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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica
O IMPACTO DO EMPREENDEDORISMO NO CENÁRIO ATUAL DE EDUCAÇÃO EM FARMÁCIA E PERSPECTIVAS FUTURAS NO MERCADO
DE TRABALHO
Carla Eclissi Gregório
Orientador (a):
Prof. Dr. João Paulo Fabi
São Paulo
2020
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica
O IMPACTO DO EMPREENDEDORISMO NO CENÁRIO ATUAL DE EDUCAÇÃO EM FARMÁCIA E PERSPECTIVAS FUTURAS NO MERCADO
DE TRABALHO
Carla Eclissi Gregório
Trabalho de conclusão do Curso de
Farmácia-Bioquímica da Faculdade
de Ciências Farmacêuticas da
Universidade de São Paulo
Orientador(a):
Prof. Dr. João Paulo Fabi
São Paulo
2020
3
SUMÁRIO
RESUMO ..................................................................................................................................... 6
INTRODUÇÃO............................................................................................................................ 7
MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................................................... 8
RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................................... 8
3.1 A indústria 4.0 e o impacto na estrutura de trabalho......................................... 10
3.2 Empreendedorismo..................................................................................................... 12
3.2.1 Intraempreendedorismo ..................................................................................... 14
3.2.2 Empreendedorismo social ................................................................................. 15
3.3 Inserção do empreendedorismo em sala de aula ............................................... 16
3.3.1 O panorama atual no Brasil ............................................................................... 16
3.3.2 Perspectivas futuras............................................................................................ 19
3.3.3 Importância de extensão: Empresas Júniores............................................. 22
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 24
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 26
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais que me possibilitaram, por toda a vida e com
muito esforço, ter acesso à educação de qualidade e todo o privilégio que isso
envolve. Além disso, me ofereceram todo o suporte em várias esferas para que
eu me tornasse quem sou. Nunca serei capaz de retribuir a altura. Amo vocês.
Agradeço aos meus avós que compreenderam algumas ausências
necessárias para me dedicar ao projeto de entrar na USP – e depois sair dela. E
pelas presenças tão cheias de amor e carinho.
Aos meus amigos, os de antes e os que conheci aqui, que me deram
suporte em todos os momentos e me ajudaram à chegar no fim desse ciclo. Sem
vocês, eu não seria nada.
Não poderia deixar de ressaltar a importância do meu companheiro, com
quem dividi cada peso e angústia do período desafiador que permeou escrita
desse trabalho, tornando tudo mais leve. Contigo agora celebro a vitória e o
encerramento dessa fase. Muito obrigada, cariño.
Devo também meu agradecimento genuíno a Universidade de São Paulo,
esse organismo que pulsa e se transforma apesar de todos os pesares. Um lugar
que me ensinou, muito além de disciplinas formais, a buscar incansavelmente a
melhoria da minha humanidade pro mundo.
Finalmente, agradeço ao Professor Doutor João Paulo Fabi pela
disponibilidade em me orientar durante a execução desse trabalho e à Faculdade
de Ciências Farmacêuticas por tudo que pude aprender em suas dependências.
Se hoje posso ver mais longe, é porque há uma rede de humanos muito
especiais a minha volta, todos que deixo e recebo um tanto.
Tudo está delicadamente interconectado.
6
GREGORIO, C. E. O IMPACTO DO EMPREENDEDORISMO NO CENÁRIO ATUAL DE EDUCAÇÃO EM FARMÁCIA E PERSPECTIVAS FUTURAS NO MERCADO DE TRABALHO. 2020. 29p. Trabalho de Conclusão de Curso de Farmácia-Bioquímica – Faculdade de Ciências Farmacêuticas – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020.
Palavras-chave: Educação empreendedora, graduação, futuro do trabalho, soft skills
RESUMOINTRODUÇÃO: Considerando as transformações sociais e mercadológicas que já ocorrem atualmente derivadas das rápidas transformações tecnológicas, é necessário que o sistema educacional também se modifique. No período no qual a informação está facilmente disponível, faz-se imprescindível o ensino de novas formas de analisa-las e interpretá-las, bem como treinar os estudantes para que sejam adaptáveis e resilientes às mudanças cada vez mais rápidas e frequentes. OBJETIVO: Compreender o cenário atual academia-mercado, construindo um panorama sobre o desenvolvimento de habilidades valorizadas em estudantes, com ênfase em farmácia e áreas da saúde. MATERIAL E MÉTODOS: Foiutilizada a revisão bibliográfica sobre o tema, utilizando as bases de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO), Web of Science e Google Acadêmico para consultas de artigos acadêmicos, além de informações obtidas a partir de sites nacionais e internacionais que forneçam embasamento para atingir o objetivo proposto. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Diante da rápida evolução tecnológica e digital atual, que se delineia como a 4ª Revolução Industrial, as transformações de cunho social e seus impactos no mercado de trabalho já são tangíveis. Sendo as Universidades centros de referência em aprendizado e formação de pensamento crítico, é necessário que seus sistema de ensino acompanhe as transformações para que os profissionais formados não sejam obsoletos já ao saírem de suas dependências e iniciarem suas carreiras. Para tanto, parece consenso na literatura que algumas características determinadas são essenciais para os profissionais do futuro próximo, como por exemplo flexibilidade, adaptabilidade, pensamento crítico, comunicação e criatividade. Tais características também constituem um perfil valorizado nos ambientes de trabalho atualmente, denominado perfil empreendedor. Entretanto, cursos superiores da área da saúde não contemplam de maneira eficiente o desenvolvimento dessa habilidades, visto que em geral estão associadas à cursos de ciências sociais aplicadas e exatas. Dessa forma, aborda-se neste trabalho o cenário atual e perspectivas futuras sobre o tema, bem como possíveis abordagens para atenuar o descompasso entre academia e mercado de trabalho, tais como metodologias mistas de ensino, estímulo à autonomia na aprendizagem e a importância das extensões acadêmicas. CONCLUSÃO:Diante do exposto, percebeu-se a urgência em promover novas metodologias de ensino que auxiliem no desenvolvimento de habilidades interpessoais dos estudantes, principalmente pensamento crítico, frente ao acesso à informações disponíveis atualmente. Assim, os profissionais estarão aptos a adaptar-se às mudanças frequentes no mercado que são vislumbradas por especialistas.
7
INTRODUÇÃO
O avanço constante e rápido do desenvolvimento de ferramentas
tecnológicas tem transformado a forma como os seres humanos veem e
interagem com o mundo. As mudanças são substanciais nas estruturas
domésticas, nas estruturas de trabalho, nos períodos de lazer e, por
consequência, trazem reflexos para o processo de aprendizado e cognição. O
fenômeno denominado 4ª Revolução industrial - na qual os objetos tornam-se
cada vez mais conectados e regidos por inteligência artificial e algoritmos
(COLOMBO, 2017) - está alterando em grande velocidade as estruturas de
trabalho, visto que cada vez menos se fará necessária a presença humana na
mão de obra produtiva em fábricas e indústrias.
Com o aumento da automação dos processos produtivos, demanda-se
atualmente que os trabalhadores possuam um perfil no qual seus saberes e
valores lhes confiram autonomia para participação na resolução de problemas
complexos. Tais demandas trazem à pauta conceitos discutidos desde o fim do
século passado e que ainda permanecem não completamente elucidados: o
Empreendedorismo e o Intraempreendedorismo.
Estes conceitos têm por base a inovação, a gestão ágil de projetos e
resiliência, mas também destacam-se outros atributos, como criatividade,
proatividade, pensamento crítico e capacidade de escolha com base em dados
(HENRIQUE; DA CUNHA; 2008). A área da saúde, principalmente a área
farmacêutica, é direcionada pela inovação e aprendizados contínuos, sendo uma
excelente área para compreensão do fenômeno do empreendedorismo
enquanto comportamento social.
Entretanto, mesmo diante de tantas transformações no mercado de
trabalho e nas relações sociais, o sistema de ensino - principalmente o ensino
superior - permanece rígido e anacrônico na maioria das instituições (COLBARI,
2007). Longas aulas expositivas e formas clássicas de avaliação de ensino,
como provas, são amplamente aplicadas, perfazendo a base estrutural dos
cursos em muitas faculdades tanto em Universidades Públicas como em
Universidades privadas. Essa lacuna entre o aprendizado acadêmico regular e
as demandas do crescente mercado torna-se uma área promissora para
desenvolvimento de novas metodologias de ensino-aprendizagem, além de
8
espaço fundamental no qual atividades de extensão se estabelecem. As
atividades de extensão auxiliam no desenvolvimento das características
empreendedoras buscadas pelas instituições públicas e privadas (LAVERTY,
2015), tanto no âmbito industrial quanto no meio de promoção e cuidado à saúde.
Dessa forma, busca-se no presente trabalho ampliar a visão dos
estudantes, professores e profissionais da área da saúde sobre os conceitos de
empreendedorismo e suas ferramentas, visando sua aplicabilidade tanto em sala
de aula como fora dela. Tanto a organização e criação de negócios inovadores
como a utilização das habilidades e ferramentas de intraempreendedorismo para
autogestão e gestão em empresas públicas e privadas serão discutidas no
presente trabalho.
MATERIAL E MÉTODOS
O atual trabalho de conclusão de curso teve por objetivo ampliar a
compreensão sobre o cenário atual academia-mercado para profissionais da
saúde, através da construção de um panorama acerca do desenvolvimento de
perfis empreendedores durante a formação acadêmica destes profissionais,
como tais perfis são valorizados e como relacionam-se com a atuação no
mercado. Para tanto, foi empregada a metodologia de revisão bibliográfica
narrativa, utilizando como fonte de pesquisa bases de dados nacionais e
internacionais Scientific Eletronic Library Online (SciELO), Web of Science e
Google Acadêmico, além de informações obtidas a partir de sites nacionais e
internacionais que forneçam embasamento para atingir o objetivo proposto.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A profissão farmacêutica pode ter se dado na humanidade muito antes do
que se imagina. Diferentes sociedades ao longo da história humana sempre
tiveram representantes que dominavam, ainda que de forma empírica, as
propriedades de substâncias minerais, vegetais e animais para uso em
processos de busca pela cura para determinadas doenças. Muitas vezes, esses
representantes estavam atrelados às capacidades mágicas pois, antes do
9
desenvolvimento do método científico, tal era a justificativa para fenômenos que
não podiam ser explicados.
No Brasil, o ensino farmacêutico foi instituído em 1832, a partir da recente
chegada da família real portuguesa no Brasil. Desde então, os avanços no tema
foram graduais, como por exemplo, a fundação da Escola de Farmácia de Ouro
preto em 1839, sendo a primeira do Brasil e da América Latina. Entretanto, a
profissão foi regulamentada apenas em 1931, com publicação de decreto que
estabelecia seu exercício no país. O primeiro currículo mínimo para
farmacêuticos foi implementado em 1963 (CRF-SP, 2019) e, desde então, vem
se aperfeiçoando de acordo com a evolução das necessidades sociais e
mercadológicas.
Com o desenvolvimento da ciência e tecnologia nos anos seguintes, o
trabalho do farmacêutico também se modificou. As matrizes curriculares dos
cursos de farmácia brasileiros mudaram gradativamente a partir de 2002, com a
implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais. Este modelo baseia-se na
formação generalista, humanista, crítica e reflexiva possibilitando atuação dos
formandos em qualquer área disponível para farmacêuticos, com rigor científico
e intelectual necessário no desenvolver de suas habilidades e competências
(CRF-SP, 2013)
Atualmente, a profissão farmacêutica possui 72 áreas de atuação
reconhecidas pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), mas os conhecimentos
adquiridos nos cursos de graduação e pós graduação permitem a ampliação das
possibilidades de trabalho. Com o crescimento das possibilidades de mercado,
é necessária a atualização constante do planejamento curricular para que as
novas demandas de mercado sejam atendidas. De acordo com o Conselho
Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP), o futuro profissional
farmacêutico deverá estar apto e preparado para, dentre outras atividades, ‘’ser
empreendedor, gestor, empregador e/ou líder.’’ (CRF-SP, 2019)
A inovação é um componente fundamental da indústria farmacêutica pois
o desenvolvimento de qualquer medicamento, produto para a saúde ou serviço
em saúde é derivado de identificação de uma necessidade e de uma
10
oportunidade, princípios que também norteiam a prática do empreendedorismo
(LAVERTY et al, 2015). Logo, o ramo farmacêutico pode ser considerado uma
excelente área para aplicação de conceitos de empreendedorismo,
principalmente os referentes ao desenvolvimento de comportamentos
específicos por parte dos profissionais. Diante do cenário atual, no qual o
desenvolvimento tecnológico, as mudanças das relações de trabalho e a busca
por profissionais cada vez mais qualificados a lidar e gerenciar inovações, faz-
se necessário que as instituições de ensino - principalmente as de ensino
superior - capacitem adequadamente os futuros profissionais que constituirão as
próximas gerações do mercado.
3.1 A indústria 4.0 e o impacto na estrutura de trabalho
A sociedade atual tem o sistema capitalista como sistema econômico-
social vigente. De maneira simplificada, nesse sistema os meios de produção
são de propriedade de uma pequena parcela da população, e operam para gerar
lucros aos que os detém, enquanto os indivíduos que não fazem parte dessa
parcela oferecem sua mão de obra em troca de remuneração salarial.
Para compreender a necessidade de mudanças do padrão de ensino, com
ênfase dada ao ensino superior, é preciso observar brevemente o panorama das
transformações históricas dos sistemas produtivos e, por consequência, as
alterações nas estruturas de trabalho e sociais que se delineiam com as rápidas
evoluções tecnológicas desde o início do século XXl. A história aponta períodos
nos quais a sociedade passou por profundas mudanças no que se refere à
trabalho, tanto em face aos desenvolvimentos tecnológicos quanto às relações
sociais que engloba.
As primeiras revoluções industriais basearam-se no desenvolvimento e
aprimoramento de ferramentas mecânicas para otimização da produção,
inicialmente artesanal, nos séculos XVlll e XIX. Já no século XX, iniciou-se o
terceiro movimento revolucionário, denominado Revolução Digital, utilizando as
incipientes tecnologia da informação e automação dos meios de produção.
(TESSARINI; SALTORATO, 2018)
11
Apesar do desenvolvimento e consolidação das indústrias de base e
commodities no Brasil, há uma lacuna no que tange o avanço das indústrias de
alta tecnologia e química fina no país. Dentre as indústrias de química fina, pode-
se citar a farmacêutica, que tem a tecnologia como cerne (BNDES BRASIL,
2017). Portanto, há no país um amplo campo ainda inexplorado, porém de
elevada importância para prontidão técnico-científica, como observado à partir
do momento de grande crise sanitária e econômica decorrente da recente
pandemia de SARS-CoV-2.
Atualmente, delineia-se uma nova fase de modificação, a denominada
indústria 4.0, que vem sendo construída como a 4ª Revolução industrial, visto
que vislumbra reorganizar radicalmente os sistemas de produção. Caracteriza-
se pelo desenvolvimento de tecnologias refinadas, dentre elas os mecanismos
de inteligência artificial, da Internet das coisas (Internet of Things ou IoT) e do
Big Data.
A literatura sobre o tema, apesar de incipiente, aponta que o potencial
desse novo cenário também vem carregado de desafios, de caráter econômico,
político e social. Indústrias cada vez mais inteligentes e automatizadas poderão
otimizar as tarefas de uma organização, fatores apontados como capazes de
promover aumento do corte de funcionários que antes ocupavam tais cargos, o
denominado desemprego tecnológico (MOKYR; VICKERS; ZIEBARTH, 2015).
Dessa forma, dentre os possíveis impactos sociais vislumbrados, grandes
mudanças na empregabilidade e exigência de aprimoramento das competências
e qualificação dos trabalhadores podem ser destacadas, considerando que a
maior possibilidade de surgimento de novas vagas ocorrerá em níveis
estratégicos, como gerenciais. (TESSARINI; SALTORATO, 2018).
As perspectivas e suposições feitas atualmente sobre o possível futuro do
trabalho, entretanto, levam em consideração os padrões e desfechos das
mudanças ocorridas nos períodos passados de transformação. Tais mudanças
baseavam-se na substituição dos trabalhadores por máquinas mais simples, em
tarefas mais simples, que não são comparáveis à tecnologia refinada que
permeia o maquinário atual dotado de algoritmos e inteligência artificial. A ênfase
dada ao problema do desemprego tecnológico é baseada nas ocupações
12
existentes no presente momento, o que torna a projeção limitante pois não se
contabiliza as novas ocupações que ainda nem foram inventadas. (MOKYR;
VICKERS; ZIEBARTH, 2015)
O desenvolvimento de habilidades requisitado pelo modelo produtivo mais
tecnológico, o qual envolve maior capacitação, desencadeia o aperfeiçoamento
do indivíduo em competências que gradualmente serão classificadas como
essenciais à qualquer função exercida. Tais qualificações podem ser
correlacionadas com um comportamento que vêm se desenvolvendo, e sendo
foco de estudos nas décadas mais recentes, o chamado comportamento
empreendedor.
3.2 Empreendedorismo
O significado de empreendedorismo não é um ponto de concordância na
literatura acadêmica. Originalmente, o termo associa-se a uma concepção
primariamente capitalista, entretanto, atualmente seu conceito pode ser inserido
em diversos aspectos econômicos e sociais (COLBARI, 2007). Nesta
concepção, o empreendedorismo surge a partir da aceitação de riscos e
introdução de novos produtos e serviços em um mercado, desestabilizando a
ordem econômica anteriormente vigente (SANTOS, 2019).
Com o avanço dos estudos sobre o tema, atualmente suas definições
podem ser observadas por diversos vértices e, dentre os prismas sob os quais o
empreendedorismo pode ser observado, existe a esfera na qual o foco abrange
as metodologias, processos e aspectos de gestão, tratando-se da esfera
administrativa e econômica (NASSIF, 2011). Outro vértice pelo qual o
empreendedorismo pode ser observado é através da teoria comportamentalista,
na qual o empreendedor é o ator social. No que tange a esfera psicológica e
comportamental, dentre os variadas condutas que podem ser observadas em um
perfil empreendedor, algumas aparecem consenso na literatura, sendo as
principais a iniciativa e interesse em realizar inovações, utilização criativa e
otimizada de recursos para transformação – seja ela econômica ou social e, por
fim, a aceitação de riscos calculados (BAGGIO; BAGGIO, 2015).
13
Ambas as concepções se relacionam à aderência a mudanças, sendo
estas mudanças o cerne do empreendedorismo ao ter como foco a identificação
e aproveitamento de oportunidades. Considerando as incertezas e a
imprevisibilidade decorrentes do rápido avanço tecnológico que se desenrola
desde o início do século XXI, formar indivíduos capazes de lidar com grandes e
constantes mudanças é essencial. Em linhas gerais, pode-se dizer que
empreendedorismo é o campo no qual o empreendedor possui iniciativa de
idealizar, coordenar e realizar projetos, ou implementar negócios ou mudanças
inovadoras em empresas já existentes. Comportamentos empreendedores
baseiam-se na busca pela mudança e criação de oportunidades através dela.
Dessa forma, o empreendedorismo não se limita, necessariamente, à criação de
um novo negócio ou uma nova empresa, mas na conduta assumida pelo
indivíduo, tanto no desempenho do papel de colaborador quanto no de
empregador.
Considerando que o empreendedorismo é um tema amplo e que pode ser
observado por diversos aspectos, diferentes autores abordam o tema de
diferentes formas. Pôde-se compilar nesse trabalho que são recorrentes as
segmentações do empreendedorismo em empreendedorismo de necessidade,
de oportunidade, de startups, corporativo ou intraempeededorismo, e por fim
empreendedorismo social. (BAGGIO; BAGGIO, 2015)
O relatório global referente ao ano de 2019 do Global Entrepreneurship
Monitor (GEM) demonstra que no Brasil há alto nível de empreendedorismo por
necessidade, ou seja, quando os empreendedores se desenvolvem por falta de
oportunidades de ocupação e geração de renda através do mercado formal.
(GEM, 2019). O relatório de 2017 analisado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) aponta que 39,9% dos
empreendimentos surgiam no país por necessidade. (GEM; SEBRAE, 2017). Já
o empreendedorismo por oportunidade pode ser caracterizado pela identificação
de oportunidade de novo negócio lucrativa, conceito que também pode ser
expandido ao empreendedorismo no modelo de startups, e segundo os dados
de 2017 do relatório citado, correspondiam a 59% dos novos empreendimentos
no Brasil. Tais definições relacionam-se com o perfil econômico do
empreendedorismo. No presente trabalho, será dada ênfase no
14
empreendedorismo corporativo – ou intraempreendedorismo - e no
empreendedorismo social, ambos sob o prisma comportamental, relacionando-
os com a capacitação dos estudantes de curso superior da área da saúde e
considerando o atual panorama e o futuro das profissões.
3.2.1 Intraempreendedorismo
Com as mudanças derivadas do novo período de remodelamento de
negócios que se vislumbra, as empresas tradicionais bem sucedidas terão como
atribuição a manutenção do sucesso no futuro. Para tanto, já ocorre atualmente,
valorização do incentivo a iniciativas empreendedoras das empresas
estabelecidas para com seus colaboradores. Em meados dos anos 80,
concebeu-se o termo intraempreendedorismo para expandir características do
empreendedorismo às corporações, abrangendo áreas funcionais e
administrativas no escopo do conceito (HASHIMOTO, 2009). Em resumo, pode-
se caracterizar o intraempreendedorismo como o processo de identificar
oportunidades, bem desenvolver e implementar novas soluções, em
corporações já existentes. (BAGGIO; BAGGIO, 2015)
Sob essa ótica, as organizações tenderão a adquirir condutas menos
engessadas, convergindo para descentralização e autonomia dos funcionários;
elevação do grau de complexidade da companhia, maior receptividade a
mudanças e busca por soluções inovadoras. Esses aspectos são permeados por
características principais do intraempreendedorismo: a interdisciplinaridade para
a análise de informações utilizando-se de competências distintas; aumento da
relevância de competências necessárias para a equipe em detrimento à
relevância de cargos e hierarquia; reconhecimento do trabalho realizado, mesmo
que o resultado esperado não tenha sido obtido; responsabilidade sobre o
controle financeiro; estímulo à organização de equipes em células
autogerenciáveis e autônomas; e estruturas organizacionais mais simples e
enxutas, agilizando processos e favorecendo fluxos de informações
(HASHIMOTO, 2009).
15
3.2.2 Empreendedorismo social
A partir dos anos 1990, o desenvolvimento da vertente social do
empreendedorismo se expandiu. O empreendedorismo social não tem como
objetivo exclusivo a geração de lucro, mas sim a promoção da qualidade de vida
social, cultural, econômica e até ambiental de forma sustentável (BAGGIO;
BAGGIO, 2015). Dessa forma, é direcionado à solução de problemas de
segmentos populacionais específicos, portanto, consiste em mecanismos de
transformação social.
Uma estratégia importante para estímulo à promoção de intervenções
voltadas para necessidades sociais reais é o investimento na formação de
empreendedores sociais. Tal formação pode ser iniciada na universidade, visto
que esse ambiente possui mecanismos de ensino, pesquisa e extensão capazes
de acumular conhecimentos e promover a construção de posicionamentos
voltados à temas de impacto social (BACKERS, ERDMANN, 2009).
O empreendedor social busca o desenvolvimento humano a partir da
cidadania, através da perspectiva da dignidade de cada indivíduo, visando a
reestruturação do meio no qual está inserido. Dessa forma, alguns conceitos são
comuns aos empreendedores de tendência social, tais como a visão
multidisciplinar, o respeito às diferenças, a compreensão das origens de
problemas sociais e difusão de valores como a cidadania (ITELVINO et al, 2018).
Para tanto, é preciso estimular metodologias de ensino questionadores e
instigantes na formação dos estudantes. Particularmente no cenário da área da
saúde, é necessário que o ensino possua abordagens nas quais os alunos
estabeleçam conexões entre os diversos elementos constituintes da saúde,
como aspectos culturais, sociais, políticos, ambientais, e afetivos. Dessa forma,
os discentes podem integrar os conhecimentos a fim de adquirirem uma
percepção sistêmica e expandida de saúde. (BACKERS, ERDMANN, 2009).
Possuir tal percepção ampliada é importante para indivíduos que
assumem papéis na gestão pública em saúde. Gestão pode ser entendida como
coordenação e execução de processos de trabalho, relacionado à administração
de equipamentos e funções, públicas ou privada (JUNIOR, 2002).
16
Na esfera da gestão pública, os profissionais com características
empreendedoras podem atuar na introdução de inovações no setor, utilizando
os recursos disponíveis para potencializar a produtividade e efetividade das
organizações. Assim sendo, o viés empreendedor desenvolvido no indivíduo a
partir de sua formação pode contribuir para que a instância pública busque,
proativamente, a otimização de recursos internos e concepção de soluções
inovadoras para atender as necessidades sociais e econômicas, impactando
diretamente na qualidade de vida dos indivíduos (BUERI, 2015).
3.3 Inserção do empreendedorismo em sala de aula
Como local referência de aprendizado, as universidades têm papel
importante no desenvolvimento de competências e habilidades para a introdução
do estudante no mercado de trabalho e na sociedade. Entende-se por
competência o conjunto de características de um indivíduo que podem englobar
conhecimentos, características de personalidade e habilidades adquiridas por
meio de educação formal, treinamentos, experiências, bem como influenciada
pelo convívio social e familiar. Tais características refletem na maneira como
indivíduo executa tarefas ou atividades.
No que tange as habilidades necessárias para consolidação de um perfil
empreendedor nos estudantes, pode-se destacar três áreas, a saber: técnica,
administrativa e empreendedora pessoal (NASSIF, 2011). A primeira
compreende os saberes técnicos essenciais para a execução de projetos e
tarefas, e relaciona-se com os aspectos teóricos dos conteúdos já ensinados em
metodologias tradicionais de ensino. A administrativa e empreendedora pessoal
relacionam-se com posturas adotadas pelo indivíduo e abrangem tomadas de
decisão, planejamento e organização, relações interpessoais e autogerência.
3.3.1 O panorama atual no Brasil
Dentre as universidades públicas paulistas, nenhuma possui, em sua
grade curricular obrigatória do curso de Farmácia, disciplinas ligadas ao
empreendedorismo. As eletivas relacionadas ao tema não são diretamente
concernentes ao curso de Farmácia ou aos aspectos ligados à área da saúde.
17
Entretanto, todas possuem matérias relacionadas à gestão e administração de
empresas.
Figura 1: Matérias disponíveis nos cursos de Farmácia das universidades
públicas paulistas
UNIVERSIDADE MATÉRIA
OBRIGATÓRIA
MATÉRIA ELETIVA
Universidade de São Paulo Administração de
Empresas
Farmacêuticas
Empreendedorismo
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Gestão Farmacêutica Empreendedorismo
Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita
Filho (Unesp)
Gestão Farmacêutica Empreendedorismo nas
indústrias de biotecnologia
Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp)Gestão de Empresas
Farmacêuticas
Empreendedorismo, qualidade
e o profissional da química
Autoria própria
Apesar da profissão farmacêutica possuir contextos diferentes no Brasil
quando comparado a países do hemisfério norte, como europeus e norte-
americanos, pode-se avaliar o impacto de estratégias de ensino de
competências ligadas ao empreendedorismo direcionadas ao curso de farmácia.
Em estudo realizado na Queen’s University Belfast School of Pharmacy, na
Irlanda do Norte (Reino Unido), verificou-se que, ao aplicar uma metodologia
mista de ensino em formato de workshop acerca do empreendedorismo, 64%
dos alunos participantes validaram a ideia de que o desenvolvimento de
habilidades empreendedoras é importante para o sucesso na carreira
farmacêutica, contra 29% iniciais. Além disso, 22,9% dos alunos respondentes
afirmaram que as habilidades desenvolvidas são importantes nos âmbitos
comunitário, hospitalar e industrial (LAVERTY et al, 2015). Dentre as habilidades
citadas como mais desenvolvidas, estão resolução de problemas, comunicação,
18
trabalho em equipe, habilidade de pesquisa e reconhecimento de oportunidades
(LAVERTY et al, 2015). Estas habilidades são aplicáveis à diversas áreas de
atuação regulamentadas para farmacêuticos.
No ensino superior brasileiro, a educação com caráter empreendedor é
estimulada, principalmente, em cursos de áreas de ciências sociais aplicadas e
exatas, por meio de disciplinas voltadas à gestão e criação do próprio negócio,
além de projetos multidisciplinares (CORTEZ; VEIGA, 2019). Já na área da
saúde, o caráter do ensino é prioritariamente técnico, com poucos temas
direcionados aos tópicos e habilidades de gerenciamento, sejam pessoais ou
administrativos.
A pedagogia tecnicista tem por finalidade gerir o processo educativo de
forma produtivo-industrial, ou seja, com metas e resultados preestabelecidos em
um modelo no qual a base é a transmissão de informação. (MARQUES, 2012).
O contexto do surgimento e fortalecimento de tal método se dá a partir da
necessidade capitalista de obter mão de obra competente para execução do
trabalho e desempenho de papéis sociais para os quais o indivíduo é moldado.
Um brevíssimo histórico que contextualiza a progressão desse princípio
pedagógico é o próprio desenvolvimento dos modelos produtivos da indústria do
século passado.
O modelo de produção taylorista, surgido no século XIX, baseia-se no
controle das etapas de produção e, consequentemente, das fases de produção
e tem a eficiência como um dos principais critérios de avaliação do processo
produtivo. Tal segmentação do processo reduziu o trabalhador a um executor de
tarefas, que apenas segue repetidamente as instruções adquiridas por meio de
treinamentos específicos, treinamentos que não necessariamente refletem em
qualificação. Já o modelo Fordista, caracteriza-se pela produção em grande
escala e a custos reduzidos, utilizando o conceito do taylorismo como inspiração
e produzindo mercadorias em massa através da exploração intensa do
trabalhador, por atividades repetitivas e tempo controlado para aumento da
produtividade. A educação tecnicista, portanto, emerge nesse contexto de
redução da destreza do trabalhador (SILVA,2017), preparando os indivíduos
para responderem a estímulos buscando atingir objetivos preestabelecidos.
19
Dessa forma, a formação tecnicista suprime a dimensão intelectual do
indivíduo, que se torna apenas executor de funções. Tal modelo não se enquadra
na concepção de mercado pós revolução 4.0, visto que a realização de
atividades operacionais serão facilmente transferidas a sistemas informatizados
e inteligências artificiais.
3.3.2 Perspectivas futuras
A educação empreendedora, apesar de também objetivar o
desenvolvimento de competências para o novo mercado em construção pós
mudanças, rompe com a lógica tecnicista, pois não é centralizada na busca de
metas predeterminadas. Ela pretende desenvolver os estudantes para que
sejam capazes de pensar criticamente fora dos padrões existentes, e com isso,
tornarem-se flexíveis às mudanças que já ocorrem nas relações de trabalho, e
se intensificarão nas próximas décadas. Além disso, o aprendizado na educação
empreendedora parte da experimentação e, por consequência, através das
falhas e erros.
Existem alternativas para a aproximação da educação empreendedora
aos centros tradicionais de ensino, aliando métodos formais e informais, por
exemplo, para alcançar esse objetivo. Nessa didática, aspectos teóricos são
abordados de maneira tradicional, como por meio de aulas, leituras
recomendadas e palestras. Os aspectos informais, por sua vez, consistem em
mecanismos nos quais os alunos consigam integrar o conhecimento apreendido
formalmente com a prática, como por exemplo estudos de caso, visitas a
empresas, projetos desenvolvidos em grupo e simulações (HENRIQUE; DA
CUNHA, 2008). Nessas propostas, o professor passa a atuar como facilitador do
processo de aprendizagem, deixando o lugar comum de detentor central do
conhecimento.
O guia publicado pela National Education Association (NEA) explicita
habilidades consideradas fundamentais para a formação dos estudantes do
século XXI, sendo denominadas Os quatro C’s - critical thinking and problem
solving (pensamento crítico e resolução de problemas), comunication
(comunicação), collaboration (colaboração) e creativity and innovation
(criatividade e inovação) (NEA, 2012).
20
Figura 2: Os quatro C’s e suas possíveis definições
Pensamento
crítico e
resolução de
problemas
Utilizar diferentes formas de raciocínio, como indutivo e
dedutivo, de forma mais apropriada a cada situação,
Integrar e analisar fragmentos de informações e suas
interações diante do todo em sistemas complexos,
Deliberar sobre situações e tomar decisão,
Sintetizar e conectar informações;
Resolver problemas de maneiras convencionais e
inovadoras
Ponderar as alternativas disponíveis buscando a mais
eficiente.
Comunicação
Articular clara de ideias em diferentes contextos, usando
linguagens oral, escrita e não verbal;
Escutar ativamente para depreender o sentido da
mensagem;
Usar a comunicação para diferentes propósitos como
instruir, motivar e convencer
Comunicar-se efetivamente em diferentes ambientes –
incluindo multiculturais e línguas diversas.
Colaboração
Demonstrar habilidade para trabalhar em equipes diversas
com respeito e eficiência;
Mostrar-se flexível e disponível a ajudar a conquistar
objetivos em comum;
Assumir o compartilhamento da responsabilidade da
colaboração e também valorizar as contribuições
individuais para conquista do objetivo.
21
Criatividade e
inovação
Pensar criativamente, usando técnicas para inovações
radicais e incrementais
Elaborar, refinar e avaliar ideias originais e maximizar
esforços criativos
Desenvolver, comunicar e implementar novas ideias de
maneira eficaz
Ser aberto e receptivo para perspectivas diferente
Demonstrar originalidade em trabalhar e entender as
limitações do mundo real para adoção de novas ideias
Autoria própria com base em Preparing 21st century students for a global society - National
Education Association, 2012
Em consonância com tais ideias, Kivunja (2014) explora o conceito de
Habilidades para vida e carreira (Career and Life Skills – CLS), que também
ressalta a importância da promoção de atributos que contribuirão para a
formação do estudante paralelamente à aquisição de conteúdos teóricos nas
disciplinas acadêmicas. Além das características já citadas, também são
destacadas as propriedades de flexibilidade e adaptabilidade, iniciativa e
autonomia, produtividade e responsabilidade e por fim, liderança.
Figura 3: Habilidades para vida e carreira e suas possíveis definições
Adaptabilidade e
Flexibilidade
Capacidade de atuar efetivamente em diferentes
climas, com alterações de prioridades e administrar
bem tais alterações
Habilidade de incorporar críticas e sugestões,
negociar, avaliar diferentes perspectivas para atingir
objetivos viáveis, principalmente em ambientes
culturais plurais
Iniciativa e autonomia
Possuir atitude de aprender novos conceitos,
processos e métodos que aperfeiçoem seus projetos
Autonomia para lidar bem com seus projetos e
descobrir como ampliar sua eficiência organizacional
22
Produtividade Otimizar utilização de recursos, de qualquer natureza,
para maximizar resultados
Liderança e
responsabilidade
Capacidade de relacionar-se com outros indivíduos,
estabelecendo vínculos de confiança e exercendo
influência para motivá-los e inspirá-los, de maneira
ética e íntegra, afim de alcaçar objetivos determinados
Autoria própria com base em Teaching Students to Learn and to Work Well with 21 st Century
Skills: Unpacking the Career and Life Skills Domain of the New Learning Paradigm, 2014
O ensino do empreendedorismo, muitas vezes, tem como foco a abertura
de novos negócios. Ainda que o objetivo final não seja tornar o estudante um
empresário, parece ser consenso na literatura que abordagens práticas de
ensino favorecem o desenvolvimento cognitivo e de redes de relacionamentos.
A experimentação, um dos conceitos geralmente explorados nas
atividades, permite que o indivíduo desenvolva e experimente sua ideia,
podendo assim obter êxito ou falhar, e em ambos os casos depreender
aprendizados. Outros dois comportamentos que podem ser aperfeiçoados
durante atividades práticas são criar e consolidar noções de perdas suportáveis,
avaliando o comprometimento de recursos – sendo estes financeiros ou
humanos, tangíveis ou intangíveis – e utilização destes de forma otimizada; e
finalmente a flexibilidade, exercitando a adaptabilidade à mudanças de
oportunidades ou recursos disponíveis. (SALUSSE; ANDREASSI, 2016).
3.3.3 Importância de extensão: Empresas Júniores
Além de estímulos ao desenvolvimento de comportamento empreendedor
dentro da sala de aula, outras ferramentas importantes e acessíveis nas
instituições de ensino superior são os programas de extensão acadêmica.
Dentre eles, podem ser citadas as Empresas Júniores (EJ), que podem ser
definidas como uma entidade composta por alunos matriculados em cursos
superiores de ensino, com finalidade de realizar projetos que permitam aliar
23
conhecimentos teóricos aprendidos na educação formal com prática e vivência
empresarial, contribuindo para a formação profissional dos participantes
(BRASIL JÚNIOR, 2014).
O movimento empresa júnior teve início na França, nos anos 60, a partir
da necessidade dos alunos da L’École Supérieure des Sciences Economiques
et Commerciales integrarem seus conhecimentos teóricos à prática, através da
aplicação no mercado. O movimento chega no Brasil nos anos 80, através do
diretor da câmara de comércio Franco Brasileira (BERVANGER, VICENTINI,
2016).
A empresa júnior tem por finalidade fomentar o empreendedorismo na
sociedade e, para tanto, realiza projetos acessíveis aos micro e pequenos
empreendedores, visto que todos os integrantes da instituição são voluntários e
todo o dinheiro arrecadado retorna em investimentos para a própria EJ
(BERVANGER, VICENTINI, 2016). A qualidade do serviço é garantida pelo
suporte acadêmico oferecidos pelos docentes da instituição de ensino a qual a
empresa júnior está ligada e tal fato, aliado ao preço acessível, viabiliza a
contratação dos serviços com credibilidade. A dinâmica e o ambiente promovido
por esse tipo de extensão acadêmica permitem o desenvolvimento de
capacidades e comportamentos por parte dos alunos, de maneira diferenciada
àquelas desenvolvidas em sala de aula no modelo comum de ensino. Com isso,
a formação dos estudantes torna-se mais completa, qualificando-os para
atuação mais assertiva no mercado de trabalho em qualquer área desejada
(TOSTA et al, 2011).
Em estudo realizado por Ferreira e Freitas (2013) com alunos de
faculdades de administração, foi verificado que os que vivenciaram experiências
em empresas juniores apresentaram melhores autoavaliações quando
questionados sobre atributos relacionados à habilidades interpessoais e
cognitivas quando comparado à alunos que não participaram desse tipo de
atividade de extensão (FERREIRA e FREITAS, 2013). Os autores inferiram,
portanto, que tal prática foi bem sucedida no que tange o desenvolvimento de
características profissionais importantes, além de revelarem a necessidade de
24
reflexão sobre os modelos tradicionais de educação, que pouco desenvolvem
áreas não técnicas dos aluno, futuros profissionais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando as universidades e instituições de ensino superior locais de
formação técnica de profissionais mas, além disso, locais que tem por função
colaborar com o desenvolvimento da sociedade, fica explicita a necessidade de
ampliar o preparo do estudantes para suas atuações sociais. Para tanto, é
preciso que, além da transferência de conhecimentos técnico-científicos, sejam
desenvolvidas habilidades e competências interpessoais que permitam que o
profissional formado seja capaz de atuar de maneira eficiente e qualificada diante
dos mais diversos cenários.
Tais competências e habilidades interpessoais são múltiplas, mas
baseiam-se em eixos de um perfil caracterizado como perfil empreendedor, no
qual os indivíduos possuem capacidade de liderança, tomada de decisão,
disposição em assumir riscos, otimização de recursos, capacidade de inovação,
aptidão para trabalho em equipe e construção de redes de trabalho, e
adaptabilidade. Diante do exposto, observa-se que para atingir tal objetivo de
formação diversas ferramentas e metodologias pedagógicas podem ser
utilizadas. Parece consenso na literatura que para desenvolver tais atributos, os
alunos devem ser munidos de autonomia para o exercício pleno de seu
aprendizado.
A autonomia pode ser exercida tanto através de métodos de
aprendizagem ativos em disciplinas técnicas concernentes aos respectivos
cursos, quanto em disciplinas voltadas a aprendizagem de conteúdos úteis à
qualquer pessoa que ingressará no mercado de trabalho – sendo na condição
de colaborador de uma corporação ou na abertura de seu próprio negócio. A
característica da autonomia, aliada à outras habilidades interpessoais
desenvolvidas nessas metodologias de ensino são valorizadas em qualquer
profissional bem preparado para as atuais e futuras mudanças pelas quais o
25
mercado está passando e passará, destacando a valorização do perfil
empreendedor.
As mudanças no mercado, impulsionadas pela maior informatização dos
meios produtivos, criam um futuro de incertezas no qual a mudança é a única
constante vislumbrada. Dessa maneira, é primordial que seja desenvolvido nos
estudantes do presente a habilidade em lidar com mudanças, a capacidade de
aprender constantemente e a propriedade de preservar o equilíbrio mental e
emocional diante de circunstâncias inéditas. Por consequência, o sistema
educacional precisa se reinventar para promover a construção do conhecimento
e não apenas a reprodução de informações, que estão cada vez mais acessíveis.
Assim, é crucial a promoção de métodos que formem profissionais
detentores de senso crítico que sejam capazes de utilizar as frações de
informações relevantes coletadas na composição de visões amplas acerca do
mundo e seus problemas, e consequentemente na solução destes.
26
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_____________________________ntador João Paulo