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1 Um estudo sobre as conseqüências da ausência de ergonomia nas organizações Claudia Regina F. do Nascimento 1 [email protected] Elsio Alves 2 [email protected] Pedro Paulo dos Santos de Lima 3 [email protected] Silvana Duarte dos Santos 4 [email protected] Antonio Renato Pereira Moro 5 Resumo A crescente busca por novos meios de produção seguida pela demanda mundial cada vez mais exigente trouxe consigo diversos fatores capazes de influenciar o ambiente organizacional e as formas de trabalho. O presente artigo tem como objetivo determinar a influência das consequências provenientes da ausência de estratégias ergonômicas nas organizações de trabalho, assim entendidos os resultados decorrentes da ausência de ergonomia nas atividades laborais. Com as crescentes mudanças técnico-mecânicas nos processos de produção, conclui- se que, a aplicação de estratégias ergonômicas tornou-se um fator determinante para o bom desempenho dos processos fabris, tornando-se cada vez mais presente e necessária nas atividades organizacionais. O enfoque ergonômico se traduz nos dias atuais, como mais uma ferramenta a serviço da eficiência organizacional. As boas condições ergonômicas em qualquer atividade produtiva ou administrativa refletem no rendimento do trabalho e consequentemente a rentabilidade do negócio. A presente pesquisa fundamenta-se no método exploratório, a partir da realização de uma pesquisa bibliográfica na literatura, em sites institucionais e em pesquisas relacionadas ao tema abordado. Buscando traduzir os efeitos da falta de estratégias ergonômicas nas organizações e as principais causas do afastamento do trabalhador do seu ambiente de trabalho, bem como a repercussão do afastamento para a organização. Palavras-chave: Estratégias ergonômicas; Ambiente de trabalho; Eficiência organizacional. Introdução A revolução industrial que culminou em meados dos séculos XVIII E XIX, foi a percussora de um novo estilo de divisão do trabalho, em que o trabalhador artesanal passou a ser substituído pelo proletariado especializado. O surgimento das fabricas, e o aumento na demanda de produtos industrializados, foram responsáveis por profundas transformações na 1 Acadêmica do Curso de Ciência Contábeis da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS Campus do Pantanal. 2 Acadêmico do Curso de Ciência Contábeis da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS Campus do Pantanal. 3 Acadêmico do Curso de Ciência Contábeis da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS Campus do Pantanal. 4 Professora Orientadora do Curso de Ciência Contábeis da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS Campus do Pantanal. 5 Professor da Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC.

Um Estudo Sobre as Consequencias Da Ausencia de Ergonomia Nas Organizacoes

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Ergonomia no Trabalho

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    Um estudo sobre as conseqncias da ausncia de ergonomia nas

    organizaes

    Claudia Regina F. do Nascimento1

    [email protected] Elsio Alves

    2

    [email protected]

    Pedro Paulo dos Santos de Lima3

    [email protected]

    Silvana Duarte dos Santos4

    [email protected]

    Antonio Renato Pereira Moro5

    Resumo

    A crescente busca por novos meios de produo seguida pela demanda mundial cada vez mais

    exigente trouxe consigo diversos fatores capazes de influenciar o ambiente organizacional e

    as formas de trabalho. O presente artigo tem como objetivo determinar a influncia das

    consequncias provenientes da ausncia de estratgias ergonmicas nas organizaes de

    trabalho, assim entendidos os resultados decorrentes da ausncia de ergonomia nas atividades

    laborais. Com as crescentes mudanas tcnico-mecnicas nos processos de produo, conclui-

    se que, a aplicao de estratgias ergonmicas tornou-se um fator determinante para o bom

    desempenho dos processos fabris, tornando-se cada vez mais presente e necessria nas

    atividades organizacionais. O enfoque ergonmico se traduz nos dias atuais, como mais uma

    ferramenta a servio da eficincia organizacional. As boas condies ergonmicas em

    qualquer atividade produtiva ou administrativa refletem no rendimento do trabalho e

    consequentemente a rentabilidade do negcio. A presente pesquisa fundamenta-se no mtodo

    exploratrio, a partir da realizao de uma pesquisa bibliogrfica na literatura, em sites

    institucionais e em pesquisas relacionadas ao tema abordado. Buscando traduzir os efeitos da

    falta de estratgias ergonmicas nas organizaes e as principais causas do afastamento do

    trabalhador do seu ambiente de trabalho, bem como a repercusso do afastamento para a

    organizao.

    Palavras-chave: Estratgias ergonmicas; Ambiente de trabalho; Eficincia organizacional.

    Introduo

    A revoluo industrial que culminou em meados dos sculos XVIII E XIX, foi a

    percussora de um novo estilo de diviso do trabalho, em que o trabalhador artesanal passou a

    ser substitudo pelo proletariado especializado. O surgimento das fabricas, e o aumento na

    demanda de produtos industrializados, foram responsveis por profundas transformaes na

    1 Acadmica do Curso de Cincia Contbeis da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS Campus

    do Pantanal. 2 Acadmico do Curso de Cincia Contbeis da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS Campus

    do Pantanal. 3 Acadmico do Curso de Cincia Contbeis da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS Campus

    do Pantanal. 4 Professora Orientadora do Curso de Cincia Contbeis da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS

    Campus do Pantanal. 5 Professor da Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC.

  • 2

    classe trabalhadora, segundo MAXIMIANO (2002) as condies de trabalho nas fbricas

    daquela poca eram rudes, com os trabalhadores totalmente disposio do industrial e

    capitalista. importante lembrar que as empresas esto cada vez mais produtivas e

    competitivas, os trabalhos se tornam cada vez mais intensos, tendo como consequncia,

    muitas vezes, o adoecimento e afastamento do trabalhador na organizao, repercutindo na

    qualidade de vida do trabalhador e o baixo rendimento na produo nas organizaes. A

    incorporao de novas e antigas tecnologias associados aos mtodos utilizados de produo

    industrial modificou o perfil de sade, sofrimento e adoecimento dos trabalhadores. Essa

    mudana se deu ao expressivo aumento de doenas relacionado ao trabalho, ainda que haja

    um esforo crescente nos ltimos anos para investigar as causas dessas doenas.

    Sanders e McCormick (1993) sustentam que o surgimento da Ergonomia est

    intimamente ligado ao desenvolvimento da tecnologia, causada pela Revoluo Industrial, no

    final do sculo XIX e incio do sculo XX.

    As indstrias investiram muito mais com o objetivo de aumentar sua eficincia nos

    processos, que por sua vez passaram a exigir maiores recompensas e retornos. Passou-se a

    exigir que o desempenho dos gerentes e administradores fosse no somente de encontrar

    pessoas adequadas aos diferentes cargos, como tambm de trein-las no uso de ferre mentas e

    mtodos (RAMOS, 2002 apud Takeda, 2010,p.29).

    O objetivo da pesquisa traduz-se em sntese da aplicao da ergonomia, como

    tambm, na compreenso das consequncias provenientes da ausncia de estratgias

    ergonmicas nas organizaes de trabalho. Com o intuito de identificar as relaes entre

    trabalho, sade, fadiga e adoecimento. O presente estudo justifica-se pela necessidade de

    utilizao dos conhecimentos sobre ergonomia na adaptao do ambiente de trabalho s

    necessidades do trabalhador. Nessa mesma perspectiva, estudos diversos surgem, buscando

    meios para minimizar os efeitos entre o excesso de atividade/atividade praticada de forma

    inadequada, e a necessidade em manter o trabalhador em seu posto de trabalho de forma

    eficiente e que garanta tanto o bem estar fsico quanto a produtividade. De acordo com

    LASMAR et al., (2012, p. 3) todas as ferramentas utilizadas pela ergonomia, para a

    viabilizao dos ajustes necessrios a evitar as doenas ocupacionais, so importantes quando

    da realizao das pericias mdicas, pois medida que os afastamentos acontecem, a

    justificativa para o afastamento solicitada. Neste aspecto, a ergonomia importante, pois

    embasa as decises jurdicas, mediante a avaliao mdica, referentes aos afastamentos e a

    necessidade de retorno ou permanncia do colaborador afastado de suas atividades laborais.

    Muitas dessas atividades so estritamente manuais, outras so automatizadas, e quase

    todas podem ser caracterizadas pelo ritmo intenso de produo, com imposio depresso

    temporal, alta repetitividade, limite de contato humano, ambiente frio, postos inadequados e

    riscos biolgicos, entre outros constrangimentos decorrentes do trabalho. Esta dissociao

    entre as exigncias do trabalho e as necessidades psicofisiolgicas pode gerar adoecimento e

    restries no corpo do trabalhador em quase toda a cadeia produtiva conforme relata

    (MENDES; ECHTENACHT, 2006 apud EUNICE TOKARS, 2012, p. 23).

    Segundo Moraes (2010), a LER e a DORT representam 80% dos afastamentos

    dos trabalhadores, sendo que algumas doenas ocupacionais podem surgir mesmo depois do

    trabalhador se afastar do agente causador. As indstrias esto cada vezes mais

    competitivas, em buscando atingir metas de produo tanto mensalmente ou anualmente

    dependendo da rea que atuam , e isso traz algumas consequncias, como os problemas

    crnicos que o trabalhadores vem sofrendo. Por esta razo as indstrias e as organizaes

    vm se preocupando em proporcionar um ambiente de trabalho seguro, saudvel e confortvel

    para seus funcionrios.

  • 3

    2 METODOLOGIA DE PESQUISA

    O estudo utilizou-se da anlise de artigos j publicados sobre o tema ergonomia. Nesse

    sentido, a pesquisa classifica-se como bibliogrfica, pois tem como base a teoria

    encontrada em publicaes como livros, pesquisas e revistas, inclusive eletrnicas, e em

    stios na internet.

    Inicialmente o presente artigo limitou-se em avaliar as condies ergonmicas do

    ambiente de trabalho das atividades do processo contnuo, excluindo da avaliao as

    atividades de apoio deste setor, entre elas, controle de qualidade, superviso, atividades com

    rodzios de funo e higienizao de mquinas e utenslios. Apesar da evidente necessidade

    de um estudo mais amplo que abranja todos os setores e atividades de produo onde o estudo

    ergonmico possa ser observado, pois as mudanas tcnico-mecnicas nos processos de

    produo no foram suficientes para adequar as caractersticas psicofsicas dos indivduos ao

    trabalho, conforme preconiza a Ergonomia.

    3. FUNDAMENTAO TERICA

    A Ergonomia busca proporcionar ao homem o estreito equilbrio entre si mesmo e o

    seu trabalho, ou o ambiente em que este se realiza, em todas as suas dimenses, de modo a

    conceber e/ou transformar o trabalho de maneira a manter a integridade da sade dos operadores e atingir objetivos econmicos (SANTOS e ZAMBERLAN, s.d., p.13).

    Segundo Pegado (1991), a Ergonomia tem os seus objetivos centrados na humanizao

    do trabalho e na melhoria da produtividade. As condies de trabalho incluem todos os

    fatores que possam influenciar na performance e satisfao dos trabalhadores na organizao.

    Isso envolve o trabalho especfico, o ambiente, a tarefa, a jornada de trabalho, o horrio de

    trabalho, salrios, alm de outros fatores cruciais relacionados com a qualidade de vida no

    trabalho, tais como nutrio, nvel de atividade fsica habitual e todas as condies de sade

    em geral.

    A reviso de literatura apresenta o adoecimento e afastamento do trabalhador como

    um percurso rduo, quase sempre acompanhado de sofrimento, principalmente por encontrar-

    se vulnervel fsica e mentalmente e ter suas queixas e direitos colocados prova. O processo

    de reconhecimento da doena muitos vezes lento, e o perfil patolgico passa a ser

    caracterizado pela cronificao da doena, o que pode gerar mais sofrimento, como enfatiza

    (DEJOURS et al., 1994).

    Segundo ESTRYN-BEHAR (1996 apud MARZIALE 2000), a anlise ergonmica tem sido utilizada para a adaptao dos equipamentos usados no cuidado sade e os estudos

    ergonmicos constituem-se em um caminho para a obteno de informaes especficas e

    relevantes sobre a melhoria da qualidade do cuidado e da qualidade de vida do trabalhador no

    trabalho.

    O incio do conhecimento das condies de trabalho frente s capacidades e realidade

    dos trabalhadores foi determinante para a reduo do uso inadequado de equipamentos,

    sistemas e tarefas, bem como preveno de erros operacionais e melhora do desempenho

    dos trabalhadores (DUL; WEEDMEESTER, 2004).

    A Associao Brasileira de Ergonomia (ABERGO) define a ergonomia como

    sendo o estudo das interaes das pessoas com a tecnologia, a organizao e o ambiente

    para intervenes e projetos que visem melhorar de forma integrada e no dissociada a

    segurana, o conforto, o bem-estar e a eficcia das atividades humanas (BRASIL, 2002).

    A relao entre o indivduo e o trabalho atravs dos tempos defrontou-se com

    necessidades que originaram mudanas nos sistemas de trabalho, cujos sistemas de produo

  • 4

    passaram do processo artesanal para a produo em srie, sendo as mquinas as grandes

    responsveis por essas mudanas, que alteraram no somente o sistema poltico, como

    tambm o social e econmico. Essas mudanas ocorreram principalmente a partir da

    Revoluo Industrial, com o trmino do trabalho arteso e incio da industrializao,

    transformando-se num marco histrico do desenvolvimento desde a revoluo neoltica

    (TOKARS, 2012).

    3.1 Ergonomia

    Desde a Antiguidade, o homem teve interesse em facilitar o trabalho e aumentar o

    rendimento adaptando ferramentas, armas e utenslios s necessidades e caractersticas

    psicofisiolgicas do ambiente de trabalho (FALZON e MAS, 2007).

    A ergonomia uma cincia recente que segundo LIDA (1990), foi criada pelo ingls

    Marret, passando a ser adotada a partir de 1949, quando houve a criao da primeira

    sociedade ergonomia, a Ergonomics Reearch Society.

    Cockell (2004) comenta que o atendimento dos requisitos ergonmicos melhorara as

    condies especifica do trabalho do homem e aumentam o conforto, a satisfao e bem estar,

    garantindo a segurana dos trabalhadores, diminuindo constrangimentos, custos humanos,

    otimizando tarefas e o rendimento do trabalho.

    Para Slack et al. (1997), a ergonomia preocupa-se com a pessoa e o modo que ela se

    relaciona com as condies ambientais de sua rea de trabalho imediata, tais como:

    temperatura, iluminao, rudo, entre outros, encontrados nos ambientes .

    Afirmam Dul e Weerdmeester (2004), a ergonomia estuda vrios aspectos, sendo eles:

    a postura e movimentos corporais (sentados, em p, empurrando, puxando e levantando

    cargas), fatores ambientais (rudos, vibraes, iluminao, clima e agentes qumicos),

    informao (informaes capitadas pela viso, audio e outros sentidos) relao entre

    mostradores e controles, bem como cargos e tarefas (tarefas adequadas, interessantes).

    Segundo Moraes e Soares (1989 pag. 92) as primeiras vertentes de implantao da

    ergonomia no Brasil ocorreram juntamente s engenharias e ao design, sem aplicao

    experimental. Na USP de Ribeiro Preto e na FGV do Rio de janeiro, duas novas abordagens

    passaram a ser aplicadas com base no enfoque da psicologia, sendo respectivamente o

    desenvolvimento de pesquisas experimentais sobre o comportamento de motoristas e

    trabalhos com nfase nas anlises scio-tcnicas.

    3.2. Trabalho

    Do ponto de vista etimolgico, a expresso trabalho significa sofrimento e

    constrangimento para quem o exerce. O termo deriva do latim vulgar tripaliare, que quer dizer

    martirizar com o tripalium (instrumento de tortura). Este instrumento de trs paus, ocasionalmente construdo com pontas de ferro, era usado por agricultores para bater o trigo,

    as espigas de milho, o linho e tambm para rasg-los e esfiap-los (ALBORNOZ, 1994, p.

    10).

    Em Marassia (2000 apud PRATES, 2007, p.83) foca-se as condies de vida no

    trabalho como fatores que implicam na Qualidade de Vida no trabalho, ou seja, inclui

    aspectos como bem-estar, garantia da sade e segurana fsica, mental e social,

    capacitao para realizar tarefas com segurana e bom uso da energia pessoal. Para

    Astrada (1968, p.32), a palavra trabalho, derivada de tripalium, desde os tempos mais remotos

    sempre apresentou uma conotao negativa, devido sua relao com um aparelho de tortura

    formado por trs paus, usado para prender os condenados gladiadores romanos e escravos.

  • 5

    O trabalho assume diversos aspectos no cotidiano. Segundo Barbosa Filho (2001),

    pode ser visto de vrios pontos, sendo sob o ponto de vista socioeconmico, o elemento

    central de toda atividade produtiva, no aspecto antropolgico, importante fator de realizao

    individual e social e no aspecto psicolgico, assume a dimenso de autoconfiana, auto-

    estima e traz consigo uma gama de expectativas individuais e coletivas.

    De acordo com Lida (2005, apud TAKEDA, p. 29), j houve uma poca em que o

    trabalho foi considerado um castigo ou um mal necessrio, onde muitas pessoas trabalhavam somente porque precisava ganhar dinheiro para a sobrevivncia, ou seja, apenas

    fonte de renda. Estas definies associam o trabalho a uma condio de sofrimento, esforo e

    pena.

    Souza (2005) discorre que qualquer forma de trabalho reveste de dignidade a pessoa

    que o realiza e seus resultados refletem a nobreza e a beleza de criar, aperfeioar ou cooperar.

    O trabalho constitui nesse sentido objeto saudvel, mais produtivo, realizvel e com mnimo

    dispndio de energia e tempo para concretizar o mximo do interesse da organizao.

    Para Aviani (2007), a diversa forma de trabalho desenvolvida nas organizaes vem

    agravando a sade do trabalhador, pois este visto ainda como uma mquina ou mesmo um

    escravo e pouca ateno tem se dado aos aspectos de proteo do ambiente e de sua

    participao no planejamento da organizao.

    3.3 Sade do trabalhador

    A Poltica Nacional de Sade do Trabalhador tem como finalidade definir os

    princpios, as diretrizes e as estratgias a serem observados pelas trs esferas de gesto do

    Sistema nico de Sade (SUS), para o desenvolvimento da ateno integral sade do

    trabalhador, com nfase na vigilncia, visando promoo e a proteo da sade dos

    trabalhadores e a reduo da morbimortalidade decorrente dos modelos de desenvolvimento e

    dos processos produtivos.

    Em relao aos trabalhadores, h que se considerarem os diversos riscos ambientais e

    organizacionais aos quais esto expostos, em funo de sua insero nos processos de

    trabalho. Assim, as aes de sade do trabalhador devem ser includas formalmente na agenda

    da rede bsica de ateno sade. Dessa forma, amplia-se a assistncia j ofertada aos

    trabalhadores, na medida em que passa a olh-los como sujeito a um adoecimento especfico

    que exige estratgias tambm especficas de promoo, proteo e recuperao da sade (Ministrio da Sade - Secretaria de Polticas de Sade).

    O Ministrio do Trabalho e Emprego tem o papel, entre outros, de realizar a inspeo

    e a fiscalizao das condies e dos ambientes de trabalho em todo o territrio nacional. Para

    dar cumprimento a essa atribuio, apia-se fundamentalmente no Captulo V da

    Consolidao das Leis do Trabalho (CLT), que trata das condies de Segurana e Medicina

    do Trabalho. O referido captulo foi regulamentado pela Portaria n. 3.214/78, que criou as

    chamadas Normas Regulamentadoras (NRs) e, em 1988, as Normas Regulamentadoras Rurais

    (NRRs). Essas normas vm sendo continuamente atualizadas, e constituem-se nas mais

    importantes ferramentas de trabalho desse ministrio, no sentido de vistoriar e fiscalizar as

    condies e ambientes de trabalho, visando garantir a sade e a segurana dos trabalhadores.

    3.4 NR 17 - Ergonomia

    A atual Norma Regulamentadora 17 Ergonomia, estabelecida pelo Ministrio do Trabalho por meio da Portaria n 3.751, de 23 de novembro de 1990, define os

    parmetros que permitem a adaptao das condies de trabalho s caractersticas

  • 6

    parafisiolgicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar o mximo de conforto,

    segurana e desempenho eficiente. No Brasil (2004a), a Constituio Federal de 1988 estabeleceu competncia Unio

    para cuidar da segurana e sade do trabalhador por meio das aes desenvolvidas pelos

    Ministrios do Trabalho e Emprego, da Previdncia Social e da Sade, atribuies

    regulamentadas na Consolidao das Leis do Trabalho.

    Segundo Budnick (1998 apud DA SILVA E VIDAL), ergonomista americano,

    presidente da ErgowebInc, h trs razes principais pelas quais uma organizao toma uma

    deciso:

    Ganhar dinheiro;

    Evitar conseqncias, tais como multas por no agir de uma certa maneira;

    Fazer a coisa certa. Como toda produo industrial busca bater metas de produo e exportao, os

    trabalhadores so os mais exigidos e sofrem presso para acelerar o ritmo de produo, isto

    ocasiona um maior numero de movimentos repetitivos na linha de produo, colocando em

    risco sua sade (ANTUNES, 2007 apud TOKARS, 2012, p. 26 ).

    No aspecto legal, a Norma Regulamentar 17 (NR-17) recomenda: cabe ao empregador realizar a Anlise Ergonmica do Trabalho (AET), . Assim um documento oficial do Ministrio do Trabalho prev a necessidade da AET, sem especificar tipo ou

    natureza da atividade desenvolvida. Nos Estados Unidos, a Occupational Safety and Health

    Administration (OSHA), rgo vinculado ao U. S. Department of Labour, desenvolve

    pesquisas em setores com alto nvel de leses vinculadas ao trabalho, visando aprimorar a

    legislao vigente. Assim, as sanes por questes ligadas sade e segurana devem se

    acentuar com o tempo.

    Ainda, segundo Budnick (1998 apud DA SILVA E VIDAL, p.22) A ergonomia

    implica tambm em fazer a coisa certa, devido a seu impacto na melhoria da qualidade de vida dos agentes envolvidos. Resumindo, a aplicao dos princpios ergonmicos deve e pode

    ser apresentada como uma boa estratgia de negcios.

    Para o Ministrio da Previdncia Social, acidente do trabalho aquele decorrente do

    exerccio do trabalho a servio da empresa ou do exerccio do trabalho dos segurados

    especiais, podendo ocasionar leso corporal ou distrbio funcional, permanente ou

    temporrio, morte e a perda ou a reduo da capacidade para o trabalho (BRASIL, 2007).

    Segundo ainda informaes estatsticas do Ministrio foram registradas 653.090 acidentes e

    doenas relacionadas ao trabalho.

    3.5. Custos ergonmicos

    De acordo com o IBRACON (NPC 2), Custo a soma dos gastos incorridos e necessrios para a aquisio, converso e outros procedimentos necessrios para trazer os

    estoques sua condio e localizao atuais, e compreende todos os gastos incorridos na sua

    aquisio ou produo, de modo a coloc-los em condies de serem vendidos,

    transformados, utilizados na elaborao de produtos ou na prestao de servios que faam

    parte do objeto social da entidade, ou realizados de qualquer outra forma. Cabe mencionar que, para o nosso entendimento, custos ergonmicos so resultados

    da ausncia de Ergonomia. Dessa forma, as perdas no processo, diretas ou relativas a

    problemas com Ergonomia, so, ento, classificadas como custos ergonmicos. Nessa aferio, so evidenciados os shadow costs. Para a aplicao da metodologia da Ergonomia,

    torna-se necessria uma abordagem participativa e social do trabalho (MAFRA, 2006).

  • 7

    A primeira noo a classificar reporta-se deciso de fazer uma interveno

    ergonmica, que consideramos como uma opo de investimento na empresa. Ou seja, ao

    optar por ergonomia no se est incorrendo ou incorporando novas despesas, dispndios ou

    custos, e sim optando por investimentos e inverses em otimizao de recursos produtivos.

    uma inverso de capital cujo retorno e riscos podem estimar com razovel preciso, como

    qualquer outra opo de investimento na empresa. Desta forma, convencionamos chamar de

    custos ergonmicos, as perdas no processo pela m ergonomia, ou ausncia dela. Nesse

    encaminhamento, melhorar o processo, no deve ser entendido como gastos em melhorias,

    so na verdade, investimentos pois realizam lucros e trazem retornos e benefcios no tempo e

    no espao (MAFRA;VITAL,s.d).

    No entanto, a anlise custo/benefcio em ergonomia no to simples quanto em

    outros processos, justamente porque os benefcios no so facilmente quantificveis, como

    conforto e segurana, acidentes que sero evitados, no existncia da queda de qualidade,

    entre outros e que podem apenas ser estimados (CASTRO, 2008).

    CONSIDERAES FINAIS

    correto afirmar que os modelos ergonmicos apresentados de maneira eficiente,

    colaboram para o melhor rendimento dessas empresas. Desta forma, utilizando-se de uma

    teoria aprofundada e de pesquisas diretas, analisamos como de fato ocorre essa sinergia entre

    ergonomia e produo. A ergonomia como ferramenta de adaptao do local de trabalho de

    grande valia para produzir o conhecimento necessrio nos processos de adaptao dos fluxos

    e atividades de produo que visem causar o menor impacto possvel na integridade fsica dos

    trabalhadores e consequentemente diminuir os custos causados pela m utilizao destas

    tecnologias.

    Todos estes fatores acima referenciados sobre o termo ergonomia promovem

    ambientes seguros, saudveis, confortveis e eficientes tanto no trabalho quanto no cotidiano

    do trabalhador. Verifica-se que diante dos conceitos citados, dentro dos limites da pesquisa

    que o resultado da aplicao da ergonomia no ambiente de trabalho pode contribuir para

    solucionar vrios problemas relacionados sade, conforto e segurana dos trabalhadores,

    contribuindo na preveno de erros e melhorando o desempenho das empresas.

    Verifica-se com base em toda essa fundamentao, pesquisa e anlise, portanto, que a

    ergonomia um fator determinante no bom andamento dos processos fabris, e que ao longo

    do tempo, ela se torna cada vez mais presente e necessria no somente nas atividades

    corriqueiras organizacionais, mas em todo o conjunto de procedimentos. A ergonomia traz

    benefcios a todos os segmentos produtivos e administrativos de uma organizao,

    melhorando o rendimento do trabalho e, conseqentemente, a rentabilidade do negcio. Pode-

    se afirmar, assim, que o enfoque ergonmico se traduz atualmente, como mais um

    instrumento organizacional que produz eficincia, competncia, habilidade e produtividade.

    REFERNCIAS

    ALBORNOZ, S. O que trabalho. So Paulo: Ed. Brasiliense, 1994.

    ASTRADA, C. La Gnesis de la Dialctica. Buenos Aires: Jurez Editor, 1968.

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    DF: Senado, 1988.

  • 8

    COCKELL, F. F. Incorporao e Apropriao dos Resultados de uma Interveno

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    Disponvel em:

    DELWING, E. B. Anlise das Condies de Trabalho em uma Empresa do Setor

    Frigorfico a Partir de um Enfoque Macro ergonmico. 2007. Dissertao (Mestrado em

    Engenharia de Produo) UFRGS, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

    Disponvel em:

    http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/12569/000626804.pdf?sequence=1

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