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Universidade Estadual do Oeste do Paraná Campus de Toledo _________________________________________________________ THAISE FERNANDA DE LIMA MARES A EVASÃO ESCOLAR ENTRE ADOLESCENTES DEPENDENTES QUÍMICOS INTERNADOS NA ALA PSIQUIÁTRICA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ- CASCAVEL-PR. ________________________________________________________ TOLEDO 2012

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Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Campus de Toledo

_________________________________________________________

THAISE FERNANDA DE LIMA MARES

A EVASÃO ESCOLAR ENTRE ADOLESCENTES DEPENDENTES QUÍMICOS

INTERNADOS NA ALA PSIQUIÁTRICA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO

OESTE DO PARANÁ- CASCAVEL-PR.

________________________________________________________

TOLEDO

2012

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THAISE FERNANDA DE LIMA MARES

A EVASÃO ESCOLAR ENTRE ADOLESCENTES DEPENDENTES QUÍMICOS

INTERNADOS NA ALA PSIQUIÁTRICA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO

OESTE DO PARANÁ-CASCAVEL-PR.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Curso de Serviço Social, Centro de

Ciências Sociais Aplicadas da Universidade

Estadual do Oeste do Paraná, como requisito

parcial à obtenção do grau de Bacharel em

Serviço Social.

Orientadora: Ms. Carmen Pardo Salata.

TOLEDO

2012

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THAISE FERNANDA DE LIMA MARES

A EVASÃO ESCOLAR ENTRE ADOLESCENTES DEPENDENTES QUÍMICOS

INTERNADOS NA ALA PSIQUIÁTRICA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO

OESTE DO PARANÁ- CASCAVEL-PR.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Curso de Serviço Social, Centro de

Ciências Sociais Aplicadas da Universidade

Estadual do Oeste do Paraná, como requisito

parcial à obtenção do grau de Bacharel em

Serviço Social.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________

Orientadora: Ms. Carmen Pardo Salata

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

___________________________________

Profª Ms. Marcia Sabina Rosa Blum

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

___________________________________

Profª Dra.Vera Lúcia Martins

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Toledo, 21 de novembro de 2012.

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Dedico este trabalho aos sujeitos de

minha pesquisa e a todos que

colaboraram para sua materialização.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Jurandir e Maria Tereza, por terem me apoiado desde o inicio desta

etapa da minha vida e por sempre estarem comigo. Amo muito vocês! Mãe, você fez o

possível e o impossível para que um dia o este meu sonho de concluir a faculdade se

concretizasse, este sonho tornou-se realidade, serei sempre grata por ter você comigo,

obrigado pela compreensão que teve em alguns momentos desta árdua caminhada e por ser

essa mãe presente, tão atenciosa e dedicada, te amo! Agradeço a Daia, minha irmã, obrigada

por ser minha amiga e me ajudar nos momentos mais difíceis desta longa jornada, te amo

muito sua linda. Meus mais sinceros agradecimentos a vocês minha família.

Agradeço imensamente à minha orientadora profª Carmen Pardo Salata, obrigada

pelas orientações, pela atenção e confiança durante a realização deste trabalho, pela

compreensão, disponibilidade. À você minha gratidão e admiração.

A todos os professores do curso de Serviço Social que, em maior ou menor grau

fizeram parte da história e da concretização da minha graduação. Obrigado mestres!

A todos os meus colegas de classe. Todos vocês tem um lugar especial no meu

coração. Jamais os esquecerei.

A Daniela P. Gund, minha supervisora de Campo no estágio em Serviço Social.

Dani, muito obrigada por tudo, por me transmitir de forma admirável seus conhecimentos,

você é uma excelente profissional e eu sempre serei muito grata por você ter sido minha

supervisora.

Também agradeço ao Grupo de Estudo e Pesquisa em Políticas Sociais e

Educacionais (GEPPES). Aos professores: João, Beto, Mônica e Ireni Figueiredo, todos que

de alguma forma contribuíram para minha formação profissional. Obrigada! Agradeço. E a

Rosangela, muito obrigada pela sua amizade.

Aos meus amigos Dani e Alan, que fazem parte da minha vida há muitos anos

pessoas que eu tanto amo. Vocês sempre serão meus eternos amigos das tardes de domingo,

dos ensaios de dança. À minha amiga dedicada aos estudos e ao meu amigo de infância,

ambos estarão sempre em meu coração. Amo muito vocês!

Quero agradecer ao pessoal da van, pelos debates, discussões, momentos intelectuais,

pelos dias de cento de salgado, mas, principalmente pelas risadas pelos momentos felizes que

jamais esquecerei. Muito obrigada!

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Agradeço também a UNIOESTE por ter me aberto às portas do saber científico. Ao

Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP) por permitir a realização da pesquisa no

âmbito da instituição e aossujeitos da pesquisa por terem se disponibilizado em participar.

Sem seus depoimentos não seria possível materializar este TCC.

E por fim, agradeço a vocês absolutas (risos), Regi, Duda, Ana, Carol, Carol da

Catarina, Jana, Fran, Marina, Gisele e Vanusa (vulgo Denise). Obrigada meninas por estarem

comigo, serei sempre grata a todas vocês. Obrigada Fran linda, pelas horas no telefone, pelas

festas, divertimentos, companhia e por tudo, te adoro. Ana, minha cantora preferida, obrigada

por compartilhar os bons e maus momentos do TCC. Regi, obrigada por ser tão sensata e

companheira. Carol, obrigada por estar comigo durante estes quatro anos, por ser uma pessoa

queria e justa, adoro você. Jana, obrigado pelas risadas compartilhadas (adoro a sua risada), e

pelos momentos intelectuais na van. Duda, obrigada por ser minha mana, você é uma pessoa

incrível. Marina, o tempo passa e as coisas mudam, mesmo assim, muito obrigado por ter

compartilhado comigo estes quatro anos das nossas vidas. Adoro você!

Meninas, obrigada por estarem comigo todo este tempo, é uma honra conviver com

vocês. Amo todas!

A todos que contribuíram para minha formação profissional, expresso aqui minha

eterna gratidão.

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O que eu vou ser quando crescer?

Por que me perguntam tanto,

o que eu vou ser quando crescer?

O que eles pensam de mim

é o que eu queria saber!

Gente grande é engraçada!

O que eles querem dizer?

Pensam que eu não sou nada?

Só vou ser quando crescer?

Que me venham com essa,

pra não perder o latim.

Eu sou um monte de coisas

e tenho orgulho de mim!

Essa pergunta de adulto

é a mais chata que há!

Por que só quando crescer?

Não vou esperar até lá?

Eu vou ser quem eu já sou

neste momento presente!

Vou continuar sendo eu!

Vou continuar sendo gente!

Pedro Bandeira

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MARES, Thaise Fernanda de Lima. A Evasão Escolar entre Adolescentes Dependentes

Químicos Internados na Ala Psiquiátrica do Hospital Universitário do Oeste do Paraná.

Cascavel-Pr. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Serviço Social). Centro de

Ciências Sociais Aplicadas. Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Campus - Toledo,

2012.

RESUMO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) tem como tema: A evasão escolar entre

adolescentes dependentes químicos internados na ala psiquiátrica do Hospital Universitário do

Oeste do Paraná (HUOP). O objetivo primário é conhecer os motivos gerais que

influenciaram no processo de evasão escolar entre os mesmos. Observa-se aqui expressões da

questão social, inicialmente o fenômeno da drogadiçãoe a evasão escolar entre estes

adolescentes. Para operacionalizar do objetivo geral, foram formulados objetivos secundários

que são: verificar qual é o grau de escolaridade e faixa etária dos adolescentes dependentes

químicos internados no Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP). Assim como,

compreender como a família, o Estado e as políticas sociais interferem na recuperação de

crianças e adolescentes dependentes químicos para seu retorno ao ambiente escolar. Este

trabalho está dividido em 3 capítulos e 8subitens sendo eles: 1 A política social da educação ,

1.1 O breve contexto histórico da política educacional no Brasil (1960-1990), 1.2 A educação

e suas dimensões, 1.3 Políticas sociais e educacionais, 2 Serviço Social, evasão escolar e a

dependência química, 2.1 O Serviço Social na educação e evasão escolar, 2.2 A evasão

escolar como uma expressão da questão social, 2.3 A dependência de drogas na adolescência

e a influência na vida escolar, 2.4 O envolvimento de crianças e adolescentes com o tráfico

nas escolas, 2.5 A escola como uma alternativa para a prevenção da dependência química e 3

representação gráfica e análise dos dados coletados da pesquisa de campo- perfil dos

adolescentes internados na ala psiquiátrica do HUOP. A pesquisa tem no método de análise

histórico-crítico a sua base teórico-metodológica o que permite apreender o movimento

contraditório da realidade social.

Palavras-chave: Educação; Evasão Escolar; Drogadição.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1- Gráfico Orçamento Geral da União de 2011

Gráfico 2- Distribuição dos Adolescentes Quanto ao Sexo

Gráfico 3 - Distribuição dos Adolescentespor Idade

Gráfico 4 - Dados em Relação ao Tempo de Uso de Drogas pelos Adolescentes

Gráfico 5 - Distribuição dos Adolescentes Quanto a Composição Familiar

Gráfico 6 - Distribuição dos Adolescentes Quanto a Renda Familiar

Gráfico 7 - Situação Escolar: Estudando antes do Internamento

Gráfico 8 - Situação Escolar: Evasão Escolar por Sexo

Gráfico 9 - Situação Escolar: Evasão Escolar por Ano/Série

Gráfico 10 - Substâncias Psicoativas Utilizadas por Adolescentes em Situação de

Evasão Escolar

Gráfico 11 - O Uso De Drogas Foi Anterior a Evasão Escolar

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LISTA DE SIGLAS

BM Banco Mundial

CF Constituição Federal

CEP Comitê de Ética e Pesquisa

CFESS Conselho Federal de Serviço Social

CRESS Conselho Regional de Serviço Social

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

EJA Educação de Jovens e Adultos

EPS Escola Promotora de Saúde

HUOP Hospital Universitário do Oeste do Paraná

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação

ONG Organização não governamental

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

PIB Produto Interno Bruto

SPA Substância Psicoativa

TCC Trabalho de Conclusão de Curso

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura

UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paraná

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 12

1 A POLÍTICA SOCIAL DA EDUCAÇÃO ..................................................................................... 14

1.1 O BREVE CONTEXTO HISTÓRICO DA POLÍTICA EDUCACIONAL NO BRASIL (1960-

1990) ................................................................................................................................................. 15

1.2 A EDUCAÇÃO E SUAS DIMENSÕES .................................................................................... 18

1.3 POLÍTICAS SOCIAIS E EDUCACIONAIS.............................................................................. 21

2 SERVIÇO SOCIAL, EVASÃO ESCOLAR E A DEPENDÊNCIA QUÍMICA ......................... 28

2.1 O SERVIÇO SOCIAL NA EDUCAÇÃO E EVASÃO ESCOLAR. .......................................... 28

2.2 A EVASÃO ESCOLAR COMO UMA EXPRESSÃO DA QUESTÃO SOCIAL ..................... 32

2.3 A DEPENDÊNCIA QUÍMICA NA ADOLESCÊNCIA E A INFLUÊNCIA NA VIDA

ESCOLAR......................................................................................................................................... 36

2.4 O ENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM O TRÁFICO NAS

ESCOLAS ......................................................................................................................................... 40

2.5 A ESCOLA COMO UMA ALTERNATIVA PARA A PREVENÇÃO DA DEPENDÊNCIA

QUÍMICA ......................................................................................................................................... 43

3 REPRESENTAÇÃO GRÁFICA E ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS DA PESQUISA

DE CAMPO- PERFIL DOS ADOLESCENTES INTERNADOS NA ALA PSIQUIÁTRICA DO

HUOP. .................................................................................................................................................. 47

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................. 58

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................................. 60

APÊNDICES ........................................................................................................................................ 64

APÊNDICE A- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ADOLESCENTES

........................................................................................................................................................... 65

APÊNDICE B- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO FAMÍLIAS ......... 67

APÊNDICE C - FORMULÁRIOS DE ENTREVISTA ADOLESCENTES .................................... 69

APÊNDICE D- FORMULÁRIOS DE ENTREVISTA FAMÍLIAS................................................. 72

ANEXOS .............................................................................................................................................. 74

ANEXO A- APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA - CEP ......................................................... 75

ANEXO B -FICHAS DE CADASTRO PSIQUIATRIA SERVIÇO SOCIAL HUOP .................... 76

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INTRODUÇÃO

O direito à educação pertence a todas as pessoas, independente de cor, sexo, idade,

religião, pois todas são portadoras deste direito social, visto que este direito é essencial para o

desenvolvimento do ser humano. Contudo, alguns elementos como: a falta de acesso a

recursos sociais e econômicos, a escassez de alimentação, o descaso governamental, o

ingresso precoce no mercado de trabalho, ou até mesmo a dependência e uso de drogas são

fatores que podem dificultar o acesso à escola e induzir ao abandono escolar. Neste sentido,

este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) tem como tema a evasão escolar entre

adolescentes dependentes químicos.

O interesse pelo tema surgiu em 2011, durante o desenvolvimento do estágio

supervisionado I em Serviço Social, no âmbito do Hospital Universitário do Oeste do Paraná-

Cascavel (HUOP),especificamente no alojamento psiquiátrico, cujos pacientes internados na

ala são adolescentes em tratamento de desintoxicação de drogas, que se caracteriza pelo uso

indiscriminado de drogas. Entre elas estão a maconha, álcool, cigarro, cocaína, e também o

crack. No entanto, o que mais chamou atenção é quando se percebe que grande parte dos

pacientes internados no hospital não estavam frequentando a escola, embora todos se

encontrem em idade escolar.

Deste modo, a pesquisa pretende responder a seguinte problemática: “quais os motivos

que influenciam para a evasão escolar de adolescentes dependentes químicos internados no

HUOP?”.Para operacionalizar o objetivo geral, foram formulados objetivos secundários que

são: verificar qual é o grau de escolaridade e faixa etária dos adolescentes dependentes

químicos internados no Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP) e compreender

como a família, o Estado e as políticas sociais interferem na recuperação de crianças e

adolescentes dependentes químicos para seu retorno ao ambiente escolar. Para efeito de

análise de alguns conceitos, este trabalho pretende esclarecer inicialmente a trajetória da

Educação no Brasil a partir da década de 1960, com a instituição da primeira Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional (LDB nº.4.024/1961). No entanto, a ênfase deste processo

histórico se inicia no final da década de 1980 com a promulgação da Constituição Federal

(CF) de 1988, do Estatuto da Criança e do Adolescente de (ECA), lei nº 8.069 de 1990, assim

como, da nova LDB nº 9394/1996 e principalmente na década de 1990. Além disso,

abordaremos a política educacional como parte da política social e a questão do direito

educacional.

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Sabe-seda relevância da Educação para o desenvolvimento do ser social, e observam-se

aqui expressões da questão social. A primeira é o fenômeno da drogadição entre adolescentes

como um fator impeditivo da escolarização, evidenciando, então, uma segunda etapa que é a

evasão escolar. Ou seja, a primeira expressão vincula-se e pode criar a segunda. Alguns

conceitos serão tratados por serem relevantes como: dependência química ou drogadição,

abandono escolar e distorção entre idade-série. Neste contexto, é fundamental apontar o papel

que o Serviço Social tem perante estas situações sociais, visto que o abandono escolar e a

drogadição são expressões da “questão social” em que o profissional Assistente Social deverá

intervir, fundamentando-se em seu Código de Ética, assim como os onze princípios nele

estabelecidos. É importante destacar que o ponto de partida para a análise é a situação da

garantia dos direitos sociais como forma de consolidar a cidadania dos sujeitos em questão.

Finalizando, reitera-se o papel fundamental que a escola, a família, a sociedade, e o Estado

desempenham em proporcionar aos adolescentes usuários de drogas o ingresso e a

permanência no ambiente escolar.

A metodologia utilizada para a realização da pesquisa é de tipo bibliográfica e

documental, com abordagem de natureza quantitativa e qualitativa. Neste sentido, a pesquisa

de campo foi realizada por meio do levantamento dos dados empíricos coletados, que se

constituem de entrevistas semiestruturadas com os adolescentes internados para tratamento da

dependência química, na ala psiquiátrica do HUOP e mediante coleta de dados realizados por

meio das Fichas de cadastro psiquiatria Serviço Social HUOP. Os sujeitos da pesquisa

representam 30% do total, e a escolha é intencional, cujo critério fica estabelecido desta

forma: cinco adolescentes entre 12 e 18 anos completos e duas de suas respectivas famílias.

O trabalho foi realizado mediante termo de aprovação do Comitê de Ética - CEP (anexo

A), por meio de Termo de consentimento livre e esclarecido de (TCLE) dos adolescentes

(apêndice A) e TCLE de seus familiares (apêndice B), bem como, por formulários de

entrevista semi-estruturada direcionada para os adolescentes (apêndice C) e seus familiares

(apêndice D). Por conta do sigilo que se têm em relação às falas dos entrevistados, os mesmos

foram identificados da seguinte forma: A1, A2, A3, A4 e A5 para os adolescentes, A6 e A7,

para os seus familiares. As entrevistas apresentadas referem-se aos relatos dos sujeitos, são,

portanto, suas versões para suas histórias.

É importante salientar que as entrevistas foram realizadas por meio de gravador de voz,

e após isto foram transcritas tal como a fala dos sujeitos. Deste modo, os relatos dos sete

entrevistados da pesquisa estão distribuídas nos 3 (três) capítulos desta pesquisa, como forma

de reforçar tanto os relatos dos sujeitos, por meio da fundamentação teórica deste trabalho.

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1 A POLÍTICA SOCIAL DA EDUCAÇÃO

É somente quando o homem se relaciona socialmente que passa a se humanizar e se

reconhecer como humanidade. É, portanto, a partir das relações sociais entre seres humanos

que o processo educativo se apresenta. Este processo é humanizador, na medida em que o ser

humano realiza sua capacidade ontológica1 .

De acordo com Tonet (2009), há uma distinção entre animais e seres humanos, pois

nós humanos não nascemos predestinados a realizar uma única tarefa para nossa existência,

como ocorre com os animais que agem de forma instintiva. No entanto, aos humanos cabe

apreender o quê e como fazer, principalmente porque o trabalho implica a teleologia, isto é,

uma atividade intencional prévia e a existência de alternativas. Esta ação não é

biologicamente pré- determinada, é necessário que seja assumida conscientemente. A partir

disso, origina-se, então, a necessidade do processo educativo, visto que este é um processo de

aquisição de habilidades, comportamentos, conhecimentos, entre outros, que permitem ao

indivíduo agir conscientemente em sua vida social.

Este processo educativo ontológico que se apresenta ocorre de maneira informal

(sociedade, família, religião), se diferenciando do processo formal que ocorre no âmbito da

instituição escola. Segundo Rossi (2008), este pode ser compreendido como “[...] um campo

vasto, formal e não formal que realiza a aproximação de diferentes tempos históricos e

diferentes culturas, realizando um processo de troca de conhecimento fundamental para o

desenvolvimento humano” (p.163).

O termo “escola” vem do grego schole, uma schole era um local de aprendizagem ou

lazer. “No uso contemporâneo da palavra, uma escola é uma instituição dedicada a propósitos

educacionais geralmente para crianças e adolescentes, e via regra associada à fase

compulsória da educação” (WINCH; GINGELL, 2007, p.109 grifo do autor). Para Neto

(2009), o processo educativo que se dá no ambiente escolar,

[...] deve atender a propósitos de valorização interpessoais, de respeito ao

semelhante e, identicamente, de desenvolvimento do senso critico, da

responsabilidade social, do sentimento participativo, da expressão franca e

livre do pensamento, enfim, deve à escola constituir-se em espaço

1“Somente o trabalho tem como sua essência ontológica, um clarocaráter intermediário: ele é, essencialmente,

uma inter-relação entre homem (sociedade) enatureza, tanto inorgânica (utensílio, matéria-prima, objeto do

trabalho, etc.) como orgânica, inter-relação que pode até estar situada em pontos determinados da série a que nos

referimos, mas antes de mais nada assinala a passagem, no homem que trabalha, do ser meramente biológico ao

ser social”(LUKÁCS, 1981,p.2).

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democrático, propício ao desenvolvimento harmônico do educando em suas

diversas necessidades(NETO, 2009 p. 62).

1.1 O BREVE CONTEXTO HISTÓRICO DA POLÍTICA EDUCACIONAL NO BRASIL

(1960-1990)

Em seu contexto histórico, a educação no Brasil vivenciou muitas mudanças, as

mesmas têm como base formal as legislações. Neste sentido, o que se pretende refletir

brevemente é sobre a política social da educação no Brasil, a partir da década de 1960. Com

maior ênfase no final da década de 1980, com a promulgação da Constituição Federal de

1988. A década de 1960, não apresentou grandes inovações no sistema educacional, apesar

da promulgação em 1961 da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB

nº. 4.024). A partir de 1964, essa legislação foi alterada por conta da ditadura militar,

caracterizada por um Estado repressor que não hesitava em usar da violência contra os

cidadãos. A ditadura militar

[...] atingiu escola, professores e estudantes, proibindo quaisquer

manifestações de caráter político. A consciência cívica e patriótica seria

estimulada na população, e a escola seria uma das vias preferidas como

espaço para se pregar o ufanismo nacional e o amor à pátria. O panorama de

estagnação intelectual instaurado pelo medo e pela ausência de liberdade

tornou-se propicio a promulgação de uma lei autoritária, [...] a lei n.5692/71

fixou as novas normas para o ensino de 1º e 2º grau, instituindo, entre outras

inovações, a profissionalização obrigatória em todos os cursos do 2º grau.

Imposta sem o mínimo debate à sociedade civil [...] (ALMEIDA, 2006, p.

91).

Sobre este Regime desencadeou-se um processo de reorientação geral do ensino no

país, inicialmente realizado pela lei n.5.540 de 1968, que reformulou todas as modalidades de

ensino e o ensino superior, posteriormente reformulado pelalei n.5692/71. Nesse quadro de

mudanças estruturais, este processo que se constituiu como resultado de um projeto do

governo de integração nacional, foi submetido a uma nova fase de desenvolvimento

econômico com a industrialização, conhecida como o “milagre brasileiro”. Esta fase exigia

mão de obra qualificada, e, portanto, buscou-se por técnicos de nível médio qualificado para

atender a tal crescimento. Assim, o governo optou por dar respostas diferentes às demandas

educacionais das classes populares, mas que pudessem convencê-las. “Utilizou- se, então, a

via da profissionalização no 2º grau, o que, supostamente, garantiria a inserção no mercado de

trabalho” (MOURA, 2010, p. 4, grifo do autor).

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Neste contexto, o que se percebe é que a escola pública, que interessava

exclusivamente ao regime militar, se constituiu neste período como um espaço voltado,

principalmente, para o crescimento econômico e da mão de obra para o mercado de trabalho.

Em meados da década de 1970 com intensificação ao longo dos anos de 1980, as

reformas constituídas pela ditadura militar em relação à situação educacional, em pouco

tempo se tornaram alvo da crítica dos educadores que crescentemente se organizavam.

A organização dos educadores no período referido pode ser caracterizada por

dois vetores distintos: Aquele marcado pela preocupação com significado

social e político da educação, do qual decorre a busca de uma escola pública

de qualidade, aberta a toda população; e outro marcado pela preocupação

com o aspecto econômico – corporativo, portanto de caráter reivindicativo,

cuja a expressão mais saliente é dada pelo fenômeno das greves que

eclodiram a partir do final dos anos de 1970 ( SAVIANI, 2006, p.45).

Nesse contexto, os educadores foram se articulando em movimentos contínuos para

impor cada vez mais fortemente as suas exigências. O objetivo era o de modificar por inteiro a

estrutura da educação nacional. Desta forma, o primeiro procedimento seria a mudança da

legislação em vigor. Esta mudança teve início no fim da década de 1980, com a promulgação

da Constituição Federal de 1988, que se deu em decorrência da mobilização popular e dos

movimentos sociais. Entre as conquistas que se deram com a Constituição Federal (doravante

CF), “[...] podemos mencionar o direito à educação desde o zero ano de idade, a gratuidade do

ensino público em todos os níveis, a gestão democrática da educação pública, a autonomia

universitária, o acesso ao ensino obrigatório e gratuito como direito público subjetivo”

(SAVIANI, 2006, p. 46). Na história constitucional, a educação apresenta-se como um direito

social de todos os brasileiros, deste modo, em seu artigo 205, esta é garantida como:

Direito de todos e dever do estado e da família, será promovida e incentivada

com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da

pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o

trabalho (BRASIL, 2009, p. 58).

Como parte desse processo de avanço democrático, dois meses após a promulgação da

CF de 1988, deu-se início ao processo de elaboração da nova LDB, processo este que

culminou na aprovação da lei n. 9.394 de 1996, que fixou as novas diretrizes e bases da

educação nacional. Assim, com a nova LDB foi regulamentado o ensino no país. Em seu

primeiro artigo a LDB dispõe que “[...] a educação abrange os processos formativos que se

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desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino

e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações

culturais” (BRASIL, 2010, p.10). Além disso, no artigo segundo do mesmo documento,

dispõe sobre a educação sendo, “Dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de

liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento

do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”

(BRASIL, 2010, p.10).

Em se tratando da política social de Educação, outro avanço importante foi em relação

aos direitos educacionais da infância e da juventude. A promulgação do Estatuto da Criança e

do Adolescente -ECA- lei 8.069/90, é considerada como um grande avanço social no que

tange aos direitos sociais da infância e juventude, além de seus direitos educacionais. O

mesmo explicita no seu artigo 53:

A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno

desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e

qualificação para o trabalho, assegurando-lhes: Igualdade de condições para

o acesso e permanência na escola (BRASIL, 2010, p.24).

Entre os documentos fundamentais que discorrem sobre o direito à educação, além dos

documentos nacionais, estão os internacionais. Entre eles está a Declaração Universal dos

Direitos Humanos de 1948. Nela, o direito à Educação está expresso em seu artigo 26°, em

que “Toda a pessoa tem direito à educação”. Além disso, a educação deve ser gratuita, pelo

menos ao ensino elementar fundamental, sendo este obrigatório. Nesse documento: “A

educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos

humanos e das liberdades fundamentais [...]. Aos pais pertence a prioridade do direito de

escolher o gênero de educação a dar aos filhos” (ONU, 1948 s.p).

Outro documento fundamental que dispõe sobre o direito à educação é a Declaração

Mundial sobre Educação para Todos. Esta declaração foi resultado da Conferência Mundial

sobre Educação para Todos, realizada em 1990 na Tailândia, cujo primeiro objetivo expressa,

Cada pessoa - criança, jovem ou adulto - deve estar em condições de

aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas

necessidades básicas de aprendizagem. Essas necessidades compreendem

tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a

escrita, a expressão oral, o cálculo, a solução de problemas), quanto os

conteúdos básicos da aprendizagem (como conhecimentos, habilidades,

valores e atitudes), necessários para que os seres humanos possam

sobreviver, desenvolver plenamente suas potencialidades, viver e trabalhar

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com dignidade, participar plenamente do desenvolvimento, melhorar a

qualidade de vida, tomar decisões fundamentadas e continuar aprendendo

(UNESCO, 1990, s.p).

É importante destacar também, a responsabilidade do Estado, da família, e também da

comunidade, de promover o acesso e permanência à Educação Escolar. A partir da CF de

1988, e, posteriormente, com a regulamentação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional de 1996, e também do ECA ficou mais claro o papel que o poder público tem diante

desta questão, assim, verifica-se a partir do artigo 4º da LDB que,

[...] o dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado

mediante a garantia de: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito,

inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II -

progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio

(BRASIL, 2010, p.12).

Como expressa o artigo 5º da mesma lei, parágrafo 1º “Compete aos estados e aos

municípios, em regime de colaboração, e com a assistência da União: III – zelar, junto aos

pais ou responsáveis, pela frequência à escola” (BRASIL, 2010, p.13).

Assim, a grande transformação em relação à Educação, do regime ditatorial da década

de 1960 para o regime democrático em 1988, é que o Estado em conjunto com a família e a

sociedade tornou-se o principal garantidor e o responsável pelo direito educacional de seus

cidadãos. Este movimento se dá a partir de 1988 com a promulgação da constituição Federal

da República Brasileira, pela oferta de uma Educação com qualidade, que garanta a

frequência, permanência e manutenção de seus educandos na Escola.

Deste modo, essa legislação fundamenta o Estado de direito dos cidadãos brasileiros,

pois garante esse direito à todos e o dever do Estado e da família para promovê-la. É,

portanto, neste cenário de lutas e de transformações, que está inserida a política educacional

no Brasil. Percebe-se assim, o grande avanço que a Constituição Federal representou em

relação à Educação.

1.2 A EDUCAÇÃO E SUAS DIMENSÕES

O início dos anos 90 consolida a política educacional em duas dimensões, estas são: a

dimensão que qualifica o indivíduo como força produtiva para o mercado de trabalho e

também uma segunda dimensão, de formação de consciência para o exercício da cidadania.

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A educação segundo a LDB/96, qualificação para o trabalho e também para o

exercício da cidadania. Cidadania esta que envolve um conjunto de direitos e deveres

construídos historicamente, conforme aponta o jurista Dalmo Dalari (1984),

A noção de cidadania busca expressar a igualdade dos homens em termos de

sua vinculação jurídica a um determinado Estado. Não há, portanto, cidadão

que não seja cidadão de um Estado. A condição de cidadão está vinculada à

legislação do Estado. Portanto, este tem o poder de definir os condicionantes

do exercício da cidadania. O cidadão constitui uma criação do Estado que

vai modificá-lo a partir de seus interesses (DALARI, 1984, s.p).

De fato, a questão da cidadania, é um dos objetivos fundamentais da educação formal,

tendo em vista que o ambiente escolar se caracteriza como instrumento básico para o pleno

exercício da cidadania e desenvolvimento do educando.

Outra questão pertinente para ser refletida é sobre a formação escolar para o trabalho,

tendo em vista que não é possível pensar a educação nacional dissociada do modo de

produção capitalista. Esse posicionamento está claro nos princípios da Educação, ou seja: XI -

vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. (LDB/96) Observa-se

então que este princípio dá grande relevância à qualificação para o trabalho e para as práticas

sociais. A LDB, apesar de assegurar na lei, isto é, artigo 22 “A educação básica tem por

finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o

exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos

posteriores” (BRASIL, 2010, p. 23).

Na realidade têm priorizado a reprodução econômico social, e esse caráter reprodutivo

de educação, não garante uma formação integral para a vida do educando, para que este possa

agir de forma crítica e consciente, base para a construção da cidadania plena, autônoma e

emancipada. Há, portanto, uma critica a esta formação voltada ao trabalho, às exigências do

mercado e do modo de produção capitalista. Visto que a mesma não possui uma formação

humana integral que conforme Mauro (2010), esta formação além de proporcionar o acesso às

diversas formas de conhecimento científico e tecnológico construídos pela humanidade,

propõe também um pensamento crítico diante da mesma, como forma de compreender as

concepções e problemáticas desta. Contribui assim, para o aprimoramento e acumulação de

conhecimentos diante da ciência e tecnologia, voltados para interesses coletivos. Nesse

contexto, “o humano é capaz de se produzir e se modificar na sua relação com o trabalho, com

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os demais seres humanos e com a natureza, em um movimento dialético sujeito/objeto”

(MAURO, 2010 p.17).

Para atender o modo de produção capitalista, a formação humana está baseada em

formação de indivíduos flexíveis capazes de atender às demandas impostas pelo mercado de

trabalho, neste sentido, fica evidente a imensa distância da perspectiva da formação humana

integral.

Com relação à esta educação voltada para o mercado de trabalho, um fator relevante é

que, apenas os mais “preparados” concluem os estudos e chegam ao mercado de trabalho,

pois, grande parte dos indivíduos em situação de pobreza abandonam a escola no ensino

fundamental. Este movimento acontece pelo não interesse do Estado para com uma educação

de qualidade, ou seja, que forme cidadãos críticos e não alienados. Esta concepção da

educação voltada somente para o mercado de trabalho é visível entre os estudantes e foi

elucidada por todos os adolescentes sujeitos da pesquisa (Sujeito A1, A2, A3, A4, A5). Estes,

encontram-se em situação de abandono escolar e, quando questionados sobre o que a escola

representa, os mesmos respondem:

É um modo de você conseguir ser alguma coisa, sei lá. Você estuda

pra ter uma profissão mais tarde, eu acho importante. (A1).

[...] ela serve pra ensinar, por exemplo... Sem a escola a pessoa não

pega nenhum serviço profissional, tipo um serviço que a gente pegou

que já vem do estudo.( A2).

Ela é pra mim estudar, pra ajudar a trabalhar a ser alguma coisa na

vida (A3).

Serve pra gente se formar em um advogado, delgado, médico,

enfermeiro [...] Pra estudar, fazer faculdade e depois se formar (A4).

O futuro, representa o futuro, sem a escola eu não vou ser nada no

futuro, vou ser ou um mendigo pedindo esmola ouvou trabalhar em

um serviço que não ganha nada fichado. (A5)

A partir da exposição dessas falas, fica explícita esta visão da educação para o

mercado de trabalho, os próprios adolescentes não conseguem ver na instituição escolar algo

além da formação para o trabalho e tampouco uma formação integral para a cidadania. Os

sujeitos da pesquisa fazem depoimentos de acordo com a atual conjuntura social e econômica,

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pois diante do processo de globalização do sistema capitalista, a educação passa a ser vista de

forma mercantilizada, que tem em vista apenas a obtenção do diploma e do trabalhador em

busca do lucro. Neste sentido, a educação perde seu caráter de formação de indivíduos com

habilidades, conhecimentos e valores que os tornem capazes de exercer sua cidadania.

1.3 POLÍTICAS SOCIAIS E EDUCACIONAIS

Além de um direito social, a educação é uma política social, cuja implementação se dá

por meio das ações do próprio Estado. De acordo com Netto (2003), entendemos as políticas

sociais como respostas do Estado no período do capitalismo monopolista a demandas postas

no movimento social por classes (ou estratos de classe) vulnerabilizadas pela “questão social”.

As políticas sociais são mecanismos utilizados pelo Estado, para efetuar e garantir os

direitos sociais de seus cidadãos, entre elas estão a saúde, a habitação, a educação, a

assistência social, a alimentação e a previdência social. Estas políticas são estratégias

utilizadas pelo próprio Estado para intervir e mediar o antagonismo entre a classe trabalhadora

e a classe burguesa, Assim como, mediar as relações de produção capitalista causadora das

expressões da “questão social”. Para Netto,

Este Estado burguês, funcional ao capitalismo dos monopólios, através das

políticas sociais, responde às pressões dos segmentos da população afetados

pelas várias expressões da “questão social”. No domínio da saúde, da

habitação, da educação, da renda, do emprego etc., o foco das políticas

sociais recaí sempre sobre uma expressão ou expressões da chamada

“questão social”. O Estado apresenta respostas quando os afetados por essas

expressões são capazes de exercer, sobre ele, uma pressão organizada. Não

basta que haja expressões da “questão social” para que haja política social; é

preciso que aqueles afetados pelas suas expressões sejam capazes de

mobilização e de organização para demandar a resposta que o Estado oferece

através da política social. (NETTO, 2001, p. 15; 16).

O Estado, portanto, se antecipa frequentemente às pressões da classe trabalhadora,

antes que estas pressões formem uma organização mobilizadora na luta por direitos. O Estado

estrategicamente tem se antecipado, na busca por respostas que neutralizem e deem solução às

demanda existentes na classe trabalhadora, antes que esta possa agir de forma a transformar

sua realidade social e o sistema econômico vigente. Assim sendo, o Estado torna-se o

principal implementador das políticas sociais, com o objetivo primordial de amenizar os

conflitos existentes entre burguesia e proletariado.

Historicamente, “a política Social aparece no capitalismo a partir das mobilizações

operárias sucedidas ao longo das primeiras revoluções industriais” (VIEIRA, 1992, p.19). A

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política social surge, portanto, na segunda metade do século XIX e início do século XX como

resposta à exploração sofrida pela classe trabalhadora ao longo das primeiras revoluções

industriais. De acordo com Behring (2009), as políticas sociais aparecem no contexto do

liberalismo, esta lógica funda-se na procura do interesse próprio dos indivíduos, estes que

devem ser conduzidos pelo mercado, sendo o Estado quem deve fornecer base legal para o

bom funcionamento da economia, caracterizando-se, portanto, como um “Estado Mínimo”. O

enfraquecimento do liberalismo se deu por motivos diversos, entre eles a crise de 1929/1932.

Esta foi a maior crise econômica mundial do capitalismo até aquele momento. Uma crise que

iniciou no sistema financeiro americano, a partir do dia 24 de outubro de 1929, quando a

história registrou o primeiro dia de pânico na bolsa de Nova Iorque e se alastrou pelo mundo,

reduzindo o comércio mundial a um terço do que era antes (BEHRING; SANTOS, 2009,

p.306/307). A crise de 1929, teve início nos Estados Unidos e instaurou certa desconfiança em

relação aos pressupostos liberais. Assim, como resposta a estes acontecimentos, utilizou-se

em 1936 a teoria geral de Keynes, que, segundo ele, “cabe ao Estado o papel de reestabelecer

o equilíbrio econômico, por meio de uma política fiscal, creditícia de gastos, realizando

investimentos ou inversões reais que atuem nos períodos de depressão” (BEHRING;

SANTOS, 2009, p.307/308).

Ao keynesinismo vinculou-se também o fordismo, que predominou após a segunda

guerra mundial até o início dos anos de 1970. Segundo Behring e Santos (2009), é neste

período também que as políticas sociais têm seu ápice, com o surgimento do chamado

WelfareStateou Estado de Bem-Estar Social que representa o advento das políticas sociais.

Seu desenvolvimento está fundamentado no processo de industrialização e nos problemas

sociais gerados após os anos de1945. É neste momento que o Estado passa a ser conhecido

como Estado-Providencial “[...] este Estado garante o mínimo de renda, alimentação, saúde,

habitação, educação, assegurando a todo cidadão, não como caridade, mas como direito

político” (WILENSKY, p.416, apud VIEIRA 1992, p.20).

No entanto, ainda na década de 1970, - devido a inúmeros empecilhos da expansão das

atividades estatais - surge a “crise do Estado” ou “crise do Estado-Providencial”. Esta crise

tem tido sua manutenção por aqueles que pretendem diminuir ou desparecer definitivamente

com as atividades do Estado diante do modo de produção capitalista. Estes caracterizam a

crise como consequência do grande aumento na intervenção do Estado, principalmente, no

que se refere as políticas sociais. Há a busca por um Estado que intervenha minimamente,

portanto este seria:

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[...] o ‘Estado restrito’ ou o ‘Estado Mínimo’ ou, se se quiser, o ‘Estado

diminuto’ ou até mesmo a doutrina da ‘Sociedade sem Estado’ nas teorias

capitalistas denunciam pelo avesso o que o Estado capitalista nunca deixou

de fazer: a intervenção na economia e na sociedade(VIEIRA, 1992, p. 93).

Desta forma, o que se propõe como solução da crise do Estado, é a retomada do

padrão liberal, agora denominado neoliberalismo. É neste momento específico da história que

o desemprego cresce e não há a geração de postos de trabalho em número suficiente para

atender à demanda de trabalhadores.

As transformações e estratégias que decorrem do neoliberalismo para as políticas

sociais são inúmeras, entre elas destacam-se a universalidade dos direitos sociais, através da

“focalização” das políticas sociais que, de acordo com Soares (2003), este é um meio de

direcionar os serviços sociais aos “comprovadamente pobres” e, concomitantemente, diminuir

os gastos sociais. No neoliberalismo, esta intervenção do Estado fica cada vez mais

fragmentada, focalizada com ações paliativas que resolvam a situação de imediato. Outras

transformações que se dão por meio do ideário neoliberal é a “flexibilização” do trabalhador e

a “terceirização” do trabalho que amplia a contratação dos serviços privados para atuar na

rede pública.

Ainda de acordo com Soares (2003), restam duas estratégias do ideário neoliberal para

as políticas sociais: a descentralização e a privatização geralmente articuladas entre si. Com a

descentralização, observam-se limitados avanços relacionados à equidade de acesso a serviços

como a educação e saúde, além disso, a descentralização é uma fonte importante para a

corrupção e perda de controle fiscal. Por fim, a privatização dos serviços sociais corresponde

ao alto grau de mercantilização dos bens sociais, submetido à lógica dos bens materiais e,

portanto, do lucro.

Assim, observa-se este processo de privatização de diversas maneiras: seja

pela concentração direta de serviços privados, seja pela própria

mercantilização do aparato público através de “mecanismo de gestão”de

natureza privada e da possibilidade de cobrança dos usuários pelos bens

sociais ( SOARES, 2003, p.33).

A adoção da privatização como forma de efetivação das diferentes modalidades de

política social - entre elas a política educacional - é resultado da organização de empresas

capitalistas de prestação de serviços sociais para as quais o Estado repassa os recursos

públicos. “Reedita-se aqui, no seio da própria política social, o mecanismo básico de

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funcionamento da economia capitalista: a apropriação privada dos bens produzidos

socialmente” (SAVIANI, 2007, p. 228).

No que se refere ao papel do Estado frente ao neoliberalismo, este deve principalmente

garantir que o mercado tenha um bom funcionamento, agindo como um regulador e

facilitador do desenvolvimento do padrão neoliberal promovido pelo mercado. Quanto às

políticas sociais, a expressão “Estado Mínimo” é adequada, uma vez que o Estado diminui sua

responsabilidade de promover políticas que assegurem o bem estar social dos seus cidadãos.

Constata-se, portanto, que em decorrência da determinação estrutural do capitalismo

há uma separação entre política econômica e política social e a subordinação desta àquela. E

assim, “em consequência, do montante de recursos manipulados pelo poder público, a parcela

destinada ao setor social tenderá a ser sempre inferior àquelas destinadas aos demais setores.”

(SAVIANI, 2007, p. 227).

De acordo com Deitos (2010), no que diz respeito à distribuição da riqueza produzida

no Brasil, o orçamento estatal tem aumentado. Contudo, a parcela deste orçamento destinado

às políticas sociais é significativamente pequena em relação ao que se destina aos setores

econômicos hegemônicos. Assim, as mediações das políticas sociais por parte do Estado

capitalista estão diretamente condicionadas aos interesses hegemônicos. Deste modo, embora

o discurso político propague o intuito de aumentar o investimento em educação, o que se

percebe é a prioridade do apoio ao setor econômico e do pagamento da dívida externa.

Conforme o gráfico abaixo, é possível verificar qual foi o Orçamento Geral da União no ano

de 2011:

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GRÁFICO 1: Orçamento Geral Da União De 2011

Fonte: Auditoria da dívida cidadã, 2011.

Verifica-se no gráfico do Orçamento Geral da União de 2011, que de 1,571 Trilhão,

R$ 708 bilhões destinou-se para o pagamento de juros e a extinção gradual da dívida pública

federal. Valor este que representa 45% dos recursos do orçamento. No entanto, por outro lado,

o que percebemos é que, de fato, o pouco investimento nas políticas sociais e dentre elas a

política educacional para qual são destinados apenas 3% do Produto interno bruto (PIB) à

Educação. Para alguns teóricos:

[...] uma grande parcela da população nacional tem sido historicamente

excluída de participação na ordem capitalista, política e social existente. Isso

significa que, mesmo depois de a produção do país ter atingido um alto grau

de crescimento e satisfação, típico de uma economia capitalista moderna, a

sequela legada pelo “desenvolvimento” subordinado o impede de reter e

distribuir a riqueza que produz (XAVIER, 1990, p. 53).

“Constata-se, assim, que a ‘política social’ é uma expressão típica da sociedade

capitalista, que a produz como um antídoto para compensar o caráter anti-social da economia

própria dessa sociedade” (SAVIANI, 2007, p.228). No que se refere a política educacional no

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conjunto das políticas sociais, de acordo com Saviani, “[...] a defesa do ensino público e

gratuito e a reivindicação por mais verbas para a educação constituem um aspecto de luta pela

valorização da política social em relação à política econômica” (Idem, Ibdem, p. 230).

Embora a política social seja necessária neste padrão de acumulação, não há políticas

sociais que resolvam ou garantam com plenitude os direitos sociais de seus cidadãos, visto

que o Estado necessita intervir junto aos conflitos sociais e no aumento do consumo, para a

intensificação das atividades econômicas do país.

Diante do padrão neoliberal, as políticas sociais não tendem a acabar com as

desigualdades sociais, mas sim, mediar a relação do trabalhador que é explorado e do

capitalista que o explora. Desta forma, o principal objetivo deste novo padrão é administrar os

conflitos causados pelas desigualdades sociais. Como menciona Bianchetti (2001), atribui-se

às causas das desigualdades sociais a sorte e não as condições estruturais da sociedade. Neste

padrão de acumulação, o êxito ou o fracasso são atribuídos ao próprio indivíduo, assim, as

desigualdades no neoliberalismo passam a ser naturais, e, portanto, a igualdade não existe,

pois vai contra esta natureza, pois,

A partir da “naturalização” das desigualdades, o modelo devolve o conflito

para o seio de uma sociedade fragmentada, onde os “atores” se

individualizam ao mesmo tempo em que os sujeitos coletivos perdem

identidade. Muda, portanto, a orientação da política social: nem consumos

coletivos nem direitos sociais, senão que assistência focalizada para aqueles

com “menor capacidade de pressão” ou os mais “humildes” ou ainda, os

mais “pobres”. Dessa forma, o Estado neoliberal ou de “Mau-Estar” inclui,

por definição, uma feição assistencialista (legitimação) como contrapartida

de um mercado “livre” (acumulação) (SOARES, 2002, p.73).

Quanto ao contexto das desigualdades na educação, em nome do multiculturalismo e

dos desiguais, será promovida uma educação que os manterá em desvantagem frente às

classes favorecidas. Tal característica é própria do capitalismo, caracterizado por um

antagonismo entre as classes burguesa e trabalhadora, em que a primeira busca suprir seus

interesses individuais e a segunda sofre com as consequências desastrosas impostas pela

classe hegemônica.

No neoliberalismo, as políticas educacionais são compreendidas como constituintes

das políticas sociais. Desta forma, percebe-se cada vez mais que as estratégias deste ideário

burguês recaem também sobre o sistema educacional, primeiramente com a flexibilização do

trabalhador, em que a formação educacional está cada vez mais voltada para o mercado de

trabalho e não para a cidadania e/ou autonomia do indivíduo. Assim, o discurso em torno do

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desenvolvimento de competências se faz cada vez mais contundente. Outra estratégia

neoliberal que rebate diretamente na educação, é a descentralização da responsabilidade de

cada esfera do Estado pelos níveis educacionais. De acordo com o artigo 8 da LDB, “a União,

os estados, o Distrito Federal e os municípios organizarão, em regime de colaboração, os

respectivos sistemas de ensino” (BRASIL, 2010, p.15).

Por fim, a privatização dos serviços sociais, que recaem também sobre a política

educacional, entende-se que quando o ensino no país é privatizado, o Estado é desobrigado a

manter odireito à educação. Assim, Estado deixa de ser o responsável por promover

determinados direitos sociais. Para Soares (2003), este movimento é próprio da ideologia

neoliberal que produz um retrocesso histórico, no que diz respeito à origem do bem estar-

social, que sai do terreno do coletivo e passa para o âmbito do privado. De acordo com essa

visão, caberia às pessoas e às comunidades encontrarem suas próprias soluções para os

problemas sociais. Ou seja, as pessoas, as famílias e as “comunidades” devem

responsabilizar-se pelos seus problemas sociais, tanto pelas causas como pelas soluções.

Assim, embora a educação seja um direito social garantido em lei, o qual o principal

promotor deve ser o Estado em parceria com a família e a sociedade, isto não garante a

efetivação deste direito. Aparentemente o que se vê é que garantir o acesso ao direito

educacional tornou-se de total responsabilidade da família e do indivíduo, ou seja, é

considerado como “problema individual”, o que faz com que o Estado exima suas

responsabilidades para com seus cidadãos.

Dessa forma, a questão social2

passa a ser objeto de ações filantrópicas e de

benemerência, deixando de ser responsabilidade do Estado. “As ‘redes’ de proteção social

devem ser ‘comunitárias’ e ‘locais’. [...] caberia então ao Estado intervir com programas

sociais focalizados nos pobres [...]” (SOARES, 2003 p.27 grifo nosso).

Neste sentido, o Assistente Social entendido como um profissional que tem como

objeto as expressões da “questão social” e em seus princípios do código de ética elementos

como “Defesa intransigente dos direitos humanos” e sendo a Educação um direito de todo o

ser humano, o próximo capítulo será relevante para compreendermos a função deste

profissional para com a garantia do acesso à Educação.

2 “[...] a questão social se apresenta como um eixo central capaz de articular a gênese das expressões inerentes ao

modo de produzir e reproduzir-se do capitalismo contemporâneo, o que envolve as mudanças no mundo do

trabalho; suas manifestações e expressões concretas na realidade social; as estratégias de seu enfrentamento

articuladas pelas classes sociais e o papel dom Estado nesse processo, em que se destaca a política social e os

direitos sociais [...]”(BEHRING; SANTOS, 2009, p.275).

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2 SERVIÇO SOCIAL, EVASÃO ESCOLAR E A DEPENDÊNCIA QUÍMICA

Neste capítulo, será desenvolvido o estudo sobre a necessidade da atuação do Serviço

Social na área da Educação, tendo em vista que no ambiente escolar estão as mais diversas

expressões da questão social, as quais necessitam do enfrentamento da atuação profissional do

Assistente Social. Entre as expressões da “questão social” encontradas com frequência estão a

evasão escolar e a distorção idade-série. Contudo, na atualidade é visível o fenômeno da

dependência química ou drogadição3 entre adolescentes, o que caracteriza-se como um dos

fatores impeditivos da escolarização, e, portanto, uma terceira expressão da “questão social” a

ser discutida neste segundo capítulo. Assim, é fundamental apontar o papel que o Serviço

Social tem no enfrentamento destas situações, visto que são expressões nas quais o

profissional Assistente Social deverá intervir.

2.1 O SERVIÇO SOCIAL NA EDUCAÇÃO E EVASÃO ESCOLAR.

A presença do Assistente Social na área da educação tem uma maior discussão a partir

da década de 1990, quando as políticas sociais – da qual a política educacional faz parte -

tornam-se um campo de trabalho com maior abrangência do Serviço Social. Assim, a

atualização da lei de regulamentação da profissão pela lei n° 8.662, de 7 de junho de 1993, e

o amadurecimento do projeto ético-político profissional, foram fundamentais para as

reflexões sobre a necessidade do desenvolvimento do espaço do Serviço Social na Educação.

Foi no 30º Encontro Nacional do Conselho Federal e Conselhos Regionais de Serviço Social

(CFESS/CRESS), realizado em 2001, que houve as primeiras discussões acerca do tema

“Serviço Social na Educação”. Contudo, a necessidade de inserção do Assistente social no

campo educacional se coloca em 2011, a partir do relatório4 produzido pelo GT- Grupo de

3Nesta pesquisa são utilizados os termos dependência química, drogadição, dependência de drogas como

sinônimos por não haver um consenso cientifico a respeito dessa terminologia, optamos pelo uso livre dos

termos mais frequentemente utilizados. 4 “Pautou-se em, apresentar orientação para a proposição de projetos de Lei sobre a inserção do Serviço Social

na Educação; Contribuir para a intensificação da luta pela Educação como direito social e a consolidação do

Serviço Social nesta Política Pública, a partir da participação em Conferências, Conselhos de Educação e

Conselhos da Criança e do Adolescente e articulação com os Conselhos profissionais, sindicatos, executivo,

legislativo, Ministério Público e outras forças políticas; Apontar as reflexões teóricas e políticas que permearam

a constituição e história do Grupo de Trabalho do Conjunto CFESS/CRESS sobre o Serviço Social na Educação”

(CFESS/CRESS – setembro de 2011).

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Trabalho responsável doconjunto CFESS/CRESS a partir de uma pesquisa nacional junto aos

assistentes sociais inseridos no campo educacional.

Para Coutinho (2012), o profissional Assistente Social em âmbito escolar atua como

mediador entre a instituição escola, a comunidade, e a família em suas relações de conflito,

como, com o intuito de aprimorar o desenvolvimento educacional da criança e do adolescente

em suas relações sociais.

Além disso, a necessidade de inserção do Assistente Social na política educacional,

parte inicialmente da garantia do direito educacional para a cidadania, assim como a luta pelo

acesso à educação pública e de qualidade, este acesso garantido em lei, no qual o principal

responsável é o Estado.

Como afirma Novais (2001), a prática do Assistente Social situa-se numa perspectiva

crítica, e se faz participante da transformação social, portanto, ao profissional do Serviço

Social cabe desenvolver, entre suas atividades, a “elaboração e execução de programas de

orientação sóciofamiliar, visando prevenir a evasão escolar e melhorar o desempenho e

rendimento do aluno e sua formação para o exercício da cidadania” (NOVAISapudLOPES,

p.4, 2006). Assim, é partindo da educação para a cidadania que o aluno se reconhece como

sujeito escritor e construtor de sua própria história diante da educação recebida.

Segundo Almeida (2000), um Assistente Social, professor da Universidade Estadual

do Rio de Janeiro e precursor do Serviço Social na Educação, a prática do Assistente Social

na escola significa:

[...] pensar sua inserção na área de educação não como uma especulação

sobre a possibilidade de ampliação do mercado de trabalho, mas como uma

reflexão de natureza política e profissional sobre a função social da profissão

em relação às estratégias de luta pela conquista da cidadania através da

defesa dos direitos sociais das políticas sociais.( p.2).

Assim, fica reforçado um dos princípios do Código de Ética do Assistente Social, no

qual a “[...] ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda

sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis, sociais e políticos das classes

trabalhadoras” (CFESS, 1993). Além disso, o Assistente Social possui orientações normativas

sobre as competências e atribuições privativas em seu Código de Ética - (CFESS Resolução

273/93) para planejar, propor, elaborar e executar projetos sociais. Conforme Almeida (2003),

é importante pontuar que, para que o trabalho profissional do Assistente Social ganhe

visibilidade na política educacional, há necessidade que este utilize em seu trabalho sua

capacidade crítica, criativa e propositiva. Deste modo, poderá propor, elaborar, implantar e

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executar programas e projetos sociais que visem o enfrentamento das expressões da “questão

social”, além de realizar um trabalho de prevenção para determinadas situações.

A partir do parecer jurídico 23/00 de 22 de outubro de 2000 do Conselho Federal de

Serviço Social, cabe ao Assistente Social, que atuar com o Serviço Social escolar,

desenvolver atividades técnicas profissionais, dentre outras as seguintes funções:

Pesquisa de natureza sócio–econômica e familiar para a

caracterização da população escolar;

Elaboração e execução de programas de orientação sócio familiar,

visando prevenir a evasão escolar e melhorar o desempenho e

rendimento do aluno e sua formação para o exercício de cidadania;

Participação em equipe L, da elaboração de programas que visem

prevenir a violência, o uso de drogas e o alcoolismo, bem como que

visem prestar esclarecimentos e informações sobre doenças infecto-

contagiosas e demais questões de saúde pública;

Articulação com instituições públicas, privadas, assistenciais e

organizações comunitárias locais, com vistas ao encaminhamento de

pais e alunos para atendimento de suas necessidades;

Realização de visitas sociais com o objetivo de ampliar o

conhecimento acerca da realidade sóciofamiliar do aluno, de forma a

possibilitar assisti-lo e encaminhá-lo adequadamente;

Elaboração e desenvolvimento de programas específicos nas escolas

onde existam classes especiais;

Empreender e executar as demais atividades pertinentes ao Serviço

Social, previstas pelos artigos 4º e 5º da Lei 8662/93, segundo Parecer

Jurídico 23/00 de 22 de outubro de 2000, do Conselho Federal de

Serviço Social (CFESS, 2001, p.13).

De acordo com o CFESS (2000. p. 9-12), o Serviço Social na educação contribui para

a realização de diagnósticos sociais, bem como sugerindo alternativas, para as problemáticas

vivenciadas por crianças e adolescentes, tendo como objetivo melhorar suas condições de vida

escolar. Além disso, a profissão tem uma grande responsabilidade frente à educação no

enfrentamento das expressões da questão social. Assim,

A importância do Serviço Social nas escolas visa atenuar os índices de

evasão escolar e trabalhar a autoestima de crianças e jovens, pois ser

cidadão é direito, é estar inserido na sociedade, lutando em busca de

melhores condições de sobrevivência (COUTINHO; RIBEIRO;

BARREIROS, 2012,p.99, grifo nosso).

O papel do Assistente Social em âmbito escolar está pautado em garantir o acesso aos

direitos da criança, do adolescente e das famílias em vulnerabilidade social, e vincular estes

sujeitos à escola. Além disso, deve responder as expressões da “questão social” que

demandam da escola, entre eles a evasão escolar e a drogadição.

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Assim, conforme Almeida (2000), um fator que exige a presença cada vez maior dos

profissionais de Serviço Social na Educação, se relaciona às manifestações da “questão

social5”, que manifestam-se das mais diversas formas e produz efeitos comuns, tais como:

desemprego estrutural, aumento da pobreza, violência, drogas, moradia na rua, alimentação

insuficiente, fatores estes que implicam no aumento da exclusão e desigualdade social.

[...] A escola pública e, mesmo a particular, na esfera do ensino fundamental,

se vê atravessada, hoje, por uma série de fenômenos que, mesmo não sendo

novos ou estranhos ao universo da educação escolarizada, hoje se

manifestam de forma muito mais intensa e complexa: [...] a ampliação das

modalidades e a precoce utilização das drogas pelos alunos; a invasão da

cultura e da força do narcotráfico; a pulverização das estratégias de

sobrevivência das famílias nos programas sociais; a perda de atrativo social

da escola como possibilidade de ascensão social e econômica;

[...](ALMEIDA, 2000, p.4-5 grifo nosso).

São estas expressões que se apresentam no cotidiano escolar e, portanto, exigem uma

maior aproximação do Assistente Social com as demais áreas profissionais como estratégias

de enfrentamento das problemáticas que se manifestam no cotidiano escolar.

Percebe-se que no modo de produção capitalista e com a acumulação neoliberal, as

políticas sociais se apresentam fragmentadas, assim, a interlocução entre as mais variadas

políticas de Saúde, Educação, assistência social são mínimas, o que tem dificultado a

intervenção profissional em sua totalidade.

Contudo, é importante mencionar que estes acontecimentos não são fatores que se

constituem apenas em âmbito escolar; pelo contrário fazem parte fatores que estão vinculados

a outras formas de expressão dos problemas de âmbito social enfrentados pelo educando e sua

família.

De acordo com os apontamentos do CFESS (2001), em sua obra Serviço Social na

Educação, entre as problemáticas encontradas no ambiente escolar estão o baixo rendimento,

desinteresse pelo aprendizado e evasão escolar, e estes têm sido citados como as grandes

dificuldades de avanço destes alunos. O enfrentamento destes problemas constitui-se no

grande desafio do sistema de ensino público brasileiro, pois se é responsabilidade e dever do

Estado prover a Educação Pública, garantindo o acesso e permanência do aluno na Escola,

consequentemente, faz parte de suas competências garantir o sistema e a infra-estrutura

5Segundo Netto (2001, p, 42), “[...] a expressão ‘questão social’, surge como denominação do fenômeno do

pauperismo da população trabalhadora na Europa Ocidental que vivia os impactos da Revolução Industrial que

teve início na Inglaterra por volta do século XVIII. Netto afirma que pela primeira vez na história registrada, a

medida que aumentava a capacidade social de produzir riquezas, crescia a pobreza, tornando-se claro para os

observadores da época, independente de sua posição ídeo - política, que tratava-se de um novo fenômeno.”

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necessária para que seja assegurado e efetivado este direito. Inclusive no que tange a evasão

escolar, visto que, sendo o direito a educação indispensável para o desenvolvimento da

personalidade humana. O não acesso ao direito educacional torna indivíduos impossibilitados

de gozar plenamente de seus direitos sociais.

2.2 A EVASÃO ESCOLAR COMO UMA EXPRESSÃO DA QUESTÃO SOCIAL

A Evasão Escolar se constitui pelo ato dos alunos deixarem a instituição escolar, é

também um problema complexo que pode ser entendido como resultado do fracasso escolar

do estudante e da própria instituição escolar. Um fenômeno que se origina por meio dos mais

diversos motivos, que perpassam as relações sociais que se estabelecem no modo de produção

capitalista, seja pelo desemprego e/ou pelo não acesso aos direitos sociais.

Deste modo, a evasão escolar é compreendida como uma das “expressões da questão

social” que se constitui objeto de trabalho do Serviço Social. O não acesso a escola

caracteriza-se como um empecilho para o desenvolvimento do ser social, já que o priva do

direito à aprendizagem, o que acarreta em inúmeras perdas à classe trabalhadora, tanto em

relação a formação para o trabalho, como também para a cidadania.

Tendo em vista a situação preocupante da educação brasileira, o direito à educação

básica – que conforme o artigo 21 da LDB corresponde a educação infantil, ensino

fundamental e ensino médio – não tem sido assegurado de maneira efetiva para milhões de

brasileiros. O poder público, efetivamente, não consegue assegurar a permanência dos alunos

no sistema educacional, um dado comprobatório é do ano de 2006, em que:

[...] dos alunos matriculados, no ensino fundamental, 7,8% abandonaram os

estudos, ou seja, mais de 2,6 milhões de crianças e adolescentes que,

somados a aqueles que nunca estiveram na escola, fazem parte de um

cenário de exclusão, de falta de acesso às políticas sociais garantidas pelo

texto constitucional, pela LDB e, mais ainda, pelo Estatuto da Criança e do

Adolescente (CARNEIRO, apud LOUZADA; BRINGHENTTI, 2010, 238).

Além da situação de abandono escolar, outro dado que chama atenção é a distorção

idade série6. Dados apresentados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)

expressam que dos jovens entre 15 e 17 anos, 82% estavam matriculados na escola, contudo,

apenas 48% frequentavam o nível escolar adequado à sua idade. A partir destes dados,

6 Este conceito está relacionado com as reprovações dos alunos anualmente. Com isso, a distorção idade-série

leva alunos com mais idade a frequentarem séries iniciais. Como exemplo, alunos com 14 anos frequentando a 3º

série do ensino fundamental(BRASIL, Programa Fundescola MEC, 2006).

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verificam-se duas expressões da questão social: a primeira é a evasão escolar7 e a segunda é a

distorção idade - série. De fato, a evasão escolar ou o abandono escolar é uma questão que

preocupa e chama atenção. Segundo Almeida (2000), “As estatísticas demonstram, que em

algumas regiões do país 60% dos alunos que iniciam seus estudos não chegam a concluir a 8ª

série do ensino fundamental, ou seja, não concluem a segunda etapa da educação básica”

(p.11). Contudo, os dados apresentados são quantitativos e demonstram apenas em números

esta situação, o que dificulta visualizá-los de forma qualitativa, pois, não apresentam quais as

motivações e fatores que levam ao abandono escolar.

Observa-se que para o neoliberalismo e de acordo com os organismos multilaterais 8,

não são os fatores sociais e econômicos que interferem e determinam o processo de evasão

escolar; o abando escolar está articulado a fatores de ordem intelectiva. Estes organismos

entendem a educação como uma estratégia para o desenvolvimento econômico e igualitário

capaz de diminuir a pobreza absoluta. A falta de acesso à educaçãorepresenta, portanto, o

motivo do “atraso econômico e social”, o esgotamento do modelo econômico nacional

sustentado em mão de obra pouco qualificada, somado à iniquidade educacional, estaria

levando o país ao atraso econômico e social. [...]”(XAVIER; DEITOS, 2006 apud Deitos,

2010 p. 212). Assim, de forma, ideológica, a concepção neoliberal de que a iniquidade

(crueldade) educacional é a causa do atraso econômico do país tem sido disseminado de

maneira eficiente. Deste modo, a responsabilidade do Estado em acabar com as desigualdades

e a pobreza pelo viés econômico, acaba recaindo sobre o sistema educacional.

Outro mecanismo utilizado pela ordem burguesa é o de fazer acreditar que tanto o

sucesso como o fracasso escolar são fruto de razões de ordem intelectual, ou seja, dissimulam

tanto os mecanismos burgueses de discriminação, quanto os mecanismos da ordem

econômica. Assim, reforçam que as causas do fracasso escolar são apresentadas pelos

organismos multilaterais como desarticuladas das condições sociais e econômicas. Além

disso, dissimulam e descaracterizam a responsabilidade que o Estado tem em relação ao

processo de abandono escolar,transferindo esta responsabilidade para a escola.

7Entendida como resultado do fracasso escolar do próprio sistema educacional, e ainda como resultado da

questão social. 8 De acordo com Deitos (2010), O sistema de ensino se modificou significativamente nas duas últimas décadas,

assim é importante mencionar que tais mudanças, na maioria das vezes, atendem às exigências de organismos

multilaterais. A intervenção destes organismos, com medidas de ajuste estrutural para os países em

desenvolvimento abrangem a reforma do Estado, crise econômica, inserção dos países na economia mundial e

políticas sociais.As políticas sociais são direcionadas aos mais pobres, segundo o pressuposto de que é

necessário garantir educação básica para diminuição da pobreza e, portanto, deve ser prioridade das políticas

sociais através de programas e ações nacionais. A estimativa do Banco Mundial é acabar com a pobreza

absoluta, para tanto, apostam na educação básica como condição prioritária no alivio à pobreza e do

desenvolvimento.

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Inúmeros fatores levam ao abandono escolar, no entanto, não se constituem em

situações exclusivas à escola, e sim elementos vinculados a problemas de âmbito social

enfrentados pelo educando e sua família.

Outros autores como Ceratti (2008) procuram as causas da evasão escolar e do

fracasso escolar. Para este autorsãoelementosdeterminantes principalmente os fatores sociais e

culturais. Porém, também se incluem os fatores individuais, sociais e atribuem a

responsabilidade maior ao próprio sistema educacional, ao funcionamento das escolas e ao

estilo de ensino dos professores. O resultado do fracasso escolar é o produto da interação de

três tipos de determinantes:

[...] psicológicos: referentes a fatores cognitivos e psicoemocionais dos

alunos; socioculturais: relativos ao contexto social do aluno e às

características de sua família; institucionais: baseadas na escola, tal como,

métodos de ensino inapropriados, currículo e as políticas públicas para a

educação. Somado a esses três fatores, encontram-se também aqueles ligados

à economia e à política (Idem, Ibdem, p.22).

As causas do fracasso escolar são determinadas por uma diversidade de fatores, estes

estão ligados a aspectos como: a forma com que o estudante interage com o ambiente escolar,

a maneira comoestabelece suas relações com o saber e com o aprender, com os professores e

com os colegas, suas relações familiares, a estrutura da escola, além da dimensão social, com

as políticas públicas de educação e a desigualdade econômica e social da sociedade brasileira.

Neste sentido, a evasão escolar pode ser entendida como resultado do fracasso escolar e um

reflexo de diversos fatores entre eles, as desigualdades sociais, econômicas, entre estes fatores

estãoà omissão do Estado e da família para com o estudante e também a drogadição na

adolescência que pode ser um fator impeditivo de escolarização. Verifica-se então que os

altos níveis de pobreza e miséria da população brasileira se apresentam de formas variadas e,

portanto, o processo educacional também se constitui em um espaço de concretização desses

problemas.

Como expressam sujeitos A1, A3 e A5 o uso de drogas (ou dependência de drogas) foi

considerado o principal motivo que influenciou para a evasão escolar. Estes adolescentes

quando questionados sobre o quais os motivos que os fizeram abandonar a escola, os mesmos

responderam:

Por causa das drogas né! (A1.)

Ahhh, eu comecei a usar droga dai eu parei de gostar de ir na escola [...]

(A3).

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A droga! O crack! Eu fui pra maconha, depois eu fui pro crack e não sai

mais do crack, depois eu conheci o pó e agora eu não estava mais usando. A

droga chamou eu pra rua[...] Foi por causa disso e porque eu não gostava

também de estudar.... Pá nada, pá nada, pá nada... Os professores eram

ruins pra mim, como eu era ruim pra eles... Eu era muito rebelde na

escola[...].(A4).

A partir das falas dos adolescentes percebemos que de fato a dependência de drogas

foi o principal motivo que os levou à evasão escolar, no entanto, verifica-se também na fala

do sujeito 4, que além do uso drogas ter influenciado para a evasão, o fato dele dizer que não

gostava de estudar e que existia uma relação conturbada entre aluno e professor nos leva a

crer que o abandono escolar também foi resultado do fracasso escolar.

O enfrentamento dos referidos problemas constituem-se como um grande desafio do

sistema de ensino público brasileiro, este que é de responsabilidade e dever do Estado,

portanto, cabe a ele transformar parte da realidade, que produz o fracasso e a evasão escolar,

trazendo como consequência a exclusão educacional e concomitantemente a exclusão social.

Expulsar do mundo dominante significa literalmente colocar pra fora dos

parâmetros e das normas que regem as relações sociais; não apenas

marginalizar e sim desconsiderar a existência humana. [...] A exclusão

Social se manifesta no contexto social (pela fragilidade que se manifesta no

contexto das relações humana); [...] no contexto político pelo desrespeito aos

direitos fundamentais dos homens (BONETI, 2003, apud

LOUZADA;BRINGHENTTI, 2010 p. 245).

Para Louzada, e Bringhentti(2010), quando nos referimos aos educandos excluídos da

escola, não falamos apenas dos alunos estando fora do espaço escolar, mas dos educandos

excluídos na própria escola, em função da defasagem escolar, causada tanto pelas repetências,

como pela evasão escolar. Estes se encontram também excluídos do acesso a outros bens

culturalmente e economicamente produzidos pela sociedade. Encontram-se desprovidos do

acesso aos seus direitos sociais, políticos, educacionais. Por conseguinte, esses mesmos

sujeitos farão parte da imensa gama de analfabetos, de semianalfabetos, de desempregados de

trabalhadores informais, enfim de moradores de rua entres estas crianças e adolescentes que

tornam-se, na perspectiva da burguesia, o grande “estorvo” da sociedade, os excluídos.

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2.3A DEPENDÊNCIA QUÍMICA NA ADOLESCÊNCIA E A INFLUÊNCIA NA VIDA

ESCOLAR.

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a adolescência é a idade entre

12 anos completos e 18 anos incompletos. A adolescência pode ser compreendida como uma

fase de várias transformações, sendo elas biológicas, psíquicas e sociais. Por estes motivos,

essa fase da vida se caracteriza também como um momento estressante, de instabilidade e de

fragilidade emocional. Este é considerado um período crítico da vida de um ser humano,

sendo definida como um período marcado por grandes mudanças externas e internas. Surgem,

aqui, os grandes questionamentos dos adolescentes [...] Estes ganham uma autonomia

acentuada em relação a seus pais e, paralelamente, adquirem uma forte aliança com seus

colegas. (DUSENBURY,1992 apud ANDRADE;SCIVOLETTO, 1999, p.138).

Sabe-se que “criar moda”, correr risco e o desejo, de descobrir prazeres

variados são características da adolescência. Esta idade é, particularmente

sensível para todas as dependências e o encontro do adolescente com a droga

é um fenômeno muito mais frequente do que se pensa. (NIEL; GOLDSHMIDT, 2009, p. 39).

Esta fase caracteriza-se também pela curiosidade e pela busca incessante na procura de

prazer, elementos que representam um grande risco para dar início, seja como consumo

ocasional, indevido ou abusivo do uso das Substâncias Psicoativas (SPA)9. Além disso, um

dos principais fatores para o abuso e uso de SPA, legais e ilegais, por adolescentes é a

influência social por parte do grupo de amigos, tendo em vista que quanto maior a interação

do adolescente com um determinado grupo, com mais facilidade este será influenciado.

Andrade e Scivoletto (1999) apresentam outros fatores de risco que contribuem para o

abuso de drogas. De acordo com o autor, nesta faixa etária, além do uso de drogas por amigos,

também o uso pelos pais ou familiares pode ser um risco para o adolescente, além disso, um

desempenho escolar insatisfatório apresenta risco, ou um relacionamento deficitário com os

pais; baixa autoestima; sintomas depressivos; ausência de normas e regras claras; necessidade

9 “‘qualquer substâncias psicoativas’– ou seja, qualquer substância que atua sobre o sistema nervoso central

alterando o humor, percepção ou consciência – essa definição ignora o fato de que outras substâncias não-

psicoativas podem, em determinadas condições causar exatamente os mesmos efeitos. Mesmo um diurético

utilizado em determinadas condições poderia ser considerado droga, segundo essa definição. Substância que,

quando administrada ou consumida por um ser vivo modifica uma ou mais de suas funções, com exceção

daquelas substâncias necessárias para a manutenção da saúde normal”. (LEITE, 1999, p. 25-26). Ou seja, são

qualquer droga que altere o comportamento e que possa causar dependência, estas podem ser legais (álcool,

cigarro, remédios, etc) ou ilegais (maconha, cocaína, crack, etc).

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de novas experiências e emoções; baixo senso de responsabilidade; antecedente de eventos

estressantes; uso precoce de álcool. Estes elementos caracterizam-se como fator de risco para

o início do uso de drogas. Contudo, é importante frisar que quanto maior o número de fatores

de risco presentes, maior é a intensidade de uso.

De fato, os fatores externos (família, amigos entre outros) representam risco e

contribuem para o quadro de dependência, no entanto, não se pode descartar e nem subestimar

a capacidade do adolescente em decidir sobre si mesmo. Assim, não se deve atribuir a

responsabilidade do problema única e exclusivamente aos fatores externos.

A análise dos fatores de risco para uso de drogas na adolescência e seus

desempenhos insatisfatórios nas áreas de desenvolvimento psicológico

habilidades sociais, funcionamento familiar, desempenhos

escolar/acadêmico e habilidade de encontrar e se engajar em atividades

sociais aponta para a necessidade de se abordar essas deficiências como

parte de um tratamento mais abrangente (WALTER, 1993,

apudANDRADE;SCIVOLETTO, 1999, p.148).

Nesta faixa etária, o mais comum é que o consumo de drogas ocorra em três etapas,

iniciando-se com o uso de bebidas alcoólicas e cigarros, drogas lícitas, porém proibidas para

menores de 18 anos. Entretanto, o acesso a este tipo de droga é considerado fácil tendo em

vista que é comercializado em diversos estabelecimentos com fiscalização insuficiente, além

de seu baixo custo. Em seguida, está a maconha e, por último, se dá o consumo de cocaína e

crack. O depoimento do sujeito 1 elucida com clareza esta realidade, assim como os sujeitos

A2 e A3 ao serem perguntados há quanto tempo são usuários de drogas:

3 anos, só que não a fio. Antes era só maconha e cocaína daí eu parei não

quis mais saber, porque eu não era viciada, daí eu parei antes de eu viciar.

Daí o crack, a primeira vez que eu experimentei eu viciei. Você usava álcool

e cigarro? Eu bebia e fumava assim normal!(A1).

Comecei com seis anos! Vai fazer uns seis anos sete anos que eu uso (A2).

Fumo cigarro, desde os 10 anos, e droga desde os onze anos! (A3).

Ao serem apresentadas as etapas de uso pelo sujeito 1, verifica-se que o crack10

foi a

droga com mais impacto na vida da adolescente, ao contrário do álcool e do cigarro, cujo uso

10

“O consumo de crack causa um aumento rápido de cocaína no sangue, produzindo imediatamente os efeitos

psíquicos, com pico em 5 minutos. A intensidade da euforia obtida parece contribuir para o potencial de

dependência da droga; é também proporcional à fissura pela droga que surge logo que os efeitos começam a

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é considerado “normal”; e no caso do sujeito 3 o cigarro não é considerado uma droga. Isso se

dá por se considerar drogas apenas as substâncias ilegais.

Nos casos dos sujeitos A2 e A3,o início do uso de drogas se deu em ambos os casos na

infância; verifica-se um consumo de SPA precoce que pode acarretar prejuízos à estes

indivíduos, pois “quanto mais cedo se dá o início do uso de drogas, maior a chance de o

indivíduo tornar-se um usuário regular e apresentar problemas por este uso, pois quanto mais

cedo uma SPA atuar no cérebro imaturo, maior a chance de se causar dependência”

(ANDRADE; SCIVOLETTO, 1999, p. 141).

[...] A dependência constitui [...] uma patologia com sua própria

psicopatologia e caracterizada por compulsão, perda de controle e

manutenção do uso apesar da existência de consequências adversar relativas

a este uso. Trata-se de uma patologia crônica, progressiva, incurável e

potencialmente fatal, se não tratada (Leite, 1999, p.146).

São diversos os efeitos e as consequências da drogadição, entre eles o que mais chama

a atenção são os aspectos psicopatológicos, (apresentados por meio de disfunções de

memória, humor e afetividade) biológicos, (que entre outros causam danos e prejuízos

neurológicos e respiratórios) e, por fim, estão as consequências sociais: “[...] é frequente

ocorrer declínio de rendimento ou abandono em atividades escolares e profissionais.

Manifestações sociopáticas com desenvolvimento de ações transgressoras” (REZENDE,

1997, p.27). Em relação aos danos à saúde do indivíduo, o uso nocivo é caracterizado por

danos físicos ou mentais que ocorrem em período de um ano. Existem também outros

prejuízos além dos físicos e mentais. Estes outros acarretam na incapacidade de desenvolver

tanto as obrigações profissionais como as escolares.

Os sujeitos A1, A3 eA4 deram depoimentos a respeito da interferência das drogas na

vida escolar:

Não conseguia estudar, estava sob o efeito da droga e eu ficava muito

agressiva quando eu fumava o crack. Quando eu fumava o crack tipo se

alguém viesse falar comigo eu não conseguia falar, às vezes eu nem

escutava a pessoa falando comigo. Quando eu estudava sem o efeito de

droga eu era estudiosa, quando eu fumava droga, daí eu comecei a faltar na

escola por isso que eu reprovei. Porque eu não ia à escola pra fumar atrás

do ginásio a noite inteira, [...] (A1 ).

Eu ia drogado pro colégio e não conseguia refletir as palavras[...] (A4).

Acho que foi, porque eu comecei a gostar da droga e não da escola (A3).

dissipar-se, 10 a 20 minutos depois, levando a nova administração. Os efeitos desagradáveis são igualmente”

(LEITE, 1999, p.28).

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Conforme se observou, os sujeitos A1 e A4 afastaram-se da escola para consumir

drogas, perdendo assim a motivação pelo conhecimento. Os autores Andrade e

Scivoletto(1999), analisa como o uso de SPA afeta, diretamente, a cognição, o humor, a

capacidade de julgamento e também as relações interpessoais, a perda na capacidade de

processar novas informações na capacidade de concentração e retenção causada pelo uso de

droga podem prejudicar o desempenho escolar e o rendimento final de muitos adolescentes

que fazem o uso de SPA.

Entre os fatores de proteção para evitar e/ou retardar o uso de drogas, um deles pode

ser a família11

. Estudos mostram que quanto mais fortes os laços familiares, menor a

influência do grupo de amigos sobre o adolescente. Neste sentido, o papel da família é crucial,

tendo em vista que é na instituição familiar que o adolescente estabelece suas relações

primárias. A família influencia a forma como o adolescente reage à ampla oferta de droga na

sociedade atual. Assim relações familiares saudáveis desde os primeiros anos de vida da

criança servem como fator de proteção para toda a vida do adolescente. A família deve

promover diferentes tipos de apoios considerados básicos no tratamento aos seus membros,

entre eles o apoio afetivo e emocional.

Jovens em que as relações afetivas são mais precárias têm maior risco de abusarem de

SPA. Para demonstrar esta realidade, utilizamo-nos da fala do sujeito A1 e seu

familiarosujeitoA6. Assim, quando questionado sobre a reação da sua família quando

abandonou a escola, o sujeito 1 responde:

Não falaram nada, sempre me criticando, falava que eu não valia nada, que

eu era isso que eu era aquilo. Ai eu pegava e “batia” as coisa e saia de casa e

só voltava 1 mês, 2 meses depois (A1).

Da mesma forma, quando o familiar é questionado sobre acreditar se o uso de drogas

influenciou para o abandono escolar o mesmo respondeu:

Acho que foi, no começo foi isso ai, foi isso. Porque ela tinha muita amiga,

muito amigo, às vezes ia posar na casa de uma amiga, isso ai que não tá

certo né! (A1).

11

“A família é o primeiro grupo social do ser humano. Ela é responsável pela transmissão dos valores, padrões

socioculturais de conduta, cuidados biológicos, emocionais e pela socialização do individuo. É o elo inicial de

articulação do individuo com a sociedade” (REZENDE, 1997, p.33). Vale ressaltar, que não há um modelo ideal

de família.

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Assim, a partir dos dois relatos, observa-se que ambos relatam a relação familiar

conturbada e da influência do grupo de amigos sobre a adolescente. Muitas vezes, os

familiares tendem a responsabilizar apenas as “más companhias”, eximindo, assim, o

adolescente e a própria família. Além disso, é importante frisar que o encontro do adolescente

com a droga não acontece por acaso, existem muitos fatores que levam ao uso. E a família ou

mesmo o tempo que pode ser um fator de proteção, pode ser um fator de risco.

É importante mencionar também que não se pode eximir a responsabilidade do

adolescente em relação aos seus atos, muitas vezes a família tem dificuldades de estabelecer

limites aos comportamentos dos adolescentes, o que representa um risco para o uso de drogas,

assim como, para o rompimento com as atividades escolares do mesmo e o envolvimento com

atividades ilegais. Tal afirmação pode ser constatada a partirda resposta do sujeito A4, ao ser

questionado sobre a reação da família quando o mesmo decidiu abandonar a escola este

respondeu:

Eles falaram- vai pro conselho, vai pro conselho, vai pra policia. Eu falei-

eu quero que se foda! Eu quero o mundo do crime, crime, crime... E através

disso ai eu matei dois, não quero mais matar, num quero nunca mais tirar a

vida de ninguém [...] (A4).

É comum que nesta fase da vida os adolescentes sejam rebeldes e não respeitem os

limites impostos pelos pais, assim, a família apela para autoridades como a polícia e o

conselho tutelar. Além disso, verifica-se a falta de interesse do adolescente em continuar

estudando e seu envolvimento em atividades criminosas.

O envolvimento de jovens usuários de drogas com atividades legais são consideradas

características do uso nocivo de SPA, entre as atividades ilegais mais comuns desenvolvidas

por adolescentes dependentes de drogas está o tráfico de drogas. Uma atividade que se

apresenta inicialmente na realidade mundial, mas, que atualmente ultrapassa os muros da

escola, o que se caracteriza como uma ameaça para o ambiente escolar.

2.4 O ENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM O TRÁFICO NAS

ESCOLAS

Em relação ao sistema econômico vigente, o papel que este sistema desempenha em

relação à questão da drogadição, relaciona-se com o tráfico de drogas. O consumo de drogas

sempre existiu, desde os primórdios da sociedade estas substâncias eram utilizadas para fins

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terapêuticos, alimentícios ou também religiosos. No entanto, a problemática que se estabelece

é a dimensão que o comércio dessas drogas atingiu nas últimas décadas além de sua

importância política e estratégica, tendo em vista que atualmente uma das questões mais

polêmicas é o tráfico de drogas. Na década de 1970, o tráfico de drogas expandiu-se e se

transformou em indústria. [...] Em decorrência disso, o consumo se altera, passado a

corresponder à lógica do mercado e não mais aos desejos de grupos. (FEFFERMANN, 2006,

p.24).

É importante salientar que o consumo e a procura de drogas asseguram um altíssimo

rendimento e acúmulo de capitais, transformando o tráfico de drogas no segundo grande

negócio mundial, atrás apenas da indústria de armas. Assim, as atividades do tráfico aparecem

como uma das formas mais lucrativas da economia informal. Conforme Feffermann (2006), a

indústria de drogas ilegais movimenta mundialmente cerca de 400 bilhões de dólares, o que

corresponde a 8 % do comércio internacional. Em 2000, o tráfico de drogas movimentou no

mundo um trilhão e meio de dólares. O que se verifica, então, é que as relações entre tráfico e

a sociedade capitalista, embora sejam estabelecidas pela confrontação, existe também uma

cooperação para que estas atividades lucrativas ocorram. Embora este seja caracterizado como

um setor econômico ilegal, busca ao mesmo tempo acumular capital, e,portanto, reinveste

parte de seus lucros, para conquistar mercados.

Percebe-se essa relação intrínseca entre o capitalismo legal e o dinheiro oriundo de

atividades ilegais a partir de Fefferman, para o autor “a história está a nos mostrar

cotidianamente que o capitalismo ‘honrado’ e ‘civilizado’ e o mafioso nunca andaram muito

longe, e um apreendeu com o outro, e frequentemente se retroalimentam”. ( 2006, p.35).

Assim, é possível compreender que embora as atividades de tráfico e o comércio de

drogas sejam práticas ilegais, isto é, crime, estas atividades estão correlacionadas ao modo de

produção capitalista, visto que o tráfico de drogas é necessário e lucrativo para o sistema

econômico mundial.

Estas atividades ilegais estão cada vez mais próximas dos adolescentes e podem ser

encontradas no ambiente escolar, conforme a fala de alguns dos sujeitos desta pesquisa, ao

serem questionados sobre se houve contato com drogas nas escolas, os mesmos responderam:

[...] eu só passava droga na escola,[...] funcionava que os usuários

chegavam para mim, e pedia o quanto eles queriam e eu dava, só que

ninguém desconfiava de nada era tudo “desbaratinado”, depois que eu virei

“nóia” acabou com tudo! Eu fumava minhas drogas [...]. Daí não dava pra

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passar, eu fumava tudo. Eu comprava pra mim fumar ai me acabei, fumei

tudo as minha coisa, tudo que eu tinha foi pro lixo (A1).

Neste relato, percebemos que é a própria adolescente quem comercializava as drogas

dentro da escola, a mesma diz que a escola não tinha conhecimento do ocorrido e que só

acabou com esta prática quando não conseguia mais realizar em decorrência dos efeitos do

uso de drogas. O sujeito 4 também relatou seu envolvimento com tráfico na escola, quando

questionado se já tentou retornar à escola, o mesmo respondeu:

Já, lá em Londrina, Mas lá nós vendia droga dentro do colégio, lá era uma

boca de fumo dentro do colégio [...] (A4).

Evidencia-se que o fornecimento de drogas não se dá apenas por pessoas

especializadas, ou seja, por traficantes qualificados, mas sim, por intermédio dos próprios

estudantes, como expressao sujeito 4, ao falar sobre o tráfico de drogas o adolescentes,

expressa que:

A droga chamo eu pra rua, porque na rua eu conheci os cara, os drogado

que me deram droga pra mim vender pra eles, ai os traficante alto que tem

tudo hoje, tem carro moto, moto carro, e eu estou aqui no HU me tratando

por causa deles. (A4).

O tráfico de drogas é crime inafiançável: a pena mínima é de três anos e a máxima, de

quinze anos. O fato de as penas para adolescentes serem socioeducativas e terem menos

“peso” em relação às penas para pessoas maiores de 18 anos, faz com que estes adolescentes

sirvam para intermediar a relação do traficante “especializado”, que tem neste ato um modo

de ganhar dinheiro. Para Feffermann (2006), e como o próprio sujeito 4 expressa estes

traficantes são: “[...] os que ficam ricos, não aparecem nas estatísticas da Secretaria de

Segurança Pública, ou do sistema penitenciário [...]” (FEFFERMANN, 2006, p.141).

Neste sentido, verifica-se, que a escola passou a ser um espaço que espelha problemas

sociais que são externos a ela. Além do uso de drogas, o tráfico de drogas passa a ser um dos

problemas que necessita de intervenção especialmente no âmbito escolar. No entanto, não

cabe a escola e nem é responsabilidade da mesma solucionar estas problemáticas. Contudo,

atualmente a intervenção na instituição escolar se dá por meio da prevenção ao uso de drogas,

como expressa o próximo subitem.

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2.5 A ESCOLA COMO UMA ALTERNATIVA PARA A PREVENÇÃO DA

DEPENDÊNCIA QUÍMICA

Tendo em vista que a escola é uma instituição em que todos os adolescentes devem

estar inseridos, obrigatoriamente, até a conclusão do ensino fundamental (atualmente

corresponde da 6ª à 9ª série), por encontrarem-se em idade escolar, hoje, há um crescente

número de campanhas e projetos de prevenção para erradicar o consumo de drogas entre os

estudantes, porém, estas iniciativas não são capazes de erradicar o consumo de SPA no

ambiente escolar, tampouco, nesta faixa etária. Muitas vezes, o consumo de drogas ocorre

dentro da instituição ou, pior ainda, algumas vezes, dentro da própria sala de aula, como

expressam os sujeitos A4 e A5 ao serem perguntados se tiveram contato com drogas dentro da

escola, os mesmos relataram:

Sim, tive, atrás do colégio, maconha. Eu conheci a maconha atrás do

colégio... No contra turno eu ia fazer contra turno e pá aparecia o pia lá

com fumo, nós uso fumo, e eu não larguei mais o fumo. Isso ai eu já tinha 11

anos. 6 anos nessa vida não quero mais, pra nada [...].(A4).

Já, cocaína, eu cheirava em baixo da carteira, eu pegava, a professora

“desbaratinava” e eu cheirava, eu e meu primo, na mesma sala. (A5).

O relato dos dois adolescentes expressa nitidamente o quanto comum é o uso de

drogas na ambiente escolar e o início do uso de drogas se dar na escola. Outro fato

interessante que consta na fala do sujeito 4, é a motivação para o tratamento. Percebe-se que

embora a motivação para o tratamento seja um fator importante, este não se encontra em

todos os adolescentes.

A prevenção, neste sentido, tem um papel de destaque como meio de reduzir este

problema. As orientações gerais sobre prevenção ao uso de drogas, que constam na Política

Nacional Sobre Drogas, incluem a escola nesta prática, assim,

As ações preventivas devem ser planejadas e direcionadas ao

desenvolvimento humano, o incentivo à educação para a vida saudável,

acesso aos bens culturais, incluindo a prática de esportes, cultura, lazer, a

socialização do conhecimento sobre drogas, com embasamento científico, o

fomento do protagonismo juvenil, da participação da família, da escola e da

sociedade na multiplicação dessas ações (BRASIL, 2005, p.4).

Neste sentido, a escola passou a ser o espaço privilegiado para o desenvolvimento de

atividades preventivas, visando uma educação para a saúde, assim como expressa Andreolie

Moreira (2009), “A partir de 1982, a educação destinada a prevenir o abuso de drogas foi

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considerado uma necessidade universal e premente pela Organização das Nações Unidas para

Educação a Ciência e a Cultura (UNESCO)” (p.53).

Verifica-se que estudo associado ao risco para uso indevido de drogas inclui o

absenteísmo escolar (faltas na escola), considerado como o fator mais importante

especialmente entre os estudantes mais jovens. Neste sentido, fica claro, que ao serem

fortalecidos os vínculos do aluno com a escola, realiza-se também uma intervenção

preventiva.

Observa-se, que quando esta intervenção preventiva da escola não se materializa,

vivenciamos relatos como o da familiar do sujeito 2, que apresentam as dificuldades que teve

em relação a interferência da instituição escolar, quando o adolescente abandonou a escola. A

familiar relata que

A escola nunca veio atrás, quem foi atrás fui eu, a escola nunca veio,

nenhuma das vezes, quem foi atrás fui eu! (A7).

Sobre os elevados níveis de repetência pelo sujeitoA2 o mesmo expressa as

dificuldades quando tentou voltar à escola, ele diz:

[...]porque daí eles não deixam, 17 anos é muito ruim pra entrar na 5ª série

eu parei na 5ª, eles não deixam estudar. (A2).

Como expressa o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seu artigo 56, cabe

aos dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental, “comunicar ao Conselho Tutelar os

casos de: II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos

escolares; e também III - elevados níveis de repetência” (BRASIL, 2010, p.25) .

Percebemos, a partir da fala do adolescente e de sua familiar, que os recursos que a

escola poderia utilizar para reinseri-lo na instituição por motivos da evasão escolar ou até

mesmo a distorção entre idade e série não foram totalmente utilizados como poderiam e

deveriam ter sido.

No que se refere a prevenção, e a intervenção por parte da escola nos casos de evasão

escolar por motivo da dependência química. A ampliação do campo de intervenção no

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ambiente escolar,inclui comunidade escolar e o desenvolvimento de relações intersetoriais

entre a educação e a saúde, o que nos remete à proposta da escola promotora de saúde12

.

A Lei de diretrizes e bases (LDB) estabelece os parâmetros curriculares

nacionais (PCN). Em relação à educação em saúde, propõe se trabalhar as

duas dimensões da saúde: individual (bloco “autoconhecimento para o auto

cuidado”) e social (bloco “vida coletiva”). Entre os conteúdos a serem

desenvolvidos, está incluído o tema “drogas”, que, assim como os demais

temas de educação em saúde deve ser trabalhado transversalmente às

cadeiras básicas, de forma multidisciplinar, ou seja, faz parte dos chamados

temas transversais (ANDREOLI; MOREIRA, 2009, p.56).

Parte da abordagem integral da Escola Promotora de Saúde envolve o

desenvolvimento de parcerias entre a escola, os familiares dos alunos, os dispositivos de

atenção à saúde da comunidade, outras instituições de ensino e organizaçõesgovernamentais e

não governamentais (ONGs). Desta forma, as atividades promovidas na escola teriam a

participação e o apoio da comunidade local, sendo reforçadas por atividades desenvolvidas na

comunidade (ANDREOLI, MOREIRA, 2009, p.59).

A mudança no estilo de vida inclui a abstinência completa de qualquer SPA

o desenvolvimento de atitude valores e comportamento sociabilizantes,

assim como o desenvolvimento de aptidões direcionadas a uma melhora das

relações interpessoais e do desempenho escolar/acadêmico e vocacional.

(ANDRADE; MOREIRA, 1999, p.148).

É importante ressaltar que a prevenção, de fato, é primordial para o desenvolvimento

saudável na adolescência. No entanto, embora a prevenção seja importante, outra questão que

deve ser pensada é sobre o tratamento da dependência química. O tratamento se dá juntamente

com a intervenção da sociedade, da família, mas, principalmente do Estado por meio das

políticas antidrogas. Deste modo, é necessário definir qual é o papel que o Estado expressa

diante da dependência de drogas.

De acordo com Feffermann (2009), a “cultura da droga” foi construída em um espaço

abandonado pelo Estado, no qual as políticas públicas visam atender aos interesses do

mercado. Andreolli e Moreira (2009) expressam que

12

A Escola Promotora de Saúde (EPS) pode ser definida como uma escola com políticas, procedimentos,

atividades e estruturas que resultem na proteção e promoção à saúde e ao bem-estar de todos os membros da

comunidade escolar. Para termos uma escola promotora de saúde, devemos considerar dois aspectos educação

em saúde; ambiente escolar, comunidade escolar, parceiros e serviço (ANDREOLI; MOREIRA, 2009, p.56).

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As políticas antidrogas aparecem como estratégias do governo, pois

servem[...] para a identificação, perseguição e reclusão de anormais, pessoas

dissonantes com relação às ordens social e moral estabelecidas.

Consumidores de drogas são rastreados pelo seu “desvio moral” e pelo

“perigo sanitário” que representam [...] (p.21).

A grande problemática em relação ao Estado é que este assume um caráter

repressor,impedindo o esclarecimento dos possíveis fracassos de suas políticas sociais e de

segurança. O Estado, então, procura culpados para explicar uma situação em que a

responsabilidade é sua. Nesta perspectiva, o Estado se exime do dever de legislar e

desenvolver políticas públicas específicas, em consenso com outras que expandam a proteção

social, garantindo o exercício de cidadania, de tal modo, a responsabilidade que antes era do

Estado, agora é dirigida para o indivíduo, que coloca o poder público em menor grau de

compromisso.

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3REPRESENTAÇÃO GRÁFICA E ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS DA

PESQUISA DE CAMPO- PERFIL DOS ADOLESCENTES INTERNADOS NA ALA

PSIQUIÁTRICA DO HUOP.

O interesse pelo tema surge em 2011, no estágio supervisionado I em Serviço Social, no

âmbito do Hospital Universitário do Oeste do Paraná- Cascavel. Especificamente no

alojamento psiquiátrico, cujos pacientes internados na ala, são crianças e adolescentes

dependentes químicos. Estes estão internados para tratamento de desintoxicação de drogas no

organismo, caracterizado pelo uso indiscriminadode inúmeras drogas, entre elas, o álcool, o

cigarro, a maconha, a cocaína, e também o crack. No entanto o que chamou atenção foi

constatar que grande parte destes pacientes não frequentava a escola, embora todos estivessem

em idade escolar.

Assim para este trabalho, foram analisadas as fichas de cadastro psiquiatria Serviço

SocialHUOP(anexo B), como forma de responder um dos objetivos desta pesquisa, o qual se

refere ao perfil dos adolescentes internados na ala psiquiátrica do HUOP13

, o grau de

escolaridade e a faixa etária dos mesmos.

Devido o fato do início do estágio se dar no ano de 2011. Optou-se, portanto, em

realizar por meio de estudo documental, um levantamento do perfil dos adolescentes

internados entre o período de janeiro de 2010 e dezembro de 2011, a fim de demonstrar em

dados qual a situação escolar dos adolescentes dependentes de drogas internados no hospital.

O levantamento de dados realizados baseou-se nos seguintes itens:Sexo, idade, situação sócio-

familiar, tempo de uso de drogas, situação escolar, e o uso de SPA entre elas o álcool, cigarro,

maconha, cocaína e crack.

Durante o período de janeiro de 2010 a dezembro de 2011 ocorreram 246 (duzentos e

quarenta e seis) internamentos de crianças e adolescentes na ala psiquiátrica do HUOP. No

entanto, apenas um total de 125 fichas foram contabilizadas. Por motivos como: utilização

apenas das fichas dos adolescentes, situações como a não realização de algumas fichas e

também o fato de que entre os 246 internamentos, muitos já haviam sido internados mais de

uma vez durante os dois anos. Optou-se por não contabilizar as fichas de reinternamento dos

adolescentes no hospital. Desta forma, foram contabilizados durante os dois anos 125 (cento e

vinte e cinco) cadastros, realizados pelo setor do Serviço Social. Abaixo se apresenta o perfil

destes adolescentes:

13

O Hospital Universitário do Oeste do Paraná – HUOP é um órgão suplementar da Reitoria da Universidade

Estadual do Oeste do Paraná, criado através da Lei Estadual 13.029/2000. Originalmente denominado Hospital

Regional de Cascavel (HRC), sua estrutura física foi inaugurada no ano de 1989.Localiza-se na Avenida

Presidente Tancredo Neves nº 3000, no Jardim Santo Onofre do Município de Cascavel.

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Sexo e idade

Dos 125 internamentos ocorridos no período de pesquisa dos formulários (Janeiro de

2010 a dezembro de 2011), 86 usuários são do sexo masculino, o que representa 69% do total,

e 39 são do sexo feminino, ou seja, 31% destes adolescentes. Assim, verifica-se que durante

os anos de 2010 e 2011 o número de adolescentes do sexo masculino foi o que predominou

em relação ao número de adolescentes do sexo feminino conforme pode se verificar no

gráfico abaixo:

Gráfico 2: Distribuição dos Adolescentes quanto ao Sexo

Fonte: Ficha de cadastro psiquiatria serviço social HUOP, 2010-2011.

Essa diferença entre ambos os sexos, ou seja, o fato de o uso de drogas predominar

entre adolescentes do sexo masculino parece estar atrelado mais a fatores sociais e culturais

do que a fatores biológicos. De acordo com Bessa e Pinsky (2009)14

, socialmente, o que se

espera dos adolescentes do sexo masculino em relação a seus comportamentos é que estes

apresentem desde a infância um comportamento de luta, de força, ao contrário do

comportamento que é esperado das meninas: delas, é esperado um padrão social de

comportamento um pouco mais dócil, meigo. Várias drogas apresentam efeitos que

potencializam comportamentos de força e coragem que os meninos devem apresentar.

Segundo os autores, a pressão exercida pela sociedade para que os meninos adotem

comportamentos desta procedência, poderia ser um fator de risco que os levaria ao consumo

de drogas. Deste modo, como este padrão de comportamento esperado das adolescentes é

14

( BESSA; PINSKY, 2009 apud GUND 2011 p. 104).

86; 69%

39; 31%

Masculino

Feminino

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oposto ao dos meninos, este seria um dos motivos pelos quais há menos mulheres usuárias e

dependentes de substâncias psicoativas.

Do levantamento realizado sobre a idade, o resultado foi variável, pois entre os

adolescentes entre 12 e 17 anos, verificou-se que dos 125 adolescentes internados, 6 tinham

12 anos (5%), 9 estavam com 13 anos (7%), 15 destes adolescentes estavam com 14 anos no

período de internamento. No entanto, houve um aumento significativo de internamentos de

adolescentes entre 15 e 17 anos, visto que, adolescentes com 15 anos representaram 24% do

total. Assim como, adolescentes com 17 anos que também representaram 24% dos dados

coletados. Contudo, há uma prevalência em relação aos adolescentes com 16 anos, os quais

representaram 28% do total de internamentos, idade que apresentou maior número de

adolescentes, conforme gráfico abaixo:

GRÁFICO 3: Distribuição dos Adolescentes por Idade

Fonte: Ficha de cadastro psiquiatria serviço social HUOP

De modo geral, percebe-se um crescimento no número de internamentos a partir dos

15 anos de idade, e finalizando aos 17 anos. Um grande número de internamentos aos 15, 16 e

17 anos de idade, pode estar ligado ao fato de que a Ala Psiquiátrica do HUOP somente

atende crianças e adolescentes até 17 anos e 11 meses, e a rede de atendimento aos adultos ser

mais escassa em serviços para tratamento. O aumento de internamentos nesta faixa etária

pode estar vinculado à dificuldade de acesso ao atendimento de adultos na rede pública de

saúde mental.

O número de internamentos (trinta) entre adolescentes de 12 à 14 anos também chama

a atenção, visto que, esta fase se caracteriza como a fase inicial da adolescência, e que talvez

6; 5%

9; 7%

15; 12%

30; 24% 36; 28%

30; 24% 12 anos

13 anos

14 anos

15 anos

16 anos

17 anos

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o uso de drogas tenha ocorrido muito antes deste período, ou seja, na infância15

. O mesmo

ocorre com os adolescentes entre 15 a 17 anos, o fato de terem sido internados somente nesta

idade não significa que o início de uso das drogas tenha ocorrido no mesmo período. Assim

como elucidam os sujeitos A2, A3,A4 e A5, que embora hoje sejam adolescentes, todos

iniciaram o uso de drogas na infância, como sugerem em suas falas sobre há quanto tempo

usam SPA: “[...]comecei com seis anos” (A2), “Fumo cigarro desde os 10 anos, e droga desde

os onze anos” (A3), “Desde os 6 anos” (A4), “Fazem 4 anos” (A5, hoje o adolescente está

com 15 anos). Além da idade de início do uso de drogas, é importante ressaltar o tempo de

uso de drogas conforme gráfico abaixo:

GRÁFICO 4: Dados em Relação ao Tempo de uso de Drogas Pelos Adolescentes:

Fonte: Ficha de cadastro psiquiatria serviço social HUOP

O gráfico em questão apresenta os dados referentes há quanto tempo os adolescentes

fazem uso de drogas, constatou-se, portanto, o número de 4 adolescentes (3%) e 2

adolescentes (1%), que fazem uso de drogas há mais de 7 anos, o que caracteriza que estes

adolescentes iniciaram o uso ainda na infância. No entanto, o que chama atenção é o fato de

que a grande maioria, ou seja, 34% dos adolescentes consomem drogas entre 1 e 2 anos e 32%

entre 3 e 4 anos. Também é necessário enfatizar que 17% fazem uso de drogas há menos de 1

ano, o que pode caracterizar que o uso se deu na adolescência.

Organização sóciofamiliar

15

Conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) considera criança pessoas entre zero e 12 anos

incompletos.

21; 17%

42; 34% 40; 32%

16; 13%

4; 3% 2; 1%

Menos de 1 ano

1 à 2 anos

3 à 4 anos

5 à 6 anos

7 à 8 anos

Mais de 9 anos

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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)define família enquanto um

“[...] conjunto de pessoas ligadas por laços de parentesco, dependência doméstica ou normas

de convivência, residente na mesma unidade domiciliar, ou pessoa que mora só em uma

unidade domiciliar[...]” (IBGE, 2010, s.p). Adota-se a concepção de família, para fins desta

pesquisa, de pessoas residindo na mesma casa, mas não necessariamente ligadas por laços de

parentesco, mas sim de afetividadecomo verificado nas combinações encontradas entre os

adolescentes, demonstradas no gráfico abaixo:

GRÁFICO 5: Distribuição dos Adolescentes quanto a Composição Familiar

Fonte: Ficha de cadastro psiquiatria serviço social HUOP

Na pesquisa, a composição familiar mais citada foi a família monoparental constituída

por mãe ou pai e filhos, um dado informado por 69 adolescentes (48%) entre as 125 fichas

analisadas, ou seja, quase a metade das famílias são monoparentais.

A segunda forma de composição familiar mais citada é a de família convivente. O

IBGE considera como famílias conviventes as constituídas de no mínimo duas pessoas. É

aquela que comporta diferentes gerações que residem no mesmo local, na maior parte das

vezes por avós com filhos e netos. Nesta situação, encontram-se 26 adolescentes, totalizando

18%. Essa tendência pode ser explicada pelo aumento da expectativa de vida e pela

desregulamentação do mercado de trabalho, no qual, muitas vezes, a aposentadoria é a única

renda garantida da família. O último censo do IBGE, realizado em 2010, demonstrou que

65,3% dos idosos eram considerados pessoas de referência no domicílio (IBGE, 2010, s.p).

Constatou-se também que a família nuclear simples (formada por pais e filhos) foi a

24; 17%

69; 48%

26; 18%

25; 17%

Família núclear

Família monoparental

Família convivente

Situação de rua

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terceira mais citada na forma de organização familiar, sendo mencionada por 24 adolescentes,

o que representa 17% do total. No Brasil, ainda há um predomínio das famílias nucleares,

porém este modelo vem sofrendo queda, diferente do aumento das famílias monoparentais e

famílias conviventes que estão aumentando. Outro dado que se verifica entre os adolescentes

é a condição de moradia nas ruas, dos 125 adolescentes, 6 não responderam qual sua

composição familiar, motivados pelo fato de estarem em situação de rua e não terem vínculos

com familiares. No entanto, outros 19, embora também estivessem em situação de rua,

indicaram qual sua composição familiar, totalizando assim 17% da população total.

Renda familiar

A situação da renda também chama a atenção pelo fato de 20 famílias (19%) entre os

125 entrevistados não possuem renda fixa, como expressa o gráfico abaixo:

GRÁFICO 6: Distribuição dos Adolescentes quanto a Renda Familiar

Fonte: Ficha de cadastro psiquiatria serviço social HUOP.

Verificou-se que, entre as famílias que citaram não possuir renda fixa, estas estão

inseridas no mercado de trabalho informal, e realiza diversas atividades, entre elas a coleta de

materiais recicláveis.

Embora 27 famílias, ou seja, 26% recebam de 2 à 3 salários mínimos e 10 famílias

recebem mais que 3 salários mínimos, a renda mensal que se sobrepõe e foi apresentada em

48 fichas é de 1 à 2 salários mínimos representando 45% das famílias. Esta situação da renda

advém da capacidade das famílias em prover seus mínimos sociais e poder potencializar a

vulnerabilidade a que estão expostas, dificultando seu cuidado para com seus membros. A

20; 19%

48; 45%

27; 26%

5; 5% 5; 5%

Menos que 1 salário mínimo

1 à 2 salários

2 à 3 salários

3 à 4 salários

Mais que 5 salários mínimos

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falta de recursos financeiros incide na limitação do desenvolvimento de potenciais, no acesso

a recursos da comunidade e pode incidir como fator de risco para o uso de drogas. No entanto,

a falta de recursos e, consequentemente, a vulnerabilidade da família possam ser fatores que

contribuam para o uso de drogas, não se pode afirmar que a questão da dependência de drogas

esteja restrita apenas aos estratos menos favorecidos. Tendo em vista o fato de o HUOP ser

um hospital da rede pública, as famílias que buscam atendimento no hospital não possuem

condições suficientes para pagar os serviços da rede privada, não limitando assim a questão da

dependência apenas a um estrato social.

Escolaridade

Em relação à frequência na escola pelos adolescentes, verificou-se que há um alto

índice de evasão escolar visto que das 125 fichas analisadas, 99 adolescentes estão em

situação de abandono escolar, o que representa 79%, ou seja, os mesmos não estavam

estudando antes do internamento, embora todos estivessem em idade escolar. Apenas 26

adolescentes estavam estudando, totalizando 21%.

GRÁFICO 7: Situação Escolar: Estudando antes do Internamento

Fonte: Ficha de cadastro psiquiatria serviço social HUOP

26; 21%

99; 79%

Sim

Não

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Evasão escolar por sexo:

Quanto ao sexo dos adolescentes e a situação da evasão escolar, verifica-se que os

adolescentes do sexo masculino param os estudos com mais frequência que as adolescentes do

sexo feminino. Entre os meninos a evasão escolar foi de 70%, o que corresponde a 69 fichas e

entre as meninas a evasão foi de 30 %. O motivo deste resultado pode se caracterizar pelo fato

de terem sido internados mais meninos que meninas durante o período da pesquisa.

GRÁFICO 8: Situação Escolar: Evasão Escolar por sexo

Fonte: Ficha de cadastro psiquiatria serviço social HUOP

Outro dado que deve ser considerado, é a série em que estes adolescentes

encontravam-se matriculados antes de abandonar a escola. Analisando, portanto, o ingresso da

criança aos 07 anos de idade no Ensino Fundamental (pela legislação anterior), aos 11 anos

ela deveria estar na 5ª série, e aos 15, no 1º ano do ensino médio. Contudo, a maior incidência

de evasão escolar incide na 6ª série.

Quanto à escolaridade, para efeito de estudo considera-se: séries iniciais-1ª a 4ª do

ensino fundamental eséries finais 6ª à 8ª. De 1° a 3° ano ensino médio16

observa-se uma

prevalência da evasão escolar na 6ª série, seguida da 5ª e 7ª séries, como pode se observar na

tabela abaixo:

16

Até 2005, a matrícula regular no ensino fundamental ocorria aos 07 anos de idade. A partir da Lei no 11.274,

de 6 de fevereiro de 2006, amplia o Ensino Fundamental para nove anos de duração, mantendo a matrícula das

crianças aos 06 anos de idade. Contudo, pelo fato de os adolescentes não estarem inseridos nesta nova

modalidade de ensino, considerou-se o apenas o ensino fundamental de 1ª à 8ª série.

69; 70%

30; 30%

Masculino

Feminino

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GRÁFICO 9: Evasão Escolar por Série/Ano

Fonte: Ficha de cadastro psiquiatria serviço social HUOP

A pesquisa documental demonstrou que a idade predominante entre os adolescentes

localiza-se entre 15 e 17 anos, idades cronológicas que correspondem ao Ensino Médio. Isto

é, 1° ano-15 anos; 2° ano-16 anos e 3º ano- 17 anos. Em relação aos dados coletados, estes

apresentam, portanto, uma situação de distorção idade-série, pois apenas 6% dos adolescentes

entre 15 e 17 anosse evadiram da escola quando já estava no ensino médio. Observa-se,

portanto, entre os outros adolescentes uma defasagem acentuada entre a idade escolar e a

idade cronológica,

Chama a atenção os dados referentes à 5ª, 6ª e 7ª séries, nos quais predominam a maior

parte dos adolescentes, com ênfase para a 6ª série, no qual 28 adolescentes (29%)

abandonaram a instituição escolar.

Outro dado a ser observado é quanto à frequência de 9% dos adolescentes na

Educação de Jovens e adultos (EJA). Esta modalidade de ensino atende pessoas que não

concluíram as séries iniciais de 1ª à 4ª série. Em relação aos adolescentes internados que

frequentavam esta modalidade de ensino, observa-se que estes representam 9% do total, e o

fato de também abandoarem o EJA representaque o abandono escolar ocorreu por mais de

vez.

Dependência de drogas por adolescentes em situação de evasão escolar

2; 2% 3; 3% 5; 5%

19; 19%

28; 29%

19; 19%

8; 8%

5; 5% 1; 1%

9; 9%

2ª série

3ª Série

4ª Série

5ª Série

6ª Série

7ª Série

8ª Séire

1º ano

2º ano

EJA

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Em relação ao uso de SPA entre os adolescentes, a maconha prevalece como sendo a

droga mais utilizada, seguida pelo álcool, depois o crack, a cocaína e por fim o cigarro.

Embora estas não sejam as únicas substâncias utilizadas pelos adolescentes, estas são as mais

conhecidas e usadas por estes. Conforme o gráfico abaixo é possível visualizar com mais

clareza sobre a proporção do uso de cada droga.

GRÁFICO 10: Substâncias Psicoativas Utilizadas por Adolescentes em Situação de

Evasão Escolar

Fonte: Ficha de cadastro psiquiatria serviço social HUOP

Entre janeiro de 2010 e dezembro de 2011, chamou a atenção o número de

internamentos em decorrência do uso da maconha, que representaram 30% do total. Sobre o

uso desta substância pelos adolescentes observa-se em estudos que há “[...] um aumento do

uso de maconha nessa população [...]. É fato que temos observado esse aumento e, com ele o

aparecimento do uso de outras drogas, como a cocaína, o crack [...]” (NIEL;GOLDSHMIDT,

2009, p. 40).

Em relação ao uso de álcool por 24% dos adolescentes, verifica-se este consumo como

amplo, exatamente por ser de fácil acesso e estar ao alcance destes jovens. O crack também

foi predominante entre os sujeitos da pesquisa, uma droga utilizada em 22% dos casos,

seguido pela cocaína, citada por 16% dos adolescentes. Cabe lembrar que o crack é a cocaína

fumada, é a pasta que sobra na produção da cocaína. E embora as duas drogas apresentem

praticamente os mesmos efeitos, o da cocaína é mais duradouro em comparação com o efeito

do crack. Além disso, o crack é uma droga mais barata e parece contribuir para a dependência

mais frequente e rapidamente que as outras drogas, talvez estes sejam os motivos para o maior

61; 24%

58; 22% 77; 30%

41; 16%

21; 8% Álcool

Crack

Maconha

Cocaína

Cigarro

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uso da droga entre os adolescentes.

O pouco consumo de cigarro entre os adolescentes chamou atenção, pois

foiapresentado por apenas 8% destes adolescentes. Deste modo, tendo em vista que o cigarro

é uma droga acessível e barata, uma SPA legalizada e muitas vezes não ser considerada como

droga, faz com que apareça pouco nas fichas de cadastro.

O consumo de substâncias psicoativas na adolescência afeta as relações pessoais,

familiares, profissionais e no caso dos adolescentes o desempenho escolar como apresenta no

gráfico abaixo:

GRÁFICO 11-O Uso de Drogas foi anterior à Evasão Escolar:

Fonte: Ficha de cadastro psiquiatria serviço social HUOP

De fato, o abandono escolar em geral envolve várias causas e fatores, no entanto,

deve-se considerar que a drogadição é um fator que vincula-se com a situação de evasão

escolar dos adolescentes desta pesquisa. O que se constatou foi que mais da metade dos

adolescentes, ou seja, 59% abandonaram o ambiente escolar após iniciar o uso de drogas, e

outros 27% abandonaram a escola ao mesmo tempo em que iniciaram este uso. Estes

elementos caracterizam a drogadição como o principal motivo para a evasão escolar.

Contudo, não se deve acreditar que seja o único elemento que motivou estes adolescentes a se

evadirem da escola, visto que, embora sejam a minoria 11% dos adolescentes que estavam em

situação de abandono escolar já haviam se evadido da escola antes de iniciar o uso de drogas.

Porém não se pode deixar de considerar que de a drogadição é de fato um elemento

impeditivo de escolarização, pois na maior parte das vezes tem como consequência a evasão

escolar.

59; 61% 11; 11%

27; 28% Sim

Não

Ao mesmo tempo que iniciou ouso de drogas

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta pesquisa, a hipótese formulada foi validada, isto é, o abandono escolar se dá

pelo uso indiscriminado de drogas, que é considerado como uma das expressões da “questão

social”. Como esta pesquisa é de natureza quantitativa e qualitativa foi possível realizar

estudos em bibliografia específica na área da Política social da educação e dependência

química, o que nos possibilitou qualificar as ações da própria pesquisa.

O objetivo geral foi alcançado, tendo em vista que pretendíamos conhecer os motivos

gerais que influenciam no processo de evasão escolar entre adolescentes dependentes

químicos internados na ala psiquiátrica do HUOP. Para isto, foram realizadas sete entrevistas

semiestruturadas com os sujeitos, sendo eles adolescentes internados e seus familiares.

Também foi realizada uma pesquisa documental com 125 fichas de cadastro dos adolescentes

no Serviço Social do HUOP. Com isto, houve possibilidade de responder a um dos objetivos

secundários que se refere ao grau de escolaridade e faixa etária dos adolescentes dependentes

químicos internados no hospital

Um dos objetivos secundários é compreender como a família, o Estado e as políticas

sociais interferem na recuperação de crianças e adolescentes dependentes químicos para seu

retorno ao ambiente escolar. Concluímos que a família e o Estado são de fato primordiais para

realizar esta função, e não só, mas também o acesso e permanência na escola. Estes são em

conjunto com a sociedade e a escola as principais instituições que devem promover o direito à

educação por meio das políticas sociais.

No entanto, quando se faz uma breve análise do que são as políticas sociais

percebemos que a educação não tem sido prioridade para o Estado, neste sentido, este torna-se

omisso em relação ao acesso, aprendizado, permanência e conclusão dos educandos no

sistema educacional. Observou-se, que a família, muitas vezes toma a responsabilidade para

si própria, outras se apoiam na escola por considerar que a mesma deve promover a educação.

Aqui nos referimos a uma inversão de papéis, em que a educação familiar passa a ser de

responsabilidade da escola.

Para a sociedade de forma geral, o adolescente é o único “exclusivamente culpado”

pela situação em que se coloca. Assim, é visto como responsável por suas ações, sejam elas

pelo uso das drogas e/ou abandono escolar. Desta forma, observou-se que a marginalização

desses sujeitos é mais forte do que se pensa, tanto pelo fato de se evadir da escola, como

também pelo uso indiscriminado de drogas, o que gerou uma situação de exclusão social.

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É importante reiterar que a escola é um poderoso agente de socialização para o

adolescente, podendo ser transformador e aperfeiçoar sua autoestima, colaborando com o seu

desenvolvimento.Cabe à mesma, desenvolver também os valores que formam a personalidade

do adolescente e, dessa forma, promova condições dos mesmos em posicionarem-se

contrários ao uso de drogas, tornando o vínculo escolar um fator positivo para a prevenção.

Contudo, existe atualmente uma realidade contraditória,em que a escola também tem

sido considerada como um fator de risco para a possibilidade do uso de drogas, pois, este

ambiente pode constituir-se em um espaço de assédio de traficantes e de risco para o consumo

de drogas, o que ficou patente na fala dos sujeitos da pesquisa.

Além disso, a pesquisa nos possibilitou compreender a partir dos casos avaliados, que

a evasão escolar é realmente determinada por um conjunto de fatores sociais, econômicos,

culturais, entre outros. Assim é necessário um maior investimento na própria educação, bem

como nas políticas sociais de forma geral.

Reafirmando, a dependência química é resultante de inúmeras expressões da “questão

social” de naturezas variadas como culturais e familiares, exigindo intervenções pontuais, em

varias áreas como assistência social, saúde e educação, de forma articulada. Assim, a evasão

escolar é apenas uma das consequências da dependência de drogas. Ainda,a falta de

motivação para os estudos, o absenteísmo, o mau desempenho escolar, são fatores

determinantes para esta dependência. Deste modo, a dependência de drogas na adolescência,

requer maior atenção por parte do poder público.

Como o Serviço Social na Educação está se expandindo, observa-se que o tema da

evasão escolar e dependência química, tem sido pouco discutido até então, e, por isso, existe

pouca atenção nesta área e também bibliografia reduzida. A intervenção profissional do

Assistente Social se funda na conquista pelos direitos sociais desses sujeitos.

Finalizando, o problema de pesquisa expresso em quais os motivos que influenciam

para a evasão escolar de adolescentes dependentes químicos internados no HUOP foi

conhecido, o que validou esta pesquisa no sentido de contribuir com os conhecimentos já

acumulados na área.

Os resultados desta pesquisa serão compartilhados com os sujeitos entrevistados por

meio de CD para atender uma exigência do Código de Ética do Assistente Social. Ou seja,

artigo 5°- são deveres do Assistente Social nas suas relações com os usuários: alínea c)

devolver as informações colhidas nos estudos e pesquisas aos usuários, no sentido de que

estes possam ser usados para o fortalecimento de seus interesses.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

ADOLESCENTES

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APÊNDICE B- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO FAMÍLIAS

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APÊNDICE C - FORMULÁRIOS DE ENTREVISTA ADOLESCENTES

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE

CURSO: SERVIÇO SOCIAL – 4º ANO

PROFESSOR(A) ORIENTADOR(A) DE TCC:Carmen Pardo Salata

ACADÊMICO (A): Thaise Fernanda de Lima Mares

OBJETIVO GERAL DA PESQUISA: Conhecer os motivos gerais que influenciaram

no processo de evasão escolar entre os adolescentes dependentes químicos

internados na ala psiquiátrica do Hospital Universitário do Oeste do Paraná.

INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS: Entrevista semiestruturada

SUJEITOS DA PESQUISA: Adolescentes dependentes químicos internados no

Hospital Universitário do Oeste do Paraná.

DATA DA ENTREVISTA:

____/____/2012

Nº DA ENTREVISTA: _____________

PERGUNTAS: 1-Qual é a sua Idade?_______ 2-Sexo Feminino ( ) Masculino ( ) 3- Trabalha? Sim ( ) Não ( ) 4-Composição familiar?

4-Situação de moradia?

Composição familiar

Parentesco Idade Anos de escolaridade

emprego Renda

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Casa ( ) Apartamento ( ) Própria ( ) Cedida ( )Alugada ( ) -Valor aluguel__________ Abrigo: ( ) Situação de rua: ( ) 5-Escolaridade: Analfabeto ______ Ensino fundamental incompleto ( ) Série______ Ensino fundamental completo ( ) Série______ Ensino médio incompleto ( ) Série______ Ensino médio completo ( ) Série______ 6-Há quanto tempo não esta frequentando a escola? Menos de 1 ano ( ) Entre 1 e 2 anos ( ) Entre 2 e 3 anos ( ) Entre 3 e 4 anos ( ) Mais de 4 anos ( ) Nunca frequentou ( ) 7-Qual o motivo que o levou a deixar a escola? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 8-A escola interviu de alguma forma para que não houvesse o abandono? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 9-Qual foi a reação da sua família quando você abandonou a escola? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 10-Você acha que a escola poderá ajudar no tratamento da dependência química? De que forma? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 11-Há quanto tempo é usuário de drogas? Menos de 1 ano ( ) Entre 1 e 2 anos ( ) Entre 2 e 3 anos ( )

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Entre 3 e 4 anos ( ) Mais de 4 anos ( ) Quanto? _______ 12-Que tipo de drogas que faz uso? Álcool ( ) Cigarro ( ) Maconha ( ) Merla ( )

Cocaína ( ) Crack ( )

Oxi ( )

13-A escola influenciou para a dependência química? Como? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 14-De que forma o uso de drogas influenciou para o seu abandono escolar? _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 15-Pretende voltar a estudar? Por quê? _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 16-Já tentou retornar a escola? _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 17-Teve alguma dificuldade? Qual? _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 18-Porque não permaneceu na escola? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 19-A sua família o incentivou de alguma forma para retornar à escola? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 20-Qual é a sua concepção de escola? _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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APÊNDICE D- FORMULÁRIOS DE ENTREVISTA FAMÍLIAS

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE CURSO: SERVIÇO SOCIAL – 4º ANO PROFESSOR(A) ORIENTADOR(A) DE TCC:Carmen Pardo Salata ACADÊMICO (A): Thaise Fernanda de Lima Mares OBJETIVO GERAL DA PESQUISA: Conhecer os motivos gerais que influenciaram no processo de evasão escolar entre os adolescentes dependentes químicos internados na ala psiquiátrica do Hospital Universitário do Oeste do Paraná. INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS: Entrevista semi-estruturada SUJEITOS DA PESQUISA: Familiares de adolescentes dependentes químicos internados no Hospital Universitário do Oeste do Paraná.

DATA DA ENTREVISTA: ____/____/2012

Nº DA ENTREVISTA: _____________

PERGUNTAS: 1-Sexo Feminino ( ) Masculino ( ) 2- Trabalha? Sim ( ) Não ( ) 3-Composição familiar?

4-Situação de moradia? Casa ( ) Apartamento ( ) Própria ( ) Cedida ( )Alugada ( ) -Valor aluguel__________ 5-Escolaridade: Analfabeto ______ Ensino fundamental incompleto ( ) Série______ Ensino fundamental completo ( ) Série______

Composição familiar Parentesco Idade Emprego Escolaridade

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Ensino médio incompleto ( ) Série______ Ensino médio completo ( ) Série______ Ensino superior incompleto ( ) Ensino superior completo ( ) De que forma a escola interferiu após o abandono pelo seu filho?_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Seu filho apresentou algum problema na escola anterior ao uso de drogas? _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Você acredita que a drogadição influenciou para o processo de abandono escolar? Por quê? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Para você qual foi o principal motivo que levou seu filho ao abandono escolar? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Para você quem foram os responsáveis pelo abandono escolar?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Como a família reagiu diante desta situação? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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ANEXOS

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ANEXO A- APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA - CEP

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ANEXO B -FICHAS DE CADASTRO PSIQUIATRIA SERVIÇO SOCIAL HUOP

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