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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CAMILA KELLY DE SOUSA SILVA A (IM) POSSÍVEL CUMULAÇÃO DOS ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE Biguaçu 2010

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CAMILA KELLY DE SOUSA SILVA

A (IM) POSSÍVEL CUMULAÇÃO DOS ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE

Biguaçu 2010

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CAMILA KELLY DE SOUSA SILVA

A (IM) POSSÍVEL CUMULAÇÃO DOS ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientadora: Professora MSc. Roberta Schneider Westphal.

Biguaçu 2010

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CAMILA KELLY DE SOUSA SILVA

A (IM) POSSÍVEL CUMULAÇÃO DOS ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE

Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de bacharel e

aprovada pelo Curso de Direito, da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de

Ciências Sociais e Jurídicas.

Área de Concentração

Biguaçu, 17 de junho de 2010

Prof. MSc. Roberta Schneider Westphal UNIVALI – Campus de Biguaçu

Orientadora

Prof. MSc. Márcio Roberto Paulo UNIVALI – Campus de Biguaçu

Membro

Prof. MSc. Tânia Trajano UNIVALI – Campus de Biguaçu

Membro

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Dedico este trabalho primeiramente, a DEUS, pela

oportunidade e pelo privilégio que me foi dado em

compartilhar tamanha experiência, realizando o Curso de

Direito. Aos meus pais Sebastião Fernandes da Silva e

Sandra Regina de Sousa Silva, pela formação que me

deram que serviu de base para enfrentar as dificuldades;

pelo amor e carinho que dedicam a mim, por acreditarem na

possibilidade de eu conquistar essa vitória. Obrigada por me

ajudarem e me incentivaram a vencer mais essa etapa de

minha vida. Dedico também a minha Irmã Layana Sousa

Silva pelo apoio nessa jornada. Registro o agradecimento ao

meu amigo e companheiro Gabriel Simas, pelo carinho,

compreensão, incentivo, apoio emocional e suporte ao longo

do curso, me fazendo acreditar na capacidade do meu

próprio esforço. A minha orientadora, Roberta Schneider

Westphal, que me acolheu e me orientou pelas orientações

e recomendações para melhoria desta Monografia de

Conclusão de Curso. A todos os professores pelo carinho,

dedicação e entusiasmo demonstrado ao longo do curso.

Agradeço aos meus amigos por estarem comigo nesta

caminhada tornando-a mais fácil e agradável. Ao Dr.

Allexander Luckmann Gerent e demais colegas de trabalho,

por ter-me recebido como estagiária, me dando

oportunidade de aprimorar meus conhecimentos. A todos,

muito obrigada.

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“Não há como cultivar o direito, isolando-o da vida, que, em

nossa época, se caracteriza pela rápida mobilidade,

determinada pelo progresso científico e tecnológico, pelo

crescimento econômico e industrial, pelo influxo de novas

concepções sociais e políticas e por modificações culturais.”

(Plauco Faraco Azevedo)

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade

pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade

do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Biguaçu,17 de junho de 2010

Camila Kelly de Sousa Silva

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RESUMO

Com o advento da Revolução Industrial e de novos processos industriais, a

conseqüente modernização das máquinas, fez com que iniciasse o surgimento

de doenças ou acidentes decorrentes do trabalho, causados pela atividade

laboral. Somente após a Revolução Industrial na Inglaterra, e com o aumento

no número de acidentes no trabalho e de doenças, é que houve a preocupação

da sociedade para o fato, gerando assim, as primeiras leis de proteção ao

trabalhador e ao meio ambiente. Entre as normas que complementam a

Segurança e Medicina do Trabalho, encontram a NR-15 da Portaria n.

3.214/78, no qual define as atividades insalubres e a NR-16 da mesma portaria,

que define todas as atividades periculosas. Os artigos 189 e 193 da

Consolidação das Leis do trabalho dispõem acerca do adicional de

insalubridade e periculosidade, respectivamente, sendo que restará

evidenciada a insalubridade quando o empregado estiver exposto a agentes

nocivos à sua saúde, e a periculosidade será devida para quem tenha contato

permanente com inflamáveis ou explosivos em condições de risco acentuado.

Diante disso, o objeto de estudo visa especificamente analisar o dispositivo do

conteúdo material do § 2º, do artigo 193 da CLT, que veda a cumulação desses

adicionais, não recepcionado pela Constituição Federal de 1988, mais

precisamente pelo artigo 7º, inciso XXIII, visto que os adicionais previstos neste

inciso são indisponíveis, e aquele dispositivo celetista acaba reduzindo uma

garantia constitucional ao trabalhador, sendo que, no momento em que permite

a ele a escolha entre um adicional e outro, lhe impõe a renúncia do outro

adicional que também lhe é devido por norma constitucional.

Palavras chave: Insalubridade. Periculosidade. Cumulação

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ABSTRACT

With the advent of the Industrial Revolution and new industrial processes, the

consequent modernization of machinery meant that initiate the onset of illness

or accidents arising from work caused by work activity. Only after the Industrial

Revolution in England, and with the increase in the number of occupational

accidents and diseases, is that there was a concern of society for the fact, thus

generating the first laws protecting workers and the environment. Among the

standards that complement the Safety and Occupational Medicine, located NR-

15 of Ordinance No 3.214/78, which defines the activities that are unhealthy

and NR-16 of the same ordinance, which defines all activities periculosas.

Articles 189 and 193 of the Consolidated Laws of additional work have about

unhealthy and dangerous, respectively, and will remain unhealthy evidenced

when the employee is exposed to agents harmful to your health, and the

dangers will be due for those who have ongoing contact with flammable or

explosive under conditions of extreme risk. Therefore, the object of study is

specifically designed to analyze the device's material content of § 2 of Article

193 of the Labor Code, which prohibits the accumulation of additional, not

approved by the Federal Constitution of 1988, specifically under Article 7,

Paragraph XXIII, since that the additional set forth in this section are

unavailable, and that device Hired Under Employment Laws reducing ends a

constitutional guarantee to the worker, and, at the time that allows him to

choose between an extra and others, imposes the additional waiver of the other

which also is due to constitutional rule.

Keywords: insalubrity. Dangerousness. Cumulation.

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ROL DE ABREVIATURAS OU DE SIGLAS

CF/88 Constituição Federal de 1988

CTL Consolidação das Leis do Trabalho

STF Supremo Tribunal Federal

TST Tribunal Superior do Trabalho

TRT Tribunal Regional do Trabalho

EC Emenda Constitucional

ART. Artigo

OIT Organização Internacional do Trabalho

NR Norma Regulamentadora

CIPA Comissões Internas de Prevenção de Acidentes

EPI Equipamento de Proteção Individual

DRT Delegacia Regional do Trabalho

TEM Ministério do Trabalho e Emprego

SESMT Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho

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ROL DE CATEGORIAS

Segurança do Trabalho

É a ciência que atua na prevenção dos acidentes do trabalho decorrentes dos

fatores de risco operacionais.1

Insalubridade

Insalubre é o que é prejudicial à saúde, que dá causa à doença, e o adicional

de insalubridade não se trata de uma taxa, mas sim, de algo que se

acrescente.2

Periculosidade

O adicional de periculosidade é devido para quem tenha contato permanente

com inflamáveis ou explosivos em condições de risco acentuado. A

regulamentação que trata das condições periculosas no local de trabalho é a

NR-16 da Portaria n° 3.214/78. 3

Penosidade

Em espanhol, usa-se a expressão trabajos sucios, que são os executados em

minas de carvão, transporte e entrega de carvão, limpeza de chaminés, limpeza de caldeiras, limpeza e manutenção de tanques de petróleo, recipientes de azeite, trabalhos com grafite e cola, trabalho em matadouros, preparação de farinha de peixe, preparação de fertilizantes etc. 4

1 SALIBA, Tuffi Messias. Curso Básico de Segurança e Higiene Ocupacional. São Paulo: LTr, 2004. p. 19. 2 MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 200. 3 MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. p. 209. 4 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. São Paulo: Atlas, 2008. p. 639.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................... 12

1 DA SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO..................................... 14

1.1 BREVES NOÇÕES HISTÓRICAS E CONCEITUAIS.............................. 14

1.2 OBJETIVOS DA SEGURANÇA E MEDICINA DO

TRABALHO....................................................................................................

20

1.3 DA LEGISLAÇÃO APLICAVEL E NORMAS

REGULAMENTADORAS...............................................................................

24

1.4 DAS MEDIDAS PREVENTIVAS DA MEDICINA DO TRABALHO........... 29

1.4.1 Do exame médico................................................................................ 29

1.4.2 Do equipamento de proteção individual........................................... 32

1.5 ÓRGÃOS DA SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO NAS

EMPRESAS...................................................................................................

34

1.5.1 Serviço especializado em engenharia de segurança em medicina

do trabalho....................................................................................................

34

1.5.2 Comissão interna de prevenção de acidentes – CIPA..................... 36

2 DA REMUNERAÇÃO E ADICIONAIS........................................................ 40

2.1 DA REMUNERAÇÃO............................................................................... 40

2.2 DOS ADICIONAIS.................................................................................... 44

2.3 DOS ADICIONAIS PROTETIVOS............................................................ 47

2.3.1 Penosidade.......................................................................................... 48

2.3.2 Insalubridade....................................................................................... 50

2.3.3 Periculosidade..................................................................................... 54

2.3.4 Caracterização e classificação da insalubridade e

periculosidade..............................................................................................

57

2.3.5 Supervisão e fiscalização pelo ministério do trabalho e

emprego........................................................................................................

60

2.3.6 Eliminação e neutralização da insalubridade e periculosidade..... 62

3 DA (IM) POSSIVEL CUMULAÇÃO DOS ADICIONAIS............................. 65

3.1 DA CUMULAÇÃO DE ADICIONAIS......................................................... 65

3.2 DA CELEUMA JURISPRUDENCIAL ACERCA DA CUMULAÇÃO DOS

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ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE.......................... 70

3.2.1 Da impossível cumulação dos adicionais de insalubridade e

periculosidade..............................................................................................

70

3.2.2 Da percepção cumulativa dos adicionais de insalubridade e

periculosidade..............................................................................................

77

CONCLUSÃO................................................................................................ 86

REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS.................................................... 90

ANEXOS........................................................................................................ 95

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INTRODUÇÃO

A presente monografia destina-se ao cumprimento da exigência legal

para a obtenção do grau de Bacharel em Direito, junto à Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, optando-se, quanto ao tema, em adentrar no campo de

Direito do Trabalho, estudando, em especial, acerca da (im) possível

cumulação dos adicionais de insalubridade e periculosidade.

Estar-se-á diante de matéria que possui divergência no âmbito jurídico,

visto que, pela análise dos entendimentos doutrinários e, principalmente

jurisprudenciais, que não se tem posicionamento uniforme a respeito da

cumulatividade dos referidos adicionais.

De acordo com a CLT é indevido o pagamento concomitante dos

adicionais de insalubridade e de periculosidade aos trabalhadores que se

exponham no desenvolvimento de suas atividades de forma simultânea à ação

de dois ou mais agentes que possa representar dano a saúde e risco à vida,

com fundamento na exegese do artigo 193, §2º, da CLT combinado com a NR

15, item 15.3, da Portaria Ministerial 3.214/78.

Após a ratificação e vigência nacional da Convenção n. 155 da OIT,

surgiu entendimentos que esse parágrafo foi revogado, visto a determinação de

que sejam considerados os riscos para a saúde decorrente da exposição

simultânea a diversas substâncias ou agentes.

Assim, ao contrário do previsto na CLT, alguns Tribunais já se

posicionam acerca do tema, reconhecendo que se a prova pericial constatar

que, durante o período do contrato de trabalho, o trabalhador esteve exposto,

simultaneamente, a dois agentes agressivos, um insalubre e outro perigoso,

terá direito a perceber pelos dois adicionais distintos.

Sem o intuito exaustivo, o objetivo deste estudo é analisar a possível

cumulação dos adicionais de insalubridade e periculosidade.

Para tanto a pesquisa será dividida em três partes distintas, nas quais,

se desenvolverá o arcabouço teórico pertinente.

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No primeiro capítulo, discorrer-se-á acerca das normas de segurança e

medicina do trabalho, apresentando as noções históricas e conceituais, bem

como os objetivos, a legislação aplicável e as normas regulamentadoras,

medidas preventivas e utilização de equipamentos de proteção individual (EPI)

e ainda os órgãos de segurança e medicina do trabalho nas empresas.

No segundo capítulo, serão demonstrados os adicionais de

remuneração, adicionais de penosidade, adicionais de insalubridade e

adicionais de periculosidade, denominando e conceituando cada atividade,

examinando as maneiras de caracterização e classificação, bem como a forma

de eliminação e neutralização.

Já no terceiro capítulo, examinar-se-á, mais detalhadamente o

problema proposto, qual seja a (im) possível cumulação dos adicionais de

insalubridade e periculosidade, trazendo as vertentes jurisprudenciais acerca

dos referidos adicionais.

Quanto à metodologia empregada, registra-se que será utilizado o

método dedutivo, e, nas diversas fases da pesquisa, foram acionadas as

técnicas do referente, da categoria, do conceito operacional e da pesquisa

bibliográfica.

A técnica utilizada é a documental indireta, ou seja, as doutrinas e as

legislações referentes ao tema, também se utilizará a pesquisa documental

direta, por meio de análise de jurisprudências e artigos referentes ao assunto.

Enfim, pretende-se com a presente pesquisa, contribuir para o

esclarecimento de alguns pontos polêmicos quanto à (im) possível cumulação

dos adicionais de insalubridade e periculosidade decorrentes do trabalho.

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1 DA SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO

O presente trabalho tem como objetivo o estudo, através de pesquisa

doutrinária e jurisprudencial, do adicional de insalubridade e do adicional de

periculosidade, ou mais especificamente, de sua cumulação. Para tanto, faz-se

necessário um prévio estudo sobre a Segurança e Medicina do Trabalho, posto

que estes adicionais consistem em umas das medidas adotadas para o

controle da segurança no trabalho, conforme será visto ao longo desta

pesquisa.

1.1 BREVES NOÇÕES HISTÓRICAS E CONCEITUAIS

Até o inicio do Século XVIII, não havia preocupação com a saúde do

trabalhador, por haver poucos relatos de acidentes de trabalho. Porém, com o

advento da Revolução Industrial e de novos processos industriais, a

conseqüente modernização das máquinas fez com que iniciasse o surgimento

de doenças ou acidentes decorrentes do trabalho causados pela atividade

laboral. Em decorrência de tal fato, o direito passou a determinar certas

condições mínimas que deveriam ser observadas pela empresas.5

A respeito desta questão ensina Eduardo Gabriel Saad:

Quando a Revolução Industrial e o progresso galopante da ciência e da tecnologia vieram diversificar as atividades industriais, novas ameaças à saúde do trabalhador se manifestaram. A corrida desenfreada ao lucro e a satisfação de necessidades individuais ou coletivas, criadas artificialmente, não permitiam que se fizesse uma pausa para eliminar o sofrimento imposto ao trabalhador pelas máquinas e pelos processos de produção que o engenho humano engendrou. Ademais, qualquer pretensão mais ousada, no sentido de restringir o uso dos bens e equipamentos do empresário, a fim de proporcionar maior segurança ao trabalhador, esbarrava na concepção da propriedade privada como um dos pilares da

5 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. p. 621.

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sociedade saída das entranhas da Revolução Industrial, alimentada pelo princípio do liberalismo político e econômico. 6

Em palavras de José Augusto Rodrigues Pinto, a relação do trabalho

humano prestado pessoalmente em proveito do outrem e retribuído como

forma sistemática de utilização de energia produtiva, só foi propiciada

realmente pelo advento da Revolução Industrial na Inglaterra, com o aumento

no número de acidentes no trabalho e de doenças, é que houve a preocupação

da sociedade para o fato, gerando assim, a introdução da máquina no processo

de produção de bens e circulação de riquezas.7

A partir de então, a segurança e medicina do trabalho, como meios de

proteção do homem, penetra cada vez mais na sociedade, para exigir maior

respeito e cuidado com a saúde daqueles que movimentam as máquinas e dão

vida as empresas.8

Neste sentido, extrai-se dos ensinamentos Vicente Paulo 9:

[...] logo após a Revolução Industrial tornou-se patente estar o mundo diante de uma realidade inteiramente nova no que respeita aos riscos de danos à saúde decorrentes do trabalho. Com novos processos industriais, a mecanização dos procedimentos, a substituição do homem pela máquina, cresceram exponencialmente os acidentes profissionais, a maioria mutilante ou incapacitante, com severas conseqüências para o trabalhador, sua família e a sociedade como um todo. Além disso, as novas condições de trabalho, mesmo que escapasse o trabalhador aos acidentes ou as suas seqüelas, eram notoriamente insalubres, fazendo aumentar a quantidade e a variedade de moléstias profissionais.

E ainda:

Diante dessa realidade, o Estado viu-se na contingência de impor às empresas obrigações tendentes a assegurar aos trabalhadores condições mínimas de proteção à sua integridade física e à sua saúde. Surgem assim as primeiras normas concernentes à segurança e à saúde no trabalho, que passam a integrar o rol de normas protetivas componentes do ramo do Direito que ora estudamos, criando para os

6 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. 40. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 208. 7 PINTO. José Augusto Rodrigues.Tratado de Direito Material do Trabalho. São Paulo: LTr, 2007. 8 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. 40. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 208. 9 PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Manual de Direito do Trabalho. 12. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Método, 2008. p. 297.

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empregadores obrigações e para o Estado o poder-dever de fiscalização e punição das empresas que as descumpram.

Outro marco importante para o surgimento das normas de medicina e

segurança do trabalho são as Constituições. Somente após a Revolução de

1930, é que realmente aumentaram as reivindicações trabalhistas, passando

então a contar com a constituição brasileira de 193410 que foi a primeira a tratar

especificadamente do direito do trabalho.11

Nessa linha registra Renato Saraiva:

A constituição de 1934 que passou a dispor, especificadamente, sobre normas atinentes ao Direito do trabalho, como a garantia à liberdade sindical, salário mínimo, isonomia salarial, jornada de 8 horas de trabalho, proteção ao trabalho dos menores e das mulheres, férias e repouso semanal. 12

A Constituição de 193713 instituiu o sindicato único, imposto por lei,

vinculado pelo Estado, exercendo funções delegadas do poder público,

podendo haver intervenção estatal direta em suas atribuições. 14

Com a Constituição acima citada, houve a criação do imposto sindical,

como forma de submissão das entidades de classe ao Estado, pois este

participava do produto de sua arrecadação. Estabeleceu ainda a competência

normativa dos tribunais do trabalho, que tinha por objetivo principal evitar o

desentendimento direto entre trabalhadores e empregadores. 15

Existiam, no entanto, várias normas sobre os mais diversos assuntos

trabalhistas, havendo a necessidade de sistematização dessas regras, para

tanto foi editado o Decreto lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, aprovando a

10 BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1934. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 1934. 11 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. p. 10. 12 SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: METODO ,2009. p. 36. 13 BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1937. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 1937. 14 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. p. 10. 15 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. p. 10.

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Consolidação das Leis do Trabalho16, com objetivo de reunir as leis esparsas

existentes na época. 17

Ressalta-se que a Constituição de 194618, considerada uma norma

democrática, rompeu com o corporativismo mantido pela Constituição anterior,

passando a admitir a participação dos trabalhadores nos lucros, repouso

semanal remunerado, estabilidade, direito de grave, e outros direitos que já

estavam presentes na norma constitucional anterior. 19

Extrai-se da obra de Renato Saraiva:

A Constituição de 1946, em que novos direitos trabalhistas foram instituídos, tais como a Lei 605/1949, dispondo sobre o repouso semanal remunerado e feriados, a Lei 2.757/1956, dispondo sobre os empregados porteiros, zeladores, faxineiros e serventes de prédios de apartamentos residenciais; a Lei 3.207/1957, dispondo sobre os vendedores-viajantes; a Lei 4.090/1962, instituindo a gratificação natalina.20

Segundo Arnaldo Süssekind, outro evento importante ocorreu em 1966,

com advento da Lei nº 5.161, com a criação da Fundação Centro Segurança,

Higiene e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO), para investigação,

pesquisa e assistência às empresas, com a finalidade de aperfeiçoar a

prevenção de acidentes de trabalho. 21

Sérgio Pinto Martins ensina que a Constituição de 196722, reconheceu

o direito dos trabalhadores à higiene e segurança no trabalho. A Emenda

Constitucional n. 1 de 17.10.1969, repete a mesma disposição, os artigos 154 a

201 da CLT23, tiveram nova redação determinada pela lei n. 6.514/7724,

16 BRASIL. Decreto-Lei n.º 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Diário Oficial da União. Rio de Janeiro, 1943. Doravante denominada CLT. 17 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. p. 10. 18 BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1946. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 1946. 19 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. p. 10. 20 SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: METODO ,2009. p. 36-37. 21 SÜSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. pg. 498. 22 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1967. Diário Oficial da União, Brasília, 1967. 23 BRASIL. Decreto-Lei n.º 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Diário Oficial da União. Rio de Janeiro, 1943. Doravante denominada CLT.

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passando a tratar da segurança e medicina do trabalho e não mais, da higiene

e segurança no trabalho. 25

A Constituição da República Federativa do Brasil, aprovada em 05 de

outubro de 198826, mais precisamente em seu artigo 7º XXII, modificou a

orientação das normas constitucionais, dando tratamento especifico aos

direitos sociais dos empregados urbanos e rurais, além de outros que visem à

melhoria de sua condição social. 27

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

[...]

XXII – redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde higiene e segurança;

[...]

XXIII – adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;

[...]

XXVIII – seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;

No que concerne ao acidente de trabalho, este é fixado pela Lei n.°

8.21328, de 24/07/1991, e conceituado pelos doutrinadores Orlando Gomes e

Élson Gottschalk como sendo:

[...] todo aquele que ocorrer pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, ou perda, ou redução permanente ou temporária, de capacidade para trabalho.29

24 BRASIL. Lei n.º 6.514, de 22 de dezembro de 1977. Altera o Capítulo V do Titulo II da Consolidação das Leis do Trabalho, relativo a segurança e medicina do trabalho e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 1977. 25 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 619. 26 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Brasília, 1988. Doravante denominada CRFB/88. 27 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 2007. p. 73. 28 BRASIL. Lei n.º 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 1991. 29 GOMES, Orlando. GOTTSCHALK. Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p. 266.

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Ressaltam os autores, em sua obra que a reparação dos acidentes de

trabalho começou a surgir somente após a Revolução Industrial, devido à

multiplicação com o conseqüente desenvolvimento da indústria mecânica.30

Quanto à denominação anteriormente utilizada que se dava ao tema

era “segurança e higiene do trabalho”, conforme era disposto na Consolidação

das Leis do Trabalho, na atualidade com o advento da Lei n° 6.514/7731,

passou-se a utilizar a denominação segurança e medicina do trabalho. 32

Na concepção de Sérgio Pinto Martins, o uso da palavra higiene

somente mostrava o enfoque quanto à conservação da saúde do trabalhador,

sendo que o vocábulo medicina é mais abrangente, visto que evidencia não só

o aspecto saúde, como também a cura das doenças e sua prevenção no

trabalho. 33

Sebastião Ivone Vieira, 34 conceitua Segurança do Trabalho:

[...] é uma série de medidas técnicas, médicas e psicológicas, destinadas a prevenir os acidentes profissionais, educando os trabalhadores de maneira a evitá-los, como também procedimentos capazes de eliminar as condições inseguras do ambiente de trabalho. É a ciência que objetiva a prevenção de acidentes do trabalho através das analises dos riscos do local e dos riscos da operação.

A segurança e medicina do trabalho tratam da proteção física e mental

do trabalhador, visando principalmente às doenças profissionais e os acidentes

de trabalho, com ênfase especial para as modificações que lhe possam advir

do seu trabalho profissional. 35

30 GOMES, Orlando. GOTTSCHALK. Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p. 265. 31 BRASIL. Lei n.º 6.514, de 22 de dezembro de 1977. Altera o Capítulo V do Titulo II da Consolidação das Leis do Trabalho, relativo a segurança e medicina do trabalho e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 1977. 32 GARCIA, Gustavo Felipe Barbosa. Meio Ambiente do Trabalho: Direito, Segurança e Medicina do Trabalho. 2. Ed. Ver., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 22. 33 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. p. 621. 34 VIEIRA, Sebastião Ivone. Manual de saúde e segurança do trabalho. Volume 1. São Paulo: LTr, 2005. p. 42. 35 CARRION, Valentim. Comentários a Consolidação das Leis do Trabalho. 33. Ed. Atual. por Eduardo Carrion. São Paulo: Saraiva, 2008. p.160.

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A medicina do trabalho para Valentin Carrion compreende no estudo

das formas de proteção à saúde do trabalhador enquanto no exercício do

trabalho, indicando medidas preventivas, já a segurança do trabalho, por seus

aspectos técnicos, em face à ação traumática e não patogênica pertence não à

medicina, mas à engenharia do trabalho. 36

Alice Monteiro de Barros, entende que a integridade física do

trabalhador é um direito de personalidade oponível contra o empregador, e as

condições em que se é realizado o trabalho não estão adaptadas à capacidade

física e mental do empregado. 37

Além de acidente de trabalho e enfermidades profissionais, as

deficiências nas condições em que ele executa as atividades geram tensão,

fadiga e a insatisfação, fatores prejudiciais à saúde. Se não bastasse, elas

provocam ainda, o absenteísmo, instabilidade no emprego e queda de

produtividade. 38

Diante da previsão constitucional de proteção ao trabalhador, se

passará a discorrer acerca dos objetivos da segurança e medicina do trabalho.

1.2 OBJETIVOS DA SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO

As normas de segurança e medicina do trabalho têm o relevante papel

de estabelecer condições que assegurem a saúde e a segurança do

trabalhador, preservando e protegendo sua higidez física e mental no âmbito

das relações de trabalho. 39

A segurança e a medicina do trabalho na concepção de Sérgio Pinto

Martins é o segmento do direito tutelar do trabalho, incumbido de oferecer

condições de proteção à saúde do trabalhador no local de trabalho, e da sua

36 CARRION, Valentim. Comentários a Consolidação das Leis do Trabalho. 33. Ed. Atual. por Eduardo Carrion. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 159-160. 37 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. P. 1.034. 38 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. P. 1.034. 39 GARCIA, Gustavo Felipe Barbosa. Meio Ambiente do Trabalho: Direito, Segurança e Medicina do Trabalho. 2. Ed. Ver., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 22.

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recuperação quando não estiver em condições de prestar serviços ao

empregador. 40

A segurança do trabalho terá por objetivo principal prevenir as doenças

profissionais e os acidentes de trabalho no local laboral. 41 Para Ivan Simões

Garcia, a prevenção é melhor maneira de atender à proteção da integridade

física do empregado.42

A prevenção para Alice Monteiro de Barros é o princípio inspirador de

todas as normas de tutela a saúde, inclusive no local de trabalho. 43 Para a

Autora as medidas de proteção constituem o guia da realização e gestão

prática dessa prevenção, no qual se subdividem em quatro grupos

fundamentais:

a) medidas estruturais atinentes à fase de projetos anteriores à atividade laboral, que reclama a intervenção estatal, exigindo a substituição do que é perigoso, eliminando-se os riscos na origem com atenção aos princípios ergonômicos e programando-se, com prioridade, medidas de tutela coletiva na atuação; b) medidas de gestão destinadas a regular a atividade operativa, não só pelo empregador, mas pelos empregados e seus representantes, os quais são sujeitos de obrigações relativas às medidas de segurança; c) medidas de emergência para se insurgir contra situação de perigo, como instituição de pronto socorro, escadas e extintores de incêndio, saídas de emergência, etc.; d) medidas de caráter participativo, que dizem respeito ao sujeitos mais interessados diretamente no trabalho como o empregador, os empregados e seus representantes, aos quais são reconhecidas importantes prerrogativas. A informação e formação dos trabalhadores e seus representantes não é deixada a sua livre iniciativa, mais constituem uma obrigação do empregador. 44

Valentin Carrion, ao tratar da prevenção de acidentes do trabalho,

ensina que a segurança e higiene do trabalho são fatores vitais na prevenção

de acidentes e na defesa da saúde do empregado, evitando assim o sofrimento

humano.

40 MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 180/181. 41 MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 180/181. 42 GARCIA, Ivan Simões. Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2009. p.191. 43 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. P. 1.043. 44 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. P. 1.043, 1.044.

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[...] A omissão do empregador na adoção de medidas tendentes à prevenção de acidentes, pode ocasionar, de acordo com a gravidade ou repetição dos fatos, conseqüências jurídicas diversas.45

A CRFB/1988, garante em seu artigo 6º46, dentre os direitos e garantias

fundamentais o direito à saúde. A organização mundial da saúde47 estabelece

a definição dos objetivos da saúde no ambiente do trabalho:

A Saúde Ocupacional tem como finalidade incentivar e manter o mais elevado nível de bem-estar físico, mental e social dos trabalhadores em todas as profissões; prevenir todo o prejuízo causado à saúde destes pelas condições de seu trabalho; protegê-los em seu serviço contra os riscos resultantes da presença de agentes nocivos à sua saúde; colocar e manter o trabalhador em um emprego que convenha às suas aptidões fisiológicas e psicológicas e, em resumo, adaptar o trabalho ao homem e cada homem ao seu trabalho.

O meio ambiente está disposto na Lei n.° 6.93848, de 31/08/1981, no

qual são considerados riscos ambientais os agentes físicos, químicos e

biológicos existentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua

natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de

causar danos á saúde do trabalhador.49

Na concepção de Alice Monteiro de Barros:

Quando o empregado é admitido pelo empregador, leva consigo um série de bens jurídicos (vida, saúde, capacidade de trabalho, etc.), os quais deverão ser protegidos por este último, com adoção de medidas de higiene e segurança para prevenir doenças profissionais e acidentes no trabalho. O empregador deverá manter os locais de trabalho e suas

45 CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. p. 172-173. 46 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Artigo 6°: São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Vade Mecum acadêmico de direito. Anne Joyce Angher (Org.). 6. ed. São Paulo: Rideel, 2008. p. 39. 47 A Organização Mundial da Saúde é uma agência especializada em saúde, fundada em 7 de abril de 1948 e subordinada à Organização das Nações Unidas. 48 BRASIL. Lei n.º 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 1981. 49 VIANNA, Claúdia Salles Vilela. Manual Prático das Relações Trabalhistas. 8. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 1.185.

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instalações de modo que não ocasionem perigo à vida e à saúde do empregado. 50

A falta de saúde do empregado gera a incapacidade, e se decorrente

de ato ilícito ou de um risco gerado pelas condições de trabalho, a

responsabilidade civil do empregador por dano material e/ou moral é uma

técnica utilizada para reparar o dano e proteger a incapacidade,

independentemente de seguro contra acidente feito por ele (art. 7° XXVIII da

Constituição51).52

As medidas preventivas de medicina e segurança do trabalho estão

previstas nos artigos. 168 e 169 da CLT 53 e regulamentadas pela NR da

Portaria n. 3.214/7854.

Outras normas expressas (Comissões Internas de Prevenção de

Acidentes – CIPA – e Equipamentos de Proteção individual – EPI),

incorporadas à estrutura da CLT, serão estudadas ao longo deste capítulo.

50 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. p. 1054. 51 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Artigo 7°, inciso XVIII: seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa. Vade Mecum acadêmico de direito. Anne Joyce Angher (Org.). 6. ed. São Paulo: Rideel, 2008. p. 40. 52 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. p. 1054. 53 BRASIL. Decreto- Lei n.º 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Art. 168 - Será obrigatório exame médico, por conta do empregador, nas condições estabelecidas neste artigo e nas instruções complementares a serem expedidas pelo Ministério do Trabalho: I - a admissão; II - na demissão; III - periodicamente. § 1º - O Ministério do Trabalho baixará instruções relativas aos casos em que serão exigíveis exames: a) por ocasião da demissão; b) complementares. § 2º - Outros exames complementares poderão ser exigidos, a critério médico, para apuração da capacidade ou aptidão física e mental do empregado para a função que deva exercer. § 3º - O Ministério do Trabalho estabelecerá, de acordo com o risco da atividade e o tempo de exposição, a periodicidade dos exames médicos. § 4º - O empregador manterá, no estabelecimento, o material necessário à prestação de primeiros socorros médicos, de acordo com o risco da atividade. § 5º - O resultado dos exames médicos, inclusive o exame complementar, será comunicado ao trabalhador, observados os preceitos da ética médica. Art. 169 - Será obrigatória a notificação das doenças profissionais e das produzidas em virtude de condições especiais de trabalho, comprovadas ou objeto de suspeita, de conformidade com as instruções expedidas pelo Ministério do Trabalho. Vade Mecum acadêmico de direito. Anne Joyce Angher (Org.). 6. ed. São Paulo: Rideel, 2008. 54 BRASIL. Portaria do Ministério Público n.º 3.214, de 08 de junho de 1978. Aprova as Normas Regulamentadoras - NR - do Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho, relativas a Segurança e Medicina do Trabalho. Diário Oficial da União, Brasília, 1978.

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1.3 DA LEGISLAÇÃO APLICÁVEL E NORMAS REGULAMENTADORES

Com fundamento no disposto na NR–155, as Normas

Regulamentadoras, relativas à Segurança e Medicina do Trabalho, são de

observância obrigatória pelas empresas privadas, públicas e pelos órgãos

públicos da administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos

Poderes Legislativo e Judiciário que possuam empregados regidos pela CLT. 56

Ensina Vicente Paulo que o controle da observância da segurança e

saúde no trabalho compete ao Ministério do Trabalho, que por meio de

Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego deverá promover a

fiscalização do cumprimento das referidas normas nas empresas,

determinando às medidas necessárias a existência de profissionais

especializados. 57

A Autora Gláucia Barreto explica que no mês de janeiro do ano de

2008 o Decreto n° 6.340 alterou a denominação das Delegacias Regionais do

Trabalho e Emprego, passando a serem denominadas Superintendências

Regionais do Trabalho e Emprego e as Subdelegacias do Trabalho passam a

chamarem-se Gerências Regionais do Trabalho e Emprego. 58

Nos artigos 156 a 158 da CLT59 são enumeradas algumas regras

pertinentes. No artigo 156 estão as regras referentes à competência das

Delegacias Regionais do Trabalho.

Art. 156. Compete especialmente às Delegacias Regionais do Trabalho, nos limites de sua jurisdição:

I- promover a fiscalização do cumprimento das normas de segurança e medicina do trabalho;

55 BRASIL. Portaria do Ministério Público n.º 3.214, de 08 de junho de 1978. Aprova as Normas Regulamentadoras - NR - do Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho, relativas a Segurança e Medicina do Trabalho. Diário Oficial da União, Brasília, 1978. 56 BARRETO, Gláucia. Curso de Direito do Trabalho. Niterói: Impetus, 2008. p. 283. 57 PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Manual de Direito do Trabalho. 12. ed.rev. e atual. Rio de Janeiro: Método, 2008. p. 297. 58 BARRETO, Gláucia. Curso de Direito do Trabalho. Niterói: Impetus, 2008. p. 283. 59 BRASIL. Decreto-Lei n.º 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Diário Oficial da União. Rio de Janeiro, 1943. Doravante denominada CLT.

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II – adotar as medidas que se tornem exigíveis, em virtude das disposições deste Capítulo, determinando as obras e reparos que, em qualquer local de trabalho, se façam necessárias; III – impor as penalidades cabíveis por descumprimento das normas constantes deste Capítulo, nos termos do art. 201.

Acerca do encargo do Delegado Regional, esclarece Eduardo Gabriel

Saad: 60

Tem o delegado Regional o encargo de promover a fiscalização do cumprimento das normas legais sobre segurança e medicina do trabalho, mas nesse campo há de ater-se às prescrições da NR-28, da Portaria n. 3.214, apoiada no art. 4º, da Lei n. 6.514, de 22.12.77, que fixam a competência dos médicos do trabalho e dos engenheiros de segurança para inspecionar os locais de trabalho, a fim de verificar o cumprimento da legislação de medicina, segurança e higiene do trabalho.

Compete às Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego, a

execução, supervisão e monitoramento de ações relacionadas a políticas

publicas afetas ao Ministério do Trabalho e Emprego na sua área de jurisdição,

especialmente as de fomento ao trabalho emprego e renda. 61

A autora acima citada, explica ainda, que também é competência das

Superintendências Regionais do trabalho a execução do sistema público de

emprego, as de fiscalização do trabalho, mediação e arbitragem, melhoria

contínua nas relações de trabalho, e de orientação e apoio ao cidadão. 62

A CLT estabelece nos artigos 157 e 158 normas a serem observadas

pelas empresas (empregadores) e pelos empregados, respectivamente.

Art. 157. Cabe às empresas:

I- cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho; II- instruir os empregados, através de ordens de serviço, quando às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais; III – adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo órgão regional competente;

IV – facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente.

Art. 158 - Cabe aos empregados:

60 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. 40. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 208. 61 BARRETO, Gláucia. Curso de Direito do Trabalho. p. 283. 62 BARRETO, Gláucia. Curso de Direito do Trabalho. p. 283.

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I - observar as normas de segurança e medicina do trabalho, inclusive as instruções de que trata o item II do artigo anterior;

Il - colaborar com a empresa na aplicação dos dispositivos deste Capítulo. Parágrafo único - Constitui ato faltoso do empregado a recusa injustificada: a) à observância das instruções expedidas pelo empregador na forma do item II do artigo anterior; b) ao uso dos equipamentos de proteção individual fornecidos pela empresa.

O termo empresa citado neste artigo tem o mesmo sentido de

empregador, sendo que este deverá tomar algumas medidas pertinentes para

que os acidentes no local trabalho não venham a ocorrer. 63

Destaca ainda que o empregador deverá respeitar as normas de

segurança e medicina do trabalho, devendo as empresas tomar conhecimento

não apenas das disposições legais, como também as sanções

correspondentes, tais como multas previstas na CLT64 e a interdição de parte e

até de todo o estabelecimento.

[...] Além disso, o descumprimento dos preceitos sobre segurança e medicina do trabalho traz consigo danos consideráveis à produção empresa, tornando-a mais onerosa e podendo, até, afetar-lhe a qualidade. 65

Eduardo Gabriel Saad ensina que a empresa, uma vez acatando o

disposto no artigo 15766, esta será salva das penalidades mencionadas. Além

disso, ficará protegida contra eventuais pedidos, em Juízo, de indenizações

outras que não sejam aquelas previstas na legislação trabalhista e acidentária.

67

63 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. p. 219. 64 BRASIL. Decreto-Lei n.º 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Diário Oficial da União. Rio de Janeiro, 1943. Doravante denominada CLT. 65 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. p. 219. 66 BRASIL. Decreto-Lei n.º 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Diário Oficial da União. Rio de Janeiro, 1943. Art. 157 - Cabe às empresas: I - cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho; II - instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais; III - adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo órgão regional competente; IV - facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente. Vade Mecum acadêmico de direito. Anne Joyce Angher (Org.). 6. ed. São Paulo: Rideel, 2008. 67 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. p. 220.

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O empregado tem grande participação na prevenção de acidentes no

local de trabalho. Visto que a empresa pode adotar as mais avançadas

técnicas de prevenção de acidentes, sendo que se o empregado não colaborar,

tudo será desnecessário. 68

Nesse caminho esclarece Sérgio Pinto Martins que a não-observância

por parte do empregado das instruções expedidas pelo empregador, o uso dos

EPI’s e as demais normas de segurança e medicina do trabalho implicam justa

causa para sua dispensa. 69

Para o autor este item poderia ser enquadrado como indisciplina (art.

482, h, da CLT), pois seriam ordens gerais de serviços que o obreiro não

estaria cumprindo, como de usar os EPI’s. De acordo com a gravidade do ato e

sua reiteração, a justa causa estará evidenciada. 70

E continua:

Se houver recusa justificada para o empregado não cumprir as determinações do empregador, inexistirá falta grave. Seria o caso, v.g., de o equipamento estar danificado, com prazo de validade vencido ou não ser apropriado para a atividade do empregado.

O artigo 160 da CLT dispõe sobre a necessidade da inspeção prévia no

estabelecimento de trabalho, anterior às iniciações ao trabalho:

Art. 160. Nenhum estabelecimento poderá iniciar suas atividades sem prévia inspeção sem prévia inspeção e aprovação das respectivas instalações pela autoridade regional competente em matéria de segurança e medicina do trabalho.

§ 1º Nova inspeção deverá ser feita quando ocorrer modificação substancial nas instalações, inclusive equipamentos, que a empresa fica obrigada a comunicar, prontamente, à Delegacia Regional do Trabalho. § 2º É facultado às empresas solicitar prévia aprovação, pela Delegacia Regional do Trabalho, dos projetos de construção e respectivas instalações.

68 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. p. 220. 69 MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. p. 181. 70 MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. p. 181.

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A inspeção prévia é a declaração de instalações que constituem os

elementos capazes de assegurar que o novo estabelecimento inicie suas

atividades livre de riscos de acidentes ou doenças do trabalho. 71

Diante disso, a empresa que não obedecer tais disposições ficará

sujeita ao não funcionamento, conforme estabelece o artigo supracitado, até

que sejam cumpridas as exigências do dispositivo legal. 72

Segundo ensina Sérgio Pinto Martins: 73

A antiga redação do artigo 162 da CLT só obrigava a indústria à inspeção em casos de instalação ou de modificações substanciais nas instalações. Agora, tanto a indústria, como a empresa comercial, prestadora de serviços e outras estão obrigadas à inspeção, isto é qualquer estabelecimento. A nova inspeção será feita tanto de ocorrer alteração substancial nas instalações, como também em relação aos equipamentos. A lei não diz, porém, qual seria o prazo para a comunicação, que deveria ser de imediato. A NR 2, da Portaria nº 3.214/78 versa sobre a inspeção prévia. As empresas não tem obrigação de solicitar inspeção prévia dos projetos de construção e instalações, porém é de bom alvitre que assim o façam, pois a DRT poderá embargar ou interditar obra que esteja em desacordo com os preceitos legais.

As Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego, à vista do

laudo técnico, que demonstre grave e eminente risco para o trabalhador,

poderá interditar o estabelecimento, setor de serviço, máquinas e

equipamentos, ou embargar a obra, exigindo brevidade nas providências que

deverão ser adotadas pelas empresas. Considera-se grave e eminente risco

toda condição ambiental de trabalho ou doença profissional com lesão grave à

integridade física do trabalhador. 74

As medidas preventivas de medicina do trabalho estão reguladas pelos

artigos 168 e 169 da CLT, porquanto, passar-se-á, então, à análise sobre as

medidas preventivas.

71 GARCIA, Gustavo Felipe Barbosa. Meio Ambiente do Trabalho: Direito, Segurança e Medicina do Trabalho. 2. Ed. Ver., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 29. 72 GARCIA, Gustavo Felipe Barbosa. Meio Ambiente do Trabalho: Direito, Segurança e Medicina do Trabalho. 2. Ed. Ver., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 29. 73 MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 185. 74 GARCIA, Gustavo Felipe Barbosa. Meio Ambiente do Trabalho: Direito, Segurança e Medicina do Trabalho. 2. Ed. Ver., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 29.

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1.4 DAS MEDIDAS PREVENTIVAS DE MEDICINA DO TRABALHO

1.4.1 Do exame médico

Segundo Sérgio Pinto Martins, o exame médico, tido como obrigatório

previsto no artigo abaixo mencionado, é uma das medidas preventivas de

medicina do trabalho. 75

A obrigatoriedade e as condições estabelecidas ao exame médico

estão dispostas no artigo 168 da CLT, veja-se:

Art. 168. Será obrigatório exame médico, por conta do empregador, nas condições estabelecidas neste artigo e nas instruções complementares a serem expedidas pelo Ministério do Trabalho:

I – na admissão; II – na demissão; III – periodicamente; §1º O Ministério do Trabalho baixará instruções relativas aos casos em que serão exigíveis exames: a) por ocasião da demissão; b) complementares. §2º Outros exames complementares poderão ser exigidos a critério médico, para apuração da capacidade ou aptidão física e mental do empregado para a função que deva exercer. §3º O Ministério do Trabalho estabelecerá, de acordo com o risco da atividade e o tempo de exposição, a periodicidade dos exames médicos. §4º O empregador manterá, no estabelecimento, o material necessário à prestação de primeiros socorros médicos, de acordo com o risco da atividade. §5º O resultado dos exames médicos, inclusive o exame complementar, será comunicado ao trabalhador, observados os preceitos da ética médica.

Conforme determinação do Ministério do Trabalho e Emprego, o exame

médico deverá ser feito na admissão, na dispensa e periodicamente. 76

75 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 2008. p. 622 76 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 2008. p. 622

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Os empregadores deverão realizar o exame médico admissional dos

empregados, devendo a avaliação clínica ser realizada por médico do trabalho

antes que o trabalhador assuma suas atividades. Este exame é obrigatório

para todas as empresas, independentemente do número de funcionários.77

Por determinação do Delegado Regional do Trabalho, com base em

parecer técnico conclusivo da autoridade regional competente em matéria de

segurança e saúde do trabalhador, ou em decorrência de negociação coletiva,

as empresas poderão ser obrigadas a fazer exame médico demissional

independentemente da época da realização de qualquer outro exame, quando

suas condições representarem potencial de risco grave aos empregados.78

A NR-779 repete o preceito legal de que a empresa deverá arcar com

as despesas oriundas dos exames médicos, radiológico e complementar a que

se deve o empregado se submeter. 80

Ressalta Cláudia Salles Vilela Vianna que o exame médico demissional

deverá ser obrigatoriamente realizado até a data da homologação da rescisão

contratual, desde que o último exame médico tenha sido concretizado há mais

de:

a) cento e trinta e cinco dias para as empresas de grau de risco 1 e2, segundo o Quadro I da NR-4;

b) noventa dias para as empresas de grau de risco 3 e 4, segundo o Quadro I da NR-4.81

Conforme dispõe a NR-4, as empresas enquadradas no grau de risco 1

ou 2 e no grau de risco 3 ou 4, poderão ampliar o prazo de dispensa da

realização do exame demissional em decorrência de negociação coletiva,

desde que assistida por profissional indicado de comum acordo entre as partes

77 VIANNA, Claúdia Salles Vilela. Manual Prático das Relações Trabalhistas. p. 1.169. 78 VIANNA, Claúdia Salles Vilela. Manual Prático das Relações Trabalhistas. p. 1.160. 79 BRASIL. Portaria do Ministério Público n.º 3.214, de 08 de junho de 1978. Aprova as Normas Regulamentadoras - NR - do Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho, relativas a Segurança e Medicina do Trabalho. Diário Oficial da União, Brasília, 1978. 80 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. 40. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 236. 81 VIANNA, Claúdia Salles Vilela. Manual Prático das Relações Trabalhistas. p. 1.168.

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ou por profissional do órgão competente em segurança e medicina do

trabalho.82

Ressalta-se que o médico tem importante papel na seleção do

empregado, visto que este verifica previamente suas aptidões físicas para o

desenvolvimento da função a desempenhar. 83

Para os trabalhadores expostos a riscos em situações de trabalho que

impliquem o desencadeamento ou agravamento de doenças ocupacional, ou

ainda para os portadores de doenças crônicas os exames deverão ser

realizados periodicamente.84

Quanto à periodicidade dos exames médicos, esclarece o culto

Magistrado Sérgio Pinto Martins:

(a) para trabalhadores expostos a riscos ou situações de trabalho que impliquem o desencadeamento ou agravamento de doença ocupacional, ou, ainda, para aqueles que sejam portadores de doenças crônicas, os exames deverão ser repetidos: a.1) a cada ano ou a intervalos menores, a critério do médico encarregado, ou se notificado pelo médico agente da inspeção do trabalho, ou, ainda, como resultado de negociação coletiva de trabalho; a.2) de acordo com a periodicidade especificada no Anexo n.º 06 da NR 15, para os trabalhadores expostos a condições hiperbáricas; (b) para os demais trabalhadores: b.1) anual, quando menores de 18 anos e 45 anos de idade; b.2) a cada dois anos, para os trabalhadores entre 18 anos e 45 anos de idade. 85

Outros exames complementares podem ser exigidos, a critério médico,

para a apuração da capacidade ou aptidão física e mental do empregado para

a função que ira desenvolver. O Ministério do Trabalho e Emprego estabelece,

de acordo com o risco da atividade e o tempo de exposição, a periodicidade

dos exames médicos.

82 VIANNA, Claúdia Salles Vilela. Manual Prático das Relações Trabalhistas. p. 1.168. 83 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. p. 235. 84 VIANNA, Claúdia Salles Vilela. Manual Prático das Relações Trabalhistas. p. 1.167. 85 MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. p. 195.

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Segundo Sérgio Pinto Martins, conforme dispõe o Decreto n.º

90.88086, de 30/01/85, as microempresas estão dispensadas da

obrigatoriedade de realização de exames médicos.87

1.4.2. Do equipamento de proteção individual

A obrigação maior do empregador, no âmbito da segurança e medicina

do trabalho, é fornecer aos seus empregados um ambiente de trabalho sadio e

seguro, isento de riscos profissionais, conforme o mandamento Constitucional

expresso no inciso XXII, do art. 7° 88 da CRFB/88. 89

Acerca do Equipamento de Proteção Individual, leciona Edwar Abreu

Gonçalves:

Culturalmente, tem predominado a idéia de que proteger o trabalhador significa fornece-lhe equipamento de proteção individual, entretanto, não se pode perder de vista o fato de que, a rigor, o EPI não previne a ocorrência dos acidentes do trabalho, mais apenas evita ou atenua a gravidade das lesões, daí porque há de se procurar, sempre em primeiro lugar, a proteção coletiva, dada a sua melhor eficácia, uma vez que elimina ou neutraliza o risco ambiental na sua fonte produtora, além do que essa modalidade preventiva não fica a mercê da utilização ou não por parte do empregado. 90

Os equipamentos de proteção individual (EPI), previstos no art. 166 da

CLT 91, no conceito de Vicente Paulo, é todo dispositivo ou produto, de uso

86 BRASIL. Decreto n.º 90.880, de 30 de janeiro de 1985. Regulamenta a Lei nº 7.256, de 27 de novembro de 1984, que estabelece normas integrantes do Estatuto da Microempresa e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 31 jan. 1985. 87 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. p. 634. 88 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Art. 7º, XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança; 89 GONÇALVES, Edwar Abreu. Manual de Segurança e Saúde no Trabalho. p. 385 90 GONÇALVES, Edwar Abreu. Manual de Segurança e Saúde no Trabalho. p. 385 91BRASIL. Decreto-Lei n.º 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho Art. 166. A empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente, equipamento de proteção individual adequado ao risco e em perfeito estado de conservação e funcionamento, sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção contra os riscos de acidentes e danos à saúde dos empregados. . Vade Mecum acadêmico de direito. Anne Joyce Angher (Org.). 6. ed. São Paulo: Rideel, 2008.

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individual, utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis

de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho. 92

No entendimento de Sérgio Pinto Martins:

A NR 6 da Portaria nº 3.214/78 trata dos equipamentos de proteção individual (EPI´s). Estes são todos os dispositivos de uso individual, de fabricação nacional ou estrangeira, destinados a proteger a saúde e a integridade física do trabalhador. É vedado ao empregador cobrar do empregado o EPI. Deve, portanto, ser fornecido gratuitamente ao empregado. O EPI é fornecido ao empregado para a prestação dos serviços não é considerado salário (§ 2º do art. 458 da CLT).93

Segundo Tuffi Messias Saliba, a lei prevê o uso do EPI o qual deverá

adequar-se ao risco e possuir fator de proteção que permita reduzir a

intensidade do agente insalubre a limites de tolerância. Ensina que quanto à

periculosidade, não ocorre à neutralização mediante a utilização do EPI, pois

esta é inerente à atividade, no entanto pagamento do adicional de

periculosidade somente será cessado com a eliminação do risco. 94

Ressalta Alice Monteiro de Barros, que o fornecimento do EPI,

aprovado por órgão competente, poderá eliminar o agente agressivo no

ambiente de trabalho, entretanto o simples fornecimento do aparelho de

proteção não exime o empregador do pagamento do adicional de

insalubridade, “cabendo-lhe tomar as medidas que conduzam à diminuição ou

eliminação da nocividade, entre as quais as relativas ao uso efetivo do

equipamento pelo empregado.” 95

As jurisprudências sumuladas do TST considera que a insalubridade

pode ser eliminada pelo uso de equipamento individual, segue a transcrição:

Súmula n. 80 do TST – A eliminação da insalubridade, pelo fornecimento de aparelhos protetores aprovados pelo órgão competente do Poder Executivo, exclui a percepção do adicional respectivo.

92 PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Manual de Direito do Trabalho. 12. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Método, 2008. p. 299 93 MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 193. 94 SALIBA, Tuffi Messias. Insalubridade e Periculosidade: aspectos técnicos e práticos. 6. ed. atual. São Paulo: LTr, 2002. pg. 20. 95 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 2007. p. 770.

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Súmula n. 289 do TST – O simples fornecimento do aparelho de proteção pelo empregador não o exime do pagamento do adicional de insalubridade, cabendo-lhe tomar as medidas que conduzam à diminuição ou eliminação da nocividade, dentre as quais a relativas ao uso efetivo do equipamento pelo empregado.

Em comentários a CLT, explica Eduardo Gabriel Saad que, respeitadas

as peculiaridades de cada atividade profissional, deve o empregador fornecer,

gratuitamente, aos trabalhadores os EPI´s adequados ao risco, em perfeito

estado de conservação e funcionamento, nas seguintes circunstâncias:

a) sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção; b) enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem sendo implantadas; e c) para atender situação de emergência. 96

Dentre os serviços especializados encontram-se o Serviço

Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho e a

Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, o qual se discorre a seguir.

1.5 ÓRGÃOS DE SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO NAS

EMPRESAS

1.5.1 Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina

do Trabalho – SESMT

O Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina

do Trabalho97 - SESMT, constitui-se no órgão técnico da empresa, composto

exclusivamente por profissionais, com formação especializada em segurança

ou medicina do trabalho. 98

Para Alice Monteiro de Barros, o serviço especializado em engenharia

de segurança e em medicina do trabalho – SESMT, tem como objetivo principal

promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho.

96 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. 40. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 233. 97 Na presente pesquisa será utilizada, doravante, para a categoria Serviços Especializados em Engenharia de Segurança do Trabalho, a sigla SESMT. 98 GONÇALVES, Edwar Abreu. Manual de Segurança e Saúde no Trabalho. 3. Ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 76

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Ele é constituído de pessoal especializado, devendo agir, depois de

comunicadas as irregularidades ou agentes prejudiciais em determinada

empresa, sob pena de sanções penais e civis, caso ocorra acidente. 99

Acerca das principais finalidades da SESMT, leciona Edwar Abreu

Gonçalves:

[...] tem como finalidades principais a elaboração e a implementação de programas de prevenção de acidentes e doenças ocupacionais nos ambientes de trabalho. Certamente, para bem cumprir a missão preventiva, deverão os profissionais integrantes do SESMT, periodicamente, realizar inspeção de segurança em todos os ambientes de trabalho, de modo que identifique as condições de risco nocivas à saúde ou à integridade física dos trabalhadores, e diligencie, junto ao empregador, para que sejam tomadas as medidas técnico-preventivas corretivas. 100

A Norma Regulamentadora n° 4101 da Portaria 3.214/78, bem como o

artigo 162 da CLT102, trata das normas do Serviço Especializado em

engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho– SESMT. 103

As empresas devem obrigatoriamente manter Serviços Especializados

em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho - SESMT, sendo

necessária a existência de profissionais aptos exigidos em cada empresa

99 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. p. 1047. 100 GONÇALVES, Edwar Abreu. Manual de Segurança e Saúde no Trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 76 101 BRASIL. Portaria do Ministério Público n.º 3.214, de 08 de junho de 1978. Aprova as Normas Regulamentadoras - NR - do Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho, relativas a Segurança e Medicina do Trabalho. Diário Oficial da União, Brasília, 1978. 102 BRASIL. Decreto-Lei n.º 5.452, de 1 de maio de 1943. Artigo 162: Art. 162 - As empresas, de acordo com normas a serem expedidas pelo Ministério do Trabalho, estarão obrigadas a manter serviços especializados em segurança e em medicina do trabalho. Parágrafo único - As normas a que se refere este artigo estabelecerão: a) classificação das empresas segundo o número de empregados e a natureza do risco de suas atividades; b) o numero mínimo de profissionais especializados exigido de cada empresa, segundo o grupo em que se classifique, na forma da alínea anterior; c) a qualificação exigida para os profissionais em questão e o seu regime de trabalho; d) as demais características e atribuições dos serviços especializados em segurança e em medicina do trabalho, nas empresas. . Vade Mecum acadêmico de direito. Anne Joyce Angher (Org.). 6. ed. São Paulo: Rideel, 2008. 103 GARCIA, Gustavo Felipe Barbosa. Meio Ambiente do Trabalho: Direito, Segurança e Medicina do Trabalho. 2. Ed. Ver., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 33

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(médico e engenheiro do trabalho), com a finalidade de promover a saúde e

proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho. 104

Eduardo Gabriel Saad comenta sobre os pontos mais significativos da

NR 4105.

Seu item 4.1, com termos de extrema precisão, informa qual o campo de aplicação da norma: todas as empresas privadas ou públicas e órgãos da administração direta ou indireta, com empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho, cujas atividades estejam relacionadas segundo o critério constante do Quadro II dessa mesma NR, manterão obrigatoriamente Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho, obedecido o Quadro I da supracitada NR-4. Como se vê, o número de profissionais de cada serviço será proporcional ao de empregados e dependerá, ainda, da natureza e grau de risco da atividade da empresa. 106

Para o autor, um ponto que merece particular atenção, refere-se à

inclusão de órgãos da administração direta ou indireta no campo de aplicação

da portaria n. 3.214/178, desde que hajam admitido servidores sob o regime da

CLT, o razoável seria dar-se essa extensão da NR n. 4 à administração direta

ou indireta por meio de um decreto da Presidência da República. 107

1.5.2 Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA

Como frutos da consolidação do processo da Revolução Industrial

restaram evidentes a importância e a necessidade de serem criados

instrumentos que conjugassem a participação ativa de empregados e

empregadores objetivando a prevenção de acidentes de trabalho e de doenças

ocupacionais.108

104 GARCIA, Gustavo Felipe Barbosa. Meio Ambiente do Trabalho: Direito, Segurança e Medicina do Trabalho. 2. Ed. Ver., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 33 105 BRASIL. Portaria do Ministério Público n.º 3.214, de 08 de junho de 1978. Aprova as Normas Regulamentadoras - NR - do Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho, relativas a Segurança e Medicina do Trabalho. Diário Oficial da União, Brasília, 1978. 106 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. 40. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 226. 107 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. 40. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 226. 108 GONÇALVES, Edwar Abreu. Manual de Segurança e Saúde no Trabalho. 2006. p. 130

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Diante disso, impõe-se reconhecer que os comitês de segurança nos

países europeus que tomaram dianteira do processo de industrialização

representam, o embrião da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, nos

moldes em que se acha atualmente institucionalizada em nosso país.109

O dispositivo do artigo 163 da CLT110 prevê a obrigatoriedade da

composição de Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA.111

Art. 163. Será obrigatória a constituição de Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA, de conformidade com instruções expedidas pelo Ministério do Trabalho, nos estabelecimentos ou locais de obra nelas especificadas.

A NR-5112 da Portaria nº 3.214/78, estabelece a obrigatoriedade das

empresas públicas e privadas a organizarem e manterem em funcionamento,

uma comissão constituída exclusivamente por empregados, com o objetivo de

observar e relatar as condições de riscos no ambiente de trabalho, solicitando

as medidas para reduzir e até eliminar os riscos existentes ou neutralizá-los,

discutindo os acidentes ocorridos e solicitando medidas que os previnam,

assim como orientando os trabalhadores, quanto a sua prevenção. 113

A Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) tem como

principal objetivo a prevenção de acidentes e doenças relacionadas com o

trabalho, de modo a tornar compatível permanentemente o trabalho com a

prevenção da vida e a promoção da saúde do trabalhador. 114

Segundo Alice Monteiro de Barros, compete à CIPA:

[...] elaborar o Mapa de Riscos, identificando os agentes prejudiciais à saúde no ambiente de trabalho, relacionando os riscos físicos, químicos, biológicos, e os de acidente, contando

109 GONÇALVES, Edwar Abreu. Manual de Segurança e Saúde no Trabalho. 2006. p. 130 110 BRASIL. Decreto-Lei n.º 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Diário Oficial da União. Rio de Janeiro, 1943. 111 Na presente pesquisa será utilizada, doravante, para a categoria Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, a sigla CIPA. 112 BRASIL. Portaria do Ministério Público n.º 3.214, de 08 de junho de 1978. Aprova as Normas Regulamentadoras - NR - do Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho, relativas a Segurança e Medicina do Trabalho. Diário Oficial da União, Brasília, 1978. 113 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 2008. p. 625. 114 GARCIA, Gustavo Felipe Barbosa. Meio Ambiente do Trabalho: Direito, Segurança e Medicina do Trabalho. 2. Ed. Ver., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 33.

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para isso com a colaboração do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT), cuja principal meta é promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho. 115

Anteriormente à Lei 6.514/77, não havia a obrigatoriedade que as

empresas possuíssem esta comissão, somente com o advento de tal Lei a

CIPA passou a ser disciplinado pela NR-5, da Portaria nº 3.214/78, em que

passou a ser obrigatória tanto para empresas privadas como para empresas

públicas que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do

Trabalho. 116

A composição da CIPA está disposta no art. 164 da CLT in verbis:

Art. 164. Cada CIPA será composta de representantes da empresa e dos empregados, de acordo com os critérios que vierem a ser adotados na regulamentação de que trata o parágrafo único do artigo anterior.

§1º Os representantes dos empregadores, titulares e suplentes, serão por eles designados. §2º Os representantes dos empregados, titulares e suplentes, serão eleitos em escrutínio secreto, do qual participem, independentemente de filiação sindical, exclusivamente, os empregados interessados. §3º O mandado dos membros eleitos da CIPA terá duração de 1 (um) ano, permitida uma reeleição. §4º O disposto no parágrafo anterior não se aplicará ao membro suplente que, durante o seu mandato, tenha participado de menos da metade do número de reuniões da CIPA. §5° O empregador designará, anualmente, dentre os seus representantes, o Presidentes da CIPA e os empregados elegerão, dentre eles, o Vice-Presidente.

A composição da CIPA obedece ao critério paritário, visto que a

representação do empregador será igualmente a dos empregados. A

presidência caberá a um dos membros da delegação patronal e por designação

do próprio empregador, já, a vice-presidência caberá a um empregado. O

secretário da CIPA deverá ser escolhido pelos dois grupos. 117

Os titulares da representação dos empregados na CIPA não poderão

sofrer despedida arbitrária, na qual se equivale a despedida sem justa causa

115 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. p. 1.047. 116 MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. p. 189. 117 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. p. 229.

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ou imotivada, assim se entendendo por aquela que não tiver por fundamento

motivo disciplinar, técnico, econômico ou financeiro. 118

Além das normas positivadas de medicina e segurança do trabalho a

qual tem o relevante papel de estabelecer condições que assegurem a

segurança e a saúde do trabalhador, protegendo sua saúde física e mental no

âmbito das relações de trabalho, a legislação prevê também, como forma de

compensação, os adicionais de penosidade, insalubridade e periculosidade,

que visam indenizar eventuais danos a saúde e, conseqüentemente a vida do

trabalhador.

Neste norte, antes de adentrar ao estudo desses adicionais protetivos,

fundamental é dispor sobre a remuneração e seus acréscimos, no qual se

passará a discorrer.

118 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. p. 230.

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2 DA REMUNERAÇÃO E ADICIONAIS

Após breves noções sobre a Medicina e Segurança no Trabalho, bem

como de seus objetivos, regras, medidas e órgãos de segurança, far-se-á um

estudo acerca da remuneração, bem como dos adicionais de e as atividades

penosas, insalubres e perigosas dispostas nas Normas Regulamentadoras.

O objeto deste capítulo visa oferecer maior subsídio para as análises

que serão realizadas no Capítulo do presente trabalho, cujo objeto será a

temática central desta pesquisa, qual seja, o estudo referente à (im) possível

cumulação dos adicionais de insalubridade e periculosidade, mediante

entendimento jurisprudencial.

2.1 DA REMUNERAÇÃO

A onerosidade consiste em um dos elementos jurídicos que compõem

as relações empregatícias. A mesma é manifestada no contrato de trabalho por

meio do recebimento por parte do empregado de um conjunto de parcelas

econômicas como retribuição à prestação do serviço ou apenas como

conseqüência da simples relação de emprego.

Trata-se, portanto, de parcelas que evidenciam que a relação de

trabalho, em âmbito jurídico, se formou de forma onerosa por parte do

empregado, ou seja, de forma contraprestativa na intenção obreira de receber

uma retribuição pelo serviço ofertado. Sendo assim, as expressões

remuneração e salário corresponderiam ao conjunto de parcelas recebidas pelo

empregado como forma da retribuição pelo trabalho efetuado.

Destaca-se, porém, que este é um dos muitos sentidos atribuídos às

expressões salário e remuneração, uma vez que existem outras diversas

acepções vinculadas às mesmas, principalmente à remuneração.

Remuneração é a soma do salário contratual com outras vantagens ou

adicionais percebidos pelo empregado, em decorrência do exercício de suas

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atividades na empresa. 119 A remuneração compreende tanto aquilo que a

empresa paga ao empregado como também demais benefícios que o mesmo

recebe. Na remuneração estão envolvidas tanto fixas diretas, como o salário

que o recebe regularmente da empresa como fixas indiretas, tais como cestas

básicas e tíquetes de alimentação. 120

A remuneração está disposta no artigo 457 da CLT121 in verbis:

Art. 457 - Compreendem-se na remuneração do empregado, para todos os efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente pelo empregador, como contraprestação do serviço, as gorjetas que receber.

§ 1º - Integram o salário não só a importância fixa estipulada, como também as comissões, percentagens, gratificações ajustadas, diárias para viagens e abonos pagos pelo empregador.

§ 2º - Não se incluem nos salários as ajudas de custo, assim como as diárias para viagem que não excedam de 50% (cinqüenta por cento) do salário percebido pelo empregado.

§ 3º - Considera-se gorjeta não só a importância espontaneamente dada pelo cliente ao empregado, como também aquela que fôr cobrada pela emprêsa ao cliente, como adicional nas contas, a qualquer título, e destinada a distribuição aos empregados.

Na concepção de Sérgio Pinto Martins o artigo 457 da Consolidação

das Leis do Trabalho não traz a conceituação de remuneração, para autor:

[...] é o conjunto de retribuições recebidas habitualmente pelo empregado pela prestação dos serviços, seja em dinheiro ou em utilidades, provenientes do empregador ou de terceiros, mas decorrentes do contrato de trabalho, de modo a satisfazer às suas necessidades vitais básicas e as de sua família.122

No mesmo entendimento do autor acima citando, Maurício Godinho

Delgado também ressalta que o artigo 457 da CLT não traz a definição de

remuneração, porém, assinala também, que na sua concepção há três sentidos

diferentes para a palavra remuneração, apesar de expressarem significados

119 VIANNA, Claúdia Salles Vilela. Manual Prático das Relações Trabalhistas. p. 400. 120 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Introdução ao Direito do Trabalho. 34. Ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 331. 121 BRASIL. Decreto-Lei n.º 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Diário Oficial da União. Rio de Janeiro, 1943. Doravante denominada CLT. 122 MARTINS, Sergio Pinto. Comentarios à CLT. p. 404.

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próximos, guardam semelhanças entre si. A primeira dessas acepções

praticamente identifica o conceito de remuneração com o de salário, como se

fossem expressões equivalentes, sinônimas. 123

A lei, a jurisprudência e a doutrina referem-se, comumente, ao caráter remuneratório de certas verbas, classificam parcelas como remuneratórias, sempre objetivando enfatizar a natureza salarial de determinadas figuras trabalhistas. Em harmonia a essa primeira acepção, utiliza-se no cotidiano trabalhista, reiteradamente, a expressão remuneração como se possuísse o mesmo conteúdo de salário.

A segunda dessas acepções tende a estabelecer certa diferenciação

entre as expressões, sendo a remuneração o gênero de parcelas

contraprestativas devidas e pagas ao empregado em função da prestação de

serviços ou da simples existência da relação de emprego, ao passo que salário

seria a parcela contraprestativa principal paga a esse empregado no contexto

do contrato.124

De fato, a CLT125, teria construído para a palavra salário tipo legal

específico, no qual seria o conjunto de parcelas contraprestativas devidas e

pagas diretamente pelo empregador ao empregado, em virtude da relação de

emprego, ou seja, salário será essencial a origem da parcela retributiva, pois

somente terá caráter de salário parcela contraprestativa devida e paga

diretamente pelo empregador a seu empregado.126

A terceira vertente, por sua vez, diz respeito à remuneração e gorjetas,

a qual também possui duas variantes interpretativas. A primeira, que antes do

advento da Súmula 354 do TST teve um valor significativo na prática jurídica,

considerava que a CLT pretendeu utilizar da palavra remuneração somente

como fórmula para incluir o salário contratual obreiro as gorjetas habitualmente

recebidas pelo empregado, gorjetas estas pagas por terceiros.

De sorte que, consistia em um mero artifício legal seguido pelo caput

do artigo 457 da CLT, para que se pudesse permitir, sem que se perdesse a

123 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. p. 682. 124 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. p. 682. 125 BRASIL. Decreto-Lei n.º 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Diário Oficial da União. Rio de Janeiro, 1943. Doravante denominada CLT. 126 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. p. 682.

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consistência do conceito dado pela lei ao salário, que as gorjetas fizessem

parte da base de cálculo salarial mensal do trabalhador. Mesmo que esta

interpretação reduza de forma considerável a diferenciação entre remuneração

e salário, a ordem jurídica preservaria essa diferenciação, pelo menos no que

cerne ao salário mínimo legal, tendo em vista que o mesmo é explicitamente

definido como a “contraprestação mínima devida e paga diretamente pelo

empregador a todo trabalhador” (Art. 76, CLT, com grifos acrescidos). 127

Já para a segunda vertente interpretativa, que busca aumentar a

diferenciação contida nos artigos. 76 e 457, caput, da CLT128, defende que os

dois tipos legais seriam distintos e inconfundíveis, o salário como a parcela

para diretamente pelo empregador e a remuneração a paga diretamente por

terceiros. Neste sentido, em 1997, o TST emitiu a Súmula 354 a qual

determina:

[...] as gorjetas, cobradas pelo empregador na nota de serviço ou oferecidas espontaneamente pelos clientes, integram a remuneração do empregado, não servindo de base de cálculo para as parcelas de aviso prévio, adicional noturno, horas extras e repouso semanal remunerado.

Destaca-se, porém, que se a expressão remuneração correspondesse

apenas a um tipo legal próprio, ou seja, uma verba contraprestativa paga ao

empregado por terceiro, significaria que outras modalidades de pagamentos

retributivos feitos por terceiros assumiriam o caráter de remuneração, como por

exemplo, os honorários advocatícios recebidos de terceiros pelos advogados,

que, se possuem o caráter de remuneração, ao menos terão reflexos no FGTS,

13° salário e recolhimentos previdenciários.

Sendo assim, se a base hermenêutica dirigiu-se no sentido de diminuir

a tendência pansalarial que muito enrijeceu o Direito do Trabalho brasileiro, a

conseqüência gerada por sua tese poderá ser totalmente oposta.

Além disso, é válido ressaltar que mesmo antes da emissão da referida

súmula, o Tribunal Superior do Trabalho já havia se posicionado neste sentido,

127 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Introdução ao Direito do Trabalho. 34. Ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 331. 128 BRASIL. Decreto-Lei n.º 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Diário Oficial da União. Rio de Janeiro, 1943. Doravante denominada CLT.

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conforme demonstra antiga Orientação Jurisprudencial da Seção de Dissídios

Individuais do Tribunal Superior do Trabalho.

Cláudia Salles Vilela Vianna entende que são componentes da

remuneração, o salário contratual, gorjetas, gratificações contratuais, prêmios,

adicional noturno, adicionais de insalubridade e periculosidade, ajudas de custo

e diárias de viagem, quando estas não excederem a 50% (cinqüenta por cento

do salário percebido), comissões e quaisquer outras parcelas pagas

habitualmente. 129

Logo, têm-se como acréscimo remuneratório adicionais em diversas

naturezas, no qual passar-se-á a expor.

2.2. DOS ADICIONAIS

Na concepção de Sérgio Pinto Martins, “o adicional tem sentido de

alguma coisa que se acrescenta”, é um acréscimo salarial decorrente da

prestação de serviços do empregado em condições mais gravosas. 130

Corroborando com o entendimento acima exposto, conceitua Mauricio

Godinho Delgado “consistem em parcelas contraprestativas suplementares

devidas ao empregado em virtude do exercício do trabalho em circunstâncias

tipificadas mais gravosas.” 131

O autor supra citada expõe acerca dos adicionais.

Os adicionais, em regra, são calculados percentualmente sobre um parâmetro salarial. Essa característica é que os torna assimiláveis à figura das percentagens, mencionada no art. 457, §1º, da CLT (embora o critério de percentagens não esteja ausente também de outras parcelas salariais distintas, como as comissões, o salário prêmio, modalidades de cálculo do salário por unidade de obra, etc.).132

129 VIANNA, Claúdia Salles Vilela. Manual Prático das Relações Trabalhistas. p. 401. 130 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. p. 229. 131 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 735. 132 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. p. 736.

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A parcela adicional é contraprestativa visto que paga-se uma quantia a

mais na remuneração do empregado, “em virtude do desconforto, desgaste ou

risco vivenciados, da responsabilidade e encargos superiores recebidos, do

exercício cumulativo de funções”.133

O artigo 457 § 1º da CLT134 dispõe acerca dos adicionais que integram

a remuneração, segue o dispositivo in verbis:

Art. 457 § 1º. Integram o salário não só a importância fixa estipulada, como também as comissões, percentagens, gratificações ajustadas, diárias para viagens e abonos pagos pelo empregador.

O fundamento e objetivo dos adicionais justificam a normatização e

efeitos jurídicos peculiares que o direito do trabalho confere a tais parcelas de

natureza salarial, embora sendo salário, os adicionais não se mantêm

organicamente vinculados ao contrato, podendo ser suprimidos, caso

desaparecida a circunstância tipificada ensejadora de sua percepção durante

certo período contratual. 135

Na compreensão de Maurício Godinho Delgado136, os adicionais

classificam-se em:

[...] legais (que se desdobram em abrangentes e restritos) e adicionais convencionais. Legais são os adicionais previstos em lei, ao passo que convencionais são aqueles criados pela normatividade infralegal (CCT ou ACT, por exemplo), ou pela vontade unilateral do empregador ou bilateral das partes contrarias.

Os adicionais legais abrangentes são aqueles que se aplicam a

qualquer categoria de empregados, enquanto os adicionais legais restritos

aplicam-se as categorias especificas e delimitada de empregados, Maurício

Godinho Delgado, traz a baila os conceitos dos referidos adicionais:

Os adicionais legais abrangentes são aqueles que se aplicam a qualquer categoria de empregados, desde que situado o obreiro nas circunstâncias legalmente tipificadas. Constituem

133 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. p. 736. 134 BRASIL. Decreto-Lei n.º 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Diário Oficial da União. Rio de Janeiro, 1943. Doravante denominada CLT. 135 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. p. 736. 136 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. p. 737.

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os seguintes adicionais: de insalubridade (art. 192, CLT); de periculosidade (art. 193, § 1°, CLT); de penosidade (art. 7°, XXIII, CF/88 – ainda sem tipificação legal no âmbito justrabalhista); de transferência (art. 469, § 3°, CLT); noturno (art. 73, caput, da CLT); de horas extras (art. 7°, XVI, CF/88).

Adicionais legais restritos são aqueles que se aplicam a categorias específicas e delimitadas de empregados, legalmente referidas, desde que situado o obreiro nas circunstâncias ensejadoras do adicional. Um significativo exemplo desta parcela é o adicional por acúmulo de função, previsto para a categoria profissional de vendedores (Lei n. 3.207, de 1957) e para a categoria profissional de radialistas (Lei n. 6.615, de 1978). 137

Já o adicional convencional trata-se de parcela suplementar paga ao

empregado enquanto laborar em locais inóspitos referidos no regulamento

empresarial (adicional de fronteira), ou enquanto laborar em obras, fora da

sede e escritórios da empresa (adicional de campo), as condições pra o

recebimento do adicional depende daquilo que dispuser o instrumento privado

concessor da verba. 138

As parcelas em questão apresentam-se sob as formas de horas extras,

adicional noturno e adicional de transferência, em atividades penosas, adicional

de insalubridade e adicional de periculosidade.139

Será considerado trabalho noturno quando o empregado estiver

exposto a trabalho em período compreendido entre 22h de um dia e 05h do dia

seguinte, devendo então perceber em sua remuneração o adicional de pelo

menos 20% (vinte por cento) sobre o valor da hora normal diurna e sendo pago

de forma habitual deverá integrar o salário do trabalhador.140

Acerca do adicional de horas extras dispõe o artigo 59 da CLT que a

duração normal do trabalho poderá ser acrescida de horas suplementares não

137 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. p. 737. 138 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. p. 737. 139 KROST. Oscar Trabalho prestado em condições insalubres e perigosas: possibilidade de cumulação de adicionais. Revista Justiça do Trabalho, nº 247, julho de 2004. Disponível em: http://www.femargs.com.br/www/modules.php?name=News&file=article&sid=36Acesso em 12 de abril de 2010. 140 VIANNA, Claúdia Salles Vilela. Manual Prático das Relações Trabalhistas. 8. ed. São Paulo: LTr, 2007. pg. 442.

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excedentes de 2 (duas), mediante acordo escrito entre empregador e

empregado, ou mediante contrato coletivo de trabalho.141

Este acréscimo decorre da prorrogação da jornada de trabalho. As

horas suplementares extraordinárias deverão ser remuneradas com um

percentual de no mínimo, 50% (cinqüenta por cento) em relação à hora normal

contratada.142

Já a parcela do adicional de transferência é regulado pelo Capítulo III,

do Título IV da CLT, no qual se trata do contrato individual do trabalho, para

Maurício Godinho Delgado, adicional de transferência “é a parcela salarial

suplementar devida ao empregado submetido a remoção de local de trabalho

que importe em mudança de sua residência.”143

Esta contraprestação corresponde a um acréscimo de 25% (vinte e

cinco por cento) sobre o valor do salário que o empregado estiver recebendo

na localidade, sendo devido quando a transferência decorrer de necessidade

de serviço.144

Contudo, como o presente trabalho visa abordar os adicionais de

insalubridade e periculosidade e a possibilidade de cumulação entre eles, não

serão dedicados maiores estudos acerca dos adicionais de horas noturnas,

horas extras e transferência, já que não o objeto central da pesquisa.

Após breve explanação acerca dos adicionais da remuneração,

passar-se-á discorrer sobre os adicionais que visam à proteção a saúde do

trabalhador.

2.3 DOS ADICIONAIS PROTETIVOS

141 BRASIL. Decreto-Lei n.º 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Diário Oficial da União. Rio de Janeiro, 1943. 142 VIANNA, Claúdia Salles Vilela. Manual Prático das Relações Trabalhistas. 8. ed. São Paulo: LTr, 2007. pg. 355. 143 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. p. 1042. 144 ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito do Trabalho. p. 181.

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O pagamento dos adicionais dispostos no artigo 7º XXIII da CRFB/1988

visam indenizar os eventuais danos, assim como compensar os riscos contra a

vida e a integridade física a que os trabalhadores estão sujeitos nos ambientes

insalubres, penosos e periculosos, durante a vigência do contrato de trabalho.

Observa-se o que dispõe o texto constitucional: “XXIII - adicional de

remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da

lei”.

Neste norte, há que se recordar que o inciso XXIII do artigo 7º insere-

se no rol dos direitos sociais, que compreendem parte dos direitos

fundamentais, que são aqueles direitos considerados inalienáveis, por

compreenderem o mínimo essencial para a vida humana.

Dessa forma, os adicionais mencionados elevam-se à condição de

irrenunciáveis, o que lhes garante um status mais elevado. A ciência disto é

essencial para qualquer discussão acerca dos adicionais mencionados, pois é

a conscientização de que os mesmos ocupam importância destacada no direito

trabalhista e constitucional.

2.3.1 Penosidade

Apesar da Constituição Federal de 1988, assegurar aos trabalhadores

o direito à percepção do adicional de penosidade, até o momento não foi

editada uma lei ordinária que definisse juridicamente as atividades penosas e

fixasse o valor do correspondente a este adicional. 145

Em espanhol, usa-se a expressão trabajos sucios, que são os executados em minas de carvão, transporte e entrega de carvão, limpeza de chaminés, limpeza de caldeiras, limpeza e manutenção de tanques de petróleo, recipientes de azeite, trabalhos com grafite e cola, trabalho em matadouros, preparação de farinha de peixe, preparação de fertilizantes etc. 146

145 GONÇALVES, Edwar Abreu. Manual de Segurança e Saúde no Trabalho. 3. Ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 361 146 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 2008. p. 639.

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A atividade penosa é aquela que traz um desgaste maior do que o

normal a sua integridade física do trabalhador. “Era atividade penosa, a

descrita no art. 387 da CLT, que tratava do trabalho da mulher em subterrâneo,

minerações em subsolo, pedreiras e obras de construção civil, que foi revogado

pela Lei n.º 7.855/89.” Considerava-se atividade penosa, para fins de

aposentadoria, a da telefonista.147

A doutrina e jurisprudência consideram o adicional de penosidade

como norma constitucional de eficácia limitada. Tal entendimento não mais se

justifica, pois se pode a jurisprudência conferir direitos trabalhistas a quem não

é empregado, com muito mais razão poderá ela conferir eficácia plena aos

direitos já consagrados aos empregados, até porque não é difícil definir o que

seja um trabalho penoso. 148

O trabalho penoso, é portanto, uma espécie de assédio moral

determinado pela própria estrutura empresarial e não por ato pessoal de um

superior hierárquico, nestes termos para melhor compreensão da idéia

exemplifica Jorge Luiz Souto Maior:

[...] As trabalhadoras faziam um serviço repetitivo durante oito horas por dia, sem previsão de rotatividade de tarefas, sem possibilidade de descanso e sem que tivessem sequer a visão da trabalhadora ao lado, porque envolvidas por um biombo trilateral. Se avaliada a situação sob a ótica da insalubridade e da periculosidade nada estava, pelo menos aparentemente, errado, mas o trabalho exercido daquela forma minava a trabalhadora por dentro, tanto que na própria avaliação do gerente de recursos humanos, só pessoas com baixíssima formação cultural se submetiam ao exercício daquele serviço. 149

147 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. p. 660. 148 MAIOR. Jorge Luiz Souto. Competência ampliada EC 45 reconheceu vocação natural da Justiça do Trabalho. Disponível em: Disponível em: http://www.google.com.br/search?hl=ptBR&q=artigos+de+jorge+souto+maior+cumula%C3%A7%C3%A3o+de+adicionais&btnG=Pesquisar&meta=&aq=f&aqi=&aql=&oq=&gs_rfai=. Acesso em 12 de Abril de 2010. 149 MAIOR. Jorge Luiz Souto. Competência ampliada EC 45 reconheceu vocação natural da Justiça do Trabalho. Disponível em: Disponível em: http://www.google.com.br/search?hl=ptBR&q=artigos+de+jorge+souto+maior+cumula%C3%A7%C3%A3o+de+adicionais&btnG=Pesquisar&meta=&aq=f&aqi=&aql=&oq=&gs_rfai=. Acesso em 12 de Abril de 2010.

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Ou seja, penoso é um trabalho que não apresenta riscos à saúde

física, mas que, pelas suas condições adversas acaba minando as forças e a

alta estima do trabalhador.

Diferentes da penosidade existem outras condições as quais alguns

trabalhadores são submetidos que de fato provocam riscos à integridade física,

que são as condições referentes à insalubridade e à periculosidade, conforme

segue.

2.3.2 Insalubridade

Segundo Sérgio Pinto Martins, as atividades insalubres são

caracterizadas pela NR-15, da Portaria n° 3.214/1978150. A insalubridade, para

o Autor, restará evidenciada quando o empregado estiver exposto a agentes

nocivos à sua saúde. 151

Edwar Abreu Gonçalves ensina que é necessário para a adequada

caracterização legal do exercício insalubre, que as condições danosas à saúde

do trabalhador, detectadas no ambiente de trabalho, estejam devidamente

tipificadas em qualquer um dos anexos na NR-15. 152

O artigo 189 da CLT dispõe sobre as atividades ou operações

insalubres:

Art. 189. Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos. 153

150 BRASIL. Portaria do Ministério Público n.º 3.214, de 08 de junho de 1978. Aprova as Normas Regulamentadoras - NR - do Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho, relativas a Segurança e Medicina do Trabalho. Diário Oficial da União, Brasília, 1978. 151 MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. p. 202. 152 GONÇALVES, Edwar Abreu. Manual de Segurança e Saúde no Trabalho. p. 383. 153 Art. 189 da CLT.

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Em relação à insalubridade, o risco a saúde pode ser causado por

agentes físicos, químicos ou biológicos, sendo que entre os primeiros pode-se

destacar ruídos, temperaturas extremas, vibrações, umidade, pressões

anormais e radiações; entre os segundo, os agentes poderiam ser poeiras e

fibras, neblinas, névoas e gases e vapores; e entre os últimos, vírus, bactérias,

fungos e parasitas em geral.

Segundo os princípios da Higiene Ocupacional, a ocorrência da doença profissional, dentre outros fatores, depende da natureza, da intensidade e do tempo de exposição ao agente ambiental, da qual resulta a chamada “dose”, ou seja, o modo como este agente é recebido pelo empregado exposto. [...] a intensidade do agente está diretamente relacionada à concentração ou quantum do agente a que o empregado está sendo submetido; o tempo de exposição é por sua vez o período em que o empregado está sujeito a tal agente. Assim, há necessariamente que existir um equilíbrio entre as duas variáveis para que seja caracterizada a insalubridade, pois, grandes exposições a ínfimas concentrações do agente, o ainda o inverso, ou seja, grandes concentrações, por reduzidos lapsos de tempo, jamais alcançariam a dose e, portanto, nunca caracterizariam a insalubridade.154

Menciona Edwar Abreu Gonçalves que se o trabalhador desenvolver

atividades que se evidencie a exposição continuada aos agentes nocivos dos

anexos da NR-15, poderá ter o seu exercício profissional caracterizado como

insalubre, no qual se configura uma das duas hipóteses normativas:

Nas atividades ou operações que desenvolvem acima dos limites de tolerância previstos nos anexos ns. 1. Ruído Contínuo ou Intermitente; 2. Ruído de Impacto; 3. Calor Radiante; 5. Radiações Ionizantes; 8. Vibrações; 11. Agentes Químicos e 12. Poeiras Minerais. Convém ressaltar que, para se caracterizar a exposição insalubre em relação a esses agentes nocivos, é indispensável uma avaliação quantitativa no local do trabalho, com a utilização de aparelhos de medição específicos para cada agente insalubre, de modo que comprove se os correspondentes limites de tolerância foram extrapolados; Nas atividades ou operações mencionadas nos Anexos ns. 6. Pressões Hiperbáricas; 7. Radiações Não-Ionizantes; 9. Frio; 10. Umidade; 13. Agentes Químicos e 14. Agentes Biológicos. 155

154 PAULA, Ricardo Guimarães de. Caracterização técnico-jurídica da insalubridade e periculosidade e sua aplicação na gestão de segurança em pedreiras. 2008. 165f. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. p. 27. 155 GONÇALVES, Edwar Abreu. Manual de Segurança e Saúde no Trabalho. 3. Ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 364.

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Para esses agentes nocivos, impõe-se realizar uma avaliação

qualitativa no local de trabalho, de modo que seja constatado se o trabalho

desenvolvido encaixa-se perfeitamente na situação tipificada no

correspondente anexo, sendo indevida, porém, a utilização de aparelhos de

medição, até porque a NR-15 não fixou limites de tolerância para esses

agentes danosos à saúde. 156

Ainda, os agentes nocivos à saúde do trabalhador se classificam em

“físicos: calor, pressão, radiações ionizantes, químicos: poeiras, gases, contato

com óleo em que haja hidrocarboneto; biológicos: bactérias, fungos, bacilos,

vírus”. 157

A proteção da saúde do trabalhador no interior das empresas considera

os seguintes fatores:

físicos – temperatura excessiva (calor e frio), umidade, pressão, radiação, vibração, vibrações (inclusive as ultra-sônicas), cargas anormais etc.; químicos – sólidos, gasosos ou líquidos, poeira, fumaça, névoas, vapores etc.; de ordem psicológica – condições psicológicas impróprias para o trabalho, tensão emocional etc. 158

Ademais, é importante salientar que segundo os princípios da Higiene

do Trabalho, a ocorrência da doença profissional, depende da natureza da

intensidade e do tempo de exposição ao agente agressivo. 159

Com base nesses fatores foram estabelecidos limites de tolerância

para os referidos agentes, que, no entanto, representam um valor numérico

abaixo do qual se acredita que a maioria dos trabalhadores expostos a agentes

agressivos, durante a sua vida laboral, não contrairá doença profissional.

Portanto, do ponto de vista Dos parâmetros para a avaliação e controle dos

156 GONÇALVES, Edwar Abreu. Manual de Segurança e Saúde no Trabalho. 3. Ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 364. 157 MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. 2009. p. 202. 158 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. p. 244. 159 SALIBA, Tuffi Messias. Insalubridade e Periculosidade: aspectos técnicos e práticos. p. 11.

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ambientes prevencionista, não podem ser encarados com rigidez e sim como

de trabalho. 160

Alice Monteiro de Barros ressalta que o trabalho em condições

insalubres, envolve maior perigo para a vida do trabalhador e, por isso

ocasiona um aumento na remuneração do empregado. 161

Essa importância obtém contornos ainda mais evidentes com a

redação da Súmula 47 do TST: “O trabalho executado em condições

insalubres, em caráter intermitente, não afasta, só por essa circunstância, o

direito à percepção do respectivo adicional”.

Isto porque, as condições insalubres são tão prejudiciais à saúde do

trabalhador que mesmo no caso de alguém trabalhar permanentemente em

condições insalubres possui direito ao adicional. A Súmula vem tanto a

corroborar o dispositivo constitucional do artigo 7º, inciso XXIII, no sentido de

garantir ao empregado um direito social indispensável, quando reconhecido

sua existência, bem como de fazer jus ao empregado que, trabalhando

intermitentemente em condições insalubres, enfrenta grande ameaça contra

sua saúde de forma constante.

E, por este motivo, nos termos do artigo 192 da CLT162, pode ser

caracterizada a insalubridade nos graus máximo, médio ou mínimo, onde fará

jus o empregado, ao adicional de insalubridade correspondente a 40%

(quarenta por cento), 20% (vinte por cento) e 10% (dez por cento)

respectivamente.

Com efeito, vale transcrever o citado artigo 192 da CLT:

Art. 192 - O exercício de trabalho em condições insalubres, acima dos limites de tolerância estabelecidos pelo Ministério do Trabalho, assegura a percepção de adicional respectivamente de 40% (quarenta por cento), 20% (vinte por cento) e 10% (dez por cento) do salário-mínimo da região, segundo se classifiquem nos graus máximo, médio e mínimo.

160 SALIBA, Tuffi Messias. Insalubridade e Periculosidade: aspectos técnicos e práticos. p. 12. 161 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. p. 767. 162 BRASIL. Decreto-Lei n.º 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Diário Oficial da União. Rio de Janeiro, 1943. Doravante denominada CLT.

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No entanto, o adicional de insalubridade somente será devido enquanto

perdurarem as condições desfavoráveis a saúde do trabalhador, visto que se

modificadas essas condições, impõe-se a modificação da obrigação ou mesmo

o total desaparecimento. No caso de incidência de mais de um fator de

insalubridade, será apenas considerado o grau mais elevado para efeito de

acréscimo salarial, sendo vedada a percepção cumulativa.163

A caracterização e classificação desses fatores, bem como as normas

de fiscalização serão vistas no decorrer deste capítulo. Na seqüência será

apresentado o outro adicional objeto de estudo deste trabalho: o adicional de

periculosidade.

2.3.3 Periculosidade

Segundo o magistério de Sérgio Pinto Martins, o adicional de

periculosidade é devido para quem tenha contato permanente com inflamáveis

ou explosivos em condições de risco acentuado. A regulamentação que trata

das condições periculosas no local de trabalho é a NR-16 da Portaria n°

3.214/78164. 165

A Norma Regulamentadora n. 16, trata especificadamente das

atividades e operações perigosas. Eduardo Gabriel Saad enumera as

operações e atividades consideradas perigosas pela referida norma:

O anexo 1 informa que são perigosas as operações e atividades com explosivos: armazenamento de explosivos (incluindo os trabalhadores que se encontrem na área de risco); transporte de explosivos; operação de escorva dos cartuchos de explosivos; operação de carregamento de explosivos; detonação, verificação de detonações falhadas e queima de explosivos deteriorados.

163 VIANNA, Claúdia Salles Vilela. Manual Prático das Relações Trabalhistas. 8. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 431. 164 BRASIL. Portaria do Ministério Público n.º 3.214, de 08 de junho de 1978. Aprova as Normas Regulamentadoras - NR - do Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho, relativas a Segurança e Medicina do Trabalho. Diário Oficial da União, Brasília, 1978. 165 MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. p. 209.

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No anexo 2 é dito que são operações e atividades perigosas com inflamáveis: produção, transporte, processamento e armazenamento de gás liquefeito; transporte e armazenagem de inflamáveis líquidos e gasosos liquefeitos e de vasilhames vazios não desgaseificados ou decantados; postos de reabastecimento de aeronaves; locais de carregamento de navios-tanques, vagões-tanques e caminhões-tanques e enchimento de vasilhames com inflamáveis. 166

Esta Norma Regulamentadora possui reflexos importantes no texto da

CLT, que não logra definir quais seriam especificamente as atividades

perigosas. Os anexos 1 e 2 referem-se a operações com explosivos e produtos

inflamáveis, respectivamente, ou seja, produtos que por vários motivos (falha

técnica, erros no manuseio, etc.) podem vir a causar danos fatais ao

trabalhador.

Além da referida norma, há a Lei n. 7.369, de 22 de setembro de 1985,

que institui o adicional de periculosidade para trabalhadores expostos aos

riscos de contato com energia elétrica. Diante disso, faz jus do exercício

periculoso os trabalhadores que desenvolvem suas atividades em áreas de

riscos com explosivos, inflamáveis ou energia elétrica. 167

Aos empregados que trabalham com explosivos ou inflamáveis nas

condições relatadas é assegurado um adicional de 30% (trinta por cento) sobre

o salário, sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios ou

participação nos lucros. 168

O artigo 193 da CLT dispõe sobre as atividades ou operações

perigosas:

Art. 193. Serão consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho, aquelas que, por sua natureza ou método de trabalho, impliquem o contato permanente com inflamáveis ou explosivos em condições de risco acentuado.

Além do adicional de periculosidade previsto na CLT, a Lei n. 7.369/85,

institui em favor dos empregados que exercem atividades no setor de energia

166 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. 40. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 261. 167 GONÇALVES, Edwar Abreu. Manual de Segurança e Saúde no Trabalho. 3. Ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 503. 168 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 2007. p. 772.

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elétrica, no qual representam riscos equivalentes, estes fazem jus a um

adicional de 30% (trinta por cento) sobre o salário que perceberem. 169

A Seção de Dissídios Individuais do TST editou a Orientação

Jurisprudencial n.º 324, com o seguinte teor:

É assegurado o adicional de periculosidade apenas aos empregados que trabalham em sistema elétrico de potência em condições de risco, ou que o façam com equipamentos e instalações elétricas similares, que ofereçam risco equivalente, ainda que em unidade consumidora de energia elétrica.170

A Súmula n.º 39171 do TST dispõe que “os empregados que operam em

bomba de gasolina, tem direito ao adicional de periculosidade”, por

desenvolverem atividades de risco de vida.

Acerca da incidência da periculosidade na remuneração do

Trabalhador, esclarece Alice Monteiro de Barros:

O adicional de periculosidade pago habitualmente integra o cálculo da indenização (Súmula n.º 132), das férias, do 13º salário, do aviso prévio e do FGTS. Aliás, a incidência sobre este último independe de habitualidade (Súmula n.º 63 do TST). O adicional de periculosidade repercute também no cálculo das horas extras e noturnas (Orientação Jurisprudencial n.º 259 e Súmula n.º 132, inciso I, do TST). O valor dessas horas é calculado com base no valor da hora normal, integrado das parcelas salariais e acrescido do adicional previsto em lei ou em norma coletiva (Súmula n.º 264 do TST). Como o adicional de periculosidade tem feição salarial, ele será acrescido à hora normal para cálculo do valor das horas extras e noturnas, mormente se considerarmos que também nesses regimes o empregado permanece sob as condições de risco.172

Depois de estabelecida a periculosidade da atividade pelo MTE, se a

empresa não pagar o adicional, o empregado pode ingressar com reclamação

na justiça, seja pessoalmente, seja por meio do sindicato, quando se tratar de

um grupo de associados. O juiz designará um perito que fará o laudo e,

169 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 2007. p. 772. 170 BRASIL. Súmula n.º 324, do Tribunal Superior do Trabalho, de 09 de dezembro de 2003. Diário Oficial da União, Brasília, 20 abr. 2009. 171 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula n.º 39: Os empregados que operam em bomba de gasolina têm direito ao adicional de periculosidade. 172 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. p. 784-785.

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comprovando-se a situação, receberá o empregado inclusive as parcelas

vencidas, desde que não prescritas.173

Todavia, é certo que tal condição insalubre e condições que versam

perigo a saúde do trabalhador, devem estar devidamente classificada e

caracterizada em consonância com as normas baixadas pelo Ministério do

Trabalho e Emprego, que segue.

2.3.4 Caracterização e classificação da insalubridade e periculosidade

O disposto no artigo 195 da CLT estabelece que para que haja a

caracterização e a classificação da insalubridade e periculosidade, deverá ser

feita perícia, a cargo de médico ou engenheiro do trabalho, ressalta-se que a

norma legal impõe prova pericial como método obrigatório para a

caracterização desses agentes nocivos à saúde. 174

Art. 195 - A caracterização e a classificação da insalubridade e da periculosidade, segundo as normas do Ministério do Trabalho, far-se-ão através de perícia a cargo de Médico do Trabalho ou Engenheiro do Trabalho, registrados no Ministério do Trabalho.

No caput do artigo 195 da CLT é declarado que, para caracterizar e

classificar a insalubridade e a periculosidade e consonância com as normas

baixadas pelo Ministério do Trabalho, deverá ser realizada a perícia por médico

do trabalho ou engenheiro de segurança registrado no Ministério do Trabalho. 175

Na concepção de Edwar Abreu Gonçalves, perícia é:

A modalidade de prova processual consistente no exame de caráter técnico, normalmente realizado por profissionais especialista, previamente escolhido e designado pelo juiz, objetivando esclarecer, do ponto de vista estritamente técnico, um fato, estado ou valor de um objeto controvertido, cujo

173 ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito do Trabalho. p. 362 174 SALIBA, Tuffi Messias. Insalubridade e Periculosidade: aspectos técnicos e práticos. 2002. p. 21 175 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. 40. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 269.

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conhecimento extrapola o saber jurídico comum do Magistrado.176

A perícia pode ser requerida à Delegacia Regional do Trabalho pela

empresa ou pelo sindicato representativo das categorias interessadas, neste

caso não será interrompida a prescrição do direito de o empregado reclamar

em juízo o correspondente adicional nem fixa um quantum capaz de

condicionar a lavratura da sentença do juiz em feito que tenha como objeto o

adicional de insalubridade ou periculosidade. 177

O sindicato representativo dos empregados, ao solicitar a perícia, na

órbita administrativa, só terá o interesse de verificar, previamente, se o

ambiente de trabalho é insalubre ou perigoso. 178

É a NR-15 da Portaria n° 3.214/78, juntamente com seus anexos, que

rege todo o trabalho a ser desenvolvido pelos peritos no levantamento e

comprovação da existência ou não da insalubridade, do ponto de vista técnico,

por meio da avaliação quantitativa ou qualitativa. 179

Tuffi Messias Saliba observa que a NR-15, estabelece critérios para a

caracterização da insalubridade, primeiramente é necessário que haja a

Avaliação quantitativa, no qual serão definidos os limites de tolerância para os

agentes agressivos fixados em razão da natureza, da intensidade do agente e

compará-lo com os respectivos limites de tolerância, a insalubridade será

caracterizada somente quando o limite for ultrapassado. 180

A avaliação qualitativa, estará presente nos anexos 7,8, 9, 10 e 13, a

NR-15 estabelece que a insalubridade será comprovada pela inspeção

realizada pelo perito no local de trabalho. Assim na caracterização da

insalubridade pela avaliação qualitativa, o perito deverá analisar

176 GONÇALVES, Edwar Abreu. Manual de Segurança e Saúde no Trabalho. p. 132. 177 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. 40. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 269. 178 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. 40. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 269. 179 PEREIRA, Fernandes José. Manual Pratico: como elaborar uma perícia de insalubridade, de periculosidade, de nexo causal das doenças ocupacionais e das condições geradoras do acidente de trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2009. pg.18. 180 SALIBA, Tuffi Messias. Insalubridade e Periculosidade: aspectos técnicos e práticos. p. 14.

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detalhadamente o posto de trabalho e a função do trabalhador, utilizando os

critérios técnicos da Higiene Industrial. 181

Tal procedimento, por sua vez, é “constatado através de inspeção

realizada no local de trabalho, ou seja, para os agentes que têm este tipo de

avaliação, não foram fixados Limites de Tolerância pela legislação

brasileira”.182

Por fim, a avaliação qualitativa de riscos inerentes à atividade, o

subitem 15.13 da NR-15, estabelece que serão insalubres as atividades

mencionadas nos anexos 6, 13 e 14. O fato de não haver meios de se eliminar

ou neutralizar a insalubridade significa que esta é inerente à atividade. 183

Assim, define-se a referida avaliação quanto aos riscos inerentes à

atividade:

[...] quando não se há meios de eliminar ou neutralizar a insalubridade, significa que a mesma é inerente à atividade, ou seja, o risco não pode ser totalmente eliminado com medidas no ambiente de trabalho ou com uso de equipamento de proteção individual (EPI). Enquadram-se nesta situação os agentes de condições hiperbáricas (podem ser realizadas avaliações quantitativas da pressão), parte dos agentes químicos e os agentes biológicos.184

Em relação à periculosidade, esta ocorre quando o empregado é

obrigado a exercer sua função em condições de trabalho que ameacem sua

vida e integridade física. O contato deve ser permanente, ou seja, habitual no

exercício da função.

Destarte, diferente da insalubridade, a periculosidade possui apenas

atividades qualitativas para descrevê-la, com análise detalhada do local de

181 SALIBA, Tuffi Messias. Insalubridade e Periculosidade: aspectos técnicos e práticos. p.14. 182 PAULA, Ricardo Guimarães de. Caracterização técnico-jurídica da insalubridade e periculosidade e sua aplicação na gestão de segurança em pedreiras. 2008. 165f. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. p. 29. 183 SALIBA, Tuffi Messias. Insalubridade e Periculosidade: aspectos técnicos e práticos. p.14. 184 PAULA, Ricardo Guimarães de. Caracterização técnico-jurídica da insalubridade e periculosidade e sua aplicação na gestão de segurança em pedreiras. 2008. 165f. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. p. 30.

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trabalho e função do empregado. Ainda assim, podem ser utilizados recursos

quantitativos:

[...] a fim de permitir, por exemplo, a determinação da extensão da área de risco ou a aferição da condição de risco acentuado (no caso de uma atmosfera com gases e vapores inflamáveis, por exemplo, quando podem ser utilizados explosímetros para mensuração de sua quantidade).185

Edwar Abreu Gonçalves ensina que um dos critérios aceitos para a

caracterização da insalubridade é o critério subjetivo, por meio do qual o

adicional de insalubridade somente será devido quando o trabalhador

manifestar sintomas da doença profissional ou do trabalho, para se caracterizar

a insalubridade, caso em que somente o profissional da medicina ocupacional

se encontra apto a caracterizar ou não o exercício insalubre, eis que o objetivo

da perícia é o corpo humano. 186

E continua a ressaltar acerca do critério objetivo, através do qual o

objetivo da perícia será exclusivamente o ambiente de trabalho e não o corpo

do trabalhador, por sinal este é o método utilizado pela maioria dos países do

mundo, dentre eles o Brasil. Logo, não sendo o corpo do trabalhador o objeto

da perícia, não há que se falar em competência exclusiva do médico do

trabalhado para realizar avaliações de insalubridade em nosso país.187

2.3.5 Supervisão e fiscalização pelo MTE

O quadro das atividades e operações insalubres será definido pelo

Ministério do Trabalho, sendo necessária a constatação de elementos

agressivos à saúde do trabalhador no meio ambiente de trabalho. A

classificação é feita pela portaria do Ministério do Trabalho. 188

185 PAULA, Ricardo Guimarães de. Caracterização técnico-jurídica da insalubridade e periculosidade e sua aplicação na gestão de segurança em pedreiras. 2008. 165f. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. p. 30. 186 GONÇALVES, Edwar Abreu. Manual de Segurança e Saúde no Trabalho. p. 362 187 GONÇALVES, Edwar Abreu. Manual de Segurança e Saúde no Trabalho. p. 362 188 MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. p. 202.

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A atividade do Ministério do Trabalho é regulamentar quais as

atividades devem ser consideradas insalubres, conforme prevê o artigo 190 da

CLT:

Art. 190. O Ministério do Trabalho aprovará o quadro das atividades e operações insalubres e adotará normas sobre os critérios de caracterização da insalubridade, os limites de tolerância aos agentes agressivos, meios de proteção e o tempo máximo de exposição do empregado a esses agentes. Parágrafo único. As normas referidas neste artigo incluirão medidas de proteção do organismo do trabalhador nas operações que produzem aerodispersóides tóxicos, irritantes, alergênicos ou incômodos. 189

O dispositivo supracitado estabelece ser de competência do Ministério

do Trabalho elaborar e aprovar o quadro das atividades e operações

insalubres, devendo ainda, indicar os critérios de caracterização da

insalubridade, bem como os limites de tolerância aos agentes agressivos. 190

Assim, não basta fazer a comprovação de que o trabalho seja

prejudicial à saúde do trabalhador, é necessário que apareça na relação oficial

das atividades classificadas como insalubres.191

Ainda, cumpre ressaltar que o Executivo ao elaborar a referida lista,

deve obedecer ao que se prescreve no artigo 189192 sobre as características

das atividades ou operações insalubres, que só podem ser aquelas que

exponham os empregados a agentes nocivos à saúde. “De sorte que, se ficar

provada a inocuidade do trabalho que aparece como insalubre na relação

oficial, a justiça poderá isentar a empresa do pagamento do respectivo

adicional”. 193

189 BRASIL. Decreto-Lei n.º 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Diário Oficial da União. Rio de Janeiro, 1943. 190 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. p. 246. 191 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. p. 246. 192 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Art. 189. Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos. Vade Mecum acadêmico de direito. Anne Joyce Angher (Org.). 6. ed. São Paulo: Rideel, 2008. p. 79. 193 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. p. 246.

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Em comentários a CLT, Sérgio Pinto Martins expõe os agentes da

Norma Regulamentadora n. 15 da Portaria n. 3.214/78:

[...] n° 1, ruídos; n° 2, ruídos de impacto; n° 3, exposição ao calor; n° 5, n° 6, trabalho sob condições hiperbáricas; n° 7, radiações não ionizantes; n° 8, vibrações; n° 9, frio; n° 10, umidade; n° 11, agentes químicos cuja insalubridade é caracterizada por limite de tolerância e inspeção no local de trabalho; n° 12, poeiras minerais; n° 13, agentes químicos; n° 14, agentes biológicos. 194

O autor acima citado ensina que se o elemento nocivo não estiver

previsto no quadro dos anexos da NR-15 a insalubridade é indevida, seria o

caso de reclassificação do elemento por ato do Ministério do Trabalho,

deixando agente de ser considerado insalubre. Neste caso não o que se falar

em direito adquirido, nem de redução de salários, uma vez que o adicional é

devido enquanto considerado elemento insalubre, alem do que o salário

nominal não esta sendo reduzido. 195

Logo, a condição insalubre e perigosa, será cessada com a

neutralização e/ou eliminação dos referidos agente no ambiente de trabalho, no

qual repercute na satisfação do respectivo adicional, sem ofensa ao direito

adquirido ou ao princípio da irredutibilidade salarial, que ora se expõe.

2.3.6 Eliminação e neutralização da insalubridade e/ou periculosidade

Acerca da possibilidade de eliminação ou neutralização da

insalubridade, há duas hipóteses legalmente previstas, no artigo 191 da CLT,

no qual empregador deverá adotar, visando à proteção da saúde do

trabalhador. 196

A eliminação ou neutralização da insalubridade está disposta no art.

191 da CLT:

Art. 191. A eliminação ou neutralização da insalubridade ocorrerá:

194 MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. p. 202. 195 MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. p. 203. 196 GONÇALVES, Edwar Abreu. Manual de Segurança e Saúde no Trabalho. p. 384

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I – com a adoção de medidas que conservem o ambiente de trabalho dentro dos limites de tolerância; II – com a utilização de equipamentos de proteção individual ao trabalhador, que diminuam a intensidade do agente agressivo a limites de tolerância. Parágrafo único. Caberá às Delegacias Regionais do Trabalho, comprovada a insalubridade, notificar as empresas, estipulando prazos para sua eliminação ou neutralização, na forma deste artigo. 197

A lei prevê o uso do Equipamento de Proteção Individual, o qual deverá

adequar-se ao risco e possuir fator de proteção que permita reduzir a

intensidade do agente insalubre a limites de tolerância. Ensina que quanto à

periculosidade, não ocorre à neutralização mediante a utilização do EPI, pois

esta é inerente à atividade, no entanto pagamento do adicional de

periculosidade somente será cessado com a eliminação do risco. 198

Tuffi Messias Saliba destaca em sua obra, dois aspectos

importantes a serem considerados no disposto do art. 194 da CLT. 199

Em primeiro lugar, esse artigo fala somente em eliminação da insalubridade ou periculosidade. No entanto, por força do artigo 191, fica entendido que o pagamento do adicional de insalubridade será suprimido com a eliminação ou neutralização através do uso de EPI, desde que este seja capaz de diminuir o risco à níveis abaixo dos limites de tolerância. Em segundo lugar, deve ser destacada a importância da simples suspensão desse pagamento. A caracterização correta da periculosidade ou insalubridade é de importância fundamental, pois a cessação desse pagamento só será possível com nova perícia que comprove a eliminação ou neutralização dos riscos. 200

Ressalta Alice Monteiro de Barros que se houver reclassificação ou

descaracterização da insalubridade, por ato do Ministério do Trabalho, esse

197 BRASIL. Decreto-Lei n.º 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Diário Oficial da União. Rio de Janeiro, 1943. 198 SALIBA, Tuffi Messias. Insalubridade e Periculosidade: aspectos técnicos e práticos. 6. ed. atual. São Paulo: LTr, 2002. pg. 20. 199 BRASIL. Decreto-Lei n.º 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Art. 194 . O direito do empregado ao adicional de insalubridade ou de periculosidade cessará com a eliminação do risco à sua saúde ou integridade física, nos termos desta Seção e das normas expedidas pelo Ministério do Trabalho. . Vade Mecum acadêmico de direito. Anne Joyce Angher (Org.). 6. ed. São Paulo: Rideel, 2008. 200 SALIBA, Tuffi Messias. Insalubridade e Periculosidade: aspectos técnicos e práticos. 6. ed. atual. São Paulo: LTr, 2002. pg. 20.

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fato repercutirá na satisfação do respectivo adicional, sem ofensa a direito

adquirido ou ao princípio da irredutibilidade salarial. 201

Segue a Súmula 248 do Tribunal Superior do Trabalho in verbis: “A

reclassificação ou descaracterização da insalubridade, por ato da autoridade

competente, repercute na satisfação do respectivo adicional, sem ofensa ao

direito adquirido ou ao princípio da irredutibilidade salarial”.202

Assim, diante da análise procedida acerca dos adicionais, em especial,

o de insalubridade e periculosidade, passar-se-á ao próximo capítulo, no qual

focará o objetivo desse trabalho, qual seja, da (im) possível cumulatividade dos

adicionais de insalubridade e periculosidade, quando do contato de forma

simultânea a agentes agressivos diferentes.

201 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 2007. p. 768. 202 BRASIL. Súmula n.º 248 do Tribunal Superior do Trabalho, de 15 de janeiro de 1986. Diário Oficial da União, Brasília, 21 nov. 2003.

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3 DA (IM) POSSIVEL CUMULAÇÃO DOS ADICIONAIS

O presente capítulo visa analisar, sob o ponto de vista legal, doutrinário

e jurisprudencial, a (im) possível cumulação dos adicionais e insalubridade e

periculosidade.

Como visto, os adicionais de insalubridade são devidos quando a

atividade realizada ameaça a saúde do operários por causa das condições de

trabalho, como umidade, contato com agentes químicos, etc. Já os adicionais

de periculosidade são devidos quando o trabalhador opera suas funções em

contato com explosivos, produtos inflamáveis ou elétricos, que podem vir a

causar danos letais ao mesmo.

Contudo, embora cada adicional, visa compensar separadamente uma

situação adversa, passar-se-á a dispor acerca da cumulação de adicionais.

3.1 DA CUMULAÇÃO DE ADICIONAIS

Inicialmente, com a Constituição da República Federativa do Brasil de

1988203, foi alçado o direito social de todos e o dever do estado, conforme

dispõe os artigos 6° caput 204 e 196205 e ainda, por via indireta obteve status de

203

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Brasília, 1988. Doravante denominada CRFB/88. 204 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Artigo 6°: São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Vade Macum Compacto. Pinto. Antonio Luiz de Toledo. Windt. Márcia Cristina Vaz dos Santos. Céspedes. Livia. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 11. 205 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Artigo 196: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Vade Macum Compacto. Pinto. Antonio Luiz de Toledo. Windt. Márcia Cristina Vaz dos Santos. Céspedes. Livia. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 63.

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fundamento do estado democrático de direito, como consectário dos preceitos

da dignidade da pessoa humana e do valor social do trabalho. 206

Ressalta-se, que restou positivada a garantia dos trabalhadores

urbanos e rurais à redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio da

publicação de normas de saúde, higiene e segurança, juntamente com a

percepção de remuneração para atividades reptadas penosas, insalubres ou

perigosas. 207

A CRFB/1988, na condição de verdadeiro norte do arcabouço

normativo, em seu artigo 7º, XXIII, assegurou expressamente aos

trabalhadores o direito à percepção de adicionais de remuneração, quando

desempenhadas atividades penosas, insalubres ou perigosas, disposição esta

que deve ser examinada em conjunto com os princípios que regem o

ordenamento, em especial o da máxima efetividade ou da eficiência. 208

A constituição é a norma de maior hierarquia no ordenamento jurídico.

Diante disso, a validade das demais normas tem como pressuposto que sejam

compatíveis com as normas constitucionais. Neste sentido, segue o

entendimento de Luís Roberto Barroso e Ana Paula de Barcelos:

Do ponto de vista jurídico, o principal distintivo da Constituição é a sua supremacia, sua posição hierárquica superior à das demais normas do sistema. As leis, atos normativos e atos jurídicos em geral não poderão existir validamente se incompatíveis com alguma norma constitucional. A constituição regula tanto o modo de produção das demais normas jurídicas como também delimita o conteúdo que possam ter. Como conseqüência, a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo poderá ter caráter formal ou material. 209

206 KROST. Oscar Trabalho prestado em condições insalubres e perigosas: possibilidade de cumulação de adicionais. Revista Justiça do Trabalho, nº 247, julho de 2004. Disponível em: http://www.femargs.com.br/www/modules.php?name=News&file=article&sid=36. Acesso em 12 de abril de 2010. 207 KROST. Oscar Trabalho prestado em condições insalubres e perigosas: possibilidade de cumulação de adicionais. Revista Justiça do Trabalho, nº 247, julho de 2004. Disponível em: http://www.femargs.com.br/www/modules.php?name=News&file=article&sid=36. Acesso em 12 de abril de 2010. 208 KROST. Oscar Trabalho prestado em condições insalubres e perigosas: possibilidade de cumulação de adicionais. Revista Justiça do Trabalho, nº 247, julho de 2004. Disponível em: http://www.femargs.com.br/www/modules.php?name=News&file=article&sid=36. Acesso em 12 de abril de 2010. 209 FORMOLO, Fernando. A acumulação dos adicionais de insalubridade e periculosidade. Justiça do Trabalho. [S.l.], v.23, n.269, p.49-64, 2006.

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No direito do trabalho a hierarquia das fontes formais do direito é

revitalizada, uma vez que por força do principio da proteção, aplica-se a norma

mais favorável ao trabalhador, assim, a norma de hierarquia inferior não poderá

validamente restringir ou afastar a proteção definida em norma de grau

superior. 210

Outrossim, havendo conflito entre lei e constituição, pretendendo a lei,

restringir ou extinguir o conteúdo mínimo de proteção assegurado ao

trabalhador pela Lei Maior, prevalecerá o principio da supremacia da

constituição, e a lei terá tida por inconstitucional. 211

Os adicionais nada mais são do que parcelas contraprestativas

suplementares, que são devidas ao empregado em razão dos serviços

prestados em circunstâncias tipificadas mais gravosas. Estas sempre terão

esse caráter suplementar, jamais assumindo posição central na remuneração

obreira. Além disso, o que distingue os adicionais das demais prestações

salariais são tanto o fundamento quanto o objetivo de incidência da figura

jurídica.

Os adicionais correspondem a parcela salarial deferida suplementarmente ao obreiro por este encontrar-se, no plano do exercício contratual, em circunstâncias tipificadas mais gravosas. A parcela adicional é, assim, nitidamente contraprestativa: paga-se um plus em virtude do desconforto, desgaste ou risco vivenciados, da responsabilidade e encargos superiores recebidos, do exercícios cumulativo de funções, etc. Ela é, portanto, nitidamente salarial, não tendo, em conseqüência, caráter indenizatório. [...] Está, portanto, superada, no país, a classificação indenizatória que eventualmente se realiza quanto aos adicionais em algumas poucas análises ainda divulgadas na literatura justrabalhista. 212

Tais parcelas têm caráter retributivo e são uma contraprestação

compulsória e tarifada pelo trabalho mais desgastante.

Em artigo publicado elucida Nelson Hamiliton Leiria:

210 FORMOLO, Fernando. A acumulação dos adicionais de insalubridade e periculosidade. Justiça do Trabalho. [S.l.], v.23, n.269, p.49-64, 2006. 211 FORMOLO, Fernando. A acumulação dos adicionais de insalubridade e periculosidade. Justiça do Trabalho. [S.l.], v.23, n.269, p.49-64, 2006. 212

DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 5 ed. São Paulo: LTr Editora, 2006. p. 736.

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O direito brasileiro remunera, via adicionais o trabalho executado em condições que exigem um maior desconforto em razão de tempo (de horas extras e noturno) ou do lugar da prestação (de transferência), um maior perigo (de periculosidade) ou má condições de salubridade (de insalubridade) é a monetização do risco (adicionais de remuneração).213

Em regra tais contraprestações, são calculadas percentualmente sobre

determinado parâmetro salarial. Essa figura se torna assimiláveis à

percentagens, prevista no artigo 457 da CLT.

O adicional de insalubridade será devido ao trabalhador que no

exercício de sua atividade profissional, expõe-se à ação de agentes físicos,

químicos ou biológicos que prejudicam ou tem o potencial de prejudicar sua

saúde, gerando, normalmente com o decorrer do tempo de forma gradual e

acumulativa o acometimento de enfermidades.214 São considerados agentes

insalubres: ruído, calor, radiação, pressão, vibração, frio, umidade, poeira, etc.

Em relação aos agentes químicos distingue-se entre manipular e

manusear, considerando que o primeiro é mais insalubre, tendo em vista que

existe um maior grau de contato. O pagamento do respectivo adicional visa

indenizar os eventuais danos a saúde do trabalhador.215

Já o adicional de periculosidade por sua vez, é devido ao trabalhador

cuja atividade o expõe ao risco de sofrer infortúnio súbito, imediato,

instantâneo, capaz de lhe tirar a vida ou provocar lesão grave de um momento

para outro, em decorrência de laborar em contato permanente com inflamáveis

ou explosivos de risco acentuado, ou em área de risco em razão de energia

elétrica ou, ainda em exposição a radiações ionizantes ou substâncias

radioativas. 216

213 LEIRIA, Nelson Hamilton. Da concomitância dos adicionais de insalubridade e periculosidade em face da revogação do parágrafo 2. do art. 193 da CLT por ofensa à Constituição Federal. Suplemento Trabalhista LTr. Sao Paulo, v. 44, n. 113, p. 565, 2008 214 FORMOLO, Fernando. A acumulação dos adicionais de insalubridade e periculosidade. Justiça do Trabalho. [S.l.], v.23, n.269, p.55, 2006. 215 LEIRIA, Nelson Hamilton. Da concomitância dos adicionais de insalubridade e periculosidade em face da revogação do parágrafo 2. do art. 193 da CLT por ofensa à Constituição Federal. Suplemento Trabalhista LTr. Sao Paulo, v. 44, n. 113, p. 565, 2008 216 FORMOLO, Fernando. A acumulação dos adicionais de insalubridade e periculosidade. Justiça do Trabalho. [S.l.], v.23, n.269, p.55, 2006.

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Em comentários a CLT, Eduardo Gabriel Saad, salienta que é

inquestionável os riscos produzidos pela insalubridade e os que se originam da

manipulação de explosivos ou inflamáveis, uma vez que qualquer um deles

pode incapacitar o trabalhador para o serviço ou até mesmo lhe tirar a vida.217

Ressalta ainda o autor que a diferença reside no fato de que as causas

insalubres geram doenças de forma lenta, devagar, ao passo que os explosivos

e inflamáveis tem ação rápida e instantânea. 218

Da mesma forma em artigo publicado Fernando Formolo ensina que a

regra geral é que o trabalhador receba cumulativamente os adicionais, para

compensar separadamente cada condição adversa. 219

Assim, se o empregado trabalhar à noite em sobrejornada receberá o

adicional das horas extras juntamente com o adicional noturno, se for

transferido e trabalhar em local perigoso receberá cumulativamente os

adicionais de transferência e de periculosidade.

No entanto, se o trabalhador estiver exposto, simultaneamente, a um

agente insalubre e um perigoso, receberá o adicional de apenas de um deles,

isso porque a NR-15, item 3, da Portaria 3.214/1978220 vedou a percepção

cumulativa, determinando que seja considerado somente o agente de grau

mais elevado. 221

No que tange aos pedidos de adicionais de insalubridade e

periculosidade, é cediço que, por força do § 2º do artigo 193, os tribunais

217 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. p. 260. 218 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. p. 260. 219 KROST. Oscar Trabalho prestado em condições insalubres e perigosas: possibilidade de cumulação de adicionais. Revista Justiça do Trabalho, nº 247, julho de 2004. Disponível em: http://www.femargs.com.br/www/modules.php?name=News&file=article&sid=36. Acesso em 12 de abril de 2010. 220 BRASIL. Portaria do Ministério Público n.º 3.214, de 08 de junho de 1978. Aprova as Normas Regulamentadoras - NR - do Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho, relativas a Segurança e Medicina do Trabalho. Diário Oficial da União, Brasília, 1978. 221 KROST. Oscar Trabalho prestado em condições insalubres e perigosas: possibilidade de cumulação de adicionais. Revista Justiça do Trabalho, nº 247, julho de 2004. Disponível em: http://www.femargs.com.br/www/modules.php?name=News&file=article&sid=36. Acesso em 12 de abril de 2010.

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ratificam a necessidade de opção pelo autor, na fase de execução, por um dos

adicionais, quando ambos forem deferidos.222

O tema ora enfocado refere-se ao objetivo deste trabalho, qual seja,

caracterizar a cumulação dos adicionais de insalubridade e periculosidade

mediante a celeuma jurisprudencial e doutrinária, por conseguinte, trazer-se-á

adiante, à guisa de exemplos, julgados acerca da matéria.

3.2 DA CELEUMA JURISPRUDENCIAL E DOUTRINÁRIA ACERCA DA

CUMULAÇÃO DOS ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE.

3.2.1 Da impossivel cumulação dos adicionais de insalubridade e

periculosidade

Conforme antes destacado, o artigo 193 § 2º da CLT223, em se tratando

da periculosidade, estabelece que o empregado poderá optar pelo adicional de

insalubridade que lhe por ventura seja devido, resultando assim a

impossibilidade de percepção cumulativa dos adicionais.

Segue o artigo 193 da CLT in verbis:

Artigo. 193 - São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho, aquelas que, por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem o contato permanente com inflamáveis ou explosivos em condições de risco acentuado.

§ 1º - O trabalho em condições de periculosidade assegura ao empregado um adicional de 30% (trinta por cento) sobre o salário sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios ou participações nos lucros da empresa.

§ 2º - O empregado poderá optar pelo adicional de insalubridade que porventura lhe seja devido.

222 CORDEIRO, Luiz Fernando. Possibilidade Constitucional e Legal de Cumulação dos Adicionais de Insalubridade e Periculosidade. Revista LTr – Suplemento Trabalhista. v. 43, n. 142, dezembro de 2007004. Disponível em www.governet.com.br/edicao.php?cod=47. Acesso em 12 abril de 2010. 223

BRASIL. Decreto-Lei n.º 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Diário Oficial da União. Rio de Janeiro, 1943.

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Assim, com referência ao artigo citado, prevalece o entendimento de

que o empregado sujeito ao trabalho em condições perigosas e,

simultaneamente, insalubres, não tem direito a receber os adicionais de

periculosidade e insalubridade cumulativamente, cabendo-lhe, portanto, optar

pela percepção de apenas um deles. 224

No mais diante do comando inserto no § 2º, do artigo 193, da CLT, “o

empregado poderá optar pelo adicional de insalubridade que porventura lhe

seja devido”, ou seja, não prevê a percepção acumulada do adicional de

insalubridade e de periculosidade.

Neste norte, o Tribunal Superior do Trabalho decide pela não

cumulação dos adicionais de insalubridade e periculosidade, quando do

contato com agentes nocivos de diferentes espécies.

E, também nesta linha de raciocínio, tem decidido o TST, a exemplo

dos seguintes julgados:

RECURSO DE REVISTA. PERICULOSIDADE E INSALUBRIDADE. ADICIONAIS. CUMULAÇÃO NÃO-CONFIGURADA O ordenamento jurídico não somente assegura ao trabalhador exposto a agente perigoso o adicional de que trata o art. 193 da CLT, como também o direito de optar pelo adicional de insalubridade (art. 192 da CLT), que por ventura lhe seja devido. Recurso de revista conhecido e provido. 225

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE E DE PERICULOSIDADE. CUMULAÇÃO. NÃO CONFIGURAÇÃO. O acórdão regional manteve a sentença quanto à determinação de compensação dos valores recebidos pelo autor a título de adicional de insalubridade no curso do vínculo empregatício. Não se verifica, portanto, a cumulação de adicionais. Cumulação somente se configuraria na hipótese do autor receber a integralidade de ambos adicionais. No caso em tela, a condenação impõe a compensação, o que implica dizer que o reclamante faz jus ao adicional de periculosidade devido menos os valores recebidos a título de adicional de insalubridade no curso da relação de emprego. Agravo de

224 FORMOLO, Fernando. A acumulação dos adicionais de insalubridade e periculosidade. Justiça do Trabalho. [S.l.], v.23, n.269, p.49-64, 2006. 225 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso Revista n.º 549/1996-013-10-00, da 3ª Turma do Tribunal Regional da 10º Região do Estado de Tocantins, 24 de junho de 2009. Disponível em: <http://www.tst.jus.br/jurisprudencia>. Acesso em 09 de abril de 2010.

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instrumento a que se nega provimento. 226

Deste modo, observa-se que no entendimento do TST vai ao encontro

do disposto no artigo 193 § 2º da CLT, uma vez que veda a percepção

acumulada do adicional de insalubridade e periculosidade.

Assim como TST, os Tribunais Regionais vêm decidindo que é

indevido o pagamento concomitante dos adicionais de insalubridade e de

periculosidade aos trabalhadores, inobstante, se exponham, no

desenvolvimento de suas atividades, de forma simultânea à ação de dois ou

mais agentes que possa representar risco acentuado à vida ou a saúde.

Tal decisão aparentemente contraditória tem amparo em pacificados

entendimentos doutrinários e jurisprudenciais de que indevida a paga

concomitante dos adicionais de insalubridade e de periculosidade aos

trabalhadores que se exponham no desenvolvimento de suas atividades de

forma simultânea à ação de dois ou mais agentes insalubres ou de apenas um,

porém simultaneamente a outro que possa representar risco à vida, com

fundamento na exegese do artigo 193, §2º, da CLT combinado com a NR 15,

item 15.3, da Portaria Ministerial 3.214/78.227

Assim, a jurisprudência dominante é no sentido de que o § 2º do artigo

193 da CLT, foi recepcionado pela CRFB/1988, tal entendimento decorre,

basicamente do fato que o artigo 7º inciso XXIII, prevê o direito a adicional de

remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, no qual

estaria implicitamente, autorizada a vedar a cumulação dos adicionais

respectivos, como faz o mencionado § 2º do artigo 193 da CLT, em relação aos

adicionais de insalubridade e periculosidade.228

226 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Agravo de Instrumento n.º 790/2005-019-10-40, da 7ª Turma do Tribunal Regional da 10º Região do Estado de Tocantins, 02 de abril de 2008. Disponível em: <http://www.tst.jus.br/jurisprudencia>. Acesso em 09 de abril de 2010. 227 KROST. Oscar Trabalho prestado em condições insalubres e perigosas: possibilidade de cumulação de adicionais. Revista Justiça do Trabalho, nº 247, julho de 2004. Disponível em: http://www.femargs.com.br/www/modules.php?name=News&file=article&sid=36. Acesso em 12 de abril de 2010. 228 FORMOLO, Fernando. A acumulação dos adicionais de insalubridade e periculosidade. Justiça do Trabalho. [S.l.], v.23, n.269, p.53, 2006.

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Corrobora com este entendimento, o julgado colacionado do TRT da

12º Região, veja-se:

ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE. ACUMULAÇÃO INDEVIDA. A interpretação do contido no artigo 193, § 2º da CLT permite concluir ser impossível a cumulação dos adicionais de insalubridade e periculosidade. Constatado ser devido ao empregado ambos os adicionais pelas condições de trabalho a que era submetido, deve ser deferido o que foi mais vantajoso, com dedução dos valores já pagos sob aqueles títulos.229

Logo a proibição de cumulação é a tendência das decisões proferidas

pelo TRT da 12ª Região, conforme se observa no próprio corpo do acórdão.

Efetivamente, nos termos do artigo 193, parágrafo segundo, da CLT, o empregado poderá optar pelo adicional de insalubridade que porventura lhe seja devido, razão pela qual se conclui ser inviável a acumulação dos adicionais de periculosidade e insalubridade. Constatado serem devidos ambos os adicionais em face das condições a que estava submetido o empregado no desempenho de suas atividades, donde será devido aquele que for mais vantajoso.230

Ainda, importante é destacar que pensamento diverso, segundo alguns

juristas significam admitir o enriquecimento ilícito do empregado.

COMPENSAÇÃO. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE. INACUMULABILIDADE. A fim de evitar o odioso enriquecimento ilícito e tendo em vista a vedação legal de cumulação dos adicionais de periculosidade e insalubridade (art. 193, § 2º da CLT), deve ser realizada a compensação dos valores comprovadamente quitados ao reclamante a título de adicional de insalubridade quando deferida a percepção de adicional de periculosidade no mesmo período.231

229 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho. Recurso Ordinário n.º 00066-2008-014-12-00-2, da 2º Turma do Trabalho do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, SC, 26 de agosto de 2009. Disponível em: <http://consultas.trt12.jus.br/doe/visualizarDocumento.do?acao=doc&acordao=true&id=93547>. Acesso em: 21 abril. 2010. 230

BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho. Recurso Ordinário n.º 00066-2008-014-12-00-2, da 2º Turma do Trabalho do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, SC, 26 de agosto de 2009. Disponível em: <http://consultas.trt12.jus.br/doe/visualizarDocumento.do?acao=doc&acordao=true&id=93547>. Acesso em: 21 abril. 2010. 231

BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho. Recurso Ordinário n.º 0848-2007-025-12-00-4, da 3ª Turma do Tribunal do Estado de Santa Catarina, Xanxerê, SC, 13 de novembro de 2009. Disponível em 24 maio 2010.

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Então, por mais que seja alegada a vedação legal no parágrafo

segundo do artigo 193 da CLT, a menção a um possível enriquecimento odioso

e ilícito do empregado na cumulação de adicionais, parece ser um dos

argumentos centrais.

Outra jurisprudência reitera este entendimento:

ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE. CUMULAÇÃO. O deferimento do adicional de periculosidade, quando a empresa já pagava o adicional de insalubridade, enseja, face à vedação legal de cumulação das benesses referidas (§ 2º do artigo 193 da CLT), a determinação de que sejam deduzidos os valores satisfeitos durante a contratualidade relativamente ao adicional de insalubridade, ainda que inexista pedido expresso neste sentido na defesa.232

Deste modo, observa-se que face à vedação legal de cumulação dos

adicionais de periculosidade e de insalubridade (§ 2º, do artigo 193 da CLT e

item 15.3 da NR 15 da Portaria Ministerial nº 3.214/782), o recurso foi acolhido,

no sentido de que sejam deduzidos os valores comprovadamente pagos ao

autor a título de adicional de insalubridade. Portanto, é facultado ao empregado

optar pelo adicional de insalubridade que porventura lhe seja devido.

Portanto em caso de incidência de mais de um fator de insalubridade,

será apenas considerado o de grau mais elevado, para efeito de acréscimo

salarial, sendo vedada a percepção cumulativa.

ADICIONAIS DE PERICULOSIDADE E INSALUBRIDADE. CUMULAÇÃO. VEDAÇÃO PREVISTA NO ART. 193, § 2º, DA CLT. Nos termos do art. 193, § 2º, da CLT, o autor pode optar pelo pagamento do adicional que lhe é mais benéfico. Portanto, esse Dispositivo Legal inviabiliza a percepção cumulada dos adicionais de insalubridade e periculosidade.233 PERICULOSIDADE. INSALUBRIDADE. OPÇÃO. A mera formulação de pedido de adicional de periculosidade, quando a empresa já pagava adicional de insalubridade, traduz opção

232 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho. Recurso Ordinário n.º 02543-2005-032-12-00-3, da 2º Vara do Trabalho do Estado de Santa Catarina, São José, SC, 17 de outubro de 2008 Disponível em: http://consultas.trt12.jus.br/doe/visualizarDocumento.do?acao=doc&acordao=true&id=62463> Acesso em 21 de abril de 2010. 233 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho. Recurso Ordinário n.º 00754-2004-027-12-00-5, da 2º Vara do Trabalho do Estado de Santa Catarina, Criciúma, SC, 14 de setembro de 2007 Disponível em: http://www2.trt12.gov.br/acordaos/2007/5/01069_2007.pdf> Acesso em 21 de abril de 2010.

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pelo de maior valor, mesmo que não explícita. Ainda que não haja pedido expresso na defesa, o Juiz deverá determinar a dedução dos valores pagos, independente de requerimento na defesa, diante da expressa previsão de não-cumulação dos adicionais.234 EMENTA: INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE. CUMULAÇÃO DE PEDIDOS. POSSIBILIDADE. Entendo que o §2º do art. 193 da CLT veda a cumulação do percebimento pelo trabalhador do adicional de insalubridade e do adicional de periculosidade, não impedindo que o autor formule pedido por ambos os adicionais a fim de ser efetuada a apuração tanto da existência de insalubridade como de periculosidade, em razão da possibilidade do trabalhador estar sujeito a ambas condições, cabendo ao trabalhador optar por um dos adicionais, na hipótese de ser constatada a existência de ambas situações. Recurso ordinário não provido neste aspecto.235

Com idêntico raciocínio o Douto Magistrado Lorival Ferreira dos

Santos, do Tribunal Regional do Trabalho da Décima Quinta Região, entende

pela não recepção do § 2º do artigo 193 da CLT pela Constituição Federal e a

impossibilidade da condenação cumulativa do adicional de periculosidade e

insalubridade:

Sustenta que o pedido de adicional de periculosidade e de insalubridade deveria ter sido proposto de maneira alternativa e não cumulativa, como fez o reclamante, de modo que, tratando-se de pedidos incompatíveis, devem ser excluídos da ação os pedidos desses adicionais. Entendo que o §2º do art. 193 da CLT veda a cumulação do percebimento pelo trabalhador do adicional de insalubridade e do adicional de periculosidade, não impedindo, contudo, que o autor formule pedido por ambos os adicionais a fim de ser efetuada a apuração tanto da existência de insalubridade como de periculosidade, em razão da possibilidade do trabalhador estar sujeito a ambas condições, cabendo-lhe, entretanto, optar por um dos adicionais, na hipótese de ser constatada a existência de ambas situações.Por essa razão, são plenamente válidos os

234 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho. Recurso Ordinário n.º 00026-2005-027-12-00-4, da 2º Vara do Trabalho do Estado de Santa Catarina, Criciúma, SC, 14 de maio de 2007 Disponível em: http://consultas.trt12.gov.br/SAP2/ProcessoListar.do> Acesso em 21 de abril de 2010. 235

BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho. Recurso Ordinário nº 00143-2003-127-15-00-8, da Vara do Trabalho do Estado de São Paulo, Campinas, SP, 26 de junho de 2006. Disponível em: http://www.trt15.jus.br/voto/patr/2006/028/02816306.doc> Acesso em 21 de abril de 2010.

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pedidos formulados, não merecendo acolhida a pretensão de sua exclusão da lide. 236

COMPENSAÇÃO. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE E ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. INACUMULABILIDADE. A fim de evitar o odioso enriquecimento ilícito e tendo em vista a vedação legal de cumulação dos adicionais de periculosidade e insalubridade (art. 193, §2º da CLT), deve ser realizada a compensação dos valores comprovadamente quitados ao reclamante a título de adicional de insalubridade quando deferida a percepção de adicional de periculosidade no mesmo período.237 ADICIONAIS DE PERICULOSIDADE E DE INSALUBRIDADE. ÓBICE LEGAL À PERCEPÇÃO CUMULATIVA. O art. 193, § 2º, da CLT veda a percepção simultânea dos adicionais de insalubridade e de periculosidade.238

No entanto, atualmente, percebe-se que há divergências dos Tribunais

quanto o direito do empregado fazer jus em receber de forma cumulativa os

adicionais de insalubridade e periculosidade, quando do cumprimento de suas

obrigações, expõe-se de forma permanente à condições insalubres e

perigosas.

Alguns tribunais já se posicionam acerca do tema, reconhecendo que

se a prova pericial constatar que, durante o período do contrato de trabalho, o

trabalhador esteve exposto, simultaneamente, a dois agentes agressivos, um

insalubre e outro perigoso, terá direito a perceber pelos dois adicionais

distintos.

A corrente divergente que vem ramificando-se conforme expõem-se a

seguir.

236

BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho. Recurso Ordinário nº 00143-2003-127-15-00-8, da Vara do Trabalho do Estado de São Paulo, Campinas, SP, 26 de junho de 2006. Disponível em: http://www.trt15.jus.br/voto/patr/2006/028/02816306.doc> Acesso em 21 de abril de 2010. 237 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho. Recurso Ordinário nº 00848-2007-025-12-00-4, da Vara do Trabalho do Estado de Santa Catarina, Xanxerê, SC, 13 de novembro de 2008. Disponível em: http://consultas.trt12.jus.br/doe/visualizarDocumento.do?acao=doc&acordao=true&id=65083> Acesso em 21 de abril de 2010. 238

BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho. Recurso Ordinário n.º 00896-2008-006-12-00-5, da 4º Câmara da Justiça do Trabalho do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, SC, 15 de abril de 2010 Disponível em: http://consultas.trt12.jus.br/doe/visualizarDocumento.do?acao=doc&acordao=true&id=130022Acesso em 17 de maio de 2010.

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3.2.2 Da percepção cumulativa dos adicionais de insalubridade e

periculosidade

Na concepção de Fernando Formolo, o adicional de insalubridade não

se confunde com o de periculosidade, pois se trata de parcelas distintas,

devidas em razão dos fatos geradores que também não se confundem entre si.

239

Assim, se os fatos geradores são distintos e o empregado se sujeita de

forma simultânea, tanto aos agentes insalubres como às condições perigosas

definidas na CLT e na regulamentação do Ministério do Trabalho, fere o bom

senso admitir que esteja obrigado a laborar em tal situação e receber em

contrapartida apenas um dos adicionais, conforme ressalta Fernando Formolo:

No caso, se optar pelo adicional de periculosidade, estará trabalhando em condições insalubres “de graça”, ou seja, sem nenhuma compensação pecuniária, e vice-versa no caso de optar pelo adicional de insalubridade (caso em que o labor em condições perigosas será prestado sem nenhuma compensação pecuniária), ao arrepio da Constituição e sujeitando-se a manifesto desequilíbrio e desvantagens na relação contratual, comprometida que fica, em rigor, a equivalência das prestações dos sujeitos contratantes. 240

Da mesma forma, para o autor Jorge Luiz Souto Maior a cumulação é o

princípio da proteção humana, consubstanciado na diminuição dos riscos

inerentes ao trabalho, visto que se um trabalhador trabalha em condição

insalubre, a obrigação do empregador de pagar o respectivo adicional de

insalubridade não se elimina pelo fato de já ter este mesmo empregador pago

ao empregado adicional de periculosidade pelo risco de vida que o impôs.241

Neste entendimento, preleciona o autor supracitado:

239 FORMOLO, Fernando. A acumulação dos adicionais de insalubridade e periculosidade. Justiça do Trabalho. [S.l.], v.23, n.269, p.49-64, 2006. 240 FORMOLO, Fernando. A acumulação dos adicionais de insalubridade e periculosidade. Justiça do Trabalho. [S.l.], v.23, n.269, p.49-64, 2006. 241 CORDEIRO, Luiz Fernando. Possibilidade Constitucional e Legal de Cumulação dos Adicionais de Insalubridade e Periculosidade. Revista LTr – Suplemento Trabalhista. v. 43, n. 142, dezembro de 2007004. Disponível em www.governet.com.br/edicao.php?cod=47. Acesso em 12 abril de 2010.

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[...] não há o menor sentido continuar-se dizendo que o pagamento de um adicional "quita" a obrigação quanto ao pagamento de outro adicional. Da mesma forma, o pagamento pelo dano à saúde, por exemplo, perda auditiva, nada tem a ver com o dano provocado, por exemplo, pela radiação. Em suma, para cada elemento insalubre é devido um adicional, que, por óbvio, acumula-se com o adicional de periculosidade, eventualmente devido. Assim, dispõe, aliás, a Convenção 155, da OIT, ratificada pelo Brasil.

Nesta linha de raciocínio, importante ressaltar alguns julgados do

Tribunal Regional do Trabalho da Terceira Região que ratificam o entendimento

a respeito:

ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE. POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO. Havendo prova técnica a demonstrar que em um determinado período do contrato o reclamante estivera exposto, simultaneamente, a dois agentes agressivos, um insalubre e outro perigoso, ele faz jus ao pagamento de ambos, haja vista que o disposto no art. 193, § 2º da CLT não é compatível com os princípios constitucionais de proteção à vida e de segurança do trabalhador. 242

ACUMULAÇÃO DE ADICIONAIS – A CLT (artigo 193, §2º) e a NR 3214/MT vedam a cumulação dos adicionais de insalubridade e periculosidade. Já é hora de modificar tal entendimento, que premia a empregadora e enseja gravames ao hipossuficiente. É perfeitamente possível a realização de trabalho insalubre e perigoso, no mesmo horário e para a mesma empregadora, com a lei premiando o locupletamento sem causa. Nem toda lei é boa e, em tal caso, a revogação se apresenta como basilar. Contudo LEGEM HABEMUS”.243

O entendimento das jurisprudências acima parecem ser coerentes com

a lógica jurídica de respeito primordial à Constituição Federal.

Pois segundo tais julgados, por mais que a CLT apresente vedação

expressa à acumulação dos adicionais de periculosidade e insalubridade, tal

visão é contrária aos princípios constitucionais, pois se está colocando a

questão econômica acima da proteção à vida e à segurança do trabalhador.

242 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho. Recurso Ordinário n.º 00354-2006-002-03-00-4, da 2º Turma do Tribunal Regional da 3º Região do Estado de Minas Gerais, 27 de outubro de 2008. Disponível em: <http://as1.trt3.jus.br/jurisprudencia/ementa.do>. Acesso em 09 de abril de 2010. 243 CORDEIRO, Luiz Fernando. Possibilidade Constitucional e Legal de Cumulação dos Adicionais de Insalubridade e Periculosidade. Revista LTr – Suplemento Trabalhista. v. 43, n. 142, dezembro de 2007004. Disponível em www.governet.com.br/edicao.php?cod=47. Acesso em 12 abril de 2010.

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Assim, pelos entendimentos expostos, comprovando-se a existência de

condições insalubres e perigosas concomitantemente, não haveria razões de

ignorar um dos dois adicionais.

Neste diapasão, apurado pelo laudo pericial a existência de dois

agentes insalubres seria devido o pagamento dos adicionais correspondentes,

cumulativamente, vez que também são multiplicados os riscos à saúde do

obreiro.

Por estes motivos, para Cordeiro, a Portaria que aprovou as normas

regulamentadoras do adicional de insalubridade, proibindo a acumulação de

mais de um agente insalubre, excedeu de sua competência, porque estabelece

uma restrição a direito não prevista na lei.

Por outro lado, o pagamento de apenas um adicional, quanto são dois

ou mais os agentes insalubres, incentiva a manutenção de um ambiente de

trabalho agressivo à saúde do trabalhador.244

E, nesta linha de raciocínio segue trecho do artigo publicado pelo autor

acima citado:

O pagamento proporcional do adicional de periculosidade, apesar de contrariar jurisprudência pacificada a respeito, foi autorizado por norma coletiva que também prevê a cumulação dos adicionais de periculosidade e insalubridade. Em razão do princípio do conglobamento, norteador do instituto da negociação coletiva, as partes sempre fazem concessões recíprocas para se chegar a um denominador comum. Assim, cada vantagem, cada conquista obtida, quase sempre implica renúncia a outros direitos. Dentro dessa sistemática, é perfeitamente válida a transação efetivada, não se podendo presumir a ocorrência de fraude. Entendimento diverso importaria numa deturpação da intenção que orientou a negociação e poderia desestimular e até inibir ajustes futuros, em prejuízo do próprio hipossuficiente que ficaria privado de obter quaisquer benefícios não previstos na legislação vigente”. 245

244 CORDEIRO, Luiz Fernando. Possibilidade Constitucional e Legal de Cumulação dos Adicionais de Insalubridade e Periculosidade. Revista LTr – Suplemento Trabalhista. v. 43, n. 142, dezembro de 2007004. Disponível em www.governet.com.br/edicao.php?cod=47. Acesso em 12 de abril de 2010. 245 CORDEIRO, Luiz Fernando. Possibilidade Constitucional e Legal de Cumulação dos Adicionais de Insalubridade e Periculosidade. Revista LTr – Suplemento Trabalhista. v. 43, n. 142, dezembro de 2007004. Disponível em www.governet.com.br/edicao.php?cod=47. Acesso em 12 de abril de 2010.

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Nessa esteira, também a Proposta aprovada na Plenária do 1º Fórum

de Direito Material e Processual na Justiça do Trabalho de Santa Catarina, em

07.11.2008, dispôs acerca da possibilidade de cumulação dos adicionais de

insalubridade e de periculosidade, em razão da não recepção do §2º, do artigo

192, da CLT, que estabelece a opção pelo trabalhador para o recebimento dos

aludidos adicionais. Veja-se:

8ª proposta - SAÚDE DO TRABALHADOR. PROTEÇÃO. ART. 192, § 2º, DA CLT. CONSTITUIÇÃO FEDERAL. NÃO RECEPCIONADO. Ementa: PARÁGRAFO 2º DO ARTIGO 193 DA CLT. NÃO RECEPÇÃO PELA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. A opção entre o recebimento dos adicionais de insalubridade ou de periculosidade não foi recepcionada pelo art. 7º, XXII, da Constituição da República e afronta a Convenção nº 155 da Organização Internacional do Trabalho, ratificada pelo Brasil. Portanto, são devidos de forma cumulativa ambos os adicionais quando coexistentes as condições de insalubridade e periculosidade.

Justificando tal proposta o juiz Nelson Leiria recorda que o § 2º do

artigo 193 da CLT, não foi recepcionado pela Constituição em virtude da

necessária observância aos princípios e direitos fundamentais, tal como a

efetividade da dignidade humana, em especial na garantia de um meio

ambiente de trabalho saudável, pelo que não deve ter mais aplicação no direito

pátrio.246

No mais, no que tange a cumulação dos adicionais em razão da não

recepção do §2ª, do artigo 192, da CLT pela CRFB/1988, reporta-se a recente

decisão proferida pelo Douto Magistrado Alexandre Luiz Ramos, da Décima

Segunda Região, no processo nº. 00390-2008-032-12-00-2, o qual informando

a não recepção deste parágrafo pela Constituição Federal, reconheceu a

comutatividade e condenou o empregador ao pagamento cumulativo do

adicional de periculosidade e insalubridade, (visto que o houve constatação

pelo expert, de labor em ambiente perigoso e insalubre).

Do corpo da citada sentença proferida pelo Douto Magistrado extrai-se:

Dessa forma, tendo em vista os termos do laudo técnico que apurou a existência de condições insalubres e perigosas nas funções exercidas pelo obreiro, condeno o consignante a pagar

246 LEIRIA, Nelson Hamilton. Proposta apensada a nº. 10, aprovada em 06.11.2008, no 1º Fórum de Direito Material e Processual na Justiça do Trabalho de Santa Catarina.

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ao consignado os adicionais de periculosidade - a ser calculado sobre o salário percebido (CLT, art. 193, §1º), e o de insalubridade, que deverá ser calculado sobre o salário mínimo (CLT, art. 192), com reflexos em repouso semanal remunerado e, após, em aviso-prévio, férias acrescidas de 1/3, gratificações natalinas, horas extras e FGTS com 40%.

Ainda, na opinião do doutrinador Sebastião Geraldo de Oliveira, no que

se refere à impossibilidade de recebimento de mais de um adicional, por

acumulação de agentes agressivos no ambiente de trabalho, não pode

prevalecer. Com efeito, a Convenção 148 da OIT, ratificada pelo Brasil, com

vigência desde outubro de 1986, dispõe que os critérios e limites de exposição

deverão ser fixados em consideração a qualquer aumento dos riscos

profissionais resultante da exposição simultânea a vários fatores nocivos no

local de trabalho.247

Além disso, conforme lembra este autor, a Constituição da República

estabeleceu a regra de que se devem reduzir os riscos inerentes ao trabalho

(art. 7º, XXII) e a postura jurisprudencial e doutrinária não incentiva a atitude

empresarial neste sentido. 248

Cumpre esclarecer que a disposição do artigo 11, alínea b, da

Convenção 155 da OIT, ratificada pelo Brasil, e com vigência interna desde

setembro de 1994249 “deverão ser levados em consideração os riscos para a

saúde decorrente da exposição simultânea a diversas substâncias ou agentes”.

Com isso, não tem aplicabilidade, também, a regra do §2º do art. 193 da CLT,

que impede a acumulação dos adicionais de insalubridade e de

periculosidade.250

247 KROST. Oscar Trabalho prestado em condições insalubres e perigosas: possibilidade de cumulação de adicionais. Revista Justiça do Trabalho, nº 247, julho de 2004. Disponível em: http://www.femargs.com.br/www/modules.php?name=News&file=article&sid=36. Acesso em 12 de abril de 2010. 248 KROST. Oscar Trabalho prestado em condições insalubres e perigosas: possibilidade de cumulação de adicionais. Revista Justiça do Trabalho, nº 247, julho de 2004. Disponível em: http://www.femargs.com.br/www/modules.php?name=News&file=article&sid=36. Acesso em 12 de abril de 2010. 249 OIT. Convenção número 155. Segurança e Saúde dos Trabalhadores, de 22 de junho de 1981. Disponível em: http://www.mte.gov.br/legislacao/convencoes/cv_155.asp,. Acesso em: 17 maio 2010. 250 KROST. Oscar Trabalho prestado em condições insalubres e perigosas: possibilidade de cumulação de adicionais. Revista Justiça do Trabalho, nº 247, julho de 2004. Disponível

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Neste sentir:

Pelo enfoque jurídico, observa-se que o item 15.3 da NR-15 mencionada não tem validade porque extrapola os limites da lei instituidora da vantagem. Não pode uma simples portaria, ato administrativo que é, limitar o alcance da fonte normativa primária da vantagem, no caso os arts. 189 e 192 da CLT. 251

Assim, se a lei não vedou a percepção cumulativa em decorrência da

exposição simultânea que prejudica órgãos distintos do trabalhador, não

poderia a portaria restringir a abrangência da norma.

Enfim, a respeito fora recente decisão proferida pelo Tribunal Regional

do Trabalho da Décima Segunda Região:

TRT/SC reconhece direito ao recebimento cumulativo dos adicionais de periculosidade e insalubridade. A 1ª Câmara do TRT de Santa Catarina manteve decisão de primeira instância, reconhecendo o direito de trabalhador de receber, cumulativamente, os adicionais de insalubridade e de periculosidade, quando as causas e as razões forem diferentes. O autor, que já tinha conseguido o adicional de insalubridade em outro processo, por estar exposto a ruídos excessivos e agentes químicos, ingressou com nova ação trabalhista contra o mesmo réu. Na segunda ação ele requereu adicional de periculosidade, por abastecer micro trator com óleo diesel e fazer a mistura de óleos lubrificantes com gasolina para o abastecimento de roçadeira. Na sentença, o juiz Alessandro da Silva entendeu "ser devidos de forma cumulativa ambos os adicionais quando coexistentes as condições de insalubridade e periculosidade". O magistrado fundamentou sua decisão no art. 11, b, da Convenção número155 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), onde consta que, para efeitos de danos à saúde do trabalhador, deverão ser considerados, simultaneamente, os vários agentes e substâncias nocivos ao organismo humano. Inconformada, a ré recorreu ao Tribunal, alegando a impossibilidade de cumulação desses adicionais. Mas, a 1ª Câmara também entendeu que "se os dois adicionais têm causas e razões diferentes, logicamente devem ser pagos cumulativamente, sempre que o trabalhador se ativar concomitantemente em atividade insalubre e perigosa". O adicional de periculosidade é devido pelo risco de acontecer, a qualquer tempo, um acidente de trabalho. O de insalubridade deve ser pago ao trabalhador que está exposto a

em: http://www.femargs.com.br/www/modules.php?name=News&file=article&sid=36. Acesso em 12 de abril de 2010. 251 KROST. Oscar Trabalho prestado em condições insalubres e perigosas: possibilidade de cumulação de adicionais. Revista Justiça do Trabalho, nº 247, julho de 2004. Disponível em: http://www.femargs.com.br/www/modules.php?name=News&file=article&sid=36. Acesso em 12 de abril de 2010.

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um agente nocivo durante a jornada de trabalho.252

Como se percebe, a decisão inovadora exposta acima tem como

fundamento principal o Artigo 11, alínea ‘b’, da Convenção número 155 da

Organização Internacional do Trabalho (OIT). Transcreve-se para melhor

elucidar:

A fim de tornar efetiva a política a que se refere o Artigo 4 do presente Convênio, a autoridade ou autoridades competentes deverão garantir a realização progressiva das seguintes funções: [...] b) a determinação das operações e processos que estarão proibidos, limitados ou sujeitos à autorização ou ao controle da autoridade ou autoridades competentes, bem como a determinação das substâncias e agentes aos quais a exposição no trabalho estará proibida, limitada ou sujeita à autorização ou ao controle da autoridade ou autoridades competentes; deverão levar-se em consideração os riscos para a saúde causados pela exposição simultânea a várias substâncias ou agentes;253

Tal convenção trata justamente da segurança e da saúde dos

trabalhadores, e sendo ela recepcionada pelo ordenamento jurídico brasileiro,

possui vigência em território nacional, (conforme exposto na decisão citada).

No mais, tal norma prevê operações e processos que estão proibidos,

limitados ou sujeitos à autorização ou ao controle da autoridade competente,

além de exposição à substâncias e agentes consideradas proibidas, limitadas

ou sujeitas à autorização das autoridades competentes.

Assim, segundo interpretou o TRT 12º Região, ao mencionar

operações e processos a convenção está assinalando as condições de

trabalho, e ao tratar das substâncias e agentes todas as circunstâncias que

podem vir a causar dano à saúde dos trabalhadores. Percebe-se, portanto, que

a convenção está assinalando matéria semelhante aos agentes de

periculosidade e insalubridade abordados pela CLT.

252 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da Décima Segunda Região do Estado de Santa Catarina, Disponível em: http://www.grupos.com.br/group/infolegis/Messages.html?action=message&id=1273848180701296&year=10&month=5&/[Infolegis]%20TRT%2FSC%20reconhece%20direito%20ao%20recebimento%20cumulativo%20dos%20adicionais%20de%20periculosidade%20e%20in. Acesso em: 17 maio 2010. 253 OIT. Convenção número 155. Segurança e Saúde dos Trabalhadores, de 22 de junho de 1981. Disponível em: http://www.mte.gov.br/legislacao/convencoes/cv_155.asp,. Acesso em: 17 maio 2010.

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Identificados estes elementos chega-se à última parte do artigo

supracitado, no qual afirma que deverão levar-se em consideração os riscos

para a saúde causados pela exposição simultânea a várias substâncias ou

agentes. Tal dispositivo é contrário ao já mencionado § 2º do artigo 193 da

CLT.

Assim, diante do exposto na decisão acima citada, a convenção ao

afirmar, que as várias substâncias e agentes que possam causar riscos à

saúde do trabalhador devem se analisadas simultaneamente, afirmou que cada

elemento deste merece ser apreciado, logo, também a sua comprovação passa

a ser meritória de adicional.

Nesse sentido, segundo a Convenção número 155 da OIT permite a

cumulatividade de adicionais de periculosidade e insalubridade, uma vez que

estes são causados por substâncias ou agentes diversos.

Além disso, é interessante trazer o texto do Artigo 4, mencionado pelo

Artigo 11, já que este último vem com o objetivo e tornar efetivo o escopo do

primeiro:

Artigo 4 1. Todo Membro deverá, mediante consulta com as organizações mais representativas de empregadores e de trabalhadores interessadas e tendo em conta as condições e prática nacionais, formular, pôr em prática e reexaminar periodicamente uma política nacional coerente em matéria de segurança e saúde dos trabalhadores e meio ambiente de trabalho. [...] 2. Esta política terá por objetivo prevenir os acidentes e os danos para a saúde que sejam conseqüência do trabalho, guardem relação com a atividade de trabalho ou sobrevenham durante o trabalho, reduzindo ao mínimo, na medida em que seja razoável e factível, as causas dos riscos inerentes ao meio ambiente de trabalho. 254

Antes, é importante afirmar que este artigo insere-se na parte da lei

denominada Princípios de uma Política Nacional. Tal política possui o objetivo

de prevenir acidentes de trabalhos e a existência de condições que possibilitem

a ação de substância e agentes nocivos à saúde do trabalhador. Em outras

palavras, possui o objetivo de melhorar as condições de trabalho.

254 OIT. Convenção número 155. Segurança e Saúde dos Trabalhadores, de 22 de junho de 1981. Disponível em: http://www.mte.gov.br/legislacao/convencoes/cv_155.asp,. Acesso em: 17 maio 2010.

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Sendo assim, reconhecer o direito ao recebimento simultâneo de

adicional de periculosidade e insalubridade é viabilizar uma política de melhoria

de condições de trabalho aos trabalhadores no exercício de suas atividades.

Ademais, como se viu no item anterior, em outros Tribunais Regionais

já vem acontecendo gradativamente o reconhecimento da possibilidade de

cumulatividade dos adicionais de periculosidade e o de insalubridade, o que

significa um avança no reconhecimento do direito do trabalhador.

Contudo, como já afirmado anteriormente, ambos os adicionais são

considerados direitos sociais, conforme o artigo 7º da CRFB/1988, inciso XXIII,

logo, comprovada a existência de ambos, mereceriam ser respeitados. O

empregado não estaria enriquecendo ilicitamente, uma vez que opera suas

funções em condições submetidas a ambos os perigos. Ou seja, o empregado

está duplamente ameaçado em sua integridade física e saúde.

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CONCLUSÃO

Sendo a saúde um direito constitucionalmente garantido, consectário

do direito à vida, o pagamento dos respectivos adicionais visam indenizar os

eventuais danos à saúde do trabalhador. A insalubridade será devida quando o

trabalhador estiver exposto a ação de agentes físicos, químicos e biológicos,

que prejudicam sua saúde e geram, com o decorrer do tempo, de forma

gradual e acumulativa, o acometimento de enfermidades. Diferentemente da

periculosidade, onde o trabalhador, se expõe ao risco de sofrer infortúnio

súbito, imediato, instantâneo capaz de lhe tirar a vida.

A proteção à saúde do trabalhador compõem-se por medidas que

preservem condições consideradas normais de trabalho, dentro de um patamar

mínimo que assegure o completo bem-estar físico, mental e social, pela adoção

de medidas preventivas e pela estipulação de Lei, ao direito a percepção de

parcelas pecuniárias, de caráter complementar, nas quais, se denominam

adicionais, que remunera a contraprestação especifica do trabalho penoso,

perigoso e insalubre.

Neste sentido, a segurança e medicina do trabalho são fatores vitais na

prevenção de acidentes de trabalho e na defesa de melhores condições de

trabalho ao empregado, evitando assim o sofrimento humano e o desperdício

econômico as empresas.

Neste norte, como medida de segurança e medicina, tenta o legislador

minimizar a ação prejudicial a certos agentes impondo como obrigação do

empregador o fornecimento de equipamentos de proteção individual, no qual

tem como principal objetivo adequar-se ao risco e possuir fator de proteção que

permita reduzir a intensidade dos agentes agressivos a limites de tolerância.

Não obstante, ainda assim, não neutralizados estes, prevê o legislador então o

inadimplemento de adicionais denominados protetivos.

Como se sabe, tanto a insalubridade quanto a periculosidade, restará

evidenciadas quando o trabalhador estiver exposto a agentes nocivos e

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perigosos a sua saúde. Como se viu, as atividades em estudo estão

caracterizadas pelas Normas Regulamentadoras n° 15 e 16 respectivamente

da Portaria Ministerial 3.214/1978.

Ademais, os adicionais em estudo deveriam servir, tão-somente, de

forma subsidiária, visto que a prevenção e, por via de conseqüência, a

eliminação dos agentes insalubres no ambiente do trabalho, é um fim que deve

ser alcançado, mas, se por desconhecimento ou desinteresse por parte do

empregador, não toma tais providencias, o adicional recompensa, ao menos

financeiramente, o prejuízo ao bem jurídico do trabalhador, qual seja, a saúde

e, conseqüentemente, a sua vida.

Deste modo, considerando-se que a saúde do trabalhador é bem tão

importante quanto à vida, a possibilidade de cumulação dos adicionais não

pode ser tratada com descaso, visto que, havendo o pagamento de forma

cumulativa, fará com que os empregadores procurem formas de suprimi-los da

remuneração, melhorando cada vez mais o ambiente de trabalho.

Conforme visto, com a promulgação da Constituição da República

Federativa do Brasil em 1988, é que surgiu a problemática ora em estudo. Isso,

em razão do inciso XXIII, artigo 7º da Lei Maior, no qual assegura o direito a

percepção de adicionais de remuneração quando desempenhadas atividades

penosas, insalubres ou perigosas.

Não obstante em contrapartida a Consolidação das Leis do Trabalho,

mais precisamente no dispositivo do artigo 193 § 2º, veda a percepção

cumulativa dos referidos adicionais, uma vez que prevalece o entendimento de

que o empregado sujeito simultaneamente a agentes insalubres e perigosos no

ambiente de trabalho, deverá optar pela percepção de apenas um deles.

Desta forma tem-se como regra a vedação da cumulação dos referidos

adicionais na remuneração do empregado, sob entendimento de que a

Constituição da República recepcionou o previsto no artigo 193 § 2º da CLT,

motivo pelo qual estaria implicitamente autorizada a vedar a cumulação dos

adicionais de insalubridade e periculosidade, devendo o trabalhador optar pelo

adicional que lhe for mais benéfico.

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Neste entendimento, verifica-se que não há valorização do trabalho

humano. A Norma Regulamentadora nº 15, mais precisamente no item 15.3, da

Portaria Ministerial 3.214/1978, veda claramente o pagamento do adicional de

insalubridade e periculosidade de forma simultânea. A referida norma não dá a

devida orientação a tais preceitos, especialmente na aplicação dos direitos

constitucionais, de modo que, pode-se considerá-los contrários aos ditames

previstos na Constituição Federal.

No entanto, uma segunda interpretação sugere a jurisprudência e

doutrina moderna, cuja proposta é inversa, ou seja, de pregar pela possível

cumulação dos adicionais no sentido de que os adicionais de insalubridade e

periculosidade deveriam ser percebidos pelo trabalhador de forma simultânea,

quando do contato com agentes nocivos e perigosos.

Em decisões dos Tribunais Regionais do Trabalho, há situações que

são viáveis a cumulação, visto que os adicionais de insalubridade e

periculosidade não se confundem, por se tratarem de parcelas e fatos

geradores distintos.

Assim, havendo prova técnica a demonstrar que em um determinado

período do contrato de trabalho, o trabalhador estivera exposto

simultaneamente a dois agentes agressivos, um insalubre e outro perigoso,

fará jus ao pagamento de ambos os adicionais, dado que o disposto no artigo

193 § 2º da CLT, não é compatível com os princípios constitucionais de

proteção a vida e de segurança do trabalhador.

Destarte, inobstante a divergência de entendimento dos magistrados

sobre o tema, conforme constatou-se no julgados colacionados, entende-se

que em alguns casos, a cumulação dos adicionais de insalubridade e

periculosidade quando o trabalhador estiver exposto de forma simultânea em

contato com agentes periculosos e insalubres, é medida que se impõe, a fim de

tornar sua remuneração mais justa e legítima.

A proposta de alteração da interpretação, segundo se adota no

trabalho, é uma das tarefas da Política Jurídica, a fim de corrigir distorções no

“Direito que é” para alcançar o “Direito que deva ser”.

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Assim sendo, utilizando-se dos importantes ensinamentos da Política

Jurídica, para adequar os adicionais de insalubridade e periculosidade aos

valores “Justiça” e “Utilidade Social”, o mesmo deve ser percebido de forma

cumulada, quando do contato simultâneo do trabalhador a agentes agressivos

diferentes.

Sugere-se, ainda, que a alteração deva-se dar através do Poder

Legislativo, dado que este Poder representa os mais variados segmentos da

Sociedade. Portanto, é sua competência alterar a redação do artigo 193 § 2º da

CLT, adequando-o aos dispositivos Constitucionais.

A presente pesquisa é apenas preliminar, não se esgotando nessas

linhas. Trata-se de uma proposta analisada por outro ponto de vista, acerca da

possível cumulação dos adicionais de insalubridade e periculosidade. Todavia,

serve para que os futuros acadêmicos e operadores do direito se aprofundarem

ao tema, mas que possa, principalmente, nos mais diversos segmentos,

aprimorar a situação dos trabalhadores que se expõem a diferentes agentes

agressivos a sua saúde.

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ANEXOS

NR 15 - ATIVIDADES E OPERAÇÕES INSALUBRES

15.1 São consideradas atividades ou operações insalubres as que se desenvolvem:

15.1.1 Acima dos limites de tolerância previstos nos Anexos n.º 1, 2, 3, 5, 11 e 12;

15.1.2 (Revogado pela Portaria MTE n.º 3.751, de 23 de novembro de 1990)

15.1.3 Nas atividades mencionadas nos Anexos n.º 6, 13 e 14;

15.1.4 Comprovadas através de laudo de inspeção do local de trabalho, constantes dos Anexos n.º 7, 8, 9 e 10.

15.1.5 Entende-se por "Limite de Tolerância", para os fins desta Norma, a concentração ou intensidade máxima ou mínima, relacionada com a natureza e o tempo de exposição ao agente, que não causará dano à saúde do trabalhador, durante a sua vida laboral.

15.2 O exercício de trabalho em condições de insalubridade, de acordo com os subitens do item anterior, assegura ao trabalhador a percepção de adicional, incidente sobre o salário mínimo da região, equivalente a:

15.2.1 40% (quarenta por cento), para insalubridade de grau máximo;

15.2.2 20% (vinte por cento), para insalubridade de grau médio;

15.2.3 10% (dez por cento), para insalubridade de grau mínimo;

15.3 No caso de incidência de mais de um fator de insalubridade, será apenas considerado o de grau mais elevado, para efeito de acréscimo salarial, sendo vedada a percepção cumulativa.

15.4 A eliminação ou neutralização da insalubridade determinará a cessação do pagamento do adicional respectivo.

15.4.1 A eliminação ou neutralização da insalubridade deverá ocorrer:

a) com a adoção de medidas de ordem geral que conservem o ambiente de trabalho dentro dos limites de tolerância;

b) com a utilização de equipamento de proteção individual.

15.4.1.1 Cabe à autoridade regional competente em matéria de segurança e saúde do trabalhador, comprovada a insalubridade por laudo técnico de engenheiro de segurança do trabalho ou médico do trabalho, devidamente habilitado, fixar adicional devido aos empregados expostos à insalubridade quando impraticável sua eliminação ou neutralização.

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15.4.1.2 A eliminação ou neutralização da insalubridade ficará caracterizada através de avaliação pericial por órgão competente, que comprove a inexistência de risco à saúde do trabalhador.

15.5 É facultado às empresas e aos sindicatos das categorias profissionais interessadas requererem ao Ministério do Trabalho, através das DRTs, a realização de perícia em estabelecimento ou setor deste, com o objetivo de caracterizar e classificar ou determinar atividade insalubre.

15.5.1 Nas perícias requeridas às Delegacias Regionais do Trabalho, desde que comprovada a insalubridade, o perito do Ministério do Trabalho indicará o adicional devido.

15.6 O perito descreverá no laudo a técnica e a aparelhagem utilizadas.

15.7 O disposto no item 15.5. não prejudica a ação fiscalizadora do MTb nem a realização ex-officio da perícia, quando solicitado pela Justiça, nas localidades onde não houver perito.

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NR 16 - ATIVIDADES E OPERAÇÕES PERIGOSAS

16.1 São consideradas atividades e operações perigosas as constantes dos Anexos números 1 e 2 desta Norma Regulamentadora-NR.

16.2 O exercício de trabalho em condições de periculosidade assegura ao trabalhador a percepção de adicional de 30% (trinta por cento), incidente sobre o salário, sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios ou participação nos lucros da empresa. (116.001-0 / I1)

16.2.1 O empregado poderá optar pelo adicional de insalubridade que porventura lhe seja devido.

16.3 É facultado às empresas e aos sindicatos das categorias profissionais interessadas requererem ao Ministério do Trabalho, através das Delegacias Regionais do Trabalho, a realização de perícia em estabelecimento ou setor da empresa, com o objetivo de caracterizar e classificar ou determinar atividade perigosa.

16.4 O disposto no item 16.3 não prejudica a ação fiscalizadora do Ministério do Trabalho nem a realização ex officio da perícia.

16.5 Para os fins desta Norma Regulamentadora - NR são consideradas atividades ou operações perigosas as executadas com explosivos sujeitos a:

a) degradação química ou autocatalítica;

b) ação de agentes exteriores, tais como, calor, umidade, faíscas, fogo, fenômenos sísmicos, choque e atritos.

16.6 As operações de transporte de inflamáveis líquidos ou gasosos liquefeitos, em quaisquer vasilhames e a granel, são consideradas em condições de periculosidade, exclusão para o transporte em pequenas quantidades, até o limite de 200 (duzentos) litros para os inflamáveis líquidos e 135 (cento e trinta e cinco) quilos para os inflamáveis gasosos liquefeitos.

16.6.1 As quantidades de inflamáveis, contidas nos tanques de consumo próprio dos veículos, não serão consideradas para efeito desta Norma.

16.7 Para efeito desta Norma Regulamentadora - NR considera-se líquido combustível todo aquele que possua ponto de fulgor igual ou superior a 70ºC (setenta graus centígrados) e inferior a 93,3ºC (noventa e três graus e três décimos de graus centígrados).

16.8 Todas as áreas de risco previstas nesta NR devem ser delimitadas, sob responsabilidade do empregador. (116.002-8 / I2)

[...]