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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“Júlio de Mesquita Filho”
Campus de Ourinhos AVALIAÇÃO DA IMPLANTAÇÃO DO TRATAMENTO INDIVIDUAL
DE ESGOTO PELAS COMUNIDADES RURAIS DE ANGATUBA E
RIBEIRÃO GRANDE
MAURO TADEU REZENDE NALESSO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de Especialista em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas pela UNESP – Campus de Ourinhos.
OURINHOS – SP
NOVEMBRO/ 2012
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “Júlio de Mesquita Filho”
Campus de Ourinhos
AVALIAÇÃO DA IMPLANTAÇÃO DO TRATAMENTO INDIVIDUAL
DE ESGOTO PELAS COMUNIDADES RURAIS DE ANGATUBA E
RIBEIRÃO GRANDE
MAURO TADEU REZENDE NALESSO
Orientadora: Profª Drª Luciene Cristina
Risso
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de Especialista em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas pela UNESP – Campus de Ourinhos.
OURINHOS – SP
NOVEMBRO/ 2012
Dedico este trabalho aos meus pais, Luiz Gonzaga
Nalesso e Celia Rezende Nalesso pelo carinho e
ensinamentos que norteiam meus caminhos.
À minha esposa Alessandra Maria Murat Nalesso pelo
apoio, amor, paciência e amizade.
Aos meus filhos Lucas Murat Nalesso e Laura Murat
Nalesso pelo amor incondicional.
Amo todos vocês!
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, pelo dom da vida!
À professora Drª Luciene Cristina Risso pela orientação plena, pelo estímulo à pesquisa, pela
dedicação e paciência. Seus comentários foram fundamentais para o transcorrer e
elaboração do trabalho.
À Sabesp que possibilitou a realização deste estudo.
Enfim, agradeço aos grandes amigos que fiz nesta jornada: Aderson, Roseli, Dirceu,
Cristiane e Priscila, pelo companheirismo, paciência e horas que passamos juntos e a todos
aqueles que, de uma forma ou de outra, auxiliaram-me no desenvolvimento deste trabalho,
que pretendeu contribuir para o bem estar da população rural.
SUMÁRIO
RESUMO .............................................................................................................................. 1
ABSTRACT .......................................................................................................................... 2
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 3
1.1. Objetivos .................................................................................................................... 5
1.1.1. Objetivo principal ................................................................................................. 5
1.1.2. Objetivos específicos ............................................................................................ 5
1.2. Problemática .............................................................................................................. 6
1.3. Justificativa ................................................................................................................ 6
1.4. Metodologia ............................................................................................................... 7
2. GESTÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL .......................................................................... 9
2.1. A tomada de consciência da problemática ............................................................... 9
2.2. Importância da gestão e da educação ambiental .................................................... 11
2.2.1. Políticas ambientais ........................................................................................... 14
2.2..2 Instrumentos de gestão ambiental ..................................................................... 15
2.2.3. Novas estratégias de gestão ambiental .............................................................. 18
3. SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL .......................................................................... 21
3.1. Considerações sobre saneamento básico ................................................................ 21
3.2. Aspectos legais e afins do saneamento básico no Brasil ......................................... 26
3.3. Indicadores de saneamento básico no Brasil .......................................................... 32
3.4. Indicadores de saneamento básico no Estado de São Paulo .................................. 37
4. TRATAMENTO DE ESGOTO INDIVIDUAL ................................................................ 40
4.1. Processos de tratamento de esgoto .......................................................................... 40
4.2. Sistemas de esgotos sanitários ................................................................................. 41
4.3. Composição dos esgotos sanitários ......................................................................... 42
4.4. Características dos esgotos ...................................................................................... 44
4.5. Classificação do esgoto ............................................................................................ 45
4.6. Tipos de tratamento de esgotos sanitários .............................................................. 47
4.7. Sistemas individuais de tratamento de esgoto ........................................................ 49
4.7.1. Tipos de Fossas .................................................................................................. 49
4.7.2. Tanques Sépticos (TS) ....................................................................................... 50
4.7.3. Filtro anaeróbio ................................................................................................. 52
4.7.4. Sumidouro ......................................................................................................... 53
5. ESTUDO DE CASOS: TRATAMENTO INDIVIDUAL DE ESGOTO NAS COMUNIDADES RURAIS DE ANGATUBA E RIBEIRÃO GRANDE ............................. 54
5.1. Delineamento da pesquisa ....................................................................................... 54
5.2. Recorte conceitual e definição das variáveis de pesquisa ....................................... 54
5.3. Instrumentos para coleta de dados ......................................................................... 55
5.4. Composição da amostra .......................................................................................... 56
5.5. Coleta dos dados ..................................................................................................... 56
5.6. Descrição do Programa Estadual Água é Vida em implantação ........................... 57
5.7. Descrição dos serviços prestados às comunidades rurais afastadas ..................... 59
5.8. Resultado da pesquisa com os moradores dos entrevistados dos bairros Rurais Machadinho e Boa Vista – Município de Angatuba e Ferreira dos Matos – município de Ribeirão Grande em 2012 ......................................................................................... 63
6. DETALHAMENTO DA IMPLANTAÇÃO DO PROJETO, TENDO COMO EXEMPLO O BAIRRO MACHADINHO –MUNICÍPIO DE ANGATUBA - SP ................................... 67
6.1. Características do município................................................................................... 67
6.2. Coleta, análise e discussão de dados ....................................................................... 69
6.3. Conclusão da pesquisa no bairro Machadinho ...................................................... 76
7. CONCLUSÃO ................................................................................................................. 79
8. REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 80
LISTA FIGURAS
Figura 1 - Composição do esgoto sanitário ........................................................................... 43
Figura 2 - Demonstração de transporte de efluente no conjunto fossa, filtro e sumidouro ..... 51
Figura 3 - Tipos de tanques sépticos ..................................................................................... 52
Figura 4 - Filtro Anaeróbio visto em corte com detalhes....................................................... 52
Figura 5 - Execução de um Sumidouro em alvenaria de tijolos cerâmicos ............................ 53
Figura 6 - Mapa dos municípios do Alto Paranapanema ....................................................... 58
Figura 7 - Esquema simplificado da Unidade Sanitária Individual ........................................ 61
Figura 8 - Sistema de filtro anaeróbio ................................................................................... 62
Figura 9 - Esquema básico da USI........................................................................................ 63
Figura 10 - Gênero dos entrevistados dos bairros Rurais Machadinho e Boa Vista – Município de Angatuba e Ferreira dos Matos – município de Ribeirão Grande em 2012 ....................... 63
Figura 11 - Idade dos entrevistados dos bairros Rurais Machadinho e Boa Vista – Município de Angatuba e Ferreira dos Matos – município de Ribeirão Grande em 2012 ....................... 64
Figura 12 - Escolaridade dos entrevistados dos bairros Rurais Machadinho e Boa Vista – Município de Angatuba e Ferreira dos Matos – município de Ribeirão Grande em 2012 ...... 64
Figura 13 - Renda familiar dos entrevistados dos bairros Rurais Machadinho e Boa Vista – Município de Angatuba e Ferreira dos Matos – município de Ribeirão Grande em 2012 ...... 65
Figura 14 - opinião sobre o tratamento de esgoto implantado ............................................... 65
Figura 15 - Aspectos positivos após a implantação do tratamento de esgoto individual......... 65
Figura 16 - Bairro Machadinho (Angatuba) .......................................................................... 69
Figura 17 - Avaliação Geral dos entrevistados do bairro Rural Machadinho – Município de Angatuba em 2012 ............................................................................................................... 70
Figura 18 - Habitação dos entrevistados do bairro Rural Machadinho – Município de Angatuba em 2012 ............................................................................................................... 71
Figura 19 - Forma de Abastecimento de Água dos entrevistados do bairro Rural Machadinho – Município de Angatuba em 2012 ....................................................................................... 72
Figura 20 - Forma de Esgotamento Sanitário dos entrevistados do bairro Rural Machadinho – Município de Angatuba em 2012 ......................................................................................... 73
Figura 21 - Condição das fossas utilizadas dos entrevistados do bairro Rural Machadinho – Município de Angatuba em 2012 ......................................................................................... 74
Figura 22 - Informação sobre os impactos da falta de saneamento dos entrevistados do bairro Rural Machadinho – Município de Angatuba em 2012 ......................................................... 75
Figura 23 - Percepção do tratamento de Esgoto Individual dos entrevistados do bairro Rural Machadinho – Município de Angatuba em 2012 .................................................................. 76
Figura 24 - Unidade Sanitária Individual instalada em residência no Bairro Rural Machadinho-Município de Angatuba em 2012 ..................................................................... 77
Figura 25 - Unidade Sanitária Individual instalada em residência no Bairro Rural Machadinho-Município de Angatuba em 2012 ..................................................................... 78
LISTA QUADROS
Quadro 1 - Características do setor saneamento .................................................................... 22
Quadro 2 - Principais programas federais em saneamento na década de 1990 ....................... 27
Quadro 3 - Tipos de processos de tratamento de esgotos usuais no Brasil em função do poluente a reduzir................................................................................................................. 42
Quadro 4 - Tipos de fossas e suas respectivas características ................................................ 49
LISTA TABELAS
Tabela 1 - Evolução da cobertura dos serviços de abastecimento de água e coleta de esgotos no Brasil (%) ........................................................................................................................ 32
Tabela 2 - Saneamento básico no Brasil ............................................................................... 33
Tabela 3 - Fontes de recursos para saneamento básico 2007 ................................................. 35
Tabela 4 - Indicadores de desempenho da Sabesp ................................................................. 38
Tabela 5 - Características físico-químicas dos esgotos .......................................................... 44
Tabela 6 - Habitação e infra-estrutura urbana ....................................................................... 68
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
ANA - Agência Nacional da Água
BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento
Bird - Banco Mundial
BNDES - Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social
Capes - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CNPq - Conselho Nacional de Pesquisas
Comasp - Companhia Metropolitana de Águas de São Paulo
DAE - Departamento de Águas e Esgoto
DBO - Demanda Biológica de Oxigênio
DQO - Demanda química de Oxigênio
EIA - Estudos de Impacto Ambiental
ETE - Estações de Tratamento de Esgotos
FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador
FESB - Fomento Estadual de Saneamento Básico
FGTS - Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
Finep - Financiadora de Estudos e Projetos
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MAB - Programa Homem e a Biosfera
MC – Ministério das Cidades
mg/L – miligramas por Litro
NBR – Normas Brasileiras
ODM - Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
OGU - Orçamento Geral da União
OMS - Organização Mundial da Saúde
ONU - Organização das Nações Unidas
Plansab - Plano Nacional de Saneamento Básico
PMSB - Plano Municipal de Saneamento Básico
PPPs - Parcerias Público-Privadas
Prodes - Programa de Despoluição de Bacias Hidrográficas
RAE - Repartição de Águas e Esgoto
Sabesp - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
SAEC - Superintendência de Águas e Esgotos da Capital
Sanesp - Saneamento de São Paulo
Sanevale - Saneamento do Vale do Ribeira
SBS - Saneamento da Baixada Santista
SERHS - Secretaria de Energia, Recursos Hídricos e Saneamento
Unesco - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
USI - Unidade Sanitária Individual
1 RESUMO Esta pesquisa teve por objetivo principal verificar a visão de residentes em comunidades afastadas sobre o tratamento individual de esgoto. Seus objetivos específicos são identificar o funcionamento técnico do sistema tratamento individual de esgoto nos bairros Boa Vista e Machadinho, no município de Angatuba, e no bairro Ferreira dos Matos, no município de Ribeirão Grande; discutir a sustentabilidade e a integração do sistema de gestão ambiental sob a perspectiva política, técnico-ecológica, socioeconômico-ambiental e cultural educacional e, finalmente, verificar o papel e a importância da Educação Ambiental na integração do Programa. Através de revisão bibliográfica sobre o tema e estudos de casos, demonstrou-se a eficácia do tratamento de esgoto para essas comunidades rurais, por meio de conceitos básicos de gestão e educação ambiental. Acrescentou-se a esse cenário a vivência da implementação desses sistemas, através do programa governamental Água é Vida, com a implantação de quatro unidades no bairro Boa Vista e doze unidades no bairro Machadinho, município de Angatuba e duas unidades no bairro Ferreira dos Matos, município de Ribeirão Grande. Os resultados contemplaram os benefícios da implantação do tratamento de esgoto individual, um importante indicador dos aspectos sócios econômicos das comunidades em estudo. Palavras-chaves: Comunidades rurais, Gestão ambiental, Educação ambiental, Tratamento individual de esgoto.
2 ABSTRACT The main objective of this research is to verify the view of remote communities residents on individual wastewater treatment. Its specific objectives are indentify the technical functioning of individual wastewater treatment system in the cities of Angatuba and Ribeirão Grande; discuss sustainability and integration of environmental management from a political, technical, ecological, socioeconomic, environmental and cultural education perspective, and finally verify the role and importance of environmental education for the Program integration. Through literature review on the subject and case studies, it demonstrates the effectiveness of wastewater treatment for these remote communities, using basic concepts of management and environmental education. Add to this scenario the experience of implementation of these systems, through the governmental program Água é Vida, which established four unities in Boa Vista and twelve unities in Machadinho, communities of Angatuba, and two unities in Ferreira dos Matos, community of Ribeirão Grande. The results contemplate the benefits of deploying individual sewage treatment, which is an important indicator of socioeconomic aspects of the communities in the study. Keywords: Rural Communities; Environmental management; Environmental education; Individual sewage treatment.
3
1. INTRODUÇÃO
O saneamento básico no Brasil enfrenta grandes desafios, dentre eles o de desenvolver
um modelo sustentável para ofertar água de qualidade e o tratamento de esgoto,
principalmente às comunidades rurais localizadas nas periferias urbanas ou comunidades de
difícil acesso, onde a interligação aos sistemas municipais é inviável, exigindo soluções
independentes.
Nesse contexto, buscam-se soluções sustentáveis de acesso a serviços de origem
econômica, social e ambiental. Porém, o tema envolve o estabelecimento de diretrizes pelas
políticas públicas através da elaboração de estratégias diferenciadas que respeitem a
identidade natural e social do lugar e a educação ambiental dos envolvidos.
Corrobora-se com Phillipi (apud MONTEIRO JUNIOR; RENDEIRO NETO, 2011)
quando diz que: É fundamental uma leitura descentralizada para resolver o abastecimento de água e esgotamento em regiões distantes dos grandes centros. O saneamento tem que ser pensado com uma visão mais sistêmica, não apenas do ponto de vista da infraestrutura. Existem modelos que atendem melhor coletivamente e outros, isoladamente. A gestão deve ser trabalhada como um todo, considerando uma ocupação dos espaços mais articulada com a sociedade. Nessa linha de pensamento é possível aumentar a capacidade de se resolver a falta de saneamento em comunidades economicamente mais sensíveis (PHILLIPI apud MONTEIRO JUNIOR; RENDEIRO NETO, 2011, p. 4).
Os números do saneamento apresentados pelo IBGE (2012) demonstram que em 2007
66,8% dos domicílios brasileiros possuíam rede coletora de esgoto sanitário e apenas 12% é
tratado. Portanto, o esgoto é lançado diretamente in natura nos mananciais na maioria dos
municípios brasileiros. Na tentativa de reverter o crescente comprometimento de importantes
mananciais e de amenizar o impacto ambiental e de saúde pública, foram criadas nos últimos
anos políticas de incentivo ao saneamento básico, com a implantação de redes coletoras de
esgotos e a instalação de Estações de Tratamento de Esgotos (ETE).
Os dados do IBGE (2012) revelam ainda que, de 2000 para 2008 aumentou o
percentual de municípios com serviço de coleta de esgoto sanitário que realizam ampliações
ou melhorias no sistema ou em parte(s) dele. Em 2008, 79,9% deles estavam ampliando ou
melhorando o serviço, contra 58% em 2000.
O avanço ocorreu em quase todas as regiões, com destaques para o Centro-Oeste, cuja
taxa de melhorias ou ampliações passou de 50% dos municípios em 2000 para 78% em 2008;
e para o Nordeste, de 47,6% para 73,1%. A exceção foi o Norte, cujo percentual de
4
ampliações e melhorias se reduziu (de 53,1% para 48,3%). Os maiores percentuais foram
encontrados no Sudeste (85,4%), Centro-Oeste (78%) e Sul (77,5%). Em 2008 a ampliação ou
melhoria do sistema deu-se principalmente na rede coletora (88%) e nas ligações prediais
(78,6%).
Apesar disso, nas pequenas comunidades rurais a aplicação destas políticas de
incentivo nem sempre é possível devido às condições da região que inviabilizam a
implantação de redes coletoras de esgoto e estações de tratamento coletivas.
É amplamente discutida a questão técnica para sistemas de saneamento mais simples
que os convencionais normalmente utilizados, para os quais existem várias alternativas sendo
estudadas e implantadas.
Com foco na questão ambiental, que é a universalização dos serviços de saneamento,
este trabalho trata de uma questão que é condição sine qua non para que isso aconteça que é o
saneamento de comunidades rurais. Comunidades essas que em muitos casos, pela distância
da sede não apresenta viabilidade econômica para sua interligação a algum sistema existente.
Além disso, a baixa densidade ocupacional não justifica a implantação de um sistema coletivo
dentro dessa comunidade. Esses fatores comprometem o atendimento do fator econômico do
trinômio da sustentabilidade. Para a solução dessa questão, vem se estudando o saneamento
de forma individualizada, em cada edificação.
A tão esperada universalização dos serviços de saneamento básico no Brasil passa,
necessariamente, pelo equacionamento adequado da atual situação das comunidades rurais
afastadas.
Entende-se como comunidades afastadas, os núcleos habitacionais cuja interligação
aos sistemas integrados de abastecimento de água e esgotamento sanitário da zona urbana,
seja técnica ou economicamente inviável a curto/médio prazo. Estas localidades apresentam
especificidades que as diferenciam consideravelmente dos núcleos urbanos de maior
densidade habitacional, requerendo, portanto, uma abordagem bastante diferenciada para a
implantação e operação dos seus sistemas de saneamento básico.
A experiência acumulada pelas diversas instituições nacionais neste campo demonstra
que o processo de seleção das soluções sanitárias para estas comunidades deve ser realizado
com a participação efetiva da população atendida, levando em consideração aspectos
relacionados ao seu estágio de organização, cultura e capacidade de apropriação tecnológica.
Importante também ressaltar o caráter multiinstitucional dos trabalhos envolvidos nestas
ações, muitas vezes deixados em segundo plano nos programas tradicionais de implantação e
operação de sistemas integrados.
5
Este estudo estrutura-se em sete itens. No primeiro item é contextualizada a pesquisa,
apresentado o problema que motivou sua concepção, a relevância de seu desenvolvimento, o
objetivo que se pretende atingir e o método adotado para atingir tal objetivo.
Os itens 2, 3 e 4 apresentam a fundamentação teórica que sustentam esta pesquisa.
Nestes capítulos são apresentados os conceitos de gestão e educação ambiental e seus estágios
evolutivos e as práticas de gestão ambiental; dados sobre o saneamento básico no Brasil e
finalmente os conceitos da tecnologia de tratamento de esgoto individual.
No item 5 são apresentados os estudos de casos com seus materiais e métodos para o
desenvolvimento da pesquisa, analisados os dados coletados, e as principais conclusões da
pesquisa relativas aos objetivos declarados, ao estado-da-arte do campo de pesquisa e as
conclusões sobre as limitações e possibilidades de expansão da pesquisa.
O item 6 mostra o detalhamento de implantação do projeto, tendo como exemplo o
bairro Machadinho, município de Angatuba.
O item 7 traz a conclusão do trabalho.
1.1. Objetivos
1.1.1. Objetivo principal
O principal propósito desta pesquisa é analisar a implantação do tratamento individual
de esgoto pelas comunidades rurais de Angatuba e Ribeirão Grande por meio da implantação
das Unidades Sanitárias Individuais – USI nos bairros Boa Vista e Machadinho, pertencentes
ao município de Angatuba, e Ferreira dos Matos, pertencente ao município de Ribeirão
Grande, verificando a visão e aceitação dos atores residentes em comunidades afastadas sobre
o tratamento individual de esgoto por meio de pesquisa in loco.
1.1.2. Objetivos específicos
Os objetivos específicos são:
a) identificar o funcionamento técnico do sistema de tratamento individual de esgoto
em Angatuba e Ribeirão Grande;
b) discutir a sustentabilidade e a integração do sistema de gestão ambiental sob o
olhar das dimensões política, técnico-ecológica, socioeconômico-ambiental e
cultural educacional;
6
c) verificar o papel e a importância da Educação Ambiental na integração do
Programa da empresa de Saneamento Básico do Alto Paranapanema (SP).
1.2. Problemática
O problema fundamental a investigar é: Qual a contribuição do Programa de
implantação de tratamento de esgoto para as comunidades afastadas do Alto Paranapanema
(SP).
Para responder esta questão, realizou-se um estudo sobre sistemas alternativos de
tratamento individual de esgoto nas comunidades rurais sob o olhar da gestão e educação
ambiental. Buscou-se compreender sobre a tecnologia em tela e os métodos convencionais
que têm se mostrado bastante eficazes, bem como o tratamento de esgoto por aquisição de
instalação de sistemas de tratamento de pequena capacidade individual e uni familiar para
comunidades rurais afastadas.
1.3. Justificativa
O interesse pelo tema deu-se com a participação na implantação do tratamento
individual de esgoto nas comunidades rurais de Angatuba e Ribeirão Grande, na Unidade de
Negócio da empresa de Saneamento Básico do Alto Paranapanema (SP).
Entre os vários danos que o homem causa ao meio ambiente, a falta de tratamento de
esgoto é um dos mais contundentes, principalmente nas comunidades rurais de baixa renda.
Neste sentido, buscar soluções alternativas e de baixo custo para o esgotamento sanitário em
pequenas comunidades rurais a fim de melhorar a qualidade de vida da população e elevar o
índice de tratamento de esgotos nos municípios, se torna imprescindível.
Com base nas diretrizes apontadas pela empresa de saneamento, fica evidente a
necessidade de se buscar soluções alternativas para tratar o esgoto das comunidades rurais
distantes a fim de se buscar a universalização dos serviços de saneamento sem o qual não
seria possível encontrar um equilíbrio do seu negócio econômico junto com a
responsabilidade socioambiental.
No Alto Paranapanema, região localizada no sudoeste do Estado de São Paulo, boa
parte das comunidades rurais distantes situam-se distantes das redes de coletas de esgoto das
sedes municipais e, portanto, torna-se viável a instalação dos sistema de tratamento in loco.
As comunidades aqui contempladas (bairros Machadinho e Boa Vista - município de
7
Angatuba, bairro Ferreira dos Matos – município de Ribeirão Grande), demonstram bem as
características de boa parte das pequenas comunidades rurais situadas na bacia do Alto
Paranapanema, pois apresentam ausência de corpo receptor adequado, topografia acidentada e
residências distantes umas das outras, inviabilizando a execução de rede coletora e instalação
de um sistema coletivo de tratamento, deixando evidente a necessidade de buscar soluções
individuais e de operação simplificada propiciando assim uma solução adequada de
saneamento.
São inúmeras as possibilidades de baixo custo para se tratar o esgoto sanitário
empregando-se processos biológicos ou físico-químicos. No entanto, quase todas as estações
de tratamento são concebidas com base em processos biológicos, em ambientes anaeróbios,
aeróbios e anóxicos. O emprego do processo biológico anaeróbio por meio de tanque séptico
seguido de filtro anaeróbio apresenta várias vantagens quando comparado ao processo
biológico aeróbio, entre os quais, menor consumo de energia, menor produção de lodo e
menor área para implantação. Entretanto, apresentam como desvantagens, em relação ao
processo biológico aeróbio: baixa eficiência de remoção com relação à carga orgânica.
Neste sentido a proposta foi desenvolver uma alternativa de adequação do sistema de
tanque séptico seguido de filtro anaeróbio que atendesse às condições de baixo custo,
facilidade operacional, baixa manutenção, menor agressão ao ambiente, com atendimento às
demandas atuais de sustentabilidade.
1.4. Metodologia
Pretende-se através da revisão bibliográfica sobre o tema e estudo de caso demonstrar,
por meio de conceitos básicos de gestão e educação ambiental, a eficácia do tratamento de
esgoto para as comunidades rurais do Alto Paranapanema. Acrescente-se a esse cenário o fato
de se estar vivenciando a implementação destes sistemas.
Este estudo é guiado pelos pressupostos da abordagem qualitativa (MIGUEL, 2007).
O caráter desta pesquisa é exploratório, pois se busca analisar quais são as práticas de gestão e
educação ambiental adotar para atender às comunidades afastadas no Alto Paranapanema, a
fim de qualificar tal interface, um tema relativamente novo e emergente. Exploratória também
porque há pouco conhecimento sistematizado sobre essa problemática, vinculando-se às
particularidades dos casos estudados. A pesquisa exploratória visa proporcionar maior
familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses para
futuro teste. Envolve levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas que tiveram
8
experiências práticas com o problema pesquisado e análise de exemplos que estimulem a
compreensão (GIL, 1991).
A pesquisa foi desenvolvida com base em estudos de casos múltiplos. Segundo Yin
(2004), o estudo de caso se constitui em uma estratégia de pesquisa que busca examinar um
fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto apropriado, no caso, para o estudo da
interface entre práticas de gestão ambiental, os fatores determinantes para adoção de tais
práticas e gestão ambiental.
Ele é próprio para a construção de uma investigação empírica que pesquisa fenômenos
dentro de seu contexto real, com pouco controle do pesquisador sobre eventos e
manifestações do fenômeno. Baseado em um pano de fundo teórico, reúne o maior número
possível de informações, em função das questões e proposições orientadoras do estudo, por
meio de diferentes técnicas de levantamento de informações, dados e evidências (MARTINS,
2008). O estudo de caso é uma abordagem extensivamente utilizada, tanto no Brasil quanto
nos países desenvolvidos. Dentre os benefícios principais da condução de um estudo estão a
possibilidade do desenvolvimento de nova teoria e o aumento do entendimento sobre eventos
reais e contemporâneos (SOUZA, 2005).
Mediante um mergulho profundo e exaustivo em um objeto delimitado, o estudo de
caso possibilita a penetração em uma realidade social, não conseguida plenamente por um
levantamento amostral e avaliação exclusivamente quantitativa (MARTINS, 2008). O
trabalho de campo deve ser precedido por um detalhado planejamento, a partir de
ensinamentos advindos do referencial teórico e das características próprias do caso.
Nesta pesquisa foram analisados e classificados apenas os estágios evolutivos da
gestão ambiental de especialização funcional (abordagem reativa), e a integração externa
(abordagem pró-ativa), o que se justifica à medida que não há unanimidade entre a quantidade
de estágios a se considerar com vistas a implantação do tratamento individual de esgoto pelas
comunidades rurais de Angatuba, Paranapanema e Ribeirão Grande para o atingimento dos
objetivos propostos neste estudo.
Os principais fatores de influência aqui considerados para adoção de práticas de gestão
ambiental são: apoio governamental, evitar riscos ambientais, exigência legal, influência das
partes interessadas, redução de custos, requisitos de responsabilidade social, vantagem
competitiva, características da empresa, fatores externos, questões éticas, planejamento
estratégico e aspectos tecnológicos.
9
2. GESTÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL
2.1. A tomada de consciência da problemática
Na segunda metade do século XX, com a intensificação do crescimento econômico
mundial, os problemas ambientais se agravaram e começaram a aparecer com maior
visibilidade para amplos setores da população, particularmente dos países desenvolvidos, os
primeiros a serem afetados pelos impactos provocados pela Revolução Industrial (DIAS,
2006).
Até o ano de 1962, os problemas derivados da relação do homem com o meio
ambiente foram abordados de forma muito superficial. Nesse ano, Rachel Carson publicou o
livro Silent Spring (Primavera Silenciosa), que teve enorme repercussão na opinião pública e
que expunha os perigos de um inseticida, o DDT (DIAS, 2006).
Rachel Carson trabalhou durante 17 anos no US Fish and Wildlife Service
(Departamento de Caça e da Vida Selvagem dos EUA), e teve a oportunidade de conhecer os
problemas relacionados com os pesticidas. O livro foi escrito para alertar o público e
incentivar as pessoas a reagir contra o abuso dos pesticidas químicos. Os agricultores se
opuseram à autora do livro energicamente, afirmando que, sem inseticidas, o rendimento das
colheitas diminuiria 90%. Como resposta, a autora defendeu o emprego de controles
biológicos, que consistem na utilização de fungos, bactérias e insetos para combater os
parasitos que se nutrem das plantas (DIAS, 2006).
Com o livro, e sua repercussão, o Senado dos EUA foi levado a proibir quase
totalmente a utilização do DDT nos Estados Unidos. Anos mais tarde, os cientistas
descobriram concentrações da substância nos pinguins e ursos polares do Ártico, e em baleias
da Groenlândia, que estavam muito distantes das zonas agrícolas onde o pesticida tinha sido
utilizado.
Segundo Dias (2006), no ano de 1968, três encontros foram fundamentais para
delinear uma estratégia para o enfrentamento dos problemas ambientais na década de 70 e
seguintes:
a) no mês de abril de 1968, estiveram reunidas em Roma, Itália, pessoas de dez
países, entre cientistas, educadores, industriais e funcionários públicos de
diferentes instâncias de governo, com o objetivo de discutir os dilemas atuais e
futuros do homem. Deste encontro nasceu o Clube de Roma, uma organização
10
informal descrita, com muita propriedade, como um “colégio invisível”. Suas
finalidades eram promover o entendimento dos componentes variados, mas
interdependentes - econômicos, políticos, naturais e sociais -, que formam o
sistema global; chamar a atenção dos que são responsáveis por decisões de alto
alcance, e do público do mundo inteiro, para aquele novo modo de entender e,
assim, promover novas iniciativas e planos de ação;
b) a Assembléia das Nações Unidas, nesse ano de 1968, decide pela realização, em
1972, na cidade de Estocolmo, na Suécia, de uma Conferência Mundial sobre o
Meio Ambiente Humano;
c) a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO)
promove em Paris, no mês de setembro de 1968, uma Conferência sobre a
conservação e o uso racional dos recursos da biosfera que estabelece as bases para
o lançamento, em 1971, do Programa Homem e a Biosfera (MAB).
Esses encontros demonstram o crescimento da questão ambiental e coloca o ano de
1968 como um marco nas discussões sobre o meio ambiente. É importante lembrar que esse
ano foi atípico, constituindo-se num momento histórico em que ocorreram grandes
mobilizações de massa, principalmente estudantis, no mundo todo, que questionavam a
racionalidade do sistema capitalista como um todo e buscavam formas alternativas de
convivência. Certamente, este clima social e político contribuíram para o aprofundamento do
debate ambiental.
No início da década de 70, tornaram-se mais consistentes os questionamentos sobre o
modelo de crescimento e desenvolvimento econômico que perdurava desde a Revolução
Industrial, que teve início no século XVIII. O que se questionava era que, embora tivessem
ocorrido profundas mudanças na economia, os níveis de subdesenvolvimento e pobreza não
abaixavam, e em muitos casos aumentavam; além disso, a desigualdade social entre os países
desenvolvidos e subdesenvolvidos se tomava cada vez maior.
Do ponto de vista ambiental, questionava-se cada vez mais o mito da abundância do
capital natural, e constatava-se que o modelo de crescimento econômico até então adotado
provocou agravamento da deterioração ambiental, com o aumento da contaminação e a
possibilidade do esgotamento dos recursos naturais.
No final do século XX, no início da década de 90, o meio ambiente ocupava um
patamar privilegiado na agenda global, tendo se tomado assunto quase obrigatório nos
inúmeros encontros internacionais. Foi um período de intensos debates, atividades, fóruns e
11
encontros que resultaram em um consenso mundial dos perigos que corria o planeta caso se
mantivesse o modelo de crescimento insustentável até então em vigor.
2.2. Importância da gestão e da educação ambiental
A Comissão Mundial do Ambiente e Desenvolvimento, no seu relatório de 1987,
conhecido como “Nosso Futuro Comum”, realçou a importância da proteção do ambiente. A
Carta Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável foi criada para auxiliar as empresas a
cumprir, de forma abrangente, as suas obrigações em matéria de gestão do ambiente
(MONTEIRO JUNIOR; RENDEIRO NETO, 2011). A Carta Empresarial, oficialmente
divulgada em 1991, considera que as organizações versáteis, dinâmicas, ágeis e lucrativas
devem ser a fonte da capacidade de gestão, dos recursos técnicos e financeiros indispensáveis
à resolução dos desafios ambientais. Para entender os estágios evolutivos da gestão ambiental
abordados mais adiante neste capítulo, é importante conhecer alguns conceitos sobre gestão
ambiental. Destarte, trazem-se considerações e conceitos sobre gestão ambiental na visão de
alguns dos principais autores.
A gestão ambiental envolve planejamento, organização, e orienta a empresa a alcançar
metas ambientais específicas. A gestão ambiental pode se tornar também um importante
instrumento em suas relações com as partes interessadas. A gestão ambiental deve ser uma
das principais prioridades e como fator determinante do desenvolvimento sustentável deve
auxiliar empresas a estabelecer políticas, programas e procedimentos para conduzir as
atividades de modo ambientalmente seguro. Os principais instrumentos de gestão ambiental
são a auditoria ambiental, o marketing ambiental, a administração com consciência ambiental
e as práticas e programas inovadores de gerenciamento ambiental. Gestão ambiental é a
compreensão do meio ambiente, seus fatores controláveis e não controláveis e sua relação
com a organização inserida neste contexto (ANDRADE; TACHIZAWA; CARVALHO,
2000).
São identificados níveis diferentes de gestão ambiental, onde se percebem processos
de evolução da questão ambiental. Fatores como o respeito à legislação geralmente são
tratados como corretivos ou voltados ao controle da poluição, já as mudanças em produtos e
processos, ou a percepção da necessidade de longo prazo para as questões ambientais, podem
ser vistas como comportamento proativo em relação à gestão ambiental. As inovações
tecnológicas de produto e de processo podem variar de acordo com a importância atribuída à
gestão ambiental; quanto mais proativa a organização, mais inovações tecnológicas voltadas
12
ao meio ambiente serão encontradas. Gestão ambiental, de acordo com o grau de importância
dada as questões relativas ao meio ambiente, pode ser caracterizada por controle, prevenção
ou pro atividade. Organizações que possuem SGA (Sistema de Gestão Ambiental) enfatizam,
de modo diferenciado, as inovações tecnológicas de processo, de produto e a origem da
tecnologia (ROHRICH; CUNHA, 2004).
O estudo da literatura em gestão ambiental propicia uma melhor avaliação da
conscientização ambiental à luz de diversos estágios evolutivos, que traduzem a maturidade
de determinada organização para com o tratamento das questões ambientais. Sanches (2000)
salienta ainda que um elemento fundamental para assegurar o desempenho econômico,
produtivo e ambiental de uma empresa industrial é a utilização de tecnologias ambientais. No
caso da proteção ambiental, as tecnologias ambientais envolvem: tecnologias de controle de
poluição, tecnologias de prevenção da poluição e tecnologias de produtos e processos.
De acordo com Sanches (2000), as tecnologias de controle de poluição (end-of-pipe)
têm como principal objetivo combater as saídas indesejáveis de resíduos do processo
produtivo (poluição), sem realizar intervenções no próprio processo (equipamentos de
controle de emissões e efluentes, tais como filtros purificadores, incineradores e redes de
tratamento de água e esgoto). As tecnologias de prevenção da poluição estão centradas no
processo produtivo para torná-lo mais eficiente, ou seja, ampliar a taxa de utilização dos
insumos nos produtos fabricados (resíduos que não podem ser eliminados, reutilizados ou
reciclados).
Finalmente, as tecnologias de produtos e processos caracterizam-se pela aplicação
contínua de uma estratégia ambiental preventiva integrada aos processos e produtos para
reduzir riscos aos seres humanos e ao meio ambiente (conservação de matérias-primas e
energia, a eliminação de matérias-primas tóxicas e a redução da quantidade e toxicidade de
todas as emissões e resíduos antes de deixarem o processo, e redução de impactos por todo o
ciclo de vida do produto, da extração das matérias-primas até a disposição final dos produtos)
(SANCHES, 2000).
Quanto a Educação Ambiental não pode ser abordada apenas no ambiente local, pois o
ambiente pode ser usado por vários povos e nações. Deve ser um instrumento utilizado para
alteração dos padrões de comportamento de sociedades e de valoração do meio ambiente. É
de suma importância a aplicação deste instrumento, pois somente por meio da Educação
Ambiental, poderá obter integração e visão do meio ambiente, cujo benefício resultará na
participação dos autores sociais em projetos que garantam a construção e manutenção de uma
13
sociedade sustentável, utilizando os recursos naturais de forma coerente com objetivo de
preservá-los para as futuras gerações.
Na II Conferência Internacional sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, a ECO
92, realizada no Rio de Janeiro, teve se o reconhecimento da necessidade de participação da
sociedade, bem como de programas educacionais. Neste encontro o documento da Agenda 21,
reconhece o valor da conscientização dos cidadãos em busca de um ambiente mais
equilibrado e melhor qualidade de vida.
O processo de reconhecimento da Educação Ambiental como política pública
consolidou-se em abril de 1999, com o advento da Lei 9.795, que disciplina a Política
Nacional de Educação Ambiental (PNEA). Apresentando a Educação Ambiental como
componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar, de forma articulada,
em todos os níveis de maneira formal e não formal. Vedando, o estabelecimento da educação
ambiental como disciplina isolada, devendo ser tratada como tema transversal, permeando
todas as áreas do saber, como um mecanismo que permita e facilite a passagem da realidade
ambiental, dando um sentido social à práxis educativa (BRASIL, 1999).
O enfoque na Educação traz, assim, a necessidade de compreensão das raízes das
questões tratadas a partir de um olhar complexo e referencial, capaz de integrar os pontos de
vista antropológico, sociológico e psicológico, como suporte para a razão econômica e
política.
Para que a Educação Ambiental possa contribuir nesse processo, é preciso que o
educador ambiental atue como um intérprete: (...) a busca dos sentidos da ação humana que estão na origem dos processos socioambientais parece sintetizar bem o cerne do fazer interpretativo em educação ambiental. Ao evidenciar os sentidos culturais e políticos em ação nos processos de interação sociedade-natureza, o educador seria um intérprete das percepções – que também são, por sua vez, interpretações – sociais e históricas – mobilizadoras dos diversos interesses e intervenções humanas no meio ambiente. Bem ao contrário de uma visão objetiva, na qual interpretar o meio ambiente seria captá-lo em sua realidade atual, descrever suas leis, mecanismos e funcionamento, trata-se aqui de evidenciar os horizontes de sentido histórico-culturais que configuram as relações com o meio ambiente para uma determinada comunidade humana e num tempo específico (CARVALHO, 2001, p. 32).
Compreender os sentidos culturais e políticos implica em perceber formas de
construção e enraizamento na vida cotidiana. Podemos utilizar, aqui, a noção de habitus,
criada por BOURDIEU (1972) para referir-se aos fenômenos de “imprinting” dos padrões
culturais na vivência cotidiana dos indivíduos-sujeitos de um sistema de disposições duráveis
que se torna matriz de representações e ações, de acordo com a posição dos sujeitos na
estrutura social.
14
No que se refere à racionalidade do lucro capitalista, esta dimensão aponta para as
repercussões das ideologias do individualismo e do consumismo na formação da ética pessoal
e grupal, incompatíveis com a lógica do cuidar.
2.2.1. Políticas ambientais
A obtenção de qualidade ambiental associada ao desenvolvimento econômico, em
primeiro lugar, demanda conhecimentos para a fixação do nível ideal de conservação e, em
segundo, mecanismos para se alcançar esta meta. O nível de preservação está associado aos
padrões ambientais, enquanto os meios de se obter a qualidade desejável relacionam-se aos
instrumentos de gestão ambiental (JARDIM JUNIOR, 2006).
Para tanto, a formulação de uma política ambiental eficaz demanda a utilização de
uma composição de instrumentos. Reconhecidamente, cada tipo de situação pode ser melhor
solucionada por um tipo de instrumento ou associação de alguns deles. O sucesso da política
está condicionado aos instrumentos escolhidos, afinal eles devem levar ao alcance dos
objetivos estipulados envolvendo os menores custos sociais possíveis. A fixação de padrões
ambientais, para o economista, representa um grande desafio. De um lado, padrões
representam restrições ao agente privado tanto na produção como no consumo, de outro
representam uma alternativa de maximização do benefício social (FARIA; NOGUEIRA;
MUELLER, 2002).
O nível adotado de intervenção sobre o mercado para maximizar a utilidade é
extremamente difícil de obter na prática, já que a valoração dos custos e, sobretudo, dos
benefícios obtidos pela introdução de uma meta ambiental é complexa. Existem grandes
dificuldades de se mensurar quantos são afetados por uma fonte poluidora e em que grau. Por
outro lado, há também uma considerável lacuna na teoria própria da economia em se atribuir
preços a bens públicos. Além disso, a fixação de metas pode envolver outros aspectos não
econômicos, se a ação poluidora, por exemplo, coloca em risco a saúde pública. Assim, a
proposição de uma meta e a escolha dos instrumentos apropriados demanda grande esforço
para a formulação de uma política ambiental economicamente consequente (JARDIM
JUNIOR, 2006).
Conforme interpretação de Moreira (2001), a Política Ambiental é uma espécie de
carta de intenção e pode ser considerada a bússola do Sistema, pois contém diretrizes que
devem norteá-lo, servindo de base para a definição e revisão de objetivos e metas.
15
Segundo Cajazeira (1998), a Política Ambiental deve ser elaborada pela organização
(pública ou privada), contendo intenções e princípios com relação ao desempenho ambiental
global, assegurando que:
Seja apropriada a natureza, escala e impactos ambientais de suas atividades.
Inclua o comprometimento com a melhoria contínua e prevenção da poluição.
Inclua comprometimento com o atendimento à legislação e normas ambientais.
Seja documentada, implantada, mantida e comunicada a todos.
Esteja disponível para o público.
2.2.2. Instrumentos de gestão ambiental
Baumol e Oates (1979) e Jacobs (1995), costumam dividir as políticas de gestão
ambiental em três gêneros principais: instrumentos de persuasão, instrumentos econômicos e
comandos e controles.
Os instrumentos de persuasão caracterizam-se por mecanismos voluntários definidos
como “ferramentas que promovem estímulos não forçados por lei, nem por incentivos
financeiros, que encorajam indivíduos, grupos e empresas a protegerem o meio ambiente”
(JACOBS, 1995, p. 254).
A promoção deste instrumento está relacionada à exaltação de valores morais da
sociedade ou a informações ou propriamente à educação.
Exemplificam estes instrumentos a educação ambiental caracterizada por Perman et al.
(1999), como a socialização da educação e cultura que, em longo prazo, desenvolve
consciência coletiva podendo, por isto, promover forte poder de pressão em defesa ao meio
ambiente e o fornecimento de informação que, conforme Nogueira; Pereira (1999, p. 3),
representa, em muitos casos, uma oportunidade de “induzir medidas que de controle
ambiental que promovem a redução de gastos de agentes econômicos”, como por exemplo,
programas de divulgação dos usos racionais de água e energia.
Por muito tempo os economistas atribuíam estreita margem de aplicação destes
instrumentos em programas ambientais. Baumol; Oates (1979, p. 108) ressaltavam sua
conveniência à “publicidade, pressão social e participação comunitária em programas de curta
duração, sobretudo, em estado de calamidade pública”.
Os instrumentos econômicos de gestão ambiental são aqueles que induzem os agentes
a alcançar metas ambientais com o uso de incentivos, positivos ou negativos, via sistema de
preços. Esses mecanismos de criação de mercado representam, de forma muito evidente, um
16
meio de internalizar as externalidades do mercado que afetam o meio ambiente. Isto porque,
ao se elevar o preço da atividade nociva, os agentes responsáveis pagam o valor completo
pelo dano que provocam em sua atividade econômica (JACOBS, 1995).
Os principais instrumentos econômicos da economia ambiental, segundo Jacobs
(1991), são: taxas, impostos e multas (para promoverem o desejável efeito de criação de
mercado, a taxação deve ocorrer sobre a quantidade específica de carga poluidora produzida
ou sobre a quantidade do bem ambiental utilizado), subsídios (o contrário da taxação, pois os
agentes econômicos recebem algum tipo de incentivo como redução ou isenção de impostos,
reserva de mercado para seus produtos, créditos com juros baixos e outros) para promoverem
a redução dos danos ambientais, licenças negociáveis de poluição (atua via quantidade de
emissões/degradação e não via preço como os demais instrumentos econômicos.
Ele se fundamenta na determinação de um nível máximo de poluição/degradação
almejada para o meio ambiente em uma região. A carga aceitável de poluição/degradação é
então distribuída pela agência ambiental entre os agentes econômicos interessados em poluir,
sob a forma de licenças negociáveis e depósitos reembolsáveis (fundamenta-se na atribuição
de uma sobretaxa no preço de um produto potencialmente poluidor, para oportunamente
devolvê-la aos agentes no retorno dos resíduos deste produto a um sistema de coleta. Os
depósitos reembolsáveis são, geralmente, utilizados em produtos com ciclos curtos de uso tais
como embalagens de refrigerantes, baterias, e pneus de automóveis, favorecendo a reciclagem
e a reutilização).
Finalmente, o último instrumento de gestão ambiental, os comandos e controles
caracterizam-se pelos controles diretos e legislação que dominam programas ambientais nos
EUA e demais países (JARDIM JUNIOR, 2006).
Com o fim de gerar um comportamento socialmente desejável, as autoridades
ambientais simplesmente decretam por lei o comportamento e utilizam determinados
mecanismos de execução de leis (tribunais, multas, polícia) para que as atividades se sujeitem
a padrões ambientais. Os instrumentos mais usuais de comando e controle são: Estudos de
Impacto Ambiental (EIA), licenciamentos, zoneamento e controles diretos (JARDIM
JUNIOR, 2006).
Os Estudos de Impacto Ambiental (EIA) consiste em um conjunto de atividades e
tarefas técnicas com a finalidade de avaliar as principais consequências ambientais potenciais
de um projeto, visando atender aos regulamentos de meio ambiente e, efetivamente, auxiliar
na decisão de implantação (ou não) do projeto (NOGUEIRA; PEREIRA, 1999).
17
Os licenciamentos são considerados os principais instrumentos de política de
preservação de recursos naturais no Brasil, principalmente nas atividades rurais. Representa
uma autorização concedida pela agência ambiental para exploração econômica de áreas de
relevante interesse ambiental em propriedades privadas (NOGUEIRA; PEREIRA, 1999)
O licenciamento pode estabelecer padrões de uso e exploração de recursos naturais
bem como a reabilitação de áreas a serem exploradas (JARDIM JUNIOR, 2006).
A política de recursos hídricos brasileira também se apoia nesta ferramenta embasada
na Lei Federal nº 9.433 (BRASIL, 1997).
O zoneamento consiste em regular a atividade econômica em áreas naturais privadas
ou de domínio público/privado, mediante a determinação de reservas ecológicas ou áreas de
preservação permanente, em certa proporção a área total. Tem o objetivo de proteger os
recursos hídricos, vegetações em encostas, dentre outras (NOGUEIRA; PEREIRA, 1999).
Os controles diretos consistem em regulamentações para limitar níveis de emissão de
poluentes, ou especificações obrigatórias para equipamentos ou processos produtivos,
buscando estimular um comportamento adequado (JARDIM JUNIOR, 2006). Os comandos e controles, frequentemente, fundamentam-se na observância de limites impostos à atividade econômica, ou seja, na adoção de padrões ambientais. Jacobs (1995), referindo-se à tomada de decisão de política ambiental, cita duas etapas como fundamentais: a primeira consiste no estabelecimento dos indicadores ambientais chaves e metas; na segunda adotam-se os meios para influenciar a atividade econômica para que ela não exceda estas metas e assim garantir o nível desejável de proteção ao meio ambiente (JARDIM JUNIOR, 2006, p. 27).
As autoridades ambientais devem buscar padrões que levem a níveis sociais eficientes
de contaminação. Como esses níveis dependem das condições locais, e por comandos e
controles serem determinações centrais, frequentemente, despreza-se a busca de eficiência
econômica e os níveis são definidos por considerações de segurança ou saúde, em modelos
denominados arbitrários (JARDIM JUNIOR, 2009).
Comandos e controles representam a alternativa, quase que exclusiva, em uso nos
países de políticas ambientais frágeis ou recentes (DIETZ; VOLLEMBERGH, 1999). Porém,
os países avançados passaram a intensificar gradativamente, nas últimas três décadas,
mecanismos de mercado, buscando aumentar a eficiência econômica da intervenção ambiental
do governo.
Existem, no entanto, três situações em que comandos diretos são indispensáveis:
impossibilidade de medição das emissões; em situações de rápidas mudanças nas condições
ambientais; e para os poluentes extremamente perigosos (JARDIM JUNIOR, 2006).
18
No Brasil as políticas ambientais são baseadas quase que exclusivamente no enfoque
de comando e controle, como se percebe na análise da Lei nº 6.938 (BRASIL, 1981)
complementado pelo Decreto de 15 de setembro de 2010 (BRASIL, 2010). Os principais
instrumentos nela utilizados são: estudos de impactos ambientais, licenciamentos,
zoneamento e controles diretos. Estudos estatísticos mostram não ser suficiente a simples promulgação de leis ou a fixação de padrões para se atingir uma meta. Os esforços de fazer com que a lei seja cumprida também devem ser levados em consideração, afinal a determinação do custo social da política ambiental representa uma tarefa de grande responsabilidade para o governo (FIELD, 1997, p. 260).
Em um ambiente competitivo, o acréscimo do custo ambiental não deve ameaçar o
fechamento de empresas, ou promover excessiva sofisticação do monitoramento pela agência
ambiental (FIELD, 1997).
Para elaboração de políticas, é preciso ter em mente que padrões muito exigentes nem
sempre levam a reduções significativas da poluição (FIELD, 1997).
O formulador deve preocupar-se em propiciar caminhos flexíveis para tornar
exequível a meta fixada. A política deve objetivar a minimização de custos aos agentes
privados e a agencia ambiental, o que reflete maior ganho social (FIELD, 1997).
2.2.3. Novas estratégias de gestão ambiental
Atualmente, novas políticas públicas são direcionadas para a melhoria das condições
de saneamento básico das comunidades. Essas políticas são eficazes para diminuir a
mortalidade infantil pós-neonatal, período este em que os óbitos ocorrem, principalmente,
devido a doenças relacionadas às condições do ambiente em que se vive. Esse fato confirma
que o aumento da cobertura populacional por sistemas de esgotamento sanitário pode
contribuir para reduzir ainda mais a mortalidade infantil no Brasil (HOLCMAN; LATORRE;
SANTOS, 2004).
Neste contexto, os efeitos positivos do saneamento no crescimento econômico e na
redução da pobreza são evidentes. Segundo um estudo da Organização Mundial da Saúde,
“cada dólar investido na melhoria do saneamento para o alcance dos Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio gera, em média, um benefício econômico de US$ 12” (PRÜSS-
ÜSTÜN et al., 2008, p. 45).
Desta evidência, novas formas de investimentos podem ser elaboradas, como
estratégias diferenciadas para a realização do investimento no setor de saneamento. Como
exemplo, tem-se o Projeto Água Limpa, implantado em 31 de maio de 2005 e coordenado
19
pela Secretaria de Energia, Recursos Hídricos e Saneamento (SERHS) do Estado de São
Paulo. Esse projeto recebe verbas provenientes do orçamento do setor da saúde e tem por
objetivo recuperar a qualidade das águas, melhorando a qualidade de vida dos habitantes dos
municípios, bem como os indicadores de saúde pública e desenvolvimento da cidade, com o
investimento e a implantação de obras de tratamento de efluentes urbanos, em municípios de
até 30 mil habitantes, que não são atendidos pela Sabesp (LEONETI; PRADO; OLIVEIRA,
2011).
O engenheiro Carlos Eduardo Alencastre, secretário executivo do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Pardo (CBH-Pardo, apud LEONETI; PRADO; OLIVEIRA, 2011), destacou
que a manutenção dos critérios que priorizam o saneamento básico vem ao encontro do que
preconiza o plano para a universalização dos serviços de coleta e tratamento de esgotos nos
municípios da área do CBH-Pardo (27 cidades), em grande parte por meio dos recursos
advindos deste projeto.
O Projeto Água Limpa só disponibiliza recursos na fase de instalação do sistema,
ficando a operação e manutenção a cargo das prefeituras. Dessa forma, há uma necessidade de
garantir, através de uma justa cobrança tarifária, a continuidade dos serviços, que sejam
capazes de cobrir os custos de operação e manutenção do sistema, além de gerar um
excedente para retornar os valores dos financiamentos, quando for o caso.
O PRODES, da Agência Nacional de Águas (ANA), do Ministério do Meio Ambiente,
em Brasília, também é conhecido como “programa de compra de esgoto tratado”, e pode ser
considerado uma iniciativa inovadora, uma vez que não financia obras ou equipamentos, mas
paga pelos resultados alcançados pelo esgoto efetivamente tratado (LEONETI; PRADO;
OLIVEIRA, 2011).
Muitas das estações financiadas pelo PRODES foram projetadas com combinação de
processos anaeróbios e aeróbios no tratamento e levam em consideração a sustentabilidade do
empreendimento com base em indicadores tecnológicos, tais como: qualificação da mão de
obra, nível cultural ou outros, e outros indicadores, tais como o Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (LEONETI;
PRADO; OLIVEIRA, 2011).
Outros modelos de gestão foram analisados por Justo (2004), que comparou a gestão
pública com a privada, concluindo que, com base na comparação entre dois casos nacionais
estudados de concessão e um de gestão pública, a universalização dos serviços de saneamento
básico no Brasil poderia ser alcançada por meio da tarifa cobrada pelos serviços. Para o caso
das empresas públicas, tornar-se-ia necessária a redução, por meio de renegociação de
20
contratos das empresas do setor público com o setor privado, do total de dívidas a curto prazo
além de diminuição dos índices de perdas nos serviços. No caso das empresas privadas,
percebeu-se que todas as vantagens, como o aumento na lucratividade, foram apropriadas pela
empresa, não sendo revertidas em novos investimentos (LEONETI; PRADO; OLIVEIRA,
2011).
Outro exemplo de estratégia de gestão ambiental é o Programa Estadual Água é Vida a
ser retratado e analisado no item 4 deste estudo.
21
3. SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL
3.1. Considerações sobre saneamento básico
Saneamento é entendido, segundo Rezende; Heller (2002, p. 15), como “ação de saúde
pública, o têm na conta de dever do Estado e direito do cidadão, pugnado pela universalização
do atendimento, pelo direito ao serviço de qualidade, com participação e controle social”.
É inegável que a eficiência, a qualidade e a universalidade dos serviços de saneamento
básico são fundamentais para a qualidade de vida da população de qualquer país. Com
impactos diretos sobre a saúde pública, de acordo com a Organização Mundial da Saúde
(OMS), para cada US$ 1 gasto em saneamento são economizados US$ 4 com saúde pública
(MADEIRA, 2010).
De acordo com o Banco Mundial (apud MADEIRA, 2010), [...] 1,6 milhão de crianças morrem todo ano devido à diarréia, causada principalmente por condições inadequadas de saneamento básico e higiene, ambiente e o desenvolvimento econômico de um país. Nesse contexto, um aumento dos investimentos no setor pode ser considerado como parte de uma estratégia de amplo desenvolvimento econômico e social (BANCO MUNDIAL apud MADEIRA, 2010, p. 126).
Aquém dos aspectos voltados à saúde pública, os investimentos em saneamento no
desenvolvimento econômico fazem-se importante na geração de emprego, agregação de valor
a outras atividades (como o turismo e o setor imobiliário) e o fluxo de renda para indústrias
que fazem parte da cadeia produtiva. Dentre as características produtivas, físicas e
econômicas do setor, pode-se dizer que tendo em vista a essencialidade e as externalidades
dos serviços de água e esgoto, pode-se afirmar que esses são serviços de utilidade pública
(SUPs) e que as questões da universalidade, qualidade e equidade da prestação dos serviços
são fundamentais (MADEIRA, 2010).
As tarifas cobradas no fornecimento desses serviços devem ser suficientes para cobrir
os seus custos, garantir novos investimentos e manutenção adequada, além de assegurar que
toda a população seja atendida, inclusive as famílias de baixa renda que, porventura, não
tenham condição de pagar o serviço (GALVÃO; PAGANINI, 2009).
Jouravlev (2004) relaciona três razões por que tradicionalmente o setor deve ser
verticalmente integrado: impossibilidade de competição em qualquer estágio do processo de
produção; a integração vertical gera consideráveis economias de escopo; e a dificuldade de
tarifar as diferentes etapas da produção.
22
O Quadro 1 relaciona as características do setor de saneamento segundo Galvão;
Paganini (2009).
CARACTERÍSTICAS REPERCUSSÔES
FÍSI
CA
S
Maioria dos ativos
(redes de água e esgoto)
encontra-se enterrada
Difícil determinação do estado de conservação, custo de
manutenção elevado e complexidade para detecção de
vazamentos nas tubulações
Mudança lenta no
padrão Tecnológico
Poucos ganhos de eficiência mediante avanços
tecnológicos e ativos com vida útil prolongada
Qualidade dos produtos
de complexa
verificação pelo usuário
Necessidade de estrutura adequada para monitoramento
da qualidade de produtos e serviços ofertados pelas
concessionárias
Redes integradas em
aglomerados urbanos
Envolvimento de mais de um ente federado na gestão
dos serviços e expansão da infraestrutura associada ao
planejamento urbano
Essencialidade no uso e
consumo dos produtos
(água e esgoto)
Atendimento independente da capacidade de pagamento
do usuário e geração de externalidades positivas e
negativas para a saúde pública, meio ambiente, recursos
hídricos, entre outros
ECO
NÔ
MIC
AS
Custo fixo elevado Pouca flexibilidade para a periodização dos
investimentos
Ativos específicos e de
longa maturação
Monopólio natural; inexistência de usos alternativos e
baixo valor de revenda; possibilidade remota de saída
das concessionárias do mercado (não contestável); e
pouca atividade para investimentos
Assimetria de
informações
Demais atores do setor dependem da informação técnica
e econômico-financeira disponibilizada pelas
concessionárias
Demanda inelástica Possibilidade de extração de rendas significativas pelo
prestador de serviços (monopólio)
23
Economias de escala Possibilidade de extração de rendas significativas pelo
prestador de serviços (monopólio)
Economias de escopo
Custos comuns na operação de serviços de água e
esgoto e tratamento de esgotos, tornando mais viável a
prestação dos serviços por uma única empresa
Quadro 1 - Características do setor saneamento Fonte: Galvão; Paganini (2009)
O saneamento básico se restringe segundo Rezende; Heller (2002):
a) Abastecimento de água às populações, com a qualidade compatível com a proteção
de sua saúde e em quantidade suficiente para a garantia de condições básicas de
conforto;
b) Coleta, tratamento e disposição ambientalmente adequada e sanitariamente segura
de águas residuárias (esgotos sanitários, resíduos líquidos industriais e agrícolas);
c) Acondicionamento, coleta, transporte e/ou destino final dos resíduos sólidos
(incluindo os rejeitos provenientes das atividades doméstica, comercial e de
serviços, industrial e pública); e
d) Coleta de águas pluviais e controle de empoçamentos e inundações.
Os serviços de saneamento básico incluem, segundo Nozaki (2007), atividades como
abastecimento de água, coleta e tratamento de esgotos, lixo, drenagem e educação ambiental,
fazem parte dos chamados serviços de infraestrutura, juntamente com outros serviços do tipo:
energia elétrica (geração e transmissão), telecomunicações, transporte coletivo dentre outros. Todo este conjunto de serviços de infraestrutura em geral (na maior parte dos países) é ou possui provisão pública ou mesmo regulação pública; pois todas as suas características impedem que o mercado defina uma alocação eficiente ou acabe por gerar sub-investimentos. Por este motivo é que estes serviços são providos pelo poder público ou há a intervenção pública (NOZAKI, 2007, p. 23).
De acordo com Riani (2002), para a alocação de recursos surge o governo atuando
paralelamente ao setor privado, procurando estabelecer a produção ótima dos bens e serviços
que satisfaçam às necessidades da sociedade. Na teoria econômica os argumentos para a
intervenção pública são: a) bens públicos – a característica de um bem público está no fato de que não há
rivalidade e nem exclusão em seu consumo;
b) externalidades – é um efeito sentido em um determinado setor, provocado por
uma ação em outro realizado por pessoas ou mesmo empresas;
c) monopólio natural - é a característica de praticamente todos os serviços
públicos, pois possuem uma estrutura de custos, no qual, os custos unitários
24
declinam conforme aumenta a quantidade produzida, além da existência de
retorno crescente de escala (RIANI, 2002, p. 283).
Nozaki (2007) salienta que no caso do setor de saneamento básico, as três
características são encontradas, ou seja, é um bem público (mesmo sendo meritório), produz
externalidades e é classificado como um monopólio natural, porém, com algumas
peculiaridades. Como bem-público, o saneamento básico é um setor que apresenta as
características de ser um bem público, pois ele é não rival, ou seja, a utilização dos serviços
de abastecimento de água e a coleta e tratamento de esgoto por um individuo não interfere no
consumo de outro.
Em relação às externalidade, saneamento básico é um dos serviços de infraestruturas
que geram mais claramente externalidades, tanto nas áreas de saúde pública, meio ambiente,
no bem estar da população e também no próprio crescimento econômico. Isto porque,
investimentos para fornecer à população água de melhor qualidade, com um tratamento
eficiente, reduzem os riscos de transmissão de doenças, como diarréia e outras relacionadas à
contaminação hídrica, fazendo com que os gastos com saúde pública curativa se reduzam
(NOZAKI, 2007).
Dessa forma, investir em saneamento básico tem reflexos a médio e longo prazo para
reduzir os custos com saúde, pois a procura pelos serviços médicos de pessoas adoentadas
será reduzida. A definição de saneamento básico é muito ampla, e o atual entendimento por
saneamento básico esta mudando para saneamento ambiental, o que é mais geral ainda,
reunindo a questão da água, esgoto, lixo (domiciliar, hospitalar, da construção e outros),
drenagem, meio ambiente e educação ambiental, ou seja, um conjunto de ações e atividades
que interferem em muito na vida do cidadão. E, caso, todos esses itens sejam providos de
forma adequada, os riscos de doenças e parasitoses se reduzem muito (NOZAKI, 2007).
Sabe-se que a maioria das doenças ligadas à falta de saneamento básico em
consequência, dentre outros fatores, a água contaminada, assim, havendo políticas voltadas
para prover a população de uma melhor qualidade de água, coleta correta de esgoto e em
especial de um bom programa de higiene educacional, a promoção de reduções nos níveis de
doenças ligadas a saneamento tende a se reduzir (NOZAKI, 2007).
Mendonça; Motta (2007), dentre outros autores, verificaram a importância desse
investimento e comprovaram os resultados, por meio de um teste econométrico estimaram o
custo médio de salvar uma vida para cada tipo de serviço: saneamento, educação e saúde
pública, e chegaram a conclusões importantes, como a continua redução de analfabetismo, é a
25
alternativa mais barata para baixar os índices de mortalidade. Além disso, os autores
confirmaram a tese de que é vantajoso o investimento em saneamento. Considerando que o acesso aos serviços de saneamento são medidas preventivas que, além das externalidades positivas ao meio ambiente aqui não contabilizadas, evitam os riscos e desconfortos das doenças, nossos resultados sugerem que as ações preventivas de saneamento, em particular no tratamento da água, seriam mais justificáveis economicamente para a contínua redução da mortalidade infantil do que os gastos defensivos nos serviços de saúde (MENDONÇA; MOTTA, 2007, p. 12).
De acordo com Person (2002), o saneamento básico também é muito importante para o
meio ambiente, no que se refere à proteção de mananciais, corpos d’água, córregos, rios,
lagos, lagoas, terras entre outros. O novo formato de saneamento ambiental dá uma grande
importância para um tratamento global de todo o saneamento em todas as suas nuances, ou
seja, investir na exploração de um bem (água), mas também, promover ações variadas para
que essas fontes sejam mantidas e preservadas.
Para Nozaki (2007), quanto à externalidade gerada pelos investimentos de saneamento
no que se refere ao crescimento econômico, pode-se apontar a característica de que
investimentos em saneamento na maioria dos casos estão relacionados com grandes obras, e
que, isso acaba por gerar emprego, salário e consequentemente um crescimento da economia.
O monopólio natural é uma característica dos serviços de saneamento básico
(características de serem de rede), pois se enquadram nas características citadas por
Giambiagi e Além (2000) de monopólios naturais, como retornos crescentes de escala, custos
de produção declinam conforme aumenta a quantidade produzida; dependendo do setor, é
muito mais vantajoso haver um único produtor do que vários. E, ainda, o governo, com a
existência de monopólios, pode intervir para regular o mercado caso o monopólio seja
privado, ou mesmo produzir o bem.
Nozaki (2007) lembra que os serviços de saneamento básico têm algumas
características como custos de implantação elevados na medida em que, depois de realizado
os investimentos é praticamente impossível a utilização dos ativos para outros fins, que não os
de saneamento básico, são serviços caracterizados como essenciais e também com prazo
longo de maturação e economia de escala.
Para Giambiagi e Além (2000), todas estas características justificam, portanto a
necessidade de que o governo deve intervir no setor, provendo os serviços direta ou
indiretamente, de forma a regular a atividade executada por outra empresa. Porém, a sub
provisão de infraestrutura dificulta o crescimento econômico, vários trabalhos destacam o
papel do investimento em infraestrutura e mostram uma complementariedade entre o gasto
público e o privado; onde o investimento governamental em infraestrutura propicia o
26
investimento privado, possibilitando assim, maiores ganhos de produtividade e crescimento
econômico do país.
3.2. Aspectos legais e afins do saneamento básico no Brasil
Person (2002) lembra que no Brasil, o setor de saneamento básico, diferentemente de
outros setores, não foi alvo de um movimento forte do governo no sentido de privatização.
Talvez pela natureza dos serviços e por estar extremamente relacionado com a saúde pública
da população, sendo uma função clássica do governo e também pela sua complexidade, tanto
de ordem técnica como por sua estrutura legal.
Segundo Nozaki (2007), os serviços de saneamento básico têm uma legislação
deficiente, além de algumas divergências sobre responsabilidades, por exemplo, a
Constituição Federal de 1988 determina que é responsabilidade da União a instituição do
sistema de gerenciamento de recursos hídricos, bem como a definição dos critérios para
outorga de direitos da sua utilização, bem como outras ações, porém, em seu, inciso V, artigo
30, define de uma forma não muito clara a responsabilidade dos municípios sobre os serviços: Artigo 30 – Compete aos Municípios: I – legislar sobre assuntos de interesse local; II – suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; V – Organizar e p restar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluindo o de transporte coletivo, que tem caráter essencial (BRASIL, 1988, p. 24).
Nozaki (2007) encontra justificativa no fato dos serviços de saneamento básico serem
de responsabilidades dos municípios e, portanto, podem e são considerados serviços de
caráter essencial.
Leoneti; Prado; Oliveira (2011) lembram que na década de 1990 foram implantados
alguns programas federais de apoio ao saneamento com financiamentos do Orçamento Geral
da União (OGU), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco Mundial (Bird),
Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Financiadora de Estudos
e Projetos (Finep), Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq) e Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) como se resume do Quadro 2.
Atualmente, por meio de políticas de saneamento ambiental e o afrouxamento das
regras de acesso ao setor privado, o setor de saneamento tem recebido considerável atenção e
incremento de investimentos tanto do setor privado, viabilizado pelas parcerias público-
privadas (PPPs) e por recursos próprios, quanto do setor público, por meio de recursos do
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), do Fundo de Amparo ao Trabalhador
27
(FAT), do Orçamento Geral da União (OGU) e de programas como o Programa de
Despoluição de Bacias Hidrográficas (Prodes), que paga aos municípios pelo esgoto
efetivamente tratado (ANA, 2012).
PROGRAMA PERÍODO FINANCIAMENTO BENEFICIÁRIO/
DESDOBRAMENTOS
Pronurb 1990-1994 FGTS e contrapartida População urbana em geral, com
prioridade à baixa renda
Pró-
Saneamento 1995 FGTS e contrapartida
Preponderantemente áreas com
famílias com renda de até 12 s.m
Pass 1996
Orçamento Geral da
União (OGU) e
contrapartida, Banco
Interamericano de
Desenvolvimento
(BID) e Banco
Mundial (Bird)
População de baixa renda em
municípios com maior
concentração de pobreza
Prosege 1992-1999 BID e contrapartida
População de baixa renda,
privilegiando comunidades com
renda de até 7 s.m.
Funasa-Sb OGU e contrapartida
Apoio técnico e financeiro no
desenvolvimento de ações com
base em critérios epidemiológicos
e sociais
PMSS I 1992-2000 Bird e contrapartida
Estudos e assistência técnica aos
estados e municípios em âmbito
nacional; investimentos em
modernização empresarial e
aumento de cobertura dirigidos à
Casan, Embasa e Sanesul
PMSS II 1998-2004 Bird e contrapartida Passa a financiar companhias do
norte, nordeste e centro-oeste e
28
estudos de desenvolvimento
institucional
PNCDA 1997 OGU e contrapartida
Uso racional de água em
prestadores de serviço de
saneamento, fornecedores e
segmentos de usuários
FCP/SAN 1998 FGTS, BNDE S e
contrapartida
Concessionários privados em
empreendimentos de ampliação de
cobertura em áreas com renda de
até 12 s.m.
Propar 1998 BNDES
Estados, municípios e
concessionários contratando
consultoria para viabilização de
parceria público-privada
Prosab 1996 Finep, CNP q, Capes
Desenvolvimento de pesquisa em
tecnologia de saneamento
ambiental
Quadro 2 - Principais programas federais em saneamento na década de 1990 Fonte: Turolla (2002, apud LEONETI; PRADO; OLIVEIRA, 2011)
Existem várias leis relacionadas com o setor de saneamento, em 1993, a Lei 8.666 -
Lei de Licitações, como é conhecida, foi essencial para todo o setor público e até privado, na
medida em que é utilizada tanto na gestão pública das atividades, como nos processos de
concessão (privatização) dos serviços públicos. A Lei se aplica a qualquer entidade pública e
também é a lei a qual a constituição remete para os processos de concessão ou outorga de
qualquer serviço público, dentre eles os serviços de saneamento básico. A regulação do setor
é essencial para o setor, porém são necessários movimentos em outras áreas como sistema
financeiro, de crédito, seguros, legal dentre outros (BRASIL, 1993).
A Lei nº 8.987 (BRASIL, 1995a) sobre a Lei de Concessões, é um marco para a
privatização, pois estabeleceu regimes de concessão e de permissão da prestação de serviços
públicos, conforme previsto no artigo 175 da Constituição Federal, ou seja, ela viabilizou e
autorizou a participação de capital privado em atividades que antes eram proibidas.
29
Em 1995 foi ainda aprovada a Lei nº 9.074 (BRASIL, 1995b), que estabeleceu normas
para outorga e prorrogação das concessões e permissões de serviços públicos, sendo
importante para prover aos investidores maiores garantias contratuais.
Em 1997, a Lei nº 9.433 (BRASIL, 1997) – Lei de Recursos Hídricos criou o Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e por fim a: A regulação da prestação de serviços será um elemento de toda uma futura configuração institucional a ser criada, mas seu raio de poder e sua importância estarão condicionados ao tipo de equacionamento jurídico, ou político, do emaranhado de indefinições que hoje caracteriza o setor de saneamento básico (ARAÚJO, 1999, p. 73).
Vários questionamentos foram levantados sobre essa questão, principalmente quando
se trata de regiões metropolitanas. Pois, nessas regiões, os limites territoriais dos municípios
se confundem, bem como há a necessidade de que vários sistemas forneçam água para a
região. Na região metropolitana de São Paulo, por exemplo, existem casos em que a captação,
o tratamento, a adução e a reservação são de responsabilidade da Sabesp (titularidade
estadual) e a distribuição de competência de uma empresa municipal, demonstrando um
arranjo, que fora promovido entre a Sabesp e a empresa do município, o que demonstra a
necessidade de uma organização legal sobre o assunto, para evitar possíveis problemas, como
a negativa de algum dos lados envolvidos em renovar contratos, acerto de valores etc.
Na maioria das regiões metropolitanas do País, as companhias estaduais conseguiram
as concessões dos municípios por contratos ou porque as mesmas já operavam no local, com
exceções de Betim (MG) e em Porto Alegre (RS).
Para que o setor de saneamento básico seja interessante para empresas privadas é
necessário que se defina claramente quais são as regras e o marco regulatório, principalmente
sobre a questão da titularidade dos serviços, pois a questão técnica também é de fundamental
importância.
Em regiões metropolitanas, a titularidade dos serviços ganha muito mais relevância
quando se imagina questões do tipo em que um município promove política de redução do
consumo de água e o seu vizinho não. Toda a política deve ser sincronizada, o que causa
problemas e dificulta qualquer tipo de ação.
No Brasil, a questão sobre recurso hídrico foi regulada pelo Código de Água, realizado
há vários anos (desde 1934). Em 2000, foi institucionalizada a Agência Nacional da Água
(ANA), que tem por finalidade implementar a política de recursos hídricos, integrando assim
o sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos, ou seja, políticas e iniciativas
30
voltadas a questões hídricas, bem como o estímulo para a criação de comitês de bacia
hidrográfica.
No País, todas as agências de regulação existentes, como a Anatel, Aneel e ANP,
foram criadas em razão das privatizações de seus respectivos setores e estruturadas, além de
que, toda a regulação do setor foi sendo realizada com o processo em curso.
Quando se fala de regulação, principalmente, quando se analisam outras agências no
Brasil: tem que se destacar a estrutura de contratos, a legislação referente a concessão,
licitações, etc., mas também uma forma legal e contratual de exigir a qualidade nos serviços
prestados para a população.
Em 2007, é decretada a Lei nº 11.445 (BRASIL, 2007) sobre as Diretrizes Nacionais
para o Saneamento Básico e define o Saneamento Básico como serviços de abastecimento de
água potável, de limpeza urbana e manejos de resíduos, de esgotamento sanitário e de
drenagem e manejo de águas pluviais. Com o advento da aprovação dessa Lei, o setor de
saneamento passou a ter um marco legal e contar com novas perspectivas de investimento por
parte do Governo Federal, baseado em princípios da eficiência e sustentabilidade econômica,
controle social, segurança, qualidade e regularidade, visando fundamentalmente a
universalização dos serviços, de modo a desenvolver nos municípios o Plano Municipal de
Saneamento Básico (PMSB).
A supracitada lei definiu um marco regulatório para o setor, expondo o conceito de
saneamento básico no artigo 3, inciso I, como um conjunto de serviços, infraestruturas e
instalações operacionais de: a) abastecimento de água potável: constituído pelas atividades, infraestruturas e
instalações necessárias ao abastecimento público de água potável, desde a
captação até as ligações prediais e respectivos instrumentos de medição;
b) esgotamento sanitário: constituído pelas atividades, infraestruturas e instalações
operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição final adequados dos
esgotos sanitários, desde as ligações prediais até seu lançamento final no meio
ambiente;
c) limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos: conjunto de atividades,
infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, transbordo,
tratamento e destino final do lixo doméstico e do lixo originário da varrição e
limpeza de logradouros e vias públicas; e
d) drenagem e manejo das águas pluviais urbanas: conjunto de atividades,
infraestruturas e instalações operacionais de drenagem urbana de águas pluviais,
de transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de vazões de cheias,
31
tratamento e disposição final das águas pluviais drenadas nas áreas urbanas
(BRASIL, 2007, p. 1).
A Lei 11.445 (BRASIL, 2007) em seu capítulo IX orienta a ação do governo federal
por meio da definição de um conjunto amplo de diretrizes, objetivos e metas para a
universalização e definição de programas, ações e estratégias para investimentos no setor.
Os aspectos ambientais, que complementam essa legislação, são tratados pelas
resoluções elaboradas no âmbito das agências de regulamentação, tais como a Resolução nº
357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA, 2005), que dispõe sobre a
classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como
estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes.
Essa resolução sofreu ajustes com a Resolução nº 397, de 2008, como a exclusão do
parâmetro nitrogênio amoniacal total em sistemas de tratamento de esgotos sanitários
(CONAMA, 2008).
O Conselho das Cidades também aprovou em 3 de dezembro de 2008, por meio da
Resolução Recomendada nº 62, o Pacto pelo Saneamento Básico, que marcou o início da
elaboração do Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab). Esse pacto, fruto de ampla
discussão com as principais entidades representativas do setor, representa o compromisso com
a elaboração do plano que visa estabelecer um ambiente de confiança e entendimento no
alcance dos seus objetivos e metas (BRASIL, 2008).
Consta como um dos principais objetivos deste pacto que, quanto à gestão dos serviços
de saneamento, o Plansab: [...] deverá buscar o desenvolvimento de mecanismos de gestão dos serviços e incentivar o desenvolvimento de modelos alternativos de gestão que permitam alcançar níveis crescentes de eficiência e eficácia e a sustentabilidade social, ambiental, econômica e financeira do saneamento básico [...] (MC, 2007, p. 7).
As leis que agora regem os serviços públicos de saneamento básico prevêem, entre
outros princípios, que os investimentos devam alcançar a eficiência e sustentabilidade
econômica. Esse desafio, a ser enfrentado pelos municípios brasileiros, demanda atuação
consistente e multidisciplinar para que seja superado de forma sustentável (BNDES, 2008). [...] “com a implantação no País de gestão dos recursos hídricos, considerando as bacias hidrográficas como unidades de gerenciamento, haverá grande necessidade de ferramentas que venham a auxiliar os órgãos administradores a realizar tal atividade” (ZUFFO, 1998, p. 5).
De acordo com os objetivos propostos pela Assemae, (2006) existe a necessidade de se
desenvolver o saneamento no Brasil, trazendo contribuições técnicas que possam auxiliar esse
32
desenvolvimento, baseadas no desenvolvimento e divulgação de pesquisas tecnológicas,
incentivando programas de melhoria da qualidade do saneamento ambiental.
3.3. Indicadores de saneamento básico no Brasil
De acordo com Rezende; Heller (2002), no Brasil, o desenvolvimento das ações de
saneamento, historicamente, esteve vinculado aos aspectos econômicos, interesses
dominantes, os quais foram os principais determinantes do caráter das ações coletivas, ou
seja, não considerando de fato a superação das carências sociais do país. Isto determinou a
exclusão de diversos segmentos da sociedade das políticas de saneamento, as quais
predominaram nas áreas de interesse econômico. Assim, os investimentos prioritários no setor
foram em abastecimento de água, em detrimento das ações menos lucrativas, o que
fragmentou a visão do saneamento, se manifestando também institucionalmente em uma
precária interação entre governos estaduais e os municípios.
Segundo Pereira (2003), o número expressivo de municípios que não dispõem de
coleta e tratamento de esgotos ocorre em razão de o saneamento não ser encarado como
prioridade e, portanto, faltar política eficaz para direcionar as ações nesse setor. Isso faz com
que os programas de saneamento acabem tendo caráter individual e localizado em municípios
específicos, sendo que algumas questões político-partidário-administrativas dificultam a
formulação de política única de implantação de infraestrutura sanitária nos municípios
brasileiros, o que naturalmente, prejudica a obtenção de recursos para esse tipo de
investimento.
A oferta de serviços de saneamento básico em áreas urbanas no Brasil aumentou
significativamente nas últimas décadas, como se observa na Tabela 1.
Tabela 1 - Evolução da cobertura dos serviços de abastecimento de água e coleta de esgotos no Brasil (%)
SERVIÇO DOMICÍLIOS ANO
1960 1970 1980 1990 2000 2010
Abastecimento de
água % Urbanos 41,8 60,5 79,2 86,3 89,8 91,9
Esgotamento
sanitário % Urbanos 26,0 22,2 37,0 47,9 56,0 58,9
Fonte: IBGE (2012)
33
A Tabela 1 demonstra que de 1960 para 2010, a porcentagem de domicílios urbanos
atendidos pela rede de distribuição de água e pela coleta de esgotos cresceu mais do que o
dobro.
O cenário atual do saneamento básico no Brasil denota, segundo o MC (2012), que o
atendimento em água potável, quando consideradas as áreas urbanas e rurais do País, a
distribuição de água atinge 81,1% da população. O atendimento em coleta de esgotos chega a
46,2% da população brasileira. Do esgoto gerado, apenas 37,9% recebe algum tipo de
tratamento. A região com maior índice de esgoto tratado é a Centro-Oeste, com 43,1%.
De 2009 a 2010 houve um crescimento de 2,2 milhões de ramais de água e de 2,4
milhões de ramais de esgotos no País (MC, 2012).
O consumo de água por habitante no Brasil apresentou crescimento de 7,1% em 2010
com relação a 2009: o consumo diário por habitante alcançou os 159 litros. A região com
menor consumo é a Nordeste, com 117 litros por habitante por dia; já a região com maior
consumo é a região Sudeste, com 186 litros por habitante por dia (MC, 2012).
A média de perdas de água (faturamento) diminuiu 1,2 pontos percentuais em 2010 em
relação a 2009, atingindo 35,9%. Receitas totais geradas pelos serviços de água e esgotos
alcançaram os R$ 70,5 bilhões em 2010 (MC, 2012).
Em relação ao saneamento básico nas áreas urbanas do país a distribuição de água
atinge 92,5% da população, sendo as regiões Sudeste e Sul as mais bem atendidas, com
96,6% e 96%, respectivamente. A coleta de esgotos atinge 53,5% da população, sendo as
regiões Sudeste e Centro-Oeste as mais bem atendidas, com 76,6% e 50,5%, respectivamente
(MC, 2012).
As companhias estaduais de saneamento são responsáveis pelos serviços de
distribuição de água em 80,4% municípios; e pelos serviços de esgotos em 58,6% dos
municípios. Na distribuição de água, isso representa 74,3% da população urbana; nos serviços
de esgotos, representa 69,9% da população urbana (MC, 2012). A Tabela 2 resume os
números do saneamento básico no Brasil.
Tabela 2 - Saneamento básico no Brasil
Região
Água (%
população
atendida)
Coleta de
Esgotos (%
população
atendida)
Índice
Tratamen
to de
esgotos
Perdas
Faturame
nto
Perdas
distribuiç
ão
Investime
ntos
Tarifa
Média
34
Total
Urban
o Total
Urban
o B1 Média
N 57,5 71,8 8,1 10,0 22,4 51,5 51,2 0,37 2,58
NE 68,1 887,1 19,6 26,1 32,0 44,3 50,8 2,0 2,37
CO 86,2 95,3 46,0 50,5 43,1 32,4 33,8 0,7 2,42
S 84,9 96,0 34,3 39,9 33,4 24,1 35,4 1,2 2,25
SE 91,3 96,6 71,8 76,9 40,8 34,3 34,4 4,7 1,86
Indicador IN05
5 IN023
IN05
6 IN024 IN046 IN013 IN049
BRASIL 81,1 92,5 46,2 53,5 37,9 35,9 38,8 8,9 2,06 Fonte: MC (2012)
Apesar dos números, Monteiro Junior; Rendeiro Neto (2011) observam que ainda
persistem populações não atendidas, principalmente as de baixa renda, habitantes das
periferias das grandes cidades, nos municípios menores e, nas áreas rurais.
Instalados precariamente, estes brasileiros reivindicam infraestrutura urbana e acesso
aos serviços. Mas, dezenas de intervenções mal sucedidas já demonstraram que a previsão de
infraestrutura urbana nesta área, quando possível, é tarefa complexa, exigindo ação integrada
do poder público, sem a qual o fracasso é certo (MONTEIRO JUNIOR; RENDEIRO NETO,
2011).
É aí que salta aos olhos a precariedade de um modelo de gestão do saneamento
ambiental - água e esgoto - que se aparta do poder local responsável pela gestão do espaço
urbano e praticamente inviabiliza as intervenções integradas de urbanização nas áreas onde
mora a população pobre que fica condenada ao estigma da inviabilidade técnica e econômica
de atendimento pelas concessionárias (MONTEIRO JUNIOR; RENDEIRO NETO, 2011).
Nesse sentido, o Programa Saneamento para Todos prevê ações e estratégia de
investimentos que visam o financiamento de operações de crédito com recursos do FGTS e do
FAT para execução de ações de saneamento básico (BRASIL, 2008).
Estados e municípios poderão solicitar financiamento para obras de implantação e
ampliação de redes de abastecimento de água, esgotamento sanitário, manejo de resíduos
sólidos, águas pluviais e resíduos da construção, saneamento integrado, além da preservação e
recuperação de mananciais e elaboração de estudos e projetos que tenham o objetivo de
qualificar a gestão da prestação de serviços (BRASIL, 2008).
35
O Programa Saneamento para Todos destinou, em 2008, R$ 449,3 milhões para
financiar 100 projetos de abastecimento de água; R$ 524,5 milhões para 85 projetos de
esgotamento sanitário; R$ 132,1 milhões para 23 projetos de saneamento integrado; R$ 654,1
milhões para 53 projetos de drenagem; R$ 307,4 milhões para 97 projetos de resíduos sólidos;
e R$ 154,8 milhões para 175 propostas de estudos e projetos (BRASIL, 2008).
A região Sudeste foi a que recebeu mais financiamentos, cerca de R$ 1,08 bilhão
(BRASIL, 2008).
Além desses recursos, de acordo com o Ministério das Cidades (2007), desde 2007
foram disponibilizados mais de R$ 40 bilhões para investimento em saneamento até o ano
2012, como pode ser visto na Tabela 3.
Tabela 3 - Fontes de recursos para saneamento básico 2007
FONTE PRIORIDADES DE INVESTIMENTO INVESTIMENTO
(em R$ bilhões)
OGU
Saneamento integrado em favelas e palafitas (PPI) 4
Água, esgoto, destinação final de lixo e drenagem
urbana em cidades de grande e médio porte,
incluindo desenvolvimento institucional (PPI)
4
Água, esgoto, destinação final de lixo e drenagem
urbana em cidades de até 50 mil habitantes (Funasa) 4
Subtotal 12
FGTS / FAT
Financiamento a estados, municípios e prestadores
públicos de serviços de saneamento 12
Financiamento a prestadores privados e operações
de mercado 8
Subtotal 20
Contrapartida de estados, municípios e prestadores 8
TOTAL 40
Fonte: Leoneti; Prado; Oliveira (2011)
Deste montante, foi definido como uma das prioridades pela Fundação Nacional da
Saúde (Funasa) — em conjunto com o Ministério das Cidades e da Integração Nacional, o
saneamento em municípios com população total de até 50 mil habitantes em 2008. Em 2007,
36
o montante de recursos investidos em saneamento básico — total entre recursos
reembolsáveis e não reembolsáveis — foi de, aproximadamente, R$ 10,4 bilhões, sendo
69,73% oriundos do OGU e 30,26% de financiamentos (LEONETI; PRADO; OLIVEIRA,
2011).
No âmbito das empresas privadas, segundo os dados da Associação Brasileira das
Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon), o setor privado
atende 9,6% dos serviços públicos de água e esgoto da população urbana no Brasil, com 198
concessões em 202 municípios. Ainda conforme dados consolidados divulgados pela Abcon
em 2008, os investimentos do setor privado em saneamento foram da ordem de R$ 1,4 bilhão,
no período de 2008 a 2012 (LEONETI; PRADO; OLIVEIRA, 2011).
A soma de todos estes recursos poderá ser capaz de alterar substancialmente o cenário
urbano-ambiental brasileiro. Espera-se que mais 24,5 milhões de brasileiros passem a ter água
encanada, 25,4 milhões, coleta e tratamento de esgotos e 31,1 milhões, coleta e destinação
adequadas de resíduos sólidos (ASSEMAE, 2007). Este incremento faz o país alcançar
significativo avanço na meta comprometida com a Organização das Nações Unidas (ONU)
em reduzir pela metade a proporção de pessoas sem acesso ao abastecimento de água e ao
esgotamento sanitário até o ano de 2015, tendo por base o ano de 1990 (LEONETI; PRADO;
OLIVEIRA, 2011).
No entanto, ainda em relação ao tratamento de esgoto, a probabilidade de o Brasil
cumprir este objetivo, o sétimo dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), é de
apenas 30% (PMSS, 2007). O acesso a esses recursos exigirá ampliação do planejamento dos
sistemas de forma integrada, por meio de projetos que primem pela qualidade e estejam
pautados nos Planos Municipais de Saneamento Básico.
Não somente a escassez de recursos e a falta de financiamento foram as causas do
atraso no desenvolvimento do setor de saneamento no Brasil. Esse déficit se deve, além dos
problemas relacionados à restrição de recursos financeiros, à falta de avaliação dos custos
ambientais, econômicos e sociais relacionados à implantação, operação e manutenção dos
investimentos, ou seja, por não levar em consideração a sustentabilidade dos mesmos
(LEONETI; PRADO; OLIVEIRA, 2011).
Segundo Klevas; Streimikiene; Kleviene (2009), a cultura do desenvolvimento
econômico é ainda resistente em considerar o conceito de desenvolvimento sustentável no
processo de tomada de decisão.
Conforme os dados consolidados do Snis (2012), em 2006, dos R$ 4,5 bilhões
investidos em saneamento, 49% foram realizados com recursos próprios das organizações de
37
saneamento; 29% foram realizados com recursos onerosos (financiamentos retornáveis por
meio de amortizações, juros e outros encargos); e 10% foram realizados com recursos não
onerosos (investimentos realizados com recursos não reembolsáveis, que não oneram o
serviço da dívida). Todavia, em muitos desses investimentos, não foram considerados os
custos de operação e manutenção dos sistemas, sendo considerados somente os seus custos de
implantação, e isso faz com que “as despesas totais de tais prestadores de serviços deixem de
contemplar um elemento de custo importante, necessário à reposição dos investimentos”.
Os principais números do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento 2010
(SNIS, 2012), divulgado em Junho de 2012 denotam que em 2010, os investimentos em água
esgoto alcançaram R$ 8,96 bilhões, crescimento de 1,2 pontos percentuais em relação aos R$
7,8 bilhões investidos em 2009.
Do total investido em 2010, 94% foi investido pelos próprios prestadores dos serviços;
4,9% pelos Estados; e 1,1% pelos municípios. Foram realizadas pelas Companhias Estaduais
de Saneamento 80% do investimento total. Na região Nordeste, 83,5% do investimento total
foi realizado pelos Estados. Do total investido em 2010, 52% foi investido na região Sudeste,
22,9% na região Nordeste, 13,1% da região Sul, 7,8% na região Centro-Oeste e 4,1% na
região Norte. Dos R$ 8,9 bilhões investidos em 2010, R$ 3,5 bilhões foram investidos na
água e R$ 4,6 bilhões em esgotos. Do total de R$ 8,9 bilhões, R$ 4,0 bilhões foram oriundos
de recursos próprios; R$ 2,8 bilhões de financiamento, e R$ 1,9 bilhão de repasses da
Ouvidoria-Geral da União (OGU) (SNIS, 2012).
Em 2010 os investimentos do Governo em água e esgotos atingiram R$ 8,9 bilhões.
Postos de trabalho: em 2010 o setor de saneamento criou 64 mil novos postos de trabalho,
atingindo um total de 671 mil empregos diretos e indiretos criados pelo setor (SNIS, 2012),
3.4. Indicadores de saneamento básico no Estado de São Paulo
A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) é uma empresa
concessionária de serviços de saneamento básico localizada no Estado de São Paulo. Empresa
de economia mista, capital aberto, com ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo e
na Bolsa de Valores de Nova Iorque, que tem como principal acionista o Governo do Estado
de São Paulo.
Criada em novembro de 1973 pelo então governador Laudo Natel por meio da Lei
Estadual nº 119, de 29 de junho do mesmo ano, a Sabesp originou-se da fusão das seguintes
empresas e autarquias: Superintendência de Águas e Esgotos da Capital (SAEC), Companhia
38
Metropolitana de Águas de São Paulo (Comasp), Saneamento de São Paulo (Sanesp), -
Saneamento do Vale do Ribeira (Sanevale), Saneamento da Baixada Santista (SBS), Fomento
Estadual de Saneamento Básico (FESB), Departamento de Águas e Esgoto (DAE) e
Repartição de Águas e Esgoto (RAE). A partir de sua fundação, a Sabesp passou a operar em
cidades que não faziam parte das áreas de atuação das antigas empresas (SABESP, 2012). A
Tabela 4 relaciona os indicadores do saneamento básico do Estado de São Paulo.
Tabela 4 - Indicadores de desempenho da Sabesp Atendimento
Indicadores Unidade 2011 2010 2009 2008 2007 2006
Índice de Atendimento em
Água Tende à universalização(1)
Índice de Atendimento em
Coleta de Esgotos % 82 81 80 79 79 78
Índice de Tratamento dos
Esgotos Coletados (2) % 76 75 74 72 66 63
População Residente Atendida
com Abastecimento de Água mil hab 23.911 23.625 23.363 23.162 22.959 22.700
População Residente Atendida
com Coleta de Esgotos mil hab 20.498 20.024 19.600 19.198 18.881 18.519
Operacionais
Indicadores Unidade 2011 2010 2009 2008 2007 2006
Ligações de Água mil un 5.921 5.718 5.520 5.336 5.167 5.002
Perdas de Água % 25,6 26,0 26,0 27,9 29,5 31,9
Volume Produzido de Água milhões
m³ 2.992 2.952 2.845 2.853 2.874 2.887
Volume Faturado de Água no
Atacado
milhões
m³ 297 293 288 285 274 263
Volume Faturado de Água no
Varejo
milhões
m³ 1.747 1.699 1.630 1.596 1.573 1.544
Volume Faturado de Esgoto milhões
m³ 1.486 1.434 1.373 1.330 1.300 1.246
Número de Empregados (3) 14.896 15.330 15.103 16.649 16.850 16.978
39
Produtividade Operacional lig/empr 900 849 837 738 708 684
Financeiros(4)
Receita Líquida milhões
R$ 9.941,6 9.231,0 8.579,5 7.809,3 5.970,8 5.527,3
LAJIDA(5) milhões
R$ 3.213,4 3.222,5 .727,0 2.865,0 2.698,9 2.446,1
Margem do LAJIDA % 32,4 34,9 31,8 36,7 45,2 44,3
Resultado (Lucro/Prejuízo
Líquido)
milhões
R$ 1.223,4 1.630,4 1.507,7 862,9 1.055,3 789,4
(1) 99% ou mais (2) Por razões metodológicas, contempla uma margem de variação de mais ou menos 2 pontos
percentuais (3) Número de empregados próprios, não inclui cedidos a outros órgãos. (4) Cálculo a partir de 2008 de acordo com CPCs/IFRS (Dados Consolidados) (5) Lucro antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização
Fonte: Sabesp (2012)
40
4. TRATAMENTO DE ESGOTO INDIVIDUAL
4.1. Processos de tratamento de esgoto
O tratamento de esgoto sanitário para redução de sua capacidade de poluição em
corpos receptores apresenta um número considerável de alternativas para o alcance da meta
estabelecida. O objetivo básico é adequar o efluente tratado para manter os corpos hídricos em
padrões ambientais mínimos, conforme exigências da legislação ambiental.
Os processos de tratamento de esgotos são constituídos por unidades sequenciais. Em
cada uma das unidades podem ocorrer simultaneamente os três métodos básicos de
tratamento: a) Processos físicos - métodos de tratamento nos quais predominam os princípios
físicos, ou seja: gradeamento, mistura, floculação, sedimentação, flotação, filtração, entre outros;
b) Processos químicos: métodos de tratamento nos quais a remoção ou a conversão de contaminantes ocorre pela adição de produtos químicos ou por reações químicas, sendo exemplos a adsorção, a desinfecção, a coagulação, entre outras;
c) Processos biológicos: métodos de tratamento nos quais a remoção de contaminantes ocorre por meio de atividade biológica, como a remoção de matéria orgânica carbonácea, desnitrificação, dentre outros (JORDÃO; PESSOA, 1995, p.49).
A remoção dos poluentes durante o tratamento se dá por aplicação dos processos
descritos anteriormente, utilizando-os segundo o conceito de níveis de tratamento que, de
certa forma, traduz a eficiência do tratamento. Os processos de tratamento de esgoto são
também usualmente classificados por níveis de tratamento, segundo Von Sperling (2006, p.
169): a) tratamento preliminar - objetiva apenas à remoção de sólidos grosseiros em
suspensão que precipitam (matérias de maiores dimensões e areia), ou ainda sólidos flutuantes. Neste nível existe a predominância de mecanismos físicos de remoção;
b) tratamento primário - visa à remoção de sólidos sedimentáveis, incluindo-se aí a parte sedimentável da matéria orgânica em suspensão. Neste nível existe a predominância de mecanismos físicos, muito embora eles possam ocorrer associados aos mecanismos químicos (adsorção);
c) tratamento secundário - visa à remoção da matéria orgânica e, eventualmente, nutrientes. Neste nível existe a predominância de mecanismos biológicos, muito embora para o aumento da eficiência do tratamento geralmente eles são associados a mecanismos físicos;
d) tratamento terciário: visa à remoção complementar de poluentes não removidos em nível desejado no tratamento secundário ou também a remoção de nutrientes, poluentes tóxicos ou compostos não biodegradáveis. Por fim, o nível terciário pode objetivar ainda a redução de microrganismos patogênicos (VON SPERLING, 2006, p. 169).
41
4.2. Sistemas de esgotos sanitários
O surgimento dos sistemas de tratamento ocorre como resultado da evolução humana.
Segundo Jordão; Pessoa (1995) a água tem sido o fator primordial na fixação do Homem e
formação de novas comunidades. O ser humano sempre buscou fixar-se em regiões onde
possa saciar suas necessidades mais elementares: alimento, água e calor. Dessa incansável
busca chega-se a situação atual: densidades populacionais elevadas, sempre próximas a rios e
nascentes.
Segundo a NBR 9648 (ABNT, 1986a), esgoto sanitário é o despejo líquido constituído
de esgotos doméstico e industrial, água de infiltração e a contribuição pluvial parasitária.
Ainda segundo a mesma norma, esgoto doméstico é o despejo líquido resultante do
uso da água para higiene e necessidades fisiológicas humanas; esgoto industrial é o despejo
líquido resultante dos processos industriais, respeitados os padrões de lançamento
estabelecidos; água de infiltração é toda água proveniente do subsolo, indesejável ao sistema
separador e que penetra nas canalizações; contribuição pluvial parasitária é a parcela do
deflúvio superficial inevitavelmente absorvida pela rede de esgoto sanitário.
A disposição adequada dos esgotos é essencial à proteção da saúde pública. São
inúmeras as doenças que podem ser transmitidas por uma disposição inadequada
(NUVOLARI, 2003).
Segundo Monteiro Junior; Rendeiro Neto (2011), cada dólar investido em saneamento,
principalmente em coleta e tratamento de esgotos sanitários, pode significar uma economia de
até 100 dólares gastos com saúde. Dessa forma, conclui-se que o tratamento de esgoto é
fundamental para a melhoria da qualidade de vida de todos.
O objetivo dos sistemas de tratamento é de controlar a poluição e a contaminação que
são produzidas nos corpos receptores dos resíduos líquidos localizados nos esgotos sanitários,
águas pluviais e despejos industriais O desenvolvimento de sistemas de tratamento de esgotos
simples e econômicos é indispensável para melhorar as condições de saneamento no Brasil,
sendo que estes sistemas devam ser de fácil operação e manutenção e devem dispensar
equipamentos sofisticados (MONTEIRO JUNIOR; RENDEIRO NETO, 2011).
O processo anaeróbio já se tornou tradicional para tratamento de esgotos de pequenas
populações (até 500 habitantes). Este é constituído por fossas sépticas seguida de filtro
anaeróbio e sumidouro, que são simples e de baixo custo do ponto de vista operacional e
construtivo (MONTEIRO JUNIOR; RENDEIRO NETO, 2011).
42
Von Sperling (2006, p. 174) salienta que os principais processos e sistemas
frequentemente utilizados no tratamento de esgotos domésticos, em função do poluente a ser
removido são empregados para a fase líquida, que corresponde ao fluxo do afluente ao
efluente observado no Quadro 3.
POLUENTE OPERAÇÃO, PROCESSO OU SISTEMA DE
TRATAMENTO
Sólidos em suspensão Gradeamento / Remoção de Areia / Sedimentação /
Disposição no solo
Matéria orgânica
biodegradável
Lagoas de estabilização e “variações” / Lodos ativados e
“variações” / Filtro biológico e “variações” / Tratamento
anaeróbio / Disposição no solo
Patogênicos
Lagoa de maturação / Disposição no solo / Desinfecção
com Produtos químicos / Desinfecção com radiação
ultravioleta
Nitrogênio Nitrificação e desnitrificação biológica / Disposição no
solo/ Processos físico-químicos
Fósforo Remoção biológica / Processos físico-químicos
Quadro 3 - Tipos de processos de tratamento de esgotos usuais no Brasil em função do poluente a reduzir Fonte: Von Sperling (2006, p.174)
Os arranjos de uma estação de tratamento de esgotos podem ser definidos de formas
diversas, em função das características do esgoto a ser tratado (vazão e composição), dos
objetivos a que se atingir, da complexidade operacional e, principalmente, dos custos de
implantação e operação do sistema.
4.3. Composição dos esgotos sanitários
O esgoto fresco é cinza, turvo e com pouco, mas desagradável, odor. Contém muitos
sólidos flutuantes: grandes (fezes, plásticos, pedaços de pano, pedaços de madeira), pequenos
(papéis, grãos e outros) e microscópicos (coloidal) (ÁVILA, 2005).
43
Em climas quentes, o esgoto perde rapidamente o oxigênio dissolvido, tornando-se
séptico. Este tem um odor mais forte, devido à presença de gás sulfídrico.
Segundo Monteiro Junior; Rendeiro Neto (2011), somente 0,1% do esgoto é
constituído de sólidos. O restante (99,9%) é composto de água conforme demonstrado na
Figura 1.
Os sólidos totais no esgoto podem ser definidos como a matéria sólida que permanece
como resíduo após a evaporação a 103ºC. Quando este resíduo é calcinado a 550ºC, as
substâncias orgânicas se volatilizam (sólidos voláteis) e os minerais permanecem em forma de
cinza (sólidos fixos).
Os sólidos voláteis representam uma estimativa da matéria orgânica, enquanto os
sólidos fixos representam a matéria inorgânica. Apesar de representar apenas 0,1% do esgoto,
o teor de matéria sólida é a mais importante característica física para o dimensionamento e
controle de operações de unidades de tratamento (ÁVILA, 2005).
Figura 1 - Composição do esgoto sanitário Fonte: adaptado de Monteiro Junior; Rendeiro Neto (2011, p. 30)
Segundo Jordão; Pessoa (1995) a fração orgânica (volátil) dos sólidos é composta de
proteínas, carboidratos e gorduras. Esses componentes, particularmente os dois primeiros,
servem como excelente alimento para as bactérias. Esses organismos microscópicos são
largamente explorados nos tratamentos biológicos dos esgotos. Portanto, são as bactérias que
tratam o esgoto, através de sua alimentação. Esta alimentação remove o substrato (poluente)
da água residuária. A degradação da matéria orgânica obedece a uma cinética química de
primeira ordem (normalmente).
99,9% 0,1%
70% 30%
65% 25% 10%
44
4.4. Características dos esgotos
Os esgotos sanitários, segundo Jardim Junior (2006), variam no espaço, em função de
diversas variáveis desde o clima até hábitos culturais. Por outro lado, variam também ao
longo do tempo, o que torna complexa sua caracterização. Classificam-se os esgotos em forte,
médio e fraco, conforme as características apresentadas na Tabela 5.
Tabela 5 - Características físico-químicas dos esgotos Características Forte Médio Fraco
DBO5,20 (mg/L) 400 220 110
DQO (mg/L) 1.000 500 250
Carbono Orgânico Total (mg/L) 290 160 80
Nitrogênio total – NTK (mg/L) 85 40 20
Nitrogênio Orgânico (mg/L) 35 15 8
Nitrogênio Amoniacal (mg/L) 50 25 12
Fósforo Total (mg/L) 15 8 4
Fósforo Orgânico (mg/L) 5 3 1
Fósforo Inorgânico (mg/L) 10 5 3
Cloreto (mg/L) 100 50 30
Sulfato (mg/L) 50 30 20
Óleos e Graxas (mg/L) 150 100 50
Fonte: Monteiro Junior; Rendeiro Neto (2011, p. 30)
No Brasil, mesmo que não se tenha informação segura com base local, costuma-se
adotar contribuições per capita de 54 e 100 g/habitante/dia para a DBO de cinco dias e para a
DQO, respectivamente.
Em termos de vazão, pode-se afirmar que os esgotos estão sujeitos às mesmas
variações relativas ao consumo de água, variando de região para região, dependendo
principalmente do poder aquisitivo da população. Apenas a título de referência, pode-se
considerar a contribuição típica de 160 L/habitante/dia, referente ao consumo per capita de
água de 200 L/habitante/dia e um coeficiente de retorno água/esgoto igual a 0,8. Para a
determinação das vazões máximas de esgotos, costuma-se introduzir os coeficientes k1 = 1,2
(relativo ao dia de maior produção) e k2 = 1,5 (relativo à hora de maior produção de esgotos).
45
Consequentemente, a vazão de esgotos do dia e hora de maior produção é 1,8 vezes, ou
praticamente o dobro da vazão média diária.
Deve ser lembrado que as características dos esgotos são afetadas também pela
infiltração de água subterrânea na rede coletora e pela possível presença de contribuições
específicas, como indústrias com efluentes líquidos ligados à rede pública de coleta de
esgotos.
Os esgotos sanitários possuem excesso de nitrogênio e fósforo. Isto faz com que, ao
ser submetido a tratamento biológico, haverá incorporação desses macro-nutrientes nas
células que tomam parte do sistema, mas o excesso deverá ser ainda grande. Esta é uma
importante preocupação em termos de tratamento de esgotos, exigindo tratamento avançado
quando se tem lançamento em situações mais restritivas, sobretudo em represas utilizadas
para o abastecimento público de água potável, onde o problema da eutrofização poderá ter
consequências drásticas.
4.5. Classificação do esgoto
De acordo com a sua origem os esgotos poderão ser classificados em esgotos
domésticos, esgotos industriais, esgotos sanitários e esgotos pluviais. A NBR 9648 (ABNT,
1986a) e a NBR 7229 (ABNT, 1993), apresentam as seguintes definições:
a) esgoto doméstico - despejo líquido resultante do uso da água para a higiene e
necessidades fisiológicas humanas;
b) esgoto industrial - despejo líquido resultante dos processos industriais, respeitados
os padrões de lançamento estabelecidos;
c) esgoto pluvial - são os esgotos provenientes das águas de chuva.
d) esgoto sanitário - despejo líquido constituído de esgotos domésticos e industriais
água de infiltração e a contribuição pluvial parasitária.
A vazão de esgoto doméstico pode ser calculada em função da quota per capta de
abastecimento de água, pois as contribuições de esgotos dependem fundamentalmente do
sistema de abastecimento de água e existe uma correlação entre a quota per capta de
abastecimento de água e a produção de esgotos. Esta relação é chamada de coeficiente de
retorno (C), que apresenta uma variação entre 0,5 e 0,9, dependendo das condições locais. A
Norma NBR 9649 (ABNT, 1986b) recomenda o valor de 0,8 na falta de valores obtidos em
campo.
46
O esgoto doméstico é constituído de uma elevada percentagem de água (99,9 %) e
uma parcela mínima de impurezas que lhes confere características bastante acentuadas,
decorrentes de alterações que ocorrem com o passar do tempo (decomposição), e por isto, se
não receberem um tratamento sanitário adequado causarão a poluição das águas (SILVEIRA;
TUCCI, 1998).
A utilização da água para fins de abastecimento público origina os esgotos que
deverão ter um recolhimento e uma adequada destinação, para não causar a poluição do solo,
a contaminação das águas superficiais e subterrâneas e para não escoarem a céu aberto
proporcionando a propagação de doenças.
O esgoto industrial normalmente é intermitente e a sua composição depende
principalmente do tipo e do porte da indústria, bem como da existência de pré-tratamento. A
vazão dos esgotos industriais é em função de uma série de fatores entre os quais pode-se citar:
existência de condições particulares de abastecimento de água, regime de trabalho da indústria
e existência de pré tratamento e regularização.
Os esgotos industriais podem ser recebidos na rede coletora de esgotos domésticos,
entretanto, alguns cuidados devem ser tomados no que se refere principalmente a sua
qualidade e a sua quantidade.
Com relação a sua qualidade deverá ser analisada principalmente a necessidade de um
pré-tratamento, para que o esgoto industrial não seja lançado in natura na rede coletora. O pré-
tratamento em princípio deverá ser exigido quando o esgoto industrial apresentar as seguintes
características, segundo Silveira; Tucci, (1998):
a) serem nocivos a saúde ou prejudiquem a segurança dos trabalhos na rede;
b) prejudicarem os processos de tratamento;
c) causarem obstruções nas tubulações e equipamentos;
d) atacarem as tubulações ou prejudicarem a durabilidade das estruturas;
e) temperaturas elevadas, acima de 40 °C;
Com relação a sua quantidade dois tipos de indústrias devem ser considerados:
a) as indústrias que lançam na rede pública quantidades pequenas de despejos e que
sob o ponto de vista de contribuição de esgotos não são consideradas;
b) as indústrias que lançam na rede pública quantidades consideráveis de despejos e
que sob o ponto de vista de contribuição de esgotos devem ser consideradas e
analisadas (normalmente a vazão máxima de lançamento de despejos da indústria
na rede é limitada o que leva a indústria a utilizar tanques de regularização).
47
O esgoto pluvial é intermitente e sazonal e depende principalmente da intensidade e da
ocorrência das precipitações atmosféricas.
4.6. Tipos de tratamento de esgotos sanitários
As soluções para o tratamento de esgoto sanitário podem ser individuais ou coletivas.
Os sistemas individuais são sistemas adotados para atendimento unifamiliar consistem no
lançamento dos esgotos domésticos gerados em uma unidade habitacional, usualmente em
fossa séptica, seguida de dispositivo de infiltração no solo (sumidouro, irrigação
subsuperficial). Tais sistemas podem funcionar satisfatória e economicamente se as
habitações forem esparsas (grandes lotes com elevada porcentagem de área livre e/ou em
meio rural), se o solo apresentar boas condições de infiltração e, ainda, se o nível de água
subterrânea encontrar-se a uma profundidade adequada, de forma a evitar o risco de
contaminação por microrganismos transmissores de doenças (FUNASA, 2012).
A ação de saneamento executada por meio de soluções individuais não constitui
serviço público, desde que o usuário não dependa de terceiros para operar os serviços, e as
ações e os serviços de saneamento básico de responsabilidade privada, incluindo o manejo de
resíduos de responsabilidade do gerador. Já nos sistemas coletivos, à medida que a população
cresce, aumentando a ocupação de terras (maior concentração demográfica), as soluções
individuais passam a apresentar dificuldades cada vez maiores para a sua aplicação.
A área requerida para a infiltração torna-se demasiadamente elevada, às vezes, maior
que a área disponível. Os sistemas coletivos passam a ser os mais indicados como solução
para maiores populações.
Os sistemas coletivos consistem em canalizações que recebem o lançamento dos
esgotos, transportando-os ao seu destino final, de forma sanitariamente adequada. Em alguns
casos, a região a ser atendida poderá estar situada em área afastada do restante da
comunidade, ou mesmo em áreas cujas altitudes encontram-se em níveis inferiores.
Nesses casos, existindo área disponível, cujas características do solo e do lençol
d’água subterrâneo sejam propícias à infiltração dos esgotos, pode-se adotar a solução de
atendimento coletivo da comunidade por meio de uma única fossa séptica de uso coletivo, que
também atuará como unidade de tratamento dos esgotos (MONTEIRO JUNIOR; RENDEIRO
NETO, 2011). Em áreas urbanas, a solução coletiva mais indicada para a coleta dos esgotos
pode ter as seguintes variantes:
48
a) sistema unitário ou combinado - os esgotos sanitários e as águas da chuva são
conduzidos ao seu destino final, dentro da mesma canalização.
b) sistema separador - os esgotos sanitários e as águas da chuva são conduzidos ao
seu destino final, em canalizações separadas.
No sistema unitário ou combinado, as canalizações são construídas para coletar e
conduzir as águas residuárias juntamente com as águas pluviais. Tal sistema não tem sido
utilizado no Brasil, devido aos seguintes inconvenientes, segundo Monteiro Junior; Rendeiro
Neto (2011):
a) grandes dimensões das canalizações;
b) custos iniciais elevados;
c) riscos de refluxo do esgoto sanitário para o interior das residências, por ocasião das
cheias; e
d) as estações de tratamento não podem ser dimensionadas para tratar toda a vazão
que é gerada no período de chuvas.
O afastamento das águas pluviais é facilitado, pois pode-se ter diversos lançamentos
ao longo do curso d’água, sem necessidade de seu transporte a longas distâncias. Menores
dimensões das canalizações de coleta e afastamento das águas residuárias existindo a
possibilidade do emprego de diversos materiais para as tubulações de esgotos, tais como tubos
cerâmicos, de concreto, PVC ou, em casos especiais, ferro fundido. Pode acontecer a redução
dos custos e prazos de construção e o possível planejamento de execução das obras por partes,
considerando a importância para a comunidade e possibilidades de investimentos. Melhorias
nas condições de tratamento dos esgotos sanitários são notadas e não ocorrência de transbordo
dos esgotos nos períodos de chuva intensa, reduzindo-se a possibilidade da poluição dos
corpos d’água.
O sistema separador possui duas modalidades principais: sistema convencional e
sistema condominial. O sistema convencional, segundo Barros (1995), é a solução de
esgotamento sanitário mais frequentemente utilizada. As unidades que podem compor um
sistema convencional de esgotamento sanitário são as seguintes: canalizações: coletores,
interceptores, emissários; estações elevatórias; órgãos complementares e acessórios; estações
de tratamento; disposição final; e obras especiais
O sistema condominial de esgotos tem sido apresentado como uma alternativa a mais
no elenco de opções disponíveis ao projetista, para que ele faça a escolha quando do
desenvolvimento do projeto, constituindo uma nova relação entre a população e o poder
49
público, tendo como características uma importante cessão de poder e a ampliação da
participação popular, alterando, destarte, a forma tradicional de atendimento à comunidade.
4.7. Sistemas individuais de tratamento de esgoto
Os sistemas individuais são adotados normalmente para o atendimento unifamiliar e é
constituído por uma fossa séptica e um dispositivo de infiltração no solo que poderá ser um
poço negro (sumidouro) ou outro dispositivo de irrigação subsuperficial (vala) (ALOCHIO,
2007).
Para que estes sistemas funcionem satisfatoriamente as habitações tem que ser
esparsas (lotes grandes com elevada percentagem de área livre), o solo deverá apresentar boas
condições de infiltração, e o lençol freático deve estar em uma profundidade adequada para
não haver risco de contaminação por microrganismos transmissores de doenças
(microrganismos patogênicos).
4.7.1. Tipos de Fossas
De acordo com o manual de saneamento da Funasa (2012) há diversas variações de
fossas destinadas a receber os esgotos domésticos. No Quadro 4 são apresentadas algumas
categorias de fossas assim como suas características.
TIPO DE FOSSA CARACTERISTICAS
Fossa seca
Constitui-se de uma escavação, com ou sem revestimento, de
uma laje de tampa com um orifício e de uma “casinha” servindo
de proteção e abrigo do usuário. É destinada a receber somente
excretas (fezes), sem uso de descarga d’água, que se decompõe
ao longo do tempo pelo processo de digestão anaeróbia.
Fossa estanque
É um tanque impermeável, no qual são dispostos os esgotos que
são ali acumulados até sua remoção frequente. Pode ser
construída em alvenaria de tijolos, mas modernamente são mais
utilizadas as pré-moldadas em concreto, em plástico, em resinas
estruturadas com fibra de vidro, etc.
Fossa negra Consta de um buraco que apresenta seu fundo sob ou a menos
50
de 1,5 metros do lençol freático. O seu emprego deve ser
evitado, tendo em vista a provável contaminação das águas
subterrâneas, possíveis problemas de exalação de mau odores e
desenvolvimento de mosquitos.
Fossa absorvente
Também conhecida como poço absorvente, encontra-se desde
as mais rudimentares, que pouco mais são que simples buracos
no solo, até construções mais elaboradas, com paredes de
sustentação em alvenaria de tijolo ou anéis de concreto, sempre
com aberturas e fendas que permitem a infiltração dos esgotos,
e devidamente cobertas, geralmente com laje de concreto.
Podem ser estruturadas retangulares, mas geralmente são
cilíndricas, e as paredes de sustentação mais usuais são em
alvenaria de tijolos, que utilizam tijolos vazados com os furos
no sentido radial (exceto na parte superior e algumas fiadas de
amarração) ou tijolos maciços com fendas entre os tijolos na
maioria das fiadas da parede. Geralmente não tem fundo
revestido, para permitir a infiltração da água, mas em algumas
há uma camada de brita constituindo a base do fundo.
Quadro 4 - Tipos de fossas e suas respectivas características Fonte: Von Sperling (2006, p. 6).
4.7.2. Tanques Sépticos (TS)
O tanque séptico caracteriza-se por uma unidade cilíndrica ou prismática de seção
retangular de fluxo horizontal para o tratamento de esgotos por processos de sedimentação,
flotação e digestão, segundo a NBR 7229 (ABNT, 1993).
O efluente deste tanque deverá ser transportado para um filtro biológico, valas de
filtração, valas de infiltração, sumidouro ou para a rede coletora de esgoto mostrado na Figura
2.
51
Figura 2 - Demonstração de transporte de efluente no conjunto fossa, filtro e sumidouro Fonte: Monteiro Junior; Rendeiro Neto (2011, p. 33)
Os tanques sépticos são recipientes construídos ou instalados no local para manter
durante tempo determinado os dejetos domésticos, industriais, ou comerciais, com o objetivo
de sedimentar os sólidos e reter o material contido nos esgotos, para transformá-los
bioquimicamente, em substâncias e compostos mais simples e menos poluentes. São
utilizados em locais desprovidos de rede pública de esgoto.
O tanque séptico pode receber os dejetos de uma ou várias edificações, desde que sua
capacidade seja compatível com a quantidade de pessoas que utilizam.
Seguindo os padrões da classificação apresentada no item anterior, pode-se dizer que o
tanque séptico corresponde a um sistema de tratamento primário e físico biológico
(predominância da sedimentação do material sólido e digestão).
Pela simplicidade de construção e manutenção é um sistema muito difundido, e está
presente na maioria das estações de tratamento residenciais. Também é conhecido e tratado
por alguns autores como Fossa Séptica (CREDER, 2006; JORDÃO; PESSOA, 1995),
podendo ser definida como: Fossas Sépticas são câmaras convenientemente construídas para reter os despejos domésticos e/ou indústrias, por um período de tempo especificamente estabelecido, de modo a permitir sedimentação dos sólidos e retenção do material graxo contido nos esgotos, transformando-os, bioquimicamente, em substâncias e compostos mais simples e estáveis. (JORDÃO; PESSOA, 1995, p. 260).
A NBR 7229 (ABNT, 1993) - Projeto, construção e operação de tanques sépticos –
prevê opção de uso dos tanques sépticos em seções prismáticas (retangulares) e circulares.
Também prevê a opção de operação em câmara única ou múltipla.
Chernicharo (1997) define três tipos de tanques sépticos: câmara única, câmaras em
série e câmaras sobrepostas. Na Figura 3 são mostrados os três tipos de tanques sépticos
normatizados pela NBR 7229 (ABNT, 1993).
52
Figura 3 - Tipos de tanques sépticos Fonte: Monteiro Junior; Rendeiro Neto (2011, p. 35)
4.7.3. Filtro anaeróbio
O filtro anaeróbio é uma “unidade destinada ao tratamento de esgoto, mediante
afogamento do meio biológico filtrante” (ABNT, 1993, p. 2). Pode-se dizer que o filtro
anaeróbio representa um sistema de tratamento secundário e físico-biológico.
É de grande utilidade em projetos que requerem um melhor grau de tratamento que o
simples uso de tanque séptico seguido de infiltração no solo. É um tanque de forma cilíndrica
ou prismática (seção retangular ou quadrada), com fundo falso, leito filtrante de brita nº 4,
destinado ao tratamento do efluente do tanque séptico, quando este exigir um tratamento
adicional como mostra a Figura 4.
Segundo Chernicharo (1997), o tanque sobreposto, no tanque séptico com câmaras
sobrepostas, tem a função de favorecer a decantação dos sólidos sem a interferência dos gases
gerados na digestão anaeróbia.
Figura 4 - Filtro Anaeróbio visto em corte com detalhes Fonte: Monteiro Junior; Rendeiro Neto (2011, p. 36)
53
Para Andrade Neto (2000), um tanque de duas câmaras (em série), possibilita que o
primeiro compartimento funcione melhor como um reator biológico, acumulando maior
quantidade de lodo decantado. Já na segunda câmara, devido a uma maior tranquilidade do
fluxo, ocorre a sedimentação dos sólidos mais eficientemente. Portanto, em tanques com duas
câmaras em série, a primeira se encarrega da digestão e a segunda da decantação dos sólidos.
Oliveira (1983 apud MONTEIRO JUNIOR; RENDEIRO NETO, 2011) ainda ressalta que a
segunda câmara pode contribuir para a remoção de coliformes fecais e sólidos em suspensão.
O efluente deste filtro será destinado a uma vala de infiltração, vala de filtração ou
outra solução tecnicamente indicada.
4.7.4. Sumidouro
Sumidouro ou fossa absorvente são escavações feitas no terreno, para receber
efluentes da fossa séptica ou mesmo diretamente do vaso sanitário em cujas paredes deverão
se infiltrar. É um poço seco escavado e não impermeabilizado, que orienta a infiltração de
água residuárias no solo conforme a NBR 7229 (ABNT, 1993).
Deverá ser revestido com alvenaria em crivo ou anéis de concreto furados.
Dependendo das características do solo, o revestimento poderá ser dispensado como mostrado
na Figura 5.
Figura 5 - Execução de um Sumidouro em alvenaria de tijolos cerâmicos Fonte: Monteiro Junior; Rendeiro Neto (2011, p. 37)
54
5. ESTUDO DE CASOS: TRATAMENTO INDIVIDUAL DE ESGOTO NAS
COMUNIDADES RURAIS DE ANGATUBA E RIBEIRÃO GRANDE
5.1. Delineamento da pesquisa
A pesquisa foi desenvolvida com base em estudo de casos múltiplos utilizados quando
os pesquisadores têm a intenção de uma análise profunda de algum aspecto relevante e
relativamente novo da dinâmica organizacional, como aqui se propõe, na medida em que se
almeja analisar profundamente as práticas ambientais e os fatores de influência para sua
adoção (YIN, 2004).
Num primeiro momento descrevem-se as intenções e detalhes do Programa Água é
Vida do Governo do Estado de São Paulo, as ações realizadas nas comunidades e, finalmente,
a opinião dos entrevistados.
Foram feitas entrevistas junto a múltiplos respondentes-alvos das áreas escolhidas de
forma não aleatória, justamente por já existirem alguns resultados da implantação do
Programa Água é Vida.
5.2. Recorte conceitual e definição das variáveis de pesquisa
O arcabouço conceitual desta pesquisa envolve conhecimentos sobre gestão ambiental,
saneamento e meio ambiente.
Nesta pesquisa considera-se que gestão ambiental envolve planejamento, organização,
e orienta a empresa a alcançar metas ambientais específicas. Sua introdução requer decisões
nos níveis mais elevados da administração, transmitindo a clara mensagem de que se trata de
um compromisso corporativo (NILSSON, 1998).
As organizações deverão incorporar a variável ambiental na prospecção de seus
cenários e na tomada de decisão, além de manter uma postura responsável de respeito à
questão ambiental (DONAIRE, 1999).
A introdução da gestão ambiental nas comunidades rurais afastadas se faz com o
objetivo inicial de prevenir o impacto ambiental e de antecipar-se à evolução da
regulamentação, além de promover qualidade de vida e saúde a estas populações.
55
5.3. Instrumentos para coleta de dados
A partir da seleção dos casos, devem-se determinar os métodos e técnicas para a coleta
dos dados. A elaboração do instrumento de coleta de dados constitui-se em objeto de profunda
reflexão, pois adquire função de elo entre o modelo conceitual e o fenômeno investigado no
contexto prático (SANCHEZ, 1992).
Nesse sentido, devem ser empregadas múltiplas fontes de evidência. Usualmente,
consideram-se entrevistas (estruturadas, semi-estruturadas ou não estruturadas), análise
documental e observações diretas. Quando for o caso, visitas ao local também são importantes
no sentido de verificar, in loco e/ou in modus operandi, o fenômeno estudado (MIGUEL,
2007).
A definição do instrumento de coleta de dados depende dos objetivos que se pretende
alcançar com a pesquisa e do universo a ser investigado. Entrevista é a obtenção de
informações de um entrevistado, sobre determinado assunto ou problema. A entrevista pode
ser: estruturada, com roteiro previamente estabelecido ou não estruturada, onde não existe
rigidez de roteiro. Questionário é uma série ordenada de perguntas que devem ser respondidas
por escrito pelo informante.
As questões do instrumento são abertas (respostas elaboradas livremente pelo
entrevistado), fechadas (duas escolhas: sim ou não) ou de múltiplas escolhas (fechadas com
uma série de respostas possíveis).
O questionário foi construído em blocos temáticos obedecendo a uma ordem lógica na
elaboração das perguntas; com perguntas em linguagem compreensível ao informante,
evitando a possibilidade de interpretação dúbia, sugestão ou indução a resposta; com
perguntas focadas apenas numa questão para ser analisada pelo informante e com apenas as
perguntas relacionadas aos objetivos da pesquisa. Formulário é uma coleção de questões
anotadas por um entrevistador numa situação face a face com o informante (DA SILVA;
MENEZES, 2001).
Como instrumentos de coleta de dados, nesta pesquisa foram buscados dados
primários e secundários, coletados através de técnicas múltiplas (entrevistas formais por
intermédio de questionário e outros instrumentos), pautados na fundamentação teórica
precedente validada pela literatura nacional e internacional. Foram, ainda, investigados
documentos organizacionais, tais como relatórios que descrevem as ações realizadas nas
comunidades pesquisadas.
56
A fim de verificar a opinião dos contemplados no Programa Água é Vida,
especificamente nos locais onde já foram instalados as Unidades Sanitárias Individuais para o
tratamento de esgoto, o principal instrumento de coleta de dados neste estudo foi um roteiro
de entrevista (Apêndice A), composto de perguntas para determinar o perfil dos entrevistados
e duas perguntas específicas. O roteiro foi elaborado considerando-se os principais objetivos
do estudo.
No município de Angatuba, foram aplicados 12 questionários no bairro rural
Machadinho e quatro no bairro rural Boa Vista e no município de Ribeirão Grande foram
aplicados dois questionários no bairro rural Ferreira dos Matos. Em seguida, abordaremos no
item 6, de maneira mais detalhada, como se deu a implantação do programa na comunidade
do bairro Machadinho – município de Angatuba, por ter sido a primeira comunidade rural em
que a prefeitura municipal começou o programa.
5.4. Composição da amostra
O universo amostral deste estudo elegeu os bairros rurais Machadinho e Boa Vista nos
municípios de Angatuba e o bairro rural Ferreira dos Matos no município de Ribeirão Grande
e apresentam os resultados e análise dos dados coletados na pesquisa de campo em
residências que foram instaladas as Unidade Sanitária Individual (USI), ou seja, um sistema
de tratamento de esgoto unifamiliar que visa o esgotamento sanitário para pequenas
comunidades rurais e núcleos urbanos afastados melhorando assim a qualidade de vida da
população e elevando o índice de tratamento de esgotos nos municípios.
5.5. Coleta dos dados
A coleta de dados aconteceu entre os meses de julho a agosto de 2012. Durante este
período, foram coletados dados por meio dos métodos de entrevistas, observação e análise
documental.
As entrevistas foram conduzidas com os moradores e/ou proprietários dos imóveis de
cada bairro rural onde teve a Unidade Sanitária Individual (USI) instalada, para compor os
resultados da pesquisa. No âmbito deste programa foi realizado inquérito sanitário para
conhecer, registrar e documentar as dificuldades e as possíveis soluções para abastecimento
de água e disposição de efluentes domésticos para cada imóvel dessas comunidades.
57
5.6. Descrição do Programa Estadual Água é Vida em implantação
O Programa Estadual Água é Vida foi instituído pelo Decreto nº 57.479, de 1º de
novembro de 2011 (SÃO PAULO, 2011) que visa à implantação de infraestrutura de água e
esgoto em comunidades afastadas ocupadas por população de baixa renda, visando a
universalização dos serviços públicos de saneamento básico. É um instrumento da política de
saneamento do Estado de São Paulo que busca levar o atendimento de abastecimento de água
e esgotamento sanitário à totalidade dos habitantes dos municípios paulistas, onde quer que
eles residam.
A Unidade de Negócio Alto Paranapanema – RA – possui uma demanda de 63
comunidades para soluções de esgoto sanitário e 11 comunidades para soluções de
abastecimento de água e de esgoto sanitário, totalizando 63 comunidades na abrangência do
Programa. Essas comunidades estão distribuídas nos municípios: Angatuba (2); Barão de
Antonina (1); Campina do Monte Alegre (2); Capão Bonito (5); Coronel Macedo (1); Guareí
(3); Itaberá (1); Itapetininga (9); Itapeva (6); Itaporanga (5); Nova Campina (2); Pilar do Sul
(1); Ribeirão Branco (11); Ribeirão Grande (4); Riversul (2); São Miguel Arcanjo (2); Sarapuí
(4) e Taquarituba (2). A Figura 6 mostra o mapa com os municípios
O Programa prevê relacionar informações básicas para caracterizar o imóvel e a
classificação da renda familiar. Estas informações devem ser obtidas no local, consultando os
proprietários ou morador do imóvel. As informações básicas incluem: tipo do imóvel; tipo de
construção; área construída; nome do proprietário ou locatário; endereço do imóvel; número
de habitantes do imóvel; telefone para contato; renda familiar média bruta mensal; se o
imóvel possui energia elétrica; se o imóvel possui instalações prediais de água e esgoto.
Em relação ao abastecimento de água é levantado se o imóvel é abastecido com água
potável fornecida pela Companhia de Abastecimento de Água do Estado. Em caso positivo,
verificar se o cavalete é simples ou múltiplo e anotar o Registro Geral do Imóvel (RGI). Nas
comunidades em que há abastecimento pela Companhia é fornecida a lista dos hidrômetros
cadastrados. Caso o imóvel seja abastecido por outra fonte de água faz-se necessário o
levantamento do tipo de captação de água.
58
Figura 6 - Mapa dos municípios do Alto Paranapanema Fonte: Sabesp (2012)
Em relação ao tratamento e disposição do efluente doméstico, o Programa Água é
Vida recolhe informações de cada imóvel. Assim como o interesse pela solução do Programa
Água é Vida para os efluentes domésticos do imóvel. Com relação a essa questão deverá ser
indicado o local para a instalação da solução do Programa observando a questão da facilidade
de acesso ao local para a instalação da solução e posterior operação e manutenção (acesso de
limpa-fossa, por exemplo), incluindo um croqui. Além disso, deve ser verificada a
necessidade ou não de remanejamento e/ou complementação da rede predial de esgoto e em
caso afirmativo, será necessário estimar a quantidade necessária.
Todos os imóveis devem ser georreferenciados e fotografados, com um mínimo de
quatro fotos. A primeira foto deve mostrar uma vista geral frontal do imóvel. A segunda foto
deve mostrar uma vista geral do fundo do imóvel. A terceira foto deve mostrar a disposição
atual do efluente doméstico. A quarta foto deve mostrar o provável local para a instalação da
Municípios sem concessão com a Sabesp na região da Unidade de Negócios Alto Paranapanema
Municípios priorizados pelo Programa Estadual Água é Vida
Municípios envolvidos neste estudo
59
solução do Programa Água é Vida para o tratamento e disposição final do efluente doméstico
do imóvel.
Outras informações devem ser anexadas ao Programa quando forem julgadas
necessárias.
Após a coleta das informações o Programa prevê um Relatório Final para com a
caracterização geral do município que deve abranger de modo geral a localização geográfica,
a população urbana e rural, as principais atividades econômicas, seu histórico e sua área
territorial. Outro item, intitulado caracterização geral da comunidade pesquisada deve conter:
uma descrição geral de como é a comunidade, se ela está estruturada em aglomerados com
características de urbanização ou se são imóveis esparsos ao longo de estradas rurais; um
resumo estatístico comentado do levantamento realizado em campo de tal forma a sumarizar
as principais características da comunidade de interesse para implantação do Programa Água
é Vida.
O Programa prevê uma equipe responsável pelos trabalhos e um prazo para execução.
5.7. Descrição dos serviços prestados às comunidades rurais afastadas
As comunidades afastadas situam-se distantes dos sistemas coletivos de esgotos
existentes nas sedes municipais e, portanto, torna-se viável a instalação do sistema de
tratamento in loco.
Essas comunidades contempladas apresentam residências distantes umas das outras,
inviabilizando a execução de rede e instalação de um sistema coletivo de tratamento. Desse
modo, buscam-se sistemas individuais e de operação simplificada propiciando uma solução
adequada de saneamento à realidade local.
Foram fornecidas instalações e partida operacional de sistema de tratamento de
esgotos domésticos unifamiliar, designado como Unidade Sanitária Individual (USI).
O sistema é constituído por unidades destinadas ao tratamento de esgotos domésticos e
à disposição do efluente tratado, mediante utilização de tanque séptico e unidades
complementares de tratamento.
As unidades que compõem o USI são: caixa de inspeção, tanque séptico de câmara
única ou em série, seguido de filtro anaeróbio, sumidouro e caixa de acúmulo de lodo.
Além destes componentes é fornecido todo o material necessário para a construção e
interligação do sistema até a residência, além de memorial descritivo e projeto do sistema e
60
manual de operação; equipamentos e montagem do sistema; execução e supervisão de obras
civis.
Os trabalhos foram norteados pelas seguintes normas:
a) NBR 7.229/93 - Projeto, construção e operação de sistemas de tanques sépticos;
b) NBR 8.160/99 - Sistemas prediais de esgoto sanitário - Projeto e execução;
c) NBR 12.209/11 - Elaboração de projetos hidráulico-sanitários de estações de
tratamento de esgotos sanitários; e
d) NBR 13.969/97 – Tanques sépticos – Unidades de tratamento complementar e
disposição final dos efluentes líquidos – Projeto, construção e operação.
Após o estudo dos corpos d’água superficiais e a altura do lençol freático na região
onde se localizam as comunidades, a qualidade da água foi assegurada pelo tratamento
adequado do esgoto doméstico, sem comprometer o uso dado a esta.
O esgoto gerado é de característica doméstica, variando pouco entre as comunidades.
Tomou-se, inicialmente, o conhecimento do esgoto gerado pela população para que não
houvesse problemas de obstrução de tubulação, colmatação de sumidouro e outros.
A instalação da caixa de inspeção teve como objetivo a execução da coleta de amostra
do esgoto para avaliação da eficiência do sistema, em obediência aos critérios estabelecidos
na NBR 8160/99.
O tanque séptico foi colocado conforme descreve o item 5.1 da NBR 7.229/93, onde
estão citadas as distâncias mínimas.
O material utilizado possui resistência mecânica adequada à solicitação a que cada
componente, e resistência ao ataque de substâncias químicas presentes no esgoto ou geradas
no processo de digestão.
A instalação assegurou a estabilidade no tanque, e quando necessário, foi instalado
anel de concreto.
As fossas sépticas devem ser localizadas o mais próximo possível do banheiro, com
tubulação o mais reta possível e distanciadas no mínimo a 15 m abaixo de qualquer manancial
de água (poço, cisterna e outras).
Devem-se observar as seguintes distâncias horizontais mínimas:
a) 1,50m de construções, limites de terreno, sumidouro e ramal predial de água;
b) 3,0m de árvores e de qualquer ponto de rede pública de abastecimento de água;
c) 15,0m de poços freáticos e de corpos de água de qualquer natureza.
O sistema complementar ao tanque séptico (filtro anaeróbio) baseia-se na NBR
13.969/97, a ser instalado será o filtro anaeróbio de leito fixo com fluxo ascendente.
61
O sistema de tratamento composto principalmente de tanque séptico seguido de filtro
anaeróbio pode apresentar configurações diferentes das apresentadas na NBR 13.969/97, ou
seja, processos mais compactos que integram numa única unidade as duas fases do processo,
desde que assegurada a eficiência, onde são apresentadas as seguintes faixas de eficiência de
remoção de poluentes.
O efluente proveniente do sistema anaeróbio foi encaminhado para sumidouro ou
diretamente no corpo receptor, se localizado na proximidade.
A construção de sumidouro depende do local da instalação, devendo-se preservar a
qualidade das águas subterrâneas e superficiais com foco na preservação ambiental. Deve-se
considerar: tipo de solo, distância mínima do lençol aquífero e distância mínima do poço de
captação de água, atendendo aos critérios definidos na NBR 13.969/97.
O lodo gerado ficara disposto em uma caixa, cujas características atendam à NBR
12.209/11, no que diz respeito ao material drenante.
Todos os tanques (caixa de inspeção, reator, sumidouro e caixa de lodo) deverão ser
fechados com tampas metálicas ou de concreto, de modo a promover a segurança dos
moradores.
O gás gerado no sistema anaeróbio deve fluir por tubulação de saída acima da altura
da residência, e não pode retornar para a tubulação de esgoto adentrando a residência.
Nas Figuras de 7 e 8 estão apresentados o esquema simplificado de todo o tratamento
englobado na USI (exceto a caixa de lodo), o tanque do filtro anaeróbio e o sumidouro,
respectivamente.
Figura 7 - Esquema simplificado da Unidade Sanitária Individual Fonte: Monteiro Junior; Rendeiro Neto (2011, p. 45)
62
Figura 8 - Sistema de filtro anaeróbio Fonte: Monteiro Junior; Rendeiro Neto (2011, p. 50)
O local para instalação da USI na residência do sistema deve levar em consideração
disponibilidade de área, tipo do solo, distância e posicionamento em relação às instalações
hidráulicas residenciais, proximidade com divisas, córregos, valas etc. e deve propiciar tanto o
esgotamento sanitário residencial como a disposição do efluente final por gravidade.
A operação do sistema é efetuada pelo morador, portanto deve ser simples e de poucas
manobras. A execução de algumas ações como retirada de lodo do tanque, limpeza de caixa
de lodo, manutenções em geral devem apresentar baixa frequência e segurança ao operador. A
operação deve estar detalhada no Manual de Operação.
O sistema adotado deve assegurar a eficiência em termos de remoção de DBO de
acordo com a NBR 13.969/97. Na instalação da USI deve-se focar o menor impacto ambiental
no que diz respeito à distância, qualidade e uso dado ao corpo receptor, da porosidade do solo,
da existência de poço de água na proximidade, da altura do lençol freático e deve ser baseada
nas leis ambientais vigentes.
A Figura 9 demonstra o esquema básico da USI.
63
Figura 9 - Esquema básico da USI Fonte: Sabesp (2012)
5.8. Resultado da pesquisa com os moradores dos entrevistados dos bairros Rurais Machadinho e Boa Vista – Município de Angatuba e Ferreira dos Matos – município de Ribeirão Grande em 2012
As Figuras de 10 a 14 apresentam o perfil dos entrevistados. A Figura 10 relaciona o
gênero dos respondentes, a Figura 11 a idade, a Figura 12 a escolaridade e a Figura 13 a renda
familiar.
Figura 10 - Gênero dos entrevistados dos bairros Rurais Machadinho e Boa Vista – Município de Angatuba e Ferreira dos Matos – município de Ribeirão Grande em 2012 Fonte: Dados organizados pelo autor.
64
Figura 11 - Idade dos entrevistados dos bairros Rurais Machadinho e Boa Vista – Município de Angatuba e Ferreira dos Matos – município de Ribeirão Grande em 2012 Fonte: Dados organizados pelo autor.
Figura 12 - Escolaridade dos entrevistados dos bairros Rurais Machadinho e Boa Vista – Município de Angatuba e Ferreira dos Matos – município de Ribeirão Grande em 2012 Fonte: Dados organizados pelo autor.
65
Figura 13 - Renda familiar dos entrevistados dos bairros Rurais Machadinho e Boa Vista – Município de Angatuba e Ferreira dos Matos – município de Ribeirão Grande em 2012 Fonte: Dados organizados pelo autor.
O perfil do entrevistado caracteriza-se, basicamente, por pessoas do gênero masculino
(65%), entre 35 a 40 anos (35%), alfabetizados, porém com ensino fundamental incompleto.
Figura 14 - opinião sobre o tratamento de esgoto implantado Fonte: Dados organizados pelo autor.
Figura 15 - Aspectos positivos após a implantação do tratamento de esgoto individual Fonte: Dados organizados pelo autor.
Nota-se que a maioria dos respondentes (85%) achou ótima a instalação do tratamento
de esgoto individual e relatou como melhorias a diminuição de insetos, do odor e das doenças,
principalmente diarréia.
Grande parte da população residente nos bairros afastados utiliza para o esgotamento
sanitário o sistema de fossa rudimentar, escavação sem revestimento interno onde os dejetos
caem no terreno, parte se infiltrando e parte sendo decomposta no fundo onde não existe
66
nenhum deflúvio. São dispositivos perigosos que só devem ser empregados em último caso. A
maioria das residências utiliza o sistema de fossa séptica com sumidouro e ainda há muitas
unidades habitacionais desprovidas de instalações sanitárias. Em muitos casos os dejetos são
infiltrados no solo ou ligados clandestinamente no sistema de captação de águas pluviais.
Além disso, a capacidade das fossas tem se demonstrado insuficiente para a demanda.
Os riscos ambientais são imensuráveis na medida em que a região abriga nascentes de
importantes rios e grande riqueza de espécies da flora e fauna.
Por outro lado os estudos também demonstram as ameaças que incidem sobre o
entorno da área devido ao elevado crescimento populacional, cujas tendências futuras sociais
e ambientais são de piorarem se estratégias para reverter essa situação não forem adotadas.
A consolidação de uma atitude conservacionista é uma proposta pró-ativa para
proteção da mata nativa e das APP (Área de Preservação Permanente) e para valorização das
comunidades locais frente sua realidade e perspectivas futuras.
O acesso ao saneamento básico (água potável, tratamento de esgoto e drenagem)
também é um importante indicador dos aspectos sócios econômicos das comunidades em
estudo. De acordo com os resultados obtidos na pesquisa o tratamento de esgoto do entorno
das comunidades estudadas é realizado individualmente no terreno das moradias. Um
pequeno percentual da população destes bairros rurais afastados possui sistema de tratamento
de esgoto coletivo, devido ao assentamento de famílias de baixa renda. Embora a maioria da
população declare que possuem tratamento de esgoto individual (fossa séptica), em visita in
loco constatou-se que as fossas utilizadas são rudimentares e sem fundo, esgotos lançados a
céu aberto, nos córregos da região e na rede pluvial são observados nas comunidades.
67
6. DETALHAMENTO DA IMPLANTAÇÃO DO PROJETO, TENDO COMO
EXEMPLO O BAIRRO MACHADINHO – MUNICÍPIO DE ANGATUBA - SP
6.1. Características do município
Angatuba, cidade localizada a 210 km da capital do estado de São Paulo, clima
subtropical, com vegetação típica do cerrado, 624 metros de altitude, e com extensão 1028,
702 km2 e seu acesso principal é através da Rodovia Raposo Tavares.
Segundo o censo (IBGE 2010), a população do município é de 22.211 habitantes,
sendo 15.954 habitantes na área urbana e 6.257 na área rural.
Do ponto de vista econômico é de vocação agropecuária. De restante tem comércio
atuante e vem se destacando no ramo de confecções de roupas. A cidade tem projeção além de
suas fronteiras, vem se destacando no cuidado com o meio social e ambiental.
Em 2008, Angatuba ficou em 2º lugar no Município Verde, suas ações eficientes
contam com o apoio de toda sociedade, mas o foco principal é a Educação Ambiental, que
conta com apoio de organizações e sociedade civil.
Ações ambientais realizadas no município que o diferencia de outros, inclusive já
bastante divulgada pela imprensa. A cidade tem 100% do esgoto coletado tratado, e
provavelmente seja a primeira cidade com educação ambiental eficiente, pois a população
separa todo o lixo produzido, entre reciclado e orgânico.
O aterro é nota 10 pela CETESB há quatro anos consecutivos e já se tornou exemplo
para outros municípios. Angatuba coleta 100 % do lixo da cidade, sendo 205 toneladas
mensais, o lixo reciclado (35 toneladas/mês) sustenta uma cooperativa com 35 famílias, com
rendimento de até R$ 1.500,00 por mês. O restante 170 toneladas são destinado no aterro.
O viveiro de mudas municipal, responsável pela produção de 35.000 mudas/ano,
utilizadas para recuperação de matas ciliares e paisagismo urbano (praças, escolas e
substituição de árvores adequadas na área urbana).
Dados de Angatuba, referente à estrutura urbana:
68
Tabela 6 - Habitação e infra-estrutura urbana Município Regional (Gov.) Estado (SP)
Domicílios com
espaço suficiente
(%)
90,96 85,56 83,16
Domicílios com
infraestrutura
interna/urbana
adequada%
98,58 90,90 89,29
Coleta de Lixo-
Nível de
atendimento (%)
98,98 98,13 98,90
Abastecimento de
água- Nível em
atendimento (%)
99,30 96,74 97,38
Esgoto Sanitário-
Nível de
atendimento (%)
97,10 90,02 85,72
Fonte SEADE (2000)
O indicador comprova que a qualidade de vida, é visivelmente melhor onde se aplica
ações sociais e ambientais, se o estado de São Paulo tem os melhores indicadores do país,
Angatuba está além das expectativas das metas.
O bairro Machadinho está localizado a 6 km da sede, com 225 imóveis,
aproximadamente 600 habitantes (Informações Prefeitura Municipal), conta com escola
municipal, centro de saúde, duas grandes empresas, Polenghi (laticínio) e Klabin (papel e
celulose).
O bairro conta com 100% de atendimento com água tratada, e não tem coleta de
esgoto. As residências não são aglomeradas, existindo um espaçamento considerável entre os
imóveis, em alguns casos de até 600 metros, o que inviabiliza economicamente a implantação
de coleta e tratamento de esgoto convencional, como também a topografia irregular e a falta
de corpo receptor adequado.
69
Figura 16 - Bairro Machadinho (Angatuba) Fonte: Dados organizados pelo autor.
6.2. Coleta, análise e discussão de dados
Para realizar a pesquisa quanto à percepção da população do Bairro Machadinho,
referente aos problemas com a falta de infra-estrutura, principalmente de rede coletora de
esgoto, foi realizada uma reunião feita na comunidade no dia 12 de agosto às 20h00 no espaço
cedido pela igreja da comunidade local.
A reunião contou com 98 pessoas, sendo algumas representantes do bairro, onde foi
feito a explanação de todo o projeto técnico pelo autor do projeto, com expressões pouco
técnica para que pudesse ser de fácil entendimento ao público alvo.
Para a realização da pesquisa não houve nenhum tipo de problema, pois a comunidade
foi orientada durante a reunião, quanto ao conteúdo do questionário, e também do sigilo das
informações e sua finalidade acadêmica. Colaboraram com o preenchimento do questionário
35 pessoas, sendo que essas não foram escolhidas de forma seletiva, mas através de
amostragem probabilística aleatória simples. No contexto do questionário, foram priorizadas
as questões socioeconômicas e ambientais.
70
Alguns moradores, com maior grau de escolaridade, questionaram, durante a reunião,
o motivo da não execução de sistema de esgoto convencional, com coleta e tratamento de
esgoto, porém após explicações do novo sistema de tratamento de esgoto individual,
perceberam a necessidade de nova alternativa para resolver os problemas existentes.
No item Avaliação Geral do questionário, os resultados apresentados foram o seguinte:
Figura 17 - Avaliação Geral dos entrevistados do bairro Rural Machadinho – Município de Angatuba em 2012 Fonte: Dados organizados pelo autor.
Através desse gráfico (figura 17) identificou-se que as pessoas pesquisadas têm
maior índice geral de satisfação com água tratada e com habitação e dizem insatisfeitos com a
falta de coleta de esgoto.
Nesta perspectiva, as tomadas de decisões devem ser com base nos resultados de
pontos fortes e fracos. O resultado objetiva a busca, dentro de um contexto econômico,
ambiental e social, realizar ações de melhorias para efetivamente minimizar os problemas da
comunidade. Focar os investimentos nos itens que acarretam problemas a sociedade e ao meio
ambiente.
Visando descobrir mais fatores que interferem na qualidade de vida das pessoas que
vivem no bairro Machadinho, algumas perguntas do questionário aplicado, foram feitas para
compatibilizar a questão dos hábitos e as decisões quanto à ação que devem ser implantada.
Os números estão disponíveis no gráficos a seguir:
71
Figura 18 - Habitação dos entrevistados do bairro Rural Machadinho – Município de Angatuba em 2012 Fonte: Dados organizados pelo autor.
A informação sobre o tamanho e de posse dos imóveis é de grande relevância para
obtenção dos dados, pois devem ser avaliado as condições sociais e hábitos de consumo, pois
muitas vezes as condições sociais não permitem nenhuma ação que necessite de recursos
financeiros, mesmo que pouco, para que possa adaptar as partes internas dos imóveis ao
sistema de esgotamento, são detalhes que devem ser avaliados em qualquer projeto, inclusive
para poder constar este custo, se necessário dentro do próprio investimento do projeto.
Podemos perceber que a maioria dos imóveis, apesar de serem de até 60 m2, são próprios.
72
Figura 19 - Forma de Abastecimento de Água dos entrevistados do bairro Rural Machadinho – Município de Angatuba em 2012 Fonte: Dados organizados pelo autor.
Neste gráfico (figura 19), pode-se notar que a maioria da população local é abastecida
com água tratada, através da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
(SABESP), mas também podemos observar que ainda algumas residências possuem outros
meios de abastecimento, sendo analisada na pesquisa, em alguns casos, poço e mina.
A necessidade desta informação é devido a quantificar a água utilizada em cada
imóvel, já que a água fornecida pela SABESP é medida e pode-se dimensionar a capacidade
do tratamento de esgoto, mas se este número não for correto pode ser prejudicial no cálculo e
eficiência do tratamento de esgoto, e no caso de água de poço e mina não é considerado para
projeção de cálculo.
Para identificação e desenvolvimento de projetos, é necessário ter com conhecimentos
de todos os parâmetros e necessidades dos envolvidos.
Nesta próxima fase, o conhecimento de método adotado pelos residentes do bairro
Machadinho para esgotamento sanitário, já que não possuem rede coletora de esgoto.
73
Figura 20 - Forma de Esgotamento Sanitário dos entrevistados do bairro Rural Machadinho – Município de Angatuba em 2012 Fonte: Dados organizados pelo autor.
Como se pode perceber pela figura 20, através do resultado desta questão, a
comunidade não conhece alternativa de esgotamento sanitário, utilizando ainda o método
mais conhecido que é a fossa comum, mas existe uma grande preocupação dos mesmos com o
a forma utilizada, reconhecem que não é a forma correta, pois pode causar contaminação e
trazer vários problemas de saúde, já que possuem vários tipos de uso da água dos córregos
mais próximos, principalmente para pecuária.
A degradação ambiental causada pela falta de planejamento e de investimento em
coleta e tratamento de esgoto tem levado a crescente poluição por carga orgânica e nutrientes.
Como conseqüência, Tem-se a redução de disponibilidade do recurso e o aumento nos custos
tratamento para fins de abastecimento público. A médio e longo prazo tem-se o
comprometimento de ecossistemas dependentes destes recursos. Portanto a internalização dos
custos de tratamento, recuperação e preservação dos recursos deve ser um objetivo do sistema
de gestão (RAMOS, 2001, p.36).
A seguir apresentação dos resultados da questão em que se encontram as fossas
utilizadas nas residências.
74
Figura 21 - Condição das fossas utilizadas dos entrevistados do bairro Rural Machadinho – Município de Angatuba em 2012 Fonte: Dados organizados pelo autor.
Baseando-se nos dados coletados, podemos observar a grande importância de
desenvolver tecnologia para resolver ou minimizar os impactos que a falta de saneamento
adequado pode acarretar as pessoas e ao meio ambiente. A maioria das fossas existentes no
local não são limpas, não são sépticas e muito dos usuários se quer sabem as condições das
mesmas. E é visível também que a situação é agravada quando existe extravasamento dentro
da propriedade, e a exposição das pessoas com o esgoto é freqüente, colocando-os em risco de
contaminação.
75
Figura 22 - Informação sobre os impactos da falta de saneamento dos entrevistados do bairro Rural Machadinho – Município de Angatuba em 2012 Fonte: Dados organizados pelo autor.
Estas questões são relacionadas à Educação Ambiental, pelas respostas dos
pesquisados, estão bem informados quanto aos malefícios e impactos que a falta de
saneamento provoca ao meio ambiente, como o risco de doenças a ele veiculadas.
Com as informações deste gráfico (figura 22) avalia-se que as pessoas têm consciência
ambiental, por outro lado, não dispõem de conhecimento e recurso para não ser um agente
poluidor. Ficando dependente de políticas públicas para solucionar seus problemas, que
afetam não somente a ele próprio, mas todo o ambiente. Reconhecer que é um agente poluidor
já é um grande avanço, isto faz com que o consumo de recursos seja menor e com isso o
impacto também diminui.
A importância da Educação Ambiental é necessária para qualquer tipo de ação
ambiental, se não existir envolvimento, colaboração e monitoramento, certamente qualquer
ação não obterá o sucesso desejado. Só conhecimento não é suficiente, é necessário que
estimule e demonstre a todos os envolvidos a importância, o beneficio que se alcançará, em
questão podemos citar a melhoria na qualidade de vida, como: saúde, aumento na expectativa
de vida, diminuição da mortalidade infantil, facilidade na implantação da limpeza pública,
incentivo ao desenvolvimento econômico, além do bem estar físico e mental.
76
Neste último gráfico (figura 23) a questão sobre a instalação do Tratamento de Esgoto
Individual alternativo, demonstra se que a apresentação do projeto foi clara e se despertou o
interesse na instalação em suas residências.
Figura 23 - Percepção do tratamento de Esgoto Individual dos entrevistados do bairro Rural Machadinho – Município de Angatuba em 2012 Fonte: Dados organizados pelo autor.
O resultado desta última questão (figura 23) mostra que apesar de toda a explicação
técnica, e do grau de educação ambiental aplicada no município, alguns ainda se mostraram
um pouco resistente ao sistema alternativo, porém a maioria dos moradores dos bairros não
quer ser excluídos dos indicadores que demonstram os excelentes índices de atendimento de
saneamento no município.
A persistência em mostrar que o Sistema Alternativo de Tratamento de Esgoto, é o
melhor caminho para solução do problema ambiental instalado no bairro Machadinho
evidencia que pode ser uma questão de tempo para que reconheçam que o processo é
eficiente.
6.3. Conclusão da pesquisa no bairro Machadinho
Os resultados dos dados da pesquisa apontaram que as características eram suficientes
para a realização do projeto.
77
A ocupação descontrolada das áreas rurais demonstra que as ações devem ser tomadas
com urgência, para que não se torne um problema de saúde pública.
Todos estes fatores apresentados mostraram a viabilidade do projeto, ambiental e
economicamente correto como sendo a melhor solução para o problema
A prefeitura Municipal de Angatuba, através do programa Água é Vida decidiu por
meio de recurso da Secretaria de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo (convênio),
começar a instalação das unidades de Unidades Sanitária Individual, pelo bairro Rural
Machadinho. O material foi adquirido através de uma empresa, que obedecia
às normas descritas no referencial, contendo todos os itens necessários.
Como medida de precaução, foi criada uma rotina de visitas aos imóveis
contemplados, para anotar qualquer anormalidade que por conseqüências externas aos fatores
planejados, possam interferir no processo de tratamento de esgoto.
Segue abaixo fotos dos locais de instalação das USI.
Figura 24 - Unidade Sanitária Individual instalada em residência no Bairro Rural Machadinho-Município de Angatuba em 2012 Fonte: Dados organizados pelo autor.
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Figura 25 - Unidade Sanitária Individual instalada em residência no Bairro Rural Machadinho-Município de Angatuba em 2012 Fonte: Dados organizados pelo autor.
79
7. CONCLUSÃO
Atualmente, as questões sobre o saneamento básico apresentam grandes desafios,
principalmente pela consciência ambiental que acerca a população mundial.
De forma geral, os aspectos que foram levantados, analisados e produzidos, permitem
afirmar a total importância e a necessidade da existência de um tratamento adequado aos
dejetos nas comunidades afastadas desprovidas de rede coletora de esgoto nos bairros rurais
Machadinho e Boa Vista – Município de Angatuba e bairro rural Ferreira dos Matos –
Município de Ribeirão Grande.
Os resíduos gerados nestas, quando não tratados de forma correta, trazem prejuízos
imensos ao meio ambiente, a sociedade e a economia, como a poluição do ar, contaminação
do solo e água; e ainda podem trazer riscos à saúde humana e de outros seres vivos, além de
ocasionar a proliferação de insetos e outros agentes vetores de doenças e contaminação
ambiental.
Em resposta a pergunta-problema pode-se dizer que o sistema de tratamento de esgoto,
proposto e contemplado no Programa Estadual Água e Vida, pode representar uma excelente
alternativa para o tratamento de dejetos gerados, e também, dar uma maior percepção da
problemática ambiental causada pela falta de investimento em saneamento, além de trazer
ganhos relevantes para as comunidades que vivem as margens desses serviços.
Estes ganhos já estão sendo percebidos pela comunidade do bairro rural Machadinho -
município de Angatuba, onde a Prefeitura Municipal já iniciou a instalação das USI
(Unidades Sanitárias Individuais) através do convênio firmado com o Governo do Estado de
São Paulo.
80
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sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes. Brasília: MMA, 2008.
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86
APÊNDICE
87
APÊNDICE A: ROTEIRO DE ENTREVISTA COM OS MORADORES
I Identificação
1 Gênero
( ) masculino ( ) feminino
2 Idade
( ) até 18 anos ( ) de 19 a 25 anos
( ) de 26 a 30 anos ( ) de 31 a 35 anos
( )de 36 a 40 anos ( ) de 41 a 45 anos
( ) de 46 a 50 anos ( ) mais de 50 anos
3 Escolaridade
( ) alfabetizado ( ) não alfabetizado
Se sim, qual o nível de escolaridade?
( ) fundamental incompleto ( ) fundamental completo
( ) médio incompleto ( ) médio completo
4 Renda familiar
( ) menos de R$ 200 ( ) entre R$ 200 e R$ 300
( ) entre R$ 300 e R$ 400 ( ) entre R$ 400 e R$ 500
( ) 1 salário mínimo ( ) mais de 1 salário mínimo
II Perguntas específicas
5 Qual a sua opinião sobre o tratamento de esgoto implantado
( ) ótimo ( ) bom
( ) regular ( ) ruim
6 Quais foram os aspectos positivos após a implantação do tratamento de esgoto individual?