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Peça: Uma Rosa para Noel Musical Adaptado por: Euclides Franco Personagens: Noel Rosa Ismael Silva Dona Marta (mãe de Noel Rosa) Doutor Graça Mello (médico da Família) Hélio (Irmão de Noel Rosa) Marina (Gaúcha) Josefina Telles Nunes (fina – Namorada de Noel Rosa) Juraci Correa de Moraes (Ceci – Namorada de Noel Rosa) Lindaura Martins (Mulher de Noel Rosa)

Uma Rosa Para Noel

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Peça teatral sobre o sambista Noel Rosa.

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Peça: Uma Rosa para Noel

Musical Adaptado por: Euclides Franco

Personagens:

Noel Rosa

Ismael Silva

Dona Marta (mãe de Noel Rosa)

Doutor Graça Mello (médico da Família)

Hélio (Irmão de Noel Rosa)

Marina (Gaúcha)

Josefina Telles Nunes (fina – Namorada de Noel Rosa)

Juraci Correa de Moraes (Ceci – Namorada de Noel Rosa)

Lindaura Martins (Mulher de Noel Rosa)

Cena 1

Fundo da Casa de Noel Rosa, momentos de tristeza. Noel Rosa está vivendo os seus últimos momentos. Ao seu lado estão: Dr. Graça Mello, D. Marta, Lindaura, Hélio e o Bando dos Tangarás.

Noel: Mãe?

Dona Marta: O que foi, meu filho?

Noel: Diga-me; quem é que sofreu mais do que eu? Quem é que já me viu chorar? Sofrer foi o prazer que Deus me deu! Eu sei sofrer sem reclamar.

Dona Marta: Noel, não diga mais nada meu filho, você precisa descansar. O Dr. Graça Melo me disse que... (é cortada )

Noel: Mãe, quem sofreu mais do que eu não nasci, Com certeza, Deus já me esqueceu...

Lindaura: Noel, você precisa descansar, meu querido!

Hélio: E então doutor, o que o Senhor me diz?

Dr. Graça Mello: Infelizmente Hélio, é o último momento de Noel, eu sinto muito!

Noel: Hélio?

Hélio: Estou aqui meu irmão.

Noel: Estão tocando “De Babado”?

Hélio: Sim, “De Babado”, meu irmão!

Noel: Vire-me de outro lado, está me doendo muito (Hélio vira-o ajudado por Lindaura)

Noel: Assim está melhor (Noel começa a batucar com os dedos e cessa de repente)

Em off : “ Morreu hoje aos 26 anos de idade , no chalé da Rua Teodoro da Silva , O maior compositor e poeta popular do Brasil. Com todas as letras e, conforme a certidão de nascimento, “ Noel de Medeiros Rosa ““ Rio de Janeiro quatro de Janeiro de 1937” (“música de Noel Rosa ao fundo “ Fita Amarela “)

Nesta cena, os atores jogam rosas no corpo de Noel e cobrem o seu rosto cantando “Fita Amarela” (apagam-se as luzes).

Cena 2

Os atores dançam e cantam “O orvalho vem caindo” em clima carnavalesco junto com Noel e terminada a música ouvem em “off”

Rui Barbosa e Hermes da Fonseca saem como candidatos à Presidência da Republica.

E o nosso R. De Janeiro vive tempos de ressaca política, Há dois dias, o presidente Hermes da Fonseca ordenara que se reprimisse com vigor os marinheiros revoltosos, liderados por João Cândido, conhecido como “O Almirante Negro”.

O Episódio que a imprensa chamou de “Revolta da chibata” faz a cidade uma praça de guerra, bombas e explosões.

Parece que o cometa Halley vai passar e o pessoal está anunciando que o mundo vai acabar (os atores se assustam/música)

Ator 1: 1914: Primeira guerra Mundial.

Ator 2: 1915: Lima Barreto publica “Triste fim de Policarpo Quaresma”.

Ator 3: 1916: Lançado o primeiro samba “Pelo Telefone”.

Ator 1: 1922: O Centenário da Independência.

Ator 2: 1922: Portinari, Di Cavalcanti, época de grandes pintores e a música de Villa Lobos.

Ator 3: 1928: Mario de Andrade publica “Macunaíma” e Raquel de Queiroz “O Quinze” (Os atores vão saindo de cena)

Ator 1: E foi neste momento que nascia Noel de Medeiros Rosa no dia 11 de Dezembro de 1910 no chalé da Rua Teodoro da Silva nº. 30 – Vila Isabel.

Ator 2: Noel foi sambista, cantor, compositor, bandolinista, violinista brasileiro e um dos maiores e mais importantes artistas da música do Brasil.

Ator 3: Nascera de um parto difícil em que o uso do “fórceps” pelo médico causou-lhe um afundamento da mandíbula que o marcou por toda a vida.

Ator 1: Filho de um comerciante de nome Manuel Garcia de Medeiros e da professora Martha de Medeiros Rosa, Noel era de família de classe média, tendo estudado no tradicional colégio São Bento, de 1923 a 1928, onde o apelidaram de “Queixinho”.

Ator 1: Adolescente, aprendeu a tocar bandolim de ouvido e tomou gosto pela música e pela atenção que ela lhe proporcionava. Logo passou ao violão e cedo tornou-se figura conhecida da boemia carioca. Entrou para a Faculdade de Medicina e abandonou o projeto de estudar, pois mostrou-se pouco interessado. Se apaixonou pela vida de artista, em meio ao samba e noitadas regadas às cervejas.

Ator 2: Em 1929, Noel arriscou as suas primeiras composições “Minha Viola” e “Toada no céu”, ambas gravadas por ele mesmo ao lado do Bando dos Tangarás.

Ator 3: Mas foi em 1930 que o sucesso chegou mostrando uma música cuja letra retratava o Brasil de “Tanga”, com o aumento da miséria a que estava reduzida a população pobre e redução do salário do operário. Com essa música, Noel arrebatou o carnaval carioca de 1931. Para vocês o sucesso de “Com que Roupa” (música e coreografia)

Cena 3

Após a música, os atores correm para ouvir as últimas noticias na Rádio com o programa do Casé.

Em off: (música tocando ao fundo na voz de Noel Rosa) “Essa é a Rádio Phillips sempre perto de você (música) Amigos ouvintes, aqui quem vos fala é Geraldo Casé no “Programa do Casé”, trazendo as últimas notícias!” (música).

“Getúlio Vargas chega ao poder”

“Santos Dumont, inventor do avião suicidou-se e m Santos; fato lamentável”!

“O Samba continua brigando com a música erudita e principalmente com a operística e a sertaneja e vai ganhando destaque”

O “Zepelim” de vôo silencioso “O charuto Batuta”, dado a sua forma e fama, chega ao Recife amanhã e aqui no Rio, quatro dias depois.

“Revolução constitucionalista de S. Paulo. A censura é severa no Rio.”

' Graciliano Ramos publica “São Bernardo”.

“Está surgindo o Partido Integralista, influenciado pelo fascismo”.

“Extensão do voto às mulheres”

Casé : Continuando a nossa programação , se encontra aqui em nossos estúdios, Ele, o próprio Noel Rosa (palmas dos atores) Noel , muito prazer e é uma honra você aqui em nosso programa ! Fale-nos um pouco de seus sambas: Feitio da Oração, Gago apaixonado e Não tem Tradução.

Noel: “Feitio da Oração aconteceu no final de 32 no estúdio da Odeon onde Vadico me apresentou para o Maestro Eduardo Souto”. Eduardo se impressionou quando ao passar por uma das salas da gravadora, escutou Vadico executando ao piano uma das suas melodias. E imediatamente me chamou, pois eu gravava na sala ao lado e fomos apresentados um ou outro e propôs que trabalhássemos juntos. Dois dias depois, procurei Vadico para lhe mostrar a letra e título do samba e aí foi feito a parceria.Com relação à música “Não tem tradução”, trata-se da influência do cinema falado no linguajar do brasileiro que vive colocando palavras em inglês em seu vocabulário. “Todos, jovens, pessoas mais velhas, homens de teatro, sambistas e até malandros aderem aos “Hellos” e” Babies” em seus cumprimentos e” Gago apaixonado” é a que mais gosto porque os meus vizinhos e os seus papagaios não conseguem cantá-la. (Música e coreografia das músicas” Feitio da Oração, Não tem tradução e Gago Apaixonado”).

“Geraldo Casé (após os sambas) E agora vamos tocar uma música em que Noel Rosa, o nosso grande compositor, fez para a nossa rainha da primavera “Lela Casatle, de Vila Isabel e, ao mesmo tempo, um hino de amor à Vila” Feitiço da Vila” (música e coreografia de “Feitiço da Vila”). Cena 4

Ator 1: Certa vez, Noel Rosa Noel bateu de frente com um grande sambista da época (com um jornal na mão) Noel, ouça isto: Wilson Batista um jovem talentoso e sambista desconhecido em entrevista a este jornal diz que sonha com a fama e aposta que vai conseguir e não concorda muito com os seus sambas e com os malandros de Vila Isabel. Ainda se apresenta no interior do Rio, mas promete que vai chegar lá.

Noel: Não concorda com os meus sambas? Tá só fazendo isso para se aparecer! (aparece Wilson todo sorridente).

Wilson: Enfim, vim conhecer o sambista que se diz ser malandro aqui no morro!

Noel: Ataque de sambista é feito em verso e batuque.

Wilson: Está nervoso o “Frankenstein da Vila”? Porque falei algumas verdades com minha música “Lenço no pescoço”?

Noel: Deixa de andar de tamanco. Pois tamanco nunca foi sandália E tira do pescoço o lenço branco Compra sapato e gravata Joga fora esta navalha que te atrapalha

Wilson: Olha só quem fala o “Mocinho da Vila”

Noel: Vou te ignorar...

Wilson: Ouviu o meu samba? “Conversa fiada”. Pus Feitiço da Vila no chinelo

Noel: Ah, essa não! Escuta aqui, “Quem é você que não sabe o que diz” (música e Coreografia de “Palpite Infeliz”) Cena 5

Ator 1 (após as músicas) A partir de 1933, o pai de Noel passa a ser perseguido pelo diretor geral da Inspetoria de Abastecimento da prefeitura do distrito federal e Noel guardou cuidadosamente os documentos desta perseguição que tanto afligia a família e da qual seu pai nunca recuperou. Fora a brilhante critica social, anti-romântica e de decepção que se sucedeu à revolução de 1930. Diante de tudo isso, ele se perguntava; “Onde está a honestidade”? (música e coreografia de “Onde está a Honestidade?”). Cena 6

Ator 2: Finalmente termina a polêmica com Wilson Batista que foi consagrado na década de 40. Compõe para o cinema e inicia a opereta “A noiva do condutor “(Entra no ar o Programa do Casé – musica)”“.

Casé: Continuamos com a nossa programação e a presença do nosso Noel Rosa. Noel, o seu testemunho como sambista!

Noel: Para falar francamente, sou do samba rasgado. O samba está na cidade e já esteve, é verdade no morro, isso no tempo em que não havia aqui embaixo o samba. Quando a bossa nasceu, a cidade derrotou o morro. O samba lá em cima perdeu o espírito. O seu sabor inédito.

Casé: Quando e como, você faz o seu samba Noel?

Noel: Eu só faço samba quando estou inspirado. Não procuro forçar, mesmo porque não adianta. Quando a bossa falta, nem um homem com poderes divinos poderia fazer um samba.

Casé: Sua paixão pela música, quando começou?

Noel: A minha grande fascinação era a música desde guri. Qualquer espécie de música. Fosse qual fosse. E amava os instrumentos musicais, sentindo-me sonhar ante qualquer melodia.

Casé: Obrigado pela entrevista e esperamos você mais vezes aqui em nosso programa. E agora mais um sucesso do nosso querido Noel Rosa (música de fundo e Noel senta-se em um bar e chama o garçom).

Noel: Garçom?

Garçom: Pois não? O que deseja Noel?

Noel: Hoje eu quero serviço de primeira! Preste muita atenção no que vou lhe dizer (Música: Conversa de Botequim).

Cena 7

Ismael Silva: Meu nome? Ismael Silva e fui muito amigo de Noel e conheci bem a história de seus amores; Os amores de Noel: Noel, um eterno apaixonado, algumas de suas músicas foram inspiradas em várias mulheres entre elas: Josefina Telles Nunes, a “Fina”, Juraci Correa de Moraes, a “Ceci” e uma bela morena que ele conheceu durante una tournée com os Ases do samba em Porto Alegre e chovia torrencialmente (Barulho de chuva).

Noel: Você mora onde?

Marina: Aqui, nesta pensão!

Noel: Poxa vida, isto que é sorte, é bem em frente onde estou hospedado.

Marina: Vai ficar muito tempo por aqui?

Noel: Vou e gostaria de te ver mais vezes! Podemos?

Marina: Claro; quantas vezes você quiser, Noel (Beija-o e do fundo uma voz ao fundo “Marina, entra que já é tarde”) Estão me chamando, eu preciso ir Noel...

Noel: Então, nos vemos manhã?

Marina: Sim, amanhã (pausa) Então, até amanhã.

Noel: Se Deus quiser (Música: “Até Amanhã”)

Cena 8

Fina: Noel?

Noel: Fina?

Fina: Que saudades!

Noel: Eu preciso muito falar com você!

Ceci (entrando, nervosa e vai pra cima de Noel): Noel?

Noel: Ceci?

Ceci: Onde é que você estava Noel?

Noel: Mas o que foi desta vez?

Ceci: Noel, Noel, eu estou de olho em você... Não se esqueça que eu sei que você é da noite e que eu não sou boba.

Noel: E você não se esqueça que te conheci no Cabaré Apolo e é você quem amo!

Ceci: Noel, Noel, tome a tua linha e sua fama eu já conheço e muito bem. Se te pego com outra eu... (é cortada) .

Fina: O que você precisa dizer Noel?

Noel: Fina e não precisa esconder mais nada; eu já descobri tudo, eu quero ouvir de você Fina, conte-me a verdade.

Fina (pausa e música de fundo): A verdade de que Noel?

Noel: Sobre o seu trabalho.

Fina: Mas eu...

Noel (terno): Fina, por favor...

Fina: Está bem Noel, a verdade é que eu trabalho em uma fábrica de botões e sou operária, me desculpa Noel.

Ceci (chamando-o): Noel, fique sabendo que é você quem eu quero (dá-lhe um beijo no rosto) Vou trabalhar (Ceci vai saindo).

Noel: Ceci, vou passar no Cabaré Apollo mais tarde, meu amor!

Ceci: E você que não passe!

Noel: Fina, é você quem eu quero e não precisa me esconder mais nada (Músicas: “Três apitos” e a “Dama do Cabaré”).

Cena 9

Entram em cena Noel e Ceci nervosos.

Noel (segurando nos braços de Ceci): Vagabunda!

Ceci: Me solta, malandro!

Noel (joga-a no chão): Porque isso Ceci? Por quê?

Ceci: Você tá vendo coisas Noel! Anda bebendo demais, é isso!

Noel: Você está envolvida com o Mário Lago...

Ceci: É mentira desse povo, a língua não cabe dentro da boca dessa gente.

Noel: Cala a boca, vagabunda!

Ceci: Vem calar, vem! (Noel vai até ela e ameaça a dar-lhe uma tapa, mas não o faz).

Noel: Dediquei-me a você Ceci, te fiz vários sambas, quantos beijos... Sai, sai daqui, eu não quero mais te ver!

Ceci (tenta falar): Noel, eu...

Noel (gritando): Sai daqui, desapareça (Ceci sai assustada): Pra que Ceci? Pra que mentir? (música “Pra que mentir”)

Cena 10

Ismael Silva: Noel sofre muito com a perda de Ceci e se perde com outras mulheres e nos cabarés da vida quando finalmente conhece Lindaura Martins e, por insistência de dona Marta, casa-se no dia 1º de dezembro de 1934, mas continua a vida de solteiro, o mesmo boêmio do sereno da Lapa e seu dinheiro é gasto na mesma noite em que entra no bolso.

Lindaura: Noel, eu preciso lhe dizer. Vou trabalhar pra fora!

Noel: O que? Falta-lhe alguma coisa Lindaura?

Lindaura: Tudo Noel, tudo! O dinheiro não dá pra comprar mais nada. Tudo o que você ganha você gasta em bebida, noites, boemias...

Noel: Você já sabia disso Lindaura!

Lindaura: Não pensei que você fosse continuar nessa vida Noel. Assim não dá

Noel: Quer se separar de mim?

Lindaura: Isso nunca! (pausa) Mas eu vou trabalhar!

Noel: Lindaura, Você vai se quiser! (“Música: ” Você vai se quiser”)

Cena 11 Ismael: O poeta sofre e cresce com a perda de Ceci, humaniza-se como nunca. Os temas sociais pulam em seus sambas, ele toma o partido dos marginalizados e esquecidos; a solidão e o desamor, a falta de dinheiro, o mal-amado vêm à tona. Descobre que está com tuberculose e esconde, só falando nela com o seu médico. Dona Marta se esforça, levanta algum dinheiro com os colegas do filho no “Programa do Casé “e o envia para Belo Horizonte para mudança de clima e se tratar a conselho médico”“. De lá, Noel escreve-lhe uma carta:

Noel (música ao fundo): Já apresento melhoras; pois levanto muito cedo. Deito às 9 horas, para mim é um brinquedo. A injeção me tortura e muito medo me mete Mas... Minha temperatura não passa dos 37

Nessas balanças mineiras de variados estilos, Trepei de várias maneiras e... Pesei 50 kg. Deu resultado comum meu exame de urina Meu sangue: 91% de Hemoglobina. Que meu amigo Edgar arranque deste papel O abraço que vai mandar seu amigo Noel (música)

Cena 12

Ismael: Na segunda metade de 1935, Noel volta de Belo Horizonte para o Rio bem mais disposto, mas não esquece as suas noitadas com os amigos de V. Isabel. Seu pai é encontrado morto, debaixo da cama, no quarto do sanatório da Gávea com o lençol em volta do pescoço e sem a presença de Ceci, sua saúde vai de mal a pior.

Graça Melo (entrando e na sala estão D. Marta e Lindaura, aflitas): D. Marta, Lindaura? A Sra. mandou me chamar? O que houve? Como está Noel?

Dona Marta: Depois da morte do pai, Noel não para mais em casa. Eu tenho medo de uma nova recaída Dr. Não adianta a gente falar, o sr. o conhece muito bem.

Graça Melo: Tem idéia de onde ele se encontra agora D. Marta?

Lindaura: Em algum boteco de Vila Isabel sei lá, não quis que eu o acompanhasse.

Graça Melo: Vou atrás dele e vou encontrá-lo D. Marta. Preciso ter uma conversa séria com Noel.

Lindaura: Vou com o senhor doutor. (saem)

Cena 13

Noel (sentado na mesa do bar escrevendo): “Quantos beijos”... Quando eu saía, meu Deus que hipocrisia. Meu amor você traía, só que eu não sabia. Não andava com dinheiro todo dia. Para sempre dar o que você queria. Mas quando eu satisfazia os seus desejos, quantas juras, quantos beijos... (Música “Quantos beijos”)

(Graça Melo e Lindaura entrando): Noel?

Noel: Doutor Graça Melo, mas que prazer, eu ainda não tive tempo de procurá-lo, você disse a ele, Lindaura?

Lindaura: Ainda não, mas não foi preciso Noel!

Noel: Então? O que manda?

Graça Melo: Quero que você saiba que não está totalmente curado Noel, pois quem tem tuberculose, tem que ter cuidado a todo o momento.

Noel (pensando): E se eu não me cuidar doutor?

Graça Melo: Suicídio na certa!

Noel: Ah é? Garçom me traga mais uma cascatinha estupidamente gelada. “(“ Músicas “Fita Amarela” e “ É Bom parar “)

(Lindaura durante a música tenta convencer Noel parar de beber, mas não consegue e em um dado momento, Noel vai ao chão sofrendo um ataque).

Lindaura (aos gritos): Noel, pelo amor de Deus acorde! (silencio e retirada de todos) Cena Final

Noel: Mãe? Dona Marta: O que foi, meu filho?

Noel: Diga-me; quem é que sofreu mais do que eu? Quem é que já me viu chorar? Sofrer foi o prazer que Deus me deu! Eu sei sofrer sem reclamar.

Dona Marta: Noel, não diga mais nada meu filho, você precisa descansar. O Dr. Graça Melo me disse que... (é cortada)

Noel: Mãe, quem sofreu mais do que eu não nasceu, Com certeza, Deus já me esqueceu...

Lindaura: Noel, você precisa descansar, meu querido!

Hélio: E então doutor, o que o sr. me diz?

Graça Melo: Infelizmente são seus últimos momentos, Hélio!

Noel: Hélio?

Hélio: Estou aqui meu irmão

Noel: Estou tocando “De Babado”?

Hélio: Sim, “De Babado”.

Hélio: Sim, “De Babado”, meu irmão!

Noel: Vire-me de outro lado, está me doendo muito (Hélio vira-o ajudado por Lindaura).

Noel: Assim está melhor (Noel começa a batucar com os dedos e cessa de repente).

Em off: “Morreu hoje aos 26 anos de idade, no chalé da Rua Teodoro da Silva, o maior compositor e poeta popular do Brasil. “Com todas as letras e conforme a certidão de nascimento” Noel de Medeiros Rosa”.

Nesta cena, jogam rosas no corpo de Noel e cobrem o seu rosto cantando “Fita Amarela”.(apagam-se as luzes)

Os atores dançam e cantam “O orvalho vem caindo” em clima carnavalesco junto com Noel.

Fim

Músicas de “Uma Rosa para Noel”

1 - Fita Amarela

Quando eu morrer,Não quero choro nem vela Quero uma fita AmarelaGravada com o nome dela

Se existe alma,Se há outra encarnação,Eu queria que a mulata Sapateasse no meu caixão

Não quero flores Nem coroa com espinho, Só quero choro de flauta, Violão e cavaquinho.

Estou contente, Consolado por saber Que as morenas tão formosas A terra um dia vai comer.

Não tenho herdeiros, Não possuo um só vintém, Eu vivi devendo a todos Mas não paguei nada a ninguém.

Meus inimigos, Que hoje falam mal de mim,Vão dizer que nunca viramUma pessoa tão boa assim.

2 – O Orvalho vem caindo

O Orvalho vem caindo Vai molhar o meu chapéu E também vão sumindoAs estrelas lá do céu...Tenho passado tão mal!A minha cama é uma folha de jornal. (Do diário oficial)

Meu cortinado é o vasto céu de anilE o meu despertador é o guarda civil (que o salário ainda não viu)

O meu chapéu vai de mal para pior E o meu terno pertenceu a um defunto maior (Dez tostões no Belchior)

A minha sopa não tem osso nem tem sal,Se um dia passo bem, outro dia passo mal. (Isso é muito natural)

A minha terra dá banana e aipim, Meu trabalho é achar quem descasque por mim (vivo triste mesmo assim)

3 – Com que Roupa?

Agora vou mudar minha condutaEu vou pra luta, Pois eu quero me aprumar.Vou tratar você com força brutaPra poder me reabilitar E eu pergunto: Com que roupa?

Com que roupa eu vou Pro samba que você me convidou?

Eu hoje estou pulando como sapoPra ver se escapo Dessa praga de urubu Já estou coberto de farrapo, Eu vou acabar ficando nu:Meu paletó virou estopa E já nem sei mais com que roupa?

Com que roupa eu vou Pro samba que você me convidou?

Agora eu não ando mais fagueiro Pois o dinheiro Não é fácil de ganhar...Mas eu sendo um cabra Trapaceiro Não consigo ter nem pra ganhar Eu já corri de vento em popaMas agora, com que roupa?

Com que roupa eu vou Pro samba que você me convidou?

Seu português agora deu o fora, já foi-se embora. E levou meu capital,Abandonou quem tanto amou outrora, Foi no Adamastor pra Portugal, Pra se casar com uma cachopa...E agora, com que roupa?

Com que roupa eu vou Pro samba que você me convidou?

Você não é nenhum artigo raro Mas eu declaro Que você é um bom peixãoE hoje, que você se vende caro, Creio que você não tem razãoO peixe caro é a garoupaCom que escama e com que roupa?

Com que roupa eu vou? Pro samba que você me convidou?

Eu nunca sinto falta do trabalho. Desde pirralho Que eu embrulho o paspalhão: Minha boa sorte é o baralho Mas minha desgraça é o garrafão...Dinheiro fácil na se poupa Mas agora, com que roupa?

Com que roupa eu vou Pro samba que você me convidou.

4 – Feitio da Oração

Quem acha vive se perdendoPor isso vou me defendendoDa dor tão cruel de uma saudade Que por infelicidade, Meu pobre peito invade.

Batuque é um privilégio,Ninguém aprende samba no colégio...Sambar é chorar de alegria,

É sorrir de nostalgia Dentro da melodia

Por isso agora,Lá na Penha eu vou mandar Minha morena, pra cantar. Com satisfaçãoE com harmoniaEsta triste melodia, Que é meu samba Em feitio de oração.

O Samba, na realidade, Não vem do morro nem lá da cidade...E quem suportar uma paixão Saberá que o samba então Nasce do coração.

5 – Não têm Dradução (Ou cinema falado)

O cinema falado É o grande culpado Da transformação Dessa gente que sente Que um barracão Prende mais que um xadrez.Lá no morro, se eu fizer uma falseta. A RisoletaDesiste logo do francês e do Inglês

A gíria que o nosso morro criou Bem cedo a cidade aceitou e usou.Mais tarde o malandro deixou de sambar, Dando pinoteE só querendo dançar fox-trote.

Essa gente hoje em dia, Que tem a mania Da exibição Não se lembra que o samba não tem tradução No idioma Francês.Tudo aquilo que o malandro pronuncia Com voz macia É brasileiro; já passou do português.

Amor lá no morro, é amor pra chuchu. As rimas do samba não são “Ai lôve iú” E esse negócio de “Alô, Alô, bói” e “Alô Jône”.Só pode se conversa de telefone.

6 – Gago Apaixonado

Mu... Mu... Mulher em mim fi... Fizeste um estrago,

Eu de nervoso esto... tou...ficando gago.Não po... posso com a cru...crueldadeDa saudade, Que... que mal...maldade, Vi... vivo sem afago.

Tem... tem pe...pena deste moribundo Que... que já virou va...va...ga...gabundoSó...só...só...só por ter so...so...fri...fridotu...tu...tu...tu...tu...tu...tu...Tu vais fi... fi...ficar corcunda.

7 – Feitiço da Vila (Ou feitiço sem farofa)

Quem nasce lá na vila Nem sequer vacila Ao abraçar o samba Que faz dançar Os galhos do arvoredo E faz a Lua nascer mais cedo.O sol da vila é triste, Samba não assiste.Porque a gente implora: Sol pelo amor de Deus, Não venha agora Que as morenas vão logo embora.

A Vila tem Um feitiço sem farofa Sem vela e sem vintémQue nos faz bem; Tendo o nome de princesa Transformou o samba Num feitiço decente, Que prende a gente.

Lá em vila Isabel Quem é bacharel Não tem medo de bamba:São Paulo dá café, Minas dá leite E a vila dá samba Eu sei tudo que faço, Só por onde passo, Paixão não me aniquila.Mas, tenho que dizer,Modéstia à parte, Meus senhores, eu sou da Vila!A zona mais tranqüila

É a nossa vila, O berço dos folgados;Não há nenhum cadeado no portão Porque na vila não há ladrão.

Quem nasce pra sambar,Chora pra mamar,Em ritmo de samba;Eu já saí de casa Olhando a Lua E até hoje, estou na rua.