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Trecho do livro "Entendendo Nietzsche"

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Décimo quinto volume da Coleção Entendendo

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nietzsche

Laurence Gane &Piero

tradução: Carlos duarte & anna duarte

Entendendo é uma premiada coleção de livros ilustrados sobre os pensadores e os temas mais importantes da história. Aborda teorias fundamentais de diversos campos de estudo, tais como filosofia, psicologia, ciências, política, religião, es-tudos culturais e linguística. Cada livro é escrito por um reconhecido especialista do assunto e ilustrado por um artista gráfico. De forma agradável, a coleção ofe-rece informações úteis e objetivas para leitores que tanto buscam um primeiro contato, como desejam adquirir um conhecimento conciso sobre o assunto.

entendendo:

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Text copyright © 2005 Laurence Gane

Illustrations copyright © 2005 Piero

Todos os direitos reservados.

Tradução para a língua portuguesa: copyright © 2014, Texto Editores Ltda.

Título original: Introducing Nietzsche

Diretor editorial: Pascoal Soto

Editora executiva: Tainã Bispo

Produção editorial: Pamela Juliana de Oliveira, Renata Alves e Maitê Zickuhr

Diretor de produção gráfica: Marcos Rocha

Gerente de produção gráfica: Fábio Menezes

Preparação: Alexander Barutti Azevedo Siqueira

Revisão: Juliana Caldas

Capa e diagramação: Vivian Oliveira

2014

TExTO EDITORES LTDA. [Uma editora do Grupo Leya]Rua Desembargador Paulo Passaláqua, 8601248-010 – São Paulo – SP – Brasilwww.leya.com.brTwitter: @EditoraLeya

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Angélica Ilacqua CRB-8/7057

Gane, Laurence Entendendo Nietzsche / Laurence Gane, Piero; tradução de Carlos Duarte, Anna Duarte. – São Paulo : LeYa, 2014. 176 p. : il. (Entendendo)

ISBN 978-85-8044-844-3Título original: Introducing Nietzsche

1. Filosofia 2. Nietzsche, Friedrich Wilhelm, 1844-1900 3. Niilismo (Filosofia) 4. Morte de Deus I. Título II. Piero, 1967 III. Duarte, Carlos IV. Duarte, Anna

13-1038 CDD 100

Índices para catálogo sistemático:1. Filosofia

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Na frente do panteão dos intelectuais do século xIx estão as figuras de Karl Marx (1818-1883), Sigmund Freud (1856-1939) e Friedrich Nietzsche (1844-1900). A crítica ao sistema social e econômico de Marx e a análise da vida psicossexual de Freud estavam bem assimiladas no fim do século xx e início do século xxI. Contudo, as ideias de Nietzsche permaneciam no horizonte da consciência moderna: um desafio perturbador, e até mesmo assustador, que ele sabia que não seria aceito durante o período de sua existência. “Imaginem um livro que não fala de outra coisa senão de acontecimentos situados fora da possibilidade das experiências comuns, ou até mesmo raras – a primeira forma de expressão para um novo campo de experiências. Nesse caso, nada será ouvido!”

Hoje, passados mais de cem anos, estamos começando lentamente a nos dar conta das profundas mudanças prenunciadas por Nietzsche em nossa relação com a verdade, a ciência e a moralidade.

Meu teMpo ainda não chegou; alguns hoMens já nasceM

póstuMos.

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Os primeirOs anOs

No dia 15 de outubro de 1844, em Röcken, na Saxônia, um pastor luterano foi abençoado com o nascimento de seu primogênito, Friedrich Wilhelm Nietzsche. A família vinha de uma descendência aristocrática polonesa e concebera várias gerações de religiosos.

Nietzsche tinha apenas cinco anos quando seu pai morreu de um traumatismo craniano resultante de uma queda. No ano seguinte a família mudou-se para Naumberg. Ele era um menino introspectivo que gostava de poesia e música. Na escola era chamado de “pequeno pastor” e em casa morava com sua mãe, sua irmã, uma das avós e duas tias. Uma formação determinante, como veremos!

essa provará ser a Mais

irônica das hipóteses.

assiM, espera-se que o joveM Friedrich continue a tradição

da FaMília.

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Em 1858, aos 14 anos, Nietzsche ganhou uma bolsa de estudos para a famosa escola Pforta, perto de Naumberg, um internato luterano severo de alto padrão acadêmico, onde ele adquiriu seu amor pelos estudos clássicos. Destacou-se em grego e latim e dedicou-se a Platão e Ésquilo.

Quando, em 1864, Nietzsche deixou Pforta, nenhum sinal de mudança surgira em seu pensamento: ele agradeceu aos seus mestres e declarou sua dívida de gratidão “para com Deus e o Rei”.

escrevi poesia e Música, e junto coM Meus

colegas Fundei a sociedade literária “gerMania”.

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Em outubro de 1864, aos 20 anos, Nietzsche entrou para a Universidade de Bonn para estudar teologia e filologia (análise literária de textos clássicos). Logo renunciou à teologia. Explicou isso em uma carta escrita à Elizabeth, sua irmã mais nova.

No ano seguinte, mudou-se para Leipzig com a intenção de acompanhar Ritschl, seu professor predileto, que havia aceitado um cargo na universidade.

se você deseja ter paz de espírito e

Felicidade, então acredite; se deseja ser uM discípulo

da verdade, então investigue.

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schOpenhauer: a negaçãO da vida

Em Leipzig, numa livraria de livros de segunda mão, Nietzsche descobriu O mundo como vontade e representação, do filósofo idealista alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), cujo ateísmo ecoaria ao longo de seus próprios textos.

eM todas as linhas, ouvi o grito de denúncia, de

negação e resignação; vi no livro o espelho no qual o Mundo, a própria vida e

Minha alMa estavaM todos reFletidos coM uMa Fideli-

dade horripilante.

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Para Schopenhauer, assim como para seu grande predecessor Immanuel Kant, há uma distinção fundamental entre o mundo como parece (phenomena) e o mundo como realmente é (noúmena).

Todas as aparências são meras manifestações físicas de uma realidade fundamental, que Schopenhauer chama de vontade.

A força cósmica não física e atemporal não conduziu Schopenhauer à ideia de Deus. Ao contrário disso, a Vontade é vista como a fonte de todo o sofrimento, uma vez que a vontade nunca traz satisfação, mas apenas aprofunda o desejo! (Um eco dos ensinamentos de Gautama Buda.) Dessa forma, estamos condenados à eterna busca dos desejos impossíveis. “Sopramos uma bolha de sabão durante o maior tempo possível, embora saibamos que irá estourar.”

assiM, por detrás da aparência de Meus MoviMentos corporais repousa a realidade de Minha vontade ou desejo. essa vontade

não existe à seMelhança de Meu corpo no teMpo e no espaço - não é sequer uMa entidade Física, Mas FundaMenta o todo da natureza

aniMada e inaniMada através do cosMo.

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Isso sugere uma resignação pessimista para suportar a vida da melhor maneira que pudermos. Embora mais tarde Nietzsche tenha rejeitado esse pessimismo profundo, a imagem ateísta melancólica de Schopenhauer de um universo movido pela Vontade cega sem sentido último ou consolo permaneceu com ele.

schopenhauer prega o ascetisMo e a negação da vida. eu irei ensinar a

afirmação jubilosa da vida.

...os desejos nunca satisFeitos, os esForços Frustrados, as esperanças iMpiedosaMente esMagadas pelo destino, os

erros inFelizes durante a vida inteira, coM o soFriMento

crescente e a Morte ao Final, são seMpre uMa tragédia.

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