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Operação Nó Górdio A Operação Nó Górdio foi a maior e mais dispendiosa campanha militar portuguesa na província ultramarina de Moçambique, na África Oriental. Decorreu em 1970, durante a Guerra Colonial Portuguesa (1961 - 1974). Os objectivos desta campanha consistiam em erradicar as rotas de infiltração das guerrilhas independentistas ao longo da fronteira com a Tanzânia e destruir as suas bases permanentes em Moçambique. A Nó Górdio durou sete meses, mobilizou no total trinta e cinco mil militares e foi parcialmente bem-sucedida. A operação consistia num cerco intenso com vista ao isolamento do núcleo central do Planalto dos Macondes, onde se encontravam as grandes bases de Gungunhana (objectivo A), Moçambique (objectivo B) e Nampula (objectivo C). Após conseguido o isolamento, estava programado o assalto e destruição destes objectivos. Atingindo estes objectivos, esperava-se uma desarticulação e desmoralização da FRELIMO, embora esta não tenha sido impedida de actuar em qualquer dos teatros de operações, conforme se verificou posteriormente. A Nó Górdio foi lançada sob ordens de Kaúlza de Arriaga, entretanto promovido a comandante-chefe após oito meses de comando de forças terrestres no teatro de operações moçambicano, e executada pelo Comando Operacional das Forças de Intervenção (COFI). O início da Operação Nó Górdio foi marcado para 1 de Julho de 1970, com a presença do general Comandante-Chefe e do seu Estado-Maior em Mueda, prolongando-se até 6 de Agosto, tendo participado mais de oito mil homens, onde se incluía a totalidade das forças especiais

Operação Nó Górdio

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A Operação Nó Górdio foi a maior e mais dispendiosa campanha militar portuguesa na província ultramarina de Moçambique, na África Oriental. Decorreu em 1970, durante a Guerra Colonial Portuguesa (1961 - 1974). Os objectivos desta campanha consistiam em erradicar as rotas de infiltração das guerrilhas independentistas ao longo da fronteira com a Tanzânia e destruir as suas bases permanentes em Moçambique.

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Page 1: Operação Nó Górdio

Operação Nó Górdio

A Operação Nó Górdio foi a maior e mais dispendiosa campanha militar portuguesa na

província ultramarina de Moçambique, na África Oriental. Decorreu em 1970, durante a

Guerra Colonial Portuguesa (1961 - 1974). Os objectivos desta campanha consistiam em

erradicar as rotas de infiltração das guerrilhas independentistas ao longo da fronteira com a

Tanzânia e destruir as suas bases permanentes em Moçambique. A Nó Górdio durou sete

meses, mobilizou no total trinta e cinco mil militares e foi parcialmente bem-sucedida.

A operação consistia num cerco intenso com vista ao isolamento do núcleo central do Planalto

dos Macondes, onde se encontravam as grandes bases de Gungunhana (objectivo A),

Moçambique (objectivo B) e Nampula (objectivo C). Após conseguido o isolamento, estava

programado o assalto e destruição destes objectivos. Atingindo estes objectivos, esperava-se

uma desarticulação e desmoralização da FRELIMO, embora esta não tenha sido impedida de

actuar em qualquer dos teatros de operações, conforme se verificou posteriormente.

A Nó Górdio foi lançada sob ordens de Kaúlza de Arriaga, entretanto promovido a

comandante-chefe após oito meses de comando de forças terrestres no teatro de operações

moçambicano, e executada pelo Comando Operacional das Forças de Intervenção (COFI). O

início da Operação Nó Górdio foi marcado para 1 de Julho de 1970, com a presença do general

Comandante-Chefe e do seu Estado-Maior em Mueda, prolongando-se até 6 de Agosto, tendo

participado mais de oito mil homens, onde se incluía a totalidade das forças especiais

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(Comandos, para-quedistas e Fuzileiros) e dos Grupos Especiais e a quase totalidade da

artilharia de campanha, unidades de reconhecimento e de engenharia.

Esta operação incluía acção psicológica, com uma secção instalada em Mueda, e equipas de

acção psicossocial em Mueda e no Sagal.

Segundo os relatórios em Portugal, terão sido mortos 651 guerrilheiros e 1840 capturados

contra 132 militares portugueses mortos. Kaúlza de Arriaga reivindicou também que as suas

tropas teriam destruído 61 bases e 165 campos, e capturadas 40 toneladas de munição,

apenas nos primeiros dois meses.

Fonte: Wikipedia

Forças armadas - Portugal

Período - 1970

Local - Distrito de Cabo Delgado

Unidades:

Agrupamento de Assalto A

1ª Companhia de Comandos de Moçambique

17ª Companhia de Comandos

18ª Companhia de Comandos

23ª Companhias de Comandos

Companhia de Caçadores nº 2730

Grupo Especial 203

2 x Pelotões de Morteiros de 81 mm

Destacamento de Engenharia

Bataria de Artilharia de 88 mm

Agrupamento de Assalto B

1ª Companhia do Batalhão de Caçadores Paraquedistas nº 31

1ª Companhia do Batalhão de Caçadores Paraquedistas nº 32

2ª Companhia do Batalhão de Caçadores Paraquedistas nº 32

Companhia de Caçadores nº 2468

Companhia de Caçadores nº 2665

Page 3: Operação Nó Górdio

Grupo Especial 205

2 x Pelotões de Morteiros de 81 mm

Destacamento de Engenharia

Bataria de Artilharia de 88 mm

Agrupamento de Assalto C

Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 5

Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 11

2ª Companhia do Batalhão de Caçadores Paraquedistas nº 31

21ª Companhia de Comandos

Companhia de Caçadores nº 2666

Grupo Especial 201

Pelotão de Morteiros de 81 mm

Bataria de Artilharia de 88 mm

Força de Cerco Norte

1ª Companhia do Batalhão de Caçadores nº 15

Companhia de Artilharia nº 2718

Companhia de Artilharia nº 2719

Companhia de Cavalaria nº 2399

Companhia de Artilharia nº 2400

Esquadrão de Reconhecimento nº 2

Força de Cerco Sul

Companhia de Caçadores nº 2407

Companhia de Caçadores nº 2408

Companhia de Artilharia nº 2646

Companhia de Artilharia nº 2648

Companhia de Cavalaria nº 2398

Esquadrão de Reconhecimento nº 1

Page 4: Operação Nó Górdio

Força de Apoio de Combate

1ª Companhia do Batalhão de Engenharia nº 2

Companhia de Engenharia nº 2736

Apoio Aéreo

Aeródromo de Manobra nº 51 (base operacional)

Aviões Do 27 e T-6 (reconhecimento e apoio de fogo)

Aviões Fiat G-91 (bombardeamento)

Avião Douglas DC-3 (acção psicológica)

Helicópteros Alouette III (transporte de manobra e assalto e evacuação sanitária)

Total de Efectivos: +8000 militares

Missão

Desarticular a acção da FRELIMO em Cabo Delgado, através de uma grande operação de

varredura, cerco e destruição das bases inimigas Moçambique, Gungunhana e Nampula. Esta

foi uma das mais importantes operações militares das Forças Armadas Portuguesas no

decorrer da Guerra contra os Movimentos de libertação existentes nas então Províncias

Ultramarinas.

O Sr. General, Comandante das

Forças Portuguesas dirigiu-se a estas

identificando a operação como: ”…a

mais importante de todas quantas,

até hoje, se realizaram em

Moçambique. Importante, quanto ao

potencial de combate empregado e

importante quanto ao objectivo a

atingir.” Zona de actuação:

Moçambique, Planalto de Mueda

Período: 1 de Maio de 1970 e 6 de

Agosto de 1970 Objectivos da

Operação: - Destroçar o inimigo que, armado, pretende dominar a região; - Libertar as

populações escravizadas; - Restabelecer a ordem e a Paz.

Composição das Forças Portuguesas: - 7 Comandos Operacionais; - 7 Companhias de

Caçadores; - 4 Companhias de Artilharia; - 3 Companhias de Cavalaria; - 2 Destacamentos de

Fuzileiros; - 5 Companhias de Comandos; - 4 Companhias de Para-quedistas; - 3 Grupos

Especiais; - 2 Esquadrões de reconhecimentos; - 1 Companhia de Morteiros médios; - 3

Baterias de Artilharia de Campanha; - 2 Companhias de Engenharia. A Força Aérea colaborou

na Operação com ataques ao solo e bombardeamentos (que também ocorreram no decorrer

da Operação) no exterior do núcleo central para confundir o inimigo e ainda efectuou missões

Page 5: Operação Nó Górdio

de: - Reconhecimento aéreo; - Ligação e controlo; - Transporte táctico; - Apoio de fogo; -

Evacuação e reabastecimentos. As transmissões foram asseguradas por: - Centro de

mensagens junto do COFI; - Centro de cripto; - Central de Rádio; - Redes de comando em HF; -

Redes de VHF; - Rede VHF de emergência; - Rede de ligação para apoio aéreo; - Destacamento

avançado de manutenção e reabastecimento.

As acções preparatórias da Operação “Nó Górdio” foram executadas durante os meses de

Maio e Junho de 1970.

Durante a preparação e

no decorrer da operação

morreram do lado

Português 42 pessoas (4

Civis, 1 Capitão, 1 Alferes,

1 Furriel Miliciano, 7 1.ºs

Cabos e 28 Soldados) e

registaram-se 35 feridos

com gravidade. Foram

identificadas as seguintes

baixas nas forças

oponentes, 104 Mortos e

20 Feridos confirmados.

As Forças Portuguesas

efectuaram cerca de 100 prisões. Foram destruídas 16 viaturas Portuguesas, sendo que 4 eram

blindadas. Do material apreendido às forças oponentes, destacam-se 82 granadas de morteiro

e diversas minas anti-carro e anti-pessoal. Foram destruídas cerca 10.000 palhotas que

constituíam o interior do núcleo central. Apreenderam-se diversos documentos de

importância político/militar dos quais se destaca um “processo de averiguações das causas da

Page 6: Operação Nó Górdio

morte de Mondlane e um projecto para assassinar Lázaro Kavandame. Curiosidade: Alguns

aspectos da operação “Nó Górdio” foram acompanhados por uma equipa de televisão alemã.

O Chefe dessa equipa entregou ao Comandante do COFI um relógio para entregar ao Militar

indígena que mais se destacasse na operação. Foram identificados 26 militares com essas

características, mas por ser impossível determinar qual se tinha destacado, o relógio não foi

entregue a nenhum soldado, mas sim no Quartel-general da Região Militar de Moçambique. A

sua entrega ao militar que mais se destacou, ficou a aguardar uma identificação mais precisa.

Este texto elaborado por Júlio Santos em Jan2008, em memória de todos os que morreram e

em homenagem aos que combateram. Por razões de confidencialidade não faz referência à

forma “como” decorreu a Operação. Bibliografia: Relatório da “Operação Nó Górdio”

Fonte: Wikipedia

Operação

A situação em Cabo Delgado, em finais de 1969, era de acentuada pressão sobre os

aquartelamentos militares portugueses, com a minagem dos itinerários e ataques às colunas

tácticas e logísticas, tentando a Frelimo expandir as suas acções para sul do rio Messalo.

Espalhava-se a ideia de que o Planalto Central era zona inacessível às tropas portuguesas

depois de, no final desse ano, unidades de para-quedistas e comandos não terem conseguido

alcançar as grandes bases da guerrilha - Gungunhana e Moçambique. Em Dezembro, dois

terços das acções da Frelimo estavam concentrados em Cabo Delgado, servindo o triângulo

serra do Mapé-Macomia-Chai como apoio dos guerrilheiros, no seu avanço para sul. No

primeiro trimestre de 1970, verificou-se a intensificação da guerra, com a Frelimo a ultrapassar

o rio Messalo, em direcção ao rio Lúrio, e a confirmação de acções em Tete/Cabora Bassa. A

actividade da guerrilha aumentou mais de 40 por cento, continuando a caber a maior

Page 7: Operação Nó Górdio

percentagem ao emprego de minas. A Frelimo demonstrava um maior interesse pelo sector de

Tete, onde se instalavam os grandes empreendimentos económicos de Cabora Bassa. O

contínuo agravamento da situação militar e a impossibilidade de aumentar o esforço de

guerra, quer em efectivos metropolitanos quer em material de combate, levaram o general

Kaúlza de Arriaga, ainda como comandante do Exército, a intensificar a formação de unidades

de recrutamento local, que utilizaria intensamente como comandante-chefe. Nos finais de

1969, foi criado o Batalhão de Comandos e formada a 1.ª Companhia de Comandos de

Moçambique. Logo em Janeiro de 1970, a Região Militar anunciou a formação dos primeiros

seis grupos especiais (GE) de milícias, com o total de quinhentos e cinquenta homens.

Em Abril de 1970, foi referenciada a presença de Samora Machel em Cabo Delgado, para

apresentar os planos de uma grande ofensiva a executar em Junho e Julho. Esta visita fez

aumentar a actividade militar da Frelimo a nível nunca igualado. De facto, enquanto no

segundo trimestre de 1969 o movimento realizou 154 acções, das quais 98 foram minas, no

primeiro trimestre de 1970 essas acções subiram para 685 (646 eram minas) e no segundo

para 759 (652 eram minas). Com este cenário por pano de fundo, o general Kaúlza de Arriaga,

já comandante-chefe, decide lançar a Operação Nó Górdio, atribuindo a sua execução ao

Comando Operacional das Forças de Intervenção (COFI), criado em Novembro de 1969 para o

emprego conjunto de forças do Exército, Marinha e Força Aérea em missões de grande

envergadura, em situações de emergência e em operações especiais. A preparação pode dizer-

se que foi iniciada com a primeira experiência do COFI, em Maio de 1970, na condução de uma

operação ao longo da estrada Mueda-Mocímboa da Praia, envolvendo unidades de comandos,

para-quedistas e fuzileiros, apoiadas por artilharia e aviação, a qual serviu de treino ao estado-

maior do COFI e permitiu aliviar a pressão sobre um itinerário fundamental para o apoio

logístico à grande operação que se preparava.

Page 8: Operação Nó Górdio

Entretanto, desde a tomada de posse do general Kaúlza de Arriaga que o seu Quartel-General

em Nampula trabalhava nos preparativos que iriam concretizar o seu conceito de manobra em

acções de contraguerrilha: executar operações de grande envergadura sobre objectivos

materializados no terreno, com o máximo de forças.

Para tal, processou-se intensa

acção de reparação e reunião

de materiais, sobretudo

artilharia e auto-

metralhadoras; transferiram-se

depósitos de munições,

combustíveis e víveres para o

Norte; prolongou-se a pista de

Mueda, de modo a nela

poderem operar aviões Fiat G-

91, e a de Nangololo, para

receber Nord-Atlas de

transporte; deslocaram-se efectivos do Sul para o Norte, incluindo algumas unidades em fim

de comissão; receberam-se novos materiais, especialmente alguns detectores de minas e

rádios; e preparou-se, finalmente, um plano de acção psicológica destinado às populações e

forças portuguesas. A maioria destes meios foi reunido em Mueda, que se transformou em

enorme base de operações. O início da Operação Nó Górdio foi marcado para 1 de Julho de

1970, com a presença do general Comandante-Chefe e do seu Estado-Maior em Mueda,

prolongando-se até 6 de Agosto. Nela participaram mais de oito mil homens, que

representavam cerca de 40 por cento dos efectivos das tropas de combate no território (vinte

e dois mil), uma concentração que esgotou as reservas disponíveis, pois empenhou a

totalidade das unidades de forças especiais

(comandos, para-quedistas e fuzileiros) e os

grupos especiais (GE), recém-criados, mais a

quase totalidade da artilharia de campanha,

unidades de reconhecimento e de

engenharia. O conceito da operação

assentava num cerco e batida com grandes

meios, prevendo o isolamento da área do

núcleo central do Planalto dos Macondes,

onde se encontravam as grandes bases

Gungunhana, Moçambique e Nampula, através de um cerco ao longo dos itinerários Mueda-

Sagal-Muidumbe-Nangolo-Miteda-Mueda, com a extensão de 140 quilómetros e, após

conseguido o isolamento da área, o assalto e destruição dos principais objectivos do núcleo

central:

objectivo A base de artilharia Gungunhana;

objectivo B base provincial Moçambique;

objectivo C base Nampula.

Page 9: Operação Nó Górdio

A manobra seria apoiada no terreno com fogos de artilharia e de aviação, em acções de

flagelação e de concentração sobre os objectivos.

Para criar condições de aproximação a estes e

actuar sobre eles, seriam organizados

agrupamentos de forças para procederem à

abertura simultânea de picadas em direcção aos

objectivos A e B, o mesmo sucedendo

posteriormente para atingir o objectivo C, e, por

fim, previa-se manter o cerco e continuar a bater

e a eliminar todas as organizações referenciadas

ou a referenciar. As acções militares deveriam ser

conjugadas com intensa campanha de acção

psicológica, para provocar a rendição e a

desmoralização do inimigo. Os agrupamentos de

cerco seriam constituídos por unidades de

caçadores e por unidades de reconhecimento,

realizando as primeiras emboscadas em

permanência, enquanto as segundas

patrulhariam os itinerários. Os agrupamentos de

assalto disporiam de uma composição inter

armas, do tipo task force, incluindo unidades de

forças especiais, forças regulares, de apoio de fogos (artilharia e morteiros) e de engenharia. A

esta cabia papel de grande sacrifício e risco na abertura das picadas tácticas desde as estradas

Mueda-Miteda e Miteda-Nangololo até à proximidade dos objectivos, onde seriam criadas as

bases de ataque para as forças de assalto. A operação era concebida como manobra do tipo

convencional, em que se pretendia alcançar com um ataque em força o que do antecedente

não fora conseguido, empregando a surpresa.

Execução da Operação

Para cumprimento deste plano foram constituídos sete agrupamentos: dois para o cerco

(Norte e Sul) e quatro de intervenção, um para cada objectivo e um para reserva.

- 1 Julho - Início. Os agrupamentos de cerco começaram a sua instalação. Os agrupamentos de

assalto A e B principiaram o movimento para os objectivos.

- 3 Julho - O agrupamento de assalto B (para-quedistas) iniciou a progressão de Nangololo para

o objectivo B - base Moçambique - , com o apoio da engenharia na abertura da picada desde

Capoca até Gole.

- 4 Julho - O agrupamento de assalto A (comandos) chegou à base de ataque, a dois

quilómetros do objectivo – base Gungunhana.

- 5 Julho - Realizou-se a primeira tentativa de assalto à base Gungunhana, que não se

encontrava na localização prevista.

Page 10: Operação Nó Górdio

- 6 Julho - Foi localizada e assaltada a base Gungunhana, que fora abandonada recentemente.

Estava localizada na encosta de uma pequena colina, no interior de mata densa, ocupava a

área de 100x500 metros, dispunha de mais de cem palhotas, era circundada por uma vala e

tinha abrigos contra morteiros e ataques aéreos.

Foi assaltada a base Moçambique pelas forças para-quedistas. Era constituída por cerca de

duzentas palhotas e encontrava-se abandonada havia cerca de dois meses.

- 12 Julho - O agrupamento de assalto C (fuzileiros) iniciou o deslocamento de Mueda para o

objectivo C – base Nampula.

- 15 Julho - Foi atingido o objectivo C. A base Nampula era constituída por cerca de cinquenta

palhotas e encontrava-se abandonada há dois meses.

- 16 Julho a 6 Agosto – Realizaram-se acções de permanência.

Após os ataques aos objectivos A, B e C, foram organizadas bases temporárias nas suas

proximidades e atribuídas áreas de responsabilidade aos agrupamentos de ataque, com a

finalidade de eliminar da

zona as unidades de

guerrilha ainda activas.

As forças de cerco

mantiveram-se em

posição até 2 de Agosto,

realizando emboscadas e

implantando armadilhas,

para completar e

melhorar a manobra.

Em coordenação com as

acções militares foram

realizadas operações

psicológicas com a

finalidade de separar as populações dos guerrilheiros, desmoralizar os combatentes e

fomentar as apresentações, considerando-se que

a Frelimo controlava cerca de sessenta mil

pessoas na zona do planalto.

Para este efeito, foi instalada em Mueda uma

secção de acção psicológica, constituídas equipas

de recepção de refugiados em Sagal, Diaca,

Miteda e Muidumbe e equipas de acção

psicossocial em Mueda e no Sagal. Também as

autoridades administrativas receberam instruções

para armazenar reservas de víveres, a fim de

fazerem face às necessidades imediatas de apresentados e capturados.

Page 11: Operação Nó Górdio

Contudo, «não obstante a acção psicológica realizada pelas forças nacionais, as populações

não se apresentaram. De forma geral, afastaram-se para fora do alcance das forças militares e

construíram novas palhotas, ou então regressaram para a proximidade das antigas, logo que

lhes foi possível» (extracto do relatório de operação).

Apreciação final da situação pelo comando português:

«Em relação ao inimigo ele foi:

- Desarticulado, em consequência da destruição das suas organizações;

- Atemorizado, pelo potencial e espírito das NT, em que não acreditava;

- Desmoralizado, elas carências de toda a ordem;

- Desprestigiado perante as populações.

As populações, cansadas de luta tão prolongada, apresentavam acentuado desequilíbrio

psicológico. Chegou a "sentir-se" claramente que a população vacilava entre continuar a

resistência ou entregar-se.

As forças nacionais, em resultado da consumação, com

êxito, de uma operação duríssima e da sua superioridade

sobre o inimigo, mostravam-se confiantes em si próprias e

nos seus chefes e compreendiam a necessidade de

continuar a luta até à vitória final.

Com a destruição do "mito" do núcleo central, toda a

iniciativa no distrito de Cabo Delgado passou, sem qualquer

dúvida, para as forças nacionais» (extracto do relatório da

operação).

A Frelimo, apesar da Operação Nó Górdio, não foi impedida

de actuar em qualquer dos teatros de operações. A sua

actividade no terceiro trimestre de 1970 provocou as

seguintes baixas e destruições às forças portuguesas, nas zonas não abrangidas pela operação:

Mortos Feridos Graves Viaturas destruídas

Niassa 17 77 14

Cabo Delgado 25 70 33

Tete 9 45 13

Total 51 192 60

RESULTADOS

Frelimo

Guerrilheiros mortos (em acção directa de combate) 67

Capturados (homens) 31 (mulheres) 42 (crianças) 28

Page 12: Operação Nó Górdio

Forças Portuguesas

Mortos (militares) 22 *(15)

(civis) 4

Feridos graves 27 *(27)

Feridos ligeiros 55 *(31)

Viaturas destruídas e danificadas 15

Minas detectadas 155

*( ) Devido a minas

De facto, só em Cabo Delgado, onde se desenrolou a Operação Nó Górdio, as forças da Frelimo

realizaram, durante o período em que ela durou (Julho) e depois de anunciada a vitória

portuguesa (Agosto e Setembro), as seguintes acções fora da zona de operações:

- 12 de Julho - Ataque a Miteda com um grupo de cerca de cem guerrilheiros, que só se

retiraram após as forças portuguesas terem utilizado helicópteros armados e canhão sem

recuo;

- 15 Julho – Colocação de 73 minas na estrada Montepuez-Nancatari-Mueda;

- 15 e 16 Julho - Colocação de engenhos explosivos perto de Omar (a norte do núcleo central);

- 21 de Julho - Emboscada na estrada Muaguide-Meluco, a sul do rio Messalo, na região de

Macomia;

- 28 e 29 de Julho e 17, 27 e 29 de Agosto - Ataques ao aquartelamento de Omar, sempre com

forte potencial de fogo (canhões sem recuo e metralhadoras pesadas) e muito próximo do

aquartelamento.

Estas acções da Frelimo, fora da

área em que se desenrolou a

Operação Nó Górdio,

demonstram que o movimento

manteve operacionais as suas

estruturas em todos os sectores.

No Niassa, durante este período,

realizou 142 acções, mais 23 do

que no trimestre anterior e mais

34 do que em igual período do

ano de 1969. Em Tete, efectuou

neste trimestre 239 acções, mais

100 do que nos três meses anteriores e mais 141 do que em igual período do ano de 1969.

Page 13: Operação Nó Górdio

Em resumo, na zona de Cabo Delgado a Operação Nó Górdio não fez diminuir as acções

militares da Frelimo nas

áreas exteriores ao núcleo

central, onde as forças

portuguesas concentraram o

seu esforço. Nas frentes do

Niassa e de Tete, o

movimento aumentou

significativamente o número

das suas acções.

Em 3 de Agosto, ainda antes

do final oficial da Operação

Nó Górdio, em ofício

enviado pelo Comando-Chefe de Moçambique ao Secretariado-Geral da Defesa Nacional

(SGDN), Kaúlza de Arriaga transmitia a opinião de que «vencida e ultrapassada esta fase da

guerra em Moçambique, outra poderá ter lugar na qual o inimigo disporá de meios mais

evoluídos, como carros de combate, foguetões terra-terra e aviões de combate».

Em Dezembro de 1970, também em ofício para o SGDN, o comandante-chefe de Moçambique

afirmava: «Não é possível garantir o sucesso em Moçambique com efectivos actuando em

terra inferiores a 105 companhias de caçadores, nove companhias de comandos e quatro

companhias de para-quedistas.»

Em Outubro de 1970, dois meses após o final da operação, o Comando-Chefe de Moçambique

considerava como possibilidade mais perigosa que a Frelimo afectasse gravemente o distrito

de Tete pelo incremento das acções de guerrilha e pelo seu alastramento à Angónia e a Tete, o

que, de facto, veio a verificar-se.

Na sequência da Operação Nó Górdio, as forças portuguesas planearam a Operação Fronteira,

canalizando o seu esforço para Norte, enquanto a Frelimo reorientava a sua prioridade para

Tete e para o Sul, mantendo contudo pressão suficiente no Norte, para não permitir que as

forças portuguesas deslocassem efectivos.

Page 14: Operação Nó Górdio

Em contraguerrilha, as operações de grande envergadura ficam, de modo geral, aquém dos

resultados esperados, mas a verdade é que surgem sempre comandantes tentados a lançá-Ias.

A Frelimo seguiu as máximas de Sun Tsu, de retirar quando o inimigo ataca e de o atacar

quando ele se movimenta. Não admira, por isso, que se verificasse reacção violenta dos

guerrilheiros à movimentação das forças portuguesas, em especial na abertura das picadas

tácticas, quando estas se encontravam mais vulneráveis; que não defendessem as suas bases,

porque o terreno não é importante na guerra de guerrilha; e que o cerco das forças

portuguesas não produzisse os resultados desejáveis, pois era muito extenso, os guerrilheiros

e as populações conheciam o terreno e a localização das emboscadas, os efectivos disponíveis

eram escassos em relação às missões e constituídos ou por unidades recém-chegadas ou que

já tinham terminado as suas comissões.

Mesmo o objectivo de conquistar as populações ficou longe de ser alcançado, pois a área era

demasiado extensa para as possibilidades de exploração das forças de assalto aos objectivos, o

que deu às populações a possibilidade de aguardar o resultado dos acontecimentos em

relativa segurança, fora do alcance das forças de cerco. Não admira, por isso, que não se

tivesse verificado o êxodo das populações com as consequentes capturas. Acresce que as

intensas campanhas de acção psicológica, utilizando meios aéreos de difusão de mensagens,

também não motivaram apresentações.

Fonte: RTP1