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Terceirização Ano 3 Número 12 | Recife(PE), maio/junho de 2013 Jornal Bimestral do Ministério do Trabalho em Pernambuco 8 Restaurantes são acionados na justiça Celpe é condenada 6 Trabalho Infantil: do lar às casas de farinha 3 Sindicatos cobravam taxas irregularmente 4 ilícita

Trabalho em foco

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Jornal bimestral do Ministério Público do Trabalho - Edição maio/junho de 2013

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Terceirização

Ano 3 Número 12 | Recife(PE), maio/junho de 2013Jornal Bimestral do Ministério do Trabalho em Pernambuco

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Restaurantes são acionados na justiça

Celpe é condenada

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Trabalho Infantil: do lar às casas de farinha

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Sindicatos cobravam taxas irregularmente

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ilícita

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Trabalho em Foco - maio/junho 2013

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Procurador-chefeJosé Laízio Pinto Júnior

Procurador-chefe substitutoPedro Luiz Gonçalves Serafim da Silva

Procuradores Regionais do TrabalhoWaldir de Andrade Bitu Filho; Aluísio Aldo da Silva Júnior ; José Janguiê Bezerra Diniz;

Maria Angela Lobo Gomes; Elizabeth Veiga Chaves

Procuradores do TrabalhoJorge Renato Montandon Saraiva; Melícia Alves de Carvalho Mesel; Débora Tito Farias;

Adriana Freitas Evangelista Gondim; Leonardo Osório Mendonça; Janine Rego de Miranda; Chafic Krauss Daher; Lorena Pessoa Bravo; Marcelo Crisanto Souto Maior;

Vanessa Patriota da Fonseca; Jailda Eulídia da Silva Pinto; Maria Roberta Melo; Komuro da Rocha (Caruaru); Ulisses Dias de Carvalho

Chefe de GabineteWalquíria Mendes de Andrade Santos

Assessoria de ComunicaçãoMariana Banja

jornalista (DRT/PE - 4345)

Redação e ediçãoMariana Banja

Laís Reis – estagiária

Projeto gráfico e diagramaçãoLeopoldina Mariz Lócio

Fotografia - Arquivo MPTImpressão - MXM Gráfica

Endereços e contatosRecife

Rua Quarenta e Oito, 600Espinheiro | 81 2101 3200

Caruaru Rua Rádio Clube de Pernambuco, 47

Maurício de Nassau | 81 3721 4336

PetrolinaAvenida Gilberto Freire, s/nVila Mocó | 87 3861 6864

CURTAS

Projeto do MPT para melhoria das condições de trabalho de motoristas e cobradores da Região Metropolitana do Recife foi selecionado para concorrer ao Prêmio Innovare de práticas inovadoras no mundo jurídico. É a 10ª edição da premiação que ocorre nacionalmente. O MPT concorre na categoria Mi-nistério Público com outros quatro projetos. Os vencedores serão conhecidos em dezembro.

O que ecoa das ruasJosé Laízio Pinto Júnior

Procurador-chefe

EDITORIALEDITORIAL

EXPEDIENTE

www.prt6.mpt.gov.brwww.twitter.com/mpt_pernambuco

www.facebook.com/mpt.br

Trabalho em Foco | Ano 3 Nº 12 - MPT em Pernambuco

O MPT mediou negociação para acordo de convenção coletiva entre o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros no Estado (Urbana) e o dos Trabalhadores, por meio do procu-rador Regional do Trabalho Aluísio Aldo Júnior. Sem acordo, os funcionários iniciaram movimento paredista. Em audiência no TRT6, para decidir os rumos da greve, o procurador-chefe do MPT, José Laízio, emitiu parecer no julgamento do dissídio.

Innovare Rodoviários

Grandes mudanças não são feitas individualmente pelas pessoas, pelas instituições. É preciso união em torno de objetivos, a fim de que os problemas sejam enfrentados e de que a realidade em nossa volta se altere. Precisamos nos manter juntos, estabelecer parcerias e termos foco, para que encontremos, sempre, o melhor caminho a seguir. É nesse intuito que estamos procurando estreitar as relações institucionais com os órgãos com os quais possamos ter/manter um trabalho conjunto.

A Justiça do Trabalho, o Ministério do Trabalho, por sua Superintendência Regional e suas Gerências, o Ministério Pú-blico Federal, o Ministério Público do Estado de Pernambuco, a Advocacia da União, entre outras, são algumas das insti-tuições que, por sua relevância e pela missão que possuem, as tornam parceiras de primeira hora do Ministério Público do Trabalho, razão pela qual estaremos empenhados no aprofundamento dessas relações.

Uma palavra sobre os protestos vistos em todo o país. Eles traduzem um pouco da força da união em torno de objetivos comuns, a que nos reportamos. É com satisfação e uma certa dose de preocupação que vemos esses movimentos, largamen-te compostos por jovens estudantes e trabalhadores. Eles transportaram do mundo virtual das redes sociais para o real das ruas toda a insatisfação acumulada e realizaram os maiores protestos do país desde o impeachment presidencial, em 1992. Claro que a pauta de reivindicações é extensa e diversa, englobando desde a tarifa zero no transporte público, passando por melhores condições de saúde e educação, maior controle dos gastos com a Copa do Mundo e pela Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 37, esta, aliás, derrubada sob fogo cerrado da pressão popular.

Contudo, chamou-nos a atenção a marginalização dos partidos políticos e dos sindicatos pelos manifestantes, ambos re-chaçados durante alguns atos. Os cidadãos e os trabalhadores pareciam não se achar identificados/representados por eles.

Que as lideranças dessas instâncias ouçam o grito que ecoa nas ruas e promovam as necessárias e urgentes reformas recla-madas pelos cidadãos e pelos trabalhadores.

Errata - Na página 6, na matéria sobre as audiências públicas em Petrolina, onde se lê ‘discutiram-se’ trocar por ‘se discutiu’. Na página 7, incluir sinal de crase em ‘novas regras visam a segurança’. A ilustração da capa da edição anterior é de autoria de Cyrano Vital.

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Sindicatos são acionados por cobrança indevida

O Ministério Público do Trabalho (MPT) em Per-nambuco abriu procedimentos investigatórios de-pois de receber denúncias de supostas irregularida-des cometidas por Israel Domiciano da Silva, então presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias, Pesada e do Mobiliário de Jaboatão dos Guararapes, Zona da Mata e Litoral Sul (Sintrain-com). O mesmo aconteceu com o Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivos Intermu-nicipais e Interestaduais Rodoviários de Turismo, Fretamento, Escolares Alternativos, Hospitalar e Si-milares no Recife Metropolitano e Região Mata Sul e Norte de Pernambuco (Sintranstur).

No primeiro caso, as denúncias diziam respeito a ili-citudes quanto à elaboração de atas de assembleias inexistentes, a fraudes no recolhimento de contri-buições sindicais, entre outras de caráter administra-tivo-financeiro. Procedendo com as investigações e atestando a veracidade das acusações, o MPT tentou entrar em acordo com as partes, mas não obteve su-cesso. Frente à necessidade de serem regularizadas as condutas, o órgão decidiu ajuizar ação civil pública contra o Sintraincom e contra o presidente em exer-cício, Israel da Silva.

No dia 17 de junho, a Justiça do Trabalho jul-gou procedentes parte dos pedidos feitos pelo MPT. Pela sentença, o presidente Israel da Sil-va deve ser destituído do cargo, ficando inelegí-vel a qualquer emprego ou cargo administrati-vo no Sintraincom pelo período de cinco anos.Os réus também devem se abster de receber men-salidade sindical de trabalhadores que não tenham autorizado tal desconto e de receber imposto ou contribuição sindical diretamente dos empregados ou empregadores. Foi imputada multa de mil reais

Trabalhadores estavam sendo lesados

por cada uma das obrigações acima descumpridas, todas reversíveis ao Fundo de Amparo ao Traba-lhador (FAT).

No caso do Sintranstur, as denúncias versavam sobre as taxas associativas, confederativas e assis-tenciais cobradas irregularmente. O sindicato era acusado de, junto ao Sindicato do Transporte Es-colar de Pernambuco, haver editado a Convenção Coletiva do Trabalho para descontar 1% ao mês dos salários para a contribuição confederativa de todos os trabalhadores da categoria, mesmo da-queles não associados ao sindicato.

Pela decisão da justiça, ficou determinado que o sindicato cessasse a cobrança das contribui-ções associativa, assistencial, confederativa ou quaisquer outras equivalentes dos trabalhadores não-sindicalizados, estando sujeito à multa de mil reais por cada mês de desconto, por traba-lhador prejudicado e por tipo de cobrança reali-zada; não firmasse acordo ou convenção coletiva de trabalho cujo teor se refira a contribuições sindicais de não-associados, sob pena de multa no valor de R$ 300 mil; publicasse texto infor-mando da decisão judicial em todos os boletins impressos destinados à categoria, sob pena de mul-ta de R$ 50 mil; fizesse a mesma publicação em dois jornais de grande circulação, podendo pagar R$ 10 mil por dia em caso de descumprimento.

A título de dano moral coletivo, a justiça acatou pedido do MPT em condenar Israel da Silva ao pagamento de R$ 100 mil, reversíveis ao FAT. Quanto ao Sintranstur, a multa de meio mi-lhão requerida pelo órgão ainda será avalia-da pela justiça.

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Atendendo ao pedido do Ministério Público do Trabalho (MPT) em Pernambuco, a 2ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 6ª Região condenou, em julho, a Companhia Energética de Pernam-buco (Celpe) por terceirização ilícita. Além de perda salarial e jorna-da exaustiva, a prática tem acarretado ao longo dos anos a elevação dos índices de acidente de trabalho graves e fatais, motivo pelo qual o TRT imputou multa de R$ 2 milhões de reais por dano moral coletivo.

A decisão judicial do tribunal foi em face de ação civil pública movida pelo MPT em novembro de 2011, de autoria da procuradora do Trabalho Vanessa Patriota da Fonseca. A ação havia sido julgada procedente em primeira instân-cia, tendo a Celpe recorrido.

De acordo com a decisão, a Celpe terá que registrar todos os empregados ili-citamente contratados por meio de empresas interpostas, com data retroativa ao início de suas atividades na empresa; pagar as diferenças salariais e recolher Fundo de Garantia por Tempo de Serviço e contribuição previdenciária de-correntes do registro; regularizar o meio ambiente de trabalho abstendo-se de substituir eletricista por ajudante de eletricista; fornecer equipamento de prote-ção individual (EPI) adequados; respeitar a jornada máxima permitida por lei.

A ação do MPT foi amparada por relatório da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego que demonstrou que após a privatização da empresa foi acentuado o processo de contratação de trabalhadores, inclusive eletricistas, por empresas terceirizadas para realizarem serviços essenciais e permanentes da empresa.

Entre os anos 1997 e 2010, enquanto a Celpe empresa expandiu a rede de usuários, saindo de menos de dois milhões para o atendimento de mais de 3,1 milhões de consumidores, o número de empregados diretamente contratados por ela passou de 3.970 (1997) para 1.796 (2010). Já a quantidade de “terceiri-

zados” foi quase triplicada entre 2000 e 2010, passando de 1.900 para 5.498. Entre os que trabalham diretamente no sistema de distribui-ção de energia elétrica, exercendo a função de eletricista (1.994), ou ajudante de eletricista (513), apenas 385 são diretamente con-tratados pela companhia como empregados, representando cerca

de 15% do total.

Ficou comprovado que a Celpe estabelece meta de produtividade até mes-mo para os eletricistas, que desenvolvem atividade perigosa. Essas metas são difíceis de serem atingidas, o que aumenta a pressão em cima dos tra-balhadores. “A pressa faz com que o trabalhador se descuide em relação aos procedimentos de segurança aumentando o risco da atividade e a situação se agrava pela fadiga, pois os eletricistas precisam percorrer grandes distân-cias, subir em postes e escadas, quer chova quer faça sol, com a utilização de pesados EPI, e laborando com jornadas excessivas, até mesmo exausti-vas”, disse Vanessa. A análise dos registros eletrônicos do banco de dados da concessionária demonstrou os excessos de jornadas dos eletricistas.

Ainda foi constatada a substituição ilegal de eletricista por ajudante de eletri-cista, a ausência de treinamento para vários trabalhadores e a existência de ele-tricista até mesmo analfabeto, o que é proibido por norma regulamentadora do Ministério do Trabalho.

Empresa deverá pagar R$ 2

milhões de dano moral coletivo

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Justiça condena Celpe por terceirização ilícita

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CAPA

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Foi no ano de 1989 que Ednaldo Vasconcelos* in-gressou na Celpe como empregado. Em 12 anos de

empresa, trabalhou como técnico de manu-tenção e de construção até virar eletricista. Atualmente, é funcionário terceirizado da companhia, enquadrado como técnico.

Trabalha no combate às fraudes de con-sumo, em outras palavras, à ligação clandestina.

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Ele, assim como muitos, deixou a empresa em 2001, logo após a privatização. “Sabe como é, o cli-ma não ficou muito bom. Acabei saindo. Tentei outras coisas, que deram errado. Voltei ao ramo em 2008, pela situação que apertou. Na verdade, é o que eu estudei, é o que eu gosto de fazer”, conta.

“Salvo pela mão de Deus”, como ele mesmo diz, pois sobreviveu a uma queda a 12 metros do chão, quando ainda trabalhava pela Celpe, Ed-naldo lembra dos tempos em que era emprega-do da concessionária. “Naquela época, tudo era de primeira. Tinha plano de saúde. Eu ganhava

A análise de dados apresentados pela própria em-presa à fiscalização do trabalho ou extraídos do site da Fundação Coge demonstra que o índice de aci-dentes de trabalho é três vezes maior entre os traba-lhadores contratados por empresas interpostas em relação àqueles diretamente contratados pela Cel-

pe. “Para piorar o quadro, quando se compara a gravidade dos acidentes, resta evidente que os mais graves ocorrem com maior frequência entre os ‘terceirizados’”, disse.

“Embora a contratação dos trabalhadores te-nha sido transferida para outras empresas, a Celpe tem conhecimento de todas as irregularidades por elas praticadas já que controla a jornada de traba-lho dos empregados contratados pelas prestadoras de serviços, diz como os serviços devem ser realiza-dos, interfere na seleção de empregados, determina a dispensa de trabalhadores que não estejam lhe agradando, fornece grande parte dos materiais e equipamentos utilizados pelas empresas etc.”, ex-plicou a procuradora.

bem melhor. Quando eu entrava de férias, dava até para fazer uma festinha. Hoje, é arrocho.”

Sobre o dia a dia, ele fala da tensão que é traba-lhar como polícia. “Eu vou atrás de gente que faz coisa errada, que é crime. Tem hora que a gente sai corrido. É estressante, além de perigoso, por-que eletricidade é sempre um risco silencioso.”

Sempre em alerta ele e o colega, com quem divi-de diariamente as metas de visitação, dizem sem-pre usar os equipamentos de proteção individual. A empresa os fornece. Ao todo, por dia, são oito vistorias. “Tem dia que a gente faz mais”, diz. A jornada de trabalho varia, se estende, mas não é vista no cartão de ponto. É que todo o cartão está por ele pré-assinalado com os horários de entrada, saída e intervalos. É a jornada britânica. Em quatro anos, Ednaldo pretende se aposen-tar. Daqui para lá, vai levando, sabendo que o macacão cinza [uniforme tradicional usado pelos empregados da Celpe e popularmente conheci-dos] não existe mais. Ao menos, por enquanto.

* Ednaldo Vasconcelos é nome fictício usado pela reportagem para preservar o trabalhador

De empregado a terceirizado

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Serviço doméstico é realidade para milhares de crianças

No Brasil, 258 mil realizam a atividade

“Eu tinha doze anos. Cuidava de dois bebês na casa de uma ami-ga da minha cunhada. Trabalhava de manhã, à tarde ia pra escola e à noite eu voltava para o trabalho. Ia pra casa só duas vezes por mês”. O relato de Aline da Silva* é um retrato do Brasil. Uma vida que representa o dia a dia das 258 mil de crianças e adoles-centes que estão empregadas no trabalho doméstico no país. No dia 12 de junho foi lembrado o Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil, que este ano discutiu o assunto. Para lembrar a data, o Ministério Público do Trabalho (MPT) em Pernambuco participou de ações que procuraram alertar a população para a necessidade de erradicação da prática.

Em 2008, por meio da Convenção nº 182 da Organização In-ternacional do Trabalho, o trabalho infantil doméstico foi en-quadrado, junto a outras 89 atividades, como uma das piores formas de trabalho infantil. Este foi o tema central de audiência pública, organizada pelo Fórum Pernambucano de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e realizada na Assembleia Legis-lativa do Estado de Pernambuco. O MPT foi representado pelo procurador do Trabalho Leonardo Osório de Mendonça, atual titular da Coordenadoria de Combate à Exploração do Trabalho de Crianças e Adolescentes (Coordinfância) na regional.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicí-lios, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2011, 15 milhões de crianças laboravam em ambien-te doméstico em todo o mundo. No Brasil, 258 mil ainda podem ser encontradas em atividade.

De acordo com o IBGE, ainda estão expostas ao trabalho mais de um milhão de crianças entre 10 e 14 anos de idade. Somente

em Pernambuco, são 56.878 crianças e adolescentes na mesma situação. Para o procurador Leonardo Osório, os números não importam. “Enquanto houver uma só criança trabalhando ao invés de estar na escola, esse número é elevado. Não estamos aqui falando em diminuição do trabalho infantil, mas de erradi-cação”, afirmou.

Por mais que nas últimas décadas tenha havido uma forte cons-cientização da população brasileira por meio de diversas campa-nhas, tanto nos meios de comunicação quanto nas ruas, ainda é bastante difundida a concepção de que o trabalho infantil não é um problema e sim uma solução diante da situação de miséria e pobreza de algumas famílias.

Em diversos setores ainda persistem os argumentos favoráveis às atividades laborais de crianças e adolescentes, para “mantê-los longe do crime” ou “dignificá-los”. Especialistas alertam para as consequências dessa cultura, que ignora os muitos efeitos noci-vos e o papel de perpetuação da pobreza do trabalho infantil. “O trabalho infantil é a perpetuação da miséria. Toda criança tem que ter oportunidades iguais. Não importa cor, credo ou classe social. Toda pessoa tem o direito”, ressaltou Leonardo.

Atualmente, Aline, já maior de idade, continua trabalhando em casas de família. “Eu perdi a minha infância. Não me lembro tanto de brincar com bonecas como lembro de como é cuidar de criança.”

* Aline da Silva é um nome fictício escolhido para preservar a identidade do entrevistado.

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MPT em Pernambuco: Direito, informação e cidadania

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Fiscalização encontra trabalho infantil em casas de farinha

Casas de farinha em Caetés, cidade na região Agreste de Per-nambuco, firmaram Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o Ministério Público do Trabalho (MPT) para cessar o trabalho infantil e fornecer equipamentos para melhorar as condições la-borais das descascadeiras de mandioca. O acordo foi proposto, após fiscalização em conjunto com a Gerência Regional de Traba-lho e Emprego (GRTE) de Garanhuns. As investigações tiveram início em 17 de abril, quando o MPT recebeu denúncia vinda do Disque 100.

Dentre as cinco unidades visitadas, três delas empregavam crian-ças e adolescentes com idades que variavam de 9 a 17 anos. Também foi constatado que nenhuma das empresas fornecia equipamento de proteção individual para as demais pessoas que descascavam a mandioca.

Pelo documento, as empresas se obrigaram a cessar imediatamen-te o trabalho infantil, a instalar, dentro de três meses, cadeiras com encosto e apoio para as descascadeiras de mandioca e a di-vulgar o teor do TAC entre os funcionários, fixando-o em quadro de avisos da empresa. Caso não cumpra com o pactuado, as casas de farinha estarão sujeitas ao pagamento de multa no valor de mil reais por trabalhador irregular. Todos os eventuais valores ar-recadados serão revertidos ao Fundo de Amparo ao Trabalhador.

Para a procuradora à frente do caso, Maria Roberta Melo Komu-ro da Rocha, a situação encontrada revela o tamanho do desafio de se combater o trabalho infantil. “Estamos diante de um pro-blema essencialmente cultural e econômico. As pessoas aceitam o trabalho infantil como alternativa viável contra a marginalização, e a miséria acaba sendo a justificativa que se faz real diante de um estado que não oferece o básico”, disse.

MPT firmou TAC e afastou 12 crianças da prática

De acordo com Maria Roberta, o MPT tem a pretensão de atu-ar na região em conjunto com a GRTE, no intuito de cessar a prática. “Vamos sentar e articular ações cooperativas junto ao município. O MPT não deixará de atuar nos casos que surgirem, no entanto, é preciso que todos os agentes tenham a compre-ensão de que a questão deve ser tratada como um todo e não pontualmente.”

INTERIOR

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Fraude na quitação dos contratos de trabalho, problemas de jor-nada e revista íntima motivaram o Ministério Público do Tra-balho (MPT) em Pernambuco a entrar na justiça do Trabalho contra empresas do ramo alimentício. Sob o grupo empresarial que administra os restaurantes Gio, Spettus Grill e Skillus e a empresa Boa Vista Comércio de Alimentos LTDA., que opera sob o nome fantasia Camarão & Cia, pesaram denúncias quan-to à quitação dos contratos de trabalho.

Em março de 2011, foi denunciado ao MPT que o Gio não paga-va as horas extras trabalhadas e realizava parte do pagamento dos salários por fora dos contracheques. O MPT apurou que, além não pagamento da rescisão contratual dos empregados – igual-mente observado nos outros dois restaurantes do grupo eco-nômico -, no Gio ainda foram constatadas irregularidades nos pagamentos e jornada dos funcionários e a realização de revista íntima, ilicitude também praticada pelo Spettus.

Em audiência judicial realizada em agosto de 2012, as empresas se recusaram a firmar Termo de Ajuste de Conduta, alegando que a Convenção Coletiva vigente permitia a revista íntima nos funcionários. Ex-trabalhadores das empresas afirmaram em de-poimento que eram obrigados a mostrar a bolsa antes de deixar o local de trabalho. Além disso, as revistas em mulheres eram realizadas por seguranças do sexo masculino.

Na ação, o MPT requereu que o Gio, o Spettus Grill e o Skillus pagassem indenização por dano moral no importe de R$ 500 mil cada um, além das verbas rescisórias cabí-veis ao fim dos contratos de trabalho. Pediu ainda que o Gio e o Spettus Grill cessassem as revistas íntimas, sendo declarada ilegal a cláusula da convenção coletiva da categoria.

Além disso, o MPT reivindicou que o Gio se abstivesse de realizar alterações unilaterais nos contratos de trabalho dos funcionários e reduções salariais; de conceder intervalos intra-jornada; não determinar a prestação de mais de horas extras por dia, pagando as devidas; não reter as gorjetas ou pagamentos realizados pelos clientes pelos serviços presta-dos; não pagar os salários por fora do contra-cheque.

Quanto ao caso do restaurante Camarão & Cia, a apuração do MPT, que contou com a coleta de depoimentos de ex-funcionários da empresa, comprovou a prática de lide simula-da no processo de quitação dos contratos dos empregados, que acabavam financeiramente

Fraude gera ações contra restaurantes

lesados no processo. A lide simulada consiste na simulação de uma reclamação trabalhista entre empregador e empregado pe-rante a justiça do Trabalho.

Ainda ficou constatado que o escritório Lins e Pinto Advocacia, indicado pela empresa para a defesa dos empregados afastados, por diversas vezes defendia as causas em favor de ambas as partes – em alguns, designando até o mesmo advogado. O dinheiro das rescisões, recebido das mãos do advogado, segundo os depoen-tes, também era muito inferior aos valores pleiteados.

Por liminar, ficou determinado pela justiça que a Camarão & Cia deve se abster da prática de lide simulada, não induzindo seus ex-empregados, entre outras coisas, a mover reclamação tra-balhista a fim de receberam suas verbas rescisórias.

A empresa também fica obrigada a efetuar o pagamento das ver-bas de quitação de contrato no prazo legal e observar a correta submissão do respectivo ato de rescisão à homologação do sindi-cato ou ao Ministério do Trabalho e Emprego.

Descumpridas as determinações, se acolhidos os pedidos do MPT, os restaurantes Gio, Spettus Grill e Skillus se vêem obri-gados a pagar multa mensal de dois mil reais por trabalhador encontrado em situação irregular. A Camarão & Cia, por sua vez, fica condenada ao pagamento de multa mensal de cinco mil reais por trabalhador afastado. Todos os valores devem ser rever-tidos ao Fundo de Amparo ao Trabalhador.

Gio, Spettus Grill, Skillus e Camarão e Cia foram denunciados por irregularidades na quitação de contratos

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