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Grupo I - A Lê atentamente o seguinte poema de Ricardo Reis. A abelha que, voando, freme sobre A colorida flor, e pousa, quase Sem diferença dela À vista que não olha, Não mudou desde Cecrops. Só quem vive Uma vida com ser que se conhece Envelhece, distinto Da espécie de que vive. Ela é a mesma que outra que não ela. Só nós – ó tempo, ó alma, ó vida, ó morte! – Mortalmente compramos Ter mais vida que a vida. 02/09/1923 Fernando Pessoa, Odes de Ricardo Reis. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994). 1. Identifica a principal oposição entre o homem e a abelha que se pode observar neste poema. 2. Explica o significado da segunda estrofe a partir de “Só…”. 3. Indica o desejo mais veemente do homem, segundo o sujeito poético. B Ao entardecer, debruçado pela janela, E sabendo de soslaio que há campos em frente, Leio até me arderem os olhos O livro de Cesário Verde. 1 Vocabulário freme – agita, estremece Cecrops – rei ateniense

Teste 12 Ricardo Reis

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Ricardo Reis

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Page 1: Teste 12 Ricardo  Reis

Grupo I - A

Lê atentamente o seguinte poema de Ricardo Reis.

A abelha que, voando, freme sobreA colorida flor, e pousa, quase Sem diferença dela À vista que não olha,

Não mudou desde Cecrops. Só quem viveUma vida com ser que se conhece Envelhece, distinto Da espécie de que vive.

Ela é a mesma que outra que não ela.Só nós – ó tempo, ó alma, ó vida, ó morte! – Mortalmente compramos Ter mais vida que a vida.

02/09/1923Fernando Pessoa, Odes de Ricardo Reis.

(Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994).

1. Identifica a principal oposição entre o homem e a abelha que se pode observar neste poema.

2. Explica o significado da segunda estrofe a partir de “Só…”.

3. Indica o desejo mais veemente do homem, segundo o sujeito poético.

B

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Ao entardecer, debruçado pela janela,E sabendo de soslaio que há campos em frente,Leio até me arderem os olhosO livro de Cesário Verde.

Que pena que tenho dele! Ele era um camponêsQue andava preso em liberdade pela cidade.Mas o modo como olhava para as casas,E o modo como reparava nas ruas,E a maneira como dava pelas cousas,É o de quem olha para árvores,E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andandoE anda a reparar nas flores que há pelos campos...Por isso ele tinha aquela grande tristezaQue ele nunca disse bem que tinha,Mas andava na cidade como quem anda no campoE triste como esmagar flores em livros

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Vocabuláriofreme – agita, estremeceCecrops – rei ateniense

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5 E pôr plantas em jarros...

Pessoa, Fernando; in Poesia de Alberto Caeiro, Lisboa: Assírio & Alvim, 2009.

Apresente, de forma clara e estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

1. Na primeira estrofe, o sujeito poético assume realizar uma atividade eminentemente intelectual (ler).Mostre como, apesar disso, Caeiro procura, nessa mesma estrofe, anular (ou atenuar) a sua vinculação à esfera do pensamento.

2. Neste poema, Alberto Caeiro traça um retrato de Cesário Verde.Aponte, a partir desse retrato, duas características que este heterónimo e o poeta por ele evocado partilham.

GRUPO II

Lê o texto seguinte.

“Mas há alguém sobre quem escrevi e que amo muito: Pessoa, esse grande poeta português, que era um fanático de Hamlet e de Shakespeare. Encontra-se nele uma melancolia minimalista: é a melancolia da gota de água que cai, indefinidamente, e que olhamos a cair. É a melancolia do intervalo, diferente da melancolia baudelairiana, mas também uma melancolia poética. É esta melancolia que impele Pessoa a escrever em várias línguas e a ter várias identidades. Reencontra-se assim o problema da pluralidade do Ego, mas na sua versão melancólica - sendo que o mais melancólico é Bernardo Soares, com o seu desassossego do ser. Lembro-me de ter descoberto Pessoa na sua língua: estava sentada junto ao Tejo e sonhava com o seu drama de alma, o seu amor pelas coisas de nada, o verso em que ele encontra Shakespeare ao dizer que não é ninguém, apenas uma sombra. Nesse sentido, é preciso 'acreditar no mundo como num malmequer' (Alberto Caeiro)... Dito de outra maneira, a melancolia é mais o desassossego do que o spleen: e este desassossego conduz a uma estética do artifício e da indiferença. Ser o amante visual de todas as coisas...

Shakespeare, Baudelaire, Benjamin, Pessoa: há toda uma filiação melancólica que realmente me fascinou e que caracteriza a modernidade ocidental. Esta travessia de mais de vinte anos foi-me necessária para chegar ao além da melancolia, graças a uma confrontação com as culturas da Ásia. Na estética pós-melancólica, o efémero é afirmado como positivo e inultrapassável. Ele é, ao mesmo tempo, intervalo ligeiro, aceitação da passagem e da precariedade e, sobretudo, da instabilidade ontológica da nossa finitude. Klee dizia: «O devir é a nossa única eternidade.»"

Num livro-diálogo com François Soulage ("Une femme philosophe"), a que pertence esta passagem sobre Pessoa e a sua melancolia, Christine Buci-Glucksmann fala da sua filosofia e da sua vida. Ao longo de muitos anos, esta filósofa, antiga professora de Estética e de Arte Contemporânea da Universidade de Paris, tem escrito sobre alguns dos temas mais atuais da nossa cultura. Indo e vindo do cinema à literatura, da arte à tecnologia, da arquitetura à política, Christine pensou a razão barroca, a estética do efémero, a filosofia do ornamento (…), a passagem de uma cultura dos objetos e das permanências a uma cultura das 'imagens-fluxos'. E diz a este propósito "Verdadeiro signo da sociedade,

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o efémero tornou-se uma nova modalidade do tempo na época do virtual e da mundialização. Efémero das famílias de geometria variável, efémero do trabalho cada vez mais ameaçado, efémero das vidas e das identidades que perdem as suas referências fixas, tudo revela uma espécie de aceleração do tempo, que desenraíza as estabilidades, ocultando sempre o limite extremo do efémero: a morte." […]

Esta é uma filosofia que salta sobre os nossos velhos dualismos (o ser e o nada, a alma e o corpo, o consciente e o inconsciente, o tempo e a eternidade) e que assume o efémero, a imanência, o intervalo, a passagem, a impermanência, a instabilidade, a fluidez, a mudança, a metamorfose, a troca, a articulação, a bifurcação, a duplicação, a pluralidade, a multiplicidade, o movimento, a vaga, a heterogeneidade, a energia. Fazendo sua a tão bela síntese ética de Deleuze: "Estar à altura do que acontece" ("Être à la hauteur de ce qui arrive"), Christine diz: "Da sofística dos gregos, que valorizaram o momento oportuno (o kairos), à ocasião barroca ou à impermanência das culturas da Ásia, esta arte da passagem define uma filosofia e uma sabedoria da existência exposta à fragilidade, porque o efémero é sempre, para lá do trágico, promessa de leveza, de transparência e desse materialismo aéreo de que gostava Bachelard."

Só assim é possível darmos à melancolia o seu além.

José Manuel dos Santos, «Efémero», transcrito a partir de http://aeiou.expresso.pt (consultado a 8 de dezembro de 2011).

1. Seleciona, em cada um dos itens de 1 a 7, a única alternativa que permite obter uma afirmação adequada ao sentido do texto

1.1. A expressão «é a melancolia da gota de água que cai, indefinidamente, e que olhamos a cair.» (linhas 3 – 4) contém uma

A. um eufemismo. B. uma hipérbole. C. uma metonímia. D. uma metáfora.

1.2. A expressão «esse grande poeta português» desempenha a função de:

A. predicativo de sujeito. B. predicativo do complemento direto.

C. modificador apositivo. D. complemento do nome.

1.3. A palavra «ninguém» classifica-se:

A. quantificador existencial. B. pronome demonstrativo.

C. pronome indefinido. D. quantificador universal.

1.4. Na expressão «este desassossego conduz a uma estética do artifício e da indiferença», o constituinte sublinhado desempenha a função de:

A. predicativo de sujeito. B. predicativo do complemento direto.

C. complemento direto. D. complemento oblíquo.

1.5. Na expressão «a modernidade ocidental» , a palavra sublinhada é um:

A. adjetivo relacional. B. adjetivo qualificativo.

C. adjetivo numeral. D. nome coletivo.

1.6. A oração «a que pertence esta passagem sobre Pessoa e a sua melancolia» é:

3

A

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A. subordinada adverbial consecutiva. B. subordinada adjetiva relativa explicativa.

C. subordinada adjetiva relativa restritiva. D. subordinada substantiva completiva.

1.7. No penúltimo parágrafo, as aspas são usadas para:

A. marcar uma expressão ambígua. B. destacar uma parte de um texto de José M. dos Santos.

C. marcar graficamente uma citação. D. distinguir o título de um poema.

2. Indica o antecedente de “ele” em : “Ele é, ao mesmo tempo, intervalo ligeiro, aceitação da passagem e da precariedade e, sobretudo, da instabilidade ontológica da nossa finitude. Klee dizia: «O devir é a nossa única eternidade.»"

3. “Pessoa, esse grande poeta português, que era um fanático de Hamlet e de Shakespeare.”

Classifica a oração sublinhada.

4. “Pessoa, esse grande poeta português, que era um fanático de Hamlet e de Shakespeare.”

Classifica a oração sublinhada.

GRUPO III

Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras, apresenta uma reflexão sobre o impacto que a ciência e a tecnologia têm na saúde e na duração de vida do indivíduo, nos nossos dias.

Para fundamentares o teu ponto de vista, recorre, no mínimo, a dois argumentos, ilustrando cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo.

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Grupo II ………………… .50 pontos 1.1. ……….… 5 pontos 1.2. ……….… 5 pontos 1.3. ……….… 5 pontos 1.4. ……….… 5 pontos 1.5. ……….… 5 pontos 1.6. ……….… 5 pontos 1.7. ……….… 5 pontos 2.1. …………. 5 pontos 2.2. ……….… 5 pontos 2.3. …………. 5 pontos

Grupo III …………..……......50 pontos

ETD …………. 30 pontos CL ………….... 20 pontos

Grupo I ……………………………………….100 pontos A………………………………………60 pontos 1. … 20 pontos (conteúdo 12; forma 8) 2. … 20 pontos (conteúdo 12; forma 8) 3. … 20 pontos (conteúdo 12; forma 8) B …………………………………. 40 pontos 1. 20 pontos (conteúdo 12; forma 8) 2. 20 pontos (conteúdo 12; forma 8)

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PROPOSTA DE RESOLUÇÃO DA FICHA DE AVALIAÇÃO 3 – RICARDO REIS

Grupo I

A

1. Para o sujeito poético, a oposição entre o homem e a abelha reside numa questão muito simples: o homem é mortal e a abelha é imortal. É óbvio que a abelha é tomada aqui como elemento de uma espécie (morre uma, nascem outras; por isso, há sempre abelhas) e o homem é visto, não em termos de espécie, mas tomado como um indivíduo.

2. Nesta estrofe, afirma-se que o homem tem consciência de que envelhece e de que é diferente dos outros seres. Em suma, conhece-se.

3. O desejo mais profundo do homem é “ter mais vida que a vida”, isto é, é ser diferente das abelhas, não se limitar a viver.

1. - “sabendo de soslaio que há campos em frente”

2. Campo e valorização do olhar

Grupo II

1.1. D; 1.2. C; 1.3. C; 1.4. D; 1.5. A; 1.6. B; 1.7. C.

Hipérbole

Modificador apositivo

Pronome indefinido

Complemento oblíquo

Adjectivo relacional

Subordinada adjetiva relativa explicativa

Marcar graficamente uma situação

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Page 6: Teste 12 Ricardo  Reis

2. Efémero3. Subordinada adjetiva relativa restritiva4. Subordinada adjetiva relativa explicativa

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