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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
BRUNO REZENDE SPADOTTO
CENTRALIZAÇÃO DO CAPITAL E ESPECIALIZAÇÃO TERRITORIAL: O SETOR
SUCROENERGÉTICO E O MERCADO DE TRABALHO EM PIRACICABA (SP)
CAMPINAS
2016
ii
BRUNO REZENDE SPADOTTO
“CENTRALIZAÇÃO DO CAPITAL E ESPECIALIZAÇÃO TERRITORIAL: O SETOR
SUCROENERGÉTICO E O MERCADO DE TRABALHO EM PIRACICABA (SP)”
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA AO
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DA UNICAMP PARA
OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM GEOGRAFIA
NA ÁREA DE ANÁLISE AMBIENTAL E DINÂMICA
TERRITORIAL
ORIENTADOR: PROF. DR. SAMUEL FREDERICO
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL
DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO BRUNO
REZENDE SPADOTTO E ORIENTADA PELO PROF.
DR. SAMUEL FREDERICO.
CAMPINAS
2016
Agência(s) de fomento e nº(s) de processo(s): FAPESP, 04019-8/2013
Ficha catalográficaUniversidade Estadual de CampinasBiblioteca do Instituto de GeociênciasCássia Raquel da Silva - CRB 8/5752
e o mercado de trabalho em Piracicaba (SP) / Bruno Rezende Spadotto. –Campinas, SP : [s.n.], 2016.
Spadotto, Bruno Rezende, 1989-Sp11c SpaCentralização do capital e especialização territorial : o setor sucroenergético
SpaOrientador: Samuel Frederico.SpaDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto deGeociências.
Spa1. Agroindústria. 2. Mercado de trabalho. 3. Geografia econômica. 4.Planejamento territorial. 5. Piracicaba (SP). I. Frederico, Samuel,1979-. II.Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Geociências. III. Título.
Informações para Biblioteca Digital
Título em outro idioma: Centralization of capital and territorial specialization : the sugarcane industry and labour market in Piracicaba (SP)Palavras-chave em inglês:AgribusinessLabour marketEconomic geographyTerritorial planningPiracicaba (SP)Área de concentração: Análise Ambiental e Dinâmica TerritorialTitulação: Mestre em GeografiaBanca examinadora:Vicente Eudes Lemos AlvesFabio Betioli ContelFabrício GalloData de defesa: 29-02-2016Programa de Pós-Graduação: Geografia
Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
ÁREA DE ANÁLISE AMBIENTAL E DINÂMICA TERRITORIAL
AUTOR: Bruno Rezende Spadotto
“Centralização do capital e especialização territorial: o setor sucroenergético e o
mercado de trabalho em Piracicaba (SP).)”.
ORIENTADOR: Prof. Dr. Samuel Frederico
Aprovado em: 29 / 02 / 2016
EXAMINADORES:
Prof. Dr. Vicente Eudes Lemos Alves - Presidente
Prof. Dr. Fabio Betioli Contel
Prof. Dr. Fabricio Gallo
A Ata de Defesa assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta
no processo de vida acadêmica do aluno.
Campinas, 29 de fevereiro de 2016.
DEDICATÓRIA
Primeiramente, dedico essa dissertação ao carinho e confiança dos meus pais.
Em segundo plano, mas não menos importante, dedico aos trabalhadores da agroindústria
canavieira, principalmente, aos que já foram desrespeitados em seus direitos trabalhistas.
AGRADECIMENTOS
Todo trabalho, sendo intelectual ou material, constrói-se a partir de um
esforço coletivo. Assim, mesmo que a tarefa principal desta dissertação concentre
méritos individuais, ela foi auxiliada por uma infinita cooperação coletiva.
Assim, primeiramente, agradeço, imensamente, o amor e confiança de meus
pais, Vaine Regina Rezende Spadotto e Benedito Spadotto.
Da mesma forma, agradeço a todos os professore(a)s que passaram em
minha vida. Agradeço a orientação “revolucionária” do professor e amigo Samuel
Frederico, que, como poucos, se dedica fielmente à orientação de seus alunos.
Também agradeço aos professores membros da banca de qualificação e de defesa,
Ricardo Abid Castillo, Fábio Betioli Contel, Vicente Eudes Lemos Alves e Fabrício
Gallo.
Agradeço à pós-graduação do Instituto de Geociências da Unicamp.
Particularmente à equipe da secretaria, nas pessoas de Valdirene Pinotti, Maria
Gorete Bernardelli, Valdir Olivieri e Ana Beatriz Silva pela atenção e dedicação que
sempre demonstram aos pós-graduandos. É importante ampliarmos o acesso à
educação superior no Brasil.
Da mesma maneira, agradeço à “Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo (FAPESP)” pelo financiamento da pesquisa no Brasil e do meu
“Estágio de Pesquisa no Exterior” no “The Graduate Center of City University of New
York (CUNY)”, onde, entre outras atividades, pude realizar uma entrevista com o
geógrafo britânico David Harvey. Agradeço a esse excelentíssimo professor pela
disponibilidade que demonstrou ao ser entrevistado.
Agradeço imensamente à professora Cindi Katz pela receptividade, carinho e
atenção dedicados, que me fizeram sentir muito acolhido na CUNY. Também
agradeço à professora Ruth Gilmore, que permitiu minha participação nas reuniões
do “Center for Place, Culture and Politics” – grupo de debates criado pelo honrado
professor Neil Smith – onde, no outono de 2014, o tema central dos debates
concentrou-se no conceito de “dívida” (ou “debt”, em inglês).
Também agradeço à boa companhia dos amigos que estiveram presentes
nos quatro meses que estive em Nova Iorque, como Vernon, Robin, Marlene,
Rakhee, Hamid, Olivia, Hélene e Karl. Obrigado pela companhia pessoal e espero
que possamos fortalecer nossa cooperação em novos trabalhos.
Agradeço a todas as pessoas entrevistadas nessa pesquisa, das
Universidades, da Prefeitura de Piracicaba, de Instituições vinculadas, ou não, ao
setor sucroenergético (sindicatos e associações de classe) e demais agentes do
setor produtivo (industriais, representantes comerciais e trabalhadores) que puderam
contribuir com informações muito importantes para a conclusão desse trabalho. Um
agradecimento especial à Vitor Pires Vencovsky do Instituto Histórico e Geográfico
de Piracicaba (IHGP).
Agradeço aos amigos e colegas que colaboraram com trabalhos adicionais de
redação desta dissertação, como meu primo, Carlos Eduardo da Silva Spadotto, que
graças a seu ótimo conhecimento no software “Corel Draw”, pôde-me ajudar na
elaboração dos organogramas. Também agradeço à Lívia Tonelli pela inspiração
quanto a epigrafe dessa dissertação.
Agradeço aos amigos “do coração” que participaram destes últimos anos de
vida “acadêmica”, entre eles: Andressa Adame, Vernon Caldwell, Débora
Assumpção e Lima, Abbul Mahmebb Said, Vinicius Regitano, Renan Rivaben
Pereira, Renato Peres, Alan Peterson Lopes, Jeferson Rodrigo Correa, Marcela
Barone, Carlos Eduardo Nobre, Evaldo Gomes Junior, Marcelo Alves Teodoro,
Rodrigo Cavalcanti do Nascimento, Jaqueline Vigo Cogueto, Anderson Akio Shishito
(Mizu), Carlos Alberto Fernandes, Pedro Henrique Ferreira Costa (BH) e Delcio
Fernandes Domingos.
Finalmente, peço desculpas se omiti alguém importante e, enfim, agradeço a
todas as pessoas que estiveram presentes, em minha vida, nos últimos anos aos
quais me dediquei nessa “empreitada acadêmica” e que contribuíram, materialmente
ou sentimentalmente para a conclusão da mesma! Sei que todos vocês estão
presentes nas esperanças e nas lutas de minha vida!
EPÍGRAFE
"[...] o capital é como uma praga de gafanhotos. Eles se
estabelecem em um lugar, devoram-no e então se deslocam
para praguejar outro lugar. E, melhor dizendo, no processo de
sua recuperação após uma praga, a região fica pronta para
outra."
(Neil Smith, Desenvolvimento Desigual, 1988, p. 217)
CENTRALIZAÇÃO DO CAPITAL E ESPECIALIZAÇÃO TERRITORIAL: O SETOR
SUCROENERGÉTICO E O MERCADO DE TRABALHO EM PIRACICABA (SP) –
RESUMO
Dissertação de Mestrado – Bruno Rezende Spadotto
O objetivo desta dissertação é analisar as consequências da atual centralização do
capital no segmento agroindustrial do setor sucroenergético brasileiro para o mercado de
trabalho da cidade de Piracicaba. Durante o trabalho, realizamos uma revisão bibliográfica
sobre a história desse município e seus principais aspectos econômicos, visando realizar
uma periodização dos meios geográficos. Examinamos, também, a conformação de um
circuito produtivo, no município, especializado no setor sucroenergético, tipificando as
diferentes empresas componentes desse circuito, com base na teoria dos dois circuitos da
economia urbana. Por fim, analisamos a centralização do capital (em curso no segmento
agroindustrial do setor sucroenergético brasileiro) com o objetivo de compreender seus
impactos para o mercado de trabalho dependente desse setor em Piracicaba. Esta cidade
média paulista é historicamente especializada na produção de bens e serviços para o
referenciado setor e, desde a chamada “Crise de 2008”, a empregabilidade dos ramos
produtivos, vinculados ao setor sucroenergético, diminuiu consideravelmente. Partimos de
duas hipóteses centrais: a primeira é baseada no atual desenvolvimento do período técnico-
cientifico-informacional, que sobrepõe novas solidariedades organizacionais às antigas
solidariedades orgânicas nas regiões produtivas. A segunda hipótese aborda a redução da
demanda por capital constante em setores econômicos impactados por centralizações do
capital concomitantes a crises econômicas globais. Em suma, dissertamos uma “geografia
do presente”, um “materialismo histórico e geográfico” sobre as contradições da produção
sucroenergética brasileira e a vulnerabilidade do emprego no município de Piracicaba.
Palavras-chave: Agroindústria; Mercado de trabalho; Geografia econômica; Planejamento
territorial; Piracicaba (SP).
CENTRALIZATION OF CAPITAL AND TERRITORIAL SPECIALIZATION: THE
SUGARCANE INDUSTRY AND LABOUR MARKET IN PIRACICABA (SP)
ABSTRACT
Masters Degree – Bruno Rezende Spadotto
The objective of this dissertation is to analyze the consequences of the current
centralization of capital in the Brazilian sugarcane industry for the labor market in the city of
Piracicaba. During the work, we conducted a literature review on the history of this city and
its main economic aspects, aimed performing a periodization of differents geographical
environments. We have also examined the formation of a production circuit in the city,
specialized in sugarcane industry, typifying the different companies of this circuit based on
the theory of the two circuits of urban economy. Finally, we analyzed the centralization of
capital in the agribusiness segment of the Brazilian sugarcane industry in order to
understand their impact on the labor market dependent on this sector in Piracicaba. This
average São Paulo State city is historically specialized in producing equipments and services
for the referenced sector and since the so-called "2008 crisis", the employability of productive
branches, linked to the sugarcane industry, decreased considerably. Thus, we show two
central hypotheses that explain the influence of that centralization of capital for productive
circuit of equipments and services located in Piracicaba. The first is based on the current
development of technical-scientific-informational period that overlaps organizational
solidarities to organic solidarities of the territories. The second central hypothesis addresses
the devaluation of constant capital in centralizations that occurs concomitantly on a global
economic crisis. In short, we wrote a "geography of present” or a “historical geographical
materialism” about the contradictions of the Brazilian sugarcane industry and the productive
structure of labour market in Piracicaba.
Keywords: Agribusiness; Labour Market; Economic geography; Territorial planning;
Piracicaba (SP).
LISTAS
Fotos
Foto 1.1. Grupo Dedini: barracão da década de 1950 ................................................ 31
Foto 1.2. Grupo Dedini: antigo prédio administrativo.................................................... 41
Foto 2.1. Vista aérea da usina sucroenergética Costa Pinto (Raízen) ...................... 72
Foto 2.2. Prédio principal da Dedini S/A “Indústrias de Base”..................................64
Foto 3.1. Grupo Dedini: greve dos trabalhadores no ano de 2014............................. 92
Foto 3.2. Grupo Dedini: prédio da seção de mecânica, arrematado em leilão público
no mês de novembro de 2014 .......................................................................................... 93
Gráficos
Gráfico 1.2. Piracicaba: empregos formais da indústria e participação percentual (%)
no total de empregos formais (1991 – 2013).....................................................................42
Gráfico 2.1. Piracicaba, estado de São Paulo e Brasil: participação (em %) da
indústria no total do valor adicionado ao PIB (1999-2012) .............................................48
Gráfico 2.2. Americana, Itu, Limeira, Piracicaba, Rio Claro e Sta. Barbara do Oeste:
valor adicionado pela Indústria, em milhões de reais (1999-2012) ...............................49
Gráfico 3.1. Açúcar: variação do preço anual (1985 a 2014) .............................................
(Unidade: centavos de dólar (US$) por libra de peso).....................................................85
Gráfico 3.2. BNDES: desembolsos para o setor sucroenergético, ....................................
em milhões de reais (1999-2014)........................................................................................86
Gráfico 3.3. Setor Sucroenergético: Fusões e Aquisições (1996-2014).......................87
Gráfico 3.4. Brasil: evolução da produção de cana-de-açúcar, em toneladas moídas
(Anos-safras: 2001-2002 a 2014-2015) .............................................................................92
Gráfico 3.5. Piracicaba: Total de vínculos empregatícios, em milhares de empregos
(2000 a 2014) .........................................................................................................................95
Gráfico 3.6. Piracicaba: Total de vínculos empregatícios no subsetor metalmecânico,
em milhares de empregos (2000 a 2014) ..........................................................................96
Gráfico 3.7. Piracicaba: movimentação total de admissões e desligamentos, entre os
anos de 2002 a 2015 .............................................................................................................97
Gráfico 3.8. Piracicaba: movimentação dos empregos metalmecânicos, admissões e
desligamentos, entre os anos de 2002 a 2015 .................................................................98
Gráfico 3.9. Grupo Dedini: variação do número de trabalhadores ....................................
(2006 a agosto de 2015) .................................................................................................... 105
Gráfico 3.10. Grupo Dedini: faturamento, em milhões de reais .........................................
(2006 até agosto de 2015) ................................................................................................ 105
Quadros
Quadro 2.1. Empresas do Circuito Superior no fornecimento de bens e serviços ao
setor sucroenergético, situados em Piracicaba ........................................................... ..528
Quadro 2.2. Empresas do Circuito Superior Marginal no fornecimento de bens e
serviços ao setor sucroenergético em Piracicaba ......................................................... 584
Quadro 2.3. Empresas do Circuito Inferior no fornecimento de bens e serviços ao
setor sucroenergético em Piracicaba .............................................................................. 684
Organogramas
Organograma 2.1. Círculos de cooperação para a construção, produção e
manutenção de uma usina sucroenergética......................................................................74
Organograma 2.2. Estrutura organizacional do Grupo Dedini .......................................78
Organograma 2.3. Círculos de cooperação do Grupo Dedini ........................................80
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
17
CAPÍTULO 1 Metamorfoses do setor sucroenergético e o
município de Piracicaba 20
1.1. Período “pré-técnico”: fundação de Piracicaba, primeiros proprietários de terra e imigrantes (1767-1881)
21
1.2. Período técnico a vapor: acumulação primitiva dos engenhos-centrais, ferrovias e os “novos” imigrantes (1881-1933)
24
1.2.1. Acumulação primitiva e crescimento inicial do Grupo Dedini 26
1.3. Período técnico agroindustrial: reestruturação canavieira na Região Concentrada e a formação do complexo agroindustrial (CAI) de Piracicaba (1933-1964)
29
1.4. Período técnico-científico: os planos nacionais do açúcar e do álcool e a modernização conservadora da agroindústria canavieira (1964-1990)
33
1.5
Período técnico-científico-informacional: as políticas de desconcentração industrial, o neoliberalismo e a centralização do capital na agroindústria canavieira (1990-2016)
38
CAPÍTULO 2
Os círculos de cooperação entre os fornecedores de
bens e serviços para o setor sucroenergético em Piracicaba (SP)
46
2.1 Os circuitos da economia urbana e as empresas fornecedoras de bens e serviços para o setor sucroenergético em Piracicaba
50
2.1.1. Empresas do Circuito Superior no fornecimento de bens e serviços ao setor sucroenergético em Piracicaba
52
2.1.2. Empresas do Circuito Superior Marginal no fornecimento de bens e serviços ao setor sucroenergético em Piracicaba
58
2.1.3. Empresas do Circuito Inferior no fornecimento de bens e serviços ao setor sucroenergético em Piracicaba
68
2.2. As relações produtivas entre as indústrias de bens de capital, os prestadores de serviços e o setor sucroenergético em Piracicaba (SP)
72
2.2.1. Um caso especifico de círculos de cooperação: o Grupo Dedini
77
CAPÍTULO 3
CONSOLIDAÇÃO DO SETOR SUCROENERGÉTICO BRASILEIRO
(VIA CENTRALIZAÇÃO DO CAPITAL) E A CRISE NO MERCADO
DE TRABALHO DOS PRODUTORES DE EQUIPAMENTOS 82
3.1. Centralização do capital e imperativo da competitividade na agroindústria canavieira brasileira
84
3.2. O mercado de trabalho metalmecânico especializado no setor sucroenergético em Piracicaba (SP)
94
3.2.1 Das solidariedades orgânicas às solidariedades organizacionais: a metamorfose nas relações de produção regionais
99
3.2.2 A Recuperação Judicial do Grupo Dedini: contradições do capitalismo dependente do agronegócio global
104
CONSIDERAÇÕES FINAIS
117
BIBLIOGRAFIA
123
17
INTRODUÇÃO
O controle da produção de açúcar e etanol é estratégico no atual período
técnico-científico-informacional (SANTOS, 1994; 2000; 2009). Além da importância
da produção do açúcar, o aprofundamento da transição energética mundial – de
uma matriz baseada em combustíveis fósseis, para outra, baseada em combustíveis
renováveis1 (PIRES DO RIO, 2011; 2013; EGLER, 2013) – conferiu centralidade à
produção do etanol, alternativa denominada “sustentável” pelos agentes do setor e
pelo Estado (CASTILLO, 2008; PORTO-GONÇALVES, 2012), com o objetivo de
geração de combustíveis e, também, eletricidade.
Neste contexto, analisaremos de que maneira a centralização do capital, em
expansão no segmento agroindustrial do setor sucroenergético2 brasileiro, gerou
consequências para o mercado de trabalho da cidade de Piracicaba (SP),
essencialmente para os serviços e as indústrias de equipamentos para o setor.
Para Neil Smith (1988, p.178), baseado em Marx (2013), enquanto a
concentração do capital expressa uma acumulação individual gerada pelo
reinvestimento em novos meios de produção, a centralização de capital “ocorre
quando dois ou mais capitalistas, anteriormente independentes, se combinam num
único capital”, através de incorporações, fusões e aquisições.
Dentre o número crescente de regiões brasileiras especializadas na produção
de cana-de-açúcar, Piracicaba (SP) destaca-se não apenas pela extensão de suas
plantações, mas, principalmente, pela significativa concentração de indústrias de
bens de capital e empresas prestadoras de serviços para o setor sucroenergético.
1 Por transição energética compreendemos o atual movimento de ampliação na utilização de novos recursos naturais para geração de energia. Há uma grande imprevisibilidade sobre os caminhos que essa transição pode percorrer. Isso decorre da impossibilidade de antever o descobrimento de novas jazidas ou a invenção de novas técnicas de extração que permitam, ou não, a permanência de nossa atual matriz energética, baseada em combustíveis fósseis (PIRES DO RIO, 2011; 2013; EGLER, 2013). 2 O termo “sucroenergético” é utilizado, ultimamente, pelos agentes do setor, em
substituição ao antigo termo “sucroalcooleiro”. A mudança corresponde à ênfase atribuída ao processo de geração de geração de energia obtida a partir do bagaço da cana-de-açúcar na produção de açúcar e Etanol. (CAMELINI, 2011). Utilizaremos esse termo em nossa dissertação, muito embora, empregaremos, também, o termo “agroindústria canavieira”, pois, este último enfatiza o segmento agroindustrial do setor, que é tema central nesse estudo.
18
A primazia da cidade de Piracicaba na produção de equipamentos e serviços
ao setor sucroenergético brasileiro, pode ser verificada pelos seguintes dados: 1)
cerca de 60% dos equipamentos utilizados pelo setor no território brasileiro são
produzidos por empresas localizadas no município; 2) Piracicaba abriga as principais
indústrias de bens de capital do setor, como os exemplos da “Dedini S/A Indústrias
de Base” e da “Mausa”; e 3) O município é, ao lado de Sertãozinho (SP), o principal
centro deste ramo industrial no território brasileiro (EBC, 2012).
Em nossa pesquisa, dedicamos uma atenção considerável aos trabalhos de
campo. Primeiramente, visitamos as indústrias de equipamentos mais
especializadas no setor (como: Cooperativa São José, Mausa e Dedini), buscando, a
partir de entrevistas com seus respectivos gerentes de vendas, administração e
engenharia, entender como as atuais transformações do setor sucroenergético
impactaram tais indústrias. Também tivemos o cuidado de comparecer em feiras de
exposições e simpósios do setor produtivo (como: Fenasucro e Simpósio de
Tecnologia de Produção de Açúcar) com o objetivo de, novamente, averiguar o
funcionamento mercadológico do setor produtivo, por meio de novas entrevistas,
caracterizando o atual funcionamento comercial do setor. Em outra vertente, também
visitamos órgãos públicos (secretaria do trabalho, renda e do desenvolvimento
econômico de Piracicaba) para averiguar o funcionamento do planejamento estatal
sobre o mercado de trabalho no município estudado. Também entrevistamos
sindicatos e associações de classe – como: Sindicato dos Metalúrgicos de
Piracicaba, Arranjo Produtivo Local do Álcool (APLA) e Sindicato das Indústrias
Metalúrgicas e Mecânicas de Piracicaba (SIMESPI) – e outros agentes do setor
produtivo e trabalhista. Desta maneira, compreendemos que uma de nossas
principais fontes de dados foram os trabalhos de campos e as entrevistas (descritas,
principalmente, no item “2.1.” do terceiro capítulo) que foram realizadas no município
de Piracicaba.
A especialização histórica da cidade Piracicaba na produção de
equipamentos para a agroindústria canavieira será tratada no primeiro capítulo.
Faremos uma periodização dos meios geográficos implantados sobre o que hoje é
conhecido como município de Piracicaba. Este recorte tem o intuito de auxiliar na
análise da atual divisão territorial do trabalho inserida sobre a determinada porção
do espaço geográfico (SILVEIRA, 2007; SANTOS, 1985, 1988).
19
Devido à grande concentração de indústrias de bens de capital e prestadores
de serviços para o setor sucroenergético, o município abriga diversos círculos de
cooperação entre as empresas destes ramos, conformando etapas de um circuito
espacial produtivo (SANTOS, 1986; 1988; CASTILLO; FREDERICO, 2010)
especializado na produção de equipamentos e serviços especializados. Trataremos
da concentração destas empresas no segundo capítulo da dissertação, a partir da
elaboração da tipologia das empresas do setor, baseada na proposição teórica de
Milton Santos (2008) sobre os dois circuitos da economia urbana nos países
subdesenvolvidos. Elaboramos quadros e fluxogramas que auxiliam na
compreensão da conformação da referenciada rede de empresas, compreendendo
fornecedores de equipamentos, insumos e serviços especializados no setor.
Finalmente, a centralização do capital no segmento agroindustrial do setor
sucroenergético é tratada no terceiro capítulo. Abordaremos a centralização como a
expressão econômica evidente do atual movimento de consolidação do setor
sucroenergético brasileiro. Assim, na conclusão da dissertação, analisaremos como
o processo de centralização do capital impactou o circuito produtivo de bens e
serviços situados em Piracicaba, compreendendo, assim, quais foram as principais
influências deste processo para o mercado de trabalho desta cidade.
20
CAPÍTULO 1
METAMORFOSES DO SETOR SUCROENERGÉTICO E O MUNICÍPIO DE
PIRACICABA
“A geografia não é outra coisa senão a história do espaço, assim como a história é a geografia do tempo.” (RECLUS, L`homme et la Terre, 1905).
A história pode ser considerada como a sucessão de diferentes meios
geográficos, sobrepostos em diferentes tempos, sobre a superfície terrestre
(SANTOS, 2009). Com base nesse pressuposto, elaboramos uma periodização
baseada na sucessão dos meios geográficos, implantados sobre o que hoje é
conhecido como município de Piracicaba. A noção de sucessão dos meios
geográficos é compreendida como um método analítico para compreender as
transformações técnicas e político-organizacionais de determinada sociedade no
tempo. Este recorte tem o intuito de auxiliar na análise da atual divisão territorial do
trabalho inserida sobre determinada porção do espaço geográfico (SILVEIRA, 2007;
SANTOS, 1985, 1988).
É interessante salientar que quando determinado autor – um geógrafo, neste
caso – depara-se com a elaboração de uma periodização, defronta-se também com
o risco de se apaixonar pela história do lugar que escolheu para analisar. Tomando
este devido cuidado, não realizaremos uma descrição minuciosa dos fatos históricos
que ocorreram em tempos passados no município de Piracicaba. Deveras, esta
tarefa já foi realizada por historiadores, como Mário Neme (2009 [1943; 1974]), Maria
Celestina Teixeira Mendes Torres (2009), Leandro Guerrini (2009 [1970]), assim
como pela geógrafa Silvia Selingardi Sampaio (1976), entre outros.
A singularidade de nossa periodização, baseada na sucessão dos meios
geográficos, é a de compreender as variáveis-chave de cada período, as quais
possibilitaram a formação das indústrias de bens de capital em Piracicaba. Desta
maneira, nosso objetivo é demonstrar os principais eventos, de cada período
histórico, nas escalas global, nacional e local, que influenciaram a atual formação
deste município, como fornecedor de bens de capital para a agroindústria canavieira.
21
1.1. Período “pré-técnico”: fundação de Piracicaba, primeiros proprietários
de terra e imigrantes (1767-1881)
A fundação do município de Piracicaba é contemporânea ao final do primeiro
ciclo da cana-de-açúcar no Brasil (NEME, 2009). As plantações de cana e os
engenhos de açúcar na porção territorial que hoje corresponde ao município de
Piracicaba iniciaram-se no final do século XVIII. Foi naquela época que surgiram as
primeiras propriedades privadas que propiciaram uma acumulação primitiva de
capital3 historicamente associada à agricultura da cana-de-açúcar (PRADO JR,
2011; NEME, 2009).
Tomamos o cuidado de advertir ao leitor, desinteressado pela história da
urbanização pretérita da cidade de Piracicaba, a pular a leitura deste primeiro
período, se dirigindo ao segundo, caso esteja mais interessado em fatos históricos
mais conexos com o espaço geográfico atual da cidade de Piracicaba. Este primeiro
período pode ser desinteressante devido às particularidades da história inicial da
cidade estudada. O leitor não terá prejuízo algum, caso escolha pelo caminho
sugerido. No caso oposto, se o leitor se interessa pela história mencionada, o
convidamos a adentrar o enredo inicial dessa dissertação, presente nos parágrafos
seguintes.
A formação de Piracicaba (SP) iniciou-se com o movimento externo da
colonização portuguesa que se interiorizou pelo continente sul-americano buscando
a extração de riquezas naturais, principalmente, o ouro (PRADO JR, 2011;
MORAES, 2002). A oficialização do povoado, realizada em 1° de agosto de 1767, foi
concretizada por duas razões: primeiro, pela necessidade de um posto de
fiscalização do tráfico de ouro originado nas minas dos Goyases e de Cuiabá e;
segundo, pela necessidade de um núcleo agrícola colonial que fosse capaz de
abastecer o Forte de Iguatemi, localizado no extremo Oeste da colônia brasileira, na
divisa com o Paraguai, fronteira que delimitava os territórios portugueses e
espanhóis na época (NEME, 2009; TORRES, 2009).
3 Nos termos de Marx (2013, p. 634): “A assim chamada acumulação primitiva não é, por conseguinte, mais do que o processo histórico de separação entre produtor e meio de produção. Ela aparece como “primitiva” porque constitui a pré-história do capital e do modo de produção que lhe corresponde”. No caso do estado de São Paulo, este ciclo canavieiro foi responsável pelos primeiros latifúndios regionais, distribuídos pela coroa portuguesa e, também, surgidos a partir da grilagem de terras.
22
A decadência do ouro nos finais do século XVIII e a queda do Forte de
Iguatemi em poder dos espanhóis favoreceram as primeiras plantações de cana-de-
açúcar na região. Naquele momento, ocorreu a substituição das pequenas
economias atreladas à extração de ouro para a produção de produtos agrícolas na
colônia brasileira, principalmente na capitania de São Paulo (SAMPAIO, 1976;
PRADO JR, 2011).
É neste contexto que se enquadra uma importante fase de acumulação
primitiva do capital no território paulista. A acumulação original esteve vinculada ao
comércio do açúcar e deu origem às primeiras formações econômicas no interior da
capitania de São Paulo. A região de maior ocupação territorial foi denominada de “O
Quadrilátero do Açúcar”, correspondentes, em seus vértices, aos municípios de
Jundiaí (à Leste), Sorocaba (ao Sul), Piracicaba (à Oeste) e Mogi Guaçu (ao Norte)
(PETRONE, 1968).
Esse foi o primeiro movimento de territorialização4 das terras paulistas, isto é,
uma urbanização pretérita que serviu de base territorial para a posterior expansão
cafeeira paulista (PETRONE, 1968). Em Piracicaba, o ciclo açucareiro colonial se
manifestou concretamente com o desenvolvimento de pequenos engenhos de
produção de açúcar e por um bucólico centro urbano. Entretanto, aquele primeiro
ciclo canavieiro regional entrou em crise já na segunda metade do século XIX.
Segundo Torres (2009) e Sampaio (1976), com a crise açucareira, a estrutura
fundiária do município passou a ser menos concentrada do que nas regiões
vizinhas, devido aos parcelamentos agrários realizados após a década de 1860.
Nesta segunda metade do século XIX, a renda da terra do município foi
continuamente desvalorizada pelo crescente interesse em terras de maior altitude,
propícias ao latifúndio cafeeiro. É nesta linha de raciocínio que é possível explicar a
desconcentração fundiária naquele período e a leve prosperidade de imigrantes
europeus menos capitalizados nesta região.
4 Quando mencionamos o termo “territorialização” referimo-nos ao processo de formação de
espaço geográfico, assim como se refere Raffestin (1993). Esse termo é utilizado aqui para ser correspondente à afirmação do trabalho clássico de Maria Thereza Schorer Petrone (1968), quando a autora afirma que: “Na realidade, o açúcar teve de organizar toda a infraestrutura indispensável à sua comercialização. As estradas, o porto, o comércio, tudo se desenvolveu em consequência da nova atividade econômica dos paulistas e se adequou a essa função, Santos antes de ser porte do café, foi porto de açúcar” (p. 223).
23
A primeira chegada expressiva de imigrantes no município foi registrada na
década 1860. Os citados imigrantes eram originários do leste europeu5. A maioria
dos trabalhadores “livres” chegou a Piracicaba após a “Revolta dos Parceiros”6 que
escancarou as péssimas condições de trabalho da Fazenda Ibicaba, localizada em
Limeira (SP) e de propriedade do Senador Nicolau de Campos Vergueiro. As
famílias originárias destes pioneiros tornaram-se importantes no período de
crescimento das indústrias de bens de capital na cidade, tanto como fornecedoras
de mão de obra, como proprietárias de indústrias e comércios (SAMPAIO, 1976;
TORRES, 2009, NEME, 2009).
Este primeiro ciclo canavieiro regional entrou em crise na segunda metade do
século XIX. Após a safra recorde de 1846/47, onde foram exportadas mais de 590
mil arrobas de açúcar pelo porto de Santos, houve uma crescente desvalorização do
produto brasileiro. A perda do “monopólio brasileiro” no mercado colonial de açúcar
teve seus motivos ligados à: 1) obsolescência dos antigos engenhos, com
produtividade muito inferior à das Antilhas; 2) canaviais que também possuíam baixa
produtividade para a época, utilizando a mesma variedade desde o século XVIII e 3)
a inserção no mercado europeu do açúcar de beterraba (SAMPAIO, 1976).
Na fase mais pujante do açúcar na região naquele período, Piracicaba chegou
a possuir 78 pequenos engenhos, os quais eram responsáveis por 20% da produção
de açúcar da província de São Paulo7. Estes engenhos foram a herança sócio-
espacial mais significante daquela época, servindo também de caracterização para o
próximo período, de 1881 a 1930, onde uma ampla bibliografia denomina-o de “fase
dos engenhos de fogo morto” (TORRES, 2009; NEME, 2009), dada as inatividades
5 Como, naquele período, a Alemanha e outros países germânicos não haviam se unificado plenamente (nos traços como conhecemos hoje), é difícil delimitar as nacionalidades exatas destes imigrantes pioneiros. Em Piracicaba, por exemplo, acabaram por possuir o adjetivo comum de “Alemães” e de mesma forma, a porção de terra que a maior parte destes trabalhadores ocupou é conhecida atualmente como “Bairro dos Alemães” (NEME, 2009; TORRES, 2009). 6 A “Revolta dos Parceiros” foi a revolta realizada por imigrantes europeus em 1856, após as cruéis condições de exploração que enfrentaram na Fazenda Ibicaba. O melhor relato da revolta é narrado pelo seu líder, o suíço Thomas Davatz, que ao voltar à Suíça, escreveu o livro “Memórias de um Colono no Brasil”, traduzido por Sérgio Buarque de Holanda, no ano de 1951. 7 Em relação à quantidade de engenhos dos municípios paulistas na metade do século XIX, o número em Piracicaba só era inferior à Itu (mais de 90 engenhos) e Campinas (mais de 80 engenhos) (NEME, 2009).
24
dos pequenos engenhos, provocada pelo baixo preço do açúcar no mercado
internacional (principalmente no final do século XIX).
1.2. Período técnico a vapor: acumulação primitiva dos engenhos-centrais,
ferrovias e os “novos” imigrantes (1881-1933)
Este segundo período inicia-se no final do século XIX e se alonga até as
transformações políticas e técnicas da década de 1930, referentes à
institucionalização do Estado Novo, à criação do Instituto do Açúcar e do Álcool
(IAA) e à primeira fase de modernização da agroindústria canavieira brasileira
(RAMOS, 1999; FERREIRA; ALVEZ, 2009). É também o período de uma lenta
transição da economia piracicabana atrelada somente à produção agrícola, sob o
domínio das oligarquias agrárias, para a transformação industrial que ocorreu no
período após a Segunda Guerra Mundial.
A principal transformação técnica do período foi a introdução da máquina à
vapor nos engenhos de açúcar. Em relação às técnicas rudimentares, associadas
aos pequenos engenhos, impulsionados pela força motriz das águas, pela força
animal (dos cavalos e bois) e pela força humana do negro escravizado, ainda eram
residuais e aprimoradas lentamente. Os melhoramentos eram esporádicos e
associados às particularidades de cada propriedade, não havendo uma política
institucional de aumento da produtividade (SAMPAIO, 1976).
Esta situação começou a se alterar quando um programa de modernização da
produção de açúcar, ainda da época do Império brasileiro, iniciou a construção dos
denominados “Engenhos Centrais”. Esta medida foi tomada devido à perda de
monopólio brasileiro no mercado internacional de açúcar.
Sobre os “Engenhos Centrais”, é interessante resgatar uma definição de
Manuel Correia de Andrade (1963, p. 86):
Os engenhos centrais seriam maquinismos possantes, capazes de esmagar canas de vários engenhos banguês e de fabricar açúcar de melhor qualidade e que, de acordo com os estadistas que os idealizaram, separariam a atividade agrícola da industrial. Estes engenhos que seriam montados com garantia da obtenção de juros dos capitais empregados – garantia esta dada pelo Governo – pertenciam a companhias estrangeiras, não poderiam cultivar cana, não usariam o braço escravo e como iriam receber matéria-prima de áreas muito amplas, muito mais extensas que a de um engenho banguê, deveriam construir estradas de ferro (...)
25
Em Piracicaba, a medida Imperial favoreceu a fusão de capitais no final do
século XIX. De maneira mais significativa, a fusão de capitais nacionais
(representados pelos Barões de Rezende e de Serra Negra, que haviam fundado o
“Engenho Central de Piracicaba”, em 1881) e capitais franceses, conformando a
Societé Sucrérie Brésilienne, controladora da produção do Engenho Central de
Piracicaba. Outro grande favorecido por este financiamento foi o Engenho do Monte
Alegre, o qual realizou uma grande ampliação de sua estrutura produtiva (SAMPAIO,
1976; MEIRA, 2007).
É importante destacar que a política de modernização não buscou dar
condições para que os pequenos engenhos se modernizassem. O desenvolvimento
dos Engenhos Centrais regionais foi contemporâneo à fase de crise do açúcar
brasileiro no mercado internacional. Assim, os pequenos engenhos que não faliram,
foram incorporados aos maiores, engendrando a primeira grande centralização do
capital na produção açucareira local, sendo também uma forma de acumulação
primitiva.
Neste mesmo período, o território paulista se equipou com sistemas de
objetos (ferrovias, armazéns, etc.) atrelados à produção cafeeira. A expansão
cafeeira favoreceu a entrada das ferrovias no interior, o que difundiu o fenômeno
urbano no estado. Todavia, para Piracicaba, a contribuição das ferrovias e da
cafeicultura para a urbanização foi distinta de outros lugares. A razão para esta
distinção é que o município não pertencia às regiões de maior altitude (com
condições edafoclimáticas mais propícias à cafeicultura), correspondentes aos
espigões, onde se desenvolveram as maiores plantações cafeeiras e por onde a
maior parte das ferrovias paulistas tomou caminho (MONBEIG, 1984).
Os trilhos que ali chegaram apenas ligavam Piracicaba ao Porto de Santos.
Ou seja, eles não se estendiam no sentido Oeste pelos vales dos rios Piracicaba e
Tietê, dificultando, por décadas, o intercâmbio e as trocas econômicas entre
Piracicaba e as demais cidades do interior paulista8. As indústrias de bens de capital
que surgiram na cidade nos anos posteriores, como a Dedini, por exemplo, viram-se,
8 Piracicaba era conhecida pelo adjetivo de “fim de linha”. Segundo Sampaio (1976, p. 69) “a linha da Cia. Paulista permaneceu como simples ramal que ligava Piracicaba à Jundiaí, enquanto a Sorocabana (que em 1892 absorveu a Ytuana, sendo durante algum tempo denominada Sorocabytuana) avançou apenas, em sentido Oeste, até o município vizinho de São Pedro, em 1893”.
26
muitas vezes, impedidas de transportar seus equipamentos pelos trilhos (SAMPAIO,
1976).
Em relação à estrutura fundiária do município, Muller (1966, p. 91) demonstra
que houve uma grande desconcentração fundiária no período de 1900 a 1930. Isto
ocorreu, sobretudo, devido ao desinteresse, por parte da elite cafeeira paulista, nas
terras de baixa altitude do município, desfavoráveis ao latifúndio cafeeiro. Desta
maneira, a renda da terra no município tornou-se menos capitalizada em relação às
localidades vizinhas, fato que favoreceu parcelamentos fundiários e a
comercialização de lotes.
A renda da terra menos capitalizada, decorrente de sua inadequação para a
produção cafeeira, beneficiou a atração de imigrantes europeus. Desta vez, em sua
maioria, de italianos. Dentre estes, os que possuíam pequeno capital transferiram-se
das moradias em colônias (das grandes fazendas regionais) para propriedades de
menores dimensões nas regiões circundantes do município. Esta caracterização é
importante, dado que tais imigrantes (ao lado dos alemães) foram os principais
responsáveis (tanto como mão de obra, quanto como proprietários) para o
desenvolvimento das indústrias de bens de capital, correspondente à fase de
reestruturação da produção de açúcar paulista, nas décadas de 1940 e 1950.
1.2.1. Acumulação primitiva e crescimento inicial do Grupo Dedini
É neste contexto que se enquadra a ampliação da oficina mecânica, fundada
na década de 1920, por um imigrante italiano, chamado Mário Dedini. Os fatores que
transformaram a M. Dedini Metalúrgica em uma grande empresa nacional são de
naturezas diversas e já foram descritos por outros autores, como Negri (2010) e
Sampaio (1976). Entretanto, em nosso caso, não nos arriscaremos a determinar
apenas uma parte dos fatores (como por exemplo: o “espírito empreendedor” de
Mario Dedini) como o principal fio condutor do desenvolvimento. Para tanto, faremos
uma análise a partir da “situação geográfica” (SANTOS, 1996; SILVEIRA, 1999), isto
é, o conjunto de eventos que contribuíram em diversas escalas para o
desenvolvimento das indústrias Dedini.
Primeiramente, o seu desenvolvimento ocorreu no mesmo período de
intensificação industrial no estado de São Paulo, datado dos anos posteriores à
década de 1930, especialmente, no Pós-Segunda Guerra Mundial. Isso condiz com
27
a argumentação de Szmrecsányi (1979) e Ramos (1999) sobre o desenvolvimento
da agroindústria canavieira. Segundo os autores, ele foi reflexo e condição de fases
de intensificação industrial brasileira, principalmente nos “Governos Vargas” e na
realização do “Plano de Metas”, de Juscelino Kubitschek, quando o Grupo Dedini
aproveitou para ampliar seus lucros.
Do ponto de vista da técnica, o conhecimento detido por Mário Dedini,
fundador do Grupo, em relação à engenharia mecânica (desenhos, projetos e
metalurgia) que envolve o saber sobre a construção e manutenção de uma usina de
açúcar foi oriundo da educação que o mesmo obteve na região de onde emigrava,
do Nordeste da Itália (cidade de Lendinara, região de Vêneto, próxima aos distritos
industriais de Pádua). Esta região já havia presenciado uma intensa fase de
industrialização, que propiciou a modernização das usinas de produção de açúcar a
partir da beterraba, no inicio do século XX. Naquele período, Mario Dedini (que
trabalhou como técnico nessas usinas) pôde trazer o referido saber ao Brasil, o que
lhe foi muito lucrativo no período de modernização e ampliação dos engenhos
paulistas de açúcar (na década de 1930) dessa vez a partir da cana-de-açúcar,
plantada em latifúndios brasileiros (SAMPAIO, 1976; NEGRI, 2010).
Por fim, destacam-se também as relações estabelecidas por Mário Dedini,
principalmente, com Pedro Ometto, um grande latifundiário da região na época. Esta
relação pessoal, que se originou a partir da Società Italiana di Piracicaba,
concretizou a primeira usina montada completamente pela metalúrgica Dedini, em
Iracemápolis, no ano 1932 – a qual Negri (2010, p. 35) denominou de “A Grande
Experiência” para o Grupo Dedini.
É importante caracterizarmos muito bem esse último quesito. Primeiro, pelo
cuidado que devemos ter ao relatar a História e, segundo, pelo vinculo que essa
particularidade regional tem com o desenvolvimento industrial brasileiro. Esse
vínculo é respaldado nas análises de autores como Cano (1998), Furtado (1996) e
Fernandes (2006) quando os mesmos argumentam que uma das características
centrais da modernização industrial brasileira é a relação que o “novo capital
burguês industrial” estabeleceu com o “antigo capital rentista agrário”, utilizando-se
dos excedentes da agricultura (principalmente da produção cafeeira paulista, mas,
no caso de Mario Dedini e Pedro Ometto, dos excedentes da produção de açúcar).
A aliança entre “capital burguês industrial” e “capital rentista agrário” tem, no
caso de Piracicaba, uma situação bem característica (como também ocorreu em
28
outros casos no estado de São Paulo). Mario Dedini, visando fixar a relação com
Pedro Ometto, casou sua filha mais velha com o filho mais velho de Pedro Ometto,
que se tornou herdeiro, tanto dos latifúndios do pai, como das fábricas do Grupo
Dedini. Tal herdeiro, pessoa de Dovílio Ometto, assumiu a presidência da empresa
em 1970, quando Mario Dedini faleceu, estando no cargo até 2007, data de seu
falecimento.
A caracterização político-econômica dessa relação é muito importante, já que
a mesma explica a acumulação primitiva de capital do Grupo Dedini. As
propriedades privadas herdadas da família Ometto, que se tornaram parte da família
Dedini, possibilitaram a obtenção de crédito suficiente (nesse caso, vindo da renda
da terra) para que o Grupo Dedini ampliasse seu capital industrial nas décadas
seguintes.
Voltando para a caracterização de nossa periodização, o encerramento
daquele período histórico que narramos por hora (delimitado entre o final do século
XIX até a década de 1930) ocorreu no final da Primeira Guerra Mundial, já que, após
o conflito, a maior parte dos circuitos produtivos globais foram surpreendidos com
uma sobreacumulação de mercadorias9. Como é de conhecimento amplo, o grande
choque se deu no debacle da bolsa de valores de Nova York em 1929, quando todo
o consumo mundial foi deprimido, levando os preços das mercadorias/commodities a
níveis baixíssimos.
Naquele período, a produção de açúcar brasileiro não ficou imune. Após as
constantes crises, a mesma passou a contar com um planejamento amplo provindo
do Estado brasileiro, visando o controle de especulações e novas superproduções.
Com base nessas premissas, foi criado, em 1933, o Instituto do Açúcar e do Álcool
(IAA) para gerir, fiscalizar e organizar a produção da agroindústria canavieira
brasileira.
Assim, a década de 1930 marcou o início da transição para um novo
paradigma produtivo, ou, em outras palavras, um novo período técnico. A partir
daquela década, devido à depressão econômica mundial, os Estados-Nações
passaram a adotar medidas anticíclicas, de inspiração keynesiana, para o controle
financeiro das economias nacionais (GALBRAITH, 1972).
9 No caso do açúcar, a crise de superprodução esteve relacionada ao reestabelecimento da produção de açúcar provindo de beterraba, que é produzido pelos países europeus.
29
No caso brasileiro, a criação do Estado Novo, na década de 1930 – surgido
de um período conturbado de crise institucional – seguiu o alinhamento dessas
mudanças. Foi naquele contexto que se criou, além do já citado Instituto do Açúcar e
do Álcool, outros diversos órgãos para o controle da produção agrícola (BELLUZZO;
COUTINHO, 1983). Também foram a partir destes pressupostos que o Estado
brasileiro passou a favorecer a exponencial industrialização e urbanização do
território, fenômeno que, reservado ao nosso objeto de estudo, abordaremos a
seguir.
1.3. Período técnico agroindustrial: reestruturação canavieira na Região
Concentrada e a formação do complexo agroindustrial (CAI) de Piracicaba
(1933-1964)
A agroindústria canavieira no Brasil iniciou uma grande reestruturação
produtiva durante os percursos da Segunda Guerra Mundial. Esta foi uma primeira e
importante fase de “modernização” do setor e durou até meados da década de 1950.
Nesta reestruturação, grande parte da produção de açúcar, que era localizada na
região Nordeste do Brasil e no Norte do estado do Rio de Janeiro (região de Campos
dos Goytacazes), foi transferida para o estado de São Paulo (SZMRECSÁNYI;
MOREIRA, 1991; RAMOS, 1999; FERREIRA; ALVES, 2009).
A razão para esta reestruturação esteve ligada às dificuldades de transporte
marítimo por cabotagem (devido à guerra submarina) e à necessidade de realocar a
produção, realizada nas regiões tradicionais (litoral nordestino e norte fluminense)
para outras regiões, visando atender ao aumento do consumo doméstico, dada a
crescente urbanização na Região Concentrada10 do Brasil (Sudeste e Sul)
(SANTOS; RIBEIRO, 1979; SZMRECSÁNYI; MOREIRA, 1991).
Devido à crescente urbanização na Região Concentrada, o Instituto do Açúcar
e do Álcool (IAA) – fundado em 1933 – iniciou uma política de aprovações para
implantação de novas unidades e aumento das cotas de produção para as usinas
em São Paulo, em detrimento das antigas regiões produtivas. Desta maneira, a
quantidade de usinas no estado de São Paulo, que não era superior a trinta,
10 Por Região Concentrada compreendemos a porção territorial brasileira correspondente às macrorregiões Sul e Sudeste. O termo “concentrada” deve-se à maior reunião de sistemas de objetos e ações nesta região em relação às demais regiões brasileiras (SANTOS; RIBEIRO, 1979; SANTOS; SILVEIRA, 2001).
30
começou a aumentar, assim como também aumentou a produtividade por unidade
(SZMRECSÁNYI, 1979; RAMOS, 1999; FERREIRA; ALVES, 2009).
É importante salientar que uma grande parte destas usinas instaladas
representou apenas uma ampliação de antigos engenhos que passaram a utilizar
técnicas mais modernas (RAMOS, 1999). Uma das principais consequências desta
reestruturação produtiva foi a concentração de terras e a substituição completa dos
antigos engenhos, produtores de açúcar mascavo, por usinas, com maiores
capacidades produtivas. Outra característica foi que as novas usinas se instalaram
tanto em antigas áreas canavieiras (como Piracicaba), quanto se consolidaram em
novas regiões, como: Jaú, Vale do Paranapanema, Araraquara e Ribeirão Preto
(SAMPAIO, 1976; SEC/IAA apud NEGRI, 2010)11.
Foi durante essa fase, de construção de usinas pelo estado de São Paulo,
que se deu a transformação da pequena oficina de Mário Dedini em uma grande
indústria nacional. A Dedini Metalúrgica cresceu na mesma intensidade que a
agroindústria canavieira paulista. A maior parte das 70 usinas instaladas, entre 1946
e 1952, foi construída pela empresa, em parceria com as filiais do grupo (Codistil e
Mausa). (SAMPAIO, 1976; NEGRI, 2010).
Na década de 1950, a empresa (transformada em M. Dedini S/A Metalúrgica -
Foto 1.1), já havia criado seu monopólio na produção de bens de capital para usinas
brasileiras. As poucas firmas que lhe faziam concorrência foram incorporadas à
Dedini ou faliram. Essa centralização do capital na indústria de equipamentos foi
propiciada pela forte e veloz especialização das regiões próximas à Piracicaba na
produção de açúcar e álcool. Foi desta maneira, que a cidade de Piracicaba se
tornou referência latino-americana na produção de equipamentos para usinas e
destilarias de álcool (SAMPAIO, 1976; NEGRI, 2010).
11 No município de Piracicaba, as usinas construídas foram: 1) Usina Costa Pinto (atualmente umas das maiores usinas do Brasil); 2) Usina Modelo de Açúcar e Álcool (desativada na década de 1990) e 3) Usina Santo Antonio (desativada também na década de 1990). Além destas, foram modernizados o Engenho Central de Piracicaba (desativado em 71), o Engenho Monte Alegre (desativado em 1982) e o Engenho Capuava (ainda sobrevivente, produzindo álcool anidro e gás carbônico).
31
Foto 1.1. Grupo Dedini: barracão da década de 1950 12
Fonte: Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba (IHGP)
A M. Dedini S.A – Metalúrgica também criou uma indústria de bens de capital
e participou da composição acionária de outra, na fase de intensificação de
construção de novas usinas no estado de São Paulo, visando atender à crescente
demanda por equipamentos entre 1940 e 1950. Primeiramente, em 1943, criou a
Codistil, que teve grande participação na construção das destilarias de álcool anidro.
Posteriormente, com a participação de distintos capitalistas, fundou-se a Mausa, em
1948, visando a produção de outros equipamentos industriais necessários para as
usinas (centrífugas, redutores de velocidade, pontes rolantes, bombas, etc.)
(SAMPAIO, 1976; NEGRI, 2010).
Outra grande indústria construída pelo Grupo Dedini foi a Siderúrgica Dedini,
em 1955. Inicialmente, ela fornecia os metais necessários para as metalúrgicas da
Dedini e, posteriormente, tornou-se a primeira indústria brasileira na exportação de
lingotes e vergalhões de aço para concreto armado. Esta fábrica fortaleceu-se a
partir do crescimento econômico impulsinado pelo “Plano de Metas”, do governo de
Juscelino Kubstichek, no final da década de 1950 (SZMRECSÁNYI; MOREIRA,
1991; NEGRI, 2010).
12 O barracão industrial da “Foto 1.1.” atualmente pertence à “NG Metalúrgica”, empresa criada após o desmembramento do Grupo Dedini, na década de 1990, quando Narciso Gobin saiu da sociedade retendo algumas propriedades em direito.
32
Nesta Siderúrgica, a Dedini ambicionava produzir aço diretamente do minério
de ferro. Entretanto, a situação precária das ferrovias que chegavam à Piracicaba
tornou-se um grande entrave logístico (SAMPAIO, 1976). A única solução viável foi
produzir vergalhões de aço para a construção civil, obtidos através de sucata de
ferro, produto que até hoje é elaborado pela planta industrial em atividade, mas que
atualmente é controlada pela multinacional ArcelorMittal 13.
Outras empresas fundadas pelo Grupo Dedini foram: 1) a Cerâmica Dedini
Ltda (especializada na produção de material refratário para a siderurgia em geral); 2)
a Dedini-Capellari S.A., em 1957, com o objetivo de fabricar transformadores de
tensão e de corrente elétrica e que posteriormente teve seu nome modificado para
Superkaveá S.A. e 3) a Motocana S.A. Máquinas e Implementos Agrícolas, fundada
em 1959, objetivando a mecanização do preparo e colheita canavieira14.
Da mesma forma que a M. Dedini Metalúrgica especializou-se no
fornecimento de bens de capital para a agroindústria canavieira, outras fábricas
também foram fundadas com objetivos similares. Os principais exemplos destas
firmas, em Piracicaba, são: 1) Caldeiraria Morlet, fundada em 1935 (comprada pela
Dedini em 1960); 2) Metalúrgica Santa Cruz Ltda (Mescli), fundada em 1938 (falida
em 1966 e reaberta em 1967 por ex-funcionários com o nome de “Equipe”); 3) Santin
S.A, fundada em 1948; 4) Mário Mantoni Metalúrgica Ltda, fundada em 1952; 5)
Metalúrgica Piracicabana (Mepir), fundada em 1952 (anexada à Mausa em 1968); 6)
Metalúrgica Conger S.A., fundada em 1962; 7) Metalúrgica & Fundição Santo
Antonio Ltda (Mefsa), fundada em 1967; 8) Metalúrgica São Carlos, fundada em
1968; 9) Fundição Bom Jesus, fundada em 1969; 10) Hima S.A. Indústria &
Comércio, fundada em 1969; e 11) Indústria & Comércio Fazanaro Ltda, fundada em
1970 (SAMPAIO, 1976).
Além destas indústrias, como afirma Sampaio (1976), desenvolveu-se
também em Piracicaba uma série de outras empresas vinculadas direta e
indiretamente à agroindústria canavieira, como: 1) indústria têxtil – sacaria para o
açúcar; 2) indústria alimentícia – as próprias usinas, fábricas de balas e doces; 3)
13 Esta siderúrgica aumentou o seu volume de produção recentemente, quando foi incorporada pela, já citada, ArcellorMittal, o maior conglomerado mundial na produção de aço. 14 A única empresa destas três que ainda permanece no Grupo Dedini é a Cerâmica Dedini Ltda. A Motocana S.A. foi vendida durante a década de 1990 e a Superkaveá S.A. foi fechada também na mesma década.
33
indústria de celulose e papel (utilizando a celulose da cana para a produção de
papel, processo realizado no passado pela fábrica pioneira da “Refinadora Paulista
S/A”); 4) a indústria de bebidas – aguardente; 5) indústria química – fornecendo
adubos e insumos químicos; e 6) indústria mecânica e metalúrgica – fornecendo
equipamentos para usinas, implementos agrícolas e peças para máquinas e tratores,
utilizados no corte e no transporte da cana-de-açúcar.
Tal complexo agroindustrial manteve um crescimento progressivo durante
toda a década de 1950, mas, como demonstrou Negri (2010), a partir da década de
1960 começaram a aparecer os indícios do principal problema do setor industrial do
município: sua característica ciclica, dependente dos altos e baixos da agroindústria
canavieira. É assim que a partir de 1964, muitas indústrias faliram devido à recessão
que agroindústria canavieira enfrentou naquela época.
A partir desse ponto, evidenciamos a estruturação de um novo periodo
técnico e politico. Durante a década de 1960, o Estado brasileiro, capitaneado por
um governo autocrático, elaborou diversos planos que objetivaram a “recuperação”
da agroindústria canavieira, que se encontrava em crise. Os planos de recuperação
trataram-se de pacotes tecnológicos, que visavam aumentar a produtividade do
setor. Como veremos a seguir, o aumento da produção apenas intensificou as crises
cíclicas de superprodução e sobreacumulação da agroindústria canavieria brasileira.
1.4. Período tecnico-cientifico: os planos nacionais do açúcar e do álcool e
a modernização conservadora da agroindustria canavieira (1964-1990)
Segundo Szmrecsányi; Moreira (1991), no início da década de 1960, as
oligarquias canavieras iniciaram uma crescente pressão para que o Estado
aumentasse as cotas de produção. Em 1962, com a abertura do “Mercado
Preferencial dos Estados Unidos”– devido ao embargo ecônomico a Cuba, que era,
até então, seu principal fornecedor de açúcar – o I.A.A. (Instituto do Açúcar e do
Álcool), seguindo a pressão das oligarquias da época, decidiu colocar em prática o
“Plano de Expansão da Indústria Açucareira”.
Sobre as circunstâncias políticas em que foram tomadas essas decisões, é
interessante ler a narrativa de Szmrecsányi; Moreira (1991, p. 66):
34
(...) as lideranças empresariais da agroindústria canavieira elaboraram, em 1962, um documento endereçado à presidência do IAA, no qual projetavam uma demanda (interna e externa) de 80 a 90 milhões de sacos de açúcar para 1970, e solicitavam ao Governo a autorização e os meios financeiros necessários para expandirem em mais de 50% a capacidade produtiva, então instalada. Tais reivindicações foram integralmente acolhidas pelas autoridades governamentais, e se transformaram em componentes fundamentais da orientação do próprio Instituto. (...) Todos estes projetos foram, porém, abruptamente interrompidos pela eclosão de uma nova e intensa crise de superprodução, cujo impacto atingiu a agroindústria canavieira do Brasil na segunda metade dos anos 60. Os primeiros sintomas dessa crise já haviam surgido em 1964 (...).
O Plano de Expansão da Indústria Açucareira gerou constantes crises de
superprodução de açúcar nos anos posteriores (em 1964, 1967 e 1974) amenizadas
somente em 1975 e 1979, com o programa governamental de apoio a produção de
álcool - o Proálcool (SZMRECSÁNYI; MOREIRA, 1991).
Os prejuízos surgidos pela superprodução só foram superados pela elite do
setor graças ao excedente de capital acumulado nos anos anteriores. Mesmo assim,
como ocorre em todas as crises, o lado mais vulnerável do circuito produtivo sofreu
intensamente seus impactos. Neste caso, muitos fornecedores de cana-de-açúcar
foram obrigados a vender suas terras para saldar as dívidas acumuladas. É assim
que ocorreu uma grande concentração fundiária entre as décadas de 1960 e 1970
(SZMRECSÁNYI; MOREIRA, 1991; RAMOS, 1999; BORGES; COSTA, 2013).
Tratando-se das indústrias de equipamentos de Piracicaba, houve, por
exemplo, o caso de duas indústrias, de dimensões médias, que fecharam suas
portas devido ao acúmulo de dívidas no final da década de 1960. Essas foram a
Mescli (falida em 1966 e reaberta em 1967 por ex-funcionários com o nome
“Equipe”) e a Mepir (falida em 1967 e vendida a Mausa em 1968). Além destas duas
empresas menores, o Grupo Dedini também sentiu os efeitos da crise e teve o
primeiro ano de prejuízo em 1967, além de um ano de baixa produção em 1968
(NEGRI, 2010).
Já no ano de 1969, quando os mercados internos e externos começaram a se
recuperar, a Ditadura Militar brasileira financiou o “Programa Nacional de
Melhoramento da Cana-de-Açúcar” (Planalsucar) de 1971 e o “Programa de Apoio à
Indústria Açucareira” de 1973, ambos componentes presentes no primeiro Plano
Nacional do Desenvolvimento (PND I). Estes dois planos açucareiros foram os
principais projetos estatais da “Revolução Verde” (KAGEYAMA, et al., 1990) para a
35
produção da cana-de-açúcar. Desta maneira, o Planalsucar realizou, ao longo da
década de 1970, seu principal objetivo: desenvolver novas variedades de cana
adaptadas aos diferentes solos e climas das diversas regiões do país15.
As indústrias de bens de capital de Piracicaba voltaram a crescer entre 1969
a 1973, usufruindo da modernização do setor e impulsionadas pelos programas de
“racionalização e apoio” da indústria açucareira. Entretanto, a Primeira Crise do
Petróleo, de 1973, causou uma grande redução dos mercados e muitas indústrias de
bens de capital registraram prejuízos, enquanto outras, apenas conseguiram
recuperar-se devido a um novo programa de apoio estatal: o Programa Nacional do
Álcool (Proálcool).
O Proálcool, como já citado, foi criado, primeiramente, para conter as
constantes crises de superprodução recorrentes no setor canavieiro, que se
aprofundaram drasticamente com a mencionada “Crise do Petróleo”. O Programa
garantiu certa expansão da indústria de bens de capital do interior paulista
(Piracicaba e Sertãozinho) e um relativo desenvolvimento tecnológico para
combustíveis não fósseis. Mesmo assim, ainda hoje, restam debates pertinentes
quanto às suas virtudes. Szmrecsányi (1991, p. 71), por exemplo, deixou clara sua
visão crítica sobre o assunto, quando dissertou que:
(...) o Programa do Álcool fora formulado e estabelecido menos como uma solução para a "crise energética" do Brasil, do que como uma alternativa para a previsível capacidade ociosa da sua agroindústria canavieira.
Cabe-nos descrever quais foram os principais resultados de tais políticas
econômicas, circundantes ao Proálcool e como, as mesmas, influenciaram na atual
configuração das indústrias de bens de capital de Piracicaba.
O Proálcool pode ser dividido em três fases: a primeira foi a de implantação
de destilarias de álcool anexas às usinas de açúcar, aumentando a produção de
álcool do tipo anidro (para a mistura com a gasolina), medida tomada a partir de
1975. A segunda fase refere-se à implantação de destilarias autônomas em novas
áreas de produção de álcool, a partir de 1979, iniciando a produção do álcool
15 Quanto ao “Programa de Apoio à Indústria Açucareira”, tratou-se, na realidade, de um programa de apoio financeiro aos usineiros que substituiu, em 1973, o “Programa de Racionalização da Indústria Açucareira”, que era datado de 1971. Este último, por sua vez, havia objetivado a modernização de usinas, mas, foi interrompido pela conjuntura da Primeira Crise do Petróleo de 1973, a mesma que provocou uma abrupta diminuição de demanda açucareira mundial (SZMRECSÁNYI & MOREIRA, 1991).
36
hidratado destinado ao uso direto nos automóveis. Já o terceiro momento,
corresponde à diminuição progressiva da efetividade do programa devido à redução
do preço do petróleo internacional, a partir de 1985, e pela descoberta de novas
reservas petrolíferas no Brasil (RAMOS, 1999).
A maior parte das destilarias anexas, construídas no Proálcool, foi produzida
com os equipamentos das fábricas de destilarias de Piracicaba, essencialmente da
Codistil (do Grupo Dedini) e da Conger, que produziram 471 novas destilarias entre
1977 e 1981. Novamente, o Grupo Dedini demonstrou sua monopolização do setor,
chegando a participar em 75% dos projetos de destilarias negociadas no país
(MALUF, 1984).
Desta maneira, o Proálcool auxiliou, de certa maneira, a manutenção do
número de empregos relacionados às indústrias de bens de capital de Piracicaba.
Entretanto, com a diminuição de sua efetividade, no final da década de 1980, as
indústrias piracicabanas, que produziam equipamentos para o Proálcool, entraram
em depressão, assim como todo o circuito produtivo. A redução da demanda por
equipamentos e serviços no setor sucroalcooleiro se aprofundou na década de 1990,
causando desemprego e aumento percentual de trabalhos informais na cidade
(MALUF, 1984).
Tratando-se da relação entre o Grupo Dedini e o Proálcool na década de
1980, uma pesquisa da prefeitura do município de Piracicaba, na época, revelou que
o Grupo Dedini (isto é, todas as empresas componentes do Grupo) reunia
aproximadamente dez mil trabalhadores no período do boom do referenciado plano
tecnológico. Entretanto, com o posterior crash do programa, no final da década de
1980, a empresa acabou acumulando grandes dívidas e entrou na década de 1990
com inúmeros prejuízos, com processos de falência, reestruturação e demissão em
massa de trabalhadores (LEÃO, 2005).
As razões pelas quais o Proálcool perdeu sua efetividade e acabou sendo
interrompido foram: 1) a diminuição dos preços do petróleo no mercado
internacional, a partir de 1985; 2) a descoberta de novas reservas petrolíferas
brasileiras na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro; e 3) a redução da capacidade de
investimento do Estado16.
16 O início da explosão da dívida externa brasileira tem sua raiz nos contratos de empréstimos firmados entre os governos militares brasileiros e os bancos privados globais, durante a ocorrência dos PND I, II e III na década de 1970 (MONCAU, 2013). Esta dívida e
37
Em relação aos graves e inúmeros problemas que o Proálcool enfrentou no
final da década de 1980, Szmrecsányi; Moreira (1991, p. 57) fazem a seguinte
afirmação:
De um ponto de vista social e macroeconômico, essa tentativa vem sendo um completo malogro; em nossa opinião, se o álcool tivesse permanecido, como antes e alhures (nos Estados Unidos, por exemplo), um mero aditivo à gasolina, os atuais problemas energéticos do país seriam mais facilmente solucionáveis.
O final do Proálcool é marcado pela extinção do Instituto do Açúcar e do
Álcool, quando suas atribuições foram transferidas para a “Secretaria do
Desenvolvimento Regional da Presidência da República”, no primeiro semestre de
1990. Para Piracicaba, a mudança de período é sentida, primeiramente, pela
retração da empregabilidade (devido à crise do setor sucroalcooleiro) e pela
precarização das atividades industriais.
Nos anos de 1980, o Estado brasileiro se encontrou endividado e com novos
projetos de desenvolvimento comprometidos. Neste contexto, pode-se dizer que a
opção política por uma Modernização Conservadora (GRAZIANO DA SILVA, 1982;
ELIAS; 2003; DELGADO, 2012) ocorrida, principalmente, nas décadas de 1960 e
1970, não permitiu um desenvolvimento econômico contrabalançado às principais
demandas que a sociedade brasileira exigia, como as reformas de base: agrária,
tributária, política, etc. A ausência de uma política preocupada com a questão
agrária, por exemplo, causou uma explosão do êxodo rural e a multiplicação dos
habitantes nas cidades, também atingindo a cidade de Piracicaba (PEREIRA, 2012).
suas consecutivas renegociações provocaram a ocorrência de importantes eventos da macroeconomia brasileira, como a Crise Fiscal de 1982, a Moratória de 1987, o Consenso de Washington, as Políticas Neoliberais e as Privatizações da década de 1990.
38
1.5. Período técnico-científico-informacional: as políticas de
desconcentração industrial, o neoliberalismo e a centralização do capital na
agroindústria canavieira (1990-2016)
Além do Proálcool, o final da década de 1970 (e início da década de 1980)
marcou também o começo da diversificação das atividades industriais de Piracicaba,
desenvolvido pelas “políticas de desconcentração industrial”17, realizadas pelo
Segundo e Terceiro Plano Nacional do Desenvolvimento (PND II e III).
No caso do município de Piracicaba, as políticas econômicas de
desconcentração industrial tiveram como resultado a instalação de algumas
indústrias transnacionais, que favoreceram a sua diversificação industrial, tornando-o
(em sua estrutura produtiva) menos dependente da agroindústria canavieira. Entre
as infraestruturas instaladas, a principal foi o Distrito Industrial Municipal
(denominado Unileste), que autorizou a instalação das indústrias próximas aos
grandes eixos rodoviários do município. Além disso, outra grande infraestrutura
construída foi o primeiro Anel Viário de contorno da cidade.
Em função destes atrativos logisticos, das facilidades fiscais criadas pela
prefeitura e da disponibilidade de mão de obra especializada, instalou-se a primeira
grande corporação multinacional no município, a Caterpillar Tractor Company,
inaugurada em 1976. A indústria, especializada em máquinas para a construção
civil, mineração e agricultura, recebeu da prefeitura uma área de quatro milhões de
metros quadrados, fixada no principal acesso da cidade, no Distrito Industrial
Unileste, posicionado estrategicamente ao lado da Rodovia Luiz de Queiroz, que liga
Piracicaba à rodovia Anhanguera (SAMPAIO, 1976).
Para Cano (2008), a desconcentração industrial, ocorrida até o inicio da
década de 1980, pode ser considerada “positiva” ou “virtuosa”. Naquela época
houve um crescimento da indústria de transformação na metrópole de São Paulo
que, embora considerado alto (120% entre 1970 e 1980), foi superado pelo interior
paulista e pelo restante do território brasileiro (que cresceu 164%). Outro fator
positivo é que houve um fortalecimento dos laços interregionais e a estrutura
17 Segundo Wilson Cano (2008), a desconcentração industrial possui dois sentidos: o primeiro, tendo como destino o próprio interior do estado de São Paulo, e o segundo, em direção ao restante do país.
39
industrial do país se diversificou, tendo os bens de capital (intermediários e duráveis
de consumo) crescido mais do que os bens não duráveis.
Já a descontração indústrial ocorrida a partir da segunda metade da década
de 1980, pode ser considerada “negativa” ou “espúria”, pois depreciou a geração de
empregos na regiões metropolitanas (como São Paulo e Rio de Janeiro) e foi
impulsinada apenas pela busca de menores custos de produção e fiscais, por parte
das grandes indústrias. Esse fenomêno passou a ser chamado de Guerra Fiscal
(entre os municípios) e tornou-se a nova forma de atração de indústrias para o
interior do país. Houve, assim, um aprofundamento da desconcentração industrial,
só que dessa vez, ao contrário da década de 1970, a indústria não cresceu
concretamente, fato que se aprofundou na década de 1990, e ainda permanece na
atualidade (CANO, 2008; LENCIONI, 1994).
Essa desestruturação da indústria nacional foi ampliada com as políticas
econômicas neoliberais que custaram a falência e a redução das atividades de
muitas indústrias de bens de capital do setor – entre elas, obviamente, a Dedini S/A
– abrindo caminho para um amplo processo de centralização do capital na indústria
de equipamentos.
Como poderemos acompanhar adiante, o Grupo Dedini, por exemplo, teve
suas proporções drasticamente reduzidas. No início dos anos 1980, o aglomerado
industrial da Dedini era o principal contribuinte do ICM (antigo imposto equivalente
ao atual Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços – ICMS)
do município de Piracicaba para o estado de São Paulo, possuindo cerca de 10 mil
trabalhadores. Entretanto, já no final da década, as mudanças macroeconômicas
globais fizeram com que as dívidas obtidas pela empresa (para a obtenção do
crédito necessário para expansão da década 1980) se convertessem em valores
estratosféricos no início da década 1990 (LEÃO, 2005).
Os problemas se aprofundaram com o “Programa Nacional de
Desestatização”, iniciado pelo governo de Fernando Collor de Melo e aprofundado
pelo governo de Fernando Henrique Cardoso. As primeiras medidas do Programa
foram o cancelamento de encomendas das siderúrgicas estatais, como a Cosipa
(Companhia Siderúrgica Paulista) e a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional),
visando a redução da participação do Estado na economia. Essas decisões
(realizadas com base nas teorias neoliberais) atingiram enormemente as
40
encomendas da Dedini e desencadearam uma reestruturação geral no setor de bens
de capital brasileiro (LEÃO, 2005) 18.
É desta maneira que os anos de 1990 marcaram a desestruturação e as
tentativas de recuperação financeira do aglomerado industrial do Grupo Dedini.
Como exemplo, alguns dos antigos sócios desvincularam-se do grupo, como o caso
do empresário Narciso Gobin, que, em 1996, assumiu, por direito, uma parte do
capital imobiliário e industrial da Dedini e fundou a NG Metalúrgica. Outro exemplo
marcante foi o desmembramento da Mausa, que também foi desvinculada do grupo
industrial.
Além desses exemplos, o evento mais significativo ocorreu em 1994, quando
foi confirmada a venda de 49% das ações da Siderúrgica Dedini para a empresa
Belgo Mineira (do grupo Arbed, de Luxemburgo). Anos mais tarde, em 2002, foi
efetivada a compra completa (desta planta siderúrgica de grande porte) quando o
grupo Arbed se fundiu à Usinou (França) e à Averalia (Espanha), dando origem ao
maior conglomerado siderúrgico do mundo, a ArcelorMittal (LEÃO, 2005 apud
EMERIQUE, 2013).
Após essas séries de desestruturações, as atividades da Dedini se reduziram
e, em 1995, a empresa tinha menos de 22% do seu antigo porte. Assim, em 1996, a
Dedini desocupou o prédio administrativo do aglomerado industrial (edifício que até
hoje é uma paisagem marcante na cidade de Piracicaba, como pode ser observado
na “Foto 1.2”), alugando o mesmo para escritórios administrativos de outras
empresas. No mesmo ano, o grupo apresentou ao Banco Nacional do
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) um plano de reestruturação
financeira, visando escapar da falência completa, já que as dívidas do grupo naquele
momento chegavam a mais de US$ 338,2 milhões (LEÃO, 2005).
18 Visando a recuperação da situação financeira, em 1991, ocorreu a fusão Dedini com a Zanini (maior concorrente da Dedini, na época, localizada na cidade de Sertãozinho). A fusão deu origem a DZ S/A que existiu por apenas três anos, pois, em 1994, devido ao aprofundamento das péssimas situações financeiras, o Grupo Dedini adquiriu as ações da Zanini e extinguiu a recém-criada firma.
41
Foto 1.2. Grupo Dedini: antigo prédio administrativo 19
Fonte: Vitor Calderan, 2015.
Quanto à economia política de Piracicaba durante a década de 1990, a
cidade sentiu o impacto da já citada recessão econômica. O problema foi apenas
“amenizado”, em curto prazo, pela continuação do processo de desconcentração
industrial espúria, assim como denomina Cano (2008). O termo “espúria” (como já
mencionado nessa dissertação) é utilizado devido a essa forma de desconcentração
industrial não ser decorrente de um crescimento industrial do território como um
todo, e sim, impulsionado por políticas econômicas municipais de isenção fiscal.
O processo de desconcentração industrial amenizou – em partes e
quantitativamente – o desemprego em Piracicaba, causado pelas falências das
indústrias de bens de capital e dos serviços atrelados ao setor sucroenergético.
Entretanto, não foi capaz de assegurar, por si só, o crescimento do emprego formal
na indústria de transformação. Os dados do emprego industrial no município,
durante a década de 1990, podem ser visualizados no gráfico a seguir (Gráfico 1.2.):
19 O prédio é localizado ao lado do atual “Shopping Piracicaba”, empreendimento que também foi construído sobre terras de propriedade do antigo Grupo Dedini.
42
Gráfico 1.2. Piracicaba: empregos formais da indústria e participação
percentual (%) no total de empregos formais (1991 – 2013)
Fonte: Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE, 2015)
Como pode ser verificado no gráfico anterior (Gráfico 1.2.), a década de 1990
inicia-se com uma queda no número de empregos, fato que é atenuado no ano de
1994, quando o número de empregados cresce. A partir de 1995, a queda é
permanente e o número de empregados industriais é demasiado baixo até o ano de
2001, onde há uma alta que se mantém até 2008 (ano da crise financeira global). No
ano de 2010 é verificada uma nova alta que se mantém até o último ano de registro.
Também é possível perceber, no Gráfico 1.2., que apesar do aumento
absoluto na quantidade de empregados da indústria de Piracicaba, registrado desde
2001, a participação destes empregados no total dos empregos formais do
município, medida em porcentagem (%), não cresce em igual proporção, dado que a
quantidade de empregados em serviços também cresce no período registrado.
Os dados do Gráfico 1.2. revelam pelo menos três condições que
favoreceram o aumento do emprego na indústria do município, no início do século
XXI: 1) primeiramente, a permanência do processo de descontração industrial, já
que grandes multinacionais se implantaram no município (como a CASE IH,
ElringKlinger, CJ, etc) e outras se expandiram (como o Caterpillar). Entretanto,
apenas a desconcentração industrial, analisada por um viés determinístico, não
pode explicar todas as variáveis e, assim, temos a segunda condição: 2) que foi, de
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
40000
45000
50000
Quantidade de empregados Participação no total (%)
43
maneira complementar, o fortalecimento do mercado interno e as políticas
econômicas anticíclicas dos governos federais de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma
Rousseff (PT), que favoreceram o crescimento da indústria regional. Além dessas
duas condições, temos a terceira: 3) que esteve a cargo da reestruturação da
indústria de equipamentos do setor sucroenergético, proporcionada pela criação do
mercado de automóveis flexfuel e pela expectativa da transformação do etanol em
uma commodity mundial, durante a década de 2000.
Além do caso da citação da participação das políticas do governo federal na
manutenção dos empregos formais da indústria no município no período citado, é
importante mencionar que, no caso dos últimos dois anos de registro (2012 e 2013),
o aumento do número de empregos se deu pela atração (por meio de garantia de
infraestrutura completa e isenções fiscais) da indústria automobilística sul-coreana
Hyundai. A instalação da fábrica em Piracicaba foi acordada pelo governo de Barjas
Negri (PSDB) junto à multinacional e por meio de intermediações políticas junto ao
governo do estado de São Paulo, nos mandatos de José Serra e Geraldo Alckmin
(PSDB). Outro personagem da negociação foi Luciano Almeida, que esteve ligado
também à fundação do Arranjo Produtivo Local do Álcool (APLA) e é ex-secretário
de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura de Piracicaba e do governo do estado
de São Paulo.
É importante mencionar que as políticas de isenção fiscal, adotadas pelos
governos municipais, aprofundaram o fenômeno de desconcentração industrial
espúria – assim como apontou Cano (2008) – e não levaram a um processo de
industrialização endógena, capitaneado por trocas inter-regionais. Na realidade,
como apontam diversas pesquisas, a política de isenção fiscal aprofundou o
fenômeno, denominado por economistas, de Guerra Fiscal (CANO, 2002; 2008;
2011; CAVALCANTI & PRADO, 1998; SILVA, 2001; CARDOSO, 2010). Essa
política, característica na geografia industrial atual, tem contornos notáveis no Brasil.
A particularidade do processo encontra-se na transformação dos municípios em
concorrentes, na provisão de incentivos territoriais para a atração de investimentos.
No caso de Piracicaba, as grandes empresas de capital externo que se
instalarem no município, podem contar com a isenção dos seguintes impostos:
Licença para Localização e Funcionamento em Horário Local; Imposto sobre
Transferência de Bens Imóveis (ITB); IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) por
até cinco (5) anos; e ISSQN (Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza).
44
Também recebem a isenção de impostos, as empresas prestadoras de serviços,
responsáveis pela construção da empresa. Em relação às empresas responsáveis
pela instalação e montagens industriais e às empresas de pesquisa e
desenvolvimento de novas tecnologias, as isenções chegam a 60% dos impostos
descritos acima (SEMDEC20, 2012).
Voltando à análise sobre o setor sucroenergético (que foi outro ramo com
importância direta na recuperação da atividade industrial do município, entre 2004 e
2008) é importante notar que, desde o ano de 2004, o financiamento estatal, através
do BNDES, participou ativamente na concessão de crédito para a ampliação do
setor (RAMOS, 2011).
Foi a partir deste evento que surgiram as primeiras possibilidades do etanol
brasileiro se tornar uma alternativa, denominada “sustentável”, aos combustíveis
fósseis (PIRES DO RIO, 2011; PORTO-GONÇALVES, 2012). Essa nova situação do
mercado sucroenergético, levou a uma reorganização territorial da produção de
etanol e açúcar, com novas usinas construídas e outras ampliadas. Os investimentos
públicos do BNDES permanecem até hoje, mas foram reduzidos desde a crise
financeira global de 2008. O setor também é financiado por grupos estrangeiros,
como inúmeros Fundos de Investimento e Petroleiras que adquiriram ações, usinas
e terras no setor (XAVIER, et al. 2011; BORGES; COSTA, 2013).
Essas movimentações financeiras favoreceram uma ampla centralização do
capital21 no setor (MARX, 2013 [1867]; SMITH, N. 1988). Assim, como resultado
destas movimentações financeiras e dos investimentos em novos fixos (novas
usinas e plantações), houve também uma reorganização do circuito espacial
produtivo do açúcar e do etanol - isto é, o conjunto das etapas da produção,
distribuição, troca e consumo distribuído sobre o espaço geográfico (CASTILLO;
FREDERICO, 2010).
Desta maneira, o controle do referenciado circuito produtivo passou a ser
permeado, ainda mais diretamente, por grandes empresas transnacionais. Esse fato
vem aprofundando o que Santos (2009) denomina por uso corporativo do território.
Isto é, a forma de regulação política e econômica, sobre os territórios nacionais,
realizada pelas grandes corporações globais, fruto de suas capacidades de operar
20 Secretária de Desenvolvimento Econômico de Piracicaba. 21 Como já mencionado, por centralização do capital compreendemos quando dois ou mais capitalistas, anteriormente independentes, se combinam em um, através de incorporações, fusões e aquisições (MARX, 2013 [1867]; SMITH, N. 1988).
45
em rede (controlando a produção e o consumo de suas próprias mercadorias) e
garantindo, assim, obviamente, a defesa de seus interesses e ampliação de seus
lucros (CASTILLO & CAMELINI, 2012).
Característica do movimento de monopólio, a decorrência sobre o espaço
geográfico, deste uso corporativo, é a implantação de uma série de infraestruturas
(ou, o que podemos chamar de espaço geográfico construído) pelo Estado visando à
fluidez contínua das mercadorias e das ordens produzidas pelas corporações. O
Estado também se torna uma instituição a serviço deste movimento e o espaço
geográfico (entendido como um sistema de objetos e ações) torna-se reflexo e
condição para a ampliação desta acumulação, que em dado momento, centraliza e
destrói outros usos possíveis, representados por pequenos produtores e, também,
por capitalistas com menores possibilidades de intervenções territoriais.
Tratando-se das centralizações de capital, ocorridas no setor sucroenergético
(que aprofundam o uso corporativo do território), o caso mais característico na região
de Piracicaba foi a criação da joint-venture Raízen, em 2008, uma associação da
petroleira “Royal Dutch Shell” com o grupo usineiro “Cosan”, de capital originário de
Piracicaba (SP)22. A mudança no modo de gestão das principais usinas da região de
Piracicaba – fruto do desenvolvimento da joint-venture – também modificou antigos e
importantes laços empresariais locais, como, por exemplo, o aumento da dificuldade
das indústrias de bens de capital da região em estabelecer contratos de
fornecimento de equipamentos para as usinas (assunto que abordaremos no
capítulo final).
Assim, no próximo capítulo aprofundaremos a análise sobre os circuitos
espaciais produtivos e círculos de cooperação entre as empresas fornecedoras de
bens e serviços para o setor sucroenergético de Piracicaba. O intuito é compreender
a conformação da referenciada rede, que compreende fornecedores de
equipamentos, insumos e serviços especializados no setor sucroenergético.
22 No caso da Raízen, a centralização caracteriza-se devido ao contrato assinado prever que a Shell poderá comprar 100% das ações sucroenergéticas da Cosan até 2025. Além disso, o controlador da Cosan, Rubens Ometto, já declarou, em entrevista publicada pela revista Exame no início de 2012, sua clara intenção de investir em negócios mais estáveis e definitivamente sair da agroindústria de açúcar e etanol (ONAGA, M. Adeus, etanol, diz Rubens Ometto. Energia, Revista Exame, 16 Mai. 2012. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1016/noticias/adeus-etanol-diz-rubens-ometto>. Acesso em: 22 Dez. 2015).
46
CAPÍTULO 2
OS CÍRCULOS DE COOPERAÇÃO ENTRE OS FORNECEDORES DE BENS E
SERVIÇOS PARA O SETOR SUCROENERGÉTICO EM PIRACICABA (SP)
A circulação e a comunicação são as duas faces da mobilidade. (...). Na realidade, em todo “transporte” há circulação e comunicação simultaneamente. (RAFFESTIN, 1993, p. 200).
Esse capítulo dedica-se a uma questão essencial na geografia atual, que é a
descrição e análise dos circuitos produtivos ou, em outras palavras, das “redes
produtivas”. Podemos dizer que o setor sucroenergético brasileiro é formado por
uma rede de empresas que possuem, como objetivo comum, a oferta de bens e
serviços para a produção açúcar, etanol e de energia elétrica. Obviamente, este
circuito não é formado por empresas com o mesmo tamanho ou mesmo poder de
controle sobre a mencionada “rede”.
Como sabemos, a “produção”, em seu sentido lato, compreende a soma de
todas as etapas da produção, que são: a produção estrita, a troca, a distribuição e o
consumo final. Desta maneira, entendemos que uma das formas de descrever os
elos entre essas etapas produtivas, dando ênfase a sua dinâmica espacial, é a partir
dos conceitos de circuito espacial produtivo e de círculos de cooperação no espaço
(SANTOS, 1986; 1988; SANTOS; SILVEIRA, 2001).
Para Castillo & Frederico (2010),
(...) os circuitos espaciais de produção pressupõem a circulação de matéria (fluxos materiais) no encadeamento das instâncias geograficamente separadas da produção, distribuição, troca e consumo, de um determinado produto, num movimento permanente; os círculos de cooperação no espaço, por sua vez, tratam da comunicação, consubstanciada na transferência de capitais, ordens, informação (fluxos imateriais), garantindo os níveis de organização necessários para articular lugares e agentes dispersos geograficamente, isto é, unificando, através de comandos centralizados, as diversas etapas, espacialmente segmentadas, da produção. (p. 6)
47
Na presente análise, entendemos que é fundamental elucidar a conformação
dos círculos de cooperação entre as empresas fornecedoras de bens e serviços para
o setor sucroenergético de Piracicaba. Desta maneira, com o objetivo de descrever e
analisar os fornecedores de equipamentos, insumos, serviços especializados para o
processo produtivo sucroenergético, situados em Piracicaba, dividimos,
primeiramente, o mencionado círculo de empresas, entre: 1) fornecedores de bens e
serviços localizados a montante da produção estrita (ou complexo agroindustrial) e
2) fornecedores localizados a jusante a produção estrita, que são relacionados às
etapas de distribuição, comércio e consumo da mercadoria final (açúcar, álcool e
energia elétrica).
A cidade de Piracicaba (sendo reflexo e condição do fenômeno de instalação
de redes agroindustriais no território brasileiro) é especializada no fornecimento de
bens e serviços situados, mais especificamente, à montante do processo
agroindustrial sucroenergético. Desta maneira, a descrição e análise das empresas
tratarão, de maneira mais abrangente, dos círculos de cooperação presentes nessa
etapa do circuito.
Este recorte tem o intuito de demonstrar as diversas tipologias produtivas dos
fornecedores de bens e serviços sucroenergético de Piracicaba, bem como é
possível, explorar e especificar as relações desiguais entre as diferentes firmas do
referenciado setor. Além disso, torna possível a compreensão de quais firmas se
servem melhor das especificidades técnico-estruturais e normativo-fiscais,e
hegemonizam o sistema produtivo, e as firmas que são hegemonizadas e,
consequentemente, necessitam elaborar novas técnicas e enfrentar muitos desafios
para permanecerem rentáveis na atualidade.
O município de Piracicaba compõe um lugar característico para esta análise,
pois, como já mencionado, é historicamente especializado na oferta de bens e
serviços à agroindústria canavieira. Além disso, a participação da indústria em seu
Produto Interno Bruto (PIB) foi, em média, entre os anos de 2002 e 2010, de 40%,
restando, assim, 58% de participação em serviços e 2% da agricultura (SEADE).
A mencionada participação da indústria do município em 40% do PIB
municipal é elevada, pois, quando comparado ao estado de São Paulo ou, mesmo, à
todo território brasileiro, percebe-se que Piracicaba é um município com alto nível de
industrialização. Essa caracterização é feita a seguir, no Gráfico 2.1.:
48
Gráfico 2.1. Piracicaba, estado de São Paulo e Brasil: participação (em %) da
indústria no total do valor adicionado ao PIB (1999-2012)
Fonte: SEADE / IBGE (2015).
Outro dado interessante é que a participação da indústria no PIB municipal de
Piracicaba é, em média, sempre maior do que a participação da indústria em alguns
municípios geograficamente próximos e que possuem características semelhantes,
como Americana e Limeira. Quanto aos valores reais desta participação, é
interessante verificar que entre os anos de 2005 e 2010, o município de Piracicaba
obteve um acréscimo substancial no valor adicionado pela indústria em seu PIB.
Estes dados são melhor visualizados a seguir no Gráfico 2.2.
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
35,00%
40,00%
45,00%
19
99
20
00
20
01
20
02
20
03
20
04
20
05
20
06
20
07
20
08
20
09
20
10
20
11
20
12
Piracicaba São Paulo Brasil
49
Gráfico 2.2. Americana, Itu, Limeira, Piracicaba, Rio Claro e Sta. Barbara do
Oeste: valor adicionado pela Indústria, em milhões de reais (1999-2012)
Fonte: Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE, 2015) 23.
O setor responsável pela produção de equipamentos para o setor
sucroenergético ocupou uma posição de destaque, principalmente entre 2005 e
2010 (dados que são reafirmados pelo gráfico acima), quando houve um boom de
investimentos no setor relacionados à ampliação do mercado de carros flexfuel e as
expectativas em torno da transformação do etanol em uma commodity,
comercializada em larga escala em mercados globais.
Uma das evidências dessa expansão é o caso da Dedini (principal empresa
do setor) que investiu, entre 2002 e 2010, mais de R$ 200 milhões em ampliações e
modernizações de sua capacidade produtiva (PIESP24), além de ter contado com
mais de 3,5 mil empregados, só em Piracicaba, no período mais pujante do setor.
Além destas informações, é importante mencionar como caracterização geral
da organização industrial de Piracicaba, que o município abriga os seguintes
23 Inflação corrigida pelo Índice de “Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-E)” na “Calculadora do Cidadão” do Banco Central do Brasil, tomando como base os índices do mês de dezembro de cada ano e, como valor final da moeda, o mês de dezembro de 2015. 24 Pesquisa de Investimentos Anunciados no estado de São Paulo (2000-2012) apud Emerique (2014).
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Americana Itu Limeira
Piracicaba Rio Claro Sta. Barbara do Oeste
50
Distritos Industriais: 1) o Unileste, fundado em 1973; 2) o Uninorte, fundado em
2001; 3) o Uninoroeste, fundado em 2005; 4) o Parque Tecnológico, que funciona
como incubador de empresas, desde 2012; 5) o Parque Automotivo, sede da
Hyundai Motors e de suas filiais, fundado em 2012; e 6) o Unisul, em fase de
implantação, desde 201325 (TAKAMI, 2013; EMERIQUE, 2014).
Portanto, de acordo com a introdução apresentada, demonstraremos, na
primeira parte deste capítulo, uma tipologia, baseada na teoria dos “dois circuitos da
economia urbana dos países subdesenvolvidos” de Milton Santos (2008 [1979];
2008b [1973]) para descrever e analisar os fornecedores de bens e serviços para o
setor sucroenergético em Piracicaba (SP). Após a listagem, descrição e análise
dessas empresas, apresentaremos, na parte conclusiva do capítulo, o círculo de
cooperação formado pelas mesmas firmas, utilizando-se de quadros que ajudarão a
compreender a referenciada rede de relações.
2.1. Os circuitos da economia urbana e as empresas fornecedoras de bens
e serviços para o setor sucroenergético em Piracicaba
Neste item, descreveremos as empresas fornecedoras de bens e serviços
para o setor sucroenergético em Piracicaba (SP). Com este objetivo, foram
elaborados quadros que descrevem as características de cada empresa e ilustram
os diferentes grupos de empreendimentos que compõem a totalidade de
fornecedores de bens e serviços para o setor sucroenergético.
Nos quadros elaborados, desenvolvemos uma tipologia para classificar as
empresas. Essa tipologia é baseada na teoria dos dois circuitos da economia
urbana, desenvolvida por Santos (2008 [1979]; 2008b [1973]) e tem por objetivo
significar as diferentes relações de produção existentes nos circuitos produtivos que
permeiam o tecido urbano, essencialmente nos países subdesenvolvidos.
Para Santos (2008b, p. 96), a teoria dos dois circuitos da economia urbana
auxilia no entendimento das consequências das modernizações implantadas por
diversos Estados-nações em seus territórios, materializando-se, assim, em
diferentes formações sócio-espaciais.
25 A implantação do Distrito Unisul foi adiada devido à atual crise fiscal do Estado brasileiro.
51
Os dois circuitos da economia urbana se resumem entre o circuito superior e
o circuito inferior. Entretanto, Santos (2008b) salienta a existência de um circuito
intermediário, denominado circuito superior marginal.
Explicando de maneira simples, o circuito superior é relacionado às atividades
“modernas” (de capital intensivo), enquanto o circuito inferior é relacionado às
atividades menos tecnológicas (de trabalho intensivo), tendo também, como
características, sua dependência ao circuito superior. Já em relação ao circuito
superior marginal, se refere às atividades produtivas que possuem características
presentes nos dois circuitos anteriores (SANTOS, 2008b, p. 97-100).
Para melhor compreender, é interessante ler a passagem de Santos (2008b,
p. 97) a seguir:
(...) pode-se afirmar que o fluxo do circuito superior está composto
de negócios bancários, comércio de exportação e indústria de exportação, indústria urbana moderna, comércio moderno, serviços modernos, comércio atacadista e transporte. O circuito inferior está essencialmente constituído por formas de fabricação de capital não intensivo", por serviços não modernos, geralmente abastecidos pelo nível de venda e varejo e pelo comércio em pequena escala e não moderno.
Como mencionado no parágrafo acima, para Santos, a diferença fundamental
entre os dois circuitos está baseada nas diferenças tecnológicas e organizacionais
das empresas (SANTOS, 2008b, p. 100). Além disso, outra diferença essencial é o
fato do circuito inferior ser mais integrado com sua cidade e regiões locais, enquanto
o circuito superior é mais interligado com atividades econômicas que extrapolam
suas localidades (SANTOS, 2008b, p. 103).
Quanto ao circuito superior marginal, é importante lembrar que muitas
atividades econômicas se interacionam com ambos os circuitos, o superior e o
inferior. Um bom exemplo para caracterizar o circuito superior marginal é o seguinte:
imaginem um grupo de empresas de determinado setor produtivo que utilizam
formas organizacionais e tecnológicas distintas das grandes empresas do
referenciado setor, mas que, mesmo assim, produzem o mesmo tipo de mercadoria.
Essa é a caracterização mais evidente do circuito superior marginal. Esse circuito,
como o próprio nome já diz, margeia (ou “copia” a seu critério) o elevado
desenvolvimento técnico das grandes corporações, baseando-se, nessa tarefa, na
incessante busca de inovações que permitam a extração do mais-valor relativo
(SANTOS, 2008b, p. 99).
52
Desta maneira, como base nesta classificação fundamental, faremos nossa
tipologia das empresas pertencentes ao circuito espacial produtivo de bens e
serviços para a agroindústria canavieira, presentes em Piracicaba (SP). Assim,
diferenciaremos as empresas entre: 1) pertencentes ao circuito superior; 2)
pertencentes ao circuito superior marginal e 3) pertencentes ao circuito inferior. Esta
subdivisão foi realizada seguindo dois critérios fundamentais: 1) rede de
relacionamento político-organizacional das empresas com clientes e fornecedores do
setor e 2) desenvolvimento tecnológico estrutural de seus bens e serviços prestados.
Assim, firmas com uma extensa rede de clientes e fornecedores e com alto
grau tecnológico implantado em seus bens e serviços, foram consideradas
pertencentes ao circuito superior. Em sequência, firmas que possuem um círculo de
cooperação e base técnica menor, com uma rede de clientes e fornecedores não
centrais, com bens e serviços menos tecnológicos foram consideradas pertencentes
ao circuito superior marginal. Por fim, as firmas com poucos clientes e/ou reduzida
carga técnica em seus bens e serviços, foram consideradas pertencentes ao circuito
inferior.
Assim, com base no exposto, passamos para a apresentação dos quadros,
que descrevem as seguintes informações: nome da empresa, ano de fundação,
dimensões estruturais (grande, média, pequena ou micro), variação média do
número de funcionários, origem do capital, principais produtos e serviços, setores de
especialização que a empresa fornece produtos e serviços, entre outras informações
adicionais.
2.1.1. Empresas do Circuito Superior no fornecimento de bens e serviços
ao setor sucroenergético, situados em Piracicaba
Primeiramente, o Quadro 2.1., apresentado a seguir, demonstra as empresas
pertencentes ao circuito superior de fornecimento de bens e serviços ao setor
sucroenergético em Piracicaba.
53
N° Empresa FundaçãoDimensões
estruturais
Variação média do n° de
funcionários
Origem do
capitalPrincipais produtos Setores de especialização Outras informações
1 Alphenz 1999 Grande porte 401-700 -Tanques de Polipropileno,
entre outros
Petroquímico, civil e
sucroenergético.
Principais clientes: Petrobras e
Odebrecht
2 ArcelorMittal 2007 Grande porte 1501-2000 (em Piracicaba). LuxemburgoVariedades de aço para a
construção civil.Diversos setores.
Seu proprietário principal,
Lakshmi Mittal, é indiano.
3Bioagri (Mérieux
NutriSciences)
Década de
1990Grande porte 201-400 (em Piracicaba) EUA
Análises biológicas,
ecotóxicológicas, de grande e
pequena escala.
Sucroenergético, agroquímico,
farmacêutico, entre outros.
Filial da Mérieux NutriSciences,
líder mundial em análises.
4Bosch Engenharia /
Bosch Projects2007 Grande porte
Poucos engenheiros no Brasil,
mas atua em rede global com
indústrias.
África do
Sul
Difusor Modular Dedini-
Bosch. Obviamente, em
parceria com a Dedini S/A.
Sucroenergético,
principalmente.
Grupo Bosch Holdings. A 1ª
filial da B.P. foi criada na África
do Sul, em 1961.
5 CASE IH do BrasilDécada de
2000Grande porte 401-600 (em Piracicaba)
Holanda /
ItáliaColheitadeiras de cana. Sucroenergético.
Filial da CNH Industrial N.V., do
grupo Fiat Chrysler
Automobiles.
6Centro Tecnológico
Canavieiro (CTC)1969 Grande porte
101-300 (entre pesquisadores,
técnicos, coordenadores,
acionistas, etc)
Piracicaba
Novas variedades de cana,
melhoramento genético e de
processos agroindustriais.
Setor sucroenergético.
Capital aberto, possui diversos
acionistas, como: Raízen,
Odebrecht e BNDES.
7 Circor do Brasil 2011 Grande porte 301-500 (em Piracicaba) EUAVálvulas: de gaveta, globo,
retenção, borboleta e esfera.
Petroquímico, minerador,
sucroenergético, entre outros.
Filial da Circor International
Inc., indústria energética, bélica
e espacial.
8Construtora Reynold
Ltda1967 Grande porte
501-850 (dependendo do
número de obras e terceiros).Piracicaba
Construção de edificações
industriais ou institucionais.
Setor sucroenergético, com
forte parceria com a Raízen e
Dedini.
Única construtora,
propriamente dita, filiada ao
APLA.
9 DanPower 2001 Grande porte 201-400 (em Piracicaba) Alemanha
Caldeiras para cogeração de
energia elétrica e turbinas a
vapor.
Sucroenergético, alimentício,
petroquímico, etc.
Filial do grupo alemão
DanPower Energie Für Morgen.
10 Dedini S/A 1920 Grande porte 1501-3500 PiracicabaEquipamentos para usinas
sucroenergéticas.
Sucroenergético, petroquímico
e alimentício
Principal empresa do setor de
bens de capital para usinas
11 Fermentec Ltda 1977 Grande porte
51-100 (pesquisadores e
técnicos), atua em parceria com
a ESALQ.
Piracicaba
Insumos químicos/biológicos
para fermentação alcoólica,
pesquisas científicas, etc.
Sucroenergético, soja, milho e
sorgo sacarino.
Fundada pelo pesquisador
formado pela ESALQ, Henrique
Vianna de Amorim.
Quadro 2.1. Empresas do Circuito Superior - Bens e serviços ao Setor Sucroenergético de Piracicaba (1 à 11)
Fonte: Sistema Integrado de Administração Tributária (Prefeitura de Piracicaba), Arranjo Produtivo Local do Álcool (APLA) e entrevistas com agentes do setor - 2015.
54
N° Empresa FundaçãoDimensões
estruturais
Variação média do n° de
funcionários
Origem do
capitalPrincipais produtos Setores de especialização Outras informações
12General Chains do
Brasil
Década de
1980Grande porte 201-400 Piracicaba
Esteiras, correntes especiais,
transportadores, bombas
lubrificantes, etc.
Sucroenergético, civil,
minerador, siderúrgico, etc.-
13 Lubiani 1969 Grande porte 401-1000 PiracicabaServiços logísticos para
importação e exportação.
Diversos setores, entre eles, o
sucroenergético.-
14MAG Ltda
Transformadores
Década de
1990Médio porte 301-500 Piracicaba
Transformadores de energia
elétrica para uso industrial.Diversos setores.
Clientes: Raízen, São Martinho,
Louis Dreyfus, Guarani e Tonon
Bioenergia.
15
Mausa S.A.
Equipamentos
Industriais
1948 Grande porte 301-600 PiracicabaPontes rolantes, entre outros
equipamentos.
Sucroenergético, petroquímico
e alimentício
No passado, foi parte do Grupo
Dedini.
16 NG Metalúrgica 1996 Grande porte 201-400 Piracicaba
Turbinas, redutores, sistemas
de destilação, evaporadores,
etc.
Sucroenergético, petroquímico,
siderúrgico, etc.
Narciso Gobbin, seu fundador,
foi antigo sócio do Grupo
Dedini.
17 Rumo Logística 2008 Grande porte 3000-5000 PiracicabaLogística ferroviária, portuária
e multimodal.
Iniciou com exportação de
açúcar, mas hoje atua nos mais
diversos setores.
Recentemente, fundiu-se a
maior empresa logística
ferroviária do país, a ALL.
18 SIMETRANS - Médio porte 51-150 (Em Piracicaba) Piracicaba
Consultoria para Logística
Integrada de Comércio
Exterior (LINCE)
Diversos setores, entre
sucroenergético, bens de
capital, alimentício, etc.
Possui escritórios no principais
portos do Brasil
19 Supricel Logística 1982 Grande porte 601-1000 PiracicabaTransportadora rodoviária de
cargas em geral.
Diversos setores, entre eles, o
sucroenergético.Empresa do Grupo Supricel.
20Turbimaq - Turbinas e
Máquinas Ltda1976 Médio porte 201-400 Piracicaba
Turbinas, entre outros
equipamentos,
Energético, sucroenergético e
petroquímico.-
21 Wipro - Infrastructure Década de
2000Grande porte
Sua rede global tem mais de
3000 empregados.Índia
Cilindros hidráulicos,
atuadores, etc.Diversos setores.
Divisão de engenharia do grupo
Wipro Enterprises
Fonte: Sistema Integrado de Administração Tributária (Prefeitura de Piracicaba), Arranjo Produtivo Local do Álcool (APLA) e entrevistas com agentes do setor - 2015.
Quadro 2.1. Empresas do Circuito Superior - Bens e serviços ao Setor Sucroenergético de Piracicaba (12 à 21)
55
As empresas citadas no quadro anterior (Quadro 2.1.) inserem-se num grupo
composto por vinte e uma empresas, divididas em: 1) dez indústrias de
equipamentos (turbinas, caldeiras de cogeração de energia, etc), componentes
(válvulas, cilindros hidráulicos, etc) e grandes estruturas (tanques, sistemas de
destilação, etc) (Alphenz, Circor do Brasil, DanPower, Dedini, Link Steel, General
Chains, Mausa, NG Metalúrgica, Turbimaq e Wipro); 2) quatro transportadoras,
especializadas em serviços logísticos para importação e exportação (Lubiani,
Simetrans, Supricel e Rumo); 3) duas empresas de pesquisa e desenvolvimento
científico voltadas ao setor sucroenergético (Fermentec e Centro Tecnológico
Canavieiro - CTC); 4) uma produtora de colhedoras de cana (CASE IH do Brasil); 5)
uma empresa especializada na elaboração de sistemas de engenharia para o setor
sucroenergético (Bosch Engenharia ou Bosch Projects); 6) uma construtora de
edifícios industriais (Construtora Reynold); 7) uma indústria de produção de aços
para construção civil (ArcelorMittal); 8) uma empresa de análises biológicas e
ecotóxicológicas (Bioagri ou Mérieux NutriSciences); e 9) uma produtora de
transformadores de energia elétrica para uso industrial (MAG Transformadores).
É interessante verificar os aspectos relacionados às datas de fundação destas
empresas, já que seu desenvolvimento reflete os diferentes períodos técnicos
atravessados pelo território brasileiro. Em primeiro plano, podemos citar o caso da
Dedini (fundada em 1920) e as empresas criadas com participação acionária do
antigo Grupo Dedini (como a Mausa, de 1948), que surgiram durante a primeira fase
de expansão das plantações de cana-de-açúcar pelo estado de São Paulo. Além
destas, há outras empresas que também cresceram nesse mesmo período de
intensificação da produção de açúcar no estado de São Paulo e, também, de
industrialização e urbanização do município de Piracicaba (como a Construtora
Reynold, fundada em 1967 e a transportadora Lubiani, de 1969).
No caso das empresas de logística, além da Lubiani (citada acima) existem a
Supricel Logística, fundada em 1982 (especializada em transportes rodoviários de
mercadorias diversas), a Simetrans (que opera como uma empresa de assessoria
aduaneira) e a grande transportadora do setor, a Rumo Logística, empresa do Grupo
56
Cosan, fundada em 2008, e que, no início de 2015, fundiu-se à América Latina
Logística, criando uma gigante no ramo de transportes intermodais26.
Há também empresas que se desenvolveram durante a fase de intensificação
da Revolução Verde na agricultura brasileira (KAGEYAMA, et al., 1990), durante a
década de 1970, onde o grande incentivo estatal, por meio do Planalsucar (já citado
em nossa periodização), levou ao aprofundamento das pesquisas científicas e
possibilitou o desenvolvimento de diversos insumos agrícolas, que possuem uma
alta carga de técnica, de ciência e de informação em sua produção. Exemplo de
empresas fundadas nesse período são o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), de
1969, e a Fermentec, de 1977.
A história do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) é interessante e
acreditamos que deve ser brevemente relatada. Fundado, originalmente, com o
nome de Centro de Tecnologia da Copersucar, implementou uma série de
reestruturações desde do ano de 2004. A partir de então, o CTC se transformou em
uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), recebendo,
assim, diversos incentivos financeiros estatais para seu desenvolvimento. O Centro
permaneceu como OSCIP até o ano de 2011, quando se transformou numa
Sociedade Anônima (S/A) de capital fechado, composto por um conselho
administrativo gerido pela presidência da Copersucar S.A. (maior controladora, com
25% das ações), pela vice-presidência da Raízen (20% das ações), e por outros
acionistas, como: Bunge, Grupo Coruripe, São Martinho, Tereos Internacional27,
Odebrecht Agroindustrial, Biosev28, BNDES Participações, ORPLANA (Organização
de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil) e Usinas do Paraná.
26 A fusão entre a Rumo Logística e a América Latina Logística (ALL) foi a aprovada com restrições pelo CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). As restrições foram impostas como medida de controle, devido as possibilidades da Cosan utilizar-se do aparato logístico para favorecer-se e dificultar a expansão de seus concorrentes. A Cosan também criou uma nova empresa para controlar a Rumo, denominada Cosan Logística, com o objetivo de melhor identificar as atividades para seus investidores financeiros. 27 A “Tereos Internacional” é uma subsidiária do grupo de capital majoritariamente francês “Tereos”, quinto maior produtor de açúcar do mundo. O grupo controla 60,4% das ações da Guarani S.A., sendo os outros 39,6% da Petrobrás Combustíveis. Além disso, o grupo Tereos também atua no mercado mundial de amidos, por meio da subsidiária “Tereos Syral”. 28 A Biosev é a empresa resultado da fusão entre a “Louis Dreyfus Commodities Bioenergia” e o grupo paulista “Santelisa Vale”, realizada em 2009. Atualmente a Louis Dreyfus possui o controle da empresa com 56% de suas ações.
57
Com relação à Fermentec – que também foi desenvolvida durante a fase
aprofundamento tecnológico (ou “Revolução Verde”) na produção de açúcar e álcool
brasileira – tem como principal parceira a ESALQ (Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz,), da Universidade de São Paulo, instituição pública que realiza
pesquisas científicas em áreas que são de interesse da empresa e, por conseguinte,
do setor sucroenergético. A Fermentec é especializada na elaboração de leveduras
que favorecem a fermentação na produção do álcool anidro ou hidratado.
Outro caso interessante é o da Bioagri, uma empresa criada por
pesquisadores do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) e da ESALQ
(ambos da Universidade de São Paulo), em 1991, especializada em análises
agroquímicas, ambientais e farmacêuticas. Recentemente, a Bioagri foi comprada
pela Mérieux NutriSciences, um dos maiores laboratórios de análises agroquímicas
do mundo.
Também é perceptível, na análise do Quadro 2.1. que existem algumas firmas
que se desenvolveram durante as fases de intensificação do Proálcool, como o caso
da Turbimaq, fundada em 1976, da Link Steel, fundada em 1981, e da General
Chains do Brasil, também fundada durante a década 1980.
Além de todas as empresas já citadas, no quadro também é perceptível
empresas que foram criadas pela chegada do capital internacional no setor, como a
produtora de colhedoras CASE IH29, que se instalou na cidade na década de 2000.
Outras multinacionais recentes, produtoras de equipamentos, são: Circor, DanPower
e Wipro Infrastructure. Há também o caso da Bosch Projects, uma empresa
originária da África do Sul, que desde 2007 mantém um escritório em Piracicaba.
Finalmente, completam o circuito superior das indústrias fornecedoras e bens
e serviços para o setor sucroenergético a NG Metalúrgica, fundada em 1996, após a
dissolução da antiga sociedade do Grupo Dedini (conforme já descrito no último item
do primeiro capítulo dessa dissertação) e a MAG Transformadores, fundada em
1990, produtora de transformadores elétricos industriais, que possui como principais
clientes, os grupos usineiros Raízen, São Martinho, Biosev (controlada pela Louis
Dreyfus Commodities), e Guarani (controlada pela Tereos, em parceria com a
Petrobrás Biocombustíveis).
29 Filial do grupo CNH Industrial N.V., que, por sua vez, é a subsidiaria especializada em tratores do grupo Fiat Chrysler Automobiles.
58
No geral, a lista do Quadro 2.1. é composta por empresas de grande porte
que possuem a capacidade de empregar, em seu conjunto mais de dez mil
trabalhadores em Piracicaba, são grandes empresas de bens de capital e grandes
empresas de tecnologia que intermediam, organizam e regulam os fluxos produtivos
de outras empresas menores. Sua vinculação ao chamado circuito superior se deve
pelo relacionamento direto que essas empresas estabelecem com o cliente final e
pelo controle da rede de seus fornecedores de componentes, caracterizados por
serem médias e pequenas empresas.
2.1.2. Empresas do Circuito Superior Marginal no fornecimento de bens e
serviços ao setor sucroenergético em Piracicaba
O Quadro 2.2., apresentado a seguir, demonstra as empresas pertencentes
ao circuito superior marginal no fornecimento de bens e serviços à agroindústria
canavieira em Piracicaba.
59
N° Empresa FundaçãoDimensões
estruturais
Variação média do
n° de funcionários
Origem
do capitalPrincipais produtos Setores de especialização Outras informações
1 Agroativa - Pequeno porte 1-25 Piracicaba Consultoria agronômica.Diversos setores, entre eles, o
sucroenergético.-
2 Ananda Metais - Médio porte 151-300 PiracicabaPerfis de aço para construção
civil
Diversos setores, entre eles, o
sucroenergético.-
3Aspertec Lubrificação
Centralizada1983 Médio porte 76-150 Piracicaba
Bombas e sistemas de
aplicação de lubrificantes para
partes móveis industriais.
Diversos setores, entre
sucroenergético, civil, têxtil,
bens de capital, etc.
A empresa fornece produtos
para o Brasil e países da
América Latina.
4Balan Equipamentos
Industriais Ltda
Década de
1990Pequeno porte 26-100 Piracicaba
Pontes rolantes, correias
transportadoras, estruturas,
tubulações.
Atende os setores
sucroenergético, papeleiro,
químico, siderúrgico, etc.
-
5 Benatti Equipamentos - Pequeno porte 26-100 PiracicabaProdutora de equipamentos
para fermentação alcoólica
Especializada no setor
sucroenergético.-
6
Big Tecnologia em
Centrifugação e
Filtração Ltda
Década de
1980Médio porte 101-250 Piracicaba
Cozedores, cristalizadores,
vasos de pressão e secadores.
Setor sucroenergético, químico,
alimentício e mineração.
A empresa também fornece
serviços de manutenção
preventiva para seus clientes.
7Biocane Química
Industrial- Pequeno porte 1-25 Piracicaba
Compostos químicos para
melhorar fermentações
Diversos setores, entre eles, o
sucroenergético.-
8 Biossolo Ambiental - Pequeno porte 1-25 PiracicabaAnálises ambientais para a
agricultura.
Diversos setores, entre eles, o
sucroenergético.-
9 Canatec Coworking 2013 Pequeno porte 1-50 Piracicaba
Espaço de trabalho
compartilhado com diversas
microempresas visando
facilitar negócios similares.
As empresas vinculadas são
diversas, mas há certa
especialização no setor
sucroenergético.
A empresa abriga outras
microempresas, como: a
Pedológica, a Vittagro e a
Adubai.
10 Cemil - Pequeno porte 26-100 Piracicaba
Caldeiraria: tubulações,
tanques, isolamentos e realiza
locação de andaimes.
Diversos setores, ente
sucroenergético, bens de
capital, alimentício, etc.
Entre seus clientes, constam:
Dedini S/A e Centro de
Tecnologia Canavieira (CTC).
12 Cemotec - Pequeno porte 26-100 Piracicaba
Montagens industriais
realizada em rede com outras
construtoras maiores.
Diversos setores, entre
sucroenergético, siderúrgico,
alimentício, etc.
Como similares, é terceira de
outras construtoras maiores,
como Reynold e Conserv.
13 Centeraço Taquaral 2005 Pequeno porte 26-100 Piracicaba
Caldeiraria e metalurgia:
tubulações, estruturas,
colunas, roscas, etc.
Atende os setores
sucroenergético, siderúrgico,
metalúrgico, petroquímico, etc.
-
Quadro 2.2. Empresas do Circuito Superior Marginal - Bens e serviços ao Setor Sucroenergético em Piracicaba (1 à 13)
Fonte: Sistema Integrado de Administração Tributária (Prefeitura de Piracicaba), Arranjo Produtivo Local do Álcool (APLA) e entrevistas com agentes do setor - 2015.
60
N° Empresa FundaçãoDimensões
estruturais
Variação média do
n° de funcionários
Origem
do capitalPrincipais produtos Setores de especialização Outras informações
14 Centerval Industrial Ltda 1989 Médio porte 151-300 Piracicaba
Produz tubos helicoidais e
comercializa outros
equipamentos.
Diversos setores. Principais:
sucroenergético, petroquímico
e civil.
-
15 Coletti - Médio porte 101-150 PiracicabaSucatas, vendas de chapas,
corte de chapas e transporte.
Diversos setores, como também
o sucroenergético.-
16 Conger 1962 Médio porte 101-300 PiracicabaEquipamentos para usinas
sucroenergéticas.
Especializada no setor
sucroenergético.-
17
Cooperativa São José
Metalúrgica (CSJ)
(antiga Santin S/A)
1940 Médio porte 151-300 Piracicaba
Decantadores, distribuidores,
calderas, cozedores,
secadores, difusores, etc.
Setor sucroenergético,
petroquímica, energético,
construção civil e papeleiro.
A CSJ é uma empresa que vem
sofrendo profundamente com
a atual centralização no setor.
18
Copertec Inox
Equipamentos
Industriais
2005 Pequeno porte 26-100 Piracicaba
Caldeiraria em geral. Tanques
de aço, reatores, placas, vasos
de pressão, silos, etc.
Diversos setores, entre
sucroenergético, minerador,
energético, etc.
-
19Dínamo Automação
Industrial Ltda- Médio porte 101-200 Piracicaba
Sistemas eletro-hidráulicos de
controle em moendas e de
segurança nas turbinas.
A empresa é especializada,
especialmente, no setor
sucroenergético.
Oferece assistência técnica
para manutenção em sistemas
hidráulicos em geral.
20 Ebbombas LTDA. - Médio porte 26-100 PiracicabaProdução de bombas para
diversos segmentos
Diversos setores, entre eles, o
sucroenergético.-
21 Ellobras 2011 Médio porte 101-150 Piracicaba
Usinagem, caldeiraria,
fundição, aplicação de cromo-
duro e manutenções.
Especializada no setor
sucroenergético, mas também
atende outros setores.
Representante da Usitep,
empresa do grupo JCA, da
família Galvani Antonelli.
22 Embramon - - 1-50 Piracicaba Montagens industriais.Diversos setores, entre eles, o
sucroenergético.-
23 Empral 1982 Pequeno porte 26-100 Piracicaba
Projetos de engenharia para
processos agroindustriais.
Especialista em moendas.
Setor sucroenergético. Clientes:
Odebrecht, Abengoa,
Adecoagro, Dedini S/A.
A parceria com Simisa
Metalúrgica rendeu referência
no mercado de moendas.
Quadro 2.2. Empresas do Circuito Superior Marginal - Bens e serviços ao Setor Sucroenergético em Piracicaba (14 à 23)
Fonte: Sistema Integrado de Administração Tributária (Prefeitura de Piracicaba), Arranjo Produtivo Local do Álcool (APLA) e entrevistas com agentes do setor - 2015.
61
N° Empresa FundaçãoDimensões
estruturais
Variação média do
n° de funcionários
Origem
do capitalPrincipais produtos Setores de especialização Outras informações
24Engtro Construtora
Industrial- Pequeno porte 26-100 Piracicaba
Especializada em construção
civil e montagem industrial.
Atende os setores
sucroenergético, siderúrgico,
metalúrgico, alimentício, etc.
A empresa possui como um de
seus principais clientes, a
Raízen.
25 Equipe Metalúrgica Ltda 1967 Médio porte 101-150 Piracicaba
Bombas centrifugas,
manutenção e reposição de
acessórios hidráulicos.
Especializada no setor
sucroenergético, mas também
atende outros setores.
Antiga Metalúrgica Santa
Cruz Ltda (Mescli), fundada
em 1938 e falida em 1966.
26 ExalDécada de
1980Médio porte 101-300 Piracicaba
Equipamentos para usinas
sucroenergéticas.
Especializada no setor
sucroenergético.-
27 Femaq 1966 Pequeno porte 1-50 PiracicabaFundição peças de grande e
pequeno porte.
Diversos setores, entre eles, o
sucroenergético.-
28Fazanaro Ltda
Metalúrgica e Comércio1968 Médio porte 101-150 Piracicaba
Correntes industrias para
processamento da cana, eixos,
tensores, engrenagens, etc.
Atende os setores
sucroenergético, papeleiro,
automobilístico, civil, etc.
Criada pelos irmãos Antonio e
Fernando Fazanaro.
29 FNA Transportes - Médio porte 101-150 PiracicabaTransportadora de cargas em
geral.
Diversos setores, entre eles, o
sucroenergético.-
30GAtec®
Gestão Industrial S/A- Pequeno porte 26-100 Piracicaba
Consultoria para a instalação
de Sistemas Integrados de
Gestão Empresarial (SIGE).
Diversas agroindústrias, mas é
especializada no setor
sucroenergético.
Localizada no antigo prédio
administrativo do Grupo
Dedini.
31 Grupo Monbras 1989 Médio porte 151-300 Piracicaba
Refratários, isolamentos
térmicos, revestimentos e
impermeabilizações.
Diversos setores, entre
sucroenergético, siderúrgico,
minerador, etc.
A empresa possui três
divisões: "Refratários",
"Service" e "Recicre".
32 Gusfer 1991 Pequeno porte 26-100 Piracicaba
Caldeiraria em geral:
calandragem, pórticos,
estruturas, plataformas, etc.
Atende os setores de bens de
capital, sucroenergético,
siderúrgico, etc.
Elabora componentes como
terceira para metalúrgicas
maiores.
33 Impacto Construtora - Médio porte 151-300 PiracicabaConstrutora de edifícios
industriais.
Diversos setores, entre eles, o
sucroenergético.-
34 Induscon 1986 Médio porte 151-300 Piracicaba
Fabricação de tubos de
grandes diâmetros, curvas e
conexões.
Diversos setores, como também
o sucroenergético.-
35 Indusfiltros - Pequeno porte 1-25 PiracicabaFiltros para hidráulica e óleo
dinâmica.
Diversos setores, entre eles, o
sucroenergético.-
36 Industubos - Pequeno porte 1-25 Piracicaba Tubos de aço.Diversos setores, entre eles, o
sucroenergético.-
Quadro 2.2. - Empresas do Circuito Superior Marginal - Bens e serviços ao Setor Sucroenergético em Piracicaba (24 à 36)
Fonte: Sistema Integrado de Administração Tributária (Prefeitura de Piracicaba), Arranjo Produtivo Local do Álcool (APLA) e entrevistas com agentes do setor - 2015.
62
N° Empresa FundaçãoDimensões
estruturais
Variação média do
n° de funcionários
Origem
do capitalPrincipais produtos Setores de especialização Outras informações
37JLJ Indústria Ltda
Comércio e Serviços1994 Médio porte 101-300 Piracicaba
Caldeiras, tratamentos de
cinzas, soluções em geração e
distribuição de vapor.
Especializada no setor
sucroenergético, mas também
atende outros setores.
Criada pela junção da Consist
com a Thermocal Engenharia.
38
Link Steel -
Equipamentos
Industriais Ltda
1981 Médio porte 201-400 Piracicaba
Sistemas de movimentação de
cana dentro das Usinas,
mesas alimentadoras, etc.
Sucroenergético,
principalmente.-
39 Maebraz Industrial LtdaDécada de
1980Médio porte 101-300 Piracicaba
Prestação de serviços de
usinagem e elaboração de
peças.
Diversos setores, entre
sucroenergético, minerador,
energético, etc.
Entre seus principais clientes,
estão: Alstom Ltda e Voith
Hydro Ltda.
40 Manetoni 1982 Médio porte 401-600 PiracicabaDistribuição de diversas
especialidades de aços.
Construção civil,
sucroenergético, etc.
Parceira da ArcelorMittal na
distribuição de aços.
41 Marije Transportes - Médio porte 151-300 PiracicabaTransportadora de cargas em
geral.
Diversos setores, entre eles, o
sucroenergético.-
42Mario Mantoni
Metalúrgica
Década de
1950Médio porte 151-300 Piracicaba
Moendas, martelos para
desfibrador, esteiras, eixos,
mancais, etc.
Especializada no setor
sucroenergético, mas também
atende outros setores.
Uma das indústrias medianas
históricas de Piracicaba.
43 MB - Pequeno porte 1-50 Piracicaba Montagens industriais.Diversos setores, entre eles, o
sucroenergético.-
44 Mecmaq 1989 Médio porte 101-300 Piracicaba Equipamentos agrícolas.Sucroenergético, grãos, entre
outras agroindústrias.-
45 MEFSA 1968 Médio porte 101-300 Piracicaba Equipamentos pesados. Sucroenergético, entre outros. -
46 Metalfray - Médio porte 101-300 PiracicabaIndústria e comércio de peças
de aço.
Diversos setores, entre eles, o
sucroenergético.-
47 Metalnox 1978 Médio porte 101-250 Piracicaba
Reatores químicos,
condensadores, aquecedores
térmicos, diluidores, etc.
Especializada no setor
sucroenergético e
petroquímico.
-
48Metalúrgica Bom Jesus
Peacentini & Cia Ltda1955 Médio porte 101-250 Piracicaba
Moedores, peneiras
vibratórias, britadores,
transportadores, etc.
Atendia apenas o setor
sucroenergético, hoje atende
diversos setores.
Fundada por Antonio
Bernardino e Osório Mamede
Piacentini.
49ML Equipamentos
Hidráulicos LTDA
Década de
1980Pequeno porte 26-100 Piracicaba
Especializada na fabricação de
equipamentos hidráulicos
para variados fins.
Presta serviços para diversos
setores, entre eles:
sucroenergético, agrícola, etc.
-
50Montmax Ltda
Montagens Industriais2004 Pequeno porte 26-100 Piracicaba
Montagens industriais, como
tanques, silos e
instrumentação pneumática e
eletrônica.
Atende os setores
sucroenergético, cervejeiro,
siderúrgico, metalúrgico, etc.
-
Fonte: Sistema Integrado de Administração Tributária (Prefeitura de Piracicaba), Arranjo Produtivo Local do Álcool (APLA) e entrevistas com agentes do setor - 2015.
Quadro 2.2. Empresas do Circuito Superior Marginal - Bens e serviços ao Setor Sucroenergético em Piracicaba (37 à 50)
63
N° Empresa FundaçãoDimensões
estruturais
Variação média do
n° de funcionários
Origem
do capitalPrincipais produtos Setores de especialização Outras informações
51Motocana - Máquinas e
Implementos Ltda1959 Médio porte 201-400 Piracicaba
Guindastes, carregadores,
garras e transportadores.
Sucroenergético, florestal,
construção civil e industrial.
No passado, foi parte do
Grupo Dedini.
52 Mutti Equipamentos 1989 Médio porte 101-300 PiracicabaSistemas de movimentação de
cana, bagaço e açúcar
Especializada no setor
sucroenergético.
Principais clientes: Abengoa,
Adecoagro, ETH e Raízen.
53 Ottani 1985 Médio porte 101-300 PiracicabaEquipamentos diversos para
agroindústrias.
Sucroenergético, entre outros
setores agroindustriais.-
54 Oxicorte Santa Rosa 1995 Pequeno porte 26-100 PiracicabaEspecializada no corte, dobra
e calandra em chapas.Diversos setores. -
55 Oxipira - Médio porte 26-100 PiracicabaIndústria e comércio de peças
de aço
Diversos setores, entre eles, o
sucroenergético.-
56P.A.Sys - Engenharia e
Sistemas1998 Pequeno porte 6-25 Piracicaba
Engenharia, treinamentos e
revenda de peças.
Especializada especialmente no
setor sucroenergético.
Fundada por Pedro Eduardo
Pinho de Assis.
57 RA Camargo & CIA - Médio porte 101-300 PiracicabaProdução e reforma de
centrífugas sucroalcooleiras
Diversos setores, entre eles, o
sucroenergético.
A empresa atende clientes na
América Latina.
58
Rezentrac - Comércio de
Peças para Tratores e
Colheitadeiras - Ltda
Década de
1970Médio porte 51-150 Piracicaba
Revenda, instalação e
manutenção de peças para
colhedoras de cana.
Especializada no setor
sucroenergético, atendendo
também à construção civil.
Na construção civil, realiza
manutenção em tratores
Caterpillar.
59Rigava Eletrificação
Industrial1991 Médio porte
301-600 (variando
conforme terceiros e
obras contratadas).
Piracicaba
Eletrificação industrial,
manutenções e mão de obra
terceirizada.
Atende os setores
sucroenergético, papeleiro,
alimentício, etc.
Também fornece mão de obra
para terceirização de serviços
em geral.
60RLA Lima Montagens
Industriais- Pequeno porte 26-100 Piracicaba
Montagens industriais,
projetos eletromecânicos,
jateamento, reformas, etc.
Diversos setores, entre
sucroenergético, siderúrgico,
alimentício, etc.
-
61
S&R Solutions -
Indústria e Comércio de
Equipamentos - Ltda
- Pequeno porte 26-100 Piracicaba
"Carreta de Plantio de Cana" e
"Kit de Repotenciamento de
Colhedora"
Especializada especialmente no
setor sucroenergético, mas
atende outros setores.
A empresa presta serviços de
terceirização de projetos e
fabricação de peças.
62SMV Válvulas
Industriais1972 Pequeno porte 26-100 Piracicaba
Especializada em válvulas
borboleta e retenções.
Atende os setores
sucroenergético, siderúrgico,
petroquímico, etc.
-
63 Solab Científica - Médio porte 101-300 Piracicaba
Equipamentos para
laboratórios de indústrias,
entre elas, a sucroenergética.
Diversos setores, com certa
especialização no
sucroenergético.
-
64Sucral - Engenharia e
Processos Ltda 1968 Médio porte 26-100 Piracicaba
Projetos de engenharia,
consultoria econômico-
financeira e jurídica.
Especializada especialmente no
setor sucroenergético, mas
atende outros setores.
Já forneceu serviços para
empresas situadas em países
da América Latina e África.
Fonte: Sistema Integrado de Administração Tributária (Prefeitura de Piracicaba), Arranjo Produtivo Local do Álcool (APLA) e entrevistas com agentes do setor - 2015.
Quadro 2.2. Empresas do Circuito Superior Marginal - Bens e serviços ao Setor Sucroenergético em Piracicaba (51 à 64)
64
N° Empresa FundaçãoDimensões
estruturais
Variação média do
n° de funcionários
Origem
do capitalPrincipais produtos Setores de especialização Outras informações
65
Techno Supply
Manutenção Preditiva
Ltda (TSMP)
Década de
2000Médio porte 51-150 Piracicaba
Presta serviços de
manutenção preditiva,
preventiva e corretiva.
Atende os setores
sucroenergético, petroquímico,
têxtil, automobilístico, etc.
A empresa atende clientes no
Paraná, Minas Gerais, Mato
Grosso e Rio de Janeiro.
66 Tecnal 1976 Médio porte 101-300 PiracicabaEquipamentos para
laboratórios.
Setor sucroenergético, entre
outros.-
67 TecnoplanDécada de
1990Médio porte 101-150 Piracicaba
Infraestruturas industriais e
eletrificação predial.
Diversos setores, como também
o sucroenergético.
Presta serviços semelhantes
aos prestados pela "Rigava".
68Tecnoreal Ltda
Montagens Industriais1998 Pequeno porte 26-100 Piracicaba
Eletrificação industrial, realiza
manutenções e fornece mão
de obra terceirizada.
Diversos setores, entre
sucroenergético, civil, têxtil,
bens de capital, etc.
-
69 Thermix - Médio porte 151-250 Piracicaba
Tratamentos térmicos:
recozimentos, alivio de
tensões, ferritização,
revenimento, etc.
Diversos setores. -
70 Tora Transportadora - Médio porte 101-300 PiracicabaTransportadora de cargas em
geral.
Diversos setores, entre eles, o
sucroenergético.-
71Transportadora
Rampazo- Pequeno porte 26-100 Piracicaba
Transportadora de cargas em
geral.
Diversos setores, entre eles, o
sucroenergético.-
72Transportadora
Sechinato- Pequeno porte 26-100 Piracicaba
Transportadora de cargas em
geral.
Diversos setores, entre eles, o
sucroenergético.-
73 Turbimoendas - Médio porte 101-300 Piracicaba
Especializada na fabricação e
usinagens de turbinas e
moendas.
Diversos setores, entre eles, o
sucroenergético.
Antiga empresa: Borguesi &
Borguesi Ltda
74
Unimil (antiga IBP -
Indústria Brasileira de
Peças Ltda)
1999 Médio porte101-300
(em Piracicaba)Piracicaba
Estruturas, componentes
usinados de transmissão e
cilindros hidráulicos.
Especialmente fornecedoras de
peças de para colhedoras do
setor sucroenergético.
Atende, aproximadamente,
mais de 5.000 colhedoras de
cana na América Latina.
75Ushidrau Ltda Usinagem
e Temperas1985 Pequeno porte 26-100 Piracicaba
Especializada em usinagem de
precisão, como eixos
geradores, de turbina, etc.
Atende os setores
sucroenergético, energético,
papeleiro, alimentício, etc.
-
76 UTP / Usiprezem - Pequeno porte 1-25 PiracicabaUsinagem de componentes de
precisão mecânica.
Diversos setores, entre eles, o
sucroenergético.-
Fonte: Sistema Integrado de Administração Tributária (Prefeitura de Piracicaba), Arranjo Produtivo Local do Álcool (APLA) e entrevistas com agentes do setor - 2015.
Quadro 2.2. Empresas do Circuito Superior Marginal - Bens e serviços ao Setor Sucroenergético em Piracicaba (65 à 76)
65
As empresas citadas no quadro anterior (Quadro 2.2.) inserem-se num grupo
composto por setenta e seis empresas, divididas em: 1) vinte e três produtoras de
equipamentos e componentes para a agroindústria canavieira (Balan, Benatti, Big
Tecnologia, Conger, CSJ, Dínamo, Equipe, Exal, Fazanaro, Link Steel, Mario
Mantoni, Mecmaq, MEFSA, Metalnox, Bom Jesus & Piacentini, Motocana, Mutti,
Ottani, RA Camargo, SMV Válvulas, S&R Solutions, Turbimoendas e Unimil); 2)
dezessete empresas prestadores de serviços de caldeiraria, metalurgia, fundição e
beneficiamentos de chapas – entre revestimentos, cortes, dobras, tubulação, soldas,
tratamentos térmicos, elaboração de estruturas e componentes metálicos – (Cemil,
Centeraço Taquaral, Centerval, Codismom, Coletti, Copertec, Ellobras, Femaq,
Gusfer, Induscon, Industubos, JLJ, Metafray, Oxicorte Santa Rosa, Oxipira e
Thermix); 3) oito empresas de montagens industriais – entre montagens estruturais,
elétricas e mecânicas – (Cemotec, Embramom, MB, Montmax, Rigava, RLA Lima,
Tecnoplan e Tecnoreal); 4) cinco transportadoras (FNA, Marije, Tora, Rampazo e
Sechinato); 5) quatro empresas de usinagem e elaboração de componentes
mecânicos e hidráulicos (Maebraz, Ushidrau, Usiprezem e ML); 6) quatro
consultorias de engenharia agroindustrial, agronômica e financeira (Agroativa,
Empral, P.A.Sys e Sucral); 7) duas construtoras de edifícios agroindustriais (Engtro e
Impacto); 8) duas produtoras de equipamentos para laboratórios agroindustriais
(Solab e Tecnal); 9) duas comercializadoras de perfis de aço para construção civil
(Ananda e Manetoni); 10) uma produtora de sistemas de lubrificação para
movimentação industrial (Aspertec); 11) uma empresa especializada em refratários,
isolamentos térmicos, revestimentos e impermeabilizações (Mombras); 12) uma
produtora de filtros para oleodinâmica: (Indusfiltros); 13) uma produção de bombas
para diversos segmentos (Ebbombas); 14) uma produtora de compostos químicos
para melhorar fermentações (Biocane); 15) uma empresa de análises ambientais
para a agricultura (Biossolo Ambiental); 16) uma empresa de consultoria para a
instalação de Sistemas Integrados de Gestão Empresarial (SIGE) (Gatec); 17) uma
prestadora de serviços de manutenção preditiva, preventiva e corretiva (Techno
Supply); 18) uma empresa especializada na revenda, instalação e manutenção de
peças para colhedoras de cana (Rezentrac); e 19) uma empresa especializada no
fornecimento de espaço para serviços de coworking30 (Canatec).
30 Coworking é o conceito que explica uma nova forma de serviço oferecido para
66
É interessante verificar a concentração de firmas com semelhantes atividades
produtivas. Como exemplo, temos um grande número de empresas especializadas
em serviços metalúrgicos de usinagem e caldeiraria, que apenas é menor, em
quantidade, às firmas especializadas em equipamentos e componentes para a
agroindústria canavieira. Somando esses dois grupos citados, temos mais de
quarenta firmas que trabalham no ramo de metalurgia e mecânica (metalmecânico)
associado ao fornecimento de equipamentos à agroindústria canavieira em
Piracicaba. Outros tipos de serviços, que se destacam no Quadro 2.2, são as firmas
de montagens industriais, de contratação de mão de obra terceirizada e de
eletrificação industrial, que, em conjunto, representam nove empresas. Há também o
caso das empresas de transportes de mercadorias que somam cinco empresas no
total.
Dado o grande número de empresas componentes do circuito superior
marginal, seria tarefa inviável descrever as particularidades de cada uma, entretanto,
achamos oportuno descrever algumas delas, com vias de ilustrar a composição
deste circuito superior marginal de bens e serviços à agroindústria canavieira situada
em Piracicaba.
Em primeiro plano, algumas são mais antigas, com datas de fundações
correspondentes aos diferentes períodos de acumulação do setor sucroenergético.
Esses são os casos da CSJ Metalúrgica (Cooperativa São José)31, produtora de
equipamentos, fundada em 1940, com o nome de Santin S/A, ainda durante a
primeira fase de expansão da produção de açúcar no estado de São Paulo. Além
dela, também existe a Sucral, uma empresa de engenharia fundada em 1968, na
segunda fase de expansão da produção de açúcar no estado de São Paulo
(correspondente à década de 1960 e 1970). Outro caso é a Rezentrac, revendedora
de peças de tratores fundada durante a década de 1970 (década correspondente ao
início da expansão da mecanização da agricultura brasileira). Além dessas, existem
microempresários individuais. O referenciado serviço é uma espécie de escritório compartilhado, mas que pretende, conforme seu nome introduz, fortalecer as trocas de informações entre os microempresários, podendo, assim, gerar novas ideias e novos negócios. 31 A CSJ Metalúrgica (Cooperativa São José) faliu no segundo semestre de 2014. Entretanto, achamos oportuno manter sua descrição, nesse momento, dado que a mesma obteve grande produção durante a década de 2000, participando ativamente do referenciado circuito produtivo. As causas de sua falência serão descritos em nosso terceiro e ultimo capítulo.
67
as metalúrgicas, como a Conger, fundada em 1962, ainda no segundo período de
expansão da produção de açúcar no estado de São Paulo, da Exal e da Big
Tecnologia32, ambas fundadas na década de 1980, que aproveitaram muito a
expansão do Programa Nacional do Álcool (Proálcool). Um último caso interessante,
devido à especialidade do serviço oferecido, é o caso da Tecnal, empresa fundada
em 1976, produtora de equipamentos para laboratórios de controle de qualidade em
indústrias, possuindo uma linha exclusiva de produtos para o setor sucroenergético.
Outras empresas, presentes do Quadro 2.2 são mais recentes e possuem a
característica similar de serem prestadoras de serviços especializados, com uma
alta carga de informação e ciência. Exemplos destes serviços são consultorias para
instalação de sistemas informacionais de gestão industrial (como o exemplo da
Gatec), consultorias para projetos de engenharia para usina (como o exemplo da
P.A. Sys), além de firmas especializadas na venda de componentes tecnológicos
(como o caso da S&R Solutions) e de automatização e controle de processo em
moendas (como o caso Dínamo Automação).
Os outros ramos são mais rarefeitos, entretanto, existem o caso interessante
da Canatec Coworking, uma empresa recente, fundada em 2013, que oferece o
serviço de disponibilizar um escritório compartilhado para microempresários que
estão iniciando suas atividades, ou, na sigla em inglês, para startups33. O escritório
que a Canatec aluga, de maneira compartilhada, tem a especificidade (devido sua
localização em Piracicaba) de ser ocupado, mais amplamente, por empresas que
trabalham no ramo agroindustrial e, mais especificamente, no setor sucroenergético.
As empresas têm o capital original localizado em Piracicaba, e constituem-se
basicamente por empresas de médio porte, que possuem vínculo histórico com o
setor sucroenergético. No geral, as empresas que compõem o Quadro 2.2 são de
médio e pequeno porte e possuem a capacidade de, em seu conjunto, poder
empregar mais de dez mil trabalhadores. Essas firmas situam-se no chamado
circuito superior marginal dos fornecedores de bens e serviços para o setor
sucroenergético, dado que, embora mantenham alguns vínculos diretos com o
cliente final (as usinas), possuem um relacionamento mais próximo com outras
32 A Big Tecnologia, recentemente, foi fundida à empresa Western States, produtora de equipamentos para a agroindústria canavieira situada no Sudoeste dos Estados Unidos da América (EUA) e que também opera em regiões produtivas do México. 33 Um startup é uma microempresa recente que, comumente, tem a característica de oferecer serviços com certa especialidade tecnológica e informacional.
68
empresas maiores, que intermediam seus fluxos produtivos. Em suma, essas
empresas são fornecedores de outras grandes empresas, fornecendo seus bens e
serviços para diversos ramos produtivos, como petroquímico, alimentício,
farmacêutico e, evidentemente, para o sucroenergético.
2.1.3. Empresas do Circuito Inferior no fornecimento de bens e serviços ao
setor sucroenergético em Piracicaba
Obviamente, a lista de fornecedores de bens e serviços para o setor
sucroenergético estende-se para além das médias e pequenas empresas. Por isso,
existe também uma ampla lista de microempresas que oferecem bens e serviços
para o setor. Desta maneira, listamos essas microempresas (Quadro 2.3.) com base
na consulta e na análise da listagem oferecida pelo Sistema Integrado de
Administração Tributária, utilizado pela Prefeitura de Piracicaba.
Assim, no Quadro 2.3 elencamos as empresas do circuito inferior no
fornecimento de bens e serviços ao setor sucroenergético em Piracicaba.
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Quadro 2.3. Empresas do Circuito Inferior - Bens e serviços ao Setor Sucroenergético em Piracicaba
N° Empresa Média do n° de
empregados Principais produtos e serviços
1 AGS Metalúrgica 1-25 Usinagem e comércio de componentes. 2 ALD Manutenção 1-25 Manutenções e montagens industriais. 3 Alufabric 1-25 Comércio e serviços para esquadrias de alumínio. 4 BBF Industrial 1-50 Usinagem de componentes e peças em geral.
5 BSB Industrial 1-25 Manutenção industrial e comercio de peças. 6 Bufera 1-25 Usinagem, comércio e serviços de caldeiraria. 7 Cazarotto 1-25 Montagem e manutenções. 8 Claudemont 1-25 Usinagens e serviços de caldeiraria. 9 Comercial Estevam 1-25 Comercio de produtos agropecuários
10 DJ - Modelos 1-25 Usinagem de modelos de ferro fundido. 11 ESOS 1-50 Equipamentos industriais. 12 Esteves Máquinas e Equipamentos 1-25 Usinagem e comércio de máquinas e equipamentos. 13 FD Máquinas 1-25 Usinagem e comércio de equipamentos. 14 Franchi & Cia Ltda 1-25 Usinagens de componentes.
15 Fremhi 1-25 Fabricação e reforma de equipamentos hidráulicos. 16 Fundstel 1-25 Usinagem, comércio e serviços de caldeiraria. 17 GROMAR 1-25 Usinagem e comércio de componentes. 18 GTEC 1-25 Projetos e montagem elétricas 19 Iplan 1-25 Usinagem, comércio e serviços de caldeiraria.
20 JCF Metalúrgica 1-25 Metalúrgica básica de pequenas peças. 21 JLC Serviços 1-25 Caldeiraria e serviços de montagens industriais. 22 Maqhidrau 1-25 Usinagem e comércio de cilindros hidráulicos. 23 Martins 1-25 Usinagem e comércio de componentes. 24 Messias 1-25 Caldeiraria e serviços de montagens industriais.
25 Metalpe 1-50 Caldeiraria e serviços de montagens industriais. 26 Metalúrgica Ceres 1-25 Fabricação de engrenagens, pinhões, eixos, etc. 27 Minato 1-25 Comércio de produtos agropecuários 28 MMC 1-25 Caldeiraria, montagens industriais e equipamentos. 29 MTG 1-50 Caldeiraria e serviços de montagens industriais.
30 MTP 1-25 Comércio de componentes e montagens industriais. 31 MVC 1-25 Locações de equipamentos industriais. 32 NASP 1-25 Usinagem e comércio de componentes. 33 OGP 1-25 Montagens e manutenções industriais. 34 Parkits 1-50 Distribuidor de sistemas de vedações Parker (2002)
35 Pavanello 1-50 Caldeiraria e serviços de montagens industriais. 36 Pirafer 1-25 Fundição de ferro fundido e nylon 37 Pirasolda 1-25 Metalúrgica especializada em caldeiraria 38 Porto Inox 1-25 Caldeiraria em geral. 39 Proença Ltda Refratários 1-50 Montagens e reformas de refratários térmicos.
40 Recil Equipamentos 1-50 Fabricação e manutenção hidráulica e pneumática. 41 RGV Ltda 1-50 Painéis elétricos de alta e baixa tensão, para variados fins. 42 Roni 1-25 Usinagem e comércio de componentes. 43 Rossinox Montagens Industriais 1-25 Serviços de montagens industriais 44 RW 1-50 Caldeiraria e serviços de montagens industriais.
45 Sacilotto & Saciloto 1-25 Caldeiraria e serviços de montagens industriais. 46 Schiavinatto Resíduos 1-50 Logística de resíduos sólidos recicláveis 47 Semcil 1-50 Serviços de montagens industriais e estruturas metálicas. 48 Serbemaq 1-25 Engenharia e serviços. 49 Seregatto 1-50 Caldeiraria e serviços de montagens industriais.
50 STAP Metalúrgica 1-25 Caldeiraria e serviços de montagens industriais. 51 STAR 1-25 Caldeiraria e serviços de montagens industriais. 52 Tavares 1-25 Equipamentos industriais. 53 Tecmonte 1-50 Caldeiraria e serviços de montagens industriais. 54 Técnica Real 1-25 Usinagens de componentes.
55 UPP Usinagens 1-25 Usinagens de componentes. 56 Vectra Equipamentos Hidráulicos 1-25 Comércio, Usinagem e reforma de equipamentos hidráulicos. 57 Wivo Inox 1-25 Tubos e conexões de inox
Fonte: Prefeitura de Piracicaba - Sistema Integrado de Administração Tributária - 2015.
70
As empresas citadas no quadro acima (Quadro 2.3.) inserem-se num grupo
composto por cinquenta e sete empresas, divididas em: 1) dezoito empresas de
caldeiraria e serviços de montagens industriais (Claudemont, Fundstel, JLC,
Messias, Metalpe, MMC, MTG, Pavanello, Pirasolda, Porto Inox, Rossinox, RW,
Sacilotto & Sacilotto, Semcil, Seregatto, STAP, Star, Tecmonte); 2) quatorze
empresas de usinagem, comércio e serviços de caldeiraria (AGS Metalúrgica, BBF
Industrial, Bufera, Franchi, Gromar, Iplan, JCF, Martins, Ceres, MTP, Nasp, Roni,
Técnica Real, UPP); 3) quatro empresa de manutenções e montagens industriais
(ALD Manutenção, BSB Industrial, Cazarotto, OGP); 4) quatro empresa de
fabricação e reforma de equipamentos hidráulicos (Fremhi, Maqhidrau, Recil,
Vectra); 5) três empresas de locação de equipamentos industriais (Esos, MVC,
Tavares); 6) duas empresas de comércio de máquinas e equipamentos (Esteves
Máquinas e FD); 7) duas empresas de comércio de produtos agropecuários
(Estevam e Minato); 8) uma empresa comércio e serviços para esquadrias de
alumínio (Alufabric), 9) uma empresa de usinagem de modelos de ferro fundido (DJ
Modelos); 10) uma empresa de projetos e montagens elétricas (GTEC); 11) uma
empresa distribuidora de sistemas de vedações “Parker” (Parkits); 12) uma fundição
de ferro fundido e nylon (Pirafer); 13) uma empresa de montagens e reformas de
refratários térmicos (Proença); 14) uma empresa de montagens de painéis elétricos
de alta e baixa tensão, para variados fins (RGV); 15) um empresa especializada em
logística de resíduos sólidos recicláveis (Schiavinatto); e 16) uma empresa produtora
de tubos e conexões de inox: (Wivo Inox).
A classificação destas empresas, como circuito inferior não é relacionada ao
número de funcionários, posto que a teoria que tomamos como referência (SANTOS,
2008; 2008b) não aborda essa questão como chave, e, sim, especifica como
caracterização importante, a capacidade técnica e organizacional de tais firmas.
Assim, caracterizamos essas microempresas, como componentes do circuito
inferior, na produção de bens e serviços ao setor sucroenergético, devido,
essencialmente, às suas capacidades técnicas e organizacionais. Isto é, pelo
reduzido desenvolvimento tecnológico estrutural dos bens e serviços prestados e
pela minúscula rede de relacionamento político-organizacional que essas empresas
possuem seus clientes e fornecedores.
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Em suma, as firmas elencadas no quadro acima (Quadro 2.3) possuem
poucos clientes e/ou reduzida carga técnica em seus bens e serviços. Desta
maneira, o quadro é composto por uma lista de microempresas com subcircuitos
produtivos que atendem aos circuitos produtivos de outras empresas maiores. Estas
microempresas apenas podem situar-se “acima” de outras nano-firmas informais
(que os dados oficiais não são capazes de revelar). Os ramos produtivos atendidos
por essas microempresas variam muito, dado a sua necessidade de sobrevivência
na diversificação de sua produção e situam-se do sucroenergético à construção civil,
incluindo o setor petroquímico e alimentício.
Finalmente, essas microempresas possuem a capacidade de empregar, em
seu conjunto, mais de mil trabalhadores, fornecendo pequenos serviços de
montagens industriais, de caldeiraria, de usinagem, além de comerciantes de
componentes para as usinas e equipamentos utilizados nas plantações.
2.2. As relações produtivas entre as indústrias de bens de capital, os
prestadores de serviços e o setor sucroenergético em Piracicaba (SP)
Conforme descrevemos no item anterior, as empresas fornecedoras de bens
e serviços para o setor sucroenergético tem sua formação baseada em uma rede de
relações, onde o resultado final é a construção e a manutenção de uma usina
sucroenergética (Foto 2.1.).
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Foto 2.1. Vista aérea da usina sucroenergética Costa Pinto (Raízen)
Fonte: Disponível em: <http://correio.rac.com.br/_conteudo/2013/09/ig_paulista/100727-usina-vai-
produzir-etanol-de-2-geracao.html>. Acesso em: 24 dez. 2015.
A rede de relações produtivas do setor sucroenergético, isto é, entre os
agentes produtores de açúcar, de etanol e de energia elétrica (obtidos a partir de
uma usina sucroenergética) é extensa, com uma grande diversidade de agentes,
que envolvem desde aqueles situados no nível superior do circuito (como as grandes
corporações globais, comercializadoras de açúcar e etanol) até o trabalhador
sazonal, que é forçado a migrar, conforme a necessidade de mão de obra, para o
corte da cana-de-açúcar.
O objetivo é demonstrar como os fornecedores de bens e serviços se inter-
relacionam para a construção e manutenção de uma usina sucroenergética. Assim,
utilizaremos o recorte teórico baseado nos círculos de cooperação entre as
empresas (SANTOS, 1986; 1988; SANTOS; SILVEIRA, 2001; CASTILLO &
FREDERICO, 2010), como já delineado na introdução deste capítulo.
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O Organograma 2.1. demonstra o círculo de cooperação entre as empresas
do município de Piracicaba para a construção, manutenção e operação de uma
usina sucroenergética34.
34
Ë importante salientar que tanto o APLA (Arranjo Produtivo Local do Álcool), instituição com sede em Piracicaba, quanto a ÚNICA (União da Indústria de Cana-De-Açúcar), além de outras associações de classe do setor, são consideradas, por nós, como entidades “chave” nos círculos de cooperação do setor, que permeiam negociações comerciais que afetam diretamente os agentes do circuito. A não ilustração dessas entidades nos círculos, apenas deriva-se da objetividade que quisermos dar aos outros entes componentes do referenciado circuito de produção.
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Organograma 2.1.
Círculos de cooperação para a construção, produção e manutenção de uma usina sucroenergética
Fonte: Sistema Integrado de Administração Tributária (Prefeitura de Piracicaba), Arranjo Produtivo Local do Álcool (APLA) e entrevistas com agentes
institucionais e do setor produtivo, 2015.
75
75
A primeira etapa para a construção ou ampliação de uma usina
sucroenergética é a aprovação de crédito público junto ao Banco Nacional do
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)35. Além da participação do Estado,
via BNDES, é importante frisar que antes da concessão do crédito junto ao banco
público, as usinas sucroenergéticas devem ser aprovadas, cadastradas e
regulamentadas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
(ANP) e pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Há duas frentes que a usina pode utilizar para contratar o serviço de
construção ou ampliação de seu parque sucroenergético. Uma das opções é
contratar o serviço de uma empresa de consultoria em engenharia, especializada na
construção de usinas sucroenergéticas e que está apta a contratar os serviços de
terceiros para a construção e instalação industrial (como a Empral Engenharia
Industrial).
Outra opção é contratar diretamente o serviço de uma “produtora de usinas”
(como o Grupo Dedini36) que produz quase integralmente todos os equipamentos da
usina dentro de suas dependências, e contrata outros serviços de terceiros
(construtoras, montagens industriais, produtoras de outros equipamentos, etc.), para
entregar a usina turn-key37 para o cliente usineiro.
Desta maneira, na etapa de construção da usina, o grupo usineiro (Grupo
Raízen, que utilizamos como exemplo nessa dissertação) contrata os serviços de
uma empresa de consultoria em engenharia especializada na construção usinas ou
de uma empresa como a Dedini S/A. A escolha por quem será responsável pelo
projeto da usina é dependente, obviamente, do valor que será cobrado pelo serviço.
Conforme aponta nossa pesquisa, em 50% dos projetos de construção de usinas no
Brasil, a Dedini ganha a concorrência, devido à sua capacidade produtiva, isto é, seu
poder de ter menores custos de produção e, assim, oferecer a construção da usina
por um preço mais baixo ao contratante.
35 Desde o ano de 2008, o BNDES vem disponibilizando um crédito anual para o setor sucroenergético que varia na média de 6 bilhões de reais, com exceção do ano de 2015. (Fonte: Valor Econômico apud Jornal Nova Cana, 6 de fev. 2015). Disponível em: <http://www.novacana.com/n/industria/investimento/bndes-usinas-2015-melhoresanos060215/>. Acesso em: 30 de março de 2015. 36 Há também outras indústrias de bens de capital que oferecem os serviços de entrega completa da usina sucroenergética (como exemplo da Conger e da Exal, em Piracicaba). 37 Turn-key é um termo utilizado por muitos agentes do setor em referência ao tipo de serviço prestado de montagem completa de equipamentos, onde apenas é necessário “ ligar a chave” (turn-key) para o funcionamento completo da planta sucroenergética.
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A contratada, por sua vez, entra em contato com uma construtora (ex:
Reynold, Engtro, etc.) que, por sua vez, também terceiriza parte do serviço por meio
do pagamento de empresas especializadas em montagens industriais completas e
também especializadas na contratação de mão de obra para construção civil (como
os exemplos de: Montmax, RLA Lima, Cemotec, etc)38.
Concomitantemente, inicia-se a produção de bens de capital necessários para
o funcionamento da usina (como caldeiras, destiladores, fermentadores, tanques,
redutores, correias, transportadores, etc.) que são fornecidos por metalúrgicas
especializadas neste ramo (como Dedini S/A, Turbimaq, General Chains, Mausa,
CSJ, etc.) e por empresas menores, que fornecem componentes menores em
relação aos outros equipamentos pesados (como Mutti, ML Equipamentos,
Copertec, Balan, etc.), além de outras microempresas que também fornecem
serviços de usinagem, de reformas e manutenção dos equipamentos mencionados.
Também há a contratação de empresas especializadas em eletrificações
industriais (como a Rigava e Tecnoreal) e outros serviços para as plantações de
cana-de-açúcar. No caso das plantações de propriedade da usina, os serviços são
compostos por uma diversidade de ações, que vão desde o preparo do plantio
(como análises de solo oferecidas pela Bioagri “Mérieux NutriSciences”),
georreferenciamento para as máquinas colheitadeiras de cana e, também, serviços
de manutenção e reformas de colheitadeiras (como oferece a Rezentrac). Nos casos
em que a mecanização não é utilizada, há ainda a contratação de força de trabalho
para o corte e transporte da cana-de-açúcar39.
38 Estamos exemplificando as empresas que oferecem o tipo de serviço para melhor compreensão do leitor. É importante lembrar que as empresas exemplificadas, nessa dissertação, se localizam no município de Piracicaba. Entretanto, obviamente, existem diversas outras empresas que também oferecem serviços idênticos e que se situam em outras regiões, como no caso da região de Ribeirão Preto. 39 Em abril de 2014, a Raízen foi condenada a pagar uma multa 10,5 milhões em indenizações trabalhistas, por terceirização ilegal de trabalhadores agrícolas. Em um dos casos, foram flagrados casos de abuso de jornada de motoristas, que muitas vezes dirigiam 12 (doze) horas por dia, 7 (sete) dias por semana, sem o direito, sequer, ao descanso semanal remunerado (DSR). Na sentença, proferida, em Araraquara, há a determinação de que a Raízen não faça uso de “empresas ou pessoas interpostas” para a atividade de transporte, plantio, colheita e carregamento de cana. (Fonte: <http://reporterbrasil.org.br/ 2014/04/raizen-e-condenada-em-r-105-milhoes-por-terceirizacao-e-falta-de-seguranca/> Acesso em: 17 abr. 2015)
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Depois de concluída a planta industrial, ainda há uma ampla gama de
serviços prestados por empresas de administração e de manutenção agroindustrial.
Estes serviços são consultorias técnicas, financeiras, jurídicas e administrativas
(realizadas por empresas como Sucral, PECEGE, Gatec, TSMP, P.A.Sys etc.),
realizados tanto na planta agroindustrial ou nas plantações de cana-de-açúcar, que
normalmente são de propriedade do grupo usineiro.
Na fase final, já na etapa “a jusante” também existem os serviços de logística
(de açúcar e etanol, principalmente40). Uma das empresas que realiza esse tipo de
serviço é a Simetrans. Além desta, a grande empresa do setor é a Rumo Logística,
uma empresa do Grupo Cosan que controla oito terminais de carga no estado de
São Paulo e possui um terminal no porto de Santos para a exportação do açúcar. A
Rumo, recentemente, fundiu-se a América Latina Logística (ALL), criando uma
gigante no ramo de transportes multimodais no Brasil41.
2.2.1. Um caso especifico de círculos de cooperação: o Grupo Dedini
Como já mencionado, no caso das construções e ampliações em que o grupo
usineiro contrata diretamente uma empresa de equipamentos especializada na
construção de usinas sucroenergéticas completas (como a Dedini), a respectiva
empresa estabelece novos círculos de cooperação, com outras empresas, para a
entrega completa da planta agroindustrial para o grupo usineiro.
Desta maneira, com o objetivo de demonstrar a referida rede de relações
(entre a Dedini, outras empresas e o Estado) utilizaremos o exemplo dos círculos de
cooperação estabelecidos nas relações produtivas.
A estrutura organizacional do grupo pode ser vista a seguir, no “Organograma
2.1”, elaborado pela “Deloitte Touche Tohmatsu Consultores Ltda” - empresa de
40 No caso da energia elétrica, após a utilização da mesma pela usina, a parte excedente é vendida para a companhia elétrica que atende a região onde a usina se encontra. No caso de Piracicaba, essa empresa é a Companhia Paulista Força e Luz (CPFL). 41 A fusão entre a Rumo Logística e a América Latina Logística (ALL) foi a aprovada com restrições pelo CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). As restrições foram impostas como medida de controle, devido as possibilidades da Cosan utilizar-se do aparato logístico para favorecer-se e dificultar a expansão de seus concorrentes. A Cosan também criou uma nova empresa para controlar a Rumo, denominada Cosan Logística, com o objetivo de melhor identificar as atividades para seus investidores.
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consultoria responsável pelo atual processo de Recuperação Judicial em que o
Grupo Dedini se encontra (que abordaremos no terceiro capítulo).
Organograma 2.2. Estrutura organizacional do Grupo Dedini
Fonte: “Relatório Mensal de Atividades” (RMA), elaborado pela Administradora Judicial “Deloitte
Touche Tohmatsu Consultores Ltda”, Setembro de 2015.
O controle acionário da empresa ainda é da família Dedini, por meio da
“Dedini S/A Administração e Participações”. Por sua vez, esta empresa de
administração é controlada pela empresa Doado (com 52% das ações e de
propriedade de Giuliano Dedini Ometto Duarte), e pelas empresas Ad e Nidar (que
possuem juntas 48% das ações e são de propriedade dos tios de Giuliano, as
pessoas de Mario Dresselt Dedini e Marco Dedini Ricciardi). Desta maneira, a
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presidência do conselho é gerida por Giuliano Dedini Ometto Duarte, bisneto do
fundador Mario Dedini (Jornal Cana, 2010) 42.
A empresa (Foto 2.2.) controla 50% da produção de usinas sucroenergéticas
no Brasil e 25% da produção no mundo. Uma usina construída pela empresa custa,
em média, R$ 500 milhões e é formada por uma estrutura de mais de oito mil
toneladas de equipamentos, capazes de moer mais de dois milhões de toneladas de
cana e produzir 190 milhões de litros de etanol por safra. Para a construção de uma
usina como essa são necessários 18 meses. A metalúrgica, ainda tem capacidade
para produzir mais de 20 usinas por ano (Revista Exame, 2007) 43.
Foto 2.2. Prédio principal da Dedini S/A “Indústrias de Base”
Fonte: Leão (2005)
44.
42 Disponível em: <http://www.jornalcana.com.br/com-crise-da-cana-dedini-muda-o-foco/>. Acesso em 16 abr, 2015. 43 Disponível em: <http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/890/noticias/a-fabrica-de-usinas-m0125977>. Acesso em 16 abr. 2015. Em relação ao valor de uma usina, os dados foram atualizados conforme o relatório do BNDES Setorial intitulado: “Bens de capital para o setor sucroenergético: a indústria está preparada para atender adequadamente a novo ciclo de investimentos em usinas de cana-de-açúcar?” (VALENTE, et al. 2013). 44 Do outro lado da rodovia, que passa em frente ao prédio da Dedini “Indústrias de Base” (SP-127), localiza-se o recente barracão da fundição da empresa que, segundo a mesma, é a maior fundição de peças metálicas da América Latina. O prédio foi construído por volta de 2004, a partir de financiamento do BNDES e contou com a presença do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva em sua inauguração.
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Quanto aos equipamentos e serviços em que a empresa não possui o know-
how ou que é mais rentável a elaboração por parte de uma firma terceira, o Grupo
Dedini S/A contrata o respectivo serviço e, assim, estabelece seus círculos de
cooperação com outras empresas, ilustrado na página a seguir, no Organograma
2.3.
Organograma 2.3. Círculos de cooperação do Grupo Dedini 45
Fonte: APLA, Prefeitura de Piracicaba (Sistema Integrado de Administração Tributária) e entrevistas
com agentes do setor, 2015.
Os círculos de cooperação do Grupo Dedini com outras empresas funciona
por diversas frentes. Primeiramente, após o grupo usineiro contratar a construção de
uma usina pela Dedini e definir o projeto de engenharia, inicia-se o planejamento
das atividades de produção. Além da produção interna de equipamentos, a Dedini
inicia também a contratação de outras empresas.
Nesta fase, caracterizada pela terceirização de atividades, há uma séria de
etapas, que vão desde a contratação de: 1) construtoras (como a Reynold e a
Engtro) que se utilizam de novas empresas terceirizadas para montagens industriais
(como a Montmax e a Cemotec) e para os aços da construção civil (distribuídos pela
45 Novamente lembramos que, quando mencionamos “Grupo Dedini”, referimo-nos ao grupo de empresas composto por: Dedini S/A Indústrias de Base (DIB), Dedini S/A Administração e Participações (DDN), Dedini S/A Equipamentos e Sistemas (DES), Dedini Refratários Ltda (DRE) , Codismon Metalúrgica Ltda (CMO), entre outras (vide “Organograma 2.1.”).
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Manetoni e produzidos pela ArcellorMittal); 2) produtoras de equipamentos, os quais
a Dedini não produz internamente (que são fornecidos por industrias como Mausa,
General Chains, Turbimaq, CSJ, Tecnal, etc.) e outros componentes (produzidos
pela Mantoni, Equipe, Fazanaro, SMV Válvulas, etc.); 3) empresas especializadas na
eletrificação industrial (como Rigava e Tecnoreal); 4) serviços de consultoria técnica,
financeira e jurídica (de empresa como a Sucral, o PECEGE e a Simetrans); 5)
transporte dos equipamentos, realizado por meio de transportadoras (como Lubiani e
Supricel); e 6) estabelecimento de convênios para pesquisa e desenvolvimento com
a Fermentec, com o Centro de Tecnologia Canavieira e, também, com a FAPESP.
Assim, com base no exposto, que se tratou de ampla exposição detalhada
sobre a composição do setor de bens e serviços oferecidos ao setor
sucroenergético, situados na cidade de Piracicaba (SP), podemos passar para o
capítulo seguinte, onde analisaremos as consequências da centralização do capital,
em curso no setor sucroenergético brasileiro, para o referenciado circuito produtivo.
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CAPÍTULO 3
CONSOLIDAÇÃO DO SETOR SUCROENERGÉTICO BRASILEIRO (VIA
CENTRALIZAÇÃO DO CAPITAL) E A CRISE NA PRODUÇÃO DE EQUIPAMENTOS
“Never let a good crisis go to waste!” 46
A epigrafe deste capítulo, escrita acima, é um velho jargão capitalista, já
mencionada por Winston Churchill e Rahm Emmanuel 47, que fazemos referência
para introduzir, criticamente, as atuais transformações no setor sucroenergético
brasileiro.
O setor passa pela seguinte situação: enquanto alguns grupos usineiros
faliram, pararam a produção ou entraram em recuperação judicial, outros grandes
grupos capitalistas aproveitaram essa desvalorização do capital do setor para
engendrar fusões e aquisições. Em outras palavras: “não deixaram uma boa crise ir
para o lixo” e centralizaram capital.
Introdutoriamente, consideramos elencar algumas questões referenciais que
darão sentido a esse capítulo. Primeiro, apresentamos a seguinte discussão: o que
está ocorrendo no setor sucroenergético brasileiro? A falência de muitas usinas no
Brasil (e a compra das mesmas por outros grupos capitalistas) representa apenas
uma “crise”, decorrente apenas de “más escolhas” do Poder Executivo Federal,
como classifica a União da Indústria de Cana de Açúcar (UNICA), ou trata-se de um
processo de consolidação do setor sucroenergético brasileiro?
Para nós, “as atuais transformações no setor sucroenergético” devem ser
classificadas da mesma maneira como foram classificados outros fenômenos
histórico-econômicos semelhantes, isto é, com o conceito de “consolidação de
setores da economia”. Sabemos que o fenômeno de “consolidação de setores” já
ocorreu em outras áreas industriais globais (como a automobilística, a farmacêutica,
46 Tradução para o português: “Nunca deixe uma boa crise ir para o lixo!”. 47 Rahn Israel Emmanuel é o atual prefeito da cidade de Chicago (Illinois – EUA). Congressista influente do Partido Democrata Estadunidense foi presidente do comitê de campanha para a eleição de Barack Obama (em 2008) e ocupou o cargo de Chefe de Gabinete da Casa Branca, entre os anos de 2009 e 2010.
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etc), quando grandes grupos econômicos foram liquidando (centralizando capital)
outros grupos econômicos menores, incapazes de resistir às crises do capitalismo.
Entendemos que, de qualquer maneira, o entendimento do fenômeno de
“consolidação do setor sucroenergético brasileiro” passa pela análise do “jogo do
perde e ganha monopolista”, ou seja, da compreensão do fenômeno da
centralização do capital, onde um capitalista expropria o outro (SMITH, N. 1988;
MARX, 2013).
Abordaremos essa problemática no decorrer deste capítulo, seguindo nosso
corpo teórico de referência, isto é: partiremos da compreensão de que a
consolidação do setor sucroenergético é impulsionada pela ótima situação deste
mercado para as grandes corporações de comercialização agrícola, que o adentram
aniquilando antigos grupos capitalistas desvalorizados pela crise, os quais não se
adaptaram às constantes mudanças de ordem política, econômica, geográfica e
organizacional do setor.
A característica central da atual centralização do capital, realizada no setor
sucroenergético brasileiro é a liderança tomada por grandes conglomerados
internacionais (grandes agroindústrias e petroleiras), com grande poder de comando
na dinâmica econômica mundial, tornando evidente que o controle da produção de
açúcar e etanol é estratégico mundialmente.
Ainda no interior do capítulo, adentraremos a questão de como o atual
processo de consolidação do setor sucroenergético brasileiro, impulsionado pela
centralização do capital, ganhou novo impulso com a chamada “crise do setor pós
2008”. E, assim, chegando próximo da parte conclusiva do capítulo, especificaremos
nossa análise entendendo como o processo de consolidação do setor (impulsionado
pela centralização do capital) afetou um dos seus principais circuitos produtivos
subsidiários do setor, isto é, a indústria de equipamentos para as usinas.
A partir disso, na parte conclusiva do capítulo, analisaremos a “recorrente
crise” da principal indústria de bens de capital do setor, o Grupo Dedini. A “história
do presente” (SANTOS, 2009) desta indústria – que, outrora, foi uma “grande
indústria nacional” – esclarece o quão se tornam vulneráveis os circuitos econômicos
regionais dependentes do mercado global de commodities.
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3.1. Centralização do capital e imperativo da competitividade na
agroindústria canavieira brasileira
O principal objetivo da primeira parte do capítulo é realizar uma crítica ao
discurso dos representantes do setor sucroenergético brasileiro (essencialmente da
UNICA48) de que o setor está passando por uma crise econômica aprofundada por,
apenas, “más escolhas” governamentais. Nossa argumentação direciona-se em
sentido oposto, compreendemos que as transformações no setor sucroenergético
estruturam-se a partir de um processo mais amplo de centralização do capital, isto é,
que se direciona por meio de aquisições e fusões entre empresas.
O setor sucroenergético passou por diversas transformações ao longo da
década de 2000. Essas transformações se relacionam com alguns eventos
importantes, como: 1) o aumento do preço do açúcar no mercado internacional a
partir de 2004, fruto do acordo da Organização Mundial do Comércio (OMC) que
vetou subsídios aos produtores de açúcar em países desenvolvidos; 2) a
popularização, no Brasil, dos motores flexfuel, em 2003, que aumentou a demanda
doméstica por etanol; 3) o forte incentivo estatal ao setor, fruto dos empréstimos do
Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), principalmente,
a partir de 200749.
Outro evento importante, ocorrido durante a década de 2000, foi a
denominada “crise de 2008”. A partir dela, mesmo com o aumento do preço do
açúcar no mercado internacional (que alcançou um pico histórico em 2010, conforme
aponta o Gráfico 3.1.), reduziu-se a capacidade de crédito bancário ao setor, o que
impediu a rolagem de dívidas dos usineiros, ampliando a inadimplência e, assim,
gerando o efeito “bola de neve”, que levou muitos grupos sucroenergéticos a
fecharem unidades, falirem ou solicitarem recuperação judicial.
48 União da Indústria de Cana de Açúcar. 49 O economista Pedro Ramos, especialista em análises sobre a agroindústria canavieira brasileira, apontou (em artigo publicado em 2011) a dependência histórica do setor sucroenergético com relação aos empréstimos estatais (muito anteriores aos atuais desembolsos do BNDES). A situação, abordada de maneira crítica, evidencia que antigos empréstimos se tornaram dívidas históricas do setor para com a União Federal e, segundo os dados apontados pelo autor, essa situação permanece na atualidade.
85
85
Gráfico 3.1. Açúcar: variação do preço anual (1985 a 2014)
(Unidade: centavos de dólar (US$) por libra de peso)
Fonte: IndexMundi, 2015. 50
Devido à ocorrência deste último evento (a crise mundial de 2008), é
necessário dividir os fatos recentes do setor em dois períodos: o “anterior a 2008” e
o “pós-2008”. Em suma, a nova trajetória do setor, “pós 2008”, não significou a
redução na produção de açúcar ou etanol (que continuaram crescendo), como
também não significou a diminuição dos empréstimos do BNDES ao setor (que,
inclusive, atingiram o pico mais alto no ano de 2010, conforme aponta o “Gráfico
3.2.”). Mas significou, sim, um aprofundamento do processo de centralização do
capital (conforme aponta o “Gráfico 3.3.” que ilustra as fusões e aquisições no setor,
entre 1996 e 2014).
50 Disponível em: <http://www.indexmundi.com/pt/pre%C3%A7os-de-mercado/?mercadoria= a%C3%A7%C3%BAcar&meses=360>. Acesso em: 05 Jan de 2015.
5,32 5,7
8,3
11,22
13,43
9,74 9
8,15
10,52
14,67
12,31 10,74
12,33
8,08
5,98
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7,41 7,51
6,34
8,8
13,93
11,7 10,45
11,32
24,9
28,04
23,42
19,2
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De
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4
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Gráfico 3.2. BNDES: desembolsos para o setor sucroenergético,
em milhões de reais (1999-2015)
Fonte: Informes BNDES (2015) 51
A nova trajetória tomada pelo setor, a partir de 2009, significou, como já
referenciado, um aprofundamento do processo de centralização do capital no
segmento agroindustrial do setor sucroenergético. Essa centralização, levada a cabo
por grandes corporações de comercialização agrícola (nacionais e internacionais)
impulsionou o atual processo que chamamos de consolidação do setor
sucroenergético brasileiro.
A consolidação do setor sucroenergético brasileiro, via centralização do
capital, é melhor compreendida quando visualizamos o Gráfico 3.3 sobre fusões e
aquisições entre 1996 e 2015.
51 Inflação corrigida pelo Índice de “Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-E)” na “Calculadora do Cidadão” do Banco Central do Brasil, tomando como base os índices do mês de dezembro de cada ano e, como valor final da moeda, o mês de dezembro de 2015.
0,00
2.000.000.000,00
4.000.000.000,00
6.000.000.000,00
8.000.000.000,00
10.000.000.000,00
12.000.000.000,00
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Gráfico 3.3. Setor Sucroenergético: Fusões e Aquisições (1996-2014)
Fonte: KPMG (2015)
52
Com base no exposto, é esclarecedor constatar que o ano de 2010, onde
houve o maior financiamento público para o setor (mais de R$ 10 bilhões), via
BNDES, foi também o ano de maior ocorrência de fusões e aquisições (26
ocorrências). Sobre isso, é importante resgatar a compreensão do conceito de
centralização do capital, em Marx (2013, p. 563), quando o autor analisa o vínculo
entre a concorrência intercapitalista, o acesso ao crédito e a centralização do capital:
(...). A concorrência aflora ali na proporção direta da quantidade e na proporção inversa do tamanho dos capitais rivais. Ela termina sempre com a ruína de muitos capitalistas menores, cujos capitais em parte passam às mãos do vencedor, em parte se perdem. Abstraindo desse fato, podemos dizer que, com a produção capitalista, constitui-se uma potência inteiramente nova: o sistema de crédito, que em seus primórdios insinua-se sorrateiramente como modesto auxílio da acumulação e, por meio de fios invisíveis, conduz às mãos de capitalistas individuais e associados recursos monetários que se encontram dispersos pela superfície da sociedade em massas maiores ou menores, mas logo se converte numa arma nova e temível na luta concorrencial e, por fim, num gigantesco
mecanismo social para a centralização dos capitais.
52 Compreendemos que uma maneira interessante de melhor caracterizar as fusões e aquisições no setor seria qualificá-las por cada operação individualmente, identificando cada agente envolvido e o valor de cada transação. Entretanto, dados aos objetivos de nossa dissertação, não empreendemos tal tarefa. Esta, por sua vez, poderá ser realizada em outras pesquisas que visem melhor caracterizar essa situação. Um trabalho interessante sobre o tema é o de Borges & Costa (2013).
1 1
3 2
7
11
9
5 5
8 9
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As piores consequências da centralização do capital no segmento
agroindustrial do setor sucroenergético brasileiro podem ser verificadas pela
interrupção das atividades (por fechamento, falência ou recuperação judicial) de
mais de 80 usinas, entre 2008 e 2014 (DATAGRO, 2015)53. Isto demonstra,
novamente (assim como mencionamos na epígrafe deste capítulo) que “não há nada
melhor do que uma boa crise” para acirrar a competição capitalista, intensificar o
movimento de centralização de capital (onde um capitalista expropria outro
capitalista) e “consolidar” grupos hegemônicos no comando de determinado setor da
economia.
Segundo Borges e Costa (2013), com referência nos dados da KPMG
(empresa de consultoria internacional), entre 1995 e 2011, foram registradas um
total de 79 fusões e aquisições no setor sucroenergético. Deste total, 35 foram
domésticas e 40 foram fusões e aquisições de empresas nacionais por empresas
estrangeiras, o que denota também um processo de estrangeirização do setor 54. As
principais compradoras foram Cosan, com 15 operações, seguida do Grupo José
Pessoa com oito operações, depois pela Louis Dreyfus Commodities e pela Tereos
(ambas as empresas francesas), com cinco operações cada, os demais casos
envolvem no máximo duas ou três operações.
A centralização do capital no setor sucroenergético ganhou contornos
notáveis na década de 2000, com o aumento da demanda por açúcar, com a criação
dos carros flexfuel e com o crédito desembolsado pelo BNDES. Essa correlação de
fatos, altamente favoráveis, atraiu a entrada de grandes corporações internacionais
no setor, algumas delas dedicadas ao comércio de commodities (tradings) e
empresas petroleiras 55.
Sobre a formação de oligopólios no segmento agroindustrial do setor
sucroenergético, há certa bibliografia que possui a argumentação de que, apesar do
processo de centralização estar em corrente aprofundamento, a estruturação atual
53 Disponível em: <http://www.novacana.com/n/industria/usinas/datagro-83-usinas-cana-encerraram-atividades- anos-290115/>. Acesso em: 08 de jul. 2015. 54 Outras quatro ocorrências foram de empresas de participação mista (entre empresários nacionais e internacionais). 55 A participação estrangeira na produção de açúcar no Brasil inicia-se em 1995, com a entrada do Balli Group (trading de capital inglês e iraniano), mas o marco fundamental do início da compra de usinas no país é o ano 2000, quando a Louis Dreyfus Commodities (LDC) e a Tereos (antiga Béghin-Say) compram unidades produtivas no país (BORGES; COSTA, 2013; SIQUEIRA; JUNIOR, 2011).
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89
do segmento agroindustrial do setor sucroenergético, ainda, constitui-se pulverizada.
Uma das pesquisas que disserta sobre isso é a de Siqueira e Junior (2010), quando
(com dados até 2009) demonstram que o segmento agroindustrial do setor
sucroenergético ainda é pulverizado por um conjunto amplo de empresas (não
conformando oligopólios), algo que é totalmente diferente do segmento de
distribuição dos combustíveis, por exemplo, onde, segundo os autores, o mercado é
oligopolizado.
A problemática desse argumento é o fato de que os dados apresentados pela
pesquisa de Siqueira e Junior (2010) correspondem até o ano de 2009 e, como
sabemos, foi, justamente, após este ano que ocorreu uma grande derrocada de
grupos, com o fechamento de mais de 80 usinas – como demonstram os dados da
Datagro (2015)56. É neste ponto que discordamos da argumentação de Siqueira e
Junior (2010) e entramos em acordo com Borges e Costa (2010), Pitta, et al. (2014)
e Bellentani (2014) que argumentam que a centralização no setor vem ocorrendo de
maneira progressiva, e, em seus casos mais evidentes, representa a entrada de
capital estrangeiro no setor.
O capital estrangeiro, representado especialmente pelas grandes tradings e
petroleiras, adentra o setor comprando o controle acionário majoritário de antigos
grupos usineiros, endividados após a crise de 2008. Um exemplo desse fenômeno
foi a formação do grupo “Biosev” em 2009, que se fundiu a partir da compra de 60%
das ações do grupo Santelisa Vale (segunda maior produtora de cana-de-açúcar do
Brasil e, na época, propriedade da família Biagi) pelo grupo Louis Dreyfus
Commodities 57.
Sobre o endividamento do setor sucroenergético, após a “crise de 2008”,
concordamos com os esclarecimentos feitos pela Rede Social de Justiça e Direitos
Humanos (MENDONÇA; PITTA; XAVIER; 2012, p. 4) quando afirmam que as
principais dívidas do setor foram contraídas por meio de especulações financeiras
mal sucedidas em derivativos cambiais, como descrito abaixo:
56 Disponível em: <http://www.novacana.com/n/industria/usinas/datagro-83-usinas-cana-encerraram-atividades-anos-290115/>. Acesso em: 29 de Dez. 2015. 57 Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/geral,grupo-dreyfus-fica-com-60-da-santelisa-vale,456798> Acesso em: 29 de Dez. 2015.
90
90
Diversas usinas tomaram empréstimos baratos em dólar, aproveitando a valorização do real, para especular com derivativos cambiais. Com a reversão dessa tendência e a valorização do dólar em relação à moeda brasileira, muitas usinas quebraram. O setor somou um prejuízo de mais de R$4 bilhões. As empresas deixaram de investir, por exemplo, na renovação de canaviais, tratos culturais e adubação para manter a elevação dos níveis de produtividade.
A informação acima é confirmada por diversas pesquisas que evidenciam
uma enorme quantidade de especulações em derivativos cambiais realizadas por
empresas não financeiras brasileiras, entre 2003 a 2008, como demonstram os
estudos de Lopes, Schiozer & Sheng (2013) e de Perera, Neto & Alves (2011). Os
casos mais populares foram os dos grupos Sadia e Aracruz (devido ao montante de
capital subtraído), mas, esse tipo de prática especulativa, altamente utilizada na
década de 2000, atingiu diversos circuitos produtivos brasileiros e, obviamente, a
agroindústria canavieira.
Dentre os principais grupos estrangeiros, por ordem de poder econômico, que
adentraram o setor sucroenergético brasileiro na década de 2000, estão: 1) Royal
Dutch Shell, que entrou no setor a partir de uma joint-venture com a Cosan, criando
a Raízen, o maior grupo do setor, controlador de 24 usinas 58; 2) Louis Dreyfus
Commodities (LDC – França), controladora de doze usinas da Biosev, segunda
maior empresa do setor, com 7% da produção no Brasil; 3) Tereos Internacional
(França) controladora do Grupo Açúcar Guarani S/A, com sete usinas no país,
terceira maior produtora de cana-de-açúcar no Brasil; 4) Bunge (EUA), que se
inseriu no ramo canavieiro do Brasil em 2007, com uma estratégia de aquisições de
empresas já estabelecidas, controlando sete unidades processadoras atualmente; 5)
Noble Group (China), que iniciou suas atividades no Brasil em 2004, possuindo o
controle de duas usinas no estado de São Paulo (na região de São José do Rio
Preto), apresentando uma capacidade de moagem de 17 milhões de toneladas por
safra; 6) Renuka do Brasil (Índia), que passou a atuar no Brasil em 2010,
controlando quatro usinas (duas no Paraná e duas em São Paulo), com capacidade
58 A Raízen S/A pode ser considerada de propriedade mista, pois é uma joint-venture com 50% de capital nacional, da Cosan, de Rubens Ometto e 50% estrangeira, da petroleira Royal Dutch Shell. Entretanto, como já mencionamos, o contrato prevê que a Shell poderá comprar 100% das ações da Cosan até 2025. Mais informações podem ser consultadas em: ONAGA, M. Adeus, etanol, diz Rubens Ometto. Energia, Revista Exame, 16 Mai. 2012. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1016/noticias/adeus-etanol-diz-rubens-ometto >. Acesso em: 22 Dez. 2015.
91
91
para a moagem total de 13 milhões de toneladas (OLIVEIRA, 2012; BORGES;
COSTA, 2013; PITTA, et al. 2014; BELLENTANI, 2014).
Além das corporações citadas acima, ainda existem outras conglomerados
com produções menores, mas com capacidade para realizar novas aquisições e
centralizar capital, como: BP Biofuels (Inglaterra); Cargill (EUA); Abengoa (Espanha);
Adecoagro (Luxemburgo); Archer Daniels Midland Company (ADM – EUA); UMOE
Bioenergy (Noruega); Clean Energy Brazil (CEB - Inglaterra); Glengore (Suiça);
Sonora Estancia (Itália); Comanche Clean Energy (EUA); Colgua
(Colômbia/Guatemala); Vancouver Renewable Energy (VREC – Canadá)
(BELLENTANI, 2015).
Além desses grupos estrangeiros, ainda existem grupos nacionais que,
segundo Oliveira (2012) e Bellentani (2014), também “territorializam monopólios” na
produção de açúcar e etanol no Brasil, como: Aralco, Balbo, Batatais, Bertolo;
Clealco, Cocal, Colombo, Diné, Furlan, Irmãos Toniello, Itamarati, Bertin (com 30%
da Infinity Bioenergy) Lincoln Junqueira, Moreno, Noble, Odebrecht (com
participação de 30% da Sojitz, do Japão), Pedra Agroindustrial, Ruerte, Santa
Adélia, Santa Isabel, São Martinho, Titoto, Tonon, UJS, Virgolino de Oliveira, e Zilor.
Com a capitalização do setor, a produção de cana-de-açúcar aumentou
significativamente no início de século XXI. A produção que registrou no ano safra
2000/2001, a quantidade de 254,9 milhões de toneladas colhidas, tem a previsão de
colher, na safra 2015/2016, mais de 650 milhões de toneladas – um crescimento de
mais de 150% em quinze anos. Tal expansão, quando transposta para a produção
de açúcar e etanol, representa um aumento de mais de 120% na produção de
açúcar e de 160% na produção de etanol (MAPA, 2015).
A evolução da produção de cana-de-açúcar no Brasil, neste início de século
XXI, pode ser visualizada no Gráfico 3.4.
92
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Gráfico 3.4. Brasil: evolução da produção de cana-de-açúcar, em toneladas
moídas (Anos-safras: 2001-2002 a 2014-2015)
Fonte: Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), 2015.
Já quando tratamos da participação dos grandes grupos que hegemonizam a
produção de cana-de-açúcar no Brasil, a composição dos cinquenta maiores
produtores é relacionada no Quadro 3.1, com dados levantados por Bellentani
(2014), com referência no Anuário da Cana (Safra 2012/2013).
Quadro 3.1. Brasil: maiores produtores de cana-de-açúcar (2014)
Ordem Grupo Usineiro País de origem do controle acionário
Produção (Ton.)
1° Raízen (Cosan 51% / Shell 49%) Brasil 56.221.000
2° Biosev França 29.536.876
3° Tereos Internacional S/A França 19.732.387
4° Odebrecht Brasil 18.917.647
5° Bunge Holanda 17.000.000
6° São Martinho (após aquisição da St. Cruz) Brasil 16.462.604
7° Santa Terezinha Brasil 16.100.000
8° Noble Group China 10.687.231
9° Zilor Brasil 10.020.000
10° Tercio Wanderley Brasil 9.774.697
11° Delta Sucroenergia Brasil 9.261.638
12° Renuka do Brasil Índia 8.583.078
13° Colorado Brasil 8.492.056
0
100.000.000
200.000.000
300.000.000
400.000.000
500.000.000
600.000.000
700.000.000
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14° Pedra Brasil 8.368.563
15° Moreno Brasil 7.588.795
16° USJ Brasil 7.250.832
17° Colombo Brasil 7.191.816
18° Clealco Brasil 7.028.841
19° Tonon Brasil 6.662.270
20° Vale do Verdão Brasil 6.120.932
21° Bertin (70%) / Infinity / Bio-Energy Brasil 5.732.014
22° Itamarati Brasil 5.489.343
23° Lincoln Junqueira Brasil 5.015.700
24° Batatais Brasil 4.917.863
25° BP Biofuels Inglaterra 4.804.634
26° Japungu Brasil 4.590.948
27° Abengoa Espanha 4.547.246
28° Irmãos Toniello Brasil 4.542.443
29° Santa Isabel Brasil 4.512.122
30° Adecoagro Luxemburgo 4.488.935
31° Titoto Brasil 4.404.850
32° SJC Bioenergia (USJ 50% / Cargill 50%) Brasil/EUA 4.238.623
33° Carlos Lyra Brasil 4.087.809
34° Antonio Faria Brasil 3.953.596
35° Pitangueiras Brasil 3.487.959
36° Dine Brasil 3.460.549
37° São Fernando - Bertin/Bumlai Brasil 3.420.698
38° Toledo Brasil 3.340.855
39° José Pessoa Brasil 3.220.000
40° Aurelio Nardini Brasil 3.082.234
41° Coopcana - São Carlos Brasil 3.059.393
42° Tavares de Almeida Brasil 3.020.649
43° São Manoel Brasil 3.014.418
44° USJ Brasil 3.012.209
45° Guaira Brasil 2.811.928
46° São José da Estiva Brasil 2.811.517
47° Cerradinho Bio Brasil 2.770.032
48° Naoum Brasil 2.710.099
49° Santo Antonio Brasil 2.653.834
50° Jalles Machado Brasil 2.648.678
Fonte: Bellentani (2014), a partir dos dados do Anuário da Cana (2014).
94
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A partir do exposto, que se tratou de um exame detalhado sobre a atual
consolidação do setor sucroenergético brasileiro, configurada a partir de um
processo de centralização do capital, passaremos, agora, para a análise das
consequências deste fenômeno para o mercado de trabalho, relacionado ao
fornecimento de equipamentos e serviços à agroindústria canavieira, na cidade de
Piracicaba (SP).
3.2. O mercado de trabalho metalmecânico especializado no setor
sucroenergético em Piracicaba (SP)
Da mesma maneira que o setor sucroenergético passou por inúmeras
mudanças durante a década de 2000, o seu circuito subsidiário, de equipamentos e
serviços, também sofreu transformações. A configuração do mercado de trabalho
relacionado, principalmente, às indústrias de equipamentos sentiu fortemente os
efeitos da atual “consolidação do setor sucroenergético”, impulsionada pelo
movimento de centralização de capitais.
A partir disso, elaboramos gráficos que demonstram a variação no emprego
relacionado ao ramo metalmecânico em Piracicaba (que é o ramo econômico
municipal mais especializado no setor sucroenergético) e, posteriormente, na parte
final do capítulo, abordaremos, especificamente, os casos das empresas
especializadas no setor que vêm passando por graves problemas financeiros.
O município de Piracicaba possuía em 2010 pouco mais de 360 mil habitantes
(CENSO POPULACIONAL – IBGE, 2010). Deste total, mais de 190 mil eram
considerados população economicamente ativa e, segundo o Relatório Anual de
Informações Sociais (RAIS), de 2010, o total de vínculos empregatícios era de 117,5
mil. Tratando-se do ano de 2014 (último ano de registro do RAIS), o total de vínculos
empregatícios chegou a 134 mil, número que também acompanhou o crescimento
da população do município que, segundo a estimativa do IBGE (2014), conta
atualmente com mais de 385 mil habitantes.
Os dados do total de vínculos empregatícios em Piracicaba (SP), entre 2000 a
2014, pode ser visualizado no Gráfico 3.5.
95
95
Gráfico 3.5. Piracicaba: Total de vínculos empregatícios, em milhares de
empregos (2000 a 2014)
Fonte: Relatório Anual de Informações Sociais (RAIS), 2015.
Uma característica central do município de Piracicaba (SP) é que seu ramo
industrial metalmecânico é historicamente especializado no setor sucroenergético. A
partir disso, para a ilustração das consequências das atuais transformações no setor
sucroenergético para o mercado de trabalho, selecionamos os dados relativos à
soma dos subsetores metalúrgicos e mecânicos (que formam o subsetor
metalmecânico) a partir dos dados do RAIS e do Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (CAGED), disponibilizados pelo Instituto de Pesquisa e
Planejamento de Piracicaba (IPPLAP) e pela Secretaria de Trabalho e Renda de
Piracicaba (SEMTRE).
Os valores relacionados à empregabilidade metalmecânica, em Piracicaba,
podem ser visualizados no Gráfico 3.6.
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
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Gráfico 3.6. Piracicaba: Total de vínculos empregatícios no subsetor
metalmecânico, em milhares de empregos (2000 a 2014)
Fonte: Relatório Anual de Informações Sociais (RAIS), 2015.
A partir dos gráficos 3.5. e 3.6. é possível constatar que os anos de 2009 e
2014 representaram os de maior retração no número de empregos em Piracicaba
(SP). Além disso, pode-se visualizar que, desde o ano de 2008, existe uma
estagnação no nível de emprego no município. Esses resultados são claros quantos
às suas razões, isto é: foi a partir da crise financeira de 2008 que o nível de
empregabilidade caiu, assim como também, salvo algumas exceções locais, em
grande parte do território brasileiro.
Muito embora os dados do RAIS demonstrem o total de vínculos
empregatícios no final de cada ano, tais dados não demonstram a movimentação
entre admissões e desligamentos nos subsetores econômicos do município. Assim,
para entender essa movimentação empregatícia, utilizaremos os dados do Cadastro
Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) que demonstram o total de
admissões e desligamentos em cada subsetor econômico, garantindo mais precisão
e atualidade para nossa análise.
A seguir, no Gráfico 3.7. pode ser visualizada a movimentação total
(admissões e desligamentos) do emprego em Piracicaba, entre os anos de 2000 e
2015.
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
97
97
Gráfico 3.7. Piracicaba: movimentação total de admissões e desligamentos,
entre os anos de 2002 a 2015
Fonte: Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), 2015.
A partir dos dados demonstrados no Gráfico 3.7., nota-se que os anos mais
problemáticos para o emprego, em Piracicaba (SP), foram os últimos dois anos de
registro (2014 e 2015), que é resultante da atual estagflação econômica do país que,
por sua vez, tem sua causa direta ligada à crise econômica global. Além desses
anos, o ano de 2009 também demonstrou uma retração no emprego, resultado do
impacto súbito da crise financeira de 2008, assim como já descrevemos acima.
Especificando nossa análise para entender a movimentação (admissões e
desligamentos) dos empregos metalmecânicos na cidade de Piracicaba, elaboramos
o Gráfico 3.8., também com dados do CAGED.
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Adm. 27.186 29.274 30.403 36.055 41.282 49.194 57.818 51.766 69.712 72.393 71.786 71.646 62.261 37.339
Desl. 24.640 25.003 26.206 30.377 34.817 41.189 51.889 52.175 62.769 64.859 68.542 68.170 64.332 39.429
Saldo 2.546 4.271 4.197 5.678 6.465 8.005 5.929 -409 6.943 7.534 3.244 3.476 -2.071 -2.090
-10.000
0
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
80.000
98
98
Gráfico 3.8. Piracicaba: movimentação dos empregos metalmecânicos,
admissões e desligamentos, entre os anos de 2002 a 2015
Fonte: Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), 2015.
Novamente, no Gráfico 3.8. é possível constatar que os anos de 2009 e 2014
(e o atual ano de 2015) foram os anos com saldos negativos também para o
emprego metalmecânico em Piracicaba. Entretanto, o Gráfico 3.8. demonstra outro
dado importante: o ano de 2012 também teve saldo negativo em 815 demissões. É
justamente esse dado que evidencia o início do aprofundamento da crise financeira
(e da empregabilidade) das indústrias de equipamentos para o setor
sucroenergético.
Desta maneira, com base nos dados empregatícios demonstrados,
compreendemos que os de 2009, 2014 e 2015 foram os anos de maior queda na
empregabilidade de Piracicaba. É importante mencionar que os dados
demonstrados não possibilitam análises ainda mais especificas devido a enorme
diversidade produtiva de setores industriais do município. Entretanto, temos
conhecimento que os resultados positivos no emprego global em Piracicaba, nos
anos de 2011, 2012 e 2013 deveram-se, principalmente, à construção, instalação e
inauguração da montadora automotiva Hyundai Motor Company no município. Esse
é um fato que voltaremos a abordar nas considerações finais dessa dissertação.
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Adm 2890 3528 4043 4224 4017 6167 6510 3890 7291 5875 5557 6627 4925 2024
Desl 2444 2426 3315 2765 2909 3961 5920 6451 4954 5597 6422 5894 6632 3596
Saldo 446 1102 728 1459 1108 2206 590 -2561 2337 278 -865 733 -1707 -1572
-4000
-2000
0
2000
4000
6000
8000
99
99
Voltando para nossa análise do emprego especializado e dependente da
agroindústria canavieira em Piracicaba e com o objetivo de deixar mais clara nossa
análise, nos próximos parágrafos, adentraremos em exames específicos sobre as
situações financeiras e empregatícias dos principais fornecedores de equipamentos
e serviços ao setor sucroenergético, descrevendo, principalmente, os casos da
Cooperativa São José (CSJ Metalúrgica) e do Grupo Dedini.
Nessa análise, baseamo-nos em duas hipóteses centrais. A primeira, que
será descrita no próximo item, aborda a transformação nas relações de produção
entre fornecedores de equipamentos e serviços aos grupos usineiros. Abordaremos
essa metamorfose como uma característica intrínseca ao atual período técnico
científico informacional, que sobrepõe solidariedades organizacionais às
solidariedades orgânicas (SANTOS, 2009). Essa hipótese explica, mais
especificamente, a falência da Cooperativa São José (CSJ Metalúrgica).
Já em relação à segunda hipótese, abordaremos a mesma no último item do
capítulo, discutindo a redução da demanda (ou desvalorização) do capital constante
em centralizações do capital ocorridas, concomitantemente, às crises econômicas
globais (MARX, 1996; 1986). Essa hipótese explica, mais especificamente, a atual
Recuperação Judicial do Grupo Dedini.
3.2.1. Das solidariedades orgânicas às solidariedades organizacionais: a
metamorfose nas relações de produção regionais
Como introdução de nossa análise sobre a crise financeira das indústrias de
equipamentos para o setor sucroenergético, iniciaremos com um fenômeno
identificado pelos próprios agentes do ramo de equipamentos. Antes da década de
2000, os usineiros estabeleciam relações produtivas com produtores de
equipamentos que, muitas vezes, se confundiam com proximidades pessoais entre
os agentes. Enquanto que, atualmente, os contratos de prestação de serviços e de
fornecimento de equipamentos são racionalizados independentemente da
proximidade (regional, pessoal, familiar ou cultural) com o fornecedor do serviço
contratado.
Para nós, essa realidade, descrita pelos agentes, é característica evidente da
transição de laços produtivos baseados em “solidariedades orgânicas” para laços
produtivos baseados em “solidariedades organizacionais” (SANTOS, 2009).
100
100
Resgatamos a compreensão de solidariedade orgânica e organizacional,
introduzida por Santos (2009, p. 285) na citação abaixo:
(...). Na caracterização atual das regiões, longe estamos daquela solidariedade orgânica que era o próprio cerne da definição do fenômeno regional. O que temos hoje são solidariedades organizacionais. As regiões existem porque sobre elas se impõem arranjos organizacionais, criadores de uma coesão organizacional baseada em racionalidades de origens distantes.
Por solidariedade orgânica entende-se a solidariedade produtiva 59,
estabelecida entre os agentes locais, baseada na proximidade contigua entre
pessoas e os objetos. Já a solidariedade organizacional é a solidariedade produtiva
estabelecida pelas relações teleológicas entre agentes e objetos distantes,
viabilizadas pelas técnicas da informação e obedientes à extração do mais-valor na
escala global. Em outras palavras, “a razão local é orgânica, a razão global é
organizacional” (SANTOS, 1994; 2009; CASTILLO, et alli, 1997).
Esses dois conceitos evidenciam uma das principais transformações sentidas
nos anos 2000 pelos produtores de equipamentos do setor, isto é: a “nova forma de
organização” dos grupos usineiros, que criou novas sistemáticas contratuais para a
elaboração de equipamentos, solicitação de serviços ou construção de novas
usinas.
Um exemplo é a experiência do vendedor Dorival Secamili – com mais de 20
anos de experiência nas vendas equipamentos pela NG Metalúrgica. Segundo o
entrevistado 60, antes da década de 2000, as vendas eram feitas da seguinte
maneira: o vendedor (o entrevistado, no caso) saía com o carro da empresa rumo às
usinas regionais e, nas usinas, conversava diretamente com o usineiro (ou
representante) para saber de suas demandas (equipamentos, serviços, reformas,
etc). Quando existia necessidade de um novo equipamento ou serviço de reforma, o
contrato era estabelecido ali mesmo, em acordos informais, o que, apenas
posteriormente, era formalizado. “Hoje temos uma situação totalmente diferente”,
segundo o entrevistado. O seu trabalho cotidiano mudou completamente, as
relações informais não existem mais. Hoje, as usinas possuem uma sistemática de
59 É importante explicar que quando nos referimos ao termo “solidariedade” não estamos enfatizando a solidariedade como sinônimo de fraternidade entre os agentes. Abordamos, assim como Santos (2009) e Castillo, et alli (1997), as solidariedades como a representação de laços produtivos entre os agentes do território. 60 Entrevista realizada no dia 26 de agosto de 2015, durante a realização da “Fenasucro & Agrocana - 2015”, em Sertãozinho, SP.
101
101
compra, troca e reforma de equipamentos, baseada nos pressupostos do “just-in-
time”, isto é, das manutenções preditivas e pré-estabelecidas com seus
fornecedores. Essas novas sistemáticas contratuais são feitas por meio de
concorrência aberta, onde quem ganha é aquela que possuir o menor custo de
produção e, consequentemente, o menor preço do equipamento ou serviço.
No caso da NG Metalúrgica, empresa utilizada no exemplo acima, essa nova
sistemática parece não ter afetado em grande escala a empresa, já que ela é uma
das empresas que se mantiveram rentáveis na atualidade. Entretanto, outras
empresas, que também citaram essa situação como “um problema”, acabaram
decretando falência recentemente, como o caso da CSJ Metalúrgica.
O caso da Cooperativa São José (CSJ Metalúrgica) (antiga Santin S/A –
fundada em 1940) é característico, dado que a empresa faliu no final do ano de 2014.
Em entrevista realizada com o seu antigo gerente comercial, Ivan Corrêa, foi
apontada a diminuição de encomendas de equipamentos para o setor desde 2006,
data que coincide com o aprofundamento da entrada dos grandes grupos no setor e
das transformações nas relações de produção descritas acima (entre fornecedores e
clientes no setor).
A partir disso, a situação da CSJ Metalúrgica pirou, mais ainda, no “pós 2008”,
quando começaram a ocorrer demissões de funcionários (cooperados) e atraso no
pagamento dos salários. Com o aprofundamento das mencionadas transformações
no setor sucroenergético, a empresa reduziu drasticamente seu fluxo de caixa
devido ao baixo volume de encomendas. Como consequência, em maio de 2014, a
empresa demitiu mais de 150 “cooperados-funcionários”, restando cerca de 100
cooperados que foram desligados quando a empresa decretou falência, fechando a
fábrica no final de 2014 61.
61 A história dessa empresa (CSJ Metalúrgica) é peculiar, já que a mesma passou por diversas fases de expansão e depressão em sua história, e finalmente foi marcada por “duas falências”. A história destas duas falências se resume na falência do antigo grupo Santin S/A (fundado em 1940) que, em 2004, deixou de pagar seus funcionários, demitiu-os e não pagou seus direitos trabalhistas, decretando falência e fechando a fábrica em poucos dias. Na época, com o fechamento da fábrica, os antigos 400 funcionários, após um diálogo estabelecido com o governo federal, na pessoa de Luís Inácio Lula da Silva e do presidente do BNDES, encontraram a solução de reestabelecer a fábrica por meio de uma cooperativa, devido ao crescimento do setor sucroenergético na época e pela possibilidade de novas encomendas, que permitiriam o pagamento dos novos “cooperados-funcionários”. A cooperativa, assim reestabelecida conseguiu se reerguer e contou com alguns anos de expansão, entretanto, já a partir de 2006 começou a apresentar problemas financeiros e, por fim, faliu em 2014.
102
102
A nova estruturação do setor sucroenergético brasileiro, impulsionada pela
consolidação do setor capitaneada por grandes conglomerados internacionais, não
consente relações produtivas que se baseiam na proximidade contiguas entre os
agentes. As novas racionalidades produtivas das corporações que adentram o
mercado de açúcar e etanol baseiam-se no imperativo da competitividade
(CASTILLO, 2008) do mercado mundial de commodities. Isto é, não há mais espaço
para indústrias de equipamentos que não estejam preparadas para uma
concorrência que, muitas vezes, sobressai o território brasileiro. Essa nova forma de
organização, inserida pelas empresas globais que adentraram o negócio de açúcar e
etanol brasileiro (Shell, Bunge, Louis Dreyfus, Tereos, entre outras), fez com que
empresas, como a CSJ Metalúrgica precisassem lidar com situações nunca
enfrentadas em sua “cultura fabril”, como, por exemplo, a de uma concorrência mais
competitiva.
Assim, os novos arranjos produtivos, impulsionados pela razão organizacional
dos agentes globais, criam e destroem antigos laços de produção, alterando a razão
orgânica do local. Fruto do atual período informacional, essa metamorfose é
evidência clara das transformações ocorridas na passagem de solidariedades
orgânicas para solidariedades organizacionais.
Por fim, Santos (2009, p. 285) argumenta que a transformação na hierarquia
dos lugares, quando novos agentes globais o adentram, muda seu conteúdo:
A hierarquia se realiza através de ordens técnicas, financeiras, políticas, condição de funcionamento do sistema. A informação, sobretudo ao serviço das forças econômicas hegemônicas e ao serviço do Estado, é o grande regedor das ações que definem as novas realidades espaciais. Um incessante processo de entropia desfaz e refaz contornos e conteúdos dos subespaços, a partir das forças dominantes, impondo novos mapas ao mesmo território.
Do outro lado da moeda, outras empresas fornecedoras de equipamentos
para o setor (que possuem semelhantes estruturas produtivas das quais estão
passando por problemas financeiros), mantêm situações financeiras mais estáveis,
como: Mausa, Link Steel, General Chains, NG e Turbimaq. Nestas empresas pôde-
se verificar (por meio de entrevistas realizadas com gerentes comercias das
referenciadas firmas) que uma das principais causas da rentabilidade financeira
alcançada foi a diversificação de seus produtos, procurando alcançar novos
mercados, permitindo, assim, maior independência dos altos e baixos do setor
sucroenergético.
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Além do caso dessas transformações nas relações de produção entre clientes
e fornecedores do setor, há outra razão para a atual crise dos produtores de
equipamentos para setor. Como demonstramos no início do capítulo, apesar do
setor sucroenergético estar expandindo sua produção, esse aumento não é
vinculado ao crescimento do número de usinas e, sim, é guiado pela ampliação da
produtividade por unidade produtiva – assim como evidenciaram os dados da
Datagro (2015) 62 que demonstram a interrupção da produção de mais de 80
unidades processadoras de açúcar ou álcool no Brasil, entre 2008 e 2014.
Com a ampliação da produção pelos grandes grupos do setor, ao comprar
capital desvalorizado pela falência de empresas menores, a produção aumentou
sem grande necessidade de novos equipamentos e, principalmente, de novas
usinas. Desta maneira, a crise dos produtores de equipamentos do setor relaciona-
se, também, diretamente com a desvalorização (ou redução da demanda) por capital
constante, característica intrínseca, segundo Marx (1986), das centralizações de
capitais que ocorrem, concomitantemente, a crises econômicas globais.
O caso da diminuição da demanda por novas usinas sucroenergéticas, a
partir de 2009, vincula diretamente a atual situação do Grupo Dedini. A estrutura
produtiva desta empresa, seus recursos humanos, seu aparato tecnológico e,
principalmente, sua lógica de acumulação é destinada a vender usinas de açúcar e
etanol completas. E, obviamente, quando o setor sucroenergético reduz seu ritmo de
acumulação, o resultado para o Grupo Dedini é obvio: crise financeira e demissão de
seus trabalhadores.
Portanto, dada a especificidade do caso da Dedini e, também, devido à
especificidade da necessidade de melhor conceituação dos vínculos entre os
conceitos de crise, centralização do capital e desvalorização do capital constante,
abriremos um novo item final, que concluirá esses argumentos.
62 Disponível em: <http://www.novacana.com/n/industria/usinas/datagro-83-usinas-cana-encerraram-atividades- anos-290115/>. Acesso em: 08 de jul. 2015.
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104
3.2.2. A Recuperação Judicial do Grupo Dedini: contradições do
capitalismo dependente do agronegócio global
Nesta parte da dissertação, descreveremos "a mais nova crise” da principal
fornecedora de equipamentos para o setor sucroenergético. Dissertamos “a mais nova
crise”, pois, o Grupo Dedini63 é caracterizado por apresentar uma flutuação entre bons e
maus momentos, no mesmo ritmo cíclico que percorre, historicamente, o setor
sucroenergético brasileiro.
Em cada capítulo dessa dissertação, abrimos partes importantes para
descrever o caso dessa indústria de equipamentos. Como já mencionamos, isso foi
necessário pela singularidade que a Dedini possui como indústria nacional
extremamente vulnerável às oscilações do mercado do açúcar e do etanol.
O Grupo Dedini (que durante a década de 1990 vivenciou a pior crise de sua
história, com a falência e o desmembramento da antiga composição da empresa)
encontrou um novo ciclo de crescimento nos anos 2000, acompanhando a
ampliação do setor sucroenergético naquela década. Mesmo assim, a partir dos
impactos da crise de 2008, que se iniciaram no ano de 2009, a empresa diminuiu
suas atividades.
A queda das atividades da empresa pode ser visualizada nos gráficos 3.9 e
3.10 apresentados a seguir. Pode-se visualizar a redução drástica do número de
trabalhadores da empresa (Gráfico 3.9.) e a redução do faturamento da empresa
(Gráfico 3.10.).
63 Quando mencionamos “Grupo Dedini”, ou apenas “Dedini”, referimo-nos ao grupo de CNPJs registrados pelo grupo, que são: Dedini S/A Indústrias de Base (DIB), Dedini S/A Administração e Participações (DDN), Dedini S/A Equipamentos e Sistemas (DES), Dedini Refratários Ltda (DRE) e Codismon Metalúrgica Ltda (CMO), empresas que se encontram em Recuperação Judicial.
105
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Gráfico 3.9. Grupo Dedini: variação do número de trabalhadores
(2006 a agosto de 2015)
Fonte: “Relatório Mensal de Atividades” (RMA), elaborado pela Administradora Judicial
“Deloitte Touche Tohmatsu Consultores Ltda”, Setembro de 2015.
Gráfico 3.10. Grupo Dedini: faturamento, em milhões de reais
(2006 até agosto de 2015)
Fonte: “Relatório Mensal de Atividades” (RMA), elaborado pela Administradora Judicial
“Deloitte Touche Tohmatsu Consultores Ltda”, Setembro de 2015 64.
64 Inflação corrigida pelo Índice de “Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-E)” na “Calculadora do Cidadão” do Banco Central do Brasil, tomando como base os índices do mês de dezembro de cada ano e, como valor final da moeda, o mês de dezembro de 2015.
5.200
6.400
5.630
4.446 4.400
3.697 3.208
3.023
2.703
1.749
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 ago/15
1.097
1.727
2.483
3.327
2.135
1.398
1.048
625 572 424
236
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 ago/15
106
106
O Grupo Dedini, depois de registrar, em 2008, o faturamento recorde de sua
história, no valor de R$ 3,3 bilhões (Gráfico 3.10) e contar com mais 5,6 mil
funcionários (no total de suas unidades, como aponta o Gráfico 3.9) decresceu mais
de 85% entre 2008 e 2014, quando registrou o faturamento final de R$ 424 milhões,
valor insuficiente para pagar, inclusive, os custos produtivos da empresa.
Atualmente, a companhia conta com aproximadamente 1.500 funcionários, em suas
nove fábricas, espalhadas por quatro municípios brasileiros (Piracicaba, Sertãozinho,
Recife e Maceió).
A partir desta crítica situação, o Grupo Dedini solicitou, em agosto de 2015, uma
petição à justiça de Recuperação Judicial. O processo é registrado na 2a Vara Cível da
Comarca de Piracicaba, sob o juízo do Dr. Marcos Douglas Veloso Balbino da Silva. O
processo é público e seus autos podem ser acessados digitalmente no endereço do
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
Após o deferimento do pedido, emitido pelo juiz responsável, no dia 4 de
setembro de 2015, a empresa obteve um prazo de 60 dias para apresentar um plano
completo de recuperação. Neste plano, é necessário haver um planejamento de
retomada de crescimento e pagamento de seus credores no prazo de até dois anos. A
Recuperação Judicial é registrada com o valor de R$ 200 mil, entretanto, nos autos do
processo é possível verificar o valor de mais de 140 milhões em dívidas com seus
principais credores65 (trabalhistas, fornecedores de serviços e instituições financeiras).
Em relação às dívidas trabalhistas, segundo informações do “Sindicato dos
Metalúrgicos de Piracicaba” (entidade vinculada à Força Sindical), a empresa não
deposita o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) de seus funcionários
desde 2011. Segundo as mesmas informações, foi nesse mesmo ano que a
empresa iniciou a atrasar os salários de seus trabalhadores com frequência66. A
partir desta data, a redução do quadro de seus funcionários foi realizada, em muitos
casos, na ausência de pagamento de direitos trabalhistas básicos, como: pagamento
de salários atrasados, multas rescisórias, férias e FGTS.
65 Neste trecho, não mencionamos, ainda, a dívida ativa, de mais de R$1 bilhão, que a Dedini possui com a União Federal. Esse fato será melhor abordado nos próximos parágrafos. 66 Como exemplo, em janeiro de 2014, a empresa não pagou parte do salário de seus dois mil empregados, que receberam apenas a parte correspondente à R$1000,00 (mil reais).
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Devido aos constantes atrasos nos pagamentos de salários, nos últimos anos,
os trabalhadores da empresa vêm organizando greves coletivas, visando à garantia
do cumprimento dos deveres legais da empresa. A seguir, na Foto 3.1. é possível
visualizar uma das recentes greves e manifestações dos trabalhadores da Dedini.
Foto 3.1. Grupo Dedini: greve dos trabalhadores no ano de 2014
Fonte: Sindicato dos Metalúrgicos de Piracicaba e Região (2015).
No interior do processo de Recuperação Judicial, é possível constatar uma
correspondência da “Controladoria Geral da Fazenda”, solicitando que o juiz
responsável pelo processo indeferisse a recuperação judicial do Grupo Dedini. A
razão para a solicitação é a dívida ativa que a empresa possui com a União, no valor
de mais de R$ 1 bilhão, fato que rende ao grupo o adjetivo de “Grande Devedor”. A
Controladoria argumenta que o Grupo Dedini deveria ter elaborado um plano de
pagamento desta dívida, em até 84 vezes, para possuir direito à Recuperação
Judicial (RJ). A decisão do juiz, da 2a Vara Cível de Piracicaba, foi dar continuidade
à Recuperação, considerando prematura a manifestação da Controladoria, já que,
segundo o juiz, esta dívida pode ser paga, caso a empresa recupere-se, por meio do
processo de Recuperação Judicial, de sua atual situação financeira.
Sobre a mencionada dívida da Dedini com a União Federal, dois barracões
principais da empresa foram colocados em leilão, com valores somados em R$ 200
milhões, por determinação da Justiça Federal, no início de 2014. Assim, após algumas
108
108
rodadas sem arrematadores, o imóvel com menor valor (barracão da mecânica, situado
na Vila Rezende, com valor de R$25 milhões) foi arrematado pela metade do preço67,
em novembro de 2014. O imóvel arrematado em leilão pode ser visualizado na Foto 3.2
a seguir:
Foto 3.2. Grupo Dedini: prédio da seção de mecânica, arrematado em leilão
público no mês de novembro de 2014
Fonte: “Relatório Mensal de Atividades” (RMA), elaborado pela Administradora Judicial
“Deloitte Touche Tohmatsu Consultores Ltda”, Setembro de 2015.
A Administradora Judicial, responsável pela causa, é a Deloitte Touche
Tohmatsu Consultores Ltda., que já elaborou um “Relatório Mensal de Atividades”
(RMA), relativo a setembro de 2015, com inúmeras informações sobre a estrutura do
Grupo Dedini, sobre sua atual situação financeira e sobre os primeiros
planejamentos cronológicos de sua “possível” recuperação, determinada para o
prazo de dois anos.
Ainda no interior dos autos do processo de Recuperação Judicial (que possui
mais 2.500 páginas) é possível constatar outros inúmeros dados e informações que
caracterizam o Grupo Dedini e sua atual situação, como: argumentações da
empresa sobre a causa de sua atual crise financeira, prejuízos obtidos nos últimos
anos, bens declarados de seus proprietários e conflitos judiciais com seus credores.
Partimos da concepção de que a atual situação do Grupo Dedini se difere da
situação de outras empresas – que estão mais estáveis, como: Mausa, Turbimaq e Link
67 O valor inicial de bens penhorados pela Justiça, colocados em leilão, são reduzidos pela metade no caso de o leilão público ser realizado mais do que uma vez.
109
109
Steel – por diferenciação estrutural básica que a Dedini possui em relação às empresas
citadas. Isto é, a Dedini possui como principal mercadoria a produção de usinas
sucroenergéticas completas. Desta maneira, quando a demanda por esses “grandes
fixos” se deprime, ao impacto na empresa é imediato.
Para melhor compreendermos essa situação, acreditamos ser necessária uma
conceituação básica sobre as concepções de centralização e crise do capital na teoria
político-econômica de Marx (1996; 1986). Para realizar essa tarefa, é necessário,
primeiramente, compreender a dinâmica de valorização e desvalorização do capital
constante (ou, em outras palavras: meios de produção) e capital variável (ou, em outras
palavras: forças produtivas) ocorridas em centralizações e crises do capital.
Assim, por capital constante, Marx (1996, p. 171), define: “A parte do capital,
portanto, que se converte em meios de produção, isto é, em matéria-prima, matérias
auxiliares e meios de trabalho, não altera sua grandeza de valor no processo de
produção”. Já em relação ao conceito de capital variável, o autor (1996, p. 171) define
como “A parte do capital convertida em força de trabalho, em contraposição, muda seu
valor no processo de produção. Ela reproduz seu próprio equivalente e, além disso,
produz um excedente, uma mais-valia que ela mesma pode variar, sendo maior ou
menor”.
Como descrevemos no início desse capítulo, preferimos adotar uma abordagem
crítica sobre a referenciada “crise do setor sucroenergético brasileiro”, denominando-a
de “consolidação do setor sucroenergético”. Como já explicamos, tal escolha parte do
princípio de quem em toda crise, existem “vencedores” e “perdedores”. Desta maneira,
adotando-se a nomenclatura da centralização de capital, existiriam “centralizadores” e
“centralizados”, assim como se adotando a nomenclatura de “consolidação de setores”,
existem, de um lado, os “consolidados” e, de outro, os “liquidados”.
Para Marx, “cada capitalista liquida muitos outros” (2013, p. 670), esse é o
significado chave para compreender o processo de centralização do capital. Mas, nossa
pergunta atual é: como a centralização vincula-se às crises do capitalismo?
110
110
Para Marx (1986, p. 188):
As crises são sempre apenas soluções momentâneas violentas das contradições existentes, irrupções que restabelecem momentaneamente o equilíbrio perturbado. (...) A desvalorização periódica do capital existente, que é um meio imanente ao modo de produção capitalista para conter a queda da taxa de lucro e acelerar a acumulação de valor-capital pela formação de novo capital, perturba as condições dadas, em que se efetua o processo de circulação e de reprodução do capital, e, por isso, é acompanhada por paralisações súbitas e crises do processo de produção.
Neste ponto, é importante lembrar que as concepções de Marx, sobre crise e
centralização do capital vinculam-se a sua “teoria maior” sobre a lei da queda tendencial
da taxa lucro no modo de produção capitalista. Para Marx, como demonstrado em suas
análises na “Seção III” do Livro Terceiro da obra de “O Capital”, o capitalismo tem uma
tendência histórica à redução de sua taxa média de lucro. Desta maneira, para o autor,
os resultados evidentes da queda tendencial da taxa de lucro são as erupções de crises,
que, a cada período, se apresentam mais profundas no interior do modo de produção
capitalista.
Como solução para essa tendência histórica, a classe capitalista busca,
incessantemente, novas formas de acumulação que permitam anular a redução de seus
lucros. Buscando explicar tal movimento histórico e dar conteúdo geográfico ao mesmo,
o geógrafo David Harvey (2008; 2011; 2013) denominou essas “novas formas de
acumulação” pelo conceito de “acumulação via espoliação” (ou, em outras traduções:
“acumulação por despossessão”).
Entre tais formas de acumulação via espoliação, podemos elencar alguns
exemplos, como: 1) as constantes guerras imperialistas capitaneadas por grandes
Estados-nação (como o estadunidense) com o objetivo de reduzir o preço de matérias-
primas básicas, como o petróleo (HARVEY, 2013); 2) as formas de especulação no
sistema financeiro que possui no exemplo da bolha imobiliária norte-americana um caso
clássico de como uma crise (no caso: “crise de 2008”) pode ser criada pelo próprio
capital (HARVEY, 2011); e 3) a difusão dos discursos políticos neoliberais, que reduzem
os gastos públicos nos direitos sociais e ampliam a massa de lucro privatizado
(HARVEY, 2008).
Voltando à obra de Marx (1986, p. 170), é interessante compreender o vínculo,
que o autor estabelece, entre queda tendencial da taxa de lucro e necessidade da classe
capitalista de centralizar capital, como apresentado no trecho a seguir:
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Para que a massa de lucro permaneça a mesma, com taxa decrescente de lucro, o multiplicador, que indica o crescimento do capital global, precisa ser igual ao divisor, que indica a queda da taxa de lucro. Se a taxa de lucro cai de 40 para 20, o capital global precisa, inversamente, subir na proporção de 20 : 40 para que o resultado permaneça o mesmo. (...). Um capital de 1 milhão a 40% produz 400 mil e um capital de 5 milhões a 8% produz igualmente 400 mil. (...). Se, no entanto, ele deve crescer, então, o capital deve crescer em proporção maior do que aquela em que cai a taxa de lucro.
Assim, para manter o ritmo da acumulação, o capital precisa multiplicar sua acumulação
na mesma proporção que cai, tendencialmente, sua taxa de lucro. Essa é a razão
histórica do capitalismo global: buscar, incessantemente, além de concentrar capital, por
meio da “simples” acumulação, também centralizar capital com o objetivo de aumentar
sua massa de lucro (anulando, assim sua queda na taxa de lucro). Em outras palavras,
como já mencionamos, o capitalismo necessita, constantemente, de novas fontes de
acumulação e, uma delas é a centralização de capitais.
No caso de crises econômicas, isso se torna ainda mais urgente para os
capitalistas envolvidos, pois, de um lado, temos um capital centralizador, com
capacidade e necessidade de realizar centralizações (necessidade que é fruto da queda
repentina de sua taxa de lucro, dentro de uma crise) e de outro, o capital a ser
centralizado (que se encontra falido, pela eclosão repentina de uma crise) e, assim,
necessita vender seus meios de produção para pagar seus credores.
É desta maneira que os meios de produção (ou capital constante) são vendidos a
preços menores, dentro de uma crise, do que em uma situação normal de mercado.
Essa característica final é um ganho imensurável para ao capital centralizador e, por isso
mesmo, é o grande mecanismo acelerador de centralizações de capital em crises
econômicas.
Resgatando as variáveis chaves da “consolidação do setor sucroenergético” e
suas respectivas centralizações do capital, em ordem crescente, pode-se dizer que o
início dos anos 2000, com o boom das commodities agrícolas e expectativa da
comercialização do etanol em escala global (tornando-se uma commodity) mobilizou
centralizações de capital no setor, atingindo um pico no ano de 2007. Entretanto, com a
crise econômica de 2008, essa explosão centralizadora ganhou um novo impulso,
atingindo um novo recorde no ano de 2010, conforme demonstramos no Gráfico 3.3.
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A agroindústria canavieira brasileira, que, mais uma vez, sonhou com “voos altos”
deparou-se com uma nova crise de superprodução e sobreacumulação em 2008 – que
já havia ocorrido em outros períodos do setor, como descrito em nossa periodização
sobre a “primeira grande crise do setor” nos intermédios da década 1960
(SZMRECSÁNYI, 1979). Voltando a “pisar no chão”, o setor deparou-se com uma
demanda de açúcar e etanol mais deprimida do que a planejada. A derrocada foi efeito
imediato (como já dissertamos no primeiro item desse capítulo) com o fechamento,
falência ou recuperação judicial de mais de 80 usinas, entre 2008 a 2014
(DATAGRO, 2015) 68.
Recuperando nossas referencias, o interessante da leitura de Marx
(principalmente, quando se trata de compreender as crises cíclicas do capitalismo) é a
atualidade de suas observações. Mesmo com o devido cuidado que devemos ter nas
interpretações de uma obra com mais de um século de publicação, como “O Capital”,
muitos trechos são, ainda, extremamente atuais. Um exemplo é a seguinte passagem
sobre o acirramento da concorrência e a repartição de prejuízos em crises econômicas.
É impossível lê-la e não realizar relações com a derrocada de inúmeros grupos
canavieiros pós-2008.
Enquanto vai tudo bem, a concorrência (...) age como irmandade prática da classe capitalista. Quando já não se trata de repartição do lucro, mas do prejuízo, cada um procura diminuir tanto quanto possível seu quantum do mesmo e empurrá-lo ao outro.(...) a distribuição desse prejuízo não se estende, de modo algum, de maneira uniforme aos diferentes capitais particulares, mas se decide numa luta concorrencial em que, conforme as vantagens especiais ou as posições já conquistadas (...) um capital é colocado em alqueive, outro é aniquilado e um terceiro apenas sofre prejuízo relativo ou desvalorização transitória (MARX, 1986, p.191).
Recuperando o caso do Grupo Dedini, a empresa, principal produtora e
construtora de usinas, sofreu, logicamente, com a redução da demanda por essas
plantas agroindústrias. A matemática é simples: a Dedini é especializada em produzir
usinas, isto é, sua produção (o capital constante e variável que emprega para produzir) é
totalmente dependente do crescimento exponencial do setor sucroenergético e, quando
o setor não cresce, a Dedini enfrenta recessões.
Mais especificamente, a crise atual do Grupo Dedini relaciona-se diretamente com
o processo de desvalorização do capital constante (isto é, desvalorização dos meios de
68 Disponível em: <http://www.novacana.com/n/industria/usinas/datagro-83-usinas-cana-encerraram-atividades- anos-290115/>. Acesso em: 08 de jul. 2015.
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produção, como: máquinas, plantações, destilarias, barracões, etc) presente em crises
econômicas, assim como Marx (1986, p. 191) compreende o processo: “Isso (a
desvalorização) se estenderia em parte a substancia material do capital: isto é, parte dos
meios de produção, capital fixo e circulante, não funcionaria, não atuaria como capital:
parte dos empreendimentos iniciados seria desativada.” (Parêntesis nosso).
No caso da Dedini, a partir da compreensão da desvalorização (e, obviamente,
redução da demanda) por capital constante no setor sucroenergético, algumas questões
podem ser formuladas. Ora, como seria necessário produzir mais usinas se as
existentes já atendem à demanda da produção? Ou melhor, como seria necessário
produzir mais usinas se algumas delas estão fechando (e, assim, desvalorizando seu
capital) e sendo compradas, devido ao seu baixo valor, por outras corporações? A
resposta é óbvia: não é necessário produzir nenhuma usina porque a demanda geral por
elas, neste momento, no território brasileiro, é igual, ou mesmo, inferior à zero.
Desta maneira, como descrito no segundo item deste capitulo, com a parada de
encomendas de novas usinas, a redução das atividades produtivas da Dedini foi efeito
imediato. Assim, como já demonstramos nos gráficos 3.9. e 3.10., a empresa a partir de
2008, iniciou sua redução drástica de funcionários, de 6.400, em 2007, para 1.789 em
agosto de 2015 69. O mesmo efeito ocorreu sobre seu faturamento, que após registrar a
cifra de mais de R$ 3,3 bilhões em 2008, foi reduzindo até chegar à marca de 424
milhões em 2014. Esse último faturamento, ao que parece, não serviu, ao menos, para
pagar as dívidas atuais da empresa que ultrapassam a marca de 1,2 bilhões de reais
(entre dívidas com a União, com terceiros, fornecedores de serviços e trabalhadores).
Voltando à leitura de Marx sobre crises econômicas e seus impactos sobre a
sociedade, em um dos trechos, o autor deixa claro como funciona o rebatimento das
crises financeiras para a classe trabalhadora – de um lado, desemprego, e de outro, a
redução dos salários:
Mas, ao mesmo tempo, outros agentes teriam entrado no jogo. A paralisação da produção teria colocado parte da classe trabalhadora em alqueive, deixando, desse modo, a parte ocupada numa situação em que teria de aceitar uma redução do salário, mesmo abaixo da média; uma operação que, para o capital, tem o mesmo efeito que se, com salário médio, tivesse sido elevada a mais-valia relativa ou absoluta. (MARX, 1986, p. 192, Grifo nosso).
69 De agosto até dezembro de 2015, o Grupo Dedini, demitiu mais de 800 funcionários, número que inclusive, conta com o pedido de demissão do Presidente do Grupo, Sérgio Leme, restando-se, aproximadamente, 1.000 trabalhadores em suas unidades, que ainda sofrem com salários atrasados.
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Como é de conhecimento amplo, a atual crise global do capital internacional atingiu
diversos setores no território brasileiro. Uma das medidas tomadas para conter seus
impactos foi o acordo do Governo Federal com as associações de classe industriais
(entre elas, principalmente, a ANFAVEA70), sancionando o “Programa de Proteção ao
Emprego”, que realizou a redução temporária da jornada de trabalho, com diminuição de
até 30% do salário, onde o Estado arca com 15% do salário reduzido 71.
No caso do Grupo Dedini, a empresa não pode vincular-se ao programa devido à
sua situação fiscal irregular (mais de 1 bilhão em dívidas com a União, como já
mencionamos) e também por estar irregular com relação aos depósitos do FGTS de
seus trabalhadores. Neste momento é que formulamos uma questão crítica básica: uma
empresa que não cumpri seus deveres com o Estado e não paga direitos trabalhistas
básicos, deveria possuir o Direito a uma Recuperação Judicial?
O caso da Dedini evidencia, claramente, como a produção capitalista visa o lucro,
muito, além dos direitos trabalhistas. É fato que não haveria de ser diferente em uma
indústria de equipamentos inserida em um circuito produtivo como o da agroindústria
canavieira. Um circuito produtivo que visa o lucro até suas últimas consequências.
Resultados, esses, que se deflagram em crises de sobreacumulação periódicas, como a
que demonstramos.
Finalmente, a parte mais interessante da leitura de Marx sobre as crises
econômicas é sua visão sobre a “transitoriedade periódica” desse fenômeno. O autor
lembra que a desvalorização do capital constante e variável, dentro de uma crise, é a
primeira etapa para a própria recuperação do sistema como um todo:
Além disso, a desvalorização os elementos do capital constante seria em si um elemento que implicaria a elevação da taxa de lucro. (...). A paralisação da produção teria preparado uma ampliação posterior da produção dentro dos limites capitalistas. E assim, o ciclo seria novamente percorrido. Parte do capital que pela paralisação funcional foi desvalorizada recobraria seu antigo valor. Ademais, com condições de produção ampliada, com um mercado ampliado e com força produtiva mais elevada, o mesmo círculo vicioso seria novamente percorrido. (MARX, 1986, p. 192, Grifo nosso).
70 ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). 71 Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2015-11/dilma-sanciona-lei-que-institui-o-programa-de-protecao-ao-emprego
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É devido a essa leitura que escolhemos, no início do capítulo, denominar a “crise
do setor sucroenergético”, como “consolidação do setor sucroenergético”. Como já
explicamos, o fenômeno de crise é sempre o estopim de um cíclico das contradições
internas do modo de produção capitalista, onde de um lado, existem os capitais
“consolidadores” e, de outro, os capitais a serem “aniquilados”. Como demonstramos
aqui, a situação mais crítica não fica para os chamados capitais “aniquilados” (que, de
fato, investem suas rendas extraordinárias em outros negócios), mas o peso maior cai,
sempre, sobre os ombros da classe trabalhadora (ou, seria melhor dizer: exército
industrial de reserva?) que, de tempos em tempos, depara-se com o fantasma do
desemprego.
Por fim, para encerrar esse capítulo faz-se necessária uma última citação de
Marx (1986, p. 189) onde, o autor, argumenta sobre como a procura imperativa pelo
lucro, cria as próprias contradições internas desse modo de produção e, assim, como
tais contradições, por sua vez, deflagram-se em crises periódicas.
A verdadeira barreira da produção capitalista é o próprio capital, isto é: que o capital e sua autovalorização apareçam como ponto de partida e ponto de chegada, como motivo e finalidade de produção. (...). O meio – desenvolvimento incondicional das forças produtivas sociais de trabalho – entra em continuo conflito com o objetivo limitado, a valorização do capital existente. Se, por conseguinte o modo de produção capitalista é um meio histórico para desenvolver a força produtiva material e para criar o mercado mundial que lhe correspondem, ele é simultaneamente a contradição constante entre essa sua tarefa histórica e as relações sociais de produção que lhe correspondem.
O próprio capital, em sua busca incessante pelo lucro, cria, periodicamente, suas
próprias crises econômicas. O capitalismo do “sonhado livre mercado” é uma falácia,
aceita apenas pelos interessados em centralizar capital. Se, a cada dia mais,
abandonarmos a tarefa básica do planejamento e do controle da produção global (tarefa
que só pode ser realizada pelo Estado Democrático de Direito) enfrentaremos o risco de
encontrar a economia dos territórios nacionais cada vez mais em flagelos e em piores
situações do que, no momento, se encontram.
É desta maneira que encerramos o capítulo final dessa dissertação, que contou
com um aprofundamento teórico sobre teoria critica econômica de Marx, a mesma que
foi utilizada pelos geógrafos, através do mundo, para realizar a necessária renovação da
geografia, na década de 1980. Entendemos que, até aqui, contribuímos para a análise
das implicações de centralizações do capital em circuitos produtivos vulneráveis às
oscilações periódicas e críticas do mercado internacional.
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Em nossas considerações finais, levantaremos os principais questionamentos
apresentados por nossa pesquisa, assim como resgataremos alguns conceitos
importantes da teoria geográfica de Milton Santos e David Harvey, entre outras
considerações importantes de geógrafos da teoria social crítica, como Neil Smith e Ruy
Moreira.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Da mesma forma que abordamos na introdução dessa dissertação, reafirmamos,
nessas considerações finais, que a produção de açúcar e do etanol é estratégica
globalmente. Por todas as análises que fizemos nesse trabalho, verificamos que a
produção dessas mercadorias, produzidas em terras brasileiras desde os tempos
coloniais, vem, a cada período histórico-geográfico, compondo novas disputas pela sua
produção.
Como abordamos nesse trabalho, a produção de açúcar, que esteve sempre
vinculada ao mercado externo, encontrou, em sua história, diversas crises de
superprodução, causadas pelas oscilações periódicas que o mercado internacional
possui. Também pudemos analisar como a primeira grande crise do setor, datada da
década de 1960, serviu de principal alavanca para a efetivação do Plano Nacional do
Álcool (Proálcool) (SZMRECSÁNYI; MOREIRA, 1991).
Em nossa dissertação, também resgatamos de que maneira foi efetivada a
acumulação primitiva que permitiu à pequena metalúrgica de Mario Dedini, tornar-se
uma grande indústria nacional. Como dissertamos, tal acumulação primitiva foi realizada
pela aliança entre o, então, “novo capital burguês industrial” de Mario Dedini e o “capital
rentista agrário” de Pedro Ometto (na época, grande latifundiário do interior de São
Paulo). Esse fato, identificado em nossa pesquisa, complementa outros estudos
histórico-econômicos sobre o desenvolvimento econômico do estado de São Paulo e o
papel das alianças entre a burguesia industrial e o rentismo agrário (FURTADO, 1996;
CANO, 1998; FERNANDES, 2006).
Como abordamos, o desenvolvimento da metalúrgica Dedini foi contemporâneo
ao desenvolvimento de outras indústrias de equipamentos especializadas na
agroindústria canavieira. Assim, formou-se, na região de Piracicaba, um complexo
agroindustrial (MÜLLER, 1989) especializado na produção de equipamentos e serviços
para a produção de açúcar nos intermédios da década de 1950 e 1960 (SAMPAIO,
1976; NEGRI, 2010). Muito embora tal complexo tenha experimentado alguns anos de
desenvolvimento, as indústrias situadas no mesmo (devido à forte especialização e
dependência da agroindústria canavieira) sempre acompanharam o mesmo ritmo cíclico,
de altos e baixos, deste mercado, que é extremamente vulnerável às oscilações do
mercado internacional.
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Tratando-se do complexo agroindustrial de Piracicaba, recentemente, em 2006,
foi criado o Arranjo Produtivo Local do Álcool (APLA). Há uma série de discussões
acadêmicas pertinentes a respeito da criação de APL’s (ou clusters) no território
brasileiro. Uma das críticas mais contundentes é que a maioria dos APL’s difundidos no
Brasil funciona, de fato, mais como uma associação de classe do que como um arranjo
produtivo (cluster) efetivo (nos moldes que o conceito define, ou seja: um arranjo
estabelecido por trocas inter-produtivas cotidianas entre as empresas locais).
De acordo com nossa pesquisa, o APLA, institucionalizado na região de
Piracicaba, não escapa à crítica mencionada e, além disso, outra problemática é que tal
arranjo não congrega (assim como demonstramos no segundo capítulo dessa
dissertação) todo o circuito produtivo de fornecedores de equipamentos e serviços,
destinados à produção sucroenergética da região 72.
Voltando a tratar da dependência do complexo agroindustrial da região de
Piracicaba em relação à agroindústria canavieira, como pudemos visualizar no Gráfico
3.1 (presente na primeira parte do último capítulo), a variação do preço do açúcar é
demasiada alta para que todo um ramo industrial (de uma importante cidade média
brasileira) esteja atrelado a tal variação. Desta maneira, torna-se insustentável qualquer
tentativa de manter a seguridade do emprego em uma região com essas características,
isto é, dependente das oscilações (muitas vezes, imprevisíveis) do mercado mundial de
commodities.
Como o Gráfico 3.1 demonstrou, a década de 2000 representou uma extrema
valorização do preço do açúcar no mercado internacional. Como abordamos em nosso
trabalho, a alta do preço ocorreu, principalmente, pelo acordo da Organização Mundial
do Comercio (OMC), em 2004, onde os países desenvolvidos foram proibidos de
destinar subsídios a seus produtores.
72 Outras críticas “menores” ao APLA podem ser delimitadas, como: 1) sua própria nomenclatura, que o utiliza o antigo termo “Álcool” e não “Etanol”, termo atual, utilizado pelo próprio setor produtivo; e 2) em segundo plano, outra crítica, também relacionada à nomenclatura do arranjo, é o fato de seu nome ter apenas a citação do etanol (ou álcool) e não incluir o açúcar, fato que rebaixa a posição da produção do açúcar como principal motor da agroindústria canavieira (tanto historicamente, como na atualidade). Tal nomenclatura, de “Arranjo Produtivo Local do Álcool”, esteve muito ligada aos planos e “ilusões” do setor produtivo em tornar o etanol uma commodity internacional. De fato, esse plano não se efetivou no período esperado pelo setor, o que diminuiu a esperança da realização deste “sonho”, pelo menos, no curto prazo.
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A outra grande alta no preço do açúcar ocorreu a partir de 2009, data que
coincide com a derrocada de inúmeros grupos usineiros brasileiros e do aprofundamento
da centralização do capital nesse setor. Esse fato demonstra, novamente, que a
derrocada destes grupos usineiros esteve relacionada, muito mais, à própria gestão de
seus negócios do que por condições desfavoráveis de mercado. Esse último argumento
foi analisado, por nós, na primeira parte do último capítulo dessa dissertação
(MENDONÇA; PITTA; XAVIER; 2012). O aumento do preço também demonstrou a
debilidade do setor em corresponder com as expectativas de investimentos públicos,
destinados ao mesmo, durante a década de 2000 e, assim, como resultado chave da
questão – do setor brasileiro ter produzido menos do que o esperado – o preço do
açúcar atingiu o pico histórico recorde em 2010 (conforme demonstrado no “Gráfico
3.1.”), devido à reduzida oferta de açúcar frente a grande demanda no globo.
É importante lembrar que a atividade agroindustrial canavieira no Brasil, desde
suas origens, atende a um mercado externo extremamente volátil e imprevisível. Desta
maneira, a argumentação, por parte dos agentes do setor, de que, atualmente, essa
atividade “modernizou-se” possui planejamento de longo prazo e preocupação com a
sociedade brasileira continua sendo um mito, da mesma forma que Szmrecsányi (1979;
1991), apontou em seus estudos sobre os períodos produtivos pretéritos dessa
agroindústria, além de outras pesquisas que chegaram às mesmas conclusões, como a
de Ramos (2011), Xavier, Pitta e Mendonça (2012) e Bellentani (2014), por exemplo.
Atualmente, a lógica da produção de açúcar e etanol representa exatamente
o que Santos (2009) chamou de “lugares do mandar e lugares do fazer”. Nesta
concepção, os lugares do mandar são bolsas de valores mundiais que negociam o
açúcar vendido em todo o globo. Como observamos, tais negociações extrapolam
apenas a simples questão da “oferta e demanda” mundial pelo açúcar, estando,
também vinculadas ao “jogo do perde e ganha” monopolista. Isto é, as negociações,
que decidem os destinos de inúmeras regiões, através do globo, estão sob a
jurisdição de grandes corporações preocupadas, entre si, pela busca de maior
controle do mercado, por meio da busca, incessante, de centralizações de capitais.
Do outro lado, estão as “regiões do fazer”, representadas pelos diversos
subespaços relacionados ao circuito espacial produtivo da cana-de-açúcar. Como
demonstramos nessa dissertação, Piracicaba ocupa um lugar estratégico nestas
regiões devido sua extrema especialização na produção de equipamentos e serviços
atrelados à agroindústria canavieira. Como uma região do fazer, Piracicaba é
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submetida a uma lógica global que escapa a sua capacidade de planejamento e
também aos anseios de sua população 73.
Desta maneira, podemos resgatar a epígrafe inicial de nossa dissertação, onde o
geógrafo Neil Smith, em seu livro “Desenvolvimento Desigual” diz que: "[...] o capital é
como uma praga de gafanhotos. Eles se estabelecem em um lugar, devoram-no e,
então, se deslocam para praguejar outro lugar. E, melhor dizendo, no processo de
sua recuperação após uma praga, a região fica pronta para outra". Compreendemos
que o caso de Piracicaba é emblemático desta situação.
A especialização inicial do município no ramo metalmecânico, especializado
na agroindústria canavieira, rendeu, durante algum tempo, uma alta lucratividade
dos negócios inseridos neste circuito produtivo. Entretanto, como analisamos nesta
dissertação, devido às crises cíclicas pelas quais passa o capitalismo global (e,
onde, a agroindústria canavieira brasileira, historicamente, sente grandes impactos),
Piracicaba sempre foi “devorada” e “abandonada” por esse capital, no mesmo ritmo
periódico que sua acumulação possuiu. Os resultados são óbvios, e dentre eles, o
fantasma do desemprego é o principal.
Essencial para concluir nossa análise, é a chegada de um novo tipo capital na
cidade: a indústria automobilística. Impulsionada pela Hyundai Motors, a nova
megaplanta industrial instalou-se no chamado “Parque Automotivo” de Piracicaba,
estruturado com todo o apoio do Estado, por meio da construção de infraestruturas e
de isenções fiscais para sua operação. Entre as infraestruturas, a principal delas foi
a construção de um novo anel viário de contorno da cidade de Piracicaba, que tem
como trajetória as intermediações da planta industrial automobilista.
Além destas facilidades logísticas e fiscais, consideramos que uma
particularidade essencial para a decisão, por parte da Hyundai Motors, de instalar-se
em Piracicaba, foi a disponibilidade de mão de obra barata e, também, qualificada.
Ora, este município, altamente especializado num ramo metalmecânico, com altos e
baixos, possui um grande excedente de mão de obra especializada (ou exército
73 É importante salientar que a região de Piracicaba, dada sua primazia na produção de bens e serviços ao setor sucroenergético e também no segmento agroindustrial do setor sucroenergético – possuindo, em seu território, empresas do circuito superior nesses ramos econômicos (como a Raízen, com seu escritório administrativo, ou mesmo a própria Dedini) – possui uma primazia que também a tipifica como uma “região do mandar” (mesmo sendo, concomitantemente, uma “região do fazer”) posto que as ordens, capitaneadas pelas empresas estabelecidas em seu território, submetem outras regiões produtivas, que se tornam subsidiarias a produção estabelecida em Piracicaba (SP).
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industrial de reserva) disponível. Tal característica populacional permitiu, inclusive, à
Hyundai, em seus primeiros meses de instalação no município, pagar um piso
salarial aos seus trabalhadores abaixo do estabelecido à categoria automobilística.
Essa situação foi resolvida somente após a uma greve de seus trabalhadores, que
ameaçou a produção e a entrega do automóvel “HB20” (lançamento da companhia
no Brasil). Como consequência, em novembro de 2012, o piso salarial da fábrica foi
corrigido, após alguns meses de produção 74.
Com base em nosso corpo teórico de referência, sabemos que uma das
formas do capital ampliar suas formas de acumulação é feita pela necessidade,
constante, de ampliação de novos mercados, que permitem a extração do mais-valor
em nível global. O caso de Piracicaba é (entre os muitos subespaços produtivos
locais presentes no globo) característico e essencial para a contribuição (empírica e
analítica) das diversas formas de atuação do capital global sobre o espaço
geográfico. Consideramos, também, que por meio da análise da atual crise do grupo
Dedini, pudemos contribuir na exemplificação das diversas formas de acumulação
por espoliação, que o capital exerce com o objetivo de ampliar sua massa de mais-
valor adquirido.
A região de Piracicaba, após enfrentar os altos e baixos do mercado
sucroenergético mundial, agora, enfrentará uma nova situação de seu mercado de
trabalho, atrelado, hoje, à indústria automobilista. Tal novidade não escapa à lógica
mercadológica do capital e, também, oferece riscos à região em longo prazo. Assim
como disse o geógrafo Neil Smith, “após uma praga, a região fica pronta para outra”.
Relembrando o artigo do geógrafo Ruy Moreira (1982), intitulado “A Geografia
serve para desvendar mascaras sociais”, acreditamos que, nesta dissertação, pudermos
desvendar muitas dessas mascaras. Entre as mesmas, duas que consideramos
essenciais são: 1) a desmistificação do mito de que a atual crise do setor
sucroenergético apenas se baseia em más escolhas feitas pelo Estado brasileiro, com
pouca ou nenhuma culpa das contradições existentes entre os próprios agentes do setor
e 2) a desmistificação de que existe alguma espécie de planejamento produtivo em
longo prazo ou preocupação com a sociedade brasileira dentro da agroindústria
canavieira.
74 Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,hyundai-chega-sob-pressao-por-salario,124419e>. Acesso em: 08 de Jan. 2016.
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Finalmente, sabemos que muito trabalho deve ser feito, dentro da república
brasileira, para que nossa sociedade avance. Entre tais avanços, ainda são necessárias
as reformas de base (tributária, política, agrária e urbana, por exemplo) para que o
Estado-nação brasileiro permita um real desenvolvimento social à sua população.
Também sabemos que além de reformas internas, faz-se necessária uma luta
global contrária à lógica de acumulação do sistema financeiro mundial que privilegia o
lucro especulativo privado sobre a lógica produtiva dos territórios. Enfim, devemos
manter a luta e a esperança de que dias melhores e mais sustentáveis, de fato,
ocorrerão na indústria, na agricultura, nas cidades e nos campos brasileiros e, também,
em outras regiões subdesenvolvidas do planeta.
123
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BIBLIOGRAFIA
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(1930-1950). Piracicaba: UNIMEP, Núcleo de Pesquisa e Documentação Regional,
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