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Universidade do Algarve Escola Superior de Educação e Comunicação Licenciatura em Educação Social - PL Unidade Curricular de Seminário de Supervisão 3º Ano – 2º Semestre O Educador Social e a Freguesia de Almodôvar Docente: Joaquim do Arco Discente: Ricardo da Palma, nº 43043. Faro e UAlg-ESEC, abril de 2013

Trabalho da UC de Seminário de Supervisão - Comunicação Individual

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Universidade do Algarve

Escola Superior de Educação e Comunicação

Licenciatura em Educação Social - PL

Unidade Curricular de Seminário de Supervisão

3º Ano – 2º Semestre

O Educador Social e a Freguesia de

Almodôvar

Docente:

Joaquim do Arco

Discente:

Ricardo da Palma, nº 43043.

Faro e UAlg-ESEC, abril de 2013

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Seminário de Supervisão A ação do ES - O caso de Almodôvar

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Índice

Introdução .............................................................................................................................. 3

O estudo – que caminhos? ..................................................................................................... 4

Contextualizando – A Educação Social e a teoria ................................................................. 6

Da teoria à prática ....................................................................................................... 9

Considerações finais ............................................................................................................ 14

Referências Bibliográficas .................................................................................................. 18

Anexo .................................................................................................................................. 20

Entrevista A1 ............................................................................................................ 21

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Seminário de Supervisão A ação do ES - O caso de Almodôvar

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Introdução

Enquadrado no conteúdo programático da Unidade Curricular de Seminário de

Supervisão, do 3º ano – 2º semestre da Licenciatura de Educação Social (pós laboral) da Esec-

UAlg, orientada e coordenada pelo professor Joaquim do Arco, o presente trabalho consiste

na elaboração de uma comunicação pessoal fundamentada por um dos temas do contexto de

Práticas. Neste sentido, entendi e senti-me preparado para correr o risco de realizar um

trabalho abordando os fundamentos da Educação Social e do Educador Social enquanto

profissional envolvido num contexto rural, e, neste caso concreto, adequando ao contexto da

Freguesia de Almodôvar.

Pretende-se com este trabalho, contribuir para a concretização definitiva do sentido da

Educação Social (ES) e do que é um Educador Social, o que faz, com quem trabalha, onde

trabalha e quais as suas dinâmicas profissionais, definição esta que teima em se afirmar

perante a sociedade e que não contribui para a sua afirmação social e, logo, no mercado de

trabalho, que pela ausência de uma cultura profissional não ajuda a estreitar os laços de

colegialidade, a racionalizar experiências e a firmar saberes no sentido de uma afirmação

progressiva, de identidade própria e de autonomia. Pretende-se também, após identificar as

áreas e contextos de atuação do Educador Social, enquanto educador, mediador, gestora de

recursos, articulador institucional e promotor participativo comunitário e de desenvolvimento

local, explicitar e demonstrar que contributos pode(ria) trazer um Educador Social à Freguesia

de Almodôvar, adequando a sua intervenção com as mais diversas faixas etárias (crianças,

jovens, adultos, idosos) e nos mais diferentes contextos (sociais, culturais, educativos e

económicos) e mostrar que esta polivalência interventiva favorece a profissão ao nível da

empregabilidade.

Nesta abordagem, propõe-se diagnosticar alguns aspetos fundamentais para o

reconhecimento público e consolidação do Educador Social enquanto profissional ativo e

eficaz, impulsionador das mudanças e da rentabilização dos recursos humanos e dos

equipamentos a nível local e regional, onde a sua ação não pode continuar a ser vista como

uma experiência inacabada e imperfeita e como tal necessita cada vez mais de uma

fundamentação teórico-prática adequada aos desafios que a sociedade lhe coloca. Sendo um

dinamizador de grupos, capaz de lidar com afetos, emoções, angústias, os êxitos e as

desilusões das pessoas, um agente promotor de mudanças e de aproveitamento dos recursos

humanos, materiais e financeiros disponíveis, quer a nível local quer a nível regional, e tem na

educação escolar, educação para a saúde, educação na infância e juventude, autarquias, justiça

e à reeducação o seu campo fértil de intervenção.

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O estudo – que caminhos?

Em qualquer trabalho em ciências sociais é necessário recorrer a métodos, técnicas, e

estratégias específicas consoante o assunto em questão (Albarello, L.; Digneffe, J.; Maroy, C.;

Ruquoy, D. & Saint-Georges, P., 1995). Assim, e sem procedimentos rígidos, uma vez que o

trabalho de investigação no campo é flexível e a metodologia está constantemente a ser

adaptada e redefinida pelo investigador (Burgess, 1997), no processo de efetivação do projeto

de Práticas foi empregue uma das técnicas fundamentais – a observação – que, segundo Bell

(1997) e Pérez Serrano (1994), consideram-na como uma das técnicas mais poderosas. Neste

contexto social, foi aplicada a observação direta, da qual fazem parte, entre outros, os

cadernos de campo, os guias de observação e as notas de campo, (Burgess, 1997; Machado,

2004; Pérez Serrano, 1994), desmultiplicando-se da observação não participante durante os

meses de Setembro, Outubro e Novembro de 2012, com recolha de registos fotográficos e

com a elaboração de notas em cadernos de campo que permitiram registar as caraterísticas

culturais e organizacionais, e participante, através de fóruns auto diagnóstico que se tornaram

desde logo a ação mais concertada, concreta, interativa e que resultaria na técnica com

melhores resultados no que toca à riqueza dos dados recolhidos e onde se apuraram as

opiniões gerias da comunidade bem como certas perceções aos investigadores que

conduziram ao diagnóstico da definição da problemática a ser trabalhada.

Nesta recolha de dados, procurou-se saber como a comunidade da Vila de Almodôvar está

organizada, quer a nível funcional - comércio, equipamentos, infraestruturas, espaço

residencial e lazer e também a nível de ocupação - quem são os habitantes, quem utiliza este

espaço, quem são os líderes e representantes da população, tendo sido realizadas algumas

conversas informais que nos permitiram uma recolha de dados muito significativos e serviram

para aprofundarmos a observação. Estas conversas informais, segundo Duarte (2002), devem

ser utilizadas na fase preliminar da investigação para ajudar às questões pertinentes para o

estudo e sempre que possível devem ser registadas nos cadernos de campo. Outras das

técnicas usadas foram as entrevistas semi-diretivas, as quais efetuadas à Vereadora da Cultura

da Câmara Municipal de Almodôvar, Dra. Sílvia Batista, e ao tutor, Dr. Ricardo Colaço,

Presidente da Junta de Freguesia de Almodôvar, que levaram aos investigadores a explorar

uma informação mais específica, técnica e abrangente sobre este território. A recolha de dados

oficiais através do fornecimento de documentos oficiais e das consultas e pesquisas

documentais sobre a história, cultura, educação, estatística, organigrama institucional;

relatórios anuais, etc., e páginas web, conduziram para a obtenção de dados mais fiáveis e

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ricos, sendo esta a organização metodológica e crítica das práticas de investigação (Almeida

& Pinto, 1982).

Optou-se por efetuar um cruzamento dos dados apurados de forma a serem

confrontados determinados resultados e aferir as suas inferências diretas, ou não, na

comunidade da vila de Almodôvar, sendo, contudo, operacionalizadas as análises resultantes

das observações e conversas informais, fóruns de autodiagnóstico, análise e pesquisa

documental, estatísticas, etc., com a entrevista realizada à Vereadora da Cultura, uma vez que

esta se mostrou mais completa, abrangente, e que despertou algumas curiosidades aquando da

análise. Estes dados, que fundamentam a presente comunicação, reforçando que serão

mencionados os considerados mais pertinentes, citam-se desde já os que se mostraram mais

peculiares e que serviram de ponto de partida para este trabalho: “Almodôvar (vila em si) está

muito bem dotada de serviços e equipamentos, mas a comunidade não adere muito aos

mesmos…”; “…efetivamente existem várias entidades e associações desportivas, culturais e

sociais em Almodôvar, mas a interação esse intercâmbio, ou essa troca de experiências entre

uns e outros, ainda não acontece com regularidade, pode acontecer pontualmente (…) não

existe muito essa…, esse hábito, essa prática (…) há uma retração a esse nível…”; “…às

vezes tínhamos necessidade de uma maior participação (…) o Clas as entidades até vão todas

e as instituições, mas há muito pouca participação ativa” “…a participação das pessoas

sempre foi um problema…, é muito baixa (…)” (E1).

Num claro sentido de Educador Social, onde “traço marcante é, sem dúvida, a

capacidade para saber encontrar e ajudar a percorrer caminhos que vão no sentido do bem-

estar da pessoa e da sociedade” (Cardoso, 2006, p.14), e, numa clara metodologia de

investigação-ação, a qual aplicada ao contexto de práticas, pretende-se com a presente

comunicação expor as caraterísticas culturais, económicas, sociais, relacionais, etc. da

comunidade da vila de Almodôvar, explicitar as suas dinâmicas sociais e justificar a utilização

a vertente da animação comunitária como “ferramenta” fulcral no desenvolvimento do

projeto, onde a motivação do investigador é a base fundamental para o sucesso numa

intervenção comunitária. Esta, deve ter uma perceção o mais real e aprofundado possível do

contexto que irá experimentar, e, não basta saber ou conhecer os princípios da animação,

sendo o lado intrínseco (motivação, vontade, crer, ética, envolvimento pessoal, etc.) do

investigador fundamental para o seu progresso. Rui Fonte (s/d), afirma pelo mesmo padrão na

revista dos animadores, “O destino da animação não depende da origem etimológica.

Depende sim das capacidades e motivações de cada animador” (p.22).

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Contextualizando – A Educação Social e a teoria

Já existente na Europa há alguns anos, a profissão do Educador Social emerge

particularmente valorizada num contexto social marcado pela crise do Estado Providência,

visto que a conceção tradicional dos direitos sociais, ligada à identificação entre solidariedade

e segurança social que o sustenta, tem-se revelado ineficaz para equacionar problemas como a

insegurança laboral, que tende a gerar desemprego, a pobreza e todas as formas de exclusão

que marcam a contemporaneidade (Rosanvallon, 1995, citado por Pires, 2003). Embora na

Freguesia de Almodôvar não sejam muito significativos os valores da exclusão social, da

pobreza, do desemprego, etc., atendendo ao claro dinamismo socioeconómico provocado pela

empresa mineira Somincor, que é um dos polos económicos mais importantes da região

alentejana, e provavelmente do país no que toca a esta atividade, podem surgir fenómenos

futuros resultantes da má gestão dos recursos e gerar alguma agitação em alguns setores do

tecido social, condicionando desse modo, direta ou indiretamente, o desaparecimento desta

empresa mineira, que de uma forma geral baseia a sua atividade na exploração de um recurso

natural – o minério, e logo, o modo de vida das pessoas desta região. É neste campo que a ES

pode ter um papel preponderante neste contexto territorial da vila de Almodôvar, pela

capacidade estratégica de poder ser considerada uma via possível para a melhoria da

qualidade de vida das populações e para a conquista de modos de vida mais sustentáveis. A

ES pode ajudar a promover a melhoria da qualidade de vida das pessoas (desenvolvimento

humano), tendo em conta todas as pessoas (desenvolvimento social) aquelas que vivem hoje e

as que viverão no futuro (desenvolvimento sustentável) e tende a ser, cada vez mais, a nova

ferramenta na promoção do desenvolvimento e crescimento mais sustentáveis, capazes de

suprir as suas necessidades imediatas, de descobrir ou despertar as suas vocações locais e de

desenvolver as suas potencialidades específicas sem comprometer gerações futuras.

Neste campo, o Educador Social, orientado por critérios de competência profissional

baseados em metodologias e técnicas orientadas para uma prática social de intervenção,

corresponde, no entender de Carvalho e Baptista (2004), a um espaço profissional desenhado

entre o cruzamento da área de trabalho social com a área da educação. Neste sentido, a falta

de adesão da comunidade à utilização dos serviços e equipamentos que, efetivamente,

Almodôvar dispõe, a pouca articulação e interação entre entidades e associações e o parco

estímulo ao desenvolvimento participativo é resultado de uma má dinâmica relacional do

campo da educação com a área social. Isto é, antes de se criarem infra-estruturas que, decerto

fundamentais para o desenvolvimento de um local ou de uma região, há que efetuar um

estudo prévio do local, produzir um diagnóstico baseado na realidade social e educar as

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associações e entidades privadas existentes, pô-las em ação e funcionamento como

ferramentas de auxílio às entidades gestoras para que elas próprias cooperem no estimular da

comunidade e na promoção da participação social e para que os recursos sejam valorizados,

contribuindo assim para o bem estar comum.

Atualmente, talvez um dos maiores desafios que se colocam às comunidades é o

desenvolvimento de uma cultura de participação e, segundo Barroso (1998), a participação

comunitária não se pode reduzir apenas a momentos específicos e concretos, antes pelo

contrário, a cultura participativa deverá ser encarada como uma forma de estar na vida em

sociedade e deve ser interiorizada como um processo permanente e que deve promover um

equilíbrio constante entre as diferentes forças ou entre os diferentes intervenientes no

processo social. Cada vez mais a participação é uma responsabilidade repartida por toda a

comunidade e não apenas por uma pessoa, cabendo ao Educador Social intervir positivamente

na vida das pessoas, transformando mentalidades, levando-as a refletir e despertando-as para

que vejam na participação um ponto de viragem e de estratégia nesta época de crise e que tem

funções motivadoras, pedagógicas, sociais, políticas e culturais, uma vez que são as próprias

pessoas da comunidade que melhor conhecem os seus problemas e as mais interessadas em

sair da situação em que se encontram. São essas mesmas as pessoas que, ao refletirem sobre

esses desafios ou problemas que as rodeiam, leva a que se vejam como sujeitos, se valorizem,

se organizem e acima de tudo que ganhem capacidade de espírito crítico e que lhe irão

permitir lutar pelos seus direitos, não somente como um ser adaptado mas sim integrado à

realidade (Freire, 1980). É fundamental capacitar estas pessoas para valorizar o direito de

participar como um dos direitos humanos e de democracia fundamentais, fazendo com que

estimulem o espírito reflexivo e crítico, a vontade e a liberdade de expressão, fazendo-se

ouvir, a capacidade de se organizarem, fazendo valer os seus direitos, e ser entendida como

um meio para atingir vários fins.

A participação das pessoas está intimamente ligada ao processo de conscientização, tal

como foi definido por Paulo Freire (1987) e todos os resultados conseguidos através desta

participação fazem com que as próprias pessoas sintam que é possível transformar a sociedade

que as rodeia e toda a sua realidade social. Esta conscientização, alargando os horizontes e

permitindo que as pessoas enfrentem desafios e os tomem como alavanca de dinamização,

autonomia, capacitação, espírito crítico e reflexivo, etc., irá emancipar esta comunidade e

fazer com que exista uma maior potencialidade e competitividade saudável entre todos,

reforçando as suas próprias capacidades, que irão não só impulsionar como potenciar o

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desenvolvimento, e, obedecendo a uma lógica humanista e de acordo com uma distinção clara

de Paulo Freire (1998) leva a que educação permita contrariar as perspetivas redutoras que

apresentam as pessoas como meros “recursos humanos” ou como meros “beneficiários do

desenvolvimento”, valorizando-as como sujeitos capazes de participar. É nesta dimensão, a

finalidade de estimular e capacitar a comunidade da vila de Almodôvar para uma maior

participação social, política e económica, que foram baseadas as Práticas, tendo como

princípios fundamentais o despertar da participação ativa; da consciência crítica, procurando

desenvolver as capacidades do individuo e da comunidade, fomentando o desenvolvimento

comunitário em prol do bem-estar, de modo a envolver as próprias pessoas da comunidade e

de proporcionar um contributo para a resolução dos problemas existentes.

Embora hoje já bem mais consolidada do que nos seus tempos iniciais, a profissão de

Educador Social revela ainda algumas lacunas ao nível da própria carreira profissional

(característica de uma profissão "nova") e ao nível da interação laboral com as entidades

empregadoras.

Segundo Morin (citado por Carvalho, 2008, p.34)

“…o homem é, um ser complexo porque é um ser biocultural, onde a

dimensão do indivíduo não deixa nunca de se relacionar com a de espécie e

com a de sociedade, mesmo enquanto ser livre para ser um pouco mais

feliz”,

e a Educação acompanha o homem desde o nascimento até à morte e esta deve ser social já

que se processa em diversos contextos desde a família até à comunidade (Ortega, 1999).

Nesta senda, a Educação Social pode ser entendida de diferentes pontos de vista, sendo um

deles visto como didático do social, ou seja, nesta perspetiva, é vista como tendo um papel de

intervenção sócio comunitária face aos problemas existentes na sociedade. O papel do

Educador Social entende-se como a ajuda ao desenvolvimento social dos indivíduos com o

objectivo de este viver correctamente com os aspectos sociais da sua vida a nível pessoal,

comunitário, cívico e político (Quintana, 1944).

Haro, A. (1998), refere que “A Educação Social é orientada para a polivalência de

modo a dar respostas ajustadas e compreensivas aos problemas sociais, e de contribuir para

a sua melhoria”. Seguindo este raciocínio, sendo o Educador Social um exímio mediador de

conflitos e articulador de esforços para promoção da mudança e ir ao encontro do bem estar

social, e, sendo sabido que em Almodôvar não existe uma cultura forte de interações entre

instituições/organizações/associações, as quais funcionam ainda fechadas nas suas 4 paredes,

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é aqui um dos campos férteis da atuação do Educador Social e da aplicação da sua doutrina e

o seu reconhecimento enquanto profissional dependerá não só das dinâmicas sociais como

também da sua postura ética e da qualidade da formação académica e do rigor da sua análise

sobre os problemas e da eficácia, eficiência e efetividade da sua intervenção (Cardoso, 2006).

Já Carvalho e Baptista (2004), indicam que com uma sua formação académica que o

capacita para um trabalho social em rede, integrador, globalizante, versátil e possuidor de uma

inteligência curricular que lhe permite operar numa realidade multifacetada e problemática em

constante mudança, ao educador social é assente também a possibilidade de desenhar

estratégias de intervenção de tipo sistémico, pedagogicamente diferenciadas e interactivas (p.

84). Contudo, e segundo Diaz (2006), é pela Educação Social que o Educador Social a

adquire competências sociais capazes, “…na medida em que é uma acção educativa que

procura que os indivíduos pertencentes a uma determinada sociedade se formem e adquiram

as habilidades e competências sociais, consideradas necessárias para alcançar a integração

social” (p. 100).

Da teoria à prática

Desde logo que o crer, a identificação e a paixão por esta comunidade se mostrou mais

forte que qualquer dos critérios para a realização deste estudo. Isto é, sempre tive uma grande

vontade de estudar e tentar perceber mais de perto a comunidade que me viu nascer e crescer -

quer de dentro para dentro quer de fora para dentro - qual a sua evolução, quais as pessoas que

nela permanecem, quem se identifica com ela, amor ou ódio, etc., sendo esta determinação

superior à forma como o faria, com que meios e modos, com que regras e ferramentas… E

determinei-me à sua realização… Assim, e no enquadramento das disciplinas de Práticas,

propus inicialmente ao meu grupo de trabalho (todos algarvios e que desde logo ficaram

conscientes das deslocações frequentes à Vila de Almodôvar, mas que aceitaram a proposta)

um estudo sobre comunidade de Almodôvar e que a partir daí identificássemos uma

problemática nesta comunidade e traçássemos uma finalidade objetiva e desenvolvêssemos a

partir dela um projeto que produzisse efeitos na mesma e que fosse um propulsor na melhoria

das relações pessoais, sociais e institucionais na comunidade e que levasse ao objetivo comum

do bem estar social. Assim, e tendo como problemática a fraca participação da comunidade de

Almodôvar, e em articulação de ideias com o ora tutor, Ricardo Colaço, Presidente da Junta

de Freguesia de Almodôvar, entidade acolhedora, propôs-se elaborar um projeto de animação

comunitária. Num claro conceito de animação enquanto entendida como sinónimo de vida, de

movimento, de atividade, de alegria, de interação, de satisfação de necessidades físicas e/ou

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psicológicas, que leve esta mesma comunidade à identificação da sua problemática e, partindo

dela própria, levar as pessoas a participar mais ativamente e positivamente nas ações sociais,

políticas e económicas, elaborando um conjunto de atividades interdisciplinares e realizadas

em diversas áreas com a finalidade de contribuir para a melhoria da qualidade de vida de

pessoas e grupos, bem como levar ao reconhecimento das mesmas dos recursos existentes,

serviços e equipamentos, enfim, que promovessem uma maior valorização e identificação

com e deste território. Partindo do princípio de que a animação comunitária se destina

essencialmente a pessoas que querem e podem ter uma voz ativa na comunidade, esta conduz

a que cada pessoa participe ativamente no seio da comunidade em que está inserida e se sinta

como elemento válido, ativo e útil.

Para tal, e após início do processo (início de Agosto de 2012) com a mediação efetuada

com o ora tutor, Ricardo Colaço que passou por apresentar ao mesmo os eixos orientadores do

projeto e diagnosticar quais os recursos, disponíveis e utilizáveis, que autonomia, que

materiais, etc., tornou-se desde logo uma iniciativa bem aceite e que despertou bastante

interesse ao tutor, que considerou o projeto como uma mais-valia para a Freguesia e para a

comunidade em geral, tendo este disponibilizado todos os recursos ao alcance da Junta de

Freguesia de Almodôvar (humanos, materiais, físicos e financeiros) bem como os contatos

institucionais que funcionam de forma articulada com a Junta de Freguesia (Escolas,

Bombeiros, GNR, Santa Casa da Misericórdia, Câmara Municipal, etc.) para o pleno

desenvolvimento do projeto, resultando de forma natural a celebração do protocolo entre a

entidade acolhedora - Junta de Freguesia de Almodôvar - e Universidade do Algarve.

Assim, e dotando-nos de autonomia suficiente, quer pela dada desde logo pelo tutor

quer pela boa relação pessoal que disponho com os representantes de algumas instituições

quer com alguns líderes locais, foram desde logo encetados contatos com esses representantes

no sentido de dar a conhecer os objetivos do projeto. Deste modo, e considerando o Educador

Social como um modificador de realidades, que deve assegurar a participação ativa de todos

os cidadãos e sendo estas as pedras basilares do projeto, resultaram no imediato a promoção

de dois fóruns, denominados por fóruns de autodiagnóstico, que como o próprio nome indica

e numa primeira fase serviram como uma das técnicas de recolha de dados (na fase de

diagnóstico). Num primeiro fórum, com um caráter mais institucional, reunimos com

representantes da GNR, dos Bombeiros, das Escolas, do CNO, da Santa Casa da Misericórdia,

da Câmara Municipal e Junta de Freguesia de Almodôvar, com os objetivos de que com

aquela ação, além da recolha de dados que nos auxiliaram na identificação da problemática,

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promovesse por si só o estabelecer de um compromisso entre estas instituições para possíveis

atividades, levando inclusive a toma-las como parceiras, ou apoiantes, do projeto. Num

segundo fórum, mais direcionado para a sociedade civil, associações e comunidade em geral,

definido com os mesmo princípios e objetivos de recolha de dados e de estabelecimento de

parcerias/apoios, foi percetível desde logo alguma hesitação e até desconfiança no que se

propunha, denotando-se inicialmente que se iria ter alguns estrangulamentos, principalmente

no tocante à participação nas atividades, embora não definidas mas que poderiam dali resultar,

o que veio a dar maior consistência à problemática identificada.

Contudo, estes dois fóruns, que pessoalmente foram as atividades que me

proporcionaram mais prazer, não só pelo caráter do objetivo específico a que se propunham

mas também pelo fato de só com aquelas duas ações já se estaria a produzir Educação Social

nesta comunidade, quer pelo fato de se ter promovido dois encontros comunitários,

institucionais ou não, tendo por base a identificação de um problema e que de uma forma

geral veio a contrariar por si só o que a Vereadora da Cultura frisava na entrevista quando

dizia que “…efetivamente existem várias entidades e associações desportivas, culturais e

sociais em Almodôvar, mas a interação esse intercâmbio, ou essa troca de experiências entre

uns e outros, ainda não acontece com regularidade…” e que “…o Clas, as entidades até vão

todas e as instituições, mas há muito pouca participação ativa…”, sendo que “...a

participação das pessoas sempre foi um problema…, é muito baixa”. Ora, tais afirmações,

além de se mostrarem contrárias ao que tínhamos verificado, onde com apenas duas

atividades havia-se conseguido promover o encontro entre a comunidade e instituições para

debate e partilha de ideias, tornando-se ainda mais consistente aquando da apresentação do

projeto a todas a entidades, associações e comunidade em geral, onde se verificou uma grande

adesão, participação e colaboração na definição de objetivos estratégicos do projeto,

estimulando ainda mais o interesse que já existia na sua elaboração e continuação.

Partindo assim das potencialidades encontradas nesta comunidade da vila de Almodôvar

e não nos seus estrangulamentos e da continuação das demais atividades resultantes do

diagnóstico e baseadas na problemática identificada, foi considerada e reconhecida como uma

lacuna social a pouca identificação desta comunidade com as novas tecnologias de

informação e comunicação (TIC). Desse modo, e uma vez que os recursos físicos e materiais

foram disponibilizados para o projeto pela Escola Secundária de Almodôvar, quer no

momento do autodiagnóstico que posteriormente aquando da apresentação e objetivos do

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projeto, sendo os recursos humanos (técnico/formador de informática) desde logo integrados

no projeto, onde o Engº José Gonçalo se disponibilizou a colaborar e assim efetuar as ações

que julgássemos necessárias. Nesta ordem de ideias, foram operacionalizadas datas, horas e

divulgação de uma ação de formação na área das TIC, direcionada para a comunidade sénior

mas aberta ao geral, a qual pelo interesse demonstrado, pela motivação e principalmente pela

vontade e a pedido dos participantes levou desde logo a que esta atividade tivesse

continuidade, o que se veio a verificar. Atualmente já vamos para 3ª formação na área, sendo

que contamos promover cerca de 4 a 5 ações, tendo os meios físicos e materiais inicialmente

cedidos ao dispor do grupo de trabalho por parte da direção da Escola Secundária. Desta

formação, e para gáudio do grupo de trabalho e do formador, onde já se verificam resultados

significativos, atendendo que existiam pessoas que apenas sabiam ligar e desligar o

computador, ir-se-á já obter resultados a curto-médio prazo, tendo as participantes aceite o

desafio proposto pelo grupo e que se prende com uma apresentação final em PowerPoint com

algumas imagens das atividades em que participaram, a qual por elas produzida.

Contudo, foi também identificado pelo grupo de trabalho que não basta só apostar na

formação e no dotar de conhecimentos e competências sobre as novas tecnologias como

veículo de comunicação e dinamização pessoal e social, há que apostar numa base sólida

educativa e que leve a própria comunidade à identificação de certos problemas derivados do

uso da Internet e com ações concretas e concertadas previna algumas utilizações de risco. E

neste campo, promoveu-se uma ação de sensibilização e prevenção quanto ao uso da Internet

e das novas tecnologias de informação comunicação, onde após solicitação de colaboração da

Polícia Judiciária de Faro, na pessoa do Inspetor Ricardo Valadas, se veio a dinamizar uma

palestra sobre os perigos da Internet no auditório do CNO de Almodôvar, a qual com bastante

adesão e que não só pelo tema, teor e capacidade comunicativa do orador, levou a que a

mesma fosse entendida e considerada como uma base preventiva em futuras utilizações das

TIC. Esta atividade serviu não só para dotar competências e conhecimentos aos participantes,

como para aferir, neste caso concreto, que esta comunidade só não usa os equipamentos e

serviços disponíveis na vila de Almodôvar, por não saberem como usa-los, tornando-os

subaproveitados. Não há nada mais gratificante do que ter equipamentos rentabilizados e

utilizáveis e uma comunidade informada, educada, culta e integrada numa sociedade

globalizada e isso faz-se com a educação, com a promoção de formações direcionadas e que

muito pouco custam ao erário público.

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Ainda enquadrado na dimensão socioeducativa da animação comunitária, foi também

projetada uma atividade direcionada para a comunidade sénior, a qual consistiu numa

caminhada seguida de uma palestra sobre o envelhecimento ativo e saudável. Eram objetivos

desta ação reconhecer a importância da atividade física e hábitos saudáveis no processo de

envelhecimento, desenvolver hábitos saudáveis, identificar os benefícios da atividade física,

formular opiniões e ideias sobre o conceito do envelhecimento ativo e saudável e estimular

para o romper de hábitos sedentários. Nesta atividade, apoiada pela Câmara Municipal de

Almodôvar que cedeu o espaço (edifício das piscinas municipais) para ser realizada a palestra,

pelos Bombeiros Municipais de Almodôvar, que acompanharam sempre de perto e até ao fim

da atividade os caminhantes com uma ambulância e dois elementos da corporação, pela GNR

de Almodôvar, que se mostrou sempre disponível para o corte de algumas vias de trânsito,

embora o percurso tenha sido previamente preparado e planeado para que se balizasse às ruas

circundantes da Vila de Almodôvar, quer para não causar quaisquer prejuízos para o trânsito e

para os utentes das vias quer também para não por em perigo as pessoas participantes, pela

Sta. Casa da Misericórdia de Almodôvar com quem foi estabelecido o acordo entre o grupo e

a direção do Lar para a participação dos idosos institucionalizados, onde o grupo assumiu o

compromisso de efetuar o transporte dos idosos com menor mobilidade, transporte este

efetuado com viaturas da entidade acolhedora do Projeto - Junta de Freguesia – e da Sta. Casa

da Misericórdia, tendo este compromisso sido o fator de maior satisfação uma vez que

conseguimos ter a presença de cerca 20 idosos na palestra, que apesar de não terem

capacidade de efetuar a caminhada, mostraram-se bastante agradados com o fato de saírem da

sua zona de conforto, sendo perfeitamente observável a sua alegria e satisfação, e pelos

oradores convidados Maria Esteves e Eduardo Fernandes (Mestres), da Direção Regional de

Educação do Algarve que proporcionaram uma palestra elucidativa, educativa, útil e do

agrado das dezenas de participantes.

Por último, numa dimensão cultural, a atividade articulada com o grupo de práticas de

Alcoutim, resulta do contato efetuado inicialmente e com o objetivo claro de serem

desenvolvidas interações e dinâmicas culturais (cantares alentejanos; gastronomia; produtos

tradicionais locais, artesanato, hábitos e tradições, etc.) e intergeracional entre ambas as

comunidades (Almodôvar e Alcoutim), com vista a criar uma maior aproximação comunitária

entre todos os segmentos populacionais, em todas as suas dimensões, e sensibilizar para um

interior do país cada vez mais desertificado e envelhecido, promovendo assim uma maior

ação relacional entre as populações.

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Seminário de Supervisão A ação do ES - O caso de Almodôvar

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Na mediação, e após apresentação oficial à entidades acolhedoras de ambos os projetos,

Câmara Municipal de Alcoutim e Junta de Freguesia de Almodôvar, foram expostos os

principais objetivos e com um propósito claro de continuar com ações deste tipo e em

articulação com outros concelhos, no sentido de divulgar e promover a cultura local, sendo o

evento encarado pela entidades parceiras como uma via de aproximação cultural, social e

económica entre duas regiões e como uma das formas de promover a participação

comunitária, sendo certo que quando as pessoas se mostram participativos na sua

comunidade, dando assim o seu contributo social, cultural e económico, consideram-se mais

úteis, identificadas, valorizadas e reconhecem mais e melhor os seus territórios. Resultou

também deste intercâmbio cultural o compromisso da Junta de Freguesia de Almodôvar em

realizar no ano de 2014, ou numa outra data a agendar, um encontro sociocultural na vila de

Almodôvar, o qual se irá guiar pelos mesmos princípio orientadores e com os mesmos

propósitos. Nesta articulação de esforços em prol da comunidade e com a comunidade, foram

mediados desde logo os apoios materiais, logísticos e humanos com o Setor da Cultura da

Câmara Municipal de Almodôvar, onde foram disponibilizados quer meios humanos (técnico

informático) para a preparação, produção, divulgação do evento (produção de cartazes,

impressões) e materiais/logísticos, no transporte dos grupos corais de Almodôvar para

Alcoutim (e respetivo motorista) e os encargos daí resultantes (gasóleo, motorista, etc.).

Nesta desenvolvimento do evento, e uma vez que o mesmo se irá realizar em Alcoutim,

foi ainda articulado com a Associação de Solidariedade Social, Cultura, Desporto e Arte dos

Balurcos, localidade do concelho de Alcoutim, que propôs aos dois grupos de projeto

(Almodôvar e Alcoutim) serem o dinamizadores de uma festa tradicional e já com largos anos

de existência daquela localidade, conhecida como a Festa da Maia, sendo o desafio

prontamente atendido. E isto porque, quer pelo fato de se efetuar apenas uma festa/evento

num só local e data (ambos estavam previstos para a data 18 de maio de 2013) quer pelo fator

económico de não acarretar despesas extra à Câmara de Alcoutim com dois eventos por si

apoiados financeiramente, mas também pela boa dinâmica dos grupos ao verificarem

atempadamente que as datas dos eventos coincidiam e que após ser exposto a todas as

entidades e pessoas resultou que fosse efetuado apenas num só local e data.

Considerações finais

Com isto, e em termos de identidade profissional, pretende-se esclarecer quer à

comunidade de Almodôvar envolvida (entidades; organizações e sociedade civil) que os

educadores sociais estão especificamente preparados para desenvolver uma ação educativa em

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Seminário de Supervisão A ação do ES - O caso de Almodôvar

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espaços sociocomunitários, que o seu trabalho é transversal ao de outros trabalhadores sociais,

mostrando uma clara relação híbrida entre as áreas da educação e do social.

Neste sentido, o compromisso que o Educador Social pode(ria) assumir num território

como o da Freguesia de Almodôvar é ajudar a comunidade a desenvolver-se e a capacitar-se

para que apreenda, identifique e valorize a sua realidade, na medida em que tratando-se em

concreto de um território predominantemente rural, e logo aliado aos conceitos de isolamento

e exclusão social, a realidade pode ser concebida enquanto território que comporta diferentes

modos e hábitos de vida, se comparados aos espaços urbanos, pois os ambientes rurais ao

longo da cultura e sociedade humana podem ser vistos como sendo o lugar onde as pessoas

procuram fortalecer laços de amizade e afetos, de respeito e união, mas também onde se

representam as relações de poder expressas pela materialidade ou pelo simbolismo cultural.

O Educador Social é um ator social, um profissional da condição humana preparado

para apoiar pessoas, ou grupos, com dificuldades (educativas, sociais, culturais,) na

concretização das suas aspirações e realizações pessoais que, dadas as suas capacidades

comunicativas, pode funcionar como mediador na promoção da relação entre escola, família,

trabalho, comunidade e instituições. Um dos campos férteis da sua atuação é também o saber

ser o elo de articulação entre instituições que se dedicam às causas sociais, capacitando-as e

impulsionando para que trabalhem em rede e em parceria, podendo desta forma colmatar

lacunas existentes. Em Almodôvar, e existindo bastantes potencialidades no que toca ao

movimento associativo, embora com algum desinteresse para o coletivo e para o trabalho em

conjunto, a existência de um Educador Social, no setor público ou no setor privado, que

permitisse e promovessem uma maior interação entre todos os agentes comunitários iria

proporcionar um maior grau relacional entre todos, cooperação e partilha de esforços. Até no

momento de crise que o país e o mundo atravessam, o despertar de consciências para estas

interações sociais, dinamizadas por um Educador Social, ajudaria a proporcionar e a elevar o

conceito de solidariedade, voluntariado e entreajuda, criando uma maior proximidade entre as

pessoas. É nas alturas de crise (política, económica e principalmente social) que os países

atravessam que as populações mais se devem apoiar e unir como forma estratégica de

contribuir para o seu desenvolvimento e que as pessoas se apoiem mais, mostrem união e

solidariedade, e a ES baseando as suas (principais) dimensões no plano do conhecimento, que

lhe permite ter capacidades para entender os fenómenos sociais; no plano de ação, criando

atividades e envolvimento nas pessoas, dando-lhes sentimentos de autoconfiança e

capacitando-as para enfrentarem os seus problemas; e no plano da relação, com intenção de

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intervir positivamente na vida das pessoas, procurando influenciar o seu percurso de

desenvolvimento e promovendo a interação e convivência entre todos, gerando melhorias nas

relações sociais e promovendo o bem estar social. O Educador Social, enquanto profissional

competente, exerce um trabalho que não basta apenas saber fazer, mas gostar de fazer, sendo

indispensáveis as motivações, a empatia, o compromisso com a mudança e o crescimento

pessoal e, como tal, torna-se essencial conhecer as suas aptidões e capacidades bem como as

suas limitações que levem a uma maior identidade, atendendo que cada Educador Social tem

o seus métodos, técnicas e estilo pessoal e único em saber e em fazer e que com isso leve à

superação das dificuldades.

O Projeto “Lado a Lado”, tratando-se de um projeto com um cariz muito institucional,

onde sem as instituições envolvidas não seriam possível realiza-lo, e não obstante da relação

próxima que mantenho com as entidades que as representam bem como as pessoas desta

comunidade, todas as atividades realizadas e as ainda projetadas foram mediadas oficiosa e

oficialmente entre a entidade acolhedora e as mesmas, mostrando não só que um Educador

Social, embora tido como um especialista de mãos vazias é um exímio mediador, sem falsos

pretextos, sem receitas miraculosas, mas com dedicação, profissionalismo e sentido ético, que

deve ser respeitado e que, obviamente, não tem soluções imediatas para a pluralidade de

problemas que encontra mas, estando especialmente capacitado para trabalhar no âmbito de

uma educação não formal, pode, com projetos educativos dinâmicos, promover a intervenção

entre a escola e as famílias, impulsionar atividades de tempos livres, etc., e, no entanto,

apoiado num saber profissional próprio, dispõe-se ajudar as pessoas e comunidades a dar-lhes

o empowerment, promovendo a satisfação de competências pessoais e capacitando para a

autonomia, autorrealização e autoestima; promovendo o desenvolvimento das relações sociais

e capacitando para o associativismo e para organizações sociais coletivas e formando

capacidades que promovam a coparticipação dos membros da comunidade de Almodôvar para

que se unam, se tornem mais coesos e que promova a ação com vista à transformação das suas

condições de vida para um mundo melhor, mais igualitário e equitativo.

Em género de conclusão, e pela presente comunicação e que serve de súmula ao

conteúdo do projeto, acredito que um Educador Social seria útil na comunidade de

Almodôvar, onde seria o promotor de uma maior articulação de entidades-pessoas-

associações-comunidade, locais e extra-locais, um impulsionador da identificação e

valorização do território por parte dos seus habitantes, um dinamizador cultural que estimula

o gosto pela cultura local e pela sua divulgação como forma de desenvolvimento local e um

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Seminário de Supervisão A ação do ES - O caso de Almodôvar

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promotor da valorização de recursos e propulsor para as suas utilizações e

sobreaproveitamentos e um educador interventivo que leve à participação da comunidade em

ações sociais, políticas, culturais, educativas e económicas.

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Seminário de Supervisão A ação do ES - O caso de Almodôvar

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ANEXO

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Entrevista A1

1. Dados

Drª

Sílvia

Batista

Junta de

Freguesia de

Almodôvar

17-11-2012 11H58 Ricardo da Palma 01:33´12