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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA
CAMPUS III
CENTRO DE HUMANIDADES
CURSO DE GRANDUACcedilAtildeO LICENCIATURA PLENA EM HISTOacuteRIA
PAULO RICARDO PORPINO DA CRUZ
Memoacuteria construiacuteda e repensada sobre o municiacutepio de Caiccedilara
GUARABIRA - PB
2015
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PAULO RICARDO PORPINO DA CRUZ
Memoacuteria construiacuteda e repensada sobre o municiacutepio de Caiccedilara
Trabalho de Conclusatildeo de Curso apresentado
ao Curso de Graduaccedilatildeo Licenciatura Plena
em Histoacuteria da Universidade Estadual da
Paraiacuteba em cumprimento agrave exigecircncia para
obtenccedilatildeo do grau BacharelLicenciado em
Histoacuteria
Orientador Profordf Drordf Naiara Ferraz bandeira
Alves
GUARABIRA - PB
2015
3
NOME DO ALUNO
C955m CRUZ Paulo Ricardo Porpino da
Memoacuteria Construiacuteda e Repensada Sobre o Municiacutepio de Caiccedilara [manuscrito] Paulo Ricardo Porpino da Cruz ndash 2015 20p
Digitado
Trabalho de Conclusatildeo de Curso (Graduaccedilatildeo em Histoacuteria) ndashUniversidade Estadual da Paraiacuteba Centro de Humanidades 2015
ldquoOrientaccedilatildeo profa Ms Naiara Ferraz Bandeira Alves Departamento de Histoacuteriardquo
1Hisoriografia 2 Memoacuteria 3 Homem Negro I Tiacutetulo 21 Ed CDD 900
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RESUMO
A marginalizaccedilatildeo do negro no decorrer da histoacuteria eacute visivelmente observada em seus diversos
aspectos Nessa perspectiva buscamos verificar se no municiacutepio de Caiccedilara foi erguida
alguma Irmandade Entretanto natildeo encontramos a documentaccedilatildeo necessaacuteria para
comprovaccedilatildeo No entanto a analise do livro da histoacuteria local do municiacutepio nos permitiram
detectar a preocupaccedilatildeo do autor em desvincular a contribuiccedilatildeo do homem de cor na sociedade
caiccedilarense O presente ensaio tem como objetivo reconstruir essa ideia deturpada que foi
criada no transcorrer do tempo no tocante aos negros A base teoacuterica que sustenta este artigo
satildeo os pressupostos teoacutericos de Reis(1999) Certeau (2002) e outros Atraveacutes de vestiacutegios e
indiacutecios que eacute o trabalho do historiador buscar nos escombros aquilo que estava escondido
este trabalho faz uma releitura na tentativa de evidenciara importacircncia do negro nas mais
diversas aacutereas da cultura do povo Caiccedilarense seja nas crendices na musicalidade nos haacutebitos
diaacuterios na religiosidade diversificada existente neste povoado
PALAVRAS ndash CHAVE Negro Marginalizaccedilatildeo Religiosidade
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Memoacuteria construiacuteda e repensada sobre o municiacutepio de Caiccedilara
Paulo Ricardo
ldquoA histoacuteria eacute necessariamente escrita e reescrita a partir das
posiccedilotildees do presente lugar da problemaacutetica da pesquisa e do sujeito
que a realizardquo (REIS 1999 p9)
INTRODUCcedilAtildeO
Ao iniciarmos nossa pesquisa tiacutenhamos a pretensatildeo de estudar diretamente a presenccedila
de Irmandades Negras no municiacutepio de Caiccedilara1 como uma forma de resgatar a Histoacuteria dos
homens Negros da regiatildeo destacando suas formas de resistecircncia ao processo escravocrata
Contudo apoacutes algumas pesquisas nos deparamos com a falta de fontes documentais ou
mesmo orais que abordassem a temaacutetica Natildeo haacute registro da participaccedilatildeo do homem de cor na
formaccedilatildeo do culto catoacutelico da regiatildeo Dessa forma encontramos o problema a ser resolvido
ou pelo menos levantado atraveacutes de nossas investigaccedilotildees Onde encontrar as personagens
negras e suas colaboraccedilotildees na construccedilatildeo da Histoacuteria Local do Municiacutepio de Caiccedilara
Na principal fonte atualizada sobre a Histoacuteria do Municiacutepio haacute uma negaccedilatildeo
veemente sobre a contribuiccedilatildeo do homem de cor no cenaacuterio religioso local No livro Caiccedilara
Caminhos de Almocreves (1990) o autor Severino Ismael procura desvincular a participaccedilatildeo
do negro na construccedilatildeo do espaccedilo religioso daquele povoado ldquoO iacutendio e o negro quase que
natildeo tiveram influencia na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo caiccedilarenserdquo p 153
Essa eacute apenas uma das afirmativas feitas pelo autor com o intuito de negar a
contribuiccedilatildeo do homem de cor neste cenaacuterio local Ao analisamos o livro percebemos que o
autor Severino Ismael tenta excluir de todas as maneiras a presenccedila de elementos africanos
na construccedilatildeo do culto catoacutelico da regiatildeo Nossa pesquisa discute os elementos textuais da
obra escrita sob a perspectiva de historiografia apresentada por Certeau (2002) Desse modo a
historiografia eacute utilizada para definir os estudos criacuteticos acerca de um tema ou periacuteodo
1 Caiccedilarasup1 - eacute um municiacutepio brasileiro localizado na microrregiatildeo de Guarabira mesorregiatildeo do agreste
paraibano do estado da Paraiacuteba Sua populaccedilatildeo em 2013 foi estimada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 7304 habitantes distribuiacutedos em 128 kmsup2 de aacuterea distacircncia ateacute a
capital 143 km
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referente agrave histoacuteria buscando-se encontrar explicaccedilotildees para os fatos do passado natildeo
constituindo verdades objetivas que traduzem a realidade tal como ocorreu mas como
construccedilotildees humanas que representam partes de uma realidade
Nessa linha de abordagem Certeau (2002) em seu livro A Escrita da Histoacuteria
compreende as caracteriacutesticas do trabalho do historiador fazendo referecircncia ao tripeacute da
operaccedilatildeo historiograacutefica ldquoum lugar social uma praacutetica uma escritardquo (p66)
O historiador tem a funccedilatildeo de dar voz ao natildeo dito atribuindo sentido a um determinado
acontecimento Segundo Certeau (2002) a pesquisa em histoacuteria se faz a partir de um lugar
socioeconocircmico poliacutetico e cultural Eacute importante considerar que o lugar que o autor cita estaacute
ligado agrave relaccedilatildeo que o historiador manteacutem com o lugar que se encontra uma vez que este natildeo
eacute mais um colecionador de fatos e sim um construtor recortador leitor e inteacuterprete de
processos histoacutericos buscando possibilidades hipoacuteteses de abordagem ligadas as suas
preocupaccedilotildees especiacuteficas ou seja trocando ideias e informaccedilotildees com outros saberes e
sujeitos
O historiador tem o tempo como ldquomaterial de anaacuteliserdquo ou como ldquoobjeto
especiacuteficordquo Trabalha de acordo com os seus meacutetodos os objetos fiacutesicos
(papeacuteis pedras imagens sons etc) Trabalha sobre um material para
transformaacute-lo em histoacuteria(CERTEAU 2002 p79)
Certeau (2002) afirma ainda que a anaacutelise historiograacutefica eacute um exerciacutecio de
problematizaccedilatildeo um campo aberto a inuacutemeras possibilidades e ao intenso diaacutelogo o que
permite essa amplitude de objetos e tipos de fontes a partir de metodologias que a histoacuteria
pode apresentar em diversificados campos do saber Coloca que a operaccedilatildeo historiograacutefica
natildeo estaacute somente relacionada a um lugar a uma praacutetica mas tambeacutem a uma escrita ou seja a
historiografia eacute construiacuteda por meio do discurso documental Portanto todo conhecimento
historiograacutefico eacute construiacutedo o que nos permite sempre trazer novas discussotildees a respeito da
anaacutelise do ldquopassadordquo
Sob esta perspectiva de construccedilatildeo a partir do seu lugar social eacute que podemos refletir
sobre os motivos e as intenccedilotildees de desvincular a praacutetica da religiatildeo catoacutelica em Caiccedilara da
presenccedila negra e indiacutegena nesta sociedade
ldquoA religiatildeo mesmo praticada por todos era a catoacutelica romana Nem os cultos
negros ndash o que evidencia a pequena participaccedilatildeo do elemento negro na etnia
local marcaram presenccedila na comunidade Os ritos as festas as preces tudo
era vinculado ao catolicismordquo (COSTA 1990 p 153)
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Esta negaccedilatildeo aleacutem de refletir perspectiva de discriminaccedilatildeo racial destaca a
necessidade da Igreja Catoacutelica de apagar da memoacuteria histoacuterica natildeo apenas a presenccedila do
homem de cor mas muito aleacutem disso a possibilidade do espaccedilo de culto catoacutelico ou seja a
Igreja pertencer ou ter pertencido nominalmente a uma irmandade Isto significa que o
preacutedio em si e suas propriedades economicamente natildeo eram da Igreja mas de leigos que a
construiacuteram e doaram tudo o que estava ao seu redor e no seu interior Haacute uma real atividade
da Igreja de tentar apagar desconstruir camuflar as atividades das irmandades em especial
das que eram compostas por homens de cor
MUITO ALEacuteM DA ESCRITA E DA MEMOacuteRIA UMA CONSTRUCcedilAtildeO
O autor Severino Ismael da Costa publicou seu texto Caiccedilara caminhos de
almocreves na deacutecada de 90 do seacuteculo XX um periacuteodo de movimentaccedilatildeo poliacutetica vinculada
aos processos de municipalizaccedilatildeo que vinham ocorrendo no Estado da Paraiacuteba desde os anos
70 do mesmo seacuteculo Aliado a accedilatildeo poliacutetica de transformar em municiacutepio as vilas lugarejos e
aacutereas rurais do Estado era necessaacuteria a construccedilatildeo histoacuteria e descriccedilatildeo dos principais eventos
destas regiotildees Assim temos uma linha de escrita historiograacutefica estritamente vinculada a este
processo Constroacutei-se um municiacutepio consequentemente se constroacutei uma histoacuteria
O importante eacute identificar nestes textos em grande parte encomendados ou ao
menos financiados pelas elites locais o tipo de histoacuteria escrita e pensada assim como satildeo
escolhidos os personagens deste percurso A obra que analisamos natildeo foge a estas
caracteriacutesticas jaacute que recebeu apoio dos poliacuteticos locais na eacutepoca que foi publicada Nas
primeiras paacuteginas encontramos homenagens e agradecimentos agraves pessoas e personagens
ilustres da cidade entre eles filhos da elite local que se formaram e exercem profissotildees
liberais respeitadas pela sociedade da eacutepoca e dos dias atuais
ldquo HOMENAGEM Agrave CULTURA
Paraibana na presenccedila de um grande vulto
Prof JOSEacute OCTAacuteVIO DE ARRUDA MELO
Caiccedilarense representada por seus filhos
D Epaminondas Joseacute de Arauacutejo emeacuterito bispo da Igreja Catoacutelica de quem natildeo
me faltou estiacutemulo de conterracircneo
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Prof Joseacute Jackson Carneiro de Carvalho de quem recebi incentivo e ateacute desafio
Dr Walderedo Ismael de Oliveira meacutedico de renome internacional escritor
especializado modesto e grande como sua terrardquo (COSTA 1990 p13)
O autor inicia seu texto se referindo as ldquograndesrdquo personalidades de sua cidade tendo
o cuidado de anteriormente ter agradecido aos prefeitos da eacutepoca Haacute a presenccedila dos nomes e
sobrenomes de destaque da cidade representantes da Igreja Catoacutelica de meacutedicos professores
e jornalistas
Em seguida descreve a histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade e de sua municipalizaccedilatildeo desta
a participaccedilatildeo do iacutendio que junto ao portuguecircs seriam os grandes responsaacuteveis pela formaccedilatildeo
desta sociedade mas afirma que o negro teve pouca atuaccedilatildeo ldquonatildeo haacute grande presenccedila do
elemento negro a natildeo ser na zona dos engenhos no dorso da serra onde precisaram do
escravo para tocar o trabalhordquo (COSTA 1990 p 69) apesar de ter sido escrito nos anos 90
do seacuteculo XX o texto tem uma preocupaccedilatildeo oitocentista de esconder a presenccedila negra
minimizando sua participaccedilatildeo nas atividades econocircmicas A impossibilidade de simplesmente
omitir esta inserccedilatildeo dos homens negros na sociedade de Caiccedilara faz com que seu texto e sua
fala se tornem contraditoacuterios no sentido de que afirma natildeo ter existido uma participaccedilatildeo
negra mas ao mesmo tempo destaca o lugar social ocupado por esta etnia
Muito de sua escrita positivista eacute explicado pelas fontes selecionadas pelo autor
Textos tradicionais sobre a Histoacuteria da Paraiacuteba escritos no iniacutecio do seacuteculo XX em especial
os escritos de Horaacutecio de Almeida se dando ao trabalho de apenas transferir as ideias destes
sem realizar uma revisatildeo ou criacutetica historiograacutefica Isso fica latente ao reproduzir a expressatildeo
Tapuia como sinocircnimo de baacuterbaro E destacar figuras heroicas entre os indiacutegenas que de
alguma forma se aliaram aos conquistadores nos empreendimentos de colonizaccedilatildeo
Outro ponto que nos chama a atenccedilatildeo eacute a necessidade de sempre referecircnciar as fontes
em geral documentais ou historiograacuteficas e ao mesmo tempo questionaacute-las e ateacute discordar de
dados e apontamentos que se distanciam de uma preocupaccedilatildeo com o processo histoacuterico mas
se relaciona diretamente com uma narrativa positivista como por exemplo ao investigar e
averiguar quem teria sido o primeiro morador de Caiccedilara Segundo Coriolano de Medeiros e
Luiz Pinto teria sido ldquoJoseacute de abreu Cordeiro em 1776 contudo verificou ser na realidade
Raphael de Carvalho em 1615rdquo (COSTA 1990 p 85)
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O povoado surge a partir da construccedilatildeo de casa de morada capela e currais agrave margem
direita do rio Curimatauacute em 1822 por Manoel Soares da Costa A capela tinha por invocaccedilatildeo
Nossa Senhora do Rosaacuterio Como a maioria dos municiacutepios da regiatildeo seu desenvolvimento
pode ser vinculado ao estabelecimento da feira Uma particularidade citada e destacada pelo
autor satildeo as disputas poliacuteticas entre Caiccedilara e o Municiacutepio de Serra da Raiz que levam os
dois lugarejos a encontrar formas de se destacarem um em relaccedilatildeo ao outro Por exemplo
menciona que a criaccedilatildeo em 1870 da Freguesia de N S do Bom Fim cuja sede eacute a Serra da
Raiz ( instituiccedilatildeo que tornava Caiccedilara subordinada nas questotildees religiosas em relaccedilatildeo agrave Serra
da Raiz) segundo o autor a animosidade poliacutetico-administrativa entre os lugarejos se
desenvolveu a partir da introduccedilatildeo da feira livre em Caiccedilara jaacute que a mesma se tornou uma
forte concorrente para os ldquobarracotildeesrdquo instalados nos engenhos da Serra da Raiz assim a feira
poderia promover uma mudanccedila social que natildeo interessava aos poliacuteticos daquela regiatildeo
Passa a destacar os poliacuteticos de Caiccedilara nomeando-os ateacute o seacuteculo XX o que se
configura como um importante registro para a histoacuteria local assim como toda a obra de
Severino Ismael da Costa (1990) contudo ainda necessitando de uma anaacutelise do processo
histoacuterico e de suas etapas O fato que o autor levanta vaacuterios pontos desta histoacuteria que devem
ser estudados um dia e provavelmente iratildeo partir e se referir a sua obra que tem como
destaque o trabalho de levantamento de dados e fontes para os proacuteximos historiadores que se
dedicarem a Historia desta regiatildeo Nossas observaccedilotildees se referem a ideia de ausecircncia de
contribuiccedilatildeo do homem negro na constituiccedilatildeo soacutecioreligiosa desta localidade
Mais uma vez o autor busca formas de desvincular a participaccedilatildeo dos negros na
histoacuteria religiosa local A obra Caiccedilara Caminhos de Almocreves estaacute repleta destas
argumentaccedilotildees acerca do homem de cor
O objetivo inicial desta pesquisa era de buscar indiacutecios em Livros de Tombo e
documentos religiosos a contribuiccedilatildeo do negro na religiosidade local Tendo em vista que natildeo
soacute no municiacutepio de Caiccedilara mas tambeacutem em todo o territoacuterio brasileiro houve uma
marginalizaccedilatildeo da imagem do homem de cor ou seja uma tentativa de deixar a margem da
sociedade uma figura que se faz tatildeo importante para adentrarmos no imaginaacuterio religioso do
povo brasileiro
Contudo o livro de Tombo analisado natildeo nos forneceu as informaccedilotildees necessaacuterias
para afirmamos que houve uma irmandade negra no municiacutepio de Caiccedilara Mas para
buscarmos indiacutecios e vestiacutegios da contribuiccedilatildeo do negro nestes locais faremos uma analise
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minuciosa da obra contrapondo com elementos existentes na proacutepria igreja local na tentativa
de trazer a luz questotildees que foram estabelecidas pelo autor Severino Ismael como verdades
prontas e absolutas Os possiacuteveis indiacutecios e vestiacutegios satildeo elementos de fundamental
importacircncia para este trabalho
Entre estes vestiacutegios destacamos a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no altar
central da Igreja matriz de Caiccedilara (apesar da referecircncia direta agrave fundaccedilatildeo da cidade nos eacute
intrigante a escolha desta padroeira por seus fundadores) Jaacute que este culto agrave Senhora do
Rosaacuterio no Brasil ficou diretamente vinculado ao culto catoacutelico negro atraveacutes das
irmandades podendo dessa forma ser considerado um elemento da cultura africana no
espaccedilo religioso local Abaixo foto da Imagem tirada em 06 de Janeiro de 2014 Durante os
preparativos para a procissatildeo da Padroeira que se comemora nesta data no municiacutepio de
Caiccedilara
Ilustraccedilatildeo 1 Imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no andor
12
Foto Ricardo (2014)
Eacute evidente que os diversos escravos africanos desembarcados no Brasil contribuiriam
de forma significativa para a construccedilatildeo territorial e religiosa do paiacutes jaacute que participaram
diretamente da formaccedilatildeo da sociedade brasileira seja no trabalho nos engenhos de produccedilatildeo
de cana de accediluacutecar nas lavouras do cafeacute na extraccedilatildeo do ouro entre outros Ao desembarcarem
nessas terras trouxeram consigo seus costumes liacutenguas valores e crenccedilas Aqui encontraram
as mais diversas dificuldades de praticar sua cultura ou seja cultuar suas divindades e
costumes
O DESENVOLVIMENTO DAS PRAacuteTICAS RELIGIOSAS OFICIAIS NA CIDADE
DE CAICcedilARA-PB
A presenccedila do Catolicismo caiccedilarense estaacute inteiramente ligada ao seu periacuteodo de
fundaccedilatildeo que se deu por volta do ano de 1822 quando Manoel Soares da Costa instalou sua
fazenda e ergueu uma capela as margens do Rio Curimatauacute ldquoO povoamento da encantadora
Villa de Caiccedilara segundo informes de pessoas competentes teve logar no ano de 1822rdquo
Onde ldquoFoi edificada uma pequena capella sob a invocaccedilatildeo de NS do Rosaacuterio ()rdquo
ARAUacuteJO (1913)
Como aconteceu no Brasil e consequentemente na Paraiacuteba de uma forma em geral o
processo de povoamento oficial das regiotildees afastadas do litoral assim como o proacuteprio litoral
teve sua conquista e povoamento acompanhado da praacutetica religiosa oficial dos exploradores o
catolicismo A presenccedila da capela de Nossa Senhora do Rosaacuterio no povoamento que
futuramente seria denominado como municiacutepio de caiccedilara eacute um fato indiscutiacutevel pelos
historiadores e narradores de uma forma geral do Mito de fundaccedilatildeo da cidade ocorrendo
uma discussatildeo historiograacutefica agrave respeito do ano desta fundaccedilatildeo Epaminondas Tavares de
Arauacutejo afirma ter sido no ano de 1822 Entretanto Coriolano de Medeiros (em seu
ldquoDicionaacuterio Chorograacuteficordquo 1914) aponta o ano de 1841 como o da fundaccedilatildeo da Villa de
Caiccedilara
13
ldquoEm 1841 o terreno onde hoje eacute a sede do municiacutepio cobria-se ainda
cactos e bromeacutelias quando Manoel Soares da Costa Francisco da Costa
Gonccedilalves e Joseacute Vicente compraram a propriedade construiacuteram suas
vivendas e cercados de ramos ndash caiccedilaras ndash para abrigo do gado Depois
ergueram uma capella dedicada a NS do Rosaacuterio rdquo
Entretanto O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) aceita o uacuteltimo
como sendo o ano de fundaccedilatildeo Entre a populaccedilatildeo a informaccedilatildeo tida com maior aprovaccedilatildeo eacute
ano de 1822 Isto porque a sesmaria que Luiacutes Soares de Mendonccedila adquiriu natildeo foi no ano de
1822 como relatou Coriolano de Medeiros em seus estudos e sim no ano de 1788 registrada
sob nordm 891 por meio de documentos oficiais
Todavia a divergecircncia acerca do ano de fundaccedilatildeo ocorreu pelo fato de que a criaccedilatildeo da
feira ocorreu no ano de 1841 e o mesmo seria o marco do crescimento e da concentraccedilatildeo
urbana O que observamos em comum em ambas as citaccedilotildees eacute que o Catolicismo fecundava a
Villa de Caiccedilara desde sua fundaccedilatildeo Pois a construccedilatildeo da Capella eacute vista em todos os
registros sobre a origem deste povoado Os autores oficiais e tradicionais da histoacuteria de
fundaccedilatildeo da Villa de Caiccedilara discorrem ainda sobre a origem de sua denominaccedilatildeo segundo
Coriolano de Medeiros e Epaminondas Tavares o nome Caiccedilara proveacutem dos currais Fala
Epaminondas ldquoA denominaccedilatildeo de Caiccedilara proveacutem de um curral de pau-a-pique construiacutedo
por Manoel Soares nas proximidades de sua casardquo (p108)
O CATOLICISMO CAICcedilARENSE
De acordo com a visatildeo positivista e as fontes oficiais o iacutendio e o negro pouco
contribuiacuteram na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo Caiccedilarense segundo Severino Ismael
da Costa em seu livro ldquoCaiccedilara Caminhos de Almocrevesrdquo (1990) Ainda de acordo com o
mesmo o imaginaacuterio da populaccedilatildeo local contribuiu de maneira bastante significativa para o
florescimento da religiatildeo Catoacutelica que veio a ser praticada na Villa de Caiccedilara
Nesta mesma perspectiva as fontes oficias da Igreja em pauta tentam nos mostrar que
a participaccedilatildeo do negro no acircmbito religioso teve pouco significado Os ritos as festas as
preces tudo era vinculado ao catolicismo No periacuteodo da posse da terra quando o branco
erguia sua morada edificava tambeacutem junto ou nas proximidades uma capela onde eram
celebrados os atos religiosos e realizadas as festas Destas eram as mais comuns O Natal
14
Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo
saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais
conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da
quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito
cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um
gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo
se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas
rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os
moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave
missa com os seus familiares e agregados
MEcircS DE MAIO
Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas
capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a
tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em
volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens
de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar
o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites
era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees
O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas
A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA
A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob
a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas
de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas
No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a
aacuterea destinada a capela
15
ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer
faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas
construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro
pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)
A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um
pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria
desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor
Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves
Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas
paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de
comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura
e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A
frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina
No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por
Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa
das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo
o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois
sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos
inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os
adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que
havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e
repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do
templo
Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes
da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do
altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior
doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa
Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores
O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs
nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra
de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
16
Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os
altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares
construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a
Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da
igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios
provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a
igreja ganhou mais uma torre na fachada
A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO
As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber
a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta
regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as
terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros
separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia
outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os
fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em
comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o
povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a
padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar
ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo
outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica
a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro
Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o
nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do
Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca
A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de
casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro
17
da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra
do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa
ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem
Graccedilas agrave Virgem Mariardquo
(Paacuteg 36)
A FESTA
Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro
realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas
e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local
Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura
importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder
bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro
diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento
Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica
local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento
acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre
outros
18
CONCLUSAtildeO
O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de
Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa
afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da
histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e
vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os
questionamentos pertinentes a nossa pesquisa
Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor
procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de
proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do
espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do
mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local
Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem
enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na
tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto
na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local
O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de
Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como
vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo
da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG
para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como
elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos
O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de
Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na
sua obra
Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos
obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e
acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e
19
marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a
qualquer coisa
ABSTRACT
The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects
From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some
Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the
analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors
concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to
reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The
theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)
Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search
the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of
black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in
daily habits the existing diverse religiosity in this town
KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity
20
REFEREcircNCIAS
ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do
seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006
ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913
BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das
Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971
BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em
Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986
COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed
Micrograacutefica 1990
FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de
economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002
HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo
Petroacutepolis Vozes 1991
JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas
irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior
Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006
MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)
QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos
no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002
RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz
Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005
Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)
httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE
1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs
2
PAULO RICARDO PORPINO DA CRUZ
Memoacuteria construiacuteda e repensada sobre o municiacutepio de Caiccedilara
Trabalho de Conclusatildeo de Curso apresentado
ao Curso de Graduaccedilatildeo Licenciatura Plena
em Histoacuteria da Universidade Estadual da
Paraiacuteba em cumprimento agrave exigecircncia para
obtenccedilatildeo do grau BacharelLicenciado em
Histoacuteria
Orientador Profordf Drordf Naiara Ferraz bandeira
Alves
GUARABIRA - PB
2015
3
NOME DO ALUNO
C955m CRUZ Paulo Ricardo Porpino da
Memoacuteria Construiacuteda e Repensada Sobre o Municiacutepio de Caiccedilara [manuscrito] Paulo Ricardo Porpino da Cruz ndash 2015 20p
Digitado
Trabalho de Conclusatildeo de Curso (Graduaccedilatildeo em Histoacuteria) ndashUniversidade Estadual da Paraiacuteba Centro de Humanidades 2015
ldquoOrientaccedilatildeo profa Ms Naiara Ferraz Bandeira Alves Departamento de Histoacuteriardquo
1Hisoriografia 2 Memoacuteria 3 Homem Negro I Tiacutetulo 21 Ed CDD 900
4
5
RESUMO
A marginalizaccedilatildeo do negro no decorrer da histoacuteria eacute visivelmente observada em seus diversos
aspectos Nessa perspectiva buscamos verificar se no municiacutepio de Caiccedilara foi erguida
alguma Irmandade Entretanto natildeo encontramos a documentaccedilatildeo necessaacuteria para
comprovaccedilatildeo No entanto a analise do livro da histoacuteria local do municiacutepio nos permitiram
detectar a preocupaccedilatildeo do autor em desvincular a contribuiccedilatildeo do homem de cor na sociedade
caiccedilarense O presente ensaio tem como objetivo reconstruir essa ideia deturpada que foi
criada no transcorrer do tempo no tocante aos negros A base teoacuterica que sustenta este artigo
satildeo os pressupostos teoacutericos de Reis(1999) Certeau (2002) e outros Atraveacutes de vestiacutegios e
indiacutecios que eacute o trabalho do historiador buscar nos escombros aquilo que estava escondido
este trabalho faz uma releitura na tentativa de evidenciara importacircncia do negro nas mais
diversas aacutereas da cultura do povo Caiccedilarense seja nas crendices na musicalidade nos haacutebitos
diaacuterios na religiosidade diversificada existente neste povoado
PALAVRAS ndash CHAVE Negro Marginalizaccedilatildeo Religiosidade
6
Memoacuteria construiacuteda e repensada sobre o municiacutepio de Caiccedilara
Paulo Ricardo
ldquoA histoacuteria eacute necessariamente escrita e reescrita a partir das
posiccedilotildees do presente lugar da problemaacutetica da pesquisa e do sujeito
que a realizardquo (REIS 1999 p9)
INTRODUCcedilAtildeO
Ao iniciarmos nossa pesquisa tiacutenhamos a pretensatildeo de estudar diretamente a presenccedila
de Irmandades Negras no municiacutepio de Caiccedilara1 como uma forma de resgatar a Histoacuteria dos
homens Negros da regiatildeo destacando suas formas de resistecircncia ao processo escravocrata
Contudo apoacutes algumas pesquisas nos deparamos com a falta de fontes documentais ou
mesmo orais que abordassem a temaacutetica Natildeo haacute registro da participaccedilatildeo do homem de cor na
formaccedilatildeo do culto catoacutelico da regiatildeo Dessa forma encontramos o problema a ser resolvido
ou pelo menos levantado atraveacutes de nossas investigaccedilotildees Onde encontrar as personagens
negras e suas colaboraccedilotildees na construccedilatildeo da Histoacuteria Local do Municiacutepio de Caiccedilara
Na principal fonte atualizada sobre a Histoacuteria do Municiacutepio haacute uma negaccedilatildeo
veemente sobre a contribuiccedilatildeo do homem de cor no cenaacuterio religioso local No livro Caiccedilara
Caminhos de Almocreves (1990) o autor Severino Ismael procura desvincular a participaccedilatildeo
do negro na construccedilatildeo do espaccedilo religioso daquele povoado ldquoO iacutendio e o negro quase que
natildeo tiveram influencia na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo caiccedilarenserdquo p 153
Essa eacute apenas uma das afirmativas feitas pelo autor com o intuito de negar a
contribuiccedilatildeo do homem de cor neste cenaacuterio local Ao analisamos o livro percebemos que o
autor Severino Ismael tenta excluir de todas as maneiras a presenccedila de elementos africanos
na construccedilatildeo do culto catoacutelico da regiatildeo Nossa pesquisa discute os elementos textuais da
obra escrita sob a perspectiva de historiografia apresentada por Certeau (2002) Desse modo a
historiografia eacute utilizada para definir os estudos criacuteticos acerca de um tema ou periacuteodo
1 Caiccedilarasup1 - eacute um municiacutepio brasileiro localizado na microrregiatildeo de Guarabira mesorregiatildeo do agreste
paraibano do estado da Paraiacuteba Sua populaccedilatildeo em 2013 foi estimada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 7304 habitantes distribuiacutedos em 128 kmsup2 de aacuterea distacircncia ateacute a
capital 143 km
7
referente agrave histoacuteria buscando-se encontrar explicaccedilotildees para os fatos do passado natildeo
constituindo verdades objetivas que traduzem a realidade tal como ocorreu mas como
construccedilotildees humanas que representam partes de uma realidade
Nessa linha de abordagem Certeau (2002) em seu livro A Escrita da Histoacuteria
compreende as caracteriacutesticas do trabalho do historiador fazendo referecircncia ao tripeacute da
operaccedilatildeo historiograacutefica ldquoum lugar social uma praacutetica uma escritardquo (p66)
O historiador tem a funccedilatildeo de dar voz ao natildeo dito atribuindo sentido a um determinado
acontecimento Segundo Certeau (2002) a pesquisa em histoacuteria se faz a partir de um lugar
socioeconocircmico poliacutetico e cultural Eacute importante considerar que o lugar que o autor cita estaacute
ligado agrave relaccedilatildeo que o historiador manteacutem com o lugar que se encontra uma vez que este natildeo
eacute mais um colecionador de fatos e sim um construtor recortador leitor e inteacuterprete de
processos histoacutericos buscando possibilidades hipoacuteteses de abordagem ligadas as suas
preocupaccedilotildees especiacuteficas ou seja trocando ideias e informaccedilotildees com outros saberes e
sujeitos
O historiador tem o tempo como ldquomaterial de anaacuteliserdquo ou como ldquoobjeto
especiacuteficordquo Trabalha de acordo com os seus meacutetodos os objetos fiacutesicos
(papeacuteis pedras imagens sons etc) Trabalha sobre um material para
transformaacute-lo em histoacuteria(CERTEAU 2002 p79)
Certeau (2002) afirma ainda que a anaacutelise historiograacutefica eacute um exerciacutecio de
problematizaccedilatildeo um campo aberto a inuacutemeras possibilidades e ao intenso diaacutelogo o que
permite essa amplitude de objetos e tipos de fontes a partir de metodologias que a histoacuteria
pode apresentar em diversificados campos do saber Coloca que a operaccedilatildeo historiograacutefica
natildeo estaacute somente relacionada a um lugar a uma praacutetica mas tambeacutem a uma escrita ou seja a
historiografia eacute construiacuteda por meio do discurso documental Portanto todo conhecimento
historiograacutefico eacute construiacutedo o que nos permite sempre trazer novas discussotildees a respeito da
anaacutelise do ldquopassadordquo
Sob esta perspectiva de construccedilatildeo a partir do seu lugar social eacute que podemos refletir
sobre os motivos e as intenccedilotildees de desvincular a praacutetica da religiatildeo catoacutelica em Caiccedilara da
presenccedila negra e indiacutegena nesta sociedade
ldquoA religiatildeo mesmo praticada por todos era a catoacutelica romana Nem os cultos
negros ndash o que evidencia a pequena participaccedilatildeo do elemento negro na etnia
local marcaram presenccedila na comunidade Os ritos as festas as preces tudo
era vinculado ao catolicismordquo (COSTA 1990 p 153)
8
Esta negaccedilatildeo aleacutem de refletir perspectiva de discriminaccedilatildeo racial destaca a
necessidade da Igreja Catoacutelica de apagar da memoacuteria histoacuterica natildeo apenas a presenccedila do
homem de cor mas muito aleacutem disso a possibilidade do espaccedilo de culto catoacutelico ou seja a
Igreja pertencer ou ter pertencido nominalmente a uma irmandade Isto significa que o
preacutedio em si e suas propriedades economicamente natildeo eram da Igreja mas de leigos que a
construiacuteram e doaram tudo o que estava ao seu redor e no seu interior Haacute uma real atividade
da Igreja de tentar apagar desconstruir camuflar as atividades das irmandades em especial
das que eram compostas por homens de cor
MUITO ALEacuteM DA ESCRITA E DA MEMOacuteRIA UMA CONSTRUCcedilAtildeO
O autor Severino Ismael da Costa publicou seu texto Caiccedilara caminhos de
almocreves na deacutecada de 90 do seacuteculo XX um periacuteodo de movimentaccedilatildeo poliacutetica vinculada
aos processos de municipalizaccedilatildeo que vinham ocorrendo no Estado da Paraiacuteba desde os anos
70 do mesmo seacuteculo Aliado a accedilatildeo poliacutetica de transformar em municiacutepio as vilas lugarejos e
aacutereas rurais do Estado era necessaacuteria a construccedilatildeo histoacuteria e descriccedilatildeo dos principais eventos
destas regiotildees Assim temos uma linha de escrita historiograacutefica estritamente vinculada a este
processo Constroacutei-se um municiacutepio consequentemente se constroacutei uma histoacuteria
O importante eacute identificar nestes textos em grande parte encomendados ou ao
menos financiados pelas elites locais o tipo de histoacuteria escrita e pensada assim como satildeo
escolhidos os personagens deste percurso A obra que analisamos natildeo foge a estas
caracteriacutesticas jaacute que recebeu apoio dos poliacuteticos locais na eacutepoca que foi publicada Nas
primeiras paacuteginas encontramos homenagens e agradecimentos agraves pessoas e personagens
ilustres da cidade entre eles filhos da elite local que se formaram e exercem profissotildees
liberais respeitadas pela sociedade da eacutepoca e dos dias atuais
ldquo HOMENAGEM Agrave CULTURA
Paraibana na presenccedila de um grande vulto
Prof JOSEacute OCTAacuteVIO DE ARRUDA MELO
Caiccedilarense representada por seus filhos
D Epaminondas Joseacute de Arauacutejo emeacuterito bispo da Igreja Catoacutelica de quem natildeo
me faltou estiacutemulo de conterracircneo
9
Prof Joseacute Jackson Carneiro de Carvalho de quem recebi incentivo e ateacute desafio
Dr Walderedo Ismael de Oliveira meacutedico de renome internacional escritor
especializado modesto e grande como sua terrardquo (COSTA 1990 p13)
O autor inicia seu texto se referindo as ldquograndesrdquo personalidades de sua cidade tendo
o cuidado de anteriormente ter agradecido aos prefeitos da eacutepoca Haacute a presenccedila dos nomes e
sobrenomes de destaque da cidade representantes da Igreja Catoacutelica de meacutedicos professores
e jornalistas
Em seguida descreve a histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade e de sua municipalizaccedilatildeo desta
a participaccedilatildeo do iacutendio que junto ao portuguecircs seriam os grandes responsaacuteveis pela formaccedilatildeo
desta sociedade mas afirma que o negro teve pouca atuaccedilatildeo ldquonatildeo haacute grande presenccedila do
elemento negro a natildeo ser na zona dos engenhos no dorso da serra onde precisaram do
escravo para tocar o trabalhordquo (COSTA 1990 p 69) apesar de ter sido escrito nos anos 90
do seacuteculo XX o texto tem uma preocupaccedilatildeo oitocentista de esconder a presenccedila negra
minimizando sua participaccedilatildeo nas atividades econocircmicas A impossibilidade de simplesmente
omitir esta inserccedilatildeo dos homens negros na sociedade de Caiccedilara faz com que seu texto e sua
fala se tornem contraditoacuterios no sentido de que afirma natildeo ter existido uma participaccedilatildeo
negra mas ao mesmo tempo destaca o lugar social ocupado por esta etnia
Muito de sua escrita positivista eacute explicado pelas fontes selecionadas pelo autor
Textos tradicionais sobre a Histoacuteria da Paraiacuteba escritos no iniacutecio do seacuteculo XX em especial
os escritos de Horaacutecio de Almeida se dando ao trabalho de apenas transferir as ideias destes
sem realizar uma revisatildeo ou criacutetica historiograacutefica Isso fica latente ao reproduzir a expressatildeo
Tapuia como sinocircnimo de baacuterbaro E destacar figuras heroicas entre os indiacutegenas que de
alguma forma se aliaram aos conquistadores nos empreendimentos de colonizaccedilatildeo
Outro ponto que nos chama a atenccedilatildeo eacute a necessidade de sempre referecircnciar as fontes
em geral documentais ou historiograacuteficas e ao mesmo tempo questionaacute-las e ateacute discordar de
dados e apontamentos que se distanciam de uma preocupaccedilatildeo com o processo histoacuterico mas
se relaciona diretamente com uma narrativa positivista como por exemplo ao investigar e
averiguar quem teria sido o primeiro morador de Caiccedilara Segundo Coriolano de Medeiros e
Luiz Pinto teria sido ldquoJoseacute de abreu Cordeiro em 1776 contudo verificou ser na realidade
Raphael de Carvalho em 1615rdquo (COSTA 1990 p 85)
10
O povoado surge a partir da construccedilatildeo de casa de morada capela e currais agrave margem
direita do rio Curimatauacute em 1822 por Manoel Soares da Costa A capela tinha por invocaccedilatildeo
Nossa Senhora do Rosaacuterio Como a maioria dos municiacutepios da regiatildeo seu desenvolvimento
pode ser vinculado ao estabelecimento da feira Uma particularidade citada e destacada pelo
autor satildeo as disputas poliacuteticas entre Caiccedilara e o Municiacutepio de Serra da Raiz que levam os
dois lugarejos a encontrar formas de se destacarem um em relaccedilatildeo ao outro Por exemplo
menciona que a criaccedilatildeo em 1870 da Freguesia de N S do Bom Fim cuja sede eacute a Serra da
Raiz ( instituiccedilatildeo que tornava Caiccedilara subordinada nas questotildees religiosas em relaccedilatildeo agrave Serra
da Raiz) segundo o autor a animosidade poliacutetico-administrativa entre os lugarejos se
desenvolveu a partir da introduccedilatildeo da feira livre em Caiccedilara jaacute que a mesma se tornou uma
forte concorrente para os ldquobarracotildeesrdquo instalados nos engenhos da Serra da Raiz assim a feira
poderia promover uma mudanccedila social que natildeo interessava aos poliacuteticos daquela regiatildeo
Passa a destacar os poliacuteticos de Caiccedilara nomeando-os ateacute o seacuteculo XX o que se
configura como um importante registro para a histoacuteria local assim como toda a obra de
Severino Ismael da Costa (1990) contudo ainda necessitando de uma anaacutelise do processo
histoacuterico e de suas etapas O fato que o autor levanta vaacuterios pontos desta histoacuteria que devem
ser estudados um dia e provavelmente iratildeo partir e se referir a sua obra que tem como
destaque o trabalho de levantamento de dados e fontes para os proacuteximos historiadores que se
dedicarem a Historia desta regiatildeo Nossas observaccedilotildees se referem a ideia de ausecircncia de
contribuiccedilatildeo do homem negro na constituiccedilatildeo soacutecioreligiosa desta localidade
Mais uma vez o autor busca formas de desvincular a participaccedilatildeo dos negros na
histoacuteria religiosa local A obra Caiccedilara Caminhos de Almocreves estaacute repleta destas
argumentaccedilotildees acerca do homem de cor
O objetivo inicial desta pesquisa era de buscar indiacutecios em Livros de Tombo e
documentos religiosos a contribuiccedilatildeo do negro na religiosidade local Tendo em vista que natildeo
soacute no municiacutepio de Caiccedilara mas tambeacutem em todo o territoacuterio brasileiro houve uma
marginalizaccedilatildeo da imagem do homem de cor ou seja uma tentativa de deixar a margem da
sociedade uma figura que se faz tatildeo importante para adentrarmos no imaginaacuterio religioso do
povo brasileiro
Contudo o livro de Tombo analisado natildeo nos forneceu as informaccedilotildees necessaacuterias
para afirmamos que houve uma irmandade negra no municiacutepio de Caiccedilara Mas para
buscarmos indiacutecios e vestiacutegios da contribuiccedilatildeo do negro nestes locais faremos uma analise
11
minuciosa da obra contrapondo com elementos existentes na proacutepria igreja local na tentativa
de trazer a luz questotildees que foram estabelecidas pelo autor Severino Ismael como verdades
prontas e absolutas Os possiacuteveis indiacutecios e vestiacutegios satildeo elementos de fundamental
importacircncia para este trabalho
Entre estes vestiacutegios destacamos a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no altar
central da Igreja matriz de Caiccedilara (apesar da referecircncia direta agrave fundaccedilatildeo da cidade nos eacute
intrigante a escolha desta padroeira por seus fundadores) Jaacute que este culto agrave Senhora do
Rosaacuterio no Brasil ficou diretamente vinculado ao culto catoacutelico negro atraveacutes das
irmandades podendo dessa forma ser considerado um elemento da cultura africana no
espaccedilo religioso local Abaixo foto da Imagem tirada em 06 de Janeiro de 2014 Durante os
preparativos para a procissatildeo da Padroeira que se comemora nesta data no municiacutepio de
Caiccedilara
Ilustraccedilatildeo 1 Imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no andor
12
Foto Ricardo (2014)
Eacute evidente que os diversos escravos africanos desembarcados no Brasil contribuiriam
de forma significativa para a construccedilatildeo territorial e religiosa do paiacutes jaacute que participaram
diretamente da formaccedilatildeo da sociedade brasileira seja no trabalho nos engenhos de produccedilatildeo
de cana de accediluacutecar nas lavouras do cafeacute na extraccedilatildeo do ouro entre outros Ao desembarcarem
nessas terras trouxeram consigo seus costumes liacutenguas valores e crenccedilas Aqui encontraram
as mais diversas dificuldades de praticar sua cultura ou seja cultuar suas divindades e
costumes
O DESENVOLVIMENTO DAS PRAacuteTICAS RELIGIOSAS OFICIAIS NA CIDADE
DE CAICcedilARA-PB
A presenccedila do Catolicismo caiccedilarense estaacute inteiramente ligada ao seu periacuteodo de
fundaccedilatildeo que se deu por volta do ano de 1822 quando Manoel Soares da Costa instalou sua
fazenda e ergueu uma capela as margens do Rio Curimatauacute ldquoO povoamento da encantadora
Villa de Caiccedilara segundo informes de pessoas competentes teve logar no ano de 1822rdquo
Onde ldquoFoi edificada uma pequena capella sob a invocaccedilatildeo de NS do Rosaacuterio ()rdquo
ARAUacuteJO (1913)
Como aconteceu no Brasil e consequentemente na Paraiacuteba de uma forma em geral o
processo de povoamento oficial das regiotildees afastadas do litoral assim como o proacuteprio litoral
teve sua conquista e povoamento acompanhado da praacutetica religiosa oficial dos exploradores o
catolicismo A presenccedila da capela de Nossa Senhora do Rosaacuterio no povoamento que
futuramente seria denominado como municiacutepio de caiccedilara eacute um fato indiscutiacutevel pelos
historiadores e narradores de uma forma geral do Mito de fundaccedilatildeo da cidade ocorrendo
uma discussatildeo historiograacutefica agrave respeito do ano desta fundaccedilatildeo Epaminondas Tavares de
Arauacutejo afirma ter sido no ano de 1822 Entretanto Coriolano de Medeiros (em seu
ldquoDicionaacuterio Chorograacuteficordquo 1914) aponta o ano de 1841 como o da fundaccedilatildeo da Villa de
Caiccedilara
13
ldquoEm 1841 o terreno onde hoje eacute a sede do municiacutepio cobria-se ainda
cactos e bromeacutelias quando Manoel Soares da Costa Francisco da Costa
Gonccedilalves e Joseacute Vicente compraram a propriedade construiacuteram suas
vivendas e cercados de ramos ndash caiccedilaras ndash para abrigo do gado Depois
ergueram uma capella dedicada a NS do Rosaacuterio rdquo
Entretanto O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) aceita o uacuteltimo
como sendo o ano de fundaccedilatildeo Entre a populaccedilatildeo a informaccedilatildeo tida com maior aprovaccedilatildeo eacute
ano de 1822 Isto porque a sesmaria que Luiacutes Soares de Mendonccedila adquiriu natildeo foi no ano de
1822 como relatou Coriolano de Medeiros em seus estudos e sim no ano de 1788 registrada
sob nordm 891 por meio de documentos oficiais
Todavia a divergecircncia acerca do ano de fundaccedilatildeo ocorreu pelo fato de que a criaccedilatildeo da
feira ocorreu no ano de 1841 e o mesmo seria o marco do crescimento e da concentraccedilatildeo
urbana O que observamos em comum em ambas as citaccedilotildees eacute que o Catolicismo fecundava a
Villa de Caiccedilara desde sua fundaccedilatildeo Pois a construccedilatildeo da Capella eacute vista em todos os
registros sobre a origem deste povoado Os autores oficiais e tradicionais da histoacuteria de
fundaccedilatildeo da Villa de Caiccedilara discorrem ainda sobre a origem de sua denominaccedilatildeo segundo
Coriolano de Medeiros e Epaminondas Tavares o nome Caiccedilara proveacutem dos currais Fala
Epaminondas ldquoA denominaccedilatildeo de Caiccedilara proveacutem de um curral de pau-a-pique construiacutedo
por Manoel Soares nas proximidades de sua casardquo (p108)
O CATOLICISMO CAICcedilARENSE
De acordo com a visatildeo positivista e as fontes oficiais o iacutendio e o negro pouco
contribuiacuteram na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo Caiccedilarense segundo Severino Ismael
da Costa em seu livro ldquoCaiccedilara Caminhos de Almocrevesrdquo (1990) Ainda de acordo com o
mesmo o imaginaacuterio da populaccedilatildeo local contribuiu de maneira bastante significativa para o
florescimento da religiatildeo Catoacutelica que veio a ser praticada na Villa de Caiccedilara
Nesta mesma perspectiva as fontes oficias da Igreja em pauta tentam nos mostrar que
a participaccedilatildeo do negro no acircmbito religioso teve pouco significado Os ritos as festas as
preces tudo era vinculado ao catolicismo No periacuteodo da posse da terra quando o branco
erguia sua morada edificava tambeacutem junto ou nas proximidades uma capela onde eram
celebrados os atos religiosos e realizadas as festas Destas eram as mais comuns O Natal
14
Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo
saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais
conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da
quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito
cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um
gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo
se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas
rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os
moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave
missa com os seus familiares e agregados
MEcircS DE MAIO
Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas
capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a
tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em
volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens
de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar
o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites
era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees
O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas
A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA
A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob
a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas
de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas
No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a
aacuterea destinada a capela
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ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer
faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas
construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro
pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)
A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um
pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria
desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor
Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves
Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas
paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de
comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura
e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A
frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina
No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por
Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa
das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo
o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois
sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos
inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os
adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que
havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e
repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do
templo
Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes
da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do
altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior
doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa
Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores
O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs
nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra
de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
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Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os
altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares
construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a
Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da
igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios
provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a
igreja ganhou mais uma torre na fachada
A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO
As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber
a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta
regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as
terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros
separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia
outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os
fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em
comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o
povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a
padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar
ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo
outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica
a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro
Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o
nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do
Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca
A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de
casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro
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da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra
do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa
ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem
Graccedilas agrave Virgem Mariardquo
(Paacuteg 36)
A FESTA
Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro
realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas
e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local
Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura
importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder
bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro
diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento
Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica
local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento
acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre
outros
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CONCLUSAtildeO
O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de
Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa
afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da
histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e
vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os
questionamentos pertinentes a nossa pesquisa
Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor
procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de
proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do
espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do
mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local
Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem
enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na
tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto
na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local
O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de
Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como
vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo
da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG
para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como
elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos
O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de
Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na
sua obra
Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos
obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e
acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e
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marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a
qualquer coisa
ABSTRACT
The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects
From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some
Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the
analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors
concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to
reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The
theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)
Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search
the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of
black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in
daily habits the existing diverse religiosity in this town
KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity
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REFEREcircNCIAS
ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do
seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006
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httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE
1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs
3
NOME DO ALUNO
C955m CRUZ Paulo Ricardo Porpino da
Memoacuteria Construiacuteda e Repensada Sobre o Municiacutepio de Caiccedilara [manuscrito] Paulo Ricardo Porpino da Cruz ndash 2015 20p
Digitado
Trabalho de Conclusatildeo de Curso (Graduaccedilatildeo em Histoacuteria) ndashUniversidade Estadual da Paraiacuteba Centro de Humanidades 2015
ldquoOrientaccedilatildeo profa Ms Naiara Ferraz Bandeira Alves Departamento de Histoacuteriardquo
1Hisoriografia 2 Memoacuteria 3 Homem Negro I Tiacutetulo 21 Ed CDD 900
4
5
RESUMO
A marginalizaccedilatildeo do negro no decorrer da histoacuteria eacute visivelmente observada em seus diversos
aspectos Nessa perspectiva buscamos verificar se no municiacutepio de Caiccedilara foi erguida
alguma Irmandade Entretanto natildeo encontramos a documentaccedilatildeo necessaacuteria para
comprovaccedilatildeo No entanto a analise do livro da histoacuteria local do municiacutepio nos permitiram
detectar a preocupaccedilatildeo do autor em desvincular a contribuiccedilatildeo do homem de cor na sociedade
caiccedilarense O presente ensaio tem como objetivo reconstruir essa ideia deturpada que foi
criada no transcorrer do tempo no tocante aos negros A base teoacuterica que sustenta este artigo
satildeo os pressupostos teoacutericos de Reis(1999) Certeau (2002) e outros Atraveacutes de vestiacutegios e
indiacutecios que eacute o trabalho do historiador buscar nos escombros aquilo que estava escondido
este trabalho faz uma releitura na tentativa de evidenciara importacircncia do negro nas mais
diversas aacutereas da cultura do povo Caiccedilarense seja nas crendices na musicalidade nos haacutebitos
diaacuterios na religiosidade diversificada existente neste povoado
PALAVRAS ndash CHAVE Negro Marginalizaccedilatildeo Religiosidade
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Memoacuteria construiacuteda e repensada sobre o municiacutepio de Caiccedilara
Paulo Ricardo
ldquoA histoacuteria eacute necessariamente escrita e reescrita a partir das
posiccedilotildees do presente lugar da problemaacutetica da pesquisa e do sujeito
que a realizardquo (REIS 1999 p9)
INTRODUCcedilAtildeO
Ao iniciarmos nossa pesquisa tiacutenhamos a pretensatildeo de estudar diretamente a presenccedila
de Irmandades Negras no municiacutepio de Caiccedilara1 como uma forma de resgatar a Histoacuteria dos
homens Negros da regiatildeo destacando suas formas de resistecircncia ao processo escravocrata
Contudo apoacutes algumas pesquisas nos deparamos com a falta de fontes documentais ou
mesmo orais que abordassem a temaacutetica Natildeo haacute registro da participaccedilatildeo do homem de cor na
formaccedilatildeo do culto catoacutelico da regiatildeo Dessa forma encontramos o problema a ser resolvido
ou pelo menos levantado atraveacutes de nossas investigaccedilotildees Onde encontrar as personagens
negras e suas colaboraccedilotildees na construccedilatildeo da Histoacuteria Local do Municiacutepio de Caiccedilara
Na principal fonte atualizada sobre a Histoacuteria do Municiacutepio haacute uma negaccedilatildeo
veemente sobre a contribuiccedilatildeo do homem de cor no cenaacuterio religioso local No livro Caiccedilara
Caminhos de Almocreves (1990) o autor Severino Ismael procura desvincular a participaccedilatildeo
do negro na construccedilatildeo do espaccedilo religioso daquele povoado ldquoO iacutendio e o negro quase que
natildeo tiveram influencia na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo caiccedilarenserdquo p 153
Essa eacute apenas uma das afirmativas feitas pelo autor com o intuito de negar a
contribuiccedilatildeo do homem de cor neste cenaacuterio local Ao analisamos o livro percebemos que o
autor Severino Ismael tenta excluir de todas as maneiras a presenccedila de elementos africanos
na construccedilatildeo do culto catoacutelico da regiatildeo Nossa pesquisa discute os elementos textuais da
obra escrita sob a perspectiva de historiografia apresentada por Certeau (2002) Desse modo a
historiografia eacute utilizada para definir os estudos criacuteticos acerca de um tema ou periacuteodo
1 Caiccedilarasup1 - eacute um municiacutepio brasileiro localizado na microrregiatildeo de Guarabira mesorregiatildeo do agreste
paraibano do estado da Paraiacuteba Sua populaccedilatildeo em 2013 foi estimada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 7304 habitantes distribuiacutedos em 128 kmsup2 de aacuterea distacircncia ateacute a
capital 143 km
7
referente agrave histoacuteria buscando-se encontrar explicaccedilotildees para os fatos do passado natildeo
constituindo verdades objetivas que traduzem a realidade tal como ocorreu mas como
construccedilotildees humanas que representam partes de uma realidade
Nessa linha de abordagem Certeau (2002) em seu livro A Escrita da Histoacuteria
compreende as caracteriacutesticas do trabalho do historiador fazendo referecircncia ao tripeacute da
operaccedilatildeo historiograacutefica ldquoum lugar social uma praacutetica uma escritardquo (p66)
O historiador tem a funccedilatildeo de dar voz ao natildeo dito atribuindo sentido a um determinado
acontecimento Segundo Certeau (2002) a pesquisa em histoacuteria se faz a partir de um lugar
socioeconocircmico poliacutetico e cultural Eacute importante considerar que o lugar que o autor cita estaacute
ligado agrave relaccedilatildeo que o historiador manteacutem com o lugar que se encontra uma vez que este natildeo
eacute mais um colecionador de fatos e sim um construtor recortador leitor e inteacuterprete de
processos histoacutericos buscando possibilidades hipoacuteteses de abordagem ligadas as suas
preocupaccedilotildees especiacuteficas ou seja trocando ideias e informaccedilotildees com outros saberes e
sujeitos
O historiador tem o tempo como ldquomaterial de anaacuteliserdquo ou como ldquoobjeto
especiacuteficordquo Trabalha de acordo com os seus meacutetodos os objetos fiacutesicos
(papeacuteis pedras imagens sons etc) Trabalha sobre um material para
transformaacute-lo em histoacuteria(CERTEAU 2002 p79)
Certeau (2002) afirma ainda que a anaacutelise historiograacutefica eacute um exerciacutecio de
problematizaccedilatildeo um campo aberto a inuacutemeras possibilidades e ao intenso diaacutelogo o que
permite essa amplitude de objetos e tipos de fontes a partir de metodologias que a histoacuteria
pode apresentar em diversificados campos do saber Coloca que a operaccedilatildeo historiograacutefica
natildeo estaacute somente relacionada a um lugar a uma praacutetica mas tambeacutem a uma escrita ou seja a
historiografia eacute construiacuteda por meio do discurso documental Portanto todo conhecimento
historiograacutefico eacute construiacutedo o que nos permite sempre trazer novas discussotildees a respeito da
anaacutelise do ldquopassadordquo
Sob esta perspectiva de construccedilatildeo a partir do seu lugar social eacute que podemos refletir
sobre os motivos e as intenccedilotildees de desvincular a praacutetica da religiatildeo catoacutelica em Caiccedilara da
presenccedila negra e indiacutegena nesta sociedade
ldquoA religiatildeo mesmo praticada por todos era a catoacutelica romana Nem os cultos
negros ndash o que evidencia a pequena participaccedilatildeo do elemento negro na etnia
local marcaram presenccedila na comunidade Os ritos as festas as preces tudo
era vinculado ao catolicismordquo (COSTA 1990 p 153)
8
Esta negaccedilatildeo aleacutem de refletir perspectiva de discriminaccedilatildeo racial destaca a
necessidade da Igreja Catoacutelica de apagar da memoacuteria histoacuterica natildeo apenas a presenccedila do
homem de cor mas muito aleacutem disso a possibilidade do espaccedilo de culto catoacutelico ou seja a
Igreja pertencer ou ter pertencido nominalmente a uma irmandade Isto significa que o
preacutedio em si e suas propriedades economicamente natildeo eram da Igreja mas de leigos que a
construiacuteram e doaram tudo o que estava ao seu redor e no seu interior Haacute uma real atividade
da Igreja de tentar apagar desconstruir camuflar as atividades das irmandades em especial
das que eram compostas por homens de cor
MUITO ALEacuteM DA ESCRITA E DA MEMOacuteRIA UMA CONSTRUCcedilAtildeO
O autor Severino Ismael da Costa publicou seu texto Caiccedilara caminhos de
almocreves na deacutecada de 90 do seacuteculo XX um periacuteodo de movimentaccedilatildeo poliacutetica vinculada
aos processos de municipalizaccedilatildeo que vinham ocorrendo no Estado da Paraiacuteba desde os anos
70 do mesmo seacuteculo Aliado a accedilatildeo poliacutetica de transformar em municiacutepio as vilas lugarejos e
aacutereas rurais do Estado era necessaacuteria a construccedilatildeo histoacuteria e descriccedilatildeo dos principais eventos
destas regiotildees Assim temos uma linha de escrita historiograacutefica estritamente vinculada a este
processo Constroacutei-se um municiacutepio consequentemente se constroacutei uma histoacuteria
O importante eacute identificar nestes textos em grande parte encomendados ou ao
menos financiados pelas elites locais o tipo de histoacuteria escrita e pensada assim como satildeo
escolhidos os personagens deste percurso A obra que analisamos natildeo foge a estas
caracteriacutesticas jaacute que recebeu apoio dos poliacuteticos locais na eacutepoca que foi publicada Nas
primeiras paacuteginas encontramos homenagens e agradecimentos agraves pessoas e personagens
ilustres da cidade entre eles filhos da elite local que se formaram e exercem profissotildees
liberais respeitadas pela sociedade da eacutepoca e dos dias atuais
ldquo HOMENAGEM Agrave CULTURA
Paraibana na presenccedila de um grande vulto
Prof JOSEacute OCTAacuteVIO DE ARRUDA MELO
Caiccedilarense representada por seus filhos
D Epaminondas Joseacute de Arauacutejo emeacuterito bispo da Igreja Catoacutelica de quem natildeo
me faltou estiacutemulo de conterracircneo
9
Prof Joseacute Jackson Carneiro de Carvalho de quem recebi incentivo e ateacute desafio
Dr Walderedo Ismael de Oliveira meacutedico de renome internacional escritor
especializado modesto e grande como sua terrardquo (COSTA 1990 p13)
O autor inicia seu texto se referindo as ldquograndesrdquo personalidades de sua cidade tendo
o cuidado de anteriormente ter agradecido aos prefeitos da eacutepoca Haacute a presenccedila dos nomes e
sobrenomes de destaque da cidade representantes da Igreja Catoacutelica de meacutedicos professores
e jornalistas
Em seguida descreve a histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade e de sua municipalizaccedilatildeo desta
a participaccedilatildeo do iacutendio que junto ao portuguecircs seriam os grandes responsaacuteveis pela formaccedilatildeo
desta sociedade mas afirma que o negro teve pouca atuaccedilatildeo ldquonatildeo haacute grande presenccedila do
elemento negro a natildeo ser na zona dos engenhos no dorso da serra onde precisaram do
escravo para tocar o trabalhordquo (COSTA 1990 p 69) apesar de ter sido escrito nos anos 90
do seacuteculo XX o texto tem uma preocupaccedilatildeo oitocentista de esconder a presenccedila negra
minimizando sua participaccedilatildeo nas atividades econocircmicas A impossibilidade de simplesmente
omitir esta inserccedilatildeo dos homens negros na sociedade de Caiccedilara faz com que seu texto e sua
fala se tornem contraditoacuterios no sentido de que afirma natildeo ter existido uma participaccedilatildeo
negra mas ao mesmo tempo destaca o lugar social ocupado por esta etnia
Muito de sua escrita positivista eacute explicado pelas fontes selecionadas pelo autor
Textos tradicionais sobre a Histoacuteria da Paraiacuteba escritos no iniacutecio do seacuteculo XX em especial
os escritos de Horaacutecio de Almeida se dando ao trabalho de apenas transferir as ideias destes
sem realizar uma revisatildeo ou criacutetica historiograacutefica Isso fica latente ao reproduzir a expressatildeo
Tapuia como sinocircnimo de baacuterbaro E destacar figuras heroicas entre os indiacutegenas que de
alguma forma se aliaram aos conquistadores nos empreendimentos de colonizaccedilatildeo
Outro ponto que nos chama a atenccedilatildeo eacute a necessidade de sempre referecircnciar as fontes
em geral documentais ou historiograacuteficas e ao mesmo tempo questionaacute-las e ateacute discordar de
dados e apontamentos que se distanciam de uma preocupaccedilatildeo com o processo histoacuterico mas
se relaciona diretamente com uma narrativa positivista como por exemplo ao investigar e
averiguar quem teria sido o primeiro morador de Caiccedilara Segundo Coriolano de Medeiros e
Luiz Pinto teria sido ldquoJoseacute de abreu Cordeiro em 1776 contudo verificou ser na realidade
Raphael de Carvalho em 1615rdquo (COSTA 1990 p 85)
10
O povoado surge a partir da construccedilatildeo de casa de morada capela e currais agrave margem
direita do rio Curimatauacute em 1822 por Manoel Soares da Costa A capela tinha por invocaccedilatildeo
Nossa Senhora do Rosaacuterio Como a maioria dos municiacutepios da regiatildeo seu desenvolvimento
pode ser vinculado ao estabelecimento da feira Uma particularidade citada e destacada pelo
autor satildeo as disputas poliacuteticas entre Caiccedilara e o Municiacutepio de Serra da Raiz que levam os
dois lugarejos a encontrar formas de se destacarem um em relaccedilatildeo ao outro Por exemplo
menciona que a criaccedilatildeo em 1870 da Freguesia de N S do Bom Fim cuja sede eacute a Serra da
Raiz ( instituiccedilatildeo que tornava Caiccedilara subordinada nas questotildees religiosas em relaccedilatildeo agrave Serra
da Raiz) segundo o autor a animosidade poliacutetico-administrativa entre os lugarejos se
desenvolveu a partir da introduccedilatildeo da feira livre em Caiccedilara jaacute que a mesma se tornou uma
forte concorrente para os ldquobarracotildeesrdquo instalados nos engenhos da Serra da Raiz assim a feira
poderia promover uma mudanccedila social que natildeo interessava aos poliacuteticos daquela regiatildeo
Passa a destacar os poliacuteticos de Caiccedilara nomeando-os ateacute o seacuteculo XX o que se
configura como um importante registro para a histoacuteria local assim como toda a obra de
Severino Ismael da Costa (1990) contudo ainda necessitando de uma anaacutelise do processo
histoacuterico e de suas etapas O fato que o autor levanta vaacuterios pontos desta histoacuteria que devem
ser estudados um dia e provavelmente iratildeo partir e se referir a sua obra que tem como
destaque o trabalho de levantamento de dados e fontes para os proacuteximos historiadores que se
dedicarem a Historia desta regiatildeo Nossas observaccedilotildees se referem a ideia de ausecircncia de
contribuiccedilatildeo do homem negro na constituiccedilatildeo soacutecioreligiosa desta localidade
Mais uma vez o autor busca formas de desvincular a participaccedilatildeo dos negros na
histoacuteria religiosa local A obra Caiccedilara Caminhos de Almocreves estaacute repleta destas
argumentaccedilotildees acerca do homem de cor
O objetivo inicial desta pesquisa era de buscar indiacutecios em Livros de Tombo e
documentos religiosos a contribuiccedilatildeo do negro na religiosidade local Tendo em vista que natildeo
soacute no municiacutepio de Caiccedilara mas tambeacutem em todo o territoacuterio brasileiro houve uma
marginalizaccedilatildeo da imagem do homem de cor ou seja uma tentativa de deixar a margem da
sociedade uma figura que se faz tatildeo importante para adentrarmos no imaginaacuterio religioso do
povo brasileiro
Contudo o livro de Tombo analisado natildeo nos forneceu as informaccedilotildees necessaacuterias
para afirmamos que houve uma irmandade negra no municiacutepio de Caiccedilara Mas para
buscarmos indiacutecios e vestiacutegios da contribuiccedilatildeo do negro nestes locais faremos uma analise
11
minuciosa da obra contrapondo com elementos existentes na proacutepria igreja local na tentativa
de trazer a luz questotildees que foram estabelecidas pelo autor Severino Ismael como verdades
prontas e absolutas Os possiacuteveis indiacutecios e vestiacutegios satildeo elementos de fundamental
importacircncia para este trabalho
Entre estes vestiacutegios destacamos a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no altar
central da Igreja matriz de Caiccedilara (apesar da referecircncia direta agrave fundaccedilatildeo da cidade nos eacute
intrigante a escolha desta padroeira por seus fundadores) Jaacute que este culto agrave Senhora do
Rosaacuterio no Brasil ficou diretamente vinculado ao culto catoacutelico negro atraveacutes das
irmandades podendo dessa forma ser considerado um elemento da cultura africana no
espaccedilo religioso local Abaixo foto da Imagem tirada em 06 de Janeiro de 2014 Durante os
preparativos para a procissatildeo da Padroeira que se comemora nesta data no municiacutepio de
Caiccedilara
Ilustraccedilatildeo 1 Imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no andor
12
Foto Ricardo (2014)
Eacute evidente que os diversos escravos africanos desembarcados no Brasil contribuiriam
de forma significativa para a construccedilatildeo territorial e religiosa do paiacutes jaacute que participaram
diretamente da formaccedilatildeo da sociedade brasileira seja no trabalho nos engenhos de produccedilatildeo
de cana de accediluacutecar nas lavouras do cafeacute na extraccedilatildeo do ouro entre outros Ao desembarcarem
nessas terras trouxeram consigo seus costumes liacutenguas valores e crenccedilas Aqui encontraram
as mais diversas dificuldades de praticar sua cultura ou seja cultuar suas divindades e
costumes
O DESENVOLVIMENTO DAS PRAacuteTICAS RELIGIOSAS OFICIAIS NA CIDADE
DE CAICcedilARA-PB
A presenccedila do Catolicismo caiccedilarense estaacute inteiramente ligada ao seu periacuteodo de
fundaccedilatildeo que se deu por volta do ano de 1822 quando Manoel Soares da Costa instalou sua
fazenda e ergueu uma capela as margens do Rio Curimatauacute ldquoO povoamento da encantadora
Villa de Caiccedilara segundo informes de pessoas competentes teve logar no ano de 1822rdquo
Onde ldquoFoi edificada uma pequena capella sob a invocaccedilatildeo de NS do Rosaacuterio ()rdquo
ARAUacuteJO (1913)
Como aconteceu no Brasil e consequentemente na Paraiacuteba de uma forma em geral o
processo de povoamento oficial das regiotildees afastadas do litoral assim como o proacuteprio litoral
teve sua conquista e povoamento acompanhado da praacutetica religiosa oficial dos exploradores o
catolicismo A presenccedila da capela de Nossa Senhora do Rosaacuterio no povoamento que
futuramente seria denominado como municiacutepio de caiccedilara eacute um fato indiscutiacutevel pelos
historiadores e narradores de uma forma geral do Mito de fundaccedilatildeo da cidade ocorrendo
uma discussatildeo historiograacutefica agrave respeito do ano desta fundaccedilatildeo Epaminondas Tavares de
Arauacutejo afirma ter sido no ano de 1822 Entretanto Coriolano de Medeiros (em seu
ldquoDicionaacuterio Chorograacuteficordquo 1914) aponta o ano de 1841 como o da fundaccedilatildeo da Villa de
Caiccedilara
13
ldquoEm 1841 o terreno onde hoje eacute a sede do municiacutepio cobria-se ainda
cactos e bromeacutelias quando Manoel Soares da Costa Francisco da Costa
Gonccedilalves e Joseacute Vicente compraram a propriedade construiacuteram suas
vivendas e cercados de ramos ndash caiccedilaras ndash para abrigo do gado Depois
ergueram uma capella dedicada a NS do Rosaacuterio rdquo
Entretanto O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) aceita o uacuteltimo
como sendo o ano de fundaccedilatildeo Entre a populaccedilatildeo a informaccedilatildeo tida com maior aprovaccedilatildeo eacute
ano de 1822 Isto porque a sesmaria que Luiacutes Soares de Mendonccedila adquiriu natildeo foi no ano de
1822 como relatou Coriolano de Medeiros em seus estudos e sim no ano de 1788 registrada
sob nordm 891 por meio de documentos oficiais
Todavia a divergecircncia acerca do ano de fundaccedilatildeo ocorreu pelo fato de que a criaccedilatildeo da
feira ocorreu no ano de 1841 e o mesmo seria o marco do crescimento e da concentraccedilatildeo
urbana O que observamos em comum em ambas as citaccedilotildees eacute que o Catolicismo fecundava a
Villa de Caiccedilara desde sua fundaccedilatildeo Pois a construccedilatildeo da Capella eacute vista em todos os
registros sobre a origem deste povoado Os autores oficiais e tradicionais da histoacuteria de
fundaccedilatildeo da Villa de Caiccedilara discorrem ainda sobre a origem de sua denominaccedilatildeo segundo
Coriolano de Medeiros e Epaminondas Tavares o nome Caiccedilara proveacutem dos currais Fala
Epaminondas ldquoA denominaccedilatildeo de Caiccedilara proveacutem de um curral de pau-a-pique construiacutedo
por Manoel Soares nas proximidades de sua casardquo (p108)
O CATOLICISMO CAICcedilARENSE
De acordo com a visatildeo positivista e as fontes oficiais o iacutendio e o negro pouco
contribuiacuteram na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo Caiccedilarense segundo Severino Ismael
da Costa em seu livro ldquoCaiccedilara Caminhos de Almocrevesrdquo (1990) Ainda de acordo com o
mesmo o imaginaacuterio da populaccedilatildeo local contribuiu de maneira bastante significativa para o
florescimento da religiatildeo Catoacutelica que veio a ser praticada na Villa de Caiccedilara
Nesta mesma perspectiva as fontes oficias da Igreja em pauta tentam nos mostrar que
a participaccedilatildeo do negro no acircmbito religioso teve pouco significado Os ritos as festas as
preces tudo era vinculado ao catolicismo No periacuteodo da posse da terra quando o branco
erguia sua morada edificava tambeacutem junto ou nas proximidades uma capela onde eram
celebrados os atos religiosos e realizadas as festas Destas eram as mais comuns O Natal
14
Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo
saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais
conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da
quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito
cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um
gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo
se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas
rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os
moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave
missa com os seus familiares e agregados
MEcircS DE MAIO
Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas
capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a
tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em
volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens
de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar
o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites
era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees
O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas
A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA
A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob
a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas
de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas
No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a
aacuterea destinada a capela
15
ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer
faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas
construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro
pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)
A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um
pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria
desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor
Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves
Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas
paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de
comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura
e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A
frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina
No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por
Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa
das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo
o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois
sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos
inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os
adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que
havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e
repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do
templo
Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes
da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do
altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior
doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa
Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores
O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs
nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra
de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
16
Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os
altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares
construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a
Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da
igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios
provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a
igreja ganhou mais uma torre na fachada
A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO
As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber
a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta
regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as
terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros
separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia
outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os
fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em
comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o
povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a
padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar
ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo
outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica
a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro
Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o
nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do
Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca
A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de
casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro
17
da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra
do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa
ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem
Graccedilas agrave Virgem Mariardquo
(Paacuteg 36)
A FESTA
Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro
realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas
e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local
Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura
importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder
bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro
diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento
Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica
local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento
acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre
outros
18
CONCLUSAtildeO
O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de
Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa
afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da
histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e
vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os
questionamentos pertinentes a nossa pesquisa
Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor
procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de
proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do
espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do
mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local
Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem
enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na
tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto
na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local
O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de
Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como
vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo
da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG
para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como
elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos
O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de
Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na
sua obra
Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos
obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e
acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e
19
marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a
qualquer coisa
ABSTRACT
The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects
From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some
Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the
analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors
concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to
reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The
theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)
Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search
the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of
black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in
daily habits the existing diverse religiosity in this town
KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity
20
REFEREcircNCIAS
ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do
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1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs
4
5
RESUMO
A marginalizaccedilatildeo do negro no decorrer da histoacuteria eacute visivelmente observada em seus diversos
aspectos Nessa perspectiva buscamos verificar se no municiacutepio de Caiccedilara foi erguida
alguma Irmandade Entretanto natildeo encontramos a documentaccedilatildeo necessaacuteria para
comprovaccedilatildeo No entanto a analise do livro da histoacuteria local do municiacutepio nos permitiram
detectar a preocupaccedilatildeo do autor em desvincular a contribuiccedilatildeo do homem de cor na sociedade
caiccedilarense O presente ensaio tem como objetivo reconstruir essa ideia deturpada que foi
criada no transcorrer do tempo no tocante aos negros A base teoacuterica que sustenta este artigo
satildeo os pressupostos teoacutericos de Reis(1999) Certeau (2002) e outros Atraveacutes de vestiacutegios e
indiacutecios que eacute o trabalho do historiador buscar nos escombros aquilo que estava escondido
este trabalho faz uma releitura na tentativa de evidenciara importacircncia do negro nas mais
diversas aacutereas da cultura do povo Caiccedilarense seja nas crendices na musicalidade nos haacutebitos
diaacuterios na religiosidade diversificada existente neste povoado
PALAVRAS ndash CHAVE Negro Marginalizaccedilatildeo Religiosidade
6
Memoacuteria construiacuteda e repensada sobre o municiacutepio de Caiccedilara
Paulo Ricardo
ldquoA histoacuteria eacute necessariamente escrita e reescrita a partir das
posiccedilotildees do presente lugar da problemaacutetica da pesquisa e do sujeito
que a realizardquo (REIS 1999 p9)
INTRODUCcedilAtildeO
Ao iniciarmos nossa pesquisa tiacutenhamos a pretensatildeo de estudar diretamente a presenccedila
de Irmandades Negras no municiacutepio de Caiccedilara1 como uma forma de resgatar a Histoacuteria dos
homens Negros da regiatildeo destacando suas formas de resistecircncia ao processo escravocrata
Contudo apoacutes algumas pesquisas nos deparamos com a falta de fontes documentais ou
mesmo orais que abordassem a temaacutetica Natildeo haacute registro da participaccedilatildeo do homem de cor na
formaccedilatildeo do culto catoacutelico da regiatildeo Dessa forma encontramos o problema a ser resolvido
ou pelo menos levantado atraveacutes de nossas investigaccedilotildees Onde encontrar as personagens
negras e suas colaboraccedilotildees na construccedilatildeo da Histoacuteria Local do Municiacutepio de Caiccedilara
Na principal fonte atualizada sobre a Histoacuteria do Municiacutepio haacute uma negaccedilatildeo
veemente sobre a contribuiccedilatildeo do homem de cor no cenaacuterio religioso local No livro Caiccedilara
Caminhos de Almocreves (1990) o autor Severino Ismael procura desvincular a participaccedilatildeo
do negro na construccedilatildeo do espaccedilo religioso daquele povoado ldquoO iacutendio e o negro quase que
natildeo tiveram influencia na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo caiccedilarenserdquo p 153
Essa eacute apenas uma das afirmativas feitas pelo autor com o intuito de negar a
contribuiccedilatildeo do homem de cor neste cenaacuterio local Ao analisamos o livro percebemos que o
autor Severino Ismael tenta excluir de todas as maneiras a presenccedila de elementos africanos
na construccedilatildeo do culto catoacutelico da regiatildeo Nossa pesquisa discute os elementos textuais da
obra escrita sob a perspectiva de historiografia apresentada por Certeau (2002) Desse modo a
historiografia eacute utilizada para definir os estudos criacuteticos acerca de um tema ou periacuteodo
1 Caiccedilarasup1 - eacute um municiacutepio brasileiro localizado na microrregiatildeo de Guarabira mesorregiatildeo do agreste
paraibano do estado da Paraiacuteba Sua populaccedilatildeo em 2013 foi estimada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 7304 habitantes distribuiacutedos em 128 kmsup2 de aacuterea distacircncia ateacute a
capital 143 km
7
referente agrave histoacuteria buscando-se encontrar explicaccedilotildees para os fatos do passado natildeo
constituindo verdades objetivas que traduzem a realidade tal como ocorreu mas como
construccedilotildees humanas que representam partes de uma realidade
Nessa linha de abordagem Certeau (2002) em seu livro A Escrita da Histoacuteria
compreende as caracteriacutesticas do trabalho do historiador fazendo referecircncia ao tripeacute da
operaccedilatildeo historiograacutefica ldquoum lugar social uma praacutetica uma escritardquo (p66)
O historiador tem a funccedilatildeo de dar voz ao natildeo dito atribuindo sentido a um determinado
acontecimento Segundo Certeau (2002) a pesquisa em histoacuteria se faz a partir de um lugar
socioeconocircmico poliacutetico e cultural Eacute importante considerar que o lugar que o autor cita estaacute
ligado agrave relaccedilatildeo que o historiador manteacutem com o lugar que se encontra uma vez que este natildeo
eacute mais um colecionador de fatos e sim um construtor recortador leitor e inteacuterprete de
processos histoacutericos buscando possibilidades hipoacuteteses de abordagem ligadas as suas
preocupaccedilotildees especiacuteficas ou seja trocando ideias e informaccedilotildees com outros saberes e
sujeitos
O historiador tem o tempo como ldquomaterial de anaacuteliserdquo ou como ldquoobjeto
especiacuteficordquo Trabalha de acordo com os seus meacutetodos os objetos fiacutesicos
(papeacuteis pedras imagens sons etc) Trabalha sobre um material para
transformaacute-lo em histoacuteria(CERTEAU 2002 p79)
Certeau (2002) afirma ainda que a anaacutelise historiograacutefica eacute um exerciacutecio de
problematizaccedilatildeo um campo aberto a inuacutemeras possibilidades e ao intenso diaacutelogo o que
permite essa amplitude de objetos e tipos de fontes a partir de metodologias que a histoacuteria
pode apresentar em diversificados campos do saber Coloca que a operaccedilatildeo historiograacutefica
natildeo estaacute somente relacionada a um lugar a uma praacutetica mas tambeacutem a uma escrita ou seja a
historiografia eacute construiacuteda por meio do discurso documental Portanto todo conhecimento
historiograacutefico eacute construiacutedo o que nos permite sempre trazer novas discussotildees a respeito da
anaacutelise do ldquopassadordquo
Sob esta perspectiva de construccedilatildeo a partir do seu lugar social eacute que podemos refletir
sobre os motivos e as intenccedilotildees de desvincular a praacutetica da religiatildeo catoacutelica em Caiccedilara da
presenccedila negra e indiacutegena nesta sociedade
ldquoA religiatildeo mesmo praticada por todos era a catoacutelica romana Nem os cultos
negros ndash o que evidencia a pequena participaccedilatildeo do elemento negro na etnia
local marcaram presenccedila na comunidade Os ritos as festas as preces tudo
era vinculado ao catolicismordquo (COSTA 1990 p 153)
8
Esta negaccedilatildeo aleacutem de refletir perspectiva de discriminaccedilatildeo racial destaca a
necessidade da Igreja Catoacutelica de apagar da memoacuteria histoacuterica natildeo apenas a presenccedila do
homem de cor mas muito aleacutem disso a possibilidade do espaccedilo de culto catoacutelico ou seja a
Igreja pertencer ou ter pertencido nominalmente a uma irmandade Isto significa que o
preacutedio em si e suas propriedades economicamente natildeo eram da Igreja mas de leigos que a
construiacuteram e doaram tudo o que estava ao seu redor e no seu interior Haacute uma real atividade
da Igreja de tentar apagar desconstruir camuflar as atividades das irmandades em especial
das que eram compostas por homens de cor
MUITO ALEacuteM DA ESCRITA E DA MEMOacuteRIA UMA CONSTRUCcedilAtildeO
O autor Severino Ismael da Costa publicou seu texto Caiccedilara caminhos de
almocreves na deacutecada de 90 do seacuteculo XX um periacuteodo de movimentaccedilatildeo poliacutetica vinculada
aos processos de municipalizaccedilatildeo que vinham ocorrendo no Estado da Paraiacuteba desde os anos
70 do mesmo seacuteculo Aliado a accedilatildeo poliacutetica de transformar em municiacutepio as vilas lugarejos e
aacutereas rurais do Estado era necessaacuteria a construccedilatildeo histoacuteria e descriccedilatildeo dos principais eventos
destas regiotildees Assim temos uma linha de escrita historiograacutefica estritamente vinculada a este
processo Constroacutei-se um municiacutepio consequentemente se constroacutei uma histoacuteria
O importante eacute identificar nestes textos em grande parte encomendados ou ao
menos financiados pelas elites locais o tipo de histoacuteria escrita e pensada assim como satildeo
escolhidos os personagens deste percurso A obra que analisamos natildeo foge a estas
caracteriacutesticas jaacute que recebeu apoio dos poliacuteticos locais na eacutepoca que foi publicada Nas
primeiras paacuteginas encontramos homenagens e agradecimentos agraves pessoas e personagens
ilustres da cidade entre eles filhos da elite local que se formaram e exercem profissotildees
liberais respeitadas pela sociedade da eacutepoca e dos dias atuais
ldquo HOMENAGEM Agrave CULTURA
Paraibana na presenccedila de um grande vulto
Prof JOSEacute OCTAacuteVIO DE ARRUDA MELO
Caiccedilarense representada por seus filhos
D Epaminondas Joseacute de Arauacutejo emeacuterito bispo da Igreja Catoacutelica de quem natildeo
me faltou estiacutemulo de conterracircneo
9
Prof Joseacute Jackson Carneiro de Carvalho de quem recebi incentivo e ateacute desafio
Dr Walderedo Ismael de Oliveira meacutedico de renome internacional escritor
especializado modesto e grande como sua terrardquo (COSTA 1990 p13)
O autor inicia seu texto se referindo as ldquograndesrdquo personalidades de sua cidade tendo
o cuidado de anteriormente ter agradecido aos prefeitos da eacutepoca Haacute a presenccedila dos nomes e
sobrenomes de destaque da cidade representantes da Igreja Catoacutelica de meacutedicos professores
e jornalistas
Em seguida descreve a histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade e de sua municipalizaccedilatildeo desta
a participaccedilatildeo do iacutendio que junto ao portuguecircs seriam os grandes responsaacuteveis pela formaccedilatildeo
desta sociedade mas afirma que o negro teve pouca atuaccedilatildeo ldquonatildeo haacute grande presenccedila do
elemento negro a natildeo ser na zona dos engenhos no dorso da serra onde precisaram do
escravo para tocar o trabalhordquo (COSTA 1990 p 69) apesar de ter sido escrito nos anos 90
do seacuteculo XX o texto tem uma preocupaccedilatildeo oitocentista de esconder a presenccedila negra
minimizando sua participaccedilatildeo nas atividades econocircmicas A impossibilidade de simplesmente
omitir esta inserccedilatildeo dos homens negros na sociedade de Caiccedilara faz com que seu texto e sua
fala se tornem contraditoacuterios no sentido de que afirma natildeo ter existido uma participaccedilatildeo
negra mas ao mesmo tempo destaca o lugar social ocupado por esta etnia
Muito de sua escrita positivista eacute explicado pelas fontes selecionadas pelo autor
Textos tradicionais sobre a Histoacuteria da Paraiacuteba escritos no iniacutecio do seacuteculo XX em especial
os escritos de Horaacutecio de Almeida se dando ao trabalho de apenas transferir as ideias destes
sem realizar uma revisatildeo ou criacutetica historiograacutefica Isso fica latente ao reproduzir a expressatildeo
Tapuia como sinocircnimo de baacuterbaro E destacar figuras heroicas entre os indiacutegenas que de
alguma forma se aliaram aos conquistadores nos empreendimentos de colonizaccedilatildeo
Outro ponto que nos chama a atenccedilatildeo eacute a necessidade de sempre referecircnciar as fontes
em geral documentais ou historiograacuteficas e ao mesmo tempo questionaacute-las e ateacute discordar de
dados e apontamentos que se distanciam de uma preocupaccedilatildeo com o processo histoacuterico mas
se relaciona diretamente com uma narrativa positivista como por exemplo ao investigar e
averiguar quem teria sido o primeiro morador de Caiccedilara Segundo Coriolano de Medeiros e
Luiz Pinto teria sido ldquoJoseacute de abreu Cordeiro em 1776 contudo verificou ser na realidade
Raphael de Carvalho em 1615rdquo (COSTA 1990 p 85)
10
O povoado surge a partir da construccedilatildeo de casa de morada capela e currais agrave margem
direita do rio Curimatauacute em 1822 por Manoel Soares da Costa A capela tinha por invocaccedilatildeo
Nossa Senhora do Rosaacuterio Como a maioria dos municiacutepios da regiatildeo seu desenvolvimento
pode ser vinculado ao estabelecimento da feira Uma particularidade citada e destacada pelo
autor satildeo as disputas poliacuteticas entre Caiccedilara e o Municiacutepio de Serra da Raiz que levam os
dois lugarejos a encontrar formas de se destacarem um em relaccedilatildeo ao outro Por exemplo
menciona que a criaccedilatildeo em 1870 da Freguesia de N S do Bom Fim cuja sede eacute a Serra da
Raiz ( instituiccedilatildeo que tornava Caiccedilara subordinada nas questotildees religiosas em relaccedilatildeo agrave Serra
da Raiz) segundo o autor a animosidade poliacutetico-administrativa entre os lugarejos se
desenvolveu a partir da introduccedilatildeo da feira livre em Caiccedilara jaacute que a mesma se tornou uma
forte concorrente para os ldquobarracotildeesrdquo instalados nos engenhos da Serra da Raiz assim a feira
poderia promover uma mudanccedila social que natildeo interessava aos poliacuteticos daquela regiatildeo
Passa a destacar os poliacuteticos de Caiccedilara nomeando-os ateacute o seacuteculo XX o que se
configura como um importante registro para a histoacuteria local assim como toda a obra de
Severino Ismael da Costa (1990) contudo ainda necessitando de uma anaacutelise do processo
histoacuterico e de suas etapas O fato que o autor levanta vaacuterios pontos desta histoacuteria que devem
ser estudados um dia e provavelmente iratildeo partir e se referir a sua obra que tem como
destaque o trabalho de levantamento de dados e fontes para os proacuteximos historiadores que se
dedicarem a Historia desta regiatildeo Nossas observaccedilotildees se referem a ideia de ausecircncia de
contribuiccedilatildeo do homem negro na constituiccedilatildeo soacutecioreligiosa desta localidade
Mais uma vez o autor busca formas de desvincular a participaccedilatildeo dos negros na
histoacuteria religiosa local A obra Caiccedilara Caminhos de Almocreves estaacute repleta destas
argumentaccedilotildees acerca do homem de cor
O objetivo inicial desta pesquisa era de buscar indiacutecios em Livros de Tombo e
documentos religiosos a contribuiccedilatildeo do negro na religiosidade local Tendo em vista que natildeo
soacute no municiacutepio de Caiccedilara mas tambeacutem em todo o territoacuterio brasileiro houve uma
marginalizaccedilatildeo da imagem do homem de cor ou seja uma tentativa de deixar a margem da
sociedade uma figura que se faz tatildeo importante para adentrarmos no imaginaacuterio religioso do
povo brasileiro
Contudo o livro de Tombo analisado natildeo nos forneceu as informaccedilotildees necessaacuterias
para afirmamos que houve uma irmandade negra no municiacutepio de Caiccedilara Mas para
buscarmos indiacutecios e vestiacutegios da contribuiccedilatildeo do negro nestes locais faremos uma analise
11
minuciosa da obra contrapondo com elementos existentes na proacutepria igreja local na tentativa
de trazer a luz questotildees que foram estabelecidas pelo autor Severino Ismael como verdades
prontas e absolutas Os possiacuteveis indiacutecios e vestiacutegios satildeo elementos de fundamental
importacircncia para este trabalho
Entre estes vestiacutegios destacamos a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no altar
central da Igreja matriz de Caiccedilara (apesar da referecircncia direta agrave fundaccedilatildeo da cidade nos eacute
intrigante a escolha desta padroeira por seus fundadores) Jaacute que este culto agrave Senhora do
Rosaacuterio no Brasil ficou diretamente vinculado ao culto catoacutelico negro atraveacutes das
irmandades podendo dessa forma ser considerado um elemento da cultura africana no
espaccedilo religioso local Abaixo foto da Imagem tirada em 06 de Janeiro de 2014 Durante os
preparativos para a procissatildeo da Padroeira que se comemora nesta data no municiacutepio de
Caiccedilara
Ilustraccedilatildeo 1 Imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no andor
12
Foto Ricardo (2014)
Eacute evidente que os diversos escravos africanos desembarcados no Brasil contribuiriam
de forma significativa para a construccedilatildeo territorial e religiosa do paiacutes jaacute que participaram
diretamente da formaccedilatildeo da sociedade brasileira seja no trabalho nos engenhos de produccedilatildeo
de cana de accediluacutecar nas lavouras do cafeacute na extraccedilatildeo do ouro entre outros Ao desembarcarem
nessas terras trouxeram consigo seus costumes liacutenguas valores e crenccedilas Aqui encontraram
as mais diversas dificuldades de praticar sua cultura ou seja cultuar suas divindades e
costumes
O DESENVOLVIMENTO DAS PRAacuteTICAS RELIGIOSAS OFICIAIS NA CIDADE
DE CAICcedilARA-PB
A presenccedila do Catolicismo caiccedilarense estaacute inteiramente ligada ao seu periacuteodo de
fundaccedilatildeo que se deu por volta do ano de 1822 quando Manoel Soares da Costa instalou sua
fazenda e ergueu uma capela as margens do Rio Curimatauacute ldquoO povoamento da encantadora
Villa de Caiccedilara segundo informes de pessoas competentes teve logar no ano de 1822rdquo
Onde ldquoFoi edificada uma pequena capella sob a invocaccedilatildeo de NS do Rosaacuterio ()rdquo
ARAUacuteJO (1913)
Como aconteceu no Brasil e consequentemente na Paraiacuteba de uma forma em geral o
processo de povoamento oficial das regiotildees afastadas do litoral assim como o proacuteprio litoral
teve sua conquista e povoamento acompanhado da praacutetica religiosa oficial dos exploradores o
catolicismo A presenccedila da capela de Nossa Senhora do Rosaacuterio no povoamento que
futuramente seria denominado como municiacutepio de caiccedilara eacute um fato indiscutiacutevel pelos
historiadores e narradores de uma forma geral do Mito de fundaccedilatildeo da cidade ocorrendo
uma discussatildeo historiograacutefica agrave respeito do ano desta fundaccedilatildeo Epaminondas Tavares de
Arauacutejo afirma ter sido no ano de 1822 Entretanto Coriolano de Medeiros (em seu
ldquoDicionaacuterio Chorograacuteficordquo 1914) aponta o ano de 1841 como o da fundaccedilatildeo da Villa de
Caiccedilara
13
ldquoEm 1841 o terreno onde hoje eacute a sede do municiacutepio cobria-se ainda
cactos e bromeacutelias quando Manoel Soares da Costa Francisco da Costa
Gonccedilalves e Joseacute Vicente compraram a propriedade construiacuteram suas
vivendas e cercados de ramos ndash caiccedilaras ndash para abrigo do gado Depois
ergueram uma capella dedicada a NS do Rosaacuterio rdquo
Entretanto O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) aceita o uacuteltimo
como sendo o ano de fundaccedilatildeo Entre a populaccedilatildeo a informaccedilatildeo tida com maior aprovaccedilatildeo eacute
ano de 1822 Isto porque a sesmaria que Luiacutes Soares de Mendonccedila adquiriu natildeo foi no ano de
1822 como relatou Coriolano de Medeiros em seus estudos e sim no ano de 1788 registrada
sob nordm 891 por meio de documentos oficiais
Todavia a divergecircncia acerca do ano de fundaccedilatildeo ocorreu pelo fato de que a criaccedilatildeo da
feira ocorreu no ano de 1841 e o mesmo seria o marco do crescimento e da concentraccedilatildeo
urbana O que observamos em comum em ambas as citaccedilotildees eacute que o Catolicismo fecundava a
Villa de Caiccedilara desde sua fundaccedilatildeo Pois a construccedilatildeo da Capella eacute vista em todos os
registros sobre a origem deste povoado Os autores oficiais e tradicionais da histoacuteria de
fundaccedilatildeo da Villa de Caiccedilara discorrem ainda sobre a origem de sua denominaccedilatildeo segundo
Coriolano de Medeiros e Epaminondas Tavares o nome Caiccedilara proveacutem dos currais Fala
Epaminondas ldquoA denominaccedilatildeo de Caiccedilara proveacutem de um curral de pau-a-pique construiacutedo
por Manoel Soares nas proximidades de sua casardquo (p108)
O CATOLICISMO CAICcedilARENSE
De acordo com a visatildeo positivista e as fontes oficiais o iacutendio e o negro pouco
contribuiacuteram na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo Caiccedilarense segundo Severino Ismael
da Costa em seu livro ldquoCaiccedilara Caminhos de Almocrevesrdquo (1990) Ainda de acordo com o
mesmo o imaginaacuterio da populaccedilatildeo local contribuiu de maneira bastante significativa para o
florescimento da religiatildeo Catoacutelica que veio a ser praticada na Villa de Caiccedilara
Nesta mesma perspectiva as fontes oficias da Igreja em pauta tentam nos mostrar que
a participaccedilatildeo do negro no acircmbito religioso teve pouco significado Os ritos as festas as
preces tudo era vinculado ao catolicismo No periacuteodo da posse da terra quando o branco
erguia sua morada edificava tambeacutem junto ou nas proximidades uma capela onde eram
celebrados os atos religiosos e realizadas as festas Destas eram as mais comuns O Natal
14
Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo
saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais
conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da
quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito
cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um
gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo
se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas
rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os
moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave
missa com os seus familiares e agregados
MEcircS DE MAIO
Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas
capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a
tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em
volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens
de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar
o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites
era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees
O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas
A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA
A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob
a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas
de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas
No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a
aacuterea destinada a capela
15
ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer
faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas
construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro
pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)
A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um
pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria
desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor
Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves
Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas
paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de
comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura
e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A
frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina
No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por
Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa
das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo
o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois
sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos
inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os
adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que
havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e
repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do
templo
Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes
da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do
altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior
doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa
Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores
O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs
nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra
de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
16
Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os
altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares
construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a
Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da
igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios
provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a
igreja ganhou mais uma torre na fachada
A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO
As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber
a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta
regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as
terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros
separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia
outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os
fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em
comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o
povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a
padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar
ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo
outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica
a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro
Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o
nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do
Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca
A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de
casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro
17
da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra
do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa
ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem
Graccedilas agrave Virgem Mariardquo
(Paacuteg 36)
A FESTA
Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro
realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas
e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local
Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura
importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder
bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro
diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento
Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica
local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento
acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre
outros
18
CONCLUSAtildeO
O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de
Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa
afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da
histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e
vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os
questionamentos pertinentes a nossa pesquisa
Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor
procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de
proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do
espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do
mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local
Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem
enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na
tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto
na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local
O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de
Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como
vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo
da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG
para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como
elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos
O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de
Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na
sua obra
Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos
obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e
acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e
19
marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a
qualquer coisa
ABSTRACT
The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects
From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some
Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the
analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors
concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to
reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The
theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)
Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search
the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of
black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in
daily habits the existing diverse religiosity in this town
KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity
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REFEREcircNCIAS
ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do
seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006
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BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das
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COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed
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irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior
Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006
MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)
QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos
no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002
RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz
Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005
Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)
httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE
1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs
5
RESUMO
A marginalizaccedilatildeo do negro no decorrer da histoacuteria eacute visivelmente observada em seus diversos
aspectos Nessa perspectiva buscamos verificar se no municiacutepio de Caiccedilara foi erguida
alguma Irmandade Entretanto natildeo encontramos a documentaccedilatildeo necessaacuteria para
comprovaccedilatildeo No entanto a analise do livro da histoacuteria local do municiacutepio nos permitiram
detectar a preocupaccedilatildeo do autor em desvincular a contribuiccedilatildeo do homem de cor na sociedade
caiccedilarense O presente ensaio tem como objetivo reconstruir essa ideia deturpada que foi
criada no transcorrer do tempo no tocante aos negros A base teoacuterica que sustenta este artigo
satildeo os pressupostos teoacutericos de Reis(1999) Certeau (2002) e outros Atraveacutes de vestiacutegios e
indiacutecios que eacute o trabalho do historiador buscar nos escombros aquilo que estava escondido
este trabalho faz uma releitura na tentativa de evidenciara importacircncia do negro nas mais
diversas aacutereas da cultura do povo Caiccedilarense seja nas crendices na musicalidade nos haacutebitos
diaacuterios na religiosidade diversificada existente neste povoado
PALAVRAS ndash CHAVE Negro Marginalizaccedilatildeo Religiosidade
6
Memoacuteria construiacuteda e repensada sobre o municiacutepio de Caiccedilara
Paulo Ricardo
ldquoA histoacuteria eacute necessariamente escrita e reescrita a partir das
posiccedilotildees do presente lugar da problemaacutetica da pesquisa e do sujeito
que a realizardquo (REIS 1999 p9)
INTRODUCcedilAtildeO
Ao iniciarmos nossa pesquisa tiacutenhamos a pretensatildeo de estudar diretamente a presenccedila
de Irmandades Negras no municiacutepio de Caiccedilara1 como uma forma de resgatar a Histoacuteria dos
homens Negros da regiatildeo destacando suas formas de resistecircncia ao processo escravocrata
Contudo apoacutes algumas pesquisas nos deparamos com a falta de fontes documentais ou
mesmo orais que abordassem a temaacutetica Natildeo haacute registro da participaccedilatildeo do homem de cor na
formaccedilatildeo do culto catoacutelico da regiatildeo Dessa forma encontramos o problema a ser resolvido
ou pelo menos levantado atraveacutes de nossas investigaccedilotildees Onde encontrar as personagens
negras e suas colaboraccedilotildees na construccedilatildeo da Histoacuteria Local do Municiacutepio de Caiccedilara
Na principal fonte atualizada sobre a Histoacuteria do Municiacutepio haacute uma negaccedilatildeo
veemente sobre a contribuiccedilatildeo do homem de cor no cenaacuterio religioso local No livro Caiccedilara
Caminhos de Almocreves (1990) o autor Severino Ismael procura desvincular a participaccedilatildeo
do negro na construccedilatildeo do espaccedilo religioso daquele povoado ldquoO iacutendio e o negro quase que
natildeo tiveram influencia na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo caiccedilarenserdquo p 153
Essa eacute apenas uma das afirmativas feitas pelo autor com o intuito de negar a
contribuiccedilatildeo do homem de cor neste cenaacuterio local Ao analisamos o livro percebemos que o
autor Severino Ismael tenta excluir de todas as maneiras a presenccedila de elementos africanos
na construccedilatildeo do culto catoacutelico da regiatildeo Nossa pesquisa discute os elementos textuais da
obra escrita sob a perspectiva de historiografia apresentada por Certeau (2002) Desse modo a
historiografia eacute utilizada para definir os estudos criacuteticos acerca de um tema ou periacuteodo
1 Caiccedilarasup1 - eacute um municiacutepio brasileiro localizado na microrregiatildeo de Guarabira mesorregiatildeo do agreste
paraibano do estado da Paraiacuteba Sua populaccedilatildeo em 2013 foi estimada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 7304 habitantes distribuiacutedos em 128 kmsup2 de aacuterea distacircncia ateacute a
capital 143 km
7
referente agrave histoacuteria buscando-se encontrar explicaccedilotildees para os fatos do passado natildeo
constituindo verdades objetivas que traduzem a realidade tal como ocorreu mas como
construccedilotildees humanas que representam partes de uma realidade
Nessa linha de abordagem Certeau (2002) em seu livro A Escrita da Histoacuteria
compreende as caracteriacutesticas do trabalho do historiador fazendo referecircncia ao tripeacute da
operaccedilatildeo historiograacutefica ldquoum lugar social uma praacutetica uma escritardquo (p66)
O historiador tem a funccedilatildeo de dar voz ao natildeo dito atribuindo sentido a um determinado
acontecimento Segundo Certeau (2002) a pesquisa em histoacuteria se faz a partir de um lugar
socioeconocircmico poliacutetico e cultural Eacute importante considerar que o lugar que o autor cita estaacute
ligado agrave relaccedilatildeo que o historiador manteacutem com o lugar que se encontra uma vez que este natildeo
eacute mais um colecionador de fatos e sim um construtor recortador leitor e inteacuterprete de
processos histoacutericos buscando possibilidades hipoacuteteses de abordagem ligadas as suas
preocupaccedilotildees especiacuteficas ou seja trocando ideias e informaccedilotildees com outros saberes e
sujeitos
O historiador tem o tempo como ldquomaterial de anaacuteliserdquo ou como ldquoobjeto
especiacuteficordquo Trabalha de acordo com os seus meacutetodos os objetos fiacutesicos
(papeacuteis pedras imagens sons etc) Trabalha sobre um material para
transformaacute-lo em histoacuteria(CERTEAU 2002 p79)
Certeau (2002) afirma ainda que a anaacutelise historiograacutefica eacute um exerciacutecio de
problematizaccedilatildeo um campo aberto a inuacutemeras possibilidades e ao intenso diaacutelogo o que
permite essa amplitude de objetos e tipos de fontes a partir de metodologias que a histoacuteria
pode apresentar em diversificados campos do saber Coloca que a operaccedilatildeo historiograacutefica
natildeo estaacute somente relacionada a um lugar a uma praacutetica mas tambeacutem a uma escrita ou seja a
historiografia eacute construiacuteda por meio do discurso documental Portanto todo conhecimento
historiograacutefico eacute construiacutedo o que nos permite sempre trazer novas discussotildees a respeito da
anaacutelise do ldquopassadordquo
Sob esta perspectiva de construccedilatildeo a partir do seu lugar social eacute que podemos refletir
sobre os motivos e as intenccedilotildees de desvincular a praacutetica da religiatildeo catoacutelica em Caiccedilara da
presenccedila negra e indiacutegena nesta sociedade
ldquoA religiatildeo mesmo praticada por todos era a catoacutelica romana Nem os cultos
negros ndash o que evidencia a pequena participaccedilatildeo do elemento negro na etnia
local marcaram presenccedila na comunidade Os ritos as festas as preces tudo
era vinculado ao catolicismordquo (COSTA 1990 p 153)
8
Esta negaccedilatildeo aleacutem de refletir perspectiva de discriminaccedilatildeo racial destaca a
necessidade da Igreja Catoacutelica de apagar da memoacuteria histoacuterica natildeo apenas a presenccedila do
homem de cor mas muito aleacutem disso a possibilidade do espaccedilo de culto catoacutelico ou seja a
Igreja pertencer ou ter pertencido nominalmente a uma irmandade Isto significa que o
preacutedio em si e suas propriedades economicamente natildeo eram da Igreja mas de leigos que a
construiacuteram e doaram tudo o que estava ao seu redor e no seu interior Haacute uma real atividade
da Igreja de tentar apagar desconstruir camuflar as atividades das irmandades em especial
das que eram compostas por homens de cor
MUITO ALEacuteM DA ESCRITA E DA MEMOacuteRIA UMA CONSTRUCcedilAtildeO
O autor Severino Ismael da Costa publicou seu texto Caiccedilara caminhos de
almocreves na deacutecada de 90 do seacuteculo XX um periacuteodo de movimentaccedilatildeo poliacutetica vinculada
aos processos de municipalizaccedilatildeo que vinham ocorrendo no Estado da Paraiacuteba desde os anos
70 do mesmo seacuteculo Aliado a accedilatildeo poliacutetica de transformar em municiacutepio as vilas lugarejos e
aacutereas rurais do Estado era necessaacuteria a construccedilatildeo histoacuteria e descriccedilatildeo dos principais eventos
destas regiotildees Assim temos uma linha de escrita historiograacutefica estritamente vinculada a este
processo Constroacutei-se um municiacutepio consequentemente se constroacutei uma histoacuteria
O importante eacute identificar nestes textos em grande parte encomendados ou ao
menos financiados pelas elites locais o tipo de histoacuteria escrita e pensada assim como satildeo
escolhidos os personagens deste percurso A obra que analisamos natildeo foge a estas
caracteriacutesticas jaacute que recebeu apoio dos poliacuteticos locais na eacutepoca que foi publicada Nas
primeiras paacuteginas encontramos homenagens e agradecimentos agraves pessoas e personagens
ilustres da cidade entre eles filhos da elite local que se formaram e exercem profissotildees
liberais respeitadas pela sociedade da eacutepoca e dos dias atuais
ldquo HOMENAGEM Agrave CULTURA
Paraibana na presenccedila de um grande vulto
Prof JOSEacute OCTAacuteVIO DE ARRUDA MELO
Caiccedilarense representada por seus filhos
D Epaminondas Joseacute de Arauacutejo emeacuterito bispo da Igreja Catoacutelica de quem natildeo
me faltou estiacutemulo de conterracircneo
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Prof Joseacute Jackson Carneiro de Carvalho de quem recebi incentivo e ateacute desafio
Dr Walderedo Ismael de Oliveira meacutedico de renome internacional escritor
especializado modesto e grande como sua terrardquo (COSTA 1990 p13)
O autor inicia seu texto se referindo as ldquograndesrdquo personalidades de sua cidade tendo
o cuidado de anteriormente ter agradecido aos prefeitos da eacutepoca Haacute a presenccedila dos nomes e
sobrenomes de destaque da cidade representantes da Igreja Catoacutelica de meacutedicos professores
e jornalistas
Em seguida descreve a histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade e de sua municipalizaccedilatildeo desta
a participaccedilatildeo do iacutendio que junto ao portuguecircs seriam os grandes responsaacuteveis pela formaccedilatildeo
desta sociedade mas afirma que o negro teve pouca atuaccedilatildeo ldquonatildeo haacute grande presenccedila do
elemento negro a natildeo ser na zona dos engenhos no dorso da serra onde precisaram do
escravo para tocar o trabalhordquo (COSTA 1990 p 69) apesar de ter sido escrito nos anos 90
do seacuteculo XX o texto tem uma preocupaccedilatildeo oitocentista de esconder a presenccedila negra
minimizando sua participaccedilatildeo nas atividades econocircmicas A impossibilidade de simplesmente
omitir esta inserccedilatildeo dos homens negros na sociedade de Caiccedilara faz com que seu texto e sua
fala se tornem contraditoacuterios no sentido de que afirma natildeo ter existido uma participaccedilatildeo
negra mas ao mesmo tempo destaca o lugar social ocupado por esta etnia
Muito de sua escrita positivista eacute explicado pelas fontes selecionadas pelo autor
Textos tradicionais sobre a Histoacuteria da Paraiacuteba escritos no iniacutecio do seacuteculo XX em especial
os escritos de Horaacutecio de Almeida se dando ao trabalho de apenas transferir as ideias destes
sem realizar uma revisatildeo ou criacutetica historiograacutefica Isso fica latente ao reproduzir a expressatildeo
Tapuia como sinocircnimo de baacuterbaro E destacar figuras heroicas entre os indiacutegenas que de
alguma forma se aliaram aos conquistadores nos empreendimentos de colonizaccedilatildeo
Outro ponto que nos chama a atenccedilatildeo eacute a necessidade de sempre referecircnciar as fontes
em geral documentais ou historiograacuteficas e ao mesmo tempo questionaacute-las e ateacute discordar de
dados e apontamentos que se distanciam de uma preocupaccedilatildeo com o processo histoacuterico mas
se relaciona diretamente com uma narrativa positivista como por exemplo ao investigar e
averiguar quem teria sido o primeiro morador de Caiccedilara Segundo Coriolano de Medeiros e
Luiz Pinto teria sido ldquoJoseacute de abreu Cordeiro em 1776 contudo verificou ser na realidade
Raphael de Carvalho em 1615rdquo (COSTA 1990 p 85)
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O povoado surge a partir da construccedilatildeo de casa de morada capela e currais agrave margem
direita do rio Curimatauacute em 1822 por Manoel Soares da Costa A capela tinha por invocaccedilatildeo
Nossa Senhora do Rosaacuterio Como a maioria dos municiacutepios da regiatildeo seu desenvolvimento
pode ser vinculado ao estabelecimento da feira Uma particularidade citada e destacada pelo
autor satildeo as disputas poliacuteticas entre Caiccedilara e o Municiacutepio de Serra da Raiz que levam os
dois lugarejos a encontrar formas de se destacarem um em relaccedilatildeo ao outro Por exemplo
menciona que a criaccedilatildeo em 1870 da Freguesia de N S do Bom Fim cuja sede eacute a Serra da
Raiz ( instituiccedilatildeo que tornava Caiccedilara subordinada nas questotildees religiosas em relaccedilatildeo agrave Serra
da Raiz) segundo o autor a animosidade poliacutetico-administrativa entre os lugarejos se
desenvolveu a partir da introduccedilatildeo da feira livre em Caiccedilara jaacute que a mesma se tornou uma
forte concorrente para os ldquobarracotildeesrdquo instalados nos engenhos da Serra da Raiz assim a feira
poderia promover uma mudanccedila social que natildeo interessava aos poliacuteticos daquela regiatildeo
Passa a destacar os poliacuteticos de Caiccedilara nomeando-os ateacute o seacuteculo XX o que se
configura como um importante registro para a histoacuteria local assim como toda a obra de
Severino Ismael da Costa (1990) contudo ainda necessitando de uma anaacutelise do processo
histoacuterico e de suas etapas O fato que o autor levanta vaacuterios pontos desta histoacuteria que devem
ser estudados um dia e provavelmente iratildeo partir e se referir a sua obra que tem como
destaque o trabalho de levantamento de dados e fontes para os proacuteximos historiadores que se
dedicarem a Historia desta regiatildeo Nossas observaccedilotildees se referem a ideia de ausecircncia de
contribuiccedilatildeo do homem negro na constituiccedilatildeo soacutecioreligiosa desta localidade
Mais uma vez o autor busca formas de desvincular a participaccedilatildeo dos negros na
histoacuteria religiosa local A obra Caiccedilara Caminhos de Almocreves estaacute repleta destas
argumentaccedilotildees acerca do homem de cor
O objetivo inicial desta pesquisa era de buscar indiacutecios em Livros de Tombo e
documentos religiosos a contribuiccedilatildeo do negro na religiosidade local Tendo em vista que natildeo
soacute no municiacutepio de Caiccedilara mas tambeacutem em todo o territoacuterio brasileiro houve uma
marginalizaccedilatildeo da imagem do homem de cor ou seja uma tentativa de deixar a margem da
sociedade uma figura que se faz tatildeo importante para adentrarmos no imaginaacuterio religioso do
povo brasileiro
Contudo o livro de Tombo analisado natildeo nos forneceu as informaccedilotildees necessaacuterias
para afirmamos que houve uma irmandade negra no municiacutepio de Caiccedilara Mas para
buscarmos indiacutecios e vestiacutegios da contribuiccedilatildeo do negro nestes locais faremos uma analise
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minuciosa da obra contrapondo com elementos existentes na proacutepria igreja local na tentativa
de trazer a luz questotildees que foram estabelecidas pelo autor Severino Ismael como verdades
prontas e absolutas Os possiacuteveis indiacutecios e vestiacutegios satildeo elementos de fundamental
importacircncia para este trabalho
Entre estes vestiacutegios destacamos a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no altar
central da Igreja matriz de Caiccedilara (apesar da referecircncia direta agrave fundaccedilatildeo da cidade nos eacute
intrigante a escolha desta padroeira por seus fundadores) Jaacute que este culto agrave Senhora do
Rosaacuterio no Brasil ficou diretamente vinculado ao culto catoacutelico negro atraveacutes das
irmandades podendo dessa forma ser considerado um elemento da cultura africana no
espaccedilo religioso local Abaixo foto da Imagem tirada em 06 de Janeiro de 2014 Durante os
preparativos para a procissatildeo da Padroeira que se comemora nesta data no municiacutepio de
Caiccedilara
Ilustraccedilatildeo 1 Imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no andor
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Foto Ricardo (2014)
Eacute evidente que os diversos escravos africanos desembarcados no Brasil contribuiriam
de forma significativa para a construccedilatildeo territorial e religiosa do paiacutes jaacute que participaram
diretamente da formaccedilatildeo da sociedade brasileira seja no trabalho nos engenhos de produccedilatildeo
de cana de accediluacutecar nas lavouras do cafeacute na extraccedilatildeo do ouro entre outros Ao desembarcarem
nessas terras trouxeram consigo seus costumes liacutenguas valores e crenccedilas Aqui encontraram
as mais diversas dificuldades de praticar sua cultura ou seja cultuar suas divindades e
costumes
O DESENVOLVIMENTO DAS PRAacuteTICAS RELIGIOSAS OFICIAIS NA CIDADE
DE CAICcedilARA-PB
A presenccedila do Catolicismo caiccedilarense estaacute inteiramente ligada ao seu periacuteodo de
fundaccedilatildeo que se deu por volta do ano de 1822 quando Manoel Soares da Costa instalou sua
fazenda e ergueu uma capela as margens do Rio Curimatauacute ldquoO povoamento da encantadora
Villa de Caiccedilara segundo informes de pessoas competentes teve logar no ano de 1822rdquo
Onde ldquoFoi edificada uma pequena capella sob a invocaccedilatildeo de NS do Rosaacuterio ()rdquo
ARAUacuteJO (1913)
Como aconteceu no Brasil e consequentemente na Paraiacuteba de uma forma em geral o
processo de povoamento oficial das regiotildees afastadas do litoral assim como o proacuteprio litoral
teve sua conquista e povoamento acompanhado da praacutetica religiosa oficial dos exploradores o
catolicismo A presenccedila da capela de Nossa Senhora do Rosaacuterio no povoamento que
futuramente seria denominado como municiacutepio de caiccedilara eacute um fato indiscutiacutevel pelos
historiadores e narradores de uma forma geral do Mito de fundaccedilatildeo da cidade ocorrendo
uma discussatildeo historiograacutefica agrave respeito do ano desta fundaccedilatildeo Epaminondas Tavares de
Arauacutejo afirma ter sido no ano de 1822 Entretanto Coriolano de Medeiros (em seu
ldquoDicionaacuterio Chorograacuteficordquo 1914) aponta o ano de 1841 como o da fundaccedilatildeo da Villa de
Caiccedilara
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ldquoEm 1841 o terreno onde hoje eacute a sede do municiacutepio cobria-se ainda
cactos e bromeacutelias quando Manoel Soares da Costa Francisco da Costa
Gonccedilalves e Joseacute Vicente compraram a propriedade construiacuteram suas
vivendas e cercados de ramos ndash caiccedilaras ndash para abrigo do gado Depois
ergueram uma capella dedicada a NS do Rosaacuterio rdquo
Entretanto O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) aceita o uacuteltimo
como sendo o ano de fundaccedilatildeo Entre a populaccedilatildeo a informaccedilatildeo tida com maior aprovaccedilatildeo eacute
ano de 1822 Isto porque a sesmaria que Luiacutes Soares de Mendonccedila adquiriu natildeo foi no ano de
1822 como relatou Coriolano de Medeiros em seus estudos e sim no ano de 1788 registrada
sob nordm 891 por meio de documentos oficiais
Todavia a divergecircncia acerca do ano de fundaccedilatildeo ocorreu pelo fato de que a criaccedilatildeo da
feira ocorreu no ano de 1841 e o mesmo seria o marco do crescimento e da concentraccedilatildeo
urbana O que observamos em comum em ambas as citaccedilotildees eacute que o Catolicismo fecundava a
Villa de Caiccedilara desde sua fundaccedilatildeo Pois a construccedilatildeo da Capella eacute vista em todos os
registros sobre a origem deste povoado Os autores oficiais e tradicionais da histoacuteria de
fundaccedilatildeo da Villa de Caiccedilara discorrem ainda sobre a origem de sua denominaccedilatildeo segundo
Coriolano de Medeiros e Epaminondas Tavares o nome Caiccedilara proveacutem dos currais Fala
Epaminondas ldquoA denominaccedilatildeo de Caiccedilara proveacutem de um curral de pau-a-pique construiacutedo
por Manoel Soares nas proximidades de sua casardquo (p108)
O CATOLICISMO CAICcedilARENSE
De acordo com a visatildeo positivista e as fontes oficiais o iacutendio e o negro pouco
contribuiacuteram na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo Caiccedilarense segundo Severino Ismael
da Costa em seu livro ldquoCaiccedilara Caminhos de Almocrevesrdquo (1990) Ainda de acordo com o
mesmo o imaginaacuterio da populaccedilatildeo local contribuiu de maneira bastante significativa para o
florescimento da religiatildeo Catoacutelica que veio a ser praticada na Villa de Caiccedilara
Nesta mesma perspectiva as fontes oficias da Igreja em pauta tentam nos mostrar que
a participaccedilatildeo do negro no acircmbito religioso teve pouco significado Os ritos as festas as
preces tudo era vinculado ao catolicismo No periacuteodo da posse da terra quando o branco
erguia sua morada edificava tambeacutem junto ou nas proximidades uma capela onde eram
celebrados os atos religiosos e realizadas as festas Destas eram as mais comuns O Natal
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Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo
saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais
conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da
quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito
cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um
gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo
se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas
rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os
moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave
missa com os seus familiares e agregados
MEcircS DE MAIO
Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas
capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a
tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em
volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens
de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar
o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites
era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees
O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas
A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA
A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob
a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas
de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas
No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a
aacuterea destinada a capela
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ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer
faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas
construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro
pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)
A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um
pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria
desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor
Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves
Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas
paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de
comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura
e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A
frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina
No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por
Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa
das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo
o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois
sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos
inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os
adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que
havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e
repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do
templo
Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes
da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do
altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior
doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa
Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores
O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs
nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra
de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
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Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os
altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares
construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a
Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da
igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios
provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a
igreja ganhou mais uma torre na fachada
A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO
As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber
a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta
regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as
terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros
separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia
outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os
fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em
comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o
povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a
padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar
ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo
outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica
a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro
Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o
nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do
Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca
A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de
casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro
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da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra
do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa
ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem
Graccedilas agrave Virgem Mariardquo
(Paacuteg 36)
A FESTA
Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro
realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas
e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local
Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura
importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder
bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro
diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento
Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica
local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento
acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre
outros
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CONCLUSAtildeO
O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de
Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa
afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da
histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e
vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os
questionamentos pertinentes a nossa pesquisa
Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor
procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de
proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do
espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do
mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local
Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem
enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na
tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto
na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local
O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de
Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como
vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo
da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG
para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como
elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos
O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de
Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na
sua obra
Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos
obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e
acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e
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marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a
qualquer coisa
ABSTRACT
The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects
From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some
Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the
analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors
concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to
reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The
theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)
Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search
the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of
black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in
daily habits the existing diverse religiosity in this town
KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity
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REFEREcircNCIAS
ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do
seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006
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BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em
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COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed
Micrograacutefica 1990
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HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo
Petroacutepolis Vozes 1991
JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas
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Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006
MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)
QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos
no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002
RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz
Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005
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httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE
1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs
6
Memoacuteria construiacuteda e repensada sobre o municiacutepio de Caiccedilara
Paulo Ricardo
ldquoA histoacuteria eacute necessariamente escrita e reescrita a partir das
posiccedilotildees do presente lugar da problemaacutetica da pesquisa e do sujeito
que a realizardquo (REIS 1999 p9)
INTRODUCcedilAtildeO
Ao iniciarmos nossa pesquisa tiacutenhamos a pretensatildeo de estudar diretamente a presenccedila
de Irmandades Negras no municiacutepio de Caiccedilara1 como uma forma de resgatar a Histoacuteria dos
homens Negros da regiatildeo destacando suas formas de resistecircncia ao processo escravocrata
Contudo apoacutes algumas pesquisas nos deparamos com a falta de fontes documentais ou
mesmo orais que abordassem a temaacutetica Natildeo haacute registro da participaccedilatildeo do homem de cor na
formaccedilatildeo do culto catoacutelico da regiatildeo Dessa forma encontramos o problema a ser resolvido
ou pelo menos levantado atraveacutes de nossas investigaccedilotildees Onde encontrar as personagens
negras e suas colaboraccedilotildees na construccedilatildeo da Histoacuteria Local do Municiacutepio de Caiccedilara
Na principal fonte atualizada sobre a Histoacuteria do Municiacutepio haacute uma negaccedilatildeo
veemente sobre a contribuiccedilatildeo do homem de cor no cenaacuterio religioso local No livro Caiccedilara
Caminhos de Almocreves (1990) o autor Severino Ismael procura desvincular a participaccedilatildeo
do negro na construccedilatildeo do espaccedilo religioso daquele povoado ldquoO iacutendio e o negro quase que
natildeo tiveram influencia na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo caiccedilarenserdquo p 153
Essa eacute apenas uma das afirmativas feitas pelo autor com o intuito de negar a
contribuiccedilatildeo do homem de cor neste cenaacuterio local Ao analisamos o livro percebemos que o
autor Severino Ismael tenta excluir de todas as maneiras a presenccedila de elementos africanos
na construccedilatildeo do culto catoacutelico da regiatildeo Nossa pesquisa discute os elementos textuais da
obra escrita sob a perspectiva de historiografia apresentada por Certeau (2002) Desse modo a
historiografia eacute utilizada para definir os estudos criacuteticos acerca de um tema ou periacuteodo
1 Caiccedilarasup1 - eacute um municiacutepio brasileiro localizado na microrregiatildeo de Guarabira mesorregiatildeo do agreste
paraibano do estado da Paraiacuteba Sua populaccedilatildeo em 2013 foi estimada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 7304 habitantes distribuiacutedos em 128 kmsup2 de aacuterea distacircncia ateacute a
capital 143 km
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referente agrave histoacuteria buscando-se encontrar explicaccedilotildees para os fatos do passado natildeo
constituindo verdades objetivas que traduzem a realidade tal como ocorreu mas como
construccedilotildees humanas que representam partes de uma realidade
Nessa linha de abordagem Certeau (2002) em seu livro A Escrita da Histoacuteria
compreende as caracteriacutesticas do trabalho do historiador fazendo referecircncia ao tripeacute da
operaccedilatildeo historiograacutefica ldquoum lugar social uma praacutetica uma escritardquo (p66)
O historiador tem a funccedilatildeo de dar voz ao natildeo dito atribuindo sentido a um determinado
acontecimento Segundo Certeau (2002) a pesquisa em histoacuteria se faz a partir de um lugar
socioeconocircmico poliacutetico e cultural Eacute importante considerar que o lugar que o autor cita estaacute
ligado agrave relaccedilatildeo que o historiador manteacutem com o lugar que se encontra uma vez que este natildeo
eacute mais um colecionador de fatos e sim um construtor recortador leitor e inteacuterprete de
processos histoacutericos buscando possibilidades hipoacuteteses de abordagem ligadas as suas
preocupaccedilotildees especiacuteficas ou seja trocando ideias e informaccedilotildees com outros saberes e
sujeitos
O historiador tem o tempo como ldquomaterial de anaacuteliserdquo ou como ldquoobjeto
especiacuteficordquo Trabalha de acordo com os seus meacutetodos os objetos fiacutesicos
(papeacuteis pedras imagens sons etc) Trabalha sobre um material para
transformaacute-lo em histoacuteria(CERTEAU 2002 p79)
Certeau (2002) afirma ainda que a anaacutelise historiograacutefica eacute um exerciacutecio de
problematizaccedilatildeo um campo aberto a inuacutemeras possibilidades e ao intenso diaacutelogo o que
permite essa amplitude de objetos e tipos de fontes a partir de metodologias que a histoacuteria
pode apresentar em diversificados campos do saber Coloca que a operaccedilatildeo historiograacutefica
natildeo estaacute somente relacionada a um lugar a uma praacutetica mas tambeacutem a uma escrita ou seja a
historiografia eacute construiacuteda por meio do discurso documental Portanto todo conhecimento
historiograacutefico eacute construiacutedo o que nos permite sempre trazer novas discussotildees a respeito da
anaacutelise do ldquopassadordquo
Sob esta perspectiva de construccedilatildeo a partir do seu lugar social eacute que podemos refletir
sobre os motivos e as intenccedilotildees de desvincular a praacutetica da religiatildeo catoacutelica em Caiccedilara da
presenccedila negra e indiacutegena nesta sociedade
ldquoA religiatildeo mesmo praticada por todos era a catoacutelica romana Nem os cultos
negros ndash o que evidencia a pequena participaccedilatildeo do elemento negro na etnia
local marcaram presenccedila na comunidade Os ritos as festas as preces tudo
era vinculado ao catolicismordquo (COSTA 1990 p 153)
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Esta negaccedilatildeo aleacutem de refletir perspectiva de discriminaccedilatildeo racial destaca a
necessidade da Igreja Catoacutelica de apagar da memoacuteria histoacuterica natildeo apenas a presenccedila do
homem de cor mas muito aleacutem disso a possibilidade do espaccedilo de culto catoacutelico ou seja a
Igreja pertencer ou ter pertencido nominalmente a uma irmandade Isto significa que o
preacutedio em si e suas propriedades economicamente natildeo eram da Igreja mas de leigos que a
construiacuteram e doaram tudo o que estava ao seu redor e no seu interior Haacute uma real atividade
da Igreja de tentar apagar desconstruir camuflar as atividades das irmandades em especial
das que eram compostas por homens de cor
MUITO ALEacuteM DA ESCRITA E DA MEMOacuteRIA UMA CONSTRUCcedilAtildeO
O autor Severino Ismael da Costa publicou seu texto Caiccedilara caminhos de
almocreves na deacutecada de 90 do seacuteculo XX um periacuteodo de movimentaccedilatildeo poliacutetica vinculada
aos processos de municipalizaccedilatildeo que vinham ocorrendo no Estado da Paraiacuteba desde os anos
70 do mesmo seacuteculo Aliado a accedilatildeo poliacutetica de transformar em municiacutepio as vilas lugarejos e
aacutereas rurais do Estado era necessaacuteria a construccedilatildeo histoacuteria e descriccedilatildeo dos principais eventos
destas regiotildees Assim temos uma linha de escrita historiograacutefica estritamente vinculada a este
processo Constroacutei-se um municiacutepio consequentemente se constroacutei uma histoacuteria
O importante eacute identificar nestes textos em grande parte encomendados ou ao
menos financiados pelas elites locais o tipo de histoacuteria escrita e pensada assim como satildeo
escolhidos os personagens deste percurso A obra que analisamos natildeo foge a estas
caracteriacutesticas jaacute que recebeu apoio dos poliacuteticos locais na eacutepoca que foi publicada Nas
primeiras paacuteginas encontramos homenagens e agradecimentos agraves pessoas e personagens
ilustres da cidade entre eles filhos da elite local que se formaram e exercem profissotildees
liberais respeitadas pela sociedade da eacutepoca e dos dias atuais
ldquo HOMENAGEM Agrave CULTURA
Paraibana na presenccedila de um grande vulto
Prof JOSEacute OCTAacuteVIO DE ARRUDA MELO
Caiccedilarense representada por seus filhos
D Epaminondas Joseacute de Arauacutejo emeacuterito bispo da Igreja Catoacutelica de quem natildeo
me faltou estiacutemulo de conterracircneo
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Prof Joseacute Jackson Carneiro de Carvalho de quem recebi incentivo e ateacute desafio
Dr Walderedo Ismael de Oliveira meacutedico de renome internacional escritor
especializado modesto e grande como sua terrardquo (COSTA 1990 p13)
O autor inicia seu texto se referindo as ldquograndesrdquo personalidades de sua cidade tendo
o cuidado de anteriormente ter agradecido aos prefeitos da eacutepoca Haacute a presenccedila dos nomes e
sobrenomes de destaque da cidade representantes da Igreja Catoacutelica de meacutedicos professores
e jornalistas
Em seguida descreve a histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade e de sua municipalizaccedilatildeo desta
a participaccedilatildeo do iacutendio que junto ao portuguecircs seriam os grandes responsaacuteveis pela formaccedilatildeo
desta sociedade mas afirma que o negro teve pouca atuaccedilatildeo ldquonatildeo haacute grande presenccedila do
elemento negro a natildeo ser na zona dos engenhos no dorso da serra onde precisaram do
escravo para tocar o trabalhordquo (COSTA 1990 p 69) apesar de ter sido escrito nos anos 90
do seacuteculo XX o texto tem uma preocupaccedilatildeo oitocentista de esconder a presenccedila negra
minimizando sua participaccedilatildeo nas atividades econocircmicas A impossibilidade de simplesmente
omitir esta inserccedilatildeo dos homens negros na sociedade de Caiccedilara faz com que seu texto e sua
fala se tornem contraditoacuterios no sentido de que afirma natildeo ter existido uma participaccedilatildeo
negra mas ao mesmo tempo destaca o lugar social ocupado por esta etnia
Muito de sua escrita positivista eacute explicado pelas fontes selecionadas pelo autor
Textos tradicionais sobre a Histoacuteria da Paraiacuteba escritos no iniacutecio do seacuteculo XX em especial
os escritos de Horaacutecio de Almeida se dando ao trabalho de apenas transferir as ideias destes
sem realizar uma revisatildeo ou criacutetica historiograacutefica Isso fica latente ao reproduzir a expressatildeo
Tapuia como sinocircnimo de baacuterbaro E destacar figuras heroicas entre os indiacutegenas que de
alguma forma se aliaram aos conquistadores nos empreendimentos de colonizaccedilatildeo
Outro ponto que nos chama a atenccedilatildeo eacute a necessidade de sempre referecircnciar as fontes
em geral documentais ou historiograacuteficas e ao mesmo tempo questionaacute-las e ateacute discordar de
dados e apontamentos que se distanciam de uma preocupaccedilatildeo com o processo histoacuterico mas
se relaciona diretamente com uma narrativa positivista como por exemplo ao investigar e
averiguar quem teria sido o primeiro morador de Caiccedilara Segundo Coriolano de Medeiros e
Luiz Pinto teria sido ldquoJoseacute de abreu Cordeiro em 1776 contudo verificou ser na realidade
Raphael de Carvalho em 1615rdquo (COSTA 1990 p 85)
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O povoado surge a partir da construccedilatildeo de casa de morada capela e currais agrave margem
direita do rio Curimatauacute em 1822 por Manoel Soares da Costa A capela tinha por invocaccedilatildeo
Nossa Senhora do Rosaacuterio Como a maioria dos municiacutepios da regiatildeo seu desenvolvimento
pode ser vinculado ao estabelecimento da feira Uma particularidade citada e destacada pelo
autor satildeo as disputas poliacuteticas entre Caiccedilara e o Municiacutepio de Serra da Raiz que levam os
dois lugarejos a encontrar formas de se destacarem um em relaccedilatildeo ao outro Por exemplo
menciona que a criaccedilatildeo em 1870 da Freguesia de N S do Bom Fim cuja sede eacute a Serra da
Raiz ( instituiccedilatildeo que tornava Caiccedilara subordinada nas questotildees religiosas em relaccedilatildeo agrave Serra
da Raiz) segundo o autor a animosidade poliacutetico-administrativa entre os lugarejos se
desenvolveu a partir da introduccedilatildeo da feira livre em Caiccedilara jaacute que a mesma se tornou uma
forte concorrente para os ldquobarracotildeesrdquo instalados nos engenhos da Serra da Raiz assim a feira
poderia promover uma mudanccedila social que natildeo interessava aos poliacuteticos daquela regiatildeo
Passa a destacar os poliacuteticos de Caiccedilara nomeando-os ateacute o seacuteculo XX o que se
configura como um importante registro para a histoacuteria local assim como toda a obra de
Severino Ismael da Costa (1990) contudo ainda necessitando de uma anaacutelise do processo
histoacuterico e de suas etapas O fato que o autor levanta vaacuterios pontos desta histoacuteria que devem
ser estudados um dia e provavelmente iratildeo partir e se referir a sua obra que tem como
destaque o trabalho de levantamento de dados e fontes para os proacuteximos historiadores que se
dedicarem a Historia desta regiatildeo Nossas observaccedilotildees se referem a ideia de ausecircncia de
contribuiccedilatildeo do homem negro na constituiccedilatildeo soacutecioreligiosa desta localidade
Mais uma vez o autor busca formas de desvincular a participaccedilatildeo dos negros na
histoacuteria religiosa local A obra Caiccedilara Caminhos de Almocreves estaacute repleta destas
argumentaccedilotildees acerca do homem de cor
O objetivo inicial desta pesquisa era de buscar indiacutecios em Livros de Tombo e
documentos religiosos a contribuiccedilatildeo do negro na religiosidade local Tendo em vista que natildeo
soacute no municiacutepio de Caiccedilara mas tambeacutem em todo o territoacuterio brasileiro houve uma
marginalizaccedilatildeo da imagem do homem de cor ou seja uma tentativa de deixar a margem da
sociedade uma figura que se faz tatildeo importante para adentrarmos no imaginaacuterio religioso do
povo brasileiro
Contudo o livro de Tombo analisado natildeo nos forneceu as informaccedilotildees necessaacuterias
para afirmamos que houve uma irmandade negra no municiacutepio de Caiccedilara Mas para
buscarmos indiacutecios e vestiacutegios da contribuiccedilatildeo do negro nestes locais faremos uma analise
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minuciosa da obra contrapondo com elementos existentes na proacutepria igreja local na tentativa
de trazer a luz questotildees que foram estabelecidas pelo autor Severino Ismael como verdades
prontas e absolutas Os possiacuteveis indiacutecios e vestiacutegios satildeo elementos de fundamental
importacircncia para este trabalho
Entre estes vestiacutegios destacamos a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no altar
central da Igreja matriz de Caiccedilara (apesar da referecircncia direta agrave fundaccedilatildeo da cidade nos eacute
intrigante a escolha desta padroeira por seus fundadores) Jaacute que este culto agrave Senhora do
Rosaacuterio no Brasil ficou diretamente vinculado ao culto catoacutelico negro atraveacutes das
irmandades podendo dessa forma ser considerado um elemento da cultura africana no
espaccedilo religioso local Abaixo foto da Imagem tirada em 06 de Janeiro de 2014 Durante os
preparativos para a procissatildeo da Padroeira que se comemora nesta data no municiacutepio de
Caiccedilara
Ilustraccedilatildeo 1 Imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no andor
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Foto Ricardo (2014)
Eacute evidente que os diversos escravos africanos desembarcados no Brasil contribuiriam
de forma significativa para a construccedilatildeo territorial e religiosa do paiacutes jaacute que participaram
diretamente da formaccedilatildeo da sociedade brasileira seja no trabalho nos engenhos de produccedilatildeo
de cana de accediluacutecar nas lavouras do cafeacute na extraccedilatildeo do ouro entre outros Ao desembarcarem
nessas terras trouxeram consigo seus costumes liacutenguas valores e crenccedilas Aqui encontraram
as mais diversas dificuldades de praticar sua cultura ou seja cultuar suas divindades e
costumes
O DESENVOLVIMENTO DAS PRAacuteTICAS RELIGIOSAS OFICIAIS NA CIDADE
DE CAICcedilARA-PB
A presenccedila do Catolicismo caiccedilarense estaacute inteiramente ligada ao seu periacuteodo de
fundaccedilatildeo que se deu por volta do ano de 1822 quando Manoel Soares da Costa instalou sua
fazenda e ergueu uma capela as margens do Rio Curimatauacute ldquoO povoamento da encantadora
Villa de Caiccedilara segundo informes de pessoas competentes teve logar no ano de 1822rdquo
Onde ldquoFoi edificada uma pequena capella sob a invocaccedilatildeo de NS do Rosaacuterio ()rdquo
ARAUacuteJO (1913)
Como aconteceu no Brasil e consequentemente na Paraiacuteba de uma forma em geral o
processo de povoamento oficial das regiotildees afastadas do litoral assim como o proacuteprio litoral
teve sua conquista e povoamento acompanhado da praacutetica religiosa oficial dos exploradores o
catolicismo A presenccedila da capela de Nossa Senhora do Rosaacuterio no povoamento que
futuramente seria denominado como municiacutepio de caiccedilara eacute um fato indiscutiacutevel pelos
historiadores e narradores de uma forma geral do Mito de fundaccedilatildeo da cidade ocorrendo
uma discussatildeo historiograacutefica agrave respeito do ano desta fundaccedilatildeo Epaminondas Tavares de
Arauacutejo afirma ter sido no ano de 1822 Entretanto Coriolano de Medeiros (em seu
ldquoDicionaacuterio Chorograacuteficordquo 1914) aponta o ano de 1841 como o da fundaccedilatildeo da Villa de
Caiccedilara
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ldquoEm 1841 o terreno onde hoje eacute a sede do municiacutepio cobria-se ainda
cactos e bromeacutelias quando Manoel Soares da Costa Francisco da Costa
Gonccedilalves e Joseacute Vicente compraram a propriedade construiacuteram suas
vivendas e cercados de ramos ndash caiccedilaras ndash para abrigo do gado Depois
ergueram uma capella dedicada a NS do Rosaacuterio rdquo
Entretanto O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) aceita o uacuteltimo
como sendo o ano de fundaccedilatildeo Entre a populaccedilatildeo a informaccedilatildeo tida com maior aprovaccedilatildeo eacute
ano de 1822 Isto porque a sesmaria que Luiacutes Soares de Mendonccedila adquiriu natildeo foi no ano de
1822 como relatou Coriolano de Medeiros em seus estudos e sim no ano de 1788 registrada
sob nordm 891 por meio de documentos oficiais
Todavia a divergecircncia acerca do ano de fundaccedilatildeo ocorreu pelo fato de que a criaccedilatildeo da
feira ocorreu no ano de 1841 e o mesmo seria o marco do crescimento e da concentraccedilatildeo
urbana O que observamos em comum em ambas as citaccedilotildees eacute que o Catolicismo fecundava a
Villa de Caiccedilara desde sua fundaccedilatildeo Pois a construccedilatildeo da Capella eacute vista em todos os
registros sobre a origem deste povoado Os autores oficiais e tradicionais da histoacuteria de
fundaccedilatildeo da Villa de Caiccedilara discorrem ainda sobre a origem de sua denominaccedilatildeo segundo
Coriolano de Medeiros e Epaminondas Tavares o nome Caiccedilara proveacutem dos currais Fala
Epaminondas ldquoA denominaccedilatildeo de Caiccedilara proveacutem de um curral de pau-a-pique construiacutedo
por Manoel Soares nas proximidades de sua casardquo (p108)
O CATOLICISMO CAICcedilARENSE
De acordo com a visatildeo positivista e as fontes oficiais o iacutendio e o negro pouco
contribuiacuteram na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo Caiccedilarense segundo Severino Ismael
da Costa em seu livro ldquoCaiccedilara Caminhos de Almocrevesrdquo (1990) Ainda de acordo com o
mesmo o imaginaacuterio da populaccedilatildeo local contribuiu de maneira bastante significativa para o
florescimento da religiatildeo Catoacutelica que veio a ser praticada na Villa de Caiccedilara
Nesta mesma perspectiva as fontes oficias da Igreja em pauta tentam nos mostrar que
a participaccedilatildeo do negro no acircmbito religioso teve pouco significado Os ritos as festas as
preces tudo era vinculado ao catolicismo No periacuteodo da posse da terra quando o branco
erguia sua morada edificava tambeacutem junto ou nas proximidades uma capela onde eram
celebrados os atos religiosos e realizadas as festas Destas eram as mais comuns O Natal
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Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo
saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais
conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da
quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito
cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um
gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo
se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas
rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os
moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave
missa com os seus familiares e agregados
MEcircS DE MAIO
Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas
capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a
tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em
volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens
de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar
o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites
era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees
O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas
A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA
A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob
a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas
de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas
No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a
aacuterea destinada a capela
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ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer
faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas
construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro
pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)
A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um
pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria
desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor
Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves
Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas
paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de
comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura
e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A
frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina
No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por
Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa
das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo
o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois
sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos
inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os
adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que
havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e
repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do
templo
Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes
da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do
altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior
doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa
Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores
O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs
nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra
de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
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Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os
altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares
construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a
Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da
igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios
provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a
igreja ganhou mais uma torre na fachada
A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO
As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber
a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta
regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as
terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros
separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia
outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os
fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em
comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o
povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a
padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar
ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo
outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica
a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro
Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o
nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do
Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca
A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de
casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro
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da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra
do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa
ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem
Graccedilas agrave Virgem Mariardquo
(Paacuteg 36)
A FESTA
Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro
realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas
e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local
Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura
importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder
bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro
diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento
Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica
local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento
acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre
outros
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CONCLUSAtildeO
O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de
Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa
afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da
histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e
vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os
questionamentos pertinentes a nossa pesquisa
Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor
procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de
proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do
espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do
mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local
Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem
enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na
tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto
na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local
O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de
Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como
vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo
da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG
para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como
elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos
O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de
Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na
sua obra
Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos
obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e
acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e
19
marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a
qualquer coisa
ABSTRACT
The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects
From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some
Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the
analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors
concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to
reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The
theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)
Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search
the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of
black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in
daily habits the existing diverse religiosity in this town
KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity
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Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006
MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)
QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos
no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002
RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz
Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005
Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)
httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE
1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs
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referente agrave histoacuteria buscando-se encontrar explicaccedilotildees para os fatos do passado natildeo
constituindo verdades objetivas que traduzem a realidade tal como ocorreu mas como
construccedilotildees humanas que representam partes de uma realidade
Nessa linha de abordagem Certeau (2002) em seu livro A Escrita da Histoacuteria
compreende as caracteriacutesticas do trabalho do historiador fazendo referecircncia ao tripeacute da
operaccedilatildeo historiograacutefica ldquoum lugar social uma praacutetica uma escritardquo (p66)
O historiador tem a funccedilatildeo de dar voz ao natildeo dito atribuindo sentido a um determinado
acontecimento Segundo Certeau (2002) a pesquisa em histoacuteria se faz a partir de um lugar
socioeconocircmico poliacutetico e cultural Eacute importante considerar que o lugar que o autor cita estaacute
ligado agrave relaccedilatildeo que o historiador manteacutem com o lugar que se encontra uma vez que este natildeo
eacute mais um colecionador de fatos e sim um construtor recortador leitor e inteacuterprete de
processos histoacutericos buscando possibilidades hipoacuteteses de abordagem ligadas as suas
preocupaccedilotildees especiacuteficas ou seja trocando ideias e informaccedilotildees com outros saberes e
sujeitos
O historiador tem o tempo como ldquomaterial de anaacuteliserdquo ou como ldquoobjeto
especiacuteficordquo Trabalha de acordo com os seus meacutetodos os objetos fiacutesicos
(papeacuteis pedras imagens sons etc) Trabalha sobre um material para
transformaacute-lo em histoacuteria(CERTEAU 2002 p79)
Certeau (2002) afirma ainda que a anaacutelise historiograacutefica eacute um exerciacutecio de
problematizaccedilatildeo um campo aberto a inuacutemeras possibilidades e ao intenso diaacutelogo o que
permite essa amplitude de objetos e tipos de fontes a partir de metodologias que a histoacuteria
pode apresentar em diversificados campos do saber Coloca que a operaccedilatildeo historiograacutefica
natildeo estaacute somente relacionada a um lugar a uma praacutetica mas tambeacutem a uma escrita ou seja a
historiografia eacute construiacuteda por meio do discurso documental Portanto todo conhecimento
historiograacutefico eacute construiacutedo o que nos permite sempre trazer novas discussotildees a respeito da
anaacutelise do ldquopassadordquo
Sob esta perspectiva de construccedilatildeo a partir do seu lugar social eacute que podemos refletir
sobre os motivos e as intenccedilotildees de desvincular a praacutetica da religiatildeo catoacutelica em Caiccedilara da
presenccedila negra e indiacutegena nesta sociedade
ldquoA religiatildeo mesmo praticada por todos era a catoacutelica romana Nem os cultos
negros ndash o que evidencia a pequena participaccedilatildeo do elemento negro na etnia
local marcaram presenccedila na comunidade Os ritos as festas as preces tudo
era vinculado ao catolicismordquo (COSTA 1990 p 153)
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Esta negaccedilatildeo aleacutem de refletir perspectiva de discriminaccedilatildeo racial destaca a
necessidade da Igreja Catoacutelica de apagar da memoacuteria histoacuterica natildeo apenas a presenccedila do
homem de cor mas muito aleacutem disso a possibilidade do espaccedilo de culto catoacutelico ou seja a
Igreja pertencer ou ter pertencido nominalmente a uma irmandade Isto significa que o
preacutedio em si e suas propriedades economicamente natildeo eram da Igreja mas de leigos que a
construiacuteram e doaram tudo o que estava ao seu redor e no seu interior Haacute uma real atividade
da Igreja de tentar apagar desconstruir camuflar as atividades das irmandades em especial
das que eram compostas por homens de cor
MUITO ALEacuteM DA ESCRITA E DA MEMOacuteRIA UMA CONSTRUCcedilAtildeO
O autor Severino Ismael da Costa publicou seu texto Caiccedilara caminhos de
almocreves na deacutecada de 90 do seacuteculo XX um periacuteodo de movimentaccedilatildeo poliacutetica vinculada
aos processos de municipalizaccedilatildeo que vinham ocorrendo no Estado da Paraiacuteba desde os anos
70 do mesmo seacuteculo Aliado a accedilatildeo poliacutetica de transformar em municiacutepio as vilas lugarejos e
aacutereas rurais do Estado era necessaacuteria a construccedilatildeo histoacuteria e descriccedilatildeo dos principais eventos
destas regiotildees Assim temos uma linha de escrita historiograacutefica estritamente vinculada a este
processo Constroacutei-se um municiacutepio consequentemente se constroacutei uma histoacuteria
O importante eacute identificar nestes textos em grande parte encomendados ou ao
menos financiados pelas elites locais o tipo de histoacuteria escrita e pensada assim como satildeo
escolhidos os personagens deste percurso A obra que analisamos natildeo foge a estas
caracteriacutesticas jaacute que recebeu apoio dos poliacuteticos locais na eacutepoca que foi publicada Nas
primeiras paacuteginas encontramos homenagens e agradecimentos agraves pessoas e personagens
ilustres da cidade entre eles filhos da elite local que se formaram e exercem profissotildees
liberais respeitadas pela sociedade da eacutepoca e dos dias atuais
ldquo HOMENAGEM Agrave CULTURA
Paraibana na presenccedila de um grande vulto
Prof JOSEacute OCTAacuteVIO DE ARRUDA MELO
Caiccedilarense representada por seus filhos
D Epaminondas Joseacute de Arauacutejo emeacuterito bispo da Igreja Catoacutelica de quem natildeo
me faltou estiacutemulo de conterracircneo
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Prof Joseacute Jackson Carneiro de Carvalho de quem recebi incentivo e ateacute desafio
Dr Walderedo Ismael de Oliveira meacutedico de renome internacional escritor
especializado modesto e grande como sua terrardquo (COSTA 1990 p13)
O autor inicia seu texto se referindo as ldquograndesrdquo personalidades de sua cidade tendo
o cuidado de anteriormente ter agradecido aos prefeitos da eacutepoca Haacute a presenccedila dos nomes e
sobrenomes de destaque da cidade representantes da Igreja Catoacutelica de meacutedicos professores
e jornalistas
Em seguida descreve a histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade e de sua municipalizaccedilatildeo desta
a participaccedilatildeo do iacutendio que junto ao portuguecircs seriam os grandes responsaacuteveis pela formaccedilatildeo
desta sociedade mas afirma que o negro teve pouca atuaccedilatildeo ldquonatildeo haacute grande presenccedila do
elemento negro a natildeo ser na zona dos engenhos no dorso da serra onde precisaram do
escravo para tocar o trabalhordquo (COSTA 1990 p 69) apesar de ter sido escrito nos anos 90
do seacuteculo XX o texto tem uma preocupaccedilatildeo oitocentista de esconder a presenccedila negra
minimizando sua participaccedilatildeo nas atividades econocircmicas A impossibilidade de simplesmente
omitir esta inserccedilatildeo dos homens negros na sociedade de Caiccedilara faz com que seu texto e sua
fala se tornem contraditoacuterios no sentido de que afirma natildeo ter existido uma participaccedilatildeo
negra mas ao mesmo tempo destaca o lugar social ocupado por esta etnia
Muito de sua escrita positivista eacute explicado pelas fontes selecionadas pelo autor
Textos tradicionais sobre a Histoacuteria da Paraiacuteba escritos no iniacutecio do seacuteculo XX em especial
os escritos de Horaacutecio de Almeida se dando ao trabalho de apenas transferir as ideias destes
sem realizar uma revisatildeo ou criacutetica historiograacutefica Isso fica latente ao reproduzir a expressatildeo
Tapuia como sinocircnimo de baacuterbaro E destacar figuras heroicas entre os indiacutegenas que de
alguma forma se aliaram aos conquistadores nos empreendimentos de colonizaccedilatildeo
Outro ponto que nos chama a atenccedilatildeo eacute a necessidade de sempre referecircnciar as fontes
em geral documentais ou historiograacuteficas e ao mesmo tempo questionaacute-las e ateacute discordar de
dados e apontamentos que se distanciam de uma preocupaccedilatildeo com o processo histoacuterico mas
se relaciona diretamente com uma narrativa positivista como por exemplo ao investigar e
averiguar quem teria sido o primeiro morador de Caiccedilara Segundo Coriolano de Medeiros e
Luiz Pinto teria sido ldquoJoseacute de abreu Cordeiro em 1776 contudo verificou ser na realidade
Raphael de Carvalho em 1615rdquo (COSTA 1990 p 85)
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O povoado surge a partir da construccedilatildeo de casa de morada capela e currais agrave margem
direita do rio Curimatauacute em 1822 por Manoel Soares da Costa A capela tinha por invocaccedilatildeo
Nossa Senhora do Rosaacuterio Como a maioria dos municiacutepios da regiatildeo seu desenvolvimento
pode ser vinculado ao estabelecimento da feira Uma particularidade citada e destacada pelo
autor satildeo as disputas poliacuteticas entre Caiccedilara e o Municiacutepio de Serra da Raiz que levam os
dois lugarejos a encontrar formas de se destacarem um em relaccedilatildeo ao outro Por exemplo
menciona que a criaccedilatildeo em 1870 da Freguesia de N S do Bom Fim cuja sede eacute a Serra da
Raiz ( instituiccedilatildeo que tornava Caiccedilara subordinada nas questotildees religiosas em relaccedilatildeo agrave Serra
da Raiz) segundo o autor a animosidade poliacutetico-administrativa entre os lugarejos se
desenvolveu a partir da introduccedilatildeo da feira livre em Caiccedilara jaacute que a mesma se tornou uma
forte concorrente para os ldquobarracotildeesrdquo instalados nos engenhos da Serra da Raiz assim a feira
poderia promover uma mudanccedila social que natildeo interessava aos poliacuteticos daquela regiatildeo
Passa a destacar os poliacuteticos de Caiccedilara nomeando-os ateacute o seacuteculo XX o que se
configura como um importante registro para a histoacuteria local assim como toda a obra de
Severino Ismael da Costa (1990) contudo ainda necessitando de uma anaacutelise do processo
histoacuterico e de suas etapas O fato que o autor levanta vaacuterios pontos desta histoacuteria que devem
ser estudados um dia e provavelmente iratildeo partir e se referir a sua obra que tem como
destaque o trabalho de levantamento de dados e fontes para os proacuteximos historiadores que se
dedicarem a Historia desta regiatildeo Nossas observaccedilotildees se referem a ideia de ausecircncia de
contribuiccedilatildeo do homem negro na constituiccedilatildeo soacutecioreligiosa desta localidade
Mais uma vez o autor busca formas de desvincular a participaccedilatildeo dos negros na
histoacuteria religiosa local A obra Caiccedilara Caminhos de Almocreves estaacute repleta destas
argumentaccedilotildees acerca do homem de cor
O objetivo inicial desta pesquisa era de buscar indiacutecios em Livros de Tombo e
documentos religiosos a contribuiccedilatildeo do negro na religiosidade local Tendo em vista que natildeo
soacute no municiacutepio de Caiccedilara mas tambeacutem em todo o territoacuterio brasileiro houve uma
marginalizaccedilatildeo da imagem do homem de cor ou seja uma tentativa de deixar a margem da
sociedade uma figura que se faz tatildeo importante para adentrarmos no imaginaacuterio religioso do
povo brasileiro
Contudo o livro de Tombo analisado natildeo nos forneceu as informaccedilotildees necessaacuterias
para afirmamos que houve uma irmandade negra no municiacutepio de Caiccedilara Mas para
buscarmos indiacutecios e vestiacutegios da contribuiccedilatildeo do negro nestes locais faremos uma analise
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minuciosa da obra contrapondo com elementos existentes na proacutepria igreja local na tentativa
de trazer a luz questotildees que foram estabelecidas pelo autor Severino Ismael como verdades
prontas e absolutas Os possiacuteveis indiacutecios e vestiacutegios satildeo elementos de fundamental
importacircncia para este trabalho
Entre estes vestiacutegios destacamos a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no altar
central da Igreja matriz de Caiccedilara (apesar da referecircncia direta agrave fundaccedilatildeo da cidade nos eacute
intrigante a escolha desta padroeira por seus fundadores) Jaacute que este culto agrave Senhora do
Rosaacuterio no Brasil ficou diretamente vinculado ao culto catoacutelico negro atraveacutes das
irmandades podendo dessa forma ser considerado um elemento da cultura africana no
espaccedilo religioso local Abaixo foto da Imagem tirada em 06 de Janeiro de 2014 Durante os
preparativos para a procissatildeo da Padroeira que se comemora nesta data no municiacutepio de
Caiccedilara
Ilustraccedilatildeo 1 Imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no andor
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Foto Ricardo (2014)
Eacute evidente que os diversos escravos africanos desembarcados no Brasil contribuiriam
de forma significativa para a construccedilatildeo territorial e religiosa do paiacutes jaacute que participaram
diretamente da formaccedilatildeo da sociedade brasileira seja no trabalho nos engenhos de produccedilatildeo
de cana de accediluacutecar nas lavouras do cafeacute na extraccedilatildeo do ouro entre outros Ao desembarcarem
nessas terras trouxeram consigo seus costumes liacutenguas valores e crenccedilas Aqui encontraram
as mais diversas dificuldades de praticar sua cultura ou seja cultuar suas divindades e
costumes
O DESENVOLVIMENTO DAS PRAacuteTICAS RELIGIOSAS OFICIAIS NA CIDADE
DE CAICcedilARA-PB
A presenccedila do Catolicismo caiccedilarense estaacute inteiramente ligada ao seu periacuteodo de
fundaccedilatildeo que se deu por volta do ano de 1822 quando Manoel Soares da Costa instalou sua
fazenda e ergueu uma capela as margens do Rio Curimatauacute ldquoO povoamento da encantadora
Villa de Caiccedilara segundo informes de pessoas competentes teve logar no ano de 1822rdquo
Onde ldquoFoi edificada uma pequena capella sob a invocaccedilatildeo de NS do Rosaacuterio ()rdquo
ARAUacuteJO (1913)
Como aconteceu no Brasil e consequentemente na Paraiacuteba de uma forma em geral o
processo de povoamento oficial das regiotildees afastadas do litoral assim como o proacuteprio litoral
teve sua conquista e povoamento acompanhado da praacutetica religiosa oficial dos exploradores o
catolicismo A presenccedila da capela de Nossa Senhora do Rosaacuterio no povoamento que
futuramente seria denominado como municiacutepio de caiccedilara eacute um fato indiscutiacutevel pelos
historiadores e narradores de uma forma geral do Mito de fundaccedilatildeo da cidade ocorrendo
uma discussatildeo historiograacutefica agrave respeito do ano desta fundaccedilatildeo Epaminondas Tavares de
Arauacutejo afirma ter sido no ano de 1822 Entretanto Coriolano de Medeiros (em seu
ldquoDicionaacuterio Chorograacuteficordquo 1914) aponta o ano de 1841 como o da fundaccedilatildeo da Villa de
Caiccedilara
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ldquoEm 1841 o terreno onde hoje eacute a sede do municiacutepio cobria-se ainda
cactos e bromeacutelias quando Manoel Soares da Costa Francisco da Costa
Gonccedilalves e Joseacute Vicente compraram a propriedade construiacuteram suas
vivendas e cercados de ramos ndash caiccedilaras ndash para abrigo do gado Depois
ergueram uma capella dedicada a NS do Rosaacuterio rdquo
Entretanto O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) aceita o uacuteltimo
como sendo o ano de fundaccedilatildeo Entre a populaccedilatildeo a informaccedilatildeo tida com maior aprovaccedilatildeo eacute
ano de 1822 Isto porque a sesmaria que Luiacutes Soares de Mendonccedila adquiriu natildeo foi no ano de
1822 como relatou Coriolano de Medeiros em seus estudos e sim no ano de 1788 registrada
sob nordm 891 por meio de documentos oficiais
Todavia a divergecircncia acerca do ano de fundaccedilatildeo ocorreu pelo fato de que a criaccedilatildeo da
feira ocorreu no ano de 1841 e o mesmo seria o marco do crescimento e da concentraccedilatildeo
urbana O que observamos em comum em ambas as citaccedilotildees eacute que o Catolicismo fecundava a
Villa de Caiccedilara desde sua fundaccedilatildeo Pois a construccedilatildeo da Capella eacute vista em todos os
registros sobre a origem deste povoado Os autores oficiais e tradicionais da histoacuteria de
fundaccedilatildeo da Villa de Caiccedilara discorrem ainda sobre a origem de sua denominaccedilatildeo segundo
Coriolano de Medeiros e Epaminondas Tavares o nome Caiccedilara proveacutem dos currais Fala
Epaminondas ldquoA denominaccedilatildeo de Caiccedilara proveacutem de um curral de pau-a-pique construiacutedo
por Manoel Soares nas proximidades de sua casardquo (p108)
O CATOLICISMO CAICcedilARENSE
De acordo com a visatildeo positivista e as fontes oficiais o iacutendio e o negro pouco
contribuiacuteram na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo Caiccedilarense segundo Severino Ismael
da Costa em seu livro ldquoCaiccedilara Caminhos de Almocrevesrdquo (1990) Ainda de acordo com o
mesmo o imaginaacuterio da populaccedilatildeo local contribuiu de maneira bastante significativa para o
florescimento da religiatildeo Catoacutelica que veio a ser praticada na Villa de Caiccedilara
Nesta mesma perspectiva as fontes oficias da Igreja em pauta tentam nos mostrar que
a participaccedilatildeo do negro no acircmbito religioso teve pouco significado Os ritos as festas as
preces tudo era vinculado ao catolicismo No periacuteodo da posse da terra quando o branco
erguia sua morada edificava tambeacutem junto ou nas proximidades uma capela onde eram
celebrados os atos religiosos e realizadas as festas Destas eram as mais comuns O Natal
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Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo
saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais
conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da
quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito
cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um
gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo
se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas
rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os
moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave
missa com os seus familiares e agregados
MEcircS DE MAIO
Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas
capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a
tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em
volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens
de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar
o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites
era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees
O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas
A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA
A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob
a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas
de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas
No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a
aacuterea destinada a capela
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ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer
faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas
construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro
pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)
A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um
pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria
desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor
Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves
Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas
paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de
comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura
e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A
frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina
No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por
Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa
das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo
o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois
sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos
inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os
adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que
havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e
repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do
templo
Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes
da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do
altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior
doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa
Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores
O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs
nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra
de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
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Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os
altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares
construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a
Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da
igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios
provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a
igreja ganhou mais uma torre na fachada
A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO
As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber
a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta
regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as
terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros
separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia
outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os
fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em
comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o
povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a
padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar
ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo
outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica
a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro
Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o
nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do
Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca
A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de
casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro
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da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra
do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa
ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem
Graccedilas agrave Virgem Mariardquo
(Paacuteg 36)
A FESTA
Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro
realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas
e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local
Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura
importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder
bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro
diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento
Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica
local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento
acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre
outros
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CONCLUSAtildeO
O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de
Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa
afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da
histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e
vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os
questionamentos pertinentes a nossa pesquisa
Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor
procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de
proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do
espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do
mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local
Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem
enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na
tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto
na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local
O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de
Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como
vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo
da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG
para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como
elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos
O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de
Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na
sua obra
Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos
obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e
acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e
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marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a
qualquer coisa
ABSTRACT
The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects
From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some
Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the
analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors
concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to
reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The
theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)
Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search
the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of
black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in
daily habits the existing diverse religiosity in this town
KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity
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REFEREcircNCIAS
ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do
seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006
ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913
BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das
Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971
BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em
Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986
COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed
Micrograacutefica 1990
FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de
economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002
HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo
Petroacutepolis Vozes 1991
JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas
irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior
Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006
MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)
QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos
no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002
RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz
Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005
Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)
httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE
1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs
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Esta negaccedilatildeo aleacutem de refletir perspectiva de discriminaccedilatildeo racial destaca a
necessidade da Igreja Catoacutelica de apagar da memoacuteria histoacuterica natildeo apenas a presenccedila do
homem de cor mas muito aleacutem disso a possibilidade do espaccedilo de culto catoacutelico ou seja a
Igreja pertencer ou ter pertencido nominalmente a uma irmandade Isto significa que o
preacutedio em si e suas propriedades economicamente natildeo eram da Igreja mas de leigos que a
construiacuteram e doaram tudo o que estava ao seu redor e no seu interior Haacute uma real atividade
da Igreja de tentar apagar desconstruir camuflar as atividades das irmandades em especial
das que eram compostas por homens de cor
MUITO ALEacuteM DA ESCRITA E DA MEMOacuteRIA UMA CONSTRUCcedilAtildeO
O autor Severino Ismael da Costa publicou seu texto Caiccedilara caminhos de
almocreves na deacutecada de 90 do seacuteculo XX um periacuteodo de movimentaccedilatildeo poliacutetica vinculada
aos processos de municipalizaccedilatildeo que vinham ocorrendo no Estado da Paraiacuteba desde os anos
70 do mesmo seacuteculo Aliado a accedilatildeo poliacutetica de transformar em municiacutepio as vilas lugarejos e
aacutereas rurais do Estado era necessaacuteria a construccedilatildeo histoacuteria e descriccedilatildeo dos principais eventos
destas regiotildees Assim temos uma linha de escrita historiograacutefica estritamente vinculada a este
processo Constroacutei-se um municiacutepio consequentemente se constroacutei uma histoacuteria
O importante eacute identificar nestes textos em grande parte encomendados ou ao
menos financiados pelas elites locais o tipo de histoacuteria escrita e pensada assim como satildeo
escolhidos os personagens deste percurso A obra que analisamos natildeo foge a estas
caracteriacutesticas jaacute que recebeu apoio dos poliacuteticos locais na eacutepoca que foi publicada Nas
primeiras paacuteginas encontramos homenagens e agradecimentos agraves pessoas e personagens
ilustres da cidade entre eles filhos da elite local que se formaram e exercem profissotildees
liberais respeitadas pela sociedade da eacutepoca e dos dias atuais
ldquo HOMENAGEM Agrave CULTURA
Paraibana na presenccedila de um grande vulto
Prof JOSEacute OCTAacuteVIO DE ARRUDA MELO
Caiccedilarense representada por seus filhos
D Epaminondas Joseacute de Arauacutejo emeacuterito bispo da Igreja Catoacutelica de quem natildeo
me faltou estiacutemulo de conterracircneo
9
Prof Joseacute Jackson Carneiro de Carvalho de quem recebi incentivo e ateacute desafio
Dr Walderedo Ismael de Oliveira meacutedico de renome internacional escritor
especializado modesto e grande como sua terrardquo (COSTA 1990 p13)
O autor inicia seu texto se referindo as ldquograndesrdquo personalidades de sua cidade tendo
o cuidado de anteriormente ter agradecido aos prefeitos da eacutepoca Haacute a presenccedila dos nomes e
sobrenomes de destaque da cidade representantes da Igreja Catoacutelica de meacutedicos professores
e jornalistas
Em seguida descreve a histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade e de sua municipalizaccedilatildeo desta
a participaccedilatildeo do iacutendio que junto ao portuguecircs seriam os grandes responsaacuteveis pela formaccedilatildeo
desta sociedade mas afirma que o negro teve pouca atuaccedilatildeo ldquonatildeo haacute grande presenccedila do
elemento negro a natildeo ser na zona dos engenhos no dorso da serra onde precisaram do
escravo para tocar o trabalhordquo (COSTA 1990 p 69) apesar de ter sido escrito nos anos 90
do seacuteculo XX o texto tem uma preocupaccedilatildeo oitocentista de esconder a presenccedila negra
minimizando sua participaccedilatildeo nas atividades econocircmicas A impossibilidade de simplesmente
omitir esta inserccedilatildeo dos homens negros na sociedade de Caiccedilara faz com que seu texto e sua
fala se tornem contraditoacuterios no sentido de que afirma natildeo ter existido uma participaccedilatildeo
negra mas ao mesmo tempo destaca o lugar social ocupado por esta etnia
Muito de sua escrita positivista eacute explicado pelas fontes selecionadas pelo autor
Textos tradicionais sobre a Histoacuteria da Paraiacuteba escritos no iniacutecio do seacuteculo XX em especial
os escritos de Horaacutecio de Almeida se dando ao trabalho de apenas transferir as ideias destes
sem realizar uma revisatildeo ou criacutetica historiograacutefica Isso fica latente ao reproduzir a expressatildeo
Tapuia como sinocircnimo de baacuterbaro E destacar figuras heroicas entre os indiacutegenas que de
alguma forma se aliaram aos conquistadores nos empreendimentos de colonizaccedilatildeo
Outro ponto que nos chama a atenccedilatildeo eacute a necessidade de sempre referecircnciar as fontes
em geral documentais ou historiograacuteficas e ao mesmo tempo questionaacute-las e ateacute discordar de
dados e apontamentos que se distanciam de uma preocupaccedilatildeo com o processo histoacuterico mas
se relaciona diretamente com uma narrativa positivista como por exemplo ao investigar e
averiguar quem teria sido o primeiro morador de Caiccedilara Segundo Coriolano de Medeiros e
Luiz Pinto teria sido ldquoJoseacute de abreu Cordeiro em 1776 contudo verificou ser na realidade
Raphael de Carvalho em 1615rdquo (COSTA 1990 p 85)
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O povoado surge a partir da construccedilatildeo de casa de morada capela e currais agrave margem
direita do rio Curimatauacute em 1822 por Manoel Soares da Costa A capela tinha por invocaccedilatildeo
Nossa Senhora do Rosaacuterio Como a maioria dos municiacutepios da regiatildeo seu desenvolvimento
pode ser vinculado ao estabelecimento da feira Uma particularidade citada e destacada pelo
autor satildeo as disputas poliacuteticas entre Caiccedilara e o Municiacutepio de Serra da Raiz que levam os
dois lugarejos a encontrar formas de se destacarem um em relaccedilatildeo ao outro Por exemplo
menciona que a criaccedilatildeo em 1870 da Freguesia de N S do Bom Fim cuja sede eacute a Serra da
Raiz ( instituiccedilatildeo que tornava Caiccedilara subordinada nas questotildees religiosas em relaccedilatildeo agrave Serra
da Raiz) segundo o autor a animosidade poliacutetico-administrativa entre os lugarejos se
desenvolveu a partir da introduccedilatildeo da feira livre em Caiccedilara jaacute que a mesma se tornou uma
forte concorrente para os ldquobarracotildeesrdquo instalados nos engenhos da Serra da Raiz assim a feira
poderia promover uma mudanccedila social que natildeo interessava aos poliacuteticos daquela regiatildeo
Passa a destacar os poliacuteticos de Caiccedilara nomeando-os ateacute o seacuteculo XX o que se
configura como um importante registro para a histoacuteria local assim como toda a obra de
Severino Ismael da Costa (1990) contudo ainda necessitando de uma anaacutelise do processo
histoacuterico e de suas etapas O fato que o autor levanta vaacuterios pontos desta histoacuteria que devem
ser estudados um dia e provavelmente iratildeo partir e se referir a sua obra que tem como
destaque o trabalho de levantamento de dados e fontes para os proacuteximos historiadores que se
dedicarem a Historia desta regiatildeo Nossas observaccedilotildees se referem a ideia de ausecircncia de
contribuiccedilatildeo do homem negro na constituiccedilatildeo soacutecioreligiosa desta localidade
Mais uma vez o autor busca formas de desvincular a participaccedilatildeo dos negros na
histoacuteria religiosa local A obra Caiccedilara Caminhos de Almocreves estaacute repleta destas
argumentaccedilotildees acerca do homem de cor
O objetivo inicial desta pesquisa era de buscar indiacutecios em Livros de Tombo e
documentos religiosos a contribuiccedilatildeo do negro na religiosidade local Tendo em vista que natildeo
soacute no municiacutepio de Caiccedilara mas tambeacutem em todo o territoacuterio brasileiro houve uma
marginalizaccedilatildeo da imagem do homem de cor ou seja uma tentativa de deixar a margem da
sociedade uma figura que se faz tatildeo importante para adentrarmos no imaginaacuterio religioso do
povo brasileiro
Contudo o livro de Tombo analisado natildeo nos forneceu as informaccedilotildees necessaacuterias
para afirmamos que houve uma irmandade negra no municiacutepio de Caiccedilara Mas para
buscarmos indiacutecios e vestiacutegios da contribuiccedilatildeo do negro nestes locais faremos uma analise
11
minuciosa da obra contrapondo com elementos existentes na proacutepria igreja local na tentativa
de trazer a luz questotildees que foram estabelecidas pelo autor Severino Ismael como verdades
prontas e absolutas Os possiacuteveis indiacutecios e vestiacutegios satildeo elementos de fundamental
importacircncia para este trabalho
Entre estes vestiacutegios destacamos a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no altar
central da Igreja matriz de Caiccedilara (apesar da referecircncia direta agrave fundaccedilatildeo da cidade nos eacute
intrigante a escolha desta padroeira por seus fundadores) Jaacute que este culto agrave Senhora do
Rosaacuterio no Brasil ficou diretamente vinculado ao culto catoacutelico negro atraveacutes das
irmandades podendo dessa forma ser considerado um elemento da cultura africana no
espaccedilo religioso local Abaixo foto da Imagem tirada em 06 de Janeiro de 2014 Durante os
preparativos para a procissatildeo da Padroeira que se comemora nesta data no municiacutepio de
Caiccedilara
Ilustraccedilatildeo 1 Imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no andor
12
Foto Ricardo (2014)
Eacute evidente que os diversos escravos africanos desembarcados no Brasil contribuiriam
de forma significativa para a construccedilatildeo territorial e religiosa do paiacutes jaacute que participaram
diretamente da formaccedilatildeo da sociedade brasileira seja no trabalho nos engenhos de produccedilatildeo
de cana de accediluacutecar nas lavouras do cafeacute na extraccedilatildeo do ouro entre outros Ao desembarcarem
nessas terras trouxeram consigo seus costumes liacutenguas valores e crenccedilas Aqui encontraram
as mais diversas dificuldades de praticar sua cultura ou seja cultuar suas divindades e
costumes
O DESENVOLVIMENTO DAS PRAacuteTICAS RELIGIOSAS OFICIAIS NA CIDADE
DE CAICcedilARA-PB
A presenccedila do Catolicismo caiccedilarense estaacute inteiramente ligada ao seu periacuteodo de
fundaccedilatildeo que se deu por volta do ano de 1822 quando Manoel Soares da Costa instalou sua
fazenda e ergueu uma capela as margens do Rio Curimatauacute ldquoO povoamento da encantadora
Villa de Caiccedilara segundo informes de pessoas competentes teve logar no ano de 1822rdquo
Onde ldquoFoi edificada uma pequena capella sob a invocaccedilatildeo de NS do Rosaacuterio ()rdquo
ARAUacuteJO (1913)
Como aconteceu no Brasil e consequentemente na Paraiacuteba de uma forma em geral o
processo de povoamento oficial das regiotildees afastadas do litoral assim como o proacuteprio litoral
teve sua conquista e povoamento acompanhado da praacutetica religiosa oficial dos exploradores o
catolicismo A presenccedila da capela de Nossa Senhora do Rosaacuterio no povoamento que
futuramente seria denominado como municiacutepio de caiccedilara eacute um fato indiscutiacutevel pelos
historiadores e narradores de uma forma geral do Mito de fundaccedilatildeo da cidade ocorrendo
uma discussatildeo historiograacutefica agrave respeito do ano desta fundaccedilatildeo Epaminondas Tavares de
Arauacutejo afirma ter sido no ano de 1822 Entretanto Coriolano de Medeiros (em seu
ldquoDicionaacuterio Chorograacuteficordquo 1914) aponta o ano de 1841 como o da fundaccedilatildeo da Villa de
Caiccedilara
13
ldquoEm 1841 o terreno onde hoje eacute a sede do municiacutepio cobria-se ainda
cactos e bromeacutelias quando Manoel Soares da Costa Francisco da Costa
Gonccedilalves e Joseacute Vicente compraram a propriedade construiacuteram suas
vivendas e cercados de ramos ndash caiccedilaras ndash para abrigo do gado Depois
ergueram uma capella dedicada a NS do Rosaacuterio rdquo
Entretanto O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) aceita o uacuteltimo
como sendo o ano de fundaccedilatildeo Entre a populaccedilatildeo a informaccedilatildeo tida com maior aprovaccedilatildeo eacute
ano de 1822 Isto porque a sesmaria que Luiacutes Soares de Mendonccedila adquiriu natildeo foi no ano de
1822 como relatou Coriolano de Medeiros em seus estudos e sim no ano de 1788 registrada
sob nordm 891 por meio de documentos oficiais
Todavia a divergecircncia acerca do ano de fundaccedilatildeo ocorreu pelo fato de que a criaccedilatildeo da
feira ocorreu no ano de 1841 e o mesmo seria o marco do crescimento e da concentraccedilatildeo
urbana O que observamos em comum em ambas as citaccedilotildees eacute que o Catolicismo fecundava a
Villa de Caiccedilara desde sua fundaccedilatildeo Pois a construccedilatildeo da Capella eacute vista em todos os
registros sobre a origem deste povoado Os autores oficiais e tradicionais da histoacuteria de
fundaccedilatildeo da Villa de Caiccedilara discorrem ainda sobre a origem de sua denominaccedilatildeo segundo
Coriolano de Medeiros e Epaminondas Tavares o nome Caiccedilara proveacutem dos currais Fala
Epaminondas ldquoA denominaccedilatildeo de Caiccedilara proveacutem de um curral de pau-a-pique construiacutedo
por Manoel Soares nas proximidades de sua casardquo (p108)
O CATOLICISMO CAICcedilARENSE
De acordo com a visatildeo positivista e as fontes oficiais o iacutendio e o negro pouco
contribuiacuteram na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo Caiccedilarense segundo Severino Ismael
da Costa em seu livro ldquoCaiccedilara Caminhos de Almocrevesrdquo (1990) Ainda de acordo com o
mesmo o imaginaacuterio da populaccedilatildeo local contribuiu de maneira bastante significativa para o
florescimento da religiatildeo Catoacutelica que veio a ser praticada na Villa de Caiccedilara
Nesta mesma perspectiva as fontes oficias da Igreja em pauta tentam nos mostrar que
a participaccedilatildeo do negro no acircmbito religioso teve pouco significado Os ritos as festas as
preces tudo era vinculado ao catolicismo No periacuteodo da posse da terra quando o branco
erguia sua morada edificava tambeacutem junto ou nas proximidades uma capela onde eram
celebrados os atos religiosos e realizadas as festas Destas eram as mais comuns O Natal
14
Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo
saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais
conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da
quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito
cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um
gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo
se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas
rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os
moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave
missa com os seus familiares e agregados
MEcircS DE MAIO
Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas
capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a
tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em
volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens
de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar
o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites
era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees
O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas
A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA
A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob
a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas
de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas
No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a
aacuterea destinada a capela
15
ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer
faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas
construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro
pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)
A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um
pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria
desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor
Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves
Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas
paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de
comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura
e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A
frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina
No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por
Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa
das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo
o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois
sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos
inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os
adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que
havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e
repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do
templo
Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes
da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do
altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior
doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa
Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores
O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs
nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra
de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
16
Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os
altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares
construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a
Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da
igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios
provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a
igreja ganhou mais uma torre na fachada
A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO
As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber
a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta
regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as
terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros
separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia
outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os
fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em
comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o
povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a
padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar
ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo
outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica
a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro
Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o
nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do
Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca
A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de
casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro
17
da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra
do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa
ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem
Graccedilas agrave Virgem Mariardquo
(Paacuteg 36)
A FESTA
Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro
realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas
e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local
Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura
importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder
bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro
diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento
Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica
local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento
acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre
outros
18
CONCLUSAtildeO
O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de
Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa
afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da
histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e
vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os
questionamentos pertinentes a nossa pesquisa
Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor
procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de
proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do
espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do
mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local
Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem
enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na
tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto
na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local
O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de
Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como
vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo
da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG
para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como
elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos
O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de
Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na
sua obra
Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos
obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e
acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e
19
marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a
qualquer coisa
ABSTRACT
The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects
From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some
Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the
analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors
concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to
reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The
theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)
Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search
the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of
black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in
daily habits the existing diverse religiosity in this town
KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity
20
REFEREcircNCIAS
ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do
seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006
ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913
BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das
Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971
BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em
Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986
COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed
Micrograacutefica 1990
FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de
economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002
HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo
Petroacutepolis Vozes 1991
JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas
irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior
Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006
MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)
QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos
no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002
RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz
Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005
Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)
httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE
1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs
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Prof Joseacute Jackson Carneiro de Carvalho de quem recebi incentivo e ateacute desafio
Dr Walderedo Ismael de Oliveira meacutedico de renome internacional escritor
especializado modesto e grande como sua terrardquo (COSTA 1990 p13)
O autor inicia seu texto se referindo as ldquograndesrdquo personalidades de sua cidade tendo
o cuidado de anteriormente ter agradecido aos prefeitos da eacutepoca Haacute a presenccedila dos nomes e
sobrenomes de destaque da cidade representantes da Igreja Catoacutelica de meacutedicos professores
e jornalistas
Em seguida descreve a histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade e de sua municipalizaccedilatildeo desta
a participaccedilatildeo do iacutendio que junto ao portuguecircs seriam os grandes responsaacuteveis pela formaccedilatildeo
desta sociedade mas afirma que o negro teve pouca atuaccedilatildeo ldquonatildeo haacute grande presenccedila do
elemento negro a natildeo ser na zona dos engenhos no dorso da serra onde precisaram do
escravo para tocar o trabalhordquo (COSTA 1990 p 69) apesar de ter sido escrito nos anos 90
do seacuteculo XX o texto tem uma preocupaccedilatildeo oitocentista de esconder a presenccedila negra
minimizando sua participaccedilatildeo nas atividades econocircmicas A impossibilidade de simplesmente
omitir esta inserccedilatildeo dos homens negros na sociedade de Caiccedilara faz com que seu texto e sua
fala se tornem contraditoacuterios no sentido de que afirma natildeo ter existido uma participaccedilatildeo
negra mas ao mesmo tempo destaca o lugar social ocupado por esta etnia
Muito de sua escrita positivista eacute explicado pelas fontes selecionadas pelo autor
Textos tradicionais sobre a Histoacuteria da Paraiacuteba escritos no iniacutecio do seacuteculo XX em especial
os escritos de Horaacutecio de Almeida se dando ao trabalho de apenas transferir as ideias destes
sem realizar uma revisatildeo ou criacutetica historiograacutefica Isso fica latente ao reproduzir a expressatildeo
Tapuia como sinocircnimo de baacuterbaro E destacar figuras heroicas entre os indiacutegenas que de
alguma forma se aliaram aos conquistadores nos empreendimentos de colonizaccedilatildeo
Outro ponto que nos chama a atenccedilatildeo eacute a necessidade de sempre referecircnciar as fontes
em geral documentais ou historiograacuteficas e ao mesmo tempo questionaacute-las e ateacute discordar de
dados e apontamentos que se distanciam de uma preocupaccedilatildeo com o processo histoacuterico mas
se relaciona diretamente com uma narrativa positivista como por exemplo ao investigar e
averiguar quem teria sido o primeiro morador de Caiccedilara Segundo Coriolano de Medeiros e
Luiz Pinto teria sido ldquoJoseacute de abreu Cordeiro em 1776 contudo verificou ser na realidade
Raphael de Carvalho em 1615rdquo (COSTA 1990 p 85)
10
O povoado surge a partir da construccedilatildeo de casa de morada capela e currais agrave margem
direita do rio Curimatauacute em 1822 por Manoel Soares da Costa A capela tinha por invocaccedilatildeo
Nossa Senhora do Rosaacuterio Como a maioria dos municiacutepios da regiatildeo seu desenvolvimento
pode ser vinculado ao estabelecimento da feira Uma particularidade citada e destacada pelo
autor satildeo as disputas poliacuteticas entre Caiccedilara e o Municiacutepio de Serra da Raiz que levam os
dois lugarejos a encontrar formas de se destacarem um em relaccedilatildeo ao outro Por exemplo
menciona que a criaccedilatildeo em 1870 da Freguesia de N S do Bom Fim cuja sede eacute a Serra da
Raiz ( instituiccedilatildeo que tornava Caiccedilara subordinada nas questotildees religiosas em relaccedilatildeo agrave Serra
da Raiz) segundo o autor a animosidade poliacutetico-administrativa entre os lugarejos se
desenvolveu a partir da introduccedilatildeo da feira livre em Caiccedilara jaacute que a mesma se tornou uma
forte concorrente para os ldquobarracotildeesrdquo instalados nos engenhos da Serra da Raiz assim a feira
poderia promover uma mudanccedila social que natildeo interessava aos poliacuteticos daquela regiatildeo
Passa a destacar os poliacuteticos de Caiccedilara nomeando-os ateacute o seacuteculo XX o que se
configura como um importante registro para a histoacuteria local assim como toda a obra de
Severino Ismael da Costa (1990) contudo ainda necessitando de uma anaacutelise do processo
histoacuterico e de suas etapas O fato que o autor levanta vaacuterios pontos desta histoacuteria que devem
ser estudados um dia e provavelmente iratildeo partir e se referir a sua obra que tem como
destaque o trabalho de levantamento de dados e fontes para os proacuteximos historiadores que se
dedicarem a Historia desta regiatildeo Nossas observaccedilotildees se referem a ideia de ausecircncia de
contribuiccedilatildeo do homem negro na constituiccedilatildeo soacutecioreligiosa desta localidade
Mais uma vez o autor busca formas de desvincular a participaccedilatildeo dos negros na
histoacuteria religiosa local A obra Caiccedilara Caminhos de Almocreves estaacute repleta destas
argumentaccedilotildees acerca do homem de cor
O objetivo inicial desta pesquisa era de buscar indiacutecios em Livros de Tombo e
documentos religiosos a contribuiccedilatildeo do negro na religiosidade local Tendo em vista que natildeo
soacute no municiacutepio de Caiccedilara mas tambeacutem em todo o territoacuterio brasileiro houve uma
marginalizaccedilatildeo da imagem do homem de cor ou seja uma tentativa de deixar a margem da
sociedade uma figura que se faz tatildeo importante para adentrarmos no imaginaacuterio religioso do
povo brasileiro
Contudo o livro de Tombo analisado natildeo nos forneceu as informaccedilotildees necessaacuterias
para afirmamos que houve uma irmandade negra no municiacutepio de Caiccedilara Mas para
buscarmos indiacutecios e vestiacutegios da contribuiccedilatildeo do negro nestes locais faremos uma analise
11
minuciosa da obra contrapondo com elementos existentes na proacutepria igreja local na tentativa
de trazer a luz questotildees que foram estabelecidas pelo autor Severino Ismael como verdades
prontas e absolutas Os possiacuteveis indiacutecios e vestiacutegios satildeo elementos de fundamental
importacircncia para este trabalho
Entre estes vestiacutegios destacamos a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no altar
central da Igreja matriz de Caiccedilara (apesar da referecircncia direta agrave fundaccedilatildeo da cidade nos eacute
intrigante a escolha desta padroeira por seus fundadores) Jaacute que este culto agrave Senhora do
Rosaacuterio no Brasil ficou diretamente vinculado ao culto catoacutelico negro atraveacutes das
irmandades podendo dessa forma ser considerado um elemento da cultura africana no
espaccedilo religioso local Abaixo foto da Imagem tirada em 06 de Janeiro de 2014 Durante os
preparativos para a procissatildeo da Padroeira que se comemora nesta data no municiacutepio de
Caiccedilara
Ilustraccedilatildeo 1 Imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no andor
12
Foto Ricardo (2014)
Eacute evidente que os diversos escravos africanos desembarcados no Brasil contribuiriam
de forma significativa para a construccedilatildeo territorial e religiosa do paiacutes jaacute que participaram
diretamente da formaccedilatildeo da sociedade brasileira seja no trabalho nos engenhos de produccedilatildeo
de cana de accediluacutecar nas lavouras do cafeacute na extraccedilatildeo do ouro entre outros Ao desembarcarem
nessas terras trouxeram consigo seus costumes liacutenguas valores e crenccedilas Aqui encontraram
as mais diversas dificuldades de praticar sua cultura ou seja cultuar suas divindades e
costumes
O DESENVOLVIMENTO DAS PRAacuteTICAS RELIGIOSAS OFICIAIS NA CIDADE
DE CAICcedilARA-PB
A presenccedila do Catolicismo caiccedilarense estaacute inteiramente ligada ao seu periacuteodo de
fundaccedilatildeo que se deu por volta do ano de 1822 quando Manoel Soares da Costa instalou sua
fazenda e ergueu uma capela as margens do Rio Curimatauacute ldquoO povoamento da encantadora
Villa de Caiccedilara segundo informes de pessoas competentes teve logar no ano de 1822rdquo
Onde ldquoFoi edificada uma pequena capella sob a invocaccedilatildeo de NS do Rosaacuterio ()rdquo
ARAUacuteJO (1913)
Como aconteceu no Brasil e consequentemente na Paraiacuteba de uma forma em geral o
processo de povoamento oficial das regiotildees afastadas do litoral assim como o proacuteprio litoral
teve sua conquista e povoamento acompanhado da praacutetica religiosa oficial dos exploradores o
catolicismo A presenccedila da capela de Nossa Senhora do Rosaacuterio no povoamento que
futuramente seria denominado como municiacutepio de caiccedilara eacute um fato indiscutiacutevel pelos
historiadores e narradores de uma forma geral do Mito de fundaccedilatildeo da cidade ocorrendo
uma discussatildeo historiograacutefica agrave respeito do ano desta fundaccedilatildeo Epaminondas Tavares de
Arauacutejo afirma ter sido no ano de 1822 Entretanto Coriolano de Medeiros (em seu
ldquoDicionaacuterio Chorograacuteficordquo 1914) aponta o ano de 1841 como o da fundaccedilatildeo da Villa de
Caiccedilara
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ldquoEm 1841 o terreno onde hoje eacute a sede do municiacutepio cobria-se ainda
cactos e bromeacutelias quando Manoel Soares da Costa Francisco da Costa
Gonccedilalves e Joseacute Vicente compraram a propriedade construiacuteram suas
vivendas e cercados de ramos ndash caiccedilaras ndash para abrigo do gado Depois
ergueram uma capella dedicada a NS do Rosaacuterio rdquo
Entretanto O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) aceita o uacuteltimo
como sendo o ano de fundaccedilatildeo Entre a populaccedilatildeo a informaccedilatildeo tida com maior aprovaccedilatildeo eacute
ano de 1822 Isto porque a sesmaria que Luiacutes Soares de Mendonccedila adquiriu natildeo foi no ano de
1822 como relatou Coriolano de Medeiros em seus estudos e sim no ano de 1788 registrada
sob nordm 891 por meio de documentos oficiais
Todavia a divergecircncia acerca do ano de fundaccedilatildeo ocorreu pelo fato de que a criaccedilatildeo da
feira ocorreu no ano de 1841 e o mesmo seria o marco do crescimento e da concentraccedilatildeo
urbana O que observamos em comum em ambas as citaccedilotildees eacute que o Catolicismo fecundava a
Villa de Caiccedilara desde sua fundaccedilatildeo Pois a construccedilatildeo da Capella eacute vista em todos os
registros sobre a origem deste povoado Os autores oficiais e tradicionais da histoacuteria de
fundaccedilatildeo da Villa de Caiccedilara discorrem ainda sobre a origem de sua denominaccedilatildeo segundo
Coriolano de Medeiros e Epaminondas Tavares o nome Caiccedilara proveacutem dos currais Fala
Epaminondas ldquoA denominaccedilatildeo de Caiccedilara proveacutem de um curral de pau-a-pique construiacutedo
por Manoel Soares nas proximidades de sua casardquo (p108)
O CATOLICISMO CAICcedilARENSE
De acordo com a visatildeo positivista e as fontes oficiais o iacutendio e o negro pouco
contribuiacuteram na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo Caiccedilarense segundo Severino Ismael
da Costa em seu livro ldquoCaiccedilara Caminhos de Almocrevesrdquo (1990) Ainda de acordo com o
mesmo o imaginaacuterio da populaccedilatildeo local contribuiu de maneira bastante significativa para o
florescimento da religiatildeo Catoacutelica que veio a ser praticada na Villa de Caiccedilara
Nesta mesma perspectiva as fontes oficias da Igreja em pauta tentam nos mostrar que
a participaccedilatildeo do negro no acircmbito religioso teve pouco significado Os ritos as festas as
preces tudo era vinculado ao catolicismo No periacuteodo da posse da terra quando o branco
erguia sua morada edificava tambeacutem junto ou nas proximidades uma capela onde eram
celebrados os atos religiosos e realizadas as festas Destas eram as mais comuns O Natal
14
Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo
saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais
conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da
quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito
cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um
gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo
se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas
rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os
moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave
missa com os seus familiares e agregados
MEcircS DE MAIO
Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas
capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a
tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em
volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens
de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar
o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites
era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees
O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas
A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA
A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob
a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas
de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas
No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a
aacuterea destinada a capela
15
ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer
faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas
construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro
pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)
A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um
pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria
desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor
Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves
Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas
paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de
comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura
e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A
frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina
No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por
Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa
das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo
o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois
sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos
inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os
adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que
havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e
repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do
templo
Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes
da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do
altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior
doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa
Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores
O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs
nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra
de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
16
Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os
altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares
construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a
Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da
igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios
provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a
igreja ganhou mais uma torre na fachada
A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO
As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber
a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta
regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as
terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros
separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia
outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os
fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em
comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o
povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a
padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar
ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo
outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica
a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro
Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o
nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do
Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca
A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de
casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro
17
da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra
do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa
ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem
Graccedilas agrave Virgem Mariardquo
(Paacuteg 36)
A FESTA
Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro
realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas
e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local
Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura
importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder
bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro
diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento
Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica
local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento
acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre
outros
18
CONCLUSAtildeO
O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de
Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa
afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da
histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e
vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os
questionamentos pertinentes a nossa pesquisa
Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor
procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de
proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do
espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do
mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local
Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem
enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na
tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto
na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local
O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de
Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como
vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo
da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG
para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como
elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos
O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de
Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na
sua obra
Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos
obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e
acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e
19
marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a
qualquer coisa
ABSTRACT
The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects
From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some
Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the
analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors
concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to
reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The
theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)
Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search
the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of
black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in
daily habits the existing diverse religiosity in this town
KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity
20
REFEREcircNCIAS
ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do
seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006
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BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em
Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986
COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed
Micrograacutefica 1990
FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de
economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002
HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo
Petroacutepolis Vozes 1991
JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas
irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior
Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006
MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)
QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos
no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002
RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz
Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005
Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)
httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE
1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs
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O povoado surge a partir da construccedilatildeo de casa de morada capela e currais agrave margem
direita do rio Curimatauacute em 1822 por Manoel Soares da Costa A capela tinha por invocaccedilatildeo
Nossa Senhora do Rosaacuterio Como a maioria dos municiacutepios da regiatildeo seu desenvolvimento
pode ser vinculado ao estabelecimento da feira Uma particularidade citada e destacada pelo
autor satildeo as disputas poliacuteticas entre Caiccedilara e o Municiacutepio de Serra da Raiz que levam os
dois lugarejos a encontrar formas de se destacarem um em relaccedilatildeo ao outro Por exemplo
menciona que a criaccedilatildeo em 1870 da Freguesia de N S do Bom Fim cuja sede eacute a Serra da
Raiz ( instituiccedilatildeo que tornava Caiccedilara subordinada nas questotildees religiosas em relaccedilatildeo agrave Serra
da Raiz) segundo o autor a animosidade poliacutetico-administrativa entre os lugarejos se
desenvolveu a partir da introduccedilatildeo da feira livre em Caiccedilara jaacute que a mesma se tornou uma
forte concorrente para os ldquobarracotildeesrdquo instalados nos engenhos da Serra da Raiz assim a feira
poderia promover uma mudanccedila social que natildeo interessava aos poliacuteticos daquela regiatildeo
Passa a destacar os poliacuteticos de Caiccedilara nomeando-os ateacute o seacuteculo XX o que se
configura como um importante registro para a histoacuteria local assim como toda a obra de
Severino Ismael da Costa (1990) contudo ainda necessitando de uma anaacutelise do processo
histoacuterico e de suas etapas O fato que o autor levanta vaacuterios pontos desta histoacuteria que devem
ser estudados um dia e provavelmente iratildeo partir e se referir a sua obra que tem como
destaque o trabalho de levantamento de dados e fontes para os proacuteximos historiadores que se
dedicarem a Historia desta regiatildeo Nossas observaccedilotildees se referem a ideia de ausecircncia de
contribuiccedilatildeo do homem negro na constituiccedilatildeo soacutecioreligiosa desta localidade
Mais uma vez o autor busca formas de desvincular a participaccedilatildeo dos negros na
histoacuteria religiosa local A obra Caiccedilara Caminhos de Almocreves estaacute repleta destas
argumentaccedilotildees acerca do homem de cor
O objetivo inicial desta pesquisa era de buscar indiacutecios em Livros de Tombo e
documentos religiosos a contribuiccedilatildeo do negro na religiosidade local Tendo em vista que natildeo
soacute no municiacutepio de Caiccedilara mas tambeacutem em todo o territoacuterio brasileiro houve uma
marginalizaccedilatildeo da imagem do homem de cor ou seja uma tentativa de deixar a margem da
sociedade uma figura que se faz tatildeo importante para adentrarmos no imaginaacuterio religioso do
povo brasileiro
Contudo o livro de Tombo analisado natildeo nos forneceu as informaccedilotildees necessaacuterias
para afirmamos que houve uma irmandade negra no municiacutepio de Caiccedilara Mas para
buscarmos indiacutecios e vestiacutegios da contribuiccedilatildeo do negro nestes locais faremos uma analise
11
minuciosa da obra contrapondo com elementos existentes na proacutepria igreja local na tentativa
de trazer a luz questotildees que foram estabelecidas pelo autor Severino Ismael como verdades
prontas e absolutas Os possiacuteveis indiacutecios e vestiacutegios satildeo elementos de fundamental
importacircncia para este trabalho
Entre estes vestiacutegios destacamos a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no altar
central da Igreja matriz de Caiccedilara (apesar da referecircncia direta agrave fundaccedilatildeo da cidade nos eacute
intrigante a escolha desta padroeira por seus fundadores) Jaacute que este culto agrave Senhora do
Rosaacuterio no Brasil ficou diretamente vinculado ao culto catoacutelico negro atraveacutes das
irmandades podendo dessa forma ser considerado um elemento da cultura africana no
espaccedilo religioso local Abaixo foto da Imagem tirada em 06 de Janeiro de 2014 Durante os
preparativos para a procissatildeo da Padroeira que se comemora nesta data no municiacutepio de
Caiccedilara
Ilustraccedilatildeo 1 Imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no andor
12
Foto Ricardo (2014)
Eacute evidente que os diversos escravos africanos desembarcados no Brasil contribuiriam
de forma significativa para a construccedilatildeo territorial e religiosa do paiacutes jaacute que participaram
diretamente da formaccedilatildeo da sociedade brasileira seja no trabalho nos engenhos de produccedilatildeo
de cana de accediluacutecar nas lavouras do cafeacute na extraccedilatildeo do ouro entre outros Ao desembarcarem
nessas terras trouxeram consigo seus costumes liacutenguas valores e crenccedilas Aqui encontraram
as mais diversas dificuldades de praticar sua cultura ou seja cultuar suas divindades e
costumes
O DESENVOLVIMENTO DAS PRAacuteTICAS RELIGIOSAS OFICIAIS NA CIDADE
DE CAICcedilARA-PB
A presenccedila do Catolicismo caiccedilarense estaacute inteiramente ligada ao seu periacuteodo de
fundaccedilatildeo que se deu por volta do ano de 1822 quando Manoel Soares da Costa instalou sua
fazenda e ergueu uma capela as margens do Rio Curimatauacute ldquoO povoamento da encantadora
Villa de Caiccedilara segundo informes de pessoas competentes teve logar no ano de 1822rdquo
Onde ldquoFoi edificada uma pequena capella sob a invocaccedilatildeo de NS do Rosaacuterio ()rdquo
ARAUacuteJO (1913)
Como aconteceu no Brasil e consequentemente na Paraiacuteba de uma forma em geral o
processo de povoamento oficial das regiotildees afastadas do litoral assim como o proacuteprio litoral
teve sua conquista e povoamento acompanhado da praacutetica religiosa oficial dos exploradores o
catolicismo A presenccedila da capela de Nossa Senhora do Rosaacuterio no povoamento que
futuramente seria denominado como municiacutepio de caiccedilara eacute um fato indiscutiacutevel pelos
historiadores e narradores de uma forma geral do Mito de fundaccedilatildeo da cidade ocorrendo
uma discussatildeo historiograacutefica agrave respeito do ano desta fundaccedilatildeo Epaminondas Tavares de
Arauacutejo afirma ter sido no ano de 1822 Entretanto Coriolano de Medeiros (em seu
ldquoDicionaacuterio Chorograacuteficordquo 1914) aponta o ano de 1841 como o da fundaccedilatildeo da Villa de
Caiccedilara
13
ldquoEm 1841 o terreno onde hoje eacute a sede do municiacutepio cobria-se ainda
cactos e bromeacutelias quando Manoel Soares da Costa Francisco da Costa
Gonccedilalves e Joseacute Vicente compraram a propriedade construiacuteram suas
vivendas e cercados de ramos ndash caiccedilaras ndash para abrigo do gado Depois
ergueram uma capella dedicada a NS do Rosaacuterio rdquo
Entretanto O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) aceita o uacuteltimo
como sendo o ano de fundaccedilatildeo Entre a populaccedilatildeo a informaccedilatildeo tida com maior aprovaccedilatildeo eacute
ano de 1822 Isto porque a sesmaria que Luiacutes Soares de Mendonccedila adquiriu natildeo foi no ano de
1822 como relatou Coriolano de Medeiros em seus estudos e sim no ano de 1788 registrada
sob nordm 891 por meio de documentos oficiais
Todavia a divergecircncia acerca do ano de fundaccedilatildeo ocorreu pelo fato de que a criaccedilatildeo da
feira ocorreu no ano de 1841 e o mesmo seria o marco do crescimento e da concentraccedilatildeo
urbana O que observamos em comum em ambas as citaccedilotildees eacute que o Catolicismo fecundava a
Villa de Caiccedilara desde sua fundaccedilatildeo Pois a construccedilatildeo da Capella eacute vista em todos os
registros sobre a origem deste povoado Os autores oficiais e tradicionais da histoacuteria de
fundaccedilatildeo da Villa de Caiccedilara discorrem ainda sobre a origem de sua denominaccedilatildeo segundo
Coriolano de Medeiros e Epaminondas Tavares o nome Caiccedilara proveacutem dos currais Fala
Epaminondas ldquoA denominaccedilatildeo de Caiccedilara proveacutem de um curral de pau-a-pique construiacutedo
por Manoel Soares nas proximidades de sua casardquo (p108)
O CATOLICISMO CAICcedilARENSE
De acordo com a visatildeo positivista e as fontes oficiais o iacutendio e o negro pouco
contribuiacuteram na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo Caiccedilarense segundo Severino Ismael
da Costa em seu livro ldquoCaiccedilara Caminhos de Almocrevesrdquo (1990) Ainda de acordo com o
mesmo o imaginaacuterio da populaccedilatildeo local contribuiu de maneira bastante significativa para o
florescimento da religiatildeo Catoacutelica que veio a ser praticada na Villa de Caiccedilara
Nesta mesma perspectiva as fontes oficias da Igreja em pauta tentam nos mostrar que
a participaccedilatildeo do negro no acircmbito religioso teve pouco significado Os ritos as festas as
preces tudo era vinculado ao catolicismo No periacuteodo da posse da terra quando o branco
erguia sua morada edificava tambeacutem junto ou nas proximidades uma capela onde eram
celebrados os atos religiosos e realizadas as festas Destas eram as mais comuns O Natal
14
Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo
saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais
conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da
quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito
cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um
gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo
se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas
rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os
moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave
missa com os seus familiares e agregados
MEcircS DE MAIO
Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas
capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a
tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em
volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens
de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar
o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites
era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees
O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas
A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA
A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob
a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas
de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas
No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a
aacuterea destinada a capela
15
ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer
faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas
construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro
pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)
A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um
pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria
desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor
Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves
Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas
paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de
comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura
e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A
frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina
No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por
Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa
das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo
o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois
sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos
inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os
adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que
havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e
repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do
templo
Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes
da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do
altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior
doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa
Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores
O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs
nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra
de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
16
Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os
altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares
construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a
Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da
igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios
provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a
igreja ganhou mais uma torre na fachada
A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO
As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber
a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta
regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as
terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros
separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia
outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os
fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em
comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o
povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a
padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar
ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo
outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica
a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro
Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o
nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do
Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca
A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de
casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro
17
da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra
do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa
ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem
Graccedilas agrave Virgem Mariardquo
(Paacuteg 36)
A FESTA
Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro
realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas
e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local
Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura
importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder
bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro
diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento
Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica
local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento
acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre
outros
18
CONCLUSAtildeO
O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de
Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa
afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da
histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e
vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os
questionamentos pertinentes a nossa pesquisa
Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor
procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de
proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do
espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do
mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local
Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem
enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na
tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto
na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local
O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de
Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como
vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo
da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG
para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como
elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos
O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de
Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na
sua obra
Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos
obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e
acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e
19
marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a
qualquer coisa
ABSTRACT
The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects
From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some
Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the
analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors
concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to
reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The
theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)
Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search
the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of
black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in
daily habits the existing diverse religiosity in this town
KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity
20
REFEREcircNCIAS
ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do
seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006
ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913
BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das
Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971
BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em
Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986
COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed
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FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de
economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002
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JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas
irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior
Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006
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QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos
no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002
RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz
Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005
Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)
httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE
1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs
11
minuciosa da obra contrapondo com elementos existentes na proacutepria igreja local na tentativa
de trazer a luz questotildees que foram estabelecidas pelo autor Severino Ismael como verdades
prontas e absolutas Os possiacuteveis indiacutecios e vestiacutegios satildeo elementos de fundamental
importacircncia para este trabalho
Entre estes vestiacutegios destacamos a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no altar
central da Igreja matriz de Caiccedilara (apesar da referecircncia direta agrave fundaccedilatildeo da cidade nos eacute
intrigante a escolha desta padroeira por seus fundadores) Jaacute que este culto agrave Senhora do
Rosaacuterio no Brasil ficou diretamente vinculado ao culto catoacutelico negro atraveacutes das
irmandades podendo dessa forma ser considerado um elemento da cultura africana no
espaccedilo religioso local Abaixo foto da Imagem tirada em 06 de Janeiro de 2014 Durante os
preparativos para a procissatildeo da Padroeira que se comemora nesta data no municiacutepio de
Caiccedilara
Ilustraccedilatildeo 1 Imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no andor
12
Foto Ricardo (2014)
Eacute evidente que os diversos escravos africanos desembarcados no Brasil contribuiriam
de forma significativa para a construccedilatildeo territorial e religiosa do paiacutes jaacute que participaram
diretamente da formaccedilatildeo da sociedade brasileira seja no trabalho nos engenhos de produccedilatildeo
de cana de accediluacutecar nas lavouras do cafeacute na extraccedilatildeo do ouro entre outros Ao desembarcarem
nessas terras trouxeram consigo seus costumes liacutenguas valores e crenccedilas Aqui encontraram
as mais diversas dificuldades de praticar sua cultura ou seja cultuar suas divindades e
costumes
O DESENVOLVIMENTO DAS PRAacuteTICAS RELIGIOSAS OFICIAIS NA CIDADE
DE CAICcedilARA-PB
A presenccedila do Catolicismo caiccedilarense estaacute inteiramente ligada ao seu periacuteodo de
fundaccedilatildeo que se deu por volta do ano de 1822 quando Manoel Soares da Costa instalou sua
fazenda e ergueu uma capela as margens do Rio Curimatauacute ldquoO povoamento da encantadora
Villa de Caiccedilara segundo informes de pessoas competentes teve logar no ano de 1822rdquo
Onde ldquoFoi edificada uma pequena capella sob a invocaccedilatildeo de NS do Rosaacuterio ()rdquo
ARAUacuteJO (1913)
Como aconteceu no Brasil e consequentemente na Paraiacuteba de uma forma em geral o
processo de povoamento oficial das regiotildees afastadas do litoral assim como o proacuteprio litoral
teve sua conquista e povoamento acompanhado da praacutetica religiosa oficial dos exploradores o
catolicismo A presenccedila da capela de Nossa Senhora do Rosaacuterio no povoamento que
futuramente seria denominado como municiacutepio de caiccedilara eacute um fato indiscutiacutevel pelos
historiadores e narradores de uma forma geral do Mito de fundaccedilatildeo da cidade ocorrendo
uma discussatildeo historiograacutefica agrave respeito do ano desta fundaccedilatildeo Epaminondas Tavares de
Arauacutejo afirma ter sido no ano de 1822 Entretanto Coriolano de Medeiros (em seu
ldquoDicionaacuterio Chorograacuteficordquo 1914) aponta o ano de 1841 como o da fundaccedilatildeo da Villa de
Caiccedilara
13
ldquoEm 1841 o terreno onde hoje eacute a sede do municiacutepio cobria-se ainda
cactos e bromeacutelias quando Manoel Soares da Costa Francisco da Costa
Gonccedilalves e Joseacute Vicente compraram a propriedade construiacuteram suas
vivendas e cercados de ramos ndash caiccedilaras ndash para abrigo do gado Depois
ergueram uma capella dedicada a NS do Rosaacuterio rdquo
Entretanto O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) aceita o uacuteltimo
como sendo o ano de fundaccedilatildeo Entre a populaccedilatildeo a informaccedilatildeo tida com maior aprovaccedilatildeo eacute
ano de 1822 Isto porque a sesmaria que Luiacutes Soares de Mendonccedila adquiriu natildeo foi no ano de
1822 como relatou Coriolano de Medeiros em seus estudos e sim no ano de 1788 registrada
sob nordm 891 por meio de documentos oficiais
Todavia a divergecircncia acerca do ano de fundaccedilatildeo ocorreu pelo fato de que a criaccedilatildeo da
feira ocorreu no ano de 1841 e o mesmo seria o marco do crescimento e da concentraccedilatildeo
urbana O que observamos em comum em ambas as citaccedilotildees eacute que o Catolicismo fecundava a
Villa de Caiccedilara desde sua fundaccedilatildeo Pois a construccedilatildeo da Capella eacute vista em todos os
registros sobre a origem deste povoado Os autores oficiais e tradicionais da histoacuteria de
fundaccedilatildeo da Villa de Caiccedilara discorrem ainda sobre a origem de sua denominaccedilatildeo segundo
Coriolano de Medeiros e Epaminondas Tavares o nome Caiccedilara proveacutem dos currais Fala
Epaminondas ldquoA denominaccedilatildeo de Caiccedilara proveacutem de um curral de pau-a-pique construiacutedo
por Manoel Soares nas proximidades de sua casardquo (p108)
O CATOLICISMO CAICcedilARENSE
De acordo com a visatildeo positivista e as fontes oficiais o iacutendio e o negro pouco
contribuiacuteram na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo Caiccedilarense segundo Severino Ismael
da Costa em seu livro ldquoCaiccedilara Caminhos de Almocrevesrdquo (1990) Ainda de acordo com o
mesmo o imaginaacuterio da populaccedilatildeo local contribuiu de maneira bastante significativa para o
florescimento da religiatildeo Catoacutelica que veio a ser praticada na Villa de Caiccedilara
Nesta mesma perspectiva as fontes oficias da Igreja em pauta tentam nos mostrar que
a participaccedilatildeo do negro no acircmbito religioso teve pouco significado Os ritos as festas as
preces tudo era vinculado ao catolicismo No periacuteodo da posse da terra quando o branco
erguia sua morada edificava tambeacutem junto ou nas proximidades uma capela onde eram
celebrados os atos religiosos e realizadas as festas Destas eram as mais comuns O Natal
14
Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo
saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais
conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da
quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito
cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um
gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo
se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas
rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os
moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave
missa com os seus familiares e agregados
MEcircS DE MAIO
Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas
capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a
tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em
volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens
de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar
o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites
era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees
O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas
A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA
A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob
a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas
de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas
No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a
aacuterea destinada a capela
15
ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer
faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas
construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro
pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)
A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um
pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria
desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor
Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves
Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas
paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de
comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura
e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A
frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina
No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por
Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa
das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo
o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois
sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos
inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os
adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que
havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e
repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do
templo
Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes
da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do
altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior
doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa
Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores
O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs
nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra
de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
16
Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os
altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares
construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a
Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da
igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios
provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a
igreja ganhou mais uma torre na fachada
A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO
As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber
a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta
regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as
terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros
separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia
outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os
fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em
comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o
povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a
padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar
ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo
outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica
a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro
Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o
nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do
Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca
A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de
casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro
17
da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra
do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa
ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem
Graccedilas agrave Virgem Mariardquo
(Paacuteg 36)
A FESTA
Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro
realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas
e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local
Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura
importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder
bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro
diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento
Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica
local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento
acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre
outros
18
CONCLUSAtildeO
O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de
Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa
afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da
histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e
vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os
questionamentos pertinentes a nossa pesquisa
Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor
procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de
proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do
espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do
mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local
Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem
enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na
tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto
na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local
O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de
Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como
vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo
da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG
para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como
elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos
O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de
Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na
sua obra
Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos
obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e
acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e
19
marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a
qualquer coisa
ABSTRACT
The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects
From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some
Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the
analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors
concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to
reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The
theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)
Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search
the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of
black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in
daily habits the existing diverse religiosity in this town
KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity
20
REFEREcircNCIAS
ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do
seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006
ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913
BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das
Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971
BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em
Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986
COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed
Micrograacutefica 1990
FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de
economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002
HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo
Petroacutepolis Vozes 1991
JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas
irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior
Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006
MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)
QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos
no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002
RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz
Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005
Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)
httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE
1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs
12
Foto Ricardo (2014)
Eacute evidente que os diversos escravos africanos desembarcados no Brasil contribuiriam
de forma significativa para a construccedilatildeo territorial e religiosa do paiacutes jaacute que participaram
diretamente da formaccedilatildeo da sociedade brasileira seja no trabalho nos engenhos de produccedilatildeo
de cana de accediluacutecar nas lavouras do cafeacute na extraccedilatildeo do ouro entre outros Ao desembarcarem
nessas terras trouxeram consigo seus costumes liacutenguas valores e crenccedilas Aqui encontraram
as mais diversas dificuldades de praticar sua cultura ou seja cultuar suas divindades e
costumes
O DESENVOLVIMENTO DAS PRAacuteTICAS RELIGIOSAS OFICIAIS NA CIDADE
DE CAICcedilARA-PB
A presenccedila do Catolicismo caiccedilarense estaacute inteiramente ligada ao seu periacuteodo de
fundaccedilatildeo que se deu por volta do ano de 1822 quando Manoel Soares da Costa instalou sua
fazenda e ergueu uma capela as margens do Rio Curimatauacute ldquoO povoamento da encantadora
Villa de Caiccedilara segundo informes de pessoas competentes teve logar no ano de 1822rdquo
Onde ldquoFoi edificada uma pequena capella sob a invocaccedilatildeo de NS do Rosaacuterio ()rdquo
ARAUacuteJO (1913)
Como aconteceu no Brasil e consequentemente na Paraiacuteba de uma forma em geral o
processo de povoamento oficial das regiotildees afastadas do litoral assim como o proacuteprio litoral
teve sua conquista e povoamento acompanhado da praacutetica religiosa oficial dos exploradores o
catolicismo A presenccedila da capela de Nossa Senhora do Rosaacuterio no povoamento que
futuramente seria denominado como municiacutepio de caiccedilara eacute um fato indiscutiacutevel pelos
historiadores e narradores de uma forma geral do Mito de fundaccedilatildeo da cidade ocorrendo
uma discussatildeo historiograacutefica agrave respeito do ano desta fundaccedilatildeo Epaminondas Tavares de
Arauacutejo afirma ter sido no ano de 1822 Entretanto Coriolano de Medeiros (em seu
ldquoDicionaacuterio Chorograacuteficordquo 1914) aponta o ano de 1841 como o da fundaccedilatildeo da Villa de
Caiccedilara
13
ldquoEm 1841 o terreno onde hoje eacute a sede do municiacutepio cobria-se ainda
cactos e bromeacutelias quando Manoel Soares da Costa Francisco da Costa
Gonccedilalves e Joseacute Vicente compraram a propriedade construiacuteram suas
vivendas e cercados de ramos ndash caiccedilaras ndash para abrigo do gado Depois
ergueram uma capella dedicada a NS do Rosaacuterio rdquo
Entretanto O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) aceita o uacuteltimo
como sendo o ano de fundaccedilatildeo Entre a populaccedilatildeo a informaccedilatildeo tida com maior aprovaccedilatildeo eacute
ano de 1822 Isto porque a sesmaria que Luiacutes Soares de Mendonccedila adquiriu natildeo foi no ano de
1822 como relatou Coriolano de Medeiros em seus estudos e sim no ano de 1788 registrada
sob nordm 891 por meio de documentos oficiais
Todavia a divergecircncia acerca do ano de fundaccedilatildeo ocorreu pelo fato de que a criaccedilatildeo da
feira ocorreu no ano de 1841 e o mesmo seria o marco do crescimento e da concentraccedilatildeo
urbana O que observamos em comum em ambas as citaccedilotildees eacute que o Catolicismo fecundava a
Villa de Caiccedilara desde sua fundaccedilatildeo Pois a construccedilatildeo da Capella eacute vista em todos os
registros sobre a origem deste povoado Os autores oficiais e tradicionais da histoacuteria de
fundaccedilatildeo da Villa de Caiccedilara discorrem ainda sobre a origem de sua denominaccedilatildeo segundo
Coriolano de Medeiros e Epaminondas Tavares o nome Caiccedilara proveacutem dos currais Fala
Epaminondas ldquoA denominaccedilatildeo de Caiccedilara proveacutem de um curral de pau-a-pique construiacutedo
por Manoel Soares nas proximidades de sua casardquo (p108)
O CATOLICISMO CAICcedilARENSE
De acordo com a visatildeo positivista e as fontes oficiais o iacutendio e o negro pouco
contribuiacuteram na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo Caiccedilarense segundo Severino Ismael
da Costa em seu livro ldquoCaiccedilara Caminhos de Almocrevesrdquo (1990) Ainda de acordo com o
mesmo o imaginaacuterio da populaccedilatildeo local contribuiu de maneira bastante significativa para o
florescimento da religiatildeo Catoacutelica que veio a ser praticada na Villa de Caiccedilara
Nesta mesma perspectiva as fontes oficias da Igreja em pauta tentam nos mostrar que
a participaccedilatildeo do negro no acircmbito religioso teve pouco significado Os ritos as festas as
preces tudo era vinculado ao catolicismo No periacuteodo da posse da terra quando o branco
erguia sua morada edificava tambeacutem junto ou nas proximidades uma capela onde eram
celebrados os atos religiosos e realizadas as festas Destas eram as mais comuns O Natal
14
Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo
saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais
conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da
quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito
cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um
gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo
se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas
rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os
moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave
missa com os seus familiares e agregados
MEcircS DE MAIO
Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas
capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a
tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em
volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens
de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar
o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites
era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees
O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas
A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA
A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob
a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas
de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas
No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a
aacuterea destinada a capela
15
ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer
faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas
construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro
pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)
A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um
pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria
desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor
Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves
Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas
paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de
comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura
e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A
frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina
No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por
Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa
das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo
o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois
sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos
inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os
adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que
havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e
repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do
templo
Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes
da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do
altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior
doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa
Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores
O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs
nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra
de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
16
Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os
altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares
construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a
Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da
igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios
provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a
igreja ganhou mais uma torre na fachada
A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO
As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber
a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta
regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as
terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros
separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia
outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os
fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em
comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o
povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a
padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar
ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo
outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica
a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro
Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o
nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do
Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca
A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de
casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro
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da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra
do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa
ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem
Graccedilas agrave Virgem Mariardquo
(Paacuteg 36)
A FESTA
Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro
realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas
e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local
Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura
importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder
bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro
diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento
Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica
local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento
acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre
outros
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CONCLUSAtildeO
O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de
Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa
afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da
histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e
vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os
questionamentos pertinentes a nossa pesquisa
Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor
procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de
proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do
espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do
mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local
Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem
enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na
tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto
na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local
O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de
Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como
vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo
da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG
para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como
elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos
O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de
Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na
sua obra
Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos
obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e
acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e
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marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a
qualquer coisa
ABSTRACT
The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects
From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some
Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the
analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors
concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to
reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The
theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)
Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search
the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of
black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in
daily habits the existing diverse religiosity in this town
KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity
20
REFEREcircNCIAS
ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do
seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006
ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913
BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das
Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971
BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em
Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986
COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed
Micrograacutefica 1990
FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de
economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002
HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo
Petroacutepolis Vozes 1991
JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas
irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior
Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006
MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)
QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos
no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002
RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz
Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005
Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)
httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE
1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs
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ldquoEm 1841 o terreno onde hoje eacute a sede do municiacutepio cobria-se ainda
cactos e bromeacutelias quando Manoel Soares da Costa Francisco da Costa
Gonccedilalves e Joseacute Vicente compraram a propriedade construiacuteram suas
vivendas e cercados de ramos ndash caiccedilaras ndash para abrigo do gado Depois
ergueram uma capella dedicada a NS do Rosaacuterio rdquo
Entretanto O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) aceita o uacuteltimo
como sendo o ano de fundaccedilatildeo Entre a populaccedilatildeo a informaccedilatildeo tida com maior aprovaccedilatildeo eacute
ano de 1822 Isto porque a sesmaria que Luiacutes Soares de Mendonccedila adquiriu natildeo foi no ano de
1822 como relatou Coriolano de Medeiros em seus estudos e sim no ano de 1788 registrada
sob nordm 891 por meio de documentos oficiais
Todavia a divergecircncia acerca do ano de fundaccedilatildeo ocorreu pelo fato de que a criaccedilatildeo da
feira ocorreu no ano de 1841 e o mesmo seria o marco do crescimento e da concentraccedilatildeo
urbana O que observamos em comum em ambas as citaccedilotildees eacute que o Catolicismo fecundava a
Villa de Caiccedilara desde sua fundaccedilatildeo Pois a construccedilatildeo da Capella eacute vista em todos os
registros sobre a origem deste povoado Os autores oficiais e tradicionais da histoacuteria de
fundaccedilatildeo da Villa de Caiccedilara discorrem ainda sobre a origem de sua denominaccedilatildeo segundo
Coriolano de Medeiros e Epaminondas Tavares o nome Caiccedilara proveacutem dos currais Fala
Epaminondas ldquoA denominaccedilatildeo de Caiccedilara proveacutem de um curral de pau-a-pique construiacutedo
por Manoel Soares nas proximidades de sua casardquo (p108)
O CATOLICISMO CAICcedilARENSE
De acordo com a visatildeo positivista e as fontes oficiais o iacutendio e o negro pouco
contribuiacuteram na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo Caiccedilarense segundo Severino Ismael
da Costa em seu livro ldquoCaiccedilara Caminhos de Almocrevesrdquo (1990) Ainda de acordo com o
mesmo o imaginaacuterio da populaccedilatildeo local contribuiu de maneira bastante significativa para o
florescimento da religiatildeo Catoacutelica que veio a ser praticada na Villa de Caiccedilara
Nesta mesma perspectiva as fontes oficias da Igreja em pauta tentam nos mostrar que
a participaccedilatildeo do negro no acircmbito religioso teve pouco significado Os ritos as festas as
preces tudo era vinculado ao catolicismo No periacuteodo da posse da terra quando o branco
erguia sua morada edificava tambeacutem junto ou nas proximidades uma capela onde eram
celebrados os atos religiosos e realizadas as festas Destas eram as mais comuns O Natal
14
Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo
saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais
conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da
quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito
cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um
gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo
se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas
rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os
moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave
missa com os seus familiares e agregados
MEcircS DE MAIO
Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas
capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a
tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em
volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens
de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar
o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites
era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees
O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas
A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA
A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob
a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas
de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas
No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a
aacuterea destinada a capela
15
ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer
faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas
construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro
pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)
A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um
pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria
desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor
Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves
Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas
paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de
comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura
e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A
frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina
No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por
Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa
das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo
o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois
sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos
inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os
adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que
havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e
repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do
templo
Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes
da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do
altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior
doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa
Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores
O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs
nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra
de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
16
Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os
altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares
construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a
Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da
igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios
provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a
igreja ganhou mais uma torre na fachada
A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO
As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber
a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta
regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as
terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros
separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia
outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os
fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em
comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o
povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a
padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar
ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo
outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica
a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro
Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o
nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do
Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca
A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de
casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro
17
da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra
do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa
ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem
Graccedilas agrave Virgem Mariardquo
(Paacuteg 36)
A FESTA
Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro
realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas
e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local
Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura
importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder
bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro
diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento
Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica
local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento
acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre
outros
18
CONCLUSAtildeO
O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de
Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa
afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da
histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e
vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os
questionamentos pertinentes a nossa pesquisa
Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor
procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de
proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do
espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do
mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local
Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem
enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na
tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto
na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local
O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de
Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como
vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo
da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG
para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como
elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos
O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de
Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na
sua obra
Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos
obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e
acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e
19
marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a
qualquer coisa
ABSTRACT
The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects
From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some
Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the
analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors
concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to
reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The
theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)
Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search
the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of
black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in
daily habits the existing diverse religiosity in this town
KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity
20
REFEREcircNCIAS
ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do
seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006
ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913
BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das
Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971
BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em
Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986
COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed
Micrograacutefica 1990
FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de
economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002
HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo
Petroacutepolis Vozes 1991
JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas
irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior
Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006
MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)
QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos
no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002
RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz
Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005
Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)
httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE
1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs
14
Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo
saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais
conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da
quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito
cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um
gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo
se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas
rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os
moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave
missa com os seus familiares e agregados
MEcircS DE MAIO
Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas
capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a
tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em
volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens
de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar
o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites
era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees
O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas
A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA
A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob
a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas
de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas
No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a
aacuterea destinada a capela
15
ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer
faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas
construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro
pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)
A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um
pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria
desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor
Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves
Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas
paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de
comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura
e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A
frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina
No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por
Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa
das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo
o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois
sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos
inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os
adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que
havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e
repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do
templo
Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes
da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do
altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior
doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa
Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores
O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs
nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra
de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
16
Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os
altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares
construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a
Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da
igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios
provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a
igreja ganhou mais uma torre na fachada
A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO
As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber
a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta
regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as
terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros
separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia
outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os
fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em
comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o
povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a
padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar
ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo
outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica
a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro
Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o
nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do
Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca
A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de
casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro
17
da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra
do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa
ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem
Graccedilas agrave Virgem Mariardquo
(Paacuteg 36)
A FESTA
Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro
realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas
e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local
Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura
importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder
bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro
diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento
Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica
local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento
acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre
outros
18
CONCLUSAtildeO
O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de
Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa
afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da
histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e
vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os
questionamentos pertinentes a nossa pesquisa
Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor
procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de
proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do
espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do
mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local
Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem
enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na
tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto
na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local
O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de
Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como
vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo
da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG
para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como
elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos
O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de
Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na
sua obra
Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos
obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e
acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e
19
marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a
qualquer coisa
ABSTRACT
The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects
From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some
Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the
analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors
concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to
reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The
theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)
Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search
the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of
black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in
daily habits the existing diverse religiosity in this town
KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity
20
REFEREcircNCIAS
ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do
seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006
ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913
BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das
Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971
BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em
Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986
COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed
Micrograacutefica 1990
FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de
economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002
HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo
Petroacutepolis Vozes 1991
JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas
irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior
Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006
MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)
QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos
no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002
RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz
Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005
Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)
httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE
1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs
15
ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer
faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas
construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro
pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)
A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um
pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria
desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor
Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves
Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas
paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de
comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura
e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A
frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina
No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por
Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa
das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo
o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois
sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos
inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os
adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que
havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e
repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do
templo
Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes
da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do
altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior
doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa
Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores
O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs
nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra
de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
16
Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os
altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares
construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a
Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da
igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios
provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a
igreja ganhou mais uma torre na fachada
A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO
As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber
a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta
regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as
terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros
separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia
outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os
fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em
comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o
povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a
padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar
ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo
outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica
a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro
Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o
nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do
Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca
A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de
casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro
17
da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra
do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa
ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem
Graccedilas agrave Virgem Mariardquo
(Paacuteg 36)
A FESTA
Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro
realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas
e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local
Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura
importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder
bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro
diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento
Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica
local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento
acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre
outros
18
CONCLUSAtildeO
O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de
Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa
afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da
histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e
vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os
questionamentos pertinentes a nossa pesquisa
Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor
procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de
proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do
espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do
mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local
Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem
enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na
tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto
na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local
O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de
Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como
vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo
da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG
para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como
elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos
O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de
Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na
sua obra
Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos
obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e
acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e
19
marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a
qualquer coisa
ABSTRACT
The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects
From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some
Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the
analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors
concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to
reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The
theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)
Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search
the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of
black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in
daily habits the existing diverse religiosity in this town
KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity
20
REFEREcircNCIAS
ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do
seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006
ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913
BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das
Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971
BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em
Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986
COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed
Micrograacutefica 1990
FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de
economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002
HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo
Petroacutepolis Vozes 1991
JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas
irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior
Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006
MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)
QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos
no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002
RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz
Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005
Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)
httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE
1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs
16
Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os
altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares
construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a
Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da
igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios
provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a
igreja ganhou mais uma torre na fachada
A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO
As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber
a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta
regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as
terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros
separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia
outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os
fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio
A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em
comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o
povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a
padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar
ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo
outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica
a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro
Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o
nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do
Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca
A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de
casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro
17
da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra
do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa
ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem
Graccedilas agrave Virgem Mariardquo
(Paacuteg 36)
A FESTA
Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro
realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas
e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local
Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura
importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder
bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro
diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento
Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica
local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento
acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre
outros
18
CONCLUSAtildeO
O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de
Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa
afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da
histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e
vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os
questionamentos pertinentes a nossa pesquisa
Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor
procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de
proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do
espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do
mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local
Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem
enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na
tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto
na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local
O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de
Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como
vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo
da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG
para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como
elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos
O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de
Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na
sua obra
Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos
obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e
acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e
19
marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a
qualquer coisa
ABSTRACT
The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects
From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some
Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the
analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors
concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to
reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The
theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)
Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search
the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of
black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in
daily habits the existing diverse religiosity in this town
KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity
20
REFEREcircNCIAS
ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do
seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006
ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913
BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das
Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971
BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em
Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986
COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed
Micrograacutefica 1990
FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de
economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002
HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo
Petroacutepolis Vozes 1991
JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas
irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior
Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006
MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)
QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos
no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002
RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz
Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005
Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)
httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE
1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs
17
da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra
do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa
ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem
Graccedilas agrave Virgem Mariardquo
(Paacuteg 36)
A FESTA
Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro
realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas
e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local
Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura
importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder
bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro
diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento
Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica
local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento
acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre
outros
18
CONCLUSAtildeO
O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de
Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa
afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da
histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e
vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os
questionamentos pertinentes a nossa pesquisa
Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor
procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de
proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do
espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do
mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local
Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem
enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na
tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto
na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local
O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de
Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como
vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo
da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG
para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como
elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos
O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de
Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na
sua obra
Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos
obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e
acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e
19
marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a
qualquer coisa
ABSTRACT
The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects
From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some
Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the
analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors
concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to
reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The
theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)
Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search
the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of
black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in
daily habits the existing diverse religiosity in this town
KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity
20
REFEREcircNCIAS
ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do
seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006
ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913
BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das
Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971
BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em
Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986
COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed
Micrograacutefica 1990
FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de
economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002
HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo
Petroacutepolis Vozes 1991
JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas
irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior
Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006
MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)
QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos
no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002
RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz
Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005
Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)
httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE
1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs
18
CONCLUSAtildeO
O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de
Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa
afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da
histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e
vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os
questionamentos pertinentes a nossa pesquisa
Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor
procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de
proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do
espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do
mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local
Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem
enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na
tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto
na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local
O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de
Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como
vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo
da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG
para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como
elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos
O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de
Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na
sua obra
Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos
obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e
acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e
19
marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a
qualquer coisa
ABSTRACT
The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects
From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some
Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the
analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors
concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to
reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The
theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)
Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search
the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of
black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in
daily habits the existing diverse religiosity in this town
KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity
20
REFEREcircNCIAS
ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do
seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006
ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913
BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das
Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971
BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em
Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986
COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed
Micrograacutefica 1990
FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de
economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002
HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo
Petroacutepolis Vozes 1991
JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas
irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior
Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006
MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)
QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos
no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002
RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz
Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005
Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)
httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE
1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs
19
marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a
qualquer coisa
ABSTRACT
The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects
From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some
Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the
analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors
concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to
reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The
theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)
Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search
the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of
black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in
daily habits the existing diverse religiosity in this town
KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity
20
REFEREcircNCIAS
ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do
seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006
ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913
BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das
Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971
BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em
Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986
COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed
Micrograacutefica 1990
FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de
economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002
HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo
Petroacutepolis Vozes 1991
JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas
irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior
Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006
MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)
QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos
no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002
RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz
Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005
Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)
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REFEREcircNCIAS
ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do
seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006
ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913
BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das
Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971
BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em
Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986
COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed
Micrograacutefica 1990
FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de
economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002
HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo
Petroacutepolis Vozes 1991
JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas
irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior
Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006
MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)
QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos
no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002
RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz
Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005
Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)
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