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1 As relações homem natureza e a problemática ambiental na educação Brasileira Joelma Maria de Carvalho Professora Especialista – Colégio Adelmário Pinheiro [email protected] Resumo: A educação é a base de todo e qualquer crescimento econômico seja de que país for e o Brasil ou os brasileiros precisam repensar a mesma se pretenderem desenvolver um espírito científico nos estudantes e profissionais da educação, o que assegurará ao mesmo um desenvolvimento econômico e social voltado para as gerações futuras. A questão ambiental tem sido foco de debate em congressos, conferências, simpósios e noticiários em todo o mundo. Problemas ambientais que ocorrem nos diferentes locais do planeta são do conhecimento de todos, intelectuais ou não. Legislação a cerca do tema vem sendo aperfeiçoada e/ou introduzida no intuito de orientar a sociedade a fiscalizar melhor empreendimentos que causam danos ambientais, mas o sistema educacional, que deveria preparar melhor a sociedade para enfrentar esses problemas, é , na maioria das vezes, falho e nem sempre trata o tema com a importância que deveria. A origem deste trabalho está na inquietude de um profissional em educação que, após observações diversas em várias instituições de ensino, pode analisar a forma como o tema é tratado, e/ou, na maioria das vezes, nem considerado, nos currículos escolares. Tais observações foram pautadas nas leituras preliminares, a cerca do tema, de autores como NOAL, BARCELOS, FREIRE, MENDONÇA, SANTOS, MOREIRA,etc., referencial teórico no qual baseia-se a abordagem das questões ambientais tratadas neste artigo, mostrando a necessidade de se tratar o tema repensando a relação desenvolvimento/meio ambiente e adotando ações compatíveis com a preservação ambiental. O objetivo desse artigo é chamar a atenção da sociedade em relação aos vários problemas, que surgem cada vez mais, relacionados ao meio ambiente e à atuação do homem, que de forma negativa, vem contribuindo para que esses problemas aumentem. Objetiva também discutir soluções políticas e atitudes sociais a serem adotadas para reversão do quadro atual de complicações sócio-ambientais, bem como e sobretudo, despertar nos educadores atitudes concretas e mais conscientes em relação ao tema. Palavras Chave: homem, terra, meio ambiente, natureza e vida.

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As relações homem natureza e a problemática ambient al na educação Brasileira

Joelma Maria de Carvalho Professora Especialista – Colégio Adelmário Pinheir o

[email protected]

Resumo:

A educação é a base de todo e qualquer crescimento econômico seja de que país for e o Brasil ou os brasileiros precisam repensar a mesma se pretenderem desenvolver um espírito científico nos estudantes e profissionais da educação, o que assegurará ao mesmo um desenvolvimento econômico e social voltado para as gerações futuras. A questão ambiental tem sido foco de debate em congressos, conferências, simpósios e noticiários em todo o mundo. Problemas ambientais que ocorrem nos diferentes locais do planeta são do conhecimento de todos, intelectuais ou não. Legislação a cerca do tema vem sendo aperfeiçoada e/ou introduzida no intuito de orientar a sociedade a fiscalizar melhor empreendimentos que causam danos ambientais, mas o sistema educacional, que deveria preparar melhor a sociedade para enfrentar esses problemas, é , na maioria das vezes, falho e nem sempre trata o tema com a importância que deveria. A origem deste trabalho está na inquietude de um profissional em educação que, após observações diversas em várias instituições de ensino, pode analisar a forma como o tema é tratado, e/ou, na maioria das vezes, nem considerado, nos currículos escolares. Tais observações foram pautadas nas leituras preliminares, a cerca do tema, de autores como NOAL, BARCELOS, FREIRE, MENDONÇA, SANTOS, MOREIRA,etc., referencial teórico no qual baseia-se a abordagem das questões ambientais tratadas neste artigo, mostrando a necessidade de se tratar o tema repensando a relação desenvolvimento/meio ambiente e adotando ações compatíveis com a preservação ambiental. O objetivo desse artigo é chamar a atenção da sociedade em relação aos vários problemas, que surgem cada vez mais, relacionados ao meio ambiente e à atuação do homem, que de forma negativa, vem contribuindo para que esses problemas aumentem. Objetiva também discutir soluções políticas e atitudes sociais a serem adotadas para reversão do quadro atual de complicações sócio-ambientais, bem como e sobretudo, despertar nos educadores atitudes concretas e mais conscientes em relação ao tema. Palavras Chave : homem, terra, meio ambiente, natureza e vida.

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Introdução

O homem está sempre preocupado com seu bem estar e conforto, buscando isso

a qualquer preço, esquecendo-se muitas vezes que alguns recursos naturais, em

abundância outrora, vão ficando cada vez mais escassos podendo até comprometer a

existência humana num futuro não muito distante. Questões como infra-estrutura , ou

seja, estradas; ruas; avenidas; parques públicos; fornecimento de água potável;

recolhimento e destinação de água e esgoto; recolhimento e disposição de resíduos

sólidos e demais componentes físicos de uma vida moderna vão determinar a

qualidade de vida das comunidades, bem como o impacto ambiental das mesmas.

Como uma infra-estrutura custa muito caro, ela geralmente é mal oferecida causando

vários problemas ambientais como: poluição de águas, enchentes, acúmulo de lixo em

locais inadequados, desmatamentos, desmoronamentos de construções/habitações,

congestionamento de trânsito, etc.

A sociedade “moderna” tem sido surpreendida com problemas sócio-ambientais

de dimensões cada vez maiores e de difíceis soluções. A legislação brasileira, embora

positiva , ainda deixa brechas para impunidade quando se trata de atitudes pejorativas

ao meio ambiente, talvez até pela falta de uma fiscalização efetiva de órgãos oficiais e

da sociedade civil, pois esta embora sofra com tais atitudes, não sabe exatamente

como agir. O sistema educacional ainda não tem sido eficiente no sentido de formar

profissionais verdadeiramente comprometidos com a questão ambiental.

Embora a tecnologia e o progresso tenham provocado muitos males ao meio

ambiente, é com base nestes dois fatores, na sabedoria acumulada pela técnica e na

sabedoria popular que o homem encontrará soluções para os seus dilemas.

As relações homem natureza: uma discussão teórica

O homem, muitas vezes, é visto dissociado da natureza e esta, o meio ambiente

do qual faz parte, não só é o seu meio como parte do seu próprio ser num conjunto

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maior chamado terra. O problema é que os homens têm se colocado como seres

superiores e as regras, normas e valores entre eles estão dissociadas da natureza.

Esta por sua vez é solidária e os problemas que os homens vêm enfrentando não

podem ser atribuídos a ela ou ao acaso, mas sim à atuação errônea de uma sociedade

que se faz cada vez mais complexa, cheia de contradições e cujo pensamento “lógico-

racional “ não tem dado conta de que a VIDA que ela possui é gerada pela natureza e

que esta e a sociedade fundem-se num conjunto único gerador de VIDAS.

A terra é uma totalidade complexa física/biológica/antropológica, na qual a vida é uma emergência da história da terra e o homem uma emergência da história da vida – terrestre. A relação do homem com a natureza não pode ser concebida de forma redutora nem de forma separada. A humanidade é uma entidade planetária e biosférica. O ser humano, ao mesmo tempo natural e sobre-natural, tem sua origem na natureza viva e física, mas emerge dela e se distingue pela cultura, o pensamento e a consciência. (MORIN & KERN 2002, P. 158)

Neste mesmo sentido vê-se que:

... A natureza, da qual dizemos, ter os seus mistérios.Ela é misteriosa ou nossa ignorância ou vontade de destruí-la por ganâncias econômicas é que nos faz dizermos,muitas vezes, ser ela hermética, fechada em si mesma, ameaçadora, enigmática... há a necessidade e a sabedoria de tornarmos respeitosa a nossa relação com a natureza. Precisamos entender que somos tão-somente um dos seus milhares de seres que, certamente, se diferencia dos outros seres dela, simplesmente porque temos a faculdade de saber e de saber que sabemos e que podemos saber mais, como tão ludicamente insistiu Paulo Freire. (FREIRE 2003, p. 13)

A postura do homem na nossa sociedade “Moderna” é de progresso,

crescimento e evolução. Ele vem criando técnicas cada vez mais sofisticadas de

domínio da natureza. O resultado de tudo isso seria uma sociedade ideal, onde os

recursos humanos fossem usados de forma consciente para que ele próprio e os outros

seres que dela fazem parte não fossem sacrificados e/ou até dizimados.

Num pensamento cartesiano o progresso, isto é a sociedade ideal seria meta a

ser atingida, independente dos sacrifícios. E esse progresso chegou “para alguns

poucos”, mas os sacrifícios vêm para a grande maioria, se não para todos. Não é à toa

que países ditos “desenvolvidos” estão tão preocupado com a natureza e os recursos

daqueles ditos “subdesenvolvidos”. Fizeram o que fizeram com seus recursos e porque

não dizer com os de “outros” que hoje é de lá (países desenvolvidos) que surgem as

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grandes questões de sustentabilidade ou não do planeta . A internacionalização da

Amazônia como diria o Cristóvão Buarque pode até ser uma questão planetária, mas

para isso teria que se internacionalizar muitos e muitos outros recursos não só naturais,

mas aqueles criados pelo homem, para que ele e não só alguns poucos tenham

acesso.

Acerca dos problemas que a modernização trouxe vale citar o que diz Andrade

Os projetos de modernização aplicados de forma acelerada para atender a determinados grupos têm trazidos problemas de difícil solução, como a salinização de áreas de agricultura irrigada, o desmatamento visando à exploração extrativa vegetal e mineral, e a conquista de terras para a agricultura, a construção das grandes cidades, etc.... o pesquisador ou estudioso tem de estar convicto de que está analisando um processo e não um estágio, numa relação muito complexa, em que a sociedade modifica a natureza, destrói a natureza primitiva ou secundária visando atingir objetivos, e que a natureza destruída ou atacada tem uma grande capacidade de reagir, de se romper, de se recompor, não para voltar ao estágio primitivo, mas para dar origem a um novo estágio, que será continuamente atacado e recomposto. (ANDRADE apud SANTOS et. all org. 2002, p.21):

No mundo “civilizado” de hoje o desperdício e a ostentação vem se sobrepondo a

valores e ao senso de preservação. Preservação esta não só de recursos naturais, mas

de culturas das diferentes sociedades que já existiram e das que ainda existem, com

suas especificidades e riquezas. O homem “consciente”,seja ele pesquisador,

estudante ou um sábio da cultura popular, em fim o cidadão planetário deve procurar

soluções para a sociedade que não agridam a natureza e nem a si próprio, pois os

homens ao agredirem a natureza estão agredindo a si mesmo, já que são parte dela.

Não se pode não indignar ao saber que a produção mundial de alimentos é

suficiente para alimentar toda a população do planeta, no entanto há milhares de

pessoas passando fome no mundo. Outro motivo de indignação é saber que, em alguns

países, as populações que poderiam produzir no campo o seu sustento estão nas

cidades sem um mínimo de subsistência.

Tem sido crescente a preocupação com a destruição do planeta devido ao uso

indiscriminado de tecnologias predatórias. Há, no mundo todo, vários grupos

ecológicos, ONGS, etc. preocupados com a questão ambiental; mas há também que se

destacar os modismos e grupos que se dizem ecologistas, mas que não passam de

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interesseiros, preocupados apenas com a questão econômica de ter recursos

reservados para uma futura exploração. Mas não é por isso que não se deve refletir

com preocupação sobre problemas como as variações climáticas que repercutem sobre

toda a terra; o processo de escoamento de águas pluviais e a sua conseqüência na

aceleração da erosão nas encostas e no assoreamento dos rios; a lixiviação dos solos;

a desapropriação cultural que certos grupos vêm sofrendo como é o caso dos indígenas

aqui no Brasil, etc. Não se trata aqui de supervalorizar a atuação do homem que

transforma seu espaço, mas de entender que, como diz o Andrade:

Ao se analisar o processo de organização do espaço pela sociedade, a grande dificuldade é entender que a sociedade é, ao mesmo tempo, sujeito e objeto. Assim ela destrói a natureza primitiva, dentro de condições possibilitadas pela natureza, mas, ao mesmo tempo, a natureza primitiva se reconstitui em forma de uma segunda natureza, diferente da primeira. E a sociedade, ao mesmo tempo que constrói, dialeticamente destrói e se prepara para uma nova reconstrução dentro de determinados objetivos, que não serão integralmente atingidos, de vez que, à proporção que se processa a transformação, os objetivos vão também se modificando. (ANDRADE apud SANTOS et. all org. 2002, p.25):

É nessa sociedade que a globalização aparece como uma das macrotendências

que estão redefinindo o contexto mundial atual e tal processo comporta uma

pluralidade de dimensões, seja de caráter político, econômico ou ideológico. Nesta

multiplicidade de interpretações a questão ambiental tem sido foco de grande atenção,

considerando que a ordem ambiental pode ser descrita como um evento transnacional,

uma vez que os problemas ambientais ultrapassam as fronteiras territoriais dos países.

A existência de problemas ambientais globais – como o efeito estufa, buraco na

camada de ozônio, poluição oceânica, sonora, aérea, saturação de locais turísticos, etc.

– demanda soluções que não podem ser obtidas por meio de políticas isoladas de

qualquer lugar (País, Estado ou Cidade), por mais poderoso que este seja.

Reflexões se articulam em torno da dimensão político-ambiental no mundo todo

e o Brasil procura não ficar de fora. Há que se mostrar de que maneira emergiu a

problemática ambiental em nível nacional, discutindo a participação de vários órgãos

que interagem neste cenário condicionado à política ambiental contemporânea,

intimamente ligada ao campo da política e economia do país.

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Tenta-se mostrar aqui as tendências que vem surgindo na tentativa de solucionar

a questão ambiental, perpassando entre a idéia de governabilidade global, até chegar à

cooperação dos Estados (via secretarias estaduais, instituições científicas e de

pesquisa). Essas tendências reafirmam a necessidade de se repensar a relação

desenvolvimento/meio ambiente, buscando alternativas de desenvolvimento mais

racionais e compatíveis com a conservação do meio ambiente e conseqüente

manutenção da existência da matéria prima de economia.

A problemática ambiental no Brasil

Os problemas ambientais no Brasil antes da atual constituição ficavam a cargo

de quatro órgãos: Secretaria do Meio Ambiente – SEMA, Instituto Brasileiro de

Desenvolvimento Florestal _ IBDF, Superintendência do Desenvolvimento da Pesca –

SUDEP e Superintendência de Desenvolvimento da Borracha – SUDHEVEA. Eles

porém não foram capazes de resolver os problemas ambientais do país.

A constituição de 5 de outubro de 1988 foi um passo decisivo para a

reformulação de nossa política ecológica, pois dedica um capítulo inteiro ao meio

ambiente e no título VIII, capítulo VI, art. 225, incumbe o Poder Público e a coletividade

do dever afirmativo de defender e preservá-lo. Compete ao governo definir todas as

áreas destinadas à proteção espacial, vedada qualquer utilização que comprometa tal

proteção (Id. III). A constituição brasileira considera a Mata Atlântica, a Serra do Mar, a

Floresta Amazônica brasileira, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira

Patrimônio Nacional e sua utilização deverá assegurar a preservação do meio ambiente

(Id. § 4.). Além disto, ela outorga aos municípios a autoridade de legislar sobre

assuntos de interesse local e suplementar a legislação federal e estadual quando for

apropriado (Tit. III Cap. IV. Art. 30. I.II) e reconhece expressamente os direitos à

propriedade privada, a função social da propriedade e a proteção ambiental como

princípios gerais de atividade econômica (Tit. VII. Cap. I. Art. 170. II.III.VI)

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Além de tudo, a Lei Federal N.º 6902 concede aos Estados a autoridade de criar

áreas de proteção ambiental (APAs) e zonas de proteção ambiental (ZPAs). Dentro de

uma APA, o Estado pode exigir de qualquer município o respeito à proteção ambiental.

As políticas de uso do solo devem preservar certas áreas e regiões sensíveis em

termos ambientais. Áreas de sensibilidade ambiental devem receber um tratamento

diferenciado daquele que se aplica às áreas não sensíveis em termos de concessão de

licenças e permissões. Da mesma forma que, áreas de interesse turístico, precisam

respeitar as leis de proteção ambiental e cultural, levando-se em conta também os

interesses das populações que algumas vezes nelas residem.

Além disto, a Constituição brasileira concede aos Estados competência

concorrente para proteger as florestas, promover a agricultura, e promover programas

de constituição de moradias e de desenvolvimento.

Os estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum. (CONSTITUIÇÃO REP. FED. BRAS. ART. 25)

A Constituição brasileira delega também a autoridade para planejamento urbano

aos governos municipais, conforme diretrizes gerais fixadas em lei (Tít. VII. Cap. II. Art.

182.). Este dispositivo constitucional tem o objetivo de ordenar o pleno desenvolvimento

das funções sociais da área urbana. A função social da propriedade se cumpre quando,

entre outros fatores, o uso for racional e apropriado, considerando os recursos naturais

disponíveis e a preservação do meio ambiente. (Id. Cap. III, Art. 186, I, II)A

Com a nova Constituição surge o IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e

dos Recursos Naturais Renováveis, através da fusão dos quatro já existentes. Em

outubro de 1992 é criado o MMA - Ministério do Meio Ambiente com o objetivo de

estruturar a política do meio ambiente no Brasil; é um órgão de hierarquia superior ao

qual está subordinado o IBAMA, este tem como finalidade formular, coordenar, executar

e fazer executar a política nacional do meio ambiente e da preservação, conservação e

uso racional, fiscalização, controle e fomento dos recursos naturais renováveis. As

atividades do IBAMA vão desde o mapeamento das florestas via satélite até o controle

da poluição das cidades, passando pelo cadastramento e preservação de espécies em

extinção e por programas preservacionistas. Para o desempenho adequado de suas

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funções, o instituto se utiliza da assessoria do Conselho Nacional de Unidades de

Conservação e de um Comitê Técnico-Científico, todos organismos de natureza

consultiva cujo trabalho contribui para uma melhor atuação do IBAMA. Uma das

características dessa atuação é a descentralização administrativa, que atribui aos

Estados e Municípios maior autonomia na condução e solução de seus problemas

ambientais.

Visando a instituição de um sistema de cooperação administrativa para o

desempenho das competências constitucionais de proteção ao meio ambiente e aos

recursos naturais renováveis, a União, juntamente com o IBAMA e os Estados, criou o

Pacto Federativo de Gestão Descentralizada, que tem como objetivo dividir as

atribuições específicas de cada esfera do governo, vinculando os Estados à Nação na

execução da política Nacional do Meio Ambiente.

Para facilitar a execução do Pacto, o CRA (Centro de Recursos Ambientais)

justapõe os principais instrumentos legais, federais e estaduais, que norteiam o trabalho

de proteção ambiental, auxiliado pelo CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente)

– que estabelece normas de licenciamento ambiental, audiências públicas e avaliação

dos impactos ambientais; pelo CEPRAM (Conselho Estadual do Meio Ambiente) – que

formula a política ambiental para o Estado, estabelecendo as diretrizes e medidas

necessárias à conservação, defesa e melhoria do ambiente.

Visando também a preservação do meio ambiente é que no estado da Bahia, a

lei estadual n.º 3.858, de 3 de novembro de 1980, instituiu a obrigatoriedade de

licenciamento prévio da execução de obras, instalação de equipamentos ou do

desenvolvimento de quaisquer atividades consideradas possíveis de degradação

ambiental.Recentemente, o CONAMA editou normas gerais de licenciamento ambiental

para todo o território nacional mediante a Resolução n.º 237, de dezembro de 1997.

O CONAMA já estabelecera as definições, as responsabilidades e os critérios básicos da Avaliação de Impacto Ambiental, como um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, através da Resolução 001/86, e da Audiência Pública, que tem por finalidade expor aos interessados o conteúdo de um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e respectivo Relatório (RIMA), dirimindo dúvidas e recolhendo dos presentes as críticas e sugestões a respeito, através da resolução 009/87 PACTO FEDERATIVO. LEIS FEDERAIS E ESTADUAIS DO MEIO AMBIENTE .CADERNO V.

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É também de responsabilidade do CONAMA orientar as organizações com

atividades sujeitas ao sistema de licenciamento ambiental, para a formulação da sua

política ambiental e prática de autogestão. Tais organizações deverão ter o seu

licenciamento ambiental assinado pelo representante legal e pelo coordenador da

CTGA (Comissão Técnica de Garantia Ambiental) com respectiva anotação de

responsabilidade técnica no conselho competente e seus estudos serão analisados

pelo CRA e apreciados elo CEPRAM.

A aprovação de leis por si só não resolvem o problema, uma vez que necessitam

de estímulo para o seu cumprimento. As leis devem prover incentivos e alento para que

os cidadãos ajam com consciência ecológica. Cidadãos e grupos de cidadãos (ONGs)

podem receber reconhecimento legal ou a capacidade processual para iniciar ações

jurídicas no sentido de garantir a efetivação de políticas ambientais.

A ação civil pública foi introduzida no Direito brasileiro, com a aprovação da lei

N.º 7347, de 24 de junho de 1985, através dela faz-se a proteção e defesa dos

interesses difusos, mais precisamente a proteção do meio ambiente, do consumidor,

dos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. Esta

ação terá por objetivo a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de

fazer ou não fazer (Art.3), e poderá ser proposta pelo Ministério Público, pela União,

Estados e Municípios, por autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de

economia mista, ou por associação que esteja constituída há pelo menos um ano, nos

termos da lei civil, e inclua, entre suas finalidades institucionais a proteção ao meio

ambiente. Com esta proteção ao meio ambiente, o Ministério Público passou a figurar

como instituição em posição de independência entre os três poderes da República,

tendo sido estabelecido no artigo 127 da Constituição Federal que se trata de

“instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado”, incumbindo-lhe a

defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais

indisponíveis ficando expresso que dentre as funções do Ministério Público está a de

“promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e

social, do meio ambiente, e de outros interesses difusos e coletivos” (Art. 129, Cap. 3.)

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As associações ambientalistas porém não têm atuado devidamente nessa área,

ora por não se servirem de advogados especializados, ora por desconhecerem o

mecanismo jurídico à sua disposição. Também não é eficiente a atuação do Ministério

Público junto à proteção ambiental, visto que o órgão, embora com presença razoável

nos estados do Sul e Sudeste, não possui organização material eficiente nas demais

cidades do país. Para melhorar sua atuação o Ministério Público deverá prover-se de

meios as promotorias de justiça das capitais dos estados, bem como as Comarcas do

interior, fazendo cursos de aperfeiçoamento e seminários para os promotores da

justiça.

O sucesso das políticas destinadas a realizar uma gestão ambiental mais

harmoniosa e respeitadora das leis da natureza, não depende apenas da vontade de

aplicar políticas e normas, mas, principalmente, depende da complexa tarefa de

reorientar as forças sociais e políticas, na operação de critérios diferentes dos que

existem atualmente. Tal reorientação trata da modificação dos critérios de racionalidade

empresarial e pública, dos sistemas valorativos, das estruturas econômicas e sociais,

das normatividades jurídicas e da organização institucional.

É necessário repensar o planejamento do desenvolvimento, visando aliviar a

pobreza, enfatizando para tanto a satisfação das necessidades básicas da população, e

reorientar os setores produtivos da economia a utilizarem de formal racional os

recursos naturais, adotando tecnologias mais condizentes com uma postura ambiental

positiva.

Tudo isso mostra a necessidade de se dar atenção prioritária à questão dos

recursos naturais e da tecnologia, a fim de que, sob uma perspectiva ambiental, se

possa incorporar o tema da sustentação material do desenvolvimento em todos os

níveis, quer nacional, estadual ou local.

O bom senso e a sensibilidade devem estar presentes nas relações humanas

entre si e com os outros seres da natureza para que haja um humanismo autêntico que

possa re-estabelecer o equilíbrio do homem na natureza e no seu convívio social,

construindo assim um mundo mais justo, com menos desigualdade social e mais

respeito com os outros elementos da terra, pois segundo Freire:

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Perdemos a capacidade dialética da vivência da nossa pertinência e “admiração da natureza. Perdemos a capacidade de nos indignarmos frente às injustiças e às destruições de todas as ordens e níveis. Perdemos, assim, o endereço vital. Precisamos ir à procura dele humanizando-nos. Este mundo utópico não o encontraremos, devemos estar conscientes disso, no mundo do mercado, do neoliberalismo e da globalização, mas no mundo do cuidado e do amor para com todos os seres. (FREIRE in NOAL E BARCELOS ( 2003, p. 15 ):

Felizmente algumas pessoas vêm pensando e discutindo essa questão e graças

às proporções tomadas pela ‘relação contrária’ entre a necessidade de melhoria na

qualidade de vida X degradação ambiental e desenvolvimento econômico X

esgotamento dos recursos naturais é que se discute hoje um desenvolvimento

sustentável, que privilegie a qualidade do crescimento, reconhecendo o ambiente como

base fundamental à sua sustentação e que se deve atender às necessidades sócio-

econômicas da população presente sem comprometer as gerações futuras.

Atualmente o avanço científico tecnológico já vem se preocupando com os

processos ecológicos e oferece técnicas avançadas de monitoramento, além de

mostrar novos processos de produção que valorizem mais os recursos biológicos.A

educação é fator essencial para o alcance de um novo modelo de desenvolvimento no

qual as oportunidades de transformação dos setores produtivos globais para buscar um

desenvolvimento sustentável, sejam a inovação do setor produtivo e das técnicas

ambientais de forma a se alcançar sustentabilidade ambiental, econômica e social.

Ao mesmo tempo que se tornou incerto para consciências, o mundo tornou-se complexo não apenas no sentido originário do termo – aquilo que é tecido em conjunto – ma também no sentido em que a unidade traz em si seu contrário: o planeta unifica-se ao mesmo tempo em que se torna cada vez mais fragmentado.Tudo comunica, tudo está em relação, tudo permite a compreensão, mas ao mesmo tempo a incompreensão aumenta mais. Tudo é solidário, mas ao mesmo tempo, tudo é conflitual. Os meios técnicos que permitem unificar o planeta são ao mesmo tempo aqueles que trazem consigo as guerras e a possibilidade de destruição. ( CARVALHO in MORAN 2002 p. 110)

A temática complexidade vem sendo trabalhada por vários autores a exemplo

dos citados acima e os estudos sobre o planeta terra ou gaia precisam atentar para

essa questão, pois como bem aparece na Declaração para o Pensamento Complexo

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(SP.1998), é considerando a “geopolítica do caos’ de uma globalização

homogeneizadora que promove cada vez mais desigualdades sociais que se afirma:

O mundo precisa de pessoas, seres pensantes e atuantes, que vejam os

problemas mundiais no seu conjunto e que estudem, pesquisem soluções concretas

para os problemas do dia-a-dia, não se esquecendo que é resolvendo os pequenos

problemas de casa, dos bairros, das cidades, etc. que se estará, conseqüentemente

resolvendo ou evitando problemas de escalas maiores do planeta. Os pesquisadores

precisam sair dos seus “mundinhos” de laboratórios e partirem para as realidades

concretas, assim como os educadores precisam sair da postura de professor – “ donos

dos conhecimentos”- e se abrirem para uma educação verdadeiramente democrática,

trabalhando mais voltado para a realidade e procurando formas mais autênticas e

solidárias de inserirem nas comunidades.

As incertezas e interdependências do nosso mundo são fatores que aparecem

como desafios para a humanidade e mostram um novo paradigma: pensar

conjuntamente os problemas locais e os problemas globais, pois somos vítimas de um

pensamento parcelado e de uma ciência burocratizada.

O pensamento reducionista continua a procurar de forma míope a causa e o efeito, a determinar o bem e o mal, a nomear o culpado e o salvador. Continua a eliminar toda a ambigüidade, toda incerteza. Continua a acreditar que o pensamento econômico resolverá todos os problemas. Precisamos de um pensamento apto a apreender a multimensionalidade das realidades, a reconhecer o jogo das interações e retroações, a afrontar as complexidades mais do que ceder aos maniqueísmos ideológicos ou às mutilações tecnocratas – que só reconhecem realidades arbitrariamente compartimentadas e são cegas ao que não é quantificável. Precisamos abandonar a falsa racionalidade. (CARVALHO in MORIN 2002 p.112)

A afetividade, a religiosidade, os saberes populares precisam ser valorizados e

considerados pela ciência e pelos estudiosos que precisam saber que não só os

interesses econômicos e técnicos é que movem a humanidade. A felicidade é uma

meta maior do homem em suas relações sociais e com a natureza, sendo que o poder

econômico nem sempre é fundamental nesse sentido. É lógico que a economia

familiar, do município, do estado, país, etc. precisa estar funcionando bem para que sua

população tenha uma qualidade de vida boa, mas isso deve estar aliado a outros

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fatores como lazer, religiosidade, cultura, turismo, etc., atividades prazerosas que nem

sempre a maior parte da população tem acesso quando a economia do país vai “bem”.

A educação formal tem papel fundamental nesse contexto, pois é preciso que nela haja

mudanças de comportamentos como uma prática mais prazerosa e criativa,

trabalhando com o que há de verdadeiro no ser humano com suas contradições.

O que se vê hoje em termos educacionais é uma formalidade e excesso de

burocracia que faz com que haja uma distância muito grande entre pesquisa e ensino e,

sobretudo, o ensino fundamental e médio não têm a menor noção do que é a prática de

pesquisa, os “conhecimentos” as teorias são trabalhadas sem nenhuma conexão com a

realidade fazendo com as escolas sejam espaços enfadonhos, reacionário e

ultrapassados, pois contrastam com uma realidade cheia de inovações e tecnologias

que atraem muitos mais os jovens e os afastam cada vez mais do mundo do

conhecimento e das teorias.

E por falar em educação, a educação ambiental que virou “moda” e é preciso

que os educadores que estão verdadeiramente preocupados com ela não se deixem

levar por princípios teóricos isolados e façam da educação uma prática associada à

teorias mais centradas em realidades concretas e, portanto complexas, mais racionais

no verdadeiro sentido do termo. Essa racionalidade inclui, é claro, realidades cheias de

contradições que é o que é verdadeiro na natureza.

È preciso que o mundo da natureza seja entendido em sua verdadeira dimensão: como gerador e perpetuador da vida. Mais ainda: como o que nos ensina a VIDA e por isso mesmo capaz de nos ajudar a sentir e a compreender, se quisermos aprender com esse mundo da natureza, muitas das dificuldades nas relações dos homens e das mulheres no mundo da cultura. A capacidade anti- ética humana de distorcer as coisas é que está mudando esse destino que o mundo dado poderia nos contemplar. Os humanos ditos “não civilizados”, os “gentios”, Têm essa sabedoria: estão, secularmente, em diferentes partes do mundo nos dado, sem que ouçamos, nos dando essa lição de vida. Assim, essa tarefa educativa exige de nós a colaboração e a participação, uma ação em conjunto, engajada e sempre a partir da realidade local, como preocupação de todos os homens e mulheres sem exceção, mas sobretudo de nós educadores ambientais. É inadiável que, solidária e seriamente, trabalharemos à procura de caminhos viáveis para resolver os problemas do meio ambiente que tornamos ecológica e socialmente adversos em todas as suas esferas da vida. (FREIRE in NOAL E BARCELOS 2003, p.16)

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Considerações finais

Despertar na sociedade o interesse por se resolver questões ou problemas

ambientais tendo em vista um desenvolvimento sustentável implica em criar na mesma

uma consciência ambiental que não pode ser dissociada de crescimento

econômico;um país, região ou cidade pode e deve aliar seu crescimento econômico

com a preservação dos recursos naturais, pois estes são a base de todo e qualquer

desenvolvimento.

Introduzir, verdadeiramente, questões ambientais no sistema educacional,

independe de se ter assegurado as mesmas na legislação, pois as leis brasileiras são

bem progressistas neste sentido. Faz-se necessário mesmo é despertar nos

profissionais da educação a verdadeira consciência da importância e

interdisciplinaridade do tema. E para isso é preciso repensar a educação de forma mais

ampla, pois esta deve ser tratada com mais seriedade pelo poder público, para que os

educadores encontrem condições mais adequadas para um trabalho integrado e mais

condizente com uma perspectiva cientifica do conhecimento.

Os educadores têm que atuarem, despertando nos alunos o gosto pela ciência,

mas antes disso é preciso que eles próprios se encontrem com a ciência e sejam mais

que educadores, também cientistas que queiram não só transmitirem conhecimento,

mas produzirem, juntos aos alunos novos conhecimentos, produzindo assim uma nova

ciência. È preciso também que se questione a ciência produzida, propondo um novo

modelo, pois as certezas e os procedimentos científicos e epistemológicos positivistas

do século XIX foram abaladas no século XX com as teses de Einstein sobre a

relatividade e com o princípio da incerteza de Heisenberg . Além do que há um

questionamento do que se faz com as próprias pesquisas, pois o conhecimento

científico pode ser a pior coisa quando, na maioria das vezes serve para aperfeiçoar as

armas e para tornar os conflitos mais destruidores.

O espírito científico tem que ser associado ao desenvolvimento e este não pode

existir se não de forma sustentável. A educação sempre foi e será a base de todo e

qualquer crescimento econômico seja de que país for.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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