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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica O IMPACTO DO EMPREENDEDORISMO NO CENÁRIO ATUAL DE EDUCAÇÃO EM FARMÁCIA E PERSPECTIVAS FUTURAS NO MERCADO DE TRABALHO Carla Eclissi Gregório Orientador (a): Prof. Dr. João Paulo Fabi São Paulo 2020

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica

O IMPACTO DO EMPREENDEDORISMO NO CENÁRIO ATUAL DE EDUCAÇÃO EM FARMÁCIA E PERSPECTIVAS FUTURAS NO MERCADO

DE TRABALHO

Carla Eclissi Gregório

Orientador (a):

Prof. Dr. João Paulo Fabi

São Paulo

2020

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica

O IMPACTO DO EMPREENDEDORISMO NO CENÁRIO ATUAL DE EDUCAÇÃO EM FARMÁCIA E PERSPECTIVAS FUTURAS NO MERCADO

DE TRABALHO

Carla Eclissi Gregório

Trabalho de conclusão do Curso de

Farmácia-Bioquímica da Faculdade

de Ciências Farmacêuticas da

Universidade de São Paulo

Orientador(a):

Prof. Dr. João Paulo Fabi

São Paulo

2020

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SUMÁRIO

RESUMO ..................................................................................................................................... 6

INTRODUÇÃO............................................................................................................................ 7

MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................................................... 8

RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................................... 8

3.1 A indústria 4.0 e o impacto na estrutura de trabalho......................................... 10

3.2 Empreendedorismo..................................................................................................... 12

3.2.1 Intraempreendedorismo ..................................................................................... 14

3.2.2 Empreendedorismo social ................................................................................. 15

3.3 Inserção do empreendedorismo em sala de aula ............................................... 16

3.3.1 O panorama atual no Brasil ............................................................................... 16

3.3.2 Perspectivas futuras............................................................................................ 19

3.3.3 Importância de extensão: Empresas Júniores............................................. 22

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 24

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 26

4

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais que me possibilitaram, por toda a vida e com

muito esforço, ter acesso à educação de qualidade e todo o privilégio que isso

envolve. Além disso, me ofereceram todo o suporte em várias esferas para que

eu me tornasse quem sou. Nunca serei capaz de retribuir a altura. Amo vocês.

Agradeço aos meus avós que compreenderam algumas ausências

necessárias para me dedicar ao projeto de entrar na USP – e depois sair dela. E

pelas presenças tão cheias de amor e carinho.

Aos meus amigos, os de antes e os que conheci aqui, que me deram

suporte em todos os momentos e me ajudaram à chegar no fim desse ciclo. Sem

vocês, eu não seria nada.

Não poderia deixar de ressaltar a importância do meu companheiro, com

quem dividi cada peso e angústia do período desafiador que permeou escrita

desse trabalho, tornando tudo mais leve. Contigo agora celebro a vitória e o

encerramento dessa fase. Muito obrigada, cariño.

Devo também meu agradecimento genuíno a Universidade de São Paulo,

esse organismo que pulsa e se transforma apesar de todos os pesares. Um lugar

que me ensinou, muito além de disciplinas formais, a buscar incansavelmente a

melhoria da minha humanidade pro mundo.

Finalmente, agradeço ao Professor Doutor João Paulo Fabi pela

disponibilidade em me orientar durante a execução desse trabalho e à Faculdade

de Ciências Farmacêuticas por tudo que pude aprender em suas dependências.

Se hoje posso ver mais longe, é porque há uma rede de humanos muito

especiais a minha volta, todos que deixo e recebo um tanto.

Tudo está delicadamente interconectado.

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‘’ Os grandes só nos parecem grandes porque estamos de joelhos.’’

Pierre Joseph Proudhon

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GREGORIO, C. E. O IMPACTO DO EMPREENDEDORISMO NO CENÁRIO ATUAL DE EDUCAÇÃO EM FARMÁCIA E PERSPECTIVAS FUTURAS NO MERCADO DE TRABALHO. 2020. 29p. Trabalho de Conclusão de Curso de Farmácia-Bioquímica – Faculdade de Ciências Farmacêuticas – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020.

Palavras-chave: Educação empreendedora, graduação, futuro do trabalho, soft skills

RESUMOINTRODUÇÃO: Considerando as transformações sociais e mercadológicas que já ocorrem atualmente derivadas das rápidas transformações tecnológicas, é necessário que o sistema educacional também se modifique. No período no qual a informação está facilmente disponível, faz-se imprescindível o ensino de novas formas de analisa-las e interpretá-las, bem como treinar os estudantes para que sejam adaptáveis e resilientes às mudanças cada vez mais rápidas e frequentes. OBJETIVO: Compreender o cenário atual academia-mercado, construindo um panorama sobre o desenvolvimento de habilidades valorizadas em estudantes, com ênfase em farmácia e áreas da saúde. MATERIAL E MÉTODOS: Foiutilizada a revisão bibliográfica sobre o tema, utilizando as bases de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO), Web of Science e Google Acadêmico para consultas de artigos acadêmicos, além de informações obtidas a partir de sites nacionais e internacionais que forneçam embasamento para atingir o objetivo proposto. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Diante da rápida evolução tecnológica e digital atual, que se delineia como a 4ª Revolução Industrial, as transformações de cunho social e seus impactos no mercado de trabalho já são tangíveis. Sendo as Universidades centros de referência em aprendizado e formação de pensamento crítico, é necessário que seus sistema de ensino acompanhe as transformações para que os profissionais formados não sejam obsoletos já ao saírem de suas dependências e iniciarem suas carreiras. Para tanto, parece consenso na literatura que algumas características determinadas são essenciais para os profissionais do futuro próximo, como por exemplo flexibilidade, adaptabilidade, pensamento crítico, comunicação e criatividade. Tais características também constituem um perfil valorizado nos ambientes de trabalho atualmente, denominado perfil empreendedor. Entretanto, cursos superiores da área da saúde não contemplam de maneira eficiente o desenvolvimento dessa habilidades, visto que em geral estão associadas à cursos de ciências sociais aplicadas e exatas. Dessa forma, aborda-se neste trabalho o cenário atual e perspectivas futuras sobre o tema, bem como possíveis abordagens para atenuar o descompasso entre academia e mercado de trabalho, tais como metodologias mistas de ensino, estímulo à autonomia na aprendizagem e a importância das extensões acadêmicas. CONCLUSÃO:Diante do exposto, percebeu-se a urgência em promover novas metodologias de ensino que auxiliem no desenvolvimento de habilidades interpessoais dos estudantes, principalmente pensamento crítico, frente ao acesso à informações disponíveis atualmente. Assim, os profissionais estarão aptos a adaptar-se às mudanças frequentes no mercado que são vislumbradas por especialistas.

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INTRODUÇÃO

O avanço constante e rápido do desenvolvimento de ferramentas

tecnológicas tem transformado a forma como os seres humanos veem e

interagem com o mundo. As mudanças são substanciais nas estruturas

domésticas, nas estruturas de trabalho, nos períodos de lazer e, por

consequência, trazem reflexos para o processo de aprendizado e cognição. O

fenômeno denominado 4ª Revolução industrial - na qual os objetos tornam-se

cada vez mais conectados e regidos por inteligência artificial e algoritmos

(COLOMBO, 2017) - está alterando em grande velocidade as estruturas de

trabalho, visto que cada vez menos se fará necessária a presença humana na

mão de obra produtiva em fábricas e indústrias.

Com o aumento da automação dos processos produtivos, demanda-se

atualmente que os trabalhadores possuam um perfil no qual seus saberes e

valores lhes confiram autonomia para participação na resolução de problemas

complexos. Tais demandas trazem à pauta conceitos discutidos desde o fim do

século passado e que ainda permanecem não completamente elucidados: o

Empreendedorismo e o Intraempreendedorismo.

Estes conceitos têm por base a inovação, a gestão ágil de projetos e

resiliência, mas também destacam-se outros atributos, como criatividade,

proatividade, pensamento crítico e capacidade de escolha com base em dados

(HENRIQUE; DA CUNHA; 2008). A área da saúde, principalmente a área

farmacêutica, é direcionada pela inovação e aprendizados contínuos, sendo uma

excelente área para compreensão do fenômeno do empreendedorismo

enquanto comportamento social.

Entretanto, mesmo diante de tantas transformações no mercado de

trabalho e nas relações sociais, o sistema de ensino - principalmente o ensino

superior - permanece rígido e anacrônico na maioria das instituições (COLBARI,

2007). Longas aulas expositivas e formas clássicas de avaliação de ensino,

como provas, são amplamente aplicadas, perfazendo a base estrutural dos

cursos em muitas faculdades tanto em Universidades Públicas como em

Universidades privadas. Essa lacuna entre o aprendizado acadêmico regular e

as demandas do crescente mercado torna-se uma área promissora para

desenvolvimento de novas metodologias de ensino-aprendizagem, além de

8

espaço fundamental no qual atividades de extensão se estabelecem. As

atividades de extensão auxiliam no desenvolvimento das características

empreendedoras buscadas pelas instituições públicas e privadas (LAVERTY,

2015), tanto no âmbito industrial quanto no meio de promoção e cuidado à saúde.

Dessa forma, busca-se no presente trabalho ampliar a visão dos

estudantes, professores e profissionais da área da saúde sobre os conceitos de

empreendedorismo e suas ferramentas, visando sua aplicabilidade tanto em sala

de aula como fora dela. Tanto a organização e criação de negócios inovadores

como a utilização das habilidades e ferramentas de intraempreendedorismo para

autogestão e gestão em empresas públicas e privadas serão discutidas no

presente trabalho.

MATERIAL E MÉTODOS

O atual trabalho de conclusão de curso teve por objetivo ampliar a

compreensão sobre o cenário atual academia-mercado para profissionais da

saúde, através da construção de um panorama acerca do desenvolvimento de

perfis empreendedores durante a formação acadêmica destes profissionais,

como tais perfis são valorizados e como relacionam-se com a atuação no

mercado. Para tanto, foi empregada a metodologia de revisão bibliográfica

narrativa, utilizando como fonte de pesquisa bases de dados nacionais e

internacionais Scientific Eletronic Library Online (SciELO), Web of Science e

Google Acadêmico, além de informações obtidas a partir de sites nacionais e

internacionais que forneçam embasamento para atingir o objetivo proposto.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A profissão farmacêutica pode ter se dado na humanidade muito antes do

que se imagina. Diferentes sociedades ao longo da história humana sempre

tiveram representantes que dominavam, ainda que de forma empírica, as

propriedades de substâncias minerais, vegetais e animais para uso em

processos de busca pela cura para determinadas doenças. Muitas vezes, esses

representantes estavam atrelados às capacidades mágicas pois, antes do

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desenvolvimento do método científico, tal era a justificativa para fenômenos que

não podiam ser explicados.

No Brasil, o ensino farmacêutico foi instituído em 1832, a partir da recente

chegada da família real portuguesa no Brasil. Desde então, os avanços no tema

foram graduais, como por exemplo, a fundação da Escola de Farmácia de Ouro

preto em 1839, sendo a primeira do Brasil e da América Latina. Entretanto, a

profissão foi regulamentada apenas em 1931, com publicação de decreto que

estabelecia seu exercício no país. O primeiro currículo mínimo para

farmacêuticos foi implementado em 1963 (CRF-SP, 2019) e, desde então, vem

se aperfeiçoando de acordo com a evolução das necessidades sociais e

mercadológicas.

Com o desenvolvimento da ciência e tecnologia nos anos seguintes, o

trabalho do farmacêutico também se modificou. As matrizes curriculares dos

cursos de farmácia brasileiros mudaram gradativamente a partir de 2002, com a

implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais. Este modelo baseia-se na

formação generalista, humanista, crítica e reflexiva possibilitando atuação dos

formandos em qualquer área disponível para farmacêuticos, com rigor científico

e intelectual necessário no desenvolver de suas habilidades e competências

(CRF-SP, 2013)

Atualmente, a profissão farmacêutica possui 72 áreas de atuação

reconhecidas pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), mas os conhecimentos

adquiridos nos cursos de graduação e pós graduação permitem a ampliação das

possibilidades de trabalho. Com o crescimento das possibilidades de mercado,

é necessária a atualização constante do planejamento curricular para que as

novas demandas de mercado sejam atendidas. De acordo com o Conselho

Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP), o futuro profissional

farmacêutico deverá estar apto e preparado para, dentre outras atividades, ‘’ser

empreendedor, gestor, empregador e/ou líder.’’ (CRF-SP, 2019)

A inovação é um componente fundamental da indústria farmacêutica pois

o desenvolvimento de qualquer medicamento, produto para a saúde ou serviço

em saúde é derivado de identificação de uma necessidade e de uma

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oportunidade, princípios que também norteiam a prática do empreendedorismo

(LAVERTY et al, 2015). Logo, o ramo farmacêutico pode ser considerado uma

excelente área para aplicação de conceitos de empreendedorismo,

principalmente os referentes ao desenvolvimento de comportamentos

específicos por parte dos profissionais. Diante do cenário atual, no qual o

desenvolvimento tecnológico, as mudanças das relações de trabalho e a busca

por profissionais cada vez mais qualificados a lidar e gerenciar inovações, faz-

se necessário que as instituições de ensino - principalmente as de ensino

superior - capacitem adequadamente os futuros profissionais que constituirão as

próximas gerações do mercado.

3.1 A indústria 4.0 e o impacto na estrutura de trabalho

A sociedade atual tem o sistema capitalista como sistema econômico-

social vigente. De maneira simplificada, nesse sistema os meios de produção

são de propriedade de uma pequena parcela da população, e operam para gerar

lucros aos que os detém, enquanto os indivíduos que não fazem parte dessa

parcela oferecem sua mão de obra em troca de remuneração salarial.

Para compreender a necessidade de mudanças do padrão de ensino, com

ênfase dada ao ensino superior, é preciso observar brevemente o panorama das

transformações históricas dos sistemas produtivos e, por consequência, as

alterações nas estruturas de trabalho e sociais que se delineiam com as rápidas

evoluções tecnológicas desde o início do século XXl. A história aponta períodos

nos quais a sociedade passou por profundas mudanças no que se refere à

trabalho, tanto em face aos desenvolvimentos tecnológicos quanto às relações

sociais que engloba.

As primeiras revoluções industriais basearam-se no desenvolvimento e

aprimoramento de ferramentas mecânicas para otimização da produção,

inicialmente artesanal, nos séculos XVlll e XIX. Já no século XX, iniciou-se o

terceiro movimento revolucionário, denominado Revolução Digital, utilizando as

incipientes tecnologia da informação e automação dos meios de produção.

(TESSARINI; SALTORATO, 2018)

11

Apesar do desenvolvimento e consolidação das indústrias de base e

commodities no Brasil, há uma lacuna no que tange o avanço das indústrias de

alta tecnologia e química fina no país. Dentre as indústrias de química fina, pode-

se citar a farmacêutica, que tem a tecnologia como cerne (BNDES BRASIL,

2017). Portanto, há no país um amplo campo ainda inexplorado, porém de

elevada importância para prontidão técnico-científica, como observado à partir

do momento de grande crise sanitária e econômica decorrente da recente

pandemia de SARS-CoV-2.

Atualmente, delineia-se uma nova fase de modificação, a denominada

indústria 4.0, que vem sendo construída como a 4ª Revolução industrial, visto

que vislumbra reorganizar radicalmente os sistemas de produção. Caracteriza-

se pelo desenvolvimento de tecnologias refinadas, dentre elas os mecanismos

de inteligência artificial, da Internet das coisas (Internet of Things ou IoT) e do

Big Data.

A literatura sobre o tema, apesar de incipiente, aponta que o potencial

desse novo cenário também vem carregado de desafios, de caráter econômico,

político e social. Indústrias cada vez mais inteligentes e automatizadas poderão

otimizar as tarefas de uma organização, fatores apontados como capazes de

promover aumento do corte de funcionários que antes ocupavam tais cargos, o

denominado desemprego tecnológico (MOKYR; VICKERS; ZIEBARTH, 2015).

Dessa forma, dentre os possíveis impactos sociais vislumbrados, grandes

mudanças na empregabilidade e exigência de aprimoramento das competências

e qualificação dos trabalhadores podem ser destacadas, considerando que a

maior possibilidade de surgimento de novas vagas ocorrerá em níveis

estratégicos, como gerenciais. (TESSARINI; SALTORATO, 2018).

As perspectivas e suposições feitas atualmente sobre o possível futuro do

trabalho, entretanto, levam em consideração os padrões e desfechos das

mudanças ocorridas nos períodos passados de transformação. Tais mudanças

baseavam-se na substituição dos trabalhadores por máquinas mais simples, em

tarefas mais simples, que não são comparáveis à tecnologia refinada que

permeia o maquinário atual dotado de algoritmos e inteligência artificial. A ênfase

dada ao problema do desemprego tecnológico é baseada nas ocupações

12

existentes no presente momento, o que torna a projeção limitante pois não se

contabiliza as novas ocupações que ainda nem foram inventadas. (MOKYR;

VICKERS; ZIEBARTH, 2015)

O desenvolvimento de habilidades requisitado pelo modelo produtivo mais

tecnológico, o qual envolve maior capacitação, desencadeia o aperfeiçoamento

do indivíduo em competências que gradualmente serão classificadas como

essenciais à qualquer função exercida. Tais qualificações podem ser

correlacionadas com um comportamento que vêm se desenvolvendo, e sendo

foco de estudos nas décadas mais recentes, o chamado comportamento

empreendedor.

3.2 Empreendedorismo

O significado de empreendedorismo não é um ponto de concordância na

literatura acadêmica. Originalmente, o termo associa-se a uma concepção

primariamente capitalista, entretanto, atualmente seu conceito pode ser inserido

em diversos aspectos econômicos e sociais (COLBARI, 2007). Nesta

concepção, o empreendedorismo surge a partir da aceitação de riscos e

introdução de novos produtos e serviços em um mercado, desestabilizando a

ordem econômica anteriormente vigente (SANTOS, 2019).

Com o avanço dos estudos sobre o tema, atualmente suas definições

podem ser observadas por diversos vértices e, dentre os prismas sob os quais o

empreendedorismo pode ser observado, existe a esfera na qual o foco abrange

as metodologias, processos e aspectos de gestão, tratando-se da esfera

administrativa e econômica (NASSIF, 2011). Outro vértice pelo qual o

empreendedorismo pode ser observado é através da teoria comportamentalista,

na qual o empreendedor é o ator social. No que tange a esfera psicológica e

comportamental, dentre os variadas condutas que podem ser observadas em um

perfil empreendedor, algumas aparecem consenso na literatura, sendo as

principais a iniciativa e interesse em realizar inovações, utilização criativa e

otimizada de recursos para transformação – seja ela econômica ou social e, por

fim, a aceitação de riscos calculados (BAGGIO; BAGGIO, 2015).

13

Ambas as concepções se relacionam à aderência a mudanças, sendo

estas mudanças o cerne do empreendedorismo ao ter como foco a identificação

e aproveitamento de oportunidades. Considerando as incertezas e a

imprevisibilidade decorrentes do rápido avanço tecnológico que se desenrola

desde o início do século XXI, formar indivíduos capazes de lidar com grandes e

constantes mudanças é essencial. Em linhas gerais, pode-se dizer que

empreendedorismo é o campo no qual o empreendedor possui iniciativa de

idealizar, coordenar e realizar projetos, ou implementar negócios ou mudanças

inovadoras em empresas já existentes. Comportamentos empreendedores

baseiam-se na busca pela mudança e criação de oportunidades através dela.

Dessa forma, o empreendedorismo não se limita, necessariamente, à criação de

um novo negócio ou uma nova empresa, mas na conduta assumida pelo

indivíduo, tanto no desempenho do papel de colaborador quanto no de

empregador.

Considerando que o empreendedorismo é um tema amplo e que pode ser

observado por diversos aspectos, diferentes autores abordam o tema de

diferentes formas. Pôde-se compilar nesse trabalho que são recorrentes as

segmentações do empreendedorismo em empreendedorismo de necessidade,

de oportunidade, de startups, corporativo ou intraempeededorismo, e por fim

empreendedorismo social. (BAGGIO; BAGGIO, 2015)

O relatório global referente ao ano de 2019 do Global Entrepreneurship

Monitor (GEM) demonstra que no Brasil há alto nível de empreendedorismo por

necessidade, ou seja, quando os empreendedores se desenvolvem por falta de

oportunidades de ocupação e geração de renda através do mercado formal.

(GEM, 2019). O relatório de 2017 analisado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às

Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) aponta que 39,9% dos

empreendimentos surgiam no país por necessidade. (GEM; SEBRAE, 2017). Já

o empreendedorismo por oportunidade pode ser caracterizado pela identificação

de oportunidade de novo negócio lucrativa, conceito que também pode ser

expandido ao empreendedorismo no modelo de startups, e segundo os dados

de 2017 do relatório citado, correspondiam a 59% dos novos empreendimentos

no Brasil. Tais definições relacionam-se com o perfil econômico do

empreendedorismo. No presente trabalho, será dada ênfase no

14

empreendedorismo corporativo – ou intraempreendedorismo - e no

empreendedorismo social, ambos sob o prisma comportamental, relacionando-

os com a capacitação dos estudantes de curso superior da área da saúde e

considerando o atual panorama e o futuro das profissões.

3.2.1 Intraempreendedorismo

Com as mudanças derivadas do novo período de remodelamento de

negócios que se vislumbra, as empresas tradicionais bem sucedidas terão como

atribuição a manutenção do sucesso no futuro. Para tanto, já ocorre atualmente,

valorização do incentivo a iniciativas empreendedoras das empresas

estabelecidas para com seus colaboradores. Em meados dos anos 80,

concebeu-se o termo intraempreendedorismo para expandir características do

empreendedorismo às corporações, abrangendo áreas funcionais e

administrativas no escopo do conceito (HASHIMOTO, 2009). Em resumo, pode-

se caracterizar o intraempreendedorismo como o processo de identificar

oportunidades, bem desenvolver e implementar novas soluções, em

corporações já existentes. (BAGGIO; BAGGIO, 2015)

Sob essa ótica, as organizações tenderão a adquirir condutas menos

engessadas, convergindo para descentralização e autonomia dos funcionários;

elevação do grau de complexidade da companhia, maior receptividade a

mudanças e busca por soluções inovadoras. Esses aspectos são permeados por

características principais do intraempreendedorismo: a interdisciplinaridade para

a análise de informações utilizando-se de competências distintas; aumento da

relevância de competências necessárias para a equipe em detrimento à

relevância de cargos e hierarquia; reconhecimento do trabalho realizado, mesmo

que o resultado esperado não tenha sido obtido; responsabilidade sobre o

controle financeiro; estímulo à organização de equipes em células

autogerenciáveis e autônomas; e estruturas organizacionais mais simples e

enxutas, agilizando processos e favorecendo fluxos de informações

(HASHIMOTO, 2009).

15

3.2.2 Empreendedorismo social

A partir dos anos 1990, o desenvolvimento da vertente social do

empreendedorismo se expandiu. O empreendedorismo social não tem como

objetivo exclusivo a geração de lucro, mas sim a promoção da qualidade de vida

social, cultural, econômica e até ambiental de forma sustentável (BAGGIO;

BAGGIO, 2015). Dessa forma, é direcionado à solução de problemas de

segmentos populacionais específicos, portanto, consiste em mecanismos de

transformação social.

Uma estratégia importante para estímulo à promoção de intervenções

voltadas para necessidades sociais reais é o investimento na formação de

empreendedores sociais. Tal formação pode ser iniciada na universidade, visto

que esse ambiente possui mecanismos de ensino, pesquisa e extensão capazes

de acumular conhecimentos e promover a construção de posicionamentos

voltados à temas de impacto social (BACKERS, ERDMANN, 2009).

O empreendedor social busca o desenvolvimento humano a partir da

cidadania, através da perspectiva da dignidade de cada indivíduo, visando a

reestruturação do meio no qual está inserido. Dessa forma, alguns conceitos são

comuns aos empreendedores de tendência social, tais como a visão

multidisciplinar, o respeito às diferenças, a compreensão das origens de

problemas sociais e difusão de valores como a cidadania (ITELVINO et al, 2018).

Para tanto, é preciso estimular metodologias de ensino questionadores e

instigantes na formação dos estudantes. Particularmente no cenário da área da

saúde, é necessário que o ensino possua abordagens nas quais os alunos

estabeleçam conexões entre os diversos elementos constituintes da saúde,

como aspectos culturais, sociais, políticos, ambientais, e afetivos. Dessa forma,

os discentes podem integrar os conhecimentos a fim de adquirirem uma

percepção sistêmica e expandida de saúde. (BACKERS, ERDMANN, 2009).

Possuir tal percepção ampliada é importante para indivíduos que

assumem papéis na gestão pública em saúde. Gestão pode ser entendida como

coordenação e execução de processos de trabalho, relacionado à administração

de equipamentos e funções, públicas ou privada (JUNIOR, 2002).

16

Na esfera da gestão pública, os profissionais com características

empreendedoras podem atuar na introdução de inovações no setor, utilizando

os recursos disponíveis para potencializar a produtividade e efetividade das

organizações. Assim sendo, o viés empreendedor desenvolvido no indivíduo a

partir de sua formação pode contribuir para que a instância pública busque,

proativamente, a otimização de recursos internos e concepção de soluções

inovadoras para atender as necessidades sociais e econômicas, impactando

diretamente na qualidade de vida dos indivíduos (BUERI, 2015).

3.3 Inserção do empreendedorismo em sala de aula

Como local referência de aprendizado, as universidades têm papel

importante no desenvolvimento de competências e habilidades para a introdução

do estudante no mercado de trabalho e na sociedade. Entende-se por

competência o conjunto de características de um indivíduo que podem englobar

conhecimentos, características de personalidade e habilidades adquiridas por

meio de educação formal, treinamentos, experiências, bem como influenciada

pelo convívio social e familiar. Tais características refletem na maneira como

indivíduo executa tarefas ou atividades.

No que tange as habilidades necessárias para consolidação de um perfil

empreendedor nos estudantes, pode-se destacar três áreas, a saber: técnica,

administrativa e empreendedora pessoal (NASSIF, 2011). A primeira

compreende os saberes técnicos essenciais para a execução de projetos e

tarefas, e relaciona-se com os aspectos teóricos dos conteúdos já ensinados em

metodologias tradicionais de ensino. A administrativa e empreendedora pessoal

relacionam-se com posturas adotadas pelo indivíduo e abrangem tomadas de

decisão, planejamento e organização, relações interpessoais e autogerência.

3.3.1 O panorama atual no Brasil

Dentre as universidades públicas paulistas, nenhuma possui, em sua

grade curricular obrigatória do curso de Farmácia, disciplinas ligadas ao

empreendedorismo. As eletivas relacionadas ao tema não são diretamente

concernentes ao curso de Farmácia ou aos aspectos ligados à área da saúde.

17

Entretanto, todas possuem matérias relacionadas à gestão e administração de

empresas.

Figura 1: Matérias disponíveis nos cursos de Farmácia das universidades

públicas paulistas

UNIVERSIDADE MATÉRIA

OBRIGATÓRIA

MATÉRIA ELETIVA

Universidade de São Paulo Administração de

Empresas

Farmacêuticas

Empreendedorismo

Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Gestão Farmacêutica Empreendedorismo

Universidade Estadual

Paulista Júlio de Mesquita

Filho (Unesp)

Gestão Farmacêutica Empreendedorismo nas

indústrias de biotecnologia

Universidade Federal de São

Paulo (Unifesp)Gestão de Empresas

Farmacêuticas

Empreendedorismo, qualidade

e o profissional da química

Autoria própria

Apesar da profissão farmacêutica possuir contextos diferentes no Brasil

quando comparado a países do hemisfério norte, como europeus e norte-

americanos, pode-se avaliar o impacto de estratégias de ensino de

competências ligadas ao empreendedorismo direcionadas ao curso de farmácia.

Em estudo realizado na Queen’s University Belfast School of Pharmacy, na

Irlanda do Norte (Reino Unido), verificou-se que, ao aplicar uma metodologia

mista de ensino em formato de workshop acerca do empreendedorismo, 64%

dos alunos participantes validaram a ideia de que o desenvolvimento de

habilidades empreendedoras é importante para o sucesso na carreira

farmacêutica, contra 29% iniciais. Além disso, 22,9% dos alunos respondentes

afirmaram que as habilidades desenvolvidas são importantes nos âmbitos

comunitário, hospitalar e industrial (LAVERTY et al, 2015). Dentre as habilidades

citadas como mais desenvolvidas, estão resolução de problemas, comunicação,

18

trabalho em equipe, habilidade de pesquisa e reconhecimento de oportunidades

(LAVERTY et al, 2015). Estas habilidades são aplicáveis à diversas áreas de

atuação regulamentadas para farmacêuticos.

No ensino superior brasileiro, a educação com caráter empreendedor é

estimulada, principalmente, em cursos de áreas de ciências sociais aplicadas e

exatas, por meio de disciplinas voltadas à gestão e criação do próprio negócio,

além de projetos multidisciplinares (CORTEZ; VEIGA, 2019). Já na área da

saúde, o caráter do ensino é prioritariamente técnico, com poucos temas

direcionados aos tópicos e habilidades de gerenciamento, sejam pessoais ou

administrativos.

A pedagogia tecnicista tem por finalidade gerir o processo educativo de

forma produtivo-industrial, ou seja, com metas e resultados preestabelecidos em

um modelo no qual a base é a transmissão de informação. (MARQUES, 2012).

O contexto do surgimento e fortalecimento de tal método se dá a partir da

necessidade capitalista de obter mão de obra competente para execução do

trabalho e desempenho de papéis sociais para os quais o indivíduo é moldado.

Um brevíssimo histórico que contextualiza a progressão desse princípio

pedagógico é o próprio desenvolvimento dos modelos produtivos da indústria do

século passado.

O modelo de produção taylorista, surgido no século XIX, baseia-se no

controle das etapas de produção e, consequentemente, das fases de produção

e tem a eficiência como um dos principais critérios de avaliação do processo

produtivo. Tal segmentação do processo reduziu o trabalhador a um executor de

tarefas, que apenas segue repetidamente as instruções adquiridas por meio de

treinamentos específicos, treinamentos que não necessariamente refletem em

qualificação. Já o modelo Fordista, caracteriza-se pela produção em grande

escala e a custos reduzidos, utilizando o conceito do taylorismo como inspiração

e produzindo mercadorias em massa através da exploração intensa do

trabalhador, por atividades repetitivas e tempo controlado para aumento da

produtividade. A educação tecnicista, portanto, emerge nesse contexto de

redução da destreza do trabalhador (SILVA,2017), preparando os indivíduos

para responderem a estímulos buscando atingir objetivos preestabelecidos.

19

Dessa forma, a formação tecnicista suprime a dimensão intelectual do

indivíduo, que se torna apenas executor de funções. Tal modelo não se enquadra

na concepção de mercado pós revolução 4.0, visto que a realização de

atividades operacionais serão facilmente transferidas a sistemas informatizados

e inteligências artificiais.

3.3.2 Perspectivas futuras

A educação empreendedora, apesar de também objetivar o

desenvolvimento de competências para o novo mercado em construção pós

mudanças, rompe com a lógica tecnicista, pois não é centralizada na busca de

metas predeterminadas. Ela pretende desenvolver os estudantes para que

sejam capazes de pensar criticamente fora dos padrões existentes, e com isso,

tornarem-se flexíveis às mudanças que já ocorrem nas relações de trabalho, e

se intensificarão nas próximas décadas. Além disso, o aprendizado na educação

empreendedora parte da experimentação e, por consequência, através das

falhas e erros.

Existem alternativas para a aproximação da educação empreendedora

aos centros tradicionais de ensino, aliando métodos formais e informais, por

exemplo, para alcançar esse objetivo. Nessa didática, aspectos teóricos são

abordados de maneira tradicional, como por meio de aulas, leituras

recomendadas e palestras. Os aspectos informais, por sua vez, consistem em

mecanismos nos quais os alunos consigam integrar o conhecimento apreendido

formalmente com a prática, como por exemplo estudos de caso, visitas a

empresas, projetos desenvolvidos em grupo e simulações (HENRIQUE; DA

CUNHA, 2008). Nessas propostas, o professor passa a atuar como facilitador do

processo de aprendizagem, deixando o lugar comum de detentor central do

conhecimento.

O guia publicado pela National Education Association (NEA) explicita

habilidades consideradas fundamentais para a formação dos estudantes do

século XXI, sendo denominadas Os quatro C’s - critical thinking and problem

solving (pensamento crítico e resolução de problemas), comunication

(comunicação), collaboration (colaboração) e creativity and innovation

(criatividade e inovação) (NEA, 2012).

20

Figura 2: Os quatro C’s e suas possíveis definições

Pensamento

crítico e

resolução de

problemas

Utilizar diferentes formas de raciocínio, como indutivo e

dedutivo, de forma mais apropriada a cada situação,

Integrar e analisar fragmentos de informações e suas

interações diante do todo em sistemas complexos,

Deliberar sobre situações e tomar decisão,

Sintetizar e conectar informações;

Resolver problemas de maneiras convencionais e

inovadoras

Ponderar as alternativas disponíveis buscando a mais

eficiente.

Comunicação

Articular clara de ideias em diferentes contextos, usando

linguagens oral, escrita e não verbal;

Escutar ativamente para depreender o sentido da

mensagem;

Usar a comunicação para diferentes propósitos como

instruir, motivar e convencer

Comunicar-se efetivamente em diferentes ambientes –

incluindo multiculturais e línguas diversas.

Colaboração

Demonstrar habilidade para trabalhar em equipes diversas

com respeito e eficiência;

Mostrar-se flexível e disponível a ajudar a conquistar

objetivos em comum;

Assumir o compartilhamento da responsabilidade da

colaboração e também valorizar as contribuições

individuais para conquista do objetivo.

21

Criatividade e

inovação

Pensar criativamente, usando técnicas para inovações

radicais e incrementais

Elaborar, refinar e avaliar ideias originais e maximizar

esforços criativos

Desenvolver, comunicar e implementar novas ideias de

maneira eficaz

Ser aberto e receptivo para perspectivas diferente

Demonstrar originalidade em trabalhar e entender as

limitações do mundo real para adoção de novas ideias

Autoria própria com base em Preparing 21st century students for a global society - National

Education Association, 2012

Em consonância com tais ideias, Kivunja (2014) explora o conceito de

Habilidades para vida e carreira (Career and Life Skills – CLS), que também

ressalta a importância da promoção de atributos que contribuirão para a

formação do estudante paralelamente à aquisição de conteúdos teóricos nas

disciplinas acadêmicas. Além das características já citadas, também são

destacadas as propriedades de flexibilidade e adaptabilidade, iniciativa e

autonomia, produtividade e responsabilidade e por fim, liderança.

Figura 3: Habilidades para vida e carreira e suas possíveis definições

Adaptabilidade e

Flexibilidade

Capacidade de atuar efetivamente em diferentes

climas, com alterações de prioridades e administrar

bem tais alterações

Habilidade de incorporar críticas e sugestões,

negociar, avaliar diferentes perspectivas para atingir

objetivos viáveis, principalmente em ambientes

culturais plurais

Iniciativa e autonomia

Possuir atitude de aprender novos conceitos,

processos e métodos que aperfeiçoem seus projetos

Autonomia para lidar bem com seus projetos e

descobrir como ampliar sua eficiência organizacional

22

Produtividade Otimizar utilização de recursos, de qualquer natureza,

para maximizar resultados

Liderança e

responsabilidade

Capacidade de relacionar-se com outros indivíduos,

estabelecendo vínculos de confiança e exercendo

influência para motivá-los e inspirá-los, de maneira

ética e íntegra, afim de alcaçar objetivos determinados

Autoria própria com base em Teaching Students to Learn and to Work Well with 21 st Century

Skills: Unpacking the Career and Life Skills Domain of the New Learning Paradigm, 2014

O ensino do empreendedorismo, muitas vezes, tem como foco a abertura

de novos negócios. Ainda que o objetivo final não seja tornar o estudante um

empresário, parece ser consenso na literatura que abordagens práticas de

ensino favorecem o desenvolvimento cognitivo e de redes de relacionamentos.

A experimentação, um dos conceitos geralmente explorados nas

atividades, permite que o indivíduo desenvolva e experimente sua ideia,

podendo assim obter êxito ou falhar, e em ambos os casos depreender

aprendizados. Outros dois comportamentos que podem ser aperfeiçoados

durante atividades práticas são criar e consolidar noções de perdas suportáveis,

avaliando o comprometimento de recursos – sendo estes financeiros ou

humanos, tangíveis ou intangíveis – e utilização destes de forma otimizada; e

finalmente a flexibilidade, exercitando a adaptabilidade à mudanças de

oportunidades ou recursos disponíveis. (SALUSSE; ANDREASSI, 2016).

3.3.3 Importância de extensão: Empresas Júniores

Além de estímulos ao desenvolvimento de comportamento empreendedor

dentro da sala de aula, outras ferramentas importantes e acessíveis nas

instituições de ensino superior são os programas de extensão acadêmica.

Dentre eles, podem ser citadas as Empresas Júniores (EJ), que podem ser

definidas como uma entidade composta por alunos matriculados em cursos

superiores de ensino, com finalidade de realizar projetos que permitam aliar

23

conhecimentos teóricos aprendidos na educação formal com prática e vivência

empresarial, contribuindo para a formação profissional dos participantes

(BRASIL JÚNIOR, 2014).

O movimento empresa júnior teve início na França, nos anos 60, a partir

da necessidade dos alunos da L’École Supérieure des Sciences Economiques

et Commerciales integrarem seus conhecimentos teóricos à prática, através da

aplicação no mercado. O movimento chega no Brasil nos anos 80, através do

diretor da câmara de comércio Franco Brasileira (BERVANGER, VICENTINI,

2016).

A empresa júnior tem por finalidade fomentar o empreendedorismo na

sociedade e, para tanto, realiza projetos acessíveis aos micro e pequenos

empreendedores, visto que todos os integrantes da instituição são voluntários e

todo o dinheiro arrecadado retorna em investimentos para a própria EJ

(BERVANGER, VICENTINI, 2016). A qualidade do serviço é garantida pelo

suporte acadêmico oferecidos pelos docentes da instituição de ensino a qual a

empresa júnior está ligada e tal fato, aliado ao preço acessível, viabiliza a

contratação dos serviços com credibilidade. A dinâmica e o ambiente promovido

por esse tipo de extensão acadêmica permitem o desenvolvimento de

capacidades e comportamentos por parte dos alunos, de maneira diferenciada

àquelas desenvolvidas em sala de aula no modelo comum de ensino. Com isso,

a formação dos estudantes torna-se mais completa, qualificando-os para

atuação mais assertiva no mercado de trabalho em qualquer área desejada

(TOSTA et al, 2011).

Em estudo realizado por Ferreira e Freitas (2013) com alunos de

faculdades de administração, foi verificado que os que vivenciaram experiências

em empresas juniores apresentaram melhores autoavaliações quando

questionados sobre atributos relacionados à habilidades interpessoais e

cognitivas quando comparado à alunos que não participaram desse tipo de

atividade de extensão (FERREIRA e FREITAS, 2013). Os autores inferiram,

portanto, que tal prática foi bem sucedida no que tange o desenvolvimento de

características profissionais importantes, além de revelarem a necessidade de

24

reflexão sobre os modelos tradicionais de educação, que pouco desenvolvem

áreas não técnicas dos aluno, futuros profissionais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando as universidades e instituições de ensino superior locais de

formação técnica de profissionais mas, além disso, locais que tem por função

colaborar com o desenvolvimento da sociedade, fica explicita a necessidade de

ampliar o preparo do estudantes para suas atuações sociais. Para tanto, é

preciso que, além da transferência de conhecimentos técnico-científicos, sejam

desenvolvidas habilidades e competências interpessoais que permitam que o

profissional formado seja capaz de atuar de maneira eficiente e qualificada diante

dos mais diversos cenários.

Tais competências e habilidades interpessoais são múltiplas, mas

baseiam-se em eixos de um perfil caracterizado como perfil empreendedor, no

qual os indivíduos possuem capacidade de liderança, tomada de decisão,

disposição em assumir riscos, otimização de recursos, capacidade de inovação,

aptidão para trabalho em equipe e construção de redes de trabalho, e

adaptabilidade. Diante do exposto, observa-se que para atingir tal objetivo de

formação diversas ferramentas e metodologias pedagógicas podem ser

utilizadas. Parece consenso na literatura que para desenvolver tais atributos, os

alunos devem ser munidos de autonomia para o exercício pleno de seu

aprendizado.

A autonomia pode ser exercida tanto através de métodos de

aprendizagem ativos em disciplinas técnicas concernentes aos respectivos

cursos, quanto em disciplinas voltadas a aprendizagem de conteúdos úteis à

qualquer pessoa que ingressará no mercado de trabalho – sendo na condição

de colaborador de uma corporação ou na abertura de seu próprio negócio. A

característica da autonomia, aliada à outras habilidades interpessoais

desenvolvidas nessas metodologias de ensino são valorizadas em qualquer

profissional bem preparado para as atuais e futuras mudanças pelas quais o

25

mercado está passando e passará, destacando a valorização do perfil

empreendedor.

As mudanças no mercado, impulsionadas pela maior informatização dos

meios produtivos, criam um futuro de incertezas no qual a mudança é a única

constante vislumbrada. Dessa maneira, é primordial que seja desenvolvido nos

estudantes do presente a habilidade em lidar com mudanças, a capacidade de

aprender constantemente e a propriedade de preservar o equilíbrio mental e

emocional diante de circunstâncias inéditas. Por consequência, o sistema

educacional precisa se reinventar para promover a construção do conhecimento

e não apenas a reprodução de informações, que estão cada vez mais acessíveis.

Assim, é crucial a promoção de métodos que formem profissionais

detentores de senso crítico que sejam capazes de utilizar as frações de

informações relevantes coletadas na composição de visões amplas acerca do

mundo e seus problemas, e consequentemente na solução destes.

26

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______________________________ ______________________________Aluna Carla Eclissi Gregório Orientador João Paulo Fabi

_____________________________ntador João Paulo