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2 Felipe Gregório Castelo Branco Alves “Uma linguagem, um sentido-NATUREZA”, uma imagem, um fazer ARTE. Uma união, Contemplação.”“. Trabalho apresentado como conclusão do curso de bacharelado em artes plásticas, sobre a orientação do Prfº Antônio Valentim Lino. 2005

“Uma linguagem, um sentido-NATUREZA”, uma imagem, um fazer – ARTE. Uma união, Contemplação

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Felipe Gregório Castelo Branco Alves

“Uma linguagem, um sentido-NATUREZA”,

uma imagem, um fazer – ARTE.

Uma união, Contemplação.”“.

Trabalho apresentado como conclusão do curso de

bacharelado em artes plásticas, sobre a orientação do Prfº

Antônio Valentim Lino.

2005

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Em especial à minha família e

meus amigos. Ao amigo e mestre

LINO, e todos aqueles que me

ajudaram, pois as palavras não

traduzem o meu tamanho

agradecimento.

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ÍNDICE:

Introdução

Caminho/Iniciação

Memórias do olhar

Á jornada.

Da pesquisa...

Do material...

Da simbologia...

Trabalho final

Conclusão

Bibliografia Geral.

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“_Não só dominar à vida na pràtica, uma visão de mundo se

transformará por si mesma, à direção da pista mais clara a ser seguida não

depende apenas da vontade”,

Parte da intuição da regularidade, expandir até que o horizonte do

pensamento se articule e a complicação se ordene automaticamente de acordo

com tal articulação tornando-se simples.”“.

(Paul Klee)

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“Do desenho a pintura, sobre gestos e impressões.

Matéria e Materiais”.

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Um certo começo...

Alguns trabalhos de pintura do início do curso eram dotados de uma carga gestual

expressionista, com muitas cores e manchas que originavam uma estrutura, á composição

do desenho.Á necessidade de existir uma figura já existia, sendo ela clara ou inerente ao

tema, eram configurados de forma intuitiva onde prevalecia á cor, e figuras abstratas como

símbolos que eram representados em fragmentos.

Á busca ou o caminho para estas pinturas se desdobrou em algumas técnicas e uso

de matérias como: esmalte sintético e látex sobre madeira. O contato e a forma de praticar

estas pinturas eram algumas vezes num estado de satisfação da técnica, ou seja: me

confortava ver ali manchas que derivavam de gestos rápidos (influências –expressionismo

Abstrato).O processo do desenho gestual era decorrente da técnica, e do suporte

ocasionando assim em diversos resultados, (relacionando os materiais e os suportes: como

brilho, decorrente da tinta sintética de acabamento mais rápido, e um esfacelamento em

virtude do uso de uma tinta menos brilhosa como o látex que valorizava a madeira e o

desenho de grafite integral, onde comecei á procurar perceber mais a importância e

significados da matéria prima.).

Corpo dos Sons, esmalte sintético d/madeira. 160cm x 055cm.2003

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Em seguida á estas primeiras descobertas, meus desenhos e pinturas partiam sempre

da prática (do agora), não era necessário fazer um esboço; á prática direta me contentava,

pois não sabia por onde começar, e o resultado era sempre uma surpresa.

Estes desenhos surgiram com á mesma voracidade das primeiras experiências de

pintura sobre madeira (retangular).Os desenhos eram organizados por traços simples, e

direcionado por formas rígidas, orgânicas e geométricas, dialogando com uma linguagem

que reflete entre figuração e abstração; e uma identificação primitiva como interesse por

materiais que remetem esta necessidade dos meios e suportes, como síntese de um trabalho

de arte.

Essa leitura, e estas referências de identificação passaram á ser importante para

meus desenhos/pinturas, que espontaneamente foram adicionadas por esta linguagem e

valores em que aprecio.

A princípio não existia uma ligação entre a imagem e uma narrativa, os desenhos

surgiram livremente; a preocupação e a direção do trabalho eram com o espaço, o

preenchimento e sobreposição de linhas que se uniam numa ordem, distribuindo as cores e

definindo qual signo-desenho queria enfatizar. Assim uma série de dez desenhos e guaches

foram feitos e fui percebendo a necessidade de um esvaziamento da imagem; comecei

então á observar cada detalhe que aparecia freqüentemente na construção dos desenhos.

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Série Quadriculados.Guache s/papel. 2003

Alguns pensamentos se tornaram mais claros sobre a maneira como desenhava,

relacionando ornamentos, e grafismos como aspectos principais do meu trabalho

identificando nestes ou buscando a mesma percepção e referência étnica ancestral.

Sem título.Guache s/ papel craft. 2003

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Licata.tavole a colori. 1975

Neste ponto, os desenhos foram ampliados

numa série de dez pinturas sobre algodão cru, daí numa

outra escala, os desenhos começaram á se tornar mais

definidos criando relações entre si, na sua estruturação,

composição e simetria; e ainda mais relações com um

tema decorrente do próprio processo do fazer e

experimentar arte.Este processo para mim se

fundamenta nesta mesma concepção primitiva de

perceber á arte em sua totalidade, no valor simbólico e

preciso á cada gesto e no valor que está intrínseco em

como realizar o trabalho.

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Grafismo1-Seguimento.Urucum s/ tecido 170cm x 060cm - 2003

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2

Grafismo-2Dualidade.Urucum s/ tecido. 170cm x 065cm. 2003

Grafismo-3 Brujo. Urucum s/ tecido. 170cm x 055cm. 2003

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Grafismo-4. Caballero.Urucum s/ tecido. 160cm x 050cm.2003

Grafismo-5. Vestimenta.Urucum s/ tecido. 160cm x 055cm.2003

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.Tendo encontrado um “motivo”, material e linguagem; descobri uma base por onde

começar a pensar sobre o próprio trabalho. Essas pinturas foram fundamentais no processo

de descoberta do meu fazer-arte, e como também de mim mesmo.

Comecei então, a relacionar esses desenhos/ grafismos numa significação pessoal de

entendimento e diálogo com o próprio trabalho. Da mesma maneira como já experimentava

fazer pintura com outros materiais e associações, também com estes a maneira de pensar o

espaço da pintura era a mesma, só que o que ressaltava aos meus olhos era o motivo pela

qual organizava esses desenhos, pelo qual contemplava–os depois de prontos, buscando um

entendimento que, ao intitula-los, fui associando imagem (“como o motivo que sustenta o

trabalho”), e a técnica (“como o material que conduz ao tema”), que faz parte do estudo

onde procuro pensar e refletir a procura por uma linguagem, uma identidade pictórica...

Imagens que somam um processo de passagem, considero que são signos de um tempo;

lembranças e memória arquetípica remetem a uma pintura AFRO-INDÍGENA-

BRASILEIRA. Usei este termo, pois é onde mais me identifico:ritos, músicas e

ancestralidade africana. Um povo, uma tribo e cores indígenas.Um traço, uma marca e uma

raiz Brasileira.

Roda do tempo.

Carburundum s/ tecido.03

Comfirmeação

Carburundum s/ tecido 03

Estrela

Carburundum s/ tecido.03

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Memórias do Olhar:

Num paralelo á pintura, sempre apreciei á fotografia antes mesmo da

faculdade.Mas foi graças às pinturas e minha relação e atração pelos materiais naturais que

comecei utilizar deste artifício, como complemento que dialogam com minha pesquisa em

pintura. Caminhava em algumas viagens sempre com uma máquina fotográfica nas mãos,

esperando algo que me levasse á realizar uma ação; como uma pintura ou desenho. Pois o

que buscava quando interferia de certa maneira na ordem das coisas era perceber as

relações do que estava á meu alcance, meu redor e o que gostaria de fazer enquanto

imagem fotográfica que pudesse refletir sobre á ação do tempo, dos materiais naturais sobre

o conceito e associações dos materiais distintos, e á ordem das coisas que modifiquei

criando paralelos com o que estaria lá.

Laranjeiras, Rio de janeiro (praia do sono).

2003

S.Paulo, Ubatuba (praia brava).

2004

Essas fotografias fazem parte de minha formação, pois pensando sobre á fotografia:

A imagem determina um pensamento que na ação no processo da foto é capaz de formatar

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algo á mais, que se trata do fotógrafo; pois ele é o filtro da imagem até chegar ao

observador.

S.Paulo, Ubatuba (praia brava)2004.

Assim o intuito de fotografar implica o próprio “olhar”, que conduz ao gesto por

uma reação introspectiva, que busco transmitir por imagens e pensar não só na luz, mais na

elaboração da imagem (sentido) de um lugar, e um direcionamento temático, onde apenas

um recorte pudesse dar conta do que se trata, para assim também o observador fazer parte

do trabalho.Passos largos ou estreitos formam um caminho que conduz o olhar, sensível ou

não, às informações que estão ao redor.Não há dúvida para mim que o olhar de cada um

prevalece sobre o artifício automático.

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.

. Laranjeiras,Rio de Janeiro.(sono).2003

São Paulo,Ubatuba.(conchas).2003

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.

. São Paulo.(parque água branca.2005

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S.Paulo, interior.(Jales). 2003

S.Paulo.(parque água branca). 2005

Também tendo a oportunidade de entrar em contato com alguns artistas específicos

da Land-art, e alguns trabalhos referentes à arte póvera; dois artistas cujos trabalhos

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aprecio são referências deste tipo de trabalho artístico voltado para apreciação da Natureza

como um todo.

Um deles é Andy Goldsworthy; um artista com quem me identifico pelo

pensamento artístico; em um comentário seu: “Agrada-me a liberdade de utilizar apenas as

minhas mãos e descobrir as ferramentas, uma pedra aguçada, o eixo de uma pedra,

espinhos. Eu aproveito a oportunidade que cada novo dia me oferece: está-se a nevar

trabalho com a neve, no outono com as folhas, uma árvore caída é uma fonte de pequenos

galhos e ramos. Detenho-me num local ou escolho determinado material porque sinto que

está ali alguma coisa para descobrir. Aqui é onde poderei aprender “. (GOLDSWORTHY,

ANDY-1987 pg.1).

Brokenpebles, scratched White with another stone.1985

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Em seus trabalhos, a fotografia aparece como parte integrante da obra. As relações

existentes entre o observador e a fotografia são intermediárias a um processo de caráter

apreciativo, oferecendo ao observador uma visualização atemporal do espaço em

transformação.O observador, ao contemplar um trabalho da Land-art , fica na dúvida se

realmente o que ele está olhando corresponde ás mudanças possíveis no ambiente.

Paralelo à obra de Andy Goldsworthy, outro artista de grande contribuição para a

história da arte é Robert Smithson, com a obra Spiral Jetty.Aspectos em comum e também

a própria natureza como matéria prima, dão sentido às suas obras.

Robert Smithson.Spiral Jetty, -Quebra-mar espiral.Utah(1970)

Estes são pontos convergentes que se separam quando analisamos o processo de

cada artista.No caso de Smithson, que interfere num espaço natural, modificando a

concepção e a estrutura do local.Mas que se observarmos pela própria realização da obra,

os pontos que deram partida a este trabalho, que tem raízes na história do lago, as origens e

os fenômenos do local.O artista se apropria de um espaço na sua total

concepção.Novamente apenas o que difere é o papel do artista, como se coloca e interioriza

o ambiente natural. Um na simples redundância micro das formas, outro macro como

processo e pensamento da obra.Andy Goldsworth se apropria destes elementos criando um

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vocabulário único, próprio á Land-art, pois também interfere na natureza, quando se

posiciona e cria uma configuração própria.

As relações entre estes artistas com a fotografia, ocorrem de maneiras específicas:

no caso de Goldsworthy sendo importante como registro e fundamental como obra

fotográfica.Para Smithson além de ser integrante á sua obra (como apreciação), é também a

maneira pelo qual o artista projeta e mapeia os locais para futuras intervenções.

Esses artistas que estão envolvidos diretamente com um espaço aberto, ou melhor,

dizendo, em seu espaço de construção e reflexão de uma nova conduta para a arte, nos

mostram de maneira muito especial e inovadora o que é arte.Num sentido da arte ser uma

contribuição do artista que enxerga além de sua auto-realização uma forma primária de

interagir e fazer parte das experiências que envolvem o ser na sua completa e vasta

sensibilização de natureza física e emocional.

Que diz respeito em como o indivíduo “artista” concebe estas grandezas, a arte e a

natureza, como causa primeira antes de qualquer categoria que represente tais

manifestações.

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Aquarela: A mais sucinta e amorosa das artes.

Perceber o desenho e pensar com o desenho é tarefa que cabe a todos que se

dedicam á esta jornada...

Pela aquarela me reconheci na linha e manchas, num estado de apreciação e

entendimento da técnica.Que se absorve quando se a tem como aliada.Pude perceber o que

muitos já perceberam, quando se pensa na disciplina como o principal fator que dá origem á

um trabalho de artes.

Casulo/transformação

2004

Fogo Interior

2004

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Graduação

2004

Navegador

2004

Sem Título

2004

Caçador

2004

E pude aprender com maestria de quem vivencia isto, que é como valorizar cada

parte de um trabalho sendo componente de inúmeros aprendizados.

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Além da técnica que é mérito de muitos anos de estudo (não no meu caso), o que

mais me impressionou como ferramenta de trabalho foi o pincel oriental, e todo

pensamento que está em como conceber tal prática.Refiro-me em como praticar, pensar seu

gesto, cor, espaço, ao mesmo tempo em que se traça uma linha, pois cada cor quando é

lançada na superfície do papel tornam-se importante para a pintura.

Pescador

2004

Mateiro

2004

Esta prática me abriu outras formas de compreender o desenho, partindo da

figuração para a abstração sem perder o próprio traço, considero isto a etapa mais

empolgante da descoberta em aquarela, com a escrita oriental que exige todo um

conhecimento e um respeito nesta prática que é herança desta cultura.

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Fig(01)

Fig(02

Olhando para estes desenhos, que é a parte mais difícil do aprendizado em arte, pois

é rever e ver se o que está feito, corresponde ao processo do fazer.É igualmente importante

para mim a correspondência de outros olhares sobre esta apreciação.

.

. 01- Sinal./ 2004

02- Mastro e Caracol/2004

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.

. Mensageiro / 2004

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Assim:

1ª) etapa: À Cor Intuitiva, a escolha da primeira cor, me parece que direciona todo

o trabalho; o primeiro espaço preenchido e as primeiras formas irão organizar ás seguintes

cores.É só então quando começo a definir o desenho.

2ª) etapa: À Cor predominante consecutiva é variante tonal da primeira cor que

uso, como sobreposição, no desenho, quando se define a figura. Pois cada traço sobreposto

sobre outra cor corresponde à parte da figura principal.

3ª) etapa: Manchas, Nuances e formas inesperadas como finalização, e harmonia

do desenho.E todo um movimento de composição do espaço á própria cor.

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“Uma linguagem, um sentido... NATUREZA

Uma Imagem, um fazer ARTE,

Uma união,

C o n t e m p l a ç ã o .”

A realização e conclusão deste trabalho, bem como as pesquisas e referências que

contribuíram para este processo enriquecedor de descobertas, integram e definem uma linha

de pensamento referente ao meu trabalho artístico.

De forma que utilizo materiais naturais e incorporo-os num sentido de apreciação

artística, integrando e interpretando os diálogos entre desenho e pintura, na construção e

elaboração desta linguagem.

Para mim, é neste espaço que percebo as relações que busco num trabalho de artes.

Relações nas quais procuro perceber e valorizar o mesmo fazer de etnias primitivas.O

encontro entre arte e artesanato, o valor das pequenas coisas como os materiais degenerados

pela natureza, buscando nestas formas e cores, uma manifestação de beleza e um conforto

para o olhar.

Desenvolvo e pesquiso sobre possibilidades de suportes e pigmentos extraídos da

natureza, esta pesquisa é associada a uma reflexão artística, incorporando os grafismos das

culturas afro-indígena-brasileira, Busco assim às possibilidades de uma produção ligada a

uma prática e manifestação artística resgatando nossa memória arquetípica.

Então á linguagem é a natureza, sua imagem no seu ensinamento macro e micro-

cosmos. Sendo a arte como imagem do fazer. Como os significados e simbologias artísticas

dos povos, ditos primitivos.

A união é o estado de agir e contemplar nesta harmonia, a arte como algo que seja

verdadeiro e produtivo.

É ainda neste espaço que percebo a funcionalidade da arte, que seja ao menos na sua

apreciação estética.

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.

. Peixe, Coruja e Beija-Flor.Encáustica s/ madeira entalhada. 160cm x 055cm.2005

Alicerce-2 Intuição.Encáustica s/ madeira entalhada. 160cm x 055cm.2005

Menino e Maracá.Encáustica s/ madeira entalhada. 160cm x 055cm.2005

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DO MATERIAL:

O Contato com um determinado material, as escolhas e relações que possam servir

de base para uma pesquisa no trabalho artístico, exige um determinado cuidado; que vai de

encontro ao resultado plástico.

Numa visão contemporânea que desse ponto de vista, possibilita a procura de novos

meios de expressão, me faz buscar razões pelas quais utilizo estes materiais naturais.

Primeiramente penso na beleza, (deste material, da casca de bambu) que é uma

matéria rígida, de cor dourada, com variações tonais existentes do seu próprio tempo, e das

variações climáticas exteriores. A casca é uma película que envolve o bambu, na sua parte

exterior, sua simplicidade e elegância, conduzem a um estado de encantamento e

aprimoramento do olhar.

Neste momento, é que me pergunto sobre a arte, especificamente com meu trabalho,

pois utilizando materiais naturais como suporte para a pintura, além das questões formais

evidentes na escolha (romper com suportes tradicionais, relações com a arte póvera), penso

nas formas (materiais naturais), cor-pigmento, como algo que está ao nosso alcance,

segundo Andy Godswoorthy, mas que acabamos por não perceber. Por estarmos

condicionados a rotulações e modelos que nos são impostos, como os valores de

determinadas culturas, deixamos de perceber o que estas belezas orgânicas, simples e puras,

nos oferecem.

Quando se pode escolher, no caso da arte, ou optar por um determinado estilo, o que

determina as qualidades de um trabalho, o que torna um trabalho importante, é o motivo,

sua função e lugar específico.

Essa escolha por elementos orgânicos que já cumpriram seu tempo de vida é

também um resgate e uma procura por uma arte, um fazer artesanal; buscando neste estado

contemplativo de trabalho; uma manifestação da beleza, num entendimento do material e

agir com ele. “O que se pode definir igualmente como natureza destas coisas o seu

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substrato ou sua matéria prima; ou ainda a sua “forma” a qual é mais natureza do que

matéria. A natureza entendida como geração, é uma via para a verdadeira natureza...

efetivamente aquilo que nasce, porquanto nasce, e vai de qualquer coisa para qualquer

coisa...” (CASINI, PAOLO-1987. Pg.42) Que de certa forma é também valorizar e ir de

encontro ao mesmo pensamento de origem “primitiva”, o primeiro contato, á descoberta; o

contato e o respeito que os povos étnicos exprimiam em sua arte.Ou seja: o aspecto

ornamental, artesanal e funcional que une e faz desta expressão tão complexa e requintada.

Da mesma forma como me interessava encontrar um suporte, um chão, uma base

para pintura, que sintetizasse estas características orgânicas e naturais, igualmente, busco

uma estética e valor primitivo de concepção e execução artística; que com a casca de

bambu pude encontrar a primeira porta do sentido-arte; partindo de suas características

próprias para conduzir o trabalho.

Também era importante o conjunto ser igualmente orgânico, com utilização da

encáustica: cera de abelha, cera de carnaúba, terebentina, resina damar e pigmento natural:

(urucum vermelho alaranjado), carvão (preto) e açafrão (amarelo). O resultado foi muito

satisfatório considerando sobre diversas possibilidades em cada trabalho, onde buscava

sobreposições e preparo de tinta, tonalidades em conseqüência do próprio material, sendo o

suporte de maneira diferente ao anterior.

Por ser adequada para suportes rígidos, á encáustica aplicada sobre a casca de

bambu, exerce um certo equilíbrio; um contrapeso entre a leveza da casca com á matéria

pastosa da encáustica. Em determinados pontos da matéria menos rígida, depois de alguns

dias, pela minha inexperiência com o material; estas pinceladas se descolaram, alterando a

pintura. O próprio aspecto de esfacelamento da pintura se relaciona e dialoga com o

suporte, alterando e transformando a leitura da obra. Considero fundamental a forma

(suporte), e a cor como elemento simbólico realçada pela qualidade da técnica, que me

fornecera um resultado enriquecedor: o brilho da cera de abelha e o brilho da casca.

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De maneira Igualmente satisfatória, este processo se converte num resultado mais

rústico: percebe-se os aspectos do próprio material, sua tonalidade e sua forma, ambas

alteradas pela própria natureza. As pinceladas integram ao trabalho esta mesma

característica natural, isto se dá em como a pincelada deixa os rastros do pigmento,

lembrando meu primeiro encontro com o material, no seu lugar de origem, ainda manchado

pela terra e molhado pela chuva.

“Que a arte seja o revelador da natureza ao mesmo tempo em que se gera dentro

dela, é a idéia que pretendemos levar adiante: que a arte não seja uma forma de dominação

da natureza, mas uma imitação de seus gestos. Que a obra de arte possa elaborar a relação

entre natureza e cultura, mostrando a intimidade, a circularidade, o ciclo do eterno retorno,

da eterna devolução, do nascimento e da morte da natureza e da cultura como lados e uma

mesma e única realidade”.(http: //vanet. Com.br/users/to/jag-artenatureza. htm).

Raíz de urucum. carvão e pigmentos.2005

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.

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. Iguará mitã nhamandú. Encáustica s/ casca de bambu. 170cm x 100.2005

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.

. AÊ .Encáustica s/ casca de bambu.210cm x 070cm.2005

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.

. Galo Imperial.Encáustica s/ casca de bambu.

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DA SIMBOLOGIA:

Como representação, desta simbologia, buscava um sentido que expresse algumas

reflexões sobre meu fazer artístico. As opções por materiais naturais como suportes e cores,

num processo artesanal natural, são referências que me levaram a buscar uma origem; seja

na arte, como no meu próprio processo de aprendizado.

Foi tentando entender um pouco, e apreciando as culturas ancestrais e os valores dos

povos antigos, e partindo no que acredito como essencial para o desenvolvimento de nossas

capacidades de aprimoramento artístico, que me decidi por este motivo. Que é dedicado a

estas preciosas manifestações: a pureza dos índios com suas crianças, a ingenuidade e

brandura dos povos africanos, em seus toques que expressam à celebração da vida; o

oriental semelhante ao vento calmo da paciência e resignação. Força de uma cultura

milenar. Como ocidental que sou, dizendo assim, pretendo honrar com estes trabalhos, o

valor de suas culturas, resgatando e demonstrando de alguma forma estes ensinamentos... a

mim, no que acredito como de mais importante, como nossas capacidades, faculdades em

aprimoramento; que parti para este “motivo” que já disse agora dedico e aprecio como ás

mais belas e preciosas manifestações.

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. Assim...

Como suporte penso no chão, meu sustento.

á cama o berço...

Da terra, o alimento.

De aconchego,

Percebo-me

No sussurrar dos ventos.... o silêncio.

.

Na leveza, e sutileza.

do desabrochar á vida.

Como o sol à semeadura do fogo, o “amor”; quentura.

Ah. Mudança,

Oh. Esperança...

Das águas puras, fluidez... sensatez,

“Resgatando nossas” cascas ““.

Replantando em nossas almas

O brilho pequenino de matéria estelar...

A natureza e suas cores

Seu brilho de esplendores. Com sua forma e seus louvores. Do luar amanhecido

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Como a pintura de cor vermelha, representa “o amor”, a celebração da

vida; a alegria de viver; também me identifico pensando como os índios

Wayana com suas pinturas corporais (urucum) “dos pés á cabeça, representam

a pele social, a própria humanidade pode ser entendida como uma obra em

aberto. Á pintura com pigmentos reforça ás representações encarnadas na

memória enquanto temporalidade possibilidade de mudanças, condição social

dos corpos e artefatos. Encerra ainda significados outros que ultrapassam, nos

objetos a contemplação estética do desenvolvimento tecnológico e funcional”

(VIDAL, LUX - 2000. pg.64).

Assim, as outras cores são: o amarelo (oriental), o preto (africano) e o

branco (ocidental) que é o próprio vazado recortado no suporte (casca de

bambu) dando visibilidade ao espaço real da parede branca.

A escolha das cores como representação das quatro raças humana, que

também entendo que uma “Unidade cultura que, é diferente de Unidade de

raças, pois acredito na individualidade de cada um, assim no que é existente

nas manifestações culturais em cada povo”. A obra de arte, por sua vez,

enquanto tentativa de interpretação e resposta a esses questionamentos

fundamentais da humanidade, a esses enigmas universais, tanto maior valor

terá quanto mais for reflexo da cultura a qual se encontra inserida, quanto mais

estiver vinculada ao seu meio social, ao seu contexto histórico específico,

quanto mais verdadeiramente expressar seu chão e o seu povo, ou, em síntese,

quanto mais nacional ela for “. (LIMA JÚNIOR. Carlos Newton de Souza.

1990. pg.76.)”.

Desta forma, buscar uma identidade pictórica, não é acreditar nesta no

sentido em que seja única e desprovida de singularidades. Pensando na arte

como reflexo das potencialidades e qualidades espirituais do ser humano, é

imprescindível que seja (a arte) exclusa, ou separada de quem á produz.

“Algo se liberta quando tudo se transforma”

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Assim, também considero a arte como algo que paira sobre a humanidade, em cada

época como em cada homem de maneira específica, como uma forma de inconsciente

coletivo, nossos arquétipos, que aproximam significados, que unem ideais, e que talvez

justifiquem o fato de existirem coincidências.

“É essa a função primeira do arquétipo e do mito, ensinar-nos sobre nós mesmos,

sobre á condição humana, sobre nosso processo de vida, os mitos vindo em forma de

expressão daquilo que nos é incognoscível em si mesmo”.(CAMPBELL, JOSEPL. pg.54).

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Rito de passagem, AUM-União dos povos, Motivo indígena,

Cantos de trabalho/Corpo Semente.

Optei por escrever sobre os trabalhos apresentados como conclusão do curso, pois

estes são a meu ver a síntese que resume da diversidade entre dez trabalhos executados

como processos de investigação em artes plásticas no período de outubro de 2005.

PROCESSOS DO FAZER:

(s e r – e s t a r – a g i r – c o p e r a r – s e r)

INDIVÍDUO-Na luz o clarão, do sentimento a ação – emissão e recepção à

declaração.

DECLARAÇÃO-A vontade se move sobre o relembrar, o desejo do bem

estar.determinar.

DETERMINAR-Fixar no fazer imaginar – comunicar.

COMUNICAR-Ao ser eu, sinto, estou; e agora sou.

O tempo e o espaço da criação são como fragmentos reluzentes no espaço que

conduz o pensamento á ação.Assim como nosso próprio tempo, em relação ao que está a

nossa volta, quando se pode pensar que o homem é a medida do universo; deve-se respeitar

nossa própria condição (nosso tempo interno).E foi assim de uma maneira inesperada que

parti mais adiante, e o universo conspirou á favor...

Numa necessidade básica, de segurança, e a firmeza que me faltava para entrar em

contato com meu processo interno artístico, posso dizer que concluí um ciclo.Assim

começo dizendo deste trabalho que representa este momento, esta mudança. “Rito de

passagem”.

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.

. Rito de Passagem. Encáustica s/ casca de bambu. 190cm x 150cm.2005

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Na descoberta do suporte, deste trabalho que ainda experimentava os vazados

(desenhos recortados). Este suporte para pintura remete com outros trabalhos á um animal.

Isto não era esperado, o que buscava era uma base orgânica volumosa que ressaltasse os

ornamentos equilibrados nas duas extremidades pelos cortes nas cascas de bambu. Mas esta

associação com o animal me forneceu uma amplitude maior quando penso nesta

visualidade do animal. (que deixo aqui em aberto para interpretações).

Em seguida, como pensando já neste trabalho para exposição final, os signos-

desenhos foram estruturados e dispostos de maneira que se representa a figura central de

um homem entre duas linhas verticais a cada lado. A pintura e a geometrização das

pinceladas deviam se integrar com a forma orgânica ao fundo. Esta já é outra associação

que aprecio neste trabalho, pois o suporte recortado também é desenho, assim como todos

elementos que ali estão.

Neste trabalho, encontram-se vazados de círculos acompanhados por uma meia lua,

valorizando e enfatizando a cor branca (aqui não discuto á possibilidade de ser cor ou

ausência de cor, mais a utilizo e denomino-a como cor para representar o homem branco.).

A maior potencialidade deste trabalho, em minha opinião, foi de tentar enfatizar e

definir uma narrativa expressada através dos elementos estruturados na composição; que

dizem sobre o ser humano.

Os desenhos são simplesmente grafismos, formas geométricas simples, pois busco á

simplicidade nas linhas e formas, e tento organizá-las num sentido conotativo referente ao

resultado do trabalho.

Assim, outro trabalho já pensando para uma série de três pinturas, automaticamente

foi levado ao entendimento do material, pois buscando ornar, requintar a forma do suporte

em outras associações, me esqueci de sua “forma pura”. Onde oito cascas apenas formam

um círculo em perfeito equilíbrio.

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A Geometria, e os grafismos presentes nas mandalas e em outras simbologias,

mostram ou me fazem questionar e buscar mais sobre arte. Neste trabalho, como

representação, partindo do seu título: AUM-União dos povos pensei á princípio na união

sendo o mantra; o primeiro som. Também como êxtase e harmonia de paz entre os povos.

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As cores são dispostas do centro para fora. Em seguida, alguns desenhos

distribuídos com formas de grafismos mais orgânicos, que utilizo, mais que não foram

projetados antes, foram se encaixando no espaço circular do trabalho.

Este trabalho integra a instalação que denominei: “Cantos de trabalho/Corpo

semente”, que comentarei mais adiante...

A pintura “Motivo indígena’’, tem este título em homenagem ao artista Vicente do

Rego Monteiro, que neste ano, estive em contato com seu trabalho. E pude perceber sua

importância, como desenhista, pesquisador, pintor, além de expoente da cultura indígena no

cenário artístico brasileiro e mundial.

Vicente do Rego Monteiro, 1922.

O “motivo” aqui, como em toda parte que me refiro, é à vontade, o fazer, o

“resgate”... a arte. Como nos outros trabalhos, sua base (casca de bambu) e a maneira de

dispor as cores eram diferentes. No rito de passagem, tem sua composição simétrica.

Busquei á princípio as qualidades do desenho, ponto, linha e forma... Na obra anterior

recoberta com pigmento em pó, já são outras preocupações com a superfície da pintura,

relacionada com o material.

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No trabalho Motivo indígena, o aspecto artesanal, vai de encontro à percepção da

matéria, lembrando as cestarias, vasos, e artefatos indígenas.

Sua representação é direta entre cor e forma. A forma é o triângulo, a unidade

distinta encontrada em infinitas associações, uma delas do mais alto nível e sublime, é

também o diagrama do homem: corpo mente e espírito. Assim, também foi importante

representar esta forma geométrica na cor natural do material.

A instalação Cantos de trabalho/Corpo semente foi uma maneira de apresentar o

resultado de uma pesquisa com música, devido ao meu interesse pela percussão rítmica e

hipnótica do tambor: os toques sagrados de várias culturas, que estão presentes em várias

celebrações e atividades da vida humana. Como os cantos de trabalho dos escravos, que

com músicas e palavras, cantassem com devoção e alegria para aliviar a carga pesada do

trabalho diário.

A gravação dos ruídos que compõem este trabalho derivam do som emitido pelo

pilão utilizado no preparo do pigmento com urucum. E da casca de bambu sendo recortada

com estilete.

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.

.

. Motivo Indígena.Encáustica s/ casca de bambu.210cm x 215cm.2005

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Sua representação é direta entre cor e forma, a forma é o triângulo; a unidade

distinta encontradas em infinitas associações, sendo do mais alto nível de “sublime”, é

também o diagrama do homem: Corpo mente e espírito. Assim também foi importante de

representar esta forma geométrica na cor natural do material; apresentando o valor artesanal

e as qualidades do material.

Cantos de trabalho/Corpo semente foi uma solução em apresentar uma pesquisa,

uma experiência com música em que devido ao meu interesse pela percussão rítmica e

hipnótica do tambor, os toques sagrados de várias culturas que se fundamenta em várias

celebrações e atividades humanas. É também de maneira muito tímida mais buscando

perceber a importância e o mesmo significado enraizado nesta manifestação folclórica, que

são os cantos de trabalho; de origem dos escravos em que cultuavam e celebravam com

músicas e palavras que dizem respeito ao trabalho em que se realiza colheita, plantio... O

fazer que com devoção e alegria, cantassem em função, e para o trabalho; pois assim

aliviasse a carga pesada do trabalho diário.

A gravação destes ruídos que parte do som emitido do “pilão” em que utilizei para

preparar o pigmento com urucum, e da casca de bambu sendo recortada com estilete.

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Detalhe da instalação, Cantos de Trabalho...

Tentei encontrar uma frase musical, um ritmo, uma pisada traduzissem estes ritmos

dos materiais sendo preparados na construção do trabalho.

Assim como num despertar, encontrei um resultado em que desse conta de algumas

questões significativas na apreciação da arte.O trabalho corpo semente se integra com a

pintura AUM...,pois nesta, existe o mesmo desenho que está na altura do espaço vazio para

os olho, buscando neste espaço um conforto, e percebendo os detalhes da pintura, e

relacionando estes materiais, que traduzissem estes ritmos na feitura do trabalho.

Ao mesmo tempo, estaria percebendo o cheiro do urucum, a textura da palha,

tomando consciência do natural.

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Detalhe da obra Corpo semente, ao fundo à pintura AUM...

O que defino com esta instalação, é sua relação com a pintura AUM... , que a

complementa.Pensei num trabalho que pudesse unir várias expressões artísticas como a

pintura, música, escultura e instalação.(também uma interatividade do observador com o

som produzido pelos materiais).

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.

. Cantos de Trabalho/Corpo semente.instalação sonora.casca de bambu e pigmentos.200cmx050cm.2005

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Conclusão:

“Um ideal em arte se constrói”,

na medida de nossas ações,

quando se percebe neste

nosso próprio tempo, no tempo da arte.”“.

_____________________________________________

Sempre me questionei sobre a arte, e sobre o que pretendo com ela; pensando em

buscar em mim as necessidades e fundamentos que me fazem acreditar no que faço.

Em relação às artes plásticas, o conhecimento de certos pensamentos me parece

essencial ao meu crescimento moral e intelectual. Isto porque penso também numa arte

transcendental que necessita de uma harmonia interior.“Cego para a” forma “,

reconhecida ou não; deve o artista ser surdo aos ensinamentos de seu tempo. Os olhos

abertos para a sua vida interior. Este é o único meio de exprimir as qualidades místicas

que é o elemento essencial duma obra. (KANDYNSKY, WASSALY. -1996- Pg.85,86)”.

É esta maneira que me faz acreditar, ou me identificar mais com a arte e as suas

manifestações primitivas como sendo a causa primeira dessa forma de expressão.

Olhando para alguns trabalhos de hoje, em relação às manifestações primitivas:

“... suas criações culturais inclusive as artes, não foram refeitas para servir e honrar

a dominação classista tendo por isto uma genuinidade e generalidade que as nossas

perderam”.(RIBEIRO, DARCY-1983-pg. 52).

“Uma sociedade tecnicamente atrasada, não corresponde necessariamente, numa

produção artística inferior”.(LIMA,JÚNIOR.Carlos Newton de Souza.1990-pg.42)

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Como em todos os tempos existiam as simbologias, representações gráficas de cada

civilização.Nestas civilizações tais códigos eram feitos e empregados como valores de

conhecimento para celebrações da vida humana, falar a respeito de uma manifestação que

em si, e por si representa e revela toda nobreza de um sentido maior, em minha opinião é

um erro.Não se pode compreende-las em sua total relevância.Pode-se apenas intuir e pensar

em como e porque essas manifestações eram realizadas.

Esses valores simbólicos que ligam nossa memória a interpretar essa bagagem

histórica, não está apenas no processo visual com que nos deparamos; mas pela forma e

pelo contexto em que se encontra e se experimenta ou se vivência esta arte, que diz respeito

às necessidades e às manifestações culturais de cada povo em sua época em sua época.

“(...) a despeito das situações sociais diferentes, há alguma coisa na arte que

expressa uma verdade permanente. E é essa coisa que nos possibilita –nós, que vivemos no

século xx-o comovermo-nos com as pinturas pré-históricas das cavernas e com

antiqüíssimas canções. (FISCHER, ERNEST. 1977pg. 16)”.

Deste modo, são os valores associados à funcionalidade da arte, que implicam sobre

esta questão na citação anterior. “Qualquer forma de expressão sem fins estéticos não pode

estar inclusa no conceito de arte. A arte é, fundamentalmente, uma atividade criadora de

objetos belos, no sentido de que procura efetivar a beleza. A procura da beleza-uma

finalidade estética, portanto –é imprescindível ao próprio conceito filosófico de arte. Esta

procura, no entanto, pode predominar ou não sobre a finalidade prática, a utilidade ou

funcionalidade de determinado objeto”.(LIMA, JÚNIOR. Carlos Newton de Souza. -1990-

pg. 76).

Em relação a esta função da arte, posso dizer desta prática, como algo que

possibilita grandes conquistas de entendimento das coisas e dos objetos, como também da

harmonia em se perceber e dialogar com o tempo...(Caminhando em beleza.).

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Neste espaço de estudos, que nos transforma a todo o momento, as referências e

identificações em torno deste caminho, são sementes de uma vida, na esperança de

germinar.

Como conclusão para este trabalho de graduação no qual acredito, busco

compreender também estas palavras: ““.

“... O naturalismo assim concebido implica não somente uma disciplina maior da

percepção, mas também a abertura humana. No final das contas a natureza é, e ela nos

ultrapassa dentro da percepção de sua própria duração. Porém no espaço-tempo da vida de

um homem, a natureza é a medida de sua consciência e de sua sensibilidade”.(RESTANY,

PIERERE. -1978-pg. 10).

Assim, tanto esta percepção a qual Restam sugere, e como a afirmação: “A tradição

verdadeira compreende a percepção do passado em nossa

contemporaneidade”.(in.Suassuna-Tríptico:No reino da ave dos três punhais.1999)

.Correspondem a algumas questões nas quais acredito, e que me motivaram no

desenvolvimento deste trabalho, como algo que está em nossa ‘formação pessoal’; também

para resgatar, e replantar em nossas ações.

De forma que:

“É neste tempo, e espaço que me faço presente”.

No desembaraçar do traço, persistente...

No entanto, a pausa á apenas o bom, e leve retorno...

De um velho e novo caminhar...”“.

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