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Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012 1 Transparência e Responsabilidade Empresarial: uma Análise dos Sites das 500 Maiores Felipe Saraiva Nunes de Pinho Faculdade Lourenço Filho Eloísa Crígina Duarte Xavier Faculdade Lourenço Filho Vanessa Martins dos Santos Faculdade Lourenço Filho Jarbas Silva Rodrigues Faculdade Lourenço Filho Resumo As últimas décadas foram marcadas por profundas mudanças no cenário em que acontecem os negócios empresariais. A sociedade e os consumidores atualmente demandam, cada vez mais, responsabilidade nas práticas e nas políticas das empresas. Nesse sentido, a revolução no acesso à informação, desencadeada pela Internet, possibilitou um maior controle das práticas das organizações e de seus impactos socioambientais. O objetivo deste artigo é analisar os sites das 500 maiores empresas que atuam no Brasil, verificando o grau de transparência e de disponibilização das informações relativas às ações de Responsabilidade Socioambiental praticadas. Acredita-se que, chamando a atenção para a forma como as empresas disponibilizam suas informações e se comunicam com seus diferentes stakeholders, está-se contribuindo para a promoção de empresas mais transparentes e sustentáveis. Palavras-chave: transparência; Internet; responsabilidade empresarial. 1 A VIRADA ÉTICA: A RESPONSABILIDADE EMPRESARIAL E A LEGITIMIDADE DO NEGÓCIO Nas últimas décadas, mais precisamente desde 1970 (DEGEORGE, 2005), crescem as discussões sobre a responsabilidade moral das empresas, principalmente devido à pressão que a sociedade civil tem exercido sobre as organizações empresariais, em consequência das inúmeras denúncias de más práticas nos negócios (GONZÁLEZ, 2011). Desde então, considera-se a importância da reflexão ética como um exercício de clarificação e justificação das políticas e

Transparência e responsabilidade empresarial

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Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012

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Transparência e Responsabilidade Empresarial:

uma Análise dos Sites das 500 Maiores

Felipe Saraiva Nunes de Pinho

Faculdade Lourenço Filho

Eloísa Crígina Duarte Xavier

Faculdade Lourenço Filho

Vanessa Martins dos Santos

Faculdade Lourenço Filho

Jarbas Silva Rodrigues

Faculdade Lourenço Filho

Resumo

As últimas décadas foram marcadas por profundas mudanças no cenário em que acontecem os negócios

empresariais. A sociedade e os consumidores atualmente demandam, cada vez mais, responsabilidade nas

práticas e nas políticas das empresas. Nesse sentido, a revolução no acesso à informação, desencadeada

pela Internet, possibilitou um maior controle das práticas das organizações e de seus impactos

socioambientais. O objetivo deste artigo é analisar os sites das 500 maiores empresas que atuam no

Brasil, verificando o grau de transparência e de disponibilização das informações relativas às ações de

Responsabilidade Socioambiental praticadas. Acredita-se que, chamando a atenção para a forma como as

empresas disponibilizam suas informações e se comunicam com seus diferentes stakeholders, está-se

contribuindo para a promoção de empresas mais transparentes e sustentáveis.

Palavras-chave: transparência; Internet; responsabilidade empresarial.

1 A VIRADA ÉTICA: A RESPONSABILIDADE EMPRESARIAL E A

LEGITIMIDADE DO NEGÓCIO

Nas últimas décadas, mais precisamente desde 1970 (DEGEORGE, 2005), crescem as

discussões sobre a responsabilidade moral das empresas, principalmente devido à pressão que a

sociedade civil tem exercido sobre as organizações empresariais, em consequência das inúmeras

denúncias de más práticas nos negócios (GONZÁLEZ, 2011). Desde então, considera-se a

importância da reflexão ética como um exercício de clarificação e justificação das políticas e

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práticas empresariais, que tem como objetivo restabelecer, construir e fortalecer a confiança dos

afetados ou interessados pelas atividades das empresas em relação à legitimidade dos negócios e

dos objetivos empresariais (GARCÍA-MARZÁ, 2004).

No atual cenário tecnológico e informacional, a "fiscalização" ética por parte da sociedade

civil, determinará, sem dúvida, novas formas e ferramentas de gestão empresarial. Para Josep

M. Lozano (2002), por exemplo, a Ética, no atual contexto empresarial, é tão imprescindível

para o êxito dos negócios como qualquer outra ferramenta estratégica de gestão.

Este artigo tem, pois, o objetivo de analisar os sites das 500 maiores empresas que atuam

no Brasil, verificando tanto o tipo de informação disponibilizada em relação à aplicação de

práticas e de políticas de responsabilidade socioambiental e sustentabilidade quanto o grau de

transparência e de facilidade de acesso a essas informações.

Acreditamos que as empresas deveriam compreender a importância estratégica de seus

sites, como meios de divulgação de suas ações, uma vez que a Internet se apresenta como um

espaço privilegiado de comunicação entre a empresa e os seus diversos stakeholders (CLARK,

2000). Nossa intenção é, portanto, averiguar como as empresas estão, atualmente, fazendo uso

estratégico dessa tecnologia (LLOPIS, GONZÁLEZ & GASCÓ GASCÓ, 2009).

A importância de se manter um canal de comunicação direto com a sociedade está no fato

de que palavras como transparência, confiança, credibilidade, sustentabilidade e

responsabilidade social ficaram tão evidentes hoje no mundo coorporativo que muitos acreditam

que sem sustentabilidade social e ambiental suas empresas estarão fadadas ao insucesso, em

virtude da pressão do próprio mercado e do aumento da conscientização dos consumidores.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Akatu - organização não governamental que

estimula o consumo consciente -, em parceria com o Instituto Ethos, publicada em Dezembro de

2010 (<http://akatu.org.br/Content/Akatu/Arquivos/file/10_12_13_RSEpesquisa2010_pdf.pdf>.

Acesso em 17 de jul. 2012), revelou que 60% dos consumidores brasileiros entrevistados

defendem que "as empresas sempre deveriam fazer mais do que está estabelecido nas leis,

buscando trazer maiores benefícios para a sociedade". Um dado preocupante – que justifica o

interesse e a contribuição desta pesquisa – relacionado à transparência e à disponibilização do

acesso às informações sobre responsabilidade empresarial é que 44% dos entrevistados

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simplesmente não acreditam "que as empresas realmente fazem aquilo que elas divulgam em

termos de responsabilidade social". Outro tema abordado pela pesquisa, que revela a percepção

e a intenção do consumo, aponta que 75% dos entrevistados reduziriam muito sua intenção de

consumo ou não recomendariam produtos que sabidamente poderiam prejudicar a saúde, 66%

não consumiriam produtos de empresas que fazem propaganda enganosa, 56% reduziriam muito

o consumo de produtos de empresas que tratam mal seus funcionários e 44% dos entrevistados

diminuiriam muito sua intenção de consumir produtos de empresas cujas atividades poderiam

ter impactos sociais e ambientais negativos.

O que esse tipo de estudo nos mostra é que as relações tradicionais de consumo estão

mudando (UMANSKY, 2009). Hoje os consumidores e clientes de uma determinada

empresa/produto percebem mais claramente que as organizações empresariais também têm um

papel social, e compreendem que as empresas têm responsabilidade direta sobre o

desenvolvimento da sociedade e a preservação do meio ambiente. A percepção que o

consumidor tem do comportamento e das práticas da empresa influenciam suas decisões de

consumo (CREYER, 1997). O que se está testemunhando é uma mudança do paradigma de

legitimação dos negócios empresariais.

Se, na visão de alguns pensadores contemporâneos como, por exemplo, Friedman (1970) e

Comte-Sponville (2004), ética e capitalismo não deveriam andar juntos, a mobilização da

sociedade exigindo práticas empresariais mais responsáveis têm promovido crítica e punição às

organizações que continuam centradas no modelo moral dos acionistas (shareholders). Esse

modelo defendia que as empresas deveriam ter como único objetivo declarado - ou

responsabilidade moral, como expõe Friedman (1970) - proporcionar ganhos financeiros aos

seus acionistas ou proprietários. É a regra "moral" do autointeresse, proclamada pela "economia

positiva" e liberal, que busca, por meio da eficiência econômica logística, a maximização dos

ganhos estritamente financeiros em um ambiente de escassez (SEN, 1999).

A questão levantada pelo atual debate em torno da sustentabilidade nos negócios é que o

"crescimento econômico", defendido pela economia liberal, não proporcionou exatamente um

"desenvolvimento econômico", ou seja, além de ganhos econômicos e tecnológicos efetivos, o

crescimento também trouxe efeitos colaterais indesejados para a sociedade e para o meio

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ambiente, o que levou à crescente mobilização da sociedade civil exigindo mais

responsabilidade das empresas em relação às suas práticas para alcançar o lucro (CAPPELLIN

& GIFFONI, 2007).

Os gestores das empresas precisam entender que as suas ações têm consequências que

podem tanto afetar a eles próprios como também causar dano ao desempenho de suas

organizações (lucro), bem como influenciar a vida de inúmeros outros indivíduos. As empresas

e os seus gestores devem, por isso, parafraseando Paul Ricoeur, buscar realizar um projeto

dialógico que vise o bem, tendo os semelhantes como parceiros e como finalidade das ações

efetivadas (RICOEUR, 1996).

Assim, o que está em jogo é a legitimidade das práticas empresariais e consequentemente

das próprias empresas (HANDY, 2005). Comportamentos pouco éticos, como tirar vantagens de

clientes, de fornecedores ou de funcionários, podem até gerar lucro fácil e imediato, mas a

médio e longo prazo podem afetar a confiança e afastar os stakeholders e, com isso,

comprometer a sobrevivência da empresa.

A ética, nesse sentido, é imprescindível para o sucesso de qualquer empreendimento, uma

vez que a desconfiança na empresa pode intimidar investidores e consumidores.

2 A TRANSPARÊNCIA E A GESTÃO DA CONFIANÇA

Depois de todos esses argumentos, não se pode negar que é de extrema importância

considerar que a confiança deva ser a base de uma sociedade saudável e que é pelo perpétuo

movimento da troca de confiança que se pode construir uma sociedade próspera.

Quando se confia em alguém, acredita-se em seus atos e em suas decisões, esperando que

eles sejam verdadeiros. Essa conduta de pensamento deve ser o fundamento de qualquer relação

social, pois, sem ela, independentemente do contexto, frustrar-se-iam expectativas, que

poderiam desencadear crises e ameaçar as relações.

Como conquistar, então, a confiança em uma relação? Sem dúvida alguma uma boa forma

de começar é através do comportamento ético, que nos ajudaria a orientar racionalmente nossas

ações a fim de tomar decisões justas e boas (CORTINA, 2007).

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Transformado em hábito, o agir ético poupa o indivíduo do stress de situações injustas,

assegurando segurança em suas relações e associando sua imagem a atitudes sensatas. E esse

costume de ter bons atos gratifica os seres humanos, como pessoas íntegras, conduzidas pela

moral e não pelo castigo. Uma comunicação clara e transparente, não manipuladora ou

estratégica (HABERMAS, 2008), também é importante para que não haja falhas, pois a falta de

alguma informação pode induzir ao erro ou até mesmo a ações injustas ou irresponsáveis,

desviando o indivíduo do caminho da legalidade. A falta de uma atitude transparente pode gerar

desconfiança e perda de credibilidade, quebrando os alicerces de uma relação segura e estável.

Diversos grupos sociais vêm atualmente exigindo das empresas uma dose maior desse

comportamento responsável e transparente, já que as empresas, antes vistas como centros de

lucro, passaram a ser consideradas como “instituições sociais” e, portanto, devem também

assumir o seu papel na criação de uma sociedade mais sustentável e na preservação da vida e do

bem-estar social a curto, médio e longo prazo. Por essa razão, destaca-se a importância da

reflexão ética, das práticas transparentes e da promoção da confiança nas organizações como

modelo sustentável de gestão empresarial.

.

2.1 A Gestão da confiança

Vive-se hoje uma realidade de constante mutação, onde é necessária uma adaptação a cada

nova ordem criada. A competitividade exige das empresas mais e mais inovações, não só

tecnológicas, mas principalmente de gestão, para manter-se em segurança em meio à

concorrência. A gestão estratégica da confiança pode garantir à empresa uma boa reputação e,

assim, conferir-lhe mais segurança para competir, pois uma organização que se preocupa com

sua reputação ganha o respeito da sociedade.

Em outras palavras, para que a empresa adquira segurança ela precisa ter uma boa

reputação e saber como mantê-la, o que deve ser perseguido por meio de ações concretas, com

transparência, seguindo a legislação vigente, cumprindo as determinações legais, sendo justa e

acima de tudo sustentável, pensando no futuro como um aliado, enxergando além do lucro

imediato. A atitude transparente hoje é imprescindível para que a empresa se mantenha

competitiva; mais cedo ou mais tarde ela será cobrada pelos consumidores ou pelos demais

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interessados e afetados, por isso a empresa precisa estar preparada e assumir sua

responsabilidade para conseguir sobreviver.

É importante frisar que não se deve tratar a gestão da confiança como um custo ou um

ônus, ou simplesmente como regras ou normas morais obrigatórias. Ela deve ser, sim, encarada

como uma postura a ser adotada voluntariamente, considerada uma aliada da gestão e do

marketing da empresa.

O ponto a ser destacado é que a gestão da confiança e as práticas da sustentabilidade e da

Responsabilidade Social Empresarial (RSE) devem começar dentro da própria empresa. Os

gestores não devem confundir RSE com filantropia, doações e caridade, esquecendo-se de ser

responsáveis dentro da organização. A valorização do capital humano pode ser um começo para

que a empresa promova a RSE na gestão da confiança interna, respeitando as relações e os

direitos trabalhistas.

Oferecer autonomia, tratar os colaboradores como parceiros (AKTOUF, 2004), são

atitudes que com certeza renderão bons frutos à organização, pois o colaborador, sabendo que o

sucesso da empresa garantirá também o seu sucesso, terá prazer em fazer parte dessa conquista.

Assim, as regras e normas adotadas como forma de conduzir os colaboradores devem ser claras,

simples e justas. Para isso, a empresa deve certificar-se de ter uma comunicação transparente e

eficaz, prevenindo a corrupção e as irregularidades, caso contrário poderá causar mal-estar,

desconforto nas relações e a perda de confiança na gestão.

Além das normas, as empresas devem também elencar seus valores, pois eles constituirão

um guia ético que, além de orientar, servirá de padrão para o comportamento dos parceiros

internos da organização. Agindo assim, a empresa poderá manter uma reputação íntegra e

garantir a confiança dos stakeholders, que são, em última instância, os verdadeiros responsáveis

por avaliar o desempenho das empresas e o impacto de suas ações na sociedade, influenciando

diretamente e indiretamente o consumo. A ética empresarial e a responsabilidade corporativa

devem, por isso, seguir rumo a um novo horizonte em que os gestores empresariais e a

comunidade em geral percebam que as práticas empresariais têm consequências tanto no âmbito

empresarial, como no social e no ambiental.

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2.2 A Transparência e a importância da divulgação das ações de RSE

Todos os argumentos aqui apresentados tiveram como objetivo levar a esse ponto de

reflexão. O objetivo da pesquisa foi verificar o grau de transparência das informações relativas à

RSE disponibilizadas nos sites das maiores empresas, em termos de faturamento, que atuam no

Brasil.

Atualmente observa-se que muitas empresas de capital aberto publicam, em seus sites,

Balanços Sociais e demonstrações financeiras relevantes, como os Balanços Patrimoniais. Dessa

maneira, acredita-se que as mídias digitais, como os sites corporativos, apresentam-se como um

novo canal aberto à transparência empresarial, diminuindo o isolamento das organizações e

colaborando para a comunicação e o esclarecimento de informações relevantes entre as

empresas e seus stakeholders.

Como é sabido, as empresas de capital aberto, regidas pela Lei 6.404/76 (Lei da S/A),

promulgada em 1976, são obrigadas a divulgar seus resultados financeiros de forma a garantir a

segurança de seus investimentos, o que propicia a confiança de seus investidores (ORPHÃO

2003).

É primordial, por conseguinte, que as empresas assumam uma postura de transparência em

suas ações tanto no âmbito financeiro como no social, sendo dessa forma imprescindível uma

comunicação que facilite o acesso dos stakeholders às informações relevantes da empresa. Isso

os ajudará a compreender melhor as práticas e as políticas da empresa e influenciará em suas

decisões diante da avaliação dos riscos e da relação custo/benefício, na hora de optarem por

determinado produto ou organização (BENNIS, 2008).

O que antes era uma atribuição apenas do Estado, a fiscalização das empresas, atualmente,

está também a cargo de todos os cidadãos. O destino dos produtos fabricados traspôs as relações

tradicionais de consumidor-empresa, obrigando os gestores a repensar suas estratégias de

negócio e a maximização do lucro. O desempenho da empresa, modernamente, é analisado de

maneira sistemática, não mais podendo ser direcionado apenas ao presente e aos consumidores

diretos, mas compreendido dentro de uma ampla cadeia de relacionamentos e impactos diretos e

indiretos, presentes e futuros.

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Nesse contexto, a postura da empresa – em relação à divulgação de suas práticas e

políticas de gestão, de seus objetivos organizacionais e de suas ações de sustentabilidade – deve

ser clara e transparente, para promover uma imagem idônea e aumentar a confiança de seus

stakeholders.

O Balanço Social passou a ser obrigatório para as companhias de capital aberto no Brasil

mediante a Lei 11.638/07, que foi uma alteração parcial da Lei 6.404/76 e que disciplina a

divulgação dos desempenhos empresariais no âmbito das ações de responsabilidade

socioambientais.

O Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) destaca-se entre os órgãos

pioneiros, no Brasil, a oferecer um modelo padronizado para a divulgação do Balanço Social. É

uma organização da sociedade civil criada em 1991, tendo como um dos fundadores o sociólogo

Herbert de Souza, conhecido como Betinho. O Ibase tem como objetivo "a radicalização da

democracia e a afirmação de uma sociedade ativa", com a proposta de "fortalecer o tecido

associativo da sociedade, incidir em políticas públicas e criar uma nova cultura de direitos"

(<http://www.ibase.br/pt/quem-somos/>. Acesso em 14 de jun. 2012). O fortalecimento dos

laços entre sociedade e governo e a promoção do consumo consciente estão entre as suas

missões.

Uma importante contribuição do Ibase foi a criação de um dos primeiros modelos de

Balanço Social, ainda em 1980. Nos primeiros anos da iniciativa, o projeto conseguiu apoios

importantes, de empresas como a Inepar, a Usiminas, a Companhia Energética de Brasília e a

Light. Posteriormente, o instituto lançou o Selo Social Ibase/Betinho, conferido a todas as

empresas que publicassem o Balanço Social no modelo sugerido por ele. Atualmente, esse

modelo de Balanço desenvolvido pelo Ibase continua disponível para as empresas que

desejarem utilizá-lo, porém a distribuição do selo foi suspensa em 2008.

Para se enquadrar nos parâmetros do Ibase é fundamental mostrar dados detalhados

referentes a cada contribuição ou ação social promovida dentro e fora da organização. Nesse

sentido, não basta à empresa dizer que desenvolveu ações sociais para a comunidade. É

necessário que haja de fato números que comprovem a veracidade das práticas.

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Atualmente percebe-se uma nova tendência no que diz respeito aos modelos de balanços

socioambientais. As empresas vêm adotando relatórios de sustentabilidade ou relatórios

socioambientais, muitas vezes com formato assemelhado a uma revista. Estes relatórios,

utilizados como veículos de comunicação, muitas vezes integram informações econômicas,

ambientais e sociais.

Um modelo de relatório de sustentabilidade bastante utilizado internacionalmente é o

Global Reporting Initiative - GRI (<https://www.globalreporting.org/Pages/default.aspx>.

Acesso em 27 de fev. 2012). O GRI é uma organização não-governamental fundada em 1997

pelo Programa das Nações Unida para o meio Ambiente (UNEP), em parceria com a

Organização Não-Governamental norte-americana Coalition for Environmentally Responsible

Economics (CERES), tendo como principal objetivo mobilizar organizações e os demais

interessados em uma economia sustentável com vista a promover a elaboração de relatórios de

sustentabilidade, que servirão como guia para as organizações que desejarem se engajar nessa

causa. Com sede central em Amsterdã, o GRI tem representantes em diversos pontos

estratégicos do mundo, como Austrália, Brasil, China, Índia e Estados Unidos, e uma rede

mundial de mais 30.000 colaboradores.

Desde o início de sua atuação, o GRI tem focado suas atividades no desenvolvimento de

um padrão de relatório que aborde os aspectos relacionados à sustentabilidade econômica, social

e ambiental das organizações. O objetivo maior é aumentar a compreensão das empresas e dos

gestores sobre os impactos que suas empresas causam no meio social, promovendo a

conscientização da responsabilidade corporativa na melhoria da sociedade como um todo.

Após um esforço interinstitucional, que envolveu o Instituto Ethos, a Associação

Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) e o centro de Estudos em Sustentabilidade da

Fundação Getúlio Vargas (FGV), a versão em português do GRI foi finalmente lançado no

Brasil em 2006.

Atualmente percebe-se o aumento da utilização do modelo do Relatório de

Sustentabilidade do GRI, por se tratar de uma ferramenta mais completa e utilizada

mundialmente. No Brasil a UniEthos, o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação

Getúlio Vargas (GVces) e a BSD, juntamente com o GRI, vêm difundindo esse modelo

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internacional por meio de treinamentos certificados

(<http://www1.ethos.org.br/EthosWeb/pt/1400/o_instituto_ethos/o_uniethos/o_que_fazem

os/cursos/relatorio_gri/relatorio_de_sustentabilidade_-_gri.aspx>. Acesso em 13 de mar.

2012).

A estrutura dos relatórios do GRI é completa e usa diretrizes para avaliar as empresas

através de indicadores de desempenho como preceitos para a análise da transparência e dos

desempenhos econômicos, ambientais e sociais.

Também como forma de incentivar as práticas empresariais sustentáveis, várias

organizações da sociedade civil acabaram criando também prêmios e programas que buscam dar

reconhecimento público às empresas que desenvolvem ações de responsabilidade

socioambiental e de sustentabilidade. Entre esses programas destaca-se o da BM&F Bovespa.

Seu programa “Relate ou Explique”, criado em 2011, orienta as empresas de capital aberto a

informar à bolsa se publicam ou não algum tipo de relatório de sustentabilidade. Caso o façam,

as empresas devem comunicar onde publicam tal relatório. Se não o fazem, as empresas devem

justificar por que não publicam.

Durante a Rio + 20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável

(junho de 2012), a BM&F Bovespa apresentou o primeiro resultado do seu programa "Relate ou

Explique". Segundo o levantamento,

[...] 45,31% estão entre as empresas listadas que publicam informações

relacionadas às dimensões social, ambiental e de governança corporativa ou

explicaram por que não o fazem. De um total de 448 empresas de capital

aberto analisadas, 96 publicam relatórios de sustentabilidade ou similares

(21,43%); 107 não publicam, mas explicaram por que não o fazem (23,88%)

e 245 não se manifestaram (54,69%). Já das 94 empresas que compõem a

carteira vigente do IBrX – Índice Brasil, que mede o retorno de uma carteira

teórica composta por 100 ações selecionadas entre as mais negociadas na

BOVESPA, em termos de número de negócios e volume financeiro, 49

publicam relatório (52,13%), 22 empresas não publicam, mas se

manifestaram (23,40%) e 23 das empresas não se manifestaram (24,47%)

(<http://www.bmfbovespa.com.br/empresas/pages/BMFBOVESPA-

divulga-primeiros-resultados-do-Relate-ou-Explique-2012-06-18.asp>.

Acesso em 12 de abr. 2012).

Infelizmente muitas empresas ainda utilizam de maneira instrumental as suas ações de

sustentabilidade e de responsabilidade socioambiental (MEIRA, 2010). A Responsabilidade

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Social Empresarial no decorrer dos anos foi sofrendo mudanças em seu sentido ético e passou a

ser praticada por muitas empresas como uma pintura verde a decorar seus textos coorporativos,

beneficiando sua imagem com um marketing positivo para seus negócios – porém falso,

imediatista e pontual – e buscando um bom retorno a curto prazo. A ação de RSE imediatista e

puramente instrumental, sem planejamento que garanta resultados duradouros em longo prazo,

pode até trazer ainda mais prejuízos irreversíveis para a organização e principalmente para a

sociedade e para o meio ambiente.

O compromisso com a sustentabilidade socioambiental está muito mais além do

“marketing verde”. Ter um pensamento sistêmico dessa abordagem é de vital importância para

uma melhor perspectiva do futuro. As exigências morais nos negócios estão deixando de ser

ações isoladas e pontuais; determinam um novo modelo de gestão a ser seguido de maneira

imperativa e categórica e estimulam uma postura mais idônea das organizações. Não se pode

mais esperar nem aceitar que uma empresa se desenvolva e tenha um futuro "saudável" e

lucrativo em uma sociedade miserável. Dessa forma, acredita-se que as empresas e os seus

gestores perceberão finalmente que o lucro a todo custo começa a ter um custo muito alto a

pagar.

Uma empresa inteligente pensa no futuro e consequentemente busca tornar-se sustentável,

desenvolvendo uma gestão moralmente inovadora e competitiva não só no mercado local, mas

também no mundial. Por isso, as empresas precisam repensar as estratégias e os meios

utilizados para a divulgação transparente de suas práticas éticas. Defendemos, neste trabalho,

que a Internet (sites e redes sociais) deve ser considerada como um importante veículo de

divulgação dessas práticas e de comunicação com os stakeholders. Vê-se a seguir como a

pesquisa foi realizada.

3 PESQUISA: MATERIAIS E MÉTODOS UTILIZADOS

Foram pesquisados no estudo os sites das 500 empresas que mais se destacaram em 27

setores da economia no ano de 2010, por intermédio do Ranking publicado pela revista Isto é

Dinheiro: As 500 maiores da Dinheiro e as melhores por setor

(<http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/6354_AS+500+MAIORES+EMPRESAS+E+A

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S+MELHORES+POR+SETOR> Acesso em 11 de jan. 2012). A pesquisa dos sites foi

realizada entre setembro de 2011 e abril de 2012. Como a intenção não foi fazer um estudo

comparativo entre as empresas – comparando suas práticas ou relatos de RSA individualmente –

optou-se por não citá-las nominalmente e sim agrupá-las em classes de acordo com a sua origem

e a amplitude de sua atuação:

multinacionais: empresas de capital predominantemente de

origem estrangeira que atuam no Brasil e têm sede em outro país estrangeiro;

multinacionais com sede no Brasil: empresas de capital

predominantemente de origem brasileira, que atuam internacionalmente e

mantêm sede principal no Brasil;

nacionais: empresas com atuação restrita ao território nacional.

Entre as 500 empresas listadas pela Revista Exame, não foi encontrada nenhuma

informação (site ou outras informações relevantes) sobre seis delas. Essas empresas ou não

divulgavam nenhum dado em relação às variáveis estudadas (Filosofia da Empresa,

Responsabilidade Socioambiental, Relatório de Responsabilidade Socioambiental, Balanço

Social, Balanço Patrimonial), ou nem mesmo apresentavam sites próprios. A amostra final da

pesquisa foi, por isso, constituída de 494 empresas. Todas as informações relativas às variáveis

pesquisadas foram colhidas exclusivamente nos sites oficiais das empresas analisadas.

Estabeleceram-se alguns critérios considerados pertinentes à avaliação, em relação à

forma como as empresas divulgaram as variáveis em estudo, observando se as mesmas usavam

seus sites como veículos de transparência corporativa. A análise estatística dos dados foi

realizada por meio do aplicativo SPSS for Windows 15.0. Os dados coletados foram submetidos

a análises estatísticas descritivas e inferenciais.

Os resultados foram analisados por meio de técnicas estatísticas descritivas e analíticas

com a utilização do teste Qui Quadrado para proporção. O nível de significância utilizado na

decisão dos testes estatísticos foi de 5%.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

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Iniciou-se a investigação pela análise exploratória dos dados, buscando identificar a

proporção de empresas Multinacionais, Multinacionais com sede no Brasil e Nacionais e saber

se elas estavam divulgando suas ações em relação às variáveis em estudo: Filosofia da

Empresa, ações de Responsabilidade Socioambiental, Relatório de Responsabilidade

Socioambiental, Balanço Patrimonial, Balanço Social c⁄Padrão, Balanço Social s/padrão e

GRI.

Julgamos que seja importante esclarecer que consideramos como informações relevantes

para a variável “Filosofia da Empresa”, declarações sobre a missão, a visão e os valores da

organização.

Dessa forma, nosso estudo apontou que, da amostra de 494 empresas, 284 empresas eram

Nacionais (ou seja, são de origem brasileira e têm sua atuação restrita ao território nacional),

109 eram empresas Multinacionais e 101 eram empresas Multinacionais de origem brasileira,

que corresponde a 57,49%, 20,45% e 20,6%, respectivamente.

De acordo com a Tabela 1, é possível observar os percentuais em relação às variáveis em

estudo: Filosofia da Empresa, Responsabilidade Socioambiental, Relatório de Responsabilidade

Socioambiental, Balanço Patrimonial. Dessa forma, é possível observar que a maioria das

empresas apresenta sua filosofia corporativa e ações ou intenções consideradas de

responsabilidade socioambiental, com 81% e 76,1%, respectivamente. Nota-se, porém, que um

número menor de empresas divulga as informações relativas às variáveis Relatório de

Responsabilidade Socioambiental e Balanço Patrimonial.

Tabela 1 - (Descritiva das 494 empresas analisadas)

Variáveis Respostas Empresas %

Filosofia da Empresa Não 94 19

Sim 400 81

Responsabilidade Socioambiental Não 118 23,9

Sim 376 76,1

Relatório de Responsabilidade

Socioambiental

Não 276 55,9

Sim 218 44,1

Balanço Patrimonial Não 217 43,9

Sim 277 56,1

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Em relação à variável pesquisada Balanço Social, considerou-se como padrão os modelos

fornecidos pelo Ibase e pelo Instituto Ethos. Optou-se por analisar separadamente, dentro da

variável Balanço Social, a apresentação de relatórios que utilizaram o modelo proposto pelo

GRI (ver Tabela 2). Em relação a essa variável, Balanço Social, 218 empresas apresentaram

relatórios de balanços sociais (ou relatórios de sustentabilidade) com ou sem padrão. As 276

restantes (do total de 494 empresas analisadas) não disponibilizaram nenhuma informação sobre

essa variável em seus respectivos sites.

Tal como descrito na Tabela 2, observa-se que das 218 empresas que divulgam um

Relatório de Responsabilidade Socioambiental, pode-se observar que 80,3% não seguem um

padrão definido para a divulgação do Balanço Social, proposto pelos modelos do Ibase e do

Instituto Ethos, sendo que 19,7% apresentam em seus sites seus relatórios de acordo com esses

padrões discutidos. Já em relação à variável GRI, observa-se que 49,5% das empresas não

divulgam suas informações seguindo esse padrão internacional, enquanto 50,5% apresentam os

seus dados seguindo esse padrão.

Tabela 2 – (Descritiva das 218 empresas)

Variáveis Respostas Empresas %

Balanço Social c/Padrão Não 175 80,3

Sim 43 19,7

GRI Não 108 49,5

Sim 110 50,5

Nota. Fonte: própria.

Uma segunda análise, utilizando-se o teste Qui Quadrado (χ2) foi realizada para verificar a

existência de diferenças entre as proporções de empresas Multinacionais com sede no Brasil,

Multinacionais e Nacionais em relação à divulgação das informações sobre as variáveis:

Filosofia da Empresa, Responsabilidade Socioambiental, Relatório de Responsabilidade

Socioambiental e Balanço Patrimonial. A Tabela 3 apresenta o resultado dessa análise.

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Tabela 3 – (Teste Qui Quadrado relativo às 494 empresas)

Variáveis Respostas Multinacional

c/Sede Brasil Multinacional Nacional χ

2 Valor de P

Filosofia da

Empresa

Não 20 (19,8%) 23 (21%) 51 (18%) 0,544 0,758

Sim 81(80,2%) 86 (78,9%) 233 (82%)

Responsabilidade

Socioambiental

Não 24 (23,%) 16 (14,7%) 78 (27,5%) 7,084 0,029*

Sim 77 (76,2%) 93 (85,3%) 206 (72,5%)

Relatório de

Responsabilidade

Socioambiental

Não 55 (54,5%) 44 (40,4%) 177 (62,3%) 15,505 0,00001*

Sim 46 (45,5%) 65 (59,6%) 107 (37,7%)

Balanço

Patrimonial

Não 37 (36,6%) 58 (53,2%) 122 (43%) 6,104 0,047*

Sim 64 (63,3%) 51 (46,8%) 162 (57%)

Nota. Fonte: própria. O símbolo de * indica que a variável é significante a 5%. Todas as

demais variáveis não apresentaram impacto estatístico significante.

Assim, a formulação das hipóteses a serem testadas foi a seguinte:

H0 : π1 = π2 = π3 (a proporção dos grupos é igual em relação à divulgação das

informações).

H1: Nem todas as proporções πj são iguais (em que j = 1, 2, 3).

Como sugerem os resultados do teste Qui Quadrado (χ2), há uma diferença significativa

entre a origem da empresa e a divulgação das informações relativas às variáveis em estudo, ou

seja, o valor de P < 0,05, sendo constatada uma diferença estatisticamente significativa nas

proporções entre a nacionalidade da empresa e a divulgação ou não de informações relativas às

variáveis pesquisadas. Desse modo, a proporção de empresas multinacionais que divulgam

informações relativas a ações de responsabilidade social é maior em comparação às nacionais e

às multinacionais brasileiras.

Já a variável Relatório de Responsabilidade Social mostrou-se significante, ao nível alfa

de 5%. Sendo assim, é possível ressaltar mais alta proporção de empresas nacionais que não

divulgam suas informações relacionadas a esta variável em comparação às Multinacionais

c/sede no Brasil e às Multinacionais. Da mesma forma, a variável Balanço Patrimonial

apresentou-se significante, isto é, o valor de P é menor que alfa de 5%, assim é possível

observar que as Multinacionais com sede no Brasil e as nacionais apresentam maiores

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proporções, na divulgação destas informações. No entanto, a variável Filosofia foi a única que

não apresentou resultado significativo, ou seja, não há diferença nas proporções em relação à

nacionalidade e à variável em estudo, isto é, o valor de P > 0,05.

Análise semelhante, utilizando a estatística de teste Qui Quadrado (χ2), foi utilizada na

Tabela 4, referente às variáveis Balanço Social com Padrão e GRI. Assim, é possível observar

que não há uma diferença significativa quando se compara a origem da empresa e a divulgação

de cada uma dessas variáveis. No tocante às variáveis Balanço Social com Padrão e GRI, o

valor de P apresentou-se não significante, isto é, valor de P > 0,05, sendo por isso constatado

que não há uma diferença proporcional em relação à origem da empresa – se Multinacional com

Sede no Brasil, Multinacional ou Nacional – e a divulgação de informação relacionada às

variáveis estudadas. Vale ressaltar que a maioria das empresas não utiliza o padrão

recomendado para a divulgação do seu Balanço Social. No que concerne à variável GRI, é bem

parecido o resultado das corporações que divulgam ou que não divulgam esse padrão de

relatório.

Tabela 4 – (Teste Qui Quadrado relativo às 218 empresas)

Variáveis Respostas Multinacional

c/Sede Brasil Multinacional Nacional χ

2 Valor de P

Balanço Social c/Padrão Não 37 (80,4%) 56(86,2%) 82 (76,6%)

2,315 0,314 Sim 9 (19,6%) 9 (13,8%) 25 (23,4%)

GRI Não 24 (52,2%) 30 (46,2%) 54 (50,5%)

0,463 0,793 Sim 22 (47,8%) 35 (53,8%) 53 (49,5%)

Nota. Fonte: própria. Todas as variáveis analisadas não apresentaram impacto estatístico

significante.

Relativamente às 494 empresas analisadas, das variáveis utilizadas como critérios de

avaliação a Filosofia da Empresa foi a variável que teve mais destaque: 400 organizações

expuseram suas filosofias como forma de reforçar seus valores, princípios, suas normas éticas e

organizacionais, orientadas para a melhoria do desempenho corporativo. Durante a pesquisa foi

percebido que as corporações deram ênfase à Responsabilidade Socioambiental. Do total, 376

dizem em seus sites ter RSA, o que deu a impressão de que no âmbito nacional as empresas

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Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012 17

estão absorvendo o tema como uma estratégia de ação ou foco de atuação, embora nem todas

demonstrem de forma transparente suas atuações, pois algumas usam apenas pequenos textos

em seus sites ou revistas informativas e acabam não disponibilizando mais informações

relevantes sobre suas ações de Responsabilidade Socioambiental.

Observou-se também que das 376 empresas que divulgam ações ou intenções de RSA

apenas 218 divulgam suas ações por meio de relatórios que buscam organizar os dados das

ações realizadas. Em relação à variável Balanço Patrimonial, apenas 277 do total das empresas

divulgam seus Balanços, o que sugere que ainda há receio por parte das corporações de

divulgarem seus resultados financeiros. A maioria das empresas analisadas só divulgam seus

balanços financeiros/patrimoniais quando são obrigadas legalmente a isso.

Na análise das 218 empresas que divulgam suas ações de RSE, apenas 43 empregam um

padrão confiável e transparente em seus relatórios. Observou-se também que o GRI está

ganhando espaço e as empresas estão buscando se certificar para dar mais credibilidade às suas

ações de RSA por meio de relatórios de sustentabilidade que, somados ao Balanço Social,

tornam-se ferramentas completas e confiáveis, elevando a transparências das informações

divulgadas.

5 CONCLUSÕES

As análises quantitativas precisam, muitas vezes, passar pelo crivo de uma análise

qualitativa dos dados. Das empresas analisadas, muitas se diferenciam pelas diversas

características econômicas, origem ou ramo de atuação, entretanto muitas delas se assemelham

quando o assunto é ética e transparências nos negócios.

Nosso estudo observou que a maioria das empresas analisadas não é transparente no

modo como divulga suas ações de Responsabilidade Socioambiental ou seus resultados

financeiros. Algumas não definem para o público sua missão como empresa, seus valores e sua

sistemática administrativa. O que se observa é que ainda não há, entre as empresas analisadas

que atuam no Brasil, uma preocupação declarada e efetiva de buscar, junto a seus diferentes

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stakeholders, a associação entre a sua marca e os impactos positivos ou negativos que seus

negócios possam trazer para a sociedade ou para o meio ambiente.

Analisando os perfis das empresas divulgados nos sites, detecta-se que muitas delas

dizem ter preocupação com seu corpo funcional, com sua missão, com seu crescimento aliado à

sustentabilidade, mas não há nada claramente expresso que descreva a estratégia ou a política

adotada para se alcançar esse fim, o que acaba se configurando como uma simples propaganda

mercadológica.

Quando se comparam os resultados entre multinacionais e nacionais, o que se observa,

qualitativamente, é que há uma significativa diferença entre as empresas em relação à

concepção de responsabilidade social nos negócios. As organizações multinacionais tendem a

ser mais organizadas e transparentes na maneira como divulgam suas informações e, também,

bem mais preparadas em termos de políticas, balanços sociais e ações de responsabilidade

socioambiental. Em geral, as informações, relativas à RSA disponibilizadas nos sites das

empresas multinacionais que atuam no Brasil apresentam mais fácil visualização e geralmente

estão atreladas à própria marca da empresa, ou seja, são utilizadas estrategicamente como

ferramentas de gestão da confiança. Percebe-se por isso, que existe entre as empresas que atuam

internacionalmente uma maior preocupação com a imagem que a organização transmite e que é

percebida pela sociedade.

Já no âmbito das empresas com atuação restrita ao território nacional, percebemos que

quando o assunto é responsabilidade social, ética e transparência, há o predomínio de

informações subjetivas, além da divulgação de dados e ações de RSA com poucos critérios

objetivos. A maioria destas empresas está preocupada apenas em divulgar por divulgar, sem o

real comprometimento com a transparência dos dados expostos, não havendo padrão ou

periodicidade na publicação de seus relatórios, tais como o Balanço Social e o Balanço

Financeiro, por exemplo.

Nesse sentido, percebemos que muitos dos relatórios encontrados estavam

desatualizados, com dados de até 2008, o que nos leva a concluir que há efetivamente pouco

interesse de algumas empresas em assumirem uma postura mais transparente e responsável.

Observamos também que mesmo nesses relatórios desatualizados eram apresentadas as cifras

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das ações de RSA realizadas com números insignificantes, quando comparados à alta

rentabilidade financeira da empresa. Ou seja, não conseguimos encontrar ou compreender o

critério adotado pelas empresas para definir o montante financeiro que é destinado às ações de

RSA. Outro ponto que suscitou questionamentos foi a forma como esses relatórios, que não

utilizam padrões reconhecidos, são divulgados, levando-nos a crer que o padrão de divulgação

foi decidido pela própria empresa, de acordo com sua conveniência na apresentação ou no

ocultamento de dados e análises.

Esses relatórios, na maioria das vezes, não divulgam por meio de cifras concretas os

percentuais gastos com políticas de treinamento e capacitação para os funcionários, e com

investimentos em ações de promoção do bem-estar social dentro e fora da organização ou em

cultura e educação para os filhos dos funcionários ou para os próprios funcionários. Ficam de

fora também as informações sobre a base de cálculo da receita operacional utilizada na folha

dos funcionários e sobre os indicadores sociais internos e externos, como gastos com

alimentação e saúde dos empregados. Nesse sentido, percebemos o quanto a divulgação de

relatórios e balanços (sociais e patrimoniais) sem padrão pode comprometer a transparência, a

significância e fidelidade das informações divulgadas.

Observa-se que a maioria das empresas que declara espontaneamente apresentar um

Balanço Social o faz, na verdade, incorporando os dados relativos às ações de RSA e

sustentabilidade ao próprio Balanço Financeiro, o que acaba gerando informações que nem

sempre condizem com os parâmetros do Ibase e do GRI. Essa falta de critério compromete não

somente as informações contidas nos balanços, mas também a compreensão de quem o analisa,

pois fica confuso entender o que distingue Balanço Financeiro de Balanço Social.

Outra particularidade observada é a dificuldade em encontrar os balanços nos sites das

empresas consultadas. Muitos deles estavam em subpáginas, sem link direto ou com links

"quebrados", sendo necessária muita atenção e paciência para encontrar as informações e os

balanços. Isso nos leva a concluir que muitos gestores ainda não consideram esse tipo de

informação importante para o relacionamento com os diferentes stakeholders da empresa.

Observamos, através da pesquisa, que o conceito de responsabilidade socioambiental

ainda é encarado superficialmente e de maneira subjetiva pelas organizações: cada empresa faz

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uma gestão da responsabilidade socioambiental à sua maneira. Encontramos, a título de

exemplo, empresas que ajudam ou se filiam a instituições de assistência social, ou ainda outras

que plantam algumas árvores ou reciclam alguns produtos esporadicamente e que se

autoproclamam responsáveis em seus sites. Estampam na página principal do site a logomarca

da entidade beneficiada, ou algumas fotos de ações ambientais, embora efetivamente nenhum

dado ou balanço contabilize essas ações sociais, o que tipifica uma estratégia de propaganda

empresarial.

Mesmo o tema da sustentabilidade e da RSA estando em destaca na mídia, o que se

observa é a imaturidade e o pouco compromisso das organizações com relação ao assunto. Mais

do que qualquer sentimento de “obrigatoriedade”, o que as empresas e os gestores precisam

analisar é o papel social que eles atribuem às suas organizações.

Os paradigmas que orientam o consumo e a gestão empresarial estão mudando. Observa-

se um aumento gradativo da conscientização dos consumidores, de que eles também são

responsáveis na hora de escolher as empresas e os produtos que consomem. Na perspectiva do

consumo ético, o consumidor é lembrado de que a ação de consumir também implica um ato de

cidadania, que deve ter suas consequências avaliadas em termos de corresponsabilidade, ou seja,

o consumidor - enquanto cidadão - precisa assumir também o seu compromisso na promoção de

uma sociedade mais justa escolhendo entre os vários produtos e empresas aquelas que têm

práticas mais éticas (CORTINA, 2004). Espera-se com isso que investidores e consumidores,

cada vez mais, prestam atenção às praticas de responsabilidade corporativa como um sinal de

boa gestão.

A gestão transparente propicia aos stakeholders mais conhecimentos sobre as práticas e

políticas das empresas, o que acaba aumentando a consciência da sociedade sobre as

implicações do modelo de desenvolvimento vigente. O que se busca, com a gestão transparente

é estimular a harmonia entre indivíduo, sociedade e meio ambiente e também garantir

sustentabilidade para as gerações futuras.

O novo paradigma que se delineia sustenta que ser responsável socialmente é um fator de

competitividade dentro do mercado; usar da transparência e da ética nos negócios e assumir um

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compromisso social e ambiental serão um grande diferencial competitivo das empresas do

século XXI.

Nesse cenário, cabe a cada um de nós assumirmos nossa responsabilidade e atuar na

fiscalização das organizações, exigindo produtos ou meios de produção sustentáveis que tragam

retorno para a sociedade. Por isso, é necessário o amadurecimento de uma consciência como

sociedade, como cidadão e como corresponsáveis da construção dessa nova realidade.

Transparency and Corporate Responsibility:

an Analysis of Sites of 500 Largest

Abstract

The last few decades have been marked by profound changes in the world of enterprise business. Society

and consumers of today start to demand more and more responsible policies and practices

from companies. Thus, the Internet boom and the easy access to information via

web have allowed greater control of the practices adopted by the enterprises and its social and

environmental impacts. The aim of this paper is to analyze the sites of the 500 biggest companies

operating in Brazil in order to verify its degree of transparency and its capacity of providing information

about Social and Environmental Responsibility. We believe that by calling attention to the way

companies communicate with its various stakeholders we are contributing to build more transparent and

sustainable corporations.

Keywords: transparency, Internet, enterprise responsibility

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2012.

Felipe Saraiva Nunes de Pinho

Professor da Faculdade Lourenço Filho

Psicólogo, Mestre em Linguística (UFC)

DEA em Filosofia Moral (Universidad de Barcelona)

e-mail: [email protected]

Eloísa Crígina Duarte Xavier

Aluna do Curso de Administração de Empresas da Faculdade Lourenço Filho

e-mail: [email protected]

Vanessa Martins dos Santos

Aluna do Curso de Administração de Empresas da Faculdade Lourenço Filho

e-mail: [email protected]

Jarbas Silva Rodrigues

Professor da Faculdade Lourenço Filho

Graduação em Estatística (UFC)

Mestre em Logística e Pesquisa Operacional (UFC)

e-mail: [email protected]