Tese Diagramada Thais

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  • Thais Coan

    DESENVOLVIMENTO DE POLMEROS HBRIDOS

    ORGNICO-INORGNICOS PARA APLICAO COMO

    REVESTIMENTOS PROTETORES

    Tese submetida ao Programa de Ps-

    graduao em Engenharia Qumica da

    Universidade Federal de Santa

    Catarina para a obteno do Grau de

    Doutor em Engenharia Qumica

    Orientador: Prof. Dr. Ricardo Antonio

    Francisco Machado

    Coorientador: Prof. Dr. Dachamir

    Hotza

    Florianpolis

    2014

  • Esta tese dedicada a minha me,

    minhas irms e meu marido.

  • AGRADECIMENTOS

    Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Universitt

    Bayreuth (Alemanha). Aos Departamentos de Engenharia Qumica e Engenharia de

    Alimentos da UFSC, Departamento de Qumica da UFSC e Institut fr

    Materialforschung (IMA) da Uni-Bayreuth. Ao Laboratrio de Controle de Processos (LCP), Grupo de

    Estudos de Processos Eletroqumicos e Eletroanalticos (GEPEEA) e

    Lehrstuhl Keramische Werkstoffe pela infraestrutura disponibilizada

    para o desenvolvimento deste trabalho.

    Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

    (CAPES).

    Ao professor Ricardo A. F. Machado pela orientao.

    Ao professor Almir Spinelli e o doutorando Fernando Souza pelo

    suporte e orientao durante os ensaios de corroso.

    Ao Gilvan pelas dicas, discusses, sugestes e pacincia durante

    esses anos de doutorado.

    minha me, Catarina, e minhas irms, Vanessa e Samanta, pelo

    apoio.

    s pessoas que de alguma forma contriburam para a concluso

    deste trabalho.

  • RESUMO

    O PMMA um polmero orgnico muito utilizado na formulao de

    revestimentos e adesivos devido boa adeso em diversos substratos e

    facilidade em produzir recobrimentos polimricos. Por outro lado, o

    PMMA hidroflico, possui baixa resistncia trmica e baixa

    resistncia aos fenmenos de corroso. Uma forma adequada de

    melhorar as propriedades desse material atravs da combinao com

    compostos inorgnicos, formando polmeros hbridos orgnico-

    inorgnicos. Neste contexto, foram desenvolvidos polmeros hbridos

    de PMMA/polissilazano com o objetivo de melhorar as propriedades

    do componente orgnico visando aplicao como revestimento

    protetor. Todavia, o oligossilazano selecionado neste trabalho,

    HTT1800, quando em contato com a umidade e oxignio, forma

    reticulaes que produzem um polmero termofixo e insolvel,

    impossibilitando a aplicao como revestimento. Sendo assim, a

    polimerizao em soluo com atmosfera de argnio foi a tcnica

    selecionada para a sntese dos materiais hbridos, pois impede o

    contato dos componentes de partida com ar e umidade. Os polmeros e

    os revestimentos hbridos desenvolvidos foram caracterizados para

    avaliar a influncia do HTT1800 nas propriedades finais desses

    materiais em relao ao PMMA puro. A partir dos resultados da

    extrao soxhlet, observou-se que os polmeros hbridos sintetizados

    com at 25% em massa de HTT1800 apresentaram baixo grau de

    reticulao e, por isso, deram origem a solues polimricas

    adequadas para deposio nos substratos metlicos. Adicionalmente,

    as curvas de TGA e DTA evidenciaram que a incluso do HTT1800

    aumentou a estabilidade trmica do PMMA e, a partir dos resultados

    de GPC, observou-se a diminuio das massas molares dos materiais

    hbridos em relao ao PMMA puro. Alm disso, o oligossilazano

    melhorou a adeso dos revestimentos no substrato metlico e conferiu

    hidrofobicidade aos revestimentos produzidos. Os testes de corroso

    comprovaram a eficincia de proteo dos revestimentos hbridos em

    comparao com o substrato sem revestimento e com o PMMA puro.

    Desta forma, o desenvolvimento dos polmeros hbridos orgnico-

    inorgnicos de PMMA/HTT1800 permitiu a obteno de

    revestimentos protetores com propriedades superiores s observadas

    em revestimentos de PMMA puro.

    Palavras-chave: polmero hbrido orgnico-inorgnico, poli(metacrilato

    de metila), polissilazano, revestimentos protetores.

  • ABSTRACT

    PMMA is an organic polymer that has increasingly been used as

    coatings and adhesives due to its good adhesion in different types of

    substrates and excellent film-forming performance. However, PMMA

    is hydrophilic and shows low thermal and corrosion resistance. A

    suitable way to enhance the properties of this material is the

    combination with inorganic compounds to form organic-inorganic

    hybrid polymers. In this work, hybrid polymers of

    PMMA/polysilazane were synthesized aiming the improvement of the

    organic component properties for application as protective coatings.

    However, the selected oligosilazane, HTT1800, is a very reactive

    compound, which undergoes cross-linking if in contact with water

    and/or oxygen. The cross-linking leads to a thermoset and insoluble

    polymer and hinders the application as coating. Therefore, the solution

    polymerization in argon atmosphere was the chosen technique for the

    synthesis, preventing the contact with air and humidity. Different

    characterizations were carried out to evaluate the influence of the

    HTT1800 in the final properties of the developed hybrid polymers and

    of the coatings in comparison to the pure PMMA. Soxhlet extraction

    results showed that a low cross-linking degree is obtained when

    HTT1800 content in the initial mixture do not exceed 25 wt%,

    producing polymeric solutions with adequate characteristics for the

    formation of hybrid films on the metal substrate. Additionally, TG and

    DTA analyses indicated that the addition of HTT1800 increased the

    thermal stability of the PMMA and the GPC analysis results showed a

    decrease of the hybrid polymers molecular weight in comparison to

    the pure PMMA. Furthermore, the oligosilazane improved the

    adhesion of the coatings on the metal substrate and the hydrophobicity

    of the developed films. The corrosion tests showed that the hybrid

    coatings had better anticorrosive performance in comparison to the

    uncoated substrate and to the pure PMMA. Thus, the development of

    organic-inorganic hybrid polymers of PMMA/HTT1800 enabled the

    production of protective coatings with enhanced properties if

    compared to pure PMMA.

    Keywords: organic-inorganic hybrid polymers, poly(methyl

    thacrylate), polysilazane, protective coatings.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Reao de polimerizao do MMA. ..................................................33 Figura 2 - Frmula estrutural dos precursores polimricos. ...............................37 Figura 3 - Sntese de polissilazanos a partir de um clorossilano com amnia. ..39 Figura 4 - Estrutura bsica do oligossilazano HTT1800. ...................................46 Figura 5 - Fluxograma da metodologia experimental. .......................................61 Figura 6 Reator de alumnio utilizado nas polimerizaes em soluo. .........64 Figura 7 Equipamento para extrao soxhlet. .................................................66 Figura 8 Mtodo dip-coating. .........................................................................72 Figura 9 (a) ferramenta do kit de adeso e (b) quadrados formados aps passagem da ferramenta, segundo a norma ASTM D 3359. ..............................74 Figura 10 ngulo de contato. .........................................................................77 Figura 11 Ensaios de corroso realizados no potenciostato conectado clula eletroqumica e ao microcomputador. ................................................................78 Figura 12 Representao da clula eletroqumica. ..........................................79 Figura 13 Diagrama de impedncia de Nyquist para um sistema eletroqumico. ....................................................................................................80 Figura 14 Espectros no infravermelho dos polmeros: (a) PMMA, (b) HTT1800, (c) 25/75 PMMA/HTT1800, (d) 40/60 PMMA/HTT1800, (e) 60/40

    PMMA/HTT1800, (f) 75/25 PMMA/HTT1800 e (g) 90/10 PMMA/HTT1800.

    ...........................................................................................................................85 Figura 15 Sobreposio dos espectros do HTT1800 puro e dos polmeros hbridos no nmero de ondas entre 1580 e 1600 cm

    -1. .......................................86

    Figura 16 Espectros no infravermelho dos polmeros hbridos reticulados (a) 25/75 PMMA/HTT1800 e (b) 40/60 PMMA/HTT1800. ...................................88 Figura 17 Reaes de hidrlise e policondensao do oligossilazano HTT1800. ..........................................................................................................89 Figura 18 Curvas de TGA dos polmeros: (a) PMMA, (b) 90/10 PMMA/HTT1800, (c) 75/25 PMMA/HTT1800, (d) 60/40 PMMA/HTT1800,

    (e) 40/60 PMMA/HTT1800, (f) 25/75 PMMA/HTT1800 e (g) HTT1800. .......90 Figura 19 Curvas de DTA dos polmeros: (a) PMMA, (b) 90/10 PMMA/HTT1800, (c) 75/25 PMMA/HHTT180, (d) 60/40 PMMA/HTT1800,

    (e) 40/60 PMMA/HTT1800, (f) 25/75 PMMA/HTT1800 e (g) HTT1800. .......92 Figura 20 - Massas molares mdia ponderal ( wM ) e mdia numrica ( nM ) dos

    polmeros sintetizados. ......................................................................................95 Figura 21 Densidade ptica das solues PMMA, HTT1800 e 90/10 PMMA/HTT1800 no comprimento de onda 295 nm. ........................................97 Figura 22 Densidade ptica das solues 75/25 PMMA/HTT1800, 60/40 PMMA/HTT1800, 40/60 PMMA/HTT1800, 25/75 PMMA/HTT1800 no

    comprimento de onda 410 nm. ..........................................................................98 Figura 23 Espessura dos revestimentos de PMMA e HTT1800 em funo da velocidade de subida. .......................................................................................100 Figura 24 Regies formadas durante a retirada do substrato metlico da soluo polimrica. ..........................................................................................101

  • Figura 25 Espessura dos revestimentos hbridos PMMA/HTT1800 em funo da velocidade de subida. .................................................................................. 102 Figura 26 Micrografias da seo transversal dos revestimentos (a) HTT1800, (b) PMMA e (c) 90/10 PMMA/HTT1800 com aumento de 2000x e (d) 75/25

    PMMA/HTT1800 com 3500x de aumento. ..................................................... 104 Figura 27 Micrografias dos revestimentos aps teste de adeso com aumento de 30x: (a) PMMA puro; (b) HTT1800; (c) 90/10 PMMA/HTT1800; (d) 75/25

    PMMA/HTT1800; (e) 60/40 PMMA/HTT1800; (f) 40/60 PMMA/HTT1800 e

    (g) 25/75 PMMA/HTT1800. ........................................................................... 105 Figura 28 Micrografias dos revestimentos aps teste de adeso com aumento de 50x: (a) PMMA puro; (b) 90/10 PMMA/HTT1800 e (c) 25/75

    PMMA/HTT1800. ........................................................................................... 106 Figura 29 Mecanismo de adeso entre o polissilazano e o substrato metlico. ......................................................................................................................... 108 Figura 30 Medidas de ngulos de contato com gua do substrato metlico sem revestimento e revestido com: PMMA, HTT1800 e polmeros hbridos (90/10

    PMMA/HTT1800, 75/25 PMMA/HTT1800, 60/40 PMMA/HTT1800; 40/60

    PMMA/HTT1800 e 25/75 PMMA/HTT1800). ............................................... 109 Figura 31 Diagramas de Nyquist dos substratos revestidos com PMMA puro, HTT1800 puro, 90/10 PMMA/HTT1800, 75/25 PMMA/HTT1800 e do

    substrato sem revestimento. ............................................................................. 112 Figura 32 Curvas de polarizao potenciodinmica dos substratos revestimentos com PMMA puro, HTT1800 puro, s polmeros hbridos 90/10

    PMMA/HTT1800, 75/25 PMMA/HTT1800 e do substrato sem revestimento.

    ......................................................................................................................... 116 Figura 33 Imagens obtidas via microscopia ptica antes e aps os ensaios de corroso com aumento de 16x. ........................................................................ 119

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Reaes que geram reticulao dos oligossilazanos. ........................40 Tabela 2 - Reagentes utilizados na tese. ............................................................62 Tabela 3 Composio qumica do substrato metlico. ....................................63 Tabela 4 Condies experimentais utilizadas nas polimerizaes em soluo. ...........................................................................................................................65 Tabela 5 Composies de MMA e HTT1800 utilizadas na sntese. ...............65 Tabela 6 Percentuais dos polmeros utilizados em relao ao solvente THF. .70 Tabela 7 Classificao do teste de adeso segundo a norma ASTM D 3359. .75 Tabela 8 Grau de reticulao dos polmeros. ..................................................84 Tabela 9 Perdas de massa das amostras na temperatura de 300 C.................94 Tabela 10 Espessura dos revestimentos hbridos em funo da velocidade de subida. ..............................................................................................................103 Tabela 11 Parmetros eletroqumicos obtidos a partir do diagrama de Nyquist e eficincia de proteo....................................................................................114

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ABSE Polycarbosilazane (policarbossilazano)

    AIBN 2,2-azobisisobutyronitrile (2,2-azobisobutironitrila) AISI 316L American Iron and Steel Institute stainless steel 316L (ao

    inoxidvel 316L)

    ATR Attenuated total reflectance (reflectncia total atenuada) BN Boron nitride (nitreto de boro)

    BPO Benzoyl peroxide (perxido de benzola) cBN Cubic boron nitride (nitreto cbido de boro)

    DCP Dicumyl peroxide (perxido de dicumila)

    DMF Dimethylformamide) (dimetilformamida) DSC Differential scanning calorimetry (calorimetria diferencial

    de varredura)

    DTA Differential thermal analysis (termogravimetria derivada) ECS Eletrodo de calomelano saturado

    EIE Espectroscopia de impedncia eletroqumica

    FTIR Fourier transform infrared spectroscopy (espectroscopia

    de infravermelho por transformada de Fourier)

    GDOES Discharge optical emission spectroscopy (espectroscopia de emisso ptica por descarga luminescente)

    GPC Gel permeation chromatography (cromatografia de

    permeao em gel)

    HPLC High-performance liquid cromatography (cromatografia

    lquida de alto desempenho)

    IPNs Interpenetrating polymer networks (rede polimrica

    interpenetrante)

    LPO Lauryl peroxide (perxido de laurola) MEV Microscpio eletrnico de varredura

    MEV/EDS Microscpico eletrnico de varredura/espectroscopia de

    energia dispersiva de raios-x)

    MMA Methyl methacrylate (metacrilato de metila)

    MPTS 3-methacryloxypropyltrimethoxysilane (3-metacriloxipropiltrimetoxisilano)

    PHPS Perhydropolysilazane (perhidropolissilazano) PMMA Poly(methyl methacrylate) (poli(metacrilato de metila))

    POSS Polyhedral oligomeric silsesquioxane (polidrico de

    silsesquioxano)

    PVB Poly(vinyl butiral) (poli(vinil butiral))

    Semi-IPNs Semi-interpenetrating polymer networks (rede polimrica

    semi-interpenetrante)

  • TEOS Tetraethoxysilane (tetraetoxisilano)

    TGA Thermogravimetric analysis (anlise termogravimtrica)

    THF Tetrahydrofuran (tetrahidrofurano) TMSPM 3(trimethoxysilyl)propyl methacrylate

    3(trimetoxisilil)propil metacrilato

  • LISTA DE SMBOLOS

    Letras gregas

    Cdl Capacitncia

    Dm Cadeias polimricas desativadas de tamanho m Dm+n Cadeias polimricas desativadas de tamanho m+n

    Dn Cadeias polimricas desativadas de tamanho n

    E(%) Eficincia de proteo

    Ecorr Potencial de corroso

    I Molcula do iniciador

    icorr Corrente de corroso

    jcorr Densidade de corrente de corroso

    kd Constante cintica de decomposio do iniciador kiq Constante cintica de iniciao qumica

    kp Constante cintica de propagao

    ktc Constante cintica de terminao por combinao ktd Constante cintica de terminao por desproporcionamento

    ktr Constante cintica de terminao por transferncia de cadeia ka Constante cintica de terminao por transferncia de cadeia

    M Molcula do monmero

    P1 Cadeias polimricas ativas primrias Pm Cadeias polimricas ativas de tamanho m

    Pn Cadeias polimricas ativas de tamanho n Pn+1 Cadeias polimricas ativas de tamanho n+1

    R Radical livre

    Rcorr Taxa de corroso

    Rp Resistncia polarizao

    Rs Resistncia hmica da soluo

    Tg Temperatura de transio vtrea

    X Molcula de monmero, iniciador, solvente ou polmero

    -Zi Componente imaginrio

    Zr Componente real

    Relao entre as capacitncias AC ngulo de contato

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ............................................................................ 25 1.1 OBJETIVOS ............................................................................... 27 2 REVISO BIBLIOGRFICA .................................................... 29 2.1 MATERIAIS HBRIDOS ORGNICO-INORGNICOS ......... 29 2.2 POLI(METACRILATO DE METILA) ...................................... 31 2.2.1 Polimerizao em soluo do metacrilato de metila.......................32 2.2.2 Alternativas para melhorar as propriedades do PMMA...............35 2.3 POLMEROS INORGNICOS COM SILCIO NA CADEIA

    PRINCIPAL ...................................................................................... 36 2.3.1 Polissilazanos......................................................................................38 2.4 CORROSO ............................................................................... 48 2.4.1 Materiais hbridos com propriedades anticorrosivas.....................50 3 MATERIAIS E MTODOS ........................................................ 61 3.1 REAGENTES E SUBSTRATO METLICO ............................ 61 3.2 UNIDADE E PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL DA

    POLIMERIZAO EM SOLUO ............................................... 63 3.2.1 Polimerizao em soluo..................................................................63 3.3 CARACTERIZAES DOS POLMEROS SINTETIZADOS . 65 3.3.1 Extrao Soxhlet com THF...............................................................66 3.3.2 Espectroscopia de Infravermelho por Transformada de Fourier

    (FTIR).......................................................................................................... 67 3.3.3 Anlise Termogravimtrica (TGA)..................................................68 3.3.4 Cromatografia de Permeao em Gel..............................................68 3.4 PREPARAO E CARACTERIZAO DAS SOLUES DE

    PMMA E PMMA/HTT1800 ............................................................. 69 3.4.1 Preparao das solues....................................................................69 3.4.2 Espectroscopia na Regio do Ultravioleta e Visvel (UV-Vis)........70 3.5 LIMPEZA DO SUBSTRATO METLICO E DEPOSIO DOS

    REVESTIMENTOS POLIMRICOS .............................................. 71 3.5.1 Limpeza do substrato metlico.........................................................71 3.5.2 Deposio dos revestimentos polimricos nos substratos metlicos.72 3.6 CARACTERIZAES DOS REVESTIMENTOS .................... 73 3.6.1 Espessura.............................................................................................73 3.6.2 Teste de Adeso...................................................................................73 3.6.3 Microscopia Eletrnica de Varredura (MEV).................................76 3.6.4 Gonimetro ngulo de Contato......................................................76 3.6.5 Ensaios de Corroso...........................................................................77 4 RESULTADOS E DISCUSSO ................................................. 83 4.1 CARACTERIZAES DOS POLMEROS SINTETIZADOS . 83 4.1.1 Extrao Soxhlet com THF...............................................................83

  • 4.1.2 Espectroscopia de Infravermelho por Transformada de Fourier

    (FTIR)............................................................................................................84 4.1.3 Anlise Termogravimtrica (TGA)....................................................90 4.1.4 Cromatografia de permeao em gel (GPC).....................................95 4.2 CARACTERIZAES DAS SOLUES POLIMRICAS EM

    THF ................................................................................................... 96 4.2.1 Espectroscopia de UV-Vis...................................................................96 4.3 CARACTERIZAES DOS REVESTIMENTOS .................... 99 4.3.1 Espessura dos revestimentos.............................................................. 99 4.3.2 Teste de Adeso..................................................................................104 4.3.3 Gonimetro ngulo de Contato.....................................................108 4.3.4 Ensaios de Corroso...........................................................................111 5 CONCLUSO...........................................................................................121 5.1 SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS ...................... 124 REFERNCIAS .............................................................................. 125

  • 1 INTRODUO

    Individualmente, um nmero muito reduzido de materiais puros

    engloba todas as propriedades qumicas, fsicas e mecnicas necessrias

    para uma determinada aplicao (ZOPPI; NUNES, 1997). O

    poli(metacrilato de metila) (PMMA), por exemplo, um polmero

    orgnico muito utilizado na formulao de revestimentos e adesivos

    devido boa adeso em diversos substratos, elevada transparncia e

    facilidade em produzir recobrimentos polimricos. Por outro lado, o

    PMMA hidroflico, possui baixa resistncia trmica, baixa resistncia

    a ataque cido e baixa resistncia aos fenmenos de corroso (ZOU et

    al., 2007; LI et al., 2009). Assim, uma forma adequada de melhorar as

    propriedades desse material orgnico atravs da combinao com

    compostos inorgnicos para formar polmeros hbridos orgnico-

    inorgnicos.

    Os polmeros hbridos orgnico-inorgnicos permitem formar

    produtos com propriedades complementares que no so encontradas em

    materiais convencionais (RUBIO et al., 2005; LEE et al., 2013) e por

    isso, so considerados uma alternativa para diversas aplicaes (JOS;

    PRADO, 2005; CARBAJAL-DE LA TORRE et al., 2009).

    Neste contexto, os materiais inorgnicos que possuem silcio na

    cadeia principal so bastante promissores, pois possuem estabilidade

    trmica, estabilidades s intempries, hidrofobicidade, resistncia

    oxidao, resistncia corroso e excelente adeso em substratos

    metlicos (KAN et al., 1996; ZOU et al., 2005(a); LIN et al., 2005; LI

    et al., 2009; GARDELLE et al., 2011). Esses polmeros inorgnicos

    so classificados de acordo com o componente existente na cadeia

    principal (COLOMBO et al., 2010). Entre eles, os oligossilazanos,

    com Si-N na cadeia principal, possuem caractersticas apropriadas para

    o desenvolvimento de revestimentos em substratos metlicos, seja na

    forma polimrica ou cermica. Os revestimentos desenvolvidos com

    esses materiais so utilizados em aplicaes especficas e que

    necessitam de elevada resistncia trmica, resistncia qumica e/ou

    resistncia corroso. Assim, utilizar apenas o oligossilazano em

    condies de trabalho mais amenas torna a aplicao invivel devido

    ao elevado custo do produto. Entretanto, a incluso desse componente

    inorgnico na sntese do PMMA uma alternativa promissora, pois

    permite melhorar as propriedades do polmero orgnico. Todavia, uma

    particularidade dos oligossilazanos que, em contato com umidade e

    oxignio, formam polmeros termofixos e insolveis devido

  • 26

    formao de reticulaes (TOREKI et al., 1990; CHAVEZ et al.,

    2010), que pode prejudicar a aplicao do produto sintetizado.

    Dessa forma, a polimerizao em soluo com atmosfera de

    argnio foi a tcnica selecionada neste trabalho para sintetizar os

    polmeros orgnico-inorgnicos PMMA/polissilazano HTT1800, pois

    a mais adequada para produzir materiais hbridos com baixo grau de

    reticulao. Este sistema, alm de utilizar monmero e iniciador,

    emprega um solvente orgnico no meio reacional ao invs de gua,

    que evita, nesse caso, a obteno de compostos insolveis. Alm disso,

    utilizou-se atmosfera de argnio, pois alm de manter o meio reacional

    inerte, isto , livre de oxignio, possui densidade superior ao

    nitrognio que permite manter o sistema inerte por mais tempo.

    Na literatura h estudos que descrevem, por exemplo, a

    incorporao de nanopartculas na matriz do PMMA e formao de

    polmeros hbridos PMMA/polissiloxano (material inorgnico que

    possui Si-O na cadeia principal) como revestimentos protetores de

    substratos metlicos. Entretanto, o desenvolvimento de polmeros

    hbridos PMMA/polissilazano com o objetivo de formar revestimentos

    protetores ainda no foi descrito na literatura. Cabe ressaltar que uma

    srie de trabalhos est sendo desenvolvida no Laboratrio de Controle

    de Processos (LCP) do Departamento de Engenharia Qumica e

    Engenharia de Alimentos (EQA) da Universidade Federal de Santa

    Catarina (UFSC), utilizando a tcnica de polimerizao em soluo

    com oligossilazano com o objetivo de conferir propriedades

    diferenciadas ao material final. Abarca et al. (2013) sintetizaram

    polmeros hbridos poliestireno/polissilazano com o objetivo de

    melhorar a estabilidade trmica e as propriedades antichamas do

    composto orgnico poliestireno. Ribeiro (2013) realizou a sntese de

    acrilonitrila com oligossilazano com o objetivo de melhorar as

    propriedades de processabilidade do composto inorgnico para

    fabricao de fibras. Alm disso, Furtat, Uliana e Machado (2013)

    incorporaram, pelo processo de extruso, oligossilazanos na matriz de

    poliestireno cristal para avaliar as propriedades antichamas do produto

    final. Os resultados obtidos at o momento pelo grupo de pesquisa se

    mostram promissores para diversas aplicaes visto que os polmeros

    desenvolvidos apresentaram, entre outras caractersticas, maior

    estabilidade trmica e boas propriedades antichama. Todavia, tambm

    refletem as dificuldades encontradas ao explicar os resultados obtidos

    devido s interaes complexas entre os materiais e a falta de literatura

    especializada.

  • 27

    Portanto, a utilizao de oligossilazanos como componente

    inorgnico na sntese de polmeros hbridos inovadora, porm

    complexa, uma vez que as reticulaes formadas pelos oligossilazanos

    possuem mecanismos difceis de controlar, pois dependem tanto da

    temperatura e do iniciador utilizado como tambm do oxignio e da

    umidade ambiente (CHAVEZ et al., 2010).

    1.1 OBJETIVOS

    Este trabalho visou sintetizar polmeros hbridos de

    PMMA/polissilazano HTT1800 com baixo grau de reticulao com o

    objetivo de melhorar as propriedades do polmero orgnico para

    possibilitar aplicao como revestimento protetor. Na primeira etapa,

    os polmeros foram sintetizados e caracterizados, e na segunda,

    buscou-se desenvolver revestimentos polimricos em substratos

    metlicos para avaliar suas caractersticas protetoras.

    Para tanto, os objetivos especficos do estudo compreenderam:

    1. Sintetizar os polmeros hbridos orgnico-inorgnicos via polimerizao em soluo com atmosfera de argnio;

    2. Avaliar a influncia do HTT1800 no grau de reticulao, na interao com o PMMA, na estabilidade trmica e na massa

    molar dos polmeros sintetizados;

    3. Desenvolver solues polimricas, a partir dos materiais desenvolvidos, para possibilitar a deposio dos revestimentos

    em substratos metlicos via processo dip-coating;

    4. Avaliar a influncia do HTT1800 nas propriedades finais dos revestimentos polimricos protetores.

    Este documento foi dividido em quatro partes para facilitar a

    apresentao. O Captulo 2 traz a fundamentao terica necessria ao

    desenvolvimento deste trabalho, abordando as definies e

    classificaes de materiais hbridos e uma reviso bibliogrfica sobre

    os componentes orgnico (PMMA) e inorgnico (polissilazano

    HTT1800). Alm disso, esse captulo aborda a corroso de metais que

    engloba as caractersticas importantes como adeso e ngulo de

    contato dos revestimentos protetores. No Captulo 3 so descritos as

    metodologias adotadas, os procedimentos experimentais bem como as

    caracterizaes realizadas ao longo do trabalho. Os resultados e as

    discusses esto apresentados no Captulo 4 e por fim, as concluses e

    sugestes para trabalhos futuros constam no Captulo 5.

  • 2 REVISO BIBLIOGRFICA

    Neste captulo esto abordados aspectos considerados relevantes

    ao contexto do presente trabalho e que se encontram disponveis na

    literatura. Na primeira parte, o captulo apresenta uma reviso sobre as

    definies e classificaes dos materiais hbridos orgnico-inorgnicos.

    Em seguida, aborda os componentes que sero utilizados na sntese do

    polmero hbrido obtido a partir de poli(metacrilato de metila) e

    oligossilazano HTT1800, bem como as aplicaes e mecanismos de

    reao desses materiais. Por fim, a corroso de metais, os mtodos de

    preveno e a utilizao de materiais hbridos com propriedades

    anticorrosivas so apresentados.

    2.1 MATERIAIS HBRIDOS ORGNICO-INORGNICOS

    Individualmente, um nmero muito reduzido de materiais puros

    engloba todas as propriedades qumicas, fsicas e mecnicas necessrias

    para uma determinada aplicao (ZOPPI; NUNES, 1997). Dessa forma,

    a sntese de materiais hbridos tem sido amplamente estudada, pois

    permite formar produtos com diferentes propriedades, resultantes da

    combinao de compostos distintos. A definio mais aceita de

    materiais hbridos afirma que estes so formados a partir de

    combinaes entre diferentes materiais em nvel molecular (JOS;

    PRADO, 2005; KICKELBICK, 2007). Esses materiais tm sido

    utilizados em diversas aplicaes biomdica, membranas, microcomponentes, pticas, catlise, sensores e revestimentos de

    substratos metlicos devido s propriedades fsico-qumicas e facilidade na sntese (MAMMERI et al., 2005; COLOMBO et al.,

    2010).

    Dentre os materiais hbridos, os compostos formados a partir da

    combinao de materiais orgnico e inorgnico tem sido motivo de

    diversas pesquisas. O interesse se deve formao de produtos com

    propriedades complementares que no so encontradas em materiais

    convencionais (RUBIO et al., 2005, LEE et al., 2013) e por isso, so

    considerados uma alternativa para diversas aplicaes (JOS; PRADO,

    2005; CARBAJAL-DE LA TORRE et al., 2009).

    Os materiais hbridos orgnico-inorgnicos apresentam

    excelentes propriedades mecnicas, pticas e trmicas, pois combinam,

    por exemplo, a estabilidade dos materiais inorgnicos com a

    versatilidade de materiais polimricos (GRAZIOLA et al., 2012). Dessa

  • 30

    forma, uma nova rea na cincia dos materiais comeou a ser explorada

    (MAMMERI et al., 2005).

    Os materiais hbridos orgnico-inorgnicos so classificados em

    funo da interao entre as fases orgnica e inorgnica. A classificao

    mais aceita divide esses materiais em duas classes (SANCHEZ; RIBOT,

    1994; BESHER; MACKENZIE, 1998; LEBEAU; SANCHEZ, 1999;

    MAMMERI et al., 2005; GUO; YAN, 2010; FREITAS, 2011;

    CATAURO et al. 2013). Na classe I as interaes qumicas entre os

    componentes orgnico e inorgnico so fracas e ocorrem,

    predominantemente, via ligaes de Van der Waals e ligaes de

    hidrognio. Os materiais da Classe I podem ser obtidos por diferentes

    rotas: a) componentes orgnicos podem ser imobilizados numa rede

    inorgnica, basicamente pela mistura homognea destas molculas em

    solvente comum; b) via polimerizao, no qual o polmero obtido fica

    entrelaado rede inorgnica proveniente da reticulao formada pelo

    componente inorgnico, o que gera uma rede polimrica semi-

    interpenetrante (semi-interpenetrating polymer networks: semi-IPNs); c)

    formao simultnea de redes independentes, onde os componentes

    reticulam e geram uma rede polimrica interpenetrante (interpenetrating polymer networks: IPNs); na classe II os componentes orgnico e

    inorgnico possuem ligaes covalentes ou inico-covalentes entre si.

    Em alguns casos podem existir ligaes laterais fracas ao longo da

    cadeia principal. Adicionalmente, os autores Jos e Prado (2005) e Sakai

    et al. (2012) classificam como classe III os hbridos orgnico-

    inorgnicos que possuem a combinao dos dois tipos de interaes

    descritos nas classes I e II.

    Assim, pode-se afirmar que as propriedades dos materiais

    hbridos orgnico-inorgnicos dependem tanto dos componentes

    utilizados quanto da interao entre eles (LEBEAU; SANCHEZ, 1999;

    GRAZIOLA et al., 2012). O tipo de interao entre as fases orgnica e

    inorgnica definido pela aplicao final; interaes mais fracas so

    utilizadas quando a mobilidade de um componente no outro

    necessria, por exemplo, para polmeros condutores onde o on

    inorgnico precisa migrar na matriz polimrica (KICKELBICK, 2007)

    ou quando esses materiais devem ser solveis em determinado solvente

    para posterior aplicao como revestimento.

    O processo mais utilizado para sintetizar materiais hbridos

    orgnico-inorgnicos o sol-gel. Este mtodo permite incorporar

    polmeros orgnicos na rede inorgnica a partir de precursores em meio

    lquido (YAMADA; YOSHINAGA; KATAYAMA, 1997; JOS;

    PRADO, 2005; WANG; BIERWAGEN, 2009; KAJIHARA, 2013).

  • 31

    Geralmente, a formao do sol-gel ocorre em quatro etapas: a) hidrlise;

    b) condensao e polimerizao do monmero, permitindo formar as

    cadeias e partculas; c) crescimento das partculas; d) aglomerao das

    estruturas polimricas e formao de reticulaes que formam o gel

    (WANG; BIERWAGEN, 2009). No processo sol-gel possvel se obter

    produtos com elevada pureza, homogeneidade e pode ser realizado a

    baixas temperaturas (NOVAK, 1993; CHATTERJEE; NASKAR, 2006;

    TOHIDIFAR et al., 2012; CATAURO et al., 2013). Diversos trabalhos

    abordam esse mtodo para obteno de materiais hbridos com

    propriedades anticorrosivas (MESSADDEQ et al., 1999; CHOU et al.,

    2001; ONO; TSUGE; NISHI, 2004; LIU et al., 2005; YEH et al., 2006;

    POZNYAK et al., 2008; ROSERO-NAVARRO et al., 2009; ROMANO

    et al., 2011; SAKAI et al., 2012; RAHIMI; MOZAFFARINIA;

    NAJAFABADI, 2013).

    Entretanto, o sol-gel no adequado para o estudo apresentado

    nesta tese, pois o material inorgnico selecionado, oligossilazano

    HTT1800, forma uma rede com elevado grau de reticulao quando em

    contato com umidade e oxignio. Essa rede d origem a um polmero

    termofixo e insolvel que impossibilita posterior aplicao nas

    superfcies metlicas. Sendo assim, a polimerizao em soluo com

    atmosfera de argnio foi o mtodo selecionado para obteno dos

    polmeros hbridos orgnico-inorgnicos de PMMA/HTT1800. O

    objetivo obter um produto com caractersticas superiores ao PMMA

    puro e que possa ser utilizado como revestimento protetor de substratos

    metlicos.

    2.2 POLI(METACRILATO DE METILA)

    O poli(metacrilato de metila) (PMMA) muito utilizado na

    formulao de revestimentos e adesivos devido facilidade em produzir

    um recobrimento polimrico e boa adeso em diversos substratos. Por

    outro lado, o PMMA possui baixa resistncia trmica e baixa resistncia

    aos fenmenos de corroso (ZOU et al., 2007; LI et al., 2009).

    O PMMA pode ser sintetizado por diferentes tcnicas:

    polimerizao em suspenso, polimerizao em emulso, polimerizao

    em massa e polimerizao em soluo. O tipo de polimerizao

    utilizado depende principalmente da aplicao do produto final.

    Neste trabalho, a polimerizao em soluo foi a tcnica

    selecionada para sintetizar os materiais hbridos orgnico-inorgnicos

    PMMA/HTT1800, pois como no utiliza gua no sistema reacional,

    permite produzir materiais com baixo grau de reticulao.

  • 32

    2.2.1 Polimerizao em soluo do metacrilato de metila

    A polimerizao em soluo um sistema que, alm de utilizar

    monmero e iniciador, emprega um solvente no meio reacional. Na

    polimerizao do metacrilato de metila (MMA), os solventes mais

    utilizados so benzeno e tolueno, e como iniciadores os mais comuns

    so perxido de benzola (BPO), 2,2-azobisisobutironitrila (AIBN) e

    perxido de dicumila (DCP). As principais vantagens desse mtodo so:

    fcil controle da temperatura do meio reacional e possibilidade de

    realizar reaes com reagentes que possuam sensibilidade umidade,

    uma vez que utiliza solvente como meio contnuo. Por outro lado,

    apresenta como desvantagens: custo, toxicidade e dificuldade de

    remoo do solvente.

    A frao volumtrica do solvente, a temperatura e a concentrao

    de iniciador so fatores que influenciam na polimerizao em soluo,

    pois afetam a converso e a massa molar do polmero final. Ao utilizar

    uma elevada temperatura reacional ou concentrao de iniciador

    possvel obter altas converses em menor tempo e obter polmeros com

    menor massa molar (GHOSH; GUPTA; SARAF, 1998). Todavia, o

    solvente pode atuar como agente de transferncia de cadeia,

    promovendo a formao de um polmero de baixa massa molar (CECCI,

    2013).

    Ponnuswamy, Penlidis e Kiparissides (1998) realizaram reaes

    de polimerizao em soluo do metacrilato de metila (MMA) em

    batelada para validar com o modelo matemtico proposto pelos prprios

    autores. Foram avaliadas diferentes concentraes do iniciador BPO

    (0,05 mol L1 e 0,1 mol L

    -1) e temperaturas reacionais (65 C, 70 C e 75

    C) para verificar a influncia na converso e massa molar do polmero

    obtido. Os autores observaram que o aumento na temperatura reacional,

    mantendo os demais parmetros constantes, ocasiona um aumento na

    converso enquanto a massa molar diminui. Esse comportamento foi

    atribudo autoacelerao da reao que decompe rapidamente os

    radicais do iniciador. O mesmo resultado foi obtido por Ghosh et al.

    (1998) ao sintetizar PMMA via polimerizao em massa e soluo nas

    temperaturas de 50 C e 70 C utilizando BPO como iniciador e

    benzeno como solvente.

    O mecanismo cintico da polimerizao em soluo do MMA

    ser abordado a seguir.

  • 33

    2.2.1.1 Mecanismo cintico da polimerizao em soluo do MMA

    O poli(metacrilato de metila) obtido a partir da polimerizao

    por crescimento de cadeia (poliadio) via radicais livres. Este

    mecanismo ativado por um iniciador, que rompe a ligao do grupo

    vinlico e promove a reao de polimerizao, segundo o esquema da

    Figura 1.

    Figura 1 - Reao de polimerizao do MMA.

    Fonte: do autor.

    A cintica de polimerizao vinlica via radicais livres foi descrita

    por Billmeyer (1971), Rodriguez (1982) e Odian (1991). O mecanismo

    de reao composto de trs etapas fundamentais: iniciao, propagao

    e terminao. Importante ressaltar que podem ocorrer ainda outras

    reaes, chamadas de reaes de transferncia de cadeia, em que ocorre

    a desativao de uma cadeia polimrica em crescimento, deslocando o

    radical para outra espcie presente no meio (LOUIE; CARRATT;

    SOONG, 1985; RAFIZADEH, 2001; BRESOLIN, 2013). Essa reao

    pode gerar o crescimento de uma nova cadeia ou, quando ocorre com

    outra molcula de polmero, pode gerar ramificaes (JNIOR; 2012).

    A iniciao composta por duas etapas. Na primeira etapa, o

    iniciador ( I ) decomposto, formando um par de radicais livres ( R ). Esses radicais reagem com as molculas de monmero ( M ) formando a cadeia polimrica primria ( 1P ). As reaes de decomposio do

    iniciador e a formao da cadeia polimrica primria esto

    representadas, respectivamente, nas equaes (1) e (2):

    RI dk 2

    (1)

    1PMRiqk

    (2)

    Onde:

  • 34

    dk : constante cintica da reao de decomposio do iniciador;

    iqk : constante cintica da reao de iniciao qumica.

    A etapa de propagao consiste na formao de uma nova cadeia

    polimrica ativa e a fase onde acontece o crescimento do polmero. A

    reao ocorre entre a cadeia polimrica primria ativa ( nP ), obtida na

    iniciao, e o monmero ( M ) para formar uma nova cadeia intermediria ativa ( 1nP ), conforme Equao (3):

    1nk

    n PMPp (3)

    Onde:

    pk : constante cintica da reao de propagao.

    Dessa forma, a cada nova etapa de reao, uma nova molcula de

    monmero adicionada ao radical formado na etapa anterior.

    importante ressaltar que as macromolculas formadas possuem taxas de

    reaes diferentes devido s diferenas no comprimento de cadeias.

    Entretanto, todas as taxas convergem para valores semelhantes. Essa

    hiptese conhecida como Hiptese de Cadeia Longa e admite que

    todas as cadeias apresentem a mesma reatividade, independente do

    nmero de unidades monomricas (ODIAN, 1991; MACHADO, 2000).

    A terminao a etapa final de crescimento de uma cadeia

    polimrica numa reao de poliadio via radicais livres. Esse estgio

    responsvel pela desativao de uma molcula em crescimento para a

    formao de um produto estvel. As reaes de terminao podem

    ocorrer por combinao e/ou desproporcionamento. Quando a

    interrupo causada pela reao de dois radicais livres formando uma

    nica molcula de polmero, o processo chamado de combinao.

    Quando causada pela transferncia de um tomo de hidrognio de uma

    cadeia em crescimento para outra o processo denominado de

    desproporcionamento. Neste caso, ocorre a saturao da extremidade de

    uma cadeia e a formao de uma insaturao na outra, gerando duas

    molculas diferentes de polmero (JNIOR, 2012).

    Na polimerizao via radicais livres do MMA, o tipo de

    terminao predominante determinado pela temperatura, pois medida

    que a mesma aumenta, a contribuio da terminao por

    desproporcionamento tambm aumenta (JONES et al., 1986; ODIAN,

  • 35

    1991). Segundo Rafizadeh (2001) em temperaturas reacionais abaixo de

    40 C, a terminao por combinao predominante. Por outro lado, a

    60 C a terminao por combinao corresponde a 40% enquanto

    desproporcionamento corresponde a 60%. Assim, considera-se que, em

    condies usuais, a terminao por desproporcionamento

    predominante para a polimerizao do metacrilato de metila

    (PONNUSWAMY; PENLIDIS; KIPARISSIDES, 1998; CHIU;

    CARRAT; SOONG, 1983; SANGWAI et al., 2005).

    As Equaes (4) e (5) representam, respectivamente, as

    terminaes por desproporcionamento e combinao enquanto as

    Equaes (6) e (7) representam as reaes de transferncia de cadeia.

    mn

    k

    mn DDPPtd

    (4)

    mn

    k

    mn DPPtc

    (5)

    XDXP nk

    ntr (6)

    XPMX ak 1 (7)

    Onde:

    nP , mP , 1P : representam a cadeia polimrica ativa de tamanho n, m e 1;

    mD , nD ; nmD : representam as cadeias polimricas desativadas

    de tamanho n, m e n+m;

    tck : constante cintica da terminao por combinao;

    tdk : constante cintica da terminao por desproporcionamento;

    trk , ak : constantes cinticas das reaes de transferncia de

    cadeia;

    X : molcula de monmero, iniciador, solvente ou polmero; M : molcula de monmero.

    2.2.2 Alternativas para melhorar as propriedades do PMMA

    Na literatura h estudos que descrevem a incorporao de

    nanopartculas (slica, diferentes tipos de argila, dixido de titnio,

    dixido de zircnia) em matriz polimrica de PMMA para melhorar as

  • 36

    propriedades trmicas e mecnicas alm da resistncia corroso

    (MESSADDEQ et al., 1999; WANG et al., 2005; YEH et al., 2006;

    SONG et al., 2008; SILVA; DAHMOUCHE; SOARES, 2010; HU et

    al., 2011; SALADINO et al., 2012).

    Trabalhos mais recentes abordam a combinao do PMMA com

    polmeros inorgnicos que possuem silcio na cadeia principal. Esses

    materiais possuem estabilidade trmica, estabilidade s intempries,

    hidrofobicidade, resistncia oxidao, resistncia corroso, e boa

    adeso em substratos metlicos (KAN et al. 1996; ZOU et al., 2007;

    LIN et al., 2005; LI et al., 2009; GARDELLE et al., 2011).

    Considerando que o objetivo do trabalho o desenvolvimento de

    polmeros hbridos de PMMA com polmeros inorgnicos com silcio na

    cadeia principal, o prximo tpico aborda as diferentes classes desses

    materiais com nfase no oligossilazano por ser o reagente utilizado na

    tese.

    2.3 POLMEROS INORGNICOS COM SILCIO NA CADEIA

    PRINCIPAL

    Os polmeros inorgnicos com silcio na cadeia principal so

    conhecidos na rea de cermica como precursores polimricos ou

    polmeros pr-cermicos, pois a partir de sua pirlise possvel obter

    um material cermico. A pirlise um tratamento trmico durante a

    qual, com o aumento da temperatura, ocorre um aumento do grau de

    reticulao. Entre 400 C e 800 C ocorre a transio

    orgnica/inorgnica que d origem s cermicas. A pirlise de

    precursores polimricos teve incio na dcada de 60, com os trabalhos de

    Aigner e Herbert (1960) e Chantrell e Popper (1965). Verbeek e Winter

    (1974) apresentaram pela primeira vez a transformao de

    polissilazanos, polissiloxanos e policarbossilanos em materiais

    cermicos para aplicao em elevadas temperaturas. Yajima, Hayashi e

    Imori (1975) converteram termicamente precursores em carbeto de

    silcio (SiC). Desde ento, uma grande variedade de polmeros

    precursores foi desenvolvida para ser utilizada na produo de materiais

    cermicos binrios, ternrios e at quaternrios contendo Si em

    combinao com C, N, O, B (SCHIAVON, 2002; COLOMBO et al.,

    2010).

    Cabe ressaltar que alguns precursores ditos polimricos so na

    realidade oligmeros, pois possuem baixa massa molar. O precursor

    polimrico selecionado para este trabalho (polissilazano HTT1800), por

  • 37

    exemplo, um oligmero e por isso, ser tratado ao longo desta tese

    como oligossilazano.

    Os precursores polimricos so divididos em classes de acordo

    com os componentes existentes na cadeia principal, sendo os mais

    utilizados: polissilanos, policarbossilanos, polissililcarbodiimidas,

    polissiloxanos e polissilazanos. Na Figura 2 possvel visualizar a

    forma estrutural bsica desses e dos demais materiais inorgnicos.

    Figura 2 - Frmula estrutural dos precursores polimricos.

    Fonte: adaptado de Colombo et al. (2010).

    Cabe ressaltar que quando algum dos radicais R indicados nas

    frmulas estruturais da Figura 2 possuir carbono, os precursores

    polimricos podem ser classificados como: (a) poliorganossilano; (b)

    poliorganocarbossilano; (c) poliorganossililcarbodiimida; (d)

    poliorganossiloxano; (e) poliorganossilazano (COLOMBO et al., 2010).

    Os polissilanos tem sua cadeia principal formada por ligaes Si-

    Si. Esses precursores so amplamente utilizados em aplicaes de

    fotocondutividade, luminescncia e para aplicaes que necessitam

  • 38

    resistncia trmica (MILLER; MICHL, 1989; WEST, 1989;

    KREMPENER, 2012).

    Os policarbossilanos possuem ligaes Si-C na cadeia principal,

    podendo apresentar diversas formas estruturais, conforme demonstrado

    na Figura 2. Dependendo da estrutura da cadeia, diferentes propriedades

    podem ser obtidas. A linha de pesquisa mais estudada concentra-se na

    rea das fibras de SiC (COLOMBO et al., 2010). Essas fibras so

    utilizadas em compsitos de matriz metlica, cermica e polimrica,

    sendo bastante resistentes em altas temperaturas.

    As polissililcarbodiimidas apresentam na cadeia principal as

    ligaes Si-N=C=N e so utilizadas principalmente para fabricao de

    membranas. Vlger et al. (2006) utilizaram poliorganossililcarbodiimida

    para fabricao de membranas de SiCN termicamente e quimicamente

    estveis.

    Os precursores polimricos conhecidos como polissiloxanos tm

    o esqueleto de suas cadeias formado por ligaes alternadas de tomos

    de silcio e oxignio (Figura 2). Esses precursores apresentam baixa

    tenso superficial, hidrofobicidade, baixa temperatura de transio

    vtrea, resistncia s intempries, resistncia qumica e trmica (KAN et

    al., 1996; LEE; AKIBA; AKIYAMA, 2002; LIN et al., 2005; ZOU et

    al., 2007; BAI et al., 2012). Estes materiais apresentam muitas

    aplicaes em estado polimrico alm de serem precursores cermicos.

    Algumas aplicaes comerciais destes compostos so: espumas

    adesivas, lentes de contato com alta permeabilidade ao oxignio e

    membranas a prova dgua (RIEDEL et al., 2006). Na literatura existem trabalhos utilizando o processo sol-gel para realizar a sntese de

    polissiloxano com posterior aplicao como revestimento para proteo

    contra a corroso de metais (SARMENTO et al., 2010; HAMMER et

    al., 2013).

    O polissilazano, por se tratar do material utilizado neste estudo,

    ser descrito em maiores detalhes no prximo item.

    2.3.1 Polissilazanos

    Os polissilazanos so muito utilizados para obter cermicas do

    sistema SiCN (KROKE et al., 2000; GARDELLE et al., 2011). Esses

    precursores possuem ligaes Si-N ao longo de sua cadeia principal e

    so obtidos principalmente a partir da reao de clorossilano com

    amnia (TOREKI et al., 1990; YIVE et al., 1992; SCHIAVON, 2002;

    COLOMBO et al., 2010), conforme Figura 3.

  • 39

    Figura 3 - Sntese de polissilazanos a partir de um clorossilano com amnia.

    Fonte: do autor.

    A reao apresentada na Figura 3 forma oligmeros, geralmente

    cclicos, de baixa massa molar. Esses oligmeros, por possurem baixa

    massa molar, so muito volteis e, durante o tratamento trmico, podem

    evaporar ocasionando a reduo no rendimento cermico (LAVEDRINE

    et al., 1991; YIVE et al., 1992; KROKE et al., 2000; COLOMBO et al.,

    2010). As reticulaes dos oligossilazanos podem ser formadas

    termicamente ou quimicamente a partir de perxidos ou catalisadores

    (KROKE et al., 2000; SHIAVON, 2002; CHAVEZ et al., 2010). A

    presena dos grupos funcionais Si-H, N-H e vinlico essencial para

    obter um grau de reticulao adequado (LAVEDRINE et al., 1991;

    BAHLOUL; PEREIRA; GOURSAT, 1993; CHAVEZ et al., 2010).

    Assim, quanto maior a disponibilidade desses grupos reativos na

    molcula, maior o grau de reticulao (YIVE et al., 1992). As quatro

    reaes que geram a reticulao dos oligossilazanos esto apresentadas

    na Tabela 1 (YIVE et al., 1992; KROKE et al., 2000; CHAVEZ et al.,

    2010):

  • 40

    Tabela 1 - Reaes que geram reticulao dos oligossilazanos.

    Nome da Reao

    Mecanismo de Reao

    Hidrossililao

    Polimerizao

    dos grupos vinlicos

    Reaes de

    transaminao

    Reaes de

    acoplamento

    por desidrogenao

    Quando a reticulao formada apenas termicamente, as reaes

    ocorrem na seguinte sequncia: 1) reao de hidrossililao

    (temperatura: entre 100 C e 120 C), 2) Reaes de acoplamento por

    desidrogenao (nas temperaturas entre 300 C e 400 C) e reaes de

    transaminao (250 C a 500 C) e 3) polimerizao dos grupos

    vinlicos (300 C a 400 C). As taxas das reaes de hidrossililao e

    polimerizao dos grupos vinlicos podem ser aceleradas,

    respectivamente, na presena de catalisador e iniciador do tipo perxido

    (LAVEDRINE et al., 1991; YIVE et al., 1992; CHAVEZ et al., 2010).

    Cabe ressaltar que um elevado grau de reticulao forma polmeros

    termorfixos e insolveis (LAVEDRINE et al., 1991; KROKE et al.,

    2000). Assim, para a aplicao proposta, fundamental obter um

    produto com baixo grau de reticulao antes da aplicao como

    revestimento nos substratos metlicos. Um dos mtodos utilizados para determinar o grau de reticulao a extrao soxhlet (MERA et al.,

    1999; ZOU et al., 2005(a); WANG et al., 2005; ZOU et al., 2007;

    THOMAS; GILBERT; HOANG, 2006; IVANKOVIC et al., 2009;

    ZHANG et al., 2013; WU et al., 2013).

  • 41

    Uma particularidade dos oligossilazanos que esses materiais

    quando em contato com umidade e oxignio passam por reaes de

    hidrlise e policondensao. A gua reage com a ligao Si-N para

    produzir grupos silanis que condensam e formam unidades de siloxano

    e, consequentemente, aumentam o grau de reticulao (TOREKI et al.,

    1990; CHAVEZ et al., 2010). Dessa forma, para obter um produto com

    baixo grau de reticulao necessrio manter o meio reacional livre de

    umidade e oxignio. Sendo assim, conforme descrito anteriormente,

    todas as reaes sero realizadas via polimerizao em soluo com

    atmosfera de argnio.

    A principal aplicao dos oligossilazanos est no

    desenvolvimento de revestimentos para substratos metlicos, seja na

    forma polimrica ou cermica. A seguir, sero descritos alguns trabalhos

    existentes na literatura que abordam o assunto.

    Gnthner et al. (2009a) estudaram o comportamento de diferentes

    precursores (ABSE (policarbossilazano) e PHPS (polissilazano)) e a

    influncia dos parmetros de ceramizao na formao, adeso e

    composio dos revestimentos. A partir da anlise termogravimtrica

    (TGA) em nitrognio, os autores observaram trs etapas de

    decomposio: na primeira etapa, em torno de 200 C para o PHPS e

    300 C para o ABSE, no houve perda de massa; na segunda etapa, em

    temperaturas entre 200 C e 700 C para o PHPS e 300 C e 800 C para

    o ABSE houve perda de massa devido transio de polmero em

    cermica. No caso do PHPS houve liberao de Si-H e hidrognio

    enquanto que o ABSE liberou amnia e metano; por fim, na terceira

    etapa, acima de 700 C para o PHPS e 800 C para o ABSE, no houve

    perda de massa significativa. A 1000 C o rendimento cermico para o

    ABSE de 77% em massa e para o PHPS 85% em massa. Em ar, o

    resultado de TGA do precursor ABSE mostrou um comportamento

    semelhante e a principal perda de massa ocorreu ente 400 C e 600 C,

    causada pela separao de amnia, metano e hidrognio. O rendimento

    cermico do ABSE aps a pirlise a 1000 C em ar foi de 84% em

    massa. Para o PHPS houve um ganho de massa devido oxidao do

    silcio livre e gradativa substituio do nitrognio por oxignio,

    ocasionando um rendimento cermico de 118% em massa na

    temperatura de 1000 C. A composio qumica dos revestimentos foi

    avaliada pela tcnica GDOES (glow discharge optical emission spectroscopy) em ar e nitrognio. Os autores detectaram oxignio na

    superfcie do revestimento mesmo quando a pirlise foi realizada em

    nitrognio. Este comportamento foi atribudo ao manuseio e

    processamento dos revestimentos que, mesmo breves, expe os

  • 42

    materiais umidade e oxignio. Os autores observaram que a espessura

    dos revestimentos proporcional concentrao do precursor na

    soluo e velocidade com que a amostra erguida no processamento

    por dip-coating. A excelente adeso entre o revestimento e o substrato

    foi atribuda reatividade dos polissilazanos com grupos hidroxilas

    presentes na superfcie do metal. O PHPS apresentou melhor proteo

    contra oxidao devido ao seu maior rendimento cermico, atuando

    como uma barreira fsica.

    Kraus et al. (2009) desenvolveram revestimentos de precursor

    polimrico ABSE (policarbossilazano) e carga passiva de nitreto de boro

    cbico (cBN) para aplicao em substrato metlico. O procedimento

    experimental, para obteno das solues, consistiu em dissolver o

    ABSE e suspender o cBN (com auxlio de agente dispersante) em di-n-

    butil-ter. Aps completa homogeneizao das misturas, estas foram

    combinadas em um mesmo frasco e mantidas sob agitao mecnica. Os

    substratos metlicos passaram por processo de limpeza com acetona e

    isopropanol em banho de ultrassom. Os revestimentos foram aplicados

    via dip-coating com diferentes velocidades de subida: 0,1, 0,3 e 0,5 m

    min-1

    . Os substratos recobertos com a mistura precursor/cBN passaram

    por tratamento trmico (pirlise) a temperaturas entre 200 C e 800 C.

    As anlises de TGA das amostras de cBN puro, ABSE puro e da mistura

    ABSE/cBN/dispersante foram realizadas at 1000 C. O cBN puro no

    apresentou perda de massa ao longo da anlise. A perda de massa do

    ABSE ocorreu em duas etapas principais: na primeira etapa, entre 300

    C e 500 C, a perda de massa foi atribuda liberao de amnia e na

    segunda etapa, entre 500 C e 650 C, ocorreu predominantemente a

    liberao de metano e hidrognio. A amostra de ABSE/cBN/dispersante

    apresentou uma perda de massa de 4% a 300 C devido remoo do

    dispersante. A perda de massa adicional de 8% acima de 300 C foi

    atribuda aos gases liberados durante a reticulao e formao do

    produto cermico do ABSE. Os autores observaram que a partir de 600

    C o ABSE puro apresentou uma perda de massa de 15% enquanto a

    amostra ABSE/cBN/dispersante perdeu 12%. A perda de massa menor

    da amostra ABSE/cBN/dispersante foi consequncia da carga passiva de

    cBN. Outro benefcio da incorporao do cBN foi a diminuio da

    contrao do revestimento aps a pirlise. Com isso, os autores

    conseguiram obter espessuras maiores em comparao ao ABSE puro,

    mantendo os demais parmetros constantes. A partir das micrografias

    das sees transversais dos revestimentos em diferentes temperaturas de

    pirlise (200 C, 400 C, 600 C e 800 C), observou-se uma reduo na

    porosidade dos revestimentos com o aumento da temperatura devido

  • 43

    maior contrao e, consequentemente, maior densidade do revestimento.

    As micrografias das amostras pirolisadas a 200 C e 800 C

    evidenciaram a presena de poros nos revestimentos, sendo estes

    menores nas amostras pirolisadas a 800 C devido densificao

    durante a pirlise. A boa adeso do revestimento com o substrato foi

    atribuda formao de ligaes qumicas metal-O-Si. Para avaliar a

    oxidao, os substratos, revestido e no revestido, foram submetidos a

    diferentes temperaturas (500 C, 600 C e 700 C) e mantidos por 10

    horas. O substrato revestido no apresentou mudana significativa,

    mesmo na temperatura de 700 C. Em contrapartida, o substrato no

    revestido teve aumento de massa, principalmente na temperatura de 700

    C, atribudo oxidao do substrato. Os autores concluram que esse

    tipo de revestimento pode ser utilizado para melhorar a resistncia

    trmica do substrato metlico atuando tambm como barreira contra

    oxidao.

    Gnthner et al. (2009b), desenvolveram revestimentos com o

    precursor polissilazano PHPS e diferentes tipos de cargas passivas (BN,

    Si3N4, SiC, ZrO2). Dentre os materiais testados, apenas os resultados

    com nitreto de boro (BN) foram satisfatrios. A metodologia empregada

    consistiu em adicionar uma suspenso de BN a uma soluo de PHPS e,

    aps a estabilizao da mistura, substratos metlicos (previamente

    limpos) foram revestidos pelo processo dip-coating. Aps secagem em

    estufa, os substratos revestidos passaram pelo processo de pirlise em ar

    em temperaturas entre 500 C e 800 C. As espessuras dos

    revestimentos foram ajustadas entre 5 m e 20 m. Os revestimentos

    com dixido de zircnio (ZrO2) apresentaram problemas de

    homogeneidade, pois as partculas da carga sedimentaram rapidamente

    na soluo, levando a formao de um revestimento muito fino. Os

    revestimentos com carbeto de silcio (SiC) e nitreto de silcio (Si3N4)

    apresentaram bons resultados na inspeo visual, porm foi possvel

    observar rachaduras nas micrografias das superfcies, obtidas por MEV.

    Os revestimentos contendo BN mostraram boa homogeneidade e uma

    superfcie livre de rachaduras. As anlises termogravimtricas das

    amostras do PHPS puro, BN puro e PHPS/BN foram realizadas em ar

    com o objetivo de avaliar o comportamento desses materiais durante a

    pirlise. A anlise do PHPS mostrou um aumento de massa devido

    oxidao do silcio livre e substituio do nitrognio por oxignio.

    Ganho de massa significativo ocorreu entre 150 C e 500 C. O

    rendimento cermico aps a pirlise em 1000 C foi de 111%.

    Conforme esperado, BN puro no apresentou alterao de massa at 900

    C, porm acima dessa temperatura houve um aumento de massa devido

  • 44

    formao de xido de boro. A perda de massa da amostra PHPS/BN

    apresentou um perfil intermedirio queles do PHPS e BN puros. Alm

    disso, nas temperaturas acima de 500 C no foi observado nenhuma

    mudana; o rendimento em cermica na temperatura 1000 C foi de

    107%. Os autores verificaram que a espessura crtica, acima do qual os

    revestimentos sofreram rachaduras, foi de 12 m. Com a adio da

    carga passiva, a contrao dos revestimentos durante a pirlise foi

    menor, o que possibilitou obter uma espessura maior. A partir das

    micrografias da superfcie dos revestimentos obtidas por MEV, os

    pesquisadores observaram a homogeneidade na distribuio do BN na

    matriz SiNO. A boa adeso do revestimento com o substrato foi

    atribudo formao de ligaes qumicas metal-O-Si. A composio

    qumica dos revestimentos foi avaliada pela tcnica GDOES (discharge

    optical emission spectroscopy). Os resultados evidenciaram a existncia de B, N, Si e oxignio. A incorporao de oxignio foi atribuda

    preparao da mistura precursor/carga passiva bem como da pirlise do

    revestimento em ar. A anlise da proteo contra oxidao foi realizada

    nos substratos metlicos, com e sem revestimento, na temperatura de

    500 C por 100 horas. O metal sem revestimento apresentou uma

    camada de xido de 20 m, escura e porosa. Os substratos com

    revestimento de PHPS/BN, com espessuras de at 12 m,

    permaneceram homogneos e livres de rachaduras.

    Gnthner et al. (2011), desenvolveram revestimentos espessos a

    partir de polissilazanos. Alm de utilizar PHPS e HTT1800, foram

    selecionadas cargas cermicas (BN, Si3N4, ZrO2) e aditivos vtreos

    (8472, G018-198, 8470 e G018-311) para o desenvolvimento dos

    revestimentos. Os testes preliminares mostraram que os revestimentos

    formados com BN ou Si3N4 e os diferentes ps de vidro no forneceram

    homogeneidade suficiente para realizar os testes posteriores. Em relao

    aos ps de vidro, dois deles (8472 e G018-198) sedimentaram

    rapidamente na soluo devido maior densidade e tamanho de

    partcula. Como resultado, os revestimentos contendo estes vidros no

    apresentaram homogeneidade. O melhor revestimento foi obtido com a

    seguinte composio: HTT1800 como precursor, ZrO2 como carga

    passiva, p de vidro 8470 (vidro de borosilicato) e p de vidro G018-

    311. Dessa forma, os autores desenvolveram composies de HTT1800

    contendo 30% a 80% em volume de carga e p de vidro (zircnia +

    vidro). Pelos resultados obtidos por TGA, a converso do HTT1800

    puro em cermica ocorreu em trs etapas. A primeira etapa ocorreu em

    torno de 130 C sendo associada evaporao de oligmeros contidos

    no precursor. Na segunda etapa, ocorreu a reticulao do precursor. Por

  • 45

    fim, na terceira etapa, entre 300 C e 700 C, houve liberao de NH3,

    CH4 e CO2. O rendimento cermico na temperatura de 1000 C em ar foi

    de 82%. Na amostra zircnia/p de vidro, no ocorreu perda de massa

    significativa at 1000 C. O comportamento da amostra

    HTT1800/ZrO2/vidro mostrou um perfil intermedirio queles do

    HTT1800 puro e ZrO2/vidro. Alm disso, quanto maior o percentual de

    ZrO2 e p de vidro utilizado, maior o rendimento cermico encontrado

    pelos pesquisadores. Os autores tambm testaram dois tipos de

    jateamento para remover os contaminantes e camada de xidos que

    poderiam existir na superfcie do substrato metlico. No primeiro teste,

    foi realizado o jateamento dos substratos com xido de alumnio

    (Al2O3), conhecido como corundum, e no segundo, com partculas de

    vidro. Analisando-se as micrografias obtidas no MEV, os autores

    identificaram que o substrato com superfcie mais uniforme foi jateado

    com vidro. Como os revestimentos formados por p de vidro/cermica

    se tornaram porosos quando submetidos pirlise, os autores aplicaram

    uma primeira camada de PHPS com espessura de 1 m aps a pirlise

    para evitar a oxidao do substrato e problemas de adeso. Diferentes

    composies de HTT1800/ZrO2/8470/G018-311 foram aplicadas nos

    substratos com PHPS e submetidos temperatura de 700 C em ar. As

    micrografias obtidas permitiram visualizar revestimentos uniformes,

    densos e sem rachaduras. A espessura crtica encontrada pelos autores

    foi de 100 m. Alm disso, os testes de oxidao demostraram que os

    revestimentos resistem oxidao at 700 C.

    Gardelle et al. (2011) avaliaram a degradao trmica e as

    propriedades antichama dos revestimentos de HTT1800 aplicados em

    substrato metlico. Na formulao, alm do HTT1800, os pesquisadores

    incluram 50% em massa do retardante de chama tri-hidrxido de

    alumnio. Os revestimentos foram depositados em substratos metlicos

    que j possuam uma camada de resina epxi. Para efeito comparativo,

    alm dos substratos no revestidos, os autores utilizaram como

    referncia um substrato metlico recoberto com material intumescente

    (conhecidos por possuir excelente propriedade antichama). A partir do

    Torch Test observaram que as temperaturas encontradas no estado estacionrio para os metais sem revestimento, HTT1800 puro e

    HTT1800/tri-hidrxido de alumnio foram, respectivamente, 380 C,

    350 C e 325 C. O HTT1800 mesmo sem o retardante chama (tri-

    hidrxido de alumnio) formou uma barreira, pois conseguiu diminuir a

    temperatura do estado estacionrio em 30 C em relao ao substrato

    sem revestimento. O substrato com material intumescente apresentou

    uma temperatura de 200 C (diferena de 180 C em relao ao

  • 46

    substrato sem revestimento). A degradao trmica do HTT1800, obtida

    por TGA em nitrognio, apresentou trs etapas. A primeira etapa de

    degradao, entre 70 C e 250 C, corresponde h liberao de amnia e

    oligmeros, sendo a perda de massa total de 3,5%. Na segunda etapa,

    entre 250 C e 500 C, o gs liberado composto predominantemente de

    amnia e corresponde a uma perda de massa de 6,9%. A maior perda de

    massa (12%) ocorre em temperaturas superiores h 500 C devido

    liberao de metano. Os autores simularam o comportamento antichama

    do HTT1800 e observaram que a degradao ocorreu principalmente

    durante os 12 primeiros minutos e aps 1 hora de exposio ao fogo,

    ainda foi possvel obter uma massa residual do material de 74%.

    De acordo com os trabalhos descritos, os polissilazanos so

    bastante aplicados como revestimentos em substratos metlicos, pois

    possuem excelente adeso, boa estabilidade trmica e excelente

    resistncia corroso. Dentre os oligossilazanos, o HTT1800, alm de

    possuir essas caractersticas importantes que podero contribuir para

    melhorar as propriedades do PMMA, possui hidrocarbonetos em sua

    estrutura (Figura 4) que conferem maior hidrofobicidade e flexibilidade

    ao produto final (AZ, 2013). Hidrocarbonetos so considerados

    hidrofbicos, pois a diferena de eletronegatividade entre os tomos de

    carbono e hidrognio considerada baixa.

    Figura 4 - Estrutura bsica do oligossilazano HTT1800.

    Fonte: do autor.

    Os subndices 0,2n e 0,8n da Figura 4 indicam as fraes molares

    obtidas a partir da reao de co-amonlise do diclorometilvinilsilano

    (H2C=CHSi(CH3)Cl2) com diclorometilsilano (CH3SiHCl2) (FLORES et

    al., 2013). Apenas dois trabalhos que abordam a polimerizao de

    oligossilazano foram encontrados na literatura.

    No primeiro trabalho, Toreki et al. (1990) estudaram uma rota

    alternativa para obter um polissilazano, com maior grau de reticulao e,

    consequentemente, maior rendimento cermico. Na reao clssica para

  • 47

    sntese desse precursor (clorosilano com amnia) so gerados

    subprodutos indesejados os quais precisam ser removidos e oligmeros de baixa massa molar que reduzem o rendimento cermico.

    Assim, os autores realizaram reaes de polimerizao via radicais

    livres em massa e em soluo do oligossilazano 1,3,5-trimetil-1,3,5-

    trivilciclotrissilazano com diversos iniciadores: perxido de benzola

    (BPO), perxido de laurola (LPO), azobis(isobutironitrila) (AIBN) e

    perxido de dicumila (DCP). Na primeira parte, as reaes foram

    realizadas em massa com atmosfera de nitrognio para evitar reaes de

    hidrlise e condensao que ocorrem na presena de ar e umidade na

    atmosfera. Estas reaes levam indesejvel incorporao de oxignio

    tanto nos precursores quanto na cermica obtida aps a pirlise. Os

    iniciadores BPO e o LPO, mesmo nas temperaturas tpicas de

    polimerizao e com o perodo de 18 horas, no promoveram a

    polimerizao. O AIBN tambm foi ineficiente, porm os autores

    observaram polimerizao parcial aps 48 horas em 135 C. O iniciador

    DCP foi efetivo na polimerizao do 1,3,5-trimetil-1,3,5-

    trivilciclotrissilazano, quando utilizado nas concentraes entre 0,1% e

    1,0% em massa e temperatura reacional entre 120 C e 150 C. A reao

    de polimerizao em massa na temperatura de 135 C com 0,5% em

    massa de DCP durante 12 horas produziu um polmero insolvel e

    transparente com rendimento de 100%. Segundo os pesquisadores, a

    eficincia do DCP pode ser explicada pela formao de radicais metilas

    que so mais reativos com os grupos vinlicos dos oligossilazanos. Com

    o iniciador definido nessa primeira etapa, os autores realizaram reaes

    de polimerizao em soluo utilizando tolueno como solvente.

    Diferentes propores de oligossilazano e tolueno na temperatura de 135

    C por 18 horas foram avaliados. Os pesquisadores perceberam que

    quanto maior a quantidade de 1,3,5-trimetil-1,3,5-trivilciclotrissilazano

    utilizado em relao ao tolueno, maior a massa molar do polmero. Os

    polmeros sintetizados nessa etapa eram solveis. Os polmeros obtidos

    apresentaram rendimentos cermicos de at 80% em ar, comprovando

    potencial para diversas aplicaes como fibras e revestimentos.

    O segundo trabalho encontrado, desenvolvido por Schiavon,

    Sararu e Yoshida (2002), reproduziram a sntese de Toreki et al. (1990)

    e investigaram com maior profundidade as propriedades do produto

    obtido, porm com nfase na aplicao como precursor cermico.

    Cabe ressaltar que a polimerizao em soluo vem sendo

    empregada recentemente para polimerizar monmeros orgnicos na

    presena de oligmeros inorgnicos. O objetivo desses estudos

  • 48

    conferir propriedades diferenciadas ao material final atravs da

    combinao de propriedades entre os materiais orgnicos e inorgnicos.

    A polimerizao em massa e em soluo de estireno com

    HTT1800 utilizando DCP como iniciador foi investigada por Abarca et

    al. (2013). Os autores observaram, a partir dos resultados de TGA, uma

    reduo na perda de massa do poliestireno. A calorimetria diferencial de

    varredura (DSC) mostrou uma diferena de 10 C entre as Tg para os

    dois sistemas. O maior valor de Tg foi obtido para a sntese realizada em

    massa e os pesquisadores atriburam esse resultado maior quantidade

    de ligaes cruzadas.

    Ribeiro (2013) realizou a sntese de polissilazanos com

    acrilonitrila com o objetivo de melhorar as propriedades de

    processabilidade do precursor para fabricao de fibras. A

    polimerizao em soluo foi o mtodo selecionado pelo autor. Como

    solvente foi empregado a dimetilformamida (DMF) e 2,2-

    azobisisobutironitrila (AIBN) como iniciador. O monmero 1,1,3,3-

    tetrametil-1,3-divinildissilazano e o oligossilazano comercial HTT1800

    foram utilizados como precursores inorgnicos. Os resultados de

    cromatografia gasosa indicaram uma baixa eficincia do AIBN em

    polimerizar os compostos silazanos puros, no entanto a polimerizao na

    presena de acrilonitrila aumentou consideravelmente sua converso. A

    presena da acrilonitrila e dos compostos silazanos no produto final foi

    comprovada pela espectroscopia de infravermelho por transformada de

    Fourier (FTIR). Anlises de TGA mostraram que at 1000 C nenhum

    dos materiais teve perda total de massa. O pesquisador atribuiu esse

    comportamento formao de reticulao que forma ligaes cruzadas

    entre as cadeias polimricas aumentando a energia necessria para

    quebr-las o que impediu a degradao total do material sintetizado.

    De acordo com os artigos apresentados na reviso bibliogrfica

    dos polissilazanos, percebe-se que no h estudos relacionados com a

    polimerizao em soluo entre o oligossilazano HTT1800 e MMA para

    aplicao como revestimento protetor, comprovando o carter pioneiro

    deste estudo.

    2.4 CORROSO

    Um dos principais problemas industriais a degradao de metais

    causada pela corroso. Esse fenmeno no pode ser completamente

    evitado, mas pode ser postergado (HAMMER et at., 2013). O fator

    econmico a principal motivao para as pesquisas nesta rea (REVIE;

    UHLIG, 2008), pois a corroso responsvel por grande parte dos

  • 49

    custos de manuteno (WANG; BIEWARGEN, 2009; GNTHNER et

    al., 2009a; SCHTZ et al., 2012).

    Na literatura, variadas definies de corroso so apresentadas e

    por isso, comum a ocorrncia de divergncias. Entretanto, existe um

    consenso geral (SOUZA, 2011), sendo possvel afirmar que a corroso

    a deteriorao dos materiais pela reao qumica ou eletroqumica com o

    meio (CHOU et al., 2001; SARMENTO et al., 2010; SAKAI et al.,

    2012; HAMMER et al., 2013), podendo estar ou no associada a

    esforos mecnicos (GENTIL, 2003).

    A corroso em meio aquoso a mais comum, sendo caracterizada

    por processos essencialmente eletroqumicos (WOLYNEC, 1998;

    CAPIOTTO, 2006; MESSANO, 2007; SCHWEITZER, 2010). Esses

    processos envolvem a transferncia de carga, caracterizando-se por

    serem ataques graduais e contnuos (CHOU et al., 2001; YEH et al.,

    2006; SARMENTO et al., 2010; SOUZA, 2011). Dessa forma, o

    substrato metlico, ao sofrer corroso, perde eltrons e passa a atuar

    como um nodo. Esses eltrons gerados so transferidos para outro

    substrato metlico presente no mesmo sistema ou para o prprio metal

    (MESSANO, 2007; SOUZA, 2011). Portanto, a corroso consiste de

    uma reao andica, que gera eltrons, e uma catdica, receptora desses

    eltrons. Todos os eltrons so gerados e consumidos na presena de um

    eletrlito (WOLYNEC, 1998).

    Diversas tcnicas foram desenvolvidas para melhorar a

    resistncia corroso de metais (SHEN et al., 2005). Geralmente, as

    tecnologias mais empregadas na preveno desse fenmeno so: (a)

    adio de inibidores na fase aquosa, os quais so adsorvidos pela

    superfcie do substrato metlico para prevenir as reaes corrosivas e (b)

    deposio de revestimentos protetores (GENTIL, 2003; SARMENTO et

    al., 2010).

    Os inibidores mais utilizados e eficientes so compostos que

    contm cromo na formulao. Esses inibidores possuem excelentes

    propriedades anticorrosivas que garantem a durabilidade do substrato

    metlico (SHREIR; JARMAN; BURSTEIN, 1994; BUCHHEIT, 1995;

    CHOU et al., 2001; LIU et al., 2005; ROSERO-NAVARRO et al., 2009;

    ZANDI-ZAND et al., 2011; SAKAI et al., 2012; RAHIMI;

    MOZAFFARINIA; NAJAFABADI, 2013). Entretanto, so txicos ao

    meio-ambiente e prejudiciais sade humana por serem considerados

    cancergenos (DEY et al., 2002; ONO; TSUGE; NISHI, 2004; LIU et

    al., 2005; ZANDI-ZAND; ERSHAD-LANGROUDI; RAHIMI, 2005;

    ROSERO-NAVARRO et al., 2009; ZANDI-ZAND et al., 2011; SAKAI

    et al., 2012; RAHIMI; MOZAFFARINIA; NAJAFABADI, 2013;

  • 50

    HAMMER et al.; 2013). Por essa razo, a pesquisa por materiais

    alternativos tem levado ao desenvolvimento de diferentes revestimentos

    (ZANDI-ZAND; ERSHAD-LANGROUDI; RAHIMI, 2005; ZANDI-

    ZAND et al., 2011; SAKAI et al., 2012; HAMMER et al., 2013).

    Entre as alternativas propostas esto os revestimentos orgnicos,

    inorgnicos e os hbridos orgnico-inorgnicos. Os filmes polimricos

    orgnicos possuem baixa resistncia trmica, enquanto que os

    revestimentos inorgnicos podem apresentar microrrachaduras e

    porosidade que prejudicam a proteo do substrato metlico

    (ZHELUDKEVICH; SAKCADI; FERREIRA, 2005; SARMENTO et

    al., 2010; HAMMER et al., 2013). Essas limitaes podem ser evitadas

    a partir do desenvolvimento de revestimentos hbridos orgnico-

    inorgnicos que formam materiais com propriedades complementares

    que no so possveis obter apenas com os componentes individuais ou

    possuem custo muito elevado.

    Neste contexto, os materiais hbridos tm sido motivo de vrios

    estudos, pois so alternativas no txicas, ambientalmente corretas e

    capazes de fornecer proteo ao substrato metlico contra a corroso.

    Na literatura no h estudos sobre as propriedades anticorrosivas

    de materiais hbridos PMMA/HTT1800. Dessa forma, sero descritos a

    seguir os trabalhos relevantes que sintetizam materiais hbridos,

    utilizando PMMA como componente orgnico, para proteo contra

    corroso de metais.

    2.4.1 Materiais hbridos com propriedades anticorrosivas

    A potencial aplicao dos revestimentos hbridos com

    propriedades anticorrosivas obtidos via sol-gel foi destacada no trabalho

    de Guglielmi (1997). Desde ento, diversos estudos foram realizados

    com o objetivo de sintetizar materiais hbridos orgnico-inorgnicos

    para formao de revestimentos protetores (MESSADDEQ et al., 1999;

    WANG; BIERWAGEN, 2009; SARMENTO et al., 2010).

    Atik et al. (1997) desenvolveram revestimentos hbridos de

    PMMA e zircnia (ZrO2) a partir da tcnica de sol-gel para avaliar as

    propriedades anticorrosivas atravs do ensaio de polarizao

    potenciodinmica em meio cido (0,5 M H2SO4). O procedimento

    experimental consistiu em diluir o n-propxido de zircnio

    (Zr(OC3H7)4) em isopropanol e cido actico seguido de

    homogeneizao em banho de ultrassom. Para completar a hidrlise,

    PMMA e gua foram adicionados ao sistema. Diferentes percentuais de

    PMMA (em volume) foram avaliados: 11%, 16%, 26%, 51%, 63%,

  • 51

    71%, 76%, 83%, 96% e 100%. Antes de aplicar o revestimento via dip-

    coating, as placas de ao inoxidvel (AISI 316L) passaram por uma

    limpeza com gua destilada e acetona. A secagem dos revestimentos

    aplicados no substrato metlico foi realizada, primeiramente, em

    temperatura ambiente durante 15 minutos. Decorrido esse tempo,

    diferentes temperaturas e tempos de secagem, entre 100 C e 300 C e 1

    h e 20 h, foram avaliados. A partir dos resultados de polarizao

    potenciodinmica dos substratos no revestido e revestido com as

    diferentes composies, os autores concluram que os filmes hbridos

    formam uma barreira protetora que evita a penetrao do meio

    corrosivo. A taxa de corroso dos materiais hbridos com tratamento

    trmico a 200 C por 10 h em ar foi investigado em funo da

    composio PMMA/ZrO2. Os polmeros hbridos com composio em

    volume de PMMA entre 20% e 70% apresentaram baixa taxa de

    corroso com valores praticamente constantes e, em comparao ao

    substrato metlico sem revestimento, aumentaram a resistncia

    corroso em um fator de 30. Os revestimentos que possuam mais de

    80% em volume de PMMA apresentaram maior taxa de corroso. O

    revestimento com 100% PMMA se mostrou completamente ineficiente e

    no protegeu o substrato metlico. Para avaliar as diferentes

    temperaturas e tempos de secagem, as taxas de corroso foram obtidas a

    partir do revestimento com 63% em volume de PMMA. As menores

    taxas de corroso foram obtidas nas amostras secas entre 200 C e 230

    C por, respectivamente, 20 h e 1 h. Os pesquisadores acreditam que

    abaixo de 200 C o revestimento no fica denso o suficiente para resistir

    corroso. Em temperaturas superiores a 250 C, no h uma boa

    resistncia corroso devido deteriorao do revestimento,

    principalmente, por perodos longos de tempo. A resistncia do

    substrato revestido com hbrido (63% em volume de PMMA) e seco a

    230 C durante 1 hora diminuiu a taxa de corroso em um fator de 30

    em relao ao substrato sem revestimento. Alm disso, foi observado

    que os revestimentos com os materiais hbridos apresentaram melhores

    propriedades anticorrosivas em relao ao ZrO2 puro. Nesse caso, os

    autores observaram que houve menor quantidade de poros no

    revestimento. A partir das micrografias obtidas por MEV-EDX (energy

    dispersive x-ray detector), observou-se que o revestimento de 63% em

    volume contm partculas polimricas na ordem de micrmetros

    embebidas em uma estrutura amorfa. Os pesquisadores concluram que

    o aglomerado polimrico forma pontos fracos ao longo do revestimento

    uma vez que o PMMA puro no possui propriedades anticorrosivas.

    Dessa forma, se os aglomerados fossem reduzidos, a taxa de corroso

  • 52

    seria ainda menor. Os revestimentos hbridos PMMA/ZrO2 obtidos

    pelos autores melhoraram as propriedades anticorrosivas em relao ao

    PMMA puro e at mesmo ao ZrO2. Entretanto, a presena do polmero

    orgnico limita o uso desses materiais em temperatura acima de 250 C.

    Messaddeq et al. (1999) tambm prepararam materiais hbridos

    de PMMA e zircnia (ZrO2) pelo processo sol-gel para avaliar a

    resistncia corroso do revestimento desenvolvido no substrato

    metlico. Os autores avaliaram a influncia da concentrao do PMMA

    na formulao e a influncia do nmero de camadas do revestimento no

    ao inoxidvel (AISI 316L). O procedimento experimental consistiu em

    diluir o n-propxido de zircnio (Zr(OC3H7)4) em isopropanol e cido

    actico com homogeneizao em banho de ultrassom. Em seguida, gua

    foi adicionada para completar a hidrlise. O PMMA, previamente

    dissolvido em acetona, foi introduzido no meio reacional e a soluo

    resultante foi submetida agitao em banho de ultrassom para manter a

    homogeneidade. Antes de aplicar o revestimento via dip-coating, as placas de ao passaram por uma limpeza com detergente neutro, seguido

    de gua destilada e acetona. As placas revestidas foram analisadas por

    microscopia eletrnica de varredura (MEV). A partir das imagens

    obtidas foi possvel observar domnios de zircnia envoltos por

    domnios secundrios de PMMA. A partir dos grficos de polarizao

    potenciodinmica, os autores concluram que os revestimentos com

    incorporao de PMMA na zircnia aumentaram a resistncia do ao

    corroso em relao ao xido puro. O menor ndice de corroso foi

    obtido com o material hbrido que continha 17% em volume de PMMA;

    concentraes menores que 17% resultaram em revestimentos no

    contnuos gerando domnios com zircnia e consequentemente formao

    de rachaduras nesses pontos. Em relao aos nmeros de camadas,

    mesmo com o material hbrido que apresentou melhor resistncia

    corroso (formulao com 17% em volume de PMMA) no houve

    diferena significativa ao utilizar mais de uma camada de revestimento.

    Os pesquisadores observaram que em concentraes menores de

    PMMA, no h homogeneidade nos revestimentos e em concentraes

    superiores, devido maior espessura, a aderncia no foi adequada, pois

    durante os experimentos de corroso os revestimentos racharam e

    desplacaram.

    Ono, Tsuge e Nishi (2004) avaliaram a resistncia corroso de

    metais revestidos com filmes polimricos hbridos de SiO2/PMMA e

    SiO2/poli(vinil butiral) (PVB). O procedimento experimental ocorreu em

    trs etapas: (1) dissoluo de tetraetoxisilano (TEOS) em cido actico e

    gua; (2) adio de etanol a temperatura ambiente seguido de

  • 53

    aquecimento do meio reacional at 60 C e (3) adio dos polmeros

    orgnicos PMMA e PVB separadamente nas solues de TEOS

    previamente preparadas. Foram avaliadas duas concentraes de PVB

    (0,5% e 1,0% em massa) enquanto para o PMMA foi avaliada apenas a

    concentrao de 0,5% em massa devido sua baixa solubilidade em

    etanol. Os revestimentos foram aplicados via dip-coating em dois diferentes substratos metlicos: ao inoxidvel e ao zincado. Aps

    aplicao dos revestimentos, os substratos passaram por secagem em

    estufa entre 200 C e 800 C. A taxa de corroso do ao inoxidvel

    revestido com slica e com os materiais hbridos foi avaliada pela norma

    Japonesa JIS G 0578. Seguindo a norma, os substratos foram imersos

    em soluo 6% de cloreto frrico e a taxa de corroso foi obtida pela

    perda de massa por unidade de rea e tempo aps 17 h a 50 C. Os

    resultados evidenciaram que os substratos revestidos apenas com slica

    (sintetizada via sol-gel com TEOS) e secos nas temperaturas entre 25C

    e 200 C apresentaram maior taxa de corroso. Esse efeito foi atribudo

    aos grupos hidroxilas que no condensaram o suficiente para garantir

    uma barreira contra corroso. Os polmeros hbridos nessa mesma faixa

    de temperatura apresentaram taxas de corroso menores, porm acima

    de 350 C a taxa de corroso aumentou. Os autores atriburam esse

    comportamento ao componente orgnico que, ao degradar em elevadas

    temperaturas, forma poros que reduzem o efeito de barreira contra a

    corroso. Ao comparar os substratos revestidos com materiais hbridos

    SiO2/1,0% PVB e SiO2/0,5% PMMA, aps tratamento trmico na

    temperatura de 500 C, os pesquisadores observaram que o hbrido com

    PVB apresentou melhor propriedade anticorrosiva. Entretanto, ao

    comparar os substratos revestidos com SiO2/0,5% PVB e SiO2/0,5%

    PMMA, o hbrido com PMMA apresentou menor taxa de corroso. Os

    autores atriburam esse comportamento menor quantidade de poros.

    Dessa forma, as melhores propriedades anticorrosivas encontradas

    foram aquelas dos revestimentos hbridos tratados termicamente entre

    25 C e 200 C e com os revestimentos apenas de slica tratados entre

    350 C e 50