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JANEIRO | FEVEREIRO 2016 26 Em 1961, diante de um cenário de desafios econômicos e desigualdades regionais, os governadores do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná se uniram e criaram o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). A ideia de prover o desenvolvimento dos três esta- dos com uma instituição de fomento, que foi rejeitada por alguns críticos políticos, deu certo. Hoje, 55 anos depois, o BRDE pode contar uma história de parce- rias com o setor público ou privado na promoção de desenvolvimen- to. Em foco está o bem-estar da sociedade, a prestação de serviços públicos qualificados, a distribuição de riqueza e a sustentabilidade ambiental. Milhares de empregos foram gerados, com diferentes linhas de financia- mento, juros e prazos. Um dos norteadores da instituição é sempre buscar alternativa de aplicação de recurso que gere o menor custo para o tomador e os melhores benefícios para a sociedade. Nesses 55 anos, cativou fontes de Uma instituição de desenvolvimento para três estados, o Banco de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) completa, em 2016, 55 anos de trajetória pioneira no fomento ao desenvolvimento do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. POR DANILE REBOUÇAS financiamentos, aumentou o patrimônio e ganhou posição entre os 30 maiores bancos do Brasil. Em 2014, o BRDE encerrou o ano com mais de 33 mil clientes ativos, em 1.059 dos 1.191 municí- pios da região sul. No ranking do Sistema do Ban- co Nacional de Desenvolvimento (BNDES), neste mesmo ano, o BRDE ficou na nona posição entre os 76 agentes financeiros credenciados que operam com recursos do banco federal. Na região Sul, de 55 agentes financeiros operando, o BRDE ocupou a quarta posição no ranking. A HISTÓRIA Tudo começou na década de 1960, quando a região Sul não acompanhava o ritmo de industrialização do Brasil, que vivia os efeitos desenvolvimentistas do governo de Juscelino Kubitschek, com a criação do BNDES e da Petrobras. O cenário estimulou os governadores – Leonel Brizola (RS), Ney Braga (PR) e Celso Ramos (SC) – a desenvolver a implan- tação de um banco de fomento. REPORTAGEM Camila Rodrigues Uma história pioneira

Uma história Camila Rodrigues pioneira€¦ · tos são: Curtume N. Lichetler; Metalúrgica Aço Técnica; Celulose Irani S/A; Cristais Hering e Artex; e as Centrais Elétricas de

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Page 1: Uma história Camila Rodrigues pioneira€¦ · tos são: Curtume N. Lichetler; Metalúrgica Aço Técnica; Celulose Irani S/A; Cristais Hering e Artex; e as Centrais Elétricas de

JANEIRO | FEVEREIRO 201626

Em 1961, diante de um cenário de desafios econômicos e desigualdades regionais, os governadores do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná se uniram e criaram o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). A ideia de prover o desenvolvimento dos três esta-dos com uma instituição de fomento, que foi rejeitada por alguns críticos políticos, deu certo.

Hoje, 55 anos depois, o BRDE pode contar uma história de parce-rias com o setor público ou privado na promoção de desenvolvimen-to. Em foco está o bem-estar da sociedade, a prestação de serviços públicos qualificados, a distribuição de riqueza e a sustentabilidade ambiental.

Milhares de empregos foram gerados, com diferentes linhas de financia-mento, juros e prazos. Um dos norteadores da instituição é sempre buscar alternativa de aplicação de recurso que gere o menor custo para o tomador e os melhores benefícios para a sociedade. Nesses 55 anos, cativou fontes de

Uma instituição de desenvolvimento para três estados, o Banco de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) completa, em 2016, 55 anos de trajetória pioneira no fomento ao desenvolvimento do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. POR DANILE REBOUÇAS

financiamentos, aumentou o patrimônio e ganhou posição entre os 30 maiores bancos do Brasil.

Em 2014, o BRDE encerrou o ano com mais de 33 mil clientes ativos, em 1.059 dos 1.191 municí-pios da região sul. No ranking do Sistema do Ban-co Nacional de Desenvolvimento (BNDES), neste mesmo ano, o BRDE ficou na nona posição entre os 76 agentes financeiros credenciados que operam com recursos do banco federal. Na região Sul, de 55 agentes financeiros operando, o BRDE ocupou a quarta posição no ranking.

A HISTÓRIATudo começou na década de 1960, quando a região Sul não acompanhava o ritmo de industrialização do Brasil, que vivia os efeitos desenvolvimentistas do governo de Juscelino Kubitschek, com a criação do BNDES e da Petrobras. O cenário estimulou os governadores – Leonel Brizola (RS), Ney Braga (PR) e Celso Ramos (SC) – a desenvolver a implan-tação de um banco de fomento.

REPORTAGEM

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Uma história pioneira

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Em março de 1961, em reunião dos governadores com o presidente do Brasil, Jânio Quadros, apresentou-se a ideia do Banco Regional de De-senvolvimento do Extremo Sul. O presidente aprovou e determinou o início dos projetos e estudos técnicos.

Em 15 de junho, os governadores assinaram o convênio que cria o Conselho de Desenvolvimento do Extremo Sul (Codesul) e o BRDE. O Conselho estuda a vida econômica da região, programa o desenvolvimen-to regional e aprova a política de atuação do banco (contas, orçamento e relatório anual de atividades).

O BRDE ganhou personalidade jurídica própria, autonomia adminis-trativa e a função de atender com financiamentos, os mais diversos seto-res da economia. O Decreto n° 51.617, assinado por João Goulart, suces-sor de Jânio Quadros, autorizou o funcionamento do banco – inaugurado dia 22 de dezembro de 1961, em Porto Alegre. Agências em Florianópolis e em Curitiba foram abertas em 1963 e 1964, respectivamente. Estava dada a largada de uma história de desenvolvimento regional.

Conforme registrado no livro comemorativo aos 45 anos do banco, a empresa gaúcha Irmãos Krolikowski S/A, de Canoas – primeira indústria de disjuntores do Brasil – foi quem recebeu o financiamento inaugural do BRDE. Outras empresas que figuram entre as pioneiras nos financiamen-tos são: Curtume N. Lichetler; Metalúrgica Aço Técnica; Celulose Irani S/A; Cristais Hering e Artex; e as Centrais Elétricas de Santa Catarina.

Nos dois primeiros anos de existência, o BRDE operava com recursos próprios dos três estados, que destinavam 1% da receita tributária anual para a constituição do capital do banco. A União começou a contribuir três anos depois, com 10% do produto do “Acordo do Trigo”, assinado entre o Brasil e os Estados Unidos (EUA).

Com dinheiro em caixa, o BRDE iniciou a trajetória de consolidação e expansão. Em fevereiro de 1965 começou a operar como agente financeiro do BNDES. O aumento da demanda foi certo. No final de 1960, o BRDE já sentiu a necessidade de buscar recursos externos. O Banco Central apare-ce como segunda fonte supridora de recursos, além de ter aporte da Caixa Econômica Federal.

Novas linhas de crédito foram abertas para financiar projetos e estudos voltados à melhoria tecnológica; cotistas e acionistas para integralização e aumento de capital de empresas; micro e pequenas empresas; área cul-tural. No entanto, a partir de 1974, a escassez de recursos atinge o banco e, no início dos anos 1980, o cenário brasileiro de inflação e recessão acentua a inadimplência das empresas que não tinham condições de assumir suas dívidas. Houve uma crise, solucionada na década de 1990, quando os então governadores Alceu Collares, Roberto Requião e Vilson Kleinübing encer-raram a liquidação e retomaram o BRDE.

No início do ano 2000, o banco reorganiza sua estrutura; entra em prática o Plano de Fortalecimento Financeiro do BRDE e lança uma nova política de apoio às cooperativas e às atividades de exportação; desenvol-ve programa de apoio a microempresas e empresas de pequeno porte; de investimento na agropecuária; e de crédito para micro e pequenos produ-tores rurais. Em termos de fonte de recurso, nos últimos anos, destaca-se o Inovacred da Finep, que teve o BRDE como o primeiro banco de fomento do Brasil credenciado para o programa, voltado para inovação nas micro,

pequenas e médias empresas. Já quando se fala em capitalização, é importante destacar que em 2013 os governadores dos três estados aprovaram nova capi-talização do banco, no montante de R$ 600 milhões. Foi a maior da história da instituição.

RECONHECIMENTOO importante papel exercido pelo banco é atestado por funcionários, em especial por aqueles que acom-panham a mais tempo a sua trajetória.

Vilmar Valentin das Neves, funcionário mais an-tigo da agência de Santa Catarina, tem quase 44 anos no BRDE. Ele confessa que o tempo não lhe tirou a vontade e o entusiasmo de trabalhar na instituição. “Assisti de a cadeira todo o processo de transformação da economia da região Sul, com a participação desde o pequeno até o grande empreendedor, transformando e dando respostas aos anseios da sociedade”.

Carlos José Ponzoni, atual assessor da diretoria em Porto Alegre, nos seus 46 anos e oito meses de BRDE, já trabalhou nas áreas  financeira, adminis-trativa, operacional, de crédito e de planejamento, e afirma: “É gratificante participar de equipes que auxiliam na formulação de políticas e no finan-ciamento de projetos em áreas de infraestrutura econômica e social, de inovação, de produção e co-mercialização, que abrem espaço e transformam a realidade econômica propiciando bem-estar e qua-lidade de vida para as pessoas”.

Nesses 55 anos de história, muitos foram os momentos que se tornaram marcos da trajetória do BRDE. Das conquistas mais recentes, destaca--se o financiamento do Parque Eólico de Osório, em 2006, que representou a consolidação de in-vestimento em energia alternativa. O empreen-dimento foi reconhecido como o maior complexo eólico do hemisfério sul e o primeiro do gênero a usar turbinas eólicas de grande potência unitária e avançada tecnologia.

Houve também o credenciamento junto ao BNDES, desde 2012, para atuar como agente financeiro do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) – importante ferramenta de investimento e valorização da arte cinematográfica no Brasil; e a atuação, a partir de 2013, como agente man-datário do Fundo de Apoio aos Municípios do Estado de Santa Catarina (Fundam), que permi-te investimentos em infraestrutura; mobilidade; lazer; saneamento básico; educação, saúde, ser-viço social; entre outros.