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UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO
PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO
SIMONE APARECIDA SILVA ANGELO BASSOTTO
OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELOS ALUNOS DO
CURSO DE PEDAGOGIA PARA INSERÇÃO NO ENSINO
SUPERIOR
SÃO PAULO
2012
SIMONE APARECIDA SILVA ANGELO BASSOTTO
OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELOS ALUNOS DO
CURSO DE PEDAGOGIA PARA INSERÇÃO NO ENSINO
SUPERIOR
Dissertação apresentada como exigência para a obtenção do título de Mestre em Educação, junto à Universidade Cidade de São Paulo – UNICID sob a orientação da Profª. Drª. Ecleide Cunico Furlanetto.
SÃO PAULO
2012
Ficha Elaborada pela Biblioteca Prof. Lúcio de Souza. UNICID
B322d
Bassotto, Simone Aparecida Silva Angelo.
Os desafios enfrentados pelos alunos do curso de pedagogia para inserção no ensino superior. / Simone Aparecida Silva Angelo Bassotto. --- São Paulo, 2012.
141 p.; anexos.
Bibliografia
Dissertação (Mestrado) – Universidade Cidade de São Paulo - Orientadora: Profa. Dra. Ecleide Cunico Furlanetto.
1. Ensino superior. 2. Curso de pedagogia. 3. Formação docente. 4. Aprendizagem de adultos. I. orient. II. Título.
CDD 378
SIMONE APARECIDA SILVA ANGELO BASSOTTO
OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELOS ALUNOS DO CURSO DE
PEDAGOGIA PARA INSERÇÃO NO ENSINO SUPERIOR
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Educação da Universidade Cidade de São Paulo, como requisito exigido para a obtenção do título de Mestre.
Área de concentração:
Data da defesa:
Resultado:_________________________________________
BANCA EXAMINADORA:
Profa. Dra. Ecleide Cunico Furlanetto ______________________________ Universidade Cidade de São Paulo
Prof. Dr. Jair Militão da Silva ______________________________ Universidade Cidade de São Paulo
Profa. Dra. Marília Claret Geraes Duran ______________________________ Universidade Metodista de São Paulo
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho ao meu querido esposo Daniel, que sempre me
apóia nos momentos em que a vida exige mais de mim, me incentivando
a caminhar com mais intensidade ao invés de desistir.
Ao meu filho Natanael Isaac que sempre me espera com um sorriso, o
que me dá forças para continuar depois das batalhas e dos
enfrentamentos diários, que enquanto eu estudo pega seus livros de
literatura infantil, e fica à minha volta lendo e brincando.
À minha querida mãe Jaci, que com seu amor e dedicação me
acompanha com alegria, e que sempre profere palavras de ânimo e de
conquistas.
Aos que amam a vida e fizeram a escolha de percorrer o caminho da
busca pelo conhecimento.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por tudo que ele é e me faz ser na vida!
Agradeço à professora Dra. Ecleide Cunico Furlanetto, pelo acolhimento
com que fui recebida no primeiro dia que entrei em sua sala, à procura
de informações sobre um livro seu; pelas orientações que me
conduziram aos caminhos desta pesquisa; por ter, sempre, palavras que
respeitam e consideram os pensamentos do outro; e pela sabedoria e
excelência com que exerce a docência.
Ao professor Dr. Jair Militão da Silva, com quem eu aprendi que além de
conteúdos, uma aula pode nos trazer alegria no convívio diário com os
colegas; pela pessoa humana que é, pela escuta ativa que tem, pela
sabedoria ao expor seus conhecimentos, e por todas as vezes que me
incentivou a apresentar trabalhos e a realizar publicações, me fazendo
acreditar que eu poderia.
À professora Dra. Marília Claret Geraes Duran, que com sua experiência
profissional, contribuiu com seu olhar sábio, mostrando caminhos que eu
poderia percorrer para aprimorar este trabalho, para mim, seus
comentários e sugestões vieram como luz no momento necessário,
como ponte sobre as águas.
Aos professores do Programa de Mestrado da UNICID, que partilham
seus conhecimentos e experiências da docência que exercem.
Aos alunos do curso de Pedagogia, que participaram desta pesquisa
expressando suas dificuldades, tristezas, conflitos, alegrias e
realizações.
“Porque a um, pelo Espírito,
é dada a palavra da sabedoria;
e a outro, pelo mesmo Espírito,
a palavra da ciência;”
1 Coríntios 12:8
9
RESUMO
Este estudo teve por objetivo investigar os desafios enfrentados pelos alunos do curso de Pedagogia de duas Universidades da cidade de São Paulo ao ingressarem no Ensino Superior. Para isso estabeleceram-se diálogos com autores que possibilitaram ampliar os conhecimentos acerca dos processos formativos no Ensino Superior. Bauman (2007) trata dos assuntos relativos à velocidade dos acontecimentos que impulsionam os adultos a buscarem formação; Boutinet (1999) investiga desafios da vida adulta e seus enfrentamentos e Silva (2011) fala das novas camadas sociais que estão ingressando no Ensino Superior no Brasil. Autores como Libâneo (2004), Freire (1996) e Pimenta (2005), contribuem para ampliar a compreensão a respeito da formação do Pedagogo. O caminho metodológico pautou-se na abordagem qualitativa (BOGDAN E BIKLEM, 1999). Os sujeitos de pesquisa foram alunos do último semestre do curso de Pedagogia das duas Universidades. A coleta de dados baseou-se na técnica do grupo focal (GATTI, 2005). A análise dos dados foi realizada com base na análise do conteúdo (FRANCO, 2003). Os resultados mostram que os alunos tiveram dificuldades em diversas dimensões ao se inserir no ensino superior: dificuldades externas ao curso; dificuldades familiares e de ordem emocional; dificuldades relacionadas à estrutura física da Universidade; dificuldades com o curso e na relação com os professores; dificuldades com a aquisição de conhecimento teórico; e dificuldades com relacionamento interpessoal. Os resultados de pesquisa apontam para a necessidade dos Cursos de Pedagogia investirem no sentido de compreender e acolher seus alunos, para que eles possam realmente serem inseridos em suas atividades. Palavras-chave: Dificuldades de inserção na Universidade; Formação docente, Aprendizagem de Adultos, Curso de Pedagogia.
ABSTRACT This study aimed to investigate the challenges faced by students of the Pedagogy course at two Universities in São Paulo when joining College. Dialogues were established with authors who disclosed the complexities of higher education processes. . Bauman (2007) deals with matters relating to the speed of events that drive adults to seek training; Boutinet (1999) investigates the challenges of adulthood and its confrontations and Silva (2011) writes about the new social strata that are entering this level of education in Brazil. Authors like Libâneo (2004), Freire (1996) and Pimenta (2005), contribute to broaden understanding about the formation of the pedagogue. The methodology was based on a qualitative approach (BOGDAN E BIKLEM, 1999). The research subjects were students in their last semester of Pedagogy course of the two Universities. Data collection was based on focus group technique (GATTI, 2005). Data analysis was performed based on content analysis (FRANCO, 2003). Results showed that students had difficulties in several dimensions, when entering higher education: the ongoing external difficulties; family and emotional; difficulties related to the physical structure of the university; difficulties with the course and the relationship with teachers; difficulties with the acquisition of theoretical knowledge and difficulties with interpersonal relationships. The research
10
findings point to the need of Pedagogy courses invest in order to understand and accept their students so they can really be placed on their activities.
Keywords: Insertion difficulties at the University; Teacher Training, Adult Learning, School of Education.
11
LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Perfil dos alunos- Universidade 1- Grupo focal 1....................................42 Quadro 2 – Perfil dos alunos- Universidade 2- Grupo focal 2....................................43
12
Sumário
RESUMO....................................................................................................................09
ABSTRACT................................................................................................................09
INTRODUÇÃO...........................................................................................................14
1 ASPECTOS QUE ENVOLVEM A FORMAÇÃO ACADÊMICA.............................19
1.1 A vida adulta nas sociedades Contemporâneas..................................................19
1.2 Os processos formativos, educação e cultura no Ensino Superior......................21
1.3 A Universidade ....................................................................................................22
1.4 A necessidade de acolhimento............................................................................23
1.5 O adulto e a aprendizagem. ...............................................................................24
1.6 A inserção do aluno na Universidade...................................................................26
2 PEDAGOGIA E PEDAGOGOS – NUANCES DA PROFISSÃO...........................30
2.1 Quanto ao curso de Pedagogia: alguns marcos históricos..................................31
2.2 Estrutura do curso................................................................................................34
2.3 O pedagogo na contemporaneidade....................................................................36
3 OS CAMINHOS DA PESQUISA............................................................................38
3.1 Procedimento de coleta de dados........................................................................38
3.2 Contexto da pesquisa...........................................................................................40
3.3 Sujeitos da pesquisa............................................................................................40
3.4 Como se organizou o trabalho de coleta de dados..............................................41
4 ANÁLISE DE DADOS............................................................................................44
4.1 Dificuldades externas ao curso............................................................................45
4.2 Problemas familiares e de ordem emocional.......................................................48
4.3 Dificuldades com relação à estrutura física da Universidade e internet..............51
4.4 Dificuldades na relação com o professor e o curso.............................................56
13
4.5 Dificuldades com o conhecimento teórico............................................................64
4.6 Dificuldades de relacionamento interpessoal.......................................................72
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................82
REFERÊNCIAS..........................................................................................................86
ANEXOS....................................................................................................................90
Anexo A - Quadro para aquecimento do assunto......................................................91
Anexo B - Transcrições Grupo focal 1.......................................................................92
Anexo C - Transcrições Grupo focal 2.....................................................................116
Anexo D - Quadro de dificuldades- Grupo Focal 1..................................................132
Anexo E - Quadro de dificuldades- Grupo Focal 2..................................................135
Anexo F - Quadro de dificuldades- Grupos Focais 1 e 2.........................................138
14
INTRODUÇÃO
Iniciei minha trajetória no ensino superior em 1991 quando cursei Serviço
Social na UNICID. Muitos foram os processos de mudanças, os conflitos, os desafios
que enfrentei, principalmente, no que se refere às novas leituras de mundo que fui
estimulada a fazer e que me obrigaram rever ideias e valores.
Quando entrei na Universidade, senti-me entrando em outro mundo. Os
professores se expressavam de uma maneira diferente da que conhecia falavam a
respeito de assuntos distantes do meu cotidiano. Demorei um tempo para adquirir
um repertório que me permitisse participar das atividades desenvolvidas. Ao terminar
o curso, ingressei no mercado de trabalho atuando como Assistente Social por oito
anos. Com o passar do tempo, senti necessidade de voltar a estudar e procurei o
curso de Pedagogia em 2007, em uma faculdade em Curitiba.
Por causa da minha primeira formação, ganhei uma bolsa de monitoria. As
disciplinas que eram comuns aos cursos de Serviço Social e Pedagogia tiveram
equivalência, nessas disciplinas e também nas que havia concluído no próprio curso
de Pedagogia, pude atuar como monitora. Ao todo, atuei 860 horas em sala de aula
junto aos professores e alunos, e também prestei atendimento aos alunos fora de
sala.
Durante as aulas ministradas pelos professores, auxiliava os alunos em sua
organização e os ajudava na compreensão dos textos trabalhados, individualmente
ou em grupo. Nos horários de atendimento extraclasse, atendia os alunos que
solicitavam auxílio para melhor compreensão das atividades desenvolvidas nas
disciplinas.
Dentre as atribuições que tive, destacam-se o acompanhamento e orientação
aos alunos que apresentavam dificuldades de adaptação nos primeiros períodos do
curso. Tais dificuldades apareciam em diferentes áreas: compreensão e
interpretação de textos científicos, problemas de interação nos grupos de trabalho,
elaboração de trabalhos escritos e apresentações (individuais e em grupo).
15
As atividades realizadas foram leitura de textos acadêmicos, discussão em
grupo, resumos, resenhas, análise de artigos científicos, e elaboração de
apresentações referentes aos temas e textos propostos pelas disciplinas e também
conversas a respeito de relações interpessoais.
Percebi que os alunos com os quais trabalhei para se inserir no Curso
Superior, além de serem aprovados na seleção, necessitam se familiarizar com a
linguagem acadêmica, e compreender os desafios impostos pela nova etapa de
vida.
Este trabalho foi muito proveitoso, devido à oportunidade que tive de me
aproximar dos conteúdos das disciplinas, e de práticas pedagógicas diferenciadas.
Além de aperfeiçoar os conhecimentos teóricos, houve a possibilidade de construir e
valorizar relacionamentos interpessoais (professor-aluno-monitoria e Instituição).
Ao voltar para São Paulo, procurei dar continuidade à minha vida profissional
buscando o Mestrado em Educação. Apesar de ter observado o crescimento dos
alunos, algumas questões que emergiram no contexto da monitoria exigiam que eu
buscasse espaços para discuti-las. Entre elas uma se destacou: como os adultos
aprendem?
Cumpre salientar que essa questão torna-se cada vez mais pertinente, ao se
considerar que nas sociedades contemporâneas, aprender constantemente tornou-
se uma necessidade. A vida moderna faz com que o adulto tenha que passar por
processos de reorganização. No mestrado encontrei teóricos que aprofundam essa
temática. Bauman (2007), refere-se à modernidade líquida, e diz que na vida
moderna tudo passa muito rápido, o que hoje é sólido, logo pode não ser, e desta
forma, não dá para fazer previsões para um futuro certo, acabado, pois as incertezas
são constantes.
No enfrentamento das mudanças do cotidiano relacionadas à vida profissional
do adulto, Boutinet (1999) salienta a necessidade da aprendizagem:
16
Funções desligadas de uma aprendizagem interminável serão cada vez mais relegadas para a subalternidade, à desclassificação social. Quem deixa de aprender condena-se a ver-se ultrapassado, como quem numa autoestrada se vê força forçado a passar para uma faixa de menor velocidade. Nessa corrida desapiedada não há contemplações para os retardatários, os que desistiram de aprender. (BOUTINET, 1999, p. 07).
Nesse contexto, observa-se a ampliação da demanda pelos cursos
superiores. Os indivíduos percebem que para se situar em um mercado de trabalho
em constante transformação, necessitam de melhor formação e optam pelo caminho
universitário.
Soares (2002) enfatiza que a demanda por Ensino Superior no Brasil tem
aumentado, isso ocorre por conta de vários fatores, são eles: a quase
universalização do ensino fundamental, o aumento das taxas de promoção e
conclusão do ensino médio, e as exigências do mercado de trabalho. O adulto atual
vive em busca de aperfeiçoamentos constantes, almejando melhores condições de
trabalho e de vida. No entanto, observa-se que os alunos que se inserem no Ensino
Superior encontram inúmeras dificuldades que muitas vezes impedem que ele dê
sequência aos seus estudos.
Para realizar a revisão de literatura, investigou-se no banco de Teses da
Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) as
dissertações e teses de 2008 e 2009, utilizando-se dos descritores: aprendizagem
de adultos e inserção no ensino superior.
Em 2008, com o descritor aprendizagem de adultos, foram encontradas
setenta e oito (78) dissertações, quanto às teses de doutorado, foram localizadas
vinte e duas (22), excetuando uma dissertação de mestrado, todas as outras se
referiam à EJA (Educação de jovens e adultos); em 2009, encontrou-se noventa e
quatro (94) dissertações de mestrado e vinte e sete (27) teses de doutorado,
nenhuma delas abordava a aprendizagem de adultos no Ensino Superior.
17
Quanto ao descritor inserção no ensino superior, em 2008 foram encontradas
trinta (30) dissertações de mestrado, e doze (12) teses de doutorado; em 2009 foram
encontradas cinquenta e duas (52) dissertações de mestrado e dezesseis (16) teses
de doutorado, mas nenhum desses trabalhos estava relacionado à temática desta
investigação. Esses dados serviram como incentivo para a realização desta
pesquisa, na medida em que verificou-se que a temática da aprendizagem dos
adultos necessita ser melhor compreendida nas sociedades contemporâneas.
Nessa perspectiva, delineou-se o tema de pesquisa: Os desafios enfrentados
pelos alunos do curso de Pedagogia nos períodos de inserção no Ensino Superior. A
pesquisa assume como objetivo geral:
• Investigar os desafios enfrentados pelos alunos do curso de Pedagogia
de duas Universidades da cidade de São Paulo ao ingressarem no
Ensino Superior.
e como objetivos específicos:
• Estabelecer diálogos teóricos com autores que investigam a
aprendizagem de adultos e a profissão do pedagogo;
• Realizar grupos focais com alunos de Pedagogia de duas
universidades de São Paulo, com o intuito de identificar as dificuldades
enfrentadas por eles para se inserir no curso superior.
• Analisar os dados coletados com vistas a contribuir com novos
elementos para se pensar a inserção de alunos nos Cursos de
Pedagogia
Acredita-se que inicialmente a relevância dessa pesquisa se dá num âmbito
pessoal porque segue dando continuidade às observações e estudos realizados
como monitora e estudante de Pedagogia; mas, também é importante destacar a
relevância social e acadêmica dessa investigação, na medida em que visa contribuir
para a ampliação da compreensão dos processos de inserção de alunos no Curso
Superior.
18
O trabalho organiza-se em quatro capítulos: o primeiro trata de alguns
aspectos que envolvem a formação acadêmica, tem como objetivo mostrar algumas
questões importantes para a compreensão dos processos formativos no Ensino
Superior: a Universidade, os cenários da vida adulta e a aprendizagem para o
adulto.
No segundo capítulo faz-se uma reflexão sobre assuntos relacionados ao
curso de Pedagogia e a atualidade da profissão do Pedagogo, buscando-se
conhecer essa realidade.
No terceiro capítulo há uma descrição do caminho metodológico da pesquisa
caracterizada como qualitativa, pois se aprofundam em dados recolhidos relativos às
pessoas, locais e conversas (BOGDAN E BIKLEN, 1999), se utilizando do trabalho
com grupos focais (GATTI, 2005) como procedimento de coleta de dados.
No quarto capítulo realizou-se a análise de dados, com base na análise do
conteúdo (FRANCO, 2003), que considera a mensagem verbal dentro de um
contexto, com suas relações e significados.
19
1. ASPECTOS QUE ENVOLVEM A FORMAÇÃO ACADÊMICA
1.1 A vida adulta nas sociedades contemporâneas
Uma das questões a serem consideradas nesse trabalho é a configuração da
vida adulta nas sociedades contemporâneas, na medida em que a entrada na
Universidade para muitos significa também a entrada na vida adulta. Estudos atuais
têm demonstrado que a idade adulta, outrora considerada um estágio no qual o
sujeito alcançava a maturidade, no qual era capaz de assumir as responsabilidades
que a sociedade lhes impunha, hoje é considerada um problema a ser resolvido.
(BOUTINET, 1999). A imagem de um adulto pronto e acabado foi se desfazendo e
aos poucos, substituída a de um sujeito inacabado em processo de construção.
A sociedade atual oferece desafios constantes que devem ser enfrentados
pelos adultos, as incertezas permanentes delineiam a vida adulta. Na sociedade
pós-industrial, o adulto tem encontrado dificuldade para se organizar e organizar sua
vida. Boutinet (1999) descreve alguns enfrentamentos do sujeito contemporâneo:
• O adulto nos limites de si próprio: O sujeito necessita encontrar respostas e
estratégicas para enfrentar situações que são extremas.
• O adulto em metamorfose cognitiva: o sujeito necessita reordenar suas
aprendizagens e é pressionado a tomar decisões e a realizar projetos
individuais.
• O adulto mal reconhecido: na cultura pós-moderna o adulto não se sente
reconhecido na sua singularidade. Mesmo com os avanços pós-industriais
que se voltam para políticas de participação, os adultos passam por
desilusões experimentando um sentimento de inutilidade social e pessoal.
• O sujeito à prova de idade: o adulto que envelhece, mas encontra uma
sociedade que não aceita o envelhecimento, e por conta disso há uma
rejeição da idade.
20
Em não se podendo mais contar com um padrão de representações do que é
ser adulto, como ofereciam as sociedades anteriores, o sujeito atual traça seu
próprio caminho, em meio à flexibilidade, incerteza e vulnerabilidade. “[...] Somos
realmente levados a ver a vida adulta em termos de itinerário de vida, face às
desestabilizações do ambiente, com as quais essa vida adulta precisa se harmonizar
sem cessar. [...]” (BOUTINET, 1999, p. 158). Nos contextos atuais, o adulto frente às
mudanças pode se disponibilizar a enfrentá-las, contando para isso com recursos
pessoais, ou resistir a elas. As mudanças implicam em rupturas em relação às
adesões antigas, o que provoca a necessidade de novas adesões. Nessa mesma
direção, Bauman (2007) salienta que:
A “vida líquida” e a “modernidade líquida” estão intimamente ligadas. “A vida líquida é uma forma de vida que tende a ser levada adiante numa só sociedade líquido moderna. Líquido moderna é uma sociedade em que as condições sob as quais agem seus membros mudam num tempo mais curto do que aquele necessário para a consolidação, em hábitos e rotinas, das formas de agir. A liquidez da vida e da sociedade se alimentam e se revigoram mutuamente. A vida líquida assim como a sociedade líquido moderna, não pode manter a forma ou permanecer por muito tempo. (BAUMAN, 2007, p. 07).
O adulto se vê envolto por preocupações tais como: não dar conta dos
movimentos constantes, medo de não acompanhá-los, ficar para trás; e por isso,
todos correm o tempo todo como se necessitassem livrar-se das coisas, antes
mesmo de adquiri-las. Largar o “tudo” sem alcançar o “tudo” passa a ser habitual, o
que provoca uma sucessão de reinícios. (BAUMAN, 2007).
Para Bauman (2007), é neste cenário em transformação, onde tudo se
modifica e não há lugar para o apego, onde a vulnerabilidade se torna cada vez mais
presente e o consumo se mostra como um dos marcadores de identidade, que o
adulto vai traçar seus próprios caminhos buscando construir sua história de vida e
sua identidade profissional. Ele percebe que há necessidade de superação dos seus
limites para vencer cada dificuldade que apareça. A insegurança do momento faz
com que a coragem seja aguçada, como fator propulsor da transposição dos
obstáculos.
21
1.2 Os processos formativos, educação e cultura no Ensino Superior
Os processos formativos envolvem diversas áreas da vida humana. É
possível perceber que há um envolvimento do adulto cada vez maior com a
educação, e cada vez mais, o Ensino Superior se torna responsável pela formação
de parcelas da sociedade. As exigências do mercado de trabalho (SOARES, 2002)
têm contribuído para que isso ocorra.
Segundo Jair Militão da Silva (2011), em seu artigo: “Caminhos para a
democratização do acesso, permanência e aprendizagem na universidade”, há um
ingresso de alunos oriundos de camadas sociais, menos favorecidas no Ensino
Superior, esses acesso é alcançado com sacrifícios pessoais, gastos com
alimentação transporte, materiais, e mensalidades. Zabalza (2004) também se refere
à democratização do acesso no Ensino Superior:
Hoje em dia, a educação superior já não é mais privilégio social para poucas pessoas (normalmente provenientes da classe social média alta), mas que com exceções, se transforma em aspiração plausível para camadas cada vez mais amplas da população. Essa abrangência ocorre não apenas em sentido horizontal (jovens de diferentes classes sociais e de diferentes localizações geográficas), mas também em sentido vertical (indivíduos de diferentes faixas-etárias começam ou continuam seus estudos). (ZABALZA, 2004, p.182).
Depreende-se que a educação tem sido um dos meios pelos quais as
pessoas acreditam ser possível ascender profissionalmente. Sabe-se, no entanto,
que nem sempre isso ocorre, melhor dizendo, o sucesso profissional não depende,
somente de um curso superior.
No momento em que se encontra a sociedade brasileira, há necessidade de
se refletir sobre as questões culturais, econômicas e sociais que chegam ao Ensino
Superior por meio das novas camadas que se inserem nesse nível de educação. As
dificuldades que aparecem em sala de aula podem ser indicadores de questões
culturais mais amplas. Silva (2011) fala sobre a cultura:
Cultura pode ser entendida como a maneira de produzir a vida e seus significados. No relacionamento com a natureza, consigo
22
própria e com os demais seres humanos, cada pessoa aprende a melhor maneira de viver em certo ambiente. Esta maneira pode ser considerada a melhor se resiste ao longo do tempo como forma adequada de garantir a vida individual e do grupo em um dado ambiente. (SILVA, 2011, p.40).
O aluno que ingressa no Ensino Superior traz consigo traços culturais,
econômicos e sociais que foram construídos em suas vivências e se depara com
uma nova realidade que demanda outras competências e comportamentos. Para
alguns, a passagem para este nível de ensino pode ocorrer de maneira tranquila,
mas, para outros, podem surgir conflitos a serem superados no próprio processo
educativo ao longo do curso que o aluno escolheu. Essa superação se faz
necessária, caso contrário o aluno não será capaz de usufruir de seu curso
encontrando dificuldades para até mesmo finalizá-lo.
1.3 A Universidade
Entende-se a Universidade como um espaço de desenvolvimento humano
que se propõe a trabalhar com diversas dimensões da formação profissional. Para
Pimenta (2005):
A universidade, enquanto instituição educativa configura-se como serviço público de educação que se efetiva pela docência e investigação tendo por finalidades: a criação, o desenvolvimento, a transmissão e a crítica da ciência, da técnica e da cultura; a preparação para o exercício de atividades profissionais que exijam a aplicação de conhecimentos e métodos científicos e para a criação artística; o apoio científico e técnico ao desenvolvimento cultural, social e econômico das sociedades. (PIMENTA, 2005, p. 40).
Aos objetivos da Universidade integram-se os dos alunos, porém nem sempre
esse processo ocorre de forma tranquila. Silva (2011) fala sobre a necessidade de
confluência entre os objetivos organizacionais e pessoais. Para o autor, a
Universidade, para integrar os alunos, deve trabalhar ou considerar as necessidades
reais dos alunos, caso contrário não poderá desenvolver com eles um trabalho
pedagógico eficaz.
Zabalza (2004) faz referência a um crescente processo de massificação no
Ensino Superior e à concentração de alunos em determinados cursos, o autor fala,
23
também, de algumas questões a serem pensadas com relação ao aumento de
alunos na Universidade:
Ao citar a massificação, não nos referimos apenas ao aumento no número de estudantes, já que outras variáveis são atingidas de maneira direta ou indireta pela quantidade de alunos em sala de aula. Pensemos, por exemplo: - na necessidade de atender a grupos muito grandes; - na maior heterogeneidade dos grupos; - na pouca motivação pessoal para estudar; - na necessidade de contratar novos professores ou de fazê-los iniciar no magistério antes mesmo de estar em condições ideais para isso (estagiários, monitores, pessoal sem experiência docente nem preparação pedagógica); - no retorno aos modelos clássicos da aula para grupos com muitos alunos frente à possibilidade de implementar um procedimento mais individualizado; - na menor possibilidade de responder às necessidades específicas de cada aluno; - na menor possibilidade de organizar (planejar e fazer o acompanhamento), em condições favoráveis, os períodos de práticas em contextos profissionais. (ZABALZA, 2004, p.182).
Para Zabalza (2004), a massificação implica no surgimento de alguns
empecilhos para introdução de renovações, porque quando as Universidades
possuem um número muito grande de alunos, os professores e a Instituição
renunciam ao ensino de qualidade. O mesmo autor diz que:
Busca-se apenas “sobreviver” e vencer os obstáculos esperando que só os alunos mais capacitados ou mais motivados superem a barreira das primeiras disciplinas, tornando, desse modo, mais suportável a situação nas futuras disciplinas. (ZABALZA, 2004, p.183).
A qualidade no Ensino Superior requer atenção, pois ao mesmo tempo em
que se verifica o crescimento desse nível de ensino, percebe-se que surgem
situações que necessitam ser repensadas com relação a sua qualidade.
1.4 A necessidade de acolhimento
24
O acolhimento do aluno ingressante no espaço universitário é algo que
favorece o seu processo de pertencimento, pois uma vez que ele se sinta pertencer
à Universidade terá mais facilidade em superar desafios. Silva (2011) diz que:
A identidade de uma pessoa contrói-se pelo seu pertencer concreto a um grupo que comunica uma visão de si e do mundo; é o processo educativo atuando na constituição de seres humanos aptos ou inaptos para a vida democrática. A escola desempenha papel marcante nessa formação (SILVA, 2011, p.42).
Cabe à Universidade, como espaço formativo, propiciar ao aluno um ambiente
no qual ele possa interagir com os professores, com os colegas e com os conteúdos,
para que se torne possível alcançar os objetivos educacionais, tanto da universidade
como do aluno. A realização de estudos e reflexões sobre o ingresso de alunos no
Ensino Superior é sem dúvida necessária, para se entender e superar as
dificuldades apresentadas por eles para se integrar à Universidade.
1.5 O adulto e a aprendizagem
Pensar em como o adulto aprende, nos leva num primeiro momento a buscar
um significado para a palavra aprender. Placco e Souza (2006), falam que na
procura por esta definição, encontraram em vários dicionários, significados
semelhantes e sempre relacionados à aquisição do conhecimento, ao estudo ou
implicação.
Claudia Danis (1998), professora agregada ao departamento de
psicopedagogia na Universidade de Montreal, diz que são poucas as pesquisas
científicas que tratam dos processos de aprendizagem dos adultos, a maioria delas
investiga a aprendizagem de crianças e adolescentes. As investigações que têm
como tema a aprendizagem de adultos destacam que os adultos não têm a mesma
plasticidade para aprender que as crianças, eles selecionam suas aprendizagens e
escolhem aprender o que tem sentido para eles. Furlanetto (2010), fala sobre a
aprendizagem de adultos, se referindo às diferenças que existem com relação à
aprendizagem das crianças:
Os adultos, ao contrário, são portadores de cultura o que os torna mais singulares, críticos e seletivos em relação às novas
25
aprendizagens. Muitas vezes, o novo não acrescenta, mas questiona o que o adulto já sabe, exigindo que transforme suas crenças e idéias. Em tais situações, é necessário desaprender para aprender, o que não se configura tarefa fácil [...] (FURLANETTO, 2010, p. 96).
A afirmação da autora acima citada remete ao pensamento de que a
aprendizagem na vida adulta requer disposição da parte do adulto para participar
dos movimentos que o levam a aprender.
Placco e Souza (2006), ao investigar a aprendizagem do adulto professor,
mencionam fatores internos e externos que influenciam a aprendizagem do adulto:
Identificamos fatores e motivos internos que influenciam nossa
aprendizagem, como: desejo, interesse, compromisso, necessidade, curiosidade, disciplina, gosto pelo que faz, dimensionamento da tensão, preconceito, teimosia, emoções, vínculos, entusiasmo, alegria, euforia e determinação.
Reconhecemos também fatores e motivos externos que interferem
no processo, como: ajuda mútua, organização e sistematização da situação e do conteúdo, exigência de rigor, diversidades de campo de atuação, amplitude e diversidade exigidas, natureza do conhecimento, desafio permanente, contexto sociopolítico-pedagógico, respeito à diversidade cultural, entre outros, que facilitam e medeiam essa aprendizagem. (PLACCO e SOUZA, 2006, p.18).
Nota-se nas afirmações de Placco e Souza (2006), que o processo de
aprendizagem do adulto é complexo por envolver aspectos variados, que
necessitam de interação entre eles. Entende-se que é nesse processo de interação
que a aprendizagem ocorrerá. As mesmas autoras falam de quatro aspectos
importantes característicos da aprendizagem dos adultos:
• A experiência: como ponto de partida e de chegada da aprendizagem,
acredita-se que, as experiências anteriores vivenciadas influenciarão as
novas aprendizagens;
• O significativo: no processo de aprendizagem de adultos há uma interação de
significados cognitivos e afetivos;
• O proposital: que é algo que o adulto precisa alcançar, desenvolver, que o faz
se mobilizar para tal;
26
• A deliberação: a condição que o adulto tem de fazer escolhas com relação a
sua própria sua aprendizagem.
Esses aspectos merecem destaque nos processos formativos do adulto, uma
vez conhecidos podem ser utilizados para aprimorar tais processos, na tentativa de
favorecer o desenvolvimento do adulto.
Nota-se que nos processos formativos, a aprendizagem ocupa um espaço
importante e necessário na vida do adulto, na medida em que ela possibilita a
construção de novos significados para o enfrentamento das problemáticas
relacionadas aos movimentos constantes. Dominicé (2006), afirma que a pluralidade
biográfica, a perda de referências culturais e o confronto entre gerações no mundo
contemporâneo, fazem com que a formação do adulto esteja focada naquilo que lhe
é significativo e relaciona-se com sua própria trajetória de vida.
Para Boutinet (1999), a postura de aprendiz do adulto nasce das
necessidades que ele tem de se ajustar às mudanças cotidianas, é por isso que o
adulto necessita tornar-se sujeito da sua história, para fazer as escolhas que lhe
permitam desenvolver-se. A aprendizagem, nessa perspectiva, é vista como meio
para o desenvolvimento profissional e pessoal, ela ocupa um espaço de destaque na
pós-modernidade.
1.6 A inserção do aluno na Universidade
Cumpre destacar mais uma vez, que os alunos que ingressam no Ensino
Superior são adultos, este fato aponta para a necessidade de um olhar diferenciado
para este nível de ensino. É importante considerar características próprias do aluno
adulto, para se pensar em como esses alunos podem enfrentar os desafios no
processo de aprendizagem e permanecer na Universidade. Zabalza (2004) salienta:
[...] Podemos dizer com razão, que uma característica fundamental dos estudantes universitários é que são sujeitos adultos, ao menos legalmente, em total posse de sua capacidade de decisão. Dessa condição geral, derivam outras várias que tem grande relevância ao se desenvolver o trabalho da universidade. (ZABALZA, 2004, p. 187).
27
Ao entrar no Ensino Superior, o aluno carrega suas experiências de
aprendizagem que podem favorecer, ou não, sua entrada e permanência. Sua
aderência a esse nível de ensino, ocorre em meio a situações complexas que
articulam suas experiências anteriores ás novas que precisa viver. Alain Coloun
sociólogo, professor de ciências da educação na Université Paris 8, alerta para a
importância de se compreender cada vez mais os desafios existenciais enfrentados
por aqueles que buscam o Ensino Superior: “Trata-se de um ensino que se dirige a
adultos e, exatamente por isso, problemas particulares se colocam e deveriam ser
estudados [...]”. (COLOUN, 2008, p. 33).
Coloun salienta, também, que o aluno ao entrar na Universidade precisa
aprender seu novo ofício: o de estudante universitário, apesar desse ofício ser
provisório e de ter duração de alguns anos.
“A entrada na vida universitária é como uma passagem: é necessário passar do estatuto do aluno ao de estudante”. Como toda passagem, ela necessita de uma iniciação[...]. Eu entendo por filiação o método através do qual alguém adquire um status social novo. (COLOUN, 2008, p.32).
É preciso aprender a ser estudante universitário, para que as vivências
cotidianas e as exigências da formação em nível superior impulsionem o aluno
ingressante. Quando o aluno passa a ser estudante do Ensino Superior, é porque foi
reconhecido em suas competências, ele conseguiu legitimar os saberes que
adquiriu; mas isso não garante sua permanência que depende de sua adaptação às
novas condições, caso isso não ocorra, ele corre o risco de fracassar.
Se o fracasso e o abandono são numerosos ao longo do primeiro ano é precisamente porque a adequação entre as exigências acadêmicas, em termos de conteúdos intelectuais, métodos de exposição do saber e dos conhecimentos e os hábitos dos estudantes, que são ainda alunos, não aconteceu. (COLOUN, 2008, p.32).
É preciso conhecer os códigos do Ensino superior, é necessário haver um
processo de aprendizagem com relação à Instituição, sua cultura e suas rotinas.
28
Coloun (2008) descreve três tempos vivenciados pelo aluno ao ingressar no ensino
universitário:
A entrada na universidade pode ser analisada como uma passagem, no sentido etnológico do termo, que eu proponho considerar em três tempos:
- O tempo do estranhamento, ao longo do qual o estudante entra em um universo desconhecido, cujas instituições rompem com o mundo familiar que ele acaba de deixar; - O tempo da aprendizagem quando ele se adapta progressivamente e onde uma acomodação se produz;
- E por fim, o tempo da filiação que é o do manejo relativo das regras identificado especialmente pela capacidade de interpretá-las ou transgredi-las. (COLOUN, 2008, p.32).
Quando Coloun (2008) fala a respeito do tempo do estranhamento refere-se
no aluno que ingressa num espaço que para ele é novo, chamado Universidade, e
que necessitará de um tempo para assimilar e se dar conta das novas regras que
farão parte de sua vida enquanto estiver ali.
O tempo da aprendizagem remete a um processo de familiarização com o
novo mundo. Coloun (2008) diz que:
[...] Consiste em aprender os rudimentos do ofício: de debutante o estudante se torna aprendiz. Sua angústia inicial será sucedida com a familiarização progressiva com a Instituição, uma adaptação em relação aos códigos locais e pelo início do trabalho intelectual, que devem, em princípio, levá-lo a se tornar um membro competente da comunidade universitária e a ser reconhecido como tal. (COLOUN, 2008, p.151).
A afirmação do autor acima citado, faz com que se perceba que os caminhos
de aprendizagem os quais o aluno universitário tem que percorrer, não são só
cognitivos, além desses, existe todo uma cultura que ele precisa compreender para
nela transitar e ser reconhecido.
O tempo da filiação faz com que o estudante se torne um membro do Ensino
Superior, ele se estabelece quando o ambiente não é mais hostil, as regras já foram
29
de alguma maneira internalizadas, e o estudante está familiarizado com a vida social
e intelectual. Esse tempo faz menção a um aluno que conseguiu se adaptar ao novo
mundo no qual se inseriu.
30
2 PEDAGOGIA E PEDAGOGOS: NUANCES DA PROFISSÃO
A Pedagogia pode ser compreendida de diferentes maneiras, em Libâneo, no
entanto, encontramos uma conceituação que permite uma aproximação do sentido
da Pedagogia e de seus objetivos:
A Pedagogia, mediante conhecimentos científicos, filosóficos e técnico-profissionais, investiga a realidade educacional em transformação, para explicitar objetivos e processos de intervenção metodológica e organizativa referentes à transmissão/assimilação de saberes e modos de ação. Ela visa ao entendimento global e intencionalmente dirigido, dos problemas educativos e, para isso, recorre aos aportes teóricos providos pelas demais ciências da educação. (LIBÂNEO, 2004, p. 32).
Considerando que a Pedagogia investiga a realidade educacional pensou-se
ser importante compreender o que é Educação. Brandão (2007) mostra que devido a
amplitude dos processos educativos não podemos falar de Educação no singular,
mas de Educações:
Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na Igreja ou na escola, de um modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela. Para aprender, para ensinar, para aprender e ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação. Com uma ou com várias: educação? Educações. [...] não há uma forma única nem um único modelo de educação, a escola não é o único lugar em que ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é a única prática, e o professor profissional não é seu único praticante [...] (BRANDÃO, 2007, p.09).
A Educação faz parte da sociedade, está ligada à vida do homem e envolve
muitos aspectos do cotidiano. Os processos educativos acontecem de maneira
variada e se manifestam em diferentes atividades, tais como: sociais, políticas,
econômicas, religiosas, familiares e escolares. Segundo Libâneo:
A educação associa-se, pois, a processos de comunicação e interação pelos quais os membros de uma sociedade assimilam saberes, habilidades técnicas, atitudes, valores existentes no meio culturalmente organizado e, com isso, ganham o patamar necessário para produzir outros saberes, técnicas, valores etc. É intrínseco ao ato educativo seu caráter de mediação que favorece o desenvolvimento dos indivíduos na dinâmica sociocultural de seu grupo, sendo que o conteúdo dessa mediação são os saberes e
31
modos de ação. (LIBÂNEO, 2004, p. 32).
Para Libâneo (2004), a Pedagogia é um campo de conhecimento da
totalidade e da historicidade da problemática educativa, o que com certeza abarca
um conjunto de ações, processos, influências, estruturas que envolvem o
desenvolvimento do indivíduo e de grupos de indivíduos. É através da educação que
o ser humano assimila saberes habilidades, técnicas, atitudes e valores, dessa
forma, o ato educativo está permeado por interações e ações que lhe são próprias,
mas, que podem ser produzidas, reproduzidas, e/ou transformadas. Nessa
perspectiva a formação do Pedagogo e suas possibilidades de atuação se alargam:
Por sua vez, pedagogo é o profissional que atua em várias instâncias da prática educativa, direta ou indiretamente ligadas à organização e aos processos de transmissão e assimilação de saberes e modo de ação, tendo em vista objetivos de formação humana previamente definidos em sua contextualização teórica. (LIBÂNEO, 2004, p. 33).
Há necessidade de que o profissional (pedagogo) se torne um pesquisador,
curioso, democrático (FREIRE, 1996), altamente observador de sua prática, para
que a mesma seja mutável e aperfeiçoada e dessa forma possa atuar em diferentes
contextos profissionais. Convém lembrar que para Freire (1979), o educador está no
mundo e com o mundo, o que significa que é um ser capaz de relacionar-se, e
quando compreende sua realidade pode levantar hipóteses sobre ela e buscar
soluções para a mesma. Cabe ao pedagogo o conhecimento da realidade, para que
possa nela intervir. É a partir da compreensão do que é Educação, que se busca
entender o papel do pedagogo, suas atribuições e caminhos para alcançar uma
prática condizente com a realidade na qual se trabalha.
2.1 Quanto ao curso de Pedagogia: alguns marcos históricos
O curso de Pedagogia foi instituído no Brasil em decorrência da organização
da Faculdade Nacional de Filosofia do Brasil, com base no decreto-lei nº 1.190 de 4
de abril de 1939, para preparação de docentes, (técnicos de educação, professores
para o ensino secundário e para as escolas normais). (CRUZ, 2011).
Segundo Daniele Saheb (2008), professora da Pontifícia Universidade
32
Católica do Paraná, e pesquisadora da formação docente:
Por esse decreto Lei criava-se a seção Pedagogia que pretendia formar profissionais do ensino médio e a técnica em educação, ou seja, formando licenciadas e bacharéis. Para tanto, seguia a fórmula que foi conhecida como o esquema 3+1 no qual as disciplinas de conteúdo específico tinham duração de 3 anos e as disciplinas pedagógicas, justapostas às específicas, eram cursadas no último ano. Formava-se nos 3 primeiros anos, a bacharel e no quarto ano, era-lhe conferido o diploma de licenciada. (SAHEB, 2008, p. 10).
Para Giseli Barreto da Cruz (2011) professora adjunta da Faculdade de
Educação da Universidade do Rio de Janeiro e pesquisadora da história e formação
do curso de Pedagogia no Brasil, o Decreto Lei n.º 1.190 de 4 de abril de 1939, é o
primeiro marco legal do curso de Pedagogia, que decorre da necessidade de
estabelecer definições para as bases de formação de professores. O curso de
Pedagogia permaneceu organizado conforme o Decreto Lei acima citado, por vinte e
três anos.
Em 1960 surgem questionamentos com relação às especificações da atuação
do Bacharel em Pedagogia, havia a necessidade de encontrar definições para sua
identidade, e conteúdos elaborados para o curso. (SAHEB, 2008).
Em 1961 a educação básica no Brasil cresceu, e como consequência em
1962 o Conselho Federal de Educação (CFE) aprovou o parecer n.º 251, de 1962,
que reformula o currículo do curso de Pedagogia (SAHEB, 2008). Cruz (2011),
afirma que este parecer é o segundo marco legal do curso de Pedagogia, que
estabeleceu um currículo mínimo e duração com relação ao bacharelado.
Estabeleceu-se assim, o período de 4 (quatro) anos tanto para Bacharel
quanto para Licenciado, o Licenciado seria o professor para a escola normal e o
Bacharel para a escola técnica. Até 1969 a estrutura do curso permaneceu a mesma
(SAHEB, 2008).
Em 1969 o parecer do Conselho Federal de Educação (CFE) n.º 252, de 11
de abril de 1969, traz novas mudanças para o curso de Pedagogia. Cruz (2011)
menciona que esse é o terceiro marco legal do curso, e afirma:
33
Esse parecer foi acompanhado da Resolução CFE n.º 2/1969, que, tal como a anterior, se incumbiu de fixar o currículo mínimo e a duração do curso. Essa regulamentação manteve a formação de professores para o Ensino Normal e introduziu oficialmente as habilitações para formar os especialistas responsáveis pelo trabalho de planejamento, supervisão, administração e orientação, que se constituíram, a partir de então, como um forte meio de identificar o pedagogo. As habilitações Orientação Educacional, Administração Escolar, Supervisão Escolar, Inspeção Escolar, além do magistério para o Ensino Normal, foram amplamente difundidas, tornando-se nucleares para o curso ao longo de grande parte de sua trajetória. (CRUZ, 2011, p.47).
Segundo Saheb (2008) em 1969 o curso foi reorganizado, e a distinção entre
bacharelado e licenciatura, deixou de existir: passou-se a ter um diploma único que
se refere à formação de professores para o ensino normal, e especialistas para
habilitações específicas, como: orientação, administração, supervisão e inspeção
escolar.
Quanto à reorganização, mesmo extinguindo a distinção entre bacharelado e
licenciatura, o curso continuou em duas partes separadas: uma parte representada
pelas disciplinas dos fundamentos da educação e a outra pelas disciplinas das
habilitações específicas (SAHEB, 2008).
Na década de 70, percebe-se que o curso de Pedagogia tinha identidade
fragmentada, o que provocava críticas dos profissionais da área e também havia a
necessidade de uma base comum nacional de ensino . Em 1980, as críticas e
reflexões deram lugar a um movimento realizado por professores, instituições
universitárias e organismos governamentais, que objetivavam a reformulação do
curso. Neste movimento, fica claro que, além da base comum nacional de ensino,
havia também a preocupação de que a docência fosse a base da formação. (CRUZ,
2011).
As discussões acerca da reformulação do curso de Pedagogia continuaram
nas décadas de 80 e 90. A LDB № 9394/961 é uma tentativa de realizar mudanças,
em seu artigo 21, institui uma nova estrutura escolar composta por educação básica
e ensino superior, coloca a formação do professor em nível superior de forma
1 LDB- Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
34
obrigatória. (SAHEB, 2008).
Para Gadotti (2000), a LDB 9394/96 aponta para melhorias com relação à
formação docente, bem como para aperfeiçoamento profissional, incluindo
licenciamento periódico remunerado, período reservado para estudos, planejamento
e avaliação. Percebe-se também, que nesta lei há uma preocupação com a
formação continuada que deve se realizar em serviço: com estudos dirigidos, leituras
de livros, estudos à distância, reflexões, e através de novas tecnologias.
Cruz (2011) salienta, que o quarto marco legal do curso de Pedagogia foi a
Resolução do Conselho Nacional de Educação n.º 1, de 10 de abril de 2006, que
tratou da fixação de diretrizes curriculares para o curso de Pedagogia.
Nas novas diretrizes curriculares do curso, verificou-se que as habilitações
como administração, orientação e supervisão escolar, aparecem como
possibilidades de formação em nível de pós-graduação (CRUZ, 2011). Cabendo ao
pedagogo então, atuar na educação infantil, séries iniciais do ensino fundamental e
também no desenvolvimento de competências.
Segundo Saheb (2008), nota-se com isso, que há um incentivo à formação
profissional, no sentido de se fazer reflexões a respeito de pesquisas inerentes à
teoria e prática cotidiana, buscando assim, meios para alcançar uma formação
docente que atinja as problemáticas que envolvem a própria profissão e seus
objetivos.
2.2 Estrutura do curso
Destaca-se a resolução CNE/CP2 no. 1, de 15 de maio de 2006 que institui as
diretrizes nacionais para o curso de Pedagogia licenciatura (ROMANOWSKI, 2007),
que no seu artigo 2º. afirma que o curso destina-se formação inicial do professor
para:
2 Conselho Nacional de Educação – Conselho Pleno
35
Educação infantil e os anos iniciais do ensino fundamental, nos cursos de ensino médio, na modalidade normal, e em cursos de educação profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. (ROMANOWSKI, 2007, p. 83).
A mesma resolução no art. 6º, diz que a estrutura do curso de Pedagogia
deve respeitar a diversidade nacional e a autonomia das Instituições. Saviani
(2007), fala a respeito das novas diretrizes curriculares para o curso de Pedagogia:
Sobre o modo de organizar a estrutura do curso a resolução prevê no artigo 6º, três núcleos: 1. Estudos básicos; 2. Aprofundamento e diversificação de estudos; 3. Estudos integradores para enriquecimento curricular. Nos três casos apresenta uma lista de tarefas e um conjunto de exortações, mais que a especificação dos componentes curriculares que integrariam os referidos núcleos. (SAVIANI, 2007, p. 127).
Gatti e Nunes (2009) realizaram uma pesquisa sobre as características dos
cursos de Pedagogia no Brasil. As autoras mencionam que em 2006, havia no Brasil
mil quinhentos e sessenta e dois (1562) cursos de graduação presenciais com cerca
de duzentos e oitenta e um mil (281.000) alunos matriculados. As autoras falam que
para analisarem as estruturas curriculares dos cursos de Pedagogia em sua
pesquisa, tiveram que elaborar categorias que especificassem os núcleos descritos
nas diretrizes curriculares. Da amostra de setenta e um (71) cursos distribuídos em
todo Brasil, listaram três mil quinhentos e treze (3513) disciplinas, sendo que, três
mil cento e sete (3107) eram obrigatórias e quatrocentas e seis (406) optativas.
Para organizar a análise, as autoras definiram categorias de agrupamento das
disciplinas: Fundamentos teóricos da educação – tais disciplinas se referem ao
embasamento teórico do aluno; com relação às outras áreas do conhecimento (ex:
Psicologia, Antropologia, e outros); Conhecimentos relativos aos sistemas
educacionais, que são todas as disciplinas de conhecimento pedagógico (ex:
estrutura e funcionamento do ensino); Conhecimentos relativos à formação
profissional específica, que se referem a todo instrumento necessário às práticas do
professor (ex: metodologias do ensino de matemática); Conhecimentos relativos a
modalidades e nível de ensino específicas, que são compostas por disciplinas
relacionadas à educação infantil, educação especial, e etc.; Outros saberes que são
36
disciplinas que fornecem ao professor conteúdos diversos (exemplos: novas
tecnologias, religião etc.); Pesquisa e trabalho de conclusão de curso – que são
disciplinas que vão contribuir para a elaboração dos trabalhos de conclusão, ex:
metodologias de pesquisa; Atividades complementares que são disciplinas que se
referem às atividades integradoras (seminários, estudos, atividades culturais).
Também fazem parte das disciplinas os estágios, que segundo as autoras, são
obrigatórios e tem carga horária definida. (GATTI e NUNES, 2009)
Ao analisar as diretrizes curriculares do curso de Pedagogia e relacionar com
os estudos das autoras, a respeito das disciplinas que compõem o curso, percebe-
se que há uma multiplicidade delas a serem estudadas pelo aluno e organizadas
pelas Universidades. Neste sentido, observa-se que os processos de formação do
Pedagogo assumem características diversas.
Para Saviani (2007) as novas diretrizes, por um lado, são restritas com
relação ao que é essencial (o campo teórico-prático) experiências acumuladas
historicamente e extensivas no acessório (há uma multiplicidade de referências à
linguagem que está em evidência (ex: conhecimentos ambientais, étnico raciais,
exclusões sociais e etc.). Nessa perspectiva, com base nas novas diretrizes
curriculares, as instituições enfrentam inúmeras dificuldades para organizar o
currículo do curso de Pedagogia.
2.3 O Pedagogo na contemporaneidade
Dada à realidade atual, percebe-se a complexidade que envolve a atuação do
Pedagogo. É necessário alcançar uma prática que responda às demandas da
contemporaneidade. Os conflitos e contradições que fazem parte da sociedade,
também, estão presentes na escola, como também em diferentes instituições nas
quais o Pedagogo atua. Nessa perspectiva, compreende-se que a formação inicial
do Pedagogo, na maioria das vezes, não dá sustentação à prática dos professores.
Com isso, verifica-se que há um leque variado de possibilidades de atuação
do Pedagogo na sociedade, o que lhe exige ter uma capacitação ampla. O
Pedagogo precisa estar constantemente em busca de conhecimentos para que
37
possa compreender e atuar na realidade.
Na atualidade, o Pedagogo é chamado a redefinir sua prática
constantemente, por isso, é preciso entender as relações que existem entre o
professor e a construção dos seus saberes, pois, são os saberes construídos que
dão sustentação à sua prática pedagógica.
Se chamamos de saberes sociais o conjunto de saberes de que dispõe uma sociedade e de educação o conjunto dos processos de educação e de aprendizagem elaborados socialmente e destinados a instruir os membros da sociedade com base nesses saberes, então é evidente que os grupos de educadores, os corpos docentes que realizam efetivamente esses processos educativos no âmbito do sistema de formação em vigor, são chamados de uma maneira ou de outra, a definir sua prática em relação aos saberes que possuem e transmitem. (TARDIFF, 2002, p.31).
O Pedagogo, como todo ser humano, possui experiências que favorecem a
internalização de regras, crenças, idéias presentes na cultura da qual ele faz parte.
Ao entrar na escola, além dos conhecimentos sistematizados, ele também continua
o aprendizado de hábitos, valores e atitudes.
Ao se inserir no Curso de Pedagogia já traz uma bagagem de conhecimentos
a respeito dos processos de aprendizagem que Furlanetto (2011) denomina de
matrizes pedagógicas: “As matrizes pedagógicas podem ser comparadas a arquivos
existenciais que guardam registros sensoriais, emocionais e cognitivos, acessados
no espaço pedagógico”. (FURLANETTO, 2011, P. 129).
Os saberes pedagógicos sistematizados e transmitidos nos cursos passam a
compor ou não suas matrizes, base de sua prática docente. É importante salientar
que os processos de formação do Pedagogo, além de se pautar nas ciências da
educação, nos saberes pedagógicos, necessitam ser constantemente revistos e
repensados.
38
3 OS CAMINHOS DA PESQUISA
A pesquisa pauta-se na abordagem qualitativa, por se considerar ser ela mais
adequada para atingir os objetivos da investigação, na medida em que ela possibilita
aprofundar a compreensão das realidades estudadas.
Para Bogdan e Biklen (1999) a investigação qualitativa possui cinco
características: 1) a fonte direta de dados, é o ambiente natural e os investigadores
se introduzem nesse ambiente na tentativa de elucidar as questões educativas; 2) a
investigação qualitativa é descritiva; 3) os investigadores qualitativos se interessam
pelos processos além dos resultados ou produtos; 4) os investigadores qualitativos
tendem a analisar os seus dados de forma indutiva, os dados recolhidos não têm o
objetivo de afirmar ou não uma hipótese previamente construída, mas vão se
construindo pensamentos a partir dos dados coletados; 5) o significado é de
importância vital na abordagem qualitativa.
Os mesmos autores destacam que os investigadores que fazem uso da
abordagem qualitativa, estão interessados em saber como os sujeitos dão sentido às
suas vidas e o modo como eles próprios interpretam suas experiências e estruturam
o mundo social em que vivem.
3.1 Procedimento de coleta de dados
Escolheu-se para a coleta de dados a técnica do grupo focal. Para Gatti
(2005) é um instrumento que possibilita levantar dados nas investigações em
ciências humanas e sociais. Consiste em reunir um grupo de pessoas que possuem
uma vivência comum com relação ao tema de pesquisa. Esse mesmo tema servirá
como foco da discussão realizada pelo grupo. Gatti (2005) destaca que o trabalho
com este instrumento de coleta de dados permite:
[...] compreender processos de construção da realidade por determinados grupos sociais, compreender práticas cotidianas, ações e reações a fatos e eventos comportamentos e atitudes, construindo-se uma técnica importante para o conhecimento das representações, percepções, crenças, hábitos, valores, restrições
39
preconceitos, linguagens e simbologias prevalentes no trato de uma dada questão por pessoas que partilham alguns traços em comum, relevantes para o estudo do problema visado. A pesquisa com grupos focais, além de ajudar na obtenção de perspectivas diferentes sobre uma questão, permite também a compreensão de idéias partilhadas por pessoas no dia-a-dia e dos modos pelos quais os indivíduos são influenciados pelos outros. (GATTI, 2005, p.11).
Acreditou-se que o trabalho com grupos focais permitiria uma aproximação
maior da realidade dos alunos pesquisados, uma vez que a interação dos alunos no
grupo poderia trazer dados significativos para a discussão. Gatti diz que:
Porém a riqueza do que emerge “a quente” na interação grupal, em geral, extrapola em muito as idéias prévias, surpreende, coloca novas categorias e formas de entendimento, que dão suporte a inferências novas e proveitosas relacionadas com o problema em exame. (GATTI, 2005, p. 13).
Um dos fatores que direcionou a escolha pelo trabalho com grupos focais, foi
a questão da vivência comum dos alunos no curso de Pedagogia. Para Gatti: Os
participantes devem ter alguma vivência com o tema a ser discutido, de tal modo
que sua participação possa trazer elementos ancorados em suas experiências
cotidianas. (GATTI, 2005, p.07).
Essa técnica de coleta de dados possibilita ao pesquisador conhecer várias
informações que surgem no decorrer da discussão em grupo, dependendo da
interação, os participantes sentem liberdade de expor seus pontos de vista, e de
falar a respeito com os outros integrantes do grupo. Gatti fala que: “O grupo focal
permite fazer emergir uma multiplicidade de pontos de vista e processos emocionais,
pelo próprio contexto de interação criado, permitindo a captação de significados que
com outros meios, poderiam ser difíceis de se manifestar”. (GATTI, 2005, p.9).
Segundo a mesma autora:
A técnica é muito útil quando se está interessado em compreender as diferenças existentes em perspectivas, idéias, sentimentos, representações, valores e comportamentos de grupos diferenciados de pessoas, bem como compreender os fatores que os influenciam, as motivações que subsidiam as opções, os porquês de determinados posicionamentos. O trabalho com grupo focal pode trazer bons esclarecimentos em relação a situações complexas, polêmicas, contraditórias, ou a questões difíceis de serem abordadas
40
em função de autoritarismos, preconceitos, rejeição ou de sentimentos de angústia ou de medo de retaliações; ajuda a ir além das respostas simplistas ou simplificadas, além das racionalizações tipificantes e dos esquemas explicativos superficiais. (GATTI, 2005, p. 14).
A afirmação de Gatti (2005) possibilita um entendimento amplo das
informações que podem ser captadas através desse procedimento de coleta de
dados, a técnica veio de encontro às necessidades dessa pesquisa.
3.2 Contexto da Pesquisa
Essa investigação se realizou nos curso de Pedagogia de duas Universidades
do setor privado de ensino, localizadas em São Paulo. Uma das Universidades está
situada na zona leste e a outra na cidade de Guarulhos.
A Universidade que se situa na zona leste de São Paulo (Universidade-1),
possui um campus que ocupa cinquenta e oito mil metros quadrados (58.000 m²),
por onde circulam diariamente cerca de treze mil (13.000) alunos, oitocentos e
cinquenta (850) professores e funcionários administrativos, além de centenas de
pessoas da comunidade que procuram os serviços prestados pela Instituição. Esta
Universidade oferece sessenta (60) cursos de graduação, três (3) Programas de
Pós-Graduação em nível de mestrado, além de cursos de especialização e
extensão. No curso de Pedagogia há dez (10) turmas em andamento.
A Universidade situada em Guarulhos (Universidade-2), possui quatro (04)
unidades e mais de mil (1.000) docentes e funcionários em diversos setores. Para
atender cerca de vinte mil alunos (20.000) alunos, a Universidade oferece mais de
cinquenta (50) cursos entre graduação convencional e tecnológica, dezenas de
cursos de especialização e MBA, três (3) programas de mestrado e um (1)
doutorado. No curso de Pedagogia dessa instituição há vinte e uma (21) turmas em
andamento.
3.3 Sujeitos da Pesquisa
41
Os sujeitos da pesquisa foram alunos que estavam cursando o último ano de
Pedagogia. Por já terem passado pelos primeiros períodos, acreditou-se que teriam
mais elementos para contribuir com o trabalho. Para selecionar os sujeitos de
pesquisa, entrou-se em contato com os coordenadores de curso que autorizaram a
realização da pesquisa nas instituições.
3.4 Como se organizou o trabalho de coleta de dados
O trabalho de coleta de dados foi realizado no segundo semestre de 2011,
com dois grupos focais compostos por alunos do curso de Pedagogia das duas
Universidades, aos sujeitos participantes foram feitos convites abertos em sala de
aula, suas inscrições foram voluntárias. Gatti diz que: “Embora alguns critérios
pautem o convite às pessoas para participar do grupo, sua adesão deve ser
voluntária”. (GATTI, 2005, p.13).
Cada grupo contou com a participação de cinco alunos, ambos do período
matutino, um dos grupos contou com um moderador e um observador, o outro,
contou com um moderador; o que possibilitou a investigação dos desafios que
enfrentaram nos primeiros períodos, que se considera como processo de inserção
no Ensino Superior.
Foram feitos um encontro com cada grupo, com duração aproximada de duas
horas, o que delimitou o número de encontros foi a disponibilidade dos próprios
sujeitos, haja visto que os participantes da pesquisa, tinham que sair rapidamente
em função do horário de trabalho.
Nos encontros foram feitas apresentações e esclarecimentos com relação à
pesquisa, depois foi entregue a cada sujeito, um quadro para aquecimento do
assunto (Ver anexo A), onde escreveram algumas situações ligadas às dificuldades
pelas quais passaram. Após o aquecimento, iniciou-se a gravação do encontro com
a questão norteadora: Quais as dificuldades enfrentadas nos primeiros períodos do
curso de Pedagogia?
42
Dos sujeitos que participaram dos grupos focais, nove (09) eram do sexo
feminino e um (1) do sexo masculino, suas idades variavam entre vinte e um (21) e
cinquenta e dois (52) anos, e suas atuações profissionais estavam ligadas a
diversas áreas.
Os quadros abaixo permitem uma visualização mais clara do perfil dos
sujeitos que participaram dos grupos. Utilizou-se para identificação dos sujeitos a
letra S (representando a palavra sujeito), e os números de 1 a 10 para identificar os
participantes do grupo, sendo que os sujeitos de 1 a 5, participaram do grupo focal
1, e os sujeitos de 6 a 10, do grupo focal 2. A identificação foi feita dessa forma para
garantir o sigilo com relação aos sujeitos participantes da pesquisa.
Quadro 1 – Perfil dos alunos- Universidade 1- Grupo focal 1
Sujeito
Sexo
Idade
Atuação Profissional
Tempo de atuação
Profissional
S6
Feminino
52
Não está atuando
Não está atuando
S7
Feminino
49
Cabeleireira
21 anos
S8
Feminino
22
Recreacionista
01 ano
S9
Feminino
35
Funcionária pública
10 anos
S10
Feminino
26
Não está atuando
Não está atuando
43
Quadro 2 – Perfil dos alunos – Universidade 2- Grupo focal 2
Durante a realização dos encontros, foi possível perceber a necessidade que
os participantes tinham de relatar as vivências marcantes que ocorreram com
relação ao tema da pesquisa, foi possível perceber que esses relatos foram
permeados por emoções que pareciam brotar e eram detectadas por meio de
sorrisos, de lágrimas e, por vezes de manifestações de ira. Os sujeitos sentiram-se à
vontade para falar de suas dificuldades.
Sujeito
Sexo
Idade
Atuação Profissional
Tempo de atuação
Profissional
S1
Masculino
25
Prof. Educação Física
Não está atuando
S2
Feminino
23
Escriturária/ tele operadora
4 Anos
S3
Feminino
21
Auxiliar de classe
6 Meses
S4
Feminino
22
Auxiliar de classe
1 Ano
S5
Feminino
45
Não está atuando
Não está atuando
44
4. ANÁLISE DOS DADOS
A Análise dos dados foi realizada com base na Análise de Conteúdos. Para
Franco (2003), essa análise é utilizada para produzir inferências3 acerca de dados
que podem ser verbais ou simbólicos, e que são obtidos através de perguntas e
observações de um pesquisador. A autora afirma que a mensagem expressa um
significado e um sentido que não pode ser isolado. A emissão de palavras de um
texto ou de um discurso, tem vínculo com o contexto. Por isso, ao analisar o
conteúdo, o pesquisador deve ter capacidade para conhecer os dados e
compreendê-los no contexto.
A questão norteadora no trabalho com os grupos focais foi: Quais as
dificuldades que tiveram nos primeiros períodos do curso de Pedagogia? Suas
respostas foram gravadas, e após as transcrições (Ver anexos B e C) deu-se início a
análise dos dados.
Várias dificuldades e busca de estratégias para a superação das mesmas,
foram detectadas nos relatos dos sujeitos de pesquisa as quais possibilitaram
elencar os seguintes eixos de análise:
• Dificuldades externas ao curso.
• Dificuldades familiares e de ordem emocional.
• Dificuldades relacionadas à estrutura física da universidade.
• Dificuldades na relação com o professor e o curso.
• Dificuldades com o conhecimento teórico.
• Dificuldades com relacionamento interpessoal.
Após serem estabelecidos eixos de análise, as dificuldades encontradas
foram organizadas em quadros: o quadro 1 (Ver anexo D) corresponde às
3 “Exemplificando: O investigador, ao ler ou ouvir um discurso sobre o papel do educador, deve ser capaz de
poder compatibilizar o conteúdo do discurso (lido ou ouvido) com alguma, ou algumas teorias explicativas”
(FRANCO, 2003, p. 25).
45
dificuldades dos sujeitos da Universidade-1, o quadro 2 (Ver anexo E) corresponde
às dificuldades dos sujeitos da Universidade 2; e o quadro 3 (Ver anexo F) se refere
às dificuldades dos sujeitos de ambas as Universidades.
4.1 Dificuldades externas ao curso
No que se refere às dificuldades externas ao curso, os sujeitos destacam as
dificuldades de: conciliar atividades de estudo, trabalho e família; dificuldade
econômica para custear os estudos (pagamento de mensalidades, transporte e
materiais) e escolaridade comprometida (frequência às escolas consideradas fracas,
interrupções dos estudos).
Para os sujeitos pesquisados, a dificuldade de administrar o tempo com
relação ao trabalho e estudos é algo que influencia no rendimento:
Uma dificuldade que tive também foi do tempo. Uma coisa que aconteceu no primeiro semestre é que foi difícil conciliar o tempo de trabalho porque eu estudava de manhã e trabalhava de manhã também, então eu entrava no serviço 11:30 h. e a aula aqui termina às 11:00 h. Eu moro longe, a maioria das vezes eu tinha que sair antes, e os professores continuavam passando as matérias, eu acabava perdendo muitas coisas. O primeiro semestre, foi o semestre que tirei as notas mais baixas. Eu não tinha tempo. (S8).
Coloun (2008) menciona como uma das confrontações que existem no
ingresso do aluno no ensino superior, a questão da universidade e a vida
profissional, o autor diz que há uma ruptura entre o previsível, aquilo que os
indivíduos faziam habitualmente e a nova vida acadêmica. Nos relatos dos sujeitos
percebe-se que há uma desestabilização com relação ao tempo, aos horários, o que
requer deles uma reorganização de suas tarefas cotidianas.
Alunos que trabalhavam em escolas, também passavam pela dificuldade de
conciliar trabalho e estudos, em seus depoimentos é possível detectar alguns
conflitos que enfrentaram:
46
Bom no começo foi difícil porque a minha diretora não entendia, eu tenho uma bolsa do sindicato dos metalúrgicos e era só de manhã, eu não poderia estudar à noite, se não eu perderia o desconto; mas a diretora não entendia ela queria que eu estivesse lá antes das 11:00 h. e antes das 11:00 h. era quase impossível. A diretora dizia: ”se vira, ah sai mais cedo”; e eu falava: mas se eu sair mais cedo eu vou perder as matérias. Eu não podia ficar até o final, nem nas provas. (S8).
As responsabilidades familiares ocorrem concomitantes às responsabilidades
com relação aos estudos:
Por exemplo: teve trabalho recente, nesse semestre, que a Ana não pode vir porque tinha que cuidar do filho que é pequeno, e não tinha com quem deixar. Eu e a Lúcia não tínhamos lido o texto. Chegou na hora da apresentação e uma integrante falou: Eu li, mas não gosto de falar e não vou explicar. Graças a Deus, com o pouco que lemos, conseguimos explicar na hora, procurando nas páginas. O professor falava: e tal página? Nós falávamos: Qual professor? Íamos lá e procurávamos. (S8).
Os alunos universitários, por serem sujeitos adultos têm diversas
responsabilidades, além dos estudos. Zabalza (2004) afirma que:
Os alunos têm que responder, em muitos casos, as exigências alheias ao que é estritamente universitário (o preenchimento dos quesitos de estudante é incompleto): às vezes, são pessoas casadas com obrigações familiares; às vezes trabalham; às vezes vivem longe dos campi, etc. (ZABALZA, 2004, p. 187).
A dificuldade de locomoção por causa da distância percorrida no trajeto para
a Universidade é citada pelos alunos, o trânsito também é um fator que influencia o
dia-a-dia e isso aparece na sala de aula.
Eu e a Lúcia moramos na mesma região, eu moro no Jardim São João e ela mora na Cidade Soberana, nós pegamos o ônibus, um ônibus que cabe 100 pessoas, 50 sentados e 50 em pé; eles conseguem colocar 250 pessoas dentro do ônibus às 6 horas da manhã, isso já é uma dificuldade. (S9). Tem o trânsito. (S8).
É o trânsito é uma dificuldade. (S9).
47
S8 Às vezes você chega atrasado, por exemplo: teve um acidente na famosa Via Dutra e ela parou. Aquela história: o cachorro comeu meu trabalho... Você explica para o professor que teve um acidente na Dutra, e ele diz: Ah lá vem aquelas desculpinhas! Mas não é uma tira, é uma realidade que a gente enfrenta desde o 1º. semestre. (S8). Ainda mais aqui em São Paulo, se tem uma moto quebrada na trabalhadores, trava-se tudo. Você acaba pegando o trânsito, condução lotada, você acaba tendo outros desgastes. (S9).
As dificuldades financeiras, tais como: dinheiro para condução, mensalidade e
aquisição de materiais, também, aparecem nos relatos dos sujeitos:
Dinheiro de condução é uma dificuldade, mensalidade é uma dificuldade. (S9).
Quando entrei na Universidade, nos primeiros semestres eu não tinha um computador. (S2).
Eu não conseguia pegar muitos textos, porque eu estava desempregado, meu tio que me ajudava. (S1).
Silva (2011) menciona a questão de que os alunos de novas camadas sociais
que estão ingressando no Ensino Superior, precisam custear seus estudos:
Se bem que, em grande parte, esse ingresso seja feito à custa de imensos sacrifícios pessoais, tendo o educando que garantir o custeio das mensalidades, mesmo quando recebe auxílio institucional para pagamento destas, ainda deve prover o necessário para alimentação, transporte, material para estudo. (SILVA, 2011, p. 39).
A citação acima vem de encontro à realidade dos sujeitos de pesquisa, o
esforço empreendido por eles para alcançar o nível superior de ensino é evidente.
Superação
A tensão dos conflitos que ocorreram entre trabalho e estudo não foi
solucionada de fato, mas, os sujeitos tentam de alguma forma encontrar estratégias
para dar prosseguimento aos estudos:
48
Eu só consegui solucionar esse problema no 3º semestre que foi a época que eu me afastei do trabalho na escola, agora eu estou afastada, mas as meninas na escola onde eu trabalho tem dificuldade com essa questão de horário até hoje. Solucionar, não solucionou tudo, agora melhorou porque eu me afastei, talvez volte o ano que vem, mas ainda não tem uma solução para isso, porque eles lá não entendem esse fato de poder estudar. (S8).
Os sujeitos pesquisados buscam melhor qualificação através dos estudos,
mas, o mundo do trabalho, embora precise de pessoas qualificadas, muitas vezes,
está em descompasso com o esforço empreendido pelos trabalhadores em busca de
formação, o que gera conflitos e dificuldades para os sujeitos que desejam estudar.
No que se refere às dificuldades financeiras e à aquisição de recursos
materiais, percebe-se nas falas dos sujeitos que ao conseguirem melhores
colocações no mundo do trabalho, investem na aquisição de materiais que facilitem
seus processos de aprendizagem.
Quando você consegue um emprego melhor você compra um computador, eu consegui com esforço, em várias prestações, mas aí é uma coisa que é minha, que vai estar comigo. (S2).
4.2 Problemas familiares e de ordem emocional
As dificuldades familiares e de ordem emocional se mostram presentes na
trajetória acadêmica dos sujeitos de pesquisa: dúvida se consegue continuar ou não
fazendo o curso (nos primeiros períodos), alterações emocionais no momento das
apresentações, falta de motivação e conflitos familiares.
Por causa das dificuldades que surgem nos primeiros períodos, os sujeitos
pensam que não vão conseguir continuar com o curso, a falta de motivação é
percebida em seus relatos:
Eu achava que não ia dar conta! (S9).
Eu pensei até em desistir, foi muito difícil! (S4).
49
Coloun (2008) menciona que as mudanças que ocorrem na vida do aluno que
ingressa no Ensino Superior, fazem com que muitos estudantes tenham rupturas
inclusive nas condições de existência, o que pode provocar ansiedade, mudanças
de comportamento e sentimento de fracasso.
Nos relatos dos sujeitos, percebe-se que as dificuldades enfrentadas não
ocorrem somente no espaço da universidade, mas podem aparecer em diversas
áreas, provocando alterações emocionais:
No primeiro semestre eu olhava para aquelas pessoas do meu grupo e pensava: Eu te mato! Vou te dar chumbinho no café... Você acha que tudo é pessoal, mas tudo por conta da falta de maturidade. Então você fica com raiva da pessoa mesmo. (S9). Tive problemas familiares, minha avó veio a óbito, foi no terceiro semestre. Eu pensei que fosse ficar desamparada, que iria ser reprovada. (S4).
A vida do aluno continua em movimento, situações do cotidiano que fazem
parte da vida humana, continuam tendo que ser administradas; a universidade é
mais uma responsabilidade e inevitavelmente os conflitos tendem a aparecer. Os
sujeitos pesquisados falam sobre conflitos familiares, por causa da opção por
estudar:
Meu esposo também me ajuda, meu segundo esposo. Fui casada com o primeiro marido durante 18 anos. Meu sonho era voltar a estudar, mas, ele nunca deixou. Eu falei para ele que iria me separar dele e iria voltar a estudar, me separei dele e voltei a estudar. Meu marido atual no começo colocou barreiras e eu disse: Olha eu me separei do meu primeiro marido, pai dos meus filhos, para voltar a estudar, não vai ser você que vai me impedir, aí ele falou: tudo bem então. Hoje ele me apóia, me parabeniza. (S7).
Segundo Coloun (2008), há várias rupturas que ocorrem durante a passagem
para o Ensino Superior, a vida afetiva e familiar também passam por mudanças, que
indicam um caminho em direção para uma vida mais autônoma.
Os relatos dos sujeitos apontam para a questão das apresentações de
trabalhos em sala de aula, há alunos que ficam abalados emocionalmente:
50
Ah! Eu chorava, chorava muito! Eu achava que não ia dar conta. Já teve trabalho em grupo, em que o grupo não apareceu. Nós tivemos uma menina do grupo que em toda apresentação, ela não vinha porque tinha dor de barriga, mas isso era do emocional dela mesma, ela passava mal de suar frio, ficar branca. (S9).
Eu também chorei! (S7).
Superação
A superação das questões familiares e de ordem emocional, não foi
aprofundada, nos relatos dos sujeitos. Entende-se que eles foram reagindo às
situações de estresse conforme os recursos disponíveis no momento. Eles não
falam sobre orientações recebidas por professores a respeito dessas questões, e
citam a família como coadjuvantes do processo acadêmico. Considera-se que a
vontade e a escolha por fazer um curso superior fez com que os sujeitos
pesquisados superassem os desafios. Placco e Souza (2006) mencionam a
deliberação como característica da aprendizagem do adulto: “[...] aprender decorre
de uma escolha deliberada de participar ou não de dado processo”. (PLACCO e
SOUZA, 2006, p.19). As autoras falam que a base da deliberação é a volição, diante
disso, pode-se dizer que os sujeitos de pesquisa passaram por esse processo para
superar as dificuldades:
Eu superei porque sempre tive o sonho de fazer um curso superior, Mas eu falei: sou capaz! Acreditei em mim, pensei: eu vou vencer! Então superei os obstáculos. (S5).
Na fala dos sujeitos percebe-se que a vontade de aprender e vencer, o correr
atrás do que se quer, faz superar as dificuldades:
Eu acho que independe da Escola, da Universidade, vai depender de você. Se quisermos aprender algo: vamos aprender. (S4).
Os sujeitos dizem que há um sentimento de vitória na superação das
dificuldades de conciliar família e estudos:
Para mim foi muito bom, com a idade que eu tenho chegar até a Faculdade... foi difícil porque eu tenho duas filhas, conciliar horários, ser dona de casa, cuidar de crianças... Hoje eu me sinto vitoriosa. Eu consegui vencer uma batalha! Eu sonhei há mais de 20 anos com isso! (a aluna chorou nesse momento). (S5).
51
4.3 Dificuldades com relação à estrutura física da universidade e Internet
Os sujeitos pesquisados relatam que nos primeiros períodos, tiveram
dificuldades com relação às condições do laboratório de informática, à obtenção de
orientação na biblioteca e uso da Internet.
Segundo Zabalza (2004), as novas tecnologias afetam a organização da
formação, isso ficou muito explícito no relato dos sujeitos com relação às situações
que tiveram que enfrentar no uso de instrumentos de pesquisa.
Dificuldade com o laboratório de informática
Os sujeitos falam das dificuldades que tiveram com a informática, relatam que
o laboratório não atende às suas necessidades de horário, de acesso e de leitura de
e-mails, reclamam da falta de disponibilidade com relação aos equipamentos que as
universidades oferecem:
Fazer uma pesquisa na hora do intervalo rapidinho é muito difícil. (S3). . Quem não tem computador em casa vai procurar aonde? Na faculdade. Você chega na faculdade, os laboratórios estão lotados, tem muitos alunos. A faculdade tem capacidade de ter um laboratório maior. Às vezes está lotado e você não consegue entrar no laboratório e quando consegue, até uma máquina ligar, até você entrar na internet...S3 Você já desistiu. (S2). Não abre email, o aluno precisa enviar o trabalho por email. Às vezes o professor reserva o laboratório e então dificulta para os alunos. (S4).
Quando os sujeitos não conseguem acessar os computadores na
Universidade, pedem auxílio para outras pessoas, ou não fazem os trabalhos:
A gente tem que ir na casa de alguém que tem computador ou pedir para alguém pesquisar alguma coisa para você, então essa é a grande dificuldade, porque você tem que pedir para os outros pesquisarem para você e às vezes, pagar para alguém para fazer uma pesquisa. (S2).
52
Muita gente fica sem fazer os trabalhos, acaba ficando sem nota, porque a maioria dos trabalhos tem que ser digitados. Hoje em dia é muito difícil um professor pedir um trabalho manuscrito, porque é de universidade. Então tem muitas pessoas que não têm como pesquisar em algum lugar, essas acabam não fazendo. (S3).
O fato de os sujeitos não possuírem, ou de não terem acesso a um
computador, dificulta a realização dos trabalhos acadêmicos, isso demonstra que as
exigências atuais relacionadas à informática, não podem ser ainda atendidas por
todos os alunos que ingressam na universidade.
Os sujeitos dizem que o computador é uma necessidade:
É uma necessidade com certeza. Ainda mais na universidade, totalmente. (S2). Na verdade o computador vira ferramenta necessária. (S4). Tudo gira em torno do computador, e não tem jeito, o professor diz que vai enviar as informações por e-mail. (3).
No entanto, alguns sujeitos não sabem lidar com informática e dessa forma,
sentem-se despreparados para cursar uma universidade.
Eu tinha bastante dificuldade e tenho até hoje na área de informática. Eu conheço muito pouco, mas para pesquisa resolve. No começo para fazer e montar os trabalhos era muito difícil, porque eu não tinha esse conhecimento em informática. Eu falo: Sou uma analfabeta em informática. O que eu conheço é muito pouco para quem está no nível universitário, se torna um pouco carente o conhecimento da informática. (5).
Nos relatos dos sujeitos percebe-se que alguns não conseguem acessar os
materiais disponibilizados on-line, então solicitam o uso de xerocópias:
O professor diz para entrarmos no site onde estão os materiais da disciplina. E nós perguntamos: Mas não tem como deixar no xerox? O professor responde: Não. Entra no site; ou então, o que está passando no slide a gente vai anotando, e eles falam que nós estamos anotando alguma coisa que ele está passando no slide, aí eles mudam o slide, aí a gente fala: professor, espera um pouquinho que nós estamos copiando. E ele diz: Não. Está tudo no site. Você depende do computador. As xerocópias ajudariam muito a gente a acompanhar as matérias. (S2).
53
Os sujeitos que passaram algum tempo sem estudar falam das dificuldades
que tiveram com a informática:
Eu tive dificuldade na realização de trabalhos, a gente fazia com almaço, porque fiquei fora da escola, fora da sala de aula,muito tempo. Quando regressei, a minha dificuldade era navegar na internet, porque como dona de casa, eu não navegava na internet. Aí como mexer no computador? Esse negócio de normas, como fazer? A coisa não andava, quando eu achava que tinha conseguido uma coisa, vinha um e falava: não, não é mais assim, vinha outro e falava não, não é assim, é assado. Aperta tal botão, não é esse botão é o do lado. (S6). Fiquei mais de 20 anos fora da escola, quando voltei a estudar fui para a EJA, fiquei 3 anos e meio, fiz da 5ª. série até o 3º. Colegial, e a partir disso, entrei na Universidade em 2009. Quanto tempo fiquei fora da escola? Para mim todas aquelas matérias eram um bicho de sete cabeças. Eu não conseguia entender, era muito difícil! A questão do computador... a internet para mim era novidade. (S7).
Um novo descompasso se evidencia, uma utilização cada vez maior das
novas tecnologias como ferramentas indispensáveis nos espaços de aprendizagem
e a impossibilidade de ter acesso a elas, por parte dos estudantes, no que se refere
à competência para utilizá-las e aos recursos materiais para adquiri-las.
A internet ganhou espaço na educação, as redes atraem os estudantes e
existem vários tipos de aplicações educacionais: de divulgação, de pesquisa, de
apoio ao ensino e de comunicação (MOURAN, 1997).
Cada vez mais, os estudantes necessitam da habilidade de se comunicar
através da Internet, mas, os relatos dos sujeitos mostram que nos primeiros períodos
existem dificuldades no manuseio do computador e no uso da Internet.
A dificuldade de realização dos trabalhos acadêmicos com relação à
informática vem acompanhada da dificuldade de utilização da biblioteca. Os sujeitos
falam da dificuldade de obter orientação para pesquisa na biblioteca:
Tive problema na biblioteca, no primeiro e segundo semestre. Os atendentes quando estão ali atrás do balcão, você pede uma ajuda, eles falam que não, que estão ocupados separando livros. Eu fiquei quase duas horas sozinha procurando um livro e a funcionária ali, foi
54
um descaso. Sabe, eu acho que eles poderiam ter me recebido melhor. É difícil! Eu acho que é um erro da universidade. (S4).
Coloun (2008) fala que as questões relacionadas à dificuldade que os alunos
têm de acessar a biblioteca, quando estão ingressando na Universidade, não são
muito discutidas no seio da comunidade universitária. O autor afirma:
Eu tenho tido a oportunidade, sobretudo no início das aulas, quando eu mesmo estou procurando referências na biblioteca, de dar informações a estudantes que se dirigem a mim e colocam questões básicas, muito práticas, como o significado dos números vermelhos e negros sobre os resumos do catálogo manual, como preencher uma ficha de empréstimo ou como encontrar uma referência nos terminais informatizados, etc. Existem, entretanto, perto dos catálogos, cartazes explicativos, mas eles não são completos e explícitos e, de qualquer forma, eles não ensinam como passar para as operações concretas. (COLOUN, 2008, p.194).
Nos relatos dos sujeitos de pesquisa, nota-se que nenhum deles menciona
preocupação por parte das Universidades com relação ao entendimento do aluno
quanto aos mecanismos de acesso à biblioteca. Coloun (2008) menciona a
importância da pesquisa documental para o estudante:
A necessidade mais evidente de aprendizagem dos códigos do trabalho intelectual se manifesta no trabalho de pesquisa documental nas bibliotecas. Podemos considerar que isso é absolutamente fundamental, pois permite aos estudantes ativar as instruções, explícitas ou implícitas que fazem parte dos estudos acadêmicos. É necessário aprender a se servir de uma biblioteca. (COLOUN, 2008, p. 263).
Para o mesmo autor, o uso competente da biblioteca proporciona ao
estudante a condição de identificar o conteúdo que necessita, caso contrário, nasce
um sentimento de fracasso e de frustração.
Superação
Os sujeitos falam da superação das dificuldades de lidar com a informática e
com as pesquisas na biblioteca, a realização de cursos, o auxílio da família e amigos
contribuíram:
55
Eu fiz um curso de informática para me auxiliar nas dificuldades que eu tinha com as normas da ABNT e formatar. Hoje eu já consigo fazer, mas, ainda estou engatinhando na informática. O meu esposo que trabalha na área de comunicação me ajudou muito. Eu aprendi, melhorei bastante. (S5).
Para superar eu tive que ser encorajada. Existem apostilas de informática hoje, mas, na minha opinião, para você aprender você precisa praticar. Então eu sentava na frente do computador, o esposo da minha tia ficava do meu lado e me encorajava para conhecer os programas, essa foi a forma que eu tive para superar essa dificuldade. Praticando... ser desafiada a conhecer novos programas, digitar, formatar. (S4).
Os sujeitos que disseram ter passado algum tempo sem estudar e que
regressam aos estudos na Universidade, relatam que não superaram totalmente a
questão de lidar com a informática, mas se percebe avanços com relação a isso:
Meu marido sempre me ajudou numa boa, ele sempre me incentivou a voltar a estudar, ele está mais acostumado a mexer no computador por causa do trabalho dele. O meu filho por ser mais novo já cresceu nesse meio, para ele é normal, é esquisito quando ele vai fazer alguma coisa e não tem computador. Eu achava que era muito complicado, tinha uma seqüência de botões que eu não lembrava, então eu pedia para ele fazer para mim. Rsrs... È assim até hoje. Eu tive que pedir ajuda para o meu marido, para os meus filhos, para as amigas do grupo. Tenho dificuldade até hoje. Se eu falar que consigo navegar é mentira, mas hoje tenho mais intimidade com o computador. (S6). Meus filhos foram me ajudando, eu fiz um curso para conhecer um pouquinho o computador, hoje eu não sei mexer em tudo, mas conheço uma boa parte, quando tenho dificuldade o meu filho e minha filha me ajudam. Até nos trabalhos acadêmicos, meus filhos são muito importantes nessa parte, meu esposo também. (S7).
É notável que as novas gerações tenham contato mais dinâmico com os
meios de aquisição da informação, os filhos e familiares dos sujeitos tem um papel
significativo no processo de superação das dificuldades relacionadas ao uso da
internet e realização de trabalhos acadêmicos.
Com relação à biblioteca, os sujeitos dizem que o auxílio dos amigos fez com
que eles fossem dominando, aos poucos, seus mecanismos:
No primeiro semestre foi uma amiga que estudou aqui que me ajudou, ela falou: você vai, olha a numeração, foi muito difícil mesmo. (S4).
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Os sujeitos não mencionam nenhum tipo de estratégia oferecida pelas
universidades para a superação das dificuldades à respeito da utilização dos
instrumentos de pesquisa na biblioteca.
4.4 Dificuldades na relação com o Professor e o curso
As dificuldades na relação com o professor e o curso aparecem em vários
seguimentos.
Na relação com o professor, os sujeitos falam da falta de clareza quanto ao
planejamento das aulas, orientação inadequada para o desenvolvimento dos
trabalhos individuais e grupais, metodologia inadequada, desconhecimento por parte
dos professores das condições de vida dos alunos, exigências que não podem ser
atendidas pelos alunos por falta de repertório, dificuldade de comunicação entre
professores e alunos.
Na relação com o curso, os sujeitos relatam que o curso é muito amplo,
enfoca muitos conteúdos, há muita teoria, pouca prática, existem também
dificuldades com estágio e atividades complementares.
Na relação com o professor:
A falta de clareza quanto ao planejamento das aulas é uma dificuldade que os
sujeitos citam como algo que os confunde com relação às disciplinas:
É aquele professor! Ele é confuso e nos deixa confusos. E o pior é que a gente se prejudica. (S3).
A minha dificuldade foi com alguns professores que não seguiam o cronograma. O professor começa a dar uma matéria hoje e quando você vai ver ele está dando outra matéria, e não acabou aquela que ele começou na aula anterior, e não acaba aquela que ele está dando naquela aula, então você fica perdido. Eu acho que essa é a parte mais difícil. Ele começou a aula hoje, explica que aconteceu um problema, pede desculpas por estar meio aéreo, aí fica tudo bem, então na outra semana já é outra coisa, ele fala que na semana que vem é para fazer mapa conceitual, aí na outra semana ele chega e fala que não pediu isso: Eu não pedi isso. E nós falamos: Mas professor a sala toda fez o que você pediu. E o professor diz: Não,
57
nós vamos fazer outra coisa. Ele não planeja as aulas, é também falta de organização. Com certeza, ele tem que planejar, a gente tem que planejar desde quando entra numa escola, tem fazer todo o cronograma até o término. (S2).
A dificuldade que eu tive: foi que alguns professores, eu não vou citar nomes. Alguns professores desorganizados. Teve um professor que não planejava. Começava um assunto, não dava continuidade. Por exemplo: ele começou um tema em uma aula, e disse que ia continuar na próxima aula, mas quando chegou o dia ele já começou outro assunto, isso me deixou confusa, então eu não entendia direito. Um dia ele chegou em sala e falou: O que vocês querem que eu dê? Acho que não é bem assim. Acho que os professores de Universidades, escolas particulares no geral, eles deveriam antes de entrar numa sala de aula, ter um planejamento. Para não ficar confuso, o professor tem que vir mais preparado. (S4).
Analisando os comentários que os sujeitos de pesquisa fazem, percebe-se
que existe, por parte deles, uma necessidade de entender os caminhos que o
professor está utilizando para que eles atinjam os objetivos da aprendizagem. Gil
(2006) diz que nos levantamentos que são realizados com alunos que cursam o
Ensino Superior, verifica-se que há deficiências com relação à formação do
professor deste nível de ensino, e que os alunos apontam, em sua maioria, para
questões de falta de didática.
Gil (2006) afirma que durante muito tempo, bastava ao professor do Ensino
Superior ter uma comunicação fluente e domínio dos conhecimentos referentes às
disciplinas que iria lecionar para ser bom naquilo que fazia, isso porque os alunos
desse nível de ensino são adultos e não exigiriam de seus professores mais do que
isso: “Os estudantes universitários, por já possuírem uma “personalidade formada” e
por saberem o que pretendem, não exigiriam de seus professores mais do que
competência para transmitir os conhecimentos e para sanar suas dúvidas.” (GIL,
2006, p.01). O autor prossegue com sua reflexão, e fala a respeito de que na
atualidade são poucas as pessoas que aceitam esse pensamento:
O professor universitário, como o de qualquer outro nível, necessita não apenas de sólidos conhecimentos na área em que pretende lecionar, mas também de habilidades pedagógicas suficientes para tonar o aprendizado mais eficaz. Além disso, o professor universitário precisa ter uma visão de mundo, de ser humano, de ciência e de educação compatível com as características de sua função. (GIL, 2006, p.1).
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Além das características necessárias à sua função, o planejamento de ensino
é outra questão importante que serve para direcionar a atuação do professor. Nos
relatos dos sujeitos pesquisados verificou-se a necessidade de planejamento. Gil
(2006) diz que o planejamento direciona as atividades para o aprendizado:
O planejamento do ensino é o que se desenvolve em nível mais concreto e está a cargo principalmente dos professores. Ele é alicerçado no planejamento curricular e visa ao direcionamento sistemático das atividades a serem desenvolvidas dentro e fora de sala de aula com vistas a facilitar o aprendizado dos estudantes. O professor universitário, ao assumir uma disciplina, precisa tomar uma série de decisões. Precisa, por exemplo, decidir acerca dos objetivos a serem alcançados pelos alunos, do conteúdo programático adequado para o alcance desses objetivos, das estratégias e dos recursos que vai adotar para facilitar a aprendizagem, dos critérios de avaliação etc. (GIL, 2006, p. 99).
As necessidades verificadas nos comentários dos sujeitos, e as afirmações do
autor acima citado, implicam em se pensar nas contribuições do plano de ensino
para a aprendizagem do adulto no Ensino Superior, porque a falta de clareza desse
plano provoca uma série de situações que deixam o aluno inseguro para realização
de atividades relacionadas às disciplinas do curso escolhido.
Os sujeitos falam da falta de diretrizes específicas nas orientações para o
desenvolvimento dos trabalhos individuais e grupais:
No semestre que nós estávamos fazendo o TCC, nós não estávamos preparadas ainda para o TCC, eu não estava bem orientada. Eu acho que faltou orientação. Este trabalho deveria ser melhor orientado pelo professor. Houve falha de orientação. Era meio confuso, o professor não era bem específico no que ele queria. Você escrevia uma coisa, ele lia e falava: Não, não é isso. Depois de uma semana você voltava com a mesma coisa, e ele falava: Ah, isso está legal. Então, assim ele entrava em contradições quando lia os artigos. Não só eu fiz essa reclamação, várias pessoas reclamaram. (S5).
Os sujeitos mencionam as orientações do TCC como tardias:
As orientações do TCC ocorreram muito depois. Assim que começou o semestre a gente já pensou que teria as orientações, mas, foi lá
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para frente. Quando foram na sala de aula falar sobre o TCC nós comentamos: Não teria como vir antes? E eles falaram: não, porque tem que programar muita coisa. O TCC é a conclusão do curso, você fica com aquilo na sua cabeça o dia inteiro: Eu tenho que fazer o TCC! (S8).
Os sujeitos dizem que em determinado momento do curso as
responsabilidades aumentam, e eles começam a se preocupar com a quantidade do
que estão fazendo, e não com a qualidade:
Para falar a verdade no meu ponto de vista, você está concluindo o curso agora, então quando chega o final do seu curso você tem o TCC para fazer, o estágio para fazer, você tem filho, marido, então tudo que não está bom acaba piorando, e você não encontra qualidade no que está fazendo, porque vai se preocupar na quantidade. (S9).
Nos relatos dos sujeitos mencionam-se as exigências feitas pelos
professores, que às vezes não podem ser atendidas por falta de repertório ou de
condições financeiras:
Eu sei que o aluno contribui às vezes na aula, o aluno fala dá opinião, mas às vezes tem muitos professores que esperam muito dos alunos. (S4).
Percebe-se que há um desconhecimento por parte dos professores das
condições de vida dos alunos, os sujeitos de pesquisa relatam não ter condições
para aquisição de material:
Eu conseguia pegar poucos textos, porque no momento eu estava desempregado, quem estava me ajudando era meu tio, que ainda continua me ajudando, então para evitar transtornos com mais gastos eu pegava alguns, eu pegava os mais importantes. (S1).
Os sujeitos relatam que a falta dos professores nas aulas prejudica a
aprendizagem dos conteúdos, a comunicação entre professor e aluno fica a desejar:
A gente perdeu muitas aulas, esse professor de lúdico, por exemplo, ele falta e pede desculpas, mas, já faz dois semestres que ele está assim desse jeito, a gente que está perdendo. Nós tivemos professores que foram mandados embora, por exemplo, no meio do
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semestre, vieram outros professores para substituição. Então eu acho que os professores têm que ser melhor selecionados. (S2).
Uma disciplina tão interessante que é sobre lúdico que a gente queria muito aprender sobre isso. Acabamos não aprendendo. (S3).
Os sujeitos dizem que há falta de comunicação entre os professores e
solicitam que a coordenação do curso esteja mais presente em determinadas
situações:
Reclamam que há falta de comunicação entre os próprios professores porque teve semana que eles trocaram aula e o professor acabou esquecendo, viemos de graça. Teve gente que veio do Ipiranga para ter aula, chegou aqui e o professor esqueceu. Aí a pessoa acabou indo embora, só que a pessoa ficou muito brava, fez uma reclamação no CA e enviou para a coordenadora do curso, eles resolveram entre eles, mas, não deram a resposta para a sala. O que acontece é que a coordenação não passa para os alunos, o que aconteceu ninguém sabe. Eles pediram desculpas, disseram que foi um erro deles, mas a coordenação tinha que participar mais, descer na sala, olhar, ver o que está acontecendo. (S1).
Dificuldades na relação com o curso: Os sujeitos dizem que há críticas quanto ao curso de Pedagogia, relatam que
o Curso é muito amplo, enfoca muitos conteúdos, muita teoria, e isso desmotiva:
Quando a gente chega na faculdade a gente chega cheia de perguntas e dúvidas. Quando você fala que é Pedagogia, as pessoas te criticam bastante, a sociedade critica, eles esquecem que tem que ter professores para que existam profissionais no mercado. (S5). Eu acho o curso de Pedagogia muito aberto, é muito aberto! É matemática, português, geografia, ciências, tudo no mesmo semestre, você acaba se perdendo, você não sabe o que você estuda. O meu problema foi de adaptação. Achei que deveria ser um curso que motivasse mais os alunos, e não é o que acontece, ele se torna um curso muito aberto porque são várias disciplinas e isso não motiva ninguém, porque tem muita gente que vai parando, acho que por causa dessa falta de motivação. (S1).
Os sujeitos falam da dificuldade que tiveram para realizar as atividades
complementares e estágios, dizem não compreender o porquê dessas atividades:
Tem uma questão que é difícil que é o estágio. E a atividade complementar então? Na minha opinião, a atividade complementar... as visitas culturais...tem algum fundamento, mas eu acho que a
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gente faz 200, 250 horas no curso todo, só que não tem um professor para falar assim: olha vocês vão lá, que depois a gente vai estudar sobre isso, vai discutir o que vocês acham. (S10).
Gatti e Nunes (2009), coordenaram a realização de um estudo que se propôs
à analisar disciplinas e conteúdos de formação no Ensino Superior de vários cursos
de licenciatura, o curso de Pedagogia fez parte dessa pesquisa. Entre outras
questões, as autoras falam sobre as atividades complementares, que se referem às
atividades integradoras, e que são recomendadas pelas Diretrizes Curriculares
Nacionais do curso de Pedagogia, mas apontam para o fato de que a denominação
dessas atividades nos currículos não é muito definida, e não se tem muita clareza do
que se trata de fato.
Nas afirmações de Gatti e Nunes (2009), percebe-se que existe falta de
clareza nas especificações das atividades complementares, o que vem de encontro
com o relato dos alunos, quando não entendem o porquê da sua realização. Quanto
ao estágio, está previsto nas Diretrizes Curriculares Nacionais, possui carga horária
definida, mas não há uma especificação de como se realizam (GATTI e NUNES,
2009). Gatti e Nunes (2009), falam sobre os estágios:
Essa ausência nos projetos e ementas pode sinalizar que, ou são considerados totalmente à parte do currículo, o que é um problema, na medida em que devem integrar-se com as disciplinas formativas e com aspectos da formação e da docência, ou sua realização é considerada meramente formal. (GATTI e NUNES, 2009, p. 21).
O relato dos sujeitos de pesquisa mostram que na realização dos estágios, o
que é formal aparece:
A aula de estágio nada mais é para o professor ver se sua ficha está certa ou não... As dificuldades do estágio acontecem em todos os aspectos: tempo, dinheiro, disponibilidade. Às vezes por causa de uma vírgula você tem que refazer o trabalho todinho, aí você vai lá e imprime seu trabalho todinho... Porque o P de Pedagogia ficou com letra minúscula... Para mim, o que foi mais difícil no curso, falando hoje no sexto semestre, foi o estágio e atividade complementar. (S10).
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Fávero (2011) faz uma reflexão a respeito do estágio curricular na
universidade, ela diz que:
[...] embora legalmente ou em termos de discurso, o estágio curricular seja apresentado como elemento de integração entre teoria e prática, na realidade ele continua sendo um mecanismo de ajuste que busca solucionar ou acobertar a defasagem existente entre os elementos teóricos e trabalhos práticos”. (FÁVERO, 2011, p. 68).
No caso dos sujeitos que participaram dessa pesquisa, entende-se que a
defasagem que Fávero (2011) comenta, entre os conhecimentos teóricos e trabalhos
práticos, aparece nas atividades que eles têm que realizar no processo formativo. A
teoria e prática teriam que estar sincronizadas, mas, na vivência acadêmica desses
alunos isso não ocorreu desta forma.
Outra questão que os sujeitos dos grupos pesquisados apontam, é a
organização das disciplinas com relação ao estágio, nas falas dos alunos percebe-
se que as disciplinas de determinados estágios, eram cursadas depois da realização
do estágio, isso dificultou a compreensão da vivência do estágio:
Uma dificuldade que houve muito grande, por exemplo, foi o fato de nós estarmos tendo disciplinas sobre administração, gestão, liderança, tudo mais voltado para esse lado, e o nosso estágio foi no quinto semestre...(S8). Foi empresarial. (S9). S8 Foi no semestre anterior. A gente chegava na empresa para fazer aquele estágio, e a gente via aquele monte de nomes. O professor queria saber o clima organizacional, queria saber de todos os termos... e a gente ficava assim: O que é isso? As disciplinas anteriores eram sobre EJA, metodologias de matemática, coisas que não tinham muito a ver. A organização das disciplinas, no meu ver, não é assim que deveria ser, porque hoje, depois de cursar as disciplinas, se eu fosse fazer o estágio numa empresa, eu já iria entender os termos que eles usavam, porque para falar a verdade, eu só coloquei no papel o que eu fiz no semestre passado, mas, entender o que aquilo queria dizer eu não entendi. Hoje eu entendo, até falo para as meninas: Fiquei tão agoniada no semestre passado porque eu não sabia os termos que eles usavam. (S8). É uma confusão brava. (S9). É muita confusão... (S8).
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É sim o negócio está estreito. (S9).
Fávero (2011), fala a respeito da desarticulação das disciplinas no Ensino Superior e de como os alunos se sentem frente à essa situação:
[...] tornando-se o currículo, muitas vezes, um elenco de disciplinas justapostas e desconexas, apesar de estarem administrativa e burocraticamente ligadas por pré-requisitos e correquisitos, e “controladas” por um colegiado de curso. (FÁVERO, 2011, p.66). Frente a essa desarticulação a mente do aluno se transforma em um verdadeiro “samba do crioulo doido”, marcada pela inexistência de clareza quanto ao sentido do que deve ser estudado e à razão de ser de cada disciplina, programa e bibliografia. Em decorrência, muitos caminham para a conclusão do curso quase por uma fatalidade e cada vez mais inseguros. (FÁVERO, 2011, p. 66).
No relato dos sujeitos da pesquisa encontra-se o que eles chamam de
confusão com relação às disciplinas. Fávero (2011), faz afirmações muito precisas
sobre o assunto, contribuindo para o esclarecimento de questões, que muitas vezes,
não emergem no contexto da graduação.
Superação
Superação das dificuldades na relação com o professor
Os sujeitos não relatam superações muito específicas a respeito das
dificuldades encontradas para compreender o planejamento dos professores, mas,
salientam que quando os professores fazem algum tipo de esclarecimento é muito
positivo:
O professor demorou quase um semestre para explicar a
metodologia e quando chegou agora no sexto semestre o professor
conseguiu explicar para a gente em vinte minutos, assim deu uma
diferença. (S1)
Superação das dificuldades com relação ao curso.
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Os sujeitos de pesquisa não falam muito a respeito das superações com
relação ao curso, somente um deles diz não ter desistido de estudar porque
percebeu as possibilidades que o curso poderia oferecer:
No meu caso, quando comecei a estudar, eu via que a Pedagogia poderia me abrir muitas portas, ela é como um leque bem amplo, você não precisa ir só para a sala de aula, ela te dá outras oportunidades, isso me motivou bastante para continuar na Pedagogia, tanto é que eu superei e estou aqui. (S5).
4.5 Dificuldades com o conhecimento teórico
Os sujeitos salientaram que ao iniciar o Curso de Pedagogia entraram em
contato com a produção teórica de diferentes autores, penetrar em seus
pensamentos, compreender suas idéias não se apresentou como tarefa fácil.
Dificuldades de leitura e interpretação de textos
Quando se fala em dificuldades de leitura e interpretação de textos, é
importante lembrar que a habilidade de leitura está profundamente relacionada ao
cotidiano das práticas profissionais do professor, o que referenda a importância do
desenvolvimento dessas habilidades no Curso de Pedagogia. Essas habilidades
também são fundamentais para que o aluno se aproprie dos conteúdos trabalhados
nas diferentes disciplinas que compõe o curso. Santuza Amorim da Silva (2009),
investigadora das trajetórias de leitura de docentes afirma: “[...] o itinerário de leitura
das professoras tornou-se significativo, à medida que elas são importantes
mediadoras da leitura no universo escolar [...]”. (SILVA, 2009, pg. 208).
Para o docente a leitura é instrumento para o seu trabalho, que provoca a
interação com o conhecimento e com aqueles que se propõem a conhecer. Quando
existem dificuldades no âmbito da leitura e interpretação a apropriação dos
conhecimentos fica prejudicada. Os professores necessitam da leitura para mediar a
relação dos alunos com o conhecimento.
Silva (2009) salienta que os níveis de leitura dos alunos da escola pública
brasileira são baixos, e que se transformaram em problema não só para a escola,
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mas para toda a sociedade. A leitura aparece como uma questão social importante
que necessita de ampla atenção por parte da comunidade acadêmica, talvez com
olhares para as questões econômicas e culturais, se consiga compreender um
pouco melhor os fatores que colaboram para os problemas existentes nessa área.
Para Silva:
[...] Há de se considerar que a leitura se encontra diretamente ligada às condições de distribuição e apropriação dos bens culturais pela população em geral”. E, no caso do Brasil, os dados apontam com frequência para a falta do hábito de leitura do povo brasileiro; em muitos casos, sem levar em consideração que o acesso a determinados bens culturais não se realiza de forma igualitária e democrática. Ainda vivenciamos problemas que dificultam a apropriação de diferentes segmentos sociais na herança cultural veiculada na sociedade da informação, seja através do objeto livro ou dos meios eletrônicos. (SILVA, 2009 p. 206).
Para Silva (2009) 87% dos municípios brasileiros não possuem livrarias e as
bibliotecas públicas são insuficientes, percebe-se com esses dados que não há um
incentivo eficaz de leitura com relação à população brasileira e que tais questões
vão muito além de pensar somente no aluno leitor, mas essa falta de incentivo
provoca dificuldades que aparecem no Ensino Superior. A autora afirma que é
necessário haver um aprofundamento na área de leitura com relação às práticas de
formação de professores.
A dificuldade de leitura e interpretação de textos foi relatada pelos sujeitos
dos dois grupos pesquisados, os mesmos afirmam que nos primeiros semestres é
muito difícil compreender os textos disponibilizados:
A dificuldade que nós encontramos no primeiro semestre é que eram muitas informações, muita teoria, então a gente não conseguia assimilar. (S1). Eu tive dificuldade em fazer leitura e saber interpretar essa leitura. (S2).
Nossa! Era complicado entender os textos no começo. (S3).
Para Ruth Ceccon Barreiros (2010), docente e pesquisadora sobre formação
de leitores, as pesquisas sobre habilidade de leitura mostram que os alunos
apresentam dificuldades nos vários níveis de ensino, o que também ocorre no curso
de Pedagogia cujo objetivo é formar leitores capazes de decodificar e também
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trabalhar com textos. A dificuldade da leitura, na verdade, é uma das barreiras para
que os alunos permaneçam na Universidade.
Percebe-se que muitas vezes, a quantidade de textos assusta os alunos que
estão no início do curso. Os sujeitos dos dois grupos pesquisados foram unânimes
em afirmar que há muita teoria nos cursos de Pedagogia:
É muita informação! É só teoria, teoria, teoria e pouca prática, é totalmente fora da nossa realidade. Você se depara na Universidade com textos científicos, com trabalhos científicos. (S1).
Então chegar na Universidade e se deparar com um texto de vinte páginas, e o professor dizer assim: é um texto pequenininho, só tem vinte páginas. É complicado, e muito difícil. (S9).
Barreiros (2010) salienta que seus estudos sobre o curso de Pedagogia,
mostram que muitos dos alunos que ingressam no Ensino Superior não demonstram
interesse pela leitura e não estão preparados para o volume de leitura solicitado. A
Universidade parece pensar que não é sua função resolver as dificuldades de leitura
e de interpretação de textos apresentadas pelos estudantes, considerando que isso
seria da competência dos ensinos fundamental e médio.
As afirmações feitas pelos sujeitos participantes dessa pesquisa, explicitam
suas percepções a respeito das diferenças existentes entre o Ensino Médio e o
Ensino Superior:
Quando entrei na faculdade, estava ciente de que iria ter dificuldade por causa do ensino médio. Eu gostaria de ter estudado numa escola particular. (S4).
É porque no Ensino Médio a gente não tem aquela matéria que o professor vai fundo. Não precisa pesquisar, é só ir ao Google e achar uma figura bonita e tirar A. Na faculdade tem que pesquisar mesmo, até pode achar alguma coisa no Google, mas tem que ver se é verdade ou não. No ensino médio não tem essa obrigação. (S10).
Percebe-se pela fala dos alunos pesquisados, que entre o Ensino Médio e o
Superior existe um fosso e a leitura e interpretação de textos é um dos fatores que
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mais dificulta a inserção dos alunos na vida universitária. Isso é explicitado pelos
depoimentos dos sujeitos de pesquisa:
No meu caso, as dificuldades foram com relação à alguns textos, que eu achei que é muito conteúdo, e muito complexo.O pessoal da sala começava a ler e parava na metade do texto, não aguentava mais ler, pegava e parava; na hora dos debates em sala o pessoal lia na hora, mas, a maioria não lia.Textos de Psicologia e Alfabetização são muito difíceis! (S1).
Eu não tinha o hábito de ler, não compreendia os textos. (S7).
Espera-se que os alunos ao chegarem à Universidade tenham pleno domínio
da técnica da escrita. Para Soares (2004), o letramento é a via pela qual o indivíduo
se insere no mundo da escrita: é o aprender da técnica- o saber ler e escrever, e
fazer uso dessa técnica envolvendo-se nas práticas sociais da leitura e escrita. Para
Silva:
O foco e o interesse em torno do letramento docente se dão sobre tudo em decorrência do discurso consensual por parte de pesquisadores de que a formação dos docentes deve ser redimensionada nesta área, tendo em vista o fracasso no âmbito do letramento escolar (SILVA, 2009, p. 205).
Relacionando o que Soares (2004) e Silva (2009) afirmam nas citações
acima, com as respostas dos sujeitos que participaram dessa pesquisa, entende-se
que há uma lacuna entre dominar a técnica da leitura e da escrita, e fazer uso
daquilo que se lê para desenvolver ações no cotidiano; o que reforça a importância
do letramento nos processos formativos.
Os sujeitos dos grupos pesquisados dizem que nos primeiros períodos não
estão familiarizados com os textos que lhe são exigidos na Universidade:
São poucas as pessoas que tem o hábito de ler, quando lê, é no máximo um jornal, essa não é a nossa realidade. (S1).
No começo, eu não conseguia interpretar os textos. (S8).
Você se depara com textos científicos... não faz parte da nossa realidade, não faz parte da realidade da maioria das pessoas...não faz parte da nossa classe social, não estamos acostumados à isso.(S9).
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Eu tive dificuldade na leitura e interpretação de textos. Eu estava acostumada a ler jornal, assuntos da atualidade, quando os textos tinham essa referência tudo ia bem, mas, quando eram filosóficos eu não entendia. (S10).
Os sujeitos ao se referirem aos textos acadêmicos dizem que eles não fazem
parte da sua realidade, eles provavelmente se distanciam dos gêneros textuais
familiares aos alunos. Barreiros (2010) diz que foi possível perceber uma grande
dificuldade apresentada pelos alunos universitários que participaram de suas
pesquisas, no que se refere à leitura de textos acadêmicos, sendo que frente aos
textos do cotidiano não apresentam as mesmas dificuldades.
Dificuldade de estabelecer relação entre os textos lidos e prática.
Nos primeiros períodos, os sujeitos dos grupos pesquisados não conseguem
relacionar os textos lidos com as práticas cotidianas, mesmo aqueles que já têm
algum contato com o ambiente escolar. Seus depoimentos levam a crer que teoria e
prática estão em oposição. Isso fica muito claro quando dizem:
Eu trabalhava em escola, mas, não conseguia enxergar a relação do que aprendia com a escola que eu trabalhava, então ficava difícil conciliar as duas e por conta disso, o rendimento foi lá em baixo. (S8).
Esse curso é muito teórico, para entender tudo mesmo só na prática, mas, a aula de hoje que é de prática pedagógica, não tem nada, só fantasia... só fantasia... Se eu pudesse ir embora eu iria. (S1).
É de se pensar quando o aluno diz: “Só Fantasia”, que as leituras ao invés de
aproximá-lo distanciam-no de sua realidade, o fato é que isso parece desmotivar o
aluno a ponto de dizer: “Se eu pudesse eu iria embora”. Segundo Saviani (2007):
No dia-a-dia da sala de aula os alunos tendem a, constantemente, reivindicar a primazia da prática: “esse curso é muito teórico” dizem eles; “precisaria ser mais prático”. “O professor, por sua vez, tende a defender a importância da teoria”. (SAVIANI, 2007, p.106).
Para o autor, essa é uma situação difícil de resolver que se repete a cada
turma que chega ao Ensino Superior para cursar Pedagogia, os sujeitos requisitam
um curso mais prático, e os professores enfatizam a importância da teoria.
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Os sujeitos de pesquisa mostram por meio de suas afirmações, a
necessidade que sentem de compreender os textos, Essa disponibilidade parece
não ser aproveitada pelos professores. Freire (1996) faz um questionamento a
respeito disso: “Por que não estabelecer uma “intimidade” entre os saberes
curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como
indivíduos?”. (FREIRE, 1996, p. 30). Torna-se clara a importância de buscar
diferentes maneiras de aproximar os alunos das temáticas tratadas nos textos
acadêmicos, para isso, é necessário rever os caminhos que estão sendo percorridos
nessa direção nos Cursos de Pedagogia. Para Saviani:
Teoria e prática são aspectos distintos e fundamentais da experiência humana. Nessa condição podem, e devem ser consideradas na especificidade que as diferencia, uma da outra. Mas ainda que distintos esses aspectos sejam inseparáveis, definindo-se e caracterizando-se sempre um em relação ao outro. Assim a prática é a razão de ser da teoria, o que significa que a teoria só se constituiu e se desenvolveu em função da prática que opera, ao mesmo tempo, como seu fundamento, finalidade e critério de verdade. A teoria depende, pois, radicalmente da prática. (SAVIANI, 2007, p.108).
Observa-se que teoria e prática estão articuladas e que é preciso encontrar
estratégias para minimizar essa oposição entre ambas, que se expressa nas salas
de aulas dos cursos investigados.
Saviani (2007) se utiliza de dois termos para falar da oposição entre teoria e
prática: verbalismo e ativismo o verbalismo seria o falar por falar (teoria sem prática),
e o ativismo a ação pela ação (a prática sem teoria). Segundo o autor, os alunos
querem a prática e os professores defendem a teoria, dessa forma se distanciam
nos espaços de formação.
Superação
A superação da dificuldade de leitura e interpretação de textos ocorreu de
forma contínua e gradativa, os sujeitos relatam que na medida em que liam os
textos, e se dedicavam à leitura, o entendimento ia se aprimorando. Além das
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leituras constantes, iam surgindo alternativas que colaboravam para a aproximação
de entendimento dos textos. Koch e Elias (2011, p. 07) destacam:
[...] Postula-se que a leitura de um texto exige muito mais que o simples conhecimento linguístico compartilhado pelos interlocutores: o leitor é necessariamente, levado a mobilizar uma série de estratégias tanto de ordem linguística como de ordem cognitivo-discursiva, com o fim de levantar hipóteses, validar ou não as hipóteses formuladas, preencher as lacunas que o texto apresenta, enfim, participar, de forma ativa, da construção do sentido. Nesse processo, autor e leitor devem ser vistos como ‘estrategistas’ na interação pela linguagem. (KOCH E ELIAS, 2011, p.07).
Os sujeitos participantes dessa pesquisa mobilizaram-se de várias formas
para compreender os textos acadêmicos. Contando com seus recursos,
desenvolveram ações que se traduziram em buscar caminhos para prosseguir com o
curso e ultrapassar os obstáculos que dificultavam o entendimento do texto escrito.
Os sujeitos pesquisados relatam que a superação da dificuldade de leitura e
interpretação dos textos, ocorreu aos poucos; a atenção em sala de aula, o uso do
Google e do dicionário, são estratégias que facilitaram esse processo, eles dizem:
Para entender eu tive que prestar atenção, porque pegar um texto e não acompanhar a aula, não adianta. Achei que acompanhar a aula é fundamental. (S8).
Eu achava que ia dar conta, eu procurava muito no Google alguma palavra que não conhecia. (S9).
Dicionário para mim, anda lado a lado comigo, quando eu não estou com ele, eu jogo no Google, pergunto e ele fala.(S7).
Alguns sujeitos que recorreram ao dicionário, disseram que para superar as
dificuldades de leitura, o dicionário ajudava, mas não bastava:
A gente até entende o que está no dicionário, mas pergunta por que esta palavra está aqui? (S7).
Diante dessas afirmações, é possível identificar uma busca pela compreensão
dos textos acadêmicos, que não se completava, havia sempre, questionamentos e
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necessidade de desenvolver novos recursos para o seu entendimento. Segundo
Koch e Elias: “A leitura é, pois, uma atividade interativa altamente complexa de
produção de sentidos” (KOCH E ELIAS, 2011, p. 11).
Outra questão destacada pelos sujeitos, diz respeito à trocas de informações
existentes nos grupos de estudos dos quais os alunos participavam, isso auxiliava
na compreensão e interpretação dos textos.
Severino (2000) descreve a organização necessária para leitura, análise e
interpretação de textos, uma de suas orientações, é delimitar unidades de leitura,
considerando que a leitura do texto deve ser feita por etapas, de forma disciplinada e
coerente, conforme a natureza e familiaridade do leitor em relação ao texto. Nota-se
com base nas afirmações dos sujeitos que ao enfrentarem as dificuldades, mesmo
sem saber inicialmente como fazer, acabavam descobrindo um caminho que
facilitava a compreensão:
O que me ajudou a compreender melhor os textos, foi o trabalho que a gente dividia: uma fazia uma parte e outra pessoa outra parte, nos reuníamos e comentávamos: a minha parte está falando assim... assim... e assim..., a outra parte fala outra coisa, então consegui conciliar; a parte que não entendi, a colega entendeu, ela me ajuda naquilo que não entendi, e eu ajudo naquilo que entendi. Esse foi o ponto que mais ajudou a compreender os textos. (S8).
Aqueles que não tinham o hábito de ler começaram a ler muito mais na
tentativa de compreender o que estavam lendo:
Eu não tinha hábito de ler, eu passei a fazer leitura constante, ler livros, até mesmo textos científicos, passei a estudar mais, e também em grupo a gente se reunia e conversava um pouco sobre essa dificuldade. Principalmente, minhas colegas que têm mais conhecimento do que eu, eu perguntava e elas iam me ajudando. Eu não superei 100%, eu tenho muito a aprender ainda. (S7).
Os sujeitos disseram que faziam demarcações nos textos para melhorar seu
entendimento:
Marcava, fazia marcação nos textos. Lia várias vezes, duas ou três vezes, quantas vezes fossem necessárias para que eu pudesse entender o texto. (S5).
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Para resolver essa dificuldade eu li muito, peguei textos difíceis da internet, tentei fazer resumo, foi sozinha mesmo, não tive ajuda de nenhum professor. Enfrentei sozinha. (S5).
Sozinha mesmo, com muita força de vontade, pegando textos mais difíceis... Entre o segundo e o terceiro semestre, eu fui percebendo que eu escrevia melhor, entendia melhor.(S4).
Os sujeitos dizem que a aproximação dos textos com a realidade ajuda no
entendimento:
Se você trouxer esse texto científico para a sua vivência, você relaciona o texto àquilo que você já viu em algum lugar, isso melhora, facilita a compreensão e você passa a perceber que ele não é tão chato assim. (S9).
Koch e Elias afirmam: “A leitura é uma atividade na qual se leva em conta as
experiências e os conhecimentos do leitor”. (KOCH E ELIAS, 2011, p. 11). Isso
denota que quando os sujeitos dos grupos pesquisados fizeram alguma relação do
texto escrito, com suas experiências de vida, ou com o que já viram em algum lugar,
ou ouviram em algum momento, o texto teve mais aceitação por parte dos alunos e
o entendimento passou a ganhar mais espaço.
4.6 Dificuldades com relacionamento interpessoal
O relacionamento interpessoal está presente na formação docente. O
ambiente acadêmico proporciona convivência entre alunos e professores. No que
se refere às relações entre alunos, cumpre destacar que nem sempre ela é pacífica.
Cada sujeito ao se inserir no Ensino Superior, não abandona sua trajetória, suas
experiências e ao encontrar-se com o outro, as diferentes maneiras de estar na vida
se tornam aparentes.
Placco (2004), autora que fala das relações interpessoais em sala de aula e
do desenvolvimento pessoal do aluno, diz:
Temos dito que a formação do sujeito se dá no meio da cultura, em parceria e em presença do outro. O que isso significa? Se por um lado se traduz uma articulação de saberes, por uma troca que mobiliza e permeia os processos cognitivos, por outro também significa considerar que cada um, nessa interação, expõe seus pensamentos, seus modos de interpretar a realidade, suas
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perspectivas de ação e reação, seus motivos e intenções, seus desejos e expectativas- seus afetos, enfim. E essa exposição afetiva se encontra e embate com os pensamentos, modos de interpretação, sentimentos, reações e motivos do outro. Nesse encontro, ocorrem transformações que constituem ambos os sujeitos da relação como identidades separadas e ao mesmo tempo imbricadas com o ambiente social e cultural de que provêm e no qual estão. (PLACCO, 2004, p.10).
A fala da autora, acima citada, auxilia na compreensão das relações
interpessoais, na Universidade. O cotidiano da sala de aula permite aos alunos
encontrar-se com o outro, com a cultura do outro, com as ideias do outro, e isso
muitas vezes ocorre em meio a conflitos.
Os sujeitos da pesquisa, encontraram dificuldades para trabalhar em grupo:
grupos fechados; divisão entre grupos na sala, falta de interação; falta de
cooperação; falta de recursos para lidar com a diversidade e com conflitos.
As primeiras dificuldades foram com o trabalho em grupo, do grupo se entender, havia falta de comunicação, o individualismo, o egoísmo e a falta de entendimento. (S1).
Uma das maiores dificuldades era o trabalho em grupo, não por mim, mas sim pelos integrantes do grupo... A nossa sala é grande, um não sabe o nome do outro na sala, a gente está há três anos juntos e não se conhece. Tem uma divisão muito grande na sala. (S5) Uma das dificuldades que eu tive foi a questão de trabalhar em grupo. (S4).
Na Universidade você tem dificuldade de relacionamento. (S6).
Toda dificuldade que você vai ter na Universidade, é de relação com o próximo, eu até coloquei num papel que a diversidade entre pessoas é muito grande, você tem que aprender a trabalhar em grupo, a respeitar a opinião do próximo, e tudo isso no 1º. e no 2º. semestre. (S9).
A resolução dos conflitos que emergem das relações é complexa, os sujeitos
dizem que não há entendimento nos grupos:
Ninguém se entendia no grupo mesmo. - Acabou a amizade, por causa de trabalho. Hoje uma (colega) senta de um lado da sala, a
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outra senta do outro lado, as duas passam, se olham, mas, não se falam, nem bom dia, nem boa tarde, nem nada. A relação do grupo acabou. (S1).
Percebe-se na fala dos sujeitos que a diversidade de comportamento gera
conflitos entre os componentes dos grupos de estudos:
Uma das integrantes do grupo não escrevia nada, e as poucas coisas que eu escrevia ela criticava ainda, ou então ela dava sumiço nas coisas e falava que eu não tinha entregado para ela, então tinha que sempre ter cópia daquele trabalho, do que eu escrevia, e eu guardava, eu não tinha mais confiança de entregar para ela o que eu escrevia. Procurava sempre fazer todo mundo junto, porque aí ela não tinha aquela de dizer que ela fez, ou de que ninguém do grupo participava. (S5).
Os sujeitos dizem não serem ouvidos pelos colegas:
As pessoas são muito individualistas não sabem ouvir o outro. No primeiro semestre as pessoas já formaram grupos. Por exemplo, quando eu estava fazendo o TCC, estava todo o grupo em círculo, eu fui dar minha opinião, a pessoa simplesmente ignorou, virou para a outra e fingiu que não estava me ouvindo. Então eu acho que hoje, o ser humano não sabe, saber sabe, é que ignoram a idéia da outra pessoa, e pensa que está certo em tudo. (S4).
No relato dos sujeitos pesquisados, percebe-se a falta de diálogo, e as
dificuldades que os grupos têm de lidar com as críticas:
Eu sempre tinha a mesma dificuldade no grupo, falta de diálogo nos grupos. Às vezes é mais fácil você agredir do que chegar e falar o problema. São palavras que te agridem, que são as maiores dificuldades, às vezes a pessoa não conversa com você, não fala onde está o problema. Críticas das pessoas umas com as outras, criticar, apontar o defeito do outro, não se autoavaliar, porque é muito mais fácil eu apontar o defeito do outro, do que me auto avaliar e ver o meu defeito; onde eu posso melhorar. Acho que essa é uma das maiores dificuldades dos grupos, porque eles não se autoavaliam, só veem o defeito do outro. (S5).
Os sujeitos da pesquisa mostram em suas falas, as dificuldades de
compreender as críticas que fazem, um com relação ao outro, mas, Placco e Souza
(2006) dizem que é necessário para a aprendizagem o reconhecimento de que não
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se sabe tudo, quando se reconhece isso, surge a abertura para o novo , Placco e
Souza (2006), afirmam que :
Aprender, de um lado, supõe aceitar que não se sabe tudo, ou que se sabe de modo incompleto, ou impreciso ou mesmo errado, o que é doloroso; de outro, relaciona-se ao prazer de descobrir, de criar, de inventar e encontrar respostas para o que se está procurando, para a conquista de novos saberes, idéias e valores. (PLACCO e SOUZA, 2006, p. 20).
Acredita-se que as críticas seriam melhor compreendidas e trabalhadas, a
partir do reconhecimento dos sujeitos, das áreas em que eles têm dificuldades a
serem superadas.
Os grupos são fechados em sua formação, os sujeitos dizem ter que pedir
para serem aceitos em um grupo de estudos, e precisam se sujeitar às regras
estabelecidas pelo grupo:
Eu pedi para entrar num grupo, falei com duas pessoas da sala para entrar no grupo delas, aí elas falaram que o grupo era só as duas, não me deram resposta de nada. Elas pensaram em uma ou duas semanas se eu podia entrar no grupo ou não, eu as via conversando entre elas, e pensava: acho que elas estão pensando se eu vou poder entrar no grupo ou não. Elas pensaram uma, duas semanas e deram a resposta para mim, que eu poderia entrar no grupo. (S1). Uma colega pediu para entrar no grupo e nós falamos: tudo bem, a gente aceita, mas você vai ter que chegar mais cedo nas aulas. (S8).
Dificuldade de apresentação dos trabalhos por causa da falta de cooperação
entre os alunos da sala (relacionamentos estremecidos). Os sujeitos falam sobre a
dificuldade que tiveram para realizar os trabalhos acadêmicos:
Há dificuldade também do grupo se encontrar para fazer trabalho, porque muita gente mora longe da faculdade e quando tem um tempo, ninguém quer estudar, nem se reunir, o pessoal quer deixar o tempo livre, ter um tempo livre, isso gera briga entre o grupo. Tanto é que no quarto semestre eu entrei num grupo e hoje no início do quinto semestre ninguém se fala. (S1).
Outra das maiores dificuldades era o trabalho em grupo, não por mim, mas sim pelos outros integrantes do grupo, eu não tenho problema de trabalhar em grupo, mas na sala havia muito desrespeito para trabalhar em grupo. Havia pessoas que não faziam
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nada, encostavam no grupo, e o que o outro fazia, criticavam ainda. (S5).
Você vai apresentar o trabalho, querem te deixar para baixo, te olham de cara feia. (S4).
Já teve trabalho em grupo do grupo não aparecer, e nós tivemos uma menina do grupo que em toda apresentação, ela não vinha porque ficava doente, mas isso era do emocional dela mesma, ela passava mal de suar frio, ficar branca. (S9).
Os sujeitos da pesquisa falam sobre os grupos de estudo, e de como o não comprometimento dos alunos geram situações e impasses de difícil resolução:
Ninguém se fala mais. Ninguém se fala porque a montagem de um artigo sobrecarregou muito uma pessoa, eu a ajudei no que pude, foi a primeira vez que eu montei um artigo, eu não sabia que era tão difícil. Hoje ela passa por mim, não me cumprimenta, não olha pra mim, muito menos para o grupo, e quando falam é na base do interesse, ela quer alguma coisa, mas fora isso, a gente não se conversa. Então gerou um conflito entre as pessoas do grupo. Foi um artigo que precisava de uma visita na brinquedoteca de um hospital (pedagogia hospitalar), houve uma dificuldade para conseguir permissão para ver as crianças com câncer, o trabalho com elas é muito difícil, é muito restrito, e quando se conseguiu o grupo não foi. Então a menina trabalhava no hospital, ela acabou passando vergonha porque marcou, e chegou na hora ninguém foi. No dia seguinte cada um inventou uma desculpa. Um falou que foi trabalhar, outro falou que foi cuidar do filho, outro falou que foi fazer não sei o quê, e no final não deu para ninguém ir, então ela passou vergonha, ficou um negócio chato. O grupo estava se desentendo, aí como era a montagem desse artigo, para não haver mudança de grupo, não quebrar o ritmo do grupo, porque teria de começar tudo de novo, a gente optou por continuar junto, mas, ninguém estava se entendo mais. A amizade das melhores amigas da sala acabou, uma não olha para a cara da outra. Acabou a amizade, por causa do trabalho. (S1).
O grupo era muito crítico, não aceitavam opinião um do outro, chegou um momento que eu terminei concluindo no primeiro semestre a primeira parte do artigo em grupo, mas tinha coisas absurdas que eu não aceitava, por ser um trabalho que pesava bastante no nosso currículo, eu achei melhor me desintegrar do grupo e fazer um grupo separado. (S5).
A dificuldade de realizar trabalhos em grupo, pode não favorecer o processo
de aprendizagem dos alunos. Segundo Placco e Souza (2006), o adulto aprende de
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várias formas, e as relações ocupam um papel importante no processo de
aprendizagem:
Também consideramos que aprendemos de muitas formas, por intermédio de múltiplas relações. Entretanto, é só no grupo que ocorre a interação que favorece a atribuição de significados pela confrontação dos sentidos. Significados da ordem do público, sentidos da ordem do privado. No coletivo, portanto, os sentidos construídos com base nas experiências de cada um circulam e conferem ao conhecimento novos significados- agora partilhados. (PLACCO e SOUZA, 2006, p. 20)
Na fala dos sujeitos, percebe-se que a intolerância provoca relacionamentos
estremecidos:
Cada um aqui tem um grupo, eu não vejo a dificuldade do grupo como pessoal. Eu sou capaz de estar no mesmo grupo que você, e não necessariamente sermos amigas, de uma ir à casa da outra todos os dias, não é isso; mas se tem a facilidade de se tolerar, tolerar mesmo. Na intolerância não se tem grande coisa. É uma sala assim: O pessoal não coopera por diversos motivos, aonde tem mais que um ser humano tem problema. Trabalhei em um grupo com uma pessoa, hoje não somos amigas, mas eu não acho que faça falta, sei lá... A gente conversa, da risada, mas, para fazer um trabalho não dá para fazer. Eu tenho uma maneira de ver as coisas, ela tem outra. Quando você aprende a unir a sua maneira com a do outro, fecha os olhos para algumas coisas e fica mudo para outras até dá, mas, no primeiro semestre você não sabe disso. No primeiro semestre você é verdade absoluta, eu acho que é o que eu estou dizendo, ela acha que é o que ela está dizendo... Depois com a maturidade muda. (S9).
Há uma busca de identidade de grupo nos primeiros períodos: Os sujeitos
relatam que no primeiro semestre os grupos de trabalho em sala de aula já estão
formados, os alunos que ingressam algum tempo depois do início das aulas
encontram dificuldades. Percebe-se que existe uma movimentação que ocorre entre
os alunos a partir do primeiro semestre: os alunos iniciam uma busca por grupos
com os quais se identifiquem:
No primeiro semestre as pessoas já formaram grupos. (S4).
Eu comecei em um, e terminei o ano em outro grupo. A cada semestre eu participava de um grupo. (S5).
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Teve algumas pessoas que tiveram uma dificuldade e formaram novos grupos. (S4).
É fui procurar pessoas que falassem mais ou menos a mesma linguagem que eu, procurei fazer amizade, até que achei um grupo. Porque no primeiro grupo do qual participei, eu pensei: não vai dar certo. (6).
Cheguei na Universidade depois de uns 20 dias que as aulas tinham começado, os grupos já estavam formados. Eu tive uma dificuldade maior porque não conseguia escolher um grupo... Fui inserida no meio de um grupo que todos já estavam lá, e nem sempre você se identifica com aquelas pessoas, que foi o meu caso. (S9).
Eu vou falar da minha dificuldade, igual a S9 eu entrei na faculdade um mês depois, o mesmo caso que ela. As pessoas já tinham formado seus grupos, e eu cheguei e caí onde tinha menos gente. Comecei numa segunda-feira, e acho que tinha um feriado na terça e já tinha um trabalho para ser entregue na semana seguinte, me passaram algumas informações, o que a professora falou e já tinha dividido: vai fazer assim, assim, assado e cada um tinha um pedaço para resumir. Eu levei o meu pedaço para casa, como tinha feriado combinamos para nos falar por telefone para trocar idéias Cheguei em casa toda feliz... Resumindo... Resumindo... Resumindo... Eu não sabia se estava bom, se batia com as idéias das meninas ou não. Pedi para o meu menino digitar, isso foi na terça-feira à noite, no feriado eu mandei para as meninas do grupo. Uma delas respondeu: está muito bom, você pode levar na segunda-feira? Eu respondi posso então ficou assim: eu levava o meu pedaço e cada um levava o seu. Quando chegou a segunda-feira, na hora de mostrar cada um o seu pedaço, só tinha o meu, e cadê os outros? Eu falei: eu fiz, mandei para vocês, e vocês falaram que estava bom e eu trouxe, e uma das meninas que estava lá falou: mas você só fez isso? rsrsrs. Eu de idade no meio de meninas novas. Fiquei sem palavras na hora e disse: não foi esse o combinado. Pensei: vou terminar esse trabalho, porque agora não tenho como sair daqui. Ir para onde? Quando terminou aquele trabalho eu pensei →vou procurar outro grupo. (6).
A questão do trabalho em grupo é vista pelos sujeitos como importante, não só em sala, mas também para o mercado de trabalho e para a vida em sociedade:
A sala é um grupo. A sala devia ser mais unida, um ajudar mais o outro, isso está na sociedade, não é só na sala de aula. Você vai procurar um serviço, você vai andar na sociedade, você vai se deparar com pessoas. (S4).
A gente vai aprendendo a conviver com os grupos, porque na verdade quando você vai para o mercado de trabalho... Você saiu do mundo da sua casa, do mundo da Universidade onde você conviveu
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por um período de tempo com algumas pessoas, e vai conhecer outras pessoas. (S9).
Com o passar dos semestres os sujeitos percebem a importância do trabalho em grupo, e refletem sobre o papel do professor com relação à isso:
Afinal de contas estou me formando para ser professora e como professora eu vou trabalhar com seres que eu vou preparar para a sociedade. E como que eu vou prepará-los para a sociedade se eu não sei interagir com o outro? Muitos querem ser professores pela professora que tiveram, então, acho que eu tenho que aprender a trabalhar em grupo, para que eu possa ensinar as crianças a trabalhar em grupo, porque amanhã, na vida, eles vão trabalhar dessa forma, em qualquer lugar, seja numa escola ou numa empresa eles vão ter que trabalhar em grupo, porque é uma sociedade. Não conseguimos viver sem ser em grupo. O grupo é uma forma de socialização, você aprende outras culturas, você conhece outros povos. Se você não tem essa interação, você não conhece, eu acho importante o trabalho em grupo (S5).
Os sujeitos falam da importância dos professores para mediar conflitos de
relacionamento interpessoal, e sugerem a intervenção dos professores:
Eu acho que os professores deviam entrar em sala, e incentivar a mudança, para que um trabalhe com o outro. (S4).
Quando os sujeitos sugerem a intervenção dos professores para mediar os
conflitos, entende-se que os professores ocupam um papel importante em sala de
aula no que se refere à aprendizagem do adulto. Zabalza (2004), diz que a
aprendizagem do aluno universitário não depende somente dele, de suas
capacitações, mas também das condições em que ocorre essa aprendizagem, e da
capacidade dos professores em auxiliar os alunos no processo.
Os sujeitos de pesquisa relatam que há resistência por parte dos grupos
formados em sala de aula com relação à intervenção dos professores para a
interação:
Mas quando tem alguns professores que tentam fazer isso, é muito difícil. Nós tivemos aula esse final de semestre, e a professora fez papeizinhos com cores diferentes para que a gente pudesse interagir com outras pessoas de outros grupos, e nós percebemos que tinha
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muita resistência. O professor solicitou aquela interação, mas houve resistência. Após a aula, os alunos falaram: porque o professor fez isso se nós já temos o nosso grupo? Então quando o professor força uma situação de interação dentro da sala, para socialização, há resistência dos alunos. Eles não aceitam a troca de grupo, conversar com outra pessoa, trocar idéias. (S5).
As mudanças dos integrantes vão definindo uma nova formação dos grupos,
que os sujeitos veem como positiva:
Eu entrei num semestre no grupo, logo depois uma integrante descobriu que Pedagogia não era o forte dela. rsrs. Ela era inteligente, mas, disse que iria fazer outra coisa. A partir daí o grupo começou a esvaziar, então a S10 chegou, ela entrou no segundo semestre, eu me identifiquei bem com ela, por conta das leituras, ela me ajuda muito quando eu não estou entendendo uma coisa; então veio a S9 que acabou entrando no grupo também. Eu não vi como uma dificuldade o grupo ter se separado, vi que pude aprender um pouquinho mais. No trabalho em grupo não tem como pensar individualmente. A meu ver, um grupo não pode pensar em um só. Nós temos que ser uma equipe. (S8).
Superação
A participação em vários grupos possibilitou a superação da dificuldade de se
trabalhar em grupo. A vivência com outras pessoas abriu espaço para aprender com
o outro, e superar dificuldades. Segundo Placco (2004):
Habilidades de relacionamento interpessoal e social são, como tantas outras, aprendidas e desenvolvidas no viver junto- e dessa aprendizagem ninguém sai igual: mudanças são engendradas no nível da consciência, das atitudes, das habilidades e dos valores da pessoa [...]. (PLACCO, 2004, p. 11).
Baseando-se no que as autoras afirmam, os sujeitos pesquisados, no
processo de relacionar-se com o outro, foram aprendendo a se relacionar, mesmo
em meio aos conflitos e dificuldades ocorridas, foi se construindo uma forma de viver
junto:
Participei de vários grupos. Eu comecei em um, e terminei o ano em outro. A cada semestre eu participava de um grupo, até mesmo para interagir com outras pessoas, conhecer outras pessoas, para não ficar num grupo fechado, porque quando você está num grupo
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fechado, você perde a oportunidade de conhecer outras pessoas. Eu acho que, quando você trabalha com várias pessoas, te enriquece porque com as dificuldades do outro você aprende a superar as suas. Você passa a conhecer o outro como ele é, você vai ver que ninguém é igual, todo mundo é diferente, mas que você é capaz de lidar com as diferenças. Comecei a aprender com as pessoas, achei que daquelas situações poderia tirar algo de bom. Eu acho que eu aprendi bastante com esses grupos. (S5).
Eu procurei conhecer novas pessoas. Nesse semestre eu conheci mais pessoas do que no primeiro e no terceiro, mas, por mais que eu queira conhecer novas pessoas, acho que as pessoas ainda são muito fechadas. (S4).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
No início deste trabalho, objetivou-se investigar quais os desafios enfrentados
pelos alunos nos primeiros períodos do curso de Pedagogia para inserção no Ensino
Superior. Os dados de pesquisa evidenciaram que os alunos ao ingressarem no
Curso de Pedagogia enfrentam dificuldades de diferentes ordens.
Inicialmente podem-se destacar as dificuldades denominadas de externas ao
curso - Tratam-se das dificuldades que os sujeitos dizem ter enfrentado e que não
têm relação direta com o curso: conciliar atividades de estudo, trabalho e família;
dificuldade econômica para custear os estudos (pagamentos de mensalidades,
transporte e materiais). A partir dos relatos dos sujeitos de pesquisa, entende-se que
a entrada no Ensino Superior provoca uma desestabilização na vida do aluno. Há
necessidade de uma reorganização por parte dos sujeitos, para que possam
enfrentar mudanças no que se refere ao orçamento familiar e também com relação à
conciliação entre trabalho e estudo. Quanto à superação desses conflitos, ela não
se deu imediatamente, alguns deles permanecem sem serem totalmente
equacionados, quando muito, os alunos vão encontrando estratégias no decorrer do
curso para lidar com eles.
Cumpre salientar também a existência de Problemas familiares e de ordem
emocional (falta de motivação, interferências na vida familiar, incertezas), relatados
pelos participantes da pesquisa. As dificuldades enfrentadas no período de inserção
na Universidade provocam alterações emocionais nos sujeitos; eles se sentem
inseguros, incompetentes para realizar as tarefas acadêmicas. Tal insegurança
reflete na vida afetiva do sujeito como um todo, a família sofre consequências é
obrigada a se reorganizar, o que afeta as relações provocando transformações e até
mesmo rupturas.
A superação das dificuldades familiares e de ordem emocional não foi
aprofundada, o que se detectou é que situações de estresse vão sendo
administradas conforme surgem. Os familiares têm um papel importante nesse
processo, ora apoiando e dando suporte para que as dificuldades sejam
enfrentadas, ora dificultando, por se sentirem ameaçados e excluídos. O sonho, a
83
vontade de concluir o curso superior é a mola propulsora para que iniciantes deem
continuidade ao curso, em meio aos desafios.
Os sujeitos de pesquisa salientam também dificuldades relativas à utilização
dos laboratórios de informática e da biblioteca. Segundo os alunos, os laboratórios
de informática não atendem às necessidades de horário, de acesso e de
equipamentos, o que provoca atraso na entrega e, às vezes, até mesmo a não
realização de trabalhos acadêmicos. Além de não terem acesso à internet, não
sabem acessá-la e dizem não encontrar na universidade apoio para realizar essa
tarefa. Apesar das universidades contarem com bibliotecas adequadas, os alunos
destacam a falta de apoio para aprender utilizar seus recursos.
A superação das dificuldades em relação à Informática se deu por meio da
realização de cursos fora da Universidade e por meio do auxílio de amigos e
familiares. Quanto à biblioteca, não mencionaram como se apropriaram de seus
recursos.
Quanto às dificuldades encontradas referentes à relação com os professores
do curso, os alunos fazem referência a falta de clareza de alguns planejamentos e
de orientação adequada para o desenvolvimento de trabalhos individuais e grupais.
Em relação ao curso, os sujeitos relataram que o curso de Pedagogia é muito
amplo, enfoca muitos conteúdos, não os aprofunda e não estabelece relações muito
claras com a prática. Nos estágios e nas atividades complementares essa falta de
relação se evidencia, o que faz com que os alunos não vejam sentido nessas
atividades. Os sujeitos não fizeram comentários relacionados à superação das
dificuldades, eles dizem que continuam o curso por terem desejo de se formar.
É importante ressaltar a ênfase dada pelos alunos quanto às dificuldades
relativas à leitura e interpretação de textos. A não familiarização com os textos
acadêmicos nos primeiros períodos é evidenciada e necessita de bastante atenção
por parte dos projetos pedagógicos dos cursos de Pedagogia, na medida em que é
por meio da leitura e interpretação de texto que os alunos se apropriam de grande
parte dos conteúdos acadêmicos. O aluno que não tem essa competência encontra
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muita dificuldade para se inserir nos cursos superiores. Os sujeitos dizem ter
superado essa dificuldade durante o curso com base em iniciativas particulares, não
mencionam participação sistemática dos professores nesse processo.
As dificuldades de relacionamento interpessoal também são enfatizadas nos
relatos dos sujeitos. Nos primeiros semestres, as relações entre os sujeitos são
conflituosas e a interação na sala de aula é algo difícil. Percebe-se que existe falta
de preparo para lidar com as diferenças e com os conflitos, isso acaba refletindo na
formação de grupos de trabalhos.
Salienta-se que a atividade docente pressupõe interações e que não parece
existir nos cursos pesquisados, um trabalho específico no sentido de preparar os
futuros profissionais de educação para vivenciar esses processos de forma criativa,
evitando embates, rompimentos desnecessários e desgastantes. Os sujeitos de
pesquisa relatam que a participação em vários grupos no decorrer no curso, ajudou
a superar as dificuldades de relacionamento pessoal. Os sujeitos não mencionam a
intervenção de professores na mediação dos conflitos.
Com base na pesquisa realizada, pode-se dizer que os desafios enfrentados
para inserção no Ensino Superior, são inúmeros e de diferentes ordens. Fica claro
que esse processo, para muitos é penoso, exigindo inúmeras superações, o que
ocorre na maioria das vezes é por meio de busca de recursos e de esforço pessoal.
Os alunos participantes não se sentem reconhecidos e apoiados pela universidade e
por seu corpo docente nesse processo.
Esse estudo ressalta a necessidade dos cursos de Pedagogia cada vez mais
se dedicarem a conhecer e a compreender os novos alunos que os estão
procurando e quais as possibilidades e dificuldades que apresentam. Com base
nesse conhecimento será possível pensar com mais clareza e eficiência em formas
de inseri-los e mantê-los nas Universidades.
Apesar de terem participado da pesquisa, alunos dos Cursos de Pedagogia
de, somente, duas Universidades Privadas localizadas na cidade de São Paulo, os
resultados de pesquisa fornecem algumas pistas que merecem ser destacadas.
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Inicialmente fica evidente a importância de que o curso de Pedagogia se
organize com base em um projeto pedagógico claro e articulado que possa ser
discutido e compreendido pelos alunos. Os alunos necessitam se situar no curso
para que possam fazer parte dele e isso se dá pelo acesso e compreensão do
Projeto Pedagógico e dos planos de Ensino que lhe dão sustentação.
Para que isso ocorra, é necessário o desenvolvimento de projetos com vistas
a favorecer a inserção e o pertencimento de alunos ao curso, considerando que
para isso é necessário que os alunos que estão procurando o Curso de Pedagogia
na atualidade, sejam conhecidos e compreendidos em suas necessidades.
As dificuldades que foram explicitadas por meio dessa investigação servem a
partir de agora, como provocação para aqueles que estão desafiados em
compreender os processos de inserção no curso de Pedagogia, com vistas a evitar
o fracasso e favorecer a aprendizagem e a permanência dos alunos.
86
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90
ANEXOS
91
Anexo A – Quadro para aquecimento do assunto
Dificuldades encontradas
Descrição Período em que se apresentaram as dificuldades
Como conseguiu resolver?
Em que período conseguiu resolver?
92
Anexo B – Transcrições Grupo focal 1
M – Estamos iniciando nosso encontro, desde já quero agradecer pela presença de
vocês, gostaria que falassem sobre: Quais as dificuldades que tiveram nos primeiros
períodos do curso de Pedagogia para se inserir no Ensino Superior?
S1 - Uma das dificuldades foi entender os textos de alfabetização. É muita
informação, e só teoria, teoria, teoria e pouca prática, Apesar de que a professora
explicou bem, mas para pegar tudo mesmo só na prática né?
M -Como você superou essa dificuldade de leitura dos textos?
S1 -Eu evitava ler os textos.
M -Como assim?
S1 -Eu comprava todos, se precisasse na sala de aula eu tinha como consultar,
tinha como me virar, né? Isso acabou sendo para mim mais fácil, mas em casa, fora
da faculdade eu não lia os textos, eu lia outras coisas, né? Pedagogia eu quis
mesmo só para complementar a educação crítica, né? A área que eu quero atuar é
outra, né? É só para complementar mesmo, o interesse mesmo é só conseguir
pegar mais aulas na pedagogia, só isso. Uma determinada idade é só pedagogia
que consegue dar aulas né? Então é só por isso que eu estou fazendo a pedagogia.
Uma outra dificuldade também foram nas aulas práticas, como por exemplo essa de
hoje de prática pedagógica, de pedagógica não tem nada, só fantasia, só fantasia.
Sei lá colocaram uma pessoa frase não compreendida se eu pudesse ir embora eu
ia embora porque eu venho só pela presença.
S2 -Ele começa a dar uma matéria hoje e quando você vai ver ele está dando outra
matéria, e não acabou aquela que ele começou na aula anterior, e não acaba aquela
que ele está dando naquela aula, então você fica perdido.
S3- É aquele professor ele é confuso e te deixa confuso.
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S2- Ele não termina a matéria que ele começou e eu acho que essa é a parte mais
difícil, é um professor que não sabe nem o que está fazendo aqui.
Ele começou a aula hoje, explica que aconteceu um problema, que não sei o que,
que não sei o que lá, aí ele pede desculpas por estar meio aéreo, né? Aí fica tudo
bem, aí na outra semana já é alguma outra coisa, aí ele fala que, fala assim: semana
que vem é para fazer mapa conceitual, aí na outra semana ele chega e fala que não
pediu isso.
S2 - Não, eu não pedi isso, Mas professor, a sala toda fez o que você pediu. Não,
não, vamos fazer outra coisa, esquece isso, não sei o que lá, não sei o que lá, não
sei o que lá, então ele nunca termina a aula que ele começou, esse é o grande
problema desse professor.
S3 - E o pior é que a gente se prejudica porque, agora ele fala ai vamos, aí ele faltou
alguns dias, aí ele falou vamos compensar aula, vamos vir aos sábados aqui? Aí a
gente fala, não aos sábados não tem como. Ah então eu vou falar com a outra
professora, vou pegar um pouquinho da aula dela para gente ir fazendo, ou seja, ele
vai estender as aulas até o final de junho com certeza, coisa que os professores já
vão encerrar porque ele se atrapalhou todo, e ele nem sabe praticamente o que esta
fazendo.
S2 - Ele não sabe nem onde ele está na verdade aquele professor. Ele não planeja
as aulas, é também falta de organização. Com certeza, ele tem que planejar, a gente
tem que planejar desde quando a gente entra numa escola, tem que fazer todo o
cronograma até o término. É isso que ele não fez, uma aula.
S3 - E ele não sabe fazer. Uma disciplina tão interessante, é sobre lúdico que a
gente queria muito aprender sobre isso. Acabamos não aprendendo.
S1 - Essa matéria de prática pedagógica, eu acho que quem deveria dar é um
educador físico, que tem a pedagogia. Eu acho que deveria ser um educador físico.
M - Tem mais alguma dificuldade que vocês queiram falar?
94
S1- Eu acho o curso de pedagogia muito aberto, é muito aberto. É matemática, é
português, tudo no mesmo semestre, é matemática, português, geografia, ciências e
você acaba se perdendo, você não sabe o que você estuda.
M - Nos primeiros períodos vocês tiveram dificuldades com as disciplinas?
S1- O meu foi de adaptação, matemática, ciências, geografia, português.
M - Vocês também tiveram essa dificuldade?
S2 - Não, eu até que não tive muita assim. A minha dificuldade foi com alguns
professores mesmo que não seguiam o cronograma, assim, que mais faltavam do
que iam. A gente perdeu muitas aulas, esse professor de lúdico, por exemplo, ele
falta, ah pede desculpas , mas já faz dois semestres que ele está assim, desse jeito,
é a gente que está perdendo. Então a gente teve professores que foram mandados
embora, por exemplo, no meio do semestre, e aí vem outro professor substituí-lo, e
consequentemente é ele que dá o lúdico hoje para gente, e que não deu nada na
verdade, então a gente acabou perdendo essa matéria. Então eu acho que tem que
ser mais selecionados os professores, porque é difícil.
S3 - Tem alguns que a gente sabe que eles sabem bem, porém eles não sabem
muito bem transmitir de forma fácil para nós entendermos, tem alguns que acontece
isso. Outra dificuldade que eu tenho, inclusive a semana passada nós mesmos
estávamos comentando é o laboratório. Os computadores são muito velhos e muito
lentos, então se a gente precisa, na hora do intervalo rapidinho fazer uma pesquisa
ou alguma coisa, é muito difícil.
S2- A gente não consegue, além do mais está muito cheio, cheio de vírus.
M - Mas nos primeiros períodos vocês já tiveram essa dificuldade?
S2- Sempre. O laboratório, quem não tem computadores em casa vai procurar
aonde, na faculdade. Você chega na faculdade, os laboratórios estão lotados, sendo
que tem muitos alunos; tem capacidade de ter um laboratório maior, então às vezes
95
está lotado e você não consegue entrar no laboratório e quando consegue, até uma
máquina ligar, até você entrar na internet...
S3- Você já desistiu.
S2- É super lento, então é péssimo o laboratório daqui, é péssimo, é o pior de todos.
S4- Não abre email, às vezes o aluno precisa enviar o trabalho por email, ás vezes o
professor reserva o laboratório então dificulta os alunos.
S2- E o pior é que é um absurdo, porque a gente não paga barato a mensalidade
dessa faculdade. Se você ver tem muita gente que estuda aqui, cada cabecinha é
um valor alto, o preço de um curso menor que tem aqui digamos que seja de R$
500, então dava para trocarem, pegar uma sala maior e a gente que está sendo
prejudicado, não tem condições. Só que se você for contar, isso prejudica porque
muitas pessoas as vezes não tem condições de chegar em casa e fazer o trabalho,
ou se não, você vai sair daqui e antes de entrar no seu serviço você vai ficar um
pouco aqui para estudar, procurar, fazer uma pesquisa que é um tempo que você
tem para fazer e o laboratório não colabora, a faculdade não colabora, porque você
paga caro pela faculdade então eu acho que o laboratório deveria receber uma
reforma, ter computadores melhores, porque iria ajudar muito, nas pesquisas de
todos os alunos de qualquer curso que seja, ainda mais aqueles que só tem aqui
para estudar. Eu acho que ajuda muito.
S3- Á noite tem gente que nem consegue entrar no laboratório de tão cheio que é.
De manhã a gente ainda tem um pouco de dificuldade, mas não está muito cheio.
S2- Agora à noite, nem quando eu estava precisando à noite no ano passado, eu
nem ia no laboratório, porque tinha fila para entrar, para ir nos computadores. E todo
mundo que vai fica reclamando, nossa esse computador está muito lento.
M - E o que vocês fizeram, por exemplo, nos primeiros períodos para superar isso?
96
S2- A gente ia na casa de alguém, que tem computador ou pedir para alguém se
pesquisar alguma coisa para você, então essa é a grande dificuldade, porque o que
você não pode aqui, não pode na sua casa porque o tempo que você tem na
faculdade, não tem como, você tem que pedir para os outros pesquisar para você,
ou pagar ás vezes alguém para fazer uma pesquisa.
S3- Muita gente fica sem fazer porque não tem como. Fica sem fazer os trabalhos,
acaba ficando sem nota, porque a maioria dos trabalhos tem que ser digitados. Hoje
em dia é muito difícil um professor pedir um trabalho manuscrito, porque é de
universidade né? Então tem muitas pessoas que acabam não fazendo, as pessoas
que não tem como pesquisar em algum lugar, acaba não fazendo.
S2- Eu mesma já perdi nota porque não tinha, hoje lógico eu consegui com esforço
comprar um computador, mas quando eu entrei, nos primeiros semestres eu não
tinha, eu peguei agora no último semestre quando estava acabando o TCC
praticamente. Então no começo teve trabalho sim que eu não entreguei, porque não
tinha como fazer, não tinha tempo para fazer, outros, pedi para amigos de sala
pesquisar também para mim, aí depois, quando chegava na sala com a pesquisa e
eu tentava selecionar o que eu queria, então era complicado. Daí assim você vai
resolvendo, quando você consegue um emprego melhor você compra um
computador, né? Em várias prestações, mas, é uma coisa que vai ser sua e você vai
ter, no final de semana ele está ali.
M-O computador é uma necessidade?
S2- É uma necessidade com certeza. Ainda mais na universidade, totalmente.
S3- Tudo gira em torno do computador, e não tem jeito, o professor diz: eu vou
enviar por email.
S2- Ah entra no aula livre (professor). Mas não tem como deixar no xerox? (aluno)
Não, entra no aula livre (professor).
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- Ou então, o que está passando no slide a gente vai anotando.
M- O aula livre é?
S2- Um site onde os professores deixam as matérias dele. Então você precisa do
computador e eles falam assim que nós estamos anotando alguma coisa que ele
está passando no slide, aí eles mudam o slide, aí a gente fala: professor, espera um
pouquinho que nós estamos copiando. E ele diz: Não, está tudo no aula livre, eu
perguntei.
S2- Você depende do computador e se você não consegue entrar no aula livre,
como você faz? Tem que ter na xerox, por exemplo, na xerox as matérias que eles
vão utilizar nas aulas. Ajudaria muito a gente a acompanhar a matéria deles, mas
não, sempre é no aula livre, o professor diz: vai estar tudo disponível lá. Aí você vai
entrar no aula livre, cadê? Isso quando o professor lembra de colocar para você. Aí
você chega na outra semana e pergunta, professor eu procurei tal matéria na aula
livre, e ele responde: ah eu esqueci de pôr, você acredita? Ele diz: Depois eu ponho.
E acaba nem colocando.
M- Estamos finalizando, tem mais alguma dificuldade que vocês queiram falar, que
vocês não falaram ainda?
S1- Dificuldade que eu acho também é o da coordenação. Quando a gente reclama
de um professor com razão, ele dizem: a gente vai resolver aqui entre nós, e acaba
não tendo resposta, fica entre eles. Os alunos nunca tem razão. E a dificuldade
também é o professor né? Eles acham que estão dando aula para o ensino
fundamental, né? Enche a lousa, não sei, eu tenho uma professora que enche a
lousa. E começa a escrever e todo mundo tem que escrever, acompanhar o que ela
está escrevendo, então, é uma aula que antes de terminar o semestre ela já
terminou o conteúdo dela. Ela chegou na quinzena de maio eu acho a aula dela é
tão boa que o pessoal não aguentou, o pessoal combinou de não vir na aula dela, se
vieram, foram três pessoas, ela ficou até chateada. Então ela disse: Ah! A melhor
coisa que eu faço é encerrar o semestre, eu vou encerrar. Venham para ver a nota
de vocês para ver se não tem nenhum erro.
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S2- Detalhe ela deu a mesma nota para todo mundo. Por exemplo, ela pediu para a
gente apresentar um trabalho, geralmente o que o professor faz, faz assim, qual o
nome dos integrantes do grupo, aí anota e avalia os trabalhos. Ela chegou, não fez
chamada, terminou ficou um olhando para a cara do outro.
S2- Deu a mesma nota para todo mundo e detalhe teve gente que não foi nesse dia,
não fez a apresentação e todo mundo se matando para fazer a apresentação
achando que ia valer nota. Ela foi e deu a mesma nota para todo mundo. Teve gente
que nem estava na sala e ficou com a mesma nota. Então você vem para a
faculdade, você se esforça para vir de manhã, para que os professores nem façam
chamada depois. Então eu acho que os professores tem que dar mais valor aos
alunos, porque os alunos estão pagando a mensalidade, estão querendo ter aula, e
isso requer um pouco mais de esforço dos professores, porque isso ajuda muito sim
para concluir nosso curso com satisfação e eu acho que é isso.
M - Ok. Tem mais alguém que quer falar mais alguma coisa?
S1- As primeiras dificuldades foram o trabalho em grupo, do grupo se entender, a
falta de comunicação, o individualismo, o egoísmo e a falta de entendimento, né?
Muita gente trabalha, algumas não, e essas pessoas que muitas vezes não
trabalham inventam desculpas, para evitar de ter trabalho na verdade. A dificuldade
também do grupo se encontrar para fazer trabalhos, porque muita gente mora longe
da faculdade, quando tem um tempo, ninguém quer estudar, nem se reunir, o
pessoal quer deixar o tempo livre, e isso gera briga entre o grupo. Tanto é que no
quarto semestre eu entrei num grupo e hoje no início do quinto semestre ninguém se
fala.
S1- Ninguém se fala mais.
S1- Ninguém se fala porque foi a montagem de um artigo, de um pré-projeto e
depois virou um artigo e sobrecarregou muito uma pessoa, hoje essa pessoa passa
por mim, eu ajudei ela no que eu pude e tipo, a primeira vez que eu montei um
artigo, eu não sabia da dificuldade e hoje ela passa por mim, me cumprimenta, não
olha pra mim, muito menos para o grupo e quando fala é na base do interesse, quer
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alguma coisa, mas fora isso a gente não se conversa. Então gerou um conflito entre
as pessoas do grupo.
M- Sim.
S1- Porque as pessoas deixam tudo para a última hora e o pessoal só se preocupou
mesmo na hora da apresentação e aí foi aquela, o pessoal quer conseguir decorar
sua parte, a sua fala, mas a montagem mesmo desse pré projeto, desse artigo,
ninguém se preocupou. Foi um artigo que precisava de uma pedagogia hospitalar,
precisava de uma visita em uma brinquedoteca de pedagogia hospitalar, houve uma
dificuldade de ir até o hospital, conseguir a permissão para ver as crianças com
câncer, o trabalho com elas é muito difícil, é muito restrito e quando conseguiu o
grupo não foi. Então a menina trabalhava no hospital, ela acabou passando
vergonha porque marcou e chegou na hora ninguém foi e aí no dia seguinte cada
um inventou uma desculpa né? Um falou que ia trabalhar, outro falou que ia cuidar
do filho, outro falou que ia fazer não sei o que, e acabou que não deu para ninguém
ir então ela passou vergonha, então ficou um negócio chato. O grupo estava se
desentendo desde o quarto semestre, aí como era a montagem desse pré projeto
para esse artigo, para não haver mudança de grupo, não quebrar o ritmo do grupo,
porque teria de começar tudo de novo, montar esse pré-projeto tudo de novo a gente
optou por continuar junto, mas ninguém estava se entendo mais.
S1- Ninguém se entendia no grupo mesmo. Ninguém se entendia. Quando chegou
no quinto semestre, ela sempre falava para mim: eu não aguento mais, eu não
aguento mais, e eu falava para ela: então vamos mudar, vamos mudar, aí ela falou:
não, vamos aguentar até onde der. Aí quando chegou no quinto semestre ela pegou
e falou assim para mim: essa é a primeira e a última vez. Aí entramos em férias,
quando voltamos montamos ainda o artigo, quando chegou no final do semestre
apresentamos, ela falou assim para mim: nunca mais, nunca mais eu faço isso na
minha vida, nunca mais.
M- Mas o que ela falou que não ia fazer nunca mais?
S1- Se sobrecarregar por causa dos outros, né?
100
M - Entendi.
S1-Ela falou: nunca mais porque se é para trabalhar em grupo é para trabalhar em
grupo, se fosse para fazer um negócio individual era só avisar que eu fazia o
negócio sozinha. Aí acabou que todo mundo passou com dez e aí ela falou: aí, tá
vendo? E ninguém se preocupou em fazer nada, todo mundo ganhou dez e hoje
ninguém está nem aí, hoje o pessoal desconversa, não se fala e quando eu entrei eu
ia em outro curso e ela tinha uma melhor amiga, A melhor amiga da sala dela, tanto
que a amizade acabou uma não olha para a cara da outra.
M - Acabou a amizade?
S1- Acabou a amizade, por causa de trabalho. Hoje uma senta de um lado da sala a
outra senta do outro lado, as duas passam se olham, mas não se falam, nem bom
dia, nem boa tarde, nem nada. A relação do grupo acabou.
M- Você tinha trabalhado em outros grupos?
S1- Não, agora que eu participei de outro. Eu pedi para entrar num grupo (como eu
fiquei sem grupo), porque teve esse conflito, aí eu pedi para duas pessoas da sala
para poder entrar no grupo, aí elas falaram que o grupo era só as duas, não me
deram resposta de nada. Aí elas pensaram em uma ou duas semanas se eu podia
entrar no grupo ou não, eu via elas conversando entre elas, aí eu pensei: acho que
elas estão pensando se eu vou poder entrar no grupo ou não. Aí elas pensaram
uma, duas semanas e deram a resposta para mim, que eu podia entrar no grupo. Só
que eu não sabia que tinha uma terceira pessoa no grupo e essa terceira pessoa era
uma pessoa muito arrogante. Que tem uma condição de vida melhor e que gosta de
pisar nos outros, e tudo o que ela apresenta no grupo é conteúdo da internet, e fala
que foi ela que fez, mas não fez nada, ela pega e imprime tudo da internet: ah
porque eu fiz, vocês não fizeram nada, tudo o que eu fiz está aqui. E quando a gente
corre atrás é tudo coisa da internet, e o antigo grupo dessa terceira pessoa ficou
com ela durante um ano, e essa semana eu vi a moça e ela falou assim: nossa não
sei como você aguenta essa praga!. Porque eu aguentei essa daí um ano, nunca
mais eu faço trabalho com essa mulher, porque ela é arrogante, a soberba dela é
101
demais, porque só o dela que é bom, só o dela é o melhor, o dela é que presta, e é
tudo cópia de internet, copia cola e ela mesma não faz nada. Quando ela faz alguma
coisa, é errado e quando sai alguma coisa errada ela joga para as pessoas, porque
o dela sempre está bom, sempre está certo. É sempre assim, sempre está certo.
M- Você gostaria de falar mais do trabalho em grupo, das dificuldades do trabalho
em grupo ou outras dificuldades que você tenha tido nos primeiros períodos?
S1- Dificuldade que eu vejo, não só minha, mas de outras pessoas é relacionada
com os professores, porque muitos professores não entendem o aluno, a dificuldade
do aluno, mas acho que faz parte, e acaba gerando um pouco de briga. Há um
pouco de desentendimento entre professores e alunos. Tem aluno que gosta de
provocar, gosta de medir força com o professor e acabam se dando mal, e outros
reclamam de perseguição de professores, apesar de que eu não vi. Reclamam da
perseguição de professores e as vezes a falta de comunicação entre os próprios
professores porque teve semana que eles trocaram aula e o professor acabou
esquecendo, viemos de graça. Teve gente que veio do Ipiranga para ter aula,
chegou aqui e o professor esqueceu que tinha as quatro aulas. Aí a pessoa acabou
indo embora, só que a pessoa ficou muito brava e fez uma reclamação no CA e
mandou para a coordenadora do curso, e acabou que eles resolveram entre eles,
mas não deram a resposta para a sala. Todo mundo ficou bravo, porque veio à toa,
e acabaram, resolveram entre eles, agora o que aconteceu mesmo ninguém sabe. O
que acontece é que a coordenação não passa para os alunos e isso fica entre eles,
porque ninguém sabe o que eles resolveram e aí todo mundo vem. Eles pediram
desculpa, que foi um erro deles, mas a coordenação, ela tinha que participar mais,
descer na sala, olhar, ver o que está acontecendo e não só ficar sentada na cadeira
atrás do computador.
M - E tem alguma outra dificuldade que vocês queiram comentar?
S1- Outra dificuldade também, no meu caso, foram os textos de alfabetização, que
eu achei que é muito conteúdo, é muito complexo, e acho que faltou um pouquinho
de aula prática, aula prática, principalmente.
102
M - Como vocês faziam a leitura desse texto?
S1- Em casa, era em casa. A professora pedia para tirar cópia, quem podia, que ela
iria na próxima aula debater o texto e acabava que ninguém lia e chegava na hora
de debater o texto o pessoal lia na hora e falava, texto chato, complexo, é ruim de
ler. O pessoal começava a ler e parava na metade do texto, não aguentava mais ler,
pegava e parava e chegava na hora de debater o texto o pessoal lia na hora. Quem
conseguia ler na hora lia na hora, mas a maioria não lia e ela ficava muito brava, a
professora então perguntava se tinha algum problema no texto, e o pessoal não
respondia para ela. O pessoal tinha medo de responder e ela entender isso aí mal.
M - E aí como é que você fez para ler os textos, como é que você se organizou?
S1- Eu tentava ler um pouco, só que a maioria eu não lia também. Eu não lia todo
dia, porque eu achava o texto difícil de entender, porque é muita coisa para a gente
entender e são diversas matérias. Aí às vezes tinha coisa mais importante para
fazer, o que dava à entender, é que ela( a professora) chegava no final do semestre
e ia passar todo mundo, então todo mundo não se preocupava. Isso foi durante dois
semestres, então o pessoal não se preocupava mesmo. Eu lia outras coisas, porque
quando a gente estava lendo esses textos de alfabetização, a gente estava na
montagem do pré projeto do quarto semestre, então, estava preocupado com esse
pré projeto que valia nota para todas as disciplinas, então se faltasse nota para mim
aqui na matéria de alfabetização eu saberia que o pré projeto iria cobrir essa nota,
porque ele valia de zero a dez.
Quando a gente chegou no quinto semestre a gente também teve alfabetização, no
caso, virou para a montagem do artigo. O artigo também vale para todas as notas,
então todo mundo estava preocupado com o pré projeto e com o artigo, então
ninguém se preocupou com os textos de alfabetização, que entre a pesquisa de
alfabetização e a montagem de um pré projeto e um artigo, a montagem do pré
projeto e do artigo é mais importante.
M- As leituras que vocês faziam no começo, no início, nos primeiros semestres, bem
nos primeiros períodos. Como era essa leitura?
103
S1- Para mim, eu conseguia pegar poucos textos, porque no momento eu estava
desempregado, então quem estava me ajudando era meu tio, que ainda continua me
ajudando, então para evitar transtornos com mais gastos eu pegava alguns, eu
pegava os mais importantes. Mesmo assim eu senti dificuldades nos textos que
envolvem alfabetização e os textos que envolvem psicologia. Tem algumas partes
da psicologia que é difícil de entender, é muito específica, só um psicólogo mesmo
para poder compreender o texto.
M - E como você superou essa dificuldade? O que aconteceu?
S1- Ah eu lia, sempre que tinha dúvida eu perguntava quando terminava a aula para
os professores. Eles sempre respondiam para mim e foi na base da pergunta
mesmo, eu sempre perguntava para a professora. Daí ela respondia, perguntava se
eu tinha entendido, eu dizia que sim.
M - E aí você começou a superar, começou a entender a disciplina?
S1- Consegui entender, mas a dificuldade mesmo foi em alfabetização.
M - A sua dificuldade foi essa?
S1- Alfabetização e quando a gente está montando o artigo, na montagem da
metodologia. O professor demorou quase um semestre para explicar a metodologia
e quando chegou agora no sexto semestre o professor conseguiu explicar para a
gente em vinte minutos, assim deu uma diferença boa.
M - Você teve mais alguma dificuldade que gostaria de comentar?
S1- A dificuldade foi entrar no ritmo das aulas, porque eu achei que deveria ser um
curso, que deveria motivar mais os alunos, e não é o que acontece, e aí ele se torna
um curso muito aberto porque são várias disciplinas e assim, não motiva ninguém
porque tem muita gente que vai parando, acho que por causa dessa falta de
motivação. Aí vai parando, vai parando, aí começa entrar em conflito com o grupo,
com o professor, aí começa a falta de entendimento, começa o individualismo, o
104
pessoal vai parando. Isso é a falta de motivação também do professor intervir nos
grupos, até saber como,direcionar o grupo, achar o melhor caminho, a melhor
pesquisa, eu achei o curso um pouquinho aberto. Nesse sentido né.
M - Tem mais alguma dificuldade que vocês queiram falar?
S5- A minha maior dificuldade no primeiro período, é que eu estava há muito tempo
sem estudar, e isso dificultou bastante principalmente a parte de leitura e
interpretação de texto que eu tive bastante dificuldade. No começo eu lia bastante os
textos e demarcava para identificar onde eu tinha dificuldade e poder fazer o melhor
trabalho.
M- Você começou a marcar os textos?
S5- Marcava, fazia marcação nos textos, lia várias vezes, duas a três vezes, quantas
vezes fossem necessárias para que eu pudesse entender o texto.
S5-Essa foi a parte que eu tive a maior dificuldade. Outra das maiores dificuldades
era o trabalho em grupo, não por mim, mas sim pelos integrantes do grupo, eu não
tenho problema de trabalhar em grupo, mas na sala havia muito desrespeito para
trabalhar em grupo. Havia pessoas que não faziam nada, encostavam no grupo e o
outro fazia e criticava ainda. Eu tenho problema, mas de trabalhar no grupo não, eu
tenho um pouco de dificuldade de aceitar críticas, mas se a pessoa souber me
criticar e for maleável eu acho que é melhor a gente conversar e resolver os
problemas.
M-E que problemas você teve nos trabalhos em grupo,nos primeiros períodos?
S5- É que uma das integrantes do grupo ela não escrevia nada e as poucas coisas
que eu escrevia ela criticava ainda, ou então ela dava sumiço nas coisas e falava
que não tinha entregado para ela. Essas foram as minhas maiores dificuldades.
M- E como é que você resolveu isso?
105
S5- Ah eu sempre tinha cópia daquele trabalho, do que eu escrevia e eu guardava,
eu não tinha mais confiança de entregar para ela o que eu escrevia. Procurava
sempre fazer todo mundo junto, porque aí ela não tinha aquela de dizer que ela fez,
ou de que ninguém do grupo participava.
M- Você participou de outros grupos para fazer os trabalhos?
S5- Participei de vários grupos.
M- De vários grupos?
S5- Eu comecei em um, e terminei o ano em outro grupo. A cada semestre eu
participava de um grupo.
M- Cada semestre você participava de um?
S5- É. Até mesmo para poder interagir com outras pessoas, conhecer outras
pessoas, para não ficar num grupo fechado, porque quando você está num grupo
fechado, você perde a oportunidade de conhecer outras pessoas.
Eu acho que, quando você trabalha com várias pessoas, te enriquece porque com
as dificuldades do outro você aprende a superar as suas, e você passa a conhecer o
outro, como ele é, você vai ver que ninguém é igual, todo mundo é diferente, mas
que você é capaz de lidar com as diferenças.
M- Você foi participando de um, do outro, o que ia acontecendo?
S5- Eu sempre tinha a mesma dificuldade do grupo, falta de diálogo nos grupos. Às
vezes é mais fácil você agredir do que chegar e falar o problema. São palavras que
te agridem, que são as maiores dificuldades, ás vezes a pessoa não conversa com
você, não fala onde está o problema. Críticas das pessoas umas com as outras,
criticar, apontar o defeito do outro não se auto-avaliar, porque é muito mais fácil eu
apontar o teu defeito do que eu me auto avaliar e ver o meu defeito, onde que eu
106
posso melhorar. Acho que essa é uma das maiores dificuldades dos grupos, porque
eles não se auto avaliam, só veem o defeito do outro.
M- E como você resolveu? Mesmo participando de outros grupos como você
resolveu?
S5- Ah eu preferia não dar atenção para essas conversinhas, comecei a aprender
com as pessoas, Achei que daquela situação poderia tirar algo de bom. Eu acho que
eu aprendi bastante...
Com esses grupos, porque você tem que aproveitar, é enriquecedor você trabalhar
em grupo, conhecer outras pessoas. A nossa sala é grande, tem pessoas que um
não sabe o nome do outro, a gente está há três anos juntos e não se conhece. Tem
uma divisão muito grande na sala, mas eu procuro não levar isso em consideração.
Sempre que posso eu estou interagindo, eu converso, porque é para isso que eu
estou aqui.
M- Claro.
S5- Afinal de contas estou me formando para ser professora e como professora eu
vou trabalhar com seres que eu vou preparar eles para a sociedade. E como que eu
vou preparar eles para a sociedade se eu não sei interagir com o outro? Eu vou
estar com seres lá, eu vou ser formadora de opinião, de uma certa forma, porque eu
vou trabalhar com crianças pequenas.
Até a quarta série eles são muito pequenos e o professor para eles é um ídolo, ou
uma bruxa, mas isso depende da professora. Mas normalmente o professor nessa
idade para o aluno é ídolo, ele adora o professor, ele idealiza o professor.
Muitos querem ser professores pela professora que tiveram, então eu acho que eu
tenho que aprender a trabalhar em grupo para que eu possa ensinar essas crianças
a trabalhar em grupo, porque amanhã na vida eles vão trabalhar em grupo, em
qualquer lugar, seja numa escola ou numa empresa ele vai ter que trabalhar em
grupo, porque nós fazemos parte do grupo, nós somos uma sociedade. Não
107
conseguimos viver sem ser em grupo. O grupo eu acho que é uma forma de
socialização, você aprende outras culturas, você conhece outros povos. Se você não
tem essa interação, você não conhece, eu acho importante o trabalho em grupo.
M- Então você procura se interar participando de vários grupos?
S5- Participando de vários grupos, aí eu tinha a oportunidade de conhecer outras
pessoas, até mesmo outras culturas porque a partir do momento que eu trabalho
com outra pessoa, ela tem outra visão e aí eu passo a conhecer outras fontes,
outras formas de vida, porque um é diferente do outro. Eu procurei resolver
trabalhando com outras pessoas.
M- E você teve outra dificuldade?
S5- No meu TCC foi um dos meus momentos mais difíceis, para trabalhar em grupo.
O grupo era muito crítico, não aceitavam opinião um do outro, chegou um momento
que eu terminei concluindo no primeiro semestre a primeira parte do artigo em
grupo, mas tinha coisas absurdas que eu não aceitava, por ser um trabalho que
pesava bastante no nosso currículo, eu achei melhor me desintegrar do grupo e
fazer um grupo separado.
Nessa separação de grupo, eu fui trabalhar com mais duas outras pessoas, e eu
aprendi bastante. Uma das pessoas já era integrante, nós trabalhávamos sempre
junto, mas a outra pessoa não, nunca tivemos a oportunidade de trabalhar junto. Foi
muito bom trabalhar com ela. Ela foi uma pessoa muito criticada na sala, tanto que
ela ficou sem grupo por causa disso, porque a pessoa que estava fazendo o trabalho
com ela, foi para outro período, outro horário, e ela ficou sem grupo.
Ela veio falar comigo e eu abri as portas para ela, e foi muito bom trabalhar com ela,
é uma pena que ela não está com a gente agora no último semestre, porque ela está
com problemas de saúde, mas foi muito enriquecedor.
108
Ela é uma pessoa muito legal, muito esforçada, atenta, sabe? Prestava atenção, ia
correr atrás das coisas, a gente sentava e conversava, foi muito bom, no final ela
teve um rendimento muito bom no nosso trabalho. O pior do trabalho, eu acho que o
tempo foi muito pouco, nós tivemos que concluir no quinto semestre, eu acho que
nós não estávamos prontos no quinto semestre para a conclusão de um artigo
científico, porque esse projeto teria de ser concluído agora no sexto semestre,
porque tem coisas, matérias que nós trabalhamos agora no quinto e sexto semestre
que caía muito bem no nosso artigo e daria para melhorar bastante, mas foi bom e
eu aprendi bastante.
Tive a oportunidade de ir para a escola, porque eu trabalhei com um projeto sobre
alfabetização, eu fui para a escola, vi as dificuldades do professor, vi as dificuldades
das crianças, lá dentro da escola, que era uma sala de Pic, um projeto do prefeito de
São Paulo, e vi a dificuldade que é trabalhar com as crianças. Era uma comunidade
carente, mas assim para o meu conhecimento foi muito enriquecedor, eu vi todas as
dificuldades.
M- Por que você falou que no TCC você teve uma dificuldade? Qual foi a dificuldade
que você teve no TCC?
S5- A dificuldade é que eu acho, é que no semestre que nós estávamos fazendo o
TCC, nós não estávamos preparadas ainda para o TCC, não estava bem orientada,
eu acho que faltou orientação no TCC, deveria ser mais bem orientado pelo
professor que estava orientando a gente, houve falha de orientação. Meio confuso, o
professor não era bem específico no que ele queria. Você escrevia uma coisa ele lia
e falava não, não é isso. Depois de uma semana você voltava para a mesma coisa e
ele falava ah, isso está legal. Então assim ele entrava em contradições quando ele
lia os artigos. Não só eu fiz essa reclamação, a sala, várias pessoas reclamam.
S4-Uma das dificuldades que eu tive foi parecida com a dela, é a questão de
interpretar textos, porque eu não entendia, o professor pedia para fazer resumo,
pegar uma ideia central de um texto, eu tive muita dificuldade. Eu acho que é até
devido a ter vindo de uma escola pública, onde o ensino era fraco, os professores
não estimulavam os alunos, só fazíamos cópias de livros, não usávamos as nossas
109
próprias palavras, só ficava cópia, cópia, não tinha diálogo e o período foi mais no
primeiro semestre, quando eu entrei mesmo na faculdade, eu me debati mesmo, foi
um confronto que eu enfrentei. Assim para resolver eu li muito, peguei textos difíceis
da internet, tentei fazer um resumo, foi sozinha mesmo. Não tive ajuda de nenhum
professor, eu enfrentei sozinha.
M- Para começar a compreender os textos?
S4- Isso. Sozinha mesmo, com muita força de vontade, pegando textos mais difíceis,
usei dicionário para entender palavras que eu não sabia o significado, e eu consegui
resolver entre o segundo e terceiro semestre eu fui percebendo que eu escrevia
melhor, entendia melhor. Uma das dificuldades que eu tive também foi a questão de
trabalhar em grupo. Como a colega falou, as pessoas muito individualistas, as
pessoas não sabem ouvir o outro. Por exemplo, aconteceu comigo quando eu
estava fazendo o TCC, estava todo o grupo em roda, eu fui dar minha opinião, a
pessoa simplesmente ignorou, virou para a outra e fingiu que não estava me
ouvindo. Então eu acho que hoje, o ser humano não sabe, saber sabe, é que ignora
a idéia de outra pessoa, e pensa que está certo em tudo. Eu acho também que os
professores deveriam estar mais preocupados com a pedagogia, que está formando
pessoas para trabalhar com seres, com crianças, eles deviam estar mais
preocupados. Assim, Por exemplo, no primeiro semestre as pessoas já formaram
grupos, e a maioria desses grupos permaneceram em todos os semestres, não
houve alteração na formação dos grupos. Até teve algumas pessoas que tiveram
uma dificuldade e formaram novos grupos, mas, poucas pessoas fizeram isso. Eu
acho que os professores deviam entrar na sala, e não que forçar, mas incentivar a
mudança, de um trabalhar com o outro.
S5- Mas quando tem alguns professores que tentam fazer isso, é muito difícil. Nós
tivemos aula esse final de semestre, e a professora fez papeizinhos com cores
diferentes para que a gente pudesse interagir com outras pessoas de outros grupos,
e nós percebemos que tinha muita resistência. Tem muita resistência essa troca de
grupo. O professor solicitou aquela interação, mas há uma resistência. Após a aula
sempre há alguma crítica, os alunos falam: porque o professor fez isso se nós já
temos o nosso grupo? Então quando o professor força uma situação de interação
110
dentro da sala, socialização, há uma resistência dos alunos. Eles não aceitam essa
troca de grupo, conversar com outra pessoa, troca outras idéias, porque quando a
gente está trocando idéias, o meu grupo pode ter uma idéia formada e um
determinado conceito. Se eu for conversar com outro grupo, sobre aquele mesmo
conceito, o outro grupo pode ter uma idéia totalmente diferente, para mim vai ser
construtivo. A partir do momento que eu converso com a colega, e ela me dá uma
ideia que eu já tinha uma ideia formada, eu posso enriquecer a minha idéia.
S4- O conhecimento para mim é infinito, sempre que você sabe algo, sempre vai ter
alguém para contribuir para você aprender mais.
M- Mas quanto ao trabalho em grupo, como você superou a dificuldade de
trabalhar em grupo, o que você fez para superar?
S4- Eu procurei conhecer novas pessoas. Eu comecei esse semestre, eu conheci
mais pessoas do que no primeiro e terceiro semestre, mas ainda, por mais que eu
queira da minha parte conhecer novas pessoas, acho que são as pessoas que estão
muito fechadas. Te olham com cara feira, você vai apresentar o trabalho, querem te
deixar para baixo. Eu acho que como é um grupo, a sala devia ser mais unida, um
ajudar mais o outro, isso está na sociedade, não é só na sala de aula. Você vai
procurar um serviço, você vai andar na sociedade, você vai se deparar com pessoas
assim. E outra dificuldade que eu tive, logo no primeiro semestre foi a questão de
apresentações. Eu ficava muito nervosa, até mesmo devido às pessoas que
estavam lá assistindo, pessoas de cara feia, sem incentivo.
S5- Uma expressão Crítica né? As pessoas te olham com uma expressão crítica.
S4- Isso. Não é porque eu não sabia o conhecimento, eu sabia tudo sobre o
trabalho, mas devido a recepção que eu tinha... e no caso para vencer (hoje eu
venci isso), eu tive mais segurança quando eu estava lá na frente apresentando
porque eu passei a pensar, que eu estava ali para ser uma mediadora, eu estava
ali para não ser criticada, para passar conhecimento para aquelas pessoas que
111
estavam me assistindo.
M- Foi essa a forma que você encontrou para superar?
S4- Eu estava ali para passar conhecimento, não para ser criticada. Foi mais no
primeiro e segundo semestre, hoje eu consegui superar mais. Tive problema
também na biblioteca, no primeiro e segundo semestre, apesar de que eu ainda
tenho problemas de procurar livros. Os atendentes quando estão ali atrás do
balcão, você pede uma ajuda, é difícil, eles falam que não, que estão ocupados,
estão separando livros. Eu acho que é um erro da universidade.
M- Assim que você chegou, nos primeiros períodos, o que você fazia?
S4- No primeiro semestre foi uma amiga que estudou aqui que me ajudou, ela falou:
você vai, olha a numeração, foi muito difícil mesmo. Sozinha eu fiquei quase duas
horas procurando um livro e a funcionária ali, foi um descaso. Sabe,eu acho que
eles poderiam ter me recebido melhor. Tive problema familiar, minha avó veio a
óbito, foi no terceiro semestre, eu agradeço alguns professores que me deram força,
e um professor que me ajudou muito. Eu pensei que fosse ficar desamparada, que
eu ia ser reprovada, porque teve trabalhos para apresentar, então eu agradeço à
alguns professores.
Não foram todos, mas eu tive muito apoio. Eu pensei até em desistir, foi muito difícil.
Minha avó morava comigo então foi um choque que me deixou totalmente
desnorteada. Mas os amigos, a família, algumas amigas do meu grupo me deram
força, então eu consegui superar para continuar o curso, se não eu já tinha
desistido.
M- E tem mais alguma dificuldade que vocês queiram falar que tiveram, que não
falaram ainda?
112
S5-Quando a gente chega na faculdade a gente cheia de perguntas e dúvidas.
Quando você fala que é pedagogia, as pessoas te criticam bastante. A sociedade
critica, eles esquecem que tem que ter professores para que existam profissionais
no mercado. Sem professor não tem profissional. Há muita dificuldade no curso de
Pedagogia a procura é muito baixa porque a sociedade ainda rejeita muito. No meu
caso quando comecei a estudar eu via que a pedagogia poderia me abrir muitas
portas, ela é como um leque bem amplo, você não precisa ir só para a sala de aula,
ela te dá outras oportunidades, isso me motivou bastante para continuar na
pedagogia, tanto é que eu superei e estou aqui.
M – Quando vocês chegaram ao ensino superior como superaram os desafios?
S5- Eu superei porque sempre tive o sonho de fazer um curso superior, eu vim de
uma família carente, não tive oportunidade de estudar, meus estudos foram muito
carentes (educação infantil e ensino fundamental). É como o alicerce de uma casa,
se ela for bem construída ela não vai cair. A alfabetização é a mesma coisa, se ela
for bem estruturada chegando lá na frente você não vai cair. Mas eu falei: sou capaz
eu acreditei em mim, pensei eu vou vencer então superei os obstáculos.
V4– Eu também quando entrei estava ciente de que iria ter dificuldade, por causa do
ensino médio, mas eu pensei: Eu tenho que enfrentar. Eu gostaria de ter estudado
numa escola particular, mas acredito quem quer adquirir o conhecimento corre atrás,
mesmo que eu tenha que estudar numa escola pública, hoje eu vou me formar em
Pedagogia, vou fazer minha pós no ano que vem, eu acho que independente da
Escola, da Universidade, vai depender de você. Se quisermos aprender algo: vamos
aprender.
M – Vocês estão terminando o curso, faltam alguns dias apenas, já são pedagogos
praticamente. Como foi para vocês essa passagem pelo Ensino Superior?
S5 – Para mim foi muito bom, com a idade que eu tenho chegar até a Faculdade...
foi difícil porque eu tenho duas filhas, conciliar horários ser dona de casa, cuidar de
crianças, mas hoje eu me sinto vitoriosa. Eu consegui vencer uma batalha que eu
sonhei mais de 20 anos! (a aluna chorou nesse momento).
113
S4 – Para mim também foi maravilhoso, eu enfrentei diversos obstáculos, acho que
foi uma prova na minha vida, de que o que se quer é possível, não devemos
desanimar nem nos abater com pessoas negativas que sempre estão ao nosso lado
querendo deixar a gente para baixo, é uma vitória na minha vida, hoje eu digo para
as pessoas correrem atrás não desistirem.
S4 – É uma prova de que, quando você quer você consegue. Basta você querer,
porque não existe obstáculo para quem quer conseguir alguma coisa na vida.
M - É verdade, vêm às dificuldades, mas vamos superando, vocês falaram das
dificuldades que foram superando sem desistir para chegar aonde vocês queriam.
Tem mais alguma dificuldade que vocês querem falar?
S4– A dificuldade que eu tive: foi que alguns professores, eu não vou citar nomes.
Alguns professores desorganizados. Teve um professor que não planejava.
Começava um assunto, não dava continuidade. Por exemplo: ele começou um tema
em uma aula e disse que ia continuar na próxima aula, mas quando chegou o dia,
ele já começou outro assunto, isso me deixou confusa, então eu não entendia
direito. Um dia ele chegou na sala e falou o que vocês querem que eu dou? Acho
que não é bem assim. Eu superei isso, ele mandou fazer trabalhos, pesquisas, eu
aprendi mais com pesquisa na internet, com livros do que com a própria aula dele.
Acho que os professores de Universidades, Escolas particulares no geral, eles
deveriam antes de entrar numa sala de aula, ter um planejamento, eu sei que o
aluno contribui, as vezes na aula o aluno fala dá opinião, mas às vezes tem muitos
professores que esperam muito dos alunos. Então para não ficar confuso, o
professor tem que vir mais preparado.
M – E a questão da informática, levantou-se uma questão a respeito disso, e eu
gostaria de saber se nos primeiros períodos vocês tiveram dificuldade nessa área?
S5 - Eu tinha bastante dificuldade e tenho até hoje na área de informática. Eu
conheço muito pouco, mas para pesquisa resolve, no começo para fazer e montar
os trabalhos era muito difícil, porque eu não tinha esse conhecimento em
informática. Eu falo: Sou uma analfabeta em informática. O que eu conheço é muito
114
pouco, para quem está no nível universitário, se torna um pouco carente o
conhecimento da informática.
S4 – Eu também tive bastante dificuldade, até mesmo com as normas da ABNT, até
hoje não sei bem ao certo, mas estou procurando aprender. Sei que os professores
não vão ensinar passo a passo da internet para os alunos, mas eles deveriam dar
algum apoio que tivesse uma aula sobre as normas. Eu ia à casa da minha colega e
ela me ajudava a fazer e formatar.
M – E como vocês resolveram?
M5 – Eu fiz um curso de informática para me auxiliar nas dificuldades que eu tinha.
As normas da ABNT, a formatar. Hoje eu já consigo fazer, mas ainda estou
engatinhando na informática. O meu esposo que trabalha na área de comunicação
me ajudou muito. Eu aprendi, melhorei bastante, mas ainda preciso melhorar.
S4 – Para superar eu tive que ser encorajada. Existem apostilas de informática,
hoje, mas, na minha opinião, para você aprender você precisa praticar. Então eu
sentava na frente do computador, o esposo da minha tia ficava do meu lado e me
encorajava para conhecer os programas, essa foi a forma que eu tive para superar
essa dificuldade. Praticando... ser desafiada a conhecer novos programas, digitar,
formatar.
S5 – A informática tem que ser prática, para aprender, tem que praticar todo o dia, é
como a leitura, se não praticar você não consegue melhorar.
M – Tem mais alguma coisa que vocês gostariam de falar?
S5 – Não.
S4 – Não.
S2 – Não.
115
S1 – Não.
S3 – Não.
M- Quero agradecer a participação de vocês nessa pesquisa e parabenizá-los pela
conquista. Obrigada.
116
Anexo C- Transcrições Grupo Focal 2
M - Bom dia.
Quero desde já agradecer a presença de vocês aqui, e gostaria que vocês falassem
quais as dificuldades que vocês tiveram nos primeiros períodos do curso de
Pedagogia, para se inserir no ensino superior.
S7 – A dificuldade que nós encontramos nos primeiros semestres é que eram muitas
informações muita teoria, então a gente não conseguia assimilar principalmente eu.
Eu tive muita dificuldade em fazer uma leitura e saber interpretar essa leitura.
Foi uma dificuldade minha, eu não sei minhas amigas...
S8 – Uma dificuldade que tive também foi do tempo. Uma coisa que aconteceu no
primeiro semestre é que foi difícil conciliar o tempo de trabalho porque eu estudava
de manhã e trabalhava de manhã também. Então eu entrava no serviço 11:30 hs.e a
aula aqui termina às 11:00 hs. Eu moro longe, a maioria das vezes eu tinha que sair
antes, e os professores continuavam passando as matérias, eu acabava perdendo
muitas coisas. O primeiro semestre, foi o semestre que eu tirei mais notas baixas. Eu
não tinha tempo, e eu trabalhava em escola, mas não conseguia enxergar o que eu
aprendia com a escola que eu trabalhava, então ficava difícil de conciliar as duas e
por conta disso, o rendimento foi lá embaixo.
M – E como você fez para superar essa dificuldade?
S8 – Bom no começo foi difícil porque a minha diretora não entendia, eu tenho uma
bolsa do sindicato dos metalúrgicos e era só de manhã, eu não poderia ir para a
noite se não eu perderia o desconto; mas a diretora não entendia ela queria que eu
tivesse lá antes das 11:00 hs. Eu só consegui solucionar esse problema no 3º.
semestre, que foi a época que eu me afastei, nesse tempo, agora eu estou afastada,
mas as meninas até hoje, na escola onde eu trabalho, elas tem dificuldade com essa
questão de horário, mas assim , a diretora mudou a escola, agora é uma escola
particular mas era conveniada, mas ninguém entendia. Ela queria que eu tivesse lá
antes das 11:00 h, e antes das 11:00 h era quase impossível, então eu só consegui
solucionar esse problema no 3º semestre, que foi a época que eu me afastei, nesse
117
tempo agora eu estou afastada, mas assim, as meninas na escola onde eu trabalho
tem dificuldade com essa questão de horário, a diretora dizia:”se vira, ah sai mais
cedo”; mas se sair mais cedo eu perco matéria, não podia ficar até o final das
provas. Solucionar, não solucionou tudo, agora melhorou porque eu me afastei de lá
e talvez volte o ano que vem, mas não tem uma solução ainda para isso, porque
eles lá não entendem esse fato de poder estudar.
M – E você teve outra dificuldade?
S8 – Eu tive a dificuldade de interpretação de texto também no começo. Nossa! Era
complicado entender os textos.
S9 – Porque é meio fora da nossa realidade totalmente. Quando você lê, são poucas
às pessoas que tem o hábito de ler, lê no máximo um jornal. Aí você se depara na
Universidade com textos científicos, trabalhos científicos, não faz parte da nossa
realidade, não faz parte da realidade da maioria das pessoas, pelo menos na nossa
classe social. Não somos acostumados à isso. Então, chegar na Universidade e se
deparar com um texto de 20 páginas, e o professor dizer assim: “ É um texto
pequenininho, só tem 20 páginas”, é complicado, é muito difícil. Porque eu acho que
as dificuldades começam dentro de casa, para a gente sair de dentro da nossa casa,
já é uma dificuldade. Eu tenho 2 filhos, quando eu vim para a Universidade o meu
pequenininho tinha 2 anos, e eles ficariam sozinhos para eu vir para a Universidade,
então eu venho e fico o tempo inteiro olhando para o celular, porque a orientação lá
em casa é: Qualquer coisa, liga para a mãe. Eles ficam sozinhos até hoje. Eu e S8
moramos na mesma região, eu moro no Jardim São João e ela mora na Cidade
Soberana, nós pegamos o ônibus, um ônibus que cabe 100 pessoas, 50 sentados e
50 em pé; eles conseguem colocar 250 pessoas dentro do ônibus 6 horas da
manhã, isso já é uma dificuldade, dinheiro de condução é uma dificuldade,
mensalidade é uma dificuldade.
S8 – Tem o trânsito.
S9 - É o trânsito é uma dificuldade.
118
S8 – Às vezes você chega atrasado, por exemplo: teve um acidente na famosa Via
Dutra e a Dutra parou. Aquela história o cachorro comeu meu trabalho... Você
explica para o professor que teve um acidente na Dutra, e ele diz: Ah lá vem aquelas
desculpinhas, mas não é uma tira, é uma realidade que a gente enfrenta desde o 1º.
semestre.
S9 – Ainda mais se for aqui em São Paulo, se tem uma moto quebrada na
trabalhadores trava-se tudo. Você acaba pegando o trânsito, condução lotada, você
acaba tendo outros desgastes . Nós tivemos uma professora de sociologia que ela
dizia o seguinte: Se você chegar até o terceiro semestre, você vai se formar.
S8 – É
S9 – Porque toda dificuldade que você vai ter na Universidade, de relação com o
próximo... , Eu até coloquei num papel que a diversidade entre pessoas é muito
grande, você tem que aprender a trabalhar em grupo, a respeitar a opinião do
próximo, e tudo isso no 1º. E 2º. Semestre é muito mais difícil. Depois você vai
levando, aprende a respeitar, engole, toma um copo de água para ajudar o sapo
descer, às vezes ele fica engasgado na garganta, mas, vai melhorando... Mas você
vai aprendendo a conviver com isso, porque na verdade quando você vai para o
mercado de trabalho... Você saiu do mundo da sua casa, do mundo da Universidade
onde você conviveu por um período de tempo com algumas pessoas, e vai conhecer
outras pessoas, são outras dificuldades... Você aprende. O legal da Universidade é
isso, você aprende a vencer algumas barreiras aqui dentro. Eu acho que a principal
função da Universidade é você aprender a romper algumas barreiras de crença, de
religião, de tudo, de valores.
S6 – Isso aí é muito focado, na Universidade você tem dificuldade de
relacionamento.
S9 – Ainda mais na nossa sala né, só tem mulher.
S8 – A gente estava comentando antes o assunto da camiseta, para escolher só um
negocinho, um modelinho, uma frase, foi assim.
119
S7 - Ficamos um tempão debatendo... (risos).
S8 - Que cor? A fonte tem que ser diferente. Então é um monte de opinião que
acaba uma se debatendo na outra, e no final, pelo que eu estou vendo, na sala está
todo mundo com a camiseta igual (risos).
S9 – A gente quase se matou, ficou de mal, mas todas estão quase com a mesma
camiseta.
S7 – Mas a gente não conseguiu tirar um dia para que todas venham com a mesma
camiseta, vai ter 1 dia ou 2 da semana que todas virão com a mesma camiseta,
porque três não aceitaram comprar a mesma camiseta, não quiseram, ou seja, são
diferentes.
S8 – E as que aceitaram diziam: Ah o que vai bordar?... Aí fica aquela coisa... o foco
mesmo era só...
S9 – A pessoa só vê só o seu umbiguinho não vê o todo. Nós estamos no 6º.
semestre do curso de Pedagogia. A camiseta é algo que eu não vou usar todos os
dias da minha vida, é algo para marcar o fim de um tempo e o início de um novo
tempo. O valor é sentimental. A S10 por exemplo, bateu o pé que não queria.
Acabou comprando de tanto que nós falamos. Porque é por um bem em comum. A
gente já usou as camisetas, ela não usou ainda; mas o dia que for votado para que
todas venham com a camiseta, ela vai vir com a dela também. Essas dificuldades na
Universidade são difíceis, por isso se chamam dificuldades, mas serve para o
amadurecimento.
S10 – Eu quero falar um pouquinho também, é com relação aos textos, é uma
dificuldade que para mim, por exemplo, na História da Educação eu me pergunto:
porque que a gente tá aprendendo isso? Porque as questões da paidéia para surgir
o nome Pedagogia? Não é uma coisa que a gente entende no primeiro momento, é
uma coisa que chegando ao segundo semestre, no terceiro, no quarto semestre, é
aquela coisa do embasamento teórico, a gente vem sem base nenhuma, né? Eu não
sai do ensino médio e entrei direto, mas quem passa por isso eu acredito que seja,
120
difícil de continuar. Como a professora falou, se você for para o 3º. semestre você
continua, mas quem para no 2º. e fala: O que é que estou fazendo aqui? Não está
entendendo nada, lá no ensino médio era assim... Aqui na Faculdade é desse jeito.
Não tem ninguém para apoiar, cada um tem que fazer a sua parte.
M – Quando você fala da parte teórica, que saiu do ensino médio e é diferente da
Faculdade. Você acha diferente no quê?
S10 – É porque no ensino médio desde o primeiro ano até hoje, a gente não tem
aquela matéria que o professor vai fundo. Eu não vou precisar pesquisar, é só ir no
Google ver o que tem baixar uma figura bonita e ele vai te dar “A”. Na Faculdade
você tem que pesquisar mesmo, você pode até achar alguma coisa no Google, mas
você vai ver se aquilo é verdade, no ensino médio não tem essa obrigação de ver se
é verdade ou não, na faculdade tem. No ensino médio fazíamos uma capa de
cartolina, aquele almaço. Na Faculdade tem as normas da ABNT, é uma dificuldade
no começo, mas depois você não escreve uma receita de bolo se não tiver 3/3 e 2/2.
rsrs.
S8 – Tem a questão da estética.
S10 – É uma dificuldade no começo, mas no final você não consegue entregar seu
trabalho sem as normas. Às vezes eu vejo que os avisos no elevador do prédio
está feio, então eu penso: se eu colocar nas normas da ABNT vai ficar bonitinho.
Qualquer textinho que você pega, você quer colocar nas normas.
S9 – E placa de caminhão então?
S6 – Eu tive dificuldade na realização de trabalhos, como elas falaram a gente fazia
com almaço, também porque fiquei fora da escola, já tinha passado muito tempo,
fiquei fora da sala de aula muito tempo. Quando regressei, a minha dificuldade era
navegar na internet, porque como dona de casa, eu não navegava na internet. Aí
como mexer no computador? Esse negócio de normas, como faz? Eu tive que pedir
ajuda para o meu marido, para os meus filhos, para as amigas do grupo, da sala,
121
mas a coisa não andava, quando eu achava que tinha conseguido uma coisa, vinha
um e falava: não, não é mais assim, vinha outro e falava não, não é assim, é
assado. Aperta tal botão, não é esse botão é o do lado. Fui resolver esse problema
no 2º. semestre.Tenho dificuldade até hoje ainda. Se eu falar que consigo navegar é
mentira, mas hoje tenho mais intimidade com o computador (risos).
M – E você conseguiu isso com ajuda dos familiares? Como foi?
S6 – Meu marido sempre me ajudou numa boa, ele sempre me incentivou a voltar a
estudar, ele está mais acostumado a mexer no computador por causa do trabalho
dele. O meu filho por ser mais novo já cresceu nesse meio, para ele é normal, é
esquisito quando ele vai fazer alguma coisa e não tem computador. O que eu
achava que era muito complicado, e tinha uma seqüência de botões que eu não
lembrava, então eu pedia para ele fazer para mim. Rsrs... é assim até hoje.
M – Tem alguma dificuldade que vocês não falaram ainda e queiram comentar?
S7 – Como a S6 falou que ficou muito tempo fora da escola, foi o meu caso também,
fiquei mais de 20 anos fora da escola, quando voltei a estudar fui para a EJA, fiquei
3 anos e meio, fiz da 5ª. série até o 3º. Colegial, e a partir disso entrei na
Universidade em 2009. Quanto tempo fiquei fora da escola? Para mim todas aquelas
matérias eram um bicho de sete cabeças. Eu não conseguia entender, era muito
difícil, então a partir do 2º. semestre em diante foi clareando... clareando alguma
coisa. Foi o que a S6 falou do computador. Até anotei aqui: A questão do
computador, a internet para mim era novidade, eu não sabia. Então meus filhos
foram me ajudando, eu fiz um curso para conhecer um pouquinho o computador,
hoje eu não sei mexer tudo, mas conheço uma boa parte, quando tenho dificuldade
o meu filho e minha filha me ajudam. Até nos trabalhos acadêmicos, meus filhos são
muito importantes nessa parte, meu esposo também, meu segundo esposo, porque
no meu primeiro relacionamento/casamento, fui casada com ele 18 anos e meu
sonho era voltar a estudar, ele nunca deixou. Eu falei para ele que ia me separar
dele, mais ia voltar a estudar, me separei dele e voltei a estudar. E esse outro no
começo colocou barreiras e eu disse: Olha eu me separei do meu primeiro marido,
pai dos meus filhos, para voltar a estudar, não vai ser você que vai me impedir, aí
122
ele falou: tudo bem então, hoje ele me apóia, me parabeniza porque eu não tive
nenhuma dependência, nenhum exame. Graças a Deus, só tenho a agradecer. E eu
me esforço. Eu fui cabeleireira durante 21 anos, hoje ainda exerço a função, mas
muito pouco, por conta da faculdade. Eu deixei um pouco esse trabalho de lado,
faço uma vez ou outra por semana. Eu dedico praticamente 80% do meu tempo para
estudar, para aprender alguma coisa, mas para mim foi muito bom esse curso.
M – Vocês falaram um pouco sobre as dificuldades de leitura dos textos, quais foram
as estratégias que vocês utilizaram para superar essa dificuldade?
S7 – Eu não tinha hábito de ler, eu passei a fazer leitura constante, ler livros, até
mesmo textos científicos, passei a estudar mais, e também em grupo a gente se
reunia e conversava um pouco sobre essa dificuldade. Principalmente minhas
colegas que tem mais conhecimento do que eu, eu perguntava e elas iam me
ajudando. Eu não superei 100%, eu tenho muito a aprender ainda.
S9 – Você pega um texto científico e fala: que texto chato!
S7 – Você não compreende.
S9 – É você não compreende: Então eu não sei se eu superei essa dificuldade, mas
eu aprendi a fazer, é... porque na verdade esses textos científicos nada mais são do
que suas próprias vivências. Hoje mesmo foi muito legal, nós apresentamos um
seminário em sala de aula, todas nós, e eram sobre temas do nosso cotidiano com
outros nomes, por exemplo, currículo da diversidade cultural (texto científico), o
nosso era o fim das metas narrativas, aí nós tivemos uma dificuldade imensa de
entender, lendo o que era o fim das metas narrativas, era um texto científico, só que
quando você o traz para sua vida, nada mais é do que o aprendizado totalizado e
focado naquela única verdade, e quando você traz isso para sua vida, para o seu
cotidiano, se torna mais fácil. Nós lemos um texto sobre motivação e liderança, um
texto muito científico, com palavras que nós não sabíamos. Só que quando você fala
sobre motivação e liderança, e na verdade é o que todo mundo procura ou quer.
Você precisa ser motivado, você veio para a Universidade por alguma motivação, e
você quer ser líder em alguma coisa, se você não é, você se identifica em algum
123
momento. Se você trouxer esse texto científico para a sua vivência, você começa a
relacionar aquele texto àquilo que você já viu em algum lugar, isso está guardado,
eu acho que não melhora mas facilita, facilita muito a compreensão e você passa a
perceber que ele não é tão chato assim. É uma linguagem que você desconhece.
M – Mas...nos primeiros períodos o que aconteceu?
S9 – Ah! Eu chorei muito, eu chorava muito.
S7 – Eu também chorei.
S9 - Eu achava que não ia dar conta, sabe? aí eu procurava muito no Google
alguma palavra que eu não conhecia, trabalho de 5ª. série mesmo. A carinha do 5º.
Ano, vai lá e procura saber o que é, eu fazia a mesma coisa. A única diferença é
que eu não podia tirar do Google e trazer para a faculdade, procurava no Google só
para entender o que estava dizendo ali. E nós tivemos uma professora, por exemplo:
A gente tem aula dela, não se pode faltar, alguns outros professores também, se
faltar na aula dessa professora tá de exame. Mas são os professores que te exigem,
e não fazem isso porque são maus, mas te exigem porque querem que você tenha
compreensão daquilo. Hoje a gente tem essa maturidade, só que lá no começo,
como na verdade eu não podia parar a Universidade, porque eu tinha um foco, eu
tinha uma meta a cumprir, então eu tinha que pensar da seguinte maneira: Eu
preciso tentar entender isso, conversando eu tentava entender, lendo na internet,
porque na verdade o computador vira ferramenta necessária.
S8 – Para entender realmente eu tive que prestar atenção, porque pegar um texto e
não acompanhar a aula não adianta, aí você chega no 6º. semestre e ainda não
entende nada. Então eu acho que acompanhar a aula é fundamental. E tem texto
para ler, para fazer algum trabalho como o professor comentou: que cada um pega
um pedaço do trabalho e a gente vai corrigir o trabalho, sempre falta alguma coisa
pelo fato de cada um pega uma parte do texto. E Tem essa também, de ler para
saber o que está escrevendo, entendeu?
124
S8 – O que me ajudou a compreender melhor os textos foi a leitura que é
importante, o trabalho que a gente dividia, uma fazia uma parte e a outra pessoa
outra parte, a gente se reúne e assim acaba comentando: a minha parte tá falando
assim...assim...assim..., a outra fala outra coisa, então eu consegui conciliar assim: a
parte que eu não entendi, foi a parte que ela entendeu, e aí ela me ajuda naquilo
que eu não entendi, e eu a ajudo naquilo que entendi. Esse foi o ponto que me
ajudou mais a compreender os textos.
S6 – Bom eu tive dificuldade também na leitura do texto, mas como eu sempre lia
muito e via jornal também, o que era assunto em relação à atualidade, quando eram
textos com essa referência tudo bem, mas quando eram textos filosóficos aí nem
Cristo me ajudava...
M – E o que você fez para superar essa dificuldade?
S6 – Eu recorri às colegas... aí quando tinha chance, eu perguntava para o
professor: o que quer dizer isso? Porque quando o texto é filosófico mesmo que a
gente recorra ao dicionário parece que não esclarece, pelo menos para mim.
S10 – A gente até entende o que está no dicionário, mas pergunta: Porque essa
palavra está aqui?
S7 – Dicionário para mim, ele anda lado a lado comigo, quando eu não estou com
ele eu jogo no Google, pergunto e ele fala, eu digo: mas não é isso que eu quero
saber. Eu pergunto de novo e ele fala assim: mas o que você quer saber? E eu digo
você quis dizer o que? Risos. O senhor não é o pai dos burros? Então vamos lá?
Risos.
S10 – Tem uma questão que a gente não colocou em relação às dificuldades que é
a questão dos estágios.
S9 – Nossa!!!
125
S10 – E a atividade complementar então? Na minha opinião, na atividade
complementar, as visitas culturais...tem algum fundamento, mas eu acho que a
gente vai e faz 200, 250 horas no curso todo, só que não tem um professor para
falar assim: olha vocês vão lá, que depois a gente vai estudar sobre isso, vai discutir
o que vocês acham.
S7 – É verdade...
S10 – A aula de estágio nada mais é para o professor ver se sua ficha está certa ou
não... As dificuldades do estágio acontecem em todos os aspectos: tempo, dinheiro,
disponibilidade. Às vezes por causa de uma vírgula você tem que refazer o trabalho
todinho, aí você vai lá e imprime seu trabalho todinho... Porque o P de Pedagogia
ficou com letra minúscula... Para mim, o que pegou mais no curso falando hoje no
sexto semestre, foi o estágio e atividade complementar.
S8 – E também a questão da organização das disciplinas, porque uma dificuldade
que eu houve muito grande, foi por exemplo: nós estamos tendo disciplinas sobre
administração, gestão, liderança, tudo mais voltado para esse lado, e o nosso
estágio do quinto semestre...
S9 – Foi empresarial.
S8 – Foi no semestre anterior. A gente chegava na empresa para fazer aquele
estágio, e a gente via aquele monte de nomes. O professor queria saber o clima
organizacional, queria saber de todos os termos... e a gente ficava assim: O que é
isso? As disciplinas anteriores eram sobre EJA, metodologias de matemática, coisas
que não tinham muito a ver. A organização das disciplinas, eu acho, não sei... No
meu ver não é assim corretamente, porque hoje se eu fosse fazer o estágio numa
empresa, eu já iria entender os termos que eles usavam, porque para falar a
verdade eu coloquei no papel no semestre passado, o estágio eu fiz, e coloquei no
papel, mas entender o que aquilo queria dizer eu não entendi. Hoje eu entendo, até
falo para as meninas: Caramba fiquei tão agoniada no semestre passado porque eu
não sabia os termos que eles usavam.
126
M – Em que semestre começam os estágios?
S8 – No segundo semestre, E agora no 6º. semestre com TCC para a gente
entregar, a gente tem estágio também.
S9 – É uma confusão brava.
S8 – É muita confusão...
S9 – É sim, o negócio está estreito.
S8 – As orientações do TCC a gente foi ter muito depois, assim que começou o
semestre e a gente já pensou que teria as orientações do TCC e foi lá para frente.
Mas é verdade, foi lá para frente, A gente comentou quando foram na sala de aula
falar: Poxa, mas não teria como vir antes? E falaram não tem, porque tem que
programar um monte de coisa. Só que aí a gente acaba ficando perdido. Porque o
estágio, a professora de estágio graças à Deus é ótima, não dá esses problemas,
mas o TCC é aquela coisa, é a conclusão do curso, você fica com aquilo na sua
cabeça o dia inteiro. Eu tenho que fazer o TCC.
S7 – É
S8 – Senhor ilumina...
S9 – Para falar a verdade no meu ponto de vista, você está concluindo o curso
agora, então quando chega o final do seu curso você tem o TCC para fazer, o
estágio para fazer, você tem filho, marido, então tudo que não está bom acaba
piorando, e você não encontra qualidade no que está fazendo, porque vai se
preocupar na quantidade, você pega o conteúdo.
M – Vocês falaram sobre a dificuldade do trabalho em grupo nos primeiros períodos,
querem comentar sobre isso?
127
S7 – No meu caso, graças a Deus eu estou com o mesmo grupo desde o primeiro
semestre. A gente formou um grupo de 5 meninas, apenas uma saiu, ela saiu da
faculdade porque mudou para outro Estado, então ficamos em quatro, e no terceiro
semestre saiu outra colega, mas o meu grupo continua até hoje. A gente não teve
muita dificuldade de relacionamento.
S8 – A gente teve um pouquinho de dificuldade, a gente pôde conhecer um
pouquinho de cada pessoa.
S9 – Não é pessoal.
S8 – A gente viu que não estava produzindo legal. Eu entrei num semestre no grupo,
logo depois uma integrante descobriu que Pedagogia não era o forte dela (risos). Ela
era inteligente, mas disse: que iria fazer outro lado. A partir daí o grupo começou a
esvaziar, então a S10 chegou, ela entrou no segundo semestre, eu me identifiquei
bem com ela, por conta das leituras, ela me ajuda muito quando eu não estou
entendendo uma coisa. Eu falo: S10 eu não estou entendendo isso aqui. Ela me
ajudou muito. Aí veio a S9 que acabou entrando no grupo também, e tem uma
colega que não veio hoje. Eu não vi como uma dificuldade o grupo ter separado, eu
vi como... eu pude aprender um pouquinho. Uma vez uma professora fez uma
atividade com a gente dentro da sala, uma atividade do barbante, que a gente ia
pegando no barbante e ia falando daquela colega, aquela colega que você não
conhece muito; e ia falando, por exemplo: eu acho a S9 uma pessoa que se
comunica bem, e ai a gente acabava conversando e conhecendo um pouquinho
mais as outras pessoas, essa questão de não ter mantido as mesmas pessoas do
grupo, desde o primeiro semestre até agora, foi uma boa coisa. No nosso grupo
todo mundo chega e fala com todo o mundo. Não tem aquela coisa assim: Ah eu
não gosto de você, é horrível você chegar num lugar e ter pessoas que não gostam
de você, e três anos é uma convivência. No mínimo um bom dia...
S9 – Cada um aqui tem um grupo, eu não vejo a dificuldade do grupo como pessoal.
Eu sou capaz de estar no mesmo grupo que você, e não necessariamente sermos
amigas, de uma ir na casa da outra todos os dias, não é isso; mas se tem a
facilidade de se tolerar, tolerar mesmo. Na intolerância não se tem grande coisa.
128
Acho que a nossa sala, não é ruim, ela não tem um ambiente pesado. É uma sala
assim: O pessoal não coopera por diversos motivos, por exemplo não vamos fazer
amigo secreto. A gente percebe, tem problemas dentro dos grupos, é claro... onde
tem mais que um ser humano tem problema.
S7 – Até eu sozinha tenho problemas.
S9- É comigo mesma eu me dou bem, Me dou bem comigo mesma.
M – Mas, nos primeiros períodos você pensavam assim também?
S9 – Não ...
S7 – Não...
S8 – Não...
S10 – Não...
S9 – Nos primeiros semestres eu queria jogar as pessoas pela janela. Quando eu
cheguei na Universidade, foi depois de uns 20 dias que as aulas já tinham
começado, os grupos já estavam formados. Eu tive uma dificuldade maior porque
não conseguia escolher um grupo... Fui inserida no meio de um grupo que todos já
estavam lá, e nem sempre você se identifica com aquelas pessoas, que foi o meu
caso. Então no primeiro semestre eu olhava para aquelas pessoas do meu grupo e
pensava: Eu te mato! Vou te dar chumbinho no café... Você acha que tudo é
pessoal, mas tudo por conta da falta de maturidade. Então você fica com raiva da
pessoa mesmo.
S7 – Mas com você aconteceu?
S9 – Comigo aconteceu. Com a pessoa que aconteceu, hoje não somos amigas,
mas eu não acho que faça falta a minha vida na dela sei lá... a gente conversa da
risada... mas, para fazer um trabalho não dá...passou ... não dá para fazer. Porque
129
eu tenho uma maneira de ver as coisas, você tem outra. Quando você não aprende
a unir a sua maneira e a minha, fecha os olhos para algumas coisas, fica mudo para
outras; mas no primeiro semestre você não sabe disso. No primeiro semestre você é
verdade absoluta, eu acho que é o que eu estou dizendo, ela acha que é o que ela
está dizendo... Depois a maturidade muda.
S6 – Eu vou falar da minha dificuldade, igual a S9 eu entrei na faculdade um mês
depois, o mesmo caso que ela. As pessoas já tinham formado seus grupos, e eu
cheguei e caí onde tinha menos gente, Comecei numa segunda-feira, e acho que
tinha um feriado na terça e já tinha um trabalho para ser entregue na semana
seguinte, me passaram algumas informações, o que a professora falou e já tinha
dividido: vai fazer assim, assim, assado e cada um tinha um pedaço para resumir.
Eu levei o meu pedaço para casa, como tinha feriado combinamos para nos falar por
telefone para trocar idéias Cheguei em casa toda feliz... Resumindo... Resumindo...
Resumindo... Eu não sabia se estava bom, se batia com as idéias das meninas ou
não. Pedi para o meu menino digitar, isso foi na terça-feira à noite, no feriado eu
mandei para as meninas do grupo. Uma delas respondeu: está muito bom, você
pode levar na segunda-feira? Eu respondi posso, então ficou assim: eu levava o
meu pedaço e cada um levava o seu. Quando chegou a segunda-feira, na hora de
mostrar cada um o seu pedaço, só tinha o meu, e cadê os outros? Eu falei: eu fiz,
mandei para vocês, e vocês falaram que estava bom e eu trouxe, e uma das
meninas que estava lá falou: mas você só fez isso? Risos. Eu de idade no meio de
meninas novas. Fiquei sem palavras na hora e disse: não foi esse o combinado.
Pensei: vou terminar esse trabalho, porque agora não tenho como sair daqui. Ir para
onde? Quando terminou aquele trabalho eu pensei →vou procurar outro grupo.
M – Você superou essa dificuldade procurando outro grupo?
S6 – É fui procurar pessoas que falassem mais ou menos a minha linguagem,
procurei fazer amizade, aí até que achei um grupo. Porque ali eu pensei: não vai dar
certo.
130
S9 – Já teve trabalho em grupo do grupo não aparecer, e nós tivemos uma menina
do grupo que em toda apresentação, ela não vinha porque tinha diarréia, mas isso
era do emocional dela mesma, ela passava mal de suar frio, ficar branca.
S8 – Ela pediu para entrar no grupo e nós falamos: tudo bem, a gente aceita, mas
você vai ter que chegar mais cedo nas aulas.
S9 – Essa questão do trabalho em grupo agora, você dá risada. Eu e as meninas
estamos juntas há 3 semestres, desde o 4º. Semestre. No semestre anterior eu
fiquei responsável por um trabalho muito importante, e fiquei de passar para a S10,
só que eu apertei um botão na última linha e o inferno apagou tudo. Eu liguei para a
S10 chorando e perguntei: você recebeu o trabalho? Ela disse: não. Você acaba
comprometendo todo o grupo. O trabalho em grupo é um problema; mas há
problema entre pai e mãe. Marido e mulher, filho...
S8 – No trabalho em grupo não tem como você pensar individualmente. Como a S9
apontou... É um absurdo, você fica totalmente sem chão... por exemplo teve
trabalho, recente, nesse semestre que a S9 não pode vir porque tinha que cuidar do
filho que é pequeno, e não tinha com quem deixar, e eu e a Raquel não tínhamos
lido o texto. E o professor ia discutir geralmente ele discute, a gente é que fica
apresentando, falando e ele discute. Chegou na hora da apresentação e não
tínhamos lido o texto. Tinha uma integrante que falou: Eu li, mas não gosto de falar e
não vou explicar. Graças a Deus, um pouco que a gente leu, consegui explicar na
hora, procurando nas páginas, o professor falava: e tal página? Nós falávamos: Qual
professor? Íamos lá e procurávamos. A gente conseguiu entender e passamos por
essa fase. A meu ver, um grupo não pode pensar em um só. Eu tenho que pensar
em mim, na S10, na outra colega... Nós temos que ser uma equipe.
M – Tem mais alguma dificuldade que vocês queiram falar?
S8 – Não.
S7 – Não.
131
S6 – Não. S10 – Não. S9 – Não. M – Quero agradecer a participação de vocês.
Anexo D - Quadro de dificuldades – Grupo Focal 1 132
1- Dificuldades externas ao curso
2- Problemas familiares e de
ordem emocional.
3- Estrutura Física da Universidade
4- Relação com o Professor e o curso
5- Relação com o conhecimento
6- Relacionamento Interpessoal
Dificuldade de conciliar tempo, trabalho, família e estudo estudos - Dificuldade a econômica, que não permite a aquisição de materiais ( Computador, livros, xerox) - Origem social – Dificuldade para estudar ( Interrupções nos estudos egresso de escolas públicas. Superação - O sonho de fazer um curso superior a fez superar os desafios da inserção no ensino superior. - O correr atrás, a vontade de vencer a fez superar os desafios.
Relação com a família, as responsabilidades para com a família, ser mãe, esposa, trabalhar e estudar. - Falta de motivação. Superação - A superação das dificuldades de conciliar casa, família, estudos valeu à pena. - O apoio familiar incentiva a prosseguir.
Dificuldade com as condições do laboratório de informática. - Dificuldade de acessar o material on-line, dificuldade de fazer consultas à internet e utilizar as normas. - Necessidade de uso de xerocópia considerável. - Dificuldade em obter orientação na biblioteca, reclama da recepção dos funcionários da biblioteca. Superação - Superou a dificuldade de lidar com a informática, praticando. - Superou fazendo um curso para lidar melhor com a informática. - Uma amiga ajudou-a em como consultar os livros (Biblioteca)
Falta de planejamento adequado por parte dos professores. Certeza de ser aprovado desestimulava. Falta de orientação para realizar os trabalhos. -Falta de metodologia adequada às condições dos alunos. - Falta de compreensão por parte dos professores das condições econômicas e familiares dos alunos. - Falta de comunicação entre professores e alunos. .. falta de orientação e mediação dos professores para o trabalho em grupo. Curso muito amplo, enfoca muitos conteúdos. - Muita teoria, pouca prática. Diversidade de conteúdos disciplinas. Superação - Dificuldade com as críticas ao curso de Pedagogia, quanto à sua desvalorização na
Dificuldade em lidar com o conhecimento teórico e abstrato. . Dificuldade de leitura, compreensão e interpretação de textos. Dificuldade com a quantidade de conteúdos das disciplinas. Solicitação de conhecimentos e atividades práticas; - Adquiria o material, mas não lia. - Tensão teoria e prática. - Discurso aprendido X realidade. Superação - Enfrentou lendo textos que achava difíceis, fazendo resumos, usando dicionário para entender as palavras no 2º. e 3º. semestres, estava escrevendo e entendendo melhor. - Superou a dificuldade de leitura lendo várias vezes, demarcando o texto. - A internet como fonte de informações para
Dificuldade de trabalhar em grupo ( de se encontrar, de resolver impasses). - Relações interpessoais conflituosas, falta de preparo para lidar com os conflitos em grupo. - Falta de comprometimento por parte das pessoas. - Grupos fechados, divisão entre os grupos da sala, falta de interação. - Dificuldade de lidar com críticas - Diversidade de comportamento no grupo vista como negativa. - Dificuldade na apresentação dos trabalhos por causa da falta de cooperação entre os alunos da sala. - Problemas que aconteceram durante os trabalhos. - Os grupos de trabalho já são formados no primeiro semestre e permanecem sem alterações, são poucos os
Anexo D - Quadro de dificuldades – Grupo Focal 1 133
sociedade, mas percebeu que o curso era amplo, e lhe daria várias oportunidades, por isso prosseguiu. .
a construção de aprendizagens (pesquisas) . - Solicitação de ajuda da professora para a compreensão da leitura. Superação da dificuldade de leitura e interpretação de textos na relação professor aluno.
que mudaram de grupo durante o curso. Superação - Observando as dificuldades dos outros aprende a aceitar e superar as suas. - Procurou superar a dificuldade de trabalhar em grupo, conhecendo novas pessoas, mas diz que as pessoas estão muito fechadas. - Superou a dificuldade das apresentações expressando conhecimento sem se preocupar com as críticas.- - Começou a perceber que a disposição de aprender com o outro, de trocar conhecimentos enriquece. - Percepção da importância das diferenças no grupo. - Percebe-se a importância do trabalho em grupo para professores. -Consegue perceber a importância do trabalho em grupo na sociedade, e reflete sobre o papel do professor
Anexo D - Quadro de dificuldades – Grupo Focal 1 134
com relação a isso. Sugere que os professores poderiam incentivar a diversificação dos componentes dos grupos. - A participação em vários grupos possibilitou a superação da dificuldade do trabalho em grupo.
135
Anexo E – Quadro de dificuldades- Grupo Focal 2
1-Dificuldades externas ao curso
2- Problemas familiares e de
ordem emocional.
3- Estrutura Física da Universidade
4- Relação com o Professor e o
curso
5- Relação com o conhecimento
6- Relacionamento Interpessoal
Dificuldade de
administrar o
tempo, conciliar
tempo de trabalho
e estudo
(exigência do
trabalho e notas
baixas nos
primeiros
períodos).
Tensão trabalho x
estudos.
Conflito com a
diretora, trabalho
e estudos (tensão
trabalho x
estudos).
Dificuldade de
locomoção
(transporte x
estudos) trânsito.
Dificuldades
financeiras.
Dificuldade com
trânsito.
Superação
Percebe que
melhorou, mas
não solucionou de
fato. A tensão no
trabalho com
relação aos
estudos
permanece.
Dificuldade de
conciliar Família e
estudos.
Dificuldade
emocional, dúvida
se consegue
continuar ou não
fazendo o curso (
nos primeiros
períodos).
Não podia parar
com o curso porque
tinha uma meta.
Alteração
emocional no
momento das
apresentações.
A responsabilidade
familiar acontece
concomitante a
responsabilidade
com relação aos
estudos em grupo.
Superação
Enfrentar as
dificuldades como
caminho para a
aprendizagem e
superação de
barreiras.
Envolvimento da
família para
realização de
trabalhos
acadêmicos e
manuseio do
computador.
Necessidade de
apoio por parte da
Universidade.
Diferença do ensino
médio e faculdade:
No ensino médio
não há necessidade
de se aprofundar
nos estudos, na
faculdade é
necessário.
Dificuldade com a
internet
Superação
Pediu ajuda para a
família e amigos,
para superação da
dificuldade com a
internet.
Fez curso
Melhorou com
relação à internet
no segundo
semestre.
Dificuldades com
normas da ABNT.
Dificuldade com
trabalhos científicos.
Tempo sem
estudar.
Exigência de alguns
professores com
relação à disciplina,
aos conteúdos.
Dificuldade com
estágio e atividades
complementares,
não entendem para
quê as atividades.
Dificuldade com
relação a
organização das
disciplinas e estágio(
descompasso).
Orientações do tcc
tardias.
Preocupação com
quantidade e não
qualidade.
Superação
Dificuldade
com relação às
teorias, leitura
e
interpretação
de texto.
Dificuldade
em fazer
relação teoria
e prática.
Dificuldade
com a relação
à quantidade
de conteúdos.
Nos grupos de
estudos há
aqueles que
dividem o
trabalho e só
estudam a sua
parte, e há
aqueles que
tentam
compreender
todo o texto.
Superação
Dedicação,
tempo para
estudos.
Trazer o texto
científico para
sua realidade,
facilita a
compreensão.
Superação das
dificuldades
com os textos
na troca de
informações
no grupo.
Para superar
Nos primeiros
períodos, há
dificuldade de
interação nos
grupos.
Dificuldade no
trabalho em grupo,
diversidade entre
as pessoas.
Relacionamentos
em conflito.
Dificuldade de
encontrar unidade.
Esvaziamento do
grupo.
Um professor
provoca a
interação dos
alunos na sala,
mas, sempre há os
que não aceitam.
Não há tolerância
para o trabalho em
grupo.
O Ser Humano é
complexo e por
isso ocorrem
problemas nos
grupos e os
relacionamentos
ficam
estremecidos.
Falta de
cooperação nos
grupos.
Busca de
identidade com
relação ao grupo.
O grupo que já
está, dita as regras
para quem chega
depois.
Diferença entre
136
Anexo E – Quadro de dificuldades- Grupo Focal 2
as dificuldades
com os textos
recorreu aos
colegas
(auxílio do
grupo de
estudos) e ao
professor.
Somente o
dicionário não
traz o
contexto.
Superação da
dificuldade de
leitura, auxilio
do grupo de
estudos.
Ajuda do
Google e do
dicionário na
leitura.
A atenção em
sala de aula é
fundamental
para a
compreensão.
O computador
como
ferramenta
necessária
para os
estudos, a
busca pelo
entendimento
dos textos na
internet, no
Google.
Dificuldades
com as
disciplinas
Melhorou no
segundo
semestre.
Dedicação,
tempo para
estudos.
Não superou
grupo e equipe.
Superação
Vê as mudanças de
grupo como forma
de aprender.
A aproximação do
grupo só ocorreu
no quarto
semestre.
137
Anexo E – Quadro de dificuldades- Grupo Focal 2
toda a
dificuldade de
leitura.
138
Anexo F – Quadro de dificuldades dos Grupos Focais: Grupo 1 (azul) – Grupo 2 (verde) – dificuldades em comum (vermelho).
1-Dificuldades externas ao curso.
2-Problemas familiares e de ordem emocional.
3-Estrutura Física da Universidade
4-Relação com o Professor e o curso
5-Relação com o conhecimento
6-Relacionamento Interpessoal
-Dificuldade de conciliar tempo, trabalho, família e estudo estudos. - Dificuldade a econômica, que não permite a aquisição de materiais (Computador, livros, xerocópias) - Origem social – Dificuldade para estudar ( Interrupções nos estudos egresso de escolas públicas.
Conflito com a
diretora,
trabalho e
estudos (tensão
trabalho x
estudos).
Dificuldade de
locomoção
(trânsito).
Dificuldades
financeiras.
Superação - O sonho de fazer um curso superior a fez superar os desafios da inserção no ensino superior. - O correr atrás, a vontade de vencer a fez superar os
-Dificuldade de conciliar família e estudos. (Relação com a família, às responsabilidades para com a família, ser mãe, esposa, trabalhar e estudar). -Dificuldade
emocional,
dúvida se
consegue
continuar ou não
fazendo o curso (
nos primeiros
períodos).
-Não podia parar
com o curso
porque tinha uma
meta.
-Alteração
emocional no
momento das
apresentações.
-A
responsabilidade
familiar acontece
concomitante a
responsabilidade
com relação aos
estudos em
grupo.
- Falta de motivação. Superação - A superação das dificuldades de conciliar casa, família, estudos valeu à pena. - O apoio familiar incentiva a prosseguir.
-Dificuldade com as condições do laboratório de informática. - Dificuldade de acessar o material on-line, dificuldade de fazer consultas à internet e utilizar as normas. - Necessidade de uso de xerocópia considerável. - Dificuldade em obter orientação na biblioteca, reclama da recepção dos funcionários da biblioteca.
- Necessidade de
apoio por parte da
Universidade.
-Diferença do
ensino médio e
faculdade: No
ensino médio não
há necessidade de
se aprofundar nos
estudos, na
faculdade é
necessário.
Superação - Superou a dificuldade de lidar com a informática, praticando. - Superou fazendo um curso para lidar melhor com a informática. - Uma amiga ajudou-a em como
-Falta de planejamento adequado por parte dos professores. Certeza de ser aprovado desestimulava. -Falta de orientação para realizar os trabalhos. -Falta de metodologia adequada às condições dos alunos. -Falta de compreensão por parte dos professores das condições econômicas e familiares dos alunos. - Falta de comunicação entre professores e alunos. -Falta de orientação e mediação dos professores para o trabalho em grupo. -Curso muito amplo, enfoca muitos conteúdos. Muita teoria, pouca prática. Diversidade de conteúdos disciplinas. -Dificuldades
com normas da
-Dificuldade com
relação às
teorias, leitura e
interpretação de
texto.
- Dificuldade em
fazer relação
teoria e prática.
-Dificuldade com
a relação à
quantidade de
conteúdos.
-Solicitação de
conhecimentos e
atividades
práticas, há
conflito entre o
discurso
aprendido e a
realidade
(tensão teoria x
prática).
-Nos grupos de
estudos há
aqueles que
dividem o
trabalho e só
estudam a sua
parte, e há
aqueles que
tentam
compreender
todo o texto.
Superação
- Enfrentou lendo textos que achava difíceis, fazendo resumos, usando dicionário para entender as palavras no 2º. e 3º. semestres, estava escrevendo e entendendo melhor.
-Dificuldade de trabalhar em grupo (de se encontrar, de resolver impasses). - Nos primeiros semestres há relações interpessoais conflituosas, falta de preparo para lidar com a diversidade entre as pessoas (diversidade vista como negativa), conflitos em grupo. - Falta de comprometimento por parte das pessoas, falta de cooperação. - Grupos fechados, divisão entre os grupos da sala, falta de interação. - Dificuldade de lidar com críticas - Dificuldade na apresentação dos trabalhos por causa da falta de cooperação entre os alunos da sala. - Problemas que aconteceram durante os trabalhos, relacionamentos estremecidos. - Os grupos de trabalho já são formados no
139
Anexo F – Quadro de dificuldades dos Grupos Focais: Grupo 1 (azul) – Grupo 2 (verde) – dificuldades em comum (vermelho).
desafios.
Percebe que
melhorou, mas
não solucionou
de fato. A
tensão no
trabalho com
relação aos
estudos
permanece.
-Enfrentar as
dificuldades
como caminho
para a
aprendizagem e
superação de
barreiras.
-Envolvimento
da família para
realização de
trabalhos
acadêmicos e
manuseio do
computador.
consultar os livros (Biblioteca)
-Pediu ajuda para a
família e amigos,
para superação da
dificuldade com a
internet.
-Fez curso
-Melhorou com
relação à internet
no segundo
semestre.
ABNT.
-Dificuldade
com trabalhos
científicos.
-Tempo sem
estudar.
-Exigência de
alguns
professores com
relação à
disciplina, aos
conteúdos.
-Dificuldade com
estágio e
atividades
complementares,
não entendem
para quê as
atividades.
-Dificuldade com
relação à
organização das
disciplinas e
estágio(
descompasso).
-Orientações do
tcc tardias.
-Preocupação
com quantidade
e não qualidade.
Superação - Dificuldade com as críticas ao curso de Pedagogia, quanto à sua desvalorização na sociedade, mas percebeu que o curso era amplo, e lhe daria várias oportunidades, por isso prosseguiu. .
- Superou a dificuldade de leitura lendo várias vezes, demarcando o texto. - A internet como fonte de informações para a construção de aprendizagens (pesquisas) . - Solicitação de ajuda da professora para a compreensão da leitura. Superação da dificuldade de leitura e interpretação de textos na relação professor aluno. -Dedicação,
tempo para
estudos.
-Trazer o texto
científico para
sua realidade,
facilita a
compreensão.
-Superação das
dificuldades com
a leitura dos
textos na troca
de informações
no grupo de
estudos (
recorrer ao
colegas e ao
professor
porque o
dicionário
somente não
traz o contexto).
-A atenção em
sala de aula é
fundamental
para a
primeiro semestre e permanecem sem alterações, são poucos os que mudaram de grupo durante o curso.
-Dificuldade de
encontrar
unidade,
esvaziamento do
grupo, falta de
interação.
-Um professor
provoca a
interação dos
alunos na sala,
mas, sempre há
os que não
aceitam.
-Não há
tolerância para o
trabalho em
grupo.
-Busca de
identidade com
relação ao grupo.
-O grupo que já
está, dita as
regras para quem
chega depois.
-Diferença entre
grupo e equipe.
Superação - Observando as dificuldades dos outros aprende a aceitar e a superar as suas. - Procurou superar a dificuldade de trabalhar em grupo, conhecendo novas pessoas, mas diz que as pessoas estão muito fechadas.
140
Anexo F – Quadro de dificuldades dos Grupos Focais: Grupo 1 (azul) – Grupo 2 (verde) – dificuldades em comum (vermelho).
compreensão.
-O computador
como
ferramenta
necessária para
os estudos, a
busca pelo
entendimento
dos textos na
internet, no
Google (ajuda do
Google e do
dicionário na
leitura).
-Dificuldades
com as
disciplinas
Melhorou no
segundo
semestre.
- Não superou
toda a
dificuldade de
leitura.
- Superou a dificuldade das apresentações expressando conhecimento sem se preocupar com as críticas. - Começou a perceber que a disposição de aprender com o outro, de trocar conhecimentos enriquece. - Percepção da importância das diferenças no grupo. - Percebe-se a importância do trabalho em grupo para professores. -Consegue perceber a importância do trabalho em grupo na sociedade, e reflete sobre o papel do professor com relação a isso. Sugere que os professores poderiam incentivar a diversificação dos componentes dos grupos. - A participação em vários grupos possibilitou a superação da dificuldade do trabalho em grupo. Vê as
mudanças de
grupo como
forma de
aprender.
-A aproximação
141
Anexo F – Quadro de dificuldades dos Grupos Focais: Grupo 1 (azul) – Grupo 2 (verde) – dificuldades em comum (vermelho).
do grupo só
ocorreu no
quarto semestre.