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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE FARMÁCIA
MARIA FERNANDA FEMINELLA FACHINI
PROPOSTA DE SÍNTESE DE UM NOVO ANÁLOGO DA
ROSIGLITAZONA
Itajaí (SC)
2013
MARIA FERNANDA FEMINELLA FACHINI
PROPOSTA DE SÍNTESE DE UM NOVO ANÁLOGO DA
ROSIGLITAZONA
Monografia apresentada como requisito para obtenção do título de farmacêutico pela Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências da Saúde. Orientadora: Profa. Dra. Fátima de Campos Buzzi Co-orientador: Prof. Dr. Rogério Corrêa
Itajaí (SC)
Junho de 2013
A minha família, aos meus amigos e todos aqueles
que participaram direta e indiretamente para a
conquista deste trabalho e que sempre estiveram
ao meu lado!
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, por ter me dado o dom da vida, por estar
presente em cada dia ao meu lado, me guiando, dando sabedoria, fé,
amparo nas horas mais difíceis, por todas as oportunidades que me
foram dadas, por realizar os meus sonhos e principalmente pela
conquista deste trabalho.
A minha orientadora, professora Dra. Fátima de Campos Buzzi,
pela amizade, paciência, dedicação, por acreditar em mim, sempre
estar disposta a me ajudar, ensinar e por ter me aceito como sua
orientanda.
Ao professor Dr. Rogério Corrêa, que me auxiliou sempre que
preciso dentro do laboratório, esclareceu sempre as minhas dúvidas e
auxiliou para a idealização do projeto que deu origem a este trabalho.
Aos professores Dr. Valdir Cechinel Filho e ao Me. Theodoro
Marcel Wagner por terem aceitado o convite para participar da
banca e pelas contribuíram para a melhoria deste trabalho.
Aos professores Dra. Angela Malheiros, Dr. Clóvis Antônio
Rodrigues e ao Dr. Rivaldo Niero, pelo carinho, por terem
acompanhado de perto meu trabalho dentro do laboratório, me
ajudando e principalmente elucidando minhas dúvidas
espectrométricas para elucidação das estruturas.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) e ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
Científica (PIBIC) pelo apoio financeiro.
Aos meus companheiros de laboratório, por me ensinarem tudo
quando eu entrei, por sempre me ajudaram e principalmente me
deram apoio nas horas em que precisei.
Aos meus amigos por acreditaram no meu trabalho, por sempre
me incentivarem a continuar, mesmo quando eu reclamava e parecia
que nada mais iria dar certo.
A toda minha família, que sempre torceu por mim, que teve que
conviver com a minha ausência em algumas ocasiões, pela
compreensão, amor e acima de tudo a amizade de vocês.
Por fim, e não menos importante, registro minha eterna gratidão
aqueles que sempre apoiaram minhas decisões e que eu amo acima de
tudo, meus pais, Gerson e Fabiane, e minha irmã, Mª Eduarda, que
sempre me ouviram, ampararam quando preciso e me mostraram que
é possível superar as dificuldades quando estamos ao lado das pessoas
que desejam nosso sucesso.
A todos você, meu amor, gratidão e meu...
MUITO OBRIGADA!
“O valor das coisas não está no tempo em que elas
duram, mas na intensidade com que acontecem.
Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas
inexplicáveis e pessoas incomparáveis”.
(Fernando Pessoa)
SÍNTESE DE UM NOVO ANÁLOGO DA ROSIGLITAZONA
Maria Fernanda Feminella FACHINI
Orientadora: Profa. Dra. Fátima de Campos Buzzi
Co-orientador: Prof. Dr. Rogério Corrêa
Defesa em: junho de 2013
Resumo: As tiazolidinodionas são compostos heterociclicos, que se destacam por apresentarem amplo espectro de atividade biológica. A Rosiglitazona é um dos fármacos mais potentes desta classe e apresenta atividade anti-hiperglicêmica, porém foi retirada do mercado brasileiro em 2010 por estar associada a um aumento no risco de infarto ao miocárdio. Portanto, o objetivo deste trabalho visa à síntese de um composto análogo a Rosiglitazona planejado a partir da modificação bioisostérica do anel da piridina por um núcleo maleimidico a fim de se obter uma nova molécula biologicamente ativa que possa representar um candidato a um futuro fármaco. Para obtenção da N-(2-{4-[(5-tiazolidinodionil)metil]fenoxi}etil)fenilsulfonilmaleimida, a rota reacional partiu da preparação de uma mistura equimolar de anilina e anidrido maleico com éter sob agitação, para obtenção do Ácido N-fenilmaleâmico, onde o rendimento foi de 97,88%. Este foi adicionado a anidrido acético contendo acetato de sódio anidro em banho maria com agitação constante. O sólido amorfo obtido foi recristalizado, obtendo rendimento de 75,45% e encaminhado para análise, cujos dados espectroscópicos confirmaram a estrutura da N-fenilmaleimida. Na sequência esta foi clorossulfonada pela adição de Ácido clorossulfônico em banho de gelo e posterior agitação em banho maria a temperatura controlada de 45ºC. O composto sintetizado também foi identificado por espectroscopia de ressonância magnética nuclear de próton e carbono, o que confirmou a estrutura da N-p-clorosulfonilfenil maleimida, que obteve rendimento de 94,80%. Na tentativa de obter a N-metil-N-(2-hidroxietil)sulfonilfenilmaleimida foram realizadas quatro reações separadamente, modificando apenas o solvente e utilizando a N-p-clorosulfonilfenilmaleimida e o 2-(metilamino)etanol, porém somente em uma delas foi possível isolar e identificar o composto, que obteve rendimento de 43%.Nos espectros de RMN 1H, os sinais em 2,29 e 2,68 ppm, foram atribuídos a duas metilas e, os dubletos e tripletos na região de 4,83 a 2,80, aos hidrogênios metilenicos e metinicos. No espectro de ressonância magnética nuclear de 13C, observou-se duas metilas em 37,4 e 35,6 ppm e quatro metilenos na região de 62,6 a 42,7 ppm. A partir destes dados sugere-se que ocorreu uma dissubstituição obtendo-se a N-metil-N-(2-hidroxietil)sulfonilfenil-3-(N-metil-N-(2-hidroxietil)succinimida. Em paralelo foi sintetizada a (5Z)-5-(4- fluorobenzilideno)-1,3- tiazolidina-2,4-diona, esta por sua vez, foi obtida através da reação entre o 4-fluorbenzaldeído e a 2,4-tiazolidinadiona, os dados espectroscópicos confirmam a sua estrutura e o seu rendimento foi de 67,8%. Na tentativa de se obter o composto final foi realizada a reação entre a N-metil-N-(2-hidroxietil)sulfonilfenil-3-(N-metil-N-(2-hidroxietil) succinimida e a (5Z)-5-(4- fluorobenzilideno)-1,3- tiazolidina-2,4-diona utilizando terc-butóxido de potássio e DMF, entre tanto obteve-se quantidades insuficientes para análise. Todos os intermediários reacionais foram sintetizados e caracterizados espectroscopicamente, entre tanto segue-se a pesquisa pela síntese da molécula alvo.
Palavras-chave: Antihiperglicêmico. Tiazolidinodiona. Rosiglitazona.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Estrutura da Rosiglitazona. ...................................................................... 22
Figura 2 – Estrutura das imidas cíclicas: maleimida (1), succinimida (2), glutarimida
(3). ............................................................................................................................. 27
Figura 3 – Estrutura dos heterocíclos: (A) tiazolidina, (B) 4-tiazolidinona e (C) 2,4-
tiazolidinodiona. ......................................................................................................... 28
Figura 4 – Relação estrutura-atividade para os agonistas PPAR a exemplo da
Rosiglitazona. ............................................................................................................ 29
Figura 5 – Evolução do Diabetes no Mundo (2000 - 2030). ...................................... 32
Figura 6 – Estrutura química das glitazonas. ............................................................ 36
Figura 7 – Rota sintética para obtenção da N-(2-{4-[(5-
tiazolidinadionil)metil]fenoxi}etil) fenilsulfonilmaleimida. ........................................ 39
Figura 8 – Esquema para obtenção do MF01. .......................................................... 40
Figura 9 – Esquema para obtenção da MF02. .......................................................... 40
Figura 10 – Esquema para obtenção da MF03. ........................................................ 41
Figura 11 – Esquema para obtenção da MF04. ........................................................ 41
Figura 12 – Esquema para obtenção da MF05. ........................................................ 42
Figura 14 – Esquema para obtenção da MF07. ........................................................ 43
Figura 15 – Proposta do mecanismo da reação para obtenção da MF01. ................ 45
Figura 16 – Espectro de RMN de 1H (DMSO – d6, 300 MHz) da MF01. ................... 46
Figura 17 – Proposta do mecanismo da reação para obtenção da MF02. ................ 47
Figura 19 – Espectro de IV da MF02. ........................................................................ 48
Figura 18 – Espectro de RMN 1H (CDCl3,300 MHz) da MF02. ................................. 48
Figura 20 – Proposta do mecanismo de reação para obtenção da MF03. ................ 49
Figura 21 – Espectro de RMN 1H (CDCl3,300 MHz) da MF03. ................................. 50
Figura 22 – Espectro de RMN 13C (CDCl3,75 MHz) da MF03. .................................. 51
Figura 23 – Espectro de IV da MF03. ........................................................................ 52
Figura 24 – Proposta do mecanismo de reação para obtenção da MF04. ................ 53
Figura 25 – Espectro de RMN 1H (CDCl3,300 MHz) da MF04. ................................. 54
Figura 26 – Espectro de RMN 13C (CDCl3,75 MHz) da MF04. .................................. 55
Figura 27 – Proposta de mecanismo de reação para obtenção da MF05. ................ 56
Figura 28 – Espectro de RMN 1H (DMSO,300 MHz) da MF05. ................................. 57
Figura 29 – Espectro de RMN 13C (CDCl3,300 MHz) da MF05. ................................ 58
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Rendimento, ponto de fusão e Rf da MF01. ............................................ 46
Tabela 2 – Rendimento, ponto de fusão e Rf da MF02. ............................................ 47
Tabela 3 – Rendimento, ponto de fusão e Rf da MF03. ............................................ 49
Tabela 4 – Rendimento, ponto de fusão e Rf da MF04. ............................................ 53
Tabela 5 – Rendimento, ponto de fusão e Rf da MF05. ............................................ 56
LISTA DE ABREVIATURAS
AINES's – Anti-inflamatórios Não Esteroidais
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária
COX-2 – Ciclo-oxigenase-2
DM – Diabetes Mellitus
DM1 – Diabetes Mellitus tipo 1
DM2 – Diabetes Mellitus tipo 2
FDA – Food and Drug Administration
GSK – GlaxoSmithKline
HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana
IV – Infravermelho
MF01 – Ácido N-fenilmaleâmico
MF02 – N-fenilmaleimida
MF03 – N-p-clorosulfonilfenilmaleimida
MF04 – N-metil-N-(2-hidroxietil)sulfonilfenil-3-N-metil-N-(2-hidroxietil)
succinimida
MF05 – (5Z)-5-(4-fluorobenzilideno)-1,3- tiazolidino-2,4-diona
MF06 – 5-(4-fluorobenzil)-1,3- tiazolidino-2,4-diona
MF07 – 4-[(2-hidroxietil)(metil)amino]-maleimida-N-(2-{4-[(E)-(2,4-dioxo-1,3-
tiazolidin-5-ilideno)metil]fenoxi}etil)-N-metilbenzenosulfonamida
NTFSM – N-(2-{4-[(5-tiazolidinodionil)metil]fenoxi}etil)fenilsulfonil maleimida
OMS – Organização Mundial de Saúde
PPAR – Receptores ativados por proliferadores de peroxissoma
QM – Química Medicinal
Rf – Fator de retenção
RMN – Ressonância Magnética Nuclear
SM – Síndrome Metabólica
TIDE – “The Thiazolidinedione Intervention With Vitamin D Evaluation”
TZD – Tiazolidinodionas
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 21
2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 23
2.1 Objetivo geral .................................................................................................... 23
2.2 Objetivos específicos........................................................................................ 23
3 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................. 25
3.1 Química Medicinal ............................................................................................. 25
3.2 Síntese Orgânica ............................................................................................... 25
3.3 Imidas Cíclicas .................................................................................................. 26
3.4 Compostos Tiazolínicos ................................................................................... 27
3.4.1 Mecanismo de ação das tiazolidinodionas .................................................. 28
3.5 Diabetes Mellitus ............................................................................................... 30
3.5.1 Diagnóstico do DM ......................................................................................... 33
3.6 Agentes Anti-hiperglicêmicos .......................................................................... 33
4 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 39
4.1 Síntese da N-(2-{4-[(5-tiazolidinadionil)metil]fenoxi}etil)fenilsulfonil
maleimida (NTFSM) ................................................................................................. 39
4.1.1 Síntese do Ácido N-fenilmaleâmico (MF01) ................................................. 40
4.1.2 Síntese da N-fenilmaleimida (MF02) ............................................................. 40
4.1.3 Síntese da N-p-clorosulfonilfenilmaleimida (MF03)..................................... 41
4.1.4 Síntese da N-metil-N-(2-hidroxietil)sulfonilfenil-3-N-metil-N-(2-hidroxietil)
succinimida (MF04) ................................................................................................. 41
4.1.5 Síntese da (5Z)-5-(4-fluorobenzilideno)-1,3- tiazolidino-2,4-diona (MF05) . 42
4.1.6 Síntese da 4-[(2-hidroxietil)(metil)amino]-maleimida-N-(2-{4-[(E)-(2,4-dioxo-
1,3-tiazolidin-5-ilidano)metil]fenoxi}etil)-N-metilbenzenosulfonamida (MF07) .. 43
4.2 Identificação dos compostos ........................................................................... 43
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 45
6 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 59
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 61
21
1 INTRODUÇÃO
Um dos principais objetivos da Química Medicinal (QM) é a síntese de
moléculas que tenham valor terapêutico. Diversas estratégias podem ser
empregadas no desenho molecular de novos candidatos a agentes terapêuticos, ou
seja, novos protótipos de fármacos. Estas estratégias são cruciais na etapa de
modificação molecular necessária à sua otimização, diminuindo efeitos colaterais e
aumentando sua potência, por exemplo. Dentre muitas se destacam o
bioisosterismo, a simplificação molecular e a hibridação molecular (BARREIRO,
2009). Estruturas heterocíclicas têm recebido especial atenção nesta área, devido a
sua potencial aplicação em síntese orgânica e também ao amplo espectro de
atividades biológicas e farmacológicas documentadas, em diversos alvos
terapêuticos (DUARTE; SANGI; CORRÊA, 2010).
Os compostos tiazolínicos são uma importante classe de compostos
heterocíclicos que está presente em diversas moléculas biologicamente ativas.
Como exemplo, podemos mencionar o Sulfatiazol, um importante fármaco
antimicrobiano, o Ritonavir (Norvir®) medicamento utilizado no combate ao vírus da
imunodeficiência humana (HIV), as Epotilonas A e B, produtos naturais que
possuem uma potente atividade antitumoral (DE SOUZA et al., 2005).
Esta classe de compostos apresenta, também, potencial aplicação em síntese
orgânica, podendo ser utilizada em reações de condensação, oxidação,
transformação de grupos funcionais e formação de ligação carbono-carbono.
Fármacos da classe das tiazolidinodionas (TZD), como a Troglitazona
(Rezulin®), a Pioglitazona (Actos®) e a Rosiglitazona (Avandia®/GlaxoSmithKline)
são medicamentos bem conhecidos como anti-hiperglicêmicos para o tratamento de
Diabetes Mellitus do tipo 2 (DM2). Embora já prevalente em todo mundo, estima-se
que atualmente pelo menos um terço dos casos de Diabetes Mellitus (DM) do tipo
não-insulino dependente permanece sem diagnóstico. Além disso, a hiperglicemia é
cada vez mais implicada em outros distúrbios metabólicos como hipertensão,
aterosclerose e obesidade. Estudos atuais sugerem que a Rosiglitazona pode
também ser útil no tratamento da doença de Alzheimer e de colite ulcerativa devido
a suas propriedades anti-inflamatórias como um agonista dos receptores ativados
por proliferadores de peroxissoma (PPAR) (GAONKAR; SHIMIZU, 2010).
22
A Rosiglitazona (Figura 1) é um dos fármacos mais potentes desta classe,
porém foi retirado do mercado brasileiro em 2010 por estar associado a um aumento
no risco de infarto ao miocárdio. Nesse contexto, a QM, através dos planejamentos e
modificações moleculares, tem contribuído para a maior parte das novas
descobertas, observando-se um crescimento considerável de compostos sintéticos
para uso medicinal, os quais têm sido empregados no combate às diversas doenças
(VERÇOZA et al., 2009).
Figura 1 – Estrutura da Rosiglitazona.
S
NHO
O
ONN
CH3
23
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Estabelecer e relacionar as etapas para a síntese do composto N-(2-{4-[(5-
tiazolidinodionil)metil]fenoxi}-etil)fenilsulfonilmaleimida (NFSM) como novo análogo
da Rosiglitazona.
2.2 Objetivos específicos
Sintetizar os intermediários necessários para a obtenção do composto N-(2-
{4-[(5-tiazolidinodionil)metil]fenoxi}etil)fenilsulfonil-maleimida;
Otimizar as condições reacionais;
Purificar e caracterizar espectroscopicamente o composto sintetizado e seus
intermediários;
24
25
3 REVISÃO DA LITERATURA
3.1 Química Medicinal
A QM dedica-se à compreensão das razões moleculares da ação dos
fármacos, da relação entre estrutura química e atividade farmacológica dos mesmos,
considerando fatores farmacodinâmicos e farmacocinéticos que se traduzam em
propriedades fármaco terapeuticamente úteis e que, portanto, represente um novo
composto-protótipo, candidato efetivo a novo fármaco (VEIGA-JUNIOR; BOLZANI;
BARREIRO, 2006). Diversas estratégias modernas de desenho molecular de novos
protótipos são conhecidas, em função do mecanismo de ação pretendido, seja
inibição enzimática, reversível ou não, ou agonismo/antagonismo, competitivo ou
não, do receptor, que dependem do nível de conhecimento de sua topografia
(BARREIRO et al., 2002). Uma dessas estratégias é o bioisosterismo que analisa a
influência da modificação de um átomo ou de um grupo de átomos por seu
bioisóstero sobre a atividade biológica que o fármaco original apresenta, podendo
ser de ação idêntica ou mesmo antagônica (GOES et al., 2004).
O processo de descoberta e desenvolvimento de fármacos é complexo, longo
e de alto custo, tendo suas raízes profundamente ligadas às inovações científicas e
tecnológicas. Os avanços expressivos da química e biologia e a melhor
compreensão de vias bioquímicas, alvos moleculares e de mecanismos que levam
ao aparecimento e desenvolvimento de doenças, tornaram possível a descoberta de
inovações terapêuticas notáveis, proporcionando melhorias significativas na
qualidade de vida das diversas populações no mundo (GUIDO; ANDRICOPULO;
OLIVA, 2010).
3.2 Síntese Orgânica
A síntese orgânica representa a vertente da Química Orgânica capaz de
construir moléculas, independente do seu grau de complexidade estrutural,
explorando conceitos fundamentais que regem o comportamento químico dos
diferentes grupamentos funcionais (BARREIRO, 1991). Sendo assim, a síntese
orgânica constitui de reações a fim de se obter compostos, que podem ou não, ser
mais complexos que seu seus precursores a partir de reações químicas simples,
26
uma única etapa, ou de processos mais complexos, onde são envolvidas várias
reações químicas em sequência.
A pureza do produto final obtido a partir de processo sintético está
diretamente relacionada à metodologia sintética empregada, à pureza dos
intermediários e das matérias primas envolvidas na síntese (MENEGATTI; FRAGA;
BARREIRO, 2001).
Grande parte dos produtos utilizados pela sociedade e pelas indústrias são
obtidos através de síntese orgânica, como alguns alimentos e bebidas (indústria de
alimentos), polímeros e produtos químicos (indústria petroquímica), além dos
medicamentos em geral (indústria farmacêutica). Inúmeros trabalhos relatam que o
percentual de substâncias sintéticas disponíveis na terapêutica moderna atinge
aproximadamente 85% dos fármacos utilizados no mundo (BARREIRO; FRAGA,
2008).
3.3 Imidas Cíclicas
As imidas cíclicas (Figura 2) compreendem uma grande classe de
substâncias obtidas por síntese orgânica ou de origem natural, incluindo várias
subclasses (succinimidas, maleimida, glutarimidas, naphtalimidas ftalimidas, e seus
derivados). São na sua maioria hidrofóbicos, portanto podem facilmente passar
através das membranas celulares e atingirem vários alvos intracelulares (MACHADO
et al., 2011). São substâncias que contém o grupo –CO-N(R)-CO– , sendo R um
átomo de hidrogênio, grupo alquila ou grupo arila (CECHINEL-FILHO et al., 2003).
Esta classe de substâncias já vem sendo estudada há cerca de 15 anos pelo
Núcleo de Investigações Químico-Farmacêuticas (NIQFAR) da UNIVALI e possui
amplo espectro de atividades biológicas e farmacológicas documentadas, em
diversos alvos terapêuticos, como antifúngico, antibacteriano e inseticida
(CECHINEL-FILHO et al., 2003).
27
Figura 2 – Estrutura das imidas cíclicas: maleimida (1), succinimida (2), glutarimida (3).
NH
O
O
NH
O
O
NH
O
O
(1) (2) (3)
As imidas cíclicas continuam sendo estudadas atualmente, e alguns autores
relatam que derivados de imidas cíclicas têm mostrado resultados importantes como
agentes antitumorais potenciais contra células HeLa, A549, P388, HL-60, MCF-7,
HCT-8, e de linhas células cancerosas A375 in vitro com valores de IC50 cerca de
10-6 e 10-5 M (MACHADO et al., 2011) e como inibidores seletivos da COX-2 (ciclo-
oxigenase-2) ( ABDEL-AZIZ; ELTAHIR; ASIRI, 2011).
3.4 Compostos Tiazolínicos
Os compostos tiazolínicos são uma importante classe de substâncias
heterocíclicas que apresentam um amplo espectro de atividade biológica, tais como
atividades anticâncer, antibacteriana, antidepressiva, antiinflamatória, herbicida
dentre outras (DE SOUZA et al., 2005).
Esta classe de compostos apresenta uma grande reatividade química. A
partir de sua estrutura básica podem ser gerados diversos derivados. Entre estes,
podemos citar as tiazolidinas, as tiazolidinonas e as TZD (Figura 3). Todos também
possíveis de derivatizações gerando compostos de grande interesse científico. As
2,4-tiazolidinadionas são derivados da TZD de interesse deste trabalho. Sua
estrutura química consiste, em um anel de cinco membros, contendo dois
heteroátomos, um átomo de enxofre e um átomo de nitrogênio nas posições 1 e 3 do
anel, respectivamente e duas carbonilas nas posições 2 e 4, podendo apresentar
diversos grupos químicos em geral como substituintes nas posições 3 e 5 (MALIK;
UPADHYAYA; MIGLANI, 2011).
28
Figura 3 – Estrutura dos heterocíclos: (A) tiazolidina, (B) 4-tiazolidinona e (C) 2,4- tiazolidinodiona.
S
NH
S
NHO
S
NHO
O
(A) (B) (C)
3.4.1 Mecanismo de ação das tiazolidinodionas
As tiazolidinodionas atuam diminuindo a resistência periférica á insulina. Elas
atuam nos receptores do tipo ɣ ativados por proliferadores de peroxissomas, que
são encontrados no músculo, no tecido adiposo e no fígado. E, também têm ação
sobre o endotélio, sistema imune, ovários e células tumorais (KATZUNG, 2005).
Os receptores ativados por proliferadores de peroxissoma (PPARs) são
fatores de transcrição pertencentes à família de receptores nucleares que regulam a
homeostase da glicose, metabolismo de lipídeos e inflamação. Três proteínas,
codificadas por genes distintos, têm sido identificadas como subtipos de receptores
PPAR: PPARα, PPARᵟ e PPARγ, que controlam a expressão gênica pela ligação a
elementos responsivos específicos (PPREs) localizados na região promotora.
Estudos recentes sugerem que a ativação do PPARγ pode diminuir a progressão da
aterosclerose e aumentar a sensibilidade à insulina, podendo ser um potencial alvo
terapêutico para o tratamento de diversas enfermidades, incluindo o DM do tipo 2 e
a dislipidemia (TAVARES; HIRATA; HIRATA, 2007).
Vários compostos, de estrutura química diversa, foram relatados como
ligantes do receptor PPARγ, identificado como o principal subtipo responsável pelos
processos de captação e utilização de glicose. Destes se destacam as TZD e alguns
anti-inflamatórios não esteroidais (AINE’s) (MALIK; UPADHYAYA; MIGLANI, 2011).
Romeiro e colaboradores (2008) descreveram as razões moleculares da interação
de AINE’s clássicos e ciclo-oxigenase-2 (COX-2) seletivos com o receptor PPARγ,
evidenciando através de estudos de ancoramento molecular ou docking a
importância do grupamento ácido carboxílico como farmacóforo principal
responsável pela etapa de reconhecimento molecular. Assim, além de seu efeito
sobre a resistência da insulina, as TZD parecem ter um efeito anti-inflamatório.
Os fármacos comumente utilizados no tratamento de doenças metabólicas,
usualmente também requerem um grupo polar ácido, para interagir com seus alvos
29
que são os PPARs, destacando neste caso a importância do anel heterociclico nas
TZD sem substituição no nitrogênio. Uma simplificada relação estrutura/atividade
tem sido demonstrada para as glitazonas, a exemplo da Rosiglitazona (Figura 4). A
melhor relação estrutura-atividade anti-hiperglicêmica requer uma extremidade polar
ácida, do anel tiazolidinodiona, seguida por uma porção hidrofóbica benziloxi, ligado
a um grupo espaçador de dois carbonos e outro anel hidrofóbico na outra
extremidade (KUMAR; NANJAN, 2010; SANDER et al., 2010).
Evidências convergentes têm revelado uma associação entre a resistência à
insulina e a doença de Alzheimer. Agonistas de PPARγ, como a Rosiglitazona, um
sensibilizador de insulina e ativador mitocondrial aumenta a cognição em pacientes
com leve a moderada doença de Alzheimer em estado inicial. Apolipoproteina E4, o
maior fator de risco genético para a doença, exerce neuropatológicos efeitos através
de múltiplos caminhos, incluindo a diminuição da estrutura das espinhas dendríticas
e a função mitocondrial (BRODBECK et al., 2009).
Figura 4 – Relação estrutura-atividade para os agonistas PPAR a exemplo da Rosiglitazona.
S
NHO
O
ONN
CH3
.
.
.
.
.
.
Estudos demonstraram que a Rosiglitazona aumentou significativamente a
densidade das espinhas dendrídicas de uma forma dose-dependente em cultura
primária cortical de neurônios de ratos. Esse feito foi abolido pelo antagonista
específico de PPARγ, sugerindo que a Rosiglitazona exerce este efeito pela ativação
desta via. Assim a Rosiglitazona pode melhorar a cognição nos pacientes com
doença de Alzheimer por aumentar a densidade das espinhas dendriticas e também
por prevenir a ligação dos oligômeros solúveis Aβ patogênicos (BRODBECK et al.,
2009; DE FELICE et al., 2009).
Porção hidrofóbica
Cadeia intermediária
Núcleo aromático
Extremidade polar
30
Assim fica clara a necessidade de continuidade em investimentos no
desenvolvimento de novas moléculas agonistas PPAR que possam ser úteis para os
tratamentos como diabetes e Alzheimer entre outros. No trabalho em questão,
pretende-se identificar um composto-protótipo, ou seja, uma nova substância efetiva
no tratamento destas doenças com menores efeitos colaterais que possa
representar um candidato a um futuro fármaco.
3.5 Diabetes Mellitus
O DM é uma síndrome de etiologia múltipla, decorrente da falta de insulina
e/ou da capacidade da insulina exercer adequadamente os seus efeitos.
Caracteriza-se por hiperglicemia crônica frequente, acompanhada de dislipidemia,
hipertensão arterial e disfunção endotelial (SOCIEDADE BRASILEIRA DO
DIABETES, 2002). Hoje, a terminologia mais empregada pelas sociedades
científicas internacionais é a de Síndrome metabólica (SM) (ZAGURY, 2006).
Os sintomas recorrentes da hiperglicemia acentuada incluem poliúria,
polidipsia, polifagia, acentuada perda de peso e distúrbios de visão. Nas formas
mais graves podem aparecer complicações como a cetoacidose ou o estado
hiperosmolar não-cetônico que pode se desenvolver e levar o paciente a coma e, na
ausência de tratamento eficaz, a morte (WHO, 2006). Além disso, apesar das várias
classes de medicamentos, apenas 56% dos pacientes com controle glicêmico
conseguem evitar complicações microvasculares e macrovasculares (SHI et al.,
2010).
A classificação atual do DM incorpora conceitos de estágios clínicos, desde a
normalidade, passando para a tolerância à glicose diminuída e/ou glicemia de jejum
alterada, até o DM propriamente dito. A diabetes é denominada tipo 1 (DM1) quando
há a destruição das células beta do pâncreas, que leva a deficiência absoluta de
insulina. Mediada imunologicamente ou idiopaticamente. A DM2 quando há graus
variáveis de resistência a insulina e a deficiência relativa de secreção da insulina. A
maioria dos pacientes apresenta obesidade. O diagnóstico, na maioria dos casos, é
feito a partir dos 40 anos, embora possa ocorrer mais cedo, mais raramente em
adolescentes. Abrange cerca de 85% a 90% de todos os casos (AMERICAN
DIABETES ASSOCIATION, 2010).
31
Também pode ocorrer à diabetes gestacional, na qual há a diminuição da
tolerância à glicose, de magnitude variável, diagnosticada pela primeira vez na
gestação, podendo ou não persistir após o parto. Abrange os casos de DM e de
tolerância à glicose diminuída detectas na gravidez. E também existem outros tipos
específicos como: defeitos genéticos na função da célula beta, defeitos genéticos na
ação da insulina, enfermidades do pâncreas exócrino, endocrinopatias, bem como
as induzidas por medicamentos químicos (GOMES; COBAS, 2009).
A incidência do DM na atualidade atinge proporções epidêmicas, tendo um alto
custo tanto econômico quanto social. Ele está associado a complicações que
comprometem a produtividade, qualidade de vida e a sobrevida dos indivíduos
(AHMAD; CRANDALL, 2010). Nas últimas décadas o DM tem se tornado um sério e
crescente problema de saúde pública devido ao aumento de sua prevalência,
morbidade e mortalidade. Recente estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS)
estimou que até 2030, o número de indivíduos com diabetes será de
aproximadamente 366 milhões, sendo que aproximadamente 11 milhões no Brasil
(Figura 5) (GOMES; COBAS, 2009). Dessa forma, a incidência do DM atinge
proporções epidêmicas, tendo um alto custo tanto econômico quanto social. Ele está
associado a complicações que comprometem a produtividade, qualidade de vida e a
sobrevida dos indivíduos (AHMAD; CRANDALL, 2010). As crescentes incidência e
prevalência são atribuídas ao envelhecimento populacional, mas, especialmente, ao
estilo de vida atual, caracterizado por inatividade física e hábitos alimentares que
predispõem ao acúmulo de gordura corporal (FERREIRA, 2011).
32
Figura 5 – Evolução do Diabetes no Mundo (2000 - 2030).
Nota: Crescimento mundial previsto de 114% (171 milhões a 366 milhôes). Fonte: FERREIRA, 2011.
No Brasil, o DM é considerado uma patologia de caráter progressivo, a
prevalência retrata um problema de saúde pública e fornece subsídios para o
planejamento das ações de saúde. Na população urbana dos países 22
subdesenvolvidos, estima-se em 7,6% a magnitude de casos existentes,
assemelhando-se aos países desenvolvidos (OLIVEIRA; CAMPOS; ALVES, 2010).
A prioridade do tratamento do diabetes é devolver ao paciente o equilíbrio
metabólico, proporcionando um estado o mais próximo o possível da fisiologia
normal do organismo (ZAGURY, 2006). O tratamento inclui a educação do paciente
e modificações do seu estilo de vida, que incluem suspensão do fumo, aumento de
atividade física e reorganização dos hábitos alimentares, e, se necessário, uso de
fármacos (SOCIEDADE BRASILEIRA DO DIABETES, 2009).
33
3.5.1 Diagnóstico do DM
O diagnóstico do DM pode ser realizado através de três exames diferentes, a
glicose plasmática em jejum, o teste oral de tolerância à glicose e a glicose
plasmática casual. Os valores de referência para a glicemia em jejum e para a
dosagem após 1 à 2h após as refeições são de 70 a 100mg/dL e de 90 a 140mg/dL
respectivamente. No quadro abaixo (Quadro 1) estão os critérios utilizados para o
diagnóstico da patologia.
Quadro 1 – Critérios para o diagnóstico do DM.
Critérios Comentários
Hemoglobina glicada
>6,5%
O teste deve ser realizado através de método rastreável ao método do DCCT e devidamente certifi cado pelo National Glycohemoglobin Standardization Program
(NGSP) (http://www.ngsp.org).
Glicemia de jejum
>126mg/dL
O período de jejum deve ser definido como ausência de ingestão calórica por pelo menos 8 horas.
Teste oral de
tolerância à glicose
(TOTG) >200mg/dL
Esse teste deverá ser conduzido com a ingestão de uma sobrecarga de glicose anidra, 1,75g/kg de glicose (máximos 75g), dissolvida em água, em todos os
indivíduos com glicemia de jejum entre 100 mg/dL e 125 mg/dL.
Glicemia ao acaso
>200mg/dL
Em pacientes com sintomas clássicos de hiperglicemia,
ou em crise hiperglicêmica.
Fonte: American Diabetes Association, 2011.
3.6 Agentes Anti-hiperglicêmicos
Antes da descoberta da insulina e hipoglicemiantes orais, as preparações
obtidas de plantas eram praticamente o único recurso para o tratamento do diabetes.
O primeiro princípio ativo com propriedade hipoglicemiante descoberto foi a
galegina, um derivado da guanidina, o qual é extraído da Galega officinalis. Os
resultados desta pesquisa levaram a descoberta das primeiras biguanidas, como é o
caso da metformina (BRAGANÇA, 1996).
No tratamento intensivo do DM1, a farmacoterapia resume-se à insulinoterapia.
O tratamento intensivo do DM2 inicia-se com associação de fármacos orais, passa
pela combinação de agentes orais com insulina, e à medida que o déficit de
34
secreção insulínica vai piorando, chega à insulinoterapia intensificada, como a
utilizada no DM1 (ZAGURY, 2006).
Atualmente se dispõe de quatro categorias de fármacos para o tratamento do
DM (Quadro 2): secretagogos da insulina (sulfoniluréias, meglitinidas e derivados da
D-fenilalanina), biguanidas, inibidores da alfa-glicosidase e tiazolidinodionas
(SECOLI et al., 2009).
O efeito hipoglicemiante da primeira glitazona (Figura 6), a Ciglitazona (1), foi
descoberta por acaso em 1982, por um grupo de investigadores japoneses (FUJITA
et al., 1983). Contudo foi a Troglitazona (2), o primeiro fármaco desta classe a ser
introduzido na clínica, embora tenha sido retirado do mercado devido a sua alta
hepatotoxicidade (FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2004).
35
Quadro 2 – Medicamentos antidiabéticos: mecanismo de ação e efeito clínico.
Classe
medicamentosa Medicamentos
Estrutura do
medicamento
Mecanismo de
ação
Redução da
glicemia em
jejum (mg/dL) e
da glico-
hemoglobina
(%)
Efeito
sobre o
peso
corporal
Sulfoniluréia
Clorpropamida, Glibenclamida,
Glipizida, Glicazida,
Glimepirida. Cl
S NH
O
O
NHO
CH3
Clorpropamida
Aumento da secreção de
insulina
60 – 70 (mg/dL)
e
1,5 – 2,0%
Aumento
Metiglinidas Nateglinida, Repaglinida.
CH3
CH3 NH
O
OHO
H
Nateglinida
Aumento da secreção de
insulina
60 – 70 (mg/dL)
e
1,5 – 2,0%
Aumento
Biguanidas Metformina.
NCH3
CH3
NH NH2
NH NH
Aumento da sensibilidade à
insulina predominantemente no fígado
60 – 70 (mg/dL)
e
1,5 – 2,0%
Diminuição
Inibidores da α-glicosidase
Acarbose.
OH
OH
OH
OH
NH
O
CH3OH
OH
OO
OH
OH
OH
OO
OH
OH
OH
OH
Retardo da absorção de carboidratos
20 – 30 (mg/dL)
e
0,7 – 1,0%
Sem efeito
Glitazonas Rosiglitazona, Pioglitazona.
SNH
O
O
O
N
CH3
Pioglitazona
Aumento da sensibilidade à
insulina no músculo
34 – 40 (mg/dL) e
1,0 – 1,2% Aumento
Fonte: Adaptado de Sociedade Brasileira de Diabetes, 2000.
36
Atualmente está no mercado apenas a Pioglitazona (3), comercialmente
conhecida como Actos®. A Rosiglitazona (4), conhecida como Avandia® era
indicada para controlar os níveis glicêmicos em pacientes com DM2, porém em maio
de 2007, a Rosiglitazona foi associada a um aumento significativo no risco de infarto
ao miocárdio em comparação com placebos ou outros medicamentos antidiabéticos.
(HURREN; TAYLOR; JABER, 2011). Imediatamente, o Food and Drug
Administration (FDA) divulgou um alerta de segurança para os medicamentos
contendo como principio ativo a Rosiglitazona. Em Julho do mesmo ano, uma
reunião conjunta entre o Comitê Consultivo de Endocrinologia e Drogas Metabólicas
e o Comitê Consultivo de Segurança de Medicamentos e Gerenciamento concluiu
que ao considerar a relação risco-benefício, a Rosiglitazona deverá permanecer no
mercado americano (SHI et al., 2010). Porém no Brasil, os medicamentos contendo
este princípio ativo, tiveram seu registro cancelado em setembro de 2010 pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), por considerar que os riscos
superam os benefícios (DOU, 2010).
Figura 6 – Estrutura química das glitazonas.
S
NHO
O
O
S
NHO
O
OO
OH
S
NHO
O
ONN
CH3
S
NHO
O
O
NCH3
1
2
3
4
Toda a medicação contendo a substância Rosiglitazona, como princípio ativo,
foi retirada da Europa e é comercializada com restrições nos Estados Unidos. Em
um esforço para esclarecer algumas das incertezas, em torno da Rosiglitazona, o
FDA obrigou o fabricante, a GlaxoSmithKline (GSK), a efetivar um grande ensaio
clínico, multicentrico, controlado, que foi batizado de “The Thiazolidinedione
Intervention With Vitamin D Evaluation” (TIDE). Este foi iniciado em maio de 2009,
37
envolvendo 16.000 pacientes, com termino para 2015. O alvo principal deste
trabalho é comparar a Rosiglitazona e a Pioglitazona com respeito à morte de
origem cardiovascular, enfarto do miocardio e acidente vascular cerebral
(JUURLINK, 2010).
Frente a isso se observa a necessidade de novas substâncias terapêuticas
mais eficazes, com baixa toxicidade e maior especificidade, tem levado
pesquisadores a intensificar os estudos para a descoberta de novos fármacos.
38
39
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.1 Síntese da N-(2-{4-[(5-tiazolidinadionil)metil]fenoxi}etil)fenilsulfonil
maleimida (NTFSM)
Figura 7 – Rota sintética para obtenção da N-(2-{4-[(5-tiazolidinadionil)metil]fenoxi}etil) fenilsulfonilmaleimida.
O
O
O
+
NH2OH
O
O
NH
O
O
N
1.
C4H10O
agitaçãot.a.
O
O
N S
Cl
O
O
O
F
NH
S
O
O
+
NH
SO
O
F
F
NH
SO
O
3.
HSO3Cl
agitação
2. CH3COOCOCH3
CH3COO-Na+
4.
CH3NHCH
2CH
2OH
THF
5.
CH3COOH
C5H
10NH
CH3C
6H
5
6.MgI
CH3OH
N
O
O
S
O
O
N
OH
CH3
O
O
N S N
O
O
O
NH
S
OO
CH3
6..
DMF
ButO-K+
7.MgI
CH3OH
O
O
N S N
O
O
O
NH
S
OO
CH3
+
7.MgI
CH3OH
Para obtenção do composto desejado, foi proposta uma rota sintética
composta de sete etapas reacionais, que foram acompanhadas por cromatografia
em camada delgada (CCD), utilizando eluentes adequados para cada composto, e
ao final de cada etapa, o composto sintetizado foi caracterizado por ressonância
magnética nuclear (RMN) de 1H e 13C, calculado o Rf e obtido seu ponto de fusão.
40
4.1.1 Síntese do Ácido N-fenilmaleâmico (MF01)
Figura 8 – Esquema para obtenção do MF01.
O
O
O
NH2 OH
O
O
NH+Éter
25 °C
agitação
Anidrido Maleico Anilina MF01
Para sintetizar o ácido N-fenilmaleâmico (MF01), foi realizada uma reação
equimolar entre a anilina (0,1224 mol) e o anidrido maleico (0,1224 mol) no qual a
anilina foi adicionada a uma solução contendo anidrido maleico em éter com
agitação, a temperatura ambiente por 30 min. O precipitado resultante foi então
filtrado, lavado com éter e deixado em dessecador a vácuo na presença de
pentóxido de fósforo V por 24h (CAVA et al., 1961).
4.1.2 Síntese da N-fenilmaleimida (MF02)
Figura 9 – Esquema para obtenção da MF02.
OH
O
O
NH
O
O
N+CH3
O
O
CH3
O
Acetato de Sódio
60ºC
agitação
O produto MF01 (0,05 mol) foi adicionado a 4 mol de anidrido acético
contendo acetato de sódio anidro (0,5 mol) e deixado em banho maria por 1h10min.
com agitação constante à temperatura de 60ºC aproximadamente. A mistura
reacional foi resfriada a temperatura ambiente e vertida em água e gelo para
obtenção de um precipitado. O precipitado obtido foi então filtrado, lavado com água
gelada e secado em dessecador a vácuo contendo pentóxido de fósforo V por 24h
(CAVA et al., 1961).
41
Passado 24h horas, o precipitado foi rescristalizado com ciclohexano para
purificação e obtenção de cristais de coloração amarelo intenso em formato de
agulhas.
4.1.3 Síntese da N-p-clorosulfonilfenilmaleimida (MF03)
Figura 10 – Esquema para obtenção da MF03.
O
N
OO
O
N S
Cl
O
O+ S
O
OOH
Cl
0 °C - 45 °C
agitação+ S
O
OOH
OHMF02 Ácido Clorosulfônico MF03
O produto MF02 (1 mol) foi adicionado a 6 mol de Ácido Clorosulfônico em
banho de gelo. A mistura reacional foi colocada em banho maria à temperatura
constante de 45ºC, durante 45 min. Em seguida a solução foi resfriada a
temperatura ambiente e vertida em gelo picado gota a gota com agitação constante.
O precipitado foi filtrado, lavado com água e colocado em dessecador a vácuo na
presença de pentóxido de fósforo V (CECHINEL-FILHO et al., 2003).
Para purificação do composto foi realizada uma cromatografia em coluna,
utilizando como solvente uma mistura de Hexano:Acetona – 80:20.
4.1.4 Síntese da N-metil-N-(2-hidroxietil)sulfonilfenil-3-N-metil-N-(2-hidroxietil)
succinimida (MF04)
Figura 11 – Esquema para obtenção da MF04.
NHCH3 OHN
O
O
S
O
O
Cl +N
O
O
S
O
O
N
CH3
OH
NOH
CH3
a) Diclorometanob) Tetrahidrofuranoc) Trietilaminad) Piridina
Agitação
MF03 2-metilamino-etanol MF04
42
Para obter o composto MF04, foram realizadas quatro reações
separadamente, em cada uma delas foram utilizados solventes diferentes,
diclorometano, tetrahidrofurano, trietilamina e piridina. O produto MF03 (7,4x10-4
mol) foi solubilizado em um dos solventes mencionados anteriormente, e em seguida
foi adicionada a 2-metilamina-etanol (1,479x10-3 mol). Entretanto somente quando
utilizado o tetrahidrofurano como solvente, foi possível observar a formação de
precipitado branco após 2h de reação, que foi filtrado, deixado em dessecador na
presença de pentóxido de fósforo V e com rendimento suficiente para posteriores
análises. Este precipitado foi recristalizado com etanol, para purificação do composto
obtido.
4.1.5 Síntese da (5Z)-5-(4-fluorobenzilideno)-1,3- tiazolidino-2,4-diona (MF05)
Figura 12 – Esquema para obtenção da MF05.
F
O
H +NHS
O
O
PiperidinaÁcido Acético
ToluenoRefluxo
FS
NH
O
O
4-fluorbenzaldeído 2,4-tiazolidinodiona MF05
Paralelamente as demais sínteses, foi realizada uma reação equimolar entre
o 4-fluorbenzaldeído (4,27x10-3 mol) e a 2,4-tiazolidinodiona (4,27x10-3 mol) para
obter-se a (5Z)-5-(4-fluorobenzilideno)-1,3-tiazolidino-2,4-diona (MF05), onde o
composto 4-fluorbenzaldeído e a 2,4-tiazolidinodiona foram solubilizados em tolueno
à temperatura ambiente, em seguida adicionado 20 µL de piperidina e 11,5 µL de
ácido acético glacial. A mistura reacional foi mantida sob refluxo utilizando aparato
de Dean-Stark contendo tolueno, por 1h30min. Em seguida, foi resfriada a
temperatura ambiente, lavado e filtrado com tolueno e deixado em dessecador a
vácuo na presença de pentóxido de fósforo V (GILES et al., 2000)
Posteriormente, para purificação do composto, o mesmo foi dissolvido em
N,N-dimetilformamida em agitação à quente (85 – 90ºC), adicionou-se igual
quantidade de álcool isopropilico e deixou-se em agitação por 1h. Em seguida foi
deixado em repouso para recristalização do composto.
43
4.1.6 Síntese da 4-[(2-hidroxietil)(metil)amino]-maleimida-N-(2-{4-[(E)-(2,4-dioxo-
1,3-tiazolidin-5-ilidano)metil]fenoxi}etil)-N-metilbenzenosulfonamida (MF07)
Figura 13 – Esquema para obtenção da MF07.
+N
O
O
S
O
O
N
CH3
OH
N
CH3
OH
O
NH
O
S
F
N
O
O
S OO
N
CH3
O
N
CH3OH
O
NH
OS
MF04 MF05
a) Terc-butóxido de potássio e DMF
b) K2CO
3 e DMSO
c) NaH e DMF
MF07
Para obter o último intermediário, foi realizada uma reação equimolar entre o
composto MF05, o MF04 e o terc-butóxido de potássio utilizando DMF como
solvente. A reação foi colocada em agitação em banho maria, com temperatura de
80ºC e controlada por CCD até término da reação. Entre tanto, ao término da reação
observou-se a formação de um sólido com quantidade insuficiente para ser
encaminhado para análise.
4.2 Identificação dos compostos
Para certificar-se da pureza dos compostos sintetizados foi utilizada
cromatografia em camada delgada. Foram utilizadas cromatoplacas de sílica gel
PF254 Sigma, utilizando os eluentes adquiridos, comercialmente, da Aldrich, Merck,
etc., mais apropriados para cada composto e visualizados através de luz UV de
ondas curtas (254 nm).
Na caracterização do composto, foi utilizada a técnica de ponto de fusão, com
um aparelho Microquímica APF-301. Além disso, fez-se uso de técnicas
espectroscópicas de ressonância magnética nuclear de hidrogênio (RMN 1H) e
ressonância magnética nuclear de carbono (RMN 13C), obtidos em espectrômetro
Brucker AC - 300 (NIQFAR/UNIVALI) usando como solvente CDCl3-d1 ou DMSO-d6
adquiridos comercialmente. Os deslocamentos químicos foram expressos em
44
valores adimensionais (ppm), em relação a um padrão interno de tetrametilsilano
(TMS).
45
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A fim de obter o composto NTFSM foram realizadas sete etapas reacionais,
iniciando pela formação do intermediário ácido maleâmico, seguido pelo tiazolínico e
finalizando com a formação do composto alvo.
O primeiro intermediário sintetizado, o MF01, foi obtido a partir de uma
substituição nucleofílica acílica, onde o nitrogênio da anilina ataca o carbono da
carbonila do anidrido maleico, formando o produto desejado. A proposta do
mecanismo desta reação está demonstrado na figura 16, já o rendimento, ponto de
fusão e o Rf, estão na tabela 1.
Figura 14 – Proposta do mecanismo da reação para obtenção da MF01.
O
O
O
NH2
OH
O
O
NH
+Éter
25 °C
agitação
..
....
O
O
O- N
+
H
H
OH+
O
O-
N
H
- H20
..
O composto foi submetido à caracterização por espectroscopia de RMN de 1H
(Figura 17) onde é possível observar a presença de um simpleto em 10,395 ppm
referente ao hidrogênio do grupamento ácido carboxílico, em 6,291 a 6,498 dois
duplos dupletos indicativos dos hidrogênio da dupla ligação em ter os grupamentos
ácido carboxílico e amida, em 7,067 a 7,636 os sinais correspondentes ao
hidrogênios do anel aromático e em 3,370 o sinal referente ao hidrogênio ligado ao
nitrogênio.
46
Tabela 1 – Rendimento, ponto de fusão e Rf da MF01.
Rendimento Ponto de fusão Rf (CHCl3:MeOH – 30:70)
97,88% 213ºC 0,62
Figura 15 – Espectro de RMN de 1H (DMSO – d6, 300 MHz) da MF01.
Posteriormente o composto MF01 foi submetido a uma nova reação para a
formação do com posto MF02, que foi obtido a partir de uma substituição nucleofílica
acílica, onde o nitrogênio ataca o carbono da carbonila, forma dois intermediários
instáveis, para somente depois estabilizar-se e formar o produto desejado. A
proposta do mecanismo desta reação está demonstrado na figura 18, já o
rendimento, ponto de fusão e o Rf, estão na tabela 2.
OH
O
O
NH
47
Figura 16 – Proposta do mecanismo da reação para obtenção da MF02.
OH
O
O
NH
O
O
N
Acetato de Sódio
Anidrido Acético
60ºC
agitação
..
OHO
-
O
NH+
OH2
+O-
O
N
- H20
.. ..
....
Tabela 2 – Rendimento, ponto de fusão e Rf da MF02.
Para caracterizar o composto sintetizado foi realizada ressonância magnética
nuclear de hidrogênio (Figura 19), onde é possível observar a presença de um
simpleto em 6,848 ppm, referente aos hidrogênios do anel maleimídico e entre 7,326
e 7,498 ppm, os sinais sugestivos dos hidrogênios do anel aromático ligado ao
átomo de nitrogênio do anel maleimídico. E também foi realizado espectro de
infravermelho (Figura 20), onde é visualizado um estiramento forte em 1718,48 cm-1
referente a C=O, em 3058,66 cm-1 um estiramento fraco/médio indicativo de C-H de
aromático, em 1622,34 cm-1 outro estiramento fraco/médio sugestivo de C=C.
Rendimento Ponto de fusão Rf (Hexano:Acetato de Etila – 70:30)
75,45% 89-93,5ºC 0,65
48
Figura 18 – Espectro de IV da MF02.
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
30
60
90
cm-1)
Tra
nsm
ita
nce
(%
)
1718,58
3058,66
1622,34
cm-1)
Tra
nsm
ita
nce
(%
)
1718,58
3058,66
1622,34
O
O
N
Figura 17 – Espectro de RMN 1H (CDCl3,300 MHz) da MF02.
49
Em seguida o composto MF02 foi clorosulfonado formando o composto MF03,
obtido a partir de uma substituição eletrofílica aromática,
A proposta deste mecanismo de reação está demonstrado na figura 21, já o
rendimento, ponto de fusão e o Rf, estão na tabela 3.
Figura 19 – Proposta do mecanismo de reação para obtenção da MF03.
O
N
O
O
O
N S
Cl
O
O
+ S
O
OOH
Cl
0 °C - 45 °C
agitação
+
O
CH+
N
O
H
S
O-
O
OH
Cl
SO3-2
..
O
CH
+
N
O
H
S
O
O
Cl
HSO4-
H2SO4
..
Tabela 3 – Rendimento, ponto de fusão e Rf da MF03.
Rendimento Ponto de fusão Rf (Hexano:Acetato de Etila – 70:30)
94,80% 144-145ºC 0,5
A caracterização do composto sintetizado foi realizada através de ressonância
magnética nuclear de hidrogênio (Figura 22), onde é possível observar no espectro
um simpleto em 7,188 ppm, referente aos hidrogênios do anel maleimídico e a
presença de um duplo dupleto entre 7,288 e 7,712 ppm, característico de um anel
aromático para substituído.
50
Já no espectro de ressonância magnética nuclear de carbono (figura 23),
observa-se um sinal em 169,897 ppm, referente aos carbonos das carbonílas, e os
sinais na região de 125,012 a 147,315 ppm, indicativos dos demais carbonos da
molécula sintetizada.
O
O
N S
Cl
O
O
Figura 20 – Espectro de RMN 1H (CDCl3,300 MHz) da MF03.
51
No espectro de IV (Figura 24) verifica-se a presença de um estiramento forte
em 1744,38 cm-1 referente a C=0, em 3093,82 cm-1 um estiramento fraco/médio
indicativo de C-H de aromático e em 1681,93 cm-1 outro estiramento fraco/médio
sugestivo de C=C.
O
O
N S
Cl
O
O
Figura 21 – Espectro de RMN 13C (CDCl3,75 MHz) da MF03.
52
Figura 22 – Espectro de IV da MF03.
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
70
80
90
100
cm-1)
Tra
nsm
ita
nce
(%
)
1745,38
3093,82
1681,93
O composto MF03 foi submetido a uma nova reação utilizando a 2-
metilamino-etanol, entretanto após a realização de RMN de 1H e 13C, observou-se a
formação de outro produto, a N-metil-N-(2-hidroxietil)sulfonilfenil-3-(N-metil-N-(2-
hidroxietil)succinimida (MF04), onde na verdade, a molécula esperada para esta
reação era a N-metil-N-(2-hidroxietil)sulfonilfenilmaleimida.
O mecanismo proposto para esta reação baseia-se em duas etapas que
ocorrem simultaneamente. Na etapa A ocorre uma substituição nucleofílica e na
etapa B ocorre uma adição à dupla ligação.
O mecanismo proposto para esta reação está demonstrado na figura 25, já o
rendimento, ponto de fusão e o Rf, estão na tabela 4.
53
Figura 23 – Proposta do mecanismo de reação para obtenção da MF04.
NHCH3 OHN
O
O
S
O
O
Cl
N
O
O
S
O
O
N
CH3
OH
N
CH3
OH
Tetrahidrofurano
Agitação
..
NCH
-
O
O
S
O-
O Cl
NH+
CH3
OHNH
+
CH3
OH
N
O
O
S
O
O
N
CH3
OH
N+
CH3
OH
H
Etapa A
Etapa B
- HCl
Tabela 4 – Rendimento, ponto de fusão e Rf da MF04.
Rendimento Ponto de fusão Rf
43% 169-170ºC 0,63 (CHCl3:MeOH – 50:50)
No espectro de ressonância magnética nuclear de hidrogênio (Figura 26), é
possível observar dois simpletos, um em 2,291ppm, referente a metila ligada ao
nitrogênio ligado ao anel succinimidico, e outro em 2,680 ppm, referente a metila
ligado ao nitrogênio ligado ao átomo de enxofre. Já a região de 7,689 a 7,811 ppm,
apresenta um duplo dupleto, característico de um anel aromático para substituído.
54
Já no espectro de ressonância magnética nuclear de carbono (Figura 27), os
sinais em 35,678 e 37,484 referem-se aos carbonos das metilas e os sinais em
169,382 e 169,873 fazem referência aos carbonos das carbonilas. Os demais sinais
menos desblindados referem-se aos metilenos e o metino da molécula e os mais
desblindados, aos carbonos do anel aromático para substituído.
N
O
O
S
O
O
N
CH3
OH
N
CH3
OH
Figura 24 – Espectro de RMN 1H (CDCl3,300 MHz) da MF04.
55
Paralelamente às sínteses que deram origem ao núcleo maleimídico, foi
realizada a reação entre o 4-fluorbenzaldeído e a tiazolidinodiona para obtenção da
(5Z)-5-(4-fluorobenzilideno)-1,3-tiazolidino-2,4-diona (MF05), denominada
condensação de Knoevenagel segundo Gaonkar e Shimizu (2010).
O mecanismo proposto desta reação está demonstrado na figura 28, já o
rendimento, ponto de fusão e o Rf, estão na tabela 5.
N
O
O
S
O
O
N
CH3
OH
N
CH3
OH
Figura 25 – Espectro de RMN 13C (CDCl3,75 MHz) da MF04.
56
Figura 26 – Proposta de mecanismo de reação para obtenção da MF05.
F
O
H+ NHS
O
O
PiperidinaÁcido Acético
ToluenoRefluxo
NH
..
CH3 OH
O
NH
CH-
S
O
O
F
O
H
NHS
O
O
F
O-
H
NH2+
NHS
O
O
F
OH
HH+
NHS
O
O
F
OH2
+
H H
NHS
O
OF
- H+
- H20
Tabela 5 – Rendimento, ponto de fusão e Rf da MF05.
Rendimento Ponto de fusão Rf (CHCl3:MeOH – 90:10)
67,8% 130-131ºC 0,3
No espectro de ressonância magnética nuclear de 1H (Figura 29) é possível
observar um simpleto em 4,14 ppm referente ao hidrogênio ligado ao átomo de
nitrogênio, em 7,79 ppm outro simpleto indicativo do hidrogênio da dupla ligação
entre o anel da TZD e o anel aromático p-substituído e os sinais entre 7,68 e 7,34
ppm sugestivos dos hidrogênios do anel aromático.
57
Figura 27 – Espectro de RMN 1H (DMSO,300 MHz) da MF05.
Já no espectro de RMN de 13C (Figura 30) são observados dois simpletos em
167,8 e 167,4ppm referentes aos carbonos das carbonilas, em 123,3ppm um
simpleto indicativo do carbono da dupla ligação e os sinais em 161,2ppm e em 133,4
a 116,3ppm sugestivos dos carbonos do anel aromático que sofrem acoplamento
devido a presença do átomo de flúor ligado na posição para no anel aromático.
NHS
O
OF
58
NHS
O
OF
Figura 28 – Espectro de RMN 13C (CDCl3,300 MHz) da MF05.
59
6 CONCLUSÕES
Com os resultados obtidos é possível concluir que os intermediários
reacionais sintetizados, Ácido N-fenilmaleâmico, N-fenilmaleimida, N-p-
clorosulfonilfenilmaleimida, N-metil-N-(2-hidroxietil)sulfonilfenil-3-N-metil-N-(2-
hidroxietil)succinimida, (5Z)-5-(4- fluorobenzilideno)-1,3- tiazolidina-2,4-diona,
obtiveram rendimento de 97,88%, 75,45%, 94,80%, 43%, 67,8%, respectivamente e
foram caracterizados através de espectros de ressonância magnética nuclear de 1H,
de 13C e alguns complementados com espectros de infravermelho.
Resultados inesperados foram encontrados como a síntese do composto
MF04, já que a princípio era esperada a síntese do composto N-metil-N-(2-
hidroxietil)sulfonilfenilmaleimida, mas que pode gerar novos protótipos de interesse
terapêutico.
A continuidade dos estudos se faz necessário, visto que os dados
epidemiológicos da DM mostram que os números de pacientes diagnosticados com
a patologia vêm aumentando ano a ano e a Rosiglitazona é o fármaco com maior
efeito terapêutico desta classe medicamentosa.
Como sugestão para verificar a atividade antihiperglicêmica do composto
sintetizado, futuramente deverão ser realizados testes biológicos.
60
61
REFERÊNCIAS
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