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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM O Cérebro Emocional no Processo Ensino-Aprendizagem Por: Sylvia Pabst Orientadora Profa. Marta Pires Relvas Rio de Janeiro 2012

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · diagnosticadas em alunos que cursam o ensino médio, ... Nem existem os poemas ... “trabalhar” impulsos elétricos nervosos

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

O Cérebro Emocional no Processo Ensino-Aprendizagem

Por: Sylvia Pabst

Orientadora

Profa. Marta Pires Relvas

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

O Cérebro Emocional no Processo de Ensino-Aprendizagem

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em

neuropedagogia

Por: Sylvia Pabst

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Marta Pires Relvas, querida amiga, que tenho guardada em meu coração, por ter me aberto mais a mente com o conhecimento da neurociência e que acreditou e confiou em mim. A você Alexandre, meu amor, uma pessoa incrível que por vontade e escolha próprias, sempre tão sincero, tão digno, tão genuíno, tão honesto, tão amante e tão forte, meu verdadeiro amigo em nossas caminhadas da vida embora muitas vezes difíceis, às vezes distantes, até afastadas, mas caminhos que com certeza sempre estiveram unidos de e pelo crescimento mútuo; a pessoa que, sem sobra de dúvidas, gigantescamente tornou meu ser mais rico de vida e de esperança; o homem que incondicionalmente amo tanto; e felizmente para mim, meu companheiro, meu marido, meu amigo, meu amante!

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DEDICATÓRIA

Dedico a todas as pessoas ligadas direta

e indiretamente com a educação. Que

possam refletir o quanto é importante e

estimulante quando se une neurociência,

emoção e aprendizagem. E que

compartilhar é acreditar no impossível.

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RESUMO

O presente trabalho é um convite à reflexão sobre o quanto é importante

haver uma educação calçada no respeito e no amor ao aluno, o que exige não

só um educador competente, sensível, mas, humanamente preparado, que

possa compreender a necessidade de sua participação efetiva e afetiva na

transformação desse aluno. Entendendo ainda, que pode sim, cada vez mais,

estar comprometido com o desenvolvimento do Ser Humano em sua

complexidade e totalidade.

Entender que trabalhar com as questões do aprender e do não aprender

da pessoa torna-se, de suma importância, para que se possa levar em

consideração que cada um, junto com suas dimensões subjetivas e objetivas

tem um processo de construção do seu conhecimento. Entendendo ainda, que

junto ao funcionamento cognitivo de cada pessoa, estão suas emoções, com

todos os seus significados e conteúdos.

Portanto, é compreensível que a aprendizagem não deve ser vista como

algo isolado. O processo de aprendizagem tem uma história, faz parte de um

contexto familiar, afetivo e social do qual a pessoa faz parte. Cada história

humana é única, como cada aprendizado é individual.

Fazendo a integração do conhecimento da neurociência com o Ser

Humano, o objetivo dessa monografia é entender como o cérebro processa

essa união afeto-aprendizagem.

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METODOLOGIA

A partir do questionamento de qual seria a influência dos aspectos

afetivos no processo de aprendizagem e desenvolvimento do ser humano, foi

percebido questões relacionadas a dificuldades na afetividade da relação

professor-aluno, falta de motivação para aprendizagem, dificuldades no

relacionamento familiar, problemas em relação à autoestima.

O objeto de estudo se deu a partir de artigos publicados, livros e

experiência profissional no consultório de psicologia, bem como atendimento e

acompanhamento das crianças junto às escolas. Sendo usado como material:

leitura da bibliografia oferecida na pós de neurociência, bibliografia usada com

a psicologia e os artigos encontrados na internet que dão referência ao assunto

proposto. O trabalho desenvolvido foi a partir da grande frequência de queixas em

relação às dificuldades de aprendizagem, onde fatores de relacionamento

interpessoal sobressaíram. Conseguindo com que cada um começasse a olhar

para dentro de si e procurar aperfeiçoar essa relação educador-educando,

automaticamente percebeu-se uma melhora significativa na autoestima de

ambos, despertando assim a busca pelo desejo de ensinar e aprender.

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SUMÁRIO

Introdução..................................................................................................pág. 08

Capítulo I- O Cérebro.................................................................................pág. 11

1- O Circuito Cerebral.....................................................................pág. 12

Capítulo II- Memória e Aprendizagem.......................................................pág. 21

2.1- Memória...................................................................................pág. 21

2.1.1- Neuroanatomia da Memória.......................................pág. 22

2.2- Aprendizagem..........................................................................pág. 27

2.2.1- Neuroanatomia da Aprendizagem..............................pág. 28

Capítulo III- Emoção..................................................................................pág. 32

3.1- Como o Cérebro produz as Emoções...........................pág. 33

3.2- Neuroanatomia da Emoção...........................................pág. 34

3.2.1- Estruturas envolvidas na Emoção...................pág. 36

3.3- O Cérebro Afetivo-Emocional........................................pág. 40

Capítulo IV- Motivação e Recompensa.....................................................pág. 42

4.1- Motivação.................................................................................pág. 42

4.1.1- O Processo Motivacional............................................pág. 45

4.1.2- Neuroanatomia da Motivação.....................................pág. 46

4.2- Sistema de Recompensa.........................................................pág. 46

Capítulo V- Ensino-Aprendizagem sob um Novo Olhar.............................pág. 52

5.1- Pensamento.............................................................................pág. 52

5.2- Professor/Educador – Aluno....................................................pág. 53

5.3- Novos Paradigmas da Educação.............................................pág. 57

Considerações Finais................................................................................pág. 62

Conclusão..................................................................................................pág. 64

Bibliografia.................................................................................................pág. 67

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INTRODUÇÃO

As queixas de pais e professores do tipo: “por que meu filho, meu aluno

não aprende ou não quer aprender?”, “por que me estresso tanto em ter que

mandar estudar?”, “por que me aborreço tanto em pedir para se calarem, pois

tenho cronograma a cumprir?”, vêm se repetindo. São dúvidas,

questionamentos e tentativas de explicações para o alto número de alunos que

ficam para recuperação no fim de ano, a queda no percentual de aprovação, os

altos índices de evasão, brigas, desentendimentos, entre outros problemas

como as dificuldades de leitura, escrita e cálculo, mais preocupantes quando

diagnosticadas em alunos que cursam o ensino médio, bem como diagnósticos

feitos erradamente.

Ao serem questionados, pais e professores, muitas das vezes não

sabem quem realmente são seus filhos/alunos, não sabem o que gostam, o

que pensam, como se sentem. Nesse sentido e em função disso, está baseado

esse trabalho onde, sem conhecer, sem ter carinho, sem amar fica difícil

alcançar esse elo de ligação para criar uma sintonia e afinidade e conseguir

atingir o centro de motivação e interesse da criança querer aprender, mesmo

que seja uma matéria que ela não ame.

Com o embasamento da Neurociência e o conhecimento do

funcionamento do cérebro, entendendo o que leva e o porquê de certos

comportamentos e como isso também influencia diretamente no emocional,

seja por deficiência do sistema límbico, seja por outras deficiências que abalam

este emocional, não só das crianças, mas também dos adolescentes, adultos e

dos familiares que convivem com as pessoas que apresentam tais dificuldades,

pode-se ajudar para que suas próprias vidas se tornem mais leves e menos

estressantes.

Em relação às crianças, pode-se orientar melhor, aos pais, certos

diagnósticos. Dando explicações mais claras para o entendimento do

comportamento dessas crianças e do porque procurar avaliação neurológica

para ajudar a amenizar os conflitos e angústias da própria criança, que muitas

vezes nem entende o porquê de seus comportamentos (no caso de crianças

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que têm DDA, o hiperativo, até mesmo a criança que apresenta o TOD e

bipolaridade, ou ainda qualquer outro tipo de transtorno ou deficiência), bem

como os pais passarem a ter paciência em relação a certas atitudes desses

filhos, pois nem sempre estão de “malandragem” (no caso do DDA ou

hiperativo) ou que estão “tirando onda da cara deles” (no caso dos bipolares ou

que tenham TOD). Aprendendo a separar quando é realmente falta de limite ou

quando é uma questão química mesmo do cérebro e que precisa de um

acompanhamento e olhar diferenciado.

Ou ainda, confrontar diagnósticos que vêm errado das escolas e orientar

não só professores, mas coordenadores pedagógicos e os próprios familiares

na busca de um diagnóstico correto tendo o máximo de cuidado para não haver

rotulação ou criar um estigma na criança e esta ter que carregar isso sabe-se lá

até quando, muitas das vezes prejudicando toda uma vida.

Enfim, com a neurociência percebe-se e pode-se passar adiante que

todo problema só será realmente um problema quando não entendido ou

esclarecido. E que ninguém é incapaz. Todos têm um potencial enorme de

fazer jus da plasticidade cerebral para compensar o que não está funcionando

bem ou melhorar o funcionamento do que pode ser melhorado. De que todos

devem reconhecer as próprias qualidades e potencialidades que trazem dentro

de si e que os tornam capazes de crescer, aprender e avançar. Entendendo

que só é possível dar aquilo que se possui, portanto se não se acreditar no

potencial imenso que o cérebro tem, estar-se-á sempre à espera de que outros

façam ou que haja a acomodação e, com isso não se avança, não há

crescimento.

Antes já se sabia que se tem a opção de escolher a cada momento, com

todo o conhecimento da neurociência, entende-se ainda melhor que nem

sempre se pode fazer muita coisa com o que vem do externo para dentro do

organismo, porém, o que cada um faz com que existe dentro de si mesmo é

uma questão de escolha própria, pois tudo na vida é aprendizado e o

aprendizado consiste na mudança de conexões dos neurônios, não só em

quantidade (alterações na substância cinzenta havendo surgimento de novos

corpos celulares e consequentemente, surgimento de novas sinapses), mas

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também em qualidade (com a alteração na comunicação entre as células do

cérebro, a substância branca se modifica pelo surgimento de novos axônios ou

com uma mielinização mais intensa).

Em questões relacionadas às dificuldades na afetividade da relação

professor-aluno, falta de motivação para aprendizagem, dificuldades no

relacionamento familiar, problemas em relação à autoestima, buscou-se

aprofundar qual seria a influência dos aspectos afetivos no processo de

aprendizagem e desenvolvimento do ser humano.

Foi desenvolvido um trabalho a partir da preocupação em relação às

dificuldades de aprendizagem, buscando compreender os fatores de ordem

afetiva que interferem nessa aprendizagem e sugestões e/ou orientações em

relação a possibilidades de atuação dos professores em sala onde possam

ajudar a promover o “ajustamento afetivo e social” desse aluno e, com isso,

automaticamente, elevem a uma melhora significativa de aprendizagem destes

alunos.

Por o aprendizado ser um dos maiores prazeres que o cérebro pode ter,

sendo um estímulo poderoso para o sistema de recompensa, sem emoção e

afetividade não há como haver esse aprendizado. Pois é o desejo de buscar,

de ir além, que motiva o aluno a se empenhar e aprender. Porém, se não

houver um educador competente, sensível humanamente preparado,

dificilmente haverá esse aprendizado de forma positiva.

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Capítulo I – O Cérebro

“A maior dúvida da ciência não é conhecer os mistérios sobre o mundo em que estamos, mas os segredos sobre o mundo que somos” (CURY, 2002, p.9)

O pai da medicina foi Hipócrates (460-379 a.C.), ele acreditava que o

cérebro era sede da mente e escreveu:

“Deveria ser sabido que ele é a fonte do nosso prazer, alegria, riso e diversão, assim como nosso pesar, dor, ansiedade e lágrimas, e nenhum outro que não o cérebro. É especificamente o órgão que nos habilita a pensar, ver e ouvir, a distinguir o feio do belo, o mau do bom, o prazer do desprazer. É o cérebro também que é a sede da loucura e do delírio, dos medos e sustos que nos tornam, muitas vezes à noite, mas às vezes também de dia; é onde jaz a causa da insônia e do sonambulismo, dos pensamentos que não ocorrerão, deveres esquecidos e excentricidades.”

Se o astrônomo se encanta com os bilhões de pontos cintilantes que

bordam a noite, o neurocientista suspira diante da fantástica malha de bilhões

de neurônios que se espalham por 1,4 quilos de material orgânico. E os

sistemas solares, as galáxias e os buracos só existem no universo cósmico

porque podem ser percebidos e interpretados por esse micro-macro universo

que preenche o crânio dos seres humanos.

Sem alguém que a admire, que reconheça seu brilho e suas formas, a

Lua não existe. Nem existem os poemas que a fazem personagem da vida e a

integram ao teatro dos amores e das paixões.

As cores, da mesma forma, existem somente para o cérebro, capaz de

“trabalhar” impulsos elétricos nervosos e transformá-los em uma interpretação

particular daquilo que se vê na presença da luz.

Nas últimas décadas o cérebro vem se tornando, mais que um órgão,

um ator social. O espetacular progresso da neurociência vem mostrando que o

cérebro responde cada vez mais por tudo aquilo que outrora nos acostumamos

a atribuir à pessoa, ao indivíduo, ao sujeito. Inteiro ou em partes, surgiu como o

único órgão verdadeiramente indispensável para a existência do Ser Humano e

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para definir sua individualidade. Com o isso, pode-se dizer que o ser humano

tornou-se o que alguns definem como “sujeito cerebral”.

A noção do sujeito cerebral também implica a ideia de que o ser humano

depende de maneira crucial do sistema nervoso, ou seja, o cérebro é

obviamente crucial para as propriedades que definem a personalidade humana

e as trocas sociais, tais como linguagem e consciência.

Como ator social, o cérebro humano é cada vez mais percebido como

aquilo que nos define.

As novas descobertas não significam, entretanto, que tenha sido

desvendado o mistério da mente humana, da capacidade de sentir, de analisar

e de reagir ao mundo. Ao contrário, as pesquisas mostram que o cérebro, tal

qual os sistemas galácticos, encerra enigmas que desafiarão muitas das

próximas gerações.

1- O Circuito Cerebral

O sistema nervoso é constituído pelo sistema nervoso central (SNC) –

cérebro, cerebelo, tronco encefálico e medula espinhal; e pelo sistema nervoso

periférico (SNP) – nervos e gânglios.

O cérebro é a sede das funções “superiores”. O cerebelo, além de ter

importante papel no equilíbrio, tônus muscular e postura, também está

relacionado a funções cognitivas. O tronco encefálico está envolvido com a

manutenção de nossas funções vegetativas e nosso ciclo de sono e vigília,

muito importante para o aprendizado e memória. A medula espinhal faz a

comunicação entre o cérebro e a periferia do corpo. Os estímulos sensitivos,

detectados por receptores, entram no SNC através dos nervos e trafegam ao

longo da medula até o cérebro. Após o processamento do sinal, comandos

motores gerados pelo cérebro passam pela medula espinhal e saem para os

órgãos efetores – músculos esqueléticos, lisos, cardíacos e glândulas – através

dos nervos.

O cérebro humano é uma enorme megalópole eletrificada, em

funcionamento 24 horas por dia, residência de bilhões de diferentes “etnias” de

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neurônios. Nessa grande cidade, cada um tem sua “profissão”. Visto como uma

pessoa, um neurônio pode parecer pouco importante. Se concebido por parte

de uma fantástica teia de trabalho e produção, no entanto, consistem em uma

das mais perfeitas e misteriosas criações da natureza. É solidário e dado a um

certo tipo de socialismo: costuma repassar aos irmãos tudo o que recebe, em

organizados processos de troca e interação.

Emocionalmente, é um camarada desinibido e afetuoso. Toca a parceria

com seus longos axônios (braços de comunicação) e promove processos

eletroquímicos extremamente sensuais nas sinapses. Adoram a vida em

família. No córtex cerebral, convivem pacificamente em clãs, como os

estrelados e os piramidais. Quando o neurônio “pensa” – em um exercício de

metalinguagem – tem clara sua missão de movimentar o complexo mecanismo

que permite ao homem raciocinar, tomar decisões e se apaixonar.

A cidade cerebral tem cruzadas e entrelaçadas vias expressas

interligadas: a medula espinhal, a soma do tronco cerebral e do cerebelo, o

diencéfalo e os hemisférios cerebrais.

A medula espinhal tem funções apenas indiretamente ligadas às

atividades nervosas superiores. É como um município autônomo, porta de

entrada para o interior do “país”, o corpo humano. O tronco cerebral (bulbo,

ponte e mesencéfalo) é o pólo fabril dedicado a exercer efeito modulador sobre

os neurônios corticais. Humor e concentração, por exemplo, dependem dessa

função. O cerebelo é um núcleo dedicado a múltiplas atividades, entre elas o

equilíbrio e a coordenação.

O diencéfalo é um importante centro coordenador de funções, formado

pelo tálamo e o hipotálamo. O primeiro consiste em uma massa cinzenta que

processa a maior parte das informações destinadas aos hemisférios cerebrais.

É uma grande estação de elaboração dos sentidos. O hipotálamo mistura as

funções de um posto de gasolina e de um complexo CPD. Regula a função de

abastecimento do sistema endócrino e processa inúmeras informações

necessárias à constância do meio interno corporal. Coordena, por exemplo, a

pressão arterial, a sensação de fome e o desejo sexual.

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O hipocampo é um grande banco de dados. Nele, milhares de

“neurônios” bibliotecários armazenam registros de fatos e eventos. As

informações ali guardadas servem para regular a atividade de várias outras

áreas do cérebro. A região conhecida como amígdala cerebral também

trabalha na seleção de dados e ainda dispara sinais de alerta quando

reconhece um perigo ou situação de ameaça.

Na grande cidade do pensamento, os hemisférios cerebrais são o que

há de mais moderno. Todo neurônio gostaria de trabalhar ali. Seja nos gânglios

basais, na substância branca ou no córtex cerebral. São essas centrais que

comandam as atividades mais evoluídas do cérebro e distinguem o homem dos

outros animais. O hemisfério esquerdo controla o lado direito do corpo,

enquanto o hemisfério direito controla o lado esquerdo do corpo.

De muitas formas, cada hemisfério é um espelho do outro, mas há

especializações no trabalho. Em muitas pessoas, as principais áreas que

controlam o desenvolvimento e uso da linguagem estão do lado esquerdo. Ao

mesmo tempo em que o hemisfério direito concentra áreas dedicadas ao

processamento da visão tridimensional.

O córtex ocupa o andar mais alto dos “prédios” dos hemisférios. É uma

capa de substância cinzenta de 0,3 cm de espessura. Seus sulcos e fissuras

definem as regiões do lobo frontal, temporal, parietal e occipital. O lobo frontal

é um lugar para trabalhadores altamente especializados, cultos e íntegros.

Concentra-se ali uma enorme variedade de importantes funções, incluindo o

controle de movimentos e de comportamentos necessários à vida social

humana, como a compreensão dos padrões éticos e morais e a capacidade de

prever as conseqüências de uma atitude.

O lobo parietal recebe e processa informações dos sentidos, enviadas

pelo lado oposto do corpo. O lobo temporal é um moderno estúdio que acolhe

desde grandes orquestras até grupos de Hip Hop: está permanentemente

envolvido em processos ligados à audição e memorização. O lobo occipital é

uma espécie de central cinematográfica, o centro que analisa as informações

captadas pelos olhos e as interpreta mediante um intrincado processo de

comparação, seleção e integração.

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Na superfície medial do hemisfério cerebral, encontra-se o corpo caloso,

um feixe de 200 milhões de fibras nervosas que une os dois hemisférios. Uma

espécie de ponte entre os dois arranha-céus da mente. Mesmo apresentando

regiões extremamente especializadas, uma boa área do córtex não é utilizada

em funções sensórias ou motoras, atuando em complicadas atividades

mentais. É uma área secreta, de segurança, onde não são permitidas visitas

públicas.

Pode-se perceber que parece quase impossível existir complexidade tão

grande e maravilhosa que compreende o nosso sentir. São bilhões de células e

conexões aos trilhões, neurônios sem preguiça ou medo buscando conexões.

Milhares de sinapses para entregar mensagens harmonicamente em qualquer

lugar do corpo quase instantaneamente. Neurotransmissores tentando

equilibrar humor, dor, prazer, tristeza e por aí vai sem parar.

São dois hemisférios conectados pelo corpo caloso tendo internamente

um sistema límbico muito amoroso, enquanto a bomba de sódio e potássio com

a maior leveza vai trabalhando que é uma beleza! O circuito gelatinoso se

agita, em um tráfego de pensamentos, o tálamo “apita”. Anseios, conflitos,

impressões, tendo também, preocupações, curiosidades e intenções.

Direcionando cada informação, mas cuidado! Preste muita atenção! Um

encaminhamento errado, que tamanha confusão! E assim, o sistema nervoso

central vai falando com todo o corpo por intermédio do sistema nervoso

periférico.

Na área de Broca se conhece as palavras, enquanto na área de

Wernicke compreende-se a linguagem, decodificando a mensagem. Pelo

hipotálamo tudo passa e por aí não para. Hipocampo consolida a memória e

cada Lobo tem sua história. Formação reticular não deixa de ativar o córtex.

Olhando de fora, parece que se está num vórtice. Sistema Límbico então cuida

da emoção e o cerebelo cuida da coordenação. Cada área com sua respectiva

função. Quando algo não vai bem, a plasticidade entra em ação. Córtex pré-

frontal faz a metacognição. E assim aos poucos se vai conhecendo o

funcionamento desse órgão tão complexo que nos faz ser quem somos.

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Pode-se dizer então, que o cérebro de uma maneira geral pode ser

dividido em três grandes porções:

• Sensorial – fica na parte de trás do cérebro. É todo conjunto de

estruturas que se presta receber informações do ambiente e processar

essas informações de uma maneira coordenada e que permite que o

cérebro crie uma imagem, uma representação sensorial do ambiente.

Isso é muito importante para permitir com que tudo o que se faz

aconteça de maneira adequada, ajustada à realidade do ambiente. Não

sabemos o que de fato é real, mas o que nós temos através dos

sentidos, construído pelo cérebro, é uma representação da realidade

que funciona para cada um como uma hipótese de trabalho. E é a partir

dessa hipótese de trabalho sobre onde estão as coisas, como cada um

se localiza no ambiente, sobre a identidade dessas coisas, da distância

que elas estão de nós, como também sobre uma representação de

como cada um se sente é que cada um cria o seu comportamento e o

organiza em relação aos outros;

• Motora – fica na parte mediana do cérebro. A imagem composta que o

cérebro cria a partir dos sentidos é levada para outras regiões do

cérebro e são encarregadas de gerar os movimentos, de gerar o

comportamento. Todos os movimentos para serem, não só fluidos, mas

também apropriados, adequados às próprias intenções, ao que se

precisa fazer, precisam ser criados de acordo com a imagem sensorial

que se tem do mundo. Então, boa parte do sistema nervoso é dedicada

a processar essas informações dos sentidos e criar uma representação

unificada do mundo e usar então essa representação para que se possa

movimentar, para que se possa ter os próprios comportamentos e

interagir com as pessoas e o ambiente;

• Associativa – fica no córtex pré-frontal. É associativo porque é capaz de

acrescentar complexidade ao comportamento. Essa área é capaz de,

através de associações com as memórias do passado, com a

elaboração de projeções para o futuro, seus objetivos, suas estratégias

de metas, fazer com que se saia do presente. A vida mental não é

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limitada ao aqui e agora, graças a essa porção do cérebro que permite

então que o nosso comportamento seja muito mais complexo e leva em

conta não só tudo o que se fez no passado como também, com base

nisso, o que se espera para o futuro, o que se antecipa que aconteça

nos próximos segundos, onde se deseja estar daqui a um dia, uma

semana, um mês, um ano e o que é necessário fazer para chegar lá.

Essa área também nos permite exercer o controle executivo, isto é, ter a

capacidade de olhar para o que se está prestes a fazer e decidir não

fazer aquilo.

Pode-se dizer que causar emoções, controlar a temperatura do nosso

corpo, a pressão arterial, a respiração, receber e gerenciar milhares de

informações vindas dos sentidos e do sistema imunológico, controlar o andar, o

correr, o falar, o dançar, o raciocinar, o sonhar, o imaginar, o registrar

memórias e usá-las para planejar o futuro. Todas essas tarefas e muitas outras

mais são controladas e reguladas por esse órgão cor de rosa, gelatinoso que é

o “aeroporto” das vidas das pessoas.

No cérebro existem bilhões de neurônios, que são as estruturas básicas

do seu funcionamento, cuja atividade básica cerebral se dá basicamente pela

transmissão de sinais químicos e elétricos entre eles.

Cada neurônio apresenta um corpo celular, prolongamentos chamados

dendritos geralmente ramificados e que atuam como receptores de estímulos

funcionando, portanto como antenas para o neurônio e, um axônio

(prolongamento longo que atua como condutor de impulsos nervosos).

Entre os neurônios existem as sinapses, que são espaços onde as

informações passam de um neurônio para outro por meio de mediadores

químicos, os neurotransmissores. O que se tem, portanto, é uma estrutura

extremamente dinâmica na qual há uma intensa atividade elétrica, cuja

velocidade pode chegar a 360 km/h.

Existe uma divisão de tarefas não só entre as várias áreas

especializadas do cérebro, mas também entre os dois hemisférios. Como já foi

falado, é sabido que o lado esquerdo do cérebro controla todas as funções do

lado direito do corpo e vice-versa, mas isso não quer dizer que se usa o lado

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esquerdo para algumas funções e o lado direito para outras. A divisão se aplica

ao controle do corpo, mas mesmo assim é preciso que haja muita interação

entre os dois hemisférios para que o corpo se comporte como um todo e não

como duas metades esquerda e direita.

Existe sim certo grau de divisão de tarefas entres os hemisférios como,

por exemplo, em geral o lado esquerdo do cérebro que produz as palavras, que

produz a fala, seleciona em cadeia as palavras que se pensa e fala, enquanto

isso o lado direito do cérebro é o responsável por dar o tom emocional da fala,

dar o conteúdo emocional dessa fala, caso não tenha esse tom emocional

tería-se uma fala robotizada. Por isso, a comunicação depende dos dois lados

do cérebro e não apenas de um ou do outro. E isso acontece com todas as

outras funções.

Com isso, pode-se dizer que tudo o que se faz, deixa marcas no

cérebro. Este se modifica com seu próprio funcionamento, de acordo com as

experiências e decisões que a pessoa tomar. Portanto, mudanças no cérebro

são as bases do aprendizado, ou seja, a modificação das conexões entre os

neurônios.

Podendo-se dizer também, que o aprendizado é um dos maiores

prazeres que o cérebro pode ter. Junto a esse prazer, o cérebro tem uma

capacidade de se reorganizar funcionalmente, isto é, tem a capacidade de se

adaptar, de modificar a maneira como ele processa a informação, sobretudo

quando ele sofre insultos e/ou lesões.

O cérebro envia constantemente “sinais” de mal-estar ou bem-estar

quando se trata de emoções, pensamentos, capacidade criativa ou de

desenvolvimento em geral. Dependendo de como se interpreta e interioriza

cada acontecimento, a resposta virá quase que instantaneamente.

Atualmente, pode-se afirmar que o cérebro é capaz de se reorganizar. E

faz isso constantemente. A aquisição de um novo conhecimento ou habilidade

motora significa, obrigatoriamente, que esse órgão mudou. É o que acontece

também durante a recuperação após uma lesão cerebral, quando a pessoa

está se readaptando a sua nova condição.

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As alterações no cérebro começam imediatamente após a

aprendizagem, por meio do reforço ou do enfraquecimento da transmissão

sináptica. São observadas também mudanças nas membranas dos neurônios,

que transformam sua excitabilidade – ou seja, as células passam a transmitir

informações com maior ou menor facilidade. As modificações estruturais, que

incluem a formação de novas sinapses, exigem um intervalo maior. Em

condições extremas são observadas novas conexões, até mesmo em regiões

onde antes não existiam.

O cérebro, portanto, é plástico, modifica-se ao longo de toda a vida. Por

esse motivo, nenhum cérebro é idêntico a outro, assim como amanhã ele não

será igual ao que era ontem. As transformações de estrutura ocorrem de

maneira mais pronunciada nos primeiros anos de vida, quando é criado e

perdido um número astronômico de conexões entre neurônios.

Se fôssemos escrever um manual para o cérebro, esse manual deveria

começar com algumas informações básicas, sendo uma delas, que o cérebro

custa muito caro porque consome muita energia, cerca de 500 kcal/dia, 20% do

oxigênio que se respira ao longo da vida e é por isso que se precisa se

alimentar bem e com uma quantidade calórica suficiente para manter o

metabolismo do cérebro. Esse consumo calórico do cérebro é constante

independente do que se faça, dormindo, acordado, fazendo contas de cabeça,

vendo TV ou lembrando do que se aprendeu ontem.

E atenção, 500 calorias corresponde mais ou menos ao equivalente a

uma xícara cheia de açúcar, o que não vale dizer que basta tomar uma xícara

cheia de açúcar por dia que o cérebro estará bem alimentado e nutrido. Além

das calorias para manter o cérebro funcionando, é preciso uma série de sais

minerais, vitaminas, proteínas, gorduras. E, para manter esse metabolismo

elevado, o cérebro precisa receber uma quantidade de sangue (750 ml) a todo

instante, porque é o sangue que traz a glicose e todo o oxigênio que serve para

as células do cérebro usarem essa glicose como fonte de energia.

Sendo assim, a melhor maneira de cuidar do cérebro é além de investir

na saúde dele ingerindo uma alimentação correta, tendo atitudes positivas,

também se deve usá-lo muito bem, pois quanto mais se usa o cérebro, melhor

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ele fica e com mais capacidade para continuar aprendendo e fazer coisas

novas.

Importante lembrar também que não é só a alimentação saudável que

fará com que o cérebro se mantenha vivo, mas pensamentos positivos,

estimulá-lo a fazer novas conexões, pois quanto mais usarmos nosso cérebro

qualitativamente melhor ele irá funcionar.

“Se a ciência mostra que somos punhados de moléculas organizadas de maneira tão específicas que nos tornam capazes de nos apaixonar, querer o bem e até achar nossa existência um milagre, então ela só torna a vida ainda mais extraordinária. Moléculas não pensam – mas se de sua organização nasce a mente, então isso não é poesia pura?”

(Suzana Herculano-Houzel)

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Capítulo II – Memória e Aprendizagem

2.1- Memória

A memória é uma faculdade cognitiva de fundamental importância por

ser responsável pela base de formação de todo nosso conhecimento, incluindo

nossa orientação no tempo e no espaço, ou seja, ela forma a base para a

aprendizagem. Sendo assim, sem memória não há aprendizado. Essa íntima

relação memória-aprendizado envolve um complexo mecanismo de

arquivamento e recuperação de experiências vivenciadas através de sons,

imagens, sensações, ou melhor, tendo a participação direta dos sentidos e

emoções.

Segundo Roberto Lent, a memória é o “processo mediante o qual

adquirimos, formamos, conservamos e evocamos informações.” (Lent, 2008, p.

242). E ainda, segundo Izquierdo “o acervo de nossas memórias faz com que

cada um de nós seja o que é: um indivíduo, um ser para o qual não existe outro

idêntico.” (Izquierdo, 2011, p. 11). Pode-se entender também que as memórias

não são amostras fiéis de fatos reais, mas construções que são modificadas

conforme o contexto em que são recuperadas. E, ainda, nem tudo que é

vivenciado se transforma em memória. Porém, tudo que vira memória,

necessariamente passa pelas emoções. Como Izquierdo completa: “Os

maiores reguladores da aquisição, formação e da evocação das memórias são

justamente as emoções e os estados de ânimo.” (Izquierdo, 2011, p. 14).

A capacidade para lembrar não se refere a apenas um sistema de

memória, mas numa combinação de no mínimo duas estratégias utilizadas pelo

cérebro para adquirir a informação. Se observar, a pessoa irá identificar que

utiliza inconscientemente estratégias específicas para lembrar-se de diferentes

eventos e que estas estratégias podem combinar imagens e sons, sons e

sensações, imagens e sensações e uma infinidade de combinações

dependendo da situação.

É importante saber que todas as experiências são registradas pelo

cérebro. Elas são priorizadas pelo valor, significado e utilidade pelas estruturas

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e processos cerebrais e muito vai depender de como a pessoa se encontrava

no momento em que armazenou a informação (seu grau de atenção, de

concentração, emocionalmente envolvida com o momento ou não etc.). Muitos

neurônios individuais são ativados para que as informações sejam transmitidas

para outros tantos neurônios com a finalidade de registrar as informações

novas selecionando seu local de armazenamento (como se fosse selecionar

entre várias gavetas em qual delas as informações deverão ser arquivadas),

formando uma rede de conexões. Estas conexões são reforçadas pela

repetição, pelo repouso e emoções. Memórias duradouras são formadas.

A aprendizagem exige a retenção de hábitos ou de novas informações e

mesmo as atividades geralmente consideradas não intelectuais, como lavar

roupas, varrer a casa, dependem da capacidade de recordar. Isto é, quase tudo

o que se faz, depende da memória.

Então o que é verdadeiramente a memória? Memória nada mais é que a

retenção da informação aprendida. Durante a vida, aprende-se e lembra-se

muitas coisas, como número de telefones, locais, nomes, datas, situações...,

mas deve-se perceber que essas várias coisas podem não ser processadas e

armazenadas pelos mesmos circuitos cerebrais.

Se não houvesse uma forma de armazenamento mental de

representações do passado não se teria uma solução para tirar proveito da

experiência. Assim, a memória envolve um complexo mecanismo que abrange

o arquivo e a recuperação de experiências, portanto, está intimamente

associada à aprendizagem que é a habilidade de mudar o comportamento

através das experiências que foram armazenadas na memória. Podendo dizer

então, que a aprendizagem é a aquisição de novos conhecimentos e a

memória é a retenção daqueles conhecimentos aprendidos.

2.1.1- Neuroanatomia da Memória

A memória não está localizada em uma estrutura isolada no cérebro, ela

é um fenômeno biológico e psicológico envolvendo uma aliança de sistemas

cerebrais que funcionam juntos.

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Na década de 1920, o neuropsicólogo americano Karl Lashley descobriu

que a memória poderia estar distribuída sobre a vasta quantidade de neurônios

do córtex cerebral.

Estudos indicam que há considerável evidência que o lobo temporal tem

papel especial no armazenamento da memória. Uma vez estimulado, pode

desencadear lembranças e memórias de eventos passados.

O lobo temporal, contém o neocórtex temporal, que pode ser a região

potencialmente envolvida com a memória a longo prazo.

O hipocampo ajuda a selecionar onde os aspectos importantes para

fatos e eventos serão armazenados e está envolvido também com o

reconhecimento de novidades e com as relações espaciais.

A amígdala cerebral é uma espécie de “aeroporto” do cérebro. Ela se

comunica com o tálamo e com todos os sistemas sensoriais do córtex através

de suas extensas conexões. Os estímulos sensoriais vindos do meio externo

como o cheiro, som, visualização, sabor, sensação de objetos, são traduzidos

em sinais elétricos, e ativam um circuito na amígdala cerebral que está

relacionado à memória, o qual depende de conexões entre a amígdala cerebral

e o tálamo. Conexões entre a amígdala cerebral e o hipotálamo, onde

provavelmente as respostas emocionais se originam, permitem que as

emoções influenciem a aprendizagem, porque elas ativam outras conexões da

amígdala cerebral para as vias sensoriais.

O córtex pré-frontal também exibe um papel importante na resolução de

problemas e planejamento do comportamento. Por o córtex pré-frontal estar

interconectado com o lobo temporal e o tálamo, é um bom motivo para se

acreditar dele estar envolvido com a memória.

No lobo temporal medial, um grupo de estruturas interconectadas é

importante para a consolidação da memória declarativa. As estruturas chaves

são: o hipocampo, as áreas corticais próximas e as vias que conectam essas

estruturas com outras partes do cérebro.

Diante do desconhecido, o cérebro se empenha para que se lembre não

apenas da novidade, mas também das circunstâncias que envolvem o fato, no

que ajuda a aprender de forma mais prazerosa e eficiente. Daí a importância

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das aulas serem dinâmicas e atraentes para o aluno. A apreensão do conteúdo

será muito melhor.

Diversas regiões cerebrais participam dos processos de percepção,

processamento e memorização de novas impressões sensoriais. Uma das mais

importantes é o hipocampo, que se localiza na parte inferior interna do lobo

temporal. Além dele, outras regiões do mesencéfalo, como a substância negra

e a área tegmentar ventral, desempenham papel importante nessa atividade.

Como as células neurais dessas áreas se comunicam entre si, essa

função é desempenhada no cérebro por neurotransmissores, as chamadas

“substâncias mensageiras”, e, nesse caso, principalmente a dopamina. O

hipocampo contribui tanto para a fixação de conteúdos na memória quanto

para sua reativação. Novos estímulos, de maneira geral, tornam as lembranças

mais ativas do que aquelas que se referem aos fatos já conhecidos, por isso

ele é considerado o “detector de novidades” do cérebro.

Nesse processo, o hipocampo parece comparar as informações

sensoriais que chegam com o conhecimento memorizado. Se eles não

coincidem, o hipocampo envia o sinal “atenção, novo!” através de diversas

estações intermediárias, como o núcleo acumbente e o pálido ventral, até as

regiões já citadas da substância negra e da área tegmentar ventral. Delas,

saem fibras de volta para o hipocampo, fazendo com que a dopamina seja

liberada várias vezes.

Essa realimentação é a base biológica para se lembrar melhor dos fatos

ocorridos em um contexto de novidades.

Essa liberação de dopamina no hipocampo facilita a potencialização de

longa duração, um fortalecimento duradouro da ligação entre as células

neurais, ou seja, das sinapses. Nesse processo, impressões sensoriais ativam

continuamente o processamento sináptico entre certos neurônios por um longo

período. Com isso, os contatos entre as células se fortalecem, possibilitando a

gravação do conteúdo da memória por longo prazo.

Segundo o neurologista Ivan Izquierdo, existe uma rede no cérebro

responsável pelo processamento das recordações. As memórias de curta e

longa duração usam as mesmas células, mas enzimas diferentes.

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Também segundo Izquierdo, ainda não se sabe ao certo o que define se

a informação será preservada ou esquecida. Provavelmente, o destino da

lembrança está associado a fatores como interesse individual, a emoção do

momento, a necessidade de determinada informação e a quantidade de vezes

em que se foi exposto a ela.

Como uma das preocupações do educador é querer que seus alunos

aprendam o que foi ensinado, isto é, transformem a memória de curta duração

em longa duração, segue abaixo algumas dicas que podem facilitar nesse

processo:

• Criar conscientemente uma maneira sistemática de codificação de sua

memória, aplicando estratégias mnemônicas que melhor se identifique

com você (guardar informações por associação, por discrepância, por

semelhança ou ainda por diferença, etc);

• Guardar o que quiser lembrar posteriormente com riquezas de detalhes,

quanto mais informações sobre o assunto você der ao seu cérebro, mais

facilidade terá em lembrar sobre o tema depois;

• Identificar de que maneira habitualmente guarda informações com

facilidade (visual, auditivamente ou cinestesicamente) e intensifique-a.

Utilizar como regra o relaxamento, ele ajuda a combater o estresse que

é inimigo de qualquer memória que se preze, logo relaxe os músculos e

a mente antes de aprender qualquer coisa nova;

• Organizar seu pensamento, aprendendo a agrupar informações (se

quiser guardar fisionomia de pessoas por exemplo, agrupe-as de acordo

com o local onde a conheceu, semelhança com alguém já conhecido,

altura ou grupo de relacionamento que representa para você);

• Usar movimento para criar associação do sistema corpo/mente. O

movimento reforça a memória por fornecer uma âncora ou estímulo

externo para conectar com o estímulo interno. Se você quer lembrar que

ok significa positivo em inglês, una o seu polegar com o indicador e

levante os demais dedos. Você acabou de associar um gesto físico

conhecido com uma nova palavra. Quando você repetir o movimento

lembrará da palavra. Pesquisas recentes sugerem que os núcleos da

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base e o cerebelo são importantes também na coordenação do

pensamento. O movimento inicia o processo de memória exatamente

como o sabor, cheiro e a visão o fazem;

• Desafiar-se. Acostumando-se a se desafiar estará enriquecendo seu

cérebro com substâncias químicas que carregam mensagens entre as

células responsáveis pela memória;

• Dormir adequadamente. O sono é fundamental na estruturação da

memória, além disso, a privação do sono compromete a atenção e a

concentração. A redução de apenas 2h de sono é o suficiente para

dificultar a habilidade de lembrar coisas no dia seguinte;

• Comer alimentos leves e beber muita água. A ingestão de alimentação

pesada com alto teor de gordura antes de submeter-se a um teste de

habilidade mental reduz em torno 40% da capacidade de acertos. Tomar

boa quantidade de água durante o dia ajuda a digestão, a respiração,

aumenta a capacidade do sangue de carregar oxigênio e mantém a

saúde das células;

• Envolver as emoções. As emoções têm uma participação privilegiada no

nosso sistema de memória cerebral. Estudos sugerem um aumento da

memória para os acontecimentos associados com grandes emoções. O

hipocampo ajuda a selecionar onde os aspectos importantes para os

fatos e eventos serão armazenados e está envolvido também com o

reconhecimento de novidades e com as relações espaciais;

• Dividir as informações, especialmente os números. As informações são

mais fáceis de serem lembradas quando quebradas ou divididas em

padrões significativos; por essa razão, o número do telefone, CPF,

número de conta bancária, etc são divididos em subgrupos de 3 ou 4

dígitos;

• Enfatizar a memória correspondente ao estado emocional. O que

aprende em um determinado estado mental ou circunstância externa,

será melhor lembrado no mesmo estado ou circunstância;

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2.2- Aprendizagem

"Aprender é descobrir o que já se sabe. Praticar é demonstrar o que se sabe. Ensinar é lembrar aos outros que eles sabem tanto quanto você. Todos são alunos, praticantes e professores". (Richard Bach)

Qual a influência dos aspectos afetivos no processo de aprendizagem e

desenvolvimento do ser humano? Tudo. As emoções e a aprendizagem estão

interligadas.

Para que a aprendizagem aconteça, antes de qualquer outra coisa, faz-

se necessário que exista o desejo, pois a partir desse desejo é que o aluno irá

ousar em buscar, querer mais e mais, querer ir adiante.

Não se aprende aquilo que o outro dá pronto. Aprende-se em função

daquilo que se pode trabalhar sobre o que o outro diz, ou daquilo que o objeto

mostra e é descoberto. Constrói-se, inventa-se, sempre dentro das próprias

necessidades e do campo de possibilidades. Se algo incomoda, ou não se

consegue dar conta, gera desconforto interno. Dependendo de como se lida

com esse desconforto pode-se crescer ou paralisar. A paralisação leva à dor

interna. Portanto, a transformação do real em uma realidade interna é uma

obra feita com os sistemas biofisiológico, afetivo e cognitivo, junto com a mente

e, assim, procede-se para aliviar em parte a própria dor de não conhecer.

Quanto mais a pessoa se conhece e busca saídas, mais desenvolve essa

capacidade de superar seus próprios limites, menos dor provavelmente sentirá

e transformará angústia em crescimento.

É fundamental que a criança seja estimulada em sua criatividade e que

seja respondida em suas curiosidades por meio de descobertas concretas,

desenvolvendo a sua autoestima, criando em si uma maior segurança e

confiança, que será de fundamental importância em sua vida adulta.

Importante também, que os pais se empenhem nos processos

educativos dos filhos no sentido de motivá-los afetivamente ao aprendizado. O

aprendizado para ser bem sucedido não depende apenas de uma boa escola

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ou de bons programas, mas principalmente, de como a criança é tratada em

casa e dos estímulos que recebe para aprender.

Entendendo que o aprender é um processo contínuo e não acaba

quando a criança está em casa ou fora da escola. O aprendizado é uma

constante na vida de todos.

2.2.1- Neuroanatomia da Aprendizagem

O aprendizado é um processo complexo e dinâmico que resulta em

modificações estruturais e funcionais do sistema nervoso central. As

modificações ocorrem a partir de um ato motor e perceptivo que, elaborado no

córtex cerebral, dá origem à cognição.

A memória é essencial em todos os processos de aprendizagem.

Aprende-se sempre. Desde a primeira molécula, a vida só se mantém

pela adaptação, pela interação e, claro, pela aprendizagem.

Pesquisas recentes comprovam que quando é assimiladas novas

informações o cérebro se modifica, e mesmo na idade adulta tanto a massa

cinzenta quanto a branca aumentam. Isso se chama plasticidade cerebral. E,

aprender mais significa, na prática, maior habilidade para resolver as mais

diversas questões, uma vez que o aprendizado se dá em vários níveis.

O conhecimento determina em grande parte, a maneira como se vê o

mundo, como se posiciona, como se resolve problemas e como se apreende

novas informações, que por sua vez serão a base para outras.

Do ponto de vista neurológico a forma como estímulos e dados são

captados e absorvidos, tem a ver com contexto sociocultural, características e

experiências pessoais. A cultura se baseia na transmissão de conhecimentos e

habilidades. Adquire-se constantemente novas informações e aptidões.

As células neurais funcionam como unidades processadoras de

informações. Seus corpos formam a substância cinzenta, o córtex, que compõe

a camada externa do cérebro. Cada neurônio pode receber sinais de outras

células, transmitidos pelos pontos de contato, as sinapses, e depois

encaminhados ao longo de extensões chamadas axônios e que estão

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envolvidos pela bainha de mielina. Eles ficam dentro do cérebro, ou seja,

embaixo do córtex, e são chamados substância branca. Sua função é ligar os

neurônios por longas distâncias, permitindo a comunicação entre diversas

áreas.

O grau de mielinização influencia a velocidade e a força dos impulsos:

quanto mais grossa a camada isolante, melhor e mais rápido os dados são

transmitidos.

O aprendizado, antes de qualquer coisa, baseia-se em uma alteração da

comunicação entre as células do cérebro. Assim, é bastante compreensível

que a substância branca também se modifique quando se aprende uma nova

habilidade motora, andar de skate, por exemplo, pelo surgimento de novos

axônios ou com uma mielinização mais intensa daqueles já existentes. Dessa

forma, os sinais de áreas visuais teriam condição de atingir as regiões

cerebrais motoras com mais rapidez, por exemplo.

Por outro lado, alterações da massa cinzenta poderiam se revelar

também, quando surgem novos corpos celulares, ou quando células cerebrais

já existentes criam sinapses que possibilitam o processamento de informações

de maneira diferenciada. Adequações da massa branca, portanto, indicam

melhor transmissão de informações, enquanto diferenças na estrutura da

substância cinzenta dizem respeito ao processamento de dados. Tanto a

substância cinzenta quanto a branca aumentam com o aprendizado, tornando a

bainha de mielina mais grossa e surgimento de novas conexões neuronais.

A qualidade do sono também é de extrema importância para o

aprendizado. As mudanças no cérebro durante o aprendizado acontecem em

fases: a 1ª fase é durante a prática, a 2ª fase durante o sono do início da noite

quando as mudanças são “efetivadas“ ou consolidadas e, a 3ª fase durante o

sono final da madrugada, cheio de sonhos – mas que só ocorre se a 2ª fase já

tiver acontecido.

É importante lembrar que dormir para aprender não quer dizer aprender

dormindo. Aprende-se dormindo sim, mas aprende-se o que foi praticado

durante o dia.

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Com o avanço da neurociência, cientistas identificam células neurais que

monitoram o funcionamento psíquico, detectam equívocos e governam a

habilidade de melhorar o próprio desempenho com base nos enganos

cometidos. A saber:

O córtex frontal medial desempenha papel fundamental na detecção de

erros no ajuste das respostas a eles. Os neurônios frontais tornam-se ativos

sempre que pessoas alteram o comportamento depois de um feedback

negativo ou de ter a recompensa diminuída por causa dos equívocos.

O reconhecimento do erro ocorre no córtex frontal medial, uma área na

superfície cerebral no meio do lobo frontal, que inclui o cingulado anterior. Essa

parte do cérebro funciona como uma espécie de monitor de feedback negativo,

erros de ação e incerteza decisional e, portanto, como um supervisor global do

desempenho humano.

Além de reconhecer enganos, o cérebro precisa ter um meio de reagir

adaptativamente a eles, buscar alternativas para alcançar o equilíbrio.

O córtex frontal medial parece também participar desse processo.

Estudos mostram que a atividade neural nessa região aumenta, por exemplo,

antes de a pessoa desacelerar depois de um erro de ação.

O cingulado anterior parece controlar a habilidade de avaliação de

indícios e insucessos como se tivesse um guia para decisões futuras.

Tais avaliações podem depender da dopamina, que transmite sinais de

sucesso cerebral. As células neurais produtoras de dopamina alteram a

atividade quando uma recompensa é maior ou menor que o previsto. E se a

quantidade de dopamina alterasse as conexões entre os neurônios de forma

constante, a liberação diferencial poderia promover o aprendizado por meio de

sucessos e fracassos. Portanto, alterações dos níveis de dopamina podem

ajudar a explicar como se aprende por reforço positivo e negativo.

A falta então de dopamina interfere no processo de aprendizagem.

Quando se faz a reposição medicamentosa, elevando os níveis cerebrais de

dopamina, a habilidade de aprender por feedback positivo é mais acentuada

que por retorno negativo – o que faz com que se perceba a importância do

efeito da química cerebral.

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Conferir importância excessiva ao intelecto infantil pode causar

vulnerabilidade emocional ao fracasso, medo de desafios e relutância em

remediar deficiências na vida adulta. Nesse sentido, é muito mais saudável

reconhecer e incentivar a dedicação infantil que as habilidades inatas. É

fundamental que os adultos não se descuidem do fato que a criança que

resolve problemas de matemática com destreza, por exemplo, é apenas uma

criança com habilidades desenvolvidas em determinadas áreas. Pessoas que

são brilhantes em certas áreas podem apresentar déficits em outras áreas.

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Capítulo III - Emoção

“O teu amor sem exigência me diminui; a tua exigência sem amor me revolta; o teu amor exigente me engrandece.” (Henri Caffarel) “A emoção está para o prazer assim como o prazer está para o aprendizado, e a autoestima é a ferramenta que movimenta os estímulos para gerar bons resultados.” (RELVAS, M. 2009, p. 59)

A afetividade diz respeito a ações e reações internas, que interferem no

externo. É por meio dos sentimentos, que dirigidos para o interior e são

privados, que as emoções, que são dirigidas para o exterior e são públicas,

iniciam o seu impacto na mente.

As emoções de acordo com o seu grau de intensidade influenciarão em

menor ou maior escala a cognição quer na memória, aprendizagem, raciocínio

ou comunicação.

Durante muito tempo a emoção foi entendida como oposta e

independente da razão. Recentemente a neurociência tem procurado entender

como a emoção se relaciona com os processos de raciocínio e as tomadas de

decisão. Neste sentido o trabalho de Damásio (1996) realizado em estudos

com indivíduos com lesões neurológicas, veio indicar que uma redução seletiva

da emoção é tão prejudicial, como emoção excessiva. Segundo o autor “é

provável que a emoção auxilie o raciocínio” especialmente em situações

sociais e pessoais que possam envolver risco ou conflito.

Na manifestação das emoções a sua função adaptativa tem um papel

significativo na medida em que permite à pessoa ajustar-se adequadamente

diante situações que é exposta no meio ambiente, podendo ser perturbadoras

e interferir na sua ação motivacional quando são influenciadas por recordações

de insucessos ou fracassos anteriores, podendo interferir também na sua

interação social e provocar desordens emocionais como estados de ansiedade

ou fobias perante determinada situação.

A “natureza” das emoções é um dos temas arcaicos do pensamento

ocidental, sendo tematizada em diferentes manifestações da cultura como a

arte, a religião, a filosofia e a ciência, desde tempos imemoriais. Nos últimos

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anos, o avanço das neurociências possibilitou a construção de hipóteses para a

explicação das emoções, especialmente a partir dos estudos envolvendo o

sistema límbico.

Emoção, segundo o Aurélio, “Reação intensa e breve do organismo a

um lance inesperado, a qual se acompanha dum estado afetivo de conotação

penosa ou agradável”.

Damásio fala de três tipos de emoções: as de fundo, que são mais

vagas, como o entusiasmo ou o desencorajamento, as primárias, que são mais

pontuais, como a tristeza, o medo, a raiva ou a alegria, e as sociais, que são

um resultado sócio-cultural, como a compaixão, a vergonha ou o orgulho.

Enquanto os sentimentos são por um lado alterações do corpo que podem ser

reais ou simuladas, e por outros estados alterados de recursos cognitivos.

Pode-se então, entender a emoção como um estado mental e fisiológico

associada a uma diversidade quer de sentimentos, pensamentos ou

comportamentos. É a manifestação de um sentimento subjetivo que

desempenha um papel importante nas atividades humanas.

3.1- Como o Cérebro Produz as Emoções

As emoções são os fios que interligam a vida mental. São elas que

definem quem somos para nós mesmos e para as outras pessoas.

Em algum nível sabe-se o que são as emoções e não se precisa de

cientistas para nos falar a respeito delas. Todos já amaram, odiaram e sentiram

medo, raiva e alegria. Mas o que é que reúnem estados mentais como esses

no pacote que se costuma chamar de “emoções”?

Emoções em ação tornam-se poderosos fatores de motivação para

futuras atitudes. São elas que definem o rumo de cada ação e dão a partida

nas realizações de longo prazo. Mas as emoções também podem trazer

problemas. Quando o medo se transforma em ansiedade, o desejo dá lugar à

ganância, uma contrariedade converte-se em raiva, e a raiva em ira, a amizade

dá lugar à inveja e o amor à obsessão, ou o prazer se torna um vício, as

emoções começam a voltar-se contra a própria pessoa. A saúde mental

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depende da higiene emocional e, na grande maioria, os problemas mentais

refletem o colapso da organização emocional. As emoções podem ter

conseqüências tanto úteis quanto patológicas.

A tomada de consciência das emoções que se sente no organismo

manifesta alterações orgânicas compatíveis, são respostas do sistema nervoso

autônomo (SNA) ou vegetativo, ou seja, respostas autonômicas acontecem

independentes do próprio querer. Para a ocorrência dessas respostas, sejam

endócrinas, vegetativas (palpitação, sudorese...) ou motoras, há necessidade

de um comando neurológico. Para isso, quem entra em ação são as porções

subcorticais do sistema nervoso, tais como o córtex pré-frontal, o hipotálamo, o

sistema límbico e o tronco encefálico (formação reticular). Estas estruturas

serão vistas mais detalhadas.

3.2- Neuroanatomia da Emoção

Primeiramente entender-se-á a divisão básica do cérebro. Pode-se falar da

existência de três cérebros:

1- Cérebro primitivo – também conhecido como o cérebro reptiliano e

está relacionado ao agir. Ele não pensa. Localizado no mesencéfalo,

tem como estruturas o tronco encefálico (formação reticular – garantindo

a defesa da espécie, sobrevivência, fome, sono, vigília, alerta, sexo).

2- Cérebro emocional – também conhecido como o cérebro intermediário.

Está relacionado ao cuidar. Localizado no diencéfalo, tem como

estruturas o hipotálamo e o sistema límbico (prazer/desprazer,

afeto/desafeto, recompensas – resiliência).

3- Cérebro intelectual – também conhecido como o cérebro racional. Fica

no córtex pré-frontal (telencéfalo). Faz a metacognição. Possui

neurônios especializados que faz com que se tenha a capacidade para

pensar, refletir, escolher, decidir... Tem como funções a escolha de

opções e estratégias comportamentais para cada situação, manutenção

da atenção, como seguir sequência, ordenadas de pensamento.

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Controle do comportamento emocional que faz junto com o hipotálamo e

o sistema límbico.

Expressão e experiência emocional são formas distintas de entender a

emoção. Enquanto a expressão emocional pode ser medida objetivamente,

envolvendo alterações endócrinas e autonômicas, como também respostas

comportamentais; a experiência emocional, por sua vez, diz respeito a estados

subjetivos, resultados da interiorização consciente.

No final do séc. XIX, sabia-se que a expressão emocional não dependia

do córtex cerebral e sim mediada por descargas do hipotálamo.

Em 1937, James Papez – criador do primeiro modelo do circuito neural

das emoções sugeriu que um circuito interligando o hipocampo, os corpos

mamilares, os núcleos talâmicos anteriores e o giro do cíngulo formariam um

substrato neural para a expressão e a experiência emocional. Sendo assim,

Papez propõe o hipotálamo como sendo um elemento fundamental para a

expressão emocional, enquanto o giro do cíngulo serviria como uma área

cortical receptiva para as experiências emocionais, tal como o córtex visual

opera os estímulos visuais.

É sabido que a amígdala cerebral tem papel importante no

processamento emocional bem como os circuitos mamilo-talâmicos são

essenciais na elaboração das respostas emocionais. Ambos não foram

incluídos no circuito de Papez.

Em 1952, MacLean sugeriu que a elaboração da experiência e da

expressão emocional dependeria de uma ampla região do córtex cerebral

(diferentemente do que se acreditava anteriormente), composta pelos giros

orbitofrontal, cingulado e para-hipocampal (que em conjunto compõem o que

Broca havia denominado como “o grande lobo límbico”), associada aos vários

locais subcorticais interligados com essas regiões, em especial a amígdala

cerebral, o septo e o hipotálamo.

A esse complexo de estruturas MacLean sugeriu a expressão Sistema

Límbico, onde hoje está claro que esse sistema interage essencialmente com

todos os sistemas funcionais do cérebro.

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Pode-se dizer então, que o Sistema Límbico, morfologicamente, tem o

hipotálamo como posição central, fornecendo um elo de ligação entre as

estruturas límbicas telencefálicas (compondo os giros orbitofrontal, cingulado e

para-hipocampal, o hipocampo, a amígdala cerebral e a área septal) e os locais

límbicos mesencefálicos, em especial a substância cinzenta periaquedutal.

De uma maneira geral, pode-se dizer que as estruturas límbicas do

telencéfalo têm um papel modulador sobre os locais límbicos do hipotálamo e

do mesencéfalo, e o hipotálamo desempenha papel fundamental para

comandar diversos acertos homeostáticos e comportamentais relacionados

com respostas vitais para a manutenção da espécie ou da pessoa, enquanto as

estruturas límbicas do mesencéfalo estão mais diretamente relacionadas com a

execução das respostas autonômicas e comportamentais específicas.

Pode-se pensar também, que o hipotálamo e as regiões límbicas do

mesencéfalo também podem influenciar as estruturas límbica do telencéfalo e

dessa maneira, modular a elaboração cognitiva das diversas emoções.

William James, com sua teoria das emoções, propôs que a experiência

consciente daquilo que se chama emoção ocorre depois que o córtex recebe

sinais sobre as mudanças de estado fisiológico da pessoa.

Por volta de 1960, Stanley Schachter, colocou que o córtex cerebral cria

a resposta cognitiva mais adequada às informações do meio interno da pessoa,

tendo em consideração a sua expectativa e o seu contexto social.

Estudos em neurociência cognitiva da emoção tendem a enfatizar a

importância de duas regiões cerebrais: o córtex orbitofrontal e a amígdala

cerebral.

3.2.1- Estruturas Envolvidas na Emoção

Telencéfalo ou Cérebro Intelectual:

• Córtex Pré-frontal - Compreende toda a região anterior não-motora do lobo

frontal. Não faz parte do circuito límbico tradicional, mas suas intensas

conexões bi-direcionais com o tálamo, amígdala cerebral e outras estruturas

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sub-corticais explicam o importante papel que tem na gênese e,

especialmente, na expressão dos estados afetivos. Autoconsciência,

metacognição, prepara toda a dinâmica do nosso comportamento

emocional, capacidade de planejamento complexo e de resolução de

problemas, julgamento social, vontade e determinação para ação e atenção

seletiva, funciona como um filtro. É a sede da personalidade e da vida

intelectiva, modula a energia límbica e tem a possibilidade de criar

comportamentos adaptativos adequados ao tomar consciência das

emoções. Na ausência desta parte, as emoções ficam fora de controle, são

exageradas e persistem após cessar o estímulo que as provocou, até que

se esgote a energia nervosa. Parece que a mais importante função

associativa é integrar informações sensitivas externas e internas, pesar as

conseqüências de ações futuras para efetuar o planejamento motor de

acordo com as conclusões. Quando o córtex pré-frontal é lesado, a pessoa

perde senso de responsabilidade social, capacidade de concentração e de

abstração.

Nele também está situado o córtex orbitofrontal (forma a base do lobo

frontal e fica na parede superior da órbita acima dos olhos) e tem como

função desempenhar um importante papel em aspectos como avaliação,

inibição e seleção de informações sociais e emocionais. Em pessoas com

lesão nessa área há prejuízo na tomada de decisões sociais e emocionais.

Diencéfalo ou Cérebro Intermediário:

• Tálamo – responsável pelo recebimento, classificação e distribuição das

informações. Reatividade emocional e via de conexão para as estruturas

corticais pré-frontais e hipotálamo. Está ligado à motricidade, sensibilidade,

ativação do córtex e estado de alerta. Grande estação de elaboração dos

sentidos.

• Hipotálamo – estrutura com amplas ligações com as demais áreas do

prosencéfalo e mesencéfalo. Principal centro da expressão emocional

(aceleração ou abrandamento do ritmo cardíaco, alterações respiratórias,

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digestivas, sudorese, prazer, raiva, aversão, desprazer e tendência ao riso

incontrolável). Parte mais importante do sistema límbico. Está intimamente

relacionado com o SNA. Regula processos metabólicos e atividades

autônomas (homeostase). Liga o sistema nervoso ao sistema endócrino,

sintetiza a secreção de hormônios da glândula pituitária entre eles o

hormônio da gonadotropina (controle das emoções). Também controla

temperatura corporal, fome, sede e ciclos circadianos. Lesões nos núcleos

hipotalâmicos interferem em várias funções vegetativas e em alguns

comportamentos motivados, como regulação térmica, sexualidade,

combatividade, fome e sede.

• Amígdalas Cerebrais – A amígdala é uma pequenina estrutura localizada

na região antero-inferior do lobo temporal, tem a forma de uma amêndoa, e

se interliga com o hipocampo, com os núcleos septais, com a área pré-

frontal e com o núcleo dorso-medial do tálamo. Essas ligações caracterizam

sua função de controle das atividades emocionais como amizade, amor e

afeição, exteriorizações do humor e, principalmente, os estados de medo,

ira e agressividade. É essencial para a auto-preservação, originando o

medo e a ansiedade, colocando o indivíduo em alerta ou prontidão para luta

ou fuga. Em experimentos nos quais foram destruídas as amígdalas, o

animal fica dócil, sexualmente indiscriminativo, descaracterizado

afetivamente e indiferente às situações de risco. O estímulo elétrico causa

crises de violenta agressividade. A lesão das amígdalas, nos humanos, faz

com que não se saiba se a pessoa gosta ou não da pessoa que ela está

olhando, mesmo sabendo quem é, por exemplo, ou seja, perde-se o sentido

afetivo da percepção de uma informação vinda de fora. Sede das

associações estímulo-reforço/experiência emocional. Importante para os

conteúdos emocionais das memórias (trabalha na seleção de dados).

• Hipocampo – O hipocampo está relacionado à avaliação e comparação de

situações de ameaça atual com experiências anteriores semelhantes,

possibilitando escolher a melhor decisão a ser tomada. Controle dos

estados afetivos. Ligado aos fenômenos de memória, especialmente com a

formação da memória de longa duração. Funciona como um grande banco

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de dados. Nele, são armazenados registros de todos os fatos e eventos, e

essas informações ali guardadas servem para regular a atividade de várias

outras áreas do cérebro. Atua em interação com a amígdala cerebral e está

mais envolvido no registro e decifração dos padrões perceptuais do que nas

reações emocionais. Se os hipocampos direito e esquerdo forem

destruídos, nada mais pode ser gravado na memória: o indivíduo esquece

rapidamente uma mensagem recém-recebida.

• Giro Cingulado – estrutura localizada na face medial do cérebro, entre o

sulco cingulado e o corpo caloso. Sua porção frontal comanda odores e

visões com lembranças agradáveis de emoções anteriores. Importante na

fisiologia das emoções participa também da reação emocional à dor e da

regulação do comportamento agressivo. A retirada dessa estrutura em

animais selvagens domestica-os totalmente. A interrupção da comunicação

neural do circuito de Papez, através do corte de um feixe desse giro, reduz

o nível de depressão e de ansiedade pré-existentes.

• Fórnix – principal via eferente do hipocampo. Circunda o tálamo antes de

terminar no hipotálamo. Conecta o hipocampo de cada lado com o

hipotálamo.

• Giro Parahipocampal – importante via de conexão do circuito límbico junto

com o fórnix.

• Septo – Estão localizados os centros do orgasmo. Relaciona-se com as

sensações de prazer especialmente ligada à sexualidade.

Mesencéfalo ou Cérebro Primitivo:

• Área Tegmentar Ventral – É um grupo compacto de neurônios secretores

de dopamina. A descarga espontânea ou estimulação elétrica dos

neurônios dessa região produzem sensação de prazer, similares ao

orgasmo. Indivíduos que, por defeito genético, têm número reduzido de

receptores das células neurais dessa área são incapazes de se sentirem

recompensados por satisfações comuns da vida e buscam alternativas

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prazerosas incomuns e nocivas, como alcoolismo, drogas, compulsividade

por doces e por jogo.

• Núcleo Acumbente – é uma estrutura ligada à sensação do prazer.

Pertence ao sistema mesolímbico dopaminérgico. Localiza-se próximo ao

hipocampo.

• Tronco Encefálico – Regula funções vitais como respiração, consciência,

controle da temperatura, ritmo dos batimentos cardíacos. Responsável

pelas reações emocionais. Nele fica a Formação reticular (com suas

conexões com todo SNC – córtex cerebral, tálamo, hipotálamo, sistema

límbico, cerebelo, nervos cranianos e medula espinhal), controla a atividade

elétrica cortical, sendo eles: o sono e vigília, a sensibilidade como a atenção

seletiva, atividades motoras somáticas complexas, o vasomotor e o

locomotor, o SNA e o eixo hipotálamo-hipófise, controlando o sistema

neuro-endócrino, alterações fisionômicas nos estados afetivos (expressões

de raiva, alegria, tristeza, ternura, etc).

3.3- O Cérebro Afetivo-Emocional

“Esse é inseparável e fundamental para a realização e a manutenção de nossas vidas. São sistemas naturais que organizam as emoções positivas ou negativas. São várias regiões interconectadas (sistema límbico/hipotálamo). Existe a integração de áreas distintas da região cerebral, tais como: o córtex frontal orbital, o córtex cingulado anterior e as amígdalas cerebrais. O córtex frontal tem um papel crucial no refreamento da explosão impulsiva, enquanto o córtex cingulado anterior ativa outras regiões para responder ao conflito. As amígdalas cerebrais são pequenas, porém são importantes porção do cérebro, pois estão envolvidas na produção de uma resposta ao medo e a outras emoções negativas” (RELVAS, M., 2009 p.44)

Damásio (1994) articulou uma teoria em que a emoção influencia

mesmo nas tomadas diárias de decisões racionais. Ele argumenta que nossas

ações do dia-a-dia não ocorrem em um estado abstrato, impessoal. Sabe-se

que elas têm conseqüências pessoais e sociais.

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Damásio desmistifica com isso, a crença de que razão e emoção são

domínios cognitivos separados. Ele sustentou que a razão é guiada pela

avaliação emocional da conseqüência de um ato.

Pode-se dizer também que “temos duas memórias, uma que se

emociona, sente, comove..., outra que compreende, analisa, pondera, reflete...

Trata-se de emoção e razão.” (RELVAS, M. 2009, p. 59).

A relação razão-emoção tem-se mostrado aspecto importante de estudo.

Percebe-se atualmente, que as emoções desempenham papel fundamental na

cognição. Segundo Damásio, apesar de as emoções não serem atos racionais,

são elas que, através dos sentimentos, desencadeiam o processo cognitivo.

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Capítulo IV – Motivação e Recompensa

4.1- Motivação

Segundo a Wikipédia, a enciclopédia livre da web, “Motivação (do latim

movere, mover) designa em psicologia, em etologia e em outras ciências

humanas a condição do organismo que influencia a direção (orientação para

um objetivo) do comportamento. Em outras palavras é o impulso interno que

leva à ação. Assim a principal questão da psicologia da motivação é ‘por que o

indivíduo se comporta da maneira como ele o faz?’. ‘O estudo da motivação

comporta a busca de princípios (gerais) que nos auxiliem a compreender, por

que seres humanos e animais em determinadas situações específicas

escolhem, iniciam e mantém determinadas ações.’”

Uma pessoa é motivada, em qualquer momento, por uma variedade de

fatores internos e externos. A força de cada motivo e o padrão influenciam na

maneira como se vê o mundo, nas coisas em que se pensa e nas ações em

que se empenha. Toda motivação leva a um comportamento, como a falta de

motivação também gera um comportamento. E a emoção perpassa por ambas

as situações.

Como se sabe quando uma pessoa está motivada? Através de suas

reações e seus comportamentos e isso fará a grande diferença no momento do

aprendizado.

A motivação é um fator que na maioria das vezes, se não em todos os

comportamentos, é responsável por aqueles processos que especificam a

qualidade do comportamento direcionado para um objetivo.

Aprender é um ato “desejante”. Se não houver desejo de aprender o

cérebro não realizará novas conexões de forma alguma. O aluno precisa se

sentir motivado positivamente para ter interesse e aprender. O cérebro fica à

espera de estímulos para que os circuitos neurais se ampliem, fazendo jus de

sua plasticidade. Deste modo, é possível compreender que os aspectos

motivacionais são aqueles que movem a pessoa a determinado destino com

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determinado objetivo. E estes objetivos são peculiares a cada um, constituídos

a partir da história singular e única de cada um.

Todas as pessoas têm necessidades próprias, carências que precisam

ser supridas para que se possa ficar em equilíbrio. Uma vez que a pessoa

experimenta um estado de desequilíbrio, a tensão prevalece e surge a busca

por sanar este estado desagradável, surgem então as expectativas e a crença

de que, por meio de determinadas ações torna-se possível atingir um estado

confortável, livre do mal-estar que o desequilíbrio causa.

O desinteresse pelo saber, a desmotivação e a consequente indisciplina

tem feito da sala de aula um campo de guerra. São professores pressionados

pelos cronogramas que têm de cumprir e alunos que fogem da sala de aula ou

“voam” na sala de aula. Em muitas situações, esta sala de aula mostra-se

distanciada da realidade da vida do educando, e que, portanto não vê o aluno

como pessoa de sua aprendizagem, desestimulando-o ou nem percebendo

cada ser único e complexo que está sentado em cada carteira.

É percebido em muitas escolas, principalmente nas séries iniciais, um

automatismo dentro da sala de aula, o que leva a um aprendizado mecânico

com sobrecarga da memória e desvinculado do ato de pensar, de refletir e de

sentir. A sala de aula tem um potencial humano tão grande a ser explorado que

se pode dizer, a partir do trabalho que o professor realiza nela, se exercem

influências tanto positivas quanto negativas, que invadem a vida do aluno até a

sua idade adulta, levando-o ou ao sucesso ou ao fracasso.

O professor precisa se conhecer, respeitar seus limites e,

principalmente, saber separar o que é seu e o que é do outro. Não será

possível atuar com serenidade se a mente do professor estiver agitada, não

será possível querer ajudar na formação de um ser humano melhor se antes

não se realizar esse processo de melhoramento em si mesmo, não será

possível atuar com bondade se não se cultivar valores.

O educador tem muitas responsabilidades, pois quando se dedica de

coração ajuda a construir infinitas personalidades. Descobrindo estratégias

para compreender seus educandos e, acima de tudo, para motivá-los a obter

prazer em descobrir novos ensinamentos. São os educadores fascinantes que

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ajudam seus alunos a construir suas próprias estradas quando procuram

formas diversas para estimulá-los em suas capacidades, pois é a partir desse

caminho que eles irão aprender a desenvolver projetos, criar novos trajetos.

É plantando sementes em cada um e fazendo brotar motivação que

surgirá flores e frutos e assim, acreditando no poder de cada um, o educador

vai ajudando a esculpir cérebros desejantes.

A conscientização desses fatos provoca novas formas de trabalhar o

processo de ensino-aprendizagem, respeitando a velocidade de aprendizagem

de cada aluno, suas limitações e acima de tudo despertando a necessidade de

criar novos métodos para fazer com que os conhecimentos sejam recebidos

com alegria e prazer. É claro que, para que tais fatos aconteçam, será

necessária uma série de atitudes, desde uma nova forma de preparar as aulas,

a criação de aulas emocionantes, destacando aplicações imediatas dos

conhecimentos transmitidos, bem como o tempo para que o processo de

consolidação cerebral de cada aluno conclua o aprendido.

Muitas vezes os educadores se perguntam: como desenvolver a

motivação nas pessoas?

Percebe-se que há um problema quando se pede a alguém que faça

alguma coisa e essa pessoa não quer fazer o que lhe pede, mas sim aquilo que

ela própria quer e que é diferente do que lhe foi pedido. Em tais casos, o

problema parece ser a falta de motivação. Assim, ao que parece, alguém devia

motivar alguém. Isto é mais ou menos como se alguém quisesse produzir fome

noutra pessoa. Pode-se provocar apetite na outra pessoa, mas só quando ela

já tem alguma fome. Se não houver fome, não funciona!

É precisamente entre os 3 e os 10 anos que o cérebro está sempre à

procura de novo alimento, o que, de resto, o mundo lhe oferece em

abundância: a cada segundo, uma quantidade incontável de impressões abre

caminho pela via dos sentidos.

A questão então, não é como se pode motivar alguém, mas

principalmente, por que é que as pessoas tantas vezes, estão desmotivadas?

Na vida em geral e principalmente na sala de aula, elogia-se e destaca-

se o melhor. E com isso apenas se consegue que todos os outros se sintam

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mal. Os prêmios são importantes para cada um dos alunos. Então, um

professor entusiasmado pela sua área, que ocasionalmente elogia os alunos e

que talvez, também de vez em quando, lance um olhar afetuoso aos alunos,

esse será o professor que conseguirá por os sistemas de recompensa de seus

alunos em funcionamento.

4.1.1- O Processo Motivacional

O comportamento é reflexo daquilo que se necessita ou deseja fazer. A

motivação, diz respeito às necessidades internas, vem esclarecer por que as

pessoas fazem o que fazem. Pode-se entender então que a motivação é o

processo pelo qual o organismo desempenha determinado comportamento

com o objetivo de controlar o ambiente, no qual está inserido de acordo com

suas próprias necessidades. Nesse processo, por um lado está envolvido o

aprendizado da relação entre estímulo biologicamente significativo e, por outro

lado, estímulos neutros que prenunciem sua ocorrência. Desta forma, o

organismo aproxima-se e contacta estímulos alvos úteis, evita estímulos

nocivos e ignora aqueles que são indiferentes.

Uma série de fatores que podem afetar a motivação do aluno em seu

processo de aprendizagem é: as expectativas e estilos dos professores, os

desejos e aspirações dos pais e familiares, os colegas de sala, a estruturação

das aulas, o espaço físico da sala de aula, o currículo escolar, a organização

do sistema educacional, as políticas educacionais e, principalmente as próprias

características individuais de cada aluno.

Pode-se dizer que todo o comportamento é um reflexo das funções

cerebrais, pois a aprendizagem é o resultado da estimulação do ambiente

sobre o aluno que se expressa diante de uma situação problema sobre a forma

de mudanças de comportamento, que se transforma em uma experiência.

A aprendizagem das crianças tem características próprias e formas

distintas da dos adultos e o processo de aprendizagem é progressivo e

cumulativo e nem sempre ocorre de forma linear, mas sim por saltos e em

ciclos; e que o medo e a passividade não geram aprendizagem coerente ou ao

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menos inteligente, muito pelo contrário, são capazes de inibir a participação

das crianças no processo de aprendizagem, isto é, seus inimigos.

4.1.2- Neuroanatomia da Motivação

Por a motivação ser considerada a antecipação da recompensa, as

estruturas envolvidas para a motivação são as mesmas da emoção somadas

ao Sistema de Recompensa (área tegmentar ventral e núcleo acumbente).

Acredita-se que o estado motivacional de um organismo seja controlado,

de modo importante, por processos reguladores homeostáticos básicos

essenciais para a sobrevivência. O hipotálamo, por suas funções integrativas,

parece ser uma estrutura ideal do centro de controle da motivação, assim como

estruturas como o neocórtex e o sistema límbico. Um dos principais sistemas

neuronais envolvidos no processamento de informação de recompensa é o

sistema dopaminérgico. O hipotálamo também tem uma função importante no

processo motivacional por exercer um controle no sistema nervoso autônomo

(SNA) e endócrino. Assim, durante um comportamento motivado, o hipotálamo

comanda as respostas do SNA ou endócrina para ajudar na execução desse

comportamento.

4.2- Sistema de Recompensa

Uma idéia muito popular e muito errada é que as decisões são feitas de

maneira racional, isto é, a pessoa avaliaria quão positivo ou quão negativo,

quantos benefícios, quantos custos se teria com alternativas possíveis e

tomaria uma decisão lógica a partir daí. As melhores decisões seriam

supostamente lógicas e racionais. Porém isso não é verdadeiro. O cérebro

possui um sistema especializado em atribuir valores àquilo que se faz, quão

bom ou quão ruim alguma coisa é.

A base dessa atribuição de valores é a emoção. É como o corpo se

sente como resultado do que o cérebro processa e avalia uma informação. E,

um dos sistemas que permite ao cérebro fazer essa atribuição de valor positivo,

é o que se chama de sistema de recompensa e motivação. É um conjunto de

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estruturas no cérebro que acompanha o tempo todo o que a pessoa espera o

que aconteça, o que acontece de fato e o que acontece também de maneira

inesperada e sinaliza ao restante do cérebro quando aquilo é interessante,

quando aquilo é bom de alguma maneira.

O resultado é a sensação de prazer, de satisfação que se expressa no

corpo. Essa emoção positiva que o corpo expressa de acordo com o que o

cérebro acabou de fazer é um sinal que o corpo devolve ao cérebro de que

alguma coisa deu certa e que, portanto deve ser repetida mais para frente, vale

a pena ser feito de novo. Daí em diante, toda vez que se pensar em fazer

alguma coisa que, de acordo com esse sistema tem chance de voltar a dar

certo, o cérebro avalia que aquilo tem boas chances de dar certo de novo, a

mesma resposta de satisfação já é produzida por antecipação. Quer dizer, esse

sistema de recompensa volta a ser ativado por antecipação e essa antecipação

do prazer, do que pode dar certo é o que se chama de motivação.

Ao usar a atenção e conseguir chegar a uma informação importante,

resolver algo que estava complicado, achar algo que se procurava, entra em

ação um sistema no cérebro chamado sistema de recompensa (conjunto de

estruturas que sinaliza para o restante do cérebro quando alguma coisa dá

certo, seja algo que se desejava ou algo que se estava tentando fazer e

conseguiu, ou ainda, algo que acontece inesperadamente, mas é considerado

bom e importante).

Então, quando se ativa o sistema de recompensa aumenta-se o

funcionamento de dois de seus componentes mais importante: a área

tegmentar ventral e o núcleo acumbente. A área tegmentar ventral é acionada

quando recebe do córtex pré-frontal um sinal de que algo importante,

interessante e positivo acabou de acontecer ou tem grandes chances de

acontecer em breve. Nesse momento os neurônios da área tegmentar ventral

despejam dopamina sobre os do núcleo acumbente, modificando a atividade

elétrica desses neurônios. Quanto mais dopamina liberada sobre os neurônios

do núcleo acumbente maior é a ativação deste. E, por mecanismos ainda

desconhecidos, maior é a sensação de bem-estar e prazer que é associado

àquele comportamento.

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A ativação de estruturas desse sistema de recompensa provoca no

corpo uma sensação de prazer, podendo chegar até a euforia. E é exatamente

essa sensação de prazer que o cérebro registra de volta como um grande

indicador de que aquilo deu certo. Com isso, entende-se que a ativação do

sistema de recompensa não é apenas uma resposta em relação àquilo que já

deu certo, mas baseado nas experiências anteriores daquilo que deu certo, o

cérebro é capaz de criar expectativas sobre aquilo que pode vir a dar certo,

sendo então, o sistema de recompensa ativado por antecipação e, esse prazer

que é antecipado, é o que se chama de motivação. E essa antecipação do

prazer que pode dar certo é que faz com se saia literalmente do lugar, que faz

com que a pessoa se movimente para sair para a ação.

O que ativa então o sistema de recompensa? Pode-se dizer que

novidades, o resultado interessante pelo acaso, a conquista do resultado

esperado, antecipar resultado positivo levando a pessoa a ter motivação para

agir são pontos chaves para ativá-lo.

As recompensas são coisas que o organismo trabalha para conseguir ou

coisas que criam um comportamento que as fazem acontecer com maior

frequência.

A antecipação do prazer que se dá com a ativação do sistema de

recompensa é fundamental para o aprendizado por duas razões: primeiro

porque a motivação faz com que a pessoa se exponha às oportunidades para

aprender, levando à prática. A motivação facilita então a prática nesse sentido.

E, segundo, é que a ativação do sistema de recompensa libera sobre o cérebro

substâncias que promovem modificações nas sinapses interferindo diretamente

nos mecanismos moleculares do aprendizado.

Então a ativação do sistema de recompensa, a motivação com

aprendizado, com qualquer outra tarefa, facilita fisicamente o processo de

aprendizado no cérebro.

Quando se reconhece o papel das novidades e da variedade, descobre-

se como é importante que o aprendizado não se restrinja a uma coisa só. A

variedade promoverá a motivação com a busca pelo aprendizado, pois a

presença de coisas novas aciona automaticamente no cérebro o lócus

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coeruleus, estrutura que nos deixa acordados e atentos. Esta por sua vez ativa

uma outra, no sistema de recompensa, que direciona o interesse para objetos

novos. O encontro com algo que é novidade leva a uma liberação de dopamina

nesta estrutura aguçando o interesse e vontade de continuar.

O aprendizado é, portanto, uma das grandes fontes de ativação do

sistema de recompensa, ou seja, partir de uma situação ou problema onde não

se consegue resolver e a pessoa descobrir que se tem sim uma solução para

aquele problema. Então, descobrir que peças de um quebra-cabeça se

encaixam, descobrir uma resposta para uma pergunta, descobrir uma solução

para um problema é por definição um dos grandes estímulos para o sistema de

recompensa de cada um.

Aprender dá um grande prazer. A questão é como chegar a esse

momento do aprendizado, isto é, o momento em que o cérebro registra o

problema que ele tinha para resolver e percebe que ele tem uma solução, que

tem como resolver tal problema.

O sistema de recompensa é ajustado àquele nível ótimo de dificuldade,

onde o esforço vale a pena, ou seja, onde a pessoa ainda não domina

totalmente aquele assunto, mas considera que tem possibilidade de aprender,

de resolver, de vir a dominar o assunto, mas ela ainda não está totalmente

incapaz de dominar aquele assunto. Pois se algo se torna difícil demais, o

sistema de recompensa não será ativado, pois se perderá o interesse.

Com o aprendizado, cada um desenvolve habilidades e, o que no

começo era difícil, torna-se fácil. Esse é justamente uma das indicações de que

o aprendizado aconteceu de fato.

É interessante também, mencionar o quão é importante e fundamental o

reforço positivo. Muitas vezes a criança acerta e não sabe que acertou,

simplesmente não sabe que aquele resultado era o esperado.

Ao professor cabe fundamentalmente não só ensinar e possibilitar o

aprendizado do aluno, mas também ajudar esse aluno a reconhecer quando

ele acerta. E a única maneira de se fazer isso é através do reforço positivo, ou

seja, usando palavras de encorajamento, dar parabéns, dizer ao aluno que se

orgulha dele. Às vezes é exatamente isso que faltava para o sistema de

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recompensa do aluno ser acionado e perceber que ele conseguiu de fato e

consequentemente continuar, ir adiante para gerar aquela satisfação que o leva

a ter mais motivação e, portanto praticar mais e mais. Esse elogio é um

instrumento poderosíssimo de motivação, pois é sabendo que se fez certo, que

valeu à pena o esforço, que se motiva a continuar insistindo a continuar.

Ninguém consegue fazer nada simplesmente com críticas. As críticas

são importantes, têm seu papel fundamental para o crescimento da pessoa,

mas é preciso que se saiba como fazer essa crítica, senão ao invés de ser uma

crítica construtiva se tornará numa crítica destrutiva, paralisante.

As críticas construtivas levam à reflexão e mudança. Nem sempre a

criança percebe que errou, então se amorosamente é dado esse retorno

negativo dizendo o que está errado e que precisa ser feito de outra forma, ou

que o resultado deveria ser outro, ou ainda o método para resolução do

problema não deveria ser o que foi usado, a crítica fará com que a criança

mude e, consequentemente o cérebro muda.

Ensinar, entretanto, ao aluno a fazer a auto-apreciação do seu empenho

e dedicação percebendo quanto agradável ou desagradável o aprendizado está

sendo para si, observando o quanto está se sentindo motivado para continuar a

se dedicar ao aprendizado, ajuda-o também a buscar alternativas para

aprender de forma diferente e levar ao conhecimento do educador para este

também se observar e continuar ou reavaliar sua forma de ensinar.

“...a ‘boa’ constituição do sujeito está em consonância com a ligação, com a tradição, isto é, o saber é transmitido pelos adultos significativos. A inteligência e a capacidade para beneficiar-se do letramento exigem a participação de um saber que não é apenas racional. Para interpretar criativamente um texto, há necessidade da presença do sujeito, de suas marcas. Sem uso, não há reconstrução nem autonomia.” (RUBINSTEIN, 2003, p. 87)

Existe a possibilidade de haver aprendizado sem corpo e sem emoções?

Não. A neurociência considera que o comportamento é o resultado do

funcionamento desse cérebro. A mente e os pensamentos dependem do

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funcionamento do cérebro. Então se pode dizer que se o comportamento muda

é porque o cérebro muda.

O cérebro funciona junto com o corpo ao qual ele pertence. Quem se é e

o corpo que se tem, depende de como cada cérebro funciona.

O corpo é extremamente importante para o aprendizado porque ele é o

espelho das nossas emoções. O que se aprende, que informações são

importantes, o quanto se gosta de algo e do que se prefere aprender são

questões que possuem um componente emocional muito grande e isso envolve

nosso corpo, dependendo de como o nosso cérebro expressa essas emoções

no nosso corpo e como ele registra essas emoções todas de volta. Então, o

corpo não funciona sem o cérebro e vice-versa.

Assim, se o professor estiver atento e observar a expressão corporal de

seu aluno, poderá perceber se há algo acontecendo e afligindo seu aluno e,

com isso ajudá-lo carinhosamente a ultrapassar seus obstáculos e confiar em

seu poder pessoal de superação.

O desafio, portanto, é encontrar caminhos efetivos para ajudar os alunos

a lidar com as situações difíceis e/ou estressantes e evitar que haja

repercussões para a saúde e consequentemente, para o aprendizado.

Resiliência e empatia, entre outras emoções, ativam o sistema de

recompensa, facilitando o convívio promovendo o bem estar e a felicidade.

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Capítulo V- Ensino-Aprendizagem sob um Novo Olhar

5.1- O Pensamento

A mente não para, é uma constante enxurrada de pensamentos, ideias,

aflições, medos e por aí vai sem parar.

Se cada um aprender a escutar sua mente e procurar entender seus

pensamentos estará dando um grande passo para seu crescimento pessoal,

pois entendendo os próprios pensamentos, entende-se suas emoções e pode-

se dar um direcionamento ou buscar esclarecimento para aquilo que sozinho

não se consegue dar conta.

Quando o professor entende e conhece cada aluno seu individualmente,

ele será um grande facilitador para esclarecimentos de tantos pensamentos

inquietos, aflitos e inseguros, ou ainda alimentar sonhos, esperanças, criar

possibilidades e oportunidades para o desenvolvimento e crescimento

individual.

Então, como se dá o pensamento? Diz Rubem Alves: “O nascimento do

pensamento é igual ao nascimento de uma criança: tudo começa com um ato

de amor. Uma semente há de ser depositada no ventre vazio. E a semente do

pensamento é o sonho.” (ALVES, 1994).

O pensamento então não nasce da razão e sim da emoção. Precisa-se

da emoção para seguir adiante, pois é a partir da emoção que tudo irá

acontecer, seja positivamente, seja negativamente. Ou os pensamentos serão

de encorajamento e motivação, ou serão de descrença e desinteresse, o que

levará à descompensação.

“Todo ser humano tem dificuldade de gerenciar seus pensamentos e emoções. Ninguém é senhor pleno de seu próprio mundo psíquico. O maior problema é vedar os olhos para não enxergar os próprios problemas. Sábio é o ser humano que tem coragem de ir diante do espelho de sua alma para reconhecer seus erros e fracassos e utilizá-los para plantar as mais belas sementes nos terrenos de sua inteligência.” (Cury, 2002, p. 20)

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5.2- Professor/Educador – Aluno

“Toda experiência do adulto com a criança deixa marcas decisivas.” (Eliana Sousa Sicsú)

As emoções estão presentes em todo momento, de todas as formas, nas

relações com objetos e principalmente com o outro, onde se criam laços

afetivos que ficam pelo resto da vida. O educador precisa ver o aluno como um

ser inteiro e único que pensa e possui sentimentos, afetos, percepções...

Vive-se hoje em um mundo onde os laços afetivos estão se tornando

distantes, onde muitas crianças não conhecem, desde a vida uterina, o que é

afeto e buscam nas escolas e muitas vezes com professores o que lhes faltam

em casa. A carência emocional é cada vez mais nítida e gritante, por isso é

importante o professor conhecer o histórico familiar de cada aluno para poder

com carinho e afeto tentar ampliar as referências de mundo e trabalhar as

potencialidades que cada aluno possui aumentando sua autoestima.

Em busca do crescimento e amadurecimento relacional a ênfase se dá

no entrelaçar a construção de vínculos de qualidade no desenvolvimento e na

aprendizagem, permeados pela afetividade sob a dimensão da relação inicial

entre: mãe e bebê, família e criança, assim como educador e educando.

A criança é um ser e enquanto pessoa precisa de vínculos a todo o

momento para viver em sociedade seja ela familiar ou não, pois é a partir desta

comunidade, desta vida em sociedade que ela vai formando a sua história de

vida e vai percebendo que não está só, que ela precisa do outro para se

relacionar e se desenvolver (ANTUNES, 1999).

Um dos grandes desafios para a criança, é o momento em que se

integra na vida escolar, mas é também um dos lugares em que ela mais terá

capacidade para estabelecer outras relações afetivas, de criar novos vínculos

no relacionamento com o outro, seja professor, colegas de classe, mães dos

colegas, funcionários, dentre outros.

A escola e principalmente o professor passam a ser um fator externo

que influenciará no seu sucesso ou no seu fracasso durante toda sua vida.

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Todo ser humano necessita do outro significativo para sobreviver e

através do contato com este outro, a pessoa passa a aprender com esse outro

e criar laços afetivos. Um dos lugares onde a criança mais se relaciona com o

outro é na instituição escola: ela interage, brinca, aprende... Com isto fica

notória a relação entre a afetividade e o desenvolvimento cognitivo: o sentir e o

pensar estão totalmente ligados.

O professor que se desenvolve afetivamente e efetivamente no seu

trabalho como verdadeiro formador, acredita na atuação profissional e tem

como competência a aprendizagem, deixará marcas nos alunos, pois tanto o

educador como o aluno farão parte da história um do outro.

A experiência professor-aluno para que seja significativa, deve ser

permeada por afetividade, já que cognição e afeto caminham lado a lado na

trilha do conhecimento humano. Por isso mesmo, aprender é uma forma de

desenvolvimento de competências individuais, além de ser um exercício

constante em estar de braços abertos para todo e qualquer conhecimento.

Aprendizagem é mudança de comportamento, seja essa mudança por

fatores intrínsecos ou extrínsecos ao sujeito aprendiz. E, o conhecimento só

produz mudança na medida em que também é conhecimento afetivo.

Portanto é preciso ter o cuidado de transmitir as mensagens com clareza

e pensar nas consequências do que se diz, sem, contudo transformarem-se em

armas que ferem, humilham ou danificam a autoestima dos outros.

O sucesso ou fracasso do aluno, na escola, depende em parte de sua

autoestima, da confiança que tem em si mesmo. Mas essa autoestima e essa

confiança originam-se da estima e da confiança que os outros depositam nele,

principalmente o professor. A necessidade de realização expressa a tendência

a transformar em realidade o que se é potencialmente, a realizar os planos e

sonhos, a alcançar os objetivos.

A busca da realização é uma das motivações básicas do ser humano;

pode atuar fortemente em sala de aula, em benefício da aprendizagem.

A criança ao nascer traz consigo uma herança individual na qual estão

impressas características, prerrogativas que lhe são próprias e que foram

adquiridas em sua existência. Isto quer dizer que as pessoas são diferentes

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umas das outras desde o nascimento, que cada uma tem um potencial de

acordo com o seu grau de evolução e que traz tendências tanto positivas

quanto negativas ao nascer.

O professor tem sua parcela de responsabilidade em atuar de forma que

contribua para que a herança da criança seja enriquecida positivamente.

Estímulos positivos atuam na vontade da criança a caminho de seu

aprendizado e de sua superação. São eles que movem a vontade, e esta tem

uma importância fundamental no processo de aprendizagem e de superação

do aluno, pois, pela mobilização da vontade, as faculdades da inteligência

podem cumprir cada vez mais com as funções que lhes correspondem, pois

mover a vontade é atuar na causa que estimula o aprender.

“O bom exemplo do professor é um grande estímulo para o aluno em todos os aspectos que configuram a sua aprendizagem. Um professor afetuoso, alegre, paciente, que gosta do que faz, é um estímulo poderoso no processo de aprendizagem do aluno. O ambiente da sala de aula também deve ser um estímulo para a criança. Da mesma forma que existem os estímulos positivos, existem também os negativos, provenientes da falta de conhecimento e de sensibilidade do educador... um professor que é afetuoso ao corrigir uma criança a estimula positivamente para modificar a sua conduta, principalmente quando conseguir levar a criança a pensar e a identificar que o primeiro a ser prejudicado é quem comete o erro.” (PADUA, 2010, p.28-29)

Segundo CURY (2003), os professores precisam deixar de ser bons e se

tornarem fascinantes para que suas aulas e conteúdos façam sentido e

possam ser assimilados por seus alunos. Diz também que são sete os pecados

capitais dos professores:

1- Corrigir publicamente (causa um clima desagradável para todos os

presentes, além do trauma que a pessoa terá que enfrentar dali em

diante. O ideal continua sendo conversar e levar a pessoa a refletir

sobre seu ato em particular);

2- Expressar autoridade com agressividade (a autoridade dos pais e

professores deve ser conquistada com inteligência e amor. Expressar

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autoridade com agressividade passa-se a ser respeitado por temor e

não pelo reconhecimento do caráter);

3- Ser excessivamente crítico, obstruindo a infância da criança (através

dos erros e falhas também se aprende. Enclausurar uma criança num

conjunto de regras adultas só contribui para que ela seja um adulto

infeliz);

4- Punir quando estiver irado e colocar limites sem dar explicações

(buscar sempre compreender a situação e levar a criança a refletir

sobre o que fez, não descontar a ira ou frustração em cima dela);

5- Ser impaciente e desistir de educar (quando a criança ou o jovem

parece não ter jeito, falta paciência ao educador. As dores vividas por

eles e seus pedidos de ajuda, carinho e conforto são das mais

variadas formas, até com agressividade. Nessas horas, é preciso

acreditar e investir para que não se percam nos seus mundos de

sofrimento);

6- Não cumprir com a palavra (saber dar um não é uma forma de

educar as emoções, desde que uma vez dada a palavra, esta não

volte atrás. As frustrações vividas por um não recebido ensinam à

criança que nem tudo que ela desejar, obrigatoriamente alcançará.

Deve-se cumprir com o que se promete ou se fala, do contrário, cai-

se em descrédito) e,

7- Destruir a esperança e os sonhos (com sonhos e esperança têm-se

razões para viver. A criança sem motivação torna-se opaca, sem

alegria. O educador ideal das emoções, jamais deve fazer críticas

severas às pessoas).

Havendo um bom exemplo, a criança seguirá sem precisar de ordens.

Levar um aluno a pensar representa um grande estímulo, pois isso ativará seu

sistema de recompensa aumentando seu desejo de continuar. O professor

plantará boas sementes para que germinem bons frutos.

Na relação professor-aluno é importante perceber que se o professor

simplesmente manda seu aluno copiar, decorar para aprender, não irá

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conseguir a atenção de seu aluno, o pensamento dele irá se dissipar, se

distrairá e tudo se tornará um caos. Porém, se o professor tiver o cuidado para

conseguir conquistar seu aluno, este se sentirá motivado e emocionado. Seu

sistema de recompensa será ativado, melhorando seu estado de ânimo, ficará

alerta e acreditará que pode conseguir. Neurotransmissores como a

noradrenalina (importante para motivação), serotonina (importante para

emoção e sensação de prazer), acetilcolina (importante para atenção e

aprendizado), dopamina (importante para motivação, equilíbrio e ter prazer em

aprender), glutamato (importante para que os neurônios façam as conexões

entre si), são ativados. Com isso, o aluno estará inteiro em sala de aula, o que

poderia ser sacrifício passa a ser prazer. Porém, sem conhecimento desse

funcionamento do cérebro, tudo será motivo para haver discriminação,

desrespeito e falta de motivação em sala de aula por ambas as partes.

5.3- Novos Paradigmas da Educação

Cortella em seu vídeo “Novos Paradigmas da Educação” diz: "Temos um

sinal curioso de uma certa distorção pedagógica quando alguém nos diz ‘os

alunos de hoje não são mais os mesmos’ e continua dando aula como a 10 ou

15 anos atrás." "Toda mudança implica um desequilíbrio momentâneo. O medo

desse desequilíbrio pode ser paralisante. Se, na tentativa de andar, um bebê

não tivesse a coragem de enfrentar isso, ele nunca andaria." "Aquele que lida

com o futuro, que lida com a Educação, no qual se deseja uma melhor

condição de existência, na qual a vitalidade, a dignidade e a fraternidade

tenham lugar, é um educador esperançoso”.

É sabido que o mundo não é mais o mesmo. Como fazer então as

coisas do mesmo modo? Há coisas na educação que precisam ter uma

persistência maior, mas há algo aí que não se pode esquecer, que é a

importância de olhar a realidade do modo como ela se coloca, porque

educação lida com o futuro. Toma-se o passado como referência, mas não

como direção e, continuar repetindo tudo da mesma forma é certo de se ter

problemas e dificuldades. Vive-se num mundo em constante mudança, se o

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mundo muda, imprescendivelmente a pessoa muda também apesar de

algumas pessoas tentarem ficar presas a alguns conceitos e preconceitos

dificultando suas próprias mudanças e daí não perceberem as mudanças e

estranharem as mudanças dos alunos, das pessoas... Ninguém nasce pronto, a

pessoa vai se construindo ao longo da vida. Em novos tempos é preciso ter

novas atitudes. Não cabe estar num processo de "resgate", mas sim de

"construção" da cidadania. Portanto, a proposta de ciclos de aprendizagem faz

parte dessa construção, com reorientações, com reformatações, com uma nova

rediscussão dentro das comunidades educacionais.

Quando se trata de educação, deve haver clareza para onde se deseja

ir. Quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve, não é mesmo? Seja

seriação, seja ciclo, seja promoção, seja decreto, seja o que for, qualquer coisa

serve porque não se tem um objetivo. No entanto, se há uma perspectiva de

construção da cidadania, de não vitimar ainda mais imensas massas da

população, é necessário repensar e rediscutir certas questões. E isso exige...

paciência. A paciência tem sido perdida. Não tem havido mais paciência na

relação pedagógica. Aliás, o mundo está sem paciência. A globalização cobra e

exige o tempo todo. Se você não se adequar, está fora! E pelo que se tem

visto, está fora mesmo!

Não se tem mais paciência para esperar o elevador, para aprender, para

cuidar, para refletir. O computador demora 20 segundos para abrir o programa

e começa-se a batucar no teclado. Perde-se tempo! Quando se ouve falar de

um livro muito bom, pergunta-se se é grande. Quando o assunto é um

excelente curso, saber se é comprido é importante. Não há mais paciência nem

para a amizade; afinal, amigo dá trabalho: conversa. Ademais, fica triste, bebe,

precisa de colo, pede dinheiro emprestado. Algumas pessoas até substituíram

a palavra amizade por network, que, em inglês, significa estabelecer uma rede

de relações e é usada num contexto empresarial. Enfim, não se tem mais as

três paciências necessárias apontadas por Paulo Freire: a pedagógica, a

histórica e a afetiva.

A paciência histórica diz respeito a observar o momento, ou seja, é a

capacidade de perceber que as coisas têm um momento de acontecer e

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trabalhar esse momento na condição que ele tem. Ser capaz, inclusive, de

aguardar, quando as condições não são propícias. Paulo Freire tem uma frase

que é clássica. Ele dizia: "Se você não fizer hoje o que hoje pode ser feito e

tentar fazer hoje o que não pode ser feito, dificilmente fará amanhã o que hoje

deixou de fazer." Porque as condições se alteram. Paciência histórica é

perceber que algumas coisas têm seu tempo. Se forem tentadas antes podem

ser conduzidas ao fracasso; se não forem tentadas no momento certo, podem

perder a eficácia. Se deixarem para o amanhã, esse amanhã pode vir a não

existir.

A paciência pedagógica é a capacidade de observar que as pessoas têm

seu modo de aprender. Somos seres únicos. E ninguém é igual a ninguém. Ter

essa paciência é perceber que ensinar e aprender exige maturação e podem

demorar certo tempo.

A paciência afetiva é a capacidade de olhar o outro como outro. O outro

não é e jamais será como eu, é ser capaz de acolher a incompreensão dos

outros. Em relação à Progressão Continuada é necessário ter paciência afetiva

com as comunidades, com os pais, com os professores. Ela muda a lógica de

fazer tudo. Ela muda o modo como se lida com educação. Ela muda até o

poder pedagógico em sala de aula. E ela exige algo a que não se está

habituada, que é o trabalho mais coletivo, mais intenso. A maior parte das

pessoas não gosta que alguém olhe na janelinha de vidro da sala quando está

dando aula. Parece sempre que é uma intromissão. Isso significa que a frase

"Aqui mando eu", quando se fecha a porta da sala de aula, tem uma presença

muito marcante para a pessoa. Paciência afetiva é a percepção de gostar e ser

gostado, de tomar conta do outro, o que não é simples.

Praticar a paciência é ouvir o outro, prestar atenção antes de opinar. É

compreender, o que não significa necessariamente aceitar; porém, aceitar ou

rejeitar sem antes ter compreendido é preconceito. É preciso que haja cautela

para não perecer e ímpeto para não paralisar. Desenvolver a competência

coletiva, entendendo que a competência de um acaba quando acaba a do

outro. Quem sabe reparte e quem não sabe procura.

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E. Kant disse uma vez: "Avalia-se a inteligência de um indivíduo pela

quantidade de incertezas que ele é capaz de suportar".

Momentos graves se tornam grávidos quando a esperança permite levar

adiante a utopia, o sonho. O que é isso? Inovar, transformar, mudar o que for

preciso fará com que nasça um novo olhar para a educação. Paralisar, repetir o

que não cabe mais se torna grave e não terá um retorno positivo. Para isso

deve-se ter cautela reflexiva para seguir adiante e não imobilizar-se no não

mudar, no não alterar, não esperar para que as coisas se resolvam por si só.

Na educação se lida com processos de vida, processos humanos, processos

de conhecimento. E todo processo sempre leva a mudança, não é estático.

Quando se fala em cidadania, "ninguém dá o que não tem" significa

"ninguém dá aquilo em que não acredita". Não acredita como tendo a

possibilidade de possuir internamente, como sendo a sua esperança, o seu

desejo, o seu sonho. Ninguém dá democracia se não percebê-la como

integrada à sua possibilidade, ao seu sonho. Porque, é claro, como tudo na

existência humana, as coisas se realizam antes na esperança de cada um e

depois, na concretude que têm.

E o que movimenta cada um é justamente o desconforto porque a

conformidade leva ao marasmo. Às vezes é preciso ser sacudido, para se sair

da própria zona de conforto. Isso gera certo receio, pois o ato de mudar exige

um desequilíbrio momentâneo, pois atitude de mudança requer uma mudança

interna, reestruturar conceitos e isso faz caminhar para o novo. O novo às

vezes assusta, mas o novo só é novo até que se chegue nele, ele não é

inédito, pois pode se pensar em uma mudança sem abandonar a trajetória

antiga, apenas renovando-se, resignificando-se, evoluindo-se.

Não se pode perder as esperanças, é preciso continuar. Como Albert

Schweitzer disse: “A tragédia não é quando um homem morre, mas aquilo que

morre dentro do homem enquanto ele está vivo”.

Busca-se um novo caminhar para a educação no próximo milênio. Faz-

se necessário construir uma pedagogia do caminho, talvez uma "Pedagogia da

Busca" ou "Uma Pedagogia da Angústia da Busca". Quando se está

angustiado a pessoa começa a se movimentar para sair da angústia. Até

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porque não há masoquistas a ponto de curtir e alimentar uma angústia que

muitas das vezes chega a ser paralisante. É importante acreditar num caminhar

para a construção de um novo homem, mas que somente o tempo poderá

revelar que tipo de sociedade se está construindo e quais as conseqüências

das atitudes como educadores do próximo milênio. Os filhos e netos julgarão...

A única coisa que se leva da vida é a vida que você leva. O que você

planta, você colhe mais para frente. Sendo os sentimentos a essência do que

significa ser humano, as emoções não apenas conferem riqueza e significado à

vida como também alimentam o tormento e o conflito; elas proporcionam a

amargura e a doçura da existência humana.

Os pensamentos negativos intensos e a ansiedade resultante colocam

você no rumo da derrota. Você pode escolher como quer se sentir, porque você

quem decide como se sente. A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional.

Você tem o poder de escolher as emoções que vão enriquecer a sua vida e

torná-lo mais feliz. Mesmo nos momentos mais sombrios, tem-se o poder da

escolha emocional.

Ninguém pode relaxar mentalmente antes de estar relaxado fisicamente.

Mudar de atitude física talvez seja o primeiro passo na direção da mudança de

atitude mental.

“...a arte de educar exige sabedoria para distinguir aquilo em que o educando pode ter liberdade para escolher e decidir sozinho, daquilo em que deve ser orientado, precisando de limites claramente definidos para nortear sua ação. Essa sabedoria requer a capacidade de ser firme e exigente, sem perder a afetividade, a paciência, a serenidade; de ser autoridade, garantindo a segurança dos educandos, sem ser autoritário, intransigente, sem exercer pressão excessiva que atemoriza e inibe a iniciativa dos jovens... É na relação afetiva explicitada, no diálogo franco e amigo, no aconchego do lar e na interação social do ambiente escolar que se completa a personalidade humana, pela aquisição da autonomia, princípios, valores e normas de conduta social... A dimensão afetiva, responsável pelo sentimento de confiança, de segurança, e pela construção da autoestima, relacionada com a necessidade de sentir-se amado, valorizado, respeitado, aceito. A ausência desta dimensão pode gerar ansiedade, insegurança, falta de iniciativa, dificuldades de aprendizagem, isolamento e agressividade ou timidez excessiva. (Calaes, 2003, p. 2)

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Considerações Finais

“O homem deseja ser confirmado em seu ser pelo homem, e anseia por ter uma presença no ser do outro... - secreta e timidamente, ele espera por um SIM que lhe permita ser, e que só pode vir de uma pessoa humana a outra”. (Martin Buber)

O cérebro é a ferramenta da alma. Sem ele não há aprendizado. Ele é a

ferramenta da própria essência de ser humano. Portanto, quando seu cérebro

não funciona direito, você também não vai funcionar direito e, se esse circuito

rosado não for estimulado também não haverá aprendizado. A forma como o

cérebro trabalha determinará quem se é e como se é. Os padrões cerebrais

ajudam (ou prejudicam) a vida como um todo, junto com experiências de prazer

e dor.

De acordo com a neurociência, os problemas de aprendizado estão

ligados à fisiologia do cérebro. E, os padrões do cérebro se correlacionam com

o comportamento. Portanto, quando seu cérebro não funciona direito, você

também não vai funcionar direito. E o bom do avanço dessa ciência é que hoje

se pode mudar essa fisiologia seja com medicação, com doutrinação a partir de

atitudes positivas, seja com a plasticidade que compensa em caso de perdas

específicas ou lesões neuronais.

Não basta somente então, entender como se aprende, é preciso

descobrir a melhor forma de ensinar. Quando um aluno que se sente

afetivamente protegido é desafiado a aprender, ocorrem mudanças físicas e

químicas em seu cérebro, o que facilita o acolhimento e a reconstrução de

informações.

A neuropedagogia pode ser compreendida como o estudo da estrutura,

do desenvolvimento, da evolução e do funcionamento do sistema nervoso com

enfoque plural: biológico, neurológico, psicológico, matemático, físico e

filosófico. Nesta equação complexa, processos químicos e interações

ambientais se aproximam e se complementam, propiciando aquisição de

informações, resolução de problemas e mudanças de comportamento.

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O cérebro humano não possui nenhum módulo automático que permita o

domínio de práticas como a leitura, a escrita ou o cálculo. O aprendizado é

sempre um processo único, que envolve afeto. Por isso, conhecer a história do

aluno e tratá-lo como sujeito único pode mudar o rumo de sua vida, sendo

fundamental valorizar suas experiências.

É importante que o professor compreenda como o cérebro da criança

funciona para ajudá-la a aprender. Caso contrário, o professor vai teimar que a

maçã é vermelha e o aluno apenas vai decorar a resposta, sem que isso faça

sentido para ele.

Ao se conseguir uma comunicação direta com cada cérebro dando a

atenção necessária de que ele precisa, tem-se muita consideração por parte

dele. Como numa disputa emocionante, todos em busca do sucesso,

permitindo que neurônios cujos neurotransmissores estão desequilibrados, se

dessem chance para ativar uma busca pelas respostas que estão em conflito.

Vencer medos que paralisam e, o que antes era complicado, portas se

abrem para total intenção de simplesmente começar a compreender e aprender

que para cada oportunidade que se der menos aflição vai se ter.

Sendo então extremamente eficaz que o professor saiba que o cérebro

humano se organiza em torno da formação de significados, onde um campo de

significação é uma rede de informações e experiências relacionadas entre si

que constituem sentidos para a pessoa e possibilitam a formação de outros

significados. A aprendizagem formal ocorre se houver, no procedimento

pedagógico, previsão de trazer o novo relacionado a um conhecimento prévio

da pessoa, o que facilita construções e desdobramentos de sentidos.

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Conclusão

A vida é um milhão de novos começos, movidos pelo desafio sempre

novo de viver e fazer todo o sonho brilhar, pois o mais importante da vida não é

a situação em que se está, mas a direção para a qual se move ou direciona. E

isso depende de cada um, da escolha e do querer individual.

A vida de cada um é a própria pessoa que a faz. Cada um é responsável

por sua própria vida. A sociedade pode colocar algumas normas. Mas o que é

sentido, o que é pensado, valorizado, isto só a cada um pertence e ninguém

pode tirar isso de si próprio, só se for permitido.

Se há insatisfação com algo, não se deve culpar o outro. O outro não é

culpado. Deve-se refletir e ver o que se pode fazer para mudar a própria

insatisfação e não simplesmente jogar a culpa no outro, jogar a

responsabilidade para cima do outro, esperando que ele vá resolver tal

insatisfação. Não é por aí. Cada um deve fazer por onde. Não se deve esperar

que a mudança venha de fora, que venha do outro. A mudança deve partir de

dentro de cada um. Deve-se buscar o crescimento e não a perfeição. Até

porque perfeição não existe, pode-se alcançar a excelência, mas jamais se

será perfeito.

Com base nisso, e com tudo que se vem descobrindo com a

neurociência, cada um deve aprofundar seu trabalho para ajudar a pessoa a se

libertar para a busca do desejo de aprender, orientando não só professores,

pais, mas todos que lidam com o processo do educar.

Se se passa a entender sensações e movimentos corporais como

chorar, rir, tremer, porque se emociona e como essa emoção influencia ou não

no comportamento, fica muito mais fácil caminhar lado a lado com o outro em

busca do crescimento.

Educar é construir um caminho ético, profundo, significativo e marcante,

denotando ação e não passividade. O aluno tem um mundo de influências

conduzindo-o para os mais diversos caminhos, cabe ao educador a função de

alicerçar todas as ações para a formação desse aluno. A educação com

indiferença e com ausência é marcada pela insegurança, por alicerce inseguro,

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no qual dificilmente se erguerá uma construção equilibrada, porém a cada novo

dia, tem-se a possibilidade de fazer a diferença na vida desse aluno.

O processo de aprendizagem se torna muito mais fácil quando se tem o

conhecimento da anatomia e fisiologia do cérebro. Entender como se dá o

processo de aprendizagem dentro do cérebro faz do processo de ensinar um

diferencial para quem está aprendendo. O professor estabelecerá estratégias

diversificadas em função de uma biologia cerebral única que faz parte de cada

aluno.

O professor passa a atender que neurofisiologicamente, seus alunos

estão com seus sistemas dos sentidos biológicos altamente estimulados e,

consequentemente, existe um mundo de conexões nervosas em movimento

que não para.

Sendo o papel de o professor provocar desafios, facilitar reflexões e

fundamentalmente permitir a comunicação entre emoções e afetos num ser

que é orgânico e mental que é o ator principal destas reações, o aluno tem a

capacidade de questionar, argumentar e, por conseguinte, autonomia em

aprender.

Portanto, sem emoção não há aprendizagem. Pois se o professor não

tiver um carisma, capacidade de estimular e motivar o aluno para o

aprendizado, este não ocorrerá de forma positiva ou até mesmo pode nem vir a

existir e a criança passar a temer ou o professor ou a matéria.

Sendo o objetivo do educador, promover o crescimento, objetividade e

subjetividade convivem no espaço do ensinar e do aprender e são dois lados

de uma mesma moeda que se integram num movimento dialético onde

professores e alunos estão em comunhão na busca de sua integridade

humana.

Como existem várias formas de aprender pelos circuitos neurais, pode-

se dizer que há também várias formas de ensinar. Cabe ao professor buscar a

maneira ideal para incentivar, estimular e motivar, isto é, despertar o interesse

de cada aluno para novas aprendizagens fortalecendo as conexões afetivas e

emocionais do sistema límbico, a partir da ativação do sistema de recompensa,

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pois quanto mais o aluno gostar do que está sendo ensinado, mais vontade ele

terá de continuar aprendendo.

Fica para reflexão então que: se as pessoas passarem a se dirigir às

outras com amor, haverá a vontade de aprender e ensinar sem temer, sem

pavor. Serotonina, dopamina e acetilcolina serão liberados em nos cérebros

fazendo com que cada vez mais cresça a vontade de ensinar e aprender.

Porém, se não houver a dedicação, o carinho e o amor, ao invés de prazer, se

terá medo. Adrenalina e cortisol serão liberados fazendo com que haja

bloqueio, insegurança. Os pensamentos se desviam e o aprendizado fica em

vão, não se tem motivação, muito menos atenção.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - O CÉREBRO 11

1- O CIRCUITO CEREBRAL 12

CAPÍTULO II- MEMÓRIA E APRENDIZAGEM 21

2.1- MEMÓRIA 21

2.1.1- NEUROANATOMIA DA MEMÓRIA 22

2.2- APRENDIZAGEM 27

2.2.1- NEUROANATOMIA DA APRENDIZAGEM 28

CAPÍTULO III- EMOÇÃO 32

3.1- COMO O CÉREBRO PRODUZ AS EMOÇÕES 33

3.2- NEUROANATOMIA DA EMOÇÃO 34

3.2.1- ESTRUTURAS ENVOLVIDAS NA EMOÇÃO 36

3.3- O CÉREBRO AFETIVO-EMOCIONAL 40

CAPÍTULO IV- MOTIVAÇÃO E RECOMPENSA 42

4.1- MOTIVAÇÃO 42

4.1.1- O PROCESSO MOTIVACIONAL 45

4.1.2- NEUROANATOMIA DA MOTIVAÇÃO 46

4.2 - SISTEMA DE RECOMPENSA 46

CAPÍTULO V – ENSINO-APRENDIZAGEM SOB UM NOVO OLHAR 52

5.1- PENSAMENTO 52

5.2- PROFESSOR/EDUCADOR-ALUNO 53

5.3- NOVOS PARADIGMAS DA EDUCAÇÃO 57

CONSIDERAÇÕES FINAIS 62

CONCLUSÃO 64

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BIBLIOGRAFIA 67

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