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Universidade Cândido MendesPós Graduação Lato Senso
Gestão de Recursos HumanosProjeto a Vez do Mestre
Responsabilidade Social no Brasil e Ética Empresarial
Por: Nivia Carla Ricardo da Silva
Orientadora: Profª Ana cristina
Rio de Janeiro, 28 de agosto de 2006
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Universidade Cândido MendesPós Graduação Lato Senso
Gestão de Recursos HumanosProjeto a Vez do Mestre
Responsabilidade Social no Brasil e Ética Empresarial
Por: Nivia Carla Ricardo da Silva
Apresentação de monografia por exigência da Universidade Cândido Mendes como condição prévia para conclusão do curso de pós graduação Gestão de Recursos Humanos.Orientadora: Profª Ana cristina
Rio de Janeiro, 28 de agosto de 2006
10
Agradeço a Deus por regar minha vida de saúde para que eu possa realizar minhas metas pessoais e profissionais.
11
Dedico este trabalho aos meus pais, amigos fraternos, que me apoiaram nos momentos de realização deste curso; bem como aos amigos que me auxiliaram sobremaneira na construção deste trabalho, dedicando tempo para a troca de experiência e propiciaram momentos valiosos de reflexões.
12
Resumo
O objetivo principal desta monografia é estudar a literatura atual sobre
responsabilidade social e ética no mundo dos negócios. Quanto à estrutura
deste estudo, o primeiro capítulo descreve o conceito de responsabilidade
social corporativa considerando a relação entre responsabilidade social, cultura
e ética empresarial. O segundo capítulo identifica o conceito de ética no mundo
empresarial, com destaque a discussão de formulação de um programa ético
eficaz. Por fim, o terceiro capítulo apresenta um debate ética e o impacto de
sua implementação no desempenho da empresa promovendo o debate das
tendências e desafios nesta área.
Nos últimos anos tem crescido no Brasil, como no resto do mundo, o
interesse sobre o desenvolvimento do setor empresarial na área social
contribuindo no combate a pobreza. Essa “novidade” parece estar atrelada ao
recente entendimento de que as empresas privadas, para sobreviverem na
batalha do mercado globalizado, além de ingredientes clássicos, tais como:
qualidade total, reengenharia, relação custo-benefíco e compromisso com o
cliente, necessitam incorporar novas variáveis que as legitimem perante a
sociedade. No Brasil, várias organizações estão somando esforços nesse
processo de catalisação de ações para o campo da responsabilidade social. E,
paralelamente, algumas delas vêm-se qualificando junto à sociedade para
conferir selos de sustentabilidade ou de responsabilidade social, que serão
importantíssimos na identificação das empresas que se destacam na área
social.
Os programas compromissados como códigos éticos assumem papel
cada vez mais importante. Pode-se conceituar ética como o que fazer e o que
não fazer para agir bem, gerando o máximo possível de qualidade de vida e de
bem estar social para maior número de pessoas e instituições em determinada
área de influência ou em aspectos relevantes para toda sociedade e
procurando não atingir negativamente outros indivíduos e organizações.
Palavras-chave: Responsabilidade social, ética e empresa.
13
Metodologia
Este estudo literário busca compreender os conceitos e conhecimentos a
cerca do tema; bem como estudar as pesquisas atuais sobre o assunto com o
objetivo de delimitar as tendências e desafios para a implementação da
responsabilidade social e da ética no mundo empresarial. Para a consecução
dos objetivos propostos foram realizadas as seguintes ações:
Seleção de textos para leitura, elaboração de resenhas e participação em
seminários e fóruns de discussão nesta área a fim de subsidiar posteriores
análises.
Levantamento dos dados bibliográficos serão realizados em bibliotecas
universitárias e centros de pesquisa no Estado do Rio de Janeiro. Buscaremos
cobrir todos os principais centros que produzem dados qualitativos sobre o
assunto desta pesquisa, a saber: Instituto de Planejamento Municipal do Rio de
Janeiro (IPLAN-RIO), Instituto Brasileiro de Administração Municipal (IBAM),
Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro. Cabe ressaltar, que as duas últimas instituições citadas buscamos
acesso as pesquisas no Brasil e no exterior. O material coletado sofreu um
processo de seleção para o uso na pesquisa, destacando a literatura que
serviu de base.
Outra fonte de informação foi a pesquisa nos sites da internet , com
respectiva análise da qualidade do material coletado para consecução dos
objetivos.
14
Sumário
Capítulo I – Responsabilidade Social Corporativa
1.1 - Responsabilidade Social corporativa no Brasil: os primórdios do conceito no século XX ........................................................ 081.2- Responsabilidade social, cultura e ética empresarial .............................. 12
Capítulo II – Ética no Mundo Empresarial
2.1 - Questões éticas no mundo empresarial ...................................................162.2- Formulação de um programa ético eficaz .................................................19
Capítulo III – Responsabilidade Social e Ética Empresarial
3.1- Ética empresarial e desempenho da empresa ........................................ 243.2- Tendências e desafios para implementação da responsabilidade social e da ética empresarial ........................................................................................27
Conclusão ................................................................................................... 33
Referências Bibliográficas .................................................................... 34
Índice ............................................................................................................ 35
Anexos .......................................................................................................... 36
Folha de Avaliação ...................................................................... 39
15
Capítulo I
RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA
1.1- Responsabilidade Social Corporativa No Brasil: Os Primórdios Do Conceito No Século XX
Ashley (2005) apresenta os resultados de uma revisão da literatura
contemporânea pertinente ao conceito de responsabilidade social
coorporativa, realizando uma abordagem histórica em duas fases: a introdução
do conceito nos meios acadêmicos e empresarial e sua evolução a partir da
década de 1970. Em síntese, a autora nos colcoca que, nos Estados Unidos e
na Europa, a ética e a responsabilidade social corporativa eram aceitas como
doutrina até o século XIX, quando o direito de conduzir negócios de forma
corporativa era prerrogativa do Estado ou da Monoarquia e não um interesse
econômico privado. Os monarcas expediam alvarás para corporações de
capital aberto que prometessem benefícios públicos, com exploração e a
colonização do Novo Mundo. As primeiras corporações nas colônias
americanas foram fundadas para prestar serviços de construção, transporte e
infra-estrutura, sendo reguladas quanto ao tamanho, tipo de negócios e
estrutura de capital. Com a independência dos Estados Unidos, os estados
norte-americanos passaram a aprovar legislação que permitisse a auto
incorporação como alternativa à incoporação por ato legislativo específico,
inicialmente para serviços de interesse público, com a construção de canais, e
posteriormente para a condução de negócios privados. Assim, até o início do
século XX a premissa fundamental da legislação sobre corporações era a de
que tinham, como propósito, a realização de lucros para seus acionistas.
A questão da ética, da responsabilidade e da discricionariedade dos
dirigentes de empresas abertas veio a público através de vários casos de “atos
ilícitos” expostos na mídia em geral. A partir de então, defensores da ética e da
responsabilidade social coporativa passaram a argumentar que, se a filantropia
16
era uma ação legítima da corporação, então outras ações que priorizam
objetivos sociais em relação aos retornos financeiros dos acionistas seriam de
igual legetimidade, como o abandono de linhas de produto lucrativas, porém
nocivas ao ambiente natural e social. Começou-se a discutir, no meio
empresarial e acadêmico, a importância da responsabilidade social corporativa
pela ação de seus dirigentes e administradores, inicialmente nos Estados
Unidos e, posteriormente, no final da década de 1960, na Europa, por autores
como Bowen, Mason, Chamberlain, Andrews e Galbrainth.
Recuperando as últimas décadas de estudos sobre ética e
responsabilidade social corporativa, observamos que, partindo de uma visão
econômica clássica – tão amplamente divulgada por Milton Friedman -, de que
a empresa socialmente responsável é aquela que responde às expectativas de
seus acionsitas, chega-se a conclusão de que a empresa socialmente
responsável é aquela que está atenta para lidar com as expectativas de seus
stakeholders atuais e futuros, na visão mais radical de sociedade sustentável.
Ashley (2005) aponta que Friedman argumenta que a direção corporativa,
como agente acionistas, não tem o direito de fazer nada que não atenda ao
objetivo de maximização dos lucros, mantidos os limites da lei. Agir diferente é
uma valorização das obrigações morais, legais e institucionais da direção da
corporação. O ponto central do argumento da função institucional está em que
outras instituições, como governo, igrejas, sindicatos e organizações sem fins
lucrativos, existem para atuar corporativa. Gerentes de grandes corporações
não têm competência técnica, tempo ou mandato para tais atividades, que
constituem uma tarifa sobre lucro dos acionaistas.
De acordo com a abordagem crítica, o conceito e o discurso de ética e
responsabilidade social corporativa carecem de coerência teórica, validade
empírica e viabilidade normativa, mas oferecem implicações para o poder e o
conhecimento dos agentes sociais. Os argumentos a favor seriam
enquadrados em duas linhas básicas: ética e instrumental. Os argumentos
éticos derivam dos princípios religiosos e das normas sociais prevalecentes,
17
considerando que as empresas e as pessoas que nelas trabalham deveriam se
comportar de maneira socialmente responsável por ser a ação moralmente
correta, mesmo que envolva despesas improdutivas para a companhia. Os
argumentos na linha instrumental consideram que há uma relação positiva
entre o comportamento socialmente responsável e o desempenho econômico
da empresa. Justifica-se essa relação por uma ação proativa da organização,
que busca oportunidades geradas por uma: consciência maior sobre as
questões culturais, ambientais e de gênero; antecipação, evitando regulações
restritivas à ação empresarial pelo governo e; diferenciação de seus produtos
diante de seus competidores menos responsáveis socialmente.
Para Ashley (2005), o conceito de ética e responsabilidade social
corporativa vem amadurecendo quanto à capacidade de sua operacionalização
e mensuaração, subdividindo-se em vertentes de conhecimento. Entre essas
vertentes estão: responsabilidade, responsavisidade, retitude e desempenho
social corporativo, desempenho social dos stakeholdres, auditoria e inovação
social. Em 1970 surge o conceito de responsividade social corporativa, porém,
apenas em 1991que Wood desenvolvia seu modelo de desempenho social
corporativo, dividindo a organização com base em princípios de
responsabilidade social, processos de responsividade (resposta) social e
resultados/ações de responsabilidade social.
Ferrell (2001) aponta que os conceitos ética e responsabilidade social são
frequentemente usados um no lugar do outro, embora tenham significado
distintos. Responsabilidade social é a obrigação que a empresa assume com
a sociedade. Ser socialmente responsável implica maximiza os efeitos positivos
sobre a sociedade e minimizar os negativos. A responsabilidade social inclui
responsabilidades econômicas, legais, éticas e filantrópicas. As
responsabilidades econômicas da empresa consistem em produzir bens e
serviços de que a empresa necessita , e quer, a um preço que possa garantir a
continuação das atividades da empresa em satisfazer suas obrigações com
investidores. As responsabilidades legais da organização estão consignadas
18
nas leis que ela é obrigada a cumprir. No mínimo, espera-se que as empresas
sejam responsáveis pela observância das leis municipais, estaduais e federais,
por parte de seus funcionários. As responsabilidades filantrópicas significam
os comportamentos e atividades desejados pela sociedade e que são ditados
pelos valores empresariais. Fazer doações a obras beneficientes e contribuir
financeiramente para projetos comunitários, por exemplo, são formas de
filantropia ou atividades voluntárias da empresa. Prossegue Ferrell (2001, p.07)
destacando que:
“as responsabilidades éticas são definidas como comportamentos ou atividades que a sociedade espera das empresas, mas que não estão codificadas em leis. Muitos empresários referem-se a esses conjunto de responsabilidade como o espírito da lei.”
Ashley (2005) coloca que muito tem escrito sobre ética, valores, moral e
cultura., mas ainda falta explicitá-los de forma mais sistemática . Por outro lado,
tentativas por parte de determinadas arganizações de estabelecer padrões de
ética e responsabilidade social em suas atividades e formas de gestão, muitas
vezes, têm se limitado a criar códigos de ética. Responsabilidades éticas
correspondem a atividades, práticas, políticas e comportamentos esperados
(no sentido positivo) ou proibidos (no sentido negativo) por membros da
sociedade, apesar de não codificados em lei. Elas envolvem uma série de
normas, padrões ou expectativas de comportamento para atende aquilo que os
diversos públicos stakeholders com as quais a empresa se relaciona
consideram legítimo, correto, justo ou de acordo com seus direitos morais ou
expetativas.
Neste sentido, pode-se dizer que um dos efeitos da economia global é a
adoção, por todo o mundo, de padrões éticos e morais mais rigorosos, seja
pela necessidade das próprias organizações de manter sua boa imagem
perante ao público, seja pela demandas diretas do público para que todas as
organizações atuem de acordo com tais padrões. Valores éticos e morais
sempre influenciaram as atitudes das empresas, mas estão se tornando, cada
19
vez mais, homogêneos e rigorosos. A responsabilidade social coprorativa é a
característica que melhor define esse novo ethos.
1.2- Responsabilidade social, cultura e ética empresarial
As organizações não existem em um vácuo em são completamente
objetivas e imparciais. Há sempre um contexto que as influencia, tornando a
administração culturalmente condicionada e sujeita a valores, princípios e
tradições da sociedade em que se insere. Para Ashley (2005) quando coloca-
se que a responsabilidade social das empresas tem sua interpretação
condicionada pela cultura empresarial e nacional, fala-se da cultura tal como é
entendida pelos antropólogos, ou seja, um sistema específico de valores e
visões de mundo em cujo contexto se dão as ações e práticas de determinada
sociedade, um conjunto de mecanismos simbólicos que utilizamos para
organizar a realidade. Valores culturais são significados e regras de
interpretação da realidade, estruturas cognifivas e simbólicas que determinam
o contexto no qual o ser humano, sendo sempre um ser social, pensa e age.
São aqueles que imprimem sentido a tudo que se faz, às estratégias que se
adotam e àquilo que gera consenso ou dissenso, seja dentro de algum grupo
na sociedade como um todo ou dentro do trabalho das organizações. Lógicas e
valores culturais, em resumo, são aqueles que, seja de forma consciente ou
não, imprimem sentido às práticas, pensamentos e comportamentos das
pessoas . Em outras palavras, a cultura.
Toda sociedade funciona de acordo com princípios, valores e tradições
culturais específicos, que determinam os pensamentos e comportamentos de
indivíduos, grupos e instituições, entre as quais se incluem, necessariamente,
as organizações e o mundo dos negócios em geral . Além dos princípios éticos
e valores morais, temos também princípios e valores culturais influenciando os
20
modos de ação e práticas administrativas e, portanto, o modo como a
responsabilidade social corporativa é concebida e implementada em
determinada sociedade.
O conceito de cultura abre caminho para discutir, de forma mais
sistemática e profunda, qual é o peso da dimensão simbólica nas organizações
e nas formas de responsabilidade social corporativa que são por elas adotadas.
Geralmente quando se fala em cultura organizacional, pensa-se nos valores
que os altos escalões de uma organização consideram importantes em suas
formas de gestão, e não, como indicaria uma interpretação mais antropológica
do termo, naqueles que realmente existem e que estão subjacentes à
identidade da organização e a seus modos de atuação e administração. No
entanto, são exatamente estes últimos que ajudam a explicar, por exemplo, por
que, em alguns países, a responsabilidade social das empresas se tornou um
valor tão dominante.
No mundo dos negócios, ao mesmo tempo em que se valoriza mais a
dimensão cultural do mundo, da vida em sociedade e das próprias
organizações, também se ressaltam mais alguns valores culturais específicos,
como responsabilidade e moralidade. Vistas como valores éticos e culturais ao
mesmo tempo, responsabilidade e moralidade são noções especialmente
importantes para o conceito de responsabilidade social corporativa: cada vez
mais, e por diversos motivos, as organizações vêm adotando uma visão de
mundo e um valor cultural antes restrito a outras áreas da sociedade: a de que
é preciso agir de maneira correta para com o próximo, sendo o próximo
entendido da forma mais abrangente possível (incluindo todos os públicos de
uma empresa, a sociedade ou a nação em que se insere – possivelmente a
economia global – e o próprio meio ambiente). Assim, para Ashley ( 2005,
p.11):
“ Responsabilidade para com o próximo não deixa de ser um valor cultural, além de um princípio ético e um valor moral, uma vez que se situa no nível das estruturas mentais de interpretação da realidade –a cultura”
21
Pode-se perceber por que a dimensão cultural é essencial para
entendermos as formas que a responsabilidade social corporativa vem
tomando no mundo dos negócios. Por um lado, a responsabilidade social de
uma empresa tem que ser pensada em relação a sua inserção em um
complexo mundo social e cultural regido por determinados valores e normas
culturais comuns àquela sociedade. A noção de responsabilidade social é um
valor cultural cada vez mais aceito e empregado ao redor do mundo,
principalmente como consequência das atuais mudanças no modos como se
concebe o papel social da empresa perante a sociedade.
A empresa deve ser vista como um sistema cultural (tal como concebido
no conceito de cultural organizacional) numa rede de outros sistemas culturais
mais amplos, com os quais se relaciona. Ashley (2005) aponta que no Brasil
teríamos dificuldades de criar culturas organizacionais fortemente demarcadas,
tornando tarefa árdua e de difícil implantação a promoção, entre os
funcionários menos graduados, dos valores éticos, morais e culturais
privilegiados pelos altos escalões de uma empresa. Talvez esse seja um dos
motivos pelos quais apenas uma pequena parte das empresas e do
empresariado brasileiros tenha declarado agir explicitamente de acordo com
preceitos comumente associados à responsabilidade social corporativa, como a
prática de ações sociais e filantrópicas. Prossegue Ashley (2005, p.13):
“uma característica marcante é a hibridez cultural brasileira, que faz com que nossas empresas convivam, por um lado, com os princípios éticos racionais capitalistas derivados de um padrão internacional que defina parâmetros de profissionalismo e imparcialidade, credibilidade e transparência como essenciais para a condução dos negócios e, por outro, como uma moral do oportunismo, um discurso não oficial, mas oficioso, segundo o qual seria desejável e até legítimo que cada indivíduo procurasse assegurar seus interesses em detrimento das leis e dos interesses dos colegas, os outros funcionários e da própria empresa, numa versão empresarial de conhecida “lei de Gérson”, segundo a qual deve-se tentar “levar vantagem em tudo”
22
Assim, no Brasil há um conflito entre dois valores culturais – o da
integridade e o do oportunismo – ou entre dois traços culturais profundamente
enraizados: a valorização da idoneidade nas relações sociais de um lado e, do
outro, a lógica do “jeitinho”, segundo a qual consegue o que quer quem faz
valer seus interesses, mesmo que de maneira escusa, e quem possui melhor
rede de relações pessoais influentes. É comum afirmar-se que as teorias e
práticas administrativas mais modernas e eficientes são de difícil
implementação o Brasil, exatamente por causa desses traços culturais. No
entanto, é preciso não esquecer que a cultura não é algo estático, fixo no
tempo e no espaço e sem possibilidade de mudanças. Prossegue Ashley
(2005, p.15):
“Uma visão limitada do que seriam princípios éticos e valores culturais tenderia a considerar a responsabilidade social corporativa um conceito difícil aceitação nos meios empresariais brasileiros, que ainda tenderiam a funcionar de acordo com os traços culturais como a moral do oportunismo. No entanto, pesquisas e noticiários apontam outra realidade: há uma preocupação crescente das empresas como a responsabilidade social, fazendo nascer uma nova mentalidade empresarial: uma mentalidade que valoriza a cultura da boa conduta empresarial, para a qual eficiência e lucro podem ser combinados com valores como cidadania, prevenção ambiental e ética nos negócios.”
Para Ferrell (2001), a Cultura coorporativa pode ser definida como um
conjunto de valores, convicções, objetivos, normas e rituais compartilhados por
seus membros e empregados. A cultura pode ser criada pelo fundador da firma
e por suas atitudes e convicções. Entretanto, pode ser formada também por um
líder forte. Ela inclui os padrões de comportamento, conceitos, valores,
cerimônias e rituais que ocorrem na empresa. A cultura dá sentido de
integração aos empregados e lhes prescreve regras de conduta interna,
Quando são aceitos, compartilhados e circulam por toda a empresa, esses
valores, convicções, costumes, regras e cerimônias constituem a sua cultura.
23
Capítulo II
ÉTICA NO MUNDO EMPRESARIAL
2.1- Questões éticas no mundo dos negócios
Para estudar sobre Ética no mundo dos negócios faz-se necessário
identificar a definição de Ética. De acordo com Vasquez (2000;08), definir o que
é bom não é um problema moral cuja solução caiba ao indivíduo em cada caso
particular, mas um problema geral de caráter teórico, de competência do
investigador da moral, ou seja, do ético. Aristóteles se propõe o problema
teórico de definir o que é bom. Sua tarefa é investigar o conteúdo do bom e não
determinar o que cada indivíduo deve fazer em cada caso concreto para que o
seu ato possa ser considerado bom. Sem dúvida, esta investigação teórica não
deixa de Ter consequências práticas, porque, ao se definir o que é bom, se
está traçando um caminho geral, em cujo marco os homens podem orientar a
sua conduta nas diversas situações particulares. Neste sentido, a teoria pode
influir no comportamento moral-prático, ou seja, no cotidiano.
Decidir e agir numa situação concreta é um problema prático-moral; mas
investigar o modo pelo qual a responsabilidade moral se relaciona com a
liberdade e com o determinismo ao qual nossos atos estão sujeitos é um
problema teórico, cujo o estudo é da competência da ética. A ética pode
contribuir para fundamentar ou justificar certa forma de comportamento moral.
A função fundamental da ética é a mesma de toda a teoria: explicar, esclarecer
ou investigar uma determinada realidade, elaborando os conceitos
correspondentes, considerando a evolução histórica da humanidade.
Para Vasquez (2000,p.12), a ética “é a teoria ou ciência do
comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja, é a ciência de uma
forma específica de comportamento humano” Esta definição sublinha, em
primeiro lugar, o caráter científico desta disciplina; isto é, correspondente à
24
necessidade de uma abordagem científica dos problemas morais. De acordo
com esta abordagem, a ética se ocupa de um objeto próprio: o setor da
realidade humana que chamamos moral, constituído por fatos ou atos
humanos. Assim, deve proporcionar conhecimentos sistemáticos, metódicos e,
no limite do possível, comprováveis. A ética é a ciência da moral, isto é, de
uma esfera do comportamento humano.
Ética tem muitas nuances. A ética foi definida como indagação sobre a
natureza e fundamentos da moralidade, sendo o termo moralidade entendido
como juízos morais, padrões e regras de conduta. A diferença entre uma
decisão comum e a decisão ética reside no ponto em que regras aceitas não se
aplicam mais e o tomador de decisões enfrenta a responsabilidade de sopesar
valores e chegar a um juízo em uma situação que não é exatamente a mesma
que ele enfrentou antes. Outra diferença diz respeito ao grau de ênfase posta
nos valores da pessoa quando ela toma uma decisão. Em consequência,
valores e juízos desempenham um papel de importância crítica na tomada de
decisões éticas. Neste sentido, Ferrell (2001, p.07) apresenta conceito de ética
empresarial e coloca que:
“ a maioria das definições de ética empresarial diz respeito a regras, padrões e princípios morais sobre o que é certo ou errado em situações específicas. Para nossos objetivos em termos simples, ética empresarial compreende princípios e padrões que orientam o comportamento no mundo dos negócios. Se um comportamento específico exigido é certo, ou errado, ético ou antiético, é assunto frequentemente determinado pelos stakeholders, tais como: os investidores , clientes, grupos de interesses, empregados, os sistema jurídico vigente e a comunidade. Embora esses grupos não estejam necessariamente certos, suas opiniões influenciam a aceitação ou rejeição, pela sociedade, da empresa e de suas atividades.”
A tendência atual consiste em passa iniciativas éticas de base legal para
iniciativas cuja raízes estejam na cultura ou na integridade das empresas nas
quais a ética esteja presente como um dos valores fundamentais. As empresas
reconhecem que programas eficazes de ética nos negócios são bons para o
desempenho de suas atividades. Firmas que desenvolvem níveis mais altos de
25
confiança funcionam com mais eficácia. Identificou-se um clima empresarial
ético e de confiança entre empresas. Muitas questões éticas importantes são
raras no contexto empresarial, embora continuem a ser dilemas morais
complexos na vida particular do indivíduo. Profissionais em todos os campos
de atividade, incluindo o mundo dos negócios, têm que lidar com dilemas
morais pessoais, uma vez que eles afetam a sua capacidade de funcionar no
trabalho. Normalmente, a empresa não estabelece regras nem políticas sobre
questões éticas pessoais, tais como questões ligadas a sexo ou ao consumo
de álcool fora do trabalho. Em alguns casos tais políticas seriam ilegais. Só
quando as preferências ou valores da pessoa influência no seu desempenho
no trabalho é que a ética individual desempenha um papel importante na
avaliação das decisões empresariais. Estudar ética empresarial ajuda a
começar a identificar questões éticas e reconhecer os métodos disponíveis
para resolvê-las.
As organizações devem se responsabilizar pelo desenvolvimento de um
programa de ética, se quiserem incentivar o comportamento ético. Ferrell
(2001) enfatiza que à medida que gerentes e empregados enfrentam a
necessidade de tomar decisões cada vez mais complexas, as questões éticas
ocupam o primeiro plano nas preocupações da empresa. Um programa ético
deve ajudar a reduzir a possibilidade de penalidades ou a reação pública
negativa a casos de má conduta. O dever de prestar contas e a
responsabilidade pela conduta imprópria cabem à alta administração da
empresa. A empresa precisa de código de ética eficaz, que assegure que
todos os empregados compreendam os valores e cumpram as políticas e
código de conduta que criam um clima ético. Os dez principais tipos de conduta
antiética comunicados por empregados incluem assédio sexual, mentir em
relatórios ou falsificar registros, conflitos de interesse, roubo, mentir ao chefes,
discriminação, consumo de drogas ou de álcool, procedimentos contábeis
duvidosos, violação das leis ou regulamentos ambientais e infração de
proibições sobre recebimento de presentes ou de outros agrados, tais como
jantares, custeio de divertimentos, viagens etc. O código de ética informam aos
26
stakeholders que tipos de comportamento são aceitáveis ou impróprio para a
empresa que elabora. Este permite que todos dentro e fora da organização
conheçam o comprometimento da alta gerência com sua definição de padrão
de comportamento ético e, mais importante, que todos saibam que os
dirigentes esperam que os funcionários ajam de acordo com esse padrão. A
seguir aprofundaremos o assunto.
2.2- Formulação de um programa ético eficaz
De acordo com a literatura atual sobre o assunto, enquanto em algumas
empresas se tem simplesmente adotado a regra dourada “aja com os otros
como você gostaria que agissem com o você” , em muita regra é que “ as
práticas de negócios correntes ou aceitas são as que devem governar o
comportamento”. Nesses casos, a racionalidade é justificada pelo
conservadorismo e mimetismo: todos outros fazem isso. Uma racionalidade
mais extremada é aquela segundo a qual as organizações deveriam buscar
toda vantagem possível sem se preocuparem com as leis e costumes sociais
tradicionais – uma filosofia do tipo “levar vantagem em tudo”, visão claramente
condenável pela sociedade nos tempos atuais. Por fim, alguns acreditam que a
ética deveria ser determinada pela instituição, ou seja, cada um deveria agir
segundo o que sente que é certo.
A maioria das empresas que desejam afirmar a ética de seu
comportamento moral elabora códigos de ética próprios. Tais códigos permitem
que todos dentro e fora da organização conheçam o comprometimento da alta
gerência com a sua definição de padrão de comportamento ético e, mais
importante, que todos saibam que os dirigentes esperam que os funcionários
ajam de acordo com esse padrão. O código define o comportamento
27
considerado ético pelos executivos da empresa e fornece, por escrito, um
conjunto de diretrizes que todos os funcionários devem seguir.
Para gerar amplo comprometimento, o código de ética de uma empresa
deve ser, preferencialmente, desenvolvido por um comitê representativo de
todos os grupos e níveis de funcionais e gerenciais. Esse comitê deve não
apenas elaborar o código, como também preparar o plano de implementação e
atualização de todos os seus aspectos. Se necessário, a empresa pode
contratar serviços externos de consultoria em comunicação e especialistas em
ética, a fim de apoiar a elaboração de um plano viável para implementação e
atualização do código.
Para Ashley (2005), implementar um código de ética passa, portanto, por:
divulgar a todos na organização o código em forma fácil de entender; o apoio
da gerência ao código de ética e as maneiras pelas quais cada indivíduo deve
aplicar o código. Deve divulgar aos fornecedores, clientes e disponibilizar ao
público externo o código de ética.
Depois de elaborado o novo código de ética, e efetivamente comunicado
e compreendido por todos os membros da organização, o comitê deve
providenciar uma auditoria das atividades de comunicação social da empresa.
Tal auditoria consistirá em um relatório sobre as práticas prévias ao código de
ética implementado e uma comparação destas com as atuais práticas pós-
código. Se uma empresa decide considerar a utilização de normas e padrões
que verifiquem ou atestam a sua postura responsável, já existem algumas
opções. A importância de normas e padrões está principalmente na definição e
concordância de termos e procedimentos, o que permite uma certa
comparabilidade da empresa com o restante do mercado.
Com relação ao meio ambiente, a certificação internacional mais aceita na
atualidade é a ISSO 14000, que atesta a performace ambiental da empresa.
No que se refere à responsabilidade social, são dois os principais padrões
existentes: SA8000 (social accoutability) e AA1000 (accoutability 1000).
28
A SA8000 é uma certificação internacional que tem como objetivo a
garantia de direitos básicos dos trabalhadores, sendo mais adaptável a
empresas que possuem processos produtivos industriais.
O AA1000 é um modelo de gestão auditível sugerido pela organização
inglesa ISEA, que estabelece passos para a adoção de um processo ético e
socialmente responsável, melhorando continuamente, e que tem como base o
diálogo com os stakeholders.
No Brasil, os indicadores Ethos de Responsabilidade Social vêm sendo
amplamente divulgados e, ocasionalmente, adotados como instrumento de
coleta em pesquisas de graduação e até pós-graduação. De acordo com o
Instituo Ethos, a principal finalidade dos indicadores Ethos de
Responsabilidade Social Empresarial é fornecer às empresas um instrumento
de acompanhamento e monitoramento das suas práticas de responsabilidade
social, tratando-se de uma ferramenta de uso essencialmente interno, de um
instrumento de auto-avaliação. Nos indicadores Ethos, a responsabilidade
social empresarial é medida por meio de temas e variáveis e indicadores. Os
temas dos Indicadores Ethos, que equivalem às diversas dimensões do
conceito responsabilidade social empresarial, são subdivididos em variáveis.
Tanto os temas quanto as variáveis recebem redação de caráter normativo
para definir o que seria ser socialmente responsável em cada um desses
aspectos.
Ainda segundo o Instituto Ethos, a estrutura desses indicadores é
pensada para ser dinâmica, para variar de acordo como os paradigmas
contemporâneos de responsabilidade social. Nesse sentido, as revisões anuais
dos próprios indicadores visam adequar continuamente o modelo de avaliação
à realidade objetiva da empresa e às expectativas da sociedade, por meio da
publicação de novas versões do questionário.
Ashley (2005) destaca que quanto aos fundamentos para o construto da
responsabilidade social empresarial, pode-se destacar que não são citadas, em
nenhuma das versões publicadas dos Indicadores Ethos de Responsabilidade
29
Social fonte de referência bibliográfica ou um referencial teórico, nem
explicitado o arcabouço conceitual que fundamentou os temas, variáveis e
indicadores de profundidade incluídos nas diversas versões dos documentos.
Tanto as referências bibliográficas, que dêem a fundamentação teórica, quanto
a explicação do arcabouço conceitual são recomendáveis para se conhecer o
escopo do que se pretende medir e do que se pretende medir. Assim Ashley
(2005, p.41) observa que:
“não são incluídos variáveis e indicadores para as relações com os interesses específicos dos acionistas ou dos agentes financeiros, ao mesmo tempo que não são apresentados indicadores que meçam ou avaliem o cumprimento da lei em cada uma das variáveis dos Indicadores Ethos, Deduz-se, dessa exclusão, uma dicotomia: de uma lado, o desempenho social e ambiental, medido especificamente pelos Indicadores Ethos, e do outro o desempenho econômico-financeiro e o cumprimento da lei, excluídos dos conjuntos desses indicadores. Isso aponta a existência de duas lógicas paralelas para a atividade empresarial.”
Assim, prossegue a autora, como incorporar à lógica inerente ao mercado
o desempenho social e ambiental e um contexto legal que permita o seu
cumprimento em bases sociais, ambientais e econômicas justas é o abismo
que a temática da responsabilidade social empresarial precisaria resolver.
Caso contrário, ela se reduzirá às prateleiras dos modismos gerenciais no
mercado das ferramentas de gestão.
O programa eficaz de cumprimento de normas éticas requer: código de
ética e padrões de cumprimento de normas; pessoal de alto nível responsável
pela execução do programa e por delegação de autoridade; programas
eficazes de comunicação e treinamento; sistemas para monitorar, realizar o
trabalho de auditoria e exigir o cumprimento dos padrões; e o esforço
necessário para aprimorar continuamente o programa de cumprimento de
normas éticas.
O programa deve contribuir para reduzir a possibilidade de que ocorram
penalidades ordenadas pela esfera legal ou por reação pública negativa à má
30
conduta. À alta administração da empresa cabe prestar contas e ser
responsável por casos de má conduta em suas atividades. A organização
precisará de um programa eficaz para assegurar que todos os seus
funcionários compreendam os valores vigentes no mundo dos negócios e
cumpram políticas e códigos de conduta que criam um clima ético.
31
Capítulo III
RESPONSABILIDADE SOCIAL E ÉTICA EMPRESARIAL
3.1- Ética empresarial e desempenho da empresa
Para Ferrell (2001), a importância que a ética tem para as empresas é
debatida de uma grande variedade de pontos de vista. Muitos gerentes
consideram os programas de ética uma atividade cara, que só traz vantagens
para a sociedade. O papel de preocupações de natureza ética no mundo dos
negócios continua a ser mal interpretado. Pesquisas e exemplos, porém,
mostram que é vantajoso para a empresa se considerada ética pelos
empregados, pelos clientes e pelo público em geral. As vantagens da ética e da
responsabilidade social em decisões de negócios incluem aumento da
eficiência nas operações diárias, dedicação dos empregados, melhoramentos
na qualidade dos produtos, processo de tomada de decisão dos empregados,
melhoramentos na qualidade dos produtos, processos de tomada de decisão
mais eficiente e eficaz, fidelidade do cliente e melhor desempenho financeiro.
As empresas que criam um clima de confiança e equidade reconhecido por
todos constroem um recurso valioso e que lhes facilita o sucesso. A reputação
da companhia produz um efeito poderoso sobre suas relações com clientes,
empregados, fornecedores e investidores. Para Ferrell (2001, p.215):
“ As organizações e seus stakeholders estão sendo hoje desafiados por um ambiente empresarial complexo e dinâmico. Em média as empresas americanas perdem hoje metade de seus clientes a cada cinco anos, metade dos funcionários em quatro e metade dos investidores em menos de um ano. Nessas taxas, a deslealdade prejudica o desempenho da empresa em 25% a 30%, segundo foi apurado em um estudo de Frederick Reichheld, intitulado “The Loyalty Effect”. Dada uma atmosfera tão turbulenta no mundo dos negócios, reforçar as relações com stakelders é fundamental para a prosperidade da firma.”
32
Quando os funcionários pensam que há na firma um clima ético, essa
convicção gera resultados que melhoram o desempenho de todos na empresa.
Por razões de produtividade e trabalho em equipe, é essencial que os
empregados dentro e entre departamentos em toda a empresa compartilhem
da idéia geral de confiança mútua. A influência de níveis mais altos
departamentos ou grupos de trabalho, embora seja também fator importante
nas relações entre os departamentos em toda empresa. Como consequência,
programas que criam clima de trabalho digno de confiança tornam o indivíduo
mais disposto a confiar e agir com base nas decisões e ações dos colegas. Em
um ambiente de trabalho dessa natureza, os empregados podem
razoavelmente esperar ser tratados com todo respeito e consideração pelos
colegas e superiores. Relacionamentos que merecem confiança entre
gerentes, subordinados e alta direção contribuem para maior eficiência no
processo de tomada de decisão.
A ética contribui para a qualidade da empresa, bem como para a
dedicação dos empregado. Os empregados se mostram mais dispostos a
discutir essas questões e a apoiar iniciativas que visem ao aumento da
qualidade, se a empresa lhes comunicar que assumiu um compromisso com a
conduta ética. Os que trabalham em um clima dessa natureza provavelmente
acreditarão que têm que tratar com respeito todos aqueles com quem entram
em contato, independente de trabalharem em serviço interno ou externo.
Uma das responsabilidades fundamentais da empresa é o esforço de sua
liderança para promover ao maior bem possível para seus stakeholders,
incluindo, os clientes. A filosofia predominante no mundo dos negócios sobre
relações com clientes é que a empresa deve esforçar-se para fornecer
produtos que satisfaçam as necessidades do cliente, mediante um trabalho
coordenado que lhes permita também alcançar suas metas próprias. Para
Ferrel (2001), aceita-se em geral que a satisfação do cliente é um dos fatores
33
mais importantes no sucesso da estratégia da empresa. Coloca o referido
autor(p.221):
“Pesquisas e experiências de muitas empresas mostram uma forte relação entre conduta ética e satisfação dos clientes. È provável que eles continuem a comprar a companhias que consideram Ter boa reputação, devido ao seu interesse por eles e pela comunidade. Companhia éticas que se esforçam por tratar com justiça os consumidores e que melhoram sempre a qualidade do produto, bem como lhes fornecem informações facilmente acessíveis ecompreensíveis, provavelmente terão uma vantagem competitiva e serão lucrativas. O fundamental é que os custos de desenvolvimento da clima ético possam ser compensados por um aumento da fidelidade do consumidor”
Ética aumento os lucros. A cidadania ética está positivamente ligada ao
retorno dos investimentos, ao retorno dos ativos e ao crescimento das vendas.
É definida como a medida com que empresas assumem responsabilidades
econômicas, legais, éticas e discricionárias que lhes são exigidas pelo
stakeholders. A companhia não pode ser uma boa pessoa jurídica e cultivar e
desenvolver um clima ético se não conseguir desempenho financeiro
adequado, em termos de lucros. As empresas com maiores recursos, qualquer
que seja o tamanho do seu quadro de pessoal, dispõem de meios para praticar
a cidadania empresarial e, ao mesmo tempo, servir os clientes, valorizar os
empregados e estabelecer um clima de confiança com o público. Muitos
estudos encontraram uma relação positiva entre cidadania empresarial e bom
desempenho nos negócios.
Ser socialmente responsável implica, para empresa, valorizar seus
empregados, respeitar os direitos dos acionistas, manter relações de boa
conduta com seus clientes e fornecedores, manter ou apoiar programas de
preservação ambiental, atender à sua atividade, recolher impostos, apoiar ou
manter ações que visem diminuir ou eliminar problemas sociais nas áreas de
saúde e educação e fornecer informações sobre sua atividade. A empresa
34
deve Ter os conceitos de ética e transparência como os princípios básicos de
sua conduta.
Diversos estudos apontam que as empresas obtêm benefícios,
representados por melhor visibilidade , maior demanda e valorização de suas
ações, menor custo de capital, preferência dos investidores na seleção de seus
investimentos, diferenciação pelos consumidores – que estão começando a dar
preferência a empresas socialmente responsáveis na hora da compra -, criação
de novos produtos, fortalecimento interno, goowill e sustentabilidade dos
negócios, o que também cria valor para as empresas na forma de vantagens
competitivas, representadas por maior retorno, maior valor e maior
produtividade. O mercado também sairia ganhando, pois essas empresas
proporcionam melhor acesso às informações, tornando o investimento menos
arriscado e dando mais segurança aos direitos societários.
Bancos e administradoras têm lançado fundos específicos, que destinam
verbas para investimentos em empresas com projetos nas áreas social e de
meio ambiente. Ao mesmo tempo, analistas passaram a remendar a compra de
ações dessas companhias. Isso tudo porque investir na responsabilidade social
dá retornos financeiros a longo prazo e representa menor risco para o
investidor. Investidores estrangeiros têm pautado suas ações em informações
sobre as práticas sociais e ambientais de empresas brasileiras.
Em suma, os investimentos socialmente responsáveis representam um
produto criado para atender a um pequeno, mais cada vez maior, nicho de
investidores com preocupações éticas em todo mundo. O comprometimento de
uma empresa com o social deve ser fruto, em primeiro lugar, de seu
comportamento ético.
35
3.2- Tendências e desafios para responsabilidade social e ética
empresarial
Para Ashley (2005), o caminho para uma sociedade sustentável requer
uma nova perspectiva sobre os impactos das decisões e ações de todos as
agentes sociais. Tal perspectiva aponta alguns desafios. O primeiro é avaliação
de desempenho. Esta balanceado das empresas pode ser adotada como
referência à orientação a partir do diálogo social com stakeholders ,
recomentado pelo padrão internacional proposto pelo AA 1000, do Institute of
Ethical and Social Accountability . Essa avaliação poderia atingir o chamado
resultado final triplo, que, como veremos mais adiante, inclui a avaliação
quanto aos aspectos ambientais (responsabilidade social ambiental);
econômicos (responsabilidade societária, financeira, comercial e fiscal) e
sociais (ação social da empresa e responsabilidade trabalhista/previdenciária).
O segundo desafio apontado pela autora é transcender as fronteiras das
empresas. È preciso descentralizar o debate sobre responsabilidade social,
que hoje tem a empresa como o centro e origem de toda responsabilidade,
passando-se a adotar novas premissas, tais como: a) buscar responsabilidade
social de todos os indivíduos, organizações e instituições em suas decisões e
ações na sociedade – para isso o núcleo familiar e sua comunidade local
precisam Ter o seu tempo e seu espaço resgatados com políticas de proteção
social e defesa de valores humanistas e solidários, a fim de poder melhor
educar suas novas gerações; b) considerar o poder de compra e consumo dos
indivíduos, das organizações privadas e públicas com fomentador de um
mercado responsável, ou seja, criar uma lógica de mercado que privilegie o
fornecimento por empresas que concebem seus produtos de forma socialmente
responsável – o que é distinto de empresas que reduzem o conceito de
responsabilidade social empresarial a apenas praticar a benevolência ou
assistencialismo empresarial, dissociados de mudanças na essência do
negócio em que opera; e C) formação profissional técnico e superior para uma
36
sociedade sustentável, proporcionando a consciência de vivermos em uma
rede de complexidade com múltiplos e simultâneos fatores antecedentes e
resultantes.
O terceiro, e último, desafio apontado por Ashley (2005) é implementar
transparência organizacional. As empresas, tanto permeáveis (diálogo) como
responsivas (satisfação das expectativas), deverão, a partir de normas,
princípios e valores assumidos e praticados no cotidiano do trato com seus
stakeholders: construir relações de confiança; reger suas relações por normas
e condutas; incentivar e adotar parcerias que agreguem valor mutualmente;
tomar decisões empresariais considerando aspectos econômicos, ambientais e
sociais.
Nas últimas décadas, muitas iniciativas vêm sendo tomadas, no Brasil e
no mundo, para disciplinar a voracidade dos fluxos de caixa, ou seja, o lucro.
No entanto, as empresas devem se preocupar não só com seu corpo de
funcionários, mas também com o Stakeholders. Nesse universo de
preocupações, a metodologia do balanço social, uma empresa está se
comprometendo em direcionar suas ações no campo social para a melhoria da
qualidade de vida e do bem-estar de toda a família corporativa e das
populações carentes situadas em área de influência. O balanço social pode,
pois, ser entendido como uma catalisador e direcionardor de ações para
programas de participação social.
A sociedade reinvidica informações sobre o que as empresas estão
fazendo na área social. E, para demostrar publicamente sua responsabilidade,
o balanço social é um dos instrumentos mais adequados. Balanço Social é u
documento publicado anualmente, reunindo um conjunto de informações sobre
atividades desenvolvidas por uma empresa, em promoção humana e social,
dirigidas a seus empregados e à comunidade na qual está inserida.
È um preciso instrumento para aferição de desempenho do exercício da
responsabilidade social em seus empreendimentos. Através dele, a empresa
mostra o que faz por seus empregados, dependentes e pela população que
37
recebe sua influência direta. É uma forma de dar transparência as atividades
sociais da empresa, tendo em vista a melhoria da qualidade de vida da
sociedade.
Para Neto e Froes (1999), o balanço compreende dois tipos de ações
sociais direcionadas para os empregados e seus familiares, em especial no
campo da educação, saúde, segurança do trabalho, remuneração e benefícios,
etc.; e ações sociais voltadas para a sociedade (educação cultura, esporte,
lazer, meio ambiente, etc.)
Outro instrumento de verificação da atuação da empresa na área social
são os indicadores e medidas de Clima Ético. De acordo com PINTO (2003),
como fruto do trabalho em conjunto do Cene/Eaesp/FGV e de Frank Navram,
foi criado no Brasil ( um indicador de clima ético) para avaliar questões mais
características da região. O aspecto político em grande número de empresas
brasileiras pode prejudicar o profissionalismo de uma equipe e implicar
prejuízos para a organização. Na empresa, às vezes, as relações pessoas ou a
influência política são muito mais valorizadas que o preparo técnico profissional
dos funcionários. Na relação chefe subordinado, o uso da autoridade pode
inclusive levar ao aparecimento de frequentes casos de assédio sexual. Outro
desvio que por vezes pode ocorrer é o de serem encobertas receitas da
empresa, para não cumprir obrigações fiscais. Da mesma forma, o suborno
acaba sendo entendido como um mal necessário, usado para garantir a
competitividade dessa empresa, por ser tornar usual, o pagamento do
suborno, propinas, presentes etc. acaba não sendo considerado uma falta de
ética dessa empresa. Segue Pinto (1999, p.293):
“Um gerente pode se sentir constrangido diante de situações que demostram embotamento da consciência pessoal de alguém na empresa. Sua habilidade administrativa é testada na forma de processar e comunicar de modo acurado as informações. Se a imagem da organização é de invulnerabilidade e onisciência, pode resultar humilhante admitir o fracasso diante de outros, informando-lhes o erro cometido. Quando mais baixo o nível hierárquico do gerente, maior será sua tendência de esconder as más notícias ou dúvidas a respeito de uma questão, por medo de ficar claro o seu erro”
38
A construção dos indicadores de clima ético será realizada sempre a
partir de um grupo de empresas que permanecem no painel durante dois anos.
A cada levantamento, a organização participante recebe seus novos
indicadores, o que lhe permite desenvolver ações corretivas, reforçar as que
promoveram melhorias no clima ético e realizar análises, comparando seus
resultados com os do painel como um todo, uma vez que não fornecem dados
individualizados das demais individualizados das demais empresas senão à
própria interessada.
Neste contexto, percebe-se uma difusão de políticas organizacionais
centradas na questão da ética, por outro lado, estudos demostram que a
incorporação efetiva da ética só consegue consolidar na media em que essa
reflexão seja incorporada pelos atores sociais que compõem a organização e
que formulam suas estratégias.
39
CONCLUSÃO
Em determinada situações, as empresas extrapolam os limites de sua
área de influência em seus programas de participação social para alavancar
projetos ambientais, educacionais e culturais. Essa visão ampla, que ultrapassa
o núcleo central da corporação e seus próprios stakeholders, vem sendo
chamada de responsabilidade social. A mensuração da presença de empresas
nessa área de responsabilidade social acabou por resultando na criação de
indicadores de sustentabilidade social. É bem provável que, em futuro próximo,
as empresas se vejam compelidas a apresentar bons indicadores de
sustentabilidade a fim de obter recursos financeiros para seus processos
econômicos e, com isso, pode galgar novos patamares de rentabilidade.
No Brasil, várias organizações estão somando esforços nesse processo
de catalisação de ações para o campo da responsabilidade social. E,
paralelamente, algumas delas vêm-se qualificando junto à sociedade para
conferir selos de sustentabilidade ou de responsabilidade social, que serão
importantíssimos na identificação das empresas que se destacam na área
social, tais como o Instituto Ethos e o IBASE.
Os programas compromissados como códigos éticos assumem papel
cada vez mais importante no Brasil. Pode-se conceituar ética como o que fazer
e o que não fazer para agir bem, gerando o máximo possível de qualidade de
vida e de bem estar social para maior número de pessoas e instituições em
determinada área de influência ou em aspectos relevantes para toda sociedade
e procurando não atingir negativamente outros indivíduos e organizações. O
campo ético vem se desenvolvendo em duas grandes vertentes: a dos códigos
éticos e a do clima ético, como exposto na capítulo anterior.
Os negócios globais envolvem o desenvolvimento, a promoção, a
formação de preços e a distribuição de bens e serviços através de fronteiras
nacionais. O profissional que opera nesta área precisa não só compreender os
40
valores, as culturas e os padrões éticos de seus país, mas também ser
sensível aos de outros países. Cultura é definida como tudo que é criado por
seres humanos no ambiente. Todas as nações têm culturas própria, decorrente
daí as diferentes opiniões sobre que atividades empresarias são aceitáveis ou
antiéticas. Diferenças culturais que criam problemas éticos nos negócios
internacionais incluem diferenças idiomáticas, linguagem corporal, maneira de
encarar o tempo e a religião.
O trabalho da empresa em relação à ética afeta seus vários
stakeholders: clientes, empregados, fornecedores e investidores. Muitos
acionistas querem investir em companhias que tenham fortes programas
éticos, sejam socialmente interessadas e tenham uma sólida reputação. As
pessoas gostam de trabalhar para organizações nas quais possam confiar, e
os consumidores dão valor à integridade nas relações comerciais. Clima éticos
mais fortes nas empresas resultam na confiança de consumidores e
empregados, na dedicação do pessoal e na satisfação do consumidor, que, por
seu lado, contribuem para aumentar a rentabilidade da empresa.
A confiança é um elemento decisivo para manter unidos empresa e
stakeholders. Para conseguir prestígio junto ao público e aos consumidores, a
companhia precisa conquistar sua confiança. A confiança dos empregados
pode ser aprofundada por programas que os liguem mais estreitamente à firma,
tais como planos de compra de ações.
A cidadania empresarial está também positivamente associada ao
retorno do investimento, dos ativos e do crescimento das vendas. Constatou-se
que a ética tem uma importância especial no desenvolvimento e no
desempenho das nações. Diversos autores apontam que instituir um programa
efetivo de cumprimento de normas não só contribui para evitar má conduta,
mas resulta também em maior produtividade econômica.
41
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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negócios. São Paulo: Saraiva, 2002.
BEGLIN, Nathalie. A filantropia empresarial. Questão da nossa época.nº12.
São Paulo: Cortez, 2005.
FERREL, O.C. FERREL, Linda e FRANEDRICH, Jonh. Ética Empresarial. Rio
de Janeiro: rechamann e Affonso, 2001.
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LESINGIER, Klaus e SCHMITT, Karin. Ética empresarial: responsabilidade
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SROUR, roberto. Ética empresarial: a gestão da reputação. São Paulo:
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VASQUEZ, Adolfo Sanches. Ética. Rio de Janeiro: civilização brasileira, 1997.
VIEIRA, Listz. Cidadania e globalização. Rio de Janeiro: Record, 1999.
PINTO, Luiz Fernandes da Silva. Gestão- Cidadã: ações estratégicas para o
Brasil. Ed, FGV, 2002.
QUEIROZ, Adele e BORGES, Alexandre. Ética e responsabilidade social nos
negócios. São Paulo: Saraiva, 2005.
42
Anexos
43
44
45
ÍNDICE
Capítulo I – Responsabilidade Social Corporativa ........................................... 08
1.2 - Responsabilidade Social corporativa no Brasil:
os primórdios do conceito no século XX ........................................................ 08
1.2- Responsabilidade social, cultura e ética empresarial .............................. 12
Capítulo II – Ética no Mundo Empresarial ....................................................... 16
2.1 - Questões éticas no mundo empresarial ...................................................16
2.2- Formulação de um programa ético eficaz .................................................19
Capítulo III – Responsabilidade Social e Ética Empresarial .............................24
3.1- Ética empresarial e desempenho da empresa ........................................ 24
3.2- Tendências e desafios para implementação da responsabilidade social e
da ética empresarial .........................................................................................27
Conclusão ........................................................................................................ 33
Referências Bibliográficas ............................................................................... 34
46
Universidade Cândido MendesPós Graduação Lato Senso
Gestão de Recursos HumanosProjeto a Vez do Mestre
Responsabilidade Social no Brasil e Ética Empresarial
Por: Nivia Carla Ricardo da Silva
Apresentação de monografia por exigência da Universidade Cândido Mendes como condição prévia para conclusão do curso de pós graduação Gestão de Recursos Humanos.Orientadora: Profª Ana cristina
Banca Examinadora:
______________________________________ (Conceito: ____________ )Professor______________________________________ (Conceito: ____________ )Professor______________________________________ (Conceito: ____________ )Professor
Nota Final: ______ ( ____________ )
Rio de Janeiro, 28 de agosto de 2006.