Upload
dangthuan
View
225
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 1
Transies para o 'futuro passado':
memrias em disputa e revanchismo na imprensa brasileira
MARIA LUIZA DE CASTRO MUNIZ
Introduo
O presente trabalho, desenvolvido no mbito da dissertao Opinio pblica e
Opinio publicada: representao poltica, Diretas J e a grande imprensa nos
(des)caminhos da abertura, tem por objetivo analisar os posicionamentos da grande
imprensa brasileira, atravs dos jornais O Globo e a Folha de S. Paulo dois dos maiores
jornais em circulao no Brasil atualmente. Por meio da anlise de editoriais publicados
pelos dois veculos impressos foi possvel caracteriz-los em funo de posicionamentos
poltico-ideolgicos e das relaes estabelecidas com o Estado e a sociedade. Este trabalho
centra-se, principalmente, na anlise das opinies publicadas ao longo de todo o ano de
1984 e, de forma auxiliar, na dcada anterior.
As opinies nitidamente contrastantes dos dois jornais em relao s Diretas J!
motivaram inicialmente o recorte temtico. Contudo, os avanos para compreenso da
grande imprensa como ator poltico suas caractersticas histricas, polticas e ideolgicas
, com o avanar da pesquisa, diluram a viso contrastante. primeira vista, nota-se que O
Globo se caracterizava por uma postura mais conservadora, alinhada com o regime militar e
defensor incondicional das condies tuteladas de abertura e transio. J a Folha de S.
Paulo, ao longo de uma dcada (1974-84), segue apresentando uma imagem mais afinada
com os anseios democrticos da sociedade civil, principalmente a partir da reformulao
editorial concebida em meados de 1970 e desenvolvida nos anos seguintes. O jornal da
famlia Frias passou a reforar, progressivamente, uma postura crtica em relao ao regime
e de oposio s manobras de tutela e continusmo impostas durante os governos Geisel e
Figueiredo.
A Campanha Nacional pelas Diretas J fez aguar as diferenas entre as respectivas
linhas editoriais. Enquanto O Globo se opunha mobilizao nacional fazendo uso de uma
srie de argumentos e justificativas em defesa do sistema representativo, a Folha advogava
Bacharel em Histria e Comunicao Social/Jornalismo, mestre em Cincia Poltica, professora do
Centro Universitrio do Distrito Federal (UDF) e pesquisadora assistente da Rede de Economia
Global e Desenvolvimento Sustentvel (REGGEN).
Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 2
em favor da presso popular, fazendo ecoar um unssono desejo pelo voto direto para
escolha do presidente da Repblica. Entretanto, a despeito das dissonncias opinativas,
significativas convergncias despontam como indicativos do iderio liberal que caracteriza
a grande imprensa.
Por meio da perspectiva terica adotada, busco evidenciar a atuao poltico-
ideolgica dos proprietrios da grande imprensa de forma que, num primeiro plano, o carter
liberal da grande imprensa concebido sob a marca da tenso existente entre o liberalismo e
o favor. Ou seja, tendo em vista as elites que conciliam os benefcios de dois universos,
buscando conjugar o prestgio de sustentarem opinies avanadas ditas modernas com
as vantagens do atraso (Rouanet: 1993; 320). Nesse sentido, importante deixar claro que
o contedo reacionrio e autoritrio do liberalismo de nossas elites agrrias, industriais ou
financeiras concebido para alm da simples oposio autoritarismo versus liberalismo, j
que ambos se embolam na constituio da revoluo burguesa1. Tendo em vista uma
suposta unidade bsica do pensamento poltico burgus, a matriz desse pensamento
identificada por duas expresses do contratualismo anglo-saxo: de um lado o padro
autoritrio (Hobbes) e de outro o padro liberal (Locke)2.
A partir de literatura especfica3, considero que a viso de classe da grande
imprensa expressa e legitimada atravs de preceitos que envolvem o paradigma da
objetividade. Assim, incorporo a ideia de que justificativas tcnicas para
racionalizao e acelerao da lgica produtiva no jornalismo caracterizam construes
ideolgicas e reforam relaes hegemnicas. A relao entre o jornalismo e a disputa por
1 Ver: CERQUEIRA FILHO, G. e NEDER, G. A Teoria Poltica no Brasil & O Brasil na Teoria Poltica
. Fonte: http://www.historia.uff.br/artigos/gizlene_4encontro.pdf . Artigo apresentado no 4o
Encontro Nacional da Associao Brasileira de Cincia Poltica, 21-24 de julho de 2004 (PUC/ RJ)
2 Esta abordagem advm de leitura do livro Autoritarismo afetivo A Prssia como sentimento, onde
Cerqueira Filho (2005) evidencia a combinao inesperada de duas expresses vistas como
antagnicas: Aquilo que Thomas Hobbes teme, e do temor faz emergir o conceito de Estado
absolutista, exatamente o que d segurana a Adam Smith e substncia ao conceito de mercado
(p.105). Da a ideia de que a diferena entre os dois seria mais de contextualizao histrica e no
tanto de natureza poltico-ideolgica. Respectivamente, Estado intervencionista e a mo invisvel do
mercado, cumprem para cada um a funo de controle e domesticao daquilo que o pensamento
conservador (totalitrio ou liberal) registra por metforas para no referir-se luta de classes. Ver:
CERQUEIRA FILHO: 2005, pp. 104-7.
3 Ver, entre outros: Lattman-Weltman, F. Imprensa carioca nos anos 50: os anos dourados. Em: ABREU,
Alzira Alves; RAMOS, Plnio de Abreu (org.) [et. al.]. A imprensa em transio: o jornalismo brasileiro
nos anos 50. Rio de Janeiro: Editora Fundao Getlio Vargas, 1996. Ver tambm: MORETZSOHN,
Sylvia. Jornalismo em tempo real: o fetiche da velocidade. Rio de Janeiro: Revan, 2002. 192p. E para
uma abordagem mais aprofundada do tema: SODR, Nelson Werneck. A histria da imprensa no Brasil.
Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1966.
http://www.historia.uff.br/artigos/gizlene_4encontro.pdf
Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 3
hegemonia concebida aqui segundo contribuies gramscianas, que situam os jornais no
mbito dos aparelhos privados de hegemonia.
Metodologicamente, como forma de analisar os mecanismos argumentativos
adotados, os editoriais foram identificados segundo temas predominantes. Foram definidos
cinco eixos temticos a partir dos atores citados: regime militar (Presidente, membros do
Governo, Foras militares etc.); sistema representativo (Partidos polticos, Colgio Eleitoral,
Lideranas polticas); sociedade mobilizada (sindicatos, movimentos sociais, entidades
profissionais etc.); questo econmica (Estado/ agente econmico, setores produtivos,
investidores estrangeiros), conjuntura internacional (pases vizinhos). Os eixos, ainda que
restritos para abranger a complexidade daquela conjuntura, representam flexveis recortes de
uma atualidade composta pelo autoritarismo e pela liberalizao; pela abertura e pelos
continusmos; pelo endividamento, por sua crise e pelas prescries do Fundo Monetrio
Internacional; por mobilizaes sociais e pelo desfecho conciliador transio democrtica.
Enfim, pelos mltiplos horizontes de expectativa (Koselleck: 2006), dentre os quais aquele
exposto pela grande imprensa apenas uma das alternativas.
O Futuro passado nos horizontes da opinio publicada
A grande imprensa se fizera historicamente porta-voz de uma determinada
concepo de modernizao/desenvolvimento identificada com o modelo evolutivo e
universal transposto s naes ditas perifricas/subdesenvolvidas desde os remotos
tempos coloniais. Ao longo de nossa via brasileira, nossa modernizao esteve
associada idias-fora como o lema positivista da bandeira brasileira ordem e
progresso , reatualizado entre os anos 50 e 60 na forma das diretrizes segurana
nacional e desenvolvimento. Desde a primeira metade do sculo XX, foi incorporada
esquerda a ideia de uma aliana em favor da revoluo democrtico-burguesa, sendo
posto em evidncia o problema da inexistncia de uma burguesia nacional incapaz de
exercer seu papel. Com algumas variaes, esse raciocnio comeou a ser questionado4
atravs da reinterpretao do papel das chamadas economias pr-capitalistas e do
passado supostamente feudal da regio, que caracterizaria um atraso a ser corrigido.
4 Alguns autores foram responsveis por formar um conjunto de crticas contundentes tese do carter
feudal da economia colonial. Entre eles: Roberto Simonsen, o historiador argentino Srgio Bag, Luis
Vitale, Caio Prado Jnior e Celso Furtado. Alm disso, destaca-se o trabalho Andr Gunder Frank
que, com base nos autores mencionados, defendera uma mudana de paradigma ao defender que no
se falasse de economia feudal na regio, mas de modalidades de expanso do capitalismo comercial e,
posteriormente, do capitalismo industrial (Dos Santos: 2000; 90).
Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 4
Por meio desta concepo, conectada longa durao proposta por Braudel,
busco apresentar o pano de fundo necessrio compreenso do posicionamento de
classe da grande imprensa liberal brasileira incorporando algumas contribuies do
historiador alemo Reinhart Koselleck (2006), autor de Futuro passado: contribuio
semntica dos tempos histricos.
Neste livro, o autor apresenta semnticas envoltas no conceito temporal em
destaque. De forma simplificada, diria que sua nfase repousa sobre a relao entre
passado, presente e futuro na histria moderna5. Trata-se, portanto, do processo que
caracterizou a modernidade e tambm fizera com que a dimenso inescapvel do
devir empurrasse a ao social desde os espaos da experincia aos horizontes da
expectativa duas categorias histricas utilizadas pelo autor. Conforme a tese de
Koselleck, atravs dessa mudana, a histria (Geschichte) pareceu estar disponvel aos
homens, numa forma peculiar de acelerao que caracterizaria a nossa modernidade
ocidental. a respeito do incio dos tempos modernos e da perspectiva que se
descortina a partir daquele futuro concebido pelas geraes passadas o futuro
passado que o historiador alemo formula suas anlises. Tais percepes relacionadas
ao uso do tempo como ferramenta metodolgica so utilizadas para compreenso dos
processos de abertura, transio e redemocratizao na segunda metade do sculo XX
na Amrica Latina.
Regime militar: a viso saneadora de 64 e o anti-revanchismo de 84
Os jornais selecionados defenderam em editoriais, destacados espaos de disputa
pela reconstruo da memria, uma interpretao saneadora do golpe civil-militar de
1964, bem como mensagens anti-revanchistas. Estas ltimas, em nome da
pacificao, situavam as arbitrariedades dos agentes de Estado num tempo (ultra)
passado. Alm disso, a despeito das diferentes abordagens da sociedade mobilizada, a
opinio publicada caracterizou-se pela associao do contedo anti-estado aos valores
democrticos e anti-ditatoriais, tornando hegemnicos os horizontes de expectativa de
5 A abordagem de Koselleck repousa sobre o conceito singular e coletivo de histria a Histria
(Geschichte) forjado no remoto sculo XVIII. Nesse sentido, retrata em detalhes a mudana ocorrida
na passagem de uma concepo plural, de inmeras histrias, para a de uma nica histria, no
singular. Antes da referida mudana, a expresso latina historia (Historie) guardava a sabedoria
acumulada do passado, a cincia das coisas e dos acontecimentos. Com a mudana progressiva, a
histria como realidade e como reflexo passou a ser designada por um nico conceito (Geschichte).
Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 5
uma determinada classe constituda pelos proprietrios da chamada grande imprensa
essencialmente burguesa e liberal.
Estudos anteriores e anlises pontuais no mbito da pesquisa realizada permitem
destacar a confluncia da grande imprensa em geral na sustentao dos aspectos acima
mencionados, particularmente na conspirao golpista de pr-646. Bernardo Kucinski
(1991) relaciona a morte do jornalista Vladmir Herzog com a crise do padro
complacente. Este consistia numa manobra liderada pelos generais Ernesto Geisel e
Golbery do Couto e Silva, que conceberam a articulao poltica entre governo e imprensa,
abrandando a censura e garantindo maior complacncia com o governo. O assassinato do
jornalista nas dependncias do DOI-CODI de So Paulo, em outubro de 1975, foi um dos
principais detonadores de protestos em meio categoria, das presses por parte de
defensores dos direitos humanos em busca de informaes sobre os desaparecidos polticos
e das demais manifestaes que tomaram o espao pblico. Numa conjuntura de
complacncia com a abertura controlada, o mrtir jornalista contribura para acirrar crises
agudas, inclusive no mbito das redaes (KUCINSKI: 1991, pp. 60).
Buscando afinar-se com as demandas da sociedade civil, a Folha de S. Paulo
aborda, no contexto do fechamento do Congresso em 19777, uma questo que emergiria
com fora nos editoriais de 1984: o voto secreto popular sempre se far sentir na
exigncia de alternativas do Poder, a esse voto popular cabendo o direito de escolher
por via direta ou indireta, com o Colgio Eleitoral ampliado ou no. Como um fim
maior a ser privilegiado, o jornal referia-se ao projeto poltico existente na expectativa
da Nao, desde que o chefe do Governo abriu a perspectiva de normalizao
institucional8.
J na viso impressa pelo jornal O Globo, o governo Geisel escrevia um Roteiro
fiel (1.04.1977)9, afinado com a Revoluo de Maro, no seu 13 aniversrio, fiel aos
6 Entre outros, ver: ABREU, Alzira Alves de. A participao da imprensa na queda do governo Goulart.
Em:1964 -2004. 40 anos do Golpe. Rio de Janeiro: 7letras, 2004; e DREIFUSS, Ren Armand. 1964:
a conquista do Estado. Ao poltica, poder e golpe de classe. Petrpolis: Vozes, 1981.
7 Aps 15 dias, o governo anunciara o Pacote de Abril, que no apenas definia de forma autoritria a questo da
Reforma do Judicirio piv do recesso imposto ao Congresso Nacional como tambm impunha um
conjunto de mudanas constitucionais com o intuito de favorecer a representatividade de setores mais
conservadores ligados ao governo.
8 Folha de S. Paulo,1 de abril de 1977, editorial Os meios e os fins, p.2
9 O Globo, 1 de abril de 1977, editorial Roteiro fiel, Capa.
Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 6
princpios e objetivos que lhe deram origem numa hora dramtica da nossa histria
republicana e da prpria sobrevivncia nacional. A propsito de um discurso do
presidente, feito para militares e empresrios na Vila Militar, o jornal carioca referiu-se
ao movimento que salvou o Pas da subverso e da anarquia. Dessa forma, se fazia
bastante claro o alinhamento quase incondicional com o regime militar. A Revoluo,
conforme a voz do jornal, negava qualquer concesso ou tolerncia aos inimigos da
liberdade, pois faz-lo equivaleria a trair os fundamentos polticos e ticos de toda obra
de reconstruo brasileira10
, supostamente iniciada em 1964. Passado o decnio, num
total de seis pargrafos, o jornal dedicara os trs ltimos aos rumos da abertura
desestatizante, em sintonia com os compromissos democrticos da Revoluo.
Afirmava-se, conclusivamente: O Estado abre amplamente as portas para que a
iniciativa privada ocupe os espaos vazios na faixa prioritria da nossa economia,
investindo em atividades bsicas do desenvolvimento. Destacava-se ainda a iniciativa
do presidente de incluir a participao do trabalhador no novo modelo, tornando-o
acionista do sistema. Nestes termos, o nmero de aes concedidas ao trabalhador
dependeria de um comportamento responsvel e da cooperao com o sistema, como
ser observado mais adiante.
Igualmente, no contexto da Campanha pelas Diretas J e do processo sucessrio de
1984, O Globo e a Folha divergiram em inmeros aspectos. Apresentavam, contudo, vises
similares em relao ao chamado revanchismo. A Folha argumentava que a campanha
cvica pelo restabelecimento das eleies diretas para escolha do presidente da
Repblica deveria afastar-se do fantasma do revanchismo argentino. Para tanto, fazia
aluso ao caso vizinho no editorial Argentina, outra realidade (12.01.1984). Logo no
incio daquele ano, quando as Diretas J caminhavam para atingir seu auge em termos
de mobilizao nacional, o jornal constatava que a vitria das foras oposicionistas nos
principais estados do Brasil, desde as eleies diretas de 1982, contrariando alguns
receios, no despertou o sentimento revanchista. O notvel processo no sentido da
pacificao nacional e da superao dos ressentimentos provocados pelos excessos,
tanto da resistncia ao regime militar quanto da represso oficial, fazia parte dO
legado poltico de 198311
. Numa reconstruo histrica, a palavra excesso produz o
10 O Globo, 1 de abril de 1977, editorial Roteiro fiel, Capa.
11 Folha de S. Paulo, 3 de janeiro de 1984, editorial O legado poltico de 1983, p.2. (grifo meu)
Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 7
efeito de subtrair a sistematicidade12
caracterstica das arbitrariedades praticadas durante
o regime militar. No demais lembrar que a radicalizao da represso de carter
revolucionrio se dera de forma rotineira, sistemtica, institucionalizada e padronizada
(FICO: 2004)13
. Logo, tendo em vista o complexo sistema de represso, o uso daquela
palavra numa referncia aos desaparecimentos e s prticas de tortura evidenciava o
recurso a uma figura de linguagem que visa suavizar determinada informao; tratava-
se, portanto, de um eufemismo.
Meses depois, o jornal realizou uma das muitas pesquisas de opinio pblica, por
meio da Pesquisa Folha (futuro Datafolha). Em editorial publicado no dia seguinte
publicao dos resultados da pesquisa 64, rumo posteridade (2.04.1984) o jornal
conclua (grifo da autora):
Por falta de informao e, talvez, ainda mais por falta de vivncia pessoal, o fato que nada
menos que 42,4% dos jovens paulistanos entre 14 e 19 anos declararam no saber se a ascenso
dos militares foi boa ou foi ruim para o Brasil. Supondo que esse resultado possa ser
extrapolado para o resto do pas, no poderia haver sinal mais claro de que o movimento de
1964 se incorpora histria e deixa de ser um dado significativo para as oposies polticas das
novas geraes14.
A perspectiva destacada seria mantida nos meses seguintes aps a rejeio pela
Cmara, em 25 de abril de 1984, da emenda Dante de Oliveira, que restabeleceria as
eleies diretas naquele ano. O tema do revanchismo voltou aos editoriais por ocasio das
manchetes publicadas, respectivamente, nos dias 25 e 27 de julho: AURELIANO
EXIGE QUE TANCREDO PRESERVE O MOVIMENTO DE 64 e TANCREDO DIZ
QUE 64 J HISTRIA. J poca da consolidao das negociaes em torno da
Aliana Democrtica Frente Liberal e grupo peemedebista e da chapa Tancredo-
Sarney, a Folha observava a dificuldade de conciliar o interesse poltico do presente
com os simbolismos do passado. Alm disso, deixava aparente determinada perspectiva
acerca da relao com esse passado recente:
12 Em O golpe e a ditadura militar: quarenta anos depois (1964-2004), Daniel Aaro Reis afirma que a
sociedade brasileira, aps aderir a valores e s instituies democrticas, enfrenta grandes em
compreender como participou, num passado ainda muito recente, da construo de uma ditadura, que
definiu a tortura como poltica de Estado (grifo meu). Ver: REIS, D. A. Ditadura e sociedade: as
reconstrues da memria. Em: REIS, D.A.; RIDENTI, M.; MOTTA, R.P.S. (orgs.). O golpe e a
ditadura militar: quarenta anos depois (1964-2004). Bauru, SP: Edusc, 2004.334p.
13 Ver: FICO, Carlos. Alm do golpe: a tomada do poder em 31 de maro de 1964 e a ditadura militar.
Rio de Janeiro: Record, 2004.
14 Folha de S. Paulo, 2 de abril de 1984, editorial 64, Rumo posteridade, p.2
Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 8
Tais casos [de eventual punio de militares] j esto enquadrados na Lei de Anistia de 1979,
portanto, cobertos pelo esquecimento. Bem ou mal essa lei assegurou a reintegrao dos que
pegaram em armas contra o regime, o que foi um passo decisivo para pacificao poltica do
pas. At por uma questo de coerncia as oposies devem reconhecer pblica e explicitamente
que o mesmo benefcio se aplica aos agentes de represso acusados de abuso.
S no admissvel na perspectiva da normalizao democrtica qualquer acordo pblico ou
privado destinado a obstruir a ao da justia comum na apurao de crimes comuns. Mas no
podemos conceber que uma clusula dessa natureza esteja implcita na exigncia do vice-
presidente Aureliano Chaves aos seus aliados15
Como observa lvaro Rico em relao ao caso uruguaio, a convivncia pacfica
entre vtimas e algozes se traduziu na consigna sem vencidos nem vencedores, a
qual justificava a impunidade dos responsveis pelas violaes aos direitos humanos. A
respeito daqueles que denunciaram publicamente os fatos ocorridos durante a ditadura
uruguaia dizia-se que tinha los ojos en la nuca ou buscavam o revanchismo16
. Rico
ainda menciona o olvido institucional em referncia Ley de Caducidad de la
Pretensin Punitiva del Estado (1986). Esta, na prtica ao menos, equivale nossa Lei
de Anistia, a qual aparece no editorial acima bastante prxima da palavra
esquecimento. Vale aqui retomar a ideia de Michael Pollack, para quem o longo
silncio [da memria subterrnea] sobre o passado, longe de conduzir ao esquecimento a
resistncia que uma sociedade civil impotente ope ao excesso de discursos oficiais
(Pollack: 1989, p. 5). E as tais memrias subterrneas, opostas memria oficial, no
permanecem hermticas e intactas. Ao contrrio, elas prosseguem seu trabalho de
subverso no silncio e de maneira quase imperceptvel afloram em momentos de crise em
sobressaltos bruscos e exacerbados. A memria entra em disputa. Nesse sentido, vlido
inferir que os manifestantes em 84, para alm do direito ao voto, tenham desaguado suas
memrias silenciadas ao longo de 20 anos no manancial das Diretas J.
Como sustentao para a tese da sucesso do presidente Figueiredo pelo pleito
indireto, O Globo tambm defendeu a tese do anti-revanchismo em inmeros
editoriais. Este, contudo, era diretamente associado ao perigo de radicalizao da
Campanha pelas Diretas J. O jornal carioca reconhecia aos primeiros dias de 1984 o
15 Folha de So Paulo, 26 de julho de 1984, editorial Ainda o revanchismo, p.2 (grifos da autora)
16 Para uma viso recentemente apresentada acerca do revanchismo por ocasio de reivindicao da Lei
de Anistia pela OAB, ver: REIS FILHO, Daniel Aaro. Anistia, uma reviso. Texto publicado em O
Globo, 14 de janeiro de 2010, Seo Opinio. Fonte (Acessado pela ltima vez em julho de 2010):
http://oglobo.globo.com/opiniao/mat/2010/01/14/anistia-uma-revisao-915527695.asp
http://oglobo.globo.com/opiniao/mat/2010/01/14/anistia-uma-revisao-915527695.asp
Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 9
presidente argentino recm-eleito, Ral Alfonsn, como um estadista, cujo desejo era
o de realmente promover a pacificao nacional, evitando o revanchismo antimilitar
[que] constituiria a pior alternativa para a Argentina democratizada.17
Em vias de
decomposio aps a Guerra das Malvinas (1982), o aparelho militar argentino
diferenciava-se do brasileiro, o que determinava significativas variaes entre os dois
processos de abertura e transio. No mbito dos eixos temticos da conjuntura
internacional e do regime militar, a Argentina identificada como o mau exemplo, o
qual deveria ser evitado a todo custo especialmente sendo excludos os
passionalismos e radicalismos das Diretas J, acreditava O Globo.
A meno a fatos histricos mediante reviso do passado foi tambm convertida em
mecanismo argumentativo, consistindo em nova convergncia opinativa entre os jornais. E
isso ocorrera no exclusivamente em espaos destinados ao gnero opinativo, como
possvel observar no Especial 31 de maro 20 anos dO Globo. No alto da pgina trs
posio de destaque, se considerarmos regras grficas do jornalismo , o jornal imprimiu
um breve resumo do histrico sobre a data comemorativa, exibindo viso pacifista do
golpe (grifos da autora):
A Revoluo de 64 foi feita sem derramamento de sangue porque os dois lados evitaram o
confronto armado. A trajetria do movimento nestes 20 anos foi uma sucesso de negociaes
entre partidos e foras polticas e sociais, entre Governo e sociedade, entre Executivo e Legislativo
entrecortada de hiatos mais ou menos longos, mais ou menos profundos; perodos de predomnio
da contestao armada, perodos, com ou sem contestao, de exceo e arbtrio. nos processos
de sucesso presidencial que as crises se condensam: a Revoluo, nesse sentido, no representou
uma ruptura to radical com a tradio republicana18.
A Folha, em matrias e editorial, tambm recordou a data. Publicado em 31 de
maro, o editorial 20 anos depois oferecia ao leitor uma verso de 64 que valorizava a
incapacidade de Jango e a perigosa permissividade aos movimentos sociais fonte de
seu descontrole como elementos responsveis pela ruptura poltico-institucional
(grifos da autora):
(...) Foroso reconhecer, antes de tudo, que a ruptura das instituies ento em vigor
correspondeu s exigncias de significativos setores da sociedade brasileira, inseguros quanto aos
destinos do Pas. O governo Joo Goulart no se mostrou capaz de conter dentro dos limites da
ordem e da lei19 o caudal de presses polticas e reivindicaes sociais. Concomitantemente a um
17 O Globo, em 17 de janeiro de 1984, editorial Sem revanchismos.
18 O Globo, 1 de abril de 1984, p.3
19 Note-se que, em 2 de abril de 1964, a Folha defende o golpe justamente Em defesa da lei: No
surtiram efeito os apelos razo e ao patriotismo dos homens a quem se acha confiada a sorte do pas.
Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 10
desempenho adverso da economia, as freqentes invases de terras, o emprego abusivo da arma da
greve, a quebra da disciplina e da hierarquia nos quartis, tudo isso gerou uma crise que
desembocou na deposio do Presidente.
O tom crtico do jornal se faz sentir, nos pargrafos seguintes, acerca da
interveno das Foras Armadas no processo poltico, feita em nome da salvaguarda da
democracia: Em verdade, apesar do batismo oficial de Revoluo [sic], o movimento
no realizou uma obra digna deste conceito20
criticava a Folha, antes de desfiar o
rosrio dos equvocos e fragilidades do degenerado projeto de construo do Brasil-
grande-potncia, oitavo do mundo capitalista.
Sistema representativo e Sociedade Mobilizada: eles participam, ns
participamos
Numa anlise dos editoriais relacionados com os eixos que do ttulo a este subitem,
busquei considerar a opinio dos jornais em dois sentidos: (1) o jornal opina sobre o eixo e (2)
o jornal como parte do eixo. No primeiro caso, as divergncias entre a Folha e O Globo foram
sendo aguadas na medida da progressiva mobilizao social contrria ao regime. Esta, no
processo da abertura, marcada significativamente pelo novo sindicalismo que surgiu em
fins de 70, a partir da ao dos metalrgicos das montadoras automobilsticas multinacionais e
dos que trabalhavam nas empresas siderrgicas nacionais concentradas em torno da cidade de
So Paulo. No rastro do ambiente de efervescncia social existente ao declnio da ditadura
militar, foram eclodindo inmeros movimentos sociais e populares (estudantil, de mulheres,
de negros, urbanos, contra a carestia etc.). Muitos deles, tal como as Comunidades Eclesiais
de Base (CEBs), estiveram sob o abrigo institucional da Igreja Catlica, atravs da
Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
(...)No houve rebelio contra a lei, mas uma tomada de posio em favor da lei. Na verdade, as
Foras Armadas destinam-se a defender a patria e garantir os poderes constitucionais, a lei e a
ordem.Ver (acessado pela ltima vez em 29 de agosto de 2010):
http://www1.folha.uol.com.br/folha/80anos/tempos_cruciais-02b.shtml.
20 Em meio srie de reportagens intitulada Os 20 anos do Movimento de 64, em 1 de abril de 1984, a
Folha publicou a reportagem Processo poltico leva muitos a mudar de lado. Na mesma pgina o
jornal publica uma srie de fotos do presidente Figueiredo e, a imagem de uma carta que o leitor era
convidado a enviar ao presidente: Recorte esta carta e mande para Braslia. Assim, o presidente vai
saber quantos brasileiros realmente querem eleies em 1984. Dizia-se numa legenda abaixo:
Corrente pelas diretas: quem a quebrar, ter Maluf na Presidncia (p.4; 1 Caderno). No mesmo dia,
na p.6, o jornal publicou matria destacando a postura da Folha em relao aos excessos do regime:
Na reao aos excessos, a posio da Folha.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/80anos/tempos_cruciais-02b.shtml
Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 11
O movimento dos trabalhadores deu luta democrtica um ponto importante de
sustentao e, inicialmente, at contava com a tolerncia dos veculos da grande imprensa. A
ideia de autonomia sindical defendida por parte dos trabalhadores ao final dos anos 1970 era
bem vista pelos jornais e at desejvel. A busca por um novo padro de negociao entre
patres e empregados, no regulada pelo Estado, chegou a ser saudada como prova de
superao da herana de um velho sindicalismo. Este era considerado artificial e
paternalista, bem como criado pelo Estado Novo para servir a si prprio muito mais do que
aos trabalhadores. A defesa da nova proposta foi feita sob a premissa de que ao longo do
regime militar o movimento sindical vinculado ao Estado at 1964 atravs da mobilizao
das cpulas sindicais em torno do governo Goulart e a favor de suas teses conspiratrias
foi depurado das influncias esprias21
. Essa interpretao era compartilhada pela Folha,
embora seus editoriais apresentassem perspectiva mais sensvel s reivindicaes trabalhistas.
Valorizando a disciplina do operrio na fbrica e no meio social, O Globo
justificava a tutela estatal sobre os sindicatos nos governos posteriores a 64 em funo
das necessidades de uma poltica econmica que inclu[a], entre seus pontos bsicos, o
severo controle de salrios e de preos22
. Meses depois, em 2.11.1978, O Globo
apresentou A Reavaliao das greves. Nela constatava-se: esse delicado campo das
relaes entre capital e trabalho precisa reencontrar uma frmula consistente de
disciplina. Mais adiante, a reavaliao considera que o Governo aceitou um modus
vivendi com as negociaes diretas, inclusive atendendo postulao de certos
empresrios animados pelo carter apoltico e pacfico das primeiras greves
metalrgicas (grifo da autora).
Nos anos seguintes, o posicionamento dO Globo evolura para uma oposio
ainda mais frontal. Vale destacar que as primeiras greves e mobilizaes trabalhistas da
dcada de 80 foram percebidas pelo jornal como Uma ofensa ao trabalhador
(13.05.1980). Ele prprio seria o afetado pela intranqilidade social num quadro
brasileiro j marcado por tantas preocupaes. A crise econmica, convm lembrar,
21 O Globo, 1 de maio de 1978, editorial Dia do trabalhador, Capa. Na capa dO Globo de 1 de maio de
1978 o jornal anunciara a escolha dO operrio padro de 1978. Tratava-se de uma campanha do
jornal e do Servio Social da Indstria (SESI) criada 23 anos antes para escolha anual do operrio
padro e reconhecimento de mritos individuais no apenas do trabalho, mas tambm no lar e na
comunidade, de todos os milhes de brasileiros que, no anonimato das fbricas, do todos os dias,
valiosa colaborao para o enriquecimento e o progresso da comunidade. O Globo, O operrio
padro de 1978, Capa.
22 Idem.
Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 12
avanava com ameaas de forte recesso. Na economia de mercado opinava O
Globo todos os fatores devem funcionar como num sistema de vasos comunicantes e
segundo regras bem definidas [e] equitativas23
. A viso auto-regulvel do mercado
inclua a necessidade de o pas adequar sua poltica econmica ao fluxo econmico e
financeiro internacional, mesmo que ao preo da crescente desigualdade social e
superexplorao24
do trabalho. Algumas reivindicaes dos metalrgicos em greve
eram colocadas na lista de exigncias a extremos jamais alcanveis. O jornal
defendia tambm a tese da ilegalidade da greve, apontando a palavra de ordem do
boicote ou sabotagem produo para substituir a continuao da falta ao trabalho (a
greve) como uma espcie de ao terrorista.
A Folha, por sua vez, aborda no editorial No fio da navalha (8.04.1979) um momento
tambm crtico da greve dos metalrgicos do ABC naquele ano, quando ela foi declarada
ilegal pelo Tribunal Regional do Trabalho. No h exagero em dizer-se que a distncia da
violncia mediu-se pelo fio da navalha afirmava a Folha, concluindo que uma ordem
social no pode confiar em legislao e instituies impotentes para encaminhar conflitos
inevitveis de interesse. A soluo apresentada foi a seguinte: rever, com alta prioridade,
inclusive em nome do combate inflao, a legislao que regula as relaes entre capital e
trabalho, para que cessem as ambiguidades e se tornem desnecessrias as mediaes
informais e improvisadas25
.
Por um lado, o jornal paulista, especialmente em contraponto ao seu concorrente
local (O Estado de S. Paulo26
), expressava maior sensibilidade para com as
reivindicaes trabalhistas, dedicando seus editoriais importncia da formulao de
um novo contrato social democrtico. Por outro, a trajetria empresarial traada pelos
23 O Globo, 3 de maio de 1980, editorial Vasos comunicante, p.4.
24 Para maior abordagem deste conceito, ver: MARINI, Ruy Mauro. Dialtica de la dependencia (1973).
Em: http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/secret/critico/marini/04dialectica2.pdf (Extrado de Ruy
Mauro Marini, Dialctica de la dependencia, Mxico: Ediciones Era, 11 reimpresin, 1991, pp. 9-77).
25 Folha de S. Paulo, 8 de abril d 1979, editorial No fio da navalha, p.2
26 OESP de 10 outubro de 1984 publicou: O PT, totalitrio; e, pois, reacionrio. OESP primava por
desqualificar o esforo de construo do partido, como por exemplo em 1984, quando o partido
decidiu no participar do colgio indireto que elegeria Tancredo Neves como presidente da Repblica
e Jos Sarney, vice. A postura que se alterou s quando aps numa profunda reforma editorial que
inclusive lhe acrescentou cores na primeira pgina o concorrente da Folha passou a abrir espao
para opinies mais esquerda, segundo afirmao de Carlos Alberto F. de Melo. Ver: MELO,
Carlos Alberto Furtado de. Imprensa e democracia: a transformao da Folha de S. Paulo e a criao
do Partido dos Trabalhadores. Dissertao de mestrado. Orientao do prof. Dr. Miguel Wady Chaia.
So Paulo: PUCSP, 1996.
http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/secret/critico/marini/04dialectica2.pdf
Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 13
donos do jornal apontaria no ano das Diretas J para um rgido controle industrial e
tecnolgico, implantado atravs do pioneiro Projeto Folha (1984). Na Apresentao de
Mil Dias: seis mil dias depois, de Carlos Eduardo Lins da Silva, Otvio Frias Filho
deixa em evidncia um elemento importante da (re)construo que vinha sendo feita da
prpria identidade do jornal em vista da abertura e transio democrticas:
Mais recentemente, a industrializao da imprensa tornou possvel ao mercado, regular o que era antes
regulado apenas pela ideologia. Um compromisso impessoal, milimtrico e quantitativo, com a
superfcie pblica que paga pela informao que consome, tende a substituir os compromissos fluidos,
baseados no favor e na misso, com o Estado ou a sociedade (2005; 48).
A respeito de uma determinada mentalidade gerencial, constituda como
mentalidade de mercado, Mattelart estabelece relao com a globalizao do mercado
financeiro nos anos 80. Dessa forma, o autor denota a reabilitao da empresa jornalstica
como instituio social cidad. Os princpios de gerenciamento se erigem em dogma,
afirma o autor, e se tornam a verso tcnica do poltico. A fora do dogma do
gerenciamento estaria na impregnao de seus modelos no conjunto de outras instituies
que, para resolverem suas crises, apelam aos critrios de desempenho e flexibilidade tidos
como aprovados no mercado. Assim, nos dizeres de Mattelart, o modelo de comunicao
empresarial se naturalizou como tecnologia de gesto simblica das relaes sociais e se
difundiu no conjunto da sociedade como o nico eficaz (apud Moretzsohn: 2002; 112)27
.
Diretor de redao da Folha em1984, Frias Filho destacara, por sua vez, os benefcios do
taylorismo na redao, destacando as preocupaes na racionalizao da tarefa
jornalstica em benefcio de outra espcie de misso: aquela estabelecida na relao com o
leitor-consumidor-cidado. Lins da Silva cita as palavras do diretor quanto questo da
estratgia de mercado discutida no texto Vampiros de papel: o carter mercadolgico
da notcia que, para o proprietrio da Folha, institui, numa ponta, a imprensa burguesa, na
outra o pblico burgus, e entre ambos uma simbiose de interesses complementares (Silva:
2005; 57).
Na primeira verso do Manual geral de redao, principal subproduto do
Projeto Folha, o verbete mandato do Leitor explicitava uma espcie de contrato
entre jornal e leitorado: Nas sociedades de mercado cada leitor delega, ao jornal que
assina ou adquire nas bancas, a tarefa de investigar os fatos, recolher material
27 A autora cita a seguinte obra: MATTELART, A. Histoire de lutopie plantaire de la cite
prophtique la socit globale. Paris, La Dcouverte, 1999.
Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 14
jornalstico, edit-lo e public-lo. Se o jornal no corresponde s exigncias, o leitor
suspende esse mandato (apud Albuquerque e Holzbach: 2008; 160). Assim, definia-
se uma verso particular do contrato representativo clssico, sustentada em quesito
comercial e pela garantia de um jornalismo crtico, apartidrio, pluralista e
moderno. As anlises at aqui desenvolvidas em torno das opinies publicadas
sugerem que o alcance do propagado pluralismo encontra-se limitado numa
perspectiva de classe. Esta perspectiva marca no apenas o posicionamento da Folha,
mas dos demais veculos da grande imprensa.
Em diversos editoriais publicados ao longo de 1984 a Folha defendeu o voto
direto e, em favor da soberania popular, ficou conhecida como o jornal das Diretas.
O jornal paulista defendeu em inmeros editoriais a independncia do Congresso, no
em relao presso popular, mas aos militares/lideranas polticas/ partidos polticos.
Entre os editoriais que podem servir de exemplo, cito Congresso sem presses
(10.04.1984), Congresso sem tutela (18.04.1984) e Congresso soberano j (25.04.1984)
este ltimo publicado no dia da votao da emenda Dante de Oliveira. Diante da
derrota da emenda, o jornal paulista se coloca do mesmo lado da trincheira que o
leitor, como porta-voz da frustrao e dos anseios da sociedade civil; da sua indignao
e esperana; j desempenhando o papel que viria a ser delineado na verso particular do
contrato representativo to mais fortalecido quanto mais numerosos e slidos forem os
mandatos delegados atravs da aquisio habitual nas bancas ou de assinaturas do
jornal (Albuquerque e Holzbach: 2008).
Esta Folha no foi a primeira nem a nica a exigir diretas-j. Mas no mediu esforos, desde o
incio, para que a campanha se transformasse nesse grande festival de civilizao poltica que
vimos presenciando e estimulando. nessa condio que dirigimos agora um apelo aos nossos
leitores e a todos os brasileiros, cidados desta Ptria renascida. (...) Em lugar da violncia, a
participao; em lugar do tumulto, a tranqilidade; em lugar d desespero, a persistncia; em lugar
do desnimo, a vitalidade renovada a cada revs. (...) Acima de tudo necessrio manter a ordem,
a paz e a tranqilidade. (...) Continuemos com a mesma intransigncia e com a mesma esperana.
(...)28
Ao longo da campanha de 1984, O Globo criticava indiretamente a postura assumida
pela Folha em defesa do mandato imperativo: Colando no ndex aqueles de opinio
28 Folha, 26 de abril de 1984, editorial Cai a emenda, ns no, CAPA. A Folha imprimiu a cor do luto: Use preto
pelo Congresso Nacional dizia uma faixa da mesma cor no alto da pgina ao dia 26 de abril. Em caixa alta a
manchete noticiava um sentimento, algo estranho aos preceitos da objetividade jornalstica: A NAO
FRUSTRADA! Uma grande tabela indicava ainda, nominalmente, o SIM e o NO do deputado de cada
Estado.
Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 15
contrria ao seu radicalismo, os novos inquisidores revivem velhos comportamentos
obscurantistas e fascistas29
. Em Metamorfoses do Governo Representativo, Bernard Manin
(1995) observa que o governo representativo nunca foi um sistema em que os eleitos tivessem
a obrigao de realizar a vontade dos eleitores e complementa: esse sistema nunca foi uma
forma indireta de soberania popular (Manin: 1995, p. 10). Segundo o autor, a diferena entre
governo representativo e governo do povo pelo povo no estaria na existncia de um corpo
especfico de delegados, mas na ausncia de mandatos imperativos. Para O Globo, a
superioridade do sistema representativo repousava justamente no fato de permitir um
distanciamento entre as decises do governo e a vontade popular:
A tendncia popular definida nos comcios, assim como nas pesquisas de opinio pblica, no
vai diretamente para o processo decisrio da democracia. Os partidos polticos e o Congresso esto
basicamente incumbidos de promover a intermediao seletiva dessas propenses, para que elas
possam chegar, no final, representando a mdia do pensamento, das aspiraes e das
reivindicaes de toda a sociedade. (...) Quando assumem o carter de mquina de presso e se
apiam nos valores intimidativos da quantidade, eles [os comcios] significam o oposto da
negociao, da busca de frmulas consensuais, e, portanto se afastam de princpios fundamentais
da democracia.30
O posterior apoio candidatura Tancredo-Sarney fizera o jornal redefinir seu
posicionamento. O princpio evocado princpio (clssico) da representao permanecia
o mesmo. Contudo, no segundo semestre de 1984, o jornal passou a advogar em favor de
uma interpretao diferenciada. O Globo incorporava a Campanha pelas Diretas J como
elemento catalisador da candidatura Tancredo-Sarney, legitimando assim a via indireta de
escolha do futuro presidente31
. O que vemos neste momento a opinio pblica
disciplinando o seu mpeto mudancista, conclui o jornal, e canalizando-o para a soluo
transitria mas legal e pacfica do sistema indireto. Nos termos expressos, a Nao
dava abrigo ao Colgio Eleitoral, aceitando-o como instrumento de sua vontade.
Entretanto, destaque-se a mudana em relao interpretao do princpio representativo
oferecida no primeiro semestre: o eleitor indireto est informado de que no poder fugir
impunemente sua funo de representante daqueles que o elegeram, ou seja, o povo.
Estavam estabelecidas as regras do mandato imperativo, dispositivo utilizado na
argumentao em favor da conciliao (dominao pelo alto).
29 O Globo, 19 de abril de 1984, editorial No o fim do mundo.
30 O Globo, 20 de abril de 1984, editorial Os limites da vontade popular.
31 O Globo, 13 de setembro de 1984, editorial Muita gente, muito voto.
Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 16
Tendo em vista o uso de termos como opinio pblica ou povo no pargrafo
anterior, convm uma breve observao. Os editoriais analisados apresentam expresses que
remetem aos desejos e expectativas de uma coletividade: vontade da Nao; voto
popular; Ptria; coletividade; conscincia nacional; civilizao; conscincia
democrtica; direito popular; campanha cvica; demanda cvica; foras
representativas, realidade nacional etc. O uso destes termos pelos peridicos serve
sustentao das prprias opinies publicadas. Considerando algumas das condies de
produo do discurso poltico32
cumpre realar tal recurso argumentativo e persuasivo que
permite ao jornal situar a prpria posio no plano das determinaes mais longnquas e mais
amplas. A exemplo de artifcios usados em discursos polticos, merece ateno a evocao da
noo de poder pblico. Assim, a opinio publicada ou mesmo a plataforma de um
candidato encontra ali sua sustentao perante o (e)leitor.
A respeito da abordagem dos eixos do sistema representativo e da sociedade
mobilizada, O Globo enxergava a presso popular sobre o Legislativo assim
identificadas as manifestaes pblicas em favor das eleies diretas como uma
heresia democrtica33
e manteve intacta durante o processo sucessrio sua defesa das
instituies forjadas no mbito do regime autoritrio. No se tratava de invalidar os
anseios populares, mas de garantir que eles seriam atendidos seguindo a lgica
oportuna de um desdobramento democrtico34
. Na viso expressa pelo jornal, a ao
popular direta, atravs de marchas ou greves (estratgia antipovo35
), caminhava em
sentido contrrio ao da democracia, tendo em vista a conjuntura poltica, econmica e
social. A mobilizao e reivindicao de direitos nos moldes adotados pelos
movimentos sociais ligados s bases populares e s entidades civis, com apoio dos
partidos polticos de oposio ao governo, eram desqualificadas como expresso da
32 Devo esta interpretao abordagem presente no livro Argumentao e discurso poltico, de Haquira
Osakabe (1999). Neste livro, o autor analisa o discurso poltico de Getlio Vargas usando as
ferramentas metodolgicas da Lingstica e da Anlise do discurso. Sem que essa citao signifique a
pretenso de um maior contato com essas disciplinas dedicadas ao estudo da lngua e da linguagem,
parece til a ideia, oferecida pelo autor, de enfatizar como proposta metodolgica as condies de
produo do discurso. Neste esforo, a perspectiva histrica e a Cincia Poltica podem cumprir um
papel central. Ver: OSAKABE, Haquira. Argumentao e discurso poltico. 2 Ed. So Paulo: Martins
Fontes, 1999. (p.82).
33 O Globo,18 de fevereiro de 1984, editorial Avano sem presses.
34 O Globo, 19 de fevereiro de 1984, editorial O voto sem radicalizaes.
35 O Globo, 12 de outubro de 1984, A grande vtima, o povo.
Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 17
vontade popular. O jornal as caracterizava como sendo movidas por pretenses
individualistas, unilaterais, incapazes de traduzir uma sociedade pluralista.
De acordo com Marcos Francisco N. de Eugnio, a imprensa captou o carter
festivo do movimento das Diretas, procurando fazer circular a imagem de uma
sociedade que, mesmo oprimida, no perdia o senso de humor e a cordialidade
(Eugnio: 1995; p. 214). O autor observa ainda que a nfase sobre o carter festivo dos
comcios o que acabou sendo incorporado cobertura dO Globo e da Rede Globo,
aps crticas omisso da mobilizao de propores nacionais no noticirio destoara
do discurso implacvel com os protestos que espalhavam o caos na cidade paulista em
1983. Ao fazer o elogio da transgresso simblica da ordem, sugere Eugnio, talvez
a Grande Imprensa procurasse expiar a perspectiva da desagregao social contida no
protesto e a tenso natural da presena popular nas praas e ruas (Eugenio: 1995; p.
214).
Ao expressar sua discordncia em relao deciso do Comit Pr-diretas de
realizar uma paralizao nacional no dia da votao da emenda Dante de Oliveira,
a Folha no utiliza argumentos econmicos, como o caso dO Globo. Sua opinio
fundamentada sobre a tese da unio nacional em contraposio ao potencial
fragmentador da paralizao entendida como sendo nada menos que uma greve
geral. Nesse sentido, delimita-se a validade da estratgia, apontando os limites
daquela forma de presso dos trabalhadores: A forma da eleio do presidente da
Repblica no uma questo de carter social, mas de carter poltico. Ela exige o
emprego de instrumentos prprios da luta poltica.36
Foram previstas
consequncias desastrosas e uma profunda fratura no movimento sem
precedentes que vinha exigindo em unssono a restaurao do direito popular ao
alto governo.
Aquela campanha com forte contedo popular, apesar do grito unssono pr-
diretas, no eliminava os conflitos inerentes a uma sociedade de classes, a despeito da
exaltao em torno do seu carter cvico unitrio. No se trata de diminuir seu papel
de destaque no tabuleiro sucessrio e sua relevncia histria, mas sim de evidenciar uma
propagada unidade que no comportava plenamente a pluralidade de vises e interesses
dspares.
36 Folha de S. Paulo, 5 de abril de 1984, Greve contra diretas-j
Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 18
Consideraes Finais
A burguesia tem uma teoria absolutamente prpria da opinio pblica, diz
Mattelart (1973: 214). Na relao jornal/leitor, chamei ateno para o artifcio discursivo
de falar em nome de instncias ltimas para defender e legitimar vises de classe a
cosmoviso burguesa e liberal. Matizes de um liberalismo mais democrtico,
reconhecidas no caso da Folha, devem ser analisadas no mbito das mudanas vividas por
aquele jornal em busca da (re)definio da prpria identidade poltica e jornalstica.
preciso considerar ainda que o fazer jornalstico nas redaes comportava certa
heterogeneidade de perfis poltico-ideolgicos, a despeito de hierarquias e da orientao
editorial predominante.
A questo participao direta/ representao foi equacionada nos seguintes termos
pelos peridicos analisados: a Folha, ao cumprir o mandato supostamente concedido pelo
seu leitorado, exibe seu status e uma maior fatia do mercado. Alm disso, no decnio
estudado, o jornal se destaca poltica e jornalisticamente por valorizar em sua linha editorial
a conjugao do verbo participar na primeira pessoa do plural: Cai a emenda, ns no
(26.04.1984). O Globo, numa linha mais conservadora e de forma bastante restritiva s
manifestaes populares, submetia o direito de participar ao direito de ser representado. A
perigosa cooptao das massas, que viria da ampliao de mecanismos de participao
direta, foi (e vem sendo) tratada como uma ameaa a ser combatida em benefcio da
democracia representativa. Numa analogia ponderada pelas diferenas que separam as
conjunturas, O Globo parece reproduzir o discurso expresso pelos pais fundadores do
modelo norte-americano de democracia liberal. O federalista James Madison (1751-1836),
por exemplo, em artigo a respeito da Utilidade da Unio como preservativo contra as
faces e insurreies, defendia que em um governo mais possvel que a vontade
pblica, expressa pelos representantes do povo, esteja em harmonia com o interesse pblico
do que no caso de ser ela expressa pelo povo mesmo, reunido para este fim.37
A Folha faz
aluso relao entre imprensa e associativismo, presente na obra de Tocqueville. Contudo,
a pretenso de representar em suas pginas o pluralismo da sociedade limitada pela
viso de classe expressa na relao com o passado, com as demais classes e segmentos
37 MADISON, James. Utilidade da Unio como preservative contra faces e insurreies. In:
HAMILTON, Alexander; JAY, John; MADISON, James. O Federalista. Coleo Os pensadores. So
Paulo: Victor Civita Editor, 1985, p. 98.
Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 19
sociais, com a prpria histria e as memrias subterrneas. E, claro, com o tempo futuro,
projetado a partir de valores e interesses do presente. O pluralismo, portanto, est longe
de ser contemplado por uma nica linha editorial.
Por fim, a abordagem aqui privilegiada buscou ser uma contribuio para a crtica s
confuses tericas e prticas que, no contexto da abertura brasileira, equacionaram e
igualaram os seguintes elementos: liberalismo poltico = liberalismo econmico =
democracia = antiestatismo (Dos Santos: 1991; 133). O presente trabalho foi orientado
tambm no sentido de demonstrar que, atravs da linha editorial adotada no perodo
destacado, os veculos selecionados pertencentes a oligoplios familiares, parte
significativa dos grupos empresariais de comunicao no Brasil expressaram sua viso
de classe como porta-vozes da opinio pblica ou numa suposta expresso dos anseios e
interesses da totalidade da Nao. Ao fazerem isso disputavam pela hegemonia de seus
horizontes, impressos em espaos de significativa visibilidade e relevncia no cenrio
poltico.
***
Referncias Bibliogrficas
ALBUQUERQUE, Afonso e HOLZBACH, Ariane Diniz. Metamorfoses do contrato
representativo: jornalismo, democracia e os manuais da redao da Folha de S.Paulo. Em:
Comunicao, Mdia e Consumo. Escola Superior de Propaganda e Marketing. V.5, n.14
(novembro 2008). So Paulo, ESPM, 2008.
CERQUEIRA FILHO, Gislio. A Ideologia do Favor e a Ignorncia Simblica da Lei. Rio de
Janeiro: Imprensa Oficial/ RJ, 1993.
DOS SANTOS, Theotonio. Democracia e socialismo no capitalismo dependente. Petrpolis, RJ:
Vozes, 1991. 288p.
EUGENIO, Marcos Francisco N. de. Representaes polticas no Movimento Diretas-J. Revista
Brasileira de Histria. So Paulo, v.15, n 29, 1995. (pp. 207-219).
GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organizao da cultura. 4 Ed. Traduo de Carlos Nelson
Coutinho. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1982.
KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuio semntica dos tempos histricos. Traduo
do original alemo Wilma Patrcia Maas, Carlos A. Pereira. Reviso de Csar Benjamin. Rio de
Janeiro: Contraponto: Ed. PUC-Rio, 2006.
KUCINSKI, Bernardo. Jornalistas e revolucionrios nos tempos da imprensa alternativa. So
Paulo: Scritta Editorial, 1991.
Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 20
MANIN, Bernard. As metamorfoses do governo representativo. Revista Brasileira de Cincias
Sociais. Nmero 29, ano 10, 1995 (pp.5-34).
MARINI, Ruy Mauro. Dialtica de la dependencia (1973). Em:
http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/secret/critico/marini/04dialectica2.pdf (Extrado de
Ruy Mauro Marini, Dialctica de la dependencia, Mxico: Ediciones Era, 11 reimpresin, 1991,
pp. 9-77).
MATTELART, Armand. La comunicacin masiva en el proceso de liberacin. Buenos Aires,
Argentina: Siglo Veintiuno editores, S/A., 1973. 263p.
MORETZSOHN, Sylvia. Jornalismo em tempo real: o fetiche da velocidade. Rio de Janeiro:
Revan, 2002. 192p.
NEDER, Gizlene. Modernizao conservadora ou via prussiana? mimetismo e imaginao
sociolgica no Brasil. Em: Cadernos do ICHF; vol. 57; julho de 1993. 39p.
POLLAK, Michel. Memria, esquecimento, silncio. Estudos Histricos. Rio de Janeiro (1989): 3 -
15.
PORTELLI, Hugues. Gramsci e o bloco histrico. Traduo de Argelina Peralva. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1977. 142p.
REIS, D. A. Ditadura e sociedade: as reconstrues da memria. Em: REIS, D.A.; RIDENTI, M.;
MOTTA, R.P.S. (orgs.). O golpe e a ditadura militar: quarenta anos depois (1964-2004). Bauru, SP:
Edusc, 2004.334p.
RICO, lvaro. Los usos de la dictadura en la democracia posdictadura y las formas de dominacin
por el consenso, trabalho apresentado no Colquio Internacional Sociabilidades, Poder e Cultura
Poltica: Circulao de Ideias e apropriao cultural na Universidade Federal Fluminense (UFF).
Niteri, 27 a 29 de maio de 2009. Texto disponvel em:
http://www.historia.uff.br/revistapassagens/artigos/v1n2a32009.pdf
ROUANET, Sergio Paulo. Contribuio, salvo engano, para uma dialtica da volubilidade. Em.
ROUANET, S.P. Mal-estar na modernidade: ensaios. So Paulo: Companhia das Letras, 1993.
(pp. 304-338).
SADER, Emir. Ns que amvamos tanto o capital fragmentos para a histria de uma gerao. Em:
Sociologias, Porto Alegre, ano 7, n 14, jul/dez 2005, p. 150-177. (Texto originalmente publicado in:
Praga revista de estudos marxistas, n 1, So Paulo, Boitempo, 1996).
SANTANA, Marco A. Trabalhadores em movimento: o sindicalismo brasileiro nos anos 1980 e
1990. Em: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. O tempo da ditadura
militar: regime militar e movimentos sociais em fins do sculo XX. Rio de Janeiro: Civilizao
Brasileira: 2003.
SILVA, Carlos Eduardo Lins da. Mil dias: seis mil depois. So Paulo: Publifolha, 2005. 2. Ed.
243p.
http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/secret/critico/marini/04dialectica2.pdfhttp://www.historia.uff.br/revistapassagens/artigos/v1n2a32009.pdf
Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 21
SMITH, Anne-Marie. Um acorda forado: o consentimento da imprensa censura no Brasil.
Traduo Waldvia M. Portinho. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2000. 264p.
VENANCIO, R. D.O. Jornalismo e linha editorial: construo das notcias na imprensa partidria e
comercial. Rio de Janeiro: E-papers, 2009.
Fontes pesquisadas (peridicos)
O GLOBO e Folha de So Paulo - edies citadas ao longo do texto.