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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” APARÚ DO JEQUIÁ: MEMÓRIAS E MUDANÇAS POR: ROSEMARY GOMES RIBEIRO BOAVENTURA ORIENTADOR Profº. Ms. CELSO SANCHEZ RIO DE JANEIRO 2007

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

APARÚ DO JEQUIÁ:

MEMÓRIAS E MUDANÇAS

POR: ROSEMARY GOMES RIBEIRO BOAVENTURA

ORIENTADOR

Profº. Ms. CELSO SANCHEZ

RIO DE JANEIRO

2007

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

APARÚ DO JEQUIÁ: MEMÓRIAS E MUDANÇAS

Apresentação de monografia à Universidade

Cândido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em

Planejamento e Educação Ambiental.

Por: Rosemary Gomes Ribeiro Boaventura

RIO DE JANEIRO

2007

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Objetivo

Pesquisar sobre a APARÚ do Jequiá e as mudanças ocorridas no

manguezal e comunidade da Colônia Z-10 após a sua criação. Fazer um

levantamento sobre as questões sociais, educacionais e culturais com os

moradores da Colônia Z-10 junto a APARÚ do Jequiá. Analisar as principais

mudanças.

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AGRADECIMENTOS

Acima de tudo a Deus.

A meus pais Antônio e Rosemira, por serem meu alicerce.

A meu filho Ruan, por ser a essência da minha vida.

Ao meu marido Dirceu pela luta e força.

Ao pessoal do CEA (Centro de Educação Ambiental) da APARU do

Jequiá, em especial ao coordenador, o biólogo Johnny Azevedo Godinho e a

administradora Maria Isabel Cruz.

Aos líderes locais da Colônia de Pesca Z-10 em especial ao

ambientalista José Luiz de Castro.

Enfim, a todos que de uma maneira ou de outra muito contribuíram

para a realização desse trabalho.

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DEDICATÓRIA Dedico esse trabalho ao Manguezal, as espécies que nele vivem e as

espécies que dele dependem para a geração da vida, a meu filho Ruan, meus

sobrinhos Yulla, Yan e Rayane.

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RESUMO

Este trabalho é uma abordagem sobre as mudanças ocorridas na

Comunidade da Colônia Z-10 e no manguezal situados na Ilha do Governador

após a criação da APARU do Jequiá em 1993.

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METODOLOGIA

O desenvolvimento do trabalho se deu a partir de pesquisas feita dentro do

APARU do Jequiá.

No prédio do CEA foram utilizados o acervo da biblioteca contando com livros,

trabalhos de mestrado, monografia e projetos realizados pela equipe CEA

Jequiá, bem como informativos mensais.

Muitas informações foram obtidas com conversa com o coordenador do CEA, o

biólogo Jony Godinho, Alguns encontros com o ambientalista José Luiz de

Castro foram de grandes esclarecimentos.

Foram realizadas entrevistas com os líderes locais da Colônia de Pesca Z-10,

com o Ambientalista da Associação dos Amigos do Manguezal, Sr. José Luiz de

Castro, Presidente da Associação dos moradores, Sr. Ricardo e o Presidente da

Colônia de Pescadores, Sr. Aníbal.

Alguns sites da internet foram acessados.

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SUMÁRIO

Introdução ....................................................................... p.09

CAPÍTULO I - Manguezal ................................................... p.10

CAPÍTULO II - Distribuição Geografia no Brasil e no Estado .......... p.20

CAPÍTULO III - Legislação ................................................... p.23

CAPÍTULO IV - Impactos sobre o Manguezal ............................. p.26

CAPÍTULO V - A Baía de Guanabara ...................................... p.27

CAPÍTULO VI - APARU do Jequiá ........................................... p.31

CAPÍTULO VII – Centro de Educação Ambiental da APARU do Jequiá . .. p.42

CAPÍTULO VIII – Lideranças locais ............................................ p.47

Análise ............................................................................ p.48

Conclusão ........................................................................ p.50

Bibliografia ...................................................................... p.52

Anexos .......................................................................... p.54

Índice ........................................................................... p.59

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INTRODUÇÃO

A Ilha do Governador do século XVIII, com densas matas, fauna e flora

diversas, e grande potencial pesqueiro, manteve-se como local nobre,

privilegiado e com belas praias até os anos 70 do século XX. Hoje, apresenta-

se como uma região de ocupação complexa e em determinados locais dessa

região com uma ocupação desordenada e com grande prejuízo ambiental.

No Jequiá na Ilha do Governador foi criada a primeira Colônia de

Pescadores regulamentada no Brasil, a Colônia de Pesca Z-10, situada nesse

mesmo bairro, próxima do rio Jequiá.

Em 1993 foi criada a APARU (Área de Proteção Ambiental e

Recuperação Urbana) do Jequiá.

Ás APARU's são áreas de domínio público dotadas de características

ecológicas paisagísticas notáveis, nas quais o Município regulamenta o uso e

ocupação do solo e restauração de suas condições ecológicas e urbanas.

A APARU de Jequiá está localizada em uma região onde há uma área

remanescente de mata atlântica e manguezal, com a presença de uma

comunidade de aproximadamente 3000 habitantes.

O CEA (Centro de Educação Ambiental) do Jequiá é responsável pela

preservação desse manguezal e mata atlântica e por várias atividades

relacionadas as questões sociais, culturais e educacionais, fazendo um resgate

de valores dos habitantes dessa comunidade da Colônia Z-10.

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CAPÍTULO I

MANGUEZAL

Vovó do Mangue

“Vou lhe contar uma história que um preto velho um dia

me contou, disse que ficou perdido, sentiu tanto medo

que se arrepiou.

Viu a Vovó do Mangue, andando de uma perna só, ela lhe

pediu charuto, um dente de alho e um pouco de pó.

Ele é bom pescador, lhe ofereceu cachimbo, um

pedacinho de fumo e aguardente em flor, sumiu a Vovó

do Mangue, seu rastro a maré levou, na noite de lua cheia

o caminho de volta o preto velho achou.”

Carlinhos de Tote

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1.1 - Definição

1.1.1 - O manguezal no Brasil O Brasil tem uma das maiores extensões de manguezais do mundo.

Menosprezado no passado, pois a presença do mangue estava intimamente

associada à febre amarela e à malária, enfermidades já controladas, a palavra

mangue, infelizmente, adquiriu o sentido de desordem, sujeira ou local

suspeito.

O manguezal foi durante muito tempo considerado um ambiente inóspito

pela presença constante de insetos molestantes como borrachudos, mosquitos

e mutucas. Até meados da década de 70, pensava-se que o progresso do

litoral marinho fosse sinônimo de praias limpas, aterros saneados, portos

confinados por concreto e experimentos de cultivo para aproveitar os terrenos

dos velhos manguezais. Embora seja grande a importância econômica e social

do manguezal, este enfoque foi em parte responsável pela construção de

portos, ancoradouros, balneários e rodovias costeiras em suas áreas,

diminuindo a sua extensão.

Trata-se de ambiente com bom abastecimento de nutrientes, onde, sob

os solos lodosos, há uma textura de raízes e material vegetal parcialmente

decomposto, chamado turfa. Nos estuários, os fundos lodosos são

atravessados por canais de marés, as gamboas, utilizados pela fauna para os

seus deslocamentos entre o mar, os rios e o manguezal.

1.1.2 - Diferença entre Manguezal e Mangue O termo manguezal é utilizado para descrever uma variedade de

comunidades costeiras tropicais dominadas por espécies vegetais, arbóreas ou

arbustivas que conseguem crescer em solos com alto teor de sal.

O termo “mangue” origina-se do vocábulo Malaio, “manggimanggi” e do

inglês mangrove, servindo para descrever as espécies vegetais que vivem no

manguezal.

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1. 2 - O Ecossistema manguezal

O ecossistema manguezal está associado às margens de baías,

enseadas, barras, desembocaduras de rios, lagunas, ilhas assoreadas e

reentrâncias costeiras, onde haja encontro de águas de rios com a do mar, ou

diretamente expostos à linha da costa. É um sistema ecológico costeiro tropical

dominado por espécies animais e vegetais adaptadas a um solo

periodicamente inundado pelas marés, com grande variação de salinidade e

condições anóxicas que conferem a este solo altas concentrações de sulfeto.

A riqueza biológica dos ecossistemas costeiros faz com que essas áreas

sejam os grandes “berçários" naturais, tanto para as espécies características

desses ambientes, como para peixes e outros animais que migram para as

áreas costeiras durante, pelo menos, uma fase do ciclo de sua vida.

O manguezal torna-se, assim, o elo de ligação entre os ambientes

marinho, terrestre e de água doce, caracterizando-se por uma constante

conquista de novas áreas devido ao acúmulo de grandes massas de

sedimentos e detritos trazidos pelos rios e mar.

Os manguezais são, geralmente, sistemas jovens que, seguindo a

dinâmica das marés nas áreas onde se localizam, produzem a modificação na

topografia desses terrenos, resultando numa seqüência de recuos e avanços

da cobertura vegetal. São sistemas funcionalmente complexos, altamente

resilientes e resistentes, portanto, estáveis. A cobertura vegetal instala-se em

substratos de vasa de formação recente, de pequena declividade, sob a ação

diária das marés de água salgada ou, pelo menos salobra, ao contrário do que

acontece nas praias arenosas e nas dunas.

O chão escuro do mangue é coberto por água na preamar. Ricas

comunidades de algas crescem sobre as raízes aéreas das árvores, na faixa

coberta pela maré, e, entre elas, encontram-se algas vermelhas, verdes e

azuis. Os troncos permanentemente expostos e as copas das árvores são

pobres em plantas epífitas. Bactérias e fungos decompõem as folhas do

manguezal e a cadeia alimentar é baseada no uso dos detritos resultantes

desta decomposição.

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Os manguezais, usados pelos homens dos sambaquis há mais de 7 mil

anos e, a partir de então, pelas populações que os sucederam, fornecem uma

rica alimentação protéica para a população litorânea brasileira. A pesca

artesanal de peixes, camarões, caranguejos e moluscos é para grande parte

dos moradores do litoral a principal fonte de subsistência.

Protegido por lei, o manguezal ainda sofre com a destruição gratuita,

poluição doméstica e química das águas, derramamentos de petróleo e aterros

mal planejados.

1.3 - O Clima

Embora seja um ecossistema tropical, também pode ocorrer em climas

temperados, sendo normalmente substituído por outros ecossistemas mais

adequados às altas latitudes, como as marismas. Quanto à temperatura e a

precipitação pluvial, as condições ideais para desenvolvimento dos manguezais

estão próximas às seguintes:

Temperaturas médias acima de 20oC;

• Média das temperaturas mínimas não inferiores a 15oC;

Amplitude térmica anual menor que 5oC (Este item ainda está sobre

estudo, pois há manguezais bem representativos com maiores

amplitudes térmicas);

• Precipitação pluvial acima de 1.500 mm/ano, sem prolongados

períodos de seca.

1.4 - Salinidade

A salinidade intersticial é um parâmetro de grande importância uma vez

que pode interferir no desenvolvimento de plantas, altura das árvores e

diminuição das folhas. As espécies vegetais dos manguezais são plantas

halófitas, próprias de ambientes salinos. Embora essas plantas possam se

desenvolver em ambientes livres da presença do sal, em tais condições não

ocorre formação de bosques, pois perdem espaço na competição com plantas

de crescimento rápido, adaptadas à presença de água doce.

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1.5 - Importância do ecossistema manguezal

Os manguezais são ecossistemas de grande importância no equilíbrio

ecológico, sendo um berçário favorável para o desenvolvimento de muitas

espécies de animais e plantas. É muito valioso o estudo do manguezal,

principalmente para a preservação deste meio.

Vários produtos podem ser obtidos dos manguezais como remédios,

álcool, adoçantes, óleos, tanino, etc... Sua área pode ser utilizada para turismo

ecológico, educação ambiental, apicultura, piscicultura, além da criação de

outras espécies marinhas. Em Vitória, Espírito Santo, o tanino extraído da

casca de mangue vermelho (Rhizophora mangle) é utilizado na manufatura de

panelas de barro. Após a queima, as peças são aspergidas com uma solução

aquosa de tanino, que impermeabiliza e dá cor à cerâmica. Na prática

atualmente empregada para a obtenção do tanino, todo o tronco da árvore é

descascado, o que causa a sua morte. O tanino serve, também, para proteger

as redes e as velas das embarcações.

O manguezal tem condições que o tornam capaz de abastecer a

população local, gerando alimentos não só para a subsistência, mas

propiciando ainda uma quantidade considerável de moluscos, crustáceos e

principalmente peixes, para um pequeno comércio acessório. Mas, apesar

dessas condições excepcionais, da metade do século para cá, a maioria dos

manguezais tem sido poluído, desmatado, drenado, aterrado e loteado, num

exemplo abominável de super-exploração e destruição completa e irreversível

de seus recursos, numa verdadeira afronta à Lei 4771 de 15 de setembro de

1965 do novo Código Florestal, que o considera como área de preservação

permanente.

No aspecto agrícola, os manguezais foram considerados terras inúteis

pelos colonizadores europeus, até que os portugueses começaram a utilizar os

solos de manguezais da costa do Konkan, em Goa, na Índia, como fertilizantes.

Com a destruição física do manguezal diminui-se uma de suas funções

básicas que é a de proteção da linha de costa contra a invasão do mar.

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Os manguezais são importantes porque:

• Retém os sedimentos carreados pelos rios em virtude do baixo

hidrodinamismo das áreas dos manguezais;

• Formam uma área de concentração de nutrientes. Localizados em

zonas de estuário, recebem águas ricas em nutrientes oriundos dos

rios, principalmente, e do mar;

• Desempenham importante papel como exportador de matéria

orgânica para o estuário, contribuindo para produtividade primária na

zona costeira;

• É no mangue que peixes, moluscos e crustáceos encontram as

condições ideais para reprodução, berçário, criadouro e abrigo para

várias espécies de fauna aquática e terrestre, de valor ecológico e

econômico. Os mangues produzem mais de 95% do alimento que o

homem captura do mar;

• Sua manutenção é vital para a subsistência das comunidades

pesqueiras que vivem em seu entorno;

• Proteção da linha de costa. A vegetação de mangue serve para fixar

as terras, impedindo assim a erosão provocada pelas ondas e marés

e ao mesmo tempo estabilizando a costa;

• As raízes do mangue funcionam como filtros na retenção dos

sedimentos. O ecossistema funciona como um filtro biológico em que

bactérias aeróbicas e anaeróbicas trabalham a matéria orgânica e a

lama promove a fixação e a inertização de partículas contaminantes,

como os metais pesados;

• Promovem a renovação da biomassa costeira e constituem

importante banco genético para a recuperação de áreas degradadas.

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1.5.1 - Flora

As espécies constituintes dos manguezais correspondem a um número

limitado de famílias (umas 13) que compreendem de 18 a 20 gêneros. Cada

gênero pode estar representado por uma ou várias espécies e, neste último

caso, as espécies diferem morfologicamente pouco entre si. Isto indica que o

fator ecológico é uma força tão considerável que conseguiu imprimir, para

espécies de diversas origens, uma morfologia especial e bastante homogênea

que as distingue das demais.

As espécies variam latitudinalmente, em decorrência do clima e índices

pluviométricos.

Três espécies de árvores constituem, em sua grande maioria, as

florestas de mangue: o mangue vermelho ou bravo, o mangue branco e o

mangue seriba ou seriuba. Vivem na zona das marés, apresentando uma série

de adaptações: raízes respiratórias (que abastecem com oxigênio as outras

raízes enterradas e diminuem o impacto das ondas da maré), capacidade de

ultra-filtragem da água salobra e desenvolvimento das plântulas na planta

materna, para serem posteriormente dispersas pela água do mar. A flora do

manguezal pode ser acrescida de outras poucas espécies, como a samambaia

do mangue, a gramínea Spartina, a bromélia Tillandsia usneoides, o líquen

Usnea barbata (as duas últimas conhecidas como barba de velho e muito

semelhantes entre si) e o hibisco.

No Norte do País, as espessas florestas de mangue apresentam árvores

que podem atingir 20 metros de altura. Na região Nordeste há um tipo de

manguezal conhecido como "mangue seco", com árvores de pequeno porte em

um substrato de alta salinidade. Já no Sudoeste brasileiro, apresenta aspecto

de bosque de arbustos.

As plantas que vivem em ambientes salobros (halófitas) possuem dois

sistemas de controle da concentração de sal em seus tecidos

(osmorregulação), os quais procuram expulsar este produto para o exterior.

Formadoras de um complexo florestal sobre um substrato geralmente

lamacento (inconsolidado) e pobre em oxigênio, estas plantas ainda

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apresentam adaptações aos fatores ambientais, tais como: raízes aéreas como

as escoras e pneumatóforos com presença de lenticelas (células especiais

para captar o ar) e o enraizamento em forma de roda (rodel) para uma melhor

fixação.

As sementes germinam dentro dos frutos ainda fixos nas árvores, sendo

denominados por propágulos. Este fato possibilita uma melhor sobrevivência a

partir de uma estratégia de fixação que garanta porque as espécies resistem

mais às adversidades presentes neste ambiente.

Em muitos manguezais é comum a ocorrência de plantas epífitas

(vegetais fixos a outros). Neste grupo, destacam-se as algas (vegetais

aquáticos), os liquens (associações de fungos e algas), os gravatás ou

bromélias (Família Bromeliaceae), as orquídeas (Família Orchidaceae) e as

samambaias (Divisão Pteridophyta).

1.5.2 - Fauna

O manguezal, também chamado de “berçário” por abrigar inúmeras

espécies de animais. Sua fauna é composta de espécies residentes e

visitantes, principalmente no período de reprodução.

A fauna do manguezal pode ser distribuída de uma maneira geral pelos

diferentes compartimentos existentes neste ecossistema, didaticamente

separados em: água, sedimento e vegetação.

• Água: crustáceos (siris, caranguejos e camarões) e peixes (tainhas,

robalos, manjubas, etc.),

• Sedimento: anelídeos (minhocas e poliquetas), moluscos (mariscos,

ostras e caramujos). Sobre os sedimentos, mamíferos (guaxinim ou

mão-pelada).

• Vegetação: moluscos (caramujos, broca de madeira e ostras),

crustáceos (caranguejos), insetos (moscas, mosquitos, borboletas,

mariposas, etc.) e aracnídeos (aranhas).

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1.5.3 - Espécies

No ecossistema manguezal destacam-se várias espécies de

caranguejos que formam enormes populações nos fundos lodosos. As ostras,

mexilhões, berbigões e cracas se alimentam filtrando da água os pequenos

fragmentos de detritos vegetais, ricos em bactérias. Há também espécies de

moluscos que perfuram a madeira dos troncos de árvores, construindo ali os

seus tubos calcários e se alimentando de microorganismos que decompõem a

lignina dos troncos, auxiliando a renovação natural do ecossistema através da

queda de árvores velhas, muito perfuradas.

Os camarões também entram nos mangues durante a maré alta para se

alimentar. Muitas das espécies de peixes do litoral brasileiro dependem das

fontes alimentares do manguezal, pelo menos na fase jovem. Entre eles estão

bagres, robalos, manjubas e tainhas. A riqueza de peixes atrai predadores,

como algumas espécies de tubarões, cações e até golfinhos. O jacaré de papo

amarelo e o sapo Bufo marinus podem, ocasionalmente, ser encontrados.

Entre os mamíferos, o coati é especialista em alimentar-se de

caranguejos. A lontra, hábil pescadora, é freqüente, assim como o guaxinim.

Os caranguejos e as aves são de grande importância para o

ecossistema manguezal, pois desempenham papéis essenciais na dinâmica

deste sistema. O ato da procura de alimento, da escavação das tocas e da

movimentação destes animais revirando o sedimento permite, assim, mais

oxigenação do substrato e liberação de nutrientes que vai enriquecer, ainda

mais, a massa de água.

Aves típicas são poucas, devido à pequena diversidade florística;

entretanto, algumas espécies usam as árvores do mangue como pontos de

observação, de repouso e de nidificação. Estas aves se alimentam de peixes,

crustáceos e moluscos, especialmente na maré baixa, quando os fundos

lodosos estão expostos. As aves habitam todos os meios alimentando-se na

água e no sedimento, abrigando-se e reproduzindo-se na vegetação. As mais

observadas são: garças, martins-pescadores, socós e maçaricos.

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CAPÍTULO II

2 - Distribuição Geográfica no Brasil e no Estado do Rio de Janeiro 2.1 - Origem

Os manguezais são ecossistemas costeiros que se originaram nas

regiões dos oceanos Indico e Pacífico e que distribuíram suas espécies pelo

mundo com auxílio das correntes marinhas durante o processo de separação

dos continentes. Estes ambientes estão presentes nas faixas tropical e

subtropical do planeta, ocupando regiões tipicamente inundadas pela maré, tais

como: estuários, lagoas costeiras, baías e deltas. Estas regiões caracterizam,

mas não obrigatoriamente, misturas de águas dulcícolas e oceânicas.

A distribuição depende de um número variado de fatores, como: áreas

costeiras protegidas, adaptação à salinidade do solo e da água e a temperatura

do ar e da água.

2.2 - No Brasil

A costa brasileira apresenta, numa superfície de cerca de 20 mil km2,

desde o Cabo Orange, no Amapá, até o município de Laguna, em Santa

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Catarina, uma estreita faixa de manguezal, determinada pelo avanço das

massas polares e correntes oceânicas de origem Antártica.

As formações de manguezais dominam as regiões Norte e Nordeste do

Oiapoque ao golfão Maranhense e de Ponta de Coruça à ponta de Mangues

Secos, incluindo o delta do Amazonas e desembocadura de outros grandes

rios. Da ponta de Mangues Secos (Maranhão) até o Cabo Calcanhar (Rio

Grande do Norte), aparece uma costa com ondas fortes, caracterizada por

extensas praias arenosas com a presença de dunas entrecortadas por falésias.

Os manguezais passam então a margear os estuários dos rios perenes onde

encontram ambiente protegido da ação das ondas e boa quantidade de água

doce.

Partindo do Cabo Calcanhar, seguindo em direção à costa sul,

configura-se um tipo de litoral mais ou menos recortado, intercalando praias

arenosas, costões rochosos, lagunas e estuários.

No sul do país, a região costeira possui ondas fortes, sendo o litoral

caracterizado por formações arenosas (extensas praias ou dunas e restingas) e

os manguezais associados a estuários, lagunas e baías.

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2.3 - No Estado do Rio de Janeiro

Os manguezais no estado do Rio de Janeiro apresentam grandes

formações na região Norte Fluminense (foz do rio Paraíba do Sul); na baía de

Guanabara; na baía de Sepetiba (Guaratiba) e na baía da Ilha Grande

(municípios de Mangaratiba, Angra dos Reis e Parati) localizada na região Sul

Fluminense.

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CAPÍTULO III

3 - Legislação O manguezal, ecossistema bem representado ao longo do litoral

brasileiro, é considerado, no Brasil, como de preservação permanente, incluído

em diversos dispositivos constitucionais (Constituição Federal e Constituições

Estaduais) e infraconstitucionais (leis, decretos, resoluções, convenções). A

observação desses instrumentos legais impõe uma série de ordenações do uso

e de ações em áreas de manguezal.

3.1 - Legislação Federal

• Constituição Federal de 1988, artigo 225. Lei Federal nº 9.605/98, que

dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas

atividades lesivas ao meio ambiente.

• Código Florestal – Lei nº. 4.771/1965.

• Lei Federal nº. 7.661/98, que institui o Plano Nacional de Gerenciamento

Costeiro.

• Lei Estadual nº. 9.931/1986 - Proteção das Áreas Estuarinas.

• Resolução CONAMA nº 04/1985.

• Decreto Federal nº. 750/93, que dispõe sobre o corte, a exploração, a

supressão de vegetação primária ou nos estágios avançado e médio de

regeneração da Mata Atlântica.

3.2 - Legislação Municipal do Rio de Janeiro

• Área de Proteção Ambiental e Recuperação Urbana

Área de domínio público ou privado que apresenta as características de

uma APA – Área de Proteção Ambiental. Área em geral extensa, com

certo grau de ocupação humana dotada de atributos abióticos, bióticos,

estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade da

vida e o bem-estar das populações humanas e tem como objetivos

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básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de

ocupação e assegurar a sustentabilidade e uso dos recursos naturais.

Depende de ações do poder público para regulamentação do uso e

ocupação do solo de suas condições ecológicas urbanas. Esta categoria

é exclusiva do município do Rio de Janeiro, criada pela Lei

Complementar 19/92 – Plano Diretor da Cidade.

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CAPÍTULO IV

“A Terra pode oferecer o suficiente para satisfazer as

necessidades de todos os homens, mas não a

ganância de todos os homens.”

Mahatma Gandhi

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4 - Impactos sobre o manguezal

Os principais fatores que causam alterações nas propriedades físicas,

químicas e biológicas do manguezal são:

• Aterro e Desmatamento;

• Queimadas;

• Deposição de lixo;

• Lançamento de esgoto;

• Lançamentos de efluentes industriais;

• Dragagens;

• Construções de marinas;

• Pesca predatória.

A degradação dos estuários e dos mangues do litoral brasileiro decorre

de uma ação conjunta de várias causas e fatores resultantes de um modelo

econômico de ocupação do espaço litorâneo marcado pelos seguintes

processos:

• Implantação de grandes pólos químicos, petroquímicos, minerais e

metalúrgicos em áreas de estuário;

• Expansão urbana e especulação imobiliária.

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CAPÍTULO V

5 - A Baía de Guanabara

5.1 - Linhas de História da Baía de Guanabara

A Região Hidrográfica da Baía de Guanabara ocupa uma área de cerca

de 4.200 km² e foi habitada pelos índios, durante mais de 8.000 anos, antes do

início da colonização do Brasil. Em 1500, viviam na Guanabara os tupinambás

ou tamoios, da nação Tupi-Guarani, em cerca de 30 a 40 aldeias localizadas

nas áreas mais elevadas da orla da baía e nas margens dos rios. Os índios

viviam de coleta de frutas, pimentas e ervas, caçando, pescando, plantando

milho, mandioca, cará, batata-doce, abóbora e outros alimentos. Deles

herdamos os nomes da baía, de muitos rios e localidades.

A região apresenta um relevo diversificado, modelado pela natureza

durante milhões de anos, com 4 áreas distintas: a Baía de Guanabara; a

Baixada Fluminense; as colinas e os maciços costeiros e a Serra do Mar.

A Baía de Guanabara pode ser considerada um estuário que engloba

inúmeros rios que levam a ela, em média, mais de 200 mil litros de água por

segundo. Essa água é captada pelas bacias hidrográficas desses rios que,

somados, formam a Região Hidrográfica da Baía de Guanabara.

A Baía de Guanabara torna-se o centro político e cultural do país desde

a vinda de Dom João VI para o Brasil, em 1808. A partir dessa data a Baía de

Guanabara, antes um verdadeiro Seio da Vida, passou a ser vítima de

constantes processos de degradação sócio-ambiental.

Coberta de mangues, repleta de pescado, berço da vida, a Baía de

Guanabara é, talvez, a maior vítima brasileira dos sucessivos projetos de

desenvolvimento do país. O mangue que hoje sabemos ser berçário dos

ecossistemas marinhos, até os anos 70 do Séc. XX foi considerado um local

gerador de doenças, transmissor de mazelas, feio, insalubre que deveria ser

extirpado. A baía perdeu assim cerca de 60% dos seus mangues, em seus

17municípios.

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A paisagem atual da Região Hidrográfica da Baía de Guanabara é um

registro da história do Brasil, tanto pela importância de toda a região na

economia e na cultura do país, como pelos 5 graves problemas que prejudicam

o ambiente e a vida da população. Esses problemas foram criados durante

cinco séculos de ocupação da região, primeiro atendendo aos interesses do

sistema colonial português e, após a independência política do Brasil em 1822,

aos dos modelos de desenvolvimento agrário-exportador (1822-1930) e urbano

industrial (a partir de 1930).

As mesmas riquezas naturais que atraíram e facilitaram a ocupação das

bacias foram destruídas no processo de ocupação e correm o risco de

desaparecer. Hoje, a baía está ocupada, em grande parte, pela Região

Metropolitana do Rio de Janeiro, e pelo segundo maior parque industrial do

país, com todas as oportunidades e problemas inerentes.

A cidade do Rio de Janeiro foi a maior vítima.

Nos anos 70 escolheu-se a Baixada Fluminense para ser um pólo de

desenvolvimento industrial, principalmente petroquímico. Como não havia

ainda preocupação com a destinação apropriada dos efluentes e com os

resíduos industriais, o resultado é o lançamento de produtos químicos na baía

e a poluição atmosférica.

As mesmas riquezas naturais que atraíram e facilitaram a ocupação das bacias

continuam a ser destruídas no processo de ocupação e correm hoje o risco de

desaparecer.

A Baía de Guanabara perdeu cerca de 30% de sua área, em certos

lugares a sua profundidade não permite mais a circulação de pequenos barcos

de pesca artesanal e o seu estoque pesqueiro declina a olhos vistos.

As populações, principalmente as pobres, se aglomeram em favelas,

contribuindo, através do lançamento de esgotos e lixo, com a poluição das

suas águas.

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5.2 - A Ilha do Governador

No século XVIII a Ilha do Governador foi chamada assim por ser o

refúgio de descanso do Governador Geral da província. Com densas matas,

fauna abundante de mamíferos, aves e grande piscosidade principalmente no

Rio Jequiá, era um local privilegiado para a prática da caça, com belas praias

até os anos 70 do século XX. Tinha valor econômico, idealizado pelas classes

médias e altas como um local nobre do Rio de Janeiro, aonde muitos vinham

passar suas férias. Atualmente, ainda é um local apreciado pela classe média e

conta com diversas instalações militares da marinha e aeronáutica e com o

Aeroporto Internacional Tom Jobim, o segundo maior do país.

Na Ilha do Governador, foi criada a primeira colônia de pesca

regulamentada do Brasil, a Z-10, berço da APARU do Jequiá.

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CAPÍTULO VI

“Somente uma transição rápida a atitudes

fundamentalmente novas, atitudes de respeito e

integração ecológica, poderá evitar o desastre.

Encontramo-nos na história, se dermos chance à

história, como limiar de uma nova idade. A qualidade

de vida nesta nova idade dependerá de nosso

comportamento atual e das atitudes de nosso

comportamento atual e das atitudes que soubermos

inculcar na juventude.”

José Lutzemberger

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6 - APARU do Jequiá

6.1 - Definição

As APARUs são áreas de domínio público, dotadas de características

ecológicas e paisagísticas notáveis, nas quais o município regulamenta o uso e

ocupação do solo e restauração de suas condições ecológicas e urbanas.

Constituem, portanto, uma categoria especial de Unidades de Conservação

que, por seus atributos ecológicos, apresentam um estatuto especial.

Situada na Ilha do Governador, a Área de Proteção Ambiental e

Recuperação Urbana (APARU) do Jequiá foi criada pelo município do Rio de

Janeiro, com o objetivo de preservar a fauna e flora existente no manguezal do

Rio Jequiá. Possui 147 hectares de manguezal e Mata Atlântica (submontana).

A área localiza-se no bairro da Cacuia, na Ilha do Governador.

Na APARU do Jequiá, além do manguezal, também está protegida uma

área remanescente de Mata Atlântica, o Morro do Matoso, onde encontramos

sambaquis, isto é, áreas arqueológicas compostas pelo acúmulo de conchas

deixadas pelas antigas tribos de índios que habitavam o litoral. Essas áreas

são importantes fontes de pesquisa sobre o modo de vida desses habitantes,

uma vez que lá são encontrados restos de cerâmica e instrumentos usados por

eles.

Desde 1993, são desenvolvidas ações importantes visando sua

recuperação ambiental.

6.2 - Identificação

• NOME: APARU DO JEQUIÁ

• CATEGORIA: ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL E RECUPERAÇÃO

URBANA

• ÁREA TOTAL (ha): 145,34

• LOCALIZAÇÃO: Encontra-se no estuário do Rio Jequiá, litoral Sudeste da

Ilha do Governador, englobando área militar onde funciona a Estação Rádio

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da Marinha e onde se situa o manguezal e a área ocupada pela Colônia de

Pesca Z-10.

• NOME POPULAR: Jequiá

• LOGRADOURO(S):

Pra. Brava

Pra. Da Bica

Av. Julieta

Pra. Do Golfinho

Rua Ipirú

Pra. do Alentejo

• DISTRIBUIÇÃO DA ÁREA PROTEGIDA POR BAIXO: Cacuia 145,345

• DISTRIBUIÇÃO DA ÁREA PROTEGIDA POR BACIA: Microbacia do Rio de

Jequiá 114,516ha

• FAVELA(S): Colônia de Pescadores Almirante Gomes PE 8,032ha

• TUTELA(S): Municipal SMAC

• VISITAÇÃO

Acesso: Pela linha vermelha ou pela Av. Brasil, entrando na Ilha do

Governador, via Estrada do Galeão, até alcançar a Rua Ibatuba e

desta seguindo para Estrada do Rio Jequiá, atravessando-se a ponte

sobre o Rio Jequiá. Há várias linhas de ônibus de acesso à APARU,

a saber: Castelo-Ribeira (nº 322 e 324); Bonsucesso-Bananal via

Zumbi (nº. 901) e dois circulares (nº. 934 e 935). É possível, ainda,

ter acesso por barca, de segunda à sexta, partindo da Praça VX em

direção à estação das barcas no Cocotá nos seguintes horários 8h,

9h20, 12h50, 17h30 e 19h. Chegando-se à estação nas barcas no

Cocotá, pode-se tomar qualquer ônibus acima citado nº. 934, 935 e

901.

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Atividade: Há alguns anos, o manguezal do Jequiá é utilizado por

Ong’s como laboratório para atividades de educação ambiental. O

Centro de Educação Ambiental do Jequiá vem promovendo uma

série de atividades educacionais relacionadas ao ecossistema

predominante. As visitas devem ser agendadas (tels. 3975-0902).

Anualmente, para comemoração dos festejos juninos, é realizada

uma grande festa na esplanada de acesso à Colônia. Esta é uma das

tradições locais, que atrai moradores de todos os cantos da Ilha do

Governador.

HORÁRIO: CEA Jequiá – das 9h ás 17h. O CEA localiza-se na

Colônia Z-10.

6.3 - Legislação

• CRIAÇÃO: 31/08/1993 Decreto Municipal 12.250

• DECRETO nº. 12.250, de 31 de agosto de 1993: DECLARA COMO ÁREA

DE PROTEÇÃO AMBIENTAL E RECUPERAÇÃO URBANA (APARU) DO

JEQUIÁ, A ÁREA QUE MENCIONA E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.

DECRETA:

Art. 1º - Fica declarada, como Área de Proteção Ambiental e

Recuperação Urbana (APARU) do Jequiá, a área constituída pelo

manguezal e estuário do Rio Jequiá, o complexo florestal do Morro

do Matoso e as áreas ocupadas pelas instalações da Marinha e pela

Colônia Z-10.

Art. 2º - Para proteção desse ecossistema, fica constituída como

Entorno (Resolução Conama, 13/90) da APARU do Jequiá a área

delimitada pela microbacia do Rio Jequiá e aquela compreendida

pela Ponta da Ribeira.

Art. 3º - São objetivos da APARU do Jequiá:

I - recuperar e preservar o ecossistema local;

II - preservar os exemplares raros ameaçados de extinção;

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III - propiciar o estudo científico da flora e fauna da região;

IV - promover o lazer, quando compatível com os demais

objetivos da APARU.

6.4 - Meio antrópico

Em 1920, foi fundada no local a primeira colônia de pescadores do país,

a Colônia de Pesca Z-1, denominada Colônia Almirante Gomes Pereira, hoje

denominada Colônia de Pesca Z-10, que conta, atualmente, com cerca de

3.000 moradores.

A partir das décadas de 60/70, o crescimento urbano da Ilha do

Governador se acelerou. Sua intensificação, principalmente na última década,

vem comprometendo as nascentes e o estuário do Rio Jequiá. O

comprometimento se dá tanto pela diminuição da vazão do rio e o

assoreamento de sua foz, como pela contaminação por despejos domésticos e

por óleo oriundo de postos de abastecimento e garagens de ônibus situados na

bacia hidrográfica, agravado pela poluição trazida pelas águas da Baía de

Guanabara. Ainda assim, as condições naturais se mantiveram,

fundamentalmente pelo fato da área estar sob tutela da Marinha. Até o início da

década de 1990, a Marinha era responsável pelo controle do crescimento da

Colônia Z-10. Em 1992, dois fatos contribuíram para a criação da APARU: o

projeto de lei que propunha a criação de um Refúgio da Vida Silvestre no local

e o oferecimento da Marinha em ceder ao Município parte da área sob sua

tutela, para fins de regularização fundiária da Colônia Z-10. A Prefeitura,

através da Superintendência de Meio Ambiente da Secretaria Municipal de

Urbanismo e Meio Ambiente, promoveu estudos técnicos baseando-se na

legislação ambiental e no “Diagnóstico Ambiental Preliminar da Bacia

Hidrográfica do Rio Jequiá”, elaborado pela UERJ em 1991, e propôs a criação

da Área de Proteção Ambiental e Recuperação Urbana - APARU do Jequiá,

decretada pelo Prefeito César Maia em 1993.

Em junho de 1999, ocorreu um plantio de 12 mil mudas de mangue e a

inauguração do reflorestamento do cais do manguezal do Jequiá, como

também as reformas do respectivo cais. Este cais tem 580m de extensão e

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utiliza 16240 pneus, funciona como um muro de contenção destinado a

proteger o mangue da expansão da comunidade local.

O CEA - Centro de Educação Ambiental do Jequiá, inaugurado em 3 de

março de 2002, tem a função de disseminar a questão ecológica e estimular a

participação da população em atividades de caráter ambiental. Portanto, esta

instalação viabiliza a implantação de programas permanentes de educação

ambiental, oferece infra-estrutura para atendimento ao turista, favorece o

desenvolvimento do turismo ecológico e a divulgação das Unidades de

Conservação do Município.

6.4.1 - Histórico

Segundo informações de pesquisadores que se dedicarem ao estudo

deste local, esta porção da Ilha do Governador onde está inserida a APARU do

Jequiá, corresponde à antiga ocupação da área sul da gleba 1 da Fazenda São

Sebastião, conhecida também como Fazenda da Viúva Amaral, destinada à

exploração de cal, de marisco e à extração de saibro. As atividades se

encerram por volta de 1868, devido a uma epidemia de cólera que atingiu todos

os escravos que lá trabalhavam. Outro marco histórico da ocupação da área

ocorreu no período de 1915 a 1917, quando lá se instalou a Estação Rádio da

Marinha de Guerra, ainda em operação (julho de 1997)

Em 1920, foi fundada no local a primeira colônia de pescadores do país, a

Colônia de Pesca Z-1, denominada Colônia Almirante Gomes Pereira, hoje,

denominada Colônia de Pesca Z-10.

A partir das décadas de 60/70, o crescimento urbano da Ilha do

Governador se acelerou. Sua intensificação, principalmente na última década,

vem comprometendo as nascentes e o estuário do Rio Jequiá. O

comprometimento se dá tanto pela diminuição da vazão do rio e o

assoreamento de sua foz, como pela contaminação por despejos domésticos e

por óleo oriundo de postos de abastecimento e garagens de ônibus situados na

bacia hidrográfica, agravado pela poluição trazida pelas águas da Baía de

Guanabara. Ainda assim, as condições naturais se mantiveram,

fundamentalmente pelo fato da área estar sob tutela da Marinha. Até o início da

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década de 1990, a Marinha era responsável pelo controle do crescimento da

Colônia Z-10.

Nos anos 60, as tentativas de proteger o manguezal localizado na foz do

Rio Jequiá demonstram a importância daquele ecossistema para a vida da

Baía de Guanabara, para a preservação da fauna local e como pouso de aves

migratórias. A Fundação Brasileira para Conservação da Natureza – FBCN foi

pioneira nessa atuação, levando a que o Governo do antigo Estado da

Guanabara, em 1966, editasse o Decreto “E” nº. 1.050 e solicitando a

colaboração do Instituto de Pesquisa da Marinha – IPqM no cercamento do

manguezal. Em 1971, a Marinha construí a murada acompanhando quase toda

a divisa do manguezal com a Estrada do Rio Jequiá.

Através da pressão exercida por este movimento conservacionista, a

Fundação Estadual de Engenharia de Meio Ambiente – FEEMA foi acionada.

Em 1989 uma comissão foi criada para debater os assuntos referentes à área

em questão. Além da FEEMA, essa comissão se compunha por representantes

da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, da Companhia Municipal

de Limpeza Urbana- COMLURB, da Estação Rádio da Marinha, da Colônia de

Pesca Z-10, da Federação da Associação de Moradores do Rio de Janeiro –

FAMAERJ, da Federação da Associação de Moradores do Rio de Janeiro –

FAMERJ, da Associação de Moradores do Zumbi – AMA - Zumbi, do

Movimento de Ecologia Social “Os Verdes” e pelo Comitê Ecológico Cultural da

Ilha do Governador – CECI.

Em 1992, dois fatos contribuíram para a criação da APARU: o projeto de

lei que propunha a criação de um Refúgio da Vida Silvestre no local e o

oferecimento da Marinha em ceder ao Município parte da área sob sua tutela,

para fins de regularização fundiária da Colônia Z-10. A Prefeitura, através da

Superintendência de Meio Ambiente da Secretaria Municipal de Urbanismo e

Meio Ambiente, promoveu estudos técnico baseando-se na legislação

ambiental e no “Diagnóstico Ambiental Preliminar da Bacia Hidrográfica do Rio

Jequiá”, elaborado pela UERJ em 1991, e propôs a criação da Área de

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Proteção Ambiental e Recuperação Urbana – APARU do Jequiá, decretada

pelo Prefeito César Maia em 1993.

Em 1994, ocorreram investimentos da SMAC na implantação do

projeto Mutirão Reflorestamento, sendo também implantadas placas de

sinalização ecológica com o patrocínio da SHELL obtido por esta Secretaria. A

SMAC também promoveu, neste mesmo ano, junto com a Secretaria Municipal

de Educação, um seminário para professores da rede pública e a pintura de um

muro ecológico na Estrada do Rio Jequiá por estudantes, como um ato

simbólico para marcar o início do Projeto de Recuperação Ambiental do Jequiá,

com o objetivo de possibilitar à população carioca e aos visitantes da cidade, o

acesso a esta belíssima área. Dando continuidade ao projeto de educação

ambiental, em março de 1995 foi realizado o 1ºCurso de Agente de Defesa do

Jequiá, visando informar à comunidade e aos agentes do Poder Público que

atuam na área, os instrumentos de defesa da Unidade de Conservação. Cabe

destacar que a SMAC promoveu mensalmente, até o final do ano de 1995,

eventos artísticos na Praça da Colônia Z-10, cujo tema central foi sempre o

manguezal e sua preservação.

Simultaneamente às atividades do Projeto Mutirão Reflorestamento que

atuou essencialmente na limpeza e reflorestamento do manguezal, a SMAC,

com apoio da Pontifica Universidade Católica – PUC, iniciou a construção em

27/04/95 de um muro de pneus, baseando-se na técnica desenvolvida pela

Universidade de Otawa, no Canadá. A presença desse muro visa não somente

a retificação do cais, como também conter os constantes aterros e ocupações

que ocorrem às margens do manguezal.

Em julho de 1999, ocorreu um plantio de 12 mil mudas de mangue e a

inauguração do reflorestamento do cais. Este cais tem 580 metros de extensão

e utiliza 16240 pneus, funciona como muro de contenção destinado a proteger

o mangue da expansão da comunidade local. Ele ainda conta com o apoio de

um alambrado de 700 metro, implantado nas margens do estuário, que também

impede o depósito de lixo e aterramento do local. Foram retiradas 1800

toneladas de entulho no mangue para a instalação das cercas de proteção. Há

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sinalização ecológica no local. A recuperação da ponte de acesso à Colônia de

pescadores local foi também realizada.

Mo programa de Recuperação Ambiental do Jequiá, que foi concluído ao

final de 2000, destacam-se: a construção de uma praça, um centro de

educação ambiental, ranchos para pescadores e outras melhorias com o

objetivo de proporcionar o desenvolvimento turístico na região, através de uma

área de lazer de 9,6 mil m², cujo projeto arquitetônico e paisagístico foi

elaborado pela Fundação Parques e Jardins com diretrizes estabelecidas pela

SMAC.

A praça proposta pelo Programa teve o seu projeto amplamente

discutido com as lideranças da comunidade, a fim de que esta obra atendesse

às necessidades da população nas suas mais diversas faixas etárias. O projeto

implantado possui campo de futebol soçaite, quadra polivalente, área de

recreação infantil, área de recreação para idosos e anfiteatro.

Os ranchos incentivam a atividade de pesca na região. Foram

construídos ranchos onde pescadores terão espaços abertos para guardar os

materiais utilizados para a pesca e realizar pequenos reparos em

embarcações.

O CEA – Centro de Educação Ambiental do Jequiá, inaugurado em 3 de

março de 2002, tem a função de disseminar a questão ecológica e estimular a

participação da população em atividades de caráter ambiental. Portanto, esta

instalação viabiliza a implantação de programas permanentes de educação

ambiental, oferece infra-estrutura para atendimento ao turista, favorece o

desenvolvimento do turismo ecológico e a divulgação das Unidades de

Conservação do Município. Foram construídos sanitários na área de lazer e

distribuídos coletores de lixo. Outro projeto realizado foi à urbanização da

estrada do Jequiá, onde estará incluído o estabelecimento em uma faixa de

extensão e ciclovia.

O prédio do CEA (Centro de Educação Ambiental) foi construído em

1999 e ficou fechado durante dois anos. Voltou a funcionar em Outubro de

2005.

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Hoje, a comunidade da Colônia Z-10, conta com aproximadamente 3000

moradores.

6.5 - Meio biótico

6.5.1 - Flora

Embora não apresente mais a cobertura vegetal original, as formações

locais da APARU do Jequiá enquadram-se, segundo o Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística - IBGE, como Formações Pioneiras de Terras Baixas

(restinga e manguezal). Devido à grande intervenção antrópica, encontra-se

muito descaracterizada.

No Morro do Matoso, verifica-se a presença de uma mata secundária em

nível inicial de recuperação, com ocorrência de espécies exóticas, como o

algodoeiro-da-índia (Hibiscus tiliaceus), a amendoeira (Terminalia catappa), a

tamarineira (Tamarindus indica), a jaqueira (Artocarpus heterophyllus), o

abricó-de-macaco (Couroupita guianensis) e o flamboyant (Delonix regia), entre

outras.

A vegetação do manguezal apresenta uma discreta regeneração natural,

possuindo exemplares árboreos com altura média de 3m. As espécies

observadas com maior freqüência são a taboa (Typha dominguensis), a

samambaia-do-brejo (Acrostichum aureum), o mangue-siriúba (Avicennia

schaueriana), o mangue-branco (Laguncularia racemosa), o mangue vermelho

(Rhizophora mangle), o capim-de-manguezal (Spartina alterniflora), o

algodoeiro-de-praia (Hibiscus pernambucensis) e o capim-de-praia (Paspalum

vaginatum), entre outras. Em algumas áreas há predominância do capim-

colonião (Panicum maximum), espécie invasora comum em áreas degradadas.

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6.5.2 - Fauna

A fauna da mata do Morro do Matoso é residual, complementada por

espécies visitantes, muitas tipicamente sinantrópicas. Pode-se mencionar a

cambaxirra (Troglodytes aedon), a sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris), a sabiá-

poca (Turdus amaurochalinus), o gavião-carijó (Rupornis magnirostris), o suiriri

(Tyrannus melancholichus), o exótico bico-de-lacre (Estrilda astrild), o juriti

(Leptotila verreauxi), a choca-listrada (Tamnophilus palliatus), o pica-pau anão

(Picumnus cirratus), o beija-flor-verde (Amazilia versicolor), o beija-flor tesourão

(Eupetomena macroura), a rolinha (Columbina talpacoti), entre outras.

No manguezal, apesar dos impactos negativos causados

freqüentemente pelo homem, ainda pode-se encontrar uma rica fauna, formada

basicamente por aves, algumas migratórias, e por crustáceos. Seus principais

representantes são o sebinho do mangue (Conirostrum bicolor), a garça-branca

(Casmerodius albus), a garça branca pequena (Egretta thula), a garça-azul

(Florida caerulea), a batuíra (Tringa flavipes), a lavadeira-mascarada (Fluvicola

nengeta), a batuíra-de-bando (Charadrius semipalmatus), o quero-quero

(Vanellus chilensis), o frango d’água (Gallinula chloropus), a polícia-inglesa

(Sturnella militaris), o Martim pescador (Ceryle torquata), o socózinho (Ardeola

striata), o uçá (Ucides cordatus), o guaiamum (Cardisoma guainhumi), o aratu

(Goniopsis cruentata), o marinheiro (Aratus pisonii), o chama-maré (Uca rapax)

e as cracas (Balanus spp), entre outros. Raramente, observam-se grupos de

colhereiro (Ajaia ajaja), que está ameaçado de extinção, no manguezal do

Saco do Jequiá.

A fauna do Jequiá sofre especialmente com a poluição (óleo, metais

pesados e esgotos) e a degradação do manguezal do Saco do Jequiá

ocorrendo a morte de peixes, crustáceos e moluscos, conseqüentemente

reduzindo a oferta de alimentos e afugentando a avifauna.

No Morro do Matoso, a fauna terrestre está mais protegida das

agressões antrópicas, devido ao cercamento e guarda das áreas militares, que

abrange praticamente todo o morro.

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6.6 – Equipe pertencente a APARU do Jequiá

Jony Godinho – Coordenador

Maria Isabel – Administrativo

Lílian Barboza – Estagiária de Biologia

Éwerton Domingos – Professor de Belas Artes

Renata Machado – Agente Ambiental

Alcione Campos – Agente Ambiental

Ana Carolina – Estagiária de Biologia Voluntária

Luciana Souza – Estagiária de Biologia Voluntária

Clarissa Dal Molin Calado - Estagiária de Comunicação

Vanda Gonçalves – Estagiária de Biologia

Erenita Silva das Chaves – Estagiária de Biblioteconomia

André Sampaio – Estagiário de Comunicação

Tainá Ayres - Estagiário de Comunicação

Amanda - Estagiária de Biologia Voluntária / Moradora Colônia Z-10

Renato Pinheiro – Estudante de G.A./ Morador Colônia Z-10 Voluntário

Maurílio Pereira – Guarda Municipal GDA (Grupamento de Defesa

Ambiental)

Mauro Lucas - Guarda Municipal GDA (Grupamento de Defesa

Ambiental)

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CAPÍTULO VII

7 – CENTRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DA APARU DO

JEQUIÁ

7.1 – Mudanças

Depois da criação da APARU da Colônia Z-10, ocorreram mudanças no

âmbito social, educacional, cultural e ambiental.

Tais como:

7.1.1 - Conserto da ponte

Após estudos feitos pela UERJ (Universidade Estadual do Rio de

Janeiro) fez-se necessário a demolição de uma ponte e a construção de uma

nova ponte devido aos problemas encontrados na passagem do fluxo de água

da Baía de Guanabara para o manguezal de forma inadequada. A construção

da ponte foi realizada pela SMAC (Secretaria de Meio Ambiente da Cidade).

7.1.2 - Construção do muro no entorno da APARU - Manguezal

Houve a necessidade da construção do muro para a proteção da

vegetação que se encontra no entorno do manguezal.

7.1.3 - Urbanização

Através da Secretaria do Meio Ambiente ouve a urbanização da Colônia

Z-10 com a construção de praça e jardins, campos de futebol, calçamento,

iluminação pública, rede de esgoto e águas pluviais. A rede de esgoto só não

atingiu as casas do entorno do manguezal devido a problemas técnicos.

7.1.4 - Programa Guardiões dos rios e mutirão de

reflorestamento

¹Esse mutirão é responsável por recuperar as áreas do manguezal

degradadas, realizar o plantão de mudas de mangue, trocar barreiras de

¹ Fonte: Informativo do CEA da APARU do Jequiá – Mês Novembro – Ano 2006

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contenção e retirar todo o lixo do rio Jequiá. Esse é um programa realizado

pela SMAC (Secretaria de Meio Ambiente da Cidade), de grande importâncial

para o manguezal, pois, a barreira de contenção ajuda a minimizar a entrada

de lixo nas áreas de plantio protegendo o desenvolvimento da vegetação de

mangue e fauna que nele habita. Com o passar do tempo às garrafas pet

ressecam, podem rachar e a contenção pode acabar afundando. O mutirão que

cuida da limpeza e manutenção do rio Jequiá retira todo o lixo que entra no rio

pela maré e entulhos de obras que foram jogados pelos moradores de dentro

do manguezal e em seu entorno, realiza também aceiro, poda, varrição etc.

Além de melhorar a qualidade de vida e meio ambiente, esse mutirão de

reflorestamento e guardiões dos rios gerou empregos para moradores da

Colônia Z-10.

É importante salientar que hoje se faz um trabalho com os moradores da

Colônia realizado por agentes ambientais, onde os mesmos fazem trabalhos de

levantamentos de dados, apoio e conscientização ambiental aos moradores

locais, principalmente os que possuem casas no entorno da Colônia Z-10, onde

ainda não há rede de esgoto. Os dejetos domésticos são lançados “in natura”

diretamente no manguezal.

7.1.5 – Potencialização Turística e Cultural da Região

²O prédio do CEA funciona como local de informações sobre a APARU

do Jequiá e Centro de Educação Ambiental, possui atividades diversas como:

mostra de vídeos, biblioteca, espaço para oficinas, palestras e exposição.

A APARU do Jequiá conta atualmente com três trilhas em

funcionamento e duas em fase de viabilização. Nelas pode-se observar os

ecossistemas de manguezal e Mata Atlântica com suas espécies e

características peculiares.

Em Novembro de 2006 aconteceu a exposição do trabalho de um artista

plástico chamado Narciso, conhecido como Velho do rio, que foi pescador do

da Colônia Z-10. Ele é um artista que trabalha com sucatas, reaproveitando ² FONTE: Informativo do CEA da APARU do Jequiá – Mês Novembro – 2006

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todo material como fio de cobre e metal para produzir, construir fantásticas

peças baseadas na natureza. Constrói esculturas de peixes e outras figuras.

7.2 – VISITAÇÃO

³Na APARU do Jequiá as visitas são agendadas. Duram duas horas e

incluem duas a três atividades e/ou oficinas, dependendo da faixa etária e do

público alvo.

Professores da região agendam a visitação com pelo menos com uma

semana de antecedência. As visitas acontecem no período da manhã as 9h30

e 13h30 para a visita da tarde.

Os grupos devem ter no máximo quarenta e duas pessoas, que, são

divididas em dois subgrupos de vinte e uma pessoas. Um acompanhante é

sugerido para cada grupo de pessoas.

O CEA da APARU do Jequiá oferece aos professores um encontro antes

da visita dos alunos, para um aprofundamento, planejamento e discussão do

projeto da visita. O professor terá conhecimento de todos os roteiros existentes

e poderá contextualizar a visita previamente um a turma.

7.3 – PROJETOS

São oferecidos vários projetos dentro do CEA APARU de Jequiá, voltados

para os moradores da comunidade, alunos, professores etc.

Projetos estão em estudos, outros já em agendamento.

Projetos tais como:

7.3.1 - Capacitação de professores

Ofereceu aos professores um encontro que objetiva informar os

procedimentos de agendamento e preparação das visitas, tirando dúvidas

sobre os conteúdos temáticos desenvolvidos no CEA Jequiá.

³ Fonte: Texto retirado do CEA do APARU, realizado pela equipe CEA – Coord. Godinho, Jony

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7.3.2 - Projeto exposição

Desenvolve atividades que dinamizem a relação entre comunidade e meio

ambiente, mostrando alternativas simples de alcançar os pilares básicos do

desenvolvimento sustentável. A exposição do artista plástico Velho do rio

mostrou esculturas feitas com fios de cobres e metal reaproveitados, criando

lindas esculturas baseadas em animais, como peixes, dinossauros etc.

7.3.3 - Teatro de fantoches

É uma atividade lúdica que tem como princípios básicos consolidar os

temas trabalhados em espaços formais e não formais. A criação de teatro e

fantoches será voltado para atividade de educação ambiental.

A metodologia utilizada será a construção de um modelo de teatro

itinerante baseado em estrutura de áreas de manguezal.

A equipe que participará consta de professor de artes, estagiários,

voluntários, monitores e artesãs da comunidade.

Obs.: Esse projeto ainda está em estudo.

7.3.4 - Pintura em tecido

Estabeleceu uma relação direta da importância da preservação

a.mbiental local com qualidade de vida da população da Colônia de

Pescadores. Desenvolve uma oficina de pintura com tema voltado para a

educação ambiental, onde moradores da Colônia Z-10 desenvolvem

habilidades para realizar pinturas em tecido. O curso é ministrado por essa

moradora da Colônia de Pescadores com a supervisão do estagiário de belas

artes.

Durante o curso há palestras voltadas para a educação ambiental.

7.3.5 - Fonaudiológicos

Em parceria com a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro),

coordenado pela professora Margareth Attuanizi e monitorado pela professora

Suzana Surerus, junto com alunos do 6° período da Faculdade de

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Fonaudiologia realizaram em agosto de 2006 até dezembro de 2006

atendimentos aos moradores da Colônia Z-10 tendo como objetivo principal a

informação. Fizeram trabalhos com grupos da comunidade onde propiciaram

informações sobre: voz, saúde do idoso, amamentação, motricidade oral e

dificuldade na aprendizagem.

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CAPÍTULO VIII

SIRI NA LATA

Siriaçu aproveitou que a maré enchia e foi nadar no manguezal.

Nadava ao sabor da maré...

... quando sem mais nem menos ficou preso numa lata de goiabada.

A batucada que lê fazia tentando escapar atraiu os outros moradores do manguezal que começaram a dançar com aquele som.

Seu desespero era grande pois escorregava no limo acumulado na lata e não conseguia sair.

O maçarico Quinho que chegava de viajem do Hemisfério Norte ficou maravilhado com aquel som.

- Isto não é música. Estou tentando sair de dentro da lata!

Depois de ouvir a explicação, Seu Uca decidiu ajudar seu primo.

Aproveitando a ocasião, que reunia grande parte da fauna do manguezal, Siriaçu discursou criticando a imundície que os seres humanos faziam no meio ambiente e explicou que o lixo leva muito tempo para se decompor na natureza.

Repentinamente Siriaçu teve uma idéia.

Retirar aqueles detritos do manguezal e reaproveitá-lo para construir uma bateria.

Cada um criou seu próprio instrumento musical

Depois de reunidos, iniciaram uma alegra batucada e Seu Martim Pescador começou a piar umas frases.

Lugar de lixo é na lixeira é preciso reciclar não se deve jogar lixo no meio-ambiente não poluir o mar vamos limpar o meio-ambiente todos devemos...

... proteger onde vivemos...

Assim aquele pagode rolou a noite inteira.

Os serres humanos, vizinhos do manguezal, ficaram curiosos para saber ...

... de onde vinha aquele som gostoso, que embalou seu sonhos

Marco A Amado / José Luiz de Castro

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8 - LIDERANÇAS LOCAIS

8.1 – Associação dos Amigos do Manguezal do Jequiá

³Possuí um acervo com documentos, fotos, vídeos diversos sobre o

manguezal. É auto-didática e conseguiu com seu esforço construir uma estufa

de mangue dentro da Shell no Brasil, que fica próximo a Colônia.

Segundo José Luiz, já foram plantadas mais de 200.000 mudas na região

e sendo que mais da metade dessas mudas morreram devido a construção do

cais de pneus, o qual modificou a dinâmica da água e a granulometria do

sedimento.

José Luiz escreveu um livro sobre a fauna e flora do manguezal do

Jequiá, não editado. Trabalhou com o “mundo da lama”, da UFRJ, que atuava

no manguezal do Jequiá realizando pesquisas e desenvolvendo atividades de

educação ambiental ligada ao ecossistema.

Seu trabalho é bastante reconhecido e recentemente foi entrevistado para

o programa um Pé de Quê, com Regina Case, para o canal Futura. Tem

grande influência dentro da estação de rádio da Marinha e na Shell do Brasil.

Também presta consultoria à estudante, professores e pessoas interessadas

em pesquisar sobre o manguezal.

8.2 – Associação de moradores e amigos da Colônia Z-10

Está temporariamente localizada no prédio do CEA Jequiá. Está integrado

com CEA no desenvolvimento de projetos que visem a melhoria da qualidade

de vida da população local.

8.3 – Colônia de Pescadores Z-10 Almirante Gomes Pereira

4A Colônia Z-10 abrange os pescadores, não só da APARU, mas de toda

a região do entorno da Ilha do Governador. Tem atuação discreta dentro da

comunidade, porém, atuante no que se diz respeito dos seus objetivos como

instituição. ³ e 4 Texto retirado do CEA APARU do Jequiá, realizado pela equipe CEA, com coordenação de Godinho, Jony.

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ANÁLISE

Antes da criação da APARU já existiam pessoas preocupadas com o

manguezal, moradores da Colônia Z-10, como o ambientalista José Luiz que

fundou a ONG, a Associação dos Amigos do Manguezal do Jequiá desde o

começo da década de 80. Vem desde então desenvolvendo trabalhos de

limpeza, plantio de mangue e também realiza trabalhos direcionados a

educação ambiental.

Após a criação da APARU em 1993ª Colônia de Pesca Z-10 situada na

Ilha do Governador ganhou então um espaço onde passou a ser um ponto de

referência para os moradores da Colônia Z-10 e visitantes. Muitas mudanças

ocorreram, tanto no âmbito sócio-cultural quanto no educacional.

Algumas modificações urbanas foram necessárias, como a construção de

uma nova ponte, pois a ponte antiga existente estava quase que

impossibilitada de realizar travessias para pedestre, e diferentes veículos.

A antiga ponte causava transtornos na passagem de fluxo de água da

Baía de Guanabara para o manguezal. Logo na entrada da Colônia ocorreu o

calçamento das ruas facilitando a locomoção dos moradores, vê-se também o

campo de futebol, praças e jardins realizados pela APARU, o que sociabilizou e

valorizou ainda mais o local.

A construção de um muro no entorno do manguezal foi de grande

importância, pois além de preservar a vegetação de mangue, dificultou o

acesso de pessoas que acham que aquele ecossistema é um depósito de

resíduos sólidos, e, que por isso deve se tornar um lixão. Embora, ainda

encontra-se no manguezal entulhos e outros detritos jogados pelos moradores,

ou até por pessoas de outras localidades, com certeza já há uma

conscientização por parte de algumas pessoas da região, e até a sensibilização

de alguns em relação a importância desse berçário, o manguezal.

Os projetos direcionados para crianças da comunidade, para alunos de

diferentes níveis, professores e pesquisadores fazem desses grupos agentes

multiplicadores de informações, mas, acima de tudo de pessoas sensibilizadas

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com as questões ambientais, em especial na importância da preservação do

manguezal.

Dentro da APARU existem vários projetos, muitos em estudos, outros já

em andamentos, como o trabalho realizado com estudantes de fonaudiologia

da UFRJ, que acima de tudo escuta e atende os moradores dessa comunidade

levando informações sobre diferentes aspectos, viabilizando melhores

condições de vida.

Há uma constante preocupação sobre o destino do manguezal, o trabalho

realizado pelos guardiões dos rios e reflorestamento é sempre uma

preocupação da APARU, assim como das associações locais.

Muitas mudanças significativas já ocorreram após a criação da APARU do

Jequiá, porém, é evidente que muitas mudanças ainda precisarão ocorrer na

esfera da educação ambiental direcionada ao manguezal, evidenciando ainda

mais a sua importância como um ecossistema que abriga uma variedade de

espécies e sendo um berçário natural de diversas outras, e não o tendo como

um ambiente lamacento e feio.

Observa-se ainda que o esgoto lançado diretamente no manguezal é um

problema não só restrito ao manguezal, mas a toda população da região, pois,

o mau cheiro é constante assim como a proliferação de animais indesejáveis.

A caminhada é longa, porém, os primeiros passos já foram dados, e,

continuam sendo dados em direção a linha de chegada.

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CONCLUSÃO

A Colônia de Pesca Z-10 situada no manguezal do Jequiá possui

moradores bastante envolvidos com questões ambientais e culturais. Não

pôde-se dizer que toda a comunidade conhece bem o lugar em que vive, o

quanto é valioso o ecossistema que os cercam.

A APARU do Jequiá após a sua criação já realizou vários projetos

ligados a educação ambiental, envolvendo agentes ambientais da própria

comunidade como parceiros dessa árdua luta de conscientização da

preservação do meio ambiente, e, como objetivo maior a sensibilização de

recuperar e preservar o meio ambiente manguezal.

Dentro dessa comunicação observa-se uma grande atuação de líderes

locais de um profundo respeito a esse ecossistema, em especial pela

Associação dos Amigos do Manguezal.

Muitas mudanças ocorreram no próprio manguezal, como a limpeza,

plantação de diversas mudas de mangue e a própria visitação por diferentes

visitantes como um ambiente rico, bonito e de grande fecundidade.

Infelizmente, ainda há muitos problemas que o circundam, mas o

manguezal do Jequiá não esta esquecido.

A APARU do Jequiá desenvolve projetos sociais e culturais dando espaço

para pesquisa, exposições, consultas, capacitação de professores, oficinas

voltadas para o reaproveitamento de matérias como roupas, retalhos, garrafas

pet´s etc, mostrando através da mesma, alternativas simples de alcançar os

pilares básicos do desenvolvimento sustentável.

A urbanização dentro da Colônia Z-10 com toda certeza foi de grande

valia para toda comunidade.

Contudo, ainda existem questões ambientais sérias a serem resolvidas,

como o despejo de esgoto “in natura” de casas no entorno do manguezal,

resíduos sólidos lançados no mesmo, aterros que continuam a existir e até a

caça predatória realizada por alguns indivíduos, segundo o ambientalista José

Luiz.

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A APARU, as associações e lideranças locais existem com o intuito de

desenvolverem uma visão holística do meio ambiente em que se vive para

fomentar ações no que se diz respeito ao bem comum.

“5Quando essas idéias justificaram atitudes que se multipliquem pelo

mundo inspirando a construção de uma nova civilização, um novo paradigma,

talvez não exista mais a necessidade de existirem ambientalistas, assim como

os abolicionistas deixarem de existir com o fim da escravidão. Também não

haverá razão para Ministério do Meio Ambiente, Secretarias Estaduais e

Municipais, bem como ONG’s ambientais.”

5 Fonte: Trigueiro, André – Livro: Mundo sustentável – ed. Globo. Pág. 301

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BIBLIOGRAFIA

• ARAUJO,Isabella Inês, SALADICH, Maria do Carmo Pastor e BOAVENTURA, Rosemary Gomes Ribeiro. Trabalho de Gestão Ambiental, Professores Aike Costa e Cláudia Mello, Julho de 2006 – UCAM.

• CASTRO, José Luiz e AMADO, Marco A. 1 Livro: Siri na lata – Associação Amigos do Manguezal do Jequiá.Rio de Janeiro, ano 2003.

• DE ALMEIDA BORGES, Cristina Xavier. Do nascimento ao ocaso de Unidade de Conservação: Área de proteção ambiental e recuperação urbana - APARU Jequiá.

• FIRME, Liliam Pittol. Caracterização físico-química de solos de mangue e avaliação de sua contaminação por esgoto doméstico via traçadores fecais. Dissertação de Mestrado, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), 2003.

• TRIGUEIRO, André. Livro Mundo Sustentável, Ed. Globo • WEBER, Willian. Projeto Planágua – SEMADS/GTZ, 2001. • www.geocities.com, 06/07/2006. • www.ibg.org.br, 06/07/2006. • www.mre.gov.br, 06/07/2006.

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ÍNDICE DE ANEXOS

I – Fotos P.54

II – Entrevistas P.56

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ANEXOS I - FOTOS

1 - Prédio do CEA da APARU do Jequiá

2 – Campo de Futebol

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3 – Exposição do Velho do Rio

4 – Manguezal

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ANEXO II – ENTREVISTAS

1 – Associação dos amigos do Manguezal

É uma ONG localizada na Colônia de Pesca Z-10 liderada pelo

ambientalista José Luiz Castro Ferreira, atua na preservação do manguezal do

Jequiá há trinta anos, possui amplo conhecimento sobre a dinâmica do

manguezal e a história da região.

a) Rosemary - O que a APARU tem feito para a recuperação e preservação do

manguezal?

Sr. José Luiz: “- Quase nada, porque continua a degradação do manguezal, a

comunidade não sabe da importância do manguezal, não sabe o que é a

APARU, não houve uma identidade entre a comunidade da Colônia Z-10 com

os pescadores e a Prefeitura.”

b) Rosemary - Como está a “saúde” do manguezal do Jequiá até hoje ?

Sr. José Luiz: “- Precária. O esgoto continua aumentando a cada dia, como

óleo, graxas e aterros. A caça predatória continua.”

c) Rosemary - O que os amigos do manguezal já realizaram de melhoria para o

manguezal?

Sr. José Luiz: “- Plantio de aproximadamente duzentas mil mudas, onde a

metade dessas mudas morreram devido a construção do cais de pneus que

modificou a dinâmica da água e granulometria do sedimento.

Houve a necessidade de replantarem tudo de novo. Trabalho de

educação ambiental, retirada de entulhos de dentro do rio Jequiá e consultas a

estudantes, pessoas interessadas.”

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2 – Associação dos moradores da Colônia Z-10.

Atua no prédio do CEA. É presidida pelo Sr. Ricardo Tavares. Este atua

em projetos que visem a melhoria e qualidade de vida da população local.

a) Rosemary - Existem projetos na APARU voltadas para o desenvolvimento

cultural, social e educacional para a comunidade da Colônia Z-10. Qual(is)

projetos(s) os moradores mais gostam, se identificam ou aproveitam melhor

para o cotidiano?

Sr. Ricardo “- Os projetos existentes são voltados para a recreação e

manguezal, são eles: Guardiões dos rios e reflorestamento. Estamos em busca

de projetos voltados para revelação e esportes.”

b) Rosemary - Qual é a relação existente entre os moradores dessa

comunidade com o ecossistema manguezal?

Sr. Ricardo “- Uma relação de parceria, e hoje um grande entusiasmo, uma

tentativa também de estar ajudando.”

c) Rosemary - O que a APARU representa para os moradores?

Sr. Ricardo “- Um grande processo de evolução.”

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3 – Colônia de Pescadores Z-10 Almirante Gomes Pereira.

É presidida pelo Sr. Aníbal, morador da Colônia Z-10. Tem uma atuação

discreta na comunidade.

a) Rosemary - Que mudanças ocorreram após a criação da APARU do Jequiá

para os pescadores?

Sr. Aníbal “- As mudanças foram algumas benéficas para o manguezal com a

criação do projeto mutirão e guardiões dos rios, reflorestamento, replantio do

mangue, como as barreiras de proteção que ajudou muito na despoluição deste

berçário marinha.”

b) Rosemary - O que precisa melhorar?

Sr. Aníbal “- Retirar o cais de pneus ou colocar guardas municipais ou PMs

para fazerem rondas contínuas, pois a bandidagem fazem dele seu uso.

Colocar uma rede de esgoto em toda a sua orla ou seja da casa de Sr.

Otávio até a ponte. Uma dragagem depois da ponte para ter mais fluxo de

água.”

c) Rosemary - Existe algum projeto para ajudar na recuperação do manguezal?

Sr. Aníbal “- No que eu saiba não!”

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INDICE

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO I 10

1 – Manguezal 10 1.1 – Definição 10 1.1.1 – Manguezal no Brasil 11 1.1.2 – Entre o Manguezal e Mangue 11 1.2 – O Ecossistema Manguezal 12 1.3 – O Clima 13 1.4 – Salinidade 13 1.5 – Importância do ecossistema manguezal 14 1.5.1 – Flora 16 1.5.2 – Fauna 17 1.5.3 – Espécies 18

CAPÍTULO II 19

2 – Distribuição Geográfica do Brasil e no Estado do Rio de Janeiro 19 2.1 – Origem 19 2.2 – No Brasil 19 2.3 – No Estado do Rio de Janeiro 21

CAPÍTULO III 22

3 – Legislação 22 3.1 – Legislação Federal 22 3.2 – Legislação Municipal do Rio de Janeiro 22

CAPÍTULO IV 24

4 – Impactos sobre o Manguezal 25

CAPÍTULO V 26

5 – A Baía de Guanabara 26 5.1 – Linhas de História da Baía de Guanabara 26 5.2 – A Ilha do Governador 28

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CAPÍTULO VI 29

6 – APARU do Jequiá 30 6.1 – Definição 30 6.2 – Identificação 30 6.3 – Legislação 32 6.4 – Meio antrópico 33 6.4.1– Histórico 34 6.5 – Meio Biótico 38 6.5.1 – Flora 38 6.5.2 – Fauna 39 6.6 – Equipe 40

CAPÍTULO VII 41

7 – Centro de Educação Ambiental da APARU do Jequiá 41 7.1 – Mudanças 41 7.1.1 – Conserto da ponte 41 7.1.2 - Construção do muro do entorno da APARU -Manguezal 41 7.1.3 – Urbanização 41 7.1.4 – Programa Guardiões do Rios e Reflorestamento 41 7.1.5 – Potencialização Turística e Cultural da região 42 7.2 – Visitação 43 7.3 – Projetos 43 7.3.1 – Capacitação de professores 43 7.3.2 – Projeto exposição 44 7.3.3 – Teatro de fantoches 44 7.3.4 – Pintura em tecido 44 7.3.5 – Fonaudiológicos 44

CAPíTULO VIII 46

8 – Lideranças locais 47 8.1 – Associação dos Amigos do Manguezal do Jequiá 47 8.2 – Associação dos Moradores e Amigos da Colônia Z-10 47 8.3 – Colônia de Pescadores Z-10 Almirante Gomes Pereira 47

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ANÁLISE 48

CONCLUSÃO 50

BIBLIOGRAFIA 52

ANEXOS 55

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVALIAÇÃO

APARU DO JEQUIÁ: MEMÓRIAS E MUDANÇAS

POR: ROSEMARY GOMES RIBEIRO BOAVENTURA

Orientador: Prof. Ms. Celso Sanchez

Data da entrega: 27/01/2007.

Avaliado por: Conceito :