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Tribunal de Contas do Estado de Rondônia Gabinete do Conselheiro Edílson de Sousa Silva 1 E-II PROCESSO Nº 1424/2010-TCER ASSUNTO Denúncia sobre supostas irregularidades na renúncia de receitas decorrentes da estipulação de taxas em favor de Fundo de natureza privada INTERESSADO IDARON Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril do Estado de Rondônia Responsável Agostinho Pastore - Presidente Relator Conselheiro José Gomes de Melo Revisor Conselheiro Edílson de Sousa Silva EMENTA: Constitucional. Tributário. Administrativo. Atribuição do produto da arrecadação de taxa a fundo de natureza privada: Inconstitucionalidade por ruptura da vinculação com a atividade estatal. Ofensa ao art. 145, II, da CF c/c art. 77 do CTN. Controle de constitucionalidade que se promove por negativa de executoridade por se tratar de dispositivo impugnado na esfera judicial: Procedimento célere que prescinde do contraditório. Recursos transferidos do Tesouro Estadual a entidade privada a qualquer título: Instauração de Tomada de Contas Especial pelo Órgão de Controle Interno para apurar a efetiva aplicação. Dependência administrativa e operacional de Órgão Público em relação a entidade privada: Ilegalidade. Burla às normas de regência da Administração Pública.

Tribunal de Contas do Estado de Rondônia€¦ · Mas é no Parágrafo Único do art. 6º que se situa o nó górdio da controvérsia, ao permitir a isenção da Taxa do FESA-SE aos

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Tribunal de Contas do Estado de Rondônia Gabinete do Conselheiro Edílson de Sousa Silva

  

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PROCESSO Nº 1424/2010-TCER

ASSUNTO Denúncia sobre supostas irregularidades narenúncia de receitas decorrentes da estipulação de taxas em favor de Fundo de natureza privada

INTERESSADO IDARON – Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril do Estado de Rondônia

Responsável Agostinho Pastore - Presidente

Relator Conselheiro José Gomes de Melo

Revisor Conselheiro Edílson de Sousa Silva

EMENTA: Constitucional. Tributário.

Administrativo. Atribuição do produto da

arrecadação de taxa a fundo de natureza

privada: Inconstitucionalidade por

ruptura da vinculação com a atividade

estatal. Ofensa ao art. 145, II, da CF

c/c art. 77 do CTN. Controle de

constitucionalidade que se promove por

negativa de executoridade por se tratar

de dispositivo impugnado na esfera

judicial: Procedimento célere que

prescinde do contraditório. Recursos

transferidos do Tesouro Estadual a

entidade privada a qualquer título:

Instauração de Tomada de Contas Especial

pelo Órgão de Controle Interno para

apurar a efetiva aplicação. Dependência

administrativa e operacional de Órgão

Público em relação a entidade privada:

Ilegalidade. Burla às normas de regência

da Administração Pública.

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VOTO-VISTA

Os presentes autos tratam de denúncia

oferecida por Tomás Guilherme Correia, devidamente

qualificado às fls. 01, sobre supostas irregularidades na

estipulação de taxas do Fundo Estadual de Defesa Sanitária

Animal – FESA-RO, em favor do Fundo Emergencial de Febre

Aftosa do Estado de Rondônia – FEFA-RO, que possui natureza

privada e, portanto, de acordo com o denunciante, o

proceder caracterizaria renúncia de receitas, o que é

vedado pela Lei de Responsabilidade Fiscal, a que alude a

Complementar nº 101/2000.

A matéria foi apreciada na Sessão

Plenária do dia 22 de novembro último, quando o Relator,

Conselheiro José Gomes de Melo, proferiu o seguinte voto

(parte dispositiva), verbis:

(...) Assim, diante de tudo o que foi

exposto, em atenção aos termos da

denúncia, às razões de justificativas

manejadas pela IDARON e pelo Fundo

Emergencial de Combate a Febre Aftosa,

com amparo parcial no que foi apontado

pelos relatórios do Controle Externo, e

supedâneo no Parecer nº 319/2012 exarado

pela Procuradora Geral do Ministério

Público de Contas, apresento a este

Plenário o seguinte VOTO:

I – Preliminarmente, CONHECER a Denúncia

por se tratar de matéria de competência

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da Corte de Contas e estarem preenchidos

os pressupostos de admissibilidade do

artigo 74, § 2º, c/c o art. 75 da

Constituição Federal e pelo artigo 79 e

80 da Resolução nº 05/1996;

II – DETERMINAR a realização de Inspeção

Especial no FESA-IDARON e no FEFA-RO, a

partir de promulgação da Lei Complementar

Estadual nº 536/09, com vistas a levantar

a receita pública decorrente da

arrecadação da taxa de defesa sanitária

animal, bem assim as despesas decorrentes

da aplicação do artigo 2º da Lei

Complementar nº 536/2009;

III - DETERMINAR ao Governo de Rondônia,

na pessoa do Exmo. Governador do Estado,

Sr. Confúcio Aires Moura, que no uso de

suas atribuições institua, num prazo de

30 (trinta) dias da ciência desta

decisão, Comissão Especial formada por

Agentes Públicos cujas atribuições sejam

afetas às Contas do Estado e ao Setor

Agropecuário, tais quais Controladoria

Geral do Estado – CGE/RO, Secretaria de

Finanças do Estado de Rondônia – SEFIN,

Secretaria de Estado de Planejamento e

Coordenação Geral – SEPLAN, Secretaria de

Estado de Agricultura, Pecuária e

Regularização Fundiária – SEAGRI,

Procuradoria Geral do Estado – PGE,

Agência de Defesa Sanitária

Agrosilvopastoril do Estado de Rondônia –

IDARON e tantos outros Órgãos Federais,

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Estaduais e Municipais que entender

necessários, bem como convidando os

representantes das entidades privadas

ligadas ao agronegócio, com vistas a, num

prazo de 120 (cento e vinte) dias de sua

criação, promovam estudos que:

a) Viabilizem a manutenção permanente da

classificação do Estado de Rondônia como

“Área Livre de Febre Aftosa” pela

Organização Mundial de Saúde Animal - OIE

, com a total erradicação da doença em

nossas fronteiras;

b) Promovam a adequação do sistema de

gestão atual da pecuária do Estado à

Legislação Vigente em confronto às

improbidades encontradas na Lei

Complementar nº 536/2009, de forma a não

COMPROMETER A ECONOMIA DO ESTADO;

c) Investiguem a necessidade do Estado

por profissionais técnicos que possam

compor o quadro da IDARON e realizar a

totalidade dos serviços referentes a

defesa sanitária animal estadual, com

vistas a eventual realização de concurso

público naquela autarquia estadual,

inclusive quanto a dotação orçamentária

para tal desiderato;

d) Na esteira do subitem acima,

identifiquem os bens imóveis e insumos

que o Estado precisa aparelhar-se para

continuar promovendo a defesa sanitária

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do rebanho estadual, independente dos

postos à disposição do Estado pela

entidade privada FEFA/RO, sugerindo

inclusive a origem dos recursos para sua

aquisição;

e) Adotem meio de formalização de

parceria com a República da Bolívia de

forma que o Estado de Rondônia possa

continuar promovendo a Defesa Sanitária

da fronteira comum, eliminando os riscos

de infecção do nosso rebanho pela Febre

Aftosa imigrada daquela Nação;

f) Elaborem plano de proteção e defesa do

rebanho estadual da possível migração da

febre aftosa do rebanho amazonense, dada

classificação daquele Estado da Federação

como área de risco de febre aftosa pela

Organização Mundial de Saúde Animal;

g) Fomentem o saneamento das

irregularidades existentes no setor

pecuário que impedem a exportação dos

insumos pecuários produzidos no Estado

para a União Européia.

IV – DETERMINAR ao Exmo. Governador do Estado, que dê ciência a

esta Corte de Contas de todo o procedimento a ser efetivado,

encaminhando, num prazo de 15 (quinze dias) do término dos

trabalhos da comissão especial, os estudos e suas conclusões.

V – DETERMINAR à Secretaria das Sessões que efetue a publicação

desta Decisão, e dê conhecimento do inteiro teor deste julgado

ao denunciante, aos denunciados, ao Exmo. Governador do Estado,

Sr. Confúcio Aires Moura e aos representantes legais da

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Controladoria Geral do Estado – CGE/RO, Secretaria de Finanças

do Estado de Rondônia – SEFIN, Secretaria de Estado de

Planejamento e Coordenação Geral – SEPLAN, Secretaria de Estado

de Agricultura, Pecuária e Regularização Fundiária – SEAGRI,

Procuradoria Geral do Estado – PGE, enviando após o cumprimento

desta determinação, os autos à Secretaria Geral de Controle

Externo.

VII – SOBRESTAR os autos na Secretaria Geral de Controle

Externo, até retorno das conclusões da inspeção especial, bem

como resultado dos estudos da Comissão Especial à ser instituída

pelo Governo Estadual.

Não obstante o bem lançado voto do digno

Relator, na forma regimental entendi por bem pedir vista

dos autos para melhor reflexão sobre a temática.

Preliminarmente, cumpre assinalar que

acompanho os entendimentos do Ministério Público de Contas

e do eminente Relator, no tocante ao conhecimento da

denúncia, por se encontrar ajustada aos requisitos

regimentais de admissibilidade.

No mérito, o Ministério Público de Contas

se pronunciou em duas oportunidades, mediante o Parecer

nº 048/11, fls. 213/243, e o Parecer nº 319/12, fls.

1287/1300, sendo que na primeira opinou pela negativa de

executoriedade ao Parágrafo Único do art. 6º, da Lei

Complementar nº 526/2009, bem como indicou agendamento de

Inspeção Especial para levantar e acompanhar as receitas e

despesas decorrentes, enquanto que na segunda reiterou o

entendimento expendido na primeira, além de propor

imposição ao Presidente da IDARON para que se abstenha de

praticar ato que resulte na aplicação de isenção da taxa

questionada pela denúncia.

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A seu turno, igualmente no mérito o

Relator promoveu substanciosa análise da matéria, com

ênfase na vertente operacional do IDARON, o que ensejou

propor em seu voto a realização de Inspeção Especial para

levantar a receita decorrente da taxa impugnada pela

denúncia, além do encaminhamento de medidas a serem

adotadas pelo Executivo na defesa sanitária animal do

Estado.

Contudo, com as vênias devidas, considero

imperioso perscrutar a arguição da denúncia sob a

perspectiva puramente jurídica, precisamente quanto ao

exame da legalidade do objeto da denúncia, manifestado no

dispositivo que permite transmudar as taxas do fundo

público (FESA-RO) para o fundo privado (FEFA-RO).

A controvérsia tem como pano de fundo a

Lei Complementar nº 536, de 9 de dezembro de 2009, pela

qual o Executivo Estadual criou no âmbito do IDARON o Fundo

de Defesa Sanitária Animal – FESA-RO -, com a finalidade de

permitir o implemento das ações previstas no art. 1º, § 1º,

I e II, a saber:

Art. - Fica criado, na Agência de Defesa Sanitária

Agrosilvopastoril do Estado de Rondônia – IDARON, o Fundo

Estadual de Sanidade Animal – FESA-RO.

§ 1º - Os recursos oriundos do FESA-RO, serão destinados nas

ações referentes a:

I – indenização pelo abate sanitário, sacrifício de animais

atingidos por doenças erradicadas e outras infecto-contagiosas

contempladas em Programas Sanitários do Estado ou em convênios

com a União, bem como destruição de produtos e subprodutos de

origem animal, para suplementar ações relativas à vigilância em

saúde animal e situações de risco alimentar por vazio sanitário,

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equivalentes em até 50% (cinquenta por cento) do saldo das

dotações orçamentárias do fundo; e

II – apoio a certificação e rastreabilidade bovina e bubalina em

propriedades com até 1 (um) módulo fiscal – 60 (sessenta)

hectares, equivalente em até 50% (cinquenta por cento) do saldo

das dotações orçamentárias do fundo.

Posteriormente foi editada a Lei

Complementar nº 564, de 3 de março de 2010, que via

alteração da Lei Complementar nº 536/2009, passou o FESA-RO

para a esfera da SEAGRI, porém manteve a gestão sob a

tutela da IDARON, nos termos seguintes, verbis:

Art. 1º - Os dispositivos abaixo relacionados da Lei

Complementar nº 536, de 6 de dezembro de 2009, que “Cria o Fundo

Estadual de Defesa Sanitária Animal – FESA-RO e institui a Taxa

de Defesa Sanitária Animal do Estado de Rondônia”, passam a

vigorar com a seguinte redação:

“Art. 1º - Fica criado na Secretaria de Estado da Agricultura,

Pecuária e Regularização Fundiária – SEAGRI, o Fundo Estadual de

Sanidade Animal – FESA-RO.

...

Art. 4º - O Fundo instituído por esta Lei Complementar será

gerido pela Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril Animal

– IDARON, que também fará parte do Conselho Deliberativo, o qual

será composto pelos órgãos abaixo, ou aqueles que venham a

sucedê-los: (...)

Dentre as fontes de recursos previstas

para financiar as ações do FESA-RO, foi instituída a Taxa

de Defesa Sanitária Animal, denominada Taxa do FESA-RO, nos

termos do art. 2º do mesmo diploma, verbis:

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Art. 2º - Fica instituída a Taxa de Defesa Sanitária Animal,

para custeio das ações de defesa sanitária animal e indenizações

pelo sacrifício de animai e destruição de produtos e subprodutos

de origem animal.

O art. 6º do diploma em alusão condiciona

a emissão da GTA – Guia de Trânsito Animal - ao

recolhimento da Taxa ao FESA-RO, nos seguintes termos,

verbis:

Art. 6º - A emissão de GTA para bovinos, bubalinos ovinos,

caprinos, suínos e aves destinados ao abate fica condicionada a

comprovação do pagamento da Taxa do FESA-RO, conforme valores

estipulados no inciso VII do § 2º do artigo 1º desta Lei

Complementar.

Mas é no Parágrafo Único do art. 6º que

se situa o nó górdio da controvérsia, ao permitir a isenção

da Taxa do FESA-SE aos contribuintes que “voluntariamente”

a recolherem em favor do FEFA-RO, que, repise-se, possui

natureza privada, verbis:

Art. 6º - ...

Parágrafo Único – É isento da Taxa do FESA-RO, o contribuinte

que, voluntariamente, contribua para o FEFA-RO, entidade

parceira do Estado na Defesa Sanitária Animal, na forma e pelos

valores por ele fixados e faça a comprovação do correspondente

pagamento às autoridades competentes da IDARON, desde que não

inferior ao valor fixado no art. 1º desta Lei Complementar.

A despeito de o dispositivo enunciar o

recolhimento a título “voluntário” da Taxa do FESA-RO em

favor do FEFA-RO, no entanto, em sede de Mandado de

Segurança impetrado pelos contribuintes, o Judiciário

considerou que se trata de voluntariedade aparente, pois,

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efetivamente o IDARON constringia o recolhimento da taxa em

prol do FEFA-RO como condição para emitir a GTA – Guia de

Trânsito Animal. Nesse sentido foi concedida a segurança em

favor dos contribuintes para fim de determinar ao titular

do IDARON que se abstivesse da prática. Veja-se:

(...) Do exposto, concedo a segurança pleiteada, para determinar

ao impetrado que se abstenha de cobrar dos produtores rurais

integrantes do Sindicato dos Produtores Rurais de Porto, a

contribuição financeira em favor do Fundo Emergencial de Febre

Aftosa do Estado de Rondônia – FEFA/RO, como condição para

emitir as Guias de Trânsito Animal (GTA), devendo desconsiderar

o disposto no Código 1600.14.1104 em relação aos sindicalizados.

De consequência, confirmo a liminar anteriormente concedida. (v.

processo 0249790-65.2009.8.22.0001).

Como visto, segundo os contornos

normativos de instituição e implemento, a Taxa do FESA-RO é

dotada das características do tributo (art. 3º do CTN),

mormente quanto à reserva legal garantida pela LC 536/2009,

e à compulsoriedade, sendo que esta se manifesta na

prestação de atividade estatal (emissão de GTA), desde que

condicionada ao recolhimento em favor de entidade privada

(FEFA-RO).

Outra característica tributária da Taxa

do FESA-RO diz respeito ao poder de polícia para efeito de

exigibilidade, expressamente demonstrado no art. 8º da Lei

Estadual nº 887/2000, verbis:

Art. 8º - Na execução, inspeção e fiscalização das medidas de

Defesa Sanitária Vegetal, é conferido à Agência de Defesa

Sanitária Agrosilvopastoril do Estado de Rondônia - IDARON, o

poder de polícia administrativa, ficando consequentemente

assegurado ao funcionário designado para as atividades previstas

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nesta Lei, o livre acesso nos locais de medidas fitossanitárias.

(grifei).

Assim, é incontroverso compreender que a

Taxa do FESA-RO preenche os requisitos do tributo,

decorrentes de uma atividade estatal no exercício do poder

de polícia (defesa sanitária animal), cujo produto da

arrecadação é atribuído a um Fundo de natureza privada, no

caso o FEFA-RO.

Por outros termos, se trata de uma

situação em que o poder de império, mediante o qual o

Estado exercita a função arrecadadora, está sendo utilizado

em favor de particulares e, o mais grave, em detrimento de

seus efetivos interesses.

É bem verdade que o particular

favorecido, o FEFA-RO, utiliza o produto da arrecadação da

taxa para cobrir despesas relacionadas à defesa sanitária

animal, objeto da instituição do tributo. Todavia, é cediço

que em matéria tributária vigora o princípio da estrita

legalidade a não permitir agregar no contexto da análise

vetores outros que não a literalidade fechada da norma

jurídica, ex vi do art. 111 do CTN.

Na hipótese ventilada, em tese nada

obstaria que a IDARON executasse suas atividades em

parceria com entidades correlatas, como o FEFA-RO, p. ex.,

desde que houvesse interesse comum, sendo o convênio o

instrumento mais apropriado para a transferência de

recursos e o compartilhamento de encargos. O que não se

deve, e não pode, é firmar parceria financiada com o

produto da arrecadação de um tributo (taxa) que tem como

caraterística fundamental a vinculação a uma atividade

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estatal exigida pelo ente público no exercício do poder de

polícia, conforme os seguintes excertos, verbis:

EMENTA: Apelação Cível. Execução fiscal. Taxa de licença para

localização e permanência em local. Ausência de embasamento

legal. Violação ao princípio constitucional da legalidade

tributária. Exigência indevida. Precedentes da Corte. Sentença

mantida. Recurso desprovido. A taxa representa tributo

sinalagmático vinculado à atividade estatal, pois correspondente

a uma contraprestação do contribuinte em razão da atuação

estatal, sendo sua instituição de competência comum da União,

dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, (...).

(AMARO, Luciano. Direito Tributário brasileiro. 11 ed. São

Paulo: Saraiva, 2005, p. 112/113) (TJSC, Ap. Cív. N. , de

Joinville, rel. Des. Wilson Augusto do Nascimento, j.14.9.2010).

(grifei).

E M E N T A: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - CUSTAS

JUDICIAIS E EMOLUMENTOS EXTRAJUDICIAIS - NATUREZA TRIBUTÁRIA

(TAXA) - DESTINAÇÃO PARCIAL DOS RECURSOS ORIUNDOS DA ARRECADAÇÃO

DESSES VALORES A INSTITUIÇÕES PRIVADAS - INADMISSIBILIDADE -

VINCULAÇÃO DESSES MESMOS RECURSOS AO CUSTEIO DE ATIVIDADES

DIVERSAS DAQUELAS CUJO EXERCÍCIO JUSTIFICOU A INSTITUIÇÃO DAS

ESPÉCIES TRIBUTÁRIAS EM REFERÊNCIA - DESCARACTERIZAÇÃO DA FUNÇÃO

CONSTITUCIONAL DA TAXA - RELEVÂNCIA JURÍDICA DO PEDIDO - MEDIDA

LIMINAR DEFERIDA. NATUREZA JURÍDICA DAS CUSTAS JUDICIAIS E DOS

EMOLUMENTOS EXTRAJUDICIAIS. (ADI 1378 MC / ES - ESPÍRITO SANTO.

Relator: Min. CELSO DE MELLO. Julgamento: 30/11/1995). (grifei)

No tocante à renúncia de receita, na

forma alegada pela denúncia, o art. 14, § 1º da Lei de

Responsabilidade Fiscal, prescreve que, verbis:

Art. 14 - A concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de

natureza tributária da qual decorra renúncia de receita deverá

estar acompanhada de estimativa do impacto orçamentário-

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financeiro no exercício em que deva iniciar sua vigência e nos

dois seguintes, atender ao disposto na lei de diretrizes

orçamentárias e a pelo menos uma das seguintes condições:

§ 1o - A renúncia compreende anistia, remissão, subsídio,

crédito presumido, concessão de isenção em caráter não geral,

alteração de alíquota ou modificação de base de cálculo que

implique redução discriminada de tributos ou contribuições, e

outros benefícios que correspondam a tratamento diferenciado.

De acordo com a acepção literal do

dispositivo impugnado pela denúncia (princípio da

legalidade estrita), o instituto que mais se aproxima da

renúncia de receita seria a isenção, na forma enunciada

pelo Parágrafo Único art. 6º da Lei Complementar nº

526/2009: “É isento da Taxa do FESA-RO...”. No entanto, a

rigor da hermenêutica tributária, in casu é evidente que

não se trata de isenção, assim entendida como a dispensa

legal do tributo, por carência das condições e requisitos

exigidos para tanto, que devem constar expressamente na

norma.

Desse modo, em razão da situação fática

não se encaixar no tipo previsto na LRF (art. 14, § 1º) e

tampouco no CTN (art. 176), a tecnicidade tributária indica

não se tratar de isenção o dispositivo arguido o que, por

consequência, afasta a tese de renúncia de receita aludida

na Lei de Responsabilidade Fiscal.

De verdade, pelas razões discorridas sob

a perspectiva essencialmente jurídica, impende concluir que

o Parágrafo Único, do art. 6º, da Lei Complementar nº

526/2009, evidencia conflito com as disposições do art.

145, I, da Constituição Federal c/c 77 do Código Tributário

Nacional (Lei nº 5.172/1966), por amesquinhar o caráter

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vinculante da Taxa do FESA-RO em relação ao produto de sua

arrecadação.

Ademais, a ação de atribuir ao particular

o produto da arrecadação da Taxa do FESA-RO é

caracterizadora de prática ato de improbidade

administrativa que causa prejuízo ao erário, nos termos do

art. 10, II, da Lei Federal nº 8.429/1992, verbis:

Art. 10 - Constitui ato de improbidade administrativa que causa

lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que

enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou

dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art.

1º desta lei, e notadamente:

...

II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica

privada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do

acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta

lei, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares

aplicáveis à espécie.

Diante do quadro, para efeito de

encaminhamento, negar a executoriedade ao dispositivo

inquinado (par. único, do art. 6º, da LC 526/09) é medida

que efetivamente se impõe, com vista a escoimar os efeitos

lesivos que ocasiona ao erário estadual.

No mesmo diapasão, a prática de atribuir

a terceiros recursos provenientes da taxa, há de ser tida

como ilegal e lesiva ao erário por resultar de desvio de

finalidade do produto de arrecadação de tributo de natureza

vinculada, em ofensa ao art. 145, I, da Constituição

Federal c/c 77 do Código Tributário Nacional (Lei nº

5.172/1966).

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A propósito do pronunciamento que se

pugna, considero ser o caso de usar as prerrogativas

conferidas pela Súmula 347, do Supremo Tribunal Federal,

não para declarar a inconstitucionalidade do dispositivo

inquinado, mas tão-somente para negar-lhe executoriedade e,

por conseguinte, determinar aos gestores dos Órgãos

responsáveis, SEAGRI e IDARON, que se abstenham de atribuir

ao FEFA-RO o produto da arrecadação da Taxa do FESA-RO a

qualquer título.

Abro parênteses aqui para explicitar a

opção pela negativa de executoriedade ao invés de

declaração de inconstitucionalidade, apesar de ambos os

institutos aparentarem identidade no modo de proceder e na

eficácia. A diferença é sutil, porém existe concretamente.

A prerrogativa de declarar

inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, por outorga

da Súmula 347, do STF, mesmo na via difusa, enseja um rito

procedimental litúrgico em que processo principal é

sobrestado enquanto se resolve a questão incidental no

âmbito do colegiado pleno, em prestígio ao princípio da

cláusula de reserva de plenário (art. 97 da CF). O rito

também reclama a necessidade do contraditório para que o

Poder/Órgão possa defender a constitucionalidade do ato/lei

que produziu.

A seu turno, a mera negativa de

executoriedade é manejada em procedimento mais singelo e

sem a necessidade do contraditório, pois, nesse caso, a

Administração, por sua iniciativa ou por provocação,

promove a autotutela do ato/norma tido por inconstitucional

diante de uma circunstância pontual e concreta.

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 E-II

A negativa de executoriedade de ato/lei

com tisna de inconstitucionalidade, seja por iniciativa

própria ou mediante provocação, ainda não foi objeto de

exame de mérito específico no âmbito do Excelso Pretório.

De fato, a Corte Constitucional apenas fez alusão obiter

dictum (coisa dita de passagem), nos termos da ementa da

ADI-MC-221, tendo como Relator o Min. Moreira Alves,

verbis:

(...)

Em nosso sistema jurídico, não se admite declaração de

inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo com força de

lei por lei ou por ato normativo com força de lei posteriores. O

controle de constitucionalidade da lei ou dos atos normativos é

da competência exclusiva do Poder Judiciário. Os Poderes

Executivo e Legislativo, por sua Chefia – e isso mesmo tem sido

questionado com o alargamento da legitimidade ativa na ação

direta de inconstitucionalidade – podem tão-só determinar aos

seus órgãos subordinados que deixem de aplicar

administrativamente as leis ou atos com força de lei que

considerem inconstitucionais. (grifei).

Por sua vez, na seara do Superior

Tribunal de Justiça a questão se encontra decidida, nos

termos do acórdão do REsp 23.121-GO a seguir ementado,

veja-se:

Lei inconstitucional - Poder Executivo - negativa de eficácia. O

poder executivo deve negar execução a ato normativo que lhe

pareça inconstitucional. (REsp 23.121-GO. Rel. Min. Humberto

Gomes Barros. Julgamento 6/10/1996).

Aos precedentes dos Tribunais Superiores

a fundamentarem a opção pela negativa de executoriedade,

soma-se o fato de o preceptivo em comento (par. único, do

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 E-II

art. 6º da LC 526/09) ter sido fulminado pelo Judiciário no

que toca aos efeitos concreto, nos termos da sentença

promanada em mandado de segurança (proc. 0249790-

65.2009.8.22.0001), pela qual foi determinado à IDARON que

se abstivesse de cobrar contribuição financeira em favor do

FEFA-RO como condição para emitir GTA (Guia de Trânsito

Animal). Vale dizer que essa sentença foi confirmada no

reexame necessário, porquanto atualmente coberta com o

manto do trânsito em julgado, veja-se:

(...)

Com efeito, acertada a sentença que determinou ao impetrado

expedir as GTA'S sem que haja o pagamento de contribuição

financeira em favor do Fundo Emergencial de Febre Aftosa – FEFA.

Pelo exposto, confirmo a sentença examinada que assegurou o

direito líquido e certo ao impetrante, o que faço

monocraticamente nos termos do art. 557 do CPC combinado com a

Súmula n. 253 do STJ.

Por tais razões, considerando tratar-se

de coisa judicialmente julgada a prescindir do

contraditório, pautado na Súmula 347, do STF, me inclino

pela adoção do rito mais célere e efetivo consistente na

negativa de executoriedade, pois, nesse caso, a decisão do

Tribunal de Contas concretamente resulta em adesão ao

julgado judicial que retirou do mundo fenomênico a eficácia

do dispositivo impugnado pela denúncia.

Por derradeiro, atento à relação de

nítida dependência operacional da IDARON com o FEFA-RO,

decorrente das atividades que este desenvolve com

financiamento da Taxa do FESA-RO, e de recursos repassados

por outros instrumento, considero de boa medida fixar um

prazo razoável de 90 (noventa) dias para que a Autarquia de

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 E-II

Defesa Sanitária se estruture de maneira suficiente de

molde a assumir, sem solução de continuidade, a plenitude

dos relevantes serviços na defesa da saúde animal do

Estado.

Ressalte-se que ao longo do tempo

criou-se uma relação simbiótica entre a IDARON e o FEFA-RO,

cuja finalidade consiste em realizar a defesa sanitária de,

entre outros animais, um rebanho aproximado de 12 milhões

de cabeças de gado, o sétimo maior plantel bovino nacional,

de acordo com indicadores constantes do portal do Governo

de Rondônia (http://www.rondonia.ro.gov.br).

Compulsando os autos, constatei que a

relação de dependência IDARON/FEFA-RO consolidou-se de

forma tão intensa que extrapolou a fronteira gizada pela

Taxa do FESA-RO, passando pela celebração sistemática de

convênios para transferência de recursos, ao cúmulo,

inclusive, daquele fundo privado (FEFA-RO) ter colocado

servidores à disposição da IDARON, em flagrante burla ao

primado constitucional do concurso público (art. 37, II, da

CF), além ceder bens móveis e imóveis, conforme consta das

fls. 448/459.

Sem incorrer em demasia, diria que o

imbricamento IDARON/FEFA-RO em muito se assemelha ao que

ocorre entre a SEAGRI e a EMATER-RO, que desenvolve suas

atividades às custas de vultosos recursos públicos

repassados pela primeira. Ambos os casos (IDARON/FEFA-RO e

SEAGRI/EMATER-RO), têm como característica comum a execução

de ações cobertas com recursos públicos sem que se tenha

notícia da efetividade da aplicação.

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 E-II

Portanto, para fim de mitigar os

transtornos operacionais provocados pela abrupta ruptura da

relação IDARON/FEFA-RO, principalmente no combate à febre

aftosa, impende seja fixado um prazo de 90 (noventa) dias,

findo o qual a Autarquia de Defesa Sanitária deverá

comprovar ao Tribunal de Contas a plena autonomia

operacional e administrativa, bem assim a devida adequação

dos procedimentos ao ordenamento legal consentâneo.

Em relação aos recursos repassados pelo

Tesouro do Estado, mediante convênios ou outros

instrumentos, dentre os quais o produto da arrecadação da

Taxa FESA-RO, deve a Controladoria Geral instaurar

imediatamente Tomada de Contas Especial, com o propósito de

apurar os fatos relativos aos valores repassados, avaliar a

efetividade da correspondente aplicação, quantificar o

dano, se houver, e indicar os responsáveis que

eventualmente tenham concorrido. Para tanto, deve ser

fixado o prazo de 60 (sessenta) dias para apresentação dos

trabalhos ao Tribunal de Contas.

Assim exposto, submeto à deliberação

deste colegiado o seguinte voto:

I – Preliminarmente, presentes os

requisitos regimentais de admissibilidade da denúncia, dela

conheço;

II – No mérito, considerar a denúncia

procedente em razão do manifesto conflito das disposições

do Parágrafo Único, do art. 6º, da Lei Complementar

nº 526/2009, em relação ao art. 141, I, da Constituição

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 E-II

Federal c/c 77 do Código Tributário Nacional (Lei

nº 5.172/1966), por desnaturar o princípio fundamental da

vinculação a atribuir ao Fundo Emergencial de Febre Aftosa

do Estado de Rondônia - FEFA-RO, o produto da arrecadação

da Taxa de Defesa Sanitária Animal, que é própria do Fundo

Estadual de Defesa Sanitária Animal - FESA-RO;

III – Negar executoriedade ao Parágrafo

Único, do art. 6º da Lei Complementar nº 526/2009, nos

termos da Súmula 347, do STF, para, em consequência,

determinar aos titulares dos Órgãos responsáveis, SEAGRI e

IDARON, que se abstenham de praticar quaisquer atos

administrativos com fundamento no dispositivo ora

impugnado, bem como não promovam cobrança da Taxa de Defesa

Sanitária Animal em favor do Fundo Emergencial de Febre

Aftosa do Estado de Rondônia - FEFA-RO;

IV – Determinar ao Presidente da IDARON

para que se abstenha de cobrar a Taxa de Defesa Sanitária

Animal em favor do Fundo Emergencial de Febre Aftosa –

FEFA-RO, como condição para emitir Guia de Trânsito Animal

(GTA), ou a qualquer título, em razão da natureza

estritamente vinculante ao Fundo Estadual de Defesa

Sanitária Animal - FESA-RO;

V – Determinar ao Presidente da IDARON

para que, no mesmo prazo fixado no item anterior, comprove

ao Tribunal de Contas a adoção de medidas efetivas

direcionadas a alcançar a plena autonomia operacional e

administrativa da Autarquia, bem assim a devida adequação

dos procedimentos ao ordenamento de regência da

Administração Pública, de modo a prescindir definitivamente

do suporte do FEFA-RO. Fica, desde logo, a autoridade

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 E-II

alertada que o desatendimento a tornará passível de

cominação de multa, sem prejuízo de eventuais sanções que

as circunstâncias ensejarem;

VI – Determinar ao Controlador Geral do

Estado para que, em apoio à ação fiscalizatória do Tribunal

de Contas (art. 74, II, da CF), instaure imediatamente

Tomada de Contas Especial com a finalidade de apurar os

fatos relativos aos valores repassados pela IDARON ao FEFA-

RO, por conta da Taxa do FESA-RO, de convênios ou de outros

instrumentos, bem como avaliar a efetividade da

correspondente aplicação, quantificar o dano, se houver, e

indicar os responsáveis que eventualmente tenham

concorrido. Para tanto, fica fixado o prazo de 180 (cento e

oitenta) dias para apresentação dos trabalhos ao Tribunal

de Contas.

VII – Alertar aos titulares dos Órgãos

responsáveis, SEAGRI e IDARON, que eventual conduta que

atribua a Taxa de Defesa Sanitária Animal em favor do Fundo

Emergencial de Febre Aftosa do Estado de Rondônia - FEFA-RO

poderá constituir prática de ato de improbidade

administrativa que causa prejuízo ao erário, tipificada no

art. 10, II, da Lei Federal nº 8.429/1992, o que os torna

passíveis das sanções previstas na legislação pertinente;

VIII – Dar conhecimento do teor do voto e

decisão ao denunciante Tomás Guilherme Correia, ao

Governador do Estado, à Procuradora-Geral do Estado e aos

titulares da SEAGRI e do IDARON, Órgãos responsáveis pelo

recolhimento e gestão da Taxa do FESA-RO;

IX – Dar conhecimento do teor do voto e

decisão ao Governador do Estado, ao Presidente da

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Assembléia Legislativa e ao Procurador-Geral de Justiça

(ADIN), para que adote as providências que entender

cabíveis para efeito de adequação das normas pertinentes de

modo a garantir o recolhimento da Taxa de Defesa Sanitária

Animal exclusivamente em favor do Fundo Estadual de Defesa

Sanitária Animal - FESA-RO, vinculado à IDARON;

X – Retirar o caráter sigiloso da

denúncia, em razão da procedência comprovada, nos termos do

art. 50, § 1º, da Lei Complementar nº 154/96 c/c 79, § 1º,

do Regimento Interno do Tribunal de Contas;

XI – Remeter os autos à Secretaria de

Processamento e Julgamento para fim de acompanhamento das

medidas determinadas em relação aos prazos fixados na

decisão.

Sala das Sessões, 13 de dezembro de 2012.

Conselheiro Edílson de Sousa Silva

Relator