Teoria Geral Do Processo_0001

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  • 8/19/2019 Teoria Geral Do Processo_0001

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    TEORIA

     GERAL  DO PROCESSO

    que  estão comprometidos

    ,,>5H ^ir*ç,.>^K,>.;.iw.j- .̂ -B.-V»-,.̂ .-.: .

     ..-

    . ~ - .... 

    •set̂ ^^wíTEif

     noyâflSiaíta: do  Processa. Jctdo   esse estudo vem

     efe-

    |í̂ %tem;pféh»e^n§ruêpiòa;com o Novo €PC,

     recentemente

     sancio-

    î̂ \̂Te9R ̂á í̂0efS^%'e0n£Eeteménte, y dos marcos teóricos

    -l̂ îíeî ^PrQeessjiialiíeápgztíe

     estruturar feigras que podem dotar o

    iRtqç0 ($ò   de

      èíeíiiNfiçJade

     e  respèitabitidadei;das  garantias processuais

    ;

      '

    1

    ' ' ' '

      :  

    ,p'|jyro

     parte-da;:premissa deseja

     anáHffi

     da Teoria

     Geral

     do

     Pro-

    xesso

      î ão ptescindedeium v̂mcursão na Teoria do Direito, o que é

    • •  • • • • • • ^__. -l  1^

     

    k«rrla

    ».•-:--

    dência;

     pelas relaçõ

    dèrtiais  Poderes  do

     Estado (Legislativo

      e

     Executivo); pelas concepções

      ,

      V QVJW 

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      pítulo  

    NOÇÕES

     I N T RODUT Ó RI S

    A

      experiência

      inglesa recolhida

     e  sistematizada  po r  Montesquieu,

    e as

     revoluções americana (1776)

     e francesa

      (1789) romperam

      o

     núcleo

    do

     poder político implantando

      o

     princípio

     da

     separação

     do s

     Poderes.

     Em

    ve z

     de um

     centro

      único

    rei,

     os

     três

     Poderes: o

     Legislativo,

      o

     Executivo

     e

    o

      Judiciário.

     A o

     Poder

     Legislativo

     atr ibuiu-se

     a

     função

      de

     elaboração

     da s

    leis, normas gerais e abstratas; ao Executivo, a administração do Estado;

    ao Judiciário,

     a jurisdição.

    Nessa

      linha de pen samento, o art. 2° da Con stituição de 1988: São

    Poderes da

     União, independentes

     e

     harmónicos entre

     si, o

     Legislativo,

     o

    Executivo

     e o

      Judiciário .

    A Constituição refere-se também

     a

     três tipos

     de

     processo:

     o

     egislativo

    (art. 5° e

     ss.),

     o

     adm inistrativo

      (arts. 5°, LV, e 41, § 1°) e o

     judicia l (arts.

    5°, LV, e

     184

    § 3°).

    É

      comum restringir-se a

     ideia

     de processo ao judicial ou jurisdi-

    cional,

     c om

     exclusão

     d os

     processos legislativo

     e

     administrativo.

     É

     nesse

    sentido restrito que o a rt. 22 da Constituição estabelece competir priva-

    tivamente à Un ião legislar sobre direito processual.

    Objeto

     do presen te estudo é o processo judicial, motivo por q ue po-

    demos caracterizá-lo como método do Poder

      Judiciário

     para o exercício

    da

     jurisdição.

    Do número incomensurável das normas e relações jurídicas

      referi-

    das à

     convivência humana, destacam-se, assim,

     a s

     processuais.

     E

     porque

    processo é,

     aqui, método para

     o

     exercício

     d a

     jurisdição, podemos, desde

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    T E O R I A

     G E R A L  PROCESSO  •

     Í

    CONFORMIDADE  C O M O N O V O

     C PC

    logo,

      a f i r m a r  a

      p res en ça ,

      na  re lação ju r íd i ca

     p r o ces s u a l,

      de um

      sujeito

    necessário: um

     juiz

      ou t r ibunal, detentor do poder jurisdicional.

    Assim, ao di reito processual-jurisdicional correspon de a re lação ju-

    rídica processual ,

     c a ra c te r i za da

     p e l o j u i z co m o p r e s e n ç a e p e la ju r i s d ição

    co m o  final idade.

      '

    l.  RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL

    O Direi to não existe senão p ara regular o convívio, isto  é, p ara r e-

    gular

      relações

     intersubjetivas  ou

      interpessoais . Têm-se, pois , duas ideias

    correlatas:  a de

     Direito,

     como con jun t o de n orm as ju r íd icas , e a de r e lação

    jurídica, com o re lação i n t e rp es s oal

     por ele

     regulada.

    Em   geral,

     reserva-se  a

     exp res s ão r e lação ju r íd i ca p ara aquelas

     r e-

    lações

     interpessoais

     que o

     direi to regula m ediante

      a

     a t r ibuição,

     a o

     sujeito

    ativo, de um

     crédito (direito

     a u m a

     p res t ação

     do

     devedor )

     ou de um

     p o d e r

    a  que se submete o sujeito  passivo (caso dos direitos formativos). Contudo,

    não deixa de ser regulada pelo di rei to a s im ples relação interpessoal, em que

    dois

     sujeitos

     s e

     d e f r o ntam ,

     t en do ap en as o mút uo dever de s e r es p e i ta r em

    como  seres

     h uman os , e m que não há

     p rop r i amen t e

     n em

     crédito

     n em

     p oder

    de  u m diante do  out ro . Res p e i tan do a

     tradição,

     fa lare m os , n es s es cas os ,

    de  relações interpessoais

     e não de

     relações jurídicas, f icando,

     n o

      entanto,

    subentendido que t ambém

      elas

      são reguladas pelo di rei to.

    O

     p roces s o é

     um a

     relaç ão jurídica.

     U m a

      re lação ju r íd i ca comp lexa:

    um

     autor, um juiz, um réu. O autor é credor da

     sentença,

     ou seja,  tem direito

    à prestação jur isdicional.

     Ne ssa

     re lação o ju i z se ap res en t a t an t o  em

      face

    do  a utor quanto

     do réu

     como t i tular

      de um

     p oder :

      o

      poder jurisdicional,

    a

     qu e

     a m b o s

     se

     s ubmet em,  haja

      ou não  colaboração .

    1

    '

    2

    Mas o   processo é t a m b é m fato.  M elh or : u m  c on j un to  de  fatos,  isto

    é,

      de

     atos jurídicos prat icados

      co m

      vistas

      a um f i m

     determinado.  Para

    dis tinguir

     o processo visualizado com o rela ção jurídica do processo vis-

    1  Sobre

     a colaboração,

      c o n f i r a - s e

     MITIDIERO, Daniel. C olaboração no processo

    civil: pressupostos sociais, lógicos e éticos. São Paulo: RT, 2009. p. 63 e ss.

    2

      Com ar de

      cooperação

      vem o CPC/2015,

      p o i s c o n f o r m e

      o

      art.

      6°:  Todos os

    sujeitos  do

      p r o c e s s o d e v e m c o o p e r a r e n t r e

      si para que se obtenha, em tempo

    razoável, decisão de mérito  justa  e  efetiva . Não nos parece que a cooperação

    e n t r e p a r t e s

      seja

      algo

      tão

      singelo

     de concretização, visto que cada um

      busca

      o

    êxito

     e m s u a

      d e m a n d a ,

      m a s a

      co o p e r a ç ã o e n t r e

      a s

      p a r t e s

      e o

     ju i z ,  as s im

     como

    des te pa ra com aqueles  se  a f igura

     possível

     processualmente

     falando.

      ap l  •  NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 3

    to   como con jun t o d e  atos tendentes  a um f im usa-se , no  últ imo caso, a

    expressão procedime nto .

    C o m o fato jurídico, o processo pro duz e fei tos jurídicos, i s to é, t rans-

    forma ç õe s j u r í d ic a s .

    2.

      ESTADOS

     JURÍDICOS

      F U ND AM ENTAIS

    Tran s formação é mudan ça,

     movimento,

      d i n ami s mo. P ara que  haja

    t r an s formações

      é

     preciso

      qu e

      exista algo mutável,  porque observar

      um a

    t r an s formação i mp l i ca comp arar

     u m

     antes

     c o m u m

      depois , considerados

    estaticamente. Estática  e dinâmica são dois  contrários  que se  explicam

    m u t ua m e n t e . N ã o s e c o m p r e e n d e um s e m s e c o m p r e e n d e r o o u t r o . P o r

    isso,

      a

      análise

      da s

      transformações produzidas pelo processo deve part i r

    do estudo dos estados jurídicos. Dada à impossibi lidade de estudá-los

    todos, por sua

     i men s a var i edade , vamos contentar-nos

     com o

     e x a m e

     dos

    es t ados ju r íd i cos fun dam en t a i s .

    En f ren t amos

      essa tarefa part indo

      de

      noções s ingelas para,

     a final,

    comp reen der

      as

      mais complexas.

    De  cada a to h u m a n o  é p os s íve l p en s ar o s eu con t rá r i o :

    m a t a r , n ão  m a t a r;

      ~~

    co m er , n ã o c o m e r ;

    derrubar  a árvore x, não  derrubar  a árvore x;

    p a g a r

     a

     dívida

     y, não

      p agar

      a

     dívida

      y;

    dirigir

     com

     prudência, di r igi r im prudentem ente.

    Assim, cada

     a to

     h um a n o

      te m

      variedade igual

     a

      dois.

    Po r

      out ro lado ,

      um

      h o m e m p o d e e s t a r  sujeito

      à

      n orma ( ju r íd i ca ,

    religiosa, moral

      ou

      técnica)

      que lhe

      prescreva

      o que

      deve  fa ze r

      ou não

    fazer .

     T a l

     n o r m a

     lhe

     dirá

     qu e

     deve p ra t i car de t e rm i n ado

     ato, ou que lhe é

    proibido

      fazê-lo,

      o u

      ainda,

     silenciando,

      permite prat icá-lo

      ou

      não.

     A va-

    r ied ad e ,

     então, é igual a três:

     1)

     dever fazer,  at o  devi do p os i ti vo; 2) dever

    não fazer, ato devido negat ivo, proibição; 3) ato perm it ido (não orde nado).

    Pode-se observar

     um se r e m

     dois mom entos distintos,

      qu e

     p o d e m o s

    ch amar de  m o m e n t o  l e de  m o m e n t o  2 ou, m a i s s i m p l e s m e n te , de

      antes

    e

      depois .

    Tran s formação é a passagem de um ser do m o m e n to  l  p a r a o mo-

    m e n t o

      2,

     c o m o

     n o

     caso

     d o

     p obre

     q ue

      enriquece.

    Tra n s forma ç ã o é

      diferença  obs ervada.

     S e a

      diferença

      é

     igual

     a zero,

    diz-se

     que a t r an s form ação é i dên t ica .

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      TEORI GER L DO PROCESSO • EM CONFORMIDADE COM O

     NOVO

     CPC

    A  ideia de transformaç ão idêntica não im plica absurdo algum, em

    primeiro  lugar,  porquanto a transformação importa em modificar-se

    pelo  menos a dimensão temporal; em segu ndo lugar, porque ap enas a

    deficiência  do ob servador é que o faz ver a identidade absoluta. A árvore

    que

     ontem estava aqui e continua ho je no m esmo lugar, na verdade, não

    está no mesmo lugar, pois que, entrementes, a terra movimentou-se em

    torno

     do

     sol.

     Além

     disso, transformação

     é

     símbolo convencional

     de uma

    ideia, e nada nos impede de convencionar que a ideia simbolizada pelo

    sinal transformação seja suficientemente ampla para conter

      a

      espécie

    transformação idêntica.

      Um a  transformação im portante, capaz

     de ser

      rejeitada pelo prin-

    cipiante como uma nulidade , diz Ashby, é a transformação idêntica na

    qual

     não

     ocorre mudança

     e

     cada transformado

      é

     igual

     ao seu

      operando .3

    Essas

     mesmas  ideias são expostas por Carnelutti, embora em uma

    linguagem diversa:

      ... o

      fato

      resolve-se  numa m ultiplicidade  de  situações, a primeira

    e a

     última

     d as qualidades pod em cham ar-se (...) situação inicial e situa-

    ção

     final.

     E ntre uma e outra há um grupo mais ou menos num eroso de

    situações

     intermédias, que constituem o ciclo do  fato. À situação inicial

    dá-se

     o

     nome

     de

     princípio

     do

      fato. Este

     é o

     ponto

      de

     partida

     d o

     ciclo.

     À

    situação

     final dá-se o nome de even to (...). Evento é p recisamente aquilo

    que veio de qualquer coisa, e, por tal

      razão,

     a última situação, vinda d as

    precedentes.

    Para

     que o grupo das situações, situação entre o princípio e o evento,

    constitua um  fato, ou melhor, para que duas situações con stituam respecti-

    vamente o

     princípio

     e o

     evento

     de um

     fato,

      é

     necessária, outrossim,

      um a

    ligação entre elas. Esta ligação a precisamente um a  relação (...).

    É  assim que a noção de fato se resolve em dois elementos: situação e

    relação.

     E,

     visto

     que o

     primeiro destes dois elementos

     de nós já

      conhecido,

    convém

      que observemos o segu ndo. Tra ta-se (...) de uma  relação entre

    situação e situação,

     isto é,

     de uma  relação exterior à situação.

    Pode suceder que as situações, ainda que mú ltiplas, formal e espa-

    cialmente

     sejam

     idênticas e invariáveis. A coincidência forma l e espacial

    entre  o  princípio e o evento não  exclui o

      fato.

      É esta uma  reflexão  de

    notável im portância para

     a

     teoria

     da

     realidade

     e

     para

     a

     teoria

     do

     direito.

    ASHBY, W . Ross.

     Um a

      introdução

     à

     cibernética. São P aulo: Perspectiva, 1970

    p. 17.

      ap l  • NOÇÕES INTRODUTÓRI S  S

    Na

     verdade, tal coincidência  não exclui a pluralidade da s situações e a sua

    ligação,

     que é uma

      ligação puramente temporal.

    A o fato  que consiste em uma sucessão de situações idênticas, pro-

    ponho  que se chame

      fato

      temporal. Este é o primeiro tipo de fato  e o

    mais

     simples. Se se atenta em que , em cada

     fato,

     do princípio ao evento

    há sempre necessariamente qualquer coisa que muda, ou, em outros ter-

    mos, qualquer coisa que devem, neste tipo o que m uda de situação para

    situação é apenas a dimensão temporal. Este fato é, por tal motivo,  um

    fato a uma (única)

     dimensão.

    A  expressão do

     fato

     pura men te temporal é o que se chama duração.

    (...)

      Entendo

      que se

      pode atribuir certa importância, para

      a

      teoria

      do

    direito,

     ao reconhecimento de que a própria d uração é um

      fato .

    4

    É

      preciso distinguir, com  rigor, o plano  do s

     fatos

      (plano fático)  do

    plano

     das

     normas (plano jurídico

     o u

     normativo .

     Um a

     coisa

     é

     dever

     fazer;

    outra coisa

     é fazer

     efetivamente.

     U ma

     coisa

      é

      dever matar, outra coisa

     é

    matar.

     Temos, portanto, necessidade

     de não

     apenas distinguir

     o

     antes

     do

    depois, como também de distinguir os planos

      fático

      e normativo.

    Observe-se que

     todo

     fat'0

     do

     mundo

     fático produ z

     efeitos fáticos.

     Até

    mesmo uma declaração de vontade. Se escrita, garatujas em um pedaço

    de

     papel

     são

     efeitos

      fáticos  de

     declaração.

     Se

     oral, seus efeitos fáticos

     s ão

    ondas

     sonoras

     percebidas pelos que ouvem e que, de algum modo, ficam

    gravadas no

     cérebro

     dos

     ouvintes.

      São os

     efeitos fáticos

     dos

     fatos jurídicos

    qu e

     po ssibilitam

     a sua

     prova,

     o que é de

     capital impo rtância para

     o

     Direito

    e,

     p articularmente, para

     o

     processo.

    At é

      aqui

      no s

      mantivemos

      no

      amplo campo

      da s

     normas

      em

     geral

    (religiosas, morais, técnicas ou juríd icas). Para ingressa rmos no cam po

    especificamente jurídico

     é

     preciso

     que

     passemos

     a

     considerar também

     um

    alter isto

     é,

     outro homem.

     N ão

     podemos mais

     nos

     contentar

     em

     observar

    um   homem diante de uma  norma, contudo  é preciso  qu e consideremos

    um  homem em

     face

     de uma  norma e d e outro homem.

    Um homem, ainda que só, pode estar  sujeito  à norma religiosa,

    técnica

     o u

     moral

     que lhe

     prescreva

     o que

     deve

     e o que não

     deve fazer.

     O

    direito,  porém, regula relações interpessoais.

     Portanto,

     para

      qu e

     exista

    norma jurídica (assim como para que exista norma de cortesia), é preciso

    4  CARNE LUTTI, Francesco. Teoria

     geral do

     direito. Trad. Rodrigues Queiro. São

    Paulo:

     Sa raiva, 1942. p. 54-7.

  • 8/19/2019 Teoria Geral Do Processo_0001

    5/11

    6  TEORI GER L DO PROCESSO • EM CONFORMIDADE COM O

     NOVO

     CPC

    qu e exista outro

     e,

     entre ambos, uma relação. Por isso, um hom em só não

    pode

     estar sujeito  à norma urídica .

    De

     qu e

     modo regula

     o

     direito relações interpessoais?

      Já o

      sabemos:

    proibindo, mandando ou permitindo que se pratiquem atos. Trata-se,

    agora,   de   determinar  os estados jurídicos fund amentais. Os elementos

    com

      qu e

     devemos jogar são:

      o

      ato,

      a

     q ualificação

      do ato

     como

      devido,

    proibido

     o u

     permitido

     e ,

     finalmente,

     o

     outro.

    Na p rimeira tentativa  de   caracterizarem-se  os

     estados

      jurídicos

    fundamentais, incidimos  no  mesmo  erro de Çarnelutti: considerar, ao

    mesmo

     tem po, dois atos:

     po r

     exemplo,

     a

     faculdade

     de

     fazer,  contraposta

    ao  correlativo dever

     de não

     impedi r ;

     o

     po de r

      de

     mand ar cont rapos to

     a o

    correlativo dever

     de

     obedecer .

    5

     Verificamos, posteriormente,

      que é

     mais

    acertado considerar  um   único  ato de  cada vez.  A análise  ganha,  assim,

    maior precisão e unidad e.

    Consideremos um ato determinado  qualquer: o do carrasco que tem

    o

     dever

     d e

     matar outro homem , condenado

     a

     morrer

     na

     cadeira e létrica.

    Cassiano

     Ricardo consola

     o

     condenad o: "Teu eletrocutor será gentil; mais

    que ge ntil. Exato.

     E te

     fará

     mo r re r

     tã o

      amistosamente como quem

      - num

    jardim

     -

      colhe

     uma

     flor".  Entretanto,

     por

     mais gentil

     que

     seja

     o

      ato, nin-

    guém  pode rá obscurecer o

      fato

      de que o conde nado é o sujeito passivo

    do  ato, ainda que (dirá algum ju rista) não exista relação jurídica entre o

    condenado 

    o

     eletrocutor.

    Uma o utra hipótese: o autor, na execução, pede que o ju iz pratique o

    ato

     denominado

     penhora Se

     presentes

     os

     pressup ostos legais,

     o

     j u i z

     te m

    o dever

      de

     praticar

     o

      ato. Quem

      o

     pratica

      é o

      juiz (por

     meio d o

      oficial

    de justiça). Quem sofre os efeitos do ato é o executado.  Ma s existe aind a

    um terceiro, que é o exequente ,  cujo  interesse é tutelado pela norm a jurí-

    dica que impõe ao juiz o dever de p raticar esse ato determinado que é a

    penhora. N o caso antes considerado,  de condenação à morte, o  interesse

    tutelado pela norm a

     é o do

      Estado

      ou da

      sociedade.

      E

     isso

      no s

     most ra

    o caminho a  seguir:  nã o  bas ta cons ide ra rem-se os  dois  sujeitos  ativo e

    passivo d o ato; é preciso ainda pon derar  sobre a  eventual existência  de

    um sujeito

     cujo

      interesse  é tutelado pela norma  qu e  ordena, proíbe  ou

    permite

     a

     prática

     do

     ato.

    2  Idem, p. 253 e ss.

    Cap l

      •

      NOÇÕES

     INTRODUTÓRIAS  7

    A análise nos revela que, nos casos citados, nos encontramos diante

    de estados urídicos complexos. Decom pondo-os, enco ntramos os estados

    jurídicos fundamentais.

    Ora, temos três sujeitos a conside rar: a) o sujeito ativo do ato: aquele

    qu e  deve ou que não  deve praticar o ato ou a quem  se pe rmi te a prática

    do

     ato;

     b ) o

     sujeito p assivo

      do

      ato: aquele

      qu e

     sofre

     o s

     efeitos fáticos

     d a

    ação ou omissão do sujeito ativo do ato; e, finalmente, c) o beneficiado:

    aquele  cujo interesse é tutelado pela norm a que ordena, proíbe ou perm ite

    a

     prática

     do

     ato.

     Em

     consequência,

     também

      temos três relações

      a

     consi-

    derar:  1) a  relação entre  o  sujeito ativo do ato e o sujeito passivo  do ato;

    2) a relação entre o suje ito ativo do ato e o beneficiad o; e, por último, 3)

    a relação entre

     o

     sujeito passivo

     do ato e o

     beneficiado.

    Prosseguindo

     na análise, constatamos que

     apenas

     as

     duas primeiras

    dessas relações podem

      se r

     consideradas como correspond entes

     a

     estados

    jurídicos fundam entais: primeiro

     porque,

     n a terceira relação, confronta-

    mos o sujeito passivo  do ato com o beneficiado, ficand o fora o sujeito ativo

    do ato e,

     portanto,

      o

     próprio ato;

     e

     segundo, porquanto

     a

     relação entre

     o

    sujeito

     passivo do ato e o beneficiado não é senão um

      reflexo

     das outras

    duas: corresponde, portanto,

      a u m

     estado jurídico derivado

    O estado ju rídico do sujeito ativo do ato em

     face

     do sujeito passivo

    do ato ou (o que é o

     mesmo)

      do

     sujeito passivo

     do ato em  face  do

     autor

    do ato é o  estado  de  poder  e sujeição.  N ão  importa  que se trate  de ato

    permitido  ou devido.

    Em

     suma:

     a

     referência

      ao

     estado

     d e

     po de r

      e

     sujeição apenas indica

    a relação entre  o sujeito ativo do ato e o seu sujeito passivo. Exemp los:  o

    eletrocutor

     e m face d o

     condenado

      a

     morte;

     o

     oficial

     de

     justiça perante

      o

    executado, cujos bens são penhorados; o devedor que paga a dívida diante

    do credor que

     sofre

      os

     efeitos

     do ato, porque seu crédito se extingue com

    o  pagamento.

    O es tado jur íd ico do sujeito ativo do ato em

     face

     do beneficiado ou

    (o que é o

     mesmo)

      do

     beneficiado

      em  face  do

     autor

     d o ato é o

     estado

      de

    crédito e débito Não se pode, aqui, cogitar de ato meramente permitido.

    Necessariamente tem-se d ever. E o elemento que serve para caracterizar

    esse estado jurídico

     é o

     interesse,

     ta l

     como

     o

      conceitua Çarnelutti:

      Existindo  entre  os  entes relações  de   complementaridade,  é uma

    manifestação da vida de que alguns são dotados tenderem a combinar-se

    com os

     entes complementares.

     A

     força vital

     consiste

     precisamente

      em os

    seres vivos possuírem  estímulo para ta l  combinação.

  • 8/19/2019 Teoria Geral Do Processo_0001

    6/11

      TEORIA

     G E R A L

     DO

     PROCESSO

     •

     Í CONFORMIDADE

     CO M O NO V O CP C

    O est ímulo age por via de uma sensação penosa por   todo  o tempo

    em que se não

      efetue

      a  combinação,  e de uma

      sensação agradável logo

    que a

     combinação

     se

     produza. Esta tendência pa ra

     a

     combinação

      de um

    ente vivo com um ente  complementar é uma  necessidade. A necessidade

    satisfaz-se pela combinação. O ente capaz de

      satisfazer

      a necessidade é

    um  bem;

      bonum

      quod

      beat

    porque   fa z bem.  A  capacidade  de um bem

    para

      satisfazer

      um a

     necessidade

     é a sua

      utilidade.

     A

      relação entre

     o

     ente

    que experimenta a necessidade e o ente que é capaz de

      satisfazer

      é o in-

    teresse. O interesse é, pois, a ut i l idade especí fica de um ente para o utro

    ente. O pão é sempre um bem, e por isso tem sempre ut i l idade, mas não

    tem interesse para quem não tem   fome, nem pensa vir a tê- la. Um ente

    é

     objeto de interesse na medida  em que uma pessoa pense  que lhe possa

    servir; do contrário, é indiferente.

    Daqui se deduz que pode haver

     interesse

     não apenas em ordem a uma

    necessidade presente, m as também  em  ordem a uma

     necessidade

     futura.

    E a existência d a necessidade pode resultar não só de uma sensação

      como

    de  um a dedução. D e uma série  de sensações de fome o homem tira  um a

    lei, com base na qual deduz que, se hoje não tem fom e, tê-la-á amanhã. A

    existência

      do interesse, relativamente às necessidades futuras, determina

    aquela

     aquisição de bens, além do limite das necessidades

      presentes,

     q ue

    se  chama poupa nça. Pode ajun tar-se ainda que a própria disponibilidade

    de  bens para as necessidades  fu tu ras  acaba por se tornar objeto de uma

    necessidade: nisso reside o fundamento da avareza.

    É  esta a noção de interesse que deve ser empregue na construção da

    teoria

     do direito .

    6

    Credor  ou beneficiado  é aquele cujo

     interesse

     é tutelado pela norm a

    jurídica  que a outro  imponha  um   dever

    positivo

      ou negativo;  sujeito

    ativo do ato é aquele q ue pratica ou não

     pratica

     o ato previsto em norma

    jurídica mandamental ou  permissiva; sujeito

     passivo

     do ato é aquele  qu e

    lhe

     sofre

     os efeitos.

    N o

     exemplo do carrasco, temos: o credor do ato (Estado ou socie-

    dade), o eletrocutor e o condenado. Eis aí dois estados jurídicos funda-

    mentais: do autor do ato em

     face

      do  sujeito  passivo do ato e do devedor

    do

     ato diante do credor, e, ainda, um estado jurídico reflexo ou derivado

    existente entre o credor d o ato e o sujeito passivo do ato.

    M e m ,

      p . 79-80.

      ap l

      •

      NOÇÕES

      INTRODUTÓRIAS

     

    Na maior parte dos casos , o interesse tutelado pela norma jurídica é

    o

     d o autor do ato ou o do sujeito passivo  do  ato,  nã o  havendo,

      pois,

     u m

    terceiro a

      considerar.

    Existe ainda um terceiro estado jurídico fundam ental : a inexistência

    de

     relação jurídica. Assim como

      o

      zero

      é

     f u n d a m e n ta l

      na

      matemática,

    assim a inexistência de relação jurídica deve, no d irei to, ser considerada

    estado jurídico fundam ental .

    São,

     pois

    estados

     jurídicos

      fundamentais:

    a)

     o

     estado

     de

     poder

     e

      sujeição;

    b) o estado  de crédito  e

     débito;

    c) o estado de inexistência de relação jurídica ou estado de liberdade .

    Se

     o

     estado

      é de

     crédito

     e

     débito, tem-se

      um ato

      devido

     d o

      segundo

    sujeito. Exclui-se

    portanto,

     a possibilidade  de ser- lhe permit ido prat icá-

    -lo ou não. Exclui-se também a

     possibilidade

     de ser o credor sujeito ativo

    do  ato.

    Se  o

     estado

      é de poder  e sujeição,  ao primeiro  sujeito  tanto  pode

    corresponder   um

     dever

     como uma faculdade  ou permissão.

      Excluíra

    possibilidade de ser o segundo sujeito

      autor

     d o  ato.

    A

      ideia de relação jurídica implica algo que permanece através de

    sucessivas t ransformações. Em outras palavras, sucedem-se di ferentes

    estados jurídicos.

    Tomemos,

     para exemplificar,

     u m

     simples caso

     de

     acidente

     de

     trânsito.

    João atropela  e

     fere Pedro:

    a)   o  estado inicial, anterior a o atropelamento é o de liberdade  ou

    de   inexistência  de  relação jurídica entre João e Pedro;

    b) ocorrido  o

     atropelamento,

      Pedro torna-se credor  de

      João,

     para

    quem surge o dever de indenizar;

    c)

      como João nã o paga, tem-se inadimplemento.  Surge para Pedro

    a pretensão isto é o poder de exigir  o pagamento  a que  corres-

    ponde a

     sujeição

      de

     João;

    d)   Pedro exige o  pagamento (exercício  da pretensão). Voltamos  ao

    estado  de crédito  e

     débito;

    e)  João

     n ão

     paga. Pedro adquire

      um

     novo poder:

      o d e

     obter coerci-

    t ivamente

      o

     pagamento (ação

     d e

      direito material);

  • 8/19/2019 Teoria Geral Do Processo_0001

    7/11

    1 TEORI GER L DO PRO ESSO • EM

     CONFORMID DE

     COM O

     NOVO

     CPC

    f)   Pedro vai ao Judiciário e obtém a satisfação de seu crédito (exercí-

    cio  da ação de direito material). Voltamos ao estado de liberdade

    ou de

     inexistência

     de

     relação jurídica.

    Tenha-se presente

     que um estado jurídico supõe sempre  referência

    a

     um só e determinado ato.

    Dos três estados jurídicos fundamentais, o de inexistência de relação

    jurídica   nã o

      exige

      maiores explicações. O de crédito  e débito  tem  sido

    largamente estudado pela doutrina.  O de poder  e sujeição, porém, não

    foi

     ainda suficientemente desenvolvido, razão por que lhe convém um

    item

     especial.

    3 Ó US E DIREITO FOR MATIVO

    Aulo Gélio (125-175) era jovem quando, pela primeira vez, os preto-

    res o colocaram no número dos juizes, encarregando-o dos julgamentos

    chamados privados. Consciente da nova responsabilidade, estudou (como

    ele mesmo nos conta) os deveres do juiz, quer em livros escritos em

     latim,

    quer em

     livros

     escritos

     e m

     grego.

     "Jovem

     ainda, deixando

     a s

     fábulas

      da

    poesia e os movimentos da eloquência para subir ao tribunal, eu queria

    aprender o s deveres de meu cargo na escola dos mestres mudos". No que

    concerne às cerimónias legais, a Lei

     Júlia

     e os Comentários de Sabino

    Masúrio e outros jurisconsultos lhe esclareciam devidamente. Entre-

    tanto, esses livros

     de

     nada

     lh e

     serviram quanto

      aos

      conflitos

     d e

     razões

    contrários com que se defrontou. Assim, por exemplo, encontrou-se em

    inextrincável apuro quando

     se

     deparou

     com o

     seguinte caso:

     um

     homem

    honrado,  cuja  boa-fé  era pública  e notória,  cuja vida  era  inatacável,  e

    sobre

      cuja

      sinceridade não  havia dúvida, reclamava ante  se u  tribunal

    determinada quantia em dinheiro, proveniente de empréstimo que  fizera

    ao

     réu, homem comprovadamente falso. Nem é preciso dizer que o réu

    negava

     a existência do débito... E não só: rodeado de numerosos parti-

    dários, não cessava de exclamar que era necessário, conforme a lei, que o

    autor provasse a existência d a dívida  com  documentos ou testemunhas.

    E acrescentava que,

     não

     havendo sido produzida prova alguma, devia

     ser

    absolvido; que a boa ou má conduta das partes carecia de valor, já que se

    tratava

     d e dinheiro, e a s partes se encontravam diante de um

     juiz

     e não

    diante de censores de costumes. Não sabendo como julgar a causa, Aulo

    Gélio foi buscar conselho, inicialmente com  seus amigos forenses. Ora,

    tais amigos lhe deram a mesma resposta que lhe dariam os advogados e

    juris tas de

     hoje:

      se o

     autor

     n ão

     prova

     a

     existência

      da

     dívida,

     o réu

     deve

      ap l  •  NOÇÕES INTRODUTÓRI S

      11

    ser  absolvido. Todavia, Aulo Gélio  não se conformou  com a resposta.

    Considerando aqueles dois homens, honrado

      um e

     pérfido

     o

     outro,

     não

    conseguia se decidir a julgar improcedente a ação. Dirigiu-se, então, a um

    ^ilósofo, Favorino, que lhe disse: "não se podendo esclarecer o litígio nem

    por documentos, nem por

      testemunhas,

     deve o juiz procurar de que

     parte

     maior probidade;

     e só se há

     igualdade

      no bem e no mal é que se

     deve

    dar fé a quem nega a dívida.

     Ora,

     no teu caso, não há testemunhas nem

    documentos, mas tu afirmas que o demandante é um homem honrado,

    ao passo que o réu é pérfido. Vai, pois, e dá razão ao demandante". Aulo

    Gélio considerou esse conselho digno

     de um

      filósofo,

     m as não o

     seguiu.

    Pareceu-lhe demasiadamente atrevida a conduta sugerida e não condizente

    nem com sua idade, nem com a debilidade de seus conhecimentos. Não

    tinha ânimo para contrariar os costumes estabelecidos. Parecia-lhe grave

    condenar sem provas; de outro lado, não podia decidir-se a absolver o réu.

    E

     assim, diz Aulo Gélio, "jurei que o assunto não estava claro, ficando, em

    consequência,

      livre daquele julgamento"  iuravi

      mihi non  liquere,

     atque

    ita

     iudicatu

      illo

     solutus

      sum).

    7

    No n  liquet .

     N ão

      está

      claro.

      Essa expressão

      é

      usual

     n a

     ciência

     do

    processo para significar o que

     hoje

     não mais existe: o poder de o juiz não

    julgar,

     por não

     saber como decidir.

    Atualmente o juiz não pode deixar de julgar. Ainda que nada tenha

    ficado provado; ainda que não saiba quem tem razão; ainda que não saiba

    qual das partes é a vítima e qual o algoz; ainda que ignore qual das partes o

    está

     enganando,

     o juiz tem o dever de julgar. Não sabe e, entretanto, deve

    julgar como se soubesse. lgiudke  decide

     non perche sã m a

      come

     se

     sapesse*

    Quando

      o

     juiz

     nã o

     sabe como julgar,

     por

      falta

      de

     provas,

     a lei

     julga

    por ele. Existe

     uma

     série

     de

     normas jurídicas

     que

     dizem

     ao

     juiz como deve

    julgar quando

     ele não

     consegue apurar quem

     tem

     razão. Tais normas

     são

    as regras do

     ónus

     da prova. Diz a lei, por exemplo:

    Juiz

    - se o autor se afirma credor do réu e nada fica provado, absolve o réu

    - se o réu

     afirma

     que era

     devedor,

     mas que já

     pagou

     a

     dívida, nada

    ficando provado, condena o réu

    GÉLIO, Aulo.

     Noches  áticas.

     Buenos Aires:

     Europa-América,

     1959, Livro XIV.

    CARNELUTTI, Francesco. Direito e processo. Napoli: Morano, 1958.

     p.

     265.

  • 8/19/2019 Teoria Geral Do Processo_0001

    8/11

    12

      T E O R I A G E R A L

     DO

      P R O C E S S O E M CONFORMID DE  OM O NOVO

     CP C

    Tais

     regras

     q ue

     v i s am

      a impedir o n on

      liquet

     s ão regras d o

      ónus

      da

    prova em

     sentido

     objetivo.  Se u destinatário é o juiz. Existem, quer s e trate

    de processo dispositivo,

      quer  se   trate  de processo inquisitório. Nesse

    sentido

      é r egr a

      relativa

      a o

      ó n us

      da  prova  a norma  de  processo penal  in

    dúbio

     pró

     reo

    .•

    A s regras técnicas

     nã o

     impõem deveres: apenas dizem

     o que é

     neces-

    sár io faze r para

     se a t ingi r

     certo

     f i m .

      A s s i m ,

     po r

     exemplo,

     se

     quero acender

    a luz, preci so acionar o comutador.

    A s

     regras

     do  ónus da p r ova , embora tenham  p or  destinatário o j u i z ,

    refletem-se  sobre a s p a r te s .

     R e f l e te m -se ,

     contudo, n ão como regras ur ídi-

    cas,

     m a s

     como

     regras

     técnicas:

     o autor sabe qu e precisa provar a existência

    da dívida para  que o ju i z  julgue procedentes  os  pedidos  de sua ação;  o

    ré u

     sabe qu e

     deve

     provar o pagamento para  que o juiz acolha essa

     de f e s a .

    Tem-se , ass im,  o conceito d e

      ónu s

      da  prova  em   sentido subjetivo:

    uma como q ue  ca rga n a s costas or a de uma,  ora de outra d a s partes; cada

    um a  d a s quais

     sabe

     do que necessita provar para vencer.

    Se

     o

     juiz

     tem o dever de

     procurar

     a

     verdade processo inquisitório),

    constitui

     in iquidade

      fazer-se  re ca i r

     sobre quaisquer  da s partes a s conse-

    quênc ias d o f racas so  do

     j u i z .

     D a í afirmarem alguns  que o ónus d a prova

     em se ntido subjetivo) somente existe em  processo dispositivo.

    Se   observarmos atentamente, veremos  que o  ónus  da   prova  em

    sentido

      subjetivo) constitui para cada  u m a d a s partes  um   poder  a que

    corresponde

     a

     sujeição

      do juiz e da  parte contrária: o poder  de provar.

    O  autor,

     em

     processo

     civil, t em o poder jurídico d e , querendo, provar

    a

     exis tênc ia d a

     dívida.

     O Ministério Público  tem o poder que em   f ace  do

    Estado é um   dever) d e

     provar

     a

     existência

     do

      crime.

     S e fe i ta

     essa prova,

    surge para

     o

     juiz

     o

     dever

     d e

     j u lga r

     procedente o pedido; n ão  sendo

      fe i ta ,

    surge

      para

      o

     juiz

      o dever  de

     praticar

      o ato

      contrário, isto

      é, o

     dever

      de

    ju lgar

     improcedente o

     pedido.

    O  t rans formado é d i fe rente , c o n f o r m e  seja ou não produzida a prova.

    O  autor, quando

     é seu o

     ó n us

     d a

     prova, encontra-se

      na

     situação

     d e

    poder

      exercer  efeito  imediato n ão somente sobre  o j u i z ,  m a s  também

    sobre o

     réu.

     Se prova,

     torna-se credor

     d a

      sentença

     d e

      procedência,

     d e-

    vida  pelo juiz e à  qual f i cará suje i to  o réu. Se não  prova é o réu que se

    t o r n a

      credor

      da

     s e n te nça

      d e i m p r o c e d ê n c i a , devida pelo juiz e à  qual

    f icará  sujeito  o

     autor.

    Os es tudos  a que foi submetido o processo civil levaram à constata-

    çã o

     de que não

     existe

     ap e nas o ónus de

     provar,

     ma s

      também

      o de

     alegar.

      ap l

      •

      NOÇÕ ES

     INTRODUTÓRI S  13

    A s s i m , verbi gratia

    é

     preciso  que o réu  alegue, n o prazo l e ga l ,  a exceção

    de  incompetência relativa, se quiser  que a causa seja processada n o  foro

    co m p e t e n t e . S e o r é u alega a exceção, torna-se credor do despacho devido

    ,

     jpelo

     j u i z , d e remessa d os autos a o juiz competente, a o qual  f i ca

      suje i to

      o

    autor;

     s e não

     alega

     a

     exceção,

     é o

     autor

      que se

     torna credor

     de a to

     devido

    p e l o

     j u i z ,

     consistente

     n o

     dever

      de não

      remeter

      os

     autos

     a

     outro

      j u i z ,

      m a s

    de  processar e julgar e le mesmo  a ação.

    Fala - se

     d e

     ónus

    di z  Carnelutti, para

      s i gn i f i ca r

     q u e a s provas devem

    s er  produzidas pelas partes,

     s em   cuja

     iniciativa

      o juiz n ão

     po de buscá-las

    de

     of ício.

     Nesse sentido,

     o ónus da

     prova constitui

     um par com o

     ónu s

     de

    a leg ar n o conhecido aforismo: iudex iudicare debet iuxta

     allegata

      etproba

    ta. Na verdade, existe u m nexo íntimo entre a alegação e a  prova: porque

    as  partes estão em condições de igualdade  e, normalmente, no processo

    contencioso,

      as

     afirmações

     d e u m a

     contradizem

      a s

     afirmações

     da

     outra,

    nenhuma pode pretender que s e dê fé à sua palavra; po r isso a  parte sabe

    qu e  uma

      afirmação

     sem

     prova

      não vale

     nada;

     daí o seu ónus de

     narrar

    os  f a to s

      e produzir  a s provas; o

     j u i z ,

     como n ão pode  el e mesmo procurar

    os

      fatos ,

      assim  n ão pode procurar  a s provas. Isso ser ia possível, m a s n ã o

    se r i a conveniente. Para

     que se

     possa alcançar

      o

     resultado

     do

     processo,

     é

    necessário que a ação  da s partes se ja energicamente estimulada; quando

    a

     parte sabe

     que não

     pode contar  senão consigo mesma para

      fo rne ce r a

    prova,

     f ica

     naturalmente interessada  em

     f a z e r

     tudo quanto possa a

     fi m

      de

    qu e  suas afirmações sejam sustentadas pelas  provas .9

    À medida  que se foi prestando atenção  a os fenómenos  p r oc essua i s ,

    c re s ce u o número das hipóteses de

     ónus:

     não apenas ónus de provar, não

    apenas

     ónus de

     alegar,

     mas

     também ónus

     de

     impulsionar

     o

     processo,

     ónus

    de

     preparar o recurso para impedir a deserção); ónus de exibir documento

      p a r a

      impedir

      a

     aplicação

     da

      pena

      de

      confissão);

     ónus de

      comparecer

    à

      audiência sob pena

      de

      revelia)

      etc.

    até que

      chegou Goldschmidt

    sustentando que,  no processo, o par da expectativa e do ónus  substitui

    o do  direito subjetivo e da  obrigação jurídica, p a r este q ue  seria próprio

    somente

     do

     direito

     material.

    10

    Do processo a

     ideia

     de

     ónus saltou para

     o

     direito material.

    9

      Idem p .

     264-265.

    10  C A L A M A N D R E I , Piero.

     Estúdios sobre

     el

     proceso civil

    B u e n o s Aires:  Ed. Bi-

    b l i o g r á f i c a Argentina, 1961. p . 219.

  • 8/19/2019 Teoria Geral Do Processo_0001

    9/11

      4 TEORIA GERAL DO PROCESSO • EM CONFORMIDADE COM O NOVO CPC

    f

      ap l  •  NOÇÕES INTRODUTÓRIAS  5

    Toda

      i nsc r i ção  n o  Regis t ro Públ ico cons t i tu i ón u s , d iz P i s a n i ,

    apoiando-se em Pugliatti e Natoli.11

    Encontrando-se

     a ideia de

     ónus

      em diferentes setores do direito,

    12

    deve s er cons iderada  cidadã d o m undo jur íd ico e não  desta o u daquela

    disciplina.

     É , em suma, conceito a ser estudado na teoria geral do direito,

    tal

     como

     o fez Carn elutti.

    13

    Entretanto, é ainda pequena a penetração do conceito de

      ónus

      n a

    doutrina

     do

     direito material.

     E por

      quê?

     A

     razão

     é

     esta:

     ao

     movimento

     d o

    ónus

     em

     direção

     ao

     direito mater ial con trapõe-se

     o

     m o v i m e n t o

     do

     direito

    formativo

      em

     direção

     a o

      processo.

     Os

     dois c onceitos estão

     em

      guerra.

     E

    um  deles deverá perecer.

     O s

     fen ómen os jurídicos, assim como

     a s

     batatas,

    sã o em núm ero limitado. E não há batatas suficientes para que ambos

    possam sobreviver. Ao vencedor, as batatas

    O  conceito d e direito formativo,  tal  como o de ónus, é c idadão d a

    teoria

     geral

     d o  direito, e não

      desta

     o u

      daquela disciplina.

     Daí a

     impor -

    tância

     dos trabalhos que o examinam  fora do seu habitat costumeiro. É o

    que

     acontece com o artigo de Almiro do C outo e Silva, "Atos jurídicos de

    direito adm inistrativo praticados

      po r

      particulares

     e

     direitos formativos",

    publicado na   R J T J R S 9:19-37,  de  1968. Nele s e contempla  o  conceito

    de

      direito

      formativo,  n ão n o

     direito pr ivado,

     mas n o

      âmbito

      do

     direito

    administrativo.

    Existe

     estreito nexo entre

      a

     categoria

     d os

     direitos formativos

     e a das

    sentenças constitutivas. Deve-se pr incip almente a Em il Seckel a elabora-

    çã o

     do conceito de direito formativo, ass im como a Hellwig a cons t rução

    da  categoria das sentenças constitutivas. "O n o m e d e direitos formativos

    foi inspirado, con fessadamente, pela designaçã o sentenças formativas

     de

    direito, sugerida

     p or

     Hellwig

     e

     aceita pela ciência alemã para

     as

     chama-

    das   sentenças constitutivas" (Atos jurídicos...,

      R J T J R S

    9:19-37, 1968).

    E

     Hellwig liga a sentença c onstitutiva aos direitos de poder jurídic o ou

    direitos

      formativos.

    14

    "Define Seckel

     o direito formativo, no direito privado, como o direito

    subjetivo  cujo conteúdo é o poder de formar relações jurídicas concretas,

    PISANI, Andrea Proto.

     La transcrizione delle do ma n de giudiziali

    Napoli: Jovene,

    1968.

     p.

     396.

    LUGO ,

     A n d r e a .

     Manuais d i

      diritto

     processuak  civile. Giu ffre ,

      1967. p. 26.

    Teoria  geral. São Paulo: Saraiva, 1942. p. 2 74-275.

    R O C C O ,  Alfredo.  La

     sentenza

      civile. Milano: Giuffre,  1962.

      p.

      126.

    através

     do negócio jurídico unilateral. O

     reparo

     que a essa definição caberia

    fazer-se

     é o de que nem só

     negócios

     jurídicos

     cons t i tuem ins t rumento

     de

    exercício

     d e

     direitos  formativos, embora seja

     o que

     mais frequentemen te

    ocorra; também atos jurídicos  stricto

     sensu e, em

     raros casos,

     até

     atos-fatos

    jurídicos

      desempenham  essa função".

    15

    Note- se

      que,

      uma vez

      aceito (como deve

      se r

      aceito)

      o

      reparo

      de

    Almiro

      do

      Couto

      e

      Silva, amplia-se

      a

     categoria

      do s

     direitos  formativos

    (ou potestativos), pouco faltando para coincidir inteiramente  com o atrás

    examinado estado

     de

     poder

      e

     sujeição.

    "Diversamente

     do que

     ocorre

     com os

     outros direitos

     subjetivos, ao s

    direitos

     formativos

     n ão

     correspondem deveres.

     N em

     m e s m o

     é de

     admit i r -

    -s e a existência de dever de tolerar o exercício de direito formativo. Com o

    adverte

     Von Thur

    dever

     de

     tolerância

      se tem

      quem pode contrapor-se

    a

     ato de outrem, mas não está,

      juridicamente, autorizado

      a

     isso.

      Não há

    dever

     d e

     tolerância

     co m

     relação

     ao que de

     n e n h u m m o d o

     s e

     pode evitar"

    (Atos jurídicos..., R J T J R S

    9:19-37,1968).

    Entenda-se: o sujeito passivo não tem dever algum diante do  titular

    de direito formativo. Apenas'sofre a ação do sujeito ativo. Nada impede,

    entretanto, que o titular do direito tenha o dever de praticar o ato. Nessa

    última hipótese existe, concom itantemente,

     um a

     outra relação,

     de

     crédito

    e débito. Assim, por exemplo, aquele a quem se propõe o contrato tem o

    direito formativo  de aceitando  a proposta constituir  a relação jurídica

    contratual. Pode ocorrer

    porém , que ele

     tenha,

     e m face de

     outrem,

     o

     dever

    de  aceitar, porque

     a

     isso

     se

      obrigou.

    Assim  c o m o

     as

     sentenças constitutivas cr iam, mod ificam

     ou

     extin-

    guem relação jurídica , assim os direitos  formativos que, por isso, divid em-

    -s e

     em

     direitos form ativos geradores,

      modificativos e

     extintivos.

    "Exemplos de direitos form ativos geradores, no direito pr ivado, são

    os  direitos d e  apropriação, o  direito  de  opção,  o direito  de  preferência,

    o

      direito

      que tem o

      destinatár io

     d a

      oferta

      de ,

      aceitando-a, estabelecer

    negócio jurídic o bilateral; de direitos  formativos m odif icativos, o direito

    de escolha

      nas

     obrigações alternativas,

     o

     direito

     de

     constituir

     em

     mora

     o

    devedor ou credor, mediante interpelação, notificação ou protesto, o direito

    de estabelecer prazo para a prestação); de direitos formativos extintivos, a

    den ú n cia

     do

     contrato,

     a

     alegação

     de

     compensação ,

     o

     pedido

     d e

     desquite,

     o

    direito

      à

     resolução resilição, rescisão, anulação

     e

     decretação

     de

     nulidade".

    SILVA,

     Almiro do Couto e.

     Atos jurídicos... R J T J R S 9:19-37 1968.

  • 8/19/2019 Teoria Geral Do Processo_0001

    10/11

      6

      TEO RI GER L DO PRO CESSO • EM CONFORMIDADE C O M O NOVO CP C

      O pedido de transcrição, no Registro de Imóveis, é , também,  exercício

    de direito formativo gerador:  de  direito  a  forma r direito real. A penas

    com a transcrição, que é ato de direito público,  efetiva-se  a transmissão

    de  domínio (Atos jurídicos..., R JTJRS

    9:19-37,1968).

      Do mesmo modo como

      os

     direitos formativos,

     n o

     direito  privado,

    os direitos formativos,

     no

     direito

     público,

      podem

     ser geradores,

     modifi-

    cativos ou extintivos, conforme o resultado que o seu exercício produz,

    criando,

      modificando ou extinguindo relação jurídica ou consti tuindo

    para

     o

     Estado

     o

     dever

     de

     criar, modificar

     ou

      extinguir relação jurídica

    (Atos jurídicos..., RJTJRS 9:19-37,1968).

      Con stituem exe mplos de direitos formativos gerad ores, no direito

    administrativo, o

     direito

     a inscrever-se em concurso público, o direito a

    apresentar proposta em concorrência pública, o direito a postular reinte-

    gração

     em cargo público, o direito a ser

     reenquadrado quando

     lei, ao reor-

    ganizar

     os

     serviços, possibilita alteraçã o

     d as

     posições funcionais, mediante

    requerime nto dos interessados (Atos jurídicos...,

     R JTJRS 9:19-37,1968).

      O s direitos

     formativos

     m odificativos sã o  mais facilmente verificá-

    veis

     na

     relação

     de

     emprego público.

      A

     essa classe pertenc em

      os

     direitos

     a

    pedir licença pa ra tratamento  de saúde, licença à

     gestante,

     à funcionária

    casada, quando

     o

     marido

     fo r

     mandado  servir, e x   o f f i c i o

    em

      outro ponto

    do terri tório nacional ou no estrangeiro, l icença especial ou l icença-

    -prêmio,  pois, em todos esses casos, observados os requisitos legais, o

    pedido d o funcionário cria, para a

     administração,

     o dever de

     conceder

     a

    licença, ficando suspensos, d e outra parte, o s deveres de assiduidade e de

    comparecimento

     ao

     trabalho,

     qu e

     ordinariamente

     tem o

     funcioná rio. Tais

    licenças  alteram,

     portanto,

     a

     relação

      de

     emprego público;

      sem que  haja,

    durante o tempo de sua duração, prestação de trab alho, subsiste o dever do

    Estado

     à

     prestação patrimonial (Atos jurídicos...,

     R JTJRS 9:19-37,1968).

      Direito formativo

     extintivo,

      por excelência, é o

      direito

      a  pedir

    exoneração de

      cargo público (Atos jurídicos...,

     R JTJRS

    9:19-37,1968).

    Em

     que se distingue o direito form ativo d o atrás examinado  estado

    de poder e sujeição? A diferença está em que o estado de

     poder

     e sujeição

    é

     género

     de que é

     espécie

     o

      direito formativo.

     As

     me ras faculdades estão

    contidas

     n o

      estado

     de

     poder

     e

     sujeição,

      mas são

      excluídas

     do

     âmbito

      do s

    direitos

      formativos.

      Para que bem se compreenda o conceito de direitos formativos é ne-

    cessário

     frisar  serem eles, efetivamente, direitos

     e não

     simples faculdades.

    As faculdades  cabem a  todas  ou a um  número demas iadamente amplo

    de

     pessoas, enquanto o direito

     subjetivo

      é u m

      plus

    um poder especial e

      ap l  •  NOÇÕES INTRODUTÓRI S  7

    concreto

      que se

     insere

     n a

     esfera jurídica

     d e

     alguém

     e que não é

     partilhado

    po r

     todos os demais. O

     poder

     de propor

     contrato

     é faculdade, o poder d e

    aceitar a proposta é direito formativo gerador; a o cupação de coisa sem

    drjno é faculdade, o poder que tem o a rrendatário de forma r direito real ,

    pela caça  do s

     animais

      existentes  no  campo,  é direito formativo gerador

    (Almiro do C outo e Silva, Atos

     jurídicos...,

     R JTJRS

    9:19-37,1968).

      O

     conceito

      de

     direito subjetivo serve enquanto explica

     a

     diferencia-

    ção de poderes jurídicos que têm as  pessoas, em situações determina das.

    O s direitos subjetivos

      são

     círculos menores

     trancados dentro do círculo

    da s faculdades. O poder concreto  qu e nasceu em favor de alguém é sempre

    diverso

     dos

     poderes

     que os

     outros

     possuem. A noção de

     direito subjetivo

    surpr eend e essa diversidade de poderes

      concretos,

     atenta ao momento em

    que uma vantage m especial se acrescenta, se individualiza, no patrim ónio

    jurídico

      do

      sujeito

      de

      direito. Afirma-se,

     p or

      outro lado,

      que o

      direito

    subjetivo  é um  poder  concreto e

     determinado, porque

     ele é efeito d e fato

    jurídico. Não deriva o direito  subjetivo  exclusivamente da norma, nem

    só de fato  do mundo natural , mas da união de norma e fato  ou, melhor,

    da

      incidência da norma jurídica sobre o

      fato.

      Ora, os fatos são sempre

    concretos e, ao ingressarem no m undo ju rídico, geram, também, relações

    jurídicas concretas (Atos

     jurídicos...,

     RJTJRS 9:19-37,1968).  '

    O

     signo linguístico

      une um

      conceito (significado)

     com a

      impressão

    psíquica de um som (significante) . Portanto: signo é a combinação do

    significante  com o

      significado;

     o

      significante

     não é um

      som,

      mas a im-

    pressão  psíquica

      e um som

      (imagem  acústica);  significado

     é o

     conceito

    (Ferdinand  de Saussure,  Curso

     de

     linguística geral,

     trad. António Chelini,

    4. ed., São Paulo,

     Cultrix,

     1972, p. 80-1).

    Quer se fale e m ónus, quer se

     fale

     em direito formativo, há referência

    a um ato que um sujeito pode (o u deve)

     praticar

     e a que outro

     fica

      sujeito.

    Quer se trate de

     ónus,

     quer se trate de direito formativo, o ato pode

    sobrevir

     ou não no

     mundo

      fático. S e

     sobrevêm, diz-se

     que foi

     atendido

     o

    ónus

     ou que foi exercido o direito formativo. Tanto no caso de ónus com o

    no de

     direito

     formativo, as consequências jurídicas são diversas, conform e

    seja

     ou não praticado  o  ato.

    Quer se trate de ónus, quer se trate de direito formativo, o interesse

    tutelado

     é o do

     autor

      do

      ato,

      ou ,

     eventualmente,

     de um

      terceiro; nunca

    daquele que sofre os efeitos do ato.

    Qual, portanto, a diferença entre os dois conceitos? Apenas esta:

    quando

      se fala  em

     ónus, afi rma-se  que,

      nã o

      sendo praticado

      o

     ato,

     u m

    interesse do sujeito ativo (ou, eventualmente, de um terceiro) é desaten-

  • 8/19/2019 Teoria Geral Do Processo_0001

    11/11

    18  TEORIA GERAL  DO PROCESSO  EM CONFORMIDADE COM O NOVO CPC

    dido; quando se fala em  direito formativo, afi rma-se que, sendo praticado

    o ato, um interesse do sujeito ativo

      ou ,

     eventualmente, de um terceiro) é

    atendido. Em suma: não há diferença senão na form a de expressão. Q uan-

    do se fala em ónus, pensa-se, de preferência, nas consequências jurídicas

    decorrentes

      da

      omissão

      do

      ato.

      Quando  se  fala  em

      direito formativo,

    pensa-se ,

     d e

      preferência,

      na s

     consequências jurídicas

     da

     prática

     d o

     ato.

    Ónus e

      direito potestativo

      são

     redutíveis

      um ao

     outro.

      E é por

     isso

    qu e

     a transcrição no Registro de Imóveis tanto pod e ser exemplo de ónus

    como de

     direito

      formativo.

      Quando

      se

     pensa

      no

      comprador

      qu e

      fica

    prejudicado,  se não  transcreve se u  título  de domín io ,  fala-se  em   ónus.

    Quando se

     pensa

     no

     adquirente

     que

     transcreveu regularmente

     se u

     título

    de

     domínio, o pensam ento vai, de preferência, para o

     efeito

     d a aquisição

    do

     dom ínio, decorrente

     da

     prática

     do ato da

      transcrição.

    Quem

     alega a p rescrição exerce o direito form ativo extintivo. Quem

    deixa de alegar a prescrição no

     m omen to processual oportuno

     fica prejudi-

    cado, porquan to

     não

     atendeu

     ao

     ónus

     de

     alegar,

     no

     processo,

     na

     hora certa.

    É

     claro, portanto, que os dois  significantes  podem  se r  reduzidos a

    um só, já que

     exprimem

     um

     único

     e

      idêntico significado.

     A

      duplicidade

    explica-se,

     pois

     se

     desenvolveram

     em

     províncias diferentes

     do

      direito.

      A

    palavra ónus

     surgiu

     no

     processo

     e

     invadiu

     o direito

     m aterial.

      A

      expressão

    direito formativo desenvolveu-se

     no direito

     m aterial

     e

     invadiu

     o

     processo.

    Na

     verdade, a ideia expressa por ón us e por direito form ativo é idên-

    tica. Apenas a form ulação é diferente.

    Esta

     é a

     fórmula

      do ónus:

    - não sendo p raticado o ato A não ocorre a consequência X.

    A

     fórmula

      do direito formativo é:

    -

      somen te sendo praticado

     o ato A

    ocorre

     a

     consequência

     X.

    As

     duas proposições são logicamente idênticas.

    A

     ideia última contida

     n os

     dois significantes

      ónus e direito

     formati-

    vo ) é

     simplesmente esta:

     se,

     para

     que se

     produzam certos efeitos jurídicos,

    é

     necessário que se pratique determinado ato; não se produzem tais efeitos,

    se  o ato não é praticado.

    Quem   fala

      em direito formativo não precisa do conceito de ónus e

    vice-versa. Em uma só hipótese a ideia de

     ónus

     é irredutível à de direito

    formativo: é quando se

     fala

     e m ónus da prova e m sentido objetivo, isto é,

     

    Cap l •  NOÇÕES  INTRODUTÓRIAS  19

    como

     norma

     dirigida ao juiz, para evitar o non  liquet É desejável eliminar-

    -se

     d a

     ciência jurídica

      a

     expressão

      ónus d a

     prova

      em

     sentido

      subjetivo,

    substituindo-a  po r direito form ativo à produção  de provas,

     tanto

     mais que

    a

      ciência processual nunca conseguiu explicar

     b em

      como

     é que ao

     autor

    incumbe

      não só

     provar

     o s  fatos

      constitutivos como também produzir

     a

    contraprova

      do s

      fatos

      impeditivos

      ou

     extintivos alegados pelo réu.

    Uma dif iculdade permane ce, para a prevalência da expressão direito

    formativo: é que não poucos juristas l he   negam  a qualidade  de  direito

    subjetivo. Por

     isso tudo preferim os

     falar  em

      estado

     d e

     poder

      e  sujeição,

    qu e

      abrange

      não só as

      ideias

      de  ónus  em

      sentido subjetivo

     o u

      direito

    formativo

     com o, ainda, a s meras faculdades, sempre que seu exercício se

    reflita

      sobre outro.

    Saliente-se, apenas,

     que a

     palavra sujeição

     não tem

     necessariamente

    sentido desagradável, como

     be m

      sabem

      os

      enamorados. Quem propõe

    contrato sujeita

     o

     destinatário

      da

     oferta. Modifica-lhe

     a

     situação jurídica,

    outorgando-lhe  um poder que antes não

     tinha:

     o poder de constituir rela-

    ção jurídica, m ediante  a aceitação.  O sujeito passivo do ato sofre a ação do

    sujeito

     ativo, o que, todavia, po de ser bom

     para

     ele, se a oferta é vantajosa.