34
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE O USO DA INFORMÁTICA NO ENSINO DA MATEMÁTICA: DIFICULDADES E CUIDADOS AUTORA: FABIANA LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA ORIENTADOR: PROFº MARCO ANTÔNIO CHAVES Rio de Janeiro, RJ, julho/2001

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE

O USO DA INFORMÁTICA NO ENSINO DA MATEMÁTICA:

DIFICULDADES E CUIDADOS

AUTORA: FABIANA LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA

ORIENTADOR: PROFº MARCO ANTÔNIO CHAVES

Rio de Janeiro, RJ, julho/2001

Page 2: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE

O USO DA INFORMÁTICA NO ENSINO DA MATEMÁTICA: DIFICULDADES E CUIDADOS

AUTORA: FABIANA LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA

Trabalho Monográfico apresentado como requisito parcial para obtenção do Grau de Especialista em Docência em Ensino Fundamental e Médio.

Rio de Janeiro, RJ, julho/2001

Page 3: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

Agradeço ao Senhor desse projeto, que é o Pai do Céu, que com tanto amor nos envolveu neste período difícil, onde a dedicação árdua foi constante. Aos meus pais, pelo espelho de esforço que sempre me norteou e pela presença amiga. Ao meu esposo, que sempre me apoiou e compreendeu nas horas de ausência pela elaboração do projeto. Aos meus filhos, pelo carinho e pelo exemplo de pureza e autenticidade que me presenteiam todos os dias. Aos mestres, que me ajudaram a trilhar a busca constante do conhecimento, principalmente ao professor Marco Antônio Chaves. Aos professores, Veriano e Regina, que me apadrinharam com tanto bondade e apoio. Aos meus irmãos e avós, a quem tanto amo. A Monsenhor Gens, que foi e é um pilar em minha Educação.

Page 4: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

Dedico este trabalho de pesquisa ao meu avô Laiz Ronzani e minha Vozinha Melitina Lopes Quintanilha, pelo amor celeste que trocamos e por todos os agraciados momentos que pudemos viver juntos.

Page 5: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

“Entregai-vos demasiado ao que fazeis, como se cada coisa fosse vosso fim último e esperais sem cessar ter chegado a ele. Admirai-vos de ter caído; é preciso sempre contar com alguma queda! O futuro preocupa-vos como se devêsseis organizá-lo. Compreendo então vossa ansiedade; estais o tempo todo a pensar: Ó meu Deus, que vai sair de minhas mãos! Toda gente procura assim os sucessos, é a via comum; os que não os buscam são unicamente os pobres de espírito.” Santa Teresa de Lisieux

Page 6: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

Índice

Listas de Figuras

Resumo ................................................................................................................................... 01

Introdução ............................................................................................................................... 02

1. A História da Informática na Educação do Brasil ............................................................. 04

1.1. Projeto Educom ................................................................................................................ 11

1.2. Curso Formar ................................................................................................................... 12

2. O Desafio da Informática na Educação Hoje ................................................................... 13

3. O Uso da Informática no Ensino da Matemática .............................................................. 19

3.1. O Logo ............................................................................................................................. 24

3.2. As Planilhas Eletrônicas .................................................................................................. 29

Conclusão ............................................................................................................................... 32

Referências Bibliográficas ...................................................................................................... 34

Page 7: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

Resumo

Durante muito tempo a humanidade conviveu com a separação dos mundos do saber e do

fazer. Com o desenvolvimento do capitalismo, a educação deixa de ser vista como transmissão da

alta cultura e preparo dos “condutores” da sociedade, para incluir conhecimentos utilitários e de

aptidões técnicas especializadas, voltados para a produção. O computador é uma ferramenta que

fomenta o ensino, motiva e enriquece a didática. O uso deste instrumento, que estimula a interação

com o real, instiga o sujeito a desenvolver sua habilidade no pensar e no agir, podendo ser

trabalhado em meios de informações, que é uma das possibilidades mais recentes da Informática

Educativa. Neste contexto, a informática assume um papel de suma importância, notadamente

quando funciona como agente de propagação do conhecimento, ou seja, quando coloca-se a

informática a serviço da educação. Nesse projeto, será considerado o computador como meio

didático, na forma como ele oferece representação específica de um conhecimento, as suas

facilidades, o seu feedback e a possibilidade oferecida para acompanhar a construção de um

procedimento pelo aluno. A matemática é um segmento do conhecimento que prevê raciocínio

lógico e muita investigação. E nisso se fundamenta a proposta dessas idéias: à imensa semelhança

dela com o computador, e desta forma, com essa interação pode beneficiar o aluno, pois além das

soluções das questões, irão se buscar a compreensão aplicável desses conceitos. Assim sendo, a

criança poderá desmistificar o ensino da matemática tão intensamente questionado pelos alunos, na

sua aplicabilidade e função na vida real.

Page 8: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

Introdução

O maior objetivo dessa formulação de idéias e busca de respostas, é o questionamento da

integridade dos propósitos das atividades tecnológicas dentro da escola, e os diversos fatores

resultantes desse processo. O mundo cada vez mais nos absorve com inovações e experiências

inéditas, que precisam ser reconhecidas pela escola, que considerando o contexto que o aluno está

inserido, tenta se apropriar dessas mudanças e se envolver com elas.

Assim, é fundamental para o professor refletir sobre as linguagens utilizadas pelas

tecnologias que o cercam, a fim de que se trabalhe para que o acesso a estas conquistas seja

ampliado e ilimitado e, assim, conjuntamente com o aluno, descobrir, compreender, interagir e

contribuir para a evolução do mundo.

Dessa forma, se evidencia a necessidade de esforços de preparar toda uma geração para uma

retomada de consciência quanto à sistematização tecnológica do ensino. Nenhum dos propósitos

outrora valorizados na educação serão perdidos; ao contrário, o uso desses recursos servindo de

suporte para a construção dos cidadãos na sua totalidade estarão em evoga, porém, sem perder de

vista, as transformações de valores e posturas de uma sociedade.

O uso do computador na educação é muito remoto, mas com ênfases diferentes: logo no

início, com suas inúmeras limitações, usado como modo de armazenamento e transmissão ao

aprendiz; hoje, com perspectivas renovadas, ele é usado para enriquecer ambientes de aprendizagem

e auxiliar o aprendiz no processo de construção de conhecimento.

O tema a ser abordado tenderá a uma linha de pensamento diferente de um “computer

literacy”, onde se prioriza o ensino de noções computacionais. Mas sim, como um instrumento que

propicia condições de construção de conhecimento, auxiliando o processo de ensino-aprendizagem

Page 9: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

e nunca com fim em si mesma. Assim, o aluno usará o computador para obter informações

complementares ao conhecimento que já dispõe ou sistematizá-lo.

No decorrer da história, percebemos a grandiosidade do uso de um recurso e as

conseqüências para a humanidade, dependendo do foco de manuseio e direcionamento do mesmo.

A preocupação maior é questionar e tentar descobrir a maneira que devemos empregar

adequadamente a informática, sem que ela abale ou desvirtue o sentido pedagógico do ensino,

trazendo para si a “fragrância das atenções.”

A Educação é um segmento da vida, e por isso precisa estar em um contínuo processo de

reavaliação pois as mudanças são muitas e rápidas, mas nem sempre o ser humano está apto a

absorvê-las ou entendê-las; estar aberta a reconhecer seus erros e propor novos rumos, onde a mídia

é influenciante em massa e determinante de comportamentos e padrões. E para isso novas propostas

e métodos inovadores são cabíveis para essa busca de um novo rumo na educação.

Page 10: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

Capítulo 1 :

A História da Informática na Educação

Durante muito tempo a humanidade conviveu com a separação dos mundos do saber e do

fazer. Com o desenvolvimento do capitalismo, a educação deixa de ser vista com transmissão da

alta cultura e preparo dos “condutores” da sociedade, para incluir conhecimentos utilitários e de

aptidões técnicas especializadas, voltados para a produção.

É assim que surge a idéia de educação para o trabalho, que Candau defenderá dizendo,

“toda inovação educativa tem de perguntar-se sobre como situar sua

contribuição neste horizonte de uma educação comprometida com a

construção de um conhecimento e a formação de cidadãos

capazes de contribuírem para a transformação social e a

afirmação da democracia e da justiça social na sociedade

brasileira.”(pág.14)

Do ponto de vista da aprendizagem, é necessário “aprender a aprender”. A formação

polivalente propõe preparar profissões com senso de responsabilidade e de cooperação, o que

implica a adoção de trabalho em equipe e de dinâmicas de grupo com procedimentos favoráveis ao

desenvolvimento às capacidades sócio-comunitárias, necessárias aos processos interativos de ajuda

mútua, à reflexão coletiva e à autonomia de decisões.

O principal problema é propiciar aos alunos a garantia do exercício eficiente das suas

atividades no mercado de trabalho, simultaneamente à sua formação integral, que inclui

conhecimentos básicos para o desenvolvimento de competências específicas da função visada,

hábito, atitudes e valores éticos.

Nos PCN, fica bem definido o papel da escola nesse sentido, “é necessário, portanto, uma

cuidadosa reflexão por parte de todos que compõem a comunidade escolar, para que a tecnologia

possa de fato contribuir para a formação de indivíduos competentes, críticos, conscientes e

preparados para a realidade em que vivem.” (pág.157)

O professor deve dar conhecimentos gerais e especializados ao processo de educação

permanente, de modo a estimular o indivíduo a completar sua preparação básica ao longo da vida.

Desenvolver e assegurar a formação do indivíduo é indispensável para a cidadania e para a

Page 11: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

continuação dos estudos posteriores, além de garantir-lhes o conhecimento da sociedade em que

estão inseridos, valorizando tanto sua realidade quanto a etnia, recuperando sua identidade.

Assim, a informática surge como um avanço tecnológico, que mesmo não sendo o primeiro

desenvolvimento desfrutado pela humanidade, trouxe muitas marcas e veio para mudar muitos

conceitos que vinham fincados a longas datas. De certo que a informática no Brasil não foi pioneira;

ao contrário, recebeu diversas influências de outros países, tendo preferido mais o direcionamento

europeu, devido o enfoque dado e o centro dos questionamentos levantados.

Há de se dizer, na relevante preocupação que essa linha metodológica se fixa, visto que suas

ações são conduzidas à formação tecnológica no ambiente educacional ao invés da terceirização,

acreditando ser esta uma saída ambígua, onde a escola utiliza essas técnicas a altos custos, sem que

nada seja acrescentada à instituição como fonte de saber.

É a educação pensando em seus meios de propagação, como nos disse Joyce Munarski

Pernigotti,

“a transformação da educação que se propõe passa, obrigatoriamente, por

uma nova ótica de análise do cotidiano. O professor se desloca para da

posição de detentor e porta-voz de conhecimentos para a de um

investigador de sua própria prática e um produtor de conhecimento,

junto com o aluno.” (pág.33)

Embora a influência americana tenha sido grande, foi a francesa que gerou mais

fundamentos, pois sua formação de professores voltada para o uso pedagógico do computador era

mais sistemática, o que eqüivalia mais aos propósitos brasileiros. A França foi o primeiro país

ocidental que se programou, como nação, para enfrentar e vencer o desafio da Informática na

Educação e servir de modelo para o mundo.

A Informática na Educação do Brasil surgiu por intermédio de algumas experiências em

universidades, no início dos anos 70, reforçado por diversos outros eventos, como um Seminário na

Universidade de São Carlos (1971), ministrado por E. Huggins.

A informática, uma tecnologia que despontava em âmbito nacional, se empunha e

disseminava o conceito de poder e dominação pela posse de tais idéias. Foi o início do contato de

nossa sociedade com um instrumento do qual não tínhamos domínio nem experiências; tudo

Page 12: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

precisava ser elaborado, desde a parte técnica à pedagógica. Era necessário encaixar essa “novidade

no ensino” nas diversas transições em que a Educação no Brasil estava passando.

Partindo do ponto de vista que a educação é capaz de formar e preparar o homem, para

conviver com as particularidades da época em que se enquadra, surge desse segmento de

colocações, o lançamento apropriado para se inserir no emprego dessa ferramenta para a educação.

E esse é um dos questionamentos básicos de Jussara Hoffmann, onde ela indaga: “o sucesso

alcançado por alguns, representa, de fato, sua formação no sentido de um indivíduo capaz de

descobrir alternativas para enfrentar o mundo atual, descobrir-lhe os enigmas e enfrentá-los

corajosamente?” (pág.28)

A Educação precisa se contextualizar, tendo em vista o mundo globalizado em que o

indivíduo convive, sendo alvo da esmagadora política mundial e a ordem econômica vigente, que

por diversas vezes nos desnorteia ao invés de nos estruturarmos. Toda e qualquer mudança, seja ela

qual for, de comportamento interpessoal ou social, hábitos, inovações e até de posturas éticas,

interage e tem a força de revolucionar o ensino, pois ele se baseia em elementos que lhe são

apresentados de fora para dentro.

Desta forma, a educação tem “sofrido” uma infinidade de reviravoltas, que precisam ser

degustadas e digeridas, para que contribuam da forma a que se propõe e não destrua o embasamento

em que se firma. Com a informática não foi diferente, porém essa técnica a invadiu muito mais

rapidamente que os outros fatores, que também tiveram poder de persuasão.

Quem trouxe a informática para a educação no Brasil, teve o cuidado de procurar seus

próprios caminhos, apoiadas e protegidas por políticas que favoreciam a capacitação científica e

tecnológica e, assim, por conseqüência, diversos órgãos foram delimitados para atender a estes

propósitos.

Desta forma, surgiram o “Formar”- Curso de Especialização em Informática na Educação

(realizados em 1987 e 1989) e os CIEds – Centro de Informática em Educação (iniciados em 1987);

e com eles o Proninfe, o Formar III (Goiânia) e Formar IV (Aracaju), os CIET (Centros de

Informática Educativa nas Escolas Técnicas Federais, e muitos outros.

Page 13: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

Destacadamente foi criado o Proinfo (Programa Nacional de Informática na Educação), que

tinha como maior objetivo difundir a Informática Educativa e equacioná-la. A partir daí, tornou-se

possível afirmar que diversas instituições no país possuíam bases de conhecimento e diferenciação

do uso da informática.

Essa revolução na Educação se deu intensamente, acompanhando a produção brasileira na

área, que, em 1984, já se encontrava entre os países que mais se expandiram no mundo, e o Brasil

pretendia realmente ser representativo nesse setor. Por isso o uso da política protecionista já no

início, que, dentre os agravantes causados, pode-se destacar a falta de recurso humano capacitado

para o exercício na área. Isso explica suas características próprias, que embora hajam semelhanças

com tantas outras, apresenta uma postura específica determinante de suas idéias.

José Armando Valente, em um documento divulgado pelo Ministério da Educação dirá que

“o grande desafio era a mudança da abordagem educacional: transformar uma Educação centrada

no ensino, na transmissão da informação, para uma Educação em que o aluno pudesse realizar

atividades por intermédio do computador e, assim, aprender.”(pág.21)

É a Informática pensada como um facilitador e um novo instrumento de transformações

possíveis e necessárias para a melhoria do ensino. Ainda havia o processo de tentativa-erro-

descoberta que é básico para o discernimento do papel da mudança.

Bertilo F. Becker nos confirmará isso claramente, declarando que:

“ao longo da história natural observa-se que, em momentos de crise geológica ou

ambiental, parte de uma espécie se fixa nos comportamentos mais bem

sucedidos que lhes garantem a sobrevivência, e parte focaliza e incorpora

geneticamente a própria capacidade de adaptar-se e aprender. Esse último

ramo desvia-se e continua evoluindo.” É perceber o que servirá para a nossa

realidade e montarmos um modelo que nos é singular e reconhecido como

apropriado aos moldes de nossa estrutura educacional. (pág. 227)

Com isso, os paradigmas estabelecidos na educação tradicional tornam-se questionáveis e,

para nova postura de ensino, requer-se uma reestrutura de base, onde se altera desde a disposição

física da sala de aula ao papel desempenhado pelo professor. Embora isso não seja adotado como

pensamento único nacional, é fato consumado que a educação, principalmente em relação ao

direcionamento tecnológico, não é a de outrora.

Page 14: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

A educação é esse elemento cultural de mudanças na sociedade, que Fernando José Almeida

chama a atenção quando faz a seguinte colocação:

“a origem do pensamento e dos aparelhos computacionais está ligada

visceralmente ao desenvolvimento de um modo de produção voltada para o

rendimento industrial e bélico de modelo concentrador. De modo algum

pode-se imaginar que a origem do computador tenha vinculação com as

necessidades de camadas carentes ou com a solução de problemas de

distribuição de renda. No entanto, crer na impossibilidade de que esta

conquista tecnológica possa ir recebendo um sinal que lhe imprima sentido

oposto é crer numa história mecânica e fatalista.” (pág.27)

Sabendo-se da realidade dos mecanismos de conservação da estratificação econômica, cabe

aos manejos educacionais utilizar-se de recursos próprios e reverter seus resultados, transformando

sinônimos pré-concebidos e remodelando o linear de uma nova era, onde não se remete avaliações

pelo que se é, mas pelo que se constrói e resgata. Baseados no histórico desse recurso riquíssimo

que é a Informática, devemos tentar projetar o futuro e contextualizar a prática da Informática

educativa no país. Voltemos à trajetória evolutiva da Informática educativa.

Num primeiro momento, a Informática educativa, anteriormente caracterizada como

formação artesanal, teve que vencer os limitadores da época relativos à configuração de máquina,

altos custos e falta de softwares. Foi na máquina Apple que se encontrou mais suporte, devido sua

fácil compreensão e domínio. Com o aparecimento do Sistema Operacional Windows para PC, deu-

se um salto de desenvolvimento, já que aumentaram os recursos audiovisuais e de programação.

De um modo geral a informática tem sido revirada, a fim de que ela possa ser compreendida

na sua essência, e assim criar oportunidades de aprimoramento do professor, dominando a máquina

e seus recursos. Muito além e mais importante, seria gerar condições de seu uso, como auxílio do

processo de ensino-aprendizagem.

Page 15: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

1.1. Projeto Educom

Foi o primeiro esforço oficial no sentido de viabilizar o uso das máquinas (computadores)

nas escolas; isso em 1983, através da Portaria SEI/CSN/PR no 001/83. Surgiram 5 centros-piloto

para capacitação dos profissionais da área e disseminação dos conhecimentos adquiridos até então.

Quem coordenava as atividades dos centros-pilotos e observava o cumprimento dos

requisitos básicos era o CENIFOR (Centro de Informática do MEC).

Destacaremos os centros-pilotos e suas maiores contribuições:

♦ Educom da UFRJ : basicamente se dividia em 3 grandes áreas: tecnologia educacional,

tecnologia de softwares educacionais e estudo sobre as influências do uso computador.

Nos softwares, o maior objetivo foi o desenvolvimento dos coursewares.

Surgiu o primeiro curso que pode ser considerado Pós-graduação nessa área(1985).

♦ Educom da UFMG : a última universidade a aderir ao projeto, e se direcionou aos Programas

Educativos.

♦ Educom da UFPE : focalizou a Informática Educativa no desenvolvimento de atividades e

construção de linhas de pensamento para alunos de Ensino Médio, portadores de deficiência

auditiva e alunos de pré-escola.

♦ Educom da Unicamp : foi a precursora do estudo à respeito da Informática Educativa, se

centrando no emprego da linguagem LOGO, não atingindo o desenvolvimento de softwares, e

foi a responsável junto a outros pesquisadores pelo 1º FORMAR.

Porém esse projeto teve seus limites que se referiam ao número de pessoas que alcançava,

precisando ser encorpada com outros cursos e complementações.

1.2. Curso Formar

Foi uma tentativa de propagação da Informática Educativa para outras instituições, com o

propósito de se corrigir o uso inadequado do computador e aumentar os locais de observação e

pesquisa desse posicionamento educacional. Realizado por meio de cursos Lato Sensu, ministrados

por pesquisadores principalmente do Projeto Educom.

Page 16: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

O maior esclarecimento alcançado com este esforço, foi a necessidade que esses cursos

tinham para a área, sua importância para a época e para o novo segmento do saber que se erguia no

Brasil. Seu ponto negativo de destaque foi o transtorno causado na vida dos docentes, que

precisavam interromper suas atividades durante o período do curso, e em conseqüência disso e do

custo de manutenção desse profissional, o curso era muito sucinto.

Mesmo assim, seu conteúdo e metodologia foram reconhecidos como válidos e altamente

colaboradora para o crescimento da área, tomados por base para outros empreendimentos. Para

melhor concluir esse tópico, veremos um parte do documento do MEC (pág. 105) :

“ Portanto, os cursos de formação de professores capazes de integrar a

Informática e as atividades que desenvolvem em sala de aula exigem uma nova

abordagem, incorporando aspectos pedagógicos que contribuam para que o

professor seja capaz de construir, no seu local de trabalho, as condições necessárias

e propícias à mudança da atual prática pedagógica...De acordo com essa proposta,

o objetivo da formação não é só propiciar conhecimento sobre Informática e

sobre os aspectos pedagógicos, mas auxiliar o professor e a administração da

escola na construção do processo de implantação da Informática na

escola.”

Page 17: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

Capítulo 2:

O Desafio da Informática na Educação Hoje

A Escola é um espelho da evolução da sociedade, porque ela existe para o ser

humano que naturalmente é propenso à mudanças. Antes ela era a instituição que tinha como

principal justificativa, a transmissão de conceitos e informações quase que sozinha.

A Tecnologia Educacional no Brasil passou por muitas modificações, sendo empregada

dentro da escola como uma visão das inovações em que o mundo está vivenciando.Essa idéia é

fortalecida pela percepção de mudança notada na seguinte frase de Regina Célia Cazaux Haidt,

onde

“o movimento da Escola Nova, em oposição à escola tradicional, valorizou

(em determinada época) mais os métodos e as técnicas de ensino, em

detrimento do conteúdo a ser ensinado. Mas os conteúdos são

importantes à medida que constituem a tessitura básica sobre o qual o

aluno constrói e reestrutura o conhecimento”.(pág.126)

A Educação foi estruturada há muito tempo, sendo por isso acometida de vínculos viciosos

de procedimentos e padrões, que, fortalecidos pela tradição, constitui uma peça difícil de ser

transformada. Diante de todo recurso da mídia e frente a evolução do mundo, seu papel foi (ou está

tentando ser) reformulado, sendo visto muito mais como o tratamento de conceitos já adquiridos

pelo aluno e quem vem intrínseco nele, dando condições para que eles possam utilizar e usufruir da

posse do saber.

A incorporação do computador no ambiente educacional surge muito mais como

componente colocado pela globalização do mundo, do que como um incrementador da dinâmica

em sala de aula, onde todos os processos encontram-se sistematizados. Villa defenderá essa

proposição dizendo que : “a tecnologia tem eliminado progressivamente as barreiras físicas e

temporais, facilitando a troca e a migração de idéias, informações e negócios, fazendo emergir o

fenômeno da globalização econômica e cultural (pág. 133).

Porém a “educação” não pode aceitar pacificamente todas as influências como

determinantes, sem que antes as questionem e as identifiquem cuidadosamente, remodelando-as ou

não, conforme seus propósitos e necessidades. Ainda, a Informática Educativa é motivo de

discussões e polêmicas, sendo questionada em seu sentido social e educacional.

Page 18: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

Almeida, embora defenda a entrada da informática na educação, entende que algumas

preocupações devem ser colocadas antes de se inserir o computador nas escolas. Para ele, deve-se

inicialmente diagnosticar a realidade educacional de forma a se visualizar os problemas prioritários

que afetam a educação brasileira, definindo as necessidades que podem ser atendidas pelo uso de

tal recurso tecnológico, para, a partir daí, poder então delimitar “as faixas etárias, graus, custos,

etc.”

O computador é uma ferramenta que fomenta o ensino, motiva e enriquece a didática. O uso

deste instrumento, que estimula a interação com o real, mesmo que seja através de programas,

instiga o sujeito a desenvolver sua habilidade no pensar e no agir, podendo ser trabalhado em meios

de informações, que é uma das possibilidades mais recentes da Informática Educativa.

Diante da peculiaridade deste recurso, vemos diversos agravantes que podem desvirtuar o

bom desenvolvimento da Informática Educativa na escola:

• Falta de preparação dos docentes;

• Enfoque dada ao computador como fim em si mesmo.

Posição essa, evidenciada nas palavras de Vani Moreira Kenski:

“o que ocorre é que se desconsiderou toda a complexidade da cultura

escolar e do contexto em que a escola costumeiramente trabalha. E

também as especificações das tecnologias e as alterações necessárias para

a integração desses novos ambientes tecnológicos como espaços

ampliados para a ação escolar.”

O professor, como agente motivador da aprendizagem, precisa igualar suas condições de

conhecimento das técnicas computacionais com o mundo, para delas fazer uso e revolucionar sua

sala de aula e seu modo de fazer educação. Os professores precisam propiciar aos seus alunos o

entendimento crítico da realidade e desenvolver as suas capacidades, não só promovendo

conhecimento, mas estimulando as habilidades de seus alunos.

Significa dar autonomia para que eles possam repensar o que é democracia ou quais são os

interesses majoritários da sociedade, com os recursos próprios de sua geração e as tecnologias

disponíveis, pois

Page 19: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

“essa prática possibilita a transição de um sistema fragmentado de ensino

para uma abordagem integradora de conteúdo e voltada para a resolução de

problemas específicos do interesse de cada aluno. Finalmente, deve-se criar

condições para que o professor saiba recontextualizar o aprendizado e a

experiência vividas durante a sua formação para a sua realidade de sala de

aula compatibilizando as necessidades de seus alunos e os objetivos

pedagógicos que se dispõe a atingir.” (José Armando Valente)

Marisa Narcizo Sampaio confirmará dizendo que, “hoje, ler o escrito não basta. Para ler o

mundo é também necessário ler as mensagens tecnológicas e sua interferência nas formas de

organização de nossa sociedade e nossa cultura.” (pág.55)

O uso da informática na educação precisa ser pensado com muito zelo e ponderação, visto

que nem mesmo a educação num todo, conseguiu (mesmo com longos anos de tentativa) resolver

suas indagações. Corre-se o risco de agravar os problemas pedagógicos da sala de aula, se o

recurso tecnológico usado não for aberto à criação do aluno, respeitando suas potencialidades, não

sendo mais do que uma inovação pragmática.

A cultura mudou, pois o fato não é apenas ensinar, mas aprender a aprender. E a tecnologia

proporcionaliza livre acesso a informatização dos alunos e contato maior entre as pessoas, para

troca de vivências. A tecnologia desafia-nos para o desenvolvimento de novas formas de estruturar

conceitos.

Não simplesmente usar o computador como ferramenta incentivadora na sala de aula, pois o

uso intensivo da tecnologia cria “seres auditivos”, que mesmo fascinados e motivados, não

interagem nem discutem seus propósitos e conclusões, deixando de surgir dúvidas criadas de seus

próprios questionamentos.

O perigo de centrar o foco de atenções na tecnologia é um possível erro, que acaba por

desmotivar o aluno tanto quanto uma técnica pedagógica arcaica, pois

“o importante para a atualidade são a novidade e a inovação, as quais

tanto fortalecem o espírito de modernidade que servem como justificativa

para o desenvolvimento ilimitado. Será que, de fato, mudamos ou apenas

trocamos os instrumentos utilizados? Será que incorporamos a crença

Page 20: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

de que a instrumentalização são determinantes do progresso ?” (Sanmya

Feitosa Tajra, pág.22)

Não adianta somente evoluir as técnicas; precisa-se evoluir o ensino. O computador

potencializa o bom trabalho, dá um saldo qualitativo na aula, mas sabendo manuseá-lo na condução

do aluno a saber expressar-se, a querer participar e buscar sua oratória e questionamentos,

construindo seu conhecimento pois o que se transmite são informações, que precisam ser

processadas, assim como um programa de computador.

Diante da enorme responsabilidade que o professor carrega em conduzir vidas à sabedoria

(no que dele depender), é necessário aprender a trabalhar o conhecimento ou mostrar como fazê-lo,

pois o mesmo é provisório, processando as diversas informações captadas no momento.

A representação da tarefa educativa construída durante a formação inicial, freqüentemente,

choca-se com a realidade complexa da prática; a vida cotidiana da escola e da sala de aula, no qual

o professor tem que tomar decisões constantemente. Muitas vezes, ele não tem parâmetros de

atuação aos quais se reportar, principalmente diante de uma nova tecnologia e se não teve uma

formação que favoreça a reflexão sobre a sua atuação diária.

A própria natureza do trabalho educativo, exige o movimento de contínua construção e

reconstrução de conhecimentos e de competências profissionais, vivenciados na formação inicial, se

prolongando ao longo da carreira de professor. Caso contrário, haverá sempre uma dissonância

entre os avanços alcançados em conseqüência da renovação curricular e da pesquisa didática e o

que acontece nas escolas onde se dá o exercício profissional.

Da mesma forma, a preparação do professor não pode ser vista como algo que se finda com

o curso de formação ou eventuais cursos, que Ramon de Oliveira relatará dizendo que

“este conjunto de preocupações sobre a forma como se processar a

formação do professor não deve, no nosso entender, ser restrito aos seus

momentos de vivência acadêmica, seja no curso pedagógico ou no ensino

superior, pois a busca de formar um profissional crítico competente e

comprometido com a transformação social deve estar presente, também, em

ações posteriores com as capacitações.” (pág.89)

Page 21: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

A informática como ferramenta educacional não pode ser entendida isoladamente sem

questionarmos a bagagem que o professor traz, e como ele a usa, onde Marisa Narcizo Sampaio vai

nos dizer “todas estas competências estão diretamente ligadas à questão do poder e do domínio de

ferramentas imprescindíveis à atuação social consciente, pois, o processo de alfabetização

(tecnológica) altera o perfil social do homem, transformando-o em um ser político e

participativo.”(pág.58)

A Educação aliada a Tecnologia Educacional, assim como qualquer segmento afim, não

pode deixar de vincular tais elucidações à saber, pois estão inerentes a prática de ensino e

determinam a via de acesso a ela. Antes de mais de nada, além do impacto que qualquer nova

tendência educacional possa representar, a Informática na Educação é um novo instrumento que tem

por objetivo aprimorar o processo de ensino-aprendizagem e para tal, não poderá ser analisada

diferencialmente de outra questão pedagógica.

Page 22: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

Capítulo 3:

Usando a Informática para dinamizar a Matemática

A matemática é um segmento do conhecimento que prevê raciocínio lógico e muita

investigação. E nisso se fundamenta esta proposta: à imensa semelhança dela com o computador, e

desta forma, com essa interação pode beneficiar o aluno, pois além das soluções das questões, irão

se buscar a compreensão aplicável desses conceitos.

A maioria dos alunos se interessam por máquinas, que podem ser simples calculadoras.

Aproveitar essa motivação é indispensável e transcende os princípios elementares, pois

“ a visão estática do conteúdo matemático, como se fossem pronto e

acabado, como se os seus princípios e regras fossem absolutos no tempo e no

espaço, é incompatível com o seu próprio desenvolvimento histórico e,

portanto, incompleta para o ensino.” (Robinson Tenório ,pág.90)

A aquisição do conhecimento matemático vem se tornando uma atividade cada vez menos

produtiva, sendo poucos aqueles que conseguem apropriar-se verdadeiramente deste saber. Os altos

índices de reprovação e baixo desempenho dos alunos em avaliações, comprovam essa assertiva. A

falta de paradigmas de ensino coloca a matemática como uma disciplina bastante problemática em

todos os níveis de ensino.

Essas deficiências, aliadas a uma abordagem tradicional há muito praticada na disseminação

da matemática em sala de aula, vem provocando conflitos no processo ensino-aprendizagem,

principalmente na exposição de suas teorias, objetivos, conceitos. Questões sobre o que se quer que

os alunos aprendam em matemática e como a gente pode caracterizar esse aprendizado, o que

significa resolver problemas e o que é o raciocínio matemático, não são adequadamente discutidas.

As formas de trabalho mais utilizadas em sala de aula continuam sendo o uso de um livro

texto, da exposição oral e do resumo de matérias, complementadas com exercícios passados no

quadro. Os professores, em sua maioria, não propõem pesquisas para os alunos realizarem em

classe e o livro texto funciona como fonte única de informação teórica e aplicação.

Page 23: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

Um exemplo clássico: É colocado para a classe, um problema do tipo tradicional, isto é, um

problema de aplicação retirado de um livro didático: Uma rampa lisa com 100 m de comprimento

faz um ângulo de 15º com o plano horizontal. Um carro que sobe a rampa inteira eleva-se

verticalmente a quantos metros? (sen 15º=0,26; cos 15º=0,97 e tg 15º=0,27)

Munidos de lápis e papel, tentarão desenhar no caderno a situação descrita no problema,

recorrendo às fórmulas dadas pelo professor. Não será fácil para eles conseguirem entender o

problema proposto, por vários motivos: não vivenciaram a situação descrita, por não entenderem

para que serve o que aprenderam e assim, cada vez mais o ensino se distancia da realidade. É

preciso mudar afim de que essas práticas possam, levar os alunos à compreensão dos conceitos e o

reconhecimento da sua aplicabilidade em situações vivenciadas por eles.

Haverá sempre a necessidade de se produzir dados adicionais, mais abrangentes, voltados

aos interesses dos alunos e dos cursos a que pertencem, de tal modo que percebam a importância

daquilo que estão estudando no âmbito de suas especialidades. Certamente, qualquer concepção

transformadora do ensino da matemática deve passar por indagações sobre o que se está ensinando,

seu significado, sua gênese, sua estrutura, a produção desse conhecimento, e se o que se está

ensinando é, realmente, Matemática.

Se cada conteúdo a ser abordado em sala de aula pudesse ser analisado minuciosamente sob

cada um desses aspectos, é provável que, além de uma mera transmissão de dados prontos, como se

faz atualmente, se conseguisse chegar com mais proximidade a um processo de construção de tal

conhecimento. Estas informações constituem-se numa ajuda imprescindível à compreensão das

dificuldades que os alunos sentem no aprendizado da matemática e que, em geral, o professor não

conhece senão de forma precária.

Um dos caminhos que enseja a possibilidade de gerar maior produtividade no processo

ensino-aprendizagem pode estar na diversificação das formas de abordagem de cada tema a ser

apresentado (a transposição didática), a partir da qual se adapta o nível de aprofundamento

desejado. Assim, algumas opções viáveis podem ser encontradas, além da resolução de problemas

que constitui a própria essência e razão de ser da matemática.

Uma delas seria através da explicitação dos seus conceitos e de suas teorias adequando-os a

partir de situações geradas da própria epistemologia histórica de seu desenvolvimento e estas

podem tornar-se um meio bastante estimulador, tanto para o professor como para o aluno, criando-

Page 24: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

se uma atmosfera que facilite a compreensão do saber matemático pelo contato com sua gênese e

etapas de seu desenvolvimento; além disso fazer uso da experimentação, das aplicações e da

computação.

Neste contexto, a informática assume um papel de suma importância, notadamente quando

funciona como agente de propagação do conhecimento, ou seja quando coloca-se a informática a

serviço da educação. Nesse projeto, será considerado o computador como meio didático, na forma

como ele oferece representação específica de um conhecimento, as suas facilidades, o seu feedback

e a possibilidade oferecida para acompanhar a construção de um procedimento pelo aluno.

O computador é um instrumento excepcional que torna possível simular, praticar ou

vivenciar verdades matemáticas (podendo até sugerir conjecturas abstratas), de visualização difícil

por parte daqueles que desconhecem determinadas condições técnicas, mas fundamentais à

compreensão plena do que está sendo exposto.

Alguns velhos problemas, como a translação na geometria euclideana, a obtenção de curvas

a partir de seções planas em sólidos de revolução, a representação do modelo da geometria

hiperbólica, impossíveis de se representar com o velho PC, se tornam até irrelevantes tal a

facilidade de representação.

E podem ser criados novos problemas, como o uso de transformações como ferramenta para

obtenção de propriedades geométrica (a geometria chamada dinâmica "do arrastar e deformar",

designação dada à modelagem geométrica do Cabri Géomètre).

O Cabri Géomètre é um desses softwares geniais que muito pode acrescentar ao ensino da

Matemática, mas que no Brasil é muito pouco difundido ainda. Ele é como uma folha de caderno de

desenho para realizar qualquer construção geométrica, permitindo investigar e explorar diversas

propriedades atribuídas à construção, fazendo-se uso da característica dinâmica do programa.

Essa característica do Cabri permite a deformação das figuras mantendo as relações entre os

objetos. Por exemplo, pode-se construir um triângulo e as suas três alturas e variar livremente o

triângulo de forma a constatar que as alturas correspondentes são concorrentes. Assim, pode-se

elaborar diversas construções e investigar se propriedades observadas têm a possibilidade de

validade em geral.

Page 25: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

Através de atividades direcionadas a resultados ou propriedades clássicas da Geometria

Plana, pode-se visualizar as relações estabelecidas entre elas. É impressionante como essa

capacidade de movimentação de uma figura transforma em algo manipulável, visível, concreto, uma

idéia até o momento não concebida, acelerando o processo de ensino-aprendizagem.

Enfim, o importante é se pensar em novos métodos e propostas. Já se estabelece a nível

mundial, a consciência da necessidade de aprofundamento no ensino da matemática, e para isso,

buscam-se práticas que correlacionem essa nova proposta. Seymour Papert criticará esse bloqueio

relatando que “muitas parcerias culturais impedem que as crianças se apropriem do conhecimento

científico. Dentre essas barreiras, as mais visíveis são os efeitos fisicamente brutais da privação e

do isolamento.” (pág.16)

O computador com todo seu suporte técnico ao cálculo (aliás tenha sido esta a proposta de

sua criação), já satisfaz essa condição lógica, faltando estabelecer essa ligação de saber e

motivação. Diante essa geração que já nasce com a mão no mouse, vemos meios mais propensos à

assimilação das ferramentas preliminares ao seu uso.

3.1. Logo

A Linguagem Logo foi desenvolvida em 1967, tendo como base a teoria de Piaget e algumas

idéias de Inteligência Artificial. Inicialmente, essa linguagem foi usada em computadores de médio

e grande porte, o que dificultou a propagação e o manuseio da mesma, fazendo-a restrita às

universidades até o surgimento dos microcomputadores.

Ela foi a primeira alternativa de software educativo que correspondia à fundamentação

teórica a que se propunha, já que era possível ser utilizado em diversas áreas do saber, evidenciando

sua eficiência para elaboração e construção de conhecimentos.

Uma Universidade que se dedicou ao seu estudo foi a UNICAMP, priorizando esta

linguagem na formação de recursos humanos. Segundo Fernando José de Almeida “o sistema

LOGO se constitui, até o momento, na mais estruturada e abrangente visão e prática de um

instrumental informático aplicado à educação.” (pág.66)

Foi desenvolvida no Massachusetts Institute of Technology (MIT) pelo matemático

Seymour Papert, trazendo contribuições generosas à educação num todo, pois “mudou” o conceito

Page 26: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

de máquina para ensinar e criou outra dimensão de percepção a cerca dessa sistemática, que passou

a construção do conhecimento, fazendo um elo entre as teorias da informática partindo de sua

formação Piagetiana.

E para isso, o LOGO desde a sua concepção e raiz, estimula o desenvolvimento dessa

busca do educando e demostrando claramente sua maneira de pensar. E Papert dirá: “ A metáfora

do computador como uma entidade que ‘fala’ uma linguagem matemática coloca o aprendiz numa

nova qualidade de relacionamento com um importante domínio do conhecimento.” (pág.36)

Desta maneira, o computador transpassará as barreiras do formal e viabilizará o concreto

dentro da sala de aula, visto que “a tecnologia é mais poderosa quando utilizada com abordagens

construtivistas de ensino que enfatizam mais a solução de problemas, o desenvolvimento de

conceitos e o raciocínio crítico do que a simples aquisição de conhecimento factual.” (Judith

Haymore Sandholtz, pág. 166)

Logo é uma linguagem que possui características pertencentes a três paradigmas

computacionais distintos: o procedural, o orientado a objetos e o funcional. Por ser uma linguagem

de propósito geral, do tipo procedural, permite ao usuário resolver problemas, definido programas a

partir do seu conjunto de ações (comandos e operações) em diferentes domínios do conhecimento a

níveis de escolaridade.

Por ser uma linguagem interpretada, possibilita ao usuário uma interação muito rica com seu

programa computacional, facilitando a verificação e resolução eventuais de problemas de

implementação, bem como o desenvolvimento de novas hipóteses que gerarão outros tipos de

programas.

A característica fundamental do Logo é o equilíbrio entre a sofisticação computacional e o

acesso facilitado à atividade de programação. Essa facilidade deve-se a uma terminologia simples

em termos de nomes de comandos, de regras sintáticas e de uma parte gráfica eu caracteriza-se pela

presença de um cursor representado pela figura de uma Tartaruga que pode ser deslocada no espaço

da tela através de alguns comandos relacionados ao deslocamento e giro da mesma.

Do ponto de vista pedagógico, o Logo está fundamentado na abordagem construcionista,

possibilitando a descrição do processo utilizado pelo usuário para resolver tarefa. Quando o usuário

utiliza a linguagem de programação Logo para realizar uma tarefa no computador, descreve a sua

Page 27: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

idéia inicial com base nos seus conhecimentos, utilizando os comandos da linguagem e pede que

sejam executadas as instruções dadas. Reflete sobre o resultado obtidos e confronta com suas idéias

iniciais.

Caso não estejam de acordo com o esperado, ele depura as instruções dadas inicialmente,

alterando ou acrescentando novas informações. Essas informações poderão ser obtidas a partir do

seu próprio conhecimento ou com a intenção com os colegas, professor ou outras fontes de

informações. Dessa maneira, na atividade de programar o computador, o usuário tem a

oportunidade de construir seu conhecimento, realimentado pelo ciclo descrição-execução-reflexão-

depuração-descrição identificado nas diversas ações demandadas por uma tarefa significativa e

reflexiva.

Foi feito especialmente para ser usado por crianças, para aplicar seu desenvolvimento

cognitivo e expandir as fronteiras ‘do’ aprendizado, incentivando a independência e a criatividade.

A visão LOGO veio revolucionar a utilização da máquina porque a própria estrutura da linguagem

nos conduz a isso.

Após o LOGO ter sido apresentado ao público brasileiro e, lógico, despertado muito

interesse, foi mais abrangentemente empregado no LEC (Laboratório de Estudos Cognitivos)

liderados pela Profª. Léa Fagundes, onde os estudos à respeito das dificuldades encontradas na

aprendizagem da matemática era o maior foco de atenções e ainda, correspondentes ao

direcionamento Piagetiano em que esta proposta se baseava.

A Linguagem Logo propicia à criança, a construção de seu próprio caminho em busca das

descobertas, utilizando os recursos do meio em que se encontra. Com o pretexto de se conduzir o

ícone da tartaruga e executar determinadas tarefas, vai se inserindo noções cognitivas de raciocínio

lógico, que serão incorporadas naturalmente pelo próprio esforço da criança.

De acordo com os preceitos de Papert, a criança no percorrer de sua vida emprega a

intuitividade para sobreviver às influências do meio. E é esta intuitividade nata, o elemento

principal para o uso do Logo. O que mais evoga o Logo como recurso de auto-descoberta é a

condição de percorrer suas dúvidas, analisá-las e muito sutilmente estaremos falando em

programação.

Page 28: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

O Logo é mais intensamente utilizado no campo da matemática e da geometria, já que é tão

forte a representação de movimentos e espaços, e assim, vão se acrescentando noções de forma,

limites, áreas, ângulos e diversos conteúdos afins. Papert defenderá isso dizendo, “assim, ao invés

de induzir ao pensamento mecanicista, o contato com os computadores poderia acabar sendo o

melhor antídoto contra isso.” (pág.45)

O mais importante com tudo isso, é a demonstração que tudo pode ser mudado e feito de

maneira significativa para o aluno. E assim, o interesse dominará a disciplina, porque

“o importante é mostrar aos alunos que existe na escola uma vontade de

acompanhar as transformações que estão se processando do lado de fora da

sala de aula e que todos os meios e multimeios oferecidos pelas novas

tecnologias também devem ser usados para tornar ao aprendizado mais

atraente, mais atualizado, mais vivo.” (Marcos Bagno, pág.62)

Assim sendo, a criança poderá desmistificar o ensino da matemática tão intensamente

questionado pelos alunos, na sua aplicabilidade e função na vida real. Porém o maior problema do

Logo, por ironia, é justamente sua ligação com a realidade vivida pelo educando.

Um conteúdo descontextualizado não aproximará a idéia do sentido. Para isso, a educação

precisava contar com uma sociedade, onde sua estrutura econômica fosse mais equilibrada, para

que os mundos se aproximassem, e qualquer criança pudesse exercer seu direito à educação, pois

conforme a colocação de Margot Bertoluci Ott, “a posição que se quer defender é a de que a escola

deve partir do contexto problemático em que a comunidade se vê inserida. Deve trabalhar por meio

de solução de problemas.” (pág.59)

Trata-se de uma peculiaridade a ser trabalhada. E para isso Papert, o criador do Logo,

propõe uma revolução pedagógica que não se limita aos recursos instrumentais , partindo aos

propósitos educacionais. E assim, conhecedores desse tópico da avaliação do Logo, poderemos ser

usuários conscientes de suas potencialidades, não nos alienando com pressupostos utópicos.

Existe dentro do Software Megalogo, uma versão atualizada do Logo, jogos para despertar

essas habilidades lógicas, que são entitulados DESAFIOS. O interessante que, na maioria

das vezes, nem se faz necessários explicações sobre o funcionamento dele. A criança vai

percorrendo e descobrindo suas características e regras quase naturalmente, e normalmente relata

Page 29: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

suas buscas como uma vitória conquistada, o que nos leva a concluir a necessidade para ela seu

próprio empenho e como isso o engrandece diante um desafio.

Dentro desse enfoque Almeida irá completar,

“o computador representa uma transformação no modo de pensar e

educar...A formação de estruturas cognitivas, desencadeada e organizada

pelo uso papertiana do computador, não pode ser o objeto último nem o

único do trabalho educador embora seja dos mais importantes.” (pág.98)

Concluindo esse tópico, vejamos um pensamento de José Armando Valente, que trabalhou

durante 8 anos com Papert nos E.U.A. onde diz que “o programa que a criança define (no Logo)

pode ser visto como uma descrição do seu processo de pensamento.” Seria a busca primordial da

Educação.

3.2. Planilhas Eletrônicas

As planilhas eletrônicas fornecem as ferramentas comerciais automatizadas, necessárias para

a análise de dados, manutenção de listas, cálculos, bem como as ferramentas de apresentação

necessárias para relatar resultados. Com elas podemos armazenar, manipular, calcular e analisar

dados tais como números, texto e fórmulas. Pode-se acrescentar gráficos baseados em dados

inseridos diretamente na planilha, elementos gráficos tais como linhas, retângulos, caixas de texto

explicativos, etc. É possível usar formatos predefinidos para criar tabelas.

Por contar com um Banco de Dados auxiliar, pode-se classificar, pesquisar e administrar

facilmente uma grande quantidade de informações. Pode usar estilos de células, ferramentas de

desenho, galeria de gráficos e formatos de tabelas, possibilitando apresentação de alta qualidade.

Pode-se ainda automatizar tarefas executadas freqüentemente, realizando cálculos específicos,

criando e armazenando sua próprias macros.

Enfim, é uma forte ferramenta à disposição das aplicações matemáticas, onde o professor

terá maior desenvoltura nas suas explanações de conceitos mais densos, onde Margareth Niess

defenderá que, “a possibilidade de criar uma planilha por computador constitui-se numa

ferramenta que pode envolver os estudantes conceitualmente, ajudando-os a visualizar as equações

e suas soluções, de uma nova maneira.” (pág.19)

Page 30: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

Uma das maiores incompreensões na matemática é sobre a mudança de sinais, o que no

gráfico fica facilmente identificado. Surge um entendimento lógico para definição de habilidades

específicas, que vemos no relato de Celso Antunes:

Anos atrás, o professor deveria levar a seus alunos as

informações especializadas de sua disciplina, aprendidas em seus estudos, e

aos alunos cabia assimilá-las de maneira significativa ou mecânica. Hoje, já

não é mais necessário essa tarefa, uma vez que essas informações transitam

por todos meios... mas seu excepcional volume e necessidade constante de

atualização em conhecimentos, habilidades, práticas cívicas e, enfim,

sabedoria.”

Esse software possui uma estrutura rígida, diferente do Logo, mas que é de amplitude

enorme, o que abre o leque de possibilidades e experiências. Assim, no caso de reconhecimento e

assimilação que um número x pode assumir diversos valores, a fim de se alcançar certas

condições, a planilha oferece a visualização gráfica, facilitando o entendimento da variação e

consequentemente, dos conceitos de igualdade e desigualdade.

O professor Clinton Mason Luscombre nos relata a espontaneidade dos alunos ao criar

tabelas e a partir delas, seus respectivos gráficos e como isso, facilitava a descoberta desses

conceitos matemáticos, que Robinson Tenório continuará dizendo que

“a análise de problemas e equações matemáticas em computadores tem

aberto novos caminhos para demonstração, análise e invenção dessa ciência,

o que implica uma redefinição dos métodos e, até mesmo, do objeto dessa

ciência; em suma, uma redefinição epistemológica.” (pág.82)

Na preocupação de se construir o ensino com sentido, esses softwares proporcionam à essa

área do ensino tão profundamente marcada por pragmatismos, a contextualização do significado

saber.

A aprendizagem da Matemática pressupõe uma significação a partir do contato com o

concreto: sua manipulação e sistematização. O software irá trabalhar com a sistematização

apontando para o efeito da manipulação. São esses equívocos no ensino e no uso de certos recursos

pedagógicos que precisamos sanar para que o desenvolvimento da Educação, enquanto processo de

significação, possa fluir rumo ao seu real destino.

Page 31: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

O que acontece é que sem a total consciência desses riscos e tendências, fica difícil evitar

esses desvios de objetivos e para isso se questionar tal questão. A Matemática tem nesses tipos de

softwares, um modo de reverter o esteriótipo de “sem estímulo” para os alunos.

Nem sempre um software visivelmente construtivista terá um emprego construtivista pois

isso dependerá muito mais do manuseio e da forma de utilização do educador. Assim, Lucia

Moysés questionará que,

“a professora que entende a importância de levar o aluno

compreender o significado do que está aprendendo, dificilmente opta por

outro caminho... Em aulas de Matemática também verificamos a

utilização de materiais concretos disponíveis em sala de aula

como recurso facilitador da compreensão, usados em situações

problemáticas.” (pág.68)

Seja a informática, seja a matemática, ambas só obterão resultados satisfatórios diante o

caminho a que se propuseram, quando não se deixarem desnortear com os vícios do uso das

mesmas. É um novo olhar, novo pensar, novo agir, sem o qual tudo continuará velho, só com

ferramentas novas. O emprego delas é que fará a diferença.

Como nos diria Paulo Freire, que ter esperança sem lutar é tão infrutífera como lutar e não

ter esperanças e Arthur F. Coxford completa dizendo, “A tecnologia coloca-nos um desafio –

afastar nossa matéria da rotina e aproximá-la do conteúdo e dos processos que darão às turmas,

originalidade, insight, capacidade de julgamento, iniciativa e compreensão.” (pág.169/170). Em

que rumo seguir?

Page 32: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

Conclusão

A educação é um processo global que conduz pessoas ao conhecimento, sendo regida por

muitas forças e influências, dentro as quais destaca-se aqui a tecnologia. Os recursos tecnológicos

tem transformado muitos estereótipos rígidos instituídos dentro da escola. Dentre eles, o

aprendizado da matemática que tem se visto acrescentada de subsídios pedagógicos, que tenta

desmistificar o seu ensino.

A proposta maior é oferecer, juntamente com a tecnologia, uma postura de favorecimento de

resolução de problemas, elaboração de hipóteses, descrição de pensamento e estabelecimento de

estratégias de resolução dos mesmos. É um verdadeiro estímulo à busca de suas conclusões e

percepções da realidade, onde o aluno está à vontade para desvendar suas dúvidas.

Uma transformação no aprender está a caminho. A escola, da forma que se percebe hoje,

terá que se modificar diante das mudanças que a informática, a multimídia e a realidade virtual

estão provocando na sociedade. Enquanto muitos educadores acreditam que o melhor é esperar até

que surja o “principal” uso para informática, a realidade é que a situação atual impulsiona a trazer a

Matemática escolar para a era da informática.

O potencial do uso da tecnologia para aumentar o domínio da aprendizagem da Matemática

através da resolução de problemas está surgindo nos projetos de investigação, e, embora pouco

utilizado no dia a dia das salas de aula, está abrindo oportunidades para uma melhoria da qualidade

do ambiente de aprendizagem.

Isso se deve a criação e utilização de ambientes computacionais em sala de aula, no sentido

do computador estar a serviço do construcionismo, onde o seu papel é possibilitar que o ciclo

descrição-execução-reflexão-depuração aconteça quando utilizado pelo aluno. E assim, viu-se a

aplicabilidade da linguagem LOGO, das planilhas eletrônicas, e um pouco do Cabri Géomètre,

como meios de se rever a matemática de maneira concreta e significativa para o aluno.

Considerando a essência dessa proposta, qualquer mudança em sua direção se

consubstancia, não na definição de métodos, e sim na adoção de novas posturas, que passam, sem

sombra de dúvidas, por uma nova maneira de se colocar diante da vida. Não se trata apenas de se

impor uma nova maneira de ser professor, mas da incorporação de uma nova forma de “ser”, de se

relacionar implicativamente, de ver o mundo, o homem e a realidade.

Page 33: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

Referências Bibliográficas

ALMEIDA, F.J. Educação e Informática: os computadores na escola. Cortez Editora.. 2ª ed. São

Paulo. 1988.

ANTUNES, C. Como Transformar informações em conhecimentos. Editora Vozes. Petrópolis.

2001.

BAGNO, M. Pesquisa na Escola: o que é e como e faz. Edições Loyola. 5ª ed. São Paulo. 2000.

BECKER, B.F. VII Simpósio Brasileiro de Informática na Educação. PUCRS. 20 a 22/11/96.

CANDAU, V. Informática na Educação: um desafio. Tecnologia Educacional, 20(98/99): pág. 14,

jan/abr 1991.

COXFORD, A. F. et alli, As Idéias da Álgebra. Atual Editora. São Paulo. 1995.

FREIRE, P. Essa Escola chamada Vida. Editora Ática. 3ª ed. São Paulo. 1986.

HAIDT, R.C.C. Curso de Didática Geral. Editora Ática. São Paulo. 1994.

HOFFMANN, J. Avaliação Mediadora: uma prática em construção – da pré-escola à

universidade. Editora Mediação. 16ª ed. Porto Alegre. 1993.

KENSKI, V.M. Educação e Trabalho: Novas Tecnologias, desafio para escola. Jornal do Brasil.

Rio de Janeiro. 12 de novembro de 2000.

VALENTE, J.A. documento do MEC: O computador na sociedade do conhecimento - Diferentes

usos do Computador na Educação.

NIESS, M. documento do MEC: O computador na sociedade do conhecimento - Atividades

Computacionais na prática educativa de Matemática e Ciências. Seleção “Learning e Leading with

Technology (ISTE)”

Page 34: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - avm.edu.br LUIZA QUINTANILHA RONZANI CUNHA.pdf · O Uso da Informática no Ensino da Matemática ... Com o desenvolvimento do capitalismo, ... Neste

MOYSÉS, L. O Desafio de saber ensinar. Papirus. 7ª ed. 2001.

OLIVEIRA, R. Informática Educativa. Papirus Editora, 3ª ed. 1999.

OTT, M.B. Seminário Didática em Questão: “Ensino por meio de Solução de Problemas. Editora

Vozes. 7ª ed. Petrópolis. 1988.

PAPERT, S. Computadores e Educação. Brasiliense. 3ª ed. 1988.

PERNIGOTTI, J.M. Aceleração da Aprendizagem: Ensaios para transformar a escola. Editora

Mediação. Porto Alegre. 1999.

SAMPAIO, M.N. Alfabetização Tecnológica do Professor. Editora Vozes. Petrópolis, 2000.

SANDHOLTZ, J.H. et alli. Ensinando com Tecnologia: criando salas de aula centradas nos

alunos. Artes Médicas. Porto Alegre. 1997.

TAJRA, S.F. Informática na Educação: professor na atualidade. Editora Ática. São Paulo. 1998.

TENÓRIO, R. Computadores de Papel: Máquinas abstratas para um ensino concreto. Cortez

Editora. 2ª ed. São Paulo. 2001.

TIBA, I. Ensinar Aprendendo: como superar os desafios do relacionamento em tempos de

globalização. Editora Gente. 4ª ed. São Paulo. 1998.

VILLA, J.M.V. Ten theses on globalization. In NETO, Mª I.D. Social development. Rio de

Janeiro: UFRJ/EICOS/UNESCO, p.133-159, 1995.

www.ufsc.br/sbc.il/revista/nr1/valente – José Armando Valente e Fernando José de Almeida. Visão

Analítica da Informática na Educação no Brasil: a questão da formação do professor.