Click here to load reader
Upload
adson232
View
345
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
OCORRÊNCIA DE TORNADO EM MACAPÁ-AP NO DIA 27 DE FEVEREIRO DE 2006:
ESTUDO DE CASO
João Roberto Pinto Feitosa1 , Edmir dos Santos Jesus2
Alan Cavalcanti da Cunha3, José Elias D’Ávila4
Wilheim André Nazareth Costa5
RESUMO
Apresenta-se um estudo de caso observacional ocorrido na cidade de Macapá-AP, especificamente em uma localidade afastada do centro urbano conhecida como bairro do Marabaixo. A data da ocorrência foi no dia 27 de fevereiro de 2006. Verificou-se que o fenômeno estava associado a uma ocorrência de tornado cuja provável fonte de umidade, resultante de áreas alagadas sob efeito periódicos de marés do rio Amazonas, o qual potencializou-se nessa área úmida adjacente. O evento ocorreu às 10:15HL sobre o qual foi observado formação de super-celulas convectivas, as quais moveram no sentido rio-continente. Houve impacto das super-celulas sobre as variáveis de superfície observadas, principalmente os de pressão atmosférica. A energia potencial disponível convectiva foi calculada e comparada a casos similares da literatura especializada. Concluiu-se que o ambiente do caso em questão poderia ter produzido um número maior de tornados fracos.
ABSTRACT
In this paper is presented a case of study the 27 de February 2006 possible tornado occurrence to Macapá city. The event occur closed 10:15 local time, where was observed concective super cells that moved river–land forward. That convective super cells impact in the meteorological superficie date, especialy on atmospheric pressure. The convective available potencial energy was calculated and compared to other cases documented in the literature. The principal conclusions were based and concerned by registred informations and environmental observations that, in the case, could produce one or more weak tornados. Palavras-chave – tornado, twister, cumulonimbus, super cells, Amapá State 1- Introdução
Os tornados são considerados fenômenos meteorológicos dos mais violentos, principalmente
em virtude do elevado nível de energia envolvido e dimensões espaciais relativamente pequenas.
Em geral os tornados surgem rapidamente, não permitindo a emissão de alarmes para população. A
principal característica do tornado é a formação de uma coluna de ar em aspiral com intensa
velocidade, que normalmente está associada a uma nuvem Cumulonimbus (CB) que toca o solo e 1 2 3 4 Laboratório de Hidrometeorologia – LABHIDRO do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá - IEPA, Rod. JK km 10, Distrito da Fazendinha, Macapá-AP, 68900-260, (96)3227-3330 joã[email protected] , [email protected], [email protected], [email protected] 5 Meteorologista, Estação Meteorológica do Aeroporto de Macapá, INFRAERO, [email protected]
cria movimentos verticais muito intensos de baixo para cima. Como exemplo, Fujita (1981) mostra
uma série de fotografias dos efeitos de tornados nos quais são observados rastros sinuosos no
terrreno onde toca o solo.
Tornados dificilmente são observados ou registradas por estação meteorológica pois estes
são extremamente pontuais. Via de regra a forma mais segura de se detectar e estudar tornados é
através de radar Doppler. Antes do advento do radar Doppler, a maioria dos estudos envolvendo
tornados baseavam-se em observações visuais e em relatos pessoais, uma vez que a reduzida
dimensão, e seu curto tempo de vida, torna difícil outro tipo de registro. Além de ser de difícil
detectção, os tornados também são de difícil previsão, muito embora várias técnicas tenham sido
desenvolvidas no sentido de identificar sinais precursores de tornados nas variáveis atmosféricas e
classificá-los quanto à sua intensidade.
Fujita (1981) introduziu a escala F e esta tem sido muito utilizada para diagnosticar a
intensidade dos eventos de tornados. Segundo Nechet (2002) o tornado pode ocorrer em qualquer
época do ano, mas é mais comum na Primavera (setembro, outubro e novembro, no Hemisfério Sul)
e (março, abril e maio, no Hemisfério Norte) quando a atmosfera, nos níveis superiores, ainda está
fria e o aquecimento, mesmo pouco intenso nessa estação, causam convecção intensa, devido ao
diferencial de temperatura entre a superfície e os níveis superiores.
Diante dos relatos registrados em Macapá, pelos depoimentos e descrição de moradores
residentes próximos ao evento crítico, aos danos causados na área atingida infere-se uma
intensidade aproximada entre F0 e F1, que corresponde na escala Fujita a uma intensidade que varia
de fraca a moderada.
Neste contexto, o objetivo geral desse trabalho foi descrever, em termos observacionais, o
evento tornado ocorrido na cidade de Macapá-AP no dia 27 de fevereiro de 2006.
2- Material e Métodos
Os dados observacionais utilizados neste trabalho foram coletados através de entrevistas de
moradores, registros fotográficos, imagens de satélite e dados horários de superfície da estação
meteorológicas do Aeroporto Internacional de Macapá. Não foi possível utilizar dados de
radiossondagem, uma vez que o sistema instalado no aeroporto estava inoperante. Na tentativa de
obter o perfil da atmosfera foi utilizado um software denominado RAOB, que auxilia na analise e
visualização dos dados do perfil da atmosfera. Esse software permite a visualização da
“radiossondagem média” a partir de dois pontos distintos de radiossondagens, ou seja, é necessário
sondagens em pontos extremos, e o mais próximo possível daquele ponto desejado, bem como as
informações da temperatura do ar da estação mais próxima do evento. Nesse trabalho utilizou-se as
sondagens (9:00HL) de Belém-PA e Caiena-GUY (9:00HL).
3- Resultados e Discussão
A Figura 1 apresentada a seguir corresponde a fotografia aérea da trajetória do tornado. A
primeira imagem mostra grande parte da cidade de Macapá, onde se observa, no lado direito da
imagem, o aglomerado urbano da cidade de Macapá. Outro aspecto importante nessa tomada é a
zona limítrofe costeira entre a cidade e o rio Amazonas. Do lado esquerdo dessa mesma imagem, é
visualizada a trajetória percorrida pelo tornado em amarelo. Vale aqui ressaltar que há áreas
descontínuas (vegetação e urbanização) que provavelmente auxiliaram a formação de pequenos
vórtices (condições favoráveis de superfície). A segunda imagem da Figura 1, mostra com mais
detalhe a trajetória percorrida pelo tornado, situando exatamente a área do início e fim do evento.
As Figuras 2a, 2b, 2c e 2d mostram um conjunto de fotografias registradas pela Defesa Civil
do Estado do Amapá, onde se observa em detalhe a destruição provocada pelo tornado na vegetação
e edificações do bairro de marabaixo. A Figura 01 é bastante expressiva, vez que mostra a dimensão
espacial do evento na vegetação. Já a Figura 02 mostra parcialmente os danos causados pelo
tornado nas edificações.
Figura 01. Imagem aérea do rastro do tornado no bairro de Marabaixo
em Macapá no dia 27/02/2006.
(a)
(b)
(c) (d)
Figura 02. (a) fotografia aérea do rastro de destruição provocada pelo tornado na vegetação, (b) em detalhe fotografia da árvore quebrada pelo tornado, (c) fotografia aérea parcial da destruição provocada pelo tornado nas residências dos moradores do local e (d) sede da Associação de Moradores destruída completamente.
Na Figura 3 é apresentado o diagrama referente à sondagem interpolada das 09:00 HL do
dia 27 de fevereiro de 2006. Vale lembrar que essa sondagem foi uma tentativa de buscar
informações que auxiliessem no entendimento do episódio, vez que não houve sondagem na estação
aerológica de Macapá nesse dia.
O ambiente característico daquele dia associa-se à ocorrência de super-células, apesar de
não necessariamente existirem indicadores de tornado. Os dados de superfície das 10:00 HL na
estação meteorológica de Macapá, que distam cerca de 2 Km do local do evento, indicaram
condições favoráveis para desenvolvimento de células convectivas, com queda de 1,5 hPa na
pressão atmosférica num período de 30 minutos, associada à intensa pancada de chuva de 13 mm e
rajadas de 18m/s, bem como mudança na direção do vento de norte para noroeste. Silva Dias et al
(1991), estudando as condições de ocorrência de tornado em São Paulo, também verificaram
variações da mesma ordem de grandeza das variáveis meteorológicas estudadas nesses casos. Foi
possível observar na radiossondagem, que atmosfera encontrava-se bastante úmida. A energia
potencial convectiva disponível (CAPE) que representa a área entre a adiabática saturada e a curva
da temperatura do ar (traçado contínuo) em vermelho atingiu 1839 J.Kg-1. A simples existência de
CAPE na atmosfera não é condição suficiente para que ocorre a formação de nuvens e precipitação,
visto que há outros fatores envolvidos no processo, os quais podem inibir a formação de nuvens
convectivas, dentre eles o efeito de entranhamento de ar frio e seco nas parcelas em convecção e a
energia de inibição, que deve ser vencida antes que as parcelas flutuantes (Williams & Rennó,
1993).
Figura 03. Sondagem Interpolada para Macapá-AP.
As imagens da Figura 04 mostram a chegada de um sistema convectivo momentos antes
da passagem do tornado pela região do bairro Marabaixo. Os pontos circunscritos revelam o local
exato do evento. Segundo registro e depoimentos de moradores da localidade o evento se deu entre
as 10:00 e 11:00 horas local, como se pode observar nas imagens (c) e (d). Pelo rastro de destruição
deixado, calcula-se que os ventos podem ter atingido valores acima de 30KT ou 15m/s. Como
comparativo, segundo os dados da Estação Meteorológica do Aeroporto Internacional de Macapá,
houve um registro de 35KT ou 17,5m/s neste mesmo horário.
(a) (b)
(c) (d) Fonte: GOES/NASA
Figura 04. Imagens de satélite extraídas no canal infravermelho nos horários de 1230Z (a), 1300Z (b), 1330Z (c) e 1400Z (d) do dia 27 de fevereiro de 2006. Em círculo a cidade de Macapá. 4 – CONCLUSÃO
As observações permitiram concluir que o evento ocorrido no dia 27 de fevereiro de 2006
em Macapá foi em conseqüência de supercélulas, os quais podem persistir por várias horas e se
transformar em um tornado. Os registros fotográficos, bem como as observações de superfície
apresentadas corroboram a hipótese de que houve tal formação e cuja intensidade variou entre fraca
e moderada, classificado na Escala Fujita Tornado de F0 a F1, respectivamente.
5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FUJITA, T.T. Tornadoes and downbursts in the context generalized planetary scales. J. Atmos. Sci., 38(8):1511-1534. 1981
DIAS, M.A. F. S. A possível ocorrência de tornado em São Paulo no dia 26 de abril de 1991: Um Estudo de Caso. Revista Brasileira de Meteorologia, 1991, Vol. 6(2), 513-522. 1991
WILLIAMS, E.; RENNÓ, N. An analysis of the conditional instability of the tropical atmosphere. Monthly Weather Review, Boston, v.121, p.21-36. 1993.
SOUZA, E.P., LEITÃO, M.M.V.B.R., BARBOSA, T.F. Características da atmosfera superior a partir de dados de alta resolução obtidos à superfície. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Vol. 5, n.3. p.463-468. 2001
NECHET, D. Ocorrência de tornados no Brasil. Revista Brasileira de Meteorologia, vol. 29. 2002