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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA O Cotidiano da Ação Supervisora numa Escola Progressista Por: Luciana Daflon Soares Orientador Prof. Mary Sue Rio de Janeiro 2012

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · A supervisão é uma função relativamente nova dentro da educação e ... A escola em que trabalha está inserida num contexto

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

O Cotidiano da Ação Supervisora numa Escola Progressista

Por: Luciana Daflon Soares

Orientador

Prof. Mary Sue

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

O Cotidiano da Ação Supervisora numa Escola Progressista

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Administração e Supervisão

Escolar

Por: Luciana Daflon Soares

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus filhos pela alegria

de viver e de me fazer feliz. A minha

amiga de sempre Maria Luisa Leite.

4

DEDICATÓRIA

Dedico meu trabalho de pesquisa à minha

avó Dolores por ser o meu modelo de

sabedoria, paciência e Fé.

5

RESUMO

O cenário da supervisão escolar é muito complexo, onde encontramos

muitos desafios e o maior deles é o das relações humanas, de um lado o

estudo teórico e técnico e de outros professores desmotivados e descrentes

resistentes as novas mudanças. Percebemos, que para dar conta das novas

escolas que surgem e crescem cada vez mais pelo Brasil, com a tendência

progressista, precisamos estudar mais sobre a Gestão democrática e

principalmente sobre a ação supervisora na construção da autonomia. Devido

a essa demanda esta pesquisa vem demonstrar a Filosofia e a Metodologia

Montessori.

6

METODOLOGIA

A metodologia adotada para o desenvolvimento deste estudo será o de

enfoque teórico, pois pesquisaremos a ação supervisora nas tendências

progressistas, partindo para uma pesquisa bibliográfica fundamentada em

alguns teóricos atuais e outros mais antigos: Saviani, Vasconcellos, Rangel,

Morin, Montessori entre outros. Através deste estudo buscar referências que

auxiliem a ação do supervisor no cenário complexo de escolas progressistas.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - As Tendências Pedagógicas 09

CAPÍTULO II - A Tendência Progressista e a Escola

Montessoriana 16

CAPÍTULO III – A Gestão Democrática na escola

Progressista 23

CAPÍTULO IV – A Teoria da Complexidade 30

CONCLUSÃO 38

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 39

ÍNDICE 41

8

INTRODUÇÃO

A supervisão é uma função relativamente nova dentro da educação e

ainda está amadurecendo dentro das escolas acompanhando as tendências e

abrindo espaço para o novo olhar sobre a gestão democrática nas escolas. O

supervisor precisa ser um profissional claro em suas abordagens e precisa ter

uma visão do todo. A escola em que trabalha está inserida num contexto

complexo de relações humanas e sociais, mergulhada em uma cultura e tem

uma tendência educacional que a define.

O profissional que escolhe trabalhar com a Supervisão Escolar está

ciente que suas ações permeiam entre as relações humanas e administrativas,

entre as metas definidas pela instituição e o imaginário coletivo dos

professores e comunidade em que fazem parte deste universo.

Quando a escola se define uma escola progressista, ela escolhe um

caminho diferenciado e novo dentro das perspectivas de nossa sociedade,

porém precisa definir sua metodologia e trazer uma estrutura de estudo e

educação continuada que garanta a práxis desta escolha.

Neste trabalho iniciaremos com o histórico das tendências no Brasil e

como as escolas progressistas foram crescendo no país, depois passaremos

para a função da profissão de supervisor dentro a escola. Assim, buscaremos

nos autores que abordam a tendência progressistas posturas esperadas para

uma gestão democrática.

Esta pesquisa busca apresentar propostas de trabalho que auxiliem a

prática do supervisor no cotidiano de uma escola progressista.

9

CAPÍTULO I

As Tendências Pedagógicas

“É necessário esclarecer que as tendências não

aparecem em sua forma pura, nem sempre são

mutuamente exclusiva, nem conseguem captar toda a

riqueza da prática concreta. São, aliás, as limitações de

qualquer tentativa de classificação. De qualquer modo, a

classificação e descrição das tendências poderão

funcionar como instrumento de análise para o professor

avaliar sua prática de sala de aula.”( LIBÂNEO,2006, p.

20)

A tendências Pedagógicas estão embutidas em pequenas ações do dia

a dia, elas se revelam no planejamento do professor, na forma de avaliar, nas

relações professor aluno, e até mesmo na forma de gestão que acontece na

instituição. Muita das vezes essas tendências pedagógicas estão implícitas e

partem do senso comum, precisando ser descoberta e estudada dentro da

proposta escolhida pela instituição.

Os estudos das Tendências Pedagógicas facilitam o trabalho dos

supervisores, podendo assim avaliar a prática de seus professores e melhor

orientar os mesmos na sala de aula, pois cada escola escolhe seus

pressupostos metodológicos na construção de seu Projeto Político Pedagógico

(PPP) e precisa transparecer para sua equipe quais são as posturas esperadas

da equipe para se fazer valer o PPP.

Segundo os estudos Libaneo, As tendências pedagógicas

contemporâneas foram classificadas em:

• Pedagogia Liberal- Tradicional, Renovada progressista, renovada não –

diretiva, tecnicista

10

• Pedagogia Progressista- Libertadora, Libertária, crítico-social dos

conteúdos

Pedagogia Liberal Tradicional- Tem como proposta preparar o aluno

intelectualmente e moralmente para assumir seu papel na sociedade,é

fornecido aos alunos o mesmo saber cultural e depende dele o esforço para

superar suas dificuldades e lutar para conquistar um lugar junto aos capazes.

Os que não conseguem muita das vezes são convidados a se retirar e procurar

um curso profissionalizante.Os conteúdos são fechados e passados como

verdades, como enciclopédias.As aulas são expositivas e são feitas pelos

professores e os conteúdos são cobrados através da repetição e

memorização. Cabe o aluno assistir, ter atenção e fazer silêncio.

Tendência liberal renovada progressista- Essa tendência se preocupa

com as necessidades da sociedade e do indivíduo, dando mais valor ao

processo de aquisição do saber do que o conteúdo. A idéia principal é do

aprender fazendo, valorizando as experiências e descobertas. As escolas

partem de atividades adequadas para as etapas de desenvolvimento da faixa

etária dos alunos.A ajuda do professor é discreta e o trabalho em grupo e um

recurso que valoriza o desenvolvimento mental. O aluno disciplinado é aquele

que é solidário, participante e sabe respeitar as regras do grupo.Tem como

maior objetivo experimentar a “vivência democrática” como na vida em

sociedade.

Tendência liberal renovada não-diretiva- A preocupação maior desta

tendência é com as atitudes, se acentua a atenção aos problemas psicológicos

mais do que aos pedagógicos ou sociais.Tornando assim, secundária a

transmissão de conteúdos e objetivando desenvolver no aluno sua capacidade

de autodesenvolvimento. O professor precisa ser um especialista nas relações

humanas e trabalhar as relações interpessoais dos alunos.

11

Tendência liberal tecnicista- Utiliza técnicas específicas para modelar o

comportamento humano.Preocupa-se com a integração do aluno no sistema

social global, e nas descobertas cientificas.Seu objetivo direto é produzir

indivíduos “competentes”para o mercado de trabalho, transmitindo informações

rápidas e objetivas.Esta tendência apresenta três componentes básicos:

objetivos instrucionais operacionalizados em comportamentos observáveis e

mensuráveis, procedimentos instrucionais e avaliação. Acredita na educação

formatada,conteúdo sistematizado e reproduzível em livros didáticos, manuais,

módulos de ensino, audiovisuais,etc.

Pedagogia progressista libertadora- Esta proposta traz uma reflexão

sobre as relações do homem com a natureza e com os outros homens,

visando a uma transformação – chamada de educação crítica. Mais conhecida

como pedagogia de Paulo Freire. O conteúdo parte do saber popular,

valorizando o conhecimento na forma de relação com a experiência vivida. O

diálogo é valorizado como método básico, prevalecendo a relação professor

aluno horizontal.

Pedagogia progressista libertária- Espera que haja uma transformação

na personalidade dos alunos, num sentido libertário e autogestionário. Existe

nesta tendência há um sentido político.As matérias são disponibilizadas para

os alunos mas não são cobradas,as relações vividas no grupo são as mais

importantes, principalmente a participação crítica.O grupo demonstra as suas

necessidades e interesses definindo assim os conteúdos que serão discutidos .

Tendência progressista “critico-social dos conteúdos”- O conteúdo é

valorizado, conteúdos vivos e concretos. Existe aqui a preocupação da

democratização do saber, vendo a escola como parte integrante do todo social

e global. O conteúdo passa a ser visto sob um olhar mais unificado e mais

organizado, interligado.Os conteúdos se ligam as significações humanas e

sociais, muito além de ensinados eles são vivenciados e assimilados, mas

permanentemente reavaliados. O maior objetivo é favorecer a correspondência

12

dos conteúdos com os interesses dos alunos, e que os mesmos reconheçam

nos conteúdos o auxílio a sua compreensão de realidade. O papel do professor

é fundamental como mediador que promove trocas e participação ativa.

As tendências pedagógicas mais encontradas no Brasil ainda são as da

Pedagogia liberal, nas suas formas conservadoras e em algumas vezes na

renovada. Elas estão muito enraizadas na pratica dos professores que viveram

essas tendências como alunos na sua história escolar. Encontramos escolas

que dizem ser progressistas, mas que nas suas posturas ainda demonstram as

atitudes tradicionais focadas no professor como o centro do conhecimento e se

espera do aluno uma corrida para um ranque de poder e de emprego.

Apesar das escolas progressistas serem a minoria ainda no país, como

o supervisor poderia fazer, através de sua ação supervisora, uma intervenção

ativa na educação de sua equipe, e fazer valer o desejo da escola quando

escolheu seguir uma tendência progressista?

A profissão de supervisor iniciou da necessidade de inspecionar, checar e

monitorar as escolas. Aqui no Brasil, a supervisão surgiu ligada a visão de

controle do poder público, como também ocorreu em diversos países.

Somente em 1960 a ação supervisora voltou-se para o currículo, utilizando

as pesquisas para buscar novas soluções para melhorar a qualidade de ensino

aprendizagem. Trazendo para a sua prática novas propostas de comunicação

interpessoal, identificação de metas e organização.

A ação supervisora saiu de um pensamento de policiar para uma liderança

que se preocupa em proporcionar oportunidades de atualizações de conteúdos

e metodologias , buscando nos avanços das ciências atualidades do

desenvolvimento comportamental e da tecnologia.

13

Após o surgimento da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de

1961, que valorizou a função do supervisor exigindo na lei 5540;68, que a

formação do supervisor, para atuar no âmbito das escolas e dos sistemas

escolares deve ser feita em nível supervisor, obrigando assim os profissionais

a se atualizarem e buscar novos conhecimentos específicos da pedagogia e

gestão.

Com todo o amadurecimento da profissão de supervisor, a ação

supervisora precisa ser muito flexível, pois cada escola esta inserida em um

contexto histórico e cultural diferente, com sociedades com senso comum

característicos da região. Lida na sua pratica com pessoas e suas relações

interpessoais no grupo e precisa também fazer valer o projeto político e

pedagógico determinado pela escola, podemos dizer que o supervisor e o

grande defensor do PPP.

A ação supervisora não pode ser uma ação apenas de apagar incêndios,

necessita de planejamento e de muito estudo. Como um professor dedicado

buscar saciar as dúvidas e curiosidades dos professores, promover diálogos.

Independente da metodologia da escola o supervisor precisa perceber o

cenário e as ações dos educadores para ver nas entrelinhas qual a tendência

dominante no seu ambiente de trabalho, como falamos no inicio do capitulo

muita das vezes as tendências são veladas e inconscientes .Cabe ao

supervisor dar visibilidade as tendências enraizadas no senso comum e

promover reflexões para que as transformações cheguem na prática, reflexões

fundamentadas em estudos teóricos e atualizados.

“ Especialmente no foco progressista, espera-se que a

escola assuma, por sua origem e vocação sociais, uma

filosofia de trabalho, de modo que a assimilação de

conteúdos e o compromisso com valores sejam

orientados pelos princípios sociopolíticos, nos quais essa

14

assimilação se fundamentam, e que explicitam os

interesses e os propósitos que dão significado à ação

pedagógica. Nessa perspectiva, a Supervisão

Pedagógica promove e divulga, claramente, o interesse

emancipador que dá sentido à sua ação e à da escola.

Confirgura-se, portanto, pelos valores sociais que e

orientam, a relação entre ensino, conhecimento e

educação na prática supervisora ” (Mary Rangel, 2011,

p.21).

O novo momento em que estamos vivendo, a sociedade inserida na

globalização, a evolução das tecnologias de informação o conhecimento

descentralizado e um mercado de trabalho que espera um novo perfil de

profissional criativo e autônomo não tem mais espaço para as tendências

liberais. O ensino centrado no professor, nega a participação ativa do meio da

aprendizagem que ocorre nas relações, tanto na relação professor aluno como

na relação entre o grupo.

A Tendência Progressista pode até não estar explicita no projeto de uma

escola, mas está sendo inserida na força que vem da transformação social e

cultural, nos debates dos grandes congressos e no discurso dos autores

reconhecidos que lutam pelo desejo de melhorar a qualidade da educação no

nosso país.

Como também pode acontecer o contrário, escolas com Tendências

Progressistas claras na escolha da Metodologia e Filosofia, mas com

profissionais enraizados nas práticas tradicionais, fazendo da sua prática

ações monopolizadoras, castradoras e ditadoras. Muita das vezes com um

discurso inovador e democrático, e uma prática baseada no poder e no medo.

A percepção e reflexão das tendências que estão prevalecendo na escola,

nas ações dos professores e gestores devem ser mapeada e trazida a tona

15

pelo supervisor e poderá desenvolver dinâmicas para todo o grupo ou em

alguns casos específicos reflexões individuais.

16

CAPÍTULO II

A Tendência Progressista e a Escola

Montessoriana

O nome Montessori representa um tipo específico de Educação,

pensado, elaborado e defendido pela médica e educadora italiana Maria

Montessori a partir de 1907; mesmo assim, não é possível proteger seu nome

ou defender a correção da prática de seu sistema por meios de direitos

autorais ou patentes. A determinação da autenticidade de uma Escola

Montessoriana muitas vezes se rende à noção popular de que basta ter alguns

elementos como classes com idades mistas, estantes com o aparato de

Materiais, ensino centrado no estudante e não no professor, para receber tal

titulação. Entretanto, uma instituição de ensino pode ter tudo isso sem adotar

as características específicas da Educação Montessori – que só chega a termo

diante de ações conjugadas entre sua forte Filosofia e a conseqüente

Metodologia. É diante desta necessidade que esta monografia se articula e

formula bases mais significativas para a orientação de professores e a postura

do supervisor na formação e orientação de Professores.

Escolher trabalhar com o Sistema Montessori, mesmo após o

centenário de suas proposições pedagógicas, não constitui-se numa decisão

das mais fáceis. O desconhecimento da obra da médica, antropóloga e

pedagoga italiana Maria Montessori costuma levar seus críticos a atribuir-lhe

posições de total incoerência com o pensamento e proposta pedagógica. Mas,

não são poucas as publicações de sua obra, que engloba artigos na área

medica, passando às questões dos direitos da mulher e na defesa contra o

trabalho infantil, e finalmente os dedicados à Educação, que totalizam em 16

livros. Entretanto de toda a sua obra, o Brasil tem apenas seis de seus livros

traduzidos, limitando por consequência o estudo mais aprofundado daqueles

que se dedicam à sua prática.

17

Portanto, tem-se como previsto, que os professores Montessori

organizem contextos sociais e programas acadêmicos adequados para as

crianças, cada qual em seu próprio nível de desenvolvimento, através da

disposição da sala de aula, seleção e organização das atividades de

aprendizagem e estruturação do dia. Entretanto, ainda é possível

encontrarmos professores, mesmo após um Curso de Formação, dominando a

técnica de cada um dos Materiais, mas sem conseguir promover a articulação

dos conhecimentos de forma consistente. Onde se ancoram os equívocos de

sua ação? O que falta na sua preparação e que permite lacunas entre teoria e

prática?

Para entender Montessori é necessário olhar sua pedagogia como um

organismo, em que apenas o trabalho conjunto da Filosofia e Metodologia é

capaz de dar forma ao seu Sistema. Como modelo submetido à Ciência, faz-

se necessário que seus continuadores saibam integrar a grande

hereditariedade e produtividade do método com as novas contribuições

pedagógicas e científicas - ampliando sua fundamentação pedagógica - que

positivamente continua a ser um diferencial no campo do pensamento da

Educação.

2.1- Filosofia Montessori

Considerando que o Ser Humano se apropria dos conhecimentos a

partir da interação ambiente e processos internos, Maria Montessori estruturou

as vias para a aprendizagem acadêmica sobre um tripé filosófico:

Autoeducação

Educação como Ciência Educação Cósmica

Montessori entendia em Autoeducação que a formação da estrutura do

Homem é intrínseca, gerida pelas Etapas de Desenvolvimento Físicos e

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Cognitivos, realizando-se sob a influência do Ambiente. Em Educação como

Ciência, defendia uma nova diretiva da pedagogia chamada científica: “para

educar é necessário conhecer a criança a ser educada”, ou seja, submeter sua

prática às necessidades e características próprias de cada uma das Etapas de

Desenvolvimento do Ser Humano. E, em Educação Cósmica fazia referências

às Leis da Natureza e à estreita relação entre ambiente e sociedade –

identificando-a como responsável pela harmonia da vida, tornando possível

sua evolução física e, acrescendo-se ao Homem, as conquistas da

humanidade.

2.2 Metodologia Montessori

Tal como sua Filosofia, a Metodologia Montessori se apóia numa

relação triádica. A falta de qualquer um dos elementos desta relação (para

quem, como, quem) resulta em conquistas incompletas. Há uma substancial

diferença na forma como se organiza os atores envolvidos no processo de

aprendizagem, estabelecido pelas escolas progressistas e as tradicionais.

As atividades de aprendizagem no Ambiente Montessori envolvem

questionamento, descoberta, múltiplas perspectivas e diferentes pontos de

vista, proporcionando contínuo feedback em relação ao processo. Neste

Ambiente, o Professor Montessori reconhece que seu papel não é ensinar – na

concepção tradicional da palavra -, mas inspirar, ser mentor e facilitar o

processo de aprendizagem, já que o trabalho real de aprender pertence à

criança, num processo individual. Busca-se, assim, que os supervisores da

escola montessori explicitem aos professores o que é “seguir a criança”;

adquirindo a excelência para identificar a melhor resposta diante dos muitos

interesses e necessidades do estudante como um indivíduo único, ajustando

suas estratégias e prazos servindo às Etapas de Desenvolvimento, aceitando

verdadeiramente que o Ser Humano aprende de diferentes maneiras e em seu

próprio ritmo.

19

2.3 Maria Montessori – Educação Cósmica

Maria Montessori, italiana (1870-1952) foi a primeira mulher a se

formar em medicina em seu país, pioneira no campo pedagógico à valorizar o

aluno no processo de aprendizagem, dando valor a auto-educação do aluno,

destacava o professor como um cientista que prepara o ambiente com

materiais e motivos para que a criança desenvolva todas as suas

potencialidades.

Ela desenvolveu muitas idéias no século passado, que hoje muitas

pessoas nem sabem que foi ela a primeira a pensar na criança como agente

ativo da sua aprendizagem, a relacionar a capacidade de aprender com a

saúde física e a alimentação, a adaptar os mobiliários da sala na altura da

criança, e a estudar o desenvolvimento infantil e suas etapas de

aprendizagem. O próprio Piaget estudou com Montessori e foi representante

do movimento da Suiça durantes anos. Sua história perpassa pelas duas

guerras e mesmo assim seu trabalho ganhou o mundo, num tempo que não

havia avião, nem televisão, nem muito menos a internet.

Muitos não sabem que ela traz uma nova preparação do professor,

com formação especializada, no qual o educador precisa se preparar para ser

um mediador, um observador e um cientista. Nas suas escolas o diálogo é

fundamental e o estudo constante.

Apesar de seu método ser mais conhecido hoje no Brasil, muito só

conhecem o material concreto e sensorial que ela desenvolveu, como o

material dourado, mas o mais bela e importante herança que poderia deixar

para a Educação foi a sua Filosofia.

Montessori traz para a educação a visão Cósmica em que todos estão

interligados e que os conteúdos e disciplinas se encontram em áreas de

20

conhecimentos. Ela não utiliza os termos “transdiciplinaridade” ou

“interdisciplinaridades”, mas nos mostra em sua prática a Educação Cósmica.

Em 1935, a Visão Cósmica de Maria Montessori, seu pensamento

acerca de um Plano Cósmico, suas ideias sobre Educação Cósmica, tomam

forma. Todos os três aspectos representam um mesmo modo de pensar, onde

se partilha o adjetivo “cósmico”.

O primeiro aspecto, o da “Visão”, tem a ver com a maneira de enxergar

e de compreender o mundo.

O segundo, o do “Plano Cósmico”, enxerga o mundo com uma visão

macro, diante da ordem contida na natureza – onde há muitos agentes

trabalhando, entre eles os seres humanos – apenas esses últimos tem o

potencial para agir com consciência.

O terceiro, o da “Educação Cósmica”, pode ser visto como um aspecto

operacional. É o tornar-se consciente das diferentes espécies de trabalho

realizado pelos vários agentes, e da interdependência e inter-relações

envolvidas. A Educação Cósmica resulta numa criatividade que leva a uma

nova e diferente espécie de vida, com participação responsável em todos os

fenômenos naturais e humanos. Operacionalmente, com esta abordagem,

passa-se do todo para os detalhes - cada detalhe é, ou pode ser referido ao

todo; o todo é feito de partes ordenadas; e finalmente, a especialização do

conhecimento e a interdisciplinaridade, desenvolvidos simultaneamente,

integram e completam um ao outro.

“No plano cósmico da cultura”, escreveu Montessori em 1949,

“todas as ciências (ramos do saber) podem ser conectadas

como raios espalhados de um único centro brilhante de

interesses, que clarificam e aprofundam todo conhecimento”.

(Montessori, 1943, p.27).

21

Na atualidade os educadores conhecem muito pouco sobre a

Educação Montessori, sua metodologia é mais conhecida no meio educacional

pela criação de materiais didáticos e mobiliário específico, adaptado ao

tamanho dos alunos, já a sua filosofia, que trás em sua essência a Educação

Cósmica, é desconhecida. Nas formações de professores é raro encontrarmos

estudos sobre a Metodologia Montessoriana e quando é dada é de maneira

superficial e até equivocada.

Durante muito tempo o conceito de Educação Cósmica ficou

incompreendido até mesmo nas escolas ditas montessorianas, por ser

relacionado erradamente a uma visão religiosa. Suas escolas não pregam

nenhum tido de religião, pois ela defende a diversidade e o respeito às

diferentes culturas. No entanto, tal pressuposto é um dos pontos-chave do

currículo Montessori.

Montessori elaborou os fundamentos de seu sistema de ensino através

da observação e de estudos científicos. O conhecimento da criança, a

elaboração de uma metodologia adequada à educação, o desenvolvimento

integral do aluno como sujeito, dentro de seu ritmo, e a aprendizagem

mediante solução de problemas. Para tanto, a sala de aula deve configurar-se

num ambiente preparado para que se possa construir o conhecimento, com

vistas à autoeducação e a multidimensionalidade do conhecimento.

Inúmeros teóricos influenciaram os estudos de Montessori, dentre os

quais pode-se citar a Medicina experimental de Bernard, a Psicologia e a

Psiquiatria Infantil de Itard e Séguin, a Antropologia de Lombroso e também os

pressupostos de Rosseau, Pestazolli, Froebel e Freud.

“O universo é uma realidade imponente, e uma resposta a todas

as perguntas. Vamos andar juntos no caminho da vida, porque

todas as coisas são parte do universo, e estão ligadas umas com

22

as outras para formar uma unidade completa”, afirmava

(Montessori 2003, p. 14).

A visão cósmica é a maneira de enxergar e de compreender o mundo

e o ser humano, fazendo a conexão do passado com o presente, com o intuito

de apreciar as regularidades da natureza. Proporciona uma visão de mundo,

do macrocosmo ao microcosmo, abrangendo os seres orgânicos ou

inorgânicos e qualquer matéria, ciência ou detalhe que ilustre a inter-relação

entre a natureza e o resto do universo.

Segundo a Educação Cósmica, o ser humano é o único ser que possui

potencial para agir com consciência cósmica, que é a capacidade que o

indivíduo desenvolve ao agir por espontânea vontade, juntando-se a um todo

maior, de maneira responsável e planejada. Assim, dará continuidade ao papel

de agente na evolução da civilização, equilibrando atitudes, promovendo a paz,

cultivando a energia humana.

A consciência cósmica se desenvolve nas relações cotidianas, na

interação com os pares e com o ambiente e na percepção de que para dar

continuidade à vida na Terra os seres humanos necessitam agir em prol da

sustentabilidade de nosso planeta.

Todos os estudos da Metodologia e da Filosofia Montessoriana,

instigam o saber progressista, provoca reflexões e traz um novo olhar para a

educação e para a práxis do supervisor, pois ele necessita do olhar cósmico.

23

CAPÍTULO III

A Gestão Democrática na escola

Progressista

Corroborando com Giancatarino (2010) Não podemos esquecer que a

função do supervisor é de refletir sobre o trabalho de sala de aula, sendo seu

papel estudar e usar as teorias para fundamentar o fazer dos docentes. Ele

tem o papel de prever as situações e antecipar conhecimento aos grupo de

professores, somente em grupo em relação colaborativa e interativa supervisor

e equipe pedagógica que as ações serão produtivas, mas exige um

amadurecimento das relações de trabalho.

Ele também valoriza o supervisor como um agente especializado em

ligar com as relações humanas que se estrutura no respeito e no diálogo. Para

que sua ação supervisora aconteça com uma gestão democrática, necessita

de reuniões periódicas com a equipe de professores, nestas reuniões o diálogo

e a escuta precisa ser de todos, mas é o supervisor que precisa ter um olhar

delicado do todo e planejar as metas que precisaram ser alcançadas para que

os benefícios sejam alcançados

O perfil de um supervisor permeia na sua postura de vida e de pessoa

no grupo indo muito além do conhecimento, trata-se um compromisso político

que induz a competência profissional, ele se coloca na posição de modelo para

o grupo. Ele precisa ser um bom observador, investigando as ações e

buscando fundamentação teórica para preparar estudos orientados e reflexões

entre os educadores.

A figura do supervisor no imaginário coletivo dos professores ainda é do

fiscalizador , daquele que está ali para policiar e denunciar o seus erros para a

direção da escola. Precisamos trabalhar muito, com humildade e parceria para

24

que essa imagem seja modificada e os educadores reconheçam no supervisor

um amigo que deverá perceber suas ações, mas sempre trabalhar para que a

qualidade do trabalho melhore.

Somente através de estudos e trocas que a escola poderá chegar mais

próximo das metas escolhidas em seu PPP. O objetivo maior do supervisor

deve ser fortalecer a ação do educador para que este possa agir com maior

flexibilidade e segurança. A estruturação metodológica e filosófica da escola e

o conhecimento dos professores sobre as fundamentações teóricas que

baseiam a proposta escolhida pela instituição fazem com que se sintam

seguros de seus atos e discursos.

O que é preciso fazer é criar cenários ricos em trocas e interações entre

os colegas, expandindo para as relações com as famílias e com a sociedade

em que está inserida.

“É preciso fazer com que os educadores confiem mais na sua

capacidade e aprendam a viver em grupo, valorizando as ideias

como um todo e não partindo do individualismo. Para que isso

seja possível, é preciso eliminar as causas do individualismo.

Trabalhar em grupo é fundamental e crucial, no entanto, deve-

se desenvolver a individualidade, estabelecendo um equilíbrio

entre o trabalho coletivo e o individual.”, afirma (Roberto

Giancaterino 2010,p. 101)

Na verdade, ser supervisor escolar é acreditar no humano, na sua

capacidade de aprender enquanto sujeito em desenvolvimento, todo ser

humano é capaz de construir seu próprio conhecimento e somente na troca

com o outro desenvolve suas habilidades e competências. Para ser supervisor

precisa acreditar num mundo mais justo e igualitário, que através da educação

podemos construir uma sociedade mais solidária.

25

Isabel Alarcão, 2001 relata que cabe à educação a difícil tarefa e

complexa tarefa de conciliar crescimento econômico e desenvolvimento social

e de assegurar os vlores inerentes à cidadania plena. Pressupõe que os

sistemas educativos possam repensar-se, ajustando-se aos novos desafios

não apenas de continuado apronfudamento científico e tecnológico, mas

também à reflexão sobre o uso social que deles se faz.

Segundo Alarcão, os desafios da formação são à reflexão pessoal e

coletiva, enquanto processo e instrumento de conscientização progressiva, de

desenvolvimento continuado e partilhado, de persistência na investigação

constante, enquanto fonte de novos informes na hipótese que o homem se

descobre e se encontra na sua própria humanidade.

A escola tem a sua identidade moldada pelas ações vindas do grupo,

das influencias da sociedade em que está inserida e das famílias que as

constituem. Ela projeta sonhos para essa sociedade e navega nos desejos e

crenças que a rodeiam.

Realmente parece muito complexo, e é. O plano de ação da supervisão

confronta-se com toda essa complexidade e cabe ao supervisor orquestrar

todos esses atores, desenvolvendo estudos de caracterização e diagnóstico de

situações, de reorganização conceitual estratégica, de análise prospectiva de

fatores, que antecipa o que acontecerá no futuro próximo, desenhando

cenários e definindo metas com o grupo.

A gestão democrática na escola se coloca hoje como um dos

fundamentos da qualidade da educação, como exercício efetivo da cidadania.

E aqui se situa um dos maiores desafios dos educadores: a democracia, assim

como a cidadania, se fundamenta na autonomia. Uma educação

emancipadora é condição essencial para a gestão democrática. Escolas e

cidadãos privados da autonomia não terão condições de exercer uma gestão

democrática, de educar para a cidadania. A abordagem da gestão democrática

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do ensino público passa pela sala de aula, pelo projeto político-pedagógico,

pela autonomia da escola.

A gestão democrática nas escolas é um dos caminhos mais importantes

para se alcançar a qualidade da educação. Quanto mais a família, estudantes,

professores, diretores, enfim, toda a comunidade participa das atividades e

decisões da escola, mais chances a criança tem de aprender.Na verdade

todos trocam conhecimentos e aprendemos uns com os outros.

A visão da gestão democrática pensa em primeiro lugar no seu

educando mais também em todo a comunidade escolar, sendo ela constituída

pelos alunos, familiares, sociedade e todos os funcionários da escola.

Esta visão traz consigo a melhoria da qualidade de vida para todos que estão

envolvidos neste contexto.

A escola abre espaço para a sociedade participar de suas escolhas e

movimentos de aprendizagem, proporcionando trabalhos de parcerias. A

escola passa a ser vista pela sociedade como um lugar de bem estar e

crescimento, a sociedade passa a valorizar mais esta estrutura e até mesmo a

protegê-la.

Como trazer para a realidade esta gestão democrática frente ao grande

desafio da formação de profissionais qualificados e pensantes, criativos e

ativos que respeitem o seu próximo e acredite na democracia? Deparamos

com uma sociedade egocêntrica e individualista que compete o tempo todo

com o outro. Somente quando aprendermos a trabalhar desde cedo, na tenra

idade, a autonomia que chegaremos a uma ação democrática.

Maria Montessori no século passado já tentava nos abrir os olhos para

essa necessidade. Dentro da sua filosofia a autonomia é trabalhada desde a

Educação Infantil, a criança tem espaço para criar, liberdade de escolha e

respeito ao seu ritmo. Aprendem em comunidade em salas agrupadas com

27

diferentes idades e todos são agentes de conhecimento, aprendem na relação

com o outro. Já o professor preciso ser um cientista, muito estudioso e ativo

ele é um grande observador, mediador da aprendizagem preparando o

ambiente com motivos que estimulam o saber e cenários de reflexão e

discussão exercitando a visão crítica e se preocupa com a identidade social da

escola.

Não fomos educados para sermos autônomos, nem agirmos com

autonomia, aprendemos a obedecer ordens e comandos.Talvez seja esse o

motivo de termos tanta dificuldade de preparar profissionais que acreditem na

autonomia, que assuma a sua autonomia no seu ambiente de trabalho e muito

menos que consiga trabalhar para desenvolver a autonomia do aluno.

Na maioria das vezes a autonomia é confundida com Anomia.(que

significa ausência de regra.) O conceito de autonomia no senso comum é

sempre de liberdade de fazer o que quiser, mas não é bem assim.

Autonomia é ter autodeterminação das pessoas em função de princípios

e valores morais justificados de forma racional, ou seja qualidade de um

indivíduo de tomar suas próprias decisões,com base na razão.

O conceito de autonomia no âmbito escolar precisa ser bem claro e

cabe o supervisor, na sua ação gestora, construir no processo a autonomia da

instituição escolar. Em toda a instituição escolar, indo da formação do

educador para depois chegar até o educando, pois como já falamos

anteriormente ele é o modelo do aluno e o supervisor é o modelo do professor.

O seu discurso nunca poderá estar distante de sua prática, o supervisor

precisa incorporar o Projeto Político Pedagógico e transferir o mesmo para

todos a sua volta através de suas próprias ações.

28

Os conteúdos mudam a cada dia, o que foi considerado como

fundamental há alguns anos hoje já foi substituído por novas concepções e

demandas. Por isso, a Educação precisa fornecer aos jovens ferramentas para

que possam realizar reflexões críticas de sua aprendizagem – pela observação

da vida real, do momento em que vivem e da cultura em que estão inseridos,

incorporando uma nova maneira de aprender a viver, refletindo sobre suas

ações na sociedade.

Dois grandes pensadores destacam a importância da visão cósmica na

educação, Maria Montessori e Edgar Morin. O grande desafio para este século,

segundo Edgar Morin (1999) é: “[...] formar espíritos capazes de organizar os

conhecimentos em vez de armazenar uma acumulação de saberes.”

Em 1943, Montessori já trazia para a educação a importância da

relação social dizendo que somente em um grupo o indivíduo pode aprender e

desenvolver-se como um ser humano e questionava a geografia instituída na

sala de aula, o currículo oculto de força e poder:

“Pensam que a vida social consiste em estar sentado um ao

lado do outro a ouvir alguém que fala; mas isto não é vida

social.” (Montessori, 1943, p 53).

A proposta de Morin apresentada anteriormente agrega-se á visão

cósmica, elemento importante dos pressupostos de Montessori. Através de um

olhar cósmico, que enxerga sua função no mundo, e papel no grupo a que

pertence, do planeta que habita, coloca o Homem deste século diante da

necessidade de desenvolver competências e habilidades que o qualifiquem a

enfrentar as questões decorrentes da evolução.

Na Educação atual, faze-se necessário, despertar nos educandos a

curiosidade, desenvolvendo o pesquisador com atitude progressiva de um

cientista. A isso se chama Educação Cósmica. Nessa Educação, a pesquisa

29

encontra-se numa visão global, histórica, e a curiosidade navega em diferentes

dimensões partindo do presente, buscando o passado e para desenhar o

futuro. O ser humano identifica-se em seu tempo e reconhece o seu papel na

história, tendo uma percepção ampla da sua responsabilidade no

desenvolvimento do planeta, percebendo que suas ações no grupo afetam

diretamente o equilíbrio do Universo. Neste aspecto, a Educação Cósmica

amplia a possibilidade de um “re-nascimento” de Homens responsáveis

socialmente, que valorizam a ética e a moral – objetivo perseguido pela

Educação desde a Antiguidade.

Segundo Edgar Morin, traz a teoria da Complexidade, na qual somente

com a aprendizagem globalizada e cósmica é que o educando e o educador,

alcançarão as inteligências necessárias para enxergar a multidimensionalidade

dos conteúdos e as múltiplas interligações dos conhecimentos.

Montessori nos mostra a interdependência que vivemos no planeta, e

como todos nós fazemos parte de um sistema único e que cada ser é

importante para o equilíbrio do universo. Que somente o homem com

consciência do seu papel no mundo pode viver em harmonia com a natureza.

Levando para a vida prática todos os conhecimentos vivenciados na escola e

vice-versa.

30

CAPÍTULO IV

A Teoria da Complexidade

Edgar Morin, pensador francês, nascido em 8 de julho de

1921,graduado em Economia Política, História, Geografia e direito, se dedica

aos estudos da Filosofia, Sociologia e Epistemologia.

Pai da teoria da Complexidade, ele defende a interligação de todos os

conhecimentos, combate o reducionismo e valoriza o complexo.

Morin, defende a incorporação dos problemas cotidianos ao currículo e

a interligação dos saberes, e critica o ensino fragmentado. Na Educação, o

autor mantém a essência de sua teoria. Ele vê a sala de aula como um

fenômeno complexo, que abriga uma diversidade de ânimos, culturas, classes

sociais e econômicas, sentimentos... Um espaço heterogêneo e, por isso, o

lugar ideal para iniciar essa reforma da mentalidade por ele proclamada.

Os estudos da cibercultura aponta para um novo ambiente, onde os

indivíduos se encontram, se agrupam para construir novos saberes e, em

grupo, pensam e interagem livremente. Porém, além do conhecimento técnico,

é preciso ser responsável socialmente na nova postura ética: a info-ética.

Em 1998, Edgar Morin amplia a discussão expondo um duplo problema:

1) o desafio da globalidade, ou seja, a inadequação cada vez

mais ampla, profunda e grave entre, por um lado, um saber

fragmentado em elementos disjuntos e compartimentados nas

disciplinas, por outro realidades multidimensionais, globais,

transversais, pluridisciplinares, até mesmo transdisciplinares;

2) portanto, a não pertinência do nosso modo de conhecimento

e de ensino, que nos faz sabermos separar (os objetos do

31

ambiente que os rodeia as disciplinas uma das outras) e não o

religarmos aquilo que, todavia, é “tecido em conjunto”. A

inteligência, que sabe separar, quebra o complexo do mundo em

fragmentos disjuntos, fraciona os problemas. Assim sendo,

quando mais planetário se tornam os problemas , mais

impensados. Incapaz se encarar o contexto planetário, a

inteligência fica cega e irresponsável.”(MORIN, 1998)

Uma preocupação também descrita nos estudos de Edgar Morin, os

setes saberes necessários para o futuro, no qual a condição humana deveria

ser o objeto essencial de todo o ensino, no qual a verdadeira mundialização

que estaria a serviço do gênero humano é a da compreensão, da solidariedade

intelectual e moral da humanidade.

• O primeiro é sobre as cegueiras do conhecimento – o erro e a ilusão:

deve-se valorizar o erro enquanto instrumento de aprendizagem, pois

não se conhece algo sem primeiro cair nos equívocos ou nas ilusões.

• O segundo saber se relaciona ao conhecimento próprio, a unir os mais

diversos campos do conhecimento para combater a fragmentação;

assim, a educação deve deixar a contextura, o universal, as diversas

dimensões do ser humano e da sociedade, e a estrutura complexa bem

claras.

• O terceiro saber é ensinar a condição humana, transmitir ao aluno que o

Homem é um ser multidimensional. Assim, a pedagogia do amanhã

necessita, antes de tudo, privilegiar a compreensão da natureza do ser

humano, ele também um indivíduo fragmentado. A identidade terrena

também deve ser prioridade, preconiza o quarto saber, pois é

fundamental conhecer o lugar no qual se habita, suas necessidades de

sustentabilidade, a variedade inventiva, os novos implementos

tecnológicos, os problemas sociais e econômicos que ela abriga.

32

• O quarto saber é Ensinar a identidade terrena-O destino planetário do

gênero humano é outra realidade até agora ignorada pela educação. O

conhecimento dos desenvolvimentos da era planetária, que tendem a

crescer no século XXI, e o reconhecimento da identidade terrena, que

se tornará cada vez mais indispensável a cada um e a todos, devem

converter-se em um dos principais objetos da educação.

• O quinto saber indica a urgência de enfrentar as incertezas, que parte

da certeza da existência de dúvidas na trajetória humana, pois, apesar

de todo o progresso da Humanidade, não é possível, ainda, predizer o

futuro, uma região nada previsível, a qual desafia constantemente o

Homem.

• O sexto saber defende que se deve ensinar a compreensão, fator

indispensável na interação humana; ela deve ser instaurada em todos

os campos de ação do cotidiano escolar. O sétimo saber é a ética do

gênero humano, correspondente à antropo-ética, a qual defende que

não devemos querer para outrem aquilo que não desejamos para nós

mesmos.

• O sétimo saber se preocupa com a ética do gênero humano- A

educação deve levar em conta o caráter ternário da condição humana,

que é ser ao mesmo tempo indivíduo/sociedade/espécie. Nesse sentido,

a ética indivíduo/espécie necessita do controle mútuo da sociedade pelo

indivíduo e do indivíduo pela sociedade, ou seja, a democracia; a ética

indivíduo/espécie convoca, ao século XXI, a cidadania terrestre. A ética

não poderia ser ensinada por meio de lições de moral. Deve formar-se

nas mentes com base na consciência de que o humano é, ao mesmo

tempo, indivíduo, parte da sociedade, parte da espécie. Desse modo,

todo desenvolvimento verdadeiramente humano deve compreender o

desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações

comunitárias e da consciência de pertencer à espécie humana.

33

Morin, também levanta o problema essencial da disjunção e especialização

fechada, onde a hiperespecialização impede a percepção do global. Impede o

jovem de tratar os problemas da vida real, que em geral não são

fragmentados. Enquanto a cultura geral comporta diversas dimensões a cultura

científica e técnica disciplinar fragmenta e parcela os saberes, tornando cada

vez mais difícil sua contextualização.

“Unidades complexas, como o ser humano ou a sociedade, são

multidimensionais: assim, o ser humano é, ao mesmo tempo,

biológico, psíquico, social, afetivo e racional. A sociedade

comporta as dimensões histórica, econômica, sociológica,

religiosa...O conhecimento pertinente deve reconhecer o caráter

multidimensional e nele inserir dados: não apenas não se

poderia isolar uma parte do todo, mas as partes umas das

outras; a dimensão econômica, por exemplo, está em inter-

retroação permanente com todas às outras dimensões humanas;

além disso, a economia carrega em si, de modo ‘hologrâmico’,

necessidades, desejos e paixões humanas que ultrapassam os

meros interesses econômicos.” ( Morin, 2011, p.35)

Para entendermos o pensamento complexo em Edgar Morin, é

necessário explicitar os conceitos de ordem e desordem. O conceito de ordem

extrapola as idéias de estabilidade, rigidez, repetição e regularidade, unindo-se

à idéia de interação, recursivamente, da desordem, que comporta dois

pólos:um objetivo e outro subjetivo. O objetivo é o centro das dispersões,

colisões, irregularidades e instabilidades, em suma, os ruídos e os erros.

Sobre os conceitos de ordem e desordem, Morin considera não ser mais

possível a desordem máxima, nem de outro lado, tudo completamente

organizando. Para ele, em seus estudos, as duas noções de ordem e

34

desordem andam juntas, se complementam. É uma ideia realmente complexa,

que segundo ele, o universo é fruto desta união de forças, sem isso não

haveria inovação, nem muito menos criação.

Assim é o cenário da educação em seu cotidiano escolar, complexo,

uma mistura de forças ordem e desordem, onde acontecem inovações e

criações constantes e precisa ser flexível para acompanhar toda esse

organismo vivo e mutante.

A teoria da complexidade deste educador, a qual preconiza que o

pensamento complexo, permite pensar na uniformidade e na variedade

contidas na totalidade, ao contrário da tendência do ser humano a simplificar

tudo. Ele afirma a importância do ponto de vista integral, embora não descarte

o valor das especialidades.

Edgar Morin, percebe a classe escolar como uma entidade complexa,

que engloba uma variedade de disposições, estratos sócio-econômicos,

emoções e culturas, portanto, ele a vê como um local impregnado de

heterogeneidade. Assim, ele considera ser este o espaço perfeito para se dar

início a uma transformação dos paradigmas, da maneira convencional de se

pensar o ambiente escolar. É preciso que este contexto tenha um profundo

significado para os gestores e professores da instituição escolar.

Conforme defende Morin, é importante ter o pensamento complexo,

capaz de relacionar, contextualizar e religar diferentes saberes ou dimensões

da vida, numa visão também cósmica, porém um pouco mais complexa do que

a visão de Maria Montessori.

Para os dois autores aqui estudados, o fundamental é criar espaços de

diálogos, criativos, reflexivos e democráticos capazes de viabilizar práticas

pedagógicas fundamentadas na solidariedade, na ética, na paz e na justiça.

35

São cada vez mais necessárias novas práticas pedagógicas, novas

ações solidárias e democráticas dentro da escola e para que isso ocorra a

gestão precisa ter um novo olhar para a complexidade, estudar Morin e ler

Montessori nos faz pensar em ideias inovadoras para investir na Educação do

Futuro.

“Mesmo o conhecimento mais sofisticado, se estiver totalmente

isolado,deixa de ser pertinente.”(Morin,2004, p.32)

Vivemos em um mundo complexo e interligado, e novas informações

nos fazem, a toda hora, mudar de planos, por que a escola ainda teima em

ensinar certezas e conhecimentos que parecem únicos e absolutos?

Edgar Morin, acredita numa reforma do pensamento, apesar de

reconhecer que isso não acontecerá de uma hora para outra, as mudanças

ocorrem mutuamente e levam algum tempo para aparecer.

Nos anos 1990 ele foi convidado pelo Ministério da Educação da

França, para replanejar o ensino secundário, infelizmente a mudança não

ocorreu, mas logo suas idéias tomaram corpo e ultrapassaram as fronteiras do

seu país. A convite da Organização das Nações Unidas para a Educação, a

Ciência e a Cultura (Unesco), Morin fez um estudo sobre quais seriam os

temas que não poderiam faltar para formar o cidadão do século 21. Assim

nasceu Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro, texto que serviu

de base para a elaboração de nossos Parâmetros Curriculares

Nacionais.(PCNs) e assim conquistou muitos países inclusive o Brasil.

A pesquisa dos estudos de Morin nesta monografia fui para que possamos

trazer para a educação uma abordagem atual e global. Se faz cada vez mais

necessário o aperfeiçoamento dos profissionais de educação, e principalmente

o especialista responsável pela gestão de uma instituição escolar, um

supervisor estudar muito sobre o que está sendo discutido no Brasil e no

36

mundo. Ele precisa ser um especialista em sua formação, mas ter um olhar

global em sua prática. Precisa mesmo ter a consciência da

multidimensionalidade do humano e suas relações com a sociedade. O

supervisor lida o tempo todo com ordem e com a desordem, com a construção

e com a desconstrução, é realmente uma realidade complexa e que exige do

profissional muita flexibilidade e determinação para que toda a sua equipe

alcance suas metas. Não dá para ser um bom gestor e ser egocêntrico ou

egoísta.

37

CONCLUSÃO

O momento em que estamos vivendo na educação é de mudança e

transformação. Desde 1905 que Maria Montessori já nos mostrava a sua

preocupação com o desenvolvimento da autonomia e do pensamento com a

descentralização do conteúdo. Levaram-se anos e Edgar Morin volta a levantar

as reflexões sobre os temas em comum, e mesmo com tanto estudo, palestra

pelo mundo todo a educação parece caminhar na “câmera lenta”. Por que o

processo é tão lento? Se os Parâmetros Curriculares Nacionais foram

construídos para facilitar o processo, a exigência de cada escola ter o seu

Projeto Político Pedagógico adequado a sua realidade e construído pela

equipe, a autonomia dada às escolas, o mais recente Plano Nacional de

Educação, etc. Muitos são os documentos que são criados e recriados e o que

percebemos é a educação dentro das escolas ainda, na sua maioria,

impregnada pelas tendências tradicionais.

Precisamos muito da ação supervisora de qualidade que se preocupa

com a gestão democrática, que propõe diálogos e metas, que escuta, pesquisa

e traz resultados para a sua equipe. A ação supervisora precisa ir além da sala

de aula e do currículo e ter a visão cósmica do todo. Ter claro a sua missão

com a humanidade em seu tempo histórico e buscar além de tudo a Paz e a

solidariedade.

A sua ação não pode ter apenas um foco, no aluno ou no professor,

precisa ir muito além, observar todo o cenário, todos os atores, suas relações,

conhecer muito a sociedade em que a escola está inserida, no seu contexto

histórico e cultural.

Somente com muito estudo, observação, diálogo e dinâmicas de

envolvimento com todos esses atores que a supervisão conseguirá ter uma

38

ação supervisora de qualidade, ao ponto de fazer crescer a escola e qualidade

de vida de todos que estão envolvidos.

“A educação não pode mais ser vista como simples ato de

ensinar.”( Maria Montessori, 1943)

39

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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40

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Perspectivas-8. Ed.rev.- Campinas, SP: Ed. Autores Associados, 2003.

41

ÍNDICE

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - As Tendências Pedagógicas 09

CAPÍTULO II - A Tendência Progressista e a Escola

Montessoriana 16

2.1- Filosofia Montessori 17 2.2- Metodologia 18 2.3- Maria Montessori- Educação Cósmica 19 CAPÍTULO III – A Gestão Democrática na escola

Progressista 23

CAPÍTULO IV – A Teoria da Complexidade 30

CONCLUSÃO 37

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 39

ÍNDICE 41