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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA DO MARANHÃO
LUCIMAR CARVALHO SOUSA
Os Pasquins em São Luís na primeira metade do século XIX
São Luís
2006
LUCIMAR CARVALHO SOUSA
Os Pasquins em São Luís na primeira metade do século XIX
Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação Lato Sensu em História do Maranhão, da Universidade Estadual do Maranhão, como requisito parcial para obtenção do grau de especialista.
Profa. Orientadora: Elizabeth Sousa Abrantes
São Luís
2006
LUCIMAR CARVALHO SOUSA
Os Pasquins em São Luís: na primeira metade do século XIX
Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação Lato Sensu em História do Maranhão, da Universidade Estadual do Maranhão, como requisito parcial para obtenção do grau de especialista.
Aprovada em ___/___/____
__________________________________________________________
Profa. Elizabeth Sousa Abrantes (Orientadora)
Mestre – UEMA
______________________________________________________
Prof. Marcelo Cheche Galves (1º Examinador)
Mestre – UEMA
__________________________________________________________
Prof. Paulo Roberto Rios Ribeiro (2º Examinador)
Mestre - UEMA
Aos meus pais Lourenço Sousa (in
memorian) e Maria José Carvalho pela
credibilidade depositada, fortalecendo a
realização deste momento.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar a Deus “o meu único Senhor”, a minha família por ter
acreditado no meu desempenho e principalmente a filha Luciana companheira e amiga
em todos os momentos.
A professora Elizabeth Sousa Abrantes, minha orientadora, pela segurança
e incentivo na realização deste trabalho.
Aos professores e colegas de curso, Pelo estimulo e companheirismo e a
todos aqueles que contribuíram de forma direta ou indireta para a concretização deste
objetivo.
“Todo mundo canta sua terra eu
também vou cantar a minha.
Modéstia á parte seu moço minha
terra é uma belezinha”.
João do Vale
RESUMO
Este estudo trata do perfil e atuação dos pasquins da cidade de São Luís na
primeira metade do século XIX. Aborda-se o conteúdo desses jornais e as estratégias
usadas pelos editores dos periódicos para atingir os adversários políticos e pessoas da
sociedade. Assim, a partir dos pasquins que circulavam na capital maranhense na
“calada da noite”, discutiremos como eles interferiam no cotidiano das pessoas da
cidade de São Luís, qual seu grau de envolvimento na vida política local e as
ideologias e posições assumidas pelos jornalistas responsáveis pela circulação destes
periódicos.
Palavras-chave: Perfil. Pasquins. São Luís. Ideologias. Imprensa.
SUMMARY
This study talks the profile and performance of the “Pasquins” in the city of
São Luís in the first half of Xix centure. It approaches the content of
thesenewspapers and the strategies wsed by the publishers of the periodicals to reach
the politic adversaries and people of the society. In this way, from the pasquins that
circulatece in the capital of Maranhão in the quite night, we will arque as they have
interfered in the dayle life of the people from São Luís, Which is the degree of
envolvement in the politic local life and the ideologies and positions assumed
thejournalists, that were responsible for the circulation of this periodicals
LISTA DE ANEXO
ARGOS DA LEI ..........................................................................................52
O CENSOR MARANHENSE ......................................................................54
O DESPERTADOR CONSTITUCIONAL ..................................................58
O CABOCLO MARANHENSE ..................................................................59
O PICAPAO .................................................................................................60
O BEM-TEVI................................................................................................61
SUMÀRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................09
1. A HISTÓRIA DA IMPRENSA NO MARANHÃO.............................12
2. A HISTÓRIA DOS PASQUINS...............................................................26
3. OS PRINCIPAIS PASQUINS DE SÃO LUÍS..........................................34
3.1. O COMETA...........................................................................................34
3.2 O GUAJAJARA......................................................................................35
3.3 O BEM-TEVI..........................................................................................38
3.4 O PICAPAO............................................................................................40
3.5 O CABOCLO MARANHENSE.............................................................42
3.6 O PATUSCO..........................................................................................43
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................46
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................48
ANEXOS.......................................................................................................51
INTRODUÇÃO
A crescente atenção que historiadores, antropólogos, filósofos e outros
especialistas têm dedicado ao cotidiano e estudos ligados a História Social nos
estimulou a estudar sobre os pasquins1 em São Luís, para a compreensão de realidades
sociais e de poder presentes na elaboração e circulação desses periódicos.
Em uma sociedade por mais moderna que se torne haverá sempre uma
simbiose entre o passado e o presente, o primeiro interferindo nas explicações ou
explicando a organização do segundo. Considerando que a História é o território em
que são recontadas as tradições, costumes e valores, resguardar a memória social é um
grande desafio.
A história da humanidade deixa, através dos registros, marcas que formam a
memória social deixada como legado ás gerações vindouras. São os conhecimentos
adquiridos, as tradições acumuladas e transmitidas ao longo do tempo, que
estabelecem esse vínculo entre passado, presente e futuro da humanidade. Preservar a
memória social tem sido ao longo do tempo uma tarefa de grande relevância para a
manutenção da cultura, o que só será possível com a valorização da história.
Assim, propusemo-nos a analisar a história dos pasquins por uma
perspectiva social, dando ênfase ao cotidiano da sociedade ludovicense na primeira
metade do século XIX, momento que se caracteriza pelo florescimento do desejo de
liberdade de pensar e expressar opiniões.
1.Jornais que usando linguagem inflamada, passaram a circular no Brasil após a liberdade de imprensa.
BOTELHO, Ângela Viana e REIS, Liana Maria. Dicionário Histórico Brasil-Colônia e Império. Belo Horizonte: O autor, r2001.
Consideramos que o conhecimento desta realidade sociocultural e as
reflexões que sobre elas se fizerem será um primeiro passo rumo à busca da
reconstrução desse momento histórico. Assim, a partir dos estudos dos pasquins que
circulavam na capital maranhense, divulgados geralmente na calada da noite,
discutiremos como eles interferiram no cotidiano das pessoas da cidade de São Luís
na época em questão, qual seu grau de envolvimento na vida política local, quais
ideologias e posições assumidas pelos jornalistas responsáveis pela circulação destes
periódicos.
A partir destas inquietações, realizamos este trabalho, procurando sempre
nas evidências possibilidades de respostas às nossas investigações. A História Social
propõe uma compreensão de fatos históricos na sua totalidade, não restringindo fontes
ou abordagens, ampliando os documentos, sendo estes devidamente catalogados e
questionados quanto a sua origem, contexto onde foram redigidos.
Diante desse contexto, e movidos pelo desejo de contribuir para a
historiografia do Maranhão, analisaremos a história dos pasquins na primeira metade
do século XIX, na conjuntura sociopolítica da construção do Estado Nacional
brasileiro. Essa análise é enriquecida pela presença de elementos que não apenas
foram testemunhas da história, mas autores dessa mesma história, que foram os
pasquins.
Nosso trabalho se fez com dificuldades, delírios, dores, conflitos, encontros,
desencontros e prazer que estiveram sempre presentes nessa busca às vezes vitoriosa
ou frustrada na realização de pesquisa e da produção do saber.
O trabalho está dividido em três capítulos. No primeiro aborda-se a história
da imprensa no Maranhão, discorrendo sobre sua trajetória, analisando os cenários em
que circulavam os principais jornais no período em estudo. No segundo capítulo
aborda-se a história dos pasquins, verificando-se sua influência no cotidiano dos
ludovicenses. No terceiro capítulo analisam-se os principais pasquins que circularam
na capital maranhense, seu grau de envolvimento na vida política local e as ideologias
e posições assumidas pelos autores desses periódicos.
1 . A HISTÓRIA DA IMPRENSA NO MARANHÃO
O período colonial no Brasil foi marcado pela proibição da impressão de
jornais e livros como forma de assegurar que as idéias de revolta, de liberdade e de
independência não fossem divulgadas entre os colonos, além de garantir o controle e
exploração sobre os brasileiros através da ignorância intelectual. Segundo Sebastião
Jorge (1987, p.28) “tudo que pudesse despertar para a leitura e, conseqüentemente,
para o saber, era proibido”.
A presença da família real em terras coloniais era um fato inusitado e acabou
provocando muitas transformações no Brasil. Em 10 de setembro de 1808, por
exemplo, começou a circular a Gazeta do Rio de Janeiro, o primeiro jornal editado no
Brasil, impresso na tipografia da Imprensa Régia2 e limitado a divulgar notícias
oficiais e de interesse do governo. Surgiram tipografias em diversas regiões do país e
outros jornais passaram a ser publicados. No entanto o primeiro a circular no Brasil,
escrito por um brasileiro, foi o Correio Brasiliense, primeiro jornal brasileiro editado
entre 1808 e1822, em Londres por Hipólito José da Costa, Coimbra que era adepto
das idéias liberais. Trazido clandestinamente ao Brasil por comerciantes ingleses, o
jornal de oposição ao governo joanino contribuiu para incutir na elite brasileira as
idéias liberais que formariam a ideologia do movimento de independência. Segundo
seu redator:
2. Imprensa Régia- Imprensa oficial, relativo ao poder real simbolizado pela coroa.
Resolvi lançar esta publicação na capital inglesa dada a dificuldade de publicar obras periódicas no Brasil, já pela censura prévia, já pelos perigos a que redatores se exporiam falando livremente dos homens poderosos. (Apud COUTINHO, 1987, p. 36)
Grande era o temor do jornalista Hipólito José em publicar o seu trabalho no
Brasil, não só pelas dificuldades existentes na publicação dos periódicos, mas pelos
perigos que enfrentava em falar livremente dos poderosos. O Correio Brasiliense
chegava ao Brasil de contrabando, devido às idéias consideradas incendiárias.
No Maranhão o primeiro jornal será lançado em 1821, “O Conciliador do
Maranhão”, de caráter oficial³. A história da imprensa teve início em um momento de
conflitos de idéias e posições, no contexto da Independência do Brasil e adesão do
Maranhão a essa causa. Como informa Sebastião Jorge (1987, p. 16), “a situação era
crítica, o ambiente pouco favorável à implantação de uma imprensa independente que
viesse assumir uma postura política sobre determinado segmento de idéias”.
O Maranhão mantinha-se ligado a Portugal não só por laços político-
econômicos, mas também pela tradição. Administrativo, por ter sido um estado
colonial separado do Brasil de1621 a 1808, estando ligado diretamente à metrópole.
Além disso, os filhos das famílias ricas maranhenses enviavam seus filhos às
universidades européias para adquirirem uma formação intelectual rebuscada e a
Universidade de Coimbra era uma das mais procuradas para receber os herdeiros da
aristocracia maranhense.
________________________
3. Esse jornal tinha como objetivo divulgar os atos oficiais do governo provincial.
As mudanças de mentalidade influenciadas pela ideologia liberal contribuíram para
novas posturas comportamentais e conseqüentemente geraram conflitos sociais, principalmente
entre os portugueses que viviam na província do Maranhão e os que, imbuídos de novas
aspirações apoiavam as determinações do príncipe D. Pedro em prol da independência do Brasil.
Grande também era o número de portugueses que viviam no Maranhão, o que contribuiu para a
recusa em submeter-se às determinações de D. Pedro e aceitar a causa da Independência4.
Nesse cenário de luta pela manutenção do poder de um lado e pela
emancipação política de outro, nasceu o primeiro jornal maranhense com o título de
“Conciliador”, em 15 de abril de 1821, com um formato de uma folha de papel
almaço, manuscrito em duas colunas. Os primeiros exemplares desse periódico eram
manuscritos e redigidos na casa construída pelos Jesuítas, onde hoje funciona o
Convento das Mercês. Circularam 34 exemplares manuscritos, sendo que em 31 de
outubro de 1821 o governador Bernardo da Silveira Pinto implantou a primeira
tipografia, instalada onde atualmente funciona o Hospital “Santa Casa de
Misericórdia”. (JORGE, 1987).
O “Conciliador do Maranhão” veículo da administração provincial, não foi
fiel ao seu título que sugeria que se colocaria como conciliador das tensões existentes
entre portugueses e brasileiros. No entanto, pelo fato de estar ligado ao governo, não
______________________
4. Sobre a Independência cf. VIEIRA DA SILVA,Luis Antônio. História da Independência da Província do Maranhão. Suderna,1972.
Poupou críticas àqueles que se colocavam contra este, contanto com vários
fatores favoráveis às suas aspirações como, a presença no Maranhão de portugueses
de muita influência na sociedade, os militares, membros do clero, magistrados,
comerciantes e ‘jornalistas’.
Quando se realizou oficialmente a adesão do Maranhão à independência do
Brasil (28 de julho de 1823), os portugueses não se conformaram em perder o domínio
que sempre exerceram, provocando uma disputa entre os que não aceitavam a nova
ordem política e os que estavam determinados a mantê-la.
Para o historiador Vieira da Silva (1972, p.68): “essa folha [O Conciliador]
foi o facho da discórdia que dividiu português e brasileiros em dois campos
inimigos, não poupando sarcasmos e injúrias contra aqueles que presumiam ligados
à causa da Independência”.
Foi neste jornal que trabalhou o português José Antônio Ferreira Tezinho ou
padre Tezinho, um dos precursores do exercício do jornalismo no Maranhão. Foi
também o primeiro a ser processado por crime de imprensa, obtendo posteriormente a
absolvição. Uma representação de sessenta e cinco cidadãos levou ao Rei de Portugal
várias queixas contra o jornal. O documento também estava direcionado ao
governador da Província, marechal Bernardo da Silveira Pinto da Fonseca, fundador
da primeira tipografia do Maranhão, em 1821. (JORGE, 1987).
No decorrer da sua circulação o “Conciliador do Maranhão” não se mostrou
fiel a sua auto- imagem de imparcialidade5 Como órgão oficial do governo, “O
Conciliador” era favorável à Constituição Portuguesa, defendendo com radicalismo o
seu cumprimento e recomendando fidelidade às ordens vindas de Portugal que, desde
1820, vivia sob a tutela jurisdicional das Cortes de Lisboa, reunidas com a Revolução
Liberal do Porto.
Em agosto de 1820, os portugueses se rebelaram contra o domínio inglês,
cuja regência no país tinha autorização da coroa portuguesa. A rebelião chegou a
Lisboa, sublevando a tropa com o apoio de manifestações populares contra a
monarquia absolutista. As lideranças rebeldes constituíram um governo provisório que
convocou as Cortes de Lisboa, uma espécie de Parlamento português, para votar uma
Constituição e criar uma monarquia constitucional. (VIEIRA DA SILVA, 1972)
No Brasil, a notícia da Revolução do Porto foi recebida com entusiasmo.
Entretanto, a partir de janeiro de 1821, quando as Cortes começaram a se reunir, ficou
cada vez mais claro para os brasileiros que a política do novo governo de Lisboa nada
tinha de inovador em relação ao Brasil.
________________________
5. Um dos redatores desse jornal, Antônio Marques Soares, era membro da Junta Governativa.
As pressões das Cortes sobre o Brasil faziam parte do projeto da burguesia
comercial portuguesa, interessada em promover a recolonização do Brasil. Nesse
contexto, as Cortes determinaram o regresso de dom João VI a Portugal. A seguir, as
Cortes subordinaram todas as províncias brasileiras ao comando direto de Lisboa,
como se não existisse governo no Rio de Janeiro. Além disso, fecharam diversos
órgãos públicos instalados no Brasil, favoreceram os comerciantes portugueses com o
restabelecimento de privilégios no comércio brasileiro e passaram a fazer pressão para
que o príncipe regente D. Pedro voltasse para Portugal 6.
Com essa política, as Cortes pretendiam de fato recolonizar o Brasil, tendo
como divulgador dessas idéias, no Maranhão, o jornal “O Conciliador do Maranhão”,
que servia à política do governador Bernardo da Silveira Pinto da Fonseca, de modo
que como órgão oficial não podia ir contra o governo que o sustentava.
_________________________
6. Sobre esses fatos da Independência ver: NOVAZ, Fernando e Mota, Carlos Guilherme. A Independência Política do Brasil. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1996; SLEMIAN, Andréa e PIMENTA, João Paulo. O nascimento político do Brasil: As origens do estado e da nação (1808-1825) Rio de Janeiro, DP&A, 2003; COSTA, Emília vioth. Da Monarquia a República: momento decisivo. 7. ed. São Paulo: Unesp. 1999
Portanto, o pioneiro nas atividades jornalísticas da nossa província estava a
serviço dos dominantes portugueses, já que fora uma voz veemente contra a
independência política do Brasil, fato este que veio ocasionar o seu declínio e
desaparecimento do meio jornalístico e da província do Maranhão.
Em 25 de setembro de 1822, quando o Maranhão ainda não tinha
conhecimento do grito de Independência ou morte, “O Conciliador” trouxe em uma
matéria o seguinte comentário.
,Os projetos do príncipe real contra a suprema soberania nacional progridem com passos de gigante, e este jovem príncipe cego pela sedução dos perversos demagogos, nem já duvida de comprometer o decoro e o interesse de seu Augusto Monarca, e pai, nem de soprar vulcões de discórdia e de guerra civil entre os portugueses e brasileiros. (O Conciliador, 25/09/1822, n.18)
O conteúdo do texto nos dá uma visão dos ideais defendidos pelo jornal “O
Conciliador do Maranhão”7. As críticas à atitude do imperador D. Pedro de Alcântara,
partiam do princípio que estas desencadeariam uma guerra civil entre portugueses e
brasileiros.
__________________________________
7.- Esse jornal deixou de funcionar 12 dias antes da adesão do MA à independência do Brasil. Seu
último número foi em 16 dejulho de 1823. Cf. Fundação Cultural do Maranhão. Biblioteca Pública
Benedito Leite. Jornais maranhenses. São Luis; Sioge,1981,p.7
A imprensa maranhense, no entanto, não ficaria resumida apenas ao
“Conciliador do Maranhão”. A partir de 1821, os periódicos multiplicaram-se,
desempenhando um papel importante na evolução política e cultural da província, entre
jornais e revistas que influenciaram a opinião pública e o meio intelectual, destacando-
se: O Conciliador do Maranhão – 1821, Folha Medicinal do Maranhão – 1822,
Palmatória Semanal – 1822, A Minerva – 1825, O Censor – 1825, Argos da Lei –
1825, O Amigo do Homem – 1827, Farol Maranhense – 1827, O Poraquê – 1828, A
Bandurra – 1828, A Cigarra – 1829, A Estrela do Norte do Brasil – 1829, O Semanário
Oficial – 1830.8
Os primeiros jornais maranhenses apresentavam um mesmo estilo estético,
com pouquíssimas variações. Eram jornais que tinham entre quatro e cinco páginas.
Na primeira página traziam os decretos ou ofícios, em seguida, vinham as notícias
nacionais e internacionais, avisos, correspondências, que muitas vezes chegavam com
um atraso de meses, entrada e saída das embarcações da cidade de São Luís, assim
como receita e despesa dos cofres do conselho e tarifas de saldos. O jornal O Censor,
a partir do seu nº 14, inovou com adivinhações ou charadas, matéria que se propunha
divertir as ilustres senhoras maranhenses.
_________________
8. Cf. Jornais Maranhenses...
Dessa forma, se apresentavam os jornais maranhenses num cenário de lutas,
embates e divergências entre os redatores dos principais periódicos estudados. Alguns
jornais surgiram com o objetivo de combater outros. Os jornais que circularam na
capital maranhense no período de 1821-1830 ocuparam-se inteiramente da política.
Como nos afirma o jornalista Clóvis Ramos. (1986, p.14)
Os jornalistas, ou foram porta-vozes dos dominadores portugueses, desejosos de manter suas posições ao colonialismo, ou teceram armas pelas liberdades constitucionais, querendo a libertação da pátria de todo vinculo de além –mar.
Os primeiros jornais do Maranhão não pouparam os adversários políticos,
nem as autoridades locais, punições também não faltaram para aqueles que ousaram
criticar as maiores autoridades da terra.
Após a proclamação da independência, o Maranhão foi governado por
Miguel Inácio dos Santos Freire Bruce (apelidado de raposa ruiva), presidente da
Junta Governativa Provisória, que autorizou a expulsão dos portugueses contrários à
independência. ( LOPES,1959, p.37)
A situação no Maranhão era crítica nos anos que se seguiram à
independência, tendo Lorde Cochrane9 interferido várias vezes na política local.
Cochrane destituiu Bruce e nomeou para seu substituto Manuel da Silva Lobo,
impedindo a posse de Costa Barros nomeado pelo governo imperial para a presidência
da província. (MEIRELES, 2001, p. 216-222).
Neste clima de insatisfação e revolta surgiu em 1825 o jornal O Censor, de
Garcia de Abranches, para combater o que considerava os abusos cometidos pelo
Marquês do Maranhão (Lorde Cochrane) e seus aliados defendendo-se, das críticas
dos seus adversários.
O jornal “O Censor” colocou-se em defesa da nova ordem política instituída
com a Independência, mesmo assim, foi autorizada a suspensão da publicação do
jornal, e seu redator intimado a deixa a província. Garcia de Abranches foi preso e
transferido incomunicável para o forte de Santo Antônio da Barra e deportado para
Portugal. Contudo, no momento da sua prisão deixou um recado para aos seus
adversários, lorde Cochrane9 e Teles Lobo: “Não se esqueçam de participar a esse
lobo faminto e ao lorde sedento e insaciável. Oroxunga, que, enquanto tiver esta
pena, hei de desmascará-lo a face da pátria e da história” (LOPES, 1959, p.53)
Dando continuidade a essa luta pela defesa da liberdade e também tendo sido
alvo da perseguição por sua posição política expressa através de sua atividade
jornalística, destacou-se o jornal O Farol maranhense, de 1827, redigido pelo
jornalista José Cândido de Moraes e Silva Segundo Antonio Lopes ( 1959, p. 86 ) A
sua palavra foi o Sursum corda para humilhados maranhenses que, empolgados pelo
seu patriotismo, ergueram a cervizante o poder e se animaram a lutar em defesa da
liberdade”.
_________________________
9. Lorde Cochrane foi um mercenário inglês contratado por D. Pedro I para sufocar a resistência de algumas províncias que não reconheceram a Independência. Chegou ao Maranhão em 26 de julho de 1823 e obteve a capitulaçõa da junta Governativa. (MEIRELES, 2001).
O presidente, Manuel da Costa Pinto, que assumiu o governo da província
em 28 de fevereiro de1828, contrariado com a recusa do jornalista José Cândido de
Morais e Silva em publicar atos oficiais do governo no jornal O Farol, procurou livra-
se do jornalista utilizando como instrumento o recrutamento forçado10 (LEAL2001).
Outro jornalista que sentiu o peso da mão do governo foi o redator do Amigo do
Homem, João Crispim, era membro do partido dos “corcundas”, nome dado aos
portugueses contrários a independência. Segundo Jorge (1987, p. 46) O redator João
Crispim foi logo alvo de pesadas injúrias e calúnia, vendo-se forçado a renunciar o
trabalho jornalístico...
Nem todos os jornais editados no Maranhão eram contrários aos governantes,
muitos faziam apologia ao governo, defendiam os interesses dos presidentes da
província e prometiam ser fiéis aos seus soberanos. Em defesa do Marechal Bernardo
da Silveira Pinto da Fonseca (apelidado de “O dente de alho”) sobrevivia o jornal
Conciliador do Maranhão, como tem sido explicado nesse trabalho.
Um dos opositores do “dente de alho”, sob o pseudônimo de “cabra” fez
circular em Lisboa um folheto denunciando as violências praticadas pelo governador,
o que provocou uma resposta publicada em 19/02/1821 no jornal o Conciliador feita
através de uma carta do Major Pinto Pizarro.
____________________________
10. O Recrutamento forçado era utilizado para a composição das forças policiais provinciais e para o exército. Servia para organizar as forças de repressão do império e ao mesmo tempo fazer o controle da população livre e pobre. Serviu ainda como meio de perseguição a inimigos políticos, uma vez que nem sempre os critérios de convocação eram respeitados. Ver DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Sociabilidades sem História: Votantes pobres no império (1824-1881) In FREITAS, Marcos Cezar. Org. Historiografia Brasileira em Perspectiva. 2. ed. São Paulo; Contexto, 1998.
Furtado as mentiras desavergonhadas, imposturas grosseiras, falsidades e fatos desfigurados de que estão recheadas tais folhinhas, [...] os autores desonrados e prostitutos daquela obrícula caluminosa são o ladrão José Loureiro de Mesquita, pr alcunha o marido da mulher corrida, pois que à sua mandara viver vida debochada no Rio de Janeiro a fim de ficar vivendo com a Cajapió, e o comerciante falido fraudulentamente Manuel Pereira de Carvalho, da mesma cevadeira, cuja mulher e filhas por desonestas e descaradas eram constantemente expulsas das casas em que viviam. (O Conciliador, 19/02/1821, nº46)
No contexto da Independência, diante da ameaça de ruptura com Portugal, o
jornal o Conciliador do Maranhão, publicou um discurso do então governante da
província Bernardo da Silveira Pinto da Fonseca.
... Acompanhai com entusiasmo o amor à concórdia, obediência ao governo estabelecido esperança nos votos da nação portuguesa, desprezo a maldição aos propagadores da anarquia. Viva a pátria, o rei, a religião e a constituição.
(O CONCILIADOR, 1821 n.2)
O jornal afirmava a ideologia oficial, reforçando a obediência ao Rei e as
Cortes Portuguesas.
Outro exemplo de instrumento de comunicação a favor da manutenção do
poder do governo da província foi o jornal “Minerva”, que defendia o governo de
Costa Pinto, articulador da prisão de “José Cândido, redator do jornal “O Farol
Maranhense”. O redator da folha Minerva deixou clara a sua inimizade em relação ao
jornal o Farol em uma correspondência encaminhada ao redator da folha Estrela do
Norte do Brasil. O redator da Minerva, David da Fonseca Pinto, assim explicou as
razões que fizeram tornar-se inimigo do “Farol”: Eu escrevia a favor do sistema
constitucional; explorava os brasileiros ao mais ardente amor pelo nosso
incomparável soberano; defendia o governo das acusações injustas que se lhe faziam.
(ESTRELA DO NORTE, 1829 n.4 ).
A defesa ou ataque ao governo gerava atritos e conflitos entre os jornalistas,
havia também aqueles que atacavam o governo em defesa dos amigos, como Odorico
Mendes, editando o jornal o Despertador Constitucional com o único objetivo de
defender José Candido de Moraes e Silva, que estava sendo perseguido pelo
Presidente da Província Manoel da Costa Pinto. Em um dos trechos do seu jornal
escreveu: Cometeu, pois o Exmo.sr. Manoel da Costa Pinto um dos maiores atentados
contra os direitos cívicos; e quem tal faz, merece incontestavelmente o nome de
déspota ( JORGE,1987, p.77)
Alguns entoavam um som mais favorável aos ouvidos do governo, como era
o caso do jornal a Cigarra, de Antonio Joaquim de Picaluga. Dizia seu redator: “O
nosso estilo somente agradará aos homens livres e constitucionais, porque somente
estes sabem amar o governo, que felizmente nos rege “(Apud. JORGE, 1987, p.78 )
A Cigarra, no entanto, parecia desafinada aos ouvidos de homens como José
Antonio Lemos e João Francisco Lisboa, ambos redatores de “O Brasileiro”. Na
epígrafe do nº. 21, lê-se: “os déspotas querem a ignorância; porque só ela pode
segurar-lhes submissos escravos, perpetuando a barbaridade”.
O jornal O Brasileiro criticava o partido dos Corcundas acusando-os de
opositores da liberdade de imprensa, preferindo o silêncio, já que lucravam com a
ignorância e o silêncio da sociedade.
Pela maior parte o partido dos corcundas é composto de gente dependente do governo que exerce funções mais ou menos bem desempenhadas e que por conseqüência, sempre teme que os seus desvarios apareçam, e que de suas prevaricações lhe tome restritas contas, a opinião púbica. (O Brasileiro, 08/02/1830, n.7)
Outros jornais como o “Argos da Lei” (1825) de Odorico Mendes foram
vistos como defensores do pensamento livre, embora estivessem também atrelados ao
governo
As posições políticas assumidas pelos jornalistas foram uma das
características marcantes do jornalismo deste período. Uns defendiam o governo
provincial, outros acusavam de déspotas e criticavam suas ações.
Havia também o jornalismo mais irreverente, despojado, cheio de ousadia
aquele que invadia a privacidade dos adversários e da sociedade em geral. Por essa
razão, tornava-se mais receptivo entre as classes menos desfavorecidas e menos
informadas dos acontecimentos políticos econômicos da província. Assim eram “os
pasquins”.
2. A HISTÓRIA DOS PASQUINS
O pasquim atualmente é visto como manifestação de um tipo de jornalismo
considerado como imprensa marrom. Os pasquins do século XIX são representantes
de um período em que essas folhas eram usadas como armas para desarticular os
desmandos dos poderosos e atingir adversários políticos.
O jornal chegou aqui no Brasil junto com a Corte Real Portuguesa. Apesar
da criação dos jornais oficiais, como Gazeta do Rio de Janeiro e o Conciliador do
Maranhão, foi através dos pasquins que a técnica da tipografia se disseminou no país.
“Em São Luís ele proliferou como praga.” (JORGE, 1998, p. 11)
Essa linguagem sarcástica que vai marcar os pasquins pode ser encontrada
no século XVII, com Gregório de Matos, apelidado, “Boca do Inferno”, conhecido
assim pelas sátiras mordazes que escreveu. Hábil nas letras e grande observador da
sociedade, nada lhe escapava e logo tais observações transformavam-se em críticas.
Era um grande versejador. Tornou-se uma pessoa indesejável na Bahia, uma espécie de poeta maldito, sempre ágil na provocação, ridicularizando políticos e religiosos, zombando dos mulatos, assediando as mulatas, ou manejando um vocabulário acessível e popular. (DIMAS, 1998, p.38)
Gregório de Matos atacava todas as classes sociais, falava do clero acusando
de conivente com a hipocrisia da sociedade, denunciava a corrupção do governo e a
arrogância dos que chamava de mulatos metidos a besta, com a pretensão de pessoas
de cor que melhoravam o nível socioeconômico. “O seu comportamento se
assemelhava como a águia, em vôos incertos na busca das presas. Se tem fome, fica
mais perigosa. As unhas e bico estavam sempre afiados”. (JORGE, 1998. p.51)
O modo direto de falar, sem rodeios, com ironia e sarcasmo, na rima dos
versos com sentido duplo, serviu de escola para os que vieram popularizar o pasquim
impresso na era da tipografia. “... Ele irritou, provocou riso e ódio, de todos os que
desfilaram no seu calendário de deboches e ousadias.” ( JORGE,1998, p. 50)
Gregório de Matos nasceu em Salvador em 1623 e morreu em Recife em
1696, é considerado o verdadeiro iniciador da literatura brasileira. De família abastada
(seu pai era proprietário de engenhos), pôde estudar com jesuítas em Salvador. Em
1650, com 14 anos, viajou para Portugal, formando-se em direito pela Universidade
de Coimbra em 1661. Volta ao Brasil em 1678, provocando a ira das autoridades com
suas críticas e com seu sarcasmo, pondo muitas autoridades civil e religiosa em má
situação, ridicularizando-as de forma impiedosa. Sua obra poética apresenta duas
vertentes: uma satírica (pela qual é mais conhecido) e outra lírica, de fundo religioso e
moral. A primeira deu origem aos pasquins. (WERNECK, 1997, p. 51)
Os pasquins, produções literárias comuns do século XIX, são geralmente
descritas como jornalismo marginal como nessa definição de Sebastião Jorge (1998, p.
59) “jornalismo marginal subliterato que em geral objetivava criticar ou achincalhar
os mandos e desmandos das autoridades, bem como satirizar o dia-a-dia da
sociedade”. Definição reforçada pelo gramático Silveira Bueno(1996, p.342) que em
sua obra Dicionário Escolar, define pasquim como: sátira afixada em lugar público;
jornal ou folheto difamador. Os pasquins, no entanto, representavam um momento
importante da imprensa brasileira e maranhense do século XIX, representando uma
linguagem característica do momento social e político do país.
Eram através dos pasquins que grupos políticos que almejavam o poder
travavam verdadeiras guerras transformando os jornais em arena de combate dos
inimigos. Estas produções nasciam às vezes da insatisfação individual de algum
cidadão desejoso de demonstrar sua revolta, ou da insatisfação coletiva de grupos
sedentos por justiça ou por “infernizar” a vida dos adversários. Os pasquins tomavam
corpo e forma sempre que os interesses pessoais ou políticos estivessem ameaçados.
Os pasquins, onde quer que tenham aparecido, são frutos de um determinado momento político. É exatamente em situações especiais, isto é, quando o império da força tenta salientar o direito da livre manifestação das idéias ou o poder se torna mais forte do que os interesses coletivos, é ai que essas folhas tomam forma. (JORGE, 1998 P.14)
Os pasquins circulavam com proposta de defender certos grupos ou
determinada causa política. No programa editorial, os redatores prometiam não
invadir a privacidade, mas trabalharem dentro de uma conduta ética (...) Tudo não
passava de promessas. Palavras ao vento, pois logo vinham os excessos. ( JORGE,
1998, p.55)
Estes periódicos quebraram a monotonia não apenas dos jornais
conservadores, pelo seu estilo inflamado, mas da própria sociedade que os olhava
como ameaça constante à privacidade. E por isso a sociedade estava sempre vigilante
pelo próximo número que poderia trazer algo que comprometesse os cidadãos
ludovicenses.
As principais características dos pasquins era a invasão da privacidade e, o
debate da vida dos adversários, assim como os informes que consideravam de
interesse popular e também a “perseguição” a grupos, como, por exemplo, do jornal:
(O PICA-PAO agosto de 1842) comentando sobre o coronel Izidoro
Rodrigues Pereira, marido de Ana Jansen11.
É triste estado das criaturas quando tocam a meta da carreira dos vícios. O coronel Izidoro, além de ladrão, assassino e trampolineiro, deu agora em andar pelas ruas desta cidade tão ébrio, que mete lástima e até insultando a todo mundo: (Apud. JORGE, 1998, p. 23)
Nem Ana Jansen (a “Rainha do Maranhão”) e sua família escaparam das
críticas e ironias dos pasquins. Porém, não fora só a família da matriarca Ana Jansen
citada nos pasquins que circulavam pela cidade, quase todos da elite local tiveram
seus nomes decorando as páginas de tais folhas, sejam autoridades ou pessoas comuns
não conseguiram escapar dos malfadados pasquins.
Nesse sentido, o jornalista Sebastião Jorge, em sua obra Linguagem dos
Pasquins, comenta sobre o medo que todos tinham dos pasquins. Comenta que até o
historiador César Marques, zeloso pelo seu passado e preocupado sobre o que
pudessem dizer dele após a morte deixou aos seus filhos uma autobiografia intitulada
Minha Vida, na qual narrava as acusações sofridas por ele na imprensa demonstrando
nessa autobiografia todo o seu ódio por tais fatos e aconselhava que todos deviam
fazer o mesmo.
_________________________________
11- Matriarca da família Jansen no Maranhão, mulher que alcançou grande fortuna material e foi uma figura expressiva da sociedade ludovicense no séc. XIX. Cf. MORAES, Jomar (org.) Ana Jansen, Rainha do Maranhão. 2. ed. São Luis: Alumar, 1999.
Todos poderiam ser atacados nesse tipo de jornalismo, quase ninguém
escapava dos “insultos”, do político ao cidadão comum, assim como as mulheres
casadas ou solteiras. O jornalista Sotero dos Reis preocupado com a reputação das
mulheres, ou melhor, das famílias, escreveu uma página em defesa das mesmas,
dizendo: “Mas poupem-se os inocentes e sejam respeitados, como cumpre, a nossa
mãe, as nossas esposas, as nossas filhas, as nossas irmãs. (APUD, JORGE, 1998,
P.14)
Os pasquins, com sua linguagem difamatória, atraiam o repúdio de setores da
sociedade ludovicense, em especial os que eram atingidos. Os redatores usavam de
tudo para desmoralizar, irritar, provocar reações. A sátira, o riso, o deboche, a ironia
eram usadas como munição para mexer com o inimigo. Os pasquins maranhenses
usavam de toda malícia para atingir o seu alvo. Os seus versos eram verdadeiras
insinuações, como o que segue publicado no Guajajaras, jornal pertencente à família
de Ana Jansen, contra o major José Coelho.
Ao bravo Alferes - Major
Que garbo! Que valentia
Que espada! Que fardalhão
Na devota procissão...
Mas na guerra, que cagão!
( O Guajajaras, 01/04/1840, n.3 )
Nessa onda de insinuações e acusações muita gente de destaque na sociedade
acabou sendo envolvida. Um exemplo foi Cândido Mendes, jurista, jornalista, escritor
geógrafo, deputado e senador do Império de tendência conservadora, tinha como
adversário João Francisco Lisboa, liberal. Ambos trocaram acusações, através dos
jornais, o Legalista e Crônica Maranhense, de propriedade dos dois, respectivamente.
Um episódio protagonizado por um deles dá uma idéia desse clima de tensão gerado
pelas informações apresentadas nos pasquins.
A temperatura do caldeirão político chegou a um clima de tão gravidade que Cândido Mendes terminou sendo esbofeteado em pleno teatro São Luís, hoje Artur Azevedo, pelo coronel Izidoro Rodrigues Pereira, marido de Ana Jansen.. O caso se transformou em um escândalo. A cidade se dividiu entre os que riram, por vingança e deboche, sentido prazer com a cena e os que olharam com revolta os gestos de truculência. De qualquer jeito eram as regras do jogo. (JORGE, 1998, p.53 )
Mesmo com a identificação de muitos pasquineiros, sempre procuravam
despistar o leitor com informações erradas jogando culpa nos outros. Nunca assumiam
a culpa, até mesmo quando toda província sabia quem eram os autores.
Os adversários ou as pessoas atingidas eram as mais interessadas em
descobrir quem estava por trás dessa “rede de intrigas”. Constrangidas, feridas no
amor próprio, os que se achavam vítimas saíam em busca dos autores dos pasquins no
intuito de verem seus nomes limpos da mancha causada por eles, uma verdadeira
corrida de caça às bruxas.
Os autores dos pasquins além de atingirem a imagem de seus alvos, com
seus deboches e insinuações maliciosas, presenteavam seus adversários com apelidos,
que também não deixava de ser um recurso do deboche que procurava não só apenas
irritar o seu alvo, mas desmoralizá-lo, era mais um ingrediente para o insulto.
Interessante observar que estes apelidos tinham vida longa, em certas circunstâncias
terminavam transmitidos de geração para geração. Dunshee de Abranches (1992, p.
13), um colecionador de tais pérolas, declarou: “Nesta terra de antonomásias e
alcunhas, ninguém é conhecido pelo próprio nome”.
Poucos escaparam dos apelidos, estes por sua vez faziam a alegria da
garotada que gritava em alto e bom som toda vez que uma das vítimas dos pasquins
transitava pelas ruas de São Luís. Os populares não atingidos riam dos apelidos, como
forma de vingança, por algum motivo ou por simples divertimento. (JORGE, 1998,
p59).
Os pasquins usavam e abusavam dos apelidos, tipos populares, gente
importante, quase ninguém escapava dos apelidos. Um fato interessante nos é contado
por Dunshee de Abranches(1942, p.42) sobre Ana Jansen e um de seus adversários, o
Comendador Meireles.
O comendador Meirelles era também um dos chefes do Partido Cabano. Foi inimigo ferrenho de Ana Jansen. Como ela o chamava de “pirata”, sob a acusação de que praticava contrabando, ele em forma de vingança mandou vir de Londres uns urinóis trazendo no fundo, a efígie de Ana Jansen, a Rainha do Maranhão, e esta descobriu . “Aquela poderosa mulher mandou que seus escravos se servissem dos vasos, para quebrá-los depois, sobre a calçada do comércio de Meirelles.” A Rainha do Maranhão estava vingada. (ABRANCHES, 1992, p. 42)
Sebasião Jorge (1998, p. 97) baseado nos jornais do século XIX, nos dá uma
dimensão do estrago que fazia esses apelidos. Oferece uma lista de apelidos e seus
respectivos apelidados, gente considerada importante do Maranhão da época estudada,
como: Marechal Bernardo da Silveira, último governador do Maranhão no período
colonial, era “Dente de Alho”; Miguel Inácio dos Santos Freire Bruce, presidente da
Junta Provisória do Maranhão, era “Raposa Ruiva”; José Felix Pereira Burgos,
Comandante das Armas e membro da Junta Provisória da Província, era “Raposa
Rajada”; outro presidente da província Costa Pinto, era “Pinto Calçudo”; Raimundo
Vieira da Silva,, poeta e jornalista, era “Zé Caipira”; Araújo Viana, também
presidente da província era “Urubu Xenxén”.
Esse costume dos apelidos rompeu a barreira do tempo e chegou aos dias
atuais, como forma de manter a tradição. “Vejamos: “governador Matos Carvalho era
“Peito de Pombo”; o ex-governador Newton Barros Bello, o” Cara de Onça”; o
presidente José Sarney, “Zé Curió”; o senador Epitácio se transformou em uma
“Cafeteira”; o deputado João Alberto é o “Carcará”; o deputado Manuel Ribeiro é o
“Mané Galinha”; Vitorino Freire, o senador “Moxotó”. (JORGE, 1998, p. 115)
Os apelidos se constituem marca registrada do espírito irônico dos pasquins.
O Guajajaras era um dos que mais apelidava tanto os adversários políticos como gente
anônima. O jornalista e Jurista Cândido Mendes era “Cão Mendes” ou Dr. “Cara
Pelada”; Sotero dos Reis era “Sotero Mucura”. Havia também os apelidos em que não
eram identificados os personagens como “Cão Magro”; “Focinho de Quati”, “Cara de
Ovo de Peru” e tantos outros. “O apelido possuía uma conivência comprometedora
com o pasquim”. Um não sobreviveria sem o outro. (JORGE, 1998, p.26)
.
3. OS PRINCIPAIS PASQUINS DE SÃO LUIS
Havia um grande número de pasquins circulando pela cidade de São Luís na
primeira metade do século XIX. Neste trabalho nos reportaremos a alguns desses
periódicos, apresentando suas características tendências políticas e como interferiram
no cotidiano da cidade de São Luis. O s pasquins analisados neste trabalho são:
3.1 O COMETA (1835)
O jornal o Cometa, redigido por Leonel Joaquim da Serra, porta voz do
partido cabano adversário dos bem-te-vis, 12 O Cometa era rival do jornal O
Guajajaras, ambos se digladiavam através de suas publicações. “Os insultos de ambos
os veículos pareciam rajadas de foguetes em festa de interior ou em dia de eleição
para chamarem fiéis e eleitores”. (JORGE, 1998, p.42)
O grupo político de D. Ana Jansen, proprietária do jornal O Guajajara
insultava o redator de O Cometa, o senhor Joaquim Leonel de Serra, chamando-o de
“Moleque e rato do tesouro”, visto que, o mesmo era funcionário do Tesouro
Provincial, além de outros adjetivos ofensivos como: bajulador, safado,
encrenqueiro...
_____________________________
12.- O Partido cabano representava os conservadores e os bem-te-vis representavam os liberais.
O Cometa respondia usando as mesmas armas e insultava os Jansen dos mais
variados adjetivos como, “ladrões, assassinos, bêbados e cruéis”. A “metralhadora” do
Cometa, girava sem parar disparando suas munições em quem estivesse pela frente, o
jornalista João Francisco Lisboa, membro do partido liberal indignado com o episódio
difamador do coronel Izidoro Rodrigues respondeu ao redator Leonel Joaquim Serra
corrigindo os erros de gramática cometidos por ele na sua redação do Cometa. Essa
era a forma de atingi-lo dizendo que não tinha a capacidade intelectual para criticar
haja vista que não dominava sequer o vernáculo. Esse pasquim era um produto típico
de uma época rica de rivalidades políticas e disputas a qualquer preço pelo poder.
3.2 O GUAJAJARAS (1840)
. Pertencente à família Jansen, liderada pela matriarca Ana Jansen, a “Rainha
do Maranhão”, o objetivo principal deste periódico era atingir os adversários, para
isso usavam de todos os subterfúgios para alcançar o seu fim. As acusações atingiam a
honra pessoal, deixando marcas difíceis de apagar, como foi o caso de Cândido
Mendes, que este jornal o apelidou de “Cão Mendes”, “Cão Pirento”, colocando em
dúvida sua masculinidade.
Madrugou cedo neste menino a inclinação para a beneficência; e os primeiros que dela participaram foram os caixeiros do seu pai, aos quais festejando e debatendo-se todo, prestava favores de muita
valia: eles o estimavam muito por esta excelente virtude, e ao menino não faltavam seus quatro vinténs por dia”
Com a idade, e com o exercício, veio ele a ser considerado o mais beneficente daquele lugar, e estavam no gozo da fama, quando se retirou para esta cidade, deixando tantos corações saudosos, viúvos quantos eram os que ele felicitara e tinha intenção de felicitar.
Sofrendo pouco depois de violentos ataques de hemorróidas, em vez de procurar médicos que o curassem, aviltava-se e prostituía-se recebendo medicamentos dos pretos das Canoas, que lhe aplicavam na passagem, a Cruz do Patrão, e logo que de novo sentia comixões, presunçoso ia refrescar-se em casa de um padeiro do Recife.
De dia em dia, piorava de sua enfermidade e já tinha o rosto pálido, e macilento descarnado as nádegas, e as pernas cambaleantes; este seu estado causava dor, e arrancava lágrimas a quantos a viam, mas irritou tanto os seus companheiros que imediatamente o puseram ele a traste no olho da rua.”
Eis o pobre moço buscando quem o abrigue; todos os repelem com insultos, como se o seu mal fosse contagioso; até mesmo os religiosos franciscanos têm medo, e vergonha de exercer para com ele a caridade.
(GUAJAJARAS, São Luís, 24/10/1840 nº 26)
Os adversários do Guajajaras diziam que este jornal não conhecia princípios
éticos, sua linguagem destilava ódio e vingança. Cândido Mendes acusara João
Lisboa no jornal O Legalista, de 15 de abril de 1840, de redigir O Guajajaras,
dizendo que João Lisboa escondia-se atrás dos pseudônimos para confundir a opinião
dos leitores. Dizia que João Lisboa fingia-se de homem decente para cravar no
coração da província o ferro da imoralidade.
Cândido Mendes por sua vez, era acusado de redigir outro pasquim, O
Buscapé, que circulou logo após o aparecimento do Guajajaras, com a promessa de
combatê-lo, usando os mesmos recursos. Essa era uma prática comum. Toda vez que
saía um pasquim, logo vinha outro de oposição para confrontá-lo.
O Guajajaras não considerou nem os padres da cidade. Um dos que sentiu as
flechadas do pasquim foi o padre Antonio da Encarnação, cuja vida foi devassada por
esse periódico. Como nos relata a edição nº 8, do dia 6 setembro de 1840, o periódico
mencionava que a grande frustração do padre Encarnação, e que lhe dificultava tudo
na vida inclusive ser nomeado Bispo era achar-se ligado á filiação bastarda, pois a
mãe não passava de uma mulata e o seu pai um beberrão com alcunha de João
“Bêbado”. Acrescentava ainda, que a sua tia cabocla Maria de Nazaré, não passava de
uma rameira, tendo inclusive esse apelido.
Era esse o tratamento dispensado aos adversários dos Guajajaras. Os
pormenores da vida pessoal de cada um serviam de matéria-prima para ser explorado
nas suas páginas. O jornal tinha como alvo principal os jornalistas; Sotero dos Reis,
Cândido Mendes, major José Coelho e Leonel Serra. A eles dedicou quase todo o
conteúdo de suas páginas. De Sotero, dizia ser o mesmo dotado de uma grande
memória, mas de nenhum talento e acrescentava: “Devora uma imensa leitura, sem
fazer ingestão de coisa alguma; amigo dos livros, a sua cabaça é um armazém de
especiarias”. (Guajajaras nº 24, 10 de outubro de 1840)
. Leonel Serra, editor de O Cometa, era acusado de ser ladrão da Santa Casa
de Misericórdia, daí o apelido de “Cupim da Misericórdia”
O Guajajaras tinha tamanho de uma página de papel oficio dobrado ao meio.
Circulava duas vezes por semana. O último número circulou no dia 24 de outubro de
1840. Como alguns pasquins, o Guajajaras não revelava o nome dos seus editores
utilizando-se de pseudônimos como “China”, Macié e outros, dessa forma
permaneceram as interrogações sobre o verdadeiro redator do jornal.
3.3 BEM-TEVI (1838)
Editado a 30 de junho de 1838, com o último número deixando de circular a
06 de outubro do mesmo ano, tinha como redator principal Estevão Rafael de
Carvalho. Jornal de oposição ao governo, demonstrava o espírito e irreverência contra
o principal alvo do período, o presidente da Província, Vicente Tomás Pires de
Figueiredo Camargo, com quem travou uma luta, que lhe custou ameaças de prisões e
atentados contra vida.
O sucesso da folha estava na introdução de muitas inovações, a partir do
lançamento, quando, anunciou com estardalhaço através de um cartaz, chamando a
atenção da comunidade. Até então, nenhum jornal havia conseguido chegar ao seu
nível de popularidade, extraindo do poder a matéria prima, para ironizar com o
deboche e o sarcasmo as autoridades políticas.
O Partido dos Liberais era defendido, ardorosamente, pelo jornal de Estevão
Rafael de Carvalho. Devido as suas críticas ao governo cabano, fora acusado de ser
um dos responsáveis pela eclosão da maior revolta popular ocorrida no Maranhão, a
Balaiada, cujas reivindicações dos rebeldes coincidiam com as idéias apresentadas no
jornal o Bem-te-vi, inclusive tendo os rebeldes adotado essa denominação durante a
revolta.
Estevão foi publicamente responsabilizado pelo movimento que tanto comoveu a Província e nunca contestou a acusação, repisada invariavelmente por seus rancorosos e inconciliáveis inimigos, entre os quais avultava Luís Carlos Cardoso Cajueiro, redator do Sentinela Maranhense, morto a facada numa rua de São Luís. Da mesma eiva, fora acusado esse outro espírito de escol que se chamou João Francisco Lisboa, cuja memória leal defenderia no Panteon. ( LOPES, 1959, p.69)
O movimento da Balaiada eclodiria em 13 de dezembro de 1838 e os liberais
da capital foram acusados de serem os mentores intelectuais da revolta.
Com a independência a situação econômica e social da província do
Maranhão, assim como resto do império, não sofreu alterações significativas na sua
estrutura, pois as relações de produção ainda eram as mesmas do período colonial. No
meio rural as classes populares sofriam com as péssimas condições de vida,
ocasionadas, principalmente pela decadência econômica do principal produto
exportável da província, o algodão.
Esta crise evidenciava-se também no meio político, onde Liberais (Bem-te-
vis) e conservadores (cabanos) defrontavam-se. A tentativa de manutenção do poder
de cada grupo e de suas idéias levou a província a se transformar em um palco de
inúmeras disputas, muitas vezes fraudulentas para fazer valer o poder de cada um,
tornando comum acusação entre governistas e oposicionistas de corrupção e abuso de
poder, as quais constantemente eram publicadas no jornal o Bem-te-vi, um dos meios
de divulgação das idéias e críticas dos oposicionistas e de larga circulação no meio
rural, que tinha como redator chefe Estevão Rafael de Carvalho (Bem-te-vi. Outro
jornal importante era a Crônica Maranhense, de João Francisco Lisboa grande orador
e oposicionista liberal.
Estevão Rafael de Carvalho, diferentemente de João Francisco Lisboa, que
durante toda a revolta não deixou de responder às críticas dos adversários se refugiou
em sua cidade natal.
“ O Bem-te- vi cessou seu canto às vésperas das eleições. Ao explodir a
revolta, não se ouve uma palavra, de apoio ou condenação de Estevão Rafael de
Carvalho, refugiado em Viana sua cidade natal.” (ABRANTES,1996, p.26)
O momento da circulação do semanário ou Bem-te-vi era igualmente
anunciado com foguetório. Vendido na rua pelo cego Basílio, figura popular da
cidade, parece haver sido outra novidade na imprensa, uma vez que os Jornais eram
adquiridos na redação ou recebiam em casa. O cego Basílio anunciava o periódico
com os seguintes versos: Compra, compra, minha gente / O Bem-te-ve! / Gazetinha
tão bonita / com meus olhos nunca viram! / Compra, compra minha gente, / P’ra
gloria do Maranhão!/ Tem versos apimentados... / Coroatá, sendy, mamão!/ Dous
vinténs apenas custa / Tão irá p’ra mão! (JORGE, 1998 p. 9)
3.4 O PICA-PAO (1842)
Este pasquim tinha como alvo principal a família Jansen. No número 07, do
dia 30 agosto de 1842, O Pica-pao trouxe uma matéria sobre Ana Jansen, desejando
lembrar aos leitores a origem pobre da matriarca dos Jansen, mostrando as
necessidades que passou antes de ser a rica proprietária e senhora de escravos. Eis um
trecho dessa matéria:
Quando solteira pobre e órfã, seu apelido era “Albuquerque”, tendo recebido do juiz de resíduas, por esmola e como ajuda, de modo a construir uma casa, à importância de 400 mil réis da testamenteira
do finado Manoel de Mattos, ou um José Thomas. (O PICA-PAU, São Luís, 30 agosto de 1842 nº 7)
A família Jansen não tolerou os abusos do Pica-pau e usou de violência com
um jornaleiro, o cego Tomé, que foi espancado e preso. “O pobre Tomé, que estava
ganhando com que passar a vida em lugar de esmolas, foi espancado. A Rainha do
Maranhão ordenou que ele não vendesse o Pica-pao como teimou, levou cacete nas
costelas”. (JORGE, 1998, p.114).
O Pica-pao não se intimidou e continuou com o tiroteio verbal contra Ana
Jansen, no exemplar de nº 7, relatou:
Que os seus escravos da família Jansen, eram maltratados a ferro e fogo, sendo castigados com surras de couro de boi e depois banhados com água e sal; que dependendo da gravidade do erro tinham os dentes quebrados e que alguns se achavam doentes e sem nenhuma assistência. Um deles segundo denúncias do pasquim, estava preso em corrente de ferro.
(PICA–PAO, São Luís, 30 de agosto de 1842)
Também era destinada a família Jansen as quadrinhas impressas nesse
periódico. O coronel Izidoro Rodrigues, marido de Ana Jansen, dezenas de vezes foi
insultado com os versos do Pica-pau que procurava ridicularizá-lo diante da população
de São Luís. Chamava-o de ébrio, de oficial desiludido, ladrão, arbitrário e violento. O
mesmo fazia com Ana Jansen, no exemplar nº 6 dizia que a Donana Jansen, batendo
com o pé, teria manifestado desejo de olhar seu filho Manoel eleito deputado, com as
seguintes palavras: “Cute o que cutá,gate o que gata, o meu filho Manezinho, há de
ser deputá.” (PICA-PAO, São Luís, 22 de agosto de 1842, nº 6).
Assim como outros pasquins, o redator não se revelava, vários jornalistas
eram suspeitos de escreverem essa folha, entre os suspeitos estavam Doutor Ferreira
do Amaral e Cândido Mendes, vitima de espancamento em pleno teatro São Luís pelo
coronel Izidoro Jansen Pereira e capangas. (JORGE, 1998 p.156)
3.5 O CABOCLO MARANHENSE (1842)
O Caboclo Maranhense surgiu com uma espécie de vingador da honra da
família Jansen, tinha o mesmo estilo inflamado e ameaçador. No seu primeiro número
(data) prometeu seguir os adversários no calcanhar, flechá-los por todos os lados.
Assim desde o primeiro número mostrou para o que veio, jogou pesado,
usou e abusou dos recursos dos pasquins, deboche, ironia, acusações e etc... Uma das
seus alvosfoi o desembargador Leocádio Ferreira de Gouveia Pimentel Belleza,
político do Partido Cabano. O Caboclo Maranhense o chamava de “Xenxén”. No
exemplar de nº 3, escreveu que o desembargador vendia uma espécie de elixir
purgativo de casamento, e quem por acaso o tomasse, mesmo que desejasse contrair
núpcias, não poderia, pois a borradeira seria inevitável. E assim prossegue: O autor
por mais de vinte anos e em todos os lugares, por onde andou, tem feito em si
mesmo repetidas experiências, de todas colheu o mais completo resultado, e
continua a fazer com bom afeto. (O CABOCLO MARANHENSE, São Luís, 5 de set,
1842, nº3)
Os editores de O Caboclo Maranhense afirmavam que invadiam a
privacidade alheia através do jornal só por direito de defesa, com um direito de
resposta ao adversário. Deste pasquim encontramos apenas três exemplares que fazem
parte da coleção da Biblioteca Benedito Leite.
3.6 PATUSCO (1846)
Da mesma forma que outros jornais, o Patusco desejava não só combater os
adversários, mas atacá-los, humilhá-los, usando a pena como arma.
Na opinião do jornalista Sebastião Jorge (1998.p.115) esse periódico não se
diferia dos outros quanto as suas características: deboches, calúnias, ironias... Assim
nos relata:
Esse pasquim, pelo nome, com significado de brincalhão, ridículo e extravagante, demonstrava não se constituir em uma ameaça. Engano. Com essa máscara de ingênuo não demoraria muito a revelar a verdadeira face.
Eram adversários do Patusco, os pasquins Azorrague e o Arre e Irra, com os
quais manteve duras polêmicas, recheadas de insultos grosseiros e perfídias. O jornal
Arre e Irra, no exemplar de nº 5, escreveu sobre o Patusco: São uns ingratos que
vivem estraçalhando a vida e a honra alheia. São os mesmos que se animam a
chamar de traidores aos homens de bem desta terra. (ARRE IRRA, São Luís
30/09/1846 nº 5)
O primeiro número do Patusco circulou em 28.02.1846, prometia não usar
de linguagem ferina, que desagradasse aos leitores, prometia também não faltar com a
verdade, chamando o gato de gato e o patife de patife. “Pelas últimas linhas das
promessas, percebiam-se as reais intenções desse periódico. Para despistar os
leitores curiosos sobre a sua verdadeira identidade, os editores diziam que os
pasquins eram escritos por um “padre da roça” que não pode insensível ver tantas
patifarias, objeções e infâmias”. (O PATUSCO, São Luís, 02/05/1846 nº 5)
Não havia nada no Patusco diferente dos outros pasquins, apesar do nome
parecer inofensivo. Cultivava o mesmo ódio contra seus opositores.
Os pasquins, no entanto, não serviram apenas para devassar a vida alheia,
apelidar políticos, falar mal dos adversários, em muitos casos cumpriram uma função
social e política, ajudaram a lutar contra a opressão e o poder.
Em diferentes momentos históricos, os pasquins se fizeram presente divulgando
ideais revolucionários e incitando o povo a lutar contra a opressão dos poderosos, ou
pregando ideologias de determinados grupos político-sociais.
Durante a Revolução Francesa, diferentes panfletos eram jogados nas ruas, incitando as pessoas a se juntarem à causa do povo. Dentre eles um ficou famoso por ter inflamado as massas. Suas palavras eram provocadoras: “O que é o terceiro estado? Tudo! O que ele representou politicamente até agora? Nada! E o que ele deseja? Torna-se alguma coisa!” Seu autor era o abade Emamanuel Syees, um pensador liberal, pertencente ao primeiro estado. Suas origens de família porém eram burguesas.
(Traduzido e adaptado de: Walter Grad. La Révvolution Fraçaise. Paris, Belfond, 1989. p. 35.)
.
Os pasquins falavam a língua do povo, este se reconhecia neste tipo de
literatura, os seus anseios estavam representados ali naqueles panfletos e os editores
dessas folhas sabiam usar tais recursos para sua causa, denunciar os desmandos dos
governantes ou para irritar os inimigos.
Durante as Regências houve quase uma centena de jornais no Brasil. Eram pasquins de quatro páginas, com pouca informação e muita crítica política. A população brasileira era de mais ou menos 4,6 milhões, sendo que pouquíssimos, menos de 0,1%, eram alfabetizados. Entre os jornais editados pelos críticos do Império estavam o “Novo Diário da Bahia”, publicado por Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira, jornalista que emprestou seu nome ao movimento e usava as páginas do jornal para criticar o Império e divulgar idéias separatista. No Pará, o jornal “a Sentinela Maranhense na Guarita do Pará”, editado por Félix Antônio Malcher,denunciava as arbritariedades dos governantes.Os principais jornais farroupilhas foram O Mensageiro, O Americano,
A Estrela do Sul e O Povo.(IN. PESAVENTO, 1985. p. 50.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A imprensa exerce um papel da maior importância para a sociedade, que é o
de informar, orientar e formar opinião sobre os fatos que compõe o dia-a-dia do nosso
mundo. Daí, a sua grande responsabilidade na condução desses elementos infláveis,
como a notícia, o comentário, o ponto de vista, que tanto podem educar e servir ao
homem, como confundi-lo e estimular-lhes paixões, os desvios e os excessos.
O título de quarto poder concedido à imprensa atualmente alude a sua
capacidade de construir e principalmente, destruir imagens. Representada pelos
veículos de massa, a imprensa tem um poder de ação e convencimento grandioso, em
particular em países em desenvolvimento, como o Brasil, em que o índice de
analfabetismo é extremamente alto e a capacidade crítica das pessoas é mínima. Para
muita gente tudo o que diz o jornal ou a TV é verdadeiro. Esse grande poder
concentrado nas mãos dos jornalistas tem sido usado tanto pela “imprensa marrom”
quanto constituída por empresas capitalistas, que objetivam o lucro manipulando as
informações em vez de esclarecer a sociedade.
A História mostra que cuidar da vida alheia é uma prática antiga de
imprensa. No Maranhão essa prática foi bem explorada pelos pasquins que circulavam
pela sua capital e algumas localidades do interior da Província. Os pasquins
estabeleceram um marco na história da imprensa maranhense, pela ousadia, espírito
irreverente, ás vezes sem o devido respeito aos valores morais e aos seus opositores.
Esses jornais apesar de serem considerados de má fama, com a finalidade
desmoralizar o inimigo com armas da palavra., tiveram significativa participação nos
movimentos sócio-políticos da província. Em São Luís muitas intrigas se
desencadearam por esse poder da palavra. Os participantes dessa rede de intrigas eram
envolvidos direta ou indiretamente, não havendo como manter a imparcialidade diante
dos fatos. Difícil era encontrar o culpado pela impressão dessas folhas que causavam
tanto rebuliço na cidade. O anonimato se transformava em um código de honra. Quem
sabia não se arriscava a delatar o nome dos seus autores. Quem não sabia ou se sentia
prejudicado pelos pasquins jogava com todos os trunfos para descobrir quem estava
por trás desse jogo, motivado pelo poder e uma forte dose de ódio e vingança contra
aqueles que atravessassem o seu caminho.
Os principais ingredientes dos pasquins estavam associados às brigas entre
os partidos, liderados pelos cabanos, bem-te-vis e demais lutas internas entre famílias,
dando munição para alimentar as páginas desses periódicos.
O aparecimento de um pasquim sempre estava associado a outro, eles
nasciam para combater os que estavam em circulação, em geral tinham vida curta.
Eram utilizados pelos ofendidos para ferir seus algozes com as mesmas armas que
foram feridos. Um desses pasquins, o Cometa, trazia na sua epígrafe o seguinte
chavão: “Quem com fogo fere com fogo será ferido. Essa é a lei do Talião olho por
olho dente por dente”. (COMETA, 1840, nº 1)
Os pasquins são frutos de uma época povoada pelas conspirações, pelo
desejo de liberdade e, sobretudo pelas contradições de governos arbitrários.
Representaram com autenticidade e ousadia todas as manifestações desse período da
história no Maranhão. Julgar o seu papel é muito complexo, os mesmos representaram
a linguagem e o pensamento peculiar da época.
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