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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO Aspectos Destacados Sobre a Organização Internacional do Trabalho-OIT HELEN CRISTIANE CALDEIRA Itajaí, Outubro de 2007

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Helen Cristiane Caldeira.pdfDireito do Trabalho: Direito do Trabalho, ou Direito Laboral, é o conjunto

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO

Aspectos Destacados Sobre a Organização Internacional do Trabalho-OIT

HELEN CRISTIANE CALDEIRA

Itajaí, Outubro de 2007

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO

Aspectos Destacados Sobre a Organização Internacional do Trabalho-OIT

HELEN CRISTIANE CALDEIRA

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor MSc José Silvio Wolf

Itajaí , Outubro de 2007

AGRADECIMENTO

Primeiramente a Deus, por ter me concebido muita força, perseverança e proteção;

Aos meus queridos pais, Antonio e Elenita, pelo amor, carinho e incentivo; e por nunca terem medido esforços para a realização dos meus

sonhos;

A minha irmã Larissa, pela amizade e companheirismo;

A minha avó Erica, que nunca deixou de estar presente, estimulando meus estudos;

A minha madrinha Margareth, que sempre esteve pronta a me ajudar em todos os momentos da

minha vida;

Aos meus queridos amigos e parentes, que tanto apoio me concederam nessa fase tão importante

da minha vida;

Ao meu namorado Bruno, que sempre me concedeu muita tranqüilidade, amor e carinho;

Ao professor José Silvio Wolf, por ter me orientado na realização deste trabalho;

E a todos os demais que de uma forma ou de outra contribuíram para a concretização desta

monografia.

DEDICATÓRIA

Aos que buscam a proteção dos trabalhadores, a justiça social e a paz universal.

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí , Outubro de 2007

Helen Cristiane Caldeira Graduanda

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda HELEN CRISTIANE CALDEIRA,

sob o título Direito Internacional do Trabalho, foi submetida em 31/10/2007 à

banca examinadora composta pelos seguintes professores: Silvio Noel de Oliveira

Junior (examinador), Wanderley Godoy Júnior (examinador) e José Silvio Wolf

(orientador), e aprovada com a nota 10 (dez).

Itajaí , Outubro de 2007

José Silvio Wolf Orientador e Presidente da Banca

Antonio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CDI Comissão de Direito Internacional

CIJ Corte Internacional de Justiça

CIT Conferência Internacional do Trabalho

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

FMI Fundo Monetário Internacional

OIT Organização Internacional do trabalho

OMC Organização Mundial do Comércio

ONU Organização das Nações Unidas

RIT Repartição Internacional do trabalho

SDN Sociedade Geral das Nações

ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que [o] Autor[a] considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Carta das Nações Unidas:

A Carta das Nações Unidas foi assinada em São Francisco, em 26 de junho de

1945, após o término da Conferência das Nações Unidas sobre Organização

Internacional, entrando em vigor a 24 de outubro daquele mesmo ano. Por meio

dela, foi estabelecida uma Organização Internacional que é conhecida pelo nome

de Nações Unidas. O Estatuto da Corte Internacional de Justiça faz parte

integrante da Carta.1

Convenções Internacionais do Trabalho:

Normas Jurídicas emanadas da Conferência Internacional da OIT, destinadas a

constituir regras gerais e obrigatórias para os Estados deliberantes, que as

incluem no seu ordenamento jurídico interno.2

Corte Internacional da Justiça:

A Corte Internacional da Justiça é o principal órgão judiciário das Nações Unidas.

A Carta, além de incluí-la dentre os órgãos principais da organização, acrescenta

que o seu Estatuto, baseado no Estatuto da Corte Permanente de Justiça

Internacional, faz parte integrante da mesma.3

Direito do Trabalho:

Direito do Trabalho, ou Direito Laboral, é o conjunto de normas jurídicas que

regem as relações entre empregados e empregadores, e os direitos resultantes

da condição jurídica dos trabalhadores. Estas normas, no Brasil, estão regidas

1 ONU. Organização das Nações Unidas. Brasil. Disponível em: <http://www.onu-brasil.org.br/documentos_carta.php> Acesso em: 07 de outubro de 2007. 2 NASCIMENTO. Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 22 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 294. 3 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de Direito Internacional Público. 15 ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 225.

pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), Constituição Federal e várias Leis

Esparsas (como a lei que define o trabalho do estagiário, dentre outras).4

Direito Internacional do Trabalho:

A expressão “Direito Internacional do Trabalho” (DIT) vem sendo empregada cada

vez mais, para identificar o capítulo do Direito Internacional Público que trata da

proteção do trabalhador, seja como parte de um contrato de trabalho, seja como

ser humano.5

Direitos Fundamentais:

Direitos Fundamentais são aqueles considerados indispensáveis à pessoa

humana, necessários para assegurar a todos uma existência digna, livre e igual.

Os Direitos Fundamentais são os direitos que determinado Estado positiva em

sua constituição como Fundamentais. São direitos inerentes a existência

humana.6

Direito Internacional:

Direito Internacional é o ramo do Direito originado dos atos dos Estados para a

produção de novas regras de relacionamento entre os próprios Estados, sendo

lhe atribuídos obrigações e direitos.7

Estado:

Estado é uma instituição organizada políticamente, socialmente e juridicamente,

ocupando um território definido, normalmente onde a lei máxima é uma

Constituição escrita, e dirigida por um governo que possui soberania reconhecida

tanto interna como externamente. Um Estado soberano é sintetizado pela máxima

"Um governo, um povo, um território". O Estado é responsável pela organização e

4 Wikipédia- A enciclopédia livre. Brasil. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Direito_do_trabalho> Acesso em 13 de outubro de 2007. 5 SUSSEKIND. Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. 3 ed. São Paulo: LTr, 2000. p. 17. 6 Wikipédia- A enciclopédia livre. Brasil. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Direitos_Fundamentais> Acesso em: 08 de outubro de 2007. 7 KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Tradução e revisão J. Cretella Jr.; Agnes Cretella. 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 141-142.

pelo controle social, pois detém o monopólio legítimo do uso da força (coerção,

especialmente a legal).8

Organização das Nações Unidas:

A Organização das Nações Unidas (ONU) é uma união de países criada para

promover a paz mundial, a segurança e a colaboração internacional. A ONU foi

fundada em 1945, após a Segunda Guerra Mundial, e atualmente está

empenhada em missões de paz, em programas econômicos, sociais e

educacionais e em muitas outras atividades pelo mundo.9

Organização Internacional do Trabalho:

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) é uma agência multilateral ligada à

Organização das Nações Unidas (ONU), especializada nas questões do trabalho.

Tem representação paritária de governos dos 180 Estados-Membros e de

organizações de empregadores e de trabalhadores.10

Ratificação:

Ratificação é o ato formal de um Estado-membro da OIT pelo qual decide adotar

uma convenção internacional incorporando-a ao seu direito interno.11

Repartição Internacional do Trabalho:

A Repartição Internacional do Trabalho é a secretaria da OIT, dedicando-se a

documentar e divulgar suas atividades, publicando as convenções e

recomendações adotadas, editando a Revista Internacional do Trabalho e a Série

Legislativa, de maneira a expor as leis trabalhistas dos países-membros. A

Repartição Internacional do trabalho é dirigida pelo Diretor-Geral nomeado pelo

Conselho de Administração, de quem receberá instruções.12

8 Wikipédia- A enciclopédia livre. Brasil. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Estado> Acesso em: 08 de outubro de 2007. 9 10 em tudo. Artigos. Disponível em: <http://www.10emtudo.com.br/artigos_1.asp?CodigoArtigo=63&tipo=artigo> Acesso em 13 de outubro de 2007. 10 Wikipédia- A enciclopédia livre. Brasil. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Organiza%C3%A7%C3%A3o_Internacional_do_Trabalho> Acesso em: 08 de outubro de 2007. 11 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. p. 101. 12 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 22 ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 73.

Sociedade Geral das Nações:

O proponente de uma organização das nações, com uns primeiros resultados,

aconteceu primeiramente, em 1918, por iniciativa de Woodrow Wilson (1858-

1924), Presidente dos Estados Unidos da América (1913-1921), e que a

denominou então “Sociedade Geral das Nações".13

Trade Unions:

Foi em 1824, que o parlamento inglês – Câmara dos Comuns – votou uma lei

reconhecendo o direito de associação que até então era restrito às classes

dominantes. Conquistado o direito de livre associação, vem à luz as uniões

operárias. Considerados os primeiros sindicatos, ou trade-unions, como as

chamam os ingleses, logo se desenvolveram por toda a Inglaterra, em todos os

ramos de produção, e com tempo tornaram-se bastante poderosas.14

Tratado de Versailles:

O Tratado de Versalhes (1919) foi um tratado de paz assinado pelas potências

européias que encerrou oficialmente a Primeira Guerra Mundial. Após seis meses

de negociações, em Paris, o tratado foi assinado como uma continuação do

armistício de Novembro de 1918, em Compiègne, que tinha posto um fim aos

confrontos.15

Tratados Internacionais:

Os tratados internacionais são normas jurídicas trabalhistas resultantes das

negociações entre Estados, destinadas a resolver ou prevenir situações ou

estabelecer regras sobre condições de trabalho reciprocamente respeitadas.16

13 Enciclopédia Simpózio. Versão em Português do original em Esperanto. Copyright 1997 Evaldo Pauli. <http://www.simpozio.ufsc.br/Port/1-enc/y-mega/megaetica/fil-politica/6417y487.html> Acesso em: 12 de outubro de 2007. 14 PSTU. Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado. Brasil. Disponível em: <http://www.pstu.org.br/teoria_materia.asp?id=4796&ida=0> Acesso em 12 de outubro de 2007. 15 Wikipédia- A enciclopédia livres. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Versalhes> Acesso em 10 de outubro de 2007. 16 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. p. 294

SUMÁRIO

RESUMO ......................................................................................... XIII

INTRODUÇÃO ................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 ...................................................................................... 4

A INTERNACIONALIZAÇÃO DA LEGISLAÇÃO SOCIAL TRABALHISTA .................................................................................. 4 1.1 AS REFORMAS SOCIAIS ................................................................................ 4 1.1.1 A REVOLUÇÃO FRANCESA .................................................................................. 4 1.1.2 A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL ................................................................................ 5 1.1.3 OWEN E SUA PREGAÇÃO .................................................................................... 8 1.1.4 AS TRADE UNIONS ............................................................................................. 9 1.1.5 SINDICALISMO ................................................................................................. 10 1.2 AS NORMAS DE PROTEÇÃO AO TRABALHO ............................................ 11 1.2.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES ...................................................................... 11 1.2.2 A CONFERÊNCIA DE BERLIM ............................................................................. 14 1.2.3 A ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL PARA A PROTEÇÃO LEGAL DOS TRABALHADORES

.............................................................................................................................. 16 1.2.4 AS CONFERÊNCIA DE BERNA ............................................................................ 19 1.2.5 A AÇÃO SINDICAL ............................................................................................ 21

CAPÍTULO 2 .................................................................................... 24

OS TRATADOS E AS CONVENÇÕES ............................................ 24 2.1 OS TRATADOS .............................................................................................. 24 2.1.1 CONCEITO E MODALIDADES .............................................................................. 24 2.1.2 CLASSIFICAÇÃO E NATUREZA JURÍDICA ............................................................. 26 2.1.3 O PRINCÍPIO DA SUPERIORIDADE HIERÁRQUICA ................................................. 29 2.1.4 O PRINCIPIO DA NORMA MAIS FAVORÁVEL ......................................................... 30 2.1.5 O TRATADO NO DIREITO BRASILEIRO ................................................................ 31 2.1.6 O TRATADO DE VERSAILLES ............................................................................. 32 2.2 AS CONVENÇÕES ......................................................................................... 34 2.2.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES ...................................................................... 34 2.2.2 AS NORMAS INTERNACIONAIS DO TRABALHO ..................................................... 35 2.2.3 A NATUREZA JURÍDICA DAS CONVENÇÕES ......................................................... 37 2.2.4 OS TIPOS DE CONVENÇÕES .............................................................................. 39 2.2.5 A VIGÊNCIA INTERNACIONAL DA CONVENÇÃO..................................................... 41

CAPÍTULO 3 .................................................................................... 44

A ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO-OIT ........... 44 3.1 A CRIAÇÃO DA OIT .............................................................................................. 44

3.2 A NATUREZA JURÍDICA DA OIT ............................................................................. 46 3.3 FINALIDADE E COMPETÊNCIA .............................................................................. 49 3.4 OS ESTADOS-MEMBROS ...................................................................................... 52 3.5 A ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DE SEUS ÓRGÃOS .................................................. 54 3.6 A INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS PELOS TRIBUNAIS .............................................. 57 3.7 CONTROLE DA APLICAÇÃO DAS NORMAS DA OIT ................................................... 60 3.8 A ORDEM ECONÔMICA INTERNACIONAL ................................................................ 63

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 66

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 69

ANEXOS........................................................................................... 72

RESUMO

A presente monografia de conclusão de curso tem, como

objetos principais de pesquisa, o Direito Internacional do Trabalho e aspectos

destacados sobre a Organização Internacional do trabalho. Apresenta a parte

histórica do Direto Internacional do trabalho e o surgimento da Organização

Internacional do Trabalho. É alvo de análise, também, o surgimento e a

internacionalização das normas trabalhistas; originadas das Reformas Sociais,

que se fizeram de grande importância para da formação da legislação trabalhista,

principalmente em âmbito internacional. Com a utilização do método indutivo,

grande destaque se deu aos Tratados e as Convenções; demonstrando seus

objetivos, e características; bem como sua importância para o surgimento e

formação da Organização Internacional do Trabalho. Por fim, objetivou-se

demonstrar os aspectos principais da Organização Internacional do Trabalho,

bem como sua importância para os empregadores, empregados e governantes.

INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto o Direito

Internacional do Trabalho, principalmente os aspectos destacados sobre a

Organização Internacional do Trabalho - OIT.

O seu objetivo é: a) institucional, produzir uma Monografia

para obtenção do grau de bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí

– UNIVALI; b) geral, analisar o Direito Internacional do Trabalho e os principais

aspectos da Organização Internacional do Trabalho – OIT; c) específicos,

identificar a importância da Organização Internacional do Trabalho – OIT, bem

como demonstrar as características do Direito Internacional do Trabalho,

pesquisando a sua parte histórica até os dias atuais.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando do

surgimento do Direito Internacional do Trabalho, assim como sua evolução

histórica. Destaca-se, nesse ínterim, a internacionalização da legislação

trabalhista, bem como o acontecimento das reformas sociais e o surgimento das

normas de proteção ao trabalhador.

No Capítulo 2, trata-se dos Tratados; a sua essência,

característica e natureza jurídica, bem como é a recepção desses tratados pelo

Brasil. Analisa-se também as Convenções; examinando os seus objetivos, a

importância, a natureza jurídica e suas características. Ficando evidenciado a

importância destes para o surgimento e a formação da Organização Internacional

do Trabalho – OIT.

No Capítulo 3, será demonstrado os principais aspectos da

Organização Internacional do Trabalho – OIT. Analisando seus principais

princípios e pressupostos como: surgimento, natureza jurídica, finalidade,

competência, Estados-membros e, finalizando, sua importância e participação na

ordem econômica internacional.

2

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre o Direito Internacional do Trabalho, e os aspectos destacados sobre a

Organização Internacional do Trabalho.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

� Sendo a finalidade da Organização Internacional do trabalho a justiça social, bem como o progresso material, espiritual do ser humano, dando a ele condições de igualdade, dignidade, liberdade e segurança econômica, a OIT tem conseguido seus objetivos em relação a essas questões tratadas?

� A Organização Internacional do Trabalho possibilita melhores

condições de vida aos trabalhadores e proporciona um avanço social e econômico no Brasil?

Quanto à Metodologia17 empregada, registra-se que, na

Fase de Investigação e do Relatório de Resultados, foi utilizado o Método

Indutivo18, acionadas as Técnicas do Referente19, da Categoria20, do Conceito

Operacional21 e da Pesquisa Bibliográfica.

17 “Na categoria metodologia estão implícitas duas categorias diferentes entre si: Método e Técnica”. In: PASOLD, César Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica- Idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito. 9 ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2005. p. 103. (destaque no original) 18 O referido método se consubstancia em “pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral”. In: PASOLD, César Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica- Idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, 2005. p. 62. 19 “REFERENTE é a explicitação prévia do (s) motivo (s), dos objetivo (s) e produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” In: PASOLD, César Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica- Idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, 2005. p. 31. 20 Categoria é “a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia” In: PASOLD, César Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica- Idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, 2005. p. 31. 21 Conceito Operacioanal (=Cop) é uma definição para uma palavra e expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos”. In: PASOLD, César Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica- Idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, 2005. p. 56.

3

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa

Bibliográfica.

CAPÍTULO 1

A INTERNACIONALIZAÇÃO DA LEGISLAÇÃO SOCIAL TRABALHISTA

1.1 AS REFORMAS SOCIAIS

1.1.1 A REVOLUÇÃO FRANCESA

A Revolução Francesa ocorrida em 1789, a qual deu

fundamento ao lema Laissez faire, laissez passer, possuía uma filosofia liberal-

individualista que partia do princípio de igualdade jurídica e política de todos os

cidadãos. Sendo assim, o liberalismo sustentava-se na idéia de que todos são

iguais perante a lei, consagrando entre suas exigências fundamentais a liberdade

contratual e, consequentemente, a limitação do poder do Estado nas relações

contratuais.22

Outra das exigências do liberalismo foi proibir alianças entre

pessoas em corporações de direito ou de fato, a fim de evitar a pressão de grupos

sobre a liberdade individual; idéia adotada também pelos países europeus e os

Estados Unidos da América.23

MARTINS24, na sua obra “Direito do Trabalho, explica que

Em 1791, logo após a Revolução Francesa, houve na França o início de liberdade contratual. O Decreto d’Allarde suprimiu de vez as corporações de ofício, permitindo a liberdade de trabalho. A lei de Chapelier, de 1791, proibia o restabelecimento das corporações de ofício, o agrupamento de profissionais e as coalizões, eliminando as corporações de cidadãos.

22 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 81. 23 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 81. 24 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho, p. 05.

5

O liberalismo tem como principal pressuposto uma

sociedade política adquirida pela força da vontade dos homens vivendo em

liberdade e igualdade, sendo que o Estado interfere o mínimo possível, só agindo

no âmbito de assegurar a liberdade civil e política e também os direitos naturais.

Sendo assim, assevera com maestria NASCIMENTO25:

A concepção fundamental do liberalismo é a de uma sociedade política instituída pelo consentimento dos homens que viviam em estado de natureza e na qual cada um, sob a direção da vontade geral, vive em liberdade e igualdade e com garantia da propriedade de tudo o que possui. O governo é simples intermediário entre o povo e a vontade geral, à qual lhe cabe dar cumprimento, com um mínimo de interferência e com o máximo de empenho no sentido de assegurar a liberdade civil e política, bem como os direitos naturais, porque estes preexistem ao Estado e não se sujeitam a restrições.

Por fim, observa-se a grande importância da Revolução

Francesa, pois com sua inspiração individualista e liberal, conseguiu ultrapassar o

Direito público interno e reascendeu a importância do direito internacional.

Concentrou-se num ideal de paz, visão racionalista, igualitária da justiça, renegou

a escravatura.26

1.1.2 A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

A Revolução industrial aconteceu ao longo do século XVIII,

episódio que foi ponto de partida para uma série de acontecimentos que, nos

anos seguintes, provocaram mudanças profundas e dramáticas em todo o mundo.

Ocorreu o progresso do maquinismo juntamente com o desenvolvimento da

concentração, e a eletricidade com o vapor foi também utilizada como fonte de

energia. Nesse âmbito ensina SUSSEKIND27:

25 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho, p. 23. 26 BOSON, Gerson de Britto Melo. Constitucionalização do Direito Internacional. Belo Horizonte: Del Rey, 1996. p.118. 27 SÜSSEKIND, Arnaldo, VIANNA, Segadas. Instituições de Direito do Trabalho, p. 32.

6

A invenção da máquina e sua aplicação à indústria iriam provocar a revolução nos métodos de trabalho e, consequentemente, nas relações entre patrões e trabalhadores; primeiramente a máquina de fiar, o método de pudlagem (que permitiu preparar o ferro de modo a transformá-lo em aço), o tear mecânico, a máquina a vapor multiplicando a força de trabalho, tudo isso iria importar na redução de mão-de-obra porque, mesmo com o aparecimento das grandes oficinas e fábricas, para obter determinado resultado na produção não era necessário tão grande número de operários.

A utilização da máquina a vapor substituiu braços humanos,

desequilibrando a oferta e a procura de trabalho; a demência se acentuou ainda

mais pelo fato de que cada vez um maior número de mulheres e crianças

passaram a procurar emprego, no intuito de melhorar a renda familiar, e a aceitar

salários inferiores aos dos homens, ocorrendo uma modificação nas condições de

emprego e mão-de-obra.

A respeito do maquinismo, NASCIMENTO28 assim

esclarece:

(...) De outro lado, o maquinismo modificava as condições de emprego da mão-de-obra. Suas possibilidades técnicas davam ao empresário, não muito exigente quanto a qualidade dos assalariados, possibilidades de interromper essa aprendizagem, substituindo o trabalhador especializado por uma mão-de-obra não-qualificada e o trabalho dos adultos pelo das mulheres e menores.

Com o maquinismo, como o próprio nome diz, ocorreu a

substituição do trabalho manual pelo trabalho com uso de máquinas, gerando um

caos, uma série de desempregados na época, e revolta entre os operários. Os

ludistas, que eram também conhecidos como quebradores de máquinas, invadiam

fábricas e destruíam seus equipamentos numa forma de protesto e revolta com

relação à vida dos empregados, pois eles acreditavam que as máquinas eram as

grandes causadoras da crise do trabalho.29

28 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho, p. 11. 29 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho, p. 05-06.

7

Nesse condão, pode-se verificar que após esta realidade

ocorreu o surgimento do proletariado, os indivíduos possuíam dificuldades no

trabalho, no desenvolvimento, falta de oportunidades, o que resultava em

condições financeiras deploráveis; havendo ainda o fato de o trabalho de crianças

e mulheres serem bastante utilizados.

Quanto às condições de trabalho, NASCIMENTO30

considera que:

A imposição de condições de trabalho pelo empregador, a exigência de excessivas jornadas de trabalho, a exploração das mulheres e menores, que constituíam mão-de-obra mais barata, os acidentes ocorridos com os trabalhadores no desempenho das suas atividades e a insegurança quanto ao futuro e aos momentos nos quais fisicamente não tivessem condições de trabalhar foram as constantes da nova era do meio proletário, às quais podem-se acrescentar também os baixos salários.

Em contrapartida, ocorreu o aperfeiçoamento dos meios de

transporte, que veio a facilitar a conquista de novos mercados, e resultou no

fortalecimento das empresas, o que levou inúmeros empregadores, que

acabavam se valendo da liberdade contratual, a forçar os trabalhadores à

aceitação das mais péssimas condições de trabalho existentes.31

Certamente o Estado passou a deixar de ser abstencionista,

tornando-se intervencionista nas relações de trabalho por causa do grande abuso

que ocorria por parte dos empregadores com relação aos seus empregados.

A liberdade jurídico-política possibilitou os movimentos de

intelectuais e de trabalhadores contra esse quadro de miséria humana, mesmo

sendo eles proibidos pelos opressores. Os operários se uniram para lutar pela

conquista de direitos que lhe fossem assegurados, com limitação da autonomia

da vontade, nos contratos de trabalho. Como esclarece MARTINS32:

30 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho, p. 15. 31 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho, p. 83. 32 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho, p. 06.

8

Passa, portanto, a haver um intervencionismo do Estado, principalmente para realizar o bem estar social e melhorar as condições de trabalho. O trabalhador passa a ser protegido jurídica e economicamente... A lei passa a estabelecer normas mínimas sobre condições de trabalho, que devem ser respeitadas pelo empregador.

Com efeito, pôde-se observar que a liberdade juntamente

com as máquinas não libertaram o trabalhador, nem ao menos conseguiram lhes

assegurar igualdade, muito pelo contrário, acabaram por permitir que os mais

fortes logo se tornassem opressores.33

1.1.3 OWEN E SUA PREGAÇÃO

Robert Owen, nascido no país de Gales, foi um empresário

que teve a excelência de defender amplas reformas sociais e aplicar algumas das

suas inovadoras idéias na sua fábrica de tecidos, que se situava na aldeia New

Lamark. Robert Owen foi um dos precursores da idéia de legislação internacional

do trabalho. No entendimento de MORAES FILHO e MORAES, Owen, “em 1816

sentiu a necessidade de se internacionalizarem as medidas de proteção ao

trabalhador, ainda em seu nascedouro, sem o que tudo seria inútil, senão

impossível”.36

Owen foi o pioneiro das cooperativas e da legislação do

trabalho, ele não conseguiu apoio da intelectualidade inglesa, apesar da pregação

que fez como membro da Sociedade Literária e Filosófica de Manchester, nem

dos governantes europeus e dos Estados Unidos da América, a quem dirigiu

memoriais em prol da classe trabalhadora.37

Como salienta SÜSSEKIND,38 “em 1820, em virtude da

falência, ele passou a dedicar-se à criação de colônias de trabalho coletivo, nas

quais procurava elevar o nível físico, cultural e material do operariado”. A colônia

33 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 83 36 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 83. 37 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 84. 38 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 84.

9

que se tornou mais conhecida foi fundada em 1825, nos Estados Unidos, e se

chamava New Harmony, a qual se constituiu no primeiro centro de Justiça Social

do novo mundo.

Owen implantou dois fatos que se tornaram importantes para

o surgimento da legislação de proteção ao trabalho e da internacionalização das

normas: Primus e Secundum.

1.1.4 AS TRADE UNIONS

Primus marcaria o surgimento das trade unions inglesas e

das batalhas que enfrentavam para obter leis imperativas de proteção ao trabalho,

levando o Parlamento Britânico, em 1824, a tolerar o sindicalismo e revogar

proibições definidas nas leis de 1799 e 1800, mesmo sem atribuir esses fatos às

trade unions. Nesse momento, então, as trade unions passaram a se desenvolver

e aumentar a luta pela conquista de direitos, utilizando-se, algumas vezes, de

forma violenta.40

Em 1833, ainda sob a inspiração de Owen, fundou-se a

União Nacional Consolidada, confederação que uniu em média meio milhão de

associados em um movimento chamado de “cartismo”, visando a conquistar a

“Carta Constitucional do Trabalho”. Foi realizada uma série de greves.

No ano de 1847, foi entregue ao Parlamento inglês uma

petição contendo dois milhões de assinaturas, e pesando 300 quilos, na qual as

trade unions reivindicavam pela lei das oito horas de trabalho, sendo então

aprovada a primeira lei limitadora da jornada de trabalho, fixada em dez horas. O

sindicalismo, iniciado então na Inglaterra, passou a abranger a França, Itália,

Alemanha, Estados Unidos e os demais países industrializados.41

Em 1848, na França, foi sancionada a lei que limitava a

jornada de trabalho para dez horas, na cidade de Paris, e nas demais províncias

40 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 84. 41 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 84.

10

para onze horas, sendo então quebrado o tabu de o Estado não intervir nas

relações de trabalho.

Quanto à jornada de trabalho, MARTINS42 esclarece que:

Houve movimentos reivindicatórios visando à diminuição da jornada de trabalho, principalmente da instituição da jornada de oito horas. (...) Na Inglaterra, em 1847, foi fixada a jornada de 10 horas. Na França, em 1848, foi estabelecida a jornada de trabalho de 10 horas; em Paris, 11 horas. Em 1868, nos Estados Unidos, a jornada foi determinada em oito horas no serviço público federal.

Por isso, no ano de 1871, sob a chefia de Disraeli, o

Governo inglês regulamentou o direito de sindicalização.Coube à França, então,

treze anos depois, seguir esse modelo e aprovar as leis de associações

profissionais.

1.1.5 SINDICALISMO

Foi fundada, no ano de 1886, a American Federation of

Labor (AFL), fruto da reunião de 25 sindicatos norte-americanos. Enquanto isso,

na França, em 1895, os sindicatos franceses organizaram a Confedération

Générale du Travail (CGT). Dessa forma, as trade unions, juntamente com essas

duas centrais sindicais, realizaram uma decisiva influência para a edificação do

Direito Internacional do Trabalho.43

Secundum, o outro fato importante da legislação de proteção

ao trabalho, visaria à proposta feita por Owen no ano de 1818, ao Congresso de

Aix-la-Chapelle, onde convidava os Governos da Europa a estabelecer um limite

legal internacional da jornada de trabalho.

Quanto a essa questão, NASCIMENTO44 expõe:

42 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho, p. 476. 43 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 85. 44 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho, p. 89.

11

(...) devido aos escritos que dirigiu em 1818 aos soberanos dos Estados da Santa Aliança, reunidos em Aix-la-Chapelle, para que tomassem medidas destinadas a melhorar a sorte dos trabalhadores, preconizando uma ação internacional, interessado em difundir as experiências que praticou em sua empresa.

A Secundum foi a primeira manifestação a qual se conhece

em âmbito de estabelecer uma legislação internacional, e de como instituir direitos

irrenunciáveis aos trabalhadores, além de querer equilibrar o ônus da proteção

social entre os países industrializados e concorrentes no comércio mundial. Essa

proposta infelizmente não foi recebida pelas potências da Santa Aliança, mas ao

longo do tempo ganhou muitos adeptos e acabou se convertendo na realidade.45

1.2 AS NORMAS DE PROTEÇÃO AO TRABALHO

1.2.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Owen influenciou significativamente na internacionalização

das normas de proteção ao trabalho. Entende SÜSSEKIND46 “que a semente

lançada por Owen foi defendida e ampliada, a partir de 1838, pelo professor de

Economia Industrial de Sorbonne, Louis Blanqui”.

Louis Blanqui tornou conhecido diversos estudos de Owen,

os quais tinham como princípio a melhoria das condições de trabalho, através de

tratados. Ele entendia que, como se podiam celebrar tratados para ocorrer a

morte de vários homens, também se deveriam realizar tratados para preservar a

vida e torná-la ainda melhor. Neste sentido, preleciona SUSSEKIND e VIANNA47:

A tese da internacionalização das leis sociais, de Louis Blanqui, na França, o qual, em 1838, concluiu um dos seus estudos perguntando: “Celebram-se entre países tratados para matança

45 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 85. 46 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 85. 47 SUSSEKIND, Arnaldo; VIANNA, Segadas; MARANHÃO, Délio;. Instituições do direito do trabalho. 20 ed. Atual por Arnaldo Sussekind e João de Lima Teixeira Filho. São Paulo: LTr, 2002. p. 1.540.

12

entre homens. Por que não realizá-los hoje para preservar a vida humana e torná-la mais feliz?”

No ano de 1841, um industrial alsaciano, Daniel Legrand foi

quem desenvolveu a ação meritória e contínua, almejando à internacionalização

das normas sociais trabalhistas. Com sucesso, ele advogou a instituição de um

direito que seria internacional e protegia as classes operárias contra o trabalho

excessivo. Para tanto, ele enviou uma carta ao governo francês defendendo uma

lei internacional que limitasse o funcionamento dos motores mecânicos em 12

horas por dia. O Comitê de Trabalho de Assembléia francesa, em 1848,

pronunciou-se em prol dos acordos internacionais.48

Legrand, ainda não satisfeito por não ter ocorrido gestões

governamentais após essa declaração, enviou carta aos governos da Suíça,

Inglaterra, França e Prússia, anunciando a adoção de uma lei internacional como

única solução permissível para o grande problema social de dispensar à classe

operária os benefícios ansiados, sem que as indústrias passassem por

problemas. As cartas não atingiram as expectativas dele, mas quando foram

publicadas em 1853, criaram um movimento de opinião que se espalhou por

diversos meios.49

No ano de 1855, o Conselho Federal da Suíça pediu uma

reunião com os principais países europeus para que regulamentassem através de

convenções as questões operárias de forma única, mas não obtiveram êxito. No

entanto, no ano seguinte em Bruxelas, no Congresso Internacional de

Beneficência, foi aprovada a proposta de Hahn, respondendo então positivamente

à afirmação de Legrand. Em 1857, em Frankfurt, o mesmo Congresso aprovou

por unanimidade as propostas que fossem adotadas por acordos internacionais,

bem como as medidas tendentes a regular o trabalho industrial.50

A Assembléia Internacional dos Trabalhadores, a qual ficou

mais conhecida como “A Primeira Internacional”, foi criada em Londres com a

declaração de Marx e Engels, em 1864, a qual adotava uma resolução que 48 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 86. 49 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 86. 50 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 86.

13

pleiteava uma legislação social internacional e defendia a união do proletariado,

no intuito de obter para si o poder político, a quem, mediante a socialização do

Estado, deveria entregar-se o poder econômico.51

Após dois anos, no Congresso de Genebra, foi reivindicada

a limitação internacional das horas de trabalho. As Trade Unions, embora

afastadas da tese Marxista, passaram a se interessar com mais entusiasmo pela

internacionalização das normas de proteção ao trabalho, sem abrir mão da tese

da ação direta que existia entre empregadores e trabalhadores.52

No ano de 1884, no Congresso Internacional Operário, em

Roubaix, foi solicitada a interdição do trabalho ao menor de 14 anos, a proibição,

com algumas exceções, do trabalho nocivo à saúde, a fixação do salário mínimo e

a determinação da jornada em oito horas de trabalho.53

O Congresso Socialista, realizado em Paris, ampliou e

reafirmou as reivindicações do Congresso realizado em Roubaix, incluindo então

a inspeção internacional do trabalho, com as respectivas sanções e o repouso

semanal.54

Vários deputados franceses, em 1885, tendo à frente

Camelinat, apresentaram à Assembléia um projeto que propunha a instituição de

uma repartição internacional de trabalho de controle juntamente com estatística,

tendo como responsabilidade estudar e sugerir os meios de estender e codificar a

legislação trabalhista. No entanto, este projeto nem chegou a ser discutido devido

à posição do país em face da iniciativa suíça, que regulamentava

internacionalmente as questões sociais do trabalho. Acontece que ocorreu no

mesmo ano a aprovação do requerimento de Mun, pela Assembléia, sendo então

o governo francês convidado a preparar a adoção de uma legislação internacional

que fosse capaz de permitir que cada Estado protegesse os operários, as

51 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 87. 52 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 87. 53 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 87. 54 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 88.

14

mulheres e as crianças contra os excessos do trabalho, sem oferecer perigo à

indústria nacional.55

1.2.2 A CONFERÊNCIA DE BERLIM

A expansão da doutrina socialista e a vitória da Alemanha,

na guerra de 1870/71, levaram o Chanceler Bismark a criar o primeiro sistema de

seguros sociais. Na Alemanha já vigoravam algumas leis de proteção ao trabalho,

como a proibição de trabalho para menores de 12 anos, jornada de seis horas

para operários menores de 14 anos, proteção ao trabalho da mulher e inspeção

do trabalho a cargo das autoridades policiais. Por causa disso, os empresários e

alguns parlamentares estavam preocupados, já que o custo da mão de obra era

elevado com as contribuições compulsórias.56

O Conselho Federal da Suíça pretendeu convocar uma

reunião dos principais países da Europa, com o intuito de internacionalizar a

legislação Trabalhista que nascia, mas as respostas foram insatisfatórias.

Entretanto, depois de algum tempo, os deputados Decurtens e Favon pediram

que o Conselho retomasse com as negociações, levando os Estados

industrializados da Europa para uma conferência, que se realizaria em Berna.

Alguns países, além da Suíça, confirmaram a participação: Áustria-Hungria,

Bélgica, França, Holanda Luxemburgo e Portugal.

Como assevera SUSSEKIND57, as questões a serem

discutidas na Conferência seriam estas:

(...) a) proibição dos trabalhos aos domingos; b) idade mínima de admissão nas fábricas; c) duração máxima da jornada de trabalho para os jovens operários; d) proibição do trabalho das mulheres em atividades perigosas ou danosas à saúde; e) restrição ao trabalho das mulheres e dos menores; f) modo de executar as convenções que viessem a ser concluídas.

55 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 88. 56 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 88. 57 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 89.

15

Kaiser Guilherme II, Imperador da Alemanha na época,

valendo-se da influência do seu país, apoderou-se da iniciativa do governo Suíço

e, em 4 de fevereiro de 1890, convocou a Conferência de Berlim, marcando sua

instalação para o dia 15 de março de 1890; também se dirigiu a Bismarck,

acentuando que seu país já havia adotado o primeiro sistema de seguros sociais

obrigatórios, não podendo então melhorar as condições de trabalho dos seus

operários sem celebrar acordos internacionais que permitissem aos produtos

industrializados competir no mercado mundial.58

Logo em seguida, Kaiser determinou que Bismarck

solicitasse o apoio do Papa Leão XIII para a Conferência, o qual foi obtido de

forma explícita. Foram treze países que participaram da Conferência de Berlim,

sendo eles Alemanha, Bélgica, Áustria-Hungria, França, Dinamarca, Suécia,

Holanda, Inglaterra, Noruega, Itália, Luxemburgo e Suíça. No entanto, o jovem

imperador possuía mais outros dois objetivos: melhorar a posição da indústria

alemã no comércio internacional e firmar sua liderança perante a Nação.59

A Conferência teve como ordem do dia o trabalho nas

minas, descanso dominical, trabalho das crianças, trabalho dos jovens, trabalho

das mulheres e execução e vigilância das resoluções que fossem adotadas.

Apesar de não alcançar muitos objetivos concretos, e ter faltado preparação

técnica e diplomática, a reunião ainda se fez de grande valia, preparando o clima

para resultados mais positivos.60

Os êxitos alcançados pela Conferência foram a assinatura

do Protocolo, que fixava em 14 anos como idade mínima de admissão nos

trabalhos das minas (exceto países meridionais, sendo a idade mínima de 12

anos), inúmeras recomendações em relação à proibição do trabalho das mulheres

nas minas e em horário noturno, a concessão de um período de descanso por

motivo de parto, a redução da jornada de trabalho nas minas, a proibição de

menores de 12 anos nos estabelecimentos industriais (exceto os países

58 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 89. 59 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 89-90. 60 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 90.

16

meridionais, sendo a idade mínima de 10 anos), à organização de sociedades de

socorro mútuo e arbitragem nos conflitos de trabalho.61

Ainda teve como medida a norma de que os relatórios

elaborados por funcionários nomeados pelos governos deveriam ser entregues

aos demais Governos, sendo acompanhados de dados estatísticos e dos textos

das medidas adotadas por via legislativa ou administrativa, referentes às

deliberações tratadas na Conferência.62

Os resultados práticos não corresponderam às expectativas,

seja devido ao imperador ter perdido seu entusiasmo, por ter conseguido

importante maioria no Reicstage pela fama conquistada rapidamente na Europa,

ou devido os demais Governos terem se mantido na expectativa, hesitando em

aderir às medidas legislativas pertinentes.63

Entretanto a Conferência de Berlim resultou em um marco

no Direito Internacional do Trabalho, conseguindo acumular um excelente material

para a preparação da legislação internacional do futuro.64

1.2.3 A ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL PARA A PROTEÇÃO LEGAL DOS

TRABALHADORES

O Governo da Suíça, no ano de 1896, fez uma consultoria

com diversos países da Europa, para a concordância da realização de uma

repartição internacional que se encarregaria das tarefas estatísticas, além de ser

também um centro de informações sobre questões trabalhistas.65

As respostas não foram alentadoras, mesmo sendo os

processos verificados nas assembléias parlamentares e nos meios

governamentais, conforme a idéia de uma regulamentação internacional. Tanto é

61 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 90. 62 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 90. 63 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 90-91. 64 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 91. 65 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 91.

17

que a Federação dos Trabalhadores Suíços realizou, no ano seguinte, em

Zurique, um Congresso reunindo representantes de organizações de

trabalhadores socialistas e cristão-sociais, sendo apelado ao Governo suíço o

reinício das gestões diplomáticas, as quais teriam como objetivo a elaboração de

uma legislação internacional para a proteção operária, e a aprovação da

resolução que determinava a criação de uma Repartição Internacional de

Proteção Operária. Mas as consultas renovadas pelo Governo Suíço não

obtiveram êxito.66

Os ilustres juristas, economistas e administradores Manhaim

e Brentano organizaram o Congresso Internacional de Legislação do Trabalho, no

ano de 1897, em Bruxelas, onde foram examinados principalmente os

procedimentos para internacionalizar uma legislação do trabalho. Foi constituída

uma comissão para preparar a criação de uma associação internacional dos

partidários da legislação do trabalho, para dar seguimento à idéia; no entanto a

queda do Gabinete Belga, que prestigiava essa iniciativa, paralisou a execução da

tarefa.67

O Congresso de Bruxelas foi, sem nenhuma dúvida, a

gênese da Associação Internacional para a Proteção Legal dos Trabalhadores.

Sua notável atividade resultou em grande importância para a expansão e

internacionalização das leis social-trabalhistas.68

Durante a Exposição internacional de Paris, que ocorreu em

julho do ano de 1900, foi realizado um novo Congresso Internacional de

Legislação de Trabalho, reunindo altos funcionários, homens de Estado,

professores, parlamentares, sociólogos, economistas e inspetores do trabalho. O

Congresso teve como ordem do dia a limitação da jornada legal de trabalho, a

proibição do trabalho noturno, a inspeção do trabalho e a união internacional para

a proteção legal dos trabalhadores; sendo aprovada por unanimidade a criação da

“Associação Internacional para a Proteção Legal dos Trabalhadores”, com sede

66 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 91. 67 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 91. 68 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 91.

18

inaugurada na cidade de Basiléia, em 1º de maio de 1900, recebendo a

subvenção anual do Governo da Suíça.69

A associação cumpria os pressupostos elencados no art. 2º

de seus Estatutos, o de servir de união entre pessoas de países diferentes, que

consideravam necessária a legislação protetora dos trabalhadores; de organizar

uma oficina internacional do Trabalho; favorecer o estudo das legislações

protetoras dos trabalhadores; facilitar o estudo dos membros da Associação com

informações sobre a legislação em vigor e sua aplicação nos diferentes Estados e

provocar reuniões de congressos internacionais de legislação do trabalho.70

Quando eclodiu a primeira guerra mundial, a Associação já

havia realizado oito reuniões e já possuía quinze Seções Nacionais, tendo

decisiva ação na elaboração do primeiro tratado bilateral de Trabalho, concluído

em 15 de abril de 1909, entre a Itália e a França, o que pôde abrir caminhos para

outros. Ademais, realizou estudos sobre a proibição do trabalho noturno da

mulher na indústria, bem como sobre a utilização do fósforo branco na indústria,

servindo de base para as primeiras convenções internacionais do trabalho que

foram firmadas na Conferência de Berna.71

O êxito da Associação foi principalmente devido a seu

método de trabalho, que escolhia matéria limitada que não tivesse natureza

suscetível de apresentar grande oposição, além de estudar cuidadosamente as

questões pelas seções nacionais, nunca dirigido aos Governos.72

Neste âmbito, notou-se que a legislação internacional do

trabalho saiu da utopia, vigorando na via das razões práticas, fortalecendo o

Direito Internacional do Trabalho, através da divulgação e investigação das

principais questões trabalhistas, com penetração das suas idéias entre cultores de

direitos e autoridades públicas; assumindo todo o papel de uma Organização

Internacional do Trabalho, produzindo resultados notáveis e compreendendo, por

exemplo, a necessidade de um trabalho preparatório sólido antes de uma

69 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 92. 70 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 92. 71 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 93. 72 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 93.

19

conferência internacional. Em virtude das ações da Associação Internacional para

a Proteção Legal dos Trabalhadores, foram inúmeras leis, relacionadas com os

direitos sociais dos trabalhadores, que foram sancionadas em diversos Estados.73

1.2.4 AS CONFERÊNCIAS DE BERNA

As primeiras convenções internacionais do trabalho, que

revelavam medidas concretas no campo do Direito Internacional em conferência

convocada pelo governo, seriam adotadas na Suíça.74

Em Berna, no mês de maio de 1905, devido à solicitação da

Associação Internacional para a Proteção Legal dos Trabalhadores, o governo da

Suíça convocou 15 países para uma conferência que tinha por finalidade

examinar os procedimentos para a proibição do trabalho noturno da mulher na

indústria, bem como o uso do fósforo branco na fabricação de ceras e fósforos.

Participaram da Conferência especialistas oficialmente designados pelos

respectivos governos, sendo aprovadas as resoluções sobre as duas questões, e

determinado um protocolo no sentido de ser convocada uma nova conferência

para deliberar definitivamente esses dois pontos.75

Na data de 09 de Julho de 1906, foi realizada outra

Conferência de Berna, que foi reunida em escala diplomática e também

convocada pelo governo suíço. Nessa conferência de Berna foram aprovadas

duas convenções internacionais.

Uma dessas convenções determinava a proibição do

trabalho noturno paras as mulheres na indústria, tendo também o Estado

obrigação de comunicar aos demais as leis e os regulamentos postos em vigor,

apresentando relatórios referentes à aplicação das normas adotadas. As

ratificações deveriam ser depositadas até dia 31 de Dezembro de 1908, no

Conselho Federal da Suíça, e deveria ser facultada a adesão por parte dos países

73 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 93-94. 74 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 94. 75 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 94.

20

não signatários da Convenção. Agora a renúncia ao instrumento somente poderia

verificar-se após 12 anos da respectiva ratificação.76

A outra convenção falava sobre o emprego de fósforo

branco na indústria de ceras e fósforos, com disposições complementares e

análogas da primeira convenção, a qual não foi aprovada por unanimidade como

a primeira, sendo adotada somente pela Alemanha, a Dinamarca, a França, a

Holanda, a Itália, Suíça e Luxemburgo.77

Quanto à Convenção de Berna e suas duas convenções,

NASCIMENTO78 preleciona:

(...) quinze Estados participaram da Conferência de Berna, convocada para maio de 1905, seguida de conferência diplomática em setembro de 1906, com a presença de diversas nações, resultando em duas convenções, uma sobre a proteção dos trabalhadores nas atividades em contato com o fósforo branco e a segunda sobre a proibição do trabalho noturno das mulheres.

Sendo assim, as convenções marcaram o nascimento da

legislação internacional trabalhista, com a elaboração de tratados multilaterais e

um projeto de controle de aplicação de normas, sendo consequentemente

aprimorado pela Organização Internacional do Trabalho.79

Em setembro de 1913, foi realizada a terceira Conferência

de Berna, a qual foi convocada pelo Governo Suíço. A Conferência teve como

objetivo fixar as bases de duas novas convenções, uma defendia a proibição do

trabalho dos menores na indústria, e a outra a fixação da jornada máxima de 10

horas para o trabalho das mulheres e dos menores. As questões foram aprovadas

em primeira discussão, sendo indicada para setembro de 1914 a Conferência que

transformaria as resoluções em tratados multilaterais. No entanto, o conflito bélico

de 1914 tornou impossível que se realizasse a reunião.80

76 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 94. 77 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 95. 78 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho, p. 90. 79 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 95. 80 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 95.

21

1.2.5 A AÇÃO SINDICAL

Em setembro de 1914, mal havia começado a primeira

guerra e a organização sindical norte americana, denominada American

Federation of Labour (AFL), estreava gestões com entidades sociais, com o intuito

de que no futuro Tratado de Paz, contivesse um estatuto que atendesse as

normas trabalhistas. Sugeriam, também, que no mesmo local em que se realizaria

a Conferência da Paz, deveriam reunir-se a Conferência Internacional de

Trabalhadores. Os sindicalistas europeus, acatando a idéia da AFL, e entendendo

que nada de eficaz conseguiriam se os delegados das organizações sindicais não

colaborassem na Conferência da Paz, aceitaram a participação de tais delegados

e os colocaram ao lado dos representantes governamentais.81

Quanto à Ação Sindical, ensina SUSSEKIND82:

A ação sindical durante a guerra de 1914-1918, no sentido de que o futuro Tratado de Paz contivesse um capítulo atinente às normas de proteção ao trabalhador. Nessa campanha, iniciada pela “American Federation of Labor”, dois nomes merecem destaque: o do presidente dessa entidade, Samuel Gompers, e o do dirigente da “Confederation Génerale diu Travail” da França, Leon Jouhaux. As reuniões de Leeds (Inglaterra, 1916), Estocolmo (Suécia, 1917), Búfalo (EUA, 1917), Havre (França, 1918) e Berna (Suíça, 1919) uniram os trabalhadores do mundo civilizado em torno da reivindicação que foi, afinal, consagrada pelo Tratado de Versailles.

Na Inglaterra propriamente Leeds, em 1916, reuniram-se

Leon Jouhaux, dirigente da Confederation Generale du Travail (CGT) da França,

juntamente com os representantes da organizações sindicais inglesas, francesas,

belgas e italianas, e aprovaram a uma resolução que contribuiu ao Tratado de

Versailles e conseqüentemente à Organização Internacional do Trabalho. A

mesma resolução determinou que fosse criado um Bureau Internacional com a

81 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 95-96. 82 SÜSSEKIND, Arnaldo, VIANNA, Segadas. Instituições de Direito do Trabalho, p. 1.540.

22

finalidade de coordenar as pesquisas e estudar o desenvolvimento da legislação

trabalhista.83

Em Estocolmo, setembro de 1917, delegados operários da

Europa Central e da Escandinávia resolveram adotar o plano da conferência de

Leeds. Em Berna, no mês de outubro do mesmo ano, os sindicatos dos países

que se mantinham neutros apoiaram as reivindicações formuladas pela União

Sindical Internacional, no sentido de que o futuro Tratado de Paz, atribuir-se-ia à

“Associação Internacional para a Proteção Social dos Trabalhadores” e adotariam

a função de “Órgão de aplicação e desenvolvimento da legislação operária

internacional”.84

Na Convenção de Búfalo, também no ano de 1917, o

Conselho Executivo da AFL insistiu para que o governo dos Estados Unidos

mantivesse representantes adequados à Conferência da Paz. Então, em Zurique,

foi dado às reivindicações enumeradas o apoio dos trabalhadores católicos.85

Foram quatro anos de guerra, e neste período as questões

trabalhistas foram incluídas como preocupações dos países que estavam

guerreando. A fabricação de armas e munições foi muito importante para as

operações militares, as indústrias de paz se tornaram usinas trabalhando para a

guerra. A fundamental característica desse período foi que os trabalhadores, os

principais interessados, tomaram consciência dos problemas que ali existiam.86

A circunstância que constituiu a base para as reivindicações

em questão foi a de os trabalhadores terem participado diretamente para a vitória

das Nações Unidas, tanto nas ações internas como nos campos de batalha.

Após três meses do acordo, e também logo após a

instalação da Conferência da Paz, foi realizada em Berna, no mês de fevereiro de

1919, a Conferência Sindical Internacional; na qual participaram delegados de

países aliados e outros Estados. Ali também foi aprovada a Carta do Trabalho, na

83 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 96. 84 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 96. 85 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 96-97. 86 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 96.

23

qual foram inseridos princípios ao futuro tratado de Paz como: jornada de oito

horas diárias, repouso semanal, higiene e segurança do trabalho, dentre outros.

Em conferência foi pleiteado que fosse instituído um “Office International du

travail”87, sendo parte integrante das Nações. Essa repartição constituiria um

“parlamento internacional e interprofissional do trabalho”, com representação igual

entre os Estados e os sindicatos filiados à Federação Sindical Internacional,

atribuindo-lhe a tarefa de adotar convenções internacionais com a eficácia de leis

nacionais para os países respectivos.88

Em Paris, no mês de março de 1919, reuniram-se em um

Congresso Internacional de Sindicatos Cristãos, o qual aprovou uma revolução no

sentido de que o Tratado de Paz deveria enumerar as medidas sociais que os

Estados transformariam em leis nacionais, devendo então ser criado um “Instituto

Internacional do Trabalho”, com a tarefa de colaborar na elaboração das

legislações nacionais, e zelar pela efetiva aplicação através de uma inspeção

internacional bem organizada.89

CAPÍTULO 2

OS TRATADOS E AS CONVENÇÕES

2.1 OS TRATADOS

87 Escritório Internacional do trabalho 88 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 97-98. 89 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 98.

24

2.1.1 CONCEITO E MODALIDADES

Tratado é um acordo celebrado entre Estados, utilizado pelo

Direito Internacional Público a fim de dar conseguimento às metas dispostas,

sendo também, sem dúvida, a mais importante fonte geradora de direitos e

obrigações neste ramo da ciência jurídica.

SILVA90 explica os tratados:

A essência dos Tratados constitui-se na fonte específica de uma obrigação de Direito Internacional contraída voluntariamente por uma pessoa internacional a favor de outra ou outras e que dá origem, por sua vez, a direitos recíprocos.

A comissão de Direito Internacional Público das Nações

Unidas conclui que o uso do vocábulo tratado, no sentido genérico, para abranger

toda classe de acordos internacionais estipulados por escrito, é aceito pela

maioria dos juristas.91

Destarte, a expressão “tratado” foi considerada através da

Convenção de Viena, como abrangente de qualquer acordo que seja firmado

entre Estados.

É certo que existe uma diversidade de denominações

atribuídas aos atos internacionais; na prática podemos observar que existem

significados peculiares para cada uma delas. Com efeito, a ONU quase sempre

delimita o nome de “convenção” aos tratados multilaterais adotados por suas

assembléias ou conferência; a OIT por sua vez, sempre vai atribuir o nome de

“convenção” a esses mesmos tratados.92

Observa-se que por algumas vezes pode ser usada a

palavra “pacto” para enfatizar a relevância do tratado ou convenção, ultimamente

o estatuto das Nações Unidas tem atribuído o nome de “carta”, a OIT utiliza o

90 SILVA, Roberto Luiz. Direito Internacional Público, 2 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2002. p. 37-38. 91 Documentos Oficiales – “Conferência de lãs Naciones Unidas sobre El derecho de los tratados”, New York, 1971, págs. 8 e 9, apud SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 34. 92 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 34.

25

termo “Constituição”, já a Corte Internacional de Justiça e a Comissão

Interamericana de Direitos Humanos usa o termo “Estatuto”.93

O doutrinador MARTINS94 define protocolo como “a forma

que é feito o acordo entre os negociadores a respeito de um tratado”, mas o termo

“protocolo” pode ser atribuído em duplo sentido, tanto para registrar ata solene e

resultados de reuniões diplomáticas, durante as quais é negociado um tratado,

mas não tendo neste caso a natureza jurídica de um tratado; como também um

complemento a um outro tratado anterior, ou, ainda, para interpretar as cláusulas

deste.

Atualmente a “declaração” pode ter diferentes significados, o

de declaração, propriamente dita se expressa um ponto de vista ou uma intenção;

pode ser acordo onde se observa a intenção de produzir efeitos jurídicos

bilaterais; podendo ser também declaração interpretativa em relação a um

tratado, ou protocolo; por fim, também pode se destinar a um ato unilateral capaz

de produzir efeitos jurídicos.95

Nesse prisma, é o entendimento de MARTINS96:

As declarações internacionais são atos que indicam regras genéricas, geralmente inspiradas por critérios de justiça, de modo a servir de base a um sistema jurídico. De certa forma, seriam equiparadas a uma norma programática, que traçaria critérios gerais. Não são regras imperativas, mas apenas uma orientação geral. Não criam direitos e obrigações.

A promulgação de um tratado para ACCIOLY97, “é o ato

jurídico, de natureza interna, pelo qual o governo de um Estado afirma ou atesta a

existência de um tratado por ele celebrado e o preenchimento das formalidades

exigidas para a sua conclusão e, além disso, ordena sua execução dentro dos

limites aos quais se entende a competência estatal”.

93 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 34. 94 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho, p. 72. 95 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 35. 96 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho, p. 74. 97 ACCIOLY, Hildebrando. Tratado de direito internacional público. 2 ed. Rio de Janeiro: MRE, 1956. p.602.

26

Entretanto, ficou estabelecido que se aplicam as disposições

da Convenção de Viena aos instrumentos constitucionais de organizações

internacionais e aos tratados adotados no âmbito destas, salvo naquilo que for

ordenado por preceitos referentes a respectiva organização internacional.

Pode ser designado o tratado como um diploma jurídico que

estrutura, como também expressa uma norma de conduta já convencionada

internacionalmente, que advém das manifestações de vontade dos Estados e

Organizações Internacionais.98

2.1.2 CLASSIFICAÇÃO E NATUREZA JURÍDICA

Os sujeitos que figuram como parte, nos tratados podem ser

classificados em fechados, quando se restringem exclusivamente aos

contratantes, não permitindo a adesão de outras partes, podendo ser bilaterais ou

plurilaterais, sendo formalizado com a assinatura do texto pelos Estados que são

participantes.

Como também podem ser distinguidos em abertos, que é

aberto a adesão de outros Estados, mesmo não sendo contratantes originais,

comportando sempre mais de duas partes, sendo, portanto plurilaterais ou

multilaterais. O tratado aberto carece da aprovação da maioria de dois terços dos

Estados presentes, tendo direito a voto a pertencente conferência, a menos que

esses Estados decidam, por igual maioria, aplicar outra regra.99

Discorrendo sobre a natureza jurídica das disposições que

são inseridas nos tratados, percebe-se que existe alguma aceitação, mesmo

sendo criticado por diversos internacionalistas, como a teoria que os classifica em

tratados-leis (ou normativos) e Tratados-contratos, não existindo qualquer

referência a essa distinção na Convenção de Viena.100

98 DALLARI, Dalmo de Abreu. Constituição e Tratados Internacionais. São Paulo: Saraiva, 2003. p.17. 99 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 37. 100 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 37.

27

Os tratados podem ser classificados em tratado-contrato,

que ocorre quando duas ou mais partes, que possuem interesses diferentes,

concordam sobre bases concretas comuns.

Nesse sentido, MARTINS101 preleciona que “os tratados-

contratos regulam interesses recíprocos dos Estados convenentes, resultando de

concessões mútuas, tendo aparência de Contratos”.

Agora a chamada convenção, ou tratado normativo, ocorre

quando várias partes, sem número determinado, unem suas vontades para

interesses e fins que se assemelham.102

Destarte, definem-se os tratados-contratos como negócios

jurídicos que regulam assuntos concretos, visando conciliar interesses diversos

entre as partes contratuais, sendo fonte de direito para os contratantes.103

Com efeito, a convenção, ou tratado normativo, estabelece

as normas de condutas gerais e abstratas, unindo vontades comuns que

perseguem o mesmo fim, tendo objeto e resultados iguais para todas as partes,

as obrigando-as a idênticas prestações, podendo produzir efeitos jurídicos que

vão além do circulo de contratantes, podendo ser comparadas as leis.104

No Direito Internacional Positivo o tratado-contrato e o

tratado-normativo não possuem distinção, sendo considerados de mesmo valor.

Contratualmente “para evitar qualquer equívoco, é preferível falar-se, em vez de

tratados-leis e tratados-contratos, em tratados gerais e tratados particulares” 105.

Todavia, existem doutrinadores que não chegam a uma

conclusão sobre as características dos tratados, questionando que só poderão ser

avaliados no tocante a aplicação das regras de interpretação.106

101 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. p. 70. 102 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 37. 103 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 37. 104 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 37. 105 Priniples of international Saw, New York, 1956, pág. 36 apud SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 38. 106 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 39.

28

Por fim, SUSSEKIND107 entende que a distinção entre

tratados-contratos e tratados-leis pode ter ampla aceitação entre os doutrinadores

de Direito Internacional. Não existe na Convenção de Viena, nenhuma referência

a esta classificação e nem mesmo distinção.

Os tratados podem ainda ser classificados em executados e

executórios, os executados devem ser executados imediatamente, e a matéria

tem caráter e interesse permanente, agora os executórios prevêem uma

execução regular desde que sejam apresentadas as condições que são

necessárias para isso.109

Destarte, quanto a execução no tempo, os tratados podem

ser classificados como transitórios ou permanentes, mutalizáveis ou não-

mutalizáveis. Os transitórios perduram por determinado tempo, sendo sua

execução imediata, já os permanentes fazem previsão para a sua utilização sem

tempo delimitado podendo vir a perder a sua vigência quando existe vontade das

partes. Os tratados mutalizáveis são multilaterias cujo o descumprimento por

alguma das partes não comprometem o objetivo do mesmo, já os tratados não-

mutalizáveis que também são multilaterais, não podem ser executados somente

por alguns signatários, pois poderia comprometer o objetivo do mesmo.110

2.1.3 O PRINCÍPIO DA SUPERIORIDADE HIERÁRQUICA

Mesmo sendo combatido por alguns juristas, esse principio

vem sendo admitido pelos doutrinadores, pelos tribunais e organismos

internacionais. Tem como objetivo a solução dos conflitos entre fontes do Direito

Internacional, ademais quando uma delas tem caráter constitucional.111

107 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 39. 109 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Direitos Humanos, Constituição e os Tratados Internacionais. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002. p.41. 110 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Direitos Humanos, Constituição e os Tratados Internacionais, p.39-40. 111 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 55-56.

29

Esse princípio foi explicitamente consagrado no art. 103 da

Carta das Nações Unidas, conveniente que se transcreva este artigo para melhor

elucidação do tema em epígrafe:

Art. 103- “No caso de conflito entre as obrigações dos Membros das Nações Unidas, em Virtude da presente Carta, e as obrigações resultantes de qualquer outro acordo internacional, prevalecerão as obrigações assumidas em virtude da presente Carta.”

Desse modo, deve ser aplicado esse princípio, ainda que

pelo processo da analogia, para prevalecer sempre as normas das Constituições,

ou também Estatutos básicos de outras organizações internacionais, universais

ou regionais, como tendo relação aos tratados que são adotados no âmbito da

competência de cada uma delas. As convenções que são aprovadas pela

Conferência Internacional do Trabalho não podem ferir preceitos da Constituição

da OIT.112

Portanto, os tratados assinados sobre assunto de

competência dos organismos especializados, intergovernamentais, devem se

ajustar ao tratado constitutivo da organização, sob a pena de serem considerados

inconstitucionais.113

2.1.4 O PRINCÍPIO DA NORMA MAIS FAVORÁVEL

No Direito do Trabalho, para a solução de conflitos entre

normas internacionais, será sempre facilitada a aplicação da norma mais

favorável ao trabalhador. Pois essa regra decorre do próprio caráter desse direito,

visando assegurar o mínimo de garantias aos trabalhadores , prevalecendo o

mais benéfico ao trabalhador.114

112 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 56. 113 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 56. 114 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 58.

30

Com efeito, não se trata de inversão da hierarquia nas fontes

de direito, pois é da índole das normas trabalhistas estabelecer um nível de

proteção que pode ser superado por outra disposição normativa ou contratual.

Ademais, nenhum caso pode se considerar que a adoção de uma convenção ou

de uma recomendação pela Conferência, bem como a ratificação de uma

Convenção por qualquer dos membros, poderá afetar qualquer lei, sentença,

costume ou acordo que garanta aos trabalhadores condições favoráveis, a qual

figuram na convenção ou na recomendação.115

Se assim ocorre no confronto entre a norma internacional e

as fontes de direito interno, a mesma solução deve ser adotada nos conflitos entre

dois ou mais tratados. Em matéria de Trabalho, admite-se que uma norma

internacional só constitui um mínimo em relação às leis nacionais, sendo que,

estas podem ainda superar os termos da convenção na matéria, devendo-se

admitir o mesmo princípio nas relações das normas de trabalho, não havendo

incompatibilidade entre dois textos internacionais, um dos quais preveja maior

proteção que o outro.116

Por fim, torna-se evidente que esse princípio pressupõe o

conflito de normas internacionais, em nível de condições de proteção ao

trabalhador, como também concerne ao sistema ou a técnica dessa proteção.

Sendo certo também que os tratados multilaterais, sejam universais e regionais,

adotando a mesma concepção quanto aos institutos de proteção ao trabalhador,

sobretudo no âmbito dos direitos humanos, facilitando o principio da norma mais

favorável.117

2.1.5 O TRATADO NO DIREITO BRASILEIRO

Quando um Estado se vincula a um Tratado, esse deverá

cumpri-lo internacionalmente, pois enquanto o referido Tratado continuar em vigor

e houver sido ratificado pelo Estado.

115 Constituição da OIT, art. 19, § 8º 116 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 58. 117 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 59.

31

No Brasil, quando um tratado conflitar com a norma

constitucional interna, só será implantado se ocorrer uma reforma constitucional.

Agora, se o processo legislativo brasileiro estiver previsto na Constituição da

República, sem que o Tratado esteja posicionado abaixo ou acima de uma lei

ordinária, tanto um tratado poderia revogar uma lei quanto uma lei poderia

revogar um tratado.118

Ademais, quando tratados ou Convenções, que embora

assinados versem matéria contrária a constitucional, não serão incorporados ao

ordenamento jurídico brasileiro. Caso estes fossem incorporados ao ordenamento

jurídico, teriam a mesma validade, eficácia e autoridade de uma lei ordinária, não

podendo estar hierarquicamente superior as leis internas.119

Quando é assinado um Tratado, será encaminhado um

Projeto de Mensagem ao Congresso Nacional, sendo justificada a necessidades

de admissão do mesmo, e também segue anexada a cópia do texto original

produzido. Se obtiver a aprovação sumária do Presidente da República, será

apresentado ao Presidente da Câmara dos Deputados, o qual faz a leitura deste

em plenário e encaminha a mensagem à Comissão de Constituição e Justiça e

Redação da Câmara, para que ela faça a análise da constitucionalidade,

legalidade, juridicidade e regimentabilidade. Como técnica legislativa, a Câmara

também poderá redirecioná-lo a outros setores interessados, se for o caso.120

Em seguida, o projeto será submetido à votação em plenário

e abre-se a possibilidade de apresentação de emendas. A aprovação irá ocorrer

em sessão única por maioria absoluta de voto desde que estejam presentes a

maioria total de membros da Câmara dos Deputados. Quando encaminhado ao

Senado Federal, pode este projeto ser rejeitado, sendo oportunizado ao

Presidente da República a apresentação de uma nova proposta. Se aprovado

118 SILVA, Roberto Luiz. Direito Internacional Público, p. 69. 119 SILVA, Roberto Luiz. Direito Internacional Público, p. 70. 120 SILVA, Roberto Luiz. Direito Internacional Público, p. 90-91.

32

com emendas retorna à Câmara para fazer as mudanças necessárias que foram

sugeridas, ou também pode ser aprovado sem emendas.121

O Decreto Legislativo então será numerado pela Secretaria-

Geral da Mesa do Senado, e a seguir será publicado no Diário Oficial da União e

Diário do Congresso Nacional, cabendo ao Presidente da República ratificá-lo ou

não.122

2.1.6 O TRATADO DE VERSAILLES

A Associação Internacional para a Proteção Legal dos

Trabalhadores com sua notável tarefa, bem como as Conferências que foram

realizadas em Berna, evidenciaram que o Tratado da paz não deveria deixar de

consubstanciar os princípios fundamentais para a proteção dos trabalhadores,

pois a opinião pública já estava se conscientizando da necessidade de ser criada

uma entidade internacional para promover a internacionalização das normas

social-trabalhistas e controlar sua aplicação.123

Nesse prisma, ensina MORAES FILHO e MORAES 124:

Já no início de 1919, terminada a guerra, foi noemada a 25 de janeiro a Conferência preliminar da paz, composta de quinze membros, entre os quais se encontravam defensores do acesso dos trabalhadores à mesa de negociações. Deveu-se a proposta a LIoyd George, cabendo logo depois a sua presidência justamente a Samuel Gomperz, que fora a Europa com o presidente Wilson, dos Estados Unidos. Depois de 35 sessões, a comissão deu por acabado o seu projeto de paz em 11 e 27 de abril, com pequenas modificações, inserindo-o nos diversos tratados que encerraram a guerra, do Tratado de Versalhes e nos de paz com a Áustria, Bulgária e Hungria.

121 SILVA, Roberto Luiz. Direito Internacional Público, p. 91. 122 SILVA, Roberto Luiz. Direito Internacional Público, p. 93. 123 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 99. 124 MORAES FILHO, Evaristo de; MORAES, Antonio Carlos Flores de. Introdução ao Direito do Trabalho. 9 ed. São Paulo: LTr, 2003. p. 220.

33

Com efeito, a primeira guerra mundial, conseguiu

transformar e abolir as mais radicais existências que às leis de proteção ao

trabalho, conseguindo os ideais dos percussores Owen, Blanqui e Legrand

encontrar campo fértil para a sua concretização.125

A Conferência da Paz foi instalada em 25 de janeiro de

1919, no Palácio de Versailles, nesse mesmo dia foi acolhida a proposta de Lloyd

George, da Inglaterra, e a Conferência aprovou a designação de uma “Comissão

de Legislação Internacional do Trabalho”. Essa Comissão se destinava a estudar

preliminarmente a regulamentação internacional do trabalho; e sugerir uma forma

de organização internacional do trabalho que seria permanente, e deveria facilitar

diversos países a uma ação conjunta de assuntos relativos a condições de

trabalho, recomendando ainda os passos que seriam necessários para criar uma

organização conexa à Sociedade das Nações.126

A Comissão de Legislação Internacional do Trabalho era

constituída por representantes dos Estados Unidos da América, França,

Inglaterra, Japão, Bélgica, Checoslováquia, Itália, Polônia e Cuba. O presidente

nomeado foi Samuel Gompers, que era dirigente máximo da Central Sindical

Norte Americana-AFL. Para secretário geral foi eleito o francês Arthur Fontaine e

para secretário-adjunto foi eleito o inglês Harold Butler.127

Destarte, foi tomado por base para discussão pela

Comissão, o projeto que havia sido apresentado pela delegação inglesa, onde

dispunha de um organismo tripartite, o qual era constituído de representantes

governamentais, patronais e operários que votariam de forma individual e

independente.128

No entanto, pode-se verificar que enquanto as delegações

da França e da Itália destacavam o papel dos Governos no funcionamento do

organismo e na conseqüente evolução das leis de proteção aos trabalhadores, os

norte-americanos optaram por atribuir aos trabalhadores e empregadores os

125 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 99. 126 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 100. 127 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 100. 128 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 100.

34

maiores ônus na solução dos seus próprios problemas, fixando os ingleses em

uma posição intermediária.129

Por fim, depois de 35 sessões, no dia 24 de março, o

projeto, mesmo com pequenas alterações, foi aprovado pela Conferência,

passando a constituir a Parte XII do Tratado de Versailles. Logo a segir, em 6 de

maio de 1919, a Conferência adotou o texto completo do Tratado de paz.130

2. 2 AS CONVENÇÕES

2.2.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

A OIT tem como objetivo firmar as Convenções,

recomendações e resoluções. Esse conjunto de normas estipuladas pela OIT,

pode também ser denominado de “Código Internacional do Trabalho”, porém,

deve ser, posteriormente, admitido internamente nos Estados através da

regulamentação interna quando ratificado pelos diversos Estados-membros.131

Destarte, a elaboração e adoção das Convenções ou

recomendações surge da análise comparativa de condições de trabalho entre os

diversos países membros da OIT. O consenso internacional das normas adotadas

pelos diversos países favorece a adoção das convenções ou recomendações em

âmbito internacional após serem levadas a conhecimento pelos órgãos que

compõe a OIT.132

As Convenções Internacionais emanadas da OIT são

destinadas aos Estados-membros que elas aderiram, fazendo inserir no

ordenamento interno as determinações que são decorrentes.133

129 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 100. 130 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 101. 131 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 180-181. 132 SERVAIS, Jean-Michel. Elementos de direito internacional e comparado do trabalho. São Paulo: LTr, 2001. p. 33. 133 MACHADO, Patricia Ferreira. A constituição e os Tratados Internacionais. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1999. p. 31.

35

A Convenção se difere da recomendação, pois a primeira é

considerada instrumento jurídico que obriga os Estados ao cumprimento das

normas estabelecidas após a sua Ratificação e a segunda, por não ter

obrigatoriamente o efeito da Ratificação, apenas estimula as mudanças e

adequações das normas internas.134

Com efeito, a adoção das diversas Convenções ou

recomendações pelos países-membros os obrigam a fazer relatórios regulares

sobre a conformidade de seu direito, como também de sua prática com os

instrumentos firmados, conforme ensina MASCIMENTO135 “a OIT exerce controle

sobre o cumprimento das convenções. Cada ano os Estados devem apresentar

um relatório sobre as medidas adotadas no sentido de executar as disposições da

convenção”. Ademais, estes relatórios podem conter informações explicativas da

impossibilidade ou dificuldades de adoção das normas estabelecidas nas

Convenções não ratificadas e nas recomendações.136

2.2.2 AS NORMAS INTERNACIONAIS DO TRABALHO

Existe um sério desnível entre as condições econômicas e

sociais de todos os países, existindo muitas diferenças, principalmente quanto ao

desenvolvimento. A globalização da economia, juntamente com a lei do mercado,

são as principais causas de aumento desse desnível.137

O Conselho de Administração da Organização na década de

70, designou um Grupo de Trabalho que desenvolveria as normas internacionais

do trabalho, e este grupo tinha como composição tripartida. Com efeito, a

conclusão do Conselho era que o principal fundamento da ação da OIT é a

atividade normativa.138

134 SERVAIS, Jean-Michel. Elementos de direito internacional e comparado do trabalho, p. 33 135 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho, p.101. 136 SERVAIS, Jean-Michel. Elementos de direito internacional e comparado do trabalho, p. 34. 137 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 183. 138 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 183.

36

As convenções e recomendações deveriam seguir um

caráter universal, levando em conta as necessidades especiais dos países que se

encontravam em diferentes graus de desenvolvimento.

Analisando as Convenções da OIT, percebe-se que até

1950, predominava a feição regulamentar desses instrumentos; já a partir de 1970

a Conferência se manifestava preferencialmente pelas convenções de princípios

complementados por recomendações detalhadas de tipo regulamentar. No

entanto, essa tendência não atingiu as convenções sobre direitos humanos do

trabalhador, pois estas aumentaram após a Segunda Guerra e a Declaração

Universal dos Direitos do Homem. Além da convenção de princípios, a OIT se

utilizou da convenção promocional, que estabelecia objetivos sociais que

deveriam ser alcançados através de programas executados em etapas

sucessivas pelos Estados que a ela aderirem.139

Após anos de intensa atividade normativa, verifica-se que

muitas convenções e recomendações se encontram desatualizadas. Algumas até

já foram revistas, pois as primeiras convenções feitas pela OIT estavam

excessivamente regulamentares e dificultavam a adesão dos países. E as normas

internacionais devem facilitar a aplicação universal dos preceitos elencados nas

convenções. As convenções devem ser flexíveis, e devem conter as normas

básicas, a fim de obterem a aceitação geral dos Estados.140

O Grupo de Trabalho designado pelo Conselho, sugeriu que

houvesse a revisão de algumas convenções e recomendações, relacionando

vários temas que poderiam ser objetos de novos instrumentos.141

Destarte, o grupo dividiu as convenções em instrumentos

que devem ser promovidos com prioridade; instrumentos que devem ser revistos

e outros instrumentos. No entanto, o Conselho designou um novo Grupo de

139 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 184. 140 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 184. 141 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 184.

37

Trabalho que manteve todo o trabalho anterior, sugerindo apenas alguns temas

para futuros instrumentos.142

2.2.3 NATUREZA JURÍDICA DAS CONVENÇÕES

A Convenção geralmente é utilizada como termo sinônimo

do tratado, todavia utiliza-se com mais freqüência em ajustes que regulam o

Direito Internacional, como a Convenção de Viena que regulou o Direito dos

Tratados.

A OIT aceitava apenas projeto de convenção, o qual só

poderia se transformar em tratado depois que alcançasse o número de

ratificações exigidas para iniciar a sua vigência no plano internacional. Com efeito,

vale explicar que NASCIMENTO143 define ratificação como o “ato de direito

interno pelo qual o Governo de um país aprova uma convenção ou tratado,

admitindo a sua eficácia na sua ordem jurídica”.

A partir da Conferência de 1946, a OIT se tornou usual nos

demais organismos internacionais, e passou a aprovar as convenções, como

tratados multilaterais, o qual eram abertos a ratificação dos Estados-membros da

OIT.144

A Convenção vem sendo entendida como tratado-lei, que

pode ser comparado à lei, porque formula princípios ou regras, que são

destinados a reger algumas relações internacionais, estabelecendo normas gerais

de ação, confirmando ou modificando costumes que são adotados entre as

nações , contribuindo da formação do direito internacional e originando-se de

congressos ou conferências.145

Nesse sentido, preleciona MARTINS146:

142 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 186. 143 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. p. 164. 144 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 189. 145 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 189. 146 MARTINS. Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. p. 73.

38

As Convenções tem natureza de tratado-lei, de tratado internacional e não de tratado-contrato, pois formulam regras, condições ou princípios de ordem geral, destinados a reger certas relações internacionais, estabelecendo normas gerais de ação, como ocorre com a Convenção sobre o mar territorial.

Todavia, as convenções da OIT não correspondem às leis

supranacionais, não sendo capaz de ter eficácia jurídica no direito interno dos

Estados-membros. Quando não existe adesão ao contrato multilateral aberto,

através de ato soberano, o Estado não poderá estar vinculado a esse

instrumento, não podendo gerar em seu plano interno os direitos e obrigações

estabelecidos em suas normas.147

Por isso, é de grande importância diferenciar o ato regra,

onde a Conferência cria as normas constantes da convenção aprovada, do ato

condição que ocorre quando os Estados-membros, mesmo os que não puderam

participar da aprovação e elaboração do tratado multilateral, ratificam e aderem à

decisão em conformidade com o direito constitucional interno.

Abrangendo a temática da ratificação das Convenções,

NASCIMENTO148 define:

Ratificação é um ato formal de um Estado-membro da OIT pelo qual decide adotar uma convenção internacional incorporando-a ao seu direito interno. Os Estados não são obrigados a ratificar as convenções. No entanto, precisam submetê-las às autoridades competentes no prazo de um ano ou, excepcionalmente, em dezoito meses. O processo de ratificação é variável, dependendo das normas constitucionais particulares. O instrumento de ratificação deve ser comunicado ao Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho (RIT), que transmitirá ao Secretário-Geral da ONU. A partir da ratificação, o Estado deve determinar todas as medidas necessárias ao fiel cumprimento das disposições contidas na convenção.

Portanto, é com a prática do ato-condição que o Estado

adere o ato-regra, sendo preservada a soberania dos Estados pois não existe a

147 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 189. 148 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. p. 101

39

obrigação de ratificar. Como assevera a Constituição da OIT, os Estados-

membros que aderem soberanamente, quando se filiarem a Organização, podem

as obrigações contraídas, quando da adoção de uma convenção ou

recomendação ter caráter formal.149

2.2.4 OS TIPOS DE CONVENÇÕES

As convenções podem ser classificadas, tendo em vista a

natureza de suas normas como auto aplicáveis, de princípios, ou promocionais.

As convenções auto-aplicáveis ocorrem quando suas disposições não requerem

regulamentação complementar para serem aplicadas pelos Estados que a

aceitam, no caso dos países que sancionam o monismo jurídico, a vigência da

convenção validada no plano interno terá importância na integração das

respectivas normas no seu direito positivo, já aos países que adotam o dualismo

jurídico, bastará que a lei nacional reproduza o texto da convenção.150

As convenções de princípios dependem, para serem

efetivamente aplicadas, da adoção de leis ou outros atos também

regulamentares, que devem ser promovidos no prazo de 12 meses. As

convenções de princípios são aprovadas simultaneamente com recomendações

complementares, que contenham proposições destinadas a aplicação dos

princípios gerais.151

A respeito das convenções promocionais, com maestria

SUSSEKIND152 explica que elas “fixam determinados objetivos e estabelecem

programas para sua consecução, os quais devem ser atendidos pelos Estados

que as ratificam mediante a providências sucessivas, a médio e longo prazos”.

Existem ainda, além desses três tipos de convenção, o

tratado bilateral ou plurilateral, que é designado através do art. 21 da Constituição

de convenção particular, quando não obtiver dois terços de votos dos delegados 149 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 190. 150 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 190. 151 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 190. 152 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 191.

40

presentes na Conferência, irá prescrever o projeto de convenção, poderá então

ser objeto de uma convenção particular entre os membros que assim

desejarem.153

A convenção universal constitui em tratado multilateral que

permanece aberto para a ratificação dos Estados-membros da OIT, a partir do

momento que é adotado por estar em conformidade com as normas

constitucionais e assinado pelo Presidente da Conferência e pelo diretor Geral da

RIT. Quando ocorrer de o projeto não ser aceito pela maioria exigida, só irá se

transformar em convenção particular se dois ou mais países firmarem a

convenção.154

Entende-se que qualquer Estado pode celebrar tratados

bilaterais, ou plurilaterais que disponham sobre seguridade social e direito do

Trabalho, independentemente da autorização da OIT.

As convenções de um modo geral tratam de direitos

humanos e fundamentais do trabalhador; política social e global; relações

coletivas e individuais do trabalho; desenvolvimento dos recursos humanos;

segurança e higiene no ambiente de trabalho; trabalho do menor; trabalho da

mulher; seguridade social; igualdade de direitos; regulamentações de

profissionais; trabalhador migrante e administração no trabalho.155

2.2.5 VIGÊNCIA INTERNACIONAL DA CONVENÇÃO

Não se deve confundir a vigência de uma convenção no

âmbito internacional com a eficácia jurídica que resulta de sua retificação por

Estados-membros da OIT, apesar de essa eficácia estar condicionada àquela

vigência.156

153 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 191. 154 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 191. 155 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 192. 156 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 193.

41

Deve-se distinguir a vigência internacional e a vigência em

relação ao Estado que aderiu à convenção, ou seja vigência objetiva que trata da

vigência da convenção em si mesma, ou vigência subjetiva que é a

obrigatoriedade de uma convenção para um determinado Estado.157

Entende-se que a vigência subjetiva pressupõe a objetiva,

pois nenhuma Convenção pode obrigar um Estado antes de entrar em vigor,

sendo que, enquanto não entrar em vigor, as obrigações que os Estados

poderiam contrair através da ratificação, são submetidas à condição suspensiva.

Destarte, as disposições adjetivas das Convenções passam

a vigorar no momento que o Diretor Geral da RIT e o Presidente da reunião

assinam o instrumento adotado pala Conferência.158

A própria Convenção que é aprovada pela Conferência

dispõe expressamente sobre o inicio da vigência, tanto em âmbito internacional,

como em relação a cada Estado que a ratificou, como também sobre o prazo de

validade da ratificação, sua prorrogação tácita ou sua denúncia. Em relação à

vigência internacional, as convenções, apesar de variações, têm adotado a regra

de se iniciar em 12 meses após o registro de suas ratificações na RIT, devendo o

diretor geral comunicar essa data a todos os Estados-membros.159

Abrangendo a temática da vigência das Convenções,

MORAIS FILHO e MORAIS160 consideram:

Como é de praxe, constam do próprio texto da convenção, à época de vigência, o prazo de validade, renovação tácita, termos de denúncia, e assim por diante. Contudo, são essas regras comuns: a) inicia-se a vigência, no campo internacional, após doze meses de registradas duas ratificações, pelo menos, perante o diretor-geral da RIT; b) para cada Estado-Membro entra a convenção em vigor após doze meses do seu próprio registro; c) o prazo normal de validade é de dez anos; d) após o que, pode ser denunciada, mediante comunicação ao diretor-geral, cujo efeito se

157 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 193. 158 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 193. 159 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 194. 160 MORAES FILHO, Evaristo de; MORAES, Antonio Carlos Flores de. Introdução ao Direito do Trabalho. p. 228.

42

efetivará após doze meses do registro da denúncia; e) se não houver denúncia, após este prazo, submetendo-se prorrogada tacitamente a convenção.

Quando a convenção entrar em vigor no campo

internacional, tem vigência indeterminada. Entretanto, a vigência subjetiva que é

de âmbito nacional decorrida de ratificação é de 10 anos, podendo se prorrogar

por mais dez anos, se o Estado não renunciar, no período de 12 meses

subseqüentes, a esse período de 10 anos.161

Quando existe revisão de convenção pela Conferência, a

nova irá substituir a revista. No tocante a vigência internacional, nota-se que a

convenção que é revista não permanece aberta à ratificação dos Estados-

membros, mesmo que continue a vigorar em relação aos países que a ratificaram

e deixaram de ratificar o instrumento de revisão.162

Para que não existam dúvidas quanto à vigência, a

Conferência tem inserido no texto das próprias convenções as regras de direito

intertemporal, pois pode ser adotada uma nova convenção que disponha revisão

total ou parcial da anterior, a menos que o novo documento instrumento tenha

disposições em contrário.163

As regras de direito intertemporal dizem respeito apenas aos

casos em que se pode proceder a revisão formal, ou ainda que parcial da

convenção. Caso seja aprovada uma convenção sobre assunto versado em

instrumento anterior, sem que seja o novo diploma processado e adotado pela

forma de revisão, a OIT entende que as duas convenções devem permanecer

abertas à ratificação dos Estados-membros, vigendo ao mesmo tempo.164

Por fim, vale ressaltar, que os Estados podem denunciar

uma convenção adotada. Findo o prazo de duração da vigência, uma convenção

pode ser denunciada por um Estado, se esse não o fizer, opera-se a sua

prorrogação automática, passando a vigorar por tempo indeterminado. Ademais, a 161 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 184 162 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 194. 163 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 194. 164 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 195.

43

denúncia é o aviso prévio pelo qual o Estado comunica à OIT a sua disposição de

não continuar aplicando as normas contidas na convenção.165

CAPÍTULO 3

A ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO - OIT

165 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. p. 102.

44

3. 1 A CRIAÇÃO DA OIT

Foi um tratado internacional de grande importância que

instituiu o Direito do Trabalho como um novo ramo da ciência jurídica, e devido à

universalização de suas normas foi criada a OIT.

Conforme visto anteriormente, a idéia de uma legislação

trabalhista internacional surgiu como resultado das reflexões éticas e econômicas

sobre o custo humano da revolução industrial. Ademais, as raízes da OIT estão

no início do século XIX, quando os líderes industriais Robert Owen e Daniel le

Grand apoiaram o desenvolvimento e harmonização de legislação trabalhista e

melhorias nas relações de trabalho.166

Com efeito, o Tratado de Versailles, que foi firmado na Suíça

e aprovado pela Conferência da Paz em 1919, dispôs sobre a criação da

Organização Internacional do Trabalho, doravante designada OIT, e enunciou

princípios gerais que permeariam as relações trabalhistas.167

Nesse âmbito, MARTINS168 leciona:

O estudo do Direito Internacional do Trabalho passa a assumir especial importância com o Tratado de Versalles, de 1919. A OIT é constituída na Parte XII do referido tratado, tendo sido complementada posteriormente pela Declaração da Filadélfia, de 1944.

A OIT constitui-se em três órgãos, sendo eles a Conferência

Internacional do trabalho, o Conselho de Administração e Repartição.

A OIT passou a ter um caráter representativo diferenciado

quanto aos demais organismos internacionais, quando foi concedido o voto de

166 OIT. Organização Internacional do trabalho. Brasília. Disponível em: <http://www.ilo.org/public/portugue/region/ampro/brasilia/inst/hist/index.htm>. Acesso em: 27 de setembro 2007. 167 SUSSEKIND, Arnaldo. Convenções da OIT, p.17. 168 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. p.71.

45

igual valor, tanto para os representantes governamentais, como para os

empregados e empregadores. 169

A Conferência de Versailles escolheu a Suíça como sede da

OIT, homenageando o antimilitarista da Europa que acolheu em seu território a

sede da Oficina Permanente da Associação Internacional para a Proteção aos

Trabalhadores. Foi escolhido para ser diretor da OIT o grande estadista francês

Albert Thomas, que se manteve até 1932.170

A OIT realizou uma grande obra, quando surgiu a segunda

grande guerra, atuando no campo da atividade normativa, internacionalizando as

obras de proteção ao trabalho e motivando a integração no direito interno dos

Estados-membros, e na afirmação do tripartidarismo; sendo a melhor forma para

a solução e o exame das questões social-trabalhistas, ou também a concretização

da universalidade da instituição, através da adesão de novos países.171

Ademais, em 1944, a OIT, aproveitando-se do momento de

grande depressão mundial e do fim da 2º Guerra Mundial, adotou a Declaração da

Filadélfia como anexo a sua Constituição, sendo que esta declaração também

serviu de base jurídica para a Declaração dos Direitos Humanos.172

A OIT sempre teve como principal premissa a garantia da

paz universal, afastando a possibilidade de cometimento, nas condições de

trabalho, de injustiças, ocorrência de miséria e privações dos trabalhadores.

Abolindo por sua vez, definitivamente, a submissão a condições de trabalho

desumanas e injustas.173

Destarte, a OIT apresenta tríplice justificação para a sua

existência: questões humanitárias, políticas e econômicas de trabalho. Como

questão humanitária, proíbe a submissão a condições de trabalho injustas, difíceis

e degradantes aos trabalhadores, miseráveis e a privações; como questão

169 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 105. 170 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 105. 171 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 106. 172 OIT. Organização Internacional do trabalho. Brasília. Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/inst/hist/index.php>. Acesso em: 27 de setembro 2007. 173 SUSSEKIND, Arnaldo. Convenções da OIT, p.17.

46

política, visa assegurar a paz universal, e, de ordem econômica, tende a não

permitir que os interesses econômicos de concorrência internacional sobressaiam

em detrimento das condições de trabalho.174

A principal causa para instituição da Organização

Internacional do Trabalho foi a pressão sindical transnacional, pois eles buscaram

uma legislação adequada, que resultasse em desenvolvimento econômico e a

não exploração dos trabalhadores.

3. 2 A NATUREZA JURÍDICA DA OIT

Em 1919, o Tratado da Paz criou a Organização

Internacional do Trabalho, que seria como uma parte da sociedade das Nações,

mais possuiria um regime jurídico impreciso, sendo designado aos princípios

gerais do direito.176

Alguns anos depois da instituição da OIT, pode-se observar

que as condições que funcionavam eram diferenciadas, pois ia além do direito

internacional, incutindo o domínio Constitucional. Logo na primeira reunião da

Conferência Internacional do Trabalho em Washington, notou-se a autonomia da

OIT quando os países, que não eram membros da Sociedade das Nações,

passaram a se tornar membros da OIT, embora não havendo necessidade de

permanecer na Sociedade das Nações para ser membro da OIT.

Ademais, nesse âmbito, SUSSEKIND 177 preconiza que “na

mesma década, esse entendimento permitiu a permanência do Brasil nessa

Organização, quando também se desligou da SDN”.

Quando foi aprovada a Carta das Nações Unidas em São

Francisco, no ano de 1945, que resultou na criação da ONU e a revisão da

174 SUSSEKIND, Arnaldo. Convenções da OIT. 2 ed. São Paulo: LTr, 1998. p.17 176 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 119. 177 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 119.

47

Constituição da OIT, ficou afirmada à personalidade jurídica independente da OIT,

e evidenciada como pessoa jurídica de direito público internacional.

Com efeito, a OIT é uma pessoa jurídica de direito público

internacional de caráter permanente constituída de Estados que se obrigam a

cumprir determinações de sua Constituição e ratificam suas convenções, fazendo

integrar em seus ordenamentos jurídicos as normas jurídicas aprovadas.

Possuindo personalidade jurídica para adquirir bens móveis e imóveis e dispor

dos mesmos, bem como contratar e intentar ações.178

Nesse âmbito, MORAES FILHO e MORAES 179 ensinam:

A OIT é uma organização de direito internacional público, associado a ONU, como agência especializada, mediante negociação de acordos. Compete ao Conselho Econômico Social, desta última, a coordenação das suas atividades, como agência vinculada à Organização. Compõe-se no momento de 176 países, que se fazem representar na sua assembléia geral (Conferência) de maneira tripartida, como dois delegados governamentais, um de empregador e outro de empregado. O Brasil é membro fundador, isto é, desde 1919, tendo dela se ausentado por pouco tempo.

A OIT na verdade, foi uma associação de Estados onde

aderiram novos Estados-membros, e acarreta certas obrigações e restrições a

atividade estatal no campo de sua competência. No entanto, a responsabilidade

dos Estados-membros não implica negação ao princípio de soberania, que é

fundamento ao Direito Internacional Público, essas restrições e obrigações advém

da Constituição, à qual aderem voluntária e soberanamente os Estados-membros,

ao pedirem sua admissão na Organização, com a aprovação e ratificação do seu

estatuto básico.180

Com efeito, é impossível conceituar a OIT como um ente

superestatal, pois suas disposições constitucionais respeitam a soberania dos

178 SUSSEKIND, Arnaldo. Convenções da OIT, p. 69. 179 MORAES FILHO, Evaristo de; MORAES, Antonio Carlos Flores de. Introdução ao Direito do Trabalho. p. 222. 180 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 121.

48

Estados, bem como a competência das autoridades legislativas nacionais, as

quais têm a faculdade de ratificar as convenções adotadas pela Conferência e de

transformar em lei as disposições contidas nas recomendações. Ademais, os

respectivos governos são obrigados a encaminhar essas convenções e

ratificações no prazo fixado à autoridade competente nacional; essa obrigação

tem natureza formal, por isto não importa na responsabilidade de incorporar as

correspondentes normas ao direito interno, essas obrigações resultam,

expressamente, do ato voluntário e soberano de ingressar na OIT, ao aprovar sua

Constituição.181

Por fim, é notável que a OIT é uma pessoa jurídica de direito

público internacional, com caráter permanente e constituída de Estados, que

assumem a responsabilidade de observar as normas constitucionais da entidade

e das convenções que ratificam, fazendo a integração do sistema das Nações

Unidas como uma das suas agências especializadas. Constitui uma das

características marcantes da OIT, sendo fator de relevo na formação do alto

conceito que desfruta nos planos da cultura, da produção e do trabalho, a

composição tripartida da sua assembléia geral (Conferência Internacional do

Trabalho), do Conselho da Administração e de quase todos os seus órgãos e

colegiados, nos quais possuem assento, com direito a voz e voto, bem como

representantes de Governos e de organizações de trabalhadores e

empregadores.182

3. 3 FINALIDADE E COMPETÊNCIA

A OIT tem como pressuposto trabalhar pela realização do

programa exposto na abertura da Constituição da mesma, e na Declaração dos

fins e objetivos de que trata.

As finalidades da OIT, estão expressamente na parte inicial

de sua Constituição e na sua Declaração, sendo que este último pressuposto

181 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 122. 182 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 122.

49

aumentou o objeto do Direito Internacional do Trabalho e consequentemente o

campo de atuação da OIT.

Tem como competência tratar de questões que visem a

justiça social, bem como o progresso material e espiritual do ser humano, dando a

ele condições de igualdade, dignidade, liberdade e segurança econômica. Como

assinala SUSSEKIND 183, a OIT zela pela “proteção ao trabalho, a contratação de

mão-de-obra, a luta contra o desemprego, a previdência social, a posição do

trabalhador estrangeiro, o princípio da liberdade sindical, a organização do ensino

técnico-profissional”.

Sobre a competência da OIT, vislumbra MORAES FILHO e

MORAES 184:

Quanto à competência ratione personae é também ampliativa, extravasando do mero contrato de trabalho subordinado. Abrange o trabalho e o trabalhador em sentido amplo (empregado, doméstico, rural, autônomo, profissional liberal). Atinge inclusive os funcionários públicos e as formas de prestação societária ou associativa de trabalho na agricultura, as cooperativas etc. Segundo o Aviso n.13, da Corte Permanente da Justiça Internacional, de 1926, pode a OIT adotar disposições restritivas de liberdade de trabalho dos empregadores, na medida em que o exija a proteção dos trabalhadores. Hoje, pensamos, nem isso mais é necessário.

É uma agência especializada das Nações Unidas que busca

a promoção da justiça social bem como o reconhecimento e a tutela internacional

dos Direitos Humanos, incluindo os direitos trabalhistas. Para atingir esses

objetivos formula normas internacionais do trabalho para que sejam

recepcionadas pelos Estados-membros; promove o desenvolvimento e interação

das relações entre empregados e empregadores, prestando cooperação técnica

na área de formação e reabilitação profissional; adota políticas e programas de

emprego e de empreendedorismo, administração do trabalho, direito e relações

do trabalho; estabelece condições de trabalho e desenvolvimento empresarial; 183 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 123. 184 MORAES FILHO, Evaristo de; MORAES, Antonio Carlos Flores de. Introdução ao Direito do Trabalho. p. 225.

50

admitindo a formação de cooperativas; regula normas destinadas à previdência

social; indica as estatísticas e normas de segurança e saúde ocupacional.185

Os objetivos da OIT, consistem em promover os Princípios

fundamentais e direitos referentes às relações trabalhistas através da criação,

supervisão e efetiva aplicação das normas; a promoção de novas e melhores

oportunidades de emprego e renda tanto para mulheres quanto para homens

respeitando as premissas de não discriminação e manutenção da dignidade

humana, oportunizando que os empregados possam escolher as atividades a

serem por ele praticadas. Por fim, ainda pretende aumentar a abrangência e

eficácia da proteção social.186

A OIT tem como finalidade, proporcionar a melhoria das

condições de trabalho, levantando o nível de vida dos trabalhadores e

promovendo a estabilidade econômica e social através das várias Convenções

Internacionais firmadas entre os Estados-membros.187

Destarte, para a adoção de Convenções, a OIT leva em

consideração fatores políticos, econômicos, sociais e culturais apresentadas por

cada um dos países integrantes. Respeitando as peculiaridades de cada país,

inclusive as condições climáticas e a falta de recursos financeiros e naturais que

podem interferir na adoção da referida Convenção, razão da flexibilidade das

normas. Entretanto, diante destas dificuldades encontradas, permite a Ratificação

de apenas partes de uma Convenção, adotando para seus países, flexibilidade da

norma por somente certos setores econômicos. Ademais, a OIT respeita e

flexibiliza condições para os países que estão em desenvolvimento, permitindo a

estes, o progresso social e o desenvolvimento econômico como forma de manter

o equilíbrio em face das distintas condições de suas existências.188

185 OIT. Organização Internacional do Trabalho. Brasília. Disponível em: <http://www.ilo.org/public/portugue/region/ampro/brasilia/inst/fund/mandato/index.htm> Acesso em: 09 de setembro de 2007. 186 OIT. Organização Internacional do Trabalho. Brasília. Disponível em: <http://www.ilo.org/public/portugue/region/ampro/brasilia/inst/fund/objetivos.htm> Acesso em: 09 de setembro de 2007. 187 MACHADO, Patrícia Ferreira. A constituição e os Tratados Internacionais, p. 31. 188 SERVAIS, Jean-Michael. Elementos de direito internacional e comparado do trabalho, p. 35-36.

51

A adoção das regras de exceção que são concedidas a

alguns países que têm dificuldade de adaptação para as novas condições

advindas das Convenções prescinde da Análise do Comitê da Liberdade Sindical,

como órgão de supervisão que é ligado ao Conselho da Administração, que utiliza

os Princípios gerais do direito judiciário. Sendo incumbido de analisar a admissão

e a prática de um país acerca de uma Convenção, em especial, sobre matéria

sindical.189

Com efeito, o artigo 1º da Constituição da OIT preconiza a

finalidade da organização a responsabilidade pela realização do programa

estatuído para a criação da mesma. Ampliada pela revisão ocorrida em 1946, a

OIT passou a ter como principal fim, a busca por quaisquer meios que

pretendessem atingir a justiça social através de matérias que regulassem o Direito

do Trabalho e a Seguridade Social. Tendo com exemplo as seguintes finalidades:

fomento da plenitude do emprego e elevação dos níveis de vida, formação

profissional e garantia de iguais oportunidade educativas e profissionais,

colaboração entre empregadores e empregados para aplicação de medidas

sociais e econômicas de grande relevância, proteção à infância e à maternidade,

habitação, recreação e cultura, dentre outros.190

3. 4 OS ESTADOS MEMBROS

É certo que a OIT é uma associação de Estados, hoje

formada por 180 países membros. Como preceitua o art.387 do Tratado de

Verssailes, os 29 países signatários desse pacto da paz, bem como os que

ratificaram, se tornaram membros fundadores da OIT. Além destes, 13 Estados

que foram convidados a aderir o tratado de Versalles, e o aceitaram, adquiriram

essa qualidade.191

189 SERVAIS, Jean-Michael. Elementos de direito internacional e comparado do trabalho, p. 39-40. 190 SUSSEKIND, Arnaldo. Convenções da OIT, p. 25-28. 191 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 130.

52

No seu primeiro ano de vida, a OIT, com os objetivos de

ressaltar o caráter universal da instituição e evidenciar sua autonomia,

defenderam e obtiveram a conquista de admitir os países que não faziam parte da

SDN, conseguindo evidenciar a independência da organização.192

Os países que não fazem parte da ONU e possuem

interesse em filiar-se a OIT, devem comunicar ao Diretor Geral da RIT sua formal

aceitação das obrigações advindas da Constituição da organização. Além de sua

admissão ter que ser aprovada por dois terços dos delegados presentes à

Conferência e, bem assim, dois terços dos votos dos respectivos delegados

governamentais.193

Todavia, o ingresso na OIT, dos Estados que integram a

ONU independem da aprovação da Conferência Internacional do Trabalho e dos

delegados governamentais. Diferente do que ocorria ao tempo da Liga das

Nações, quando o Membro da sociedade era obrigado a pertencer a OIT, o

ingresso do Estado à organização vem a ser de maneira voluntária.194

A faculdade outorgada aos membros da ONU de ingressar

na OIT através de simples comunicação, insuscetível de ser apreciada pela

Assembléia Geral da organização, é uma anomalia em relação às formas de

admissão correntes numa associação. A OIT se faz obrigada a aceitar

automaticamente a incorporação do novo membro, e este também, é pressionado

implicitamente no sentido de ratificar determinadas convenções.195

Os Estados-membros da OIT possuem o direito de participar

da Conferência Internacional do Trabalho com dois delegados governamentais,

um dos empregadores e um dos trabalhadores, e de funcionar nos demais órgãos

para os quais for eleito ou designado. Entre as obrigações que os países devem

assumir, se destacam a de contribuir financeiramente no custeio da Organização,

de acordo com o orçamento e a escala de rateio das contribuições aprovadas

pela conferência; bem como submeter à autoridade nacional competente as

192 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 130. 193 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 131. 194 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 131. 195 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 131.

53

convenções e recomendações aprovadas pela Conferência e enviar a RIT os

relatórios e informações previstos na Constituição da OIT.196

Os Estados-membros da OIT podem se retirar da

Organização, mesmo que continue fazendo parte das Nações Unidas. Entretanto,

o direito do desligamento depende do cumprimento do estatuído no § 5º do art. 1º

da Constituição, onde exige: satisfação de todas as obrigações financeiras, até

última data; concessão de aviso prévio, comunicando tal intento ao Diretor Geral

da RIT, o qual surtirá efeitos apenas dois anos depois de recebido; e validade da

ratificação das convenções que lhes correspondem.197

Os países membros que estejam atrasados no pagamento

da contribuição financeira destinada à Organização estarão suspensos do direito

a voto. Facultando à Conferência permitir, em resolução aprovada por dois terços

dos votos emitidos pelos delegados presentes, que o país devedor exerça o seu

direito a voto, se ficar evidenciado que o atraso se fez por circunstâncias alheias a

sua vontade.198

3. 5 A ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DE SEUS ÓRGÃOS

A OIT, além de reuniões anuais da Conferência Internacional

do Trabalho, realiza conferências regionais periodicamente e quando necessário

realiza também reuniões técnicas. 199Esta constitui um fórum onde os governos e

os parceiros sociais de seus Estados-membros podem discutir livremente suas

experiências e comparar políticas nacionais. Esta é a única organização mundial

em que os representantes dos empregadores e dos trabalhadores participam dos

196 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 134. 197 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 134. 198 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 135. 199 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 148.

54

programas e na definição das políticas em pé de igualdade com os governos,

graças a sua estrutura tripartida.200

A OIT através da promoção de um diálogo social entre os

sindicatos e os empregadores, incentiva igualmente o tripartismo nos Estados-

membros, quanto à formulação e, em alguns casos, à implementação de políticas

nacionais em vários domínios, principalmente no domínio econômico e social.

Com efeito, cada Estado-membro tem o direito de se fazer representar na

Conferência Internacional do Trabalho por quatro delegados: um em

representação dos trabalhadores, um outro representando os empregados, e os

dois demais em representação do Governo.201

Destarte, a Conferência Internacional do Trabalho se reúne

todos os anos, em Genebra, no mês de Junho. Onde os delegados são

acompanhados por consultores técnicos. Além dos delegados dos governos, os

ministros do Trabalho de cada Estado-membro geralmente também participam e

intervêm na Conferência. Os delegados dos empregadores e dos trabalhadores

podem expressar livremente a sua opinião votando independentemente, até

mesmo contra os representantes dos respectivos governos, bem como uns contra

os outros. A Conferência constitui um fórum para o debate a nível internacional

sobre questões trabalhistas, problemas sociais e normas internacionais do

trabalho, definindo ainda as políticas gerais da Organização; além de adotar o

programa de trabalho e o orçamento bienais da OIT, de dois em dois anos,

financiado pelos Estados-membros.202

Como visto anteriormente, a OIT é composta de três órgãos:

A Conferência ou Assembléia Geral, o Conselho de Administração e a Repartição

Internacional do Trabalho. A organização é integrada ainda pelo Instituto

Internacional de Estudos Sociais e o Centro Internacional de Aperfeiçoamento 200 OIT. Organização Internacional do Trabalho. Lisboa. Disponível em: <http://www.ilo.org/public/portugue/region/eurpro/lisbon/html/portugal_visita_guiada_01b_pt.htm> acesso em 08 de outubro de 2007. 201 OIT. Organização Internacional do Trabalho. Lisboa. Disponível em: <http://www.ilo.org/public/portugue/region/eurpro/lisbon/html/portugal_visita_guiada_01b_pt.htm> acesso em 08 de outubro de 2007. 202 OIT. Organização Internacional do Trabalho. Lisboa. Disponível em: <http://www.ilo.org/public/portugue/region/eurpro/lisbon/html/portugal_visita_guiada_01b_pt.htm> acesso em 08 de outubro de 2007.

55

Profissional e técnico no centro de Turim, que funcionam com relativa

autonomia.203

A Assembléia Geral ou Conferência é o órgão de

deliberação da OIT, se reunindo no local que for indicado pelo Conselho de

Administração. A Conferência se constitui de representantes dos Estados-

membros. As sessões são realizadas pelo menos umavcez por ano,

comparecendo as delegações de cada Estado –membro, compostas de membro

do governo e representantes dos trabalhadores e empregadores.204

Na Conferência são elaboradas as convenções e

recomendações internacionais da OIT, traçando também as diretrizes básicas a

serem observadas no âmbito da OIT relativas a política social.205

O Conselho de Administração exerce a função executiva,

fazendo a administração da OIT, é composto de representantes de empregados ,

empregadores e do governo. É o Conselho da Administração que fixa a data, local

e ordem do dia das reuniões da Conferência, elegendo o Diretor-Geral da

Repartição Internacional do Trabalho e institui comissões permanentes ou

especiais.206

A participação efetiva de representantes de empregados e

empregadores confere autonomia à Conferência e ao Conselho de Administração,

tendo em vista que os votos têm o mesmo peso dos representantes

governamentais.207

O Conselho da Administração, que dirige a OIT, se reúne

três vezes ao ano em Genebra, sendo responsável pela elaboração e controle de

execução das políticas, e programas da OIT, eleição do Diretor-Geral, bem como

pela elaboração de uma proposta de programa e orçamento bienal.208 Tendo

203 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 147. 204 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho, p. 71 205 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho, p. 71 206 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho, p. 71-72 207 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 149. 208 OIT. Organização Internacional do Trabalho. Brasília. Disponível em: <http://www.ilo.org/public/portugue/region/ampro/brasilia/inst/struct/index.htm> Acesso em: 09 de setembro de 2007.

56

ainda, como funções a designação da data, local e ordem do dia da Conferência

Geral, das regionais e das técnicas; eleição do Diretor-Geral da Repartição; a

designação dos dez países que integrarão como membros não-eletivos; a

elaboração do projeto de programa e orçamento da Organização para que seja

submetido à aprovação da Conferência Geral; a deliberação sobre relatórios e

conclusões das suas comissões e a adoção de medidas previstas na Constituição

em caso de reclamação ou queixa contra um Estado-membro que não tem

observado uma Convenção ratificada.209

A Repartição Internacional do Trabalho seria a secretaria da

OIT, dirigida pelo Diretor –Geral nomeado pelo Conselho da Administração, do

qual receberá as instruções, a Repartição Internacional dedica-se a documentar e

divulgar suas atividades, publicando as convenções e recomendações adotadas,

editando a Revista Internacional do Trabalho e a Série Legislativa, expondo as

leis trabalhistas dos países-membros.210

O Secretariado, ou ainda também denominado de Escritório

Central, é sediado também em Genebra e é órgão permanente da OIT. Além do

Escritório Central, possui cinco escritórios regionais e vinte e seis escritórios de

área, inclusive o Brasil, e ainda, doze equipes técnicas multidisciplinares de apoio

aos escritórios e onze correspondentes nacionais que executam e administramos

programas, projetos e atividade de cooperação técnica e reuniões regionais, sub-

regionais e nacionais.211

A estrutura da OIT inclui uma rede de 5 escritórios regionais

e 26 escritórios de área, além de 12 equipes técnicas multidisciplinares de apoio a

esses escritórios e 11 correspondentes nacionais que sustentam, de maneira

parcialmente descentralizada, a execução e administração dos programas, de

209 209 SÜSSEKIND, Arnaldo. Convenções da OIT. p. 22-23 210 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho, p. 72 211 OIT. Organização Internacional do Trabalho. Brasília. Disponível em: <http://www.ilo.org/public/portugue/region/ampro/brasilia/inst/struct/index.htm> Acesso em: 09 de setembro de 2007.

57

reuniões regionais e projetos e atividades de cooperação técnica, nacionais como

sub-regionais.212

3. 6 A INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS PELOS TRIBUNAIS

A Constituição da OIT dispõe, em seu art. 37, dois

procedimentos para a solução de dificuldades ou questões relativas à

interpretação da própria Constituição e das convenções adotadas pela

Conferência: estabelecendo que para a resolução dessas controvérsias, estas

devem ser submetidas à Corte Internacional de Justiça; é facultado ao Conselho

da Administração; sem prejuízo do direto das partes interessadas de submeter a

controvérsia à referida corte, propor a à Conferência a aprovação de regras para

instituir um tribunal que fosse encarregado de solucionar rapidamente qualquer

questão ou dificuldade relacionada com a interpretação de uma convenção,

porquanto, esse tribunal especial estará obrigado a acatar os acórdãos e

resoluções consultivas que viessem da CIJ. As sentenças que forem proferidas

por esse tribunal especial da OIT irão ser comunicadas aos Membros da

Organização, devendo ser submetidas à Conferência qualquer observação que

esses formulem a respeito.213

Destarte, a Corte Internacional da Justiça tem jurisdição

sobre questões consultivas e litigiosas. No caso das questões consultivas, a

pedido do órgão a Corte poderá dar parecer consultivo sobre qualquer questão

jurídica, entretanto esse órgão deve estar em condições de fazer tal pedido,

estando de acordo com a Carta das Nações Unidas ou por ela autorizado.

Entretanto, no caso da questão litigiosa a competência da Corte compreende

todas as questões submetidas pelas partes, além de todos os assuntos previstos

em tratados e convenções em vigor e especialmente os previstos na Carta das

Nações Unidas, ademais, o art. 29 da Constituição da OIT faculta aos

212 OIT. Organização Internacional do Trabalho. Brasília. Disponível em: <http://www.ilo.org/public/portugue/region/ampro/brasilia/act/progr/setor.htm> Acesso em: 09 de setembro de 2007. 213 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 241.

58

governantes que são interessados em submeter à Corte a queixa formulada

contra um dos respectivos Estados, se não forem aceitas as recomendações da

comissão especial de investigações designada pelo Conselho da

Administração.214

A OIT optou por instituir um procedimento mais célere para a

interpretação das controvérsias sobre convenções internacionais do trabalho,

cujas resoluções devem respeitar as deliberações adotadas pela Corte. Ademias,

para a interpretação firmada pelo tribunal ter maior autenticidade, as observações

que os Estados-membros vierem a formular sobre suas resoluções são sujeitas à

Conferência, sendo ela o órgão legislativo da OIT.215

Independendo dos referidos procedimentos, que são

estatuídos para solucionar controvérsias relativas a Constituição da OIT e as

Convenções, é certo que, na prática os diversos órgãos da OIT se manifestam,

reiteradamente, sobre a interpretação dos referidos instrumentos. Depois de

realizada a audiência de órgãos técnicos da Repartição, o Diretor-Geral da RIT

responde a consultas, apontando sempre, que o faz com a reserva costumeira de

que a Constituição não estabelece competência especial para interpretar as

convenções adotadas pela Conferência Internacional do Trabalho.216

Com efeito, a Conferência quando aprova os relatórios da

Comissão da Aplicação de normas internacionais, bem como o Conselho de

Administração quando delibera as reclamações e queixas relativas à implicação

de convenções ratificadas ou sobre os casos de violação da liberdade sindical,

fazem afirmações e aprovam conclusões que constituem autêntica interpretação

das normas jurídicas analisadas.217

Desse modo, os relatórios da Comissão de Peritos na

Aplicação de Convenções e Recomendações, aprovados pela Comissão de

Aplicação de normas e pelo plenário da Conferência e os das comissões de

investigação de queixas e os do Comitê de Liberdade Sindical, aprovados pelo

214 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 241. 215 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 241-242. 216 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 241-242. 217 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 242.

59

Conselheiro da administração, constituem uma importante orientação

jurisprudencial sobre a interpretação dos instrumentos normativos da OIT, e de

preceitos da Constituição.218

Sobre os Direitos dos Tratados, a Convenção de Viena

determinou em seu art. 27 que nenhuma parte poderia invocar as disposições do

seu direito interno como desculpa do não cumprimento de um tratado, além de

estabelecer no art. 31, §1º, como regra de interpretação que um tratado tem o

dever de se interpretar de boa-fé, estando conforme ao sentido corrente atribuído

a seus termos, demonstrando seu sentido e sua finalidade.219

Ademais, a Convenção de Viena determina que, relativo aos

instrumentos da OIT, o intérprete deve abranger toda norma de direito

internacional, aplicando a pertinente nas relações entre as partes, além de não

esquecer de observar os termos da própria Convenção, podendo recorrer a meios

complementares de interpretação.220

A codificação do direito dos Tratados adotou o método

textual ou objetivo de interpretação, admitindo somente o apelo ao método

subjetivo, nos casos em que ocorrer ambigüidade ou obscuridade no sentido do

texto, bem como, quando conduzir a um resultado não razoável ou absurdo.221

No ano de 1969, ficou confirmado que a fórmula “pacta sunt

servanda”, que significa o cumprimento das cláusulas contratuais, deve ser o guia

de toda interpretação dos Tratados, pois as resoluções da CIJ, bem como, os

pronunciamentos da Comissão de Direito Internacional da ONU vêm negando os

métodos subjetivos de interpretação.222

218 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 242. 219 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 242. 220 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 243. 221 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 243. 222 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 243.

60

Por fim, a hermenêutica do Direito Internacional determina

que, quando ocorrer à existência de um texto duvidoso, será possível recorrer aos

princípios que regem a matéria à qual o texto referir.223

3. 7 CONTROLE DA APLICAÇÃO DAS NORMAS DA OIT

A OIT quando instituiu um sistema de controle da aplicação

das normas, adotadas por sua assembléia geral e aceitas pelos Estados-

membros, inovou o direito Internacional; influenciando a instituição de

mecanismos e procedimentos similares em outros organismos internacionais e

regionais.224

No ano de 1926, a OIT, a fim de aperfeiçoar esse sistema de

controle, criou a Comissão de Peritos na Aplicação das Convenções e

Recomendações e de uma Comissão tripartida na Conferência; além de introduzir

novas normas na revisão constitucional de 1946, e instituir em 1950, a Comissão

de Investigação e de Conciliação em Matéria de Liberdade Sindical e o Comitê de

Liberdade Sindical em 1951.225

A Comissão tripartida de aplicação de normas da

Conferência e a Comissão de Peritos na Aplicação das Convenções e

Recomendações têm como função supervisionar a aplicação das normas

pertinentes da Constituição da OIT e das Convenções ratificadas, exercendo um

controle regular ou permanente, além de periodicamente verificarem em que

medida estão sendo aplicadas certas convenções por parte dos países que não

as ratificaram e também determinadas recomendações que são escolhidas pelo

Conselho da Administração.226

Esses sistemas de controle visam obter o cumprimento das

obrigações contraídas pelos Estados-membros através de ratificação das

223 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 245. 224 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 247. 225 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 247. 226 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 248.

61

Convenções ou porque aderiram a Constituição da OIT. Entretanto, a Comissão

de Peritos e o Comitê de Liberdade Sindical têm como função promover a

aplicação das normas internacionais do trabalho aos países que não assumiram

tais obrigações.227

Além de existir o controle regular ou permanente, do

cumprimento das obrigações derivadas da Constituição da OIT e das Convenções

ratificadas pelos Estados-membros, existem dois procedimentos contenciosos.228

Esses procedimentos contenciosos, reclamação e queixa,

são instaurados mediante a representação formal de um Estado-membro, de uma

organização de empregadores e empregados ou uma delegação de Conferência;

além de poder ser iniciado pelo Conselho da Administração ex officio.229

A reclamação tem por objeto o não cumprimento satisfatório

por parte de qualquer Estado-membro no território de sua jurisdição e de uma

Convenção ratificada. Exclusivamente as organizações de empregadores ou de

trabalhadores devem dar o impulso inicial do procedimento contencioso da

reclamação, pois elas possuem personalidade no direito público internacional;

todavia, as simples organizações de fato de empregadores ou trabalhadores, não

consideras pessoa jurídica, não possuem condições de intentar a reclamação.230

A queixa é mais formal, tendo suas regras inseridas na

Constituição da OIT, este procedimento pode ser instaurado por qualquer Estado-

membro quando outro integrante da OIT não adota as medidas necessárias ao

cumprimento de uma convenção, ou quando o Estado-membro não tenha

cumprido, no prazo previsto, a obrigação de natureza formal estatuída no art.19

da Constituição, que refere-se à submissão das recomendações e convenções

adotadas pela Conferência às autoridades competentes nacionais.231

Cabe ao Conselho de Administração apreciar a queixa e a

determinação das providências indispensáveis à elucidação do caso, podendo se 227 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 248. 228 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 265. 229 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 248. 230 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 265-266. 231 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 268-269.

62

utilizar de uma Comissão de Investigação, para estudar a questão e informar a

respeito, ou solicitar ao governo contra o qual se dirige a queixa que formule

sobre o assunto a declaração que considere conveniente, que seria o mais

aconselhável.232

O processo referente a queixa é de natureza judicial,

devendo usar todas as garantias de imparcialidade que um processo judicial

possui. Quando o governo denunciado é citado para responder a queixa, pode

solicitar que seja enviado um representante do Diretor Geral ao seu país para

obter as informações sobre a questão equacionada.233

O Diretor Geral da RIT é incumbido de comunicar o relatório

da Comissão ao Conselho da Administração, aos governos querelado e

querelante e providenciar a sua publicação. Os governos interessados deverão

comunicar o Diretor se aceita ou não as recomendações contidas no relatório da

Comissão de Investigação no prazo de três meses; se não aceitar, deve dizer se

deseja submeter a queixa a CIJ, a qual tem o poder de modificar ou anular as

conclusões ou recomendações da Comissão de Investigação, sendo que esta

decisão é inapelável.234

Quando a queixa tratar da não-submissão de convenção ou

recomendação à autoridade competente nacional, incumbe ao Conselho de

Administração apreciar a queixa e informar a Conferência sempre que concluir

pela sua procedência.235

A OIT não tem como alvo aplicar as sanções aos Estados

que a constituem, e sim empreender todos os esforços a adotar as medidas

corretas, visando efetiva aplicação dos princípios que a fundamentam, e das

normas aprovadas pela Conferência, acima de tudo em relação aos países que

ratificaram as correspondentes convenções.236

232 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 269. 233 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 270. 234 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 271. 235 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 271. 236 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 283.

63

Quando houver a suspensão ou a eliminação de um Estado-

membro, mesmo que de forma grave e reiterada tenha descumprido as

obrigações previstas na Constituição da OIT, representa penalidade que deve ser

evitada. Pois quando se coloca o Estado indigno fora da comunidade

internacional, estará o liberando das suas obrigações jurídicas.

3. 8 A ORDEM ECONÔMICA INTERNACIONAL

Em um mundo que se encontra em acelerada transmutação,

como o atual, a sabedoria do estadista, bem como entidades que compõem o

sistema das Nações Unidas, devem constituir e conciliar com o financeiro e o

social, visando estabilidade monetária e o desenvolvimento social.237

É certo que, nenhuma nação pode viver harmoniosamente

por muito tempo, sem que sejam atendidas essas exigências sociais, como o

direito do cidadão a um trabalho que lhe assegure a subsistência com dignidade,

a segurança de renda na velhice, invalidez ou morte.238

Nesse sentido, os adeptos do Estado social e os do Estado

liberal possuem posições distintas. O Estado liberal prega a omissão do Estado

nas relações de trabalho, entretanto o Estado Social defende a intervenção

estatal, com a doutrina social da igreja, a filosofia trabalhista e a social

democracia, tendo como objetivo garantir condições justas de trabalho, em um

nível adequado a cada país, podendo e devendo ser ampliado através de

instrumentos da negociação coletiva entre os sindicatos de trabalhadores e

empresários, ou associações destes.239

Analisando o campo da Previdência Social, os liberais

acreditam na incidência dos seguros sociais sobre salários não excedentes de um

pequeno valor, com o intuito de propiciarem a expansão das empresas de

previdência privada, entretanto, alguns pretendem a implosão do sistema

237 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 300. 238 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 300. 239 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 300.

64

previdenciário estatal. Porém, o certo seria que, a previdência social labore em

função do nível modal dos salários da classe média, com a tributação universal

fundada no princípio da solidariedade social, além das distribuições dos

diretamente interessados.240

Para a globalização da economia, concorrem dois fatores

conjugados: a revolução tecnológica, a microinformática interligada por

avançados instrumentos da telecomunicação, biotecnologia e aplicação da

microeletrônica na sofisticada automação empresarial, inclusive através de robôs;

bem como a queda do muro de Berlim, no ano de 1989, que simbolizou o ato final

da divisão do nosso mundo entre o império soviético e o capitalista, por fim a

implosão da Guerra Fria, que possibilitou os detentores do poder econômico a

oportunidade de imporem a mundialização do comércio em direito próprio.241

Destarte, essa fase de inúmeros progressos tecnológicos, a

globalização gerou a multiplicação de produtos e empreendimentos industriais,

ampliando de forma significativa os setores de serviços. Seria possível a

utilização desses meios para atender o ser humano em todas as regiões da terra.

Todavia, infelizmente é notório que está acarretando em maior concentração de

riqueza em determinados países, que dominam e dirigem a ordem econômica

transnacional.242

Com efeito, o FMI e o Banco Mundial reconhecem que a

globalização da economia tem seus aspectos desumanos, é certo que o

neoliberalismo está favorecendo o enriquecimento dos países ricos a partir do

empobrecimento dos países pobres.243

Nesses aspectos, nota-se que esse quadro gerou a redução

dos índices de sindicalização, prejudicou a ação social na negociação coletiva e

dificultou a ação normativa da OIT. As normas adotas, pretendendo uma certa

240 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 300. 241 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 300-301. 242 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 301. 243 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 303.

65

universalidade, vêm se mostrando cada vez mais flexíveis, com exceção dos

direitos fundamentais do trabalho.244

Desde a sua criação, a OIT determinou que o ser humano,

especificamente o trabalhador, seria o principal alvo para sua atividade normativa,

onde visa a universalidade da justiça social, para isso usou de instrumentos como

investigações, estudos, cursos e programas de cooperação técnica.245

A maior preocupação da OIT, são os países que possuem

péssimas condições de trabalho e inexistentes ou ineficazes sistema de

Previdência Social, tentando possibilitar a sua ampliação no mercado mundial,

pelo baixo custo dos seus produtos.246

Nesse sentido, a OIT propôs que a OMC introduzisse nos

contratos comercias, uma cláusula de âmbito social, visando que a importação de

bens ficaria condicionada à ratificação e observância pelo país exportador.

Todavia, essa proposta foi rejeitada pela Conferência da OMC, no mês de maio

de 1997, que argumentou que a questão deveria se situar apenas no âmbito da

OIT.247

Por fim, a OIT resolveu submeter à Conferência de junho do

mesmo ano, uma discussão sobre os direitos fundamentais dos trabalhadores, a

proposta ao final adotada, foi que os Estados-mebros se limitaram a reafirmar o

compromisso de respeitar, promover e tornarem realidade, de boa-fé, o direito dos

trabalhadores e empregadores à liberdade sindical, reconhecendo efetivamente o

direito à negociação coletiva, lutando pela eliminação das formas de trabalho

forçada ou obrigatória, e pela erradicação do trabalho infantil e supressão da

discriminação em matéria de emprego e ocupação. A OIT, por sua vez, reiterou

sua obrigação de atender aos pedidos dos seus Membros para alcançar seus

objetivos, mobilizando recursos externos e pedindo apoio de outras organizações

244 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 303. 245 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 303. 246 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 312. 247 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 312.

66

internacionais com as quais a OIT estabeleceu relações, além de usar

plenamente suas verbas.248

248 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 313.

67

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo investigar, à luz da

legislação e da doutrina, o Direito Internacional do Trabalho, destacando aspectos

interessantes da Organização Internacional do Trabalho, bem como sua

importância para efetivação da norma trabalhista em âmbito internacional.

O interesse pelo tema deu-se em razão de sua atualidade e

por tratar-se de um tema que envolve a todos, tanto os trabalhadores como os

empregadores.

Para seu desenvolvimento lógico, o trabalho foi dividido em

três capítulos. No primeiro, abordou-se o histórico e surgimento da

internacionalização da legislação trabalhista, destacando-se a fundamental

importância das reformas sociais para o surgimento de uma legislação trabalhista,

a qual alcançaria âmbitos mundiais.

No segundo capítulo foi analisado os Tratados e as

Convenções, os quais se fizeram muito importantes e necessários para o

surgimento e formação da Organização Internacional do Trabalho – OIT.

No terceiro e último capítulo, trabalhou-se as características

da Organização Internacional do Trabalho; destacando-se e explicando-se seus

objetivos, finalidade, natureza jurídica e órgãos.

Registra-se que as duas hipóteses básicas que nortearam o

presente trabalho restaram integralmente confirmadas. Sendo válido retomá-las:

� Sendo a finalidade da Organização Internacional do trabalho a justiça social, bem como o progresso material, espiritual do ser humano, dando a ele condições de igualdade, dignidade, liberdade e segurança econômica. A OIT tem conseguido seus objetivos em relação a essas questões tratadas?

68

� A Organização Internacional do Trabalho possibilita melhores condições de vida aos trabalhadores e proporciona um avanço social e econômico no Brasil?

Em relação a primeira hipótese, observou-se que a

Organização Internacional do Trabalho desenvolve um excelente trabalho,

visando a paz universal e justiça social; conseguindo abolir todas as formas de

condições de trabalho desumanas e injustas. Além de criar, supervisionar e

efetivar a aplicação das normas em âmbito internacional.

Por fim, com relação à segunda hipótese, destacou-se que a

Organização Internacional do Trabalho conseguiu possibilitar ao Brasil melhores

condições de vida aos trabalhadores, proporcionando avanço econômico e social

no país. Com efeito, vem oferecendo cooperação técnica aos programas

prioritários e reformas sociais do Governo brasileiro, incluindo o Plano Nacional

para a Erradicação do Trabalho Escravo, Fome Zero, Primeiro Emprego e

diversos programas governamentais e não governamentais de erradicação e

prevenção do trabalho infantil, de combate à exploração sexual de menores; de

promoção de igualdade de gênero e raça para a redução da pobreza, da geração

de empregos, de fortalecimento do diálogo social e de programas de proteção

social.

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Acesso em 13 de outubro de 2007.

ANEXOS

CONSTITUIÇÃO DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT) E SEU ANEXO

(Declaração de Filadélfia)

O texto em vigor da Constituição da Organização Internacional do Trabalho foi aprovado na 29ª reunião da Conferência Internacional do Trabalho (Montreal -- 1946) e tem, como anexo, a Declaração referente aos fins e objetivos da Organização, que fora aprovada na 26ª reunião da Conferência (Filadélfia -- 1944).

A Constituição, assim revista, substituiu a adotada em 1919 e que

fora emendada em 1922, 1934 e 1945. Sua vigência teve início em 20 de abril de 1948.

O Brasil ratificou o instrumento de emenda da Constituição da OIT

em 13 de abril de 1948, conforme Decreto de Promulgação n. 25.696, de 20 de outubro de 1948.

O texto constitucional que reproduzimos neste livro corresponde à

revisão de 1946, com as emendas de 1953, 1962 e 1972, todas em vigor no âmbito internacional e ratificadas pelo Brasil. Em 1964 foi aprovada uma emenda ao art. 35, que, todavia, ainda não obteve o número de ratificações necessário para gerar sua vigência. E, em 1986, a 72ª reunião da Conferência, realizada em Genebra, aprovou ampla revisão da Constituição (arts. 1, 3, 6, 7, 8, 13, 16, 17, 19, 21 e 36), que também não entrou em vigor, pois o instrumento de emenda ainda não foi ratificado por dois terços dos Estados-Membros da OIT, incluídos, entre estes, cinco dos dez países de maior importância industrial (o Brasil é um deles), tal como exige o art. 36 do texto vigente.

INSTRUMENTO PARA A EMENDA DA CONSTITUIÇÃO DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO

A Conferência Geral da Organização Internacional do Trabalho,

Convocada pelo Conselho de Administração da Repartição Internacional do Trabalho e reunida em Montreal a 19 de setembro de 1946, em sua vigésima nona sessão,

Após haver decidido adotar determinadas propostas para a emenda da Constituição da Organização Internacional do Trabalho, questão compreendida no segundo item da ordem do dia da sessão,

Adota, aos nove de outubro de mil novecentos e quarenta e seis, o instrumento seguinte para a emenda da Constituição da Organização Internacional do Trabalho, instrumento que será denominado: Instrumento para a Emenda da Constituição da Organização Internacional do Trabalho, 1946.

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Artigo 1º

A partir da data da entrada em vigor do presente instrumento, a Constituição da Organização Internacional do Trabalho, cujo texto se encontra reproduzido na primeira coluna do anexo ao citado instrumento, vigorará na forma emendada que consta da segunda coluna.

Artigo 2º

Dois exemplares autênticos do presente instrumento serão assinados pelo Presidente da Conferência e pelo Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho. Um destes exemplares será depositado no arquivo da Repartição Internacional do Trabalho e o outro será entregue ao Secretário-Geral das Nações Unidas para fins de registro, de acordo com o art. 102 da Carta das Nações Unidas. O Diretor-Geral transmitirá uma cópia, devidamente autenticada, desse instrumento a cada um dos Estados-Membros da Organização Internacional do Trabalho.

Artigo 3º

1. As ratificações ou aceitações formais do presente instrumento serão comunicadas ao Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho, que dará das mesmas conhecimento aos Estados-Membros da Organização.

2. O presente instrumento entrará em vigor nas condições previstas pelo art. 36 da Constituição da Organização Internacional do Trabalho.

3. Assim que o presente instrumento entrar em vigor, tal fato será comunicado, pelo Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho, a todos os Estados-Membros da referida Organização, ao Secretário-Geral das Nações Unidas e a todos os Estados signatários da Carta das Nações Unidas."

CONSTITUIÇÃO DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO

Preâmbulo

"Considerando que a paz para ser universal e duradoura deve assentar sobre a justiça social;

Considerando que existem condições de trabalho que implicam,

para grande número de indivíduos, miséria e privações, e que o descontentamento que daí decorre põe em perigo a paz e a harmonia universais, e considerando que é urgente melhorar essas condições no que se refere, por exemplo, à regulamentação das horas de trabalho, à fixação de uma duração máxima do dia e da semana de trabalho, ao recrutamento da mão-de-obra, à luta contra o desemprego, à garantia de um salário que assegure condições de

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existência convenientes, à proteção dos trabalhadores contra as moléstias graves ou profissionais e os acidentes do trabalho, à proteção das crianças, dos adolescentes e das mulheres, às pensões de velhice e de invalidez, à defesa dos interesses dos trabalhadores empregados no estrangeiro, à afirmação do princípio "para igual trabalho, mesmo salário", à afirmação do princípio de liberdade sindical, à organização do ensino profissional e técnico, e outras medidas análogas;

Considerando que a não adoção por qualquer nação de um regime

de trabalho realmente humano cria obstáculos aos esforços das outras nações desejosas de melhorar a sorte dos trabalhadores nos seus próprios territórios.

AS ALTAS PARTES CONTRATANTES, movidas por sentimentos de

justiça e humanidade e pelo desejo de assegurar uma paz mundial duradoura, visando os fins enunciados neste preâmbulo, aprovam a presente Constituição da Organização Internacional do Trabalho:

CAPÍTULO I

ORGANIZAÇÃO

Artigo 1

1. É criada uma Organização permanente, encarregada de promover a realização do programa exposto no preâmbulo da presente Constituição e na Declaração referente aos fins e objetivos da Organização Internacional do Trabalho, adotada em Filadélfia a 10 de maio de 1944 e cujo texto figura em anexo a presente Constituição.

2. Serão Membros da Organização Internacional do Trabalho os Estados que já o eram a 1º de novembro de 1945, assim como quaisquer outros que o venham a ser, de acordo com os dispositivos dos parágrafos 3º e 4º do presente artigo.

3. Todo Estado-Membro das Nações Unidas, desde a criação desta instituição e todo Estado que for a ela admitido, na qualidade de Membro, de acordo com as disposições da Carta, por decisão da Assembléia Geral, podem tornar-se Membros da Organização Internacional do Trabalho, comunicando ao Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho que aceitou, integralmente as obrigações decorrentes da Constituição da Organização Internacional do Trabalho.

4. A Conferência Geral da Organização Internacional do Trabalho tem igualmente poderes para conferir a qualidade de Membro da Organização, por maioria de dois terços do conjunto dos votos presentes, se a mesma maioria prevalecer entre os votos dos delegados governamentais. A admissão do novo Estado-Membro tornar-se-á efetiva quando ele houver comunicado ao Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho que aceita integralmente as obrigações decorrentes da Constituição da Organização.

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5. Nenhum Estado-Membro da Organização Internacional do Trabalho poderá dela retirar-se sem aviso prévio ao Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho. A retirada tornar-se-á efetiva dois anos depois que este aviso prévio houver sido recebido pelo Diretor-Geral, sob condição de que o Estado-Membro haja, nesta data, preenchido todas as obrigações financeiras que decorrem da qualidade de Membro. Esta retirada não afetará, para o Estado-Membro que houver ratificado uma convenção, a validez das obrigações desta decorrentes, ou a ela relativas, durante o pedido previsto pela mesma convenção.

6. Quando um Estado houver deixado de ser Membro da Organização, sua readmissão nesta qualidade, far-se-á de acordo com os dispositivos dos parágrafos 3º e 4º do presente artigo.

Artigo 2

A Organização permanente compreenderá: a) uma Conferência geral constituída pelos Representantes dos

Estados Membros; b) um Conselho de Administração composto como indicado no art.

7º; c) uma Repartição Internacional do Trabalho sob a direção de um

Conselho de Administração.

Artigo 3

1. A Conferência geral dos representantes dos Estados-Membros realizará sessões sempre que for necessário, e, pelo menos, uma vez por ano. Será composta de quatro representantes de cada um dos Membros, dos quais dois serão Delegados do Governo e os outros dois representarão, respectivamente, os empregados e empregadores.

2. Cada Delegado poderá ser acompanhado por consultores técnicos, cujo número será de dois no máximo , para cada uma das matérias inscritas na ordem do dia da sessão. Quando a Conferência discutir questões que interessem particularmente às mulheres, uma ao menos das pessoas designadas como consultores técnicos deverá ser mulher.

3. Todo Estado-Membro responsável pelas relações internacionais de territórios não metropolitanos poderá designar, a mais, como consultores técnicos suplementares de cada um de seus delegados:

a) pessoas, por ele escolhidas, como representantes do território, em relação às matérias que entram na competência das autoridades do mesmo território;

b) pessoas por ele escolhidas como assistentes de seus delegados em relação às questões de interesse dos territórios que não se governam a si mesmos.

4. Tratando-se de um território colocado sob a autoridade conjunta de dois ou mais Estados-Membros, poder-se-á nomear assistentes para os delegados dos referidos Membros.

5. Os Estados-Membros comprometem-se a designar os delegados e consultores técnicos não governamentais de acordo com as organizações

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profissionais mais representativas, tanto dos empregadores como dos empregados, se essas organizações existirem.

6. Os consultores técnicos não serão autorizados a tomar a palavra senão por pedido feito pelo delegado a que são adidos e com a autorização especial do Presidente da Conferência. Não poderão votar.

7. Qualquer delegado poderá, por nota escrita dirigida ao Presidente, designar um de seus consultores técnicos como seu substituto, e este, nesta qualidade, poderá tomar parte nas deliberações e votar.

8. Os nomes dos delegados e de seus consultores técnicos serão comunicados à Repartição Internacional do Trabalho pelo Governo de cada Estado-Membro.

9. Os poderes dos delegados e de seus consultores técnicos serão submetidos à verificação da Conferência, que poderá, por dois terços, ou mais, dos votos presentes, recusar admitir qualquer delegado ou consultor técnico que julgue não ter sido designado conforme os termos deste artigo.

Artigo 4

1. Cada delegado terá o direito de votar individualmente em todas as

questões submetidas às deliberações da Conferência. 2. No caso em que um dos Estados-Membros não haja designado

um dos delegados não governamentais a que tiver direito, cabe ao outro delegado não governamental o direito de tomar parte nas discussões da Conferência, mas não o de votar.

3. Caso a Conferência, em virtude dos poderes que lhe confere o art. 3º, recuse admitir um dos delegados de um dos Estados-Membros, as estipulações deste artigo serão aplicadas como se o dito delegado não tivesse sido designado.

Artigo 5

As sessões da Conferência realizar-se-ão no lugar determinado pelo

Conselho de Administração, respeitadas quaisquer decisões que possam haver sido tomadas pela Conferência no decurso de uma sessão anterior.

Artigo 6

Qualquer mudança da sede da Repartição Internacional do Trabalho

será decidida pela Conferência por uma maioria de dois terços dos sufrágios dos delegados presentes.

Artigo 7

1. O Conselho de Administração será composto de 56 pessoas: 28

representantes dos Governos, 4 representantes dos empregadores e 14 representantes dos empregados.

2. Dos vinte e oito representantes dos Governos, dez serão nomeados pelos Estados-Membros de maior importância industrial e dezoito serão nomeados pelos Estados-Membros designados para esse fim pelos

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delegados governamentais da Conferência, excluídos os delegados dos dez Membros acima mencionados.

3. O Conselho de Administração indicará, sempre que julgar oportuno, quais os Estados-Membros de maior importância industrial, e, antes de tal indicação, estabelecerá regras para garantir o exame, por uma comissão imparcial, de todas as questões relativas à referida indicação. Qualquer apelo formulado por um Estado-Membro contra a resolução do Conselho de Administração quanto aos Membros de maior importância industrial, será julgado pela Conferência, sem contudo suspender os efeitos desta resolução, enquanto a Conferência não se houver pronunciado.

4. Os representantes dos empregadores e os dos empregados serão, respectivamente, eleitos pelos delegados dos empregadores e pelos delegados dos trabalhadores à Conferência.

5. O Conselho será renovado de três em três anos. Se, por qualquer motivo, as eleições para o Conselho de Administração não se realizarem ao expirar este prazo, será mantido o mesmo Conselho de Administração até que se realizem tais eleições.

6. O processo de preencher as vagas, de designar os suplentes, e outras questões da mesma natureza, poderão ser resolvidas pelo Conselho de Administração, sob ressalva da aprovação da Conferência.

7. O Conselho de Administração elegerá entre os seus membros um presidente e dois vice-presidentes. Dentre os três eleitos, um representará um Governo e os dois outros, empregadores e empregados, respectivamente. 8. O Conselho de Administração estabelecerá o seu próprio regulamento e reunir-se-á nas épocas que determinar. Deverá realizar uma sessão especial, sempre que dezesseis dos seus Membros, pelo menos, formularem pedido por escrito para esse fim.

Artigo 8

1. A Repartição Internacional do Trabalho terá um Diretor-Geral,

designado pelo Conselho de Administração, responsável, perante este, pelo bom funcionamento da Repartição e pela realização de todos os trabalhos que lhe forem confiados.

2. O Diretor-Geral ou o seu suplente assistirão a todas as sessões do Conselho de Administração.

Artigo 9

1. O pessoal da Repartição Internacional do Trabalho será escolhido pelo Diretor-Geral de acordo com as regras aprovadas pelo Conselho de Administração.

2. A escolha deverá ser feita, pelo Diretor-Geral, sempre que possível, entre pessoas de nacionalidades diversas, visando a maior eficiência no trabalho da Repartição.

3. Dentre essas pessoas deverá existir um certo número de mulheres.

4. O Diretor-Geral e o pessoal, no exercício de suas funções, não solicitarão nem aceitarão instruções de qualquer Governo ou autoridade estranha

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à Organização. Abster-se-ão de qualquer ato incompatível com sua situação de funcionários internacionais, responsáveis unicamente perante a Organização.

5. Os Estados-Membros da Organização comprometem-se a respeitar o caráter exclusivamente internacional das funções do Diretor-Geral e do pessoal e a não procurar influenciá-los quanto ao modo de exercê-las.

Artigo 10

1. A Repartição Internacional do Trabalho terá por funções a

centralização e a distribuição de todas as informações referentes à regulamentação internacional da condição dos trabalhadores e do regime do trabalho e, em particular, o estudo das questões que lhe compete submeter às discussões da Conferência para conclusão das convenções internacionais assim como a realização de todos os inquéritos especiais prescritos pela Conferência, ou pelo Conselho de Administração.

2. A Repartição, de acordo com as diretrizes que possa receber do Conselho de Administração:

a) preparará a documentação sobre os diversos assuntos inscritos na ordem do dia das sessões da Conferência;

b) fornecerá, na medida de seus recursos, aos Governos que o pedirem, todo o auxílio adequado à elaboração de leis, consoante as decisões da Conferência, e, também, ao aperfeiçoamento da prática administrativa e dos sistemas de inspeção;

c) cumprirá, de acordo com o prescrito na presente Constituição, os deveres que lhe incumbem no que diz respeito à fiel observância das convenções;

d) redigirá e trará a lume, nas línguas que o Conselho de Administração julgar conveniente, publicações de interesse internacional sobre assuntos relativos à indústria e ao trabalho.

3. De um modo geral, terá quaisquer outros poderes e funções que a Conferência ou o Conselho de Administração julgarem acertado atribuir-lhe.

Artigo 11

Os Ministérios dos Estados-Membros, encarregados de questões

relativas aos trabalhadores, poderão comunicar-se com o Diretor-Geral por intermédio do representante do seu Governo no Conselho de Administração da Repartição Internacional do Trabalho, ou, na falta desse representante, por intermédio de qualquer outro funcionário devidamente qualificado e designado para esse fim pelo Governo interessado.

Artigo 12

1. A Organização Internacional do Trabalho cooperará, dentro da

presente Constituição, com qualquer organização internacional de caráter geral encarregada de coordenar as atividades de organizações de direito internacional público de funções especializadas, e também, com aquelas dentre estas últimas organizações, cujas funções se relacionem com as suas próprias.

2. A Organização Internacional do Trabalho poderá tomar as medidas que se impuserem para que os representantes das organizações de

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direito internacional público participem, sem direito de voto, de suas próprias deliberações.

3. A Organização Internacional do Trabalho poderá tomar todas as medidas necessárias para consultar, a seu alvitre, organizações Internacionais não governamentais reconhecidas, inclusive organizações internacionais de empregadores, empregados, agricultores e cooperativistas.

Artigo 13

1. A Organização Internacional do Trabalho poderá concluir com as

Nações Unidas quaisquer acordos financeiros e orçamentários que pareçam convenientes.

2. Antes da conclusão de tais acordos, ou, se, em dado momento, não os houver em vigor:

a) cada Membro pagará as despesas de viagem e de estada dos seus delegados, consultores técnicos ou representantes, que tomarem parte, seja nas sessões da Conferência, seja nas do Conselho de Administração;

b) quaisquer outras despesas da Repartição Internacional do Trabalho, ou provenientes das sessões da Conferência ou do Conselho de Administração, serão debitadas pelo Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho no orçamento da Organização Internacional do Trabalho;

c) as regras relativas à aprovação do orçamento da Organização Internacional do Trabalho, à distribuição das contribuições entre os Estados-Membros, assim como à arrecadação destas, serão estabelecidas pela Conferência por uma maioria de dois terços dos votos presentes. Tais regras estipularão que o orçamento e os acordos relativos à distribuição das despesas entre os Membros da Organização deverão ser aprovados por uma comissão constituída por representantes governamentais.

3. As despesas da Organização Internacional do Trabalho serão custeadas pelos Estados-Membros, segundo os acordos vigentes em virtude do parágrafo 1 ou do parágrafo 2 letra c do presente artigo.

4. Qualquer Estado-Membro da Organização, cuja dívida em relação a esta seja, em qualquer ocasião, igual ou superior ao total da contribuição que deveria ter pago nos dois anos completos anteriores, não poderá tomar parte nas votações da Conferência, do Conselho de Administração ou de qualquer comissão, ou nas eleições para o Conselho de Administração. A Conferência pode, entretanto, por maioria dos dois terços dos votos presentes, autorizar o Estado em questão a tomar parte na votação, ao verificar que o atraso é devido a motivo de força maior.

5. O Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho será responsável perante o Conselho de Administração pelo emprego dos fundos da Organização Internacional do Trabalho.

CAPÍTULO II

FUNCIONAMENTO

Artigo 14

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1. O Conselho de Administração elaborará a ordem do dia das sessões da Conferência, depois de ter examinado todas as propostas feitas pelos Governos de quaisquer dos Membros, por qualquer organização representativa indicada no artigo 3º, ou por qualquer organização de direito internacional público, sobre as matérias a incluir nessa ordem do dia.

2. O Conselho de Administração elaborará diretrizes para que a adoção pela Conferência de uma convenção ou de uma recomendação seja, por meio de uma conferência técnica preparatória ou por qualquer outro meio, precedida de um aprofundado preparo técnico e de uma consulta adequada dos Membros principalmente interessados.

Artigo 15

1. O Diretor-Geral exercerá as funções de Secretário-Geral da

Conferência e deverá fazer com que cada Estado-Membro receba a ordem do dia, quatro meses antes da abertura da sessão. Deverá, também, por intermédio dos referidos Estados-Membros, enviá-la, com essa antecedência, aos delegados não governamentais já nomeados e, ainda, àqueles que o forem dentro desse prazo.

2. Os relatórios sobre cada assunto inscrito na ordem do dia deverão ser comunicados aos Membros de modo a dar-lhes tempo de estudá-los convenientemente, antes da reunião da Conferência. O Conselho de Administração formulará diretrizes para execução deste dispositivo.

Artigo 16

1. Cada Estado-Membro terá o direito de impugnar a inscrição, na

ordem do dia da sessão, de um, ou diversos dos assuntos previstos. Os motivos justificativos dessa oposição deverão ser expostos numa memória dirigida ao Diretor-Geral, que deverá comunicá-la aos Estados-Membros da Organização.

2. Os assuntos impugnados ficarão, não obstante, incluídos na ordem do dia, se assim a Conferência o decidir por dois terços dos votos presentes.

3. Toda questão, que a Conferência decidir, pelos mesmos dois terços, seja examinada (diversamente do previsto no parágrafo precedente), será incluída na ordem do dia da sessão seguinte.

Artigo 17

1. A Conferência elegerá um presidente e três vice-presidentes. Os

três vice-presidentes serão, respectivamente, um delegado governamental, um delegado dos empregadores e um delegado dos trabalhadores. A Conferência formulará as regras do seu funcionamento; poderá instituir comissões encarregadas de dar parecer sobre todas as questões que ela julgar conveniente sejam estudadas.

2. As decisões serão tomadas por simples maioria dos votos presentes, exceto nos casos em que outra fórmula não for prescrita pela presente Constituição, por qualquer convenção ou instrumento que confira poderes à Conferência, ou, ainda, pelos acordos financeiros e orçamentários adotados em virtude do artigo 13.

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3. Nenhuma votação será válida, se o número dos votos reunidos for inferior à metade do dos delegados presentes à sessão.

Artigo 18

A Conferência poderá adir às suas comissões consultores técnicos,

sem direito de voto.

Artigo 19

1. Se a Conferência pronunciar-se pela aceitação de propostas relativas a um assunto na sua ordem do dia, deverá decidir se essas propostas tomarão a forma: a) de uma convenção internacional; b) de uma recomendação, quando o assunto tratado, ou um de seus aspectos não permitir a adoção imediata de uma convenção.

2. Em ambos os casos, para que uma convenção ou uma recomendação seja aceita em votação final pela Conferência, são necessários dois terços dos votos presentes.

3. A Conferência deverá, ao elaborar uma convenção ou uma recomendação de aplicação geral, levar em conta os países que se distinguem pelo clima, pelo desenvolvimento incompleto da organização industrial ou por outras circunstâncias especiais relativas à indústria, e deverá sugerir as modificações que correspondem, a seu ver, às condições particulares desses países.

4. Dois exemplares da convenção ou da recomendação serão assinados pelo Presidente da Conferência e pelo Diretor-Geral. Um destes exemplares será depositado nos arquivos da Repartição Internacional do Trabalho e o outro entregue ao Secretário-Geral das Nações Unidas. O Diretor-Geral remeterá a cada um dos Estados-Membros uma cópia autêntica da convenção ou da recomendação.

5. Tratando-se de uma convenção: a) será dado a todos os Estados-Membros conhecimento da

convenção para fins de ratificação; b) cada um dos Estados-Membros compromete-se a submeter,

dentro do prazo de um ano, a partir do encerramento da sessão da Conferência (ou, quando, em razão de circunstâncias excepcionais, tal não for possível, logo que o seja, sem nunca exceder o prazo de 18 meses após o referido encerramento), a convenção à autoridade ou autoridades em cuja competência entre a matéria, a fim de que estas a transformem em lei ou tomem medidas de outra natureza;

c) os Estados-Membros darão conhecimento ao Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho das medidas tomadas, em virtude do presente artigo, para submeter a convenção à autoridade ou autoridades competentes, comunicando-lhe, também, todas as informações sobre as mesmas autoridades e sobre as decisões que estas houverem tomado;

d) o Estado-Membro que tiver obtido o consentimento da autoridade, ou autoridades competentes, comunicará ao Diretor-Geral a ratificação formal da convenção e tomará as medidas necessárias para efetivar as disposições da dita convenção;

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e) quando a autoridade competente não der seu assentimento a uma convenção, nenhuma obrigação terá o Estado-Membro a não ser a de informar o Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho -- nas épocas que o Conselho de Administração julgar convenientes -- sobre a sua legislação e prática observada relativamente ao assunto de que trata a convenção. Deverá, também, precisar nestas informações até que ponto aplicou, ou pretende aplicar, dispositivos da convenção, por intermédio de leis, por meios administrativos, por força de contratos coletivos, ou, ainda, por qualquer outro processo, expondo, outrossim, as dificuldades que impedem ou retardam a ratificação da convenção.

6. Em se tratando de uma recomendação: a) será dado conhecimento da recomendação a todos os Estados-

Membros, a fim de que estes a considerem, atendendo à sua efetivação por meio de lei nacional ou por outra qualquer forma;

b) cada um dos Estados-Membros compromete-se a submeter, dentro do prazo de um ano a partir do encerramento da sessão da Conferência (ou, quando, em razão de circunstâncias excepcionais, tal não for possível, logo que o seja, sem nunca exceder o prazo de 18 meses após o referido encerramento), a recomendação à autoridade ou autoridades em cuja competência entre a matéria, a fim de que estas a transformem em lei ou tomem medidas de outra natureza;

c) os Estados-Membros darão conhecimento ao Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho das medidas tomadas, em virtude do presente artigo, para submeter a recomendação à autoridade ou autoridades competentes, comunicando-lhe, também as decisões que estas houverem tomado;

d) além da obrigação de submeter a recomendação à autoridade ou autoridades competentes, o Membro só terá a de informar o Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho -- nas épocas que o Conselho de Administração julgar convenientes – sobre a sua legislação e prática observada relativamente ao assunto de que trata a recomendação. Deverá também precisar nestas informações até que ponto aplicou ou pretende aplicar dispositivos da recomendação, e indicar as modificações destes dispositivos que sejam ou venham a ser necessárias para adotá-los ou aplicá-los.

7. No caso de um Estado federado serão aplicados os dispositivos seguintes:

a) as obrigações do Estado federado serão as mesmas que as dos Membros que o não forem, no tocante às convenções e às recomendações para as quais o Governo Federal considere que, de acordo com o seu sistema constitucional, é adequada uma ação federal;

b) no que disser respeito às convenções e recomendações para as quais o Governo Federal considere que, de acordo com o seu sistema constitucional, uma ação da parte dos Estados, das províncias ou dos cantões que o compõem, é – relativamente a alguns ou a todos os pontos -- mais adequada do que uma ação federal, o referido Governo deverá:

I) concluir, segundo a sua própria constituição e as dos Estados componentes, províncias ou cantões interessados, acordos efetivos para que tais convenções ou recomendações sejam, no prazo máximo de 18 meses após o encerramento da sessão da Conferência, submetidas às devidas autoridades

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federais ou às dos Estados competentes, províncias ou cantões, para fins de uma ação legislativa ou outra de qualquer natureza;

II) tomar as necessárias medidas -- sob reserva do consentimento dos Governos dos Estados componentes, províncias ou cantões interessados -- para que, periodicamente, as autoridades federais, de um lado e de outro, a dos Estados componentes, províncias ou cantões, se consultem reciprocamente, a fim de empreenderem uma ação coordenada no sentido de tornarem efetivos, em todo o país, os dispositivos destas convenções e recomendações;

III) informar o Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho das medidas tomadas, em virtude do presente artigo, para submeter tais convenções e recomendações às devidas autoridades federais, às dos Estados componentes, províncias ou cantões, comunicando-lhe todas as informações sobre as autoridades consideradas como legítimas e sobre as decisões que estas houverem tomado;

IV) relativamente a uma convenção não ratificada, informar o Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho, nas épocas que o Conselho de Administração julgar convenientes, sobre a legislação da federação, dos Estados constituintes, das províncias ou dos cantões, e sobre a prática, por umas e outros, observada, relativamente ao assunto de que trata essa convenção. Deverá, também, precisar até que ponto deu-se ou se pretende dar aplicação a dispositivos da mesma convenção, por intermédio de leis, por meios administrativos, por força de contratos coletivos, ou, ainda por qualquer outro processo;

V) relativamente a uma recomendação, informar o Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho, nas épocas que o Conselho de Administração julgar convenientes, sobre a legislação da federação, dos Estados constituintes, das províncias ou dos cantões, e sobre a prática, por umas e outros, observada relativamente ao assunto de que trata essa recomendação. Deverá, também, precisar, nestas informações, até que ponto deu-se ou se pretende dar aplicação a dispositivos da recomendação, indicando as modificações destes dispositivos que sejam ou venham a ser necessárias para adotá-los ou aplicá-los.

8. Em caso algum, a adoção, pela Conferência, de uma convenção ou recomendação, ou a ratificação, por um Estado-Membro, de uma convenção, deverão ser consideradas como afetando qualquer lei, sentença, costumes ou acordos que assegurem aos trabalhadores interessados condições mais favoráveis que as previstas pela convenção ou recomendação.

Artigo 20

Qualquer convenção assim ratificada será comunicada pelo Diretor-

Geral da Repartição Internacional do Trabalho ao Secretário-Geral das Nações Unidas, para fins de registro, de acordo com o art. 102 da Carta das Nações Unidas, obrigando apenas os Estados-Membros que a tiverem ratificado.

Artigo 21

1. Todo projeto que, no escrutínio final, não obtiver dois terços dos

votos presentes, poderá ser objeto de uma convenção particular entre os Membros da Organização que o desejarem.

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2. Toda convenção, assim concluída, será comunicada pelos Governos interessados ao Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho e ao Secretário-Geral das Nações Unidas para fins de registro, de acordo com os termos do art. 102 da Carta das Nações Unidas.

Artigo 22

Os Estados-Membros comprometem-se a apresentar à Repartição

Internacional do Trabalho um relatório anual sobre as medidas por eles tomadas para execução das convenções a que aderiram. Esses relatórios serão redigidos na forma indicada pelo Conselho de Administração e deverão conter as informações pedidas por este Conselho.

Artigo 23

1. O Diretor-Geral apresentará à Conferência, na sessão seguinte,

um resumo das informações e dos relatórios que, de acordo com os artigos 19 e 22, lhe houverem sido transmitidos.

2. Os Estados-Membros remeterão às organizações representativas, reconhecidas como tais, para os fins mencionados no art. 3º, cópia das informações e dos relatórios transmitidos ao Diretor-Geral, de acordo com os arts. 19 e 22.

Artigo 24

Toda reclamação, dirigida à Repartição Internacional do Trabalho,

por uma organização profissional de empregados ou de empregadores, e segundo a qual um dos Estados-Membros não tenha assegurado satisfatoriamente a execução de uma convenção a que o dito Estado haja aderido, poderá ser transmitida pelo Conselho de Administração ao Governo em questão e este poderá ser convidado a fazer, sobre a matéria, a declaração que julgar conveniente.

Artigo 25

Se nenhuma declaração for enviada pelo Governo em questão, num

prazo razoável , ou se a declaração recebida não parecer satisfatória ao Conselho de Administração, este último terá o direito de tornar pública a referida reclamação e, segundo o caso, a resposta dada.

Artigo 26

1. Cada Estado-Membro poderá enviar uma queixa à Repartição

Internacional do Trabalho contra outro Estado-Membro que, na sua opinião, não houver assegurado satisfatoriamente a execução de uma convenção que um e outro tiverem ratificado em virtude dos artigos precedentes.

2. O Conselho de Administração poderá, se achar conveniente, antes de enviar a questão a uma comissão de inquérito, segundo o processo

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indicado adiante, pôr-se em comunicação com o Governo visado pela queixa, do modo indicado no art. 24.

3. Se o Conselho de Administração não julgar necessário comunicar a queixa ao Governo em questão, ou, se essa comunicação, havendo sido feita, nenhuma resposta que satisfaça o referido Conselho, tiver sido recebida dentro de um prazo razoável, o Conselho poderá constituir uma comissão de inquérito que terá a missão de estudar a reclamação e apresentar parecer a respeito.

4. O Conselho também poderá tomar as medidas supramencionadas, quer ex officio, quer baseado na queixa de um delegado à Conferência.

5. Quando uma questão suscitada nos termos dos arts. 25 ou 26, for levada ao Conselho de Administração, o Governo em causa, se não tiver representante junto àquele, terá o direito de designar um delegado para tomar parte nas deliberações do mesmo, relativas ao caso. A data de tais deliberações será comunicada em tempo oportuno ao Governo em questão.

Artigo 27

No caso de ser enviada uma queixa em virtude do art. 26, a uma

Comissão de Inquérito, todo Estado-Membro, nela diretamente interessado ou não, comprometer-se-á a pôr à disposição da Comissão todas as informações que se acharem em seu poder relativas ao objeto da queixa.

Artigo 28

A Comissão de Inquérito, após exame aprofundado da queixa,

redigirá um relatório do qual constarão não só suas verificações sobre todos os pontos que permitam bem medir o valor da contestação, como, também, as medidas que recomenda para dar satisfação ao Governo queixoso e os prazos, dentro dos quais, as mesmas medidas devam ser postas em execução.

Artigo 29

1. O Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho

transmitirá o relatório da Comissão de Inquérito ao Conselho de Administração e a cada Governo interessado no litígio, assegurando a sua publicação.

2. Cada Governo interessado deverá comunicar ao Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho, dentro do prazo de três meses, se aceita ou não as recomendações contidas no relatório da Comissão, e, em caso contrário , se deseja que a divergência seja submetida à Corte Internacional de Justiça.

Artigo 30

Caso um dos Estados-Membros não tome, relativamente a uma

convenção ou a uma recomendação, as medidas prescritas nos parágrafos 5 b, 6 b, ou 7 b, I do art. 19, qualquer outro Estado-Membro terá o direito de levar a questão ao Conselho de Administração. O Conselho de Administração submeterá o assunto à Conferência, na hipótese de julgar que o Membro não tomou as medidas prescritas.

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Artigo 31

Será inapelável a decisão da Corte Internacional de Justiça sobre

uma queixa ou questão que lhe tenha sido submetida, conforme o art. 29.

Artigo 32

As conclusões ou recomendações eventuais da Comissão de Inquérito poderão ser confirmadas, alteradas ou anuladas pela Corte Internacional de Justiça.

Artigo 33

Se um Estado-Membro não se conformar, no prazo prescrito, com

as recomendações eventualmente contidas no relatório da Comissão de Inquérito, ou na decisão da Corte Internacional de Justiça, o Conselho de Administração poderá recomendar à Conferência a adoção de qualquer medida que lhe pareça conveniente para assegurar a execução das mesmas recomendações.

Artigo 34

O Governo culpado poderá, em qualquer ocasião, informar o

Conselho de Administração que tomou as medidas necessárias a fim de se conformar com as recomendações da Comissão de Inquérito ou com as da decisão da Corte Internacional de Justiça. Poderá, também, pedir ao Conselho que nomeie uma Comissão de Inquérito para verificar suas afirmações. Neste caso, aplicar-se-ão as estipulações dos arts. 27, 28, 29, 31 e 32, e, se o relatório da Comissão de Inquérito ou a decisão da Corte Internacional de Justiça, for favorável ao referido Governo, o Conselho de Administração deverá imediatamente recomendar que as medidas tomadas de acordo com o art. 33 sejam revogadas.

CAPÍTULO III

DISPOSIÇÕES GERAIS

Artigo 35

1. Excetuados os casos em que os assuntos tratados na convenção

não se enquadrem na competência das autoridades do território e aqueles em que a convenção for aplicável, dadas as condições locais, os Estados-Membros comprometem-se a aplicar as convenções que -- de acordo com os dispositivos da presente Constituição--houverem ratificado aos territórios não metropolitanos, por cujas relações internacionais forem responsáveis, inclusive aos territórios sob tutela cuja administração lhes competir, admitindo-se reserva quanto às

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modificações necessárias para se adaptarem tais convenções às condições locais.

2. Todo Estado-Membro deve, no mais breve prazo, após haver ratificado uma convenção, declarar ao Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho até que ponto se compromete a aplicá-la aos territórios não visados pelos parágrafos 4 e 5 abaixo, e fornecer-lhe, também, todas as informações que possam ser prescritas pela mesma convenção.

3. Todo Estado-Membro, que tiver formulado uma declaração como previsto no parágrafo precedente, poderá, de acordo com os artigos da convenção, fazer, periodicamente, nova declaração que modifique os termos mencionados no parágrafo precedente.

4. Quando os assuntos tratados na convenção forem da competência das autoridades de um território não metropolitano, o Estado-Membro responsável pelas relações internacionais deste território deverá, no mais breve prazo possível, comunicar a convenção ao Governo do mesmo, para que este Governo promulgue leis ou tome outras medidas. Em seguida poderá o Estado-Membro, de acordo com o mencionado Governo, declarar ao Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho que aceita as obrigações da convenção em nome do território.

5. Uma declaração de aceitação das obrigações de uma convenção poderá ser comunicada ao Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho:

a) por dois ou mais Estados-Membros da Organização, em se tratando de um território sob sua autoridade conjunta;

b) por qualquer autoridade internacional responsável pela administração de um território por força dos dispositivos da Carta das Nações Unidas, ou de qualquer outro dispositivo em vigor que se aplique ao mesmo território.

6. A aceitação das obrigações de uma convenção, segundo os parágrafos 4 e 5, acarretará a aceitação, em nome do território interessado, das obrigações que resultam dos termos da convenção, e, também, daquelas que, de acordo com a Constituição da Organização, decorrem da ratificação. Qualquer declaração de aceitação pode especificar as modificações dos dispositivos da convenção que seriam necessárias para adaptá-las às condições locais.

7. Todo Estado-Membro ou autoridade internacional, que houver feito uma declaração na forma prevista pelos parágrafos 4 e 5 do presente artigo, poderá, de acordo com os artigos da convenção, formular periodicamente nova declaração que modifique os termos de qualquer das anteriores ou que torne sem efeito a aceitação da convenção em nome do território interessado.

8. Se as obrigações decorrentes de uma convenção não forem aceitas quanto a um dos territórios visados pelos parágrafos 4 ou 5 do presente artigo, o Membro, os Membros, ou a autoridade internacional transmitirão ao Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho, um relatório sobre a legislação do mesmo território e sobre a prática nele observada, relativamente ao assunto de que trata a convenção. O relatório indicará até que ponto se aplicaram ou se pretendem aplicar dispositivos da convenção, por intermédio de leis, por meios administrativos, por força de contratos coletivos, ou por qualquer outro processo, expondo, outrossim, as dificuldades que impedem ou retardam a ratificação da dita convenção.

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Artigo 36

As emendas à presente Constituição, aceitas pela Conferência por dois terços dos votos presentes, entrarão em vigor quando forem ratificadas por dois terços dos Estados-Membros da Organização, incluindo cinco dentre os dez representados no Conselho de Administração como sendo os de maior importância industrial, de acordo com o disposto no artigo 7, parágrafo 3, da presente Constituição.

Artigo 37

1. Quaisquer questões ou dificuldades relativas à interpretação da

presente Constituição e das convenções ulteriores concluídas pelos Estados-Membros, em virtude da mesma, serão submetidas à apreciação da Corte Internacional de Justiça.

2. O Conselho de Administração poderá, não obstante o disposto no parágrafo 1 do presente artigo, formular e submeter à aprovação da Conferência, regras destinadas a instituir um tribunal para resolver com presteza qualquer questão ou dificuldade relativa à interpretação de uma convenção que a ele seja levada pelo Conselho de Administração, ou, segundo o prescrito na referida convenção. O Tribunal instituído, em virtude do presente parágrafo, regulará seus atos pelas decisões ou pareceres da Corte Internacional de Justiça. Qualquer sentença pronunciada pelo referido tribunal será comunicada aos Estados-Membros da Organização, cujas observações, a ela relativas, serão transmitidas à Conferência.

Artigo 38

1. A Organização Internacional do Trabalho poderá convocar

conferências regionais e criar instituições do mesmo caráter, quando julgar que umas e outras serão úteis aos seus fins e objetivos.

2. Os poderes, as funções e o regulamento das conferências regionais obedecerão às normas formuladas pelo Conselho de Administração e por ele apresentadas à Conferência Geral para fins de confirmação.

CAPÍTULO IV

DISPOSIÇÕES DIVERSAS

Artigo 39

A Organização Internacional do Trabalho deve ter personalidade jurídica, e, precipuamente, capacidade para:

a) adquirir bens, móveis e imóveis, e dispor dos mesmos; b) contratar; c) intentar ações.

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Artigo 40

1. A Organização Internacional do Trabalho gozará, nos territórios

de seus Membros, dos privilégios e das imunidades necessárias a consecução dos seus fins.

2. Os delegados à Conferência, os membros do Conselho de Administração, bem como o Diretor-Geral e os funcionários da Repartição, gozarão, igualmente, dos privilégios e imunidades necessárias para exercerem, com inteira independência, as funções que lhes competem, relativamente à Organização.

3. Tais privilégios serão especificados por um acordo em separado, que será elaborado pela Organização para fins de aceitação pelos Estados-Membros.

DECLARAÇÃO REFERENTE AOS FINS E OBJETIVOS DA ORGANIZAÇÃO

INTERNACIONAL DO TRABALHO

A Conferência Geral da Organização Internacional do Trabalho, reunida em Filadélfia em sua vigésima sexta sessão, adota, aos dez de maio de mil novecentos e quarenta e quatro, a presente Declaração, quanto aos itens e objetivos da Organização Internacional do Trabalho e aos princípios que devem inspirar a política dos seus Membros.

I

A Conferência reafirma os princípios fundamentais sobre os quais repousa a Organização, principalmente os seguintes:

a) o trabalho não é uma mercadoria; b) a liberdade de expressão e de associação é uma condição

indispensável a um progresso ininterrupto; c) a penúria, seja onde for, constitui um perigo para a prosperidade

geral; d) a luta contra a carência, em qualquer nação, deve ser conduzida

com infatigável energia, e por um esforço internacional contínuo e conjugado, no qual os representantes dos empregadores e dos empregados discutam, em igualdade, com os dos Governos, e tomem com eles decisões de caráter democrático, visando o bem comum.

II

A Conferência, convencida de ter a experiência plenamente

demonstrado a verdade da declaração contida na Constituição da Organização Internacional do Trabalho, que a paz, para ser duradoura, deve assentar sobre a justiça social, afirma que:

a) todos os seres humanos de qualquer raça, crença ou sexo, têm o direito de assegurar o bem-estar material e o desenvolvimento espiritual dentro da

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liberdade e da dignidade, da tranqüilidade econômica e com as mesmas possibilidades;

b) a realização de condições que permitam o exercício de tal direito deve constituir o principal objetivo de qualquer política nacional ou internacional;

c) quaisquer planos ou medidas, no terreno nacional ou internacional, máxime os de caráter econômico e financeiro, devem ser considerados sob esse ponto de vista e somente aceitos, quando favorecerem, e não entravarem, a realização desse objetivo principal;

d) compete à Organização Internacional do Trabalho apreciar, no domínio internacional, tendo em vista tal objetivo, todos os programas de ação e medidas de caráter econômico e financeiro;

e) no desempenho das funções que lhe são confiadas, a Organização Internacional do Trabalho tem capacidade para incluir em suas decisões e recomendações quaisquer disposições que julgar convenientes, após levar em conta todos os fatores econômicos e financeiros de interesse.

III

A Conferência proclama solenemente que a Organização

Internacional do Trabalho tem a obrigação de auxiliar as Nações do Mundo na execução de programas que visem:

a) proporcionar emprego integral para todos e elevar os níveis de vida;

b) dar a cada trabalhador uma ocupação na qual ele tenha a satisfação de utilizar, plenamente, sua habilidade e seus conhecimentos e de contribuir para o bem geral;

c) favorecer, para atingir o fim mencionado no parágrafo precedente, as possibilidades de formação profissional e facilitar as transferências e migrações de trabalhadores e de colonos, dando as devidas garantias a todos os interessados;

d) adotar normas referentes aos salários e às remunerações, ao horário e às outras condições de trabalho, a fim de permitir que todos usufruam do progresso e, também, que todos os assalariados, que ainda não o tenham, percebam, no mínimo, um salário vital;

e) assegurar o direito de ajustes coletivos, incentivar a cooperação entre empregadores e trabalhadores para melhoria contínua da organização da produção e a colaboração de uns e outros na elaboração e na aplicação da política social e econômica.