Teoria Geral Do Turismo

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Teoria Geral do TurismoDisciplina na modalidade a distncia

Palhoa UnisulVirtual 2007

CrditosUnisul - Universidade do Sul de Santa Catarina UnisulVirtual - Educao Superior a DistnciaCampus UnisulVirtualRua Joo Pereira dos Santos, 303 Palhoa - SC - 88130-475 Fone/fax: (48) 3279-1541 e 3279-1542 E-mail: [email protected] Site: www.virtual.unisul.br Reitor Unisul Gerson Luiz Joner da Silveira Vice-Reitor e Pr-Reitor Acadmico Sebastio Salsio Heerdt Chefe de Gabinete da Reitoria Fabian Martins de Castro Pr-Reitor Administrativo Marcus Vincius Antoles da Silva Ferreira Campus Sul Diretor: Valter Alves Schmitz Neto Diretora adjunta: Alexandra Orsoni Campus Norte Diretor: Ailton Nazareno Soares Diretora adjunta: Cibele Schuelter Campus UnisulVirtual Diretor: Joo Vianney Diretora adjunta: Jucimara Roesler Diva Marlia Flemming Itamar Pedro Bevilaqua Janete Elza Felisbino Jucimara Roesler Lilian Cristina Pettres (Auxiliar) Lauro Jos Ballock Luiz Guilherme Buchmann Figueiredo Luiz Otvio Botelho Lento Marcelo Cavalcanti Mauri Luiz Heerdt Mauro Faccioni Filho Michelle Denise Durieux Lopes Destri Moacir Heerdt Nlio Herzmann Onei Tadeu Dutra Patrcia Alberton Patrcia Pozza Raulino Jac Brning Rose Clr E. Beche Tade-Ane de Amorim (Disciplinas a Distncia) Design Grfico Cristiano Neri Gonalves Ribeiro (Coordenador) Adriana Ferreira dos Santos Alex Sandro Xavier Evandro Guedes Machado Fernando Roberto Dias Zimmermann Higor Ghisi Luciano Pedro Paulo Alves Teixeira Rafael Pessi Vilson Martins Filho Gerncia de Relacionamento com o Mercado Walter Flix Cardoso Jnior Logstica de Encontros Presenciais Marcia Luz de Oliveira (Coordenadora) Aracelli Araldi Graciele Marins Lindenmayr Guilherme M. B. Pereira Jos Carlos Teixeira Letcia Cristina Barbosa Knia Alexandra Costa Hermann Priscila Santos Alves Logstica de Materiais Jeferson Cassiano Almeida da Costa (Coordenador) Eduardo Kraus Monitoria e Suporte Rafael da Cunha Lara (Coordenador) Adriana Silveira Caroline Mendona Dyego Rachadel Edison Rodrigo Valim Francielle Arruda Gabriela Malinverni Barbieri Josiane Conceio Leal Maria Eugnia Ferreira Celeghin Rachel Lopes C. Pinto Simone Andra de Castilho Tatiane Silva Vincius Maycot Serafim Produo Industrial e Suporte Arthur Emmanuel F. Silveira (Coordenador) Francisco Asp Projetos Corporativos Diane Dal Mago Vanderlei Brasil Secretaria de Ensino a Distncia Karine Augusta Zanoni (Secretria de Ensino) Ana Lusa Mittelztatt Ana Paula Pereira Djeime Sammer Bortolotti Carla Cristina Sbardella Franciele da Silva Bruchado Grasiela Martins James Marcel Silva Ribeiro Lamuni Souza Liana Pamplona Marcelo Pereira Marcos Alcides Medeiros Junior Maria Isabel Aragon Olavo Lajs Priscilla Geovana Pagani Silvana Henrique Silva Vilmar Isaurino Vidal Secretria Executiva Viviane Schalata Martins Tecnologia Osmar de Oliveira Braz Jnior (Coordenador) Ricardo Alexandre Bianchini Rodrigo de Barcelos Martins

Equipe DidticopedaggicaCapacitao e Apoio Pedaggico Tutoria Angelita Maral Flores (Coordenadora) Caroline Batista Enzo de Oliveira Moreira Patrcia Meneghel Vanessa Francine Corra Design Instrucional Daniela Erani Monteiro Will (Coordenadora) Carmen Maria Cipriani Pandini Carolina Hoeller da Silva Boeing Dnia Falco de Bittencourt Flvia Lumi Matuzawa Karla Leonora Dahse Nunes Leandro Kingeski Pacheco Ligia Maria Soufen Tumolo Mrcia Loch Viviane Bastos Viviani Poyer Ncleo de Avaliao da Aprendizagem Mrcia Loch (Coordenadora) Cristina Klipp de Oliveira Silvana Denise Guimares Pesquisa e Desenvolvimento Dnia Falco de Bittencourt (Coordenadora) Ncleo de Acessibilidade Vanessa de Andrade Manoel

Equipe UnisulVirtualAdministrao Renato Andr Luz Valmir Vencio Incio Bibliotecria Soraya Arruda Waltrick Cerimonial de Formatura Jackson Schuelter Wiggers Coordenao dos Cursos Adriano Srgio da Cunha Alosio Jos Rodrigues Ana Luisa Mlbert Ana Paula Reusing Pacheco Ctia Melissa S. Rodrigues (Auxiliar) Charles Cesconetto

ApresentaoEste livro didtico corresponde disciplina Teoria Geral do Turismo. O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autnoma, abordando contedos especialmente selecionados e adotando uma linguagem que facilite seu estudo a distncia. Por falar em distncia, isso no signica que voc estar sozinho. No esquea que sua caminhada nesta disciplina tambm ser acompanhada constantemente pelo Sistema Tutorial da UnisulVirtual. Entre em contato sempre que sentir necessidade. Nossa equipe ter o maior prazer em atend-lo, pois sua aprendizagem nosso principal objetivo. Bom estudo e sucesso! Equipe UnisulVirtual.

Victor Henrique Moreira Ferreira

Teoria Geral do TurismoLivro didtico

2a edio revista

Design instrucional Carmen Maria Cipriani Pandini

Palhoa UnisulVirtual 2007

Copyright UnisulVirtual 2007 N enhum a parte desta publicao pode ser reproduzida por qualquer m eio sem a prvia autorizao desta instituio.

Edi - Li o Di co o - vr dti Pr essorConteudi of sta Victor Henrique Moreira Ferreira Desi I uci gn nstr onal Carm en Maria Cipriani Pandini Ligia Maria Souf Tum ol en o I 978-85-60694-22-8 SBN Pr eto Gr i e Capa oj fco Equipe Unis Virtual ul Di am ao agr Duarte MiguelMachado Neto Vilon MartinsFil ( Edio) s ho 2 Al Xavier ( izao) ex Atual Revi Or f ca so togr i Hel s MartinsMano Dorneles oa l

338.4791 F44 Ferreira, Victor Henrique Moreira Teoria geral do turismo : livro didtico / Victor Henrique Moreira Ferreira ; design instrucional Carmen Maria Cipriani Pandini, Ligia Maria Soufen Tumolo. 2. ed. rev. Palhoa : UnisulVirtual, 2007. 218 p. : il. ; 28 cm.

Inclui bibliografia. ISBN 978-85-60694-22-8

1. Turismo. I. Pandini, Carmen Maria Cipriani. II. Tumolo, Ligia Maria Soufen. III. Ttulo.Ficha catalogrf elaborada pela Biblioteca Universitria da Unisul ica

SumrioApresentao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03 Palavras do professor conteudista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09 Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 UNIDADE UNIDADE UNIDADE UNIDADE UNIDADE 1 2 3 4 5 O surgimento e a evoluo do fenmeno turstico . . . . . 17 Impactos da atividade turstica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 O Sistema de turismo e os meios de transportes . . . . . . . 75 Turismo e organizaes tursticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107 Administrando o turismo para o mercado . . . . . . . . . . . . 155

Para concluir o estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 207 Referncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 209 Sobre o professor conteudista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 211 Respostas e comentrios das atividades de auto-avaliao . . . . . . . . . . . . 213

Palavras do professorA todos os alunos e alunas com quem estarei compartilhando informaes, conhecimentos e experincias... Quero dizer que a possibilidade de poder trabalhar o contedo que versa sobre a importante atividade que o turismo, certamente se caracteriza uma experincia mpar para todos ns. Se considerarmos que a sociedade industrial moderna nos impe determinadas regras e exigncias importante pensar tambm que temos a necessidade de priorizar um tempo para que possamos descansar, viajar, divertir e entreter, enm, como se diz no popular, recarregar as baterias. Estou certo que muitos de vocs j aproveitaram, aproveitam e ainda ho de aproveitar o tempo livre. Tambm tenho certeza de que muitas viagens sero realizadas, independentemente da destinao, do atrativo ou da poca do ano. Em outras palavras, sempre tiveram a oportunidade de atuar como verdadeiros turistas o faro. Esta disciplina possibilitar um contato mais estreito com o que podemos considerar como sendo o outro lado do turismo, ou seja, o lado em que estaremos atuando como os verdadeiros prestadores de servios tursticos. E para que isto seja possvel h a necessidade de que noes e conceitos tericos da atividade sejam aprendidos e compreendidos. A apresentao dos contedos por meio da sistematizao das unidades foi pensada para que voc possa realizar

um elo ou um link, na linguagem virtual, com as necessidades atuais do turismo. Pretende-se com esta disciplina contribuir para uma sensibilizao acerca da importncia e do signicado que o turismo possui em nvel local, regional, nacional e mundial. Assim sendo, s me resta agora, convid-lo/a a embarcar nesta fantstica viagem atravs do conhecimento e das novas descobertas que a atividade turstica poder lhe proporcionar. Vamos juntos! Desejo a todos uma excelente viagem por meio da aprendizagem! Professor Victor Henrique Moreira Ferreira.

Plano de estudoO plano de estudos visa a orientar voc no desenvolvimento da Disciplina. Ele possui elementos que o ajudaro a conhecer o contexto da Disciplina e a organizar o seu tempo de estudos. O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva em conta instrumentos que se articulam e se complementam, portanto, a construo de competncias se d sobre a articulao de metodologias e por meio das diversas formas de ao/mediao.

So elementos desse processo: O Livro didtico. O EVA (Espao UnisulVirtual de Aprendizagem). Atividades de avaliao (complementares, a distncia e presenciais).

EmentaNoes bsicas dos fundamentos tericos do turismo. Conceitos, denies e tipologia. Contextualizao histrica do lazer e do turismo. Principais impactos do fenmeno turstico. Motivaes e fatores condicionantes. Ciclo de vida das destinaes tursticas. Escala de Doxey. Segmentao do trabalho dentro da atividade turstica, atendendo s mudanas exigidas pela sociedade psindustrial.

Carga horria60 horas-aula.

Objetivos da disciplinaGeralCompreender os elementos e processos do Turismo, sua evoluo e suas aplicabilidades.

EspecficosDestacar os princpios bsicos da administrao do turismo. Conhecer a evoluo destes princpios. Identicar as principais caractersticas, classicaes e tipologia turstica. Evidenciar as principais tendncias e correntes do pensamento administrativo turstico.

Contedo programtico/objetivosVeja, a seguir, as unidades que compem o Livro Didtico desta Disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos resultados que voc dever alcanar ao nal de uma etapa de estudo. Os objetivos de cada unidade denem o conjunto de conhecimentos que voc dever possuir para o desenvolvimento de habilidades e competncias necessrias sua formao.

Unidades de estudo: 5Unidade 1 O surgimento e a evoluo do fenmeno turstico Nesta unidade, apresenta-se uma breve evoluo histrica do turismo com intuito de mostrar a relao existente entre as vrias civilizaes e as necessidades de viagens. Alm disso, ser possvel conhecer as vrias denies de turismo e tambm reconhecer a diviso do tempo e a importncia que isto teve para os viajantes e a necessidade de se classicar os viajantes (turista, excursionista e visitante). Unidade 2 Impactos da atividade turstica Nesta unidade voc vai ter a oportunidade de entender como ocorrem os impactos dentro da atividade turstica. Os temas abordados trataro de fazer com que voc conhea como ocorre a medio do turismo. Tambm ser possvel entender os principais impactos econmicos do turismo, alm de reconhecer os principais aspectos culturais e sociais do turismo. Unidade 3 O Sistema de turismo e os meios de transportes Nesta etapa do livro so abordados assuntos relativos necessidade de se compreender as bases que perfazem o sistema de turismo, ferramenta bsica, para que se tenha percepo da atividade turstica como um sistema. Ser possvel por meio do estudo desta unidade distinguir o que oferta turstica e demanda turstica. Voc tambm dever conhecer os principais meios de transportes tursticos e sua importncia para a atividade. Unidade 4 Turismo e organizaes tursticas Como so formadas as principais organizaes tursticas nos principais nveis de atuao: mundial, nacional, estadual e municipal ser o assunto tratado nesta unidade. Ser ainda necessrio voc reconhecer os princpios bsicos que norteiam a planejamento turstico, alm de compreender a importncia e a aplicabilidade do marketing para a atividade turstica e isto ser discutido na unidade 4.

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Unidade 5 Administrando o turismo para o mercado Os temas abordados nesta unidade versam sobre o reconhecimento e o signicado vital exercido pelo meio ambiente em relao ao turismo. Aqui voc poder conhecer os princpios e as prticas para que o turismo possa ser considerado sustentvel. Tambm ver a importncia e a necessidade de se identicar a tipologia turstica e o seu amplo espectro, alm de entender algumas das principais caractersticas e tendncias da atividade turstica na atualidade.

Agenda de atividadesVerique com ateno o EVA, organize-se para acessar periodicamente o espao da Disciplina. O sucesso nos seus estudos depende da priorizao do tempo para a leitura, da realizao de anlises e snteses do contedo e da interao com os seus colegas e tutor. No perca os prazos das atividades. Registre no espao a seguir as datas com base no cronograma da disciplina disponibilizado no EVA. Use o quadro para agendar e programar as atividades relativas ao desenvolvimento da Disciplina.

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Cronograma de estudoAtividades de Avaliao

Demais atividades (registro pessoal)

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UNIDADE 1

O surgimento e a evoluo do fenmeno tursticoObjetivos de aprendizagemCompreender a relao entre as vrias civilizaes e as necessidades de viagens. Conhecer as vrias definies de turismo. Reconhecer a diviso do tempo e a importncia que este teve para os viajantes . Entender a classificao dos viajantes.

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Sees de estudoSeo 1 Histria e evoluo do turismo. Seo 2 Conceitos bsicos de turismo.Diviso do tempo e os viajantes: classificaes.

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Para incio de estudoVoc certamente j ouviu ou leu notcias e dados estatsticos acerca da atividade turstica importante, por sinal. A mesma gera milhes ou at bilhes de dlares em receitas, uma ferramenta excepcional para gerar empregos e desenvolvimento de cidades, estados e pases. Todavia h a necessidade de se conhecer, sob uma perspectiva histrica, como se deu o desenvolvimento da atividade e principalmente quais os impactos que ela gera na sociedade atual. interessante que voc perceba que a atividade turstica composta de vrias reas do conhecimento, sendo motivo de estudos e pesquisas praticamente no mundo inteiro. Assim, convidamos voc a conhecer, nesta unidade, como surgiu esse fenmeno chamado Turismo, qual a importncia da diviso do tempo para o Turismo e tambm como so classicados os viajantes. Sinta-se nosso visitante e venha conhecer um pouco mais sobre a rea de Turismo.

Vamos ao estudo das unidades?

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SEO 1 - Histria e evoluo do turismo

O que voc sabe sobre o turismo? Voc sabe como comeou? Que caractersticas assumiu no decorrer da histria? A que serve? Registre no espao abaixo histrias de turismo... Depois vamos criar um espao no EVA para publiclas. Que tal? Vamos comear? Registre uma, ou sua histria, depois publique no EVA na ferramenta Exposio para socializar com seus colegas. Vamos criar nosso primeiro registro coletivo.

Bem, agora que j escreveu a sua histria, socializou com seus colegas de turma, vamos narrativa sobre a histria desta atividade. Perguntamos novamente: como surgiu? Podemos dizer que no h um consenso entre os mais diversos autores do tema, sejam eles brasileiros ou mesmo estrangeiros, sobre quando efetivamente se deu o incio da atividade turstica.

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Alguns consideram o seu surgimento na Antigidade, outros na Grcia Antiga, outros durante o perodo de existncia do Imprio Romano e outros, ainda, consideram o seu surgimento na poca dos Fencios. Existem tambm aqueles que consideram o surgimento do Turismo h milhes de anos! Como no h uma data denida e acordada para o incio do Turismo, elaboramos nesta seo um resumo cronolgico sobre o surgimento da atividade que, segundo a nossa tica, de maior importncia para uma melhor contextualizao do Turismo. Acompanhe, a seguir, a evoluo do turismo na ordem cronolgica, seguida, inclusive, de contextualizaes conceituais.

a) O Turismo ao longo da histriaO conceito de turismo surge no sculo XVII na Inglaterra. A palavra TOUR de origem francesa. Tour quer dizer VOLTA, tem seu equivalente em ingls como sendo Turn, e em latim utiliza-se a expresso Tornare. O pesquisador suo Arthur Haulot acredita que a origem da palavra est no hebraico TUR, que aparece na Bblia, com signicado de viagem de reconhecimento. Viajar implica voltar. H, portanto, um deslocamento. So condies essenciais (entre vrias outras) para que ocorra Turismo: sujeito, deslocamento e motivao.

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Voc sabia? Que existem diversos autores que consideram diferentes variveis para que ocorra o Turismo? Que dentre elas se destacam: dinheiro, tempo livre, prazer, informao, comrcio, descobertas, etc? Que os Romanos contriburam de forma decisiva para o surgimento de viagens, atravs da construo de estradas? As famosas Pax Romana.

b) Surgimento das viagens obrigatrias (Sculos II X d.C.)No sculo V, os Brbaros dominavam a Europa, o que resultou numa signicativa diminuio das viagens, diante do perigo que elas representavam para os povos europeus dominados. Entre os sculos II e III ocorrem intensas peregrinaes a Jerusalm, assim como no sculo IX religiosos se deslocam para a regio onde se encontrava o sepulcro de Santiago de Compostela. Em 1140 o peregrino francs Aymeric Picaud escreveu 05 volumes com histrias do apstolo Santiago e com um roteiro de viagem de como se chegar at l a partir da Frana. Considera-se esse o 1 guia turstico impresso. A partir de 1282, inicia-se o intercmbio de professores e alunos entre as universidades europias.

Voc sabia? Que as grandes navegaes, realizadas principalmente pelos espanhis e pelos portugueses, contriburam de maneira significativa para o desenvolvimento do Turismo? A descoberta do Novo Mundo gerou uma curiosidade enorme nas pessoas que sentiam vontade de se deslocar e conhecer as novas terras.

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c) Ocorrncias anteriores ao Turismo moderno Turismo Barroco (Sculos XVI XVIII)No sculo XVI, ocorrem muitas viagens no ociais realizadas por jovens acompanhados de seu professor particular (que geralmente viajava antes para conhecer os hbitos e costumes locais, alm do idioma), que possua algumas caractersticas marcantes, tais como: eram realizadas por uma classe privilegiada, de elite; eram consideradas um tour de aventura; eram feitas majoritariamente pelas pessoas do sexo masculino; eram espordicas e com durao aproximada de trs anos. Nessa mesma poca, j se constata o turismo na Frana, Alemanha, Itlia, Pases Baixos, Inglaterra e Espanha. No sculo XVI, surge o considerado 1 hotel do mundo, de nome Wekalet Al Ghury no Cairo Egito para atender mercadores; No sculo XVII, ocorre uma melhoria nos transportes de ento, que eram feitos em lombo de cavalo ou puxados por carroas e carruagens. Inventa-se a Belina (um tipo de carruagem mais rpida, de duas poltronas), e tambm a diligncia; Surgem as primeiras linhas regulares de diligncias entre Frankfurt e Paris e entre as cidades de Londres a Oxford; Aps a Revoluo Industrial (que altera de maneira signicativa as relaes de trabalho e de diviso do tempo), o turismo passa a ser educativo, com interesse cultural.Voc sabia? Que existem diversos autores que consideram diferentes variveis para que ocorra o Turismo? Que dentre elas se destacam: dinheiro, tempo livre, prazer, informao, comrcio, descobertas, etc? Que os Romanos contriburam de forma decisiva para o surgimento de viagens, atravs da construo de estradas? As famosas Pax Romana.

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d) O Turismo Moderno (sculo XIX)Em 1830, a ferrovia Liverpool Manchester foi a 1 a se preocupar mais com os passageiros do que com a carga. Essa a Era da ferrovia, que foi determinante para o desenvolvimento do turismo; Surge o Pai do Turismo moderno: Thomas Cook em 1841 ele andou 15 milhas para um encontro de uma liga contra o alcoolismo em Leicester. J para um encontro em Loughborough, alugou um trem para levar outros colegas. Juntou 570 pessoas, comprou e revendeu os bilhetes. Esse fato considerado como sendo um marco na histria do Turismo, pois se caracterizou como a 1 viagem agenciada. Alm disso, Thomas Cook organizou o 1 package (pacote) excurso organizada. Em 1865, editou um guia chamado: Conselhos de Cook para excursionistas e turistas. Em 1867, instituiu o voucher hoteleiro. O Turismo no sculo XX se utiliza do trem como meio de transporte em nvel nacional e navios em nvel internacional; Os principais fatores que impulsionaram o turismo no sculo XIX foram: segurana, salubridade e alfabetizao crescente. O passaporte surge em 1915, como um mecanismo para realizar o controle do trfego de turistas pelo mundo. As dcadas compreendidas entre 1920 e 1940 so consideradas como a Era do transporte terrestre. Em 1929, foi construdo o 1 Free Shop no aeroporto de Amsterd (Holanda).

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e) O Turismo ContemporneoA atividade turstica cou paralisada durante a II Grande Guerra, ocorrida entre os anos de 1939 a 1945. Em 1945, deu-se a criao da IATA (International Air of Transport Association), que visa a regular o direito areo e que caracteriza uma nova importante era para o Turismo: A Era do avio; Em 1949, ocorre a venda do primeiro pacote areo. J na dcada de 1960, comearam a existir as operadoras tursticas, que ofereciam pacotes partindo do norte da Europa, Escandinvia, Alemanha Ocidental e Reino Unido para as costas do Mediterrneo. Datam desta dcada tambm signicativas e importantes transformaes nos meios de hospedagens. Os hotis, que anteriormente possuam uma atmosfera familiar ou de hospedaria, passaram para uma fase de prossionalizao, com o surgimento das primeiras escolas prossionais na Sua. Os Estados Unidos contriburam tambm de forma decisiva para esse desenvolvimento, com a construo de importantes cadeias ou redes hoteleiras padronizadas, internacionais.

f) O Turismo no BrasilNo Brasil o turismo como fenmeno social comeou depois de 1920. O turismo surgiu vinculado ao lazer e nunca teve cunho de aventura ou educativo, como se pde vericar na Europa. A partir da dcada de 1950, um grande nmero de pessoas passa a viajar, todavia esse movimento no se caracteriza como sendo um turismo de massa, pois no toda a populao que pode usufruir de tal atividade.24

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De uma maneira geral o turismo mais acessvel camada de alto poder aquisitivo da populao, que realiza viagens de mdias e grandes distncias, sendo que o transporte mais utilizado o areo. J as camadas de menor poder aquisitivo da populao, que no tm acesso irrestrito s atividades tursticas, muito por causa da situao econmica do pas, fazem uso do transporte rodovirio para as suas excurses de pequena e mdia distncias.Saiba mais Para aprofundar o estudo sobre esta unidade: Leia o texto a seguir extrado dos livros: LICKORISH, J.L. e JENKINS, C. L. Introduo ao turismo. Rio de Janeiro: Campus, 2000. REJOWSKI, M (organizadora). Turismo no percurso do tempo. So Paulo: Aleph, 2002.

Thomas Cook (1808-1892) foi marceneiro e um jovem pregador batista da cidade de Loughborough, na regio inglesa de Midlands. Com 32 anos, vivia modestamente escrevendo e distribuindo publicaes, enaltecendo as virtudes da temperana. Thomas Cook lanou o primeiro pacote de turismo em 1841, mas naquela poca as prprias ferrovias j ofereciam viagens de excurso para um movimento que elas, originalmente, no esperavam ter. O primeiro objetivo foi o carregamento de carga e o segundo, a proviso de um transporte mais rpido para os, ento, viajantes de malaposta a preos nem um pouco baratos. No se esperava a popularidade das tarifas baratas de excurses para eventos especiais. Kemball Cook (1947) declarou em seu livro que no Dia de Derby (importante dia em que se realizam corridas de cavalo na Inglaterra), em 1838, pediu-se que oito trens sassem do terminal Nine Elms. As autoridades estavam perplexas com 5.000 excursionistas indo para a estao.

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Em 1851, 774.910 passageiros saam de Londres e chegavam a Londres levados por trens de excurso pela ferrovia de Londres e North Western. Na segunda metade de 1844, 360.000 passageiros viajaram de Londres para Brighton; houve, portanto, um aumento de mais de dez vezes em apenas sete anos devido s ferrovias. Entretanto, a contribuio excepcional de Thomas Cook foi a organizao da viagem completa transporte, acomodao e atividade ou satisfao em um novo e desejado destino o verdadeiro produto do turismo. Como agente dos principais fornecedores de transporte e acomodao, ele conseguiu atender uma demanda especfica de mercado. Ele inventou um servio essencial: um pacote ou excurso individual. Sua inveno foi copiada em todo o mundo. Com essa inveno, ele, mais do que qualquer outro empresrio, contribuiu para mudar a imagem das viagens: de uma atividade necessria e nem um pouco aprazvel, de uma tarefa rdua e voltada para a educao, para um prazer, um entretenimento e um novo conceito: frias. Thomas Cook e sua empresa se expandiram rapidamente. Ele levou 165.000 excursionistas s de Yorkshire para a Grande Exposio de Londres em 1851, e organizou a primeira excurso ao Continente Europeu em 1856, e aos Estados Unidos em 1865. Na verdade, Cook estabeleceu os principais fundamentos das viagens organizadas, introduzindo o conceito de pacote turstico (package tour), desenvolvendo o cooperativismo entre as empresas e outros componentes do mercado turstico (agncia de viagens, hotis, transportadoras, restaurantes, atraes, etc). Fonte: adaptado das obras - LICKORISH, J.L. e JENKINS, C. L. Introduo ao turismo. Rio de Janeiro: Campus, 2000; e REJOWSKI, M (organizadora). Turismo no percurso do tempo. So Paulo: Aleph, 2002.

Quadro 1.1: Thomas Cook: o pai do turismo moderno

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Para que voc possa ter uma compreenso mais contextualizada da importncia e do signicado que Thomas Cook exerceu para o desenvolvimento do turismo moderno, apresentamos, a seguir, uma tabela contendo algumas das suas principais realizaes.Tabela 1.1: Principais realizaes de Thomas Cook a partir de 1845 ANO 1845 1846 1850 1851 1856 1862 1863 1865 1867 1869 1872 1872 1873-1874 1875 1878 1892 REALIZAES Lanou o Handbook of the Trip, primeiro itinerrio descritivo de viagem preparado de forma profissional para o uso de turistas, por ocasio da excurso de Leicester a Liverpool. Realizou um tour com a participao de guias de turismo, o primeiro com essas caractersticas, chegando a levar 350 pessoas Esccia. Formalizou contrato com a Great Easter Railway para a venda mnima de bilhetes de trem por ano, que vendeu em um ms. Levou cerca de 165 mil pessoas Primeira Exposio Mundial realizada em Londres, oferecendo transporte e alojamento. Realizou a primeira excurso ao continente (Gr- Bretanha). Introduziu o Individual Inclusive Tour IIT. Realizou a primeira excurso Sua, popularizando esse pas como destino turstico de inverno. Realizou a primeira excurso para os Estados Unidos. Criou o primeiro cupom de hotel (voucher), documento que permitia sua utilizao em hotis para o pagamento dos servios contratados em sua agncia. Realizou o primeiro tour ao Oriente Mdio. Realizou a primeira volta ao mundo com nove pessoas, que durou 222 dias. Inaugurou a primeira agncia de viagens no continente americano, em Nova York. Criou a circular note (antecessora do traveller check), que era aceita por bancos, hotis, restaurantes e casas comerciais em vrias partes do mundo. Realizou tours para a Escandinvia, incluindo a Viagem para o Sol da Meia-Noite no Cabo Norte. Levou 75 mil pessoas para visitar a Exposio Mundial de Paris. Morreu no momento em que sua agncia era a mais importante do mundo, com 84 escritrios e 85 agncias em vrios pases do mundo, empregando mais de 1.700 pessoas.

Fontes: Fuster, 1974; Acerenza, 1986; Witney, 1997; Khatchikian, 2000; Lickorish e Jenkins, 2000; Montaner Montejano, 2001, in REJOWSKI, Mirian (org.). Turismo no percurso do tempo, 2002.

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A histria e evoluo do turismo so componentes essenciais para a compreenso da atividade. O prossional da rea necessita dessas noes para contextualizar a atividade na histria, assim, ter maiores possibilidades de identicar as necessidades e as demandas da rea em cada momento e espao. Voc teve a oportunidade de vericar, mediante uma cronologia, alguns dos principais desenvolvimentos dessa atividade atravs dos tempos. Agora que voc conheceu um pouco da histria e evoluo do Turismo, a prxima seo lhe convida a conhecer os conceitos bsicos do Turismo. Vamos l?

SEO 2 - Conceitos bsicos de turismoNesta seo, sero abordados os conceitos bsicos do turismo. Este estudo faz-se necessrio para que haja uma boa percepo e um bom entendimento sobre como ocorreram as diversas fases evolutivas no sentido de se conceituar o turismo. Nesse sentido, o estudo cronolgico um componente tambm importante. Veja que as questes esto articuladas: uma abordagem est inserida na outra; isso implica um estudo progressivo e cumulativo, somente assim voc ter a possibilidade de compreender e entender a atividade do turismo, seu funcionamento e suas variveis em relao conceituao.

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Voc j refletiu no s sobre os impactos econmicos da atividade turstica, mas sim sobre a importncia social que essa atividade exerce sobre as populaes locais que recebem os turistas? Os grandes fluxos de turistas interferem nas tradies locais e regionais? Use o espao a seguir para registrar suas impresses.

Desde que se estuda o turismo de forma sistmica, sempre houve grande controvrsia por parte dos autores em conceituar este fenmeno. A seguir voc ser apresentado a algumas denies de Turismo, que so aceitas e comumente utilizadas pelos diversos autores da rea, seja em nvel nacional, seja em nvel internacional. Veja quais so: A Organizao Mundial do Turismo (OMT) dene-o como: ...o deslocamento para fora do local de residncia por perodo superior a 24 horas e inferior a 60 dias motivado por razes no-econmicas. (ORGANIZAO MUNDIAL DO TURISMO, 2001) Todavia esta denio sofreu aperfeioamento em 1994. Desta data em diante, a OMT passou a considerar que:

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...o turismo engloba as atividades das pessoas que viajam e permanecem em lugares fora de seu ambiente usual durante no mais do que um ano consecutivo, negcios ou outros ns. (OMT, 2001) importante destacar que o uso do termo ambiente usual tem por nalidade excluir as viagens dentro da rea habitual de residncia, as viagens freqentes ou regulares entre o domiclio e o lugar de trabalho e outras viagens dentro da comunidade com carter de hbito. Tal denio serve para padronizar o conceito de turismo nos vrios pases-membros dessa organizao, mas no para denir a real magnitude desse fenmeno. Por essa denio, o turismo um fenmeno que envolve quatro componentes com perspectivas diversas: o turista que busca diversas experincias e satisfaes espirituais e fsicas; os prestadores de servios, que encaram o turismo como uma forma de obter lucros nanceiros; o governo, que considera o turismo como um fator de riqueza para a regio sobre sua jurisdio; a comunidade do destino turstico, que v a atividade como geradora de empregos e promotora de intercmbio cultural.Toda vez que um turista se desloca, por exemplo, para as Cataratas do Iguau, no Estado do Paran, ele est em busca de novas experincias, sejam elas espirituais ou fsicas (desejos). Toda a infra-estrutura existente no local est preparada para atender a estes desejos e os prestadores de servios (hotis, locadoras, transportes, lojas para compras, espaos de entretenimento, etc) devem obter um lucro apropriado para tal. Da mesma forma, as autoridades governamentais (sejam elas locais ou regionais) disponibilizam servios de apoio, tais como, energia eltrica, saneamento bsico, rodovias de acesso, comunicaes, entre outros. E o ciclo se fecha quando todas estas atividades e prestaes de servios beneficiam a comunidade local, seja atravs da gerao de empregos diretos e indiretos, seja na gerao de impostos e tambm na oportunidade que o cidado local tem para interagir com turistas de outras regies.

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O turismo fenmeno recente como objeto de estudos e, embora antigo como fato socioeconmico e poltico-cultural, so raros e decientes os estudos a respeito da sistemtica de sua losoa e de sua aplicao s diferentes realidades. Os poucos estudos em profundidade destinam-se apenas anlise e sistematizao de aspectos econmicos, cambiais e legais. De acordo com Barreto (1996, p. 09 - 13), vrios foram e so os autores que conceituaram e que continuam conceituando a atividade turstica. Estaremos a partir de agora vericando algumas delas. J em 1910, o economista austraco Herman von Schullard denia o turismo como:...a soma das operaes, especialmente as de natureza econmica, diretamente relacionadas com a entrada, a permanncia e o deslocamento de estrangeiros para dentro e para fora de um pas, cidade ou regio.

Na dcada de 1920 surgiu a Escola de Berlim, que estudou o turismo nos seus aspectos econmicos. Arthur Bormann deniuo como:...o conjunto de viagens que tem por objetivo o prazer ou motivos comerciais, profissionais ou outros anlogos, durante os quais temporria sua ausncia da residncia habitual. As viagens realizadas para locomover-se ao local de trabalho no constituem em turismo.

J na dcada de 1940, alguns autores evoluram a conceituao da Escola de Berlim. Hunziker e Krapf conceituaram turismo como:...o conjunto das inter-relaes e dos fenmenos que se produzem como consequncia das viagens e das estadas de forasteiros, sempre que delas no resultem um assentamento permanente nem que eles se vinculem a alguma atividade produtiva.

Robert McIntosh deniu-o assim:Turismo pode ser definido como a cincia, a arte e a atividade de atrair e transportar visitantes, aloj-los e cortesmente satisfazer suas necessidades e desejos.

Jafar Jafari apresenta uma denio mais holstica do turismo: o estudo do homem longe de seu local de residncia , da indstria que satisfaz suas necessidades, e dos impactos que ambos , ele e a indstria, geram sobre os ambientes fsico, econmico e sociocultural da rea receptora.

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Fuster, mais recentemente, assim o deniu:Turismo , de um lado, o conjunto de turistas; de outro, os fenmenos e as relaes que essa massa produz em conseqncia de suas viagens.

Segundo Oscar de la Torre: O turismo um fenmeno social que consiste no deslocamento voluntrio e temporrio de indivduos ou grupos de pessoas que, fundamentalmente por motivos de recreao, descanso, cultura ou sade, saem de seu local de residncia habitual para outro, no qual no exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada, gerando mltiplas, interrelaes de importncia social, econmica e cultural.

Para Jos Vicente de Andrade:Turismo o conjunto de servios que tem por objetivo o planejamento, a promoo e a execuo de viagens e os servios de recepo, hospedagem e atendimento aos indivduos e aos grupos, fora de suas residncias habituais.

E, por ltimo, trazemos a denio que recentemente foi proposta por McIntosh, Goeldner e Ritchie, professores da escola americana, que deniram turismo como sendo:... a soma dos fenmenos e relaes que surgem da interao de turistas, empresas prestadoras de servios, governos e comunidades receptivas no processo de atrair e alojar estes visitantes.

Veja que o turismo uma combinao de atividades, servios e indstrias que se relacionam com a realizao de uma viagem: transportes, alojamento, servios de alimentao, lojas, espetculos, instalaes para atividades diversas e outros servios receptivos, disponveis para indivduos ou grupos que viajam para fora de casa. O turismo engloba todos os prestadores de servios para os visitantes ou para os relacionados com eles. O turismo toda uma indstria mundial de viagens, hotis, transportes e todos os demais componentes, incluindo o marketing turstico que atende s necessidades e desejos dos viajantes.

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Com base na realidade turstica existente na sua cidade de residncia ou de nascimento, tente pensar no que signica a atividade turstica para este municpio. Pense em como so desenvolvidas as atividades de turismo. H prossionalismo? A populao local est preparada para receber o turista? Qual o nvel de interesse das pessoas sobre a preservao da infra-estrutura local e dos atrativos naturais? Tente elaborar respostas para as questes formuladas anteriormente. Escreva sobre o que voc conhece ou percebe. Se voc j trabalha na rea de turismo, pode escrever sobre algum projeto, alguma lei, alguma iniciativa e/ou atitude que vem favorecendo o turismo como um todo! Faa uso do espao abaixo.

Como voc teve a oportunidade de ver pela ampla diversidade das denies, o turismo um fenmeno complexo. A maioria das denies exclui dele as viagens desenvolvidas por motivos de negcios. Contudo, so elas as responsveis por grande parte da ocupao dos meios de transportes, dos hotis, da estrutura de entretenimento, das locadoras de veculos e dos espaos de eventos. Todos esses elementos so considerados empreendimentos tursticos. No por outra razo que se desenvolveram os termos turismo de negcios ou turismo de eventos. Muitas so as denies ou conceitos sobre o turismo, voc concorda, no ? Mas ressaltamos que o importante que voc possa reetir, para selecionar a mais adequada sua percepo

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em relao atividade turstica. Isso vai depender tambm do contexto, das expectativas das pessoas, das necessidades do espao. Voc concorda? Ento, nesse sentido, os componentes estudados at aqui so importantes para a seqncia dos seus estudos. A prxima seo far voc se familiarizar com conceitos sobre as seguintes palavras: turistas, excursionistas e visitantes! Preparem suas malas e at a prxima parada! Boa viagem....a soma das operaes, especialmente as de natureza econmica, diretamente relacionadas com a entrada, a permanncia e o deslocamento de estrangeiros para dentro e para fora de um pas, cidade ou regio. (BARRETO, 1996, p. 26).

SEO 3 - A diviso do tempo e os viajantesVoc consegue identicar o que voc vai estudar na seqncia lendo apenas o ttulo? No? Ento, vamos fazer uma breve contextualizao, como uma espcie de introduo da correlao (estreita, por sinal) existente entre a ocorrncia da Revoluo Industrial, a conseqente nova diviso do tempo e a necessidade de classicarmos o que so turistas, excursionistas e visitantes. Vamos l! um pouco mais de histria! Com o advento da Revoluo Industrial iniciada na Inglaterra nos primrdios do sculo XIX, o modo de produo alterouse drasticamente, pois, as pessoas que viviam em reas rurais, passaram a buscar, com uma crescente intensidade, um modo de vida, vinculado aos centros urbanos. Locais esses, que se desenvolviam e que necessitavam de mo-de-obra para os novos inventos e para a operao de mquinas cada vez mais modernas e mais complexas. Os avanos vericados no que diz respeito ao transporte ferrovirio, a partir principalmente de 1850, foram determinantes34

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para o desenvolvimento do turismo, pois, como j vimos, um dos pressupostos bsico para que ocorra tal fenmeno o deslocamento.

Voc sabia? Que as relaes de trabalho entre empregadores e empregados eram bastante crticas nos primrdios da industrializao? poca da Revoluo Industrial, no havia legislao que regulamentasse os direitos e deveres dos empregados. Era muito comum que mulheres grvidas, crianas, idosos e at deficientes fsicos fossem submetidos a jornadas dirias de trabalho de at 18 horas! Os direitos relativos a frias, descanso semanal, horas extras, licena maternidade, auxlio desemprego, entre outros, eram totalmente ignorados e de certa forma desconhecidos.

Para efeito de continuidade dos seus estudos sobre este importante tpico, faz-se necessrio uma pequena diviso e distino sobre o que consideramos importante sobre a diviso do tempo e sobre o conceito de turista, excursionista e visitante. medida que o homem passa a viver nas cidades densamente povoadas, mais ele se ressente da necessidade de um tempo livre para pr o seu corpo e a sua mente novamente em ordem. A obteno de um tempo livre maior passou a ser uma luta abraada pelos trabalhadores do mundo inteiro. As longas jornadas de trabalho, registradas no incio da era industrial, no davam lugar ao tempo livre. Posteriormente, os trabalhadores, mediante seus sindicatos, concentraram as suas lutas por reduo da idade para a aposentadoria e por melhores salrios, condies necessrias para poderem desfrutar melhor do tempo livre. Atualmente , o tempo livre um direito conquistado, embora nem todos os trabalhadores tenham as mesmas oportunidades para aplic-lo prtica do lazer dirio, semanal e anual. Pela evaso semanal e anual (finais de semana e frias) procura-se viver novas experincias, conhecer novas formas de vida, novas culturas e povos e descobrir um mundo diferente daquele que se forado a viver!

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a) Diviso do tempo O quadro a seguir dene os diferentes tipos de tempo que esto intimamente relacionados com a atividade turstica:

a) TEMPO LIVRE Diz-se tempo livre para diferenci-lo de outras modalidades do tempo. Livre por oposio ao tempo preso, ocupado, obrigado. Tempo livre compreende aquela parcela de tempo ocupada com atividades especficas, fora do tempo de trabalho, a partir de uma deciso tomada livremente.

b) TEMPO MORTO um tempo livre que no ocupado nem com atividades de lazer nem com compromissos ou afazeres complementares de ordem econmica, social ou poltica. um tempo livre adquirido por lei, mas totalmente estagnado e marcado pelo aborrecimento. As pessoas que consomem este tempo o fazem no por uma livre deciso, mas porque no possuem outra escolha.

c) TEMPO COMPROMETIDO Nem todo d) TEMPO DE LAZER O lazer, na era tempo livre consagrado ao lazer. Parte moderna, firmou-se no somente como uma dele ocupado com atividades igualmente possibilidade atraente, mas, tambm, como um obrigatrias, tais como: afazeres valor. Valor, porque o lazer no a negao domsticos, compromissos familiares, do trabalho. O trabalho vital para o homem, trabalhos complementares (bicos). O sendo considerado por Karl Marx como a tempo ocupado com essas atividades necessidade primeira do homem. um tempo livre, mas desperdiado, na expresso de R.C. Boullin. um tempo livre, mas comprometido com um conjunto de atividades que, apesar de no fazerem parte do tempo de trabalho, tambm se revestem de carter obrigatrio. Quadro 1.2: Modalidades da diviso do tempo Fonte: Adaptado de CATELLI, Geraldo. Turismo: atividade marcante (1996).

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A diviso do tempo de fundamental importncia para todos ns. Com base no que voc pde verificar sobre essa diviso, tente pensar como ela ocorre para voc numa base semanal, por exemplo. Pense em como voc divide o seu tempo. Essa diviso a mais adequada? Voc tem dedicado tempo para o lazer e o entretenimento? As suas obrigaes de trabalho so levadas para casa para serem feitas nos finais de semana? Voc tem alocado um tempo para fazer atividades com a sua famlia e seus amigos? Tente elaborar respostas para as questes colocadas anteriormente. Escreva sobre o que voc conhece ou sobre o que voc percebe! Faa uso do espao abaixo.

b) Classicao dos viajantes Os viajantes so consumidores de servios tursticos, quaisquer que sejam as motivaes. Porm, de acordo com a Organizao Mundial do Turismo (OMT), esses consumidores podem ser classicados em turistas, excursionistas e visitantes. Aqui cabe um exemplo, analise.

Um turista qualquer que viaja para o Vaticano acaba sempre por consumir servios tursticos. Ao se hospedar em um hotel, ao apanhar um nibus para se deslocar, ao fazer suas refeies, ao utilizar servios de guias, ao comprar mapas; enfim, ao interagir na destinao turstica, ele considerado um consumidor de servios tursticos.

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Turista, na conceituao tradicional, aquele que viaja com objetivo de recreao. J em 1954, segundo a Organizao das Naes Unidas (ONU):Toda pessoa, sem distino de raa, sexo, lngua e religio, que ingresse no territrio de uma localidade diversa daquela em que tem residncia habitual e nele permanea pelo prazo mnimo de 24 horas e mximo de seis meses, no transcorrer de um perodo de 12 meses, com nalidade de turismo, recreio, esporte, sade, motivos familiares, estudos, peregrinaes religiosas ou negcios, mas sem propsitos de imigrao. (IGNARRA, 2003, p. 15).

Quando o visitante no pernoita em uma localidade turstica, ele tido excursionista. Aquele que viaja e permanece menos de 24 horas em local que no seja o de sua residncia xa ou habitual, com as mesmas nalidades que caracterizam os turistas, mas sem nele passar uma noite, considerado excursionista ou turista de um dia. Costumou-se designar os participantes de cruzeiros martimos ou uviais que visitam uma localidade, mas que pernoitam nas embarcaes, com o termo visitante, embora este enquadre tanto turistas como excursionistas. Por similaridade, alguns autores o tm utilizado para designar aqueles que se hospedam em residncias secundrias ou em casas de parentes.Voc no um praticante assduo de turismo? Que tipo de turismo voc mais gosta ou tem mais condies de praticar?

Veja, a seguir, quais as classicaes de turismo. De acordo com a amplitude das viagens, o turismo pode ser classicado em: a) Local; quando ocorre entre municpios vizinhos. b) Regional; quando ocorre em locais em torno de 200 a 300 km de distncia da residncia do turista. c) Domstico; quando ocorre dentro do pas de residncia do turista. d) Internacional, quando ocorre fora do pas de residncia do turista (intracontinental ou intercontinental).38

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Se considerarmos uma pessoa que reside em Florianpolis e se desloca para Balnerio Cambori (distante 75 Km), ela est realizando um turismo local. No caso dessa mesma pessoa se deslocar para Curitiba (300 Km), ela est praticando um turismo regional. Agora, se a viagem se estender para o Rio de Janeiro, podemos dizer que se trata de um turismo domstico. E, finalmente, se esta pessoa viajar at a Itlia, fica caracterizado o turismo internacional.

Conforme a direo do uxo turstico, ele pode ser classicado como: a) Turismo emissivo uxo de sada de turistas que residem em uma localidade; b) Turismo receptivo uxo de entrada de turistas em um determinado local.Quando eu viajo da minha localidade de residncia fixa, para fazer turismo, estou caracterizando o turismo emissivo. Por outro lado, quando os turistas chegam a uma cidade, este fluxo de entrada chamado de turismo receptivo.

Cohen, em 1979, props nova classicao para os turistas, conforme descrito a seguir:TIPOS DE TURISTAS Existenciais Experimentais Diversionrios Recreacionais CARACTERSTICAS Buscam a paz espiritual pela quebra de sua rotina. Querem conhecer e experimentar modos de vida diferentes. Procuram recreao e lazer organizados, preferencialmente em grandes grupos. Buscam entretenimento e relaxamento para recuperao de suas foras psquicas e mentais.

Quadro 1.3: Tipos de turistas de acordo com Cohen (1979) Fonte: Adaptado de IGNARRA, Luiz Renato. Fundamentos do turismo. (2003)

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McIntosh (1993) os classica em:TIPOS DE TURISTAS Alocntricos CARACTERSTICAS Tm motivos educacionais e culturais, polticos ou de divertimentos caros, como jogos de azar, e viajam individualmente. So motivados por eventos esportivos, religiosos, profissionais e culturais. So motivados pela busca do descanso, quebra da rotina, aventuras sexuais e gastronmicas e tratamento de sade. Viajam em busca de status social. So motivados por campanhas publicitrias.

Quase alocntricos

Mediocntricos Quase psicocntricos Psicocntricos

Quadro 1.4: Tipos de turistas de acordo com Mcintosh (1993) Fonte: Adaptado de IGNARRA, Luiz Renato. Fundamentos do turismo. (2003)

Em face de um mercado cada vez mais moderno e com ofertas diferenciadas, alm de uma postura muito mais exigente por parte dos consumidores dos produtos e dos servios tursticos, de suma importncia voc ter uma boa noo sobre os diferentes tipos de turistas e o que eles buscam para a sua satisfao. Perceber e distinguir o perl do turista, adequando a prestao de servios para as suas necessidades, pode signicar uma vantagem competitiva enorme, diante de um mundo globalizado, onde as informaes so oferecidas de forma muito veloz. Leia a sntese da unidade e retome os pontos centrais Realize, a seguir, as atividades de auto-avaliao e aprofunde seus conhecimentos, consultando o saiba mais. sempre muito importante que voc interaja no EVA, para trocar idias com os colegas e desenvolver as atividades propostas.

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SnteseNesta unidade, voc estudou a histria e evoluo do turismo, atravs de uma seqncia cronolgica histrica em que foram relatados os principais fatos e ocorrncias que contriburam para o desenvolvimento da atividade. Foi possvel tambm obter informaes sobre Thomas Cook, considerado pelos estudiosos e pesquisadores o Pai do Turismo moderno. As contribuies feitas por esse empreendedor foram signicativas e muitas de suas criaes so utilizadas at os dias atuais. Em seguida estudou alguns dos principais conceitos do Turismo, o que possibilitou observar diferentes autores e suas respectivas conceituaes em diferentes pocas, e tambm em diferentes pases. Importante destacar o conceito fundamental oferecido que o da Organizao Mundial do Turismo. Pela enorme abrangncia, pelo carter multidisciplinar da atividade turstica e pela estreita relao com diversas reas de conhecimento (como, por exemplo, a histria, a geograa, a sociologia, a economia, a arqueologia, a administrao, o direito, entre outras), concentrarse em um nico conceito torna-se uma tarefa praticamente impossvel. A ltima parte desta unidade versou sobre a diviso do tempo e sobre as classicaes dos viajantes. importante lembrar a estreita correlao existente entre o surgimento da Revoluo Industrial e a conseqente necessidade de uma diviso do tempo. Anal, as relaes e o modo de produo e de trabalho foram enormemente alterados. O surgimento do tempo livre propiciou a oportunidade de utiliz-lo para o lazer, para o descanso e tambm para fazer turismo. A classicao dos viajantes caracteriza-se como sendo um tpico de destaque, pois possibilita uma percepo clara do que efetivamente so: turistas, excursionistas e visitantes. A importncia dessa classicao assume propores signicativas, quando tratamos de clculo de receitas, de dados estatsticos e de movimento de turistas em determinada regio, estado ou pas. Vrios foram os autores e estudiosos que criaram classicaes com o intuito de facilitar a abordagem e a forma de se prestar servios aos turistas de uma maneira geral.41

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Atividades de auto-avaliaoCom base na leitura desta unidade, realize as atividades propostas. 1) Contextualize o conceito da palavra turismo. O que ela significa? Como ela surgiu e onde?

2) Quem considerado o pai do turismo moderno? Cite pelo menos quatro de suas principais contribuies para a atividade turstica.

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3) Qual a importncia do desenvolvimento do transporte ferrovirio para a atividade turstica?

Saiba maisCaso voc tenha se interessado em conhecer mais detalhes acerca dos contedos desta unidade, sugerimos algumas obras para pesquisa: BARRETTO, M. Manual de iniciao ao estudo do turismo. 8. ed. Campinas: Papirus, 1995. CASTELLI, G. Turismo: atividade marcante. Caxias do Sul: EDUCS, 2001. LICKORISH, J.L. e JENKINS, C. L. Introduo ao turismo. Rio de Janeiro: Campus, 2000. IGNARRA, L.R. Fundamentos do turismo. So Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. Para conhecer uma base de informaes gerais, incluindo artigos e notcias do Turismo na Internet, sugerimos: www.etur.com.br Para conhecer dados estatsticos, informaes gerais sobre o turismo brasileiro e sobre a poltica nacional atual, entre outros, sugerimos: www.embratur.gov.br43

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Impactos da atividade tursticaObjetivos de aprendizagemConhecer como ocorre a medio do turismo. Entender os principais impactos econmicos do turismo. Reconhecer os principais aspectos culturais e sociais do turismo.

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Sees de estudoSeo 1 A medio do turismo. Seo 2 Impactos econmicos do turismo. Seo 3 Aspectos culturais e sociais do turismo.

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Para incio de estudoPara que voc possa seguir adiante no estudo da atividade turstica, importante que tenha uma boa compreenso sobre como ocorre e qual a importncia de se mensurar ou medir a atividade turstica. E cabe perguntar: Quais so as ferramentas mais adequadas para tal? Quais as variveis que devem ser levadas em considerao ao serem medidos, de forma efetiva os uxos turstico? O que isto signica na gerao de divisas e receitas? Bem, essas so algumas questes a serem estudadas nesta unidade. tambm importante conhecer um pouco sobre quais os impactos econmicos gerados pelo turismo e o que isso signica para uma localidade, para uma regio ou mesmo a um pas. Como se d a unio entre essas diferentes reas de conhecimento, turismo e economia, e quais so os impactos resultantes? Devemos lembrar que a atividade turstica no pode ser vista ou analisada somente pela perspectiva econmica, como na maioria das vezes acontece; h a necessidade de se compreender que existem aspectos culturais e sociais do turismo que geram impactos signicativos e contribuem para construo do fenmeno nos diversos espaos. Voc concorda? Ento, vamos l!

SEO 1 A medio do turismoEnto, como podemos medir o turismo? Esta , sem dvida, uma das maiores diculdades quando o assunto turismo. Como podemos saber o quanto ele representa na produo de um pas ou de uma localidade? Como aumentar o volume de empregos gerados e a arrecadao de impostos propiciados por ele? De uma forma geral, de que maneira medimos a importncia do turismo para a economia? E, mais, de que forma podemos dimensionar a atividade diante das perspectivas humanas?

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Voc certamente j pensou em como medir a satisfao de um turista ao fotografar a Ponte Herclio Luz em Florianpolis ou o Empire State em Nova York? Quanto vale um banho na praia de Copacabana no Rio de Janeiro? E um friozinho na cidade da Gramado no Rio Grande do Sul? Quanto vale a alegria do carnaval de Salvador ou o prazer de degustar um vinho colonial na Festa da Uva em Caxias do Sul? Como podemos contar tudo isso? Como saber o quanto isso inuencia a economia dessas regies, do pas e do mundo?Que relao pode haver entre a economia gerada pelo turismo e a satisfao humana? Em que momento elas se complementam? Como elas se articulam?

Na economia tradicional (neoclssica), o valor est na utilidade dos bens e servios produzidos. Mas ser que isso mobiliza o deslocamento das pessoas? Podemos dizer que a satisfao dos turistas uma varivel qualitativa e microeconmica. Na seqncia, vamos analisar algumas variveis macroeconmicas que dimensionam o setor, que pode ser: a) pelo nmero de pessoas que procuram essas satisfaes nessas localidades; b) pelo quanto elas gastam durante o seu deslocamento e sua permanncia; c) pela natureza de seus gastos e por quanto isso gera de impostos; d) pelo nmero de empregos gerados; e) pela quantidade de divisas que entram e saem do pas por meio de gastos tursticos. O setor turstico possui uma cadeia de atividades econmicas, que podemos denir como o conjunto de fornecedores e produtores nais, que arrecadam com os gastos dos turistas. Algumas atividades so tipicamente voltadas para turistas, como a venda de passagens areas e de estada em hotis, mas outras so voltadas para os habitantes, e tambm so desfrutadas

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pelos turistas. Mesmo em cidades tursticas, como saber qual a arrecadao dos bancos com servios prestados a turistas, quantos cortes de cabelo foram feitos, quantos produtos industriais e artesanais foram vendidos a turistas, qual a quantidade de alimentos consumida por turistas no pas ou quantos mveis foram comprados da indstria moveleira pelos hotis? Chega-se concluso de que existe muita diculdade em mensurar os fatores que compem o consumo turstico, conforme o seguinte: a) alguns so absolutamente abstratos (grau de beleza dos recursos naturais); b) os recursos da natureza j esto prontos, portanto, no geram empregos e renda em sua produo (somente na sua utilizao); c) outros recursos esto nos setores primrio e secundrio e no no tercirio; d) muitos operam na economia informal e no aparecem em nenhum registro; e) difcil o controle; por exemplo: quantas famlias viajam com seu prprio automvel e se hospedam em casas de amigos e parentes? f) diversos gastos dos turistas no so registrados, como: farmcias, postos de gasolina, mquinas de lmar e fotografar, etc. Mas, mesmo com todas essas diculdades de mensurao, apontadas anteriormente (da letra a at f), o turismo computado no setor de servios, na produo nacional de todos os pases.Voc sabia? Que, independentemente dos clculos econmicos ou para colaborar com estes, vrios estudos podem ser feitos sobre o turismo, tanto quantitativos como qualitativos? Que as medies de fluxo turstico, sada e entrada de turistas, vm sendo realizadas h muitos anos?

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Alis, a produo nacional medida por meio do valor de todos os bens nais e servios produzidos por fatores prprios de produo, no decorrer de um dado perodo, estado ou regio, o que chamado de PNB (Produto Nacional Bruto). Existe tambm o PIB (Produto Interno Bruto), que o valor dos bens nais e servios produzidos durante um perodo em um Pas. A diferena entre os dois que o PNB inclui todas as entradas de receitas obtidas no exterior por indivduos e empresas brasileiras, e so deduzidas as sadas de recursos obtidos por estrangeiros e empresas estrangeiras no Brasil. Perceba que a produo de um pas a representao do somatrio do trabalho social realizado em determinado perodo. Voc sabe o que Teorometria? Vamos descobrir?

Nos anos 1970, Fernandez Fuster denominou as estatsticas do turismo de teorometria. Atualmente, o termo est sendo empregado, no Brasil, de forma diferente, para designar um estudo mais ampliado. Rabahy (1990, p.35 apud BARRETO, 1998, p.99) dene teorometria como tcnica de aplicao dos mtodos economtricos investigao do fenmeno turstico.

E a econometria, voc sabe o que signica?

A econometria une a teoria econmica s medies reais. A econometria a soma de teoria econmica, matemtica e estatstica. o ramo das cincias econmicas encarregado de vericar as hipteses e teorias formuladas pela cincia econmica, utilizando-se dos instrumentos dados pela matemtica e pela estatstica. Observe que, para realizar uma anlise economtrica, devem ser analisados diferentes aspectos do turismo, tais como, uxo de turistas estudados em anos anteriores, infra-estrutura turstica

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do local e condicionantes socioeconmicos (fatores determinantes como preos, cmbio, questes poltico-sociais, etc).

As estatsticas de turismo: as mesmas dificuldades que se apresentam para as pesquisas de teorometria colocam-se para a confeco das estatsticas de turismo: custo das pesquisas, falta de pesquisadores bem treinados, falta de confiabilidade das fontes secundrias, falta de unificao da terminologia.

Atualmente, utilizam-se dois sistemas de controle para elaborar estatsticas: a) chas e controle de fronteiras para controlar a entrada de turistas estrangeiros; b) movimento dos hotis para controlar o turismo interno. Todos os mtodos tm falhas e a nica forma de fazer algo sem incomodar os turistas por meio de amostragem. Para elaborar uma estatstica sobre o movimento interno de turistas, seriam necessrios, no mnimo, os seguintes dados: total de visitantes em cada ncleo, classicao por nacionalidade e local de residncia, classicao por poder aquisitivo, durao das estadas. Uma das possibilidades para as estatsticas de turismo interno so as chas dos hotis e a amostragem aleatria nos lugares tursticos das cidades.

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Figura: 2.1: Modelo de ficha nacional de registro de hspedes FNRH Fonte: CASTELLI, Geraldo. Administrao Hoteleira. EDUCS: Caxias do Sul, 2001.

Para fazer estatsticas de turismo internacional por amostragem, necessrio fazer uma pesquisa determinando o nmero de pessoas a serem consultadas, selecionando o porto de entrada. necessrio classicar o turismo de acordo com o meio de transporte utilizado, pela durao das estadas, pelo objetivo da viagem, pela despesa diria e pelos locais visitados.A teorometria, tanto no conceito de estatstica como no de econometria aplicada ao turismo, contribui para o remanejamento das correntes tursticas, pela via do planejamento, visando incrementar o fluxo nas baixas temporadas e realizar um marketing adequado para manter um turismo sustentado nas altas temporadas.

Como voc estudou na seo 1, as medies apresentadas so importantes, mas importante destacar que uma boa mensurao da atividade turstica em determinada localidade, regio ou pas, passa necessariamente pelo estudo das tendncias passadas, como forma de planejar o turismo no futuro imediato ou a mdio e longo prazo. Na prxima seo, voc entrar em contato com os principais impactos econmicos do turismo, alm de poder conhecer um importante conceito, que o da multiplicidade do turismo. Alguns autores consideram este conceito como fator multiplicador do turismo. Vamos a eles, ento?

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SEO 2 - Impactos econmicos do turismoAo iniciar o estudo dessa seo precisamos ter claro o conceito de impacto econmico, uma vez que o turismo uma atividade que possui forte impacto econmico nas localidades receptivas. Esses impactos so de vrias origens. Para que possamos descrev-los, faz-se necessrio inicialmente apresentarmos um conceito bsico de economia: Segundo Samuelson (1999 apud IGNARA 2005, 2005, p.144):... economia o estudo de como os seres humanos e a sociedade decidem empregar recursos produtivos escassos que poderiam ter aplicaes alternativas, para produzir vrias mercadorias, ou seja, bens e servios, e distribulas para consumo, agora e no futuro, entre as diversas pessoas e grupos da sociedade.

As sociedades produzem e consomem riquezas. Produzi-las signica suprir essas sociedades dos elementos importantes para atendimento de suas necessidades em termos de alimentao, vesturio, moradia, entretenimento, etc. A produo signica criar riquezas, e o consumo, satisfao das carncias humanas por meio da utilizao dessas riquezas.Considera-se riqueza o conjunto de coisas materiais e imateriais que so escassas na natureza. Os bens e os servios constituem a riqueza econmica e tm duas caractersticas bsicas: possuem utilidades para os indivduos e so escassos. O turismo um desses servios que tm utilidades para os indivduos e uma oferta limitada.

O homem possui vrias necessidades, que podem ser classicadas em: primrias ou bsicas e secundrias ou supruas. Alimentao, habitao, sade, auto-estima e segurana so bsicas. Passear, viajar, fumar so secundrias e s satisfeitas depois que as primrias o forem.

A organizao econmica do turismo compreende a definio do que produzir, j que os fatores de produo so escassos. Entretanto, devem-se produzir hotis de luxo ou pequenas pousadas? Parques temticos ou naturais? Pacotes de turismo de sol e praia ou de turismo rural? Investir em aeroportos ou em terminais rodovirios?

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Outras questes devem ser consideradas: a) Como produzir questo que tem de ser tratada pela organizao econmica do turismo. preciso constituir grandes operadoras que trabalhem com grandes volumes e, com isso, consigam preos competitivos, ou trabalhar com um grande nmero de pequenas agncias de turismo, que prestaro um servio muito mais personalizado? b) Para quem produzir Os produtos tursticos devem ser produzidos para os estrangeiros ou para os domsticos? Para os de alta renda ou para os de baixa renda? Para os jovens ou para os idosos? c) Quando produzir Est relacionada com o controle da sazonalidade dos produtos tursticos, com a produo de curto, mdio e longo prazo, com a capacidade de carga dos destinos tursticos. d) Onde produzir Prximo dos mercados consumidores ou dos recursos tursticos? Nas regies subdesenvolvidas ou nas mais desenvolvidas?

O Turismo constitudo por um conjunto de prestadores de servios que possuem grande impacto na economia mundial. O seu faturamento anual supera a casa dos 3,5 trilhes de dlares. Quando se pensa na sua importncia econmica, imaginam-se pases como Espanha, Mxico, Itlia, etc. Na verdade, o turismo possui grande participao no PIB desses pases. No entanto, observa-se que o setor de viagens e turismo um dos principais em termos de gerao de renda e emprego nos EUA, no Japo, na Alemanha e na Frana, os quatro mais ricos do mundo!

As trs tabelas seguintes nos fornecem uma idia do que representa a atividade turstica, de acordo com estimativas mundiais elaboradas pela OMT Organizao Mundial de Turismo , o nmero de turistas internacionais mundiais e tambm as entradas advindas do turismo mundial.

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Tabela 2.1: Estimativas mundiais em turismo (1996-2006). Aes relacionadas 1996 2006 ao turismo Trabalho 255 milhes 385 milhes Trabalho (% total) Output PIB Investimentos Exportaes 10,7% US$ 3,6 quatrilhes 10,7% US$ 766 trilhes US$ 761 trilhes 11,1% US$ 7,1 quatrilhes 11,5% US$ 1,6 quatrilhes US$ 1,5 quatrilhes

Crescimento Real 50,1 % 48,7% 49,6% 51,3% 51,2% 49,6%

Impostos US$ 653 trilhes US$ 1,3 quatrilhes Fonte: WTTC (World Travel and Tourism Council), 1996.

Tabela 2.2: Nmero de turistas internacionais mundiais (valores arredondados) Anos 1950 1960 1961 1962 1963 1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 Turistas internacionais (em milhes) 25 69 75 81 90 105 113 120 130 131 143 166 179 189 199 206 222 229 249 267 283 288 290 289 Porcentagem de acrscimo anual 10,6 8,7 8 10,7 16,1 7,9 6,3 8,2 1,1 9,4 15,5 7,9 5,8 5,2 3,4 8,1 3 8,9 7,2 6 1,7 0,8 -0,2 Continua

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Anos 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995

Turistas internacionais (em milhes) 293 321 330 337 362 393 424 456 462 501 519 545 564

Porcentagem de acrscimo anual 1,1 9,4 3,3 3,4 7,4 8,5 8 7,4 12 8,6 3,3 5,2 3,3 5,4

1996 595 Fonte: Organizao Mundial de Turismo (OMT) 2001. Tabela 2.3: Entradas advindas do turismo mundial (valores arredondados) Entradas por turismo internacional (em bilhes) 2 7 7 8 9 10 12 13 14 15 17 18 21 25

Anos 1950 1960 1961 1962 1963 1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972

Porcentagem de acrscimo anual 12,6 6,1 10,2 10,7 13,4 15,2 15 8,4 3,7 12,1 6,6 16,5 18,1 Continua

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Anos 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996

Entradas por turismo internacional (em bilhes) 31 34 41 44 56 69 83 104 106 99 101 110 117 142 175 203 219 266 273 314 321 352 399 425

Porcentagem de acrscimo anual 26,1 8,9 20,3 9,2 25,2 23,7 21,1 24,2 2 -6,7 2,1 9,8 4,4 21,1 22,7 15,9 8,3 21,2 2,4 15,3 2,1 9,4 13,6 6,4

Fonte: Organizao Mundial de Turismo (OMT) 2001. Para que voc possa conhecer mais dados sobre as estatsticas mundiais do turismo, sugerimos o seguinte endereo eletrnico: www.world-tourism.org

Agora que voc teve acesso a alguns indicadores importantes, voc vai estudar o contedo relativo aos multiplicadores do turismo, que so fundamentais para que haja uma melhor percepo de quo grande o envolvimento da atividade em termos econmicos.

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A importncia da atividade se deve a algumas caractersticas particulares do turismo. O produto turstico constitudo por um conjunto enorme de diferentes servios, os quais, por sua vez, possuem um grande nmero de fornecedores. A seguir apresentamos um quadro onde possvel visualizar o efeito multiplicador do turismo, mediante exemplo fornecido pela OMT Organizao Mundial de Turismo.

Organograma 2.1: O efeito multiplicador Fonte: Papiers de Tourisme, n 16, pg. 19. in OMT (2001).

Se voc tomar como exemplo, na seqncia, os equipamentos e servios utilizados pelos organizadores de eventos, voc pode ter uma idia do efeito multiplicador do setor turstico.

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Tomemos como exemplo: A cidade de Florianpolis (localizada no Estado de Santa Catarina, ir sediar um importante congresso de turismo em novembro de 2006. Se imaginarmos a organizao deste evento, teremos necessariamente que pensar em diversos itens e tpicos, para que o mesmo seja realizado com sucesso. O quadro a seguir nos mostra alguns desses itens.

Empilhadeiras Telefone e fax Mobilirio e acessrios Condicionadores de ambiente

Fogos de artifcio e raio laser Servios de marketing direto

Maquetes e cenografia Agncia de promoo

Transporte de passageiros e de Coberturas e barracas carga Microcomputadores Servios de animao de shows artsticos Servios de fotografia Assistncia mdica Assessoria de imprensa

Servios de computao grfica Montagemede palcos, passarelas estruturas e videotexto metlicas Uniformes Datashow Placas, trofus e medalhas Fotocpias Transcrio de fitas Locao de veculos Letreiros, luminosos, placas e faixas Servios de copa e cozinha Adesivos, serigrafia e pastas

Cabine de traduo simultnea Sistema de sinalizao, painis e displays Servios de agncia de viagem Projetos e montagens de estandes Equipamentos audiovisuais Convites, diplomas, cartes e crachs Decorao e paisagismo Limpeza Servios de segurana Restaurantes e bufs

Quadro 2.1: Exemplo do efeito multiplicador em eventos Fonte: Adaptado de (SPC&VB, Sebrae. Capacitao de cidades paulistas para captao e promoo de eventos. So Paulo, 1998) in IGNARRA. Luiz Renato. Fundamentos do Turismo. So Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003, p. 149.

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Note que, alm dos servios apresentados no quadro anterior, os organizadores de eventos contratam vrios servios de autnomos, tais como: secretrias; oce-boys; relaes pblicas; chefes de cerimonial; recepcionistas; manobristas; tradutores e intrpretes; garons. Como voc teve a oportunidade de ver, apenas um dos subsetores do turismo possui um efeito multiplicador enorme na economia local. O mesmo exerccio pode ser feito para outros subsetores. A hotelaria, por exemplo, grande consumidora de: alimentos e bebidas; material de limpeza; material de higiene pessoal; material de papelaria; mveis; louas e vidros; roupas de cama, mesa e banho; talheres; equipamentos de informtica; equipamentos de recreao; equipamentos de cozinha; equipamentos de lavanderia; equipamentos de ar-condicionado;

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servios de transportes de hspedes; servios de segurana. Da mesma forma que na organizao de eventos, inmeros so os prossionais demandados; na hotelaria tambm existe uma relao enorme de cargos, o que faz desse setor grande empregador de mo-de-obra.Em um hotel, por exemplo, so encontrados os seguintes profissionais: telefonistas, camareiras, recepcionistas, lavadeiras, passadeiras, seguranas, manobristas, office-boys, porteiros, garons, commins, garde manger, auxiliar de cozinha, cozinheiro, matre, assistente de manuteno, faxineiras, governanta, controller, chefe de recepo, promotor de vendas, jardineiros, barmens, etc.

Em razo desse relacionamento com inmeros fornecedores e da intensiva utilizao de mo-de-obra, o turismo possui um fator de multiplicao de renda muito elevado. Para compreender melhor o efeito multiplicador no setor de turismo, conhea os multiplicadores econmicos utilizados:MULTIPLICADORES UTILIZADOS Multiplicador de Renda. Multiplicador do Emprego. Multiplicador do Produto. Multiplicador de Importaes. Multiplicador de Impostos. REPRESENTAO Representa as variaes de renda interna, em decorrncia da variao dos gastos dos turistas. Mostra as variaes do nmero de empregos, conforme a variao dos gastos dos turistas. Apresenta as variaes do produto, de acordo com a variao dos gastos dos turistas. Apresenta o valor agregado das importaes de bens e servios, em decorrncia da variao dos gastos dos turistas. Representa o montante ampliado de receitas do governo, em razo da variao dos gastos dos turistas.

Quadro 2.2: Multiplicadores econmicos Fonte: Adaptado de: IGNARRA. Luiz Renato. Fundamentos do Turismo. So Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003, p. 149.

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Qual a definio de efeito multiplicador?

A relao entre o dinheiro que entra por conceito de turismo e sua repercusso nal no PIB (Produto Interno Bruto) chama-se efeito multiplicador, que denido como o coeciente que mede a quantidade de ingresso gerado por cada unidade de despesa turstica. O efeito multiplicador produzido pela sucesso de despesas que tm origem no gasto do turista e que beneciam os setores ligados diretamente e os ligados indiretamente ao fenmeno turstico. A unidade monetria recebida passa por diversas transaes, cujo nmero depende do crculo consumo-renda de cada localidade, regio ou pas.Os beneficirios diretos do efeito multiplicador so os locais de alojamento, alimentao, souvenirs, profissionais de turismo. J os beneficirios indiretos, so, por exemplo, correios, bancos, clnicas, profissionais liberais, entre outros.

Como forma de uma melhor visualizao e mais adequado entendimento, na tabela a seguir, relacionamos o que se considera como sendo os principais impactos econmicos do turismo, sejam eles positivos ou negativos.IMPACTOS POSITIVOS 1. Aumento da renda no destino turstico. 2. Estmulo aos investimentos. 3. Poder de redistribuio de renda. IMPACTOS NEGATIVOS 1. Efeito inflacionrio. 2. Dependncia exclusiva em determinadas regies da atividade turstica. 3. Desestmulo aos investimentos em infraestrutura bsica.

Quadro 2.3: Impactos econmicos do turismo Fonte: Adaptado de: IGNARRA. Luiz Renato.Fundamentos do Turismo. So Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003, p. 152.

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Esta seo procurou formular de maneira objetiva os impactos econmicos que a atividade turstica pode gerar. Lembramos a voc que o contedo ora apresentado foi resumido e pontual. importante destacar que esses assuntos por si s (economia e turismo) possuem uma abrangncia muito grande e tm sido motivo de estudos e de pesquisas por parte de diversos autores e especialistas. A percepo e a conseqente compreenso dos conceitos apresentados sobre economia, sobre o efeito multiplicador e, nalmente, sobre quais efetivamente so os impactos econmicos do turismo, certamente auxiliaro voc na formao de uma opinio mais clara sobre a importncia do Turismo como um todo. Lembramos a voc, caro estudante, que os impactos gerados pela atividade turstica no so somente de ordem econmica. A seo 3, a seguir, vai ilustrar de forma otimizada, os impactos culturais e sociais que so gerados pela atividade. Observe que, quanto mais informaes sob diferentes ngulos voc pode ter, melhor ser a sua percepo e entendimento sobre esta fantstica atividade. - Portanto, preparem-se, e boa viagem at a nossa prxima escala de conhecimentos!

SEO 3 Aspectos culturais e sociais do turismoA abordagem que ser feita a partir de agora sobre os aspectos culturais e sociais do Turismo no visa a discutir estes impactos, e sim demonstrar, de uma forma contextualizada, os efeitos que eles podem causar na sociedade e os problemas que deles decorrem. Conforme voc pde observar nas duas sees anteriores, at meados da dcada de 1970, grande parte dos estudos sobre o turismo era concentrada na medio dos benefcios econmicos, sendo que pouca ateno era dada a uma caracterstica fundamental do turismo internacional: a interao entre turistas e a comunidade local.

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Todavia, a partir de meados dessa mesma dcada de 1970, mais estudiosos e prossionais do turismo passaram a dar mais ateno ao relacionamento entre os turistas e a populao local, e principalmente, aos efeitos no-econmicos induzidos por esse relacionamento. Muitos dos efeitos sociais e culturais do turismo so retratados como sendo essencialmente negativos, pois estudos recentes feitos por diversos autores e citamos Kadt (1976) e OGrady (1981), (apud Lickorish e Jenkins, 2003) , detalharam casos em que o turismo causou mudanas profundas nas estruturas, nos valores e nas tradies de sociedades. interessante notar que existem debates contnuos sobre isso se essas mudanas so bencas ou no, pois os interesses da sociedade e do indivduo no so necessariamente os mesmos. H pouca dvida, contudo, quanto aos locais em que o turismo internacional tem alguma importncia para um pas. J se sabe que, nesses espaos, o turismo se torna um elemento modicador importante. Estas mudanas ocorrem porque os turistas, em geral, permanecem no pas visitado por um curto perodo. Eles trazem consigo suas tradies, valores e expectativas. Voc concorda, no mesmo?Voc sabia ? Que em muitos pases os turistas no so sensveis aos costumes, s tradies e aos padres locais? Que s vezes podem se ofender diante de algo no intencional? Que, de certa forma, os visitantes estrangeiros no se integram na sociedade, mas se confrontam com ela? E que, quando um grande nmero de turistas, em geral de uma mesma nacionalidade, chega a um pas, h uma reao inevitvel?

Podem-se definir efeitos no-econmicos todos aqueles em que no ocorre uma relao de troca entre bens e servios e uma unidade monetria qualquer (reais, dlares, euros, por exemplo). Os efeitos no-econmicos so abrangentes e tratam especificamente das relaes que ocorrem entre os turistas e a populao autctone de um ncleo receptor de turismo, na esfera scio-cultural. No h envolvimento de valores monetrios.

Veja, a seguir, os efeitos sobre os valores e comportamentos sociais, uma varivel destacada e que ocorre freqentemente, quando um ncleo receptor de turismo recebe uxos signicativos de turistas de outras origens.

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De acordo com Lickorish e Jenkins (2000), quando os turistas chegam a um pas de destino, eles no se limitam a trazer consigo seu poder de compra e a fazer com que se instalem comodidades para serem por eles desfrutadas. Acima de tudo, eles trazem um tipo diferente de comportamento, o qual pode transformar profundamente os hbitos sociais locais, mediante a remoo e a perturbao das normas j estabelecidas da populao residente. Quem j no presenciou, ou leu em algum jornal local, os efeitos do turismo em determinada localidade? Ou, ainda, quem no soube atravs de outros que, durante a temporada de turismo, a populao local tem que aceitar os efeitos da superlotao, os quais talvez possam no existir em outras pocas do ano como algo inerente ao desenvolvimento econmico, ou como inerente s mudanas sociais e econmicas de um determinado pas ou grupo social? A infra-estrutura e as condies bsicas de oferta de produtos e servios se alteram drasticamente, quando da alta temporada (independentemente se ela ocorre no vero ou no inverno). fato que comeam a se formar las e mais las, seja para utilizao de um servio bancrio, seja para compras na padaria, no jornaleiro, no supermercado, entre outras atividades. Para muitas destinaes tursticas consolidadas e na rota de preferncias de uma dada populao, a falta de infra-estrutura adequada, acarreta em, por exemplo, longos perodos de espera para se chegar a uma praia ou um atrativo qualquer. E a populao que reside ou habita nesse lugar envolvida nesse conjunto de expectativas e interesses, sejam eles individuais, coletivos ou econmicos.

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O que voc acha disso? Participe do frum e discuta a questo: A coexistncia entre populao local e turistas invasores nem sempre fcil. Em geral, leva xenofobia, tenso social particularmente notada em reas tursticas muito populares em locais onde a populao, por motivos psicolgicos, culturais ou sociais, no est pronta para ser submetida a essa invaso. Compartilhe com seus colegas de turma.

Ainda de acordo com Lickorish e Jenkins (2000), naturalmente a mudana nos valores sociais leva a uma alterao nos valores polticos, s vezes com conseqncias desordenadas. Um declnio nos valores morais e religiosos tambm comum e pode ser observado pelo aumento do nvel de criminalidade. No so apenas as atitudes locais que se modicam, mas tambm os objetivos e oportunidades para a atividade criminal. interessante pensar nisso, no ? As relaes humanas so importantes, j que o excesso de turismo pode ter repercusses problemticas, como, por exemplo, transformar a hospitalidade tpica de muitos pases em prticas comerciais, o que pode levar os fatores econmicos a suplantarem o relacionamento pessoal. Os efeitos posteriores podem ser o aparecimento do comportamento consumista, o declnio da moral, a mendicncia, a prostituio, o consumo de drogas, a perda da dignidade e a frustrao de no poder satisfazer suas necessidades. No entanto, seria errado culpar o turismo por todos esses problemas, que tambm esto ligados s mudanas sociais que afetam as comunidades no processo de modernizao. O turismo acelera o processo, mas no o cria.

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As relaes que se verificam entre os mais diversos tipos de turistas e as comunidades locais, quando da ocorrncia principalmente da chamada alta temporada, muitas vezes caracterizada por alguns conflitos. Tendo em mente a realidade turstica existente na sua cidade de residncia ou de nascimento, tente lembrar se voc j presenciou ou mesmo conheceu um choque cultural, ocorrido entre turistas e residentes locais. Com a chegada de grupos de turistas, os valores e as crenas da comunidade local so afetadas? A populao local est preparada para receber o turista de forma cordial? Elabore respostas para as questes acima. Voc tambm pode escrever sobre o que voc conhece ou percebe, acerca dessa realidade! Faa uso do espao abaixo.

O turismo pode gerar custos sociais, em geral difceis de estimar, mas que nem por isso so menos importantes. Um exemplo a ameaa aos hbitos tradicionais de cada pas e, muitas vezes, de regies especcas. Entretanto, o turismo pode se tornar o elemento que ir garantir a manuteno de certas tradies originais que atraem os turistas.

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de suma importncia proteger e manter a herana cultural, alm de lidar com os problemas sociais relacionados, como, por exemplo: o comrcio ilegal de objetos histricos e animais; pesquisas arqueolgicas no oficiais; a eroso de valores estticos (de paisagem) e de um certo know-how (conhecimento) tcnico; o desaparecimento de pessoas com habilidades manuais altamente qualificadas, entre outros.

A comercializao de eventos da cultura tradicional pode levar criao de uma pseudocultura, um folclore articial para o turista, sem valor cultural algum para a populao local nem para os visitantes. O mesmo se aplica, por exemplo, aos artesos. A questo o conito potencial entre os interesses econmicos e culturais, sendo que a cultura acaba sendo sacricada em favor da promoo do turismo, ou seja, a criao de valores econmicos adicionais ao preo da perda do valor cultural. Em um nvel social, o turismo bem organizado pode favorecer contatos entre turistas e a populao local, estimular o intercmbio cultural, levar a um entrosamento amigvel e responsvel e, por m, aumentar as ligaes entre os pases. Como forma de sumarizarmos os impactos sociais e culturais do turismo, na seqncia voc visualiza dois quadros com os aspectos socioculturais positivos e aspectos socioculturais negativos. Assim, voc poder fazer uma comparao entre eles, tirando sua prprias concluses.

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Veja os aspectos positivos:O turismo constitui um mtodo de desenvolvimento e promoo de regies pobres ou no-industrializadas onde as atividades tradicionais esto em declnio, como, por exemplo, o turismo que substituiu o cultivo de cana-de-acar em muitos pases do Caribe. O turismo acentua os valores de uma sociedade, dando maior importncia ao lazer e ao relaxamento, atividades que exigem um ambiente de alta qualidade, como nos pases da Escandinvia. Com o gerenciamento adequado, o turismo pode garantir a conservao, em longo prazo, de reas de beleza natural que possuem valores estticos e/ou culturais, como os Parques Nacionais dos estados Unidos. O turismo pode renovar as tradies de arquiteturas locais, na condio de que as peculiaridades regionais, a herana ancestral e o ambiente cultural so respeitados. Pode tambm servir como um trampolim para a renovao de reas urbanas, antes decadentes, como no Pelourinho em Salvador e no centro histrico de Recife. O turismo contribui para o renascimento das artes locais e das atividades culturais tradicionais, em um ambiente natural protegido, como em Highland Games, na Esccia. No mais favorvel dos casos, o turismo pode at mesmo oferecer uma forma de reativar a vida social e cultural da populao residente, revitalizando, assim, a comunidade local, estimulando contatos no pas, atraindo jovens e favorecendo as atividades da regio.

1. Desenvolvimento e promoo

2. Acentuao de valores sociais

3. Conservao de reas naturais

4. Renovao da arquitetura

5. Renascimento das artes e da cultura

6. Reativao da vida social e cultural

Quadro 2.4: Impactos scioculturais positivos do turismo Fonte: Adaptado de: LICKORISH L. J.; JENKINS, C.L. introduo ao Turismo. Rio de Janeiro: Campus, 2000, p. 109.

A seguir, voc v um quadro que sumariza os impactos scioculturais negativos do turismo. Analise os aspectos negativos apresentados:

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1. Imitao

2. Artesanato

3. Influncia da demanda

Existe um comportamento psicossocial em que as comunidades mais tradicionais, ao terem contato com povos de pases mais desenvolvidos, procuram imit-los. O jovem da cidade pequena tende a imitar o jovem dos grandes centros urbanos no que se refere a suas roupas, msicas, seus hbitos, etc. A demanda existente por determinados tipos de artesanatos faz com que seja preciso aumentar a oferta. Essa exigncia pode fazer com que processos produtivos sejam alterados, para satisfazer a necessidade de atender o crescimento da demanda. H uma tendncia de padronizao do artesanato e produtos locais tpicos, de acordo com a procura. Assim, o mesmo artesanato encontrado nas regies mais diferentes do Brasil, com formaes culturais as mais diversas. O desfile de carnaval um dos exemplos de como a demanda pode alterar essas tradies. Em nome de uma visibilidade melhor, o desfile veio se alterando ao longo do tempo para ser mostrado para as arquibancadas ou para ficar mais plasticamente apresentvel na televiso. A arquitetura tradicional local tambm pode se transformar a partir de uma demanda turstica. O turista quer se hospedar em uma edificao tpica do lugar visitado, mas tambm quer o conforto de sua casa. Desta forma, a arquitetura passa a incorporar estes quesitos de conforto. A especulao imobiliria expulsa o pescador para longe do mar. O veranista quer construir sua residncia secundria o mais prximo possvel do mar, exatamente nos locais ocupados pelos pescadores.

4. Manifestaes culturais tradicionais

5. Arquitetura tradicional 6. Especulao imobiliria

Quadro 2.5: Impactos scioculturais negativos do turismo Fonte: Adaptado de: IGNARRA. Luiz Renato. Fundamentos do Turismo. So Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003, p. 181/2.

Como se pde vericar por meio dos exemplos ilustrados nos quadros e, ainda, de acordo com o que voc estudou nesta unidade, os impactos culturais vo se intensicando medida que o volume de turistas se amplia. Segundo Smith (1978), eles se ampliam medida que ocorrem sete ondas distintas de tipos de turistas, de acordo com o que ser apresentado a seguir.

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Tipo de Turista 1. Explorador 2. Elite 3. Excn