31
1 ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

  • Upload
    others

  • View
    5

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

1

ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

Page 2: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

1

Sumário 1- INTRODUÇÃO ......................................................................................... 4

2-A ÉTICA E A MORAL ............................................................................... 6

3-A HISTÓRIA ............................................................................................ 10

4 – CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA PROFISSIONAL HOJE .................... 18

5 - COMO OS CÓDIGOS DE ÉTICA PROFISSIONAL DEVERIAM SER .. 22

6 – CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS DE UMA CONDUTA ÉTICA . 25

BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 27

Page 3: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

2

NOSSA HISTÓRIA

A história do Instituto NOSSA HISTÓRIA, inicia com a realização do sonho de

um grupo de empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos

de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a NOSSA HISTÓRIA, como

entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A NOSSA HISTÓRIA tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas

de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a

participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua

formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais,

científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber

através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma

confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base

profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições

modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,

excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

Page 4: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

3

1- INTRODUÇÃO

Etimologicamente, a palavra “ética” vem do grego Ethos que significa morada coletiva

e vida coletiva. Daí o conceito ser usado para ações que promovam o bem comum

ou a justiça no meio social. Devido ao fato de que os gregos a utilizavam no sentido

de hábitos e costumes que privilegiassem a boa vida e o bem viver entre os cidadãos,

com o tempo tal palavra passou a significar modo de ser ou caráter. Enfim, um modelo

de vida que deveria ser adquirido ou conquistado pelo homem por meio da disciplina

rígida que lhe formaria o caráter e que seria transmitida aos jovens pelos adultos. Na

Grécia, o homem aparece no centro da política, da ciência, da arte e da moral, uma

vez que para sua cultura até os deuses eram humanos com seus defeitos e

qualidades. O primeiro filósofo que escreveu sobre ética foi Aristóteles. Com esse

título, Aristóteles escreveu duas obras: ética a Nicômaco (seu filho) e ética a Eudemo

(seu aluno).

Os filósofos gregos sempre subordinaram a ética às ideias de felicidade da vida

presente e de soberano bem. Nos textos antigos, ética quase sempre parece estar

relacionada com desejo inato ao homem de busca da realização do supremo bem. A

filosofia grega preocupa-se com a reflexão sobre ética desde os primórdios. Isso

porque ética, ou a sede de justiça, é uma das três dimensões da filosofia. As outras

duas seriam a teoria e a sabedoria. Em Roma, ética passa a ser denominada

Page 5: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

4

“mores”; que significa “moral”. No direito romano a palavra ética refere-se a normas

de conduta ou princípios que regem a sociedade ou um determinado grupo e em uma

determinada época. Numa palavra: lei.

A ética é histórica, o que se deve ao fato de estar solidificada em noções de valor,

que mudam à medida que se descobrem novas verdades. O agir ético não será

apenas uma simples reprodução de ações das gerações anteriores, mas uma

atividade reflexiva que oriente a ação a seguir num determinado momento de nossa

vida pessoal. Quando surgem questionamentos sobre a validade de determinados

valores ou costumes, e a realidade exige novos valores que possam orientar a ética,

surge a necessidade de uma teoria que justifique esse novo agir, uma vez que é

impossível a ação ética sem que o agente compreenda a racionalidade dessa ação.

Aqui aparecem os filósofos que produzem uma reflexão teórica que oriente a prática

ou a crítica do viver ético.

Assim, não é possível o agir ético sem uma reflexão entre o que eu devo fazer e o

que eu gostaria de fazer em um determinado momento. A ação ética sempre deve

buscar o bem comum e consiste na recusa de todas as ações que propiciem o mal.

O agir ético vai além de um conjunto de preceitos relacionados a cultura, crenças,

ideologias e tradições de uma sociedade, comunidade ou grupo de pessoas. Muitas

vezes nossa ação vai ao sentido oposto a essas crenças, pois sendo a noção de

dever seu principal valor estrutural, em algumas ocasiões, o nosso dever é justamente

indignar-se com tais crenças. Uma vez que guiada pela razão e não pelas crenças, a

ética, via de regra, está fundamentada nas ideias de bem e virtude, que nossa

civilização considera como valores que devem ser perseguidos por todo ser humano

para a promoção da vida, da maneira e onde quer que ela se manifeste.

Page 6: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

5

2-A ÉTICA E A MORAL

Frequentemente se confunde ética com moral e isso tem uma razão de ser. É que a

palavra “moral” vem do latim mos (singular) e mores (plural), que significa

“costumes”. E a palavra “ética” vem do grego e possui o mesmo significado, ou seja,

“costumes”. Por isso, muitos utilizam a expressão “bons costumes” como sinônimo de

moral ou moralidade. Ética e moral são sinônimos perfeitos, só modificados

semanticamente devido às diferentes línguas de origem das duas palavras. Até o

século XVIII, já que a língua oficial do saber acadêmico era o latim, a palavra usada

é moral.

Alguns filósofos modernos passam a usar as duas palavras com sentido diferentes.

Kant, por exemplo, define como moral o conjunto de princípios gerais (valores

civilizatórios) e ética sua aplicação concreta. Portanto, ética é sempre um agir ético.

Outros filósofos concordarão em designar por moral a teoria dos deveres para com

os outros, e por ética a doutrina de salvação e sabedoria desvinculada de crenças

religiosas. Hoje nós temos duas palavras usadas por muitos autores com o mesmo

significado: “ética” e “moral”.

Devido ao fato de o pensamento kantiano ter uma importância medular para quem se

interessa pela reflexão sobre ética no mundo capitalista, preferimos compreender que

Page 7: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

6

ética se diferencia de moral. Moral está mais relacionada a crenças estruturadas em

valores acumulados desde a mais tenra infância e transmitidos pelos grupos sociais

de interação afetiva, tais como a família e a Igreja. Moral está diretamente relacionada

à consciência de que é o lócus privilegiado dos valores, enquanto que a ética é a

exteriorização da conduta humana em sociedade. Além disso, desde o início os

pensadores liberais preferiram a palavra “ética” para expressar normas de conduta

de grupos organizados, como, por exemplo, as categorias profissionais e seus

códigos de ética.

Compreendemos que a moral está muito ligada à cultura e à religião.

Assim, em uma cidade como São Paulo, em que convivem muitas culturas, podem

também coexistir diversos tipos de moral. Esses diversos grupos de moral específicos

sempre se reportam aos valores éticos fundamentais que, na verdade, são os traços

comuns da civilização. Portanto, ética é um conjunto de valores morais que permitem

a permanência da civilização. Sem esses valores a civilização como conhecemos

desapareceria. Seus fundamentos foram construídos durante todo o processo

civilizador, e são iguais para todos os cidadãos do mundo ocidental,

independentemente de cultura ou religião. Ela carrega fundamentos que tiveram

origem no pensamento cristão na medida em que esses fundamentos contribuíram

para a formação do pensamento ocidental. Contudo, não é a transposição pura e

simples dos valores da religião para o campo civilizatório.

Hoje a imprensa costuma usar a palavra “ética” com muita frequência, às vezes até

de forma abusiva. Essa insistência com que se fala de ética hoje se deve ao fato de

o capitalismo ter-se mundializado pois sem os valores éticos é impossível a

reprodução da sociedade capitalista. Isso porque o capitalismo é irmão gêmeo da

democracia, uma vez que ambos nascem do pensamento liberal e um não vive sem

o outro. Como os pilares basilares da democracia são a liberdade pessoal, a busca

da felicidade e o individualismo, não há espaço para a vigilância constante das ações

individuais numa sociedade de direitos plenos. Tal sociedade é a única possível para

o bem-estar do Capital.

Para a mentalidade moderna, ética não pode ser entendida como algo que resulta de

um poder punitivo explícito, como é o caso da Moral. A punição que a transgressão

do agir ético traz é de consciência individual, portanto, absolutamente individual, e

Page 8: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

7

essa consciência é formada no processo educativo. Se nossa consciência não

considerar a apropriação da propriedade alheia, por exemplo, como um mal e sim

como uma esperteza, isto é, um bem; não haverá como impedir que façamos uso

indevido do que não é nosso.

Assim, a sociedade capitalista e democrática aceita a existência de diferentes formas

de conduta moral no aspecto privado, desde que a conduta pública esteja em

conformidade com as virtudes que a estruturam, ou seja, dentro da ética. Entende

que a sociedade tem um conjunto de regras, normas e valores, que não se identifica

com os princípios e normas de nenhuma moral em particular, mas com os valores

formadores do núcleo da civilização, sem os quais a civilização entra na barbárie, a

luta de todos contra todos em que os direitos, inclusive à propriedade e ao lucro são

destruídos, pois não há como obrigar as pessoas a cumprirem seus deveres. A ética

é, nesse sentido, a própria defesa da civilização.

Sendo cultural, a moral é o conjunto de regras que se impõem às pessoas pelo grupo

ao qual pertencem, numa ação coletiva que tende a agir de determinada maneira,

sendo a consolidação de práticas e costumes observados no geral pelo receio de uma

reprovação social (a pressão é externa). Partindo desse pressuposto, todo ser

humano é moral ao cumprir normas de conduta oriundas de um conjunto de crenças

inquestionáveis dentro de sua cultura. No entanto, ética envolve reflexão, por isso não

significa apenas um conjunto de normas, mas vai além. Ela é um conjunto de juízos

valorativos (racionais) construídos pela civilização, assumidos e manifestados na

ação individual de cada um (a pressão é interna). Está estruturada em valores de

conduta. É sempre civilizatória.

Como ao tratar de ética sempre nos referimos ao conceito de valor, é importante um

olhar, ainda que breve, sobre esse conceito. Ele aparece pela primeira vez no sentido

que hoje damos nos primeiros trabalhos sobre economia. A ciência econômica

moderna difere das demais ciências sociais pela capacidade de quantificar, senão a

atividade econômica, pelo menos seus frutos, ou seja, o produto social. Está

estruturada em leis universais tais como: lei da oferta e da procura, a lei do valor da

moeda, entre outras. O que torna possível de medição e avaliação das relações

econômicas, como acontecem e em que medidas acontecem, é o conceito de valor,

cuja ideia essencial foi, segundo Weber, retirada da ética protestante cristã.

Page 9: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

8

A utilização da ideia de valor como conceito de “algo” que é incorporado à mercadoria

foi instituído pelos fundadores da Ciência Econômica: Adam Smith e David Ricardo.

Tal conceito foi transportado puramente da filosofia moral para o âmbito econômico.

A axiologia ou “teoria do valor” tem suas raízes no solo econômico e somente nos

sécs. XIX e XX vai expandir-se como expressão infinita daquilo que “deve ser”,

abrangendo todas as criações do espírito humano.

É o conceito de valor que permite atualização de uma unidade de medição essencial

para praticamente todos os fenômenos do mundo econômico. Há duas maneiras de

definir valor, uma delas retira o valor da relação do ser humano com a natureza e

parte do pressuposto de que as pessoas têm uma série de necessidades materiais

básicas e procura satisfação dessas necessidades na produção de produtos que

possam satisfazê-las. Essa é a atividade econômica básica à natureza humana. Ao

transformar um objeto qualquer da natureza em algo que possa melhorar de algum

modo sua vida, o ser humano incorpora nessa transformação o valor essencialmente

humano: o valor trabalho e, dialeticamente, transforma o objeto em valor-utilidade,

também chamado de valor de uso. Essa é a teoria do valor do trabalho.

A outra maneira de compreender valor é como os pensadores que buscam refletir

sobre a ética entendem o conceito. Para eles, valor é sempre coletivo, uma vez que

valores são construções mentais elaboradas pela visão de mundo de nossa cultura,

podem ser ensinados e formam nossos juízos de bem, mal, justo, injusto, belo e feio.

Page 10: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

9

3-A HISTÓRIA

Para muitos autores a experiência ética fundamental ocorre quando sentimos que o

agir das pessoas está desconectado dos valores caros à civilização. É a experiência

de „estranhamento‟ frente à realidade, de sentir-se estranho (fora da normalidade)

diante do modo como funciona a sociedade, ou até mesmo em relação ao modo de

ser e agir de outrem. Cada vez que a sede de justiça, o que deveria ser ou o que se

deveria fazer para buscar o funcionamento justo da sociedade, se estabelece, há um

avanço da ética.

A história da ética, portanto, se confunde com o próprio processo civilizatório. É a

própria história das ideias morais da humanidade, desde os tempos pré-históricos até

nossos dias, isto é, a história da reflexão humana de como instituir normas que

regulem a conduta social, na busca da felicidade individual e ao mesmo tempo o bem

comum, e, portanto, instaurem a diminuição da violência. Os filósofos faziam a crítica

da realidade social de sua época e a partir dessa crítica ofereciam saídas de como

teria de ser a conduta das pessoas para evitar os infortúnios que levariam ao

desaparecimento do ethos comum.

A sociedade, então, considerando aquelas ideias úteis, passou a educar as novas

gerações para aqueles valores. Muitas vezes, por ser um novo dever, o Estado

transformava tais normas em leis até que tais condutas fossem incorporadas às

consciências individuais e, assim, lentamente, foram estruturados os valores que hoje

consideramos essenciais. Nesse sentido, a ética não é imutável, mas, ao contrário, a

humanidade vai abandonando valores e adquirindo outros que antes não pensava

serem essenciais.

Antes de Sócrates não houve, ao menos que se saiba, uma reflexão metódica sobre

a ética e o “homem moral”, por isso é que se diz que ele é o “pai da ética”. Entretanto,

é preciso ponderar que desde períodos mais antigos havia uma identidade perfeita

entre o bem comum e o bem individual tão arraigada na mente grega que talvez tal

reflexão não fosse necessária ou sequer capaz de ser concebida. Só a dissociação

entre bem comum e bem individual (o público e o privado), que começa a ocorrer

durante o período da decadência grega, é que justifica a necessidade de alguma

teoria que explicasse esta dualidade.

Page 11: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

10

Nossa visão de ética, hoje, deve muito, também, a Platão. Na verdade, como Sócrates

nada escreveu, é em seus textos que aparece pela primeira vez o conceito de ética.

Platão constrói idealmente a “Cidade Perfeita”; nela tudo e todos são guiados por uma

ética muito semelhante ao ideal de perfeição social de hoje.

A ética de Platão está relacionada intimamente com sua filosofia política, porque, para

ele, a polis (cidade-estado) é o terreno próprio para a vida moral. Assim, buscou um

Estado ideal, um estado-modelo, utópico, cujo modelo seria o corpo do ser humano.

Daí vem o costume de dizermos até hoje o “corpo social”, como sinônimo de

sociedade. Assim como o corpo possui cabeça, peito e baixo-ventre, também o

Estado deveria possuir, respectivamente, governantes, sentinelas e trabalhadores. O

bom Estado é sempre dirigido pela razão em busca da prática da justiça, que seria o

equilíbrio entre os direitos e os deveres dos cidadãos na construção de uma polis

virtuosa. Portanto é necessária a prática das virtudes. As virtudes são funções da

alma humana, determinadas pela sua natureza e pela divisão de suas partes. Tais

virtudes seriam todas aquelas que produzem a beleza, o bem e a verdade absoluta.

Para tal prática seria necessário, à vontade, o ânimo, o que para Platão significava o

domínio das paixões pela razão.

Pela razão, faculdade superior característica do homem, a alma elevar-se-ia,

mediante a contemplação, ao mundo das ideias. O fim último da razão seria purificar-

se ou libertar-se da matéria para contemplar o que realmente é, acima de tudo, a ideia

do bem. Para alcançar a purificação seria necessário praticar as várias virtudes que

cada alma possui. Platão julgava que as partes da alma possuíam um ideal ou uma

virtude que deveriam ser desenvolvidos para seu funcionamento perfeito. A razão

deveria aspirar à sabedoria, a vontade deveria aspirar à coragem e os desejos

deveriam ser controlados para atingir a temperança. Cada uma das partes da alma,

com suas respectivas virtudes, estaria relacionada com uma parte do corpo. A razão

manifestara-se na cabeça, a vontade, no peito, e o desejo, no baixo-ventre. Somente

quando as três partes do homem pudessem agir como um todo é que teríamos o

indivíduo harmônico. A harmonia entre essas virtudes constituiria uma quarta virtude,

a justiça.

Devido ao fato de ter sua teoria adotada como parcialmente verdadeira pela Igreja

Católica, a ética de Aristóteles finca vínculos indeléveis em nossa compreensão de

Page 12: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

11

ética. Sua concepção ética privilegia as virtudes (justiça, coragem, fortaleza e

sinceridade, a felicidade pessoal e o bem comum), tidas como propensas tanto a

provocar um sentimento de realização pessoal àquele que age, quanto

simultaneamente beneficiar a sociedade em que vive. Portanto, a felicidade pessoal

só é possível onde o bem comum também o é. A ética aristotélica compreende a

humanidade como parte da ordem natural do mundo, por isso é denominada: ética

naturalista.

Segundo Aristóteles, toda atividade humana, em qualquer campo, tende à busca do

bem supremo ou sumo bem, que seria resultado do exercício perfeito da razão,

função própria do homem. Assim, o homem virtuoso é aquele capaz de deliberar e

escolher o que é mais adequado para si e para os outros, movido por uma sabedoria

prática em busca do equilíbrio entre o excesso e a escassez.

Na antiguidade o conceito de sábio era entendido como um homem virtuoso ou que

busca uma vida virtuosa, e que assim consegue estabelecer, em sua vida, a ordem,

a harmonia e o equilíbrio que todos desejam. Essa harmonia é conseguida se

vivermos de acordo com a natureza, o cosmos para os gregos, e o justo é viver de

acordo com o seu lugar na natureza, uma vez que compreendiam que o cosmos, por

si só, é sempre justo e bom. Uma das finalidades da vida humana seria encontrar seu

lugar no seio dessa ordem cósmica, tal viver seria a vida ética. Assim, a prática da

justiça, a virtude geral, de onde se originam todas as demais, nos tornaria

semelhantes ao divino, àquilo que transcende o próprio homem, ao imortal e sábio

que está no próprio homem.

Os principais filósofos organizadores da ética cristã são: Santo Agostinho em A cidade

de Deus e Confissões, e São Tomás de Aquino em Suma teológica. Durante a Idade

Média, o cristianismo se estabelece como teoria no campo filosófico; a representação

ocidental do “divino” não é mais a natureza e passa a encarnar uma pessoa: Jesus

Cristo. Essa nova visão dos logos provoca mudanças profundas na compreensão do

que é o bem e, portanto, da ética. O cristianismo traz uma concepção revolucionária

que cristaliza até nossos dias: a nova concepção de amor.

A moral passa a ser entendida como a busca da perfeição “à imitação de Cristo” como

característica de cada ser humano Essa nova concepção da pessoa humana, do

indivíduo, é o próprio cerne do processo civilizador ocidental, resultando em todos os

Page 13: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

12

direitos da pessoa humana; contudo, é na compreensão do que é a liberdade que o

cristianismo vai promover uma revolução, se comparada ao conceito da Antiguidade

Clássica.

Enquanto que para os antigos a liberdade só se realizava no campo político e era

entendida como sinônimo de cidadania, no cristianismo ela é deslocada para o interior

de cada ser humano. A ética cristã articula liberdade e vontade; apresenta essa última

como essencialmente dividida entre o bem e o mal. Foi o cristianismo que subordinou

o ideal de virtude à ideia de dever e de obrigação. Fez da humildade uma virtude

essencial, o que era desconhecido pelos antigos. Mais do que isso, o cristianismo

também exigiu a submissão da vontade humana à vontade divina, tornando

problemática e quase impossível a finalidade ética dos antigos, isto é, a autonomia, a

capacidade de escolha por si só dos valores que norteiam as ações humanas. Se

para os gregos antigos a virtude era um talento natural, para o cristianismo o que é

moral ou não é o uso que se faz desses dons naturais; essa liberdade de escolha vai

ser chamada pelos filósofos de “livre-arbítrio”. Aparece aqui a ideia do “mérito”, tão

cara ao capitalismo. Não importa mais os talentos que recebemos da natureza, mas

o que faremos com esses talentos; por meio deles podemos sair do estado de

desigualdade natural para entrar na igualdade por nós construída. Portanto, a

liberdade torna-se fundamento da moral.

Uma vez que todos são livres e iguais porque filhos do mesmo Deus e com direito à

salvação vinda de Cristo, logo, toda a humanidade é composta por irmãos, fraternos

entre si. Essa nova noção de fraternidade era desconhecida pelos antigos. No

cristianismo a noção de responsabilidade individual é ao mesmo tempo universal e

faz surgir uma virtude também desconhecida pelos antigos que é a caridade, ou seja,

a responsabilidade pela salvação do outro, material e espiritual, seja o outro quem

for. O amor passa de uma noção pessoal e carnal, o amor paixão, para um amor de

compaixão, o amor ao próximo, sendo o próximo o outro em geral, já que todos são

irmãos. A compaixão, a benevolência, a solicitude, para com os outros, até mesmo

com outras formas de vida, passam a ser regras de comportamento ético.

Ser virtuoso, portanto ético, passa a ser agir em conformidade com a vontade de

Deus, e esse agir é um dever, e, como Deus se manifesta na pessoa humana, a

Page 14: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

13

responsabilidade com o outro passa a ser um valor ético. Portanto, a autonomia tão

cara aos gregos antigos dá lugar ao conceito de dever, como limite da liberdade.

A modernidade inicia quando começa a desaparecer a ideia de ordem universal de

hierarquia natural dos seres, cedendo para as ideias de universo infinito, desprovido

de centro e de periferia, e de indivíduo livre, átomo no interior da natureza, para o

qual já não possui a definição prévia de lugar próprio e, portanto, de suas virtudes

próprias. A ordem do mundo não é mais dada de fora do mundo, quer seja pelo

cosmos, como queriam os gregos, quer seja por Deus, como pensavam os cristãos

na Idade Média. Assim, a modernidade afasta a ideia medieval de um universo regido

por forças espirituais secretas que precisam ser decifradas para que com elas

entremos em comunhão. O mundo desencanta-se como escreveu Weber e passa a

ser governado por leis naturais racionais e impessoais que podem ser conhecidas por

nossa razão e que permitirão aos homens o domínio técnico sobre a natureza.

No livro A ética protestante e o espírito do capitalismo, Weber relaciona o papel do

protestantismo cristão à formação do comportamento típico do capitalismo moderno.

Weber descobre que os valores do protestantismo, tais como a disciplina ascética, a

poupança, a austeridade, a vocação, o dever e a valorização do trabalho como

instrumento de salvação da ética protestante promovem o surgimento do capitalismo.

Para Weber, tais valores são incorporados na ética ocidental como estrutura da

confiança, valor essencial à manutenção da sociedade do contrato, que é a sociedade

burguesa.

Durante o período compreendido entre os séculos XVII e XX, pouco a pouco, a ética

deixa de estar em conformidade com a Natureza ou com Deus para centrar sua

reflexão na condição humana. No século XVIII, Rousseau faz uma crítica ao

pensamento de Aristóteles, segundo o qual o homem se diferenciaria dos animais por

ser racional. Para Rousseau o que diferencia o ser humano dos animais é sua

capacidade de decisão por si só: a liberdade e a capacidade de aperfeiçoar-se ao

longo da História. Como consequências dessa nova definição de humanidade: a

historicidade, a igual dignidade entre os seres humanos. Por ser livre e por não ter

nada a dirigir suas ações é que o ser humano é moral. É seu espírito crítico que vai

dotar o homem de valores morais, pois o ser humano sempre busca o bem e nasce

intrinsecamente bom.

Page 15: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

14

O maior representante da ética nos últimos séculos foi sem dúvida Immanuel Kant

(1724 – 1804), talvez o mais importante filósofo da modernidade, sobretudo para

quem se interesse pelo estudo da ética e mais ainda pela ética profissional. Seu

pensamento talvez seja aquele que mais contribuiu para a forma de pensar ética tal

como pensamos hoje. O homem é livre, diz Kant, porque não está sujeito às leis

físicas da natureza. Sua virtude reside na ação ao mesmo tempo voltada para

interesses individuais e universais. Esses são os princípios basilares da ética

kantiana: o desinteresse e a universalidade. A ação moral é a única ação

verdadeiramente humana, e a liberdade consiste na faculdade de transcender as

tendências naturais. Uma vez que as tendências naturais nos levam sempre ao

egoísmo é preciso resistir a essas tendências. Tal resistência é denominada por ele

de “boa vontade”, ponto que ele vê como princípio de toda a moralidade verdadeira.

Para Kant, na natureza há leis, na ética, deveres; e a existência do dever me diz que

sou naturalmente livre. Do “dever”, porque, pelo fato de ser livre e ter boa vontade e

preocupação com o interesse geral, há algo em nós que ordena uma resistência e até

mesmo um combate contra a naturalidade ou animalidade que exista em nós. E Kant

dá um exemplo: se um tirano obriga alguém a testemunhar de modo falso contra um

inocente, ele pode ceder e dizer o que é falso; mas depois teria remorso, pois algo

em nós nos orienta para o bem que é a voz da razão. Isto demonstra que a

testemunha sabia que podia dizer a verdade: sabia, devia, podia. E sabia por que

seria irracional, uma vez que num mundo em que todos dissessem o que é falso, seria

impossível viver, sendo, portanto, para nossa razão, obrigatório dizer a verdade. Essa

é a prova da universalidade e necessidade da norma ética.

Essa voz da razão, que aparece sob a forma de ordens indiscutíveis, é chamada por

Kant de imperativo categórico: imperativo, porque não se pode subtrair a ele, não é

um conselho; e categórico, porque não admite o contrário daquilo que está

mandando. Com a concepção de perfectibilidade, a ética kantiana vai propor que a

liberdade humana consiste justamente na nossa capacidade de ir além das

determinações naturais, de satisfazer nossos interesses particulares, para agir de

acordo com os interesses gerais, isto é, universais. Por isso, a ética moderna vai

repousar na ideia do mérito, ou seja, todos nós temos dificuldades em realizar nosso

dever, em seguir os mandamentos da moral, apesar de todos nós o considerarmos

legítimos. Daí nosso mérito em agir em conformidade com o bem comum e não em

conformidade com nossos desejos e paixões. A modernidade vai valorizar toda a ação

Page 16: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

15

de dever, é a ética moderna fundamentalmente meritocrática de inspiração

democrática.

A partir de Kant, passa a vigorar, no campo de estudo da ética, o que se convencionou

chamar de humanismo moderno. Não só no plano da moral, mas no político e no

jurídico, o fundamento está unicamente na vontade dos homens, desde que se aceite

como restrição a vontade dos outros. A liberdade de cada um termina onde começa

a liberdade dos outros. É apenas essa limitação pacífica que pode permitir uma vida

social harmônica e feliz. E essa harmonia é uma construção humana e não mais um

fato pronto pela natureza ou dada por Deus, ou seja, os homens vivendo em

liberdade, mas com a vontade dirigida pelo dever (responsabilidade), na construção

de uma sociedade com valores comuns que Kant chama de “reino dos fins”. Como

seres dotados de dignidade absoluta, os homens não poderiam ser tratados como

meios usados para objetivos pretensamente superiores, ou seja, o fim absoluto digno

de respeito absoluto: o centro do universo é a humanidade.

Kant elaborou um imperativo categórico da razão do agir ético: “age tendo a

humanidade como fim e jamais como meio” (não tratar os sujeitos como coisas) e

“age como se a máxima de tua ação pudesse ser realizada por todos os homens e

para qualquer homem” (a universalidade da razão garante a universalidade do sentido

da ação). Isso significa que a pessoa deve agir espontaneamente, por sua vontade e

não sob coação ou por vontade alheia, só sob essa forma o comportamento será

eticamente valioso. Tal comportamento terá valor universal. O que o imperativo

categórico pede é que a máxima (princípio subjetivo) seja de tal natureza que possa

ser elevada à categoria de lei de universal, construindo assim o conceito de igualdade

como princípio ético.

Kant propõe um valor absoluto para servir como fundamento objetivo dos imperativos.

E esse valor absoluto é a pessoa humana. O objeto de nossos desejos tem valor

relativo, é apenas um meio de alcançar nossos objetivos, pois só o homem tem valor

absoluto. Sob dois prismas as pessoas diferem dos demais seres. Primeiro, uma vez

que as pessoas têm desejos e objetivos, as outras coisas têm valor para elas em

relação aos seus projetos, as meras coisas, e isto inclui os animais, que não são

humanos, considerados por Kant incapazes de desejos e objetivos conscientes.

Segundo, e ainda mais importante, os seres humanos têm um valor intrínseco, isto é,

Page 17: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

16

dignidade, porque são agentes racionais, ou seja, agentes livres com capacidade

para tomar as suas próprias decisões, estabelecer os seus próprios objetivos e guiar

a sua conduta pela razão. Uma vez que a lei moral é a lei da razão, os seres racionais

são as encarnações da lei moral em si. E a única forma de bondade moral poder

existir são as criaturas racionais apreenderem o que devem fazer e, agindo a partir

de um sentido de dever, fazê-lo.

Kant deixou para o Ocidente a ideia de que o ser humano é a única coisa com valor

moral; assim, se não existissem seres racionais a dimensão moral do mundo

simplesmente desapareceria. Tal reflexão foi essencial para que a humanidade

deixasse de considerar seres humanos como coisa e abandonasse a ideia da

escravidão de outros seres humanos como direito de propriedade, além de estruturar

teoricamente a luta por direitos iguais, independentemente de diferenças físicas,

psicológicas, culturais e étnicas. E como são os seres cujas ações são sempre

conscientes? Kant conclui que o seu valor tem de ser absoluto, e não comparável

com o valor de qualquer outra coisa. Se o seu valor está acima de qualquer preço,

segue-se que os seres racionais têm de ser tratados sempre como um fim e nunca

como um meio para atingir um determinado fim. Lança, aqui, numa construção

racional, a ideia cristã da igualdade entre os homens e que será o núcleo do Estado

democrático.

Page 18: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

17

O Estado democrático é o conjunto de iguais dentro de um determinado espaço

geográfico. Isto significa que temos o dever estrito de buscar a prática do bem, não

só para nós mesmos como para as outras pessoas. Temos de lutar para promover o

seu bem-estar; temos de respeitar os seus direitos, evitar fazer lhes mal, e, em geral,

empenhar-nos, tanto quanto possível, em promover a realização dos fins dos outros.

Somente se reveste de valor ético a conduta autônoma, fruto da vontade do agente.

A conduta heterônoma é aquela que nos faz agir pela vontade alheia, é desprovida

de valor moral. “A dignidade humana exige que o indivíduo não obedeça mais normas

do que as que ele mesmo se impôs, usando de seu livre-arbítrio”. Os valores

kantianos de liberdade, de responsabilidade, de autonomia e de culto ao dever foram

incorporados na ética ocidental como valores essenciais à civilização.

Na modernidade conservou-se do cristianismo a ideia de que é virtude a obediência

à razão contra o império caótico das paixões; que a virtude é dever e obrigação em

face de normas e valores universais; e que a liberdade é o poder humano para

enfrentar com suas próprias forças as contingências e a adversidade; que a

responsabilidade é marca da honradez virtuosa, pois não há liberdade sem

responsabilidade. Mas todos esses termos perderam a universalidade pretendida,

pois, lhes falta o centro ordenador: o cosmos antigo ou a providência medieval.

Somente com a ideia de civilização será possível definir um novo centro que permitiria

o surgimento de uma razão prática com pretensões ao universal no campo ético. Ou

seja, há que se viver de acordo com um conjunto de valores expressos por deveres

ou imperativos que nos pedem respeito pelo outro, sem o qual uma vida pacífica é

impossível.

Page 19: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

18

4 – CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA PROFISSIONAL HOJE

O termo deontológico, usado como sinônimo de ética profissional, surgiu para definir

um tipo de conhecimento que pretendia orientar os indivíduos a irem ao encontro do

prazer, evitando o desprazer e a dor. Jeremy Bentham, adjudicava a ele a tarefa de

ensinar aos homens administrarem suas emoções, usando-as em benefício próprio.

Assim, ele a definia como a ciência dos deveres.

Etmologicamente, o termo vem do grego "déon" que quer dizer o obrigatório, o justo,

o adequado – ou de "déontos", também do grego, que significa necessidade.

Percebemos que em ambas as definições, fica evidenciado o caráter finalista da

deontologia, ou seja o pressuposto de que é preciso seguir normas para se atingir

fins. A evolução desse entendimento levou a identificá-Ia, presentemente, como "o

tratado dos deveres" a ser seguidos em determinadas relações sociais,

principalmente nas de caráter profissional.

A necessidade de se erigir normas que orientem as relações humanas remonta á

origem da vida comunitária. Desde que os homens passaram a viver em comunidades

perceberam que assim como os animais irracionais, eles possuíam impulsos e

paixões nem sempre utilizados em seu proveito ou em proveito dos seus

semelhantes. A inteligência indicava-lhes que era preciso canalizar esses impulsos

individuais a fim de promover uma adaptação aos desejos sociais e criar condições

para unia vida societária Essa necessidade estende-se a qualquer agrupamento

social, como aqueles de caráter profissional, tão comuns nas sociedades modernas.

Page 20: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

19

A deontologia ou clica profissional, caracteriza-se como um conjunto de normas e

princípios que tem por fim orientar as relações dos profissionais com os seus pares,

destes com os seus clientes, com a sua equipe de trabalho, com as instituições a que

servem entre outros. Como a sua margem de aplicação é limitada ao círculo

profissional, faz com que essas normas sejam mais específicas e objetivas.

A praticidade que envolve os códigos de ética profissional não os exime de um

compromisso com os interesses da categoria e com o projeto global da sociedade,

fazendo com que os mesmos oscilem a depender das oscilações sociais e, deste

modo, eles seguem orientações teóricas também diferentes. Se a sociedade é regida

por unia orientação metafisica, os códigos de ética profissional tendem a seguir

princípios também metafísicos. Se por outro lado ela admite que o homem é um

microcosmos capaz de construir, transformar e criar, eles tendem a valorizar esses

aspectos, se a sociedade segue uma orientação individualista e egoísta, os códigos

colocarão em prática esses valores.

Decorrente dessa vinculação, verificamos que os códigos de ética profissional em

vigor nas sociedades modernas, como a nossa, tendem a seguir três orientações

básicas, todas elas a serviço da manutenção das desigualdades sociais, do culto ao

capital e da tranquilidade das consciências de quem as coloca em prática.

A primeira delas, e a mais difundida, é identifica por alguns teóricos como mero

exercício tautológico no sentido de servir apenas para sacralizar a prática exercida.

As normas são orientadas por uma posição positivista onde o que vale são os fatos.

Page 21: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

20

Assim, se no dia a dia o profissional usa o seu cliente como meio de ganhar dinheiro

e não como o fim último da sua ação, essa prática será vista como legítima e

assegurada oficialmente. Esse tipo de código visa tão somente apaziguar a

consciência dos profissionais e protegê-los fazendo com que os mesmos sintam-se

honestos, humanos e justos mesmo quando só prestem seus serviços a quem possa

pagá-los.

Outra tendência bastante comum é aquela que se diz disposta a enfrentar as práticas

estabelecidas e colocar-se diante delas com olhar crítico e questionador. Alicerçando

em um discurso lógico e referendado na literatura mais avançada, essa tendência

pretende ser séria e verdadeira, todavia, o que se constata é uma total falta de

objetividade e de clareza no texto da norma, a ponto de não viabilizar, na prática, a

sua execução, como exemplifica o professor A. A. Andery em relação a um código de

ética da área da saúde,

" ... devemos ater-nos á maior cientifieidade possível nas nossas atividades

profissionais; ao maior rigor técnico científico; devemos esforçarnos por

escolher as práticas mais honestas, as mais eficazes possíveis; as mais

respeitosas para com o ser humano. Devemos humanizarão máximo as

relações profissional-cliente ... "

O que podemos entender como maior rigor científico. Em que consiste humanizar as

relações profissionais? O que é possível exigir do profissional? Responder essas

questões é uma missão difícil, senão impossível. Na impossibilidade de saber o que

exigir, acaba-se exigindo o mínimo, questionando pouco e não proporcionando as

mudanças necessárias. Assim, resta-nos saberem que essa tendência difere da

anterior? Na nossa avaliação, apenas no aspecto de escamotear a verdade. Pois,

além de legitimar o comportamento habitual ela se apresenta como diferente, como

estando comprometida com os princípios de justiça e honestidade e isto serve para

desarticular os possíveis focos de inconformismo, de crítica e de confronto que

poderiam proporcionar o salto.

A terceira tendência não chega, ainda, a ter grande repercussão e apresenta-se como

uma ensaiar raticente e desconfiado. A mesma consiste em uma tentativa real de

avaliação dos códigos elaborados e da prática cotidiana dos profissionais, tendo em

vista verificar os seus méritos e os seus defeitos a fim de sugerir as alterações

Page 22: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

21

necessárias. Esse processo de análise parte do princípio que não existem verdades

absolutas, nem mesmo no campo da ciência, pois também ela é um fazer humano

comprometido ou, no mínimo, permeado pela subjetividade. Sua preocupação não é

fazer da norma um escudo para o profissional e sim um instrumento paro o exercício

correio da profissão e da descoberta da verdade. Com esse fim, busca entender o

exercício profissional nas suas relações sociais e econômicas, desvelar o seu vínculo

com o poder instituído, bem como entender até que ponto essa prática está servindo

para a manutenção das relações sociais de manipulação.

É fácil entender que essa terceira orientação deveria ser aquela seguida por todas as

éticas profissionais. Porém, longe de ser, ainda é atacada pelo poder constituído,

pelas lideranças conservadoras e pelos seus pares. Isto porque, ela acena com a

desarticulação da moral instituída e com o advento de uma moral instituinte, elaborada

a partir das relações sociais de trabalho e das condições histórico-sociais e da

consciência dos indivíduos. Tal passagem só é possível quando se admite viver a

contradição, quando se permite viver a crise, pois só assim será possível realizar uma

revisão nos valores tradicionais e, se preciso, construir novos valores.

Como a nossa prática consiste em seguir fórmulas prontas e códigos morais

cristalizados, podemos dizer que a maioria dos tratados de deveres seguidos pelas

categorias profissionais são apenas normas de administração do mercado de trabalho

e não possuem um caráter verdadeiramente ético, deontológico.

Page 23: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

22

5 - COMO OS CÓDIGOS DE ÉTICA PROFISSIONAL DEVERIAM SER

Não propomos, aqui, dar nenhuma receita ou colocar princípios que devam ser

seguidos dogmaticamente: ao contrário, nossa intenção é continuar no caminho da

reflexão. Para tanto, levantaremos alguns pontos que julgamos servirá continuação

desse caminhar. Neste sentido, alguns questionamentos básicos se impõem: porque,

apesar do imenso poder que o homem moderno conquistou, ele não se apresenta

como um ser feliz? O que explica a tendência, cada vez maior, dos homens irem de

encontro aos valores estabelecidos? Em que se balizam os valores morais da

modernidade?

A primeira pergunta julgamos ser possível responder, entre outros argumentos, pela

situação de transitoriedade em que o homem se instalou. Diria Karel Kosik:

"vive-se uma insaciabilidade absoluta que transforma os homens, as coisas,

os valores em simples objetos passageiros e estados provisórios, sem

significado próprio interior".

Esta situação não se caracteriza como ausência de valores e sim como o advento de

uma nova concepção, onde foram deixados de lado alguns "universais concretos" do

campo político e social e escolhidos outros. Esta substituição fez do homem moderno

um ser insatisfeito e em contínua busca, vivendo uma vida sem sentido no plano do

ser, pois elegeu o ter como a meta prioritária. Além disto, ele vive uma inversão entre

os meios e os fins e não consegue identificar a verdadeira felicidade.

No que diz respeito á insatisfação coletiva com os valores estabelecidos, nota-se uma

recusa a aceitar as bases absolutistas, racionalistas e dogmáticas em que eles se

articulam, uma vez que elas produzem valores meramente moralistas, baseados na

obrigação e na obediência á lei. Valores que, em observância aos interesses sócio-

econômicos, reprimem, neurotizam e levam a condutas aberrantes e até

contraditórias.

Como registra Pierre Weil em nome da paz se faz a guerra, em nome da desigualdade

combatem os orgulhosos, em nome do amor, criticam os que se mostram insensíveis.

Page 24: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

23

A última questão que se coloca é: em que os valores da modernidade se balizam?

Diríamos que no interesse econômico e político, ou seja, em aspectos da realidade

deixando de lado a totalidade e o ser humano enquanto agente e fim da moralidade.

Procedendo na prática a ideia de que os fins justificam os meios, ou que meios e fins

se adequam racionalmente. Estes são de fato dois grandes equívocos. Moralmente

falando, os fins não justificam os meios e estes últimos não podem estar em

desacordo com a meta prevista. Se partimos do princípio que a prática moralmente

correta é aquela que visa o bem para o maior número de indivíduos, os carninhos a

serem seguidos também devem ser bons e moralmente corretos. Certamente este é

um grande problema na sociedade moderna onde são estimulados a competição, o

individualismo e o egoísmo, a ponto de cada um visar apenas a realização dos seus

objetivos usando para isto qualquer método.

A infelicidade, a desarmonia, a inversão dos valores, entre outros, exigem uma

avaliação nas bases morais que orientam as condutas nas sociedades em geral, e as

profissionais, em específico. Os homens anseiam por uma certa estabilidade nos

valores e algo em que se possa confiar e nisto se frustram, pois perderam o referencial

de alguns elementos aglutinadores e escapatórios, como a fé. Como a razão não tem

dado conta dessa exigência, acabam caindo num niilismo, numa falta de sentido que

possa motivar a vida.

Desse modo, de nada adianta querer mudar esse quadro conservando as bases e os

caminhos que o criaram. É preciso romper com essa ética imposta pelos interesses

sócio-econômicos e usar as lições do passado apenas como meio de entendê-la, para

reescrevê-la a partir dos seres humanos e para os seres humanos, mudando a nossa

prática pedagógica baseada na manipulação e na repressão por um exercício

verdadeiramente educacional, voltado para a orientação das novas gerações, sem

anulá-las. Onde cada um possa fazer, com responsabilidades, a sua escolha. Isto

significa uma alteração de base no campo da moralidade, removendo o seu centro da

exterioridade das imposições sociais para a interioridade dos indivíduos, de onde os

valores devem emergir.

Essa reinvenção da ética pressupõe a possibilidade de se aceitar o diferente, ditado

pelas motivações subjetivas as quais devem ser respeitadas, enquanto expressões

de seres livres, dotadas da faculdade de escolher e de criar. O respeito aos valores

individuais não significa a instalação de um mundo onde tudo seja possível; ao

Page 25: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

24

contrário, essa tolerância estaria alicerçada no reconhecimento dos contrários, sem

julgamentos e sem antagonismos. Assim, antes de levar ao conflito e à violência,

admitir o pluralismo é condição de garantia de paz social. O que leva à força, à

pressão e à violência é o culto do único, é a imposição de uma determinada forma de

ser, de viver, de agir e de morrer.

Entende-se, este deve ser o paradigma também das relações de trabalho e da vida

profissional. Respeitando as individualidades, reconduzindo os homens a uma vida

mais humana, onde o culto ao lucro possa ser substituído pelo culto à vida,

contemplação, lazer, etc. e onde o progresso não seja identificado com acumulação

material e sim com uma melhor qualidade de vida individual e coletiva. Onde a

humanidade possa utilizar os avanços científicos e tecnológicos, tão ricos na

modernidade, para acabar com a fome, a ignorância e a desigualdade. Onde o Estado

possa servir, de fato, ao progresso humano, assegurando aos homens as suas

condições de existência.

Acredita-se que seguindo essa orientação os códigos de ética profissional

conseguirão dar o salto, passando de meras regras de orientação do mercado, para

uma prática reflexiva e crítica que lhes daria o status deontológico. Uma prática onde

os valores morais fossem endógenos, ou seja, tendo como fonte a interioridade

humana e não como algo imposto de fora para dentro; onde o exercício profissional

fosse comprometido com o homem, com o seu crescimento e a sua realização. Para

isto, os profissionais devem estar atentos aos progressos no campo da ciência e da

tecnologia que possam representar melhoria na qualidade dos serviços prestados ao

próximo, colocando a técnica como importante, porém entendendo-a como auxiliar,

como meio e não como fim. E preciso entender que cada indivíduo é único cliente,

colega, colaborador e tem o seu ritmo próprio, por isso faz-se necessário cultivar a

paciência, deixar que cada um caminhe, se desenvolva e cresça no tempo que lhe for

apropriado, sem a ânsia de fazê-los queimar etapas a fim de adquirir resultados

imediatos.

A verdadeira ética profissional deve, também, facilitar a substituição do egoísmo, do

individualismo e da competição entre os profissionais, por um comportamento amigo

e solidário. Solidariedade que não deve ser interpretada como conivência e

Page 26: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

25

corporativismo e sim como o exercício da verdade que é a única forma de crescimento

individual e coletivo.

Finalmente, se queremos ter uma sociedade mais justa, humana e menos

discriminatória, devemos ver os homens como seres vivos, capazes de pensar e de

criar valores e não como seres que devem ser modelados e manipulados. Partindo

deste princípio, os códigos de ética profissional devem assumir um compromisso de

vida e com a vida; enfrentando as práticas tradicionais e inadequadas e colocandose

abertos ao novo, à revisão constante, pois só assim eles se tornariam verdadeiras

práticas deontológicas e deixariam de ser subterfúgios para práticas desonestas e

comportamentos moralmente inadequados.

Page 27: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

26

6 – CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS DE UMA CONDUTA

ÉTICA

Alguns conceitos são fundamentais para construir o comportamento ético. Sendo

eles:

Altruísmo: a preocupação com os interesses do outro de uma forma

espontânea e positivista.

Moralidade: conjunto de valores que conduzem o comportamento, as

escolhas, decisões e ações.

Virtude: essa característica pode ser definida como a “excelência humana” ou

aquilo que nos faz plenos e autênticos.

Solidariedade: princípios que se aplicados às relações sociais e que orientam

a vivência e convívio em harmonia do indivíduo com os demais.

Consciência: capacidade ou percepção em distinguir o que é certo ou errado

de acordo com as virtudes ou moralidade.

Responsabilidade ética: consenso entre responsabilidade (assumir

Page 28: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

27

consequências dos atos praticados) pessoal e coletiva .

Page 29: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

28

BIBLIOGRAFIA

AGUILAR, F. A ética nas empresas. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.

ALBRECHT, Karl. Inteligência social. São Paulo-SP: M. Books do Brasil Editora

Ltda, 2006.

ALVES, R. Estória de quem gosta de ensinar. 13. ed. São Paulo: Cortez, Autores

Associados, 1989.

ANGEL, Rodrigo Luno. Ética general. 4. ed. Eunsa Ediciones Universid de Navarra:

Editora Casa dos Livros S.A, 2001.

AQUINO, J. G. Do cotidiano escolar, ensaios sobre ética e seus avessos. São

Paulo: Summus, 2000.

ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofa. 2. ed.

São Paulo: Moderna, 1994.

ARANTES, A. A. O que é cultura popular. 14. ed. São Paulo: Brasiliense, 1990.

ARISTÓTELES. Ética a nicômaco. v. II. São Paulo: Nova Cultural, 1991.

ARRUDA, M. C. C.; WHITAKER, M. C.; RAMOS, J. M. R. Fundamentos da ética

empresarial e econômica. São Paulo: Atlas, 2001.

CHAUÍ, M. Convite à filosofia. 5. ed. São Paulo: Editora Ática, 1995.

D‟HONDT, J. Hegel. Filósofo de la história viviente. Buenos Aires: Amorrortu, 1966.

GOLEMAN, Daniel. Trabalhando com a inteligência emocional. Nova York: Bantan

Book, Ed. bras. Rio de Janeiro: Objetiva, 1998.

FOSTER, G. M. As culturas tradicionais e o impacto da tecnologia. 2. ed. Rio de

Janeiro: Fundo de Cultura, 1968.

GARDNER, Howard. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre:

Page 30: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

29

Artes Médicas Sul, 1995. GLOCK, R. S.; GOLDIM, J. R. Ética profissional é compromisso social. v. XLI.

Porto Alegre: Editora da PUCRS, 2003

GONÇALVES, Maria H. B. & WYSE, Nely. Ética & trabalho. Rio de Janeiro-RJ:

Editora Senac Nacional: 1997.

HEIDEGGER, M. Os conceitos fundamentais da metafísica: mundo, finitude,

solidão. Rio de Janeiro: Forense universitária, 2003.

___. Sobre o humanismo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967.

___. Ser e tempo. v. I. Petrópolis: Vozes, 1999.

HERKENHOFF, João Baptista. Direitos Humanos: uma ideia, muitas vozes. 3. ed.

Aparecida (SP): Editora Santuário, 2001.

IBERMAN, F. Formação docente e profissional: forma-se para a mudança e

incerteza. São Paulo: Cortez, 2000.

KANT e PIAGET. In: MACEDO, L. de (Org). Cinco estudos de educação moral.

São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996.

KANT, I. A crítica da razão pura. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

KUNG, H. Projeto de ética mundial. São Paulo: Paulinas, 1993.

MONDIN, J. B. Introdução à filosofia. São Paulo: Paulinas, 1983.

NIETZSCHE, F. O nascimento da tragédia. São Paulo: Companhia das Letras,

2003.

SÁ, A. L. de. Ética profissional. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1998.

SILVA, N. P. Ética, indisciplina & violência nas escolas. Petrópolis-RJ: Vozes,

2004.

STOURT, Martha. Meu vizinho é um sociopata. Tradução de Regina Lyra. Rio de

Janeiro:

Page 31: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

30

GMT Editoras Ltda, Sextante, 1953.

ZAJDSZNAJDER, L. Ser ético no Brasil. Rio de Janeiro: Gryphus, 1999. WALL, Bob. Relacionamentos no trabalho: como usar a inteligência emocional para

melhorar sua eficiência com outras pessoas. São Paulo-SP: Editora Landscape, 2008.

BORNHEIM, Gerd. O sujeito e a norma, in: Ética. S. Paulo: Companhia das Letras,

1992.

GAROUDY, R. Por uma discussão sobre o fundamento moral. In: Moral e sociedade.

Rio de Janeiro: paz e Terra, 1982.

ANDERY, Abib Alberto. Três modalidades de ética profissional. In: A Ética no Mundo

de Hoje. São Paulo: Edições Paulinas, 1985.

KOSIK, Karel. A dialética da moral e a moral da dialética. In: Moral e sociedade. Rio

de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

WEIL, Pierre. A nova ética. Rio de Janeiro: Editora Rosa dos Tempos, 1993.