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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A LITERATURA INFANTIL E SUA IMPORTÂNCIA NA FORMAÇÃO
DO PEQUENO LEITOR.
Por: Lussandra Thimóteo Corrêa
Orientador
Prof. Mary Sue Pereira
Rio de Janeiro
2010
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A LITERATURA INFANTIL E SUA IMPORTÂNCIA NA FORMAÇÃO
DO PEQUENO LEITOR.
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Educação
Infantil e Desenvolvimento.
Por: Lussandra Thimóteo Corrêa
3
DEDICATÓRIA
À Deus.
Aos meus afilhados Vinicius e Ana Clara,
meu sobrinho Mateus e meus alunos da
educação infantil.
Às pessoas amigas que me incentivaram
e colaboraram neste trabalho.
4
RESUMO
O presente trabalho traz uma pesquisa teórica sobre a questão da
formação de futuros leitores. Partindo do pressuposto que formar leitores não é
uma tarefa fácil. Porém quando essa questão está aliada a Literatura Infantil,
percebe-se que os resultados são satisfatórios. Contudo, é preciso que haja um
trabalho em conjunto, da família e da escola.
São observados os aspectos da Literatura Infantil, como ela surgiu, em
que contexto, sob qual influência e quem foram os autores percussores.
Ressalta-se que características as obras possuem e como elas são
classificadas, conforme o tempo histórico em que estão inseridas.
E por fim, fundamenta-se a Literatura Infantil como um caminho
importante para iniciar o processo de formação de leitores na Educação Infantil.
5
METODOLOGIA
O trabalho monográfico tem em vista apresentar, através de um estudo
teórico, a Literatura Infantil como forma de contribuição para a formação de
futuros leitores. E que relevância é dada na Educação Infantil à Literatura
Infantil nesse processo.
A pesquisa foi realizada através da pesquisa e do estudo reflexivo da
bibliografia citada. Com base nas leituras, foram destacados alguns aspectos
relevantes sobre a Literatura Infantil bem como, seus aspectos, suas
características e funções. E sua importância na formação do futuro leitor.
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 07
CAPÍTULO I
A LITERATURA INFANTIL E SEUS ASPECTOS 09
CAPÍTULO II
CARACTERÍSTICAS DE UMA OBRA LITERÁRIA INFANTIL 21
CAPÍTULO III
A LITERATURA INFANTIL E A FORMAÇÃO DO FUTURO LEITOR 27
CONCLUSÃO 37
BIBLIOGRAFIA 39
ÍNDICE 41
FOLHA DE AVALIAÇÃO 42
7
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo ressaltar a influência da
Literatura no desenvolvimento infantil. E de como o trabalho da Literatura
Infantil pode auxiliar na formação do pequeno leitor. Mostrar a importância de
se inserir as crianças o quanto antes no universo literário. Ter a preocupação
criteriosa na escolha da obra infantil, afim de que atenda as exigências
essenciais da literatura para as crianças e estejam adequadas aos propósitos
de ensino e às possibilidades cognitivas das crianças.
Esta pesquisa visa que importância a Literatura Infantil possui. Observa-
se que a criança, através da leitura, se apropria de culturas e saberes, e vai
adquirindo informações que a ajudará na construção de seu conhecimento. A
literatura e consequentemente a leitura é um dos caminhos mais viáveis para
se desenvolver e estimular a formação de ideias – conhecimento de mundo.
Acerca dessa ideia, o trabalho vai percorrer através da Literatura Infantil,
da formação do indivíduo que se dá por uma literatura adequada e da relação
que há entre professor e aluno considerando o papel formativo da Literatura
Infantil.
Será observado, que o trabalho com as crianças da Educação Infantil
através da Literatura Infantil não deve se esgotar em mero exercício de leitura,
de gramática, ou simplesmente em lazer. Pois assim não se alcançará o
objetivo proposto – formar leitores de postura críticos-reflexivos. E sim, que a
Literatura Infantil precisa se dá através de uma atividade prazerosa e realizada
com obras escritas especificamente para crianças, permitindo a exploração de
toda a sua característica formativa de que tal obra é portadora. Neste sentido, o
quanto antes essa criança entrar em contato com os livros e perceber o prazer
que a leitura produz, maior será a possibilidade de se tornar um adulto leitor.
8
Para a fundamentação teórica, escolhi a leitura de obras de quem se
dedicou aos estudos literários, especificamente, teóricos que, com base em
suas pesquisas, construíram conceitos de literatura, leitura e leitor. Juntamente
com minhas reflexões, procurei embasar-me em alguns autores como Fanny
Abramovich, Betty Coelho, Maria Alexandre de Oliveira, entre outros estudiosos
que de certa maneira esclarecem e reforçam a ideia que se discute o trabalho
monográfico. Tais autores levam a uma percepção e reflexão acerca da
Literatura Infantil, enquanto formação e prazer, além de orientarem e
ampliarem conhecimentos e experiências.
É na relação prazerosa e lúdica da criança com a obra literária que se
observa uma das possibilidades de se formar o futuro pequeno leitor. Com
base na exploração do fantástico e do imaginário que se excita a criatividade e
se fortalece a interação entre texto e leitor.
Assim, a presença da Literatura infantil na escola e no lar representa um
estímulo forte à aprendizagem da leitura. Adquirindo o prazer pela leitura a
criança passará a escrever melhor e terá um repertório vasto de informações.
9
CAPÍTULO I
A LITERATURA INFANTIL E SEUS ASPECTOS
“... Ah, como é importante para a formação de qualquer
criança ouvir muitas, muitas histórias... Escutá-las é o
início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter
um caminho absolutamente infinito de descoberta e de
compreensão do mundo... “ (Fanny Abramovich)
O que é Literatura Infantil
Contar histórias é prática bem antiga. O homem com a necessidade de
comunicar aos outros alguma experiência, ou mesmo narrativas que poderiam
ter significações para seu grupo, transmitia através dessas histórias tradições,
ritos, valores, saberes e sentimentos que ajudavam a produzir identidade. A
literatura sempre exerceu influência na construção social e cultural das
sociedades. Oliveira (2008) afirma:
“A Literatura Infantil é, sobretudo, comunicação, pois cria
a relação entre sujeitos comunicantes: autor e leitor. As
propriedades formativas e informativas da literatura
Infantil só se realizam e concretizam-se na comunicação
da criança com a história. Nesse sentido, é preciso
considerar que na Literatura Infantil o mundo é
10
reproduzido de forma simbólica, mediante a fantasia, o
fantástico, o sonho, o mágico”. (p. 40)
A manifestação da Literatura Infantil tem características próprias, pois
decorre da ascensão da burguesia européia ao poder, a qual modificou as
concepções acerca da estrutura familiar e da ideia concedida à infância na
sociedade e da reorganização da escola. Sua emergência deveu-se, antes de
tudo, à sua associação com a Pedagogia, uma vez que as histórias eram
organizadas para se converterem em instrumentos dela.
Pode-se dizer que a Literatura Infantil surge com objetivo pedagógico, e
que, passa a ser formadora por excelência do intelecto e da moral da criança,
que é concebida como um ser frágil e inocente. Como afirma Yunes (1984)
“A literatura para crianças aparece não para o lazer ou
função estética, mas como suporte e/ou instrumento de
apoio para a transmissão de princípios e conformação
ideológica que possibilite ao adulto a manipulação do
futuro, ao dirigir e condicionar pela educação as crianças
do presente.” (p. 124)
Perrault com intenção pedagógica vai transmitir valores à criança do seu
século. Essa criança que está começando a ser descoberta em sua
particularidade. Seu trabalho era basicamente o de um adaptador; ele partia
de um tema que era popular, trabalhava sobre ele e acrescentava detalhes que
respondiam ao gosto da classe burguesa, a qual se endereçava seus contos.
Acerca da pesquisa bibliográfica, pode-se dizer que Perrault foi o
precursor da Literatura Infantil. Porém, na realidade, já existia uma literatura
voltada para crianças antes dele, sob duas formas: na cultura erudita, a
11
literatura pedagógica, por exemplo, os textos dos jesuítas, e a literatura oral, de
vertente popular, por exemplo, o extenso domínio dos contos da advertência
com ditos e provérbios.
Dentre os autores da Literatura Infantil Clássica destacam-se:
Charles Perrault (1628 - 1703) Escritor e poeta francês do século XVII,
vindo alta burguesia; advogado exerceu algumas atividades como
superintendente do Rei Luís XIV de França.
Perrault estabeleceu bases para um novo gênero literário: o conto de
fadas. Foi o primeiro a dar acabamento literário a esse tipo de literatura, antes
apenas contadas entre as damas dos salões parisienses. Proeza que lhe deu o
título de Pai da Literatura Infantil.
Perrault resolveu registrar as histórias que ouvia nos salões parisienses.
Local do qual ele era frequentador assíduo. O livro recebeu o nome de "Contos
da Mamãe Gansa". Cademartori (1995) afirma ainda “A coleção dos textos de
Perrault constitui-se em um dos textos mais célebres da literatura francesa
(...)”. (p. 34). Para Perrault a “característica essencial dos livros para as
crianças é a moralidade com inspirações no cristianismo (...) a moral das
histórias não podia ser obstinada, mas com traços leves”. (Oliveira, 2008. p.
119)
Suas histórias mais conhecidas são: “Chapeuzinho Vermelho”, “A Bela
Adormecida no bosque”, “O Mestre Gato” ou “O Gato de Botas”, “Cinderella”,
“Barba Azul” e “O Pequeno Polegar”.
Somente a partir do século XVIII a criança começa a ser considerada
um ser dessemelhante do adulto, com necessidades e características próprias,
o que a distanciaria da vida que levava os adultos, recebendo uma educação
específica, que a preparasse para a vida adulta.
12
Nas palavras de Teberosky (2003):
“A ideia de uma infância com interesses e necessidades
formativas próprias levou, no século XVIII, à criação dos
livros especialmente dirigidos a esse segmento de idade.
Inicialmente, esses livros foram entendidos como
instrumento educativo, mas o consumo infantil de
coleções populares de novelas, lendas e histórias para
todos os públicos fizeram com que começassem a ser
editados livros pensados diretamente para o ócio e
entendimento das crianças, ainda que a função moral
tivesse neles um papel essencial.” (p. 151)
A partir daí surgem alguns autores de obras voltadas para as crianças,
é estabelecido um padrão de literatura infantil. No qual destacam:
Irmãos Grimm – Jakob (1785 - 1863) e Wilhelm Grimm (1786 - 1859)
Alemães que se destinaram ao registro de diversas fábulas para o público
infantil “Alargando a antologia dos contos de fadas” (Cademartori, p. 33) onde
ganharam popularidade. Também contribuíram com a língua materna,
escrevendo um dicionário - O Grande Dicionário Alemão.
Os irmãos dedicaram-se aos estudos de história e linguística, se
apropriando da memória popular, as antigas narrativas, lendas ou sagas
germânicas, conservadas pela tradição oral.
Na tradição oral, as histórias compiladas não eram destinadas ao público
infantil e sim aos adultos. Oliveira (2008) falando dos irmãos Grimm, afirma:
“Aliado ao trabalho de resgatar e registrar a cultura popular veio o interesse
pela infância, como etapa importante na formação do adulto”. (p. 119) Eles
13
dedicaram suas obras às crianças por sua temática mágica e maravilhosa.
Fundiram, assim, esses dois universos: o popular e o infantil.
Obras significativas de Jacob e Wilhelm Grimm são: “Cinderela”; “Branca
de Neve”; “João e Maria”; “Rapunzel”; “Os Músicos de Brêmen”; “O Ganso de
Ouro”; “O Alfaiate Valente”; “O Lobo e os Sete Cabritinhos”; “Os Sete Corvos”;
“As Aventuras do Irmão Folgazão”; “Os Três Fios de Ouro de Cabelo do
Diabo”.
Hans Crhistian Andersen (1805 - 1875) Poeta e escritor dinamarquês
de histórias para crianças.
Hans Andersen teve uma infância muito pobre, mas sua criatividade e
imaginação eram aguçadas por seu pai, um humilde sapateiro, de quem ouvia
muitas histórias, também ganhou um teatro de fantoches fabricado por ele.
Andersen teve a oportunidade de aprender a ler. Nessa época, memorizou
muitas peças de Shakespeare, peças essas que encenava com seus
brinquedos em seu pequeno teatro.
Apesar de ter escrito diversos romances adultos, canções patrióticas,
peças de teatro, livros de poesia e relatos de viagens, foram os contos de fadas
“soluções narrativas diversas” (Cademartori, p. 33) que tornaram Hans
Christian Andersen famoso e mundialmente conhecido. Especialmente pelo
fato de que, até então, eram muito raros livros voltados especificamente para
crianças. Completa Oliveira (2008) “Contos que migraram no tempo e no
espaço, foram criados com muita fantasia e humor e são, até hoje, reeditados e
representados no teatro, no cinema e na televisão” (p. 120) Dentre seus contos
mais conhecidos estão: “O Patinho Feio”, “O Soldadinho de Chumbo”, “A
Pequena Sereia”, “A Roupa Nova do Rei”, “A Princesa e a Ervilha”, “A Pequena
Vendedora de Fósforos”, etc.
Charles Lutwidge Dodgson, mais conhecido pelo seu pseudônimo
Lewis Carroll (1832 - 1898) Escritor e professor de matemática. É
14
mundialmente conhecido por ser o autor de o clássico “Alice no País das
Maravilhas”.
Quando criança Carroll brincava com marionetes e prestidigitação
(também chamado magia ou ilusionismo) durante a vida inteira gostava de
fazer passes de mágica, especialmente para as crianças.
Desde criança, Lewis Carroll recebeu uma educação religiosa, era
pretensão de seu pai vê-lo seguir essa carreira. Carroll desviou-se de vez da
carreira sonhada pelo pai, quando entrou para a faculdade de Oxford. Gostava
de teatro e gostava de frequentar ópera.
A história de Alice no País das Maravilhas se originou em 1862, quando
Carroll fazia um passeio de barco no rio Tâmisa com sua amiga Alice e suas
irmãs. Lá ele começou a contar uma história que deu origem à atual, sobre
uma garota chamada Alice que ia parar em um mundo fantástico após cair
numa toca de coelho. Sua amiga Alice gostou tanto da história que lhe pediu
que a registrasse.
Algumas obras de Carroll: “Alice no País das Maravilhas” e “Alice no
País do Espelho”, “Algumas Aventuras de Silvia e Bruno”, “Rimas do País das
Maravilhas”, “A caça ao turpente”.
Carlo Collodi, pseudônimo de Carlo Lorenzini, (1826 - 1890) Jornalista
e escritor italiano do século XIX, famoso por criar “Pinóquio”.
Tornou-se um jornalista de sucesso, fundando seu próprio jornal. Dá
início a uma publicação infantil intitulada “Jornal para as crianças”, um
periódico voltado para o público infantil. Foi então, que começou a escrever
através de curtos capítulos a “História de um Boneco”, primeiro titulo dado
para: “Aventuras de Pinóquio”.
Publicou também outros contos, porém nenhum deles fez tanto sucesso
quanto sua obra prima.
15
Outros autores com suas contribuições foram:
Lyman Frank Baum (1856 - 1919) escritor e teosofista norte-americano.
Foi criador de um dos mais populares livros jamais escritos na literatura
americana infantil - O Mágico de Oz.
Ainda muito jovem Frank começou a escrever, talvez por sua fascinação
com os livros. Publica o volume “Mamãe Ganso” uma coleção de rimas escritas
em prosa. Torna-se um sucesso e L. Frank publica “Papai Ganso”, e torna-se
um best-seller infantil.
James Matthew Barrie (1860 - 1937) Jornalista, dramaturgo e escritor
de livros infantis escoceses.
Cresceu ouvindo histórias de piratas que eram contadas por sua mãe.
Na escola interessou-se por teatro e gostava das obras de autores como Julio
Verne.
Barrie tornou-se famoso com sua peça e história sobre Peter Pan, o
menino que vivia na Terra do Nunca, que travou batalhas com o Capitão
Gancho e que jamais cresceria.
Muitos autores e obras se consagraram entre os séculos com o público
infantil, deixaram suas marcas e contribuições. Ainda hoje, encantam,
alimentam do imaginário, possibilitam identificações e inserem a criança ao
mundo humano pela linguagem. Concordando com Cademartori (1995), que
afirma:
“A literatura infantil tem como parâmetro contos
consagrados pelo público mirim de diferentes épocas que,
por terem vencido tantos testes de recepção, fornecem
aos pósteros referenciais a respeito da constituição da
tônica literária do texto destinado à criança.” (p. 33)
16
Uma literatura específica para o público infantil no Brasil acontece no fim
do século XIX. As primeiras obras publicadas para crianças eram traduções ou
adaptações de contos e fábulas (da tradição européia) de autores estrangeiros
(Perrault, Irmãos Grimm, Andersen) e que, aos poucos, começam a dividir o
mercado com as obras nacionais que vão surgindo. Entretanto, de um modo
geral, a Literatura Infantil mantinha-se conservadora e pedagógica.
José Renato Monteiro Lobato (1882 – 1948) dá inicio a Literatura
Infantil brasileira. Com sua obra, que tem como plano de fundo o ambiente
rural, ele interage com o grupo social e atua como “agente formador e
modificador da percepção do público” (Cademartori, 1995, p. 43). Em 1920,
Lobato publica o conto infantil, “A história do peixinho que morreu afogado”, e
em 1921, “Narizinho arrebitado”. Começava aí a criação de uma série de
aventuras no Sítio do Pica-Pau Amarelo. Fez logo sucesso com o público
infantil, por tratar em suas obras do cotidiano, da realidade comum e familiar à
criança. Oliveira (2008) completa:
“Raros são os marcos decisivos no anuncio de novos
valores e visões de mundo, mas Monteiro Lobato
representa um marco para a Literatura Infantil brasileira. A
começar pela sua concepção de criança que, contrária à
visão míope de sua época, reconhecia nos pequenos a
força da transformação; Lobato acreditava que através da
literatura e da educação era possível conceber um mundo
menos injusto, e para isso a criança deveria ser amada e
respeitada.” (p. 80)
Através do crescimento e enriquecimento do fabuloso mundo de suas
personagens, o maravilhoso passa a ser o elemento integrante do real. Assim é
que personagens “reais” (Pedrinho, Lúcia, D. Benta, Tia Nastácia, etc.) têm o
17
mesmo valor das personagens “inventadas” (Emília, Visconde de Sabugosa e
todas as personagens que povoam o universo literário de Monteiro Lobato).
Segundo Cademartori (1995) ao se referir de Lobato afirma:
“Monteiro Lobato cria, entre nós, uma estética da literatura
infantil, sua obra constituindo-se no grande padrão do
texto literário destinado à criança. Sua obra estimula o
leitor a ver a realidade através de conceitos próprios.
Apresenta uma interpretação da realidade nacional nos
seus aspectos social, político, econômico, cultural, mas
deixa, sempre, espaço para a interlocução com o
destinatário. A discordância é prevista”. (p. 51)
Na contribuição de Monteiro Lobato, para a Literatura Infantil, encontra-
se obras originais, adaptações e traduções. Dentre elas estão:
“A Menina do Nariz Arrebitado”; “O Saci”; “Fábulas do Marquês de
Rabicó”; “Aventuras do Príncipe”; “Noivado de Narizinho”; “O Pó de
Pirlimpimpim”; “Reinações de Narizinho”; “As Caçadas de Pedrinho”; “Emília no
País da Gramática”; “Memórias da Emília”; “O Poço do Visconde”; “O Pica-pau
Amarelo” e “A Chave do Tamanho”.
É na década de 80 que se estabelece o grande momento da Literatura
Infantil, “que trazia uma maneira original de ver e pensar o mundo”. (Oliveira,
2008, p. 13) Dá-se início a uma série de fatores que dão destaque à Literatura
voltada para crianças. O que Cademartori nomeia como “o boom da literatura
infantil”. A preocupação nesse momento era com uma maior qualidade literária.
Que as produções fossem com uma linguagem mais clara e objetiva. Que a
centralidade dos textos remetesse ao imaginário do leitor. Surgem escritores
importantes como:
18
Ana Maria Machado: Graduada em letras e dedicou-se também à
pintura. Começou a escrever textos para crianças em 1969, na revista Recreio.
São mais de 30 anos de carreira, mais de 100 livros publicados no Brasil e em
mais de 18 países somando mais de dezoito milhões de exemplares vendidos.
Muitos são os prêmios conquistados. Tudo impressiona na vida dessa carioca
nascida em Santa Tereza, em pleno dia 24 de dezembro. Algumas obras que
encantam: “Banho sem chuva”, “Dia de Chuva”, “Eu era um Dragão”, “Menino
Poti”, “No Imenso Mar Azul”, “Menina Bonita do Laço de Fita”.
Lygia Bojunga Nunes: Autora de literatura infantil e juvenil. Preocupada
com o alto índice de analfabetismo no país, funda uma escola para crianças
carentes, a Toca, que dirige por cinco anos. Sua produção literária caracteriza-
se pela transgressão de fronteiras entre a fantasia e a realidade, e aborda
questões sociais contemporâneas com lirismo e humor.
“Através das personagens e das situações que arma,
questiona valores estabelecidos, demolindo arraigados
preconceitos contra a mulher, contra o velho, contra o
artista, contra a criança – e propondo novos
estabelecimentos em relações entre as pessoas.”
(Oliveira, 1995, p. 63 - 64)
Algumas de suas obras: “Os colegas”, “Angélica”, “A bolsa Amarela”, “A
casa da Madrinha”, “Corda Bamba”, “Dos vinte 1”, “Querida”.
Sylvia Orthof: Nasceu em 1932, na cidade de Petrópolis, Rio de
Janeiro. Fez parte da Escola de Arte Dramática do Teatro do Estudante.
Começou a atuar no teatro aos quinze anos. Depois que começou a escrever
livros para as crianças, Sylvia não parou mais, e por suas histórias recebeu
diversos prêmios importantes. Suas principais obras infantis são: “Se as coisas
19
fossem mães”, “A gema do ovo de Ema”, “Foi o ovo? Uma ova!”, “Que raio de
história!”.
Marina Colasanti: Escritora e jornalista ítalo-brasileira, no Brasil estudou
Belas-Artes, tendo ainda traduzido importantes textos da literatura italiana.
Como escritora, publicou 33 livros, entre contos, poesia, prosa, literatura infantil
e infanto-juvenil. “Uma Ideia toda Azul” é um livro seu de contos que ganhou o
prêmio O Melhor para o Jovem, da Fundação Nacional do Livro Infantil e
Juvenil. “Minha Ilha Maravilha”, “Acontece na cidade”, “Fino sangue”, “O
homem que não parava de crescer”, “Ofélia, a ovelha”, “O menino que achou
uma estrela”, essas entre outras são as obras de Marina.
Ruth Machado Lousada Rocha: Nasceu em São Paulo em 1931. É
bacharel em Ciências Políticas e Sociais e licenciada em Ciências Sociais. É
uma das autoras brasileiras mais atuantes na Literatura Infantil. Seu grande
influenciador foi Monteiro Lobato. Em sua obra, essa influência se manifesta
pela sua veemência nos problemas sociais e políticos, na sua tendência ao
humor e nas suas posições feministas. Suas principais obras são: “Almanaque
Ruth Rocha”, “O Reizinho Mandão”, “Armandinho o Juiz”, “A Árvore do Beto”,
“Bom Dia Todas as Cores”, “Marcelo, Marmelo, Martelo e outras histórias”, “O
Menino que aprendeu a ver”, “Nosso Amigo Ventinho”.
Roseana Murray: É carioca e tem mais de quarenta livros publicados.
Roseana gosta de animais e de viajar pelo mundo, olhando as coisas e as
pessoas. Além de escrever poemas para gente de todas as idades, ela visita
feiras de livros e escolas, onde trabalha junto com professores e alunos. Suas
poesias falam de coisas simples como amor, peixes e flores. Em seu livro
Receitas de Olhar, encontramos sugestões poéticas para sermos felizes. E
ainda: “Poemas de céu”, “O xale azul da sereia”, “Caixinha de música”,
“Felicidade”.
Ziraldo: Cartunista, chargista, pintor, dramaturgo, escritor, cronista,
desenhista e jornalista brasileiro. É o criador de personagens famosos, como o
20
Menino Maluquinho, e, um dos mais conhecidos e aclamados escritores infantis
do Brasil. Algumas de suas obras: “A supermãe”, “Flicts”, “O Aspite”, “Turma do
Pererê”, “O Bichinho da Maçã”, “A Fábula das Três”, “O Joelho Juvenal”, “O
Planeta Lilás”, “Uma Professora Muito Maluquinha”.
Pode-se dizer que eles beberam na fonte de Lobato. Oliveira (2008)
falando de Literatura Infantil, afirma:
“ A Literatura Infantil é, sobretudo, comunicação, pois cria
a relação entre sujeitos comunicantes: autor e leitor. As
propriedades formativas e informativas da Literatura
Infantil só se realizam e concretizam-se na comunicação
da criança com a história. (...) na Literatura Infantil o
mundo é reproduzido de forma simbólica, mediante a
fantasia, o fantástico, o sonho, o mágico.” (p. 40)
Observa-se que na tradição literária brasileira, é plausível identificar um
percurso de continuidades e rupturas. Os expressivos autores (brasileiros)
citados acima, entre outros, buscaram reinventar a arte literária para a infância.
Herança das rupturas já delimitadas das décadas de 1920 e 1930, a exemplo
de Monteiro Lobato.
21
CAPÍTULO II
CARACTERÍSTICAS DE UMA OBRA LITERÁRIA
INFANTIL
Como visto no primeiro capítulo, a narrativa literária infantil, que surgiu
dentro de um contexto histórico também já citado, caracteriza-se em função da
especificidade do leitor que possui: a criança.
Segundo Cademartori (1995) a questão fundamental relativa à Literatura
Infantil fala a respeito ao adjetivo que define o público a que se tem por destino.
Literatura vista somente como substantivo, não determina seu público. Já a
Literatura com o adjetivo infantil, implica que sua linguagem, seus temas e
pontos de vista apresentem como objetivo um tipo de destinatário, um público
especifico – a criança. “(...) é escrito para criança e lido pela criança. Porém, é
escrito, empresariado, divulgado e comprado pelo adulto. A especificidade do
gênero vem dessa assimetria (...).” (Cademartori, 1995, p. 21)
Em cada época em que se buscam informações sobre a Literatura
destinada às crianças, pode-se perceber que suas características variam de
acordo com a sociedade em que a encontra. As diferentes manifestações
culturais constituem-se em padrões de interpretação, dando mais
especificidade ainda a cada período. Como um veículo do patrimônio cultural
da humanidade, a Literatura Infantil se caracteriza, a cada obra, pela
conjectura de novos conceitos que provocam uma subversão do já
estabelecido. “Desse modo, a Literatura Infantil se configura não só como
instrumento de formação conceitual, mas também de emancipação da
manipulação da sociedade.” (Cademartori, 1995, p. 23)
22
Com uma preocupação simplesmente pedagógica, por muito tempo ficou
silenciado nas obras, temas importantíssimos como racismo, sexualidade,
segregação das mulheres, entre outras mazelas da sociedade.
Encontramos a Literatura Infantil em três períodos específicos: no
período clássico, tradicional (séculos XX até a década de 1970) e
contemporâneo.
2.1 - Literatura Infantil Clássica:
Observa-se que uma das características do texto literário clássico é o
de sua perenidade, histórias de tradição oral que, contadas de geração em
geração vão permanecendo. Oliveira (2008) completa:
“Porque respondem aos anseios mais profundos do ser
humano; abordam questões existenciais, universais,
presentes em cada pessoa, de qualquer lugar, em
qualquer tempo. São textos que tratam de sentimentos,
ideias sempre presentes no ser humano, que se
manifestam em comportamentos, instintivamente, como
ciúme, inveja, medo, busca de identidade, entre outros.”
(p. 117)
Por determinação pedagógica, era habitual a Literatura Infantil dessa
época, apresentar um discurso persuasivo, não havia espaço para
questionamentos; uma preocupação moralista, e um tom ameaçador estavam
presentes nas principais obras.
No século XVII o francês Charles Perrault, adaptando os contos e lendas
da Idade Média, cria seus clássicos como Chapeuzinho Vermelho e Cinderela.
23
“Constituindo os chamados contos de fadas, por tanto tempo paradigma do
gênero infantil.” (Cademartori, 1994 p.33) Surgem então, publicações
destinadas ao publico infantil, enfocando especialmente os contos de fadas.
Com isto, muitos outros autores foram aparecendo.
As obras do período clássico da Literatura Infantil abordam temas que
compõem os padrões da humanidade, ligados aos ardis da luta pela
sobrevivência, muito difíceis de serem superados. “Produzidas em tempos de
absolutismos inquestionáveis, apóiam-se na concepção de um mundo estável,
de um status quo perene.” (Oliveira, 2008, p. 127)
Apresenta como referência uma criança dotada de um pensamento
mágico, onde astúcia e inteligência necessitam ser despertadas para que,
sozinha ela consiga ver e procurar brechas para sobreviver em uma sociedade
que oprime e castra.
O que Cademartori (1995) completa a respeito do período clássico:
“Já nos contos clássicos se observa o silenciamento de
qualquer conflito que não seja solúvel e a negação de
qualquer situação de falta que não seja resgatável. Só a
interpretação, que vai além do linear e da mera sequência
de fatos, põe a descoberto os conflitos que o texto, numa
leitura ingênua e superficial, encobre.” (p. 24)
Com temas que variam entre: luta pela sobrevivência (O Pequeno
Polegar), essência versus aparência (O Gato de Botas, Chapeuzinho
Vermelho), estigma de diferença (A Gata Borralheira, O Patinho Feio). Que
possuem um tipo de discurso exemplar, com um tipo de linguagem narrativa e
simbólica apoiadas em imagens arquetípicas. E com a concepção de criança
ingênua e com a exploração do pensamento mágico.
24
2.2 - Literatura Infantil Tradicional:
Uma das características desse período, que vai desde o século XX até a
década de 1970, é a ideia de que a criança nada mais era do que um adulto
em miniatura, um ser inferior sem o direito de opinar. A criança deveria
obedecer ao adulto, ser asseada, estudiosa e comportada.
No que apresenta claramente Oliveira (2008):
“(...) tinha como objetivo alimentar e conservar os valores
sociais, religiosos e familiares por ela consagrados, quais
sejam: a submissão à autoridade, à disciplina, à ordem e
à higiene; à obediência absoluta à autoridade política,
religiosa e familiar; os preconceitos em relação à pobreza,
às etnias (negra, indígena); a valorização do ter em
detrimento do ser; a discriminação do diferente e o
individualismo. (...)” (p. 121)
As obras deste período estão apoiadas aos assuntos presentes na
conjuntura sociopolítica e econômica em que estão presentes. “Os textos da
Literatura Infantil tradicional estão centrados na reprodução da ordem vigente e
ditam ordens e padrões de comportamento ao pequeno leitor.” (Oliveira, 2008,
p. 134) Alguns temas abordados são: a obediência (Paulina Pega-fogo),
apologia ao trabalho (A galinha ruiva), censura à preguiça e à ociosidade (O
porquinho dorminhoco) honestidade, higiene, preconceito, diferenças
individuais etc. Com uma mensagem assustadora, provocando medo e
angústia na criança (quem não trabalha, não come; quem não obedece, sofre
as consequências; quem não sabe se comportar, não merece ser respeitado;
quem não escuta os pais, merece castigo; entre outras). Usa os tipos de
25
discursos: exemplar, argumentativo e ordenativo. E com uma concepção de
criança que deve ser disciplinada com austeridade, ter as mesmas
responsabilidades de um adulto (adulto em miniatura), comportada, ordenada,
limpa e obediente.
2.3 - Literatura Infantil Contemporânea:
Como no período tradicional da Literatura Infantil, também neste período
os temas estão ligados aos assuntos pertinentes ao momento social, político e
econômico.
Como se refere Oliveira (2008):
“A passagem de uma época literária a outra não significa
que a mudança de conceitos verificada na Literatura
Infantil seja imediatamente seguida por uma pratica
docente ou mesmo literária totalmente renovada. É um
processo lento assimilar novas ideias e traduzi-las em
ações e comportamentos. Por isso mesmo, dentro desse
novo contexto, é possível encontrar ainda obras com
traços característicos da concepção tradicional”. (p. 123)
Observa-se que os textos deste período sempre incursionados pelo
mundo da fantasia. E o imaginário infantil são questionadores da ordem
estabelecida, sem perder o humor, a ludicidade e a poesia da arte literária, “A
capacidade imaginativa da criança, capaz de dar vida aos objetos por meio de
sua fantasia, é legitimada na literatura contemporânea.” (Oliveira, 2008, p.135).
26
Neste período vão aparecer os temas: crítica ao poder autoritário,
exaltação à liberdade de expressão (O Reizinho mandão), exaltação à
criatividade e à invenção ( O Equilibrista), a importância da união (Os dez
amigos), valorização da criatividade e de novas experiências, o amor materno
transforma as relações (Se as coisas fossem mãe), relação trabalho e prazer
(Farra no formigueiro), valorização da pluralidade étnica (Menina bonita do laço
de fita), valorização da curiosidade infantil (O menino maluquinho), dominar o
medo, liberdade para brincar, exaltação do imaginário infantil etc.
Trazendo mensagens questionadoras, investigativas, relacionamentos
afetivos, que todos somos iguais, independente da nossa cor, superação do
preconceito, imagem positiva de si, etc. Com discurso exemplar,
argumentativo, interativo e filosófico. Usa vários tipos de linguagens, como: a
poética, humorística, clara, inventiva, formal, objetiva, espontânea, lúdica,
metafórica, experimental, com tom de expectativa e concisa. E concebem a
criança como um ser em desenvolvimento com direito à voz e demais direitos
preservados.
Na Literatura Infantil Contemporânea, as ilustrações são mais presentes,
são riquíssimas, de qualidade e possui um dialogo com o que está escrito,
proporcionando a possibilidade da várias leituras, uma vez que a analogia
palavra-imagem é complementar e interativa. “Os textos são criados no
cruzamento das linguagens verbal e imagética, em que as imagens
complementam a fantasia e, ao mesmo tempo, incentivam a exploração do
real”. (Oliveira, 2008, p. 138)
27
CAPÍTULO III
A LITERATURA INFANTIL E A FORMAÇÃO DO FUTURO
LEITOR
Pode-se dizer que, o primeiro contato da criança com a literatura é feito
através da oralidade. Por meio das falas dos pais, avós, entre outros, a criança
vai entretendo-se com um mundo mágico dos contos e histórias existentes na
literatura, tais como: histórias bíblicas, histórias dos clássicos, e até histórias
inventadas pelos próprios narradores. Oliveira (2008) em suas palavras alega:
“Qualquer que seja o espaço onde se pretende rastrear a
origem da Literatura Infantil quer de ordem geográfica
(Ocidente-Oriente), quer cultural (africana – indígena -
lusitana), quer ainda histórica (clássica – barroca –
moderna), há um “lugar” em que todas as divisões e/ou
subdivisões irão se encontrar: na oralidade.” (p. 47)
É notório que as crianças da atualidade vivem em um ambiente no qual
a palavra escrita está presente por toda parte, seja na rua, numa placa, num
logotipo, num ônibus, num mercado, etc. Em algumas famílias, as crianças
interagem e têm acesso a diversos materiais e a tarefas de leitura e escrita
desde muito cedo. “Além do trabalho em classe, os pais também devem buscar
ter livros em casa, ler para os filhos e contar histórias para eles é uma forma
deles também contribuírem para o incentivo da leitura só que dentro de casa.”
(NOVA ESCOLA, 1998, p.12) E essas interações possivelmente estão
relacionadas e influenciam nas aprendizagens convencionais futuras.
28
Falando sobre o desenvolvimento dos processos de leitura e escrita,
convém salientar primeiramente que a escrita, não deve ser vista somente
como uma simples adaptação da linguagem oral. Segundo Vigotsky (1979,
p.131), a escrita é caracterizada como uma linguagem feita apenas de
pensamento e de representação (imagem) faltando-lhe as qualidades musicais,
expressivas e de entonação da linguagem oral.
Vigotsky (1979, p.131) diz que a leitura comporta vários níveis. Em
primeiro lugar, ele diz que a leitura é histórica. De maneira que, vivemos no
tempo e na história, portanto texto e interpretação não aparecem do nada, e
estão inscritos num determinado tempo histórico. Nossas leituras são feitas a
partir daquilo que trazemos como bagagem cultural. A leitura, também, não é
um processo neutro. Os textos possuem ainda, brechas que podem ser
preenchidas por aquele que o lê. Qualquer texto tem uma vertente social,
cultural e ideológica.
A leitura é uma forma de entretenimento muito importante para a
criança, principalmente para o seu desenvolvimento intelectual, psicológico e
afetivo. Ela desempenha um papel fundamental na vida da criança, pela
riqueza de motivações, sugestões e de recursos que oferece ao seu
desenvolvimento.
Através da linguagem simbólica, a Literatura Infantil pode influenciar na
formação da criança, que passa a conhecer o mundo em que vive de maneira a
compreender: o bem e o mal, o certo e o errado, o belo e o feio, amor e raiva, a
dor e o alívio, entre outros. Por isso, aos poucos, a criança compreende o
mundo adulto do qual faz parte.
29
3.1 - O Livro de Histórias Infantis
Em se tratando do livro infantil, ele desempenha um importante papel na
formação dos valores e da afetividade da criança. Pois, em algumas histórias
observa-se a relação familiar, de separação, de crescimento pessoal, da morte
e das diferentes formas de poder, assim como há livros que falam de medos,
de amor, da dificuldade de ser criança, de carências, de descobertas, de
perdas, buscas e etc. Os livros também permitem que a criança observe não só
os padrões da língua escrita, mas também as imagens e seus significados, que
mostram comportamentos e atitudes, indicando diferentes formas de
representação de mundo e de realidade.
Não existe uma metodologia certa para a leitura de livros para as
crianças. Cabe ao professor ter disposição para dar mais esta atenção a elas.
Cada um descobre a sua própria maneira de explorar melhor à hora da leitura.
Aos poucos, a criança vai perceber que também se beneficia do que vem
escutando. É muito importante que o professor escolha livros que também o
encantem, só assim o levará com entusiasmo para a criança.
Observa-se que, tudo aquilo que é inventado pelas crianças em seu
universo precisa ser considerado fontes de incentivo e de inspiração para a
criação verbal, pois, o indivíduo está iniciando o seu processo de contato com
sua língua e com sua cultura. De maneira que é importante, o ouvir e contar
histórias, para que as emoções sejam vivenciadas de forma clara, estimulando
e fortalecendo a construção do imaginário.
Considera-se, que o ato de ler abre novas perspectivas à criança,
permitindo que ela se posicione perante a realidade com discernimento crítico,
sendo o primeiro passo no caminho de conhecimentos mais amplos. Ler para
se tornar um ser humano com potencial, pois quem lê se expressa melhor,
escreve melhor e se destaca dos demais.
30
O que Cademartori (1995) complementando diz:
“... a leitura será eficaz na medida em que o leitor, a partir
dela, puder corrigir projeções antigas e superar
experiências passadas, experimentando algo novo que,
até então, não pertencia às suas expectativas. Tal
conceito de leitor se apóia numa concepção de leitura
como agente de mudança, móvel de reordenações de
vivências e estimuladora do senso crítico.” (p.82 - 83)
Como afirma Teberosky (2008), que quando a leitura de um livro é
partilhada com crianças da educação infantil, cria-se não apenas uma
atividade de deleite, todavia se estabelece um importante momento de
aprendizagem. E ainda, fornir os espaços onde estão às crianças com histórias
ou outras tipologias textuais (poemas, jornais etc.) acaba sendo uma condição
fundamental que vai favorecer o acesso à língua escrita e a motivação da
vontade de aprender a ler.
Teberosky (2003) falando com relação ao ato de ler histórias para
crianças dos quatros aos cinco anos, através de uma leitura compartilhada
sugere uma maior complexidade linguística e cognitiva.
De acordo com os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil (RCNEI), publicado no ano de 1998 pelo MEC, a aprendizagem da
linguagem escrita é: “um processo de construção de conhecimento pelas
crianças por meio de práticas que tem como ponto de partida e de chegada o
uso da linguagem e a participação nas diversas práticas sociais de escrita”.
31
Aponta ainda que:
“As instituições e profissionais de educação infantil
deverão organizar sua prática de forma a promover as
seguintes capacidades nas crianças: (...) interessar-se
pela leitura de histórias; familiarizar-se aos poucos com a
escrita por meio da participação em situações nas quais
ela se faz necessária e do contato cotidiano com livros,
revistas, histórias em quadrinhos, etc.” (v.3, p. 122 e 131).
Diante de algumas obras literárias destinadas às crianças de zero a
quatro anos de idade, observa-se que elas possuem apenas grupos de
palavras e/ou poucas e simples frases. São livros coloridos e/ou possuem
muitas imagens e/ou fotos. Já os livros dedicados a leitores entre quatro a seis
anos apresentam maiores grupos de palavras organizados em um texto, sem
abrir mão dos mesmos estímulos visuais.
Acerca dessas ideias, pode-se pensar que a Educação Infantil não
necessita se preocupar com a alfabetização ‘propriamente dita’. Deve sim,
permanecer (mais) atenta em proporcionar para as crianças possibilidades de
interagir com livros, desenvolver e exercer práticas sociais que envolvam a
leitura. Iniciando nessa criança, o quanto antes seu processo de letramento;
disponibilizando material e momentos de leitura em sua rotina.
Hoje em dia, existe uma variedade de livros que estão disponíveis no
mercado e que são adequados para a faixa etária de 0 a 6 anos. Sendo
importante criar possibilidades para que a criança constitua-se como leitora e
descobrindo assim o mundo da escrita. Deste modo, o desenvolvimento da
escrita dar-se-á através dessa imersão no universo letrado.
32
3.2 - A Escola e a Literatura Infantil
A escola tem a responsabilidade de ensinar a língua escrita, o que
caracteriza desse modo a natureza formal desse ensino, ao contrário do que
ocorre com a apreensão e desenvolvimento da língua oral. A escola por sua
vez é também um local por excelência de práticas de leituras. Ela deve ser um
espaço de leitura, e com a devida mediação entre o professor e as crianças,
para que haja a leitura de diversos textos, como por exemplo: textos científicos,
jornalísticos, de propaganda, de ficção e não-ficção, de poesia, enfim, todos
aqueles que são recomendados na maioria dos currículos, principalmente na
Multieducação (documento oficial que norteia o trabalho pedagógico da
educação pública no município do Rio de Janeiro).
Para que se desenvolva uma competente leitura a escola deve se
preocupar em proporcionar ao aluno um espaço apropriado para tal. Um lugar
aconchegante, com cadeiras e mesas para estudo individual, mesas redondas
para estudo em grupo e também um local para aqueles que querem apreciar
um bom livro. Também poderão existir almofadas, pequenos sofás, tapetes ou
esteiras, de forma a proporcionar conforto ao leitor em um momento de lazer.
Com acervo variado (livros, jornais, periódicos, revistas, CDs, DVDs, pôsteres,
cartazes, fotografias, etc.) de fácil acesso, e que o aluno tenha liberdade, ou
seja, uma rica biblioteca. É importante que na organização do espaço dedicado
para leitura, o leitor se sinta acolhido. Segundo o documento ‘Política de
Formação de Leitores’ do Ministério da Educação, diz no que se refere ao
espaço de leitura:
“O ideal é que a escola tenha um local destinado ao
armazenamento de livros e de outros suportes impressos
que permita aos alunos vivenciar a experiência da leitura
em um espaço privilegiado como a biblioteca ou sala de
33
leitura. (...) Uma biblioteca bem organizada,
especialmente construída ou reformada para acolher
livros e seus leitores é, com certeza, o primeiro estímulo
para a leitura.” (2009, p. 09)
A biblioteca pode e deve ser um auxílio à leitura. Uma biblioteca voltada
para o público infantil precisa ser muito mais que um local meramente de
leitura, tem que ser um espaço onde ouvir histórias seja uma brincadeira.
Despertando o quanto antes nas crianças o encanto e a importância de
frequentar esse ambiente. O espaço precisa ser convidativo e confortável,
permitindo que as crianças circulem e falem. Tem que ser um local de
interação onde o professor vai apoiar e compartilhar, ajudando a encontrar o
caminho para a futura leitura. O contato da criança com esse espaço contribui
para formar um conceito positivo da biblioteca em nossa sociedade, uma vez
que ela possui um papel importante na disseminação do saber.
Desenvolver projetos voltados para a formação do futuro leitor também é
aproximar ainda mais essa criança com o hábito de leitura. Onde seja
incorporado o uso de diferentes tipologias textuais, envolvendo, dentre as
múltiplas possibilidades que se apresentam: contação de histórias e rodas de
leitura; realização de oficinas (para alunos e professores); realização de
empréstimos do acervo; divulgação de informações culturais, dica de livros,
vídeos, sites, entre outros; promover encontros com autores; organização de
visitas a espaços culturais; desenvolvimento de estudos e pesquisas voltados
para a área de promoção da leitura e formação do leitor; organizar clube de
leitura e cineclube entre outros.
Contudo é importante salientar, como expressa Kramer (2001) muito
claramente a respeito do desenvolvimento do futuro leitor, já que se refere à
educação infantil:
34
“Os mediadores da leitura nem sempre estarão, portanto,
enraizados nos meios familiares, nas instituições
escolares. Muitas vezes, é em meio a outras situações,
culturalmente significativas, que o sujeito encontrará
alimento para seu pleno desenvolvimento como leitor.”
(p. 168)
Segundo Teberosky (2003) é importante saber que a leitura e a escrita
não são assuntos unicamente escolares, convêm que os pais e os avôs
compartilhem da futura alfabetização de seus filhos e netos auxiliando-os com
práticas de leitura. Contribuir mais diretamente através da leitura de histórias, e
também através da interação com a dramatização. Ler em voz alta para as
crianças pequenas, onde elas escutam, olham, indagam e respondem, são um
meio para que percebam as funções e a estrutura da linguagem escrita, e
podem a vir a ser, também, uma ponte entre a linguagem oral e a linguagem
escrita.
3.3 - A Literatura Infantil e o Professor
Compete ao professor exercer a função de mediador na relação entre a
criança e o livro infantil. Saber que criança é essa, quais são seus anseios,
seus questionamentos, suas vivências, o que se pretende com aquele ou este
livro. Segundo Oliveira (2008) “É na escolha consciente das obras a serem
lidas pelos alunos que começa o trabalho do professor.” (p. 34)
35
Oliveira (2008) afirma:
“Ao lidar com a Literatura Infantil em sala de aula, o
professor pode propiciar a relação dialógica com o aluno e
do aluno com sua cultura, (...), pois ao professor compete
criar condições para que ele lide com a história a partir de
seus pontos de vista, ante os fatos narrados, defendendo
posições e personagens, criando novas situações pelas
quais vai desdobrando a história original.” (p. 39)
A interferência do professor revela-se de extrema importância. Porém é
necessário que o professor seja também um leitor. O professor precisa ler para
que seus alunos possam ser possuídos pelo texto e assim se apaixonem pela
Literatura Infantil. A escola, por sua vez, representada na sala de aula pela sua
pessoa, tem essa responsabilidade: de fazer os alunos se apaixonarem não só
pela literatura, mas também pela leitura.
Selecionar materiais de leitura para as crianças implica em critérios, é
preciso levar em conta: compreensão leitora, os objetivos que se deseja
alcançar, as funções do texto, o desenvolvimento sócio-afetivo entre outros.
As obras devem abranger uma diversidade de gêneros, de acordo com a
proposta do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI).
O professor deverá pautar seu trabalho de modo que as crianças
tenham contato com uma diversidade de textos, permitindo que elas conheçam
diferentes estruturas textuais, ampliem seus vocabulários e venham a
enriquecer suas (futuras) produções textuais, obtendo melhor desempenho na
sua competência comunicativa. Propor uma leitura de textos e sua
interpretação coletiva, observando as relações que os alunos fazem entre suas
36
próprias impressões e as dos outros, saindo da leitura do texto para a leitura do
mundo e a ele retornando.
A criança que cresce ouvindo histórias infantis desenvolve seu
imaginário, se tornando pouco a pouco um leitor em potencial. Sendo assim, é
importante criar o hábito de leitura para crianças observando o processo da
mesma com o livro.
37
CONCLUSÃO
O presente trabalho considera imprescindível, para iniciar uma
alfabetização significativa ou letrada, que a criança realize desde a Educação
Infantil, atividades que as estimulem. Tais como: ouvir atentamente a leitura de
diferentes tipologias textuais, recontar histórias ouvidas pelos familiares ou
professor; manusear o alfabeto móvel, participar oralmente da produção de
textos individualmente ou em grupo, registrados pelo professor; entre outras.
O trabalho procurou ver que contribuições a Literatura Infantil trouxe
desde seu surgimento à educação. Quando surge a Literatura Infantil e logo
após, a escola, a ideologia que ambas possuíam era controlar o
desenvolvimento intelectual da criança, manipulando suas ideias e
sentimentos. Baseavam-se na concepção de infância que começava a surgir.
No entanto, a intenção pedagógica da Literatura Infantil, em suas
origens, apresenta um comprometimento na autonomia do campo de forma tão
pujante que, até hoje, pode-se observar as marcas de tal determinação
(artificialismo da linguagem, estrutura morfossintática reduzida, temas
pedagógicos e lições moralizantes, esquemas narrativos fáceis do tipo início-
meio-fim, entre outros).
Observou-se ainda, que a Literatura Infantil pode ser aproveitada como
recurso lúdico desenvolvendo na criança um comportamento prazeroso. No
entanto, é preciso tornar as crianças familiarizadas com os livros, orientando-as
quanto ao manuseio e à sua conservação, já que com as histórias elas
aprendem brincando a respeitar regras, se divertirem, seja através da imitação,
socialização, interação ou dificuldade a ser superada. Não se pode deixar de
citar a importância do imaginário na formação desse futuro leitor.
A criança lê (do seu jeito) bem antes de estar alfabetizada, manuseando,
folheando e olhando figuras, ainda que não identifique palavras, ela aprende
38
observando os gestos de leitura dos outros. É nesse momento que o professor
precisa estar mais atento. Proporcionando atividades que explorem e deixem
as crianças mais próximas da Literatura Infantil e, procurar sempre se atualizar
e acima de tudo gostar de ler.
Segundo a pesquisa bibliográfica observei que vários autores são
categóricos quando se referem ao prazer e o gosto pela leitura, que quanto
mais cedo o contato com a Literatura, maior será o sucesso com a formação
dos futuros leitores.
Infelizmente nos dias atuais, numa sociedade imediatista, onde a
televisão e os jogos eletrônicos ocupam grande parte do dia a dia da
população, principalmente das crianças, o professor tem um grande desafio
quando se trata de prazer pela literatura.
Portanto, a formação do futuro leitor, o desenvolvimento da sua
capacidade de ler e do gosto que ele apresentará pela leitura, supera os limites
escolares, porém é impossível dissociar instituição escolar e leitura, devido ao
nível de responsabilidade que essa instituição chamou para si com o
consentimento da sociedade.
A formação de um futuro-leitor pressupõe seu envolvimento em
situações significativas de leitura, em que o prazer de ler ocupe o lugar central.
Cabe ao professor buscar inserir democraticamente esse aluno em práticas
variadas, de modo que possa experimentar a leitura em diversos contextos e
de diversas formas.
39
BIBLIOGRAFIA
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Gostosuras e Bobices. São Paulo: Scipione, 1991.
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40
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Pereira – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica. 2ª
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RIO DE JANEIRO. Secretaria Municipal de Educação. Multieducação: Núcleo
Curricular Básico. Rio de Janeiro: 1996
RIO DE JANEIRO. Secretaria Municipal de Educação. Multieducação: Sala de
Leitura. (Série Temas em debate) 2ª ed. Rio de Janeiro, 2007
TEBEROSKY, Ana e COLOMER, Teresa. Aprender a ler e a escrever: Uma
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VYGOTSKY, L. Pensamento e Linguagem. Lisboa: Antídoto, 1979.
YUNES, Eliana. Literatura e Educação. In: KHÉDE, Sonia Salomão. Os
contrapontos da Literatura. Petrópolis: Vozes, 1984.
41
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
DEDICATÓRIA 03
RESUMO 04
METODOLOGIA 05
SUMÁRIO 06
INTRODUÇÃO 07
CAPÍTULO I
A LITERATURA INFANTIL E SEUS ASPECTOS 09
CAPÍTULO II
CARACTERÍSTICAS DE UMA OBRA LITERÁRIA INFANTIL 21
2.1 – Literatura Infantil Clássica 22
2.2 – Literatura Infantil Tradicional 24
2.3 – Literatura Infantil Contemporânea 25
CAPÍTULO III
A LITERATURA INFANTIL E A FORMAÇÃO DO FUTURO LEITOR 27
3.1 – O Livro de Histórias Infantis 29
3.2 – A Escola e a Literatura Infantil 32
3.3 – A Literatura Infantil e o Professor 34
CONCLUSÃO 37
BIBLIOGRAFIA 39
ÍNDICE 41
42
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição:
Universidade Candido Mendes
Pós-Graduação “Latu Sensu” Instituto A Vez do Mestre
Título da Monografia:
“A Literatura Infantil e sua Importância na Formação do Pequeno Leitor”
Autor: Lussandra Thimóteo Corrêa
Data da entrega: 23/07/2010
Avaliado por: Mary Sue Pereira Conceito: