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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
AVM FACULDADE INTEGRADA
CONTANDO HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Por: Priscilla de Sousa Rocha
Orientador: Vilson Sérgio de Carvalho
Nova Iguaçu
2014
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
FACULDADE INTEGRADA AVM
Contando histórias na educação infantil
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do
Mestre – Universidade Candido Mendes como
requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Educação Infantil e
Desenvolvimento
Por: Priscilla de Sousa Rocha
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus que me fortaleceu até
aqui e me sustentou durante várias
madrugadas dedicadas ao estudo.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais que
são a minha base, meu marido por todo
seu companheirismo, minha filha Rafaella
que me ensinou a ver o mundo com
outros olhos e a amiga Elaine que tanto
me incentivou durante a realização deste
curso.
METODOLOGIA
A metodologia utilizada para desenvolver esse trabalho será o estudo
bibliográfico de alguns autores como: ABRAMOVICH, BETTELHEIM,
BUSATTO, CADEMARTORI, COELHO, COSTA, ZILBERMAN entre outros.
Com base nos autores citados analisaremos a literatura infantil e a
contação de histórias e destacaremos itens importantes envolvendo o ato de ler
como obtenção de informações e prazer.
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS ................................................................................................... 3
DEDICATÓRIA .............................................................................................................. 4
METODOLOGIA ........................................................................................................... 5
RESUMO ......................................................................................................................... 7
INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 8
CAPÍTULO I ................................................................................................................. 10
A LITERATURA INFANTIL ..................................................................................... 10
1.1. Monteiro Lobato e a literatura infantil no Brasil ....................................... 13
1.2 A importância das histórias no universo infantil..................................... 13
CAPÍTULO II ............................................................................................................... 16
A CONTAÇÃO DE HISTÓRIA COMO INSTRUMENTO DE TRABALHO NA EDUCAÇÃO INFANTIL ............................................................................................. 16
2.1 Pré-leitor e o livro .............................................................................................. 21
O pré-leitor (1ªfase) faixa etária a partir de 2/3 anos ................................................ 22
O pré-leitor (2ªfase) faixa etária dos 4/5 anos ............................................................ 23
CAPÍTULO III .............................................................................................................. 24
MOMENTOS DE LEITURA COM CRIATVIDADE .............................................. 24
3.1 Recursos Auxiliares ........................................................................................... 29
3.1.1 O próprio livro................................................................................................ 29
3.1.2 Gravuras ......................................................................................................... 30
3.1.3 Fantoches ........................................................................................................ 30
3.1.4 Teatro de sombra ........................................................................................... 31
3.1.5 Bocões .............................................................................................................. 31
3.1.6 Marionetes: ..................................................................................................... 32
3.1.7 Dedoches.......................................................................................................... 32
3.1.8 Avental que conta história ............................................................................. 32
3.1.9 Máscaras ......................................................................................................... 33
3.1.10 Dramatização .................................................................................................. 33
3.1.11 Álbum seriado................................................................................................. 34
3.1.12 Dobradura ....................................................................................................... 34
3.1.13 Flanelógrafo .................................................................................................... 35
3.1.14 Quadro magnético .......................................................................................... 35
3.1.15 Quadro de pregas ........................................................................................... 35
3.1.16 Interação com a narração .............................................................................. 35
3.1.17 Cinema ............................................................................................................ 36
3.1.18 Filmes .............................................................................................................. 36
3.1.19 Slide ................................................................................................................. 36
CONCLUSÃO ............................................................................................................... 37
ANEXOS ........................................................................................................................ 38
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................... 40
RESUMO
Esta monografia visa analisar a importância de contar histórias na
educação infantil. O hábito de contar história é tão antigo quanto à história do
homem. O momento da narração proporciona entretenimento, estimula a
imaginação e a criatividade além de transmitir valores e conhecimento. No
primeiro momento abordaremos o contexto histórico do surgimento da literatura
infantil. Discutiremos o papel do professor na educação infantil como contador
de histórias incentivando a criança a mergulhar no fantástico mundo da
fantasia. Apresentaremos algumas técnicas e recursos para o professor
renovar sua pratica docente, aprimorando suas habilidades ao narrar historias,
tornando esse momento ainda mais agradável pra seus alunos. Para a
construção deste trabalho monográfico buscaremos apoio teórico em
Abramovich (1991), Bettelheim (2002), Busatto (2013), Cademartori (2010),
Coelho (2000), Oliveira (2006), Zilberman (2012) entre outros.
8
INTRODUÇÃO
Este estudo monográfico tem como objetivo analisar a importância do ato
de contar histórias na educação infantil.
Esta pesquisa visa enfocar reflexões sobre a importância da literatura
infantil e da contação de histórias na educação infantil, trazendo técnicas para
o professor tornar-se um bom contador de histórias utilizando a arte da
contação em sua prática educativa.
Abordaremos, neste trabalho, a importância do ato de contar histórias
como processo de desenvolvimento do pensamento, instrumento de
informação, de formação e de prazer e daremos recursos de como contar
histórias utilizando a contação como ferramenta diária para estimular o gosto
pela leitura.
“Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias... Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo...” (ABRAMOVICH, 1991, p.16).
Ouvir histórias é um processo desafiador e motivador, que transforma
uma pessoa, ajudando-a a ser mais responsável e crítica. A criança ao ouvir
uma história sente prazer, desperta o imaginário, o gosto pelo ato de ler e
desenvolve a linguagem oral e escrita. A criança que desde muito cedo entra
em contato com a obra literária desenvolverá uma compreensão maior de si e
do outro. Terá a oportunidade de desenvolver seu potencial criativo e ampliar
os horizontes da cultura e do conhecimento, percebendo o mundo e a realidade
circundante.
O grande questionamento desse estudo é: Como desenvolver o hábito de
ouvir histórias na Educação Infantil?
Com esse trabalho pretende-se apontar a importância das histórias
Infantis; relacionando a contação de histórias e a aprendizagem na Educação
Infantil.
O primeiro capítulo trata-se da origem da literatura infantil e a importância
das histórias no universo infantil. O segundo capítulo aborda a importância da
contação de história como instrumento de trabalho na educação infantil.
9
No terceiro capítulo serão abordadas habilidades, técnicas e recursos
para o professor contar histórias e tornar esse momento de leitura agradável e
criativo.
10
CAPÍTULO I
A LITERATURA INFANTIL
“A literatura infantil é, antes de tudo, literatura; ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem, a vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática, o imaginário e o real, os ideais e sua possível/impossível realização” (COELHO, 2000, p.27).
A literatura infantil leva o leitor a fantasiar a realidade através da
imaginação, resgatando o lúdico e o prazer, proporcionando à criança a
possibilidade de criar novos caminhos e mergulhar no mundo do maravilhoso.
Sua origem aconteceu durante o século XVII, época em que as
mudanças na estrutura da sociedade desencadearam repercussões no âmbito
artístico que existem até os dias atuais. É a partir do século XVIII que a criança
passa a ser considerada um ser diferente do adulto, com necessidades e
características próprias, pelo que deveria distanciar-se da vida dos mais velhos
e receber uma educação especial, preparando-se para a vida adulta.
“Os primeiros livros para crianças foram produzidos no final do século XVII e durante o século XVIII. Antes disso não se escrevia para elas, porque não existia a “infância”. Hoje a afirmação pode surpreender; todavia a concepção de uma faixa etária diferenciada, com interesses próprios e necessitando de uma formação específica, só aconteceu em meio a Idade Moderna. A mudança se deveu a outro acontecimento da época: a emergência de uma nova noção de família, centrada não mais em amplas relações de parentescos, mas num núcleo unicelular, preocupado em manter sua privacidade (impedindo a intervenção dos parentes em seus negócios internos) e estimular o afeto entre seus membros.” (ZILBERMAN, 2003, p.6)
A literatura infantil surgiu no momento de valorização da infância, no
período da idade moderna, neste mesmo período muitas transformações
aconteciam pelo mundo, fatos importantes como a decadência do feudalismo e
ascensão da burguesia contribuíram para o surgimento da literatura infantil.
11
Uma nova concepção de família surge dando espaço ao amor materno
e a preservação dos filhos, deixando de lado o modelo de família que existia no
sistema feudal.
A ideologia burguesa aceita o novo conceito de família, com isso passa
a ser obrigação dos pais e da sociedade cuidar do infante para que seu bem
estar esteja acima de qualquer coisa.
“Estimulada ideologicamente pelo Estado absolutista, depois pelo liberalismo burguês, que encontraram neste núcleo o suporte necessário para centralizar o poder politico e contrabalançar a rivalidade da nobreza feudal, ela recebeu o aval politico para irradiar seus principais valores: a primazia da vida doméstica fundada no casamento e na educação dos herdeiros; a importância do afeto e da solidariedade de seus membros; a privacidade e o intimismo como condições de uma identidade familiar.” (ZILBERMAN, 2003, p.2).
No século XVIII a educação era voltada para as famílias burguesas,
somente essas famílias tinham direito a educação. É neste período que se
começa a sentir a necessidade de privilegiar a educação infantil, dando
destaque a criança.
Inicia-se a formação de pequenos leitores, leituras essas muitas vezes
impostas pelos pais ou professores. Já que, com a decadência do sistema
feudal, os atributos que justificavam o poder não estavam ligados mais a
heranças familiares, mas sim a um saber que seria construído ao longo da
vida, pois era através da leitura que se poderia adquirir cultura e o
conhecimento do mundo através da literatura. Esse mundo representado nos
textos ampliavam os horizontes da criança, elaborava uma grande visão de
mundo, uma nova perspectiva de vida, um olhar mais específico e detalhado do
que realmente se trata a infância.
Sobre a educação durante a emergência da classe burguesa Zilberman
(2003) explica que “privilegia a educação pessoal qualificando os indivíduos
não por seu passado ilustre, mas por seus dons intelectuais que incrementa ao
longo de sua vida. É o que determina a promoção da cultura e do ensino.”
(p.8).
12
Ao analisarmos a trajetória das histórias infantis percebemos que
incialmente essas histórias eram destinada ao público adulto e foram
adaptadas ao universo infantil.
“Portanto antes de se perpetuarem como literatura infantil, foram literatura popular. Em todas elas havia a intenção de passar determinados valores ou padrões a serem respeitados pela comunidade ou incorporado pelo indivíduo em seu comportamento”. (COELHO, 2000, p.41)
No século XVII surge, o francês Charles Perrault, trazendo histórias da
tradição oral como Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida, A Gata
Borralheira, O Pequeno Polegar entre outros. Apresenta contos e lendas da
Idade Média adaptando os e compondo os contos de fadas.
No século XIX destacam-se os famosos Irmãos Grimm na Alemanha.
Suas narrativas mais conhecidas são João e Maria, A Branca de Neve e os
sete anões e Os músicos de Bremen onde podemos perceber grande influência
da mitologia germânica.
Entre 1835 e 1872 o dinamarquês Hans Christian Andersen apresentou
a coleção chamada Eventyr (contos de fadas) exibindo animais e objetos
falantes cheios de sentimentos. Suas obras O Patinho Feio, Soldadinho de
Chumbo e Os trajes do Imperador, ainda fazem parte do universo infantil.
As obras: “Pinóquio” do italiano Collodi, “Alice no país das maravilhas”
e “Alice através do espelho” ambas do inglês Lewis Carrol, “O mágico de Oz”
do americano Frank Baum e “Peter Pan” do escocês James Mathew Barrie
também fazem parte da história da literatura infantil.
“A literatura infantil, portanto, tem a criança como principal representante, pois a representa sempre em busca de uma explicação que, mesmo quando mais logica, é ainda mágica”. Por isso o gosto pelo mundo sobrenatural com fadas, ogros, bruxas serve como “dar asas a imaginação”: “A criança serve-se do real, justamente para penetrar em sua fantasia” (JESUALDO apud COSTA, 2009, p.117).
13
1.1. Monteiro Lobato e a literatura infantil no Brasil
Muito tempo depois de a literatura infantil europeia ter surgido, chega à
vez do surgimento da literatura infantil brasileira, que tem seu início em 1908
com a implantação da Imprensa Regia, começam a ser publicados livros
destinados ao público infantil.
Costa (2009) Essas publicações ainda não eram suficientes para
assinalar uma produção literária brasileira, mas os livros a partir deste
momento deixam de ser tão raros no país.
O começo da literatura infantil brasileira foi marcado por um modelo
Europeu. Sobre a cultura CADEMARTORI (2010) cita “assim desenvolveram-
se, paralelamente dois tipos de cultura no Brasil: uma europeia, elitista,
livresca; outra, narrativa, popular, agráfica”. (p.49)
Em 1921, Monteiro Lobato publica o livro “A menina do narizinho
arrebitado” livro que já mostrava apelo à imagem, linguagem visual, humor e
movimentação dos diálogos.
Monteiro Lobato criou um universo infantil baseado no folclore de sua
cultura, buscou o nacionalismo na ação das personagens que refletiam na
brasilidade, na linguagem, comportamentos e na relação com a natureza.
Em 1931 “A menina do narizinho arrebitado ganha um novo nome”. A
narrativa passa a ser chamada de “Reinações de Narizinho” dentro do universo
do imaginário Lobato cria as personagens D. Benta, Tia Anastácia, Pedrinho,
Emília, Visconde de Sabugosa e o espaço do Sitio do Picapau Amarelo.
Para COSTA (2009) “A Literatura Brasileira está marcada pelo registro
das peculiaridades locais. Mas a principal marca da Literatura infantil é a obra
de Monteiro Lobato, dividindo-a em antes e depois do autor.” (p.127).
1.2 A importância das histórias no universo infantil.
Ouvir histórias desperta o interesse do ouvinte em qualquer faixa
etária. Adultos apreciam narrativas orais e rodas de conversa, com as crianças
também não é nada diferente. O interesse da criança pela narrativa ainda é
maior devido sua capacidade de dar asas à imaginação.
14
O contato com a narração acontece bem cedo, quando o bebê ouve a
voz materna, ao ouvir as canções de ninar e através das pequenas narrativas
que são contadas para fazê-lo dormir. Esses pequenos gestos já despertam a
curiosidade da criança. Busatto (2003) cita sobre a importância de ouvir história
em família “ouvir um conto antes de dormir, embalado por uma voz que traga
referencias confortantes, é um presente, como dormir embalado por vozes
angelicais” (p.46).
As primeiras histórias são introduzidas no ambiente familiar. No
momento onde os pais começam a relatar as histórias da própria criança desde
o seu nascimento, transformando essas narrativas em heranças repletas de
sentimentos.
“Há quem conte histórias para enfatizar mensagens, transmitir conhecimentos, disciplinar, até fazer uma espécie de chantagem - se ficarem quietos, conto uma história, se isso, se aquilo... - quando o inverso que funciona. A história aquieta serena, prende a atenção, informa, socializa, educa.” (COELHO, 1999, p.12).
Criar um ambiente favorável à leitura faz com que a criança construa
em sua mente a ideia que o momento da leitura de histórias é enriquecedor e
prazeroso. A história apresenta a criança: os heróis, as fadas, as bruxas e as
princesas, a ideia de temporalidade (início, meio e fim) e o caráter dos
personagens.
Através do maravilhoso a criança consegue compreender melhor
valores básicos e os dilemas da vida cotidiana. As histórias infantis transmitem
por meio da linguagem simbólica situações onde a criança consegue distinguir
o “certo” ou o “errado”, o “bem” e o “mal” entre outros, e esses valores serão
incorporados e utilizados ao longo de sua vida.
“As histórias infantis favorecem a formação moral, social e literária dos leitores mirins, estabelecendo uma íntima relação entre o “segundo mundo”, o da fantasia, no qual todas as crianças vivem em seus momentos de introspecção e realidade, preparando esses pequenos leitores para operar a transposição do literário ao real.” (COSTA, 2009, p.118).
15
É durante a infância que a literatura infantil por intermédio dos contos
tem seu papel de destaque, pois nesta fase de amadurecimento interior a
criança forma o seu conceito de si mesma e cria estratégias para lidar com o
mundo que a cerca.
O psicanalista Bruno Bettelheim, em sua obra A psicanálise dos contos
de fada, já observava o potencial dos contos de fada para o entendimento de
situações conflituosas presentes na vida.
“Esta é exatamente a mensagem que os contos de fada transmitem à criança de forma múltipla: que uma luta contra dificuldades graves na vida é inevitável, é parte intrínseca da existência humana - mas que se a pessoa não se intimida mas se defronta de modo firme com as opressões inesperadas e muitas vezes injustas, ela dominará todos os obstáculos e, ao fim, emergirá vitoriosa.” (BETTELHEIM,2002,p.6)
Ainda baseado nas pesquisas de Bettelheim (2002) podemos notar
como os contos tradicionais, como os contos de fadas através de sua
linguagem simbólica ajudam as crianças a lidar com os momentos de angustia
e insegurança emocional, pois esses contos conduzem as crianças ao conforto
da resolução dos problemas com um final feliz.
De acordo com Coelho (2000), “intuitivamente, a criança compreenderá
que tais histórias, embora irreais ou inventadas, não são falsas, pois ocorrem
de maneira semelhante no plano de suas próprias experiências pessoais”.
(p57.)
As histórias trazem o abstrato ao entendimento da criança, questões de
virtude, maus hábitos, defeitos ligados ao comportamento do indivíduo são
difíceis de serem entendidos claramente pelas crianças. A história transforma o
abstrato em concreto trazendo diversos comportamentos dentro de um
contexto, ensinando a criança a pensar e descobrir o mundo.
16
CAPÍTULO II
A CONTAÇÃO DE HISTÓRIA COMO INSTRUMENTO DE
TRABALHO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Para falar em literatura infantil nas classes de educação infantil falaremos
primeiro do professor como um promotor da leitura.
Conforme Silva (2009) falar de literatura infantil na escola nos remete ao
coletivo, a leitura compartilhada. Pensamos em um professor leitor que forma
leitores. Isso nos conduz a questão de como pode acontecer o ato de ler e em
que condições esse momento de magia pode ocorrer.
Para responder o questionamento Silva (2009) explica: “uma forma de
leitura que voltou à tona com grande sucesso na atualidade é a contação de
história”. (p.34)
O ato de contar histórias não é uma pratica moderna, ela sempre esteve
presente desde a antiguidade com a função de repassar informações, crenças,
hábitos, valores presentes na vida do ser humano.
Conforme Costa (2009) “os contadores de história nasceram com a
humanidade. Falar sobre e encandear acontecimentos, acrescentando-lhes
uma interpretação, são atributos humanos.” (p.69).
O hábito de contar história surge em primeiro lugar no convívio
familiar e se estende até a escola. A contação de história deve ser utilizada
pelo professor como importante recurso na sala de aula da educação infantil
levando ao aluno um novo aprendizado e o transformando em um pequeno
leitor.
“É comum encontrarmos associado: o ato de contar história e o público infantil. De fato um dos caminhos para integrar as crianças no universo cultural, construído ao longo dos séculos, é contar-lhes histórias imaginativas. Além da função de resgate de cultura, essa atividade proporciona momentos em que o ouvinte trabalha mais intensamente, e de maneira individualizada, o seu imaginário. Há, portanto uma função psíquica formadora na contação de história. Além é claro do
17
natural prazer e divertimento de poder compartilhar narrativas inventadas.” (COSTA, 2009, p.82).
A história é um caminho para o imaginário, onde a realidade e a fantasia
se sobrepõem. Por meio da contação de uma história, cada um pode sentir-se
um pouco artista, direcionando a imaginação do ouvinte.
A arte de contar história é um passaporte para o imaginário. Para Busatto
(2013) “contar história pode ser fermento para o imaginário. Elas nascem no
coração e, poeticamente, circulando se espalham por todos os sentidos,
devaneando até chegar ao imaginário.” (p.58,59).
Neste sentido, quanto mais cedo à criança entrar em contato com o
universo literário infantil e sentir prazer através da leitura maior serão as
possibilidades dela tornar-se um adulto leitor.
Oliveira (2006) afirma que a sala de aula é um excelente local para o
desenvolvimento do gosto pela leitura e um importante setor para o intercâmbio
da cultura literária. Os professores devem usar a literatura infantil
proporcionando um momento de lazer, de modo que o aluno sinta desejo em
ler uma história, não como uma tarefa a mais para desempenhar. O educador
deve levar o educando a se interessar pelo tema da leitura através de canções,
expressão corporal, dança observação e contato com a realidade.
Ainda de acordo com Oliveira (2006), a literatura infantil é um dos pilares
para o desenvolvimento da criatividade da criança, pois ela concede ao leitor
uma bagagem de conhecimentos e informações capaz de motivar uma ação
criadora. Através das histórias lidas ou ouvidas, a criança passa a adquirir
novas experiências.
“O melhor instrumento e a técnica mais eficiente são o amor e a criatividade, unidos à preocupação com os objetivos do trabalho, com o nosso público e com a mensagem a ser transmitida. É preciso que o professor goste de Literatura infantil, que ele se encante com o que lê, pois somente assim poderá transmitir a história com entusiasmo e vibração. Se o professor for um apaixonado pela Literatura Infantil, provavelmente, os alunos se apaixonarão também. Para ler um texto de Literatura Infantil é preciso ter o coração de criança. Muitas vezes lemos uma história e não gostamos, uma criança lê a mesma história e fica encantada. Isso pode acontecer porque lemos com a cabeça de adulto.” (OLIVEIRA, 2006, p.21).
18
O educador pode utilizar as histórias como instrumento de trabalho
aproveitando o valor educacional e aproveitar as histórias para despertar o
interesse dos alunos e explorar a variedade de temas que é vastíssimo.
“Para que uma estória realmente prenda a atenção da criança, deve entretê-la e despertar sua curiosidade. Mas para enriquecer sua vida deve estimular lhe a imaginação ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a tornar claras suas emoções; estar harmonizada com suas ansiedades e aspirações; reconhecer plenamente suas dificuldades e, ao mesmo tempo sugerir soluções para os problemas que a perturbam. Resumindo deve de uma só vez relacionar se com todos os aspectos de sua personalidade- e isso sem nunca menosprezar a criança, buscando dar inteiro crédito a seus predicamentos e, simultaneamente, promovendo a confiança nela mesma e no seu futuro.” (BETTELHEIM, 2002, p.5).
Através dos ensinamentos contidos nas histórias, as crianças obtêm
maior vivência. O contato com sentimentos, reações e intuitos da natureza
humana mostra às crianças a semelhança com o mundo em que vivemos.
Com auxilio da contação o professor pode abordar temas do aspecto
interno das crianças como: caráter, raciocínio, imaginação, criatividade, senso
crítico e disciplina.
As histórias ampliam os horizontes dos alunos, com elas é possível dar
uma volta ao mundo, ir de um país ao outro, conviver com fadas, duendes e
heróis como num passe de mágica através da fantástica viagem da
imaginação.
As emoções que sentimos ao ouvir uma boa história estimulam a
criatividade e semeiam a imaginação.
“É na relação lúdica e de prazer da criança com a obra literária que se forma o leitor; é na exploração simbólica da fantasia e da imaginação que desabrocha o acto criador e se intensifica a comunicação entre o texto e o leitor.” (OLIVEIRA, 2006, p.18).
Ao contar uma história o docente cria um vínculo entre o leitor e o livro
surgindo então uma ponte imaginária que leva o educando a ampliar seu
vocabulário, desenvolver a concentração e observação, facilitando a
19
compreensão de ideias e apresentando o livro como um instrumento de
formação e de prazer. O livro da oportunidade a criança a tomar conhecimento
de situações alheias a sua realidade, uma vez que pode obter informações
sobre diferentes culturas, classes sociais e costumes.
“Conto histórias para formar leitores; para fazer da diversidade cultural um fato; valorizar as etnias; manter a História viva; para se sentir vivo; para encantar e sensibilizar o ouvinte; para estimular o imaginário; articular o sensível; tocar o coração; alimentar o espírito; resgatar significados para a nossa existência e reativar o sagrado.” (BUSATTO, 2003, p. 45).
Na educação infantil os educadores devem incentivar o hábito da leitura
desde a primeira infância. De acordo com Coelho (2000), “é nessa fase que o
mundo natural e o mundo cultural (o da linguagem nomeadora) começam a se
relacionar que a percepção que a criança começa a ter do espaço global em
que vive”. (p.33) Sendo assim ter contato com as histórias contribuem para o
desenvolvimento e aprendizagem.
“A leitura de histórias é um momento em que a criança pode conhecer a forma de viver, pensar, agir e o universo de valores, costumes e comportamentos de outras culturas situadas em outros tempos e lugares que não o seu. A partir daí ela pode estabelecer relações com a sua forma de pensar e o modo de ser do grupo social ao qual pertence. As instituições de educação infantil podem resgatar o repertório de histórias que as crianças ouvem em casa e nos ambientes que frequentam, uma vez que essas histórias se constituem em rica fonte de informação sobre as diversas formas culturais de lidar com as emoções e com as questões éticas, contribuindo na construção da subjetividade e da sensibilidade das crianças.” (RECNEI, 1998, p.145).
A contação desenvolve habilidades, estimula a imaginação e criatividade,
educa e instrui.
De acordo com Referencial curricular nacional para a educação infantil:
“Quem convive com crianças sabe o quanto elas gostam de escutar a mesma história várias vezes, pelo prazer de reconhecê-la, de apreendê-la em seus detalhes, de cobrar a mesma sequência e de antecipar as emoções que teve da primeira vez.” (RECNEI, 1998, p.143).
20
Para alcançar bons resultados por meio da leitura de histórias é
necessário esforço e dedicação do professor para estudar assuntos do
interesse dos alunos. Através da pesquisa o educador saberá escolher dentro
de um repertório qual história se adapta melhor ao momento que deseja
abordar um determinado assunto.
“A intenção de fazer com que as crianças, desde cedo, apreciem o momento de sentar para ouvir histórias exige que o professor, como leitor, preocupe-se em lê-la com interesse, criando um ambiente agradável e convidativo à escuta atenta, mobilizando a expectativa das crianças, permitindo que elas olhem o texto e as ilustrações enquanto a história é lida.” (RECNEI, p.143,1998).
Um item importante a ser destacado é a construção de um ambiente
favorável à leitura como foi citado no capítulo I. Conforme mostra o RECNEI
(1998) é importante que o professor crie em sua sala de aula um ambiente
agradável dedicado aos livros e demais portadores de textos (cantinho da
leitura ou biblioteca móvel), permitindo aos alunos o manuseio e leitura desse
material de forma espontânea ou dirigida. Outro elemento importante é
proporcionar as crianças momentos de leitura em família disponibilizando
empréstimos de livros para leitura com seus familiares em casa, esse tipo de
atividade da um sentido mais amplo a leitura.
“A narrativa pode e deve ser a porta de entrada de toda criança para os
mundos criados pela literatura. A criança aprende a narrar por meio de jogos
de contar e de histórias” (RECNEI, 1998, p140).
É importante estar atento ao escolher as histórias para os alunos, pois
elas devem respeitar o desenvolvimento psicológico da criança, o texto deve
estar adequado aos estágios de desenvolvimento infantil.
A partir dos 18 meses é o momento de elaboração da linguagem,
conforme Faucher (2000), “livros com imagem que devem provocar o
conhecimento ou o reconhecimento de objetos ou seres, familiares a criança,
em seu cotidiano real e comum”. Baseado na citação acima o professor pode
escolher para essa faixa etária história de brinquedos, animais e histórias cujos
personagens ainda são crianças. “(FAUCHER apud COELHO, 2000, p.189)”.
21
A partir dos três anos a criança está na fase da ampliação do mundo
conhecido e linguagem identificadora. “Livros com imagens ainda do ambiente
familiar, formando histórias simples, que podem ser manipuladas pela criança
para formar outras situações ou histórias e recontá-las.” (FAUCHER apud
COELHO, 2000). O professor pode escolher para a faixa etária dos 3 a 6 anos
histórias com fantasia, com fatos inesperados ou fatos repetitivos, histórias
cujos personagens são crianças ou animais.
2.1 Pré-leitor e o livro
Coelho (2000), baseado em estudos de psicologia aplicada à pedagogia
aponta que o conhecimento infantil ocorre através da interação da criança com
o objeto, não só no sentido de ocasionar o encontro da criança com o mundo
literário, mas também no de seu desenvolvimento psicológico.
É a partir daí que analisamos a importância do livro com gravuras durante
a infância, pois é neste período da vida que o cérebro ainda está limitado de
experiências e não faz uso do repertório indispensável à decodificação da
linguagem escrita. Com isso podemos concluir que um texto pode parecer
simples para um adulto, mas ao entendimento de uma criança torna se
bastante complexo parecendo ser um mar de palavras desafiando a percepção
imatura da criança, incapaz de abstrações.
Sobre o valor psicológico/pedagógico/emocional da imagem/do texto no
livro infantil podemos destacar que:
“Estimula e enriquece a imaginação infantil e ativa a potencialidade criadora-natural em todo ser humano e que, muitas vezes, permanece latente durante toda existência por falta de estímulo.” (COELHO, 2000, p.198).
Com inúmeras ofertas de títulos de literatura infantil torna-se muitas vezes
difícil avaliar qual livro se adequa a faixa etária da criança, mas bons livros de
literatura infantil podem ser facilmente identificados, devido suas
características. De acordo com Cademartori (2010) “o uso da linguagem em
sua possibilidade estética e lúdica é fundamental” (p.32)
22
No processo de escolha de um livro para criança a autora citada acima
também destaca:
“Como não podemos esquecer que elas se tornam leitoras de imagens, antes mesmo de serem leitoras de palavras, fundamental é o papel que exerce, na ampliação de expressividade da obra, o texto visual ou as ilustrações que acompanham o texto.” (CADEMARTORI, 2010, p.34).
Levando em conta a idade daquele a quem o livro se destina devemos
relacionar as características do livro adequando às categorias do leitor.
Abordaremos neste capítulo a fase do pré- leitor. Segundo Coelho (2000)
o pré-leitor é a categoria inicial que abrange duas fases.
O pré-leitor (1ªfase) faixa etária a partir de 2/3 anos
Nesta faixa etária a criança aprende a nomear as coisas que as cercam,
vai aprendendo a identificar o mundo externo é a fase da elaboração da
linguagem organizada. Essa fase onde as crianças nomeiam os seres é de
grande importância no processo do desenvolvimento perceptivo/intelectual,
com isso elas passam fazer relações de identidade entre a situação
representada através de imagens o mundo visível (o cotidiano em que vivem) e
o mundo invisível da linguagem que ainda irão dominar.
Nesta primeira fase do pré-leitor deve se apresentar as crianças não só
os livros de imagens, mas também os livros de pano, de banho, de madeira
entre outros. Esses livros objetos farão papel de brinquedo e ao mesmo tempo
irão estimular o sentido da percepção, através do manuseio desses livros o
pré-leitor ira olhar, tocar, ouvir, cheirar... Neste sentido o prazer abre caminho
para o conhecimento.
Para essa fase inicial a mediação afetuosa do adulto ganha destaque,
pois é uma fase de interação afetiva.
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O pré-leitor (2ªfase) faixa etária dos 4/5 anos
Nesta fase a criança passa a fazer ampliação do mundo conhecido e da
linguagem identificadora. Na segunda fase do pré-leitor é importante o uso de
livros sem textos ou com textos curtos, que despertem o interesse da criança
através de situações que seja de algum modo atraente a mente infantil.
Coelho (2000) explica que os livros adequados ao publico pré-leitor
devem apresentar características estilísticas como:
“Predomínio absoluto da imagem (gravuras, ilustrações, desenhos etc.), sem texto escrito ou textos brevíssimos, que podem ser lidos ou dramatizados pelo adulto, a fim de que a criança comece a perceber a inter-relação entre o mundo real que a cerca e o mundo das palavras que nomeia esse real. É a nomeação das coisas que leva a criança a um convívio inteligente, afetivo e profundo com a realidade circundante.” (COELHO, 2000, p.34).
Segue abaixo uma seleção de livros destinados ao pré-leitor
• Coleção “Peixe Vivo” (Eva Furnari)
• Coleção “Crie & Conte” (Cristina Porto)
• Coleção “Gato e Rato” (Mary França)
• Coleção “Canta e Dança” (Brinque-Book)
• Coleção “Livros de Pano” (Paula Valeria)
• Coleção “Livros de Madeira” (Alice e Lúcia Góes)
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CAPÍTULO III
MOMENTOS DE LEITURA COM CRIATVIDADE
Antes de apresentar as técnicas e recursos para narrativa de um conto
que abordaremos neste capítulo é relevante destacar a importância de contar
histórias com o coração.
Para Busatto (2003), para que a narrativa atinja toda sua potencialidade
é necessário narrar com o coração estar internamente disponível para o
momento da contação, com isso o contador doa-se a esta tarefa com prazer e
boa vontade.
Ainda de acordo com Busatto (2003), o contador ao narrar doa seu afeto,
sua bagagem de vida, abre seu coração e compactua com o que o conto quer
dizer. Nesse sentido, é importante que haja o elo entre o narrador e o conto
narrado. “Antes de sensibilizar o ouvinte o conto precisa sensibilizar o
contador”. (BUSATTO, p.47)
Contar uma história é uma arte que necessita de treino e estudo. Um bom
contador de histórias pode utilizar algumas técnicas para envolver as crianças
com a história.
“Para contar uma história – seja qual for – é bom saber como se faz. Afinal, nela se descobrem palavras novas, se entra em contato com a música e com a sonoridade das frases, dos nomes... Se capta o ritmo, a cadência do conto, fluindo como uma canção... Ou se brinca com a melodia dos versos, com o acerto das rimas, com o jogo das palavras... Contar histórias é uma arte... e tão linda!!! É ela que equilibra o que é ouvido com o que é sentido, e por isso não é nem remotamente declaração ou teatro... Ela é o uso simples e harmônico da voz.” (ABRAMOVICH, 1991, p.18).
É importante destacar que existem várias maneiras de contar uma
história, porém existe diferença entre ler e contar.
“As histórias contadas oralmente têm uma força de transmissão oral, isto é: a voz, o olhar e o gesto vivo do contador de histórias, que alegra ou entristece sua plateia. Na “contação”
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usam-se as próprias palavras, há variações nas versões de cada história, permite-se o uso de recursos e está mais próxima da oralidade. A criança aprende mais sobre a língua que se fala, amplia seu repertório e seu universo imaginário, percebe que as histórias podem ser mudadas e começa a criar suas próprias histórias. Ao ler o professor apresenta aos alunos o universo letrado, instigam a curiosidade pelos livros e seus conteúdos. Neste caso a história é sempre a mesma, independente de quem a lê. Podemos modificar a entonação, a altura ou timbre da voz, mas o texto é sempre o mesmo. A leitura traz consigo marcas específicas da língua escrita e que não utilizamos cotidianamente ao falar.” (OLIVEIRA, 2006, p.04).
Dohme (2012) apresenta algumas dicas que auxiliam o educador na
arte da narração.
Conversa informal: O educador pode utilizar a roda de conversa informal
para preparar e sondar os alunos sobre o conhecimento prévio pelo assunto a
ser abordado no livro.
Disposição dos ouvintes: A disposição também é um item importante, o
professor deve proporcionar o momento de leitura formando um círculo com
seus alunos e fazendo parte dele.
Local: A escolha de um bom local é o ponto chave pra alcançar o
sucesso. O educador deve escolher um lugar calmo, sem a concorrência com
outras vozes ou ruídos.
Horário: É importante não utilizar o recurso da narração depois das
refeições, pois o público pode perder a atenção e adormecer.
Interrupções: Evite interrupções durante a narrativa, caso seja inevitável
apenas um gesto ou uma palavra deverão fazer com que o ouvinte mais
ansioso interrompa a contação novamente.
“E para finalizar, um segredo: para uma boa narração é preciso absoluta segurança e naturalidade, e isto só consegue que está perfeitamente entrosado com o assunto, domina a técnica e está convenientemente preparado para contá-la.” (DOHME, 2010, p.38).
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Ainda conforme Dohme (2012), para as narrações simples é
imprescindível:
a) Escolher cuidadosamente a história. O educador ou narrador deve
identificar-se com o enredo.
b) Fazer a leitura da história previamente.
c) Identificar na história os quatro elementos: introdução, enredo, ponto
culminante e desfecho. Registrar o nome dos personagens, principais
características e situações importantes.
d) Contar a história para si mesmo em frente ao espelho e contar o tempo
gasto para a narração.
e)Treinar a entonação da voz, adequar as palavras ao vocabulário das
crianças. Exercitar os gestos e vozes que serão usados.
f) Dar pequenas pistas sobre a história antes do início da contação.
g) Pedir silêncio.
h) Ser fiel ao que foi ensaiado.
É papel do professor aperfeiçoar suas habilidades para contar histórias
para as crianças. Não é o bastante somente contar a história é preciso fazer a
diferença, contando-a de forma certa, utilizando recursos sonoros, verbais e
visuais.
“O contador de história vê o que cria enquanto constrói, e essa Condição é dada pelo olhar. Ao acompanhar com seus olhos o movimento que concebe, ele projeta energia para essas imagens, da vida para elas, que vão aos poucos se corporificando diante do espectador, podendo ou não se tornar significativas e atuantes. Mas para que tudo isso ocorra, o contador de história precisa ter consciência de que ele tem um corpo falante e expressivo, e adequá-lo a esta função, com treino rigoroso, criativo e sensível.” (BUSATTO, 2013, p.64,65).
Uma coisa é inquestionável, para contar uma boa história, o contador não
deve utilizar a mesma voz que utiliza nas conversas informais. A mudança de
voz faz com que a atenção seja diferente despertando o interesse do publico.
Dohme (2010) cita alguns itens para tirar maior proveito da voz do
contador.
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• Dicção
• Volume
• Velocidade
• Tonalidade
• Vocabulário
Para ter uma boa dicção a primeira medida a ser tomada é o cuidado ao
pronunciar as palavras, procurar pronunciá-las de forma clara, sonorizando
bem cada sílaba. Deve-se ter atenção às pausas onde existe ponto, vírgulas ou
no final das frases.
Um dos frequentes problemas que impedem o entendimento é o volume
da voz. O contador deve ajustar o volume da voz ao ambiente. Não deve falar
alto demais muito menos o inverso.
Devemos tomar cuidado quanto à velocidade, pois ela não pode
influenciar na compressão do texto. A velocidade está diretamente ligada à boa
dicção caso o contador precise melhorar sua dicção, deve se atentar a
velocidade e pronunciar as palavras mais devagar.
Cada pessoa possui seu próprio registro vocal. É importante dar
característica vocal a alguns personagens, como por exemplo:
Um tom agudo para fala das meninas, usar uma voz bem fininha.
Um som grave para os homens.
Animais selvagens e reis com vozes fortes
As velhinhas com um som agudo e trêmulo.
Outro fator importante é usar palavras do cotidiano do ouvinte, nada de
palavras difíceis que dificultem o entendimento do publico.
“Enfim a voz é o instrumento principal do narrador, saber usá-la é
primordial e isto se consegue, com tudo, com treino e dedicação.” (DOHME,
2010, p.44).
Como já foi mencionado contar história é uma arte e às vezes é
necessário narração e interpretação de personagens. Na arte da interpretação
podemos destacar como elemento importante:
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A expressão corporal
A comunicação do semblante
O uso do silêncio
Imitações
Onomatopeias
O bom narrador não é aquele que senta e lê. O corpo fala e acompanha o
que está sendo dito. O movimento do corpo deve estar de acordo com história
dando vida aos fatos, ajudando a expressar as ideias.
Para desenvolver a comunicação do semblante é necessário treino. A
expressão facial em alguns casos fala mais que muitas palavras. A expressão
do rosto pode passar sentimentos como: surpresa, alegria, tristeza. A
expressão através do semblante traz o ouvinte para dentro da história.
Fazer uso do silencio também é importante, chama a atenção para
pausas e suspenses despertando a curiosidade de quem ouve.
Busatto (2013) fala sobre o silêncio na narração e destaca “o silêncio na
narração oral é das condições para encantar. Ela abre lacunas para que o
ouvinte complemente, a partir da sua própria história” (p73).
O contador de história não pode esquecer as imitações, elas trazem para
as histórias o tom da brincadeira e manifesta emoção nas crianças.
Enriqueça a narração com o uso das onomatopeias, quando usadas sem
abuso despertam a atenção por sua sonoridade.
Som da campainha: Blin blon blin blon
Batidas na porta: Toc toc toc
Som do lobo mau: Auuu auuu auu
Rapidez: Vupt
Chuva e trovões: Cabrum
Barulho de mola: Tóing
Relógio: Tic tac
“Em resumo, quando o narrador usa somente os seus próprios recursos para dar vida a uma história, ele deve estar bem preparado. Conhecer a história e estar disposto a interpretá-la realmente com vontade é a única forma de suscitar emoções nas crianças. Suas reações certamente vão compensar qualquer esforço.” (DOHME, 2012, p.49).
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3.1 Recursos Auxiliares
Para OLIVEIRA (2006) “o melhor instrumento e a técnica mais eficiente
são o amor e a criatividade” (p.21)
A proposta deste subtítulo não és sugerir nenhuma formula mágica ou
instrumentos sofisticados. A intenção é apresentar recursos simples dentro da
possibilidade de qualquer professor.
O professor poderá usar diversos outros recursos para contar histórias.
OLIVEIRA (2006) e DOHME (2010) sugerem algumas técnicas.
3.1.1 O próprio livro
Um livro com boas ilustrações pode ser utilizado como recurso para
explorar as imagens correspondentes ao momento da narração. Oliveira (2006)
”Se as crianças forem do ensino pré-escolar, e até mesmo mais velhas, o
professor poderá sentar-se no chão com elas e contar a história. Almofadas e
estantes baixas ajudam neste momento.” (p.22).
Fonte: Arquivo pessoal
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3.1.2 Gravuras
Fazer uso da sequência de imagens ampliadas de um livro. A medida a
que a história evolui surge uma nova gravura.
Fonte: Arquivo pessoal
3.1.3 Fantoches
São os favoritos das crianças. O fantoche pode ser um boneco que
lembre um ser humano, um animal, um objeto, ou até uma criatura inventada.
O fantoche é um bom recurso, pois pode interagir com as crianças e pode ser
usado por vários narradores. Oliveira (2006) ”Além de assimilar o conteúdo (o
aluno) desenvolve a imaginação e o dom artístico” (p.31) Os fantoches podem
ser confeccionados de tecido ou feltro, também existem outras opções de
confecção de fantoches, denominados fantoches de vara e fantoches de colher
de pau.
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Fonte: Arquivo pessoal
3.1.4 Teatro de sombra
É uma técnica utilizada onde uma luz projeta figuras em uma superfície
opaca. Esta técnica também é muito apreciada pelas crianças. OLIVEIRA
(2006) sugere “pode-se também usar uma caixa com papel vegetal ou pano
transparente as figuras feitas de cartolina ou cartão preto.” (p.30).
3.1.5 Bocões
Bonecos grandes que contam a história e as crianças ficam tão encantadas
que esquecem o narrador. Esses bonecos (tipo ventríloquo) podem ficar
sentados no colo do narrador contando a história.
Fonte: Arquivo pessoal
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3.1.6 Marionetes:
Boneco (pessoa, animal ou objeto animado) movido por meio de fios
manipulados por pessoa oculta atrás de uma tela.
3.1.7 Dedoches
São os fantoches de tamanho menor que se encaixam nos dedos. A
vantagem desse recurso é que eles são fáceis de ser confeccionados, mas
devem ser usados com pequenos grupos, devido seu tamanho.
Fonte: Arquivo pessoal
3.1.8 Avental que conta história
É um avental confeccionado pelo professor. No próprio avental é criado
um cenário, através de pintura ou colagem com feltro, no meio do cenário são
fixados com velcro alguns personagens que no decorrer da história ganharão
movimento e darão vida a narrativa.
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Fonte: http://www.elo7.com.br/avental-que-conta-5-histórias
3.1.9 Máscaras
A máscara é um excelente recurso, pois pode ser confeccionada com
matérias baratos como papel, tecido, saco de papel ou E.V. A.
Fonte: Arquivo pessoal
3.1.10 Dramatização
Na dramatização o professor pode adaptar o texto em forma de teatro e
dramatiza-lo no palco ou na sala de aula. Os alunos apreciam muito este
recurso, pois as crianças assumem o papel dos personagens. A caracterização
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dos personagens pode ser feita utilizando, fantasias, máscaras, pinturas e
abusar do poder criativo.
Fonte: Arquivo pessoal
3.1.11 Álbum seriado
O álbum seriado deve conter figuras existentes na história, essas
gravuras devem ser desenhadas em folhas de papel tipo cartolina, tomando o
cuidado para que não haja a visibilidade da figura seguinte. Para que os alunos
possam visualizar bem as ilustrações é ideal que o professor amplie os
desenhos.
3.1.12 Dobradura
Para esta recurso é necessário que o professor tenha o cuidado de
escolher histórias onde exista a possibilidade de confecção da dobradura
relacionando a dobradura à história. Dohme (2010) o recurso da dobradura
oportuniza uma boa interação com as crianças quando o professor acrescenta
a narrativa uma sucessão de dobraduras confeccionadas por elas.
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3.1.13 Flanelógrafo
As gravuras que representam o personagem central são desenhadas e
ampliadas em cartolina. As imagens serão cortadas e no verso o professor
colará velcro ou outro material que fixe na flanela.
De acordo com OLIVEIRA (2006) “não são todos os textos que se
prestam ao uso do flanelógrafo. É necessário que tenha enredo e que os
personagens sejam bem destacados.” (p.22).
3.1.14 Quadro magnético
É um recurso de apresentação progressiva semelhante ao flanelógrafo,
porém nesta técnica é utilizado um quadro de metal e no verso das gravuras
são colados pedaços de imã.
3.1.15 Quadro de pregas
O professor deve confeccionar um quadro de pregas em papel bem firme,
com pregas de aproximadamente 5 a 7 cm de altura. As figuras utilizadas no
flanelógrafo também podem ser usadas no quadro de pregas, o professor
apenas acrescentará a base das imagens um pedaço de cartolina do tamanho
da prega.
3.1.16 Interação com a narração
De acordo com Dohme (2010) em momentos específicos da narração
quando surgir um personagem ou em determinadas situações o professor
poderá cantar uma canção.
Exemplo: Aparecimento do lobo na história Chapeuzinho Vermelho o
professor pode cantar neste momento a canção:
“Lobo Mau (Braguinha)
Eu sou o lobo mau,
Lobo mau, lobo mau.
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Eu pego as criancinhas
Pra fazer mingau!”
3.1.17 Cinema
Para Oliveira (2006) este recurso é bem simples, mesmo com toda
simplicidade desperta o interesse dos pequenos, pois a sequência da história
aparece em partes. Para confeccionar este recurso o professor deverá ampliar
a história ou reproduzir apenas as gravuras de maior destaque. É importante
que esses desenhos possuam uma sequencia, pois se trata de recurso de
apresentação progressiva como alguns que já mencionamos acima. O
educador irá precisar de uma caixa grande de papelão e duas varetas. A
sequência da história ficará presa na parte superior. O professor irá girar essa
vareta à medida que ira contar a história.
3.1.18 Filmes
Outra sugestão de recurso é o DVD, muitas histórias são produzidas em
DVD. Para utilizar este recurso é necessário preparar anteriormente a turma e
o espaço a ser usado para que este recurso de fato seja um meio de
proporcionar a aprendizagem.
3.1.19 Slide
Este é um recurso que exige planejamento assim como os outros, é bem
eficaz e desperta o interesse do ouvinte. Neste recurso o texto e as imagens
serão projetados através do retroprojetor.
Coisas simples enriquecem a história, no momento da contação não há
limites para a criatividade.
“É importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias... Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser um leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descobertas e de compreensão do mundo”. (ABRAMOVICH, 1991, p. 16).
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CONCLUSÃO
Realizando esta pesquisa foi possível perceber a importância do ato de
contar histórias na educação infantil contribuindo para a formação do pequeno
leitor.
A ação de contar histórias tem destaque fundamental no papel do
professor, já que o educador pode utilizar a literatura infantil em sua pratica
pedagógica despertando no educando o habito de ouvir histórias, a imaginação
e o poder criativo.
O momento dedicado a contação de histórias aproxima a relação entre o
professor e o aluno e a relação entre o aluno e o livro tornando a aprendizagem
mais significativa.
Através das histórias as crianças conseguem compreender melhor as
situações adversas que as cercam, entendendo um pouco mais sobre valores,
atitudes e sentimentos.
É papel do professor na educação infantil proporcionar momentos de
leitura criando em sua sala um espaço agradável dedicado a este momento de
prazer e conhecimento.
Além disso, o professor pode apresentar as histórias utilizando diversos
recursos com a finalidade de atrair a atenção das crianças e enriquecer sua
aula.
Desse modo, não há duvidas sobre a importância do uso da contação de
história como instrumento de trabalho no dia a dia do docente. Cabe ao
professor contar histórias com amor proporcionando uma interação entre as
crianças e as histórias, levando os alunos da educação infantil interessar-se em
ouvir histórias, despertando o gosto pela leitura.
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ANEXOS
Índice de anexos
Anexo 1 >> Título do anexo;
Anexo 2 >> Título do anexo;
Anexo 3 >> Título do anexo;
Anexo 4 >> Título do anexo;
Anexo 5 >> Título do anexo.
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BIBLIOGRAFIA
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São Paulo: Scipione, 1991.
BETTELHEIM, B. A Psicanálise dos Contos de Fada. Trad. Arlene
Caetano. 16ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
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nacional da educação infantil, Ministério da Educação e do Desporto,
Secretaria de Educação Fundamental, 3v, Brasília: MEC/SEF, 1998.
BUSATTO, Cléo. Contar e encantar: pequenos segredos da narrativa.
Petrópolis: Vozes, 2003.
BUSATTO, Cléo, A arte de contar histórias no século XXI: Tradição e ciberespaço, 4. ed., Petrópolis: Vozes, 2013. CADEMARTORI, Ligia, O que é literatura infantil, 2. ed., São Paulo: Brasiliense, 2010. COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: Teoria, análise e didática, 1. ed., São Paulo: Moderna, 2000. COSTA, Marta Morais da., Literatura infantil, 2. ed,Curitiba:IESDE Brasil S.A.,2009. DOHME, Vania, Técnicas de contar história. 1. ed., São Paulo: Vozes,2010. OLIVEIRA, Maria Alexandre de, Dinâmicas em Literatura Infantil. São Paulo: Paulinas, 2006. SILVA, Vera Maria Tietzmann, Literatura infantil brasileira: um guia para professores e promotores da leitura, 2. ed., Goiânia: Cânone Editorial, 2009.