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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO PARA A CIÊNCIA E O ENSINO DE MATEMÁTICA ELIANE CAMILO MAIA CAWAHISA AS PESQUISAS SOBRE JOGOS E A PRÁTICA PEDAGÓGICA COM MATEMÁTICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UEM/PR 2006

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ PROGRAMA DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp028257.pdf · Nunca diga às pessoas como fazer as coisas. Diga-lhes o ... novos desafios que a sociedade

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO PARA A

CIÊNCIA E O ENSINO DE MATEMÁTICA

ELIANE CAMILO MAIA CAWAHISA

AS PESQUISAS SOBRE JOGOS E A PRÁTICA PEDAGÓGICA COM MATEMÁTICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO

FUNDAMENTAL

UEM/PR 2006

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ELIANE CAMILO MAIA CAWAHISA

AS PESQUISAS SOBRE JOGOS E A PRÁTICA PEDAGÓGICA COM MATEMÁTICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO

FUNDAMENTAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em educação para a Ciência e o Ensino de Matemática da Universidade Estadual de Maringá, para a obtenção do título de Mestre.

ORIENTADORA: Profª. Dra. Regina Maria Pavanello COORIENTADORA: Profª. Dra. Luzia Marta Bellini

MARINGÁ -2006

ELIANE CAMILO MAIA CAWAHISA

AS PESQUISAS SOBRE JOGOS E A PRÁTICA PEDAGÓGICA COM MATEMÁTICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO

FUNDAMENTAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em educação para a Ciência e o Ensino de Matemática da Universidade Estadual de Maringá, para a obtenção do título de Mestre.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________ Profa. Dra. Regina Maria Pavanello - Orientadora

Universidade Estadual de Maringá - UEM

_______________________________________________________ Profa. Dr. Adriano Rodrigues Ruiz

Universidade do Oeste Paulista - UNIOESTE

_______________________________________________________ Profa. Dra. Clélia Maria Ignatius Nogueira Universidade Estadual de Maringá - UEM

Maringá, 26 de junho de 2006.

AGRADECIMENTOS

À minha orientadora Profª. Drª. Regina Maria Pavanello pela competência e

dedicação na realização desse trabalho.

Aos professores que participaram da minha banca de qualificação Prof. Dr.

Adriano Rodrigues Ruiz e Profª. Drª. Clélia Maria Ignatius Nogueira pela

compreensão e pelas valiosas sugestões oferecidas.

A todos os professores que fizeram parte desse mestrado contribuindo para sua

concretização.

Aos novos colegas que conquistei, em especial: Priscila Frasson, Edna Schaeffer,

Sandra D’Antonio, Marilde Zorzi e Maria Emília Zanquetta.

Às professoras que gentilmente aceitaram participar desta pesquisa.

Às minhas amigas: Geiva Calsa, Giselly Lacanallo, Ivonilce Rigolin, pela amizade

e apoio demonstrados ao longo dos anos que estamos juntas.

Ao querido amigo Gutemberg pela importante ajuda profissional que dedicou para

efetivação desse trabalho.

À minha grande amiga e parceira Luciana Lacanallo pela paciência e

disponibilidade nos momentos difíceis.

Aos meus pais pelo exemplo, apoio incondicional em todas as horas.

Minhas irmãs que tanto me incentivaram.

Ao meu esposo Eduardo, e meus filhos, Thais e Vitor pelo carinho dedicado.

E a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para realização desse

trabalho.

Nunca diga às pessoas como fazer as coisas. Diga-lhes o que deve ser feito e elas surpreenderão você com sua engenhosidade.

George Patton (1885-1945)

RESUMO Esta pesquisa tem como objetivo investigar se e como são apropriadas pelos

professores das séries iniciais do Ensino Fundamental as orientações de

pesquisadores para utilização de jogos no ensino/aprendizagem da matemática.

Para alcançar o objetivo citado, o estudo se desenvolveu em dois momentos. O

primeiro constou de uma pesquisa bibliográfica, mediante a qual se procurou

determinar, na literatura mais acessível aos professores, qual a visão dominante

sobre a relevância dos jogos na educação, em especial na educação matemática,

bem como suas recomendações quanto à maneira como deve ser realizado o

trabalho com jogos nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Nesse momento,

priorizou-se a referência a autores de renome nacional, cujas obras são

encontradas facilmente em livrarias e bibliotecas, seu acesso estando disponível

a professores e acadêmicos das diferentes licenciaturas. No segundo momento,

foi realizada uma pesquisa com oito professoras que atuam nas séries iniciais do

Ensino Fundamental em escolas das redes pública e privada do município de

Maringá-Pr. A pesquisa, cujo objetivo era investigar, os saberes das professoras

sobre a utilização de jogos no processo de ensino/aprendizagem da matemática,

constou de uma entrevista estruturada, feita com as professoras selecionadas,

procurando reconhecer se existe coerência entre sua prática com jogos e as

orientações dos pesquisadores. A análise das respostas aos questionamentos

mostrou que as professoras possuem um conhecimento restrito das obras mais

importantes sobre jogos editadas no país. Esse contato precário com a obra,

aliado a uma não vivência com jogos em sua formação inicial e continuada não

lhes oportuniza concretizar mudanças em suas práticas pedagógicas que

possibilitem um ensino de matemática de melhor qualidade nas séries iniciais do

Ensino Fundamental.

Palavras-Chave: Educação Matemática; ensino fundamental; séries iniciais; jogos

ABSTRACT Current research investigates whether and how researchers’ instructions for

games in the teaching and learning of Mathematics are appropriated by teachers

of the lower junior schools. Analysis was divided into two stages. The first

consisted of a bibliographical research, collected from the teachers’ available

literature, to determine the prevailing aspects on the relevance of games in

education, especially in Mathematics, and the recommendations on how games

should be administered in the first stages of the primary school. Books written by

renowned Brazilian authors were selected whose works could be easily picked up

in bookstores and libraries and were available to teachers and students of different

undergraduate courses. The second stage consisted of a research with eight

teachers of the first stages of the government and private primary school of the

municipality of Maringá PR Brazil. Investigating the knowledge of teachers on the

use of games in the learning and teaching process of Mathematics, research

comprised a structured interview, prepared with the chosen teachers, to see

whether there was any coherence between their game practice and the

researchers’ instructions. Answers showed that the teachers had a limited

knowledge of the most important books on games published in Brazil. Scanty

contacts with the literature and the lack of games in the teachers’ initial and

continued training guarantee failure in any modifications in pedagogical practice

that would make possible the teaching of Mathematics of quality in the first stages

of the primary school.

Key-Words: Mathematical Education; primary teaching; first stages; games

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 8 I - JOGOS, EDUCAÇÃO E EDUCAÇÃO MATEMÁTICA.................................... 10 1.1 A EDUCAÇÃO NO MOMENTO ATUAL ......................................................... 10 1.1.1 A Educação Matemática hoje ................................................................... 12 1.2 O JOGO NA HISTÓRIA.................................................................................. 16 1.2.1. Pensar a ludicidade.................................................................................. 18 1.3. O JOGO NA EDUCAÇÃO ............................................................................. 21 1.3.1. O jogo e a educação matemática............................................................ 23 1.4 OBJETIVOS DO JOGO NO ENSINO............................................................. 27 1.4.1 Aspectos metodológicos da utilização de jogos em sala de aula ........ 28 II - A PESQUISA.................................................................................................. 37 2.1 O PROBLEMA................................................................................................ 37 2.2 AS QUESTÕES DE ESTUDO........................................................................ 38 2.3 METODOLOGIA............................................................................................. 39 2.3.1 Os sujeitos da pesquisa ........................................................................... 41 2.3.2 A abordagem aos professores participantes.......................................... 44 2.4 OBTENÇÃO DOS DADOS............................................................................. 45 2.5 TRATAMENTO DOS DADOS ........................................................................ 46 III - ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ....................................................... 47 3.1 O JOGO É IMPORTANTE, MAS.................................................................... 47 3.2 PARA QUE SERVE MESMO O JOGO? ........................................................ 53 3.3 JOGO, O QUE É ISSO?................................................................................. 57 3.4 EU JÁ OUVI FALAR SOBRE JOGO, MAS QUEM FOI QUE FALOU? .......... 62 3.5 ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA... ............................................................... 71 IV - CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 82 REFERÊNCIAS.................................................................................................... 87 APÊNDICE A: ROTEIRO DAS ENTREVISTAS REALIZADAS COM AS PROFESSORAS.................................................................................................. 91 APÊNDICE B: TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS ........................................ 92

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INTRODUÇÃO

Há seis anos desenvolvo um trabalho com a psicopedagogia clínica, por

meio do qual procuro auxiliar crianças e adolescentes a superarem dificuldades

de aprendizagem em diferentes áreas do conhecimento e, mais especificamente,

na matemática, pois, boa parte dos encaminhamentos vinda das escolas, traz

como queixa central dificuldades na construção de conceitos matemáticos. Nesse

trabalho tenho utilizado vários instrumentos de intervenção, dentre eles, os jogos.

Minha atividade profissional me proporciona diversas situações de contanto

com professores de diferentes instituições de ensino, em alguns desses contatos

percebi que muitos docentes do Ensino Fundamental parecem não possuir

clareza dos benefícios e muitas vezes dos procedimentos da atividade com jogos

em sala de aula.

Diante disso, me senti motivada a investigar e entender melhor a relação

entre a prática com jogos na concepção dos professores e o discurso teórico

encontrado em obras destinadas ao assunto.

Como existem em português vários livros que discutem a inserção dos

jogos na educação, em especial na matemática e há vários trabalhos científicos

que investigam as possibilidades do jogo como metodologia de ensino, um outro

questionamento suscitou: os professores das séries iniciais conhecem essas

obras e seguem suas sugestões de como utilizar os jogos no ensino de

matemática?

Para obter respostas a esses questionamentos, me propus a realizar o

estudo, que será aqui apresentado. Procurei destacar as obras mais divulgadas

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(MACEDO, PETTY e PASSOS, 1997, 2000, 2005; BRENELLI, 2001, 2005;

KISHIMOTO, 2000, 2003, entre outros) e de fácil acesso aos professores e

acadêmicos de diferentes áreas de conhecimento.

O primeiro capítulo desta investigação discute a utilização do jogo no

processo educacional como um recurso promissor para uma aprendizagem

significativa e prazerosa no ensino da matemática das séries iniciais do Ensino

Fundamental.

O segundo capítulo refere-se à apresentação da pesquisa e descrição do

seu desenvolvimento. São apresentados o problema do estudo e os objetivos

perseguidos descritos, assim como a metodologia empregada e os instrumentos e

procedimentos utilizados na coleta dos dados. Além disso, esse capítulo

apresenta a análise das informações coletadas.

No terceiro capítulo, descrevo à análise e discussão dos dados coletados

com as professoras relacionando-os com as sugestões dos pesquisadores

indicados na pesquisa bibliográfica.

Como parte final, apresento as considerações finais, a fim de responder os

objetivos propostos na presente pesquisa. Espera-se por meio desse trabalho

contribuir com a melhoria da qualidade do processo ensino/aprendizagem de

matemática.

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I - JOGOS, EDUCAÇÃO E EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

Este capítulo tem por finalidade discutir a utilização do jogo na educação

como forma de permitir aprendizagem mais prazerosa e significativa da

matemática no Ensino Fundamental, em sua fase inicial.

1.1 A EDUCAÇÃO NO MOMENTO ATUAL

Tradicionalmente, em nosso país, a prioridade da escola tem sido a de

proporcionar às crianças e aos jovens que a freqüentam um acúmulo de

conhecimentos, ou seja, um amontoado de conteúdos que, reproduzidos,

representam a aprendizagem. Pode-se, a partir destas características, dizer que a

escola tem obedecido a um enfoque academicista, conforme a definição dada por

Sacristán e Gómez (1998).

No entanto, desde o início do século XX, esse tipo de educação começou a

não atender mais às exigências sociais. Mudanças começaram a ocorrer na

sociedade, no mercado de trabalho; até mesmo as relações interpessoais se

modificaram. Passou-se a viver a sociedade da informação, da globalização, da

mudança e da criação de novos paradigmas. A educação, para enfrentar os

novos desafios que a sociedade lhe impõe se vê compelida a mudar: daí a

necessidade de uma reestruturação curricular e do estabelecimento de novos

referenciais teóricos, bem como da utilização de novas práticas pedagógicas.

Trata-se, neste momento, não somente de promover a aquisição de

conhecimentos, mas sim, de relacioná-los e aplicá-los em situações do dia-a-dia,

o que significa o desenvolvimento de um novo conjunto de competências.

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Competências estas necessárias para possibilitar aos indivíduos uma participação

ativa e crítica na sociedade em que vivem.

Frente às novas exigências geradas no contexto social e cultural atual, o

indivíduo que não for capaz de agir e de resolver problemas de maneira eficiente

e criativa, com certeza não conseguirá sobreviver no mercado de trabalho e

poderá estar “fadado à exclusão social, através do desemprego” (BENCINI e

GENTILE, 2000, p.12). O contexto atual revela que a educação é, como

assinalam Sacristán e Gómez (1998), uma trama complexa de relações que vai

muito além de aspectos meramente pedagógicos. O movimento social, cultural,

político exige um repensar sobre o ato de educar.

Libâneo (2006) aponta que as reformulações da escola tornam necessário

que se repense a própria produção de saberes se o objetivo for o de assegurar a

qualidade de ensino. Todavia, segundo o autor, deve-se estar atento porque com

a adoção de “novidades organizacionais, pedagógicas, curriculares, mais parece

estar se perdendo o sentido dos objetivos prioritários da escola” (LIBÂNEO, 2006,

p.1). Isso faz com que a escola se defronte cada vez mais com novos desafios

que precisam ser superados.

Diante da necessidade de encontrar respostas para desafios postos à

educação, percebe-se que a existência de um fosso entre as pesquisas em

educação e o trabalho docente não contribui para que as práticas educativas

sejam concebidas a partir de um caráter multifacetado e passem a ser

entendidas, ao mesmo tempo, como práticas sociais, psicológicas, culturais,

econômicas, biológicas, etc (LIBÂNEO, 2006, p.2).

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Hoje se tem consciência de que, na realidade, o ato educativo é de caráter

complexo, uma vez que existem fatores internos e externos que interferem

diretamente na produção de saberes e que não devem ser vistos isoladamente.

1.1.1 A Educação Matemática hoje

Inserida nesse movimento de mudanças e transformações, a educação

matemática busca encontrar respostas para assegurar às crianças a possibilidade

de construir saberes matemáticos. Isso porque se tem hoje cada vez mais a

certeza de que esses saberes são necessários para que todos possam contar

com uma ferramenta útil para a compreensão da realidade e da ciência.

Segundo Santos (1988), as ciências, sejam elas sociais ou naturais,

enfrentam um período de crise que torna essencial repensar profundamente o

modelo de racionalidade científica. Para o autor, “essa crise é não só profunda

como irreversível [...] estamos a viver um período de revolução científica que se

iniciou com Einstein e a mecânica quântica e não se sabe ainda quando acabará”

(SANTOS, 1988, p.54). Na construção de um novo paradigma que satisfaça as

necessidades atuais do conhecimento os princípios epistemológicos passam a ser

considerados, o que nos leva a admitir uma variedade não unificada e nem

estanque de ciência.

A matemática, segundo Santos (1988, p. 50), tem um lugar central nesse

processo, pois fornece à ciência moderna “não só um instrumento privilegiado de

análise, como também a lógica da investigação, como ainda o modelo de

representação da própria estrutura da matéria”.

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Todavia, o ensino da matemática apresenta péssimos resultados nas

recentes avaliações oficiais nacionais (SAEB, 2002) e internacionais (PISA,

2001). Essas avaliações revelam que o desempenho dos alunos do Ensino

Fundamental é abaixo do esperado, tanto em relação às séries quanto à faixa

etária. Tais resultados desastrosos evidenciam que algo está mal no processo de

ensinar/aprender matemática, o qual não tem permitido à maioria das crianças

brasileiras uma aproximação mais eficaz ao conhecimento matemático. Por isso,

o ensino da matemática precisa ser repensado para que a situação não se agrave

e as deficiências não proliferem.

Os educadores matemáticos enfatizam que a matemática tem papel

importante no Ensino Fundamental porque, conforme apontam os Parâmetros

Curriculares Nacionais:

A Matemática comporta um amplo campo de relações,

regularidades e coerências que despertam a curiosidade e

instigam a capacidade de generalizar, projetar, prever e abstrair,

favorecendo a estruturação do pensamento e o desenvolvimento

do raciocínio lógico (BRASIL, 2001, p.29).

Mas, esses educadores advertem que a melhoria do ensino da matemática

nas escolas brasileiras depende de atividades pedagógicas mais reflexivas e

menos memorísticas.

Autores como Araújo e Luzio (2005), por exemplo, salientam ainda que, os

alunos precisam ser incentivados a resolver um significativo número de problemas

raciocinando sobre situações do cotidiano. Além disso, ressaltam que os avanços

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nessa área dependem da melhor capacitação dos professores, tanto no aspecto

conceitual quanto pedagógico.

Explorar a potencialidade do conhecimento matemático e relacioná-la com

o cotidiano dos alunos é um desafio para todos os educadores, desafio esse

cheio de conflitos e que depende de rupturas com crenças epistemológicas

trazidas para o ensinar e o aprender matemática.

Refletindo sobre o trabalho pedagógico, Snyders (1988) considera que as

atividades desenvolvidas na escola devem ser ao mesmo tempo, livre e dirigida,

pois é com base nelas e no conhecimento escolar que o aluno poderá ver de

forma diferente, ampliada, crítica, o que já percebia ou conhecia a partir de sua

experiência extra escolar. Ao realizar o movimento denominado pelo autor de

continuidade e ruptura, o aluno terá alegria em aprender. Essa alegria

possibilitará ao aluno a compreensão da realidade dando-lhe o impulso

necessário para agir e reagir diante das situações que lhe serão postas.

Se concordarmos com a perspectiva desse autor, o processo de

continuidade e ruptura é essencial na reformulação do ensinar e aprender

matemática, pois viabilizará um repensar sobre aquilo que já se sabe e a partir daí

uma reconstrução objetivando aquilo de que se precisa. Nesse processo, o

professor necessita estar um passo à frente dos alunos e não a dez passos de

distância, para que não se corra o risco de criar dois mundos estanques e

desvinculados.

Snyders (1988, p.93), ao propor a noção de continuidade e ruptura, sugere

que o professor parta do conhecimento da realidade dos alunos, embora não

deva permanecer nesse nível, e sim, “fazê-los avançar um passo”. A ruptura

promoverá um avanço e, de acordo com o autor, a aprendizagem acontecerá de

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maneira mais crítica e concreta na escola, que deve ser um espaço em que se

tenha alegria em aprender.

Por outro lado, é importante que a escola se apresente como um lugar

privilegiado de confrontos, que estimulem nos alunos a capacidade de enfrentar

desafios e de promover rupturas, em um processo de aprendizagem que não é

estanque. Novos conhecimentos são exigidos a fim de que se alcancem os

resultados desejados e necessários para o momento atual.

Hoje em dia já se conta com inúmeras pesquisas na área da educação

matemática, muitas delas experimentam diferentes possibilidades de trabalhar o

conhecimento matemático em sala de aula como forma de contribuir para a

melhoria da prática pedagógica. Mas isso não basta, porque para que essa

melhoria aconteça torna-se essencial aproximar a pesquisa em educação

matemática das séries iniciais1 e incorporá-las ao funcionamento das escolas

(ARAÚJO e LUZIO, 2005). Somente com essa aproximação é possível promover

a melhoria na prática pedagógica.

Dentre as muitas possibilidades de trabalho com a matemática no contexto

escolar se destaca o uso de jogos. Muitos educadores enfatizam a necessidade

de os jogos fazerem parte da cultura escolar, pelo fato de se constituírem em

recurso de valor educativo que auxilia na construção dos conhecimentos e do

raciocínio lógico da criança (BRASIL, 2001).

Dentre os diferentes autores que sugerem o uso de jogos na prática

escolar encontram-se Macedo, Petty e Passos (2000, p.6), para os quais o

trabalho com jogos tem se mostrado uma escolha promissora, “porque

possibilitam a produção de uma experiência significativa para as crianças tanto 1 Neste trabalho manteve-se a denominação séries iniciais para os primeiros anos escolares, em razão de que essa nomenclatura não foi totalmente abolida pela LDB 5692/96.

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em termos de conteúdos escolares como do desenvolvimento de competências e

de habilidades”.

1.2 O JOGO NA HISTÓRIA

Desde os tempos mais antigos, a criança, independentemente de sua

idade ou de sua classe social, brinca. Tendo ou não brinquedos estruturados à

sua volta, a criança sente necessidade de brincar, pois toda brincadeira carrega

em si significados próprios que permitem a apropriação de valores culturais e

sociais que caracterizam o ser humano.

Percebe-se que o brincar é fundamental para o desenvolvimento humano

por ser uma atividade da criança que se mantém durante as fases posteriores da

vida. Adolescentes, adultos e idosos encontram no brincar razões que satisfazem

suas necessidades, por mais variadas que sejam (entretenimento, informação,

desafios, projeções, etc).

Conforme ressaltam Macedo, Petty e Passos (2005, p.14-15):

O jogar é um dos sucedâneos mais importantes do brincar. [...] O

jogar é uma brincadeira organizada, convencional, com papéis e

posições demarcadas. [...] A brincadeira é uma necessidade da

criança; o jogo, uma de suas possibilidades à medida que nos

tornamos mais velhos. Quem brinca sobreviveu (simbolicamente);

quem joga jurou (regras, propósitos, responsabilidades,

comparações).

Quando se analisa a história da humanidade, verifica-se que os jogos se

constituíram em uma forma de atividade inerente ao ser humano. A importância

17

do jogo foi percebida em todos os tempos, e se apresenta como um fato essencial

para a construção da personalidade infantil (ARAÚJO, 1992).

Kishimoto (2003) assinala que, a partir da civilização greco-romana e por

um longo período, as atividades relacionadas com jogo foram compreendidas

como recreação, como relaxamento necessário para compensar os esforços

despendidos no trabalho físico, intelectual ou escolar. Segundo a autora, a

literatura educativa reconhece a importância do brinquedo exatamente a partir

dessa civilização.

Com o advento do Cristianismo, foi imposta à sociedade ocidental uma

educação disciplinadora, que assim permaneceu durante toda a Idade Média, e

na qual não havia condições para os jogos, considerados como delituosos

(KISHIMOTO, 2003).

É no Renascimento que o jogo deixa de ser objeto de reprovação e é

incorporado ao cotidiano dos jovens como uma tendência natural do ser humano.

Situa-se nesse momento, segundo Rabecp-Maillard (apud KISHIMOTO, 2003,

p.15) o nascimento do jogo educativo, que continuará sua expansão no século

seguinte.

É, entretanto, somente no Romantismo, quando se constrói uma nova

imagem da infância, que o jogo é reconhecido como uma conduta típica e

espontânea da criança. Fröbel (apud BROUÈRE, 1998, P.69), o propositor de

uma pedagogia da primeira infância, considera que o jogo é “o meio prático de

permitir à criança ir à direção da exteriorização das verdades profundas que

possui intuitivamente”.

Pesquisadores atuais comungam da visão trazida pelo Romantismo e pela

biologia ao colocar a brincadeira como essencial atividade em suas

18

características de espontaneidade, liberdade e prazer. É na realização da

brincadeira que a criança revela suas possibilidades cognitivas e constrói

conhecimentos a respeito do contexto sócio-cultural da estrutura da sua língua,

bem como elabora seus conflitos emocionais.

Um primeiro ponto que sobressai da discussão histórica é o

reconhecimento do quanto a ludicidade é indispensável ao ser humano em

qualquer idade. E, para muitos autores (MACEDO, PETTY e PASSOS, 2000,

2005; BRENELLI, 2005; KISHIMOTO, 2000; MOURA, 2000, entre outros), a

ludicidade assegurada pelo jogo é um recurso que favorece a aprendizagem.

1.2.1. Pensar a ludicidade

No entanto, o que os autores entendem por ludicidade? Risos,

descontração e alegria são indicativos da ludicidade na escola? Afinal, joga-se

apenas para manter um clima agradável e descontraído? E quem perde, não

encontra no jogo ludicidade?

Ora, ludicidade é, para os autores, algo muito mais amplo do que pode

parecer num primeiro momento.

No dizer de Piaget (19702, apud BRENELLI, 2005) a atividade lúdica

permite à criança assimilação ou a interpretação da realidade a si própria. O autor

reconhece assim, o jogo como um recurso de valor educacional, porque, por meio

dos jogos, a escola permite que a criança assimile as realidades intelectuais,

evitando que as mesmas fiquem exteriores à sua inteligência.

2 PIAGET, J. Psicologia e pedagogia. Trad. Dirceu Accioly Lindoso e Rosa Maria Ribeiro da Silva. Rio de Janeiro: São Paulo: Florense, 1970.

19

Todavia, salientam Macedo, Petty e Passos, o lúdico não é muitas vezes

bem compreendido pelos educadores. Para os autores, é preciso:

[...] desfazer certos mal-entendidos de que lúdico significa

necessariamente algo agradável na perspectiva daquele que

realiza a atividade. Se fosse só assim, poderíamos, por exemplo,

vir a ser reféns das crianças ou condenados a praticar coisas

engraçadas, mesmo que sem sentido (MACEDO, PETTY e

PASSOS, 2005, p.15).

Diante disso, o lúdico precisa ser observado nos processos de

aprendizagem ou desenvolvimento3. Os autores citados sugerem indicadores

para aferir se as atividades escolares carregam um caráter lúdico.

O primeiro indicador a ser observado é o denominado prazer funcional, que

ocorre quando a atividade a ser desenvolvida envolve a alegria - e o sofrimento -

de testar habilidades, transpor obstáculos, vencer desafios. A criança não se

entrega ao jogo para ficar mais inteligente, ou para ser mais bem sucedido no

futuro, mas porque isso é divertido, desafiador, e, se este pode levar a disputas

com os colegas, pode também possibilitar estar junto com eles “em um contexto

que faz sentido” (MACEDO, PETTY e PASSOS, 2005, p.17).

O segundo ponto que, de acordo com autores, deve ser levado em conta

para uma atividade escolar ser considerada lúdica é que ela ofereça desafios e

surpresas. Uma das possibilidades mais interessantes para se promover e avaliar

a aprendizagem é o uso de atividades envolvendo situações-problema, pelo seu

caráter desafiador. O trabalho com situações-problema envolve interesse pelo

3 Para Macedo, Petty e Passos (2005, p.10), desenvolvimento e aprendizagem “são duas fontes de conhecimento”. O primeiro possui um caráter endógeno (interior a uma pessoa, grupo ou sistema). A segunda possui um caráter exógeno, produzido no exterior. Desenvolvimento e aprendizagem podem ser entendidos como formas interdependentes de conhecimento.

20

imprevisível e o prazer está justamente na possibilidade do que vai acontecer no

final.

O terceiro indicador que os autores consideram necessário para a

ludicidade é que as atividades propostas – para uma criança ou um adulto - sejam

possíveis de serem realizadas. As atividades, na perspectiva do indivíduo, devem

ser “necessárias e possíveis” (2005, p.19), pois não haver possibilidade de

realizá-las significa, do ponto vista emocional, se frustrar, não se sentir satisfeito.

Do ponto de vista cognitivo, é necessário que as atividades propostas ofereçam

oportunidades de resolução ou pelo menos de se pensar sobre como resolver.

Uma outra característica do lúdico apontada por Macedo, Petty e Passos

(2005, p.20) é a dimensão simbólica, que precisa ser valorizada pela escola. Essa

dimensão somente se concretiza quando a atividade tem sentido para a criança e

permite que ela possa nelas projetar desejos, sentimentos e valores, expressem

“suas possibilidades cognitivas, seus modos de assimilar ou incorporar o mundo,

a cultura em que vive”. Desconsiderar essa dimensão e submeter à criança

precocemente a conceitos científicos e convenções acarreta desinteresse e

desatenção, porque não correspondem às expectativas individuais ou grupais dos

sujeitos em situação de aprendizagem.

A expressão construtiva é o último indicador de uma proposta lúdica. Para

os autores, é esta dimensão que capacita o sujeito a analisar o jogo sob diversos

prismas, pois se refere ao “desafio de considerar algo segundo diversos pontos

de vista, dada sua natureza relacional e dialética” (2005, p.21).

21

1.3. O JOGO NA EDUCAÇÃO

As recomendações constantes das leis educacionais e as atuais exigências

sociais defendem e valorizam a escola como uma necessidade para a formação

do sujeito, embora não a considerem suficiente para efetivá-la em sua plenitude.

No entanto, como apontam Macedo, Petty e Passos (2005), muitas vezes o

discurso adulto de valorizar a escola como meio de ter maiores garantias para o

futuro pode não corresponder às expectativas das crianças, por se tratar de

valores abstratos e distantes de sua realidade. Por mais convincente que seja o

discurso dos adultos, ele é insuficiente para que as crianças, dentro de suas

possibilidades, compreendam a importância da escola para sua vida futura. As

crianças vivem momentos, por isso o interesse em atividades lúdicas.

Para Macedo, Petty e Passos (2005), os sentimentos das crianças com

relação à formação e a necessidade da escola possuem uma outra dimensão,

peculiar ao seu universo. Por isso, valorizar o lúdico no processo de

aprendizagem significa, entre outras coisas, considerar a atividade lúdica de

acordo com a perspectiva da criança e o jogo apresenta-se como um recurso que

explora em si ludicidade.

O jogo é defendido por vários autores por seu valor educativo. Gonçalves

(1999) acredita que o uso de jogos na escola viabiliza a construção de

conhecimentos de forma prazerosa, assegurando a motivação intrínseca a todo

aprendizado.

Almeida (1998, p.63) salienta que “brincar não significa passatempo”. A

criança utiliza a brincadeira para conhecer o mundo que a cerca. Utilizando o

22

lúdico, a criança desenvolve sua imaginação e seu pensamento abstrato, bem

como estruturas necessárias a sua vida afetiva e social.

Macedo, Petty e Passos (2000, p.23) acreditam que os jogos contribuem

para o desenvolvimento infantil, pois a ação de jogar faz com que o aluno exercite

suas estruturas mentais, busque estratégias para vencer, conviva com regras,

aceite novos desafios e construa conhecimento. Para os autores, existe uma

relação direta entre jogo e conhecimento, pois “para se conhecer é preciso agir,

para jogar também é”. Do ponto de vista educativo, jogar é decisivo para aprender

porque:

[...] favorece a aquisição de conhecimento, pois o sujeito aprende

sobre si próprio (como age e pensa), sobre o próprio jogo (o que

caracteriza, como vencer), sobre as relações sociais relativas ao

jogar (tais como competir e cooperar) e, também, sobre conteúdos

(semelhantes a certos temas trabalhados no contexto escolar). [...]

Assim, quem joga pode efetivamente desenvolver-se (MACEDO,

PETTY e PASSOS, 2000, p.23-24).

Educadores, psicólogos, filósofos e pessoas ligadas à educação deixam

claro, em seus trabalhos, o quanto o jogo é importante no processo de

aprendizagem da criança, não mais o vendo apenas como uma atividade

recreativa, mas também orientada por objetivos relacionados ao aspecto físico,

cognitivo e social da criança (KISHIMOTO, 2000).

Os jogos, no contexto educacional, poderiam ser eficazes para os alunos

porque, segundo Brenelli (2005, p.28), “garantir-lhes-ia, de um lado o interesse, a

motivação, há tanto reclamada pelos professores” além de “possibilitar-lhes

23

construir ou aprimorar seus instrumentos cognitivos e favorecer a aprendizagem

de conteúdos”.

O jogo destaca-se, então, como um recurso de intervenção pedagógica que

não pode ser negligenciado pelos educadores. Piaget e Inhelder (19744, apud

BRENELLI, 2005) ressaltam que em toda conduta humana não se pode separar o

aspecto cognitivo do afetivo, o que assegura a motivação, o interesse e o desejo

que impulsionam a ação.

Para o jogo fazer parte das atividades escolares, a estrutura cognitiva do

aluno necessita ser compreendida pelo professor, caso contrário à atividade de

jogar corre o risco de não ser significativa nem para aquele que ensina, nem para

aquele que aprende.

O jogo é um espaço para pensar, aprender e compreender significados e

conhecimentos desde que exista respeito às possibilidades cognitivas, intelectuais

e sociais para encaminhá-los a sala de aula.

1.3.1. O jogo e a educação matemática

A necessidade de proporcionar uma educação matemática de qualidade a

todos os alunos tem levado os educadores a propor diferentes formas de abordar

o conhecimento em sala de aula. Em sua maioria, essas propostas consideram o

aluno como centro do processo educacional, um ser ativamente empenhado no

processo de construção de seu conhecimento, sempre interpretando seu mundo e

suas experiências com os diferentes fenômenos em que se puser em contato,

4 PIAGET, J. e INHELDER, B. A psicologia da criança. Trad. Octávio Mendes Cajado. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1974.

24

inclusive o matemático. E, conforme D’Ambrósio (1989, p.16), “são as

interpretações dos alunos que constituem o saber matemático de ‘fato’”.

Dentre as propostas para tornar a aprendizagem da matemática mais

efetiva e prazerosa, uma é a do uso de jogos no seu ensino, por se considerar

que, no processo de desenvolver estratégias de jogo, o aluno “envolve-se com o

levantamento de hipóteses e conjeturas, aspecto fundamental do

desenvolvimento do pensamento científico, inclusive matemático” (D’ AMBRÓSIO,

1989, p.18).

Os Parâmetros Curriculares Nacionais propõem o jogo como um dos

recursos a serem utilizados no ensino da matemática porque:

Por meio dos jogos as crianças não apenas vivenciam situações

que se repetem, mas aprendem a lidar com símbolos e a pensar

por analogia (jogos simbólicos): os significados das coisas

passam a ser imaginados por elas. Ao criarem essas analogias,

tornam-se produtoras de linguagens, criadoras de convenções,

capacitando-se para se submeterem a regras e dar explicações.

(BRASIL, 2001, p.48).

De acordo com os Parâmetros (BRASIL, 2001, p.49), “um aspecto

relevante dos jogos é o desafio genuíno que eles provocam nos alunos, que gera

interesse e prazer”.

Pesquisadores e educadores (entre os quais MACEDO, PETTY e

PASSOS, 2000, 2005 e BRENELLI, 2005) enfatizam o valor do jogo considerando

que ele favorece o processo ensino/aprendizagem em todas as áreas de

conhecimentos, em especial o da matemática.

25

Segundo esses autores, o jogo se constitui em uma abordagem

significativa para o trabalho com a matemática na fase inicial da escolarização,

pois, nessa fase, a criança necessita explorar, descobrir inúmeras coisas sobre o

mundo que a cerca. Além disso, o jogo representa uma atividade lúdica, que

envolve o desejo e o interesse do jogador pela própria ação do jogo. Envolve

ainda conhecer seus limites e as possibilidades de superá-los na busca da vitória,

adquirindo confiança e coragem para se arriscar.

Brenelli (2005) argumenta que a utilização do lúdico no aprendizado

desperta o prazer e o entusiasmo da criança, que se sente estimulada a superar

desafios, a utilizar a sua criatividade para lidar com o imprevisível. A dificuldade

em superar o desafio é algo que agrada a criança.

O jogo permite a passagem do fazer para o compreender, o que implica

progressos cognitivos e conceituais essenciais no contexto escolar,

principalmente na disciplina de matemática, já que o conhecimento lógico-

matemático é construído pelas crianças por um processo “de dentro para fora, em

interação com o ambiente físico e social, e não por internalizarão, de fora para

dentro, por meio de transmissão social” (KAMII, 1995, p.17).

Falando sobre conhecimento aritmético, Kamii (1995, p.147-148) enfatiza

que o jogo é um recurso motivador para aprendizagem das quatro operações,

além de, por envolverem regras, contribuem para o desenvolvimento da

autonomia. Defende sua prática por acreditar que o trabalho embasado em

atividades com jogos “[...] são melhores que folhas de exercícios [...] fornecem

oportunidades para criar estratégias, um trabalho intelectualmente muito mais

estimulante”.

26

Contrapondo-se a atividades enfadonhas, repetitivas e memorísticas, o

jogo é sugerido como um recurso desafiador, estimulante, problematizador, que

leva os alunos a pensarem uma mesma situação de diversas maneiras, o que

afinal aproxima a situação escolar das situações vivenciadas fora da escola, uma

vez que os problemas com que nos defrontamos no dia-a-dia precisam ser e são

analisados sob diferentes pontos de vista.

Um aspecto fundamental da utilização dos jogos nas aulas de matemática

encontra-se nas possibilidades que este recurso oferece para aproximar a criança

do conhecimento científico. Moura (2000, p.86) destaca que essa aproximação

leva a criança a vivenciar “virtualmente” situações problemas que já foram ou são

enfrentadas pela humanidade. Como salienta o autor, a matemática “deve buscar

no jogo (com sentido amplo) a ludicidade das soluções construídas para as

situações-problema seriamente vividas pelo homem”.

Diante dessas considerações de caráter epistemológico, psicológico e

social pode-se entender o que representa o jogar em matemática, ou seja, não é

apenas uma brincadeira, mas uma brincadeira que evolui até o conteúdo

sistematizado, por ter uma intencionalidade pedagógica (MOURA, 2000).

O jogo precisa, porém, trazer em si problemas e desafios vinculados às

necessidades dos alunos, pois só assim pode facilitar a compreensão das noções

matemáticas. Como salienta Brenelli (2005, p.183), “as crianças têm interesse

muito maior em resolver problemas aritméticos quando eles surgem de situações

concretas e estão vinculados às suas reais necessidades”.

Dessa forma, o jogo é concebido pelos educadores como um recurso

capaz de favorecer a aprendizagem significativa aos conceitos matemáticos.

27

1.4 OBJETIVOS DO JOGO NO ENSINO

Ao afirmar a relevância do jogo, Chateau (1987) destaca que durante muito

tempo acreditou-se que o jogo era o oposto do trabalho. Com o passar do tempo

e o advento de novas teorias de aprendizagem, passou a ser visto não como uma

forma de ócio, mas como atividade séria e necessária para o desenvolvimento da

criança, ampliando e reforçando a necessidade do seu uso na escola.

Se, como vimos, pode-se justificar o uso do jogo em contextos escolares

por meio de inúmeros objetivos, vários autores (MACEDO, PETTY e PASSOS,

2000; BRENELLI, 2005; MOURA, 2000; KISHIMOTO, 2000, entre outros),

defendem a ludicidade assegurada pelo jogo como um recurso que favorece a

aprendizagem.

A escola destinada para todos e obrigatória pode se tornar ao mesmo

tempo lúdica, desde que, alguns aspectos inerentes ao lúdico sejam respeitados.

De acordo com Macedo (1995, p.10), quando se joga se tem a

possibilidade de “chegar ao conhecimento, pelas características do jogo, pelos

exercícios, símbolos e regras”.

Brenelli (2005, p. 29) afirma que quando se entende conhecimento como

resultante das trocas, da interação entre sujeito e meio, o jogo passa a ser

indispensável nos processos de desenvolvimento e aprendizagem. Porém,

ressalta a autora, é preciso compreender os processos subjacentes a essas

trocas, a fim de que permitam possibilitar que elas desafiem o raciocínio de cada

sujeito para que se torne, “construtor de seu próprio saber”. Isto supõe que o

28

aluno, concebido como um sujeito ativo e participativo, precisa, a cada momento,

escolher estratégias, raciocínios, reconhecer erros para que possa construir

novas estratégias até alcançar as metas e objetivos propostos com o jogo. Esse

processo favorece ao sujeito a tomada de consciência, que, segundo Piaget

(19775, apud BRENELLI, 2005, P. 37), se constitui em uma conceituação, em

uma “transformação nos esquemas de ação em noções e em operações”.

Macedo (1995, p.10) ressalta que, em certos momentos, a escola, ao

propor certas situações, delas retira o sentido, o valor lúdico, o prazer funcional. E

que, assim procedendo, os diferentes conhecimentos escolares tornam-se “jogos

cujas regras nós ensinamos de forma esvaziada, portanto sem valor”.

1.4.1 Aspectos metodológicos da utilização de jogos em sala de aula

Como foi visto no item anterior, é possível se afirmar à relevância do

trabalho com jogos nas aulas de matemática, por eles favorecerem o

desenvolvimento das estruturas cognitivas permitindo que o sujeito realize

descentrações e coordenações de pontos de vista, bem como, o

desencadeamento de regulações ativas no processo de escolha de

procedimentos adequados ao alcance dos objetivos do jogo (BRENELLI, 2005).

Quando o jogo se torna um espaço para pensar, a criança encontra

oportunidades de desenvolvimento porque nele:

5 PIAGET, J. A tomada de Consciência. Tradução: Edson Braga de Souza. São Paulo, Melhoramentos/Edusp – (Edição Original: 1974).

29

[...] organiza e pratica as regras, elabora estratégias e cria

procedimentos a fim de vencer as situações-problema

desencadeadas pelo contexto lúdico. Aspectos afetivo-sociais e

morais estão implícitos nos jogos, pelo fato de exigir relações de

reciprocidade, cooperação, respeito mútuo. Relações espaço-

temporais e causais estão presentes na medida em que a criança

coordena e estabelece relações entre suas jogadas e a do

adversário (BRENELLI, 2001, p.178).

Muitas vezes, os jogos não são explorados em sala de aula em toda sua

potencialidade por não serem semelhantes às tarefas escolares que durante

muito tempo caracterizaram o ensino. Mas este recurso traz, para o espaço

escolar, a objetividade, a motivação, o desejo de aprender, de superar desafios e

o prazer de pensar e resolver problemas, tão ausentes nas práticas pedagógicas

costumeiras.

O jogo possibilita a problematização, o estabelecimento de relações e

necessidades, o trabalho com estruturas, os raciocínios, as demonstrações e a

compreensão de um sistema que apresenta regularidades próprias que pode ter

sido, muitas vezes, reproduzido (MACEDO, PETTY e PASSOS, 1997).

Se a construção de conceitos matemáticos é resultado de um processo

oriundo de elementos históricos, de problemas concretos e de conhecimentos

advindos de outros campos de conhecimento, os processos de ensinar/aprender

matemática devem ser conduzidos de tal forma que esta deixe de ser vista, como

ressalta Pavanello (2004, p.30) “como algo somente para poucos gênios”. O jogo

configura-se, frente às considerações feitas, como uma estratégia pedagógica

que promove o aprendizado da matemática pelos alunos e o desenvolvimento de

uma nova concepção de ensino no cotidiano escolar.

30

Muitos educadores procuram bons jogos, jogos que sejam de fato

educativos, que assegurem a aprendizagem dos conceitos. Muitos, porém,

procuram “receitas” de jogos, com a idéia de que assim procedendo poderão

alcançar o sucesso do aluno. Mas será que é o jogo em si que conseguirá

promover esse sucesso? É o jogo capaz de possibilitar, por si mesmo, a

construção do conhecimento matemático?

Mesmo se acreditando que o conhecimento é algo a ser construído pelo

sujeito, não se pode deixar de reconhecer a importância dos encaminhamentos

pedagógicos, pois, afinal, o modo como as situações de jogos são direcionadas

em sala de aula interferem nos resultados que esses recursos podem alcançar.

Na realidade, como afirma Starepravo (1999, p.15), os jogos não

proporcionam “grandes milagres”, a produtividade do trabalho depende

diretamente do encaminhamento dado pelo professor. São os professores os

responsáveis em “problematizar os jogos, lançando desafios e oferecendo

subsídios para nossos alunos, na busca de respostas”. Portanto, pensar o jogo

nessa perspectiva de aprendizagem implica reavaliar e redefinir o papel e as

atitudes do professor, bem como o dos alunos durante o trabalho com jogos.

Macedo, Petty e Passos (2000, p.17), ao discutirem os aspectos

metodológicos que envolvem a prática de jogos, ressaltam não se poder esperar

que o trabalho com jogos possa ser executado como uma “receita de bolo”, pois

eles, por si só, não são suficientes e adequados para todos que dele participem.

Espera-se que um trabalho em que se explore do uso de jogos contribua para a

aprendizagem.

Um ponto importante a ser discutido é o momento em que o jogo será

usado em sala de aula, e os objetivos para sua utilização. Kamii (1995) ressalta

31

que os jogos serão “facilmente” deteriorados quando usados apenas como

“diversão” ou como meio “de matar aula”. Para que se evite tal situação, o

professor necessita levar os jogos a sério e se envolver neles. A esse respeito, a

autora salienta:

Se o professor usar esse tempo para corrigir trabalhos, as

crianças rapidamente entendem que os jogos não são importantes

o suficiente para que o professor se preocupe. Além do mais, é

jogando com elas que o professor pode avaliar melhor o quanto

cada criança raciocina numericamente [...], pode também dizer

quando um jogo precisa ser modificado ou abandonado (KAMII,

1995, p.148).

Ao participar da situação de jogo, o professor precisa se colocar na mesma

posição de jogador que os alunos, com os mesmos direitos, deveres e poder de

decisão (STAREPRAVO, 1999). O professor deve ter claro que seu envolvimento

e sua participação nos jogos colaboram para a criação de um espírito de

seriedade e de valorização destes junto aos alunos.

Se a participação do professor é importante, ela não deve, porém, ser feita

de modo a impedir a criança de desenvolver seu pensamento e raciocínio, ou

seja, ao se colocar no papel de jogador, o professor não deve ficar

constantemente corrigindo os erros dos alunos, interferindo no seu levantamento

de hipóteses e nas suas estratégias.

De acordo com Moura (2000), para que o uso de jogos seja percebido

como provedor de educação, é fundamental que o educador tome para si o papel

de organizador do ensino. De comunicador de conhecimentos, o professor passa

a ser observador, mediador e incentivador da aprendizagem, buscando lançar

32

questões desafiadoras que promovam o desequilíbrio cognitivo. Macedo, Petty e

Passos (2000) consideram o professor, numa perspectiva piagetiana, como o

“dosador” da atividade, aquele a quem cabe o gerenciamento desta, de maneira a

favorecer questionamentos e reflexões.

Os autores, partindo do princípio de que as crianças pensam

diferentemente dos adultos e de que utilizar jogos nas aulas de matemática não

significa ensinar a criança a jogar, destacam ainda que o professor deve estar

presente como um mediador com “a função de estimular o aluno a pensar e

propor situações-problema, proporcionando mais espaço para o descobrimento e

construção de suas idéias sobre o mundo em vez de fornecer informações

prontas” (MACEDO, PETTY e PASSOS, 2000, p.38).

É relevante que o professor procure manter constantemente o interesse do

aluno em solucionar os desafios que os jogos podem proporcionar em um

ambiente de ensino. Conforme destaca Brenelli (2005, p.173):

O interesse que a criança tem pelos jogos faz com que

prazerosamente ela aplique sua inteligência e seu raciocínio no

sentido de obter o êxito. Assim sendo, ao jogar, o sujeito realiza

uma tarefa, produz resultados, aprende a pensar num contexto

em que enfrentar os desafios e tentar resolvê-los são imposições

que ele faz a si próprio.

O docente, antes de levar os jogos para a sala de aula, deve analisá-los

previamente, o que só é possível de se fazer jogando. O educador poderá

identificar dificuldades e facilidades em sua realização, analisar as próprias

jogadas, refletir sobre erros e acertos. Essa análise pessoal servirá de apoio para

a elaboração de questões que vão contribuir para o bom encaminhamento do jogo

33

em sala de aula (BORIN, 1996). É importante destacar que bons resultados no

trabalho com jogos dependem diretamente do encaminhamento dado pelo

professor, e este deve ter paciência e perseverança para colher frutos do seu

trabalho.

Conforme Macedo, Petty e Passos (2000, p.40), tais considerações

demonstram o quanto o domínio metodológico é indispensável, pois para que

uma proposta de jogo em sala de aula tenha qualidade, os professores precisam

estar “preparados, atuando com pleno domínio dos conteúdos a serem

trabalhados em sala de aula e conscientes de seu papel vital no processo

educativo”.

Um outro aspecto metodológico a ser considerado refere-se as regras do

jogo. Como enfatizam Kamii e Housman (2002, p. 242), as regras de um jogo

fazem parte do conhecimento social, convencional, e, portanto, podem e devem

ser modificadas a partir das necessidades e características de cada grupo que

joga. As crianças precisam ser estimuladas a proporem mudanças nas regras

inicialmente apresentadas, uma vez que normalmente suas sugestões “são

sensatas e apropriadas”. Ao invés de ditar as regras, o docente deve construí-las

em conjunto com os alunos, a fim de que estes percebam as conseqüências e as

finalidades de cada uma delas.

Após as regras serem combinadas e aceitas pelos alunos, elas não podem

ser esquecidas. Starepravo (1999) enfatiza que as regras precisam ser lembradas

em sala de aula, pois seu não cumprimento prejudica os resultados do jogo.

Entretanto, este cumprimento não pode acontecer por meio de ações punitivas e

autoritárias, mas sim por meio do diálogo, favorecendo o bom andamento das

atividades com jogo.

34

Aprender as regras torna-se essencial para que o jogo aconteça. Macedo,

Petty e Passos (2000) apontam que esse aprendizado ocorre de dois modos:

jogando-se uma partida na lousa e, simultaneamente, ir lembrando as regras ou

questionando quais regras referentes àquele jogo as crianças conhecem para que

se possa compor, em conjunto com o grupo, aquelas que predominarão. No

entanto, se o jogo tiver muitas regras, essas precisam ser apresentadas

separadamente para facilitar seu entendimento e sua apropriação por parte da

criança.

O momento de construção de regras é, para Macedo, Petty e Passos

(2000, p.20), algo que “deve ser longamente explorado, estando o adulto

disponível para responder às dúvidas que sugirem”. Todavia, isso não garantirá o

bom desempenho do jogador, uma vez que outras variáveis como a elaboração

de estratégias, a resolução de situações-problema e a tomada de decisões são

elementos que também influenciam neste desempenho.

A ação de jogar exige comprometimento com as regras e clareza da

intencionalidade para possibilitar que os objetivos almejados sejam alcançados.

Esses aspectos são fundamentais e necessitam estar presentes na sala de aula

para que o ambiente se torne “cooperativo, produtivo e disciplinado” (MACEDO,

PETTY e PASSOS, 2005, p.36).

Oportunizar um ambiente de observação, de troca de opiniões e de

possibilidade de argumentação com o outro, de modo organizado, é indispensável

nas aulas de matemática. Para tanto, o espaço físico onde o jogo acontece é uma

variável que precisa ser considerada. Mesas e cadeiras devem ser organizadas

para facilitar o desenvolvimento das atividades. Se o espaço escolhido for o chão,

móveis, limpeza do ambiente e aceitação, por parte do grupo, de nesse ambiente

35

jogar devem ser observados. “É preciso pensar na organização espacial como um

todo para evitar confusões que impeçam o desenrolar da proposta. Em síntese, o

profissional deve ter em mente a questão relativa ao Onde” (MACEDO, PETTY e

PASSOS, 2000, p.16).

O bom resultado com jogos na matemática exige, de acordo com Borin

(1996), que os alunos saibam trabalhar em grupo. Mesmo que existam barulhos,

discussões e conflitos, sua diminuição ocorrerá aos poucos à medida que os

alunos se acostumarem a trabalhar com o jogo no ambiente de sala de aula.

Vale ressaltar que, quando o jogo é utilizado em sala de aula, o barulho é

inevitável e as discussões são necessárias para se chegar a resultados

convincentes. Portanto, é essencial que se compreenda esse barulho de maneira

construtiva, pois sem ele pode não ser possível alcançar a motivação que o uso

de jogo exige (BORIN, 1996).

É necessário e determinante no trabalho com jogos a construção de um

ambiente adequado e disciplinado. Entende-se por ambiente disciplinado um

espaço em que a criança se conscientize do seu papel, entenda os conteúdos e

os focalize acima de tudo, desprezando outros possíveis interesses. Se o

ambiente apresentar muitos estímulos ao mesmo tempo (alunos conversando,

saindo dos lugares, provocando colegas), o jogo se tornará disperso e desfocado

o que impedirá que se alcancem os resultados esperados e que se desenvolva o

potencial dos alunos.

Toda situação de jogo faz com que a criança enfrente pelo menos três

desafios: trabalhar sua autodisciplina, reconhecer a autoridade (no mínimo) da

regra e comportar-se adequadamente (MACEDO, PETTY e PASSOS, 2005).

Para que esses desafios sejam enfrentados pela criança é imprescindível que os

36

jogos sejam apresentados com certa periodicidade. Não deve servir apenas para

preencher o tempo ou introduzir conteúdos, mas percebidos como uma

ferramenta valiosa do ensino de matemática, com a qual é possível desenvolver o

raciocínio lógico, o prazer e a aprendizagem. É importante que as aulas com

jogos aconteçam pelo menos uma vez por semana a fim de que auxiliem na

fixação de conteúdos e na exploração de cálculos (STAREPRAVO, 1999).

O jogar precisa ocupar um espaço em continuidade, ou seja, apresentar-se

de maneira constante. A freqüência auxiliará a determinar e analisar “a seqüência

das atividades, quais as necessidades do público e quais os objetivos futuros a

serem atingidos. Em síntese, o profissional deve ter em mente as questões

relativas ao Como continuar e o que fazer depois” (MACEDO, PETTY e PASSOS,

2000, p.17).

37

II - A PESQUISA

Neste capítulo será realizada a apresentação da presente pesquisa e

descrito, em detalhes, o seu desenvolvimento. Será apresentado o problema do

estudo e os objetivos perseguidos serão descritos, assim como a metodologia

empregada e os instrumentos e procedimentos utilizados para coleta dos dados.

Finalmente se indicará o modo como foram analisadas as informações

coletadas.

2.1 O PROBLEMA

Nos últimos anos vem crescendo o interesse pela educação matemática,

especialmente na busca de respostas para problemas relacionados ao processo

ensino/aprendizagem levado a efeito nas escolas.

Esse interesse é evidenciado pelas inúmeras pesquisas que têm se

dedicado a examinar a prática educativa com a matemática visando, a oferecer

subsídios para sua melhoria (MACEDO, PETTY e PASSOS, 2005; BRENELLI,

2005, et all.).

A busca por resposta aos problemas nos faz perceber a necessidade de

investigar a própria prática pedagógica, bem como os professores. Segundo

Tardif (2000), é importante que se investiguem os saberes profissionais para que

se possa conhecer a epistemologia que sustenta a prática do magistério. Sem

conhecer e investigar o saber dos professores torna-se difícil promover mudanças

nas práticas educativas.

38

Este estudo pretende investigar, especificamente, as propostas teóricas

voltadas para uso de jogos nas aulas de matemática e relacioná-las com as

crenças e idéias alimentadas a respeito desse tema pelos docentes que atuam

nas séries iniciais do Ensino Fundamental, de modo a tornar possível verificar a

proximidade ou o distanciamento entre o discurso teórico, presente na literatura, e

o discurso da prática, revelado nas falas das professoras.

Desse modo, o presente estudo poderá não só contribuir com as pesquisas

sobre a educação matemática, mas também para apontar aos professores

possibilidades de exploração e intervenção pedagógica no processo

ensino/aprendizagem a fim de favorecer seu envolvimento e o de seus alunos no

mesmo.

2.2 AS QUESTÕES DE ESTUDO

Para investigar o processo ensino/aprendizagem da matemática é

indispensável um olhar sobre o professor, uma vez que esse é o sujeito

diretamente responsável na prática pedagógica. Essa interferência acontece por

meio de crenças epistemológicas e/ou crenças adquiridas ao longo do exercício

do magistério. Portanto, investigar os saberes e as crenças dos docentes sobre o

uso de jogos na educação matemática é relevante.

A presente pesquisa, que tem como objetivo geral investigar se e como são

apropriadas pelos professores das séries iniciais do Ensino Fundamental as

orientações de pesquisadores para utilização de jogos no ensino/aprendizagem

39

de matemática, procura, ainda, responder a certas indagações que permeiam

essa discussão:

• Qual a relevância da utilização dos jogos na construção de

conhecimentos matemáticos? Será que colaboram, de fato, para que essa

construção aconteça?

• Como vem sendo discutido esse tema na literatura e em trabalhos

científicos? Quais são as recomendações dos pesquisadores para o trabalho com

jogos nas séries iniciais do Ensino Fundamental, especialmente no que se refere

à matemática?

• Essas discussões e recomendações dos pesquisadores são do

conhecimento dos professores que atuam nas séries iniciais do Ensino

Fundamental?

• Esses professores utilizam o jogo em sua prática pedagógica? Essa

utilização segue, ou não, as recomendações dos pesquisadores? Por quê?

Para dar respostas a essas questões foi realizada a pesquisa cuja

metodologia é descrita a seguir.

2.3 METODOLOGIA

A definição da metodologia empregada na análise e coleta dos dados foi

feita considerando o problema em sua complexibilidade. Para defini-la foram

respeitados os objetivos do estudo, a natureza do problema a ser investigado,

bem como as variáveis que influenciam na produção desse problema.

40

Tendo em vista responder às duas primeiras indagações do item anterior

foi realizada uma pesquisa de caráter bibliográfico visando levantar, na literatura

mais acessível6 aos professores, qual a visão dominante sobre a relevância dos

jogos na educação, especialmente na matemática, bem como suas

recomendações sobre como deve ser o trabalho com jogos nas séries iniciais do

Ensino Fundamental.

Para responder às demais questões do estudo, optou-se pela realização de

uma pesquisa qualitativa, tendo como instrumento a entrevista estruturada. A

opção pela pesquisa qualitativa foi feita por se entender que esse modelo de

investigação permite compreender os fenômenos inseridos numa relação

dinâmica entre o mundo real e o sujeito. Para Chizzotti (2000, p.79), a abordagem

qualitativa compreende os fenômenos a partir de uma:

Interdependência viva entre o sujeito e o objeto [...] o

conhecimento não se reduz a um rol de dados isolados,

conectados por uma teoria explicativa [...] o objeto não é um dado

inerente e neutro; está possuído de significados e relações que

sujeitos concretos criam em suas ações.

Na investigação com as professoras foi utilizada como instrumento a

entrevista estruturada (as questões feitas para as professoras e as transcrições

das entrevistas encontram-se no Apêndice A e B).

6 Como literatura mais acessível são aqui consideradas as obras editadas e disponíveis, em geral, nas livrarias e, muitas vezes, nas bibliotecas das escolas ou de instituições do ensino superior.

41

2.3.1 Os sujeitos da pesquisa

Os sujeitos da pesquisa foram oito professoras que atuam nas séries

iniciais do Ensino Fundamental, em escolas da rede estadual e privada de

Maringá. As instituições foram escolhidas por se localizarem na área central do

município e atenderem a um grande número de alunos de diferentes localidades.

A seleção das professoras foi feita a partir de uma conversa com a

coordenadora pedagógica de cada escola. Durante essa conversa procurou-se

esclarecer ao máximo os objetivos da pesquisa, enfatizando-se a necessidade de

entrevistar docentes que atuam com o ensino de matemática nos primeiros anos

do Ensino Fundamental.

O critério de seleção das professoras foi estabelecido pela instituição, sob o

argumento que a escola apontaria profissionais que realizam trabalhos

diferenciados e dinâmicos. Vale ressaltar que os estabelecimentos de ensino

compreendem por aulas diferenciadas e dinâmicas aquelas ministradas por

professores que estão constantemente se reciclando, ou seja, que participam de

cursos, palestras e outros eventos que possam contribuir para melhoria de sua

prática. A coordenação pedagógica nomeou algumas professoras, que já

desenvolvem trabalhos com jogos na escola e a escolha recaiu naquelas que

concordaram em participar da pesquisa.

Quanto ao perfil das docentes que participaram da pesquisa, estas se

caracterizam por serem todas do sexo feminino, sendo que cinco delas atuam nas

séries iniciais do primeiro ciclo do Ensino Fundamental, especialmente na primeira

série, e três delas no segundo ciclo, principalmente na terceira série. Apresentam

42

um tempo de experiência profissional que varia entre nove e vinte e três anos de

trabalho com séries do Ensino Fundamental.

A professora identificada nessa pesquisa como P1 é formada em Língua

Portuguesa/Espanhola, tem uma experiência com magistério de onze anos e já

teve experiências profissionais com o Ensino Médio. Atualmente trabalha com

uma turma de 2ª série do Ensino Fundamental, composta por trinta alunos, em

uma escola da rede pública.

Outra colaboradora dessa investigação, identificada como P2, trabalha em

duas escolas do ensino público, atendendo ao todo cinqüenta e quatro alunos de

primeiras séries do Ensino Fundamental. Formada em Pedagogia e pós-graduada

em Orientação Escolar, completou, em 2005, quatorze anos de atividade docente

com crianças das séries iniciais do Ensino Fundamental.

A professora P3 é formada em Pedagogia com especialização em Educação

Especial/Educação Infantil. Exerce sua profissão há vinte e três anos. Divide seu

tempo profissional em dois períodos, um dedicado a uma turma de 1ª série do

Ensino Fundamental em uma instituição particular e, no outro, trabalha com

crianças de 1ª a 6ª séries do Ensino Fundamental, na rede pública, ministrando a

disciplina de Artes, totalizando uma média de duzentos alunos sob sua

responsabilidade.

Docente formada em Português/Inglês e pós-graduada em Pedagogia

Institucional/Educação Infantil, a professora P4 leciona para setenta alunos, sendo

que em um período trabalha em escola particular, com 25 crianças de 2ª série do

Ensino Fundamental e, no outro com turmas de 5ª e de 6ª séries da rede pública

de ensino. Sua experiência como docente registra nove anos de profissão com

essas séries.

43

Trabalhando com turmas de 1ª e de 3ª séries do Ensino Fundamental da

rede pública, nossa colaboradora intitulada, nesta investigação como P5 encontra-

se em fase de término do curso de Pedagogia à distância. Seus vinte e três anos

de atividade docente estão respaldados pela formação no curso de em Magistério

(ensino médio). Trabalha dois períodos na mesma instituição, atendendo um total

de sessenta alunos.

P6 é graduada em Ciências Econômicas, tendo sido habilitada para lecionar

por ter feito Esquema I7. Tem especialização em Didática e Metodologia, atua

como professora há cerca de vinte e um anos, é professora auxiliar de duas

escolas da rede pública, atendendo em média sessenta alunos com dificuldades

de aprendizagem.

A professora P7 exerce sua profissão há quinze anos, trabalhando

atualmente em uma única escola particular com 30 crianças de 3ª série do Ensino

Fundamental. É formada em Pedagogia e se especializou em Deficiência Mental.

A última colaboradora dessa pesquisa, P8 exerce sua atividade profissional,

há dez anos, no Ensino Fundamental em escola da rede particular. Graduada em

Pedagogia e pós-graduada em Psicopedagogia, atualmente trabalha em um único

período, com trinta alunos de 3ª série do Ensino Fundamental.

7 Esquema I é a chamada complementação Pedagógica, que permite ao graduado de cursos de diferentes áreas se habilitarem para docência nas disciplinas profissionalizantes do ensino médio. Como atualmente o ensino médio é de caráter propedêutico a professora foi remanejada na escola, motivo pelo qual atua agora como professora auxiliar, atendendo crianças com dificuldades de aprendizagem.

44

2.3.2 A abordagem aos professores participantes

O contato com as professoras selecionadas aconteceu na segunda

quinzena de outubro de 2005. O primeiro objetivo desse contato foi o de

esclarecer o que se pretendia com nossa pesquisa, explicando o tipo de

compromisso que se pretendia estabelecer – o de não utilizar nomes ou dados

que as pudessem expor a qualquer tipo de comprometimento - ou

constrangimento, assim como o de lhes informar o resultado da pesquisa.

Após estabelecer o contrato ético da pesquisa, foi-lhes explicado que a

mesma seria realizada por meio de um questionário ao qual a entrevistada estaria

livre para responder como bem desejasse, sendo qualquer dúvida quanto ao

entendimento da questão sanada pela entrevistadora. Foi esclarecido sobre a

necessidade de gravarmos essa entrevista, pois seria a garantia da integridade

das respostas.

Foi-lhes também informado que o nosso papel seria apenas de ouvir e

gravar as respostas, sem qualquer intenção de avaliar. Enfatizou-se, ainda, que

da entrevista resultaria um documento escrito (transcrição da entrevista), no qual o

anonimato seria totalmente respeitado, sendo para tanto atribuídos números aos

professores participantes bem como às respectivas escolas.

É importante ressaltar que antes de sua aplicação, o projeto foi

supervisionado e aprovado pelo Comitê Permanente de Ética em Pesquisa

Envolvendo Seres Humanos, estando de acordo com a Resolução nº 196/96 e

complementares do CNS/MS.

45

2.4 OBTENÇÃO DOS DADOS

A coleta dos dados relativa à presente investigação foi realizada

exclusivamente pela investigadora. As entrevistas aconteceram no início na

segunda quinzena do mês de outubro do ano de 2005. Para a realização da

entrevista, foi utilizado gravador como forma de garantir a transcrição criteriosa

das respostas, não omitindo nem acrescendo nada além do que foi argumentado

pelas professoras.

Para identificar a concepção das professoras sobre o uso de jogos nas

aulas de matemática nas séries iniciais do Ensino Fundamental, foi utilizado como

instrumento para coleta de dados a entrevista estruturada, composta por sete

questões (Apêndice A). As questões buscavam caracterizar além da concepção

de jogos das professoras, o seu conhecimento sobre os PCN e outros materiais

teóricos referentes ao tema pesquisado.

Procurou-se identificar na entrevista elementos da prática educativa da

professora, seu conhecimento teórico sobre o uso de jogos e sobre o conteúdo

referente a esse tema presente nos documentos oficiais recentemente elaborados,

além do papel da escola na viabilização dos jogos nas aulas de matemática.

As entrevistas foram realizadas em horário e data determinadas pelas

professoras. A maioria das entrevistas aconteceu na sala de professores em

horários destinados a hora/atividade, sendo que duas das entrevistas

aconteceram no pátio da escola, antes do início das aulas.

As questões foram elaboradas visando oportunizar liberdade para a

entrevistada expressar suas idéias diante do tema investigado, pois, de acordo

46

com Chizzotti (2000), o discurso livre facilita as respostas e o desenvolvimento da

própria entrevista.

2.5 TRATAMENTO DOS DADOS

Uma vez transcritas as entrevistas, estas foram analisadas de forma a

buscar convergências e divergências nas falas das professoras, a partir do que foi

possível estabelecer algumas categorias de análise necessárias para discussão e

apresentação dos resultados da pesquisa.

47

III - ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Este capítulo se ocupa da análise dos dados coletados com as professoras

relacionando-os com as recomendações dos pesquisadores indicadas na

pesquisa bibliográfica. A análise das entrevistas permitiu identificar algumas

características do pensamento das professoras sobre os jogos e a prática

educativa que realizam por meio desse instrumento metodológico. Essa

caracterização permitiu levantar as categorias usadas na análise das falas das

docentes.

Embora sejam possíveis outras interpretações e categorias diferentes das

aqui utilizadas a partir da fala das professoras, as categorias apontadas são as

que foram consideradas relevantes tendo em vista os objetivos propostos para a

pesquisa.

3.1 O JOGO É IMPORTANTE, MAS...

Um primeiro ponto ressaltado nas falas das professoras é a importância,

que todas atribuem aos jogos nas aulas de matemática.

Entre os argumentos que as docentes entrevistadas utilizam para justificar

tal importância, um tem a ver com a possibilidade deles contribuírem para o

desenvolvimento do raciocínio, da abstração e da inteligência, como se pode

compreender da fala de P48 .

8 A abreviatura P refere-se ao sujeito entrevistado, e o número caracteriza qual dos sujeitos apresenta essa resposta.

48

Eu acredito que seja de suma importância, porque tem vários

fatores que fazem o desenvolvimento da criança, e o jogo, na

matemática, é um deles, além de estimular a criança pra aquele

desafio, que geralmente envolve um desafio. Ele também estimula

a criança na questão do raciocínio também. Então, o estímulo

através de jogos é muito importante na matemática. E matemática

pra eles, eu vejo na 2ª série, que a gente parte do concreto, mas

tem coisa que é abstrata para eles entenderem. Então através do

jogo, eles entendem bem mais fácil também (P4).

Para essa professora, o jogo contribui para o entendimento de conceitos,

ao mesmo tempo em que estimula a criança a aceitar os desafios que situações

de jogo cria.

As professoras mostraram acreditar que os jogos favorecem a elaboração

de conceitos na matemática e em outras áreas do conhecimento.

Eu acredito que ele é importante sim, [...] podem estar fazendo as

relações de matemática, aprendidas em sala de aula. Então, os

jogos são importantes [...] e eles podem estar vivenciando coisas

que não fazem parte da rotina deles, e eles podem estar

assimilando conteúdos trabalhados em sala, com maior facilidade

(P7).

Outra justificativa dada por elas para explicar a importância dos jogos nas

aulas de matemática é a possibilidade que eles oferecem para um

desenvolvimento emocional – uma vez que propiciam motivação, alegria, diversão

e o social.

49

Eu tanto acho importante, que praticamente todas as aulas de

matemática a gente inicia com um jogo na escola. A importância

do jogo pra gente, primeiro é a motivação da criança, porque a

gente já está montando na sala um clima de tranqüilidade, de

alegria, de diversão, e a partir dessa diversão, se abre caminho

pra que a gente possa estar trabalhando o conteúdo que a gente

quer naquele momento, e assim, fazer com que a criança perceba

de uma maneira mais prazerosa (né), o conteúdo. Que ela

consiga aprender de uma maneira mais tranqüila do que aquela

tradicional, sentada, no caderno, um atrás do outro (né). Então, o

jogo além de socializar, ele abre um caminho pro aprendizado da

criança (P3).

Pelos argumentos utilizados pelas professoras, fica evidente que os jogos

são vistos por elas como um recurso válido para as aulas de matemática por

diferentes motivos. Porém, suas argumentações são mal elaboradas,

evidenciando confusões conceituais, o que compromete a coerência das idéias e

objetivos que deveriam subsidiar o trabalho docente. É o que se observa, por

exemplo, na seguinte fala:

Eu acredito, porque eu penso que ele estimula, até por ser lúdico

(né), pelo lúdico a criança ela vê no real, não é uma coisa

abstrata. Penso que da forma que ela vai brincando, vai clareando

e dando entendimento, porque quando é só na escrita, quando ele

está só escrevendo ou só vendo a tabuada, por exemplo...(né).

Então, aquilo é muito abstrato. Ele não entende o porque daquilo.

Agora, quando você brinca, quando você faz a junção de objetos,

quando você faz outros tipos de jogos, então a criança ela

percebe o porque daquilo...(né). Agora, estou trabalhando a

multiplicação, para a criança compreender que a multiplicação

nada mais é, do que a adição. Então, só através de jogos para

você fazer que ela perceba que não é uma coisa tão grandiosa,

50

porque muitas vezes, a multiplicação assusta a criança (né), e

você não fizer uma multiplicação legal, assim que ele consiga, a

divisão vai ser um bicho de sete cabeças, por isso que eu penso,

muitas vezes, que anteriormente, as pessoas tinham medo da

matemática...(né). Porque elas viam ela nua e crua, do jeito que

estava no livro, (né) sem ter a possibilidade de ver ela

ludicamente... De ver palpável, penso (P1).

Se as professoras reconhecem, em teoria, a importância dos jogos na

educação matemática, isso não as faz aderir a eles como princípios de sua

prática educativa. Isso fica patente quando comentam com que regularidade

utilizam os jogos em suas aulas. Dizem elas:

Então, aí vai depender muito do conteúdo, porque tem conteúdo

que é “vapt-vupt” – perdão da palavra. Então, tem conteúdo que

acaba que não há muito aquela necessidade. Mas, agora, como a

gente está trabalhando a multiplicação, que já estou muito

encantada com essa coisa de multiplicação, e como eu não havia

trabalhado, então há a necessidade de fazer compras, quantidade

de produtos, outros tipos de mercadorias, o que eles gostam mais.

Então, isso aí acontece com freqüência, quase toda semana a

gente consegue. E aí acontece um outro momento, ficamos até

vinte dias sem, entendeu? Eu penso que cada conteúdo ele vai te

dar mais possibilidades de fazer ou não os jogos (P1).

Uma vez por mês, uma vez... É mais uma vez por mês, e nós

temos consciência que é pouco, porque o jogo na verdade, pra ser

bem trabalhado esse jogo ele precisa ser jogado várias vezes [...]

(P7).

51

É... No colégio, eles pedem que a gente trabalhe pelo menos um

jogo no trimestre (tá), várias vezes, é lógico, pelo menos, um jogo

no trimestre. Então, a gente tenta (enfatiza) trabalhar um jogo por

trimestre. Dá uma vez por semana, porque a gente tem que tá

colocando isso dentro do planejamento, mas cada 15 dias pelo

menos (P8).

Verifica-se, pois, que o jogo é muito pouco utilizado na prática pedagógica

dessas professoras. Tal comportamento pode ser em parte explicado pelo fato de

raramente terem, em sua formação inicial ou mesmo na continuada, vivenciado

situações com jogos, como elas próprias admitem.

Então, no início do ano, nós tivemos uma semana de estudo e nós

tivemos só um texto, [...] discutia essa necessidade de trabalhar

com os jogos, mas... Só isso mesmo que eu pude ver [...] (P1).

[...] Eu sinto falta disso, texto é bom, é, mas sem a aprendizagem

a isso, não sei aonde vai me ajudar.

Pra mim, pra eu construir o embasamento... A fundamentação

que eu tenho anterior, só do curso de pedagogia, por exemplo,

não me dá sustentação pra desenvolver outros níveis de

aprendizagem com aqueles mesmos jogos, que de repente, eu

poderia estar explorando (P2).

Todavia, além da questão da não periodicidade dos jogos, alguns outros

argumentos podem ser identificados na fala dos sujeitos que indicam os motivos

pelos quais os jogos devem estar presentes nas aulas de matemática. Quando

questionada se acredita que os jogos são importantes nas aulas de matemática,

diz P2:

52

Eu acredito. De alguma forma eu penso que isso ajuda a trabalhar

sim, como início de aquisição de conceitos, mas pra trabalho

habitual, eu penso que é, muitas vezes, emperra o processo pela

quantidade de horas e de tempo que envolve uma única atividade.

Pra desenvolver, por exemplo, jogos muito complexos com eles,

eu levo tempo pra organizar, um tempo pra trabalhar a atividade

que ele precisa desenvolver com o jogo. E, de repente, eu levaria,

um mesmo tempo, com um jogo único mostrando pra todos, que

se eu for dar um joguinho pra cada um, explicar a regra. O

trabalho individualizado, isto emperra o processo, no meu modo

de pensar (P2).

Esta fala indica, por certo, um conflito entre o discurso teórico, que

defende o uso de jogos, na escola, e os discursos da prática, influenciados pelo

ambiente escolar/social. Mais ainda, a fala de P2 denuncia a existência nas

escolas, da tirania da programação curricular, que tanto a direção das escolas

quanto às famílias exigem que seja cumprida integralmente, não importa de que

maneira, mesmo que isso dificulte ou impeça a aprendizagem dos alunos. Além

disso, indica que as situações de jogos provocam nos alunos condutas diferentes

daquelas comumente encontradas em aulas expositivas com resoluções de

exercícios; provocam comportamentos que alguns professores sentem

dificuldades em controlar e conduzir. Cabe assim, nessa discussão, questionar,

se nossos professores não estarão deixando de utilizar os jogos por acreditarem

que a posição das carteiras e o silêncio são indicativos mais significativos de

aprendizagem do que a efervescência que ocorre durante o trabalho com o jogo?

Quando se discute o uso de jogo no ensino, é preciso, pois reconhecer a

existência de dificuldades que se interpõem para que as orientações dos

pesquisadores sejam postas em práticas. Uma dessas dificuldades pode ser

53

atribuída à formação do professor, na qual não se trabalha com jogos sob

qualquer enfoque, mesmo que diferentes dos sugeridos nas obras consultadas.

Não tendo havido essa vivência na sua formação inicial e continuada, e face à

obrigação de dar conta da programação curricular, que impera no ambiente

educativo e social - há famílias que cobram a obediência a essa programação - os

professores acabam por não realizar efetivamente um trabalho com jogos em sala

de aula.

3.2 PARA QUE SERVE MESMO O JOGO?

A análise das falas das professoras revela suas crenças sobre as

finalidades da utilização do jogo em sala de aula. Para algumas, os jogos servem

para introduzir o conteúdo.

Nós utilizamos sempre que possível o jogo, primeiro pra introduzir

um conteúdo com a parte lúdica e depois também pra que eles

fixem aquele conteúdo. Então, sempre que nós conseguimos,

podemos fazer um jogo com aquele determinado conteúdo, tendo

um objetivo, nós fazemos também (P4).

Para outras docentes, a finalidade do jogo é a de despertar o interesse do

aluno como forma de garantir seu envolvimento e sua participação em etapas

posteriores do ensino, como na resolução de exercícios.

Olha... Olha pra mim... Falar assim, pra eu falar o que eu utilizo

(né). Que eu utilizo todas as aulas não! Mas, de vez em quando,

54

sim (né). Com a finalidade de a criança sentir mais interesse pela

aula. Que é como eu disse nas primeiras (né), que... A criança,

você trabalhando com jogos com ela, ela sabe... Vai se

interessando pelo assunto... Pela matemática [...] (P5).

Para algumas professoras, os jogos servem para auxiliar no trabalho com

crianças que apresentem dificuldades de aprendizagem, ajudando-as em sua

superação.

Atualmente, estou trabalhando mais com crianças com

dificuldades. Então, vinculação de jogos, porque estas crianças

precisam vivenciar melhor (né), as situações da matemática para

poder compreender. [...] Até pra facilitar a aprendizagem dessa

criança já com dificuldades (né). Ela não consegue entender o

ponto, o problema, sem... Sem vivenciar mesmo (né), e através

dos jogos eu acho que facilita bastante o trabalho. Eu tenho

conseguido resultado. [...] A criança com dificuldade, se você não

trabalhar com jogos, eu acho que ela num... Num consegue

entender a matemática. Ela vai só fazendo uma reprodução [...]

(P6).

A dificuldade que muitas professoras sentiram para justificar as finalidades

do trabalho com jogos nas aulas de matemática precisa ser apontada, pois é

indicativo de um pensamento confuso, com argumentos soltos e desalinhavados

que predomina no contexto de aprendizagem escolar.

Utilizamos, (tá). É... Tá certo, que a gente deveria utilizar mais,

mas a gente utiliza sim. A finalidade é desenvolver o raciocínio,

desenvolver estratégia de pensamento (tá), a sociabilização, é...

É... Normas de condutas (tá) e também a interpretação (P8).

55

Bom, existem os jogos que são pra iniciar o conteúdo (né), que a

gente vai trabalhar aquelas questões que a criança já sabem.

Existem o jogo que é pra gente estar observando se a criança

aprendeu ou não, que são jogos de avaliação, como que eu vou

fazer esta semana ainda. Vou brincar de “já sei” – que é um jogo

de multiplicação, onde a gente vai ver as crianças que sabem a

multiplicação já e aquelas que ainda a gente precisa ajudar (né). E

a gente trabalha o jogo também pra entreter a criança, pra criança

apenas se divertir, pra ela passar um momento legal, pra ela estar

se distraindo com o amigo dela e ir relaxando daqueles momentos

mais tensos da escola (P3).

Os discursos parecem mostrar que essas professoras podem estar muitas

vezes utilizando os jogos simplesmente por utilizá-los, com procedimentos

didáticos totalmente distantes das orientações dos pesquisadores a respeito dos

encaminhamentos a serem seguidos a fim de que os jogos sejam, de fato, recurso

educativo.

As falas das docentes sugerem que só o fato dos jogos estarem presentes

nas salas de aula já seriam indicativos para que o desenvolvimento e a

aprendizagem acontecessem. Macedo, Petty e Passos (2000) ressaltam que se o

objetivo ou a finalidade da utilização dos jogos não for clara o direcionamento do

trabalho educativo poderá ser comprometido.

O professor precisa compreender que para que seus objetivos para a

inserção de jogos no ambiente escolar sejam alcançados, é necessário que toda

a dinâmica de sala de aula, os procedimentos, a avaliação, os registros e os

problemas sejam repensados e modificados, tanto no ponto de vista do aluno

como do próprio professor.

56

Definir a finalidade dos jogos na educação matemática escolar pode

assegurar que significados próprios da atividade de jogar sejam vivenciados, pois

permite, de acordo com Macedo, Petty e Passos (2000, p.15):

[...] estabelecer a extensão das propostas e, as eventuais

conexões com outras áreas envolvidas. Nesse momento, algumas

perguntas podem ser feitas: O que pretendo desenvolver no

decorrer das atividades? Onde quero chegar?

Muitas vezes, percebe-se que a confusão das professoras diante das

finalidades dos jogos pode ser justificada pelas crenças advindas de teorias e

modismos pedagógicos que “colocam apenas no sujeito as possibilidades de

aprender, desconsiderando elementos externos como possibilitadores da

aprendizagem” (MOURA, 2000, p.78). Ressalta o autor que, a partir das teorias

psicológicas de cunho sócio-interacionistas, novos paradigmas para a utilização

do jogo na escola foram definidos, distanciando-se das teorias anteriormente

elaboradas. Isto porque se percebeu que essas levavam apenas a práticas

superficiais de ensino que não eram indicativos de produção de conhecimento.

Portanto, para Moura (2000, p.80), o professor que utilizar o jogo a partir dessas

concepções os estará utilizando de maneira espontaneísta e os tornando

incapazes de serem visto de promotores de aprendizagem. Para evitar essa visão

distorcida, faz-se necessário que se repense o uso dos jogos “de modo

intencional e, sendo assim, o que requer um plano de ação que permita a

aprendizagem de conceitos matemáticos e culturais, de uma maneira geral”.

Brenelli (2005, p.173) deixa claro que os progressos que as crianças

podem apresentar por meio do uso de jogos somente acontecem quando, em sala

57

de aula, se cria um “espaço para pensar”. Ou seja, os desenvolvimentos

cognitivos, afetivos e pedagógicos só acontecerão se a criança encontrar na

escola um lugar para “experimentar o prazer da atividade lúdica, o domínio de si,

a criatividade, a afirmação da personalidade e a valorização do eu”.

Para que os jogos possam cumprir verdadeiramente seu papel pedagógico,

torna-se necessário, no entanto, que o professor esteja bem preparado para

utilizá-los, pois, como defendem Macedo, Petty e Passos (2005, p.37),

Um profissional não-habituado a usar jogos como instrumento de

avaliação e intervenção pode considerar difícil enxergar tantas

qualidades e duvidar das possibilidades de utilizá-los em sua

prática pedagógica.

3.3 JOGO, O QUE É ISSO?

A terceira categoria identificada na pesquisa é a de que nem sempre o que

as professoras consideram jogo o é, de fato. Suas idéias a esse respeito não são

muito claras e evidenciam, mais uma vez, o distanciamento entre o discurso

docente e o dos pesquisadores.

Eu uso jogos, geralmente, para apresentar conceitos, como eu te

disse (tá). A questão da divisão, jogos que eu possa estar

trabalhando com a criança, por exemplo, a quantidade, a

conservação dessa quantidade... Principalmente, pra a construção

de conceitos iniciais, de capacidade, quantidade, reversibilidade,

esses tipo de coisa, (tá) [...] (P2).

58

O discurso dessa professora nos permite questionar: afinal que jogos são

esses de que ela está falando? Mais parecem os testes piagetianos de

conservação, e esses não são jogos.

Outros discursos ainda definem jogos como sendo materiais pedagógicos,

da mesma forma que o ábaco, o material dourado, os blocos lógicos.

Depende bastante do desenvolvimento do conceito que a gente

está trabalhando (tá). Se eu tô trabalhando, por exemplo, algo

novo pra ele, eu uso mais tempo. O ábaco, por exemplo, que eu

tenho utilizado [...] (P2).

[...] eu utilizo: material dourado, blocos lógicos, o ábaco (né) [...]

(P6).

Brenelli (2005) aponta que essa confusão sobre o que são jogos é muito

comum na área da matemática. Para a autora, a ênfase nos materiais

manipuláveis e no material estruturado pode caracterizar uma não compreensão

do jogo como um possível elemento pedagógico.

Tal confusão sobre o entendimento do que realmente seja o jogo talvez

indique, de acordo com Moura (2000), o conflito e a oposição entre o brincar e o

aprender. Para o autor, o professor precisa compreender o jogo como uma

atividade séria e ao mesmo tempo lúdica, que garante a aproximação dos alunos

ao conhecimento científico, fazendo com que os incorpore com significado em seu

contexto social.

Kishimoto (2000) ressalta que os equívocos e as contradições entre o

caráter sério e lúdico dos jogos podem ser percebidos ao longo dos tempos e

continuam notados ainda hoje.

59

Considerando as contribuições feitas no período do Romantismo, como

afirma Brougére (1998), percebe-se que houve o enriquecimento da noção de

jogo, permitindo que ele fosse visto como algo essencial ao desenvolvimento

infantil, pois o concebeu como uma atividade séria, pelo menos para a criança.

Visto desse modo, o jogo deixou de ser entendido como oposição ao trabalho e

passou a ser compreendido como algo que precisa fazer parte das práticas de

ensino.

Diante desse contexto, é possível se afirmar a relevância dos jogos no

ensino na visão dos pesquisadores, os quais defendem que eles façam parte da

cultura escolar, “cabendo ao professor analisar e avaliar a potencialidade

educativa dos diferentes jogos e o aspecto curricular que se deseja desenvolver”

(BRASIL, 2001, p.49).

Identificar a potencialidade educativa dos jogos é algo extremamente

importante no fazer docente, pois quando esta potencialidade não é clara

dificuldades poderão comprometer os objetivos planejados e conseqüentemente a

aprendizagem de determinados conceitos será inviabilizada.

Ao discutir o que as professoras entrevistadas entendem por jogos, não se

pode deixar de apontar as referências que fazem a materiais estruturados, o que

traz à tona a polêmica relação entre jogos e estes materiais, muito questionado na

literatura.

A polêmica justifica-se em razão do fato de que certos professores

empregam materiais como: ábaco, blocos lógicos, escala de Cuisenaire, material

dourado entre tantos outros, entendendo-os como jogos. No entanto, materiais

estruturados encontram-se mais especificamente ligados aos conteúdos

escolares, uma vez que todo material estruturado ou pedagógico tem si a função

60

de organizar a prática educativa e garantir que as finalidades de instruir e os

objetivos de ensino sejam assegurados, orientando e direcionando todo o

processo de aprendizagem. Enquanto que jogos apresentam finalidades mais

amplas, ou seja, não estão ligados diretamente nas questões pedagógicas,

embora possam contribuir para aprendizagem.

Kishimoto (2003) destaca que a grande diversidade de materiais

estruturados pode levar a alguns questionamentos referentes à sua função, pois

afinal, ábaco, material dourado, escala de Cuisenaire, etc, são exemplos de jogos

ou de materiais estruturados?

Esse duplo sentido reforça a importância do papel do professor, pois,

dependendo de como o material estruturado será encaminhado em sala de aula,

este poderá ser entendido ou não como jogo. Percebe-se, de maneira clara, este

duplo sentido quando se compara o discurso dos sujeitos P6 e P1 que fizeram

parte da pesquisa.

Utilizo bastante material dourado, fazendo atividade, no começo

deixo ela contar à vontade, depois eu começo a agrupar (né)... Até

ela perceber quando ela... Deixo ela agrupar da forma que ela

achar melhor. Então, a gente propõe algumas situações, que tal

você agrupar de dois em dois (né), vai sugerindo, e ela vai

acrescentando. Uso, também, palitos (né) pra contagem [...] (P6).

[...] trabalha o dinheiro, o dinheirinho (né), então eles trazem esse

dinheiro, então aí a gente vai fazer compras (né), então vamos

fazer compras, aí quando é assim, que a gente vai inventar, aí

sim, esse aqui é o açougue e você vai vender isso, isso e isso,

você é isso, isso e isso, aí você vai colocar o preço, vai ter que

colocar a etiqueta, então eles colocam a etiqueta nas... Então aí

eu e eles, juntos fazemos as regras [...] (P1).

61

Analisando a fala do P6 fica evidente que os materiais pedagógicos são

empregados com finalidades educativas, sem qualquer função lúdica. O uso do

material justifica-se para ensinar agrupamentos, contagens e outros conteúdos

relevantes para permitir a construção do número e o entendimento das trocas

comuns no sistema decimal. A utilização do material tem, a partir do enfoque

dado pela professora, uma intencionalidade própria totalmente atrelada ao ensino

de conteúdos. Isso acaba minimizando o ato lúdico possível de ser explorado por

esses materiais estruturados sugeridos pela P6.

Analisando-se o discurso de P1 percebe-se que ela permite que o material

pedagógico utilizado na sala de aula mantenha o caráter de ludicidade viabilizado

pelo mesmo. Os encaminhamentos didáticos relatados pela professora sugerem

um espaço para a criação de regras, faz-de-conta, para a liberdade e autonomia

intelectual paralelo a um espaço para a resolução de problemas e a

aprendizagem de determinados conceitos matemáticos, como o sistema

monetário.

Kishimoto (2003, p.22) aponta que a utilização pedagógica de jogos e

materiais no ensino é algo que precisa ser muito discutido para que não se perca

de vista a promoção da aprendizagem. Portanto, é preciso explorar o jogo em seu

contexto instrutivo e “qualquer jogo empregado pela escola, desde que respeite a

natureza do ato lúdico, apresenta o caráter educativo e pode receber também a

denominação geral de jogo educativo”.

Frente a isso, percebe-se que o entendimento que as professoras

apresentam sobre jogos mostra-se confuso e, em alguns momentos,

desvinculados e distantes das orientações e discussões feitas pelos

62

pesquisadores. Isso pode comprometer as finalidades educativas que o jogo

possibilita no trabalho pedagógico. Kishimoto (2003, P. 23) conclui que, mesmo

com as confusões que caracterizam o conceito de jogo, “pode-se dizer que todo

jogo é educativo em sua essência. Em qualquer tipo de jogo a criança sempre se

educa”.

Desse modo, é possível reconhecer a necessidade dos jogos em sala de

aula, pois o mesmo tem o seu papel e sua função na escola. Com professores

bem preparados para ensinar, os jogos serão instrumentos de apoio didático que

poderá favorecer nos alunos o desenvolvimento e a formação de conceitos.

É possível que se repense não só o conceito de jogo no contexto escolar,

mas a própria formação dos professores a fim de que a escola, cada vez mais,

ensine com qualidade, criticidade e significados.

3.4 EU JÁ OUVI FALAR SOBRE JOGO, MAS QUEM FOI QUE FALOU?

Um quarto ponto a ser levantado, a partir da análise dos discursos das

professoras entrevistadas, é o seu quase total desconhecimento sobre as obras

que tratam especificamente de jogos.

Isso pode ser verificado por suas respostas a questão dois, na qual se

questiona o conhecimento do professor sobre textos específicos de jogos para a

aprendizagem da matemática. A questão três também solicita o reconhecimento

de informações teóricas, enfocando particularmente o conteúdo abordado nos

63

Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática, elaborados na década de 90

no Brasil.

Percebe-se que, em um primeiro momento, todas as professoras afirmaram

conhecer textos e livros referentes a jogos para a aprendizagem de matemática,

principalmente os materiais e livros divulgados por algumas secretarias e núcleos

de educação.

Todavia, ao se questionar sobre os assuntos abordados nesses textos e

livros, o seu conhecimento passa a ser motivo de dúvida, uma vez que, a maioria

das professoras afirmou não se lembrar de nada do contexto discutido.

Olha, de memória assim agora, (né). O texto assim, e de quem,

vários textos eu assim tenho lido, tenho observado, mesmo alguns

livros, e eu acho que... E eu acho que... Tem falado, tem

divulgado sobre os jogos porque eles trazem assim muito mais

bagagem pra criança (né), porque a criança quando está

trabalhando o jogo, está despertando mais criatividade (né), é o

que eu disse na primeira, mais interesse (né). Ela aprende com

mais facilidade. Eu acho que a criança aprende com mais

facilidade quando está trabalhando com jogos.

Mesmo no núcleo de educação, nós estamos até fazendo um

curso de 120 horas (né). Nós estamos trabalhando em cima de

jogos matemáticos (né), e eu acho que até nós, professores

despertou assim, muito interesse em trabalhar jogos em sala de

aula. Muito interesse, até pra nós professores mesmo (né). Eu

acho, sinto assim, que depois do... Do curso que eu tô tendo (né),

que nós estamos assim praticamente quase no final, eu aprendi

muito, sabe, mudou até o meu... O meu jeito de trabalhar em sala

de aula, que eu não fico presa só em lousa, caderno (né). Então,

eu acho que despertou bastante... Assim, eu estou criando

bastante, eu acho que mudou muito o meu jeito de trabalhar... E

pra criança também (P5).

64

Além de desconhecer os conteúdos apresentados pelos materiais

divulgados por secretarias e núcleos de educação, algumas professoras fizeram

referência a certos autores de maneira superficial e vaga, o que sugere um

possível conhecimento, mas que não pode ser afirmado pelo discurso feito.

Eu conheço sim, alguns textos dados pela secretaria, dados

também nos cursos de atualização e capacitação. Conheço textos

da Maria “alguma coisa” Ishimoto que trabalha a questão da

aprendizagem de conceitos e outros, mas não especificamente

matemática. O que tenho lido são revistas da área que

apresentam trabalho com jogos e, por gostar também da

atividade... Assim, eu procuro ler, só que nem sempre trabalha a

idéia que fundamenta professor. O profissional, pra trabalhar com

isso, apresenta regra, apresenta o procedimento, a maneira de

fazer, mas a minha construção de conceito, enquanto educador,

vem muito como fosse didático e não paradidático. Para o

profissional, pra ele enriquecer sua lógica de pensamento, idéias

também. Eu sinto falta disso, texto é bom, é, mas sem a

aprendizagem a isso, não sei aonde vai me ajudar.

Pra mim, pra eu construir o embasamento... A fundamentação que

eu tenho anterior, só do curso de pedagogia, por exemplo, não me

dá sustentação pra desenvolver outros níveis de aprendizagem

com aqueles mesmos jogos, que de repente, eu poderia estar

explorando (P2).

O discurso do P2 evoca, embora de maneira equivocada, a lembrança do

nome de uma autora, que é referência nos estudos sobre o lúdico na educação,

Tizuko Morchida Kishimoto. Além disso, a professora cita o conhecimento de

“revistas da área”, mas não aponta o nome de nenhuma delas e conclui sua fala

afirmando que a fundamentação teórica que sustenta seus trabalhos foi adquirida

65

durante a sua graduação em Pedagogia, e essa é insuficiente para sua prática

pedagógica.

Percebe-se ainda, pela fala da professora, que os textos teóricos são

válidos somente quando trazem em si “o procedimento, a maneira de fazer”, ou

seja, parece que somente o acesso a textos mais explicativos e descritivos de

como aplicar os jogos na sala de aula despertaria o seu interesse e conseguiria

satisfazer as necessidades da aprendizagem.

Os argumentos empregados pela professora revelam, porém, uma

problemática que envolve os textos destinados a divulgar o uso de jogos no

processo de ensino/aprendizagem. As expectativas de muitas professoras estão

centradas apenas em textos que tragam exemplos de jogos, deixando claro os

materiais, os procedimentos, os objetos e tudo mais que possa assegurar o

sucesso de uma aula. Parece haver uma busca por receitas eficazes, por isso

textos que tragam reflexões sobre o porquê, o como, o quê e o para que jogos, ou

seja, textos que discutem a fundamentação teórica dos jogos, não são alvos

diretos do interesse docente.

Macedo, Petty e Passos (2000) destacam, em seus trabalhos referentes ao

uso de jogos no contexto escolar, que esses não devem ser “tomados como

‘receita de bolo’”. Para os autores os textos sobre jogos não são suficientes e

adequados para solucionar todos os problemas e todos os encaminhamentos ao

seu uso em sala de aula. Para os autores os textos devem trazer a possibilidade

de:

[...] servir como referencial algo que pode funcionar como

parâmetro, pois apresenta possíveis caminhos, ilustra certas

situações e leva à reflexão sobre a prática. Cada um, a seu modo

e de acordo com as suas necessidades, poderá atribuir diferentes

66

valores, designar funções, dar significados - considerando a sua

realidade - ou definir em que termos poderá servir e que

adaptações deverão ser feitas (MACEDO, PETTY e PASSOS,

2000, p.17-18).

Além da expectativa de que os textos e livros tragam a “receita” de como

trabalhar o jogo em sala de aula, outro problema identificado no discurso das

professoras entrevistadas é, além de um desconhecimento dos autores que

tratam os jogos do ponto de vista teórico e prático, a referência a autores que não

trabalham diretamente com o assunto. Isso se observa nas seguintes falas:

Olha, existem muitos jogos... Muitos livros estão sendo lançados,

porque é um assunto assim que tá... Tá em voga, hoje, a questão

do jogo na matemática (né). Então, eu conheço muitos livros, a

gente lê muito aqui na escola, a gente estuda bastante aqui na

escola. E a gente tenta adequar aquele jogo que a gente tá vendo

nos livros, a gente tenta trazer pra sala de aula.

O texto que eu mais leio é da Kamii, que é A Criança e o Número,

então através dos jogos que ela trabalha, através do texto dela, a

gente pode perceber que o principal objetivo da matemática, com

os jogos, é criar uma autonomia pra que a criança aprenda com

mais facilidade, com mais tranqüilidade. Eu acho que isso que o

jogo tá buscando, fazer com que a criança tenha uma autonomia

no aprender. Com que ela consiga descobrir os conteúdos numa

maneira particular, da maneira dela (P3).

Eu conheço. Não de secretaria, a gente trabalha alguns textos

aqui (tá) no colégio (né), a gente tem alguns. É... Eles trabalham

como trabalhar o, jogo, o que especificam sobre jogo.

Principalmente, no ensino da matemática (tá), apesar do jogo não

ser... Ter objetivo só na matemática (né), porque ele tem objetivo

global, não só para ensino da matemática. Mas, ele é mais

67

divulgado para o ensino da matemática. Eu tenho alguns textos,

Celso Antunes, por exemplo, e Cristina Friedman, se eu não me

engano (P8).

A fala dessas professoras indica que elas fazem referências vagas sobre

autores, demonstrando um desconhecimento sobre o assunto jogos nas aulas de

matemática. Ao citar Constance Kamii e seu livro “A Construção do Número”, a

professora P3 demonstra desconhecer que, nesse livro, o foco da autora é

explicar como acontece esta construção do ponto de vista cognitivo,

apresentando as estruturas mentais envolvidas, os objetivos para ensinar, os

princípios de seu ensino e algumas situações escolares que o professor pode

usar para promovê-lo, dentre os quais se destacam os jogos. No entanto, é válido

destacar a referência feita pela professora ao livro e a autora citada.

Com referência a Celso Antunes e Adriana Friedman (e não Cristina como

citado pela professora), os autores foram apenas apontados superficialmente, não

sendo possível identificar as obras referidas, muito menos seus conteúdos. Sabe-

se que esses autores discutem educação, um de maneira mais ampla enfocando

diferentes aspectos relacionados ao processo educativo (Celso Antunes) e, a

outra (Adriana Friedman), enfocando especificamente a importância do brincar.

Os autores citados não são, de fato, uma referência no trabalho com jogos no

ensino da matemática, o que indica, mais uma vez, um desconhecimento teórico

e um distanciamento por parte das professoras dos trabalhos dos pesquisadores

no tema.

Procurando, ainda, identificar o conhecimento teórico das professoras

sobre a temática investigada, questionou-se os conhecimentos específicos sobre

os Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática, cujos objetivos definidos

68

eram “apontar metas de qualidade de ensino” para ajudar o aluno a enfrentar o

mundo atual, além de serem “um instrumento útil no apoio às discussões

pedagógicas [...] na elaboração de projetos educativos, no planejamento das

aulas, na reflexão sobre a prática educativa e na análise do material didático”

(BRASIL, 2001, p.3).

Sobre os objetivos da utilização de jogos constantes nos PCN, a maioria

das entrevistadas revelou ter um certo conhecimento do material, sem, no

entanto, tê-lo discutido de fato ou como deveriam.

Em relação aos PCN, a gente tem estudado na escola sim, de

uma maneira muito tranqüila ainda. A gente ainda não se

aprofundou nos PCN ainda. Pelo que eu li, eles trabalham muito

essa questão do jogo, do envolvimento da criança com o jogo. E

acho que é isso que eu sei só, não sei muita coisa não. É o ensino

da matemática de uma maneira mais prática, pelo que a gente vê

no... Nos PCN, essa maneira prática que a gente procura na

escola é trabalhar com o jogo e a vivência da criança. A vivência

que ela tem fora da escola, trazer pra dentro da escola (P3).

Quando, posteriormente, se solicitou que as docentes discorressem sobre o

conteúdo dos PCN, novamente ficou evidente uma confusão conceitual entre

aquelas que procuraram identificar o conteúdo abordado. Algumas professoras

responderam que o conteúdo discutido pelo documento refere-se a jogos (tema

sugerido pela pesquisa). Todavia, abordaram os jogos reduzindo-os e

desconsiderando qualquer possibilidade de discussão, o que evidencia sua

confusão e falta de conhecimento real sobre o teor do documento.

69

Olha, nós estudamos os PCN na época em que eles foram

lançados. Estudamos, mas não lembro, a única coisa assim, que

ficou bem forte pra nós foi o trabalho em espiral. Trabalhando em

todas às séries, existe uma repetição de conteúdos pra que a

criança vá aprendendo de forma gradativa, que vá aumentando

esse conteúdo de forma gradativa. Então, é isso que ficou bem

claro pra nós e também a questão dos jogos, que os PCN

também... Trazem os jogos como metodologia de ensino (né), um

recurso. Não me lembro mesmo dos PCN (P7).

Outras professoras apontaram como conteúdos discutidos pelos PCN,

aspectos didáticos e pedagógicos referentes ao como ensinar, procedimentos

gerais e comuns que estivessem presentes em um documento voltado para a

educação.

Sim, eu já trabalhei um determinado tempo como formadora de

grupos e conheço especificamente os PCN da 1ª a 4ª (tá), do 1ª

ensino. Eu conheço desde a parte que fundamenta, a questão

objetiva, os encaminhamentos metodológicos, esse tipo de coisa,

mas também como leitura da minha formação do PCN, mas não

porque ele é discutido na escola, (tá). Porque, especificamente, na

escola nós não fazemos trabalho nenhum com eles. A não ser o

professor individualizado. Cada um usa da sua maneira, faz a sua

leitura, faz a sua discussão consigo mesmo. Mas, eu usar lá, na

prática do dia-a-dia... Hoje eu uso, mas pela formação que eu tive

como formadora de grupos, não como professora, porque isso

nunca foi me dado (tá) (P2).

Algumas professoras reconheceram seu desconhecimento do documento por

falta de interesse - chegando mesmo a achar graça desse desinteresse (P8) - ou

porque não trabalham com essa diretriz em sua escola, a qual adota o Currículo

70

Básico da Estado do Paraná (P6). Resta saber o quanto conhecem, de fato, do

documento indicado.

Vou dizer a verdade, não conheço. Sei que tem, já até folhei, mas

não... Não vou te dizer, porque não estudei corretamente (risada)

(P8).

Conheço. Só que eu não estudei profundamente sobre os PCN, a

gente trabalha mais em cima da proposta do Currículo do Estado

Paraná. A gente deu leves pinceladas nos PCN, mas eu acho que

nossa base de trabalho é o Currículo do Estado. A gente ainda...

(né). Mesmo que tenha os PCN que é mais novo (né), um material

mais novo. Mais a nossa base de trabalho ainda é o Currículo do

Estado do Paraná (P6).

Um aspecto que não pode deixar de ser desconsiderado refere-se à

incompreensão demonstrada por algumas professoras sobre o que são os PCN,

que fica explicitada quando confundem diretrizes curriculares para o ensino de

matemática com metodologias didáticas voltadas para áreas de saberes.

Eu conheço os PCN de matemática, mas é educação infantil, que

eu trabalhava educação infantil e... Eu acho assim, que, eu penso

assim, que uma teoria que nem sempre dá certo na prática (tá), é

uma coisa assim muito sonhada, às vezes, mas que, às vezes, na

prática que não é seguido (né). Então, eu não sei falar, relatar

como que tá escrito lá, mas o que eu percebo é isso, não só os de

matemática, das outras disciplinas também, mas de uma forma

geral (P4).

71

Evidencia-se, assim, a falta de conhecimento das professoras, tanto da

rede estadual quanto privada, sobre os PCN, que objetivavam, por meio de sua

implantação, organizar um novo currículo, normatizando os conteúdos escolares,

os encaminhamentos e as propostas didáticas. No entanto, os discursos mostram

que, ainda hoje, existem docentes que os desconhecem.

Esse desconhecimento, comprovado pela maneira vaga com que se

referem ao seu conteúdo, sustentado em terminologias inapropriadas e sem

indicar especificamente esse conteúdo, é um dado preocupante para o ensino de

modo geral. Além disso, o fato de, no decorrer de suas respostas, as professoras

acabaram redirecionando-as para outros temas que não o da pergunta em si,

deixa aparente a desorganização de seu pensamento e, portanto, de sua ação.

Diante destas considerações, pode-se destacar os não-saberes revelados

pelas professoras do conteúdo teórico abordado em livros e textos de

pesquisadores sobre o assunto investigado nesta pesquisa. Sabe-se a

necessidade do embasamento teórico para que se possa de fato promover

mudanças na qualidade e na realização de novas práticas de ensino.

3.5 ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA...

A quinta categoria apontada na análise dos dados é a relação entre teoria e

prática, tão defendida pelas áreas de Didática e pelas metodologias de ensino,

mas que não vem sendo viabilizada no que se refere ao uso de jogos nas aulas

de matemática nas séries iniciais do Ensino Fundamental.

72

O distanciamento entre a pesquisa acadêmica e a prática escolar tem sido

ressaltada por inúmeros educadores. Libâneo (2006, p.15), por exemplo, comenta

o fosso que se estabelece entre o discurso teórico e o da prática. Os discursos se

polarizam, de um lado a teoria da academia e, de outro, a prática da escola. Os

dois lados não percebem, segundo o autor, que essa atitude “banaliza a

capacidade de compreensão dos professores e se aproveita da sua ingenuidade”.

Esse distanciamento pode ser identificado em diferentes pontos do

discurso das professoras, revelando sua grandiosidade. A discussão sobre

regras, a função dos jogos, os aspectos que podem ser desenvolvidos, a

periodicidade do trabalho ou que determina sua utilização nas aulas, mostram os

aspectos divergentes entre o discurso das professoras e as orientações dos

pesquisadores.

Um aspecto relevante percebido refere-se ao modo como as regras são

tratadas pela escola em situações de ensino/aprendizagem. Isso porque muitos

das docentes entrevistadas enfatizam a importância das regras para que os jogos

alcancem os objetivos esperados.

[...] Uso jogos com eles, a questão da regra - da leitura da regra e

da discussão da regra, do jogo da velha em que eu apresento pra

eles a questão da regra primeiro, pra depois eles irem pro jogo (tá)

[...] (P2).

O discurso de P2 revela a ênfase na regra como garantia para a realização

do jogo. Por certo, e as pesquisas assim o indicam, as regras são os elementos

com os quais se deve iniciar o trabalho com jogos em sala de aula. É importante

ressaltar que o trabalho com as regras de um jogo se constitui em um processo

73

de leitura e interpretação. Todavia, como afirmam Macedo, Petty e Passos (2000,

p.19), não é o conhecimento das regras que garante o bom domínio do jogo, mas

aprendê-las é “condição para o jogo acontecer”, cabendo ao professor apresentá-

las de diferentes maneiras. Entre essas maneiras, uma é o professor, ao

apresentar o jogo, ir, ao mesmo tempo, conversando sobre a regra com os

alunos. Outra possibilidade é ele perguntar para as crianças o que elas sabem

sobre a regra de um determinado jogo e ir compondo com elas essa regra. Com

um jogo que apresenta muitas regras o recomendável é que se discuta uma por

uma até que seja compreendida totalmente.

Os autores comentam, em uma outra obra (MACEDO, PETTY e PASSOS,

1997), que existe uma diferença entre conhecer as regras e ganhar o jogo. Na

escola, os alunos necessitam serem incentivados a conhecer as regras

operatoriamente, ou seja, conhecê-las fazendo uso de diferentes raciocínios e

estruturas mentais, pois, caso contrário, essas regras, estarão tendo apenas a

função instrumental (ler, escrever, fazer cálculos). É preciso que as regras se

tornem um momento de investigação, produção de conhecimento e interação por

parte dos alunos.

Brenelli (2001, p.178-179) defende a necessidade de possibilitar às

crianças oportunidades para pensar sobre as regras. Quando o jogo oferece essa

possibilidade, a criança:

[...] organiza e pratica as regras, elabora estratégias e cria

procedimentos a fim de vencer as situações-problema

desencadeadas pelo contexto lúdico. [...] Portanto, conseguir êxito

no jogo, defender-se das jogadas do adversário implica jogar de

acordo com as regras e descobrir o melhor jeito de jogar [...].

74

O discurso da professora P8 evidencia que, em sua prática, ela explica em

primeiro lugar a utilização da regra de acordo com o inventor do jogo. No entanto,

considera importante que as crianças explorem e até modifiquem as regras.

Tá... A gente apresenta um jogo (tá), primeiramente com as regras

deste jogo. Então, eles trabalham, lêem as regras, entendem as

regras, fazem o jogo. Num segundo momento, o mesmo jogo

pode ser trabalhado, para ser utilizado. Pode-se se mudar as

regras. Pode-se fazer outras ou pode se trabalhar com as

mesmas regras, mas aí, com objetivo de ta observando como é

que eles pensam como resolvem, como eles fazem para resolver.

E, aí esse mesmo jogo pode ser trabalhado várias vezes e

mudando as estratégias ou mudando as regras (tá). Então, um

jogo só pode ser trabalhado, várias vezes (P8).

Jogar seguindo as regras significa respeitar convenções, assim é

importante que as crianças estabeleçam um contrato entre si que pode ser de

seguir as regras elaboradas pelo inventor do jogo ou as criadas pelo grupo.

Ambas as formas de utilizar jogos de regras, segundo Macedo, Petty e Passos

(1997), devem ser aceitas livremente pelos jogadores. Modificar as regras é,

nesse sentido, permitido desde que ao se propor mudanças exista um consenso

entre os envolvidos. Kamii e Housman (2002) confirmam que qualquer alteração

nas regras de um jogo seja sugerida pelas crianças ou pela professora, deve

estar em harmonia com o interesse de todos os envolvidos. Destacam que, no

caso de mudanças de regras, as sugeridas pelas crianças normalmente

apresentam-se coerentes.

75

As professoras entrevistadas, ao apontarem as maneiras como utilizam os

jogos nas aulas de matemática, enfatizam procedimentos organizacionais, que

sugerem etapas a serem seguidas. A descrição sugere uma apresentação das

etapas adotadas para serem desenvolvidas numa seqüência lógica, de início,

meio e fim. No entanto, as respostas não permitiram compreender claramente o

desenrolar dessa seqüência de trabalho porque os discursos ora focam uma de

suas etapas, ora a preparação o desenvolvimento, ora ainda ao final.

Prevalecem, no discurso das professoras, questões meramente

organizacionais, as quais podem indicar a preocupação em “ensinar” a jogar, a

“ensinar” as regras. De acordo com P3, a organização e a seqüência das etapas

para o desenvolvimento do jogo revelam uma rotina que começa com a

disposição dos alunos, a explicação das regras “para aprender” com o jogo e, por

fim, o registro.

Geralmente, eu trago o material. A gente senta em círculo. Aí eu

mostro o jogo, e jogo com um colega da sala. Então, a gente joga

junto, joga com o amiguinho, depois eu jogo com um outro

amiguinho. Aí eles vão aprendendo como joga, a partir daí eles

jogam em duplas ou grupo, da maneira como é o jogo. De acordo

como foi organizado... E toda vez que a gente termina um jogo, a

gente faz um relato sobre este jogo. Nosso relato é feito pela

dupla que jogou, e geralmente é assim: eles colocam o nome no

jogo, colocam o nome no relato (né), contam como eles jogaram,

com quem eles jogaram, o que eles aprenderam com aquele jogo,

quem venceu aquele jogo, então é um relatinho. Assim, eles

fazem um pequeno texto e vão contando (né)... É assim, um

repensar sobre aquilo que eles fizeram naquele momento. Então

eles jogam, depois eles se juntam, e repensam como é que foi a

jogada, e a partir daí, eles vão descobrindo os conteúdos que a

gente quer trabalhar naquele momento (P3).

76

Macedo, Petty e Passos (1997) acreditam que, em muitas situações, a

escola tira dos jogos as suas características básicas, pois o utilizam para ministrar

conteúdos escolares. Os autores ressaltam que em alguns momentos, essa

prática pode ser interessante, mas não é por esta razão que eles defendem o jogo

no ambiente escolar.

A escola propõe exercícios, mas lhes tira o sentido, o valor lúdico,

o prazer funcional. Ensina convenções, símbolos, matemáticas,

línguas, etc., mas não ensina as crianças a ‘ganhar’ dentro destas

convenções. [...] Como fazer para recuperar o sentido do jogo na

escola e na vida? Proponho que, para isso, a escola deva adotar

uma postura menos rígida, que deva ‘esquecer’ um pouco sua

função instrumental (MACEDO, PETTY e PASSOS, 1997, p. 140).

Diante das orientações dos pesquisadores, alguns questionamentos se

fazem necessários: como e o que são trabalhados com jogos em sala de aula? A

análise dos discursos das docentes indica que, muitas vezes, as professoras não

têm clareza sobre a finalidade dos encaminhamentos, pois, ao descreverem as

etapas que utilizam para trabalhar com jogos nas aulas, sugerem a idéia de “dar”

a técnica do jogo, como aconteceu com (P5).

Eu usei assim, também o jogo de xadrez, nós trabalhamos (né). O

jogo de xadrez nós trabalhamos em sala de aula, o kala também

(né), que eu aprendi a confeccionar o jogo e trabalho com eles,

que é o raciocínio da criança (né) e... Também... Aí meu Deus,

fugiu da minha cabeça agora.Como que eu uso (né)?

Assim... Pra desenvolver mesmo o raciocínio dela (né).

77

Eu organizo de dupla (né), de dupla e eles vão... E eu dou a

técnica, dei a técnica pra eles e eles pegaram (né) e de repente

eles jogam entre eles e depois dos grupos vai ficando...(né),

daquele grupo que vai ficar, um grupo que vai disputar entre eles,

entre os dois (P5).

Na fala da P5, as referências aos tipos de jogos, à confecção dos

materiais, ao desenvolvimento de estratégias, ficam um tanto desconectada, entre

si. Todavia, as questões estruturais ou instrumentais, na perspectiva dessa

professora podem ser identificadas. O que seria dar a técnica para que os alunos

entendam? Entender exatamente o que? O conteúdo, os encaminhamentos do

jogo ou como ganhar?

A ênfase nas regras, técnicas e organização necessita ser revista, pois a

orientação dos pesquisadores volta-se para outra direção enfocando, dentre

outras questões, a liberdade para criar regras, levantar hipóteses, resolver e

propor problemas (mesmo não planejados pelo professor e nem pela estrutura do

próprio jogo), elementos indispensáveis e significativos na aquisição de conceitos

matemáticos.

A partir desse enfoque, fica evidente que o jogo permite uma aproximação

da criança com o conhecimento científico. Contudo, é preciso manter a finalidade

de desenvolver, por meio de situações lúdicas, as habilidades de resolução de

problemas. Moura (2000, p.80-81) salienta que, ao estimular estas habilidades se

estará “possibilitando ao aluno a oportunidade de se estabelecer planos de ação

para atingir determinado objetivos, executar jogadas segundo este plano e avaliar

sua eficácia nos resultados obtidos”.

78

Desse modo, pode-se identificar indicadores que sinalizam se o jogo em

sala é um recurso meramente instrumental ou promotor de aprendizagem. É

importante que o jogo tenha de fato um caráter de aprendizagem. Kamii e

Housman (2002) destacam, dentre os princípios do ensino com jogos, que a

autonomia em uma aula de matemática é fundamental para que seja sinônimo de

aprendizagem em aritmética. Assim, para as autoras, os jogos precisam despertar

a motivação intrínseca das crianças para aprender, não mostrando a elas como

resolver os problemas, mas, por meio de perguntas, levando-as a perceber se as

respostas dadas estão ou não adequadas.

A flexibilidade em apresentar os jogos, incluindo a exploração livre ou a

possibilidade de alterar as regras, possibilidades e estratégias de jogo, bem como

solucionar de diferentes maneiras os problemas advindos dessas situações

lúdicas é destacado pelos pesquisadores comprometidos com esta temática

(MACEDO, PETTY e PASSOS, 2000; KAMII e HOUSMAN, 2002; MOURA, 2000).

A abertura e a ampliação de possibilidade no encaminhamento dos jogos

faz com que se possa jogar várias vezes o mesmo jogo com diferentes desafios,

raciocínios e exploração. Ao contrário de quando se enfatiza o ensino de técnicas

e regras, sugere-se a idéia de uso breve e até diário dos mesmos.

Os discursos das professoras ainda revelam a presença da não clareza de

idéias a respeito da maneira como os jogos devem ser trabalhados nas aulas de

matemática, confundindo a resposta à pergunta com outras informações. A fala

da P2 mostra o nível de confusão conceitual que caracteriza seu modo de

conduzir o jogo na sala de aula.

79

Eu tenho trabalhado com eles muita coisa que são sugestões

didáticas mesmo apresentadas no próprio PCN, nas próprias

revista escolas - seção que traz, eu gosto muito... Não sei se isso

é pobre, se isso enriquece meu trabalho ou não. Mas eu tenho

sentido assim, que aquilo que eu consigo reafirmar através do

jogo, fica concretizado com ele porque ele começa a utilizar isto

de modo não mecânico, mas compreendido (tá). É o caso do jogo

da velha e o da tabuada, que ele faz o mecânico ali. É mecânico,

mas ele não se torna tão mecânico porque o processo que ele usa

é o processo de descoberta dele, porque eu não fico dizendo pra

ele assim: dois mais dois dá quatro. E se eu pego duas vezes o

dois e ele criar meios pra ele calcular, que o processo que ele

utiliza é a maneira como ele pensou (tá), nem sempre eu consigo

fazer isso ao meu modo. Então eu uso muito, muito, muito mesmo

o ábaco manual – aquele de canudinho, os montinhos, eu uso

bastante os blocos lógicos, para a gente problematizar e fazer

conjuntos, mudança, diferenciação, semelhança, que eu parto

daí... Quantidade, eu trabalho bastante com a questão... Dos

joguinhos mesmo, dos saquinhos... Da tampinha, do grão, da

contagem (tá), eu faço bastante isso. Uso jogos com eles, a

questão da regra - da leitura da regra e da discussão da regra, do

jogo da velha em que eu apresento pra eles a questão da regra

primeiro, pra depois eles irem pro jogo (tá). Outros jogos que

tenho usado mais, em sala de aula, com eles, é a questão dos

jogos de semelhança, diferenciação, do dominó de tabuada, jogo

da dama, trilha, este tipo de coisa pra trabalhar a questão da

observação deles, e concentração deles através do jogo. E não

tenho assim, usado muita coisa que trabalhe a divisão, um

conceito mais abstrato com eles, à não ser coisinhas simples do

próprio tato – manuseio (tá), porque a abstração pra mim agora,

eu penso que seria mais necessária, porque até agora eu venho

trabalhando o concreto, porque se eu ficar muito, muito, muito,

muito no jogo, na regra, na discussão da regra eu deixo de levar

eles também, para um campo que eu penso que é importante, que

faz parte de um professor – que é abstração. Então eu estou

começando a tirar isso e trabalhar o mental, a lembrança,

80

memória, (tá), não pela decoreba, mais pra tirar também tanto

eles do concreto e passar mais pra abstração, (tá) (P2).

Percebe-se, nesse discurso, que conceitos, conteúdos, encaminhamentos,

recursos, concepções de aprendizagem, tipos de jogos e de habilidades são

apontados de maneira superficial e fragmentados.

Os discursos das demais docentes evidenciam também a não clareza

quanto aos objetivos com que os jogos são utilizados nas aulas de matemática

bem como a ênfase em seus aspectos meramente instrumentais, o que revela o

quanto os jogos parecem estar soltos e perdidos no universo educacional. Mesmo

o professor reconhecendo a importância dos jogos, suas finalidades, materiais e

tipos de jogos, não sabe como fazer para trabalhá-los em sala de aula e

favorecer, por seu intermédio, o processo de ensino-aprendizagem. A

didaticalização, ou seja, a preocupação em valorizar apenas elementos

organizacionais e instrumentais do ensino desconsiderando os princípios

específicos e característicos dos jogos e da matemática é algo que precisa ser

discutido entre educadores e pesquisadores. Isso porque, quando a ênfase recai

apenas em aspectos didáticos, as funções, possibilidades e objetivo do jogo são

reduzidos e limitados ao extremo. Existe a probabilidade de, mesmo tendo em

mãos um recurso desafiador e promotor de aprendizagem, transformá-lo em algo

monótono, mecânico, estático tal qual são as folhas de exercício.

A literatura deixa claro que não é o recurso em si que garante a

aprendizagem e sim, o uso que se faz dele. Como destaca Moura (2000, p.74),

sabe-se da necessidade de melhorias imediatas no ensino da matemática, e a

pressa por respostas que pudessem promovê-las “levou-nos a assumir modismos

81

sem que atentássemos para o conjunto de elementos presentes no ato de

ensinar”.

O professor precisa ser estimulado a aprender a explorar o jogo no ensino

da matemática, pois seu papel é essencial em sala de aula. Piaget (1988) destaca

a relevância do educador e chama atenção para a sua preparação. Para o autor:

[…] a preparação dos professores, […] constitui realmente a

questão primordial de todas as reformas pedagógicas em

perspectiva, pois, enquanto ela não for resolvida de forma

satisfatória, será totalmente inútil organizar belos programas ou

construir belas teorias a respeito do que deveria ser realizado

(PIAGET9, 1988 apud MACEDO, PETTY e PASSOS 2000, p.39).

Frente a essas considerações, pode-se concluir a necessidade de

aproximar os discursos das professoras das orientações dos pesquisadores a fim

de que se amplie a possibilidade de trabalho e de exploração dos jogos nas aulas

de matemática como forma de auxiliar na recuperação da qualidade do processo

de ensino e de aprendizagem, resignificando o papel do aluno, professor e do

próprio conhecimento matemático.

9 PIAGET, J. Para onde vai a educação? Rio de Janeiro: José Olympio, 1988.

82

IV - CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise das obras consultadas para a realização deste trabalho indica

que, para seus autores, o jogo é indispensável ao trabalho escolar por possibilitar

à criança dar,

[...] mais sentido às tarefas e aos conteúdos, aprender com mais

prazer, encontrar modos lúdicos de construir mais conhecimentos,

saber observar melhor uma situação, aprender a olhar o que é

produzido, corrigir erros, antecipar ações e coordenar

informações. (MACEDO, PETTY e PASSOS, 2005, p.105).

Os autores encontram na utilização dos jogos um ambiente propício para o

desenvolvimento integral do aluno e sua mobilização para a aprendizagem. Como

ressaltam Macedo, Petty e Passos (2005, p. 66):

O jogo é um sistema complexo, que aciona diferentes

mecanismos do jogador (motores, afetivos, cognitivos e sociais),

além de proporcionar um contexto cujo significado tem sentido

imediato para os alunos e os mobiliza integralmente. Além disso,

jogar viabiliza aprendizagens que podem ser aplicadas em

diferentes situações (escolares ou não), como saber tomar

decisões, antecipar, coordenar informações e comunicar idéias

[...].

Todavia, os discursos das professoras entrevistadas neste estudo indicam

que os jogos quase não são utilizados como parte integrante das atividades

escolares e, mesmo quando são realizados, não concretizam as expectativas dos

autores com relação a sua contribuição para a aprendizagem escolar – da

83

matemática ou de outras áreas do conhecimento - e/ou para o desenvolvimento

cognitivo dos alunos.

Os dados coletados na presente pesquisa indicam que a justificação

predominante para o trabalho com jogos na escola limita-se ao prazer, a

ludicidade que emana desse recurso. O conhecimento restrito sobre as obras que

tratam sobre os jogos e sua utilização no ambiente escolar para a aprendizagem

da matemática mostrado nas falas das professoras até impedem que esse jogar

se torne de fato um instrumento de desenvolvimento integral dos alunos em sala

de aula.

Diante destas constatações, uma questão se impõe: por que esse

desconhecimento das professoras em relação aos aspectos teóricos do uso de

jogos na educação – e, em especial, na matemática – e às pesquisas relatadas

nas obras citadas neste trabalho?

Um texto de Alves-Mazzotti (2003), sobre o impacto da pesquisa

educacional sobre as práticas escolares nos aponta algumas pistas para a

compreensão desse fenômeno especificamente no que diz respeito ao jogo em

sala de aula. A autora refere-se a um resumo, elaborado por Kennedy (199710,

apud ALVES-MAZZOTTI, 2003) de estudos realizados nos Estados Unidos com

financiamento do National Institute of Education, com o objetivo de investigar as

razões pelas quais a pesquisa em educação não tem conseguido influenciar

significativamente o ensino. Kennedy (1997, apud ALVES-MAZZOTTI, 2003)

aponta quatro categorias de hipóteses explicativas: a) a pesquisa educacional não

é suficientemente persuasiva para convencer os professores de sua validade para

a prática; b) a pesquisa não é relevante para a prática por não considerar as 10 KENNEDY, M. M. The connection between reasearch and practice. Educational Researcher, v. 26, n. 7, p.4-12, out. 1997.

84

necessidades dos docentes; c) o acesso aos resultados das pesquisas não tem

sido facilitado aos professores, e d) o sistema educacional ser, ao mesmo tempo

e paradoxalmente, resistente a mudanças e instável, movido a modismos, em

ambos os casos resultando na incapacidade de engajar os sujeitos em um

processo sistemático de mudanças.

Pistas destas razões, especialmente das três últimas, podem ser

detectadas nas falas das professoras entrevistadas nesta pesquisa. As respostas

dadas permitem constatar que, tanto em sua formação inicial quanto na

continuada, as docentes ou não tiveram experiências com jogos em sua

aprendizagem da matemática ou as experiências que tiveram não foram

suficientes para levá-las a compreender toda a potencialidade desse recurso,

motivo pelo qual não o utilizam convenientemente em sua prática.

Quanto ao acesso aos resultados das pesquisas com jogos para a

educação matemática, todas deixaram claro o desconhecimento de obras, o que

explica confusão de idéias e argumentos empregados para sustentar suas

argumentações. Por outro lado, é preciso reconhecer que os professores em geral

não foram acostumados, durante sua formação ou no cotidiano escolar, a lerem e

analisarem pesquisas feitas nas áreas em que vão atuar, o que pode justificar, de

algum modo, este distanciamento teórico. Além disso, cumpre observar que nem

sempre a forma utilizada pelos pesquisadores em obras de divulgação de

resultados de pesquisa facilita a compreensão desses textos pelos professores.

Desse modo, as implicações das pesquisas não chegam até o ensino e,

mesmo quando chegam, acabam por não provocar as rupturas e transformações

necessárias na prática educativa.

85

Um outro aspecto apontado no trabalho de Kennedy (1997, apud ALVES-

MAZZOTTI, 2003), de que a pesquisa não é relevante para a prática por não

considerar as necessidades dos docentes, pode ser percebido nos discursos das

professoras quando elas justificam que não utilizam os jogos freqüentemente em

suas aulas de matemática porque sua utilização demanda tempo e eles devem

dar conta da programação curricular – isto sem falar no barulho resultante da

euforia das crianças em situações de jogo, na indisciplina causada e conseqüente

perda de controle da classe.

Isso acontece porque, mesmo quando conhecem os conteúdos das

pesquisas, certos professores consideram que as mesmas são feitas em

pequenos grupos de alunos, e, portanto, teriam maior dificuldade de serem

empregadas em sala de aula.

No entanto, os pesquisadores entendem que barulho, conversas e agitação

são elementos que fazem parte dos jogos, e que a ludicidade implicada nessas

situações não devem ser impedida ou bloqueada. Acreditar que, em uma sala de

aula na qual todas as carteiras estão enfileiradas e todos os alunos sentados

silenciosamente, a aprendizagem esteja sendo garantida é, no parecer dos

pesquisadores, um engano. Afinal, muitas vezes, como ressalta Kamii (1995), os

jogos, dependendo do encaminhamento dos professores, podem ser mais

significativos do que folhas e folhas de exercícios descontextualizados.

A questão do tempo, do programa curricular e da dificuldade em relacionar

os jogos com os conteúdos é vista como algo não prejudicial pelos

pesquisadores. Macedo, Petty e Passos (2000) afirmam que a aplicação de jogos

na escola não deve priorizar a quantidade, mas sim a qualidade dos elementos

86

envolvidos no processo de ensino. O tempo para o aluno levantar hipótese, errar,

pensar sobre os erros é indispensável para o seu desenvolvimento.

Frente a estas considerações, e a tudo que foi falado até o presente

momento, em razão dos resultados obtidos nesta pesquisa, percebe-se que ela

não se finaliza aqui, mas sugere novas aberturas, indicando que ainda há muito a

se investigar.

O trabalho com jogos nas aulas de matemática é um desafio para os

educadores, pois atualmente sabe-se o quanto é necessário descobrir meios

diversificados para se conduzir o ensino, afim de que este tenha mais significado

para aquele que aprende.

87

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março 2005.

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APÊNDICE A ROTEIRO DAS ENTREVISTAS REALIZADAS COM AS PROFESSORAS.

Entrevista com professoras realizada no mês de outubro de 2005.

1) HOJE O USO DE JOGOS NO ENSINO DE MATEMÁTICA EM SALA DE AULA É MUITO DIVULGADO. VOCÊ ACREDITA SER IMPORTANTE O USO DE JOGOS NAS AULAS DE MATEMÁTICA? POR QUÊ? 2) ALGUMAS SECRETARIAS, NÚCLEOS DE EDUCAÇÃO TÊM DIVULGADO TEXTOS E LIVROS SOBRE JOGOS. VOCÊ CONHECE ALGUM TEXTO SOBRE JOGOS PARA APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA? DO QUÊ, NA SUA OPINIÃO, ESSES TEXTOS TRATAM? 3) VOCÊ CONHECE OS PCN DE MATEMÁTICA? JÁ DISCUTIU EM SUA ESCOLA SOBRE ELES? PODE ME DESCREVER ALGO SOBRE DO QUÊ ELES TRATAM? 4) NAS SUAS AULAS DE MATEMÁTICA VOCÊ UTILIZA JOGOS? COM QUAL FINALIDADE? 5) DE QUE MANEIRA VOCÊ USA OS JOGOS NAS AULAS DE MATEMÁTICA? DESCREVA. 6) COM QUE PERIODICIDADE VOCÊ TRABALHA COM JOGOS NAS SUAS AULAS DE MATEMÁTICA? 7) A ESCOLA APÓIA SEU TRABALHO? COMO?

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APÊNDICE B TTRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS

ENTREVISTA COM PROFESSORAS REALIZADA NO MÊS DE OUTUBRO DE

2005. Professora denominada P1 2ª série - fundamental

E.1) HOJE O USO DE JOGOS NO ENSINO DE MATEMÁTICA EM SALA DE AULA É MUITO DIVULGADO. VOCÊ ACREDITA SER IMPORTANTE O USO DE JOGOS NAS AULAS DE MATEMÁTICA? POR QUÊ? P1- Eu acredito, porque eu penso que ele estimula, até por ser lúdico (né), pelo lúdico a criança ela vê no real, não é uma coisa abstrata. Penso que da forma que ela vai brincando, vai clareando e dando entendimento, porque quando é só na escrita, quando ele está só escrevendo ou só vendo a tabuada, por exemplo... (né). Então, aquilo é muito abstrato. Ele não entende o porque daquilo. Agora, quando você brinca, quando você faz a junção de objetos, quando você faz outros tipos de jogos, então a criança ela percebe o porque daquilo... (né). Agora, estou trabalhando a multiplicação, para a criança compreender que a multiplicação nada mais é, do que a adição. Então, só através de jogos para você fazer que ela perceba que não é uma coisa tão grandiosa, porque muitas vezes, a multiplicação assusta a criança (né), e você não fizer uma multiplicação legal, assim que ele consiga, a divisão vai ser um bicho de sete cabeças, por isso que eu penso, muitas vezes, que anteriormente, as pessoas tinham medo da matemática... (né). Porque elas viam ela nua e crua, do jeito que estava no livro, (né) sem ter a possibilidade de ver ela ludicamente... De ver palpável, penso. E.2) ALGUMAS SECRETARIAS, NÚCLEOS DE EDUCAÇÃO TÊM DIVULGADO TEXTOS E LIVROS SOBRE JOGOS. VOCÊ CONHECE ALGUM TEXTO SOBRE JOGOS PARA APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA? DO QUÊ, NA SUA OPINIÃO, ESSES TEXTOS TRATAM? P1- Então, no início do ano, nós tivemos uma semana de estudo e nós tivemos só um texto, só que não me lembro o nome da autora. Estou com este texto lá, que... A gente discutia essa necessidade de trabalhar com os jogos, mas... Só isso mesmo que eu pude ver. É o que eu estava falando para você, sobre o curso que as outras professoras estão fazendo. Elas estão fazendo curso para trazer mais novidades.

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E.3) VOCÊ CONHECE OS PCN DE MATEMÁTICA? JÁ DISCUTIU EM SUA ESCOLA SOBRE ELES? PODE ME DESCREVER ALGO SOBRE DO QUÊ ELES TRATAM? P1- Não conheço os PCN de matemática. Os de português eu conheço bem, mas o de matemática eu não conheço. E além, do que, só mais de 5ª à 8ª que eu li em ensino médio (né), mas da 1ª à 4ª eu não conheço muito não. E.4) NAS SUAS AULAS DE MATEMÁTICA VOCÊ UTILIZA JOGOS? COM QUAL FINALIDADE? P1- Então, a finalidade é que eles compreendam e que se torne uma coisa assim, mais fácil de entender, porque a criança, se ela sair da escola tudo lá é muito mais fácil (né)... É computador, é outras coisas, ele tem vídeo game, televisão. E aí, se na escola a matemática já vem... Eu penso que há um tabu. Muitas pessoas já não gostam (né), já tem uma aversão a ela, e se você trabalha daquela maneira que está vindo nos livros didáticos... Eu não gosto de usar muito os livros didáticos. Aqui, eu uso porque é uma questão de que os pais querem muito que use (né). Até porque eu prefiro outros autores do que a gente usa, porque o nosso autor ele é muito linear, eu penso que... (né). Eu penso que não pode ser linear, a matemática ela vai-volta (né). Você está sempre retornando aquilo que você já aprendeu, porque pra você fazer uma atividade, você precisa de uma outra que você aprendeu. Então, você tem que estar sempre retornando. E se a gente trabalha daquela maneira linear ali, se está aprendendo a subtração, ele só aprende a subtração durante aquele período, na adição que ele trabalhou, fica só na adição e, então você não mescla, e isso dificulta. Então, com os jogos e também trabalhando os autores que eu acredito mais, então eu vejo que há uma possibilidade de um aprendizado mais... Assim (né), aproveitado mesmo. E.5) DE QUE MANEIRA VOCÊ USA OS JOGOS NAS AULAS DE MATEMÁTICA? DESCREVA. P1- Antes de mais nada, eu trabalho... Dou início ao conteúdo do que vai ser apresentado (né), e trabalho aquele conteúdo e depois que eles já têm uma noção do que é aquilo, aí sim, aí vamos apresentar os jogos com regras, sabendo quantidades de jogadores, o porque a regra é assim, porque não muito mais jogadores e aí também... Aí vai fluindo, muitas vezes, é... Se há a possibilidade nós fazemos nossas regras (tá), porque se a gente deixa aquela coisa quadradinha. Mas, muitos jogos da matemática a gente como a matemática... Ela não é fechada dois mais dois e chega e pronto, ela abre outras possibilidades. Então a gente... Muitas vezes eles falam: “porque a gente não pode jogar assim?” Então a coisa vai fluindo. Então, as regras são essas. Tenho tantos jogadores que

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nós temos (né), nós podemos jogar assim, porque muitos jogos eles trazem. Jogos comprados, (né)... As crianças, elas trazem, quando a gente também trabalha o dinheiro, o dinheirinho (né), então eles trazem esse dinheiro, então aí a gente vai fazer compras (né), então vamos fazer compras, aí quando é assim, que a gente vai inventar, aí sim, esse aqui é o açougue e você vai vender isso, isso e isso, você é isso, isso e isso, aí você vai colocar o preço, vai ter que colocar a etiqueta, então eles colocam a etiqueta nas... Então aí eu e eles, juntos fazemos as regras. Agora, quando é um jogo assim, você joga o dado. Você tem que andar as casas, não tem como a gente mudar, não é assim? E se for, tanto jogadores, porque não tem como o peão andar (né), porque aí vai respondendo as questões (né). Então, não tem como ser mais que tantos jogadores porque pra chegar lá, na reta de chegada, lá na chegada mesmo, então tem que ser aquela quantidade, então, não tem como mudar, mas quando é uma coisa assim, aberta, que a gente pode interferir, nós estamos interferindo sempre para apoio deles - as crianças, tem que ser assim. E.6) COM QUE PERIODICIDADE VOCÊ TRABALHA COM JOGOS NAS SUAS AULAS DE MATEMÁTICA? P1- Então, aí vai depender muito do conteúdo, porque tem conteúdo que é “vapt-vupt” – perdão da palavra. Então, tem conteúdo que acaba que não há muita aquela necessidade. Mas, agora, como a gente está trabalhando a multiplicação, que já estou muito encantada com essa coisa de multiplicação, e como eu não havia trabalhado, então há a necessidade de fazer compras, quantidade de produtos, outros tipos de mercadorias, o que eles gostam mais. Então, isso aí acontece com freqüência, quase toda semana a gente consegue. E aí acontece um outro momento, ficamos até vinte dias sem, entendeu? Eu penso que cada conteúdo ele vai te dar mais possibilidades de fazer ou não os jogos. E.7) A ESCOLA APÓIA SEU TRABALHO? COMO? P1- Eu penso que a escola... É até uma escola, assim, até aberta. Eu não sinto dificuldade. Eu dou aula há alguns meses aqui, mas tudo o que a gente pede assim... Se eu falar eu quero tantos jogos assim e, explico o porquê e qual é o meu objetivo. Eu trabalho muito com projetos, então passo o projeto para coordenação. A coordenação passa para a supervisão e a direção e assim, no máximo de uma semana eles me chamam e aí a gente trabalha em cima, sabe. Não há a dificuldade assim material. Eu já trabalhei em escola que não tem nem sulfite. A gente sabe da dificuldade (né). No entanto, aqui e... Os pais também, eu digo que sou privilegiada, porque meus pais são presentes, então eles apóiam muito. Se eu falo que vou fazer alguma coisa, se eu vou desenvolver um projeto, então convido os pais pra virem e, aqueles que não vierem eu já falo: Então vocês vão ter que assinar o que os outros decidirem. Então eles concordam, e se tiver custo, eles concordam. A gente faz. Então é bem dinâmico mesmo. Eu acho que a escola é participativa. Não se omite não.

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Professora Denominada P2 1ª série – fundamental E.1) HOJE O USO DE JOGOS NO ENSINO DE MATEMÁTICA EM SALA DE AULA É MUITO DIVULGADO. VOCÊ ACREDITA SER IMPORTANTE O USO DE JOGOS NAS AULAS DE MATEMÁTICA? POR QUÊ? P2- Eu acredito. De alguma forma eu penso que isso ajuda a trabalhar sim, como início de aquisição de conceitos, mas pra trabalho habitual, eu penso que é, muitas vezes, emperra o processo pela quantidade de horas e de tempo que envolve uma única atividade. Pra desenvolver, por exemplo, jogos muito complexos com eles, eu levo tempo pra organizar, um tempo pra trabalhar a atividade que ele precisa desenvolver com o jogo. E, de repente, eu levaria, um mesmo tempo, com um jogo único mostrando pra todos, que se eu for dar um joguinho pra cada um, explicar a regra. O trabalho individualizado, isto emperra o processo, no meu modo de pensar. E.2) ALGUMAS SECRETARIAS, NÚCLEOS DE EDUCAÇÃO TÊM DIVULGADO TEXTOS E LIVROS SOBRE JOGOS. VOCÊ CONHECE ALGUM TEXTO SOBRE JOGOS PARA APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA? DO QUÊ, NA SUA OPINIÃO, ESSES TEXTOS TRATAM? P2- Eu conheço sim, alguns textos dados pela secretaria, dados também nos cursos de atualização e capacitação. Conheço textos da Maria “alguma coisa” Ishimoto que trabalha a questão da aprendizagem de conceitos e outros, mas não especificamente matemática. O que tenho lido são revistas da área que apresentam trabalho com jogos e, por gostar também da atividade... Assim, eu procuro ler, só que nem sempre trabalha a idéia que fundamenta professor. O profissional, pra trabalhar com isso, apresenta regra, apresenta o procedimento, a maneira de fazer, mas a minha construção de conceito, enquanto educador, vem muito como fosse didático e não paradidático. Para o profissional, pra ele enriquecer sua lógica de pensamento, idéias também. Eu sinto falta disso, texto é bom, é, mas sem a aprendizagem a isso, não sei aonde vai me ajudar. Pra mim, pra eu construir o embasamento... A fundamentação que eu tenho anterior, só do curso de pedagogia, por exemplo, não me dá sustentação pra desenvolver outros níveis de aprendizagem com aqueles mesmos jogos, que de repente, eu poderia estar explorando.

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E.3) VOCÊ CONHECE OS PCN DE MATEMÁTICA? JÁ DISCUTIU EM SUA ESCOLA SOBRE ELES? PODE ME DESCREVER ALGO SOBRE DO QUÊ ELES TRATAM? P2- Sim, eu já trabalhei um determinado tempo como formadora de grupos e conheço especificamente os PCN da 1ª a 4ª (tá), do 1ª ensino. Eu conheço desde a parte que fundamenta, a questão objetiva, os encaminhamentos metodológicos, esse tipo de coisa, mas também como leitura da minha formação do PCN, mas não porque ele é discutido na escola, (tá). Porque, especificamente, na escola nós não fazemos trabalho nenhum com eles. A não ser o professor individualizado. Cada um usa da sua maneira, faz a sua leitura, faz a sua discussão consigo mesmo. Mas, eu usar lá, na prática do dia-a-dia... Hoje eu uso, mas pela formação que eu tive como formadora de grupos, não como professora, porque isso nunca foi me dado (tá). E.4) NAS SUAS AULAS DE MATEMÁTICA VOCÊ UTILIZA JOGOS? COM QUAL FINALIDADE? P2- Eu uso jogos, geralmente, para apresentar conceitos, como eu te disse (tá). A questão da divisão, jogos que eu possa estar trabalhando com a criança, por exemplo, a quantidade, a conservação desta quantidade... Principalmente, pra a construção de conceitos iniciais, de capacidade, quantidade, reversibilidade, esse tipo de coisa, (tá). Mas, depois que ele aprende, eu não consigo trabalhar com o jogo por muito tempo, porque eu penso na questão... Como eu coloco pra você? O planejamento ele tem um lá... Ele traz algumas necessidades que eu preciso cumprir. E se eu me envolvo demais com os jogos, eu acabo penalizando o meu tempo disponível pra trabalhar outros conceitos. Não só a questão da afirmação do conceito, que eu sinto falta aí (tá). Eu vejo assim: eu poderia estar aproveitando mais, mas o meu tempo/duração físico, em sala de aula, ele é curto. Para que eu possa explorar mais, para que eu possa estar me desprendendo, por exemplo, reforço, como a professora do reforço. Ela tem um tempo que eu tenho “X”, pra eu trabalhar história, matemática, ciências, geografia, ética, cidadania, meio ambiente, ensino religioso, artes e educação física, todo neste tempo físico de quatro horas. E por exemplo, e se eu só dou o reforço, ele faz este tempo/duração só com a habilidade de matemática, só com a habilidade de escrita. Então, o tempo pra ele, físico não é tão corrido e acelerado como pra mim. Então, eu sinto falta neste momento. E na alfabetização, eu penso que seria importante que fosse um tempo maior (tá), porque em casa ele tem o jogo, mas é o jogo lúdico em que ele não tem a intervenção de outra pessoa, não tô dizendo nem a mediação. Estou dizendo a intervenção, mesmo de estar pedindo pra ele: e se eu fizesse assim... De estar apresentando problema, de estar problematizando com ele, porque o jogo, pelo jogo eu penso que não é também interessante. Isso ele faz sem mim. E eu tenho descoberto que o que ele faz sem mim, ele pode fazer em qualquer lugar. Ele não precisa da minha pessoa pra estar problematizando junto com ele. E aquilo que eu deveria estar problematizando é o

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momento que eu sinto falta. Eu não consigo fazer na sala de aula pela quantidade de criança... Nem sempre, porque a quantidade de criança, às vezes, é até favorável para o jogo e, também para que ele possa estar discutindo “ah! Mas, é a minha vez e ela não me respeitou”. A questão de respeito às regras, mesmo que o jogo apresenta, só que na hora de trabalhar com isso o meu tempo/duração... Vai embora, e eu começo a me preocupar e anseia, me angustia porque eu percebo que estou deixando de apresentar. E.5) DE QUE MANEIRA VOCÊ USA OS JOGOS NAS AULAS DE MATEMÁTICA? DESCREVA. P2- Eu tenho trabalhado com eles muita coisa que são sugestões didáticas mesmo apresentadas no próprio PCN, nas próprias revista escolas - seção que traz, eu gosto muito... Não sei se isso é pobre, se isso enriquece meu trabalho ou não. Mas eu tenho sentido assim, que aquilo que eu consigo reafirmar através do jogo, fica concretizado com ele porque ele começa a utilizar isto de modo não mecânico, mas compreendido (tá). É o caso do jogo da velha e o da tabuada, que ele faz o mecânico ali. É mecânico, mas ele não se torna tão mecânico porque o processo que ele usa é o processo de descoberta dele, porque eu não fico dizendo pra ele assim: dois mais dois dá quatro. E se eu pego duas vezes o dois e ele criar meios pra ele calcular, que o processo que ele utiliza é a maneira como ele pensou (tá), nem sempre eu consigo fazer isso ao meu modo. Então eu uso muito, muito, muito mesmo o ábaco manual – aquele de canudinho, os montinhos, eu uso bastante os blocos lógicos, para a gente problematizar e fazer conjuntos, mudança, diferenciação, semelhança, que eu parto daí... Quantidade, eu trabalho bastante com a questão... Dos joguinhos mesmo, dos saquinhos... Da tampinha, do grão, da contagem (tá), eu faço bastante isso.Uso jogos com eles, a questão da regra - da leitura da regra e da discussão da regra, do jogo da velha em que eu apresento pra eles a questão da regra primeiro, pra depois eles irem pro jogo (tá). Outros jogos que tenho usado mais, em sala de aula, com eles, é a questão dos jogos de semelhança, diferenciação, do dominó de tabuada, da dama, trilha, este tipo de coisa pra trabalhar a questão da observação dele, e concentração deles através do jogo. E não tenho assim, usado muita coisa que trabalhe a divisão, um conceito mais, abstrato com eles, à não ser coisinhas simples do próprio tato - manuseio (tá), porque a abstração pra mim agora, eu penso que seria mais necessária, porque até agora eu venho trabalhando o concreto, porque se eu ficar muito, muito, muito, muito no jogo, na regra, na discussão da regra eu deixo de levar ele também, para um campo que eu penso que é importante, que faz parte de um professor - que é a abstração. Então eu estou começando a tirar isso e trabalhar o mental, a lembrança, a memória, (tá), não pela “decoreba”, mas pra tirar também tanto eles do concreto e passar mais pra abstração, (tá).

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E.6) COM QUE PERIODICIDADE VOCÊ TRABALHA COM JOGOS NAS SUAS AULAS DE MATEMÁTICA? P2- Depende bastante do desenvolvimento do conceito que a gente está trabalhando (tá). Se eu tô trabalhando, por exemplo, algo novo pra ele, eu uso mais tempo. O ábaco, por exemplo, que eu tenho utilizado mais, ultimamente, com eles, até pela questão agrupamento, troca, eu uso uma vez por semana, mas não faço isso todos os dias, (tá). Eu tenho um horário fixo de matemática, eu divido uma aula de matemática por dia, nos quatro dias (tá), inicial, e um dia o período de matemática. Eu faço isso pela questão tempo mesmo, porque o dia em que eu vou usar jogos, eu uso mais tempo mesmo pra matemática, eu divido o tempo desta forma. O dia em que eu vou trabalhar com o ábaco, por exemplo, eu não divido metade do período pra matemática pra, não... Hoje eu trabalho matemática, não me importo se isso vai demorar muito, pouco, bastante, porque se depois sobra tempo nós vamos pra outras atividades com outros jogos... Usar os jogos... Porque daí eu tenho tempo pra isso, eu reservo tempo pra isso (tá). E.7) A ESCOLA APÓIA SEU TRABALHO? COMO? P2- Olha, não me proíbem de fazer isso, mas o trato pedagógico, lá na sala de aula, dificilmente é acompanhado...(tá) Dificilmente é acompanhado. E digo assim, lógico... O planejamento prevê o momento em que eu possa fazer uso do lúdico, mas também não se importam se eu tô usando ou não, tá bom... Eu vejo isso de que forma, eu não tenho alguém que me auxilie lá, naquele momento, que faça sugestão didática, que acompanhe pra ver se o trabalho tá bom se deveria, onde deveria melhorar. E eu penso que isso é função da parte pedagógica. Então, neste sentido, eu vejo que a gente ainda poderia melhorar, principalmente o meu trabalho, porque eu não sei em que momento eu tô errando. Se eu tô errando, onde eu poderia... Porque, quando há a observação do outro, não pra criticar, mas pra te apoiar, isso tende a crescer, e eu sinto falta disso...(tá). Material sim, o que eu pedir, (tá). Nem sempre é disponível o material no tempo que eu quero, então eu também tenho que ter uma preocupação anterior de ir lá pedir, antecipar, prever, prevenir, planejar porque também não me oferecem assim: Ah! Eu posso ir lá tem um armário, eu vou encontrar isso, isso... Isso não existe, isso não existe (tá).

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Professora denominada P3 1ª série – fundamental E.1) HOJE O USO DE JOGOS NO ENSINO DE MATEMÁTICA EM SALA DE AULA É MUITO DIVULGADO. VOCÊ ACREDITA SER IMPORTANTE O USO DE JOGOS NAS AULAS DE MATEMÁTICA? POR QUÊ? P3- Eu tanto acho importante, que praticamente todas as aulas de matemática a gente inicia com um jogo na escola. A importância do jogo pra gente, primeiro é a motivação da criança, porque a gente já está montando na sala um clima de tranqüilidade, de alegria, de diversão, e a partir dessa diversão, se abre caminho pra que a gente possa estar trabalhando o conteúdo que a gente quer naquele momento, e assim, fazer com, que a criança perceba de uma maneira mais prazerosa (né), o conteúdo. Que ela consiga aprender de uma maneira mais tranqüila do que aquela tradicional, sentada, no caderno, um atrás do outro (né). Então, o jogo além de socializar, ele abre um caminho pro aprendizado da criança. E.2) ALGUMAS SECRETARIAS, NÚCLEOS DE EDUCAÇÃO TÊM DIVULGADO TEXTOS E LIVROS SOBRE JOGOS. VOCÊ CONHECE ALGUM TEXTO SOBRE JOGOS PARA APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA? DO QUÊ, NA SUA OPINIÃO, ESSES TEXTOS TRATAM? P3- Olha, existem muitos jogos... Muitos livros estão sendo lançados, porque é um assunto assim que tá... Tá em voga, hoje, a questão do jogo na matemática (né). Então, eu conheço muitos livros, a gente lê muito aqui na escola, a gente estuda bastante aqui na escola. E a gente tenta adequar aquele jogo que a gente tá vendo nos livros, a gente tenta trazer pra sala de aula. O texto que eu mais leio é da Kamii, que é A Criança e o Número, então através dos jogos que ela trabalha, através do texto dela, a gente pode perceber que o principal objetivo da matemática, com os jogos, é criar uma autonomia pra que a criança aprenda com mais facilidade, com mais tranqüilidade. Eu acho que isso que o jogo tá buscando, fazer com que a criança tenha uma autonomia no aprender. Com que ela consiga descobrir os conteúdos numa maneira particular, da maneira dela.

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E.3) VOCÊ CONHECE OS PCN DE MATEMÁTICA? JÁ DISCUTIU EM SUA ESCOLA SOBRE ELES? PODE ME DESCREVER ALGO SOBRE DO QUÊ ELES TRATAM? P3- Em relação aos PCN, a gente tem estudado na escola sim, de uma maneira muito tranqüila ainda. A gente ainda não se aprofundou nos PCN ainda. Pelo que eu li, eles trabalham muito essa questão do jogo, do envolvimento da criança com o jogo. E acho que é isso que eu sei só, não sei muita coisa não. É o ensino da matemática de uma maneira mais prática, pelo que a gente vê no... Nos PCN, essa maneira prática que a gente procura na escola é trabalhar com o jogo e a vivência da criança. A vivência que ela tem fora da escola, trazer pra dentro da escola. E.4) NAS SUAS AULAS DE MATEMÁTICA VOCÊ UTILIZA JOGOS? COM QUAL FINALIDADE?

P3- Bom, existem os jogos que são pra iniciar o conteúdo (né), que a gente vai trabalhar aquelas questões que a criança já sabem. Existem o jogo que é pra gente estar observando se a criança aprendeu ou não, que são jogos de avaliação, como que eu vou fazer esta semana ainda. Vou brincar de “já sei” – que é um jogo de multiplicação, onde a gente vai ver as crianças que sabem a multiplicação já e aquelas que ainda a gente precisa ajudar (né). E a gente trabalha o jogo também pra entreter a criança, pra criança apenas se divertir, pra ela passar um momento legal, pra ela estar se distraindo com o amigo dela e ir relaxando daqueles momentos mais tensos da escola.

E.5) DE QUE MANEIRA VOCÊ USA OS JOGOS NAS AULAS DE MATEMÁTICA? DESCREVA. P3- Geralmente, eu trago o material. A gente senta em círculo. Aí, eu mostro o jogo, e jogo com um colega da sala. Então, a gente joga junto, joga com o amiguinho, depois eu jogo com um outro amiguinho. Aí eles vão aprendendo como joga, a partir daí eles jogam em duplas ou grupo, da maneira como é o jogo. De acordo como foi organizado... E toda vez que a gente termina um jogo, a gente faz um relato sobre este jogo. Nosso relato é feito pela dupla que jogou, e geralmente é assim: eles colocam o nome no jogo, colocam o nome no relato (né), contam como eles jogaram, com quem eles jogaram, o que eles aprenderam com aquele jogo, quem venceu aquele jogo, então é um relatinho. Assim, eles fazem um pequeno texto e vão contando (né)... É assim, um repensar sobre aquilo que eles fizeram naquele momento. Então eles jogam, depois eles se

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juntam, e repensam como é que foi a jogada, e a partir daí, eles vão descobrindo os conteúdos que a gente quer trabalhar naquele momento. E.6) COM QUE PERIODICIDADE VOCÊ TRABALHA COM JOGOS NAS SUAS AULAS DE MATEMÁTICA? P3- Nós temos seis aulas de matemática repartidas em três dias. No mínimo, no mínimo a gente inicia com um jogo ou termina com um jogo, no mínimo. Duas vezes por semana no mínimo. E.7) A ESCOLA APÓIA SEU TRABALHO? COMO? P3- Tá, a escola apóia meu trabalho, porque, na realidade a base da escola é a construção dos conceitos pela criança. Então, pra criança construir o conceito, o jogo é uma parte importante desse processo, então por isso a escola tanto apóia quanto estimula (né). A gente, a cada vez mais a estar trabalhando com jogos na sala de aula, sempre buscando, assim, o que eu falei: terminou o jogo, vamos repensar, o que você aprendeu? Como é que foi esse jogo? Quem ganhou? Não só jogar pelo jogar (né), tem que ter uma finalidade dentro daquele conteúdo que você está trabalhando.

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Professora denominada P4 1ª série - fundamental E.1) HOJE O USO DE JOGOS NO ENSINO DE MATEMÁTICA EM SALA DE AULA É MUITO DIVULGADO. VOCÊ ACREDITA SER IMPORTANTE O USO DE JOGOS NAS AULAS DE MATEMÁTICA? POR QUÊ? P4- Eu acredito que seja de suma importância, porque tem vários fatores que fazem o desenvolvimento da criança, e o jogo, na matemática, é um deles, além de estimular a criança pra aquele desafio, que geralmente envolve um desafio. Ele também estimula a criança na questão do raciocínio também. Então, o estímulo através de jogos é muito importante na matemática. E matemática pra eles, eu vejo na 2ª série, que a gente parte do concreto, mas tem coisa que é abstrata para eles entenderem. Então através do jogo, eles entendem bem mais fácil também. E.2) ALGUMAS SECRETARIAS, NÚCLEOS DE EDUCAÇÃO TÊM DIVULGADO TEXTOS E LIVROS SOBRE JOGOS.VOCÊ CONHECE ALGUM TEXTO SOBRE JOGOS PARA APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA? DO QUÊ, NA SUA OPINIÃO, ESSES TEXTOS TRATAM? P4- Eu já li algumas coisas a respeito de jogos. Li na graduação, também na pós-graduação. Eu me interesso quando explica como jogar, quando tem uma metodologia, quando tem a estratégia de como jogar, porque, muitas vezes, nós temos todo o material na mão e não sabe o que faz, o que fazer com aquilo. Então eu me interesso com estratégias: o que eu posso abordar naquele jogo, como que eu posso, se é condizente à faixa etária, se dá pra fazer com aquilo que estou trabalhando em sala de aula, então neste aspecto aí. E.3) VOCÊ CONHECE OS PCN DE MATEMÁTICA? JÁ DISCUTIU EM SUA ESCOLA SOBRE ELES? PODE ME DESCREVER ALGO SOBRE DO QUÊ ELES TRATAM? P4- Eu conheço os PCN de matemática, mas é educação infantil, que eu trabalhava educação infantil e... Eu acho assim, que, eu penso assim, que uma teoria que nem sempre dá certo na prática (tá), é uma coisa assim muito sonhada, às vezes, mas que, às vezes, na prática que não é seguido (né). Então, eu não sei falar, relatar como que tá escrito lá, mas o que eu percebo é isso, não só os de matemática, das outras disciplinas também, mas de uma forma geral.

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E.4 NAS SUAS AULAS DE MATEMÁTICA VOCÊ UTILIZA JOGOS? COM QUAL FINALIDADE? P4- Nós utilizamos sempre que possível o jogo, primeiro pra introduzir um conteúdo com a parte lúdica e depois também pra que eles fixem aquele conteúdo. Então, sempre que nós conseguimos, podemos fazer um jogo com aquele determinado conteúdo, tendo um objetivo, nós fazemos também. E.5) DE QUE MANEIRA VOCÊ USA OS JOGOS NAS AULAS DE MATEMÁTICA? DESCREVA. P4- Geralmente, nós utilizamos material de sucata e, é apresentado para as crianças de uma maneira, primeiro lúdica mesmo, como eu já falei, mas assim, a gente trabalha muito em grupos (né), pra eles terem essa troca também e é explicado os passos, as estratégias. E o que a gente mais leva em consideração é o que eles descobrem, não daquilo que a gente passou – como jogar, o que eles descobrem sozinhos com aqueles jogos, que é isso que a gente valoriza aqui, na escola, as descobertas que eles fazem com o jogo que eles estão jogando. E.6) COM QUE PERIODICIDADE VOCÊ TRABALHA COM JOGOS NAS SUAS AULAS DE MATEMÁTICA? P4- Nós trabalhamos sempre que possível, pelo menos uma vez na semana, com os jogos e... Mas quando dá, por exemplo, não só na matemática (né), mas aqui é só uso na matemática, mas quando dá, nós sempre colocamos, porque eles já têm, esse hábito, já têm esse costume de trabalhar com jogos. Então nós sempre estamos buscando, criando outros jogos também. E.7) A ESCOLA APÓIA SEU TRABALHO? COMO? P4- A escola apóia muito este trabalho. E apóia dando sugestões e também coordenando o que nós fazemos. Então sempre que tem uma sugestão nova, algum material novo é passado e discutido com a coordenação, com os professores como trabalhar aquilo, como que a gente pode enfocar. Às vezes, um mesmo jogo dá pra jogar em diferentes turmas, então sempre é coordenado, planejado anteriormente, mas aí a escola apóia bastante também. Oferece material, e dá todo suporte, todo apoio.

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Professora denominada P5 1ª e 3ª séries – ensino fundamental E.1) HOJE O USO DE JOGOS NO ENSINO DE MATEMÁTICA EM SALA DE AULA É MUITO DIVULGADO. VOCÊ ACREDITA SER IMPORTANTE O USO DE JOGOS NAS AULAS DE MATEMÁTICA? POR QUÊ? P5- Eu acho muito importante, eu acho que desperta o raciocínio da criança. Ela se sente mais... Como que se diz... Eu acho que ela aprende mais (né), eu acho que ela se dedica mais. Assim... Ela demonstra muito mais interesse pela atividade que esta sendo desenvolvida. E.2) ALGUMAS SECRETARIAS, NÚCLEOS DE EDUCAÇÃO TÊM DIVULGADO TEXTOS E LIVROS SOBRE JOGOS. VOCÊ CONHECE ALGUM TEXTO SOBRE JOGOS PARA APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA? DO QUÊ, NA SUA OPINIÃO, ESSES TEXTOS TRATAM? P5- Olha, de memória assim agora, (né). O texto assim, e de quem, vários textos eu assim tenho lido, tenho observado, mesmo alguns livros, e eu acho que... E eu acho que... Tem falado, tem divulgado sobre os jogos porque eles trazem assim muito mais bagagem pra criança (né), porque a criança quando está trabalhando o jogo, está despertando mais criatividade (né), é o que eu disse na primeira, mais interesse (né). Ela aprende com mais facilidade. Eu acho que a criança aprende com mais facilidade quando está trabalhando com jogos. Mesmo no núcleo de educação, nós estamos até fazendo um curso de 120 horas (né). Nós estamos trabalhando em cima de jogos matemáticos (né), e eu acho que até nós, professores despertou assim, muito interesse em trabalhar jogos em sala de aula. Muito interesse, até pra nós professores mesmo (né). Eu acho, sinto assim, que depois do... Do curso que eu tô tendo (né), que nós estamos assim praticamente quase no final, eu aprendi muito, sabe, mudou até o meu... O meu jeito de trabalhar em sala de aula, que eu não fico presa só em lousa, caderno (né). Então, eu acho que despertou bastante... Assim, eu tô criando bastante, eu acho que mudou muito o meu jeito de trabalhar... E pra criança também. E.3) VOCÊ CONHECE OS PCN DE MATEMÁTICA? JÁ DISCUTIU EM SUA ESCOLA SOBRE ELES? PODE ME DESCREVER ALGO SOBRE DO QUÊ ELES TRATAM?

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P5- Olha os PCN de matemática (sorri), eu conheço (né). Eu acho que eles dizem sim, que pra gente estar trabalhando sim, em cima de jogos, mesmo (né), pra buscar (né), eu acho que mudar (né) aquilo que era assim um... Uma coisa que... O professor trabalhava em cima do livro didático só e... No quadro e... Eu acho que... Mudou bastante nisto daí, depois de ter lido os PCN de matemática, mesmo na escola (né), porque, às vezes, o tempo é assim, tão pequeno que você acaba não... Discutindo com amigos, reuniões pedagógicas, coisas assim. Mas, eu acho que depende do interesse de cada professor (né). Aquele que leu, aquele que viu, ele muda seu jeito de... Seu jeito de trabalhar. Aquele que estudou, aquele que... Eu acho que sabe desperta, na criança, mais interesse, porque a matemática em si, a criança tem aquele que gosta, mas tem aquele que não gosta de jeito nenhum... Então, eu acho que a criança se sente mais interessada. Ela aprende com mais facilidade. Até, eu tenho na minha sala mesmo, criança que não sabe, que não aprendia a tabuada de jeito nenhum. A multiplicação não aprendia de jeito nenhum, de repente mudou a cabecinha dela. Hoje, ela já sabe tudo, e passou a gostar de matemática. E.4) NAS SUAS AULAS DE MATEMÁTICA VOCÊ UTILIZA JOGOS? COM QUAL FINALIDADE? P5- Olha... Olha pra mim... Falar assim, pra eu falar o que eu utilizo (né). Que eu utilizo todas as aulas não! Mas, de vez em quando sim (né). Com a finalidade de a criança sentir mais interesse pela aula. Que é como eu disse nas primeiras (né), que... A criança, você trabalhando com jogos com ela, ela sabe... Vai se interessando pelo assunto... Pela matemática. Aquela que tem dificuldade, ele acaba tendo...(né), ela acaba superando a dificuldade de matemática. E.5) DE QUE MANEIRA VOCÊ USA OS JOGOS NAS AULAS DE MATEMÁTICA? DESCREVA. P5- Eu usei assim, também o jogo de xadrez, nós trabalhamos (né). O jogo de xadrez nós trabalhamos em sala de aula, o Kala também (né), que eu aprendi a confeccionar o jogo e trabalho com eles, que é o raciocínio da criança (né) e...Também... Aí meu Deus, fugiu da minha cabeça agora. Como que eu uso (né)? Assim... Pra desenvolver mesmo o raciocínio dela (né). Eu organizo de dupla (né), de dupla e eles vão... E eu dou a técnica, dei a técnica pra eles e eles pegaram (né) e de repente eles jogam entre eles e depois dos grupos vai ficando... (né), daquele grupo que vai ficar, um grupo que vai disputar entre eles, entre os dois.

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E.6 COM QUE PERIODICIDADE VOCÊ TRABALHA COM JOGOS NAS SUAS AULAS DE MATEMÁTICA? P5- Uma vez por semana. Eu dou a atividade... Eu dou o conteúdo e depois é trabalhado em jogos pra ver se a criança conseguiu pegar o conteúdo (né). E.7) A ESCOLA APÓIA SEU TRABALHO? COMO? P5- Ah! De que maneira... Apoiar apóia (né), que acho que toda escola ela tem que apoiar (né), os jogos. É porque é trabalhado, além destes jogos que eu lhe falei é trabalhado assim, o boliche (né), é trabalhado... Quiném este jogo da velha que eu falei pra você, com as crianças mesmo (né). Olha pra falar pra você, a escola ela apóia, ela apóia sim, que eu chegar a conversar mesmo com a minha coordenação (né). Minha coordenadora, ela falou assim: “Olha professora, está aberto pra você isso daí” (né), só que eu acho que deveria ter assim, mais apoio (né), pela confecção de materiais (né), e... Eu acho assim, que a escola em si, não é questão de direção, nem coordenação, eu acho que vem do Estado mesmo, a falta de material que o professor tem (né), a falta de material que o professor tem em sala de aula. Tem professor que tem que acabar confeccionando os jogos (né)... O tangran também (né), que, entram as figuras geométricas (né), tangran – que eu esqueci de falar pra você aí. É, eu uso muito assim tampinha, tampinha de garrafa. É... Porque tem assim, a escola, ela não tem assim... (né), quiném tem o jogo, tem o ábaco, tem o (né)... Tem o... Aí meu Deus como eu vou dizer isso agora. Não dispõe dos recursos, não dispõe dos recursos, em que eu acho que não é nem assim questão de direção... Nem questão de direção (né), é questão de verba mesmo pra estar adquirindo o material (né).

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Professora denominada P6 Professora Auxiliar de 1ª a 4ª séries - fundamental E.1) HOJE O USO DE JOGOS NO ENSINO DE MATEMÁTICA EM SALA DE AULA É MUITO DIVULGADO. VOCÊ ACREDITA SER IMPORTANTE O USO DE JOGOS NAS AULAS DE MATEMÁTICA? POR QUÊ? P6- Eu acredito, porque a criança ela é, desde pequenininha (né), ela é movida através dos jogos, ela... Digamos assim, é motivada (né), a perceber o mundo através dos brinquedos, das brincadeiras que são os jogos (né). Então, desde de quando a criança... Logo que ela começa a engatinhar, o jogo já faz parte da vida dela. Então, acho que ela aprende mesmo com os jogos, e a criança vendo a matemática, vamos supor pura, através de probleminhas e... Só através das contas, ela não entende realmente o que é que ela está fazendo, só faz... Seguindo modelo, não entende. Então, acho que os jogos ajudam muito estabelecer as regras, porque no jogo tem às regras (né), então, através das regras ela consegue realizar melhor as situações problemas... E transportar isso pra vida dela também, por isso, que ela funciona, a matemática, fazer com que ela entenda... A vida do dia-a-dia. E.2) ALGUMAS SECRETARIAS, NÚCLEOS DE EDUCAÇÃO TÊM DIVULGADO TEXTOS E LIVROS SOBRE JOGOS.VOCÊ CONHECE ALGUM TEXTO SOBRE JOGOS PARA APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA? DO QUÊ, NA SUA OPINIÃO, ESSES TEXTOS TRATAM? P6- Quando a gente faz curso de capacitação, e eles falam na área da matemática, sempre a gente trabalha em cima de textos (né), às vezes, até... Mostrando alguns tipos de brincadeira, de jogos. Agora, eu não posso assim, no momento lembrar de algum texto que eu tenha lido, mas, sempre que a gente trabalha na área da matemática (né), nesse tempo todo que eu tenho, já faz 21 anos que eu trabalho, geralmente nesses cursos de capacitação a gente trabalha bastante a questão dos jogos. Eles mostram na prática como é possível trabalhar jogos em sala de aula, e às vezes, a gente tem aquela dificuldade de trabalhar com jogos, justamente porque, às vezes, a gente não tem material adequado pra todo mundo (né). Nestas apostilas, mostra a forma que você pode trabalhar até... Fazendo jogos em cartolina (né). Dão sugestões, às vezes, mostram como que a gente pode fazer um laboratório de matemática (né), dão todos os tipos de jogos, dão indicações de como produzir e trabalhar.

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E.3) VOCÊ CONHECE OS PCN DE MATEMÁTICA? JÁ DISCUTIU EM SUA ESCOLA SOBRE ELES? PODE ME DESCREVER ALGO SOBRE DO QUÊ ELES TRATAM? P6- Conheço. Só que eu não estudei profundamente sobre os PCN, a gente trabalha mais em cima da proposta do Currículo do Estado Paraná. A gente deu leves pinceladas nos PCN, mas eu acho que nossa base de trabalho é o Currículo do Estado. A gente ainda...(né). Mesmo que tenha os PCN que é mais novo (né), um material mais novo. Mais a nossa base de trabalho ainda é o Currículo do Estado do Paraná. E.4) NAS SUAS AULAS DE MATEMÁTICA VOCÊ UTILIZA JOGOS? COM QUAL FINALIDADE? P6- Atualmente, estou trabalhando mais com crianças com dificuldades. Então, vinculação de jogos, porque estas crianças precisam vivenciar melhor (né), as situações da matemática para poder compreender. Então, eu utilizo: material dourado, blocos lógicos, o ábaco (né). E joguinhos também de tabuada, dominó... Resta um, pra... Pra criança perceber mesmo, porque na sala de aula é muito... É difícil trabalhar com jogos desta maneira. Às vezes, a gente propõe uma atividade diferente e tal, mas a criança, na sala de aula, às vezes... Às vezes, falta aquele material pra todo mundo (né), às vezes, você providencia de cartolina e tal, mas como ultimamente tenho trabalhado mais individualmente, então eu aproveito bastante os jogos por causa que... Até pra facilitar a aprendizagem dessa criança já com dificuldade (né). Ela não consegue entender o ponto, o problema, sem... Sem vivenciar mesmo (né), e através dos jogos eu acho que facilita bastante o trabalho. Eu tenho conseguido resultado. É... Sempre se tem aquela proposta de fazer... De a escola sempre ter bastante jogos e tal, mas vamos supor, você tem um... Você tem quatro material dourado, mas todo mundo está usando ao mesmo tempo, e você usa um na sala de aula, a criança... Você está mostrando na frente, ela está com um similar de papel (né), mas, eu acho que quando você trabalha no individual, a criança percebe. A criança com dificuldade, se você não trabalhar com jogos, eu acho que ela num... Num consegue entender a matemática. Ela vai só fazendo uma reprodução (né)... O material concreto aí (né), o material dourado, quando ela vai vivenciando a unidade, ela percebe realmente o que é unidade, o que é dezena (né), tem as dez unidades ali. Então, com material dourado ela percebe, e a gente nota visivelmente, na criança, que com material dourado, como ela entende o sistema de numeração. Quando você passa (né), trabalha em sala de aula, sempre tem uma criança que ela tem abstração maior (né), por uma série de motivos, até por já ter bastante jogos em casa (né). Tem outras crianças que não tem essa vivência com jogos e que também já tenha alguma dificuldade e tal. Acho que esses materiais ajudam bastante, é só através deles que acho que a criança consegue entender.

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E.5) DE QUE MANEIRA VOCÊ USA OS JOGOS NAS AULAS DE MATEMÁTICA? DESCREVA. P6- Utilizo bastante material dourado, fazendo atividade, no começo deixo ela contar à vontade, depois eu começo a agrupar (né)... Até ela perceber quando ela... Deixo ela agrupar da forma que ela achar melhor. Então, a gente propõe algumas situações, que tal você agrupar de dois em dois (né), vai sugerindo, e ela vai acrescentando. Uso, também, palitos (né) pra contagem. Eu falo material dourado, porque ele vivência. Até pra ver como que ele vai fazer. Se você pede cem unidades, se ele vai pegar de um em um (né), ele começa a contar e percebe que está difícil (né), aí deixa bem a mostra para ele perceber que ele pode utilizar aquelas cem ali. Fazer aquele sistema de trocas (né). Então, acho isso legal por causa disso, que eles percebem realmente. Eu uso a tabuada, nós temos um material pra tabuada que usa plaquinhas, igual como se fosse... Mesmo modelo do material dourado (né), que ele conta quantas unidade têm. Vai procurar o equivalente lá naquela tábua maior (né). Eu acho joguinhos de tabuada, mesmo aqueles de... De dominó de tabuada, acho que ele brincando, vivenciando, ele... A tabuada, a gente trabalha bastante assim com desenhos também, mas para ele memorizar (né), através daqueles jogos, acho que ajuda bastante, porque ele está fora daquele contexto de pressão, que tem que aprender tem que decorar (né). Com os jogos ele... O quebra-cabeça, e acho que o jogo da memória (né), tanto na língua portuguesa que a gente trabalha com a figura e com a palavra (né) acho que a memória mais importante. A criança tem que ter desenvolvimento do sentido da memória visual, então acho que...Tanto, na alfabetização também o jogo da memória usa palavra e, tem bastante resultado. E ele aprende assim, sem perceber, brincando, ele acaba... E tem sempre aquela questão de a criança achar que ele tá tentando e não tá aprendendo (né) e ali ele vai perceber que, brincando ele vai aprender... Faz parte eu acho (né), assim como é inerente do ser humano o trabalho (né), eu acho que o brinquedo também é como se fosse um trabalho (né). Ela acha que não é aprendizado. “AH! A gente só brincou hoje, a gente não escreveu nada” e tal (né) aí, depois com o tempo que ele vai perceber como que ele evoluiu, como que ele aprendeu com aquela brincadeira. E.6) COM QUE PERIODICIDADE VOCÊ TRABALHA COM JOGOS NAS SUAS AULAS DE MATEMÁTICA? P6- Praticamente quando eu atendo criança com dificuldade, eu utilizo só os jogos. Não, só não, eu uso material dourado, ábaco, esses materiais que a gente tem em mãos. E eu exploro bastante, toda vez que eles vêm pra trabalhar na matemática, eu utilizo esses materiais. Uso diário, mas com criança num grupo menor (né), na sala de aula... Faço como essas atividades que a gente tem para trabalhar com jogos em sala de aula, até por indisciplina e tal, a gente faz jogos, por isso que se propõe menos situações de jogos (né). Agora, com um grupo menor, aí a proposta... Toda vez que vou

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trabalhar matemática, eu aproveito o material. Eu até tenho brinquedos, carrinhos que eles possam fazer contagem, utilizar em situações de compra. Agora o grupo maior é complicado, por falta de material e de... Por questão da indisciplina mesmo, a gente juntar para fazer grupos e, eu acho assim, quando a gente trabalha em sala, se a gente consegue ajuda de estagiários (né) aí a gente consegue. Você tem que estar atendendo as crianças nos grupos, não adianta você dar o material e deixar elas...(né), você tem que dar orientação. Então eu acho que a dificuldade em sala de aula é isso, que eu sinto, e que eu sentia quando eu estava em sala de aula e que eu sinto dos professores também, que é essa a dificuldade, não se tem material para todo mundo (né), mesmo, às vezes, confeccionando alguma coisa, não é a mesma coisa que se fosse material gráfico, que se confeccione no papel, não é a mesma coisa (né). A criança quer pegar o material, eu acho que esse prazer de sentir o próprio material, também é interessante (né), de ver as dimensões (né), ele é tridimensional, agora no papel não (né). Até isso faz certa diferença. E eu penso assim, que as crianças de hoje em dia, com bastantes informações que são passadas, todas elas têm muitos jogos em casa (né), então a criança vem com a vivência, e essas crianças que não conseguem aprender e você tirando ela num pequeno grupo, então ela acha que... Às vezes, é isso também que acontece. Vamos supor, numa sala de aula você trabalha com desenhos, ou mesmo com livros didáticos ou no quadro explicando. Vai ter sempre aquele grupo que não vai conseguir dominar, pra esse grupo, se você consegue trabalhar individual, fora da sala (né), em atendimentos contra turno, então facilita mais, porque não é toda criança que não consegue abstrair (né), mesmo probleminha. Então, porque, pelo menos o nosso nível de criança, elas já vêm com crianças que têm o hábito de trabalhar com jogos (né), eles todos conhecem a dama, conhecem xadrez. Antigamente, vamos supor, eu não consegui aprender xadrez de pequena, e as crianças, de hoje em dia, é difícil você perguntar para uma criança que não consegue manusear algumas peças de xadrez. Crianças pequenas já conhecem as peças, já movimentam no tabuleiro e tal (né), e já é uma prática na educação física eles trabalharem com jogos de xadrez. Por exemplo, dois de meus filhos já aprenderam desde pequenos, já sabem jogar xadrez, esses jogos comuns: xadrez, dama, sem contar o vídeo game, todas as crianças já vêm com essa participação, isto ajuda bastante na sala de aula. Aí você trabalha no quadro com os palitos, mais com a contagem dos palitos, que é um material mais fácil, que dá para cada criança ter o seu material, que não deixa de ser um tipo de jogo (né), você pode fazer aquela trouxinha com unidades, dezenas e centenas que para criança ir trabalhando a troca. Então daí é fácil de trabalhar, mas quando envolve outros materiais, igual o material dourado, o ábaco maior, então aí você usa um lá na frente, você mostrando um material dourado e um ábaco, lá na frente. Você vai contando, quer dizer, não é a mesma coisa dele estar manuseando, e ele estar percebendo. Você dá a oportunidade dele descobrir também (né). Ta entendendo? Então, quando você usa um material dourado, lá na frente, mostrando pra todos, é a mesma coisa de você estar trabalhando no quadro com desenhos, não muda muito (né). Então, você junto com a criança, por isso que eu acho que esse material na matemática, ele funciona muito, com a criança com dificuldade. Quando você trabalha no individual, em contra turno, mesmo na sala de reforço, numa sala onde você possa... Onde ele possa manusear, ele possa ir descobrindo. Você propõe a

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situação e deixa ele descobrir. Na sala de aula, com 30 alunos, você propõe a situação para o aluno que já esta com dificuldade, não tem como acompanhar o raciocínio dele (né). Eu acho que no individual é legal trabalhar, porque ele percebe. Você deixa ele contar à vontade, você deixa ele agrupar da forma dele, e depois propõe uma outra forma agora... Numa sala de 30 alunos é muita coisa. Mas, outros jogos, construídos pela própria criança, dominó, no caso da tabuada, tudo isso dá para se trabalhar. E.7) A ESCOLA APÓIA SEU TRABALHO? COMO? P6- Apóia, a escola sempre... (né), compra o material para que a gente tenha assim... O nosso material é utilizado também pelas meninas do magistério. E a gente tem, também, na escola, o laboratório de matemática, e que o pessoal de 5ª a 8ª utiliza bastante. Aqui, a gente trabalha com as salas ambientes (né). Então, tem a sala ambiente de matemática com esses jogos. Apesar de que a gente tem um material aqui, de 1ª a 4ª, material com a gente (né), separado, que a gente deixa separado pra gente trabalhar.

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Professora denominada P7 3ª série – fundamental E.1) HOJE O USO DE JOGOS NO ENSINO DE MATEMÁTICA EM SALA DE AULA É MUITO DIVULGADO. VOCÊ ACREDITA SER IMPORTANTE O USO DE JOGOS NAS AULAS DE MATEMÁTICA? POR QUÊ? P7- Eu acredito que ele é importante sim, até porque o lúdico atrai as crianças e através da brincadeira as crianças podem estar fazendo as relações de matemática, aprendidas em sala de aula. Então, os jogos são importantes e eles ajudam a criança a vivenciar muitas situações do cotidiano que elas, às vezes, com os pais, não vivem. A nossa realidade de aluno é uma realidade de aluno de classe média alta e, então eles com os pais no, dia-a-dia, eles não fazem compras no crediário, eles não fazem carnês, nada disso. Então, eles usam cheque à vista, cartão de crédito. Então, através dos jogos a gente pode simular esse tipo de situação que é desconhecida pra eles, e eles podem estar vivenciando coisas que não fazem parte da rotina deles, e eles podem estar assimilando conteúdos trabalhados em sala, com maior facilidade. E.2) ALGUMAS SECRETARIAS, NÚCLEOS DE EDUCAÇÃO TÊM DIVULGADO TEXTOS E LIVROS SOBRE JOGOS. VOCÊ CONHECE ALGUM TEXTO SOBRE JOGOS PARA APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA? DO QUÊ, NA SUA OPINIÃO, ESSES TEXTOS TRATAM? P7- Os textos que nós temos lido no trabalho, durante as reuniões do colégio, são os textos de matemáticos que... Didáticos mesmo... E o que eu conheço desses jogos e o que a gente pega desses jogos é a forma de jogar e o que pode estar beneficiando o aluno. E, alguns nós colocamos em prática na sala de aula, alguns não, alguns pela correria, pela grande quantidade de conteúdo que ainda existe em sala de aula, às vezes, não é possível à gente estar aplicando aqueles jogos em sala, e também pela quantidade de aluno. E.3) VOCÊ CONHECE OS PCN DE MATEMÁTICA? JÁ DISCUTIU EM SUA ESCOLA VOCÊ SOBRE ELES? PODE ME DESCREVER ALGO SOBRE DO QUÊ ELES TRATAM? P7- Olha, nós estudamos os PCN na época em que eles foram lançados. Estudamos, mas não lembro, a única coisa assim, que ficou bem forte pra nós foi o trabalho em espiral. Trabalhando em todas às séries, existe uma repetição de

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conteúdos pra que a criança vá aprendendo de forma gradativa, que vá aumentando esse conteúdo de forma gradativa. Então, é isso que ficou bem claro pra nós e também a questão dos jogos, que os PCN também... É... Trazem os jogos como metodologia de ensino (né), um recurso. Não me lembro mesmo dos PCN. E.4) NAS SUAS AULAS DE MATEMÁTICA VOCÊ UTILIZA JOGOS? COM QUAL FINALIDADE? P7- Eu uso poucos jogos, porque realmente é uma questão de conteúdo, eu trabalho com jogos que vêm já indicados pelo livro didático, alguns vêm pelos assessores de São Paulo, que eles nos mandam esses jogos, algumas... Eles mandam algumas sugestões de jogos e nós aplicamos. Já trabalhei muito mais com jogos antigamente, quando eu trabalhava com 1ª e 2ª série era mais forte a presença dos jogos. Já em 3ª e 4ª série não é muito não. E trabalhamos com alguns relacionados ao sistema monetário, número decimal, fração mais... É uma falha, nós conversamos, inclusive essa semana, nós conversamos no colégio a respeito disso, pra nós estarmos investindo mais em jogos e, procurando trabalhar menor quantidade de problemas e com... Explorar mais esses jogos, esses problemas pra ver se nós conseguimos reduzir a quantidade e melhorar um pouco mais na qualidade da matemática. A finalidade é nós conseguirmos... Às vezes... Idéias matemáticas, ampliar as idéias matemáticas, ajudar as crianças nessa parte da resolução de problemas e interpretação. É mais essa finalidade que a gente trabalha na 3ª série. Trabalhamos com jogos de fração, porque fração é complicada, à parte de divisão, tudo é um pouco abstrata pras crianças. Então, com os jogos nós tentamos também trabalhar essa abstração, concretizar um pouco isso que é abstrato pras crianças. E.5) DE QUE MANEIRA VOCÊ USA OS JOGOS NAS AULAS DE MATEMÁTICA? DESCREVA. P7- Nós trabalhamos sempre em grupos, nós procuramos trabalhar sempre em grupos. Nós apresentamos o jogo. Eu apresento o jogo. Formo as equipes. As crianças jogam, e sempre depois do jogo nós procuramos tirar da criança o que ela aprendeu com aquele jogo primeiro, antes de estar passando o que eu quero naquele jogo com as crianças. Eu procuro tirar delas, aí, geralmente, a gente faz registro, desenho, geralmente a gente procura... Estabelecer um vínculo do jogo com a matéria vista, mas primeiro eles fazem a conclusão, depois é que o professor interfere.

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E.6) COM QUE PERIODICIDADE VOCÊ TRABALHA COM JOGOS NAS SUAS AULAS DE MATEMÁTICA? P7- Uma vez por mês, uma vez... É mais uma vez por mês, e nós temos consciência que é pouco, porque o jogo na verdade, pra ele ser bem trabalhado esse jogo ele precisa ser jogado várias vezes. Porque, na primeira vez, a criança tem contato com o jogo e ela vai, ela vê o jogo, já fizemos isso em outros anos. Então eles têm o contato com o jogo e eles fazem um relatório do que eles entenderam com aquele jogo. Muitas vezes, na segunda, terceira, quarta vez que eles jogam, eles vão descobrindo coisas diferentes. Então, não é quantidade de jogo, é como se joga, então se você tem um jogo que funcionou, que você já fez, você jogou em casa sozinha antes pra ver, isso também é importante. Se você pegar um jogo só com as instruções e chegar na sala de aula e já trabalhar, sem ter feito em casa antes ou jogado com alguém antes, na sala pode acontecer situações que você não tá preparada. Então, você chega na sala já com algumas hipóteses que vai acontecer com o jogo e com as crianças e quais as hipóteses que as crianças poderão levantar em relação ao jogo e, na primeira vez, você faz as anotações, na segunda, terceira, na quarta vez que você aplica o jogo, essas hipóteses e essas conclusões vão se modificar. Então, é importante que você escolha bem o jogo e que esse jogo seja jogado vária vez, e não joga uma vez um mês um jogo, outro mês outro jogo, isso a gente já sabe que não é certo e que não é o ideal. E.7) A ESCOLA APÓIA SEU TRABALHO? COMO? P7- Você está perguntando assim, que apóia em que sentido? No trabalho com jogos, em que sentido? E Eu estou perguntando assim, se a escola apóia o seu trabalho, e se apóia de que maneira é esse apoio? P7- A escola, ela dá muito apoio, ela... Nós temos os assessores que vem de São Paulo, que são pesquisadores nas áreas, e eles vêm com sugestões novas. Eles trazem, eles reciclam. Faz uns dois anos que os assessores... Nós estávamos meio que abandonados, até por isso que algumas coisas de matemática ficaram engavetadas, porque não é que a gente desaprende, mas você se acomoda. O jogo é uma coisa que dá trabalho... Uma coisa nova, e tudo que é novo que dá trabalho, você resiste um pouco. E quando, esses assessores vêm, eles trazem uma certa carga, eles inovam, eles trazem de uma certa forma um gás novo pra gente. Então, eles revigoram seu conhecimento, e também, tem coisas que você trabalha um ano, dois anos, você enjoa. Você não quer mais trabalhar aquilo, e aí você quer coisa nova pra trabalhar. Então, esses assessores que vem, eles são muito importantes. A escola fornece todo material que nós pedimos, tudo que é pedido ela fornece. Desde material, jogos mesmo pra comprar, tudo a escola fornece, se é preciso mandar confeccionar alguma coisa, a escola também manda. Nós temos também a área de informática, que nós trabalhamos também a matemática, e as crianças gostam bastante. Na informática, nós aplicamos alguns

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jogos pra desenvolver tabuada, algum cálculo mental e, esse tipo de coisa, e eles gostam bastante.

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Professora denominada P8 3ª série - fundamental E.1) HOJE O USO DE JOGOS NO ENSINO DE MATEMÁTICA EM SALA DE AULA É MUITO DIVULGADO. VOCÊ ACREDITA SER IMPORTANTE O USO DE JOGOS NAS AULAS DE MATEMÁTICA? POR QUÊ?

P8- Sim, porque o jogo desenvolve muitas habilidades na criança. É... Ajuda no raciocínio, ajuda na interação, então ele se faz importante. E.2) ALGUMAS SECRETARIAS, NÚCLEOS DE EDUCAÇÃO TEM DIVULGADO TEXTOS E LIVROS SOBRE JOGOS. VOCÊ CONHECE ALGUM TEXTO SOBRE JOGOS PARA APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA? DO QUÊ, NA SUA OPINIÃO, ESSES TEXTOS FALAM? P8- Eu conheço. Não de secretaria, a gente trabalha alguns textos aqui (tá) no colégio (né), a gente têm alguns. É... Eles trabalham como trabalhar o jogo, o que especificam sobre jogo. Principalmente, no ensino da matemática (tá), apesar do jogo não ser... Ter objetivo só na matemática (né), porque ele tem objetivo global, não só para ensino da matemática. Mas, ele é mais divulgado para o ensino da matemática. Eu tenho alguns textos, Celso Antunes, por exemplo, e Cristina Friedman, se eu não me engano. E.3) VOCÊ CONHECE OS PCN DE MATEMÁTICA? JÁ DISCUTIU EM SUA ESCOLA VOCÊ SOBRE ELES? PODE ME DESCREVER ALGO SOBRE DO QUÊ ELES TRATAM? P8- Vou dizer a verdade, não conheço. Sei que tem, já até folhei, mas não... Não vou te dizer, porque não estudei corretamente (risada). E.4) NAS SUAS AULAS DE MATEMÁTICA VOCÊ UTILIZA JOGOS? COM QUAL FINALIDADE? P8- Utilizamos, (tá). É... Tá certo, que a gente deveria utilizar mais, mas a gente utiliza sim. A finalidade é desenvolver o raciocínio, desenvolver estratégia de pensamento (tá), a sociabilização, é... Normas de condutas (tá) e também a interpretação.

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E.5) DE QUE MANEIRA VOCÊ USA OS JOGOS NAS AULAS DE MATEMÁTICA? DESCREVA. P8- Tá... A gente apresenta um jogo (tá), primeiramente com as regras deste jogo. Então, eles trabalham, lêem as regras, entendem as regras, fazem o jogo. Num segundo momento, o mesmo jogo pode ser trabalhado, para ser utilizado. Pode-se mudar às regras. Pode-se fazer outras ou pode se trabalhar com as mesmas regras, mas aí, com objetivo de tá observando como é que eles pensam como resolvem, como eles fazem para resolver. E, aí esse mesmo jogo pode ser trabalhado várias vezes e mudando as estratégias ou mudando as regras (tá). Então, um jogo só pode ser trabalhado, várias vezes. E.6) COM QUE PERIODICIDADE VOCÊ TRABALHA COM JOGOS NAS SUAS AULAS DE MATEMÁTICA? P8- É... No colégio, eles pedem que a gente trabalhe pelo menos um jogo no trimestre (tá), várias vezes, é lógico, pelo menos, um jogo no trimestre. Então, a gente tenta (enfatiza) trabalhar um jogo por trimestre. Dá uma vez por semana, porque a gente tem que tá colocando isso dentro do planejamento, mas cada 15 dias pelo menos. E.7) A ESCOLA APÓIA SEU TRABALHO? COMO? P8- Apóia, a escola quer que a gente trabalhe com jogos (né). Eles oferecem isso, oferecem o material, oferecem o jogo, oferecem... A escola tem assim, um bom, é... Eles querem trabalhar com isso, querem fazer pesquisa.

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