse mundo. Recordámos os velhos tem-pos, foi bom, mesmo bom!

Ela ri como uma criança contente. Jaime Dinis sente odever de confessar que espiou toda esta cena e pedir perdãopor tão vil atitude. Não o fará pelo receio de que a inocentelhe dê por castigo o desprezo.

Irá, sim, abraça-la com redobrada ternura. Logo que elafinde a conversa pelo telemóvel que iniciou, passando-separa o terraço.

No terraço, a voz de Vera Helena é pouco mais que ummurmúrio.

- Ricardo? Olha, agora chamas-te Augusto. O marotoespreitou-me, viu tudo. Percebi quando deu a volta nocarro. Não há problema. Um beijo.

Reentra na sala.- E se fossemos ao teatro, querido? n

JAN 2012 | TempoLivre 81

79a82_233:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 12:22 Page 81

Page 82: Tempo Livre Janeiro 2012

Jornais, rádios, blogues e televisões publica-ram no mês passado os habituais "balançosdo ano", económicos, políticos e sociais.Houve balanços de tudo, como é costume;

só não vimos feito o balanço da língua quefalamos e é, cada vez mais, o último reduto danossa soberania (a menos que as profecias dadesgraça se confirmem e o euro acabe e o escu-do volte, mas adiante). Quando 2011 foi umano especialmente importante para o Portu -guês, este silêncio quanto às palavras é muitoestranho.

Para já, o ano que acabou foi o ano de todos osacordos. Lembremos apenas dois: o AcordoOrtográfico e o Acordo com a Troika. O primeirocortou nas consoantes mudas e o segundo nosordenados e subsídios de quem tem menos voz.O Ortográfico tem como objectivo o crescimentoda importância da nossa língua a nível mundial;o da Troika, o decréscimo das despesas do Estadoe o recuo da economia nacional, com aumentosapenas na taxa de desemprego e no horário detrabalho.

Em 2011, as conversas de rua, de rádio, decafé e autocarro ganharam um novo vocabulário.Se no princípio do ano aprendemos a falar emcharters e se durante o Verão passámos a utilizara expressão "isso é coisa que a mim não me assis-te", já o último semestre foi dominado pela gíriaeconómico-financeira. Em vez de bola, como eracostume, falamos de bolsa.

De súbito, a Dona Maria e o Senhor Manelcomeçaram a discutir o rating do bacalhau, aobalcão da mercearia, e a ponderar a hipótese de

recorrer a ajuda externa para pagar as batatas e acouve. Desemprego, infelizmente, já usávamos,mas tivemos de desenrolar a língua para dizerCompetitividade e desenterrar das brumas dosanos 80 o substantivo Austeridade.

O termo imigrante, que andou na moda nosanos de crescimento económico, quando molda-vos e ucranianos cá chegavam para ganhar avida, foi quase apagado da linguagem da rua esubstituído por emigrante, que é o que a geraçãoà rasca, a que descobriu o sushi em 2011, se pre-para para ser, desta vez com malas de cartão-mul-tibanco, claro. Os Censos 2011 mostraram que apopulação estava em défice e só se mantinha umsaldo positivo graças à entrada no país de traba -lhadores estrangeiros. Se estes deixam de vir eainda por cima começamos a sair... Talvez seja onosso Fado, o nosso património imaterial, mas étriste se assim definharmos.

Para não se falar só em tristezas, outrosdois termos entraram também para alinguagem do dia-a-dia em 2011: solida-riedade e voluntariado, valha-nos isso.

Como dizia Vaclav Havel, o símbolo daRevolução de Veludo checoslovaca, que morreunos últimos dias de 2011, "a esperança não é aconvicção de que algo vai necessariamentecorrer bem, mas a certeza de que algo fazmesmo sentido, independentemente do resulta-do que venha a ter". Por isso, talvez seja deincluir Esperança na lista das palavras maisusadas no ano da grande crise e esperar quetodos os sacrifícios façam sentido. n

Ano Velho, Palavras Novas

Crónica

AntónioCosta Santos

82 TempoLivre | JAN 2012

79a82_233:sumario 154_novo.qxd 22-12-2011 12:22 Page 82

Page 83: Tempo Livre Janeiro 2012
Page 84: Tempo Livre Janeiro 2012