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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – NPGA BIANCA MEDALHA MOLLICONE REESTRUTURAÇÃO RECENTE DA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA BRASILEIRA E DESAFIOS COMPETITIVOS Salvador 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – NPGA

BIANCA MEDALHA MOLLICONE

REESTRUTURAÇÃO RECENTE DA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA BRASILEIRA E DESAFIOS

COMPETITIVOS

Salvador 2010

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BIANCA MEDALHA MOLLICONE

REESTRUTURAÇÃO RECENTE DA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA BRASILEIRA E DESAFIOS

COMPETITIVOS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, Escola de Administração, da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do titulo de Mestre em Administração.

Orientador: Prof. Dr. Oswaldo Ferreira Guerra

Salvador 2010

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BIANCA MEDALHA MOLLICONE

REESTRUTURAÇÃO RECENTE DA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA BRASILEIRA E DESAFIOS

COMPETITIVOS

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Administração, Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia.

Aprovada em 26 de fevereiro de 2010

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Oswaldo Ferreira Guerra - Orientador Doutor em Ciência Econômica - UNICAMP Universidade Federal da Bahia Prof. Dr. Luiz Ricardo Mattos Teixeira Cavalcante Doutor em Administração - UFBA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA Prof. Dr. Francisco Lima Cruz Teixeira Doutor em Política de Ciência e Tecnologia - University of Sussex, Inglaterra Universidade Federal da Bahia - UFBA

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MOLLICONE, Bianca Medalha. Reestruturação Recente da Indústria Petroquímica Brasileira e Desafios Competitivos. 190f. il 2010. Dissertação (Mestrado). Núcleo de Pós-Graduação em Administração, Escola de Administração, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2010.

RESUMO

A petroquímica é um dos segmentos mais expressivos de qualquer economia industrial, produzindo insumos para diversos bens de consumo. A partir da década de 1970, com os dois choques do petróleo, essa indústria passou por intensa reestruturação em todo o mundo, aprofundada na década de 1990. A racionalização dos negócios petroquímicos promoveu uma intensa onda de fusões, aquisições, joint ventures e spin-offs, refletindo as estratégias adotadas pelas empresas líderes, de integração vertical e focalização em core business. As grandes petrolíferas moveram-se downstream, beneficiando-se de vantagens de custo e acesso a matérias-primas. Os anos 2000 foram marcados pela emergência da Ásia como centro produtor, adicionando-se novas capacidades no Oriente Médio, e consumidor, com destaque para a China, apontando que o acesso às matérias-primas e aos mercados com elevado potencial de crescimento são as variáveis com maior capacidade de desencadear movimentos de reestruturação nessa indústria. No Brasil, a petroquímica foi implantada seguindo um modelo tripartite, com importante participação do Estado, via Petroquisa, que acabou por resultar em uma estrutura industrial fragmentada, de empresas monoprodutoras, diversa do padrão mundial do setor. Na década de 1990, a abertura da economia e a privatização, com redução expressiva da participação da Petroquisa, tornou manifesta a vulnerabilidade das empresas nacionais e a necessidade de reestruturação. A formação da Braskem e o retorno da Petrobras deram início ao processo de reorganização da petroquímica nacional. O objetivo do presente trabalho é analisar se o processo ocorrido no Brasil guarda semelhança com aqueles ocorridos em nível mundial, bem como identificar, utilizando-se de modelo das decisões de investimento nessa indústria baseado em determinadas driving forces, as principais estratégias da Braskem, maior player nacional, e da Petrobras, além dos desafios competitivos enfrentados pela petroquímica brasileira, associados à disponibilidade de matérias-primas, escoamento da oferta, mudanças tecnológicas, crescimento da demanda e políticas governamentais. Os resultados encontrados sugerem que a reestruturação ocorrida, além de fortalecer a petroquímica brasileira, equacionou parte de suas fragilidades competitivas, adequando-a ao padrão mundial do setor. Seu crescimento está bastante vinculado ao mercado interno brasileiro e uma maior inserção no âmbito internacional demonstra hoje boas perspectivas de se concretizar, especialmente no continente americano, tanto pela via das exportações, quanto pela internacionalização das empresas nacionais, in casu, a Braskem. Apesar dos desafios que se apresentam, majorados pela crise financeira de 2008, essa indústria conseguiu alcançar melhores condições competitivas para seguir uma trajetória sustentada de crescimento. Palavras-chave: indústria petroquímica; estrutura de mercado; estratégias empresariais; reestruturação; driving forces.

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MOLLICONE, Bianca Medalha. Recent Restructuring of Petrochemical Industry in Brazil and Competitive Challenges. 177p. il 2010. Thesis (Master’s Degree). Business Postgraduate Program, Business School, Federal University of Bahia ­ UFBA, Salvador, 2010.

ABSTRACT

The Petrochemical Industry is one of the most dynamic sectors in any industrial economy and an important producer of raw materials for a variety of consumer goods. In the 1970s, the industry experienced a major global restructuring process, brought forward from the two oil crises. In the 1990s, the restructuring process deepened, bringing about a wave of mergers and acquisitions, joint ventures and spin-offs, as a consequence from the strategies adopted by the leading companies, which were mainly based either on vertical integration or focus on core business.The big oil companies moved downstream, taking advantage of the cost and availability of feedstock. The decade of 2000 was marked by the emergence of Asia as a main producer of raw material, with the new capacities in the Middle East, and as an important consumer market, highlighted by China. These facts confirmed that access to raw materials and markets with great growth potential are the mainly factors in provoking movements of restructuring in this industry.In Brazil, the petrochemical industry was implemented following the “tripartite ”model, with an important participation of the national government, through Petroquisa, all in which resulted in a fragmented industrial structure of one product producer companies which were generally different from the world’s standards within the sector.In the 1990s, the opening of the economy andthe privatization within the country, resulting in an expressive reduction of Petroquisa’s participation in petrochemical sector, manifested the vulnerability of the national companies and their necessity for restructuring. The constitution of Braskem and the returnof Petrobras started the reorganization process within the national petrochemical industry. The object of this dissertation is to analyze if the process that occurred in Brazil has similarities to those which occurred on world levels, including analysis, with the use of an industry’s investment decisions model that is based on determining driving forces, of the main strategies from the country’s major players, Braskem and Petrobras, and the competitive challenges that the nation’s petrochemical sector has to face, in connection with the availability of raw materials,output, technological changes, increase in demand and governmental policies. The results suggest that the restructuring process has made Brazilian Petrochemical Industry stronger, diminishing part of its competitive weaknesses and has suited it to the world’s standards within the sector.Its growth is related to Brazilian internal market and it has good perspectives to internationalize its operations, particularly Braskem, in the Americas. Despite the challenges, majored by the 2008 world financial crisis, this industry has improved its competitiveness, suggesting that it will follow a sustainable growth path. Key words: petrochemical industry; market structure; firm strategies; restructuring; driving forces.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Modelo ECD e Contribuições Posteriores ................................... 29

Figura 2 Forças de Mudança .................................................................... 31

Figura 3 Cadeia Produtiva da Indústria Petroquímica ................................. 33

Figura 4 Cadeia Produtiva Petroquímica Ilustrada ...................................... 34

Gráfico 1 Distribuição Percentual dos Insumos para Produção de Etileno .. 37

Gráfico 2 Dispêndios em Capital como Percentual do Volume de vendas das 50 maiores empresas químicas mundiais (1996-2008) ........

43

Gráfico 3 Dispêndios em P&D como Percentual do Volume de vendas das 50 maiores empresas químicas mundiais (1996-2008) ...............

43

Gráfico 4 Rentabilidade do Setor Petroquímico nos EUA .......................... 45

Gráfico 5 Margem de Lucro Média das 50 maiores empresas químicas mundiais por volume de vendas de 1990 a 2008 (em %) .............

65

Figura 5 Fragmentação de Seis das Principais Indústrias do Setor .. ....... 69

Figura 6 Percentagem de Vendas de Produtos Químicos por Regiões (2001) ...........................................................................................

70

Figura 7 Atuação da Petroquisa para Viabilizar a Implantação dos Pólos Petroquímicos .............................................................................

88

Figura 8 Estrutura Societária das Empresas do Pólo Petroquímico de Camaçari antes do Leilão dos ativos da ESAE .............................

99

Figura 9 Estrutura Acionária da Copene antes do Leilão dos ativos da ESAE ...........................................................................................

100

Figura 10 Estrutura Acionária da Copene após o Leilão dos ativos da ESAE .............................................................................................

101

Figura 11 Participações Acionárias no Capital Votante da Braskem em 31.12.2008 .................................................................................

103

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Figura 12 Participações Acionárias no Capital Total da Braskem em 31.12.2008 ..................................................................................

103

Figura 13 Participações da Unipar em Controladas ..................................... 110

Figura 14 Sinergias Obtidas pela Braskem até 2007 e previsão para 2008 . 112

Gráfico 7 Capacidade Instalada para produção de resinas termoplásticas . 116

Figura 15 Clientes da Braskem em 2008, por Distribuição Geográfica ........ 120

Gráfico 8 Investimentos da Petrobras Previstos para o Período 2009-2013 122

Figura 16 Sociedades Componentes do COMPERJ .................................... 124

Gráfico 9 Custo da Produção de Eteno em Regiões Selecionadas ............. 127

Gráfico 10: Produção Total da Petrobras (atual e estimada) .......................... 129

Gráfico 11 Exportações de Petróleo ............................................................... 130

Gráfico 12 Importações de Petróleo ............................................................... 131

Figura 17 Demanda Aparente e Importação de Poliolefinas e PVC da China ............................................................................................

143

Gráfico 13 Consumo Per Capitade Polietilenos vs. PIB Per Capita ............... 150

Gráfico 14 Demanda Brasileira de Resinas .................................................... 151

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Padrões Típicos de Craqueamento conforme Insumo Usado ........ 36

Tabela 2 Produção de Resinas Termoplásticas selecionadas, 2000 ............. 48

Tabela 3 Corrente de Comércio de Resinas Termoplásticas Selecionadas, 2000 ................................................................................................

48

Tabela 4 Coeficiente de Comércio de Resinas Termoplásticas Selecionadas, 2000 .........................................................................

49

Tabela 5 Europa: Participação das Companhias Petrolíferas na Capacidade de Produtos Selecionados ..........................................

73

Tabela 6 Capacidade Produtiva da Quattor no Pólo de São Paulo (31.12.2008) ....................................................................................

82

Tabela 7 Capacidade Produtiva do Pólo Petroquímico de Camaçari (30.09.2009) ....................................................................................

85

Tabela 8 Capacidade Produtiva do Pólo Petroquímico de Triunfo (30.09.2009) ....................................................................................

86

Tabela 9 Evolução do Imposto de Importação sobre Petroquímicos Selecionados (1987 a 1995) ...........................................................

90

Tabela 10 Capacidade Produtiva da Braskem (30.09.2009) ........................... 104

Tabela 11 Nafta – Rendimentos e Parafinidades ............................................. 127

Tabela 12 Distribuição de Compras de Nafta pela Braskem 2006-2008 ......... 129 Tabela 13 Eteno – Adição de Capacidade por País ........................................ 136

Tabela 14 Demanda Interna, Produção Local, Exportações e Importações Brasileiras de 2006 a 2008 .............................................................

144

Tabela 15 Exportações: Valores, Volumes e Participação Percentual na Receita Líquida e no Volume de Vendas Totais da Unidade de Insumos Básicos da Braskem (2006 a 2008) ..................................

145

Tabela 16 Volume e Receita Líquida de Vendas da Unidade de Poliolefinas da Braskem (2006 a 2008) ..............................................................

147

Tabela 17 Consumo de Petroquímicos Básicos .............................................. 151

Tabela 18 Tarifas de Importação Incidentes sobre Petroquímicos Selecionados (1999 a 2000) ...........................................................

153

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................... 10

2 ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS E MOVIMENTOS DE REESTRUTURAÇÃO INDUSTRIAL .................................................

17

2.1 O MODELO ESTRUTURA – CONDUTA – DESEMPENHO .............. 18 2.2 A CONTRIBUIÇÃO NEOSCHUMPETERIANA ................................... 20 2.3 2.3A VISÃO DE PORTER ................................................................... 24 2.4 DRIVING FORCES E REESTRUTURAÇÃO INDUSTRIAL ................ 30 3 CARACTERÍSTICAS ESTRUTURAIS, ESTRATÉGIAS E

REESTRUTURAÇÃO NA PETRQUÍMICA MUNDIAL (1970-2009) ..

32 3.1 DELIMITAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA ......................................... 33 3.2 TECNOLOGIA, RELAÇÃO CAPITAL/TRABALHO E ESCALAS

OPERACIONAIS ................................................................................. 39

3.3 CICLO DE NEGÓCIOS NA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA ................ 44 3.4 PADRÃO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL .................................... 47 3.5 ESTRUTURA OLIPOLISTA E BARREIRAS À ENTRADA ................. 52 3.6 ESTRATÉGIAS E REESTRUTURAÇÃO DA PETROQUÍMICA

MUNDIAL NO PERÍODO DE 1970 A 2009 .........................................

53 3.6.1 O Período de 1970 a 1990 ................................................................ 54 3.6.2 A Década de 1990 .............................................................................. 59 3.6.3 A Indústria no Terceiro Milênio (2000 a 2009) ................................ 63 3.7 INTEGRAÇÃO PETRÓLEO E PETROQUÍMICA ................................ 72 3.8 DRIVING FORCES E MOVIMENTOS DE REESTRUTURAÇÃO ...... 74 3.8 Condições de Oferta ......................................................................... 75 3.81.1 Disponibilidade de Matérias-Primas .................................................... 75 3.81.2 Crescimento da Oferta ........................................................................ 75 3.81.3 Mudanças Tecnológicas ..................................................................... 76 3.8.2 Condições de Demanda ................................................................... 76 3.8.2.1 Crescimento da Demanda .................................................................. 76 3.8.3 Políticas Públicas .............................................................................. 77 3.8.4 Estratégias Empresariais ................................................................. 77 4 IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA PETROQUÍMICA

BRASILEIRA ...................................................................................... 78

4.1 GÊNESE DA PETROQUÍMICA NO BRASIL ...................................... 78 4.2 O MODELO TRIPARTITE E O PAPEL DA PETROBRAS ............ ..... 81 4.3 PRIVATIZAÇÃO E ALTERAÇÕES INSTITUCIONAIS NA DÉCADA

DE 1990 .............................................................................................. 90

4.4 IMPLICAÇÕES DO MODELO DA PETROQUÍMICA BRASILEIRA .... 92

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5 MOVIMENTOS RECENTES NA PETROQUÍMICA BRASILEIRA ..... 98 5.1 A CONSTITUIÇÃO DA BRASKEM ..................................................... 98 5.2 O RETORNO DA PETROBRAS ......................................................... 106 5.3 DESAFIOS COMPETITIVOS PARA A PETROQUÍMICA

BRASILEIRA ...................................................................................... 111

5.3.1 Estratégias Empresariais ................................................................. 114 5.3.1.1 Estratégias da Braskem ...................................................................... 115 5.3.1.2 Estratégias da Petrobras ..................................................................... 121 5.3.2 Condições de Oferta ......................................................................... 126 5.3.2.1 Acesso a Matérias-Primas .................................................................. 126 5.3.2.2 Crescimento da Oferta ........................................................................ 135 5.3.2.3 Mudanças Tecnológicas ..................................................................... 138 5.3.3 Crescimento da Demanda ................................................................ 142 5.3.4 Políticas Governamentais ................................................................ 152 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 157 REFERÊNCIAS................................................................................... 164

ANEXOS.............................................................................................. 175

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1 INTRODUÇÃO

A petroquímica costuma ser um dos segmentos mais expressivos de

qualquer economia industrial, pois seus produtos são utilizados como insumos para

uma imensa gama de bens de consumo (tecidos, calçados, brinquedos, embalagens

e outros itens de utilidades domésticas feitos de plástico, tintas, eletro-eletrônicos,

materiais de limpeza e muitos outros).

Usualmente, o ponto de partida da indústria petroquímica são matérias-

primas oriundas da indústria petrolífera (petróleo e/ou gás natural). Essas matérias-

primas são transformadas nas centrais petroquímicas em produtos de primeira

geração (etileno, propileno etc.) e, em seguida, em produtos de segunda geração

(polipropileno, polietileno, PVC etc.). Este encadeamento estimula a indústria a se

organizar em pólos, de modo a aproveitar as sinergias logísticas, de infra-estrutura e

de integração operacional e, assim, minimizar custos. Os pólos petroquímicos são

formados por unidades de primeira e segunda geração, empresarialmente

integradas ou não.

Essa necessidade de integração, em direção à indústria de petróleo

(integração para trás) ou da indústria de petróleo para a petroquímica (integração

para frente), foi estimulando, ao longo do tempo, a constituição de mega-empresas.

A integração de uma empresa petroquímica com uma de petróleo pode permitir

acesso privilegiado a fontes de matérias-primas. Para esta última, a integração é

uma efetiva chance de agregar valor a seus produtos.

A característica estrutural acima descrita aliada à alta intensidade de

capital e busca por economias de escala, que marcam o processo petroquímico de

produção, se constituem em barreiras à entrada no setor, além de explicarem o fato

desta indústria já ter nascido com uma estrutura fortemente olipolizada, na qual se

destacam as empresas petrolíferas (GUERRA, 1994).A rigor, na indústria

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petroquímica mundial três tipos de empresas são visíveis: transnacionais químicas

diversificadas (Basf, Bayer, Dupont, Dow, dentre outras); transnacionais integradas a

partir do petróleo (ExxonMobil, Total Fina e Elf) e; empresas regionais (Sinopec,

Sabic, Pequiven, Huntsman, Occidental) (GOMES ET ALLI, 2005).

A partir do final dos anos 1970 e início dos anos 1980, intensos

movimentos de reestruturação começaram a ocorrer na indústria petroquímica

mundial, em resposta aos dois choques do petróleo. A racionalização dos negócios

do segmento aprofundou-se durante a década de 1990, promovendo uma imensa

onda de fusões e aquisições, formação de joint ventures, spin-offs e split-ups,

refletindo as estratégias adotadas pelas empresas líderes.

No Brasil, a indústria petroquímica ergueu-se apoiada no conhecido

modelo tripartite, cuja composição societária se constituía de um terço de capital

proveniente da estatal brasileira de petróleo, a Petrobras, por meio de sua

subsidiária Petroquisa, um terço pertencente ao sócio privado nacional e o terço

restante correspondente ao sócio estrangeiro, usualmente fornecedor de tecnologia.

Tal modelo acabou por resultar em uma estrutura industrial fragmentada, de

empresas monoprodutoras, bastante diferente do padrão internacional do setor. No

que tange à fragmentação empresarial, ela se deveu à tentativa de salvaguardar as

competências compartilhadas pelos três agentes envolvidos no processo: as

empresas internacionais, que detinham conhecimento tecnológico; as nacionais, que

possuíam expertise local; e o Estado, detentor do acesso aos insumos (nafta e gás)

e garantidor de proteção externa.

A opção governamental por este modelo visava garantir ao país, em um

curto espaço de tempo, a auto-suficiência em derivados petroquímicos. Não houve a

preocupação inicial de desenvolver tecnologia nacional para suprir a indústria

nascente. Em um regime de proteção e forte intervenção estatal, a indús tria

petroquímica brasileira foi capaz de se desenvolver e acumular capacidades

industriais amplas, muito embora com capacitação tecnológica limitada.

Uma outra consequência do modelo tripartite foi o “nó societário”herdado

da forma pela qual essa indústria foi constituída. Ele dificultava a definição das

estratégias de crescimento das firmas e expunha conflitos de interesses existentes

entre seus controladores (GUERRA, 1993; OLIVEIRA, 1994; MONTENEGRO e

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MONTEIRO FILHA, 1997; SILVEIRA e RABELO, 1998; FURTADO et al, 1999;

ERBER, 2002).

Para Azevedo e Rocha (2005), essa estrutura societária não representou

um grande problema na década de 1980, vez que a volatilidade da produção era

pequena. Obviamente existiam custos decorrentes do modelo, tais como a

morosidade na tomada de decisões estratégicas e, conforme apontado por Guerra

(1994), menores investimentos em P&D, ao comparar-se com países em que a

indústria petroquímica já estava consolidada. Na década de 1990, o quadro se

altera. As características das transações na indústria petroquímica modificaram-se

de tal modo, que o modelo da década anterior, constitutivo da petroquímica no país,

se transformou em uma forte desvantagem competitiva e tornou premente a

reestruturação organizacional do setor.

Alguns analistas (GUERRA, 2007a; FURTADO, 2003; PÁDUA NETO ET

ALLI, 2003) criticam o governo por ter perdido a oportunidade, durante o processo

de privatização da petroquímica brasileira nos anos 1990, de forçar uma

reestruturação no setor usando a Petroquisa. A postura do governo foi a de afastar a

estatal da segunda geração petroquímica e reduzir sua participação na primeira

geração, contrariando a tendência anteriormente mencionada e observada em vários

países: a integração vertical das atividades de petróleo e petroquímica, que se

constitui em um importante determinante de competitividade.

Guerra (1994) destaca que as regras do modelo de privatização adotadas

pelo governo brasileiro na década de 1990, que conduziram o Estado, embora

proprietário da maior parte dos ativos, a não interferir no processo de reestruturação

dessa indústria, foi bem próxima à adotada pelos governos americano e alemão, no

processo de reestruturação da década de 1980. A diferença, contudo, é que

naqueles países não existia qualquer grande empresa estatal operando na

petroquímica, nem tampouco o fornecimento da matéria-prima era monopólio

estatal.

Em países nos quais havia grandes empresas estatais atuando na

indústria (v.g. França e Itália), a reestruturação química/petroquímica foi

implementada com a participação do Estado. Em outros países, tal reestruturação

levou ao crescimento da empresa estatal (Finlândia/NESTÉ) no setor, ou foi

fortemente induzida por uma política industrial ativa (Japão). No entender de Guerra

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(1994), nesses países a reestruturação obedeceu a um planejamento estratégico e a

privatização, onde se aplicou, foi definida como um instrumento reestruturante e de

promoção da competitividade.

No Brasil, aqueles que defendiam as regras adotadas à época, entendiam

que a privatização no país não precisaria cumprir este papel. Isto porque, eles

acreditavam que as empresas petroquímicas brasileiras seriam compelidas

inexoravelmente a realizar composições entre elas para reestruturar o setor, visto

que não teriam muitas chances de sobrevivência caso permanecessem isoladas. Na

ótica de Guerra (2007a), os defensores de tais idéias esperavam uma tendência

natural, guiada possivelmente pela “mão invisível”, posterior à privatização, de

formação de fortes grupos empresariais, através de composições livremente

acertadas.

Frustradas essas expectativas, foi necessária a ocorrência de um evento

externo à indústria petroquímica (a intervenção do Banco Central do Brasil no Banco

Econômico e a posterior alienação da participação deste na central de matérias-

primas do pólo da Bahia - COPENE) para que fosse vencida a inércia e iniciada a

reestruturação do setor.

O controle da COPENE foi adquirido pelos Grupos Odebrecht e Mariani

em julho de 2001. Em 16 de agosto de 2002 foi criada a BRASKEM. No início de

2004 foram incorporadas à BRASKEM as empresas OPP Química, Nitrocarbono,

Trikem e Proppet. Em 2006, a BRASKEM anunciou a incorporação da Polialden e a

compra das participações detidas pelos grupos Suzano e Sumitomo Chemical e

Itochu na Politeno, incorporada em 2007.

Desde sua criação, a BRASKEM é a maior empresa petroquímica da

América Latina, figurando entre as três principais companhias industriais de capital

privado brasileiro. Em 2006, ela foi incluída no ranking das 50 maiores empresas

petroquímicas do mundo, de acordo com a Chemical & Engineering News, já

alcançando, em 2008, a trigésima quarta posição. Foi a primeira companhia

petroquímica do país a integrar operações de primeira e segunda geração e detém

hoje a liderança no mercado latino-americano de polipropileno, sendo a segunda

maior produtora desta resina nas Américas. (BRASKEM, 2009c).

O surgimento da Braskem, seus movimentos mais recentes e outras

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transformações que vêm ocorrendo na petroquímica brasileira começaram a alterar

o perfil do setor. É um importante esforço para solucionar um dos principais

problemas da estrutura deste segmento industrial no país: a pulverização

empresarial e a reduzida integração entre as etapas da cadeia petroquímica.

Nestes movimentos recentes, há que se destacar o retorno da Petrobras

ao setor. Com o novo ambiente político surgido após a eleição de Lula em 2003, o

afastamento da Petrobras dos negócios petroquímicos começou a ser revisto e já no

primeiro mandato do presidente eleito o plano estratégico da empresa deu

conhecimento ao público em geral, e a seus acionistas em particular, que a atividade

petroquímica voltaria a fazer parte do foco da empresa. A Petrobras hoje tem

exercido papel de destaque na reconfiguração do panorama dessa indústria no

Brasil.

Resta saber se tais movimentos guardam semelhança com os

observados na petroquímica mundial e se os efeitos produzidos e esperados destas

reestruturações poderão tornar a indústria petroquímica nacional mais competitiva

globalmente.

Neste contexto, o principal objetivo desta dissertação é responder à

questão acima formulada. Mais especificamente, buscar-se-á:

a) mapear as características básicas da indústria petroquímica mundial e

seus movimentos mais relevantes de reestruturação;

b) identificar os principais determinantes da dinâmica dessa indústria;

c) analisar o atual momento de reestruturação da petroquímica brasileira

e seus atores principais, enfatizando o papel desempenhado pelas

estratégias da Braskem e da Petrobras;e

d) identificar, tomando como base a reestruturação da petroquímica

mundial, os desafios competitivos para a petroquímica nacional.

Antes de prosseguir, faz-se necessário um esclarecimento.Em todos os

trabalhos que versam sobre petroquímica, a obtenção de informações e dados

exclusivos do setor revela-se uma tarefa nem sempre muito simples. Isso porque

grande parte das informações são fornecidas de forma consolidada com outros

ramos da indústria química. Assim sendo, ao tratar da reestruturação da

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petroquímica mundial, em grande parte dos momentos serão mencionados os

principais acontecimentos que nortearam a reestruturação da indústria química

como um todo, da qual faz parte o setor específico estudado neste trabalho.

Para nortear a resposta ao problema de pesquisa levantado, parte-se das

seguintes hipóteses:

a) a reestruturação em curso na petroquímica no Brasil é resultado não

apenas das driving forces que guiaram os movimentos ocorridos nesta

indústria mundialmente, associadas especialmente a acesso a fontes

de matérias-primas e a mercados consumidores dinâmicos, mas

também da completa impossibilidade de manter-se a estrutura

existente, fruto do modelo tripartite, de forma minimamente competitiva;

b) a reestruturação em curso aproxima a estrutura da petroquímica

brasileira do padrão mundial do setor, no qual salientam-se as alianças

entre empresas químicas e petrolíferas que viabilizam movimentos de

integração vertical para frente e para trás.

Para alcançar os objetivos expostos, a dissertação, além desta introdução

e da conclusão, terá mais quatro capítulos. No capítulo 2 será apresentado um

modelo analítico lastreado na premissa de que algumas driving forces definem a

estrutura da indústria e fornecem elementos para a compreensão das estratégias

empresariais. Nessa perspectiva, reestruturações seriam resultado da ponderação

de um dado conjunto de driving forces, cujas origens se situam nas condições

básicas de oferta e demanda e nas políticas governamentais concernentes a cada

atividade econômica.

No capítulo 3será traçado um panorama da petroquímica mundial,

abordando tópicos relativos às suas características estruturais, às estratégias das

empresas líderes e aos movimentos de reestruturação ocorridos entre 1970 e 2009.

Neste mesmo capítulo, usa-se o modelo analítico apresentado no capítulo anterior

para identificar as principais driving forces desses movimentos de reestruturação.

No capítulo 4 será feita uma retrospectiva das atividades petroquímicas

no Brasil, destacando-se a constituição dos pólos petroquímicos, o papel da

Petrobrás à época e o processo de privatização ocorrido na década de 1990.

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No capítulo 5serão abordadas a criação da Braskem e as alterações

geradas na estrutura de propriedade e na configuração das empresas do setor no

Brasil. Na sequência, se enfocará o retorno da Petrobrás à petroquímica, bem como

as novas alterações no panorama dessa indústria a partir de então. Por fim, no

capítulo 6serão analisados os desafios competitivos que estão postos para a

petroquímica brasileira no início deste novo milênio.

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2 ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS E MOVIMENTOS DE REESTRUTURAÇÃO

INDUSTRIAL

Estudos recentes relativos a movimentos de reestruturação em setores

industriais, atribuem tais movimentos a determinadas forças de mudança, aqui

nominadas de driving forces1 (WESTON ET ALLI, 1999a e 1999b).

Weston et alli (1999b) apontam seis forças principais, abaixo listadas, que

conduziram a movimentos de reestruturação na atualidade.Elas teriam capacidade

de produzir impactos significativos, tornando indistintas as fronteiras entre algumas

indústrias e multiplicando as formas e fontes de competição.

1. Mudança Tecnológica.

2. Globalização e livre comércio.

3. Privatização e Desregulamentação.

4. Instabilidade industrial (industry instability).

5. Pressões por economias de escala, escopo e complementaridades.

6. Preços ascendentes de ações, baixas taxas de juros e forte

crescimento econômico.

ParaWeston et alli (1999b, p. 151), as mudanças ocorridas na indústria de

computadores, por exemplo, ilustrariam os novos padrões de competição,

justificando a extensão de dois conceitos centrais de Porter relativos a estratégia (o

1 Driving forces: key internal forces (such as knowledge and competence of management and

workforce) and external forces (such as economy, competitors, technology) that shape the future of an organization. (www.businessdictionary.com/definition/driving-forces.html). Em português, poderíamos utilizar forças propulsoras ou forças motrizes.

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modelo das cinco forças e a cadeia de valores), de modo a acrescentar o número e

competência dos complementors2 e o grau de regulação pelas autoridades

governamentais.

Neste contexto, o modelo do qual se valerá o presente trabalho parte da

premissa de que a estrutura de uma indústria é definida por algumas driving forces.

Estas forças fornecem elementos que permitem compreender as estratégias

empresariais adotadas (como por exemplo os movimentos de integração).

Em um plano mais geral, pode-se observar que essas forças estão

ligadas às condições básicas de oferta, demanda e políticas públicas, como

preconizado pelo modelo Estrutura – Conduta - Desempenho (ECD). Este modelo,

em seu formato original, presumia a existência de um encadeamento causal das

condições básicas de oferta e demanda para a estrutura de mercado. Esta última,

condicionaria a conduta das firmas que, por sua vez, definiria o desempenho

econômico (SCHERER; ROSS, 1990).

Sendo assim, convém fazer uma curta digressão a respeito da origem do

modelo ECD e sua evolução.

2.1 O MODELO ESTRUTURA-CONDUTA-DESEMPENHO - ECD

As origens do modelo ECD remontam ao trabalho seminal de Edward

Mason, intitulado Price and Production Policies of Large-Scale Enterprise(1939).

Esse autor, ao buscar estudar as estruturas concentradas, cujo entendimento fugia

ao alcance da teoria neoclássica tradicional dos preços,pretendia obter

generalizações simples, com vistas a classificar as firmas em estruturas e condições

semelhantes de mercado (FONTENELE, 1995).

Mason (1939) pontua que diferenças na alteração de preços em resposta

a mudanças nas condições de custo ou demanda para uma firma ou grupo de firmas

2 O termo complementors foi utilizado por Grove (1996, p.30) para descrever empresas que vendem diretamente um produto ou serviço que complementam um produto ou serviço de uma outra empresa, por meio de adição de valor para os consumidores mútuos. O exemplo clássico é o da Microsoft e McAfee (o Windows da Microsoft e o anti-vírus da McAfee).

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devem ser atribuídas tanto a diferenças na organização interna da firma quanto a

diferenças na estrutura de mercado na qual essa firma ou grupo de firmas esteja

inserido. Para ele, a questão central a ser analisada seria a relação entre as

diferenças organizacionais e de mercado e o tipo de resposta nos preços. Na

conclusão do seu artigo, ele argumenta que diferenças na estrutura de mercado

levariam a diferentes respostas nos preços que, por sua vez, conduziriam a

consequências também diversas para o funcionamento da economia3.

Estavam lançadas as bases do modelo ECD. Ao longo do tempo ele foi

sendo aprimorado4, mas permaneceu o papel preponderante atribuído por Mason às

características da estrutura de mercado. A rigor, o modelo ECD estabelece uma

seqüência causal na qual a estrutura de mercado condiciona a conduta das

empresas (i.e., suas estratégias concorrenciais) e, na seqüência, os resultados,

refletidos nos indicadores de desempenho.

Observa-se que existe no modelo uma desconsideração praticamente

absoluta de qualquer influência da estratégia das empresas ou do seu desempenho

sobre a estrutura de mercado. Neste contexto, não há como determinar-se as

causas da própria estrutura, que, portanto, apresenta-se como algo exogenamente

determinado.Somando-se a estes fatores a ausência da variável tempo, tem-se a

limitação principal do modelo, qual seja, sua carência de uma perspectiva dinâmica

(GUERRA, 1994).

Na visão de Teixeira (2002), ainda que sujeito a críticas, o referencial

teórico do modelo estrutura-conduta-desempenho, aliado à contribuição neo-

schumpeteriana, acabaram por fomentar estudos empíricos que influenciaram

fortemente as pesquisas em economia industrial. Ao reconhecer que as estruturas

de mercado oligopolísticas revelam-se mais propícias à inovação e ao dinamismo

tecnológico, foi amenizado o caráter normativo do pensamento econômico vinculado

ao modelo de competição perfeita.

A contribuição neoschumpeteriana acima citada enfatiza o potencial das

condutas inovadoras na alteração das estruturas de mercado e da própria dinâmica

econômica. Ademais, nas abordagens mais sistêmicas, entende-se que as 3 “The argument, (...), runs from differences in market structure to differences in price response, and

from differences in price response to the consequences of these differences for the functioning of the economy” (MASON, 1939: p. 73)

4 Ver a respeito Possas (1985, p. 95).

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condições básicas de oferta e de demanda são também influenciadas pela estrutura

de mercado e pelas estratégias adotadas pelas firmas, não sendo, portanto,

estritamente exógenas.

Diante da importância das contribuições neoschumpeterianas para o

enriquecimento do modelo ECD em termos de dinâmica, a próxima seção dedica-se

a examinar, brevemente, as idéias de Schumpeter e de alguns neoschumpeterianos.

2.2 A CONTRIBUIÇÃO NEOSCHUMPETERIANA

Foi a partir dos estudos de Schumpeter que a tecnologia passou a ser

vista como um elemento endógeno ao sistema econômico. Ele foi pioneiro ao

associar a base científica à base tecnológica de uma atividade, por meio do binômio

invenção-inovação, fazendo com que a tecnologia fosse encarada, como qualquer

outro bem, como parte de um sistema produtivo. A passagem da invenção para a

inovação requer a presença do empresário, que irá assumir os riscos, bancar os

custos e utilizar a tecnologia como instrumento competitivo. Esta passa, então, a

ocupar papel fundamental no processo de acumulação capitalista e nas teorias de

desenvolvimento econômico (TEIXEIRA, 2000).

Para Schumpeter, a concorrência focada na inovação é um processo de

destruição criadora, que resulta em desequilíbrios e assimetrias. Em sua ótica, a

economia não viveria em uma posição de equilíbrio, mas, ao contrário, seria a busca

por desequilíbrios, obtidos por meio da inovação, que caracterizaria a lógica natural

de funcionamento do sistema econômico.

Em Teoria do Desenvolvimento Econômico (1911), Schumpeter realça o

papel ativo do empresário inovador. Em decorrência das suas ações, uma

combinação já existente entre fatores de produção seria substituída por uma nova,

que poderia ocorrer via novo agrupamento dos fatores existentes ou pela introdução

de outros fatores. Essa inovação alteraria as condições do mercado, gerando um

lucro de monopólio para o empresário inovador, cuja realização impulsionaria um

ciclo de crescimento em toda a economia.

Frente a esse desequilíbrio, os demais agentes procurariam incorporar a

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inovação empreendida e essa imitação acarretaria inovações secundárias, bem

como a entrada de novos competidores, com a eliminação dos lucros

extraordinários. O mercado se colocaria, então, novamente em uma condição de

equilíbrio, que seria posteriormente quebrado por uma outra inovação. Isso porque,

visando manter o patamar de lucros, as empresas tenderiam à busca contínua pela

inovação, passando esta a ser entendida como a fonte por excelência das

vantagens competitivas.

Já na sua obra posterior, Capitalismo, Socialismo e Democracia (1942),

Schumpeter substitui a figura do empresário inovador pela da grande empresa, vez

que essa reuniria condições maiores para a internalização da Pesquisa e

Desenvolvimento necessários à geração de inovações.

Os trabalhos de Freeman (1974), Nelson e Winter (1977) e Dosi (1984),

partem dessas idéias de Schumpeter e podem ser usados para enriquecer o modelo

ECD.

Para Nelson e Winter (1977) a interação entre inovações tecnológicas e o

padrão competitivo pode conduzir à adoção de uma estratégia competitiva inovadora

por parte das empresas que, por sua vez, influencia a configuração e/ou a alteração

na estrutura de mercado. Por envolver um alto grau de incerteza e risco, não só

antes, como também após sua introdução, o processo de inovação costuma

engendrar um contínuo desequilíbrio de mercado, que implica lucros supranormais

para os inovadores, imitação ou morte para as firmas não pioneiras, barreiras para

os potenciais entrantes e o aparecimento de novos produtos que influenciarão a

estrutura da indústria na sua relação com fornecedores e clientes. Esse processo

dinâmico de configuração ou modificação estrutural traz implicitamente a introdução

das variáveis tempo e incerteza. Essa concepção adotada pelos autores possibilitou

os seguintes avanços teóricos (GUERRA, 1994; TEIXEIRA, 2002):

a) o abandonoda noção de equilíbrio marshalliano da indústria (no qual as

firmas deficitárias não permanecem no mercado, e as lucrativas

encontram seu tamanho desejado no longo prazo) e da compreensão

do desempenho industrial como exercício de estática comparativa. O

referencial básico de análise da competitividade passa a ser endógeno

à capacidade de as estratégias reconfigurarem a estrutura, impondo-

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lhe dinamismo. A competitividade passa a ser entendida como

resultado da seleção das estratégias vencedoras;

b) a desconsideração da infrutífera preocupação neoclássica de

caracterizar a mudança tecnológica a partir da função de produção, em

especial porque essa não consegue trabalhar com a incerteza que é

uma característica inerente ao processo inovador;

c) o entendimento da acumulação de conhecimento tecnológico como um

processo idiossincrático, não codificável mecanicamente, constituindo-

se, portanto, em um fator de diferenciação empresarial.

É inegável que a concepção neoschumpeteriana contribuiu

significativamente para a construção de uma abordagem dinâmica das estruturas de

mercado pelos motivos expostos. Não obstante, ela sofreu críticas no sentido de que

estaria equivocada ao não dar a devida importância à forte interdependência

existente entre estrutura de mercado e estratégias empresariais.

De fato, na perspectiva neoschumpeteriana, a ênfase sai da estrutura

para a estratégia; contudo, como ressalta Guerra (1994), pode-se perceber

facilmente que Nelson e Winter efetivamente reconhecem a relevância da influência

que a estrutura exerce sobre a estratégia e a interação existente entre ambas. Isso

fica patente ao admitirem que as atividades inovativas/imitativas de uma empresa

são realizadas em função do seu tamanho e posição face às concorrentes, bem

como ao considerarem a concentração como uma função positiva da oportunidade

tecnológica e da dificuldade de imitação das inovações pioneiras.

Ora, admitir que a capacidade inovativa depende do tamanho e posição

da firma, significa dizer que as estratégias dependem da estrutura. Ademais, se a

concentração de mercado depende das oportunidades tecnológicas, há que se

perquirir o porquê de existirem diferentes oportunidades neste campo.Na acepção

de Guerra (1994), a explicação fornecida por Dosi a respeito de quais fatores

condicionam o progresso tecnológico, não apenas responderia à questão acima,

como também explicitaria a inter-relação entre estrutura e estratégia.

Para Dosi (1990, p. 221), a inovação compreende, essencialmente, “a

busca por, e a descoberta, experimentação, desenvolvimento, imitação e adoção de

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novos produtos, novos processos de produção e novas formas organizacionais”. Sua

hipótese fundamental é que as atividades inovativas são fortemente seletivas,

finalizadas em direções precisas e frequentemente cumulativas.

Neste contexto, as mudanças tecnológicas e organizacionais em cada

firma são também processos cumulativos, isto é, o futuro tecnológico de uma firma

estará altamente condicionado pelo que ela foi capaz de desenvolver no passado.

Isto posto, seu desenvolvimento ao longo do tempo deixa de ser aleatório, passando

a ser constrito às zonas mais próximas tecnologicamente às atividades existentes.

Dosi (1990, p.226) salienta , ainda, que os gargalos e as oportunidades

tecnológicas, experiências e habilidades personificadas em indivíduos e

organizações, capacidades e “memórias” perpassadas de uma atividade econômica

para outra, tendem a organizar condições contextuais que são: a) específicas de

cada país, região ou mesmo companhia; b) um ingrediente fundamental no processo

inovativo e; c) como tais, determinam diferentes incentivos/estímulos/restrições à

inovação, para cada dado padrão de sinais econômicos estritos.

Os esforços inovativos são também função da estrutura da demanda e

das condições de apropriabilidade. Em geral, as condições de apropriabilidade

diferem entre indústrias e entre tecnologias. Caso existisse uma perfeita, não

custosa e imediata duplicabilidade, nenhuma firma teria incentivo para inovar;

inversamente, com uma apropriabilidade muito alta, apenas uma parcela muito

pequena dos benefícios da inovação se espalharia pelo sistema econômico na forma

de melhoras na eficiência.

Para Teixeira (2002, p. 09), “as diferentes oportunidades tecnológicas

com as quais as empresas se deparam em seu processo concorrencial/seletivo são

influenciadas pela cumulatividade do avanço do conhecimento tecnológico, pelo

grau de flexibilidade da fronteira tecnológica e pela apropriabilidade privada dos

resultados da inovação”. Esta última dar-se-ia em face da criação, pela firma

inovadora, de barreiras de acesso ao conhecimento que dão origem à inovação, no

intuito, principalmente, de acentuar e manter suas vantagens de pioneira.

O controle desses fatores, contudo, ocorre de forma assimétrica entre as

empresas componentes de uma dada estrutura de mercado. A análise dessas

assimetrias, além de ser crucial para o entendimento das transformações endógenas

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das estruturas de mercado, possibilita identificar diversas estratégias empresariais,

ligadas à inovação e ao seu processo de difusão, que se associam a diferentes

estruturas de mercado. Essas associações ensejariam a construção de tipologias

que permitiriam o exame de combinações diversas entre estrutura e estratégia ao

longo do tempo. Guerra (1994) destaca que essa é uma das razões pelas quais Dosi

pontua a necessidade de entender-se a relação entre estrutura e estratégia como

um via de duas mãos. Ele acrescenta, contudo, que uma maior ênfase deve ser

dada à estrutura, vez que o conjunto das estratégias empresariais seria

normalmente por ela condicionada.

2.3 A VISÃO DE PORTER

Porter (1980), ainda que não mencione o modelo ECD explicitamente,

contribui, a exemplos dos neoschumpeterianos, para o seu enriquecimento. Com

relação à formulação de estratégias competitivas, ele salienta a primazia da

estrutura sobre a estratégia. Para Porter (1999), formular uma estratégia competitiva

é relacionar uma firma com o seu meio ambiente, sendo o aspecto principal deste a

indústria em que a empresa compete. A concorrência em determinada indústria

dependeria, por sua vez, de cinco forças estruturais básicas: ameaça de novos

entrantes, ameaça de produtos ou serviços substitutos, poder de negociação dos

compradores, poder de negociação dos fornecedores e rivalidades entre os atuais

concorrentes. Essas forças determinariam o potencial de lucro final da indústria,

medido em termos de retorno a longo prazo sobre o capital investido. A meta da

estratégia competitiva para uma firma, então, seria encontrar uma posição para esta

firma dentro da indústria na qual ela pudesse se defender melhor contra as forças

competitivas ou influenciá-las a seu favor.

Porter (1980) sugere três estratégias genéricas que seriam

potencialmente bem sucedidas para superar os concorrentes em determinada

indústria, estando associadas ao enfrentamento das cinco forças estruturais acima

listadas. São elas:

a) liderança no custo total – a empresa busca um custo inferior em

relação aos concorrentes, o que exige normalmente parcelas

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significativas de participação de mercado ou outras posições mais

vantajosas, tais como o acesso privilegiado a matérias-primas;

b) diferenciação – a empresa trata de oferecer um produto ou serviço que

seja considerado único pelos consumidores no âmbito de toda a

indústria, garantindo retornos elevados ainda que com baixas parcelas

de participação no mercado;

c) enfoque – nesta, a empresa enfoca um determinado grupo comprador,

um segmento da linha de produtos ou um mercado geográfico. A

estratégia é baseada no pressuposto de que a empresa pode atender

seu alvo estratégico específico de forma mais efetiva e eficiente que

seus concorrentes, que estão competindo de forma mais ampla. Tal

estratégia pode não conduzir ao baixo custo ou diferenciação do ponto

de vista da indústria como um todo, mas atingirá uma ou ambas as

posições em relação ao alvo estratégico escolhido.

É importante observar, contudo, que o retorno a uma perspectiva

estruturalista não significa a reafirmação do papel determinante da estrutura tal

como defendida no modelo ECD inicial. Para Teixeira (2002), no modelo de Porter, a

análise das forças estruturais é muito mais abrangente, uma vez que elas são

estudadas a partir da lógica de valorização de uma “unidade de capital” e não da

lógica produtiva. Nesta perspectiva, as cinco forças estruturais por ele propostas

moldam as estratégias competitivas a ser adotadas com vistas a obter melhor

posição ou vantagem no processo de valorização do capital. Essa valorização, por

seu turno, comporta diversas dimensões de políticas ou instrumentalizações da

estratégia genérica.

Deve-se ressaltar, no entanto, que, se a contribuição de Porter, por um

lado, resultou em uma melhor sistematização das estratégias e de sua relação com

a estrutura, por outro lado, a metodologia por ele adotada deixou escapar dimensões

dinâmicas da contribuição neoschumpeteriana. Tanto a especificação das

estratégias genéricas quanto suas possibilidades de modificação estão circunscritas

às forças estruturais previamente definidas, inclusive a tecnológica, razão pela qual

no modelo de Porter, a endogeneização do processo de inovação própria ao

neoschumpeterianismo, é limitada.

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Na perspectiva de Teixeira (2002), Porter teria tentado superar essas

limitações por meio da criação de um modelo mais abrangente, caracterizado pelo

“diamante nacional”. Neste, quatro dimensões – condição dos fatores (insumos),

contexto para a estratégia e rivalidade da empresa, condições da demanda e

setores correlatos e de apoio - estabeleceriam as relações de vantagens

competitivas dinâmicas entre setores localizados em diferentes nações.

Na visão de Porter (1999), estes quatro determinantes representam o

ambiente nacional onde empresas nascem e aprendem a competir e ajudariam a

explicar a razão pela qual empresas situadas em determinadas regiões são capazes

de inovar e de se aprimorar em determinados campos. Um breve resumo destes

quatro determinantes é apresentado abaixo:

a) Condições de fatores: representam a posição do país ou região com

relação aos fatores de produção, que ele entende como sendo os

insumos básicos da competição. Eles incluem a abundância, qualidade,

acessibilidade e custo dos recursos físicos, a quantidade, capacidade e

custo do trabalho, o estoque de conhecimentos científicos, técnicos e

de mercado, o capital disponível para o financiamento da indústria e a

infra-estrutura física, administrativa, de informação e científica e

tecnológica.

b) Estratégia, estrutura e rivalidade das empresas – caracteriza-se pelas

condições que regem a maneira pela qual as empresas são criadas,

organizadas e dirigidas, bem como a natureza da rivalidade interna em

determinada localidade. O sistema tributário, as normas de propriedade

industrial, e a estabilidade macroeconômica e política são fatores que

influenciam o investimento. Juntamente com estas condições, a

rivalidade nacional, para ele, pode representar a vantagem mais

poderosa de uma localidade. Além de criar pressões para a inovação, a

rivalidade também incentiva o aprimoramento, levando à busca

constante das melhores práticas, que contribuem para a manutenção e

aperfeiçoamento das vantagens competitivas de uma região. A

rivalidade intensa dificultaria que uma empresa permanecesse

localmente na dianteira durante muito tempo, porém a totalidade do

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setor progrediria mais rapidamente que os competidores de outras

localidades.

c) Condições de demanda: consistem na natureza da demanda interna

para os produtos ou serviços da indústria. Existem três características

da demanda doméstica cuja importância é fundamental para a

manutenção da vantagem competitiva de uma região: estrutura e

tamanho da demanda interna do segmento, existência de compradores

sofisticados e exigentes e existência de compradores com

necessidades precursoras.

d) Indústrias correlatas e de apoio: este determinante se caracteriza pela

existência em determinado espaço geográfico de indústrias

fornecedoras e correlatas internacionalmente competitivas. Tratando-se

dos fornecedores, a vantagem competitiva surge da estreita relação de

trabalho e cooperação entre estes e as empresas compradoras, o que

torna mais fácil o acesso à informação, a novos conhecimentos e às

inovações dos fornecedores. No que se refere às indústrias correlatas,

isto é, aquelas que fabricam produtos complementares, a vantagem

competitiva advém da participação mútua no desenvolvimento de

tecnologia, manufatura, distribuição ou assistência técnica.

PORTER (1993) não apenas afirma que as regiões tendem a obter êxito

em indústrias onde o “diamante” é mais favorável, como destaca o papel a ser

desempenhado pelo Governo na competição internacional, no sentido de

proporcionar o ambiente adequado ao fortalecimento dos quatro atributos de

vantagem competitiva. Integra-se, portanto, a estratégia empresarial às políticas

industriais e tecnológicas.

Neste modelo, o Estado, anteriormente sem espaço delimitado entre as

cinco forças competitivas, passa a constituir, no entender de Teixeira (2002), uma

sexta força, enquanto ordenador do conjunto de instrumentos político–institucionais

que influenciarão na formulação das próprias estratégias das unidades de capital. As

ações governamentais impactam de forma positiva ou negativa cada um dos quatro

fatores determinantes da vantagem competitiva.

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Em Porter, portanto, o conceito de competitividade amplia-se, passando

de meramente microeconômico, para considerar as possibilidades de interação entre

empresas, setores industriais e entre nações. Ele engloba, ainda, uma redefinição

de papéis dos agentes econômicos e do aparato político-institucional, que deve ser

agora proativo na geração de um ambiente que venha a estimular a manutenção da

vantagem competitiva das empresas de uma determinada região.

De acordo com Teixeira (2002), embora o modelo de Porter, ao incorporar

os condicionantes da dinâmica tecnológica nacional e internacional, tenha ampliado

o escopo das estratégias competitivas, ele não foi suficiente para explicitar a relação

entre estrutura e estratégia (conduta):

[...] a competitividade (desempenho) ainda está subordinada às características do “diamante” que, mesmo ampliando o escopo das forças estruturais, não deixam de ter um papel determinante sobre a competição intercapitalista (conduta) nacional e internacional. Embora permaneça como desafio teórico a necessidade de se enfocar a relação entre estrutura e estratégia como uma via de duas mãos, a conceituação de competitividade em Porter deixou de ser um exercício de estática comparativa (TEIXEIRA, 2002, p.8).

O modelo abre espaço para que se vislumbre os passos requeridos na

construção das vantagens que irão fomentar o desenvolvimento do “diamante

nacional”, bem como para que se verifique se as vantagens competitivas detidas

pela indústria em estudo são sustentáveis a longo prazo. Neste contexto, pode-se

entender a competitividade de uma empresa, setor ou complexo industrial como a

conquista da melhor posição no mercado em um dado momento do tempo, resultado

da seleção de estratégias empresariais e políticas governamentais, sem esquecer-

se do esforço exigido na criação de mecanismos que garantam a manutenção desta

posição. Para Teixeira (2002, p.9):

[...] deve-se levar em conta que a posição competitiva, adquirida em um determinado tempo histórico da estrutura, é cumulativa e que seus efeitos são perceptíveis na posição competitiva futura. Portanto, a competitividade não só é adquirida, mas exige esforços contínuos para que se possa reforçar o processo seletivo a favor da empresa, em específico, e da indústria como um todo. Esse aspecto cumulativo está no cerne da relação, de duas vias, entre a estrutura e a estratégia.

Enfim, os indicadores de desempenho, caracterizadores da

competitividade,refletem os aspectos qualitativos e quantitativos do resultado da

competição, e resultam da capacidade de transformar, por meio das estratégias

empresariais, as forças estruturais da indústria.

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A figura 1 abaixo demonstra de forma resumida o encadeamento proposto

pelo modelo ECD, contemplando algumas das contribuições posteriores aqui

abordadas.

Figura1 - Modelo ECD e Contribuições Posteriores Fonte: Teixeira et alli, 2009, p. 5

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2.4 DRIVING FORCES E REESTRUTURAÇÃO INDUSTRIAL

Após esta breve exposição teórica, observa-se que o modelo analítico

proposto por Teixeira et alli (2009), que será utilizado nessa dissertação, foi

construído a partir do paradigma Estrutura-Conduta-Desempenho, agregando-se as

contribuições abordadas, que o enriquecem, especialmente a neoschumpeteriana,

que possibilitou destacar a via de mão dupla existente entre estrutura e estratégia.

Conforme ressaltado anteriormente, não obstante uma maior ênfase seja dada à

influência da estrutura sobre a estratégia, há que se considerar, diante de todo o

exposto, que as estratégias das empresas, refletidas nos indicadores de

desempenho, transformam também a estrutura.

Os movimentos de reestruturação podem ser melhor entendidos quando

se compreende o significado e os determinantes da estrutura da indústria. As driving

forces, associadas às condições básicas de oferta e demanda, tal qual estabelecido

no modelo ECD original, e às políticas governamentais, são esses determinantes e

orientam as estratégias empresariais. Estas refletem-se na competitividade das

empresas e impactam, retroativamente, a estrutura. Ou seja, as estratégias

empresariais são também driving forces (TEIXEIRA et alli, 2009, p. 14). A figura

abaixo indica a sequência lógica do modelo analítico a ser adotado.

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31

Figura 2 - Forças de mudança e estrutura da indústria

Fonte: Teixeira et alli, 2009, p. 15

Para selecionar as driving forces que norteiam a formulação das

estratégias empresariais e afetam a dinâmica da indústria petroquímica, será

necessário analisar-se as características estruturais dessa indústria e de seus

movimentos de reestruturação mundialmente. O período de tal análise se estenderá

das crises do petróleo, na década de 1970, até o ano de 2009 e será objeto do

capítulo seguinte.

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3 CARACTERÍSTICAS ESTRUTURAIS, ESTRATÉGIAS E REESTRUTURAÇÃO

NA PETROQUÍMICA MUNDIAL (1970-2009)

A indústria petroquímica apresenta um grau expressivo de

interdependência entre seus segmentos e possibilidades significativas de

substituição entre matérias-primas, rotas tecnológicas e aplicação de produtos. De

fato, um traço marcante a ser destacado nessa indústria é o alto grau de

substitubilidade, não apenas no que tange à existência de tipos diferentes de

matérias-primas para o mesmo produto, como também a possibilidade de diferentes

produtos serem utilizados para a mesma aplicação.

Frente a essas e outras peculiaridades, a cadeia produtiva petroquímica é

longa e complexa. É uma indústria de processo contínuo que, partindo de um

número reduzido de matérias-primas, alcança, nas subseqüentes etapas, um

número maior de produtos intermediários e finais. A integração vertical é bastante

elevada e a busca por economias de escala na planta e na firma é um importante

determinante de competitividade.

O comércio internacionalé bastante afetado pelo comportamento cíc lico

dos negócios petroquímicos. Enquanto a demanda aumenta de forma gradual, a

oferta se eleva aos saltos. Os preços dos produtos e as margens de lucro também

variam bastante não apenas ao longo do tempo, como entre mercados e tipos de

compradores.

As características traçadas nas breves linhas anteriores, um panorama

evolutivo dessa indústria nos últimos quase 40 anos, bem como um resumo das

principais driving forces subjacentes aos movimentos de reestruturação vividos pela

petroquímica mundial serão vistos mais detalhadamente nas seções a seguir.

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3.1 DELIMITAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA

A indústria petroquímica utiliza o gás natural e a nafta como principais

matérias-primas. As unidades de primeira geração, as chamada centrais de

matérias-primas, são produtoras de petroquímicos básicos (olefinas e aromáticos).

Os petroquímicos intermediários e finais são considerados produtos da indústria

petroquímica de transformação secundária (segunda geração), enquanto as

empresas de terceira geração, mais conhecidas por empresas de transformação

plástica, são os clientes da indústria petroquímica, conforme se observa das Figuras

3e 4 do presente trabalho.

Figura 3 - Cadeia Produtiva da Indústria Petroquímica

Fonte: CADE, 2003

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Figura 4 - Cadeia Produtiva Petroquímica Ilustrada

Fonte: Quattor, 2009a

Cavalcante (1997) ressalta que tal divisão não é pacífica entre os autores,

havendo vários que utilizam os termos primeira, segunda e terceira geração para os

petroquímicos básicos, intermediários e finais. Para fins desta dissertação, a

expressão segunda geração abarcará os produtos petroquímicos intermediários e

finais, utilizando-se o termo terceira geração para tratar da indústria de

transformação.5 Neste contexto, a indústria petroquímica é delimitada à montante

pela indústria de petróleo e gás natural, que lhe fornece a matéria-prima (nafta,

5 Cavalcante (1997, p.61) salienta ainda que, dado o elevado grau de integração da indústria

petroquímica, é muito comum que atividades associadas à indústria de transformação primária, secundária e até mesmo terciária sejam executadas por um mesma companhia, ou ao menos por uma mesma holding.

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gasóleo, gás liquefeito do petróleo, metano e etano), e à jusante pela indústria de

transformação.

A indústria de petroquímicos é extremamente intensiva em matéria-prima.

Como destacam Aitani e Hamid (1997a), para a produção de cada tonelada de

produto petroquímico são requeridas três ou mais toneladas de hidrocarbonetos. Do

processamento do gás natural e do refino do petróleo derivam os primeiros

subprodutos que darão origem à longa cadeia petroquímica. A produção de gás

natural prescinde do investimento em refinarias e deste insumo derivam o etano, o

butano e o propano. Quando o petróleo é usado como insumo inicial, parte-se para

uma primeira etapa de refino, na qual se obtém a matéria-prima mais comumente

utilizada para a fabricação de petroquímicos básicos, a nafta, além do gasóleo.

Propano e butano também são originados no refino, mas são majoritariamente

extraídos do gás natural (HIRATUKA et alli, 2000).

A etapa seguinte consiste nos processos de quebra de moléculas

(cracking), que ocorrem nas centrais de matérias-primas (ou unidades de primeira

geração). Por meio desse craqueamento, são extraídos os petroquímicos básicos,

divididos, como anteriormente mencionado, em olefinas (etileno, propileno, buteno e

butadieno) e aromáticos (benzeno, tolueno, xilenos etc.).

Dentre os acima citados, uma maior atenção é dada ao etileno e ao

propileno 6, a um só tempo derivados principais do processo e insumos das resinas

plásticas (dentre elas o polietileno e o polipropileno). Considerando-se que o etileno

é pouco transacionável internacionalmente, exigindo transporte criogênico e

dispendioso, é de se supor que projetos de investimento em plantas para sua

obtenção contemplem obrigatoriamente algum tipo de aplicação downstream. Por

este motivo, análises sobre a capacidade produtiva mundial de etileno, suas formas

de obtenção, como também sua oferta para os segmentos à jusante, permitem

dimensionar as características da petroquímica e suas tendências.

Vale destacar neste ponto que embora o gás natural requeira um

investimento menor por tonelada de etileno gerado, este é o único produto obtido no

processo. Já o uso da nafta, apesar de exigir um maior investimento por tonelada

produzida de etileno, propicia a obtenção de outras olefinas, dentre elas o propileno

6 O eteno e o propeno são conhecidos mais popularmente como etileno e propileno, respectivamente.

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– insumo petroquímico necessário à produção do polipropileno, que é uma das

resinas plásticas mais utilizadas – , o butadieno e os butenos, além dos aromáticos,

conforme se observa na Tabela 1.

Tabela 1 - Padrões típicos de craqueamento conforme insumo usado

(em % do produto)

Fonte: Hiratuka et alli (2000)

Resta claro, então, que a opção, em dado momento, por uma das duas

trajetórias, estará vinculada a alguns fatores tais como a existência de reservas de

gás natural, relação entre o preço da nafta e do gás natural, custos de equipamento

e demanda por produtos associados a preços remuneradores. Guerra (1994) cita,

por exemplo, a opção americana pelo gás natural, fortemente vinculada, à época

dos grandes projetos petroquímicos nos Estados Unidos, às suas abundantes

reservas e ao precoce e vigoroso crescimento de sua indústria automobilística que,

ao impor um alto consumo de combustível, tornou a nafta uma fração do petróleo a

ser transformada em gasolina.

Pode-se observar que essas alternativas distintas são capazes de

propiciar, em algumas circunstâncias, vantagens competitivas diferenciadas.

Quando os preços dos produtos petroquímicos caem, em resposta a períodos de

Insumos

Nafta Etano Propano Butano

Produtos

Eteno

Propeno

Propano

Hidrogênio

Metano

Buteno

Butadieno

Gasolina

Óleo Combustível

Perdas

27

14

2

3

13

6

4

24

5

2

79

2

-

5

7

1

2

2

-

2

43

20

-

2

23

3

3

4

-

2

4

16

2

4

20

13

2

10

2

2

Total 100 100 100 75

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grandes excedentes destes produtos, ficam favorecidas as exportações dos

derivados de etileno oriundas de países que utilizam o gás natural como principal

insumo petroquímico.

Neste contexto, a escolha do insumo a ser utilizado ocorre não apenas

em virtude da disponibilidade de matéria-prima local, estando também vinculada a

fatores conjunturais concernentes ao caráter cíclico dessa indústria e por opções

que visam a escala mais eficiente em, basicamente, um único produto (in casu o

etileno) ou a obtenção de diferentes produtos petroquímicos.

No âmbito mundial, a matriz de produção de etileno é dividida entre as

regiões que o elaboram a partir da nafta, em especial a Ásia, a Europa e a América

Latina, e aquelas que o obtêm a partir do etano, sobretudo os Estados Unidos, o

Canadá e o Oriente Médio (HIRATUKA et alli, 2000). De fato, esses dois insumos

têm sido responsáveis por oitenta por cento da produção mundial do etileno (gráfico

1).

Gráfico1 – Distribuição Percentual dos Insumos para Produção de Etileno Fonte: Hiratuka et alli (2000)

Hiratuka et alli (2000) salientam que as tendências em relação a estas

duas alternativas ainda não estariam totalmente definidas. No caso da Europa, do

Japão e da Coréia, em virtude de uma menor disponibilidade de jazidas de gás

natural e da reduzida transacionabilidade do gás, a opção pela nafta parece estar

confirmada. Já países como o Brasil, por exemplo, cuja matriz petroquímica foi

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constituída com base na nafta, podem vir a optar por alterá-la para etano, tendo em

vista a descoberta de jazidas utilizáveis, via gasodutos, na Argentina, Peru, Bolívia e

Bacia de Campos.

Os países do Golfo Pérsico, por sua vez, não obstante serem detentores

de aproximadamente 72%das reservas mundiais de petróleo (OPEC, 2009),

construíram seu parque petroquímico utilizando-se do etano e propano provenientes

do processamento do gás natural. De acordo com Aitani e Hamid (1997b) à época

do artigo citado, os petroquímicos básicos dos países componentes do Conselho de

Cooperação do Golfo (CCG)7 eram noventa e cinco por cento provenientes do

metano e do gás natural liquefeito, sendo apenas cinco por cento obtidos por meio

de insumos provenientes de refinarias.

Como destacam Hiratuka et alli (2000), a utilização de tais gases produz o

etileno menos custoso do mundo; contudo, abre lacunas significativas na produção

de propileno, butadieno e aromáticos, cuja obtenção seria possível a partir do uso de

insumos líquidos, tais como a nafta. Aitani e Hamid (1997) admitem que a integração

da petroquímica com as refinarias de petróleo foi negligenciada durante muito

tempo, o que já começava a ser revisto naquela época, com o projeto de

implantação pela Saudi Basic Industry Co. (SABIC) de uma unidade de

craqueamento de nafta, além de plantas para a separação de propeno e aromáticos

junto às refinarias existentes.

Os petroquímicos básicos são as matérias-primas para a elaboração dos

petroquímicos de segunda geração. Estes produtos podem ser classificados, de

forma genérica, em resinas plásticas, elastômeros, tensoativos, solventes e fibras

sintéticas. Em termos de volume de produção, destacam-se as resinas plásticas e os

elastômeros. As resinas são, em geral, produzidas na forma de pequenos grânulos,

mas algumas têm a forma de pó. As resinas plásticas se subdividem em: a)

termoplásticas, como o polietileno, o polipropileno e o PVC, que amolecem quando

aquecidas, permitindo que sejam fundidas e moldadas inúmeras vezes e; b)

7 O Conselho de Cooperação dos Estados Árabes do Golfo, comumente chamado de Conselho de

Cooperação do Golfo (CCG), é uma organização regional, política, econômica e social criada em 25 de maio de 1981. Inclui os Emirados Árabes Unidos, o Reino do Barein, a Arábia Saudita, o Sultanato de Omã, o Catar e o Kuwait. Esses países, basicamente produtores de petróleo e derivados, contam com grande liquidez financeira e juntos detêm 45% das reservas mundiais conhecidas de petróleo e 17% das jazidas de gás natural. (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, 2009).

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termorrígidas, que não se fundem e para serem moldadas requerem que sejam

sujeitas à temperatura e à pressão. Já os elastômeros (ou borrachas) são produtos

capazes de se recuperar de grandes transformações rápida e energeticamente. Tais

produtos servem para as empresas transformadoras de plástico (terceira geração)

fabricarem embalagens, brinquedos, componentes automotivos, utilidades

domésticas, peças para a indústria eletroeletrônica e para a construção civil, dentre

uma infinidades de outras aplicações.

A indústria petroquímica global, assim como a nacional, normalmente se

organiza em pólos, com vistas a aproveitar as sinergias logísticas, de infra-estrutura

e de integração operacional, minimizando custos. Usualmente os pólos

petroquímicos são formados pelas unidades de primeira e segunda geração,

empresarialmente integradas ou não. De um ponto de vista histórico e mundial, as

empresas petroquímicas buscaram integrar a central de matérias-primas com as

unidades produtoras de petroquímicos intermediários e finais (GOMES ET ALLI,

2005).

3.2 TECNOLOGIA, RELAÇÃO CAPITAL/TRABALHO E ESCALAS OPERACIONAIS

No que tange à tecnologia, é importante pontuar que a petroquímica,

desde sua gênese, esteve associada a descobertas de laboratório. As empresas

líderes sempre estiveram comprometidas com atividades de pesquisa e

desenvolvimento (P&D) de produtos e processos, tanto por meio de laboratórios e

programas de pesquisa próprios, como por meio do estabelecimento de ligações

fortes com as universidades.

Atualmente, a tecnologia, apesar de não representar uma barreira à

entrada significativa, se constitui numa fonte importante de vantagem competitiva.

Tradicionalmente esta indústria é classificada como sendo intensiva em ciência,

seguindo-se os critérios de Pavitt (1984) e Bell e Pavitt (1993). Não obstante grande

parte dos trabalhos a respeito deste setor mencionarem esta característica,

Cavalcante (1997, p. 82) ressalta que, na realidade, “a indústria petroquímica

apresenta hoje características mais acentuadas dos setores intensivos em escala do

que dos setores intensivos em ciência”. A indústria é considerada tecnologicamente

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madura, permanecendo a expressão science-based adequada para defini-la apenas

sob uma perspectiva histórica, vez que o setor experimentou, ao longo do século

XX, enormes avanços decorrentes de descobertas de laboratório (CAVALCANTE,

1997).

Santana et alli (2003) frisam a heterogeneidades ao longo da cadeia

petroquímica, afirmando que as inversões de capital em P&D e qualificação

profissional oscilam bastante de empresa para empresa, sendo mais intensivas as

atividades tecnológicas nas empresas que produzem petroquímicos finais. Tal

ocorreria porque estas empresas seriam produtoras de quase-commodities8, sendo

a possibilidade de diferenciação/diversificação de produtos um fator impulsionador

no investimento em capacitação tecnológica, capaz de produzir um diferencial de

custos e competitividade no mercado.

De fato, a crescente maturidade tecnológica dessa indústria acabou por

motivar uma redução dos investimentos em pesquisa básica e a ampliação das

atividades de pesquisa aplicada e desenvolvimento experimental, por meio dos

quais é possível se “descommoditizar” produtos e obter maiores margens de lucro.

Swift (1999), invocando Schumpeter e Gerhard Mensch no que tange à

existência de ciclos de longo prazo na inovação tecnológica, afirma que o setor

químico (que engloba a atividade petroquímica) teria passado por duas ondas

principais de inovação e estaria, no final da década de 1990, na fase inicial de uma

terceira onda.

Antes de 1850, a manufatura química era de pequena escala,

fragmentada e largamente focada nos mercados locais e regionais. A primeira onda

ou geração de inovação nos processos e produtos químicos começou por volta de 8 Cabe neste ponto um esclarecimento a respeito da classificação dos produtos pretroquímicos em

commodities e pseudo-comodities , ou quase-commodities , como optou-se no texto de Santana et alli (2003). Os produtos do setor químico são divididos basicamente em quatro categorias: commodities, pseudo-commodities , produtos de química fina e especialidades químicas (WONGTSCHOSWKI, 1999). Os produtos do setor petroquímico pertencem às duas primeiras categorias. As commodities são compostos químicos produzidos em larga escala, com especificações padronizadas, utilizados em uma gama variada de aplicações, e geralmente têm suas vendas concentradas em um número pequeno de clientes, sendo exemplos dessa categoria o eteno, o propeno, o metanol e os gases industriais. As pseudo commodities , embora também caracterizadas por grande volume de vendas, diferenciam-se das commodities por serem comercializadas com base em especificações de desempenho. São exemplos de pseudo-comodities as resinas termoplásticas e os elastômeros: duas resinas termoplásticas de mesma composição química podem apresentar, dentre outros, diferenças de resistência mecânica, dureza, resistência química, e processabilidade (NAKANO, 2006).

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1850 e durou aproximadamente sessenta anos. Esse período assistiu à rápida

aplicação da química para fins industriais e à expansão do conhecimento químico. A

química transformou indústrias mais antigas como as têxteis e de papel e fomentou,

após a virada do século, o surgimento de novas indústrias tais como as de alumínio

e refino de petróleo.

A segunda onda, no entender de Swift (1999), começou em 1930 e

terminou em 1960. Suas bases estão nas inovações feitas na química orgânica,

mais, na opinião daquele autor, podem ser resumidas aos desenvolvimentos nos

petroquímicos. Inovações nos processos de catálise e nas reações, cuja ocorrência

depende de pressões elevadas, combinadas com a abundância de matéria-prima

advindas do petróleo e gás natural tornaram possível essa segunda onda.

A partir do final da década de 1990, as descobertas científicas

relacionadas com as biociências passaram a ser o fio condutor de uma terceira onda

de inovação de processos e produtos químicos. Nas próximas décadas, a crescente

importância deste ramo irá engendrar uma lenta mudança no sentido de matérias-

primas e processos biológicos. Swift (1999) destaca que no final da década de 1990,

a biotecnologia, como plataforma tecnológica, já havia conquistado quinze por cento

das ciências da vida e se difundia para os químicos básicos. Para ele, a tendência

para os próximos vinte anos é de franco crescimento, auxiliado ainda mais pelas

ciências da vida, segmento que é o primeiro foco dessas inovações e que terá o

crescimento mais rápido.

Na visão desse autor, a emergência das biociências conduzirá à

suplantação dos tradicionais equipamentos de processo pelos equipamentos

empregados em biotecnologia. Adicionalmente, a evolução rumo a uma plataforma

tecnológica cada vez mais lastreada na biologia terá implicações para a indústria

química, tendo em vista que as novas tecnologias são menos intensivas em energia

e geram menos poluição. Tal evolução na ciência e no negócio químico irá se

intensificar e, não obstante a química tradicional permaneça como o suporte

principal para os químicos básicos, os efeitos dessa terceira onda de inovações

tecnológicas serão profundos.

Hiratuka et alli (2000) apontam dois vetores principais no esforço de P&D

das grandes empresas internacionais petroquímicas. O primeiro deles é voltado para

o desenvolvimento de tecnologia de produto, marcado pela busca de incorporar

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produtos com atributos diferenciados ao processo produtivo, tal como descrito

acima. Fazem parte desta categoria os chamados plásticos de engenharia de alta

performance, a exemplo das resinas termoplásticas PI – Polimida e PPS –

Polietersulfona, ambas bastante utilizadas na indústria aeroespacial.

O segundo vetor, por sua vez, estaria associado à tecnologia de

processo, incorporando elementoscapazes de alterar as características dos produtos

já existentes. Um exemplo seria a utilização dos catalisadores metalocênicos, cuja

ação no processo de produção de petroquímicos incorpora atributos ao produto,

diferenciando-o e fazendo com que ele atinja graus mais elevados.

De modo geral, pode-se então afirmar que algumas empresas mantém

uma base de produtos commoditizados e direcionam seu esforço tecnológico para

agregar à sua grade produtos que apresentem menores oscilações em seus níveis

de preços. Tal estratégia revela-se importante frente aos ciclos de preços a que

estão sujeitos os produtos petroquímicos, em especial os commoditizados, conforme

será discutido com maior profundidade na seção 3.4 adiante.

Arora (1996) destaca, ainda, o número expressivo de empresas do setor

químico que licenciam suas tecnologias. Ele demonstra que as maiores empresas

químicas licenciam suas tecnologias e boa parte delas o fazem bastante

frequentemente. Algumas das maiores empresas apontadas em seu estudo como

principais licenciadoras de suas tecnologias patenteadas incluíam a extinta ICI em

amônia, a Union Carbide, incorporada pela Dow, em polietileno/polipropileno e

tecnologias de separação de gases, a Montecatini e suas afiliadas, como a Himont,

em polipropileno, e a Mitsui também em polipropileno. As companhias de petróleo

são igualmente ativas no licenciamento das suas tecnologias. A Shell, ExxonMobil e

British Petroleum (BP) são algumas das petrolíferas que disponibilizaram no

mercado suas tecnologias de refino e petroquímicas.

Os gráficos 2 e 3 apresentam os dispêndios em capital e em P&D, como

percentual do volume de vendas, para os anos de 1996 a 2008, das cinqüenta

maiores empresas químicas mundiais9. Observa-se que os dispêndios de capital

tomados como percentagem das vendas subiram significativamente em 2007

9 Com base na lista anual das cinqüenta maiores empresas químicas mundiais elaborada pela

Chemical & Enginineering News, para as empresas que reportaram seus dispêndios em capital e P&D (C&EN, 2009).

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(gráfico 2); contudo, os gastos em pesquisa e desenvolvimento, também analisados

como percentagem das vendas, decresceram, atingindo um recorde de queda para

todos os anos nos quais a Chemical & Enginieering News pesquisou as maiores

companhias químicas (gráfico 3).

Gráfico 2 - Dispêndios em capital, como percentual do volume de vendas das 50 maiores empresas químicas mundiais (1996-2008)

Fonte: C&EN, 2009, p. 11-15

Gráfico 3 - Dispêndios em P&D, como percentual do volume de vendas das 50 maiores empresas químicas mundiais (1996-2008)

Fonte: C&EN, 2009, p. 11-15

Merece destaque, ainda, o alto nível de automação das unidades

petroquímicas. Ao exigir temperaturas e pressões elevadas para seus processos,

bem como por elaborar produtos altamente tóxicos e corrosivos, a petroquímica

necessita de um sistema de produção que reduza ao máximo o contato humano,

além de um controle de alta precisão. Esses fatores justificam a elevada relação

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capital/trabalho. Os custos de mão-de-obra não são tão expressivos se comparados

aos custos com o capital e matérias-primas, estes últimos ainda mais

preponderantes após os choques do petróleo.

Anteriormente aos choques do petróleo, o setor era caracterizado por

uma participação elevada dos custos fixos nos custos totais petroquímicos. Tal

situação, que vigorou praticamente até o final da década de 1970, aliada à rápida

expansão da demanda pelos produtos da indústria naquele período, deflagrou um

esforço tecnológico em busca de crescentes economias de escala , que se

viabilizaram com o aparecimento de gigantescas unidades produtivas.

As capacidades mínimas de produção consideradas competitivas

cresceram aceleradamente: entre 1950 e 1970, a capacidade média de produção de

uma planta de etileno na Europa Ocidental cresceu mais de 3.200%, situando-se

entre 400 a 500 mil toneladas anuais (GUERRA, 1993). Atualmente, apenas a título

de exemplo, a capacidade de produção anual de etileno da central de matérias-

primas da Braskem em Camaçari, em novembro de 2009, era de 1,28 milhão de

toneladas (BRASKEM, 2009d).

3.3 CICLO DE NEGÓCIOS NA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA

O comportamento cíclico dos negócios petroquímicos possui amplitudes

muito diferentes nas suas variáveis principais. Enquanto a demanda aumenta de

forma gradual, a oferta se eleva aos saltos. Os preços dos produtos e as margens

de lucro também variam bastante, não apenas ao longo do tempo, como também

entre mercados e tipos de compradores. Esse significativo caráter cíclico da

atividade pode ser constatado a partir do exame da rentabilidade das unidades de

petroquímicos básicos ou de produtos de segunda geração muito commoditizados.

Segundo Nakano (2006), ao examinar os reflexos da ciclicidade na variação

da rentabilidade do setor petroquímico como um todo nos Estados Unidos, entre

1975 e 2005, é possível observar claramente que cada ciclo apresenta uma duração

aproximada de oito anos, sendo que quatro deles são caracterizados por preços e

taxas de operação mais elevados, que resultam em rentabilidade mais alta, e os

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outros quatro enfrentam uma rentabilidade deprimida por preços e taxas de

operação mais baixas (gráfico 4).

Gráfico4 - Rentabilidade do Setor Petroquímico nos EUA.

Fonte: NEXANT (apud NAKANO, 2006) * previsão Obs.: Dólares constantes para margens a custo de caixa

Nas fases em que a oferta excede de modo significativo a demanda, há

um decréscimo nos preços internacionais, que chegam a atingir, para a maioria dos

produtos, níveis inferiores aos custos totais, tornado as margens de lucro negativas.

Exceções a estes casos ocorrem, por exemplo,para empresas que possuam

tecnologia de ponta redutora de custos e/ou matéria-prima barata.

Já nas fases de alta do ciclo, a utilização elevada de capacidade e os

altos lucros estimulam o investimento em novas plantas de forma tão significativa,

que a capacidade adicionada supera o crescimento da demanda. Quando se

prenuncia a fase de baixa do ciclo, os planos de investimento tendem a regredir;

contudo, tendo em vista que os investimentos novos necessitam de alguns anos

para entrar em operação, o excesso de oferta acaba sendo praticamente inevitável.

Inde

x, 1

982=

100

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Montenegro et alli (2002) destacam trabalho de Butler etalii10, da

McKinsey, que desdobra a ciclicidade petroquímica em quatro hipóteses

explicativas:

a) o balanceamento de oferta/demanda é deprimido quando uma grande

capacidade adicional entra em operação, em virtude da necessidade

de economias de escala;

b) as empresas perdem o momento correto (“timing”) do investimento,

pelo fato de não disporem de informações seguras sobre a capacidade

produtiva de seus concorrentes.

c) a falta de sincronia entre oferta e demanda é causada pela tendência

das companhias em investir no topo do ciclo, quando os retornos são

elevados (e os recursos disponíveis), mas a demanda está perto do

ápice.

d) os produtores, com freqüência, planejam sua nova capacidade por

meio de métodos de previsão de demanda pouco precisos.

Montenegro et alli (2002) sustentam que os autores do estudo, ao

testarem cada uma das hipóteses acima em um modelo dinâmico, lograram provar

que as vantagens estruturais de custo de algumas poucas empresas, em virtude de

posição tecnológica, localização e estocagem, geram ganhos relevantes de

rentabilidade. A grande maioria das empresas, contudo, desprovidas de vantagens

de custo estrutural, teria a possibilidade de administrar o ciclo para elevar sua

rentabilidade. Os autores propõem duas soluções para minorar os efeitos negativos

das duas causas que eles consideram as principais motivadoras da ciclicidade

(constrangimentos financeiros e baixa capacidade para prever a demanda futura):

remover os constrangimentos financeiros impeditivos dos investimentos pelas

empresas nos períodos de baixa; e utilizar métodos mais acurados de previsão de

demanda.

Para Montenegro et alli (2002), a diferenciação de produtos amenizaria os

efeitos desfavoráveis dos ciclos de preços, reduzindo a importância das restrições

financeiras, ao passo que a integração das cadeias industriais ligadas à

10 BUTLER, P., et alii. Current research: wooing investors to prevent cyclicality. The McKinsey

Quarterly, 1998.

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47

petroquímica possibilitaria a utilização de métodos de previsão de demanda mais

exatos. Nos segmentos básicos, a rentabilidade apresenta oscilações pronunciadas,

associadas ao caráter cíclico do confronto entre oferta e demanda e aos seus efeitos

sobre os preços. Por outro lado, nos segmentos mais avançados, as margens de

rentabilidade são normalmente mais elevadas e estáveis. Em um grande grupo

internacionalizado e com atuação diversificada em várias áreas da petroquímica,

portanto, a vulnerabilidade do segmento de básicos pode ser compensada e ter suas

conseqüências minimizadas pelos demais produtos da cadeia.

3.4 PADRÃO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL

No que tange ao comércio mundial de produtos petroquímicos, Hiratuka et

alli (2000) esclarecem que a internacionalização da produção é mais intensa nas

etapas iniciais da cadeia petroquímica, pela necessidade de proximidade com as

fontes de matérias-primas. Nas resinas e polímeros mais diferenciados percebe-se

todavia que existe um grau muito maior de internacionalização por meio do

comércio, tendo em vista que o peso das matérias-primas nestes últimos é menos

relevante quando comparado aos produtos básicos. Ademais, a diferenciação de

produtos possibilita a especialização das plantas em locais e produtos específicos,

alavancando o comércio intra-indústria e intra-firma.

No mesmo sentido, Furtado (2003) afirma que o padrão de comércio no

setor é bastante desigual ao longo das diversas etapas da longa e diferenciada

cadeia petroquímica. Ele seria modesto nas etapas iniciais, quando a matéria-prima

é a nafta, reduzido nas etapas intermediárias, vez que o eteno é dificilmente

transportável, e mais elevado nas etapas à jusante, com os produtos finais ou mais

específicos. Nestes últimos, existe uma tendência do coeficiente de comércio –

medido pela relação entre comércio e produção – e da corrente de comércio - soma

de exportações e importações - serem mais elevados. Tratando-se de produtos tais

como os polietilenos, os polipropilenos, o PVC e o poliestireno, a corrente de

comércio (soma de exportações e importações) chega mesmo a superar, em alguns

países, o próprio volume de produção, conforme pode ser visto nas tabelas 2 a 4.

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48

Tabela 2 – Produção de resinas termoplásticas selecionadas, 2000 Em mil t

Produto Países HDPE LDPE LLDPE PVC PS PP TOTAL

Alemanha

Brasil

Canadá

E.U.A

França

Itália

Japão

Reino Unido

1.250

780

1.063

6.301

525

420

1.285

290

903

610

364

3.300

710

300

1.081

230

418

376

1.380

3.827

490

360

790

195

1.490

710

580

6.300

1.280

480

2.455

430

733

194

210

2.970

578

225

1.291

350

1.493

830

361

6.981

1.370

720

2.633

423

6.287

3.500

3.958

29.679

4.953

2.505

9.535

1.918

TOTAL 11.914 7.498 7.836 13.725 6.551 14.811 62.335 Fonte: Furtado (2003, p. 15)

Tabela 3 – Corrente de comércio de resinas termoplásticas selecionadas, 2000 Em mil t

Produto Países HDPE LDPE LLDPE PVC PS PP TOTAL

Alemanha

Brasil

Canadá

E.U.A

França

Itália

Japão

Reino Unido

1.294

278

1.040

1.625

846

790

316

552

1.320

154

400

916

834

712

204

N.d

241

217

1.330

989

368

124

110

404

1.426

155

583

810

1.207

560

734

509

870

148

343

493

672

450

305

342

1.100

207

665

1.050

1.073

976

384

732

6.251

1.159

4.361

5.883

5.000

3.612

2.053

2.899

TOTAL 6.741 4.900 3.783 5.984 3.623 6.187 31.218 Fonte: Furtado (2003, p. 17)

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Tabela 4 – Coeficiente de comércio de resinas termoplásticas selecionadas, 2000

Em% Produto Países

HDPE LDPE LLDPE PVC PS PP TOTAL Alemanha

Brasil

Canadá

E.U.A

França

Itália

Japão

Reino Unido

103,5

35,6

97,8

25,8

161,1

188,1

24,6

190,3

146,2

25,2

109,9

27,8

117,5

237,3

18,9

n.d

57,7

57,7

96,4

25,8

75,1

34,4

13,9

207,2

95,7

21,8

100,5

12,9

94,3

116,7

29,9

118,4

118,7

76,3

163,3

16,6

116,3

200,0

23,6

97,7

73,7

24,9

184,2

15,0

78,3

135,6

14,6

173,0

99,4

33,1

110,2

19,8

100,9

144,2

21,5

151,1

TOTAL 56,6 65,4 48,3 43,6 55,5 41,8 50,1 Fonte: Furtado (2003, p. 18)

Esse elevado grau de internacionalização é um dos traços marcantes da

indústria petroquímica. As empresas do setor apresentam um altíssimo nível de

internacionalização comercial, fazendo-se presentes em grande número de

mercados, e um nível um pouco menor (mais ainda alto) de internacionalização da

produção.

Hiratuka et alli (2000) destacam que grande parte das empresas

petroquímicas possuem uma quantidade significativa de operações fora de seu

país-sede, tanto em termos de participação nas vendas mundiais como no que se

refere ao quadro de funcionários. Para ele, o aumento no grau de

internacionalização estaria relacionado a vários fatores, destacando-se, em primeiro

lugar, a busca de novos mercados com taxas de crescimento da demanda por

produtos petroquímicos mais elevadas.

De fato, a busca constante por economias de escala, materializada na

construção de grandes plantas produtivas, já mencionada na seção 3.2, faz do

tamanho do mercado uma variável fundamental e introduz na petroquímica uma

forte instabilidade potencial. Tal instabilidade, na ausência de mecanismos

estabilizadores, torna-se efetiva nas épocas em que o mercado interno se retrai,

gerando capacidade ociosa. Quando confrontadas com essa conjuntura, torna-se

imperiosa para as empresas a conquista de mercados externos que possam

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absorver os excedentes de produção,o que conduz, muitas vezes, à prática de

preços apenas ligeiramente superiores aos custos variáveis nos mercados

internacionais (GUERRA, 1994).

Vale dizer, as empresas petroquímicas procuram ocupar a maior parte da

capacidade produtiva com o atendimento do mercado interno, praticando preços que

cubram todos os custos e proporcionem uma margem de lucro satisfatória. O

mercado internacional, mesmo nos países que possuem grandes superávits

comerciais de petroquímicos, costuma ser visto como um escoadouro da produção

residual, razão pela qual o mecanismo de formação de preços dos produtos de

grande tonelagem nesse mercado tem como parâmetro os preços marginais. Isso

significa dizer que, para obter vantagens de escala, os produtores podem vender a

fatia de sua produção destinada ao mercado externo por um preço inferior aos seus

custos totais, desde que igual ou superior aos seus custos variáveis. Sendo assim, o

diferencial entre preços internos e externos pode ser diretamente proporcional à

proteção tarifária e não-tarifária de cada país. Obviamente tal processo de formação

de preços não se aplica aos países produtores de petróleo que não possuem

mercados internos significativos (caso dos árabes, por exemplo) nem, tampouco, às

épocas nas quais o mercado internacional é demandante (GUERRA, 1993).

É neste contexto que, durante a década de 1960 e início dos anos 1970,

os países periféricos foram incorporados à expansão petroquímica e passaram a

contribuir, juntamente com os fluxos cruzados de investimentos entre países

avançados, para tornar essa indústria extremamente globalizada11. Com a

integração dos mercados de vários produtos petroquímicos,seus preços passaram a

ser determinados por relações de oferta e demanda em escala mundial (GUERRA,

1993).

Infere-se igualmente do quadro acima delineado que,nas economias

abertas, aumentos de custos que decorram de causas domésticas não são passíveis

de serem integralmente transferidos aos preços pelos produtores locais e que

empresas multinacionais com capacidades produtivas em diferentes localidades

11 O fato da produção de etileno ter despencado na Europa Ocidental, EUA e Japão de 90,3% do total

mundial, em 1970, para 68,4%, em 1990, pode ser usado como uma ilustração dessa globalização (GUERRA, 1993, p. 27).

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51

podem variar a produção entre suas diversas plantas, adaptando-as às condições

dos mercados locais e às mudanças nas taxas de câmbio.

Uma outra vantagem da dimensão global dessas empresas seria a de

permitir a realização de estratégias de especialização na produção, elegendo, por

exemplo, a produção de um petroquímico em uma ou poucas localidades nas quais

a companhia possua plantas, passando estas a suprir as necessidades da empresa

em outros mercados. Tal flexibilidade conduz as maiores empresas à

internacionalização e suas respectivas participações no mercado global não

ocorrem, necessariamente, por meio de exportações oriundas do país-sede, mas

sim pelo estabelecimento de capacidade produtiva nos mercados estrategicamente

mais atrativos.

Do exposto, era fácil concluir-se, já àquela época, que a globalização

crescente dessa indústria, reforçada pelo padrão de investimentos diretos, apontava

uma tendência do comércio internacional de produtos petroquímicos vir a ser

dominado por poucas empresas multinacionais de grande porte. Ademais, podia-se

igualmente prenunciar que o comércio internacional de petroquímicos teria uma

parcela cada vez maior composta pelo comércio entre matrizes e filiais de empresas

dos países avançados e que o alto custo de operar com capacidade ociosa levaria

as empresas internacionalizadas a buscarem estar presentes em mercados

emergentes com potencial de crescimento mais elevado, de modo a compensar o

ritmo mais lento de crescimento nos mercados maduros de países centrais, em

especial para os petroquímicos básicos.

É importante pontuar que, não obstante essas tendências, também

cresceu a produção de petroquímicos nos países de industrialização tardia,

incentivada por meio de políticas públicas. Nos países com abundância de petróleo

e gás natural, a existência de matérias-primas a preços altamente competitivos

justifica a implantação da petroquímica como uma extensão natural da indústria

petrolífera.

Resta fazer uma última observação. A busca por mercados mais

dinâmicos foi acompanhada por movimentos de maior integração upstream e/ou

downstream. Grandes empresas petrolíferas passaram a deter participações

relevantes na petroquímica, implantando unidades integradas às refinarias

existentes, enquanto, na corrente inversa, no ta-se o crescimento do número de joint-

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52

ventures entre grandes empresas petroquímicas e empresas de países possuidores

de matérias-primas (HIRATUKA et alli, 2000). As primeiras buscam garantir o

suprimento regular de matérias-primas e as últimas o acesso a expertise tecnológica

e mercadológica. Como exemplo desse processo, aponta -se o aumento da

capacidade produtiva de petroquímicos de primeira e segunda geração nos países

do Oriente Médio.

3.5 ESTRUTURA OLIGOPOLISTA E BARREIRAS À ENTRADA

As características do processo petroquímico de produção (alta

intensidade de capital e grandes economias de escala ), além de se constituírem em

barreiras à entrada no setor, explicam o fato desta indústria já ter nascido com uma

estrutura fortemente oligopolizada. Como se não bastasse, os movimentos de fusão

e aquisição de empresas no setor petroquímico são recorrentes. As altas taxas de

crescimento e a elevada propensão à concentração nesta indústria determinam uma

tendência à constituição de mega-empresas (FURTADO, 2003).

O predomínio de uma estrutura altamente concentrada, contudo, não

impede a existência de plantas e empresas bastante heterogêneas, em virtude da

abrangência desta indústria e da presença de diferentes tecnologias e/ou distintos

graus de especialização. Pode-se observar a coexistência de grandes empresas

diversificadas e integradas com empresas de porte médio especializadas, garantindo

uma dinâmica concorrencial dissímil na petroquímica.

O volume de capital é uma importante barreira na petroquímica básica (1ª

geração), permanecendo ainda como fator relevante nos petroquímicos de 2ª

geração, embora as escalas sejam menores na produção de resinas plásticas. O

aumento das escalas de produção, as mudanças tecnológicas nos processos

produtivos e a introdução de sistemas de controle de processo de base

microeletrônica têm acentuado a intensidade de capital nesta indústria.

Quanto ao acesso às matérias-primas (nafta e gás natural), ele é uma

barreira relevante tanto nos petroquímicos básicos, quanto nas resinas plásticas, em

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53

especial pela garantia de suprimento e preço. Consequentemente, a operação

integrada representa uma importante fonte de competitividade para as empresas

deste setor.

No que tange ao acesso à tecnologia, ele não se constitui em barreira à

entrada significativa, frente à ampla oferta internacional de pacotes tecnológicos que

abrangem a engenharia de processo, a engenharia básica e de detalhamento, a

construção, montagem e até o próprio financiamento. Não obstante tais

considerações, vale frisar que o diferencial tecnológico se constitui numa fonte

importante de vantagem competitiva, conforme discutido na seção 3.2.

Por fim, convém chamar atenção para a ociosidade planejada, um traço

marcante desta indústria e importante elemento competitivo, pois desestimula a

entrada de novos competidores, que sentem-se ameaçados pela capacidade das

empresas existentes de baixar os preços a patamares muito inferiores.

3.6 ESTRATÉGIAS E REESTRUTURAÇÃO DA PETROQUÍMICA MUNDIAL (1970 -

2009)

O objetivo da presente seção é apresentar um panorama das intensas

transformações pelas quais a indústria petroquímica vem passando nos últimos

quarenta anos. Optou-se por dividir o período que será analisado em três fases

distintas, destacando-se as peculiaridades das estratégias e das reestruturações

ocorridas em cada um delas.

Convém, antes de adentrar na análise do tema específico desta seção,

situar rapidamente a situação da indústria em estudo no mundo no período que

antecede a década de 1970. Durante o boom do pós segunda guerra mundial, as

empresas americanas prosperaram em virtude da abertura de vastos mercados para

novos produtos e processos. Por muitos anos, até a década de 1960, a demanda

por produtos químicos cresceu aproximadamente o dobro da taxa de crescimento do

produto interno bruto nos Estados Unidos. As características da globalização da

indústria química do pós guerra até a primeira crise do petróleo eram praticamente

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54

as mesmas de outros períodos precedentes e podem ser assim resumidas

(FREEMAN, 1999):

a) Havia uma busca por mercados para os produtos inovativos oriundos

das descobertas e do desenvolvimento de novos produtos químicos;

b) As expansões para outros países eram fortemente dependentes da

abertura de mercados para exportação e não de investimentos diretos

visando estabelecer subsidiárias fora dos países de origem;

c) Os mercados externos tinham muito menos importância que o mercado

interno (FREEMAN, 1999).

No que tange às diferenças do período pós guerra para as épocas

anteriores, a maior e mais importante delas é o rápido crescimento da demanda por

produtos químicos em todos os principais mercados depois de 1945. Uma outra

diferença deste momento histórico quando comparado com os precedentes, foram

os efeitos benéficos da liberalização comercial nas sucessivas rodadas do GATT.

Após as duas crises do petróleo na década de 1970, a natureza da globalização e

da própria indústria química viriam a sofrer mudanças radicais, como se examinará a

seguir.

3.6.1 O Período de 1970 a 1990

Nos anos 1970, a crise do petróleo e o arrefecimento da dinâmica

tecnológica que se iniciou no final dos anos 1960, determinaram uma alteração

radical nas estratégias básicas das grandes empresas petroquímicas internacionais,

provocando um aprofundamento do processo de integração upstream e/ou

downstream e de globalização desse setor industrial12.

De fato, como ressalta Freeman (1999), nas décadas de 1950 e 1960, as

atividades globais permaneceram em segundo plano, frente a mercados internos

demandantes. Este modelo chegou a um final abrupto com a primeira crise do

petróleo, em 1973. A segundo crise, em 1979, teve um impacto ainda maior. As 12 Estes movimentos já foram largamente estudados por diversos estudiosos. Para maiores detalhes

das operações concretas ocorridas no período, sugerimos GUERRA (1993 e 1994), LANDAU ET ALLI (1999), WESTON ET ALLI (1999) e SWIFT (1999).

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55

taxas de crescimento haviam começado a cair lentamente já durante a década de

1960, mas permaneciam ainda bem acima do que estaria por vir após 1973.13

O crescimento mais lento expôs um problema emergente e que se

tornaria persistente para a indústria, qual seja, o excesso de capacidade em um

amplo leque de commodities químicas. Antes da crise do petróleo, as companhias

investiram muito mais do que o crescimento da demanda. À época, contudo, o

crescimento impressionante da demanda (situado em dois dígitos) fazia com que a

capacidade adicional fosse facilmente absorvida. Quando o crescimento decresceu

violentamente, a indústria se viu com um imenso excesso de capacidade. Este fato

acrescentou uma nova dimensão à globalização, vez que as empresas lutaram para

sustentar os altos níveis de capacidade utilizada.

O impacto do primeiro choque do petróleo sobre as taxas de crescimento,

utilização da capacidade e margens, fez com que as empresas se voltassem para os

mercados externos em uma escala muito maior do que a dos últimos vinte e cinco

anos. As principais empresas americanas começaram a aumentar sua presença na

Europa, enquanto as quatro grandes químicas européias faziam o mesmo nos

Estados Unidos. As maiores companhias japonesas adotaram, em sua maioria,

estratégias de expansão global, mas seu progresso foi limitado quando comparado

com aquele das companhias ocidentais (FREEMAN, 1999).

A DuPont e a Dow expandiram suas operações na Ásia, especialmente

no Japão, onde já haviam estabelecido subsidiárias anteriormente. A Monsanto e a

Union Carbide também responderam à primeira crise do petróleo buscando

principalmente os mercados europeus para expandirem-se. A ICI, nos anos de 1970,

abriu uma sede Pan-Européia em Bruxelas, aumentou o número de unidades

vendedoras na Europa e investiu em aumento de capacidade em produtos

petroquímicos e plásticos. Ao mesmo tempo, tornou-se sócia de uma companhia de

craqueamento petroquímico nos Estados Unidos (FREEMAN, 1999).

Deve-se ter em vista que, embora as empresas líderes da indústria

13 Freeman (1999, p. 2-3) sustenta que o crescimento da demanda real mundial de químicos no

período de 1960-73 era, em média, de 10% (dez porcento ao ano). O ritmo de expansão era quase idêntico nos países da OCDE, chegando a mais de 13% (treze porcento) no Japão. A primeira crise do petróleo, que deflagrou uma profunda recessão, alterou profundamente o ambiente macroeconômico e golpeou a indústria em um momento difícil, no qual o fluxo de inovações e novos produtos havia diminuído severamente. As taxas de crescimento nos seis anos seguintes, até 1979, caíram em todo o mundo em mais de 60% (sessenta porcento).

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56

tenham dado passos concretos para aumentar o alcance geográfico de suas

operações após a primeira crise do petróleo,o principal foco da maioria delas

continuou sendo os mercados e a produção internos.

A queda nos preços do petróleo, entre o primeiro e o segundo choque da

década de 1970, levou a indústria a um otimismo generalizado, acreditando-se que

os efeitos da crise seriam de curta duração e que haveria uma retomada do

crescimento após a recessão provocada pelo primeiro choque. Consequentemente,

houve novos investimentos em escala considerável em petroquímicos e plásticos por

parte das companhias já estabelecidas, bem como por novos entrantes. Em todas as

principais regiões, grandes capacidades vinham sendo adicionadas continuamente,

quando a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) deflagrou o

segundo choque do petróleo (FREEMAN, 1999).

A crise de 1973 e o incremento na capacidade de produção de

commodities químicas que veio em seguida alterou significativamente o clima

competitivo na indústria.Eles também trouxeram à tona o forte crescimento dos

braços químicos das grandes companhias de petróleo, tais como a SHELL, BP e

EXXON. Quando a revolução dos petroquímicos estava em curso, no pós segunda

guerra, os gigantes do petróleo entraram na arena, primeiro em seus países de

origem e depois no exterior. Já nos anos de 1970, eles representavam uma grande

força dentro da indústria, atuando de forma global. Após a primeira crise do petróleo,

suas posições tornaram-se ainda mais fortes. Ao mesmo tempo, os investimentos

petroquímicos estavam ganhando ritmo no Oriente Médio, adicionando uma outra

dimensão à competição (FREEMAN, 1999; WESTON, 1999).

As mudanças no setor após 1973 foram grandemente reforçadas pelo

impacto da segunda crise do petróleo. Como era de se esperar, as taxas de

crescimento da demanda química real caíram ainda mais após 1979, com média de

apenas dois e meio por cento ao ano na área da OCDE durante os anos 1980. O

crescimento da demanda na América do Norte foi particularmente lento, mas houve

um ligeiro aumento no Japão, beneficiado pelo desenvolvimento econômico na

região da Ásia/ Pacífico.

Restou claro que a crise do petróleo anunciava a maturidade da indústria,

e que a demanda muito provavelmente iria crescer à mesma taxa que o PIB ao invés

de continuar subindo a taxas superiores, como ocorria até a década de 1970. Uma

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57

outra característica importante foi a tendência que se estabeleceu a partir de então

dos preços químicos aumentarem a taxas bem abaixo da inflação geral (FREEMAN,

1999).

Landau & Arora (1999) sustentam que os choques do petróleo de 1970

apenas apressaram a inevitável consolidação do setor. Isso porque, para uma

indústria cujo crescimento estava fortemente vinculado ao crescimento das

manufaturas, os choques do petróleo significaram um declínio na demanda

precisamente no momento em que seus custos estavam subindo e suas

oportunidades de inovação rareavam. Para estes autores, as oportunidades

decrescentes para maiores inovações de produto na escala do nylon ou do poliéster

conduziram a uma consolidação da estrutura industrial.

O ajuste à nova realidade do setor foi lento e doloroso. A produção em

grande escala refletia o enorme investimento em capacidade por parte dos

produtores, em especial nos petroquímicos básicos. O problema foi agravado

também, em virtude do fato de que muitas operações petroquímicas estavam

altamente integradas, tanto vertical como horizontalmente. Neste contexto, uma

redução de capacidade em uma planta, conduz a excesso em outras. Por

conseguinte, a redução na produção de um produto pode reduzir a eficiência

industrial de todo um complexo produtivo. Para piorar o panorama, algumas

empresas falharam ao não antecipar o crescimento mais lento da demanda e

continuaram a investir (FREEMAN, 1999).

O início da década de 1980 foi marcado pela crise na indústria, que

operava com capacidade de cerca de trinta por cento acima da demanda, preços

fracos, custos crescentes e baixa rentabilidade. Houve, acima de tudo, um

sentimento influenciado pelo crescimento lento, e uma aceitação da indústria, de que

pela segunda vez as taxas de crescimento permaneceriam moderadas. Esta

combinação de fatores, conjugada com as incursões importantes que os europeus

fizeram no mercado americano e as crescentes atividades dos americanos na

Europa, começaram a ser sentidas em toda a indústria e não apenas pelas

empresas líderes, que já eram globais.

Companhias de tamanho médio e até as menores, pela primeira vez,

sentiram-se ameaçadas por competidores estrangeiros. Seus mercados internos,

que durante muito tempo as permitiram crescer e prosperar, não mais garantiam

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espaço para todos, vez que as companhias estrangeiras passaram a invadi-los em

larga escala. Cada vez mais, durante os anos de 1980, essas empresas viam na

expansão rumo a mercados externos a chave para seu futuro crescimento e

lucratividade. A emergência da segunda leva de companhias americanas e

européias fora de seus mercados de origem acrescentou, ainda, uma nova

dimensão para as crescentes pressões competitivas por toda a indústria, em todas

as regiões (FREEMAN, 1999).

Uma outra mudança fundamental trazida pelas crises do petróleo foi a

maneira pela qual as empresas aproximavam-se dos mercados externos. Antes dos

choques, a globalização, como já mencionado, estava baseada predominantemente

nas exportações, ao invés de no investimento direto. As grandes companhias

investiram em instalações industriais no exterior por um longo período, mas foi

apenas na década de 1980 que o investimento direto se tornou a forma de expansão

por excelência nos Estados Unidos e na Europa. Na Ásia, que era uma região de

alta prioridade para muitas companhias ocidentais nos anos de 1980, o comércio

ainda era a principal forma, mas, ao longo da década, o investimento direto foi

subindo substancialmente.

Associada a essa mudança, uma transformação cultural provavelmente

ocorreu na direção das empresas, que partiram de um pensamento orientado para o

mercado doméstico para um pensamento mais voltado para o mercado global.

Como reflexo dessa transformação, era comum nos anos de 1980 a alteração das

estruturas organizacionais das firmas, visando aumentar o papel e a transparência

de suas operações internacionais. No que tange às empresas japonesas, a tentativa

destas de ampliarem suas operações baseava-se, principalmente,nas exportações,

embora algumas,tais como a Dainippon Ink e a Teijin, tenham começado a investir

em plantas no exterior. A década de 1980 assistiu também às empresas japonesas

estabelecerem representações e escritórios comerciais nos Estados Unidos e na

Europa. Um bom exemplo é a então chamada Mitsubishi Petroquímica (FREEMAN,

1999).

A escala das mudanças na década de 1980 foi maior do que nas três

décadas anteriores, em decorrência da ampliação da natureza global da

indústria,abrangendo um número muito maior de empresas do que antes. Em todas

as grandes empresas, houve mudanças consideráveis afastando-as da dependência

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de mercados internos. Este fato é bem ilustrado pela ICI, cujo percentual de vendas

para o Reino Unido em 1980era de 60% (sessenta porcento), tendo se reduzido

para 40% (quarenta porcento) em 1990. Ao final da década de 1980, a natureza

global da indústria, já dominada por grandes multinacionais, generalizou-se

(FREEMAN, 1999, p. 4).

Sintetizando o quadro exposto acima, de acordo com Guerra (1993,

2007b), as principais estratégias adotadas pelas empresas líderes ao longo desse

primeiro período de reestruturação fo ram as seguintes:

a) movimentos de fusões e incorporações de empresas, resultando em

estruturas produtivas mais enxutas, ágeis e flexíveis, concentrando as

operações em famílias de produtos que aproveitem as vantagens

tecnológicas e comerciais das grandes empresas;

b) redução da capacidade em países com preços elevados de matérias

primas;

c) redirecionamento dos investimentos dos grandes conglomerados para

os segmentos de química fina e especialidades, com vistas a escapar

dos problemas cíclicos característicos dos produtos commoditizados;

d) transferências de áreas de produção de petroquímicos tradicionais para

alguns países recém-industrializados, em esquemas nos quais as

líderes internacionais associam-se com produtores locais.

3.6.2 A década de 1990

A década de 1990 marcou o início de mudanças ainda maiores

acentuando-se o processo de consolidação desta indústria mundialmente, mediante

uma aceleração ainda maior das fusões, aquisições e formação de joint-ventures

(WESTON ET ALLI, 1999).

Como sinaliza Swift (1999), a consolidação é um dos resultados dos

contínuos esforços de redução de custo. O autor destaca que, para os químicos

básicos, há limites para a redução de custo e para as inovações tecnológicas

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capazes de aumentar os rendimentos, que já são, por natureza, incrementais. Como

conseqüência, muitas companhias de químicos básicos concluíram que tornando-se

maiores poderiam reduzir e disseminar os custos em mais unidades de produção.

Tais economias empresariais de escala se constituem em uma forma clássica de

alcançar uma posição de liderança em custos. Obviamente que o autor reconhece

que, além dos processos de fusões e aquisições, economias de escala também

podem ser obtidas por meio de joint ventures e alianças estratégicas.

Swift (1999) aponta como principais “driving forces” das fusões,

aquisições e joint ventures nos anos 1990 e do conseqüente aumento da

concentração, o maior custo da nova escala de capacidade mundial vis-à-vis a

capacidade existente, as pressões baixistas nas margens de lucro, o reduzido custo

das dívidas e a necessidade de perseguir liderança de mercado em uma atitude de

“agora ou nunca”.

Hiratuka et alli (2000) sustentam que tais processos seriam decorrentes

de estratégias de “re-centragem” das grandes empresas do setor e do

aproveitamento de sinergias nas atividades de desenvolvimento tecnológico, em

especial de novos produtos. Para ele, a importância dessas sinergias é corroborada

pelo fato da empresa alemã Basf, que é uma das principais “fornecedoras” de

tecnologia de catalisadores metalocênicos, figurar constantemente em vários desses

acordos de cooperação tecnológica e de formação de joint-ventures,que se tornaram

um importante veículo estratégico.

Weston (1999), por sua vez, destaca as vantagens das alianças e joint-

venturesvis-à-vis as fusões e aquisições. De fato, no caso destas últimas,

desvantagens podem ser apontadas, primeiramente, no próprio conhecimento da

companhia que se vai adquirir. A despeito da realização de due diligences, visando

identificar contingências, é realmente impossível para o comprador conhecer tanto a

respeito do que está sendo adquirido quanto o próprio vendedor. Ademais, a

integração de duas companhias ou a absorção da cultura da companhia adquirente

pela adquirida não pode ser classificada como tarefa fácil, em especial se as

culturas organizacionais forem muito diversas. São necessários um considerável

talento executivo e esforço temporal, particularmente em transações que envolvem

dois países diferentes.

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Já no caso das joint-ventures, sua utilização tem sido extremamente

ampla na indústria química como um todo. A diversidade nas áreas de expertise,

aliada à magnitude dos investimentos e aos riscos envolvidos acaba por determinar

a realização de alianças estratégicas, reduzindo despesas e riscos, alcançando

aprendizado e retornos atrativos.

Para FREEMAN (1999), uma característica fundamental da década de

1990 é a reestruturação maciça ocorrida em toda a indústria. Se na fase anterior da

globalização, a maioria das empresas tinha se expandido no exterior através de uma

ampla variedade de produtos, na década de 1990as companhias reestruturaram

seus portfólios para se concentrar em um número menor de produtos que elas

acreditavam que iria dar-lhes maior poder de mercado.

Para ele, os dias da companhia química integrada estavam chegando ao

fim, com as empresas abandonando segmentos que não fossem o seu core

business, em um esforço para criar ainda mais valor para os acionistas. Mais do que

antes, as estratégias empresariais passaram geralmente a enfatizar a necessidade

de conduzir os negócios de modo a situar-se entre os dois ou três produtores líderes

nos segmentos selecionados.

No final da década, um novo desaquecimento da demanda real por

químicos, bem como o excesso de capacidade, funcionaram como “driving forces”

de mudança. A crise asiática em 1997 exacerbou o problema do excesso de

capacidade e, com preços declinantes, as margens voltaram a cair para muitas

companhias.

O processo de reestruturação precisou ser mais acentuado nos

petroquímicos básicos e intermediários, setores nos quais a competição é mais forte.

Várias companhias químicas tradicionais na Europa e nos Estados Unidos

abandonaram alguns dos seus negócios em commodities químicas e se moveram

downstream, focando em negócios em que a diferenciação de produto baseada em

qualidade e desempenho permitia obter maiores margens.

Spitz (2003) afirma que houve uma acelerada mudança no panorama da

indústria química tradicional nos Estados Unidos, na Europa Ocidental e no Japão. A

reestruturação tornou a indústria praticamente irreconhecível quando comparada

com o início da década. Novas companhias altamente focadas, como Zeneca,

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Mondel, Adventis, Novartis,Borealis, e Clariant, nasceram do reagrupamento de

empresas ocorrido nessa época. As novas companhias pareciam estar se

discriminando entre aquelas que produziam especialidades químicas com alto valor

agregado e aquelas que se dedicavam à produção de commodities químicas de

larga escala.

Hoechst, DuPont, ICI, Rhone Poulenc, Ciba, Monsanto e Dow,dentre um

grande número de outras, sofreram reorganizações de longo alcance. Algumas das

grandes empresas químicas existentes, tais como Du Pont e Hoechst, decidiram se

focar nas ciências da vida. Outras companhias, tais como a Monsanto e a ICI14

transformaram-se completamente em companhias de especialidades.

Fusões de grandes companhias Japonesas como Mitsubishi

Petrochemicals e Mitsubishi Toatsu também ocorreram. As companhias de petróleo,

por sua vez, moveram-se à jusante, caso da SHELL, BP, EXXON, ARCO e AMOCO,

à época. Muitas dessas companhias separaram seus negócios não baseados em

petróleo - as divisões químicas de algumas dessas firmas, tais como as da Texaco e

a da Arco foram vendidas, ou fundiram seus interesses químicos.A consolidação na

indústria do petróleo combinou as atividades petroquímicas da Exxon com a Móbil,

Phillips e Chevron, British Petroleum (BP) e Amoco, assim como as da Total,

Atochem e Petrofina (FREEMAN, 1999; LANDAU & ARORA, 1999, SWIFT, 2003).

Uma das conseqüências dessa reestruturação e reorganização sem

precedentes dentro da indústria foi uma posterior (mais de longe a mais rápida)

mudança rumo a operações totalmente globais. Grande parte disso foi resultado de

aquisições, fusões e outras alianças, suportadas por um considerável investimento

direto. As principais empresas européias estiveram na dianteira da marcha rumo ao

poder de mercado global. Refletindo parcialmente o tamanho e a boa performance

relativa do mercado americano, as operações das suas companhias líderes, como a

Dupont e a Dow, permaneceram menos globais do que aquelas das suas

congêneres européias, mas houve grandes mudanças em períodos mais recentes.

No Japão, poucas empresas igualaram o desempenho da DaiNippon Ink, mas lá,

também, houve mudanças significativas nos anos 1990 (FREEMAN, 1999).

14 Em 02.01.2008, a Akzo Nobel completou a aquisição da Imperial Chemical Industries – ICI. A maior

parte de suas atividades foi integrada à Akzo Nobel, enquanto o negócio de Adesivos e Materiais Eletrônicos foi vendidos à Henkel, em Abril de 2008 e a parte de Specialty Starch Business também será vendida (www.akzonobel.com/news/information_former_ici/, acesso em 10.11.2009).

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Para Landau & Arora (1999), a reestruturação daquela década gerou um

debate mais amplo a respeito dos vícios e virtudes do sistema de financiamento

anglo-saxão baseado no mercado de capitais versus os sistemas alemão e japonês

baseados nos bancos. Os mercados de capitais pareciam desfavorecer firmas

diversificadas com portfólios que incluíam tanto commodities como especialidades.

Os autores especulam que as razões para esse fato talvez repousassem nas

grandes dificuldades de se administrarem tais firmas, assim como nas dificuldades

ainda maiores de se avaliar a performance da administração de uma empresa

diversificada, em especial, quando a companhia em questão possuísse um mix que

combinasse negócios intensivos e não tão intensivos em pesquisa.

De fato, em resposta a esta constatação, muitas formas de reestruturação

passaram a incluir spin-offs e split-ups para realinhar sistemas organizacionais. A

meta seria agrupar atividades de modo que os benefícios de semelhança entre as

mesmas, foco e desenvolvimento de expertise distinta e superior em cada área de

atividade pudessem ser alcançados. As reestruturações organizacionais, portanto,

seriam também utilizadas para agrupar atividades relacionadas e avaliar melhor o

desempenho de cada uma delas. Deste modo, os sistemas de remuneração

poderiam ser mais efetivamente vinculados à performance (WESTON,1999).

Neste contexto, o momento e o padrão da reestruturação apontaram para

o papel de destaque dos mercados de capitais. A importância crescente dos fundos

mútuos e dos fundos de pensão e a maior atenção dada à criação de valor para o

acionista pressionou os administradores a melhorar seu desempenho financeiro.

3.6.3 A Indústria no Terceiro Milênio (2000 a 2009)

Ao final da década de 1990, Swift (1999) ilustrava o movimento de

consolidação da indústria química no mundo com a lista anual das maiores

companhias do setor tabulada pela publicação especializada Chemical &

Engineering News (C&EN). Por duas décadas, a C&EN tabulou a lista dos cem

maiores produtores, por volume de vendas. Frente à intensa atividade de fusões e

aquisições ocorrida no ano de 1998, o ranking daquele ano ficou limitado a apenas

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setenta e cinco empresas. Atualmente, o ranking publicado, conforme Anexo 1, é

das 50 maiores empresas.

O mesmo Swift (1999) previa que certamente metade das companhias

químicas líderes não existiria em sua forma corrente no ano de 2010. Confirmando

em larga medida essas previsões, a ICIS (2009), uma das maiores provedoras

mundiais de informação para as indústrias química e de petróleo, que também

elabora um ranking anual das maiores indústrias químicas globais, ao divulgar sua

lista para o ano de 2008, fez um comparativo com o ano de 1998 e concluiu: dez

anos foram um longo tempo para essa indústria. De 1998 para cá, três grandes

firmas desapareceram – a inglesa ICI, a alemã Hoechst e a francesa Rhône-

Poulenc, todas via fusões e aquisições. Três outras deixaram de figurar entre as dez

maiores: a Bayer da Alemanha, o grupo Elf francês e a Holandesa Akzo Nobel.

Restaram apenas a BASF, a Dow e a Du Pont, bem como a Japonesa Mitsubishi

entre as dez maiores do ranking da ICIS para o ano de 2008.

Essas empresas vem sendo desafiadas por duas grandes petrolíferas –

ExxonMobil dos EUA e a anglo-holandesa Shell -, duas empresas não americanas

ou européias – SABIC (Arábia Saudita) e SINOPEC (China) -, bem como por duas

gigantes companhias fechadas – INEOS do Reino Unido e a LyondellBasell

Industries, com sede na Holanda.

Uma outra diferença importante entre os rankings dos anos de 2008 e

1998 é o crescimento negativo das vendas no ano de 1998, em especial pelo

impacto da crise econômica na Ásia. Os produtores de petroquímicos também

sofreram com os baixos preços globais e o excesso de capacidade nos principais

mercados. Como agora, àquela época, a fase de baixa do ciclo petroquímico se

anunciava. Nas especialidades químicas, as firmas foram duramente afetadas pelos

problemas na Ásia, com efeitos sentidos em novos mercados como a América Latina

e a Europa Central (ICIS, 2009).

Nos químicos básicos, Swift (1999) acredita que a tendência seria de

fortalecimento das subsidiárias químicas das companhias de petróleo, que podem

gozar dos benefícios da integração vertical. Crescentemente, muitas companhias de

químicos básicos continuam reposicionando seus portfólios de negócios visando dar

uma maior ênfase às ciências da vida e especialidades, nas quais as perspectivas

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de crescimento e as margens de lucro são maiores, a ciclicidade pode ser

antecipada e o valor ao acionista melhorado.

É importante notar, contudo, que nem todas as companhias podem ou

estão se movendo em direção a atividades de maior valor agregado. Algumas

companhias estão deixando participações em mercados que não fazem parte do seu

core business e focando na produção de químicos básicos.

O desaquecimento econômico no final da década de 1990 se refletiu na

queda das margens de lucro a partir de 1998 até 2003. Elas voltaram a crescer a

partir de 2004. O pico desse movimento altista foi alcançado em 2007 (Gráfico 5).

Gráfico 5 - Margem de lucro média das 50 maiores empresas químicas mundiais por volume de vendas de 1990 a 2008 (em %)

Fonte: C&EN (2009)

Em resposta às perspectivas incertas para a demanda química global, ao

comportamento errático das margens de lucro e à rápida mudança tecnológica, as

empresas químicas, nos anos 2000, continuaram a acelerar o ritmo de joint

ventures, spin-offs e fusões e aquisições. Além disso, muitas empresas aderiram à

integração da cadeia de suprimentos para reduzir estoques de matéria-prima,

utilidades, outros suprimentos, inventários, custos de transporte e de contas a

receber. Os termos mais em voga para a indústria química durante a década de

noventa foram globalização, consolidação e o impacto das biociências. As próximas

duas décadas serão marcadas provavelmente por mais globalização, consolidação e

mudança tecnológica.

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Para Spitz (2003), uma das mais importantes mudanças no âmbito da

indústria petroquímica global, em especial a partir de 2000, é a emergência da Ásia

como um centro manufatureiro e de consumo de elevado crescimento. Antes da

década de 1980, excetuando-se o Japão, existia muita pouca capacidade instalada

desta indústria na região, embora a Índia, Taiwan e em menor a escala a Coréia do

Sul já tivessem estabelecido unidades petroquímicas relativamente pequenas. Nos

anos 1980, a Tailândia, Malásia e Singapura começaram a por em prática grandes

projetos petroquímicos, logo seguidas pela Coréia do Sul e Indonésia. Em

Singapura, os centros de refino existentes forneciam a matéria-prima, vez que, tal

como no Japão, não há gás natural disponível para este fim. Na Tailândia e na

Malásia, as descobertas relativamente recentes de hidrocarbonetos em áreas

offshore estimularam o desenvolvimento petroquímico destes países, enquanto a

Indonésia já possuía recursos de óleo cru e gás natural.

Spitz (2003) aponta, ainda, quatro elementos chaves para explicar o

comportamento do setor na presente década, alguns deles já presentes na década

de 1990, ainda que sem tanta força:

a) a demanda por produtos nos países emergentes e de industrialização

recente aumentou substancialmente, enquanto nas nações mais

industrializadas houve um declínio da taxa de crescimento, levando-a a

níveis semelhantes aos do produto interno bruto;

b) países com matéria-prima em abundância e a baixo custo, em especial

os do Oriente Médio, têm vantagens competitivas nos custos totais de

produção;

c) unidades produtivas em novos mercados recebem proteção tarifária,

que tornam seus produtos mais baratos que os importados;

d) consumidores tradicionais dos países industrializados deslocaram parte

de sua capacidade produtiva para nações com novas capacidades

químicas. Está última tendência, em sua opinião, teria acelerado a

globalização da indústria e conduzido a um movimento rumo a cadeias

de suprimento globais.

De um ponto de vista mundial, à medida em que os anos passam,

consolida-se a seguinte tendência de longo prazo: os sobreviventes em commodities

petroquímicas deverão ser as empresas substancialmente integradas à montante,

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possuindo matérias-prima de hidrocarbonetos a preços atrativos, ou que sejam

grandes o suficiente para suportar as adversidades econômicas nas fases de baixa

do ciclo petroquímico, cuja natureza oscilante parece fadada a continuar no futuro. A

queda da competitividade da produção de commodities petroquímicas nos Estados

Unidos e na maior parte dos países desenvolvidos, em relação àquela nos países do

Oriente Médio e outras regiões com hidrocarbonetos baratos, é uma ilustração

dessa tendência.

Nos Estados Unidos e na Europa Ocidental, a estrutura da indústria

química mudou profundamente e continuará a alterar-se. As consolidações advindas

das fusões e aquisições diminuiu o número de players na indústria e a era das

grandes companhias multinacionais concentradas principalmente em químicos

básicos está praticamente no fim. Na visão de Spitz (2003), apenas a Dow e a BASF

permaneceriam nessas categorias e, até mesmo essas empresas, consideram as

especialidades tais como as ciências agrícolas e os químicos de alto desempenho

como um dos setores mais importantes para o crescimento futuro e a criação de

valor.

É consenso que a produção de químicos básicos commoditizados é um

negócio de baixa lucratividade; não obstante, esta área goza de um bom fluxo de

caixa pelas altas taxas de depreciação e rendimentos. Para Spitz (2003), o fluxo de

caixa relativamente alto é muito provavelmente a razão pela qual tantas empresas

continuem neste negócio e porque bancos mercantis, fundos de investimento e

empresa privadas altamente alavancadas, como a Huntsman e a INEOS, entraram

neste segmento.

Os anos 2000 têm deixado ainda mais claro que os proprietários mais

naturais de empresas petroquímicas de commodities são as divisões químicas das

companhias de petróleo e as companhias situadas em nações ricas em petróleo e

gás natural, vez que elas conseguirão produzir a baixos custos. Para Freeman

(1999), tal tendência já ficou evidenciada há algum tempo, à medida que muitas

multinacionais, começaram a sair desta área de negócios ou reorganizaram-na15.

15 Em 1998, a Hoechst agregou suas principais operações químicas em uma nova companhia, a

Celanese AG. Em 1999 houve o spin off da Celanese. Em 1998, a Rhône-Poulenc uniu suas unidades de químicos e polímeros para formar a Rhodia S.A., seguindo-se o spin-off desta companhia. A divisão de químicos agrícolas da Rhône-Poulenc, conhecida como Aventis CropScience após a fusão com a Hoechst, foi vendida para a empresa química e farmacêutica alemã Bayer em 2002. Em 2004, a Aventis se fundiu à Sanofi -Synthélabo, formando a Sanofi-Aventis, uma das maiores companhias farmacêuticas do mundo.

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Pode-se mencionar, ainda, outros movimentos ocorridos na presente

década de empresas que transferiram suas atividades petroquímicas para joint

ventures, tais como a Equistar16 nos Estados Unidos, que combinava as atividades

petroquímicas da Millennium Chemicals, Oxy Chemical e Lyondell. A BASF e a Shell

Chemical também resolveram juntar seus negócios em poliolefinas em uma joint

venture, constituindo, em outubro de 2000, a Basell17.

Novamente, os levantamentos anuais das cinquenta maiores empresas

químicas globais efetuados pela Chemical & Engineering News (C&EN) fornecem

uma boa ilustração das tendências dessa indústria na presente década. Em 2004,

das sete maiores empresas em volume de vendas, quatro eram braços químicos das

gigantes petrolíferas Royal Dutch/Shell, ExxonMobil, Total e BP. Naquele ano, pela

primeira vez desde que a C&EN deu início à análise das Top 50 químicas globais

em 1990, essas quatro empresas conseguiram suplantar a Bayer, que deixou de

figurar entre as cinco maiores do setor, como se pode observar no Anexo 1.

Outro ponto a ser ressaltado nesse mesmo ano de 2004 é a contínua

ascendência no número total de vendas realizadas em países fora das regiões

tradicionais – Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão. Os principais países fora

das regiões tradicionais incluem o Canadá, a China, Índia, Arábia Saudita, África do

Sul e Taiwan. Em 2004, sete companhias deste grupo de países apareceram no

levantamento realizado pela C&EN, enquanto em 1990 apenas a SABIC estava

presente, na trigésima quarta posição. Em 2004, essa empresa saltou para a décima

primeira posição (C&EN, 2005 – Anexo 1).

No levantamento de 2007, mais empresas químicas controladas por

companhias de petróleo aparecem entre as dez primeiras posições, com a inclusão

da Sinopec (China Petroleum & Chemical Corp.). A surpresa naquele ano foi a

ascensão meteórica do grupo INEOS, formado por uma soma de grandes

aquisições. Em 2004, conforme se observa no Anexo 1, a INEOS se encontrava na

trigésima segunda posição, tendo passado para a décima sétima em 2005 e

chegado à quinta em 2006, conforme Anexo 2.

16 A Equistar Chemicals hoje é uma subsidiária integral da LyondellBasell Industries. 17 Em 20.12. 2007, a Lyondell Chemical Company e a Basell se fundiram, criando a LyondellBasell.

Em Janeiro de 2009, as operações da LyondellBasell nos Estados Unidos pediram concordata com base no Capítulo 11 do Código de Falências americano.

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No ano de 2006, apesar da lucratividade da indústria ter apresentado

trajetória ascendente, cerca de vinte empresas reportaram quedas nos lucros

operacionais com relação ao ano anterior, impactadas por elevações nos custos das

matérias-primas. Não obstante o aumento das vendas tomadas no conjunto total, o

ranking daquele ano incluiu dez empresas cujas vendas declinaram, enquanto no

ranking de 2005, apenas três das 50 maiores tinham reportado decréscimos nas

vendas (C&EN, 2007, p.13-16). Em um nível geral, tais diminuições refletem

desinvestimentos por parte de empresas que deixaram determinados ramos de

negócio buscando portfólios de atuação mais limitados. De fato, como ressaltado

anteriormente, a indústria química está sendo moldada não apenas por grandes

fusões e aquisições, mas também por companhias que colocam à venda aqueles

negócios que não mais são considerados seu core business.

Embora essa tendência tenha se acelerado nos últimos anos, ela já vinha

ocorrendo há algum tempo. Como se observa na Figura 5, das seis maiores

companhias nos anos 1980, a maioria delas se fragmentou, resultando em novas

empresas mais focadas em segmentos menores de mercado.

Figura 5 - Fragmentação de seis das principais indústrias do setor

Fonte: Chemical & Engineering News (2007)

No que tange às grandes aquisições, a própria INEOS, fundada em 1998,

é um dos melhores exemplos de sua utilização para formar uma companhia gigante,

focada em commodities, setor em que muitas outras empresas estão se desfazendo

de investimentos. Como demonstrado pelo crescimento dessa companhia, ainda

existem oportunidades para empresas dispostas a desenvolver modelos inovativos

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de negócios. Resta saber como ela se comportará em um ciclo de baixa dos

negócios petroquímicos, no qual a rentabilidade das commodities petroquímicas cai

bastante.

No que diz respeito à constituição geográfica das vendas, sua

redistribuição nos anos 2000 foi marcante. Em 2001, a percentagem de vendas das

50 maiores empresas químicas listadas pela C&EN estava distribuída conforme

gráfico 6 abaixo. Os players situados fora das zonas tradicionais tinham à época

participação de apenas 6%. Em 2006 eles passaram a ser responsáveis por 16,2%

das vendas mundiais, ascendendo a 17,9% em 2007 (C&EN, 2008, p. 19-25).

Figura 6 - Percentagem de vendas de produtos químicos por regiões (2001)

Fonte: C&EN (2002, p. 15-18)

O Brasil, que nunca tinha aparecido no ranking da C&EN, é listado pela

primeira vez em 2006. A Braskem ocupava a última posição entre as cinqüenta

maiores companhias em volume de vendas. No ano de 2007, essa petroquímica

brasileira ascendeu à trigésima sexta posição, passando à trigésima quinta no

ranking de 2008. O ranking de 2007 apontou também para a ascensão de novos

players, tais como, Sabic, Formosa, Ineos e a Reliance (C&EN, 2007).

Uma outra faceta da crescente internacionalização da indústria é o

aumento do número de parcerias em todo o mundo, com as grandes empresas

ocidentais associando-se a suas congêneres na China e no Oriente Médio,

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especialmente com companhias nacionais de petróleo e gás no Oriente Médio,

África do Norte e partes da China (C&EN, 2008).

Convém também mencionar a importância crescente das companhias

químicas pertencentes a fundos de private equity. Muito provavelmente, o caso mais

emblemático é o da Ineos, constituída no final dos anos 1990, com o suporte de

capital advindo de um fundo de private equity. A empresa foi formada em 1998, por

meio de um management buyout18 por parte do Antwerp, braço de negócios de

derivativos de etileno do Grupo Inspec. A planta original havia sido contruída pela

Union Carbide, em 1966, vendida em 1978 para a BP Chemicals e por fim ao Inspec

em 1995. Após sua formação, a Ineos expandiu-se rapidamente com as aquisições

levadas a cabo por seu fundador, Jim Ratcliffe. Os ativos vieram principalmente da

ICI e da BP, mas também incluem negócios adquiridos da Degussa, Dow, Rhodia,

BASF, Chevron Philips, Unilever, Solvay, Hoechst e Borealis. Em decorrência desse

crescimento meteórico, no ranking de 2008 da C&EN ela já ocupava a terceira

posição em volume de vendas mundiais (C&EN, 2009, p. 11-15). Outro exemplo é a

Basell, que comprou a Lyondell Chemical em 2007, de propriedade da companhia

privada Access Industries.

Quanto à comparação das companhias ocidentais com aquelas dos

países em desenvolvimento, as primeiras ainda estão à frente em inovação e no

relacionamento com o consumidor. As firmas asiáticas, até então, encontram

dificuldade em competir quando o contato mais próximo com o consumidor e o uso

de técnicas de aplicação são importantes. Não obstante essas duas fragilidades, as

novas empresas, particularmente aquelas constituídas por fundos de private equity e

fundos de riqueza soberana, estão começando a priorizar pesquisa e

desenvolvimento tecnológico em seus investimentos. Elas têm ambições declaradas

de competir não só em commodities, mas também em produtos inovativos.

Empresas como a Sabic já começaram a dar ênfase a esses produtos. Ela adquiriu

a GE Plastics, empresa americana de especialidades químicas, agora chamada de

SABIC Innovative Plastics. A compra deu à SABIC sete dos chamados Centros de

Excelência da GE em todo o mundo, reforçando seu portfolio em P&D (C&EN,

2008).

18 O termo buyout pode ser traduzido como a aquisição de controle de uma companhia pela compra

das partes que ainda não pertenciam ao comprador. Por management buyout designa-se o ato acima descrito realizado pelos administradores da companhia.

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Como conclusão, pode-se afirmar que a indústria petroquímica é

verdadeiramente global em sua entrada no terceiro milênio.A indústria é global na

extensão do seu mercado, nas suas estratégias de investimento, na sua

organizaçãocorporativa e cultura. A difusão global da indústria, iniciadahá bem mais

de um século, tem evoluído continuamente, assumindo formas diferentes em

momentos diferentes, mas com muitas características comuns abrangendo todos os

períodos (FREEMAN, 1999).

A forte crise que abalou a economia mundial, a partir do último trimestre

de 2008, deve inaugurar um novo movimento de consolidação na petroquímica. De

acordo com a C&EN (2009), os resultados desse último trimestre de 2008estavam

entre os piores já experimentados pela indústria. A despeito desse cenário adverso,

novos projetos estão entrando em operação na Ásia e no Oriente Médio. Isto

significa que, mesmo que a demanda seja retomada, o mercado de commodities

químicas ainda sofrerá com o excesso de capacidade, possivelmente em 2010 e

2011.

Para a C&EN (2009), a época dos mega acordos químicos parece ter

acabado. A LyondellBasell pediu concordata nos Estados Unidos, em parte por

conta da sua imensa carga de débitos e a Ineos iniciou negociações, em novembro

de 2008, visando estabelecer um plano com seus bancos credores para permanecer

intacta, depois que a adimplência do seu débito tornou-se um grande problema. Os

fundos de private equity tiveram enorme sucesso na maior parte dos últimos dez

anos em seus investimentos na indústria química, mas tal situação favorável alterou-

se em 2008. Os investimentos realizados no topo do ciclo dos químicos levou a

níveis de alavancagem nos últimos dois anos que podem ser considerados

insustentáveis para um negócio cíclico, quando se alcança a fase de baixa.

3.7 INTEGRAÇÃO PETRÓLEO E PETROQUÍMICA

Conforme destacado inúmeras vezes no presente trabalho, nos últimos

anos vem ocorrendo uma integração crescente entre as refinarias de petróleo e as

operações petroquímicas de primeira geração, notadamente em refinarias

localizadas nos Estados Unidos, que têm sua petroquímica lastreada no

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73

craqueamento de etano. De acordo com Hiratuka et alli (2000), estudos realizados

na década de 1990 apontavam para um crescimento da demanda de nafta para uso

petroquímico19, em decorrência da obtenção de maiores retornos por refinarias

integradas quando comparadas às não-integradas. Destaca-se nesse processo as

economias de escala e escopo geradas, além da maior elasticidade-renda dos

produtos petroquímicos, vis à vis a gasolina automotiva (produto principal das

refinarias e um dos usos possíveis da nafta) e a redução da volatilidade dos

investimentos.

Teixeira et alli (2009) destacam que existem evidências recorrentes de

que, de modo geral, a integração entre a produção petroquímica e as atividades de

refino constitui-se numa boa opção para a criação de valor ao longo da cadeia. Em

essência, essa é uma conclusão que pode ser facilmente extraída a partir do

panorama da reestruturação recente da petroquímica mundial traçado nesse

trabalho. Nesse sentido, Hiratuka et alli (2000) destacam que, não obstante a

intensificação dessa tendência, há muito que as maiores companhias petrolíferas

detém posições petroquímicas, conforme se pode observar da tabela 5.

Tabela 5 - Europa: Participação das companhia petrolíferas na

capacidade de produtos selecionados Em%

1979 1975 1980 Eteno

PVC

PP

PEBD

PEAD

PS

50

16

29

28

20

-

53

21

34

28

26

10

60

21

29

41

29

18

Fonte: Hiratuka et alli (2000)

As tendências apontam para uma crescente integração entre as

atividades de refino e a produção petroquímica, proporcionando uma maior

diversidade, flexibilidade e lucratividade via co-produtos. Não se pode deixar de

destacar, obviamente, que a integração constitui-se também em uma forma de

19 Vide Oil & Gás Journal, v. 96, n. 41, 1998

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74

acesso privilegiado da petroquímica às matérias-primas provenientes da indústria do

petróleo.

A integração, além de reduzir os investimentos necessários, possibilita

que resultados financeiros positivos eventualmente obtidos na atividade de refino

possam compensar eventuais resultados negativos obtidos na produção de

petroquímicos e vice-versa, reduzindo a volatilidade dos retornos sobre o capital

investido e, portanto, o risco.

Estes elementos ficam evidenciados pelo interesse cada vez maior das

empresas petrolíferas em implementar ajustes patrimoniais à jusante, tais como as

joint ventures entre as grandes empresas internacionais petroquímicas e as estatais

petroquímicas no sudeste asiático e no Oriente Médio.

No que tange ao Brasil, a Petrobras, seguindo a tendência mundial, deu

início na década de 2000 a um retorno de sua participação nas atividades

petroquímicas, via associações com empresas do setor, conforme será tratado com

mais detalhes nos capítulos a seguir.

3.8 DRIVING FORCESE MOVIMENTOS DE REESTRUTURAÇÃO

Baseado no modelo analítico exposto no capítulo 2, que combina o

modelo ECD com as características estruturais do setor analisado, e após o exposto

nas seções precedentes deste capítulo 3, é possível identificar-se as driving forces,

associadas às condições básicas de oferta e demanda, às políticas governamentais

e às estratégias, que vêm impactando a dinâmica da indústria em estudo20.

20 A presente seção será fortemente apoiada em Teixeira et alli (2009)

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75

3.8.1 Condições de Oferta

3.8.1.1Acesso a Matérias-Primas

Restou evidente das considerações tecidas até o momento que os

movimentos de integração e desintegração vertical possuem forte vinculação com o

acesso a matérias-primas baratas e de qualidadepara a produção. Na petroquímica,

os custos ainda permanecem fortemente vinculados às matérias-primas, em

especial a nafta e o gás natural, ainda que exista um peso decrescente destas ao

longo da cadeia. Ademais, o etileno, uma das principais matérias-primas

petroquímicas, é de difícil transporte a longas distâncias.

No atual cenário de preços e margens reduzidas, a opção pelo gás

natural, em decorrência do seu custo mais baixo, vem crescendo. Deste modo,

aumentos na capacidade produtiva petroquímica localizam-se cada vez mais no

Oriente Médio, alterando a geografia produtiva do setor. Isto não descarta a busca

por outras fontes de matérias-primas, mais limpas e renováveis, a exemplo do

etanol, bem como de tecnologias modificadas, como o metanol para olefinas (MTO)

e Deep Catalytic Cracking (DCC).

3.8.1.2. Crescimento da Oferta

Como a oferta de petroquímicos cresce em saltos, gerando períodos de

excesso de capacidade, empresas com desvantagens competitivas tornam-se alvos

para fusões e aquisições e estimulam desinvestimentos e alienações de algumas

áreas. O quadro atual de signifcativa expansão da oferta petroquímica, na Ásia e no

Oriente Médio, e desaquecimento global, estimula a busca por novos mercados e o

afastamento de players tradicionais, com dificuldades de acesso a matérias-primas

baratas, das commodities petroquímicas.

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76

3.8.1.3 Mudanças Tecnológicas

Apesarda petroquímica ser considerada uma indústria tecnologicamente

madura, a tecnologia exerce um papel importante para a competitividade deste

setor, ao ensejar o surgimento de novos aditivos e cargas, incluindo nanocargas, e o

desenvolvimento de matérias primas alternativas à nafta e ao gás natural, como o

etanol. Os esforços tencológicos também voltam-se para o desenvolvimento de

tecnologias de craqueamento de petróleo pesadoe de sistemas catalíticos

alternativos, principalmente aos da família Zigler-Nata para a polimerização de

olefinas, destacando-se o papel dos catalisadors metalocênicos.

Ademais, não se deve esquecer as pressões que a indústria petroquímica

receberá para contribuir na redução do aquecimento global. Ela deverá estar pronta

pararesponder, do ponto de vista tecno lógico, às legislações nacionais que surgirão

a respeito.

3.8.2Condições de Demanda

3.8.2.1 Crescimento da Demanda

A elasticidade da demanda em relação ao PIB não se mantém constante

ao longo do tempo. Na medida em que o produto “amadurece”, a evolução do

consumo, como proporção do crescimento da economia, decresce21. Deste modo, o

ritmo de crescimento da demanda difere em cada mercado, sendo menor nos países

avançados. O crescimento econômico nos países emergentes por outro lado,

particularmente no leste asiático,tornam esses países, com destaque para a China,

hospedeiros de grandes plantas petroquímicas.

21 Tal regra geral pode ser relativizada na hipótese de surgirem avanços tecnológicos, possibilitando a

conquista de novos mercados por determinado produto, ou restrições de ordem ambiental.

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3.8.3 Políticas Públicas

Não obstante a crescente globalização da indústria, barreiras tarifárias

são utilizadas para proteger a indústria petroquímica em determinados países. Além

disso, tais políticas, quando estimulam privatizações e estatizações contribuem na

transformação estrutural dessa indústria.

Destacam-se, ainda, as políticas públicas voltadas à regulação ambiental,

bem como aquelas que afetam as fontes privadas e públicas de financiamento. A

crescente importância dos investidores institucionais (fundos de pensão, de

investimentos e de private equity) e dos chamados fundos soberanos, contribuiu

para a alteração no panorama petroquímico mundial, com a ascendência meteórica

de firmas não tradicionais que têm acesso a tais investidores.Por reunirem vultosos

recursos, são encarados como fonte importante de financiamento, além de

adquirirem quantidades significativas de ações das empresas, tornando-se capazes

de influenciar nas decisões, exercendo pressão para a melhora da performance

financeira, com vistas a obter maior retorno para os acionistas.

3.8.4 Estratégias Empresariais

As estratégias empresariais, como exposto no modelo analítico do

capítulo 2, são condicionadas pelas driving forces, mas, ao serem adotadas, afetam

continuamente a configuração estrutural do setor, constituindo-se também numa

driving force. Elas têm se materializado em movimentos de integração vertical, spin-

offs, relocalização geográfica, busca por fontes alternativas de matérias-primas etc.

No capítulo 5, examina-se se a recente reestruturação em curso na petroquímica

brasileira, identificada a partir da constituição da Braskem, reflete os movimentos de

reorganização da petroquímica mundial expostos neste capítulo.

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4 IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA PETROQUÍMICA BRASILEIRA

O objetivo do presente capítulo é descrevera implantação e o

desenvolvimento da petroquímica no Brasil, desde sua origem até o período

imediatamente anterior à constituição da BRASKEM, quando tiveram início os

recentes movimentos de reestruturação dessa indústria no país.

Inúmeros autores já descreveram o processo de constituição da indústria

petroquímica no Brasil nas últimas duas décadas. Dentre eles destacam-se Erber e

Vermulm (1993), Guerra (1994), Erber (2002) e Suarez (1996), que enfoca com mais

detalhes o Pólo Petroquímico de Camaçari. Sendo assim, a principal preocupação

será com as conseqüências que o modelo do desenvolvimento da petroquímica

brasileira engendrou.

4.1 GÊNESE DA PETROQUÍMICA NO BRASIL 22

A indústria petroquímica brasileira iniciou-se com a implantação da

refinaria de petróleo de Cubatão, em 1955, que possibilitou o surgimento de

unidades produtivas de eteno, propeno, negro de fumo, metanol, amônia e

fertilizantes nitrogenados. O desenvolvimento do setor não obedeceu a um

planejamento ordenado até os anos 1960. Os investimentos ocorriam de forma

aleatória, tanto estratégica quanto geograficamente. A maior parte dos

22 Os dados dessa seção, no que tange a capacidades produtivas, foram obtidos basicamente nos

sites da BRASKEM e da Quattor, no formulário 20-F apresentado pela BRASKEM à Securities and Exchange Comission (SEC), nas informações anuais (IANs) prestadas à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por várias empresas petroquímicas, bem como em publicações diversas da ABIQUIM.

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empreendimentos estava concentrada em São Paulo, por ser a principal região

industrial do país, e a produção de petroquímicos no Brasil àquela época se dava

em quantidades insignificantes.Em 1967, o país produzia cerca de 40 mil toneladas

por ano de eteno (ERBER & VERLUM, 1993, p. 78).

Em outubro de 1953, havia sido criada a Petrobras, pela Lei 2.004. Essa

lei instituiu o monopólio estatal sobre as atividades de pesquisa, exploração,

produção, refino, importação e exportação de derivados e transporte marítimo ou por

dutos de óleo bruto ou derivados do petróleo, atribuindo tal tarefa à recém criada

estatal. O monopólio durou 44 anos.23

A elaboração do Plano de Metas do governo de Juscelino Kubitschek,

entre as décadas de 1950 e 1960, marca a gênese do desenvolvimento mais

ordenado do setor petroquímico no Brasil. Embora essa indústria não tenha chegado

a ter um tratamento prioritário no Plano de Metas, já se havia reconhecido à época

deste, que um modelo de desenvolvimento que preconizasse um crescimento

econômico acelerado não poderia prescindir da substituição de importações no setor

petroquímico. Isso porque os produtos deste segmento são a matéria-prima

essencial para um grande numero de indústrias. O Plano Trienal (1963/1965)

reiterou a necessidade do Brasil se tornar auto-suficiente na produção de derivados

de petróleo e de produtos químicos e petroquímicos.

No ano de 1964 foram criadas a Comissão de Desenvolvimento Industrial

(CDI), subordinada ao Ministério da Indústria e Comércio, o Grupo Executivo da

Indústria Química (GEIQUIM), que fazia parte da CDI, e a Comissão Especial de

Petroquímica (pertencente ao Conselho Nacional do Petróleo - CNP). Estes órgãos

foram de extrema importância para a criação do ambiente institucional capaz de

fomentar a implantação da indústria em estudo no Brasil.

Em 1965, uma resolução do CNP estabelece normas para a instalação de

plantas petroquímicas. Naquele mesmo ano, uma longa lista de incentivos que

seriam concedidos aos projetos aprovados pelo GEIQUIM/CDI deixa claro o quão

importante foi o papel do Estado na origem e consolidação dessa indústria.

23 Como se verá mais adiante, o monopólio foi quebrado na prática em 16 de outubro de 1997, com

aprovação da lei 9.478, que criou a ANP (Agência Nacional do Petróleo), órgão regulador da indústria do petróleo. A quebra do monopólio abriu caminho para a participação do setor privado na pesquisa, exploração, refino, exportação e importação de petróleo.

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Dentre os incentivos concedidos destacam-se: facilidade para importação

de equipamentos destinados a projetos que contassem com financiamento interno;

isenção do imposto de importação no caso de equipamentos que não possuíssem

similares nacionais; isenção do depósito compulsório na aquisição de divisas para

cobrir a importação de equipamentos e matérias-primas;proteção tarifária e

administrativa para os produtos fabricados internamente ; redução do imposto de

renda, mediante aplicação de taxas de depreciação acelerada; garantias de

financiamento ou aval, por parte de estabelecimentos oficiais de crédito, na

contratação de empréstimos externos, quando o projeto fosse considerado de

interesse para o desenvolvimento nacional; e a não aprovação de projetos

considerados não competitivos (ERBER E VERMULM, 1993; AZEVEDO & ROCHA,

2005).

Não obstante os benefícios concedidos pelo governo, a ausência de

capacidade técnica, financeira e gerencial do capital privado nacional, aliada a

dificuldades encontradas pelos grupos estrangeiros para a realização de

investimentos24, frustrou as expectativas do rápido desenvolvimento do setor.

De fato, o primeiro projeto para a implantação de uma central fornecedora

de eteno, do antigo grupo norte-americano Union Carbide, não foi à frente, em

virtude do fracasso comercial da tecnologia que seria utilizada. Seguiu-se a esse, o

projeto de constituição da Petroquímica União (PQU), por meio de uma joint

ventureentre vários grupos nacionais e o grupo estrangeiro Phillips Petroleum.

Quando o sócio estrangeiro desistiu, o projeto de implantação da PQU passou a

correr o sério risco de se tornar inviável, tal como o anterior. Os sócios nacionais,

então, buscaram o apoio da Petrobras para a concretização do negócio, fazendo

brotar o que viria a se constituir, posteriormente, no modelo tripartite (AZEVEDO E

ROCHA, 2005).

24 Tais dificuldades não serão detalhadas, pois são irrelevantes para os objetivos do presente

trabalho. Para maiores detalhes, consultar Cário (1997).

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81

4.2 O MODELO TRIPARTITE E O PAPEL DA PETROBRÁS

A Petrobrás era impossibilitada pela lei do monopólio do petróleo de

participar de outras empresas. Frente a esta proibição, foi criada a Petroquisa, com

o objetivo de ser o braço petroquímico da estatal de petróleo. Sua criação, no final

de 1967, resguardava o monopólio, atendia às orientações dos programas

governamentais de que as ações do Estado deveriam fortalecer a iniciativa privada

em seus empreendimentos petroquímicos, afastando o receio de que o monopólio

estatal do petróleo se estendesse à indústria petroquímica.

O advento da Petroquisa viabilizou a instalação da primeira central

fornecedora de petroquímicos básicos, a Petroquímica União (PQU), possibilitando,

na sequência, a implantação das empresas petroquímicas de segunda geração. A

maior parte destas empresas foi constituída como joint venturesentre grupos

nacionais e estrangeiros, que exerciam o papel de fornecedores de tecnologia.

Ter o Estado como sócio significou garantir a participação do capital

externo, vez que para este último seria mais arriscado associar-se tão somente com

o capital privado nacional, frente a suas fragilidades estruturais e inexperiência no

setor petroquímico. A aglutinação inicial entre capitais privados e o Estado, nesse

primeiro momento ainda de forma mais espontânea do que em virtude de maiores

diretrizes governamentais, o que só viria a ocorrer em momento ulterior, concorreu

fortemente para que o capital privado nacional passasse a fazer parte de um

segmento dinâmico da indústria de transformação, tendo acesso a um padrão

tecnológico desenvolvido em escala mundial (CÁRIO, 1997).

É nesse contexto que surge o primeiro pólo petroquímico brasileiro, que

passou a operar a partir de 1972, em Capuava, estado de São Paulo. A participação

acionária da Petroquisa não ficou adstrita ao controle societário da central de

matérias-primas, tendo alcançado empreendimentos downstream surgidos ao seu

redor, por meio da associação entre capitais nacionais e estrangeiros, na

constituição pioneira do modelo de empreendimento tripartite que se tornaria o

padrão dessa indústria nos anos seguintes.

O Pólo Petroquímico de São Paulo é, portanto, o mais antigo do Brasil e

está localizado na região do ABC paulista, entre os municípios de Santo André e

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Mauá. Atualmente ele é controlado pela Quattor Química S.A.25 (ex Petroquímica

União PQU), que opera a central de matérias-primas, produz petroquímicos de

segunda geração, além de fornecer petroquímicos de primeira geração para vinte

empresas de segunda geração situadas nesse pólo e em outros locais. A

capacidade produtiva da Quattor Química S.A. no pólo paulistaé apresentada na

tabela 6.

Tabela 6 - Capacidade Produtiva da Quattor no Pólo de São Paulo (31.12.2008)

Produto Quantidade em kt

Eteno 700

Cumeno 320

Noneno 27

Tetrâmero de Propileno 26

PEBD 130

Poliprolieno 450

Fonte: Quattor, 2009

O pólo paulista possui duas vantagens competitivas: sua proximidade

com o mercado consumidor e com as principais refinarias do país, permitindo que a

Quattor receba a quase totalidade da nafta por meio de dutos, o que reduz seus

custos com transporte. A Braskem, por sua vez, com unidades de primeira e

segunda geração em Camaçari e em Triunfo, possui armazéns de distribuição em

São Paulo, visando atender aos seus clientes nessa região (principal mercado

consumidor do país), o que acarreta em uma elevação não desprezível dos custos

logísticos. Gomes et alli (2005) apontama menor escala e certa defasagem

tecnológica das plantas, a maioria com mais de 30 anos, como pontos negativos

desse pólo. Ademais, as características do petróleo nacional (óleo pesado) fazem

com que a Petrobras acabe fornecendo nafta com especificações de baixa

qualidade. Como a Quattor não dispõe, diferentemente da Braskem, de terminal

próprio para a importação de nafta, ela é penalizada.

25 A Quattor Química S.A. é controlada pela Quattor participações S.A., que detém 94,1% do seu

capital social. A Quattor Petroquímica S.A. detém 5,89% do Capital Social da Quattor Química S.A. A Quattor participações S.A., por sua vez, é uma holding cujo capital é composto 60% pela UNIPAR e 40% pela PETROBRAS.

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Já durante a implantação do pólo paulista, no período de 1968 a 1972,

iniciaram-se as discussões sobre as estratégias de expansão do setor, motivadas

pelo milagre econômico brasileiro (1968-1973), que aumentou substancialmente a

demanda por petroquímicos26. Deu-se início, então, à disputa política envolvendo

interesses regionais diversos, por mais ou menos dois anos. O cerne da discussão

era a respeito da construção de um novo pólo, tendo como alternativas de

localização os Estados do Rio de Janeiro, Sergipe, Rio Grande do Sul e Bahia ou,

opcionalmente, a ampliação do pólo de São Paulo.

Cário (1997) destaca que dentre esses postulantes, a Bahia vinha, desde

o final da década de 1960, por meio de sua administração estadual, engendrando

esforços com vistas a alavancar o desenvolvimento regional a partir da instalação de

um parque industrial petroquímico. À época, realizou-se estudo pelo Banco

Interamericano de Desenvolvimento – BID, buscando apontar condições de

desenvolvimento para Salvador e sua zona de influência. O estudo foi financiado

pela FINEP, com o intuito de fornecer subsídios ao processo decisório da Petrobras,

Petroquisa, CNP e GEIQUIM, bem como apresentar oportunidades de investimentos

à iniciativa privada na Bahia. As conclusões técnicas obtidas se consubstanciaram

em instrumento político de negociação, demonstrando que o local teria plenas

condições de abrigar o novo pólo petroquímico, em especial por: a) possuir

matérias-primas em quantidade e custo apropriados, vez que próximo à refinaria

Landulfo Alves; e b) estar inserido no contexto da política nacional de

desenvolvimento regional, que tinha como finalidade expandir a economia de novas

regiões, promover a integração dos mercados regionais e atender aos objetivos de

segurança industrial e militar.

A implantação do pólo petroquímico de Camaçari, cujas operações foram

iniciadas em 1978, consagrou o modelo tripartite. A composição societária das

empresas de segunda geração era feita de forma que o capital fosse dividido em

três partes iguais. A Petroquisa era detentora de um terço, o capital privado nacional

de outro e o terço restante era reservado ao capital estrangeiro, usualmente via

fornecimento da tecnologia a ser utilizada. O controle acionário da central de

matérias-primas era da Petroquisa, sendo o restante de suas ações pulverizado 26 Conforme visto no capítulo 3 deste trabalho, os produtos petroquímicos apresentam alta

elasticidade renda.

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entre as empresas de segunda geração instaladas no pólo.

Azevedo & Rocha (2005, p. 105) destacam que o papel do Estado não

ficou adstrito às participações acionárias nas empresas do pólo e aos incentivos

concedidos pela CDI. Pelo contrário, na implantação do pólo de Camaçari houve a

intervenção direta da Petroquisa na escolha dos projetos e dos sócios, com diversos

incentivos fiscais regionais e, principalmente, com amplas fontes de financiamento

público e/ou subsidiado (aproximadamente 76% das fontes de financiamento

utilizadas em Camaçari até 1977 foram avalizadas, direta ou indiretamente, pelo

Estado).

Atualmente a Braskem opera a central de matérias-primas que fornece

petroquímicos de primeira geração a oito produtores de segunda geração situados

nesse pólo e em outros locais.A capacidade produtiva da Braskem, que controla o

pólo em produtos de primeira e segunda geração, é exposta na tabela 7. Segundo a

ABIQUIM (2008, p. 148), a capacidade produtiva de eteno em Camaçari, em 2008,

representou37,3% da capacidade nacional.

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Tabela 7 - Capacidade Produtiva do Pólo Petroquímico de Camaçari (30.09.2009)

Produto Capacidade (Kt)

Eteno 1280

Propeno 550

Butadieno 180

Benzeno 427

Tolueno 42

Ortoxileno 76

Paraxileno 203

Xileno Misto 40

Buteno 1 36

ETBE 204

Isopreno 26

Gasolina (m3) 600

PEAD/PEBDL 450

PEAD/UTEC 160

PEBDL 160

PVC 510*

Soda Cáustica 539*

Cloro 464*

EDC 520*

Fonte: Braskem, 2009e * Inclui a capacidade produtiva das unidades situadas em Alagoas nos seguintes montantes: 260 Kt em PVC, 460Kt em soda sáustica, 400Kt em cloro e 520Kt em EDC.

Tendo em vista que o Pólo da Bahia foi concebido prevendo a

implantação concomitante de diversas empresas de segunda geração, a central de

matérias-primas da Braskem nesse pólo tem o portfólio de produtos mais completo

dentre todas as centrais brasileiras. Vale destacar que a Braskem possui plantas de

segunda geração localizadas em Alagoas que recebem, via dutos, matérias-primas

de Camaçari.

O pólo de Triunfo, no Rio Grande do Sul, começou a ser projetado já em

1978, tendo iniciado suas operações em 1982. Neste pólo, a participação do Estado

ainda foi bastante significativa, havendo, contudo, menos incentivos por parte do

governo. Como apontam Erber e Vermulm (1993), o Estado procurou, ainda, buscar

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uma maior interna lização e domínio da tecnologia.

A Braskem também é a controladora desse pólo, fornecendo

petroquímicos de primeira geração a sete produtores de segunda geração. Dados

publicados pela ABIQUIM (2008, p. 148) indicam que a capacidade produtiva de

eteno em Triunfo, em 2008, representou33,04% da capacidade produtiva desse

insumo no país. O conjunto dos produtos elaborados nesse pólo é exibido na tabela

8.

Tabela 8 - Capacidade Produtiva do Pólo Petroquímico de Triunfo (30.09.2009)

Produto Capacidade (Kt)

Eteno 1252

Propeno 660

Butadieno 106

Benzeno 287

Tolueno 93

Xileno Misto 79

Buteno 1 60

ETBE 168

Gasolina (m3) 360

PEAD 400

PEBD 375

PEAD/PEBDL/PEMD 450

Polipropileno 740

Fonte: Braskem, 2009e,

A Central processa principalmente nafta, podendo utilizar também

condensado leve e GLP na geração dos produtos básicos que alimentam as plantas

de segunda geração. A flexibilidade no processamento de diferentes cargas se

constitui em uma vantagem comparativa dessa central em relação às demais

centrais petroquímicas.Ela permite utilizar maiores quantidades de condensado

(matéria-prima mais barata e disponível no mercado internacional), em vez da nafta.

Ademais, a proximidade da Argentina torna mais fácil a importação de matérias-

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primas daquele país e a exportação para o Mercosul.

De acordo com Gomes et alli. (2005), mais de 80% dos produtos

petroquímicos de primeira geração do Pólo gaúcho são consumidos no próprio Pólo.

O restante é vendido para outros estados do país ou exportado.

Com este último pólo, chega ao fim o período de implantação da atividade

petroquímica no Brasil. Cário (1997) destaca que o modelo de estrutura empresarial

adotado levou o capital multinacional a abandonar seu padrão mais comum de

expansão (via subsidiárias), atraído pelo promissor mercado brasileiro, pelas

garantias institucionais de reserva de mercado, incentivos fiscais, financiamentos

subsidiados e acesso a matérias-primas, colocados à disposição dos grupos

econômicos que formavam o modelo tripartite. Internamente, tornou possívelao

capital nacional adentrarem um setor com fortes expectativas de lucro e permitiu ao

Sistema Petrobras aumentar seu poder de barganha, não somente pelo

fornecimento de matérias-primas, mas também pela responsabilidade de coordenar

a implantação dos projetos petroquímicos.

A participação da Petroquisa incorpora, no entender de Cário (1997), a

dupla face existente no setor produtivo estatal, uma delas procurando atender aos

objetivos políticos e macroeconômicos e a outra visando a realização de objetivos de

natureza estritamente microeconômica. Na figura 7 são apresentados os múltiplos

papéis desempenhados pela Petroquisa na implantação dos pólos.

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88

Figura 7 - Atuação da Petroquisa para Viabilizar a Implantação dos Pólos Petroquímicos

Fonte: CARIO (1997, p. 82)

Deve-se ressaltar, ainda, outros incentivos governamentais de cunho

regulatório, que asseguravam uma utilização mínima da capacidade instalada,

visando a consolidação definitiva dessa indústria no pais. Erber e Vermulm (1993)

destacam a proteção às importações, garantindo às empresas nacionais condições

de mercado privilegiadas e previsibilidade da oferta. Para essa última concorria

ainda a garantia de fornecimento de matérias-primas para as centrais por parte da

Petrobras e das centrais (que tinham a Petroquisa como sócio majoritário) para as

empresas de segunda geração.

Como se observa na figura 7 acima, a regulação também se revelava na

escolha dos participantes da indústria, controlando-se, portanto a quantidade de

empresas concorrentes.O financiamento propiciado pelo Estado, bem como a

escolha da tecnologia por parte deste, possibilitava um extremo ordenamento dos

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89

investimentos no setor, praticamente garantindo-se o escoamento dos produtos

petroquímicos intermediários. Deve-se mencionar, ainda, no aspecto regulatório, o

controle de preços dos produtos petroquímicos, realizado pela Comissão de

Desenvolvimento Industrial, hoje extinta, cujo objetivo era estabelecer margens de

lucro planejadas e estáveis para a indústria petroquímica, assegurando o retorno

dos investimentos em um período de tempo determinado (AZEVEDO E ROCHA,

2005).

Pode-se concluir, portanto, que a indústria petroquímica nacional foi

constituída sobre regras bem definidas, criando-se um ambiente de proteção às

empresas brasileiras, menos sujeitas aos choques internos e externos, inclusive à

ciclicidade dos negócios petroquímicos. Conforme visto no capítulo 3, no período em

que essa indústria se instalava no pais, a indústria petroquímica mundial já

experimentava inúmeras transformações, especialmente por conta dos choques do

petróleo.

Em meados da década de 1980, a economia brasileira viveu um período

de estagnação, desencadeado pela crise da dívida externa e pela crise fiscal do

Estado. O impacto foi sentido fortemente pelo setor petroquímico, agravando-se a

situação quando o governo decidiu investir mais na prospecção e na extração do

petróleo, pressionado pela crise internacional, do que na petroquímica, indústria

intensiva em capital.

No final dos anos 1980, as primeiras conseqüências do modelo tripartite,

que havia criado uma estrutura empresarial caracterizada por um emaranhado de

participações societárias cruzadas envolvendo cerca de trinta grupos, começaram a

ser sentidas. Os interesses estratégicos diferentes, aliados ao truncado processo de

decisão empresarial, começaram a prejudicar a competitividade da indústria como

um todo. Deu-se início a uma primeira tentativa de reorganização do setor, com o

objetivo de desfazer o nó societário que se formara. A participação das empresas

privadas nacionais aumentou, mas o cruzamento societário não foi resolvido.

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90

4.3 PRIVATIZAÇÃO E ALTERAÇÕES INSTITUCIONAIS NA DÉCADA DE 1990

Na década de 1990, o ambiente institucional sofreu intensas mudanças

no Brasil, alterando radicalmente o panorama para a indústria como um todo e para

a petroquímica em particular.

A abertura econômica perpetrada pelo governo Collor, com a extinção das

barreiras não-tarifárias e a redução radical da proteção tarifária, teve fortes efeitos

sobre a indústria petroquímica.Conforme se observa na tabela 9, os impostos de

importação incidentes sobre os produtos petroquímicos que, chegavam a alcançar a

alíquota de 55% em 1987, foram reduzidos a até 2% em 1994. Em 1995, houve um

aumento das alíquotas para 14%, ainda bastante distante dos percentuais que

vigoravam na década de 1980.

Tabela 9 - Evolução do Imposto de Importação sobre Petroquímicos Selecionados (1987 a 1995)

(alíquotas “ad valorem” em %)

Produto 1987 1988 1989 1990 1991 0ut/92 Jul/93 Dez/94 Mar/95

Metanol 45 60 60 50 30 20 15 12 12

Etileno 30 5 5 0 0 0 0 0 2

Propileno 30 5 5 0 0 0 0 0 2

PEBD 45 40 40 20 20 15 15 2 14

PEAD 45 40 40 20 20 15 15 2 14 Polipropileno 55 40 40 20 20 15 15 2 14

PVC 55 40 40 20 20 15 15 2 14 Fonte: Cavalcante (1997, p.77)

O controle de preços do mercado interno também foi abolido, expondo a

petroquímica aos diversos acontecimentos que determinam impactos significativos

sobre os preços de seus produtos e passando a sujeitar as empresas do setor aos

efeitos adversos das variações cíclicas na ocupação da capacidade instalada,

provenientes dos desequilíbrios entre oferta e demanda no mercado externo.

Destacam-se ainda entre as outras mudanças ocorridas, o fim do subsídio

para a nafta no último trimestre de 1992, a extinção da Secretaria Especial de

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Desenvolvimento Industrial (SDI), a cessação de fontes oficiais de crédito e o

término dos subsídios à exportação.

Por fim, contribuindo decisivamente para o desmoronamento da estrutura

institucional então vigente, pode-se apontar o processo de privatização ocorrido

nessa indústria. Em cumprimento às diretrizes do Programa Nacional de

Desestatização (PND) do governo Collor, a PETROQUISA procedeu à alienação de

suas participações acionárias em empresas controladas e coligadas. Em 1990, a

PETROQUISA detinha participações em trinta e seis empresas. Das cinqüenta e

cinco empresas privatizadas entre 1990 e 1997, vinte e seis foram do setor

petroquímico.

A privatização do setor iniciou-se em abril de 1992 com a venda da

Petroflex e encerrou-se em setembro de 1996, com a venda da participação detida

pela Petroquisa na EDN. Tendo cumprido integralmente o cronograma do PND, a

PETROQUISA permaneceu com participações minoritárias na três centrais

petroquímicas e em 10 outras empresas do setor.

Furtado (2003) destaca que a privatização permitiu que grupos nacionais

assumissem o comando das centrais petroquímicas e de várias unidades industriais

relevantes, com a exclusão do Estado e a saída gradativa de algumas empresas de

capital estrangeiro, não tendo a petroquímica no Brasil sofrido qualquer ameaça de

desnacionalização, contrariamente ao que ocorreu em diversos outros setores.27

Siffert Filho (1999) salienta que foi grande a disputa dos grupos nacionais

pelas centrais de matérias-primas, estratégicas para a segunda geração, segmento

no qual estavam concentrados. Alguns grupos aproveitaram as privatizações para

diversificar suas atividades para subsetores, como foi o caso do Suzano. Nesta

mesma obra, o autor tratou da reestruturação em curso no setor no final dos anos

1990, com vistas a promover o aumento das escalas e a maior competitividade das

empresas nacionais líderes. Em seu entender, tal processo consistiria na redefinição

das empresas atuantes em cada pólo, sendo por ele esperado, à época, que os

grupos concentrassem “suas atividades em um determinado pólo, vendendo suas

27 Neste sentido, é importante salientar que a indústria petroquímica representa um dos poucos

setores industriais intensivos em capital e com elevadas perspectivas de crescimento em que a presença de capital nacional é predominante.

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participações em outros para outras empresas. Vital para as empresas nacionais,

essa reestruturação tende a gerar novos movimentos de fusão e aquisição e o

aumento no grau de concentração” (SIFFERT FILHO, 1999, p. 395).

Com efeito, a privatização marcou o fim do modelo tripartite, tendo

resultados diferentes nos diversos pólos. No sul, a Odebrecht e a Ipiranga adquirem

o controle da COPESUL. A partir de então, várias novas aquisições foram

aumentando a estatura da Odebrecht na petroquímica. A empresa adquiriu o

controle da PPH, da Poliolefinas, da Salgema e da CPC. Posteriormente, a

Odebrecht integrou a PPH e a Poliolefinas, criando a OPP Petroquímica S.A.,

integrando, também, a Salgema e a CPC, criando a Trikem S.A., primeira integração

vertical do setor no País.

A UNIPAR também participou expressivamente do processo de

privatização da indústria, adquirindo participações na Petroflex e Poliolefinas e

aumentando sua participação na Petroquímica União, onde assumiu a condição de

principal acionista.

No pólo de Camaçari, a privatização gerou uma pulverização do controle

da central, passando a Copene a ser composta por nove grupos distintos, incluindo

dois fundos de pensão e a Petroquisa28, com interesses diversos. A falta de

liderança levou a uma paralisação nas decisões e investimentos importantes.

4.4 AS IMPLICAÇÕES DO MODELO DE CONSTITUIÇÃO DA PETROQUÍMICA

BRASILEIRA

O modelo “tripartite”, subjacente à implantação e boa parte do

desenvolvimento da indústria petroquímica no Brasil,acabou por resultar em uma

estrutura industrial fragmentada, de empresas monoprodutoras, bastante diferente

do padrão internacional do setor. No que tange à fragmentação empresarial, ela se

deveu, como visto, à tentativa de salvaguardar as competências compartilhadas

28 Em agosto de 1995 a Petroquisa vendeu em leilão 14,8% do capital da COPENE, representando

32,8% do capital votante. A Norquisa adquiriu 5,5% do capital total, representando 10,8% do capital votante. As demais ações foram adquiridas por diversos fundos de pensão brasileiros, conforme poderá ser observado na figura 8, no capítulo 5 a seguir (FORMULÁRIO 20-F BRASKEM, 2009).

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pelos três agentes envolvidos no processo: as empresas internacionais, que

detinham conhecimento tecnológico; as nacionais, que possuíam expertise local; e o

Estado, detentor do acesso aos insumos (nafta e gás), e garantidor de proteção

externa.

A opção governamental pelo modelo tripartite visava dotar o país de uma

forte indústria de base em um curto espaço de tempo, sem alijar o capital nacional

privado e internacional, permitindo assim que o país atingisse a auto-suficiência em

petroquímicos.

Neste contexto, não houve a preocupação inicial de se criar tecnologia

nacional para suprir a indústria nascente , uma vez que a instalação dos pólos

petroquímicos deveria ocorrer em um intervalo de tempo relativamente pequeno. Em

um regime de proteção e forte intervenção estatal, a indústria petroquímica brasileira

foi capaz de se desenvolver e acumular capacidades industriais amplas, muito

embora com capacitação tecnológica limitada.

A produção de petroquímicos de primeira e segunda geração ficou

concentrada nos três pólos principais. Os pólos de Capuava (SP), Camaçari (BA) e

Triunfo (RS) utilizam como matéria-prima a nafta petroquímica, a maior parte dela

produzida pela Petrobras. Cada um desses pólos tem um único produtor de primeira

geração, comumente denominado como central de matérias-primas, e diversos

empresas de segunda geração, cujos insumos são comprados dessas centrais, que

importam diretamente a nafta não fornecida pela Petrobras.

Além destes, o pólo de Duque de Caxias (RJ), recentemente implantado,

se distingue dos demais pela utilização exclusiva do etano e propano obtidos do gás

natural extraído pela Petrobras na Bacia de Campos. A Rio Polímeros S.A (Riopol),

como é chamada, é controlada, pela Quattor Participações S.A., com 75% das

ações (sendo que deste percentual, 60% são da Unipar e 40% da Petrobras) e pelo

BNDES, com os outros 25%.

Com investimento total da ordem de US$ 1,15 bilhões, a Riopol foi o

maior empreendimento petroquímico implantado na América Latina nos últimos

anos.? Sua central teve um custo de investimento menor que os das outras, por ser

uma unidade de craqueamento de gás. Ela fornece petroquímicos de primeira

geração a dois produtores de segunda geração localizados no pólo. Devido à

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utilização do gás natural como matéria-prima, não é possível produzir aromáticos e

outros subprodutos, como solventes e gasolina de alta octanagem. O período pré-

operacional do Pólo Petroquímico do Rio de Janeiro foi encerrado em 31 de março

de 2006, com a conclusão dos testes previstos no contrato de construção

(PETROQUISA, 2009).

Como dito, a cadeia produtiva da Riopol parte do gás natural. Após ser

extraído na Bacia de Campos, ele é transferido para as Unidades de Processamento

de Gás Natural (UPGNs) para separação em duas frações, uma gasosa e outra

líquida, sendo esta denominada líquido de gás natural (LGN). Esse líquido, por sua

vez, é fracionado de modo a obter-se uma mistura de etano e propano, dentre outros

gases. Esses gases seguem por dutos até a refinaria da Petrobras em Duque de

Caxias, onde são separados, sendo posteriormente redirecionados para a Unidade

de Pirólise da Rio Polímeros. Nessa unidade, o etano e o propano são

transformados por meio de processos químicos em eteno e propeno, e em outros

co-produtos, como hidrogênio e gasolina de pirólise.

Finda a etapa de primeira geração, o eteno é encaminhado para a

Unidade de Polimerização, que é integrada à Unidade de Pirólise. O propeno, por

sua vez, é vendido à Polibrasil, e o hidrogênio e a gasolina de pirólise são vendidos

à Petrobras. Na Unidade de Polimerização, o eteno passa por reatores químicos

para ser transformado em polietileno, concluindo a etapa de segunda geração.

A Unidade de Pirólise da Rio Polímeros possui capacidade de produção

anual de 520 mil toneladas de eteno e 75 mil toneladas de propeno. Além disso,

essa unidade possui uma capacidade de produção anual de 5 mil toneladas de

hidrogênio e 33 mil toneladas de gasolina de pirólise. Já a Unidade de Polimerização

possui duas linhas de produção independentes com capacidade anual de 270 mil

toneladas de polietilenos cada uma, perfazendo uma capacidade total anual de 540

mil toneladas de polietileno. Essa unidade é do tipo swing, capaz de produzir PEBDL

e PEAD. Essa flexibilidade permite adaptar o mix de produtos às necessidades do

mercado (IAN SUZANO, 2003; QUATTOR, 2009).

A localização deste Pólo é privilegiada, vez que se encontra entre o

principal mercado consumidor do país, Rio de Janeiro e São Paulo, e as principais

reservas de gás natural do Brasil.

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Na literatura especializada, é praticamente uniforme o entendimento de

que o elevado grau de inter-relacionamento acionário entre clientes e fornecedores

se constituía em um grave entrave ao desenvolvimento do setor petroquímico

brasileiro29. Isto porque o “nó societário” característico da montagem da indústria

petroquímica nacional dificultava o processo decisório, em especial na definição das

estratégias de crescimento das firmas, nas quais ficavam patentes os conflitos

existentes entre os diversos atores da petroquímica nacional. Tal argumento foi,

inclusive, utilizado pelas requerentes COPENE Petroquímica do Nordeste S/A e

Odebrecht Química S/A, no Ato de Concentração no 08012.005799/2001-9230, junto

ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica - CADE.

Guerra (2007) destaca outras fragilidades da indústria petroquímica

nacional, como conseqüência do modelo adotado, dentre as quais:

a) incapacidade de atingir escalas, faturamento e “massa crítica”

imprescindíveis para a efetivação de gastos regulares e em montantes

adequados em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, tornando

inviável o desenvolvimento de inovações tecnológicas;

b) impossibilidade de obter economias de escopo. Sinergias intra-setoriais

não se verificavam no Brasil, na medida em que as empresas

elaboravam produtos específicos;

c) dificuldades de respostas empresariais às flutuações cíclicas da

economia e a movimentos de racionalização que exigissem ajustes de

capacidade produtiva através de fechamento de fábricas, pois isto

significaria desativar uma empresa, se ela fosse uma monoprodutora;

d) multiplicidade de custos administrativos, comerciais e tributários.

29 ERBER (2002); FURTADO ET ALLI (1999); MONTENEGRO E MONTEIRO FILHA (1997); OLIVEIRA (1994); SILVEIRA E RABELO (1998),

AZEVEDO E ROCHA (2005), dentre outros. 30 De acordo com o Parecer Técnico no 153 COINP/COGPI/SEAE/MF, da Secretaria de

Acompanhamento Econômico (SEAE, 2002, p .22): “Segundo as requerentes, o Projeto NOVA COPENE representa o surgimento de um novo modelo da indústria petroquímica brasileira, com porte e condições para competir em um mercado global. Esse projeto representa, também, a resposta do setor privado aos apelos do Governo Federal para desatar o nó societário criado com o modelo petroquímico até então existente, no qual as participações cruzadas e o conflito de interesses entre as unidades empresariais de primeira e destas com as de segunda geração inibiram os investimentos necessários ao desenvolvimento da indústria petroquímica nacional.”

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De fato, o estudo realizado por Azevedo e Rocha (2005) concluiu que a

estrutura societária adotada não representava um grande problema na década de

1980, vez que a volatilidade da produção era pequena. Obviamente existiam custos

decorrentes do modelo, tais como a morosidade na tomada de decisões estratégicas

e, conforme apontado por Guerra (1994), menores investimentos em P&D, ao

comparar-se com países em que a indústria petroquímica já estava consolidada.

Azevedo e Rocha (2005) sustentam, entretanto, que as características

das transações na indústria petroquímica modificaram-se ao longo da década de

1990, de tal modo que o modelo da década anterior, essencial para explicar o

sucesso da constituição da petroquímica no país, passou a ser uma forma ineficiente

na virada do século.

Quando foi promovida a abertura econômica do país, a partir de 1991, a

vulnerabilidade das empresas nacionais era imensa. A indústria, que havia crescido

num mercado protegido, livre da concorrência externa, foi confrontada com

conglomerados de porte mundial, que operavam em escalas muito maiores e

passavam por um processo de consolidação internacional gerador de uma enorme

redução de custos e eficiência.

Vale lembrar que, nesta época, do ponto de vista internacional, estava em

curso uma crescente internacionalização do setor, vivendo-se uma fase de

superprodução no mercado global, resultante da diminuição do crescimento

econômico dos países centrais e da entrada em operação de novas plantas nos

países produtores de petróleo e na Ásia, como amplamente discutido no capítulo 3 .

Enfim, embora os sinais iniciais de crise tenham aparecido desde a

segunda metade da década de 1980, foi na década de 1990, com a série de

acontecimentos acima elencados, que houve o desmonte do aparato regulatório que

dava suporte a essa indústria nacionalmente. Há um consenso entre os estudiosos

da petroquímica31 que essa conjuntura de fatores acabou tornando imprescindível

uma reestruturação organizacional do setor.As deficiências a superar incluíam o

pequeno porte empresarial, o número excessivo de empresas, o controle acionário

fragmentado e a reduzida capacitação tecnológica do parque nacional.

31 ERBER (1993); ERBER E VERMULM(1993); WONGTSHOWSKI (2002), dentre outros.

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É interessante notar, contudo, que apesar das alterações mencionadas,

foi necessária a ocorrência de um evento externo à indústria petroquímica (qual seja,

a intervenção do Banco Central do Brasil no Banco Econômico) para que fosse

vencida a inércia e iniciada a reestruturação, o que se verá com mais detalhes no

capítulo seguinte.

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5. MOVIMENTOS RECENTES NA PETROQUÍMICA BRASILEIRA

Neste capítulo será abordada a criação da Braskem, o retorno da

Petrobras à petroquímica, as alterações geradas na estrutura de propriedade e na

configuração das empresas do setor e os desafios competitivos que estão postos

para a petroquímica brasileira. Os movimentos recentes de reestruturação da

petroquímica mundial e as estratégias adotadas pelas empresas transnacionais,

impulsionadas pelas driving forces selecionadas, servirão de referência para

identificar em que medida os movimentos ocorridos no país refletem as

transformações vividas por essa indústria no âmbito internacional, buscando apontar

os desafios para a inserção competitiva da petroquímica brasileira no mercado

global.

5.1 CONSTITUIÇÃO DA BRASKEM

Como visto ao final do capítulo 4, o que vinha sendo tentado desde

agosto de 1995, quando a Petroquisa alienou 32,8% do capital votante 32 da Copene

(antiga denominação da central de matérias-primas do pólo de Camaçari), acabou

só se tornando possível quando da intervenção do Banco Central no Grupo

Econômico. A intrincada estrutura societária das empresas do pólo petroquímico de

32 Em 1995, a Petroquisa detinha 36,2% do capital total da COPENE, representando 48,2% do capital votante. Nessa mesma época, a Norquisa era

detentora de 17,3% do capital total da COPENE, que representavam 47,6% do capital votante. O restante da empresa era detido por diversos grupos do setor privado, fundos de pensão, bancos e empregados da companhia. Em agosto de 1995, a Petroquisa vendeu em leilão 14,8% do capital da COPENE, representando 32,8% do capital votante. A Norquisa adquiriu 5,5% do capital total, representando 10,8% do capital votante. As demais ações foram adquiridas por diversos fundos de pensão brasileiros, conforme se observa da figura 8, na próxima página (Formulário 20-F Braskem, 2009).

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Camaçari e a estrutura acionária da Copene em 2001, antes do leilão dos ativos que

o Banco Econômico possuía na Conepar – Companhia Nordeste de Participações,

via sua controlada ESAE – Econômico S/A Empreendimentos Petroquímicos, podem

ser vistas nasfiguras8 e 9

Figura 8 - Estrutura Societária das Empresas do Pólo Petroquímico de Camaçari antes do Leilão dos ativos da ESAE

Fonte: CADE, 2003 (p. 12)

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Figura 9: Estrutura Acionária da Copene antes do Leilão dos ativos da ESAE

Fonte: SEAE, 2002(p. 17)

Após o fracasso dos dois primeiros leilões, os grupos Odebrecht33 e

Mariani alteraram suas estratégias, passando de vendedores a compradores,

vencendo o terceiro leilão promovido pelo Banco Central em 25.07.2001. Na prática,

com essa aquisiçãoos grupos vencedores passaram a controlar a Copene, via

Norquisa, conforme se observa da figura10.

33 A Odebrecht já vinha adquirindo participações no setor há algum tempo. Ao final da década de

1970, algumas das companhias estrangeiras componentes do modelo tripartite da petroquímica começaram a se desinteressar pelo investimento, bem como alguns grupos nacionais. A Odebrecht, buscando diversificar suas áreas de atuação, comprou, em 1979, 33,3% da CPC, a Companhia Petroquímica Camaçari. Com esta aquisição, ganhou participação na Norquisa, controladora da Copene. Em meados dos anos 1980, comprou participações de três multinacionais que estavam se retirando do Brasil: 31,5% da Poliolefinas, da National Distillers, 20% da PPH, da Himont e 38,8% da mesma empresa, da H.Mining. Também adquiriu da Norquisa 23,2% da Salgema e mais uma participação na Copene, além de uma fatia da Unipar (13,8%) (Odebrecht online, 2004).

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Figura 10: Estrutura Acionária da Copene após o Leilão dos ativos da ESAE

Fonte: SEAE, 2002(p. 20)

Em 16 de agosto de 2002, Odebrecht e Mariani integraram seus próprios

ativos do setor petroquímico à Copene, em Assembléia Geral que deliberou também

pela alteração da denominação social da companhia, surgindo a Braskem.Deu-se

início, então, à mais importante reestruturação ocorrida na petroquímica brasileira.

Na segunda etapa desse projeto de verticalização e integração da

petroquímica no país, concluída no início de 2004, foram incorporadas à Braskem as

empresas OPP Química S.A., Nitrocarbono S.A., Trikem S.A. e Proppet S.A. Em

2006, a Braskem anunciou a incorporação da Polialden e a compra das

participações detidas pelos grupos Suzano, Sumitomo Chemical e Itochu na

Politeno, incorporada em 200734.

Outro significativo movimento de reestruturação ocorreu em 2007, quando

os ativos petroquímicos do Grupo Ipiranga foram adquiridos pela Braskem,

Petrobras e Grupo Ultra. Antes deste movimento, como mencionado no capítulo

anterior, a Braskem dividia com a Ipiranga o controle da Copesul e enfrentava,

guardadas as devidas proporções, a mesma indefinição vivida pela Copene, em

34 Todas essas empresas localizavam-se em Camaçari e Maceió.

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virtude da pluralidade de donos e da dificuldade de harmonização de estratégias

entre grupos com interesses muitas vezes conflitantes.

Em decorrência da operação de aquisição da Ipiranga, a Ultrapar passou

a deter os negócios de distribuição de combustíveis e lubrificantes localizados nas

regiões Sul e Sudeste e a Petrobras os negócios de distribuição de combustíveis e

lubrificantes localizados nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

A Braskem e a Petrobras, por sua vez, passaram a deter os ativos

petroquímicos, representados pela Ipiranga Química S.A., Ip iranga Petroquímica

S.A. e pela participação desta última na Copesul, na proporção de 60% para a

Braskem e 40% para a Petrobras. Os ativos relacionados às operações de refino de

petróleo detidos pela Refinaria de Petróleo Ipiranga foram compartilhados

igualmente entre Petrobras, Ultrapar e Braskem.

Em 2008, a Braskem celebrou Acordo de Investimento com a Petrobras,

pelo qual esta última integrou à Braskem suas participações no capital das

empresas Ipiranga Química, Copesul e Petroquímica Paulínia35, aumentando sua

participação no capital votante da Braskem para 30%, passando a deter 23,1% do

capital total.Ainda em 2008, ocorreu a incorporação da Copesul pela Ipiranga

Petroquímica, sucedendo-se, em 30 de setembro de 2008, à incorporação desta

última empresa, da parcela cindida da Ipiranga Química e da Petroquímica Paulínia

pela Braskem.

Em 2009, a Petrobras exerceu a opção prevista no Acordo de

Investimento com a Braskem de aportar 100% das ações que detinha na

Petroquímica Triunfo em troca da quantidade correspondente em ações

preferenciais classe “A” da Braskem. Ato contínuo, a Braskem procedeu à

incorporação da Triunfo 36, finalizando a consolidação no Pólo Petroquímico do sul.

A composição acionária da Braskem em 31.12.2008 está exposta nas

figuras abaixo.

35 A constituição da Petroquímica Paulínia S.A., em 2005, foi resultado de uma joint venture entre

Petroquisa e Braskem, com percentuais de 40% e 60% do capital, respectivamente. A empresa foi incorporada pela BRASKEM, aumentando a participação da Petrobras nesta companhia.

36 A Triunfo possuía e operava uma planta de polietileno no Pólo Petroquímico de Triunfo com capacidade anual de produção de 160 mil toneladas, agora de propriedade da BRASKEM.

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103

Figura 11 - Participações Acionárias no Capital Votante da Braskem em 31.12.2008

Fonte: ODEBRECHT, 2008

37

Figura 12 - Participações Acionárias no Capital Total da BRASKEM em 31.12.2008

Fonte: ODEBRECHT, 2008

Desde sua criação, a BRASKEM tornou-se a maior empresa petroquímica

da América Latina, figurando entre as três principais companhias industriais de

capital privado brasileiro e como a terceira maior empresa petroquímica das

Américas. Em 2006, a companhia foi incluída no ranking das 50 maiores empresas

petroquímicas do mundo por volume de vendas, de acordo com a Chemical &

37 Após o aporte das ações da Petroquímica Triunfo pela Petrobrás, a participação da Odebrecht no

capital total da Braskem passou a ser de 38,3%, a da Petroquisa de 25,3% e a do BNDESPAR de 5,1%. As participações no capital votante permaneciam idênticas às de 31.12.2008 (20-F BRASKEM, em 07 de julho de 2009).

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104

Engineering News, passando a ocupar a trigésima quarta posição no ranking de

2008 (C&EN, 2007; 2009).

Foi a primeira empresa petroquímica do país a integrar operações de

primeira e segunda geração e detém hoje a liderança no mercado latino-americano

de resinas termoplásticas. A integração agregou à Companhia maior competitividade

em custos, decorrente da escala de produção e das sinergias obtidas, e maior

eficiência operacional. Internamente, sua participação de mercado, ao final do ano

de 2008,alcançava 53% em polipropileno , 50% em polietilenos (alta densidade,

linear e baixa densidade) e 51% em PVC. A produção gerada nas dezoito unidades

da empresa é exportada para mais de sessenta países em todo o mundo

(BRASKEM, 2009d). A capacidade total de produção das unidades da empresaem

todo o pais é apresentada na tabela abaixo.

Tabela 10 - Capacidade Produtiva da Braskem (30.set.2009)

Produto Capacidade (Kt)

Eteno 2532

Propeno 1210

Butadieno 286

Benzeno 714

Tolueno 135

Ortoxileno 76

Paraxileno 203

Xileno Misto 119

Buteno 1 96

ETBE 372

Isopreno 26

Gasolina (m3) 960

PEAD/PEBDL 450

PEAD 400

PEAD/UTEC 160

PEBD 375

Produto Capacidade (Kt)

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105

PEBDL 160

PEAD/PEBDL/PEMD 450

Poliproplileno 109038

PVC 536

Soda Cáustica 539

Cloro 464

EDC 520

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Valuation Book da Braskem (BRASKEM, 2009e)

Os investimentos da Braskem em 2008 alcançaram R$ 1,845 bilhões. A

média anual de investimentos destinados a pesquisa e desenvolvimento no período

de 2002 a 2009 foi de R$ 50 milhões, com 219 patentes depositadas.Os

investimentos programados para 2009 devem atingir R$ 900 milhões, incluindo

expansão de capacidade produtiva, novos projetos e paradas programadas. O

desejo de internacionalização produtiva da empresa é forte. Projetos têm sido

anunciados na Bolívia, Venezuela, Peru, México, assim como intenções de

aquisições de ativos nos EUA. O valor de mercado da Braskem passou de US$ 200

milhões em 2002 para US$ 2,3 bilhões em 2009.

Grande parte dos estudiosos da indústria petroquímica no Brasil

enxergam na formação da Braskem a oportunidade de alavancar a competitividade

dessa indústria no país. Para Gomes et alli (2005, p. 79), sendo a competitividade do

setor em estudo influenciada, sobremaneira, pela escala de produção, integração,

disponibilidade de matéria-prima, tecnologia, facilidade de acesso ao mercado

consumidor e custo de capital, a inserção competitiva da indústria petroquímica

nacional no mercado global, a princípio, poderia ser obtida a partir da evolução da

indústria para um cenário de empresas grandes, com unidades de escala mundial,

integradas, com aproveitamento de fontes de matéria-prima competitivas e

relacionamento com seus clientes de terceira geração.

Na perspectiva de Santana et alli (2003), a petroquímica brasileira

demonstrava sinais positivos quanto ao futuro de sua competitividade. Após a

integração que deu origem à Braskem, essa indústriaapresentaria como tendências:

38 A capacidade efetiva é de 1040kt, vez que a planta de São Paulo, com capacidade de 350kt, possui

capacidade efetiva de apenas 300kt, por disponibilidade de matéria-prima (BRASKEM, 2009e).

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106

a possibilidade de conquistar espaço no mercado internacional,superar, ainda que

parcialmente, o atraso tecnológico, e melhorar a eficiência produtiva, ou seja ,

possibilidades de sublimar alguns problemas básicos que se constituem em entraves

à competitividade dessa indústria no Brasil.

Pádua Neto et alli (2003) entendem que o surgimento da Braskem

começou a alterar o perfil do setor no Brasil, tornando-o mais semelhante ao padrão

internacional, marcado pela constituição de companhias integradas verticalmente.

Em sua ótica, os empresários da petroquímica e da indústria do plástico estariam

cada vez mais conscientes de que a integração entre as etapas da cadeia

petroquímica seria o ponto crucial para a competitividade das empresas – desde o

acesso à nafta ou ao etano, até a interdependência existente entre os produtores de

petroquímicos básicos e intermediários.

De fato, a criação da Braskem resultou em ganhos de sinergias e de

escala, provocando um desequilíbrio entre os portes das empresas e os grupos do

setor. A partir de sua formação, novos movimentos ocorreram, delineando um novo

panorama para essa indústria nacionalmente e aumentado a concentração dos

ativos em um reduzido número de players.

5.2 O RETORNO DA PETROBRAS

Neste ambiente de reestruturação, marcado pela integração e

verticalização, o papel da Petrobras39 tem sido crucial: desde o final da década de

1990, a empresa vinha constituindo parcerias com grupos privados - como as com a

Odebrecht e a Rio Polímeros -, e demonstrava ser um parceiro estratégico bastante

disputado entre os principais produtores nacionais de petroquímicos.

39 No dia 01 de junho de 2006 foi aprovada nas Assembléias Gerais Extraordinárias realizadas em

ambas as empresas a operação de incorporação de ações da PETROQUISA pela PETROBRAS. A operação de incorporação de ações visou a transformação da Petroquisa em subsidiária integral da Petrobras e foi baseada no artigo 252 da Lei das S.A. A Petroquisa tinha apenas 1% das ações pulverizadas, não havendo maiores razões para continuar a ser uma empresa de capital aberto. Ademais, o movimento efetuado dará maior flexibilidade e evitará a duplicação de estruturas administrativas, além de eliminar os custos referentes ao cumprimento das exigências legais das empresas de capital aberto (o que, por outro lado, resultará em menor transparência contábil e informacional).

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107

Durante o processo de privatização da petroquímica brasileira, nos anos

1990, a postura do Governo foi a de afastar a estatal da segunda geração e reduzir

sua participação na primeira geração, contrariando a tendência anteriormente

mencionada e observada em vários países: a integração vertical das atividades de

petróleo e petroquímica, que se constitui em um importante determinante de

competitividade. Alguns analistas, como Pádua Neto et alli (2003), entendem que a

saída da Petrobras da petroquímica trouxe uma série de debilidades para este setor.

Guerra (2007) destaca que as regras do modelo de privatização adotadas

pelo governo brasileiro na década de 1990, que conduziram o Estado, embora

proprietário da maior parte dos ativos, a não interferir no processo de reestruturação

da indústria petroquímica, foi bem próxima à adotada pelos governos americano e

alemão, no processo de reestruturação da década de 1980. A diferença, contudo, é

que naqueles países não existia qualquer grande empresa estatal operando na

petroquímica, nem tampouco o fornecimento da matéria-prima era monopólio

estatal.

Em países nos quais havia grandes empresas estatais atuando na

indústria (v.g. França e Itália), a reestruturação química/petroquímica foi

implementada com a participação do Estado. Em outros países, tal reestruturação

levou ao crescimento da empresa estatal (Finlândia/NESTÉ) no setor, ou foi

fortemente induzida por uma política industrial ativa (Japão). No entender de Guerra

(2007), nesses países a reestruturação obedeceu a um planejamento estratégico e a

privatização, onde se aplicou, foi definida como um instrumento reestruturante e de

promoção da competitividade.

No Brasil, aqueles que defendiam as regras adotadas à época, entendiam

que a privatização no país não precisaria cumprir este papel. Isto porque, em sua

perspectiva, as empresas petroquímicas brasileiras seriam compelidas

inexoravelmente a realizar composições entre elas para reestruturar o setor, visto

que não teriam muitas chances de sobrevivência caso permanecessem isoladas. Na

ótica de Guerra (2007), os defensores de tais idéias esperavam uma tendência

natural, guiada possivelmente pela “mão invisível”, posterior à privatização, de

formação de fortes grupos empresariais, através de composições livremente

acertadas.

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De fato, segundo Siffert Filho (1999, p. 355), o movimento de fusões e

aquisições no setor petroquímico brasileiro foi liderado pelo programa de

privatizações. O autor destaca dentre as transações realizadas no período de 1991-

1998, a venda das centrais de matérias-primas - a Copene, a Copesul e a PQU -,

afirmando que “ao todo foram 114 operações no período, que refletiram

principalmente as estratégias de reafirmação e expansão para o setor petroquímico,

como foi o caso dos Grupos Suzano e Odebrecht, Unipar e Mariani”.

Neste contexto, para Cavalcante (1997), algumas conclusões apontadas

por trabalhos realizados sobre a petroquímica no início da década de 1990 seriam

ao final dos anos 1990 apenas parcialmente válidas. Segundo esse autor, a questão

do porte empresarial, por exemplo, considerada o grande desafio para a inserção

competitiva da petroquímica brasileira no mercado internacional, teria no final da

década de 1990 contornos diferentes daqueles dos anos 1993/1994, em virtude do

processo de fusões e incorporações que se sucedeu ao início da privatização de

unidades petroquímicas.

O argumento de que a questão do porte empresarial não seria nos anos

recentes um grave empecilho à competitividade da petroquímica nacional, contudo,

é relativizado pelo próprio Cavalcante (1997, p. 56), quando afirma que, conforme

apontam Andrade et alli (1995, p. 72) numa publicação do BNDES, “as tentativas de

eliminação destas limitações [a baixa integração empresarial, a insuficiência da infra-

estrutura e a reduzida capacitação tecnológica] através de programas de

privatização realizados na Argentina e no Brasil, (...), não apresentaram resultados

relevantes.” É o que pode se inferir, também, das pesquisas realizadas pelos

diversos autores citados neste trabalho, demonstrando que, após transcorridos

quase dez anos entre o início do processo de privatização na petroquímica e a

criação da BRASKEM, a concentração na petroquímica mundial cresceu, a

concorrência internacional se acirrou e as expectativas de eliminação das limitações

do setor petroquímico no país não haviam ainda se efetivado.

Frustradas essas expectativas e com o novo ambiente político surgido

após a eleição de Lula em 2003, o afastamento da Petrobras dos negócios

petroquímicos começou a ser revisto. Para Guerra (2007), tornou-se praticamente

um consenso entre estudiosos do setor, especialmente nos adeptos de parcerias

entre o estado e a iniciativa privada, que a Petrobras, juntamente com o BNDES,

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109

teriam necessariamente papéis cruciais a cumprir no fortalecimento da petroquímica

brasileira40.

Resta claro que a estatal incorporou esse entendimento e já no primeiro

mandato do Governo Lula o plano estratégico da empresa deu conhecimento ao

público em geral, e a seus acionistas em particular, que a atividade petroquímica

voltaria a fazer parte do foco da empresa. Em linha com o seu plano estratégico, a

Petrobras começou a investir seletivamente no setor petroquímico brasileiro e do

Cone Sul, em projetos que agregam valor ao petróleo, ao gás natural e a correntes

de refino, atuando de forma integrada.

Como já analisado anteriormente, no pólo baiano e no gaúcho a empresa

compartilha seus ativos petroquímicos com a Braskem. No que tange ao pólo

sudeste, a consolidação dos seus ativos teve seguimento quando a Petrobras

adquiriu, em agosto de 2007, o controle da Suzano Petroquímica, dando um passo

decisivo para reunir centrais de matérias-primas e fabricantes de resinas plásticas

na região que é a maior consumidora desses produtos no país.

A aquisição do controle acionário do Grupo Suzano pela Petrobras foi

concluída em 30 de novembro de 2007, data em que a estatal e o Grupo Unipar

anunciaram a criação da QUATTOR, cuja participação é detida 60% pela Unipar e

40% pela Petrobras. O comunicado conjunto divulgado pelas companhias informa

que estas “compartilham da necessidade de se promover a consolidação do setor

petroquímico brasileiro de forma a se ter empresas com maiores escalas, com

tecnologia e gestão capazes de torná-las competitivas em termos mundiais”

(UNIPAR E PETROBRÁS FORMAM NOVA SOCIEDADE PETROQUÍMICA, 2007).

O movimento de constituição da Quattor vem coroar a consecução da

estratégia de consolidação de ativos petroquímicos no Brasil com participação ativa

da Petrobras. Como resultado dos aportes financeiros pela Unipar e pela Petrobras,

foi formada em novembro de 2008 a Quattor Participações S.A. A companhia é a

segunda maior empresa petroquímica da América do Sul.

40 Vale frisar que esse retorno da Petrobras passa necessariamente por uma revisão do papel do

Estado na economia. Na década de 1990, com o ambiente econômico impregnado pelo neoliberalismo e o Consenso de Washington, as privatizações pareciam o caminho mais lógico. Ademais, ressalte-se também o auxílio que esse retorno da estatal fornece na consecução de objetivos macroeconômicos do governo, estando, inclusive, alguns dos investimentos no setor petroquímico inseridos no Programa de Aceleração de Crescimento – PAC.

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A BRASKEM e a Quattor são hoje, portanto, as duas maiores companhias

petroquímicas brasileiras. No que tange ao grupo UNIPAR, sócio da Petrobras na

Quattor, seu portfólio de participações apresenta a seguinte configuração:

Figura 13 - Participações da Unipar em Controladas Fonte: site da Unipar

Enfim, a pouca capacidade revelada pela iniciativa privada em investir na

expansão de um setor primordial para o desenvolvimento do país, aliada a uma

estratégia mais agressiva da Petrobras em diversificar seus investimentos e integrar

suas operações downstream (estratégia amplamente utilizada por suas congêneres

internacionais, conforme analisado no capítulo 3), além de um ambiente institucional

menos hostil à atuação de uma empresa estatal, forneceram plenas condições para

o retorno da Petrobras.

Os investimentos na petroquímica são indelevelmente marcados pelo

risco, em virtude dos significativos volumes de capital requeridos e dos longos

períodos de maturação. O porte financeiro da estatal brasileira de petróleo, bem

como sua capacitação tecnológica, via investimentos em P&D, fazem com que ela

desempenhe um papel preponderante no redesenho e fortalecimento da estrutura da

indústria petroquímica no país.

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111

A estrutura societária atual da petroquímica brasileira, por participação

acionária em percentual do capital votante, bem como a capacidade produtiva dessa

indústria,abrangendo empresas e produtos, ambas com base em 30 de setembro de

2008, contemplando a quase totalidade das operações de integração mencionadas

nos itens anteriores, podem ser vistas nos anexos 5 e 6

5.3 DESAFIOS COMPETITIVOS PARA A PETROQUÍMICA BRASILEIRA

Os movimentos recentes na petroquímica brasileira, com o surgimento da

Braskem, o retorno da Petrobras ao setor e a formação da Quattor, permitem

vislumbrar uma solução para um dos principais problemas da estrutura dessa

indústria no país, que há muito tempo repousa na divergência entre o tamanho das

suas empresas e a norma competitiva internacional.

Nos anos recentes, essa indústria apresentou no Brasil um

comportamento que pode ser classificado, no entender de Furtado (2003), entre

modesto e medíocre. A sua performance esteve aquém das suas possibilidades, em

virtude do setor possuir elevada elasticidade-renda, conquistar mercados de outras

indústrias e capturar consumidores de outros produtos, criando novas utilidades e

barateando as já existentes.

De todo o exposto nos capítulos e seções precedentes, pode-se concluir

que a reestruturação ocorrida (e ainda em curso) no Brasil era imprescindível para

que a petroquímica nacional pudesse ter mínimas chances de competir globalmente.

Restou claro, a partir da análise das driving forces apontadas como

motivadoras dos movimentos de reestruturação da petroquímica global, que esses

movimentos no âmbito nacional foram impulsionados não apenas pelas indigitadas

forças, mas também pela completa impossibilidade da petroquímica brasileira

inserir-se no contexto internacional e até mesmo continuar atendendo

competitivamente o mercado nacional com a estrutura fragmentada e pouco

integrada que lhe era característica. As empresas petroquímicas brasileiras, em

decorrência do modelo tripartite, conviviam com um nó societário que lhes dificultava

as decisões de investimento em aumento da capacidade produtiva e inovação,

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situação que foi ainda mais agravada pela significativa redução da participação da

Petrobras no setor durante o processo de privatização na década de 1990.

Como resultado da reestruturação em curso, o setor, até o final da

realização desta pesquisa, é caracterizado por um duopólio com o suporte da

Petrobras, que tem participação significativa na Braskem e na Quattor. Juntas, elas

dominam o mercado de resinas termoplásticas no país: em polipropileno as duas

detêm 100% da capacidade instalada de produção, enquanto em polietilenos a

participação também é de quase 100%, vez que a Solvay Indupa, uma das três

fabricantes dessa resina no Brasil, juntamente com as duas empresas líderes, tem

capacidade instalada de 82 mil toneladas de PEAD, frente a uma capacidade

instalada total de mais de 3,7 milhões de toneladas, segundo dados da ABIQUIM

(2008, p. 183-187).

A Braskem, atualmente a maior petroquímica da América Latina, a partir

da integração das operações das empresas que hoje a constituem, foi capaz de

obter inúmeras sinergias e economias de custos, via reduções de impostos,

despesas de compras e logísticas, despesas gerais e administrativas e outras

despesas operacionais, como se depreende da figura 14.

Figura 14: Sinergias Obtidas pela Braskem até 2007 e previsão para 2008

Fonte: Braskem (2007)

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Quanto à aliança com a Petrobras, ela possibilita à Braskem o acesso a

matérias-primas competitivas e abre um imenso potencial de sinergias operacionais

com as refinarias da estatal, bem como pode alavancar seus esforços inovativos em

parceria com o Centro de Pesquisas da Petrobras (CENPES). A aliança fortalece,

ainda, o potencial de parcerias em expansões de capacidade de produção de

resinas no Brasil e nas Américas.

No capítulo 3 pontuou-se que para a maioria dos estudiosos da área

petroquímica no mundo, a integração dessa indústria com as companhias de

petróleo parece ser uma tendência irreversível. As empresas de petróleo serão a

força dominante na indústria petroquímica, tendo em vista seu controle sobre as

matérias-primas. Neste contexto, o retorno da Petrobras é extremamente positivo

para a petroquímica brasileira, ao envolver a estatal nos projetos e resultados dessa

indústria, sem eliminar a participação privada.

Diante desse cenário, os desafios competitivos que estão postos para a

indústria petroquímica nacional serão analisados a seguir, tomando-se por base as

driving forces que motivaram os movimentos de reestruturação na indústria

petroquímica mundial, apresentadas no capítulo 3 .

Por uma razão lógico-expositiva, as estratégias empresariais, que no

capítulo 3 foram abordadas por último, serão aqui tratadas em primeiro lugar.

Naquele capítulo deduziu-se que as empresas que atuam na indústria, para formular

suas estratégias, analisam constantemente as driving forces capazes de

desencadear forças significativas de mudança. Não obstante, como abordado

anteriormente, as estratégias possuem certa autonomia em relação à estrutura de

mercado na qual as empresas estão insertas. Elas a um só tempo são influenciadas

pela estrutura e, ao serem implementadas, acabam também por alterar a própria

estrutura. É a via de mão dupla neo-schumpeteriana, entre estrutura e estratégia,

mencionada no capítulo 2. As estratégias se constituem, portanto, em uma força de

mudança endógena. Uma vez que o trabalho não pretende ser prospectivo, mas sim

analisar o momento atual da petroquímica nacional, optou-se por mencionar

inicialmente as estratégias das empresas líderes, que, como se verá, refletem os

desafios competitivos trazidos por cada uma das driving forces que serão analisadas

na sequência.

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5.3.1 Estratégias Empresariais

Neste trabalho serão enfocadas tão somente as estratégias da Braskem e

da Petrobras. As eventuais estratégias da Quattor serão tratadas, quando for

pertinente, no âmbito das estratégias das outras duas companhias. Isto porque, a

recém criada Quattor, o imaginado segundo player nacional com capacidade de

competir globalmente, passa por um momento de extrema incerteza. Não obstante

essa companhia venha dando andamento a suas atividades em todas as suas áreas

de atuação, sua situação atual reflete os efeitos do processo custoso que levou a

sua formação.

De fato, a empresa foi constituída praticamente à época em que se

deflagrou a crise econômica oriunda dos subprime americanos (segundo semestre

de 2008). Existem diversos rumores na imprensa de que a Petrobras estaria

insatisfeita com os rumos da Quattor, tanto em termos societários quanto de

endividamento.

Para seguir uma trajetória de crescimento, será necessário que a Quattor

reduza seu nível de alavancagem. A Unipar encerrou junho de 2009 com uma dívida

consolidada de R$7,4 bilhões, valor que computa o endividamento da Quattor. Essa

dívida representa 15,5 vezes o Ebitda anualizado da Companhia (FONTES, 2009). A

Braskem, por sua vez, ao final do primeiro semestre de 2009, tinha dívida liquida

praticamente análoga, de R$7,3 bilhões; porém, no caso desta empresa, isso

representa tão somente 3,2 vezes sua geração de caixa anual (BRASKEM, 2009a).

As alternativas aventadas para solucionar a questão do endividamento da

Quattor incluem uma aliança com a Braskem, a venda para uma petroquímica

estrangeira ou a abertura do seu capital na Bolsa de Valores de São Paulo

(Bovespa). Em virtude do seu nível de endividamento e da crise econômica, a

Quattor não possui novos projetos de ampliação da capacidade em curso. Quanto a

movimentos no mercado externo, a empresa anunciou recentemente a inauguração

do seu primeiro escritório estrangeiro, em Buenos Aires, que passará a centralizar

as operações comerciais na América Latina (QUATTOR, 2009). Suas iniciativas,

contudo, podem ser consideradas tímidas, quando comparadas com a concorrente

Braskem, certamente em virtude da indefinição quanto aos rumos que irá tomar

daqui para frente.

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5.3.1.1 Estratégias da Braskem

No que tange às estratégias declaradas da Braskem, a empresa, além de

procurar diversificar sua matriz energética, mantém seu foco no aumento da

competitividade por meio de acesso a matérias-primas de qualidade e baixo custo,

busca de matérias-primas renováveis, com a implantação da planta de polímeros

verdes obtidos através do etanol, e em oportunidades de aquisição ou alianças que

proporcionem acesso a grandes mercados consumidores, em consonância com seu

plano de se posicionar entre as 10 maiores petroquímicas globais (BRASKEM,

divulgação de Resultados 3T09).

A empresa permanece firme também em suas intenções de integração

com a Quattor, com vistas à formação de um grande player nacional, mais apto a

competir globalmente. De fato, recentemente foi noticiado que as mencionadas

dificuldades financeiras da Quattor podem culminar em sua fusão com a Braskem, o

que configuraria praticamente um monopólio no setor. Aparentemente, a Petrobras

estaria exercendo pressão sobre o grupo controlador da Quattor para que este

passe a deter uma participação minoritária, em virtude da dificuldade atual para

obtenção de recursos financeiros. Especulou-se que a Petrobras havia tentado atrair

um grupo estrangeiro (o Reliance, maior grupo químico privado da Índia), mas teria

havido resistência por parte dos grupos privados brasileiros, relutantes em facilitar a

entrada da empresa indiana (VALOR, 2009a, p.B1).

Uma outra questão que surge nessa possível aliança entre Quattor e

Braskem seria a ampliação da participação da Petrobras no controle desta última (a

estatal já detém 31% do capital votante). Caso a estatal passasse a assumir o

controle da companhia, críticos da participação do Estado na atividade empresarial

apontariam para uma reestatização dessa indústria, atraindo oposição política. Além

disso, obviamente que a Odebrecht também não deseja perder o controle da

Braskem.

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Por fim, resta saber como o CADE irá se posicionar, caso se concretize a

aliança41. A combinação resultante da fusão das duas empresas iria proporcionar

uma concentração no mercado de resinas que poderá chegar a mais de 80%,

superior aos quase 70% resultantes da fusão que originou a AmBev (VALOR,

2009a). Todos os processos julgados pelo CADE até o momento com relação aos

movimentos concentracionistas na indústria petroquímica brasileira culminaram em

aprovação das integrações, sem restrições às empresas, com base no entendimento

de que o mercado relevante para os produtos petroquímicos é o internacional.

Caso assuma os ativos da Quattor, a Braskem será a segunda maior

petroquímica das Américas, atrás apenas da Dow, com capacidade para produzir

5,506 milhões de toneladas/ano de resinas (gráfico 7).

Gráfico 7 - Capacidade Instalada para produção de resinas termopláticas42(em milhões de toneladas)

Fonte: Portal Exame, 2009

[2] Caso a compra se efetive

41 Alguns outros óbices também podem surgir antes da concretização dessa união. Em outubro de

2009, a Sra. Joanita Soares de Sampaio Geyer, uma das acionistas da Vila Velha S.A. Administração e Participações, holding controladora da Unipar, obteve liminar em Agravo de Instrumento impetrado junto ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, determinando a paralisação de qualquer negociação tendo por objeto imediato ou mediato a transferência total ou parcial da Quattor Petroquímica S/A para a Braskem S.A. A autora pede que a negociação seja acompanhada pela Justiça, alegando que a venda fere seus direitos de acionista e gera monopólio no setor petroquímico (VALOR, 2009b).

42 Polietileno, polipropileno e cloretos de polivinila (PVC)

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117

Em relação aos novos projetos da empresa, em linha com sua estratégia

de expansão internacional, busca de matérias-primas mais competitivas e de

matérias-primas renováveis, destacam-se:

a) Associação com a Pequiven, subsidiária petroquímica da PDVSA, para

a constituição da Polipropileno del Sur (Propilsur) e da Polietilenos de

America (Polimerica), joint venturespara realização de investimentos

no Complexo de Jose, na Venezuela.

A Propilsur será responsável pela unidade de polipropileno do

complexo. O início das operações está previsto para 2013 e o

investimento fixo estimado é de aproximadamente US$ 1,2 bilhão. O

Acordo de Acionistas da Propilsur prevê que a implementação desse

projeto depende de uma decisão final de investimento das partes

envolvidas até janeiro de 2010 (F-20 BRASKEM, 2009).

A Polimérica estará encarregada do projeto integrado para produção de

eteno e de polietilenos. O início das operações está previsto para 2014

e o investimento fixo é de cerca de US$ 3,25 bilhões. O Acordo de

Acionistas da Polimerica prevê que a implementação desse projeto

depende de uma decisão final de investimento das partes envolvidas

até abril de 2011 (F-20 BRASKEM, 2009).

Em ambos os projetos, Braskem e Pequiven deverão aportar, cada

uma, 15% do total como capital e o restante será obtido pelas joint

ventures por meio de empréstimos mediante contratos de project

finance, garantidos por ativos dos projetos, junto a agências

multilaterais de crédito, agências de crédito à exportação, bancos de

fomento (estão sendo analisadas alternativas de financiamento junto ao

BANDES e ao BNDES) e bancos privados, bem como mediante a

emissão de títulos nos mercados de capital da Venezuela e

internacionais (F-20 BRASKEM, 2009, p. 69-70).

b) Negociação com Petrobras e PetroPerú para renovação do acordo

firmado para estudo de projeto petroquímico integrado no Peru, que

representará o maior complexo petroquímico da Costa Oeste das

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Américas. A renovação permitirá aprofundar as avaliações técnicas e

econômicas do projeto, que visa à produção de 600 mil a 1,0 milhão de

toneladas de polietilenos, utilizando como matéria-prima o gás natural

existente naquele país (BRASKEM, 2009a).

c) Implantação da primeira unidade produtiva dos chamados“polímeros

verdes, em Triunfo (RS), com capacidade para a produção de 200 mil

toneladas/ano. A unidade, cujo início das operações está previsto para

2011, deverá tornar a Braskem a primeira empresa do mundo a

produzir “polietileno verde” em escala industrial. A Braskem está em

fase de formalização dos contratos de etanol, que suprirão cerca de

70% do volume necessário para produção a plena carga de eteno

verde no Pólo Petroquímico de Triunfo 43.

d) Expansão em estudo da capacidade produtiva de PVC em 210 mil

toneladas, com início de produção previsto para segundo trimestre de

2012. O investimento fixo situa-se em torno de US$ 500 milhões.

e) Associação com a Idesa no México. Focando em sua estratégia de

expansão na América do Norte, em novembro de 2009 a Braskem e o

grupo mexicano Idesa foram os vencedores do leilão promovido pela

Pemex Gás, empresa estatal do México, para aquisição de gás natural

por vinte anos em condições competitivas. O gás será utilizado como

matéria-prima em um grande empreendimento integrado localizado no

Complexo Petroquímico de Coatzacoalcos, no estado mexicano de

Veracruz.

43 A Odebrecht é sócia da ETH Bioenergia S.A. Com participação acionária de 33% da Sojitz

Corporation, multinacional japonesa especializada na comercialização de commodities, a ETH Bioenergia S.A. produz etanol, energia elétrica e açúcar. Integra as atividades de produção, comercialização e logística, atuando também como trading. Criada em 2007, baseia-se em três pólos produtivos, num total de 520 mil hectares destinados ao cultivo de cana-de-açúcar. Os pólos estão situados nos estados de Goiás (unidade em construção - começará a operar em 2009, com inauguração da primeira etapa prevista para agosto), Mato Grosso do Sul (Unidade Eldorado adquirida em 2008, com capacidade para moagem de 2,1 milhões de toneladas e Unidade Santa Luzia I, em fase de construção, com início de operação previsto para 2009) e São Paulo (Unidade Alcídia, adquirida em 2007, com capacidade para moagem de 1,5 milhão de toneladas e Unidade Conquista do Pontal, em construção, com início previsto para 2009). Os investimentos da empresa somaram R$ 945milhões (ODEBRECHT, 2009).

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O projeto denominado de Etileno XXI prevê um cracker com

capacidade para 1 milhão de toneladas/ano de eteno, integrado a três

unidades de polimerização para produção de 450 mil toneladas/ano de

PEAD, 350 mil toneladas/ano de PEBDL e 200 mil toneladas/ano de

PEBD, visando atender primeiramente o mercado interno mexicano,

hoje importador de polietileno.

A implantação e operação do negócio será feita por uma joint venture a

ser constituída com o controle da Braskem e participação minoritária da

Idesa. A previsão preliminar do investimento é de US$ 2,5 bilhões.

Deste valor, pelo menos setenta por cento devem ser obtidos por meio

de project finance e o restante será financiado por capital próprio. O

início das operações está inicialmente planejado para 2015.

Para Bernardo Gradin (BRASKEM, 2009c), atual presidente da

Braskem, o projeto está em consonância com a estratégia da empresa

de crescimento com diversificação de fontes competitivas de matéria-

prima, criação de valor e internacionalização da companhia, que prevê

a América do Norte como importante plataforma para seu

desenvolvimento. De fato, o México além de oferecer matérias-primas

e um crescimento contínuo do mercado doméstico, possui uma

localização geográfica estratégica, próxima ao Golfo dos Estados

Unidos. O país é signatário do Acordo de Livre Comércio da América

do Norte - Nafta, proporcionando a suas empresas acesso sem

barreiras aos mercados dos Estados Unidos e Canadá.

Os movimentos estratégicos da Braskem, buscando a expansão

internacional, crescimento e consolidação nas Américas, prevêm também a

aquisição de ativos petroquímicos na América do Norte. A empresa pretende

aproveitar as oportunidades abertas pela forte crise econômica internacional do final

de 2008, que fragilizou financeiramente algumas petroquímicas americanas e

acabou por gerar a desvalorização de ativos.

Um dos primeiros alvos era a companhia Nova Chemicals, fabricante de

resinas plásticas com sede no Canadá e algumas fábricas nos Estados Unidos. A

proposta do grupo árabe IPIC – International Petroleum Investment Company,

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controlada pelo governo do Emirado de Abu-Dhabi (integrante dos Emirados Árabes

Unidos), contudo, foi mais agressiva. Em junho de 2009 a Nova Chemicals passou a

ser uma subsidiária integral da IPIC (VALOR, 2009a e NOVA CHEMICALS, 2009)44.

A Braskem continua procurando outros ativos. Recentemente, foi anunciado seu

interesse na LyondellBasell. Uma proposta do grupo Reliance, cujo valor não foi

divulgado, mas o mercado especula estar em torno de US$12milhões, poderá

inviabilizar o negócio (VALOR, 2009c)

Ainda de acordo com informações da companhia, a Braskem está

concentrando seus recursos em projetos prioritários de retorno alto e rápido

payback, visando a manutenção de sua solidez financeira e a disciplina de capital

em um momento de incertezas na economia mundial e início de um ciclo de baixa da

petroquímica (BRASKEM, 2009a).

Quanto à atuação internacional da Braskem, ela possui , atualmente,

escritórios comerciais na Argentina, nos Estados Unidos, no Chile e na Holanda. Em

2008, exportou produtos petroquímicos para clientes de mais de 60 países45.

Figura 15 - Clientes da Braskem em 2008, por Distribuição Geográfica Fonte: ODEBRECHT, 2009

44 Para a C&EN (2009, p. 14), o baixo preço pelo qual a Nova Chemicals foi adquirida pela IPIC

(US$2,3 bilhões), considerando-se o valor estratégico do complexo Petroquímico da Nova Chemicals em Alberta (Canadá), poderia ser explicado pelo excesso de oferta agravado pela crise econômica do final de 2008.

45 África do Sul, Alemanha, Angola, Arábia Saudita, Argélia, Argentina, Bélgica, Benin, Bolívia, Camarões, Canadá, Chile, China, Colômbia, Congo-Brazzaville, Costa do Marfim, Egito, Emirados Árabes Unidos, Equador, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Etiópia, Filipinas, França, Gana, Guadalupe, Guiné, Holanda, Honduras, Índia, Indonésia, Itália, Japão, Lituânia, Malásia, Mali, Mauritânia, México, Nigéria, Nova Zelândia, Paquistão, Paraguai, Peru, Portugal, Quênia, Reino Unido, República Democrática do Congo, Rússia, Senegal, Síria, Sudão, Suécia, Taiwan, Tanzânia, Togo, Tunísia, Turquia, Uruguai e Venezuela (ODEBRECHT, 2008).

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Enfim, as estratégias da companhia visam:

a) Reforçar sua posição atual, aumentando e protegendo seus principais

negócios na América Latina, via excelência operacional e comercial,

maior relacionamento com a Petrobras, integração virtual da cadeia de

valor (refinarias e matéria-prima; logística e serviços; inovação e

tecnologia), valorização da cadeia de aromáticos e co-produtos dos

crackers e liderança regional;

b) Crescimento com criação de valor, que seria assegurado pelo

fornecimento competitivo de matéria-prima e energia, via crackers de

gás na América Latina e etanol de cana-de-açúcar brasileiro, e

expansão do acesso a mercados atrativos, via polietileno verde e

renováveis, fusões e aquisições e alianças globais (BRASKEM, 2009b).

As estratégias da Braskem seguem, portanto, aquelas das empresas

lideres da petroquímica mundial, buscando assegurar sua presença em mercados

dinâmicos e ter acesso a matérias-primas baratas e abundantes. No que tange à

diferenciação de produtos, a empresa vem procurando desenvolver novas

tecnologias, o que será abordado com mais detalhes quando da análise da driving

force específica.

5.3.1.2 Estratégias da Petrobrás

O realinhamento do portfólio da Petrobras nas empresas do segmento

petroquímico prevê investimentos vigorosos para os próximos anos.Suas decisões

de investimento, de acordo com os diversos planos estratégicos dos últimos anos,

são guiadas pela necessidade de assegurar uma proteção natural entre os ciclos da

petroquímica e do refino, diversificar produtos de maior valor agregado, manter

flexibilidade e acesso a matérias-primas competitivas, garantir liderança em custos e

promover o incremento da competitividade, integrando empresas e aumentando

escala, com ganho de sinergias, além de ampliar a capacidade dos grupos nacionais

de captar recursos e realizar investimentos (PETROBRAS, 2009a).

É interessante notar que a cada novo plano de negócios da estatal,

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aumenta o valor dos investimentos previstos para o setor petroquímico. No plano

definido em 2004, denominado Plano Estratégico 2015, o valor dos investimentos

para a petroquímica era de U$1,1 bilhões, passando a ser, no Plano 2007-2011, de

U$3,3 bilhões e atingindo U$4,3 bilhões no plano estratégico 2008-2012 (o que

representava 4% dos investimentos totais previstos). No último plano estratégico

divulgado, para o período de 2009-2013, os investimentos para a petroquímica

situam-se no patamar de U$5,6 bilhões de dólares, representando um total de 3% do

total das inversões planejadas, como se observa no gráfico 8.

Gráfico 8 - Investimentos da Petrobras Previstos para o Período 2009-2013

Fonte: Petrobras, 2009a

Quanto aos investimentos relevantes da estatal na indústria em estudo

que já se encontram em fase de implantação, destacam-se os abaixo listados:

a) Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro - COMPERJ

O COMPERJ, cuja construção está avaliada em US$8,4 bilhões, é o

maior empreendimento individual da história da Petrobras.? Localizado no município

de Itaboraí, região metropolitana da cidade do Rio de Janeiro, o complexo é um dos

principais projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).Suas obras

foram iniciadas em 31 de março de 2008 e a previsão é de que a primeira geração

entre em operação em 2013.

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O empreendimento terá capacidade para processar 150 mil barris por dia

de petróleo pesado46, proveniente da Bacia de Campos (óleo de Marlim).Em uma

mesma planta industrial estão previstas uma unidade de refino e de primeira

geração, com capacidade de produção em toneladas anuais de: 1,3 milhão de

eteno, 880 mil de propeno, 600 mil de benzeno, 157 mil de butadieno e 700 mil de

paraxileno. Secundariamente, a unidade de petroquímicos básicos produzirá coque,

enxofre, nafta pesada e benzeno,dentre outros insumos petroquímicos, além de óleo

diesel.

As unidades de segunda geração estarão aptas a produzir, em toneladas

por ano: 500 mil de estireno, 600 mil de etileno-glicol, 800 mil de polietilenos, 850 mil

de polipropileno, 500 mil de PTA e 600 mil de PET.Haverá ainda uma Central de

Utilidades, responsável pelo fornecimento de água, vapor e energia elétrica

necessários para a operação de todo o Complexo (COMPERJ, 2009).

A idéia é que o COMPERJ atraia também unidades de terceira geração,

que poderão se instalar nos municípios vizinhos e ao longo do Arco Metropolitano,

que ligará Itaboraí ao Porto de Itaguaí (situado a 103 Km).

Em fevereiro de 2009, a PETROBRAS comunicou que, em

prosseguimento à implementação do COMPERJ, constituiu seis subsidiárias

integrais, contempladas pela figura 16 abaixo.

46 O petróleo pesado difere do leve pelo tamanho das moléculas. Os mais leves são formados por

cadeias de carbono pequenas, com cerca de 10 átomos, enquanto os pesados têm moléculas enormes, com mais de 70 átomos, aumentando o custo de produção de gasolina e nafta. A escala usada para indicar a densidade do óleo é denominada de grau API (sigla em inglês para Instituto Americano do Petróleo), dado pela fórmula: API=(145,5/densidade específica) – 131,5. Quanto mais leve for o óleo, mais graus API ele terá. Os pesados, ficam entre 10º APIs e 21º APIs. Os que têm entre 21o e 30º API são intermediários e os mais nobres partem deste ponto e chegam a 50º APIs. Teoricamente, as refinarias da Petrobras têm capacidade para processar todo o petróleo utilizado nacionalmente. No entanto, nem todo o óleo extraído do solo brasileiro pode ser transformado em derivados, já que o parque de refino do País, erguido a partir da década de 1970, foi concebido para processar o petróleo leve, que à época da construção das refinarias, era largamente importado do Oriente Médio. Nesse contexto, o país ainda gasta bilhões de dólares em importação de petróleo leve e derivados, mesmo tendo alcançado a auto-suficiência produtiva. A Petrobras vende o excedente de óleo pesado no mercado externo, mas a preços bem inferiores aos valores gastos com o produto importado, pelas razões expostas (PETROBRAS, 2009).

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Figura 16 - Sociedades Componentes do COMPERJ

Fonte: Petrobras, 2009c

Com a criação dessas seis empresas, a Petrobras estruturou

juridicamente o pólo. A Comperj Participações é uma holding que controlará as cinco

demais empresas responsáveis pelo refino e produção dos petroquímicos de

primeira e segunda geração. Em um primeiro momento, a Petrobras deterá 100%

(cem por cento) do capital total e votante dessas companhias, mas a intenção é

atrair sócios privados para o empreendimento.

A implantação do COMPERJ é de significativa importância, pois será o

primeiro complexo petroquímico do país a processar petróleo pesado, utilizando-se

de tecnologia desenvolvida pelo CENPES, agregando valor ao óleo bruto produzido

no Brasil. Nesse contexto, o complexo não só irá aumentar a produção de

petroquímicos básicos, atendendo à crescente demanda doméstica por produtos

petroquímicos (como será visto com mais detalhes no item 5.3.4 a seguir), como

também economizará divisas para o Brasil e aumentará a competitividade dos

produtos petroquímicos, já que usará petróleo pesado,reduzindo custos de produção

com a importação de derivados, como a nafta.

b) Complexo Petroquímico de Suape

Foi constituída em 2006,a Companhia Petroquímica de Pernambuco –

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Petroquímica Suape47, empreendimento liderado pela Petroquisa, com vistas a

implementar o Complexo Petroquímico de Suape que reúne três unidades industriais

integradas: uma para produção de 550 mil toneladas ano de ácido tereftálico

(PTA)48,outra unidade para produzir polímeros e filamentos de poliéster (antiga

CITEPE), com capacidade de produção de 240 mil toneladas anuais, e uma terceira

que fabricará resina para embalagens PET, com capacidade de produção de 450 mil

toneladas por ano.O início das operações está previsto para o segundo semestre de

2010.

Os diferenciais competitivos apontados pela companhia são a opção por

tecnologias de última geração, a escala de produção no nível das maiores indústrias

em funcionamento no mundo e a integração das unidades industriais. Ao entrar em

operação, a Petroquímica Suape estará estruturando o mais importante pólo

integrado de poliéster da América Latina no Complexo Industrial Portuário de Suape,

em Ipojuca, Pernambuco. Esse complexo faz parte da carteira de projetos

estratégicos da Petrobras e está incluído no PAC – Programa de Aceleração do

Crescimento do Governo Federal (PETROQUÍMICA SUAPE, 2009).

A integração da cadeia nacional de poliéster será totalmente consolidada

com o fornecimento do paraxileno (principal insumo para a produção do PTA) pelo

COMPERJ, a partir de 2014.

Em resumo, suas decisões de investimento na indústria em estudo visam

basicamente assegurar um hedge natural entre os ciclos da petroquímica e do

refino, diversificar produtos de maior valor agregado, manter flexibilidade e acesso a

matérias-primas competitivas, garantir liderança em custos e aumentar a

competitividade do setor (PETROBRAS, 2009a).

Sua estratégia focada na adição de valor ao óleo doméstico tem como

premissas: a) a expansão da capacidade de refino no Brasil e no exterior; b) a

melhora das margens, incrementando a complexidade do mix de produtos; c) o uso

47 O projeto tinha a participação do grupo Vicunha. Em 2008, contudo, a Petroquisa adquiriu a

totalidade das ações detidas pela CITENE (holding controlada pela Vicunha) no capital social da Petroquímica Suape e da CITEPE. Como resultado, a Petroquisa passou a ser detentora de 100% do capital social total dessas duas empresas, até a eventual entrada de um novo sócio (CADE, 2009: Ato de Concentração no 08012.009807/2008-46). Recentemente noticiou-se o interesse da Reliance indiana em associar-se com a Petroquisa no projeto, mas não existem, até o momento, dados concretos disponíveis.

48 Matéria-prima básica para a produção de embalagens PET e fios de poliéster para a indústria têxtil.

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de parceiros comerciais e logísticos, visando ampliar sua presença nos mercados-

alvo; d) o aumento da produção de petroquímicos básicos, capturando sinergias no

Sistema Petrobras; e e) a otimizaçãoda qualidade para tornar a empresa a marca

preferida de combustíveis dos consumidores no Brasil e no exterior (PETROBRAS,

2009a).

5.3.2 Condições de Oferta

5.3.2.1 Acesso a matérias-primas

Durante todo o trabalho foi bastante pontuado o quão crucial é o acesso a

matérias-primas (nafta e gás natural) para a competitividade na petroquímica e as

evidências de que grande parte dos movimentos de integração e desintegração

vertical são motivados por sua disponibilidade ou a falta desta.

A título ilustrativo da importância do acesso à matéria-prima para os

custos petroquímicos, apresenta-se a comparação dos custos de produção de eteno

dos fabricantes localizados no Estados Unidos e na Europa com os produtores do

Oriente Médio. O gráfico foi montado com vistas à comparação dos custos fixos e

variáveis (sendo que destes, a matéria-prima representa 90%) entre unidades no

Oriente Médio, EUA e Europa. Como pode se deduzir do gráfico, a vantagem de

custo na produção de eteno no Oriente Médio alcança praticamente U$700 por

tonelada em relação aos demais produtores contemplados (ABIQUIM, 2007).

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127

s

Gráfico 9 - Custo da Produção de Eteno em Regiões Selecionadas

Fonte: ABIQUIM, 2007

Nota: A projeção tem como base uma estimativa de petróleo ao redor de US$75/barril

No Brasil, a maior parte do parque petroquímico em operação está

baseado em nafta , um derivado do petróleo obtido por meio de processo de

destilação direta. Ela pode ser classificada como parafínica ou naftênica, a depender

do petróleo do qual foi extraída. A nafta parafínica é mais adequada à produção de

olefinas, enquanto a naftênica se presta mais à produção de aromáticos e gasolina.

Como o óleo nacional é, essencialmente, pesado, seu rendimento em nafta é menor

(Tabela 11) .

Tabela 11: Nafta – Rendimentos e Parafinidades

Rendimento em nafta Parafinicidade Petróleos/Condensados

% Volume % Massa Petróleo Nacional – Pesado 9,5% 55,0% Petróleo Importado - Leve 23,7% 65,0% Condensado – Leve 50,0% 70,0%

Fonte: Abiquim, 2007, p. 47

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A maior parte da nafta disponível no mercado internacional se encontra

no Oriente Médio, cuja oferta deverá aumentar ainda mais, dada à ampliação da

produção de petróleo na região. Como sua petroquímica é baseada em GLP ou

etano, quase toda a produção de nafta é exportada.

Na América do Sul, a Venezuela e a Argentina destacam-se como

exportadoras, enquanto o Brasil, que é o maior consumidor dentre os países latino-

americanos, possui uma matriz energética que exporta gasolina e importa nafta. De

fato, o mercado de combustíveis constitui-se no maior concorrente da petroquímica

no que se refere à utilização da nafta (ABIQUIM, 2007).

Antes da promulgação da Emenda Constitucional no 09/1995, a nafta era

fornecida exclusivamente pela Petrobras. Isso porque a Constituição Federal de

1988 estabelecia o monopólio da União, exercido por intermédio dessa estatal,

sobre a pesquisa, exploração, produção, refino, importação e transporte de petróleo

bruto e produtos de petróleo refinado (com exclusão de produtos petroquímicos) no

país.

Com a Emenda no 09/1995, regulada pela Lei no 9.478/97, criou-se a

possibilidade da União contratar empresas públicas ou privadas para a realização

das atividades mencionadas no parágrafo anterior, extinguindo-se o monopólio da

Petrobras. A extinção do monopólio permitiu também a importação de nafta

diretamente pelas Centrais de matérias-primas.

Em 2000, foi interrompido o subsídio à nafta recebida da Petrobras.

Tendo em vista que, em média, 83% dos custos variáveis da indústria provêm da

matéria-prima, este fato, previsivelmente, teve impacto fortemente negativo na

competitividade das empresas nacionais, principalmente das de 2a geração, mais

suscetíveis à concorrência de produtos similares importados.

A Petrobras é atualmente a única fornecedora brasileira de nafta,

produzindo a maior parte do que vende às centrais petroquímicas e importando o

restante. Em 2008, a nafta respondeu, direta e indiretamente, por aproximadamente

80,2% dos custos consolidados de vendas e serviços prestados da Braskem (F-20

BRASKEM, 2009, p.17). A tabela a seguir demonstra a distribuição das compras de

nafta pelas unidades de insumos básicos dessa empresa nos períodos indicados.

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Tabela 12 - Distribuição de Compras de Nafta pela Braskem 2006-2008 (Exercícios findos em 31 de dezembro)

2008 2007(1) 2006 (milhares de

toneladas) (%)

(milhares de toneladas)

(%) (milhares de toneladas)

(%)

Petrobras 4.726 62,8 5.012 56,6 3.123 74,9 SONATRACH 1.196 15,6 2.195 24,8 1.045 25,1 Ryttsa 861 11,2 951 10,7 - - Outros 870 11,4 701 7,9 - - Total 7.654 100 8.859 100 4.168 100 Fonte: 20-F Braskem (2009) (1) Inclui a Copesul a partir de 1o de abril de 2007

Em face das limitações de oferta de nafta, a Braskem tem procurado

consumir alternativamente outras frações de petróleo, como o condensado, cuja

disponibilidade vem crescendo, destacadamente no Oriente Médio e na África. No

entanto, como o Brasil não produz quantidade significativa de condensado, ele

deverá ser mais uma alternativa de matéria-prima importada para o país (GOMES et

alli, 2005).

O gráfico 10 apresenta a produção da Petrobras segregada entre os óleos

leve, médio e pesado para os anos de 2008 e a previsão para os anos de 2009 a

2020, incluindo o pré-sal. Constata-se facilmente que os óleos médio e pesado são

preponderantes na produção atual e futura, reforçando a necessidade de refinarias

para processá-los, vez que a maior parte das unidades de refino em funcionamento

no país foi projetada para o processamento de petróleo leve.

Gráfico 10 - Produção Total da Petrobras (atual e estimada) em mil barris por dia

Fonte: Petrobras, 2009a

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De fato, a Petrobras destaca em seu plano de negócios 2009-2013

(2009a) que a expectativa de crescimento da sua curva de produção faz com que

seja imprescindível a ampliação da capacidade de refino, com vistas a garantir a

integração das suas atividades. Nos últimos 25 anos os investimentos nessa área

foram muitos limitados o que, aliado à demanda crescente no mercado doméstico,

aponta para a premência de novas inversões.

Atualmente, não obstante a estatal obter um superávit em volumes de

petróleo e derivados comercializados com o exterior, conforme gráficos 11 e 12, ela

continua a apresentar um déficit na balança comercial, uma vez que o óleo pesado é

mais barato do que o óleo leve. Seus investimentos, portanto, estão focados na

redução da necessidade de importação de óleo e de aumento das exportações de

derivados (PETROBRAS, 2009a).

Gráfico 11: Exportações de petróleo (mil barris por dia)

Fonte: Petrobras, 2009a

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Gráfico 12 - Importações de petróleo (mil barris por dia) Fonte: Petrobras, 2009a

Neste contexto, a contribuição do COMPERJ para a cadeia de valor da

Petrobras e para a produção de petroquímicos no país será extremamente

importante. O complexo irá concorrer para a expansão da produção doméstica de

petroquímicos, com a utilização do óleo de Marlim (pesado) como matéria-prima, e

para a melhora da balança comercial de petróleo, derivados e petroquímicos.

De acordo com o último estudo do CMAI relativo às indústrias de etileno e

propileno, denominado 2010 World Light Olefins Analysis, abrangendo o período de

2004 a 2014, a produção de propileno a partir de fontes tradicionais, tais como o

craqueamento a vapor (steam cracker) ou unidades de FCC49 associadas a

refinarias tendem a decrescer, encorajando o investimento em outras fontes. A

produção a partir de unidades de craqueamento a vapor será limitada em virtude: (1)

da maior parte das adições de capacidade no Oriente Médio serem baseadas em

49 O Craqueamento a Vapor (Steam Cracker) e o Craqueamento Catalítico Fluido (FCC) são hoje os dois principais processos de produção de olefinas

leves. A tradicional integração refino-petroquímica é baseada nos processos de FCC, que representam a segunda maior fonte de suprimento de propeno

para aplicações petroquímicas. Não obstante a função principal da unidade de FCC ser a produção de gasolina, uma quantidade significativa de propeno

é obtida como subproduto. No Brasil, as unidades de FCC produzem cerca de 30% do propeno consumido no país, e o aumento desse percentual está

diretamente relacionado às mudanças nas condições operacionais do processo, como temperatura de reação e a utilização de novos sistemas catalíticos. Concebido inicialmente para produção de gasolina, as unidades de FCC estão migrando atualmente para a produção de petroquímicos básicos, de modo

a atender a esse crescente mercado. O craqueamento catalítico é um processo de refino que visa aumentar a produção de gasolina, GLP e olefinas de

uma refinaria, através da conversão de cortes pesados provenientes da destilação do petróleo (gasóleo e resíduos), em frações mais leves. Por ser um

processo de elevada rentabilidade econômica, uma vez que converte frações residuais de baixo valor comercial em derivados de alto valor agregado, o

FCC tornou-se uma unidade fundamental nas refinarias atuais, em especial em virtude do aumento da produção de petróleos pesados no mundo. Através

de mudanças nas condições operacionais ou no sistema catalítico do processo é possível orientar a produção para um determinado derivado A grande

flexibilidade operacional na conversão de frações pesadas em produtos de maior valor agregado permite direcionar o perfil de rendimentos da unidade

para uma maior adequação à demanda, levando a uma lucratividade maior para o refinador. (MOREIRA ET ALLI, 2007).

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132

etano, rendendo menos propileno e; (2) da persistência das vantagens de custo para

NGLs (líquidos de gás natural), que irão encorajar unidades flexíveis a processar

preferencialmente matérias-primas mais leves. Adicionalmente, é esperado que a

produção futura de propileno baseada em FCC desacelere significativamente, em

especial em resposta às alterações nas regulações/especificações da gasolina

automotiva nos Estados Unidos, que responde por aproximadamente um terço da

produção mundial de propileno a partir de FCC.

Os investimentos em outras fontes de propileno serão baseados

predominantemente nas tecnologias estabelecidas de metátese50 e desidrogenação

de propano. No entanto, investimentos significativos em novas tecnologias

direcionadas especificamente para a produção desse polímero, tais como o Deep

Catalytic Cracking (DCC), estão tendo lugar (CMAI, 2009). A SINOPEC chinesa

desenvolveu e comercializa duas tecnologias de FCC petroquímico: o DCC e o CPP

(Catalytic Pyrolysis Process). O DCC apresenta um rendimento de propeno acima

do FCC normal, além de produzir uma nafta rica em compostos aromáticos. Na

China já existem seis unidades DCC em operação e uma outra unidade foi

construída pela Thai Petrochemical na Tailândia (ABIQUIM, 2007).

No que tange ao Brasil, a Petrobras tem uma posição de destaque com

relação a essas novas tecnologias, possuindo longa experiência com o processo

FCC. Ela é detentora da propriedade de tecnologia de craqueamento catalítico fluído

de resíduos pesados, denominado RFCC, com três plantas comerciais em operação.

A estatal também é co-proprietária de uma fábrica de catalisadores FCC no Rio de

Janeiro (Fábrica Carioca de Catalisadores, cujo capital é formado 50% pela

Petrobras e 50% pela Albemarle). Deve-se destacar o papel do CENPES, que

desenvolveu tecnologia própria de FCC Petroquímico, voltada para processamento

de correntes naftênico-aromáticas geradas por petróleos nacionais. Estas correntes

apresentam maior dificuldade de processamento vis-à-vis as correntes parafínicas

50 Na química, o termo metátese descreve a troca de ligações covalentes entre dois alcenos (ou

olefinas) ou entre um alceno e um alcino. Na química de olefinas, ela se refere a uma redistribuição do esqueleto carbônico, no qual ligações duplas carbono-carbono são rearranjadas na presença de um complexo metal-carbeno, representando um método catalítico de quebra e de formação de ligações múltiplas carbono-carbono. Esta reação é conhecida na petroquímica e na química dos polímeros há mais de 40 anos, mas só na década de noventa, com o advento de novos e eficientes catalisadores, desenvolvidos principalmente pelos grupos de pesquisa de Schrock e Grubbs, ela emergiu como uma potente ferramenta na química orgânica acadêmica (FREDERICO ET ALLI, 2005).

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133

(ABIQUIM, 2007).

Esse conhecimento tecnológico será utilizado no COMPERJ, primeiro no

mundo a fazer uso de petróleo pesado como matéria-prima para produção de

petroquímicos. Ele traz como inovação a maximização de olefinas leves pela

utilização de dois processos complementares: a tecnologia tradicional de pirólise a

vapor processará as correntes mais leves, maximizando eteno; e o FCC

Petroquímico será utilizado para as correntes mais pesadas, produzindo

basicamente propeno. Tais processos são imprescindíveis para garantir a viabilidade

econômica do complexo, além de assegurar um equilíbrio entre as produções de

eteno e propeno (ABIQUIM, 2007).

Adicionalmente, a primeira comercialização da tecnologia metanol-para-

olefinas (MTO) é iminente.Três plantas deverão entrar em operação em 2010 na

China, todas baseadas em carvão. Detalhes adicionais dos projetos Carvão para

Olefinas estão disponíveis no estudo China Coal Chemical Industry Analysis study

realizado pelo CMAI (CMAI, 2009).

Pode-se concluir, portanto, que a competitividade da petroquímica

nacional no que se refere às matérias-primas é um dos grandes desafios para essa

indústria. Estudo realizado pela Abiquim para o período de 2008 a 2020 concluiu que

a disponibilidade de matérias-primas petroquímicas no Brasil será limitada. Para

nafta, o estudo previa o crescimento da oferta, via acréscimos na capacidade de

refino, mas insuficientes para atender a demanda petroquímica. Há que se ponderar

que o estudo ainda não contava com a possibilidade de uma significativa oferta

adicional advinda das recentes descobertas no pré-sal, que comportam também a

extração de óleo leve 51 (ABIQUIM, 2007).

Neste contexto, as expansões de produção petroquímica deverão se

apoiar em fontes diversificadas. O gás natural e o de refinaria podem contribuir

significativamente para o suprimento futuro de eteno, ainda que não sejam previstas

novas instalações de grande porte deste petroquímico baseadas em gás.

As frações pesadas de óleo, tendo em vista a incorporação de novas

51 O relatório World Energy Outlook 2009, da Agencia Internacional de Energia (AIE), divulgado em

10.11.2009, afirma que, devido às descobertas das novas reservas de petróleo da camada pré-sal, o Brasil passará a ser o sexto maior produtor mundial de petróleo em 2030, atrás apenas da Arábia Saudita, Rússia, Iraque, Irã e Canadá (FOLHA ONLINE, 2009).

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134

tecnologias, como as mencionadas nos parágrafos anteriores, constituem-se em um

outro vetor importante dentre as fontes alternativas de matérias-primas. A integração

refino petroquímica apoiada nessas tecnologias é uma alternativa viável e

competitiva para atender o crescente mercado brasileiro de petroquímicos,

sobretudo com a baixa disponibilidade de nafta.

Quanto ao aproveitamento de matérias-primas advindas de fontes

renováveis, o maior exemplo até o momento é a utilização do etanol. Sua aplicação

primordial, no entanto, ainda continua a ser a de combustível veicular.Além do

álcool, outros insumos renováveis incluem o processo de gaseificação da biomassa

(para o qual pode se fazer uso de lenha, produtos da cana, resíduos agropecuários,

florestais, industriais, etc.), gerando gás de síntese para a fabricação de

intermediários petroquímicos, bem como a glicerina, subproduto do biodiesel52. O

desenvolvimento do programa de biodiesel pode aumentar a oferta de glicerina,

viabilizando a produção de ácido acrílico, etilenoglicol/matanol, derivados acetilados,

plastificantes para PVC, dentre outros (ABIQUIM, 2007).

A Braskem segue utilizando predominantemente nafta nas suas centrais

no Brasil, ainda que elas possuam certa flexibilidade para usar outras matérias-

primas, mas já diversificou para o gás no projeto de Paulínia. Na Venezuela, no Peru

e no México também será utilizado o gás natural. Caso venha a ser parceira da

Petrobras no COMPERJ, trabalhará com frações pesadas. Além disso, a mais nova

aposta da companhia é o etanol, que será utilizado para a fabricação do polietileno

verde.

De fato, muito produtos petroquímicos hoje obtidos a partir de derivados

de petróleo podem ser produzidos com a utilização do etanol, em especial o eteno, o

butadieno e outros compostos oxigenados. Estudo da Abiquim (ABIQUIM, 2007)

aponta que a tecnologia brasileira para a produção do etanol é superior àquela de

outros países que também o obtém a partir da cana-de-açúcar, como por exemplo a

Austrália. Nas décadas de 1970 e 1980 diversas tecnologias foram desenvolvidas

52 A Abiquim menciona, também, a possibilidade de uso do amido como matéria-prima para a

produção de resinas termoplásticas (ABIQUIM, 2007, p. 57).

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135

para a produção de químicos a partir desse álcool, destacando-se as da Petrobras e

de órgãos de pesquisa governamentais como o CNPQ e o FINEP.53

Para que essa fonte de matéria-prima se torne ainda mais competitiva

faz-se necessário maior investimento em pesquisas com vistas a desenvolver novas

tecnologias que reduzam o custo da produção do álcool (ABIQUIM, 2007).

Por fim, vale reafirmar que todas essas considerações podem se alterar,

caso se confirmem as grandes reservas do pré-sal, com a presença não desprezível

de frações leves de óleo.

5.3.2.2 Crescimento da Oferta

Como visto no capítulo 3, grande parte dos projetos de aumento da

capacidade produtiva mundial de etileno, de polietilenos e de polipropileno vem

sendo desenvolvida no Oriente Médio e na Ásia. O movimento segue a lógica da

proximidade de fontes de matérias-primas baratas e de mercados consumidores

dinâmicos. No caso da vantagem de custo do etano e propano obtidos do gás

natural no Oriente Médio, ela é majorada, considerando-se as dificuldades de

transporte e comercialização destes insumos no mercado internacional.

Novos projetos baseados em nafta também vêm sendo implantados

naquela região. No entanto, com relação aos derivados de frações líquidas, v.g. os

aromáticos, em especial o ácido tereftálicio (PTA), utilizado para fabricação de PET

e de fios e fibras de poliéster, a vantagem competitiva diminui, pela maior facilidade

de comercialização no mercado internacional das matérias-primas líquidas derivadas

do petróleo. Isso significa dizer que mesmo para os projetos localizados nos países

com maior produção de petróleo, o custo de oportunidade será sempre o preço no

mercado internacional (ABIQUIM, 2007).

53 Para maiores informações acerca da viabilidade econômica das Rotas Alcoolquímicas versus

Petroquímicas, vide ABIQUIM, 2007, p. 62-65.

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136

A tabela abaixo, elaborada pela Abiquim com dados da consultoria CMAI

(Chemical Market Associates, Inc), contempla a previsão das adições de capacidade

de eteno por país até 2011.

Tabela 13 - Eteno – Adição de Capacidade por País (1.000 toneladas/ano)

Previsto País

Estimado

2007 2008 2009 2010 2011

Total 2007-2011

% sobre total

Arábia Saudita

Brasil

China

Cingapura

Coréia do Sul

Emirados Árabes Índia

Irã

Kuwait

Países Baixos

Qatar

Tailândia

Taiwan Outros

375

-

1.168

56

616

- 70

1.575

-

60

100

99

700 628

1.625

100

279

-

371

- 150

1.600

425

-

95

81

500 418

3.926

100

2.501

400

146

- 200

500

425

-

975

300

- (28)

1.033

-

3.269

400

-

1.050 600

795

-

-

325

1.200

- 68

1.150

-

1.930

1.000

-

350 110

964

-

-

-

450

- 90

8.109

200

9.147

1.856

1.133

1.400 1.130

5.434

850

60

1.495

2.130

1.200 1.176

23%

1%

26%

5%

3%

4% 3%

15%

2%

0%

4%

6%

3% 3%

Total 5.447 5.644 9.445 8.740 6.044 35.320 - Fonte: ABIQUIM, 2007

Deve-se notar que quase a metade dos projetos situa-se no Oriente

Médio, destacando-se também as previsões de expansão para a China, com o

significativo percentual de 26%. Estes novos projetos no Oriente Médio e Ásia

devem causar uma mudança nos atuais padrões de comércio mundial de polietileno

e polipropileno e provocar um aumento substancial dos fluxos de comércio.

Os investimentos continuarão a mover-se para as áreas que oferecem

custos atrativos de matérias-primas, como os países do Oriente Médio, ou

crescimento rápido da demanda, como a China. Nas regiões mais maduras, como

Europa, Japão e América do Norte, o crescimento mais lento da demanda de etileno

e um mercado internacional mais competitivo acabarão por limitar o investimento em

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capacidades adicionais. Nestes locais, um foco maior na eficiência de custo pode

resultar em aperfeiçoamento no uso da energia, maior flexibilidade de matérias-

primas e modernização das plantas (CMAI, 2009).

Nos Estados Unidos, cuja matriz petroquímica é baseada em gás, os

produtores vêm suportando aumentos nos custos deste insumo, em virtude do seu

deslocamento cada vez mais significativo para a geração de energia termelétrica

(ABIQUIM 2007, p. 4). A tendência que se pode visualizar para os países

desenvolvidos é a de concentração crescente na produção de produtos de maior

valor agregado, aumentando as importações das commodities petroquímicas de

países detentores de vantagens competitivas de custo, em virtude da disponibilidade

de matérias-primas.

A Abiquim (2007), utilizando-se de estudo do CMAI, afirma que os

Estados Unidos passarão de exportadores a importadores de polietileno e

polipropileno. O Oriente Médio se tornará o principal exportador, enquanto a China

continuará sendo a maior compradora, seguida pela Índia.

A entrada em operação de novas capacidades na Ásia e no Oriente

Médio a custos mais competitivos poderá pressionar o preço dos produtos

petroquímicos mais commoditizados. O crescimento da Braskem estará vinculado,

portanto, a sua capacidade para escoar, de forma competitiva, sua oferta no

mercado nacional e nos mercados americanos. Para tanto, torna-se necessário um

adequado gerenciamento dos custos de transporte, busca por fontes baratas de

matérias-primas e articulação com o governo para garantir proteção tarifária frente a

importações predatórias, em um cenário de super oferta no mercado internacional.

Neste contexto, o projeto da Braskem em associação com a Pequiven na

Venezuela, cuja produção será destinada a atender primeiramente o mercado

venezuelano de resinas, assim como os projetos no Peru e, em especial, no México,

podem fornecer uma base competitiva para a empresa exportar seus produtos para

os países da América do Norte e costa oeste da América do Sul.

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138

5.3.2.3 Mudanças Tecnológicas

A petroquímica nacional, com a consolidação ocorrida, obteve maior

capacidade para investir em desenvolvimentos tecnológicos, buscando acompanhar

as principais tendências destacadas no capítulo 3, quando esta driving force foi

analisada.

Como visto no item relativo às matérias-primas, a Petrobras vem

investindo no desenvolvimento de tecnologias de craqueamento do petróleo pesado,

que serão utilizadas no COMPERJ. A participação da Petrobras na petroquímica

pode também melhorar o desempenho tecnológico desta indústria no país, tendo em

vista a expertise desenvolvida pela estatal em P&D.

A Braskem, por sua vez, tem buscado ampliar seus mercados e fidelizar

clientes por meio do desenvolvimento de novas resinas e usos alternativos para o

plástico. Como apontado no capítulo 4, a empresa vem investindo uma média de R$

50 milhões por ano em P&D, que lhe renderam 219 patentes depositadas no Brasil,

nos Estados Unidos e na Europa.

De acordo com a Braskem, seu Centro de Tecnologia e Inovação é o

mais moderno e bem equipado do setor na América Latina, voltado para o

desenvolvimento de produtos, processos e aplicações em parceria com clientes, não

só os da terceira geração - os transformadores de plástico - mas também os

fabricantes de equipamentos. Realiza, ainda, parcerias com universidades e demais

instituições de pesquisa, do Brasil e do exterior, com o objetivo de acelerar novos

desenvolvimentos (BRASKEM, 2009d).

A maior unidade de Inovação da Braskem está localizada no pólo de

Triunfo, no Rio Grande do Sul e é direcionada para os negócios de Poliolefinas. As

atividades incluem avaliações e o desenvolvimento de catalisadores para resinas

como polietileno e PET, avaliação da composição físico-química dos catalisadores e

de suportes catalíticos e a aferição do desempenho de catalisadores desenvolvidos

internamente e de outros fornecedores, além de testar matérias-primas utilizadas no

processo de polimerização.

O Centro de Camaçari é focado em pesquisas com o UTEC, polietileno de

ultra-alto peso molecular (plástico de engenharia). A Braskem é a única produtora no

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139

País desta resina e a segunda maior produtora mundial. A Unidade de Poliolefinas

da Braskem mantém um escritório nos Estados Unidos, voltado para o

desenvolvimento do mercado de plásticos para engenharia com a marca

UTEC™.Outros desenvolvimentos bem sucedidos incluem as resinas Braskem

Flexus, Symbios e Idealis.

Em média, mais de 10% do volume de resinas comercializadas pela

Unidade de Poliolefinas da empresa se referem a produtos lançados no mercado há

no máximo dois anos (BRASKEM, 2009d). Em 2008, os produtos criados pela

empresa nos últimos três anos representaram 17,5% da receita líquida de venda de

resinas (ODEBRECHT, 2008).

Esses novos desenvolvimentos vem ao encontro das tendências

mundiais, que buscam cada vez mais sistemas catalíticos alternativos, em especial

os processos de polimerização via tecnologia metalocênica. Os catalisadores

metalocênicos revolucionaram a indústria de poliolefinas, em especial os mercados

de polietileno e polipropileno. Sua introdução inaugurou um imenso campo para

pesquisa e desenvolvimento de novos materiais com propriedades melhoradas e

vem sendo investigada com intensidade em todo o mundo, não apenas em centros

de pesquisa, como em universidades e principalmente em grandes empresas, tais

como a Dow Chemical, ExxonMobil, dentre outras. O impacto destes novos

catalisadores só é comparável à descoberta dos catalisadores Ziegler-Natta54 nos

anos 1950 (ROCHA ET ALLI, 2001). Os catalisadores à base de metalocenos

reduzem os ciclos de polimerização, elevam a produtividade e geram polímeros com

algumas propriedades melhoradas, tais como estabilidade dimensional, resistência

térmica e transparência. Eles facilitam a síntese de plásticos com as estruturas

poliméricas desejadas (ROCHA ET ALLI, 2001).

O Centro de Tecnologia e Inovação da Braskem em São Paulo mantém

uma unidade especializada em Vinílicos. Ela busca desenvolver e aprimorar 54 Nos anos cinqüenta, os químicos Karl Ziegler e Giulio Natta promoveram uma verdadeira revolução

na produção de plásticos. Utilizando-se de catalisadores especiais, conseguiram reduzir a pressão e temperatura necessárias aos processos de polimerização. A partir da síntese do polipropileno e da redução dos custos da fabricação industrial, os plásticos começaram a ser usados em larga escala. Os catalisadores do tipo Ziegler-Natta, contudo, têm uma grande desvantagem: ou são substâncias sólidas ou precisam de um substrato. Trata-se, portanto, de catalisadores heterogêneos. Ao contrário desses últimos, os catalisadores metalocênicos possuem um centro ativo claramente definido. Em função disso, os metalocenos costumam ser chamados de catalisadores single-site, ou sítio único, que, devido à boa solubilidade, podem ser analisados criteriosamente (HESS ET ALLI, 2005).

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140

formulações, processos e produtos de PVC, em parceria com os clientes. Esse

centro é ainda a base de apoio da Braskem ao programa NEO PVC (Núcleo de

Estudos Orientados do PVC), voltado à formação de uma rede de pesquisadores

multidisciplinares dispostos em academias ou centros de pesquisa do Brasil, com

foco na geração e divulgação de tecnologia de aplicação dessa resina . As linhas de

pesquisa são quatro: a) sustentabilidade do PVC em materiais para construção civil;

b) tecnologia de composição (blends e compósitos); c) nanotecnologia aplicada ao

PVC e inovações no uso do PVC, ampliando sua base de aplicações para diversos

setores da economia e; d) inovação e aprimoramento em processos industriais da

cadeia vinílica - eletrólise, EDC, MVC e PVC (BRASKEM, 2009).

Os nanocompósitos, que também fazem parte da pauta de tendências

tecnológicas mundiais, vêm sendo objeto de pesquisa pela Braskem. Eles

representam uma nova classe de materiais, formados pela combinação de uma

matrizpolimérica com um composto inorgânico de dimensão anométrica, e

começaram a ser estudados na década de 1980, pelo Laboratório de Pesquisa da

Toyota, com o desenvolvimento de nanocompósitos de poliamida e argila (PAIVA,

2006).

Os nanocompósitos são capazes de conferir propriedades diferenciadas

aos polímeros, algumas podendo variar em até 400%. Os plásticos obtidos por meio

deles podem ter sua rigidez aumentada, ao mesmo tempo que resistem melhor a

impactos. Além disso, têm baixa densidade e, portanto, maior leveza, maior

estabilidade térmica, deformando menos a altas temperaturas, maior brilho e maior

resistência à luz ultravioleta, permitindo a manutenção da aparência por mais tempo

e aumentando a vida média dos produtos que os utilizam. Outras características

incluem um maior coeficiente de armazenamento elástico, propriedades anti-chama,

redução da permeabilidade a gases e maior resistência química.

Cassinelli (2006) afirma que os grandes produtores mundiais ainda têm

poucas patentes relativas a nanocompósitos. Os Estados Unidos tinham 376 e a

Europa 127 patentes em 2006, o que poderia ser considerado muito pouco para um

negócio desse porte e potencial no mercado. No Brasil, até aquele ano, foram

depositadas 17 patentes. A Braskem foi a primeira empresa no país, em conjunto

com a UFRGS, a depositar uma patente de nanocompósitos, ligada ao processo de

esfoliação da argila.

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141

A empresa também vem apostando na utilização de matérias-primas

renováveis, por meio de sua unidade produtiva de polímeros verdes (assim

denominados por serem oriundos de uma fonte renovável, a cana-de-açúcar), em

Triunfo (RS), com capacidade para produzir 200 mil toneladas/ano, utilizando

tecnologia nacional. A unidade fará da Braskem a primeira empresa do mundo a

produzir polietileno verde em escala industrial. O produto já foi certificado

globalmente em 2008 (BRASKEM, 2009). A nova unidade utilizará etanol de cana-

de-açúcar para elaborar eteno, a ser posteriormente transformado em polietileno. O

processo contribuirá para a redução global nas emissões de gases de efeito estufa,

quando comparado com o processo tradicional de fabricação do polietileno

(ODEBRECHT,2008).

A Tetra Pak, líder mundial na fabricação de embalagens cartonadas de

alimentos, já assinou acordo com a Braskem para compra de polietileno de alta

densidade feito desta matéria-prima, um dos primeiros passos para a utilização do

polietileno verde na indústria alimentar e de embalagens de bebidas.O acordo

firmado garante o fornecimento pela Braskem de 5 mil toneladas de polietileno verde

de alta densidade por ano, a partir de 2011, para a produção de tampas plásticas e

lacres. O volume representa pouco mais de 5% da demanda total de polietileno de

alta densidade da Tetra Pak, e um pouco menos de 1% do total de compra de

materiais plásticos por essa empresa (BRASKEM, 2009c).

Tecnicamente, o produto tem as mesmas características da resina obtida

do petróleo. A diferença está no fato do ciclo agrícola capturar carbono, ao contrário

do processamento do óleo.A partir de 2010, a Braskem irá dar início à avaliação de

novos investimentos para produção de plástico verde em escala mundial (400 mil a

500 mil toneladas). Eles deverão situar-se próximos a regiões produtoras de etanol

(RIBEIRO, 2009).

Ressalte-se que o produto ainda não é biodegradável (os biopolímeros

são outra das tendências tecnológicas que confrontarão a petroquímica mundial nas

próximas décadas), já que o produto resultante é idêntico ao de origem

petroquímica. Sua utilização, contudo, representa um primeiro passo na busca de

produtos que diminuam as emissões de gases poluentes e, muito provavelmente,

suscitará novos movimentos nesta direção.

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142

5.3.3 Crescimento da Demanda

O último estudo do CMAI relativo às indústrias de etileno e propileno,

2010 World Light Olefins Analysis, já mencionado, abrangendo o período de 2004 a

2014, confirmou que a recessão econômica global reduziu severamente o

crescimento da demanda por olefinas. Este fato, conjugado ao início de operação de

novas capacidades significativas, que sozinhas já poderiam causar uma forte

reversão no ciclo das margens de lucro petroquímicas, começaram a fragilizar várias

empresas. Após uma contração severa no crescimento da demanda por olefinas

leves em 2008, a demanda global para 2009 permanecerá significativamente abaixo

da tendência esperada para a linha de crescimento, adicionando pressão para um

mercado severamente super ofertante.

O estudo enfatiza que se prevê uma modesta recuperação para o

crescimento da demanda de etileno em 2009 seguida de um crescimento

insignificante em 2010. Um crescimento mais forte e sustentável da demanda de

etileno, com uma média entre quatro e cinco por cento ao ano, não é esperado antes

do período entre 2011 e 2014. Consequentemente, o volume de consumo total de

etileno irá permanecer abaixo da linha de crescimento esperado pelos próximos

cinco anos.

Vale destacar que, por muitos anos, o mercado petroquímico foi baseado

predominantemente em eteno, cuja produção global crescia a taxas de 7 a 8% ao

ano até meados da década 1990. A previsão da demanda por petroquímicos hoje,

contudo, apresenta uma diferença significativa:enquanto a demanda de eteno cresce

3% ao ano, a do propeno cresce 5%. Essa demanda maior pelo propeno é

estimulada pelo crescimento do polipropileno, que corresponde a 64% da aplicação

do propeno (MOREIRA ET ALLI, 2007).

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143

Em termos de liderança na expansão da demanda mundial, ela é

capitaneada pela China e Índia. De acordo com a Abiquim (2007), a previsão da

Reliance em 2006 para a China era de um crescimento de 34% no consumo de

polímerosem quatro anos, até 2010. Deve-se ressaltar, contudo, que a tradicional

dependência da China de importações vem diminuindo, em virtude do grande

número de projetos implantados durante esse período (figura 17).

Figura 17 - Demanda Aparente e Importação de Poliolefinas e PVC da China

(em milhões de toneladas) Fonte: ABIQUIM, 2007

A demanda interna, o total da produção local, as exportações e

importações realizadas pelo Brasil e a produção total da Braskem são expostas na

tabela 14.

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144

Tabela 14 - Demanda Interna, Produção Local, Exportações e Importações Brasileiras de 2006 a 2008 (em milhares de toneladas)

Produção brasileira

total

Produção total da

Braskem (1)

Produção total de outras

empresas brasileiras

Total das importações

Total das exportações

Consumo interno

brasileiro total

estimado Olefinas(2) 2008(2) 2007 2006

4.882,1 5.414,4 5.288,1

3.380,1 3.321,2 1.778,6

1.501.9 2.093,2 3.509,5

36,9 9,2 3,2

58,1 163,8 166,1

4.860,9 5.259,8 5.125,2

Aromático(4) 2008(3) 2007 2006

1.340,9 1.564,8 1.433,3

1.006,2 1.059,6 704,9

334,7 502,2 728,4

8,9 55,3 87,5

543,8 558,4 388,1

806,0 1.061,7 1.132,8

Produção brasileira

total

Produção total da

Braskem (1)

Produção total de outras

empresas brasileiras

Total das importações

Total das exportações

Consumo interno

brasileiro total

estimado Poliolefinas (5)

2008(3) 2007 2006

3.451,0 3.760,3 3.669,9

2.234,1 2.257,1 1.709,5

1.273,7 1.402,0 1.960,4

619,4 498,8 415,2

690,6 1.036,9 1.031,3

3.379,8 3.222,2 3.053,8

PVC 2008(3) 2007 2006

698,7 686,5 676,3

508,5 465,4 447,4

190,2 221,0 228,9

265,6 176,7 126,6

21,7 43,2 35,6

1.042,6 820,0 767,3

Fonte: F-20 Braskem, 2009, p. 40 (1) Inclui Paulínia a partir de 1º de abril de 2008, Copesul e Ipiranga Petroquímica a partir de 1º de

abril de 2007 e Politeno a partir de 1º de abril de 2006. (2) Inclui eteno, propeno e butadieno (3) Dados preliminares (4) Inclui benzeno, tolueno e xileno. (5) Inclui polietileno, copolímero de etil vinil acetato e polipropileno

A Braskem vendeseus petroquímicos básicos produzidos no Brasil para

as unidades de segunda geração localizados nos Pólos Petroquímicos de Camaçari

e de Triunfo, bem como a clientes dos Estados Unidos, da Europa, da América do

Sul e da Ásia55. As exportações são utilizadas como proteção a suas operações e

para controlar o equilíbrio entre demanda e oferta. Em 2008, as exportações de

petroquímicos básicos foram realizadas principalmente para clientesdos Estados

Unidos e da Europa.A tabela 15 mostra as exportaçõesem volumes e valores destes

produtos entre os anos de 2006 e 2008.

55 Grande parte das informações deste sub-item foram obtidas no formulário F-20 da Braskem (2009).

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145

Tabela 15 - Exportações:Valores, Volumes e Participação Percentual na Receita Líquida e no Volume de Vendas Totais da Unidade de Insumos Básicos da Braskem (2006 a 2008)

Exercício findo em 31 de dezembro

2008 2007(1) 2006

Exportações (em milhões de reais) 1.708,2 2.186,6 963,4

Como % da receita total líquida de vendas da Unidade de Insumos Básicos

12,4% 16,7% 13,3%

Volumes exportados (milhares de toneladas) 946,2 956,7 541,6

Como % do volume total de vendas da Unidade de Insumos Básicos

18,8% 19,1% 19,5%

Fonte: F-20 Braskem, 2009, p.49 (1) Inclui a Copesul a partir de 1º de abril de 2007

Observa-se que de 2006 para 2007 as exportações cresceram

significativamente em termos de volume e valores (respectivamente 77% e 127%),

com um acréscimo mais modesto, de 3,4%, na participação da receita líquida da

companhia, mas mantendo praticamente inalterada a participação percentual no

volume total de vendas (decréscimo de 0,4%). Tal fato, provavelmente, pode ser

explicado pela inclusão da Copesul a partir do mês de abril de 2007, já que os

volumes exportados aumentam mais do que o dobro, mas a participação no total de

vendas mantém-se constante; e por um aumento dos preços dos petroquímicos

básicos no mercado internacional. Como visto, as margens de lucro da indústria

química atingiram o ponto mais alto do ciclo ascendente em 200756. Quanto aos

anos de 2007 e 2008, observa-se um decréscimo de quase 22% no valor das

exportações, que permaneceram praticamente inalteradas em termos de volume

(redução de apenas 1%), refletindo a retração nos preços provocada pela forte crise

internacional. A participação das exportações na receita líquida total caiu 3,3% no

período, enquanto sua participação no volume total de vendas manteve-se

praticamente constante (queda de apenas 0,3%), o que pode sugerir que os preços

cobrados no mercado interno caíram em percentual inferior à queda dos preços

internacionais. Este fato pode ser justificado pela dificuldade de transporte de

56 De fato, a C&EN (2008, p. 19), em sua análise anual da indústria química mundial para o ano de

2007, destacava que, não obstante ter havido um aumento significativo dos custos de matérias-primas naquele ano, os produtores de petroquímicos conseguiram reagir rapidamente, repassando esses custos para os consumidores e até mesmo elevando suas margens de lucro. A publicação ressalta, ainda, que pela primeira vez em dez anos, nenhuma das empresas listadas reportou prejuízos operacionais.

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146

petroquímicos básicos, em especial o eteno, o que aumenta sobremaneira os cus tos

de transporte, desestimulando as importações destes produtos.

Embora atualmente existam quatro importantes pólos petroquímicos no

Brasil, os clientes da Braskem de petroquímicos básicos, em sua maioria produtores

petroquímicos de segunda geração cujas plantas se localizam nos Pólos

Petroquímicos de Camaçari e de Triunfo, teriam dificuldade em obter seus insumos

de outras fontes por preços mais baixos, em razão do alto custo de transporte

desses produtos, bem como de outras dificuldades logísticas. O Brasil já alcançou a

autosuficiência na produção de olefinas e as importações desses produtos são

bastante esporádicas, estando associadas, usualmente, às paradas programadas

para manutenção de plantas ou para cobrir eventual demanda interna não atendida.

Nos mercados internacionais, a concorrência dos produtos petroquímicos

básicos está lastreada, basicamente, no preço dos produtos entregues. A disputa

por mercados acirrou-se desde meados de 2008, quando foi rompido o equilíbrio

entre oferta e demanda, em virtude do impacto da crise financeira e creditícia

mundial somada à adição de novas capacidades.

No que tange aos polímeros, a composição de vendas e receita líquida de

vendas da Unidade de Poliolefinas da Braskem, por linha de produto e por mercado,

entre 2006 e 2008 é apresentada na tabela 16.

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Tabela 16 - Volume e Receita Líquida de Vendas da Unidade de Poliolefinas da Braskem (2006 a 2008)

Exercício findo em 31 de dezembro 2008(1) 2007(2) 2006(3)

Vendas líquidas no mercado interno:

Quantidade vendida

Receita líquida de Vendas (R$

Milhões)

(%) Quantidade vendida

Receita líquida de Vendas (R$

Milhões)

(%) Quantidade vendida

Receita líquida de Vendas (R$

Milhões)

(%)

Polipropileno 606,2 2.163,6 28,7 573,1 1.982,1 26,7 453,2 1.515,5 30,4 PEDB 228,6 875,2 11,6 240,7 849,1 11,5 194,0 623,2 12,5 PEDBL 286,5 1.094,6 14,5 272,3 976,5 13,2 186,3 607,3 12,2 PEAD 447,1 1.732,0 23,0 413,6 1.478,0 19,9 186,6 600,4 12,0 PET(4) 42,9 134,6 1,8 60,3 175,9 2,4 50,6 152,7 3,1 OUTROS 23,1 81,2 1,1 17,2 93,1 1,3 37,8 182,2 3,7 Total de vendas líquidas no mercado interno

1.634,5

6.081,1

80,7

1.577,3

5.554,7

75,0

1.108,5

3.681,3

73,8

Total das exportações líquidas

538,9 1.452,8 19,3 662,3 1.856,3 25,0 480,6 1.303,6 26,2

Total das vendas líquidas de poliolefinas

2.173,3

7.534,0

100

2.239,6

7.411,0

100

1.589,1

4.984,5

100

Fonte: F-20 Braskem, 2009, p. 52 (1) Inclui Paulinia a partir de 1º de abril de 2008; (2) Inclui a Ipiranga Petroquímica a partir de 1º de abril de 2007 (3) Inclui a Politeno a partir de abril de 2006 (4) Em maio de 2007 a planta de PET foi temporariamente fechada. Em dezembro de 2008 ela foi fechada permanentemente.

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148

Para as variações ocorridas entre os anos de 2006 e 2007, valem as

observações feitas para a tabela 15, desta sub-seção. Já quanto aos anos de 2007 e

2008, observa-se um decréscimo de quase 22% na receita líquida das exportações

e de 18,6% em termos de volumes exportados, com queda da participação das

exportações na receita líquida total de 5,7% no período. Estes percentuais

novamente refletem a crise econômica do final de 2008, que abalou fortemente os

mercados internacionais. Os resultados não foram piores, vez que a crise foi

deflagrada basicamente no último trimestre do ano. Nos três primeiros trimestres,

ainda imperava a euforia vivida em 2007, com altas margens de lucro nos negócios

químicos.

No mercado interno, a empresa conseguiu aumentar seu volume de

vendas em 3,6%, e sua receita líquida em 9,47%, reflexo do aumento nos preços

médios das poliolefinas internamente em 19,88% (obtido dividindo-se a receita

líquida pelo volume de vendas, ambos do mercado interno, para os anos de 2007 e

2008, e procedendo-se ao cálculo da diferença percentual). No preço médio dos

produtos exportados, por sua vez, houve uma retração de 3,96%, em razão da

queda nos preços internacionais. O melhor resultado no mercado interno reflete não

apenas os três primeiros trimestres do ano de 2008, como também o fato dos efeitos

da crise terem chegado mais lentamente ao país, que beneficiou-se da sazonalidade

das vendas, aquecidas nessa época do ano com a proximidade do natal.

O fato da Braskem prestar assistência técnica aos clientes, com o fim de

atender suas necessidades específicas,adaptando e modificando seus produtos de

polietileno e polipropileno, e a diversidade de processos tecnológicos nas plantas de

poliolefinas se constituem em uma importante vantagem competitiva .A empresa

desenvolve compostos de polipropileno de valor agregado customizados, para

utilização pelos clientes em suas aplicações especializadas (F-20 BRASKEM, 2009,

p.52). Assim, ela geralmente consegue cobrar preços mais altos por seus produtos

do que os preços convertidos em reais dos produtos importados, vez que pode

fornecer melhores serviços de customização vis-à-vis os importadores (F-20

BRASKEM, 2009, p.58).

Nos mercados de poliolefinas da América do Sul e da Europa, a Braskem

tem procurado obter uma posição estratégica por meio de vendas diretas regulares,

feitas por distribuidores locais e agentes que conhecem seus respectivos mercados.

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149

Com essa estratégia de estabelecer relações duradouras com clientes, ela

objetiva,entre outros aspectos, diminuir sua exposição à natureza cíclica do mercado

internacional à vista de poliolefinas.

Em virtude das adições de capacidade no Oriente Médio e da

concorrência cada vez mais acirrada no mercado de petroquímicos, o principal

mercado para os produtos da petroquímica nacional continuarão a ser o Brasil e a

América do Sul. Os projetos de expansão da Braskem farão com que ela possa

penetrar mais competitivamente em outros mercados da América do Sul e na

América do Norte.

Nas poliolefinas, o foco da empresa é manter a posição de liderança no

mercado brasileiro, continuando a exportar o excedente para adequar a relação

entre sua capacidade de produção e a demanda interna dos produtos. Uma

presença constante nos mercados de exportação é essencial para ajudar a

administrar um eventual excesso de capacidade no mercado brasileiro e manter a

posição de liderança no fornecimento de poliolefinas na América do Sul. A meta

atual da Braskem é uma produção média anual superior em aproximadamente 20%

à previsão de demanda do mercado brasileiro.Com isso, ela adapta -se a variações

da demanda local e responde a flutuações de produção, sazonalidade e exportações

de produtos (F-20 BRASKEM, 2009, p.58).

O segundo semestre de 2008 apresentou uma forte queda da demanda

global por petroquímicos. A demanda por poliolefinas da China diminuiu, após a

conclusão dos Jogos Olímpicos, enquanto nos Estados Unidos a procura

recuou,refletindo os efeitos mais pronunciados da crise global. A retração da

demanda americana resultou em maior volume de exportação de poliolefinas pelos

Estados Unidos, acarretando uma concorrência mais acirrada em preços nos

mercados de exportação atendidos pela Braskem.

Na América Latina,a demanda por poliolefinas não apresentou uma queda

tão drástica como em outras regiões no mesmo período de 2008 e, mesmo frente à

intensa concorrência com os produtores de poliolefinas dos Estados Unidos, o

volume de vendas da Companhia na região aumentou 24% no segundo semestre de

2008 em comparação com igual período de 2007 (F-20 BRASKEM, 2009, p.58).

Em 2008, as exportações a países das Américas representaram 66,7%

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150

das vendas de exportação, sendo o restante correspondente a exportações para a

Europa, com 29,3% do total de exportações, e Extremo Oriente, destino de 3,9%das

exportações (F-20 BRASKEM, 2009, p.39).

De acordo com dados da Abiquim (2007), a demanda por resinas no

Brasil possui um grande potencial de crescimento. Seu consumo per capita é mais

baixo do que em outros países da América Latina, como o Chile e o México. O

gráfico 13 apresenta a comparação do consumo per capita de polietilenos em

relação ao PIB per capita, nos países selecionados.

Gráfico 13 - Consumo per capita de Polietilenos vs. PIB per capita Fonte: ABIQUIM, 2007, p.11

Projeções da ABIQUIM (2007), com base em um cenário

macroeconômico estimado para o período de 2010-2020 e o desempenho histórico

da cadeia petroquímica, indicam uma expansão de demanda para os principais

petroquímicos básicos, conforme observa-se na tabela 17.

Milhares PIB per capita

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151

Tabela 17 - Consumo de Petroquímicos Básicos (em mil toneladas/ano)

Eteno Propeno Benzeno Ano

(1) (2) (1) (2) (1) (2)

2010 3.134 3.917 2.112 2.346 870 916

2015 4.136 5.170 2.992 3.325 1.099 1.157

2020 5.498 6.873 4.257 4.730 1.400 1.474

Fonte: ABIQUIM, 2007, p.66 (1) Mercado interno (2) Mercado interno + exportações via derivados

A Petrobras também prevê o aumento da demanda brasileira por resinas

em seu plano de negócios para o período 2009-2013.

Gráfico 14: Demanda Brasileira de Resinas Fonte: PETROBRAS, 2009a

A demanda interna de poliolefinas, portanto, deverá continuar a crescer,

tendo em vista as tendências a uma maior demanda de bens de consumo à base de

plástico, dado que o consumo per capita ainda é baixo no Brasil, em comparação

com os Estados Unidos e muitos países europeus, e à substituição de materiais de

embalagem mais tradicionais, como o vidro e o papel, pelo plástico.

Ainda de acordo com o estudo da ABIQUIM (2007), a oferta futura,

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152

considerando-se apenas o desgargalamento das instalações atuais e os projetos em

execução, seria insuficiente para atender a demanda prevista ao final do período

analisado. Esse objetivo poderia ser atingido via utilização de matérias-primas

pesadas, caso seja implantado um novo complexo nos moldes do COMPERJ.

Em suma, no que diz respeito à demanda, são boas as perspectivas para

a petroquímica nacional. No geral, os preços praticados pela Braskem no Brasil são

superiores àqueles apurados nos mercados internacionais. A diferença entre preços

internos e externos resulta: dos altos custos de transporte de produtos para dentro e

para fora do Brasil, em especial os petroquímicos básicos; dos custos de

armazenamento e outros custos de logística e; dos custos de tarifas e taxas

alfandegárias, o que nos remete à próxima subseção.

5.3.4 Políticas Governamentais

a) Tarifas Comerciais

Os preços de produtos petroquímicos praticados no Brasil são, em grande

parte, determinados tomando-se por referência os preços cobrados no mercado

internacional por esses produtos, incluindo custos de tributação e transporte pagos

por empresas importadoras de produtos petroquímicos. Reduções de tarifas e de

outras barreiras comerciais podem, portanto, expor o setor petroquímico brasileiro à

forte concorrência de preços vigente nos mercados internacionais.

A tabela 18 mostra a oscilação das tarifas de importação incidentes sobre

determinados petroquímicos básicos e petroquímicos de segunda geração de 1999

a 2008. As alíquotas mostradas são aquelas vigentes no fim dos respectivos anos,

exceto quando indicado. As operações comerciais com os demais países do

MERCOSUL estão isentas de tarifas desde dezembro de 2001.

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Tabela 18 - Tarifas de Importação (em %) Incidentes sobre Petroquímicos Selecionados (1999 a 2000)

2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002(1) 2001(2) 2000 1999 Petroquímicos de primeira geração

Eteno 2,0 2,0 2,0 2,0 2,0 3,5 3,5 4,5 5,0 5,0 Propeno 2,0 2,0 2,0 2,0 2,0 3,5 3,5 4,5 5,0 5,0 Soda cáustica 8,0 8,0 8,0 8,0 8,0 9,5 9,5 10,5 11,0 11,0 Petroquímicos de segunda geração

Polietileno 14,0 14,0 14,0 14,0 14,0 15,5 15,5 16,5 17,0 17,0 Polipropileno 14,0 14,0 14,0 14,0 14,0 15,5 15,5 16,5 17,0 17,0 PVC(3) 14,0 14,0 14,0 14,0 14,0 15,5 15,5 16,5 17,0 17,0 Caprolactma 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 13,5 13,5 14,5 15,0 15,0 Fonte: F-20 Braskem, 2009, p. 39 (1) Em 2002, a tarifa oficial foi 1,5% menor que a indicada acima. Um adicional de 1,5% sobre

todos os produtos importados está incluído na alíquota mostrada. (2) Em 2001, a tarifa oficial foi 2,5% menor que a indicada acima. Um adicional de 2,5% sobre

todos os produtos importados está incluído na aliquota mostrada. (3) Sobre as importações de PVC de suspensão dos EUA e do México incidem tarifas de

respectivamente 16,0% e 18,0% a partir de 1992, em virtude do lançamento de tarifas antidumping pela CAMEX – Câmara de Comércio Exterior, órgão subordinado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Se não forem prorrogadas, essas tarifas serão recolhidas até 14 de dezembro de 2009.

Como pode ser observado, a petroquímica brasileira hoje é favorecida

pelas tarifas incidentes em especial nas poliolefinas e vinílicos, sendo possível

cobrar preços internos que incluam um fator baseado nas tarifas incidentes sobre

importação de produtos comparáveis.

O acordo Mercosul-Conselho de Cooperação do Golfo (GCC), que vem

sendo negociado pelo Governo desde 2005, prevê redução de tarifas para

importação de petroquímicos do Golfo , em troca de reduções tarifárias para

commodities agrícolas e minerais brasileiros. As empresas petroquímicas brasileiras

obviamente são veementemente contrárias a tal possibilidade. Representantes da

indústria petroquímica brasileira reiteram os temores de que a eliminação ou mesmo

a redução de tarifas incidentes sobre os ultra competitivos produtos do Golfo

poderão abalar seriamente a competitividade da indústria nacional. Os países

árabes querem a abertura dos mercados sul-americanos, mas esbarram no receio

do setor no Brasil e na Argentina, além da Venezuela. Para o Governo, uma das

possibilidades para não abortar o acordo e vencer a resistência da indústria

petroquímica seria usar a classificação de produtos sensíveis, que protegeria os

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154

petroquímicos da queda de tarifas (WORDPRESS, 2009).

b) Fontes de Financiamento

Em todo o mundo, o Estado, ao regulamentar e/ou controlar agentes que

financiam setores econômicos, cumpre papel estratégico. No Brasil, o BNDES vem

desempenhando e deve continuar a desempenhar um papel importante no

financiamento das atividades do setor petroquímico. O Banco é o principal operador

da política industrial do governo,ao exercer as atividades de agente financiador de

longo prazo. A linha de ação do BNDES na petroquímica nos últimos anos teve

como objetivo básico formar empresas de grande porte, integrando centrais com

empresas de segunda geração para o suporte às de terceira geração, estabelecer

uma estrutura de capitais adequada para sustentar o porte empresarial e os futuros

investimentos em novos empreendimentos e criar uma estrutura de controle

acionário capaz de atrair participação expressiva de investidores institucionais e de

outros do mercado de capitais.

A mobilização de parte do capital necessário a operações de fusão, que

normalmente os agentes envolvidos têm alguma dificuldade de encontrar,tem sido

apoiada pelo BNDES, como foram os casos da telefonia e da petroquímica, quando

da criação da Braskem e, posteriormente, nas fusões que se seguiram. Nos anos de

2007 e 2008, o panorama começou a ficar um pouco diferente, pois estava sendo

experimentada uma maior presença dos mercados privados de capitais no

financiamento das operações empresariais. Entretanto, quando o mercado de

capitais brasileiro começou a se tornar mais sólido e operante e as condições de

captação das empresas brasileiras tendiam a ficar melhores, com a elevação do

Brasil pelas agências de rating,sobreveio a crise financeira internacional. Houve,

então, um retorno aos recursos do BNDES para o financiamento das operações de

longo prazo, tanto de novos investimentos como de capitalização das empresas

existentes. Em 2009, o governo disponibilizou R$ 100 bilhões para a instituição

visando capacitá-la a responderá demanda por financiamentos e também para

auxiliar a Petrobras.

Em que pese o papel do BNDES, os investimentos da Braskem não

dependerão apenas desse agente financeiro. Eles serão estruturados na modalidade

deproject finance, com parte do aporte em capital próprio e parte em dívida. A

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155

empresa pretende se utilizar de agências multilaterais, como a Cooperação Andina

de Fomento, o Banco Mundial e agências de crédito à exportação (ECAs). Outra

fonte seria a securitização de exportações junto a bancos comerciais, nos projetos

que terão um fluxo grande de exportações (GRUBISICH, 2007).

c) Mudanças na Regulação Ambiental

Um último impacto das políticas governamentais sobre a competitividade

petroquímica ocorre no aspecto da regulação ambiental. No Brasil, os produtores

petroquímicos sujeitam-se à cada vez mais rigorosa legislação e regulamentação

brasileira sobre a matéria, nos âmbitos federal, estadual e municipal. Elas regulam

desde medidas de prevenção à saúde humana, ao manejo e descarte de resíduos

sólidos e perigosos até as descargas de poluentes na atmosfera e na água. Os

produtores petroquímicos, em vários países, ficam por vezes sujeitos a percepções

desfavoráveis do mercado, em consequência do impacto ambiental de seu negócio,

o que pode ter um efeito adverso sobre seus resultados operacionais (F-20

BRASKEM, 2009).

À medida que a legislação ambiental se torna mais rigorosa no Brasil e no

mundo, o valor e cronograma de futuros investimentos necessários para o seu

cumprimento tendem a aumentar significativamente , podendo reduzir a

disponibilidade de recursos para outros investimentos de capital.

Toda a cadeia produtiva das indústrias de petróleo e petroquímica terá

que fazer esforços para reduzir as emissões de gás carbônico, visando evitar o

agravamento do aquecimento global. Não obstante o Protocolo de Kyoto ter

apresentado resultados risíveis, a questão ambiental torna-se cada vez mais

premente. A pressão pelo uso de tecnologias limpas teve novo palco na conferência

de Copenhague, de dezembro de 2009, com grupos ambientalistas pressionando

fortemente para que agora se conte com a adesão dos EUA e da China e um

engajamento real dos países em desenvolvimento.

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Estudos indicam que a utilização de processos de refino mais

complexos57, com vistas a atender especificações ambientais locais e nacionais (em

especial redução das emissões de dióxido de enxofre e outros NOx e particulados),

bem como para processar petróleos cada vez mais pesados, acabam por aumentar

as emissões de dióxido de carbono (CO2) nas refinarias. Quando comparada com

uma refinaria simples, o consumo de energia de uma refinaria de alta conversão

pode chegar até ao dobro. Esse aumento nas emissões de CO2seria compensado

pelo incremento da conversão em produtos de alta qualidade que irão emitir menos

em sua utilização. A integração entre as operações de refino e a produção de

petroquímicos pode contribuir para o aproveitamento das correntes de unidades

mais complexas ou para a otimização energética em busca de uma emissão menor

de gases de efeito estufa em unidades mais simples (ABIQUIM, 2007).

A petroquímica brasileira se verá cada vez mais obrigada a seguir os

caminhos da sustentabilidade e para isso ela pode usar o potencial da

alcoolquímica. Muito em breve as empresas deverão ser compelidas a publicar um

inventário de emissões de carbono, juntamente com o balanço e demais

informações obrigatórias, revelando os níveis de carbonização e de

descarbonização para os mercados e bolsas de valores.

57 Esses investimentos em processos de conversão e tratamento, por meio da instalação de novos

equipamentos, da utilização de novos catalisadores e de melhorias operacionais, incluem a instalação de unidades de hidrocraqueamento (HCC) e de craqueamento catalítico de resíduos (RFCC).

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta dissertação, objetivou-se estudar os movimentos recentes da

petroquímica brasileira, avaliando sua adesão ao padrão da reestruturação ocorrida

nessa indústria mundialmente nas últimas décadas e apontando os principais

desafios competitivos para a petroquímica nacional.

Para tanto, utilizou-se o modelo de análise proposto por Teixeira et alli

(2009) para identificar as principais driving forcessubjacentes aos intensos

movimentos de reestruturação ocorridos na petroquímica mundial a partir do final

dos anos 1970 e início dos anos 1980, em resposta aos dois choque do petróleo. A

elevação dos preços do principal insumo petroquímico, aliada ao aumento de

capacidade nas regiões tradicionais (Estados Unidos, Europa e Japão), somou-se à

recessão econômica dos anos 1980, promovendo transformações significativas na

estrutura dessa indústria.

Nos anos 1990, mudanças ainda mais amplas continuaram a alterar o

panorama petroquímico global. A racionalização dos negócios no segmento

promoveu uma imensa onda de fusões e aquisições, formação de joint ventures,

spin-offs e split-ups, refletindo as estratégias adotadas pelas empresas líderes que

resultaram em maior concentração, aumento da escala e da integração da cadeia

petroquímica e focalização em core business.

De fato, observou-se que muitos produtores reduziram seu portfólio,

desfazendo-se de negócios petroquímicos e concentrando-se em segmentos de

maior lucratividade, como as especialidades químicas. Pari passu, as grandes

petrolíferas, com acesso privilegiado a matérias-primas, moveram-se downstream,

promovendo uma crescente integração entre suas atividades de refino e a produção

petroquímica, com claras vantagens de custo.

Nesses movimentos de reestruturação destacou-se, ainda, a emergência

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dos chamados investidores institucionais e fundos de private equity, que

promoveram aportes significativos no setor, adquirindo ativos químicos em

sequência e constituindo mega-empresas, cujo caso mais emblemático é o da Ineos.

Os anos 2000 foram marcados pelo despontar da Ásia como um centro

produtor e de consumo de elevado crescimento. Os vetores atuais de expansão da

produção situam-se no Oriente Médio e na região Ásia-Pacífico, em especial a

China, que lidera, seguida pela Índia, o crescimento da demanda mundial por

petroquímicos.

Neste contexto, a geografia dos novos investimentos orienta-se

basicamente pela facilidade de acesso a matérias-primas e proximidade dos

mercados consumidores com elevado potencial de crescimento. O deslocamento da

oferta tem motivado players tradicionais a moverem-se upstream, por meio de

fusões, aquisições e joint venturescom companhias detentoras de reservas de

petróleo e capacidade de refino, em especial no Oriente Médio e China.

Nos países desenvolvidos - Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão -,

não detentores de grandes reservas de petróleo e gás, investimentos relevantesnão

são previstos em ampliação da capacidade produtiva, mas tão somente adições

incrementais, com foco maior na eficiência de custo, buscando-se aperfeiçoamento

no uso da energia, maior flexibilidade de matérias-primas e modernização das

plantas. A tendência é que estes países se transformem em importadores líquidos

de produtos petroquímicos.

No Brasil, a indústria petroquímica foi implantada com base no modelo

tripartite, no qual o Estado, via Petroquisa, teve papel de destaque. Este modelo

acabou por resultar em uma estrutura industrial fragmentada, de empresas

monoprodutoras, bastante diferente do padrão internacional do setor. A produção de

petroquímicos de primeira e segunda geração ficou concentrada em três pólos

principais - Capuava (SP), Camaçari (BA) e Triunfo (RS) -, que utilizam como

matéria-prima a nafta petroquímica, a maior parte dela produzida pela Petrobras e o

restante adquirido via importação. Além destes, o pólo de Duque de Caxias (RJ),

recentemente implantado, se distingue dos demais pela utilização exclusiva do etano

e propano obtidos do gás natural extraído pela Petrobras na Bacia de Campos. Um

quinto pólo, o COMPERJ, que utilizará petróleo pesado (óleo de Marlim), encontra-

se em fase de construção.

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Na década de 1980, sob um regime de proteção e forte intervenção

estatal, a estrutura societária adotada não representava grande problema e a

indústria petroquímica brasileira foi capaz de se desenvolver e acumular

capacidades industriais amplas, muito embora com capacitação tecnológica limitada.

As alterações ocorridas na década de 1990 –a abertura econômica do país e o

processo de privatização, com a redução expressiva da participação da Petroquisa

no setor – revelaram a vulnerabilidade das empresas nacionais. A indústria, que

havia crescido num mercado protegido, livre da concorrência externa, foi

confrontada com conglomerados de porte mundial que operavam em escalas muito

maiores e passavam por um processo de consolidação internacional,gerador de uma

enorme redução de custos e aumento de eficiência.

O “nó societário” característico da montagem da indústria petroquímica

brasileira dificultava o processo decisório, em especial a definição das estratégias de

crescimento das firmas, se constituindo em um grave entrave ao desenvolvimento

do setor petroquímico nacional, incapaz de atingir escalas, faturamento e “massa

crítica” para a efetivação de gastos regulares e em montantes adequados em

pesquisa e desenvolvimento tecnológico. Restou patente a impossibilidade de obter

economias de escopo e as dificuldades de respostas empresariais às flutuações

cíclicas da economia, tornando inviáveis movimentos de racionalização que

exigissem ajustes de capacidade produtiva. Além disso, a fragmentação resultava

em uma multiplicidade de custos administrativos, comerciais e tributários, situação

que acabou tornando imprescindível uma reestruturação organizacional do setor.

Foi nesse contexto que, em 2002, surgiu a Braskem, desde sua criação a

maior empresa petroquímica da América Latina, figurando entre as três principais

companhias industriais de capital privado brasileiro e como a terceira maior empresa

petroquímica das Américas. Em 2008, ela já ocupava a trigésima quarta posição no

ranking das 50 maiores empresas petroquímicas do mundo por volume de vendas,

de acordo com a Chemical & Engineering News.

Além da criação da Braskem, destaca-se nesse processo de

reestruturação e consolidação da indústria nacional, o retorno da Petrobras às

atividades petroquímicas. Tendo participação relevante no capital acionário da

Braskem, a estatal aliou-se ao grupo Unipar para a formação da Quattor, concluindo,

em 2007, uma importante fase de reorganização da petroquímica no país. A partir de

então, ela vem investindo em projetos de expansão da capacidade dessa indústria,

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com destaque para o COMPERJ e a Petroquímica Suape, que deverão ser objeto de

novas parcerias com empresas privadas.

Ou seja, a indústria em estudo concentra-se hoje no país em torno de

dois grandes grupos privados nacionais, com maior integração vertical e horizontal,

contando com a participação ativa da Petrobras.A liderança vem cabendo à

Braskem, cujas capacidades produtivas em primeira e segunda geração

representam praticamente o dobro do segundo player brasileiro.

Analisando-se as estratégias dessa empresa e da Petrobras, observa-se

uma aderência das mesmas àquelas dos grandes players mundiais do setor. A

Braskem, que já detém a liderança na América Latina, procura expandir-se em

direção à América do Norte, em busca das oportunidades abertas no mercado dos

Estados Unidos com a crise financeira global do final de 2008, que provocou uma

imensa desvalorização de ativos. Além disso, anuncia investimentos em projetos na

Venezuela, Peru e México, visando consolidar sua liderança na América Latina, e

aproveitar-se da proximidade de fontes de matérias-primas (gás natural) existentes

nesses países. A Petrobras, por sua vez, integrando suas operações de refino e

petroquímica, agrega valor a sua cadeia produtiva e contribui para o fortalecimento

da competitividade dessa indústria no Brasil.

O principal problema competitivo da petroquímica brasileira, relativo ao

porte de suas empresas, vis-à-vis a regra mundial, foi equacionado em grande

medida com a reestruturação ocorrida. Ela possui hoje uma estrutura produtiva

relativamente moderna, sendo capaz de atender à maior parte da demanda interna e

direcionar uma parcela da produção para a exportação. Um outro importante desafio

competitivo que se coloca para qualquer indústria petroquímica, como revelado pela

análise das driving forces motivadoras de movimentos de reestruturação, é a

disponibilidade de matérias-primas.

O acesso a matérias-primas já vinha se revelando, desde os choques do

petróleo, um fator preocupante para o segmento petroquímico no país, tendo em

vista que as unidades de primeira geração e o parque de refino nacional são

fundamentalmente baseados em nafta. Não obstante o país ter alcançado a auto-

suficiência em petróleo, quase um terço da nafta consumida internamente ainda

provém de importações, vez que as maiores reservas brasileiras atualmente

exploradas são constituídas por frações pesadas.

Essa insuficiência na oferta doméstica de nafta direcionou os

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investimentos recentes em expansão e ampliação da capacidade produtiva a

buscarem fontes alternativas, tais como o gás natural utilizado pela Riopole o

petróleo pesado que será utilizado no COMPERJ, além da busca de matérias-primas

renováveis, como o etanol para produção de eteno. No que tange às frações

pesadas, a restrição mundial de matérias-primas também tem levado à busca pelo

desenvolvimento de novas tecnologias para sua utilização, destacando-se o FCC

Petroquímico e o DCC. No Brasil, a Petrobras tem posição de destaque nessas

novas tecnologias, possuindo longa experiência em FCC.

Enfim, a aliança entre a Petrobras e os grupos nacionais, assim como a

estratégia da Braskem de expandir sua capacidade produtiva em países detentores

de fontes importantes de gás natural, buscam equacionar um dos pontos nevrálgicos

da competitividade nesta indústria, já que quase 90% dos seus custos referem-se às

matérias-primas utilizadas. Além disso, as descobertas recentes na camada pré-sal,

com frações não desprezíveis de óleos leves, ainda que demandem elevados

investimentos, em razão dos altos custos de perfuração e logística, poderão

conduzir o país a figurar entre os principais produtores de petróleo do mundo,

produzindo efeitos extremamente positivos para a petroquímica brasileira.

No que se refere ao crescimento da oferta, a entrada em operação dos

inúmeros projetos previstos para o Oriente Médio, aliada ao início da fase de baixa

do ciclo de negócios da petroquímica, agravado pela crise econômica mundial

deflagrada em 2008, apresenta-se como um importante desafio competitivo para a

petroquímica brasileira, vez que poderá pressionar sobremaneira os preços dos

produtos petroquímicos mais commoditizados. Embora se preveja um crescimento

da demanda por petroquímicos no Brasil, cujo consumo de polietilenos em relação

ao PIBper capita ainda é bastante baixo quando comparado aos países

desenvolvidos e até aos demais países da América Latina, a expansão da

petroquímica nacional estará vinculado à capacidade para escoar de forma

competitiva sua oferta nos mercados interno, da América Latina e América do Norte.

No momento, a maioria dos estudos conjunturais aponta que a recessão

econômica global reduzirá severamente o crescimento da demanda por olefinas,

com uma recuperação mais sustentável apenas a partir do período de 2011 a 2014.

Independente deste revés mais severo, usualmente os negócios petroquímicos já

estão sujeitos à ciclicidade. A atual configuração da petroquímica nacional, liderada

pela Braskem, revela-se muito propícia ao enfrentamento dessas fases negativas,

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envolvendo, inclusive, uma maior capacidade para aproveitar as oportunidades que

também surgem nesses momentos, como a diminuição do preço dos ativos nos

Estados Unidos. A estratégia da Braskem de aproximar-se dos clientes de terceira

geração, uma importante vantagem competitiva que ela tem construído no mercado

nacional e latino-americano, também poderá ser obtida na América do Norte, caso a

empresa concretize seu projeto de adquirir ativos naquele país.

Quanto às mudanças tecnológicas, a Braskem tem procurado

acompanhar as tendências recentes nessa indústria em termos mundiais. O atraso

advindo da baixa capacitação da petroquímica nacional em virtude dos

investimentos restritos durante as últimas décadas vem sendo razoavelmente

compensado pela mobilização de maiores recursos na área pela Braskem, além de

serem previstas sinergias tecnológicas positivas com o CENPES, em decorrência do

retorno da Petrobras ao setor.

Por fim, destaca-se o papel das políticas governamentais, em especial na

questão dos financiamentos dos investimentos e na proteção tarifária. O BNDES

vem atuando significativamente no apoio às inversões nessa indústria, embora a

principal empresa do setor esteja buscando não se restringir a essa fonte de

financiamento. Os projetos atuais da Braskem tem sido estruturados na modalidade

de project finance e pretendem obter o apoio de agências multilaterais diversas na

composição da dívida.

No que tange à proteção tarifária, ela tem se revelado adequada para

manter a competitividade do país, incentivando a indústria petroquímica nacional,

sem provocar uma maior acomodação no setor advinda de um protecionismo

exagerado. A entrada em operação das plantas ultra competitivas no Oriente Médio

poderá resultar em um novo movimento protecionista nos países desenvolvidos, em

especial na União Européia, com o surgimento de barreiras não-tarifárias ao

comércio internacional de produtos petroquímicos.

As mudanças na regulamentação ambiental, com maiores pressões para

a limitação das emissões de gases poluentes, certamente afetarão a petroquímica

em todo o mundo, aumentando significativamente os investimentos necessários ao

seu cumprimento, podendo reduzir a disponibilidade de recursos para outras

inversões.

Enfim, a petroquímica brasileira no início desse terceiro milênio foi capaz

de vencer parte de suas fragilidades competitivas, adequando-se ao padrão mundial

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do setor. Suas possibilidades de crescimento estão bastante vinculadas ao mercado

interno brasileiro e uma maior inserção no âmbito internacional demonstra hoje boas

perspectivas de se concretizar, especialmente no continente americano, tanto pela

via das exportações, quanto pela internacionalização das empresas nacionais, in

casu, a Braskem. Apesar dos desafios que se apresentam, majorados pela crise

financeira de 2008, essa indústria conseguiu alcançar melhores condições

competitivas para seguir uma trajetória sustentada de crescimento.

Um alerta: não foram consideradas no presente trabalho questões ligadas

à infra-estrutura e outras condições sistêmicas do país, que ainda apresentam

inúmeras fragilidades e podem se constituir em obstáculo significativo ao

desenvolvimento dessa e de outras indústrias nacionais. Embora o Brasil tenha

alcançado a estabilidade macroeconômica e relativa maturidade política, diversas

deficiências sistêmicas existem e ainda não foram adequadamente equacionadas,

nem são passíveis de soluções imediatas. Além disso, deixou-se de examinar as

possibilidades de fortalecimento da cadeia de plásticos, principal mercado

consumidor dos produtos petroquímicos, capaz de incrementar fortemente sua

demanda.

Por fim, uma sugestão para uma agenda de pesquisa. No último capítulo,

mencionou-se a possibilidade de uma empresa estrangeira adquirir a Quattor.

Existem também rumores sobre a possibilidade de grupos estrangeiros associarem-

se com a Petrobras no projeto de Suape. É uma novidade, pois durante o

movimento de reestruturação da petroquímica brasileira, inclusive na privatização,

não houve interesse de grupos internacionais em participar, principalmente em

virtude da carência de matérias-primas no país e de um mercado consumidor que

ainda não se apresenta tão dinâmico quanto os da China e da Índia. O que mudou?

As descobertas do pré-sal? A melhoria da distribuição da renda nacional, com a

diminuição da concentração, maior óbice ao fortalecimento do enorme mercado

consumidor potencial no país? Existe espaço para mais de um player nacional na

petroquímica do país? Se a resposta for negativa, como fica a concentração de

mercado e a defesa da concorrência? São questões para futuros trabalhos.

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ANEXO A 50 MAIORES EMPRESAS QUÍMICAS MUNDIAIS POR VOLUME DE VENDAS

(2004)

RANK

EMPRESA

VENDAS QUÍMIC

AS (U$MILH

ÕES) 2004

MUDANÇA EM RELAÇÃO A 2003

VENDAS

QUÍMICAS

COMO % DO

TOTAL DE

VENDAS

PAÍS ONDE ESTÁ

LOCALIZADA

A SEDE

LUCROS

OPERACIONAIS DA

ATIVIDADE

QUÍMICA

(U$MILHÕES)

MUDANÇA EM RELAÇÃO A 2003

LUCROS

COMO % DO

TOTAL DO

LUCRO OPERACIONA

L

MARGEM DE LUCRO OPERACIONA

L

ATIVOS QUÍMICO

S IDENTIFICÁVEIS

(U$MILHÕES)

ATIVOS

QUÍMICOS

COMO % DOS ATIVO

S TOTAI

S

RETORNOS

OPERACIONAI

S SOBRE

OS ATIVOS QUÍMIC

OS 2

004

2003

1 1 Dow Chemical

$ 40,161.0

23.1% 100,0% U.S.

$ 3.459.0

66.1%

100.0% 8.6% $ 45,885,0 100% 7.5%

2 2 BASF 38.189.1 12,9 81.8% German

y 4,375.6 130.5 72.4 11.5 26,860.7 63.7 16.3

3 3 Dupontd 30,130.0 -4,0 99.9% U.S. na - - - 19,074.0 98.0 -

4 8 Royal Dutch/Shell 29,497.0 41.7 11.1%

U.K./Netherland

s 930.0 nm 2.9 3.2 18,330.0 9.5 5.1

5 6 ExxonMobile 27,781,0 37.6 9.5% U.S. 3,428.0 139.4 13.5 12.3 21,154.0 10.8 16.2

6 5 Total 34.927.9 16.1 16.3% France 1,350.7 94.6 6.8 5.4 6,452.7 6.2 20.9

7 7 BP 21,209.0 31.9 7.2% U.K. -337.0 nm def def 10,660.0 8,4 def

8 4 Bayerf 18,088,3 10.0 61.3% German

y 1,409.2 nm 65.3 7.8 24,046.0 57.7 5.9

9 13 China Petroleum

& Chemical 16,730,0 39.4 22.4 China 2,261.0 428.3 29.7 13.5 12,685.0 25.0 17.8

10 9 Mitsubishi Chemical 16.274.0 14.8 80.4 Japan 1,116.0 60.6 81.2 6.9 12,849.0 70.5 8.2

11 12 SABIC 15,901.0 53.7 86.8 Saudi Arabia 5,252.1 123.4 83.6 33.0 21,647.0 64.8 24.3

12 10 Degussa 13,985.1 -1.6 100.0 German

y 1,058.5 29.3 100.0 7.6 16,956.5 100.0 6.2

13 16

Formsa Plastics Groupg 12.627.0 40.1 53.9 Taiwan 2,715.0 81.1 65.4 21.5 19,432.0 60.7 14.0

14 11 Akzo Nobel 11,806.0 0.0 73.6 Netherlands 1,333.3 42.0 70.2 11.3 7,277.4 49.0 18.3

15 24 Huntsman Corp. 11,437.9 63.6 100.0 U.S. 159.4 132.0 25.8 1.4 9,436.5 100.0 1.7

16 15 Mitsui Chemical,is 11,350.0 12.7 100.0 Japan 744.0 49.1 100.0 6.6 11,144.0 100.0 6.7

17 19 Air Liquide 10,713.8 11.6 91.9 France 1,680.8 7.6 105.8 15.7 7,978.6 44.5 21.1

18 14 ICI 10,258.2 -4.2 100.0 U.K. 877.3 21.6 100.0 8.6 9,040.3 100.0 9.7

19 20 Sumitono Chemical 9,883.0 14.6 82.5 Japan 604.0 87.6 62.1 6.1 10,054.0 65.9 6.0

20 21 Toray industries 9,869.0 24.5 82.2 Japan 599.0 42.6 80.0 6.1 10,203.0 78.7 5.9

21 25 DSM 9,641.8 28.1 100.0 Netherlands 608.2 66.3 100.0 6.3 11,114.4 100.0 5.5

22 27 Equistar chemicalls 9,316.0 42.3 100.0 U.S. 498.0 nm 100.0 5.3 5,074.0 100.0 9.8

23 17 Dainippon Ink &

Chemicals 9,273.0 2.9 100.0 Japan 445.0 9.9 100.0 4.8 9,235.0 100.0 4.8

24 23 Chevron Philops 9,238.0 33.7 100.0 U.S. 707.0 830.3 100.0 7.7 6,872.0 100.0 10.3

25 22 Shin-Etsu 8,946.0 16.2 100.0 Japan 1.403.0 20.7 100.0 15.7 13,650.0 100.0 10.3

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RANK

EMPRESA

VENDAS QUÍMIC

AS (U$MILH

ÕES) 2004

MUDANÇA EM RELAÇÃO A 2003

VENDAS

QUÍMICAS

COMO % DO

TOTAL DE

VENDAS

PAÍS ONDE ESTÁ

LOCALIZADA

A SEDE

LUCROS

OPERACIONAIS DA

ATIVIDADE

QUÍMICA

(U$MILHÕES)

MUDANÇA EM RELAÇÃO A 2003

LUCROS

COMO % DO

TOTAL DO

LUCRO OPERACIONA

L

MARGEM DE LUCRO OPERACIONA

L

ATIVOS QUÍMICO

S IDENTIFICÁVEIS

(U$MILHÕES)

ATIVOS

QUÍMICOS

COMO % DOS ATIVO

S TOTAI

S

RETORNOS

OPERACIONAI

S SOBRE

OS ATIVOS QUÍMIC

OS

26 18 General Electricd 8,290.0 17.1 5.4 U.S. 710.0 15.3 3.4 8.6 12,318.0 1.6 5.8

27 Lanxessh 7,528.6 4.8 100.0 German

y 92.0 nm 100.0 1.2 5,364.4 100.0 1.7

28 26 PPG Industries 7,309.0 10.6 76.8 U.S. 1.068.0 13.7 89.5 14.6 5,720.0 64.0 18.7

29 36 Asahi Kasei 1,142.0 18.6 56.1 Japan 589.0 96.3 55.0 8.2 6,523.0 55.5 9.0

30 32 BOC 7,095.2 5.3 84.2 England 929.7 19.9 88.0 13.1 5,709.2 90.0 16.3

31 31 Air Products 7,050.7 16.9 95.1 U.S. 916.5 40.6 98.8 13.0 9,372.0 93.3 9.8

32 42 Ineos Groupi 7,000.0 40.0 100.0 U.K. na - - na na - -

33 29 Clariant 6,862.4 0.2 100.0 Switzerl

and 509.3 3.6 100.0 7.4 6,279.2 100.0 8.1

34 41 ENI 6,737.6 20.7 9.3 Italy 337.1 nm 2.2 5.0 4,070.4 7.6 8.3

35 37 Praxair 6,954.0 17.5 100.0 U.S. 1,661.0 15.0 100.0 25.2 9,878.0 100.0 16.8

36 34 Eastman Chemical 6,580.0 13.4 100.0 U.S. 374.0 67.7 100.0 5.7 5,872.0 100.0 6.4

37 28 Reliance industries 6,572.0 27.0 44.7 India 831.0 11.7 35.9 12.6 2,118.0 14.9 39.2

38 30 Rhodia 6,568.4 def 100.0 France -432.8 nm 100.0 def 6,801.0 100.0 nm

39 33 Sasol 6,557.8 -6.8 50.4 South Africa 144.4 -36.6 10.0 2.2 6,568.3 57.8 2.2

40 39 Solvay 6,523.6 8.3 66.67 Belgium 665.4 52.9 67.8 10.2 4,072.1 32.6 16.3

41 35 Rohm and Haas 6,471.0 15.1 88.6 U.S. na - - - 6,997.0 69.3 -

42 - Yara 6,417.3 12.4 100.0 Norway 531.8 30.6 100.0 8.3 4,078.1 100.0 13.0

43 45 LG Chemk 6,309.0 38.4 78.9 South Korea 704.0 89.2 90.6 9.6 2.324.0 74.1 30.3

44 38 Syngenta 6,030.0 11.2 83.0 Switzerl

and 713.0 26.0 131.8 11.8 8,325.0 69.3 8.6

45 49 Lyondell Chemical 5,968.0 57.0 100.0 U.S. 105.0 nm 100.0 1.8 15,736.0 98.5 0,7

46 47 Borealis 5,756.2 26.0 100.0 Denmar

k 345.8 612.8 100.0 6.0 3,905.5 100.0 8.9

47 43 Ciba Specialty

Chemical 5,653.3 5.7 100.0 Switzerl

and 417.5 -9.1 100.0 7.4 8,854,4 100.0 4.7

48 46 Teijin 5,287.0 15.0 62.9 Japan 274.0 95.7 57.1 5.2 5,313.0 67.4 5.2

49 48 Nova Chemicals 5,270,0 33.5 100.0 Canadá 264.0 def 100.0 5.9 5,047;0 100.0 5.2

50 44 Celanese 5,069.0 10.1 100.0 U.S 130.0 10.1 100.0 2.6 7,410.0 100.0 1.8

Fonte: C&EN, 2005a, p. 17-21

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ANEXO B 50 MAIORES EMPRESAS QUÍMICAS MUNDIAIS POR VOLUME DE VENDAS (2006)

RANK

EMPRESA

VENDAS QUÍMICA

S (U$MILHÕ

ES) 2006

MUDANÇA EM RELAÇÃO A 2005

VENDAS

QUÍMICAS

COMO % DO

TOTAL DE

VENDAS

PAÍS ONDE ESTÁ

LOCALIZADA A SEDE

LUCROS OPERACIO

NAIS DA ATIVIDADE

QUÍMICA (U$MILHÕE

S)

MUDANÇA EM RELAÇÃO A 2005

LUCROS COMO % DO

TOTAL DO LUCRO

OPERACIONAL

MARGEM DE LUCRO OPERACIO

NAL

ATIVOS QUÍMICOS IDENTIFICÁ

VEIS (U$MILHÕE

S)

ATIVOS QUÍMIC

OS COMO % DOS ATIVOS TOTAIS

RETORNOS OPERACIO

NAIS SOBRE OS

ATIVOS QUÍMICOS

2006

2005

1 1 BASF $49.516 12% 75,0% Germany $4.550 12% 50% 9% $41.665 23% 11%

2 2 Dow Chemical 49.124 6 100 U.S. 4.771 12 100 10 45.881 100 11

3 3 Royal Dutch/ U.K.

Schell 36.306 4,0 11 Netherlan

ds 702 42 2 2 12.394 5 6

4 4 ExxonMobil* 34.098 9 9 U.S. 4.382 11 11 13 19.537 9 22

5 17 Ineos Group 33.366 169 100 U.K. 1.161 na 100 3 na na na

6 5 Dupont 28.928 3 100 U.S. 3.598 4 84 12 19.410 na 19

7 7 China Petroleum

& Chemical 27.783 32 21 China 2.162 21 21 8 24.160 31 9

8 5 Total 24.012 14 12 France 1.526 *10 5 6 6.260 5 24

9 11 Formosa 21.012 13 60 Taiwan 2.303 *3 56 11 19.125 60 12

Plastic Group

10 8 Bayer 19.926 *4 55 Germany 1.980 *23 57 10 20.909 30 9

11 10 SABIC 19.749 4 86 Sout

Arabia 8.407 2 90 43 28.428 64 30

12 12 Lyondell 18.671 10 83 U.S. 686 *54 64 4 14.260 80 5

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178

RANK

EMPRESA

VENDAS QUÍMICA

S (U$MILHÕ

ES) 2006

MUDANÇA EM RELAÇÃO A 2005

VENDAS

QUÍMICAS

COMO % DO

TOTAL DE

VENDAS

PAÍS ONDE ESTÁ

LOCALIZADA A SEDE

LUCROS OPERACIO

NAIS DA ATIVIDADE

QUÍMICA (U$MILHÕE

S)

MUDANÇA EM RELAÇÃO A 2005

LUCROS COMO % DO

TOTAL DO LUCRO

OPERACIONAL

MARGEM DE LUCRO OPERACIO

NAL

ATIVOS QUÍMICOS IDENTIFICÁ

VEIS (U$MILHÕE

S)

ATIVOS QUÍMIC

OS COMO % DOS ATIVOS TOTAIS

RETORNOS OPERACIO

NAIS SOBRE OS

ATIVOS QUÍMICOS

2006

2005

13 13 Mitsubishi Chemical 18.671 10 83 Japan 753 *13 68 4 14.919 75 5

14 15 Mitsul 14.513 15 100 Japan 788 56 100 5 12.881 100 6

15 14 Degussa 13.718 7 100 Germany 687 30 100 5 16.868 100 4

16 24 Basell 13.185 23 100 Netherlan

ds 778 *19 100 6 9.331 100 8

17 18 Akzo Nobel 12.586 6 73 Netherlan

ds 1.214 39 66 10 8.003 50 15

18 19 Sumitomo 12.112 12 79 Japan 661 1 55 5 12.480 62 5

19 20 Air Liquide 12.96 5 88 France 7.127 8 102 18 17.330 85 12

20 22 Chevron Phillips 11.839 11 100 U.S. 1.443 54 100 12 7.119 100 20

21 21 Toray 11.668 9 88 Japan 774 9 88 7 12.529 87 6

22 25 Shin-Etsu 11.217 16 100 Japan 2.072 30 100 18 15.992 100 13

23 16 Huntsman 10.624 18 100 U.S. 629 *36 100 6 6.445 100 7

24 26 DSM 10.528 2 100 Netherlan

ds 1.015 0 100 10 12.677 100 8

25 - PetroChina 9.386 8 11 China 635 55 3 7 10.167 9 6

26 50 LG Chern 9.344 23 72 Sout

Korea 540 *26 76 6 2.897 55 19

27 39 Reliannce 9.344 29 40 India 1.194 14 37 13 6.153 31 19

28 32 Solvay 9.280 17 79 Bleguim 908 7 66 10 5.010 36 18

29 23 ICI 8.931 *17 100 U.K. 925 *9 100 10 9.499 100 10

30 32 PPG Industries 8.808 11 80 U.S. 1.371 29 96 16 6.783 68 20

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179

RANK

EMPRESA

VENDAS QUÍMICA

S (U$MILHÕ

ES) 2006

MUDANÇA EM RELAÇÃO A 2005

VENDAS

QUÍMICAS

COMO % DO

TOTAL DE

VENDAS

PAÍS ONDE ESTÁ

LOCALIZADA A SEDE

LUCROS OPERACIO

NAIS DA ATIVIDADE

QUÍMICA (U$MILHÕE

S)

MUDANÇA EM RELAÇÃO A 2005

LUCROS COMO % DO

TOTAL DO LUCRO

OPERACIONAL

MARGEM DE LUCRO OPERACIO

NAL

ATIVOS QUÍMICOS IDENTIFICÁ

VEIS (U$MILHÕE

S)

ATIVOS QUÍMIC

OS COMO % DOS ATIVOS TOTAIS

RETORNOS OPERACIO

NAIS SOBRE OS

ATIVOS QUÍMICOS

2006

2005

31 27 Danppon 8.732 4 100 Japan 442 4 100 5 8.527 100 5

32 28 Lanxess 8.724 *3 100 Germany 472 1.243 100 5 5.454 100 9

33 33 ENi 8.572 9 8 Italy 216 *15 1 3 1.347 2 16

34 31 Asahi Kasei 8.521 14 61 Japan 677 23 62 8 7.167 57 9

35 38 Praxar 8.324 9 100 U.S. 2.183 12 100 26 11.102 100 20

36 - Linde 7.783 39 50 Germany 1.935 39 69 25 30.671 87 6

37 34 Air Products 7.743 13 87 U.S. 1.071 19 101 14 9.703 87 11

38 36 Yara 7.530 5 100 Norway 523 *12 641 7 5.190 100 10

39 38 Eastman 7.450 6 100 U.S. 673 *15 100 9 6.173 100 11

40 37 Rohm and Haas 7.401 5 90 U.S. na na na na 5.190 100 10

41 - Arkema 7.369 3 100 France 534 20 100 7 5.507 100 9

42 46 Boreals 7.214 19 100 Austria 443 215 100 6 4.612 100 10

43 42 Sasol 6.783 9 56 Sout África 123 nm def def 2.958 29 4

44 40 GE 6.673 1 4 U.S. 674 22 10 10 na na na

45 48 Celanese 6.656 10 100 U.S. 834 30 100 13 7.895 100 11

46 48 Nova 6.519 16 100 Canada 305 *33 100 5 4.155 100 7

47 41 Clariant 6.463 *1 100 Switerland 307 5 100 5 5.736 100 5

48 44 Syngenta 6.380 1 79 Switerland 822 *17 99 13 8.608 73 10

49 43 Rhodia 6.043 *5 100 France 451 270 100 7 6.474 100 7 Fonte: C&EN, 2007, p. 13-16

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ANEXO C 50 MAIORES EMPRESAS QUÍMICAS MUNDIAIS POR VOLUME DE VENDAS (2007)

RANK

EMPRESA

VENDAS QUÍMICA

S (U$MILHÕ

ES) 2007

MUDANÇA EM RELAÇÃO A 2006

VENDAS

QUÍMICAS

COMO % DO

TOTAL DE

VENDAS

PAÍS ONDE ESTÁ

LOCALIZADA A SEDE

LUCROS OPERACIO

NAIS DA ATIVIDADE QUÍMICA

(U$MILHÕES)

MUDANÇA EM RELAÇÃO A 2006

LUCROS COMO % DO

TOTAL DO LUCRO

OPERACIONAL

MARGEM DE LUCRO OPERACIO

NAL

ATIVOS QUÍMICOS IDENTIFICÁ

VEIS (U$MILHÕE

S)

ATIVOS QUÍMIC

OS COMO % DOS ATIVOS TOTAIS

RETORNOS OPERACIO

NAIS SOBRE OS

ATIVOS QUÍMICOS

2007

2006

1 1 BASF $65.037 20% 82% Germany $5.898 23% 75% 9% 48.795 76% 12%

2 2 Dow Chemical 53.513 9 100 U.S. 3.887 19 100 7 48.801 100 8

3 3 Shell 45.911 26 13 Netherland

s 2.05 93 11 4 17.692 7 12

4 5 Ineos Group 37.686 13 100 U.K. 3.015 139 100 8 na na na

5 4 ExxonMobil 36.826 8 9 U.S. 4.563 4 9 12 21.418 9 21

China Petroleum

6 7 & Chemical 30.676 12 19 China 1.748 *8 20 6 15.899 18 11

7 11 SABIC 29.276 48 87 Saud Arabia 11.107 32 86 38 47.111 69 24

8 6 Dupont 29.218 1 100 U.S. 4.153 15 100 14 19.334 98 21

9 8 Total 28.786 10 13 France 1.954 17 12 7 6.939 4 28

Formosa

10 9 Plasties Group 26.541 29 58 Taiwan 3.306 47 58 12 18.966 65 17

11 10 Bayer 22.644 4 51 Germany 2.328 8 55 10 21.159 30 11

12 13 Mitsubishi

Chemical 20.008 8 80 Japan 548 26 83 3 15.150 65 4

13 16 Basell 16.614 15 97 Netherland

s 1.320 56 100 8 11.185 29 12

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181

RANK

EMPRESA

VENDAS QUÍMICA

S (U$MILHÕ

ES) 2007

MUDANÇA EM RELAÇÃO A 2006

VENDAS

QUÍMICAS

COMO % DO

TOTAL DE

VENDAS

PAÍS ONDE ESTÁ

LOCALIZADA A SEDE

LUCROS OPERACIO

NAIS DA ATIVIDADE QUÍMICA

(U$MILHÕES)

MUDANÇA EM RELAÇÃO A 2006

LUCROS COMO % DO

TOTAL DO LUCRO

OPERACIONAL

MARGEM DE LUCRO OPERACIO

NAL

ATIVOS QUÍMICOS IDENTIFICÁ

VEIS (U$MILHÕE

S)

ATIVOS QUÍMIC

OS COMO % DOS ATIVOS TOTAIS

RETORNOS OPERACIO

NAIS SOBRE OS

ATIVOS QUÍMICOS

2007

2006

14 12 Lyondell Chemical 16.165 17 57 U.S. 827 21 88 5 na na na

15 15 Evonik 15.972 3 81 Germany 2.266 3 80 14 16.064 59 14

16 14 Mitsui 15.172 5 100 Japan 655 18 100 4 12.477 100 5

17 17 AkzoNobel 14.009 2 100 Netherland

s 1.743 32 73 12 26.384 100 7

18 19 Air Liquide 13.710 4 85 France 2.483 7 88 18 20.515 111 12

19 18 Sumitomo 13.662 14 85 Japan 456 30 79 3 12.663 63 4

20 25 Petrochina 13.498 24 12 China 1.029 55 12 8 10.508 5 10

21 27 Reliance 13.222 4 40 ìndia 1.739 8 46 13 9.826 23 18

22 36 Linde 12.626 49 75 Germany 5.173 50 76 25 29.649 87 11

23 20 Chevron

Phillips 12.534 6 100 U.S. 820 -43 100 7 7.232 100 11

24 24 DSM 12.007 4 100 Netherland

s 887 -20 100 7 13.475 100 7

25 21 Toray 11.962 7 85 Japan 764 0 85 6 12.551 87 6

26 22 Shin-Etsu 11.688 5 100 Japan 2.438 19 100 21 16.292 100 15

27 30 PPG industries 10.025 14 90 U.S. 1.411 3 80 14 7.636 60 18

28 26 LG Chemi 9.942 23 86 South Korea 716 205 81 7 na na na

29 38 Yara 9.817 19 100 Norway 852 49 100 9 8.133 100 10

30 29 ICI 9.808 1 100 U.K. 1.367 36 100 14 25.568 100 5

31 23 Huntsman 9.651 *9 100 U.S. 524 *17 100 5 8.166 100 6

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182

RANK

EMPRESA

VENDAS QUÍMICA

S (U$MILHÕ

ES) 2007

MUDANÇA EM RELAÇÃO A 2006

VENDAS

QUÍMICAS

COMO % DO

TOTAL DE

VENDAS

PAÍS ONDE ESTÁ

LOCALIZADA A SEDE

LUCROS OPERACIO

NAIS DA ATIVIDADE QUÍMICA

(U$MILHÕES)

MUDANÇA EM RELAÇÃO A 2006

LUCROS COMO % DO

TOTAL DO LUCRO

OPERACIONAL

MARGEM DE LUCRO OPERACIO

NAL

ATIVOS QUÍMICOS IDENTIFICÁ

VEIS (U$MILHÕE

S)

ATIVOS QUÍMIC

OS COMO % DOS ATIVOS TOTAIS

RETORNOS OPERACIO

NAIS SOBRE OS

ATIVOS QUÍMICOS

2007

2006

32 28 Solvay 9.572 3 73 Belgium 1.078 9 72 11 6.994 46 15

33 33 ENI 9.507 2 8 Italy 101 -57 8 1 4.699 3 2

34 35 Praxair 9.402 13 100 U.S. 2.557 17 100 27 13.382 100 19

35 31 DIC 9.153 6 100 Japan 411 *6 100 4 8.308 100 5

36 50 Braskem 9.085 36 100 Brazil 1.028 60 100 11 10.735 100 10

37 32 Lanxess 9.060 5 100 Germany 986 7 100 11 5.552 100 18

38 37 Air Products 8.820 14 88 U.S. 1.331 24 87 15 10.911 89 12

39 42 Borealis 8.706 11 100 Austria 618 28 100 7 6.350 100 10

40 34 Asahi Kasei 8.573 2 59 Japan 615 *8 61 7 6.217 51 10

41 43 Sasol 7.980 20 57 South Africa 652 nm 57 8 7.986 47 8

42 40 Rohm and Haas 7.837 6 88 U.S. na na na na 7.154 70 na

43 41 Arkema 7.781 0 100 France 402 47 100 5 6.082 100 7

44 48 Syngenta 7.290 14 79 Switzerlan

d 1.483 80 79 20 9.213 69 16

45 47 Clariant 7.111 5 100 Switzerlan

d 232 -28 100 3 6.071 100 4

46 49 Rhodia 6.967 6 100 France 614 25 100 9 6.140 100 10

47 39 Eastman 6.830 *8 100 U.S. 616 *8 100 9 6.009 100 10

48 46 Nova 6.732 3 100 Canada 885 190 100 13 4.836 100 18

49 - Showa Denko 6.526 17 75 Japan 626 11 72 10 6.212 71 10

50 45 Celanese 6.444 *3 100 U.S. 856 3 100 13 8.058 100 11 Fonte: C&EN, 2008, p. 19-25

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ANEXO D 50 MAIORES EMPRESAS QUÍMICAS MUNDIAIS POR VOLUME DE VENDAS (2008)

RANK

EMPRESA

VENDAS QUÍMICA

S (U$MILH

ÕES) 2008

MUDANÇA EM RELAÇÃO A 2007

VENDAS

QUÍMICAS

COMO % DO

TOTAL DE

VENDAS

PAÍS ONDE ESTÁ

LOCALIZADA A SEDE

LUCROS OPERACIO

NAIS DA ATIVIDADE QUÍMICA

(U$MILHÕES)

MUDANÇA EM RELAÇÃO A 2007

LUCROS COMO % DO

TOTAL DO LUCRO

OPERACIONAL

MARGEM DE LUCRO OPERACIO

NAL

ATIVOS QUÍMICOS IDENTIFICÁ

VEIS (U$MILHÕE

S)

ATIVOS

QUÍMICOS

COMO % DOS ATIVO

S TOTAIS

RETORNOS

OPERACIONAIS

SOBRE OS ATIVOS

QUÍMICOS

2008 2007

1 1 BASF $70.485 0,9% 76,8% Germany $3.857 38,90% 40,50% 5,50% $62.598 84% 6,20%

2 2 Dow Chemical 57.514 7.5 100 U.S. 2.172 441 100.0 3.8 45.474 100.0 4.8

3 3 Ineos Group 47.000 na 100.0 England na na na na na na na

4 12 LyondellBasell 38.420 90.7 75.8%

Netherlands -3.079 nm nm def na na na

5 4 ExxonMobil* 38.388 4.2 8.4 U.S. 2.957 35.2 6.5 7.7 20.156 8.8 14.7

6 7 SABIC 34.407 17.8 85.6 Saudi Arabia 9.769 11.5 80.0 28.4 60.802 839 16.1

7 5 Sinopec 33.795 0.6 15.6% China *1.921 nm nm def 17.471 17.7 def

8 6 Dupont 30.387 4.0 99.5% U.S. 2.806 -32.4 76.9 9.2 19.267 98.3 14.6

9 8 Total 29.676 1.7 11.2 France *85 nm nm def na na def

10 9 Formosa 27.476 *0.7 51.1 Tawan 1.322 66.3 56.7 4.8 26.267 65.1 5.0

Plastic Group

11 10 Royal Dutch/Schell 26.325 3.9 5.7

Netherlands na na na na 15.428 5.5 na

12 11 Bayer 23.741 0.9 49.0 Germany 2.143 14.3 41.1 9.0 24.258 31.4 8.8

13 18 AkzoNobel 22.703 50.9 100.0 Netherlan

ds 1.063 9.6 100.0 4.7 27.591 100.0 3.9

14 13 Mitsubishi Chemical 18.614 *0.5 66.2 Japan 642 nm nm def 12.663 478 def

15 15 Air Liquide 17.706 9.6 91.8 France na na na na 25.585 54.3 na

16 16 Evonik 17.147 8.6 73.4 Germany 2.356 0.6 73.7 13.7 na na na

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184

RANK

EMPRESA

VENDAS QUÍMICA

S (U$MILH

ÕES) 2008

MUDANÇA EM RELAÇÃO A 2007

VENDAS

QUÍMICAS

COMO % DO

TOTAL DE

VENDAS

PAÍS ONDE ESTÁ

LOCALIZADA A SEDE

LUCROS OPERACIO

NAIS DA ATIVIDADE QUÍMICA

(U$MILHÕES)

MUDANÇA EM RELAÇÃO A 2007

LUCROS COMO % DO

TOTAL DO LUCRO

OPERACIONAL

MARGEM DE LUCRO OPERACIO

NAL

ATIVOS QUÍMICOS IDENTIFICÁ

VEIS (U$MILHÕE

S)

ATIVOS

QUÍMICOS

COMO % DOS ATIVO

S TOTAIS

RETORNOS

OPERACIONAIS

SOBRE OS ATIVOS

QUÍMICOS

2008 2007

17 19 PetroChina 15.950 7.9 10.3 China *90 nm *0.4 def 16.055 4.9 *0.6

18 29 Yara 15.750 54.4 100.0 Norway 2.361 55.4 100.0 15.0 14.351 100.0 16.5

19 14 Mitsul Chemicals 14.388 16.7 100.0 Japan 440 41.1 100.0 3.1 11.500 100.0 3.8

20 21 Linde 14.013 3.3 75.1 Germany 3.550 4.5 94.6 25.4 30.103 85.8 11.8

21 30 PPG Industries 13.935 39.0 87.9 U.S. 1.519 7.7 95.6 10.9 11.110 75.6 13.7

22 23 DSM 13.692 6.2 100.0 Netherlan

ds 1.598 3.0 100.0 11.7 14.216 100.0 11.2

23 17 Sumitomo Chemical 13.571 12.8 78.5 Japan *199 nm nm def 12.046 61.6 def

24 26 LG Chern 13.553 28.3 100.0 South Korea 1.202 24.0 100.0 8.9 4.865 100.0 24.7

25 24 Chevron Phillips 12.646 0.9 100.0 U.S. 401 -51.1 100.0 3.2 6.676 100.0 6.0

26 20 Toray Industries 12.398 *9.0 87.1 Japan 290 66.7 83.2 2.3 12.724 66.3 2.3

27 25 Reliance

Industries 12.161 *0.4 31.2 Índia 1.580 3.6 100.0 13.0 9.595 22.5 16.5

28 22 Shin-Etsu

Chemical 11.614 -12.8 100.0 Japan 2.253 -18.9 100.0 19.4 16.297 100.0 13.8

29 36 Praxair 10.796 14.8 100.0 U.S. 2.892 13.1 100.0 26.8 13.054 100.0 2.8

30 34 Huntsman 10.117 4.8 100.0 U.S. 228 56.5 100.0 2.3 8.058 100.0 2.8

31 28 Solvay 10.001 2.7 716 Belgium 739 36.1 52.0 7.4 6.295 60.8 11.7

32 38 Air Products 9.976 16.5 95.8 U.S. 1.518 12.5 97.5 15.2 11.353 97.2 13.4

33 37 Borealis 9.863 5.5 100.0 Austria 240 639 100.0 2.4 7.110 100.0 3.4

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185

RANK

EMPRESA

VENDAS QUÍMICA

S (U$MILH

ÕES) 2008

MUDANÇA EM RELAÇÃO A 2007

VENDAS

QUÍMICAS

COMO % DO

TOTAL DE

VENDAS

PAÍS ONDE ESTÁ

LOCALIZADA A SEDE

LUCROS OPERACIO

NAIS DA ATIVIDADE QUÍMICA

(U$MILHÕES)

MUDANÇA EM RELAÇÃO A 2007

LUCROS COMO % DO

TOTAL DO LUCRO

OPERACIONAL

MARGEM DE LUCRO OPERACIO

NAL

ATIVOS QUÍMICOS IDENTIFICÁ

VEIS (U$MILHÕE

S)

ATIVOS

QUÍMICOS

COMO % DOS ATIVO

S TOTAIS

RETORNOS

OPERACIONAIS

SOBRE OS ATIVOS

QUÍMICOS

2008 2007

34 - Mosaic 9.813 70.0 100.0 U.S. 2.837 360.3 100.0 28.9 11.820 100.0 24.0

35 35 Braskem 9.799 1.8 100.0 Brazil 901 20.3 100.0 9.2 12.387 100.0 7.3

36 32 Lanxess 9.685 0.5 100.0 Germany 641 5.0 100.0 6.6 6.850 100.0 9.4

37 - PotashCorp 9.447 80.5 100.0 Canada 4.176 172.3 100.0 44.2 9.717 94.8 43.0

38 31 Asahi Kasei 9.225 5.5 61.4 Japan 20 97.1 5.9 0.2 7.801 58.5 0.3

39 43 Syngenta 9.158 26.9 78.8 Switzerlan

d 2.121 41.3 103.3 23.2 9.782 67.1 21.7

40 27 DIC 9.018 -13.5 100.0 Japan 245 47.6 100.0 2.7 7.142 100.0 3.4

41 33 ENI 8.697 10.1 5.5 Italy -1.211 nm nm def 3.872 2.7 def

42 41 Rohm and Haas 8.355 6.6 87.3 U.S. 384 49.8 68.4 4.6 6.957 70.2 5.5

43 39 Arkema 8.296 -0.7 100.0 France 368 14.7 100.0 4.4 6.588 100.0 5.6

44 48 Sasol 8.267 25.6 52.5 South África 801 53.9 19.5 9.7 8.451 50.3 9.5

45 - National

Petrochemical Co 7.755 63.9 100.0 Iran 1.484 66.5 100.0 19.1 27.075 99.9 5.5

46 42 Showa Denko 7.488 0.7 77.1 Japan 315 55.9 121.5 4.2 6.646 71.4 4.7

47 40 Clariant 7.462 -5.4 100.0 Switzerlan

d 456 -1.8 100.0 6.1 5.497 100.0 8.3

48 47 Nova Chemicals 7.366 9.4 100.0 Canada 237 -73.2 100.0 3.2 4.034 100.0 5.9

49 44 Rhodia 7.015 -0.4 100.0 France 554 -21.2 100.0 7.9 6.368 100.0 8.7

50 - Israel Chemicals 6.904 68.3 100.0 Israel 2.429 220.3 100.0 35.2 5.738 100.0 42.3

Fonte: C&EN, 2009, p. 11-15

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ANEXO E ESTRUTURA SOCIETÁRIA DA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA BRASILEIRA

(Participação acionária no capital votante em %)

Fonte: ABIQUIM, 2008

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ANEXO F ESTRUTURA PRODUTIVA DA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA BRASILEIRA

Fonte: ABIQUIM, 2008