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TempoLivre N.º 224 Março 2011 Mensal 2,00 www.inatel.pt Sagres O regresso do navio escola Entrevista Luciano Vilhena Museus Fluviário de Mora Memória Breendonk

Tempo Livre - Março - N 224

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Tempo Livre - Março - N 224

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TempoLivreN.º 224Março 2011Mensal2,00 €

www.inatel.pt

SagresO regresso

do navioescola

Entrevista Luciano Vilhena Museus Fluviário de Mora Memória Breendonk

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Sumário

Revista Mensal e-mail: [email protected] | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: CarlosMamede Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: António Costa Santos, António Sérgio Azenha, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Humberto Lopes, JoaquimDiabinho, Joaquim Magalhães de Castro, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Lurdes Féria, Manuela Garcia, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, MariaMesquita, Pedro Barrocas, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, BaptistaBastos, Fernando Dacosta, Joaquim Letria, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA, Telef.210027000 Fax: 210027061 Publicidade: Direcção de Marketing (DMRI) Telef. 210027189; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA -Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade naD.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 155.812 exemplares

Na capaFoto: Joaquim Magalhães de Castro

22REPORTAGEM

De Goa a Lisboa: oregresso do navio escolaJoaquim Magalhães deCastro acompanhou aguarnição do navio escolaSagres nas duas últimastiradas, de Goa a Lisboa, dasua terceira viagem decircum-navegação. Umaexperiência “inolvidável” –sublinha o repórter –iniciada a 16 de Novembroe terminada no Alfeite navéspera de Natal.

5 EDITORIAL

6 CARTAS E COLUNA

DO PROVEDOR

9 NOTÍCIAS

14 CONCURSO

DE FOTOGRAFIA

28 FERNANDO PEREIRA

“A SÉRIO”

O cantor das mil vozes assume a própria voz noTrindade, de 18 a 20 de Março.

52 OLHO VIVO

54 A CASA NA ÁRVORE

79 O TEMPO E AS PALAVRAS

Maria Alice Vila Fabião

80 OS CONTOS

DO ZAMBUJAL

82 CRÓNICA

Humberto Lopes

57 BOA VIDA

74 CLUBE TEMPO LIVRE

Passatempos, Novos livros e Cartaz

16ENTREVISTA

Luciano VilhenaPresidente do Instituto dos Vinhos doDouro e do Porto (IVDP) e tambémprodutor de vinhos na regiãoduriense, Luciano Vilhena fala compaixão da actividade reguladora doIVDP e do seu empenhamentopessoal em garantir que os vinhos doDouro continuem a figurar entre osmais prestigiados do mundo.

30“SEMPRE EM FÉRIAS”

Inscrições abertas

32MUSEUS

Fluviário de MoraSituado no interior alentejano, oprimeiro grande aquário de água doceda Europa exibe 72 espécies de peixese de outros animais, num total decerca de 500 exemplares.

36TERRA NOSSA

Mértola: o último porto doMediterrâneo

46MEMÓRIA

Breendonk: um campo de passagempara Auschwitz

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Editorial

Vítor Ramalho

Identidade e símbolos

A“Sagres”, símbolo material da nossaconcepção universalista que, porisso mesmo, se espalha pelos quatrocantos do mundo, merece nesta

revista – e bem – uma reportagem sobre a suarecente chegada de mais uma grande viagem àvolta do planeta.

Um colaborador da Tempo Livre, JoaquimMagalhães de Castro embarcou nela em Goa e éo responsável pela também agora excelente via-gem que nos propicia na revista, em que todosos leitores terão assim a possibilidade de parti-cipar.

Aproveitando este símbolo falaremos tambémneste número de um outro, marca da identidadeportuguesa, o vinho do Porto. Será difícil encon-trar personalidade mais qualificada para nosfalar dele do que o Dr. Vilhena Pereira, presiden-te do Instituto dos Vinhos do Douro e do Vinhodo Porto.

Numa altura e num período em que é muitoimportante reganharmos esperança no futuro,em função da crise, é útil e proveitoso descermosàs raízes do que somos, recorrendo neste casoaos símbolos da nossa marca identitária, e nocaso específico do vinho do Porto, um produtocom peso muito significativo nas nossas expor-tações.

Falar de nós é falar também dos excepcionaisrecursos que temos, a todos os níveis, e da mos-tra que deles devemos fazer. É o caso doFluviário de Mora, no interior do Alentejo, umequipamento único em Portugal e que foitambém o primeiro grande aquário de água doceda Europa. Prémio Melhor Museu Português2008 e distinguido com outros importantesgalardões internacionais, este notável fluviárioexibe uma variedade invulgar de peixes de riosibéricos e de outras espécies fluviais americanas

e de lagos africanos. Aqui o invocamos porquevale bem a pena visitá-lo.

É neste quadro, sempre suportado na con-cepção universalista que levamos também ao lei-tor a uniformização sobre o protocolo recente-mente assinado entre a Fundação Inatel e oPrincipado de Andorra representado peloMinistro dos Negócios Estrangeiros eInterculturalidade, D. Xavier Espot.

Como é sabido o Principado de Andorra é umvelho Estado Europeu, que remonta ao século XIIcom relações históricas muito profundas comPortugal, hoje com relações diplomáticas ao nívelda embaixada.

A comunidade portuguesa residente no prin-cipado é hoje muito significativa, com cerca de14.000 dos nossos compatriotas a fazerem deleuma pátria de acolhimento. Daí a importânciadeste protocolo, possibilitando no futuro oreforço do intercâmbio do turismo em geral e emparticular no domínio do turismo sénior entre osdois países.

Por fim, relevamos a presença na B.T.L. (Bolsade Turismo de Lisboa), da Inatel, que ocorreuentre 23 e 27 de Fevereiro, onde foi apresentadoum livro de excelente qualidade gráfica, que ficaa dar testemunho público das unidades hotelei-ras da Inatel, a beneficiarem agora de um enormeesforço de requalificação em 26 frentes, paraassim alimentarmos os alicerces do futuro.

Esses alicerces exigem também uma perma-nente mobilização dos trabalhadores que sedesenvolve em várias frentes. Por isso mesmo emboa hora a DAF (Direcção Administrativa eFinanceira) levou a efeito um seminário para umvasto número de trabalhadores da Inatel e quecontou como palestrante o Prof. Doutor JoãoFerreira do Amaral que nos falou da crise e,sobretudo, das saídas para ela. �

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Cartas

Coluna do Provedor

Oeiras IComo associada tenho desfrutado de vários pro-gramas e sempre considerei que o Inatel primapela qualidade no acolhimento, nas viagens, noshotéis. Como moro na Parede, frequento comassiduidade o "self-service" de Oeiras e fiqueidesiludida com a perda de qualidade do restau-rante. Há menos variedade, pior acolhimento,comida pior confeccionada, tendo já encontradoobjectos estranhos nos pratos. Assim, solicito osvossos bons ofícios de modo a podermos reen-contrar neste restaurante a qualidade que tinha,como é apanágio do Inatel.

Jacoba Christina Ferreira, Parede

Oeiras IISr. Presidente da INATEL, venho por este meioinformar que, desde a cozinha, aos quartos, hácoisas lamentáveis no Inatel em Oeiras. (…)Apesar das obras efectuadas, alguns quartosestão a degradar-se progressivamente e há cadavez mais reclamações. É entrar lá, dar uma volta

e apreciar quanto está errado, mal cuidado e semmanutenção (…) Façam algo para melhorar onosso Inatel.

Ana Marques, por e-mail

50 anos na INATEL Completaram, este mês, 50 anos de ligação àFundação Inatel os associados:

António Santos, de Amadora; Lucília Dias, deBraga; Aníbal Carvalho, de Cascais; CremildaAndrade, de Campo Maior; António Ferreira, deGuimarães; Maria Alves, Mª Julieta Silva, MªIrene Pilrro, Abílio Rodrigues, Alberto Pedro,Francisco Simões, Horácio Filipe e Nelson Maio,de Lisboa; António Runa, de Loures; JoãoOliveira, de Mafra; Raul Vilela, de Portalegre;Joaquim Sykes, de Mafra; Francisco Anjos, deMatosinhos; Carlos Alberto Rebelo, de Oeiras;Francisco Guerreiro, de Serpa; António Rosa, deSetúbal; António Marchão, Mário Correia,António Patricio e José Alfredo Garrido, deSintra; Sérgio Calado, de Torres Novas; AmílcarTeixeira, de Viseu.

AS LIMITAÇÕES orçamentais cujas conse-quências uns temem, mas outros já as sentemduramente na família, afectam também as insti-tuições como a Inatel que têm objectivos sociaisde importância relevante, abrangendo os diver-sos escalões etários.

Em consequência dessas restrições sucedemreduções em vários programas cujos efeitos sãonaturalmente sentidos pelos utentes. É o caso doprojecto" Net para Todos" que teve grande êxito.Previsto só para 2008, com monitores certifica-dos, a Inatel sem apoios exteriores, quis ir atéfinal de 2010. A dureza das restrições orçamen-tais obrigaram, nessa data, a interromper esteprograma de grande alcance social.

As reacções sucederam-se, como a que setranscreve como exemplo:

"Foi com bastante tristeza que tomei conheci-mento de que o espaço "internet para todos", aca-bou. Era um espaço onde se reuniam pessoas devários extractos profissionais e mais importante,quase todos, pessoas entre os sessenta e cinco e

oitenta e tal anos. Formávamos um grupo de ami-gos que se ajudavam nas dificuldades que iamaparecendo, na elaboração dos emails e, que aofim da tarde, regressavam às suas residências,quase com a sensação de um dever cumprido esentindo-se ainda pessoas válidas. Segundoexplicações dadas a alguns de nós, a extinçãodeste espaço, ficará a dever-se à falta de subsí-dios comunitários. A Inatel é grande de maispara depender desses subsídios. Entre nós, hásócios com mais de 40 anos de filiação. E somosmilhares. Assim, venho por este meio, rogar quenão se permita que esta medida vá para a frentee que possamos continuar a usufruir deste meioque nos ajuda a prolongar a vida."

Pelo respeito que nos merecem os nossosassociados, devo acrescentar quanto é desa-gradável para a Fundação, a cessação desse pro-grama que tanto êxito teve junto dos nossos asso-ciados. Infelizmente as restrições orçamentaisque o país enfrenta obrigam-nos a fazê-lo. Apesarde tudo, o assunto ainda está a ser estudado. �

A correspondênciapara estas secções

deve ser enviadapara a Redacção de

“Tempo Livre”,Calçada de Sant’Ana,

nº. 180, 1169-062Lisboa, ou por e-mail:

[email protected]

Kalidá[email protected]

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� Com o objectivo de preservar edivulgar a cultura portuguesa, foiagora constituída a CIOFF-Portugal,uma associação que herda ascompetências desempenhadas pelaFundação Inatel, que presidiudurante 17 anos à secção Portuguesado CIOFF (Conselho Internacionaldas Organizações de Festivais deFolclore).

Representar o país no CIOFF,assegurar que os seus festivais defolclore cumpram, entre nós, osrequisitos internacionais erecomendar a participação de gruposnacionais em iniciativas daqueleorganismo são as principaisatribuições da nova associação.

Cristina Baptista, administradorada Inatel, com o pelouro da Cultura,assume a presidência por três anos dao CIOFF-Portugal, acompanhada por

Alberto Rego da AssociaçãoPromotora das Festas da Cidade deViana do Castelo e Amabélio Pereirado Grupo Folclórico de Faro(organizador do FolkFaro).

Durante a assinatura da escritura,no passado dia 8 de Fevereiro, nasede da Inatel, Cristina Baptistasublinhou o papel da Fundação napreservação e divulgação dopatrimónio imaterial do país e aimportância da autonomia da secçãonacional do CIOFF.

Andorra acolheTurismo Sénior

� Um acordo agora celebrado

entre a Inatel e o Governo de

Andorra vai permitir,

anualmente, a partir de 2012, o

gozo de férias em Andorra, em

zonas de interesse turístico -

cultural, a 200 seniores

portugueses. Assinado pelo

Ministro de Assuntos Exteriores

e Relações Institucionais de

Andorra, Xavier Espot, e por

Vítor Ramalho e Rogério

Fernandes, respectivamente,

presidente e administrador da

Inatel, o acordo salienta a

existência de programas sociais

semelhantes geridos pelas duas

entidades, ficando estabelecido

que "nos Programas de Turismo

Sénior, subvencionados, de

ambos os países para a

temporada 2012", seja garantida

a "reserva de 200 lugares,

distribuídos por grupos de 50

(cinquenta), para que os

beneficiários de Portugal e de

Andorra usufruam,

respectivamente, de férias em

Andorra e em Portugal."

Ao usar da palavra na cerimónia

de assinatura do protocolo,

Xavier Espot elogiou o relevante

papel sociocultural da Inatel e

destacou a importância da

numerosa comunidade

portuguesa radicada no seu

país, muitos dos quais já com

dupla nacionalidade.

Associação CIOFF-Portugal

� Retomar o processo dereindustrialização, designadamenteno sector primário (agricultura epescas), com mão de obra qualificadae produzindo bens que tenhammercado é um dos caminhosdecisivos para a superação da gravecrise que afecta Portugal - defendeuJoão Ferreira do Amaral, professorcatedrático do ISEG, na conferência

sobre a situação económica do país,proferida na sede da Inatel. Umanova política fiscal, crédito maisfavorável e incentivos ao empregonesse sector, poderão - sublinhou oprestigiado economista - melhorar aresposta nacional ao actual déficeorçamental.

As consequências para Portugal daglobalização, das economiasemergentes e do alargamento da UEaos países do Leste europeu foramainda temas salientes da intervençãode Ferreira do Amaral que, no debatesuscitado com os quadros presentesda Fundação, manifestou dúvidasquanto às vantagens da continuidadeda integração do nosso país na actualestrutura e funcionamento da UE.

Conferências Inatel

Reindustrialização precisa-se!

MAR 2011 | TempoLivre 9

Notícias

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Martha de La Calhomenageada

� Martha de La Cal,

correspondente da revista Time e

de outros orgãos da Imprensa

americana em Portugal, durante

há 45 anos, falecida no passado

dia 15 de Janeiro, foi

homenageada em Fevereiro, na

Galeria de Arte do Casino Estoril,

aquando da inauguração de uma

exposição de arte

Contemporânea, em que

participou seu filho, Robert. Sobre

a vida e obra desta destacada

jornalista e amiga de Portugal

falaram o o director da Galeria,

Nuno Lima da Carvalho e Mário

Dujisin, fundador e dirigente da

A.I.E.P (Associação de Imprensa

Estrangeira em Portugal). Foram,

ainda, lançados, na ocasião, dois

abaixo-assinados a solicitar às

autarquias de Oeiras - onde a

homenageada viveu - e de Lisboa -

capital do seu País de adopção,

sobre o qual muito e muito bem

escreveu, quer na Time e outras

publicações - a inclusão do seu

nome na toponímia local.

Notícias

� No seguimento da sua missão deapoio à criação e acção cultural, aFundação Inatel associou-se aoprojecto CriaSons - Tendências daMúsica de Câmara PortuguesaContemporânea - através do apoio àedição de um CD que reúne obrasinéditas de sete compositoresportugueses e que será lançado nopróximo mês de Maio no Teatro daTrindade, em Lisboa. O projectoarrancou em Abril de 2010 com oconvite a sete compositores dediversos quadrantes estéticos -Amílcar Vasques-Dias, AnneVictorino d'Almeida, AntónioVictorino d'Almeida, César Viana,

Jorge Costa Pinto, Paulo Jorge Ferreirae Sérgio Azevedo - para a criação denovas obras e o aproveitamento deoutras composições ainda inéditas. Oprojecto, materializado no FestivalCriaSons, já em curso, reúne aparticipação de três dos nossos maisprestigiados agrupamentos da músicade câmara - Opus Ensemble, DuoContracello e Quarteto Lopes-Graça -na interpretação das nove obrasinéditas em estreia mundial. Osconcertos decorrem, até 26 de Março,em Évora (dia 26), Funchal (15),Lisboa (dias 5, 6 e 13), Pombal (5),Póvoa do Varzim e Viana do Castelo(20).

Projecto CriaSons

Inatel apoia música de câmara

Na Galeria Municipal Artur Bual (Amadora), está patente, até final de Março, a

exposição pintura e tapeçaria "Retrospetiva", de Alves Dias. Como sublinha o

crítico Hugo Ferrão na apresentação da mostra, "…as pinturas e tapeçarias de

Alves Dias encarnam os silêncios dilatados, associados à actividade criadora. Os

gestos, os passos em volta, a espera pela sua revelação, são elementos que fazem

parte dos rituais propiciatórios daquele que constrói imagens -matéria, cujos

suportes permitem a materialização do corpo da obra…".

"Retrospetiva" na Artur Bual

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� Até final de Maio, o Museu doOriente apresenta "EncomendasNamban. Os portugueses no Japãoda Idade Moderna", uma exposiçãoque reúne um conjunto de obras,mobiliário, têxteis, armaria epintura, provenientes do próprioacervo do Museu do Oriente e deempréstimos de museus nacionais ecoleccionadores privados nacionaise estrangeiros. A mostra visareenquadrar o fenómeno namban doponto de vista da encomenda, dosmercados a que se destinava e dosagentes que lhe estiveramassociados, através de um conjuntosignificativo de peças de artesdecorativas japonesas e indo-portuguesas.

No Japão, o termo namban-jin foi,recorde-se, pela primeira vez,aplicado aos Portugueses comosinónimo de "bárbaros do Sul". Estadesignação incluiu, também, outrospovos do Sul da Europa,

designadamente espanhóis eitalianos, presentes no territóriosobretudo por via da missionação,que marcou indelevelmente umperíodo que ficou conhecido como o"século cristão".

A arte namban e a presença lusa na Ásia

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Notícias

� Da autoria de antigos e actuaisdirigentes da CGTP-IN e no âmbitodas comemorações dos 40 anos dacriação da Intersindical, foi lançadono final de Janeiro, no Museu daElectricidade, em Lisboa, o livro"Contributos para a História doMovimento Operário e Sindical - Dasraízes até 1977".

Com palavras de agradecimentopara as dezenas de convidadospresentes no lançamento, incluindouma referência especial para VítorRamalho, presidente da Inatel, osecretário-geral da CGTP saudou eelogiou o trabalho dos autores daobra, Canais Rocha, Daniel Cabrita,José Ernesto Cartaxo, Vítor Ranita,Américo Nunes, Kalidás Barreto eEmídio Martins.

Carvalho da Silva salientou, naoportunidade, a importância eactualidade do testemunho, memória

� O Parque de Jogos de Ramalde recuperou alguns espaços para posteriormente

dinamizar com novas actividades, tendo sido inaugurado um novo espaço no

passado dia 15 de Janeiro com a primeira demonstração do Dojo de Karate, fruto do

recente protocolo assinado entre a Fundação e a Federação Portuguesa de Karate

Shotokan. A Escola de Karate INATEL já está em pleno funcionamento e brevemente

este novo espaço irá acolher outras actividades direccionadas para os mais jovens e

ainda um projecto especial com actividades concebidas para os seniores.

e reflexão destes antigos dirigentes,fundadores e elementos compercursos de vida associados àhistória do sindicalismo e domovimento operário em Portugal. Noprimeiro capítulo deste 1º volume,Canais Rocha aborda os antecedentesdo movimento sindical, entre aprimeira metade do século XIX(1838) e 1970. No capítulo seguinte,Daniel Cabrita, Ernesto Cartaxo eVictor Ranita analisam o período deformação da Intersindical, da fase desemiclandestinidade até ao 25 deAbril. Américo Nunes escreve, naterceira parte, sobre o períodorevolucionário (1974/1977), e KalidásBarreto e Emídio Martins,apresentam, no último capítulo, ostestemunhos e experiência de umsocialista e de um católico nosprimeiros sete anos de existência daCGTP.

"Contributos para a Históriado Movimento Operário e Sindical"

12 TempoLivre | MAR 2011

António Joaquimna Galeriado Casino

� Intitulada "Obras a partir de

2003", está patente até final de

Março na Galeria de Arte do

Casino do Estoril uma exposição

do pintor António Joaquim

(Travanca, Santa Maria da Feira,

1925), "o nosso mais qualificado

paisagista, trabalhando, com

excelente e igual qualidade o

óleo e a aguarela", como

assinala Nuno Lima de Carvalho,

director da galeria. A sua

primeira grande exposição

individual deste notável artista

autodidacta, representado em

numerosas colecções privadas e

públicas, foi, registe-se,

realizada na Galeria de Arte do

Casino Estoril em Outubro de

1980.

Novos espaços e actividades no Parque de Jogos de Ramalde

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XV Concurso “Tempo Livre” Fotografia

Fotos premiadas

[ 1 ]

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[ 1 ] Conde Falcão, LisboaSócio n.º 29783

[ 2 ] Luis Martins,BragaSócio n.º 434018

[ 3 ] Paulo Amado,S. João de MadeiraSócio n.º 393614

[ 2 ]

[ 3 ]

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[ a ] Óscar Saraiva, S. Mamede de InfestaSócio n.º 31309

[ b ] José Gonçalves, Venda do PinheiroSócio n.º 284945

[ c ] Maria Silva, CacémSócio n.º 493267

Menções honrosas

Regulamento

1. Concurso Nacional de Fotografia darevista Tempo Livre. Periodicidademensal. Podem participar todos osassociados da Fundação Inatel,excluindo os seus funcionários ecolaboradores da revista Tempo Livre.

2. Enviar as fotos para: Revista TempoLivre - Concurso de Fotografia, Calçadade Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa.

3. A data limite para a recepção dostrabalhos é o dia 10 de cada mês.

4. O tema é livre e cada concorrentepode enviar, mensalmente, ummáximo de 3 fotografias de formatomínimo de 10x15 cm e máximo de18x24 cm., em papel, cor ou preto ebranco.5. Não são aceites diapositivos e asfotos concorrentes não serãodevolvidas.

6. O concurso é limitado aosassociados da Inatel. Todas as fotosdevem ser assina ladas no verso com onome do autor, morada, telefone enúmero de associado da Inatel.

7. A «TL» publicará, em cada mês, asseis melhores fotos (três premia das etrês menções honrosas),seleccionadas entre as enviadas noprazo previsto.

8. Não serão seleccionadas, nomesmo ano, as fotos de umconcorrente premiado nesse ano

9. Prémios: cada uma das três fotosse lec cio nadas terá como prémio duasnoi tes para duas pessoas numa dasunidades hoteleiras da Inatel, durantea época baixa, em regime APA(alojamento e pequeno almoço). Oprémio tem a validade de um ano. Opre miado(a) deve contactar a redacçãoda «TL».

10. Grande Prémio Anual: umaviagem a esco lher na Brochura InatelTurismo Social até ao montante de1750 Euros.A este prémio, a publicar na «TL» deSetembro de 2011, concorrem todasas fotos premiadas e publicadas nosmeses em que decorre o concurso.

11. O júri será composto por doisresponsáveis da revista T. Livre e porum fotógrafo de reconhecido prestígio.

[ b ]

[ a ]

[ c ]

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Entrevista

Podemos falar de uma vida quase inteiramenteligada ao vinho, à cultura do vinho?Sim. Como eu costumo dizer, nasci no meio dasvinhas. O meu pai era viticultor, o meu avô eraviticultor, e cresci a ver fazer as cavas, as podas,as sulfatações, o plantio das próprias vinhas, asvindimas, os vinhos… Cresci até aos doze anosneste meio e, portanto, conheço de perto essetipo de emoções e esse tipo de trabalho, ossacrifícios que impõe às pessoas, e também asalegrias que as pessoas partilham. Pode-se dizerque desde muito novo estive em contacto coma vinha e com o vinho… Em 1971 casei-me evoltei a estar ligado aos vinhos, agora aos vi -nhos do Douro, sobretudo aos vinhos do Porto.

Casei-me com uma senhora que tinha proprie-dades em Freixo-de-Espada-à-Cinta, íamos lácom alguma frequência e aprendi muito sobre oVinho do Porto. Estive ligado aos vinhos doDouro e do Porto na óptica do agricultor, masdo agricultor que era advogado e estava longeda produção. Em 2001 fui convidado - eu eravice-governador civil no Porto - a assumir a pre-sidência da Comissão Interprofissional daRegião Demarcada do Douro. E desde entãotenho estado ligado, de facto, aos vinhos, querdo ponto de vista institucional, quer como pro-dutor. Entretanto, em 2001, fundei uma peque-na empresa que produz vinhos.O IVDP é uma instância privilegiada para inter-

Luciano VilhenaPresidente do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto

"Cresci a vero plantio das vinhas..."

Nasceu em Chaves, estudou em Coimbra, e tomou a cidade da foz doDouro por domicílio. Exerceu advocacia no Porto, passou peloAteneu Comercial da cidade e foi vice-governador civil na capital do

Norte. Mas seria a experiência como presidente da ComissãoInterprofissional da Região Demarcada do Douro (CIRDD) a apurar umaantiga e visceral ligação com o universo da viticultura. Membro de váriasconfrarias e associações - como as confrarias dos Enófilos de Trás-os-Montese dos Enófilos do Porto -, Luciano Vilhena Pereira é actualmente Presidentedo Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP). Igualmente produtor devinhos – em Freixo-de-Espada-à-Cinta, onde mantém a tradicional pisa a pé– fala com paixão da actividade reguladora do IVDP e do seu empenhamentopessoal em garantir que os vinhos do Douro continuem a figurar entre osmais prestigiados do mundo.

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vir nas questões essenciais para a qualidade daprodução vitivinícola do Douro…O Instituto é "a instância", digamos assim, dosvinhos do Douro e Porto. Desde que foi constituí-do o modelo interprofissional da RegiãoDemarcada do Douro, em 1995, que todas asgrandes questões do Douro, desde a produção aocomércio, passaram a concentrar-se nesse con-selho interprofissional. Foi o que aconteceu pri-meiro na CIRDD, e depois no IVDP. A partir de2004, com a fusão da CIRDD e do IVP, surgiu oIVDP. E ficaram duas instâncias, uma representa-tiva da produção e outra representativa docomércio, como as duas grandes alas que oEstado, o IVDP, tem que concertar na resolução

dos problemas do Douro. Refiro-me à produção eao comércio, mais concretamente à Associaçãode Empresários de Vinho do Porto e à Casa doDouro, como associação de agricultores reconhe-cida. As funções reguladoras do IVDP não se confi-nam ao Vinho do Porto…Exactamente. Temos também os vinhos do Douroe a indicação geográfica duriense. Claro que ogrande bloco de interesses é o Vinho do Porto,que representa cerca de 75% da produção daregião, mas temos os vinhos do Douro, que têmestado a construir o seu próprio caminho e quehoje são reconhecidos não apenas em Portugal,como cada vez mais em todo o mundo. A última

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Entrevista

prova que o Wine Spectator fez dos vin-hos portugueses, de todas as regiões dePortugal, deu como resultado o facto deos primeiros dez serem todos da RegiãoDemarcada do Douro. Quais as responsabilidades e funçõesdo IVDP que destacaria como sendo asmais importantes e decisivas?Nós temos funções que resultam dedeterminações legais que são, de facto,muito importantes. A primeira delas éque o Instituto tem por missão defendere proteger as denominações de origem -Porto e Douro e indicação geográfica

duriense. Isto obriga-nos a organizar mecanismosde controlo, de fiscalização, que vão desde oplantio da vinha até à comercialização dos vi -nhos na prateleira. Temos que fazer uma sequên-cia fiscalizadora desde que se planta a vinha,para saber se essa vinha pode ser classificadacomo uma vinha capaz de produzir Porto ouDouro. Somos nós que controlamos as práticasculturais, formas de plantar, o compasso, a

distância ente as cepas, tudo isso obedece a prá-ticas que nós fiscalizamos. A forma de podar, defazer a condução da videira, a questão das castas.Porque nós temos cerca de 128 castas autóctonesdo Douro, e só essas podem estar presentes naprodução de Vinho do Porto. É preciso que quemplanta tenha conhecimento, e somos nós quefazemos essa fiscalização. Começamos na vinha,depois fazemos o acompanhamento da vindimaatravés da recolha do quantitativo vindimado… Mas intervêm igualmente na área comercial…As empresas de Vinho do Porto compram, engarra-fam e lançam no mercado, e também aqui nós con-tinuamos a exercer uma forte fiscalização. Na rotu-lagem e a análise laboratorial e organoléptica, que éuma tarefa levada a cabo pela nossa Câmara deProvadores. Já depois de os vinhos estarem nas pra-teleiras, nós fazemos ainda o controlo de qualidadeatravés de busca de exemplares nas prateleiras. Há notícia de um recente e assinalável desem-penho do sector…Sim, são dados de 2010. Subidas nas expor-tações, de 3% em volume e de 5,7% em preço. E

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De Coimbra ao Ateneu…

Viveu um episódio curioso na altura da

crise académica de 1969, em Coimbra…

Eu na altura pertencia a um organismo

autónomo da Universidade de Coimbra, o

CITAC [Centro de Iniciação Teatral da

Academia de Coimbra]. Eu e um colega,

que pertencia ao TEUC [Teatro dos

Estudantes da Universidade de Coimbra],

o Dr. Redondo Lopes, fomos abordados

pela direcção da Associação Académica

para acompanharmos o Alberto Martins e

estarmos ali a apoiá-lo, etc. E lá fomos,

ele sentou-se à nossa frente, no anfiteatro

das matemáticas, e ao lado dele estava

um senhor fardado que tinha as divisas

de coronel, e alguns senhores que

pareciam ser agentes da PIDE/DGS. O

anfiteatro, para além dos civis do regime,

estava completamente atafulhado de

estudantes. A cerimónia começou, várias

pessoas usaram da palavra, e a certa

altura o Alberto Martins levantou-se e

pediu a palavra, "Sr. Presidente da

República, pedia-lhe que me permitisse

usar da palavra…". O presidente Tomás

foi apanhado de surpresa, levantou a mão

e disse "bom, bom… agora fala o senhor

ministro…" Quando o Alberto se levantou,

o coronel ia-lhe deitar as mãos para o

fazer sentar, e eu, que estava atrás, num

gesto instintivo, pus-lhe as mãos nos

ombros, sentei-o e disse-lhe "esteja quieto

que está tudo sob controlo". Eu estava à

paisana, não estava vestido de estudante.

O homem olhou para mim e ficou quieto,

ficou surpreendido. Depois quando

acabou de falar o tal ministro, saíram

todos em debandada…

Passou também pelo Ateneu Comercial

do Porto…

A passagem pelo Ateneu correspondeu

ao cumprimento de obrigações cívicas de

um homem que chegou ao Porto e que

ao fim de uns anos estava cá integrado.

Um dia convidaram-me para integrar a

direcção do Ateneu, fui presidente

durante doze anos… Foi um trabalho

muito interessante, é uma casa muito

difícil de gerir… Só um exemplo, a

quotização só assegurava parte do

orçamento… portanto, havia um défice

todos os anos… Mas conseguimos fazer

algumas coisas que foram consideradas

pela cidade em geral. Mas a gente

também não pode estar toda a vida a

fazer a mesma coisa. Tenho interesses

diversos e hoje estou muito ligado aqui

ao Douro e aos vinhos e é isto que eu

quero continuar a fazer nos próximos

tempos.

Luciano, com doisanos, nas vinhas dopai

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uma subida no mercado interno da ordem dos5%. Nos vinhos do Douro ainda é mais, regista-seuma subida de cerca de 20%. Que factores considera terem sido mais rele-vantes para este êxito, tanto mais que ele ocorreno quadro de uma crise económica interna-cional?Eu destacaria o nosso grande esforço na promoçãoda imagem e do consumo em vários países. Apesarde 2009 ter sido um ano de crise, de baixa de ven-das de vinho em todo o mundo, nós mantivemoso nosso esforço promocional, e até o elevamos umpouco, seleccionando os momentos de acção, epenso que os mercados nos perceberam e reagiramde acordo com as nossas expectativas.Evidentemente, isto não está desligado do facto deem alguns desses países se ter iniciado um cresci-mento económico, embora diminuto. Mastambém não é menos verdade que nós dirigimos onosso esforço de promoção justamente para essespaíses onde era possível haver mais compras.A contrafacção, a nível internacional, de vinhoscom a designação de "Porto" continua a consti-tuir um dado preocupante?Constitui. É um problema que já vem de há mui-tos anos, que nós temos combatido com a ajuda doMinistério dos Negócios Estrangeiros de Portugal,e mais recentemente com a ajuda da ComissãoEuropeia. E com o nosso esforço junto dos paísesque mais praticam esse tipo de contrafacção. OsEstados Unidos insistem em manter a palavra"Porto", insistem muito na usurpação das denomi-nações de origem tradicionais. Nós temos feito umcombate e sensibilizado para um conceito que elesnão tinham e que hoje começam a ter, que é o con-ceito de denominação de origem. Não são só produtores dos Estados Unidos que ofazem…Estados Unidos, África do Sul, Austrália, um ououtro país europeu, até a Espanha já usou… E tem havido contenciosos por causa disso…

Tem havido acções judiciais por causa disso.Além da luta diplomática e da negociação bilate-ral, a verdade é que quando não é possível,vamos para os tribunais, sobretudo para oTribunal Europeu.Voltando à sua experiência como produtor, osvinhos produzidos em Freixo - como noutraszonas do Douro - têm especificidades que resul-tam de características climáticas singulares…Ou seja, há zonas com características muitoespecíficas que podem determinar particularis-mos nos vinhos aí produzidos, independente-mente das técnicas de vinificação…Freixo-de-Espada-à-Cinta fica no limite orientalda Região Demarcada do Douro. É a zona que tema menor pluviosidade anual no Douro. E há algu-mas bolsas, no Pinhão, que também têm muitopouca pluviosidade. Isso dá aos vinhos uma sin-gularidade. De resto em termos de solos, sãosolos xistosos normais como osoutros. Mas o clima é bastantetórrido, do Pocinho para cima já ébastante tórrido… há fortesamplitudes térmicas. Ou seja, factores de diversifi-cação das condições de pro-dução… A Região Demarcada do Dourotem características gerais, tem umsolo de xisto, com ligeiros aflora-mentos graníticos. Para além des-sas características gerais, a regiãoestá dividida em três subzonas:Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior. E aisto também correspondem climas ligeiramentediferentes. A maior diferença entre estes climasadvém da menor pluviosidade e de alguns solosde aluvião no Baixo Corgo. E há também noBaixo Corgo uma maior influência dos ventosatlânticos. Do Pinhão para montante do rio ainfluência atlântica é cada vez menor e começa ahaver uma influência mediterrânica mais acen-tuada. E mesmo nessas zonas há verdadeirosmicroclimas. É por essa razão que estamos nestemomento com um projecto de estudo dos solos edo clima da Região Demarcada do Douro, a quechamamos "Zonagem". Estamos, desdeNovembro, a fazer buracos no terreno, vamosfazer 1500 buracos até Junho deste ano, justa-mente para estudar em pormenor as característi-

“O meu pai eraviticultor, o meu avôera viticultor, e crescia ver fazer as cavas,as podas, assulfatações, o plantiodas próprias vinhas,as vindimas, osvinhos…”

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cas do solo nessas diversas zonas. E depois, numoutro programa, vamos plantar nesses locais cas-tas, para vermos como é que se vão comportar doponto de vista da insolarização.Esta realidade de microclimas é um grande fac-tor de enriquecimento, de diversidade dos vi -nhos produzidos no Douro…Sim, eu aproveitava essa abordagem sobre a plu-ralidade de possibilidades que o Douro oferece,em termos de solos, de insolarização, em termosde castas, para chamar a atenção para aquilo quese criou recentemente que é a marca "Vinhos dePortugal", que menciona "Vinho de Portugal, ummundo de diferenças".

Ainda há produtores que utilizam a pisa tradi-cional? E tem vantagens?

Ainda há. Pode ter, para se fazer determinadotipo de vinhos… Há produtores que para fazer osgrandes vinhos recorrem à pisa a pé. Tanto quan-to se sabe ainda não há nada que substitua o péno esmagamento da uva. Hoje, com os lagares depisa mecânica procura-se imitar a textura do péatravés da aplicação das barras de silicone. Àprocura da textura, da força, da maciez, da flexi-bilidade do pé. A verdade é que, de uma formaou de outra, fazem-se grandes vinhos. E há quemmantenha essa pisa tradicional para os vinhos detopo de gama - mas é quando podem, porque épreciso ter lagares de pedra e gente disponívelpara pisar… Eu conheço muita gente que aindafaz vinhos assim. Eu sou um deles…Digamos, enfim, que está aí uma relação quecobre quase toda a sua vida…É verdade, digamos que mesmo quando estivefora, já cá estava tudo… Foi uma coisa muito inte-ressante, porque quando eu cheguei ao Douropara ser presidente da CIRDD, é evidente que iacom uma angústia, porque era a primeira vez queeu ia desempenhar nessa área uma função de res-ponsabilidade. Mas ao fim de uns três mesessenti-me como peixe na água. Apercebi-me deque eu entendia mais daquilo do que alguma veztinha imaginado…�

Humberto Lopes (texto e fotos)

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“Jádepois de osvinhosestarem nasprateleiras,nós fazemosainda ocontrolo dequalidadeatravés debusca deexemplaresnasprateleiras.

Entrevista

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Reportagem

Acompanhei a guarnição do navio escolaSagres nas duas últimas tiradas da sua tercei-ra viagem de circum-navegação. E se a pri-meira dessas tiradas, de Goa a Alexandria,decorreu de forma tranquila, pese a ameaça

constante da pirataria no golfo do Adém; a segunda, deAlexandria a Lisboa, foi a mais dura desse histórico périploda barca do Infante.

Temporal desfeito no MediterrâneoQuem foi que disse que o Mediterrâneo era um lago? SePlatão, que era mediterrâneo de estirpe, distinguia oshomens em três tipos, «os vivos, os mortos e os que andamno mar», era porque sabia que este mar tanto pode sermanso como uma sardinha ou então feroz como umtubarão. É tudo uma questão dealtas e baixas pressões e aquilo aque podemos chamar de «efeito tan-que». Considerando que a profundi-dade média do Mediterrâneo não émuito considerável, sempre que osventos sopram com mais força aondulação aumenta rapidamente edaí à formação de vagas é um ins-tantinho.

Na última tirada da sua viagemde circum-navegação, o navio escola Sagres passou por umtemporal daqueles que ficam gravados na memória parasempre. Nem os mais antigos da guarnição se recordam de«semelhante malagueiro», não hesitando em afirmar queeste foi «um dos maiores temporais da história recente daSagres». Para mim foi um baptismo de intempérie em altomar e peras, e, verdade seja dita, nem sequer tive tempo deter medo. Senti, isso sim, alguma apreensão, logo minimi-zada pela confiança que me foi transmitida por estes bravos

marinheiros que mesmo nos momentos mais complicadosmantiveram o bom humor desafiando Neptuno com um«venha lá mar!». Pensava assim: se estão com toda esta con-fiança é porque a situação não é assim tão má. Mas a ver-dade é que era. Ventos inesperados e variáveis chegavam detodas as direcções a uma velocidade média acima dos 40 e50 nós e com rajadas de 60 nós (120 km/hora) que sacudiama barca da ré para a vante e de bombordo para estibordo,adornando-a perigosamente com preocupante frequência.

Sentado na sua cadeira na casa de navegação, impávidoe sereno, o comandante Proença Mendes informou-me queestávamos no meio de um temporal desfeito, o que equiva-le ao grau 11 da escala de Beaufort. Pior só mesmo ofuracão, o grau 12. E como é que se define essa escala? Pelaforça do vento e o tamanho das ondas. Olhei para a cábula

e reparei que as ondas do temporaldesfeito podem chegar aos 14metros. E elas aí estavam, vindas defrente e dos lados, sobretudo debombordo, erguendo bem alto aSagres pela proa, para depois a ati-rar para o fundo, para o «olho davaga».

Oito marinheiros, enfiados nosrespectivos impermeáveis de vele-jador vermelhos e amarelos, repe-

tindo em uníssono e em voz alta a ordem dada pelo oficialde quarto, rodavam o leme ora para bombordo ora para esti-bordo, num permanente movimento, tentando manter orumo, essencial para o equilíbrio do navio. Lá em baixo, opoço era invadido por água que num instante escorria pelomadeiro, saindo em golfadas pelos porta-mares.

Na popa confrontávamo-nos também com paredes deágua cor de chumbo, que logo se desfaziam em pedaçoscompactos de água verde e círculos concêntricos de azul-

De Goa a Lisboa na SagresO regresso do navio escolaPartimos de Goa a 16 de Novembro e atracamos na base naval do Alfeitea 24 de Dezembro, a tempo de irmos consoar com as nossas famílias.Uma viagem inolvidável.

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Reportagem

turquesa. Mais ao longe estendiam-se nervosas manchasbrancas, a «carneirada», como se diz na gíria dos marujos,assinalando a forte ventania que o anemómetro não conse-guia determinar com precisão. A verdade é que as rajadas,contra todas as previsões, não davam tréguas e estavam alipara ficar.

Regressei à casa de navegação no momento em que noVHS se ouviam uns apitos de socorro. «Há um cargueiroque perdeu o motor e se encontra descontrolado. Está abalancear com um declive de 50 graus para ambos oslados», informou o comandante indicando no visor doECDIS a posição exacta do navio em situação de emergên-cia. «E o mais frustrante é que não temos possibilidades deos ajudar. À velocidade a que nos deslocamos, que é de ume dois nós, precisaríamos de três dias para chegar ao localonde se encontra».

Navegação em contra relógioDiz o ditado que depois da tempestade vem a bonança. Sóque a tempestade que nos surpreendeu no Mediterrâneo,logo à saída de Alexandria, demorou a passar e ao longodessa tirada de 13 dias (que acabariam por ser 14) forampoucas as horas em que o mar se manteve calmo.

Soubemos, entrementes, que o navio italiano que tinhalançado o alerta de socorro acabaria por se afundar, emboraos seus vinte tripulantes, romenos e italianos, tivessem sidoresgatados por um outro cargueiro.

A principal preocupação passou a ser chegar a tempo aLisboa, o que parecia cada vez mais improvável, já que não

só os ventos eram contrários como também as correntesmarítimas. Doravante seria uma luta para tentar contrariaros cálculos do ECDIS. As previsões de chegada chegaram aapontar para Abril, quando a velocidade era de apenas 1 ou2 nós, havendo momentos em que em vez de andarmospara frente andávamos para trás.

Após quatro dias de intensos desequilíbrios a coisa acal-mou, embora a ondulação continuasse na ordem dos 2 e 3metros. Para consertar as velas – arrebentaram sete velas aotodo – trouxe-se para o poço a máquina de costura. «Vejacom que vontade se trabalha. Todos querem chegar aPortugal o mais rápido possível», comentou a propósito oimediato Fonte Domingues.

Rumávamos à Sicília. O objectivo era navegar juntinho àcosta, evitando assim borrasca maior ainda. Arriscamos,dias depois, uma travessia em mar aberto até atingirmos ascostas tunisina, primeiro, e marroquina, depois, junto àsquais navegamos, esperando que a passagem no Gibraltar sefizesse com maior tranquilidade. Mas qual quê! Na noite emque atravessávamos o conhecido estreito desabou sobre nósum tal aguaceiro e uma tal ventania que o navio adornouperigosamente, ouvindo-se lá fora o característico e aterra-dor ruído das velas estoiradas. Mais um susto a juntar a tan-tos outros. E foi com este panorama que seguimos viagematé avistarmos costa portuguesa, dois dias depois. As con-dições meteorológicas, porém, não melhoraram. A compro-var isso mesmo, a impossibilidade de dobramos o cabo deSão Vicente devido à violência da intempérie. Por isso, ocomandante decidiu, e bem, fundear em Lagos, onde des-

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pertamos na manhã de 23 de Dezembro, o dia em que eraprevisto chegarmos a Lisboa. Às oito horas foi levantado oferro e dirigimo-nos para oeste, para bem longe da costa,antes de guinarmos para norte, sempre com vento hostil denoroeste pela proa. Foi um abanar permanente, todo o dia epela noite fora. Já de madrugada as águas acalmaram per-mitindo algumas horas de sono.

O regresso dos filhos da EscolaEsgotado pelas vigílias das noites anteriores acabei por nãopôr em prática a «tradição secular» de todo o marujo semanter acordado na derradeira noite de navegação, masrecordo-me bem de ter sido despertado com um acender deluz (desligada segundos depois) e uns cânticos de Natalentoados por um grupo de bem-dispostos. Iguais visitasreceberam todos aqueles que ousaram dormir, independen-temente do posto que ocupavam a bordo.

A chegada da barca do Infante a Lisboa acabaria por ser,como estava previsto, uma explosão de emoções, misto dealegria e choro. Mas eu há já uns dias vira lágrimas a escor -rer pela cara de alguns dos marinheiros quando lhes per-guntara quais eram as primeiras palavras que tinham reser-vado para os seus familiares.

Estava um daqueles amanheceres magníficos com vistapara o farol do Guincho e a outra margem e a presença daseternas gaivotas, que desde a costa vicentina não deixaramde nos acompanhar. Passou a estibordo, em jeito de cum-primento, um pequeno veleiro. Vieram depois no nossoencalço o Polar e ainda um outro navio escola, com a tripu-

lação perfilada, em sentido, no preciso momento em queessas embarcações, de menor dimensão, nos ultrapassa-vam. Em menos de uma meia hora eram já às dezenas osveleiros e os não veleiros que à sua maneira (com acenos,gritos, apitos, buzinadelas) prestavam homenagem à barcaacabada de regressar.

Foi então tocada a sereia, mesmo em frente às instalaçõesdo Comando Naval. Era chegada a altura da entrada dos jor-nalistas. A operação de transferência de toda aquela genteacompanhada por duas oficiais, relações Públicas daMarinha, de uma lancha para o portaló da Sagres, que con-tinuava a avançar Tejo adentro, levou o seu tempo. A bordoultimavam-se detalhes e os membros da tripulação, em tur-nos, iam mudando o seu fato de embarque pelo uniforme degala. Entraram depois o novo comandante naval, o vice-almirante Monteiro Montenegro, e, minutos depois, orecentemente empossado Chefe do Estado - Maior doExército (CEMA), o almirante José Saldanha Lopes.Seguiram-se as entrevistas e os discursos numa altura emque passávamos debaixo da ponte 25 de Abril, momentoassinalado por um prolongado apito dos dois comboios daFertagus que a atravessavam nesse preciso momento.Saudação prontamente correspondida com os acenos dosmarinheiros que se encontravam empoleirados nas vergasmais altas da barca, cumprindo a tradição dos marujos de«ver as cuecas à ponte».

A progressão da barca a partir daí foi rápida. Em terra,pareciam ser muito poucas as pessoas que paravam para verpassar um dos mais bonitos veleiros do mundo. Nem

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Reportagem

mesmo no Terreiro do Paço, onde foi desembarcado oCEMA, ao som dos habituais apitos e ordens que sempreacompanham as honras militares.

A partir de então, a Sagres guinou em direcção à margemSul rumo à base naval do Alfeite, término desta viagem, olocal onde todos os embarcados mais ansiavam chegar. Aaproximação foi lenta. Ao longe, avistavam-se as fragatasVasco da Gama e Francisco de Almeida, os «navios cinzen-tos», como dizem na Marinha, e no cais a banda da Armadaexecutava uma música que nada tinha de militar. Talvezuns cem metros adiante, por detrás de uma vedação, esta-vam os familiares. Centenas de pessoas que mal viram onavio começaram a gritar e a agitar faixas de pano.

Na Sagres continham-se as emoções e reinava até umestranho silêncio. A concentração dos homens com as mãosfirmes no leme e nos cabos era agora maior do que nunca.Operação de atracagem num porto é sempre tarefa delicada.Só depois do processo concluído e da ligação da energia aterra é que foram desligados os motores de bordo e dada aordem para deixarem entrar no cais todos os familiares.Assistiu-se então uma correria de gente ao encontro uma daoutra com muitos abraços, beijos, lágrimas e apertos de mão.

Nessa altura, optei por deixar de fotografar. Era ummomento demasiado íntimo para ser invadido pela minhacuriosidade. Limitei-me a observar durante uns minutos eacabei por fazer uma breve incursão à coberta, para apron-tar a minha mala. Quando regressei ao convés assisti a umasegunda invasão, agora com as familiares a ajudar os mem-bros da guarnição a transportarem as bagagens borda fora.Num ápice os uniformes deram lugar à roupa civil e oscarros particulares surgiram no cais, malas abertas prontasa receber a mercadoria. A vontade de consoar era imensa emuita daquela gente tinha ainda centenas de quilómetrospela frente. O mais difícil foi para quem lhe saiu na rifa umdia de serviço a 24 de Dezembro, como ao sargento Coelhoque teve a gentileza de me convidar para almoçar com ele ea sua família na câmara dos sargentos. Camaradagem e sim-patia até ao fim! Entrei na Sagres como um desconhecido esaí como alguém da casa, um membro de uma família quese foi consolidando ao longo dos últimos onze meses.

Que um mar de feição e bons ventos continuem a acom-panhar a barca do Infante e a quem nela embarca. A todos,um bem-haja! �

Joaquim Magalhães de Castro (texto e fotos)

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Música

Apromessa já a fizera há algumtempo: um dia haveria de “arranjartempo e disponibilidade psíquica,física e mental para gravar umdisco a uma só voz pela música,

pela poesia, pela interpretação e não necessaria-mente com a preocupação de divertir ou fazerimitações”. E o trabalho está aí nos escaparatesdesde Outubro último. É “Fernando Pereira, asério”. Agora vai mesmo subir a cena noTrindade o espectáculo homónimo.

Há originais com assinaturas de Luís PedroFonseca, José Beato e Joaquim Pessoa, a que sejuntam versões de temas com os quais FernandoPereira assume ter grande afinidade. “É um pro-jecto que premeia as minhas raízes e influências,a lusofonia, a latinidade e há aqui também a ten-tativa de criar pontes com outros países de línguaportuguesa como o Brasil, Angola”. E sobressai obelíssimo e ainda pouco divulgado dueto com aangolana Pérola na faixa “É isso aí”.

No palco, acompanhado pelas Diamonds nocoro, vai haver espaço para apresentar as músicasque integram o CD, “para a poesia e para uma ououtra situação mais bem-disposta”. Mais, um ecrãgigante vai acompanhar com imagens todo o espec-táculo, para melhor transmitir “aquilo que são assonoridades e o estar, a alma do Fernando Pereira”.

“Ponha calçõezinhos nisso”Não foi pelo caminho mais directo que chegou àsartes de palco. O destino traçado a régua e esqua-

dro quase o tornou num engenheiro deMáquinas, pelo Instituto Superior Técnico.Frequentou-o mas era um perder de tempo, “iaser um homem muito infeliz”, observa por entrerisos. É que a música, o cantar, há muito que lheestava na massa do sangue, “desde criancinhamesmo, ponha lá calçõezinhos nisso”. Mas umacaracterística sobressaía: ao cantar, FernandoPereira imitava na perfeição a voz dos cantoresque interpretava. Faltava agora fazer dessas imi-tações um espectáculo original. E conseguiu-o.

Logo que aos 23 anos começa a pisar os pal-cos, dá início à formação artística: aulas de cantocom a professora Cristina de Castro, mais umcurso de mímica e expressão corporal com omimo japonês Yass Hakoshima, mais aulas dedança jazz, mais worshops, uma formação contí-nua que nunca pode parar. “Sou um devoradorde espectáculos e aproveito as minhas deslo-cações para poder fazer algum laboratório”. Foi oque aconteceu nos anos 90, em que teve imensastemporadas de concertos nos Estados Unidos,passou muito tempo em Las Vegas, Atlantic City,Nova Iorque ou Chicago. Aliás, recorda essesanos como decisivos para a carreira e para a vida.“Deu-me a chamada a visão do astronauta, que éo único homem a saber que a Terra é de factoredonda porque só ele a vê mesmo redonda. Tiveem relação à música, ao mundo do espectáculo, àminha postura no meio artístico uma vivênciaimportantíssima, uma verdadeira lavagem aocérebro, um banho de humildade, de experiên-

No Trindade, de 18 a 20 de Março

Fernando Pereira“a sério”Em cada palco que pisa habituou-nos à música, ao humor e à imitação devozes tão inesperadas como Michael Jackson ou António Variações, LadyGaga ou mesmo Pavarotti. Agora, Fernando Pereira está aí com umespectáculo novo, onde mostra a voz natural e assume os gostos musicais epoéticos como nunca antes ao tinha feito. Sobe ao palco do Teatro daTrindade de 18 a 20 de Março.

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cias e de cultura musical que foi de facto absolu-tamente extraordinário e marcante”.

Lisboa, o Alentejo e o MundoNão descarta a possibilidade de voltar a passaruma longa temporada nos EUA, no Brasil ou nou-tro país qualquer, “o artista tem de estar onde oqueiram ouvir”. Mas regressa sempre a Portugal,“esta é a minha terra, a minha pátria, é aqui queeu pertenço”.

E para além deste espectáculo exclusivamentecom canções “A sério”, que agora apresenta noTeatro da Trindade, tem outros dois em cena. “Oshumores da minha vida” que afirma ser “total-mente e só para chorar a rir” e ainda “Cantor deVozes”, este mais generalista “tem as imitaçõestodas, tem humor, tem várias das minhas cançõestambém, embora o tratamento seja diferente; éum espectáculo bastante divertido e exigente,muito eclético e que se adapta aos espaços epúblicos mais diferenciados, consoante as suaspróprias características”. É por isso que nosespectáculos em Espanha, como já o fez, as vozesque escolhe para imitar não são as mesmas queleva a palco no Brasil ou nos EUA. “Tenho de

escrever o texto, criar o alinhamento, seleccionaras vozes ou as figuras em função do impacto e dapopularidade que terão junto do público para oqual vou actuar; quanto mais original e estranhaou especial for a voz, melhor funciona no meuespectáculo”.

Nas vésperas de completar 30 anos de carrei-ra, o que acontecerá em 2012, Fernando Pereiraassume que na sua vida o que tem feito “temsido muito a pulso”. Mas não esquece “algumaspessoas decisivas” para o reconhecimento públi-co e ajudaram a catapultar a então jovem carrei-ra: desde Armando Carvalheda, a JúlioMontenegro, Júlio Isidro, Carlos Cruz, AntónioSala, Rui Pêgo ou Carlos Alberto Moniz, entremuitos outros.

Com o espectáculo “Fernando Pereira, a sério”a subir ao palco da sala principal do Teatro daTrindade de 18 a 20 de Março, este lisboeta denascimento afirma que tem sobretudo muitoorgulho nas raízes alentejanas. É por isso queregressa sempre a esta terra, “vivo neste triângu-lo entre Lisboa, o Alentejo e o resto do Mundo”.E aposto que é feliz. �

Manuela Garcia (texto) José Frade (foto)

MAR 2011 | TempoLivre 29

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PUBLIREPORTAGEM

Já pensou como seria bom se pudesse estar em férias, todo

o ano? Não está a sonhar, porque é essa a proposta do

programa "Sempre em Férias".

Venha viver nas unidades hoteleiras da Fundação INATEL, para

toda a vida. Conheça o nosso país e a nossa cultura, assista a

espectáculos musicais e de teatro, aprenda a pintar ou

pratique desporto, entre tantas outras actividades que o

programa tem para si.

Como sabe, a Fundação INATEL é detentora de uma larga

experiência na organização de programas de turismo sénior. É

dessa experiência que surgiu o "Sempre em Férias", que

possibilita o usufruto de um conjunto de serviços que

permitirão uma vida com todo o conforto, aliando o bem-estar

à prática de actividades lúdicas e turísticas.

"SEMPRE EM FÉRIAS" | Programação-tipo *

seg manhã Baú das memórias

tarde Tarde de Cinema

noite Noite de Dança

ter manhã Ginástica para a nossa idade

tarde Atelier de Pintura em Azulejo

noite Noite de Teatro

qua manhã Manhã livre

tarde Visita ao Portugal dos Pequeninos

Noite Serão da Nossa Terra

qui manhã Leitura encenada da obra "Amor de Perdição"

tarde Chá das 5

noite Noite de Talentos

sex manhã Ginástica para a nossa idade

tarde Visita à Ria de Aveiro

noite Vamos jogar Loto

sáb manhã Manhã livre

tarde Atelier de Pintura em Azulejo

noite Música ao vivo para dançar

dom manhã Manhã livre

tarde Caminhada na Mata do Buçaco

noite Noite Etnográfica

* A programação-tipo não é vinculativa, pretendendo apenas

ilustrar uma semana do programa.

Dirigido a todos os cidadãos portugueses com 60 ou mais

anos de idade e em pleno gozo das suas faculdades físicas e

psíquicas, é uma experiência única em Portugal e uma

alternativa estimulante aos lares e às residências assistidas,

permitindo que os participantes optem por residir nas

unidades hoteleiras INATEL por um período indefinido e

desfrutem de um plano turístico e cultural ajustado à região

onde se encontrem. O pagamento de uma mensalidade inclui

todos os serviços necessários para uma vida activa, com todas

as comodidades como, por exemplo, o alojamento em regime

de pensão completa, acompanhamento e assistência médica

e de enfermagem, seguro de acidentes pessoais e acesso a

todas as actividades de lazer.

Residindo três meses numa unidade hoteleira INATEL, os

participantes terão a oportunidade para, após esse período,

residirem numa outra unidade situada numa outra região do

país.

Também a pensar no futuro e no bem-estar dos nossos

utentes, sempre que se verifique a perda das suas

capacidades físicas ou psíquicas que lhes garantam uma vida

autónoma, a Fundação INATEL ajudará a procura de

instituições alternativas, dotadas de todas as condições para

uma assistência especializada e que permitam a continuação

de uma vida com toda a dignidade.

Em 2011 o programa terá início em Julho, respectivamente

nas unidades INATEL Luso e INATEL Manteigas, prosseguindo,

a partir de Outubro, em Albufeira. Os centros de férias do ano

seguinte serão anunciados oportunamente.

Sempre em FériasSe é um cidadão autónomo e tem mais de 60 anos, este programa é para si.

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SEJA PIONEIRO

Caso apresente a sua candidatura na primeira semana de

inscrições (entre 28 de Março e 4 de Abril), pague os valores que

constam da tabela ou, em alternativa, entregue os seus

rendimentos totais, retendo 10% para as suas despesas

pessoais. A Inatel reserva-se no direito de, em função do valor

global da alternativa proposta, ponderar a sua aceitação.

CRITÉRIOS DE SELECÇÃO DE CANDIDATURAS

Idade; Rendimentos; Data de entrega da candidatura.

SERVIÇOS INCLUÍDOS

Transporte a partir de todas as capitais de distrito para as

unidades hoteleiras de destino.

Alojamento em regime de pensão completa, nas unidades

hoteleiras da Fundação INATEL.

Tratamento de roupa branca e pessoal; acompanhamento e

assistência médica e de enfermagem; consulta médica de rotina;

acompanhamento por animador sociocultural.

Actividades de carácter lúdico, sempre que coincidentes com

as iniciativas realizadas nas unidades hoteleiras.

Participação num grande evento, com periodicidade mensal.

Realização de dois passeios semanais em autocarro ou a possi bili -

dade de deslocações para eventos culturais, lúdicos ou sociais.

Transporte entre as unidades hoteleiras que colaboram no

programa, de acordo com o calendário estabelecido.

Serviço de bagageiro no 1º e no último dia.

Seguro de acidentes pessoal.

Possibilidade de alojamento e/ou alimentação aos familiares e

amigos que visitarem os participantes nas unidades hoteleiras

de acolhimento, mediante os valores previstos em tabela das

mesmas unidades hoteleiras.

OSr. Vitorino saía do supermercado, como sempre com

muitos sacos, quando se deparou com um cartaz na

montra da agência INATEL na Guarda, onde se podia ler:

"Sempre em Férias. Férias para toda a vida!"

"Olha, era mesmo isto que eu precisava... Era bom, era…"

Continuou a caminho de casa mas veio-lhe à ideia qualquer

coisa que tinha notado na Tempo Livre, sobre um programa

novo, a partir de Julho. Já que até era associado da INATEL há

trinta e tal anos, resolveu entrar para ver do que se tratava e

pediu informações.

Já a caminho de casa, pensou "como seria viver num hotel,

sem as habituais preocupações com as compras ou os

trabalhos lá em casa, e ainda poder aproveitar para conhecer

outros sítios. A Guida ia gostar. Até porque, com o inverno aí a

chegar… porque não experimentar e passarem 3 meses no

Luso, que sempre faz menos frio e, quem sabe, até aproveitar

os tratamentos termais...?"

No dia da partida, quando chegaram ao local de embarque, o

autocarro já os esperava. Ansiosos e impacientes com esta

nova aventura, embarcaram. Afinal, iam viver num hotel

durante 3 meses!

Quando chegaram ao Luso, esperava-os a Helena, uma

animadora da INATEL que os iria acompanhar durante toda a

sua estada e assegurar que nada lhe faltaria.

Após a apresentação do plano de actividades para as

próximas três semanas, ficaram a saber que, já na manhã

seguinte, estão marcadas actividades para desenvolver, quais

os espectáculos a que vão poder assistir ou quando terão

tempo livre para si, para visitar a prima que mora ali na zona

ou, "melhor ainda! porque não vem ela visitar-nos? Aposto que

somos os primeiros na família a morar num hotel."

Tudo correu bem, mas, passados quinze dias, as saudades dos

filhos e dos netos apertaram. Ligaram ao João e ao Pedro e

combinaram que na próxima semana estes iriam passar o fim-

de-semana juntos, no Luso. Na recepção, puderam reservar-

lhes os quartos e, amanhã, iam tratar da surpresa: um passeio

pedestre pela Mata do Buçaco, com guia, para toda a família.

De certeza que os netos iam adorar.

E os três meses passaram num instante, era hora de

regressarem a casa. Nessa altura, o Sr. Vitorino segredou ao

ouvido da sua mulher - "vem até ao bar, quero dizer-te uma

coisa".

Lá foram, e o Sr. Vitorino pediu um café e a D. Guida um

pastel de nata, que estava a sorrir para ela, como afirmou a

senhora.

Já sentados na mesa, a D. Guida questionou a razão de tanto

secretismo, foi quando o marido lhe propôs continuarem no

programa e irem passar mais três meses ao INATEL Albufeira.

Seriam os últimos antes de regressarem a casa? Inatel Social

VALORES DE PARTICIPAÇÃO

Escalões de rendimentos Rendimento mensal líquido Valores a liquidar pelo Participante, mensalmente (1) (2)

Associado INATEL Não-associado INATEL

1º Inferior ou igual a 350 Euros 350 Euros 450 Euros

2º Superior a 351Euros e inferior ou igual a 600 Euros 600 Euros 700 Euros

3º Superior a 601 Euros e inferior ou igual a 1.070 Euros 1.070 Euros 1.170 Euros

4º Superior ou igual a 1.071 Euros 1.500 Euros 1.600 Euros

(1) Para residentes nas regiões autónomas, acrescem os valores das viagens de avião e taxas de aeroporto para a Madeira e os Açores.

(2) Suplemento de quarto individual - 7,00 Euros/noite.

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Museus

Portanto, o grande trunfo, a mais-valiado fluviário é ter sido uma boa ideia,original e pioneira, transformada emalgo de concreto. É que o fluviárionão é apenas um equipamento único

em Portugal, foi também o primeiro grande aquá-rio de água doce da Europa. Depois, como facto-res que contribuíram para o sucesso temos derelevar as qualidades que são a essência do pró-prio fluviário: riqueza e variedade de espécies emexposição, o próprio conceito, ou seja a ideia deviagem ao longo de um rio ibérico, da nascente àfoz, incluindo aí os vários habitats, as várias eta-pas de um curso de água. (além de um espaçodedicado a espécies exóticas, mas já lá vamos).

O próprio edifício do fluviário é assinalável,sendo considerado um projecto de arquitecturarelevante, distinguido com diversos prémios.Vamos olhar o edifício por fora. Tendo por inspi-ração os celeiros rurais alentejanos a construçãoapresenta-se como um corpo compacto, um volu-me maciço, que no entanto ganha leveza pelainclusão de um conjunto de finas lâminas distri-buídas uniformemente por toda a extensão doedifício. O material usado foi, em grande parte, obetão branco o que transmite leveza a uma estru-tura que de outra maneira se apresentaria comoum volume sólido e desengraçado. O responsávelpelo projecto foi o atelier de arquitecturaPromontório, em colaboração com a americanaCosestudi, especializada em arquitectura e biolo-gia marinha. Alguns prémios vieram confirmar aexcelência da obra, como foi a Menção Especialpara a Melhor Obra de Arquitectura na VI Bienal

Ibero Americana de Arquitectura e Urbanismo, oprémio "Projecto do Ano" referente a 2008, darevista Construir, e ainda o InternationalArchitecture Awards 2008, do ChicagoAthenaeum. A estas distinções há que juntaroutras, noutras categorias, como foi o PrémioMelhor Museu Português 2008, da AssociaçãoPortuguesa de Museologia.

Relevante é também a localização do fluviário.Esta casa dos peixes não nasceu no litoral, nemnum grande centro urbano, não, o fluviário estáno concelho de Mora, onde se sentem todos osproblemas e desafios do interior: o despovoa-mento, a falta de investimento, a falta de gentequalificada em todas as áreas. Por isso voltamosao princípio deste texto, e reconhecemos aimportância das boas ideias. E foi isso que oFluviário de Mora fez: deu vida a um equipa-mento de excelência, quebrou a invisibilidade doconcelho. Desde que foi inaugurado, em 21 deMarço de 2007, quase meio milhão pessoas visi-tou o fluviário, visitou o concelho, e que nuncaali iriam se uma "boa ideia" não tivesse sidotransformada em algo físico e vivo.

O fluviário propriamente dito está implantadofora de qualquer espaço urbano, entre as vilas deMora e do Cabeção, num local denominadoParque Ecológico do Gameiro, uma mancha flo-restal bordejada pela caudalosa ribeira da Raia,que juntando-se adiante à ribeira de Sor dá ori-gem ao rio Sorraia. Neste ponto do seu aindacurto percurso a ribeira está represada formandoum vasto plano de água denominado Açude doGameiro, que para além de ser um elemento valo-

Fluviário de MoraA Casa dos PeixesAs boas ideias têm por norma o êxito assegurado. Além disso, uma vezconcretizadas, por regra, não resultam apenas em benefícios para osempreendedores, mas acabam por ser uma mais valia para a comunidade,para a região envolvente. O Fluviário de Mora pertence sem dúvida a essacategoria.

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rizador da paisagem serve como local de recreio,- natação, canoagem, pesca - e é igualmentereconhecido pelas espécies de peixe a que dáguarida. Foi, portanto, bastante certeira a locali-zação de uma estrutura que tem por objectivomostrar a vida dos rios, localizando-a precisa-mente à beira de um curso de água.

A Vida dos RiosÉ tempo de entrarmos, porque afinal é no interiorque é explicada a vida dos rios, é no interior queestão os habitantes, aqueles que motivam a visi-ta. E esses habitantes são, em primeiro lugar pei-xes, acompanhados, é certo, de outros seres ribei-

rinhos, como sejam a lontrae o cágado. Assim, paraabrir temos a exposição cen-tral designada "Percurso deUm Rio". Partindo da nas-cente, e seguindo um per-curso descendente, vamosdeslizando suavementecomo se partíssemos deuma montanha e nos enca-minhássemos para um vale,simulando aquilo que acon-

tece na natureza, seguindo, tanque após tanque,os diversos habitats de um hipotético rio, toman-do conhecimento com as diversas espécies deágua doce sejam elas endémicas da PenínsulaIbérica ou, então, vindas de outras latitudes eintroduzidas nos nossos rios. Desta forma encon-tramos o Ruivaco, o Saramugo, o Bordalo, espé-cies nativas dos nossos rios. Mas também encon-

tramos espécies introduzidas, como sejam a colo-rida Perca-sol, a Gambúzia, ambas originárias daAmérica do Norte. Encontramos igualmente pei-xes que já nadaram nos nossos rios e que hoje sãoapenas uma recordação, caso do esturjão, quesobreviveram ao desaparecimento dos dinossau-ros, mas que vêem a sua continuidade ameaçadapela acção do Homem.

Findo o "Percurso de Um Rio", ou seja o per-curso pelos diversos aquários, chega-se ao habi-tat das lontras, mamíferos que vivem em estreitadependência dos meios fluviais. A atenção queos visitantes do Fluviário de Mora dispensam aocasal residente diz tudo quanto ao interesse queestes animais curiosos e dóceis despertam.

Como complemento ao seu objecto central, orio ibérico, o fluviário dá um pulo a outras latitu-des permitindo ao visitante espreitar outrosambientes aquáticos, como seja a bacia amazóni-ca e os grandes lagos africanos, expondo espéciescomo o peixe-gato, a enguia dinossauro, piranhase a anaconda.

No exterior, na fachada traseira, estende-seum pequeno lago, um charco, apresentando umacor verde barrenta, resultado do tipo de solo ondeestá implantado, que tem como habitantes per-manentes algumas aves e peixes e que recebeoutros das redondezas, como visitantes.

No final, quando deixamos o edifício, conhece-mos e tivemos a companhia de 72 espécies de pei-xes e de outros animais, num total de cerca de 500exemplares. Um verdadeiro concentrado de vidaaquática, uma verdadeira Arca de Noé fluvial. �

José Luís Jorge (texto e fotos)

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Fluviário de MoraParque Ecológico do Gameiro,

Cabeção - Mora. Tel: 266 448 130

Horário

O Fluviário está aberto todos os dias

Horário de Verão: das 10h às 19h

Horário de Inverno: das 10h às 17h

www.fluviariomora.pt

Museus

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Terra Nossa

Ese hoje os únicos barcos que atra-cam ao cais da vila são embarcaçõesde recreio, no passado, em diferen-tes épocas, e com diferentes intensi-dades, este foi um porto comercial

que enviava e recebia produtos para terras próxi-mas e longínquas. Assim, quando o comércioprosperou, Mértola prosperou, quando o comér-cio decaiu, Mértola estagnou.

Antes dos romanos se instalaram já Mértolaera um entreposto comercial e como tal conti-nuou, intensificando essa vocação quando foigovernada por reis muçulmanos. Em 1238 DomSancho II tomou pela força a Marthula muçul-mana, entregando-a aos cavaleiros da Ordem deSantiago, que durante algum tempo fizeram deMértola a sua sede. A conquista, porém, não tra-ria prosperidade, a povoação como se fechousobre si mesma, e só mais tarde, durante o perío-do em que do seu porto embarcaram cereais paraaprovisionar as praças portuguesas do norte deÁfrica, retomou alguma importância. Na segundametade do século XIX, com a exploração do filãomineiro de São Domingos, o concelho voltaria aexportar com força. Mais uma vez o Guadiana foia grande via de escoamento, agora a partir doporto do Pomarão. Porém durou pouco mais deum século esse fulgor e quando a mina encerrouMértola voltou ao apagamento anterior.

No entanto, e voltando a Mértola, à vila, haviaum filão, não de minério mas de um tipo dematéria-prima cujo valor só passou a ser devida-mente tido em conta a partir dos últimos anos dadécada de setenta do século XX. Refiro-me aopatrimónio material (mas também imaterial) acu-mulado ao longo de muitos séculos, algum bem

visível, outro oculto debaixo do solo. Foi com atomada de consciência da existência dessa rique-za e das potencialidades que encerrava especial-mente para uma terra do interior, que nasceu,com o contributo decisivo do historiador CláudioTorres, o Campo Arqueológico de Mértola.

A Ilha BrancaNão sabia praticamente nada acerca de Mértolaquando visitei a vila da primeira vez, - embora naaltura o que se sabia de Mértola também nãotinha a expressão que tem hoje. O facto é queMértola era apenas um ponto que ficava nocaminho que me levava até ao outro lado da fron-teira. Parei para uma pausa e logo intui que apequena povoação teria uma grandeza e interesseque ultrapassava a exígua dimensão. Para além deum passeio sem rumo pelas ruas, houve tempopara um banho no Guadiana, logo que ficou claroque havia uma praia fluvial, junto às azenhas, ver-dadeiros bunkers assentes no leito do rio, e o últi-mo ponto onde se faz sentir a presença das marés.Dava-se o caso da temperatura ter galgado algunsgraus acima dos trinta e se de cada vez que fui aMértola encontrei algo novo para ver, para conhe-cer, é verdade que, - pelo menos no Verão - o calorsufocante mantém-se inalterável.

A segunda visita já não foi, digamos, umacaso. Dessa vez houve tempo para, primeiro,entrar na igreja Matriz, que antes foi mesquita,construção onde se enlaçam num feliz sincretis-mo elementos da mesquita do século XII, as por-tas em arco de ferradura e o mirhab e elementosposteriores, como a cobertura nervurada, doséculo XVI, e de seguida subir ao castelo, subir àtorre de menagem.

Mértola: o últimoporto do MediterrâneoSão as marés que sobem o Guadiana que tornam o grande rio do sulnavegável e a tal fenómeno podemos atribuir a existência de Mértola, ou,pelo menos, senão a sua existência, a importância que alcançou.

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Terra Nossa

Do alto é fácil aceitar a ideia de que estamosnuma ilha, pelo facto de um dos lados se esten-der a fita verde-azul do Guadiana e doutro correra ribeira de Oeiras. Além disso a própria vila deMértola apresenta-se como um corpo branco,compacto e distinto, rodeado por um mar de tonsterrosos (que certamente que na época das chu-vas terá outra cor).

Depois desta visão de conjunto o olhar tornou-se mais atento aos pormenores e houve elemen-tos que se foram destacando, as manchas harmo-niosas de terracota dos telhados, a silhueta bran-ca da Torre do Relógio, o reticulado da Alcáçova,

a massa compacta da igreja-mesquita. E esteolhar do alto infunde a ideia de reconhecimentogeral, cria uma imagem do lugar, e apesar de asabermos incompleta, deixa-nos satisfeitos.

As várias herançasFoi, porém, numa deslocação posterior que, alon-gando a estadia, pude abarcar com mais exac-tidão aquele diversificado o património acumula-do ao longo de séculos, assim como o trabalhorealizado nos últimos 30 anos pela equipa deCláudio Torres. Que, enfim, pude captar algodaquele ambiente característico das terras arre-dadas do bulício do mundo, e entender melhor asingularidade de Mértola.

Podemos começar pelo castelo, cuja torre demenagem, de onde quer que a observemos, sedestaca pelo seu grandioso corpo. Antes de entrar,pelo caminho, feito a pé, cruzei-me com outrosvisitantes, ouvi o matraquear dos teares vindo dointerior da oficina de tecelagem e, à beira dasmuralhas, encontrei Ibn Qasi, que não recordodas anteriores visitas. Não sei em Portugal deoutro monumento assim, em solene bronze, lem-brando uma personagem muçulmana. A verdadeé que, colectivamente, tendemos a ignorar oscinco séculos de presença muçulmana no territó-rio que hoje é Portugal. Ibn Qasi foi chefe político

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e militar, senhor de Silves e de Mértola, mastambém foi pensador e mestre sufi. Em 1152 foiassassinado em Silves, acusado de traição por terfeito acordos com Afonso Henriques.

Agora já estou dentro das muralhas e a torrede menagem é o caminho óbvio. A caminho dotopo, nas salas de gótico recorte, sucedem-se osmateriais que ajudam na tarefa de trazer até aopresente fragmentos do passado. Um amigo, LuísMaçarico, a quem não falta o conhecimento epaixão por Mértola, forneceu-me algumas pistas,e insistiu que não deixasse de visitar o Núcleo deArte Islâmica do Museu de Mértola. O Museu écomo um tronco donde partem vários ramos, osnúcleos, que recebem diferentes nomes consoan-te o período e o assunto tratado. Dessa forma,para além Núcleo de Arte Islâmica, o Museucinde-se nos Núcleos do Castelo, de Arte Sacra,de Tecelagem, da Basílica Paleocristã e no NúcleoRomano, referindo os mais significativos.

Começamos, cronologicamente, pelo NúcleoRomano, localizado no subsolo do edifício dosPaços do Concelho. Aqui, como tantas vezesacontece, construiu-se sobre uma estrutura maisantiga e foram obras na sequência de um incên-dio que puseram à vista as ruínas desta habitaçãoda Myrtillis romana. Não se pode afirmar queestamos perante algo muito relevante, mas a

atmosfera do local é bastante evocativa desseperíodo histórico. Porém, se quisermos ver algode mais substancial, no que diz respeito a essaépoca, não precisamos de andar muito e, logoadiante, à beira do Guadiana, encontramos arobusta Torre do Rio.

Segue-se a Basílica Paleocristã, um espaçodatado do século V, particularmente valioso pelaescassez de vestígios dessa época em Portugal.Debaixo da capa de um edifício banal, encon-tram-se ecos de eras distantes, lápides, bases decolunas, as fundações de uma grande basílica dosprimeiros tempos do cristianismo, além de vestí-gios de necrópoles das épocas romana e muçul-mana.

Uma das características do Museu de Mértolaé a dispersão dos seus núcleos, o que implica des-locar-nos de um lado para o outro, e dessa manei-ra visitamos não apenas o passado mas também opresente já, que cirandamos toda a vila.

Agora vou até praticamente a um extremo docasario, junto da muralha, para visitar o NúcleoIslâmico. Domiciliado nos antigos celeiros daCasa de Bragança, um edifício onde é visível umacuidadosa recuperação, acolhe em dois pisos "amais importante colecção de arte islâmica donosso país". Apreciamos peças de numismática,de joalharia, mas acima de tudo cerâmica, arte-

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Terra Nossa

factos com formas diversas e diferentes fins, quecom frequência alcançam a excelência do objec-to artístico. Objectos que nos põem diante de lin-guagens, de técnicas, vindas de longe, porque,não esqueçamos, foi durante o período muçul-mano que a antiga urbe alcançou o seu apogeu,quando recebeu marinheiros e comerciantes vin-dos de todas as cidades da orla do Mediterrâneo.

Mértola já não é, hoje, porto nem lugar de pas-sagem de nenhuma rota importante, mas os vestí-gios de eras passadas despertam, em estudiosos evisitantes de todo o mundo um fascínio singular.E assim, agora que já não é "o último porto domediterrâneo", é, retomando o contacto com oexterior, um porto de seduções.

O rio e a mesaLocalizado no extremo sul da região do BaixoAlentejo, a cozinha do concelho de Mértola, par-tilha, grosso modo, dos mesmos fundamentos dacozinha alentejana. Quer isto dizer que dá pri-vilégios a ingredientes como o pão, o azeite,tomate e às carnes de borrego, porco e caça. Ogrande número de ervas aromáticas que se

encontram nos seus camposlevam até à mesa orégãos,poejos, hortelã e outrasplantas.

Porém, o concelho deMértola, por ser atravessadopelo Guadiana, apresentaalgumas particularidadesno que diz respeito à suaculinária. Assim o rio, paraalém de via fluvial, étambém fonte abastecedorade peixe, constituindo "atémuito recentemente umariqueza fundamental daregião." As principais espé-cies capturadas são a

enguia, a saboga, o barbo, o bordalo e as tainhas(que a população local chama de muge). Alémdestes peixes pesca-se também a apreciada lam-preia e o sável, sendo que esta espécie é hoje rarano Guadiana. Nalgumas épocas do ano, determi-nadas peixes marinhos, caso da corvina e dorobalo, sobem o rio com a maré.

Assim, a circunstância do concelho ser atra-vessado por um grande rio, beneficia Mértola no

que diz respeito à culinária, pois permite às gen-tes que aqui habitam ter à mão produtos da terrae produtos do rio. Deste modo no cardápio localaparecem pratos à base de peixe, como ensopadode enguias, sopa de peixe do rio, caldeirada depeixe do rio e sendo a época própria (Fevereiro eMarço ) podemos encontrar a lampreia, lampreiaà bordalesa e lampreia com arroz branco, e osável. Aliás a tradição da pesca fluvial e daculinária baseada no peixe do rio levou à organi-zação do Festival do Peixe do Rio, na localidadede Pomarão e que já vai na oitava edição.

Outros pratos tradicionais de Mértola, e que ovisitante encontra nos diversos restaurantes davila e do concelho, são o cozido de grão à alente-jana, o ensopado de borrego, a sopa de cação, osgrelhados de porco preto e pratos de caça, comosejam lebre, perdiz e javali.

Além disso o concelho é um grande produtorde mel, sendo o mel de rosmanhinho o maisapreciado. Bem conhecidos são também os quei-jos frescos e curados. Para prolongar a recordaçãode uma terra ímpar em tantos aspectos nada me -lhor que trazer estas verdadeiras delicatessenpara casa. �

José Luís Jorge (texto e fotos)

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Museu de MértolaContactos: Câmara Municipal de

Mértola - Praça Luís de Camões,

7750, Mértola (Núcleo - Sede - Casa

Romana) Tel: 268 610 100

Horário: Horário de Inverno: (16 de

Setembro a Junho); 3.ª a Domingo:

9h - 12h30 e 14h - 17h30; Horário de

Verão: (Julho a 15 de Setembro); 3.ª

a Domingo: 9h30 - 12h30 e 14h -

18h; Encerrado à 2.ª feira e nos feri-

ados de 1 de Janeiro, 1 de Maio e 25

de Dezembro

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Memória

Há uma expressão muito vulgariza-da do filósofo George Santayanaque enquadra de forma apropria-da os propósitos de musealizaçãode espaços como o do forte de

Breendonk: "Those who cannot remember thepast are condemned to repeat it". Breendonk, umantigo campo de trânsito para deportados, tem,justamente, o desiderato de não deixar perder amemória do mais mortífero conflito bélico doséculo XX e dos seus inumeráveis horrores.Memorial Nacional desde 1947, é, pela sua estru-tura em pedra, um dos espaços do género quemelhor se conservou, testemunhando hoje deforma exemplar as funestas funções para que foi

Breendonk Um campo de p

Poucos meses depois da ocupação da Bélgicapelo exército do III Reich, o forte deBreendonk, situado a poucos quilómetros deBruxelas, foi convertido em campo de trabalhoe ante-câmara de deportação de prisioneirosjudeus, função que repartiria mais tarde com ocampo vizinho de Malines. Foi há 70 anos, emSetembro de 1940.

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e passagem para Auschwitz

adaptado após a ocupação da Bélgica pelo exérci-to nazi.

Malines (a flamenga Mechelen), nas proximi-dades de Breendonk, foi outro ponto de partidadas deportações para os campos de extermínio deAuschwitz e de Birkenau. Se nada resta das estru-turas físicas de detenção, subsiste aí, também, ummuseu que recorda a passagem de milhares dejudeus e ciganos. Entre outros, um facto relevan-te une Breendonk e Malines: ambos os camposestiveram sob a autoridade de Philipp Schmitt,um major das SS conhecido pela particular bruta-lidade com que tratava os prisioneiros.

Malines acolheu os primeiros prisioneiros em22 de Julho de 1942. No ano seguinte, em

Agosto, partiu o primeiro dos muitos comboiosque levaram para Auschwitz e Birkenau cerca de26000 deportados judeus e ciganos. No campo deMalines, os prisioneiros sofriam as mesmascrueldades e humilhações que Schmitt e os seusparceiros fardados, incluindo alguns empenha-dos colaboracionistas flamengos, reservavam aosdetidos de Breendonk. Os depoimentos de pri-sioneiros sobreviventes relatam as violaçõespúblicas a que eram sujeitas as mulheres, assimcomo as diversões cruéis a que os chefes milita-res, embriagados, sujeitavam os detidos. Um dosrelatos refere um episódio, dos poucos documen-tados em imagem fotográfica, de humilhação deum grupo de judeus, obrigados por Schmitt a cor-

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Memória

tar a barba e a dançar ecantar com cruzes suás-ticas pintadas nas rou-pas.

Em Malines as con-dições de vida erammais duras, ainda, paraa população cigana,obrigada a permanecer23 horas por dia encar-cerada e sujeita conti-

nuamente a humilhações e sevícias durante aúnica hora permitida para exercício. Sem acessoa instalações sanitárias e sem autorização parareceberem comida do exterior, chegavam, deacordo com o testemunho de Helene Beer, umasobrevivente judia, a passar um mês sem ver aluz do dia, num espaço totalmente fechado e emcondições de higiene dramáticas. Muitas dessascenas rotineiras da vida do campo ficaram docu-mentadas em desenhos elaborados secretamente

por artistas belgas como León Landau, AzrielAwret, Irène Spicker e Jacques Ochs, director daAcademia de Belas Artes de Liége, que foi,também, prisioneiro em Breendonk. Alguns dosdesenhos estão expostos no Museu Judeu daDeportação e Resistência, em Malines, e no fortede Breendonk.

Os cavalos tinham nomeos prisioneiros, númerosBreendonk fica nas proximidades da povoaçãode Willebroek, a meio caminho entre Bruxelas eAntuérpia, cidade de proveniência de muitos dosjudeus detidos no campo. O forte foi construídoem 1906 e fazia parte da cintura defensiva deAntuérpia, que incluía outras duas fortificações.Cerca de três meses depois da invasão da Bélgicapelo exército nazi, em 20 de Setembro de 1940,entravam em Breendonk os primeiros prisionei-ros, um grupo de judeus e políticos belgas. EdgarMarbaix, preso nº 1966, descrevia assim a chega-

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da ao que ficou conhecido como o "inferno deBreendonk": "Devant nous, la porte sombre… àgauche et à droite, une clôture en barbelés; lesbétons du Fort s'allongent devant nous; toutautour, la campagne déserte... Et la peur a serrénos coeurs dans ses griffes, qui ne nous lâcherontplus. La peur, car c'est Breendonk qui est devantnous, camp de concentration de la Gestapo belge,Breendonk-la-Mort!"

As obsessões de "limpeza" nazi atingiamvários sectores da sociedade, gente de esquerda,pequenos comerciantes do mercado negro,judeus, ciganos, resistentes. Breendonk transfor-mou-se, durante o tempo de espera pela depor-tação, em campo de trabalhos forçados, tendopassado pelos seus portões mais de 3500 prisio-neiros, metade dos quais judeus. O primeirocomboio com deportados partiu de Breendonkem Setembro de 1941 em direcção ao campo deconcentração de Neuengamme, perto deHamburgo.

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Memória

As condições de vida dos detidos eram daspiores entre as instalações do género, se fazemsentido tais comparações. As práticas cruéis deSchmitt não seriam diferentes das de outros res-ponsáveis nazis noutros campos: a história deBreendonk regista centenas de mortos na sequên-cia de práticas de tortura, além de numerososfuzilamentos e enforcamentos. Muitos presossucumbiram, também, por causa da sub-alimen-tação crónica e da violência dos trabalhos força-dos, a maioria das vezes sem outra utilidade con-creta que a da extenuação física e moral dos deti-dos. O dispositivo museológico do forte incluiregistos audiovisuais de antigos prisioneiros, quenarram toda esses terríveis episódios que faziamparte da vida quotidiana de Breendonk.

Para as condições e tratamento desumanosque marcaram as vida dos presos contribuíram,igualmente, os colaboracionistas locais, os mem-bros belgas das SS, reputados como tão ou maisviolentos e desumanos do que os seus colegasalemães. O estatuto infra-humano dos detidos é

paradigmaticamente traduzido numa observaçãoque os visitantes podem ler nas cavalariças doforte, que conservam nas paredes as placas deidentificação dos equídeos dos militares nazis:"Os cavalos tinha nomes; os prisioneiros, núme-ros".

O Memorial de Breendonk é, nos seus cantossombrios e de atmosfera pesada, nos pátios ondefacilmente se pode imaginar as detonações dosfuzilamentos, nos olhares mortiços dos prisionei-ros esquálidos retratados em fotografias afixadasgrandes painéis, nas vozes dos sobreviventes queecoam no ar abafado dos corredores e camaratas,uma narrativa de tudo isso, uma narrativaimpregnada do aviso de Santayana. Não é, ape-nas, "história", episódios vagamente perdidosnum tempo inumado. Breendonk e Malines nãoaconteceram, verdadeiramente, há muito: apenashá pouco mais de meio século, um hiato detempo que é, na história europeia, e afinal, ape-nas o breve incêndio de um fósforo. �

Humberto Lopes (texto e fotos)

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Olho Vivo

O mais velho cão da América

Restos do mais velho cão do Novo Mundo, bicho que existiu há 9400 anos,foram identificados no Texas. Um estudante da universidade do Maineanalisou uma amostra de lixo humano desenterrado em 1970 e confirmoupor análise ao ADN que um osso misturado em fezes humanas era de umcão e não de um lobo, coiote ou raposa, como antes se pensava. O fiel

amigo, além de fornecer companhia e segurança, comoanimal doméstico, entrava, portanto, também na dietados americanos há 10 mil anos. O artigo sobre adescoberta aguarda publicação no American Journal

of Physical Anthropology. Já existemregistos de cães domésticos naBélgica (31 mil anos), na RepúblicaCheca (26 mil) e na Sibéria (15 mil),mas este é o primeiro cão das

Américas.

Vantagens de terduas línguas

As crianças que aprendem duaslínguas na primeira infância têmuma vantagem sobre os seuscamaradas unilingues, segundo umestudo de uma universidadecanadiana que se debruçou sobremiúdos que falam francês e inglêsou só uma dessas línguas nacionaisdo Canadá. Segundo a Revista dePsicologia Infantil, de York, aos 24meses, as crianças bilinguestiveram melhores resultados emtestes cognitivos básicos do que osseus pares que só falavam uma. Amaior diferença verificou-se emtestes feitos quando a criança estádistraída e os cientistas atribuem avantagem dos bilingues a umacombinação da experiência dosmiúdos de ouvir e usar doisidiomas, o que reforça a atençãoautomática.

Piolho de costura

Um estudo da Universidade daFlorida sobre a evolução do piolhoprova que o ser humano começoua usar roupas há cerca de 170 milanos, tecnologia que permitiu amigração para fora de África. Aolongo de cinco anos, os cientistasanalisaram o ADN dos parasitaspara detectar o momento em que ochamado “piolho de costura” seseparou geneticamente do “piolhoda cabeça”. Esse momento marca oinício do uso de roupas pelo serhumano. Os resultados forampublicados na revista MolecularBiology and Evolution. Os dadosmostram que o homem começou avestir-se 70 mil anos antes demigrar para climas mais frios ealtitudes mais elevadas, o queaconteceu há cerca de cem milanos.

Pequenino mas mauzinho

A revista Science deu a conhecer ao mundo oEodromaeus, mais um dinossauro carnívoro, desenterradona Argentina por paleontólogos de Chicago. Com garras edentes afiados, o Eodro alimentava-se de pequenos animais e

crias de dinossauros maiores. Pequeno mas feroz, viveu há 230 milhões deanos, quando os dinossauros começaram a aparecer. Paul Sereno, o chefeda expedição, disse sobre a criatura: “Era muito giro, não me importava deo ter como mascote”. Pesava uns sete quilos e tinha cerca de um metro evinte de comprimento. Os cientistas pensam que é um antepassado dalinhagem que produziu o célebre Tiranossaurus Rex.

A pílula não engorda

A pílula afinal não engorda, ao contrário do que se costuma dizer. Umestudo publicado este mês na revista Human Reproduction, feito porcientistas da Faculdade de Medicina do estado norte-americano doOregon, indica que um grupo de fêmeas do macaco rhesus, cujo sistemade reprodução é praticamente idêntico ao dos humanos, recebendo aolongo de oito meses a pílula contraceptiva e mesma quantidade decomida, não viu o seu peso alterado. A queda do mito é importanteporque o medo de engordar leva muitas mulheres a evitar a toma dapílula contraceptiva, aumentando o número de gravidezes nãodesejadas.

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António Costa Santos ( textos) André Letria ( i lustrações)

Vinho velho

Há 6100 anos, um grupo de arméniosproduzia vinho numa caverna daArménia. Um grupo de arqueólogosarménios, irlandeses e da Universidadede Los Angeles desenterrou a mais antiga“adega” até hoje encontrada, incluindograinhas de uva, restos de pés e troncos devideira, restos de uvas esmagadas, umaprensa rudimentar, uma bacia de gessoprovavelmente usada para a fermentação e atéuma taça para os vinicultores irem provando o produto. A caverna faz partede um misterioso sistema de grutas, na fronteira sul da Arménia com o Irão,onde no Verão passado foi descoberto um sapato de couro. Pensa-se que aadega e o sapato pertençam ao povo Kura-Arax.

Tubarões daltónicos

A estrutura dos olhos dostubarões não lhes permite

distinguir as cores e os predadoressão provavelmente daltónicos, segundo

investigadores australianos que analisaram as retinas de17 espécies de tubarões. A retina destes peixes está equipada com apenasuma espécie de células receptoras de luz sensíveis às cores, designadamenteao verde, enquanto que o homem, por exemplo, recebe o verde, o vermelhoe o azul. Numerosas espécies marinhas, como os golfinhos, as focas e asbaleias, também têm uma visão possivelmente monocromática, deficiênciaque compensam com uma grande sensibilidade aos contrastes e à luz.

O Códigode Mona Lisa

Um professor da UniversidadeClássica Queen’s anunciou que afamosa Mona Lisa incorpora imagensinspiradas pelo poeta florentinoPetrarca e pelo clássico romanoHorácio. A técnica de pegar emliteratura e inseri-la numa pintura éconhecida por “invenção” e foiutilizada muitas vezes noRenascimento. O prof. Kilpatrick achaque a Gioconda alude à ode deHorácio ‘Integer vitae’ e a dois sonetosde Petrarca do seu Canzoniere. ComoMona Lisa, os poemas celebram adevoção a uma jovem sorridente. Oscenários mencionados pelos poetassão semelhantes ao fundo do quadro,onde também se vê uma ponte que foiidentificada como a de Arezzo, cidadenatal de Petrarca. Kilpatrick jáidentificara alusões ao casamento dosdeuses gregos Ariadne e Dionísio nofamoso “Beijo” de Gustav Klimt.

Acordar na mesa deoperações

Dois em cada mil pacientes acordamda anestesia a meio de uma operaçãoe ficam psicologicamentetraumatizados durante anos, senãopara sempre. Um estudo conjunto dasuniversidades alemãs do Ruhr e deBerlim, publicado em Fevereiro naDeutsches Ärzteblatt International,junta ao culpado do costume (umaanestesia insuficiente), o usoprolongado de analgésicos e a hora dodia, em que se faz a cirurgia. Asoperações nocturnas registam maiscasos de operados que acordam ameio da função. Os cientistasrecomendam uma maior vigilância daanestesia em doentes com factores derisco e intervenções feitas emcircunstâncias que facilitem oacordar.

Morte em Hong Kong

Já se sabia que a poluição atmosférica nasgrandes cidades faz mal à saúde, exponenciaas alergias, desencadeia as doenças auto-imunes e pode matar. Em Tóquio, porexemplo, a visibilidade diminuiu muito nasúltimas décadas, com a industrialização dasregiões chinesas vizinhas, e os turistas

queixavam-se de que as fotografias nãoficavam tão nítidas e brilhantes como dantes.

Agora, um estudo da Faculdade de Medicina Li KaShing de Hong Kong dá números: entre 2007 e 2010,

por ano, a diminuição da visibilidade e a poluiçãoatmosférica foram responsáveis directas por 1200 mortes.

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Existe um provérbio português que diz:«Abraçou-se o asno a uma amendoeira eacharam-se iguais». Invulgar afinidade,porventura, compreensível se recordar-

mos no animal e na árvore uma imensa obsti-nação, teimosia ou loucura para muitos, mas defacto, pura manifestação de vontade.

Salvaguardada a boa reputação do asno, veja-mos, em pormenor, o carácter da amendoeira.Quando a maioria das árvores parece adormeci-

A temerária doce

Símbolo do amor eterno, as flores daamendoeira não temem a geada eexplodem em jóias.

A Casa na árvore

Susana Neves

da, e ainda ameaçam cair as últimas geadas, a“shaked” (amendoeira em hebraico) floresce,anuncia a Primavera, “dá o toque da alvorada”,protagoniza o “despertar precoce”, apresenta-se,segundo a entendiam na antiga Frígia (actualTurquia), como “Pai de todas as coisas”.

Grande temerária, doce e nutritiva (“Prunusamygdalus Batsch”) ou amarga e venenosa(“Amygdalus communis var. amara”), pouco inte-ressa a esta Rosácea se o frio lhe destruirá as deli-cadas pétalas, limitando a quantidade do fruto —o mais importante é florir, celebrar a regeneraçãode cada Primavera.

«Árvore, amiga, fala-me de Deus. A amendoei-ra respondeu dando flor», escreve Nikos Kazan -tzakis, escritor grego e Prémio Internacional daPaz 1956. Noutro século, em Portugal, também amuito jovem princesa Isabel de Aragão, viu nasflores das amendoeiras uma mensagem divina.Conta a lenda que o rei D. Dinis, ainda noivo dafutura Rainha Santa Isabel, a teria levado a pas-sear por terras de Foz Côa (actual capital daamendoeira) mas ao confundir as flores dasamendoeiras com neve pedira o gentil monarcadesculpa por não proporcionar à sua amada pai-sagem mais bela. Seria Dona Isabel, que comosabemos tinha uma relação privilegiada com asflores, quem logo as reconheceria: «Não vêdes?!...Não é neve! Não… São rosas! Pequeninas flores!Frágeis, brancas e levemente rosadas! Uma pren-da que Deus nos deu para embelezar a nossa pas-sagem!»

A ligação da amendoeira à História do Amor edo Matrimónio remonta à Grécia antiga, aoromance trágico de Fílis e Acamante e é a partirdeste mito que se terá originado a tradição de ofe-recer amêndoas nos casamentos, ainda hoje prá-tica comum em vários países mediterrânicos etambém entre nós. Recordemos o mito grego:Fílis, Princesa de Trácia, apaixonou-se porAcamante, filho de Teseu. O jovem partiu emmissão de guerra para Tróia mas não voltou nadata prevista levando Fílis a morrer de desgosto.Em sua homenagem a deusa da sabedoria, Atena,transformou-a numa amendoeira. Ao regressarum dia depois do combinado, Acamante

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abraçou-se ao tronco da árvore, acariciando-o. Deimediato, a árvore correspondeu-lhe, florescendomesmo sem folhas.

Apesar do mito ter sido esquecido, a tradiçãode oferecer amêndoas doces nos casamentosevoca-o, símbolo da esperança no amor eterno,na felicidade e fertilidade conjugal. Em Portugal,as amendoeiras ganharam reputação na Históriados banquetes de casamento através da finíssimae muito trabalhosa “amêndoa coberta da Torre deMoncorvo”. São as “cobrideiras de amêndoa”,uma espécie de “magas” com dedais de costura,um em cada dedo, a barriga encostada a um tabu-leiro de cobre, assente sobre um “caco”, pote embarro com brasas dentro, “ardendo em borralho”,que ao fim de muitas e muitas horas conseguem“convencer” a amêndoa a “agarrar o açúcar”,mexendo e remexendo-as na calda preparadapara o efeito.

Esta gulosa “delicatessen”, cujo reconheci-mento no estrangeiro remonta pelo menos aoapreço colhido na Exposição Universal de Parisem 1886 e dez anos mais tarde na FeiraInternacional de Filadélfia, não tem o mesmosabor da amêndoa industrial, desfaz-se o açúcarna boca como uma nuvem branca (estilo deamêndoa “normal”), ou uma nuvem branca e finase for uma “peladinha”, ou uma nuvem de cane-la ou chocolate se for “morena”.

Revestida com uma “toilette” fina, um verda-deiro fato “de ver a Deus”, a rústica amêndoa quenasce protegida e escondida em sobrecasaca depêlo, casca rija e pele escura, transfigura-se, pelasmãos das “cobrideiras”, numa dama barroca, cujaascendência talvez se possa procurar no MédioOriente, na “amêndoa coberta” israelita. Assimapresentada, a amêndoa ressurge na suadimensão de jóia, uma pérola exaltada pela con-feitaria, distante dos tempos em que era alimen-to humilde e medicinal dos viajantes da Rota daSeda.

Adaptando-se a períodos de grande seca, aptaa sobreviver em solos pouco férteis e pedregosos,embora com alguma profundidade, a amendoeiraé bem o exemplo de como arriscar pode, porvezes, produzir o melhor fruto. �

Fotos: Susana Neves

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Folhas da amendoeira. À esquerda,ilustração botânica de Prunus Dulcis

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� CONSUMO Entre a funcionalidade de um equipamento e o seu design,

os consumidores optam frequentemente pelo design, e muitas vezes com

custos elevados. Pág. 58 � LIVRO ABERTO Dois novos volumes da D.

Quixote com os "diários" de Miguel Torga, relativos ao período de de 1960

a 1993. Pág. 60 � ARTES Em destaque a exposição "Idioma Comum", uma

importante mostra de artistas do mundo lusófono, até dia 26, na Colecção

da Fundação PLMJ. Pág. 62 � MÚSICAS O primeiro CD de Aurea, uma jovem

cantora que promete altos voos no mundo da música ligeira portuguesa.

Pág. 64 � NO PALCO A ver: "A Catatua Verde", de A.

Schnitzler, no D. Maria II, e e uma adaptação de

"Nome de Guerra", de Almada Negreiros, S. João do

Porto, Pág. 66 � CINEMA EM CASA "A Cidade", de Ben

Affleck, e "Hachiko - Amigo para Sempre", do sueco Lasse Hallstrom,

dominam as escolhas caseiras de Março. Pág. 68 � TEMPO INFORMÁTICO

Os avanços tecnológicos permitem hoje criar os dispositivos mais

indicados para certos grupos de utilizadores. Pág. 70 � SAÚDE O

funcionamento dos nossos intestinos pode e deve ser educado: cada

pessoa deve habituar-se a ir à sanita todos os dias, a uma determinada

hora. Pág. 72 � PALAVRAS DA LEI Há várias instituições nacionais que

protegem e guiam os cidadãos na protecção de uma sua ideia, ou na

exploração de um activo registado. Pág. 73

BOAVIDA

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Boavida|Consumo

A dificuldade da escolha

Carlos Barbosa de Oliveira

Andava a queixar-se de algumas maleitas há coisade um ano. Não tinha luzinhas a piscar, avisan-do a tipologia da enfermidade. Era à antiga.Apenas emitia uns gemidos estranhos ou

começava a tremer furiosamente, abalando o chão da co -zinha, quando alguma coisa estava mal. Lá fui tentandoaliviar-lhe a dor e adiar o estertor mas, na semana pas-sada, despediu-se com um último suspiro,enquanto o técnico que entretanto chamaranuma última tentativa para a curar, medesenganava e lhe dava a extrema-unção.

Preparei-lhe o funeral, em ce -rimónia simples. Agradeci-lhe,uma última vez, a forma dedica-da como sempre se entregou aotrabalho, sem um único lamen-to. Já sabia que o passo seguinteseria doloroso. Colocava-se deimediato uma questão: comosubstituir aquela fiel compa -nheira? Quem estará melhorhabilitado para fazer esquecer osbons serviços que a máquina delavar de linha branca, compradano saudoso Carrefour me prestoude forma zelosa e eficiente, aolongo de quase duas décadas?

Nesta sociedade da hiperescolha, onde cada marcaapresenta uma panóplia diversificada de modelos paracada produto, com o objectivo de penetrar em todos osnichos de mercado, escolher uma máquina é, por vezes,tarefa ciclópica. Principalmente para leigos em novas tec-nologias, como eu, que fico com a cabeça a andar à roda,cada vez que vejo luzinhas a piscar num visor, sem saberse aquilo significa que o aparelho está a dar o berro ou emperfeito estado de funcionamento. Como distinguir o mo -delo XPTO 17, do seu concorrente, da mesma marca, XPTO17 SP? Muitas vezes os modelos distinguem-se apenas por

A variedade da oferta na sociedade da hiperescolha e a rápida obsolescência dos equipamentos comelevada componente tecnológica, tornou mais difícil fazer opções correctas. Entre a funcionalidade deum equipamento e o seu design, os consumidores optam frequentemente pelo último. Não raras vezes,essa opção tem custos elevados.

pormenores só perceptíveis a especialistas na matéria enão ao consumidor comum.

E como saber se a marca que mais se adequa às minhasnecessidades é a ZPLR Hidromatic ou a mais singela (pelomenos em nomenclatura baptismal) ZETA?

Eu sei que há testes comparativos que nos podem aju-dar e que podemos pedir a opinião dos amigos mas, nageneralidade, cada um sempre enaltece as característicasda marca e modelo que tem em casa, para justificar o acer-

to da sua opção. A consulta a amigos tambémpode ter a vantagem de eliminar à par-

tida algumas marcas mas, caram-ba, nem os meus amigos sãotantos que me permitam umaescolha por amostragem, nemestava na disposição de me colarao telefone a perguntar-lhes:

"Olha lá, estás satisfeito coma tua máquina de lavar? Parece-te que é um modelo ideal paramim?"

Decidi, por isso, meter-me aocaminho e dirigir-me a uma lojaonde a oferta de marcas fossevariada e tivesse aconselhamentotécnico na escolha. Fui. Comecei por deambular entre

marcas e modelos olhando para os preçose tentando decifrar o que se escondia por

detrás da designação de cada marca e modelo. Aofim de cinco minutos, pedi a ajuda de um funcionário.

Afoito, contei-lhe a história:"Olhe, vim cá porque a minha máquina pifou e preciso

de uma nova, mas não sei o que hei-de comprar. Pode dar-me uma ajuda?"

"Qual era a marca da máquina que tinha?" - perguntou-me o funcionário, certamente já apontado para me indicara compra de um modelo da mesma marca.

Desiludi-o. Percebi-o na reacção estampada na face,quando lhe respondi: "a minha máquina de lavar era demarca branca". Olhou-me com ar superior de quem vê

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entrar um pelintra, num estabelecimento onde se vendemprodutos com "pedigree" e disse:

"Pois, nós aqui só temos produtos de marca. Se queruma máquina dessa linha, terá de procurar noutro sítio"

Perguntei-lhe se sabia onde poderia encontrar umamáquina, igualzinha à minha, porque era isso que queria.

Começou por encolher os ombros e depois, a custo, ládisse que não fazia ideia.

Expliquei-lhe então que, não tendo tempo para andar aprocurar um estabelecimento onde vendessem máquinasde marca branca, queria uma máquina que durasse osmesmos 20 anos de vida da defunta.

Escapou-se-lhe um sorriso. "A sua máquina tinha 20anos? Hoje já não arranja disso. Se aguentar 10, já é muitobom!"

Conformei-me. Pedi-lhe um conselho. Acabou por meindicar três modelos de duas marcas diferentes. Optei porum, que me pareceu adequado às minhas necessidades, ecujo preço era atraente.

Agora tenho lá em casa uma máquina cheia de luzi -nhas a piscar, que me fazem lembrar o cockpit de um

avião. Não percebo para o que servem, nem consigodecifrar os seus sinais. Entreguei essa tarefa à empregadaque me pareceu entusiasmada com a nova hóspede, tal aforma carinhosa como a recebeu.

Eu continuo com saudades da minha máquina de lavarde marca branca. Baratucha e fiel.

Os tempos são outros, claro. Vivemos no tempo de ummercado sujeito a grande pressão, onde anualmente desa-parecem 8 em cada 10 produtos lançados como novidades,onde em cada 1000 ideias, apenas 35 vêem a luz do dia, esó 19 obtêm sucesso. A pressão dos mercados alterou pro-fundamente as regras do jogo publicitário que até há cercade 30 anos se resumia a propostas inocentes como "Omolava mais branco" ou "Vaqueiro torna tudo mais apetitoso".Mas alterou também a forma de nos relacionarmos com osprodutos e dificultou a forma de fazer as nossas escolhas.Já não procuramos o duradoiro. Somos seduzidos pelasnovas tecnologias que apenas nos prometem o prazerefémero de comprar hoje a última novidade mas, passadospoucos meses, somos obrigados a admitir que temos emcasa uma velharia. �

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Boavida|Livro Aberto

Dos diários de Torgaà intemporalidade da Filosofia

realidade social e política contemporânea. Reler Platão, eSócrates através dele, Aristóteles e tantos outros é umaforma de verificarmos que a sabedoria milenar não perdeactualidade pelo facto de sobre ela terem passado séculos,guerras, revoluções e cataclismos vários. E porquê?Porque, com mais ou menos tecnologia, o ser humanocontinua, no essencial, a ser sempre o mesmo, para o me -lhor e para o pior.

É neste sentido que aponta o trabalho de Mark Vernonem “i Platão” (Clube do Autor), ao propor o reencontro doleitor contemporâneo com as grandes obras da filosofia dopassado reanalisadas à luz, tantas vezes confusa ou ofus-cante, da realidade actual. Jornalista e autor de várioslivros, Vernon relembra-nos, por exemplo, que são deAristóteles estas actualíssimas palavras: “Hoje em dia, amaior parte das pessoas prefere a vida do consumo eprocura o prazer ou a riqueza e a fama”. E recorda-nosigualmente esta oportuníssima frase de Platão: “Aquelesque ganham muito dinheiro continuam a injectar o ferrãotóxico dos seus empréstimos sempre que podem”. É caso

José Jorge Letria

Miguel Torga, pseudónimoliterário do médico AdolfoRocha, fez do seu “Diário”uma das obras mais

importantes de toda a história da liter-atura portuguesa, já que nela verteureflexões pessoais, memórias de época,comentários à vida cultural, social epolítica e também muitos poemas.

A leitura do “Diário” torna-se, assim,essencial para o conhecimento da obrade Miguel Torga e de décadas da vidaportuguesa. Escritor cuja actualidade einteresse nunca prescrevem, MiguelTorga foi um amante da liberdade, quesoube cantar como poucos, e uma dasmais poderosas e originais vozes da li -teratura portuguesa, que reencontramos, pujante e livre,nestes volume finais do seu grandioso “Diário”.

W.G. SEBALD, que morreu tragicamente em 2001, quandotanto havia ainda a esperar da sua obra, é um dos escritoresmais interessantes e originais da segunda metade do séculoXX. Com vários títulos de referência já editados emPortugal, ressurge agora com o volume de ensaios “PátriaApátrida” (Teorema), que nos coloca perante o homem depensamento, que, de resto, nunca deixa de estar bem pre-sente na obra de ficção, já que muitas das suas páginasapresentam uma intensa e problematizadora componentefilosófica. Em “Pátria Apátrida” temos de novo Sebald areflectir sobre escritores e livros que, de algum modo, repre-sentam o trabalho de escrita e de meditação sobre os con-ceitos de pátria, de identidade e de fronteira, verdadeira-mente axiais na sua obra ímpar e intemporal. A não perder.

NOS ÚLTIMOS anos tornou-se um exercício fascinante aadaptação dos grandes ensinamentos da filosofia clássica à

Mais dois volumes condensando a escrita diarística de Miguel Torga acabam de ser lançados pela D.Quixote. Neles se juntam os “diários” do escritor de IX a XVI, cobrindo o período de mais de trêsdécadas que vai de 1960 a 1993.

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para dizer, que nem de encomenda para os tempos con-turbados que estamos a viver neste mundo global! Ou,dito de outro modo, estamos perante um livro que nosdemonstra que a filosofia, que muitos consideram inútil àluz do relativismo moral e do pragmatismo sem princí-pios, nunca foi tão necessária e iluminadora.

NO QUE TOCA à ficção narrativa, os destaques nacionais eestrangeiros vão para o excelente “Romance de umaConspiração” (Oficina do Livro), do jornalista João PauloGuerra, que constrói uma ficção engenhosa e cheia deritmo a partir de factos verídicos, para “Quando a TerraTremeu” (Casa das Letras), narrativa de fôlego deDomingos Amaral sobre o terramoto de 1755, que arrasoua cidade de Lisboa e os seus arredores, para a reedição de“A Ignorância” (Dom Quixote), do checo naturalizadofrancês Milan Kundera, e para a bela narrativa “Pepsi eMaria” (Teorema), o paquistanês Adam Zameenzad,nomeado para o Booker Prize e vencedor do Prémio DavidHigham. �

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Boavida|Artes

Rodrigues Vaz

Com esta exposição, patente ao público na sededaquela instituição da PLMJ - A. M. Pereira,Sáragga Leal, Oliveira Martins, Júdice &Associados, em Lisboa, sob o lema "Uma

sociedade de advogados como espaço de cultura", o seuComissário, Miguel Amado, pretende "contribuir parauma maior dinamização da cena artística dos países daCPLP, divulgando os seus artistas em Portugal e noestrangeiro, e consequentemente, desempenhando umpapel relevante na difusão do ideário lusófono".

O espólio da Fundação da CPLP contempla vários artis-tas, quinze dos quais com obras agora expostas, nomeada-mente Délio Jasse, Kiluanji Kia Henda, Lino Damião,Ihosvanny e Yonamine, de Angola, Jorge Dias, MárioMacilau, Mauro Pinto, Mudaulane e Pinto, deMoçambique, Abraão Vicente, de Cabo Verde, RenéTavares, de S. Tomé, Flávio Miranda, lisboeta de origemtimorense, e Júlia Kater, actualmente a morar em S. Paulo,Brasil.

O acervo da Fundação foca-se em jovens criadoressobretudo angolanos e moçambicanos, mas também dasdemais nacionalidades da CPLP, cuja notoriedade adquiri-da nos seus países se expande, agora, a Portugal.

As obras expostas caracterizam-se por uma linguagemcontemporânea, marcada por uma visão do mundo dematriz cosmopolita, abordando tanto a realidade culturallocal como a ordem social global num cenário pós-colo-nial.

MANUEL AMADO E JOÃO PAULO FERRO

A merecer igualmente uma visita está, por sua vez, até aodia 15, na Galeria de Arte Moderna da SNBA, em Lisboa,a exposição "Encenações", quatro dezenas de óleos sobretela de Manuel Amado, cuja carreira artística tem evoluí-do tão discreta como seguramente.

Fazendo jus ao título, trata-se de composições de cariz

Artistas da CPLP em Lisboa

Cosmopolitismoe contemporaneidadeAté ao próximo dia 26 ainda é possível visitar a exposição "Idioma Comum", uma tão curiosa comoimportante mostra subintitulada "Artistas da CPLP na Colecção da Fundação PLMJ", que integra obrasde vários artistas do mundo que fala português.

Em cima, composição doangolano Lino Damião e, embaixo, “O Rebocador”, deManuel Amado. Na páginaseguinte, um desenho deJoão Paulo Ferro

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intencionalmente narrativo, que jogam com um ambientetão encantatório como misterioso, inserindo pseudo-recortes em paisagens sugerindo labirintos em jogos deefeitos visuais onde o claro-escuro assume um papel pro-tagonista.

Igualmente encantatório é o conjunto que João Paulo

Ferro mostra na Galeria Trema, Lisboa, até dia ao próximodia 19. Senhor de um traço tão dúctil como vigoroso, JoãoPaulo Ferro apresenta um conjunto de desenhos a partirde dois vectores principais: desenhos solto de nuvens,caracterizados por uma grande plasticidade de eficazefeito visual, e composições geométricas, experimentaçõese pesquisas sem outro objectivo para além delas próprias.

TEOTÓNIO AGOSTINHO EM CASCAIS

Por último, vale ainda a pena destacar a exposição"Desenhar é uma forma de escrever", do artista algarvioTeotónio Agostinho, no Centro Cultural de Cascais, quepode ser vista até ao dia 27.

Com um imaginário fortemente condicionado por umrealismo mágico em que as formas partem de uma reali-dade figurativa para um universo fantasmático fragmen-tário, o artista partilha connosco um universo muito pecu-liar, narrando histórias vertiginosas que se sentemtransvazar para além da tela, revelando uma imaginaçãotão poderosa quão pessoal e muito particular. �

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A aparição da jovem cantora Aurea, 23 anos, de tão propalada pela generalidade de ComunicaçãoSocial, já não é notícia. Notável será, porém, o facto de estarmos em presença de alguém que marcaráindelevelmente a história da música ligeira portuguesa.

Vítor Ribeiro

“Aurea” é também o títulogenérico do CD deestreia da cantora e doqual foi extraído o tema

“Busy (For Me)”, para promoçãoradiofónica e televisiva. Tendo emconta os objectivos, a escolha foi acertada.

Diga-se, no entanto, que o espanto nos invade quandoouvimos na íntegra e de um fôlego o primeiro trabalhodiscográfico de Aurea. Mais: é exactamente no últimotema do CD, “The Witch Song” (sem exagero, digamos queGershwin subscreveria com gosto este tema), que Aurearevela com toda a pujança inigualáveis qualidades,enquanto cantora e intérprete de excepção.

Aurea canta como respira, sem constrangimentos nem

Boavida|Músicas

subterfúgios, com alegria, espontanei-dade, modéstia e elegância. Emboradiga sentir-se realizada na “praia” dasoul music, a verdade é que, ao longodas doze canções que nos são apresen-tadas, Aurea percorre com igual com-petência os “areais” da pop, do jazz,chegando a aventurar-se por registos

operáticos que nos deixam incrédulos.Em várias declarações à Comunicação Social, Aurea

partilha sempre o sucesso alcançado com os autores ecompositores que a acompanharam nesta “aventura”, trêsjovens músicos surpreendentes, cujos nomes aqui se re -gistam: Rui A. Ribeiro, João Pedro Matos e Ricardo E.. Hámuito (talvez nunca…) que a música portuguesa não dis-punha de uma intérprete como Aurea. A Natureza temforças inexplicáveis. Aurea é um desses casos.�

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KATIE MELUA EM LISBOA NO PORTO

A cantora inglesa, de origem

georgiana, Katie Malua actuará no

Campo Pequeno, em Lisboa e no

Coliseu do Porto dias 13 e 14 de

Março, respectivamente. A partir das

21h00. A primeira parte do

espectáculo será preenchida com as

actuações de Catarina Deslandes e

Sandra Pereira.

ROGER WATERS NO PAVILHÃO ATLÂNTICO

Roger Waters, músico lendário dos “Pink

Floyd”, efectuará dois concertos no

Pavilhão Atlântico, em Lisboa, dias 21 e

22 de Março. A partir das 21h00. Este

espectáculo integra-se na digressão

agora iniciada por Waters, para celebrar

o 30º aniversário do álbum “The Wall”.

EXPENSIVE SOUL NA CASA DA MÚSICA

Os Expensive Soul efectuam um

concerto na Casa da Música, no Porto,

dia 31 de Março, pelas 22h00.

CONCERTOS

Um acontecimento chamado Aurea

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Boavida|No Palco

“A Catatua Verde” Encenada por Luis Miguel Cintra, A Catatua Verde (até 27 de Março no Teatro Nacional D. Maria II) podeser descrita como uma peça histórica, cuja acção decorre na noite de 13 para 14 de Julho de 1789 naParis revolucionária.

Maria Mesquita

Num bar dos arredores, numa cave (que nosremete para o texto de Platão “Alegoria daCaverna), ilustres e mundanos misturam-senaquilo que pensam ser o fruto das vidas reais,

de gente com problemas, em desacatos amorosos ouprofissionais, na confusão que geralmente a Vida propor-ciona. É também neste local que Próspero cria umaCompanhia de Teatro que de tão ousada acaba por inven-tar histórias para que os visitantes se sintam à vontade.Um ambiente de decadência humana, de bêbados, prosti-tutas, vigaristas…O processo complica-se quando, nessamesma noite, a Revolução e a violência da realidade fazesquecer o processo de ilusão e a história que um dosactores inventou - a traição da sua mulher, também actriz,com um Duque - é entendida como verdadeira e o duque éassassinado pelo marido traído. Seja a razão do crime ver-dade ou ficção, o crime acontece, mas a revolução faz comque o acto ciumento do actor se torne num acto de heroís-mo na defesa do povo revolucionário e triunfante. A ale-gria do “Viva a Liberdade!” é vivida, porém, pelo casalcomo o fim da sua felicidade.

FICHA TÉCNICA: Autor: Arthur Schnitzler; Tradução: Frederico

Lourenço; Encenação: Luis Miguel Cintra; Cenário E Figurinos:

Cristina Reis; Desenho De Luz: Daniel Worm D’assumpção;

Com: Alice Medeiros, António Fonseca, Catarina Lacerda,

Cleia Almeida, Dinis Gomes,Duarte Guimarães, Gonçalo

Amorim, Joana De Verona, João Grosso, João Villas-

Boas,José Manuel Mendes, Luis Lima Barreto, Luis Miguel

Cintra, Miguel Loureiro, Miguel Melo, Neusa Dias,Nuno

Casanovas, Ricardo Aibéo, Rita Blanco, Rita Loureiro, Sofia

Marques, Tiago Manaia, Tiago Matias, Tobias Monteiro, Vítor

D’andrade; Co-Produção: Tndm Ii e Teatro Da Cornucópia

“Vitória”No Teatro dos Aloés, em cena, uma vez mais, uma peçasobre o racismo, a xenofobia, o medo da mistura entreraças, e todos os desenganos que levam às guerras semmotivo. “Vitória”, em cena nos Recreios da Amadora, apartir de dia 11 de Março, é a história de dois jovensnegros sul-africanos que tomam uma decisão que irámudar os seus destinos. Vicky e Freddie, residentes emPienaarsig, uma aldeia em Nieu Bethesda decidem mudaras suas vidas e fugirem para a Cidade do Cabo. Para isso,contudo, precisam de dinheiro e Vicky pensa que na casado antigo professor branco, Lionel, encontrará ou umtesouro ou muito dinheiro escondido, lembrando-se dotempo em que a mãe recebia das mãos do patrão e amigo,um maço de notas. Freddie, por seu turno, apenas querdespachar o assunto para levar a irmã com ele para o sub-mundo da venda e tráfico de drogas. Em 1994, após aprimeira eleição livre na África do Sul, os ânimos entrebrancos e negros estavam muito agitados e qualquer acçãoseria mais um convite aos assassínios entre ambas asraças. Quando Lionel encontra a sua casa virada do aves-so devido à fúria dos dois jovens que viu crescer, ficaabalado e pensa chamar a polícia. Freddie, revoltado coma sociedade sul-africana, vítima, como todos, de uma se -7paração racial ilógica e imoral não compreende nemaceita tréguas entre brancos e negros, para além de que seconvenceu de que Lionel terá abusado de Vicky há algunsanos atrás, o que aumenta o seu ódio em relação ao pro-fessor. Para Lionel o martírio maior será ver os seus bensmais queridos e pessoais completamente destruídos, esaber que os dois jovens o vêem como mais um racistabranco, embora ainda assim, tente convencer Vicky arepor a verdade a Freddie. De repente o impensável acon-tece com um desfecho imprevisível.

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FICHA TÉCNICA: Autor: Athol Fugard; Encenação: José

Peixoto; Interpretação: Bruno Huca, Cheila Lima e Jorge Silva;

Cenografia e Figurinos: Marta Carreiras; Música: Rui Rebelo;

Desenho de Luz: Pedro Domingos; Design Gráfico: Rui

Pereira; Produção Executiva: Gislaine Tadwald e Joana Paes;

Produção: Teatro dos Aloés

“Exactamente Antunes” Com o título “Exactamente Antunes”, Jacinto Lucas Pires eNuno Carinhas adaptaram para o palco do T.N. São João a obra“Nome de Guerra” de Almada Negreiros. Em cena até 17 Abril.

Luís Antunes, jovem da província mas de origem abas-tada, muda-se para a cidade por mando do seu tio, quedecide iniciar o rapaz nas lides de “homem”. Se parecemais que certo o facto de Antunes ter pouco jeito nessespréstimos, não deixa de ser verdade que ao apaixonar-sepor Judite (nome falso, nome de guerra para uma mulherda vida), que nem sequer é bonita, mas que foi a primeiraque Antunes teve, o moço acaba por fazer dela o seuobjecto de paixão e obsessão.

“Exactamente Antunes” é então a resposta ao texto que

Almada Negreiros criou em 1925, onde se pode ler “não temetas na vida alheia se não queres lá ficar”. E assim seconta a história de Antunes, que aprende depressa que avida não é feita a partir do acumular de experiências, masda própria vivência do dia-a-dia, e de Judite, mulher quenão amando Antunes vê nele a sua salvação de uma vidade miséria.

Entre o cómico e o dramático a história de LuísAntunes é, nas palavras de Lucas Pires, de um portugue-sismo imenso, rodeado da saudade mítica que nem sesabe de onde vem, pautada com momentos pitorescosdaquele que não sendo sábio, também não é básico e é(quase) feliz assim.

FICHA TÉCNICA: Autor: Jacinto Lucas Pires; Baseado em:

“Nome de Guerra”, de Almada Negreiros; Encenação: Cristina

Carvalhal, Nuno Carinhas; Cenografia e figurinos: Nuno Cari -

nhas; Desenho de luz: Nuno Meira; Desenho de som: Francisco

Leal; Interpretação: Joana Carvalho, João Castro, Jorge Mota,

José Eduardo Silva, Lígia Roque, Paulo Freixinho, Paulo Moura

Lopes; Produção: TNSJ; Classificação etária: M/12 anos

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A CIDADE

Na Boston, de mais de 300

assaltos/ano a bancos e de um

bairro, Charlestown, com o

record de assaltantes nos EUA,

Doug MacRay, lidera uma

temível quadrilha

que actua com

máscaras

bizarras. Num

dos assaltos, a

gerente do banco

é feita refém.

Apesar de escapar ilesa, ela

tem dificuldades em lidar com

o sucedido, até ao dia em que

conhece Doug, o seu raptor.

Apaixonam-se e a relação

transforma Doug, desejoso de

quebrar, definitivamente, todos

os laços com o bando e com o

seu passado criminoso.

Segunda longa-metragem do

actor e realizador Ben Affleck,

autor ainda do argumento, "A

Cidade" é uma adaptação do

livro "Prince of Thieves", de

Chuck Hogan e revela uma

evolução positiva na carreira de

Affleck depois da sua primeira

obra como realizador - Vista

pela última vez (2007). Um

conjunto de actores secundários

de bom nível, como Jeremy

Renner - nomeado para Óscar

de melhor actor secundário - e

John Hamm (Mad Men), dá

nota elevada a um filme exem-

plar na forma como aborda

uma questão social relevante,

com inteligência e intensidade

do princípio ao fim.

TÍTULO ORIGINAL: The Town;

REALIZAÇÃO: Ben Affleck; COM:

Ben Affleck, Rebecca Hall,

John Hamm, Jeremy Renner,

Blake Lively; EUA, 125m, Cor,

2010; EDIÇÃO: Zon Lusomundo

HACHIKO - AMIGO

PARA SEMPRE

Num dos seus regressos para

casa, Parker Wilson, professor

de música, descobre um

pequeno cão de raça Akira e

leva-o consigo. A amizade

entre os dois vai crescendo.

Hachiko acompanha o seu

dono todos os dias até à

estação de comboio onde,

todas as noites, o espera. Mas,

um dia, o dono

não regressa, e

o cão continua

à sua espera

até ao dia da

sua morte.

Realizado pelo

sueco Lasse Hallström, autor

de filmes como "Gilbert Grape"

(1993), "As Regras da Casa"

(1999) e "Chocolate" (2000), o

filme é baseado numa história

verídica - narrada no filme

japonês "Hachikô Monogatari"

- (1987). Na estação ferroviária

de Shibuya, no Japão, foi erigi-

da uma estátua de bronze em

homenagem a Hachiko, no

local exacto onde ele esperava

pelo seu dono. Emoção a

rodos!

TÍTULO ORIGINAL: Hachiko: A

Dog's Story; REALIZADOR: Lasse

Hallstrom; COM: Richard Gere,

Joan Allen, Jason Alexander,

Erick Avari; EUA/GB, 93m, Cor,

2009:EDIÇÃO: Zon Lusomundo

ONDINE

Syracuse é um pescador

irlandês com um grave proble-

ma de alcoolismo e com uma

filha gravemente doente. Um

dia encontra, presa à sua rede

de pesca, uma mulher nua e

assustada de nome Ondine. A

filha do pescador acredita que

ela é uma Selkie,

uma criatura

mágica dos

mares, enquanto

o pai se apaixona

por ela ... Mágico

e com um final surpreendente!

Ondine é o mais recente filme

do conhecido realizador e

argumentista irlandês Neil

Jordan, autor de "Jogo de

Lágrimas" (1992), "Entrevista

com o Vampiro" (1994), e o

inspirador "Michael Collins"

(1996) entre outros grandes

filmes. Com imagens belíssi-

mas da costa irlandesa e uma

realização apurada, "Ondine"

transporta-nos para uma

Irlanda das míticas "selkies":

no mito celta, uma selkie é

capaz de se transformar em

mulher mas o amor pelos

humanos não tem final feliz.

TÍTULO ORIGINAL: Ondine;

REALIZAÇÃO: Neil Jordan; COM:

Colin Farrel, Alicja Bachleda,

Stephen Rea, Dervla Kirwan;

Irlanda/EUA, 111m, cor, 2009;

EDIÇÃO: MPA Audiovisuais

MÍUDOS E GRAÚDOS

Em 1978, cinco rapazes de 12

anos vencem a liga de basket-

ball escolar. Três décadas

depois, reúnem-se com as

respectivas famílias no funeral

do seu treinador. Passam o fim-

de-semana numa casa junto

dum lago onde costumavam

encontrar-se. Agora adultos,

com os respectivos problemas e

desafios… Marcus bebe em

excesso, Rob é mulherengo,

Eric está desempregado e tem

peso a mais, Kurt é humilhado

pela mulher e pela sogra, e

Lenny acha que os

filhos são mima-

dos. Será que o

fim-de-semana

conjunto os vai

ajudar?

Comédia de Verão com um

elenco de notáveis comediantes

- Adam Sandler, Chris Rock,

David Spade e Rob Schneider, o

filme de Dennis Dugan, que tem

uma pequena aparição no

genérico inicial como árbitro do

jogo de basket, é boa opção para

um divertido serão familiar.

TÍTULO ORIGINAL: Grown Ups;

REALIZAÇÃO: Dennis Dugan;

COM: Adam Sandler, Salma

Hayek, Chris Rock, David

Spade, Rob Schneider, Maya

Rudolph e Maria Bello; EUA,

102m, cor, 2010; EDIÇÃO: Pris

Audiovisuais

Para o tempo que se anuncia primaveril, uma selecção de bons e variados filmes onde, a par de acçãoe muita emoção, há espaço para a divertida película, "Miúdos e Graúdos". Acção em "A Cidade",realizada e interpretada por Ben Affleck; emoção em "Hachiko - Amigo para Sempre" e em " Ondine",completam o elenco das nossas escolhas de Março. Sérgio Alves

Acção, emoção e humor

Boavida|Cinema em Casa

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Boavida|Tempo Informático

Especialmente para si

estiver neste caso e não deseja enviar um DVD,existe um dispositivo original e muito acessível:uma memória flash da Verbatim chamada Clip-It.Exactamente um clip que serve igualmente paraligar folhas de papel e pode ser enviado pelo cor-reio pois o peso é insignificante. Uma engenhosa

solução de uma memória USB tão pequenaque pode ser enviada desse modo. Tem ape-nas 4 mm de espessura e 11 por 35 mm con-cebida especialmente para si, custando entre8 e 11 Euros.

OS LEITORES DE MP3 sempre estiveramvocacionados para ouvir músicas com auricu-

lares e o mesmo acontececom os modernos smart-phones. É que eles não sãoapenas portáteis – são pes-soais. Por isso, essa forma pre -ferencial de ouvir música. Mas,por vezes, há quem goste de par-tilhar a música com os amigos e foipara esses momentos que a HAMAcriou umas mini colunas activas,com amplificador e ficha integrada.A ligação universal de mini-jack de

3,5 mm asseguracompatibilidadecom qualquer dis-positivo onde seliguem auriculares. E o facto de possuir asua própria fonte de energia (duas pilhasAAA) significa que não irá retirar autono-mia ao leitor. O amplificador integrado eas duas colunas estéreo asseguram umaprojecção de som poderosa e nítida que éideal para partilhar a música com os ami-gos. As dimensões reduzidas de 8,5 x 5 x2 cm acrescentam muito pouco peso evolume ao do próprio leitor, podendo serfacilmente transportadas numa bolsa ou…no bolso! Haverá algo de mais especial? �

Gil Montalverne

[email protected]

Desde há alguns anos que passou anotar-se uma diferenciação segundonecessidades específicas. Os avançostecnológicos permitem hoje criar

os dispositivos mais indicados para certosgrupos de utilizadores.

E “o especialmente para si” é o caso deum telefone portátil AEG para a rede fixaconcebido para a população sénior poisagrega características tecnológicas quevisam colmatar as principais necessidadesdesse público. O AEG EOLE 1800 é uma excelentealternativa para melhorar a sua qualidade de vida. Foidesenhado para a rede fixa e auxiliar as pessoas com difi-culdades de visão ou audição. As teclas de maior dimen-são e com toque suave e macio facilitam a navegação entreos menus. No visor mostra caracteres de dimensões acimado comum, para facilitar a leitura a quem já não vê tãobem como outrora, permitindo excelente visualização detodos os dados. O som amplificado nas chamadas facilita aconversação em pessoas com dificuldades de audição epermite três níveis de frequência, facilmente regulados,para compensar a sensibilidade auditiva. Com três teclasdirectas de memória para a memorizaçãode contactos, a configurar pelo utilizador,é uma excelente vantagem para chamarrapidamente os três números que maisutiliza ou números de emergência. E, pelaprimeira vez, encontrámos um manualcom caracteres de grandes dimensões,quando estamos habituados a vê-los comcaracteres minúsculos mesmo para umavisão normal. Não há dúvida de que foiconcebido para pessoas especiais como éo caso da população sénior.

IMAGINEMOS alguém que deseja enviarpelo correio duas ou mesmo quatro gigasde informação digital. Especial para quem

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Quando os primeiros computadores chegaram ao mercado, os fabricantes não se preocupavam emapresentar modelos diferenciados para diferentes utilizadores. E assim aconteceu com os primeirosdispositivos e acessórios.

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Boavida|Saúde

Obstipação no idoso, como tratarFui chamada para ver um doente no domicílio. O familiar que me acolheu referiu que, entre outrasqueixas relativas a patologia crónica, em tratamento com o seu médico assistente, a situação se tinha

agravado devido a obstipação.

M. Augusta Drago medicofamí[email protected]

Tratava-se de um doente idoso, aca-mado – a fazer vários tratamentos,nomeadamente com medicamentospsicotrópicos –, cujos intestinos não

funcionavam havia três dias.A primeira coisa que me parece impor-

tante clarificar, por isso relato estahistória, é que a Medicina só consid-era estar-se perante uma obstipaçãoquando o doente relata que temmenos de três dejecções por se -mana.

Nos termos desta definição, odoente não sofria de obstipação.Mas aproveitei a oportunidadepara sensibilizar os familiarespara a necessidade de alte -rarem o regime alimentar dodoente, insistirem na ingestãode líquidos e mobilizarem odoente dentro das suas possibili-dades.

Muitos doentes acamados, e par-ticularmente aqueles que se encon-tram pouco hidratados e que tomam medica-mentos psicotrópicos para tratamento dedoenças do foro psicológico e mental, taiscomo a ansiedade, a depressão, as demências e,quase sempre, as alterações do sono, sofremcomo efeito adverso o atraso na progressão dasfezes no tubo digestivo, de que resulta muitasvezes a obstipação.

A relutância que a maior parte destes doentes tem emingerir líquidos, principalmente água, é um problema fre-quente com que se deparam aqueles que lhes prestamcuidados. A ausência, ou melhor, a escassez de líquidosno bolo alimentar torna-o mais rijo e dificulta ainda mais asua progressão no tubo digestivo.

Para convencer os doentes a ingerir líquidos tem de seusar de muita paciência e tenacidade. Uma das estratégias

usadas para esse fim é, por exemplo, o recurso asopas e a papas, que têm já na sua composiçãoquer a água quer o leite. Outra maneira deadministrar líquidos pode ser através daingestão de sumos, bem como de sobremesas,

fruta e gelatinas.A mobilização do doente acamado écrucial para minorar a globalidade

dos seus problemas. Se o doenteconsegue andar, por pouco queseja, essa função deve ser estimu-lada e mantida até ser possível.

Quando acamado, a mobilizaçãofrequente previne o apareci-mento de escaras, confere porvezes algum alívio às dores etem um efeito muito positivosobre o funcionamento dos

intestinos.Outra manobra que também

pode ajudar a estimular o trânsitointestinal são as massagens no

abdómen. A massagem deve ser efec-tuada suavemente, à volta do umbigo, sem-

pre em círculos e no sentido dos ponteirosdo relógio.

Por fim, e quando estas medidas são insufi-cientes, há que recorrer aos laxantes e aosemolientes das fezes, quer isto dizer medica-mentos que estimulam os movimentosintestinais e que tornam as fezes mais moles.

Para terminar, deixo uma recomendaçãoque se destina ao doente idoso e acamado,

mas que se pode alargar a toda a família. O fun-cionamento dos nossos intestinos pode e deve ser educa-do: cada pessoa deve habituar-se a ir à sanita todos osdias, a uma determinada hora, de manhã, à tarde ou ànoite, conforme lhe for mais conveniente. Desta forma, ointestino cria o seu próprio ritmo de funcionamento.Também o doente idoso deve seguir esta indicação. Asidas à casa de banho devem ser sempre que possível auma determinada hora. �

72 TempoLivre | MAR 2011 ANDRÉ LETRIA

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Page 73: Tempo Livre - Março - N 224

Boavida|Palavras da Lei

? Um assunto que me chamou a atenção foi o do registo

de invenções ou de quaisquer ideias, marcas, assuntos

deste género. Se criar uma invenção, como fica protegida pela

nossa lei? Sócio devidamente identificado.

Pedro Baptista-Bastos

As questões deste sócio dizem respeito à pro-priedade intelectual. Esta define-se, grossomodo, com o conjunto de direitos de monopólioatribuídos sobre criações intelectuais, sinais dis-

tintivos, todos os actos criados pelo espírito humano.Como tal, tanto podem abranger obras de arte (pintura,escultura, música, cinema) como invenções e marcas (ologotipo do INATEL, por exemplo.)

A Propriedade Intelectual é hoje em dia um elementoessencial para criar valor e posicionar as empresas no mer-

cado. A sua importância influencia o comportamento nabolsa e o interesse de investidores. A PropriedadeIntelectual assume-se como um activo a partir do momen-to em que promove a competitividade, seja entre empre-sas ou entre Estados, promovendo a investigação, o desen-volvimento e a inovação, tendo como base oConhecimento. Por isso, a Propriedade Intelectual deixade ser uma matéria unicamente jurídica, mas é transporta-da para o campo da gestão, da economia e das finanças.

A Propriedade Intelectual regu-lamenta-se, essencialmente, pordois diplomas: o Código daPropriedade Industrial - D.L. nº

36/2003, de 05 de Março - e o Código dos Direitos deAutor e dos Direitos Conexos - D.L. nº 63/85, de 14 deMarço.

Genericamente podemos considerar quatro tipos deActivos de Propriedade Intelectual: Patentes, que estão li -gadas à inovação e desenvolvimento tecnológico; Marcas,que estão associadas à individualização de um produto,empresa, etc., no mercado, criando assim um valorpróprio; Desenhos, que corresponde à aparência, aodesign de um produto; Segredos, que sendo informaçãoconfidencial, têm características muito próprias pela suaprópria natureza.

Existem ainda os Direitos de Autor e Conexos, queelencamos à parte, uma vez que a sua dinâmica é com-plexa e têm uma natureza muito própria, podendo mesmoser dito que dentro deste grupo existem vários Activosexploráveis por si mesmos.

Como é criada a propriedade intelectual, quandoalguém queira proteger uma sua ideia ou invenção?Originariamente, quando alguém, inventor ou empresário,solicita o registo de uma patente, marca e/ou desenho; oupor via negocial, quando o Activo é transaccionado, porexemplo, numa compra e venda de patente, ou num tres-passe de marca.

Ainda podem ser adquiridas licenças de exploração,por exemplo, quando alguém explora um activo de umamarca, através de um contrato de franquia. Disto é exem -plo os numerosos estabelecimentos de "fast food" interna-cionais, existentes em Portugal, que só podem operaratravés de uma autorização do titular do activo, devida-mente registado.

Existem numerosas instituições nacionais que pro-tegem e guiam os cidadãos na protecção de uma sua ideia,ou na exploração de um activo registado, como a IPSolutions, que esclarecem e apoiam os cidadãos, ou estesócio, na efectivação da exploração das suas ideias eactivos de propriedade intelectual. �

MAR 2011 | TempoLivre 73

Propriedade Intelectual

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Page 74: Tempo Livre - Março - N 224

Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos

N.º 24Preencha a grelha com osalgarismos de 1 a 9 semque nenhum deles serepita em cada linha,coluna ou quadrado

1-LABORAM; REATARA. 2-ICARO; AGI; TEMER. 3-A; TOMAI;COARA; M. 4-MIA; A; SOA; I; SPA. 5-BR; UNI; R; ASA; ID. 6-AMOR;RALAR; MOCA. 7-AL; PALADAR; MA. 8-ANAS; RASAR; NORA. 9-RA;AGAR; GAMO; AS. 10-O; AMA; AVA; OTO; S. 11-MAGA; E; A; E;ARIA. 12-ALI; ALAGARA; BAR. 13-SARI; AGORA; LIMA.

SOLUÇÕES

ClubeTempoLivre > Passatempos

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N.º 24 SOLUÇÕES

Palavras Cruzadas | por José Lattas

HORIZONTAIS: 1-Trabalham; Restabelecera. 2-Pessoa vítima dasua própria ambição; Procedi; Suspeitar. 3-Aceitai; Fundira. 4-O gato...; Divulga; Cidade belga, na província de Liége. 5-Bromo (s.q.); Acasalei; Puxador; Idem (abrev.). 6-Afeição;Afligir; Clava. 7-Alumínio (s.q.); Sabor; Madrasta. 8-Sumosacerdote judeu, a cuja presença Jesus foi levado, na véspera daPaixão; Igualar; Sarilho. 9-Deus do Sol, na mitologia egípcia;Escrava egípcia de Sara e mãe de Ismael; Mamífero ruminante,parecido com o veado; Pessoa que desempenha, notoriamentebem, uma actividade. 10-Governanta; Primeiro nome da actrizamericana Gardner (1923-90); Elemento de composição depalavras, que exprime a ideia de ouvido. 11-Bruxa; Melodia.12-Lá; Dissipara; Taberna. 13-Vestimenta feminina indiana; Já;Rio que desagua em Viana do Castelo.

VERTICAIS: 1-Cânhamo; Eflúvios. 2-Actínio (s.q.); Ajunta;Enfiada. 3-Propina; Cartel; Capital da Letónia (inv.). 4-Discurso; Antiga cidade da Caldeia; Agulha do pinheiro. 5-Primeiro nome de Polanski, cineasta polaco; Gálio (s.q.). 6-Agastara; Pronome pessoal feminino. 7-Também; Adejara;Prata (s.q.). 8-Baínhas; Abstracto. 9-Ditosa; Espécie de punhal,de lâmina larga; Disposição. 10-Pateta; Período. 11-Apertais;Multidão. 12-Usufruir; Antes do meio dia (abrev.);Advertência. 13-Aprecias; Elemento que expressa a ideia deombro; Elemento que expressa a ideia de mundo ou universo.14-Nota musical; Estimulara; Compareciam. 15-Cilada;Inflamara.

74 TempoLivre | MAR 2011

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Page 75: Tempo Livre - Março - N 224

75:Layout 1 22-02-2011 16:56 Page 1

Page 76: Tempo Livre - Março - N 224

BERTRAND EDITORA

PRÍNCIPES DE PORTUGAL

Suas Grandezas e Misérias

Aquilino Ribeiro

Figuras e episódios da

história portuguesa nos

tempos de

Viriato, Afonso

Henriques,

Dª. Isabel, D.

Pedro I,

Mestre de

Avis, Dª. Leonor, D. João III,

D. Sebastião, D. António I e

D. José I, abordados de

forma divertida e irónica pelo

autor, um génio da literatura

do séc. XX.

BOOKSMILE

ANDRÉ CABELO-EM PÉ: A

COMPANHIA DOS MEDOS

Guy Bass

André tem amigos

misteriosos que vivem

debaixo da

sua cama.

No dia em

que conhece

os novos

vizinhos,

percebe de

imediato que há, entre eles,

uma zombie E.T. carnívora.

Conseguirá ele salvar o

mundo antes da malvada

transformar os humanos?

UMA HISTÓRIA MESMO

BESTIAL: O ÚLTIMO

VAMPIRO

David Sinden, Guy

Macdonald e Matthew

Morgan

Ulf, o pequeno Lobisomem,

tem como missão encontrar

o lendário vampiro da selva.

Mas Marackai também anda

no encalço

desta besta.

Conseguirá

Ulf chegar

até ela antes

do malvado

barão?

COLIBRI

GESTÃO DE RISCOS DE

SECA

Métodos, tecnologias e

desafios

Luís Santos Pereira, João

Tiago Mexia, Carlos A. L.

Pires

Visando a convivência com a

seca, a obra apresenta

indicadores de seca e a sua

variabilidade

espacial e

temporal

aplicada ao

nosso país e

revela as

ferramentas

para informação a

utilizadores de água e ao

público em geral, a previsão

orientada para a agricultura

de regadio, os modelos de

apoio à gestão e a análise

económica da rega em

condições de seca.

FILARMÓNICA DE

ALEGRETE

António Fernandes Delicado

O percurso da Banda de

Alegrete passado em revista

e eternizado numa obra que

regista os aconte cimentos

que a

glorificaram.

O autor dá a

conhecer

uma

instituição

cultural com

cerca de 143 anos que

dignificou o seu povo e

conquistou um lugar na

história.

EDITORIAL PRESENÇA

O GRANDE GATSBY

F. Scott Fitzgerald

Um retrato expressivo da

"idade do jazz". Gatsby

personifica o materialismo

obsessivo e o desencanto do

pós-Primeira Guerra Mundial.

Riquíssimo e sem

escrúpulos preenche a vida,

tentando conquistar Daisy,

uma paixão de juventude

casada com o milionário

Buchanan. Na busca do

amor, Gatsby encontra

apenas o fim de um sonho.

Um clássico de 1925,

traduzido por José Rodrigues

Miguéis.

A VIDA DE PI

Yann Martel

Pi, aos 16

anos, parte

com a

família para

a América do

Norte. O

cargueiro

que transporta também

animais do zoo, afunda-se

nos primeiros dias. Na

imensidão do Pacífico, este

jovem luta pela sobrevivência

na companhia da hiena, do

orangotango, da zebra ferida

e do tigre de Bengala.

Quando já só resta o tigre, Pi

percebe que juntos terão

maior hipótese de sobreviver!

SHIVER

Maggie Stiefvater

Dois adolescentes, Sam e

Grace,

vivem um

amor

sublime e

aparen -

temente

impossível.

Na Primavera, Sam

abandona a pele de

lobisomem e recupera a

forma humana, mas a

chegada do Inverno obriga-o

a regressar à floresta e à sua

alcateia. Conseguirá o amor

superar este obstáculo? Uma

aventura repleta de magia.

DESTROÇOS

James Bradley

Terão sido os Portugueses os

primeiros a chegar à

Austrália?

O Arqueólogo David Norfolk

procura, há

sete anos, os

restos de

uma caravela

do séc.XVI

no Sudoeste

da Austrália.

A descoberta dos restos da

nave comprova a tese

segundo a qual dois séculos

antes de James Cook os

Portugueses teriam

ClubeTempoLivre > Novos livros

76 TempoLivre | MAR 2011

76e77_NL:sumario 154_novo.qxd 22-02-2011 17:02 Page 76

Page 77: Tempo Livre - Março - N 224

desembarcado naquele

continente. Entretanto, o

que encontra sepultado na

areia é algo bem diferente...

O autor tece com mestria

uma base de investigação

histórica.

EUROPA -AMÉRICA

A RAINHA VITÓRIA

Jacques de Langlade

Vitória, coroada aos 18 anos,

reinou entre 1837 e 1901.

Conhecida pela energia,

autoritarismo e respeito ao

regime

parlamentar,

dissimula sob

a máscara

austera os

múltiplos

caprichos, impulsos e

paixões.

A presente biografia revela o

carácter independente de

uma soberana que teve um

dos maiores reinados da

história.

HISTÓRIA DO LADRÃO

DO CORPO

Anne Rice

O vampiro Lestat cansado da

obscuridade deseja renascer

homem - pensar e sentir

como um mortal - e, por

isso, empreende uma

incursão apaixonada pela

vida.

A forma como recorda as

sensações já esquecidas e a

percepção da fragilidade

humana, são

contadas no

romance com

toda a paixão

e colorido que

caracteriza

Anne Rice.

PELE

Mo Hyder

Quando o corpo de uma

jovem é encontrado em

estado de decomposição às

portas de Bristol, tudo

aponta para suicídio.

Enquanto o inspector Caffery

está no

encalço de

alguém que

se esconde e

não quer ser

visto, Flea

descobre

algo que lhe é próximo e que

irá mudar o rumo dos

acontecimentos. E, ninguém

a poderá ajudar… nem

mesmo o seu amigo Caffery.

2012 - CENÁRIOS PARA O

FIM DO MUNDO

Didier Jamet e Fabrice

Será que 21 de Dezembro de

2012 é a data do fim do

mundo? O rumor circula

incentivado pelo filme 2012,

de Roland Emmerich,

segundo o qual fenómenos

astronómicos

raros e

intensos irão

ameaçar

fatalmente o

planeta.

Uma análise científica

remete para os cenários

catastróficos que irão pôr em

causa a nossa sobrevivência.

Conseguirá a ciência

determinar com exactidão o

fim do mundo?

FOLHETO EDIÇÕES

& DESIGN

GOA - 50 ANOS DEPOIS

António Borges da Cunha

O livro regista a vivência do

autor em Goa

e os diversos

episódios ali

vividos.

Recorda a

forma como

conquistou

esta civilização, as relações e

amizades no ceio dos vários

credos e a sua visão de Goa.

GRADIVA

NAS FRONTEIRAS DO

UNIVERSO

João Caraça, Vítor Cardoso,

Paulo Crawford, Alfredo

Barbosa, Henriques, Robert

Kennicutt, Yasser Omar

Essencial para a

investigação astrofísica, a

obra ilustrada com fotos

espaciais de rara beleza,

reúne

contributos

dos mais

conceituados

especialistas

da física e da

astronomia,

nacionais e internacionais,

que participaram na

conferência da Ciência da

Fundação Calouste

Gulbenkian.

O CÉREBRO DO

MATEMÁTICO

Os conceitos essenciais da

matemática e cérebros que

os criaram

David Ruelle

A obra explica de modo

apelativo os

conceitos

matemáticos

em discussão

e permite

conhecer os

processos de

pensamento matemático e

filosófico. São histórias

divertidas sobre os

matemáticos e suas

excentricidades reunidas

numa abordagem a tocar a

psicologia.

PAPIRO EDITORA

PORTUGAL NO PRIMEIRO

QUARTEL DO SÉC. XX

Graça Fernandes

A obra descreve a história de

Portugal no

primeiro

quartel do

século XX.

Destaca a

implantação

da

República e

os anónimos que lutaram

por este ideal, bem como os

que se notabilizaram na

política, literatura, artes e

imprensa. Inclui, ainda, uma

análise sobre a participação

na I Guerra Mundial e a

preservação do espaço

ultramarino.

CONTOS DA TIA MATILDE

Matilde Luiz

Quatro pequenos contos

para partilhar segredos de

vários amiguinhos reais e

imaginários que o

transportarão no comboio da

infância.

Glória Lambelho

MAR 2011 | TempoLivre 77

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Page 78: Tempo Livre - Março - N 224

ClubeTempoLivre > Cartaz

BRAGANÇA

Entrudo

Dias 6 e 8 – “Entrudo

Chocalheiro” pelo grupo de

Caretos de Podence, com

forte animação e desfiles

nas ruas da aldeia de

Podence

Folclore

dia 6 – III Encontro de

Folclore das Amendoeiras

em Flor em Mogadouro. Uma

iniciativa do Rancho

Folclórico e Etnográfico de

Mogadouro que inclui

danças e cantares

transmontanos e divulgação

das amendoeiras em flor

como importante atracção

turística local.

COIMBRA

Música

Dia 20 às 17h - Concerto de

Primavera pela Filarmónica Flor

do Alva em Vila Cova de Alva

Etnografia

Dia 11 às 21h - “Aumentar

das Almas” na Capela de N.

Srª do Pranto em Vila de

Pereira; dia 27 às 16h -

“Enterro do bacalhau” pelo

rancho “As Moleirinhas” em

Cernache; dia 30 às 21h -

“Serramento da velha” pelo

Grupo Folclórico e Etnográfico

de Arzila em Arzila.

Pintura

Estão abertas as inscrições

para o Curso de Iniciação à

Pintura, ministrado por Vasco

Berardo. Mais informações na

Agência Inatel.

LISBOA Teatro da Trindade

�HAVIA UM MENINO QUE

ERA PESSOA

Até dia 26 - Sáb. às 16h

� UMA NOITE COM

JOSEPHINE BAKER

Dias 11 e 12 às 21h

� FERNANDO PEREIRA, A

SÉRIO

Dias 18 a 20 - 6ª e Sáb. às

21h | Dom. às 16h

� VALE

Dias 25 a 27 - 6ª , Sáb. e

Dom. às 21h

� CAMINHOS

A partir do dia 17 - 4ª a Sáb.

às 21h45 | Dom. às 17h

VIANA DO CASTELO

Teatro

Durante o mês realizam-se

vários espectáculos de teatro

amador pelo distrito, no

âmbito da iniciativa “Teatro

em Movimento”. Informações

de datas e locais na Agência

Inatel.

VISEU

Entrudo

Dias 6, 7 e 8 - Entrudo dos

Caretos de Lazarim, em

Lazarim; dias 6 e 8 às 15h -

Desfile Carnavalesco e Dança

dos “Cus” em Cabanas de

Viriato; dia 8 às 15h - Desfile

de Carnaval em Negrelos.

78_Cartaz:sumario 154_novo.qxd 22-02-2011 17:03 Page 78

Page 79: Tempo Livre - Março - N 224

Logo na primeira infância lhe foi diagnosticado umcaso raro de glossofilia congénita grave. Na idade emque outras crianças davam mostras de uma sensataeconomia de recursos linguísticos, limitando-se a emi-

tir sons que os pais, tios e avós traduziam por mamã, papá,papa, avó Gertrudes, etc., ele pronunciava os vocábulos emtoda a sua plenitude, repetia-os à saciedade, saboreava-os len-tamente, fazendo-os saltitar, morfema a morfema, de papila empapila gustativa, até ensurdecer a família e levar o gato a refu-giar-se na casota do mastim napolitano do vizinho.

Era, de facto, incurável, aquela glossofilia, aquele desmesu-rado amor às palavras, com que foi crescendo, se licenciou e sedoutorou em ciências da linguagem. Como sultão a cadamulher do seu harém, continua a amá-las a todas, em nenhu-ma delas encontra bem ou encontra mal, que bem ou mal sãoconceitos estranhos à linguagem. Ignora tabus, despreza eufe-mismos.

Todavia…Tal como acontece entre os seres humanos, também no

reino das palavras há as bem e as mal-amadas. Ou não fossemelas “seres vivos”, como fazem notar Victor Hugo, Darmesteter,Dauzat e tantos outros dos seus adoradores e, como tal, dadas acaprichosas mudanças de humor, a comportamentos irritante-mente erráticos, ou a deixarem-se usar abusivamente de acor-do com os interesses dos falantes.

Quando assim é, sem deixar de as amar, foge-lhes, evita-as,dá-lhes oportunidade de desaparecerem mansamente do léxiconacional e da sua vida.

Geneticamente amante do conforto e de um estilo de vidaherdado, com o respectivo capital de apoio, de antepassadospertencentes à alta sociedade não trabalhadora, atravessara,muito jovem, a época revolucionária vitimizado por uma dassuas amadas palavras, a que, em sua opinião, apenas a influên-cia negativa de um tal senhor Marx fizera enveredar por maucaminho: BURGUÊS!

De nada lhe valia, confessa, frequentar os ambientes maisprogressistas, ler Kafka, perorar em público sobre O Capital,vestir jeans, andar de eléctrico e almoçar em tasquinhas, que

sempre de alguém ouviria o epíteto tornado ignominioso:BURGUÊS!

Depois, para seu alívio, o tempo, ou as circunstâncias, que,a pouco e pouco foram nivelando padrões de vida, foram reti-rando protagonismo à palavra.

Para não se destacar, passou a vestir de novo Armani, a con-duzir um Bentley (e um Mini, e um Smart, e um…), e a fre-quentar tranquilamente os resorts em voga.

A palavra, porém, lá estava, à espreita. Um pouco estremu-nhada, mas viva. E ressentida do abandono.

Há dois dias, ao chegar ao pequeno parqueamento onde, porcomodismo, deixara, como habitualmente, o carro atravessado, aocupar dois lugares, deparou com um papel no pára-brisas, que,em tinta revolucionariamente vermelha, o acusava: “O senhortem um carro de proleta, mas arruma como um burguês”.

A tontura súbita - o regresso da mal-amada que julgara ador-mecida nos livros para sempre: BURGUÊS!

No entanto, do que sabe da sua história pregressa, original-mente, burguês - bourgeois - era apenas a designação dada pelaFrança ao orgulhoso morador de um burgo, palavra do germâ-nico berg, elevação fortificada, segundo uns, ou, segundooutros, do grego purgos, torre de vigia, designando uma cadeiade fortificações fronteiriças onde residiam as guardas romanas.Sabe ainda, através do douto Fr. Joaquim de Santa Rita Viterbo,que, de França o conceito viera para Portugal com o Conde D.Henrique, com as grafias burgez e burguez, e ainda sob uma ter-ceira forma, burgel, registada no foral de Constantim dePanóias, dado pelo Conde a sua mulher, a infante D. Teresa, noano de 1096.

Não sabe e não compreende, porém, o quando e o porquê daperda da inocência daquela sua palavra, da aquisição do seuactual sentido pejorativo.

Em tempos atribuíra toda a culpa à nefasta influência do Sr.Marx, à eclosão de novas ideologias sociais, e à incompreensí-vel culpabilização do grupo social a que pertencia. Hoje sabe danatureza inconstante das palavras.

Desiludido, encolhe filosoficamente os ombros e conclui:Afinal, a glossofilia também já tem cura. �

De habitante de um burgoa burguês desiludidoUm pássaro apenas / canta. / O ar multiplica. / Ouvimos por espelhos. //Federico Garcia Lorca, Réplica, in: Poemas Sueltos. Obras Completas, Tomo I. Trad. MAVF

O Tempo e as palavras

Maria Alice Vila Fabião

MAR 2011 | TempoLivre 79

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Page 80: Tempo Livre - Março - N 224

Um tempo sem medida vagueou pelasruas observando tudo em volta comos olhos de espanto e desespero.Incomodou-o o riso de duas mulhe-

res paradas à conversa e pensou nos dias da suaprópria alegria, cega aos mistérios do futuro. E,agora, aquilo. Apertou entre as mãos geladas oenvelope que lhe trouxera os resultados dos exa-mes clínicos e da garganta saiu-lhe um urro deraiva. Mais raiva que tristeza. Dispunha de sufi-cientes conhecimentos da linguagem médicapara compreender, sem margem para dúvidas, oterrível diagnóstico. O que mais temia e semdireito à esperança. Carcinoma, que raio depalavra, e tão estupidamente avançado que nãodeixava perspectivas de recuo.

Quanto tempo lhe restaria? Meses? Semanas?Apenas alguns dias nesse purgatório a que cha-mam cuidados paliativos? Esbofeteou-se na facecomo se pretendesse acordar de um pesadelomas não se pode despertar da realidade. Nem omédico conseguiria disfarçar a evidência. Aindao procurou no consultório para ouvir da bocadele a confirmação desnecessária.

— O senhor doutor está doente – informou,contristada, a menina da recepção.

Achou graça, um médico doente soa a contra-senso.

— Estimo as melhoras – disse.— Quer que lhe marque consulta para a pró-

xima semana, senhor Guilherme?— Não. Aliás, já nem preciso.Do que poderia ele precisar nesse indefinido

troço final? De calma. Deveria reflectir nos pre-visíveis acontecimentos posteriores á sua morte.Tentou adivinhar a reacção de Madalena na horada viuvez.

Talvez conseguisse soltar com esforço, algu-mas lágrimas hipócritas. Nos últimos meses cres-cera-lhe a convicção de que a mulher a quem seunira quinze anos antes não sentiria mais queindiferença, se não alívio. E daí, para ser hones-

to, deveria reconhecer que também ele deixaraesmorecer o afecto por Madalena, E, no entanto,feria - o um ciúme violento quando observavamanifestações de estima – só estima? – entre amulher e o cunhado Luís, irmão único dele.

Que poderia acontecer entre os dois, logo queele saísse de cena? Imaginou-os no usufruto daCasa da Praia e a ideia doeu-lhe como um golpede faca. Alto, aí não! A Casa da Praia era o gran-de amor da sua vida, acompanhara-a desde aconstrução, oferecera-lhe todos os mimos dedecoração e conforto, ali encontrava a felicidadeplena. Sobretudo nas fugas solitárias para aquelerefúgio em que nada faltava – nem quadros depintores famosos nem a visão soberba do oceano.

Carcinoma galopante. O adjectivo não consta-va da sentença mas ele bem percebia que orelatório era um pré-aviso da morte que se apro-ximava a galope. Ia então desaparecer do mundomas de nada nem de ninguém lhe custava tantoo desencontro fatal como da sua Casa da Praia.

O fervilhar dos pensamentos empurrou-o ameter-se no carro e tomar a direcção do lugaronde mais sentira a alegria de viver. Passeou peloareal deserto e deteve-se a olhar com mágoa amoradia branca com barras azuis no terraço vira-do para o mar. Nem deu pelo estender das ondasmansas que lhe molhavam os pés. Foi comoquem procede a uma despedida amarga queentrou e percorreu as cinco divisões, a mentefotografando cada recanto, cada objecto, na ânsiasem tino de levar as imagens para a eternidade.

Sentou-se no cadeirão predilecto e imaginou aCasa da Praia num amanhã sem ele e no conse-quente assalto de Madalena e seu presumívelamante. Anteviu-os rindo-se enlaçados noterraço, deitados na cama que lhe pertencia.Soltou um urro de fúria. Que o fizessem noutroindiferente lugar, sem profanarem com a sua feli-cidade a infelicidade dele, escorraçado pelamorte da amada Casa da Praia.

Então, decidiu-se. Segurou a caixa de fósforos

A Casa da Praia

Os contos do

80 TempoLivre | MAR 2011 ANDRÉ LETRIA

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Page 81: Tempo Livre - Março - N 224

que repousava no rebordo da lareira, riscou um,a pequena chama cresceu quando se ligou àsrevistas colocadas na mesinha da sala. Deduziuque não seria suficiente e despejou no lume osfrascos de álcool que sempre guardava na cozi -nha. O fogo fez-se labaredas que subiram peloscortinados e pela estante dos livros companhei-ros.

Saiu da casa, arrancou no carro para o morrosobranceiro à praia e aí deteve-se. Sofreu e riu-seao ver em chamas a Casa da Praia, afinal morriacom ele, ninguém ali iria aproveitar a sua defini-tiva ausência.

Sobressaltou-se ao ouvir o toque do telemóvele leu, no visor, Madalena. Sorriu e, maquinal-mente, encostou o aparelho ao ouvido. A voz damulher chegou-lhe gritada, numa excitação:

— Guilherme! É a terceira vez que ligo e tunão atendes! Ligaram do laboratório a informarque houve um erro, uma troca nos resultados dosexames. Os que tu recebeste não são teus. Estásóptimo, querido!

Continuou a falar, entre risos, mas ele já nãoouvia. Todo se concentrava na visão da Casa daPraia transformada numa tocha gigantesca. Eentão, chorou. �

MAR 2011 | TempoLivre 81

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Correria vã do Cairo a Dahab, a travessiado Sinai até Nuweiba, um pequenoporto do Golfo de Aqaba. No ferry paraa Jordânia já não cabe nem um perce-

vejo. A solução é passar a noite em Nuweiba eesperar pelo próximo barco.

De manhã cedo, com o sol do Sinai já em fogo,depois dos trâmites na bilheteira, segue-se umasérie de sinuosidades burocráticas. Um amploarmazém faz as vezes de sala de embarque. O barcolarga, oficialmente, ao meio-dia.

Quase um milhar de passageiros e uma lógicade apartheid: de um lado, estrangeiros, sobretudogente das margens do Golfo (jordanos e sauditas),desafogada, possidente de meios e afins; do outro,um abismo de deserdados, egípcios de rostos curti-dos e trouxas modestas de emigrantes.

A partida tardou até ao anoitecer. Sem vestí-gios de impaciência no armazém - sala - de - espe-ra. Uma espera humilde, humilhada. É assimtodos os dias, diz-me Sameh, um egípcio do Suezque trabalha na Arábia Saudita. O impasse gozasempre de variado fundamento: atraso na saídado barco de Aqaba, águas revoltas no golfo, ven-tos fortes do deserto saudita. Ou avarias. Numaparede, uma fotografia gigante de general.Mubarak, triunfal, acena.

Uma ou outra vez, a massa de gente acerca-sedo portão do cais. Um rumor: embarque iminente.Mas é um rumor, apenas um rumor. Um políciagrandalhão, de pistola à cinta, refaz num ápice aclareira diante da porta. Move-se como um pisto-leiro texano e nem sequer tira as mãos dos quadrispara empurrar os passageiros (egípcios). Investe eatropela com profissionalismo: um dos passageirosestatela-se e reergue-se devagar, com o treino deuma deferência secular. Sem ponta de indignaçãoou poeira de azedume, sempre de olhos fixos nochão. Outros aguentam o assalto unipolicial, osci-lam como canas de bambu e cedem terreno à auto-ridade. E todos eles, todos, de olhar colado ao chão,como se a passagem para Aqaba, a liberdade depassar o golfo, fosse um favor do Estado egípcio ouum mimo do matulão fardado e de pistola na cinta,e não um direito consignado no artigo 13º daDeclaração Universal dos Direitos do Homem.

Hora do embarque. O grandalhão distribui maisempurrões para impor a parcela local da ordemmundial. Abrissem alas. Os estrangeiros, os aliadose os possidentes seriam os primeiros. É sempreassim, repete Sameh. A multidão de deserdadosaguarda, cabisbaixa, dócil, disciplinada, que transi-tem os prioritários.

Semanas depois, em Alexandria, relaxo ao solna esplanada de um dos cafés populares da ruaSayed Karim. Em frente reside um edifício de arcolonial, caduco, ostensivo e de mau agoiro: um tri-bunal.

A certa altura surgem várias carripanas da polí-cia, um tanto semelhantes às dos canis. Pelas gre -lhas das janelas mal passa a luz. São cinco ou seisveículos. Um julgamento colectivo? Ninguém sabedizer. Nas mesas vizinhas observa-se a cena cominterrompidos cachimbos de água nas mãos. Nospasseios juntam-se mirones.

O alarido alastra, aumenta, fermenta. Agita-segente à volta das carrinhas - familiares ou amigos,talvez, dos prisioneiros. Aos gritos da rua respon-dem falas, abafadas, vindas do interior dos veícu-los. As carrinhas celulares desaparecem no pátiodo edifício.

Minutos depois retorna a calma. Demoram-sealguns curiosos, à conversa, antes de desmobiliza-rem. Mas falta um último acto, um final sem majes-tade. Uma última viatura aproxima-se dos portões.Numa das janelas, atrás da malha fina da rede,rompe um rosto. Uma mulher jovem, de lençobranco, perscruta a rua, a multidão. Os olhos ace-sos demoram o tempo de uma faúlha: é uma buscade relance, tímida, sem fé. Cá fora, nada, apenasum silêncio de ausências. Não veio ninguém, umfamiliar, um amigo. Ninguém veio para este últimoacto. Ninguém com um aceno, um olhar, umapalavra.

A turba desanda. Volta o retinir das colheres noscopos de chá, redobram as fumaradas dos cachim-bos. Os mirones vão à sua vida, os portões do de -crépito tribunal fecham-se atrás de polícias e réus.

Ainda dura no tempo a pergunta: que imper-doável delito terá ditado aqueles terríveis instantesde solidão da mulher de lenço branco, naquela ruasubitamente tão solidária de Alexandria? �

Silêncios egípcios

Crónica

HumbertoLopes

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