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1
Zonas-tampão ripárias no planejamento e gestão de ecossistemas fluviais
em paisagens agrícolas.
TERENCIO REBELLO DE AGUIAR JUNIOR
ORIENTADORA: Profa. Dra. Maria Teresa Ferreira
TESE APRESENTADA PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM RESTAURO E GESTÃO FLUVIAIS
LISBOA
2015
2
Zonas-tampão ripárias no planejamento e gestão de ecossistemas fluviais
em paisagens agrícolas.
TERENCIO REBELLO DE AGUIAR JUNIOR
ORIENTADORA: Profa. Dra. Maria Teresa Ferreira
TESE APRESENTADA PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM RESTAURO E GESTÃO FLUVIAIS
Júri
Presidente: Doutor António José Guerreiro de Brito
Professor Associado com Agregação
Instituto Superior de Agronomia
Universidade de Lisboa.
Vogais: Doutora Maria Teresa Marques Ferreira da Cunha Cardoso
Professora Catedrática
Instituto Superior de Agronomia
Universidade de Lisboa;
3
Doutor António José Guerreiro de Brito
Professor Associado com Agregação
Instituto Superior de Agronomia
Universidade de Lisboa;
Doutor Pedro Manuel Hora Santos Coelho
Professor Auxiliar
Faculdade de Ciências e Tecnologia
Universidade Nova de Lisboa;
Doutora Maria Manuela Queiroz Martins Mantero Morais
Professora Auxiliar
Escola de Ciências e Tecnologia
Universidade de Évora;
Doutor Ricardo Nuno da Fonseca Garcia Pereira Braga
Professor Auxiliar
Instituto Superior de Agronomia
Universidade de Lisboa.
Instituição financiadora
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq – Brasil.
2015
4
Dedico essa tese ao Gabriel Terencio
5
Resumo
Diversos estudos em gestão de ecossistemas agrícolas têm apontado para os
possíveis benefícios de zonas-tampão ripária na melhoria da qualidade de rios
em pequenas áreas agrícolas. No entanto sabemos muito pouco, sobre como
estas pesquisas se relacionam com outras escalas espaciais, principalmente em
grandes áreas de agricultura. No presente estudo foi avaliada a eficácia de
remoção das diferentes composições de vegetação ripária e sua largura, além
de estudar os seus mecanismos de fixação. Foram selecionadas áreas de
vegetação ripária composta por grama, arbustos e vegetação lenhosa. Para
cada tipo de vegetação foram testadas larguras diferentes com 0-12, 0-36 e 0-
60m, através de poços de monitoramento a cada 12m. As coletas foram
realizadas após a primeira chuva, depois da aplicação dos compostos. A largura
e o tipo de vegetação foram um fator importante para a remoção dos nutrientes
N, NO3- e P e dos cinco pesticidas estudados. As larguras de 12m mostraram ter
uma proteção insuficiente para a concentração de nutrientes e pesticidas
utilizados nos locais de estudo. Quanto ao tipo de vegetação, zonas tampão
composta por árvores têm uma taxa de remoção muito eficaz de N, P e NO3- e
pesticidas estudados em comparação com áreas de vegetação arbórea e grama.
Palavras-chaves: Zonas ripárias; nutrientes agrícolas; pesticidas; bacias
hidrográficas; aguas subterrânea.
i
6
7
Abstract
Several studies about the management of agricultural ecosystems have pointed
to the potential benefits of riparian buffer zones to improve the quality of rivers in
small agricultural areas. However we know very little about how these studies
relate to other spatial scales, especially in large areas of agriculture. In the
present study we evaluated the effectiveness of removal of the different
compositions of riparian vegetation, its width and study their setting mechanisms.
Areas of riparian vegetation consisting of grass, shrubs and woody selected. For
each type of vegetation has been tested with different widths 0-12, 0-36 and 0-
60m through monitoring wells every 12m. Samples were collected after the first
rain after application of the compounds. The width and type of vegetation was an
important factor in the removal of the nutrients N, P and NO3-, and the five
pesticides studied. The 12m-width usually implemented by farmers perform an
insufficient protection for the removal of nutrients and pesticides used in the study
sites. Regarding the type of vegetation, buffer zones composed of trees have a
more effective removal rate of N, P and NO3- and pesticides, in comparison with
areas of shrub vegetation and grass.
Keywords: riparian zones; agricultural nutrients; pesticides; watersheds;
groundwater.
iii
8
9
Agradecimentos
Desafio tão grande quanto escrever essa tese, foi a utilização de uma página
para agradecer as pessoas que fizeram parte desta minha trajetória acadêmica.
Agradeço aos meus pais Terencio Rebello de Aguiar e Antônia Barbosa de
Aguiar, por além de me oferecer todo amor e carinho, propiciar o mais elevado
grau de estudo acadêmico incentivando e tendo a paciência que só os pais tem
por um filho.
A minha esposa Katia Rasera e meu filho Gabriel Terencio Rasera de Aguiar
pelo simples fato de existirem na minha vida e torná-la muito feliz.
As minhas irmãs e sobrinhos pelo amor incondicional.
A minha orientadora Profa. Dra. Maria Teresa Ferreira por dividir seu
conhecimento comigo e estar sempre acessível e disposta a orientar.
Aos meus colegas do ISA e de Évora pelo acolhimento que sempre tive durante
minha estadia em Portugal.
Aos pesquisadores e amigos Ali Umut Sem, Fernando Rodrigo Bortolozo,
Fabricio Augusto Hansel e Alexsandro Gregório pelas inúmeras noites perdidas
no campo e no laboratório realizando as análises que pareciam infinitas.
Aos professores António Guerreiro de Brito, Lucilia Maria Parron Vargas e Ernani
Francisco da Rosa Filho, pela discussão e correção dos artigos.
A EMBRAPA Florestas e todos os funcionários que colaboraram com este
trabalho.
Ao CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pela
bolsa concedida.
Que a força esteja com você.
v
10
Índice
Resumo i
Abstract iii
Agradecimentos v
Parte 1 18
Capítulo 1. Introdução Geral 19
1.2 Pesticidas utilizados na área de estudo 21
1.2.1 Fluazifop-p-butil 21
1.2.2 Lactofen 23
1.2.3 Lambdacialotrina 24
1.2.4 Clorpirifós 26
1.2.5 Atrazina 28
1.3 Nutrientes agrícolas 30
1.3.1 Nitrogênio e suas formas 30
1.3.2 Fósforo 33
1.4 Situação das áreas de estudo 34
1.5 Bacia Hidrográfica do Rio Cará-Cará 36
1.6 Objetivo geral e específicos 19
1.7 Estrutura da tese 20
1.8 Referências 38
Parte 2 48
Capítulo 2. Eficácia da remoção de nutrientes pela vegetação ripária em
bacias hidrográficas de clima temperadas: o impacto das práticas de
plantio direto em culturas agrícolas 49
2.1 Resumo 49
2.2 Abstract 50
2.4 Materiais e métodos 56
2.4.1 Caracterização da área de estudo 56
2.4.2 Método de coleta 57
2.4.3 Análises físico-químicas 59
2.4.4 Determinação do escoamento 60
2.5 Resultados 61
2.6 Discussão 70
11
2.7 Conclusão 74
2.8 Agradecimentos 75
2.9 Referências 75
Parte 3 82
Capítulo 3. Vegetação ripária como filtros de pesticidas em culturas de
plantio direto 83
3.1 Resumo 83
3.2 Abstract 84
3.3 Introdução 85
3.4 Materiais e Métodos 88
3.4.1 Área de estudo 88
3.4.2 Coleta das amostras 90
3.4.3 Extração da Amostra 92
3.4.4 Cromatografia em fase gasosa - espectrometria de massa (GC-MS) 93
3.5 Resultados 95
3.6 Discussão 99
3.6.1 Largura e tipo de vegetação 99
3.6.1.O uso da terra e proteção dos ecossistemas 101
3.7 Conclusão 103
3.8 Agradecimentos 104
3.9 Referências 104
Parte 4 109
Capítulo 4. O destino de agrotóxicos em um aqüífero Karst tropical: um
estudo de cinco anos 110
4.1 Resumo 110
4.2 Abstract 111
4.3 Introdução 112
4.4 Material e métodos 115
4.4.1 Clima e contexto geológico 115
4.4.2 Métodos de coleta e análise 118
4.4.3 Extração da Amostra 119
4.4.4 Cromatografia em fase gasosa - espectrometria de massa (GC-MS) 120
4.5 Resultados 122
4.5.1 Características hidroquímicas das amostras 122
4.6 Discussão 128
4.7 Conclusão 131
4.8 Agradecimentos 131
12
4.9 Referências 132
Parte 5 135
Capítulo 5. Teor de matéria orgânica em solos de zonas ripária composta
por vegetação lenhosa e grama e seus efeitos na adsorção de pesticidas
136
5.1 Resumo 136
5.2 Abstract 137
5.3 Introdução 138
5.4 Metodologia 143
5.4.1 Características dos solos de estudo 143
5.4.2 Ensaios de adsorção 143
5.4.3 Ensaios de capacidade máxima de adsorção 144
5.4.4 Extração da Amostra 144
5.4.5 Cromatografia em fase gasosa - espectrometria de massa (GC-MS) 145
5.5 Resultados 147
5.6 Discussão 151
5.7 Conclusão 152
5.8 Referências 153
Parte 6 157
Capítulo 6. Discussão dos resultados 157
6.1 Zonas tampão ripárias como ferramenta para remoção de nutrientes
agrícolas e pesticidas 158
6.2 Destino de agroquímicos em aquífero kasrt sobre influência de uma área
ripária composta por árvores. 159
6.3 Adsorção de pesticidas em solos ripários 160
6.4 Considerações finais 161
13
Lista de figuras
Figura 1.1. Consumo de pesticidas em kg para cada município do estado do
Paraná. 35
Figura 2.1. Mapa da bacia hidrográfica do rio Cará-Cará 56
Figura 2.2. Representação gráfica das áreas de coletas, sendo A área de
vegetação ripária, B área de vegetação arbustiva e C área de gramínea. 58
Figura 2.3. Remoção de N, P e NO3- em cada área de estudo, em que N
(nitrogênio), P (fósforo) e Nit (nitrato), S (arbusto), G (gramas) e L (vegetação
lenhosa). A eficiência foi calculada nas seguintes larguras da zona tampão (A) 0
- 12 m (B) 0 - 36m e (C) 0 - 60m. 64
Figura 2.4. Relação entre a concentração de nitrato de (mg.L-1) e a distância dos
pontos de amostragem nas zonas de amortecimento, usando larguras de entre
0 e 60m. A concentração de nitratos foi medida em áreas com zona tampão
composta por ♦ gramíneas, • arbusto ou ■ vegetação lenhosa. 66
Figura 2.5. Relação entre a concentração de nitrogênio (mg.L-1) e da distância
dos pontos de amostragem nas zonas tampão, utilizando larguras entre 0 e 60m,
onde o ponto zero está localizado na é área agrícola e o ponto com 60m é o
ponto as margens do rio. Concentração de nitrogênio foi medida em zonas
tampão composta por ♦ gramíneas, • arbusto ou ■ vegetação lenhosa. 67
Figura 2.6. Relação entre a concentração de fósforo (µg.L-1) e da distância dos
pontos de amostragem nas zonas tampão, utilizando larguras entre 0 e 60m,
onde o ponto zero é localizado na zona agrícola e o 60m próximo ao leito do rio.
Concentração de fósforo foi medida em zonas com zona tampão composta por
♦ gramíneas, • arbusto e ■ lenhosa. 69
Figura 3.1. Mapa do rio Cará-Cará (Aguiar et al., 2014). 89
Figura 3.2. Espectro de massa induzido por colisão parcial (MS / MS) a partir do
ponto zero do transecto de zona tampão composta por vegetação lenhosa,
mostrando os íons quantitativos fragmentos m / z para cada pesticida. 96
Figura 3.3. Porcentagem de remoção de pesticidas em zonas tampão de 60 m,
compostas por diferentes tipos de vegetação: lenhosas ▲, arbustos ● e grama
■, e os detalhes de correlação linear de remoção de pesticidas após os primeiros
12 m. 98
14
Figura 4.1. Mapa geológico da região de estudo. 115
Figura 4.2. Análises de N-total e nitrato nos poços com profundidade de 8-9m ●
e 55-60m ■, entre Janeiro de 2008 e Janeiro de 2013. 126
Figura 4.3. Análises de pesticidas nos poços com profundidade de 8-9m ● e 55-
60m ■, entre Janeiro de 2008 e Janeiro de 2013. 127
Figura 5.1. Eficiência de remoção dos pesticidas Atrazina (A), Clorpirifós (B),
Fluazifop (C) e Lactofen (D) em solos contendo altas concentrações de matéria
orgânica () e baixas concentrações de matéria orgânica (■). 149
15
Lista de tabelas
Tabela 1.1. Propriedades físico-químicas do Fluazifop-p-butyl 22
Tabela 1.2. Propriedades físico-químicas do Lactofen 24
Tabela 1.3. Propriedades físico-químicas do Lambdacialotrina 26
Tabela 1.4. Propriedades físico-químicas do Clorpirifós 28
Tabela 1.5. Propriedades físico-químicas da Atrazina 30
Tabela 2.1 Valores médios e desvio padrão para os parâmetros químicos obtidos
em três diferentes estruturas de vegetação ripária e larguras (12, 36 e 60m), n =
9. As médias foram calculadas usando dados coletados em triplicado por 4
períodos de amostragem. 62
Tabela 3.1. Propriedades físico-químicas dos pesticidas estudados a 20-25ºC.
91
Table 3.2. Valores agroquímicos (µg L-1, n 12) de diferentes tamanhos de zona tampão
para os três tipos de vegetação estudados. 97
Tabela 4.1. Análise físico-química dos poços estudados, os dados recolhidos a
partir de janeiro de 2008 a janeiro de 2013. Não houve diferença significativa
para os parâmetros listados entre os resultados dos pontos de coleta localizados
em profundidades de 8 - 9m e pontos de 55 - 60m, de acordo com o teste de
Tukey (p> 0,05). 124
Tabela 4.2. Análise físico-química dos poços estudados, os dados recolhidos a
partir de janeiro de 2008 a janeiro de 2013. Foram observadas diferenças
significativas para os parâmetros listados entre os resultados dos pontos de
coleta localizados em profundidades de 8 - 9m e pontos de 55 - 60m, de acordo
com o teste de Tukey (p< 0,05). 125
Tabela 5.1. Caracterização das amostras analisadas quanto a concentração de
carbono orgânico, matéria orgânica, areia, silte e argila. 148
16
Lista de abreviaturas e siglas
Símbolos Definição Al+3
Íon alumínio APHA American public health association Atrazina-D5 Atrazina deuterada BR Brasil
ºC min-1 Grau célsius por minuto
C18 Cartucho octadecyl C8 Cartucho octyl Ca+2
Ion Cálcio CaCl2 Cloreto de Cálcio CDPR California department of pesticide regulation CEE Comunidade econômica europeia Corg. Carbono orgânico CONAMA Conselho nacional do meio ambiente CTC Capacidade de troca catiônica DL50 Dose letal 50 % dm-3
Decímetro cubico DS Densidade do solo EDTA Ethylenediaminetetraacetic acid EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EPA Environmental Protection Agency g L-1
Grama por litro g Grama GC-MS Gas chromatography-mass spectrometry GPS Global positioning system H2O Água H2SO4 Ácido sulfúrico HA Health Advisories HCl Ácido clorídrico IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IT Isolation time IUPAC International Union of Pure and Applied Chemistry KCl Cloreto de potássio Kd Coeficiente de distribuição Kg dm-3
Quilograma por decímetro cubico kg Quilograma KH Constante de henry Koc Coeficiente de partição normalizado pelo carbono
orgânico L dia-1
Litro por dia L Litro mg L-1
Miligrama por litro mg kg-1
Miligrama por quilograma mg+2
Ion Magnésio mL min-1
Mililitros por minuto MP Macroporosidade NaOH Hidróxido de sódio N-NO3
- Nitrato
OMS Organização mundial da saúde
17
ORP Oxidation-reduction potential P atm. Pressão atmosférica pKa Log da constante de dissociação ácida pKb Log da constante de dissociação básica PVC Policloreto de vinila PT Porosidade total SB Soma de bases SPE Solid phase extraction SW Solubilidade em água TCP 3,5,6-Tricloro-2-Piridinol UFPR Universidade Federal do Paraná USEPA United States Environmental Protection Agency μg/L Micrograma por litro
18
Parte 1 _______________________________________________________________________________________________
Introdução Geral
19
Capítulo 1. Introdução Geral
Zonas ripárias podem ser entendidas como um mosaico
surpreendentemente diverso de acidentes geográficos, comunidades e
ambientes compreendidos dentro de uma paisagem maior, e funcionam como
estrutura básica conceitual a fim de se compreender a organização, diversidade
e dinâmica das comunidades associadas aos sistemas fluviais (Naiman e
Décamps, 1997). Estendendo esse conceito no tempo e espaço, essas zonas
podem ser vistas em termos de padrões espaço-temporais levando em
consideração a relação entre processos hidrológicos e geomorfológicos,
sucessão de plantas terrestres e processos ecossistêmicos aquáticos (Gregory
et al., 1991). Especificamente, essas áreas estão localizadas ao longo de rios e
no entrono de nascentes, lagos e reservatórios (Rodrigues e Nave, 2000). O
delineamento preciso de uma zona ripária se mostra muitas vezes difícil de ser
determinado. Segundo Naiman & Décamps (1997), sua área abrange o canal do
riacho entre o nível mais alto e o mais baixo, e a porção da paisagem terrestre
que vai desde a marca de água mais alta até onde a vegetação é influenciada
por cheias e o solo tem alta capacidade de reter água. Já segundo Gregory et
al. (1991), a zona ripária se estende horizontalmente além dos limites das cheias,
e verticalmente compreendendo o dossel da vegetação adjacente.
As formações florestais localizadas nestas áreas recebem diversas
denominações: vegetação ripária, mata ciliar, mata de galeria, florestas
ribeirinhas, entre muitas outras como bem discutido por Rodrigues (2009). A
despeito de denominações generalistas, fica claro que essas formações não se
constituem como um tipo vegetacional único, pois mesmo possuindo estrutura e
função ecossistêmicas similares, elas diferem fundamentalmente em
Introdução Geral Capítulo 1
20
composição taxonômica conforme o domínio morfoclimático e fitogeográfico do
país (Ab’Sáber, 2009). A vegetação ripária ocupa uma das áreas mais dinâmicas
de uma paisagem, sendo que a distribuição e composição dessa comunidade
refletem tanto influências do ambiente fluvial na forma de cheias e vazantes,
quanto influências das áreas terrestres adjacentes como fogo, vento, doenças e
herbívoria (Gregory et al., 1991). Além disso, essas formações vegetais
apresentam um elevado grau de complexidade estrutural e heterogeneidade
ambiental devido principalmente às variações edáficas, topográficas e às
características hidrológicas da bacia e do curso d’água (Rodrigues e Shepherd,
2009).
As florestas ripárias atuam na manutenção da integridade de uma bacia
hidrográfica pela ação direta que têm em uma série de processos importantes
para estabilidade da microbacia, para manutenção da qualidade e quantidade de
água presente, assim como para manutenção da saúde ecológica dos próprios
ecossistemas aquáticos (Lima e Zakia, 2009). Elas também são chamadas de
zona tampão, justamente pelo fato de amortecerem os impactos provenientes
das áreas que circundam o ecossistema aquático (Ferraz, 2001), representando
um importante link de transição aquático-terrestre (Wallace et al., 1997; Naiman
e Décamps, 1997). Além disso, esses ambientes têm grande importância
ambiental e social, sendo inclusive considerados áreas de preservação
permanente (APPs) pela legislação ambiental brasileira segundo o Código
Florestal (Lei n° 4777/65), que limita sua ocupação e proíbe sua supressão.
Dentre as muitas funções ecológicas importantes, está o funcionamento da
vegetação ripária como corredores ecológicos para fauna e flora silvestres, sua
atuação como filtro natural de sedimento e água, no controle de erosão das
Introdução Geral Capítulo 1
21
margens, da incidência luminosa e um papel chave na ciclagem de nutrientes de
riachos florestais (Gregory et al., 1991; Naiman e Décamps, 1997; Lima e Zakia,
2009).
Esse papel chave da vegetação ripária na ciclagem de nutrientes está
diretamente relacionado com a dinâmica de energia dos ecossistemas
aquáticos, principalmente de rios sombreados de pequenas ordens, que são
sistemas predominantemente heterotróficos (Cummins et al., 1973; Vannote et
al., 1980).
1.2 Pesticidas utilizados na área de estudo
1.2.1 Fluazifop-p-butil
O fluazifop-p-butil é um herbicida seletivo do grupo químico Aril oxi fenoxi
propiônico, com formulação do tipo emulsão óleo em água. É utilizado para
controle pós-emergência da aveia selvagem, cereais voluntários, e gramíneos
anuais e perenes, colza, beterraba sacarina, beterrabas forrageiras, frutas com
caroço, videiras, alfafa, plantas ornamentais, e outras colheitas de folhas largas.
É um produto altamente tóxico para o meio ambiente (Classe II) e altamente
biocumulável em peixes (ADAPAR, 2015).
O Fluazifop-p-butil tem um baixo potencial de lixiviação, apresentando
maior potencial de contaminação de águas superficiais (Dores et al., 2001). A
literatura apresenta variações no tempo de meia vida do produto no meio
ambiente. Alguns estudos relatam que o tempo de meia vida do Fluazifop é de
15 dias (Nègre et al., 1993), sendo convertido a forma ácida (fluazifop Acid), que
podem ter persistência de menos de um semana (EXTOXNET, 1996).
Introdução Geral Capítulo 1
22
Entretanto, o produto comercial que é resultado da mistura entre o fluazifop-p-
butil + fomesafen, o “Robust”, demonstrou alta persistencia no solo. Estudos
conduzidos em argissolo vermelho-amarelo câmbico (PVAc) com cultivo de
feijão em sistemas de plantio direto e convencional por Jakelaitis et al., (2006)
permitiu que fosse encontrado resíduos de fluazifop após 72 dias após aplicação.
Investigações sobre o efeito de transição (persistência) do herbicida da mistura
comercial normalmente utilizada para a cultura do feijão, fluazifop-p-butil +
fomesafen demonstrou que seu efeito residual pode chegar a mais de 150 dias
após aplicação, afetando drasticamente as culturas subsequentes que não tem
seu uso recomendado (Mancuso, 2011). No meio ambiente a degradação do
fluazifop-p-butil pode ocorrer inicialmente por hidrólise, seguido da degradação
por microrganismos (Negre et al., 1988; Nègre et al., 1993). Estudos realizados
em condições controladas por Bordjiba et al., (2011) observou que fluazifop-p-
butil pode ser degradado por espécies de bactéria gram-negativas chamadas
Aeromonas hydrophila. Esta é uma bactéria heterotrófica encontrada em
diversos ambientes, pois sobrevive tanto em condições aeróbicas como
anaeróbicas. O estudo microbiológico permitiu identificar que está estirpe
bacteriana foi capaz de usar o herbicida como fonte única de carbono. As
propriedades físico-químicas do Fluazifop-p-butil estão na Tabela 1.1.
Tabela 1.1. Propriedades físico-químicas do Fluazifop-p-butil
Introdução Geral Capítulo 1
23
1.2.2 Lactofen
O Lactofen é outro herbicida do grupo químico Éter difenílico, com
formulação do tipo concentrado emulsionável. É utilizado para controlar plantas
daninhas de folhas largas na cultura de soja em pós-emergência, feijão entre
outras culturas. Este pesticida é de uso restrito e está na Agência de Proteção
Ambiental (EPA) com extrema toxicidade (classe I). Lactofen atende aos critérios
de um composto com potencial carcinogênico para seres humanos baseado em
diversos estudos que demonstraram que o fígado e nos rins são órgãos alvos
para este pesticida.
Observou-se aumento do peso absoluto do fígado em ratos do sexo
masculino expostos durante 78 semanas. Além disso, outros efeitos colaterais
como a disfunção renal, diminuição dos níveis de hemoglobina, de hematócritos
e as contagens de glóbulos vermelhos no sangue foram detectados em estudos
de 1 ano em cães. Segundo a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná
(ADAPAR, 2015), com base nos critérios de classificação do EPA, há estudos
suficientes para que o lactofen seja incluído na lista de pesticidas com potencial
de carcinogenicidade, problemas hepáticos, renais e hematológicos. O Lactofen
tem Kow alto, podendo ser muito tóxico para peixes e invertebrados. O tempo de
Introdução Geral Capítulo 1
24
meia-vida varia de 1 a 7 dias, possui baixa degradabilidade por hidrolise e fotolise
e alta degradabilidade microbiana (EXTOXNET 1996). A aplicação do lactofen
em solo argiloso e condições anaeróbicas, demonstrou que o processo de
degradação ocorreu em aproximadamente 30 dias (Liang et al., 2010).
A baixa solubilidade em água faz com que o lactofen seja adsorvido ao
sedimento e a matéria orgânica, ao invés de ficar dissolvido na solução do solo.
Essa adsorção pode reduzir a toxicidade do pesticida, atenuando a ação do
pesticida no meio ambiente (Liang et al., 2010). Estudos realizados por Diao et
al. (2009), demonstraram que o lactofen é degrado principalmente por
microrganismos, tanto em condições aeróbias como anaeróbias. Todavia, em
função desta alta capacidade de formar resíduos ligados Diao et al. (2009) afirma
que é necessário estudar com mais intensamente o comportamento do pesticida
no meio ambiente. As propriedades físico-químicas do lactofen estão na Tabela
1.2.
Tabela 1.2. Propriedades físico-químicas do Lactofen
1.2.3 Lambdacialotrina
Introdução Geral Capítulo 1
25
O pesticida lambdacialotrina é uma mistura de dois isômeros da cialotrina
(Andreu e Picó, 2004). É um inseticida pertencente ao grupo dos piretróides, com
formulação em suspensão. O inseticida pode ser usado para o controle de um
amplo espectro de pragas, por exemplo, pulgões, besouros colorado, tripes,
larvas de Lepidópteros larvas de Coleópteros, etc. Além do uso na agricultura, a
lambdacialotrina é utilizada na saúde pública e animal, para o controle de um
amplo espectro de insetos como carrapatos, baratas, moscas e mosquitos
devido a sua ação residual em superfícies inertes. Resíduos desse pesticida
também podem ser encontrados em produtos ricos em gordura, como o leite e o
óleo de soja. Isso ocorre porque a lambdacialotrina é uma substância
lipossolúvel (Muccio, et al., 1997). O lambdacialotrina apresenta meia-vida no
solo variando de 1 a 6 semanas, alta toxicidade para peixes e invertebrados
aquáticos, devido ao seu elevado coeficiente de partição-octanol-água (Kow).
É um composto que atua na membrana nervosa, bloqueando os canais de sódio,
interrompendo a transmissão dos impulsos nervosos e promovendo a perda do
controle muscular e a morte (Barbosa et al., 2005). Cabrera et al. (2008),
estudando o risco de contaminação de águas por pesticidas, constataram que o
lambdacialotrina por apresentar baixa mobilidade no perfil do solo tem potencial
de contaminação de águas superficiais. Tal potencial de contaminação é
favorecido pela sua capacidade de adsorção ao sedimento e a matéria orgânica.
Dores et al. (2008) investigaram este inseticida em águas superficiais na bacia
do rio Miranda, no Pantanal Mato-Grossense, encontrando valores de 9,6 μg/kg.
Estudos realizados em águas superficiais e subterrâneas na bacia do
Itajaí em Santa Catarina revelaram a presença deste pesticida provavelmente
ocasionada pelo transporte via escoamento superficial associado ao sedimento
Introdução Geral Capítulo 1
26
(Pinheiro et al., 2010). O elevado valor de Koc do lambdacialotrina não permite
a lixiviação, mas favorece as contaminações acidentais por lavagem de tanques
e embalagens no córrego e via transporte escoamento superficial (Filizola et al.,
2002). As propriedades físico-químicas do lambdacialotrina estão na Tabela 1.3.
Tabela 1.3. Propriedades físico-químicas do Lambdacialotrina
1.2.4 Clorpirifós
O clorpirifós é um inseticida do grupo químico dos organofosforados com
formulação do tipo concentrado emulsionável. Este inseticida é altamente tóxico
e amplamente usado no mundo e extremamente perigoso para meio ambiente
(Agudelo et al., 2012), sendo utilizado em diversas culturas entre as quais milho,
soja, trigo, sorgo, feijão, café, algodão, citros, maçã, banana, batata, cenoura,
repolho, tomate, couve e fumo. Também pode ser usado para controle de pragas
domésticas (Blattellidae, Muscidae, Isoptera), mosquitos (larvas e adultos) e em
biotérios.
O uso para controle de pragas urbanas tem causado grande preocupação
com a exposição aos seres humanos. Esse pesticida é um inibidor da
Introdução Geral Capítulo 1
27
acetilcolinesterase e provoca a morte de insetos com potencial para prejudicar
uma ampla gama de espécies já que a acetilcolinesterase está presente em
todos os vertebrados (Sogorb et al., 2004). Devido à elevada lipossolubilidade,
o clorpirifós é absorvido pelo organismo, especialmente pela pele, além de
membranas mucosas e pela via respiratória, podendo também ser absorvido
pelo trato gastrointestinal, normalmente, ocorre intoxicações acidentais,
suicídios e homicídios (Pena et al., 2003).
Estudos demonstraram que a exposição ao clorpirifós desenvolvidos no
Columbia Center for Children's Environmental Health está associada a
problemas de desenvolvimento neurológico aos 3 anos de idade, além de
problemas como defeitos de nascimento, baixo peso ao nascer, menor
circunferência da cabeça, distúrbios do sistema nervoso e anormalidades do
sistema imunológico (Rauh et al., 2011). Clorpirifós pode persistir no solo durante
um período de 60-120 dias, tem uma solubilidade muito baixa em água sendo
solúvel na maior parte dos solventes orgânicos (Singh et al., 2006).
Outro aspecto de grande relevância para o Clorpirifós é que a degradação
do mesmo gera um subproduto denominado 3,5,6-tricloro-2-piridinol (TCP).
Alguns estudos têm revelado que o TCP é conhecido pela sua atividade
antimicrobiana, podendo desta forma, inibir a proliferação de microrganismos
que degradada a molécula inicial do Clorpirifós (Coppola et al., 2007).
Na Califórnia, EUA, a detecção generalizada de Clorpirifós em águas
superficiais e toxicidade associada aos macros invertebrados aquáticos como
Ceriodaphnia dúbia, determinou a reabilitação da qualidade de 25 corpos da
água superficiais. Tal comportamento, fez com o clorpirifós fosse colocado em
reavaliação pelo Califórnia Department of Pesticide Regulation (CDPR) para
Introdução Geral Capítulo 1
28
mitigar os problemas (Sullivan et al., 2007). As propriedades físico-químicas do
Clorpirifós estão na Tabela 1.4.
Tabela 1.4. Propriedades físico-químicas do Clorpirifós
1.2.5 Atrazina
A atrazina é um dos herbicidas aplicados em pré-emergência que
pertence ao grupo químico das triazinas com formulação do tipo Suspensão
Concentrada. Este herbicida está entre uns dos mais utilizado no mundo, sendo
caracterizada pela sua alta persistência no meio ambiente e capacidade de
interferir no sistema neuroendócrino e reprodutivo e apresentar potencial
carcinogênico (Coelho et al., 2012). A exposição a atrazina e seus subprodutos
tem mostrado uma forte relação com anomalias pré-natais na população em
geral, nascimentos prematuros, abortos espontâneos, interferência no ciclo
menstrual e redução da fertilidade (Carmo et al., 2013). No Brasil a atrazina é
intensamente utilizada no controle de plantas invasoras nas culturas de milho,
soja e cana-de-açúcar.
Introdução Geral Capítulo 1
29
A atrazina pode ser fortemente adsorvida nos solos que apresentaram
maiores teores de carbono, indicando que a fração orgânica é o principal
sorbente de atrazina no solo (Dick et al., 2011). A interação entre o pesticida
atrazina e a matéria orgânica do solo é influenciada pelo pH do meio, que está
diretamente ligado a ionização destas moléculas. Assim, quanto menor o pH do
sistema solo maior será a probabilidade que a interação via troca iônica ocorra
entre a atrazina e os grupos ácidos nas substâncias húmicas do solo (Javaroni
et al., 1999). A degradação deste herbicida é governada pela hidrólise e pela
ação de microrganismos no solo, sendo que a hidrólise ocorre mais rapidamente
em ambientes fortemente ácidos ou básicos e mais lentamente em pH neutro
(Urbanová et al., 1989). Segundo Peixoto et al., (2000) a atrazina pode ser
degradada por hidrólise do carbono na posição 2 do anel heterocíclico da
molécula, pela N-dealquilação das cadeias laterais, e pela clivagem do anel
heterocíclico da molécula, sendo a N-dealquilação e a clivagem são processos
biológicos de degradação subsequentes à hidrólise. Todavia, alguns estudos
sugerem que a biodegradação é um dos mecanismos mais eficientes pela
eliminação da atrazina do solo (Besse-Hoggan et al., 2009). Mesmo
apresentando degradação por hidrólise e microbiana a intensidade de uso da
atrazina torna esse herbicida um potencial poluidor de águas subterrâneas e
superficiais. Este herbicida tem sido encontrado nos EUA e na Europa em
mananciais em concentração variando de 2,9 a 89 μg.L-1 (Coelho et al, 2012).
A atrazina apresenta solubilidade moderada em água, moderada
adsorção à matéria orgânica e argila, elevada persistência em solos, hidrólise
lenta e facilidade de transporte via escoamento superficial (Maria et al., 2013).
Assim ela tem sido encontrada em diversos compartimentos ambientais, como
Introdução Geral Capítulo 1
30
águas subterrâneas, águas superficiais, chuvas e água de neblina, e seu tempo
de meia vida tem sido estimado entre 1,5 a 5 anos (Besse-Hoggan et al., 2009).
Segundo Nakagawa et al., (1996) verificou se em estudos realizados no Brasil a
formação de 61% e 82% de resíduos ligados do herbicida atrazina, 400 dias após
a aplicação em Gleissolo Húmico e Latossolo Vermelho-Escuro.
Estudos de campo realizados com o herbicida atrazina em época seca,
demostraram que após 90 dias da aplicação o mesmo foi encontrado a 50 cm de
profundidade. Sua concentração no escoamento superficial encontrou-se
principalmente na fase líquida, com um percentual menor adsorvido nas
partículas erodidas (Correia e Langenbach, 2006). Os autores reforçam que em
função do potencial de poluição, esse não deve ser aplicado quando houver
previsão de chuvas. As propriedades físico-químicas do Atrazina estão na
Tabela 1.5.
Tabela 1.5. Propriedades físico-químicas da Atrazina
1.3 Nutrientes agrícolas
1.3.1 Nitrogênio e suas formas
Introdução Geral Capítulo 1
31
O N é um constituinte importante da terra, principalmente na litosfera,
onde ocorre distribuído nas rochas, no fundo dos oceanos e sedimentos que
contém 1.1023 g de N, representando 98% do N existente (Plaster, 2013). O N
em forma gasosa ocorre em concentração de 78% da atmosfera terrestre a qual
tem um estoque estimado em 3,9.1021g N em forma não combinada (N2), sendo
o segundo maior reservatório de N na terra (Brady e Weil, 2007).
No solo o N encontra-se distribuído em vários compartimentos com o
seguinte valores típicos em Kg ha-1: N2 = 11.500, N-orgânico = 7.250, N-NH4+ =
10 e N-NO3- = 50 (Plaster, 2013). De todos os elementos químicos que circulam
no sistema solo-planta-atmosfera, o que sofre maior número de transformações
bioquímicas no solo é o nitrogênio, cujo ciclo universal é resultante de três
subciclos chamados: elementar, autotrófico e heterotrófico.
Os nutrientes, como nitrogênio e fósforo, são essenciais para o
crescimento e nutrição de plantas e animais, mas o excesso de certos nutrientes
na água pode causar uma série efeitos adversos e causar um desequilíbrio
ecológico (Brady e Weil, 2007). Nitrogênio, sob a forma de nitrato, nitrito, ou de
amónio, é um nutriente necessário para o crescimento das plantas.
O nitrogênio é usado abundantemente em todo o mundo na agricultura
para o rápido crescimento do cultivo e melhorias na colheita, e em muitas
fazendas a paisagem tem sido muito modificado, a fim de maximizar a produção
agrícola. Campos foram nivelados e também modificado para drenar o excesso
de água de forma eficiente que pode cair como precipitação ou para práticas de
irrigação. Quando o excesso de nitrogênio é encontrado nos campos de cultivo,
o escoamento superficial pode carreá-los para rios, lagos ou para água
Introdução Geral Capítulo 1
32
subterrânea, nesses ambientes o excesso de nitrogênio pode levar a condições
de hipóxia (falta de oxigênio) (Plaster, 2013).
O excesso de nitrogênio pode causar hiperestimulação do crescimento de
plantas aquáticas e algas. O crescimento excessivo destes organismos, por sua
vez, pode obstruir a passagem da luz, bloqueando a luz para zonas mais
profundas utilizando o oxigénio dissolvido à medida que se decompõem (Brady
e Weil, 2007). Dessa forma, o processo de eutrofização leva à morte de animais
(especialmente peixes, pela falta de oxigênio para respiração) e plantas (pela
falta de oxigênio e pela falta de luz para a realização da fotossíntese). Recursos
hídricos eutrofizados geralmente são chamados de “mortos”, pois são raros os
animais que ali conseguem sobreviver.
O N-orgânico contido nos aminoácidos ou outros monômeros produzidos
pela ação das enzimas extracelulares sobre moléculas mais complexas, são
imediatamente absorvidos pelos microrganismos e, dentro das células, sofrem
desaminação, sendo parte do grupo amino excretado como NH3/NH4+. Este, no
solo, continua a sofrer transformações, convertendo-se em NO2- que
imediatamente converte-se em NO3-, processo este chamado de nitrificação
(Brady e Weil, 2007).
A nitrificação é a oxidação do amônio a nitrato sendo realizada por diferentes
grupos de bactérias quimiautotróficas (Plaster, 2013).
O nitrato, na água potável pode ser prejudicial para crianças ou animais
jovens. Nitrato em excesso pode resultar em restrição de transporte de oxigênio
na corrente sanguínea, pois a hemácia na presença de nitrato o utiliza no lugar
do ferro. Crianças com idade de 4 meses não possuem a enzima necessária
para corrigir esta condição ("síndrome do bebê azul"). Em partes da Europa
Introdução Geral Capítulo 1
33
Oriental, onde as águas subterrâneas são contaminadas com 50-100 miligramas
por litro (mg/L) de nitrato, mulheres grávidas e crianças com menos de 1 ano de
idade são abastecidas com água engarrafada (Brady e Weil, 2007).
1.3.2 Fósforo
O fósforo é um elemento importante a todas as formas de vida por fazer
parte de biomoléculas como ácidos nucléicos e ATP. A maior parte do P do
planeta encontra-se nos sedimentos oceânicos, sendo encontrado em menor
parte na biosfera terrestre, na qual o solo é um enorme reservatório deste
elemento (Plaster, 2013). O P é um recurso natural finito e sem sucedâneo e seu
ciclo tende a converte-se a formas estáveis no solo e sedimentos, sendo,
portanto, um ciclo aberto. Na maioria dos solos agrícolas, especialmente nos
brasileiros, o P, juntamente com o N, representam os nutrientes que mais limitam
a produção, sendo necessário a aplicação em grandes quantidades desse
elemento nas culturas. Na maioria dos solos a maior parte deste ocorre em
fração mineral ligada aos óxidos de Fe e Al nos solos ácidos, e ao Ca nos solos
neutros ou alcalinos (Plaster, 2013). O P orgânico do solo varia de 3 a 90% do P
total dependendo do tipo de solo, ou de 1 a 3% da matéria orgânica do solo,
sendo encontrado principalmente na forma de fosfato de inositol, fosfolipídios e
nucleotícos (Brady e Weil, 2007). Assim como o nitrogênio o P pode causar
eutrofização de rios e lagos, além de contaminar a água subterrânea (Plaster,
2013).
O processo de “fixação” de P no solo ocorre com grande rapidez e
intensidade, formando compostos com elevada estabilidade química, como
fosfatos de Al e Fe nos solos ácidos e de Ca nos neutros ou alcalinos, limitando
Introdução Geral Capítulo 1
34
a disponibilidade desse nutriente na solução do solo (Plaster, 2013). Vários
grupos de microrganismos do solo ou da rizosfera são capazes, por meio de
mecanismos diversos, de extrair ou solubilizar o P desses compostos, como
também de fosfatos inorgânicos naturais pouco solúveis.
1.4 Situação das áreas de estudo
No Brasil a produção de grãos para o ano de 2012 foi de 193,5 milhões
de toneladas e a área plantada de 42,6 milhões de hectares. O Paraná, com
apenas 2,3% da área do país, é atualmente responsável por 20,8 % da produção
nacional (IBGE, 2015).
O município de Ponta Grossa-PR, é um polo de produção agropecuária
com altos índices de produtividade para lavouras de soja, milho e milho safrinha,
contribuindo de maneira expressiva para economia da região que devido a
grande produção agrícola viu o número de indústrias crescer de 12 para 28 em
4 anos, entre essas indústrias destacamos as multinacionais Bunge, Cargill,
Heineken, MONSANTO e outras. Todavia, esses grandes ganhos de
produtividade estão atrelados ao uso intenso de pesticidas, utilizados muitas
vezes, em desacordo com receituário agronômico. O manejo inadequado das
áreas agrícolas vem tornando-se uma fonte potencialmente poluidora das águas
superficiais, subterrâneas e do próprio solo (Dores et al., 2001; Reis et al., 2014).
O consumo de pesticidas dos municípios do estado do Paraná foi realizado pela
Associação de defesa agropecuária do Paraná (Figura 1.1).
Introdução Geral Capítulo 1
35
Figura 1.1. Consumo de pesticidas em kg para cada município do estado do Paraná. Fonte: ADAPAR (2011).
No Brasil as grandes áreas agrícolas têm adotado o sistema de plantio direto
(SDP) como o principal meio para melhoria da qualidade do solo.
O Sistema de Plantio Direto é uma tecnologia conservacionista que teve
grande desenvolvimento a partir da década de 1990 no Brasil e já se encontra
bastante difundida entre os agricultores, dispondo-se, atualmente, de sistemas
adaptados a diferentes regiões e aos diferentes níveis tecnológicos. Os
princípios do sistema de plantio direto seguem a lógica das florestas. Assim
como o material orgânico caído das árvores se transforma em rico adubo natural,
a palha decomposta de safras anteriores macro e microorganismos,
transformando-se no “alimento” do solo. As vantagens são a redução no uso de
insumos químicos e controle dos processos erosivos, uma vez que a infiltração
Introdução Geral Capítulo 1
36
da água se torna mais lenta pela permanente cobertura no solo. O Brasil é líder
mundial no uso do sistema, que ocupa mais da metade de sua área plantada.
O sistema de plantio direto apresenta inúmeras vantagens em relação ao
sistema de plantio convencional, todavia, práticas muito eficientes para redução
do escoamento superficial como o uso do terraço agrícola e o plantio em
contorno estão sendo abandonados.
1.5 Bacia Hidrográfica do Rio Cará-Cará
A bacia hidrográfica do rio Cará-Cará está localizada na porção sudeste
do município de Ponta Grossa, no Estado do Paraná. O rio Cará-Cará é afluente
da margem direita do rio Tibagi, apresentando altitudes que variam de 780 a
1020 m.
A bacia em questão é de 4ª ordem e apresenta uma rede de drenagem
densa e perene, onde ocorrem processos de erosão e o transporte de
sedimentos de regiões mais elevadas para planícies a jusante da bacia (Godoy
et al., 1994).
A bacia do rio Cara-Cará está situada no Segundo Planalto Paranaense,
a 860 metros de altitude, sendo desta forma, embasada por rochas sedimentares
do Paleozoico oriundas da Formação Furnas, Formação Ponta Grossa e
sedimentos quaternários, grupo Paraná. Na margem esquerda das nascentes do
Rio Cará- Cará, encontra-se a Formação Furnas, enquanto que na porção
sudeste e noroeste da bacia, ocorre a formação Ponta Grossa. Além disso, na
foz do Rio Cará-Cará ocorre deposição fluvial de sedimentos quaternários como
areia, siltes e cascalhos. A predominância de rochas sedimentares com
Introdução Geral Capítulo 1
37
intrusões de diabásio, definem o traçado dos rios nesse local (MINEROPAR,
2005).
O clima é do tipo Cfb, temperado, com temperatura média no mês mais
frio abaixo dos 18ºC, com verões frescos, temperatura média no mês mais
quente entorno de 25ºC e sem estação seca e chuvosas bem definida, sendo a
precipitação anual de 1668,5 mm (Wrege et al., 2011).
1.6 Objetivo geral
O principal objetivo desse trabalho é avaliar a eficácia de diferentes
configurações de zonas-tampão, suas dimensões e estrutura que mais
beneficiam a retenção de nutrientes de zonas agrícolas.
1.6.1 Objetivos específicos
- Verificar o poder tampão de diferentes tipos de vegetação ripária como filtro de
nutrientes agrícolas e pesticidas;
- Analisar a existência de relação entre a o tipo de vegetação e diferentes
larguras como ferramenta para retenção de fertilizantes e pesticidas;
- Avaliar o destino de agroquímicos em uma área de aquífero karst sobre
influência de áreas ripárias composta por árvores, e
Introdução Geral Capítulo 1
38
- Avaliar o poder de retenção de pesticidas por solos de áreas ripárias compostas
por árvores e grama.
1.7 Estrutura da tese
A tese está estruturada em cinco seções, sendo a primeira uma introdução onde
o leitor ira compreender as obras aqui apresentadas, além de oferecer o
conhecimento considerado essencial para permitir uma melhor compreensão do
tema estudado. Além disso, os objetivos gerais e específicos da tese são
apresentados, bem como, a estrutura e organização da tese.
As demais seções da tese (capitulos I, II, III, IV e V) a seguir são referentes aos
estudos desenvolvidos para atingir os objetivos da tese, e são divididas em cinco
capítulos cada.
Cada capítulo do II ao V, corresponde a uma questão científica e apresenta os
resultados e as conclusões alcançadas: Eles são artigos autônomos que foram
publicados, aceitos para publicação ou submetidos a um jornal peer-reviewed.
Estes artigos são aqui apresentados de forma idêntica à versão publicada ou
apresentada, mas tiveram ligeiras alterações para a formatação, a fim de criar
uniformidade entre as obras.
Capitulo 2 - Nesse capítulo foi analisada a remoção de nutrientes agrícolas por
diferentes composições e estruturas de vegetação ripária sobre influência de um
sistema de plantio direto de clima temperado.
Introdução Geral Capítulo 1
39
Aguiar, T.R.Jr., Rasera, K., Parron, L.M., Brito, A.G., Ferreira, M.T., 2014.
Nutrient removal effectiveness by riparian buffer zones in rural temperate
watersheds: The impact of no-till crops practices. Agricultural Water
Management.149:74-80.
Capitulo 3 – No capitulo três foi avaliada a eficácia de remoção de cinco
pesticidas utilizados em uma cultura de milho em sistema de plantio direto por
diferentes tipos de vegetação e larguras de zonas ripárias.
Aguiar, T.R.Jr., Bortolozo, FR., Hansel, FA., Rasera, K., Ferreira, MT., 2015
Riparian buffer zones as pesticide filters of no-till crops. Environmental Science
and Pollution Research. 22:7500-7510.
Capitulo 4 - No capitulo quatro foi investigado, durante cinco anos, o destino de
nutrientes agrícolas e pesticidas em um aquífero kasrt sobre influência de uma
área ripária composta por árvores.
Aguiar, T. R. Jr., Bortolozo F. R., Rosa Filho, E. F., Parron L. M., Rasera K., Brito
A.G., Ferreira M. T. 2015. Fate of selected agrochemicals in a tropical karst
aquifer: a five-year study. Environmental Science and Pollution Research
(submetido).
Capitulo 5 – No capitulo cinco estudamos a adsorção de pesticidas em solos
provenientes de áreas ripárias composta por vegetação de árvores e grama.
Introdução Geral Capítulo 1
40
Aguiar, T. R. Jr., Rosa Filho, E. F., Rasera K., Hansel, F.A., Ferreira M. T. 2015.
Organic matter content in wood and grass riparian soils and its effect in pesticide
adsorption. Environmental Pollution Research (em submissão).
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Embrapa Clima Temperado.
Introdução Geral Capítulo 1
47
48
Parte 2 _______________________________________________________________________________________________
Eficácia da remoção de nutrientes pela
vegetação ripária em bacias hidrográficas de
clima temperadas: o impacto das práticas de
plantio direto em culturas agrícolas
Não há emoção, há a paz.
Não há ignorância, há o conhecimento.
Não há paixão, há serenidade.
Não há caos, há harmonia.
Não há morte, há a Força
Código Jedi
Eficácia na remoção de nutrientes Capítulo 2
49
Capítulo 2. Eficácia da remoção de nutrientes pela vegetação ripária em
bacias hidrográficas de clima temperadas: o impacto das práticas de
plantio direto em culturas agrícolas
2.1 Resumo
O sistema de plantio direto é uma práticas agrícolas amplamente
utilizados em áreas temperadas devida ao seu grande potencial de reter a água
no solo. Zonas tampão ripárias têm o potencial de reter contaminantes
agroquímicos e atenuar os efeitos colaterais aos ecossistemas aquáticos,
principalmente por derivados de fertilizantes que muitas vezes são aplicados em
excesso na produção agro-alimentar. A este respeito, diferentes configurações
e larguras das zonas ripárias (12, 24, 36, 48 e 60m) compostas por vegetação
lenhosa, arbustos ou gramas foram avaliadas nesse estudo. A metodologia do
trabalho foi composta da avaliação de um grande número de locais
experimentais composto por diferentes composições de vegetação ripária e
larguras a amostragem foi realizado após o primeiro período de chuva, após a
aplicações de fertilizante. Os resultados apontam para o fato de que a eficácia é
largamente influenciada pela largura da zona tampão e tipo de vegetação. Com
efeito, as zonas ripárias com Largura de 60m composto por vegetação lenhosa
foram mais eficazes para remoção do fósforo (99,9%) e nitrogênio (99,9%),
quando comparada áreas com arbusto (66,4% e 83,9%, respectivamente) ou
grama (52,9% e 61,6%, respectivamente). Vegetação lenhosa tem sistemas
radiculares profundos, além desses solos terem um maior teor de matéria
orgânica quando comparado com áreas de grama e arbustos.
Palavras-chave: Contaminação da água; nutrientes agricolas; sistemas de
plantio direto; clima temperado; nitrogênio; fósforo.
Eficácia na remoção de nutrientes Capítulo 2
50
2.2 Abstract
Riparian buffer zones have the potential to capture chemical contaminants
and to mitigate detrimental side-effects in aquatic ecosystems derived from
excess fertilizers used in agro-food production. No-till farming systems are well
known agricultural practices and are widely used in temperate areas. In that
regard, different settings and widths of riparian buffer zones (12, 24, 36, 48 and
60m) with woody vegetation, shrubs or grasses were assessed. The
methodology was comprised of the evaluation of a large number of experimental
sites and the sampling was conducted after the first rain period and respective
fertilizer applications. The results point to the fact that effectiveness is largely
controlled by buffer zone width and vegetation type. Indeed, buffer zones with
60m width composed of woody soils were more effective in phosphorus (99.9%)
and nitrogen (99.9%) removal when compared to shrub (66.4% and 83.9%
respectively) or grass vegetation (52.9% and 61.6%, respectively) areas. Woody
vegetation has deep rooting systems and woody soils have a higher content of
organic matter when compared to grass and shrubs areas.
Keywords: Water contamination; nutrients; no-till systems; temperate climate
zones; nitrogen; phosphorus.
Eficácia na remoção de nutrientes Capítulo 2
51
2.3 Introdução
Os avanços tecnológicos no setor de produção agrícola proporcionaram
diversos ganhos na produção de alimentos e fibras no mundo todo. Entretanto o
uso intensivo de agroquímicos, como o nitrogênio, fósforo e pesticidas vem se
tornando a segunda maior causa de contaminação das águas subterrâneas e
ecossistemas fluviais no mundo, perdendo apenas para a contaminação
causada pelo esgoto doméstico (Mahler et al., 2008). Apesar de ocorrer em
diversas regiões do mundo, desde países desenvolvidos da Europa e América
do Norte, como em países em desenvolvimento como o Brasil, a intensificação
com que se tem encontrado estes poluentes em diferentes compartimentos
ambientais tem preocupado cientistas do mundo todo, tornando relevante a
realização de pesquisas para que se forneça subsídios para a proteção de
ambientes vulneráveis, como aquíferos cársticos, que são fonte de água para
abastecimento da população mundial.
O sistema de plantio direto, tem sido intensamente utilizado no Brasil
(Anghinoni, 2007), esse sistema proporciona um aumento nos teores de
elementos químicos no solo, principalmente na camada superficial (Campbell et
al., 2000; Schröder et al, 2004; Anghinoni, 2007). Isto pode contribuído para
perdas de nutrientes através do escoamento superficial, tanto na forma solúvel
quanto adsorvido a partículas coloidais em suspensão (Correll et al., 1999;
Grismer et al., 2008).
As partículas em suspensão têm uma colaboração extremamente
importante no transporte, tanto em quantidade, quanto na distância que os
poluentes podem percorrer. Estas frações solúveis e particuladas são
Eficácia na remoção de nutrientes Capítulo 2
52
comumente depositadas em outras áreas a jusante das áreas de produção
(Pruski et al., 2005), podendo contaminar ambientes vulneráveis como águas
superficiais e áreas de recarga de aquíferos.
Assim como os pesticidas, as elevadas concentrações de nutrientes
agrícolas em águas superficiais e subterrâneas também podem ser
consideradas contaminantes estando diretamente relacionadas com o transporte
por meio do fluxo vertical, principalmente em rochas carbonárias, onde a
circulação da água se faz nas fraturas e outras descontinuidades que resultaram
da dissolução do carbonato pela água. O transporte de partículas coloidais pode
ocorrer naturalmente em função das condições de relevo ou em maior
intensidade pelas atividades antrópicas (Mahler et al., 2008).
Fertilizantes agrícolas como o NPK são a principal fonte de carga de
nutrientes em aquíferos subterrâneos e bacias de grandes rios (Ribaudo et al,
2001; Turner e Rabalais, 2003; Schröder et al, 2004), contribuindo para a
redução da quantidade de oxigênio dissolvido presente na água devido a
eutrofização, e assim, podendo levar a redução da vida aquática nos
ecossistemas fluviais e da redução de aquíferos que apresentam potabilidade.
Práticas de gestão agrícola, tais como zonas tampão de vegetação ripária e
lavoura de conservação, têm sido usados para reduzir o escoamento destes
poluentes.
A lixiviação de compostos como o NO3- e P em áreas agrícolas é
potencializada pelas propriedades físicas dos solos, pelas práticas agrícolas
intensivas, pelas condições climáticas (pluviosidade) e pelo uso de irrigação,
principalmente em culturas de ciclo rápido como olerícolas.
Eficácia na remoção de nutrientes Capítulo 2
53
Quando na solução do solo o NO3- fica muito propenso ao processo de lixiviação,
favorecendo ao longo do tempo o incremento de seus teores em águas
subterrâneas e aumentando os riscos potenciais à saúde humana (Bertol et al.,
2005). Como os nitratos possuem carga negativa, eles não são atraídos pelas
partículas do solo, ou seja, não são adsorvidos.
Já o fósforo é um elemento químico muito raro na natureza, quando
comparado com as suas exigências por plantas terrestres e aquáticos (Correll et
al., 1999; Anghinoni, 2007). Devido a isso, P é eficientemente retomado em
biomassa e assim desempenha um papel fundamental no controlo da
produtividade dos ecossistemas (Mahler et al., 2008). Interações de P com
minerais do solo e estabilizado da matéria orgânica, levam a P relacionado com
complexos organo-mineral resistentes à hidrólise, e, portanto, a persistência a
longo prazo das P orgânica em solos (Sharpley et al., 1986; Syversen et al.,
2005; Snyder et al., 2009). Esta dinâmica mais lenta é regulada por meio de
processos de imobilização-mineralização, que ocorre através da adsorção
específica aniónico, que pode facilitar o escoamento deste anião (Uusitalo and
Jansson, 2002; Schröder et al., 2004)
Diversos estudos em gestão de ecossistemas agrícolas têm apontado
para os possíveis benefícios de zonas-tampão no controle do transporte de
poluentes difusos (Dillaha et al., 1989; Ahola, 1990; Syversen, 2002; Syversen,
2005; Syversen & Borch, 2005; Hefting et al., 2005, Stutter et al., 2009),
contribuindo na melhoria da qualidade de rios em regiões com pequenas áreas
agrícolas, além de aumentar a biodiversidade das paisagens rurais e reduzir a
erosão (Jenssen et al, 1994; Dennis et al, 1994; Daniels e Gilliam, 1996; Ribaudo
et al., 2001; Turner and Rabalais, 2003; Schröder et al., 2004; Grismer et al.,
Eficácia na remoção de nutrientes Capítulo 2
54
2006). Mander et al. (1997) analisaram a adsorção de nitrogênio e fósforo em
áreas de ecossistemas ribeirinhos na Estônia, observando redução significativa
das concentrações destes nutrientes nas áreas contendo zonas ripárias. No
entanto existem poucos estudos sobre a retenção de nutrientes agrícolas por
zonas-tampão em áreas de clima tropical, onde as condições de clima permitem
agricultura intensiva durante todo o ano, esses fatores podem influenciar a
quantidade de material lixiviado para rios, lagos e água do lençol freático. Zonas-
tampão podem ser definidas como áreas constituídas por vegetação ribeirinha
que habitam as margens dos rios e servem como um filtro ecológico entre os
campos agrícolas e os cursos de água (Naiman e Décamps, 1997). Ao reduzir
os impactos negativos das práticas agrícolas convencionais, as zonas-tampão
têm o potencial de melhorar significativamente a saúde ecológica dos
agroecossistemas.
Grismer et al., (2006) descreveram o mecanismo de filtração das zonas
tampão. Segundo esses autores, os chamados “filtros vegetativos” são formados
por basicamente três camadas: vegetação de superfície, zona de raiz e o
subsolo. A infiltração da água ocorre até a saturação do subsolo e quando o fluxo
de água se torna maior do que a capacidade de infiltração, ocorre o escoamento
superficial. Na zona da raiz a infiltração da água pode ser maior e mais
profundamente do que nas demais regiões. A composição das zonas tampão
pode variar quanto a sua estrutura e composição, dependendo da região
estudada ou da interferência do homem.
Pesquisas recentes sobre os benefícios das zonas-tampão em pequenas
propriedades agrícolas resultaram em um crescente interesse no seu uso para
melhorar a saúde dos agroecossistemas (Correll, 2005; Lovell and Sullivan,
Eficácia na remoção de nutrientes Capítulo 2
55
2005). Contudo, enquanto muitos estudos têm demonstrado que zonas-tampão
podem proporcionar benefícios ambientais, outros estudos tem colocado em
dúvida a sua utilização como filtro ecológico em grande escala, nomeadamente
em grandes áreas com agricultura intensiva ou a nível de bacia hidrográfica
(Correll, 2005; Lovell and Sullivan, 2005; Stutter et al., 2012). Na maioria desses
estudos, a capacidade de remoção de nutrientes agrícolas foram realizadas
durante alguns eventos de escoamento, como por exemplo, usando chuva
artificial para simular escoamento superficial (Sharpley et al., 1986; Uusitalo and
Jansson, 2002; McDowell et al., 2007). Outros trabalhos investigaram a retenção
das partículas do solo erodidas e diferentes frações de P e N, bem como de
outros poluentes de escoamento superficial, contudo existe uma falta de estudos
sobre a eficácia da remoção de poluentes agrícolas lixiviada para o lençol
freático, principalmente sobre as alterações nas concentrações de N e P em
solos e águas do lençol freático em regiões tropicais em sistema de cultivo de
plantio direto.
O sistema de plantio direto é uma técnica de cultivo conservacionista na
qual procura-se manter o solo sempre coberto por plantas em desenvolvimento
e por resíduos vegetais. Essa cobertura tem por finalidade protegê-lo do impacto
das gotas de chuva, do escorrimento superficial e das erosões hídrica e eólica.
Neste contexto, os objetivos deste artigo são: (I) Avaliar a eficácia de remoção
de nutrientes na zona saturada do solo e (II) Analisar os efeitos das diferentes
configurações e larguras de zonas-tampão como ferramenta para conservação
de ecossistemas fluviais.
Eficácia na remoção de nutrientes Capítulo 2
56
2.4 Materiais e métodos
2.4.1 Caracterização da área de estudo
A Bacia Hidrográfica do rio Cará-Cará está localizada na porção sudeste
do município de Ponta Grossa, no estado do Paraná. O rio Cará-Cará é afluente
da margem direita do rio Tibagi, possui uma área de 7.316,41 há (figura 2.1). O
uso dessa bacia hidrográfica é predominante de agricultura em sistema de
plantio direto, sendo as principais culturas a do milho e soja. Os solos da área
de estudo são o Latossolo vermelho. A precipitação anual é de aproximadamente
1.650,5 mm.
Figura 2.1. Mapa da bacia hidrográfica do rio Cará-Cará
Eficácia na remoção de nutrientes Capítulo 2
57
2.4.2 Método de coleta
Foram selecionadas 27 áreas de estudo com larguras de 12, 36 e 60
metros, localizadas entre as culturas de milho e soja (ponto zero) e o canal do
rio. Os locais selecionados para coleta apresentavam vegetação ripária (nove
áreas de estudo), vegetação arbustiva (nove áreas de estudo) e gramíneas (nove
áreas de estudo). A vegetação é caracterizada como floresta aluvial, com
predominância de árvores com altura de 15 a 20 m, as espécies predominantes
são: Sebastiania commersoniana, Anadenanthera colubrina, Vernonia discolor,
Jacaranda puberula, Syagrus romanzoffiana, Ilex theezans, Ocotea porosa,
Ocotea odorifera, Cedrela fissilis e Tabebuia alba. As plantas arbustivas são de
pequeno porte com altura máxima de 3 m as espécies predominantes são:
Miconia sellowiana, Miconia hyemalis, Erythroxylum microphyllum e Petunia
rupestris. Dentre as gramíneas mais comuns estão os gêneros Andropogon e
Aristida, em especial representado por Aristida pallens, Chloris bahiensis e
Andropogon bicornis, sendo essa última considerada espécies colonizadoras de
áreas degradadas (Ruschel et al., 2008). Das nove áreas de estudo utilizadas
em cada local foram selecionadas 3 áreas com 60 m de distância entre a
plantação agrícola e o canal do rio, 3 áreas com 36 m de distância e 3 áreas com
12 m. Em cada área foram realizadas perfurações partindo da cultura agrícola
até o canal do rio no sentido transversal, sendo que os pontos de coleta
apresentavam um espaçamento de 12 metros entre eles e profundidade variável
entre 1,5 a 3 metros, totalizando 81 pontos de coleta (Figura 2.2). As áreas
selecionadas apresentavam declividade e composição de solos semelhantes.
Eficácia na remoção de nutrientes Capítulo 2
58
Figura 2.2. Representação gráfica das áreas de coletas, sendo A área de vegetação ripária, B área de vegetação arbustiva e C área de gramínea.
Foram realizadas quatro campanhas de coletas, essas coletas ocorreram
durante as grandes aplicações de nutrientes agrícolas para o plantio de soja e
milho em todos os pontos de estudo. As coletas da água do lençol freático foram
realizadas após o primeiro período de chuva depois das aplicações dos
fertilizantes nitrogênio, fósforo e potássio. As coletas ocorreram em períodos de
chuva e seca sendo, duas coletas no período de chuva (meses de março e abril
de 2013 e 2014) e duas coletas no período de seca (maio e junho de 2013 e
Eficácia na remoção de nutrientes Capítulo 2
59
2014). A pluviosidade foi medida em duas estações meteorológicas instaladas
nas áreas de estudo.
Os poços para coleta foram feitos com uso de trado e máquinas de
perfuração e a água foi retirada utilizando uma bomba a vácuo, a cada coleta a
bomba e os tubos foram limpos com água destilada. Os primeiros 500 mL de
água foram descartados antes de cada coleta, a fim de obter amostras altamente
representativas. O valor dos parâmetros físico-químicos foi determinado in situ
através de um kit multi-parâmetros AP-7000 Aquaprobe. As amostras coletadas
foram armazenadas em frascos de vidro âmbar de um litro e preservadas a
temperatura de 4ºC para posterior análise em laboratório.
2.4.3 Análises físico-químicas
Além das análises dos principais nutrientes agrícolas utilizados pelos
produtores como o Nitrogênio (N), Nitrogênio amoniacal total (NH4/NH3),
Nitrogênio orgânico (ON), Nitratos (NO3-), Nitritos (NO2
-), Fósforo total (P),
Fosfatos (PO4-3) e Potássio (K+), foram realizadas as análises de Alcalinidade
total ao metilorange (CaCO3), Dureza total (CaCO3), Bióxido de carbono livre
(CO2), Oxigênio consumido em meio ácido (O2), Sólidos totais dissolvidos,
Acidez, Bicarbonatos (HCO3-), Carbonatos (CO3
-2), Cloretos (Cl-), Fluoretos (F-),
Sulfatos (SO4-2), Cálcio (Ca+2), Magnésio (Mg+2), Sódio (Na+) e Sílica dissolvida
(SiO2). As análises foram adaptadas do Standard Methods (APHA, 2012).
Para controle de qualidade foram utilizados padrões analíticos fornecidos
pela Sigma Aldrich com pureza de 99,9%, além disso foram coletadas 30
Eficácia na remoção de nutrientes Capítulo 2
60
amostras em duplicata que foram analisadas em um laboratório independente
para confirmação dos resultados.
Foi testada a diferença significativa entre as amostras por análise de
variância (ANOVA). Quando os resultados foram significativos, testes de
comparações múltiplas de Tukey foram realizados para determinar quais largura
zona tampão foram significativamente diferentes por diferença mínima
significativa (LSD) ao nível de 5%, utilizando o Origin Pro 9.0 (OriginLab
Corporation, EUA) e Estatística (Versão 10, StatSoft, EUA).
2.4.4 Determinação do escoamento
A análise do escoamento superficial foi realizada utilizando parcelas de
estudo com 2m de largura e 5m de comprimento, sendo a área de cada parcela
tinha 5m2. Os locais de medição foram fechados por chapas de metal de 10 cm
de altura e 5 cm enterrado no solo. As parcelas foram distribuídas após a
inclinação sendo a extremidade inferior, a última um metro construído em forma
de "V" sendo que o fluxo foi canalizado para um balde. A precipitação média
acumulada foi medida com a utilização de uma estação de tempo portátil
Vantage vue Davis, instalado perto da área de estudo. O volume de água foi
calculado de acordo com a área do lote experimental, com a percentagem de
retido (ou infiltrados) de água calculado como a diferença entre o volume do lote
e o volume de escoamento recolhidas.
Eficácia na remoção de nutrientes Capítulo 2
61
2.5 Resultados
Os resultados obtidos nos diferentes períodos de estudo (de março a
junho de 2013 e 2014) não apresentaram diferenças significativas, assim, os
dados foram usados em conjunto. Não houve diferença significativa (p 0,05),
por meio do teste de Tukey, entre os diferentes pontos de amostragem em
relação nitritos (NO2-), potássio (K+), alcalinidade, dureza, dióxido de carbono
livre (CO2), carbonatos (CO3-2), cloreto (Cl-), flúor (F-), sulfatos (SO4
-2), cálcio
(Ca+2), magnésio (Mg+2), sódio (Na+) e de sílica dissolvido (SiO2). Além disso,
estes elementos se encontram dentro dos valores típicos para a região
(Zimmermann et al., 2008).
62
Tabela 2.1 Valores médios e desvio padrão para os parâmetros químicos obtidos em três diferentes estruturas de vegetação ripária e larguras (12, 36 e 60m), n = 9. As médias foram calculadas usando dados coletados em triplicata por 4 períodos de amostragem.
Vegetação lenhosa Vegetação arbórea Gramíneas
Parâmetros 12 (m) 36 (m) 60 (m) 12 (m) 36 (m) 60 (m) 12 (m) 36 (m) 60 (m)
N (mg.L-1) 23.6(±2.0)d 2.55(±0.2)e 0.03(±0.06)a 25.0(±1.3)d 11.4(±0.8)e 6.9(±0.7)a 32.0(±1.4)d 30.3(±1.8)e 16.1(±2.5)a
P (µg.L-1) 13.9(±0.5)f 1.7(±0.4)g 0.03(±0.02)b 18.8(±0.8)f 13.8(±0.7)g 4.0(±0.6)b 23.4(±0.9)f 23.5(±0.7)g 15.1(±0.8)b
NO3- (mg.L-1) 13.8(±0.5)h 2.3(±0.6)i 0.008(±0.01)c 23±(1.5)h 15.3(±0.7)i 7.9(±1.1)c 31.9(±1.7)h 25.1(±1.4)i 19.2(±0.8)c
NO2- (mg.L-1) 0.2(±0.1) 0.2(±0.1) 0.1(±0.1) 0.05(±0.05) 0.09(±0.05) 0.02(±0.01) 0.2(±0.1) 0.1(±0.1) 0.09(±0.04)
K+ (mg.L-1) 0.4(±0.3) 0.6(±0.3) 0.4(±0.3) 0.6(±0.4) 0.6(±0.4) 0.5(±0.4) 0.5(±0.3) 0.7(±0.3) 0.4(±0.3)
Mg2+ (mg.L-1) 2.4(±0.2) 2.5(±0.2) 2.5(±0.3) 2.3(±0.2) 2.7(±0.2) 2.5(±0.2) 2.1(±0.1) 2.4(±0.1) 2.3(±0.2)
Ca+2 (mg.L-1) 4.0(±0.7) 4.1(±0.6) 4.2(±0.3) 3.9(±0.8) 4.1(±0.8) 4.1(±0.5) 3.6(±0.6) 4.0(±0.8) 3.9(±0.4)
pH 5.0(±0.2) 4.9(±0.2) 5.1(±0.2) 4.8(±0.5) 4.9(±0.2) 5.2(±0.3) 4.5(±0.5) 4.7(±0.1) 4.9(±0.3)
a - i - resultados obtidos para as áreas contendo gramíneas e vegetação arbustiva apresentaram diferença significativa pelo teste de Tukey (p 0,05), em comparação com área composta por vegetação lenhosa e mesma largura.
Eficácia da remoção de nutrientes Capítulo 2
63
A Tabela 1.1 mostra as concentrações de nutrientes a partir das amostras
coletadas em 12m, 36m e 60m após a zona rural, em regiões compostas por
vegetação lenhosa, arbustos e gramíneas, separadamente. Na zona tampão
composto de vegetação lenhosa, a remoção de N, P e NO3- foram
significativamente maiores do que em áreas com ervas e arbustos. Para os
outros nutrientes, não foram observadas diferenças significativas entre as zonas
de amortecimento (Tabela 1.1). Usando a análise de Tukey foi possível comparar
as médias de largura local dos 12m, 36m ou 60m, composto por gramíneas
(arbustivas ou arbóreas). Todas as áreas compostas de gramíneas, arbustiva ou
lenhosa mostrou diferenças significativas (p 0,05) para as concentrações de N,
P e NO3- comparando as mesmas larguras de zona tampão. Para NO2-, K+, Mg2+,
Ca+2, e pH houve diferenças significativas observadas em diferentes
composições de vegetação com a mesma largura.
Em relação ao nitrogênio (N), fósforo (P) e nitratos (NO3-), foram
encontradas diferenças significativas (p 0,05), entre as diferentes distâncias
estudadas (Figura 2.3).
Eficácia da remoção de nutrientes Capítulo 2
64
Figura 2.3. Remoção de N, P e NO3- em cada área de estudo, em que N (nitrogênio), P (fósforo) e Nit (nitrato), S (arbusto), G (gramas) e L (vegetação lenhosa). A eficiência foi calculada nas seguintes larguras da zona tampão (A) 0 - 12 m (B) 0 - 36m e (C) 0 - 60m.
A Figura 2.3 mostra a distribuição dos valores de eficiência de remoção
de N, P, e NO3- agrupados em tipos de vegetação a partir de uma gama de
larguras (12, 36, e 60 m). Os valores de eficiência foram obtidos através da
relação entre os dados analisados para pontos de concentração, com a
concentração no ponto zero. Para uma faixa de vegetação de 60m (Figura 3), a
vegetação lenhosa obteve uma capacidade de retenção de 100% de N, P e NO3-
. A vegetação arbusto obteve 83% para a remoção de N, 66% de P e 80% para
NO3-. Nos tampões grama, houve retenção de 61% de N, 53% de P e 52% para
NO3-. Para a faixa de vegetação de 36m (Figura 2.3), vegetação lenhosa foi
eficiente na remoção de 93% N, 92% P e 94% de NO3-. A eficiência de remoção
Eficácia da remoção de nutrientes Capítulo 2
65
de N quando a vegetação arbusto estava presente na zona tampão foi de 56%
para o P, e 46% a 61% para NO3-. No entanto, quando a zona tampão consistia
de grama, havia um poder de remoção de 41% de N, 34% de P e 37% para NO3-
. Na faixa de 12m (Figura 2.3) a remoção eficaz de vegetação lenhosa foi
calculada em 43% de N, 36% de P e 65% para NO3-. Para a vegetação arbusto,
a eficiência de remoção foi de 41% para o N, 32% de P e 42% para NO3-. Na
área de grama, eficiência de remoção foi de 21% N, 17% P e 20% NO3-.
Faixas de vegetação com largura de 60m obteve a melhor eficiência de
remoção para todos os tipos de vegetação estudados, especialmente para o
nitrogênio. Através do teste de Tukey foi verificado uma redução significativa dos
nutrientes. Para a vegetação lenhosa, a remoção alcançada foi de 100% para as
áreas com uma zona tampão de 60m. Comparando-se a remoção obtida para
zonas-tampão de composição diferente e larguras diferentes, o N, P e NO3-
mostraram diferenças significativas para a remoção obtidos em zonas de
amortecimento de 60m, composto por gramíneas, arbustiva e vegetação
lenhosa. O menor efeito de filtragem foi observado na zona tampão composto de
gramíneas, tanto para N, P e NO3-, onde a remoção após 60m eram apenas 62%
e 52%, respectivamente.
A relação entre a concentração de nitrato e distância para o cultivo em
áreas com uma zona tampão de 60m pode ser observado na Figura 2.4.
Eficácia da remoção de nutrientes Capítulo 2
66
Figura 2.4. Relação entre a concentração de nitrato de (mg.L-1) e a distância dos pontos de amostragem nas zonas de amortecimento, usando larguras de entre 0 e 60m. A concentração de nitratos foi medida em áreas com zona tampão composta por ♦ gramíneas, • arbusto ou ■ vegetação lenhosa.
A zona tampão composto por gramíneas mostrou uma remoção máxima
de 52% de nitrato, mantendo uma concentração mínima de 19 mg.L-1. Para as
zonas tampão com gramíneas (Figura 2.4), o coeficiente de correlação (R2) foi
de 0,99 para a análise de regressão de decaimento exponencial. A análise de
variância (ANOVA) mostrou resultado significativo (p < 0,05) para os pontos
inicial e final dos locais de coleta. Os valores obtidos para as amostras coletadas
no ponto de 12m a 60m, não apresentaram diferença significativa (p < 0,05). Na
zona tampão composto por arbustiva (Figura 2.4), a máxima remoção de nitrato
observada foi de 80%, com uma concentração mínima de nitrato a 10 mg.L-1. O
R2 foi de 0,99. A análise de variância (ANOVA) mostrou diferenças significativas
Eficácia da remoção de nutrientes Capítulo 2
67
(p < 0,05) na concentração de nitrato entre os pontos inicial e final da coleção.
Quando a zona tampão foi constituído por vegetação lenhosa (Figura 4), a
remoção de nitrato atingiu 100% em 60m de largura, e o coeficiente de
correlação (R2) da equação exponencial foi de 0,99. A partir dos resultados, foi
possível determinar a remoção de nitrato em zona tampão composta por
gramíneas, arbustiva e vegetação lenhosa (Figura 2.4) ajustado por uma
equação de decaimento exponencial. Assim, a remoção de nitrato aumenta com
a largura da zona de amortecimento e a complexidade da estrutura da
vegetação.
Figura 2.5. Relação entre a concentração de nitrogênio (mg.L-1) e da distância dos pontos de amostragem nas zonas tampão, utilizando larguras entre 0 e 60m, onde o ponto zero está localizado na é área agrícola e o ponto com 60m é o ponto as margens do rio. Concentração de nitrogênio foi medida em zonas tampão composta por ♦ gramíneas, • arbusto ou ■ vegetação lenhosa.
Eficácia da remoção de nutrientes Capítulo 2
68
Análises semelhantes foram realizados em relação a concentração de nitrogênio
(Figura 2.5). Para zonas tampão consistindo de gramíneas, a concentração
mínima de nitrogênio observado foi de 15 mg.L-1. Para as zonas tampão que
consiste em vegetação arbustiva a mínima foi de 4 mg.L-1 e para a vegetação
lenhosa, a remoção foi de 100%.
A análise de variância (ANOVA) mostrou diferenças significativas (p
0,05) na concentração de nitrogênio entre os pontos de início e término (12m e
60m) de coleta para as áreas com vegetação composta por arbusto e lenhosa.
Para gramíneas, não foram observadas diferenças significativas (p 0,05) entre
12m e 60m. Para gramíneas e arbustiva, o R2 foi de 0,98, para a vegetação
lenhosa o R2 foi de 0,99. A remoção de nitrogênio em zona tampão composta
por gramíneas, arbustiva e lenhosa é mostrado na Figura 2.5.
Para a análise de fósforo (Figura 2.6), quando a área de estudo foi
composta por gramíneas, a concentração mínima observada foi de 12 μg.L-1.
Quando a zona tampão consistia de vegetação arbusto, um teor de fósforo
inferior de 4 μg.L-1 foi observada. Para a zona tampão arborizado, há
concentração de fósforo foi observado após 60m. A análise de variância
(ANOVA) mostrou diferenças significativas (p 0,05) na concentração de fósforo
entre os pontos de início e término da coleta de gramíneas, arbustiva e
vegetação lenhosa.
Eficácia da remoção de nutrientes Capítulo 2
69
Figura 2.6. Relação entre a concentração de fósforo (µg.L-1) e da distância dos pontos de amostragem nas zonas tampão, utilizando larguras entre 0 e 60m, onde o ponto zero é localizado na zona agrícola e o 60m próximo ao leito do rio. Concentração de fósforo foi medida em zonas com zona tampão composta por ♦ gramíneas, • arbusto e ■ lenhosa.
Em todos os casos, a relação entre a redução da concentração de fósforo
na zona tampão composto por gramíneas, arbustivo e lenhosa é proporcional a
um aumento da largura da zona tampão. A remoção de nitrogênio, fósforo e de
nitratos aumenta na seguinte ordem: gramíneas> vegetação arbustiva>
vegetação lenhosa. A zona tampão constituída de vegetação lenhosa foi mais
eficiente na remoção de nitrato, fósforo e nitrogênio residual presente nas águas
subterrâneas provenientes de áreas agrícolas, ao contrário de zonas ribeirinhas
não lenhosos. Neste trabalho, a remoção de nitrato foi de 98% para a vegetação
Eficácia da remoção de nutrientes Capítulo 2
70
lenhosa de 60m. Uma diferença significativa (p <0,05) entre os pontos de grama,
arbustos e vegetação lenhosa para o NO3- foi observado. Na zona tampão de
36m composto de vegetação lenhosa, a remoção foi de 98% maior do que a
observada para arbusto (72%) e grama (42%). Zonas tampão que consiste em
grama ou arbusto apresentou um desempenho de retenção menor do que a zona
tampão composto por vegetação lenhosa sendo que essa vegetação apresentou
o menor escoamento superficial. Os valores de escoamento superficial nas áreas
com vegetação lenhosa ficou em 2,7 a 5,4%, já o escoamento subsuperficial foi
de 94,5% (± 0,9) de infiltração. A região composta por arbustos apresentou um
escoamento superficial de 9,3% (± 2,3) e uma porcentagem de infiltração
subsuperficial de 90,7% (± 2,1). A região composta por gramíneas tiveram o
maior escoamento superficial, atingindo 14,2% (± 3,4) e a menor porcentagem
de infiltração com 85,8% (± 2,6).
2.6 Discussão
A zona de vegetação lenhosa tem uma maior capacidade de retenção de
nutrientes (99,9%). Os solos com essa vegetação têm um maior teor de matéria
orgânica quando comparadas às áreas de grama e arbustos, devido às folhas
das árvores que são depositados e degradados no solo (Young et al., 1980;
Groffman et al., 2002). A matéria orgânica tem boas características de adsorção
de nutrientes devido a um sistema complexo de substâncias carbonicas e
processos de estabilização do húmus (Cahn et al., 1992), além disso o
ecossistema do solo da vegetação lenhosa contém uma rica população
microbiana (Groffman et al., 2002). As áreas de vegetação lenhosa possuem um
Eficácia da remoção de nutrientes Capítulo 2
71
sistema radicular profundo que atinge a zona saturada do solo, contribuindo para
a remove de diversos compostos entre eles o nitrogênio (Groffman et al., 2002;
Mayer et al., 2007). As áreas ripárias compostas por vegetação lenhosa também
mostram uma redução na concentração de P e nitrogênio. Esta redução pode
ser explicada pela elevada retenção de sedimentos e alta concentração de
matéria orgânica em que o P e o nitrogênio podem ser adsorvidos (Sharpley et
al., 1994; Mankin et al., 2007; Mcdowell et al., 2007; Gaguejam et al., 2009). Os
resultados obtidos para o escoamento corroboram com os resultados obtidos
para a remoção de nutrientes. Em regiões com vegetação ciliar composta de
árvores, a taxa de infiltração é maior e erosão é menor. Uma vez que o solo é
protegido por árvores e biomaterial relacionada, o impacto das gotas de chuva
no solo é reduzida e as taxas de infiltração superiores dificultar o transporte de
nutrientes através de escoamento superficial. No entanto, em regiões composta
por gramíneas, o impacto da chuva no solo desprotegido causa um maior
escoamento de nutrientes arrastando em direção ao rio. As áreas de estudo
composto por arbustos tinham um padrão intermediário. A capacidade de
remoção em zonas tampão de 60m composta por vegetação lenhosa permitiu a
remoção de todos os elementos químicos até níveis não detectáveis.
Observaram-se resultados similares nos estudos de Lee et al., (2000), ao
avaliar a capacidade de diferentes espécies de vegetação ciliar para a retenção
de nutrientes. Para o nitrato, no entanto, com os mesmos autores observaram
que a vegetação lenhosa com largura 20m tinha uma boa capacidade de
remoção de poluentes, com uma eficiência de 65%. A zona ribeirinha composta
de arbustos e gramíneas não obtiveram bons resultados quando comparado com
áreas compostas de vegetação lenhosa (Young et al., 1980; Mankin et al., 2007).
Eficácia da remoção de nutrientes Capítulo 2
72
Áreas composta por gramíneas e arbustos têm uma pequena quantidade de
matéria orgânica do solo (<4,5%) e menor atividade microbiana, devido à falta
de sombra e materiais vegetais disponiveis no solo. Assim, com o solo
desprotegido houve um aumenta do escoamento superficial e o transporte de
sedimentos. Dessa forma o tempo de contato entre os poluentes, e os compostos
do solo é menor, aumentando a área de dispersão de poluentes, especialmente
de P que é transportado por sedimento e adsorvido pelas cargas superficiais de
minerais de argila e matéria orgânica (Sharpley et al., 1994).
A adoção do sistema de plantio direto, afeta a dinâmica do P e N no solo,
principalmente devido à falta de revolvimento do solo e excesso de matéria
orgânica que aumenta o contato entre os colóides e os íons de fósforo e
nitrogênio, aumentando a adsorção, favorecendo processos de mineralização e
nitrificação (Cahn et al., 1992, Chen e Hong, 2011). Essas condições,
combinadas com chuvas curta, mas com forte intensidade na área de estudo e
as grandes aplicações de nitrogênio e fósforo em determinadas épocas do ano,
leva a uma elevada perda de nutrientes por lixiviação subsuperfícial para água
subterrânea, lagos e rios, aumentando o acúmulo de nitrato nesses ambientes
(Groffman et al., 2002; Chen e Hong, 2011). Numerosos estudos têm mostrado
que o rendimento da agricultura não aumenta significativamente quando as altas
taxas de aplicação de fertilizantes excedem um determinado valor, no entanto, a
contaminação residual de nitrato e nitrogênio aumenta abruptamente na zona
saturada do solo (Syversen, 2002; Schroeder et al., 2004; Hefting et al., 2005;
Grismer et al., 2006; Chen e Hong, 2011).
Nas áreas de estudo utilizadas neste trabalho, o nitrogênio (42 mg.L-1) e
nitrato (44 mg.L-1 em 12m de largura) foram os principais contaminantes da zona
Eficácia da remoção de nutrientes Capítulo 2
73
saturado do solo. As concentrações de nitrato e nitrogênio tiveram uma boa
redução na zona ripária composta por vegetação lenhosa, com largura 36m,
atingindo 1 mg.L-1 e 3 mg.L-1, respectivamente.
Considerados os nutrientes estudados, o nitrato é a forma mais estável do
nitrogênio que é o nutriente agricola mais significativo em termos de
contaminação da água e da saúde humana. Por exemplo, a legislação brasileira
(Brasil, 2011) e americana (EPA, 2009), sugerem uma concentração máxima de
10 mg.L-1 de N-NO3- Assim, a vegetação ripária composta por vegetação
lenhosa com uma largura de 36m foram adequados para evitar que a
contaminação das águas subterrâneas. Altas taxas de remoção de nitrogênio e
nitrato em áreas ripárias também foi relatada por outros pesquisadores (Borin et
al, 2005; Hefting et al, 2005; Lovell e Sullivan, 2006).
Outros estudos na Europa e nos Estados Unidos tiveram resultados
semelhantes, apesar das diferentes condições climáticas (Wenger, 1999; Borin
et al, 2005; Hefting et al, 2005). Estes autores apontam que as larguras menores
que 10m fornecem apenas uma proteção limitada contra a contaminação de
recursos hídricos por nitratos.
No entanto, áreas ripárias compostas por vegetação lenhosa com uma
largura superior a 36m demonstrou ser o mínimo necessário para a manutenção
de componentes biológicos responsáveis pela remoção de micropoluentes. Isso
inclui tanto do solo como da zona saturadas saturada do solo em áreas de clima
temperado e latossolos, onde foi estudada a capacidade do solo para reter
substâncias (Groffman et al., 2002). De acordo com a autores, a substâncias
orgânicas no solo têm capacidade para ligar e reter aníons tendo grupos amino,
Eficácia da remoção de nutrientes Capítulo 2
74
ligações peptídicas, e outros polipépticos nitrogenados. Estes aníons, ligados
diretamente ou através de metais no caso de fosfatos, são facilmente
assimilados pelas plantas. Assim, os solos de áreas de vegetação lenhosa, que
se caracterizam por um elevado teor de matéria orgânica depositada sobre o
solo obtiveram melhores resultados. Essa ciclagem de matéria orgânica
depositada no solo pela vegetação, mantem o ciclo de formação de substâncias
húmicas, que também são formadas a partir da decomposição da matéria
orgânica.
A técnica de cultivo e manejo do solo também exerce grande influência
sobre a qualidade das águas superficiais e subterrâneas (Robertson et al., 1991).
Algumas práticas agrícolas são capazes de causar a contaminação por
nutrientes ou outros contaminantes agrícolas, particularmente em áreas de solos
pouco espessos, com boa drenagem (Muscutt et al, 1993; Uusitalo e Jansson,
2002; Gharabaghi et al., 2006). Neste trabalho, o sistema de plantio direto
mostrou excelentes resultados através da redução do escoamento superficial e
da concentração de nitrogênio, fósforo e nitrato provenientes de áreas agricolas
e os pontos de estudo. Essa queda foi observada em áreas de vegetação
lenhosa, arbustiva e grama.
2.7 Conclusão
A relação entre a eficiência de remoção de nutrientes agrícolas por
vegetação ripária e as suas principais características em sistemas de plantio
direto de zonas temperadas foi estudado. A largura da vegetação foi um fator
importante para a remoção dos nutrientes N, NO3- e P estudados. As larguras
Eficácia da remoção de nutrientes Capítulo 2
75
de 12m mostraram ter uma proteção insuficiente para a concentração de
nutrientes utilizados nos locais de estudo. Quanto ao tipo de vegetação, zonas
tampão, composto por árvores têm uma taxa de remoção muito eficaz de N, P e
NO3- em comparação com áreas de vegetação arbórea e grama. Os resultados
indicam que a proteção da vegetação ripária deve ser priorizada para proteção
dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos. A maior eficiência das áreas
de vegetação lenhosa de 36m e 60m larguras, combinado com economia
agrícola, apresenta um maior potencial de aceitação por parte dos produtores
rurais, facilitando assim a difusão desta prática de conservação na agricultura.
Além disso, a largura de 36m apresentou ser o suficiente para reduzir a
concentração de nitratos para níveis abaixo dos valores exigidos pela legislação
de diversos paises, além de conferir proteção das margens dos rios e da água.
2.8 Agradecimentos
Este trabalho foi financiado pelo CNPq - Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico-Brasil.
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82
Parte 3 _______________________________________________________________________________________________
Vegetação ripária como filtros de pesticidas em
culturas de plantio direto
O medo é o caminho para o lado negro da força.
O medo leva a raiva, a raiva leva ao ódio,
o ódio leva ao sofrimento o sofrimento leva a derrota.
Mestre Yoada
83
Capítulo 3. Vegetação ripária como filtros de pesticidas sistema de plantio
direto
3.1 Resumo
Vários estudos têm apontado para os potenciais benefícios da vegetação
ripária como zonas-tampão para os poluentes agrícolas e industriais, prejudiciais
para os ecossistemas aquáticos. No entanto, outros estudos têm questionado a
sua utilização como filtro ecológico, tendo em vista o baixo conhecimento sobre
quais as configurações ideais de largura e tipo de vegetação que são eficazes
para que essa zona consiga cumprir o seu papel ecológico. Neste trabalho,
investigamos a capacidade de remoção de cinco pesticidas em 27 áreas de
vegetação ripária, compostas por diferentes estruturas de vegetação (lenhosa,
arbustos ou grama) e diferentes larguras (12, 36 e 60 m). A eficácia da remoção
foi largamente influenciada pela largura e tipo de vegetação presente nas áreas
de estudo. Em geral, a redução da remoção de pesticidas ocorreu na seguinte
ordem: madeira> arbustos> grama. A zona tampão com vegetação lenhosa e
com 60m foi a mais eficaz na remoção de todos os pesticidas. Apenas Atrazina
foi detectado nessa largura (0,3 µg L-1). Além disso, uma correlação linear (R2>
0,97) foi observada na sua remoção para todos os compostos estudados. Assim,
a preservação da vegetação lenhosa na região ribeirinha é importante para a
gestão de bacias hidrográficas e qualidade das águas superficiais e
subterrâneas no sistema de plantio direto em clima temperado.
Palavras-chave: Zonas ripárias; pesticidas; lixiviação superficial; contaminação
da água; sistemas de plantio direto; zona saturada do solo.
Vegetação ripária como filtros de pesticidas Capítulo 3
84
3.2 Abstract
Several studies have pointed to the potential benefits of riparian vegetation
as buffer zones for agricultural and industrial pollutants harmful to aquatic
ecosystems. However, other studies have called into question its use as an
ecological filter, questioning the widths and conditions for which they are effective
as a filter. In this work, we have investigated the buffering capacity of the riparian
one to retain pesticides in the water saturated zone, on 27 sites composed by
riparian buffer zones with different vegetation structure (woody, shrubs or grass
vegetation) and width (12, 36 and 60 m). Five pesticides were analyzed. The
effectiveness of the filtering was largely influenced by the width and vegetation
type of the buffer zone. In general, decreasing pesticide removal followed in this
order wood >shrubs>grass. The sixty meter woody buffer zone was the most
effective in the removal of all the pesticides. Only atrazine was detected in this
case (0.3 µg L-1). Furthermore, a linear correlation (R2 > 0.97) was observed in
their removal for all compounds and buffer zones studied. Thus, preserving the
woody vegetation in the riparian zone is important for watershed management
and groundwater quality in the no-tillage system in temperate climate.
Keywords: Riparian buffer zones; pesticides; agricultural runoff; water
contamination; no-till systems; water saturated zone.
Vegetação ripária como filtros de pesticidas Capítulo 3
85
3.3 Introdução
A contaminação da água por poluentes agrícolas é um dos maiores
problemas ambientais para a vida aquática e terrestre do planeta (Foster et al
2002; Correia et al., 2007). Entre as substâncias responsáveis pela
contaminação, os pesticidas são considerados os compostos mais perigosos
devido aos seus potenciais efeitos cancerígenos e mutagênicos (Carabias-
Martinez et al., 2002). Os efeitos e a magnitude decorrentes da utilização de
pesticidas no ambiente, basicamente, dependem dos processos de transferência
e de transformação que ocorrem no sistema-água-planta-atmosfera do solo
(AGDI et al., 2000; Syversen, 2002).
Pesquisas recentes sobre os benefícios de zonas tampão e sistemas de
cultivo em pequenas propriedades rurais resultaram em um crescente interesse
em sua utilização, visando a melhoria da saúde dos ecossistemas agrícolas,
reduzindo o escoamento agrícola de pesticida e nutrientes em sistemas florestais
naturais (Correll 2005; Lovell e Sullivan 2006). Enquanto muitos estudos têm
demonstrado que zonas-tampão podem proporcionar benefícios ambientais,
outros estudos têm discordado de sua utilização como um filtro ecológico em
grande escala (ou seja, grandes áreas com agricultura intensiva) (Correll 2005;
Lovell e Sullivan 2006).
Para sistemas de cultivo, o preparo convencional e os sistemas de plantio
direto são os mais utilizados. No sistema de plantio convencional, o solo tem
uma baixa quantidade de vegetação, que é necessária para preparação do solo
para o plantio; incluindo gradagem e aração. Assim, o solo está mais exposto a
erosão hídrica e eólica, bem como apresenta uma maior lixiviação de nutrientes
Vegetação ripária como filtros de pesticidas Capítulo 3
86
e pesticidas devido ao escoamento superficial ou subterrâneo. O sistema de
plantio direto é uma técnica de agricultura de conservação que busca manter
permanentemente o solo coberto com plantas e resíduos vegetais. Esta
cobertura tem a intenção de proteger o solo contra o impacto das gotas de chuva,
reduzindo o escoamento e erosão eólica e hídrica (Correll 2005; Lovell e Sullivan
2006). No entanto, a adoção do sistema de plantio direto promove mudanças em
muitas características do solo ao longo de anos de cultivo (Six et al., 2002). A
infiltração de água no solo sob sistema de plantio direto tende a aumentar em
comparação com solos submetidos ao preparo convencional, tendo em vista que
o escoamento tende a diminuir devido à uma maior infiltração de água no solo
(Mander et al., 1997; Six et al., 2002). Além disso, as propriedades, tais como a
porosidade, a matéria orgânica do solo e atividade microbiana também são
importantes e têm uma grande influência no destino de compostos orgânicos no
solo (por exemplo, pesticidas) (Six et al., 2002).
De acordo com Syversen (2002), zonas tampão podem apresentar
benefícios para controlar o transporte de poluentes orgânicos, incluindo a
transferência de pesticidas em sistemas aquáticos. Assim, os benefícios de
zonas ribeirinhas incluem a melhoria da qualidade dos rios e a redução da erosão
do solo (Grismer et al., 2006). Por exemplo, Mander et al., (1997) analisaram a
adsorção de nitrogênio e fósforo em áreas de ecossistemas ribeirinhos na
Estónia. Eles observaram uma redução significativa nas concentrações destes
nutrientes em áreas que apresentavam zonas ribeirinhas.
Vários estudos indicam a persistência e os efeitos dos pesticidas em
sistemas aquáticos (Ritter, 1990; Van Maanen et al., 2001). Nestes estudos, mais
de 70 ingredientes ativos foram encontrados em águas superficiais e
Vegetação ripária como filtros de pesticidas Capítulo 3
87
subterrâneas, incluindo pesticidas como atrazina e clorpirifós, que foram
detectados com maior frequência. Uma molécula de pesticida, após atingir o
solo, pode ser absorvida pelas plantas, expressando os seus mecanismos de
ação; sofrendo transformações químicas que promovem a volatilização e a sua
decomposição fotocatalítica; pode ser degradada por ação de microrganismos
ou enzimas (biodegradação); ou ser absorvida pelo solo ou resíduos de plantas
(Boyd 2000; Graymore et al., 2001).
Atrazina ([2-cloro-4- (etilamino) -6- (isopropilamino) -1, 3, 5-triazina]) é um
herbicida utilizado principalmente em culturas de cana de açúcar e milho. Seu
uso intensivo no mundo e sua mobilidade considerável em solos têm contribuído
para encontrar níveis acima do limite permitido em águas superficiais e
subterrâneas na Europa (Van Maanen et al., 2001) e EUA (Boyd, 2000). Os
limites máximos permitidos de atrazina na água potável são de 2 mg L-1 no Brasil
e 3 mg L-1 Estados Unidos (EPA 2003; Brasil 2011) e 0,1 mg L-1 na Europa
(Cerejeira et al., 2003). A meia-vida da atrazina pode variar a partir de 2 meses
a 6 anos, dependendo das condições ambientais. Este herbicida apresenta
vários metabólitos, os quais têm diferentes graus de toxicidade e semi-vida. Os
mais comuns são hydroxyatrazine e dietilatrazina (Graymore et al., 2001).
Existem poucos estudos sobre a eficácia da remoção de poluentes
agrícolas lixiviados para o lençol freático em sistema de plantio direto (Laabs et
al., 2002). Neste contexto, os objetivos deste trabalho foram: (i) avaliar a eficácia
de remoção de diferentes tipos de vegetação ripária como zonas-tampão de
contaminação por lixiviação de agrotóxicos em áreas agrícolas, e (ii) analisar os
efeitos de diferentes vegetações e larguras de zonas-tampão como ferramentas
na proteção de ecossistemas fluviais.
Vegetação ripária como filtros de pesticidas Capítulo 3
88
3.4 Materiais e Métodos
3.4.1 Área de estudo
A bacia do rio Cará-Cará está localizada na porção sudeste da Ponta
Grossa, PR (Figura 3.1). O rio Cará-Cará é um afluente do rio Tibagi, que tem
uma bacia de drenagem de 73 Km2. As áreas selecionadas têm as mesmas
características de solo e a inclinação que varia entre 8 e 9%. Os solos da área
de estudo são latossolo; 30% de argila e elevados níveis de permeabilidade. A
precipitação anual é de cerca de 1650 mm, sendo a média da temperatura de
18C. As áreas de estudo apresentam três tipos de vegetação ripária sendo:
vegetação lenhosa, descrita como floresta tropical de aluvião, com
predominância de árvores com altura de 15-20 m as espécies predominantes
são: Sebastiania commersoniana, Anadenanthera colubrina, Vernonia discolor,
Jacaranda puberula, Syagrus romanzoffiana, Ilex theezans, Ocotea porous
Ocotea odorifera, Cedrela fissilis e Tabebuia alba. Vegetação arbustivas
consistindo em pequenas plantas com uma altura máxima de 3m; as espécies
predominantes são: Miconia sellowiana, Miconia hyemalis, Erythroxylum
microphyllum e Petunia rupestris. Vegetação formada por gramíneas, sendo os
gêneros predominantes: Andropogon e Aristida, especialmente representada por
Aristida pallens, Chloris bahiensis e Andropogon bicornis, sendo este último
considerado uma espécie de colonização de áreas degradadas (Ruschel et al.,
2009).
Vegetação ripária como filtros de pesticidas Capítulo 3
89
Figura 3.1. Mapa do rio Cará-Cará (Aguiar et al., 2014).
O ciclo do milho na área de estudo seguiu as seguintes etapas: Pousio>
Dessecação e Plantio> Crescimento> Colheita> Pousio. Os pesticidas foram
aplicados nos períodos de dessecação e plantio, crescimento e após o
descanso. O sistema de manejo do solo utilizado foi o de plantio direto, no qual
a palha e outros restos vegetais de outras culturas são mantidos na superfície
do solo. Isso garante ainda cobertura e proteção contra processos danosos,
como a erosão. O solo foi manipulado apenas no momento do plantio, quando
um sulco foi aberto para que as sementes e fertilizantes fossem depositados pela
semeadera.
Vegetação ripária como filtros de pesticidas Capítulo 3
90
3.4.2 Coleta das amostras
Foram selecionados um total de 27 locais de estudo com zonas tampão
compostas por vegetação ripária com larguras aproximadas de 12, 36 e 60 m.
Foram estabelecidos nove pontos para cada um dos três diferentes tipos de
vegetação predominantes: floresta, arbustos e grama, contendo transectos em
triplicata para cada largura (12, 36 e 60 m). Em cada local de estudo, foram
estabelecidos transectos entre o limite da cultura (ponto zero) e do canal do rio.
As amostragens foram realizadas em quatro campanhas de acordo com
a fenologia e os períodos de aplicações de pesticidas. As amostragens de água
foram realizadas após os primeiros períodos de chuva após a aplicação dos
agroquímicos (ou seja, a atrazina, fluazifop-p-butil, lactofen, Lambdacialotrina e
clorpirifós) tabela 3.1, com quatro coletas por ano durante a estação chuvosa
(março e abril de 2013/2014) e duas durante a estação seca (Maio e Junho
2013/2014), dando um total de doze amostragens (quatro amostragens x
triplicatas, n 12).
91
Tabela 3.1. Propriedades físico-químicas dos pesticidas estudados a 20-25ºC.
Parâmetros Classificação Fórmula Sw Log
Kow
Koc DT50 água Gus KH pKa*
mg L-1 mL g-1 Dias PA. m3 mol-1
Atrazina Herb C5H8C1N5 33 2.5 100 80 3.30 - 1.7
Fluazifop-p-butil
Herb. C19H20F3NO4 1 4.5 5.700 < 7 - - -
Lactofen Herb C19H15ClF3NO7 0.5 5 10.000 5-10 - 4.56 x 10 -03 -
Lambdacialotrina Inset. C23H19ClF3NO3 0.005 6.9 157.000 7 -1.67 2 x 10 -2 na
Clorpirifós Inset C9H11Cl3NO3PS 1.05 4.7 8.151 50 (pH 7) -0.82 0.48 na
Sw – Solubilidade em água; Kow – Coeficiente de partição entre n-octanol e water (com valor de log); Koc – Coeficiente de absorção de carbono orgânico do solo; GUS –
Groundwater Ubiquity Score; KH – Constante de Henry; NA – não disponível; DT50 – meia vida.
Vegetação ripária como filtros de pesticidas Capítulo 3
92
Os poços de monitoramento foram perfurados com máquinas de
perfuração e trado holandês. A água foi removida utilizando uma bomba a vácuo.
Após, cada coleta a bomba e os tubos utilizados foram lavados com água
destilada. Os primeiros 500 ml de água foram eliminados a fim de evitar a
contaminação cruzada entre as amostras. Os valores dos parâmetros físico-
químicos de DO (oxigénio dissolvido), EC (condutividade eléctrica), pH,
salinidade e temperatura foram determinadas in situ, utilizando um kit de
múltiplos parâmetros AP-7000 AquaProbe. As amostras foram armazenadas em
frascos de vidro âmbar e foram conservadas a 4ºC até à análise de pesticidas
que ocorreu durante os 5 dias subsequentes. Análise do carbono orgânico foi
realizada utilizando TOC em amostras de solo.
3.4.3 Extração da Amostra
O protocolo de extração foi otimizado a partir de estudos desenvolvidos
por Lacorte et al., (2000). Em uma amostra de 1L foi adicionada 0,1µg de
Atrazina-D5 (99% de pureza, Bellefonte, PA, EUA) como padrão substituto antes
da extração. As amostras foram inicialmente filtradas utilizando uma membrana
de celulose com uma porosidade de 0,45 mm e o diâmetro de 47 mm (Merck
Millipore - Darmstadt, Alemanha).
1L de amostra de água foi extraída utilizando cartuchos de extração em
fase sólida C18 SPE (Milford, MA, EUA). Os cartuchos foram limpos primeiro
com 6 ml de acetato de etila, 6 ml de metanol e 6mL de água purificada (Milli-Q,
Millipore, Bedford, MA), e as amostras foram, em seguida, percolada através de
um sistema de vácuo (JT Baker - Phillipsburg, NJ) a um fluxo de 6 ml/min.
Vegetação ripária como filtros de pesticidas Capítulo 3
93
Logo após, os cartuchos foram secos sob vácuo durante 15 minutos para
remover o excesso de água. Em seguida, a extração foi realizada com 6 mL de
acetato de etila e 6 ml de metanol. O extrato foi seco com um fluxo suave de
nitrogênio utilizando dryblock (40°C, Marconi, SP, BRA) e reconstituído em 100
µL de acetato de etila. As amostras foram transferidas para tubos de ensaio para
análise de espectrometria de massa-cromatografia gasosa.
3.4.4 Cromatografia em fase gasosa - espectrometria de massa (GC-MS)
A análise por GC-MS foi realizada utilizando um Varian 431. Cromatógrafo
a gás da marca Varian CG acoplada a um massa MS 220, o GC estava equipado
com uma coluna capilar de VF 5 ms (30 mx 0,25 mm, 25 mm). O forno do GC foi
programado para 90C, mantidos durante 0,5 min, após aquecido para 160°C
(durante 4 min) a 15°C min-1, novamente aquecido para 280°C (manter por 10
min) a 20°C min-1. As fontes de íons de interface e GC foram 280°C e 200°C,
respectivamente. O espectrômetro de massa foi operado em modo de ionização
por impacto de elétrons com uma energia de ionização de 70eV e de emissão
de corrente de 300 mA. Como gás de a raste foi utilizado o hélio de grau analítico.
O volume de injeção foi de 1 L em um modo de splitless com a temperatura do
injetor a 250 °C. A partir da diassociação induzida por colisão (MS / MS) três íons
do fragmento de massa foram selecionados para cada composto, Atrazina (m/z
122*, 132 e 200), clorpirifós (m/z 258*, 286 e 314), fluazifop-p-butil (m/z 254, 238*
e 282), Lambdacialotrina (m/z 152*, 154 e 181) e Lactofen (m/z 223*, 300 e 344).
Os íons do fragmento de massa monitorados foram usados para a quantificação
e os outros dois foram usadas para confirmação. As soluções stock foram
Vegetação ripária como filtros de pesticidas Capítulo 3
94
preparadas para todos os compostos estudados (99% de pureza, Sigma-Aldrich,
Missouri, EUA) a 10 mg mL-1 em acetato de etila e foram mantidos em -4 C. A
atrazina-D5 foi monitorada com os seguintes íons m/z 127*, 139, 205. A curva
de calibração com padrões diluídos foi realizada entre 0,01-30 gL-1. As curvas
de calibração resultaram em coeficientes de correlação de 0,99 e o desvio
padrão relativo inferior a 9% (n 4) para todos os compostos. O ponto inferior de
quantificação foi de 0,01 gL-1, em que todos os compostos apresentaram sinais
significativos. Os estudos de recuperação foram realizados com uma mistura dos
cinco pesticidas estudados em amostras de águas subterrâneas livres de
pesticidas, a uma concentração de 1 gL-1, e os valores de recuperação variaram
de 83 a 97% com um desvio padrão inferior a 12% (n 5) para todas as análises.
Os protocolos utilizados estão em conformidade com a
SANCO/10232/2006 UE (Comissão Europeia, 2006). A identificação e
confirmação dos compostos alvo foram feitas com base nos seguintes critérios:
(i) o desvio de tempo de retenção a partir de um padrão de menos do que 2s, (II)
três m/z de monitoramento e (III) a intensidades dos m/z monitorados em
comparação com o padrão não teve variação superior a 15%.
O significado de diferentes amostras foi testado por análise de variância
(ANOVA). Quando probabilidade significativa foi detectada (p <0,05), as médias
foram comparadas usando testes de Tukey, testes de comparações múltiplas
foram realizadas para determinar quais largura da zona tampão. Eles foram
especialmente diferentes com base no conceito da diferença menos significativa
(LSD) e foram determinados como no nível de 5%.
Vegetação ripária como filtros de pesticidas Capítulo 3
95
Para o cálculo da percentagem de remoção para as várias larguras
estudados foram utilizados, o ponto 0 localizado na área agrícola, considerado
como 100% (A). Para o cálculo da remoção dos pesticidas estudados e o ponto
de coleta foi considerado o percentual proporcional observada nas áreas com
larguras de 12, 36 ou 60m (B). A remoção percentual foi calculada pela diferença
entre A e B.
3.5 Resultados
Para a análise dos parâmetros físico-químicos DO, Ec, pH, salinidade e
temperatura, não foram observadas diferenças significativas entre as diferentes
vegetações (p> 0,05).
Todos os pesticidas foram detectados no limite da cultura (ponto zero), e
o cromatograma de dissociação induzida por colisão (MS / MS) do ponto zero do
transecto de vegetação lenhosa é apresentado na figura 3.2.
Vegetação ripária como filtros de pesticidas Capítulo 3
96
Figura 3.2. Espectro de massa induzido por colisão parcial (MS / MS) a partir do ponto zero do transecto de zona tampão composta por vegetação lenhosa, mostrando os íons quantitativos fragmentos m / z para cada pesticida.
A zona tampão de 12 m de vegetação apresentou concentração de
pesticidas maior do que a observada para 36 e 60 m para todos os tipos de zonas
ripárias (Tabela 3.2). A concentração de pesticida observada foi diferente para
cada tipo de vegetação estudada, por exemplo, nas zonas tampão de 12 m,
compostas por vegetação arbustiva foi observada uma modesta eficácia na
redução das concentrações de pesticidas, assim como pode ser observada uma
maior redução quando a zona tampão era composta por vegetação lenhosa. Na
verdade, para todos os pesticidas neste estudo a redução da concentração de
pesticidas foi maior para zonas tampão compostas por vegetação lenhosa,
seguidas de vegetação arbustiva e por último gramíneas (madeira> arbustos>
Vegetação ripária como filtros de pesticidas Capítulo 3
97
gramínea) (p <0,001), com exceção de lambdacialotrina que foi semelhante para
12 m zonas ribeirinhas de gramíneas e arbustos (Tabela 3.2).
Table 3.2. Valores por pesticidas (µg L-1, n 12) de diferentes tamanhos de zona tampão para os três
tipos de vegetação estudados. 12m 36m 60m
Parâmetros Gramínea Arbórea Lenhosa Gramínea Arbórea Lenhosa Gramínea Arbórea Lenhosa
Atrazina 22.4 ±
0.01a
19.3 ±
0.3b
15.9 ±
0.20c
19.6 ±
0.08a
14.6 ±
0.5b
7.0 ±
0.10c
13.3 ±
0.07a
10.4 ±
0.7b
0.3 ±
0.1c
Clorpirifós 36.3 ±
0.01a
35.1 ±
0.7 b
6.9 ±
0.07c
28.9 ±
0.06a
24.5 ±
0.5b
2.9 ±
0.10c
18.7 ±
0.01a
15.4 ±
0.9b
nd*
Fluazifop-p-butil 29.2 ±
0.07a
27.1 ±
0.4b
4.9 ±
0.07c
23.7 ±
0.10a
20.6 ±
0.6b
1.9 ±
0.10c
17.3 ±
0.08a
14.3 ±
1.0b
nd
Lambdacialotrina 22.6 ±
0.09a
22.5 ±
0.4a
11.9 ±
0.08b
18.8 ±
0.09a
16.7 ±
0.3b
3.9 ±
0.07c
13.4 ±
0.09a
9.8 ±
0.6b
nd
Lactofen 22.4 ±
0.10b
24.3 ±
0.4a
10.8 ±
0.05c
20.0 ±
0.10a
17.3 ±
0.7b
4.0 ±
0.05c
14.6 ±
0.08a
10.4 ±
0.5b
nd
De acordo com o teste de Tukey (p<0.05), os valores médios obtidos, seguidos pela mesma letra, não
diferem estatisticamente em um mesmo tamanho de zona tampão. * não detectado
Sessenta metros de zona tampão lenhosa foram eficazes na remoção de
todos os pesticidas. Apenas atrazina tinha sido detectada nessa distancia (0,3
µgL-1, Tabela 3.2). De fato, 12 m vegetação lenhosa foi mais eficiente na
remoção de pesticidas quando comparada com a zona tampão de 60 m
composta por grama e arbustos. Com a exceção da concentração de atrazina, o
nível foi superior nos 12 m da zona tampão lenhosa (Tabela 3.2). Além disso, no
que diz respeito a atrazina, nas zonas tampão com 12m foram detectadas
diferenças menores entre os tipos de composição da zona tampão (Tabela 3.2).
Todos os resultados sugerem que a atrazina foi o pesticida mais resistentes para
a remoção.
Vegetação ripária como filtros de pesticidas Capítulo 3
98
Figura 3.3. Porcentagem de remoção de pesticidas em zonas tampão de 60 m, compostas por diferentes tipos de vegetação: lenhosas ▲, arbustos ● e grama ■, e os detalhes de correlação linear de remoção de pesticidas após os primeiros 12 m.
A fim de compreender o comportamento de pesticidas na zona saturada,
as zonas tampão de 60m foram seccionados após 12 m, dando cinco pontos da
área de culturas agrícolas até o ponto final. A Figura 3.3 mostra a eficácia de
remoção de pesticidas possui uma relação linear (R2> 0,97), para todos os
compostos. Em comparação com a zona tampão composta por grama, a
vegetação arbustiva foi mais eficiente. No entanto, a eficiência ao longo dos
tansectos foi semelhante, como indicado pelo declive das curvas mostradas.
Vegetação ripária como filtros de pesticidas Capítulo 3
99
Para lambdacialotrina e lactofen foi observada uma eficácia superior da remoção
para as zonas arbustivas ao longo transectos (Figura 3.3).
3.6 Discussão
3.6.1 Largura e tipo de vegetação
De acordo com Ramsey et al., (2005) e Inoue et al., (2006), para os
pesticidas hidrofóbicos, sorção e dessorção são os principais processos de
retenção que atuam nos sedimentos. A adsorção e a dessorção são processos
dinâmicos em que as moléculas são continuamente transferidas entre a solução
e a superfície do solo. As diferentes forças intermoleculares que podem atrair as
moléculas na interface e, subsequentemente, mantê-las na superfície são
ligações hidrofóbicas, ligações de hidrogénio, forças de van der Waals, ligações
iónicas e covalentes, dependendo do tipo de colóide de solo existentes (Inoue et
al., 2006). Os mecanismos envolvidos na adsorção de triazinas e
organofosforados têm sido estudados por diversos autores (Laabs et al., 2002;
Ramsey et al., 2005; Inoue et al., 2006), e a sorção de pesticidas hidrofóbicos
(e.g. atrazina) estão principalmente relacionados com matéria orgânica do solo.
Em áreas com vegetação lenhosa, existe uma maior quantidade de
matéria orgânica no solo, devido à grande contribuição de materiais orgânicos
depositados no solo como folhas e outros, proporcionando assim um aumento
do mecanismo de sorção. Entretanto, atrazina, clorpirifós, fluazifop-p-butil e
lactofen podem também ser adsorvidos diretamente pelas plantas,
principalmente pelas raízes (AGDI et al., 2000; Putnam et al., 2003; Ramsey et
Vegetação ripária como filtros de pesticidas Capítulo 3
100
al., 2005). Por esse motivo, a zona ripária composta por árvores pode ter um
melhor resultado de remoção de pesticidas em relação às áreas de gramínea e
arbustos, devido ao seu sistema radicular profundo na zona saturada (Foster et
al., 2002).
Neste estudo, clorpirifós e fluazifop-p-butil foram os pesticidas que tiveram
a maior percentagem de remoção em áreas compostas de vegetação lenhosa,
em comparação com áreas de arbustos e grama. Segundo Correia et al., (2007),
estes pesticidas são facilmente adsorvidos nas partículas do solo e depois de
adsorvidos são sujeitos a hidrólise química e por microrganismos do solo.
Além disso, os pesticidas lactofen e Lambdacialotrina foram
moderadamente persistentes nas áreas de estudo (Figura 3.3). A meia-vida
destes pesticidas em condições úmidas foi de, geralmente, menos de quatro
semanas, devido a sua degradação por hidrólise (Ramsey et al., 2005).
As áreas compostas de grama e arbustos apresentaram uma remoção
máxima de 60% dos pesticidas estudados após 60 m de zonas-tampão, em
áreas com baixa cobertura vegetal, em comparação com áreas consistem por
vegetação lenhosa, sendo o seu teor de carbono orgânico no solo da aproximada
50 g.kg-1 para a grama e 150 g.kg-1 por arbustos. Em contraste, a área composta
por vegetação lenhosa mostrou um elevado teor de carbono orgânico, atingindo
215 g.kg-1. Assim, foi possível observar uma diferença significativa no teor de
carbono orgânico no solo composto de gramíneas em relação as áreas com
vegetação lenhosa.
Entre os pesticidas estudados, a atrazina era o mais persistente em todos
os ambientes ripários (figura 3.3). Carabias-Martinez et al., (2002), na Espanha
Vegetação ripária como filtros de pesticidas Capítulo 3
101
e Cerejeira et al., (2003) em Portugal respectivamente, mostraram resultados
similares aos obtidos no presente estudo em relação a detecção de pesticidas.
Os solos de vegetação lenhosa apresentaram um elevado teor de compostos
orgânicos em relação ao solo composto de gramíneas e arbustos. Os pesticidas
fluazifop-p-butil, lactofen, lambdacialotrina e clorpirifós apresentam baixa
solubilidade em água (Sw = 0,005 ~ 1,05) e grande capacidade de adsorção ao
carbono orgânico, com valores koc (> 4.000 g mL-1) (tabela 3.1).
Entre os pesticidas estudados, a atazina mostrou maior potencial de
contaminação das águas subterrâneas. Ela apresenta mobilidade moderada no
perfil do solo, com menores valores de koc (100 mLg-1), maiores taxas de GUS
(3.3). Também apresentou uma solubilidade em água superior quando foi
comparado com os outros pesticidas estudados. Além disso, além de ter uma
meia-vida de mais de 60 a 100 dias (tabela 2.1), que demonstraram um elevado
potencial para as águas subterrâneas contaminadas (Inoue et al., 2006). Todas
estas condições corroboram com pesquisas anteriores e são consistentes com
os recursos encontrados na área. Ambientes que continham altos níveis de
carbono orgânico favorecem a remoção de pesticidas, em especial a remoção
de atrazina.
3.6.1.O uso da terra e proteção dos ecossistemas
A zona de vegetação lenhosa teve maior capacidade de retenção de
pesticidas. Esta vegetação apresentava um sistema radicular profundo, que
atingiu a zona saturada do solo, que, de acordo com Ramsey et al., (2005) e
Inoue et al., (2006), aumentou o processo de adsorção em áreas com alto teor
Vegetação ripária como filtros de pesticidas Capítulo 3
102
de carbono. No presente estudo, a retenção de pesticidas ocorreu ao longo das
zonas ribeirinhas, indicando que uma boa estrutura de vegetação lenhosa é
importante para a preservação das águas subterrâneas e gestão de bacias
hidrográficas até mesmo para os pesticidas mais persistentes, como a atrazina.
No entanto, áreas de vegetação ripária, com 12m fornecem pouca proteção, não
sendo capaz de melhorar o percentual de remoção de todos os pesticidas
estudados para níveis acima de 70% (figura 2.3). Outros estudos têm encontrado
resultados semelhantes (Foster et al., 2002; Grismer et al., 2006). Em nosso
estudo, a zona tampão composta por vegetação lenhosa, com uma largura maior
que 36m, parece ser o mínimo necessário para para remoção de micropoluentes
da água na zona saturada do solo, pois a maioria dos pesticidas foram removidos
com taxas acima de 70%.
A técnica de cultivo e manejo do solo também exerce grande influência
sobre a qualidade das águas subterrâneas e as taxas de recarga em alguns
aquíferos (Carabias-Martinez et al., 2002; Foster et al., 2002; Aguiar et al., 2014).
Algumas práticas agrícolas são capazes de causar contaminação difusa de
nutrientes e outros contaminantes agrícolas, particularmente em áreas de solos
pouco espessos e com boa drenagem, causando um aumento da salinidade da
água, especialmente nas regiões áridas (Laabs et al., 2002; Six et al., 2002). Em
nosso trabalho as áreas que observamos demostraram que o sistema de plantio
direto, causa menos contaminação quando comparados com as monoculturas
intensivas que requerem revolvimento do solo para o plantio, altos níveis de
agrotóxicos e apresentam grandes perdas por escoamento superficial e
subsuperficial, no entanto em plantio direto ocorre um aumento da capacidade
Vegetação ripária como filtros de pesticidas Capítulo 3
103
de infiltração da água no solo, podendo gerar uma maior contaminação das
águas subterrâneas (Six et al., 2002; Inoue et al., 2006).
Outros autores (Feakin et al., 2013; Tiwari e Guha, 2014) estudaram os
metabólitos da degradação por bactérias de pesticidas. Estes autores
concluíram que alguns destes metabolitos podem ser mais tóxicos do que os
pesticidas estudados, assim, novos estudos devem ser realizados para
identificar a remoção destes metabolitos por vegetações ripárias em suas
diferentes configurações.
3.7 Conclusão
As principais conclusões deste estudo são:
i) A eficiência de remoção é largamente influenciada pela largura da zona
tampão e pelo tipo de vegetação. A vegetação ripária composta por árvores teve
um melhor percentual de remoção para todos os compostos analisados.
ii) A atrazina foi o pesticida mais persistente no meio ambiente ciliar.
iii) A zona tampão composta por vegetação lenhosa com largura maior do
que 36m é recomendada para alcançar a eficiência de remoção. Combinado com
economia agrícola, ela também tem o maior potencial de aceitação por parte dos
agricultores, facilitando a disseminação dessa prática para a conservação dos
ecossistemas agrícolas.
Vegetação ripária como filtros de pesticidas Capítulo 3
104
3.8 Agradecimentos
Este trabalho foi financiado pelo CNPq (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico-Brasil) e Projeto ServiAmbi (Avaliação
e valoração de serviços ambientais em diferentes sistemas de uso da terra)
financiado no âmbito do Programa-MP2 Embrapa (no. 0211010310001).
3.9 Referências
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Vegetação ripária como filtros de pesticidas Capítulo 3
108
109
Parte 4 _______________________________________________________________________________________________
O destino de agrotóxicos em um aquífero Karst
tropical.
Em um estado sombrio nós nos encontramos...
e um pouco mais de conhecimento ilumina nosso caminho.
Mestre Yoada
110
Capítulo 4. O destino de agrotóxicos em um aquífero Karst tropical.
4.1 Resumo
A contaminação da água por poluentes agrícolas é um dos principais
problemas ambientais da atualidade. Estudos recentes demonstraram que a
contaminação de aquíferos Karst por pesticidas e nutrientes agrícolas vem
crescendo em todo o mundo. No entanto, estes estudos não apontam o principal
destino destes compostos e são direcionados para a Europa e América do Norte.
O objetivo deste estudo é avaliar o destino de cinco pesticidas, ao longo da zona
saturada de um aquífero Karst, localizado em uma área tropical. Ao longo do
período de cinco anos, foram realizadas 48 coletas mensais, sendo 24 em poços
rasos (8-9m de profundidade) e 24 em poços profundos (55-60m de
profundidade), totalizando 2.880 amostras. Em todas as amostras foram
realizadas análises físico-químicas e de pesticidas. Foi dectado a presença de
atrazina, lambdacyhalothrin, lactofen, fluazifop-p-butil, clorpirifós, nitrato e
nitrogênio nas amostras analisadas. Os poços com 8-9m apresentaram a mais
alta concentração dos compostos estudados em relação aos poços profundos
com 55-60m. Uma diferença significativa foi encontrada em relação à
composição de pesticidas (p <0,05) quando comparados os poços rasos e
profundos. Uma redução da concentração total de nitrogênio foi detectada entre
os poços rasos (42,9 mg L-1) e os poços profundos (1,2 mg L-1), ao longo do
período de 2008-2013.
Palavras-chave: Aquífero karst; pesticidas; escoamento subsuperficial;
contaminação da água; zona saturada do solo.
O destino de agrotóxicos em um aquífero Karst tropical Capítulo 4
111
4.2 Abstract
The water contamination by agricultural pollutants is one of the major
environmental problems for terrestrial and aquatic life on earth. Recent studies
have demonstrated the contamination of karst aquifers by pesticides and
agricultural nutrients. However these studies do not point the main destination of
these compounds and are targeted to Europe and North America. The objective
of this study is to assess the fate of pesticides selected along the saturated zone
of a karst aquifer, located in a tropical area. Along the five-year period, were
conducted 48 monthly collections being 24 shallow wells (8-9 m depth) and 24
deep wells (55-60 m depth), totaling 2880 samples. In all samples physical-
chemical and pesticide analyses were performed. We found the presence of
atrazine, lambdacyhalothrin, lactofen, fluazifop-p-butyl, chlorpyrifos, nitrate and
nitrogen agricultural nutrients. The wells with 8-9 m had the highest concentration
of the compounds studied in relation to deep wells with 55-60m. A significant
difference was found regarding the pesticides composition (p <0.05) when
comparing the shallow and deep wells. A decrease in the total nitrogen
concentration from the wells with a lower depth (42.9 mg.L-1) and the deepest
wells (1.2 mg.L-1) is observed and along the period 2008-2013.
Keywords: karst aquifer; pesticides; agricultural runoff; water contamination;
water saturated zone.
O destino de agrotóxicos em um aquífero Karst tropical Capítulo 4
112
4.3 Introdução
Os avanços tecnológicos no setor da agricultura forneceram muitos
avanços na produção de alimentos nas últimas décadas (Chen et al., 2005). No
entanto, o uso intensivo de fertilizantes e pesticidas tornou-se uma das principais
causas da contaminação das águas subterrâneas e ecossistemas fluviais,
perdendo apenas para as descargas de esgotos domésticos (Borin et al., 2005;
Butler et al., 2008). Esta contaminação química ocorre em muitas regiões do
mundo, e é cada vez mais importante nos países em rápido crescimento, onde
a oferta de alimentos é essencial e controle ambiental é limitado (Laabs et al.,
2002). Em geral, os compostos são transportados, através de fluxos de águas
subterrâneas e superficiais, na forma solúvel e adsorvida em partículas coloidais
(Chesnaux e Allen, 2008). O transporte de partículas coloidais depende das
condições do solo e da intensidade antropogênica (Einsiedl et al., 2005). Altas
concentrações de nutrientes nas águas subterrâneas estão diretamente
relacionadas ao transporte vertical, especialmente em formações geológicas
onde a circulação da água é feita em fraturas e outras descontinuidades que
resultam da dissolução de carbonatos na água (Kevin e Victor, 2014). Esta
característica geoestrutural é chamada de aquíferos karst e revelam uma alta
condutividade através de fraturas perpendiculares (Chesnaux e Allen, 2008).
No Brasil, como em muitas outras regiões, a produção agrícola é muito
dependente da água captada de poços, frequentemente localizados em zonas
onde os pesticidas são intensamente aplicados (Laabs et al., 2002, Chesnaux e
Allen, 2008). Além disso, a lixiviação em aquíferos é amplificado por causa do
regime de precipitação em tais áreas (Kevin e Victor, 2014).
O destino de agrotóxicos em um aquífero Karst tropical Capítulo 4
113
Entre os biocidas mais usados para a proteção de plantas e produção de
alimentos são fluazifop-p-butil, lactofen, atrazina, lambdacialotrina e lactofen. O
fluazifop-p-butil é um herbicida usado para controle pós-emergente de aveia
selvagem e cereais, bem como gramínea anual e perene, beterraba, frutas de
caroço, videiras, alfafa, plantas ornamentais e outras culturas de folhas largas.
A persistência de fluazifop-p-butil depende da umidade do solo. Laabs et al.,
(2002) relataram que apenas 8% de fluazifop-p-butil permaneceu após 48 horas
em condições de solo molhado, enquanto que mais de 90% permaneceram em
solos secos. Fluazifop-p-butil tem uma toxicidade relativamente baixa para as
aves e os mamíferos, mas pode ser altamente tóxico para peixes e invertebrados
aquáticos, especialmente quando associados com outros herbicidas (Borin et al.,
2000). Fluazifop-p-butil é hidrolisado com fluazifop-ácido, o qual é estável em
água e altamente tóxico. Lactofen é um herbicida do grupo químico difenílico.
Ele tem uma persistência baixa na maioria dos tipos de solo, com uma meia-vida
entre um a sete dias, assim como uma baixa degradabilidade por hidrólise e
fotólise mas uma elevada degradabilidade microbiana (Borin et al., 2000).
Lactofen é fortemente adsorvido por colóides orgânicos e minerais e tem uma
baixa lixiviação podendo ser muito tóxico para os peixes e invertebrados (Aguiar
et al., 2015).
Lambdacialotrina é um inseticida do grupo piretróide com propriedades
lipofílicas, utilizado para controlar um amplo espectro de pragas, como pulgões,
insetos, larvas de Lepidoptera e Coleoptera, em solo ou em folhagem em
diversos tipos de culturas ornamentais e florestais. Lambda-cialotrin torna-se
facilmente adsorvidos ao sedimento e apresenta uma baixa mobilidade no perfil
do solo (Ramsey et al., 2005). Clorpirifos é um insecticida do grupo
O destino de agrotóxicos em um aquífero Karst tropical Capítulo 4
114
organofosforados e tende a ser absorvido e tornar-se imóvel no solo, mas
também é propenso a bioacumulação (Foster et al., 2002). Atrazina é utilizada
em situações de pré-emergência e tem uma elevada persistência no meio
ambiente e apresenta a capacidade de interferir com o sistema neuroendócrino
e reprodutivo, apresentando potencial carcinogênico (Johnson et al., 2002) e
possibilitando a indução de anomalias pré-natais (Foster et al., 2002). A
degradação é controlada por hidrólise e pela atividade dos microrganismos,
ocorrendo em uma taxa mais elevada em ambientes de solo fortemente ácidos
ou básicos (Putnam et al., 2003).
Diversos autores (Putnam et al., 2003; Einsiedl et al., 2005) demonstraram
o potencial da zona de solo saturada de mitigar a contaminação devido a
interações químicas e físicas e da degradação biológica. No entanto, em
aquíferos cársticos o tempo de permanência é muito menor e os riscos de
contaminação são muito significativos. Portanto, o monitoramento de longo
prazo em zonas de aquifero Karst onde ocorrem práticas de agricultura tropical
é necessário a fim de avaliar os riscos de contaminação e de definir melhores
estratégias de remediação. Portanto, o objetivo do presente estudo é avaliar o
destino de pesticidas selecionados ao longo da zona saturada de um aquífero
Karst localizado em uma área tropical. A amostragem de controle foi realizada
ao longo de um período de cinco anos, em duas profundidades do solo.
O destino de agrotóxicos em um aquífero Karst tropical Capítulo 4
115
4.4 Material e métodos
4.4.1 Clima e contexto geológico
A área de estudo está localizada no sul do Brasil, nas bacias hidrográficas
da Ribeira e Capivari e tem uma área total de 85 km2 (Figura 4.1), ocupada por
Mata Atlântica. De acordo com o sistema climático Koeppen, o local é
caracterizado pelo clima temperado quente, úmido e uma temperatura média
anual de 16,9 ° C, sendo a média máxima de 28,9 ° C e a média mínima de
10,8 ° C (Aguiar et al., 2014). A precipitação anual é de cerca de 1400 mm,
concentradas nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, enquanto que os
meses mais secos são junho, julho e agosto.
Figura 4.1. Mapa geológico da região de estudo.
O destino de agrotóxicos em um aquífero Karst tropical Capítulo 4
116
Na região de estudo predomina a ocorrência de rochas metamórficas do
Grupo Açungui, formadas no Proterozóico superior (1.000 a 570 milhões de
anos), e que constituem as formações Capiru, Votuverava, Antinha, Itaiacoca e
Abapã. Os conjuntos de rochas dessas formações geológicas distribuem-se
dentro de estruturações tectônicas removidas de suas posições iniciais e
reempilhadas de forma aleatória (Bigarella and Salamuni, 1962).
Esse pacote de rochas está situado entre um arco magmático posicionado
originalmente a oeste ou noroeste, representado pelo maciço granítico de Três
Córregos, e uma área continental a sudeste, pelo denominado domínio Curitiba
(Bigarella and Salamuni, 1956). Seu fechamento deu-se por compressão
noroeste-sudeste, durante o Proterozóico Superior, tendo sido responsável pela
tectônica de cavalgamento, com transporte de massa para sul-sudeste, e mais
tarde, pelas dobras do Sistema de Dobramento Açungui e pela tectônica
transcorrente lateral direita (Einsiedl et al., 2005).
A Formação Capiru, em especial, foi formada em regiões de plataforma
de margem continental passiva, algumas vezes como depósitos deltaicos, e que
é constituída por mármores dolomíticos, filitos, quartzitos, metassiltitos,
metargilitos e metarenitos (Bigarella and Salamuni, 1962).
As águas subterrâneas encontram-se armazenadas em estruturas
carstificadas que se desenvolveram em rochas carbonáticas, sendo que a
unidade litológica modificadora da morfologia e da configuração geológica da
área é representada por intrusões de diques de diabásios (Einsiedl et al., 2005).
As rochas carbonáticas são representadas por uma sequência
metassedimentar formada por mármores calcíticos e dolomíticos intercalados a
O destino de agrotóxicos em um aquífero Karst tropical Capítulo 4
117
rochas de composição silicatada, como filitos e quartzitos, sendo que toda esta
unidade litológica está orientada segundo a direção geral NE-SW (Bigarella and
Salamuni, 1962). Os diques de diabásio, de idade Juro-cretácea, apresentam
direção NW-SE e espaçamento médio entre um corpo e outro de até 1 km
(Bigarella and Salamuni, 1956). Estas rochas encontram-se verticalizadas e
apresentam estrutura maciça que em profundidade chegam a alcançar centenas
de metros (Bigarella and Salamuni, 1962). Os diques são praticamente
impermeáveis e por esta razão possuem uma importância muito grande na
configuração hidráulica do aquífero (Einsiedl et al., 2005).
Os limites do aquífero não coincidem com os limites das bacias
hidrográficas da região porque as unidades geológicas onde se encontram os
aquíferos divergem espacialmente dos limites das bacias hidrográficas (Einsiedl
et al., 2005). Ao norte da área de ocorrência das rochas da Formação Capiru,
por exemplo, constata-se o desenvolvimento do fenômeno da carstificação nas
rochas carbonáticas, tanto na afluência norte da bacia do Alto Iguaçu quanto na
afluência sul da bacia do Ribeira (Bigarella and Salamuni, 1962). O limite sul do
aquífero é materializado pela linha de contato, de direção aproximada NE-SW,
do complexo de rochas metassedimentares com as rochas granitóides do
Embasamento Cristalino (Einsiedl et al., 2005).
Esse aquífero é heterogêneo e anisotrópico e, portanto, o fluxo
subterrâneo pode variar entre laminar e turbulento (Bigarella and Salamuni,
1962). Não existindo equações matemáticas que expliquem o comportamento
do fluxo em meios carstificados, as estratégias que têm sido empregadas para
esta finalidade são feitas a partir de balanços hídricos e da decomposição de
hidrogramas de rios e de nascentes naturais (Bigarella and Salamuni, 1956).
O destino de agrotóxicos em um aquífero Karst tropical Capítulo 4
118
Em cada uma das unidades morfoestruturais, a área de afloramento das
rochas carbonáticas do aquífero apresenta uma porção mais elevada, próxima
ao relevo que assinala a transição entre as rochas carbonáticas e as rochas
silicatadas (Bigarella and Salamuni, 1962). A cobertura dessas zonas é
constituída por solos coluviais, cujas espessuras e condutividade hidráulica são,
respectivamente, da ordem de 15 m e 1 x 10-9 ms-1(Bigarella and Salamuni,
1962). É através deste manto de alteração, que está saturado com águas
freáticas, que ocorre a recarga difusa para os condutos principais do aquífero
cárstico (Bigarella and Salamuni, 1956). Nas áreas de ocorrência das rochas
carbonáticas, nas porções mais rebaixadas do terreno, se concentram as dolinas
e coalescências de duas ou mais dolinas que, em algumas situações,
correspondem às estruturas de recarga direta no aquífero pelas águas da chuva
(Bigarella and Salamuni, 1962).
4.4.2 Métodos de coleta e análise
Foram realizadas 48 campanhas para coleta de amostras em 24 poços
rasos com profundidade de 8 a 9m e 24 poços profundos com a profundidade de
55 a 60m, as coletas foram realizadas mensalmente, totalizando 2880 amostras
de água analisadas no período de 2008 a 2013 para as analises físico-quimicas
e 2012/2013 para os pesticidas.
Os parâmetros físico-químicos que foram monitoradas in-situ foram pH,
oxigênio dissolvido, condutividade elétrica, Oxidação-Redução da Potencial
(ORP), salinidade e temperatura usando um multi-parâmetro AP-7000
AquaProbe. As amostras de água foram armazenadas em garrafas de
polipropileno e conservados a 4 ° C. Os seguintes parâmetros foram avaliados
O destino de agrotóxicos em um aquífero Karst tropical Capítulo 4
119
em laboratório: Além das análises dos principais nutrientes agrícolas utilizados
pelos produtores como o Nitrogênio (N), Nitrogênio amoniacal total (NH4/NH3),
Nitrogênio orgânico (ON), Nitratos (NO3-), Nitritos (NO2
-), Fósforo total (P),
Fosfatos (PO4-3) e Potássio (K+), foram realizadas as análises de Alcalinidade
total ao metilorange (CaCO3), Dureza total (CaCO3), Bióxido de carbono livre
(CO2), Oxigênio consumido em meio ácido (O2), Sólidos totais dissolvidos,
Acidez, Bicarbonatos (HCO3-), Carbonatos (CO3
-2), Cloretos (Cl-), Fluoretos (F-),
Sulfatos (SO4-2), Cálcio (Ca+2), Magnésio (Mg+2), Sódio (Na+) e Sílica dissolvida
(SiO2). As análises foram adaptadas do Standard Methods (APHA, 2005).
4.4.3 Extração da Amostra
O protocolo de extração foi otimizado a partir de estudos desenvolvidos
por Lacorte et al. (2000). Em uma amostra de 1L foi adicionada 0,1 µg de
Atrazina-D5 (99% de pureza, Bellefonte, PA, EUA) como padrão substituto antes
da extração. As amostras foram inicialmente filtradas utilizando uma membrana
de celulose com uma porosidade de 0,45 mm e o diâmetro de 47 mm (Merck
Millipore - Darmstadt, Alemanha).
Um litro de amostra de água foi extraída utilizando cartuchos de extração
em fase sólida C18 SPE (Milford, MA, EUA). Os cartuchos foram limpos primeiro
com 6 ml de acetato de etilo, 6 ml de metanol e 6 mL de água purificada (Milli-Q,
Millipore, Bedford, MA), e as amostras foram, em seguida, percolada através de
um sistema a vácuo (JT Baker - Phillipsburg, NJ ) a um fluxo de 6 ml/min.
Logo após, os cartuchos foram secos sob vácuo durante 15 minutos para
remover o excesso de água. Em seguida, a extração foi realizada com 6 mL de
acetato de etila e 6 ml de metanol. O extrato foi seco com um fluxo suave de
O destino de agrotóxicos em um aquífero Karst tropical Capítulo 4
120
nitrogênio utilizando um bloco seco (40 °C, Marconi, SP, BRA) e reconstituído
em 100 µL de acetato de etila. As amostras foram transferidas para tubos de
ensaio para análise de espectrometria de massa-cromatografia gasosa.
4.4.4 Cromatografia em fase gasosa - espectrometria de massa (GC-MS)
A análise por GC-MS foi realizada utilizando um Varian 431. Cromatógrafo
a gás da marca Varian CG acoplada a um massa MS 220, o GC estava equipado
com uma coluna capilar de VF 5 ms (30 mx 0,25 mm, 25 mm). O forno do GC foi
programado para 90C, mantidos durante 0,5 min, após aquecido para 160°C
(durante 4 min) a 15°C min-1, novamente aquecido para 280°C (manter por 10
min) a 20°C min-1. As fontes de íons de interface e GC foram 280°C e 200°C,
respectivamente. O espectrômetro de massa foi operado em modo de ionização
por impacto de elétrons com uma energia de ionização de 70eV e de emissão
de corrente de 300 mA. Como gás de a raste foi utilizado o hélio de grau analítico.
O volume de injeção foi de 1 L em um modo de splitless com a temperatura do
injetor a 250 °C. A partir da diassociação induzida por colisão (MS / MS) três íons
do fragmento de massa foram selecionados para cada composto, Atrazina (m/z
122*, 132 e 200), clorpirifós (m/z 258*, 286 e 314), fluazifop-p-butil (m/z 254, 238*
e 282), Lambdacialotrina (m/z 152*, 154 e 181) e Lactofen (m/z 223*, 300 e 344).
Os íons do fragmento de massa monitorados foram usados para a quantificação
e os outros dois foram usadas para confirmação. As soluções stock foram
preparadas para todos os compostos estudados (99% de pureza, Sigma-Aldrich,
Missouri, EUA) a 10 mg mL-1 em acetato de etila e foram mantidos em -4 C. A
atrazina-D5 foi monitorada com os seguintes íons m/z 127*, 139, 205. A curva
O destino de agrotóxicos em um aquífero Karst tropical Capítulo 4
121
de calibração com padrões diluídos foi realizada entre 0,01-30 gL-1. As curvas
de calibração resultaram em coeficientes de correlação de 0,99 e o desvio
padrão relativo inferior a 9% (n 4) para todos os compostos. O ponto inferior de
quantificação foi de 0,01 gL-1, em que todos os compostos apresentaram sinais
significativos. Os estudos de recuperação foram realizados com uma mistura dos
cinco pesticidas estudados em amostras de águas subterrâneas livres de
pesticidas, a uma concentração de 1 gL-1, e os valores de recuperação variaram
de 83 a 97% com um desvio padrão inferior a 12% (n 5) para todas as análises.
Os protocolos utilizados estão em conformidade com a
SANCO/10232/2006 UE (Comissão Europeia, 2006). A identificação e
confirmação dos compostos alvo foram feitas com base nos seguintes critérios:
(i) o desvio de tempo de retenção a partir de um padrão de menos do que 2s, (II)
três m/z de monitoramento e (III) a intensidades dos m/z monitorados em
comparação com o padrão não teve variação superior a 15%.
A diferença siguinificativa entre as amostras foi testado por análise de
variância (ANOVA). Quando a diferença significativa foi detectada (p <0,05), as
médias foram comparadas usando testes de Tukey, testes de comparações
múltiplas foram realizadas para determinar quais largura da zona tampão era
mais eficiente.
Para o cálculo da percentagem de remoção para as várias larguras
estudadas foram utilizados, o ponto 0 localizado na área agrícola, considerado
como 100% (A). Para o cálculo da remoção dos pesticidas estudados foi
considerado o percentual proporcional observada nas áreas com larguras de 12,
36 ou 60m (B). A remoção percentual foi calculada pela diferença entre A e B.
O destino de agrotóxicos em um aquífero Karst tropical Capítulo 4
122
4.5 Resultados
4.5.1 Características hidroquímicas das amostras
A classificação através do diagrama de Piper foi realizada como um
modelo para os pontos de amostragem considerando a composição do aquífero
karst. Nos poços profundos as amostras de água foram classificadas como
bicarbonatadas cálcicas e magnésiana HCO3-2.
Os ânions predominantes foram observados em concentrações entre 219-
439 mg.L-1. O valor médio de dureza foi de 205.1 mg.L-1 (± 7.6), o que
corresponde a uma água moderadamente dura. A vazão média nestes poços foi
de 90 m3.h-1.
As amostras de água presentes nos poços com uma profundidade de 8 a
9m tinha baixa concentração de HCO3-2 (19 e 69 mg.L-1) e mineralização, sendo
classificados de acordo com o diagrama de Piper água de baixa mineralização.
Apesar do fato de que a amostragem foi realizada ao longo de períodos
de chuva e de seca, o índice pluviométrico foi semelhante ao longo desses
períodos, variando 30-80 mm na estação chuvosa e 28-75 mm na estação seca.
Não havendo diferença significativa entre os dois períodos (p> 0,05). Já quando
comparada as amostras dos poços profundos com 55-60m e poços rasos com
8-9m, houve diferenças significativas (p<0,05) para as análises de condutividade
(μS.cm-1 a 25°C), o total de dureza (CaCO3), nitratos (NO3-), bicarbonatos (HCO3
-
), cálcio (Ca2+) de magnésio (Mg2+), sódio (Na+) (Tabela 4.1). Para os parâmetros
O destino de agrotóxicos em um aquífero Karst tropical Capítulo 4
123
potássio (K+), Flúor (F), cloro (Cl), fosfato (PO4-3), ferro total (Fe), e os nitritos
(NO2-), não houve diferenças significativas (p> 0 05) (tabela 4.2).
124
Tabela 4.1. Análise físico-química dos poços estudados, os dados recolhidos a partir de janeiro de 2008 a janeiro de 2013. Não houve diferença significativa para os parâmetros listados entre os resultados dos pontos de coleta localizados em profundidades de 8-9m e pontos de 55-60m, de acordo com o teste de Tukey (p> 0,05).
Parâmetros Unidade
Estatística para 60 meses de coleta
Em poços com 8-9 m de profundidade
Estatística para 60 meses de coleta
Em poços com 55-60 m de profundidade
Media Mínimo Máximo DP Media Mínimo Máximo DP
Temperatura ºC 20 5 28 8.74 16.2 6 20 5.76
pH 7.41 6.45 7.81 0.55 7.63 7.04 8.31 0.45
Fe-total mg.L-1 0.05 0.03 0.07 0.01 0.02 0.01 0.03 0.00
Cl- mg.L-1 3.45 0.27 7.21 2.63 2.80 2.2 3.14 0.36
F- mg.L-1 0.03 0.01 0.09 0.03 0.13 0.01 0.25 0.66
N-NO2- mg.L-1 0.1 0.01 1.21 0.50 0.15 0.01 0.33 0.11
PO4-3 mg.L-1 0.28 0.06 1.0 0.40 0.05 0.03 0.07 0.01
K+ mg.L-1 1.00 0.81 1.6 0.34 1.55 0.98 2.91 0.77
125
Tabela 4.2. Análise físico-química dos poços estudados, os dados recolhidos a partir de janeiro de 2008 a janeiro de 2013. Foram observadas diferenças significativas para os parâmetros listados entre os resultados dos pontos de coleta localizados em profundidades de 8-9m e pontos de 55-60m, de acordo com o teste de Tukey (p< 0,05).
Parâmetros Unidade
Estatística para 60 meses de coleta
Em poços com 8-9 m de profundidade
Estatística para 60 meses de coleta
Em poços com 55-60 m de profundidade
Media Mínimo Máximo DP Media Mínimo Máximo DP
Condutividade µS.cm-1 (25°C) 78.03 54.1 101 18.8 413.6 320 543 81.46
Dureza Total (CaCO3) mg.L-1 31.47 24.02 42.5 6.70 205.09 199.8 205.09 7.58
N-Total mg.L-1 42.8 32.1 68.3 14.80 1.19 0.63 2.9 0.96
N-NH3 mg.L-1 0.76 0.1 2.7 1.12 0.03 0.01 0.06 0.01
N-NO3- mg.L-1 17.08 9.5 44.9 15.58 3.07 0.95 5.88 1.77
HCO3- mg.L-1 47.50 35.88 69.95 14.88 321.41 312 339.09 10.30
Ca+2 mg.L-1 10.07 8.62 12.6 1.58 45.12 34.28 62.36 10.75
Mg+2 mg.L-1 0.89 0.17 1.41 0.44 23.41 23.12 42.81 9.72
Na+ mg.L-1 1.46 0.6 1.9 0.51 3.12 2.1 4.30 0.83
O destino de agrotóxicos em um aquífero Karst tropical Capítulo 4
Uma redução da concentração de nitrogênio entre os poços com uma
profundidade menor (42,9 mg.L-1) e os poços profundos (1,2 mg.L-1) é observado
na Figura 4.2 e na Tabela 4.2. Essa redução também ocorreu para o íon nitrato
onde a concentração caiu de 17,1 mg.L-1 para 3,1 mg.L-1 nos poços profundos e
para o nitrogênio amoniacal, onde houve uma redução das concentrações de
0,76 para 0,03 mg.L-1.
Figura 4.2. Análises de N-total e nitrato nos poços com profundidade de 8-9m ● e 55-60m ■, entre Janeiro de 2008 e Janeiro de 2013.
Uma diferença significativa foi encontrada em relação à detecção e
concentração de pesticidas (p <0,05) quando comparados os poços rasos e
profundos ao longo do período 2012-2013. Houve também um aumento da
concentração de pesticida ao longo dos anos. O aumento foi ainda maior para
todos os pesticidas nos poços rasos (Figura 4.3).
O destino de agrotóxicos em um aquífero Karst tropical Capítulo 4
127
Figura 4.3. Remoção de pesticidas (%) nos seguintes períodos: 2012 seco (A) 2012 chuvosa (B) 2013 seco (C) e 2013 chuvosa (D).
Os pesticidas fluazifop-p-butil e clorpirifós mantiveram padrão semelhante
em amostras dos poços rasos (8-9m) e poços profundos. Em poços rasos, na
profundidade de até 9m o valor médio de fluazifop-p-butil foi de 4,95 μg.L-1 em
2012 e 5,51 μg.L-1 em 2013. Já para o Clorpirifós foi detectado 3.92 μg.L-1 em
2012 e 5,02 μg.L-1 em 2013. Em poços profundos, com até 60m, os valores
médios para fluazifop-p-butil foram de 0,75 μg.L-1 em 2012 e 0,86 μg.L-1 em
2013, para o Clorpirifós os valores encontrados foram 0,71 μg.L-1 em 2012 e 0,85
μg.L-1 em 2013. Em poços rasos, a composição de lambdacialotrina atingiu um
valor médio de 7,4 μg.L-1 em 2012 e 8,48 μg.L-1 em 2013, já para o pesticida
lactofen foi possível obter 8,1 μg.L-1 em 2012 e 8,5 μg.L-1 em 2013. Atrazina
O destino de agrotóxicos em um aquífero Karst tropical Capítulo 4
128
apresentou o maior numero de detecção e concentração entre os anos de 2012
e 2013, um impacto relacionado à expansão das culturas de milho e soja no
Brasil ocorrido nesse período, pode ter influenciado. Seu valor médio em poços
rasos foi entre 6,87 μg.L-1 em 2012 e 9,33 μg.L-1 em 2013. No entanto, o aumento
em poços profundos não foi significativo, sendo 1,01 μg.L-1 em 2012 e
1,14 μg.L-1, em 2013, porém esses valores se encontra fora de conformidade em
relação a legislação europeia.
4.6 Discussão
As amostras de água de poços com 55-60m de profundidade, têm uma
composição dominada por perfil de bicarbonato de cálcio e de magnésio, o que
reflete as características do aquífero karst. Os poços com profundidade de 8-9m
mostraram um menor teor de mineralização da água, devido ao período mais
curto de contato da água com o solo e as rochas. O ecossistema da zona
saturado do solo provou ser capaz de reduzir significativamente (p <0,05) a
lixiviação do nitrogênio e suas formas, com uma eficiência de 97% para o
nitrogênio total, 96% de nitrogênio amoniacal e 82% de nitrato.
De acordo com Ramsey (2005), os nitratos são fracamente retidos pelas
cargas positivas dos coloides e tendem a ficar mais tempo na solução. Isso é
especialmente verdadeiro nas camadas superiores do solo, no qual a matéria
orgânica melhora o caráter eletronegativo da fase sólida, repelindo íon nitrato. O
solo argiloso, também contribuiu para a redução de nutrientes lixiviação, porque
a retenção de íons de amônio nas partículas de argila dificulta a lixiviação. Íons
O destino de agrotóxicos em um aquífero Karst tropical Capítulo 4
129
de nitrato são carregados negativamente e não são mantidos por partículas de
argila, porém solos argilosos não retêm especificamente nitratos.
Além disso, a zona saturada do solo da área de estudo está sob a
influência de uma zona de vegetação ripária composta por árvores. Zonas
ripárias composta por árvores têm um solo biologicamente ativo, com grandes
populações de flora bacteriana e profundas raízes de árvores que atingem a
zona saturada, além de possuir uma maior quantidade de matéria orgânico
depositada no horizonte A e B do solo (Domagalski et al., 2008; Aguiar et al.,
2014-2015). Na medida em que as concentrações dos pesticidas aumentaram
entre os anos de estudo, uma diferença significativa foi observada (p >0,05),
considerando os números de detecção e aumento da concentração em poços
rasos que coletam água na zona saturada do solo e os poços profundos que
coletam água no aquífero Karst. O movimento de pesticidas dissolvidos em água
em solos argilosos, é muito lento devido à baixa porosidade desse solo e a
capacidade de armazenamento de água, no entanto, estes solos têm uma boa
carga bacteriana que contribui para a degradação desses compostos (Aguiar et
al., 2015). Além disso os solos da área de estudo estão sobre influência de uma
área de vegetação ripária composta por árvores, com aproximadamente 30m de
largura, solos de vegetação ripária composta por árvores possuem um teor de
matéria orgânica maior em que os pesticidas podem ser absorvidos através da
ligação ou de troca iônica. Estes mecanismos envolvem ionização ou grupos
facilmente ionizáveis, tais como grupos carboxílicos e ou fenólico de substâncias
húmicas em fração orgânica do solo (Chen et al., 2005). Atrazina é um pesticida
fracamente básico, torna-se catiônico, dependendo do pH, o qual também regula
o grau de ionização dos grupos ácido em substâncias húmicas. Assim, quanto
O destino de agrotóxicos em um aquífero Karst tropical Capítulo 4
130
menor o pH do sistema de solo, maior a probabilidade de que a interação ocorra
através de permuta iónica (Putnam et al., 2003). Outros autores (AGDI et al.,
2000; Putnam et al., 2003; Hefting et al., 2005; Ramsey et al., 2005) sugerem
que a atrazina, clorpirifós, fluazifop e Lactofen também pode ser adsorvido
diretamente pelas plantas principalmente pela raiz, mas também pelas folhas
(Foster et al., 2002).
De acordo Laabs et al., (2002) um outro fator a ser observado é a
presença de numerosos grupos funcionais contendo oxigénio e grupo-hidroxi na
fração orgânica do solo, tornando-se altamente susceptível de formar ligações
de hidrogénio com moléculas que contêm grupos complementares. Este é o caso
da atrazina que tem os grupos amino secundários disponíveis a partir de átomos
de hidrogénio. Finalmente, deve-se destacar a taxa de infiltração de água da
chuva de 53%, tendo em vista que essa alta infiltração leva ao aumento de
transporte de contaminantes. Além disso, há inúmeras configurações
hidrogeológicas onde existe uma ligação hidráulica significativa entre a zona não
saturada do solo e aquíferos não confinados (Einsiedl et al., 2005), dentre essas
estruturas podemos destacar fraturas e dolinas. Assim, nutrientes e pesticidas
que inicialmente foram perdidos por lixiviação para a zona saturada do solo
contribuído para a contaminação do aquífero. De acordo com Domagalski et al.,
(2008), contaminação das águas subterrâneas por agroquímicos podem durar
muitos anos, tendo em vista que alguns fatores que contribuem para a
degradação desses compostos estão ausentes nesse ambiente, entre esses
fatores podemos destacar a fotodegradação e à degradação microbiana. O
movimento lento das águas subterrâneas significa que pode levar décadas para
O destino de agrotóxicos em um aquífero Karst tropical Capítulo 4
131
que a água contaminada flua para além dos poços afetados (Kevin e Victor,
2014).
4.7 Conclusão
A lixiviação de nitrato e pesticidas em solos com rochas fraturadas como
o calcário em aquíferos karst demonstrou ser suscetível a contaminação por
esses poluentes. No entanto, a zona saturada do solo fornece uma barreira com
capacidade de remoção natural, possuindo uma eficiência de remoção de 97%
para o nitrogênio total e 82% para o nitrato. No entanto, apesar de tal efeito de
remoção, foi observado um aumento contínuo da concentração de pesticidas no
longo prazo. A atrazina foi pesticida com o maior número de detecção em todas
as amostras, o seu valor médio foi de 1,87 μg.L-1 em 2008 e 9,33 μg.L-1 em 2013
em poços rasos e 0,48 μg.L-1 em 2008 e 1,14 μg.L-1 em 2013, em poços
profundos. Portanto, os aquíferos karst requerem um programa de
monitoramento de longo prazo no âmbito de um plano integrado de gestão de
recursos hídricos, além disso, essas áreas devem receber praticas agrícolas
mais sustentáveis em que a aplicação de agroquímicos seja zerada ou reduzida
tendo em vista a vulnerabilidade natural do aquífero.
4.8 Agradecimentos
Este trabalho foi financiado pelo CNPq - Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico-Brasil.
O destino de agrotóxicos em um aquífero Karst tropical Capítulo 4
132
4.9 Referências
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Parte 5 _______________________________________________________________________________________________
Teor de matéria orgânica em solos de zonas
ripária composta por vegetação lenhosa e grama
e seus efeitos na adsorção de pesticidas
Treine a si mesmo a deixar partir tudo que teme perder.
Faça ou não faça. A tentativa não existe.
Código Jedi
136
Capítulo 5. Teor de matéria orgânica em solos de zonas ripária composta
por vegetação lenhosa e grama e seus efeitos na adsorção de pesticidas
5.1 Resumo
Zonas ripárias são apontadas como áreas de mitigação de poluentes
agrícolas para ecossistemas fluviais. No entanto os mecanismos de mitigação
desses poluentes ainda não estão esclarecidos, principalmente em relação aos
efeitos de diferentes tipos de vegetação ripária e seu teor de matéria orgânica
no processo de remoção destes poluentes. O presente trabalho tem por
finalidade avaliar o teor de matéria orgânica em solos composto por vegetação
lenhosa e grama e seus efeitos na adsorção de quatro pesticidas. Foram
realizados estudos de adsorção em solos coletados em áreas de vegetação
ripária composta por grama e árvores sobre influência de uma zona agrícola
composta de milho e soja. As análises foram realizadas em 21 shakers contendo
100g solos e um litro de água previamente contaminado com pesticida. As
amostras foram mantidas com agitação por 30, 60, 120, 240, 360, 720, 1440 min.
Foi realizado um estudo de capacidade máxima de adsorção utilizando o tempo
de 360 min., e as concentrações de 5, 20, 40 e 50 µg.L-1. Os solos das áreas
com vegetação lenhosa obtiveram uma maior concentração de matéria orgânica
quando comparados com áreas de grama. O tempo de 360 min obteve a melhor
capacidade de adsorção com valores mínimos de adsorção de 84% para os
solos da área composta por árvores e 67% para áreas de grama. Os solos
ripários compostos por vegetação lenhosa apresentaram o maior percentual de
matéria orgânica, sendo esse fator determinante na remoção de pesticidas. De
acordo com o presente estudo, foi identificada uma relação positiva entre os
fatores teor de matéria orgânica, tempo de contato e adsorção de pesticidas.
Palavras-chave: adsorção, pesticidas, vegetação ripária, matéria orgânica,
isotermas
Teor de matéria orgânica em solos Capítulo 5
5.2 Abstract
Riparian zones are identified as mitigation areas of agricultural pollutants
to river ecosystems. However these pollutants mitigation mechanisms remain
unclear, particularly regarding the effects of different types of riparian vegetation
and its organic matter content in the removal of these pollutants process. This
study aims to assess the content of organic matter in soils composed of woody
vegetation and grass and its effects on four pesticides adsorption. Soil adsorption
studies were performed collected in riparian vegetation areas composed of grass
and trees under the influence of an agricultural area containing corn and
soybeans. Analyses were performed on 21 shakers containing 100g soil and a
liter of water previously contaminated with pesticide. The samples were kept
under stirring for 30, 60, 120, 240, 360, 720, 1440 min. A study was conducted
to maximum adsorption capacity using the time 360 min and the concentrations
of 5, 20, 40 and 50 µg.L-1. The soils of the areas with woody vegetation had a
higher concentration of organic matter compared to grass areas. The time of 360
min had the best adsorption capacity with minimum values of 84% adsorption for
the area of soil made up of trees and 67% for grass areas. The riparian soils
composed of woody vegetation showed the highest percentage of organic matter,
and this determining factor in removing pesticides. According to this study, a
positive relationship between the factors organic matter, contact time and
pesticide adsorption was identified.
Keywords: adsorption, pesticides, riparian vegetation, organic matter,
isotherms.
Teor de matéria orgânica em solos Capítulo 5
138
5.3 Introdução
Com a constante expansão da população mundial, ocorre também um
aumento na demanda por alimentos e matérias-primas. Pela estimativa da
United Nations (2008), em 2050 o número de habitantes do planeta será de,
aproximadamente, nove bilhões. Essa constante expansão tem impulsionado o
desenvolvimento de novas tecnologias no segmento do agronegócio, como
nanotecnologia, biotecnologia, manejo dos recursos naturais além de novos
pesticidas.
Os pesticidas são substancias com ação toxica e incluem os herbicidas,
inseticidas, acaricidas, fungicidas entre outros, que tem como ingredientes ativos
compostos químicos formulados para prevenir, combater ou destruir espécies
indesejadas ou doenças que possam interferir na produção agrícola ou no
armazenamento e transporte do cultivo plantado.
A interação, permanência ou remoção de pesticidas no solo, bem como a
efetiva ação para a qual o produto é aplicado, são aspectos influenciados por
diferentes processos físicos, químicos e biológicos. Esses processos geralmente
ocorrem simultaneamente, resultando na complexidade dessa relação pesticida-
solo (Lavorenti, 2003).
Quando aplicados ao solo, os pesticidas podem ser degradados em
reações químicas, por fotólise ou pela ação de micro-organismos. Entretanto, as
moléculas com alta persistência podem permanecer no ambiente sem sofrer
qualquer alteração. Essas moléculas estão sujeitas á sorção e a dessorção ás
partículas do solo, á lixiviação, podendo atingir a zona saturada do solo ou ainda
serem lixiviados para rios e lagos. Nos ambientes aquáticos, os pesticidas
Teor de matéria orgânica em solos Capítulo 5
139
podem sofrer sorção no sedimento ou podem ser absorvidos por plantas
aquáticas, peixes e outros representantes da fauna aquática (Mitchell et al.,
2013).
A adsorção e dessorção de compostos orgânicos como pesticidas no solo
são os processos mais importantes relacionados á contaminação do solo e da
água por esses compostos (Barriuso et al., 1992). Nesse contexto a matéria
orgânica do solo pode ter grande influência na avaliação da mobilidade de
pesticidas no solo, sendo importante da retenção destes compostos na zona
agrícola evitando que eles sejam lixiviados para rios, lagos e água subterrânea.
Em solos tropicais e subtropicais, a matéria orgânica apresenta uma estreita
relação com as demais propriedades físicas, químicas e biológicas do solo.
Dessa forma, o manejo sustentável da matéria orgânica do solo é fundamental
à manutenção da capacidade produtiva do solo em longo prazo. O efeito do
manejo sobre os estoques de matéria orgânica é dependente do tipo de solo.
O conteúdo de matéria orgânica representa um fator muito importante no solo,
pois afeta fortemente a sua fertilidade através do aumento da disponibilidade dos
nutrientes das plantas, pelo melhoramento da estrutura do mesmo e da
capacidade de reter água, e também pela ação de acumulação de fases tóxicas
e metais pesados.
Para McBride (1994), a matéria orgânica em associação com os
argilominerais, tem uma influência extremamente importante nas propriedades
físicas e químicas do solo, que incluem: Manutenção da estrutura do poro
acompanhada pela melhoria da retenção de água, Retenção de nutrientes
agrícolas pela troca catiônica, Liberação de nitrogênio, fósforo, enxofre e
Teor de matéria orgânica em solos Capítulo 5
140
elementos traços pela mineralização, adsorção de orgânicos potencialmente
tóxicos e outras.
Os pesticidas fluazifop-p-butil, lactofen, atrazina e lactofen são alguns
desses produtos comumente muito utilizados na agricultura.
O fluazifop-p-butil é um herbicida do grupo químico Aril oxi fenoxi
propiônico usado para controle pós-emergência da aveia selvagem, cereais
voluntários, e gramíneos anuais e perenes, colza, beterraba sacarina, beterrabas
forrageiras, frutas com caroço, videiras, alfafa, plantas ornamentais, e outras
colheitas de folhas largas. Oliver et al., (2001) descobriram que fluazifop-p-butil
pode formar ligações irreversíveis com solos argilosos por mecanismos
diferentes. Este pesticida apresenta baixa persistência em ambientes de solo
húmido, com tempo de meia-vida nestas condições de menos de uma semana,
o que pode fazer com esses compostos tenha baixa mobilidade no solo e
possivelmente não apresente risco significativo de contaminação das águas
subterrâneas (EXTOXNET 1995). Dores et al., (2001) relatou que em condições
de solos úmidos, apenas 8% do fluazifop-butil permaneceu no solo após 48
horas, enquanto que em solos secos, mais de 90% do éster permaneceu após
48 horas. Em água, fluazifop-p-butil é hidrolisado para fluazifop ácido, que é
estável em água. Fluazifop-p-butil é de toxicidade relativamente baixa para as
aves e mamíferos, mas pode ser altamente tóxico para os peixes e aquáticos
invertebrados. A permanência de resíduos da mistura comercial dos herbicidas
fluazifop-p-butil e fomesafen (Robust) em Argissolo Vermelho-Amarelo câmbico
(PVAc) com cultivo de feijão em sistemas de plantio direto e convencional foram
avaliados por bioensaio por (Jakelaitis et al., 2006). Os autores verificaram que
o uso de fluazifop-p-butil associado ao outro herbicida permitiu encontrar
Teor de matéria orgânica em solos Capítulo 5
141
resíduos destes compostos a 72 dias após aplicação. Estudos preliminares
sobre a contaminação de águas superficiais e subterrâneas por vários pesticidas
utilizados proximos a área urbana de Primavera do Leste, Mato Grosso, Brasil,
dentre eles fluazifop-butil, demonstraram que este composto apresenta potencial
médio de contaminação de aguas superficial tanto associado ao sedimento ou
dissolvido (Dores et al., 2001).
O Lactofen é outro herbicida do grupo químico Éter difenílico utilizado para
controlar plantas daninhas de folhas largas na cultura de soja em pós-
emergência. Ele tem baixa persistência na maioria dos tipos de solo, com tempo
de meia-vida variando de 1 a 7 dias, possui baixa degradabilidade por hidrolise
e fotólise e alta degradabilidade microbiana (EXTOXNET 1992). É fortemente
adsorvido pelos coloides orgânicos e minerais, apresentando baixa lixiviação no
perfil do solo (Ahmad et al., 2001). Está forte adsorção ao sedimento pode
facilitar seu transporte via escoamento superficial. O Lactofen tem coeficiente
partição octanol/água alto, podendo ser muito toxico para peixes e invertebrados.
Já o Clorpirifós é um inseticida do grupo dos Organofosforados e pode ser
usado para controle de Coleóptera, Díptera, Homóptera e Lepidóptera no solo
ou na folhagem em mais de 100 culturas, plantas ornamentais e no setor
florestal. Também podem ser usados para controle de pragas domésticas
(Blattellidae, Muscidae, Isoptera), mosquitos (larvas e adultos) e em biotérios.
Estudos realizados com estes pesticidas revelam que o mesmo tende a adsorver
ao solo, tornando-se imóvel, e, portanto, quando em ambiente aquático o mesmo
tende a adsorver-se ao sedimento ou bioacumular-se em organismos (Ahmad et
al., 2001).
Teor de matéria orgânica em solos Capítulo 5
142
A atrazina é um dos herbicidas aplicados em pré-emergência que
pertence ao grupo químico das triazinas com formulação do tipo Suspensão
Concentrada. Este herbicida está entre uns dos mais utilizado no mundo, sendo
caracterizada pela sua alta persistência no meio ambiente e capacidade de
interferir no sistema neuroendócrino e reprodutivo e apresentar potencial
carcinogênico (Coelho e Bernardo, 2012). A exposição a atrazina e seus
subprodutos tem mostrado uma forte relação com anomalias pré-natais na
população em geral, nascimentos prematuros, abortos espontâneos,
interferência no ciclo menstrual e redução da fertilidade (Carmo et al., 2013). A
degradação deste herbicida é governada pela hidrólise e pela ação de
microrganismos no solo, sendo que a hidrólise ocorre mais rapidamente em
ambientes fortemente ácidos ou básicos e mais lentamente em pH neutro (Freire
et al., 2004). A degradação deste herbicida é governada pela hidrólise e pela
ação de microrganismos no solo, sendo que a hidrólise ocorre mais rapidamente
em ambientes fortemente ácidos ou básicos e mais lentamente em pH neutro
(Freire et al., 2004). Estudos de campo realizados com o herbicida atrazina em
época seca, demostraram que após 90 dias da aplicação o mesmo foi
encontrado a 50 cm de profundidade. Sua concentração no escoamento
superficial encontrou-se principalmente na fase líquida, com um percentual
menor adsorvido nas partículas erodidas (Correia e Langenbach, 2006).
Teor de matéria orgânica em solos Capítulo 5
143
5.4 Metodologia
5.4.1 Características dos solos de estudo
Os solos de estudo provem de duas áreas de vegetação ripária sendo
uma composta por árvores e outra por grama, os solos foram coletados na
profundidade de 0-20cm, as amostras de solos foram analisadas no laboratório
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa Florestas para
determinação da sua composição química e teor de matéria orgânica. Os
estudos de adsorção foram realizados no Laboratório de Pesquisas
Hidrogeológicas da Universidade Federal do Paraná.
5.4.2 Ensaios de adsorção
Os solos coletados foram de áreas de preservação florestal e livres da
aplicação de pesticidas. Para confirmação foram realizadas análises de
pesticidas para determinar possíveis interferentes nas amostras, em seguida os
solos foram secos em estufa a 80ºC por 24 horas.
Para os ensaios foram utilizados os padrões dos pesticidas atrazina,
fluazifop-p-butil, lactofen e clorpirifós na concentração de 10µg.L-1. Os padrões
foram adicionados em 21 shakers contendo 100g solos com alto teor de matéria
orgânica (proveniente de uma área de vegetação ripária composta por árvores)
e 21 shakers contendo 100g solo com baixo teor de matéria orgânica
(proveniente de uma área de vegetação ripária composta por grama), em cada
shaker foi adicionado 1 litro de água purificada em um sistema de purificação de
água Milli-Q (Millipore, Bedford, MA). Em seguida os shakers foram cobertos
Teor de matéria orgânica em solos Capítulo 5
144
com papel alumínio para evitar foto degradação dos pesticidas, e mantido a
temperatura ambiente com agitação constante, durante os tempos: 30, 60, 120,
240, 360, 720, 1440 min, sendo que, no final de cada tempo, as amostras foram
filtras utilizando filtro de acetato de celulose com a porosidade de 0,45 µm, sendo
posteriormente realizada as análises na água de imediato.
5.4.3 Ensaios de capacidade máxima de adsorção
Para os ensaios de capacidade máxima de adsorção foram utilizadas as
concentrações de 5, 20, 40 e 50 µg.L-1 dos pesticidas Atrazina, Fluazifop-p-butil,
Lactofen e Clorpirifós. Para estes ensaios, a temperatura utilizada foi de 25°C
(correspondente a temperatura média das áreas de estudo). Os pesticidas foram
adicionados à 15 shakers e mantidos com agitação conforme descrito no item
5.3.2.
Os cálculos da isotermas lineares foram feitos calculando a relação entre
q e ceq. sendo:
q= a + b (cqe)
Neste metodo de regressão linear, podem ser utilizados para encontrar o
declive (b) e a intercepção (a), sendo o modelo ideal para estudos com
adsorventes que apresentam isotermas lineares em baixas concentrações, como
o do presente estudo.
5.4.4 Extração da Amostra
Teor de matéria orgânica em solos Capítulo 5
145
O protocolo de extração foi realizado conforme Aguiar et., (2015). Em uma
amostra de 1L foi adicionada 0,1 µg de Atrazina-D5 (99% de pureza, Bellefonte,
PA, EUA) como padrão substituto antes da extração. As amostras foram
inicialmente filtradas utilizando uma membrana de celulose com uma porosidade
de 0,45 mm e o diâmetro de 47 mm (Merck Millipore - Darmstadt, Alemanha).
1L de amostra de água foi extraída utilizando cartuchos de extração em
fase sólida C18 SPE (Milford, MA, EUA). Os cartuchos foram limpos primeiro
com 6 ml de acetato de etilo, 6 ml de metanol e 6 mL de água purificada (Milli-Q,
Millipore, Bedford, MA), e as amostras foram, em seguida, percolada através de
um sistema de vácuo (JT Baker - Phillipsburg, NJ) a um caudal de 6 ml / min.
Logo após, os cartuchos foram secos sob vácuo durante 15 minutos para
remover o excesso de água. Em seguida, a extração foi realizada com 6 mL de
acetato de etilo e 6 ml de metanol. O extrato foi seco com um fluxo suave de
nitrogênio utilizando um bloco seco (40 °C, Marconi, SP, BRA) e reconstituído
em 100 mL de acetato de etilo. As amostras foram transferidas para tubos de
ensaio para análise de espectrometria de massa-cromatografia gasosa.
5.4.5 Cromatografia em fase gasosa - espectrometria de massa (GC-MS)
A análise por GC-MS foi realizada utilizando um Varian 431. Cromatógrafo
de gás Varian CG acoplada a MS 220 de um espectrómetro de massa de
armadilha de íons equipado com uma coluna capilar de VF 5 ms (30 mx 0,25
mm, 25 mm de espessura de filme). O forno do GC foi programado para 90 C,
mantidos durante 0,5 min, após aquecido para 160 °C (durante 4 min) a 15 °C
min-1, novamente aquecido para 280 °C (manter por 10 min) a 20 °C min-1. As
Teor de matéria orgânica em solos Capítulo 5
146
fontes de íons de interface e GC foram 280 °C e 200 °C, respectivamente. O
espectrômetro de massa de armadilha de íons foi operado em ionização por
impacto de elétrons com uma energia de ionização de 70 eV e de emissão de
corrente de 300 mA. O hélio a um fluxo constante de 1,0 mL, foi utilizado 1-min
como o gás veículo. O volume de injeção foi de 1 L em um modo de splitless (1
min) com a temperatura do injetor a 250 °C. A partir da dissociação induzida por
colisão (MS / MS) três íons do fragmento de massa foram selecionados para
cada composto, atrazina (m/z122*, 132 e 200), clorpirifós (m/z 258*, 286 e 314),
fluazifop-p-butil (m/z 254, 238* e 282) e lactofen (m/z 223*, 300 e 344), sendo os
principais fragmentos iónicos utilizados como massa de íon precursor. Os íons
do fragmento de massa marcados foram usados para análise de quantificação e
os outros dois foram usadas para confirmação estrutural. As soluções stock
foram preparadas para todos os produtos agroquímicos (99% de pureza, Sigma-
Aldrich, Missouri, EUA) a 10 mg m.L-1 em acetato de etilo e foram mantidos em
-4 C.
A atrazina-D5 foi verificada com os seguintes íons m/z 127 *, 139, 205. A
curva de calibração com padrões diluídos foi realizada entre 0,01-30 g.L-1. As
curvas de calibração resultaram em coeficientes de correlação de 0,99 e o desvio
padrão relativo inferior a 9% (n 4) para todos os compostos. O ponto inferior de
quantificação foi de 0,01 gL-1, em que todos os compostos apresentaram sinais
significativos. Os estudos de recuperação foram realizados com uma mistura de
cinco agroquímicos em amostras de águas subterrâneas livres de pesticidas, a
uma concentração de 1 g.L-1, e os valores de recuperação variaram de 83 a
97% com um desvio padrão inferior a 12% (n 5) para todas as análises.
Teor de matéria orgânica em solos Capítulo 5
147
Os protocolos utilizados em conformidade com a SANCO/10232/2006 UE
(Comissão Europeia, 2006). A identificação e confirmação dos compostos alvo
foram feitas com base nos seguintes critérios: (i) o desvio de tempo de retenção
a partir de um padrão de menos do que 2s, (II) três características m/z e (III)
intensidades de características m/z comparação com padrão m/z variação não
superior a 15%.
O significado de diferentes amostras foi testado por análise de variância
(ANOVA). Quando probabilidade significativa foi detectada (p <0,05), as médias
foram comparadas usando testes de Tukey, testes de comparações múltiplas
foram realizadas para determinar quais largura da zona tampão. Eles foram
especialmente diferentes com base no conceito da diferença menos significativa
(LSD) e foram determinados como no nível de 5%.
Para o cálculo da percentagem de remoção foram utilizados, a
concentração inicial na solução, que foi considerado como 100% (A). Para o
cálculo da remoção dos pesticidas estudados e o resultado encontrado após os
tempos em agitação (B). A remoção percentual foi calculada pela diferença entre
A e B.
5.5 Resultados
As características físicas dos solos estão apresentadas na tabela 5.1. O
teor de argila observado foi de 15 g.kg-1, de areia foi de 12 g.kg-1 e 13 g.kg-1 de
silte. A quantidade média da matéria orgânica presente nos solos compostos por
vegetação lenhosa foi de 370.9 g.kg-1, já para os solos das áreas compostas por
Teor de matéria orgânica em solos Capítulo 5
148
grama, a quantidade de matéria orgânica observada foi de 99.10 g.kg-1. Os
valores observados de pH para as amostras coletadas situaram-se entre 5.27 e
5.8.
Tabela 5.1. Caracterização das amostras analisadas quanto a concentração de carbono
orgânico, matéria orgânica, areia, silte e argila.
Carbono orgânico (g.kg-1) Matéria orgânica (g.kg-1) Areia (g.kg-1) Silte (g.kg-1) Argila (g.kg-1)
ATMO 215.6 (± 0.7) 370.9 (± 1.3) 12 13 15
BTMO 57.5 (± 0.7) 99.1 (± 1.2) 11 12 13
ATMO - alto teor de matéria orgânica
BTMO - baixo teor de matéria orgânica
Para as análises comparativas entre os solos contendo baixo e alto teor
de matéria orgânica, foram observadas diferenças significativas para todos os
tempos utilizados (figura 5.1). Analisando-se as concentrações de pesticidas
entre os tempos de 30 min, 1h, 2h, foram observadas diferenças significativas
entre eles, para todos os pesticidas analisados tanto utilizando baixa
concentração de matéria orgânica quando alta concentração de matéria orgânica
(Tukey, p< 0.05). Não foram observadas diferenças significativas entre os
tempos de 12h e 24h para atrazina e clorpirifós tanto em baixo teor de matéria
orgânica quanto em alto teor de matéria orgânica (Tukey, p> 0.05). Para os
pesticidas fluazifop e lactofen não foram observadas diferenças significativas
entre os tempos de 6h, 12h e 24h. O pesticida fluazifop não apresentou
diferenças significativas entre os tempos de 4h a 24h.
Teor de matéria orgânica em solos Capítulo 5
149
Figura 5.1. Eficiência de remoção dos pesticidas Atrazina (A), Clorpirifós (B), Fluazifop (C) e
Lactofen (D) em solos contendo altas concentrações de matéria orgânica () e baixas concentrações de matéria orgânica (■).
Para os pesticidas estudados, o solo com maior teor de matéria orgânica
proveniente de áreas ripárias compostas por vegetação lenhosa apresentaram
os melhores resultados sendo que o equilíbrio no processo de adsorção ocorreu
somente após 360 minutos de agitação (6 horas). Assim 360 minutos foi o tempo
utilizado para os ensaios de capacidade máxima de adsorção (figura 5.1).
Teor de matéria orgânica em solos Capítulo 5
150
Para o tempo de 360 minutos a atrazina teve um percentual de adsorção
de 84% nos solos de área ripária composta por vegetação lenhosa e 67% para
as áreas de grama. Já o clorpirifós obteve 91% nas áreas com vegetação
lenhosa e 77% para as áreas com grama. Para o fluazifop as áreas com
vegetação lenhosa obtiveram 94% de remoção e 71% para áreas com a
vegetação composta por grama. O lactofen obteve 86% de remoção nas áreas
com vegetação lenhosa e 61% para as áreas com a vegetação composta por
grama (figura 5.1).
Figura 5.2. Isotermas de adsorção para os pesticidas Atrazina (A), Clorpirifós (B), Fluazifop (C) e Lactofen (D) em solos de área ripária composta por árvores contendo altas concentrações de matéria orgânica.
Nos estudos de capacidade máxima de adsorção foi identificada um
modelo de isotermas linear, o pesticida fluazifop obteve um alto coeficiente de
Teor de matéria orgânica em solos Capítulo 5
151
adsorção Kd (L/kg) de 259,29, seguido pelo clorpirifós 140,70, já os pesticidas
atrazina e lactofen obtiverem um baixo valor sendo 54,50 para Atrazina e 49,31
para o lactofen.
5.6 Discussão
Os solos de áreas ripárias composta por vegetação lenhosa obtiveram o
maior resultado na composição de matéria orgânica em relação aos solos da
área composto por grama, essa maior diferença é explicada devido a maior
quantidade de deposição de resíduos vegetais promovidos pelas árvores, fora
isso a densidade vegetal das árvores reduz o impacto das gotas de chuva no
solo promovendo uma maior estabilidade e diminuindo o transporte de
sedimentos e da própria matéria orgânica.
O solo da região ripária composta por árvores, que apresentaram uma
maior quantidade de matéria orgânica, obtiveram uma melhor retenção dos
pesticidas estudados se comparado com os solos das áreas com vegetação
composta por grama tendo uma redução de mais de 84% para os pesticidas
estudados contra 67% para áreas de grama no tempo de 360 minutos.
Nos estudos de isotermas foi encontrado um modelo linear de adsorção
devido à baixa concentração dos compostos estudados, o pesticida fluazifop foi
o que apresentou a maior capacidade de adsorção seguido pelo clorpirifós,
atrazina e lactofen. Outros estudos encontraram resultados semelhantes, Oliver
et al., (2005) estudou a cinética de pesticidas em diferentes tipos de solo e
encontrou uma relação positiva entre os pesticidas estudados e a adsorção no
Teor de matéria orgânica em solos Capítulo 5
152
carbono orgânico do solo. Esses dados também estão de acordo com estudos
realizados em campo feitos por Aguiar et al., (2015) no qual o fluazifop foi o
pesticida com maior percentual de remoção, seguido pelo clorpirifós, lactofen e
atrazina, sendo que no meio ambiente outros fatores além da matéria orgânica
influenciaram a degradação destes compostos.
Devido ao baixo pH do solo estudado, houve um aumento da protonação
de moléculas dos pesticidas, fazendo com que a maior parte delas se
encontrassem na forma neutra e, consequentemente, aumentassem a sua
sorção na matéria orgânica. Na forma neutra, a sorção torna-se mais dependente
da matéria orgânica do que da fração mineral do solo.
Os solos com baixo teor de matéria orgânica possuem uma elevada carga
negativa tornando-o menos capaz de acomodar as espécies neutras dos
pesticidas estudados junto a fase solida, e a liberação da matéria orgânica para
a solução (solo, agua, pesticida) do solo torna a solução do solo mais eficiente
em acomodar as moléculas dos pesticidas, fazendo com que a sorção do
composto aumente e a lixiviação diminua.
5.7 Conclusão
Todos os pesticidas estudados tiveram uma ótima adsorção em solos
provenientes de áreas riparias composta por vegetação lenhosa que possuí um
alto teor de matéria orgânica, dessa forma concluímos que a matéria orgânica
do solo possui uma alta capacidade de adsorção para os pesticidas estudados,
principalmente se comprado com os solos de áreas composta por gramíneas
que possuem um baixo teor de matéria orgânica.
Teor de matéria orgânica em solos Capítulo 5
153
Portanto, o manejo sustentável da matéria orgânica do solo é fundamental
na manutenção da capacidade produtiva do solo e na redução da lixiviação de
poluentes agrícolas como pesticidas.
5.8 Referências
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Teor de matéria orgânica em solos Capítulo 5
156
Parte 6 _______________________________________________________________________________________________
Discussão dos resultados
Sábio é aquele que conhece
os limites da própria ignorância.
Sócrates
Discussão dos resultados Capítulo 6
158
Capítulo 6. Discussão dos Resultados
6.1 Zonas tampão ripárias como ferramenta para remoção de nutrientes
agrícolas e pesticidas
O estudo das diferentes configurações de vegetação ripária foi efetuado através
da análise de diferentes vegetações ripárias composta por vegetação lenhosa,
arbustiva e grama, além da avaliação de diferentes larguras dessa vegetação, o
presente estudo foi baseado em conceitos da literatura internacional que
demostrou o efeito da vegetação ripária em mitigar os impactos de poluentes
agrícolas no entanto esses estudos não evidenciaram qual a largura mínima
necessária nem a composição vegetal que oferecesse essa proteção para os
sistemas fluviais.
No presente trabalho foi identificado que a vegetação ripária composta por
árvores obteve um melhor percentual de remoção de pesticidas e nutrientes
agrícolas quando comparado com a vegetação composta por arbustos e grama.
Essa redução teve uma variação significativa nas áreas 60 e 36m de largura,
sendo que para o NO3- essa redução foi 98% nas áreas de vegetação lenhosa
com 36m, 72% para arbusto e 42% para áreas de grama, a vegetação ripária
composta por vegetação lenhosa também mostrou uma redução na
concentração de P e nitrogênio, para essa largura também foi encontrado uma
ótima redução no percentual dos pesticidas estudados com valores que varia
entre 77% a 100%. Esta redução pode ser explicada pela elevada retenção de
sedimentos e alta concentração de matéria orgânica em que esses compostos
podem ser adsorvidos, além disso as áreas compostas por vegetação lenhosa
Discussão dos resultados Capítulo 6
também apresenta um maior enraizamento com raízes profundas o que aumenta
a estabilidade do solo e absorve nutrientes e pesticidas.
No estudo comparativo entre as diferentes larguras de vegetação evidenciamos
que a largura de 60m foi a que obtiveram os melhores resultados chegando a
eliminar 100% dos pesticidas e nutrientes agrícolas aplicados nas áreas
agrícolas próximo a vegetação lenhosa. As áreas com 36m de largura
demonstraram um alto percentual de remoção nas áreas lenhosas, essa largura
além de apresentar uma boa estrutura de vegetação também apresenta uma boa
aceitação por parte de produtores rurais tendo em vista que as áreas de 60m por
serem maiores tomando mais espaço do cultivo e dessa forma possuem um alto
grau de rejeição por parte dos agricultores. Já as áreas com 24 e 12m não
apresentaram uma boa redução da carga de agroquímicos vindo da zona rural
para valores abaixo da legislação brasileira, americana e europeia.
6.2 Destino de agroquímicos em aquífero kasrt sobre influência de uma
área ripária composta por árvores.
Na avaliação do destino de pesticidas em aquifero kasrt sobre influencia de
vegetação ripária, foi utilizados poços entre 8-10m de profundidade que coletam
água da zona saturada do solo e poços com profundidade entre 45 e 50m de
profundidade que coletam água do aquifero karst, observamos que nos poços
om profundidade entre 8-10m houve um acumulo significativo dos pesticidas
estudados se comparado com possos com 45-50m de profundidade, dessa
forma evidenciamos que o principal destino dos pesticidas é a zona saturada do
solo, nesse ambiente o solo é biologicamente ativo, com grandes populações de
Discussão dos resultados Capítulo 6
160
flora bacteriana e profundas raízes de árvores que atingem a zona saturada,
além de possuir uma maior quantidade de matéria orgânico esse conjunto de
elementos ajuda na eliminação desses composto da água tendo em vista que os
pesticidas e nutrientes adsorvidos permanecem em maior tempo de contato com
bactérias que promovem sua degradação, podemos comprovar esse fato através
da análise de teor do nitrogênio no qual possui altos valores na zona saturada e
baixo valor no aquífero, já o nitrato que é a forma mais estável do nitrogênio é
encontrado em maior valor no aquífero karst.
6.3 Adsorção de pesticidas em solos ripários
No estudo de adsorção de pesticidas em diferentes solos foram selecionados os
solos das áreas de vegetação ripária composta grama e lenhosa, essa escolha
se deu pelo fato das áreas ripárias composta por vegetação lenhosa apresentar
o melhor percentual de remoção e a grama o pior percentual de remoção nos
estudos anteriores. Os solos provenientes de áreas ripárias composta por
vegetação lenhosa possuem um alto teor de matéria orgânica se comparado com
os solos provenientes das áreas com grama, dessa forma foi realizado o estudo
de adsorção onde evidenciamos que os solos com maior teor de matéria
orgânica tinham uma maior capacidade de adsorver os pesticidas estudados. A
adsorção é um dos processos limitantes do movimento dos pesticidas no solo,
definindo, muitas vezes, a dose de produto a ser aplicada e o potencial de
contaminação de mananciais hídricos. Uma baixa adsorção pode indicar uma
grande mobilidade e por sua vez um maior potencial de contaminação ambiental.
Discussão dos resultados Capítulo 6
161
6.4 Considerações finais
A presente tese permitiu conhecer o funcionamento da vegetação ripária como
filtro de poluentes advindo de áreas agrícolas de intensa produção, além de
identificar a correta configuração necessária para que esse sistema consiga
desempenhar seu papel, para isso foi intensamente estudado a relação entre a
largura e tipo de vegetação ripária que melhor propicia a remoção de
agroquímicos como os pesticidas e nutrientes agrícolas. Após a identificação
destes mecanismos foi estudado o efeito da zona saturada do solo sobre
influência de uma área ripária composta por vegetação lenhosa como filtro de
pesticida em um aquífero Karst, onde podemos comprovar que a zona saturada
reduziu a carga de pesticidas evitando a contaminação do aquífero estudado.
Por último foi avaliado a retenção de pesticidas em solos ripários composto por
grama e árvores, nesse trabalho verificou se que os solos ripários compostos por
árvores possuem um maior teor de matéria orgânico quando comparado com os
solos de áreas com grama, esse solo também foi mais eficaz na retenção dos
pesticidas, dessa forma esse trabalho atribui a quantidade maior de matéria
orgânica como elemento fundamental para retenção desses poluentes no solo
evitando a sua lixiviação.
Ao longo desta tese foi possível verificar a importância da vegetação ripária como
filtro natural de poluentes para os recursos hídricos superficiais e subterrâneos
em áreas de intensa produção agrícola de milho e soja em solos tropicais e
subtropicais de clima temperado. Dessa forma novos estudos devem ser feitos
para avaliação de outros compostos orgânicos destinados a outras culturas,
solos e climas, principalmente regiões com extensas áreas agrícolas e
Discussão dos resultados Capítulo 6
162
consequentemente grandes aplicações de agroquímicos. Faz-se necessário
compreender também os principais grupos de microorganismos que fazem a
degradação destes compostos. Outra linha de investigação a ser realizada é a
identificação de subcompostos derivados da degradação destes agroquímicos
aplicados, pois estudos recentes têm alertado a comunidade acadêmica sobre o
perigo dos subcompostos que podem inclusive, ser mais tóxicos do que o
composto inicialmente aplicado.