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TESE
ASPECTOS HISTOLÓGICOS, FÍSICO-QUÍMICOS,
SENSORIAIS E FITOTÉCNICOS DA TANGERINA
FREMONT
CAMILLA DE ANDRADE PACHECO
Campinas, SP
2015
INSTITUTO AGRONÔMICO
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA
TROPICAL E SUBTROPICAL
ASPECTOS HISTOLÓGICOS, FÍSICO-
QUÍMICOS, SENSORIAIS E FITOTÉCNICOS DA
TANGERINA FREMONT
CAMILLA DE ANDRADE PACHECO
Orientador: Fernando Alves de Azevedo
Tese submetida como requisito
parcial para obtenção do grau de
Doutor em Agricultura Tropical e
Subtropical, Área de Concentração
em Tecnologia da Produção Agrícola
Campinas, SP
Abril 2015
Ficha elaborada pela bibliotecária do Núcleo de Informação e Documentação do Instituto Agronômico
P116a Pacheco, Camilla de Andrade Aspectos histológicos, físico-químicos, sensoriais e fitotécnicos da
tangerina Fremont / Camilla de Andrade Pacheco. Campinas, 2015. 99 fls. Orientador: Fernando Alves de Azevedo Tese (Doutorado) em Agricultura Tropical e Subtropical – Instituto Agronômico 1. Citros – tratos culturais 2. Citros – qualidade 3. Pós-colheita 4. Citrus spp. I. Azevedo, Fernando Alves de II. Título CDD 634.3
ii
DEDICATÓRIA
À Deus, que me carregou no colo quando me faltaram forças, que me deu saúde para
a batalha do dia a dia, que não me deixou desanimar diante das dificuldades, que me
proporcionou momentos de felicidade, que me guiou, iluminou e me deu
tranquilidade para seguir em frente com os meus objetivos. Obrigada por mais esta
vitória.
À minha avó, Maria Dolores dos Reis Madoglio, por todos esses anos de conselhos,
aprendizado, carinho, amor, paciência, enfim, por se dedicar a mim e por me educar
a ser uma pessoa honesta e digna.
Aos meus pais, Walter Leone de Andrade Pacheco e Izilda Inês de Andrade Pacheco,
pelo apoio incondicional, incentivo, paciência e ajuda na superação dos obstáculos
que ao longo dessa caminhada foram surgindo. Obrigada por superarem todas as
dificuldades impostas pela vida e me darem a oportunidade de estudar e crescer
como pessoa e profissional, acreditando na educação de qualidade, não medindo
esforços para que eu pudesse ter acesso às melhores escolas e universidades. Sou
parte de vocês e essa conquista é nossa.
Às minhas irmãs, Wanessa de Andrade Pacheco e Thais de Andrade Pacheco, pela
amizade, amor e apoio em toda minha caminhada. Jamais me esquecerei da nossa
infância e de tudo que passamos ao longo desses anos, de todos os momentos que
tivemos juntas, dos sorrisos, das lágrimas, da dor e da felicidade. Obrigada por serem
as melhores irmãs do mundo. Amo vocês incondicionalmente.
Enfim, à minha família que soube compreender o sentido de minha luta,
dispensando-me muitas vezes de seu convívio para enfrentar minhas obrigações. Este
momento não estaria completo sem vocês.
iii
AGRADECIMENTOS
Ao Instituto Agronômico (IAC), pela oportunidade oferecida no conceituado curso
de doutorado em Agricultura Tropical e Subtropical – Tecnologia da Produção
Agrícola.
Ao Centro APTA Citros Sylvio Moreira/IAC, ao CIRAD, ao INRA, a UFSCar e a
UFLA que me ofereceram totais condições para o desenvolvimento desta pesquisa e
elaboração desta tese.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo
apoio financeiro ao projeto e pela concessão de bolsa de doutorado e doutorado
sanduíche.
Ao Dr. Fernando Alves de Azevedo, meu orientador, obrigada pela oportunidade de
participar de sua equipe de pesquisa e, principalmente, pela confiança em mim
depositada.
Às Dras. Marinês Bastianel e Fabienne Florence Lucienne Micheli pela oportunidade
de intercâmbio, pelos agradáveis momentos de conversa, pelo companheirismo e
valiosos ensinamentos.
Às Dras. Claudie Dhuique-Mayer e Sophie Assemat e ao Dr. François Luro por me
acolherem, ensinarem e permitirem que mais um sonho fosse concretizado.
Às Dras. Mariangela Cristofani-Yaly e Marta Regina Verruma-Bernardi e aos Drs.
Caetano Brugnaro e Fabrício José Pereira pela parceria e trabalho ao longo dessa tão
sonhada caminhada.
Aos funcionários da seção de Pós-graduação pelas informações e esclarecimentos.
iv
Aos estagiários de iniciação científica Felipe Fukuda, João Paulo Zampronio,
Vinicius Henrique Gomes Zuppa de Andrade agradeço de coração por terem
contribuído com a execução dos experimentos.
A todos os pesquisadores e funcionários do Centro APTA Citros Sylvio Moreira,
pelos ensinamentos ministrados e exemplos de profissionalismo.
Aos amigos Aline C. Silva, Evandro H. Schinor, Flávia O. Pacheco, Francisco
Humberto Henrique, José Dagoberto De Negri, Lenice Magali do Nascimento
Abramo, Luriany Pompeo Ferraz, Pitt Wehr, Silvani Alves, Tatiane Cunha pelas
conversas, risadas e momentos agradáveis vividos dentro e fora do Centro APTA
Citros Sylvio Moreira, com vocês esta jornada se tornou muito mais valiosa e
gratificante.
Aos queridos Adrien Servent, Alexandre Rubio, André Sinela, Carla Vaneza
Corralès, Catiusca Reali, Dora Destouches, Imen Zebalia, Isabelle Maraval, Jéssica
Santos da Silveira, Kévin Vidot, Laurent Berthiot, Luis Chaparro, Malek Ben Zid,
Marie-Christine Lahon, Youssef Wakrim, Zayneb Nhouchi obrigada pelos momentos
vividos em Montpellier/França, pelas conversas, pelas risadas, pelas viagens, pela
ajuda, pelo apoio, pela paciência, enfim, obrigada por fazerem parte da minha vida,
vocês estarão para sempre em meu coração.
Aos amigos Alexandra Lenci, Christian Navari, Hajer Khefifi, Henry Muller, Jean
Charles Evrard, Jean Luc Viadere, Joana Célia Ferreira Muller, Juliette Soulezelle,
Laurent Julhia, Olivier Pailly, Pauline Creton, Paul-Eric Poli, Roberte Muller que
gentilmente me acolheram em Córsega/França, obrigada pela companhia, pelo
carinho, pela amizade, pelos ensinamentos, pelos jantares, pelos sorvetes, pelos
sorrisos, pelos passeios, enfim, pelos bons momentos vividos, levarei cada um
comigo no coração.
“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco
de si, levam um pouco de nós.” – Antoine de Saint-Exupéry
v
BIOGRAFIA
CAMILLA DE ANDRADE PACHECO – Nasceu em São Paulo – SP no dia 06 de
abril de 1984. Filha de Walter Leone de Andrade Pacheco e Izilda Inês de Andrade
Pacheco. Ingressou no curso de Engenharia Agronômica no Centro de Ciências
Agrárias da Universidade Federal de São Carlos (CCA/UFSCar) em 2003,
concluindo-o em fevereiro de 2008. Durante a graduação desenvolveu projetos nas
áreas de solos e geoprocessamento; melhoramento genético de cana-de-açúcar e;
fitotecnia e melhoramento de maracujá. Foi monitora da Disciplina Tópicos em
Matemática II e voluntária do Centro Ambiental AEHDA da cidade de Araras
orientando no trabalho com mudas de árvores nativas. Mestre em Agricultura
Tropical e Subtropical, área de concentração Tecnologia da Produção Agrícola, pelo
Instituto Agronômico, Campinas, em 2010. Ingressou no programa de doutorado em
Agricultura Tropical e Subtropical do Instituto Agronômico, na cidade de Campinas,
em fevereiro de 2011, na área de concentração Tecnologia da Produção Agrícola,
concluindo-o em abril de 2015. Esteve no Centre de la Recherche Agronomique pour
le Développement (CIRAD), em Montpellier/França e no Institut Nacional de la
Recherche Agronomique (INRA), em San Giuliano/Córsega/França como
pesquisadora visitante durante seu doutorado. Possui experiência na área de manejo
da cultura do citros, com ênfase em fitossanidade, atuando principalmente com
tangerinas.
"Ninguém escapa ao sonho de voar, de
ultrapassar os limites do espaço onde
nasceu, de ver novos lugares e novas gentes.
Mas saber ver em cada coisa, em cada
pessoa, aquele algo que a define como
especial, como um objeto singular, como um
amigo, é fundamental. Navegar é preciso
reconhecer o valor das coisas e das pessoas, é
mais preciso ainda!”
(Antoine de Saint-Exupéry)
vi
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS .............................................................................................. viii
LISTA DE FIGURAS...................................................................................................x
LISTA DE ANEXOS..................................................................................................xi
RESUMO ................................................................................................................... xii
ABSTRACT . .............................................................................................................xiv
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 1
2 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................. 2
2.1 Mercado de frutas e tangerinas .............................................................................. 2
2.2 Qualidade dos frutos de tangerinas.........................................................................3
2.3 Caracterização físico-química de tangerinas..........................................................5
2.4 Mancha marrom de alternária.................................................................................7
2.5 Importância histológica para o mecanismo de defesa da planta.............................8
2.6 Análise sensorial.....................................................................................................9
2.7 Manejo versus produtividade em citros ............................................................... 11
2.7.1 Espaçamento ..................................................................................................... 12
2.7.2 Raleio ................................................................................................................ 13
2.7.3 Variedade copa...................................................................................................14
2.7.3.1 Tangerina Fremont (C. clementina hort. ex Tan x C. reticulata Blanco).......15
2.7.3.2 Tangerina Thomas (C. reticulata Blanco)......................................................16
2.7.3.3 Híbrido TMxLP281 [(C. sinensis L. Osbeck x C. reticulata Blanco) x C.
sinensis L. Osbeck)]....................................................................................................17
2.7.3.4 Tangerina Ponkan (C. reticulata Blanco).......................................................17
2.7.3.5 Tangor Murcott (C. sinensis L. Osbeck x C. reticulata Blanco)……………17
2.7.4 Porta-enxerto ..................................................................................................... 18
2.7.4.1 Limão Cravo (Citrus limonia Osbeck) ........................................................... 19
2.7.4.2 Citrumelo Swingle (C. paradisi Macfad. x Poncirus trifoliata (L.) Raf.) ..... 19
2.2.4.3 Trifoliata (Poncirus trifoliata (L.) Raf) ......................................................... 20
2.7.4.4 Trifoliata Flying Dragon [Poncirus trifoliata (L.) Raf var. monstrosa] ........ 20
2.7.5 Armazenamento à frio ....................................................................................... 21
3 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................... 22
3.1 Análise histológica ............................................................................................... 22
3.1.1 Cortes paradérmicos .......................................................................................... 23
3.1.2 Cortes transversais ............................................................................................ 24
3.2 Análise sensorial .................................................................................................. 25
3.2.1 Teste de aceitabilidade e intenção de compra ................................................... 26
3.2.2 Testes de ordenação e preferência..................................................................... 26
3.3 Análise fitotécnica ................................................................................................ 27
3.3.1 Espaçamento ..................................................................................................... 27
3.3.2 Porta-enxerto......................................................................................................30
3.3.3 Raleio ................................................................................................................ 31
3.4 Análise pós-colheita (armazenamento a frio) ...................................................... 33
3.5 Análise bioquímica fina (quantificação de carotenoide) ...................................... 34
3.6 Análise dos resultados .......................................................................................... 36
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 36
4.1 Análise histológica ............................................................................................... 36
vii
4.1.1 Cortes paradérmicos .......................................................................................... 36
4.1.2 Cortes transversais ............................................................................................ 40
4.2 Análise sensorial .................................................................................................. 48
4.2.1 Teste de aceitabilidade e intenção de compra ................................................... 48
4.2.2 Teste de ordenação e preferência ...................................................................... 50
4.3 Análise Fitotécnica................................................................................................52
4.3.1 Espaçamento ..................................................................................................... 52
4.3.2 Porta-enxerto ..................................................................................................... 59
4.3.3 Raleio ................................................................................................................ 63
4.4 Análise pós-colheita (armazenamento a frio) ...................................................... 67
4.5 Análise bioquímica fina (quantificação de carotenoide) ...................................... 74
5 CONCLUSÕES....................................................................................................... 77
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 78
7 ANEXOS.................................................................................................................97
viii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Caracterização dos diferentes tratamentos avaliados, em relação ao
espaçamento entre linhas e entre plantas, densidade de plantio e proporção em
relação ao tratamento padrão, de tangerina Fremont, enxertada sobre limão Cravo.
Capão Bonito/SP (2009). ........................................................................................... 29
Tabela 2 - Caracterização dos diferentes tratamentos avaliados, em relação ao
espaçamento entre linhas e entre plantas, densidade de plantio e proporção em
relação ao tratamento padrão, de tangerina Fremont, enxertada sobre limão Cravo.
Porto Feliz/SP (2009). ................................................................................................ 30
Tabela 3 - Desbastes de frutos propostos para a tangerineira Fremont, cujos ensaios
se encontram em dois municípios diferentes do estado de São Paulo ....................... 33
Tabela 4 - Características dos estômatos presentes na epiderme abaxial das folhas das
variedades Fremont, Murcott, Ponkan e Thomas, em secções paradérmicas ............ 38
Tabela 5 - Espessura da epiderme (µm) da face adaxial, em secções transversais, em
folhas de quatro variedades cítricas: tangerinas Fremont, Ponkan e Thomas e tangor
Murcott ....................................................................................................................... 40
Tabela 6 - Espessura da epiderme (µm) das faces abaxial, em secções transversais,
em folhas de quatro variedades cítricas (tangerinas Fremont, Ponkan e Thomas e
tangor Murcott), coletadas em diferentes posições da copa (base, meio e topo) ....... 42
Tabela 7 - Espessura do parênquima paliçádico (µm), em secções transversais, em
folhas de quatro variedades cítricas (tangerinas Fremont, Ponkan e Thomas e tangor
Murcott), coletadas em diferentes posições da copa (base, meio e topo) .................. 44
Tabela 8 - Espessura do parênquima esponjoso (µm), em secções transversais, em
folhas de quatro variedades cítricas (tangerinas Fremont, Ponkan e Thomas e tangor
Murcott), coletadas em diferentes posições da copa (base, meio e topo) .................. 45
Tabela 9 - Diâmetro das cavidades secretoras foliares (µm), em secções transversais,
em quatro variedades cítricas (tangerinas Fremont, Ponkan e Thomas e tangor
Murcott), coletadas em diferentes posições da copa (base, meio e topo) .................. 46
Tabela 10 - Distância entre as cavidades secretoras foliares (µm), em secções
transversais, em quatro variedades cítricas (tangerinas Fremont, Ponkan e Thomas e
tangor Murcott), coletadas em diferentes posições da copa (base, meio e topo) ....... 46
Tabela 11 - Médias das análises físico-químicas da tangerina Fremont (Centro APTA
Citrus Sylvio Moreira, IAC, julho 2012) ................................................................... 48
Tabela 12 - Nota média de aceitação e porcentagens de aprovação, indiferença e
rejeição das amostras de fruto e suco. ........................................................................ 50
Tabela 13 - Médias das análises físico-químicas das tangerinas Fremont, Ponkan e do
híbrido TMxLP 281 (Centro APTA Citrus Sylvio Moreira, IAC, safra 2013) ......... 51
Tabela 14 - Escores médios por atributo de três variedades de tangerina. ................ 51
ix
Tabela 15 - Altura (A), diâmetro (D) e volume de copa (VC) das plantas de tangerina
Fremont nos diferentes espaçamentos propostos (Porto Feliz/SP e Capão Bonito/SP,
2011-2014). ................................................................................................................ 54
Tabela 16 - Produção (kg planta-1) e produtividade (t ha-1) de tangerina Fremont
enxertada em limão Cravo, plantada em diferentes espaçamentos (Porto Feliz/SP e
Capão Bonito/SP, 2012-2014). .................................................................................. 55
Tabela 17 - Desenvolvimento vegetativo (altura - A, diâmetro - D e volume de copa
VC), produção (P) e eficiência produtiva (EP) das plantas de Fremont no
experimento de porta-enxertos (Mogi Mirim/SP, 2012, 2013 e 2014). ..................... 60
Tabela 18 - Massa (M) dos frutos, rendimento (RS), acidez (A), sólidos solúveis
totais (SST) e ratio do suco de frutos de tangerina Fremont em diferentes porta-
enxertos, no município de Mogi Mirim/SP (2012-2014). .......................................... 62
Tabela 19 - Porcentagem de frutos de tangerina Fremont com diferentes calibres
(diâmetro) após desbaste/raleio de 25% e 50%, Pólo Regional Sudoeste Paulista,
Capão Bonito/SP (2012-2014). .................................................................................. 64
Tabela 20 - Porcentagem de frutos de tangerina Fremont com diferentes calibres
(diâmetro) após desbaste/raleio de 25% e 50%, em diferentes porta-enxertos, Sítio
Lagoa Bonita, Mogi Mirim/SP (2012-2014). ............................................................. 64
Tabela 21 - Características físico-químicas dos frutos da tangerina Fremont (Centro
APTA Citros Sylvio Moreira, IAC, 2012). ................................................................ 68
Tabela 22 - Perda de massa, acidez, sólidos solúveis (SS), ratio, brilho, textura e
ângulo hue (oh) da tangerina Fremont, Cordeirópolis, SP, 2012. .............................. 70
Tabela 23 - Média dos atributos sensoriais para os frutos da tangerina Fremont
armazenados em diferentes temperaturas e períodos de armazenamento
(Cordeirópolis, SP, 2012). .......................................................................................... 71
Tabela 24 - Conteúdo de carotenoides (mg L-1
) em suco de tangerina Fremont,
Montpellier/França (abril, 2014). ............................................................................... 75
x
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Planta adulta (esquerda) e frutos (direita) da tangerina Fremont na época
ideal de colheita (mês de junho)................................................................................. 22
Figura 2 - Municípios do estado de São Paulo onde se encontram os ensaios que
foram utilizados para as avaliações fitotécnicas. ....................................................... 27
Figura 3 - Experimento de espaçamento da tangerina Fremont enxertada sobre limão
Cravo, Pólo Regional do Sudoeste Paulista (Capão Bonito/SP, 2011). ..................... 28
Figura 4 - Experimento de espaçamento da tangerina Fremont enxertada sobre limão
Cravo, Fazenda Ana Maria (Porto Feliz/SP, 2011).................................................... 29
Figura 5 - Experimento com diferentes porta-enxertos para copa tangerina Fremont
(Sítio Lagoa Bonita, Mogi Mirim/SP, 2013). ............................................................ 31
Figura 6 - Foto representativa dos três tratamentos de raleio dos frutos da tangerina
Fremont enxertada sobre limão Cravo, Pólo Regional do Sudoeste Paulista, Capão
Bonito/SP. .................................................................................................................. 32
Figura 7 - Secções paradérmicas de folhas das variedades Murcott (A), Ponkan (B),
Fremont (C) e Thomas (D), nas objetivas de 20 (esquerda) e 40 (direita), na face
abaxial do limbo foliar. Barras = 100 µm .................................................................. 39
Figura 8 - Secções transversais de folhas de diferentes genótipos de Citrus (A-C:
Murcot; D-F: Fremont; G-I: Thomas; J-L: Ponkan) em diferentes alturas na copa das
plantas (A,D,G,J= alto da copa; B,E,H,K= região mediana da copa; C, F,I, L= Base
da copa). pp= parênquima paliçádico, pe= parênquima esponjoso, ead= epiderme da
face adaxial, eab= epiderme da face abaxial, cs= cavidade secretora, fv= feixe
vascular. Barras= 100 µm. ......................................................................................... 47
Figura 9 - Perfil sensorial do suco (a) e do fruto (b) da tangerina Fremont utilizando
uma escala hedônica de 9 pontos (Cordeirópolis, SP, 2012) ..................................... 50
Figura 10 - Produtividade estimada, acumulada em t ha-1
, para os diferentes
espaçamentos adotados para tangerina Fremont (A - Porto Feliz/SP, 2013-2014 e B -
Capão Bonito/SP, 2012-2014). Médias seguidas de mesma letra, para cada local, não
diferem entre si (Tukey, 5%) ..................................................................................... 56
Figura 11 - Vista geral das plantas de tangerina Fremont, do espaçamento mais
(acima) e menos (abaixo) adensado (Capão Bonito/SP, maio/2014) ......................... 57
Figura 12 - Plantas de tangerina Fremont em 2012 (acima) e 2013 (abaixo); da
esquerda para direta em: Flying Dragon, trifoliata, citrumelo Swingle e limão Cravo
(Sítio Lagoa Bonita, Mogi Mirim/SP, 2012-2013) .................................................... 61
Figura 13 - Resposta dos julgadores às características sensoriais dos frutos da
tangerina Fremont nos diferentes tratamentos e períodos de armazenamento
(Cordeirópolis/SP, junho-julho/2012) ........................................................................ 73
Figura 14 - Resposta dos julgadores à intenção de compra dos frutos da tangerina
Fremont nos diferentes tratamentos e períodos de armazenamento (Cordeirópolis/SP,
junho-julho/2012) ....................................................................................................... 74
xi
LISTA DE ANEXOS
Anexo 1 - Perda de massa (PM) da tangerina Fremont: desdobramento da interação
tempo de armazenamento (dias) com as diferentes condições de armazenamento
(temperatura ambiente e 10 oC). Cordeirópolis/SP, 2012...........................................97
Anexo 2 - Perda de massa (PM) da tangerina Fremont: desdobramento da interação
tempo de armazenamento (dias) com os diferentes revestimentos (com e sem cera).
Cordeirópolis/SP, 2012...............................................................................................97
Anexo 3 - Acidez (g/100 mL) da tangerina Fremont: desdobramento da interação
tempo de armazenamento (dias) com as diferentes condições de armazenamento
(temperatura ambiente e 10 oC). Cordeirópolis/SP, 2012...........................................98
Anexo 4 - Acidez (g/100 mL) da tangerina Fremont: desdobramento da interação
tempo de armazenamento (dias) com os diferentes revestimentos (com e sem cera).
Cordeirópolis/SP, 2012...............................................................................................98
Anexo 5 - Brilho (Gs) da tangerina Fremont: desdobramento da interação tempo de
armazenamento (dias) com as diferentes condições de armazenamento (temperatura
ambiente e 10 oC). Cordeirópolis/SP, 2012................................................................99
Anexo 6 - Textura (N) da tangerina Fremont: desdobramento da interação tempo de
armazenamento (dias) com os diferentes revestimentos (com e sem cera).
Cordeirópolis/SP, 2012...............................................................................................99
Anexo 7 - Cor (ho) da tangerina Fremont: desdobramento da interação tempo de
armazenamento (dias) com os diferentes revestimentos (com e sem cera).
Cordeirópolis/SP, 2012.............................................................................................100
xii
Aspectos histológicos, físico-químicos, sensoriais e fitotécnicos da tangerina
Fremont
RESUMO
A mancha marrom de alternária (MMA), causada pelo fungo Aternaria alternata,
causa enormes prejuízos à produtores de tangerinas no Brasil. A exploração de
pomares comerciais, compostos por variedades suscetíveis à MMA, tornou-se difícil,
assim o cultivo de variedades resistentes passa a ser uma opção. Neste contexto,
objetivou-se estudar a tangerina Fremont, resistente à MMA, avaliando as
características histológicas de suas folhas; analisando sensorialmente o
comportamento do consumidor frente a essa nova variedade; estudando
espaçamento, raleio e porta-enxerto adequados; determinando o período ideal de
armazenamento pós-colheita; além de quantificar carotenoides presentes no suco dos
frutos de Fremont, em relação à interação genótipo versus ambiente em locais de
clima contrastantes, sudeste do Brasil e Córsega/França. A histologia da lâmina foliar
foi avaliada via análises das secções paradérmicas e transversais e comparada com
variedades suscetíveis. A aceitabilidade e intenção de compra de amostras de suco e
fruto foram avaliadas utilizando-se escala hedônica e ficha de situação hipotética de
compra do produto. Para ordenação e preferência, os julgadores tiveram que ordenar
amostras de frutos (Fremont, TMxLP281 e Ponkan). No ensaio de espaçamento,
cinco diferentes espaçamentos entre plantas (1,5; 2,0; 2,5; 3,0 e 3,5m) foram
estudados, fixando-se, na entre linha, 6,0 metros (Capão Bonito/SP) e 7,0 metros
(Porto Feliz/SP). Três diferentes porta-enxertos (limão Cravo, citrumelo Swingle,
Poncirus trifoliata e trifoliata Flying Dragon) foram testados, avaliando-se
desenvolvimento vegetativo das plantas (altura e diâmetro de copa), produtividade e
qualidade físico-química dos frutos (massa do fruto, rendimento de suco, sólidos
solúveis, acidez e Ratio). Para o raleio, primeiro realizou-se amostragem prévia do
total de frutos por planta e na sequência retiraram-se 25 e 50% (raleio manual).
Teores de carotenoides do suco da variedade em questão foram avaliados via HPLC;
e analisou-se o período ideal de armazenamento dos frutos de Fremont (com e sem
cera - armazenados a 10 oC e ambiente) foi avaliado por 42 dias. A Fremont mostra-
se morfologicamente passível de defesa, pois a histologia da sua lâmina foliar
corrobora com relatos anteriores de resistência varietal. O fruto e o suco de Fremont
xiii
têm grande aceitação e intenção de compra pelo mercado consumidor e há
preferência pelo seu fruto quando comparado à Ponkan. Os espaçamentos adensados
(1,5 m entre plantas), apesar de proporcionarem menor desenvolvimento vegetativo
às plantas, resultaram em maior produtividade por área. Maior eficiência produtiva é
obtida quando a Fremont é enxertada em citrumelo Swingle e trifoliata Flying
Dragon, por outro lado, o limão Cravo proporciona frutos maiores, enquanto elevado
teor de sólidos solúveis e acidez é obtido quando enxertada em Poncirus trifoliata. O
raleio promove incremento na porcentagem de frutos com diâmetros transversais
entre 6 e 7 cm, enquanto que frutos maiores que 7 cm, apareceram em maior
porcentagem, quando 50% dos frutos foram raleados. O suco do fruto de Fremont
apresenta maior teor de β-criptoxantina e β-caroteno em regiões de clima frio e
podem ser armazenados à 10oC, por um período de 30-35 dias, sem perder qualidade.
Concluindo, a Fremont é uma variedade, do grupo das tangerinas, com potencial para
exploração comercial.
Palavras chave: Citrus spp, tratos culturais, qualidade, pós-colheita.
xiv
Histological, physical-chemical, sensory and phytotechnical aspects in mandarin
Fremont.
ABSTRACT
Alternaria brown spot (ABS), caused by the fungus Alternaria Aternaria, cause great
damage to mandarin growers in Brazil. Commercial orchards composed of varieties
susceptible to ABS, it became difficult, and so the use of resistant cultivars is now an
option. In this context, aimed with this research to study mandarin Fremont, resistant
to ABS, evaluating the histological characteristics of its leaves; analyzing sensory
consumer behavior with this new variety; studying spacing, thinning and rootstock
appropriate; determining the ideal post-harvest storage; in addition to quantifying the
carotenoids present in fruits of Fremont, in relation to genotype versus environment
in contrasting climates, southeastern Brazil and Corsica/France Histology of the leaf
blade was evaluated by analysis of paradermic and cross sections and compared to
susceptible varieties. The acceptability and purchase intent juice and fruit samples
were evaluated using hedonic scale and record the hypothetical situation of purchase
of the product; for ordering and preferably, the panel had to sort fruit samples
(Fremont, TMxLP281 and Ponkan). In the final evaluation, the judges had to put in
preference to sample order and that less liked. As for determining the best spacing
for the crop variety Fremont, five different plant spacings (1.5, 2.0, 2.5, 3.0 and 3.5
m) were studied. The spacing between lines was fixed at 6.0 meters (Capão Bonito,
Sao Paulo State, Brazil) and 7.0 meters (Porto Feliz, Sao Paulo State, Brazil). Three
different rootstocks (Rangpur lime, Swingle citrumelo, Poncirus trifoliata and P.
trifoliata Flying Dragon) were tested, assessing vegetative growth of plants (height
and crown diameter), productivity and physicochemical quality of fruits (fruit
weight, juice yield, soluble solids and Ratio). For thinning, first held prior sampling
of the total fruit per plant and following withdrew 25 and 50% (manual thinning);
quantified if the carotenoid content of the variety in question via HPLC juice; and
analyzed optimal storage time of the fruit from Fremont (with and without wax - 8 °
C and stored at room) for 40 days. The Fremont was shown morphologically capable
of defense because the histology of its leaf blade corroborates previous reports of
xv
varietal resistance. The fruit and juice of Fremont have great acceptance and
intention to purchase by the consumer market and there is a preference for the fruit of
Fremont mandarin compared to Ponkan. The high density spacing (1.5 m to plants),
while providing low vegetative development of the plants, resulting in greater
productivity per area. Greater productive efficiency is achieved when the mandarin
Fremont is grafted on Swingle citrumelo and trifoliate Flying Dragon, on the order
hand, Rangpur lime provides larger fruit, while high high soluble solids and acidity is
obtained when grafeted on Poncirus trifoliata. Thinning promotes an increase in the
percentage of fruit with transverse diameters between 6 and 7 cm, while fruits larger
than 7 cm in diameter, appeared in higher percentage, when 50% of fruits are
thinning. The juice of the fruit of mandarin Fremont has a higher β-cryptoxanthin
content and β-carotene in cold climates and can be stored at 10 ° C for a period of
30-35 days, without losing its quality characteristics. In conclusion, the Fremont is a
variety, the group of mandarins, with potential for commercial planting.
Key Words: Citrus spp, cultural practices, quality, postharvest.
1
1 INTRODUÇÃO
O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de tangerina, com aproximadamente
52 mil hectares plantados e produção de um milhão de toneladas (FAO, 2015). O Estado
de São Paulo ocupa a primeira posição no ranking nacional, seguido pelo Paraná, Minas
Gerais e Rio Grande do Sul, que juntos são responsáveis por 87% da produção
brasileira. Em São Paulo, que responde por 38% da produção nacional, duas variedades,
a tangerina Ponkan (Citrus reticulata Blanco) e o tangor Murcott [C. reticulata Blanco
x C. sinensis (L.) Osbeck], representam mais de 80% da área plantada, comprovando o
baixo número de variedades cultivadas (IBGE, 2012).
A produção de tangerinas nas regiões citrícolas sempre foi uma boa opção aos
produtores que procuravam diversificar o destino de sua produção, e encontraram no
comércio de frutas de mesa uma fonte de renda que gratifica o produtor a partir da
venda de frutos com qualidade. Infelizmente, para o produtor de tangerinas essa prática
se tornou cada vez mais difícil, com a chegada, ao Brasil, em 2001, da principal doença
fúngica da cultura, a mancha marrom de alternária – MMA (Alternaria alternata).
Estudos desenvolvidos, desde 2005, pelo Centro APTA Citros Sylvio Moreira do
Instituto Agronômico (IAC), conjuntamente com a Unidade de Pesquisa e
Desenvolvimento de Sorocaba/Instituto Biológico, o Pólo Regional do Sudoeste
Paulista/APTA Regional e o Fundecitrus, mostram que as duas principais variedades de
tangerinas cultivadas no Brasil: tangor Murcott e tangerina Ponkan, são altamente
suscetíveis ao fungo causador da MMA – A. alternata. Outro agravante é que as
condições climáticas, nas principais regiões citrícolas do país, são muito favoráveis ao
desenvolvimento do fungo, ocasionando abandono de plantios comerciais das mesmas.
Visando explorar as fontes de resistência a doenças e pragas, o Centro APTA
Citros Sylvio Moreira/IAC, vem realizando diversos cruzamentos interespecíficos e
intergenéricos, que fazem parte de um programa de melhoramento genético de porta-
enxertos e copas, visando ampliar o número de variedades para a citricultura
(CRISTOFANI-YALY et al., 2005). Até o momento, mais de 30 variedades e híbridos
de tangerinas foram avaliadas em diversos municípios do estado de São Paulo,
permitindo constatar diferentes níveis de severidade da MMA. Segundo PACHECO et
al. (2012), variedades como tangelo Nova [C. clementina x (C. paradisi Macfad. x C.
reticulata)], tangerinas África do Sul, Ponkan e tangor Murcott mostraram-se altamente
2
suscetíveis ao fungo, enquanto que o híbrido Fremont (C. clementina hort. ex Tan x C.
reticulata Blanco) e a tangerina Thomas destacaram-se positivamente por serem
resistentes (assintomáticas).
Contudo, elevados prejuízos são causados em diferentes regiões produtoras,
devido à ocorrência da MMA, o que pode tornar viável o uso, economicamente, de
variedades resistentes. Dessa forma, o presente trabalho visou fornecer aos citricultores
conhecimentos que lhes permitam garantir a sustentabilidade de seus pomares, através
de produções rentáveis, com frutos de qualidade.
Os objetivos deste estudo foram avaliar a histologia da lâmina foliar das
variedades Fremont, Thomas, Ponkan e Murcott buscando compreender a resistência
varietal à Alternaria alternata; caracterizar físico-química e sensorialmente a tangerina
Fremont, resistente ao fungo causador da MMA (aceitação, ordenação, preferência e
intenção de compra); estudar diferentes manejos: espaçamentos, porta-enxertos, raleio e
armazenamento a frio para Fremont; estudar a qualidade, quantificação de carotenoides,
do suco de Fremont em relação à interação genótipo x ambiente em locais de clima
contrastantes: sudeste do Brasil (clima tropical) e Córsega/França (clima mediterrâneo).
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Mercado de frutas e tangerinas
A fruticultura mundial é responsável pela produção de aproximadamente 636
milhões de toneladas (mi t), sendo o Brasil o terceiro maior produtor de frutas (38 mi t),
representando 6% da produção mundial, ficando atrás apenas da China e da Índia (FAO,
2015). Cerca de 53% da produção brasileira é destinada ao mercado de frutas
processadas, sendo que desse montante 29% são destinados à exportação e 47% ao
mercado de frutas frescas, no qual apenas 2% são exportados (INSTITUTO
BRASILEIRO DE FRUTAS, 2010).
A produção brasileira está voltada para frutas tropicais, subtropicais e temperadas,
graças a sua extensão territorial, posição geográfica, solo e condições climáticas. São
500 variedades de frutas comestíveis e 220 espécies de frutíferas nativas somente na
Amazônia. O setor emprega 5,6 milhões de pessoas, equivalendo a 27% da mão-de-obra
agrícola. Gera oportunidades de dois a cinco postos de trabalho por hectare cultivado e
3
está fundamentado em pequenas e médias propriedades (INSTITUTO DE ECONOMIA
AGRÍCOLA, 2010).
Entre as principais frutas exportadas pelo Brasil, o melão ocupa o primeiro lugar,
com US$122 milhões equivalentes a 178 mil t, seguido da banana, com US$45 milhões
(140 mil t), mangas, com 120 milhões de dólares (125 mil t) e em décimo primeiro lugar
as tangerinas com US$ 2 milhões (2 mil t) (IBRAF, 2014).
As tangerinas são o segundo grupo de importância econômica dentro da
citricultura mundial, ocupando uma área de aproximadamente 2 milhões de hectare e
produção anual de aproximadamente 24 milhões de toneladas de frutos (IEA, 2010).
Sendo os maiores produtores mundiais de tangerinas a China (±15 milhões de t),
seguida pela Espanha (±2 milhões de t), Turquia (± 942 mil t) e Brasil (± 938 mil t). É
importante relatar que a Espanha, apesar de ocupar a segunda posição no ranking de
produção mundial de tangerinas, é responsável por mais da metade da exportação
mundial desta fruta. Enquanto que a China, apesar da liderança, não se destaca como
exportadora, consumindo mais da metade de sua produção (FAO, 2015).
Vale ressaltar que novos nichos de mercado estão se apresentando no Brasil, como
a chamada Agroindustrialização. De 2005 para cá, tem ocorrido um contínuo
crescimento da produção de bebidas prontas para o consumo, incluindo sucos, néctares,
drinques e blends. Logo, se cresce o consumo de bebidas prontas, a venda de frutas
aumenta automaticamente.
Contudo, há a necessidade de quebrar paradigmas e vencer barreiras que
dificultam a expansão competitiva da fruticultura brasileira, através do incentivo ao
consumo de frutas comercializadas no Brasil, mostrando seu poder nutritivo e os
benefícios causados à saúde humana; capacitação dos pequenos produtores levando
informação, tecnologia, novidades nos tratos culturais, buscando sempre a união dos
mesmos para garantir um controle de oferta e a busca conjunta de soluções para o setor;
bem como, a utilização de variedades resistentes que possibilitam uma produção mais
econômica e livre de barreiras fitossanitárias.
2.2 Qualidade dos frutos de tangerinas
Até o início dos anos 2000, a quase totalidade da produção brasileira de tangerina
era destinada ao consumo in natura; sendo que pequena parcela enviada à indústria de
suco (AMARO & CASER 2003). Atualmente, a indústria de suco de laranja
concentrado congelado, no Brasil, não esmaga frutos de tangerina. Ficando a produção
4
de suco de tangerina com as pequenas extratoras, destinadas ao mercado local. As
características de qualidade dos frutos cítricos são de extrema importância para uma boa
comercialização, seja para o consumo in natura ou para o processamento industrial.
Os atributos de qualidade dos produtos dizem respeito a sua aparência, sabor,
odor, textura e valor nutritivo. Desde o produtor até o consumidor, o grau de
importância desses atributos, individuais ou em conjunto, depende dos interesses
particulares de cada segmento (CHITARRA, 1994).
A qualidade dos frutos cítricos é um ponto primordial para uma adequada
comercialização. De acordo com PIO (1992) os frutos de citros para consumo in natura
precisam preencher certos requisitos de qualidade, tais como: aspecto externo e
coloração da casca, tamanho apropriado (maior que 70 mm de diâmetro), casca fina,
gomos de paredes delicadas e suco com adequado equilíbrio de acidez e sólidos
solúveis, aroma característico, baixo número de sementes, resistência ao transporte e
boa conservação.
O sabor dos citros (doce ou azedo) é dependente de quantidades relativas de
açúcares (sólidos solúveis) e acidez no suco, sendo que a relação sólidos solúveis/acidez
(Ratio) é considerada como um importante índice de maturidade dos frutos, embora
uma determinada relação não seja garantia de qualidade (COSTA, 1994). Os frutos
cítricos são não climatéricos, pobres em reservas de amido, sofrendo poucas mudanças
na qualidade interna durante o armazenamento. O armazenamento, normalmente, reduz
os ácidos acumulados convertendo-os a açúcares e CO2 usados na respiração (DAVIES
& ALBRIGO, 1994).
O atributo de qualidade menos considerado na cadeia de comercialização é o valor
nutritivo dos frutos, no entanto esta característica deve ser considerada, pois 90% das
necessidades de vitamina C requeridas pelo homem provêm dos frutos e hortaliças
(CHITARRA & CHITARRA, 1990). Eles constituem a fonte natural mais importante
de vitamina C para o ser humano, e os que se destacam pelo conteúdo desse ácido são:
acerola, caju, mamão, goiaba, frutas cítricas, morango, manga, caqui, kiwi, maracujá e
tomate (AWAD, 1993). Os níveis de vitamina C são totalmente variáveis entre citros e
tendem a reduzir sazonalmente e com o armazenamento (CHITARRA, 1994; DAVIES
& ALBRIGO, 1994).
O mesmo vale para os carotenoides, nutriente este que constitui um dos mais
importantes grupos de pigmentos naturais devido à larga distribuição, diversidade
estrutural e inúmeras funções. São pigmentos solúveis em gordura e responsáveis pelas
5
cores laranja, amarela e vermelha nos alimentos, apesar dos seres humanos não serem
capazes de sintetizar tal nutriente os mesmos são absorvidos através da dieta alimentar
(ALALUF et al., 2002; RIBEIRO & SERAVALLI, 2004).
Mais de 600 carotenoides já foram identificados, os mais abundantes na dieta
alimentar são alfa, beta e gama caroteno, licopeno, luteína, beta-criptoxantina,
zeaxantina e astaxantina. A estrutura química do carotenoide é quem, praticamente,
determina sua função biológica, ou seja, nutricionalmente os carotenoides podem ser
classificados em dois grupos os pró-vitamínicos (aqueles com atividade pró-vitamina A,
como por exemplo, alfa, beta, gama caroteno e beta-criptoxantina) e os carotenoides
inativos (aqueles que apresentam apenas atividade antioxidante ou corante, como por
exemplo, luteína, licopeno, zeaxantina) (KHACHIK et al., 1997).
Vários estudos científicos sugerem que uma dieta rica em carotenoides pode
oferecer proteção contra certos tipos de câncer (pele, útero, trato gastrointestinal),
degeneração macular (principal causa da cegueira), catarata e doenças relacionadas à
ação dos radicais livres (TAPIERO et al., 2004; STAHL & SIES, 2007).
Dessa forma, o consumo de frutas e hortaliças é de extrema importância na dieta
alimentar, uma vez que os mesmos são importantes fontes de carotenoides e outros
compostos bioativos que auxiliam na prevenção de doenças (MAIANI et al., 2009).
2.3 Caracterização físico-química de tangerinas
As tangerinas possuem vários nutrientes prontamente disponíveis à digestão e
absorção. Seu valor nutricional está relacionado com o seu teor de vitamina C e
vitaminas do complexo B, além de β-caroteno (provitamina A) e fibras (NAGY et al.,
1993). Por serem ricas em fibras as tangerinas estão, constantemente, associadas ao
menor risco de certos tipos de câncer, diabetes, hipertensão e outras doenças
cardiovasculares (BENAVENTE-GARCIA et al., 1997; KAWAII et al., 1999; YANO,
2002). Quanto ao seu valor calórico 100 g de tangerina fornecem, em média, 43
calorias. Tal fruta apresenta ainda propriedades medicinais, as quais tornaram a
tangerina conhecida pelo seu efeito diurético e digestivo, sem falar do efeito calmante
causado pelo chá confeccionado com suas folhas (SPETHMANN, 2003).
A composição nutricional do fruto pode variar conforme o cultivar, grau de
maturação, clima, época do ano, tipo de solo e fertilidade, dentre outros fatores (LEE &
KADER, 2000). O estresse causado pelo descasque, corte e outras operações podem
levar ao aparecimento de mudanças indesejáveis, principalmente na aparência do
6
produto, devido à descompartimentalização das enzimas e substratos, levando a reações
de escurecimento, amaciamento, e de formação de metabólitos secundários. A
senescência é acelerada e pode haver o aparecimento de odores estranhos, pois há um
incremento na produção de etileno e na respiração, principalmente nas primeiras horas
após o corte (CHITARRA & CHITARRA, 1990).
Os sólidos solúveis (SS) são usados como índice de maturidade para alguns frutos,
e indicam a quantidade de substâncias que se encontram dissolvidas no suco, sendo
constituído na sua maioria por açúcares. O SS é utilizado na agroindústria, para
intensificar o controle da qualidade do produto final, de processos, ingredientes e
outros, tais como: doces, sucos, néctares, polpas, leite condensado, álcoois, açúcares,
licores e bebidas em geral, sorvetes, entre outros (PINHEIRO et al., 1984). Segundo
MAIA (2007), de uma maneira geral, as frutas têm um alto conteúdo de umidade e um
baixo teor de gordura e proteínas. O valor calórico, portanto, é derivado principalmente
dos carboidratos. FERREIRA et al. (2000) mencionam que entre os carboidratos se
encontram em primeiro lugar os açúcares, que podem ser considerados como as
principais substâncias das frutas. Os diversos grupos de frutas contêm a seguinte
quantidade de açúcares, em geral: frutas com sementes de 8 a 15%; frutas com caroço
de 6 a 12%; uvas de 13 a 20% e as diversas espécies de laranjas de 3 a 13%.
O teor em ácido cítrico pode ser explicado em função do grau de maturação do
fruto, uma vez que à medida que o fruto amadurece o teor de ácido cítrico diminui. As
frutas tropicais são geralmente ácidas, com pH variando entre 2,0, para cajá, até 5,59,
para mamão. Melão e mamão possuem geralmente pH mais elevado. As frutas possuem
quantidades elevadas de sólidos solúveis, de 5,7 °Brix, para acerola, até valores maiores
que 25 °Brix, em algumas variedades de bananas; sendo estes sólidos compostos
principalmente de açúcares, em maior quantidade, e de menores quantidades de ácidos
orgânicos e outros componentes (MAIA, 2007).
Diante de tais informações torna-se pertinente estudar as características
nutricionais das principais variedades de tangerinas cultivadas no Brasil, Ponkan e
Murcott, bem como das novas variedades como a tangerina Fremont que chega para
ampliar o mercado de frutas frescas garantindo qualidade para o consumidor com menor
custo de produção para o produtor.
A tangerina Ponkan, uma das variedades mais cultivadas no mundo, possui frutos
de fácil descascamento, tamanho avantajado, média de oito sementes por fruto, peso
médio de 138 g, casca de cor alaranjada forte, espessura média e vesículas de óleo
7
salientes. Tem polpa de cor alaranjada e textura frouxa. O suco corresponde a 43% do
peso do fruto, com teores médios de sólidos solúveis de 10,8%. A cultivar apresenta
maturação dos frutos de precoce à meia estação, ou seja, ratio > 12 antes de abril (PIO
et al., 2006).
O tangor Murcott é a segunda variedade mais importante cultivada em São Paulo,
servindo tanto para a indústria como para o consumo in natura, possui frutos de formato
achatado com média de 20 sementes por fruto, peso médio de 140 g, com uma pequena
cavidade no eixo central, sua casca é de cor laranja vivo, com espessura fina, aderente e
com vesículas de óleo em nível. A polpa é de cor laranja vivo e sua textura é firme. O
suco corresponde a 48% do peso do fruto, com teores médios de sólidos solúveis de
12,6 oBrix e 0,92% de acidez titulável (FIGUEIREDO, 1991).
A tangerina Fremont é resultante do cruzamento entre clementina e tangerina
Ponkan, apresenta plantas de porte médio, frutos de maturação precoce à meia estação,
de tamanho médio, forma oblata, casca lisa e ligeiramente frouxa, massa média de 103
g, com média de 13 sementes por fruto, casca e polpa de coloração alaranjada forte,
51% de rendimento em suco, teor de sólidos solúveis de 12 ºBrix e acidez titulável de
1,0% (PIO et al., 2005). Vale ressaltar que essa variedade, segundo PACHECO et al.
(2012), é resistente à mancha marrom de alternária.
2.4 Mancha marrom de alternária
A mancha marrom de alternária (MMA) é uma doença importante que acomete
muitas tangerinas e seus híbridos, o agente causal é a Alternaria alternata, fungo
saprófita facultativo, que se reproduz em material vegetal afetado, presente na árvore ou
caído no solo, por meio da formação de conídios (esporos assexuais) (LLORENS et al.,
2013). Na presença de chuva ou mudanças bruscas na umidade relativa do ar tais
esporos são liberados, caso estas estruturas (conídios) entrem em contato com o tecido
suscetível da planta (frutos, ramos e folhas) pode ocorrer à germinação dos esporos com
consequente liberação da toxina seletiva ao hospedeiro tangerina (ACT) (KOHMOTO
et al., 1993). Os sintomas surgem 24-48 horas após infecção (TIMMER et al., 2000)
causando diminuição da produtividade e perda do valor comercial dos frutos infectados
(PEEVER et al., 2004).
As variedades Ponkan e Murcott são as mais cultivas e consumidas no sudeste
do Brasil, correspondendo a 80% dos pomares plantados no estado de São Paulo,
principal estado produtor de tangerina no Brasil (BOTEON, 2007). Em 2010, foram
8
comercializadas 130 mil toneladas de tangerinas na Companhia de Entrepostos e
Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP), sendo que a tangerina Ponkan participou
com 50% deste montante, seguida pelo tangor Murcott com 32% (CQH-CEAGESP,
2011). Fato este extremamente preocupante, uma vez que tais variedades são
consideradas extremamente suscetíveis ao fungo causador da MMA (PACHECO et al.,
2012).
O aparecimento da MMA no Brasil ocorreu em 2001, em pomares de tangerina
Dancy (GOES et al., 2001) e, em 2002, estava presente em diferentes estados brasileiros
produtores de tangerinas (SPÓSITO et al., 2003). Tal doença passou a ser um fator
limitante na produção das tamgerineiras, uma vez que de 2003 até 2013 o Brasil
reduziu, aproximadamente, 14 mil hectares de área colhida de tangerina, o equivalente a
diminuição de, aproximadamente, 366 mil toneladas (IBGE, 2014). Perda esta que se
deve quase que exclusivamente à dificuldade de se controlar este fungo, A. alternata,
uma vez que existem poucos produtos químicos utilizados e registrados para a cultura,
nas diferentes regiões produtoras do Brasil (AGROFIT, 2015).
No entanto, devido à falta de eficácia destes produtos e ao fato da disseminação
do fungo estar altamente condicionada às condições ambientais, são necessárias várias
aplicações para reduzir a severidade da doença, podendo chegar a 15 aplicações por
ciclo de cultivo (VICENT et al., 2009), aumentando muito o custo de produção de uma
cultura que já tem custos operacionais elevadíssimos. Sem falar que mesmo com o
aumento do número de pulverizações o agente patogênico, muitas vezes, não pode ser
completamente controlado, e a utilização de variedades suscetíveis torna-se impraticável
(SOUZA et al., 2009).
Como consequência, a seleção de variedades resistentes ao fungo causador da
MMA torna-se uma medida urgente e, vem a ser a maneira mais econômica e viável de
controle da doença.
2.5 Importância histológica para o mecanismo de defesa da planta
Milhares de micro-organismos se encontram em associações ou interações com as
plantas, as quais podem ser neutras, benéficas ou prejudiciais. Dentre as interações
prejudiciais destaca-se o parasitismo, ou seja, organismos que vivem em associação
com outros aos quais retiram os meios para a sua sobrevivência, normalmente
prejudicando o organismo hospedeiro, ocasionando o que chamamos de doenças
infecciosas (AGRIOS, 1988).
9
As três maiores categorias de organismos causadores de doenças nas plantas são
os fungos, os procariontes (bactérias e micoplasmas) e os vírus. Em função da presença
desses patógenos, as plantas podem exibir alterações no hábito de crescimento e na
produção, sendo que em muitos casos o vegetal acaba morrendo (JACKSON &
TAYLOR, 1996).
A maioria dos patógenos retira seus nutrientes do hospedeiro, que na maioria das
vezes se encontram no interior do protoplasma das células vegetais e, para ter acesso
aos mesmos, os patógenos devem vencer as barreiras externas, formadas pela cutícula
e/ou parede celular, promover a colonização interna dos tecidos, bem como neutralizar
as reações de defesa das plantas. Para isso, utiliza-se principalmente de substâncias tais
como enzimas, toxinas e hormônios, cuja importância varia grandemente nas interações
hospedeiro-patógeno (PASCHOLATI, 1995).
Por outro lado, as plantas necessitam se defender dos micro-organismos
potencialmente invasores e elas fazem isso por meio de mecanismos de defesa
constitutivos ou pós-formados e induzidos ou pré-formados. No caso dos pré-formados,
podemos citar fatores estruturais, como a cutícula, tricomas, estômatos, vasos
condutores ou fatores bioquímicos, os quais envolvem a presença de fenóis, alcalóides,
fototoxinas, glicosídeos cianogênicos e glicosídeos fenólicos. Já para os pós-formados,
as barreiras estruturais podem envolver a lignificação, suberificação, formação de
papilas e de camadas de abscisão e de cortiça, bem como as tiloses. Enquanto os
bioquímicos pós-formados englobam o acúmulo de fitoalexinas e de proteínas
relacionadas à patogênese (PR-proteins), bem como a atividade de quitinases e B-1,3-
glucanases (PASCHOLATI & LEITE, 1994).
Buscando compreender melhor esses mecanismos de defesa da planta em relação a
seus hospedeiros e assim chegar numa melhor explicação para sua resistência varietal,
técnicas histoquímicas são consideradas ferramentas importantes, pois auxiliam na
identificação da composição química de paredes e conteúdo celular de diferentes tecidos
(DÔRES, 2009). Dessa forma, o estudo histológico e histoquímico vegetal são
igualmente importantes para as análises ficológicas e fitopatológicas, uma vez que
permitem avaliar a interação planta-patógeno.
2.6 Análise sensorial
A análise sensorial é essencial para aferir, analisar e interpretar as reações
produzidas pelas características dos alimentos e a forma como são percebidas pelos
10
órgãos dos sentidos humanos (ABNT, 1993). A escolha de um método de análise
sensorial para desenvolvimento de produto está baseada na resposta a, pelo menos, uma
de três questões fundamentais: O produto é aceito pelos consumidores? Existe diferença
perceptível entre o produto em estudo e algum produto convencional similar? Quais os
principais pontos de diferença? Os testes sensoriais podem ser divididos em métodos
discriminativos ou de diferença, descritivos ou analíticos, e afetivos ou subjetivos
(MEILGAARD et al., 1999).
Os métodos discriminativos (duo-trio, comparação pareada, teste triangular, teste
de ordenação, teste por comparação múltipla) são usados para detectar ou não a
existência de diferenças sensoriais entre as amostras analisadas, os quais podem ser
empregados para o controle de qualidade, desenvolvimento de novos produtos e para
testar a precisão e a confiabilidade dos julgadores (CHAVEZ, 2001). Já os testes
descritivos (perfil de sabor, análise descritiva quantitativa, perfil de textura) são
utilizados para descreverem (aspectos qualitativos) e quantificarem (aspectos
quantitativos) as informações referentes a característica que está sendo analisada.
Enquanto que os testes afetivos (teste de preferência, teste de aceitação) acessam
diretamente a opinião do consumidor de um produto, sobre suas características
específicas ou sobre ideias do mesmo. As principais aplicações dos testes afetivos são a
manutenção da qualidade do produto, otimização de produtos ou processos e
desenvolvimento de novos produtos. São os testes que medem o quanto uma população
gostou ou não de um produto, para avaliar a sua preferência e aceitabilidade (CIVILLE
& SZCESNIAK, 1973; STONE & SIDEL, 1993; MEILGAARD et al., 1999).
O teste de aceitabilidade reflete o desejo de uma pessoa em adquirir um produto,
demonstrando a reação do consumidor diante de vários aspectos em relação ao produto
analisado (MORAES, 1988).
Já o teste de ordenação tem como objetivo comparar diversas amostras ao mesmo
tempo, com relação a um determinado atributo e verificar se estas diferem entre si. O
princípio do teste consiste em apresentar as amostras ao julgador e solicitar que o
mesmo ordene-as em ordem crescente ou decrescente do atributo avaliado, de acordo
com a sua preferência ou intensidade da característica analisada. O número limite de
amostras varia entre três e dez (ANZALDÚA-MORALES, 1994).
Enquanto que o teste de preferência mostra qual a amostra é preferida em
detrimento a outra, é uma apreciação pessoal, vai além da qualidade do alimento, por
isso são necessárias equipes grandes de julgadores para se obter uma diferença
11
estatística significativa nos resultados, representando de forma satisfatória a população
à qual o produto se destina (ANZALDÚA-MORALES, 1994). Para se determinar a
preferência podem ser utilizados métodos pareados, por ordenação ou por escala
hedônica (MORAES, 1988).
Dessa forma, a análise sensorial dos alimentos é muito utilizada como meio de
controle de qualidade de inúmeras empresas, uma vez que com ela se consegue avaliar o
grau de aceitação da mercadoria pelo consumidor. Sendo possível determinar o ponto a
ser trabalhado para que sua aceitação seja maior. Fato este extremamente importante
visto que a manutenção da qualidade do alimento favorece a fidelidade do consumidor a
um produto específico em um mercado cada vez mais exigente.
2.7 Manejo versus produtividade em citros
No decorrer da história, a citricultura brasileira mostrou fases de expansão e
retração, prosperidade e decadência, estando a pesquisa sempre engajada em
proporcionar aos citricultores conhecimentos para manter a produção econômica com
frutos de qualidade independente de qualquer circunstância.
Dessa forma são realizados estudos de zoneamento climático, solo,
melhoramento, botânica, propagação, porta-enxertos, economia, fitossanidade em geral
e outras atividades fitotécnicas, para que a agricultura brasileira consiga substituir
métodos rotineiros por práticas e processos mais modernos, possibilitando ao produtor
incremento de produtividade e elevação de seus índices de qualidade. No caso da
citricultura paulista, a expansão da área plantada exigiu constantes ajustes no setor, de
modo a se adaptar a novas condições de produção, com aumento nos índices de
produtividade dos fatores de produção (terra, capital e trabalho) (VICENTE, 2002).
À medida que o incremento de produtividade dos fatores de produção e a
elevação dos índices de qualidade, elementos que definem a competitividade de cada
cultura, são condicionados pelos investimentos em geração e difusão de tecnologia, não
resta dúvida que a pesquisa científica e tecnológica contribui para o desenvolvimento da
citricultura (SECRETARIA, 2003). Evidentemente, a produtividade é função de fatores
fixos, mais difíceis de serem mudados nas plantações já estabelecidas, e de fatores
variáveis, que podem ser modificados a custos razoáveis em comparação às receitas a
serem auferidas.
12
2.7.1 Espaçamento
Dentre os fatores variáveis, comumente sob o controle do homem, destacam-se:
fertilização, irrigação, combate a plantas daninhas, pragas e doenças e densidade de
plantio (FURTADO, 2002). Alertando-se a tal fato, é muito importante adequar o
manejo a partir do momento em que novas variedades são selecionadas. De início o
estudo do espaçamento ideal é preciso, pois há muita diferença de arquitetura entre as
variedades cítricas, que podem ser classificadas de acordo com BITTERS et. al. (1979)
como: anãs em relação a padrões pré-estabelecidos, onde se observa redução de até
75% da copa em relação a esses padrões, semi-anãs (redução de 50%) e subestândarde
(redução de apenas 25% da copa). Cada genótipo exige um espaço mínimo para seu
crescimento, determinado pelo seu vigor.
Dessa forma, define-se espaçamento, como sendo a prática agrícola empregada
para estabelecer a distância a ser ocupada pelas plantas, sendo sua principal função,
delimitar a área a ser utilizada pelas plantas no que se refere à luz, água e nutrientes,
com a finalidade de se obter a máxima produtividade. Na citricultura paulista o
adensamento é uma prática que teve início no final da década de 1970, sendo, no início
dos anos 2000, usada por um número expressivo de produtores que buscam uma maior
produtividade por área (TEÓFILO SOBRINHO et al., 2002). Em 1980 falava-se em 250
árvores por hectare, contra 357 árvores em 1990, 476 árvores em 2000 e atualmente
existem pomares com quase 850 árvores por hectare (RABELO et al., 2012).
Os plantios cada vez mais adensados têm como objetivo aumentar a longevidade
dos pomares, evitando o esgotamento da planta por produções excessivas e obter um
retorno mais rápido dos investimentos, pois compensa os períodos de baixa
produtividade e os altos custos de implantação dos pomares (DE NEGRI & BLASCO,
1991). A necessidade de incrementar a produção de citros, por unidade de área, tem sido
considerada já há algum tempo em face das restrições na disponibilidade de terras,
expansão de outras culturas como a cana-de-açúcar, energia, colheita e aos demais
aumentos dos custos fixos do pomar (REITZ et al., 1978).
O adensamento em citros tem permitido otimizar o uso da terra e de máquinas,
promovendo maior cobertura da área, o que diminui o potencial erosivo. A busca por
combinações de variedades copa e porta-enxerto, adequadas para espaçamentos, e a
avaliação de até que ponto o adensamento beneficia a produtividade dos pomares
cítricos em relação ao espaçamento tradicional (300-400 plantas por ha-1
) tem sido
motivo de diversos experimentos no Brasil, principalmente no estado de São Paulo.
13
2.7.2 Raleio
A prática do raleio de frutos em tangerinas e seus híbridos é de extrema
importância, uma vez que esses citros fixam, após o florescimento e fertilização, uma
quantidade de frutos maior do que seria compatível com a capacidade da planta em
produzir com qualidade (MONSELISE & GOLDSCHMIDT, 1982). Por isso, o raleio
que consiste na retirada do excesso de frutos, é uma prática importante e se justifica no
manejo dos pomares de tangerinas, uma vez que tais frutas quando produzidas com
qualidade, ou seja, com tamanho, coloração, teor de sólidos solúveis, dentre outros
aspectos, adequados é muito rentável em pomares cuja produção é destinada ao
mercado de frutos in natura (KOLLER, 1994).
As tangerinas apresentam grande produção de flores e porcentagens variadas de
fixação de frutos (“pegamento”). Nas variedades com sementes essa taxa de pegamento
dos frutos é maior e, se for em excesso, as chances de alternância de produção são
elevadas, levando inclusive a morte da planta, como é o caso do tangor Murcott (PIO,
2010). A alternância de produção é comum no grupo das tangerinas e mais acentuada
em variedades como a tangerina Ponkan e o tangor Murcott, sendo caracterizada por
grande carga de frutos pequenos num ano, seguido de outro com pequena ou
insignificante produção (MOREIRA et al., 2011a). No ano de alta produção os frutos
são de tamanho reduzido, enfrentando problemas na comercialização (CRUZ et al.,
2010), já no ano sucessor, devido ao esgotamento das reservas das plantas, ocorre baixa
ou nenhuma produção, deixando a atividade pouco rentável para o produtor (MOREIRA
et al., 2011b).
Essa situação não é desejável na produção de citros destinada ao mercado in
natura, uma vez que a qualidade da fruta é requisito fundamental nessa área. O sabor, o
aroma, a aparência externa, o valor nutritivo, o preço e a ausência de resíduos químicos
e biológicos são os fatores que mais influenciam na decisão de compra de uma fruta
pelo consumidor, determinando também o preço recebido pelo produtor (GUARDIOLA
& GARCIA-LUIS, 2000). Dessa forma e com a intenção de produzir frutos de maior
calibre, melhorar as condições fitossanitárias do pomar e assegurar uma melhor
remuneração para o produtor de fruto cítrico de mesa a utilização da prática de raleio de
frutos (manual ou químico), associado ou não à poda, é uma das melhores
recomendações, uma vez que torna as plantas mais equilibradas, possibilitando
regularidade na produção (GAZZOLA & SOUZA, 1994).
14
Para produção de frutos de mesa, em pequenas propriedades com o uso de mão-
de-obra familiar, recomenda-se a prática do raleio manual (SCHWARZ et al., 1992),
cuja intensidade é calculada de acordo com a carga de fruto na planta e da capacidade
da combinação copa/porta-enxerto em nutrir satisfatoriamente os frutos remanescentes
na mesma (KOLLER, 1994). Quanto mais cedo for realizado o raleio manual melhor, de
preferência após a formação dos frutinhos, no entanto, frutos pequenos dificultam a sua
localização entre a folhagem densa, dificultando a realização dessa atividade, por isso,
recomenda-se o raleio manual quando os frutinhos possuem de 1,5 a 2,5 cm de diâmetro
(KOLLER, 1994). Vale mencionar que se o raleio for realizado tardiamente pode
resultar em menor tamanho dos frutos na colheita, uma vez que parte das reservas de
carboidratos na planta já foi transportada e utilizada pelos frutos raleados (RUIZ et al.,
2001).
Já em grandes propriedades de pomares cítricos comerciais, o raleio químico
vem sendo muito utilizado e mostra-se mais eficiente que o manual (SHARMA &
AWASTHI, 1990; BERHOW, 2000). Dentre os fitorreguladores utilizados para
promover o raleio, o Ethephon tem sido considerado o mais eficiente comparado a
outros fitorreguladores, como o ácido naftalenacético, 3,5,6-TPA, 2,4-DP, Fenotiol e
Etilclozate (SERCILOTO et al., 2003; DOMINGUES et al., 2001). A melhor época
para aplicação do ethephon depende das condições climáticas de cada localidade, de
acordo com SUZUKI et al. (1990) e ORTOLA et al. (1998) o período ideal é pós-
florada, cerca de 30 a 40 dias após o florescimento, quando os frutos se encontram entre
1,5 e 2,0 cm de diâmetro.
2.7.3 Variedade copa
O cultivo de tangerinas está baseado num número restrito de variedades e
híbridos, apesar da ampla diversidade genética deste grupo cítrico, fazendo com que
muitos pesquisadores desenvolvam trabalhos baseados em variedades que possam servir
como fonte alternativa de renda pelo citricultor, ou seja, variedades sem sementes
(visando o mercado externo – exportação), ampliar o período de safra (ofertando os
frutos no mercado de fruta fresca em épocas distintas evitando-se assim concorrência
com variedades consolidadas, como por exemplo a tangerina Ponkan, além de evitar
uma oferta de frutos maior que a procura, impedindo-se assim a queda dos preços) e
obter plantas de porte reduzido (possibilitando o adensamento de plantio e
15
consequentemente maior produtividade por área) (SOUZA et al., 2009; PIMENTEL et
al., 2014).
Essa busca constante por novas variedades que atendam as exigências do
mercado consumidor, apresentando facilidade no descasque, tamanho por volta de 7 cm
de diâmetro, coloração homogênea e atrativa, pouca semente e sabor agradável
(NÚÑEZ et al., 2008), bem como que atendam as exigências do citricultor, com plantas
produtivas, de fácil manejo e com frutos de qualidade (ratio entre 10-12), faz com que
surjam novos materiais com variabilidade genética adequada para diversas
características de importância agronômica (PACHECO et al., 2014).
Dentre as alternativas que vem sendo propostas tem-se a tangerina Fremont
(Citrus clementina Hort. ex Tanaka x Citrus reticulata Blanco), o híbrido TMxLP281
[(C. sinensis L. Osbeck x C. reticulata Blanco) x C. sinensis L. Osbeck)], a tangerina
Thomas (C. reticulata Blanco), dentre outras variedades que tem se mostrado bastante
promissoras.
2.7.3.1 Tangerina Fremont (C. clementina hort. ex Tan x C. reticulata Blanco)
A variedade Fremont é um híbrido resultante do cruzamento entre as tangerinas
Clementina e Ponkan, sendo estudada, primeiramente, por P.C. Reece, na Flórida e
posteriormente selecionada por J.R. Furr, na Califórnia, antes de ser liberada nos
Estados Unidos, em 1964. Apresenta maturação precoce de seus frutos, coloração de
casca amarelo-avermelhada já no início da maturação e, forma de fruto e textura de
casca muito semelhantes às clementinas (SAUNT, 1990). Essa variedade, segundo
FEICHETENBERGER et al. (2005) e PACHECO et al. (2012), possui a característica
de apresentar resistência à Alternaria alternata, fungo causador da mancha marrom de
Alternaria, doença que afeta a tangerina Ponkan e, principalmente, o tangor Murcott
aumentando demasiadamente os custos de produção da cultura.
Quanto ao seu desenvolvimento vegetativo, segundo PIO et al. (2006), a copa da
tangerina Fremont quando enxertada em limão Cravo ou tangerina Cleópatra apresenta
porte reduzido, o mesmo foi relatado por NÚÑEZ et al. (2007) quando tal variedade
copa foi enxertada sobre o citrumelo Swingle. Segundo a classificação de BITTERS et
al. (1979), a tangerina Fremont é considerada planta semi-anã em relação a padrões
preestabelecidos (laranja doce, limão Rugoso e citrange Troyer), podendo-se observar
uma redução de até 50% da copa em relação a esses padrões. O que é vantajoso sobre as
copas de plantas vigorosas, uma vez que uma planta pequena corresponde a uma
16
unidade produtiva mais eficiente; um controle de pragas e doenças mais eficaz e
econômico; uma colheita facilitada e menos onerosa; além de permitir adensamento do
pomar (DUNCAN et al., 1978; STUCHI, 1994).
Em relação à utilização de porta-enxertos para a variedade em estudo, NÚÑEZ
et al. (2007) relataram que o limão Cravo, o citrumelo Swingle, o tangelo Orlando e a
tangerina Cleópatra induzem produção acumulada de frutos, nos anos de 2000 a 2006;
índice de alternância de produção, no período de 2003 a 2006; e eficiência de produção,
no ano de 2006; similares. Enquanto que PIO et al. (2006) encontraram melhores
resultados em plantas enxertadas sobre a tangerina Cleópatra. Diante desse cenário,
torna-se importante estudar e diversificar as combinações copa e porta-enxerto,
buscando frutos de qualidade e maior produtividade, sem deixar de respeitar as
características e fatores limitantes de cada região produtora.
Quanto a qualidade de fruto a tangerina Fremont mostra-se bem atraente, uma
vez que seus frutos apresentam massa média de 103 g, rendimento de suco de
aproximadamente 45%, sólidos solúveis na faixa de 11,5 oBrix, acidez titulável por
volta de 1,0% e ratio de 11,7 (NÚÑEZ et al., 2007). Além de ser uma boa opção para
ampliação do período de safra, uma vez que seus frutos se fixam por mais tempo na
planta, ou seja, os frutos da variedade Fremont podem permanecer por até três meses a
mais na planta que os frutos das variedades Ponkan e Nules, sem perder suas
características organolépticas e de qualidade (PIO et al., 2006).
2.7.3.2 Tangerina Thomas (C. reticulata Blanco)
Variedade introduzida da África do Sul, caracterizada por apresentar frutos de
tamanho médio, forma oblata, casca lisa e aderente, coloração de casca laranja, ápice e
base truncados com pequeno colarinho, peso médio de 161 g, polpa alaranjada forte,
média de 16 sementes por fruto, rendimento de suco correspondente a 38% do peso do
fruto, 13,1 ºBrix, acidez de 1,2% e ratio de 10,1. Por apresentar um formato de fruto
semelhante aos frutos do tangor Murcott, sua inclusão no mercado de fruta fresca
poderá ser facilitada, além do fato dos frutos de tal variedade terem uma coloração de
casca e suco mais intensa, apresentarem maior facilidade de descasque, possuírem
menor número de sementes e mostrarem um período mais amplo de maturação que os
frutos do tangor Murcott, possibilitando dessa maneira expansão de safra (PIO et al.,
2005).
17
2.7.3.3 Híbrido TMxLP 281 [(C. sinensis L. Osbeck x C. reticulata Blanco) x C.
sinensis L. Osbeck)]
Híbrido originário do Brasil, resultante do cruzamento entre tangor Murcott e
laranja Pêra, obtido pelo Programa de Melhoramento de Citros do Centro APTA Citros
Sylvio Moreira/IAC, Cordeirópolis, SP, em 1977. Possui árvores de porte médio, com
alta produção e frutos de maturação precoce, com colheita entre abril e junho. Tais
frutos são de formato achatado, apresentam casca e polpa de coloração laranja intensa,
massa média de 145 g, rendimento de suco de 42%, 12,4 oBrix, 1,02% de acidez e ratio
de 12,1 (BONANI et al., 2013).
2.7.3.4 Tangerina Ponkan (C. reticulata Blanco)
A tangerina Ponkan, originária da Ásia (HODGSON, 1967), pertencente à
família das Rutáceas é considerada uma fruta pouco suculenta, aparentemente grande,
de maturação precoce a meia estação, de forma globulosa e achatada, com casca fina e
pouco aderente, sabor doce, e polpa de coloração alaranjada (DETONI et al., 2009).
Características estas que a torna muito apreciada para o consumo in natura, além de
apresentar grande aceitação por parte dos consumidores devido a vários aspectos, como
aparência, firmeza e ausência de defeitos (BASTIANEL, 2013; PIO et al., 2006).
2.7.3.5 Tangor Murcott (C. sinensis L. Osbeck x C. reticulata Blanco)
O tangor Murcott originou-se de um pomar dos Estados Unidos, onde era
chamado de tangerina Honey (SAUNT, 2000), foi propagado pela primeira vez por
Charles Murcott Smith, suas árvores possuem alto vigor, hábito de crescimento ereto e
folhas lanceoladas (DAVIES & ALBRIGO,1994), enquanto que seus frutos apresentam
tamanho médio, massa de 140 g, aproximadamente 20 sementes por fruto, formato
achatado, casca de cor laranja, espessura fina, aderente e com vesículas de óleo em
nível, além de possuir polpa de cor laranja, textura firme, e alto rendimento de suco,
representando cerca de 48% do peso do fruto, com teor de sólidos solúveis de 12,6
°Brix e 0,92% de acidez titulável (FIGUEIREDO, 1991). No Brasil foi introduzido pelo
Instituto Agronômico (IAC), em 1948, para ser avaliado como porta-enxerto em
presença do vírus da tristeza dos citros, contudo, devido à sua maturação tardia, na
década de 60, o mercado interno de fruta fresca se interessou por seus frutos, uma vez
que os mesmos atingiam seu pico de maturação entre os meses de agosto e novembro
(POMPEU JÚNIOR, 2001).
18
2.7.4 Porta-enxerto
É de extrema relevância estudar o uso de diferentes porta-enxertos para citros,
pois os mesmos afetam muitas características das variedades copas, como vigor,
precocidade de produção, produção, época de maturação, massa e coloração da casca
dos frutos, teor de açúcares e de ácidos do suco, permanência dos frutos na planta,
conservação da fruta após a colheita, tolerância da planta à salinidade, seca, geada,
doenças, dentre outros fatores (POMPEU JÚNIOR, 2005; CHAGAS et al., 2007). Por
esse motivo, a escolha da variedade a ser utilizada é uma fase muito importante no
planejamento do pomar, devendo ser levadas em consideração características de clima,
solo, variedade-copa, porta-enxerto e manejo (SCHÄFER et al., 2001), bem como, os
problemas fitossanitários que acometem a cultura na região (PASSOS et al., 2006).
Por razões botânicas e históricas, apesar da ampla diversidade dentro do gênero
Citrus, um número pequeno de porta-enxertos é utilizado nos plantios comerciais, o que
torna a citricultura brasileira vulnerável, colocando em risco sua continuidade caso
ocorra uma nova praga ou anomalia (MOURÃO-FILHO et al., 2008). Além disso, a
utilização generalizada de um mesmo porta-enxerto para todas as variedades-copas,
provavelmente não atende às características peculiares de cada variedade, impedindo
que a planta, mesmo recebendo os tratos culturais adequados, manifeste todo o seu
potencial produtivo (POMPEU JUNIOR et al., 2002). Portanto, a diversificação de
porta-enxertos é uma necessidade prioritária para garantir o sucesso da atividade
citrícola nas próximas décadas.
A escolha do porta-enxerto está relacionada com a estratégia de produção e com
as particularidades de cada país ou região em que o mesmo será utilizado. Logo, um
porta-enxerto para as condições do Brasil, além de boa produção e qualidade de fruto,
deverá apresentar características essenciais como a tolerância ao vírus da tristeza, a
morte súbita dos citros e à gomose de Phytophthora; como aspectos desejáveis a
tolerância ao declínio dos citros, a resistência à seca, compatibilidade com as principais
copas, elevado número de sementes, poliembrionia nucelar e poder ananicante; e como
fator de menor importância a tolerância ao frio (BLUMER, 2005).
Os porta-enxertos mais utilizados no Brasil, desde 2001 até os dias de hoje, são:
limão Cravo (Citrus limonia Osbeck), citrumelo Swingle [C. paradisi Macfad. x
Poncirus trifoliata (L.) Raf.], trifoliata [Poncirus trifoliata (L.) Raf.], tangerina
Cleópatra (C. reshni hort. ex Tanaka), tangerina Sunki [C. sunki (Hayata) hort. ex
19
Tanaka], limão Volkameriano (C. volkameriana V. Ten. & Pasq.), limão Rugoso (C.
jambhiri Lush.) (CARVALHO, 2001). Segundo AMARO & BAPTISTELA (2010),
baseados nos levantamentos mais recentes do Fundecitrus, a utilização dos porta-
enxertos, nos viveiros, estava dividida em 65% de limão Cravo; 19% de citrumelo
Swingle; 6% de tangerina Sunki; 5% de tangerina Cleópatra; e 5% em outros porta-
enxertos.
2.7.4.1 Limão Cravo (Citrus limonia Osbeck)
O limão Cravo, destacado dentre os demais porta-enxertos pelo alto vigor, alta
produtividade, precocidade de produção e tolerância à seca (CARVALHO, 2001), é o
principal porta-enxerto da citricultura brasileira. Embora tolerante ao vírus da tristeza
(GRANT et al., 1961) tal porta-enxerto se mostra suscetível a outras doenças como
xiloporose, exocorte (MOREIRA, 1956), gomose, declínio e morte súbita dos citros
(BERETTA et al., 1986; BASSANEZI et al., 2002). Plantas enxertadas em limão Cravo
geralmente têm boas safras a partir do terceiro ano de idade; melhor comportamento
quando cultivadas em solos arenosos e profundos; produzem frutos grandes, de
qualidade média quanto à concentração de açúcares (sólidos solúveis e ratio), com
média de 12 sementes por fruto e época de maturação entre março e maio (TEÓFILO
SOBRINHO, 1991).
2.7.4.2 Citrumelo Swingle (C. paradisi Macfad. x Poncirus trifoliata (L.) Raf.)
O citrumelo Swingle é um dos porta-enxertos mais utilizados no mundo. No
Brasil, sua utilização vem crescendo anualmente, porém, ainda não se consolidou, em
virtude de sua incompatibilidade com a laranja Pêra (Citrus sinensis, Osbeck), a
principal variedade copa empregada na citricultura brasileira, além da incompatibilidade
com o limão Siciliano [Citrus limon, (L.) Burn] (POMPEU JÙNIOR, 1991). As
principais características deste porta-enxerto são resistência à gomose de Phytophthora,
ao nematoide dos citros (Tylenchulus semipenetrans Cobb) e ao frio, bem como
tolerância ao declínio e a morte súbita dos citros. As plantas enxertadas em citrumelo
Swingle apresentam médio vigor, ou seja, seu crescimento é mais vigoroso do que o
daquelas enxertadas em trifoliata e similar ao das enxertadas nos citranges, porém é
menor do que o das plantas sobre limão Cravo ou tangerina Cleópatra, o que propicia
custos menores de pulverização e de outros tratos culturais. Este porta-enxerto propicia
para suas copas frutos de boa qualidade, com alto teor de açúcar e rendimento de suco;
20
número médio de 20 sementes por fruto e período de maturação de maio a julho
(CARVALHO, 2001). Uma limitação para o uso do citrumelo Swingle é sua
incompatibilidade com variedades comerciais como laranja Pera, tangor Murcott, alguns
limões verdadeiros e com a laranja Roble (POMPEU JUNIOR & BLUMER, 2014).
2.7.4.3 Trifoliata (Poncirus trifoliata (L.) Raf)
O trifoliata é uma planta cítrica com características marcantes quando
comparada às demais, a principal delas é possuir a lâmina foliar dividida em três partes
que imitam pequenas folhas, que na verdade são folíolos de uma única folha, o que é
reconhecido em seu nome, trifoliata (POMPEU JUNIOR, 2005). São plantas que, ao
contrário dos cítricos comerciais, entram em dormência após períodos contínuos de
baixas temperaturas, perdem suas folhas (plantas caducas) e assim são mais resistentes
ao frio (NÚÑEZ et al., 2011). Como porta-enxertos, os trifoliatas geralmente induzem
plantas com crescimento mais lento, uma vez que apresentam ciclos vegetativos mais
definidos, no qual as copas entram em repouso mais rapidamente no final do outono e
retomam o crescimento mais lentamente no final do inverno. Dessa forma em função do
crescimento lento, das condições edafoclimáticas, da variedade copa, da existência de
variantes menos vigorosas, como o Flying Dragon, os trifoliatas são de um modo geral
considerados redutores de porte de plantas, com potencial nanicante, que pode se
expressar em maior ou menor intensidade, podendo ser cultivados em pomares
adensados (POMPEU JÚNIOR & BLUMMER, 2006; CANTUARIAS-AVILÉS et al.,
2010). Plantas enxertadas em Poncirus trifoliata apresentam produções comerciais a
partir do quarto ano de idade; sua produtividade é proporcional ao seu tamanho,
portanto recomenda-se o seu plantio em menores espaçamentos; seus frutos apresentam
um ótimo sabor, através da combinação de altos índices de açúcar com uma acidez
levemente acentuada, tamanho reduzido e época de maturação de março a maio
(STENZEL et. al., 2005a; CANTUÁRIAS- AVILÉS et al., 2011).
2.7.4.4 Trifoliata Flying Dragon [Poncirus trifoliata (L.) Raf var. monstrosa]
Esta variação genética do trifoliata, clone de mutação natural de P. trifoliata,
apresenta como características marcantes os espinhos significativamente curvados,
geralmente para baixo, e os ramos sinuosos, crescendo em forma de zig-zag e,
frequentemente, com curvaturas acentuadas (STUCHI et al., 2003). Seu uso vem
crescendo no Brasil em virtude de diversos atributos, porém dois são frequentemente
21
destacados nas pesquisas da área, são eles indução de porte reduzido nas plantas e frutos
de alta qualidade nas copas de diversas variedades cítricas (CASTLE, 1995). As demais
características são muito parecidas com as dos trifoliatas comuns. Plantas enxertadas em
Flying Dragon desenvolvem-se muito lentamente e atingem 1/3 a 1/2 do tamanho de
plantas sobre outros porta-enxertos, na fase adulta, assim, este porta-enxerto é
considerado um verdadeiro ananicante (STUCHI et al., 2003). De um modo geral, as
tangerinas comportam-se muito bem sobre Flying Dragon atingindo vantagens
significativas como portes médios, frutos de qualidade e boas produções, uma vez que
devem ser plantadas em altas densidades, até 1000 plantas por hectare, tendo, dessa
forma, uma produtividade bastante atraente para cultura (BRUGNARA et al., 2009).
Quanto à resistência a doenças, acredita-se que o Flying Dragon assemelhe-se aos
trifoliatas comuns, sendo bastante resistente à gomose de Phytophthora, ao nematoide
dos citros (Tylenchulus semipenetrans Cobb), a tristeza e a morte súbita dos citros
(MEDINA et al., 2000; DONADIO & STUCHI, 2001). Sendo o inconveniente deste
porta-enxerto a sua incompatibilidade com a laranja Pera e com o tangor Murcott, além
da baixa resistência à seca (DONADIO, 1999).
2.7.5 Armazenamento à frio
Tão importante quanto os aspectos levantados anteriormente são as questões
referentes à maturação e ao armazenamento dos frutos, uma vez que os mesmos
influenciam diretamente na compra do consumidor, que por sua vez, compra pelos olhos
e, posteriormente, torna-se cliente fiel a um produto quando o mesmo agrada seu
paladar.
Buscando um melhor visual e um maior tempo de prateleira para frutas e
hortaliças a conservação pós–colheita torna-se uma ferramenta de grande importância,
uma vez que possibilita que tais produtos cheguem ao consumidor sem alterações em
seu valor nutritivo, aspecto e gosto. Para tanto, o processo de conservação deve partir de
produtos com boa qualidade na colheita e colhidos no grau de maturação adequado a
cada espécie (EMBRAPA, 2013).
Vale lembrar que quase todas as tangerinas apresentam um curto período de
safra e são bastante suscetíveis ao manuseio durante a colheita, armazenamento e
transporte. Por possuírem casca frágil e sensível às injúrias, apresentam uma tendência
de se tornarem flácidas, enquanto que internamente a polpa torna-se pouco suculenta,
havendo ainda diminuição da acidez. Quando os frutos são deixados na planta por um
22
pequeno período depois de atingido o pico de sua maturação, o suco adquire sabor
insípido. Entretanto, se manuseado com cuidado e colhido antes desse período, podem
ser estocados por algumas semanas e às vezes por um longo tempo (SAUNT, 1990).
Por isso, é fundamental conhecer a resistência de cada produto ao
armazenamento refrigerado, pois o adequado armazenamento dos frutos permite
também ampliar o período de comercialização e consumo, constituindo–se em maior
segurança de venda, gerando melhores remunerações.
3 MATERIAL E MÉTODOS
O Centro APTA Citros Sylvio Moreira/IAC, Cordeirópolis, SP, conduz um
amplo programa de melhoramento genético de citros, visando explorar as fontes de
resistência a pragas e doenças, e assim chegar num número maior de variedades para a
citricultura. Além dos cruzamentos, diversas introduções foram realizadas, dentre elas
merece destaque a tangerina Fremont - IAC 543 (Figura 1), resultante do cruzamento
entre clementina (Citrus clementina Hort. ex Tan) e tangerina Ponkan (Citrus reticulata
Blanco), realizado nos EUA. É uma variedade resistente à Alternaria alternata, fungo
causador da mancha marrom de alternária, tornando-se o foco desta pesquisa.
Figura 1 - Planta adulta (esquerda) e frutos (direita) da tangerina Fremont na época
ideal de colheita (mês de junho).
3.1 Análise histológica
As avaliações histológicas das folhas das plantas de tangor Murcott – IAC 221, do
híbrido TMxLP 281 e das tangerinas Ponkan – IAC 172, Fremont e Thomas – IAC 519
foram realizadas no Laboratório de Anatomia de Plantas na Universidade Federalde
23
Lavras (UFLA), Departamento de Biologia, e os espécimes vegetais estudados foram
colhidos no lote de plantas matrizes do Centro de APTA Citros Sylvio Moreira/IAC.
As folhas foram coletadas em três posições na copa das plantas das quatro
variedades analisadas (Fremont, Ponkan, Murcott e TMxLP281), sendo base, meio e
alto da copa, sempre de folhas localizadas no lado oeste da planta. As avaliações foram
feitas a partir de observações microscópicas de secções paradérmicas e transversais
obtidas com um micrótomo mesa (modelo LPC) usando lâminas de aço inoxidável
(lâminas de barbear) e um micrótomo semi-automático (KD-3368, Ciencor Scientific,
São Paulo, Brasil), respectivamente.
3.1.1 Cortes paradérmicos
Foram coletadas quatro folhas adultas ou completamente expandidas (7,5 cm) e
quatro folhas jovens (3,5 cm) por variedade, com três repetições. Tais folhas foram
fixadas em FAA 70% (formaldeido, ácido acético glacial p.a. e etanol 70%, na
proporção de 0,5:0,5:9) por um período de 72 horas, preservando-se assim a estrutura
foliar, e posteriormente conservadas em etanol 70% (v v-1), tornando mais seguro o
manuseio do material (KRAUS & ARDUIN, 1997). As secções paradérmicas foram
obtidas da região mediana de cada uma das folhas coletadas, as quais foram clarificadas
com hipoclorito de sódio a 50% (comercial) durante 10 minutos, lavadas em água
destilada por duas vezes durante 10 minutos, coradas com solução de safranina 1% (m
v-1), sendo posteriormente montadas em lâmina e lamínula com gelatina glicerinada de
kaiser e seladas com resina de nitrocelulose. Tais lâminas foram observadas e
fotografadas em microscópio óptico modelo Olympus BX 60 acoplado à câmera digital
Canon A 630. As imagens foram analisadas em software para análise de imagens
UTHSCSA-ImageTool versão 3.0, com medição de quatro campos por repetição para
cada variável analisada.
As características anatômicas avaliadas foram: número de estômatos, número de
células epidérmicas, diâmetro polar dos estômatos, diâmetro equatorial dos estômatos,
densidade estomática ( ), índice estomático ( ) e
funcionalidade estomática ( ) (CASTRO et al., 2009).
O delineamento foi inteiramente casualizado em esquema fatorial 3x4x2 (três
posições na copa da planta, quatro genótipos de Citrus, dois tipos de folhas) com cinco
repetições, a parcela experimental foi considerada como uma folha por planta. As
24
análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o programa estatístico SISVAR 5.0
(FERREIRA, 2011). Antes da realização de uma análise paramétrica, os dados foram
testados quanto à sua normalidade e os que não apresentaram distribuição normal,
foram transformados. Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias
comparadas pelo teste de Scott-Knott, com 5% de probabilidade de erro.
3.1.2 Cortes transversais
Foram coletadas quatro folhas adultas ou completamente expandidas (7,5 cm)
por variedade, com três repetições. Tais folhas foram fixadas em FAA 70%
(formaldeido, ácido acético glacial p.a. e etanol 70%, na proporção de 0,5:0,5:9) por um
período de 72 horas, preservando-se assim a estrutura foliar, e posteriormente
conservadas em etanol 70% (v v-1), tornando mais seguro o manuseio do material
(KRAUS & ARDUIN, 1997).
Para confecção do laminário permanente, fragmentos na região mediana das
folhas foram desidratadas em série crescente de etanol, infiltradas e incluídas em
hidroxietil-metacrilato Leica® (Heidelberger, Alemanha) segundo recomendações do
fabricante. As amostras foram seccionadas em micrótomo semi-automático (KD-3368,
Ciencor Scientific, São Paulo, Brasil) coradas com azul de toluidina 1% e montadas em
bálsamo do Canadá.
As lâminas foram analisadas em microscópio trinocular Olympus CX41
(Olympus, Tokyo, Japan) com sistema de captura acoplado, sendo as análises realizadas
no software de análise de imagens UTHSCSA-ImageTool versão 3.0. As características
anatômicas avaliadas foram: espessura da epiderme da face adaxial, espessura da
epiderme da face abaxial, espessura do parênquima paliçádico, espessura do parênquima
esponjoso, diâmetro das cavidades secretoras e distância entre as cavidades secretoras
da face adaxial das folhas.
O delineamento foi inteiramente casualizado em esquema fatorial 3x4 (três
posições na copa da planta e quatro genótipos de Citrus) com nove repetições, a parcela
experimental foi considerada como uma folha por planta. As análises estatísticas foram
realizadas utilizando-se o programa estatístico SISVAR 5.0 (FERREIRA, 2011). Antes
da realização de uma análise paramétrica, os dados foram testados quanto à sua
normalidade e os que não apresentaram distribuição normal, foram transformados. Os
dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de
Scott-Knott, com 5% de probabilidade de erro.
25
3.2 Análise sensorial
Os testes sensoriais foram realizados no Laboratório de Qualidade e Pós-colheita
de Citros, do Centro APTA Citros Sylvio Moreira/IAC, Cordeirópolis, SP, e conduzidos
em cabines individuais, com iluminação branca, com a participação de julgadores não
treinados. A aprovação ética foi dada pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres
Humanos da UFSCar, sob o Protocolo Nº 2305.0.000135-11. Todos os indivíduos
assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido antes de participar no
estudo (Resolução 196/96 - Conselho Nacional de Saúde).
Vale mencionar que todos os frutos utilizados nos testes sensoriais passaram por
análises de qualidade (análises físico-químicas), realizadas no Laboratório de Qualidade
e Pós-Colheita do Centro APTA Citros Sylvio Moreira/IAC, Cordeirópolis-SP, antes da
aplicação do teste de aceitação e intenção de compra, bem como do teste de ordenação e
preferência. Sendo avaliados a massa dos frutos (g) obtida em uma balança Filizola com
capacidade para 15 kg e precisão de 5 g; diâmetros longitudinal (Ǿ L) e transversal (Ǿ
T), em centímetros, por leitura direta em uma régua tipo calha graduada; rendimento de
suco, determinado após esmagamento do fruto em extratora OIC modelo OTTO 1800 e
calculado através da relação massa do suco/massa do fruto e expresso em porcentagem;
acidez (g 100 g-1
em solução N%), obtida por titulação, com uma solução padronizada
de 0,3125 N de NaOH, usando-se fenolftaleína como indicadora, sendo a concentração
de acidez expressa em porcentagem; sólidos solúveis (ºBrix), determinados por leitura
direta em refratômetro B&S modelo RFM 330; ratio, calculado através da relação
sólidos solúveis/acidez, a qual indica o estádio de maturação dos frutos cítricos; e a
coloração da casca dos frutos determinada pelo método instrumental em cinco pontos de
cada amostra, utilizando-se o colorímetro digital (Minolta CR-400), com determinação
dos valores L* (indica luminosidade), a* (indica variação de cor do verde até o
vermelho) e b* (indica variação de cor do azul até o amarelo) (PAPADAKIS et al.,
2000). Com os valores de a* e b* calculou-se o ângulo hue (ºh=tan-1
(b*/a*)), que define
a tonalidade de cor, e o chroma que define a intensidade da cor
(MCGUIRE, 1992).
26
3.2.1 Teste de aceitabilidade e intenção de compra da tangerina Fremont
Frutos maduros da tangerina Fremont foram coletados em julho de 2012, em
plantas enxertadas sobre o limão Cravo – IAC 863, do experimento instalado em Mogi
Mirim/SP (descrito no item 3.3.2). As plantas estavam com quatro anos de idade.
Após a colheita os frutos selecionados para o teste in natura foram codificados
com três dígitos e oferecidos a 50 julgadores não treinados em pratos descartáveis, à
temperatura ambiente, acompanhados de água. Enquanto que os frutos destinados à
extração de suco foram lavados e submetidos ao processo de extração em máquina
extratora FMC fresh. Os sucos foram extraídos, codificados com três dígitos e, na
sequência, oferecidos a 50 julgadores não treinados em copos descartáveis, à
temperatura ambiente, acompanhados de água. Não houve adição de água, açúcar ou
qualquer tipo de conservante aos sucos utilizados no teste, os mesmos foram servidos ao
natural.
Os atributos sensoriais foram avaliados utilizando uma ficha de aceitabilidade
com escala hedônica de nove pontos, variando de “desgostei extremamente” (1) à
“gostei extremamente” (9). Na mesma ficha constavam perguntas sobre o que o
julgador mais gostou ou desgostou na amostra de acordo com a metodologia utilizada
por BEHRENS et al. (1999).
Para avaliar a atitude do consumidor sobre a compra da tangerina, foi utilizada
uma escala de intenção de compra de 5 pontos, com os termos "certamente não
compraria" (1) e "certamente compraria" (5) nos extremos da escala.
3.2.2 Testes de ordenação e preferência
Para a realização do teste de ordenação (ABNT, 1994) foram utilizados 30
julgadores não treinados, no qual foram entregues, aos julgadores, três frutos de cada
variedade analisada, tangerina Fremont, híbrido TMxLP281 e tangerina Ponkan, em
pratos descartáveis, codificados com três dígitos diferentes, à temperatura ambiente,
acompanhadas de biscoitos cream cracker e água para lavar o palato entre uma amostra
e outra.
Selecionaram-se os frutos destas variedades, pois os mesmos apresentam ponto
de colheita semelhante, maio de 2013, e podem estar no mercador na mesma época.
Conhecendo-se assim a preferência do mercado consumidor e o seu posicionamento em
relação a duas variedades novas (tangerina Fremont e o híbrido TMxLP 281) frente a
27
uma das variedades mais consumidas pelo mercado brasileiro (tangerina Ponkan). Para
isso, os julgadores tiveram que ordenar as amostras do menos para o mais de acordo
com os atributos avaliados: cor (-laranja/+laranja); tamanho (menor/maior); textura da
casca (-lisa/+lisa); firmeza do fruto (-firme/+firme); facilidade de descasque
(difícil/fácil); aroma (fraco/forte); sabor (-doce/+doce); fibrosidade (-fibroso/+fibroso);
no de sementes (-sementes/+sementes) e preferência (-gostou/+gostou).
A analise estatistica foi realizada por meio do teste de Friedman (p<0,05),
utilizando-se a tabela de Newel e MacFarlane citada pela ABNT (1994).
3.3 Análise fitotécnica
Para esses ensaios os pomares foram instalados no ano de 2009, nos municípios
de Mogi Mirim/SP, Porto Feliz/SP e Capão Bonito/SP (Figura 2), via convênio entre o
Centro APTA Citros Sylvio Moreira/IAC, produtores e o Pólo Regional do Sudoeste
Paulista da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).
Figura 2 - Municípios do estado de São Paulo onde se encontram os ensaios que foram
utilizados para as avaliações fitotécnicas.
3.3.1 Espaçamento
Para determinação do melhor espaçamento para plantio da variedade Fremont,
experimentos foram instalados, em 2009, sobre o porta-enxerto limão Cravo (C. limonia
Osbeck), nos municípios de Porto Feliz/SP e Capão Bonito/SP, na Fazenda Ana Maria e
no Pólo Regional do Sudoeste Paulista, respectivamente.
28
Cinco diferentes espaçamentos foram estudados (Tabelas 1 e 2), variando-se
apenas a distancia entre as plantas e fixando-se o entre linhas em 6,0 metros (Capão
Bonito) e 7,0 metros (Porto Feliz). Determinou-se como espaçamento padrão o 6,0 x 3,5
metros (Capão Bonito) e o 7,0 x 3,5 metros (Porto Feliz).
O ensaio de Capão Bonito/SP (Figura 3) localiza-se nas coordenadas 24º 00’ de
latitude S e 48º 20’ de longitude W, a uma altitude de 705 metros; com clima do tipo
Cfb, clima temperado úmido com verão temperado, segundo a classificação de Koppen
(SETZER, 1966); e o solo do tipo Latossolo Vermelho (EMBRAPA, 1999). Já em Porto
Feliz (Figura 4), as coordenadas do ensaio foram 23º 12’ de latitude S e 47º 31’ de
longitude W, a uma altitude de 523 metros; com clima do tipo Cwa, segundo a
classificação de Koppen (SETZER, 1966); e solo do tipo Argissolo Vermelho-Amarelo
(EMBRAPA, 1999).
Figura 3 - Experimento de espaçamento da tangerina Fremont enxertada sobre limão
Cravo, Pólo Regional do Sudoeste Paulista (Capão Bonito/SP, 2011).
29
Figura 4 - Experimento de espaçamento da tangerina Fremont enxertada sobre limão
Cravo, Fazenda Ana Maria (Porto Feliz/SP, 2011).
As parcelas foram constituídas por 12 plantas, sendo três linhas com quatro plantas, e
para fins de avaliações, utilizaram-se as duas centrais. O ensaio foi locado em esquema
de blocos ao acaso, com quatro repetições.
Tabela 1 - Caracterização dos diferentes tratamentos avaliados, em relação ao
espaçamento entre linhas e entre plantas, densidade de plantio e proporção em relação
ao tratamento padrão, de tangerina Fremont, enxertada sobre limão Cravo (Capão
Bonito/SP, 2009).
Tratamentos Espaçamento
entre linhas
(m)
Espaçamento
entre plantas
(m)
Densidade de
plantio
(plantas ha-1
)
Acréscimo
de plantas
(%)
1 (padrão) 6,0 3,5 476 0
2 6,0 3,0 556 17
3 6,0 2,5 667 40
4 6,0 2,0 833 75
5 6,0 1,5 1111 133
30
Tabela 2 - Caracterização dos diferentes tratamentos avaliados, em relação ao
espaçamento entre linhas e entre plantas, densidade de plantio e proporção em relação
ao tratamento padrão, de tangerina Fremont, enxertada sobre limão Cravo (Porto
Feliz/SP, 2009).
Tratamentos Espaçamento
entre linhas
(m)
Espaçamento
entre plantas
(m)
Densidade de
plantio
(plantas ha-1
)
Acréscimo
de plantas
(%)
1 (padrão) 7,0 3,5 408 0
2 7,0 3,0 476 17
3 7,0 2,5 571 40
4 7,0 2,0 714 75
5 7,0 1,5 952 133
O desenvolvimento vegetativo das plantas foi avaliado através de aferições da
altura e diâmetro da copa, os quais foram mensurados com régua graduada, efetuando-
se medições paralelas ao eixo de crescimento geoposito da copa (altura) e paralelas ao
solo na altura de 1,5 m (diâmetro). Tais aferições foram efetuadas a partir de 2011, no
experimento de Capão Bonito/SP, e a partir de 2012, no experimento de Porto Feliz/SP,
e perduraram até 2014. O volume da copa foi calculado com os dados de altura e
diâmetro da planta, V=(2/3 π r2) x h, segundo a proposta de MENDEL (1956) e descrita
por STENZEL et al. (2005b). As produções foram monitoradas a partir de 2012, no
experimento de Capão Bonito/SP, e a partir de 2013, no experimento de Porto Feliz/SP,
e prosseguiram até 2014, através de pesagem direta de todos os frutos das plantas úteis,
na época de colheita da variedade estudada (mês de junho).
3.3.2 Porta-enxerto
O ensaio foi implantado em 2009, no sítio Lagoa Bonita, Mogi Mirim/SP (Figura
5), no qual foram avaliados quatro porta-enxertos, limão Cravo, citrumelo Swingle,
Poncirus trifoliata e Flying Dragon, para determinação do melhor porta-enxerto para
variedade copa tangerina Fremont, nas coordenadas 22º 25’ de latitude S e 46º 57’ de
longitude W, a uma altitude de 617 metros. O clima é do tipo Cfa, clima subtropical
úmido com verão quente e abafado, segundo a classificação de Koppen (SETZER,
1966). O solo do local do ensaio é do tipo Latossolo Vermelho Amarelo (EMBRAPA,
1999).
31
Figura 5 - Experimento com diferentes porta-enxertos para copa tangerina Fremont,
Sítio Lagoa Bonita (Mogi Mirim, SP, 2013).
As parcelas do experimento são compostas por 30 plantas, sendo três linhas com
dez plantas, e para fins de avaliações, utilizaram-se as quatro plantas centrais. O ensaio
foi locado em esquema de blocos ao acaso, com seis repetições.
Avaliou-se o desenvolvimento vegetativo e produção das plantas no período de
2012 a 2014, seguindo-se metodologia descrita para o ensaio de espaçamento. As
análises físico-químicas dos frutos foram realizadas no período de 2012 a 2014, nos
meses de junho.
Foram determinados os seguintes parâmetros: massa mensurada em uma balança
marca Filizola com capacidade de 15 kg; rendimento de suco quantificado pela relação
massa do suco/massa do fruto (em %); sólidos solúveis através de leitura direta em
refratômetro B&S, modelo RFM 330, no qual os dados foram corrigidos pela
temperatura e pela acidez do suco; acidez obtida por titulação de 25 mL de suco, com
uma solução de hidróxido de sódio de normalidade 0,3125 e usando-se fenolftaleína
como indicadora e; relação sólidos solúveis/acidez (Ratio) através da relação direta
entre os valores de sólidos solúveis e acidez, indicando o estádio de maturação dos
frutos cítricos (REED et al., 1986).
3.3.3 Raleio
Estes ensaios foram realizados em lotes de tangerina Fremont enxertadas em
limão Cravo, no município de Capão Bonito/SP (Figura 6) e em quatro diferentes porta-
enxertos (limão Cravo, citrumelo Swingle – IAC 401, Poncirus trifoliata – IAC 382,
32
trifoliata Flying dragon – IAC 718), no município de Mogi Mirim/SP. Em ambos os
experimentos três diferentes níveis de raleio foram propostos (Tabela 3).
Figura 6 - Foto representativa dos três tratamentos de raleio dos frutos da tangerina
Fremont enxertada sobre limão Cravo, Pólo Regional do Sudoeste Paulista (Capão
Bonito/SP, 2013).
As parcelas do experimento de Capão Bonito/SP possuíam 12 plantas, sendo três
linhas com quatro plantas, e para fins de avaliações, utilizaram-se as três plantas iniciais
da primeira linha da parcela. O ensaio foi locado em esquema de blocos ao acaso, com
quatro repetições. Já as parcelas do experimento instalado em Mogi Mirim/SP possuem
30 plantas, sendo três linhas com dez plantas, e para fins de avaliações, utilizaram-se as
três plantas iniciais da primeira linha da parcela. O ensaio foi locado em esquema de
blocos ao acaso, com quatro repetições.
Antes do desbaste foi feita uma amostragem prévia para aferição do total de frutos
por planta, para posterior retirada de 25 e 50%. Escolheram-se plantas com número de
frutos próximos. O experimento foi instalado nos anos de 2012, 2013 e 2014, após
queda natural dos ‘frutinhos’ - mês de dezembro.
Na época da colheita da tangerina Fremont, mês de junho, todos os frutos foram
coletados, das plantas úteis, e foram contabilizados o total produzido e, porcentagem de
fruto por tratamento.
33
Tabela 3 - Desbastes de frutos propostos para a tangerina Fremont, cujos
ensaios se encontram em dois municípios diferentes do estado de São Paulo.
Experimentos Avaliação Raleios
Capão Bonito/SP
Plantio: 2009
Pólo Regional do Sudoeste
Paulista
Mogi Mirim/SP
Plantio: 2009
Sítio Lagoa Bonita
Porcentagem de
frutos dentro dos
calibres:
< 5 cm
entre 5 e 6 cm
entre 6 e 7 cm
> 7 cm
3.4 Análise pós-colheita (armazenamento a frio)
Esses ensaios foram realizados no Laboratório de Pós-colheita de Citros, do
Centro APTA Citros Sylvio Moreira/IAC, Cordeirópolis/SP. Frutos da tangerina
Fremont colhidos no ensaio de Capão Bonito (junho de 2012), passaram por análises
físico-químicas, conforme descrito no ítem 3.2, para posteriormente serem submetidos a
uma desinfecção superficial em solução de hipoclorito de sódio a 5%, logo após esse
tratamento, os frutos receberam uma aplicação de cera, de uso comercial, associada com
fungicida (cera UE – 16% citrosol – 4 mL de Imasalil+1L UE Poliet+goma) para evitar
o desenvolvimento de patógenos típicos de pós-colheita. Tal aplicação consistiu na
imersão dos frutos em uma solução de cera mais água reproduzindo a aplicação feita nas
unidades de processamento, em seguida os mesmos foram secos e submetidos aos
tratamentos de armazenamento. O experimento foi composto por quatro tratamentos:
frutos com e sem cera - armazenados a 10 oC [umidade relativa (UR) 90-95%] e frutos
também com e sem cera –armazenados a temperatura ambiente (21 oC e UR 60-65%).
As análises físico-químicas foram realizadas semanalmente (até 42 dias após
início da armazenagem). Como foram seis semanas de avaliações, o experimento foi
composto por seis lotes com três repetições de cada tratamento, contendo 10 frutos cada
(para o ensaio de perda massa) e 28 frutos cada caixa (para o ensaio de
armazenamento).
Concomitantemente, avaliou-se semanalmente (até 35 dias após início da
armazenagem) a aceitabilidade e intenção de compra de tais frutos, de acordo com a
metodologia descrita no ensaio de análise sensorial (item 3.2.1), porém com uma equipe
50% 25%
25%
50%
Testemunha
34
composta por 10 julgadores, pertencentes ao quadro de funcionários do Centro APTA
Citros Sylvio Moreira.
3.5 Análise bioquímica fina (quantificação de carotenoide)
A análise bioquímica fina, para quantificação de carotenoide, foi feita com o
suco extraído dos frutos da tangerina Fremont coletados na safra 2013-2014 (maio de
2014), nos experimentos localizados nos municípios de Mogi Mirim/SP e Capão
Bonito/SP-Brasil, e em San Giuliano/Córsega-França, safra 2014/2015 (janeiro de
2015), nas plantas do Banco de Germoplasma do INRA (Institut National de la
Recherche Agronomique). Tais sucos foram armazenados em frascos âmbar (volume de
100 mL), congelados a temperatura de -20 oC, para então serem transportados até o
local de análise, o Laboratório de Carotenoides e HPLC/Masse, UMR Qualisud, do
Departamento Persyst do Cirad (Centre de coopération internationale en recherche
agronomique pour le développement), na cidade de Montpellier, na França.
Extração de carotenoides: A quantificação dos carotenoides foi via HPLC, de
acordo com DHUIQUE-MAYER et al. (2005), na qual extraíram-se 10 mL de suco de
tangerina Fremont, adicionaram-se a este suco 20 mL de solvente (4/3 [v/v]
etanol/hexano) 0,1% BHT, 50 mg de MgCO3 e 500 µL de licopeno padrão interno (não
controlado[c]), agitou-se essa mistura por 5 min e após realizou-se a filtração em filtro
sintético no
2. Etanol e hexano foram sucessivamente utilizados para lavar os resíduos,
ou seja, foram utilizados 30 mL de etanol, seguidos de 30 mL de hexano e novamente
30 mL de hexano. Após essas três extrações sucessivas, o extrato foi colocado em um
funil de separação e 50 mL de NaCl a 10% foram adicionados. A fase aquosa foi
removida, enquanto a fase orgânica foi lavada três vezes com água destilada e
posteriormente seca com sulfato de sódio anidro. O extrato resultante foi então filtrado
através de um filtro sintético no 2 e submetido, na sequência, ao Rotavapor (37
oC, 100
mbar) até à secura completa. O resíduo foi dissolvido em 0,5 mL de diclorometano e 1
mL de uma mistura de MTBE/MeoH (80:20) e em seguida analisado por HPLC. A
comparação foi feita entre a área de licopeno (mAu*S) extraída da amostra e a área de
licopeno padrão fornecida por uma amostra da mesma quantidade (500 µL) seca sob
fluxo de azoto e dissolvida em 0,5 mL de diclorometano e 1 mL da mistura de
MTBE/MeoH (80:20). A diluição foi feita para a faixa/escala de análise.
Saponificação: o extrato em hexano foi evaporado até a secura completa em
Rotavapor (37oC, 100 mbar) até à secura completa. Dissolveu-se novamente 20 mL de
35
hexano, utilizou-se um frasco âmbar de 50 mL, no qual foram adicionados 20 mL de
KOH metanólico 10%. A saponificação foi realizada durante a noite, no escuro por 16
horas, à temperatura ambiente. A amostra foi agitada sob atmosfera de nitrogênio no
frasco selado. A amostra foi transferida para um funil de separação ao qual 50 mL de
água destilada foi adicionado para separar as camadas. A camada hexânica foi lavada
até ficar isenta de alcalinos. A camada metanólica de KOH foi extraída com 4 x 15 mL
de diclorometano. Os extratos foram reunidos e lavados para remover os alcalinos.
Vestígios aquosos de extratos orgânicos foram removidos com sulfato de sódio anidro,
em seguida os extratos foram filtrados e evaporados até a secura sob vácuo. Extratos de
carotenoides foram dissolvidos como descrito anteriormente [0,5 mL de diclorometano
e 1 mL da mistura MBTE/MeOH (8:20)]. As análises foram realizadas sob luz vermelha
para evitar a degradação de carotenoides durante a extração e saponificação.
Análise via HPLC dos carotenoides: os carotenoides foram analisados por
cromatografia líquida de alta eficiência de fase reversa usando um sistema Agilent 1100
(Marsey, França) de acordo com o método previamente publicado de CARIS et al.
(2003). Os carotenoides foram separados ao longo da coluna C30 [250 x 4,6 mm i.d., 5
μm YMC (EUROP GmbH)]; as fases celulares foram: H2O como eluente A, metanol
como eluente B e MTBE como eluente C. Taxa de fluxo foi fixada a 1 mL min-1
,
temperatura da coluna foi de 25 oC, e o volume de injeção foi de 20 μL. Um programa
de gradiente foi efetuado: a condição inicial de 40 % A/60 % B; 0-5 min, 20 % A/80 %
B; 5-10 min, 4 % A/81 % B/15 % C; 10-60 min, 4 % A/11 % B/85 % C; 60-71 min, 100
% B; 71-72 min, volta a condição inicial de reequilíbrio. Absorbância foi seguida a 290,
350, 450 e 470 nm usando Agilent 1100 detector de arranjo de fotoiodos. Dados
cromatográficos e espectros de UV-visível foram coletados, armazenados e integrados
utilizando um Chemstation Agilent mais software. Quantificação de carotenoides foi
realizada por meio de curvas de calibração com β-caroteno, β-criptoxantina, luteína,
licopeno, β-apo-8´-carotenal com cinco concentrações. Os coeficientes de correlação
variou 0,994-0,998. As recuperações foram determinadas através da adição de padrão
interno (licopeno) antes da extração de cada amostra analisada e usada para corrigir os
conteúdos de carotenoides após análise por HPLC. Para minimizar as perdas durante a
análise por HPLC, cada extrato foi injetado imediatamente após a sua preparação.
36
3.6 Análise dos resultados
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e quando
significativos (p<0,05) as médias foram comparadas pelos seus respectivos testes,
Tukey, Scott-Knott ou Friedman. Todas as análises foram processadas utilizando-se o
programa estatístico SISVAR 5.0 (FERREIRA, 2011).
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Análise histológica
As folhas analisadas das variedades de tangerinas Fremont, Ponkan, Thomas e
do tangor Murcott, são dorsiventrais, apresentaram o parênquima paliçádico (pp)
somente na superfície adaxial da folha; glabras, sem pêlos; hipoestomáticas, com
estômatos apenas na epiderme da face abaxial (eab); e com estômatos do tipo
anomocíticos, ou seja, as células circundantes são em número indefinido e não diferiram
das outras células epidérmicas, configurando estômatos sem células subsidiárias
morfologicamente distintas (Figura 7). Apresentaram epiderme uniestratificada,
formada por células de formato cúbico a retangular; parênquima paliçádico disposto
numa única camada conspícua e parênquima esponjoso (pe) formado por nove a onze
camadas de células (Figura 8). Registrou-se entre as células do parênquima as cavidades
secretoras (cs), predominantemente na superfície adaxial da folha (Figura 8).
4.1.1 Cortes paradérmicos
Os estômatos presentes na epiderme da face abaxial das folhas da tangerina
Fremont apresentaram os menores diâmetros polar e equatorial tanto em folhas novas
(FN) 17,03 e 16,71 µm, respectivamente, quanto em folhas plenamente expandidas
(FPE) 16,55 e 16,53 µm, respectivamente (Tabela 4). Enquanto que a tangerina Thomas
e o tangor Murcott apresentaram o maior diâmetro polar em FN (18,39 e 17,53 µm,
respectivamente). O que não explica a reação dos genótipos a Alternata alternata, uma
vez que ambas as tangerinas, Fremont e Thomas, são resistentes a tal patógeno, e
apresentaram tamanhos estomáticos opostos. Sendo que a variedade Thomas apresentou
um tamanho estomático próximo ao tamanho estomático do tangor Murcott, variedade
considerada suscetível ao fungo em estudo.
LIMA et al. (2009) analisando o padrão estomático de Capsicum ssp. resistentes
e suscetíveis a Oidiopsis haplophylli chegaram a mesma conclusão de que a abertura
37
ostiolar não explicou a relação de resistência das variedades avaliadas ao oidio.
TURRELL (1947) estudando os estômatos em folhas cítricas relatou que o tamanho dos
estômatos é variável entre as variedades, entre a posição da folha na árvore e com as
condições de crescimento da planta, não dizendo muito sobre a relação de resistência ou
suscetibilidade na planta. Quando analisada à densidade estomática, a tangerina
Fremont apresentou maior valor em FN e FPE que as demais variedades avaliadas. A
mesma apresentou ainda maior número de estômatos e de células epidérmicas (NCE),
tanto em FN quanto em FPE.
De acordo com dados da EMBRAPA (2000), variedades que apresentam maior
densidade estomática (DE) podem ser infectadas mais facilmente por patógenos que
iniciam sua penetração pelos estômatos, associado a um filme de água na superfície da
folha. Porém este estudo não corrobora com tais informações, uma vez que a tangerina
Fremont, variedade resistente ao fungo causador da mancha marrom de alternária
(MMA), foi a que apresentou maior DE, tanto em FN quanto em FPE, em relação às
demais variedades analisadas. Enquanto que a tangerina Ponkan, variedade suscetível a
tal doença fúngica, foi a que apresentou a menor DE, principalmente em FN (Tabela 4).
Em outros estudos realizados nos patossistemas café-Hemileia vastatrix (ACUÑA et al.,
1998), mandioca-Xanthomonas campestris (FUKUDA, 1982), cacau-Phytophthora
palmivora (IWARO et al., 1997) e mostarda-Alternaria brassicae (SINGH et al., 1999),
a relação entre resistência e aspectos morfológicos também não foi observada.
LIMA et al. (2009) da mesma forma que relataram maiores números e
frequências de estômatos em pimentão ‘Magali’ (variedade altamente suscetível), com
valores significativamente maiores do que em ‘HV-12’ (variedade altamente resistente),
também relataram semelhança estatística, para os mesmos atributos, na variedade
‘Elisa’ (altamente suscetível) em reação a variedade HV-12 (altamente resistente).
Dessa forma, a resistência pode estar associada a fatores pré-formados do
hospedeiro para determinados genótipos, mas outros fatores também podem estar
envolvidos na determinação da resistência varietal. Buscando elucidar tal
questionamento SILVA et al. (2005), em seus estudos de anatomia vegetal, relatam que
apesar do patógeno penetrar pelos estômatos, a DE pode não ter relevância no aspecto
de resistência varietal, uma vez que a abertura tardia de alguns tipos de estômatos,
durante o dia, por exemplo, pode representar resistência a fungos que germinam à noite,
sendo estes dessecados pela evaporação da umidade antes mesmo da abertura dos
estômatos.
38
Tabela 4 - Características dos estômatos presentes na epiderme
abaxial das folhas das variedades Fremont, Murcott, Ponkan e
Thomas, em secções paradérmicas.
Características Variedades Idade foliar
FN FPE
NE
Fremont 38,25Aa 38,75Aa
Murcott 29,50Ba 31,00Ba
Thomas 24,75Bb 28,25Ba
Ponkan 30,00Ba 30,25Ba
CV (%) = 7,26
NCE
Fremont 287Aa 265Ab
Murcott 240Ba 200Bb
Thomas 254Ba 221Bb
Ponkan 206Ca 205Ba
CV (%) = 6,41
DP (µm)
Fremont 17,03Ba 16,71Ba
Murcott 17,53Aba 17,87Aa
Thomas 18,39Aa 17,41ABb
Ponkan 17,24Ba 17,38Aba
CV (%) = 3,27
DQ (µm)
Fremont 16,55Aa 16,53Ba
Murcott 15,99Ab 18,24Aa
Thomas 16,42Aa 17,09Aba
Ponkan 16,59Aa 16,76Aba
CV (%) = 4,86
DE (estômatos mm2)
Fremont 616,18Aa 642,14Aa
Murcott 486,49Ba 492,72Ba
Thomas 482,58Ba 487,27Ba
Ponkan 389,48Cb 451,05Ba
CV (%) = 7,36
IES (%)
Fremont 13,37Aa 14,58Aa
Murcott 12,43Ab 15,85Aa
Thomas 12,24Aa 13,83Aa
Ponkan 12,07Aa 13,68Aa
CV (%) = 10,16
FUN (DP/DQ)
Fremont 1,034425Aa 1,018025Aa
Murcott 1,108475Aa 0,983950Ab
Thomas 1,125725Aa 1,027225Ab
Ponkan 1,041125Aa 1,056250Aa
CV (%) = 5,42
* Médias seguidas da mesma letra, minúscula na linha e maiúscula na coluna, não diferem entre si (Scott-Knott 5%).
NE = número de estômatos. NCE = número de células epidérmicas. DP = diâmetro polar dos estômatos. DQ =
diâmetro equatorial dos estômatos. DE = densidade estomática. IES = índice estomático. FUN = funcionalidade
estomática. FN = folha nova. FPE = folha plenamente expandida.
39
Figura 7 - Secções paradérmicas de folhas das variedades Murcott (A), Ponkan (B),
Fremont (C) e Thomas (D), nas objetivas de 20 (esquerda) e 40 (direita), na face abaxial
do limbo foliar. Barras = 100 µm.
A
D
C
B
C
A
B
D
40
Vale mencionar que independente da variedade analisada, a estrutura estomática
não diferiu ao longo da copa (topo, meio e base), o que mostra certa homogeneidade
para esta característica nas folhas analisadas, atribuindo-se assim uma mesma
capacidade de proteção independente do ponto observado.
4.1.2 Cortes transversais
Maior espessura da epiderme da face adaxial (ead) ocorre na variedade Fremont
(Figura 8 D-F), 19,54% mais espessa que as variedades Ponkan (Figura 8 J-L) e Thomas
(Figura 8 G-I), seguida pela variedade Murcott (Figura 8 A-C), 11,26% mais espessa
que as mesmas variedades analisadas (Tabela 5). Uma epiderme mais espessa é
esperada em plantas que tendem a suportar uma maior quantidade de radiação, seca e
outras pressões do ambiente (NUNES et al., 2012). Possivelmente os dois genótipos
com a epiderme mais espessa, Fremont e Murcott, transpirarão menos e serão mais
protegidos contra a seca e o excesso de radiação.
Tais resultados vão de acordo com os estudos foliares de VIDAL &
POGNONEC (1984) para a cultura da soja, uma vez que as folhas com maior espessura
de epiderme foram as que apresentaram maior resistência à seca, e com a constatação de
CHAZDON & KAUFAMANN (1993) de que folhas de Piper arieianum sob alta
irradiação solar apresentaram maior espessura de epiderme, sugerindo-se assim que a
intensidade de luz está diretamente relacionada com o incremento na espessura da
lâmina foliar (TAIZ & ZEIGER, 2004).
Tabela 5 - Espessura da epiderme (µm) da face
adaxial, em secções transversais, em folhas de quatro
variedades cítricas: tangerinas Fremont, Ponkan e
Thomas e tangor Murcott.
Variedades Espessura da epiderme adaxial
(µm)
Ponkan 7,99 c*
Thomas 8,11 c
Murcott 8,89 b
Fremont 9,55 a
CV (%) 20,45 * Médias seguidas de mesma letra, minúscula na coluna, não diferem entre
si (Scott-Knott 5%).
41
Independente da variedade analisada, a espessura da epiderme da face adaxial
não difere ao longo da copa (T=topo, M=meio e B=base), o que mostra certa
homogeneidade para essa característica nas folhas, atribuindo-se assim uma mesma
capacidade de proteção independente do ponto observado. Contudo, permite a
comparação entre as quatro variedades estudadas, destacando-se a tangerina Fremont e
o tangor Murcott como as mais tolerantes, de uma forma geral, a maior radiação
incidente.
Estudos combinados de diferentes intensidades luminosas e dosagens de
hormônios mostraram que a expansão celular pode ser estimulada pela presença da luz,
seca e de vários hormônios como auxina, citocinina, giberilina e brassinoesteróides,
entretanto, os mecanismos ainda não estão totalmente entendidos, sendo necessário um
maior estudo envolvendo características endógenas, fitohormônios, e exógenas, fatores
ambientais (LEE et al., 2000).
Em relação à espessura da epiderme da face abaxial houve interação entre as
variedades e a posição das folhas na copa (Tabela 6). As variedades Thomas e Fremont
apresentaram maior eab, na base da copa (Figura 8 C; I), o equivalente a 12,16% a mais
que a eab das demais variedades avaliadas. Sendo que a tangerina Fremont apresentou
também maior eab nas folhas localizadas no meio da copa, aumento de 24,08% (Figura
8 A). Enquanto que a variedade Murcott, seguida da variedade Fremont, apresentaram
maior eab nas folhas que se encontram no topo da copa, aumento de 24,24% (Figura 8
D).
Segundo informações relatadas por SYVERTSEN & LIOYD (1994), em árvores
adultas de laranjas, cerca de 90% da radiação solar direta em um dia claro, e de 20 a
50% da radiação difusa em um dia nublado, são absorvidos na parte exterior da copa,
sendo que a maior parte da radiação que é transmitida e refletida, tanto na parte superior
quanto inferior da árvore, está compreendida no intervalo de 350 a 2500 nm, enquanto a
maior absorbância ocorre de 350 a 700 nm e de 400 a 700 nm, tanto na parte superior
quanto inferior da árvore (DERBY & GATES, 1966). O que ajuda a explicar a presença
de folhas mais espessas nas extremidades das árvores, sendo que o posicionamento das
mesmas na copa vai depender do comportamento de cada variedade em estudo.
42
Tabela 6 - Espessura da epiderme (µm) das faces
abaxial, em secções transversais, em folhas de quatro
variedades cítricas (tangerinas Fremont, Ponkan e
Thomas e tangor Murcott), coletadas em diferentes
posições da copa (base, meio e topo).
Variedades
Espessura da epiderme abaxial
(µm)
Base Meio Topo
Murcott 5,48 Bb* 5,64 Bb 6,56 Aa
Ponkan 5,63 Ab 6,10 Ab 5,70 Ab
Thomas 6,28 Aa 5,48 Bb 5,28 Bb
Fremont 6,65 Aa 6,80 Aa 6,45 Aa
CV (%) 21,37 * Médias seguidas da mesma letra, minúscula na coluna e maiúscula na
linha, não diferem entre si (Scott-Knott 5%).
Ao analisar o comportamento de cada variedade, isoladamente, podemos
observar que nas folhas do tangor Murcott a maior eab foi localizada no topo da copa
(Tabela 6; Figura 8 A), resposta essa comum nas plantas, pois tal característica está
relacionada com a maior radiação incidente nessa região do dossel; já na tangerina
Ponkan as espessuras da epiderme abaxial das folhas ao longo de toda a copa se
mostraram homogêneas (Tabela 6; Figura 8 J-L); enquanto que a tangerina Thomas
apresentou um comportamento diferente do esperado, uma vez que suas folhas
apresentaram maior eab na base da copa (Tabela 6; Figura 8 I), local onde,
normalmente, há um maior sombreamento, contudo isso pôde ser justificado pelo fato
dessa variedade apresentar uma arquitetura mais triangular, refletindo em maior
incidência de radiação solar na base da copa; por fim, na tangerina Fremont a altura da
copa não influenciou a espessura da epiderme da face abaxial, que no geral se mostrou
homogênea (Figura 8 D-F), contudo, é importante mencionar que a espessura das folhas
da tangerina Fremont sempre se mostrou maior que a espessura das folhas das outras
variedades analisadas (Tabela 6).
Tais resultados frisam a importância em se estudar e buscar uma arquitetura de
planta cítrica ideal para sua condição local, ou seja, que possibilite ao produtor
facilidade de cultivo, boa produtividade e frutos de qualidade. A arquitetura da planta
cítrica é determinada por uma série de fatores como variedade, porta-enxerto, condições
de solo, fitossanitárias e climáticas, as quais juntas determinam o vigor e o habito de
crescimento da mesma (STUCHI, 2012).
COHEN et al. (1987), ao avaliarem a influência da distribuição de radiação no
interior da copa de árvores adultas de laranjas, mostraram a influência da localização
43
das folhas ao longo do dossel na distribuição de radiação fotossinteticamente ativa,
revelando que copas cujas folhas recebem maior radiação solar são mais espessas e
consequentemente apresentam maior potencial fotossintético.
Também houve interação entre as variedades e a posição das folhas na copa,
quando se analisou os parênquimas paliçádico (pp) e esponjoso (pe). O tangor Murcott
apresentou maior espessura do pp nas três regiões da copa (Tabela 7), na base com
espessura 20,58% maior que nas demais variedades avaliadas (Figura 8 C;F;I;L), meio
com espessura 46,04% maior que nas tangerinas Thomas e Ponkan (Figura 8 B; H;K), e
no topo com espessura 69,70% maior que nas tangerinas Thomas e Ponkan (Figura 8
A;G;J). Dessa forma, a variedade Murcott mostrou uma arquitetura de planta
caracterizada por copas mais largas na parte superior, com bases sombreadas. A
tangerina Ponkan se mostrou mais homogênea, com a mesma espessura de parênquima
paliçádico ao longo da copa. A variedade Thomas apresentou menor espessura no ápice
em relação ao meio e a base, justificando sua arquitetura de copa em formato triangular.
E a tangerina Fremont mostrou um comportamento de copa mais globular, com folhas
mais espessas no topo da copa.
A variedade tangor Murcott foi a que apresentou folhas com maior espessura do
parênquima paliçádico em relação às folhas dos demais genótipos avaliados (Tabela 7;
Figura 8 A-C), não mostrando relação com a resistência ao fungo causador da MMA,
Alternaria alternata, uma vez que tal variedade é considerada suscetível. Concordando
com os resultados encontrados por HASSAN & BEUTE (1977), COOK (1981) e
SANINE & RODELLA (2012), e divergindo dos resultados obtidos por HEMIHGWAY
(1957), MAZZANI et al. (1972) e VEIGA et al. (1994), os quais verificaram maior
desenvolvimento do parênquima foliar em plantas resistentes.
Segundo CASTRO et al. (2009) alterações na espessura do limbo foliar podem
estar relacionadas a outros fatores como estresse hídrico, altas temperaturas, excesso de
radiação solar, mecanismos fotossintéticos, e não só ao mecanismo de resistência por
parte da planta. O parênquima paliçádico está intimamente relacionado com a
fotossíntese e um aumento na espessura desse tecido pode permitir maior fixação de
CO2 com abertura estomática em curto espaço de tempo, reduzindo a transpiração e
possibilitando uma maior resistência a seca por parte da planta (JONES, 1992). Dessa
forma o maior espessamento do parênquima paliçádico nas plantas de tangor Murcott
podem estar mais relacionados a maior capacidade para lidar com altas intensidades de
radiação solar e seca, do que para resistência varietal, uma vez que quanto maior a
44
radiação solar nas folhas, maior a espessura do parênquima paliçádico e
consequentemente maior o potencial fotossintético.
Tabela 7 - Espessura do parênquima paliçádico (µm), em
secções transversais, em folhas de quatro variedades cítricas
(tangerinas Fremont, Ponkan e Thomas e tangor Murcott),
coletadas em diferentes posições da copa (base, meio e topo).
Variedades
Espessura do parênquima paliçádico
(µm)
Base Meio Topo
Murcott 51,50 Ba* 58,88 Aa 57,89 Aa
Ponkan 43,73 Ab 41,75 Ac 45,70 Ab
Thomas 42,70 Ab 40,32 Ac 35,84 Bc
Fremont 46,88 Bb 51,23 Bb 60,83 Aa
CV (%) 19,82 * Médias seguidas da mesma letra, minúscula na coluna e maiúscula na linha, não
diferem entre si (Scott-Knott 5%).
Analisando a Tabela 8 podemos dizer que a tangerina Ponkan apresentou maior
espessura do parênquima esponjoso no meio da copa (Figura 8 K), refletindo uma copa
mais homogênea, cujo centro pode ter recebido uma quantidade ideal de radiação solar,
água e nutrientes, levando a um melhor desenvolvimento das folhas nessa região. Já as
folhas do tangor Murcott seguiram o padrão do parênquima paliçádico (Tabela 7), ou
seja, mostraram-se mais espessas no alto da copa (Figura 8 A), podendo refletir em
folhas de sol, com maior potencial fotossintético nessa região. Enquanto que as folhas
da tangerina Fremont apresentaram menor espessura do parênquima esponjoso na base
(Figura 8 F), era assim também para o parênquima paliçádico (Tabela 7), mostrando que
o ápice da planta dessa variedade recebeu maior radiação solar formando folhas mais
espessas, folhas de sol, o que é muito comum na maioria das plantas, mostrando um
maior potencial dessas folhas no alto e meio da copa. Contudo, a variedade Thomas
apresentou um comportamento diferente, ou seja, mostrou um maior espessamento do
parênquima esponjoso do que as demais variedades estudadas, nas folhas da base da
copa (Tabela 8; Figura 8 I), podendo ser uma condição de formato de copa triangular.
BATISTA et al. (2010) em seus estudos de anatomia foliar e potencial hídrico,
em variedades de café, relataram aumento da espessura do parênquima esponjoso em
variedades com menor potencial hídrico e aumento da espessura do parênquima
paliçádico em variedades de alto desempenho em condições de estresse hídrico. O que
nos auxilia na compreensão dos resultados encontrados neste trabalho (Tabelas 7 e 8),
45
levando-nos a pensar que, possivelmente, essas plantas proporcionaram uma
fotossíntese mais rápida do que o fato de potencialmente armazenarem o CO2 no
parênquima esponjoso. Uma vez que as funções principais do parênquima esponjoso são
acumular CO2 para a realização da fotossíntese e refletir a radiação no interior da folha
(CASTRO et al., 2009).
Tabela 8 - Espessura do parênquima esponjoso (µm), em
secções transversais, em folhas de quatro variedades cítricas
(tangerinas Fremont, Ponkan e Thomas e tangor Murcott),
coletadas em diferentes posições da copa (base, meio e topo).
Variedades Espessura do parênquima esponjoso (µm)
Base Meio Topo
Murcott 155,10 Ba* 167,69 Ba 185,45 Aa
Ponkan 135,31 Bb 175,06 Aa 143,92 Bb
Thomas 167,10 Aa 97,45 Cb 135,90 Bb
Fremont 142,55 Bb 175,06 Aa 171,15 Aa
CV (%) 25,15 * Médias seguidas da mesma letra, minúscula na coluna e maiúscula na linha, não
diferem entre si (Scott-Knott 5%).
A Tabela 9 mostra o desdobramento da interação entre as variedades (Fremont,
Murcott, Ponkan e Thomas) e a posição das folhas na copa (base, meio e topo) em
relação ao diâmetro da cavidade secretora (dcs), observando-se maior dcs nas folhas
localizadas na base e no meio da copa do tangor Murcott (Figura 8 B-C) contra maior
dcs nas folhas localizadas no meio e no topo da copa da tangerina Fremont (Figura 8 D-
E). De acordo com CASTRO et al. (2009) as cavidades secretoras estão relacionadas às
condições de defesa da planta contra a invasão de patógenos, crescimento microbiano e
outras formas de defesa. Dessa forma, quanto maior o diâmetro e o número de
cavidades secretoras nas folhas, maior será o potencial de produzir e armazenar os óleos
essenciais que ficam armazenados no lume da estrutura, servindo como substâncias de
defesa por parte da planta.
46
Tabela 9 - Diâmetro das cavidades secretoras foliares (µm),
em secções transversais, em quatro variedades cítricas
(tangerinas Fremont, Ponkan e Thomas e tangor Murcott),
coletadas em diferentes posições da copa (base, meio e
topo).
Variedades Diâmetro das cavidades secretoras (µm)
Base Meio Topo
Murcott 32,47 Aa* 30,56 Aa 27,86 Bb
Ponkan 24,70 Ab 24,30 Ab 26,02 Ac
Thomas 26,40 Ab 24,05 Bb 22,80 Bd
Fremont 26,24 Cb 28,89 Ba 31,70 Aa
CV (%) 15,97 * Médias seguidas da mesma letra, minúscula na coluna e maiúscula na linha, não
diferem entre si (Scott-Knott 5%).
Todavia, observa-se na Tabela 10 que a variedade Murcott, suscetível ao fungo
causador da MMA, apresentou, numericamente, maior distância entre as cavidades
secretoras, ou seja, menor densidade dessas estruturas neste genótipo (Figura 8 A-C).
Diferente da tangerina Fremont, variedade resistente, que, numericamente, apresentou
menor distância entre essas estruturas, ou seja, maior densidade de cavidade secretora
(Figura 8 D-F). Resultado similar foi constatado por HEMINGWAY (1957), ABDOU
(1966), TORRES & MARTÍNEZ (1992) e VEIGA et al. (1994), que relacionaram
plantas resistentes com maiores quantidades de idioblastos, estruturas secretoras
internas.
Tabela 10 - Distância entre as cavidades secretoras
foliares (µm), em secções transversais, em quatro
variedades cítricas (tangerinas Fremont, Ponkan e
Thomas e tangor Murcott), coletadas em diferentes
posições da copa (base, meio e topo).
Variedades Distância entre as cavidades
secretoras (µm)
Ponkan 83,14 b*
Thomas 97,97 a
Murcott 110,51 a
Fremont 79,78 b
CV (%) 84,72 * Médias seguidas da mesma letra, minúscula na coluna e maiúscula na
linha, não diferem entre si (Scott-Knott 5%).
De uma forma geral, a tangerina Fremont apresenta maior capacidade de defesa
por parte da planta que as demais variedades estudadas, uma vez que suas folhas
47
possuem cavidades secretoras de maior diâmetro e em maior quantidade; maior
espessura da face adaxial; e maior espessura da face abaxial, do parênquima paliçádico
e do parênquima esponjoso, na região superior da copa, garantindo assim maior
proteção para planta, uma vez que esta região é a mais atingida pelo fungo causador da
MMA. O que corrobora com os resultados encontrados por SANINE & RODELLA
(2012) ao analisarem as estruturas foliares relacionadas à espessura de parede, número
de idioblastos, número de estômatos, dentre outras, relacionando-as com o grau de
resistência de variedades e acessos de amendoim.
Figura 8 - Secções transversais de folhas de diferentes genótipos de Citrus (A-C:
Murcot; D-F: Fremont; G-I: Thomas; J-L: Ponkan) em diferentes alturas na copa das
plantas (A,D,G,J= alto da copa; B,E,H,K= região mediana da copa; C, F,I, L= Base da
copa). pp= parênquima paliçádico, pe= parênquima esponjoso, ead= epiderme da face
adaxial, eab= epiderme da face abaxial, cs= cavidade secretora, fv= feixe vascular.
Barras= 100 µm.
48
4.2 Análise sensorial
4.2.1 Teste de aceitabilidade e intenção de compra
Os frutos da tangerina Fremont utilizados para os testes de aceitabilidade e
intenção de compra foram colhidos no seu ponto ótimo de maturação (Tabela 11), mês
de julho, com ratio acima de 11, estando aptos ao consumo, de acordo com as normas
de classificação de citros de mesa (CEAGESP, 2011).
Tabela 11 - Médias das análises físico-químicas da tangerina Fremont (Centro APTA
Citrus Sylvio Moreira, IAC, julho 2012).
Variedade Massa
(g)
Ǿ L
(cm)
Ǿ T
(cm)
Rd.
Suco
(%)
Acidez
(g/100mL)
Sólidos
Solúveis
(oBrix)
Ratio Cor
(oh)
Fremont 125,5 6,7 5,7 44,8 0,97 11,16 11,50 51,11
*Média de 20 frutos, colhidos em junho/2012. Onde: Ǿ L = diâmetro longitudinal dos frutos (cm); Ǿ T =
diâmetro transversal dos frutos (cm).
Foram encontrados valores de 0,97 de acidez, 11,16 ºBrix e ratio de 11,50, ou
seja, um ótimo equilíbrio entre o doce e o ácido. A acidez é importante do ponto de
vista industrial, já que permite maior flexibilidade na adição de açúcar, quando do
preparo de bebidas prontas, além de conferir condições que dificultam a deterioração
por micro-organismos (FRANCO & LANDGRAF, 2005). De acordo PIO et al. (2005),
a principal variedade de tangerina comercializada no Brasil, a tangerina Ponkan,
apresenta um peso médio de 138 g, 43% de rendimento de suco, 10,8 oBrix, 0,85%
acidez e 12,7 ratio. Ou seja, características similares à tangerina Fremont, porém esta
apesar de possuir tamanho menor, apresenta uma coloração diferenciada de casca, polpa
e suco, o que poderá agradar não só o mercado de frutas frescas como também a
indústria processadora de suco.
Conforme resultados, os frutos de tangerina Fremont diferiram dos frutos de
tangerina Ponkan no tamanho, sendo fisicamente menores e mais leves, contudo
apresentam maior rendimento de suco (44,8% versus 43% da Ponkan). Por isso, o fato
de possuir frutos pequenos para o padrão nacional não representa uma desvantagem
comercial, uma vez que eles possuem maior teor de sólidos solúveis totais, o que
49
significa que são frutos de sabor pouco ácido, mais agradável ao paladar e não resultam
em desconforto gástrico (FRATA, 2006).
Quando analisada a relação entre SS/AT, no suco da tangerina Fremont, o mesmo
apresentou um ratio de 11,5, tendo uma ótima aceitação pelos consumidores avaliados
neste trabalho (Tabela 12), além de estar próximo do intervalo considerado ideal para o
processamento industrial, e dentro do intervalo de 8,8 e 15,4 relatado por SARTORI et
al. (2002) como adequados para o consumo in natura. É importante relatar que a relação
entre sólidos solúveis e acidez titulável, também conhecida como ratio, correlaciona-se
com o sabor e que, de acordo com COUTO & CANNIATTI-BRAZACA (2010),
valores de ratio entre 12 e 13 são ideias para se iniciar o processamento industrial.
Outro ponto positivo da tangerina Fremont, em relação ao mercado consumidor,
é a sua coloração de casca, que no presente trabalho mostrou-se laranja intensa, ângulo
Hue de 51,11, enquanto que a tangerina Ponkan, estudada por SILVA et al. (2014),
apresentou coloração amarelo alaranjado e ângulo Hue variando de 62,6 a 76,9. Um dos
parâmetros fundamentais para o mercado de fruta fresca é a coloração externa do fruto
(IGLESIAS et al., 2001). A coloração externa tem sido considerada como um atributo
de qualidade de grande importância e, segundo MAZZUZ (1996) constitui um dos
fatores determinantes para a aquisição dos frutos pelos consumidores. PIO et al. (2001)
relatam que, de maneira geral, as variedades de tangerinas e híbridos que obtêm
coloração de casca alaranjada, apresentam uma melhor aceitação pelo público
consumidor.
Contudo, a variedade Fremont é um produto recomendado para o mercado de
frutas frescas, por apresentar frutos diferenciados, os preços podem ser bastante
interessantes para os produtores. Opcionalmente, em função da qualidade da sua polpa,
o suco da tangerina Fremont pode ser colocado na agroindústria, como um suco de
tangerina diferenciado, embora o mercado de frutas frescas remunere melhor esse tipo
de produto (ASSOCITRUS, 2012).
Com relação ao teste sensorial de aceitação (antes do armazenamento), tanto o
suco quanto o fruto de tangerina Fremont obtiveram altos índices de aprovação, 85,5% e
82,8%, respectivamente (Tabela 12). FIGUEIREDO (1991) constatou em seu estudo
que a tangerina Ponkan apresenta grande aceitação por parte do consumidor devido a
vários aspectos, tais como a coloração acentuada, o sabor doce, o fácil descascamento e
o tamanho do fruto que é mais expressivo que o das demais, normalmente encontradas
no mercado.
50
Tabela 12 - Nota média de aceitação e porcentagens de aprovação, indiferença e
rejeição das amostras de fruto e suco da tangerina Fremont (Cordeirópolis, SP, 2012).
Amostra Nota* Aprovação
(%)**
Indiferença
(%)***
Rejeição
(%)****
Fruto 6,9 82,8 4,7 12,5
Suco 7,2 85,5 6,5 8,0 *Média das notas dadas pelos 50 julgadores; **Aprovação (%) = porcentagem de notas de 6 a 9;
***Indiferença (%) = porcentagem de notas 5; Rejeição (%) = porcentagem de notas de 1 a 4.
A cor e sabor dos frutos da tangerina Fremont também foram as características
mais apreciadas pelos consumidores (Figura 9). Contudo, os julgadores acharam o suco
mais saboroso do que a fruta, alegando que a fruta mostrou maior acidez em relação ao
suco e que o suco apresentou um ótimo equilíbrio entre o doce e o ácido, agradando o
paladar da maioria dos julgadores.
Figura 9 – Mapas de aceitação sensorial do suco (a) e do fruto (b) da tangerina Fremont
utilizando uma escala hedônica de 9 pontos (Cordeirópolis, SP, 2012).
Dessa forma, a soma das características positivas avaliadas, como sabor, cor,
aroma, firmeza e consistência interna (Figura 9), contribuiu de forma satisfatória para
intenção de compra de tal variedade pelos julgadores avaliados, uma vez que 93% e
94% dos julgadores afirmaram comprar o fruto e o suco da tangerina Fremont,
respectivamente.
4.2.2 Teste de ordenação e preferência
Frutos de Fremont, do híbrido TMxLP 281 e da Ponkan foram colhidos no mês de
maio, ano de 2013, cuja maturação está de acordo com as normas de classificação de
a b
51
citros de mesa (CEAGESP, 2011) e, portanto, adequados para o consumo, ou seja,
valores de ratios iguais a 10,73; 13,07 e 11,93, respectivamente (Tabela 13).
Tabela 13 - Médias das análises físico-químicas das tangerinas Fremont, Ponkan e do
híbrido TMxLP 281 (Centro APTA Citros Sylvio Moreira, IAC, maio 2013).
Variedade Massa
(g)
Ǿ L
(cm)
Ǿ T
(cm)
Rd.
Suco
(%)
Acidez
(g/100m
l)
Sólidos
Solúveis
(oBrix)
Ratio
Fremont 100,0b 5,1a 6,1b 46,3a 0,98a 10,57a 10,7c
TMXLP 281 162,0a 6,0a 7,4a 39,6a 0,79b 10,33a 13,1a
Ponkan 111,7b 5,4a 6,9ab 44,9a 0,77b 9,17a 11,9b
CV (%) 4,17 6,09 4,80 12,67 6,32 5,20 2,34 *Média de 20 frutos, colhidos em maio/2013. Onde: Ǿ L = diâmetro longitudinal dos frutos (cm); Ǿ T =
diâmetro transversal dos frutos (cm).
A tangerina Fremont se destacou por apresentar frutos de coloração mais laranja,
mais firmes e com aroma cítrico forte (Tabela 14). A coloração da casca da tangerina
Fremont, laranja intensa, é bastante atrativa para o mercado consumidor, quer seja o
nacional ou internacional, a busca por frutas de coloração atrativa é cada vez mais
constante entre os consumidores que estão cada vez mais exigentes em relação à
qualidade dos alimentos (PIO, 2014). O fato dos frutos da tangerina Fremont serem
classificados como mais firmes é outro aspecto positivo, PARASKEVOPOULOU-
PAROUSSI et al. (1995) ao estudarem a qualidade pós-colheita de morangos relataram
a importância da comercialização de frutos firmes pois os mesmos contribuem na
manutenção da sua qualidade durante o período de armazenamento.
Tabela 14 - Escores médios por atributo de três
variedades cítricas analisadas, tangerinas Fremont e
Ponkan e o híbrido TMxLP281 (Centro APTA Citros
Sylvio Moreira, IAC, 2013).
Atributos Fremont Ponkan TMxLP 281
Cor 83 a 49 b 48 b
Textura 40 b 78 a 62 a
Descasque 45 b 74 a 61 ab
Sabor 54 b 45 b 81 a
Sementes 35 a 37 a 18 b
Tamanho 59 ab 51 b 70 a
Firmeza 84 a 50 b 46 b
Aroma 71 a 47 b 62 ab
Fibrosidade 61 a 67 a 52 a
Preferência 37 a 10 b 43 a Valores seguidos de letras iguais na linha não diferem estatisticamente pelo teste de Friedman a
5% de significância.
52
O aroma acentuado da variedade Fremont é mais um ponto favorável, uma vez
que possibilita a exploração do óleo essencial de seus frutos, subproduto da indústria de
suco. BIZZO et al. (2009) ao estudarem os óleos essenciais no Brasil relataram que os
óleos de tangerina, limão e laranja estão entre as composições cítricas mais vendidas no
mundo para a perfumaria.
Já nos atributos textura de casca e facilidade de descasque as variedades Ponkan e
o híbrido 281 apresentaram vantagem em relação a Fremont, pois as mesmas mostraram
cascas mais lisa e de fácil descasque. SANTOS et al. (2010) ao caracterizarem físico-
quimicamente frutos cítricos mostraram que as variedades Nova, Okitsu, Marisol e
Clemenules apresentaram casca mais fina, e portanto mais fáceis de serem destacadas.
No quesito sabor, número de sementes e fibrosidade a tangerina Fremont não
diferiu estatisticamente da tangerina Ponkan, variedade mais consumida no mercado
brasileiro. PIO (1993) ao caracterizar e avaliar os frutos de oito variedades de tangerinas
elencou as características principais de qualidade para o mercado de fruta fresca, sendo
que sabor, cor, tamanho e número reduzido de sementes estavam no topo da lista. Vale
mencionar que no presente estudo as variedades Fremont, Ponkan e o híbrido 281
estavam dentro dos padrões ideais de comercialização estipulados pelo CEAGESP
(2011). No quesito número de sementes, estudos já estão sendo realizados pelo Centro
APTA Citros Sylvio Moreira, para redução do número de sementes das variedades
Fremont e do híbrido TMxLP281 através do método de irradiação.
Quando questionados sobre a ordem de preferência entre as amostras o resultado
foi revelador, uma vez que os julgadores preferiram as novas variedades – tangerina
Fremont e o híbrido TMxLP 281, à tangerina Ponkan. Fato este extremamente
importante e que mostra o potencial destas novas variedades para o mercado de fruta in
natura, uma vez que se sobressaíram a rainha das tangerinas, a tangerina Ponkan, que
de acordo com PIO et al. (2001) é a variedade de tangerina mais popular e apreciada
não só por consumidores brasileiros como também por consumidores asiáticos.
4.3 Análise fitotécnica
4.3.1 Espaçamento
Como esperado, as plantas de ambos os experimentos cresceram com o passar
dos anos. Observou-se, contudo, que o desenvolvimento vegetativo das plantas em cada
53
espaçamento nos quatro anos de avaliação não foi afetado, o mesmo ocorreu em relação
à produção que foi maior no último ano de avaliação (2014). Os resultados deste
experimento mostram que, até o sexto ano após o plantio, a produção por planta, nos
espaçamentos mais adensados, bem como seu desenvolvimento vegetativo, não
diminuíram, confirmando observação de FORSYTH (1980) de que um contato
moderado entre as copas, até seis anos após plantio, não prejudica o crescimento e a
produção das mesmas.
Diferenças no desenvolvimento vegetativo das plantas de tangerina Fremont,
dentro dos diferentes espaçamentos propostos, foram observadas apenas no ano de
2014, quando as mesmas completaram seis anos (Tabela 15). Tanto no ensaio de Capão
Bonito/SP como Porto Feliz/SP, as plantas que se encontravam no espaçamento mais
adensado, 6,0 x 1,5 m e 7,0 x 1,5 m, foram as que apresentaram menor desenvolvimento
vegetativo, enquanto que as plantas presentes nos espaçamentos 7,0 x 3,5 m e 6,0 x 3,0
m foram as mais desenvolvidas.
Plantas submetidas a espaçamentos mais adensados apresentaram menor
desenvolvimento vegetativo e produtivo, uma vez que as mesmas além de buscarem sua
máxima produtividade, competem mais por luz, água e nutrientes (ATROCH et al.,
2001); a entrada da luz é o fator ambiental responsável por prover energia para a
fotossíntese, crescimento da planta e carregamento dos frutos (TUCKER et al.,1994).
Quanto à produção (kg planta-1
) e produtividade (t ha-1
) as plantas da tangerina Fremont
apresentaram comportamento diferente em detrimento ao espaçamento de plantio nos
dois experimentos, Porto Feliz/SP e Capão Bonito/SP (Tabela 16). Em Porto Feliz/SP,
maior produção foi obtida no espaçamento de 7,0 x 3,5 m (17,6 kg planta-1
) no ano de
2014 e maior produtividade (t ha-1
) no espaçamento de 7,0 x 1,5 m (952 plantas ha-1
),
nos dois anos de avaliação (2013 e 2014), 8,02 t ha-1
e 11,16 t ha-1
, respectivamente. O
mesmo observa-se no experimento de Capão Bonito/SP, no qual as maiores produções
estão nos espaçamentos de 6,0 x 3,0 m (27,7 kg planta-1
) e 6,0 x 2,5 m (26,0 kg planta-
1), no ano de 2014, e a maior produtividade por hectare no espaçamento de 6,0 x 1,5 m
(1111 plantas ha-1
), nos três anos de avaliação (2012, 2013 e 2014), 14,38 t ha-1
, 22,03 t
ha-1
e 18,33 t ha-1
, respectivamente (Tabela 16).
54
Tabela 15 - Altura (A), diâmetro (D) e volume de copa (VC) das plantas de tangerina Fremont nos diferentes espaçamentos propostos (Porto
Feliz/SP e Capão Bonito/SP, 2011-2014).
Espaçamentos 2011 2012 2013 2014
(m) A D VC A D VC A D VC A D VC
---------(m)---------- (m3) ---------(m)---------- (m
3) ---------(m)---------- (m
3) ---------(m)---------- (m
3)
--------------------------------------------------------------------Fazenda Ana Maria, Porto Feliz/SP--------------------------------------------------------
7,0 x 3,5 - - - 1,14aB* 0,76aB 0,35aA 1,24aAB 1,13aA 0,86aA 1,36abA 1,28aA 1,17aA
7,0 x 3,0 - - - 1,15aB 0,82aB 0,42aB 1,23aAB 1,13aA 0,85aA 1,35abA 1,19abA 1,02abA
7,0 x 2,5 - - - 1,21aB 0,79aB 0,42aC 1,21aB 1,09aA 0,76aB 1,47aA 1,21abA 1,15aA
7,0 x 2,0 - - - 1,16aB 0,75aB 0,34aB 1,33aA 1,09aA 0,86aA 1,39abA 1,15abA 0,97abA
7,0 x 1,5 - - - 1,12aB 0,69aB 0,29aB 1,34aA 1,11aA 0,89aA 1,26bAB 1,07bA 0,78bA
CV(%) - - - 6,70 8,50 20,63 6,70 8,50 20,63 6,70 8,50 20,63
------------------------------------------------------Pólo Regional do Sudoeste Paulista, Capão Bonito/SP----------------------------------------------
6,0 x 3,5 1,69aA 1,14aB 1,16aC 1,66aA 1,30aAB 1,50aBC 1,73aA 1,45aA 1,93aAB 1,90aA 1,53abA 2,33abA
6,0 x 3,0 1,56aB 1,26aB 1,31aC 1,80aAB 1,46aAB 2,01aBC 1,76aAB 1,40aAB 1,81aB 1,90aA 1,65aA 2,73aA
6,0 x 2,5 1,62aA 1,19aB 1,20aC 1,75aA 1,40aAB 1,86aB 1,79aA 1,48aA 2,06aAB 1,86aA 1,60abA 2,55abA
6,0 x 2,0 1,59aB 1,19aB 1,18aB 1,73aAB 1,26aAB 1,49aB 1,79aAB 1,35aAB 1,72aAB 1,93aA 1,46abA 2,18abA
6,0 x 1,5 1,50aB 1,09aB 1,02aB 1,76aAB 1,33aAB 1,63aAB 1,74aAB 1,45aA 1,93aA 1,88aA 1,35bAB 1,91bA
CV(%) 4,36 8,45 12,40 4,36 8,45 12,40 4,36 8,45 12,40 4,36 8,45 12,40 *médias seguidas de mesma letra, maiúscula na linha e minúscula na coluna, para cada parâmetro avaliado, não diferem entre si (Tukey 5%).
55
Tabela 16 - Produção (kg planta-1) e produtividade (t ha-1) de tangerina Fremont
enxertada em limão Cravo, plantada em diferentes espaçamentos (Porto Feliz/SP e
Capão Bonito/SP, 2012-2014).
Espaçamentos Produção (Kg planta-1
) Produtividade (t ha-1
)
(m) 2012 2013 2014 2012 2013 2014
------------------------------------- Porto Feliz/SP-----------------------------
7,0 x 3,5 - 9,58aB* 17,57aA - 3,91cB 7,17bA
7,0 x 3,0 - 9,00aB 14,76abA - 4,28bcB 7,03bA
7,0 x 2,5 - 8,82aA 10,62bA - 5,04bcA 6,07bA
7,0 x 2,0 - 9,63aA 10,37bA - 6,88abA 7,41bA
7,0 x 1,5 - 8,42aA 11,71bA - 8,02aB 11,16aA
CV(%) - 20,31 - 24,49
---------------------------------- Capão Bonito/SP----------------------------
6,0 x 3,5 13,74aB 23,44aA 24,20abA 6,54bA 11,16bA 11,52aA
6,0 x 3,0 16,09aB 23,88aA 27,74aA 8,93abB 13,25bAB 15,39aA
6,0 x 2,5 13,76aB 19,60aAB 25,99aA 9,17abB 13,05bAB 17,31aA
6,0 x 2,0 13,69aB 21,54aA 21,50abA 11,40abB 17,94abA 17,91aA
6,0 x 1,5 12,95aA 19,83aA 16,49bA 14,38aB 22,03aA 18,33aAB
CV(%) 21,18 24,49 *médias seguidas da mesma letra, maiúscula na linha e minúscula na coluna, não diferem entre si (Tukey
5%) para cada variável em cada ano de avaliação.
Fazendo-se uma projeção da produtividade acumulada, em toneladas por hectare
(Figura 10), para cada espaçamento proposto, chega-se a altos valores como 19,17 t ha-1
no espaçamento mais adensado de 7,0 x 1,5 m em Porto Feliz/SP, e 54,74 t ha-1
no
espaçamento de 6,0 x 1,5 m em Capão Bonito/SP, contra 11,08 t ha-1
nas parcelas com
plantio menos adensado de 7,0 x 3,5m em Porto Feliz/SP e 29,22 t ha-1
no espaçamento
de 6,0 x 3,5 m em Capão Bonito/SP, em duas e três safras consecutivas,
respectivamente.
Nos anos de 2013-2014, observou-se que tanto a produção quanto a
produtividade foi maior no experimento de Capão Bonito/SP do que no experimento de
Porto Feliz/SP. Um dos fatores que podem ter influenciado nessa questão são
temperatura e precipitação média, no período de avaliação de tais ensaios, que em
Capão Bonito foi de 18,0 oC e 1.242,0 mm e em Porto Feliz/SP foi de 22,0
oC e 1.176,7
mm.
Segundo as informações de DI GIORGI et al. (1991), o clima é de extrema
importância na variação de ratio, florada e produção, de ano para ano. Como também é
mencionado por VOLPE et al. (2002), as variações meteorológicas que ocorrem durante
56
os anos podem influenciar na qualidade dos frutos. Desse modo, é possível inferir que
as variações ocorridas na produção e produtividade, dos anos de 2013 e 2014, foram
devidas à influência do clima sobre as plantas, sendo que segundo ORTOLANI &
CAMARGO (1987) o clima responde por 60 a 70% da variabilidade da produção
agrícola, e dentre as principais variações meteorológicas estão a temperatura e a
precipitação (chuva).
Num estudo de MEDINA et al. (2005) a temperatura máxima limite para
promover a floração ainda não está bem definida, embora tais autores acreditem que
esteja em torno de 19 °C e que temperaturas superiores a 22 °C já sejam ineficientes. A
indução floral resulta de estímulos ambientais, normalmente proporcionados pela
diminuição da temperatura ou por período de seca para as condições climáticas do
Estado de São Paulo (MOSS, 1969).
Um período de déficit hídrico e elevada temperatura aconteceu entre agosto e
outubro/2014, em Porto Feliz/SP (médias de 15 mm e 21 oC), diferente do ocorrido no
mesmo período em Capão Bonito/SP (médias de 21 mm e 17 oC). A produção foi
influenciada pelo estresse ocorrido entre agosto e outubro/2014, o que possivelmente
prejudicou o pegamento e a formação dos frutos, refletindo na menor produção no
ensaio em Porto Feliz/SP.
Figura 10 - Produtividade estimada, acumulada em t ha-1
, para os diferentes
espaçamentos adotados para tangerina Fremont (A - Porto Feliz/SP, 2013-2014 e B -
Capão Bonito/SP, 2012-2014). Médias seguidas de mesma letra, para cada local, não
diferem entre si (Tukey, 5%).
A B
57
Na Figura 11, observam-se o desenvolvimento vegetativo e produtivo das plantas
de Fremont, no espaçamento mais e menos adensado (6,0 x 1,5 m e 6,0 x 3,5 m).
Figura 11 - Vista geral das plantas de tangerina Fremont, do espaçamento mais (acima)
e menos (abaixo) adensado (Capão Bonito/SP, maio/2014).
58
TEÓFILO SOBRINHO et al. (2002) ao estudarem a influência do adensamento
de plantas na produtividade de um pomar de laranja Hamlim sobre porta-enxerto de
limão Cravo, por um período de 12 safras (1989-2000), nos espaçamentos de 6,0 m x
1,0 m (1666 plantas ha-1
), 6,0 m x 2,0 m (833 plantas ha-1
), 6,0 m x 3,0 m (555 plantas
ha-1
) e 6,0 m x 4,0 m (416 plantas ha-1
), também verificaram maior produtividade (t ha-
1) no espaçamento mais adensado (produção acumulada de 645 t ha
-1).
Sucesso em pomares mais adensados também foi relatado por DONADIO &
STUCHI (2001), ao avaliarem o comportamento da lima ácida Tahiti enxertada sobre
trifoliata Flying Dragon em quatro espaçamentos diferentes [4,0 m x 1,0 m (2.500
planta ha-1
); 4,0 m x 1,5m (1.666 planta ha-1
); 4,0 m x 2,0 m (1.250 planta ha-1
) e 4,0 m
x 2,5m (1.000 planta ha-1
)], mostraram que, após as três primeiras colheitas, o maior
adensamento (2.500 planta ha-1
) foi responsável pelas maiores produtividades (média de
21,6 t ha-1
), enquanto que o menor adensamento (1000 planta ha-1
) pelas menores
produtividades (média de 13,1 t ha-1
).
Na avaliação de cinco seleções de laranja Valência sobre dois porta-enxertos
(citrumelo Swingle e tangerina Sunki), em dois diferentes espaçamentos (7,0 x 5,0 m e
7,0 x 3,0 m), realizada por TOMASETTO et al. (2009) a produtividade do pomar de 5
anos também foi maior no espaçamento mais adensado (476 plantas ha-1
), 21,5 t ha-1
,
contra 8,4 t ha-1
no maior espaçamento (285 plantas ha-1
).
Recentemente, GRIZOTTO et al. (2012), realizaram um estudo de pacote
tecnológico num pomar de laranja Valência, de dois anos e nove meses, incluindo três
diferentes espaçamentos (5,5 m x 2,5 m; 6,0 m x 2,5 m; 6,5 m x 2,5 m), em comparação
com um sistema convencional (com base nas recomendações oficiais para citros no
estado de São Paulo) e encontraram maior rendimento de colheita (12,3 t ha-1
) no maior
adensamento, 5,5 m x 2,5 m (727 plantas ha-1
), contra 3,98 t ha-1
no menor
adensamento, 6,5 m x 2,5 m (615 plantas ha-1
).
Pode-se dizer que o adensamento dos pomares de citros é uma tendência,
atualmente, na citricultura brasileira, visando aumento da produção por área
(produtividade). Produtores com pomares implantados com espaçamentos
convencionais (não adensados) têm sofrido com a drástica redução do stand de plantas
dos talhões, em detrimento a erradicação de plantas infectadas com huanglongbing
(HLB, ex-greening). Quando se fala em pomar adensado, essa erradicação pode ser
atenuada, não influenciando na redução de produtividade do talhão, pois rapidamente
uma planta ocupará o espaço da outra.
59
De acordo com tais resultados o adensamento de plantio em citros além de
reduzir os custos de colheita e melhorar a eficiência dos tratos fitossanitários, é uma
ferramenta favorável ao aumento de produtividade dos pomares.
4.3.2 Porta-enxerto
No ensaio de porta-enxerto locado em Mogi Mirim/SP, os resultados evidenciam
maior volume de copa, da tangerina Fremont, quando enxertada em limão Cravo e
citrumelo Swingle, por outro lado menores valores são observados no Poncirus
trifoliata e Flying Dragon (Tabela 17 e Figura 12). Mesma tendência se observou para
produção por planta, contudo, não houve diferença significativa para a eficiência
produtiva, entre 2012 e 2013 o que também foi observado por NÚÑEZ et al. (2007).
LEDO et al. (1999) ao avaliarem o comportamento de laranjas doces sobre
diferentes porta-enxertos também relataram maior volume de copa na combinação que
utilizou o limão Cravo como porta-enxerto, ou seja, laranja Aquiri sobre limão Cravo
(57,4 m3), e maior produção por planta na combinação Natal 112 com o porta-enxerto
limão Cravo (160,5 kg planta-1
).
Estudo com cinco porta-enxertos para a tangerina Michal, no Rio Grande do Sul,
mostrou resultado parecido com o deste trabalho, uma vez que na média dos três anos
de avaliação, a altura, a área de projeção da copa e a produção das plantas enxertadas
sobre o Flying Dragon foram menores do que nos demais porta-enxertos avaliados, 1,56
m e 1,46 m2 e 6 kg planta
-1, respectivamente (BRUGNARA et al., 2009). Enquanto que
os tratamentos com os porta-enxertos limão Cravo e citrumelo Swingle proporcionaram
maiores valores, sendo para o limão Cravo 2,14 m, 3,25 m2 e 37,0 kg palnta
-1 e para o
citrumelo Swingle 2,12 m, 3,25 m2 e 34,0 kg planta
-1. Contudo, no tocante ao índice de
produtividade, não houve diferença estatística entre os porta-enxertos limão Cravo,
citrumelo Swingle e Flying Dragon.
STENZEL et al. (2003), que compararam sete porta-enxertos em tangerina
Ponkan, no estado do Paraná, também encontraram rendimentos equivalentes para as
plantas enxertadas sobre limão Cravo, enquanto as plantas em P. trifoliata apresentaram
menores rendimentos. O limão Cravo já apresentou ótima produção em estudos com
diversas tangerinas como Fallglo [(C. reticulata Blanco x (C. paradisi Macf. x C.
reticulata Blanco)] x (C. reticulata x C. sinensis L. Osbeck) (MOURÃO-FILHO et al.,
2007), Ponkan (STENZEL et al., 2003), satsuma Okitsu (C. unshiu Marcow.)
60
(CANTUARIAS-AVILÉS et al., 2010) e Fremont (NÚÑEZ et al., 2007), confirmando
seu alto desenvolvimento vegetativo e seu rendimento produtivo (POMPEU JUNIOR,
2005).
Tabela 17 - Desenvolvimento vegetativo (altura - A, diâmetro - D e volume de copa
VC), produção (P) e eficiência produtiva (EP) das plantas de Fremont no experimento
de avaliação em diferentes porta-enxertos (Mogi Mirim/SP, 2012, 2013 e 2014).
Porta-Enxerto A D VC P EP
(m) (m) (m³) (kg planta-1
)
(kg m-3
copa)
-------------------------------------2012-------------------------------------
limão Cravo 1,72 a* 1,25 a 1,45 a 14,96 ab 10,32 a
citrumelo Swingle 1,51 a 1,19 a 1,13 ab 16,81 a 14,88 a
Poncirus trifoliata 1,47 a 1,00 ab 0,77 bc 7,87 bc 10,22 a
Flying Dragon 1,00 b 0,78 b 0,31 c 5,10 c 16,45 a
-------------------------------------2013--------------------------------------
limão Cravo 1,70 ab 1,50 a 2,05 a 13,97 a 11,46 a
citrumelo Swingle 1,78 a 1,40 a 1,85 a 12,31 ab 15,13 a
Poncirus trifoliata 1,59 b 1,15 b 1,12 b 11,12 ab 10,35 a
Flying Dragon 1,34 c 1,04 b 0,78 b 7,53 b 16,26 a
-------------------------------------2014--------------------------------------
limão Cravo 1,96a 1,71a 3,00a 21,37 b 7,12 b
citrumelo Swingle 1,99a 1,53b 2,45ab 41,70 a 17,02 a
Poncirus trifoliata 1,89a 1,31c 1,70b 18,23 b 10,72 b
Flying Dragon 1,36b 1,03d 0,76c 14,10 c 18,55 a *médias seguidas de mesma letra, na coluna, não diferem entre si (Tukey, 5%).
Em 2014, destaca-se a alta eficiência produtiva das plantas em Flying Dragon,
não diferindo do citrumelo Swingle. Essa característica do Flying Dragon é relatada
para outras copas como a lima ácida Tahiti (STUCHI et al., 2003). SCHAFFER et al.
(2001) também relatam influência direta do porta-enxerto no vigor da copa enxertada,
induzindo diferenças no tamanho da copa e sua produção. Em geral, o Poncirus
trifoliata acarreta em menor vigor da copa quando comparado com porta-enxertos mais
vigorosos como, por exemplo, o limão Cravo.
Entretanto o porta-enxerto Flying Dragon é visto como potencial para plantações
de alta densidade em pomares cítricos, ideia também defendida por GONZATTO et al.
(2011) ao avaliarem a performance da tangerina Oneco em seis porta-enxertos, no sul
do Brasil, relatando maior eficiência da produção acumulada para as árvores enxertadas
sobre o referido cavalo.
61
A redução do crescimento vegetativo observada em árvores enxertadas sobre
Flying Dragon indica a característica de nanismo deste porta-enxerto, que segundo
CHENG & ROOSE (1995) é responsável por manter a altura da planta sob 2,5 m. No
presente estudo, as plantas de Fremont estavam com seis anos de idade e as copas
enxertadas sobre Flying Dragon apresentaram menor altura de planta (1,36 m) no ano
de 2014. Características vegetativas semelhantes foram observadas em plantas com oito
anos de idade, sob laranja Monte Parnaso (REIS et al., 2006) e com dez anos de idade
sob tangerina Michal (BRUGNARA et al., 2009). ROOSE (1986) também observou
redução semelhante na altura do dossel e no volume de copa das plantas de laranja
Valência enxertadas sobre Flying Dragon.
Figura 12 - Plantas de tangerina Fremont em 2012 (acima) e 2013 (abaixo); da
esquerda para direta em: Flying Dragon, Poncirus trifoliata, citrumelo Swingle e limão
Cravo (Sítio Lagoa Bonita, Mogi Mirim/SP, 2012-2013).
Quando foram analisados os atributos físico-quimicos, os frutos da tangerina
Fremont sobre diferentes porta-enxertos, observou-se que os frutos provenientes de
plantas enxertadas sobre limão Cravo e citrumelo Swingle apresentaram frutos com
maiores massas (Tabela 18), sendo que os frutos provenientes da combinação com
limão Cravo apresentaram também índice de acidez reduzido. Segundo SARTORI et al.
(2007), o aumento do tamanho do fruto, ocasiona uma redução na concentração de
ácidos por um efeito de diluição.
A
B
62
Outro aspecto que merece ser mencionado é a porcentagem de suco nos frutos,
uma vez que é um fator importante para qualquer variedade, sendo ela consumida in
natura ou para industrialização (BARBASSO, 2005). Independente do porta-enxerto
utilizado, a variedade Fremont obteve as mesmas respostas ao rendimento de suco,
valores entre 41 e 47 %, considerado dentro do padrão de comercialização de fruta in
natura (BRUGNARA et al., 2009). SILVA et al. (2013) também verificaram que o fator
rendimento de suco não diferiu estatisticamente entre os porta-enxertos analisados.
Efeito similar foi relatado para as tangerinas Sunburst e Fallglo enxertadas sobre quatro
porta-enxertos (MOURÃO-FILHO et al., 2007) e também para tangor Murcott sobre 16
porta-enxertos (FIGUEIREDO et al., 2006).
Tabela 18 - Massa (M) dos frutos, rendimento (RS), acidez (A), sólidos solúveis totais
(SST) e ratio do suco de frutos de tangerina Fremont em diferentes porta-enxertos, no
município de Mogi Mirim/SP (2012-2014).
Porta-enxerto Massa
(g)
Rd.
Suco
(%)
Acidez
(g/100 mL)
Sólidos
Solúveis
(oBrix)
Ratio
limão Cravo 126,8a* 43,2a 0,90c 13,46b 12,60a
citrumelo Swingle 107,0b 46,9a 1,10b 11,46c 12,57a
Poncirus trifoliata 104,3b 45,2a 1,18a 14,70a 12,47a
Flying Dragon 87,1c 41,5a 1,05b 13,90b 13,27a *médias seguidas de mesma letra, na coluna, não diferem entre si (Tukey, 5%). Frutos coletados no
mês de junho.
No quesito sólidos solúveis, constatou-se que os melhores valores foram
observados nos frutos das combinações copa (tangerina Fremont) com Poncirus
trifoliata, seguido por Flying Dragon. Resultados diferentes foram apresentados por
NÚÑEZ et al. (2007) que relataram como frutos de melhor qualidade para tangerina
Fremont aqueles obtidos sobre os porta-enxertos citrumelo Swingle e tangerina
Cleópatra, especialmente no que se refere a sólidos solúveis e acidez titulável.
Em contra partida, resultados similares foram observados por STENZEL et al.
(2003), os quais relataram maiores teores de SST em Ponkan enxertada sobre P.
trifoliata em comparação com árvores em limão Cravo e limão Volkameriano. Bem
como por GONZATTO et al. (2011) que mostraram maiores teores de SST e AT em
frutos da copa de tangerina Oneco enxertada em Flying Dragon e por YONEMOTO et
al. (2004) que observaram que os frutos de Satsuma Shirakawa enxertada sobre Flying
63
Dragon apresentaram sólidos solúveis maiores em comparação com aqueles em P.
trifoliata, independentemente da carga de frutos nas árvores.
Já em relação aos menores teores de sólidos solúveis, GEORGIOU (2000),
NÚÑEZ et al. (2007), MOURÃO-FILHO et al. (2007) e BRUGNARA et al. (2009)
encontraram valores inferiores em plantas cítricas enxertadas sobre limão Cravo em
comparação com outras enxertadas em citrumelo Swingle. Valor similar foi encontrado
nesta pesquisa cuja combinação de Fremont com os porta-enxertos citrumelo Swingle e
limão Cravo proporcionaram frutos com valores inferiores as demais combinações
copa/porta-enxerto. É por estes e outros resultados que CANTUARIAS-AVILÉS et al.
(2010), em suas avaliações com tangerinas, afirmam que a melhor qualidade do fruto
está diretamente associada ao elevado teor de SST.
Apesar das alterações nos valores de acidez e sólidos solúveis das combinações
estudadas, os dados de ratio evidenciam que os frutos encontravam-se no mesmo
estádio de maturação em todas as combinações de porta-enxertos, não diferindo
estatisticamente entre si, estando todos aptos à colheita. A relação Brix/acidez indica o
ponto de maturação e de colheita dos frutos, característica importante nas variedades
cítricas (PIO et al., 1993). Segundo Samson, citado por KOLLER (1994), a relação
Brix/acidez ideal seria entre 10 e 16. Conforme os resultados obtidos (Tabela 6), as
combinações avaliadas atingiram valores adequados para o consumo in natura (mínimo
de 8,0) e para a industrialização (mínimo de 10), o que confere com os padrões citados
por CAMPOS (1976).
4.3.3 Raleio
No ensaio de raleio instalado em Capão Bonito/SP, houve diferença entre os
diferentes tratamentos, que influenciaram a porcentagem de frutos produzidos com
diferentes calibres. O raleio de 50% proporcionou maior porcentagem de frutos com
diâmetro acima de 7,0 cm (17,4%) e menor porcentagem de frutos com diâmetro
inferior a 6,0 cm (28,2%) em relação à testemunha, mostrando a importância de se
realizar essa prática nos pomares de tangerina Fremont (Tabela 19).
64
Tabela 19 - Porcentagem média de frutos de tangerina Fremont com
diferentes calibres (diâmetro) após desbaste/raleio de 25% e 50%,
Pólo Regional Sudoeste Paulista (Capão Bonito/SP, 2012-2014).
Diâmetro transversal do fruto Raleio
Testemunha 25% 50%
<6cm 36,76aB* 31,97abB 28,15bB
entre 6 e 7 cm 52,81aA 54,57aA 54,48aA
>7cm 10,43bC 13,47abC 17,37aC
CV(%) 22,58 *Médias seguidas de mesma letra, maiúscula na coluna e minúscula na linha,
não diferem entre si (Tukey 5%).
O mesmo pôde ser observado no experimento de Mogi Mirim no qual o raleio de
50% proporcionou maior porcentagem de frutos com diâmetro acima de 7,0 cm
(17,00%) e menor porcentagem de frutos com diâmetro inferior a 6,0 cm (10,37%) em
relação à testemunha (Tabela 20). Além de apresentar diferenças entre as porcentagens
de raleio, influenciando na porcentagem de frutos produzidos com diferentes calibres,
tal experimento mostrou diferenças entre os porta-enxertos utilizados, ou seja, o porta-
enxerto limão Cravo proporcionou maior porcentagem de frutos com diâmetro acima de
7,0 cm (19,13%) e menor porcentagem de frutos com diâmetro inferior a 6,0 cm
(13,64%) em relação aos demais porta-enxertos analisados.
Tabela 20 - Porcentagem média de frutos de tangerina Fremont com diferentes calibres
(diâmetro) após desbaste/raleio de 25% e 50%, em diferentes porta-enxertos, Sítio
Lagoa Bonita (Mogi Mirim/SP, 2012-2014).
Diâmetro
transversal do
fruto
Raleio
Porta-enxerto
Testemunha 25% 50%
PT FD LC CS
<6cm 28,26Ba* 18,24Bb 10,37Bc 14,38Bc 29,53Ba 13,64Bc 18,27Bb
entre 6 e 7 cm 65,49Ab 70,18Aa 72,62Aa 76,71Aa 62,57Ab 66,48Aab 71,96Aa
>7cm 6,25Cb 11,58Bab 17,00Ba 9,65Bb 7,89Cb 19,13Ba 9,76Cb
CV(%) 27,40 21,48 *Médias seguidas de mesma letra, maiúscula na coluna e minúscula na linha, não diferem entre si (Tukey 5%) para
cada variável analisada. PT=Poncirus trifoliata; FD=Flaying Dragon; LC=limão Cravo; SC=citrumelo Swingle.
Em ambos os experimentos, as plantas submetidas ao raleio na intensidade de
25% apresentaram número de frutos intermediário aos dos tratamentos testemunha e
50%. A ausência de diferenças estatísticas entre os tratamentos testemunha versus 25%
de raleio e entre os tratamentos com 25% versus 50% de raleio pode ter sido devido ao
maior número de frutos nas plantas testemunhas e, ou, à baixa eficiência do raleio nas
plantas com 25% de raleio. Nesse sentido, o raleio manual está sujeito a erros, devido à
65
dificuldade de encontrar os frutos camuflados entre a vasta folhagem da tangerina
Fremont, mesmo tendo sido efetuado o raleio quando os frutos apresentavam cerca de
20 mm de diâmetro. Esse fator faz com que permaneça na planta, geralmente, maior
número de frutos em relação ao desejado, principalmente quando elas estão muito
carregadas de frutos e quando se deseja ralear maior quantidade deles.
Outro aspecto que merece ser mencionado é o fato das plantas em ambos os
experimentos, Capão Bonito/SP e Mogi Mirim/SP, estarem com carga inicial mediana,
o que, de acordo com RODRIGUES et al. (1998), um raleio manual de 66,6% dos
frutos, repetido, no mínimo, a cada dois anos, é suficiente para estabilização da
produção, diferente das plantas com carga excessiva de frutos (plantas muito
carregadas), as quais necessitam de intensidades maiores de raleio para a obtenção de
resultados satisfatórios de calibre de frutos e de estabilidade produtiva ao longo dos
anos.
Em consequência do efeito do raleio manual sobre o calibre dos frutos,
observou-se que o raleio manual nas duas intensidades (25% e 50%) e nos dois
experimentos (Capão Bonito/SP e Mogi Mirim/SP) promoveu maior porcentagem de
frutos classificados, de acordo com o CEAGESP (2011), nas Classes 60-66 (diâmetros
transversais entre 6 e 7 cm). Sendo que os frutos classificados nas Classes 70-117
(diâmetros transversais maiores que 7 cm) apareceram com maior frequência, maior
porcentagem, no raleio de 50%. Um fator positivo é que o raleio manual de frutos de
25% e 50% gerou menor quantidade de frutos pertencentes às Classes 50-58 (diâmetros
transversais inferiores a 6 cm), em comparação com o tratamento testemunha, tais
classes englobam os frutos de pior qualidade comercial (menor tamanho).
Para o diâmetro transversal dos frutos, as duas intensidades de raleio avaliadas,
em ambos os experimentos (25% e 50%), foram efetivas em aumentar o calibre dos
mesmos. Como explicação para os dados obtidos, acredita-se que o fator raleio (número
menor de frutos na planta) gerou menor competição nutricional entre os frutos,
permitindo o seu maior crescimento. GUARDIOLA & GARCÍA-LUIZ (2000) explicam
tal fato pela possível maior distribuição de fotoassimilados para cada fruta, devido ao
aumento da relação fonte-dreno, em decorrência da redução no número de frutas por
planta.
Segundo RUFINI & RAMOS (2002), o raleio manual nas intensidades entre 50
e 80% também promoveu incremento no tamanho e na massa fresca de frutos, tendo a
produção (kg/planta) sido diminuída à medida que aumentou a intensidade de raleio. O
66
mesmo foi reportado por SARTORI et al. (2007) em seus estudos sobre o efeito da
poda, raleio de frutos e uso de fitorreguladores na produção de mexericas Montenegrina,
na qual o raleio manual de 66% aumentou o calibre e a massa fresca dos frutos na
variedade Montenegrina.
ROSA et al. (2012) também observaram incremento no tamanho dos frutos da
mexerica Montenegrina, quando os mesmos estudaram os efeitos da poda e do raleio
manual na variedade Montenegrina no sudoeste do Paraná, obtendo diferenças
significativas entre o tratamento testemunha e o raleio de 66% dos frutos.
Trabalhos com raleio químico também relatam melhorias nas qualidades dos
frutos após a prática de raleio, como o trabalho desenvolvido por MOREIRA et al.
(2012) que ao estudarem a qualidade das tangerinas Ponkan em função da regularidade
no raleio químico, através da aplicação de Ethephon por dois anos consecutivos,
detectaram interação (p < 0,05) entre as concentrações de Ethephon e os anos de
aplicação de raleio químico, para inúmeras variáveis estudadas, dentre elas o diâmetro
transversal e longitudinal dos frutos avaliados. Assim como no presente trabalho, no
qual observamos aumento na porcentagem de frutos com maior calibre nas plantas
raleadas, tais autores observaram aumento linear para o diâmetro das frutas no primeiro
ano de avaliação (2009) e comportamento quadrático no segundo ano de raleio (2010).
CRUZ et al. (2011), que também alcançaram resultados satisfatórios com a
prática do raleio, ao estudarem diferentes concentrações de Ethephon sobre o raleio
químico de tangerina Ponkan obtiveram frutas remanescentes maiores e mais uniformes,
o que, segundo os autores, favoreceu maior rendimento da produção comercial da
variedade em questão.
Dessa forma, sugere-se a realização regular do raleio em pomares de tangerina
Fremont cujos frutos serão destinados ao mercado de frutas frescas, pois tal atividade,
normalmente, torna as plantas mais equilibradas e capazes de produzir frutos de maior
calibre e mais uniformes.
O estudo mostrou que os porta-enxertos também exercem importante influência
sobre a qualidade dos frutos cítricos, mais precisamente, sobre o tamanho dos frutos da
tangerina Fremont, concordando com POMPEU JUNIOR (2005). Ao analisar a Tabela
20, observa-se que os frutos provenientes da combinação copa, tangerina Fremont,
porta-enxerto, limão Cravo, apresentaram maior porcentagem de frutos superiores a 7
cm de diâmetro transversal (Classe 70-117); seguida pela combinação tangerina
Fremont/Poncirus trifoliata e tangerina Fremont/citrumelo Swingle, que apresentaram
67
maior porcentagem de frutos com diâmetros transversais entre 6 e 7 cm (Classe 60-66),
não diferindo estatisticamente; sendo a combinação tangerina Fremont/Flying Dragon a
que apresentou maior porcentagem de frutos nas classes 50-58 (diâmetros transversais
inferiores a 6 cm).
LEDO et al. (1999) ao estudarem quatro diferentes porta-enxertos para laranjas
doces (Aquiri, Pêra, Natal e Valência), também constataram a produção de frutos
maiores, mais pesados, nas combinações sobre porta-enxerto limão Cravo, além de
maior produção por volume de copa.
CARRAU et al. (1993) em seus estudos sobre a evolução de porta-enxertos
cítricos também constataram a produção de frutos de maior tamanho na combinação
copa de tangerina Satsuma enxertada no cavalo limão Cravo, bem como na combinação
copa de Ellendale sobre os porta-enxertos limão Cravo e Poncirus trifoliata.
BRUGNARA et al. (2008) avaliando porta-enxertos para a tangerina Michal
também relataram maior tamanho de frutos nas plantas enxertadas sobre limão Cravo,
além das plantas enxertadas sobre o citrange Troyer, porém os mesmos também
constataram menor tamanho de fruto nas plantas sobre citrumelo Swingle.
Enquanto que GONZATTO et al. (2011) ao analisarem o comportamento da
tangerina Oneco sobre seis porta-enxertos diferentes mostraram que as tangerinas
colhidas de plantas sobre Flying Dragon apresentaram menor tamanho enquanto que os
frutos colhidos das plantas sobre o porta-enxerto Volkameriano eram os mais pesados e
de maior tamanho. Porém, tais autores, concluem que as plantas enxertadas em porta-
enxertos Flying Dragon foram as que apresentaram maior eficiência produtiva.
Diante de tais resultados, é importante mencionar que a produção e o tamanho
dos frutos são duas das inúmeras características influenciadas pelo porta-enxerto, por
esse motivo, a escolha da variedade a ser utilizada é uma fase muito importante no
planejamento do pomar, momento este que o produtor já deve ter em mente seu objetivo
final.
4.4 Análise pós-colheita (armazenamento a frio)
No momento da colheita foi realizada a avaliação das características físicas e
químicas dos frutos que estavam no estádio ideal de maturação, mês de junho, conforme
apresentados na Tabela 21.
68
Tabela 21 - Características físico-químicas dos frutos da tangerina Fremont (Centro
APTA Citros Sylvio Moreira, IAC, 2012).
Variedade Massa
(g)
Ǿ L
(cm)
Ǿ T
(cm) NS
Rd.
Suco
(%)
Acidez
(g 100
mL-1
)
SS
(oBrix)
Ratio Cor
(ho)
Fremont 125,5 6,7 5,7 21 44,8 1,08 12,2 11,3 51,11 *Média de quatro amostras de 5 frutos cada, colhidas em junho/2012. Onde: Ǿ L = diâmetro longitudinal
dos frutos; Ǿ T = diâmetro transversal dos frutos; NS = número de sementes; Rd. suco = rendimento de
suco; SS = sólidos solúveis.
Observou-se aumento na perda de massa dos frutos com o passar do tempo
(armazenamento), Tabela 22 e Tabelas em anexo, contudo a perda de massa foi maior
quando os mesmos foram armazenados em meio ambiente. Isso ocorre em decorrência
da água eliminada no processo transpiratório, causada pela diferença de pressão de
vapor entre o fruto e o ar no ambiente (SOUSA et al., 2000), pois em ambiente
refrigerado, a temperatura mais baixa reduz o metabolismo do fruto e consequentemente
ocorre menor perda de massa (JERONIMO & KANESIRO, 2000; LIMA & DURIGAN
2000). Contudo, a intensidade da perda de massa pode ter importância substancial
durante a comercialização, pois altas perdas podem resultar no murchamento e na perda
de consistência do fruto, com redução na sua qualidade (AWAD, 1993).
Pequenas oscilações no conteúdo de sólidos solúveis (SS) foram observadas e
uma das explicações para isso, refere-se à perda de massa durante o armazenamento que
contribui para a concentração dos açúcares (TUCKER, 1993). Segundo CHITARRA &
CHITARRA (2005), esta pequena oscilação é comum, uma vez que os frutos cítricos
apresentam pequenas modificações no conteúdo de açúcares em geral, desde que a
colheita seja realizada durante ou após a fase de maturação. Os citros são considerados
frutos não climatéricos, logo, colhê-los com a maturação correta é essencial para se
obter frutas de qualidade (PEREIRA et al., 2006).
Queda da acidez das frutas foi notada durante o período de armazenamento, o
mesmo foi relatado por MALGARIM et al. (2008) ao estudarem a qualidade pós-
colheita do tangelo Nova (C. reticulata Blanco x C. paradisi Macfad:) em diferentes
períodos de armazenamento, bem como por TERUEL et al. (2000) ao estudarem a
caracterização pós-colheita de laranjas Baianinhas [Citrus sinensis (L.) Osbeck]
submetidas ao armazenamento refrigerado e a condições ambientais. Segundo KAYS
(1991), após a colheita e durante o armazenamento, a concentração de ácidos orgânicos
tende a declinar na maioria dos frutos, em consequência da utilização desses compostos
69
como substrato respiratório e como esqueletos de carbono para a síntese de novos
compostos.
Por outro lado, observaram-se acréscimos nos valores de ratio durante o
armazenamento dos frutos, o que é relatado por LIMA et al. (1999) ao estudarem a
qualidade dos frutos da tangerina Ponkan armazenados sob temperatura ambiente. O
ratio é um importante parâmetro para avaliar a qualidade de frutas e durante a
maturação esta relação tende a aumentar devido à diminuição dos ácidos e aumento dos
açúcares (CHITARRA & CHITARRA, 1990). Segundo BALDWIN (1993), uma
relação SS/AT de 8 a 10 é aceita como um índice mínimo de maturidade para citros,
sendo que esta relação nos frutos da tangerina Fremont oscilou entre 11 e 13 durante os
dias de armazenamento. KLUGE et al. (2007) observaram um ratio oscilando entre
10,79 e 14,87 em tangor Murcott e entre 9,24 e 11,13 na laranja Valência, em seu
experimento com frutas cítricas armazenadas sob refrigeração.
Para coloração da casca dos frutos, foram observadas pequenas oscilações nos
valores do ângulo de cor (Hue), mostrando uma ligeira diminuição do mesmo, ou seja,
houve uma ligeira intensificação da coloração alaranjada da casca dos frutos,
principalmente daqueles armazenados a 10 oC (Tabela 22). Segundo JACOMINO et al.
(2008) a mudança da coloração da casca das tangerinas está relacionada a degradação
da clorofila e revelação dos carotenóides.
Quanto a firmeza, constatou-se uma manutenção da mesma nos frutos de
tangerina Fremont armazenados à 10 oC, isso ocorreu devido à baixa temperatura de
armazenamento e não por consequência do estádio de maturação na colheita. Resultados
semelhantes foram obtidos por DREHMER & AMARANTE (2008) cuja firmeza dos
frutos de araçá-vermelho manteve-se elevada ao longo do período de armazenamento a
0oC. Contudo, os frutos armazenados em meio ambiente apresentaram um pequeno
aumento na firmeza em virtude das alterações na parede celular dos frutos que se
mostraram murchos, dificultando a penetração do aparelho medidor (penetrômetro) nos
mesmos.
Já o brilho da casca dos frutos de tangerina Fremont, armazenados em meio
ambiente e sob refrigeração (10 oC), com e sem cera, apresentaram pequenas oscilações
em seus valores, sendo que nos frutos armazenados em meio ambiente houve uma
ligeira diminuição do brilho, os mesmos se mostraram mais opacos, diferente dos frutos
que foram armazenados à 10oC que, praticamente, mantiveram seu brilho ao longo dos
dias de armazenamento.
70
Tabela 22 - Perda de massa (PM), acidez (AT), sólidos solúveis (SS), ratio, brilho, textura e ângulo hue (oh) da tangerina Fremont
(Cordeirópolis/SP, 2012).
Fontes de Variação PM (%) AT (g/100mL) SS (oBrix) RATIO BRILHO (Gs) TEXTURA (N) COR (h
o)
Tempo (A) ** ** NS * * * *
7 2,77d 0,85a 10,08c 11,97b 2,48b 4,33b 53,94a
14 4,82cd 0,83a 10,25a 12,27ab 2,50ab 4,77ab 53,94a
24 7,93bc 0,83a 10,12a 12,15ab 2,71ab 4,51b 54,55a
28 11,50ab 0,84a 10,45a 12,45ab 2,85a 4,62ab 54,50a
35 13,46a 0,79ab 10,18a 12,99ab 2,85a 4,62ab 52,52ab
42 14,03a 0,76b 10,18a 13,33a 2,00b 5,58a 49,94b
Armazenamento (B) ** NS ** * ** NS *
Ambiente 14,58a 0,81a 10,40a 12,91a 2,36b 4,77a 52,22b
10oC 3,59b 0,83a 10,01b 12,12b 2,77a 4,70a 54,24a
Revestimento (C) * ** NS ** ** NS **
CC 9,10a 0,80a 10,14a 12,77a 2,96a 4,58a 54,90a
SC 9,14a 0,84a 10,28a 12,25b 2,17b 4,89a 51,56b
AxB ** * NS NS ** NS NS
AxC ** * NS NS NS * NS
BxC NS NS NS NS NS NS **
AxBxC NS NS NS NS NS NS NS
CV (%) 14,93 5,61 3,86 7,51 20,67 16,86 5,87
Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna não diferem entre si [Tukey 5% (*) e 1% (**)]; Tempo (A) = dias; CC = com cera; SC = sem cera; NS = não
significativo.
71
Concomitantemente, avaliou-se a aceitabilidade de tais frutos durante o período de
armazenamento. Frutos de Fremont armazenados à 10 oC tiveram notas maiores em
todos os atributos avaliados quando comparados com os frutos armazenados ao meio
ambiente (Tabela 23).
Tabela 23 - Média dos atributos sensoriais para os frutos da tangerina Fremont
armazenados em diferentes temperaturas e períodos de armazenamento
(Cordeirópolis/SP, 2012).
ATRIBUTOS PERÍODO DE ARMAZENAMENTO EM DIAS
7 14 24 28 35
APARÊNCIA**
FACC***
5,3 bAB* 5,3 bAB 6,4 aA 4,8 bB 4,3 bB
FASC****
5,8 bA 5,8 bA 4,7 bAB 3,8 cB 4,1 bB
FDCC*****
7,3 aA 7,3 aA 7,5 aA 6,8 aA 6,8 aA
FDSC******
6,2 abA 6,2 abA 6,7 aA 6,4 aA 6,3 aA
FIRMEZA**
FACC 6,9 bA 5,6 bBC 5,8 bAB 4,5 bC 4,4 bC
FASC 6,7 bA 6,0 bAB 4,8 cBC 4,0 bC 4,3 bC
FDCC 7,9 aA 7,4 aA 7,1 aA 7,1 aA 6,9 aA
FDSC 8,2 aA 7,1 aAB 6,9 aB 6,9 aB 6,7 aB
FÁCIL DESCASQUE**
FACC 4,9 bAB 4,3 cB 6,0 aA 4,7 bB 4,7 bB
FASC 4,3 cA 4,9 bcA 4,6 bA 4,2 bA 4,9 bA
FDCC 5,1 bB 6,6 aA 5,9 aAB 6,1 aAB 6,1 aAB
FDSC 6,2 aA 5,6 bA 6,1 aA 6,1 aA 6,0 aA
SABOR**
FACC 4,8 cB 4,9 bB 5,8 bA 4,9 cB 4,6 cB
FASC 7,3 aA 7,1 aA 6,9 abB 5,5 bC 5,2 bC
FDCC 6,7 bA 7,3 aA 6,7 abA 6,9 abA 6,5 aA
FDSC 6,9 abA 7,0 aA 7,4 aA 7,5 aA 6,4 aB *Médias com letras iguais não diferem estatísticamente (p>0,05), minúsculas na coluna, maiúsculas na
linha.**
Intensidade dos atributos avaliados : escala hedônica de 9 pontos.***
Fruto de Fremont armazenado
em meio ambiente com cera.****
Fruto de Fremont armazenado em meio ambiente sem cera.*****
Fruto de
Fremont armazenado à 10oC com cera.
******Fruto de Fremont armazenado à 10
oC sem cera.
De uma maneira geral a aparência dos frutos armazenados à 10 oC mostrou-se
melhor do que a dos frutos armazenados em meio ambiente, independente do tipo de
revestimento (com ou sem cera). Contudo os frutos armazenados à 10 oC mantiveram
sua aparência ao longo dos períodos de armazenamento, na faixa do “gostei muito” ao
“gostei ligeiramente”, diferente dos frutos armazenados em meio ambiente que tiveram
72
uma queda na sua aparência ao decorrer dos dias armazenados, saindo do “gostei
moderadamente” para o “desgostei ligeiramente”, aos 35 dias de armazenamento.
Este resultado pode ser explicado pelos atributos de cor e firmeza (teste de
aceitação), os quais ajudam a compor o atributo aparência do fruto. Observou-se que os
frutos armazenados à 10 oC mantiveram sua coloração ao longo do período de
armazenamento, principalmente os frutos revestidos com cera, diferente dos frutos
armazenados em meio ambiente que já na segunda semana de armazenamento (14 dias)
começaram a sofrer alteração de cor, perdendo qualidade. Fato este também observado
por JOMORI et al. (2003), os quais estudaram a conservação refrigerada de lima ácida
Tahiti com o uso de 1-metilciclopropeno, ácido giberélico e cera, e relataram que tais
frutos, armazenados à 10 oC e revestidos com cera, apresentaram retardo na perda de
coloração.
Já o atributo firmeza apresentou diminuição no décimo quarto dia de
armazenamento para todos os tratamentos. Contudo os frutos armazenados à 10 oC
sofreram um ligeira perda de firmeza, diferente dos frutos armazenados em meio
ambiente que tiveram uma diminuição acentuada da sua firmeza logo no vigésimo
oitavo dia de armazenamento (quarta semana). Segundo KAYS (1991), o decréscimo na
firmeza da polpa ocorreu devido à ação das enzimas PME (pectinametilesterase) e PG
(poligalacturonase) que atuam em nível de parede celular. A atividade dessas enzimas
promove solubilização das substâncias pécticas da parede celular e, conseqüentemente,
o amaciamento dos frutos.
Para o quesito facilidade de descasque observou-se que os frutos sem
revestimento de cera, tanto os armazenados à 10 oC quanto os armazenados em meio
ambiente, não sofreram alterações significativas ao longo do armazenamento. Contudo
os frutos de Fremont armazenados em meio ambiente com cera apresentaram maior
dificuldade de descasque a partir da quarta semana de armazenamento. Já os frutos
armazenados à 10 oC com cera tiveram sua facilidade de descasque acentuada a partir
do décimo quarto dia de armazenamento (segunda semana).
Quando se analisa o atributo sabor, constata-se que os frutos que receberam o
revestimento de cera apresentaram uma alteração de sabor logo na primeira semana de
armazenamento, recuperando posteriormente seu sabor agradável. Os frutos
armazenados à 10 oC apresentaram melhor sabor (Tabela 23) do que aqueles
armazenados em meio ambiente, no qual os frutos armazenados à 10 oC, com cera,
mantiveram suas características de sabor até o trigésimo quinto dia de armazenamento,
73
tornando-se impróprio para consumo nos dias subsequentes. Já os frutos armazenado à
10 oC, sem cera, tiveram seu sabor melhorado, aumentado, na terceira semana de
armazenamento (24 dias) e apenas na quinta semana (35 dias) começaram a apresentar
diminuição de sabor. Todavia os frutos armazenados em meio ambiente, com e sem
cera, começaram a apresentar alteração de sabor, ou seja, menor aceite por parte dos
julgadores, na quarta semana de armazenamento (28 dias), com médias próximas a nota
4 que significa “desgostei ligeiramente”. Vale frisar que os frutos armazenados em meio
ambiente com cera receberam notas inferiores aos frutos armazenados em meio
ambiente sem cera (Figura 13).
O sabor é um dos mais importantes atributos de qualidade de frutos cítricos,
sendo afetado principalmente pela concentração de ácidos orgânicos no suco.
Normalmente, o teor de ácidos orgânicos diminui, paralelamente a um aumento no pH,
com o amadurecimento e armazenamento de frutos cítricos em função da sua utilização
no ciclo de Krebs, durante o processo respiratório ( LIMA et al., 1999).
Figura 13 - Resposta dos julgadores às características sensoriais dos frutos da tangerina
Fremont nos diferentes tratamentos e períodos de armazenamento (Cordeirópolis/SP,
junho-julho/2012).
Contudo, os frutos armazenados à 10 oC obtiveram maior intenção de compra
em comparação aos frutos armazenados à temperatura ambiente. Nota-se que apenas aos
28 dias de armazenamento os julgadores classificaram tais frutos, armazenados à 10 oC,
como talvez comprasse talvez não comprasse (nota 3), diferente dos frutos armazenados
ao meio ambiente que aos 24 dias de armazenamento geraram dúvidas quanto a compra
Aparência Firmeza
Facilidade de descasque Sabor
7dias 14dias 24dias 28dias 35dias
7dias 14dias 24dias 28dias 35dias 7dias 14dias 24dias 28dias 35dias
7dias 14dias 24dias 28dias 35dias
tempo
tempo
tempo
tempo
74
ou não de tais frutos por parte dos julgadores (notas menores ou iguais a 3),
permanecendo com notas entre 3 e 2 (talvez comprasse talvez não comprasse e
provavelmente não compraria) até o final das avaliações (Figura 14).
Figura 14 - Resposta dos julgadores à intenção de compra dos frutos da tangerina
Fremont nos diferentes tratamentos e períodos de armazenamento (Cordeirópolis/SP,
junho-julho/2012).
Conclui-se, portanto, que a qualidade é resultado de um conjunto de
características que devem ser preservadas durante o armazenamento das frutas,
devendo-se definir um período seguro para esta fase. Dessa forma, conforme os dados
apresentados neste trabalho e de acordo com as recomendações de MARTÍNEZ-
JÁVEGA et al (1996), o período máximo para armazenar a tangerina Fremont é de 30-
35 dias.
4.5 Análise bioquímica fina (quantificação de carotenoide)
Os principais carotenoides nutricionais caracterizados por extratos saponificados
de tangerina Fremont foram β-criptoxantina, β-caroteno e cis-violaxantina, uma
xantofila amarela (Tabela 24), sendo que a β-criptoxantina foi o carotenoide nutricional
mais abundante (3,23 e 4,55 mg L-1
). Tais resultados estão de acordo com DHUIQUE-
MAYER et al. (2005) e outros autores de países asiáticos (LIN et al., 1995; SUMIDA et
al., 1999; KIONG-CHEOL et al. 2000), os quais relataram a presença dos mesmos
carotenoides nutricionais nos sucos de tangerinas, por eles estudados, com destaque
para a β-criptoxantina, considerada o principal carotenoide pró-vitamina A.
75
Tabela 24 - Conteúdo de carotenoides (mg L-1
) em suco de tangerina Fremont
provenientes de frutos de três locais diferentes (Montpellier/França, 2014-2015).
Local β-cto cis-vio neox cis-ant zeino luteina α-car β-car phyt phytf
CB 3,41 b* 0,09 c 0,09 c 0,17 c 0,21 b 0,37 c 0,19 a 0,56 b 0,00 b 0,00 b
MM 2,42 c 0,50 b 0,13 b 0,40 b 0,18 b 0,55 b 0,18 a 0,27 c 0,00 b 0,00 b
CO 6,89 a 2,35 a 0,82 a 0,54 a 0,90 a 0,83 a 0,18 a 1,94 a 0,40 a 1,86 a
CV (%) 10,52 16,16 15,95 1,56 8,43 7,79 10,82 21,28 22,91 16,74 *Médias seguidas de mesma letra minúscula, na coluna, não diferem entre si (Tukey 5%). CB=Capão
Bonito/SP/Brasil; MM=Mogi Mirim/SP/Brasil; CO=Córsega/França; β-cto= β-cryptoxantina; cis-vio=cis-
violaxantina; neox=neoxantina; cis-ant=cis-anteroxantina; zeino=zeinoxantina, α-car=α-caroteno; β-car=β-caroteno;
phyt=fitoeno; phytf=fitoflueno.
DHUIQUE-MAYER et al. (2005) ao analisarem os componentes principais de
laranja, clementina e tangerina conseguiram classificar tais frutas, com base em seus
critérios nutricionais (teor de carotenoides), em três diferentes categorias, são elas
categoria 1, clementina e tangerina, claramente diferenciada das categorias de laranjas
doces (categorias 2 e 3), por estar altamente correlacionada com o conteúdo de β-
criptoxantina (8,63 a 10,70 mg L-1
) e β-caroteno (1,45 a 1,60 mg L-1
); categoria 2,
laranjas Salustiana, Hamlin, Maltaise e Shamouti, por apresentarem os menores teores
de β-criptoxantina (1,35 a 2,76 mg L-1
) e β-caroteno (0,1 a 0,25 mg L-1
), estando mais
correlacionado com os conteúdos de luteína (0,50 a 0,72 mg L-1
) e zeaxantina (1,20 a
1,87 mg L-1
); e categoria 3, laranjas Sanguinelli, Valência e Pera, por apresentarem
teores de β-criptoxantina (1,65 a 3,88 mg L-1
) e β-caroteno (0,30 a 0,45 mg L-1
)
superiores as laranjas da categoria 2.
Contudo, no presente trabalho e nos trabalhos citados anteriormente, β-
criptoxantina, presente principalmente na forma de retinil-éster (BRODY, 1994),
demonstrou ser a principal pró-vitamina A em citros, principalmente no grupo
tangerina. GANCEL et al. (2003) observaram em seus estudos uma forte correlação
entre β-criptoxantina e hesperidina no grupo tangerina, englobando a clementina,
mostrando que a clementina, híbrido de tangerina do Mediterrâneo (Citrus deliciosa)
com laranja doce (Citrus sinensis), recebe maior influência dos metabólitos secundários
do seu parental tangerina do que do seu parental laranja, revelando-se assim a tangerina
do Mediterrâneo como um parental interessante para o melhoramento genético de citros
no que diz respeito ao alto valor nutricional e a dominância genética.
Já em relação às diferentes localidades estudadas, este trabalho apresentou
maiores teores de carotenoides (β-criptoxantina, zeinoxantina e β-caroteno) em
tangerina Fremont cultivada em Córsega/França (T.máx.=21 oC; T.mín=10
oC;
76
Precipitação acumulada=615 mm), seguida pela mesma variedade cultivada em Capão
Bonito/SP, Brasil (T.máx.=26 oC; T.mín=11
oC; Precipitação acumulada=1260 mm), e
Mogi Mirim/SP, Brasil (T.máx.=30 oC; T.mín=13
oC; Precipitação acumulada=861
mm). Isso aconteceu devido às condições climáticas de Córsega/FR e Capão
Bonito/SP/BR terem sido mais estressantes do que as condições climáticas de Mogi
Mirim/SP/BR, ou seja, sob baixas temperaturas a coloração interna e externa dos frutos
são mais pronunciadas, refletindo num maior teor de carotenoides. Corroborando com
os resultados encontrados por IRWIG et al. (2002) e DHUIQUE-MAYER et al. (2005).
Podemos observar também que as condições mediterrânicas parecem melhorar a
produção e o acúmulo de β-criptoxantina e cis-violaxantina em sucos da tangerina
Fremont, porém apesar dos níveis destes dois compostos serem marcadamente
inferiores sob clima tropical, a β-criptoxantina ainda é o principal carotenoide em sucos
desta variedade, sugerindo-se assim que em condições tropicais a produção deste
carotenoide pode ser limitada. Dessa forma as condições ambientais parecem
influenciar o primeiro passo da biossíntese de carotenoides catalisada pela síntese de
fitoeno e fitoflueno ou pela síntese de percursores de carotenoides, como por exemplo, a
via do fosfato de methylerythritol, como também foi sugerido por GAUTIER et al.
(2008) ao estudarem como a qualidade do tomate varia com o estágio de maturação,
temperatura e irradiação. De fato, esses autores verificaram que o aumento na
temperatura de 21 para 26 oC resultou na redução do teor total de carotenoide, indicando
que o primeiro passo da via biossintética de carotenoide ocorre negativamente, ou seja,
ocorre mais cedo na polpa do fruto do que na casca. OBERHOLSTER et al. (2001)
sugeriram que o stress pelo frio pode ser um estímulo para a síntese de β-citraurin e um
produto de degradação de zeaxantina ou β-criptoxantina.
Contudo, mais estudos precisam ser realizados para completar a quantificação
das variações nos teores de carotenoides de sucos cítricos de diferentes origens
geográficas (Espanha, França, EUA, Brasil, etc), uma vez que a qualidade nutricional de
sucos e frutas cítricas é uma questão de extrema importância, pois poderá determinar se
a variabilidade irá pavimentar o caminho para melhoramentos genéticos adaptados às
diferentes zonas de produção.
77
5 CONCLUSÕES
A tangerina Fremont mostra-se morfologicamente passível de defesa, pois a
histologia da sua lâmina foliar corrobora com relatos anteriores de resistência varietal;
Fruto e suco de Fremont têm alta aceitação e intenção de compra pelo mercado
consumidor;
Há preferência pelo fruto da tangerina Fremont quando comparado ao fruto da
tangerina Ponkan;
Espaçamentos adensados (6,0 x 1,5 m e 7,0 x 1,5 m), apesar de proporcionarem
menor desenvolvimento vegetativo às plantas de Fremont, resultam em maior
produtividade por área;
Maior eficiência produtiva é obtida quando a tangerina Fremont é enxertada em
citrumelo Swingle e trifoliata Flying Dragon;
Plantas de Fremont enxertadas sobre limão Cravo apresentam frutos maiores.
Maior teor de sólidos solúveis e acidez do suco de Fremont são obtidos no porta-enxerto
Poncirus trifoliata;
O raleio (25 e 50%) promoveu incremento na porcentagem de frutos
classificados nas Classes 60-66 (diâmetros transversais entre 6 e 7 cm), enquanto que
frutos classificados nas Classes 70-117 (diâmetros transversais maiores que 7 cm)
apareceram em maior porcentagem, quando 50% dos frutos são raleados;
A tangerina Fremont pode ser armazenada (10oC) sem perder suas características
de qualidade por um período de 30-35 dias;
O suco do fruto da tangerina Fremont apresenta maior teor de β-criptoxantina e
β-caroteno em regiões de clima frio.
78
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96
7 ANEXOS
Anexo 1 - Perda de massa (PM) da tangerina Fremont: desdobramento da interação
tempo de armazenamento (dias) com as diferentes condições de armazenamento
(temperatura ambiente e 10 oC). Cordeirópolis/SP, 2012.
Tempo (A) Armazenamento (B)
Ambiente 10oC
7 3,73dA* 1,80cB
14 7,14cdA 2,51bB
24 12,21bcA 3,66abB
28 18,95abA 4,05aB
35 22,30aA 4,63aB
42 23,19aA 4,88aB
dms linha
0,642 coluna 0,895
*Médias seguidas de mesma letra, minúscula na coluna e maiúscula na linha, não diferem entre si (Tukey
5%). Tempo (A) = dias. Armazenamento (B) = Ambiente (21 oC e UR 60-65%) e 10
oC (UR 90-95%).
Anexo 2 - Perda de massa (PM) da tangerina Fremont: desdobramento da interação
tempo de armazenamento (dias) com os diferentes revestimentos (com e sem cera).
Cordeirópolis/SP, 2012.
Tempo (A) Revestimento (C)
CC SC
7 2,81cA* 2,72dA
14 4,76bcA 4,89cdA
24 8,49abA 7,38bcA
28 11,66aA 11,35abA
35 13,23aA 13,70abA
42 13,66aA 14,41aA
dms linha
0,614 coluna 0,880
*Médias seguidas de mesma letra, minúscula na coluna e maiúscula na linha, não diferem entre si (Tukey
5%). Tempo (A) = dias; CC = com cera; SC = sem cera.
97
Anexo 3 - Acidez (g/100 mL) da tangerina Fremont: desdobramento da interação tempo
de armazenamento (dias) com as diferentes condições de armazenamento (temperatura
ambiente e 10 oC). Cordeirópolis/SP, 2012.
Tempo (A) Armazenamento (B)
Ambiente 10oC
7 0,84aA* 0,86aA
14 0,83aA 0,84abA
24 0,81abA 0,85abA
28 0,83aA 0,85abA
35 0,78bA 0,80abA
42 0,76bA 0,77bA
dms linha
0,063 coluna 0,086
*Médias seguidas de mesma letra, minúscula na coluna e maiúscula na linha, não diferem entre si (Tukey
5%). Tempo (A) = dias. Armazenamento (B) = Ambiente (21 oC e UR 60-65%) e 10
oC (UR 90-95%).
Anexo 4 - Acidez (g/100 mL) da tangerina Fremont: desdobramento da interação tempo
de armazenamento (dias) com os diferentes revestimentos (com e sem cera).
Cordeirópolis/SP, 2012.
Tempo (A) Revestimento (C)
CC SC
7 0,84aA* 0,86aA
14 0,83aA 0,84abA
24 0,80abB 0,87aA
28 0,84aA 0,84abA
35 0,73bB 0,85abA
42 0,75bA 0,77bA
Dms linha
0,049 coluna 0,077
*Médias seguidas de mesma letra, minúscula na coluna e maiúscula na linha, não diferem entre si (Tukey
5%). Tempo (A) = dias; CC = com cera; SC = sem cera.
98
Anexo 5 - Brilho (Gs) da tangerina Fremont: desdobramento da interação tempo de
armazenamento (dias) com as diferentes condições de armazenamento (temperatura
ambiente e 10 oC). Cordeirópolis/SP, 2012.
Tempo (A)
Armazenamento (B)
Ambiente 10oC
7 2,84aA* 2,13bB
14 2,74aA 2,27bA
24 2,33abB 3,10abA
28 2,31abB 3,39aA
35 2,30abB 3,39aA
42 1,64bB 2,35bA
dms linha
0,619
coluna
0,996
*Médias seguidas de mesma letra, minúscula na coluna e maiúscula na linha, não diferem entre si (Tukey
5%). Tempo (A) = dias. Armazenamento (B) = Ambiente (21 oC e UR 60-65%) e 10
oC (UR 90-95%).
Anexo 6 – Textura (N) da tangerina Fremont: desdobramento da interação tempo de
armazenamento (dias) com os diferentes revestimentos (com e sem cera).
Cordeirópolis/SP, 2012.
Tempo (A) Revestimento (C)
CC SC
7 4,34bA* 4,32bA
14 4,62bA 4,91bA
24 4,37bA 4,65bA
28 4,07bB 5,17abA
35 4,07bB 5,17abA
42 5,12aA 6,03aA
dms linha
0,951 coluna 1,329
*Médias seguidas de mesma letra, minúscula na coluna e maiúscula na linha, não diferem entre si (Tukey
5%). Tempo (A) = dias; CC = com cera; SC = sem cera.
99
Anexo 7 - Cor (ho) da tangerina Fremont: desdobramento da interação tempo de
armazenamento (dias) com os diferentes revestimentos (com e sem cera).
Cordeirópolis/SP, 2012.
Armazenamento (B) Revestimento (C)
CC SC
Ambiente 55,19aA 49,26bB
10oC 54,62aA 53,86aA
Dms linha
2,138 coluna 2,222
*Médias seguidas de mesma letra, minúscula na coluna e maiúscula na linha, não diferem entre si (Tukey
5%). Tempo (A) = dias; CC = com cera; SC = sem cera.