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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NA EDUCAÇÃO DE 0 A 3 ANOS
POR: RENATA PEREIRA VIDAL DA SILVA
ORIENTADOR
PROFº GENI LIMA
RIO DE JANEIRO
2011
2
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
POS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NA EDUCAÇÃO DE 0 A 3 ANOS
Apresentação de monografia à Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Orientação Educacional e Pedagógica.
Por: Renata Pereira Vidal da Silva.
3
AGRADECIMENTOS
À minha família
4
DEDICATÓRIA
À minha família
5
RESUMO
As concepções norteadoras do trabalho com crianças de zero a três anos variam de acordo com as concepções sobre a infância vigentes em cada momento histórico, assim como as concepções sobre a orientação educacional. As políticas públicas para a infância reconhecem, pela primeira vez, a educação infantil como primeira etapa da educação básica e atuam no sentido de incorporar à esfera educacional as pré- escolas e, principalmente, as creches. Nossa pesquisa tem o objetivo de discutir a importância da presença e atuação do orientador educacional na creche para a garantia de um trabalho pedagógico de qualidade.
Palavras-chave: educação infantil, creche, assistencialismo, educação.
6
METODOLOGIA
Utilizou-se como percurso para atingir os objetivos deste trabalho a
pesquisa bibliográfica. Ela foi indispensável pois, forneceu subsídios teóricos
não só para que pudéssemos eleger o presente objeto de estudo, mas
também para embasar as reflexões construídas a partir das experiências
vividas.Segundo MINAYO(1994), esta modalidade de pesquisa coloca frente a
frente os desejos do pesquisador e os autores envolvidos em seu horizonte de
interesse.
Os principais autores que utilizamos como referencial para esse
trabalho foi: ARIÉS (1981), KUHLMANN (2005), OLIVEIRA ( 2003) e KAPPEL
(2005). Phillipe Ariés é autor de uma obra clássica e pioneira sobre a história
da família e da infância. Nesta obra o autor demonstra como o sentido da
infância foi construído historicamente a partir da idade moderna. Moisés
Kuhlmann é autor de importantes textos a respeito da educação da infância no
século XIX. Dolores Kappel discute as políticas para a educação infantil no
século XXI e Zilma de Moraes Oliveira debruça-se sobre o papel da creche na
educação da criança. Além deles, utilizamos também a legislação referente à
educação infantil como a Constituição Federal que, pela primeira vez,
preocupou-se com o direito à educação de crianças de zero a seis anos, a
LDBEN/ 96 que reconhece a educação infantil como primeira etapa da
educação básica, o Referencial Curricular que propõe sugestões para o
trabalho pedagógico com crianças de zero a seis anos, o Plano Nacional de
7
Educação que diagnostica, esclarece os objetivos e estabelece metas para a
educação infantil num prazo de dez anos.
8
Sumário
Capítulo I
A abordagem histórica 11
Capítulo II
Legislação e políticas para educação infantil 22
Capítulo III
As contribuições do orientador 32
Conclusão 35
Bibliografia 37
Índice 39
9
INTRODUÇÃO
Com a crescente demanda por espaços destinados ao atendimento
de crianças na faixa etária de 0 a 3 anos no Brasil,surgem questionamentos
relativos à qualidade do trabalho que é realizado.Historicamente,o atendimento
a esta faixa etária privilegiava os cuidados com as crianças, tratando
principalmente da alimentação e higiene.Isso porque as mulheres tinham a
necessidade de um local onde pudessem deixar seus filhos pequenos para que
pudessem trabalhar.
Esta pesquisa pretende compreender a relação entre a atuação do
orientador educacional na creche e a qualidade do trabalho desenvolvido,
identificar as contribuições deste profissional no trabalho com crianças na faixa
etária entre 0 e 3 anos, numa perspectiva pedagógica, além de analisar a
qualidade do atendimento prestado às crianças na creche e avaliar sua
importância da creche ao longo da história brasileira.
O desejo de compreender como a atuação do orientador
educacional pode proporcionar um atendimento de caráter pedagógico de
qualidade na creche surgiu a partir de experiências vividas enquanto
professora de educação infantil. Na creche, através de atividades pedagógicas
elaboradas para a faixa etária referida, aspectos cognitivos, motores e afetivos
eram estimulados.Porém,o trabalho pedagógico muitas vezes ficava em
segundo plano,pois havia uma preocupação maior tanto da direção quanto dos
pais, com os “cuidados” com as crianças.A higiene e a alimentação tinham
maior relevância que o trabalho pedagógico realizado.A orientadora por sua
vez corroborava a decisão da direção de condicionar o trabalho pedagógico
aos cuidados com as crianças já que este aspecto era priorizado pelos pais,
que pagavam mensalidade.Este fato deixou dúvidas sobre o papel do
orientador educacional junto a faixa etária de 0 a 3 anos.
Mesmo com todo o movimento de valorização da educação infantil e
das crianças como cidadãs, as experiências vivenciadas por muitas delas
10
pouco contempla a dimensão educacional.Além disso, muitos profissionais que
atuam na creche não têm a formação mínima para exercer a profissão e
desconhecem as contribuições de teóricos que são referência na área da
infância.
Revisitando a história da educação infantil, é possível observar que
há controvérsias em torno do trabalho desenvolvido pelas instituições voltadas
para a educação de zero a três anos.As ideias iluministas de Rousseau
marcaram uma divisão entre as concepções sobre a infância até então
difundidas.A criança não era considerada como um ser com características
próprias, mas como um adulto em miniatura, necessitando apenas ser
alimentada e cuidada para que crescesse.Com suas contribuições, a criança
passou a ser vista dentro de suas particularidades.As creches surgiram na
França com o objetivo de acolher crianças filhas de mães trabalhadoras das
classes pobres.No Brasil,a urgência de creches surge com maior intensidade a
partir da industrialização, que necessitou da força de trabalho feminina nas
fábricas.Atualmente, a creche é vista não apenas como um local onde as
crianças passam o dia para que seus responsáveis trabalhem mas como um
espaço educativo, responsável junto com a família pela formação dos
pequenos.Muitas publicações a respeito do atendimento em creches têm sido
divulgadas com o intuito de informar e formar os educadores a respeito de
etapa da infância de que trata este trabalho.
A Orientação Educacional ao longo de sua trajetória teve diversos
enfoques até chegar à concepção atual de uma ação pedagógica, crítica e
comprometida com a formação integral do aluno, o qual deve ter conhecimento
de si próprio e da cultura onde está inserido.
A hipótese que norteia esta pesquisa é a de que a atuação do
orientador pedagógico na creche garante um atendimento de caráter
pedagógico de qualidade na educação de 0 a três anos.Entretanto, tem-se a
clareza de que tais acepções poderão ser relativizadas.O que se quer dizer
com isso é que todo trabalho que envolve reflexão e produção de
conhecimento é caracterizado pela provisoriedade, tendo em vista que a
produção deste conhecimento é contínua e permanente.
11
CAPÍTULO I
1. ABORDAGEM HISTÓRICA
1.1. O Surgimento da idéia de Infância
Quando falamos e pensamos questões a respeito da infância parece-nos
natural e corriqueiro que haja uma etapa de nossas vidas, a primeira, em que
possuímos características específicas que nos diferenciam das demais e que
necessitam de especial atenção para que sejam vividas em sua plenitude: a
infância.
Porém, a representação da infância, da forma como a concebemos hoje, trilhou
um longo percurso até chegar ao que é atualmente. Ainda se encontra distante
do ideal, pois há muito para ser conquistado, mas ao revisitar a história é
possível perceber grandes avanços. Este longo percurso não se deu de
maneira uniforme, variando de acordo com aspectos culturais, sociais e
econômicos. Por isso, para discutirmos as condições em que se encontra a
educação infantil, especialmente a educação de zero a três anos, precisamos
reconstruir a história da infância ao longo dos tempos para que possamos
compreender sua situação atual.
12
Segundo Ariés (1981), na Idade Média a idéia de infância, como concebida
atualmente, ainda não existia. As crianças não tinham importância sentimental
no seio familiar e eram enviadas quando pequenas para serem criadas sob os
cuidados de outras famílias. Essas crianças deveriam aprender boas- maneiras
e adquirir conhecimentos sobre o mundo dos adultos. Elas tinham uma espécie
de tutor que se ocupava em educá-las, transmitindo valores morais e éticos.
Acreditava-se que seria melhor para as crianças serem criadas distante,
porque desta forma aprenderiam a viver através da prática. Para nós, em pleno
século XXI, podem parecer desumanas as condições de vida a que eram
submetidas aquelas crianças. Porém, não podemos deixar de considerar o
contexto histórico em que essa prática ocorreu. Nesta época, a concepção que
se tinha sobre as crianças era a de que só se diferenciavam dos adultos pelo
tamanho, pois participavam de todas as atividades de trabalho e lazer
exercendo quase que as mesmas funções deles.Para o autor, o sentimento da
família e desta com as crianças passou a existir somente a partir da Idade
Moderna, pois até então a mortalidade infantil era um mal que assolava a
sociedade e provocava uma reação de desapego das famílias em relação a
seus filhos, e até então tal prática não representava nenhum ato de desamor
com elas:
(...) a criança desde muito cedo escapava à sua própria família, mesmo que voltasse a ela mais tarde, depois de adulta, o que nem sempre acontecia. A família não podia, portanto, nessa época, alimentar um sentimento existencial profundo entre pais e filhos. Isso não significava que os pais não amassem seus filhos: eles se ocupavam de suas crianças menos por elas mesmas, pelo apego que lhes tinham, do que pela contribuição que essas
13
crianças podiam trazer à obra comum, ao estabelecimento da família.(ARIÉS,1981,p.158)
Portanto, a família representava um grupo de pessoas que se relacionava
com ausência de afeto. Ainda segundo o autor “a substituição da aprendizagem
pela escola exprime também uma aproximação da família e das crianças”
(p.159), ou seja, a freqüência escolar foi importante na aproximação da família
com seus filhos, pois ao ingressar na escola, as crianças não necessitavam
mais ficar por longos períodos fora do convívio familiar e podiam voltar para
suas casas com determinada freqüência.
A partir do século XVII a família se modificou e a concepção que se tinha
sobre a infância, até então, também mudou. Os adultos passaram a se
preocupar com as crianças e estas deixaram de ser vistas como mini-adultos.
Entretanto, convém lembrar que estas modificações, como já havia sido dito,
não ocorreram de maneira uniforme. As famílias pertencentes às camadas
populares, por muito tempo, permaneceram organizadas como na Idade Média
porque essas transformações ocorreram primeiro no interior das famílias mais
ricas.
1.2. Concepções de Rousseau, Pestalozzi e Fröebel sobre a
infância
14
A principal característica da mutação mental que ocorreu no século XVIII foi
a afirmação do homem como sujeito que representa a realidade, seu objeto. E
isso implicou a valorização do elemento fundamental desse sujeito: aquilo que
faz do homem um ser inteligente - a razão.
(...) Essa principal característica da mutação mental do século XVII implicou a compreensão da natureza, do Universo, como coisas mutáveis, em constante movimento. E o século XIX deu continuidade a essa concepção ( Aquino,1997, p.118).
Neste contexto histórico, acompanhado de uma reivindicação das classes
populares pela escola pública, surgiram três pensadores que deram um novo
rumo a questão da infância e que influenciam as práticas pedagógicas na
educação infantil até hoje.
Jean-Jacques Rousseau era filósofo e escritor, nascido em Genebra, na
Suíça. Dizia que a criança nasce boa, o adulto, com sua falsa concepção de
vida, é que perverte a criança (Gadotti,2003,p.88). Assim, a educação deveria
cultivar os dons naturais da criança e valorizar a expressão livre.Para ele o
adulto não deveria intervir, deixando-a livre para que se educasse pela própria
vida. Rousseau ainda afirmava que “tudo é certo em saindo das mãos do autor
das coisas, tudo degenera nas mãos do homem”(Idem). Uma de suas grandes
obras é Emílio Ou Da Educação, onde descreve o processo educacional de
Emílio desde a infância até a idade adulta. No “ Livro Primeiro” de Emílio ou Da
Educação, Rousseau trata do nascimento até os dois anos de idade, a faixa
etária que nos interessa nessa pesquisa. Para ele, a personalidade da criança
15
será resultante das inter-relações que ela estabelecer com o seu meio
(CERIZARA,1990, p.48). Por isso insistia na necessidade da educação das
crianças ocorrer com o maior contato possível com a natureza para que elas se
educassem através da sua ação sobre esta. O adulto deveria exercer o papel
de orientador das crianças, direcionando-as “rumo ao que lhe é natural”
(CERIZARA,1990,p.48). Para Rousseau, a verdadeira educação deve preparar
as crianças para suportar os infortúnios da vida.
Johann Heirinch Pestalozzi ficou conhecido por seu romance Leonardo e
Gertrudes escrito em 1781, e teve como sua mais importante contribuição para
a educação a obra Como Gertrudes ensina a seus filhos.A proposta
pedagógica desenvolvida por Pestalozzi ficou marcada pelo fato de seu método
dar ênfase ao “fazer do aluno“, isto é, seu método valoriza as atividades do
educando sempre partindo do concreto ao abstrato.No entender de GADOTTI
(2003, p.91) “sustentava que a educação geral devia preceder a profissional,
que os poderes infantis brotavam de dentro e que o desenvolvimento precisava
ser harmonioso”. INCONTRI(1997) ainda acrescenta que para Pestalozzi
“existiria uma natureza humana igual em todos os homens, uma verdade
essencial inerente ao ser, que deve e pode ser buscada por cada um de nós”
(p.37).
Friedrich Fröebel foi um educador alemão criado desde cedo pela
madrasta, por seu pai e irmãos. Teve uma infância triste, porém mesmo assim
encontrou em sua própria história de vida a essência que originou e influenciou
toda a sua obra educacional. De acordo com grande interesse demonstrado
pela educação de crianças pequenas, Fröebel criou o Kindergarten, o primeiro
16
jardim-de infância. Para GADOTTI(2003, p.90), Fröebel considerava que o
desenvolvimento da criança dependia de uma atividade espontânea (o jogo),
uma atividade construtiva (o trabalho manual) e um estudo da natureza.
1.3. O Surgimento das Creches
A preocupação com o caráter pedagógico da educação infantil ocorreu
apenas no final do século XIX, quando a assistência passou a privilegiar
políticas de atendimento à infância em instituições educacionais
(Kuhlmann,2001, p.26).Até então todo o atendimento direcionado à infância era
no sentido de guarda-las para que a mão-de-obra feminina ficasse livre para o
trabalho.
Em 1844, na França, Eugéne Marbeau criou a Creche, instituição
destinada a atender crianças até os três anos de idade. A creche, palavra
francesa que significa manjedoura, tinha o objetivo de “fornecer à criança as
reais condições de um bom desenvolvimento” (Kuhlmann,2001,p.8) e moldá-las
conforme sua condição social. Manter as crianças pertencentes às camadas
populares na creche era também “uma ação controladora” (
VASCONCELLOS,2005,p.69) sobre elas.
Da mesma forma que as demais instituições de educação infantil, a creche
francesa valorizava os brinquedos e os jogos, que julgava serem importantes
para a formação da criança. De acordo com Kuhlmann(2001, p.5) foram
criadas “para atender as crianças pobres e as mães trabalhadoras desde o
17
início se apresentaram como primordialmente educacionais”. Ou seja, as
preocupações destas instituições não se limitavam a assistência às crianças,
indo além dos cuidados com higiene e alimentação.
A difusão da creche para outros países ocorreu também no final do século
XIX, a partir de 1860, com a intensificação das relações internacionais(
Kuhlmann,2001, p.12). Nessa época, a Europa encontrava-se como centro do
mundo e todas as inovações políticas, econômicas, sociais e tecnológicas eram
produzidas naquele continente e disseminadas para outras partes do globo.
Através das Exposições Pedagógicas realizadas no Brasil desde a década
de 70 do século XIX, a idéia deste espaço para atender crianças até os três
anos de idade se difundiu. Em 1879, a creche chegou ao Brasil através de
matéria divulgada no jornal “ A Mãi de Família” onde, segundo Kuhlmann
(2005, p.61 )
(...) o artigo prenuncia a iminente transformação das relações de trabalho no país. Anuncia, assim, uma instituição que se tem generalizado de modo notável nos últimos tempos, em muitos países da Europa, que se acham na vanguarda da civilização e do progresso.
Assim, chegou ao Brasil a instituição destinada a atender crianças” cuja
tenra idade não lhes permite mandá-los para a escola” (Kuhlmann,2005, p.61 )
1.4. A Educação Infantil no Brasil: Séculos XIX e XX
18
A instituição pioneira de educação infantil no Brasil foi fundada em 1875 na
cidade do Rio de Janeiro. Tratava-se do Jardim de Crianças do Colégio
Menezes Vieira, cujo público-alvo eram crianças do sexo masculino na faixa
etária entre três e seis anos de idade. O fundador, o médico Joaquim José de
Menezes Vieira inspirou-se na “metodologia propagada por Pestalozzi e nas
atividades sugeridas por Fröebel e Mme. Pape Carpentier (Monarcha,2001,
p.38). O método utilizado era o intuitivo, onde as crianças eram incentivadas a
observar os materiais que tinham à disposição e elaborar seus conceitos,
sempre partindo do concreto ao abstrato.
Entre os professores que atuavam no Colégio destacava-se D. Carlota
Menezes Vieira, esposa do Dr. Menezes Vieira. No entender de Monarcha
(2001,p.33) “a participação ativa de D. Carlota insere-se na tendência da época
de redimensionar o papel da mulher, na extensão de sua esfera familiar para a
esfera escolar“. A professora exercia o papel de mãe pois deveria dar
continuidade, na escola, às orientações dadas pela mãe em casa.
Na Exposição Pedagógica de 1883, no Rio de Janeiro, “foram expostos
materiais sobre educação infantil - desde a mobília aos trabalhos realizados
pelas crianças - (Kuhlmann, 2005, p.74). Nesta ocasião, o Colégio foi premiado
pelo elogiado trabalho desenvolvido com as crianças.
Outro jardim-de-infância de notório reconhecimento foi o anexo à Escola
Normal da Praça, que se situava na Praça da República, na cidade de São
Paulo. Sua construção, em 1896, seguiu um estilo que expressava “a visão de
mundo da burguesia paulista” (Monarcha,1997, p.103). A burguesia paulista
financiou obras com o intuito de transformar São Paulo numa cidade mais
19
moderna e expressava seu desejo em construções monumentais tais como a
Escola Normal da Praça. Segundo Kuhlmann Jr.(2005, p.75) muitas das
crianças matriculadas na primeira turma do jardim eram filhos de
representantes do Partido Republicano Paulista. O trabalho desenvolvido nesta
instituição também inspirava-se nas idéias de Pestalozzi e Fröebel.
Tanto o Jardim de Crianças do Colégio Menezes Vieira quanto o Jardim-
de-infância da Escola Normal da Praça atendiam somente crianças filhas da
elite brasileira revelando uma realidade perversa que, no século XIX, já excluía
as crianças das camadas populares negando-lhes o direito à educação. Isso
porque essas crianças, quando tinham acesso à educação infantil, eram
matriculadas em locais que prestavam assistência alimentar e higiênica com o
objetivo de suprir as carências por elas apresentadas.
As Casas de Expostos eram exemplos de instituições que procuravam
suprir as carências apresentadas pelas crianças das classes pobres. As
crianças abandonadas, geralmente órfâs ou filhas de escravas e de mulheres
que não tinham condições de criá-las, devido a necessidade de trabalhar por
longos períodos diários, eram colocadas nas Rodas de Expostos e recolhidas
no interior das Casas onde permaneciam até os dezoito anos de idade. As
Rodas eram recipientes feitos de madeira onde as crianças eram “depositadas”
e cuja estrutura impedia que a pessoa por quem elas eram deixadas fosse
identificada. Essas instituições conciliavam educação e trabalho como
esclarece VASCONCELLOS (2005, p.80)
(...) desde cedo, essas crianças eram treinadas para diferentes ofícios, através do trabalho em oficinas cujas produções eram destinadas a
20
subsidiar o atendimento prestado pela Santa Casa da Misericórdia, além de ajudar a manter as necessidades da própria Casa.
Vemos que nesse período o trabalho infantil já circundava a vida daqueles
que de alguma forma tinham que retribuir o atendimento que recebiam. E,
dessa forma, não vivenciavam a infância como as demais crianças das
camadas abastadas da sociedades, sendo iniciados desde pequenos no
mundo do trabalho.
Em 1927, foi instituído o Código de Menores que, no entender de
VASCONCELLOS (2005,p.74), ”será um marco na linha política e ideologica
que conduzirá ,de forma hegemônica, o padrão brasileiro de proteção à
infância até meados dos anos 1980”. Esse código tinha o propósito de” regular
o atendimento ao menor” (2005, p.79) de acordo com as categorias -
abandonado ou delinqüente - em que as crianças pobres eram enquadradas e
que determinavam que tipo de atendimento receberiam do Estado. Os menores
abandonados recebiam assistência de instituições filantrópicas, com o objetivo
de formar o “homem do amanhã”; já para os delinqüentes “o sistema se
organiza a partir da criminalização e da penalização” (2005,p.79). Essa política
da menoridade se estendeu até meados dos anos 1980 quando começou a
sofrer reformulações que se iniciaram em 1988 com a Constituição Federal e
culminaram com o lançamento do Estatuto da Criança e do Adolescente, em
1990.
21
CAPITULO II. LEGISLAÇÃO E POLÍTICAS PARA A
EDUCAÇÃO INFANTIL
2.1. Constituição Federal
A Constituição Federal, promulgada em 1988, deu um passo importante
no processo de incorporação da creche à esfera educacional. Pela primeira vez
preocupou- se com a educação de crianças de zero a seis anos. O artigo 208
proclama que ”O dever do Estado com a educação será efetivado mediante:
atendimento em creche e pré- escola às crianças de zero a seis anos de
idade”. Isto significa que a partir daquele ano o atendimento às crianças de
zero a três anos de idade deixou de ser um favor prestado aos pobres em
nome da caridade nacional para ser um dever do Estado junto a família,
”visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho”. A Lei Magna brasileira define
ainda a forma de atuação das instâncias - União, Estados, Distrito Federal e
Municípios - na organização de seus sistemas de ensino ficando este último
responsável, prioritariamente, pela educação infantil.
2.2. Plano Nacional de Educação
O Plano Nacional de Educação entrou em vigência em 2001 e realiza um
diagnóstico da educação infantil seguido da descrição de objetivos e metas a
22
serem alcançadas, dentro dos limites estabelecidos, e num prazo máximo de
dez anos.Ao traçar um breve panorama da situação da educação das crianças
de zero a seis anos o documento diz que “não são apenas argumentos
econômicos que têm levado governos, sociedade e famílias a investirem na
atenção às crianças pequenas” (p.9). O direito delas à educação e as
contribuições das ciências a respeito do desenvolvimento infantil são fatores
que influenciaram o aumento da demanda. Porém, é importante ressaltar que
esta super valorização da educação infantil não veio acompanhada de um
atendimento de qualidade extensivo a todas as regiões do país, pois como
acrescenta o mesmo documento, “a maioria dos ambientes não conta com
profissionais qualificados, não desenvolve programa educacional, não dispõe
de mobiliário, brinquedos e outros materiais pedagógicos adequados”(p.8).
Dessa forma, o que temos são “educações” diferentes para diferentes
“infâncias”. Porém, o mesmo documento deixa a esperança de melhorias na
qualidade da educação oferecida à população de zero a seis anos. Entre os
objetivos e metas encontram-se:
1. Elaborar, no prazo de um ano, padrões mínimos de infra-estrutura para o funcionamento adequado das instituições de educação infantil( creches e pré-escolas) públicas e privadas, que respeitando as diversidades regionais, assegurem o atendimento das características das distintas faixas etárias e das necessidades do processo educativo(...);
2. Estabelecer um Programa Nacional de Formação dos Profissionais de educação infantil(...) que realize as seguintes metas:b)que, em cinco anos, todos os professores tenham habilitação específica de nível médio e, em dez anos, 70% tenham formação específica em nível superior;
23
3.Assegurar que, em três anos, todas as instituições de educação infantil tenham formulado, com a participação dos profissionais de educação nele envolvidos, seus projetos pedagógicos.
2.3. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei nº
9394/96
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu artigo 29,
reconhece a Educação Infantil como primeira etapa da educação básica e
descreve qual a finalidade da educação de zero a três anos:
art. 29 - A educação infantil, primeira etapa da
educação básica, tem como finalidade o
desenvolvimento integral da criança até seis anos
de idade, em seus aspectos físico, psicológico,
intelectual e social complementando a ação da
família e da comunidade.
Assim todo o trabalho realizado nas creches - para crianças de zero a três
anos - e pré- escolas - para crianças de quatro a seis anos (art. 30) deve ter
como propósito o desenvolvimento de todos os aspectos constitutivos do ser
humano, complementando o trabalho da família e da comunidade.
Ao tratar da Educação Infantil os legisladores foram bastante econômicos,
pois acreditamos que sendo esta etapa da vida tão importante, outros aspectos
24
igualmente relevantes deveriam constar na Lei. A exigência de uma formação
mínima para os demais profissionais que lidam diretamente com as crianças,
assim como exigem para os docentes, segundo o artigo 62, é um desses
aspectos. O referido artigo diz que:
art.62 - A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal.
Esse dado é bastante relevante, pois muitas creches contratam
profissionais sem formação adequada por ter um custo menor e por
considerarem que a faixa etária até três anos necessita apenas de cuidados.
Segundo KAPELL (2005,p.134), dados do MEC, do ano de 2003, revelam que
14% dos docentes atuantes nas creches possuíam apenas o nível fundamental
(5.3% incompleto e 8,7% completo) É claro que há exceções, creches que
desenvolvem um trabalho pedagógico de excelente qualidade que almejam e
promovem o desenvolvimento integral da criança, e isso ocorre tanto em
espaços públicos quanto privados. Porém, é de lamentar que sejam ainda
exceções.
No artigo 31 é tratada a questão da avaliação na Educação Infantil que
não deve ter uma função classificatória e sim de registrar o desenvolvimento da
criança num determinado período de tempo. Já o inciso IV do artigo 4 diz que
“o dever de Estado com a educação escolar pública será efetivado mediante a
25
garantia de: atendimento gratuito em creches e pré- escolas às crianças de
zero a seis anos de idade”. Segundo BRANDÂO (2003, p.30):
O inciso IV,do art.4º da LDB, avança mais do que o inciso IV do art.208 da Constituição Federal, na medida em que exige que o Estado garanta atendimento gratuito. (...) A existência desse inciso constitui um dos principais fatores que contribuem para a universalização da educação infantil.
Ao prever atendimento gratuito em creches e pré- escolas, a LDB dá um
passo importante na direção da igualdade de oportunidades de acesso a
educação para todas as crianças. Após esta constatação, é preciso também
pensar em melhorar cada vez mais a qualidade do serviço prestado.
2.4. Referencial Curricular Nacional Para a Educação Infantil
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil foi elaborado
com o auxílio de especialistas na área da educação que forneceram pareceres
técnicos a respeito do conteúdo deste documento. Segundo VASCONCELLOS
(2005, p.100)
(...) o processo de elaboração do RCNEI desenvolveu- se cindindo pensamento e ação”, ou seja, os especialistas ouvidos na sua elaboração deixaram de fora a opinião dos professores,que são os que vivenciam de perto a educação
26
infantil, “tomando uma postura de não reconhecimento da história acumulada por eles.
O RCNEI está organizado em três volumes: o primeiro volume, intitulado
Introdução realiza algumas considerações sobre creches e pré- escolas e
sobre concepções de criança, educar, cuidar e brincar além de tecer
comentários sobre o professor de educação infantil. Tais considerações, de
acordo com VASCONCELLOS (2005, p.100) “foram utilizadas para definir os
objetivos gerais da educação infantil, e orientam a organização dos dois outros
volumes”.Nos volumes dois e três ”são apresentados os eixos de trabalho “
(2005,p.100) que compõem cada um deles: Formação Pessoal e
Conhecimento de Mundo.
O volume “INTRODUÇÃO” inicia-se tecendo algumas considerações
sobre as creches e pré- escolas. Diz que, tradicionalmente, uma parcela
dessas instituições destinou- se ao atendimento às crianças pobres. Num outro
trecho acrescenta que:
Modificar essa concepção assistencialista significa atentar para várias questões que vão muito além dos aspectos legais.Envolve, principalmente, assumir as especificidades da educação infantil e rever concepções sobre a infância, as relações sobre classes sociais, as responsabilidades da sociedade e o papel do Estado diante das crianças pequenas (p.17)
27
2.5 A CRIANÇA
O RCNEI reconhece que as concepções sobre a infância variam de
acordo com o momento histórico e a sociedade na qual ela está inserida. “A
criança como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte de
uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma
determinada cultura,em um determinado momento histórico“(p.21). A criança é
considerada como cidadã, sujeito possuidor de direitos assim como os adultos.
Segundo o documento as crianças compreendem o mundo a partir das
relações que estabelecem tanto com as pessoas quanto com o ambiente que
as cerca.
2.6 EDUCAR
O RCNEI expõe que “educar significa, portanto, propiciar situações de
cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que
possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis(...)”. Após
esta análise é importante ressaltar que as situações de cuidados estão
inseridas no processo educacional, o que significa que as rotinas de higiene e
alimentação das crianças no período em que permanecem na creche devem
estar incluídas no planejamento do professor, pois necessitam de organização
prévia para serem realizadas.
28
2.7 CUIDAR
Segundo o RCNEI cuidar significa ”valorizar e ajudar a desenvolver
capacidades.”(p.24). Os cuidados envolvem tanto as necessidades biológicas
quanto as necessidades afetivas dos pequenos. Sendo o cuidado parte
integrante da educação, é importante que ele seja considerado no âmbito da
instituição de educação infantil, pois é um fator que influencia de forma decisiva
o desenvolvimento integral das crianças.
A identificação dessas necessidades sentidas e expressas pelas crianças, depende também da compreensão que o adulto tem das várias formas de comunicação que elas, em cada faixa etária possuem e desenvolvem (p.26)
O volume dois trata dos aspectos relativos a formação pessoal e social
das crianças entre zero e seis anos.Entre os objetivos para crianças de zero a
três anos destacamos:
1. Experimentar e utilizar os recursos de que dispõem para a satisfação de suas necessidades essenciais, expressando seus desejos, sentimentos, vontades e desagrados, e agindo com progressiva autonomia;
2.Interessar-se progressivamente pelo cuidado com o próprio corpo, executando ações simples relacionadas à saúde e higiene.
Dentre os conteúdos sugeridos pelo RCNEI selecionamos:
1. Higiene das mãos com ajuda;
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2.Expressão e manifestação de desconforto relativo a presença de urina e fezes nas fraldas;
3. Interesse em experimenta novos alimentos e comer sem ajuda.
Além disso, o documento também sugere orientações gerais para o
professor e inclui os aspectos relativos à proteção, alimentação, cuidados com
os dentes, banho, trocas de fralda, sono e repouso.Segundo o Referencial:
A promoção do crescimento e do desenvolvimento saudável das crianças na instituição educativa está baseada no desenvolvimento de todas as atitudes e procedimentos que atendem as necessidades de afeto, alimentação, segurança e integridade corporal e psíquica durante o período do dia em que elas permanecem na instituição.(p.51)
Um dos pontos comuns entre esses aspectos é o respeito que o
professor deve ter com as múltiplas reações que as crianças podem apresentar
durante as atividades.“Todas elas devem ser planejadas para que o professor
possa ter um contato mais prolongado com cada criança” (p.58) para que
possam observar seu desenvolvimento e para que as crianças vivenciem tais
atividades com prazer.
O volume três intitulado Conhecimento de Mundo refere-se aos eixos de
trabalho Movimento, Música, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza
e Sociedade e Matemática. Ele apresenta objetivos e conteúdos
separadamente para a faixa de zero a três anos e de quatro a seis.
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2.8 Estatuto da Criança e do Adolescente
A Lei Federal 8.069/1990 ou o Estatuto Da Criança e do Adolescente
surgiu para melhor esclarecer os direitos das crianças e dos adolescentes
brasileiros.O ECA, “assim como as outras leis recentes a respeito da infância, é
conseqüência da Constituição Federal de1998 que definiu uma nova doutrina
em relação à criança que é a doutrina da criança como sujeito de direitos”
(2001, p.23). O artigo 4 define os deveres da sociedade e do poder público com
crianças e adolescentes:
art.4º. É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
A partir de então toda a sociedade tem o dever de zelar pelo bem
estar de todas as crianças e adolescentes sem que isso seja um favor
prestado a elas visto que isso está previsto na Lei. Assim como a Constituição
Federal e a LDB, o ECA também prevê o atendimento em creche e pré- escola
para crianças de zero a seis anos de idade.Em 2009 é publicado o documento
intitulado”Critérios para um atendimento que respeite os direitos fundamentais
das crianças”, que fornece critérios relativos à organização e funcionamento
interno das creches.O documento acrescenta ainda que “atingir, concreta e
objetivamente, um patamar mínimo de qualidade que respeite a dignidade e os
direitos básicos das crianças nas instituições(...)nos parece, nesse momento, o
objetivo mais urgente(2009).Ele é de fundamental importância porque temos no
31
país realidades diversas, no que diz respeito à educação de 0 a 3 anos.E
dentre tantas realidades e tantas práticas frequentemente nos deparamos
com atividades que não contemplam os critérios descritos.
32
CAPÍTULO III – As contribuições do Orientador
3.1 Histórico
A Orientação Educacional teve sua trajetória inicialmente voltada para a
orientação vocacional, no sentido de direcionar os alunos para a escolha de
uma profissão.O precursor desse movimento nas escolas foi Jesse Davis, em
Detroit, nos EUA em 1912.Segundo GRISPUN(2006,p.21):
“Sua característica básica era atender à problemática vocacional e social dos alunos de sua escola.”
Este modelo de orientação influenciou significativamente a Orientação
Educacional implantada no Brasil.Segundo GRISPUN(2006):
“Aqui as primeiras experiências datam da década de 20, com os trabalhos de Roberto Mange, engenheiro suíço que iniciou, em 1924, no Liceu de Artes e Ofícios, em São Paulo, os primeiros trabalhos para a criação de um serviço de seleção e orientação profissional para alunos do curso de mecânica.(p.22)”
A regulamentação da profissão de Orientador Educacional ocorreu no
ano de 1968, através da Lei 5564/68.E foi instituída obrigatoriamente nos
estabelecimentos de ensino através do artigo 10 da Lei 5692/71.Desde então a
Orientação Educacional passou por diversos momentos, acompanhando as
mudanças significativas sofridas pela sociedade até os dias atuais.Segundo
GRISPUN(2006):
“(...).a orientação não tem mais como preocupação prioritária os alunos-problema, hoje ela tenta ajudar na solução dos problemas dos alunos e de toda comunidade escolar, numa perspectiva de melhor compreensão do sujeito e de suas relações dentro e fora da escola(p.172)”
3.2 Trabalho na creche
Ao longo dos anos a função da escola e mais especificamente da
creche vem sofrendo modificações para dar conta das transformações
33
ocorridas na sociedade.Ela vem tentando romper com idéia assistencialista
assumindo definitivamente o papel de espaço educativo.Para alcançar este
objetivo precisou atentar para o fato de que já não é mais aceitável que os
profissionais que atuam diretamente com as crianças não tenham formação na
área pedagógica.Se antes bastava gostar de crianças e saber “tomar
conta”,agora é necessário ter formação adequada, para que se realize um
trabalho intencional com elas.
A creche assume papéis que deveriam ser assumidos pelas famílias que
muitas vezes negligenciam a educação de seus filhos e acaba ficando
responsável por questões diversas relativas às crianças e que só o professor
não é capaz de atender. Além disso muitas instituições, principalmente
privadas, ainda têm em seus quadros profissionais que não são habilitados ao
magistério, pois assim podem oferecer remuneração inferior.
Por tudo isso se faz necessária a presença e atuação do orientador na
creche, pois ele é quem articulará junto com os professores as ações
necessárias à promoção da aprendizagem das crianças. Além disso este
profissional se responsabilizará pela formação continuada dos professores e
será um elo entre escola-família-comunidade.Segundo GRISPUN( 2008):
“São muitos os papéis da Orientação Educacional diante das perspectivas dessa nova escola:papel integrador, mediador, e principalmente um papel de interdisciplinaridade entre o saber e o fazer, entre o ter e o ser, entre o querer e o poder.”(p.71)
3.3 Como a criança aprende
A criança na faixa etária de zero a três anos constrói conhecimentos
através de situações concretas, da manipulação de objetos, da
experimentação. Ela, mais do que em qualquer outra faixa etária, necessita
realizar atividades lúdicas pois é através das brincadeiras que ela irá construir
conhecimentos necessários ao seu desenvolvimento.Para isso ela deve ter
34
contato com materiais diversos para pintura, colagem, jogos adequados à
idade e acesso a materiais escritos para que desenvolva o gosto pela
leitura.Segundo SOARES( 2010 ) a criança nos primeiros anos de vida
“(...) passam por um grande processo de interação e de desenvolvimento biológico, psicológico, afetivo e cultural.Nesse período, elas começam a se constituir como seres independentes, capazes de estabelecer diversas relações com as pessoas e de interagir de maneira autônoma.Esse processo envolve, ao mesmo tempo, aspectos cognitivos, emocionais e afetivos, que serão de grande importância para a construção da identidade de cada ser humano.”( p. 13)
Para atender essas questões, o orientador poderá auxiliar o
professor na elaboração de projetos e atividades que propiciem tais vivências
aos pequenos como nos diz GRISPUN (2008):
“Objetivamente, a Orientação,através de projetos, pesquisas e planos de ação, oferecerá subsídios que levarão os alunos a se integrarem socialmente, a partir de uma visão geral da realidade brasileira e dos múltiplos aspectos que a compõem: psicológicos, sociais, culturais.”(p.71)
A relação entre o professor e o orientador deve ser pautada na
parceria. Ele deve representar o profissional em quem o professor pode contar
refletindo, planejando e propondo soluções aos possíveis conflitos que se
apresentarem.Isso porque em algumas instituições o que se observa é uma
relação hierarquizada onde o orientador “pensa”e o professor executa, sendo
este o único responsável pelo sucesso ou fracasso.
O Orientador Educacional, para que obtenha êxito no processo de
ensino-aprendizagem deve estar comprometido com o Projeto Político
Pedagógico da escola, desenvolvendo ações que privilegiem a formação da
cidadania entre as crianças.É necessário que elas, desde pequenas, tenham
conhecimento de si e de sua realidade, da cultura na qual estão inseridas.
35
3.4 O Orientador e a relação Creche-Família
A família é o primeiro grupo social do qual a criança participa. Quando
é matriculada na creche muitos pais e responsáveis ficam inseguros.Para
vencer esta insegurança é preciso que a família tenha total confiança na
instituição que se encarregará dos cuidados e formação de seu filho.O
orientador poderá colaborar com essa adaptação apresentando à família a
proposta pedagógica da instituição, deixando claras as concepções de criança
e educação que ela postula para que possam juntas,família e creche, trabalhar
para promover a formação da criança de forma integral.
A parceria da família junto com a creche é de fundamental importância
para a formação da criança como cidadã de direitos e deveres.Quando estas
duas instâncias atuam em consonância,os resultados observados são muito
positivos pois cria-se uma espécie de rede em prol do desenvolvimento
dela.Mas sabemos que a realidade nem sempre como deveria ser.É muito
comum encontrarmos famílias que delegam à creche a tarefa de educar seus
filhos em todos os aspectos necessários e se isentarem de sua
responsabilidade.Diante desta situação o professor sente-se sobrecarregado,
tendo que enfrentar sozinho desafios que deveria compartilhar com a família.O
orientador pedagógico deve apoiar o professor nesta situação pensando em
possíveis ações na sala de aula para preencher esta lacuna.
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CONCLUSÃO
A educação infantil e, especificamente as creches, surgiram no Brasil
com a intenção de atender às classes mais pobres no sentido de cuidar de
seus filhos para que ficassem livres para o trabalho. Ou ainda para cuidar de
crianças que eram abandonadas por suas famílias, por razões econômicas,
sociais e morais que impediam que fossem criadas no seio familiar.
Nas últimas décadas, surgiram iniciativas de profissionais e instituições
comprometidos com a educação de romper com a tradição assistencialista
das creches, tentando inserí-la numa perspectiva claramente pedagógica,
principalmente, após a Constituição Federal de 1988 que, pela primeira vez,
preocupou-se com o direito à educação de crianças de zero a seis anos de
idade e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que reconheceu a
educação infantil e, conseqüentemente, a educação de zero a três anos como
primeira etapa da Educação Básica.
Podemos afirmar que alguns avanços significativos ocorreram neste
sentido pois através das leituras e reflexões realizadas concluímos que há
práticas pedagógicas na creche que não deixam de lado a dimensão do
cuidar mas que inserem-se numa concepção claramente pedagógica na
medida em que reconhecem a sua função social diante da comunidade, como
espaço educativo de formação de hábitos, de atitudes e de construção de
conhecimentos importantes para a formação de cidadãos e cidadãs
autônomos. Nesta faixa etária a dimensão do cuidar é indissociável do
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trabalho pedagógico, porém, quando um aspecto é priorizado em detrimento
do outro a creche não cumpre sua função de espaço educativo.Além disso,
concluímos que a presença e atuação do Orientador na creche é fundamental
para que um trabalho de qualidade seja realizado, pois ao se comprometer
com a proposta pedagógica da creche, ele atuará como um agente integrador,
fazendo a mediação entre o conhecimento e as crianças para que elas
tenham acesso a tudo o que é produzido pela cultura na qual está inserida..
As experiências positivas demonstram que a creche vem, a passos
lentos, constituindo-se como espaço educativo e mais ainda, que é possível
realizar um trabalho de qualidade com os pequenos. É necessária uma maior
conscientização sobre importância da educação de zero a três anos como uma
etapa importante do desenvolvimento humano assim como investir na
qualidade da formação tanto dos profissionais que pretendem atuar nesta faixa
etária quanto dos que já atuam na área.
38
BIBLIOGRAFIA
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SOARES, Maria Inês Biazzotto.Alfabetização Linguísticas.Belo Horizonte:Dimensão,2010.
40
ÍNDICE
Folha de rosto 2
Agradecimento 3
Dedicatória 4
Resumo 5
Metodologia 6
Sumário 8
Introdução 9
Capítulo I
A abordagem histórica 11
1.1 O Surgimento da idéia de infância 11
1.2 Concepções sobre a infância 14
1.3 O Surgimento das creches 16
1.4 A Educação Infantil no Brasil 18
Capítulo II
Legislação e políticas para E.I. 22
2.1Constituição Federal 22
2.2 Plano Nacional de Educação 22
2.3 LDB 24
2.4 RCNEI 26
2.5 A criança 28
2.6 Educar 28
2.7 Cuidar 29
2.8 Estatuto da criança e do adolescente 31
Capítulo III
3.1Histórico da Orientação Educacional 32
3.2 Trabalho na creche 32
41
3.3 Como a criança aprende 33
3.4 O Orientador e a relação creche-família 34
Conclusão 36
Bibliografia 38