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DESENVOLVIMENTO REVIEW Maputo, 11 de Março, 2020 Número 5 Português Resumo A formalização do Banco Nacional de Investimentos (BNI), em 2010, foi vista pelos moçambi- canos como um grande reforço para minimizar o problema de falta de financiamento ao desen- volvimento estruturante da economia moçambicana, principalmente no que diz respeito às infra- -estruturas económico-sociais. O presente Desenvolvimento Review (ResR) mostra que, para além de não ser um catalisador de desenvolvimento, o BNI tem sido uma instituição desestabilizadora do sistema bancário nacional devido à má gestão de capital, elevados custos de funcionamento, elevados índices de crédito problemático e muito baixa rentabilidade dos seus activos financeiros. Um Banco de Desenvolvimento “tóxico” ao Sistema Financeiro Moçambicano BANCO NACIONAL DE INVESTIMENTO (BNI) 1. Enquadramento F ormalizado no dia 15 de Junho de 2010, com um capital social de 500 milhões de dólares, repartido entre o Governo de Moçambique (49.5%), Gover- no de Portugal (49.5%) e Banco Comercial de Investimen- tos - BCI (1%) 1 , o Banco Nacional de Investimentos (BNI) foi criado como um banco de desenvolvimento vocacio- nado a avultados investimentos de longo prazo em Mo- çambique, incluindo infra-estruturas sócio-económicas com impacto directo na redução da pobreza e na melhoria das condições de vida da população, rumo ao desenvolvi- mento económico do país. No entanto, passados 10 anos desde a criação desta instituição, a falta de infra-estrutu- ras é um dos principais factores que penaliza o ambien- te de negócios em Moçambique, a pobreza estagnou 2 e a qualidade de vida da maioria dos moçambicanos tem piorado ano após ano 3 . 1 A partir de 2012, o Estado moçambicano passou a ser o único accionista através do Instituto de Gestão das participações do Estado (IGEPE), 2 Segundo dados do Ministério de Economia e Finanças (MEF, 2016), apesar da redução da percentagem de pobres, entre 2008/9 e 2014/15, o número de moçambicanos vivendo em pobreza absoluta aumentou 11.136.448 11.826.280. 3 Dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD 2019, na sigla em inglês), Moçambique é 10 economia mais pobre do mundo, estando pior que países como Guiné Bissau, Guine Equatorial, República Democrá- tica do Congo e Timor Leste.

Um Banco de Desenvolvimento “tóxico” ao Sistema Financeiro ... · sistema financeiro moçambicano que apresenta o maior risco de insolvência, estando deste modo na iminência

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DESENVOLVIMENTO REVIEW

Maputo, 11 de Março, 2020 Número 5 Português

Resumo

A formalização do Banco Nacional de Investimentos (BNI), em 2010, foi vista pelos moçambi-canos como um grande reforço para minimizar o problema de falta de financiamento ao desen-volvimento estruturante da economia moçambicana, principalmente no que diz respeito às infra--estruturas económico-sociais. O presente Desenvolvimento Review (ResR) mostra que, para além de não ser um catalisador de desenvolvimento, o BNI tem sido uma instituição desestabilizadora do sistema bancário nacional devido à má gestão de capital, elevados custos de funcionamento, elevados índices de crédito problemático e muito baixa rentabilidade dos seus activos financeiros.

Um Banco de Desenvolvimento “tóxico” ao Sistema Financeiro Moçambicano

BANCO NACIONAL DE INVESTIMENTO (BNI)

1. Enquadramento

Formalizado no dia 15 de Junho de 2010, com um capital social de 500 milhões de dólares, repartido entre o Governo de Moçambique (49.5%), Gover-

no de Portugal (49.5%) e Banco Comercial de Investimen-tos - BCI (1%)1, o Banco Nacional de Investimentos (BNI) foi criado como um banco de desenvolvimento vocacio-nado a avultados investimentos de longo prazo em Mo-çambique, incluindo infra-estruturas sócio-económicas

com impacto directo na redução da pobreza e na melhoria das condições de vida da população, rumo ao desenvolvi-mento económico do país. No entanto, passados 10 anos desde a criação desta instituição, a falta de infra-estrutu-ras é um dos principais factores que penaliza o ambien-te de negócios em Moçambique, a pobreza estagnou2 e a qualidade de vida da maioria dos moçambicanos tem piorado ano após ano3.

1 A partir de 2012, o Estado moçambicano passou a ser o único accionista através do Instituto de Gestão das participações do Estado (IGEPE),

2 Segundo dados do Ministério de Economia e Finanças (MEF, 2016), apesar da redução da percentagem de pobres, entre 2008/9 e 2014/15, o número de moçambicanos vivendo em pobreza absoluta aumentou 11.136.448 11.826.280.

3 Dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD 2019, na sigla em inglês), Moçambique é 10 economia mais pobre do mundo, estando pior que países como Guiné Bissau, Guine Equatorial, República Democrá-tica do Congo e Timor Leste.

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2 Desenvolvimento Review I www.cddmoz.org

O BNI é, na verdade, um ilustre desconhecido para a maioria dos moçambicanos, e tem claramen-te passado à margem da sua função de banco finan-ciador e catalisador de desenvolvimento, focando--se mais na “caça” de comissões financeiras através da prestação de “serviços de acessória financeira” ao Governo e às instituições públicas que fazem em-préstimos em instituições financeiras internacionais. Por exemplo, segundo o relatório Auditoria inde-pendente relativa aos empréstimos contraídos pela ProIndicus S.A., EMATUM S.A. e Mozambique As-set Management S.A. realizado em 2017 pela Kroll (Kroll, 2017), o BNI esteve envolvido, juntamente com a consultora Ernst & Young, na restruturação da dívida da EMATUM. Por este serviço prestado ao Ministério da Economia e Finanças (MEF), o “con-sórcio” recebeu 17.317.264 dólares, mas a Kroll deixou claro que não conseguiu obter informações adicionais sobre os serviços fornecidos. Em 2019, o

BNI intermediou um financiamento à empresa pú-blica Electricidade de Moçambique (EDM) no valor de 80 milhões de dólares, concedidos com garan-tias de Estado pelo banco sul-africano de desenvol-vimento, DBSA. Não se sabe quanto é que o BNI ganhou em comissões.

Este Desenvolvimento Review (DesR) mostra que, para além de não cumprir com o seu papel de ban-co de desenvolvimento, o BNI tem “intoxicado” o sistema financeiro nacional devido ao seu mau de-sempenho financeiro, pelo menos a avaliar pelos indicadores prudenciais e económico-financeiros, segundo os padrões estabelecidos pelo Banco de Moçambique (BM), autoridade supervisora do siste-ma financeiro. A seguir a esta introdução, o presente DesR analisa alguns riscos de instabilidade do sis-tema financeiro moçambicano gerados pelo BNI, e por fim, são apresentadas as considerações finais.

2. Os contornos do risco de instabilidade do sistema financeiro Gerados pelo banco nacional de investimentos (BNI)

Esta secção está dividida em quatro subsecções que analisam os quatro critérios usados pelo Banco de Moçambique (BM) para monitorar a estabilida-de do sistema financeiro nacional, nomeadamente o capital (rácio de alavancagem), a qualidade de activos (rácio de crédito em incumprimento), ges-tão (custo de funcionamento) e resultados (ren-

tabilidade do activo). Estes indicadores sugerem que há uma gestão financeira danosa no BNI que defrauda fundos públicos e prejudica o sistema fi-nanceiro nacional nos mesmos moldes que culmi-naram no famoso escândalo político, económico e financeiro que foi o já falido Banco Popular de Desenvolvimento (BPD).

2.1. O BNI é a instituição bancária do sistema financeiro moçambicano que mais recorre ao financiamento por dívida, tendo actualmente um rácio de divida 28.1 pontos percentuais acima da média do mercado.

O gráfico 1 mostra o índice de alavancagem do sistema bancário durante o período compreendido entre 1 de Outubro e 31 de Dezembro de 2019. O índice de alavancagem mede o grau no qual uma empresa utiliza o financiamento por dívida, sendo o índice designado também por rácio de dívida. Quan-to mais financiamento por dívida a entidade bancá-ria utiliza, maior será a alavancagem financeira, o que significa mais pagamentos de juros e, consequente-

mente, afecta negativamente a rentabilidade. Neste sentido, com um índice de alavancagem de 54.28% (a média do mercado é de 26.21%), o BNI é a institui-ção bancária do sistema financeiro moçambicano que apresenta o maior risco de insolvência, estando deste modo na iminência de gerar distorções e turbulências ao sistema financeiro semelhantes às que foram re-centemente criadas pelo extinto Nosso Banco e pelo Moza Banco.

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3Desenvolvimento Review I www.cddmoz.org

Gráfico 1: Rácio de Alavancagem (%) do Sistema Bancário: 1 de Outubro a 31 de Dezembro de 2019

2.2. BNI “déjà vu”: o famoso caso dos créditos malparados do Banco Popular de Desenvolvimento (BPD).

Fonte: Banco de Moçambique (2019)Notas: ABC – African Banking Corporation; Banco Mais – Banco Moçambicano de Apoio; Bayport – Bayport Servicos Financeiros; BIM – Banco

Internacional de Moçambique; BIG – Banco Internacional Global; BAU – Banco Único; BOM – Opportunity Bank; BBM – Barclays Bank Moçambique; BCI – Banco Comercial e de Investimentos; BNI – Banco Nacional de Investimento; CBM – Capital Bank; CPC – Coope-rativa de Poupança e Crédito; Ecobank – Ecobank Moçambique; FNB – FNB Moçambique; GAPI – Gapi Sociedade de Investimento; Letshego – Banco Letshego; Moza Banco – Moza Banco; SGM – Banco Societé Générale Moçambique; SOCREMO – Socremo Banco de Microfinanças; SB – Standard Bank; UBA – United Bank for Africa Moçambique.

O escândalo dos créditos malparados no primeiro banco de desenvolvimento de Moçambique indepen-dente, o extinto Banco Popular de Desenvolvimento (BPD), é seguramente, um dos casos mais mediáti-cos que o nosso país viveu nos últimos 30 anos. Este acontecimento despertou a atenção do público, não só pelos feitos negativos na estabilidade do sistema financeiro nacional, mas também, pelo bárbaro as-sassinato do então Presidente do Conselho de Admi-nistração, Siba Siba Macuacuá em agosto de 2001. Nesta altura, a instituição já se chamava Banco Austral em resultado da sua privatização (o Estado moçambi-cano passou a deter apenas 40% do capital social do banco). Macuacuá morreu quando se preparava para

divulgar a lista dos devedores incumpridores, na sua maioria indivíduos ligados à elite política e empresa-rial do país.

Infelizmente, tal situação volta a se verificar no BNI, tendo neste momento um rácio de crédito em incum-primento na ordem de 28%, que está 16.6 pontos percentuais acima da média de mercado (11.61%). O nível deste indicador de qualidade de activos do BNI levanta as seguintes questões: (i) quem são esses mu-tuários que não estão a reembolsar os empréstimos concedidos pelo BNI? (ii) estaremos perante mais um caso de saco azul no sistema financeiro moçambica-no, tal como foram o BPD e o Nosso Banco?

alavancagem de 54.28% (a média do mercado é de 26.21%), o BNI é a instituição bancária do sistema financeiro moçambicano que apresenta o maior risco de insolvência, estando deste modo na iminência de gerar distorções e turbulências ao sistema financeiro semelhantes às que foram recentemente criadas pelo extinto Nosso Banco e pelo Moza Banco.

Gráfico 1: Rácio de Alavancagem (%) do Sistema Bancário: 1 de Outubro a 31 de Dezembro de 2019

Fonte: Banco de Moçambique (2019) Notas: ABC – African Banking Corporation; Banco Mais – Banco Moçambicano de Apoio; Bayport – Bayport Servicos Financeiros; BIM – Banco Internacional de Moçambique; BIG – Banco Internacional Global; BAU – Banco Único; BOM – Opportunity Bank; BBM – Barclays Bank Moçambique; BCI – Banco Comercial e de Investimentos; BNI – Banco Nacional de Investimento; CBM – Capital Bank; CPC – Cooperativa de Poupança e Crédito; Ecobank – Ecobank Moçambique; FNB – FNB Moçambique; GAPI – Gapi Sociedade de Investimento; Letshego – Banco Letshego; Moza Banco – Moza Banco; SGM – Banco Societé Générale Moçambique; SOCREMO – Socremo Banco de Microfinanças; SB – Standard Bank; UBA – United Bank for Africa Moçambique.

2.2. BNI “déjà vu”: o famoso caso dos créditos malparados do Banco Popular de Desenvolvimento (BPD).

O escândalo dos créditos malparados no primeiro banco de desenvolvimento de Moçambique independente, o extinto Banco Popular de Desenvolvimento (BPD), é seguramente, um dos casos mais mediáticos que o nosso país viveu nos últimos 30 anos. Este acontecimento despertou a atenção do público, não só pelos feitos negativos na estabilidade do sistema financeiro nacional, mas também, pelo bárbaro assassinato do então Presidente do Conselho de Administração, Siba Siba Macuacuá em agosto de 2001. Nesta altura, a instituição já se chamava Banco Austral em resultado da sua privatização (o Estado moçambicano passou a deter apenas 40% do capital social do banco). Macuacuá morreu quando se preparava para divulgar a lista dos devedores incumpridores, na sua maioria indivíduos ligados à elite política e empresarial do país.

Infelizmente, tal situação volta a se verificar no BNI, tendo neste momento um rácio de crédito em incumprimento na ordem de 28%, que está 16.6 pontos percentuais acima da média de mercado (11.61%). O nível deste indicador de qualidade de activos do BNI levanta as seguintes questões: (i) quem são esses mutuários que não estão a reembolsar os empréstimos concedidos pelo BNI? (ii) estaremos perante mais um caso de saco azul no sistema financeiro moçambicano, tal como foram o BPD e o Nosso Banco?

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Gráfico 2: Rácio de Crédito em Incumprimento (%) do Sistema Bancário: 1 de Outubro a 31 de Dezembro de 2019

Gráfico 3: Custo de Funcionamento do Sistema Bancário: 1 de Outubro a 31 de Dezembro de 2019

2.3. O rácio custos administrativos/produto bancário do BNI (72.31%) é o terceiro maior do sistema financeiro nacional.

Fonte: Banco de Moçambique (2019)Notas: ABC – African Banking Corporation; Banco Mais – Banco Moçambicano de Apoio; Bayport – Bayport Servicos Financeiros; BIM – Banco

Internacional de Moçambique; BIG – Banco Internacional Global; BAU – Banco Único; BOM – Opportunity Bank; BBM – Barclays Bank Moçambique; BCI – Banco Comercial e de Investimentos; BNI – Banco Nacional de Investimento; CBM – Capital Bank; CPC – Coope-rativa de Poupança e Crédito; Ecobank – Ecobank Moçambique; FNB – FNB Moçambique; GAPI – Gapi Sociedade de Investimento; Letshego – Banco Letshego; Moza Banco – Moza Banco; SGM – Banco Societé Générale Moçambique; SOCREMO – Socremo Banco de Microfinanças; SB – Standard Bank; UBA – United Bank for Africa Moçambique.

Fonte: Banco de Moçambique (2019)Notas: ABC – African Banking Corporation; Banco Mais – Banco Moçambicano de Apoio; Bayport – Bayport Servicos Financeiros; BIM – Banco

Internacional de Moçambique; BIG – Banco Internacional Global; BAU – Banco Único; BOM – Opportunity Bank; BBM – Barclays Bank Moçambique; BCI – Banco Comercial e de Investimentos; BNI – Banco Nacional de Investimento; CBM – Capital Bank; CPC – Coope-rativa de Poupança e Crédito; Ecobank – Ecobank Moçambique; FNB – FNB Moçambique; GAPI – Gapi Sociedade de Investimento; Letshego – Banco Letshego; Moza Banco – Moza Banco; SGM – Banco Societé Générale Moçambique; SOCREMO – Socremo Banco de Microfinanças; SB – Standard Bank; UBA – United Bank for Africa Moçambique.

Gráfico 2: Rácio de Crédito em Incumprimento (%) do Sistema Bancário: 1 de Outubro a 31 de Dezembro de 2019

Fonte: Banco de Moçambique (2019) Notas: ABC – African Banking Corporation; Banco Mais – Banco Moçambicano de Apoio; Bayport – Bayport Servicos Financeiros; BIM – Banco Internacional de Moçambique; BIG – Banco Internacional Global; BAU – Banco Único; BOM – Opportunity Bank; BBM – Barclays Bank Moçambique; BCI – Banco Comercial e de Investimentos; BNI – Banco Nacional de Investimento; CBM – Capital Bank; CPC – Cooperativa de Poupança e Crédito; Ecobank – Ecobank Moçambique; FNB – FNB Moçambique; GAPI – Gapi Sociedade de Investimento; Letshego – Banco Letshego; Moza Banco – Moza Banco; SGM – Banco Societé Générale Moçambique; SOCREMO – Socremo Banco de Microfinanças; SB – Standard Bank; UBA – United Bank for Africa Moçambique. 2.3. O rácio custos administrativos/produto bancário do BNI (72.31%) é o terceiro maior do

sistema financeiro nacional.

Um dos indicadores prudenciais e económico-financeiros usados pelo BM para monitorar a estabilidade do sistema financeiro nacional é a eficiência operacional das instituições bancárias que oferecem serviços de intermediação financeira no mercado nacional. Um dos instrumentos usados para avaliar este indicador são os custos de funcionamento que, por sua vez, são medidos através do rácio custos administrativos/produto bancário. Gráfico 3: Custo de Funcionamento do Sistema Bancário: 1 de Outubro a 31 de Dezembro de 2019

Fonte: Banco de Moçambique (2019) Notas: ABC – African Banking Corporation; Banco Mais – Banco Moçambicano de Apoio; Bayport – Bayport Servicos Financeiros; BIM – Banco Internacional de Moçambique; BIG – Banco Internacional Global; BAU – Banco Único; BOM – Opportunity Bank; BBM – Barclays Bank Moçambique; BCI – Banco Comercial e de Investimentos; BNI – Banco Nacional de Investimento; CBM – Capital Bank; CPC – Cooperativa de Poupança e Crédito; Ecobank – Ecobank Moçambique; FNB – FNB Moçambique; GAPI – Gapi Sociedade de Investimento; Letshego – Banco Letshego; Moza Banco – Moza Banco; SGM – Banco Societé Générale Moçambique; SOCREMO – Socremo Banco de Microfinanças; SB – Standard Bank; UBA – United Bank for Africa Moçambique.

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média do mercado: 11.61%

média do mercado: 65.45

Um dos indicadores prudenciais e económico-finan-ceiros usados pelo BM para monitorar a estabilidade do sistema financeiro nacional é a eficiência operacional das instituições bancárias que oferecem serviços de interme-

diação financeira no mercado nacional. Um dos instru-mentos usados para avaliar este indicador são os custos de funcionamento que, por sua vez, são medidos através do rácio custos administrativos/produto bancário.

Gráfico 2: Rácio de Crédito em Incumprimento (%) do Sistema Bancário: 1 de Outubro a 31 de Dezembro de 2019

Fonte: Banco de Moçambique (2019) Notas: ABC – African Banking Corporation; Banco Mais – Banco Moçambicano de Apoio; Bayport – Bayport Servicos Financeiros; BIM – Banco Internacional de Moçambique; BIG – Banco Internacional Global; BAU – Banco Único; BOM – Opportunity Bank; BBM – Barclays Bank Moçambique; BCI – Banco Comercial e de Investimentos; BNI – Banco Nacional de Investimento; CBM – Capital Bank; CPC – Cooperativa de Poupança e Crédito; Ecobank – Ecobank Moçambique; FNB – FNB Moçambique; GAPI – Gapi Sociedade de Investimento; Letshego – Banco Letshego; Moza Banco – Moza Banco; SGM – Banco Societé Générale Moçambique; SOCREMO – Socremo Banco de Microfinanças; SB – Standard Bank; UBA – United Bank for Africa Moçambique. 2.3. O rácio custos administrativos/produto bancário do BNI (72.31%) é o terceiro maior do

sistema financeiro nacional.

Um dos indicadores prudenciais e económico-financeiros usados pelo BM para monitorar a estabilidade do sistema financeiro nacional é a eficiência operacional das instituições bancárias que oferecem serviços de intermediação financeira no mercado nacional. Um dos instrumentos usados para avaliar este indicador são os custos de funcionamento que, por sua vez, são medidos através do rácio custos administrativos/produto bancário. Gráfico 3: Custo de Funcionamento do Sistema Bancário: 1 de Outubro a 31 de Dezembro de 2019

Fonte: Banco de Moçambique (2019) Notas: ABC – African Banking Corporation; Banco Mais – Banco Moçambicano de Apoio; Bayport – Bayport Servicos Financeiros; BIM – Banco Internacional de Moçambique; BIG – Banco Internacional Global; BAU – Banco Único; BOM – Opportunity Bank; BBM – Barclays Bank Moçambique; BCI – Banco Comercial e de Investimentos; BNI – Banco Nacional de Investimento; CBM – Capital Bank; CPC – Cooperativa de Poupança e Crédito; Ecobank – Ecobank Moçambique; FNB – FNB Moçambique; GAPI – Gapi Sociedade de Investimento; Letshego – Banco Letshego; Moza Banco – Moza Banco; SGM – Banco Societé Générale Moçambique; SOCREMO – Socremo Banco de Microfinanças; SB – Standard Bank; UBA – United Bank for Africa Moçambique.

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média do mercado: 11.61%

média do mercado: 65.45

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5Desenvolvimento Review I www.cddmoz.org

Fonte: Banco de Moçambique (2019)Notas: ABC – African Banking Corporation; Banco Mais – Banco Moçambicano de Apoio; Bayport – Bayport Servicos Financeiros; BIM – Banco

Internacional de Moçambique; BIG – Banco Internacional Global; BAU – Banco Único; BOM – Opportunity Bank; BBM – Barclays Bank Moçambique; BCI – Banco Comercial e de Investimentos; BNI – Banco Nacional de Investimento; CBM – Capital Bank; CPC – Coope-rativa de Poupança e Crédit`o; Ecobank – Ecobank Moçambique; FNB – FNB Moçambique; GAPI – Gapi Sociedade de Investimento; Letshego – Banco Letshego; Moza Banco – Moza Banco; SGM – Banco Societé Générale Moçambique; SOCREMO – Socremo Banco de Microfinanças; SB – Standard Bank; UBA – United Bank for Africa Moçambique.

Neste contexto, a eficiência operativa implica a minimização deste rácio. O gráfico 3 mostra que o BNI tem o terceiro maior custo operacional relativo (72.31%) do sistema bancário moçambicano, estando apenas melhor que o Banco ABC (110.21%) e o banco Letshego (32.09%).

2.4. Os activos do BNI tem uma rentabilidade de apenas 0.21% que está 3.2 pontos percentuais abaixo da média do mercado bancário moçambicano.

Os rácios de rentabilidade são utilizados para deter-minar a eficiência com que a empresa está a utilizar os seus activos. Revelam os aspectos da situação econó-mica e relacionam os resultados com a actividade que os gera, ou os resultados com os capitais investidos e que tornaram possível a actividade (Silva, 2013). Exis-tem várias medidas básicas para avaliar a rentabilidade

bancária, sendo que no caso da monitoria da estabilida-de do sistema financeiro moçambicano, o BM utiliza o retorno dos activos (ROA). O ROA é geralmente usado para avaliar a gestão do banco e a eficiência com que o banco gere o seu activo. O gráfico 4 compara os ROAs das 21 instituições bancárias do sistema financeirio na-cional entre 1 de Outubro e 31 de Dezembro de 2019.

Gráfico 4: Rentabiliadde do Activo, ROA (%) do Sistema Bancário (%): 1 de Outubro a 31 de Dezembro de 2019

Neste contexto, a eficiência operativa implica a minimização deste rácio. O gráfico 3 mostra que o BNI tem o terceiro maior custo operacional relativo (72.31%) do sistema bancário moçambicano, estando apenas melhor que o Banco ABC (110.21%) e o banco Letshego (32.09%). 2.4. Os activos do BNI tem uma rentabilidade de apenas 0.21% que está 3.2 pontos percentuais

abaixo da média do mercado bancário moçambicano.

Os rácios de rentabilidade são utilizados para determinar a eficiência com que a empresa está a utilizar os seus activos. Revelam os aspectos da situação económica e relacionam os resultados com a actividade que os gera, ou os resultados com os capitais investidos e que tornaram possível a actividade (Silva, 2013). Existem várias medidas básicas para avaliar a rentabilidade bancária, sendo que no caso da monitoria da estabilidade do sistema financeiro moçambicano, o BM utiliza o retorno dos activos (ROA). O ROA é geralmente usado para avaliar a gestão do banco e a eficiência com que o banco gere o seu activo. O gráfico 4 compara os ROAs das 21 instituições bancárias do sistema financeirio nacional entre 1 de Outubro e 31 de Dezembro de 2019.

Gráfico 4: Rentabiliadde do Activo, ROA (%) do Sistema Bancário (%): 1 de Outubro a 31 de Dezembro de 2019

Fonte: Banco de Moçambique (2019) Notas: ABC – African Banking Corporation; Banco Mais – Banco Moçambicano de Apoio; Bayport – Bayport Servicos Financeiros; BIM – Banco Internacional de Moçambique; BIG – Banco Internacional Global; BAU – Banco Único; BOM – Opportunity Bank; BBM – Barclays Bank Moçambique; BCI – Banco Comercial e de Investimentos; BNI – Banco Nacional de Investimento; CBM – Capital Bank; CPC – Cooperativa de Poupança e Crédit`o; Ecobank – Ecobank Moçambique; FNB – FNB Moçambique; GAPI – Gapi Sociedade de Investimento; Letshego – Banco Letshego; Moza Banco – Moza Banco; SGM – Banco Societé Générale Moçambique; SOCREMO – Socremo Banco de Microfinanças; SB – Standard Bank; UBA – United Bank for Africa Moçambique.

De acordo com gráfico em referência, o BNI tem a quinta menor rentabilidade do mercado (0.21%), estando apenas melhor em relação a pequenos bancos como Moza Banco (-2.12%), United Bank for Africa (-1.19%), African Banking Corporation (-0.99%) e Societé Générale Moçambique (0.02%). Curiosamente, a Cooperativa de Poupança e Crédito, instituição bancária pertecente a quadros do BM, tem um rácio de rentabilidade (21.98%) que é 3.2 pontos percentuais superior à média do mercado (3.39%).

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De acordo com gráfico em referência, o BNI tem a quinta menor rentabilidade do mercado (0.21%), es-tando apenas melhor em relação a pequenos bancos como Moza Banco (-2.12%), United Bank for Africa (-1.19%), African Banking Corporation (-0.99%) e So-

cieté Générale Moçambique (0.02%). Curiosamente, a Cooperativa de Poupança e Crédito, instituição bancária pertecente a quadros do BM, tem um rácio de rentabilidade (21.98%) que é 3.2 pontos percen-tuais superior à média do mercado (3.39%).

Conclusõeso presente Desenvolvimento Review analisou al-

guns indicadores prudenciais e económico-financei-ros do Banco Nacional de Investimentos (BNI), confor-me os padrões de monitoria e supervisão financeira do Banco de Moçambique no período compreendido entre 1 e Outubro e 31 de Dezembro de 2019. Os

resultados indicam que o BNI intoxica o mercado fi-nanceiro nacional pelo seu mau desempenho opera-cional e financeiro que gera distorções à estabilidade do sistema. Especificamente, o BNI: (i) é a instituição bancária que mais se financia com recurso à dívida, (ii) tem um dos rácios mais altos de crédito malparado;

Page 6: Um Banco de Desenvolvimento “tóxico” ao Sistema Financeiro ... · sistema financeiro moçambicano que apresenta o maior risco de insolvência, estando deste modo na iminência

(iii) tem elevados custos de funcionamento e (iv) tem uma rentabilidade muito baixa. Estes indicadores su-gerem que, tal; como aconteceu com o já falido BPD, o BNI caminha, a passos largos, para a insolvência e é, no momento, um dos principais geradores de instabi-lidade do sistema financeiro nacional.

O BNI é, na verdade, um ilustre desconhecido para

a maioria dos moçambicanos, e tem claramente pas-sado à margem da sua função de banco financiador e catalisador de desenvolvimento, focando-se mais na “caça” de comissões financeiras através da prestação de “serviços de acessória financeira” ao Governo e às instituições públicas que fazem empréstimos em insti-tuições financeiras internacionais.

Documentos consultados

Banco de Moçambique (20019). Indicadores Prudenciais e Económico-Financeiros – IV Trimestre. Disponível em: http://www.bancomoc.mz/fm_pgtab1.aspx?id=293. Consultado em 26 de Fevereiro de 2020.

MEF (2016) Pobreza e Bem-Estar em Moçambique: Quarta Avaliação Nacional. Maputo. PNUD (2019). 2018 Human Development Indices and Indicators. Washington DC.Kroll (2017). Auditoria independente relativa aos empréstimos contraídos pela ProIndicus S.A., EMATUM S.A.

e Mozambique Asset Management S.A. Maputo.Silva, E. S. (2013). Gestão financeira - Análise dos Fluxos Financeiros (5a Edição). Porto, Portugal: Vida Eco-

nómica - Editorial, SA.

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