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TOXICOLOGIA CLÍNICA: Atendimento Clínico em Emergências
Toxicológicas
Profa. Ana Sílvia Sardinha Ribeiro
ISARH/UFRA
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA
Instituto da Saúde e Produção Animal
Disciplina: Toxicologia Veterinária
Áreas da toxicologia
• Multidisciplinar
• Toxicologia ambiental
• Toxicologia medicamentosa
• Toxicologia ocupacional
• Toxicologia de alimentos
Três focos distintos:
• Toxicologia Clínica: sistema biológico
• Toxicologia Analítica: agente tóxico
• Toxicologia Experimental: efeito adverso
“Desintegrantes endócrinos” Endocrine disruptors”
“Um agente exógeno que interfere na produção, liberação, transporte, metabolismo, ligação, homeostase e regulação do processo de desenvolvimento”
(Pokras - CCM, Tufts University)
Substâncias tóxicas persistentes podem atuar como “desintegradores endócrinos” = efeitos congênitos, câncer, doenças reprodutivas, aumento da susceptibilidade a doenças, cujos mecanismos não são ainda precisamente conhecidos
Efeitos nocivos na reprodução de peixes, aves e anfíbios, répteis e mamíferos, incluindo humanos.
Ex: DDT, BPC (difenilpoliclorados) e dioxinas, etinilestradiol (EE), outros contaminantes Imunossupressão (timo ) infecções virais mortalidade de delfins (Mediterrâneo, Mar do Norte e Atlântico Norte) e de baleias (Báltico e do Norte) infecções por Morbilivírus (até 60%) (Repetto & Baliga, 1996).
Baleias nutrindo-se de arenques contaminados 10x mais organoclorados = resposta imunitária 3 x mais baixas.
Selênio = fontes agrícolas = mortalidade peixes, deformidade e morte em aves e mamíferos piscívoros, fechamento de refúgios de vida silvestre (EUA) (Pokras et al., 2000).
Carrapaticidas Geralmente piretróides = níveis superiores à ingestão diária aceita (IDA) que oscila entre 20 a 50 ug/l leite (Nogueira, 1999).
- 15% das 12 marcas de leite analisadas.
- Absorção pela pele corrente sangüínea 10 a 20% eliminado pelo leite.
Em humanos = excitação das células nervosas, com insônia irritabilidade, dor de cabeça, fotofobia, tremores musculares e redução ou aumento da salivação.
Fatores que modificam a toxicidade animal
• Relacionados com a substância
• Dose
• Estado físico/solução carreadora
- pH
• Relacionados com o animal
• Exposição prévia – tolerância
• Espécie animal
• Tamanho – metabolismo
• Idade
• Sexo
• Estado geral
• Nutrição/dieta
Fatores que modificam a toxicidade animal
FATORES QUE MODIFICAM A TOXICIDADE ANIMAL: Relacionados com o animal
• Exposição prévia – tolerância
• Desensibilização ou taquifilaxia
• Desenvolvimento de tolerância:
•Ex: nicotina em fumantes, morfina em pacientes dependentes, etc.
FATORES QUE MODIFICAM A TOXICIDADE ANIMAL: Relacionados com o animal
• Espécie animal
• Ruminante ou não:
• Mecanismo de proteção – diluição a nível de rúmen e metabolização de xenobióticos
Fatores que modificam a toxicidade animal : Relacionados com o animal
• Tamanho –
metabolismo
• Idade
• Sexo
• Estado geral
• Nutrição/dieta
CONCEITOS
• Urgência
– toda situação onde não haja risco a vida imediatamente
• Ex: fraturas
• Emergência
– toda situação onde haja risco a vida imediatamente
Ex: parada cardiorespiratória e hemorragias
Quando utilizar a conduta de emergência toxicológica?
• Nas intoxicações agudas:
• Exs:
• Hipóxia
• Parada cárdio-respiratória
• Convulsões
• Quadro hemorrágico
PRINCIPAIS CAUSAS DAS INTOXICAÇÕES EM ANIMAIS
• Animais do campo
• Plantas tóxicas e micotoxinas
• Picadas de cobra
- Pesticidas
• Animais urbanos
• Micotoxinas
• Domissanitários
• Carrapaticidas
• Raticidas
• Animais peçonhentos (bufos)
Atendimento Inicial
• 1o contato – por telefone – Procurar identificar o agente tóxico – Orientações:
• Não realizar nenhuma conduta clínica • retirar o animal do local da intoxicação • banho, etc. • Encaminhar p/ clínica ou atendimento profissional local • Instruir o proprietário a trazer material (vômito, rótulo, embalagem,
etc...)
• Atendimento na clínica ou local – Atendimento emergencial
ABC DO CUIDADO EMERGENCIAL
• Vias aéreas
• Respiração
• Cardiovascular (Circulação e consciência)
• Diagnóstico e descontaminação
Fonte: Gfeller, R. W. & Messonier,S. P. Toxicologia e Envenenamentos em Pequenos Animais. São Paulo: Roca, 2006.
A prevenção da continuação da absorção do agente tóxico ingerido, implica na remoção física, retardo da absorção e aceleração da
excreção.
ATENDIMENTO EMERGENCIAL: estabilização dos sinais vitais
• Vias aéreas – perda dos reflexos respiratórios protetores • Murmúrios, estertores - indicativos de perda da via
• Testar reflexo da tosse/deglutição
Tratamento: • posicionados em decúbito lateral esquerdo com a
cabeça levemente estendida ou p/ baixo.
• Desobstrução - sucção
• Intubação endotraqueal ou traqueal
ATENDIMENTO EMERGENCIAL:
Respiração
Tratamento da Insuficiência
• Oxigênio Suplementar – máscaras faciais
• Saco com oxigênio
• Ventilação assistida
• Dispositivos manuais (ambu)
ATENDIMENTO EMERGENCIAL: Respiração
• Tratamento da Hipóxia
• Oxigênio suplementar
• Tratar edema pulmonar:
• Diuréticos e suporte farmacológico inotrópico
• Tratar pneumonia:
• Atb – apenas se houver infecção
• Nebulização/broncodilatadores
ATENDIMENTO EMERGENCIAL: Respiração
• Tratamento do Broncoespasmo
• Administrar oxigênio suplementar
• Broncodilatadores
• Aerossol
• Injeção parenteral
• Atropina na dose de 0,2 a 2mg/kg (broncoespasmo induzido por organofosforados ou carbamatos)
CARDIOVASCULAR
• Avaliação geral
- Freqüência e ritmo do pulso
• Pressão sanguínea
• Coloração das mucosas e o
tempo de preenchimento capilar
- Avaliar se há hipotensão ou
hipertensão
CARDIOVASCULAR
• Importante: • Assegurar acesso venoso
• Retirar amostras de sangue para avaliação inicial
• Monitorar o eletrocardiograma
• Colocar cateter uretral – análise e testes toxicológicos
Produção de urina cão – 1 a 2 mL/Kg/h
gato – 0,5 a 1 mL/kg/h
CONSCIÊNCIA
• Convulsões
- Manter vias aéreas
- Ventilação assistida
- Anticonvulsivantes
• Hipertermia
-Oxigênio suplementar
- Fluidoterapia – manter pressão sanguínea e hidratação
- Resfriamento externo
CONSCIÊNCIA
• Agitação/Hiperatividade
• Manter animal em área c/ pouca luminosidade
- Diazepam (não usar qdo houver intoxicação por simpatomiméticos)
• Manter acesso endovenoso
HIPOTERMIA
• MEDIDAS DE CONTROLE
• Uso de bolsa d`água; • Secador (animais úmidos)
• Infusão intra-venosa de solução salina aquecida
• Alimentação forçada c/ solução salina aquecida
• Jornal
• Mãe artificial
• Obs: oferta de fonte de calor alternativo • Lâmpada, incubadoras, secador.
TRATAMENTOS
• Retirar o animal do local de intoxicação
• Oxigenoterapia
• Absorção dérmica – banho/tosa
• Absorção gastrointestinal
Absorção gastrointestinal
• Provocar emese (carnívoros)
– Apomorfina: dose de 0,5 mg/kg IV ou IM (excitação em gatos) Antagonista: naloxona, 0,04 mg / Kg
– Xilazina: 0,5 mg/kg IV ou IM
– Xarope de ipeca a 7%
• Lavagem gástrica – Uso de substâncias adsorventes: carvão ativado – dose e 1
a 4 g/kg de peso diluído com 10 a 20 ml de sulfato de bário e acrescentar água ate formar liga fluida
TRATAMENTO ESPECÍFICO
• Sulfato de atropina
• 0,5 mg/kg IV ou IM
• Pralidoxima ou 2-PAM- contrathion
• Cães e gatos: 20-50 mg/kg de sol. a 10% - IV ou IM
• Grandes animais: 20-50 mg/kg sol a 20% IV
• Cloreto de doxapran
• Furosemida
LAVAGEM GÁSTRICA
• Vantagens
• Remoção rápida do conteúdo gástrico
• Permite a introdução do carvão ativado dentro do estômago do paciente
• Substâncias cáusticas ou corrosivas são retiradas por meio de um tubo
Normas gerais do tratamento das intoxicações
• Impedir a ingestão de mais veneno
• Providenciar eliminação do veneno ainda não absorvido • Veneno ingerido recentemente
• Veneno ingerido há várias horas
• Tornar inerte as porções que não foram absorvidas
• Combater os sinais graves
• Acelerar a eliminação do veneno já absorvido
Exercício (em dupla) • Sobre intoxicação, responda:
• 1) Por bufotoxina:
• 1.1) Sinais clínicos em cães:
• 1.2) Tratamento
• 2) Por Avermectinas:
• 2.1) Sinais clínicos em cães e gatos
• 2.2) Tratamento
• Entrega: 30/03 – cópia impressa (entregar no Bio-Fauna para a secretária Magda); e por e-mail para o [email protected]
• Obs: Os trabalhos no estilo copiar–colar serão descartados e a dupla perderá ponto.
• Acrescentar bibliografia consultada: livros e artigos científicos.
Intoxicação por bufotoxina
• Mais comum em cães
• Glândulas secretoras de bufotoxinas
• Bufotoxinas – substâncias com ações sobre a função cardíaca
• Compostos ativos: epinefrina, norepinefrina, dopamina, serotonina, bufogeninas, bufotoxinas e bufotenina
• Sinais
• Irritação local
• Sialorréia
• Naúseas
• Vômito
• Excitação (tremor da cabeça)
• Agitação
• Incoordenação motora
• Dispnéia
• Arritmias cardíacas (cianose, fraqueza e colapso)
Tratamento de emergência
• Assegurar vias aéreas
• Oxigênio suplementar
• Acesso venoso
• Controlar convulsões
• Tratar hipertemia e coma, se presente
• Outros tratamentos
• monitore o ECG (propranolol – 1,5 q 5 mg/kg EV)
• Uso de atropina (0,02 A 0,04 mg/kg EV) – freq. Cardíaca inferior a 50 batimentos/min
Intoxicação por avermectinas
• Produtos comerciais – Ivomec, Zimectrin, Eqvalan
• Mecanismo de ação – aumentam a atividade do GABA no SNC dos mamíferos
• Características clínicas em cães
• Anorexia
• Ataxia
• Depressão, vômito, midríase, ptialismo,
• Desorientação, hiperestesia, cambaleio, hiperatividade, rigidez, sonolência, agressividade, convulsões, bradicardia, hipertemia, hipertensão, dificuldade respiratória e cianose
• Características clínicas em gatos
• Ataxia
• Vocalização
• Desorientação
• Demência
• Tremores
• Midríase
• Cegueira aparente
• Andar em círculos
• Bradicardia
• hipotermia
Sintomas clínicos:
• Inchaço, dor à palpação, prostração e aumento dos movimentos respiratórios e cardíacos . A picada na face determina até edema de glote, com insuficiência respiratória.
• Conseqüência, pode sobrevir o choque ou a
gangrena associada a infecção bacteriana secundária, que inviabilizam o animal, obrigando o sacrifício do mesmo, como ocorreu nesse caso.
COMPOSTOS E PRODUTOS QUÍMICOS
DOMÉSTICOS • DESTILADOS DO PETRÓLEO
Hidrocarbonetos, alifáticos, cicloalcanos, hidrocarbonetos aromáticos :
Gasolina, combustível, óleo, solvente, alcatrão, cola, polidor de móveis, tinta, creolina, naftalina.
- Dose letal: 0,5 ml aspirado
- Oral, pele e olhos: sinais sistêmicos.
DESTILADOS DO PETRÓLEO
Identificação:
- Pneumonia, tosse, febre, dispnéia, depressão do SNC, convulsão e edema pulmonar.
Tratamento:
- Oxigenioterapia, repouso.
- Jatos de água detergente / leite ou claras de ovos.
ÁLCOOL Etanol, Metanol e Isopropanol
• Dose letal: 4 a 8 g/Kg.
• Pele e olhos irritação
Identificação: depressão do SNC, mudança no comportamento (excitabilidade), ataxia, hipertermia, parada cardíaca/respiratória
Diagnóstico: dosagem de álcool no sangue.
ÁLCOOL Etanol, Metanol e Isopropanol
Tratamento:
- Suporte respiratório, controle das arritmias, desequilíbrio Ácido-básico, excitação do SNC, hipertermia ;
- Provocar êmese;
- Remoção da substância da pele e mucosas;
- Usar carvão ativado.
ETILENOGLICOL Radiador de carros, fluído de aquecedor, solução
de filmes fotográficos
• Dose letal: 1,5 ml – 6,6 ml/Kg (Cães e Gatos)
Identificação:
Aparência de embriagues, Insuficiência Cardíaca (24h), falência renal/oligúria (48 a72h), vômito, dor renal, depressão, rim alargado, cristalúria, anorexia, hipotermia, coma e morte.
ETILENOGLICOL Radiador de carros, fluído de aquecedor, solução
de filmes fotográficos
Diagnóstico: azotemia, hipocalcacemia, hiperglicemia, hipercalcemia., hiperfosfatemia, hipocloremia, concentração de bicarbonato de sódio, cristalúria.
Tratamento:
- Provocar êmese; catárticos + carv ativado (até 2 h de exposição); lavagem gástrica.
ETILENOGLICOL Radiador de carros, fluído de aquecedor, solução
de filmes fotográficos
Tratamento:
- Etanol a 20%:
* 5,5 ml/Kg IV 4 x 4h – 5 aplic.- 6x6h-4 aplic. – cão;
* 5,0 ml/Kg IV 6x6h – 5 aplic.-8x8h-4 aplic.-gato.
- Bicarbonato de Sódio: *1 mEq/Kg IV + 3 mEq/Kg (fluidoterapia); furosemida.
ÁCIDOS E CORROSIVOS Clorídrico, sulfúrico, nítrico, fosfórico
• Contato: lesões necróticas, coagulativas, localizadas e dolorosas.
Tratamento:
- Bicarbonato de sódio a 5 % pele; protetores GI; analgésicos.
SABÕES E DETERGENTES Fosfatos, silicatos e carbonatos * Sabão, xampu, detergente de louça e de
máquina de lavar
Baixa toxicidade
*Desinfetantes (amônia)
Alta toxicidade
- Vômito, diarréia, depressão SNC, convulsões.
SABÕES E DETERGENTES Fosfatos, silicatos e carbonatos
Identificação: vômito, diarréia, erosão corneal, hemólise.
Tratamento:
- Sintomático
- Descontaminação dos olhos e da pele.
ALVEJANTES
Hipoclorito de sódio, peróxido de sódio, amônia (água sanitária, desinfetante, desodorizante)
Baixa toxicidade
Identificação: irritação ocular, respiratória, orofaríngea e GI.
Tratamento:
- Leite ou ovos;
- Leite de magnésia – 1 a 15 ml VO.
BASES CAÚSTICAS Soda caústica (hidróxido de NA ou K) **Alta toxicidade.
• Identificação: necrose liquefativa profunda, queimaduras esofágicas.
• Tratamento:
- Vinagre dérmico;
- Endoscopia esofágica (24h)
- 4 claras de ovos – 946 ml água morna;
- Vinagre ou suco de limão 1:4 água VO.
Normas gerais do tratamento das intoxicações
• Impedir a ingestão de mais veneno
• Providenciar eliminação do veneno ainda não absorvido • Veneno ingerido recentemente
• Veneno ingerido há várias horas
• Tornar inerte as porções que não foram absorvidas
• Combater os sinais graves
• Acelerar a eliminação do veneno já absorvido
Importante
• O tratamento depende dos sinais clínicos e da anamnese.
• Uma análise toxicológica implica em vários ensaios, e as vezes é limitada pela quantidade e qualidade da amostra enviada.
O que questionar?
• Endereço do veterinário responsável pelo caso e do proprietário;
• Espécie animal envolvida, raça, sexo, idade e peso; • Nº de animais envolvidos na intoxicação, • Nº de mortes, duração do quadro tóxico em horas ou
dias, • Tipo de manejo e esquema de alimentação, • História clínica das enfermidades anteriores e
vacinação realizada. • Tempo que os animais levaram consumindo a última
alimentação; • Se os animais permanecem no pasto, qual tipo de
pastagem
• Se tiveram acesso a área de maquinaria agrícola, motores velhos,
• Descrição detalhada dos sintomas clínicos;
• Descrição detalhada da lesão pos-mortem, incluindo as OBSERVAÇÕES NEGATIVAS;
• Fundamental saber o tempo transcorrido desde que o animal foi observado pela última vez antes de sua morte e qual era o seu estado geral;
• Se houve administração de algum medicamento – em caso positivo, quanto tempo antes de sua morte ou sintomatologia;
• Se houve uso de pulverizações para tratamento de ectoparasitos.