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1
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO
AUTOR
ANA PAULA CARDOSO SOUTO
ORIENTADOR
PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO
RIO DE JANEIRO 2012
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – AVM Faculdade Integrada, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito e Processo do Trabalho. Por: Ana Paula Cardoso Souto
3
Agradeço todos que me ajudaram nesta fase e principalmente a meu marido e meu orientador
4
Dedico essa monografia aos meus pais e ao meu marido.
5
RESUMO
O assédio moral, apesar de não ser um fenômeno recente, somente agora tem merecido estudos e suas consequências nas relações de trabalho. No Brasil, o debate desse tema é novo, tanto que não existe uma legislação especifica para regular sobre o assunto. O que temos são entendimentos jurisprudenciais dos Tribunais de todo o país. O assédio moral é caracterizado pela prática de atos agressivos dentro do ambiente de trabalho, hoje em dia tem uma grande importância grade das organizações. Na verdade isso é um problema humano e social, que não atinge somente o empregado, por consequência atinge o Governo. A prática do assédio se dada pelo empregador, causando um transtorno enorme no seu empregado, acabando com as condições básicas para trabalhar. O assediador atinge a dignidade humana do empregado e com isso altera o seu estado psicológico e prejudicando seu desempenho no ambiente de trabalho. Cada dia mais percebeu que os empregados têm recorrido ao judiciário para que seja sanado o dano que o seu empregador fez passar. Como não temos uma legislação específica no Brasil, o empregador acaba sendo a vítima, e suas alegações acabam sendo enfraquecidas e por consequência p seu pedido diminui.
6
METODOLOGIA
O presente trabalho monográfico constitui-se em uma descrição das
jurisprudências referente ao caso em tela.
Logo, o estudo apresentado foi levado a partir do método de pesquisa
bibliográfica, em que se buscou conhecimento de diversos autores brasileiros e de
entendimentos jurisprudenciais, tudo sobre posição dos juristas brasileiros.
Por outro lado, a pesquisa que resultou essa monografia foi à falta de lei que
regulamenta o assunto tratado. Sempre tentando buscar os posicionamentos dos
melhores juristas brasileiros e entendimentos jurisprudênciais.
.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................... 8
CAPÍTULO I - ASSÉDIO MORAL...................................................................... 11
1.1 BREVE HISTÓRICO........................................................................................ 13
1.2 DENOMINAÇÕES NO ESTRANGEIRO............................................................ 20
1.3 CONCEITO........................................................................................................ 15
1.4 ESTUDO SOBRE ASSÉDIO MORAL NAS ORGANIZAÇÕES NO
BRASIL.................................................................................................................... 16
CAPÍTULO II - SUJEITOS DO ASSÉDIO MORAL........................................ 17
2.1 AGRESSOR....................................................................................................... 17
2.2PASSIVO A VÍTIMA......................................................................................... 20
2.3 OS ESPECTADORES....................................................................................... 22
2.4ASSÉDIO MORAL X ASSÉDIO SEXUAL...................................................... 23
CAPÍTULO III - O ASSÉDIO MORAL E A LEGISLAÇÃO
BRASILEIRA......................................................................................................... 26
3.1– FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS....................................................... 26
3.2 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA............................................................ 26
3.3 DO DIREITO A INDENIZAÇÃO PELO ASSÉDIO MORAL........................ 29
3.4 DA PRESCRIÇÃO DO ASSÉDIO MORAL.................................................... 32
3.5 COMPETÊNCIA............................................................................................... 33
3.6 POSIÇÃO JURISPRUDENCIAL BRASILEIRA............................................. 33
CONCLUSÃO........................................................................................................ 37
BIBLIOGRAFIA.................................................................................................... 39
8
INTRODUÇÃO
Nesta monografia, foi tratado, com extrema importância e detalhes
sobre o assédio moral. Sendo feito cuidadosamente um estudo com base no que
falam os maiores autores sobre a matéria e de nossas vivencias e nas
experiências que tivemos.
Olhando para o passado, é possível dizer que o assédio moral é
observado nas relações humanas desde os primórdios da História, mas somente
neste milênio atual que passou a ter mais importância. Com a presença mais
efetiva nas doutrinas, leis e jurisprudências em todo ordenamento jurídico
mundial.
Tem sido entendido como um modo de coação que se estabelece em
qualquer tipo de relacionamento que seja sustentado na desigualdade social ou
no poder autoritário. Por este motivo, é possível sua ocorrência em qualquer
relação de trabalho, só que sua incidência é mais verificada nas relações de
emprego.
Neste contexto, este estudo visa analisar, no âmbito uma percepção
história, os liames do reconhecimento da existência do assédio moral nas
relações de emprego, contextualizando os desafios que se apresentam na
mensuração do dano moral decorrente.
O assédio moral é um instituto em construção, sendo desconhecido
por muitas pessoas, bem como pelo mundo jurídico, motivo pelo qual é feita essa
análise, conceituando e definindo os seus contornos e limites, verificando como
o mesmo se dá e quais as suas consequências jurídicas, tudo a luz do preceito
constitucional que tutela a personalidade humana.
9
Ele é demonstrado por atos e comportamento agressivo que visa à
desmoralização do profissional, tornando o local de trabalho insuportável, e
ensejando o pedido de demissão do empregado, que se encontra numa situação
desesperadora. Ante o fato da relativa novidade do assunto, que está em
desenvolvimento e que ainda sequer tenha uma expressa previsão legal no texto
das leis trabalhistas.
Além de ser vítima de uma agressão destruidora para defender seus
direitos, os trabalhadores que sofrerão desse mal, começa uma verdadeira luta
com Judiciário. Terão que convencer o poder judiciário de que foram
humilhados e maltratados no local de trabalho e que têm direito a uma reparação
pelos danos causados.
No âmbito do Judiciário, os magistrados têm recebido cada vez mais
reclamações trabalhistas com esse tipo de dano e como não existe uma lei para
regulamentar o assunto, muitas vezes os trabalhadores não conseguem obter a
reparação devida pelo dano sofrido.
Por este motivo, este trabalho dedica atenção aos aspectos conceituais
do assédio moral, a interpretação do judiciário sobre o tema e analise do
ordenamento jurídico.
Estas são as delimitações iniciais feitas para o desenvolvimento deste
trabalho, sem prejuízo de outras questões decorrentes que serão igualmente
enfrentadas, contudo sem qualquer pretensão de esgotar o assunto, muito pelo
contrário, procura-se antes aguçar e estimular a mente do leitor, com fins de
fornecer subsídios que contribuam para a contínua construção e divulgação do
instituto do Assédio Moral. Assunto este que ainda está em vivo
desenvolvimento regulamentação, que tem cada vez mais obtido comemoráveis
publicações de artigos e livros por parte dos juristas, psicólogos, médicos e
outros profissionais.
10
CAPÍTULO I
Assédio Moral
1.1 BREVE HISTÓRICO
As pesquisas envolvendo a figura do assédio moral iniciaram no ramo
da Biologia, antes de serem desenvolvidas na esfera das relações humanas, Com
os estudos do etologista Konrad Lorenz, o qual analisou a conduta de
determinados animais de pequeno porte físico quando confrontados com
invasões de território por outros animais, especialmente um animal maior,
revelaram um comportamento agressivo com intimidações do grupo para
expulsar o invasor solitário, isto chamou sua atenção, e este comportamento o
biólogo chamou mobbing, termo inglês que traduz a ideia de turba ou multidão.1
Mais tarde, na década de 60, o médico sueco Peter-Paul Heinemann
realizando uma pesquisa, analisou um grupo de crianças no ambiente escolar.
Curiosamente, os resultados da pesquisa foram muitos parecidos com a primeira
pesquisa, eis que as crianças demonstraram a mesma tendência dos animais, a
partir do momento que outra criança “invadisse” seu espaço. Esta foi então a
pesquisa pioneira em detectar o assédio moral nas relações humanas. Deste
então, muitas outras surgiram e trabalhos começaram a ser publicados, em
especial relacionados à psicologia infantil.2
Na década de 80, então vinte anos mais tarde, o psicólogo alemão
Heinz Leymann, analisando o ambiente de trabalho descobriu o mesmo
comportamento identificado nas pesquisas anteriores, mas, segundo o psicólogo,
no ambiente de trabalho a violência física raramente é usada no assédio moral,
1 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. 1. ed. Campinas: Russell Editores, 2004. p. 38. 2 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. 1. ed. Campinas: Russell Editores, 2004. p 38 a 39.
11
sendo marcado por condutas insidiosas, de difícil demonstração, como o
isolamento social da vítima.3
Em 1998, na França a psicóloga, psiquiatra e psicoterapeuta de
família, Marie-France Hirigoyen, publicou um livro sob o título Le harcèlement
moral: la violence perverce au quotidien, ed. Syros, onde a autora constata que
o assédio moral não se restringe a casos pontuais, e sim a um comportamento
permanente, comum, destrutivo, distanciado daquele fato isolado (discussão ou
atrito) que ocasionalmente ocorre entre os indivíduos em uma organização.
O livro lançado pela psicanalista e vitimologista 50 francesa
reacendeu a discussão acerca do assédio moral na esfera jurídica. Desde antão o
tema foi do conteúdo da cadeira de Direito inserida na disciplina denominada
Criminologia. O objetivo desta ciência consiste em analisar as razões que levam
um individuo a tornar-se vítima, os processos de vitimização, as consequências a
que induzem e os direitos que podem pretender.
1.2– DENOMINAÇÕES NO ESTRANGEIRO
Na Itália, a denominação adotada é mobbing, como sinônimo de violência
silenciosa, acontecida na esfera psíquica do outro.4
Em Portugal, Terrorismo Psicológico ou Assédio Moral, utilizando uma ou
outra denominação.5
Na França, o fenômeno é conhecido como harcélement moral, sendo
associado à perversidade ou perversão moral, não se confundindo com patologia
mental.6
3 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. 1. ed. Campinas: Russell Editores, 2004. p. 39 4 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio Moral na relação de emprego.1. ed. 2005, 2. tir. Curitiba: Juruá, 2006. p. 39. 5 GUEDES, Márcia Novaes. Terror Psicológico no Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTR, 2004. p. 153.
12
Na Espanha, são empregados os termos acoso moral e mobbing, para definir
o terror psicológico no trabalho.
Na Inglaterra, recebe a denominação de bullying – bullying at work place,
com origem no termo bully como substantivo, significa mandão, pessoa
prepopente; como verbo, intimidar, aterrorizar. Com o termo bullyng vêm
indicados vários tipos de condutas agressivas e vexatórias como a discriminação
e o assédio moral e sexual.7
Nos Estados Unidos, também é conhecido como harassment, tendo como
significado ataques constantes e repetitivos que visam atormentar e provocar a
vítima. A psicóloga francesa Marie-France Hirigoyen, chama a atenção para uma
outra forma específica de assédio moral, denominada whistle-blowing,
direcionada para quem costuma expor os setores que não funcionam
satisfatoriamente em uma empresa, ou seja, “aqueles que denunciam os
problemas de funcionamento de um sistema sofrem, evidentemente, represálias
de parte do próprio sistema. [...] destinada a silenciar quem não obedece às
regras do jogo”.8
No Japão, o assédio moral é conhecido como Ijime, que significa a prática da
violência moral em todos os setores da vida da pessoa, ou seja, na escola,
família, ambiente de trabalho etc.
1. 3 - CONCEITO
Não existe previsão específica sobre o assédio moral em nosso ordenamento
jurídico, entretanto, a fim identificar o fenômeno e estudar as suas consequências
jurídicas, busca-se a conceituação introduzida por Marie-France Hirigoyen, na
6 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio Moral na relação de emprego.1. ed. 2005, 2. tir. Curitiba: Juruá, 2006. p. 39. 7 GUEDES, Márcia Novaes. Terror Psicológico no Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTR, 2004. p. 157. 8 HIRIGOYEN, Marie-France. Redefinido o assédio moral. p. 80. In: FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho.
13
área da psicologia do trabalho, sendo indispensável ao direito na construção de
um conceito jurídico.9
Marie-France Hirigoyen, assim conceitua assédio moral no trabalho como:
Toda e qualquer conduta abusiva manifestando-se, sobretudo por comportamentos, palavras, atos, gestos, escritos que possam trazer dano à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, pôr em perigo seu emprego ou degradando o ambiente de trabalho.10
A maioria das jurisprudências faz expressa remissão ao conceito da psicóloga
francesa:
ASSÉDIO MORAL - ABUSO DE DIREITO POR PARTE DO EMPREGADOR. Segundo a autora Marie-France Hirigoyen, o assédio moral no trabalho é qualquer conduta abusiva (gesto, palavra, comportamento, atitude...) que atente, por sua repetição ou sistematização, contra a dignidade ou integridade psíquica ou física de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o clima de trabalho. O assédio moral se configura pela utilização tática de ataques repetitivos sobre a figura de outrem, seja com o intuito de desestabilizá-lo emocionalmente, seja com o intuito de se conseguir alcançar determinados objetivos empresariais. Se, por um lado, o objetivo pode ser apenas e tão somente a "perseguição" de uma pessoa específica, objetivando a sua iniciativa na saída dos quadros funcionais, pode, também, configurar o assédio moral na acirrada competição, na busca por maiores lucros, instando os empregados à venda de produtos, ou seja, a uma produção sempre maior. O assédio ocorre pelo abuso do direito do empregador de exercer o seu poder diretivo ou disciplinar: as medidas empregadas têm por único objetivo deteriorar, intencionalmente, as condições em que o trabalhador desenvolve o seu trabalho, numa desenfreada busca para atingir os objetivos empresariais. O empregado, diante da velada ameaça constante do desemprego, se vê obrigado a atingir as metas sorrateiramente lhe impostas - ferindo o decoro profissional.11
9 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio Moral na relação de emprego.1. ed. 2005, 2. tir. Curitiba: Juruá, 2006. p. 36 10HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio Moral: a violência perverso no cotidiano. Tradução de Rejane Janowitzer. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. 11 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal Regional do Trabalho (4ª Região - Quarta Turma). Recurso Ordinário n. 00869-2003-511-04-00-8. Rela. Maria Beatriz.
14
EMENTA: DO ASSÉDIO MORAL E INJUSTA DESPEDIDA. Hipótese em que não havia impedimento contratual ou legal para a despedida sem justa causa. Também não se tem como configurado o alegado assédio moral. A prova testemunhal aponta para a total ausência de afinidades entre a coordenadora e a reclamante, porém não a define como causa específica da rescisão contratual, tampouco há comprovação de que a reclamante tenha tido dificuldades maiores que aquelas inerentes à execução do contrato de trabalho em que a relação caracteriza-se pela subordinação do empregado. Provimento negado. [...] Os episódios narrados pela reclamante, em tese, podem se adequar perfeitamente à hipótese de assédio moral - fato social há muito conhecido, novo apenas enquanto fenômeno juslaboralista - que Marie-France Hirigoyen, em "Assédio Moral: violência perversa no cotidiano", assim conceitua: "toda e qualquer conduta abusiva manifestando-se, sobretudo comportamentos, palavras, atos, gesto, escritos que possam trazer dano à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, põe em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho" e, no conceito de Margarida Barreto, em "Uma Jornada de Humilhações", é caracterizado pela "exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada detrabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e aéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinado(s), desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a organização, forçando-o a desistir do emprego" (www.assédiomoral.org.br). Uma das características do assédio moral é que visa justamente a conduzir a vítima à demissão. Segundo Marie-France "a pessoa atacada é colocada numa posição de debilidade e agredida direta ou indiretamente por uma ou mais pessoas de modo sistemático, frequentemente por largo tempo, com o objetivo e/ou consequência da sua demissão do mundo do trabalho". Essa análise é, contudo, apenas no plano em abstrato.12
A doutora Margarida Barreto faz a definição 13 o assédio moral no trabalho
como “a exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e
constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício
de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e
assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e aéticas de
longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinado(s),
12 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal Regional do Trabalho (4ª Região- Oitava Turma). Acórdão Recurso Ordinário n. 00862-2004-662-04-00-8. Rela. Ana Luiza Heineck Kruse 09 de março de 2006. Diário Oficial do Estado do RGS – Justiça. Data de Publicação: 23 mar. 2006. Jurisprudência Gaúcha. Disponível em: http://www.trt4.gov.br/Acesso em 24 mar. 2006. 13 Esta definição também é utilizada pela jurisprudência como se pode observar pelo acórdão transcrito.
15
desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a organização,
forçando-o a desistirem do emprego”.14
Para a mesma autora, humilhação “é o sentimento de ser ofendido,
menosprezado rebaixado, inferiorizado, submetido, vexado e ultrajado pelo outro”.
. “É sentir-se um ninguém, sem valor, inútil, magoado, revoltado,
perturbado, mortificado, indignado, com raiva”.15
O assédio moral 16, também conhecido como terrorismo psicológico ou
“psicoterror”, é uma forma de violência psíquica praticada no ambiente de trabalho, e
que consiste na prática de atos, gestos, palavras e comportamentos vexatórios,
humilhantes, degradantes e constrangedores, de forma sistemática e prolongada, com
clara intenção discriminatória e perseguidora, visando eliminar a vítima da organização
do trabalho.17
Maria Aparecida Alkimin, com base no Dicionário Aurélio e no segundo
livro pesquisadora francesa Marie-France Hirigoyen, justifica a utilização do termo
assédio moral:
[...] a expressão assédio deriva do verbo assediar que significa “perseguir com insistência... importunar, molestar, com pretensões insistentes; assaltar (...)”, ao passo que a expressão moral pode ser compreendida em seu aspecto filosófico, referindo-se ao agir ético, ou seja, de acordo com as regras morais ou normas escritas que regulam a conduta na sociedade, o ser e dever-ser, visando praticar o bem e evitar o mal para o próximo.
Conforme Hádassa Ferreira:
Pode-se dizer que o assédio moral é um processo composto por ataques repetitivos que se prolongam no tempo, permeado por artifícios psicológicos que atingem a dignidade do trabalhador, constituindo em
14 Barreto, Margarida. Uma Jornada de Humilhações. 2000 PUC/SP, Disponível em: http://www.assediomoral.org acessado no dia 21 de dezembro de 2011. 15 BARRETO, Margarida Maria Silveira. Violência, saúde e trabalho: uma jornada de humilhações. São Paulo: EDUC, 2003. p. 188 16 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio Moral na relação de emprego.1. ed. 2005, 2. tir. Curitiba: Juruá, 2006. p. 36. 17 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio Moral na relação de emprego.1. ed. 2005, 2. tir. Curitiba: Juruá, 2006. p. 36 e 37
16
humilhações verbais, psicológicas, tais como o isolamento, a não comunicação ou a comunicação hostil, o que acarreta sofrimento ao trabalhador, refletindo-se na perda de sua saúde física e psicológica. 18
Assim concluímos que o assédio moral é caracterizado pela prática de atos
agressivos dentro do ambiente de trabalho e que ele é exteriorizado de forma sutil por
meio de um processo que culmina na exposição da vítima a situações incômodas e
constrangedoras.
1.4 ESTUDO SOBRE ASSÉDIO MORAL NAS ORGANIZAÇÕES
Os estudos sobre os maus-tratos aplicados aos indivíduos no local de
trabalho não são algo recente.19
O tema no Brasil, passou a ter maior divulgação com a apresentação da
dissertação de mestrado da Drª Margarida Barreto 20, defendida em maio de 2000 e
publicada pelo Departamento de Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (PUCSP), denominada Uma jornada de humilhações, tendo como
material básico as pesquisas desenvolvidas por Marie-France Hirigoyen 21
A comunicação entre as duas pesquisadoras, culminou com o I Seminário
Internacional sobre Assédio Moral no Trabalho, realizado em São Paulo, no dia 30 de
abril de 2002, o qual aqueceu a discussão e chamou a atenção de parlamentares e
sindicatos de diversas categorias, que agora, já manifestam maior entendimento sobre o
assunto.
18 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio Moral na relação de emprego.1. ed. 2005, 2. tir. Curitiba: Juruá, 2006. p. 36 e 37 19 AGUIAR, André Luiz Souza. Assédio Moral: o direito à indenização pelos maus-tratos e humilhações sofridos no ambiente de Trabalho. São Paulo: LTr, 2005. p. 21 20 BARRETO. Margarida. Ginecologista e médica do trabalho (CREMESP 15713); mestre em Psicologia Social (PUC-SP) com a tese "Uma Jornada de Humilhações" (baseada em 2072 entrevistas de homens e mulheres de 97 empresas industriais paulistas); graduada em Medicina pela FMSP-BA. Disponível em: http://www.assediomoral.org/ 21 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. 1. ed. Campinas: Russell Editores, 2004.p. 41.
17
CAPÍTULO II
SUJEITOS DO ASSÉDIO MORAL
2.1 O AGRESSOR
O sujeito ativo do assédio moral é o agressor, aquela pessoa que visa a
desestabilizar emocionalmente outrem para alcançar determinado objetivo. Hirigoyen
(2000) traça de uma forma bastante fidedigna, o perfil do agressor do assédio moral.
Para ela, essa pessoa depende da opinião alheia para sobreviver, só pensa em si, e seu
objetivo é satisfazer suas próprias necessidades, à custa de violência psicológica.
Conforme Barreto, que divulgou trabalho de campo realizado com mais de
duas mil pessoas entrevistadas, verifica-se que o assédio moral é praticado em 90% dos
casos pelo chefe, em 6% por colegas e pelo chefe juntos, em 2,5% apenas por colegas e
em 1,5% por subordinados. Conforme essa mesma pesquisa constata-se que sua
ocorrência se dá em 50% dos casos varias vezes por semana, 27% uma vez por semana,
14% uma vez por mês e 9% raramente.
Como visto nessa pesquisa, o agressor ostenta diversos perfis, podendo o
assédio ser praticado pelo chefe, por subordinados ou por colegas de trabalho de
mesma hierarquia, dependendo de qual tipo está se detectando, se ascendente,
descendente, horizontal ou misto, e qual a estratégia do agressor envolve repetidos atos
de violência, praticados periodicamente.
No caso do assédio moral ascendente, o agressor é movido pela inveja. Seu
objetivo é ter a mesma vida que a vítima e, para alcançar esse objetivo, ele não poupa
esforços. Tal sentimento advém da sensação de desgosto por aqueles que detêm tudo
aquilo que lhe falta ou que simplesmente sabem obter prazeres nas pequenas coisas da
vida.
Na hipótese de assédio moral descendente, o agressor é um narcisista, um
megalômano que se acha demasiadamente importante, especial, que tem muita
necessidade de ser admirado e possui fantasias em que se vê rodeado das vantagens
18
auferidas em decorrência do sucesso profissional. Acredita-se indispensável e essencial
para a manutenção ou obtenção do sucesso da empresa em que trabalha.
Maquiavel (205, pág 102) contata que “de todos os príncipes, são os mais
novo no poder que não podem fugir à reputação de crueldade, já que os novos Estados
oferecem sempre muitos perigos”.
Da leitura do texto acima transcrito, pode-se concluir que os chefes que está
há menos tempo no poder têm a maior chance de praticar assédio moral. Isso porque
ostentam a necessidade de ser cruéis, pois querem afirmarem-se como superiores,
perante si e terceiros. O contrário senso, os chefes que está há mais tempo no poder já
estão acostumados com a rotina do cargo, de tal forma que lidam melhor com as
obrigações e os afazeres de sua função. Isso não quer dizer que um chefe experiente no
cargo nunca praticará assédio moral, mas apenas que as chances, nesse caso, diminuem
muito.
Na modalidade de assédio moral horizontal, o agressor pode ser movido por
vários motivos. Dentre eles, podem-se destacar a inveja de seu colega que consegue
abstrair a felicidade das mesmas coisas que o agressor se julga merecedor;
ressentimentos oriundos de brigas entre colegas ou mesmo diferenças ocasionadas por
disputas pela atenção do empregador ou de qualquer outro colega de trabalho.
O perfil do agressor, no caso de assédio moral misto, é um conjunto que
engloba os perfis dos outros três tipos de assédio moral, assim, o perfil do agressor da
referida modalidade de assédio moral prescinde de mais esclarecimentos.
Ainda de acordo com os ensinamentos de Hirigoyen, o que se pode verificar
em todas as situações susceptíveis do assédio moral é o fato de o agressor estar
causando sofrimento à vítima causa nele uma sensação de prazer. Assim, quanto mais
ele assediar a vítima, melhor vai estar consigo próprio. O ódio cultivado pela vítima é
tamanho, que o simples fato de causar-lhe sofrimento gera no agressor uma sensação
enorme de bem estar.
19
Fora do ambiente propicio para o assédio moral, o ambiente de trabalho,
normalmente o agressor é uma pessoa agradável, como qualquer outra, participa de
reuniões sociais, interage com os colegas e com os subordinados, inclusive com a
própria vítima, fazendo e recebendo brincadeiras. O agressor não detecta divergências
entre ele e a vítima, razão pela qual seu comportamento é exatamente igual ao dos
demais.
Às vezes, em decorrência da fragilidade do relacionamento construído entre
o agressor e a vítima, aquele, fora do local de trabalho, faz algum tipo de comentário
maldoso, dificilmente percebido pelas pessoas em geral, mas sempre detectado pela
vítima como um tipo de provocação. Tudo acontece de uma forma muito sutil. No
entanto, com o retorno ao local de trabalho, as divergências reaparecem, reaparecendo,
também, o assédio moral.
O agressor pode agir para satisfazer um interesse pessoal, para alcançar um
objetivo maior ou simplesmente por vaidade para que outras pessoas, os espectadores,
visualizem o fato e o admirem. Nesse caso, os espectadores ficam seduzidos pelo
agressor, que acha que a vítima sofre perseguição por merecer, porque não desempenha
a contento suas tarefas.
Conforme descrito no site Assédio Moral no Ambiente de Trabalho, o
agressor do assédio moral utiliza-se geralmente da seguinte estratégia:
1. Escolhe a vítima e a isola do grupo;
2. Impede-a de se expressar sem dar qualquer explicação para isso:
3. Inferioriza, fragiliza, culpa exageradamente a vítima por erros
cometidos, levando, em alguns casos, esses comentários ao ambiente familiar;
4. Desestabiliza a vítima, fazendo com que ela, gradativamente,
perca o interesse pelo trabalho, praticamente, obrigando-a a pedir demissão;
5. Impede que as testemunhas ajam de modo a coibir ou a minimizar
o assédio por elas detectado.
Como por exemplo, pode-se citar o depoimento dado ao jornalista Edward
com o seguinte teor:
20
Em 2004 e 2005, fui moralmente assediada por coordenadores do departamento da universidade onde trabalhei até o mês passado. Depois de um período de afastamento, encontrei um ambiente hostil. Deram-me um horário irracional. Em um dia, tinha de trabalhar doze horas ininterruptas. Quase todos os dias recebia ofícios de advertência, sem que nada tivesse feito de errado. (...) Elegi-me para a comissão de prevenção de acidentes e passei a ser ainda mais humilhada. Deram-me atividades de orientação de estagiários, com a justificativa de que eu não tinha qualificação para dar aulas. Numa reunião, o coordenador agrediu-me aos berros na frente de colegas e funcionários. Cheguei a ser colocada numa salinha sem nada para fazer. Nesse processo estressante, adoeci e voltei a sofrer convulsões depois de 24 anos sem ter esse problema. Também perdi mais da metade da minha renda.
Desse relato, pode-se verificar a ocorrência da maioria das etapas acima
mencionadas. Primeiro o agressor escolheu e isolou a vítima. Depois, impediu-a de se
expressar, pois as advertências eram todas dadas por meio de ofícios e, quando ela
tentou compor um órgão que iria prevenir o assédio moral do qual estava sendo vítima
(a CIPA), foi ainda mais assediada. Esse processo implicou uma gradativa
inferiorizarão e fragilização da vítima. O agressor a culpava exageradamente por erros
cometidos desestabilizou-a, colocou-a em uma sala sem nada para fazer, fazendo com
que, gradativamente, perdesse o interesse pelo trabalho. Diante desse estresse, a vítima
não viu alternativa senão pedir demissão.
2.2 – PASSIVO - A VÍTIMA
O sujeito passivo do assédio moral é a vítima, aquela pessoa que sofre o
abuso psicológico. O agressor não elege aleatoriamente a vítima dentre os empregados
da empresa onde trabalha: ele a escolhe entre as pessoas que adoecem mais facilmente
em consequência do trabalho, aquelas são consideradas velhas para ocupar certos
cargos ou dentre as que têm salários altos, comparados à media dos outros
trabalhadores.
A vítima no ambiente de trabalho, não se revela um empregado desidioso,
relapso ou negligente. Ao contrario, normalmente ela é uma pessoa responsável, que
desempenha suas tarefas de uma forma bastante a contento, nos prazos estabelecidos.
Essa pessoa se tornou vítima, não em decorrência de seu desempenho profissional, mas
principalmente porque é bem-educada, ingênua, insegura e, em razão disso, não
consegue defender-se das agressões.
21
Nesse sentido, ela se torna vítima por vários motivos. Porque sua situação
de trabalho incomoda demasiadamente o agressor e, porquanto é pessoa
psicologicamente frágil e, em razão disso, encontra muita dificuldade em revidar as
agressões.
Estudos e dados estáticos demonstram que as mulheres são as mais
assediadas que os homens, Por questões culturais, elas desabafam mais facilmente com
amigos ou colegas, enquanto os homens, constrangidos, guardam consigo a agressão
sofrida. Eles geralmente mantêm silêncio, envergonham-se e sentem-se fracassados,
muitas vezes se refugiam no álcool ou em outras drogas.
Outro motivo porque se detecta uma maior numero de vitimas mulheres
conforme Barreto22 é o fato de que essa modalidade de violência é precedida, em 12%
dos casos, por uma abordagem sexual frustrada.
As manobras do assediador reduzem a autoestima da vítima, confundem-na
e levam-na a desacreditar de si própria e a se culpar, sem propósito. A vítima reduz sua
produção, a qualidade de seu trabalho e o seu psicológico ficam altamente
comprometidos.
Nesse sentido, cumpre transcrever o depoimento dado ao jornalista Edward (2005, p. 108):
A empresa em que eu trabalhava foi privatizada e passei a ser pressionada a aderir a um plano de demissão voluntaria. Como resisti, fui passada de funções executivas para o preenchimento de formulários. Eu e outros colegas fomos abandonados num prédio antigo. Sem cadeiras, sentávamos em latões de lixo. No prédio novo, fomos expostos numa sala de vidro. Eu era chamada de javali – porque não valia mais nada. Até hoje tenho problemas físicos e psicológicos decorrentes daquela época.
Com à medida que o assédio se agrava, a vítima se vê obrigada a afastar-se
do emprego temporariamente em razão do estresse psíquico gerado ou em decorrência
de sintomas psicossomáticos. Como isso, passa a sofrer de depressão e, conforme o
caso, até pensa em suicídio. Esses constantes afastamentos tornam-se pretextos para o
22 Upud Edward (2005, p. 108), em tese de doutorado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
22
agressor agravar o assédio, pois a vítima passa a ser vista como o empregado desidioso
que falta muito ao emprego.
Dessa forma, verifica-se que o assédio moral vira uma “bola de neve”, ou
seja, o assediado em razão do estresse causado pela violência psicológica começa a se
ausentar do emprego faltoso. A tendência é que esse círculo vicioso se agrave cada vez
mais e só se rompa quando a vítima adoecer definitivamente e se aposentar por
invalidez, pedir demissão, forem mandadas embora ou ainda, transferidas.
Não existe um perfil comportamental característico definido acerca da vítima.
Pode-se concluir, por conseguinte, que não há um perfil fixo para as vítimas
de assédio moral, mas apenas uma serie de características pessoais nas quais podem ser
inseridas.
2.3 OS ESPECTADORES
São as testemunhas do assédio moral todas aquelas pessoas que, de
algum modo, o vivenciam, participando dele direta ou indiretamente. Podem ser os
superiores hierárquicos, colegas de trabalho, encarregados do departamento de
pessoal ou qualquer outra pessoa, desde que participe diretamente do ato ou observe
a ocorrência do assédio moral no ambiente de trabalho.
Os espectadores inconformistas são aquele que não se conformam com
os atos de violência praticados pelo agressor.
Eles procuram o chefe, o departamento de pessoal ou os colegas de
trabalho para mobilizá-los a fim de impedir que o agressor permaneça agredindo a
vítima. Muitas vezes essas pessoas também sofrem algum tipo de agressão, pois se
tornam um obstáculo para que o agressor alcance seus objetivos.
Os espectadores conformistas são todos aqueles não envolvidos
diretamente no evento, mas que têm sua quota de responsabilidade na medida em
que nada fazem para impedir a violência ou muitas vezes atuam ativamente,
favorecendo a ação do agressor.
23
Os espectadores conformistas passivos são aqueles que se conforma
com as agressões e nada fazem para minimizá-las. Tudo se passa à sua frente e eles
fingem que não veem que não está acontecendo nada. Eles nunca sabem de nada,
não ajudam a vítima nem o agressor: eles simplesmente deixam tudo acontecer. Sua
responsabilidade é enorme, pois contribuem para a continuidade da violência contra
essa vítima e para o aparecimento de novos casos contra outras pessoas.
Os espectadores conformistas ativos são aquele que, indiretamente,
auxiliam a ação perversa do agressor.
É o coautor ou participe da conduta agressiva. São aquelas pessoas, por
exemplo, com conhecimentos de informática que se infiltram no computador da
vítima para que o agressor modifique alguns arquivos ou obtenha informações para
assediá-la.
Não são adversários diretos da vítima, apenas atuam indiretamente a
fim de favorecer a conduta do agressor.
2.4 — ASSÉDIO MORAL X ASSÉDIO SEXUAL
É interessante traçarmos aqui um pequeno paralelo: enquanto o
assédio sexual se caracteriza pela coação a algum ato ou prática de conotação
sexual, efetuado por superior hierárquico sob pena de perda do emprego ou de
não efetivação de promoção (ou ainda, de outros argumentos relativos ao
sucesso, ou não, da carreira profissional do assediado), o assédio moral pode se
dar mesmo sem que alguma sanção seja cominada.
Naquele caso, o assediado poderia perder o emprego ou deixar de ser
promovido. Neste, ele pode, apenas (não que isso não seja grave, por si só), ser
humilhado durante anos a fio, sem que tenha perdido o emprego ou sido
prejudicado em eventuais promoções, ou seja, no assédio sexual há o elemento
da promessa de uma vantagem (lícita ou não) ou a ameaça de algum prejuízo
para compelir alguém a alguma conduta de conotação sexual.
24
Nesse sentido, citamos a didática ementa a seguir, do Tribunal do
Trabalho do Paraná:
TRT-PR-15-7-2008 ASSÉDIO SEXUAL – LEI 10.224/2001 – ARTIGOS 1º, III E 5º, X DA CF – Para a caracterização do assédio sexual afigura-se imperiosa a ocorrência dos elementos voltados à tentativa de obter favores sexuais da vítima, por superior hierárquico. Previsto como crime, por força da Lei nº 10.224/2001, que acrescentou o art.216-A ao Código Penal Brasileiro, configura ato extremamente danoso, porquanto, alem de causar constrangimento à vítima, atinge a honra e fere o principio constitucional da dignidade da pessoa humana (CF, arts. 1º, III e 5º, X), tornando hostil o ambiente de trabalho. TRT-PR-06592-2005-012-09-00-7-ACO-25126-2008-2ª TURMA. Relatora: ROSEMARIE DIEDRICHS PIMPÃO. Publicado no DJPR em 15.7.2008.
Já no assédio moral não há outra motivação que não o rebaixamento
moral ou psicológico do ofendido, visando à sua diminuição como trabalhador e,
mesmo, como pessoa.
Outro detalhe já visto aqui é que, no assédio sexual, o agente ativo
deve, obrigatoriamente, ser um superior hierárquico do agente passivo (ou
vítima). É necessária a chamada “verticalidade” na hierarquia entre
ofensor/ofendido. Até mesmo, porque há a questão da ascensão ou não na
carreira profissional que estaria (ou poderia estar) em jogo.
No caso do assédio moral, o agente causador pode ocupar posto de
mesma ou semelhante hierarquia dentro da empresa, não precisando,
necessariamente, ser seu chefe ou superior. Aqui, o interesse maior como vimos,
é a própria humilhação imposta ao empregado assediado. Não há um objetivo,
em regra, além dele.
Como veremos adiante, alguns Tribunais entendem que o assédio
moral pode se dar, inclusive, por grupo de empregados contra seu superior
hierárquico, embora na prática, isso seja raro. Até mesmo porque, por ser
superior dos assediantes, dificilmente essa pessoa se submeterá ou aceitará
alguma ofensa/humilhação prolongada ou repetida sem tomar as medidas
cabíveis dentro da empresa.
25
Voltando ao assédio de natureza sexual, não queremos dizer que um
empregado, ou empregada, não possa ser assediado por alguém de mesmo nível
hierárquico (assédio horizontal), mas este não é o tipo de assédio sexual aqui
rapidamente abordado, ou seja, aquele no qual a empresa terá o dever de repará-
lo. No caso agora mencionado, não seria competente a Justiça do Trabalho para a
análise da questão, porquanto não se trataria, em rigor, de assédio sexual. Como
vimos, para a caracterização do assédio sexual é necessário que o assediador seja
hierarquicamente superior ao assediado. Até mesmo porque ele usa esse fato a
seu favor, para poder coagir sua vítima com ameaças de demissão, etc.
O próprio Código Penal Brasileiro esclarece bem essa questão ao
especificar no art. 216-A que: ”Constranger alguém com o intuito de obter vantagem
ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico
ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função”
Portanto, se o assediador ocupar posto de mesma hierarquia dentro da
empresa, haverá, sim, a ocorrência de um crime, mas o mesmo não se
caracterizará como assédio sexual.
Tal ilícito penal poderá ser caracterizado, por exemplo, como
constrangimento ilegal ou ameaça.
26
CAPÍTULO III
O ASSÉDIO MORAL E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
3.1 — FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS
A partir da esquematização do texto constitucional, pode-se notar que o
constituinte de 1988, valorizou o ser humano, na medida em que põe os Direitos e
Garantias Fundamentais antes da Organização do Estado. Percebe-se claramente “o seu
desejo de mudar o eixo de prioridade: do Estado para o homem”.23
Pode-se afirmar que o “assédio moral desvaloriza o trabalho, retira dele toda
a sua dignidade”24, em visível afronta ao ordenamento jurídico vigente, tanto interno
como externo.
3.2 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
Inicialmente, ressaltamos que grande parte deste capítulo foi baseado nos
ensinamentos do profº Ingo Wolfgang Sartet.25
Diz o ilustre professor:
[...] a idéia de valor intrínseco da pessoa humana deita raízes já no pensamento clássico e no ideário cristão [...], tanto no Antigo quanto no Novo Testamento podemos encontrar referências no sentido de que o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus, premissa da qual o cristianismo extraiu a conseqüência [...] de que o ser humano – e não apenas os cristãos – é dotado de um valor próprio e que lhe é intrínseco, não podendo ser transformado em mero objeto ou instrumento.
Não encontraremos na Bíblia um conceito de dignidade, mas uma
concepção do ser humano que até hoje tem servido como pressuposto espiritual para o
23 LIMA, Francisco Meton Marques de. Elementos de direito do trabalho e processo trabalhista. 10. ed. São Paulo: LTr, 2004. p. 39. 24 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. 1. ed. Campinas: Russell Editores, 2004. p. 88.
27
reconhecimento e construção de um conceito e de uma garantia jurídico constitucional
da dignidade da pessoa humana.
Uma conceituação clara do que seja dignidade, se revela no mínimo difícil,
inclusive para efeitos de definição do seu âmbito de proteção como norma jurídica
fundamental.26
Contudo, é no pensamento de Kant que a doutrina jurídica mais e
expressiva, nacional e estrangeira, ainda hoje parece estar identificando as bases de
uma fundamentação e, de certa forma, de uma conceituação da dignidade da pessoa
humana.
Ao ordenamento jurídico, não cumpre determinar conteúdo, características,
ou avaliar a dignidade humana. O direito enuncia o princípio, cristalizado na
consciência coletiva de determinada comunidade, dispondo sobre sua tutela, através de
direitos, liberdades e garantias que assegurem a dignidade humana.27
O respeito à dignidade da pessoa humana, tornou-se um comando jurídico
em particular, após o término da Segunda Guerra, em reação às atrocidade do
nazifacismo. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pelas Nações
Unidas em 1948, enunciava em seu artigo 1º que “Todas as pessoas nascem livres e
iguais em dignidade e direitos”; a Constituição Italiana de 1947, também já havia
proclamado entre os direitos fundamentais que “todos os cidadãos têm a mesma
dignidade e são iguais perante a lei”.28
Anteriores a Declaração Universal da ONU, o profº Ingo Sarlet, cita a
Constituição Weimar de 1919, a Constituição Portuguesa de 1933 e a Constituição da
25 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. p. 29. 26 STARCK, Christian. (Coord), Das Bonner Grundgesetz, vol. I, 4ª ed. München: Verlag Franz Vahlen, 1999. In: Ingo Sarlet. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. 27 SAVATER, Fernando. Ética como amor-próprio. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 2000. p. 165, In: Moraes, Maria Cecília Bodin de. O conceito da dignidade humana: substrato axiológico e conteúdo normativo. Constituição, Direitos Fundamentais e Direitos Privado / Aldacy Rachid Coutinho ... (et al); org. Ingo Wolfgang Sarlet. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2003. p. 114 28 MORAES, Maria Cecília Bodin de. O conceito da dignidade humana: substrato axiológico e conteúdo normativo. Constituição, Direitos Fundamentais e Direitos Privado / Aldacy Rachid Coutinho ... (et al); org. Ingo Wolfgang Sarlet. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2003. p. 114 e 115.
28
Irlanda de 1937, as quais já previam em seus textos o princípio da dignidade da pessoa
humana.29
Na Itália, a Lei Fundamental de Bonn, de maio de 1949, costuma ser
apontada como o primeiro documento legislativo a consagrar o princípio em termos
mais incisivos: “art. 1,1 – A dignidade do homem é intangível. Respeitá-la e protegê-la
é obrigação de todos os poderes estatais.” 30
A Constituição portuguesa de 1976 e a Constituição espanhola de 1978,
assim como a Carta dos Direitos Fundamentais da União Européia, assinada em Nice
em dezembro de 2000 prevê em seu primeiro artigo que “A dignidade do ser humano é
inviolável. Deve ser respeitada e protegida”; tendo inclusive a Carta o Capítulo I
dedicado à dignidade.
No Brasil, o constituinte de 1988, explicitou no artigo 1º, inciso III a
dignidade da pessoa humana, elevando-a, pela primeira vez à condição de princípio
fundamental.31
Conforme José Antonio Peres Gediel, a Constituição Federal de 1988,
estruturou a ordem jurídica do Brasil a partir da dignidade da pessoa humana e dos
direitos fundamentais, permitindo o rompimento da separação das disciplinas
jurídicas.32
Para o profº Ingo Sarlet:
[...] a qualificação da dignidade da pessoa humana como princípio fundamental traduz a certeza de que o artigo 1º, inciso III, de nossa Lei Fundamental não contém apenas (embora também e acima de tudo) uma declaração de conteúdo ético e moral, mas que constitui norma jurídicopositiva dotada, em sua plenitude, de status constitucional formal
29 SARLET, Ingo W. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição de Federal de 1988. . Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2003. p. 63 (nota 86 30 MORAES, Maria Cecília Bodin de. O conceito da dignidade humana: substrato axiológico e conteúdo normativo. Constituição, Direitos Fundamentais e Direitos Privado / Aldacy Rachid Coutinho ... (et al); org. Ingo Wolfgang Sarlet. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2003. p. 115. 31 SARLET, Ingo W. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição de Federal de 1988. . Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2003. p. 68 32 GEDIEL, José Antonio Peres. Constituição, Direitos Fundamentais e Direitos Privado / Aldacy Rachid Coutinho ... (et. Al); org. Ingo Wolfgang Sarlet. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2003. p. 153
29
e material e, como tal, inequivocamente, carregado de eficácia, alcançando, portanto – tal como sinalou Benda33 – a condição de valor jurídico fundamental da comunidade. Importa considerar, neste contexto, que, na sua qualidade de princípio fundamental, a dignidade da pessoa humana constitui valor guia não apenas dos direitos fundamentais ma de toda a ordem jurídica (constitucional e infraconstitucional), razão pela qual, para muitos, se justifica plenamente a sua caracterização como princípio constitucional de maior hierarquia axiológica-valorativa.
Para Hádassa Ferreira, “a dignidade da pessoa do trabalhador passa a constituir
uma das finalidades da ordem econômica, devendo ser princípio informador da própria
organização do trabalho”.34
3.3 -DO DIREITO A INDENIZAÇÃO PELO ASSÉDIO MORAL
Embora não haja previsão legal expressa no Direito pátrio para as formas de
reparar um mal que é acometido à vítima de assédio moral, é imperioso que seja
enquadrado o tema na Magna Carta, onde existe a clara violação do artigo 5º, que trata
dos Direitos e Garantias Fundamentais, no Código Civil, que é utilizado
subsidiariamente em relação à Consolidação das Leis Trabalhistas, e por fim, socorrer-
se a esta propriamente dita, como foi exposto acima.
Ocorre, porém, que a vítima detém pouquíssimas opções para combater esse
fenômeno destruidor. Uma vez que, em determinadas situações específicas, conforme
exposto, a vítima pode se socorrer para cessar o processo destrutivo que está sendo
acometida, através de uma ação trabalhista, pleiteando o reconhecimento da justa causa
do empregador.
Porém, quando não for possível à vítima, pleitear referida ação, cabe a ela
apenas obter como resposta ao ilícito que foi submetida, a conversão em indenização
por danos morais, toda vez que se suceder um dano.
33 BENDA, Ernet, Menschenwürde und Persönlichkeitsrecht, in: E. Benda- W.Maihofer-H.J.Vogel (org). Handbuch des Verfassungsrechts der Bundesrepublik Deutschland, 2ª ed. Berlin-New York: Walter de Gruyter. 1994. vol. I, p. 164. In: Ingo Sarlet, Dignida da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. 34 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. 1. ed. Campinas: Russell Editores, 2004. p. 93
30
No terror psicológico são precisamente os direitos essenciais da pessoa,
aqueles que compõem a medula da personalidade e que resultam da entrada do ser
humano no mundo jurídico, que são atacados. O dano sofrido pela vítima é ao pessoal,
porquanto são atacados tanto os atributos psíquicos que se compõem dos direitos à
liberdade, à intimidade, à integridade psíquica e ao segredo, quanto os direitos morais
propriamente ditos, formados pelos direitos à identidade, à honra, ao respeito, à
dignidade, ao decoro pessoal e às criações intelectuais.
Não obstante seguirmos falando em dano moral é fundamental introjetar na
consciência que a denominação que melhor corresponde ao dano efetivamente sofrido é
dano pessoal.
Dessa forma, por não haver um tratamento específico para a relação de
trabalho, é essencial socorrer à Constituição Federal, uma vez que essa relação pauta-se
na igualdade e respeito mútuo, entre empregado e empregador, e quando há um
flagrante desrespeito aos Direitos e Garantias Fundamentais do ser humano,
especificamente, a dignidade humana, à honra, à imagem e a autoestima, o artigo 5º
prevê expressamente possibilidade de indenização do dano moral.
Assim, as possibilidades de indenização do dano moral estão presente no
art. 5º, inciso V e X, que prevê verbis:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, e à propriedade, nos termos seguintes:
(...) V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;
(...) X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
Bem como, para estabelecer a indenização do dano moral acometido pelo
subordinado, vítima do assédio moral, tem que ser observado a responsabilidade do
dano causado, socorrendo-se dessa forma a fonte subsidiária que é o Código Civil,
visto que a Consolidação das Leis Trabalhistas não trata diretamente do tema.
31
O artigo 186, bem como o artigo 187, ambos do Código Civil trata da
responsabilidade civil por quem cause dano a outrem, o que se verifica no caso do
assédio moral. Assim, esses dispositivos do Código Civil preceituam, in verbis:
Art. 186: Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 187:Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Assim, esses artigos visam coibir o abuso de direito, que na relação de
trabalho muito se verifica no excesso do poder diretivo por parte do superior
hierárquico, bem como nas condutas exteriorizadas pelo assédio moral.
Porém, essa indenização não é sem qualquer fundamento, e sim uma
resposta justa ao sofrimento ocasionado na vida da vítima, que claramente acaba
refletindo em sua vida particular.
Mas, essa reparação, muitas vezes, não se encontra apenas no campo do
dano moral, que independe de comprovação de prejuízo de ordem material. Pessoas
acometidas pela prática reiterada das ações perversas no ambiente de trabalho, que vão
definhando a autoestima, a honra, altivez do subordinado, são submetidas a vários
tratamentos terapêuticos, que pode iniciar em consultas em psicólogos, chegando até
tratamento psiquiátrico por tentativa de suicídio.
Assim, o assediado acaba tendo um altíssimo custo para efetuar o
pagamento dos remédios, do tratamento, e demais gastos decorridos desse terror
psicológico, que foi submetido, sendo, portanto, de direito pleitear, além dos danos
morais, os danos materiais decorrido dessa prática devastadora, sendo possível essa
cumulação, segundo a súmula nº37 do Superior Tribunal de Justiça, in verbis: “São
cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.”
32
3.4 — DA PRESCRIÇÃO DO ASSÉDIO MORAL
Quanto ao prazo prescricional para pleitear a indenização decorrente do
assédio moral, há divergência doutrinária, quanto ao prazo a ser estabelecido.
Com relação a uma primeira corrente doutrinária, estes defendem que o
prazo a ser observado é o regulamentado no Código Civil, em seu artigo 205, uma vez
que a prescrição trata-se de instituto de Direito Civil. Dessa forma, para esta corrente, o
prazo previsto para pleitear tal indenização é de dez anos, já que não há qualquer
disposição legal fixando prazo menor.
Assim, conforme Hádassa Dolores Bonilha Ferreira, cita Daniel Itokazu,
este afirma o seguinte:
Como a ação de reparação do dano tem caráter pessoal e possui índole eminentemente civilista, o prazo prescricional previsto é de 10 anos, até porque não há qualquer disposição legal expressa estabelecendo prazo inferior a este, pertinente a matéria. Não se pode esquecer também do princípio fundamental do direito obreiro, qual seja, o da norma mais favorável, intestinalmente ligado ao caráter protecionista do direito laboral.
Porém, uma segunda corrente, que é majoritária, defende que o prazo
prescricional da indenização por dano moral, decorrido do assédio moral é o adotado
na prescrição trabalhista, vez que tal indenização é originada de uma relação de
trabalho, sendo, portanto, referente a crédito trabalhista.
Assim sendo, a prescrição adotada para reclamar judicialmente direitos
trabalhistas, ou seja, os créditos trabalhistas estão prevista no artigo 7º, da Constituição
Federal, que prevê, in verbis: “XXIX – ação, quanto aos créditos resultantes das
relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores
urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho”.
33
3.5 — COMPETÊNCIA
Haja vista, que um dos meios de defesa que detém a vítima de assédio
moral, para ressarcir seus prejuízos causados pelo superior hierárquico, é a indenização
por dano moral, esta é claramente decorrente da relação de trabalho.
Assim, a violência moral no trabalho tem seu nascedouro e seu
desenvolvimento dentro da relação de trabalho, onde há uma flagrante degradação das
condições de direitos que fazem jus os trabalhadores.
Dessa forma, a competência para ajuizar a ação de indenização por dano
moral, ou mesmo, material, é sem qualquer dúvida, a justiça especializada do trabalho,
uma vez que, o assédio moral decorre de um ato ilícito que advém de uma relação de
trabalho, sendo assim, a Justiça do Trabalho a competente para analisar e julgar os
casos provenientes de terror psicológicos praticados pelo superior hierárquico em
relação ao subordinado-vítima.
Nos termos do artigo 114 da Constituição Federal, a Justiça do Trabalho é
"(...) competente para julgar e processar as ações indenizatórias por dano moral ou
patrimonial, decorrentes da relação de trabalho".
Portanto, sendo a indenização por dano moral proveniente do processo
destruidor do fenômeno do assédio moral, onde este brota no bojo da relação de
trabalho, a competência para apreciar o dano moral trabalhista é da Justiça do Trabalho.
A natureza trabalhista da ação atrai tanto a competência como o prazo prescricional
para pleitear os créditos trabalhistas advindos do assédio moral, como já foi exposta
acima.
3.5 - A POSIÇÃO JURISPRUDENCIAL BRASILEIRA
Importante analisarmos neste trabalho a efetividade da justiça no que
concerne o assédio moral, e em que termos têm se decididos os juízes de nossos
tribunais brasileiros. Aos poucos a jurisprudência vai relevando a importância de se
34
identificar os sujeitos, características intrínsecas e extrínsecas, a tipificação e as provas
do assédio. Conjunto a isso, o magistrado deve valer-se de sua experiência e
conhecimento humano para verificar a existência ou não do dano.
ASSÉDIO MORAL E A RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR. 1. O dano moral está presente quando se tem a ofensa ao patrimônio ideal do trabalhador, tais como: a honra, a liberdade, a imagem, o nome etc. Não há dúvidas de que o dano moral deve ser ressarcido (art. 5º, V e X, CF). O que justifica o dano moral, nos moldes da exordial, é o assédio moral. 2. O assédio moral é a exposição do trabalhador a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções. 3. O empregador, pela culpa na escolha e na fiscalização, torna-se responsável pelos atos de seus prepostos (Súmula n. 341, STF). A responsabilidade é objetiva do empregador. Contudo, torna-se necessária a prova do preposto, logo, temos o fator da responsabilidade subjetiva, pela modalidade extracontratual (art. 159, Código Civil de 1916, atual 186, Código Civil de 2002). Os requisitos da responsabilidade civil subjetiva são: a) ato comissivo ou omissivo; b) dano moral; c) nexo causal; d) culpa em sentido amplo (dolo) ou restrito (negligência, imprudência ou imperícia). 4. O exame global das provas indica que não há elementos seguros para justificar a ofensa moral ou as agressões da Sra. Marta não só em relação ao autor, como também em relação aos demais funcionários. A prova há de ser cabal e robusta para o reconhecimento do dano moral. Não há elementos para se indicar a presença do assédio moral. Se não há o elemento do ato, deixa de se justificar a existência do próprio assédio. E, por fim, o dano moral é questionável, notadamente, quando o próprio autor disse que nunca procurou orientação psicológica ou reclamações perante o Ministério do Trabalho ou a Delegacia Regional do Trabalho. Diante da inexistência dos requisitos da responsabilidade civil, descabe a indenização por dano moral. (Acórdão nº2003006617404ª Turma,relator Francisco Ferreira Jorge Neto, e revisor Salvador Franco de Lima Laurino, julgando em 22 de julho de 2003).
O importante neste acórdão que o relator não levou somente em conta o
dano sofrido e sim a condição sócio econômica do empregado. Ainda é verificado que
o assédio começou pelo o empregador e fez com que outros colegas de trabalho
também assediassem o a vítima.
Vejamos um ementa abaixo que não foi procedente a alegação do
empregado por não conseguir provar o assédio moral.
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INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL ASSÉDIO. Não configurado o assédio moral, incabível indenização sem qualquer causa. (1420007220095040001 RS 0142000-72.2009.5.04.0001, Relator:VANIA MATTOS, data de Julgamento: 25/08/2011, 1ª Vara do Trabalho de Porto Alegre)
ASSÉDIO MORAL. CONFIGURAÇÃO. O que é assédiono trabalho? É a exposição dos trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias, onde predominam condutas negativas, relações desumanas e anti-éticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigidas a um subordinado, desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a Organização. A organização e condições de trabalho, assim como as relações entre os trabalhadores, condicionam em grande parte a qualidade de vida. O que acontece dentro das empresas é fundamental para a democracia e os direitos humanos. Portanto, lutar contra o assédio moral no trabalho é contribuir com o exercício concreto e pessoal de todas as liberdades fundamentais. Uma forte estratégia do agressor na prática do assédio moral é escolher a vítima e isolá-la do grupo. Neste caso concreto, foi exatamente o que ocorreu com o autor, sendo confinado em uma sala, sem ser-lhe atribuída qualquer tarefa, por longo período, existindo grande repercussão em sua saúde, tendo em vista os danos psíquicos por que passou. Os elementos contidos nos autos conduzem, inexoravelmente, à conclusão de que se encontra caracterizado o fenômeno denominado assédio moral. Apelo desprovido, neste particular. VALOR DA INDENIZAÇÃO. CRITÉRIO PARA A SUA FIXAÇÃO. A fixação analógica, como parâmetro para a quantificação da compensação pelo dano moral, do critério original de indenização pela despedida imotivada, contido no artigo 478 Consolidado, é o mais aconselhável e adotado pelos Pretórios Trabalhistas. Ressalte-se que a analogia está expressamente prevista no texto consolidado como forma de integração do ordenamento jurídico, conforme se infere da redação do seu artigo 8º. Ademais, no silêncio de uma regra específica para a fixação do valor da indenização, nada mais salutar do que utilizar um critério previsto na própria legislação laboral. Assim, tendo em vista a gravidade dos fatos relatados nestes autos, mantém-se a respeitável sentença, também neste aspecto, fixando-se que a indenização será de um salário - o maior recebido pelo obreiro -, por ano trabalhado, em dobro. (947001220095040811 RS 0094700-12.2009.5.04.0811, Relator: JOÃO BATISTA DE MATOS DANDA, Data de Julgamento: 02/06/2011, 1ª Vara do Trabalho de Bagé
O assédio moral no ambiente do trabalho estar espalhado em toda a sociedade, os
é necessário que os magistrados entendam a melhor maneira tentar entender de melhor o
tema, para que no futuro não exista sobre a verdadeira identificação dos sujeitos e
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agressores. Onde deverá ter um estudo completo, pelo meio de perícias técnicas sendo
realizadas por profissionais adequados.
E deverão verificar-se as maneiras de reparação e prevenção no ambiente de
trabalho.
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CONCLUSÃO
A valorização do trabalho humano, e a dignidade da pessoa humana, como
princípios constitucionais, veem-se ameaçados, ante o contexto mundial atual, onde a
globalização da economia e as novas técnicas de produção denotam uma clara
desvalorização do trabalho humano, cerne do assédio moral.
A flexibilização da economia traça o perfil multifuncional do “novo”
trabalhador. A redução dos postos de trabalho e o medo desemprego leva a submissão a
condições degradantes e aviltantes, até o limite da suportabilidade humana.
Adoecidos física ou mentalmente, ou apenas contrários à política de gestão
da empresa, são humilhados e constrangidos, de forma desleal pelo empregador até se
demitirem.
Nesta seara, o estudo foi elaborado visando dirimir algumas dúvidas que
cercam o tema assédio moral nas relações de trabalho, observando a evolução do
trabalho humano tanto no mundo como no Brasil, enfocando aspectos, históricos,
psicológicos e legais que envolvem o tema. No decorrer de seu desenvolvimento,
buscou-se conceituar e caracterizar a figura do assédio moral dentro da sociedade e
legislação brasileira, bem como, estabelecer diferenças entre o que não se constitui
assédio moral, a fim diferenciá-lo de outras condutas.
Pode-se afirmar que o assédio moral não é um fenômeno novo, que é
mundial e não se restringe ao ambiente do trabalho. A crescente discussão sobre o
assunto, fez com que se buscasse na psicologia a conceituação do assédio moral, eis
que as consequências geradas não se restringem à vida do trabalhador vítima do assédio
moral, estendendo-se à própria sociedade, sobrecarregando o sistema previdenciário
com o custeio de licenças médicas prolongadas.
Os conceitos trazidos pela área da psicologia têm auxiliado na construção
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doutrinária e jurisprudencial, assim como, na edição de projetos de lei que coíbam a
prática do assédio moral nas empresas, a exemplo de algumas leis já editadas no âmbito
da a administração publica.
O projeto de lei, que tramita no Congresso Nacional, de alteração do Código
Penal, tipificando o assédio moral nas relações de trabalho, demonstra a relevância do
fenômeno, muito embora a proposta legislativa seja somente para atacar os efeitos,
esquecendo-se das causas.
O assédio moral, embora se trate de conduta ilícita, não encontra regulação
própria no Direito do Trabalho, Civil ou Penal, mas conforme constatamos, gera
consequência trabalhista, civil, e, inclusive penal, posto que a conduta do assediante
possa ofender bens jurídicos tutelados pelo ordenamento penal.
Contudo, nos parece necessário uma lei que vá além da punição do agente
assediador, mas, e, sobretudo responsabilize as empresas que lançam mão do assédio
moral como forma de administração.
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BIBLIOGRAFIA
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VADE MECUM acadêmico de direito – Anne Joyce Angher organização. 4. Ed. São Paulo: Rideel, 2011.
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ÍNDICE
RESUMO...................................................................................................................... 5
METODOLOGIA........................................................................................................ 6
SUMÁRIO.................................................................................................................... 7
INTRODUÇÃO........................................................................................................... 8
CAPÍTULO I - ASSÉDIO MORAL...................................................................... 11
1.1 BREVE HISTÓRICO........................................................................................ 13
1.2 DENOMINAÇÕES NO ESTRANGEIRO............................................................ 20
1.3 CONCEITO........................................................................................................ 15
1.4 ESTUDO SOBRE ASSÉDIO MORAL NAS ORGANIZAÇÕES NO
BRASIL.................................................................................................................... 16
CAPÍTULO II - SUJEITOS DO ASSÉDIO MORAL........................................ 17
2.1 AGRESSOR....................................................................................................... 17
2.2PASSIVO A VÍTIMA......................................................................................... 20
2.3 OS ESPECTADORES....................................................................................... 22
2.4ASSÉDIO MORAL X ASSEDIO SEXUAL...................................................... 23
CAPÍTULO III - O ASSÉDIO MORAL E A LEGISLAÇÃO
BRASILEIRA......................................................................................................... 26
3.1– FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS....................................................... 26
3.2 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA............................................................ 26
3.3 DO DIREITO A INDENIZAÇÃO PELO ASSÉDIO MORAL........................ 29
3.4 DA PRESCRIÇÃO DO ASSÉDIO MORAL.................................................... 32
3.5 COMPETÊNCIA............................................................................................... 33
3.6 A POSIÇÃO JURISPRUDENCIAL BRASILEIRA........................................ 33
CONCLUSÃO........................................................................................................ 37
BIBLIOGRAFIA.................................................................................................... 39