Upload
tranmien
View
216
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Universidade Federal de Minas Gerais
Faculdade de Letras
Luis Filipe Lima e Silva
UM ESTUDO SOBRE A FOCALIZACcedilAtildeO NO PORTUGUEcircS BRASILEIRO
Belo Horizonte
2013
LUIS FILIPE LIMA E SILVA
UM ESTUDO SOBRE A FOCALIZACcedilAtildeO NO PORTUGUEcircS BRASILEIRO
Monografia apresentada ao Colegiado de
Graduaccedilatildeo da Faculdade de Letras da
Universidade Federal de Minas Gerais como
requisito parcial para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de
Bacharel em Letras (habilitaccedilatildeo em
Linguiacutestica)
Orientadora Profordf Drordf Heliana Ribeiro de
Mello
Belo Horizonte
Faculdade de Letras da UFMG
2013
Universidade Federal de Minas Gerais
Faculdade de Letras
Monografia intitulada ldquoUm estudo sobre a focalizaccedilatildeo no Portuguecircs Brasileirordquo de autoria do
bacharelando Luis Filipe Lima e Silva submetida agrave aprovaccedilatildeo pela banca examinadora
constituiacuteda pelos seguintes professores
_____________________________________________________________
Profordf Drordf Heliana Ribeiro de Mello ndash FALEUFMG ndash Orientadora
_____________________________________________________________
Profordf Drordf Maria Elizabeth Fonseca Saraiva ndash FALEUFMG
_____________________________________________________________
Doutorando Bruno Neves Rati de Melo Rocha ndash FALEUFMG
A los latinoamericanos
AGRADECIMENTOS
Agrave orientadora Profordf Heliana Mello
Aos membros da banca examinadora Profordf Maria Elizabeth Saraiva e Doutorando Bruno
Rocha
Aos exatuais membros do C-ORAL-BRASIL Adriana Ramos Bruno Mota Elisa Santos
Heloiacutesa Vale Luciana Aacutevila Maryualecirc Mittmann Priscila Cocircrtes e Raiacutessa Caetano
Agraves acadecircmicas Daniela Guimaratildees Lena Dal Pozzo e Mariana Resenes
Aos professores Jacircnia Ramos Lorenzo Vitral e Tommaso Raso
Aos colegas da graduaccedilatildeo Andressa Gomide Carolina Bohoacuterquez Daikan Takane Frederico
Cavalcante Henrique Alves Ingrid Faria Letiacutecia Meirelles e Maacuterio Silva
A todos mis amigos de Latinoameacuterica
La constancia y el estudio hacen a los hombres grandes y los
hombres grandes son el porvenir de la Patria
(Benito Juaacuterez)
RESUMO
A focalizaccedilatildeo eacute um fenocircmeno pragmaacutetico-discursivo que objetiva realccedilar itens do enunciado
O realce dado a um item do enunciado recebe o nome de foco Nas liacutenguas naturais haacute vaacuterias
formas de se focalizar um item atraveacutes de recursos prosoacutedicos construccedilotildees sintaacuteticas
afixaccedilatildeo morfoloacutegica combinaccedilatildeo com itens lexicais exclusivos etc Este trabalho tem dois
objetivos principais o primeiro eacute mapear classificar e analisar prosodicamente estrateacutegias de
focalizaccedilatildeo no Portuguecircs Brasileiro considerando o contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeo e
fazendo uso do formalismo semacircntico como suporte para a anaacutelise dos dados bem como da
percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo dessas estrateacutegias O segundo objetivo eacute propor uma distinccedilatildeo
entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase fenocircmenos muitas vezes considerados sinocircnimos por
aparentemente apresentarem certas semelhanccedilas contudo seraacute proposto que haacute diferenccedilas
entre os dois Foram adotados os mesmos criteacuterios para a anaacutelise dos dados referentes ao
segundo objetivo deste trabalho isto eacute prosoacutedia contexto pragmaacutetico e propriedades
semacircnticas O corpus utilizado para esta pesquisa foi o C-ORAL-BRASIL (RASO amp
MELLO 2012) um corpus oral do Portuguecircs Brasileiro falado informal Ressalta-se que esta
pesquisa eacute de cunho qualitativo isto eacute natildeo foram levados em consideraccedilatildeo paracircmetros
quantitativos como sustentaccedilatildeo das anaacutelises dos dados embora acreditemos que sejam de total
importacircncia Outros objetivos tambeacutem satildeo contemplados por exemplo a exposiccedilatildeo de cada
tipo de foco ilustrados com exemplos de vaacuterias liacutenguas considerando as diferentes correntes
de estudo Atraveacutes da pesquisa em trecircs textos do corpus C-ORAL-BRASIL foi possiacutevel
classificar as ocorrecircncias de focalizaccedilatildeo em foco prosoacutedico sendo realizado por uma
proeminecircncia prosoacutedica foco morfoloacutegico expresso por uma palavra dedicada a focalizar e
foco sintaacutetico sendo realizado atraveacutes das construccedilotildees clivadas O foco prosoacutedico e a ecircnfase
se distinguem no plano pragmaacutetico apresentando contextos distintos de enunciaccedilatildeo e no
plano semacircntico que apresenta efeitos de sentido diferentes
Palavras-chave focalizaccedilatildeo foco ecircnfase prosoacutedia pragmaacutetica
RESUMEN
La focalizacioacuten es un fenoacutemeno pragmaacutetico-discursivo que pretende resaltar los elementos de
la declaracioacuten El realce dado a un elemento de la declaracioacuten se llama foco En el lenguaje
natural existen varias maneras de focalizar un elemento a traveacutes de caracteriacutesticas
prosoacutedicas construcciones sintaacutecticas afijacioacuten morfoloacutegica combinacioacuten con elementos
leacutexicos exclusivos etc Este trabajo tiene dos objetivos principales el primero es mapear
clasificar y analizar prosodicamente las estrategias de focalizacioacuten en el portugueacutes de Brasil
teniendo en cuenta el contexto pragmaacutetico de enunciacioacuten y haciendo uso del formalismo
semaacutentico como apoyo al anaacutelisis de datos asiacute como de la percepcioacuten para la identificacioacuten de
estas estrategias El segundo objetivo es proponer una distincioacuten entre el foco prosoacutedico y el
eacutenfasis fenoacutemenos que a menudo se consideran sinoacutenimos por presentar ciertas similitudes al
parecer sin embargo proponemos que existen diferencias entre los dos El mismo criterio se
adoptoacute para el anaacutelisis de datos relacionados con el segundo objetivo de este trabajo es decir
la prosodia el contexto pragmaacutetico y las propiedades semaacutenticas El corpus utilizado para esta
investigacioacuten fue el C-ORAL-BRASIL (RASO amp MELLO 2012) un corpus oral del
portugueacutes brasilentildeo hablado informalmente Cabe sentildealar que esta investigacioacuten es de tipo
cualitativo es decir no se tendraacute en cuenta paraacutemetros cuantitativos como apoyo para el
anaacutelisis de datos aunque creemos que todos sean importantes Otros objetivos tambieacuten se
contemplan por ejemplo la exposicioacuten de cada tipo de foco que se ilustra con ejemplos de
varios idiomas teniendo en cuenta las diferentes corrientes de estudio A traveacutes de la
investigacioacuten con tres textos del corpus C-ORAL-BRASIL fue posible clasificar las
ocurrencias de focalizacioacuten en el foco prosoacutedico llevado a cabo por una prominencia
prosoacutedica el foco morfoloacutegico expresado por una palabra dedicada a focalizar y el foco
sintaacutectico llevado a cabo a traveacutes de construcciones hendidas El foco prosoacutedico y el eacutenfasis
en el nivel pragmaacutetico se distinguen con diferentes contextos de enunciacioacuten y en el nivel
semaacutentico que presenta diferentes efectos de sentido
Palabras-clave focalizacioacuten foco eacutenfasis prosodia pragmaacutetica
LISTA DE FIGURAS
Figura 31 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02 37
Figura 32 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03 38
Figura 33 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Figura 34 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04 42
Figura 35 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Figura 36 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03 46
Figura 37 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03 47
Figura 38 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Figura 39 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03 51
Figura 310 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03 52
Figura 311 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03 53
Figura 312 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02 54
LISTA DE TABELAS
Tabela 31 - Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02 37
Tabela 32 - Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03 38
Tabela 33 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Tabela 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Tabela 35 - Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04 43
Tabela 36 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Tabela 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Tabela 38 - Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03 46
Tabela 39 - Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03 47
Tabela 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 50
Tabela 314 - Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03 51
Tabela 315 - Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03 52
Tabela 316 - Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03 53
Tabela 317 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02 54
Tabela 318 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02 55
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 12
2 PANORAMA GERAL DOS ESTUDOS SOBRE O FOCO 12
22 TIPOS DE FOCO 13
221 Foco sintaacutetico 14
222 Foco morfoloacutegico 18
223 Foco semacircntico 21
224 Foco prosoacutedico 24
3 METODOLOGIA DA PESQUISA 29
31 OBJETIVO 29
32 CORPUS 30
321 C-ORAL-ROM 30
322 C-ORAL-BRASIL 32
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 34
4 ANAacuteLISE DOS DADOS 35
41 FOCO PROSOacuteDICO 35
42 FOCO SINTAacuteTICO 41
43 FOCO MORFOLOacuteGICO 45
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE 47
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 55
REFEREcircNCIAS 56
12
1 INTRODUCcedilAtildeO
A focalizaccedilatildeo eacute um fenocircmeno linguiacutestico cada vez mais estudado e que possui
importante papel na comunicaccedilatildeo oral Sua importacircncia na gramaacutetica das liacutenguas naturais
bem como nas situaccedilotildees comunicativas eacute grande podendo ser observada pela assunccedilatildeo de
Davis (2009 p 2) ldquoFOCUS is present in every language and that it is present in every
utterance of every languagerdquo1 Embora haja divergecircncia por parte de alguns autores quanto agrave
proposta de Davis assume-se de qualquer forma que a focalizaccedilatildeo nas liacutenguas naturais eacute um
importante recurso comunicativo promovido nas diversas interaccedilotildees linguiacutesticas do cotidiano
pois sinaliza propriedades semacircnticas especiacuteficas atraveacutes de recursos prosoacutedicos
morfoloacutegicos e configuraccedilotildees sintaacuteticas dedicadas a destacar um item Nas liacutenguas romacircnicas
e germacircnicas sobretudo a estrateacutegia prosoacutedica da focalizaccedilatildeo eacute fundamental para a
realizaccedilatildeo do foco conforme mencionam Beaver amp Clark (2008 p xxi) ldquoRomance and
Germanic languages and English in particular focus is commonly marked by prosody with
changes in pitch used to mark focused expressionsrdquo2 Natildeo obstante estejam presentes e
podendo estar em co-ocorrecircncia nas liacutenguas desses troncos estrateacutegias sintaacuteticas como as
construccedilotildees clivadas e morfoloacutegicas como adveacuterbios e quantificadores focais o que poderaacute
ser constatado ao longo deste trabalho
Este trabalho estaacute divido em duas partes a primeira (cf seccedilatildeo 2 e subseccedilotildees) que
procura expor ao leitor atraveacutes da consideraccedilatildeo de diferentes estudos de variadas abordagens
teoacuterico-metodoloacutegicas uma revisatildeo bibliograacutefica ao mesmo tempo concisa e imparcial que
objetiva cobrir de modo satisfatoacuterio o tema da focalizaccedilatildeo e seus desdobramentos nos estudos
linguiacutesticos e a segunda (cf seccedilotildees 3 e 4 e subseccedilotildees) que consiste na exposiccedilatildeo do objetivo
e da metodologia da pesquisa do corpus utilizado da anaacutelise dos dados e das decorrentes
consideraccedilotildees sobre o foco no Portuguecircs Brasileiro falado informal aleacutem da discussatildeo sobre
a diferenciaccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase Por fim a seccedilatildeo 5 consiste nas
consideraccedilotildees finais
2 PANORAMA GERAL DOS ESTUDOS SOBRE O FOCO
O fenocircmeno da focalizaccedilatildeo tem sido estudado por vaacuterias aacutereas da linguiacutestica ndash
sintaxe semacircntica prosoacutedia etc ndash e sob diferentes abordagens teoacuterico-metodoloacutegicas ndash
1 ldquoO FOCO estaacute presente em toda liacutengua e estaacute presente em todo enunciado de toda liacutenguardquo
2 ldquoNas liacutenguas romacircnicas e germacircnicas e no inglecircs em particular o foco eacute marcado normalmente pela prosoacutedia
com variaccedilotildees no pitch para marcar as expressotildees focalizadasrdquo
13
formal funcional pragmaacutetica etc Cada estudo independente da aacuterea ou da abordagem
teoacuterica tem revelado que a focalizaccedilatildeo apresenta importante papel na gramaacutetica das liacutenguas
naturais pois o foco seu principal componente manifesta-se nelas por diferentes estrateacutegias
linguiacutesticas Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os diferentes meios em que o foco pode se
manifestar isto eacute os tipos de foco O objetivo deste capiacutetulo eacute mostrar que o foco ocorre
atraveacutes de diferentes estrateacutegias nas liacutenguas e que cada liacutengua escolhe uma ou mais
estrateacutegias para sua realizaccedilatildeo
21 TIPOS DE FOCO
O fenocircmeno que abrange o foco eacute a focalizaccedilatildeo que pode ser definida como o ldquoato de
focalizar ou seja de acentuar de ressaltar de pocircr em relevorealceevidecircncia um
determinado item do textordquo (GONCcedilALVES 1998 p 32) As liacutenguas naturais expressam esse
realce com diferentes estrateacutegias seja por meio da sintaxe da prosoacutedia ou da morfologia seja
com o uso de uma estrateacutegia ou de mais de uma atuando em conjunto A focalizaccedilatildeo eacute
considerada um fenocircmeno discursivo-pragmaacutetico ldquopois o usuaacuterio pode centrar sua atenccedilatildeo a
uma parcela do enunciado que julgue relevante enfatizando-ardquo (GONCcedilALVES 1998 p 33)
Assim sendo a focalizaccedilatildeo estaria vinculada tanto agraves estrateacutegias argumentativas do falante
quanto ao conteuacutedo informacional do enunciado Segundo Gonccedilalves (1998 p 39) o foco
ldquopode incidir em qualquer constituinte do enunciado (palavras morfemas sintagmas e
pequenas oraccedilotildees)rdquo
Mesmo com a definiccedilatildeo do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo as descobertas dos estudos
sobre a biparticcedilatildeo da frase a respeito do conceito de foco natildeo foram descartadas (cf
BARBOSA 2005) Gonccedilalves (1998 p 32) menciona que o constituinte focalizado eacute ldquoa
parcela do texto apresentada como a mais informativarelevanterdquo e que os elementos fora de
foco constituem ldquoinformaccedilatildeo apresentada previamente ao ouvinterdquo ou os elementos que os
interlocutores julgam conhecidos Ainda segundo Gonccedilalves o foco apresentaria informaccedilatildeo
nova Eacute neste ponto que pode haver confusatildeo Os autores ampliam o escopo de investigaccedilatildeo
mas manteacutem certos conceitos de estudos preacutevios e de diferentes correntes teoacutericas sem
explicitar qual ou quais estatildeo sendo levados em consideraccedilatildeo Para Gonccedilalves (1998 p 33) a
informaccedilatildeo nova isto eacute o que eacute focalizado eacute ldquonew natildeo porque natildeo foi mencionado
previamente mas eacute new exatamente porque o falante tende a interpretar como natildeo suscetiacutevel
de recuperaccedilatildeo (a) nem a partir do texto precedente (co-texto) e (b) nem por meio do
contexto pragmaacutetico (situacional) imediatordquo Nota-se que o autor utiliza uma noccedilatildeo
14
pragmaacutetica do que seria informaccedilatildeo novadada A diamesia oral eacute muito mais ampla do que a
escrita no sentido de que a unidade de referecircncia da fala eacute o enunciado ndash organizado segundo
princiacutepios pragmaacutetico-ilocucionaacuterios ndash jaacute na escrita a unidade de referecircncia eacute a frase ndash
organizada segundo princiacutepios loacutegico-sintaacuteticos ndash aleacutem de haver caracteriacutesticas distintivas
entre falaescrita por exemplo hesitaccedilotildees interrupccedilotildees sobreposiccedilotildees etc Como a
focalizaccedilatildeo eacute considerada um fenocircmeno discursivo as noccedilotildees estudadas no niacutevel da frase natildeo
conseguem abranger todos os aspectos que a liacutengua oral apresenta por isso novas definiccedilotildees
satildeo propostas contudo em muitos casos preservando determinadas terminologias de estudos
anteriores
Cada liacutengua escolhe uma ou mais estrateacutegias para a focalizaccedilatildeo Pode-se ateacute mesmo
classificaacute-las tipologicamente com relaccedilatildeo agrave manifestaccedilatildeo do foco em cada uma Contudo
muitas vezes essas estrateacutegias se organizam conjuntamente para a manifestaccedilatildeo do foco no
caso da focalizaccedilatildeo sintaacutetica e a prosoacutedica coocorrerem nas construccedilotildees clivadas por
exemplo Assim como um morfema poder licenciar um conjunto de alternativas semacircnticas
de escopo em uma sentenccedila servindo de gatilho para a manifestaccedilatildeo prosoacutedica do foco
Todavia nosso objetivo nesta seccedilatildeo eacute mostrar os vaacuterios tipos de foco em isolamento apesar
de que a interface com outro componente gramatical seraacute explicada quando necessaacuterio A
exposiccedilatildeo natildeo seraacute exaustiva uma vez que este tipo de trabalho natildeo permite uma discussatildeo
mais longa da literatura
221 Foco sintaacutetico
O foco tem recebido grande atenccedilatildeo nos estudos da sintaxe gerativa Itens de natureza
discursiva como o toacutepico e o proacuteprio foco passam a fazer parte da estrutura interna das
sentenccedilas dentro dessa abordagem teoacuterica Eles ocupam uma posiccedilatildeo na parte mais alta da
sentenccedila caracterizada por ser uma estrutura funcional sendo a outra parte da sentenccedila a
estrutura lexical Com a proposta de extensatildeo do sistema CP (RIZZI 1997)3 dois
subsistemas satildeo criados o primeiro constituiacutedo por ForceP e FinP e o segundo por TopP e
FocP A categoria ForceP determina o tipo de sentenccedila enquanto FinP determina sua
finitude Os constituintes toacutepico e foco satildeo interpretados em Spec de seus respectivos
sintagmas O sistema CP entatildeo passa a ser representado da seguinte forma (QUAREZEMIN
2009 p 22)
3 Segundo Quarezemin (200921) ldquoa extensatildeo do CP ocorre para acomodar certos constituintes com
propriedades discursivas e de escopo aleacutem de derivar sua interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo Spec-nuacutecleordquo
15
(1) ForceP
Force0 TopP
Top0 FocP
Foc0 TopP
Top0 FinP
Fin0 IP
As categorias TopP e FocP4 soacute aparecem na estrutura se houver constituintes com
funccedilotildees de toacutepico e foco na sentenccedila A categoria TopP aparece duas vezes na estrutura
porque eacute considerada recursiva Isso significa que pode haver mais de um toacutepico na sentenccedila
Na estrutura FocP natildeo aparece duas vezes pois a natureza quantificacional do foco natildeo
permite tal repeticcedilatildeo Para Rizzi (1997) e Belletti (2001) ldquoa noccedilatildeo de foco estaacute diretamente
relacionada agrave posiccedilatildeo que este constituinte ocupa na sentenccedila Para eles um constituinte eacute
interpretado como foco somente se ele ocupa a posiccedilatildeo de Spec de FocPrdquo (ASSIS 2003 p
360)
Nessa abordagem o toacutepico ldquoveicula informaccedilatildeo jaacute conhecida pelos participantes do
discursordquo enquanto o comentaacuterio ldquoeacute um tipo de predicado complexo que se aplica ao toacutepicordquo
(QUAREZEMIN 2009 p 22) No exemplo da autora your book eacute o toacutepico e o que estaacute
depois da viacutergula eacute o comentaacuterio
(2) Your book you should give t to Paul (not to Bill)5
Ela afirma que na fala o toacutepico eacute marcado por uma pausa Diferentemente do toacutepico
o foco eacute ldquodestacado por um acento proeminente e expressa a informaccedilatildeo do discurso natildeo
4 Haacute outras propostas sobre qual o lugar que as categorias funcionais TopP e FocP ocupam na estrutura da
sentenccedila extensatildeo de vP (Belletti 2001 2004a) e extensatildeo de DP (Giusti 2002) 5 ldquoSeu livro vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo para o Bill)rdquo
16
pressuposta pelo ouvinte enquanto a pressuposiccedilatildeo representa o conhecimento compartilhado
pelos interlocutoresrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 23)
(3) YOUR BOOK you should give t to Paul (not mine)6
Com isso Quarezemin (2009 p 46) afirma que ldquoa interpretaccedilatildeo semacircntica da
sentenccedila que apresenta a articulaccedilatildeo foco-pressuposiccedilatildeo natildeo deve ser confundida com a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila que tem a biparticcedilatildeo toacutepico-comentaacuteriordquo A autora menciona a
relaccedilatildeo entre foco-prosoacutedia dizendo que os paracircmetros acuacutesticos da descriccedilatildeo do foco satildeo a
F0 a duraccedilatildeo e a intensidade Na fonologia o foco recebe a proeminecircncia ou outro acento
tonal especiacutefico A autora diz que ldquoo foco ou um membro do sintagma focalizado sempre
recebe o acento principal da sentenccedila enquanto a pressuposiccedilatildeo natildeo pode ser acentuada nos
mesmos niacuteveisrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 52)
Em liacutenguas como o espanhol o italiano e o PE o foco de informaccedilatildeo ocupa uma
posiccedilatildeo no final da sentenccedila em casos que ocorre a inversatildeo do sujeito
(4) Egrave partitoha parlato [F Gianni]7
(Chi egrave partitoha parlato)
No exemplo de Quarezemin (2009 p 69) acima nota-se o foco estreito Gianni no
final da sentenccedila visto que esse item responde agrave pergunta chi egrave partitoparlato Haveria o
foco largo isto eacute toda a resposta de (4) seria foco se essa resposta correspondesse agrave pergunta
(QUAREZEMIN 2009 p 70)
(5) Che cosa egrave successo8
Um tipo especiacutefico de focalizaccedilatildeo sintaacutetica satildeo as construccedilotildees clivadas Resenes
(2009 p 17) explica que a clivagem eacute ldquoum processo sintaacutetico que serve para focalizar
constituintes porque prepara um lugar especiacutefico na sentenccedila para alojar o focordquo Os
elementos que cumprem essa funccedilatildeo satildeo a coacutepula o complementizador que ou um elemento
wh As propriedades semacircnticas e sintaacuteticas das sentenccedilas clivadas e pseudo-clivadas natildeo
6 ldquoO SEU LIVRO vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo o meu)rdquo
7 ldquoPartiufalou o Gianni (Quem partiufalou)rdquo
8 ldquoO que aconteceurdquo
17
seratildeo abordadas profundamente visto que esse natildeo eacute o objetivo principal deste trabalho As
sentenccedilas clivadas apresentam a estrutura [ser + XPi + que [IP eci]] jaacute as pseudo-clivadas [[CP
whi ti] + ser +XPi] (RESENES 2009 p 14) O XP deve ser a parte natildeo-pressuposta da
sentenccedila ou o foco da sentenccedila o sintagma que carrega a informaccedilatildeo nova e que segundo a
abordagem gerativa carrega tambeacutem a proeminecircncia prosoacutedica O foco dessas sentenccedilas eacute do
tipo de identificaccedilatildeo exaustiva isto eacute indicado pela propriedade semacircntica [x e apenas x]
Apresentamos como exemplo em PB uma clivada e uma pseudo-clivada respectivamente
(6) Foi [F a Luana] que comprou um livro
(7) Quem comprou um livro foi [F a Luana]
Em inglecircs as clivadas satildeo conhecidas como it-clefts pois nessa liacutengua eacute obrigatoacuteria a
realizaccedilatildeo do expletivo na posiccedilatildeo inicial da sentenccedila
(8) It was [F John] who died in a car crash9
Haacute vaacuterios tipos de realizaccedilatildeo dessas sentenccedilas por exemplo clivada sem coacutepula
clivada com dupla coacutepula pseudo-clivada reduzida etc
Na liacutengua Ayutla Mixteca em que a ordem canocircnica da sentenccedila eacute VSO a
focalizaccedilatildeo se daacute atraveacutes da mudanccedila de posiccedilatildeo do elemento que se deseja focalizar para
uma posiccedilatildeo preacute-verbal ldquobecause the first element of any list is perceptually salient
preverbal position tends to grant the item filling it some degree of highlighting This position
is therefore often used for constituents that a speaker wishes to focus in some wayrdquo
(HOLLENBACH 1995 p 1)10
Seguem os exemplos de Hills (1990 p 27-28 apud
HOLLENBACH 1995 p 2)
(9) mburu xi‟i‟ tikui
donkey drinks water
bdquoThe donkey is drinking water‟11
(10) tikui xi‟i‟ mburu
9 ldquoFoi [F o Joatildeo] que morreu num acidente de carrordquo
10 ldquoporque o primeiro elemento de qualquer lista eacute perceptualmente saliente a posiccedilatildeo preacute-verbal tende a
conceder ao item carregando-o com algum grau de realce Esta posiccedilatildeo eacute portanto frequentemente usada para
constituintes em que o falante deseja focalizar de algum modordquo 11
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo
18
water drinks donkey
bdquoThe donkey is drinking water‟12
Entretanto Hollenbach (1995 p 2) adverte que a relaccedilatildeo semacircntica do foco com a
posiccedilatildeo preacute-verbal eacute obscura jaacute que um constituinte pode ocorrer na posiccedilatildeo preacute-verbal sem
que o falante deseje focalizaacute-lo Entatildeo a autora investiga as condiccedilotildees para que a focalizaccedilatildeo
do constituinte preacute-verbal ocorra13
Ela identificou vaacuterias condiccedilotildees para a identificaccedilatildeo do
foco na posiccedilatildeo preacute-verbal nas liacutenguas do grupo Mixteca entre elas a pausa (11) e a inserccedilatildeo
de conjunccedilotildees coordenadas (12) depois do elemento focalizado
(11) juaacutea ta‟u da ntuku
John splits he firewood
bdquoAs for John he is splitting firewood‟ (Yosonduacutea FARRIS 1992 p 28 apud
HOLLENBACH 1995 p 3)14
(12) sa‟an mi neacute din tavi di kuidaacutedo di
man that and willdo very you care you (Cuicatec BRADLEY 1991
p 493 apud HOLLENBACH 1995 p 3)
Esses satildeo exemplos que a focalizaccedilatildeo natildeo se daacute exclusivamente pela sintaxe mas que
co-ocorre com ela ou seja eacute necessaacuterio que haja mais elementos linguiacutesticos aleacutem da
posiccedilatildeo preacute-verbal para que a focalizaccedilatildeo ocorra de forma satisfatoacuteria
222 Foco morfoloacutegico
O foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de certos morfemas que dependendo da
liacutengua seratildeo cliacuteticos ou morfemas livres Nesse caso ldquoum bdquoMorfema de Ecircnfase‟ seraacute o
elemento responsaacutevel pela iluminaccedilatildeo do elemento destacado no textordquo (GONCcedilALVES
1999 p 336) Natildeo obstante isso natildeo signifique que o foco natildeo possa ser expresso por outros
meios nas liacutenguas em que predominam o meio morfoloacutegico para que a focalizaccedilatildeo ocorra
Esse tipo de focalizaccedilatildeo eacute mais comum em liacutenguas natildeo-indo-europeias como em liacutenguas
12
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo 13
Hollenbach investigou as condiccedilotildees do foco natildeo soacute na liacutengua Ayutla Mixteca mas em seis variedades do
Mixteca duas do Trique e uma do Cuicatec Essas liacutenguas fazem parte grupo Mixteca que por sua vez faz
parte da famiacutelia das liacutenguas Otomangues faladas sobretudo no sul do Meacutexico As liacutenguas da famiacutelia
Otomangue apresentam a ordem canocircnica VSO 14
ldquoQuanto ao Joatildeo ele estaacute partindo a lenhardquo
19
indiacutegenas brasileiras por exemplo em marubo e em mekens O aacuterabe e o japonecircs tambeacutem
satildeo exemplos de liacutenguas em que ocorre a focalizaccedilatildeo morfoloacutegica Hagesawa (2010 p 1)
explica que no japonecircs ldquoone of the most general properties of focus particles is to relate a
proposition which is newly introduced by the sentence containing a focus particle and
propositions available in the contextrdquo15
Em japonecircs a partiacutecula -shika introduz a noccedilatildeo de exclusividade o que eacute expresso
pela palavra only em inglecircs Essa noccedilatildeo eacute a mesma do foco de identificaccedilatildeo encontrado nas
sentenccedilas clivadas do PB por exemplo Segue o exemplo de Hagesawa (2010 p 4)
(13) Miho-shika ko-na-katta
Miho-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoOnly Miho came‟16
No exemplo (13) a funccedilatildeo do morfema -shika pode ser parafraseada como ldquosomente
Miho veio e mais ningueacutemrdquo Quanto ao padratildeo prosoacutedico das partiacuteculas de foco no japonecircs
Hagesawa (2010 p 33) afirma que
although Japanese focus particles have their own accent patterns
when they occur without a focused constituent or they are stressed as
shown in (14) and (15) they lose their accent pattern and follow the
tone melody of their host when they are suffixed17
18
O autor apresenta os seguintes exemplos
(14) Shikamade-o jisyo-de shirabe-ta
HL HL
SHIKAMADE-ACC dictionary-with lookup-PAST
bdquoI looked up bdquoshika‟‟made‟ in a dictionary‟19
(15) A Yuka-mo ki-ta-no
Yuka-also come-PAST-Q
15
ldquouma das propriedades mais gerais das partiacuteculas de foco eacute relacionar uma proposiccedilatildeo que eacute receacutem-
introduzida pela sentenccedila contendo uma partiacutecula de foco e proposiccedilotildees disponiacuteveis no contextordquo 16
ldquoSomente Miho veiordquo 17
A numeraccedilatildeo dos exemplos natildeo segue a original 18
ldquoconquanto as partiacuteculas de foco do japonecircs tecircm seus padrotildees proacuteprios de accent quando ocorrem sem um
constituinte focalizado ou estatildeo stressed como mostrado em (14) e (15) elas perdem o seu padratildeo de accent e
seguem a melodia tonal do seu hospedeiro quando elas satildeo sufixadasrdquo 19
ldquoEu procurei bdquoshika‟‟made‟ em um dicionaacuteriordquo
20
bdquoDid Yuka also come‟
B Uun Yuka-shika ko-na-katta
HL
no Yuka-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoNo only Yuka came‟20
Na liacutengua Mekens todas as questotildees wh apresentam o cliacutetico foco te como no
exemplo abaixo de Galucio (2002 p 67)
(16) aapo=te o-tek pogabeg-a ke i-koop ikatildeotilde tete
Who=foc 1s-house open-Theme say 3s-aux+mov that time
bdquordquoWho opened my houserdquo She was saying that time‟21
Haacute tambeacutem o uso do recurso sintaacutetico pois o constituinte focalizado sempre aparece
no iniacutecio da sentenccedila A autora menciona que a informaccedilatildeo natildeo-pressuposta das respostas agraves
perguntas wh tambeacutem apareceratildeo na forma de construccedilotildees focalizadas Isso faz com que a
ordem canocircnica ndash SOV ndash dessa liacutengua se altere em sentenccedilas como (17) abaixo por exemplo
extraiacuteda de Galucio (2002 p 68) Notam-se nas duas oraccedilotildees que os sujeitos ocorrem
depois do verbo
(17) serek=te kɨpmatildekatildeỹ kweotildep =te ɨsɨɨ
split=foc floor climb+neg=foc deer
bdquoThe floor split and the deer sank‟22
Alguns autores consideram como morfemas de foco palavras como only also just e
even do inglecircs por exemplo porque elas cumprem a mesma funccedilatildeo semacircntica dos morfemas
de foco em liacutenguas como o japonecircs no exemplo da partiacutecula -shika bdquoonly‟ Na anaacutelise de
Quarezemin (2009 p 112) para as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB ela sugere que nas
construccedilotildees clivadas a coacutepula e o complementizador seriam morfemas de foco Nas palavras
da autora
20
ldquoA Yuka tambeacutem veio Natildeo somente a Yuka veiordquo 21
ldquoQuem abriu minha casa Ela estava dizendo aquela horardquo 22
ldquoO chatildeo se partiu e o veado afundourdquo
21
A hipoacutetese inicial eacute que de um modo geral os falantes do PB
preferem destacar o constituinte focalizado sintaticamente ao inveacutes
de destacaacute-lo apenas com recursos prosoacutedicos Disso surge a hipoacutetese
de que a coacutepula com funccedilatildeo de focalizar e o complementizador das
clivadas podem ser considerados morfemas de foco em PB
Em suma o foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de morfemas que tecircm por objetivo
sinalizar que o constituinte o qual estaacute afixado se encontra focalizado Eles tambeacutem podem
interagir com a sintaxe e a prosoacutedia no caso de aleacutem do morfema de foco estar afixado a um
constituinte que se deseja destacar ele tambeacutem esteja em uma posiccedilatildeo proacutepria para
construccedilotildees focalizadoras ou em casos em que aleacutem da marcaccedilatildeo morfoloacutegica do foco haja
uma proeminecircncia prosoacutedica no constituinte focalizado
223 Foco semacircntico
Em primeiro lugar salientamos que o termo bdquofoco semacircntico‟ pode causar certa
estranheza devido a que diferentemente dos outros tipos neste natildeo haacute uma manifestaccedilatildeo de
forma ldquovisiacutevelrdquo do foco no enunciado isto eacute natildeo haacute uma proeminecircncia prosoacutedica uma
construccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica ou um morfema afixado a um constituinte Antes se trata mais
de uma propriedade do significado da construccedilatildeo focalizadora em um enunciado
As trecircs principais propriedades semacircnticas do foco satildeo as dos enunciados que
apresentam o foco de informaccedilatildeo de identificaccedilatildeo e o contrastivo Geralmente para
determinar a propriedade semacircntica desses tipos de foco recorre-se ao contexto de pergunta-
whresposta ou a outro tipo de contexto induzido O foco de informaccedilatildeo23
introduz uma
informaccedilatildeo novanatildeo-pressuposta e ldquopresume uma pergunta wh como base discursiva para
ser estabelecidordquo (RESENES 2009 p 20) Segue o exemplo de Resenes (2009 p 20)
(18) a O que o Joatildeo bebeu
b O Joatildeo bebeu alguma coisa
c O Joatildeo bebeu [F o vinho]
A pergunta wh estaacute em (18a) Em (18b) encontra-se a pressuposiccedilatildeo expressa pelo
pronome indefinido O foco de informaccedilatildeo se encontra em (18c) e eacute o valor da expressatildeo wh
23
Resenes (2009) utiliza a nomenclatura de ldquofoco natildeo-contrastivordquo para esse tipo de foco
22
da pergunta em (18a) A autora menciona que na Estrutura de Asserccedilatildeo (AS)24
o foco de
(18c) seria representado como
(19) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 O x tal que o Joatildeo bebeu x = [o vinho]
O foco contrastivo corrige uma informaccedilatildeo preacutevia atraveacutes de uma prosoacutedia proacutepria
Resenes (2009 p 20) afirma que ldquoo contexto ideal para o foco contrastivo eacute aquele em que
haacute uma afirmaccedilatildeo preacutevia como base discursivardquo Segue o exemplo da autora (RESENES
2009 p 21)
(20) a O Joatildeo bebeu o vinho
b O Joatildeo bebeu [F a cerveja] (natildeo o vinho)
A AS de (20) seria
(21) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 Natildeo eacute o caso que o x tal que o Joatildeo bebeu x = vinho amp O x tal que o Joatildeo
bebeu o x = a cerveja
O foco de identificaccedilatildeo ldquorepresents a subset of the set of contextually or situationally
given elements for which the predicate phrase can potentially hold it is identified as the
exhaustive subset of this set for which the predicate phrase actually holdsrdquo (KISS 1998 p
245 apud RESENES 2009 p 21)25
Assim o foco de identificaccedilatildeo expressa exaustividade
que pode ser parafraseada como [x e apenas x] Esse tipo de foco eacute ilustrado por uma
sentenccedila clivada em (22) (RESENES 2009 p 21)
(22) Foi [F um perfume] que a Maria deu para o Joatildeo
24
Resenes (2009 p 20) explica que a AS eacute ldquoum niacutevel poacutes-LF (pragmaacutetico) que revela como a informaccedilatildeo estaacute
empacotada na sentenccedila Na AS vai estar explicitada a estrutura da focalizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo o foco e os
tipos de focordquo 25
ldquorepresenta um subconjunto do conjunto de elementos dados contextualmente ou situacionalmente para o qual
a expressatildeo do predicado pode potencialmente conter que eacute identificado como o subconjunto exaustivo deste
conjunto para o qual a expressatildeo de predicado efetivamente conteacutemrdquo
23
Em (22) o foco de identificaccedilatildeo eacute expresso pelo NP um perfume que significa que
dentro de uma seacuterie de possiacuteveis presentes que a Maria poderia ter dado ao Joatildeo ela deu
somente um perfume por isso [x e apenas x]
Contudo o fenocircmeno da focalizaccedilatildeo natildeo se restringe somente agraves respostas das
perguntas wh ou agraves respostas dos contextos induzidos Davis (2009 p 2) assinala que haacute dois
grandes aspectos da constituiccedilatildeo do foco ldquoThe first is its grammar how FOCUS is expressed
in language The second is its meaning It does not require much investigation to discover
that there is no grammatical consistency to FOCUS across languagesrdquo26
O autor nota que em
relaccedilatildeo ao primeiro item natildeo haveria uma forma uacutenica universal para o uso do foco ou seja
uma liacutengua utiliza a sintaxe outra a prosoacutedia outra a morfologia outra a sintaxe e a prosoacutedia
etc ele afirma que ldquoif there is some universal consistency to FOCUS across languages it is
not found in its expressionrdquo27
Quanto ao segundo item as liacutenguas a princiacutepio natildeo
diferenciariam muito em relaccedilatildeo agrave semacircntica do foco Entretanto a propriedade de
destaquerealce sempre estaraacute presente manifestando-se seja por meio da prosoacutedia do
arranjo sintaacutetico ou da marcaccedilatildeo morfoloacutegica Davis (2009 p 2) explica que
If FOCUS will be diferently constituted grammatically its presence
has to be recognized in its semantics One portion of that semantics is
that FOCUS is involved in the answering of wh- questions but not
every utterance is a response to such a question Yet utterances must
the claim says nevertheless contain the semantics (and some
grammar) of FOCUS FOCUS then cannot be only the content
which answers questions There must be more to FOCUS When we
examine languages we discover that FOCUS has an affinity for
certain other semantics and in discovering those affinities we can
amplify our conception of what constitutes FOCUS28
A partir da assunccedilatildeo acima sugere-se que os estudos sobre a focalizaccedilatildeo natildeo
poderiam se restringir agraves anaacutelises de dados de introspecccedilatildeo sobretudo aqueles que explicam o
fenocircmeno somente a partir de dados com contexto pergunta-whresposta A natureza
discursivo-pragmaacutetica da focalizaccedilatildeo faz com que esse fenocircmeno seja melhor compreendido
26
ldquoO primeiro eacute sua gramaacutetica como o FOCO eacute expresso na liacutengua O segundo eacute o seu significado Natildeo se
requer muita investigaccedilatildeo para descobrir que natildeo haacute coerecircncia gramatical do FOCO atraveacutes das liacutenguasrdquo 27
ldquose houver alguma consistecircncia universal para o FOCO entre as liacutenguas natildeo eacute encontrada na sua expressatildeordquo 28
ldquoSe o FOCO seraacute constituiacutedo diferente gramaticalmente a sua presenccedila tem de ser reconhecida em sua
semacircntica Uma parte dessa semacircntica eacute que o FOCO estaacute envolvido nas respostas de perguntas QU mas nem
todo enunciado eacute uma resposta a essas perguntas No entanto os enunciados devem a alegaccedilatildeo diz todavia
conter a semacircntica (e alguma gramaacutetica) do FOCO O FOCO entatildeo natildeo pode ser apenas o conteuacutedo que
responde a perguntas Deve haver mais para o FOCO Quando examinamos as liacutenguas descobrimos que o
FOCO tem uma afinidade com outras semacircnticas e descobrindo essas afinidades podemos ampliar a nossa
concepccedilatildeo do que constitui o FOCOrdquo
24
na liacutengua espontacircnea apesar de natildeo se poder excluir suas propriedades semacircnticas em
diferentes enunciados que podem ser analisados sem o uso de dados de liacutengua espontacircnea
como eacute o caso da investigaccedilatildeo das propriedades semacircnticas do foco em dados de introspecccedilatildeo
e de suas representaccedilotildees formais
224 Foco prosoacutedico
A prosoacutedia eacute um dos traccedilos da camada suprassegmental ou seja que se encontra
acima dos segmentos dispostos linearmente na cadeia sonora da fala Beaver amp Clark (2008
p 2) explicam que os traccedilos suprassegmentais satildeo assim chamados porque ldquothey spread out
across multiple segments (basic sound units) or even across multiple wordsrdquo29
Callou amp
Leite (1990 p31) afirmam que o ldquoconjunto de fenocircmenos dos quais se derivam tipos de
acento padrotildees entoacionais ritmos e velocidades de fala satildeo estudados sob o roacutetulo de
prosoacutediardquo Ao contraacuterio dos segmentos que satildeo descritos pelos movimentos dos articuladores
do aparelho fonador os suprassegmentos satildeo descritos ldquoem termos da accedilatildeo dos muacutesculos
respiratoacuterios que aumentam ou diminuem a energia do fluxo de ar ocasionando duraccedilotildees
frequumlecircncia fundamental e intensidade diferentes das vibraccedilotildees sonorasrdquo (CALLOU amp LEITE
1990 p 30) Paracircmetros acuacutesticos como frequecircncia fundamental intensidade e duraccedilatildeo fiacutesica
satildeo outros traccedilos suprassegmentais que satildeo percebidos respectivamente como pitch
loudness e length que por sua vez ldquoapresentam correlatos fiacutesicos frequumlecircncia amplitude e
tempordquo (LEITE 2009 p 17)30
A frequecircncia eacute medida em Hz (Hertz) a amplitude em dB
(decibeacuteis) e o tempo em ms (milissegundos)
Barbosa (2008) menciona que a prosoacutedia estaacute
associada a fatores linguumliacutesticos como acentuaccedilatildeo entoaccedilatildeo ecircnfase e
ritmo bem como a fatores para- e extra-linguiacutesticos tais como
marcadores discursivos (ldquoneacuterdquo ldquoentendordquo ldquoanhanrdquo) atitudes
emoccedilotildees imbricados a fatores sociais ou bioloacutegicos como gecircnero
faixa etaacuteria classe social entre outros
Segundo Leite (2009 p 18) a prosoacutedia exerceria funccedilotildees ldquogramatical atitudinal
informacional indexal e ilocucionaacuteriardquo Nota-se portanto que eacute muito importante levar em
29
ldquoeles se espalham em vaacuterios segmentos (unidades baacutesicas de som) ou mesmo atraveacutes de muacuteltiplas palavrasrdquo 30
Neste trabalho natildeo se pretende definir minuciosamente todos os conceitos dos correlatos foneacutetico-acuacutesticos
dos sons da fala estudados pela Foneacutetica Acuacutestica Para mais informaccedilotildees cf Ladefoged (1974) Malmberg
(1998) e Johnson (2003)
25
consideraccedilatildeo a prosoacutedia na anaacutelise linguiacutestica visto que ela desempenha funccedilotildees associadas a
fatores intrinsecamente linguiacutesticos bem como a fatores extralinguiacutesticos A prosoacutedia ainda
apresenta um importante papel na aquisiccedilatildeo da linguagem sendo recurso especial para a
crianccedila associar unidades sonoras a significado (cf BRUM DE PAULA 2010)
As investigaccedilotildees do Ciacuterculo Linguiacutestico de Praga sugeriram que os elementos dados
do discurso ou seja aqueles que jaacute haviam sido mencionados seriam prosodicamente menos
relevantes que os elementos novos Disso resulta que a informaccedilatildeo nova ou o foco seja
destacado prosodicamente isto eacute apresente proeminecircncia prosoacutedica A proeminecircncia
prosoacutedica eacute definida como ldquoa quantitative parameter of a syllable or a boundary that describes
markedness relative to surrounding syllables and boundaries respectivelyrdquo (PORTELE amp
HEUFT 1997 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 227)31
Haacute autores que classificam o
foco levando em conta sobretudo o fator proeminecircncia prosoacutedica por exemplo ldquothe term
focus is used [] to describe prosodic prominences serving pragmatic and semantic
functionsrdquo (ROOTH 1995 p 271 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 228)32
O foco prosoacutedico eacute definido por meio de uma proeminecircncia tonal (cf
BUTRAGUENtildeO 2005) Entretanto alguns estudos mostram que o foco natildeo seria marcado
somente com a proeminecircncia tonal ou prosoacutedica Proeminecircncias de outros traccedilos
suprassegmentais como duraccedilatildeo e intensidade tambeacutem marcariam o foco (cf TOLEDO
1989 SOSA 1999 QUAREZEMIN 2009 entre outros) Para Butraguentildeo (2005 p 141) os
focos prosoacutedicos ldquoreciben acentos tonales de contorno especiacutefico que permiten distinguirlos
del fondo (o background)rdquo33
Os paracircmetros de anaacutelise acuacutestica do foco satildeo os movimentos
de F0 o alinhamento entre siacutelabas e F0 duraccedilatildeo das siacutelabas e vogais intensidade da siacutelaba e
em alguns casos pausas e meacutedia entre picos de F0
As abordagens teoacutericas utilizadas nos trabalhos sobre o foco prosoacutedico guiam a
metodologia de anaacutelise dos dados Assim alguns autores que trabalham com uma abordagem
formal utilizando o sistema ToBI (cf SILVERMAN et al 1992) para a anaacutelise dos dados
representam a entoaccedilatildeo dos enunciados marcando as siacutelabas com acentos tonais que se
manifestam em acentos monotonais (H ou L) bitonais (H+L L+H etc) e ainda poderia
haver tons de juntura (H e L) que delimitam as fronteiras dos grupos meloacutedicos Na
Fonologia Entoacional haacute trecircs tipos de tons pitch accents phrase accents e boundary tones
31
ldquoum paracircmetro quantitativo de uma siacutelaba ou de uma fronteira que descreve a marcaccedilatildeo relativa agraves siacutelabas
vizinhas e fronteiras respectivamenterdquo 32
ldquoo termo foco eacute utilizado [] para descrever proeminecircncias prosoacutedicas que servem a funccedilotildees pragmaacuteticas e
semacircnticasrdquo 33
ldquorecebem acentos tonais de contorno especiacutefico que permitem distingui-los do fundo (ou background)rdquo
26
Geralmente o foco eacute marcado por um pitch accent que pode ser definido como ldquoa local
feature of a pitch contour ndash usually but not invariably a pitch change and often involving a
local maximum or minimumrdquo (LADD 1996 p 45-6 apud BEAVER amp CLARK 2008 p
11)34
Segundo Roach (2011 p 67) pitch
is an auditory sensation when we hear a regularly vibrating sound
such as a note played on a musical instrument or a vowel produced
by the human voice we hear a high pitch if the rate of vibration is
high and a low pitch if the rate of vibration is low35
Nooteboom (1997 p 641) atenta para o fato de que ldquoone should be aware however
that rather often the notion bdquopitch‟ is used to refer to f0 or the repetition frequency itself In
speech f0 is determined by the rate of vibration of the vocal cords located in the larynxrdquo36
Ademais Crystal (2008 p 369) adverte que ldquothere is however no direct or parallel
correlation between pitch and frequency other factors than frequency may affect our
sensation of pitch (measured in units known as mels)rdquo37
Pitch countour seria a marcaccedilatildeo dos
uacutenicos pitchs relevantes para a compreensatildeo de um perfil entoacional A teacutecnica da close
copy (cf t‟HART et al 1990) justamente realccedila o pitch countor atraveacutes de uma ldquosiacutentese que
satildeo eliminados movimentos de F0 que natildeo causam diferenccedila de percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao
aacuteudio originalrdquo (ROCHA 2011 p 106) De acordo com Crystal (2008 p 369-370) o termo
pitch accent
is used phonologically in the description of languages in which the
distribution of the tones within a word is totally predictable once one
has specified a particular tonal feature of the word (as in Japanese)
The notion has also been applied to English where some
phonological models analyse intonation CONTOURS as a sequence
of one or more pitch accents each associated with a STRESS-
prominent SYLLABLE in a word38
34
ldquoum traccedilo local de um pitch contour - geralmente mas natildeo invariavelmente variaccedilatildeo de pitch e muitas vezes
envolvendo um local maacuteximo ou miacutenimordquo 35
ldquoeacute uma sensaccedilatildeo auditiva quando ouvimos um som regularmente vibrando como uma nota tocada em um
instrumento musical ou uma vogal produzida pela voz humana noacutes ouvimos um pitch alto se a taxa de vibraccedilatildeo
eacute alta e um pitch baixo se a taxa de vibraccedilatildeo eacute baixardquo 36
ldquodeve-se estar ciente no entanto que muitas vezes a noccedilatildeo de pitch eacute utilizada para se referir a f0 ou a
frequecircncia da repeticcedilatildeo Na fala a f0 eacute determinada pela taxa de vibraccedilatildeo das cordas vocais localizadas na
laringerdquo 37
ldquonatildeo haacute poreacutem nenhuma correlaccedilatildeo direta ou paralelo entre pitch e frequecircncia outros fatores aleacutem
frequecircncia podem afetar a nossa sensaccedilatildeo de pitch (medido em unidades conhecidas como mels)rdquo 38
ldquoeacute usado fonologicamente na descriccedilatildeo das liacutenguas nas quais a distribuiccedilatildeo dos tons dentro de uma palavra eacute
totalmente previsiacutevel uma vez que se tenha especificado uma caracteriacutestica particular de tons da palavra (tal
como no japonecircs) A noccedilatildeo tambeacutem foi aplicada para o inglecircs em que alguns modelos fonoloacutegicos analisam os
CONTORNOS da entoaccedilatildeo como uma sequecircncia de um ou mais pitch accents cada um associado a uma
SIacuteLABA STRESS-proeminente em uma palavrardquo
27
O sistema ToBI reconhece 5 tipos de pitch accents enquanto Pierrehumbert (1980)
menciona 7 tipos Atraveacutes dessa classificaccedilatildeo eacute possiacutevel delimitar o accent prototiacutepico do
foco ou suas possiacuteveis variantes Beaver amp Clark (2008 p 12) mencionam que ldquoalthough
focus is frequently marked by an H accent [] other accents are possible For example in
yes-no questions focus is often by marked by an L+Hrdquo39
A importante pressuposiccedilatildeo teoacuterica de que toda oraccedilatildeo eacute resposta a uma pergunta
guia a metodologia de muitas investigaccedilotildees sobre o foco sobretudo de trabalhos
experimentais de leitura de sentenccedilas denominados testes de produccedilatildeo Com o pressuposto
teoacuterico da explicitaccedilatildeo do foco por meio de pergunta-resposta eacute possiacutevel delimitar o tipo de
foco a ser analisado broad focus (foco largo) narrow focus (foco estreito) ou contrastive
focus (foco contrastivo) (cf seccedilatildeo 121 p 14) Essa metodologia tem por caracteriacutestica
induzir guiar e restringir os padrotildees meloacutedicos da fala ao fornecer exemplos com contextos
preacutevios ou mesmo com o foco jaacute explicitado na sentenccedila para se obter o resultado desejado
Em investigaccedilatildeo sobre a marcaccedilatildeo prosoacutedica dos focos largo estreito e contrastivo em
alematildeo Baumann et al (2006 p 302) mencionam em sua metodologia de teste de leitura
que
reading material consisted of five question-answer pairs with the
answer bdquoManuela will Blumen malen‟ (Manuela wants to paint
flowers) The main criterion the target sentence had to fulfill was its
continuous voicing so as to be able to accurately measure exact peaks
and valleys in the F0 contour40
Dependendo do objetivo do trabalho ou da liacutengua a ser analisada podem-se controlar
outros fatores Por exemplo em trabalho sobre como o tom lexical e o foco contribuem para a
formaccedilatildeo e alinhamento dos F0 contours no chinecircs Xu (1999 p 58) menciona na
metodologia que
the factors manipulated in the experiment were segmental
composition of syllables lexical tones focus and and sentence types
Of these only lexical tones and focus were under direct scrutiny The
control of the other two factors was done by keeping their variation to
39
ldquoembora o foco seja frequentemente marcado por um accent H [] outros accents satildeo possiacuteveis Por
exemplo em perguntas sim-natildeo o foco eacute muitas vezes marcado por um H + Lrdquo 40
ldquoo material de leitura consistiu de cinco pares de pergunta-resposta com a resposta bdquoManuela will Blumen
malen‟ (Manuela quer pintar flores) O principal criteacuterio que a frase alvo tinha a cumprir era seu vozeamento
contiacutenuo de modo a ser capaz de medir com precisatildeo exata picos e vales no contorno da F0rdquo
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
LUIS FILIPE LIMA E SILVA
UM ESTUDO SOBRE A FOCALIZACcedilAtildeO NO PORTUGUEcircS BRASILEIRO
Monografia apresentada ao Colegiado de
Graduaccedilatildeo da Faculdade de Letras da
Universidade Federal de Minas Gerais como
requisito parcial para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de
Bacharel em Letras (habilitaccedilatildeo em
Linguiacutestica)
Orientadora Profordf Drordf Heliana Ribeiro de
Mello
Belo Horizonte
Faculdade de Letras da UFMG
2013
Universidade Federal de Minas Gerais
Faculdade de Letras
Monografia intitulada ldquoUm estudo sobre a focalizaccedilatildeo no Portuguecircs Brasileirordquo de autoria do
bacharelando Luis Filipe Lima e Silva submetida agrave aprovaccedilatildeo pela banca examinadora
constituiacuteda pelos seguintes professores
_____________________________________________________________
Profordf Drordf Heliana Ribeiro de Mello ndash FALEUFMG ndash Orientadora
_____________________________________________________________
Profordf Drordf Maria Elizabeth Fonseca Saraiva ndash FALEUFMG
_____________________________________________________________
Doutorando Bruno Neves Rati de Melo Rocha ndash FALEUFMG
A los latinoamericanos
AGRADECIMENTOS
Agrave orientadora Profordf Heliana Mello
Aos membros da banca examinadora Profordf Maria Elizabeth Saraiva e Doutorando Bruno
Rocha
Aos exatuais membros do C-ORAL-BRASIL Adriana Ramos Bruno Mota Elisa Santos
Heloiacutesa Vale Luciana Aacutevila Maryualecirc Mittmann Priscila Cocircrtes e Raiacutessa Caetano
Agraves acadecircmicas Daniela Guimaratildees Lena Dal Pozzo e Mariana Resenes
Aos professores Jacircnia Ramos Lorenzo Vitral e Tommaso Raso
Aos colegas da graduaccedilatildeo Andressa Gomide Carolina Bohoacuterquez Daikan Takane Frederico
Cavalcante Henrique Alves Ingrid Faria Letiacutecia Meirelles e Maacuterio Silva
A todos mis amigos de Latinoameacuterica
La constancia y el estudio hacen a los hombres grandes y los
hombres grandes son el porvenir de la Patria
(Benito Juaacuterez)
RESUMO
A focalizaccedilatildeo eacute um fenocircmeno pragmaacutetico-discursivo que objetiva realccedilar itens do enunciado
O realce dado a um item do enunciado recebe o nome de foco Nas liacutenguas naturais haacute vaacuterias
formas de se focalizar um item atraveacutes de recursos prosoacutedicos construccedilotildees sintaacuteticas
afixaccedilatildeo morfoloacutegica combinaccedilatildeo com itens lexicais exclusivos etc Este trabalho tem dois
objetivos principais o primeiro eacute mapear classificar e analisar prosodicamente estrateacutegias de
focalizaccedilatildeo no Portuguecircs Brasileiro considerando o contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeo e
fazendo uso do formalismo semacircntico como suporte para a anaacutelise dos dados bem como da
percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo dessas estrateacutegias O segundo objetivo eacute propor uma distinccedilatildeo
entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase fenocircmenos muitas vezes considerados sinocircnimos por
aparentemente apresentarem certas semelhanccedilas contudo seraacute proposto que haacute diferenccedilas
entre os dois Foram adotados os mesmos criteacuterios para a anaacutelise dos dados referentes ao
segundo objetivo deste trabalho isto eacute prosoacutedia contexto pragmaacutetico e propriedades
semacircnticas O corpus utilizado para esta pesquisa foi o C-ORAL-BRASIL (RASO amp
MELLO 2012) um corpus oral do Portuguecircs Brasileiro falado informal Ressalta-se que esta
pesquisa eacute de cunho qualitativo isto eacute natildeo foram levados em consideraccedilatildeo paracircmetros
quantitativos como sustentaccedilatildeo das anaacutelises dos dados embora acreditemos que sejam de total
importacircncia Outros objetivos tambeacutem satildeo contemplados por exemplo a exposiccedilatildeo de cada
tipo de foco ilustrados com exemplos de vaacuterias liacutenguas considerando as diferentes correntes
de estudo Atraveacutes da pesquisa em trecircs textos do corpus C-ORAL-BRASIL foi possiacutevel
classificar as ocorrecircncias de focalizaccedilatildeo em foco prosoacutedico sendo realizado por uma
proeminecircncia prosoacutedica foco morfoloacutegico expresso por uma palavra dedicada a focalizar e
foco sintaacutetico sendo realizado atraveacutes das construccedilotildees clivadas O foco prosoacutedico e a ecircnfase
se distinguem no plano pragmaacutetico apresentando contextos distintos de enunciaccedilatildeo e no
plano semacircntico que apresenta efeitos de sentido diferentes
Palavras-chave focalizaccedilatildeo foco ecircnfase prosoacutedia pragmaacutetica
RESUMEN
La focalizacioacuten es un fenoacutemeno pragmaacutetico-discursivo que pretende resaltar los elementos de
la declaracioacuten El realce dado a un elemento de la declaracioacuten se llama foco En el lenguaje
natural existen varias maneras de focalizar un elemento a traveacutes de caracteriacutesticas
prosoacutedicas construcciones sintaacutecticas afijacioacuten morfoloacutegica combinacioacuten con elementos
leacutexicos exclusivos etc Este trabajo tiene dos objetivos principales el primero es mapear
clasificar y analizar prosodicamente las estrategias de focalizacioacuten en el portugueacutes de Brasil
teniendo en cuenta el contexto pragmaacutetico de enunciacioacuten y haciendo uso del formalismo
semaacutentico como apoyo al anaacutelisis de datos asiacute como de la percepcioacuten para la identificacioacuten de
estas estrategias El segundo objetivo es proponer una distincioacuten entre el foco prosoacutedico y el
eacutenfasis fenoacutemenos que a menudo se consideran sinoacutenimos por presentar ciertas similitudes al
parecer sin embargo proponemos que existen diferencias entre los dos El mismo criterio se
adoptoacute para el anaacutelisis de datos relacionados con el segundo objetivo de este trabajo es decir
la prosodia el contexto pragmaacutetico y las propiedades semaacutenticas El corpus utilizado para esta
investigacioacuten fue el C-ORAL-BRASIL (RASO amp MELLO 2012) un corpus oral del
portugueacutes brasilentildeo hablado informalmente Cabe sentildealar que esta investigacioacuten es de tipo
cualitativo es decir no se tendraacute en cuenta paraacutemetros cuantitativos como apoyo para el
anaacutelisis de datos aunque creemos que todos sean importantes Otros objetivos tambieacuten se
contemplan por ejemplo la exposicioacuten de cada tipo de foco que se ilustra con ejemplos de
varios idiomas teniendo en cuenta las diferentes corrientes de estudio A traveacutes de la
investigacioacuten con tres textos del corpus C-ORAL-BRASIL fue posible clasificar las
ocurrencias de focalizacioacuten en el foco prosoacutedico llevado a cabo por una prominencia
prosoacutedica el foco morfoloacutegico expresado por una palabra dedicada a focalizar y el foco
sintaacutectico llevado a cabo a traveacutes de construcciones hendidas El foco prosoacutedico y el eacutenfasis
en el nivel pragmaacutetico se distinguen con diferentes contextos de enunciacioacuten y en el nivel
semaacutentico que presenta diferentes efectos de sentido
Palabras-clave focalizacioacuten foco eacutenfasis prosodia pragmaacutetica
LISTA DE FIGURAS
Figura 31 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02 37
Figura 32 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03 38
Figura 33 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Figura 34 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04 42
Figura 35 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Figura 36 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03 46
Figura 37 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03 47
Figura 38 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Figura 39 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03 51
Figura 310 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03 52
Figura 311 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03 53
Figura 312 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02 54
LISTA DE TABELAS
Tabela 31 - Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02 37
Tabela 32 - Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03 38
Tabela 33 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Tabela 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Tabela 35 - Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04 43
Tabela 36 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Tabela 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Tabela 38 - Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03 46
Tabela 39 - Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03 47
Tabela 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 50
Tabela 314 - Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03 51
Tabela 315 - Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03 52
Tabela 316 - Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03 53
Tabela 317 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02 54
Tabela 318 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02 55
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 12
2 PANORAMA GERAL DOS ESTUDOS SOBRE O FOCO 12
22 TIPOS DE FOCO 13
221 Foco sintaacutetico 14
222 Foco morfoloacutegico 18
223 Foco semacircntico 21
224 Foco prosoacutedico 24
3 METODOLOGIA DA PESQUISA 29
31 OBJETIVO 29
32 CORPUS 30
321 C-ORAL-ROM 30
322 C-ORAL-BRASIL 32
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 34
4 ANAacuteLISE DOS DADOS 35
41 FOCO PROSOacuteDICO 35
42 FOCO SINTAacuteTICO 41
43 FOCO MORFOLOacuteGICO 45
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE 47
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 55
REFEREcircNCIAS 56
12
1 INTRODUCcedilAtildeO
A focalizaccedilatildeo eacute um fenocircmeno linguiacutestico cada vez mais estudado e que possui
importante papel na comunicaccedilatildeo oral Sua importacircncia na gramaacutetica das liacutenguas naturais
bem como nas situaccedilotildees comunicativas eacute grande podendo ser observada pela assunccedilatildeo de
Davis (2009 p 2) ldquoFOCUS is present in every language and that it is present in every
utterance of every languagerdquo1 Embora haja divergecircncia por parte de alguns autores quanto agrave
proposta de Davis assume-se de qualquer forma que a focalizaccedilatildeo nas liacutenguas naturais eacute um
importante recurso comunicativo promovido nas diversas interaccedilotildees linguiacutesticas do cotidiano
pois sinaliza propriedades semacircnticas especiacuteficas atraveacutes de recursos prosoacutedicos
morfoloacutegicos e configuraccedilotildees sintaacuteticas dedicadas a destacar um item Nas liacutenguas romacircnicas
e germacircnicas sobretudo a estrateacutegia prosoacutedica da focalizaccedilatildeo eacute fundamental para a
realizaccedilatildeo do foco conforme mencionam Beaver amp Clark (2008 p xxi) ldquoRomance and
Germanic languages and English in particular focus is commonly marked by prosody with
changes in pitch used to mark focused expressionsrdquo2 Natildeo obstante estejam presentes e
podendo estar em co-ocorrecircncia nas liacutenguas desses troncos estrateacutegias sintaacuteticas como as
construccedilotildees clivadas e morfoloacutegicas como adveacuterbios e quantificadores focais o que poderaacute
ser constatado ao longo deste trabalho
Este trabalho estaacute divido em duas partes a primeira (cf seccedilatildeo 2 e subseccedilotildees) que
procura expor ao leitor atraveacutes da consideraccedilatildeo de diferentes estudos de variadas abordagens
teoacuterico-metodoloacutegicas uma revisatildeo bibliograacutefica ao mesmo tempo concisa e imparcial que
objetiva cobrir de modo satisfatoacuterio o tema da focalizaccedilatildeo e seus desdobramentos nos estudos
linguiacutesticos e a segunda (cf seccedilotildees 3 e 4 e subseccedilotildees) que consiste na exposiccedilatildeo do objetivo
e da metodologia da pesquisa do corpus utilizado da anaacutelise dos dados e das decorrentes
consideraccedilotildees sobre o foco no Portuguecircs Brasileiro falado informal aleacutem da discussatildeo sobre
a diferenciaccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase Por fim a seccedilatildeo 5 consiste nas
consideraccedilotildees finais
2 PANORAMA GERAL DOS ESTUDOS SOBRE O FOCO
O fenocircmeno da focalizaccedilatildeo tem sido estudado por vaacuterias aacutereas da linguiacutestica ndash
sintaxe semacircntica prosoacutedia etc ndash e sob diferentes abordagens teoacuterico-metodoloacutegicas ndash
1 ldquoO FOCO estaacute presente em toda liacutengua e estaacute presente em todo enunciado de toda liacutenguardquo
2 ldquoNas liacutenguas romacircnicas e germacircnicas e no inglecircs em particular o foco eacute marcado normalmente pela prosoacutedia
com variaccedilotildees no pitch para marcar as expressotildees focalizadasrdquo
13
formal funcional pragmaacutetica etc Cada estudo independente da aacuterea ou da abordagem
teoacuterica tem revelado que a focalizaccedilatildeo apresenta importante papel na gramaacutetica das liacutenguas
naturais pois o foco seu principal componente manifesta-se nelas por diferentes estrateacutegias
linguiacutesticas Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os diferentes meios em que o foco pode se
manifestar isto eacute os tipos de foco O objetivo deste capiacutetulo eacute mostrar que o foco ocorre
atraveacutes de diferentes estrateacutegias nas liacutenguas e que cada liacutengua escolhe uma ou mais
estrateacutegias para sua realizaccedilatildeo
21 TIPOS DE FOCO
O fenocircmeno que abrange o foco eacute a focalizaccedilatildeo que pode ser definida como o ldquoato de
focalizar ou seja de acentuar de ressaltar de pocircr em relevorealceevidecircncia um
determinado item do textordquo (GONCcedilALVES 1998 p 32) As liacutenguas naturais expressam esse
realce com diferentes estrateacutegias seja por meio da sintaxe da prosoacutedia ou da morfologia seja
com o uso de uma estrateacutegia ou de mais de uma atuando em conjunto A focalizaccedilatildeo eacute
considerada um fenocircmeno discursivo-pragmaacutetico ldquopois o usuaacuterio pode centrar sua atenccedilatildeo a
uma parcela do enunciado que julgue relevante enfatizando-ardquo (GONCcedilALVES 1998 p 33)
Assim sendo a focalizaccedilatildeo estaria vinculada tanto agraves estrateacutegias argumentativas do falante
quanto ao conteuacutedo informacional do enunciado Segundo Gonccedilalves (1998 p 39) o foco
ldquopode incidir em qualquer constituinte do enunciado (palavras morfemas sintagmas e
pequenas oraccedilotildees)rdquo
Mesmo com a definiccedilatildeo do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo as descobertas dos estudos
sobre a biparticcedilatildeo da frase a respeito do conceito de foco natildeo foram descartadas (cf
BARBOSA 2005) Gonccedilalves (1998 p 32) menciona que o constituinte focalizado eacute ldquoa
parcela do texto apresentada como a mais informativarelevanterdquo e que os elementos fora de
foco constituem ldquoinformaccedilatildeo apresentada previamente ao ouvinterdquo ou os elementos que os
interlocutores julgam conhecidos Ainda segundo Gonccedilalves o foco apresentaria informaccedilatildeo
nova Eacute neste ponto que pode haver confusatildeo Os autores ampliam o escopo de investigaccedilatildeo
mas manteacutem certos conceitos de estudos preacutevios e de diferentes correntes teoacutericas sem
explicitar qual ou quais estatildeo sendo levados em consideraccedilatildeo Para Gonccedilalves (1998 p 33) a
informaccedilatildeo nova isto eacute o que eacute focalizado eacute ldquonew natildeo porque natildeo foi mencionado
previamente mas eacute new exatamente porque o falante tende a interpretar como natildeo suscetiacutevel
de recuperaccedilatildeo (a) nem a partir do texto precedente (co-texto) e (b) nem por meio do
contexto pragmaacutetico (situacional) imediatordquo Nota-se que o autor utiliza uma noccedilatildeo
14
pragmaacutetica do que seria informaccedilatildeo novadada A diamesia oral eacute muito mais ampla do que a
escrita no sentido de que a unidade de referecircncia da fala eacute o enunciado ndash organizado segundo
princiacutepios pragmaacutetico-ilocucionaacuterios ndash jaacute na escrita a unidade de referecircncia eacute a frase ndash
organizada segundo princiacutepios loacutegico-sintaacuteticos ndash aleacutem de haver caracteriacutesticas distintivas
entre falaescrita por exemplo hesitaccedilotildees interrupccedilotildees sobreposiccedilotildees etc Como a
focalizaccedilatildeo eacute considerada um fenocircmeno discursivo as noccedilotildees estudadas no niacutevel da frase natildeo
conseguem abranger todos os aspectos que a liacutengua oral apresenta por isso novas definiccedilotildees
satildeo propostas contudo em muitos casos preservando determinadas terminologias de estudos
anteriores
Cada liacutengua escolhe uma ou mais estrateacutegias para a focalizaccedilatildeo Pode-se ateacute mesmo
classificaacute-las tipologicamente com relaccedilatildeo agrave manifestaccedilatildeo do foco em cada uma Contudo
muitas vezes essas estrateacutegias se organizam conjuntamente para a manifestaccedilatildeo do foco no
caso da focalizaccedilatildeo sintaacutetica e a prosoacutedica coocorrerem nas construccedilotildees clivadas por
exemplo Assim como um morfema poder licenciar um conjunto de alternativas semacircnticas
de escopo em uma sentenccedila servindo de gatilho para a manifestaccedilatildeo prosoacutedica do foco
Todavia nosso objetivo nesta seccedilatildeo eacute mostrar os vaacuterios tipos de foco em isolamento apesar
de que a interface com outro componente gramatical seraacute explicada quando necessaacuterio A
exposiccedilatildeo natildeo seraacute exaustiva uma vez que este tipo de trabalho natildeo permite uma discussatildeo
mais longa da literatura
221 Foco sintaacutetico
O foco tem recebido grande atenccedilatildeo nos estudos da sintaxe gerativa Itens de natureza
discursiva como o toacutepico e o proacuteprio foco passam a fazer parte da estrutura interna das
sentenccedilas dentro dessa abordagem teoacuterica Eles ocupam uma posiccedilatildeo na parte mais alta da
sentenccedila caracterizada por ser uma estrutura funcional sendo a outra parte da sentenccedila a
estrutura lexical Com a proposta de extensatildeo do sistema CP (RIZZI 1997)3 dois
subsistemas satildeo criados o primeiro constituiacutedo por ForceP e FinP e o segundo por TopP e
FocP A categoria ForceP determina o tipo de sentenccedila enquanto FinP determina sua
finitude Os constituintes toacutepico e foco satildeo interpretados em Spec de seus respectivos
sintagmas O sistema CP entatildeo passa a ser representado da seguinte forma (QUAREZEMIN
2009 p 22)
3 Segundo Quarezemin (200921) ldquoa extensatildeo do CP ocorre para acomodar certos constituintes com
propriedades discursivas e de escopo aleacutem de derivar sua interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo Spec-nuacutecleordquo
15
(1) ForceP
Force0 TopP
Top0 FocP
Foc0 TopP
Top0 FinP
Fin0 IP
As categorias TopP e FocP4 soacute aparecem na estrutura se houver constituintes com
funccedilotildees de toacutepico e foco na sentenccedila A categoria TopP aparece duas vezes na estrutura
porque eacute considerada recursiva Isso significa que pode haver mais de um toacutepico na sentenccedila
Na estrutura FocP natildeo aparece duas vezes pois a natureza quantificacional do foco natildeo
permite tal repeticcedilatildeo Para Rizzi (1997) e Belletti (2001) ldquoa noccedilatildeo de foco estaacute diretamente
relacionada agrave posiccedilatildeo que este constituinte ocupa na sentenccedila Para eles um constituinte eacute
interpretado como foco somente se ele ocupa a posiccedilatildeo de Spec de FocPrdquo (ASSIS 2003 p
360)
Nessa abordagem o toacutepico ldquoveicula informaccedilatildeo jaacute conhecida pelos participantes do
discursordquo enquanto o comentaacuterio ldquoeacute um tipo de predicado complexo que se aplica ao toacutepicordquo
(QUAREZEMIN 2009 p 22) No exemplo da autora your book eacute o toacutepico e o que estaacute
depois da viacutergula eacute o comentaacuterio
(2) Your book you should give t to Paul (not to Bill)5
Ela afirma que na fala o toacutepico eacute marcado por uma pausa Diferentemente do toacutepico
o foco eacute ldquodestacado por um acento proeminente e expressa a informaccedilatildeo do discurso natildeo
4 Haacute outras propostas sobre qual o lugar que as categorias funcionais TopP e FocP ocupam na estrutura da
sentenccedila extensatildeo de vP (Belletti 2001 2004a) e extensatildeo de DP (Giusti 2002) 5 ldquoSeu livro vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo para o Bill)rdquo
16
pressuposta pelo ouvinte enquanto a pressuposiccedilatildeo representa o conhecimento compartilhado
pelos interlocutoresrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 23)
(3) YOUR BOOK you should give t to Paul (not mine)6
Com isso Quarezemin (2009 p 46) afirma que ldquoa interpretaccedilatildeo semacircntica da
sentenccedila que apresenta a articulaccedilatildeo foco-pressuposiccedilatildeo natildeo deve ser confundida com a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila que tem a biparticcedilatildeo toacutepico-comentaacuteriordquo A autora menciona a
relaccedilatildeo entre foco-prosoacutedia dizendo que os paracircmetros acuacutesticos da descriccedilatildeo do foco satildeo a
F0 a duraccedilatildeo e a intensidade Na fonologia o foco recebe a proeminecircncia ou outro acento
tonal especiacutefico A autora diz que ldquoo foco ou um membro do sintagma focalizado sempre
recebe o acento principal da sentenccedila enquanto a pressuposiccedilatildeo natildeo pode ser acentuada nos
mesmos niacuteveisrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 52)
Em liacutenguas como o espanhol o italiano e o PE o foco de informaccedilatildeo ocupa uma
posiccedilatildeo no final da sentenccedila em casos que ocorre a inversatildeo do sujeito
(4) Egrave partitoha parlato [F Gianni]7
(Chi egrave partitoha parlato)
No exemplo de Quarezemin (2009 p 69) acima nota-se o foco estreito Gianni no
final da sentenccedila visto que esse item responde agrave pergunta chi egrave partitoparlato Haveria o
foco largo isto eacute toda a resposta de (4) seria foco se essa resposta correspondesse agrave pergunta
(QUAREZEMIN 2009 p 70)
(5) Che cosa egrave successo8
Um tipo especiacutefico de focalizaccedilatildeo sintaacutetica satildeo as construccedilotildees clivadas Resenes
(2009 p 17) explica que a clivagem eacute ldquoum processo sintaacutetico que serve para focalizar
constituintes porque prepara um lugar especiacutefico na sentenccedila para alojar o focordquo Os
elementos que cumprem essa funccedilatildeo satildeo a coacutepula o complementizador que ou um elemento
wh As propriedades semacircnticas e sintaacuteticas das sentenccedilas clivadas e pseudo-clivadas natildeo
6 ldquoO SEU LIVRO vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo o meu)rdquo
7 ldquoPartiufalou o Gianni (Quem partiufalou)rdquo
8 ldquoO que aconteceurdquo
17
seratildeo abordadas profundamente visto que esse natildeo eacute o objetivo principal deste trabalho As
sentenccedilas clivadas apresentam a estrutura [ser + XPi + que [IP eci]] jaacute as pseudo-clivadas [[CP
whi ti] + ser +XPi] (RESENES 2009 p 14) O XP deve ser a parte natildeo-pressuposta da
sentenccedila ou o foco da sentenccedila o sintagma que carrega a informaccedilatildeo nova e que segundo a
abordagem gerativa carrega tambeacutem a proeminecircncia prosoacutedica O foco dessas sentenccedilas eacute do
tipo de identificaccedilatildeo exaustiva isto eacute indicado pela propriedade semacircntica [x e apenas x]
Apresentamos como exemplo em PB uma clivada e uma pseudo-clivada respectivamente
(6) Foi [F a Luana] que comprou um livro
(7) Quem comprou um livro foi [F a Luana]
Em inglecircs as clivadas satildeo conhecidas como it-clefts pois nessa liacutengua eacute obrigatoacuteria a
realizaccedilatildeo do expletivo na posiccedilatildeo inicial da sentenccedila
(8) It was [F John] who died in a car crash9
Haacute vaacuterios tipos de realizaccedilatildeo dessas sentenccedilas por exemplo clivada sem coacutepula
clivada com dupla coacutepula pseudo-clivada reduzida etc
Na liacutengua Ayutla Mixteca em que a ordem canocircnica da sentenccedila eacute VSO a
focalizaccedilatildeo se daacute atraveacutes da mudanccedila de posiccedilatildeo do elemento que se deseja focalizar para
uma posiccedilatildeo preacute-verbal ldquobecause the first element of any list is perceptually salient
preverbal position tends to grant the item filling it some degree of highlighting This position
is therefore often used for constituents that a speaker wishes to focus in some wayrdquo
(HOLLENBACH 1995 p 1)10
Seguem os exemplos de Hills (1990 p 27-28 apud
HOLLENBACH 1995 p 2)
(9) mburu xi‟i‟ tikui
donkey drinks water
bdquoThe donkey is drinking water‟11
(10) tikui xi‟i‟ mburu
9 ldquoFoi [F o Joatildeo] que morreu num acidente de carrordquo
10 ldquoporque o primeiro elemento de qualquer lista eacute perceptualmente saliente a posiccedilatildeo preacute-verbal tende a
conceder ao item carregando-o com algum grau de realce Esta posiccedilatildeo eacute portanto frequentemente usada para
constituintes em que o falante deseja focalizar de algum modordquo 11
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo
18
water drinks donkey
bdquoThe donkey is drinking water‟12
Entretanto Hollenbach (1995 p 2) adverte que a relaccedilatildeo semacircntica do foco com a
posiccedilatildeo preacute-verbal eacute obscura jaacute que um constituinte pode ocorrer na posiccedilatildeo preacute-verbal sem
que o falante deseje focalizaacute-lo Entatildeo a autora investiga as condiccedilotildees para que a focalizaccedilatildeo
do constituinte preacute-verbal ocorra13
Ela identificou vaacuterias condiccedilotildees para a identificaccedilatildeo do
foco na posiccedilatildeo preacute-verbal nas liacutenguas do grupo Mixteca entre elas a pausa (11) e a inserccedilatildeo
de conjunccedilotildees coordenadas (12) depois do elemento focalizado
(11) juaacutea ta‟u da ntuku
John splits he firewood
bdquoAs for John he is splitting firewood‟ (Yosonduacutea FARRIS 1992 p 28 apud
HOLLENBACH 1995 p 3)14
(12) sa‟an mi neacute din tavi di kuidaacutedo di
man that and willdo very you care you (Cuicatec BRADLEY 1991
p 493 apud HOLLENBACH 1995 p 3)
Esses satildeo exemplos que a focalizaccedilatildeo natildeo se daacute exclusivamente pela sintaxe mas que
co-ocorre com ela ou seja eacute necessaacuterio que haja mais elementos linguiacutesticos aleacutem da
posiccedilatildeo preacute-verbal para que a focalizaccedilatildeo ocorra de forma satisfatoacuteria
222 Foco morfoloacutegico
O foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de certos morfemas que dependendo da
liacutengua seratildeo cliacuteticos ou morfemas livres Nesse caso ldquoum bdquoMorfema de Ecircnfase‟ seraacute o
elemento responsaacutevel pela iluminaccedilatildeo do elemento destacado no textordquo (GONCcedilALVES
1999 p 336) Natildeo obstante isso natildeo signifique que o foco natildeo possa ser expresso por outros
meios nas liacutenguas em que predominam o meio morfoloacutegico para que a focalizaccedilatildeo ocorra
Esse tipo de focalizaccedilatildeo eacute mais comum em liacutenguas natildeo-indo-europeias como em liacutenguas
12
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo 13
Hollenbach investigou as condiccedilotildees do foco natildeo soacute na liacutengua Ayutla Mixteca mas em seis variedades do
Mixteca duas do Trique e uma do Cuicatec Essas liacutenguas fazem parte grupo Mixteca que por sua vez faz
parte da famiacutelia das liacutenguas Otomangues faladas sobretudo no sul do Meacutexico As liacutenguas da famiacutelia
Otomangue apresentam a ordem canocircnica VSO 14
ldquoQuanto ao Joatildeo ele estaacute partindo a lenhardquo
19
indiacutegenas brasileiras por exemplo em marubo e em mekens O aacuterabe e o japonecircs tambeacutem
satildeo exemplos de liacutenguas em que ocorre a focalizaccedilatildeo morfoloacutegica Hagesawa (2010 p 1)
explica que no japonecircs ldquoone of the most general properties of focus particles is to relate a
proposition which is newly introduced by the sentence containing a focus particle and
propositions available in the contextrdquo15
Em japonecircs a partiacutecula -shika introduz a noccedilatildeo de exclusividade o que eacute expresso
pela palavra only em inglecircs Essa noccedilatildeo eacute a mesma do foco de identificaccedilatildeo encontrado nas
sentenccedilas clivadas do PB por exemplo Segue o exemplo de Hagesawa (2010 p 4)
(13) Miho-shika ko-na-katta
Miho-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoOnly Miho came‟16
No exemplo (13) a funccedilatildeo do morfema -shika pode ser parafraseada como ldquosomente
Miho veio e mais ningueacutemrdquo Quanto ao padratildeo prosoacutedico das partiacuteculas de foco no japonecircs
Hagesawa (2010 p 33) afirma que
although Japanese focus particles have their own accent patterns
when they occur without a focused constituent or they are stressed as
shown in (14) and (15) they lose their accent pattern and follow the
tone melody of their host when they are suffixed17
18
O autor apresenta os seguintes exemplos
(14) Shikamade-o jisyo-de shirabe-ta
HL HL
SHIKAMADE-ACC dictionary-with lookup-PAST
bdquoI looked up bdquoshika‟‟made‟ in a dictionary‟19
(15) A Yuka-mo ki-ta-no
Yuka-also come-PAST-Q
15
ldquouma das propriedades mais gerais das partiacuteculas de foco eacute relacionar uma proposiccedilatildeo que eacute receacutem-
introduzida pela sentenccedila contendo uma partiacutecula de foco e proposiccedilotildees disponiacuteveis no contextordquo 16
ldquoSomente Miho veiordquo 17
A numeraccedilatildeo dos exemplos natildeo segue a original 18
ldquoconquanto as partiacuteculas de foco do japonecircs tecircm seus padrotildees proacuteprios de accent quando ocorrem sem um
constituinte focalizado ou estatildeo stressed como mostrado em (14) e (15) elas perdem o seu padratildeo de accent e
seguem a melodia tonal do seu hospedeiro quando elas satildeo sufixadasrdquo 19
ldquoEu procurei bdquoshika‟‟made‟ em um dicionaacuteriordquo
20
bdquoDid Yuka also come‟
B Uun Yuka-shika ko-na-katta
HL
no Yuka-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoNo only Yuka came‟20
Na liacutengua Mekens todas as questotildees wh apresentam o cliacutetico foco te como no
exemplo abaixo de Galucio (2002 p 67)
(16) aapo=te o-tek pogabeg-a ke i-koop ikatildeotilde tete
Who=foc 1s-house open-Theme say 3s-aux+mov that time
bdquordquoWho opened my houserdquo She was saying that time‟21
Haacute tambeacutem o uso do recurso sintaacutetico pois o constituinte focalizado sempre aparece
no iniacutecio da sentenccedila A autora menciona que a informaccedilatildeo natildeo-pressuposta das respostas agraves
perguntas wh tambeacutem apareceratildeo na forma de construccedilotildees focalizadas Isso faz com que a
ordem canocircnica ndash SOV ndash dessa liacutengua se altere em sentenccedilas como (17) abaixo por exemplo
extraiacuteda de Galucio (2002 p 68) Notam-se nas duas oraccedilotildees que os sujeitos ocorrem
depois do verbo
(17) serek=te kɨpmatildekatildeỹ kweotildep =te ɨsɨɨ
split=foc floor climb+neg=foc deer
bdquoThe floor split and the deer sank‟22
Alguns autores consideram como morfemas de foco palavras como only also just e
even do inglecircs por exemplo porque elas cumprem a mesma funccedilatildeo semacircntica dos morfemas
de foco em liacutenguas como o japonecircs no exemplo da partiacutecula -shika bdquoonly‟ Na anaacutelise de
Quarezemin (2009 p 112) para as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB ela sugere que nas
construccedilotildees clivadas a coacutepula e o complementizador seriam morfemas de foco Nas palavras
da autora
20
ldquoA Yuka tambeacutem veio Natildeo somente a Yuka veiordquo 21
ldquoQuem abriu minha casa Ela estava dizendo aquela horardquo 22
ldquoO chatildeo se partiu e o veado afundourdquo
21
A hipoacutetese inicial eacute que de um modo geral os falantes do PB
preferem destacar o constituinte focalizado sintaticamente ao inveacutes
de destacaacute-lo apenas com recursos prosoacutedicos Disso surge a hipoacutetese
de que a coacutepula com funccedilatildeo de focalizar e o complementizador das
clivadas podem ser considerados morfemas de foco em PB
Em suma o foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de morfemas que tecircm por objetivo
sinalizar que o constituinte o qual estaacute afixado se encontra focalizado Eles tambeacutem podem
interagir com a sintaxe e a prosoacutedia no caso de aleacutem do morfema de foco estar afixado a um
constituinte que se deseja destacar ele tambeacutem esteja em uma posiccedilatildeo proacutepria para
construccedilotildees focalizadoras ou em casos em que aleacutem da marcaccedilatildeo morfoloacutegica do foco haja
uma proeminecircncia prosoacutedica no constituinte focalizado
223 Foco semacircntico
Em primeiro lugar salientamos que o termo bdquofoco semacircntico‟ pode causar certa
estranheza devido a que diferentemente dos outros tipos neste natildeo haacute uma manifestaccedilatildeo de
forma ldquovisiacutevelrdquo do foco no enunciado isto eacute natildeo haacute uma proeminecircncia prosoacutedica uma
construccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica ou um morfema afixado a um constituinte Antes se trata mais
de uma propriedade do significado da construccedilatildeo focalizadora em um enunciado
As trecircs principais propriedades semacircnticas do foco satildeo as dos enunciados que
apresentam o foco de informaccedilatildeo de identificaccedilatildeo e o contrastivo Geralmente para
determinar a propriedade semacircntica desses tipos de foco recorre-se ao contexto de pergunta-
whresposta ou a outro tipo de contexto induzido O foco de informaccedilatildeo23
introduz uma
informaccedilatildeo novanatildeo-pressuposta e ldquopresume uma pergunta wh como base discursiva para
ser estabelecidordquo (RESENES 2009 p 20) Segue o exemplo de Resenes (2009 p 20)
(18) a O que o Joatildeo bebeu
b O Joatildeo bebeu alguma coisa
c O Joatildeo bebeu [F o vinho]
A pergunta wh estaacute em (18a) Em (18b) encontra-se a pressuposiccedilatildeo expressa pelo
pronome indefinido O foco de informaccedilatildeo se encontra em (18c) e eacute o valor da expressatildeo wh
23
Resenes (2009) utiliza a nomenclatura de ldquofoco natildeo-contrastivordquo para esse tipo de foco
22
da pergunta em (18a) A autora menciona que na Estrutura de Asserccedilatildeo (AS)24
o foco de
(18c) seria representado como
(19) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 O x tal que o Joatildeo bebeu x = [o vinho]
O foco contrastivo corrige uma informaccedilatildeo preacutevia atraveacutes de uma prosoacutedia proacutepria
Resenes (2009 p 20) afirma que ldquoo contexto ideal para o foco contrastivo eacute aquele em que
haacute uma afirmaccedilatildeo preacutevia como base discursivardquo Segue o exemplo da autora (RESENES
2009 p 21)
(20) a O Joatildeo bebeu o vinho
b O Joatildeo bebeu [F a cerveja] (natildeo o vinho)
A AS de (20) seria
(21) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 Natildeo eacute o caso que o x tal que o Joatildeo bebeu x = vinho amp O x tal que o Joatildeo
bebeu o x = a cerveja
O foco de identificaccedilatildeo ldquorepresents a subset of the set of contextually or situationally
given elements for which the predicate phrase can potentially hold it is identified as the
exhaustive subset of this set for which the predicate phrase actually holdsrdquo (KISS 1998 p
245 apud RESENES 2009 p 21)25
Assim o foco de identificaccedilatildeo expressa exaustividade
que pode ser parafraseada como [x e apenas x] Esse tipo de foco eacute ilustrado por uma
sentenccedila clivada em (22) (RESENES 2009 p 21)
(22) Foi [F um perfume] que a Maria deu para o Joatildeo
24
Resenes (2009 p 20) explica que a AS eacute ldquoum niacutevel poacutes-LF (pragmaacutetico) que revela como a informaccedilatildeo estaacute
empacotada na sentenccedila Na AS vai estar explicitada a estrutura da focalizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo o foco e os
tipos de focordquo 25
ldquorepresenta um subconjunto do conjunto de elementos dados contextualmente ou situacionalmente para o qual
a expressatildeo do predicado pode potencialmente conter que eacute identificado como o subconjunto exaustivo deste
conjunto para o qual a expressatildeo de predicado efetivamente conteacutemrdquo
23
Em (22) o foco de identificaccedilatildeo eacute expresso pelo NP um perfume que significa que
dentro de uma seacuterie de possiacuteveis presentes que a Maria poderia ter dado ao Joatildeo ela deu
somente um perfume por isso [x e apenas x]
Contudo o fenocircmeno da focalizaccedilatildeo natildeo se restringe somente agraves respostas das
perguntas wh ou agraves respostas dos contextos induzidos Davis (2009 p 2) assinala que haacute dois
grandes aspectos da constituiccedilatildeo do foco ldquoThe first is its grammar how FOCUS is expressed
in language The second is its meaning It does not require much investigation to discover
that there is no grammatical consistency to FOCUS across languagesrdquo26
O autor nota que em
relaccedilatildeo ao primeiro item natildeo haveria uma forma uacutenica universal para o uso do foco ou seja
uma liacutengua utiliza a sintaxe outra a prosoacutedia outra a morfologia outra a sintaxe e a prosoacutedia
etc ele afirma que ldquoif there is some universal consistency to FOCUS across languages it is
not found in its expressionrdquo27
Quanto ao segundo item as liacutenguas a princiacutepio natildeo
diferenciariam muito em relaccedilatildeo agrave semacircntica do foco Entretanto a propriedade de
destaquerealce sempre estaraacute presente manifestando-se seja por meio da prosoacutedia do
arranjo sintaacutetico ou da marcaccedilatildeo morfoloacutegica Davis (2009 p 2) explica que
If FOCUS will be diferently constituted grammatically its presence
has to be recognized in its semantics One portion of that semantics is
that FOCUS is involved in the answering of wh- questions but not
every utterance is a response to such a question Yet utterances must
the claim says nevertheless contain the semantics (and some
grammar) of FOCUS FOCUS then cannot be only the content
which answers questions There must be more to FOCUS When we
examine languages we discover that FOCUS has an affinity for
certain other semantics and in discovering those affinities we can
amplify our conception of what constitutes FOCUS28
A partir da assunccedilatildeo acima sugere-se que os estudos sobre a focalizaccedilatildeo natildeo
poderiam se restringir agraves anaacutelises de dados de introspecccedilatildeo sobretudo aqueles que explicam o
fenocircmeno somente a partir de dados com contexto pergunta-whresposta A natureza
discursivo-pragmaacutetica da focalizaccedilatildeo faz com que esse fenocircmeno seja melhor compreendido
26
ldquoO primeiro eacute sua gramaacutetica como o FOCO eacute expresso na liacutengua O segundo eacute o seu significado Natildeo se
requer muita investigaccedilatildeo para descobrir que natildeo haacute coerecircncia gramatical do FOCO atraveacutes das liacutenguasrdquo 27
ldquose houver alguma consistecircncia universal para o FOCO entre as liacutenguas natildeo eacute encontrada na sua expressatildeordquo 28
ldquoSe o FOCO seraacute constituiacutedo diferente gramaticalmente a sua presenccedila tem de ser reconhecida em sua
semacircntica Uma parte dessa semacircntica eacute que o FOCO estaacute envolvido nas respostas de perguntas QU mas nem
todo enunciado eacute uma resposta a essas perguntas No entanto os enunciados devem a alegaccedilatildeo diz todavia
conter a semacircntica (e alguma gramaacutetica) do FOCO O FOCO entatildeo natildeo pode ser apenas o conteuacutedo que
responde a perguntas Deve haver mais para o FOCO Quando examinamos as liacutenguas descobrimos que o
FOCO tem uma afinidade com outras semacircnticas e descobrindo essas afinidades podemos ampliar a nossa
concepccedilatildeo do que constitui o FOCOrdquo
24
na liacutengua espontacircnea apesar de natildeo se poder excluir suas propriedades semacircnticas em
diferentes enunciados que podem ser analisados sem o uso de dados de liacutengua espontacircnea
como eacute o caso da investigaccedilatildeo das propriedades semacircnticas do foco em dados de introspecccedilatildeo
e de suas representaccedilotildees formais
224 Foco prosoacutedico
A prosoacutedia eacute um dos traccedilos da camada suprassegmental ou seja que se encontra
acima dos segmentos dispostos linearmente na cadeia sonora da fala Beaver amp Clark (2008
p 2) explicam que os traccedilos suprassegmentais satildeo assim chamados porque ldquothey spread out
across multiple segments (basic sound units) or even across multiple wordsrdquo29
Callou amp
Leite (1990 p31) afirmam que o ldquoconjunto de fenocircmenos dos quais se derivam tipos de
acento padrotildees entoacionais ritmos e velocidades de fala satildeo estudados sob o roacutetulo de
prosoacutediardquo Ao contraacuterio dos segmentos que satildeo descritos pelos movimentos dos articuladores
do aparelho fonador os suprassegmentos satildeo descritos ldquoem termos da accedilatildeo dos muacutesculos
respiratoacuterios que aumentam ou diminuem a energia do fluxo de ar ocasionando duraccedilotildees
frequumlecircncia fundamental e intensidade diferentes das vibraccedilotildees sonorasrdquo (CALLOU amp LEITE
1990 p 30) Paracircmetros acuacutesticos como frequecircncia fundamental intensidade e duraccedilatildeo fiacutesica
satildeo outros traccedilos suprassegmentais que satildeo percebidos respectivamente como pitch
loudness e length que por sua vez ldquoapresentam correlatos fiacutesicos frequumlecircncia amplitude e
tempordquo (LEITE 2009 p 17)30
A frequecircncia eacute medida em Hz (Hertz) a amplitude em dB
(decibeacuteis) e o tempo em ms (milissegundos)
Barbosa (2008) menciona que a prosoacutedia estaacute
associada a fatores linguumliacutesticos como acentuaccedilatildeo entoaccedilatildeo ecircnfase e
ritmo bem como a fatores para- e extra-linguiacutesticos tais como
marcadores discursivos (ldquoneacuterdquo ldquoentendordquo ldquoanhanrdquo) atitudes
emoccedilotildees imbricados a fatores sociais ou bioloacutegicos como gecircnero
faixa etaacuteria classe social entre outros
Segundo Leite (2009 p 18) a prosoacutedia exerceria funccedilotildees ldquogramatical atitudinal
informacional indexal e ilocucionaacuteriardquo Nota-se portanto que eacute muito importante levar em
29
ldquoeles se espalham em vaacuterios segmentos (unidades baacutesicas de som) ou mesmo atraveacutes de muacuteltiplas palavrasrdquo 30
Neste trabalho natildeo se pretende definir minuciosamente todos os conceitos dos correlatos foneacutetico-acuacutesticos
dos sons da fala estudados pela Foneacutetica Acuacutestica Para mais informaccedilotildees cf Ladefoged (1974) Malmberg
(1998) e Johnson (2003)
25
consideraccedilatildeo a prosoacutedia na anaacutelise linguiacutestica visto que ela desempenha funccedilotildees associadas a
fatores intrinsecamente linguiacutesticos bem como a fatores extralinguiacutesticos A prosoacutedia ainda
apresenta um importante papel na aquisiccedilatildeo da linguagem sendo recurso especial para a
crianccedila associar unidades sonoras a significado (cf BRUM DE PAULA 2010)
As investigaccedilotildees do Ciacuterculo Linguiacutestico de Praga sugeriram que os elementos dados
do discurso ou seja aqueles que jaacute haviam sido mencionados seriam prosodicamente menos
relevantes que os elementos novos Disso resulta que a informaccedilatildeo nova ou o foco seja
destacado prosodicamente isto eacute apresente proeminecircncia prosoacutedica A proeminecircncia
prosoacutedica eacute definida como ldquoa quantitative parameter of a syllable or a boundary that describes
markedness relative to surrounding syllables and boundaries respectivelyrdquo (PORTELE amp
HEUFT 1997 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 227)31
Haacute autores que classificam o
foco levando em conta sobretudo o fator proeminecircncia prosoacutedica por exemplo ldquothe term
focus is used [] to describe prosodic prominences serving pragmatic and semantic
functionsrdquo (ROOTH 1995 p 271 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 228)32
O foco prosoacutedico eacute definido por meio de uma proeminecircncia tonal (cf
BUTRAGUENtildeO 2005) Entretanto alguns estudos mostram que o foco natildeo seria marcado
somente com a proeminecircncia tonal ou prosoacutedica Proeminecircncias de outros traccedilos
suprassegmentais como duraccedilatildeo e intensidade tambeacutem marcariam o foco (cf TOLEDO
1989 SOSA 1999 QUAREZEMIN 2009 entre outros) Para Butraguentildeo (2005 p 141) os
focos prosoacutedicos ldquoreciben acentos tonales de contorno especiacutefico que permiten distinguirlos
del fondo (o background)rdquo33
Os paracircmetros de anaacutelise acuacutestica do foco satildeo os movimentos
de F0 o alinhamento entre siacutelabas e F0 duraccedilatildeo das siacutelabas e vogais intensidade da siacutelaba e
em alguns casos pausas e meacutedia entre picos de F0
As abordagens teoacutericas utilizadas nos trabalhos sobre o foco prosoacutedico guiam a
metodologia de anaacutelise dos dados Assim alguns autores que trabalham com uma abordagem
formal utilizando o sistema ToBI (cf SILVERMAN et al 1992) para a anaacutelise dos dados
representam a entoaccedilatildeo dos enunciados marcando as siacutelabas com acentos tonais que se
manifestam em acentos monotonais (H ou L) bitonais (H+L L+H etc) e ainda poderia
haver tons de juntura (H e L) que delimitam as fronteiras dos grupos meloacutedicos Na
Fonologia Entoacional haacute trecircs tipos de tons pitch accents phrase accents e boundary tones
31
ldquoum paracircmetro quantitativo de uma siacutelaba ou de uma fronteira que descreve a marcaccedilatildeo relativa agraves siacutelabas
vizinhas e fronteiras respectivamenterdquo 32
ldquoo termo foco eacute utilizado [] para descrever proeminecircncias prosoacutedicas que servem a funccedilotildees pragmaacuteticas e
semacircnticasrdquo 33
ldquorecebem acentos tonais de contorno especiacutefico que permitem distingui-los do fundo (ou background)rdquo
26
Geralmente o foco eacute marcado por um pitch accent que pode ser definido como ldquoa local
feature of a pitch contour ndash usually but not invariably a pitch change and often involving a
local maximum or minimumrdquo (LADD 1996 p 45-6 apud BEAVER amp CLARK 2008 p
11)34
Segundo Roach (2011 p 67) pitch
is an auditory sensation when we hear a regularly vibrating sound
such as a note played on a musical instrument or a vowel produced
by the human voice we hear a high pitch if the rate of vibration is
high and a low pitch if the rate of vibration is low35
Nooteboom (1997 p 641) atenta para o fato de que ldquoone should be aware however
that rather often the notion bdquopitch‟ is used to refer to f0 or the repetition frequency itself In
speech f0 is determined by the rate of vibration of the vocal cords located in the larynxrdquo36
Ademais Crystal (2008 p 369) adverte que ldquothere is however no direct or parallel
correlation between pitch and frequency other factors than frequency may affect our
sensation of pitch (measured in units known as mels)rdquo37
Pitch countour seria a marcaccedilatildeo dos
uacutenicos pitchs relevantes para a compreensatildeo de um perfil entoacional A teacutecnica da close
copy (cf t‟HART et al 1990) justamente realccedila o pitch countor atraveacutes de uma ldquosiacutentese que
satildeo eliminados movimentos de F0 que natildeo causam diferenccedila de percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao
aacuteudio originalrdquo (ROCHA 2011 p 106) De acordo com Crystal (2008 p 369-370) o termo
pitch accent
is used phonologically in the description of languages in which the
distribution of the tones within a word is totally predictable once one
has specified a particular tonal feature of the word (as in Japanese)
The notion has also been applied to English where some
phonological models analyse intonation CONTOURS as a sequence
of one or more pitch accents each associated with a STRESS-
prominent SYLLABLE in a word38
34
ldquoum traccedilo local de um pitch contour - geralmente mas natildeo invariavelmente variaccedilatildeo de pitch e muitas vezes
envolvendo um local maacuteximo ou miacutenimordquo 35
ldquoeacute uma sensaccedilatildeo auditiva quando ouvimos um som regularmente vibrando como uma nota tocada em um
instrumento musical ou uma vogal produzida pela voz humana noacutes ouvimos um pitch alto se a taxa de vibraccedilatildeo
eacute alta e um pitch baixo se a taxa de vibraccedilatildeo eacute baixardquo 36
ldquodeve-se estar ciente no entanto que muitas vezes a noccedilatildeo de pitch eacute utilizada para se referir a f0 ou a
frequecircncia da repeticcedilatildeo Na fala a f0 eacute determinada pela taxa de vibraccedilatildeo das cordas vocais localizadas na
laringerdquo 37
ldquonatildeo haacute poreacutem nenhuma correlaccedilatildeo direta ou paralelo entre pitch e frequecircncia outros fatores aleacutem
frequecircncia podem afetar a nossa sensaccedilatildeo de pitch (medido em unidades conhecidas como mels)rdquo 38
ldquoeacute usado fonologicamente na descriccedilatildeo das liacutenguas nas quais a distribuiccedilatildeo dos tons dentro de uma palavra eacute
totalmente previsiacutevel uma vez que se tenha especificado uma caracteriacutestica particular de tons da palavra (tal
como no japonecircs) A noccedilatildeo tambeacutem foi aplicada para o inglecircs em que alguns modelos fonoloacutegicos analisam os
CONTORNOS da entoaccedilatildeo como uma sequecircncia de um ou mais pitch accents cada um associado a uma
SIacuteLABA STRESS-proeminente em uma palavrardquo
27
O sistema ToBI reconhece 5 tipos de pitch accents enquanto Pierrehumbert (1980)
menciona 7 tipos Atraveacutes dessa classificaccedilatildeo eacute possiacutevel delimitar o accent prototiacutepico do
foco ou suas possiacuteveis variantes Beaver amp Clark (2008 p 12) mencionam que ldquoalthough
focus is frequently marked by an H accent [] other accents are possible For example in
yes-no questions focus is often by marked by an L+Hrdquo39
A importante pressuposiccedilatildeo teoacuterica de que toda oraccedilatildeo eacute resposta a uma pergunta
guia a metodologia de muitas investigaccedilotildees sobre o foco sobretudo de trabalhos
experimentais de leitura de sentenccedilas denominados testes de produccedilatildeo Com o pressuposto
teoacuterico da explicitaccedilatildeo do foco por meio de pergunta-resposta eacute possiacutevel delimitar o tipo de
foco a ser analisado broad focus (foco largo) narrow focus (foco estreito) ou contrastive
focus (foco contrastivo) (cf seccedilatildeo 121 p 14) Essa metodologia tem por caracteriacutestica
induzir guiar e restringir os padrotildees meloacutedicos da fala ao fornecer exemplos com contextos
preacutevios ou mesmo com o foco jaacute explicitado na sentenccedila para se obter o resultado desejado
Em investigaccedilatildeo sobre a marcaccedilatildeo prosoacutedica dos focos largo estreito e contrastivo em
alematildeo Baumann et al (2006 p 302) mencionam em sua metodologia de teste de leitura
que
reading material consisted of five question-answer pairs with the
answer bdquoManuela will Blumen malen‟ (Manuela wants to paint
flowers) The main criterion the target sentence had to fulfill was its
continuous voicing so as to be able to accurately measure exact peaks
and valleys in the F0 contour40
Dependendo do objetivo do trabalho ou da liacutengua a ser analisada podem-se controlar
outros fatores Por exemplo em trabalho sobre como o tom lexical e o foco contribuem para a
formaccedilatildeo e alinhamento dos F0 contours no chinecircs Xu (1999 p 58) menciona na
metodologia que
the factors manipulated in the experiment were segmental
composition of syllables lexical tones focus and and sentence types
Of these only lexical tones and focus were under direct scrutiny The
control of the other two factors was done by keeping their variation to
39
ldquoembora o foco seja frequentemente marcado por um accent H [] outros accents satildeo possiacuteveis Por
exemplo em perguntas sim-natildeo o foco eacute muitas vezes marcado por um H + Lrdquo 40
ldquoo material de leitura consistiu de cinco pares de pergunta-resposta com a resposta bdquoManuela will Blumen
malen‟ (Manuela quer pintar flores) O principal criteacuterio que a frase alvo tinha a cumprir era seu vozeamento
contiacutenuo de modo a ser capaz de medir com precisatildeo exata picos e vales no contorno da F0rdquo
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
Universidade Federal de Minas Gerais
Faculdade de Letras
Monografia intitulada ldquoUm estudo sobre a focalizaccedilatildeo no Portuguecircs Brasileirordquo de autoria do
bacharelando Luis Filipe Lima e Silva submetida agrave aprovaccedilatildeo pela banca examinadora
constituiacuteda pelos seguintes professores
_____________________________________________________________
Profordf Drordf Heliana Ribeiro de Mello ndash FALEUFMG ndash Orientadora
_____________________________________________________________
Profordf Drordf Maria Elizabeth Fonseca Saraiva ndash FALEUFMG
_____________________________________________________________
Doutorando Bruno Neves Rati de Melo Rocha ndash FALEUFMG
A los latinoamericanos
AGRADECIMENTOS
Agrave orientadora Profordf Heliana Mello
Aos membros da banca examinadora Profordf Maria Elizabeth Saraiva e Doutorando Bruno
Rocha
Aos exatuais membros do C-ORAL-BRASIL Adriana Ramos Bruno Mota Elisa Santos
Heloiacutesa Vale Luciana Aacutevila Maryualecirc Mittmann Priscila Cocircrtes e Raiacutessa Caetano
Agraves acadecircmicas Daniela Guimaratildees Lena Dal Pozzo e Mariana Resenes
Aos professores Jacircnia Ramos Lorenzo Vitral e Tommaso Raso
Aos colegas da graduaccedilatildeo Andressa Gomide Carolina Bohoacuterquez Daikan Takane Frederico
Cavalcante Henrique Alves Ingrid Faria Letiacutecia Meirelles e Maacuterio Silva
A todos mis amigos de Latinoameacuterica
La constancia y el estudio hacen a los hombres grandes y los
hombres grandes son el porvenir de la Patria
(Benito Juaacuterez)
RESUMO
A focalizaccedilatildeo eacute um fenocircmeno pragmaacutetico-discursivo que objetiva realccedilar itens do enunciado
O realce dado a um item do enunciado recebe o nome de foco Nas liacutenguas naturais haacute vaacuterias
formas de se focalizar um item atraveacutes de recursos prosoacutedicos construccedilotildees sintaacuteticas
afixaccedilatildeo morfoloacutegica combinaccedilatildeo com itens lexicais exclusivos etc Este trabalho tem dois
objetivos principais o primeiro eacute mapear classificar e analisar prosodicamente estrateacutegias de
focalizaccedilatildeo no Portuguecircs Brasileiro considerando o contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeo e
fazendo uso do formalismo semacircntico como suporte para a anaacutelise dos dados bem como da
percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo dessas estrateacutegias O segundo objetivo eacute propor uma distinccedilatildeo
entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase fenocircmenos muitas vezes considerados sinocircnimos por
aparentemente apresentarem certas semelhanccedilas contudo seraacute proposto que haacute diferenccedilas
entre os dois Foram adotados os mesmos criteacuterios para a anaacutelise dos dados referentes ao
segundo objetivo deste trabalho isto eacute prosoacutedia contexto pragmaacutetico e propriedades
semacircnticas O corpus utilizado para esta pesquisa foi o C-ORAL-BRASIL (RASO amp
MELLO 2012) um corpus oral do Portuguecircs Brasileiro falado informal Ressalta-se que esta
pesquisa eacute de cunho qualitativo isto eacute natildeo foram levados em consideraccedilatildeo paracircmetros
quantitativos como sustentaccedilatildeo das anaacutelises dos dados embora acreditemos que sejam de total
importacircncia Outros objetivos tambeacutem satildeo contemplados por exemplo a exposiccedilatildeo de cada
tipo de foco ilustrados com exemplos de vaacuterias liacutenguas considerando as diferentes correntes
de estudo Atraveacutes da pesquisa em trecircs textos do corpus C-ORAL-BRASIL foi possiacutevel
classificar as ocorrecircncias de focalizaccedilatildeo em foco prosoacutedico sendo realizado por uma
proeminecircncia prosoacutedica foco morfoloacutegico expresso por uma palavra dedicada a focalizar e
foco sintaacutetico sendo realizado atraveacutes das construccedilotildees clivadas O foco prosoacutedico e a ecircnfase
se distinguem no plano pragmaacutetico apresentando contextos distintos de enunciaccedilatildeo e no
plano semacircntico que apresenta efeitos de sentido diferentes
Palavras-chave focalizaccedilatildeo foco ecircnfase prosoacutedia pragmaacutetica
RESUMEN
La focalizacioacuten es un fenoacutemeno pragmaacutetico-discursivo que pretende resaltar los elementos de
la declaracioacuten El realce dado a un elemento de la declaracioacuten se llama foco En el lenguaje
natural existen varias maneras de focalizar un elemento a traveacutes de caracteriacutesticas
prosoacutedicas construcciones sintaacutecticas afijacioacuten morfoloacutegica combinacioacuten con elementos
leacutexicos exclusivos etc Este trabajo tiene dos objetivos principales el primero es mapear
clasificar y analizar prosodicamente las estrategias de focalizacioacuten en el portugueacutes de Brasil
teniendo en cuenta el contexto pragmaacutetico de enunciacioacuten y haciendo uso del formalismo
semaacutentico como apoyo al anaacutelisis de datos asiacute como de la percepcioacuten para la identificacioacuten de
estas estrategias El segundo objetivo es proponer una distincioacuten entre el foco prosoacutedico y el
eacutenfasis fenoacutemenos que a menudo se consideran sinoacutenimos por presentar ciertas similitudes al
parecer sin embargo proponemos que existen diferencias entre los dos El mismo criterio se
adoptoacute para el anaacutelisis de datos relacionados con el segundo objetivo de este trabajo es decir
la prosodia el contexto pragmaacutetico y las propiedades semaacutenticas El corpus utilizado para esta
investigacioacuten fue el C-ORAL-BRASIL (RASO amp MELLO 2012) un corpus oral del
portugueacutes brasilentildeo hablado informalmente Cabe sentildealar que esta investigacioacuten es de tipo
cualitativo es decir no se tendraacute en cuenta paraacutemetros cuantitativos como apoyo para el
anaacutelisis de datos aunque creemos que todos sean importantes Otros objetivos tambieacuten se
contemplan por ejemplo la exposicioacuten de cada tipo de foco que se ilustra con ejemplos de
varios idiomas teniendo en cuenta las diferentes corrientes de estudio A traveacutes de la
investigacioacuten con tres textos del corpus C-ORAL-BRASIL fue posible clasificar las
ocurrencias de focalizacioacuten en el foco prosoacutedico llevado a cabo por una prominencia
prosoacutedica el foco morfoloacutegico expresado por una palabra dedicada a focalizar y el foco
sintaacutectico llevado a cabo a traveacutes de construcciones hendidas El foco prosoacutedico y el eacutenfasis
en el nivel pragmaacutetico se distinguen con diferentes contextos de enunciacioacuten y en el nivel
semaacutentico que presenta diferentes efectos de sentido
Palabras-clave focalizacioacuten foco eacutenfasis prosodia pragmaacutetica
LISTA DE FIGURAS
Figura 31 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02 37
Figura 32 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03 38
Figura 33 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Figura 34 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04 42
Figura 35 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Figura 36 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03 46
Figura 37 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03 47
Figura 38 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Figura 39 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03 51
Figura 310 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03 52
Figura 311 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03 53
Figura 312 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02 54
LISTA DE TABELAS
Tabela 31 - Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02 37
Tabela 32 - Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03 38
Tabela 33 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Tabela 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Tabela 35 - Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04 43
Tabela 36 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Tabela 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Tabela 38 - Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03 46
Tabela 39 - Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03 47
Tabela 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 50
Tabela 314 - Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03 51
Tabela 315 - Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03 52
Tabela 316 - Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03 53
Tabela 317 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02 54
Tabela 318 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02 55
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 12
2 PANORAMA GERAL DOS ESTUDOS SOBRE O FOCO 12
22 TIPOS DE FOCO 13
221 Foco sintaacutetico 14
222 Foco morfoloacutegico 18
223 Foco semacircntico 21
224 Foco prosoacutedico 24
3 METODOLOGIA DA PESQUISA 29
31 OBJETIVO 29
32 CORPUS 30
321 C-ORAL-ROM 30
322 C-ORAL-BRASIL 32
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 34
4 ANAacuteLISE DOS DADOS 35
41 FOCO PROSOacuteDICO 35
42 FOCO SINTAacuteTICO 41
43 FOCO MORFOLOacuteGICO 45
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE 47
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 55
REFEREcircNCIAS 56
12
1 INTRODUCcedilAtildeO
A focalizaccedilatildeo eacute um fenocircmeno linguiacutestico cada vez mais estudado e que possui
importante papel na comunicaccedilatildeo oral Sua importacircncia na gramaacutetica das liacutenguas naturais
bem como nas situaccedilotildees comunicativas eacute grande podendo ser observada pela assunccedilatildeo de
Davis (2009 p 2) ldquoFOCUS is present in every language and that it is present in every
utterance of every languagerdquo1 Embora haja divergecircncia por parte de alguns autores quanto agrave
proposta de Davis assume-se de qualquer forma que a focalizaccedilatildeo nas liacutenguas naturais eacute um
importante recurso comunicativo promovido nas diversas interaccedilotildees linguiacutesticas do cotidiano
pois sinaliza propriedades semacircnticas especiacuteficas atraveacutes de recursos prosoacutedicos
morfoloacutegicos e configuraccedilotildees sintaacuteticas dedicadas a destacar um item Nas liacutenguas romacircnicas
e germacircnicas sobretudo a estrateacutegia prosoacutedica da focalizaccedilatildeo eacute fundamental para a
realizaccedilatildeo do foco conforme mencionam Beaver amp Clark (2008 p xxi) ldquoRomance and
Germanic languages and English in particular focus is commonly marked by prosody with
changes in pitch used to mark focused expressionsrdquo2 Natildeo obstante estejam presentes e
podendo estar em co-ocorrecircncia nas liacutenguas desses troncos estrateacutegias sintaacuteticas como as
construccedilotildees clivadas e morfoloacutegicas como adveacuterbios e quantificadores focais o que poderaacute
ser constatado ao longo deste trabalho
Este trabalho estaacute divido em duas partes a primeira (cf seccedilatildeo 2 e subseccedilotildees) que
procura expor ao leitor atraveacutes da consideraccedilatildeo de diferentes estudos de variadas abordagens
teoacuterico-metodoloacutegicas uma revisatildeo bibliograacutefica ao mesmo tempo concisa e imparcial que
objetiva cobrir de modo satisfatoacuterio o tema da focalizaccedilatildeo e seus desdobramentos nos estudos
linguiacutesticos e a segunda (cf seccedilotildees 3 e 4 e subseccedilotildees) que consiste na exposiccedilatildeo do objetivo
e da metodologia da pesquisa do corpus utilizado da anaacutelise dos dados e das decorrentes
consideraccedilotildees sobre o foco no Portuguecircs Brasileiro falado informal aleacutem da discussatildeo sobre
a diferenciaccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase Por fim a seccedilatildeo 5 consiste nas
consideraccedilotildees finais
2 PANORAMA GERAL DOS ESTUDOS SOBRE O FOCO
O fenocircmeno da focalizaccedilatildeo tem sido estudado por vaacuterias aacutereas da linguiacutestica ndash
sintaxe semacircntica prosoacutedia etc ndash e sob diferentes abordagens teoacuterico-metodoloacutegicas ndash
1 ldquoO FOCO estaacute presente em toda liacutengua e estaacute presente em todo enunciado de toda liacutenguardquo
2 ldquoNas liacutenguas romacircnicas e germacircnicas e no inglecircs em particular o foco eacute marcado normalmente pela prosoacutedia
com variaccedilotildees no pitch para marcar as expressotildees focalizadasrdquo
13
formal funcional pragmaacutetica etc Cada estudo independente da aacuterea ou da abordagem
teoacuterica tem revelado que a focalizaccedilatildeo apresenta importante papel na gramaacutetica das liacutenguas
naturais pois o foco seu principal componente manifesta-se nelas por diferentes estrateacutegias
linguiacutesticas Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os diferentes meios em que o foco pode se
manifestar isto eacute os tipos de foco O objetivo deste capiacutetulo eacute mostrar que o foco ocorre
atraveacutes de diferentes estrateacutegias nas liacutenguas e que cada liacutengua escolhe uma ou mais
estrateacutegias para sua realizaccedilatildeo
21 TIPOS DE FOCO
O fenocircmeno que abrange o foco eacute a focalizaccedilatildeo que pode ser definida como o ldquoato de
focalizar ou seja de acentuar de ressaltar de pocircr em relevorealceevidecircncia um
determinado item do textordquo (GONCcedilALVES 1998 p 32) As liacutenguas naturais expressam esse
realce com diferentes estrateacutegias seja por meio da sintaxe da prosoacutedia ou da morfologia seja
com o uso de uma estrateacutegia ou de mais de uma atuando em conjunto A focalizaccedilatildeo eacute
considerada um fenocircmeno discursivo-pragmaacutetico ldquopois o usuaacuterio pode centrar sua atenccedilatildeo a
uma parcela do enunciado que julgue relevante enfatizando-ardquo (GONCcedilALVES 1998 p 33)
Assim sendo a focalizaccedilatildeo estaria vinculada tanto agraves estrateacutegias argumentativas do falante
quanto ao conteuacutedo informacional do enunciado Segundo Gonccedilalves (1998 p 39) o foco
ldquopode incidir em qualquer constituinte do enunciado (palavras morfemas sintagmas e
pequenas oraccedilotildees)rdquo
Mesmo com a definiccedilatildeo do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo as descobertas dos estudos
sobre a biparticcedilatildeo da frase a respeito do conceito de foco natildeo foram descartadas (cf
BARBOSA 2005) Gonccedilalves (1998 p 32) menciona que o constituinte focalizado eacute ldquoa
parcela do texto apresentada como a mais informativarelevanterdquo e que os elementos fora de
foco constituem ldquoinformaccedilatildeo apresentada previamente ao ouvinterdquo ou os elementos que os
interlocutores julgam conhecidos Ainda segundo Gonccedilalves o foco apresentaria informaccedilatildeo
nova Eacute neste ponto que pode haver confusatildeo Os autores ampliam o escopo de investigaccedilatildeo
mas manteacutem certos conceitos de estudos preacutevios e de diferentes correntes teoacutericas sem
explicitar qual ou quais estatildeo sendo levados em consideraccedilatildeo Para Gonccedilalves (1998 p 33) a
informaccedilatildeo nova isto eacute o que eacute focalizado eacute ldquonew natildeo porque natildeo foi mencionado
previamente mas eacute new exatamente porque o falante tende a interpretar como natildeo suscetiacutevel
de recuperaccedilatildeo (a) nem a partir do texto precedente (co-texto) e (b) nem por meio do
contexto pragmaacutetico (situacional) imediatordquo Nota-se que o autor utiliza uma noccedilatildeo
14
pragmaacutetica do que seria informaccedilatildeo novadada A diamesia oral eacute muito mais ampla do que a
escrita no sentido de que a unidade de referecircncia da fala eacute o enunciado ndash organizado segundo
princiacutepios pragmaacutetico-ilocucionaacuterios ndash jaacute na escrita a unidade de referecircncia eacute a frase ndash
organizada segundo princiacutepios loacutegico-sintaacuteticos ndash aleacutem de haver caracteriacutesticas distintivas
entre falaescrita por exemplo hesitaccedilotildees interrupccedilotildees sobreposiccedilotildees etc Como a
focalizaccedilatildeo eacute considerada um fenocircmeno discursivo as noccedilotildees estudadas no niacutevel da frase natildeo
conseguem abranger todos os aspectos que a liacutengua oral apresenta por isso novas definiccedilotildees
satildeo propostas contudo em muitos casos preservando determinadas terminologias de estudos
anteriores
Cada liacutengua escolhe uma ou mais estrateacutegias para a focalizaccedilatildeo Pode-se ateacute mesmo
classificaacute-las tipologicamente com relaccedilatildeo agrave manifestaccedilatildeo do foco em cada uma Contudo
muitas vezes essas estrateacutegias se organizam conjuntamente para a manifestaccedilatildeo do foco no
caso da focalizaccedilatildeo sintaacutetica e a prosoacutedica coocorrerem nas construccedilotildees clivadas por
exemplo Assim como um morfema poder licenciar um conjunto de alternativas semacircnticas
de escopo em uma sentenccedila servindo de gatilho para a manifestaccedilatildeo prosoacutedica do foco
Todavia nosso objetivo nesta seccedilatildeo eacute mostrar os vaacuterios tipos de foco em isolamento apesar
de que a interface com outro componente gramatical seraacute explicada quando necessaacuterio A
exposiccedilatildeo natildeo seraacute exaustiva uma vez que este tipo de trabalho natildeo permite uma discussatildeo
mais longa da literatura
221 Foco sintaacutetico
O foco tem recebido grande atenccedilatildeo nos estudos da sintaxe gerativa Itens de natureza
discursiva como o toacutepico e o proacuteprio foco passam a fazer parte da estrutura interna das
sentenccedilas dentro dessa abordagem teoacuterica Eles ocupam uma posiccedilatildeo na parte mais alta da
sentenccedila caracterizada por ser uma estrutura funcional sendo a outra parte da sentenccedila a
estrutura lexical Com a proposta de extensatildeo do sistema CP (RIZZI 1997)3 dois
subsistemas satildeo criados o primeiro constituiacutedo por ForceP e FinP e o segundo por TopP e
FocP A categoria ForceP determina o tipo de sentenccedila enquanto FinP determina sua
finitude Os constituintes toacutepico e foco satildeo interpretados em Spec de seus respectivos
sintagmas O sistema CP entatildeo passa a ser representado da seguinte forma (QUAREZEMIN
2009 p 22)
3 Segundo Quarezemin (200921) ldquoa extensatildeo do CP ocorre para acomodar certos constituintes com
propriedades discursivas e de escopo aleacutem de derivar sua interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo Spec-nuacutecleordquo
15
(1) ForceP
Force0 TopP
Top0 FocP
Foc0 TopP
Top0 FinP
Fin0 IP
As categorias TopP e FocP4 soacute aparecem na estrutura se houver constituintes com
funccedilotildees de toacutepico e foco na sentenccedila A categoria TopP aparece duas vezes na estrutura
porque eacute considerada recursiva Isso significa que pode haver mais de um toacutepico na sentenccedila
Na estrutura FocP natildeo aparece duas vezes pois a natureza quantificacional do foco natildeo
permite tal repeticcedilatildeo Para Rizzi (1997) e Belletti (2001) ldquoa noccedilatildeo de foco estaacute diretamente
relacionada agrave posiccedilatildeo que este constituinte ocupa na sentenccedila Para eles um constituinte eacute
interpretado como foco somente se ele ocupa a posiccedilatildeo de Spec de FocPrdquo (ASSIS 2003 p
360)
Nessa abordagem o toacutepico ldquoveicula informaccedilatildeo jaacute conhecida pelos participantes do
discursordquo enquanto o comentaacuterio ldquoeacute um tipo de predicado complexo que se aplica ao toacutepicordquo
(QUAREZEMIN 2009 p 22) No exemplo da autora your book eacute o toacutepico e o que estaacute
depois da viacutergula eacute o comentaacuterio
(2) Your book you should give t to Paul (not to Bill)5
Ela afirma que na fala o toacutepico eacute marcado por uma pausa Diferentemente do toacutepico
o foco eacute ldquodestacado por um acento proeminente e expressa a informaccedilatildeo do discurso natildeo
4 Haacute outras propostas sobre qual o lugar que as categorias funcionais TopP e FocP ocupam na estrutura da
sentenccedila extensatildeo de vP (Belletti 2001 2004a) e extensatildeo de DP (Giusti 2002) 5 ldquoSeu livro vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo para o Bill)rdquo
16
pressuposta pelo ouvinte enquanto a pressuposiccedilatildeo representa o conhecimento compartilhado
pelos interlocutoresrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 23)
(3) YOUR BOOK you should give t to Paul (not mine)6
Com isso Quarezemin (2009 p 46) afirma que ldquoa interpretaccedilatildeo semacircntica da
sentenccedila que apresenta a articulaccedilatildeo foco-pressuposiccedilatildeo natildeo deve ser confundida com a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila que tem a biparticcedilatildeo toacutepico-comentaacuteriordquo A autora menciona a
relaccedilatildeo entre foco-prosoacutedia dizendo que os paracircmetros acuacutesticos da descriccedilatildeo do foco satildeo a
F0 a duraccedilatildeo e a intensidade Na fonologia o foco recebe a proeminecircncia ou outro acento
tonal especiacutefico A autora diz que ldquoo foco ou um membro do sintagma focalizado sempre
recebe o acento principal da sentenccedila enquanto a pressuposiccedilatildeo natildeo pode ser acentuada nos
mesmos niacuteveisrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 52)
Em liacutenguas como o espanhol o italiano e o PE o foco de informaccedilatildeo ocupa uma
posiccedilatildeo no final da sentenccedila em casos que ocorre a inversatildeo do sujeito
(4) Egrave partitoha parlato [F Gianni]7
(Chi egrave partitoha parlato)
No exemplo de Quarezemin (2009 p 69) acima nota-se o foco estreito Gianni no
final da sentenccedila visto que esse item responde agrave pergunta chi egrave partitoparlato Haveria o
foco largo isto eacute toda a resposta de (4) seria foco se essa resposta correspondesse agrave pergunta
(QUAREZEMIN 2009 p 70)
(5) Che cosa egrave successo8
Um tipo especiacutefico de focalizaccedilatildeo sintaacutetica satildeo as construccedilotildees clivadas Resenes
(2009 p 17) explica que a clivagem eacute ldquoum processo sintaacutetico que serve para focalizar
constituintes porque prepara um lugar especiacutefico na sentenccedila para alojar o focordquo Os
elementos que cumprem essa funccedilatildeo satildeo a coacutepula o complementizador que ou um elemento
wh As propriedades semacircnticas e sintaacuteticas das sentenccedilas clivadas e pseudo-clivadas natildeo
6 ldquoO SEU LIVRO vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo o meu)rdquo
7 ldquoPartiufalou o Gianni (Quem partiufalou)rdquo
8 ldquoO que aconteceurdquo
17
seratildeo abordadas profundamente visto que esse natildeo eacute o objetivo principal deste trabalho As
sentenccedilas clivadas apresentam a estrutura [ser + XPi + que [IP eci]] jaacute as pseudo-clivadas [[CP
whi ti] + ser +XPi] (RESENES 2009 p 14) O XP deve ser a parte natildeo-pressuposta da
sentenccedila ou o foco da sentenccedila o sintagma que carrega a informaccedilatildeo nova e que segundo a
abordagem gerativa carrega tambeacutem a proeminecircncia prosoacutedica O foco dessas sentenccedilas eacute do
tipo de identificaccedilatildeo exaustiva isto eacute indicado pela propriedade semacircntica [x e apenas x]
Apresentamos como exemplo em PB uma clivada e uma pseudo-clivada respectivamente
(6) Foi [F a Luana] que comprou um livro
(7) Quem comprou um livro foi [F a Luana]
Em inglecircs as clivadas satildeo conhecidas como it-clefts pois nessa liacutengua eacute obrigatoacuteria a
realizaccedilatildeo do expletivo na posiccedilatildeo inicial da sentenccedila
(8) It was [F John] who died in a car crash9
Haacute vaacuterios tipos de realizaccedilatildeo dessas sentenccedilas por exemplo clivada sem coacutepula
clivada com dupla coacutepula pseudo-clivada reduzida etc
Na liacutengua Ayutla Mixteca em que a ordem canocircnica da sentenccedila eacute VSO a
focalizaccedilatildeo se daacute atraveacutes da mudanccedila de posiccedilatildeo do elemento que se deseja focalizar para
uma posiccedilatildeo preacute-verbal ldquobecause the first element of any list is perceptually salient
preverbal position tends to grant the item filling it some degree of highlighting This position
is therefore often used for constituents that a speaker wishes to focus in some wayrdquo
(HOLLENBACH 1995 p 1)10
Seguem os exemplos de Hills (1990 p 27-28 apud
HOLLENBACH 1995 p 2)
(9) mburu xi‟i‟ tikui
donkey drinks water
bdquoThe donkey is drinking water‟11
(10) tikui xi‟i‟ mburu
9 ldquoFoi [F o Joatildeo] que morreu num acidente de carrordquo
10 ldquoporque o primeiro elemento de qualquer lista eacute perceptualmente saliente a posiccedilatildeo preacute-verbal tende a
conceder ao item carregando-o com algum grau de realce Esta posiccedilatildeo eacute portanto frequentemente usada para
constituintes em que o falante deseja focalizar de algum modordquo 11
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo
18
water drinks donkey
bdquoThe donkey is drinking water‟12
Entretanto Hollenbach (1995 p 2) adverte que a relaccedilatildeo semacircntica do foco com a
posiccedilatildeo preacute-verbal eacute obscura jaacute que um constituinte pode ocorrer na posiccedilatildeo preacute-verbal sem
que o falante deseje focalizaacute-lo Entatildeo a autora investiga as condiccedilotildees para que a focalizaccedilatildeo
do constituinte preacute-verbal ocorra13
Ela identificou vaacuterias condiccedilotildees para a identificaccedilatildeo do
foco na posiccedilatildeo preacute-verbal nas liacutenguas do grupo Mixteca entre elas a pausa (11) e a inserccedilatildeo
de conjunccedilotildees coordenadas (12) depois do elemento focalizado
(11) juaacutea ta‟u da ntuku
John splits he firewood
bdquoAs for John he is splitting firewood‟ (Yosonduacutea FARRIS 1992 p 28 apud
HOLLENBACH 1995 p 3)14
(12) sa‟an mi neacute din tavi di kuidaacutedo di
man that and willdo very you care you (Cuicatec BRADLEY 1991
p 493 apud HOLLENBACH 1995 p 3)
Esses satildeo exemplos que a focalizaccedilatildeo natildeo se daacute exclusivamente pela sintaxe mas que
co-ocorre com ela ou seja eacute necessaacuterio que haja mais elementos linguiacutesticos aleacutem da
posiccedilatildeo preacute-verbal para que a focalizaccedilatildeo ocorra de forma satisfatoacuteria
222 Foco morfoloacutegico
O foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de certos morfemas que dependendo da
liacutengua seratildeo cliacuteticos ou morfemas livres Nesse caso ldquoum bdquoMorfema de Ecircnfase‟ seraacute o
elemento responsaacutevel pela iluminaccedilatildeo do elemento destacado no textordquo (GONCcedilALVES
1999 p 336) Natildeo obstante isso natildeo signifique que o foco natildeo possa ser expresso por outros
meios nas liacutenguas em que predominam o meio morfoloacutegico para que a focalizaccedilatildeo ocorra
Esse tipo de focalizaccedilatildeo eacute mais comum em liacutenguas natildeo-indo-europeias como em liacutenguas
12
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo 13
Hollenbach investigou as condiccedilotildees do foco natildeo soacute na liacutengua Ayutla Mixteca mas em seis variedades do
Mixteca duas do Trique e uma do Cuicatec Essas liacutenguas fazem parte grupo Mixteca que por sua vez faz
parte da famiacutelia das liacutenguas Otomangues faladas sobretudo no sul do Meacutexico As liacutenguas da famiacutelia
Otomangue apresentam a ordem canocircnica VSO 14
ldquoQuanto ao Joatildeo ele estaacute partindo a lenhardquo
19
indiacutegenas brasileiras por exemplo em marubo e em mekens O aacuterabe e o japonecircs tambeacutem
satildeo exemplos de liacutenguas em que ocorre a focalizaccedilatildeo morfoloacutegica Hagesawa (2010 p 1)
explica que no japonecircs ldquoone of the most general properties of focus particles is to relate a
proposition which is newly introduced by the sentence containing a focus particle and
propositions available in the contextrdquo15
Em japonecircs a partiacutecula -shika introduz a noccedilatildeo de exclusividade o que eacute expresso
pela palavra only em inglecircs Essa noccedilatildeo eacute a mesma do foco de identificaccedilatildeo encontrado nas
sentenccedilas clivadas do PB por exemplo Segue o exemplo de Hagesawa (2010 p 4)
(13) Miho-shika ko-na-katta
Miho-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoOnly Miho came‟16
No exemplo (13) a funccedilatildeo do morfema -shika pode ser parafraseada como ldquosomente
Miho veio e mais ningueacutemrdquo Quanto ao padratildeo prosoacutedico das partiacuteculas de foco no japonecircs
Hagesawa (2010 p 33) afirma que
although Japanese focus particles have their own accent patterns
when they occur without a focused constituent or they are stressed as
shown in (14) and (15) they lose their accent pattern and follow the
tone melody of their host when they are suffixed17
18
O autor apresenta os seguintes exemplos
(14) Shikamade-o jisyo-de shirabe-ta
HL HL
SHIKAMADE-ACC dictionary-with lookup-PAST
bdquoI looked up bdquoshika‟‟made‟ in a dictionary‟19
(15) A Yuka-mo ki-ta-no
Yuka-also come-PAST-Q
15
ldquouma das propriedades mais gerais das partiacuteculas de foco eacute relacionar uma proposiccedilatildeo que eacute receacutem-
introduzida pela sentenccedila contendo uma partiacutecula de foco e proposiccedilotildees disponiacuteveis no contextordquo 16
ldquoSomente Miho veiordquo 17
A numeraccedilatildeo dos exemplos natildeo segue a original 18
ldquoconquanto as partiacuteculas de foco do japonecircs tecircm seus padrotildees proacuteprios de accent quando ocorrem sem um
constituinte focalizado ou estatildeo stressed como mostrado em (14) e (15) elas perdem o seu padratildeo de accent e
seguem a melodia tonal do seu hospedeiro quando elas satildeo sufixadasrdquo 19
ldquoEu procurei bdquoshika‟‟made‟ em um dicionaacuteriordquo
20
bdquoDid Yuka also come‟
B Uun Yuka-shika ko-na-katta
HL
no Yuka-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoNo only Yuka came‟20
Na liacutengua Mekens todas as questotildees wh apresentam o cliacutetico foco te como no
exemplo abaixo de Galucio (2002 p 67)
(16) aapo=te o-tek pogabeg-a ke i-koop ikatildeotilde tete
Who=foc 1s-house open-Theme say 3s-aux+mov that time
bdquordquoWho opened my houserdquo She was saying that time‟21
Haacute tambeacutem o uso do recurso sintaacutetico pois o constituinte focalizado sempre aparece
no iniacutecio da sentenccedila A autora menciona que a informaccedilatildeo natildeo-pressuposta das respostas agraves
perguntas wh tambeacutem apareceratildeo na forma de construccedilotildees focalizadas Isso faz com que a
ordem canocircnica ndash SOV ndash dessa liacutengua se altere em sentenccedilas como (17) abaixo por exemplo
extraiacuteda de Galucio (2002 p 68) Notam-se nas duas oraccedilotildees que os sujeitos ocorrem
depois do verbo
(17) serek=te kɨpmatildekatildeỹ kweotildep =te ɨsɨɨ
split=foc floor climb+neg=foc deer
bdquoThe floor split and the deer sank‟22
Alguns autores consideram como morfemas de foco palavras como only also just e
even do inglecircs por exemplo porque elas cumprem a mesma funccedilatildeo semacircntica dos morfemas
de foco em liacutenguas como o japonecircs no exemplo da partiacutecula -shika bdquoonly‟ Na anaacutelise de
Quarezemin (2009 p 112) para as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB ela sugere que nas
construccedilotildees clivadas a coacutepula e o complementizador seriam morfemas de foco Nas palavras
da autora
20
ldquoA Yuka tambeacutem veio Natildeo somente a Yuka veiordquo 21
ldquoQuem abriu minha casa Ela estava dizendo aquela horardquo 22
ldquoO chatildeo se partiu e o veado afundourdquo
21
A hipoacutetese inicial eacute que de um modo geral os falantes do PB
preferem destacar o constituinte focalizado sintaticamente ao inveacutes
de destacaacute-lo apenas com recursos prosoacutedicos Disso surge a hipoacutetese
de que a coacutepula com funccedilatildeo de focalizar e o complementizador das
clivadas podem ser considerados morfemas de foco em PB
Em suma o foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de morfemas que tecircm por objetivo
sinalizar que o constituinte o qual estaacute afixado se encontra focalizado Eles tambeacutem podem
interagir com a sintaxe e a prosoacutedia no caso de aleacutem do morfema de foco estar afixado a um
constituinte que se deseja destacar ele tambeacutem esteja em uma posiccedilatildeo proacutepria para
construccedilotildees focalizadoras ou em casos em que aleacutem da marcaccedilatildeo morfoloacutegica do foco haja
uma proeminecircncia prosoacutedica no constituinte focalizado
223 Foco semacircntico
Em primeiro lugar salientamos que o termo bdquofoco semacircntico‟ pode causar certa
estranheza devido a que diferentemente dos outros tipos neste natildeo haacute uma manifestaccedilatildeo de
forma ldquovisiacutevelrdquo do foco no enunciado isto eacute natildeo haacute uma proeminecircncia prosoacutedica uma
construccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica ou um morfema afixado a um constituinte Antes se trata mais
de uma propriedade do significado da construccedilatildeo focalizadora em um enunciado
As trecircs principais propriedades semacircnticas do foco satildeo as dos enunciados que
apresentam o foco de informaccedilatildeo de identificaccedilatildeo e o contrastivo Geralmente para
determinar a propriedade semacircntica desses tipos de foco recorre-se ao contexto de pergunta-
whresposta ou a outro tipo de contexto induzido O foco de informaccedilatildeo23
introduz uma
informaccedilatildeo novanatildeo-pressuposta e ldquopresume uma pergunta wh como base discursiva para
ser estabelecidordquo (RESENES 2009 p 20) Segue o exemplo de Resenes (2009 p 20)
(18) a O que o Joatildeo bebeu
b O Joatildeo bebeu alguma coisa
c O Joatildeo bebeu [F o vinho]
A pergunta wh estaacute em (18a) Em (18b) encontra-se a pressuposiccedilatildeo expressa pelo
pronome indefinido O foco de informaccedilatildeo se encontra em (18c) e eacute o valor da expressatildeo wh
23
Resenes (2009) utiliza a nomenclatura de ldquofoco natildeo-contrastivordquo para esse tipo de foco
22
da pergunta em (18a) A autora menciona que na Estrutura de Asserccedilatildeo (AS)24
o foco de
(18c) seria representado como
(19) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 O x tal que o Joatildeo bebeu x = [o vinho]
O foco contrastivo corrige uma informaccedilatildeo preacutevia atraveacutes de uma prosoacutedia proacutepria
Resenes (2009 p 20) afirma que ldquoo contexto ideal para o foco contrastivo eacute aquele em que
haacute uma afirmaccedilatildeo preacutevia como base discursivardquo Segue o exemplo da autora (RESENES
2009 p 21)
(20) a O Joatildeo bebeu o vinho
b O Joatildeo bebeu [F a cerveja] (natildeo o vinho)
A AS de (20) seria
(21) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 Natildeo eacute o caso que o x tal que o Joatildeo bebeu x = vinho amp O x tal que o Joatildeo
bebeu o x = a cerveja
O foco de identificaccedilatildeo ldquorepresents a subset of the set of contextually or situationally
given elements for which the predicate phrase can potentially hold it is identified as the
exhaustive subset of this set for which the predicate phrase actually holdsrdquo (KISS 1998 p
245 apud RESENES 2009 p 21)25
Assim o foco de identificaccedilatildeo expressa exaustividade
que pode ser parafraseada como [x e apenas x] Esse tipo de foco eacute ilustrado por uma
sentenccedila clivada em (22) (RESENES 2009 p 21)
(22) Foi [F um perfume] que a Maria deu para o Joatildeo
24
Resenes (2009 p 20) explica que a AS eacute ldquoum niacutevel poacutes-LF (pragmaacutetico) que revela como a informaccedilatildeo estaacute
empacotada na sentenccedila Na AS vai estar explicitada a estrutura da focalizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo o foco e os
tipos de focordquo 25
ldquorepresenta um subconjunto do conjunto de elementos dados contextualmente ou situacionalmente para o qual
a expressatildeo do predicado pode potencialmente conter que eacute identificado como o subconjunto exaustivo deste
conjunto para o qual a expressatildeo de predicado efetivamente conteacutemrdquo
23
Em (22) o foco de identificaccedilatildeo eacute expresso pelo NP um perfume que significa que
dentro de uma seacuterie de possiacuteveis presentes que a Maria poderia ter dado ao Joatildeo ela deu
somente um perfume por isso [x e apenas x]
Contudo o fenocircmeno da focalizaccedilatildeo natildeo se restringe somente agraves respostas das
perguntas wh ou agraves respostas dos contextos induzidos Davis (2009 p 2) assinala que haacute dois
grandes aspectos da constituiccedilatildeo do foco ldquoThe first is its grammar how FOCUS is expressed
in language The second is its meaning It does not require much investigation to discover
that there is no grammatical consistency to FOCUS across languagesrdquo26
O autor nota que em
relaccedilatildeo ao primeiro item natildeo haveria uma forma uacutenica universal para o uso do foco ou seja
uma liacutengua utiliza a sintaxe outra a prosoacutedia outra a morfologia outra a sintaxe e a prosoacutedia
etc ele afirma que ldquoif there is some universal consistency to FOCUS across languages it is
not found in its expressionrdquo27
Quanto ao segundo item as liacutenguas a princiacutepio natildeo
diferenciariam muito em relaccedilatildeo agrave semacircntica do foco Entretanto a propriedade de
destaquerealce sempre estaraacute presente manifestando-se seja por meio da prosoacutedia do
arranjo sintaacutetico ou da marcaccedilatildeo morfoloacutegica Davis (2009 p 2) explica que
If FOCUS will be diferently constituted grammatically its presence
has to be recognized in its semantics One portion of that semantics is
that FOCUS is involved in the answering of wh- questions but not
every utterance is a response to such a question Yet utterances must
the claim says nevertheless contain the semantics (and some
grammar) of FOCUS FOCUS then cannot be only the content
which answers questions There must be more to FOCUS When we
examine languages we discover that FOCUS has an affinity for
certain other semantics and in discovering those affinities we can
amplify our conception of what constitutes FOCUS28
A partir da assunccedilatildeo acima sugere-se que os estudos sobre a focalizaccedilatildeo natildeo
poderiam se restringir agraves anaacutelises de dados de introspecccedilatildeo sobretudo aqueles que explicam o
fenocircmeno somente a partir de dados com contexto pergunta-whresposta A natureza
discursivo-pragmaacutetica da focalizaccedilatildeo faz com que esse fenocircmeno seja melhor compreendido
26
ldquoO primeiro eacute sua gramaacutetica como o FOCO eacute expresso na liacutengua O segundo eacute o seu significado Natildeo se
requer muita investigaccedilatildeo para descobrir que natildeo haacute coerecircncia gramatical do FOCO atraveacutes das liacutenguasrdquo 27
ldquose houver alguma consistecircncia universal para o FOCO entre as liacutenguas natildeo eacute encontrada na sua expressatildeordquo 28
ldquoSe o FOCO seraacute constituiacutedo diferente gramaticalmente a sua presenccedila tem de ser reconhecida em sua
semacircntica Uma parte dessa semacircntica eacute que o FOCO estaacute envolvido nas respostas de perguntas QU mas nem
todo enunciado eacute uma resposta a essas perguntas No entanto os enunciados devem a alegaccedilatildeo diz todavia
conter a semacircntica (e alguma gramaacutetica) do FOCO O FOCO entatildeo natildeo pode ser apenas o conteuacutedo que
responde a perguntas Deve haver mais para o FOCO Quando examinamos as liacutenguas descobrimos que o
FOCO tem uma afinidade com outras semacircnticas e descobrindo essas afinidades podemos ampliar a nossa
concepccedilatildeo do que constitui o FOCOrdquo
24
na liacutengua espontacircnea apesar de natildeo se poder excluir suas propriedades semacircnticas em
diferentes enunciados que podem ser analisados sem o uso de dados de liacutengua espontacircnea
como eacute o caso da investigaccedilatildeo das propriedades semacircnticas do foco em dados de introspecccedilatildeo
e de suas representaccedilotildees formais
224 Foco prosoacutedico
A prosoacutedia eacute um dos traccedilos da camada suprassegmental ou seja que se encontra
acima dos segmentos dispostos linearmente na cadeia sonora da fala Beaver amp Clark (2008
p 2) explicam que os traccedilos suprassegmentais satildeo assim chamados porque ldquothey spread out
across multiple segments (basic sound units) or even across multiple wordsrdquo29
Callou amp
Leite (1990 p31) afirmam que o ldquoconjunto de fenocircmenos dos quais se derivam tipos de
acento padrotildees entoacionais ritmos e velocidades de fala satildeo estudados sob o roacutetulo de
prosoacutediardquo Ao contraacuterio dos segmentos que satildeo descritos pelos movimentos dos articuladores
do aparelho fonador os suprassegmentos satildeo descritos ldquoem termos da accedilatildeo dos muacutesculos
respiratoacuterios que aumentam ou diminuem a energia do fluxo de ar ocasionando duraccedilotildees
frequumlecircncia fundamental e intensidade diferentes das vibraccedilotildees sonorasrdquo (CALLOU amp LEITE
1990 p 30) Paracircmetros acuacutesticos como frequecircncia fundamental intensidade e duraccedilatildeo fiacutesica
satildeo outros traccedilos suprassegmentais que satildeo percebidos respectivamente como pitch
loudness e length que por sua vez ldquoapresentam correlatos fiacutesicos frequumlecircncia amplitude e
tempordquo (LEITE 2009 p 17)30
A frequecircncia eacute medida em Hz (Hertz) a amplitude em dB
(decibeacuteis) e o tempo em ms (milissegundos)
Barbosa (2008) menciona que a prosoacutedia estaacute
associada a fatores linguumliacutesticos como acentuaccedilatildeo entoaccedilatildeo ecircnfase e
ritmo bem como a fatores para- e extra-linguiacutesticos tais como
marcadores discursivos (ldquoneacuterdquo ldquoentendordquo ldquoanhanrdquo) atitudes
emoccedilotildees imbricados a fatores sociais ou bioloacutegicos como gecircnero
faixa etaacuteria classe social entre outros
Segundo Leite (2009 p 18) a prosoacutedia exerceria funccedilotildees ldquogramatical atitudinal
informacional indexal e ilocucionaacuteriardquo Nota-se portanto que eacute muito importante levar em
29
ldquoeles se espalham em vaacuterios segmentos (unidades baacutesicas de som) ou mesmo atraveacutes de muacuteltiplas palavrasrdquo 30
Neste trabalho natildeo se pretende definir minuciosamente todos os conceitos dos correlatos foneacutetico-acuacutesticos
dos sons da fala estudados pela Foneacutetica Acuacutestica Para mais informaccedilotildees cf Ladefoged (1974) Malmberg
(1998) e Johnson (2003)
25
consideraccedilatildeo a prosoacutedia na anaacutelise linguiacutestica visto que ela desempenha funccedilotildees associadas a
fatores intrinsecamente linguiacutesticos bem como a fatores extralinguiacutesticos A prosoacutedia ainda
apresenta um importante papel na aquisiccedilatildeo da linguagem sendo recurso especial para a
crianccedila associar unidades sonoras a significado (cf BRUM DE PAULA 2010)
As investigaccedilotildees do Ciacuterculo Linguiacutestico de Praga sugeriram que os elementos dados
do discurso ou seja aqueles que jaacute haviam sido mencionados seriam prosodicamente menos
relevantes que os elementos novos Disso resulta que a informaccedilatildeo nova ou o foco seja
destacado prosodicamente isto eacute apresente proeminecircncia prosoacutedica A proeminecircncia
prosoacutedica eacute definida como ldquoa quantitative parameter of a syllable or a boundary that describes
markedness relative to surrounding syllables and boundaries respectivelyrdquo (PORTELE amp
HEUFT 1997 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 227)31
Haacute autores que classificam o
foco levando em conta sobretudo o fator proeminecircncia prosoacutedica por exemplo ldquothe term
focus is used [] to describe prosodic prominences serving pragmatic and semantic
functionsrdquo (ROOTH 1995 p 271 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 228)32
O foco prosoacutedico eacute definido por meio de uma proeminecircncia tonal (cf
BUTRAGUENtildeO 2005) Entretanto alguns estudos mostram que o foco natildeo seria marcado
somente com a proeminecircncia tonal ou prosoacutedica Proeminecircncias de outros traccedilos
suprassegmentais como duraccedilatildeo e intensidade tambeacutem marcariam o foco (cf TOLEDO
1989 SOSA 1999 QUAREZEMIN 2009 entre outros) Para Butraguentildeo (2005 p 141) os
focos prosoacutedicos ldquoreciben acentos tonales de contorno especiacutefico que permiten distinguirlos
del fondo (o background)rdquo33
Os paracircmetros de anaacutelise acuacutestica do foco satildeo os movimentos
de F0 o alinhamento entre siacutelabas e F0 duraccedilatildeo das siacutelabas e vogais intensidade da siacutelaba e
em alguns casos pausas e meacutedia entre picos de F0
As abordagens teoacutericas utilizadas nos trabalhos sobre o foco prosoacutedico guiam a
metodologia de anaacutelise dos dados Assim alguns autores que trabalham com uma abordagem
formal utilizando o sistema ToBI (cf SILVERMAN et al 1992) para a anaacutelise dos dados
representam a entoaccedilatildeo dos enunciados marcando as siacutelabas com acentos tonais que se
manifestam em acentos monotonais (H ou L) bitonais (H+L L+H etc) e ainda poderia
haver tons de juntura (H e L) que delimitam as fronteiras dos grupos meloacutedicos Na
Fonologia Entoacional haacute trecircs tipos de tons pitch accents phrase accents e boundary tones
31
ldquoum paracircmetro quantitativo de uma siacutelaba ou de uma fronteira que descreve a marcaccedilatildeo relativa agraves siacutelabas
vizinhas e fronteiras respectivamenterdquo 32
ldquoo termo foco eacute utilizado [] para descrever proeminecircncias prosoacutedicas que servem a funccedilotildees pragmaacuteticas e
semacircnticasrdquo 33
ldquorecebem acentos tonais de contorno especiacutefico que permitem distingui-los do fundo (ou background)rdquo
26
Geralmente o foco eacute marcado por um pitch accent que pode ser definido como ldquoa local
feature of a pitch contour ndash usually but not invariably a pitch change and often involving a
local maximum or minimumrdquo (LADD 1996 p 45-6 apud BEAVER amp CLARK 2008 p
11)34
Segundo Roach (2011 p 67) pitch
is an auditory sensation when we hear a regularly vibrating sound
such as a note played on a musical instrument or a vowel produced
by the human voice we hear a high pitch if the rate of vibration is
high and a low pitch if the rate of vibration is low35
Nooteboom (1997 p 641) atenta para o fato de que ldquoone should be aware however
that rather often the notion bdquopitch‟ is used to refer to f0 or the repetition frequency itself In
speech f0 is determined by the rate of vibration of the vocal cords located in the larynxrdquo36
Ademais Crystal (2008 p 369) adverte que ldquothere is however no direct or parallel
correlation between pitch and frequency other factors than frequency may affect our
sensation of pitch (measured in units known as mels)rdquo37
Pitch countour seria a marcaccedilatildeo dos
uacutenicos pitchs relevantes para a compreensatildeo de um perfil entoacional A teacutecnica da close
copy (cf t‟HART et al 1990) justamente realccedila o pitch countor atraveacutes de uma ldquosiacutentese que
satildeo eliminados movimentos de F0 que natildeo causam diferenccedila de percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao
aacuteudio originalrdquo (ROCHA 2011 p 106) De acordo com Crystal (2008 p 369-370) o termo
pitch accent
is used phonologically in the description of languages in which the
distribution of the tones within a word is totally predictable once one
has specified a particular tonal feature of the word (as in Japanese)
The notion has also been applied to English where some
phonological models analyse intonation CONTOURS as a sequence
of one or more pitch accents each associated with a STRESS-
prominent SYLLABLE in a word38
34
ldquoum traccedilo local de um pitch contour - geralmente mas natildeo invariavelmente variaccedilatildeo de pitch e muitas vezes
envolvendo um local maacuteximo ou miacutenimordquo 35
ldquoeacute uma sensaccedilatildeo auditiva quando ouvimos um som regularmente vibrando como uma nota tocada em um
instrumento musical ou uma vogal produzida pela voz humana noacutes ouvimos um pitch alto se a taxa de vibraccedilatildeo
eacute alta e um pitch baixo se a taxa de vibraccedilatildeo eacute baixardquo 36
ldquodeve-se estar ciente no entanto que muitas vezes a noccedilatildeo de pitch eacute utilizada para se referir a f0 ou a
frequecircncia da repeticcedilatildeo Na fala a f0 eacute determinada pela taxa de vibraccedilatildeo das cordas vocais localizadas na
laringerdquo 37
ldquonatildeo haacute poreacutem nenhuma correlaccedilatildeo direta ou paralelo entre pitch e frequecircncia outros fatores aleacutem
frequecircncia podem afetar a nossa sensaccedilatildeo de pitch (medido em unidades conhecidas como mels)rdquo 38
ldquoeacute usado fonologicamente na descriccedilatildeo das liacutenguas nas quais a distribuiccedilatildeo dos tons dentro de uma palavra eacute
totalmente previsiacutevel uma vez que se tenha especificado uma caracteriacutestica particular de tons da palavra (tal
como no japonecircs) A noccedilatildeo tambeacutem foi aplicada para o inglecircs em que alguns modelos fonoloacutegicos analisam os
CONTORNOS da entoaccedilatildeo como uma sequecircncia de um ou mais pitch accents cada um associado a uma
SIacuteLABA STRESS-proeminente em uma palavrardquo
27
O sistema ToBI reconhece 5 tipos de pitch accents enquanto Pierrehumbert (1980)
menciona 7 tipos Atraveacutes dessa classificaccedilatildeo eacute possiacutevel delimitar o accent prototiacutepico do
foco ou suas possiacuteveis variantes Beaver amp Clark (2008 p 12) mencionam que ldquoalthough
focus is frequently marked by an H accent [] other accents are possible For example in
yes-no questions focus is often by marked by an L+Hrdquo39
A importante pressuposiccedilatildeo teoacuterica de que toda oraccedilatildeo eacute resposta a uma pergunta
guia a metodologia de muitas investigaccedilotildees sobre o foco sobretudo de trabalhos
experimentais de leitura de sentenccedilas denominados testes de produccedilatildeo Com o pressuposto
teoacuterico da explicitaccedilatildeo do foco por meio de pergunta-resposta eacute possiacutevel delimitar o tipo de
foco a ser analisado broad focus (foco largo) narrow focus (foco estreito) ou contrastive
focus (foco contrastivo) (cf seccedilatildeo 121 p 14) Essa metodologia tem por caracteriacutestica
induzir guiar e restringir os padrotildees meloacutedicos da fala ao fornecer exemplos com contextos
preacutevios ou mesmo com o foco jaacute explicitado na sentenccedila para se obter o resultado desejado
Em investigaccedilatildeo sobre a marcaccedilatildeo prosoacutedica dos focos largo estreito e contrastivo em
alematildeo Baumann et al (2006 p 302) mencionam em sua metodologia de teste de leitura
que
reading material consisted of five question-answer pairs with the
answer bdquoManuela will Blumen malen‟ (Manuela wants to paint
flowers) The main criterion the target sentence had to fulfill was its
continuous voicing so as to be able to accurately measure exact peaks
and valleys in the F0 contour40
Dependendo do objetivo do trabalho ou da liacutengua a ser analisada podem-se controlar
outros fatores Por exemplo em trabalho sobre como o tom lexical e o foco contribuem para a
formaccedilatildeo e alinhamento dos F0 contours no chinecircs Xu (1999 p 58) menciona na
metodologia que
the factors manipulated in the experiment were segmental
composition of syllables lexical tones focus and and sentence types
Of these only lexical tones and focus were under direct scrutiny The
control of the other two factors was done by keeping their variation to
39
ldquoembora o foco seja frequentemente marcado por um accent H [] outros accents satildeo possiacuteveis Por
exemplo em perguntas sim-natildeo o foco eacute muitas vezes marcado por um H + Lrdquo 40
ldquoo material de leitura consistiu de cinco pares de pergunta-resposta com a resposta bdquoManuela will Blumen
malen‟ (Manuela quer pintar flores) O principal criteacuterio que a frase alvo tinha a cumprir era seu vozeamento
contiacutenuo de modo a ser capaz de medir com precisatildeo exata picos e vales no contorno da F0rdquo
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
A los latinoamericanos
AGRADECIMENTOS
Agrave orientadora Profordf Heliana Mello
Aos membros da banca examinadora Profordf Maria Elizabeth Saraiva e Doutorando Bruno
Rocha
Aos exatuais membros do C-ORAL-BRASIL Adriana Ramos Bruno Mota Elisa Santos
Heloiacutesa Vale Luciana Aacutevila Maryualecirc Mittmann Priscila Cocircrtes e Raiacutessa Caetano
Agraves acadecircmicas Daniela Guimaratildees Lena Dal Pozzo e Mariana Resenes
Aos professores Jacircnia Ramos Lorenzo Vitral e Tommaso Raso
Aos colegas da graduaccedilatildeo Andressa Gomide Carolina Bohoacuterquez Daikan Takane Frederico
Cavalcante Henrique Alves Ingrid Faria Letiacutecia Meirelles e Maacuterio Silva
A todos mis amigos de Latinoameacuterica
La constancia y el estudio hacen a los hombres grandes y los
hombres grandes son el porvenir de la Patria
(Benito Juaacuterez)
RESUMO
A focalizaccedilatildeo eacute um fenocircmeno pragmaacutetico-discursivo que objetiva realccedilar itens do enunciado
O realce dado a um item do enunciado recebe o nome de foco Nas liacutenguas naturais haacute vaacuterias
formas de se focalizar um item atraveacutes de recursos prosoacutedicos construccedilotildees sintaacuteticas
afixaccedilatildeo morfoloacutegica combinaccedilatildeo com itens lexicais exclusivos etc Este trabalho tem dois
objetivos principais o primeiro eacute mapear classificar e analisar prosodicamente estrateacutegias de
focalizaccedilatildeo no Portuguecircs Brasileiro considerando o contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeo e
fazendo uso do formalismo semacircntico como suporte para a anaacutelise dos dados bem como da
percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo dessas estrateacutegias O segundo objetivo eacute propor uma distinccedilatildeo
entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase fenocircmenos muitas vezes considerados sinocircnimos por
aparentemente apresentarem certas semelhanccedilas contudo seraacute proposto que haacute diferenccedilas
entre os dois Foram adotados os mesmos criteacuterios para a anaacutelise dos dados referentes ao
segundo objetivo deste trabalho isto eacute prosoacutedia contexto pragmaacutetico e propriedades
semacircnticas O corpus utilizado para esta pesquisa foi o C-ORAL-BRASIL (RASO amp
MELLO 2012) um corpus oral do Portuguecircs Brasileiro falado informal Ressalta-se que esta
pesquisa eacute de cunho qualitativo isto eacute natildeo foram levados em consideraccedilatildeo paracircmetros
quantitativos como sustentaccedilatildeo das anaacutelises dos dados embora acreditemos que sejam de total
importacircncia Outros objetivos tambeacutem satildeo contemplados por exemplo a exposiccedilatildeo de cada
tipo de foco ilustrados com exemplos de vaacuterias liacutenguas considerando as diferentes correntes
de estudo Atraveacutes da pesquisa em trecircs textos do corpus C-ORAL-BRASIL foi possiacutevel
classificar as ocorrecircncias de focalizaccedilatildeo em foco prosoacutedico sendo realizado por uma
proeminecircncia prosoacutedica foco morfoloacutegico expresso por uma palavra dedicada a focalizar e
foco sintaacutetico sendo realizado atraveacutes das construccedilotildees clivadas O foco prosoacutedico e a ecircnfase
se distinguem no plano pragmaacutetico apresentando contextos distintos de enunciaccedilatildeo e no
plano semacircntico que apresenta efeitos de sentido diferentes
Palavras-chave focalizaccedilatildeo foco ecircnfase prosoacutedia pragmaacutetica
RESUMEN
La focalizacioacuten es un fenoacutemeno pragmaacutetico-discursivo que pretende resaltar los elementos de
la declaracioacuten El realce dado a un elemento de la declaracioacuten se llama foco En el lenguaje
natural existen varias maneras de focalizar un elemento a traveacutes de caracteriacutesticas
prosoacutedicas construcciones sintaacutecticas afijacioacuten morfoloacutegica combinacioacuten con elementos
leacutexicos exclusivos etc Este trabajo tiene dos objetivos principales el primero es mapear
clasificar y analizar prosodicamente las estrategias de focalizacioacuten en el portugueacutes de Brasil
teniendo en cuenta el contexto pragmaacutetico de enunciacioacuten y haciendo uso del formalismo
semaacutentico como apoyo al anaacutelisis de datos asiacute como de la percepcioacuten para la identificacioacuten de
estas estrategias El segundo objetivo es proponer una distincioacuten entre el foco prosoacutedico y el
eacutenfasis fenoacutemenos que a menudo se consideran sinoacutenimos por presentar ciertas similitudes al
parecer sin embargo proponemos que existen diferencias entre los dos El mismo criterio se
adoptoacute para el anaacutelisis de datos relacionados con el segundo objetivo de este trabajo es decir
la prosodia el contexto pragmaacutetico y las propiedades semaacutenticas El corpus utilizado para esta
investigacioacuten fue el C-ORAL-BRASIL (RASO amp MELLO 2012) un corpus oral del
portugueacutes brasilentildeo hablado informalmente Cabe sentildealar que esta investigacioacuten es de tipo
cualitativo es decir no se tendraacute en cuenta paraacutemetros cuantitativos como apoyo para el
anaacutelisis de datos aunque creemos que todos sean importantes Otros objetivos tambieacuten se
contemplan por ejemplo la exposicioacuten de cada tipo de foco que se ilustra con ejemplos de
varios idiomas teniendo en cuenta las diferentes corrientes de estudio A traveacutes de la
investigacioacuten con tres textos del corpus C-ORAL-BRASIL fue posible clasificar las
ocurrencias de focalizacioacuten en el foco prosoacutedico llevado a cabo por una prominencia
prosoacutedica el foco morfoloacutegico expresado por una palabra dedicada a focalizar y el foco
sintaacutectico llevado a cabo a traveacutes de construcciones hendidas El foco prosoacutedico y el eacutenfasis
en el nivel pragmaacutetico se distinguen con diferentes contextos de enunciacioacuten y en el nivel
semaacutentico que presenta diferentes efectos de sentido
Palabras-clave focalizacioacuten foco eacutenfasis prosodia pragmaacutetica
LISTA DE FIGURAS
Figura 31 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02 37
Figura 32 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03 38
Figura 33 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Figura 34 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04 42
Figura 35 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Figura 36 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03 46
Figura 37 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03 47
Figura 38 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Figura 39 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03 51
Figura 310 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03 52
Figura 311 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03 53
Figura 312 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02 54
LISTA DE TABELAS
Tabela 31 - Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02 37
Tabela 32 - Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03 38
Tabela 33 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Tabela 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Tabela 35 - Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04 43
Tabela 36 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Tabela 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Tabela 38 - Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03 46
Tabela 39 - Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03 47
Tabela 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 50
Tabela 314 - Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03 51
Tabela 315 - Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03 52
Tabela 316 - Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03 53
Tabela 317 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02 54
Tabela 318 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02 55
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 12
2 PANORAMA GERAL DOS ESTUDOS SOBRE O FOCO 12
22 TIPOS DE FOCO 13
221 Foco sintaacutetico 14
222 Foco morfoloacutegico 18
223 Foco semacircntico 21
224 Foco prosoacutedico 24
3 METODOLOGIA DA PESQUISA 29
31 OBJETIVO 29
32 CORPUS 30
321 C-ORAL-ROM 30
322 C-ORAL-BRASIL 32
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 34
4 ANAacuteLISE DOS DADOS 35
41 FOCO PROSOacuteDICO 35
42 FOCO SINTAacuteTICO 41
43 FOCO MORFOLOacuteGICO 45
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE 47
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 55
REFEREcircNCIAS 56
12
1 INTRODUCcedilAtildeO
A focalizaccedilatildeo eacute um fenocircmeno linguiacutestico cada vez mais estudado e que possui
importante papel na comunicaccedilatildeo oral Sua importacircncia na gramaacutetica das liacutenguas naturais
bem como nas situaccedilotildees comunicativas eacute grande podendo ser observada pela assunccedilatildeo de
Davis (2009 p 2) ldquoFOCUS is present in every language and that it is present in every
utterance of every languagerdquo1 Embora haja divergecircncia por parte de alguns autores quanto agrave
proposta de Davis assume-se de qualquer forma que a focalizaccedilatildeo nas liacutenguas naturais eacute um
importante recurso comunicativo promovido nas diversas interaccedilotildees linguiacutesticas do cotidiano
pois sinaliza propriedades semacircnticas especiacuteficas atraveacutes de recursos prosoacutedicos
morfoloacutegicos e configuraccedilotildees sintaacuteticas dedicadas a destacar um item Nas liacutenguas romacircnicas
e germacircnicas sobretudo a estrateacutegia prosoacutedica da focalizaccedilatildeo eacute fundamental para a
realizaccedilatildeo do foco conforme mencionam Beaver amp Clark (2008 p xxi) ldquoRomance and
Germanic languages and English in particular focus is commonly marked by prosody with
changes in pitch used to mark focused expressionsrdquo2 Natildeo obstante estejam presentes e
podendo estar em co-ocorrecircncia nas liacutenguas desses troncos estrateacutegias sintaacuteticas como as
construccedilotildees clivadas e morfoloacutegicas como adveacuterbios e quantificadores focais o que poderaacute
ser constatado ao longo deste trabalho
Este trabalho estaacute divido em duas partes a primeira (cf seccedilatildeo 2 e subseccedilotildees) que
procura expor ao leitor atraveacutes da consideraccedilatildeo de diferentes estudos de variadas abordagens
teoacuterico-metodoloacutegicas uma revisatildeo bibliograacutefica ao mesmo tempo concisa e imparcial que
objetiva cobrir de modo satisfatoacuterio o tema da focalizaccedilatildeo e seus desdobramentos nos estudos
linguiacutesticos e a segunda (cf seccedilotildees 3 e 4 e subseccedilotildees) que consiste na exposiccedilatildeo do objetivo
e da metodologia da pesquisa do corpus utilizado da anaacutelise dos dados e das decorrentes
consideraccedilotildees sobre o foco no Portuguecircs Brasileiro falado informal aleacutem da discussatildeo sobre
a diferenciaccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase Por fim a seccedilatildeo 5 consiste nas
consideraccedilotildees finais
2 PANORAMA GERAL DOS ESTUDOS SOBRE O FOCO
O fenocircmeno da focalizaccedilatildeo tem sido estudado por vaacuterias aacutereas da linguiacutestica ndash
sintaxe semacircntica prosoacutedia etc ndash e sob diferentes abordagens teoacuterico-metodoloacutegicas ndash
1 ldquoO FOCO estaacute presente em toda liacutengua e estaacute presente em todo enunciado de toda liacutenguardquo
2 ldquoNas liacutenguas romacircnicas e germacircnicas e no inglecircs em particular o foco eacute marcado normalmente pela prosoacutedia
com variaccedilotildees no pitch para marcar as expressotildees focalizadasrdquo
13
formal funcional pragmaacutetica etc Cada estudo independente da aacuterea ou da abordagem
teoacuterica tem revelado que a focalizaccedilatildeo apresenta importante papel na gramaacutetica das liacutenguas
naturais pois o foco seu principal componente manifesta-se nelas por diferentes estrateacutegias
linguiacutesticas Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os diferentes meios em que o foco pode se
manifestar isto eacute os tipos de foco O objetivo deste capiacutetulo eacute mostrar que o foco ocorre
atraveacutes de diferentes estrateacutegias nas liacutenguas e que cada liacutengua escolhe uma ou mais
estrateacutegias para sua realizaccedilatildeo
21 TIPOS DE FOCO
O fenocircmeno que abrange o foco eacute a focalizaccedilatildeo que pode ser definida como o ldquoato de
focalizar ou seja de acentuar de ressaltar de pocircr em relevorealceevidecircncia um
determinado item do textordquo (GONCcedilALVES 1998 p 32) As liacutenguas naturais expressam esse
realce com diferentes estrateacutegias seja por meio da sintaxe da prosoacutedia ou da morfologia seja
com o uso de uma estrateacutegia ou de mais de uma atuando em conjunto A focalizaccedilatildeo eacute
considerada um fenocircmeno discursivo-pragmaacutetico ldquopois o usuaacuterio pode centrar sua atenccedilatildeo a
uma parcela do enunciado que julgue relevante enfatizando-ardquo (GONCcedilALVES 1998 p 33)
Assim sendo a focalizaccedilatildeo estaria vinculada tanto agraves estrateacutegias argumentativas do falante
quanto ao conteuacutedo informacional do enunciado Segundo Gonccedilalves (1998 p 39) o foco
ldquopode incidir em qualquer constituinte do enunciado (palavras morfemas sintagmas e
pequenas oraccedilotildees)rdquo
Mesmo com a definiccedilatildeo do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo as descobertas dos estudos
sobre a biparticcedilatildeo da frase a respeito do conceito de foco natildeo foram descartadas (cf
BARBOSA 2005) Gonccedilalves (1998 p 32) menciona que o constituinte focalizado eacute ldquoa
parcela do texto apresentada como a mais informativarelevanterdquo e que os elementos fora de
foco constituem ldquoinformaccedilatildeo apresentada previamente ao ouvinterdquo ou os elementos que os
interlocutores julgam conhecidos Ainda segundo Gonccedilalves o foco apresentaria informaccedilatildeo
nova Eacute neste ponto que pode haver confusatildeo Os autores ampliam o escopo de investigaccedilatildeo
mas manteacutem certos conceitos de estudos preacutevios e de diferentes correntes teoacutericas sem
explicitar qual ou quais estatildeo sendo levados em consideraccedilatildeo Para Gonccedilalves (1998 p 33) a
informaccedilatildeo nova isto eacute o que eacute focalizado eacute ldquonew natildeo porque natildeo foi mencionado
previamente mas eacute new exatamente porque o falante tende a interpretar como natildeo suscetiacutevel
de recuperaccedilatildeo (a) nem a partir do texto precedente (co-texto) e (b) nem por meio do
contexto pragmaacutetico (situacional) imediatordquo Nota-se que o autor utiliza uma noccedilatildeo
14
pragmaacutetica do que seria informaccedilatildeo novadada A diamesia oral eacute muito mais ampla do que a
escrita no sentido de que a unidade de referecircncia da fala eacute o enunciado ndash organizado segundo
princiacutepios pragmaacutetico-ilocucionaacuterios ndash jaacute na escrita a unidade de referecircncia eacute a frase ndash
organizada segundo princiacutepios loacutegico-sintaacuteticos ndash aleacutem de haver caracteriacutesticas distintivas
entre falaescrita por exemplo hesitaccedilotildees interrupccedilotildees sobreposiccedilotildees etc Como a
focalizaccedilatildeo eacute considerada um fenocircmeno discursivo as noccedilotildees estudadas no niacutevel da frase natildeo
conseguem abranger todos os aspectos que a liacutengua oral apresenta por isso novas definiccedilotildees
satildeo propostas contudo em muitos casos preservando determinadas terminologias de estudos
anteriores
Cada liacutengua escolhe uma ou mais estrateacutegias para a focalizaccedilatildeo Pode-se ateacute mesmo
classificaacute-las tipologicamente com relaccedilatildeo agrave manifestaccedilatildeo do foco em cada uma Contudo
muitas vezes essas estrateacutegias se organizam conjuntamente para a manifestaccedilatildeo do foco no
caso da focalizaccedilatildeo sintaacutetica e a prosoacutedica coocorrerem nas construccedilotildees clivadas por
exemplo Assim como um morfema poder licenciar um conjunto de alternativas semacircnticas
de escopo em uma sentenccedila servindo de gatilho para a manifestaccedilatildeo prosoacutedica do foco
Todavia nosso objetivo nesta seccedilatildeo eacute mostrar os vaacuterios tipos de foco em isolamento apesar
de que a interface com outro componente gramatical seraacute explicada quando necessaacuterio A
exposiccedilatildeo natildeo seraacute exaustiva uma vez que este tipo de trabalho natildeo permite uma discussatildeo
mais longa da literatura
221 Foco sintaacutetico
O foco tem recebido grande atenccedilatildeo nos estudos da sintaxe gerativa Itens de natureza
discursiva como o toacutepico e o proacuteprio foco passam a fazer parte da estrutura interna das
sentenccedilas dentro dessa abordagem teoacuterica Eles ocupam uma posiccedilatildeo na parte mais alta da
sentenccedila caracterizada por ser uma estrutura funcional sendo a outra parte da sentenccedila a
estrutura lexical Com a proposta de extensatildeo do sistema CP (RIZZI 1997)3 dois
subsistemas satildeo criados o primeiro constituiacutedo por ForceP e FinP e o segundo por TopP e
FocP A categoria ForceP determina o tipo de sentenccedila enquanto FinP determina sua
finitude Os constituintes toacutepico e foco satildeo interpretados em Spec de seus respectivos
sintagmas O sistema CP entatildeo passa a ser representado da seguinte forma (QUAREZEMIN
2009 p 22)
3 Segundo Quarezemin (200921) ldquoa extensatildeo do CP ocorre para acomodar certos constituintes com
propriedades discursivas e de escopo aleacutem de derivar sua interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo Spec-nuacutecleordquo
15
(1) ForceP
Force0 TopP
Top0 FocP
Foc0 TopP
Top0 FinP
Fin0 IP
As categorias TopP e FocP4 soacute aparecem na estrutura se houver constituintes com
funccedilotildees de toacutepico e foco na sentenccedila A categoria TopP aparece duas vezes na estrutura
porque eacute considerada recursiva Isso significa que pode haver mais de um toacutepico na sentenccedila
Na estrutura FocP natildeo aparece duas vezes pois a natureza quantificacional do foco natildeo
permite tal repeticcedilatildeo Para Rizzi (1997) e Belletti (2001) ldquoa noccedilatildeo de foco estaacute diretamente
relacionada agrave posiccedilatildeo que este constituinte ocupa na sentenccedila Para eles um constituinte eacute
interpretado como foco somente se ele ocupa a posiccedilatildeo de Spec de FocPrdquo (ASSIS 2003 p
360)
Nessa abordagem o toacutepico ldquoveicula informaccedilatildeo jaacute conhecida pelos participantes do
discursordquo enquanto o comentaacuterio ldquoeacute um tipo de predicado complexo que se aplica ao toacutepicordquo
(QUAREZEMIN 2009 p 22) No exemplo da autora your book eacute o toacutepico e o que estaacute
depois da viacutergula eacute o comentaacuterio
(2) Your book you should give t to Paul (not to Bill)5
Ela afirma que na fala o toacutepico eacute marcado por uma pausa Diferentemente do toacutepico
o foco eacute ldquodestacado por um acento proeminente e expressa a informaccedilatildeo do discurso natildeo
4 Haacute outras propostas sobre qual o lugar que as categorias funcionais TopP e FocP ocupam na estrutura da
sentenccedila extensatildeo de vP (Belletti 2001 2004a) e extensatildeo de DP (Giusti 2002) 5 ldquoSeu livro vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo para o Bill)rdquo
16
pressuposta pelo ouvinte enquanto a pressuposiccedilatildeo representa o conhecimento compartilhado
pelos interlocutoresrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 23)
(3) YOUR BOOK you should give t to Paul (not mine)6
Com isso Quarezemin (2009 p 46) afirma que ldquoa interpretaccedilatildeo semacircntica da
sentenccedila que apresenta a articulaccedilatildeo foco-pressuposiccedilatildeo natildeo deve ser confundida com a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila que tem a biparticcedilatildeo toacutepico-comentaacuteriordquo A autora menciona a
relaccedilatildeo entre foco-prosoacutedia dizendo que os paracircmetros acuacutesticos da descriccedilatildeo do foco satildeo a
F0 a duraccedilatildeo e a intensidade Na fonologia o foco recebe a proeminecircncia ou outro acento
tonal especiacutefico A autora diz que ldquoo foco ou um membro do sintagma focalizado sempre
recebe o acento principal da sentenccedila enquanto a pressuposiccedilatildeo natildeo pode ser acentuada nos
mesmos niacuteveisrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 52)
Em liacutenguas como o espanhol o italiano e o PE o foco de informaccedilatildeo ocupa uma
posiccedilatildeo no final da sentenccedila em casos que ocorre a inversatildeo do sujeito
(4) Egrave partitoha parlato [F Gianni]7
(Chi egrave partitoha parlato)
No exemplo de Quarezemin (2009 p 69) acima nota-se o foco estreito Gianni no
final da sentenccedila visto que esse item responde agrave pergunta chi egrave partitoparlato Haveria o
foco largo isto eacute toda a resposta de (4) seria foco se essa resposta correspondesse agrave pergunta
(QUAREZEMIN 2009 p 70)
(5) Che cosa egrave successo8
Um tipo especiacutefico de focalizaccedilatildeo sintaacutetica satildeo as construccedilotildees clivadas Resenes
(2009 p 17) explica que a clivagem eacute ldquoum processo sintaacutetico que serve para focalizar
constituintes porque prepara um lugar especiacutefico na sentenccedila para alojar o focordquo Os
elementos que cumprem essa funccedilatildeo satildeo a coacutepula o complementizador que ou um elemento
wh As propriedades semacircnticas e sintaacuteticas das sentenccedilas clivadas e pseudo-clivadas natildeo
6 ldquoO SEU LIVRO vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo o meu)rdquo
7 ldquoPartiufalou o Gianni (Quem partiufalou)rdquo
8 ldquoO que aconteceurdquo
17
seratildeo abordadas profundamente visto que esse natildeo eacute o objetivo principal deste trabalho As
sentenccedilas clivadas apresentam a estrutura [ser + XPi + que [IP eci]] jaacute as pseudo-clivadas [[CP
whi ti] + ser +XPi] (RESENES 2009 p 14) O XP deve ser a parte natildeo-pressuposta da
sentenccedila ou o foco da sentenccedila o sintagma que carrega a informaccedilatildeo nova e que segundo a
abordagem gerativa carrega tambeacutem a proeminecircncia prosoacutedica O foco dessas sentenccedilas eacute do
tipo de identificaccedilatildeo exaustiva isto eacute indicado pela propriedade semacircntica [x e apenas x]
Apresentamos como exemplo em PB uma clivada e uma pseudo-clivada respectivamente
(6) Foi [F a Luana] que comprou um livro
(7) Quem comprou um livro foi [F a Luana]
Em inglecircs as clivadas satildeo conhecidas como it-clefts pois nessa liacutengua eacute obrigatoacuteria a
realizaccedilatildeo do expletivo na posiccedilatildeo inicial da sentenccedila
(8) It was [F John] who died in a car crash9
Haacute vaacuterios tipos de realizaccedilatildeo dessas sentenccedilas por exemplo clivada sem coacutepula
clivada com dupla coacutepula pseudo-clivada reduzida etc
Na liacutengua Ayutla Mixteca em que a ordem canocircnica da sentenccedila eacute VSO a
focalizaccedilatildeo se daacute atraveacutes da mudanccedila de posiccedilatildeo do elemento que se deseja focalizar para
uma posiccedilatildeo preacute-verbal ldquobecause the first element of any list is perceptually salient
preverbal position tends to grant the item filling it some degree of highlighting This position
is therefore often used for constituents that a speaker wishes to focus in some wayrdquo
(HOLLENBACH 1995 p 1)10
Seguem os exemplos de Hills (1990 p 27-28 apud
HOLLENBACH 1995 p 2)
(9) mburu xi‟i‟ tikui
donkey drinks water
bdquoThe donkey is drinking water‟11
(10) tikui xi‟i‟ mburu
9 ldquoFoi [F o Joatildeo] que morreu num acidente de carrordquo
10 ldquoporque o primeiro elemento de qualquer lista eacute perceptualmente saliente a posiccedilatildeo preacute-verbal tende a
conceder ao item carregando-o com algum grau de realce Esta posiccedilatildeo eacute portanto frequentemente usada para
constituintes em que o falante deseja focalizar de algum modordquo 11
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo
18
water drinks donkey
bdquoThe donkey is drinking water‟12
Entretanto Hollenbach (1995 p 2) adverte que a relaccedilatildeo semacircntica do foco com a
posiccedilatildeo preacute-verbal eacute obscura jaacute que um constituinte pode ocorrer na posiccedilatildeo preacute-verbal sem
que o falante deseje focalizaacute-lo Entatildeo a autora investiga as condiccedilotildees para que a focalizaccedilatildeo
do constituinte preacute-verbal ocorra13
Ela identificou vaacuterias condiccedilotildees para a identificaccedilatildeo do
foco na posiccedilatildeo preacute-verbal nas liacutenguas do grupo Mixteca entre elas a pausa (11) e a inserccedilatildeo
de conjunccedilotildees coordenadas (12) depois do elemento focalizado
(11) juaacutea ta‟u da ntuku
John splits he firewood
bdquoAs for John he is splitting firewood‟ (Yosonduacutea FARRIS 1992 p 28 apud
HOLLENBACH 1995 p 3)14
(12) sa‟an mi neacute din tavi di kuidaacutedo di
man that and willdo very you care you (Cuicatec BRADLEY 1991
p 493 apud HOLLENBACH 1995 p 3)
Esses satildeo exemplos que a focalizaccedilatildeo natildeo se daacute exclusivamente pela sintaxe mas que
co-ocorre com ela ou seja eacute necessaacuterio que haja mais elementos linguiacutesticos aleacutem da
posiccedilatildeo preacute-verbal para que a focalizaccedilatildeo ocorra de forma satisfatoacuteria
222 Foco morfoloacutegico
O foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de certos morfemas que dependendo da
liacutengua seratildeo cliacuteticos ou morfemas livres Nesse caso ldquoum bdquoMorfema de Ecircnfase‟ seraacute o
elemento responsaacutevel pela iluminaccedilatildeo do elemento destacado no textordquo (GONCcedilALVES
1999 p 336) Natildeo obstante isso natildeo signifique que o foco natildeo possa ser expresso por outros
meios nas liacutenguas em que predominam o meio morfoloacutegico para que a focalizaccedilatildeo ocorra
Esse tipo de focalizaccedilatildeo eacute mais comum em liacutenguas natildeo-indo-europeias como em liacutenguas
12
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo 13
Hollenbach investigou as condiccedilotildees do foco natildeo soacute na liacutengua Ayutla Mixteca mas em seis variedades do
Mixteca duas do Trique e uma do Cuicatec Essas liacutenguas fazem parte grupo Mixteca que por sua vez faz
parte da famiacutelia das liacutenguas Otomangues faladas sobretudo no sul do Meacutexico As liacutenguas da famiacutelia
Otomangue apresentam a ordem canocircnica VSO 14
ldquoQuanto ao Joatildeo ele estaacute partindo a lenhardquo
19
indiacutegenas brasileiras por exemplo em marubo e em mekens O aacuterabe e o japonecircs tambeacutem
satildeo exemplos de liacutenguas em que ocorre a focalizaccedilatildeo morfoloacutegica Hagesawa (2010 p 1)
explica que no japonecircs ldquoone of the most general properties of focus particles is to relate a
proposition which is newly introduced by the sentence containing a focus particle and
propositions available in the contextrdquo15
Em japonecircs a partiacutecula -shika introduz a noccedilatildeo de exclusividade o que eacute expresso
pela palavra only em inglecircs Essa noccedilatildeo eacute a mesma do foco de identificaccedilatildeo encontrado nas
sentenccedilas clivadas do PB por exemplo Segue o exemplo de Hagesawa (2010 p 4)
(13) Miho-shika ko-na-katta
Miho-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoOnly Miho came‟16
No exemplo (13) a funccedilatildeo do morfema -shika pode ser parafraseada como ldquosomente
Miho veio e mais ningueacutemrdquo Quanto ao padratildeo prosoacutedico das partiacuteculas de foco no japonecircs
Hagesawa (2010 p 33) afirma que
although Japanese focus particles have their own accent patterns
when they occur without a focused constituent or they are stressed as
shown in (14) and (15) they lose their accent pattern and follow the
tone melody of their host when they are suffixed17
18
O autor apresenta os seguintes exemplos
(14) Shikamade-o jisyo-de shirabe-ta
HL HL
SHIKAMADE-ACC dictionary-with lookup-PAST
bdquoI looked up bdquoshika‟‟made‟ in a dictionary‟19
(15) A Yuka-mo ki-ta-no
Yuka-also come-PAST-Q
15
ldquouma das propriedades mais gerais das partiacuteculas de foco eacute relacionar uma proposiccedilatildeo que eacute receacutem-
introduzida pela sentenccedila contendo uma partiacutecula de foco e proposiccedilotildees disponiacuteveis no contextordquo 16
ldquoSomente Miho veiordquo 17
A numeraccedilatildeo dos exemplos natildeo segue a original 18
ldquoconquanto as partiacuteculas de foco do japonecircs tecircm seus padrotildees proacuteprios de accent quando ocorrem sem um
constituinte focalizado ou estatildeo stressed como mostrado em (14) e (15) elas perdem o seu padratildeo de accent e
seguem a melodia tonal do seu hospedeiro quando elas satildeo sufixadasrdquo 19
ldquoEu procurei bdquoshika‟‟made‟ em um dicionaacuteriordquo
20
bdquoDid Yuka also come‟
B Uun Yuka-shika ko-na-katta
HL
no Yuka-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoNo only Yuka came‟20
Na liacutengua Mekens todas as questotildees wh apresentam o cliacutetico foco te como no
exemplo abaixo de Galucio (2002 p 67)
(16) aapo=te o-tek pogabeg-a ke i-koop ikatildeotilde tete
Who=foc 1s-house open-Theme say 3s-aux+mov that time
bdquordquoWho opened my houserdquo She was saying that time‟21
Haacute tambeacutem o uso do recurso sintaacutetico pois o constituinte focalizado sempre aparece
no iniacutecio da sentenccedila A autora menciona que a informaccedilatildeo natildeo-pressuposta das respostas agraves
perguntas wh tambeacutem apareceratildeo na forma de construccedilotildees focalizadas Isso faz com que a
ordem canocircnica ndash SOV ndash dessa liacutengua se altere em sentenccedilas como (17) abaixo por exemplo
extraiacuteda de Galucio (2002 p 68) Notam-se nas duas oraccedilotildees que os sujeitos ocorrem
depois do verbo
(17) serek=te kɨpmatildekatildeỹ kweotildep =te ɨsɨɨ
split=foc floor climb+neg=foc deer
bdquoThe floor split and the deer sank‟22
Alguns autores consideram como morfemas de foco palavras como only also just e
even do inglecircs por exemplo porque elas cumprem a mesma funccedilatildeo semacircntica dos morfemas
de foco em liacutenguas como o japonecircs no exemplo da partiacutecula -shika bdquoonly‟ Na anaacutelise de
Quarezemin (2009 p 112) para as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB ela sugere que nas
construccedilotildees clivadas a coacutepula e o complementizador seriam morfemas de foco Nas palavras
da autora
20
ldquoA Yuka tambeacutem veio Natildeo somente a Yuka veiordquo 21
ldquoQuem abriu minha casa Ela estava dizendo aquela horardquo 22
ldquoO chatildeo se partiu e o veado afundourdquo
21
A hipoacutetese inicial eacute que de um modo geral os falantes do PB
preferem destacar o constituinte focalizado sintaticamente ao inveacutes
de destacaacute-lo apenas com recursos prosoacutedicos Disso surge a hipoacutetese
de que a coacutepula com funccedilatildeo de focalizar e o complementizador das
clivadas podem ser considerados morfemas de foco em PB
Em suma o foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de morfemas que tecircm por objetivo
sinalizar que o constituinte o qual estaacute afixado se encontra focalizado Eles tambeacutem podem
interagir com a sintaxe e a prosoacutedia no caso de aleacutem do morfema de foco estar afixado a um
constituinte que se deseja destacar ele tambeacutem esteja em uma posiccedilatildeo proacutepria para
construccedilotildees focalizadoras ou em casos em que aleacutem da marcaccedilatildeo morfoloacutegica do foco haja
uma proeminecircncia prosoacutedica no constituinte focalizado
223 Foco semacircntico
Em primeiro lugar salientamos que o termo bdquofoco semacircntico‟ pode causar certa
estranheza devido a que diferentemente dos outros tipos neste natildeo haacute uma manifestaccedilatildeo de
forma ldquovisiacutevelrdquo do foco no enunciado isto eacute natildeo haacute uma proeminecircncia prosoacutedica uma
construccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica ou um morfema afixado a um constituinte Antes se trata mais
de uma propriedade do significado da construccedilatildeo focalizadora em um enunciado
As trecircs principais propriedades semacircnticas do foco satildeo as dos enunciados que
apresentam o foco de informaccedilatildeo de identificaccedilatildeo e o contrastivo Geralmente para
determinar a propriedade semacircntica desses tipos de foco recorre-se ao contexto de pergunta-
whresposta ou a outro tipo de contexto induzido O foco de informaccedilatildeo23
introduz uma
informaccedilatildeo novanatildeo-pressuposta e ldquopresume uma pergunta wh como base discursiva para
ser estabelecidordquo (RESENES 2009 p 20) Segue o exemplo de Resenes (2009 p 20)
(18) a O que o Joatildeo bebeu
b O Joatildeo bebeu alguma coisa
c O Joatildeo bebeu [F o vinho]
A pergunta wh estaacute em (18a) Em (18b) encontra-se a pressuposiccedilatildeo expressa pelo
pronome indefinido O foco de informaccedilatildeo se encontra em (18c) e eacute o valor da expressatildeo wh
23
Resenes (2009) utiliza a nomenclatura de ldquofoco natildeo-contrastivordquo para esse tipo de foco
22
da pergunta em (18a) A autora menciona que na Estrutura de Asserccedilatildeo (AS)24
o foco de
(18c) seria representado como
(19) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 O x tal que o Joatildeo bebeu x = [o vinho]
O foco contrastivo corrige uma informaccedilatildeo preacutevia atraveacutes de uma prosoacutedia proacutepria
Resenes (2009 p 20) afirma que ldquoo contexto ideal para o foco contrastivo eacute aquele em que
haacute uma afirmaccedilatildeo preacutevia como base discursivardquo Segue o exemplo da autora (RESENES
2009 p 21)
(20) a O Joatildeo bebeu o vinho
b O Joatildeo bebeu [F a cerveja] (natildeo o vinho)
A AS de (20) seria
(21) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 Natildeo eacute o caso que o x tal que o Joatildeo bebeu x = vinho amp O x tal que o Joatildeo
bebeu o x = a cerveja
O foco de identificaccedilatildeo ldquorepresents a subset of the set of contextually or situationally
given elements for which the predicate phrase can potentially hold it is identified as the
exhaustive subset of this set for which the predicate phrase actually holdsrdquo (KISS 1998 p
245 apud RESENES 2009 p 21)25
Assim o foco de identificaccedilatildeo expressa exaustividade
que pode ser parafraseada como [x e apenas x] Esse tipo de foco eacute ilustrado por uma
sentenccedila clivada em (22) (RESENES 2009 p 21)
(22) Foi [F um perfume] que a Maria deu para o Joatildeo
24
Resenes (2009 p 20) explica que a AS eacute ldquoum niacutevel poacutes-LF (pragmaacutetico) que revela como a informaccedilatildeo estaacute
empacotada na sentenccedila Na AS vai estar explicitada a estrutura da focalizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo o foco e os
tipos de focordquo 25
ldquorepresenta um subconjunto do conjunto de elementos dados contextualmente ou situacionalmente para o qual
a expressatildeo do predicado pode potencialmente conter que eacute identificado como o subconjunto exaustivo deste
conjunto para o qual a expressatildeo de predicado efetivamente conteacutemrdquo
23
Em (22) o foco de identificaccedilatildeo eacute expresso pelo NP um perfume que significa que
dentro de uma seacuterie de possiacuteveis presentes que a Maria poderia ter dado ao Joatildeo ela deu
somente um perfume por isso [x e apenas x]
Contudo o fenocircmeno da focalizaccedilatildeo natildeo se restringe somente agraves respostas das
perguntas wh ou agraves respostas dos contextos induzidos Davis (2009 p 2) assinala que haacute dois
grandes aspectos da constituiccedilatildeo do foco ldquoThe first is its grammar how FOCUS is expressed
in language The second is its meaning It does not require much investigation to discover
that there is no grammatical consistency to FOCUS across languagesrdquo26
O autor nota que em
relaccedilatildeo ao primeiro item natildeo haveria uma forma uacutenica universal para o uso do foco ou seja
uma liacutengua utiliza a sintaxe outra a prosoacutedia outra a morfologia outra a sintaxe e a prosoacutedia
etc ele afirma que ldquoif there is some universal consistency to FOCUS across languages it is
not found in its expressionrdquo27
Quanto ao segundo item as liacutenguas a princiacutepio natildeo
diferenciariam muito em relaccedilatildeo agrave semacircntica do foco Entretanto a propriedade de
destaquerealce sempre estaraacute presente manifestando-se seja por meio da prosoacutedia do
arranjo sintaacutetico ou da marcaccedilatildeo morfoloacutegica Davis (2009 p 2) explica que
If FOCUS will be diferently constituted grammatically its presence
has to be recognized in its semantics One portion of that semantics is
that FOCUS is involved in the answering of wh- questions but not
every utterance is a response to such a question Yet utterances must
the claim says nevertheless contain the semantics (and some
grammar) of FOCUS FOCUS then cannot be only the content
which answers questions There must be more to FOCUS When we
examine languages we discover that FOCUS has an affinity for
certain other semantics and in discovering those affinities we can
amplify our conception of what constitutes FOCUS28
A partir da assunccedilatildeo acima sugere-se que os estudos sobre a focalizaccedilatildeo natildeo
poderiam se restringir agraves anaacutelises de dados de introspecccedilatildeo sobretudo aqueles que explicam o
fenocircmeno somente a partir de dados com contexto pergunta-whresposta A natureza
discursivo-pragmaacutetica da focalizaccedilatildeo faz com que esse fenocircmeno seja melhor compreendido
26
ldquoO primeiro eacute sua gramaacutetica como o FOCO eacute expresso na liacutengua O segundo eacute o seu significado Natildeo se
requer muita investigaccedilatildeo para descobrir que natildeo haacute coerecircncia gramatical do FOCO atraveacutes das liacutenguasrdquo 27
ldquose houver alguma consistecircncia universal para o FOCO entre as liacutenguas natildeo eacute encontrada na sua expressatildeordquo 28
ldquoSe o FOCO seraacute constituiacutedo diferente gramaticalmente a sua presenccedila tem de ser reconhecida em sua
semacircntica Uma parte dessa semacircntica eacute que o FOCO estaacute envolvido nas respostas de perguntas QU mas nem
todo enunciado eacute uma resposta a essas perguntas No entanto os enunciados devem a alegaccedilatildeo diz todavia
conter a semacircntica (e alguma gramaacutetica) do FOCO O FOCO entatildeo natildeo pode ser apenas o conteuacutedo que
responde a perguntas Deve haver mais para o FOCO Quando examinamos as liacutenguas descobrimos que o
FOCO tem uma afinidade com outras semacircnticas e descobrindo essas afinidades podemos ampliar a nossa
concepccedilatildeo do que constitui o FOCOrdquo
24
na liacutengua espontacircnea apesar de natildeo se poder excluir suas propriedades semacircnticas em
diferentes enunciados que podem ser analisados sem o uso de dados de liacutengua espontacircnea
como eacute o caso da investigaccedilatildeo das propriedades semacircnticas do foco em dados de introspecccedilatildeo
e de suas representaccedilotildees formais
224 Foco prosoacutedico
A prosoacutedia eacute um dos traccedilos da camada suprassegmental ou seja que se encontra
acima dos segmentos dispostos linearmente na cadeia sonora da fala Beaver amp Clark (2008
p 2) explicam que os traccedilos suprassegmentais satildeo assim chamados porque ldquothey spread out
across multiple segments (basic sound units) or even across multiple wordsrdquo29
Callou amp
Leite (1990 p31) afirmam que o ldquoconjunto de fenocircmenos dos quais se derivam tipos de
acento padrotildees entoacionais ritmos e velocidades de fala satildeo estudados sob o roacutetulo de
prosoacutediardquo Ao contraacuterio dos segmentos que satildeo descritos pelos movimentos dos articuladores
do aparelho fonador os suprassegmentos satildeo descritos ldquoem termos da accedilatildeo dos muacutesculos
respiratoacuterios que aumentam ou diminuem a energia do fluxo de ar ocasionando duraccedilotildees
frequumlecircncia fundamental e intensidade diferentes das vibraccedilotildees sonorasrdquo (CALLOU amp LEITE
1990 p 30) Paracircmetros acuacutesticos como frequecircncia fundamental intensidade e duraccedilatildeo fiacutesica
satildeo outros traccedilos suprassegmentais que satildeo percebidos respectivamente como pitch
loudness e length que por sua vez ldquoapresentam correlatos fiacutesicos frequumlecircncia amplitude e
tempordquo (LEITE 2009 p 17)30
A frequecircncia eacute medida em Hz (Hertz) a amplitude em dB
(decibeacuteis) e o tempo em ms (milissegundos)
Barbosa (2008) menciona que a prosoacutedia estaacute
associada a fatores linguumliacutesticos como acentuaccedilatildeo entoaccedilatildeo ecircnfase e
ritmo bem como a fatores para- e extra-linguiacutesticos tais como
marcadores discursivos (ldquoneacuterdquo ldquoentendordquo ldquoanhanrdquo) atitudes
emoccedilotildees imbricados a fatores sociais ou bioloacutegicos como gecircnero
faixa etaacuteria classe social entre outros
Segundo Leite (2009 p 18) a prosoacutedia exerceria funccedilotildees ldquogramatical atitudinal
informacional indexal e ilocucionaacuteriardquo Nota-se portanto que eacute muito importante levar em
29
ldquoeles se espalham em vaacuterios segmentos (unidades baacutesicas de som) ou mesmo atraveacutes de muacuteltiplas palavrasrdquo 30
Neste trabalho natildeo se pretende definir minuciosamente todos os conceitos dos correlatos foneacutetico-acuacutesticos
dos sons da fala estudados pela Foneacutetica Acuacutestica Para mais informaccedilotildees cf Ladefoged (1974) Malmberg
(1998) e Johnson (2003)
25
consideraccedilatildeo a prosoacutedia na anaacutelise linguiacutestica visto que ela desempenha funccedilotildees associadas a
fatores intrinsecamente linguiacutesticos bem como a fatores extralinguiacutesticos A prosoacutedia ainda
apresenta um importante papel na aquisiccedilatildeo da linguagem sendo recurso especial para a
crianccedila associar unidades sonoras a significado (cf BRUM DE PAULA 2010)
As investigaccedilotildees do Ciacuterculo Linguiacutestico de Praga sugeriram que os elementos dados
do discurso ou seja aqueles que jaacute haviam sido mencionados seriam prosodicamente menos
relevantes que os elementos novos Disso resulta que a informaccedilatildeo nova ou o foco seja
destacado prosodicamente isto eacute apresente proeminecircncia prosoacutedica A proeminecircncia
prosoacutedica eacute definida como ldquoa quantitative parameter of a syllable or a boundary that describes
markedness relative to surrounding syllables and boundaries respectivelyrdquo (PORTELE amp
HEUFT 1997 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 227)31
Haacute autores que classificam o
foco levando em conta sobretudo o fator proeminecircncia prosoacutedica por exemplo ldquothe term
focus is used [] to describe prosodic prominences serving pragmatic and semantic
functionsrdquo (ROOTH 1995 p 271 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 228)32
O foco prosoacutedico eacute definido por meio de uma proeminecircncia tonal (cf
BUTRAGUENtildeO 2005) Entretanto alguns estudos mostram que o foco natildeo seria marcado
somente com a proeminecircncia tonal ou prosoacutedica Proeminecircncias de outros traccedilos
suprassegmentais como duraccedilatildeo e intensidade tambeacutem marcariam o foco (cf TOLEDO
1989 SOSA 1999 QUAREZEMIN 2009 entre outros) Para Butraguentildeo (2005 p 141) os
focos prosoacutedicos ldquoreciben acentos tonales de contorno especiacutefico que permiten distinguirlos
del fondo (o background)rdquo33
Os paracircmetros de anaacutelise acuacutestica do foco satildeo os movimentos
de F0 o alinhamento entre siacutelabas e F0 duraccedilatildeo das siacutelabas e vogais intensidade da siacutelaba e
em alguns casos pausas e meacutedia entre picos de F0
As abordagens teoacutericas utilizadas nos trabalhos sobre o foco prosoacutedico guiam a
metodologia de anaacutelise dos dados Assim alguns autores que trabalham com uma abordagem
formal utilizando o sistema ToBI (cf SILVERMAN et al 1992) para a anaacutelise dos dados
representam a entoaccedilatildeo dos enunciados marcando as siacutelabas com acentos tonais que se
manifestam em acentos monotonais (H ou L) bitonais (H+L L+H etc) e ainda poderia
haver tons de juntura (H e L) que delimitam as fronteiras dos grupos meloacutedicos Na
Fonologia Entoacional haacute trecircs tipos de tons pitch accents phrase accents e boundary tones
31
ldquoum paracircmetro quantitativo de uma siacutelaba ou de uma fronteira que descreve a marcaccedilatildeo relativa agraves siacutelabas
vizinhas e fronteiras respectivamenterdquo 32
ldquoo termo foco eacute utilizado [] para descrever proeminecircncias prosoacutedicas que servem a funccedilotildees pragmaacuteticas e
semacircnticasrdquo 33
ldquorecebem acentos tonais de contorno especiacutefico que permitem distingui-los do fundo (ou background)rdquo
26
Geralmente o foco eacute marcado por um pitch accent que pode ser definido como ldquoa local
feature of a pitch contour ndash usually but not invariably a pitch change and often involving a
local maximum or minimumrdquo (LADD 1996 p 45-6 apud BEAVER amp CLARK 2008 p
11)34
Segundo Roach (2011 p 67) pitch
is an auditory sensation when we hear a regularly vibrating sound
such as a note played on a musical instrument or a vowel produced
by the human voice we hear a high pitch if the rate of vibration is
high and a low pitch if the rate of vibration is low35
Nooteboom (1997 p 641) atenta para o fato de que ldquoone should be aware however
that rather often the notion bdquopitch‟ is used to refer to f0 or the repetition frequency itself In
speech f0 is determined by the rate of vibration of the vocal cords located in the larynxrdquo36
Ademais Crystal (2008 p 369) adverte que ldquothere is however no direct or parallel
correlation between pitch and frequency other factors than frequency may affect our
sensation of pitch (measured in units known as mels)rdquo37
Pitch countour seria a marcaccedilatildeo dos
uacutenicos pitchs relevantes para a compreensatildeo de um perfil entoacional A teacutecnica da close
copy (cf t‟HART et al 1990) justamente realccedila o pitch countor atraveacutes de uma ldquosiacutentese que
satildeo eliminados movimentos de F0 que natildeo causam diferenccedila de percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao
aacuteudio originalrdquo (ROCHA 2011 p 106) De acordo com Crystal (2008 p 369-370) o termo
pitch accent
is used phonologically in the description of languages in which the
distribution of the tones within a word is totally predictable once one
has specified a particular tonal feature of the word (as in Japanese)
The notion has also been applied to English where some
phonological models analyse intonation CONTOURS as a sequence
of one or more pitch accents each associated with a STRESS-
prominent SYLLABLE in a word38
34
ldquoum traccedilo local de um pitch contour - geralmente mas natildeo invariavelmente variaccedilatildeo de pitch e muitas vezes
envolvendo um local maacuteximo ou miacutenimordquo 35
ldquoeacute uma sensaccedilatildeo auditiva quando ouvimos um som regularmente vibrando como uma nota tocada em um
instrumento musical ou uma vogal produzida pela voz humana noacutes ouvimos um pitch alto se a taxa de vibraccedilatildeo
eacute alta e um pitch baixo se a taxa de vibraccedilatildeo eacute baixardquo 36
ldquodeve-se estar ciente no entanto que muitas vezes a noccedilatildeo de pitch eacute utilizada para se referir a f0 ou a
frequecircncia da repeticcedilatildeo Na fala a f0 eacute determinada pela taxa de vibraccedilatildeo das cordas vocais localizadas na
laringerdquo 37
ldquonatildeo haacute poreacutem nenhuma correlaccedilatildeo direta ou paralelo entre pitch e frequecircncia outros fatores aleacutem
frequecircncia podem afetar a nossa sensaccedilatildeo de pitch (medido em unidades conhecidas como mels)rdquo 38
ldquoeacute usado fonologicamente na descriccedilatildeo das liacutenguas nas quais a distribuiccedilatildeo dos tons dentro de uma palavra eacute
totalmente previsiacutevel uma vez que se tenha especificado uma caracteriacutestica particular de tons da palavra (tal
como no japonecircs) A noccedilatildeo tambeacutem foi aplicada para o inglecircs em que alguns modelos fonoloacutegicos analisam os
CONTORNOS da entoaccedilatildeo como uma sequecircncia de um ou mais pitch accents cada um associado a uma
SIacuteLABA STRESS-proeminente em uma palavrardquo
27
O sistema ToBI reconhece 5 tipos de pitch accents enquanto Pierrehumbert (1980)
menciona 7 tipos Atraveacutes dessa classificaccedilatildeo eacute possiacutevel delimitar o accent prototiacutepico do
foco ou suas possiacuteveis variantes Beaver amp Clark (2008 p 12) mencionam que ldquoalthough
focus is frequently marked by an H accent [] other accents are possible For example in
yes-no questions focus is often by marked by an L+Hrdquo39
A importante pressuposiccedilatildeo teoacuterica de que toda oraccedilatildeo eacute resposta a uma pergunta
guia a metodologia de muitas investigaccedilotildees sobre o foco sobretudo de trabalhos
experimentais de leitura de sentenccedilas denominados testes de produccedilatildeo Com o pressuposto
teoacuterico da explicitaccedilatildeo do foco por meio de pergunta-resposta eacute possiacutevel delimitar o tipo de
foco a ser analisado broad focus (foco largo) narrow focus (foco estreito) ou contrastive
focus (foco contrastivo) (cf seccedilatildeo 121 p 14) Essa metodologia tem por caracteriacutestica
induzir guiar e restringir os padrotildees meloacutedicos da fala ao fornecer exemplos com contextos
preacutevios ou mesmo com o foco jaacute explicitado na sentenccedila para se obter o resultado desejado
Em investigaccedilatildeo sobre a marcaccedilatildeo prosoacutedica dos focos largo estreito e contrastivo em
alematildeo Baumann et al (2006 p 302) mencionam em sua metodologia de teste de leitura
que
reading material consisted of five question-answer pairs with the
answer bdquoManuela will Blumen malen‟ (Manuela wants to paint
flowers) The main criterion the target sentence had to fulfill was its
continuous voicing so as to be able to accurately measure exact peaks
and valleys in the F0 contour40
Dependendo do objetivo do trabalho ou da liacutengua a ser analisada podem-se controlar
outros fatores Por exemplo em trabalho sobre como o tom lexical e o foco contribuem para a
formaccedilatildeo e alinhamento dos F0 contours no chinecircs Xu (1999 p 58) menciona na
metodologia que
the factors manipulated in the experiment were segmental
composition of syllables lexical tones focus and and sentence types
Of these only lexical tones and focus were under direct scrutiny The
control of the other two factors was done by keeping their variation to
39
ldquoembora o foco seja frequentemente marcado por um accent H [] outros accents satildeo possiacuteveis Por
exemplo em perguntas sim-natildeo o foco eacute muitas vezes marcado por um H + Lrdquo 40
ldquoo material de leitura consistiu de cinco pares de pergunta-resposta com a resposta bdquoManuela will Blumen
malen‟ (Manuela quer pintar flores) O principal criteacuterio que a frase alvo tinha a cumprir era seu vozeamento
contiacutenuo de modo a ser capaz de medir com precisatildeo exata picos e vales no contorno da F0rdquo
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
AGRADECIMENTOS
Agrave orientadora Profordf Heliana Mello
Aos membros da banca examinadora Profordf Maria Elizabeth Saraiva e Doutorando Bruno
Rocha
Aos exatuais membros do C-ORAL-BRASIL Adriana Ramos Bruno Mota Elisa Santos
Heloiacutesa Vale Luciana Aacutevila Maryualecirc Mittmann Priscila Cocircrtes e Raiacutessa Caetano
Agraves acadecircmicas Daniela Guimaratildees Lena Dal Pozzo e Mariana Resenes
Aos professores Jacircnia Ramos Lorenzo Vitral e Tommaso Raso
Aos colegas da graduaccedilatildeo Andressa Gomide Carolina Bohoacuterquez Daikan Takane Frederico
Cavalcante Henrique Alves Ingrid Faria Letiacutecia Meirelles e Maacuterio Silva
A todos mis amigos de Latinoameacuterica
La constancia y el estudio hacen a los hombres grandes y los
hombres grandes son el porvenir de la Patria
(Benito Juaacuterez)
RESUMO
A focalizaccedilatildeo eacute um fenocircmeno pragmaacutetico-discursivo que objetiva realccedilar itens do enunciado
O realce dado a um item do enunciado recebe o nome de foco Nas liacutenguas naturais haacute vaacuterias
formas de se focalizar um item atraveacutes de recursos prosoacutedicos construccedilotildees sintaacuteticas
afixaccedilatildeo morfoloacutegica combinaccedilatildeo com itens lexicais exclusivos etc Este trabalho tem dois
objetivos principais o primeiro eacute mapear classificar e analisar prosodicamente estrateacutegias de
focalizaccedilatildeo no Portuguecircs Brasileiro considerando o contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeo e
fazendo uso do formalismo semacircntico como suporte para a anaacutelise dos dados bem como da
percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo dessas estrateacutegias O segundo objetivo eacute propor uma distinccedilatildeo
entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase fenocircmenos muitas vezes considerados sinocircnimos por
aparentemente apresentarem certas semelhanccedilas contudo seraacute proposto que haacute diferenccedilas
entre os dois Foram adotados os mesmos criteacuterios para a anaacutelise dos dados referentes ao
segundo objetivo deste trabalho isto eacute prosoacutedia contexto pragmaacutetico e propriedades
semacircnticas O corpus utilizado para esta pesquisa foi o C-ORAL-BRASIL (RASO amp
MELLO 2012) um corpus oral do Portuguecircs Brasileiro falado informal Ressalta-se que esta
pesquisa eacute de cunho qualitativo isto eacute natildeo foram levados em consideraccedilatildeo paracircmetros
quantitativos como sustentaccedilatildeo das anaacutelises dos dados embora acreditemos que sejam de total
importacircncia Outros objetivos tambeacutem satildeo contemplados por exemplo a exposiccedilatildeo de cada
tipo de foco ilustrados com exemplos de vaacuterias liacutenguas considerando as diferentes correntes
de estudo Atraveacutes da pesquisa em trecircs textos do corpus C-ORAL-BRASIL foi possiacutevel
classificar as ocorrecircncias de focalizaccedilatildeo em foco prosoacutedico sendo realizado por uma
proeminecircncia prosoacutedica foco morfoloacutegico expresso por uma palavra dedicada a focalizar e
foco sintaacutetico sendo realizado atraveacutes das construccedilotildees clivadas O foco prosoacutedico e a ecircnfase
se distinguem no plano pragmaacutetico apresentando contextos distintos de enunciaccedilatildeo e no
plano semacircntico que apresenta efeitos de sentido diferentes
Palavras-chave focalizaccedilatildeo foco ecircnfase prosoacutedia pragmaacutetica
RESUMEN
La focalizacioacuten es un fenoacutemeno pragmaacutetico-discursivo que pretende resaltar los elementos de
la declaracioacuten El realce dado a un elemento de la declaracioacuten se llama foco En el lenguaje
natural existen varias maneras de focalizar un elemento a traveacutes de caracteriacutesticas
prosoacutedicas construcciones sintaacutecticas afijacioacuten morfoloacutegica combinacioacuten con elementos
leacutexicos exclusivos etc Este trabajo tiene dos objetivos principales el primero es mapear
clasificar y analizar prosodicamente las estrategias de focalizacioacuten en el portugueacutes de Brasil
teniendo en cuenta el contexto pragmaacutetico de enunciacioacuten y haciendo uso del formalismo
semaacutentico como apoyo al anaacutelisis de datos asiacute como de la percepcioacuten para la identificacioacuten de
estas estrategias El segundo objetivo es proponer una distincioacuten entre el foco prosoacutedico y el
eacutenfasis fenoacutemenos que a menudo se consideran sinoacutenimos por presentar ciertas similitudes al
parecer sin embargo proponemos que existen diferencias entre los dos El mismo criterio se
adoptoacute para el anaacutelisis de datos relacionados con el segundo objetivo de este trabajo es decir
la prosodia el contexto pragmaacutetico y las propiedades semaacutenticas El corpus utilizado para esta
investigacioacuten fue el C-ORAL-BRASIL (RASO amp MELLO 2012) un corpus oral del
portugueacutes brasilentildeo hablado informalmente Cabe sentildealar que esta investigacioacuten es de tipo
cualitativo es decir no se tendraacute en cuenta paraacutemetros cuantitativos como apoyo para el
anaacutelisis de datos aunque creemos que todos sean importantes Otros objetivos tambieacuten se
contemplan por ejemplo la exposicioacuten de cada tipo de foco que se ilustra con ejemplos de
varios idiomas teniendo en cuenta las diferentes corrientes de estudio A traveacutes de la
investigacioacuten con tres textos del corpus C-ORAL-BRASIL fue posible clasificar las
ocurrencias de focalizacioacuten en el foco prosoacutedico llevado a cabo por una prominencia
prosoacutedica el foco morfoloacutegico expresado por una palabra dedicada a focalizar y el foco
sintaacutectico llevado a cabo a traveacutes de construcciones hendidas El foco prosoacutedico y el eacutenfasis
en el nivel pragmaacutetico se distinguen con diferentes contextos de enunciacioacuten y en el nivel
semaacutentico que presenta diferentes efectos de sentido
Palabras-clave focalizacioacuten foco eacutenfasis prosodia pragmaacutetica
LISTA DE FIGURAS
Figura 31 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02 37
Figura 32 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03 38
Figura 33 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Figura 34 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04 42
Figura 35 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Figura 36 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03 46
Figura 37 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03 47
Figura 38 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Figura 39 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03 51
Figura 310 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03 52
Figura 311 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03 53
Figura 312 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02 54
LISTA DE TABELAS
Tabela 31 - Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02 37
Tabela 32 - Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03 38
Tabela 33 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Tabela 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Tabela 35 - Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04 43
Tabela 36 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Tabela 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Tabela 38 - Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03 46
Tabela 39 - Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03 47
Tabela 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 50
Tabela 314 - Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03 51
Tabela 315 - Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03 52
Tabela 316 - Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03 53
Tabela 317 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02 54
Tabela 318 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02 55
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 12
2 PANORAMA GERAL DOS ESTUDOS SOBRE O FOCO 12
22 TIPOS DE FOCO 13
221 Foco sintaacutetico 14
222 Foco morfoloacutegico 18
223 Foco semacircntico 21
224 Foco prosoacutedico 24
3 METODOLOGIA DA PESQUISA 29
31 OBJETIVO 29
32 CORPUS 30
321 C-ORAL-ROM 30
322 C-ORAL-BRASIL 32
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 34
4 ANAacuteLISE DOS DADOS 35
41 FOCO PROSOacuteDICO 35
42 FOCO SINTAacuteTICO 41
43 FOCO MORFOLOacuteGICO 45
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE 47
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 55
REFEREcircNCIAS 56
12
1 INTRODUCcedilAtildeO
A focalizaccedilatildeo eacute um fenocircmeno linguiacutestico cada vez mais estudado e que possui
importante papel na comunicaccedilatildeo oral Sua importacircncia na gramaacutetica das liacutenguas naturais
bem como nas situaccedilotildees comunicativas eacute grande podendo ser observada pela assunccedilatildeo de
Davis (2009 p 2) ldquoFOCUS is present in every language and that it is present in every
utterance of every languagerdquo1 Embora haja divergecircncia por parte de alguns autores quanto agrave
proposta de Davis assume-se de qualquer forma que a focalizaccedilatildeo nas liacutenguas naturais eacute um
importante recurso comunicativo promovido nas diversas interaccedilotildees linguiacutesticas do cotidiano
pois sinaliza propriedades semacircnticas especiacuteficas atraveacutes de recursos prosoacutedicos
morfoloacutegicos e configuraccedilotildees sintaacuteticas dedicadas a destacar um item Nas liacutenguas romacircnicas
e germacircnicas sobretudo a estrateacutegia prosoacutedica da focalizaccedilatildeo eacute fundamental para a
realizaccedilatildeo do foco conforme mencionam Beaver amp Clark (2008 p xxi) ldquoRomance and
Germanic languages and English in particular focus is commonly marked by prosody with
changes in pitch used to mark focused expressionsrdquo2 Natildeo obstante estejam presentes e
podendo estar em co-ocorrecircncia nas liacutenguas desses troncos estrateacutegias sintaacuteticas como as
construccedilotildees clivadas e morfoloacutegicas como adveacuterbios e quantificadores focais o que poderaacute
ser constatado ao longo deste trabalho
Este trabalho estaacute divido em duas partes a primeira (cf seccedilatildeo 2 e subseccedilotildees) que
procura expor ao leitor atraveacutes da consideraccedilatildeo de diferentes estudos de variadas abordagens
teoacuterico-metodoloacutegicas uma revisatildeo bibliograacutefica ao mesmo tempo concisa e imparcial que
objetiva cobrir de modo satisfatoacuterio o tema da focalizaccedilatildeo e seus desdobramentos nos estudos
linguiacutesticos e a segunda (cf seccedilotildees 3 e 4 e subseccedilotildees) que consiste na exposiccedilatildeo do objetivo
e da metodologia da pesquisa do corpus utilizado da anaacutelise dos dados e das decorrentes
consideraccedilotildees sobre o foco no Portuguecircs Brasileiro falado informal aleacutem da discussatildeo sobre
a diferenciaccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase Por fim a seccedilatildeo 5 consiste nas
consideraccedilotildees finais
2 PANORAMA GERAL DOS ESTUDOS SOBRE O FOCO
O fenocircmeno da focalizaccedilatildeo tem sido estudado por vaacuterias aacutereas da linguiacutestica ndash
sintaxe semacircntica prosoacutedia etc ndash e sob diferentes abordagens teoacuterico-metodoloacutegicas ndash
1 ldquoO FOCO estaacute presente em toda liacutengua e estaacute presente em todo enunciado de toda liacutenguardquo
2 ldquoNas liacutenguas romacircnicas e germacircnicas e no inglecircs em particular o foco eacute marcado normalmente pela prosoacutedia
com variaccedilotildees no pitch para marcar as expressotildees focalizadasrdquo
13
formal funcional pragmaacutetica etc Cada estudo independente da aacuterea ou da abordagem
teoacuterica tem revelado que a focalizaccedilatildeo apresenta importante papel na gramaacutetica das liacutenguas
naturais pois o foco seu principal componente manifesta-se nelas por diferentes estrateacutegias
linguiacutesticas Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os diferentes meios em que o foco pode se
manifestar isto eacute os tipos de foco O objetivo deste capiacutetulo eacute mostrar que o foco ocorre
atraveacutes de diferentes estrateacutegias nas liacutenguas e que cada liacutengua escolhe uma ou mais
estrateacutegias para sua realizaccedilatildeo
21 TIPOS DE FOCO
O fenocircmeno que abrange o foco eacute a focalizaccedilatildeo que pode ser definida como o ldquoato de
focalizar ou seja de acentuar de ressaltar de pocircr em relevorealceevidecircncia um
determinado item do textordquo (GONCcedilALVES 1998 p 32) As liacutenguas naturais expressam esse
realce com diferentes estrateacutegias seja por meio da sintaxe da prosoacutedia ou da morfologia seja
com o uso de uma estrateacutegia ou de mais de uma atuando em conjunto A focalizaccedilatildeo eacute
considerada um fenocircmeno discursivo-pragmaacutetico ldquopois o usuaacuterio pode centrar sua atenccedilatildeo a
uma parcela do enunciado que julgue relevante enfatizando-ardquo (GONCcedilALVES 1998 p 33)
Assim sendo a focalizaccedilatildeo estaria vinculada tanto agraves estrateacutegias argumentativas do falante
quanto ao conteuacutedo informacional do enunciado Segundo Gonccedilalves (1998 p 39) o foco
ldquopode incidir em qualquer constituinte do enunciado (palavras morfemas sintagmas e
pequenas oraccedilotildees)rdquo
Mesmo com a definiccedilatildeo do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo as descobertas dos estudos
sobre a biparticcedilatildeo da frase a respeito do conceito de foco natildeo foram descartadas (cf
BARBOSA 2005) Gonccedilalves (1998 p 32) menciona que o constituinte focalizado eacute ldquoa
parcela do texto apresentada como a mais informativarelevanterdquo e que os elementos fora de
foco constituem ldquoinformaccedilatildeo apresentada previamente ao ouvinterdquo ou os elementos que os
interlocutores julgam conhecidos Ainda segundo Gonccedilalves o foco apresentaria informaccedilatildeo
nova Eacute neste ponto que pode haver confusatildeo Os autores ampliam o escopo de investigaccedilatildeo
mas manteacutem certos conceitos de estudos preacutevios e de diferentes correntes teoacutericas sem
explicitar qual ou quais estatildeo sendo levados em consideraccedilatildeo Para Gonccedilalves (1998 p 33) a
informaccedilatildeo nova isto eacute o que eacute focalizado eacute ldquonew natildeo porque natildeo foi mencionado
previamente mas eacute new exatamente porque o falante tende a interpretar como natildeo suscetiacutevel
de recuperaccedilatildeo (a) nem a partir do texto precedente (co-texto) e (b) nem por meio do
contexto pragmaacutetico (situacional) imediatordquo Nota-se que o autor utiliza uma noccedilatildeo
14
pragmaacutetica do que seria informaccedilatildeo novadada A diamesia oral eacute muito mais ampla do que a
escrita no sentido de que a unidade de referecircncia da fala eacute o enunciado ndash organizado segundo
princiacutepios pragmaacutetico-ilocucionaacuterios ndash jaacute na escrita a unidade de referecircncia eacute a frase ndash
organizada segundo princiacutepios loacutegico-sintaacuteticos ndash aleacutem de haver caracteriacutesticas distintivas
entre falaescrita por exemplo hesitaccedilotildees interrupccedilotildees sobreposiccedilotildees etc Como a
focalizaccedilatildeo eacute considerada um fenocircmeno discursivo as noccedilotildees estudadas no niacutevel da frase natildeo
conseguem abranger todos os aspectos que a liacutengua oral apresenta por isso novas definiccedilotildees
satildeo propostas contudo em muitos casos preservando determinadas terminologias de estudos
anteriores
Cada liacutengua escolhe uma ou mais estrateacutegias para a focalizaccedilatildeo Pode-se ateacute mesmo
classificaacute-las tipologicamente com relaccedilatildeo agrave manifestaccedilatildeo do foco em cada uma Contudo
muitas vezes essas estrateacutegias se organizam conjuntamente para a manifestaccedilatildeo do foco no
caso da focalizaccedilatildeo sintaacutetica e a prosoacutedica coocorrerem nas construccedilotildees clivadas por
exemplo Assim como um morfema poder licenciar um conjunto de alternativas semacircnticas
de escopo em uma sentenccedila servindo de gatilho para a manifestaccedilatildeo prosoacutedica do foco
Todavia nosso objetivo nesta seccedilatildeo eacute mostrar os vaacuterios tipos de foco em isolamento apesar
de que a interface com outro componente gramatical seraacute explicada quando necessaacuterio A
exposiccedilatildeo natildeo seraacute exaustiva uma vez que este tipo de trabalho natildeo permite uma discussatildeo
mais longa da literatura
221 Foco sintaacutetico
O foco tem recebido grande atenccedilatildeo nos estudos da sintaxe gerativa Itens de natureza
discursiva como o toacutepico e o proacuteprio foco passam a fazer parte da estrutura interna das
sentenccedilas dentro dessa abordagem teoacuterica Eles ocupam uma posiccedilatildeo na parte mais alta da
sentenccedila caracterizada por ser uma estrutura funcional sendo a outra parte da sentenccedila a
estrutura lexical Com a proposta de extensatildeo do sistema CP (RIZZI 1997)3 dois
subsistemas satildeo criados o primeiro constituiacutedo por ForceP e FinP e o segundo por TopP e
FocP A categoria ForceP determina o tipo de sentenccedila enquanto FinP determina sua
finitude Os constituintes toacutepico e foco satildeo interpretados em Spec de seus respectivos
sintagmas O sistema CP entatildeo passa a ser representado da seguinte forma (QUAREZEMIN
2009 p 22)
3 Segundo Quarezemin (200921) ldquoa extensatildeo do CP ocorre para acomodar certos constituintes com
propriedades discursivas e de escopo aleacutem de derivar sua interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo Spec-nuacutecleordquo
15
(1) ForceP
Force0 TopP
Top0 FocP
Foc0 TopP
Top0 FinP
Fin0 IP
As categorias TopP e FocP4 soacute aparecem na estrutura se houver constituintes com
funccedilotildees de toacutepico e foco na sentenccedila A categoria TopP aparece duas vezes na estrutura
porque eacute considerada recursiva Isso significa que pode haver mais de um toacutepico na sentenccedila
Na estrutura FocP natildeo aparece duas vezes pois a natureza quantificacional do foco natildeo
permite tal repeticcedilatildeo Para Rizzi (1997) e Belletti (2001) ldquoa noccedilatildeo de foco estaacute diretamente
relacionada agrave posiccedilatildeo que este constituinte ocupa na sentenccedila Para eles um constituinte eacute
interpretado como foco somente se ele ocupa a posiccedilatildeo de Spec de FocPrdquo (ASSIS 2003 p
360)
Nessa abordagem o toacutepico ldquoveicula informaccedilatildeo jaacute conhecida pelos participantes do
discursordquo enquanto o comentaacuterio ldquoeacute um tipo de predicado complexo que se aplica ao toacutepicordquo
(QUAREZEMIN 2009 p 22) No exemplo da autora your book eacute o toacutepico e o que estaacute
depois da viacutergula eacute o comentaacuterio
(2) Your book you should give t to Paul (not to Bill)5
Ela afirma que na fala o toacutepico eacute marcado por uma pausa Diferentemente do toacutepico
o foco eacute ldquodestacado por um acento proeminente e expressa a informaccedilatildeo do discurso natildeo
4 Haacute outras propostas sobre qual o lugar que as categorias funcionais TopP e FocP ocupam na estrutura da
sentenccedila extensatildeo de vP (Belletti 2001 2004a) e extensatildeo de DP (Giusti 2002) 5 ldquoSeu livro vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo para o Bill)rdquo
16
pressuposta pelo ouvinte enquanto a pressuposiccedilatildeo representa o conhecimento compartilhado
pelos interlocutoresrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 23)
(3) YOUR BOOK you should give t to Paul (not mine)6
Com isso Quarezemin (2009 p 46) afirma que ldquoa interpretaccedilatildeo semacircntica da
sentenccedila que apresenta a articulaccedilatildeo foco-pressuposiccedilatildeo natildeo deve ser confundida com a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila que tem a biparticcedilatildeo toacutepico-comentaacuteriordquo A autora menciona a
relaccedilatildeo entre foco-prosoacutedia dizendo que os paracircmetros acuacutesticos da descriccedilatildeo do foco satildeo a
F0 a duraccedilatildeo e a intensidade Na fonologia o foco recebe a proeminecircncia ou outro acento
tonal especiacutefico A autora diz que ldquoo foco ou um membro do sintagma focalizado sempre
recebe o acento principal da sentenccedila enquanto a pressuposiccedilatildeo natildeo pode ser acentuada nos
mesmos niacuteveisrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 52)
Em liacutenguas como o espanhol o italiano e o PE o foco de informaccedilatildeo ocupa uma
posiccedilatildeo no final da sentenccedila em casos que ocorre a inversatildeo do sujeito
(4) Egrave partitoha parlato [F Gianni]7
(Chi egrave partitoha parlato)
No exemplo de Quarezemin (2009 p 69) acima nota-se o foco estreito Gianni no
final da sentenccedila visto que esse item responde agrave pergunta chi egrave partitoparlato Haveria o
foco largo isto eacute toda a resposta de (4) seria foco se essa resposta correspondesse agrave pergunta
(QUAREZEMIN 2009 p 70)
(5) Che cosa egrave successo8
Um tipo especiacutefico de focalizaccedilatildeo sintaacutetica satildeo as construccedilotildees clivadas Resenes
(2009 p 17) explica que a clivagem eacute ldquoum processo sintaacutetico que serve para focalizar
constituintes porque prepara um lugar especiacutefico na sentenccedila para alojar o focordquo Os
elementos que cumprem essa funccedilatildeo satildeo a coacutepula o complementizador que ou um elemento
wh As propriedades semacircnticas e sintaacuteticas das sentenccedilas clivadas e pseudo-clivadas natildeo
6 ldquoO SEU LIVRO vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo o meu)rdquo
7 ldquoPartiufalou o Gianni (Quem partiufalou)rdquo
8 ldquoO que aconteceurdquo
17
seratildeo abordadas profundamente visto que esse natildeo eacute o objetivo principal deste trabalho As
sentenccedilas clivadas apresentam a estrutura [ser + XPi + que [IP eci]] jaacute as pseudo-clivadas [[CP
whi ti] + ser +XPi] (RESENES 2009 p 14) O XP deve ser a parte natildeo-pressuposta da
sentenccedila ou o foco da sentenccedila o sintagma que carrega a informaccedilatildeo nova e que segundo a
abordagem gerativa carrega tambeacutem a proeminecircncia prosoacutedica O foco dessas sentenccedilas eacute do
tipo de identificaccedilatildeo exaustiva isto eacute indicado pela propriedade semacircntica [x e apenas x]
Apresentamos como exemplo em PB uma clivada e uma pseudo-clivada respectivamente
(6) Foi [F a Luana] que comprou um livro
(7) Quem comprou um livro foi [F a Luana]
Em inglecircs as clivadas satildeo conhecidas como it-clefts pois nessa liacutengua eacute obrigatoacuteria a
realizaccedilatildeo do expletivo na posiccedilatildeo inicial da sentenccedila
(8) It was [F John] who died in a car crash9
Haacute vaacuterios tipos de realizaccedilatildeo dessas sentenccedilas por exemplo clivada sem coacutepula
clivada com dupla coacutepula pseudo-clivada reduzida etc
Na liacutengua Ayutla Mixteca em que a ordem canocircnica da sentenccedila eacute VSO a
focalizaccedilatildeo se daacute atraveacutes da mudanccedila de posiccedilatildeo do elemento que se deseja focalizar para
uma posiccedilatildeo preacute-verbal ldquobecause the first element of any list is perceptually salient
preverbal position tends to grant the item filling it some degree of highlighting This position
is therefore often used for constituents that a speaker wishes to focus in some wayrdquo
(HOLLENBACH 1995 p 1)10
Seguem os exemplos de Hills (1990 p 27-28 apud
HOLLENBACH 1995 p 2)
(9) mburu xi‟i‟ tikui
donkey drinks water
bdquoThe donkey is drinking water‟11
(10) tikui xi‟i‟ mburu
9 ldquoFoi [F o Joatildeo] que morreu num acidente de carrordquo
10 ldquoporque o primeiro elemento de qualquer lista eacute perceptualmente saliente a posiccedilatildeo preacute-verbal tende a
conceder ao item carregando-o com algum grau de realce Esta posiccedilatildeo eacute portanto frequentemente usada para
constituintes em que o falante deseja focalizar de algum modordquo 11
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo
18
water drinks donkey
bdquoThe donkey is drinking water‟12
Entretanto Hollenbach (1995 p 2) adverte que a relaccedilatildeo semacircntica do foco com a
posiccedilatildeo preacute-verbal eacute obscura jaacute que um constituinte pode ocorrer na posiccedilatildeo preacute-verbal sem
que o falante deseje focalizaacute-lo Entatildeo a autora investiga as condiccedilotildees para que a focalizaccedilatildeo
do constituinte preacute-verbal ocorra13
Ela identificou vaacuterias condiccedilotildees para a identificaccedilatildeo do
foco na posiccedilatildeo preacute-verbal nas liacutenguas do grupo Mixteca entre elas a pausa (11) e a inserccedilatildeo
de conjunccedilotildees coordenadas (12) depois do elemento focalizado
(11) juaacutea ta‟u da ntuku
John splits he firewood
bdquoAs for John he is splitting firewood‟ (Yosonduacutea FARRIS 1992 p 28 apud
HOLLENBACH 1995 p 3)14
(12) sa‟an mi neacute din tavi di kuidaacutedo di
man that and willdo very you care you (Cuicatec BRADLEY 1991
p 493 apud HOLLENBACH 1995 p 3)
Esses satildeo exemplos que a focalizaccedilatildeo natildeo se daacute exclusivamente pela sintaxe mas que
co-ocorre com ela ou seja eacute necessaacuterio que haja mais elementos linguiacutesticos aleacutem da
posiccedilatildeo preacute-verbal para que a focalizaccedilatildeo ocorra de forma satisfatoacuteria
222 Foco morfoloacutegico
O foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de certos morfemas que dependendo da
liacutengua seratildeo cliacuteticos ou morfemas livres Nesse caso ldquoum bdquoMorfema de Ecircnfase‟ seraacute o
elemento responsaacutevel pela iluminaccedilatildeo do elemento destacado no textordquo (GONCcedilALVES
1999 p 336) Natildeo obstante isso natildeo signifique que o foco natildeo possa ser expresso por outros
meios nas liacutenguas em que predominam o meio morfoloacutegico para que a focalizaccedilatildeo ocorra
Esse tipo de focalizaccedilatildeo eacute mais comum em liacutenguas natildeo-indo-europeias como em liacutenguas
12
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo 13
Hollenbach investigou as condiccedilotildees do foco natildeo soacute na liacutengua Ayutla Mixteca mas em seis variedades do
Mixteca duas do Trique e uma do Cuicatec Essas liacutenguas fazem parte grupo Mixteca que por sua vez faz
parte da famiacutelia das liacutenguas Otomangues faladas sobretudo no sul do Meacutexico As liacutenguas da famiacutelia
Otomangue apresentam a ordem canocircnica VSO 14
ldquoQuanto ao Joatildeo ele estaacute partindo a lenhardquo
19
indiacutegenas brasileiras por exemplo em marubo e em mekens O aacuterabe e o japonecircs tambeacutem
satildeo exemplos de liacutenguas em que ocorre a focalizaccedilatildeo morfoloacutegica Hagesawa (2010 p 1)
explica que no japonecircs ldquoone of the most general properties of focus particles is to relate a
proposition which is newly introduced by the sentence containing a focus particle and
propositions available in the contextrdquo15
Em japonecircs a partiacutecula -shika introduz a noccedilatildeo de exclusividade o que eacute expresso
pela palavra only em inglecircs Essa noccedilatildeo eacute a mesma do foco de identificaccedilatildeo encontrado nas
sentenccedilas clivadas do PB por exemplo Segue o exemplo de Hagesawa (2010 p 4)
(13) Miho-shika ko-na-katta
Miho-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoOnly Miho came‟16
No exemplo (13) a funccedilatildeo do morfema -shika pode ser parafraseada como ldquosomente
Miho veio e mais ningueacutemrdquo Quanto ao padratildeo prosoacutedico das partiacuteculas de foco no japonecircs
Hagesawa (2010 p 33) afirma que
although Japanese focus particles have their own accent patterns
when they occur without a focused constituent or they are stressed as
shown in (14) and (15) they lose their accent pattern and follow the
tone melody of their host when they are suffixed17
18
O autor apresenta os seguintes exemplos
(14) Shikamade-o jisyo-de shirabe-ta
HL HL
SHIKAMADE-ACC dictionary-with lookup-PAST
bdquoI looked up bdquoshika‟‟made‟ in a dictionary‟19
(15) A Yuka-mo ki-ta-no
Yuka-also come-PAST-Q
15
ldquouma das propriedades mais gerais das partiacuteculas de foco eacute relacionar uma proposiccedilatildeo que eacute receacutem-
introduzida pela sentenccedila contendo uma partiacutecula de foco e proposiccedilotildees disponiacuteveis no contextordquo 16
ldquoSomente Miho veiordquo 17
A numeraccedilatildeo dos exemplos natildeo segue a original 18
ldquoconquanto as partiacuteculas de foco do japonecircs tecircm seus padrotildees proacuteprios de accent quando ocorrem sem um
constituinte focalizado ou estatildeo stressed como mostrado em (14) e (15) elas perdem o seu padratildeo de accent e
seguem a melodia tonal do seu hospedeiro quando elas satildeo sufixadasrdquo 19
ldquoEu procurei bdquoshika‟‟made‟ em um dicionaacuteriordquo
20
bdquoDid Yuka also come‟
B Uun Yuka-shika ko-na-katta
HL
no Yuka-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoNo only Yuka came‟20
Na liacutengua Mekens todas as questotildees wh apresentam o cliacutetico foco te como no
exemplo abaixo de Galucio (2002 p 67)
(16) aapo=te o-tek pogabeg-a ke i-koop ikatildeotilde tete
Who=foc 1s-house open-Theme say 3s-aux+mov that time
bdquordquoWho opened my houserdquo She was saying that time‟21
Haacute tambeacutem o uso do recurso sintaacutetico pois o constituinte focalizado sempre aparece
no iniacutecio da sentenccedila A autora menciona que a informaccedilatildeo natildeo-pressuposta das respostas agraves
perguntas wh tambeacutem apareceratildeo na forma de construccedilotildees focalizadas Isso faz com que a
ordem canocircnica ndash SOV ndash dessa liacutengua se altere em sentenccedilas como (17) abaixo por exemplo
extraiacuteda de Galucio (2002 p 68) Notam-se nas duas oraccedilotildees que os sujeitos ocorrem
depois do verbo
(17) serek=te kɨpmatildekatildeỹ kweotildep =te ɨsɨɨ
split=foc floor climb+neg=foc deer
bdquoThe floor split and the deer sank‟22
Alguns autores consideram como morfemas de foco palavras como only also just e
even do inglecircs por exemplo porque elas cumprem a mesma funccedilatildeo semacircntica dos morfemas
de foco em liacutenguas como o japonecircs no exemplo da partiacutecula -shika bdquoonly‟ Na anaacutelise de
Quarezemin (2009 p 112) para as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB ela sugere que nas
construccedilotildees clivadas a coacutepula e o complementizador seriam morfemas de foco Nas palavras
da autora
20
ldquoA Yuka tambeacutem veio Natildeo somente a Yuka veiordquo 21
ldquoQuem abriu minha casa Ela estava dizendo aquela horardquo 22
ldquoO chatildeo se partiu e o veado afundourdquo
21
A hipoacutetese inicial eacute que de um modo geral os falantes do PB
preferem destacar o constituinte focalizado sintaticamente ao inveacutes
de destacaacute-lo apenas com recursos prosoacutedicos Disso surge a hipoacutetese
de que a coacutepula com funccedilatildeo de focalizar e o complementizador das
clivadas podem ser considerados morfemas de foco em PB
Em suma o foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de morfemas que tecircm por objetivo
sinalizar que o constituinte o qual estaacute afixado se encontra focalizado Eles tambeacutem podem
interagir com a sintaxe e a prosoacutedia no caso de aleacutem do morfema de foco estar afixado a um
constituinte que se deseja destacar ele tambeacutem esteja em uma posiccedilatildeo proacutepria para
construccedilotildees focalizadoras ou em casos em que aleacutem da marcaccedilatildeo morfoloacutegica do foco haja
uma proeminecircncia prosoacutedica no constituinte focalizado
223 Foco semacircntico
Em primeiro lugar salientamos que o termo bdquofoco semacircntico‟ pode causar certa
estranheza devido a que diferentemente dos outros tipos neste natildeo haacute uma manifestaccedilatildeo de
forma ldquovisiacutevelrdquo do foco no enunciado isto eacute natildeo haacute uma proeminecircncia prosoacutedica uma
construccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica ou um morfema afixado a um constituinte Antes se trata mais
de uma propriedade do significado da construccedilatildeo focalizadora em um enunciado
As trecircs principais propriedades semacircnticas do foco satildeo as dos enunciados que
apresentam o foco de informaccedilatildeo de identificaccedilatildeo e o contrastivo Geralmente para
determinar a propriedade semacircntica desses tipos de foco recorre-se ao contexto de pergunta-
whresposta ou a outro tipo de contexto induzido O foco de informaccedilatildeo23
introduz uma
informaccedilatildeo novanatildeo-pressuposta e ldquopresume uma pergunta wh como base discursiva para
ser estabelecidordquo (RESENES 2009 p 20) Segue o exemplo de Resenes (2009 p 20)
(18) a O que o Joatildeo bebeu
b O Joatildeo bebeu alguma coisa
c O Joatildeo bebeu [F o vinho]
A pergunta wh estaacute em (18a) Em (18b) encontra-se a pressuposiccedilatildeo expressa pelo
pronome indefinido O foco de informaccedilatildeo se encontra em (18c) e eacute o valor da expressatildeo wh
23
Resenes (2009) utiliza a nomenclatura de ldquofoco natildeo-contrastivordquo para esse tipo de foco
22
da pergunta em (18a) A autora menciona que na Estrutura de Asserccedilatildeo (AS)24
o foco de
(18c) seria representado como
(19) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 O x tal que o Joatildeo bebeu x = [o vinho]
O foco contrastivo corrige uma informaccedilatildeo preacutevia atraveacutes de uma prosoacutedia proacutepria
Resenes (2009 p 20) afirma que ldquoo contexto ideal para o foco contrastivo eacute aquele em que
haacute uma afirmaccedilatildeo preacutevia como base discursivardquo Segue o exemplo da autora (RESENES
2009 p 21)
(20) a O Joatildeo bebeu o vinho
b O Joatildeo bebeu [F a cerveja] (natildeo o vinho)
A AS de (20) seria
(21) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 Natildeo eacute o caso que o x tal que o Joatildeo bebeu x = vinho amp O x tal que o Joatildeo
bebeu o x = a cerveja
O foco de identificaccedilatildeo ldquorepresents a subset of the set of contextually or situationally
given elements for which the predicate phrase can potentially hold it is identified as the
exhaustive subset of this set for which the predicate phrase actually holdsrdquo (KISS 1998 p
245 apud RESENES 2009 p 21)25
Assim o foco de identificaccedilatildeo expressa exaustividade
que pode ser parafraseada como [x e apenas x] Esse tipo de foco eacute ilustrado por uma
sentenccedila clivada em (22) (RESENES 2009 p 21)
(22) Foi [F um perfume] que a Maria deu para o Joatildeo
24
Resenes (2009 p 20) explica que a AS eacute ldquoum niacutevel poacutes-LF (pragmaacutetico) que revela como a informaccedilatildeo estaacute
empacotada na sentenccedila Na AS vai estar explicitada a estrutura da focalizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo o foco e os
tipos de focordquo 25
ldquorepresenta um subconjunto do conjunto de elementos dados contextualmente ou situacionalmente para o qual
a expressatildeo do predicado pode potencialmente conter que eacute identificado como o subconjunto exaustivo deste
conjunto para o qual a expressatildeo de predicado efetivamente conteacutemrdquo
23
Em (22) o foco de identificaccedilatildeo eacute expresso pelo NP um perfume que significa que
dentro de uma seacuterie de possiacuteveis presentes que a Maria poderia ter dado ao Joatildeo ela deu
somente um perfume por isso [x e apenas x]
Contudo o fenocircmeno da focalizaccedilatildeo natildeo se restringe somente agraves respostas das
perguntas wh ou agraves respostas dos contextos induzidos Davis (2009 p 2) assinala que haacute dois
grandes aspectos da constituiccedilatildeo do foco ldquoThe first is its grammar how FOCUS is expressed
in language The second is its meaning It does not require much investigation to discover
that there is no grammatical consistency to FOCUS across languagesrdquo26
O autor nota que em
relaccedilatildeo ao primeiro item natildeo haveria uma forma uacutenica universal para o uso do foco ou seja
uma liacutengua utiliza a sintaxe outra a prosoacutedia outra a morfologia outra a sintaxe e a prosoacutedia
etc ele afirma que ldquoif there is some universal consistency to FOCUS across languages it is
not found in its expressionrdquo27
Quanto ao segundo item as liacutenguas a princiacutepio natildeo
diferenciariam muito em relaccedilatildeo agrave semacircntica do foco Entretanto a propriedade de
destaquerealce sempre estaraacute presente manifestando-se seja por meio da prosoacutedia do
arranjo sintaacutetico ou da marcaccedilatildeo morfoloacutegica Davis (2009 p 2) explica que
If FOCUS will be diferently constituted grammatically its presence
has to be recognized in its semantics One portion of that semantics is
that FOCUS is involved in the answering of wh- questions but not
every utterance is a response to such a question Yet utterances must
the claim says nevertheless contain the semantics (and some
grammar) of FOCUS FOCUS then cannot be only the content
which answers questions There must be more to FOCUS When we
examine languages we discover that FOCUS has an affinity for
certain other semantics and in discovering those affinities we can
amplify our conception of what constitutes FOCUS28
A partir da assunccedilatildeo acima sugere-se que os estudos sobre a focalizaccedilatildeo natildeo
poderiam se restringir agraves anaacutelises de dados de introspecccedilatildeo sobretudo aqueles que explicam o
fenocircmeno somente a partir de dados com contexto pergunta-whresposta A natureza
discursivo-pragmaacutetica da focalizaccedilatildeo faz com que esse fenocircmeno seja melhor compreendido
26
ldquoO primeiro eacute sua gramaacutetica como o FOCO eacute expresso na liacutengua O segundo eacute o seu significado Natildeo se
requer muita investigaccedilatildeo para descobrir que natildeo haacute coerecircncia gramatical do FOCO atraveacutes das liacutenguasrdquo 27
ldquose houver alguma consistecircncia universal para o FOCO entre as liacutenguas natildeo eacute encontrada na sua expressatildeordquo 28
ldquoSe o FOCO seraacute constituiacutedo diferente gramaticalmente a sua presenccedila tem de ser reconhecida em sua
semacircntica Uma parte dessa semacircntica eacute que o FOCO estaacute envolvido nas respostas de perguntas QU mas nem
todo enunciado eacute uma resposta a essas perguntas No entanto os enunciados devem a alegaccedilatildeo diz todavia
conter a semacircntica (e alguma gramaacutetica) do FOCO O FOCO entatildeo natildeo pode ser apenas o conteuacutedo que
responde a perguntas Deve haver mais para o FOCO Quando examinamos as liacutenguas descobrimos que o
FOCO tem uma afinidade com outras semacircnticas e descobrindo essas afinidades podemos ampliar a nossa
concepccedilatildeo do que constitui o FOCOrdquo
24
na liacutengua espontacircnea apesar de natildeo se poder excluir suas propriedades semacircnticas em
diferentes enunciados que podem ser analisados sem o uso de dados de liacutengua espontacircnea
como eacute o caso da investigaccedilatildeo das propriedades semacircnticas do foco em dados de introspecccedilatildeo
e de suas representaccedilotildees formais
224 Foco prosoacutedico
A prosoacutedia eacute um dos traccedilos da camada suprassegmental ou seja que se encontra
acima dos segmentos dispostos linearmente na cadeia sonora da fala Beaver amp Clark (2008
p 2) explicam que os traccedilos suprassegmentais satildeo assim chamados porque ldquothey spread out
across multiple segments (basic sound units) or even across multiple wordsrdquo29
Callou amp
Leite (1990 p31) afirmam que o ldquoconjunto de fenocircmenos dos quais se derivam tipos de
acento padrotildees entoacionais ritmos e velocidades de fala satildeo estudados sob o roacutetulo de
prosoacutediardquo Ao contraacuterio dos segmentos que satildeo descritos pelos movimentos dos articuladores
do aparelho fonador os suprassegmentos satildeo descritos ldquoem termos da accedilatildeo dos muacutesculos
respiratoacuterios que aumentam ou diminuem a energia do fluxo de ar ocasionando duraccedilotildees
frequumlecircncia fundamental e intensidade diferentes das vibraccedilotildees sonorasrdquo (CALLOU amp LEITE
1990 p 30) Paracircmetros acuacutesticos como frequecircncia fundamental intensidade e duraccedilatildeo fiacutesica
satildeo outros traccedilos suprassegmentais que satildeo percebidos respectivamente como pitch
loudness e length que por sua vez ldquoapresentam correlatos fiacutesicos frequumlecircncia amplitude e
tempordquo (LEITE 2009 p 17)30
A frequecircncia eacute medida em Hz (Hertz) a amplitude em dB
(decibeacuteis) e o tempo em ms (milissegundos)
Barbosa (2008) menciona que a prosoacutedia estaacute
associada a fatores linguumliacutesticos como acentuaccedilatildeo entoaccedilatildeo ecircnfase e
ritmo bem como a fatores para- e extra-linguiacutesticos tais como
marcadores discursivos (ldquoneacuterdquo ldquoentendordquo ldquoanhanrdquo) atitudes
emoccedilotildees imbricados a fatores sociais ou bioloacutegicos como gecircnero
faixa etaacuteria classe social entre outros
Segundo Leite (2009 p 18) a prosoacutedia exerceria funccedilotildees ldquogramatical atitudinal
informacional indexal e ilocucionaacuteriardquo Nota-se portanto que eacute muito importante levar em
29
ldquoeles se espalham em vaacuterios segmentos (unidades baacutesicas de som) ou mesmo atraveacutes de muacuteltiplas palavrasrdquo 30
Neste trabalho natildeo se pretende definir minuciosamente todos os conceitos dos correlatos foneacutetico-acuacutesticos
dos sons da fala estudados pela Foneacutetica Acuacutestica Para mais informaccedilotildees cf Ladefoged (1974) Malmberg
(1998) e Johnson (2003)
25
consideraccedilatildeo a prosoacutedia na anaacutelise linguiacutestica visto que ela desempenha funccedilotildees associadas a
fatores intrinsecamente linguiacutesticos bem como a fatores extralinguiacutesticos A prosoacutedia ainda
apresenta um importante papel na aquisiccedilatildeo da linguagem sendo recurso especial para a
crianccedila associar unidades sonoras a significado (cf BRUM DE PAULA 2010)
As investigaccedilotildees do Ciacuterculo Linguiacutestico de Praga sugeriram que os elementos dados
do discurso ou seja aqueles que jaacute haviam sido mencionados seriam prosodicamente menos
relevantes que os elementos novos Disso resulta que a informaccedilatildeo nova ou o foco seja
destacado prosodicamente isto eacute apresente proeminecircncia prosoacutedica A proeminecircncia
prosoacutedica eacute definida como ldquoa quantitative parameter of a syllable or a boundary that describes
markedness relative to surrounding syllables and boundaries respectivelyrdquo (PORTELE amp
HEUFT 1997 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 227)31
Haacute autores que classificam o
foco levando em conta sobretudo o fator proeminecircncia prosoacutedica por exemplo ldquothe term
focus is used [] to describe prosodic prominences serving pragmatic and semantic
functionsrdquo (ROOTH 1995 p 271 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 228)32
O foco prosoacutedico eacute definido por meio de uma proeminecircncia tonal (cf
BUTRAGUENtildeO 2005) Entretanto alguns estudos mostram que o foco natildeo seria marcado
somente com a proeminecircncia tonal ou prosoacutedica Proeminecircncias de outros traccedilos
suprassegmentais como duraccedilatildeo e intensidade tambeacutem marcariam o foco (cf TOLEDO
1989 SOSA 1999 QUAREZEMIN 2009 entre outros) Para Butraguentildeo (2005 p 141) os
focos prosoacutedicos ldquoreciben acentos tonales de contorno especiacutefico que permiten distinguirlos
del fondo (o background)rdquo33
Os paracircmetros de anaacutelise acuacutestica do foco satildeo os movimentos
de F0 o alinhamento entre siacutelabas e F0 duraccedilatildeo das siacutelabas e vogais intensidade da siacutelaba e
em alguns casos pausas e meacutedia entre picos de F0
As abordagens teoacutericas utilizadas nos trabalhos sobre o foco prosoacutedico guiam a
metodologia de anaacutelise dos dados Assim alguns autores que trabalham com uma abordagem
formal utilizando o sistema ToBI (cf SILVERMAN et al 1992) para a anaacutelise dos dados
representam a entoaccedilatildeo dos enunciados marcando as siacutelabas com acentos tonais que se
manifestam em acentos monotonais (H ou L) bitonais (H+L L+H etc) e ainda poderia
haver tons de juntura (H e L) que delimitam as fronteiras dos grupos meloacutedicos Na
Fonologia Entoacional haacute trecircs tipos de tons pitch accents phrase accents e boundary tones
31
ldquoum paracircmetro quantitativo de uma siacutelaba ou de uma fronteira que descreve a marcaccedilatildeo relativa agraves siacutelabas
vizinhas e fronteiras respectivamenterdquo 32
ldquoo termo foco eacute utilizado [] para descrever proeminecircncias prosoacutedicas que servem a funccedilotildees pragmaacuteticas e
semacircnticasrdquo 33
ldquorecebem acentos tonais de contorno especiacutefico que permitem distingui-los do fundo (ou background)rdquo
26
Geralmente o foco eacute marcado por um pitch accent que pode ser definido como ldquoa local
feature of a pitch contour ndash usually but not invariably a pitch change and often involving a
local maximum or minimumrdquo (LADD 1996 p 45-6 apud BEAVER amp CLARK 2008 p
11)34
Segundo Roach (2011 p 67) pitch
is an auditory sensation when we hear a regularly vibrating sound
such as a note played on a musical instrument or a vowel produced
by the human voice we hear a high pitch if the rate of vibration is
high and a low pitch if the rate of vibration is low35
Nooteboom (1997 p 641) atenta para o fato de que ldquoone should be aware however
that rather often the notion bdquopitch‟ is used to refer to f0 or the repetition frequency itself In
speech f0 is determined by the rate of vibration of the vocal cords located in the larynxrdquo36
Ademais Crystal (2008 p 369) adverte que ldquothere is however no direct or parallel
correlation between pitch and frequency other factors than frequency may affect our
sensation of pitch (measured in units known as mels)rdquo37
Pitch countour seria a marcaccedilatildeo dos
uacutenicos pitchs relevantes para a compreensatildeo de um perfil entoacional A teacutecnica da close
copy (cf t‟HART et al 1990) justamente realccedila o pitch countor atraveacutes de uma ldquosiacutentese que
satildeo eliminados movimentos de F0 que natildeo causam diferenccedila de percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao
aacuteudio originalrdquo (ROCHA 2011 p 106) De acordo com Crystal (2008 p 369-370) o termo
pitch accent
is used phonologically in the description of languages in which the
distribution of the tones within a word is totally predictable once one
has specified a particular tonal feature of the word (as in Japanese)
The notion has also been applied to English where some
phonological models analyse intonation CONTOURS as a sequence
of one or more pitch accents each associated with a STRESS-
prominent SYLLABLE in a word38
34
ldquoum traccedilo local de um pitch contour - geralmente mas natildeo invariavelmente variaccedilatildeo de pitch e muitas vezes
envolvendo um local maacuteximo ou miacutenimordquo 35
ldquoeacute uma sensaccedilatildeo auditiva quando ouvimos um som regularmente vibrando como uma nota tocada em um
instrumento musical ou uma vogal produzida pela voz humana noacutes ouvimos um pitch alto se a taxa de vibraccedilatildeo
eacute alta e um pitch baixo se a taxa de vibraccedilatildeo eacute baixardquo 36
ldquodeve-se estar ciente no entanto que muitas vezes a noccedilatildeo de pitch eacute utilizada para se referir a f0 ou a
frequecircncia da repeticcedilatildeo Na fala a f0 eacute determinada pela taxa de vibraccedilatildeo das cordas vocais localizadas na
laringerdquo 37
ldquonatildeo haacute poreacutem nenhuma correlaccedilatildeo direta ou paralelo entre pitch e frequecircncia outros fatores aleacutem
frequecircncia podem afetar a nossa sensaccedilatildeo de pitch (medido em unidades conhecidas como mels)rdquo 38
ldquoeacute usado fonologicamente na descriccedilatildeo das liacutenguas nas quais a distribuiccedilatildeo dos tons dentro de uma palavra eacute
totalmente previsiacutevel uma vez que se tenha especificado uma caracteriacutestica particular de tons da palavra (tal
como no japonecircs) A noccedilatildeo tambeacutem foi aplicada para o inglecircs em que alguns modelos fonoloacutegicos analisam os
CONTORNOS da entoaccedilatildeo como uma sequecircncia de um ou mais pitch accents cada um associado a uma
SIacuteLABA STRESS-proeminente em uma palavrardquo
27
O sistema ToBI reconhece 5 tipos de pitch accents enquanto Pierrehumbert (1980)
menciona 7 tipos Atraveacutes dessa classificaccedilatildeo eacute possiacutevel delimitar o accent prototiacutepico do
foco ou suas possiacuteveis variantes Beaver amp Clark (2008 p 12) mencionam que ldquoalthough
focus is frequently marked by an H accent [] other accents are possible For example in
yes-no questions focus is often by marked by an L+Hrdquo39
A importante pressuposiccedilatildeo teoacuterica de que toda oraccedilatildeo eacute resposta a uma pergunta
guia a metodologia de muitas investigaccedilotildees sobre o foco sobretudo de trabalhos
experimentais de leitura de sentenccedilas denominados testes de produccedilatildeo Com o pressuposto
teoacuterico da explicitaccedilatildeo do foco por meio de pergunta-resposta eacute possiacutevel delimitar o tipo de
foco a ser analisado broad focus (foco largo) narrow focus (foco estreito) ou contrastive
focus (foco contrastivo) (cf seccedilatildeo 121 p 14) Essa metodologia tem por caracteriacutestica
induzir guiar e restringir os padrotildees meloacutedicos da fala ao fornecer exemplos com contextos
preacutevios ou mesmo com o foco jaacute explicitado na sentenccedila para se obter o resultado desejado
Em investigaccedilatildeo sobre a marcaccedilatildeo prosoacutedica dos focos largo estreito e contrastivo em
alematildeo Baumann et al (2006 p 302) mencionam em sua metodologia de teste de leitura
que
reading material consisted of five question-answer pairs with the
answer bdquoManuela will Blumen malen‟ (Manuela wants to paint
flowers) The main criterion the target sentence had to fulfill was its
continuous voicing so as to be able to accurately measure exact peaks
and valleys in the F0 contour40
Dependendo do objetivo do trabalho ou da liacutengua a ser analisada podem-se controlar
outros fatores Por exemplo em trabalho sobre como o tom lexical e o foco contribuem para a
formaccedilatildeo e alinhamento dos F0 contours no chinecircs Xu (1999 p 58) menciona na
metodologia que
the factors manipulated in the experiment were segmental
composition of syllables lexical tones focus and and sentence types
Of these only lexical tones and focus were under direct scrutiny The
control of the other two factors was done by keeping their variation to
39
ldquoembora o foco seja frequentemente marcado por um accent H [] outros accents satildeo possiacuteveis Por
exemplo em perguntas sim-natildeo o foco eacute muitas vezes marcado por um H + Lrdquo 40
ldquoo material de leitura consistiu de cinco pares de pergunta-resposta com a resposta bdquoManuela will Blumen
malen‟ (Manuela quer pintar flores) O principal criteacuterio que a frase alvo tinha a cumprir era seu vozeamento
contiacutenuo de modo a ser capaz de medir com precisatildeo exata picos e vales no contorno da F0rdquo
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
La constancia y el estudio hacen a los hombres grandes y los
hombres grandes son el porvenir de la Patria
(Benito Juaacuterez)
RESUMO
A focalizaccedilatildeo eacute um fenocircmeno pragmaacutetico-discursivo que objetiva realccedilar itens do enunciado
O realce dado a um item do enunciado recebe o nome de foco Nas liacutenguas naturais haacute vaacuterias
formas de se focalizar um item atraveacutes de recursos prosoacutedicos construccedilotildees sintaacuteticas
afixaccedilatildeo morfoloacutegica combinaccedilatildeo com itens lexicais exclusivos etc Este trabalho tem dois
objetivos principais o primeiro eacute mapear classificar e analisar prosodicamente estrateacutegias de
focalizaccedilatildeo no Portuguecircs Brasileiro considerando o contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeo e
fazendo uso do formalismo semacircntico como suporte para a anaacutelise dos dados bem como da
percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo dessas estrateacutegias O segundo objetivo eacute propor uma distinccedilatildeo
entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase fenocircmenos muitas vezes considerados sinocircnimos por
aparentemente apresentarem certas semelhanccedilas contudo seraacute proposto que haacute diferenccedilas
entre os dois Foram adotados os mesmos criteacuterios para a anaacutelise dos dados referentes ao
segundo objetivo deste trabalho isto eacute prosoacutedia contexto pragmaacutetico e propriedades
semacircnticas O corpus utilizado para esta pesquisa foi o C-ORAL-BRASIL (RASO amp
MELLO 2012) um corpus oral do Portuguecircs Brasileiro falado informal Ressalta-se que esta
pesquisa eacute de cunho qualitativo isto eacute natildeo foram levados em consideraccedilatildeo paracircmetros
quantitativos como sustentaccedilatildeo das anaacutelises dos dados embora acreditemos que sejam de total
importacircncia Outros objetivos tambeacutem satildeo contemplados por exemplo a exposiccedilatildeo de cada
tipo de foco ilustrados com exemplos de vaacuterias liacutenguas considerando as diferentes correntes
de estudo Atraveacutes da pesquisa em trecircs textos do corpus C-ORAL-BRASIL foi possiacutevel
classificar as ocorrecircncias de focalizaccedilatildeo em foco prosoacutedico sendo realizado por uma
proeminecircncia prosoacutedica foco morfoloacutegico expresso por uma palavra dedicada a focalizar e
foco sintaacutetico sendo realizado atraveacutes das construccedilotildees clivadas O foco prosoacutedico e a ecircnfase
se distinguem no plano pragmaacutetico apresentando contextos distintos de enunciaccedilatildeo e no
plano semacircntico que apresenta efeitos de sentido diferentes
Palavras-chave focalizaccedilatildeo foco ecircnfase prosoacutedia pragmaacutetica
RESUMEN
La focalizacioacuten es un fenoacutemeno pragmaacutetico-discursivo que pretende resaltar los elementos de
la declaracioacuten El realce dado a un elemento de la declaracioacuten se llama foco En el lenguaje
natural existen varias maneras de focalizar un elemento a traveacutes de caracteriacutesticas
prosoacutedicas construcciones sintaacutecticas afijacioacuten morfoloacutegica combinacioacuten con elementos
leacutexicos exclusivos etc Este trabajo tiene dos objetivos principales el primero es mapear
clasificar y analizar prosodicamente las estrategias de focalizacioacuten en el portugueacutes de Brasil
teniendo en cuenta el contexto pragmaacutetico de enunciacioacuten y haciendo uso del formalismo
semaacutentico como apoyo al anaacutelisis de datos asiacute como de la percepcioacuten para la identificacioacuten de
estas estrategias El segundo objetivo es proponer una distincioacuten entre el foco prosoacutedico y el
eacutenfasis fenoacutemenos que a menudo se consideran sinoacutenimos por presentar ciertas similitudes al
parecer sin embargo proponemos que existen diferencias entre los dos El mismo criterio se
adoptoacute para el anaacutelisis de datos relacionados con el segundo objetivo de este trabajo es decir
la prosodia el contexto pragmaacutetico y las propiedades semaacutenticas El corpus utilizado para esta
investigacioacuten fue el C-ORAL-BRASIL (RASO amp MELLO 2012) un corpus oral del
portugueacutes brasilentildeo hablado informalmente Cabe sentildealar que esta investigacioacuten es de tipo
cualitativo es decir no se tendraacute en cuenta paraacutemetros cuantitativos como apoyo para el
anaacutelisis de datos aunque creemos que todos sean importantes Otros objetivos tambieacuten se
contemplan por ejemplo la exposicioacuten de cada tipo de foco que se ilustra con ejemplos de
varios idiomas teniendo en cuenta las diferentes corrientes de estudio A traveacutes de la
investigacioacuten con tres textos del corpus C-ORAL-BRASIL fue posible clasificar las
ocurrencias de focalizacioacuten en el foco prosoacutedico llevado a cabo por una prominencia
prosoacutedica el foco morfoloacutegico expresado por una palabra dedicada a focalizar y el foco
sintaacutectico llevado a cabo a traveacutes de construcciones hendidas El foco prosoacutedico y el eacutenfasis
en el nivel pragmaacutetico se distinguen con diferentes contextos de enunciacioacuten y en el nivel
semaacutentico que presenta diferentes efectos de sentido
Palabras-clave focalizacioacuten foco eacutenfasis prosodia pragmaacutetica
LISTA DE FIGURAS
Figura 31 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02 37
Figura 32 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03 38
Figura 33 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Figura 34 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04 42
Figura 35 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Figura 36 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03 46
Figura 37 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03 47
Figura 38 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Figura 39 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03 51
Figura 310 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03 52
Figura 311 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03 53
Figura 312 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02 54
LISTA DE TABELAS
Tabela 31 - Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02 37
Tabela 32 - Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03 38
Tabela 33 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Tabela 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Tabela 35 - Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04 43
Tabela 36 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Tabela 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Tabela 38 - Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03 46
Tabela 39 - Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03 47
Tabela 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 50
Tabela 314 - Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03 51
Tabela 315 - Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03 52
Tabela 316 - Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03 53
Tabela 317 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02 54
Tabela 318 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02 55
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 12
2 PANORAMA GERAL DOS ESTUDOS SOBRE O FOCO 12
22 TIPOS DE FOCO 13
221 Foco sintaacutetico 14
222 Foco morfoloacutegico 18
223 Foco semacircntico 21
224 Foco prosoacutedico 24
3 METODOLOGIA DA PESQUISA 29
31 OBJETIVO 29
32 CORPUS 30
321 C-ORAL-ROM 30
322 C-ORAL-BRASIL 32
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 34
4 ANAacuteLISE DOS DADOS 35
41 FOCO PROSOacuteDICO 35
42 FOCO SINTAacuteTICO 41
43 FOCO MORFOLOacuteGICO 45
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE 47
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 55
REFEREcircNCIAS 56
12
1 INTRODUCcedilAtildeO
A focalizaccedilatildeo eacute um fenocircmeno linguiacutestico cada vez mais estudado e que possui
importante papel na comunicaccedilatildeo oral Sua importacircncia na gramaacutetica das liacutenguas naturais
bem como nas situaccedilotildees comunicativas eacute grande podendo ser observada pela assunccedilatildeo de
Davis (2009 p 2) ldquoFOCUS is present in every language and that it is present in every
utterance of every languagerdquo1 Embora haja divergecircncia por parte de alguns autores quanto agrave
proposta de Davis assume-se de qualquer forma que a focalizaccedilatildeo nas liacutenguas naturais eacute um
importante recurso comunicativo promovido nas diversas interaccedilotildees linguiacutesticas do cotidiano
pois sinaliza propriedades semacircnticas especiacuteficas atraveacutes de recursos prosoacutedicos
morfoloacutegicos e configuraccedilotildees sintaacuteticas dedicadas a destacar um item Nas liacutenguas romacircnicas
e germacircnicas sobretudo a estrateacutegia prosoacutedica da focalizaccedilatildeo eacute fundamental para a
realizaccedilatildeo do foco conforme mencionam Beaver amp Clark (2008 p xxi) ldquoRomance and
Germanic languages and English in particular focus is commonly marked by prosody with
changes in pitch used to mark focused expressionsrdquo2 Natildeo obstante estejam presentes e
podendo estar em co-ocorrecircncia nas liacutenguas desses troncos estrateacutegias sintaacuteticas como as
construccedilotildees clivadas e morfoloacutegicas como adveacuterbios e quantificadores focais o que poderaacute
ser constatado ao longo deste trabalho
Este trabalho estaacute divido em duas partes a primeira (cf seccedilatildeo 2 e subseccedilotildees) que
procura expor ao leitor atraveacutes da consideraccedilatildeo de diferentes estudos de variadas abordagens
teoacuterico-metodoloacutegicas uma revisatildeo bibliograacutefica ao mesmo tempo concisa e imparcial que
objetiva cobrir de modo satisfatoacuterio o tema da focalizaccedilatildeo e seus desdobramentos nos estudos
linguiacutesticos e a segunda (cf seccedilotildees 3 e 4 e subseccedilotildees) que consiste na exposiccedilatildeo do objetivo
e da metodologia da pesquisa do corpus utilizado da anaacutelise dos dados e das decorrentes
consideraccedilotildees sobre o foco no Portuguecircs Brasileiro falado informal aleacutem da discussatildeo sobre
a diferenciaccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase Por fim a seccedilatildeo 5 consiste nas
consideraccedilotildees finais
2 PANORAMA GERAL DOS ESTUDOS SOBRE O FOCO
O fenocircmeno da focalizaccedilatildeo tem sido estudado por vaacuterias aacutereas da linguiacutestica ndash
sintaxe semacircntica prosoacutedia etc ndash e sob diferentes abordagens teoacuterico-metodoloacutegicas ndash
1 ldquoO FOCO estaacute presente em toda liacutengua e estaacute presente em todo enunciado de toda liacutenguardquo
2 ldquoNas liacutenguas romacircnicas e germacircnicas e no inglecircs em particular o foco eacute marcado normalmente pela prosoacutedia
com variaccedilotildees no pitch para marcar as expressotildees focalizadasrdquo
13
formal funcional pragmaacutetica etc Cada estudo independente da aacuterea ou da abordagem
teoacuterica tem revelado que a focalizaccedilatildeo apresenta importante papel na gramaacutetica das liacutenguas
naturais pois o foco seu principal componente manifesta-se nelas por diferentes estrateacutegias
linguiacutesticas Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os diferentes meios em que o foco pode se
manifestar isto eacute os tipos de foco O objetivo deste capiacutetulo eacute mostrar que o foco ocorre
atraveacutes de diferentes estrateacutegias nas liacutenguas e que cada liacutengua escolhe uma ou mais
estrateacutegias para sua realizaccedilatildeo
21 TIPOS DE FOCO
O fenocircmeno que abrange o foco eacute a focalizaccedilatildeo que pode ser definida como o ldquoato de
focalizar ou seja de acentuar de ressaltar de pocircr em relevorealceevidecircncia um
determinado item do textordquo (GONCcedilALVES 1998 p 32) As liacutenguas naturais expressam esse
realce com diferentes estrateacutegias seja por meio da sintaxe da prosoacutedia ou da morfologia seja
com o uso de uma estrateacutegia ou de mais de uma atuando em conjunto A focalizaccedilatildeo eacute
considerada um fenocircmeno discursivo-pragmaacutetico ldquopois o usuaacuterio pode centrar sua atenccedilatildeo a
uma parcela do enunciado que julgue relevante enfatizando-ardquo (GONCcedilALVES 1998 p 33)
Assim sendo a focalizaccedilatildeo estaria vinculada tanto agraves estrateacutegias argumentativas do falante
quanto ao conteuacutedo informacional do enunciado Segundo Gonccedilalves (1998 p 39) o foco
ldquopode incidir em qualquer constituinte do enunciado (palavras morfemas sintagmas e
pequenas oraccedilotildees)rdquo
Mesmo com a definiccedilatildeo do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo as descobertas dos estudos
sobre a biparticcedilatildeo da frase a respeito do conceito de foco natildeo foram descartadas (cf
BARBOSA 2005) Gonccedilalves (1998 p 32) menciona que o constituinte focalizado eacute ldquoa
parcela do texto apresentada como a mais informativarelevanterdquo e que os elementos fora de
foco constituem ldquoinformaccedilatildeo apresentada previamente ao ouvinterdquo ou os elementos que os
interlocutores julgam conhecidos Ainda segundo Gonccedilalves o foco apresentaria informaccedilatildeo
nova Eacute neste ponto que pode haver confusatildeo Os autores ampliam o escopo de investigaccedilatildeo
mas manteacutem certos conceitos de estudos preacutevios e de diferentes correntes teoacutericas sem
explicitar qual ou quais estatildeo sendo levados em consideraccedilatildeo Para Gonccedilalves (1998 p 33) a
informaccedilatildeo nova isto eacute o que eacute focalizado eacute ldquonew natildeo porque natildeo foi mencionado
previamente mas eacute new exatamente porque o falante tende a interpretar como natildeo suscetiacutevel
de recuperaccedilatildeo (a) nem a partir do texto precedente (co-texto) e (b) nem por meio do
contexto pragmaacutetico (situacional) imediatordquo Nota-se que o autor utiliza uma noccedilatildeo
14
pragmaacutetica do que seria informaccedilatildeo novadada A diamesia oral eacute muito mais ampla do que a
escrita no sentido de que a unidade de referecircncia da fala eacute o enunciado ndash organizado segundo
princiacutepios pragmaacutetico-ilocucionaacuterios ndash jaacute na escrita a unidade de referecircncia eacute a frase ndash
organizada segundo princiacutepios loacutegico-sintaacuteticos ndash aleacutem de haver caracteriacutesticas distintivas
entre falaescrita por exemplo hesitaccedilotildees interrupccedilotildees sobreposiccedilotildees etc Como a
focalizaccedilatildeo eacute considerada um fenocircmeno discursivo as noccedilotildees estudadas no niacutevel da frase natildeo
conseguem abranger todos os aspectos que a liacutengua oral apresenta por isso novas definiccedilotildees
satildeo propostas contudo em muitos casos preservando determinadas terminologias de estudos
anteriores
Cada liacutengua escolhe uma ou mais estrateacutegias para a focalizaccedilatildeo Pode-se ateacute mesmo
classificaacute-las tipologicamente com relaccedilatildeo agrave manifestaccedilatildeo do foco em cada uma Contudo
muitas vezes essas estrateacutegias se organizam conjuntamente para a manifestaccedilatildeo do foco no
caso da focalizaccedilatildeo sintaacutetica e a prosoacutedica coocorrerem nas construccedilotildees clivadas por
exemplo Assim como um morfema poder licenciar um conjunto de alternativas semacircnticas
de escopo em uma sentenccedila servindo de gatilho para a manifestaccedilatildeo prosoacutedica do foco
Todavia nosso objetivo nesta seccedilatildeo eacute mostrar os vaacuterios tipos de foco em isolamento apesar
de que a interface com outro componente gramatical seraacute explicada quando necessaacuterio A
exposiccedilatildeo natildeo seraacute exaustiva uma vez que este tipo de trabalho natildeo permite uma discussatildeo
mais longa da literatura
221 Foco sintaacutetico
O foco tem recebido grande atenccedilatildeo nos estudos da sintaxe gerativa Itens de natureza
discursiva como o toacutepico e o proacuteprio foco passam a fazer parte da estrutura interna das
sentenccedilas dentro dessa abordagem teoacuterica Eles ocupam uma posiccedilatildeo na parte mais alta da
sentenccedila caracterizada por ser uma estrutura funcional sendo a outra parte da sentenccedila a
estrutura lexical Com a proposta de extensatildeo do sistema CP (RIZZI 1997)3 dois
subsistemas satildeo criados o primeiro constituiacutedo por ForceP e FinP e o segundo por TopP e
FocP A categoria ForceP determina o tipo de sentenccedila enquanto FinP determina sua
finitude Os constituintes toacutepico e foco satildeo interpretados em Spec de seus respectivos
sintagmas O sistema CP entatildeo passa a ser representado da seguinte forma (QUAREZEMIN
2009 p 22)
3 Segundo Quarezemin (200921) ldquoa extensatildeo do CP ocorre para acomodar certos constituintes com
propriedades discursivas e de escopo aleacutem de derivar sua interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo Spec-nuacutecleordquo
15
(1) ForceP
Force0 TopP
Top0 FocP
Foc0 TopP
Top0 FinP
Fin0 IP
As categorias TopP e FocP4 soacute aparecem na estrutura se houver constituintes com
funccedilotildees de toacutepico e foco na sentenccedila A categoria TopP aparece duas vezes na estrutura
porque eacute considerada recursiva Isso significa que pode haver mais de um toacutepico na sentenccedila
Na estrutura FocP natildeo aparece duas vezes pois a natureza quantificacional do foco natildeo
permite tal repeticcedilatildeo Para Rizzi (1997) e Belletti (2001) ldquoa noccedilatildeo de foco estaacute diretamente
relacionada agrave posiccedilatildeo que este constituinte ocupa na sentenccedila Para eles um constituinte eacute
interpretado como foco somente se ele ocupa a posiccedilatildeo de Spec de FocPrdquo (ASSIS 2003 p
360)
Nessa abordagem o toacutepico ldquoveicula informaccedilatildeo jaacute conhecida pelos participantes do
discursordquo enquanto o comentaacuterio ldquoeacute um tipo de predicado complexo que se aplica ao toacutepicordquo
(QUAREZEMIN 2009 p 22) No exemplo da autora your book eacute o toacutepico e o que estaacute
depois da viacutergula eacute o comentaacuterio
(2) Your book you should give t to Paul (not to Bill)5
Ela afirma que na fala o toacutepico eacute marcado por uma pausa Diferentemente do toacutepico
o foco eacute ldquodestacado por um acento proeminente e expressa a informaccedilatildeo do discurso natildeo
4 Haacute outras propostas sobre qual o lugar que as categorias funcionais TopP e FocP ocupam na estrutura da
sentenccedila extensatildeo de vP (Belletti 2001 2004a) e extensatildeo de DP (Giusti 2002) 5 ldquoSeu livro vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo para o Bill)rdquo
16
pressuposta pelo ouvinte enquanto a pressuposiccedilatildeo representa o conhecimento compartilhado
pelos interlocutoresrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 23)
(3) YOUR BOOK you should give t to Paul (not mine)6
Com isso Quarezemin (2009 p 46) afirma que ldquoa interpretaccedilatildeo semacircntica da
sentenccedila que apresenta a articulaccedilatildeo foco-pressuposiccedilatildeo natildeo deve ser confundida com a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila que tem a biparticcedilatildeo toacutepico-comentaacuteriordquo A autora menciona a
relaccedilatildeo entre foco-prosoacutedia dizendo que os paracircmetros acuacutesticos da descriccedilatildeo do foco satildeo a
F0 a duraccedilatildeo e a intensidade Na fonologia o foco recebe a proeminecircncia ou outro acento
tonal especiacutefico A autora diz que ldquoo foco ou um membro do sintagma focalizado sempre
recebe o acento principal da sentenccedila enquanto a pressuposiccedilatildeo natildeo pode ser acentuada nos
mesmos niacuteveisrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 52)
Em liacutenguas como o espanhol o italiano e o PE o foco de informaccedilatildeo ocupa uma
posiccedilatildeo no final da sentenccedila em casos que ocorre a inversatildeo do sujeito
(4) Egrave partitoha parlato [F Gianni]7
(Chi egrave partitoha parlato)
No exemplo de Quarezemin (2009 p 69) acima nota-se o foco estreito Gianni no
final da sentenccedila visto que esse item responde agrave pergunta chi egrave partitoparlato Haveria o
foco largo isto eacute toda a resposta de (4) seria foco se essa resposta correspondesse agrave pergunta
(QUAREZEMIN 2009 p 70)
(5) Che cosa egrave successo8
Um tipo especiacutefico de focalizaccedilatildeo sintaacutetica satildeo as construccedilotildees clivadas Resenes
(2009 p 17) explica que a clivagem eacute ldquoum processo sintaacutetico que serve para focalizar
constituintes porque prepara um lugar especiacutefico na sentenccedila para alojar o focordquo Os
elementos que cumprem essa funccedilatildeo satildeo a coacutepula o complementizador que ou um elemento
wh As propriedades semacircnticas e sintaacuteticas das sentenccedilas clivadas e pseudo-clivadas natildeo
6 ldquoO SEU LIVRO vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo o meu)rdquo
7 ldquoPartiufalou o Gianni (Quem partiufalou)rdquo
8 ldquoO que aconteceurdquo
17
seratildeo abordadas profundamente visto que esse natildeo eacute o objetivo principal deste trabalho As
sentenccedilas clivadas apresentam a estrutura [ser + XPi + que [IP eci]] jaacute as pseudo-clivadas [[CP
whi ti] + ser +XPi] (RESENES 2009 p 14) O XP deve ser a parte natildeo-pressuposta da
sentenccedila ou o foco da sentenccedila o sintagma que carrega a informaccedilatildeo nova e que segundo a
abordagem gerativa carrega tambeacutem a proeminecircncia prosoacutedica O foco dessas sentenccedilas eacute do
tipo de identificaccedilatildeo exaustiva isto eacute indicado pela propriedade semacircntica [x e apenas x]
Apresentamos como exemplo em PB uma clivada e uma pseudo-clivada respectivamente
(6) Foi [F a Luana] que comprou um livro
(7) Quem comprou um livro foi [F a Luana]
Em inglecircs as clivadas satildeo conhecidas como it-clefts pois nessa liacutengua eacute obrigatoacuteria a
realizaccedilatildeo do expletivo na posiccedilatildeo inicial da sentenccedila
(8) It was [F John] who died in a car crash9
Haacute vaacuterios tipos de realizaccedilatildeo dessas sentenccedilas por exemplo clivada sem coacutepula
clivada com dupla coacutepula pseudo-clivada reduzida etc
Na liacutengua Ayutla Mixteca em que a ordem canocircnica da sentenccedila eacute VSO a
focalizaccedilatildeo se daacute atraveacutes da mudanccedila de posiccedilatildeo do elemento que se deseja focalizar para
uma posiccedilatildeo preacute-verbal ldquobecause the first element of any list is perceptually salient
preverbal position tends to grant the item filling it some degree of highlighting This position
is therefore often used for constituents that a speaker wishes to focus in some wayrdquo
(HOLLENBACH 1995 p 1)10
Seguem os exemplos de Hills (1990 p 27-28 apud
HOLLENBACH 1995 p 2)
(9) mburu xi‟i‟ tikui
donkey drinks water
bdquoThe donkey is drinking water‟11
(10) tikui xi‟i‟ mburu
9 ldquoFoi [F o Joatildeo] que morreu num acidente de carrordquo
10 ldquoporque o primeiro elemento de qualquer lista eacute perceptualmente saliente a posiccedilatildeo preacute-verbal tende a
conceder ao item carregando-o com algum grau de realce Esta posiccedilatildeo eacute portanto frequentemente usada para
constituintes em que o falante deseja focalizar de algum modordquo 11
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo
18
water drinks donkey
bdquoThe donkey is drinking water‟12
Entretanto Hollenbach (1995 p 2) adverte que a relaccedilatildeo semacircntica do foco com a
posiccedilatildeo preacute-verbal eacute obscura jaacute que um constituinte pode ocorrer na posiccedilatildeo preacute-verbal sem
que o falante deseje focalizaacute-lo Entatildeo a autora investiga as condiccedilotildees para que a focalizaccedilatildeo
do constituinte preacute-verbal ocorra13
Ela identificou vaacuterias condiccedilotildees para a identificaccedilatildeo do
foco na posiccedilatildeo preacute-verbal nas liacutenguas do grupo Mixteca entre elas a pausa (11) e a inserccedilatildeo
de conjunccedilotildees coordenadas (12) depois do elemento focalizado
(11) juaacutea ta‟u da ntuku
John splits he firewood
bdquoAs for John he is splitting firewood‟ (Yosonduacutea FARRIS 1992 p 28 apud
HOLLENBACH 1995 p 3)14
(12) sa‟an mi neacute din tavi di kuidaacutedo di
man that and willdo very you care you (Cuicatec BRADLEY 1991
p 493 apud HOLLENBACH 1995 p 3)
Esses satildeo exemplos que a focalizaccedilatildeo natildeo se daacute exclusivamente pela sintaxe mas que
co-ocorre com ela ou seja eacute necessaacuterio que haja mais elementos linguiacutesticos aleacutem da
posiccedilatildeo preacute-verbal para que a focalizaccedilatildeo ocorra de forma satisfatoacuteria
222 Foco morfoloacutegico
O foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de certos morfemas que dependendo da
liacutengua seratildeo cliacuteticos ou morfemas livres Nesse caso ldquoum bdquoMorfema de Ecircnfase‟ seraacute o
elemento responsaacutevel pela iluminaccedilatildeo do elemento destacado no textordquo (GONCcedilALVES
1999 p 336) Natildeo obstante isso natildeo signifique que o foco natildeo possa ser expresso por outros
meios nas liacutenguas em que predominam o meio morfoloacutegico para que a focalizaccedilatildeo ocorra
Esse tipo de focalizaccedilatildeo eacute mais comum em liacutenguas natildeo-indo-europeias como em liacutenguas
12
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo 13
Hollenbach investigou as condiccedilotildees do foco natildeo soacute na liacutengua Ayutla Mixteca mas em seis variedades do
Mixteca duas do Trique e uma do Cuicatec Essas liacutenguas fazem parte grupo Mixteca que por sua vez faz
parte da famiacutelia das liacutenguas Otomangues faladas sobretudo no sul do Meacutexico As liacutenguas da famiacutelia
Otomangue apresentam a ordem canocircnica VSO 14
ldquoQuanto ao Joatildeo ele estaacute partindo a lenhardquo
19
indiacutegenas brasileiras por exemplo em marubo e em mekens O aacuterabe e o japonecircs tambeacutem
satildeo exemplos de liacutenguas em que ocorre a focalizaccedilatildeo morfoloacutegica Hagesawa (2010 p 1)
explica que no japonecircs ldquoone of the most general properties of focus particles is to relate a
proposition which is newly introduced by the sentence containing a focus particle and
propositions available in the contextrdquo15
Em japonecircs a partiacutecula -shika introduz a noccedilatildeo de exclusividade o que eacute expresso
pela palavra only em inglecircs Essa noccedilatildeo eacute a mesma do foco de identificaccedilatildeo encontrado nas
sentenccedilas clivadas do PB por exemplo Segue o exemplo de Hagesawa (2010 p 4)
(13) Miho-shika ko-na-katta
Miho-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoOnly Miho came‟16
No exemplo (13) a funccedilatildeo do morfema -shika pode ser parafraseada como ldquosomente
Miho veio e mais ningueacutemrdquo Quanto ao padratildeo prosoacutedico das partiacuteculas de foco no japonecircs
Hagesawa (2010 p 33) afirma que
although Japanese focus particles have their own accent patterns
when they occur without a focused constituent or they are stressed as
shown in (14) and (15) they lose their accent pattern and follow the
tone melody of their host when they are suffixed17
18
O autor apresenta os seguintes exemplos
(14) Shikamade-o jisyo-de shirabe-ta
HL HL
SHIKAMADE-ACC dictionary-with lookup-PAST
bdquoI looked up bdquoshika‟‟made‟ in a dictionary‟19
(15) A Yuka-mo ki-ta-no
Yuka-also come-PAST-Q
15
ldquouma das propriedades mais gerais das partiacuteculas de foco eacute relacionar uma proposiccedilatildeo que eacute receacutem-
introduzida pela sentenccedila contendo uma partiacutecula de foco e proposiccedilotildees disponiacuteveis no contextordquo 16
ldquoSomente Miho veiordquo 17
A numeraccedilatildeo dos exemplos natildeo segue a original 18
ldquoconquanto as partiacuteculas de foco do japonecircs tecircm seus padrotildees proacuteprios de accent quando ocorrem sem um
constituinte focalizado ou estatildeo stressed como mostrado em (14) e (15) elas perdem o seu padratildeo de accent e
seguem a melodia tonal do seu hospedeiro quando elas satildeo sufixadasrdquo 19
ldquoEu procurei bdquoshika‟‟made‟ em um dicionaacuteriordquo
20
bdquoDid Yuka also come‟
B Uun Yuka-shika ko-na-katta
HL
no Yuka-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoNo only Yuka came‟20
Na liacutengua Mekens todas as questotildees wh apresentam o cliacutetico foco te como no
exemplo abaixo de Galucio (2002 p 67)
(16) aapo=te o-tek pogabeg-a ke i-koop ikatildeotilde tete
Who=foc 1s-house open-Theme say 3s-aux+mov that time
bdquordquoWho opened my houserdquo She was saying that time‟21
Haacute tambeacutem o uso do recurso sintaacutetico pois o constituinte focalizado sempre aparece
no iniacutecio da sentenccedila A autora menciona que a informaccedilatildeo natildeo-pressuposta das respostas agraves
perguntas wh tambeacutem apareceratildeo na forma de construccedilotildees focalizadas Isso faz com que a
ordem canocircnica ndash SOV ndash dessa liacutengua se altere em sentenccedilas como (17) abaixo por exemplo
extraiacuteda de Galucio (2002 p 68) Notam-se nas duas oraccedilotildees que os sujeitos ocorrem
depois do verbo
(17) serek=te kɨpmatildekatildeỹ kweotildep =te ɨsɨɨ
split=foc floor climb+neg=foc deer
bdquoThe floor split and the deer sank‟22
Alguns autores consideram como morfemas de foco palavras como only also just e
even do inglecircs por exemplo porque elas cumprem a mesma funccedilatildeo semacircntica dos morfemas
de foco em liacutenguas como o japonecircs no exemplo da partiacutecula -shika bdquoonly‟ Na anaacutelise de
Quarezemin (2009 p 112) para as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB ela sugere que nas
construccedilotildees clivadas a coacutepula e o complementizador seriam morfemas de foco Nas palavras
da autora
20
ldquoA Yuka tambeacutem veio Natildeo somente a Yuka veiordquo 21
ldquoQuem abriu minha casa Ela estava dizendo aquela horardquo 22
ldquoO chatildeo se partiu e o veado afundourdquo
21
A hipoacutetese inicial eacute que de um modo geral os falantes do PB
preferem destacar o constituinte focalizado sintaticamente ao inveacutes
de destacaacute-lo apenas com recursos prosoacutedicos Disso surge a hipoacutetese
de que a coacutepula com funccedilatildeo de focalizar e o complementizador das
clivadas podem ser considerados morfemas de foco em PB
Em suma o foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de morfemas que tecircm por objetivo
sinalizar que o constituinte o qual estaacute afixado se encontra focalizado Eles tambeacutem podem
interagir com a sintaxe e a prosoacutedia no caso de aleacutem do morfema de foco estar afixado a um
constituinte que se deseja destacar ele tambeacutem esteja em uma posiccedilatildeo proacutepria para
construccedilotildees focalizadoras ou em casos em que aleacutem da marcaccedilatildeo morfoloacutegica do foco haja
uma proeminecircncia prosoacutedica no constituinte focalizado
223 Foco semacircntico
Em primeiro lugar salientamos que o termo bdquofoco semacircntico‟ pode causar certa
estranheza devido a que diferentemente dos outros tipos neste natildeo haacute uma manifestaccedilatildeo de
forma ldquovisiacutevelrdquo do foco no enunciado isto eacute natildeo haacute uma proeminecircncia prosoacutedica uma
construccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica ou um morfema afixado a um constituinte Antes se trata mais
de uma propriedade do significado da construccedilatildeo focalizadora em um enunciado
As trecircs principais propriedades semacircnticas do foco satildeo as dos enunciados que
apresentam o foco de informaccedilatildeo de identificaccedilatildeo e o contrastivo Geralmente para
determinar a propriedade semacircntica desses tipos de foco recorre-se ao contexto de pergunta-
whresposta ou a outro tipo de contexto induzido O foco de informaccedilatildeo23
introduz uma
informaccedilatildeo novanatildeo-pressuposta e ldquopresume uma pergunta wh como base discursiva para
ser estabelecidordquo (RESENES 2009 p 20) Segue o exemplo de Resenes (2009 p 20)
(18) a O que o Joatildeo bebeu
b O Joatildeo bebeu alguma coisa
c O Joatildeo bebeu [F o vinho]
A pergunta wh estaacute em (18a) Em (18b) encontra-se a pressuposiccedilatildeo expressa pelo
pronome indefinido O foco de informaccedilatildeo se encontra em (18c) e eacute o valor da expressatildeo wh
23
Resenes (2009) utiliza a nomenclatura de ldquofoco natildeo-contrastivordquo para esse tipo de foco
22
da pergunta em (18a) A autora menciona que na Estrutura de Asserccedilatildeo (AS)24
o foco de
(18c) seria representado como
(19) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 O x tal que o Joatildeo bebeu x = [o vinho]
O foco contrastivo corrige uma informaccedilatildeo preacutevia atraveacutes de uma prosoacutedia proacutepria
Resenes (2009 p 20) afirma que ldquoo contexto ideal para o foco contrastivo eacute aquele em que
haacute uma afirmaccedilatildeo preacutevia como base discursivardquo Segue o exemplo da autora (RESENES
2009 p 21)
(20) a O Joatildeo bebeu o vinho
b O Joatildeo bebeu [F a cerveja] (natildeo o vinho)
A AS de (20) seria
(21) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 Natildeo eacute o caso que o x tal que o Joatildeo bebeu x = vinho amp O x tal que o Joatildeo
bebeu o x = a cerveja
O foco de identificaccedilatildeo ldquorepresents a subset of the set of contextually or situationally
given elements for which the predicate phrase can potentially hold it is identified as the
exhaustive subset of this set for which the predicate phrase actually holdsrdquo (KISS 1998 p
245 apud RESENES 2009 p 21)25
Assim o foco de identificaccedilatildeo expressa exaustividade
que pode ser parafraseada como [x e apenas x] Esse tipo de foco eacute ilustrado por uma
sentenccedila clivada em (22) (RESENES 2009 p 21)
(22) Foi [F um perfume] que a Maria deu para o Joatildeo
24
Resenes (2009 p 20) explica que a AS eacute ldquoum niacutevel poacutes-LF (pragmaacutetico) que revela como a informaccedilatildeo estaacute
empacotada na sentenccedila Na AS vai estar explicitada a estrutura da focalizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo o foco e os
tipos de focordquo 25
ldquorepresenta um subconjunto do conjunto de elementos dados contextualmente ou situacionalmente para o qual
a expressatildeo do predicado pode potencialmente conter que eacute identificado como o subconjunto exaustivo deste
conjunto para o qual a expressatildeo de predicado efetivamente conteacutemrdquo
23
Em (22) o foco de identificaccedilatildeo eacute expresso pelo NP um perfume que significa que
dentro de uma seacuterie de possiacuteveis presentes que a Maria poderia ter dado ao Joatildeo ela deu
somente um perfume por isso [x e apenas x]
Contudo o fenocircmeno da focalizaccedilatildeo natildeo se restringe somente agraves respostas das
perguntas wh ou agraves respostas dos contextos induzidos Davis (2009 p 2) assinala que haacute dois
grandes aspectos da constituiccedilatildeo do foco ldquoThe first is its grammar how FOCUS is expressed
in language The second is its meaning It does not require much investigation to discover
that there is no grammatical consistency to FOCUS across languagesrdquo26
O autor nota que em
relaccedilatildeo ao primeiro item natildeo haveria uma forma uacutenica universal para o uso do foco ou seja
uma liacutengua utiliza a sintaxe outra a prosoacutedia outra a morfologia outra a sintaxe e a prosoacutedia
etc ele afirma que ldquoif there is some universal consistency to FOCUS across languages it is
not found in its expressionrdquo27
Quanto ao segundo item as liacutenguas a princiacutepio natildeo
diferenciariam muito em relaccedilatildeo agrave semacircntica do foco Entretanto a propriedade de
destaquerealce sempre estaraacute presente manifestando-se seja por meio da prosoacutedia do
arranjo sintaacutetico ou da marcaccedilatildeo morfoloacutegica Davis (2009 p 2) explica que
If FOCUS will be diferently constituted grammatically its presence
has to be recognized in its semantics One portion of that semantics is
that FOCUS is involved in the answering of wh- questions but not
every utterance is a response to such a question Yet utterances must
the claim says nevertheless contain the semantics (and some
grammar) of FOCUS FOCUS then cannot be only the content
which answers questions There must be more to FOCUS When we
examine languages we discover that FOCUS has an affinity for
certain other semantics and in discovering those affinities we can
amplify our conception of what constitutes FOCUS28
A partir da assunccedilatildeo acima sugere-se que os estudos sobre a focalizaccedilatildeo natildeo
poderiam se restringir agraves anaacutelises de dados de introspecccedilatildeo sobretudo aqueles que explicam o
fenocircmeno somente a partir de dados com contexto pergunta-whresposta A natureza
discursivo-pragmaacutetica da focalizaccedilatildeo faz com que esse fenocircmeno seja melhor compreendido
26
ldquoO primeiro eacute sua gramaacutetica como o FOCO eacute expresso na liacutengua O segundo eacute o seu significado Natildeo se
requer muita investigaccedilatildeo para descobrir que natildeo haacute coerecircncia gramatical do FOCO atraveacutes das liacutenguasrdquo 27
ldquose houver alguma consistecircncia universal para o FOCO entre as liacutenguas natildeo eacute encontrada na sua expressatildeordquo 28
ldquoSe o FOCO seraacute constituiacutedo diferente gramaticalmente a sua presenccedila tem de ser reconhecida em sua
semacircntica Uma parte dessa semacircntica eacute que o FOCO estaacute envolvido nas respostas de perguntas QU mas nem
todo enunciado eacute uma resposta a essas perguntas No entanto os enunciados devem a alegaccedilatildeo diz todavia
conter a semacircntica (e alguma gramaacutetica) do FOCO O FOCO entatildeo natildeo pode ser apenas o conteuacutedo que
responde a perguntas Deve haver mais para o FOCO Quando examinamos as liacutenguas descobrimos que o
FOCO tem uma afinidade com outras semacircnticas e descobrindo essas afinidades podemos ampliar a nossa
concepccedilatildeo do que constitui o FOCOrdquo
24
na liacutengua espontacircnea apesar de natildeo se poder excluir suas propriedades semacircnticas em
diferentes enunciados que podem ser analisados sem o uso de dados de liacutengua espontacircnea
como eacute o caso da investigaccedilatildeo das propriedades semacircnticas do foco em dados de introspecccedilatildeo
e de suas representaccedilotildees formais
224 Foco prosoacutedico
A prosoacutedia eacute um dos traccedilos da camada suprassegmental ou seja que se encontra
acima dos segmentos dispostos linearmente na cadeia sonora da fala Beaver amp Clark (2008
p 2) explicam que os traccedilos suprassegmentais satildeo assim chamados porque ldquothey spread out
across multiple segments (basic sound units) or even across multiple wordsrdquo29
Callou amp
Leite (1990 p31) afirmam que o ldquoconjunto de fenocircmenos dos quais se derivam tipos de
acento padrotildees entoacionais ritmos e velocidades de fala satildeo estudados sob o roacutetulo de
prosoacutediardquo Ao contraacuterio dos segmentos que satildeo descritos pelos movimentos dos articuladores
do aparelho fonador os suprassegmentos satildeo descritos ldquoem termos da accedilatildeo dos muacutesculos
respiratoacuterios que aumentam ou diminuem a energia do fluxo de ar ocasionando duraccedilotildees
frequumlecircncia fundamental e intensidade diferentes das vibraccedilotildees sonorasrdquo (CALLOU amp LEITE
1990 p 30) Paracircmetros acuacutesticos como frequecircncia fundamental intensidade e duraccedilatildeo fiacutesica
satildeo outros traccedilos suprassegmentais que satildeo percebidos respectivamente como pitch
loudness e length que por sua vez ldquoapresentam correlatos fiacutesicos frequumlecircncia amplitude e
tempordquo (LEITE 2009 p 17)30
A frequecircncia eacute medida em Hz (Hertz) a amplitude em dB
(decibeacuteis) e o tempo em ms (milissegundos)
Barbosa (2008) menciona que a prosoacutedia estaacute
associada a fatores linguumliacutesticos como acentuaccedilatildeo entoaccedilatildeo ecircnfase e
ritmo bem como a fatores para- e extra-linguiacutesticos tais como
marcadores discursivos (ldquoneacuterdquo ldquoentendordquo ldquoanhanrdquo) atitudes
emoccedilotildees imbricados a fatores sociais ou bioloacutegicos como gecircnero
faixa etaacuteria classe social entre outros
Segundo Leite (2009 p 18) a prosoacutedia exerceria funccedilotildees ldquogramatical atitudinal
informacional indexal e ilocucionaacuteriardquo Nota-se portanto que eacute muito importante levar em
29
ldquoeles se espalham em vaacuterios segmentos (unidades baacutesicas de som) ou mesmo atraveacutes de muacuteltiplas palavrasrdquo 30
Neste trabalho natildeo se pretende definir minuciosamente todos os conceitos dos correlatos foneacutetico-acuacutesticos
dos sons da fala estudados pela Foneacutetica Acuacutestica Para mais informaccedilotildees cf Ladefoged (1974) Malmberg
(1998) e Johnson (2003)
25
consideraccedilatildeo a prosoacutedia na anaacutelise linguiacutestica visto que ela desempenha funccedilotildees associadas a
fatores intrinsecamente linguiacutesticos bem como a fatores extralinguiacutesticos A prosoacutedia ainda
apresenta um importante papel na aquisiccedilatildeo da linguagem sendo recurso especial para a
crianccedila associar unidades sonoras a significado (cf BRUM DE PAULA 2010)
As investigaccedilotildees do Ciacuterculo Linguiacutestico de Praga sugeriram que os elementos dados
do discurso ou seja aqueles que jaacute haviam sido mencionados seriam prosodicamente menos
relevantes que os elementos novos Disso resulta que a informaccedilatildeo nova ou o foco seja
destacado prosodicamente isto eacute apresente proeminecircncia prosoacutedica A proeminecircncia
prosoacutedica eacute definida como ldquoa quantitative parameter of a syllable or a boundary that describes
markedness relative to surrounding syllables and boundaries respectivelyrdquo (PORTELE amp
HEUFT 1997 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 227)31
Haacute autores que classificam o
foco levando em conta sobretudo o fator proeminecircncia prosoacutedica por exemplo ldquothe term
focus is used [] to describe prosodic prominences serving pragmatic and semantic
functionsrdquo (ROOTH 1995 p 271 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 228)32
O foco prosoacutedico eacute definido por meio de uma proeminecircncia tonal (cf
BUTRAGUENtildeO 2005) Entretanto alguns estudos mostram que o foco natildeo seria marcado
somente com a proeminecircncia tonal ou prosoacutedica Proeminecircncias de outros traccedilos
suprassegmentais como duraccedilatildeo e intensidade tambeacutem marcariam o foco (cf TOLEDO
1989 SOSA 1999 QUAREZEMIN 2009 entre outros) Para Butraguentildeo (2005 p 141) os
focos prosoacutedicos ldquoreciben acentos tonales de contorno especiacutefico que permiten distinguirlos
del fondo (o background)rdquo33
Os paracircmetros de anaacutelise acuacutestica do foco satildeo os movimentos
de F0 o alinhamento entre siacutelabas e F0 duraccedilatildeo das siacutelabas e vogais intensidade da siacutelaba e
em alguns casos pausas e meacutedia entre picos de F0
As abordagens teoacutericas utilizadas nos trabalhos sobre o foco prosoacutedico guiam a
metodologia de anaacutelise dos dados Assim alguns autores que trabalham com uma abordagem
formal utilizando o sistema ToBI (cf SILVERMAN et al 1992) para a anaacutelise dos dados
representam a entoaccedilatildeo dos enunciados marcando as siacutelabas com acentos tonais que se
manifestam em acentos monotonais (H ou L) bitonais (H+L L+H etc) e ainda poderia
haver tons de juntura (H e L) que delimitam as fronteiras dos grupos meloacutedicos Na
Fonologia Entoacional haacute trecircs tipos de tons pitch accents phrase accents e boundary tones
31
ldquoum paracircmetro quantitativo de uma siacutelaba ou de uma fronteira que descreve a marcaccedilatildeo relativa agraves siacutelabas
vizinhas e fronteiras respectivamenterdquo 32
ldquoo termo foco eacute utilizado [] para descrever proeminecircncias prosoacutedicas que servem a funccedilotildees pragmaacuteticas e
semacircnticasrdquo 33
ldquorecebem acentos tonais de contorno especiacutefico que permitem distingui-los do fundo (ou background)rdquo
26
Geralmente o foco eacute marcado por um pitch accent que pode ser definido como ldquoa local
feature of a pitch contour ndash usually but not invariably a pitch change and often involving a
local maximum or minimumrdquo (LADD 1996 p 45-6 apud BEAVER amp CLARK 2008 p
11)34
Segundo Roach (2011 p 67) pitch
is an auditory sensation when we hear a regularly vibrating sound
such as a note played on a musical instrument or a vowel produced
by the human voice we hear a high pitch if the rate of vibration is
high and a low pitch if the rate of vibration is low35
Nooteboom (1997 p 641) atenta para o fato de que ldquoone should be aware however
that rather often the notion bdquopitch‟ is used to refer to f0 or the repetition frequency itself In
speech f0 is determined by the rate of vibration of the vocal cords located in the larynxrdquo36
Ademais Crystal (2008 p 369) adverte que ldquothere is however no direct or parallel
correlation between pitch and frequency other factors than frequency may affect our
sensation of pitch (measured in units known as mels)rdquo37
Pitch countour seria a marcaccedilatildeo dos
uacutenicos pitchs relevantes para a compreensatildeo de um perfil entoacional A teacutecnica da close
copy (cf t‟HART et al 1990) justamente realccedila o pitch countor atraveacutes de uma ldquosiacutentese que
satildeo eliminados movimentos de F0 que natildeo causam diferenccedila de percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao
aacuteudio originalrdquo (ROCHA 2011 p 106) De acordo com Crystal (2008 p 369-370) o termo
pitch accent
is used phonologically in the description of languages in which the
distribution of the tones within a word is totally predictable once one
has specified a particular tonal feature of the word (as in Japanese)
The notion has also been applied to English where some
phonological models analyse intonation CONTOURS as a sequence
of one or more pitch accents each associated with a STRESS-
prominent SYLLABLE in a word38
34
ldquoum traccedilo local de um pitch contour - geralmente mas natildeo invariavelmente variaccedilatildeo de pitch e muitas vezes
envolvendo um local maacuteximo ou miacutenimordquo 35
ldquoeacute uma sensaccedilatildeo auditiva quando ouvimos um som regularmente vibrando como uma nota tocada em um
instrumento musical ou uma vogal produzida pela voz humana noacutes ouvimos um pitch alto se a taxa de vibraccedilatildeo
eacute alta e um pitch baixo se a taxa de vibraccedilatildeo eacute baixardquo 36
ldquodeve-se estar ciente no entanto que muitas vezes a noccedilatildeo de pitch eacute utilizada para se referir a f0 ou a
frequecircncia da repeticcedilatildeo Na fala a f0 eacute determinada pela taxa de vibraccedilatildeo das cordas vocais localizadas na
laringerdquo 37
ldquonatildeo haacute poreacutem nenhuma correlaccedilatildeo direta ou paralelo entre pitch e frequecircncia outros fatores aleacutem
frequecircncia podem afetar a nossa sensaccedilatildeo de pitch (medido em unidades conhecidas como mels)rdquo 38
ldquoeacute usado fonologicamente na descriccedilatildeo das liacutenguas nas quais a distribuiccedilatildeo dos tons dentro de uma palavra eacute
totalmente previsiacutevel uma vez que se tenha especificado uma caracteriacutestica particular de tons da palavra (tal
como no japonecircs) A noccedilatildeo tambeacutem foi aplicada para o inglecircs em que alguns modelos fonoloacutegicos analisam os
CONTORNOS da entoaccedilatildeo como uma sequecircncia de um ou mais pitch accents cada um associado a uma
SIacuteLABA STRESS-proeminente em uma palavrardquo
27
O sistema ToBI reconhece 5 tipos de pitch accents enquanto Pierrehumbert (1980)
menciona 7 tipos Atraveacutes dessa classificaccedilatildeo eacute possiacutevel delimitar o accent prototiacutepico do
foco ou suas possiacuteveis variantes Beaver amp Clark (2008 p 12) mencionam que ldquoalthough
focus is frequently marked by an H accent [] other accents are possible For example in
yes-no questions focus is often by marked by an L+Hrdquo39
A importante pressuposiccedilatildeo teoacuterica de que toda oraccedilatildeo eacute resposta a uma pergunta
guia a metodologia de muitas investigaccedilotildees sobre o foco sobretudo de trabalhos
experimentais de leitura de sentenccedilas denominados testes de produccedilatildeo Com o pressuposto
teoacuterico da explicitaccedilatildeo do foco por meio de pergunta-resposta eacute possiacutevel delimitar o tipo de
foco a ser analisado broad focus (foco largo) narrow focus (foco estreito) ou contrastive
focus (foco contrastivo) (cf seccedilatildeo 121 p 14) Essa metodologia tem por caracteriacutestica
induzir guiar e restringir os padrotildees meloacutedicos da fala ao fornecer exemplos com contextos
preacutevios ou mesmo com o foco jaacute explicitado na sentenccedila para se obter o resultado desejado
Em investigaccedilatildeo sobre a marcaccedilatildeo prosoacutedica dos focos largo estreito e contrastivo em
alematildeo Baumann et al (2006 p 302) mencionam em sua metodologia de teste de leitura
que
reading material consisted of five question-answer pairs with the
answer bdquoManuela will Blumen malen‟ (Manuela wants to paint
flowers) The main criterion the target sentence had to fulfill was its
continuous voicing so as to be able to accurately measure exact peaks
and valleys in the F0 contour40
Dependendo do objetivo do trabalho ou da liacutengua a ser analisada podem-se controlar
outros fatores Por exemplo em trabalho sobre como o tom lexical e o foco contribuem para a
formaccedilatildeo e alinhamento dos F0 contours no chinecircs Xu (1999 p 58) menciona na
metodologia que
the factors manipulated in the experiment were segmental
composition of syllables lexical tones focus and and sentence types
Of these only lexical tones and focus were under direct scrutiny The
control of the other two factors was done by keeping their variation to
39
ldquoembora o foco seja frequentemente marcado por um accent H [] outros accents satildeo possiacuteveis Por
exemplo em perguntas sim-natildeo o foco eacute muitas vezes marcado por um H + Lrdquo 40
ldquoo material de leitura consistiu de cinco pares de pergunta-resposta com a resposta bdquoManuela will Blumen
malen‟ (Manuela quer pintar flores) O principal criteacuterio que a frase alvo tinha a cumprir era seu vozeamento
contiacutenuo de modo a ser capaz de medir com precisatildeo exata picos e vales no contorno da F0rdquo
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
RESUMO
A focalizaccedilatildeo eacute um fenocircmeno pragmaacutetico-discursivo que objetiva realccedilar itens do enunciado
O realce dado a um item do enunciado recebe o nome de foco Nas liacutenguas naturais haacute vaacuterias
formas de se focalizar um item atraveacutes de recursos prosoacutedicos construccedilotildees sintaacuteticas
afixaccedilatildeo morfoloacutegica combinaccedilatildeo com itens lexicais exclusivos etc Este trabalho tem dois
objetivos principais o primeiro eacute mapear classificar e analisar prosodicamente estrateacutegias de
focalizaccedilatildeo no Portuguecircs Brasileiro considerando o contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeo e
fazendo uso do formalismo semacircntico como suporte para a anaacutelise dos dados bem como da
percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo dessas estrateacutegias O segundo objetivo eacute propor uma distinccedilatildeo
entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase fenocircmenos muitas vezes considerados sinocircnimos por
aparentemente apresentarem certas semelhanccedilas contudo seraacute proposto que haacute diferenccedilas
entre os dois Foram adotados os mesmos criteacuterios para a anaacutelise dos dados referentes ao
segundo objetivo deste trabalho isto eacute prosoacutedia contexto pragmaacutetico e propriedades
semacircnticas O corpus utilizado para esta pesquisa foi o C-ORAL-BRASIL (RASO amp
MELLO 2012) um corpus oral do Portuguecircs Brasileiro falado informal Ressalta-se que esta
pesquisa eacute de cunho qualitativo isto eacute natildeo foram levados em consideraccedilatildeo paracircmetros
quantitativos como sustentaccedilatildeo das anaacutelises dos dados embora acreditemos que sejam de total
importacircncia Outros objetivos tambeacutem satildeo contemplados por exemplo a exposiccedilatildeo de cada
tipo de foco ilustrados com exemplos de vaacuterias liacutenguas considerando as diferentes correntes
de estudo Atraveacutes da pesquisa em trecircs textos do corpus C-ORAL-BRASIL foi possiacutevel
classificar as ocorrecircncias de focalizaccedilatildeo em foco prosoacutedico sendo realizado por uma
proeminecircncia prosoacutedica foco morfoloacutegico expresso por uma palavra dedicada a focalizar e
foco sintaacutetico sendo realizado atraveacutes das construccedilotildees clivadas O foco prosoacutedico e a ecircnfase
se distinguem no plano pragmaacutetico apresentando contextos distintos de enunciaccedilatildeo e no
plano semacircntico que apresenta efeitos de sentido diferentes
Palavras-chave focalizaccedilatildeo foco ecircnfase prosoacutedia pragmaacutetica
RESUMEN
La focalizacioacuten es un fenoacutemeno pragmaacutetico-discursivo que pretende resaltar los elementos de
la declaracioacuten El realce dado a un elemento de la declaracioacuten se llama foco En el lenguaje
natural existen varias maneras de focalizar un elemento a traveacutes de caracteriacutesticas
prosoacutedicas construcciones sintaacutecticas afijacioacuten morfoloacutegica combinacioacuten con elementos
leacutexicos exclusivos etc Este trabajo tiene dos objetivos principales el primero es mapear
clasificar y analizar prosodicamente las estrategias de focalizacioacuten en el portugueacutes de Brasil
teniendo en cuenta el contexto pragmaacutetico de enunciacioacuten y haciendo uso del formalismo
semaacutentico como apoyo al anaacutelisis de datos asiacute como de la percepcioacuten para la identificacioacuten de
estas estrategias El segundo objetivo es proponer una distincioacuten entre el foco prosoacutedico y el
eacutenfasis fenoacutemenos que a menudo se consideran sinoacutenimos por presentar ciertas similitudes al
parecer sin embargo proponemos que existen diferencias entre los dos El mismo criterio se
adoptoacute para el anaacutelisis de datos relacionados con el segundo objetivo de este trabajo es decir
la prosodia el contexto pragmaacutetico y las propiedades semaacutenticas El corpus utilizado para esta
investigacioacuten fue el C-ORAL-BRASIL (RASO amp MELLO 2012) un corpus oral del
portugueacutes brasilentildeo hablado informalmente Cabe sentildealar que esta investigacioacuten es de tipo
cualitativo es decir no se tendraacute en cuenta paraacutemetros cuantitativos como apoyo para el
anaacutelisis de datos aunque creemos que todos sean importantes Otros objetivos tambieacuten se
contemplan por ejemplo la exposicioacuten de cada tipo de foco que se ilustra con ejemplos de
varios idiomas teniendo en cuenta las diferentes corrientes de estudio A traveacutes de la
investigacioacuten con tres textos del corpus C-ORAL-BRASIL fue posible clasificar las
ocurrencias de focalizacioacuten en el foco prosoacutedico llevado a cabo por una prominencia
prosoacutedica el foco morfoloacutegico expresado por una palabra dedicada a focalizar y el foco
sintaacutectico llevado a cabo a traveacutes de construcciones hendidas El foco prosoacutedico y el eacutenfasis
en el nivel pragmaacutetico se distinguen con diferentes contextos de enunciacioacuten y en el nivel
semaacutentico que presenta diferentes efectos de sentido
Palabras-clave focalizacioacuten foco eacutenfasis prosodia pragmaacutetica
LISTA DE FIGURAS
Figura 31 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02 37
Figura 32 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03 38
Figura 33 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Figura 34 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04 42
Figura 35 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Figura 36 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03 46
Figura 37 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03 47
Figura 38 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Figura 39 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03 51
Figura 310 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03 52
Figura 311 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03 53
Figura 312 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02 54
LISTA DE TABELAS
Tabela 31 - Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02 37
Tabela 32 - Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03 38
Tabela 33 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Tabela 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Tabela 35 - Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04 43
Tabela 36 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Tabela 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Tabela 38 - Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03 46
Tabela 39 - Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03 47
Tabela 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 50
Tabela 314 - Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03 51
Tabela 315 - Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03 52
Tabela 316 - Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03 53
Tabela 317 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02 54
Tabela 318 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02 55
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 12
2 PANORAMA GERAL DOS ESTUDOS SOBRE O FOCO 12
22 TIPOS DE FOCO 13
221 Foco sintaacutetico 14
222 Foco morfoloacutegico 18
223 Foco semacircntico 21
224 Foco prosoacutedico 24
3 METODOLOGIA DA PESQUISA 29
31 OBJETIVO 29
32 CORPUS 30
321 C-ORAL-ROM 30
322 C-ORAL-BRASIL 32
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 34
4 ANAacuteLISE DOS DADOS 35
41 FOCO PROSOacuteDICO 35
42 FOCO SINTAacuteTICO 41
43 FOCO MORFOLOacuteGICO 45
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE 47
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 55
REFEREcircNCIAS 56
12
1 INTRODUCcedilAtildeO
A focalizaccedilatildeo eacute um fenocircmeno linguiacutestico cada vez mais estudado e que possui
importante papel na comunicaccedilatildeo oral Sua importacircncia na gramaacutetica das liacutenguas naturais
bem como nas situaccedilotildees comunicativas eacute grande podendo ser observada pela assunccedilatildeo de
Davis (2009 p 2) ldquoFOCUS is present in every language and that it is present in every
utterance of every languagerdquo1 Embora haja divergecircncia por parte de alguns autores quanto agrave
proposta de Davis assume-se de qualquer forma que a focalizaccedilatildeo nas liacutenguas naturais eacute um
importante recurso comunicativo promovido nas diversas interaccedilotildees linguiacutesticas do cotidiano
pois sinaliza propriedades semacircnticas especiacuteficas atraveacutes de recursos prosoacutedicos
morfoloacutegicos e configuraccedilotildees sintaacuteticas dedicadas a destacar um item Nas liacutenguas romacircnicas
e germacircnicas sobretudo a estrateacutegia prosoacutedica da focalizaccedilatildeo eacute fundamental para a
realizaccedilatildeo do foco conforme mencionam Beaver amp Clark (2008 p xxi) ldquoRomance and
Germanic languages and English in particular focus is commonly marked by prosody with
changes in pitch used to mark focused expressionsrdquo2 Natildeo obstante estejam presentes e
podendo estar em co-ocorrecircncia nas liacutenguas desses troncos estrateacutegias sintaacuteticas como as
construccedilotildees clivadas e morfoloacutegicas como adveacuterbios e quantificadores focais o que poderaacute
ser constatado ao longo deste trabalho
Este trabalho estaacute divido em duas partes a primeira (cf seccedilatildeo 2 e subseccedilotildees) que
procura expor ao leitor atraveacutes da consideraccedilatildeo de diferentes estudos de variadas abordagens
teoacuterico-metodoloacutegicas uma revisatildeo bibliograacutefica ao mesmo tempo concisa e imparcial que
objetiva cobrir de modo satisfatoacuterio o tema da focalizaccedilatildeo e seus desdobramentos nos estudos
linguiacutesticos e a segunda (cf seccedilotildees 3 e 4 e subseccedilotildees) que consiste na exposiccedilatildeo do objetivo
e da metodologia da pesquisa do corpus utilizado da anaacutelise dos dados e das decorrentes
consideraccedilotildees sobre o foco no Portuguecircs Brasileiro falado informal aleacutem da discussatildeo sobre
a diferenciaccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase Por fim a seccedilatildeo 5 consiste nas
consideraccedilotildees finais
2 PANORAMA GERAL DOS ESTUDOS SOBRE O FOCO
O fenocircmeno da focalizaccedilatildeo tem sido estudado por vaacuterias aacutereas da linguiacutestica ndash
sintaxe semacircntica prosoacutedia etc ndash e sob diferentes abordagens teoacuterico-metodoloacutegicas ndash
1 ldquoO FOCO estaacute presente em toda liacutengua e estaacute presente em todo enunciado de toda liacutenguardquo
2 ldquoNas liacutenguas romacircnicas e germacircnicas e no inglecircs em particular o foco eacute marcado normalmente pela prosoacutedia
com variaccedilotildees no pitch para marcar as expressotildees focalizadasrdquo
13
formal funcional pragmaacutetica etc Cada estudo independente da aacuterea ou da abordagem
teoacuterica tem revelado que a focalizaccedilatildeo apresenta importante papel na gramaacutetica das liacutenguas
naturais pois o foco seu principal componente manifesta-se nelas por diferentes estrateacutegias
linguiacutesticas Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os diferentes meios em que o foco pode se
manifestar isto eacute os tipos de foco O objetivo deste capiacutetulo eacute mostrar que o foco ocorre
atraveacutes de diferentes estrateacutegias nas liacutenguas e que cada liacutengua escolhe uma ou mais
estrateacutegias para sua realizaccedilatildeo
21 TIPOS DE FOCO
O fenocircmeno que abrange o foco eacute a focalizaccedilatildeo que pode ser definida como o ldquoato de
focalizar ou seja de acentuar de ressaltar de pocircr em relevorealceevidecircncia um
determinado item do textordquo (GONCcedilALVES 1998 p 32) As liacutenguas naturais expressam esse
realce com diferentes estrateacutegias seja por meio da sintaxe da prosoacutedia ou da morfologia seja
com o uso de uma estrateacutegia ou de mais de uma atuando em conjunto A focalizaccedilatildeo eacute
considerada um fenocircmeno discursivo-pragmaacutetico ldquopois o usuaacuterio pode centrar sua atenccedilatildeo a
uma parcela do enunciado que julgue relevante enfatizando-ardquo (GONCcedilALVES 1998 p 33)
Assim sendo a focalizaccedilatildeo estaria vinculada tanto agraves estrateacutegias argumentativas do falante
quanto ao conteuacutedo informacional do enunciado Segundo Gonccedilalves (1998 p 39) o foco
ldquopode incidir em qualquer constituinte do enunciado (palavras morfemas sintagmas e
pequenas oraccedilotildees)rdquo
Mesmo com a definiccedilatildeo do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo as descobertas dos estudos
sobre a biparticcedilatildeo da frase a respeito do conceito de foco natildeo foram descartadas (cf
BARBOSA 2005) Gonccedilalves (1998 p 32) menciona que o constituinte focalizado eacute ldquoa
parcela do texto apresentada como a mais informativarelevanterdquo e que os elementos fora de
foco constituem ldquoinformaccedilatildeo apresentada previamente ao ouvinterdquo ou os elementos que os
interlocutores julgam conhecidos Ainda segundo Gonccedilalves o foco apresentaria informaccedilatildeo
nova Eacute neste ponto que pode haver confusatildeo Os autores ampliam o escopo de investigaccedilatildeo
mas manteacutem certos conceitos de estudos preacutevios e de diferentes correntes teoacutericas sem
explicitar qual ou quais estatildeo sendo levados em consideraccedilatildeo Para Gonccedilalves (1998 p 33) a
informaccedilatildeo nova isto eacute o que eacute focalizado eacute ldquonew natildeo porque natildeo foi mencionado
previamente mas eacute new exatamente porque o falante tende a interpretar como natildeo suscetiacutevel
de recuperaccedilatildeo (a) nem a partir do texto precedente (co-texto) e (b) nem por meio do
contexto pragmaacutetico (situacional) imediatordquo Nota-se que o autor utiliza uma noccedilatildeo
14
pragmaacutetica do que seria informaccedilatildeo novadada A diamesia oral eacute muito mais ampla do que a
escrita no sentido de que a unidade de referecircncia da fala eacute o enunciado ndash organizado segundo
princiacutepios pragmaacutetico-ilocucionaacuterios ndash jaacute na escrita a unidade de referecircncia eacute a frase ndash
organizada segundo princiacutepios loacutegico-sintaacuteticos ndash aleacutem de haver caracteriacutesticas distintivas
entre falaescrita por exemplo hesitaccedilotildees interrupccedilotildees sobreposiccedilotildees etc Como a
focalizaccedilatildeo eacute considerada um fenocircmeno discursivo as noccedilotildees estudadas no niacutevel da frase natildeo
conseguem abranger todos os aspectos que a liacutengua oral apresenta por isso novas definiccedilotildees
satildeo propostas contudo em muitos casos preservando determinadas terminologias de estudos
anteriores
Cada liacutengua escolhe uma ou mais estrateacutegias para a focalizaccedilatildeo Pode-se ateacute mesmo
classificaacute-las tipologicamente com relaccedilatildeo agrave manifestaccedilatildeo do foco em cada uma Contudo
muitas vezes essas estrateacutegias se organizam conjuntamente para a manifestaccedilatildeo do foco no
caso da focalizaccedilatildeo sintaacutetica e a prosoacutedica coocorrerem nas construccedilotildees clivadas por
exemplo Assim como um morfema poder licenciar um conjunto de alternativas semacircnticas
de escopo em uma sentenccedila servindo de gatilho para a manifestaccedilatildeo prosoacutedica do foco
Todavia nosso objetivo nesta seccedilatildeo eacute mostrar os vaacuterios tipos de foco em isolamento apesar
de que a interface com outro componente gramatical seraacute explicada quando necessaacuterio A
exposiccedilatildeo natildeo seraacute exaustiva uma vez que este tipo de trabalho natildeo permite uma discussatildeo
mais longa da literatura
221 Foco sintaacutetico
O foco tem recebido grande atenccedilatildeo nos estudos da sintaxe gerativa Itens de natureza
discursiva como o toacutepico e o proacuteprio foco passam a fazer parte da estrutura interna das
sentenccedilas dentro dessa abordagem teoacuterica Eles ocupam uma posiccedilatildeo na parte mais alta da
sentenccedila caracterizada por ser uma estrutura funcional sendo a outra parte da sentenccedila a
estrutura lexical Com a proposta de extensatildeo do sistema CP (RIZZI 1997)3 dois
subsistemas satildeo criados o primeiro constituiacutedo por ForceP e FinP e o segundo por TopP e
FocP A categoria ForceP determina o tipo de sentenccedila enquanto FinP determina sua
finitude Os constituintes toacutepico e foco satildeo interpretados em Spec de seus respectivos
sintagmas O sistema CP entatildeo passa a ser representado da seguinte forma (QUAREZEMIN
2009 p 22)
3 Segundo Quarezemin (200921) ldquoa extensatildeo do CP ocorre para acomodar certos constituintes com
propriedades discursivas e de escopo aleacutem de derivar sua interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo Spec-nuacutecleordquo
15
(1) ForceP
Force0 TopP
Top0 FocP
Foc0 TopP
Top0 FinP
Fin0 IP
As categorias TopP e FocP4 soacute aparecem na estrutura se houver constituintes com
funccedilotildees de toacutepico e foco na sentenccedila A categoria TopP aparece duas vezes na estrutura
porque eacute considerada recursiva Isso significa que pode haver mais de um toacutepico na sentenccedila
Na estrutura FocP natildeo aparece duas vezes pois a natureza quantificacional do foco natildeo
permite tal repeticcedilatildeo Para Rizzi (1997) e Belletti (2001) ldquoa noccedilatildeo de foco estaacute diretamente
relacionada agrave posiccedilatildeo que este constituinte ocupa na sentenccedila Para eles um constituinte eacute
interpretado como foco somente se ele ocupa a posiccedilatildeo de Spec de FocPrdquo (ASSIS 2003 p
360)
Nessa abordagem o toacutepico ldquoveicula informaccedilatildeo jaacute conhecida pelos participantes do
discursordquo enquanto o comentaacuterio ldquoeacute um tipo de predicado complexo que se aplica ao toacutepicordquo
(QUAREZEMIN 2009 p 22) No exemplo da autora your book eacute o toacutepico e o que estaacute
depois da viacutergula eacute o comentaacuterio
(2) Your book you should give t to Paul (not to Bill)5
Ela afirma que na fala o toacutepico eacute marcado por uma pausa Diferentemente do toacutepico
o foco eacute ldquodestacado por um acento proeminente e expressa a informaccedilatildeo do discurso natildeo
4 Haacute outras propostas sobre qual o lugar que as categorias funcionais TopP e FocP ocupam na estrutura da
sentenccedila extensatildeo de vP (Belletti 2001 2004a) e extensatildeo de DP (Giusti 2002) 5 ldquoSeu livro vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo para o Bill)rdquo
16
pressuposta pelo ouvinte enquanto a pressuposiccedilatildeo representa o conhecimento compartilhado
pelos interlocutoresrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 23)
(3) YOUR BOOK you should give t to Paul (not mine)6
Com isso Quarezemin (2009 p 46) afirma que ldquoa interpretaccedilatildeo semacircntica da
sentenccedila que apresenta a articulaccedilatildeo foco-pressuposiccedilatildeo natildeo deve ser confundida com a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila que tem a biparticcedilatildeo toacutepico-comentaacuteriordquo A autora menciona a
relaccedilatildeo entre foco-prosoacutedia dizendo que os paracircmetros acuacutesticos da descriccedilatildeo do foco satildeo a
F0 a duraccedilatildeo e a intensidade Na fonologia o foco recebe a proeminecircncia ou outro acento
tonal especiacutefico A autora diz que ldquoo foco ou um membro do sintagma focalizado sempre
recebe o acento principal da sentenccedila enquanto a pressuposiccedilatildeo natildeo pode ser acentuada nos
mesmos niacuteveisrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 52)
Em liacutenguas como o espanhol o italiano e o PE o foco de informaccedilatildeo ocupa uma
posiccedilatildeo no final da sentenccedila em casos que ocorre a inversatildeo do sujeito
(4) Egrave partitoha parlato [F Gianni]7
(Chi egrave partitoha parlato)
No exemplo de Quarezemin (2009 p 69) acima nota-se o foco estreito Gianni no
final da sentenccedila visto que esse item responde agrave pergunta chi egrave partitoparlato Haveria o
foco largo isto eacute toda a resposta de (4) seria foco se essa resposta correspondesse agrave pergunta
(QUAREZEMIN 2009 p 70)
(5) Che cosa egrave successo8
Um tipo especiacutefico de focalizaccedilatildeo sintaacutetica satildeo as construccedilotildees clivadas Resenes
(2009 p 17) explica que a clivagem eacute ldquoum processo sintaacutetico que serve para focalizar
constituintes porque prepara um lugar especiacutefico na sentenccedila para alojar o focordquo Os
elementos que cumprem essa funccedilatildeo satildeo a coacutepula o complementizador que ou um elemento
wh As propriedades semacircnticas e sintaacuteticas das sentenccedilas clivadas e pseudo-clivadas natildeo
6 ldquoO SEU LIVRO vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo o meu)rdquo
7 ldquoPartiufalou o Gianni (Quem partiufalou)rdquo
8 ldquoO que aconteceurdquo
17
seratildeo abordadas profundamente visto que esse natildeo eacute o objetivo principal deste trabalho As
sentenccedilas clivadas apresentam a estrutura [ser + XPi + que [IP eci]] jaacute as pseudo-clivadas [[CP
whi ti] + ser +XPi] (RESENES 2009 p 14) O XP deve ser a parte natildeo-pressuposta da
sentenccedila ou o foco da sentenccedila o sintagma que carrega a informaccedilatildeo nova e que segundo a
abordagem gerativa carrega tambeacutem a proeminecircncia prosoacutedica O foco dessas sentenccedilas eacute do
tipo de identificaccedilatildeo exaustiva isto eacute indicado pela propriedade semacircntica [x e apenas x]
Apresentamos como exemplo em PB uma clivada e uma pseudo-clivada respectivamente
(6) Foi [F a Luana] que comprou um livro
(7) Quem comprou um livro foi [F a Luana]
Em inglecircs as clivadas satildeo conhecidas como it-clefts pois nessa liacutengua eacute obrigatoacuteria a
realizaccedilatildeo do expletivo na posiccedilatildeo inicial da sentenccedila
(8) It was [F John] who died in a car crash9
Haacute vaacuterios tipos de realizaccedilatildeo dessas sentenccedilas por exemplo clivada sem coacutepula
clivada com dupla coacutepula pseudo-clivada reduzida etc
Na liacutengua Ayutla Mixteca em que a ordem canocircnica da sentenccedila eacute VSO a
focalizaccedilatildeo se daacute atraveacutes da mudanccedila de posiccedilatildeo do elemento que se deseja focalizar para
uma posiccedilatildeo preacute-verbal ldquobecause the first element of any list is perceptually salient
preverbal position tends to grant the item filling it some degree of highlighting This position
is therefore often used for constituents that a speaker wishes to focus in some wayrdquo
(HOLLENBACH 1995 p 1)10
Seguem os exemplos de Hills (1990 p 27-28 apud
HOLLENBACH 1995 p 2)
(9) mburu xi‟i‟ tikui
donkey drinks water
bdquoThe donkey is drinking water‟11
(10) tikui xi‟i‟ mburu
9 ldquoFoi [F o Joatildeo] que morreu num acidente de carrordquo
10 ldquoporque o primeiro elemento de qualquer lista eacute perceptualmente saliente a posiccedilatildeo preacute-verbal tende a
conceder ao item carregando-o com algum grau de realce Esta posiccedilatildeo eacute portanto frequentemente usada para
constituintes em que o falante deseja focalizar de algum modordquo 11
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo
18
water drinks donkey
bdquoThe donkey is drinking water‟12
Entretanto Hollenbach (1995 p 2) adverte que a relaccedilatildeo semacircntica do foco com a
posiccedilatildeo preacute-verbal eacute obscura jaacute que um constituinte pode ocorrer na posiccedilatildeo preacute-verbal sem
que o falante deseje focalizaacute-lo Entatildeo a autora investiga as condiccedilotildees para que a focalizaccedilatildeo
do constituinte preacute-verbal ocorra13
Ela identificou vaacuterias condiccedilotildees para a identificaccedilatildeo do
foco na posiccedilatildeo preacute-verbal nas liacutenguas do grupo Mixteca entre elas a pausa (11) e a inserccedilatildeo
de conjunccedilotildees coordenadas (12) depois do elemento focalizado
(11) juaacutea ta‟u da ntuku
John splits he firewood
bdquoAs for John he is splitting firewood‟ (Yosonduacutea FARRIS 1992 p 28 apud
HOLLENBACH 1995 p 3)14
(12) sa‟an mi neacute din tavi di kuidaacutedo di
man that and willdo very you care you (Cuicatec BRADLEY 1991
p 493 apud HOLLENBACH 1995 p 3)
Esses satildeo exemplos que a focalizaccedilatildeo natildeo se daacute exclusivamente pela sintaxe mas que
co-ocorre com ela ou seja eacute necessaacuterio que haja mais elementos linguiacutesticos aleacutem da
posiccedilatildeo preacute-verbal para que a focalizaccedilatildeo ocorra de forma satisfatoacuteria
222 Foco morfoloacutegico
O foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de certos morfemas que dependendo da
liacutengua seratildeo cliacuteticos ou morfemas livres Nesse caso ldquoum bdquoMorfema de Ecircnfase‟ seraacute o
elemento responsaacutevel pela iluminaccedilatildeo do elemento destacado no textordquo (GONCcedilALVES
1999 p 336) Natildeo obstante isso natildeo signifique que o foco natildeo possa ser expresso por outros
meios nas liacutenguas em que predominam o meio morfoloacutegico para que a focalizaccedilatildeo ocorra
Esse tipo de focalizaccedilatildeo eacute mais comum em liacutenguas natildeo-indo-europeias como em liacutenguas
12
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo 13
Hollenbach investigou as condiccedilotildees do foco natildeo soacute na liacutengua Ayutla Mixteca mas em seis variedades do
Mixteca duas do Trique e uma do Cuicatec Essas liacutenguas fazem parte grupo Mixteca que por sua vez faz
parte da famiacutelia das liacutenguas Otomangues faladas sobretudo no sul do Meacutexico As liacutenguas da famiacutelia
Otomangue apresentam a ordem canocircnica VSO 14
ldquoQuanto ao Joatildeo ele estaacute partindo a lenhardquo
19
indiacutegenas brasileiras por exemplo em marubo e em mekens O aacuterabe e o japonecircs tambeacutem
satildeo exemplos de liacutenguas em que ocorre a focalizaccedilatildeo morfoloacutegica Hagesawa (2010 p 1)
explica que no japonecircs ldquoone of the most general properties of focus particles is to relate a
proposition which is newly introduced by the sentence containing a focus particle and
propositions available in the contextrdquo15
Em japonecircs a partiacutecula -shika introduz a noccedilatildeo de exclusividade o que eacute expresso
pela palavra only em inglecircs Essa noccedilatildeo eacute a mesma do foco de identificaccedilatildeo encontrado nas
sentenccedilas clivadas do PB por exemplo Segue o exemplo de Hagesawa (2010 p 4)
(13) Miho-shika ko-na-katta
Miho-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoOnly Miho came‟16
No exemplo (13) a funccedilatildeo do morfema -shika pode ser parafraseada como ldquosomente
Miho veio e mais ningueacutemrdquo Quanto ao padratildeo prosoacutedico das partiacuteculas de foco no japonecircs
Hagesawa (2010 p 33) afirma que
although Japanese focus particles have their own accent patterns
when they occur without a focused constituent or they are stressed as
shown in (14) and (15) they lose their accent pattern and follow the
tone melody of their host when they are suffixed17
18
O autor apresenta os seguintes exemplos
(14) Shikamade-o jisyo-de shirabe-ta
HL HL
SHIKAMADE-ACC dictionary-with lookup-PAST
bdquoI looked up bdquoshika‟‟made‟ in a dictionary‟19
(15) A Yuka-mo ki-ta-no
Yuka-also come-PAST-Q
15
ldquouma das propriedades mais gerais das partiacuteculas de foco eacute relacionar uma proposiccedilatildeo que eacute receacutem-
introduzida pela sentenccedila contendo uma partiacutecula de foco e proposiccedilotildees disponiacuteveis no contextordquo 16
ldquoSomente Miho veiordquo 17
A numeraccedilatildeo dos exemplos natildeo segue a original 18
ldquoconquanto as partiacuteculas de foco do japonecircs tecircm seus padrotildees proacuteprios de accent quando ocorrem sem um
constituinte focalizado ou estatildeo stressed como mostrado em (14) e (15) elas perdem o seu padratildeo de accent e
seguem a melodia tonal do seu hospedeiro quando elas satildeo sufixadasrdquo 19
ldquoEu procurei bdquoshika‟‟made‟ em um dicionaacuteriordquo
20
bdquoDid Yuka also come‟
B Uun Yuka-shika ko-na-katta
HL
no Yuka-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoNo only Yuka came‟20
Na liacutengua Mekens todas as questotildees wh apresentam o cliacutetico foco te como no
exemplo abaixo de Galucio (2002 p 67)
(16) aapo=te o-tek pogabeg-a ke i-koop ikatildeotilde tete
Who=foc 1s-house open-Theme say 3s-aux+mov that time
bdquordquoWho opened my houserdquo She was saying that time‟21
Haacute tambeacutem o uso do recurso sintaacutetico pois o constituinte focalizado sempre aparece
no iniacutecio da sentenccedila A autora menciona que a informaccedilatildeo natildeo-pressuposta das respostas agraves
perguntas wh tambeacutem apareceratildeo na forma de construccedilotildees focalizadas Isso faz com que a
ordem canocircnica ndash SOV ndash dessa liacutengua se altere em sentenccedilas como (17) abaixo por exemplo
extraiacuteda de Galucio (2002 p 68) Notam-se nas duas oraccedilotildees que os sujeitos ocorrem
depois do verbo
(17) serek=te kɨpmatildekatildeỹ kweotildep =te ɨsɨɨ
split=foc floor climb+neg=foc deer
bdquoThe floor split and the deer sank‟22
Alguns autores consideram como morfemas de foco palavras como only also just e
even do inglecircs por exemplo porque elas cumprem a mesma funccedilatildeo semacircntica dos morfemas
de foco em liacutenguas como o japonecircs no exemplo da partiacutecula -shika bdquoonly‟ Na anaacutelise de
Quarezemin (2009 p 112) para as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB ela sugere que nas
construccedilotildees clivadas a coacutepula e o complementizador seriam morfemas de foco Nas palavras
da autora
20
ldquoA Yuka tambeacutem veio Natildeo somente a Yuka veiordquo 21
ldquoQuem abriu minha casa Ela estava dizendo aquela horardquo 22
ldquoO chatildeo se partiu e o veado afundourdquo
21
A hipoacutetese inicial eacute que de um modo geral os falantes do PB
preferem destacar o constituinte focalizado sintaticamente ao inveacutes
de destacaacute-lo apenas com recursos prosoacutedicos Disso surge a hipoacutetese
de que a coacutepula com funccedilatildeo de focalizar e o complementizador das
clivadas podem ser considerados morfemas de foco em PB
Em suma o foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de morfemas que tecircm por objetivo
sinalizar que o constituinte o qual estaacute afixado se encontra focalizado Eles tambeacutem podem
interagir com a sintaxe e a prosoacutedia no caso de aleacutem do morfema de foco estar afixado a um
constituinte que se deseja destacar ele tambeacutem esteja em uma posiccedilatildeo proacutepria para
construccedilotildees focalizadoras ou em casos em que aleacutem da marcaccedilatildeo morfoloacutegica do foco haja
uma proeminecircncia prosoacutedica no constituinte focalizado
223 Foco semacircntico
Em primeiro lugar salientamos que o termo bdquofoco semacircntico‟ pode causar certa
estranheza devido a que diferentemente dos outros tipos neste natildeo haacute uma manifestaccedilatildeo de
forma ldquovisiacutevelrdquo do foco no enunciado isto eacute natildeo haacute uma proeminecircncia prosoacutedica uma
construccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica ou um morfema afixado a um constituinte Antes se trata mais
de uma propriedade do significado da construccedilatildeo focalizadora em um enunciado
As trecircs principais propriedades semacircnticas do foco satildeo as dos enunciados que
apresentam o foco de informaccedilatildeo de identificaccedilatildeo e o contrastivo Geralmente para
determinar a propriedade semacircntica desses tipos de foco recorre-se ao contexto de pergunta-
whresposta ou a outro tipo de contexto induzido O foco de informaccedilatildeo23
introduz uma
informaccedilatildeo novanatildeo-pressuposta e ldquopresume uma pergunta wh como base discursiva para
ser estabelecidordquo (RESENES 2009 p 20) Segue o exemplo de Resenes (2009 p 20)
(18) a O que o Joatildeo bebeu
b O Joatildeo bebeu alguma coisa
c O Joatildeo bebeu [F o vinho]
A pergunta wh estaacute em (18a) Em (18b) encontra-se a pressuposiccedilatildeo expressa pelo
pronome indefinido O foco de informaccedilatildeo se encontra em (18c) e eacute o valor da expressatildeo wh
23
Resenes (2009) utiliza a nomenclatura de ldquofoco natildeo-contrastivordquo para esse tipo de foco
22
da pergunta em (18a) A autora menciona que na Estrutura de Asserccedilatildeo (AS)24
o foco de
(18c) seria representado como
(19) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 O x tal que o Joatildeo bebeu x = [o vinho]
O foco contrastivo corrige uma informaccedilatildeo preacutevia atraveacutes de uma prosoacutedia proacutepria
Resenes (2009 p 20) afirma que ldquoo contexto ideal para o foco contrastivo eacute aquele em que
haacute uma afirmaccedilatildeo preacutevia como base discursivardquo Segue o exemplo da autora (RESENES
2009 p 21)
(20) a O Joatildeo bebeu o vinho
b O Joatildeo bebeu [F a cerveja] (natildeo o vinho)
A AS de (20) seria
(21) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 Natildeo eacute o caso que o x tal que o Joatildeo bebeu x = vinho amp O x tal que o Joatildeo
bebeu o x = a cerveja
O foco de identificaccedilatildeo ldquorepresents a subset of the set of contextually or situationally
given elements for which the predicate phrase can potentially hold it is identified as the
exhaustive subset of this set for which the predicate phrase actually holdsrdquo (KISS 1998 p
245 apud RESENES 2009 p 21)25
Assim o foco de identificaccedilatildeo expressa exaustividade
que pode ser parafraseada como [x e apenas x] Esse tipo de foco eacute ilustrado por uma
sentenccedila clivada em (22) (RESENES 2009 p 21)
(22) Foi [F um perfume] que a Maria deu para o Joatildeo
24
Resenes (2009 p 20) explica que a AS eacute ldquoum niacutevel poacutes-LF (pragmaacutetico) que revela como a informaccedilatildeo estaacute
empacotada na sentenccedila Na AS vai estar explicitada a estrutura da focalizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo o foco e os
tipos de focordquo 25
ldquorepresenta um subconjunto do conjunto de elementos dados contextualmente ou situacionalmente para o qual
a expressatildeo do predicado pode potencialmente conter que eacute identificado como o subconjunto exaustivo deste
conjunto para o qual a expressatildeo de predicado efetivamente conteacutemrdquo
23
Em (22) o foco de identificaccedilatildeo eacute expresso pelo NP um perfume que significa que
dentro de uma seacuterie de possiacuteveis presentes que a Maria poderia ter dado ao Joatildeo ela deu
somente um perfume por isso [x e apenas x]
Contudo o fenocircmeno da focalizaccedilatildeo natildeo se restringe somente agraves respostas das
perguntas wh ou agraves respostas dos contextos induzidos Davis (2009 p 2) assinala que haacute dois
grandes aspectos da constituiccedilatildeo do foco ldquoThe first is its grammar how FOCUS is expressed
in language The second is its meaning It does not require much investigation to discover
that there is no grammatical consistency to FOCUS across languagesrdquo26
O autor nota que em
relaccedilatildeo ao primeiro item natildeo haveria uma forma uacutenica universal para o uso do foco ou seja
uma liacutengua utiliza a sintaxe outra a prosoacutedia outra a morfologia outra a sintaxe e a prosoacutedia
etc ele afirma que ldquoif there is some universal consistency to FOCUS across languages it is
not found in its expressionrdquo27
Quanto ao segundo item as liacutenguas a princiacutepio natildeo
diferenciariam muito em relaccedilatildeo agrave semacircntica do foco Entretanto a propriedade de
destaquerealce sempre estaraacute presente manifestando-se seja por meio da prosoacutedia do
arranjo sintaacutetico ou da marcaccedilatildeo morfoloacutegica Davis (2009 p 2) explica que
If FOCUS will be diferently constituted grammatically its presence
has to be recognized in its semantics One portion of that semantics is
that FOCUS is involved in the answering of wh- questions but not
every utterance is a response to such a question Yet utterances must
the claim says nevertheless contain the semantics (and some
grammar) of FOCUS FOCUS then cannot be only the content
which answers questions There must be more to FOCUS When we
examine languages we discover that FOCUS has an affinity for
certain other semantics and in discovering those affinities we can
amplify our conception of what constitutes FOCUS28
A partir da assunccedilatildeo acima sugere-se que os estudos sobre a focalizaccedilatildeo natildeo
poderiam se restringir agraves anaacutelises de dados de introspecccedilatildeo sobretudo aqueles que explicam o
fenocircmeno somente a partir de dados com contexto pergunta-whresposta A natureza
discursivo-pragmaacutetica da focalizaccedilatildeo faz com que esse fenocircmeno seja melhor compreendido
26
ldquoO primeiro eacute sua gramaacutetica como o FOCO eacute expresso na liacutengua O segundo eacute o seu significado Natildeo se
requer muita investigaccedilatildeo para descobrir que natildeo haacute coerecircncia gramatical do FOCO atraveacutes das liacutenguasrdquo 27
ldquose houver alguma consistecircncia universal para o FOCO entre as liacutenguas natildeo eacute encontrada na sua expressatildeordquo 28
ldquoSe o FOCO seraacute constituiacutedo diferente gramaticalmente a sua presenccedila tem de ser reconhecida em sua
semacircntica Uma parte dessa semacircntica eacute que o FOCO estaacute envolvido nas respostas de perguntas QU mas nem
todo enunciado eacute uma resposta a essas perguntas No entanto os enunciados devem a alegaccedilatildeo diz todavia
conter a semacircntica (e alguma gramaacutetica) do FOCO O FOCO entatildeo natildeo pode ser apenas o conteuacutedo que
responde a perguntas Deve haver mais para o FOCO Quando examinamos as liacutenguas descobrimos que o
FOCO tem uma afinidade com outras semacircnticas e descobrindo essas afinidades podemos ampliar a nossa
concepccedilatildeo do que constitui o FOCOrdquo
24
na liacutengua espontacircnea apesar de natildeo se poder excluir suas propriedades semacircnticas em
diferentes enunciados que podem ser analisados sem o uso de dados de liacutengua espontacircnea
como eacute o caso da investigaccedilatildeo das propriedades semacircnticas do foco em dados de introspecccedilatildeo
e de suas representaccedilotildees formais
224 Foco prosoacutedico
A prosoacutedia eacute um dos traccedilos da camada suprassegmental ou seja que se encontra
acima dos segmentos dispostos linearmente na cadeia sonora da fala Beaver amp Clark (2008
p 2) explicam que os traccedilos suprassegmentais satildeo assim chamados porque ldquothey spread out
across multiple segments (basic sound units) or even across multiple wordsrdquo29
Callou amp
Leite (1990 p31) afirmam que o ldquoconjunto de fenocircmenos dos quais se derivam tipos de
acento padrotildees entoacionais ritmos e velocidades de fala satildeo estudados sob o roacutetulo de
prosoacutediardquo Ao contraacuterio dos segmentos que satildeo descritos pelos movimentos dos articuladores
do aparelho fonador os suprassegmentos satildeo descritos ldquoem termos da accedilatildeo dos muacutesculos
respiratoacuterios que aumentam ou diminuem a energia do fluxo de ar ocasionando duraccedilotildees
frequumlecircncia fundamental e intensidade diferentes das vibraccedilotildees sonorasrdquo (CALLOU amp LEITE
1990 p 30) Paracircmetros acuacutesticos como frequecircncia fundamental intensidade e duraccedilatildeo fiacutesica
satildeo outros traccedilos suprassegmentais que satildeo percebidos respectivamente como pitch
loudness e length que por sua vez ldquoapresentam correlatos fiacutesicos frequumlecircncia amplitude e
tempordquo (LEITE 2009 p 17)30
A frequecircncia eacute medida em Hz (Hertz) a amplitude em dB
(decibeacuteis) e o tempo em ms (milissegundos)
Barbosa (2008) menciona que a prosoacutedia estaacute
associada a fatores linguumliacutesticos como acentuaccedilatildeo entoaccedilatildeo ecircnfase e
ritmo bem como a fatores para- e extra-linguiacutesticos tais como
marcadores discursivos (ldquoneacuterdquo ldquoentendordquo ldquoanhanrdquo) atitudes
emoccedilotildees imbricados a fatores sociais ou bioloacutegicos como gecircnero
faixa etaacuteria classe social entre outros
Segundo Leite (2009 p 18) a prosoacutedia exerceria funccedilotildees ldquogramatical atitudinal
informacional indexal e ilocucionaacuteriardquo Nota-se portanto que eacute muito importante levar em
29
ldquoeles se espalham em vaacuterios segmentos (unidades baacutesicas de som) ou mesmo atraveacutes de muacuteltiplas palavrasrdquo 30
Neste trabalho natildeo se pretende definir minuciosamente todos os conceitos dos correlatos foneacutetico-acuacutesticos
dos sons da fala estudados pela Foneacutetica Acuacutestica Para mais informaccedilotildees cf Ladefoged (1974) Malmberg
(1998) e Johnson (2003)
25
consideraccedilatildeo a prosoacutedia na anaacutelise linguiacutestica visto que ela desempenha funccedilotildees associadas a
fatores intrinsecamente linguiacutesticos bem como a fatores extralinguiacutesticos A prosoacutedia ainda
apresenta um importante papel na aquisiccedilatildeo da linguagem sendo recurso especial para a
crianccedila associar unidades sonoras a significado (cf BRUM DE PAULA 2010)
As investigaccedilotildees do Ciacuterculo Linguiacutestico de Praga sugeriram que os elementos dados
do discurso ou seja aqueles que jaacute haviam sido mencionados seriam prosodicamente menos
relevantes que os elementos novos Disso resulta que a informaccedilatildeo nova ou o foco seja
destacado prosodicamente isto eacute apresente proeminecircncia prosoacutedica A proeminecircncia
prosoacutedica eacute definida como ldquoa quantitative parameter of a syllable or a boundary that describes
markedness relative to surrounding syllables and boundaries respectivelyrdquo (PORTELE amp
HEUFT 1997 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 227)31
Haacute autores que classificam o
foco levando em conta sobretudo o fator proeminecircncia prosoacutedica por exemplo ldquothe term
focus is used [] to describe prosodic prominences serving pragmatic and semantic
functionsrdquo (ROOTH 1995 p 271 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 228)32
O foco prosoacutedico eacute definido por meio de uma proeminecircncia tonal (cf
BUTRAGUENtildeO 2005) Entretanto alguns estudos mostram que o foco natildeo seria marcado
somente com a proeminecircncia tonal ou prosoacutedica Proeminecircncias de outros traccedilos
suprassegmentais como duraccedilatildeo e intensidade tambeacutem marcariam o foco (cf TOLEDO
1989 SOSA 1999 QUAREZEMIN 2009 entre outros) Para Butraguentildeo (2005 p 141) os
focos prosoacutedicos ldquoreciben acentos tonales de contorno especiacutefico que permiten distinguirlos
del fondo (o background)rdquo33
Os paracircmetros de anaacutelise acuacutestica do foco satildeo os movimentos
de F0 o alinhamento entre siacutelabas e F0 duraccedilatildeo das siacutelabas e vogais intensidade da siacutelaba e
em alguns casos pausas e meacutedia entre picos de F0
As abordagens teoacutericas utilizadas nos trabalhos sobre o foco prosoacutedico guiam a
metodologia de anaacutelise dos dados Assim alguns autores que trabalham com uma abordagem
formal utilizando o sistema ToBI (cf SILVERMAN et al 1992) para a anaacutelise dos dados
representam a entoaccedilatildeo dos enunciados marcando as siacutelabas com acentos tonais que se
manifestam em acentos monotonais (H ou L) bitonais (H+L L+H etc) e ainda poderia
haver tons de juntura (H e L) que delimitam as fronteiras dos grupos meloacutedicos Na
Fonologia Entoacional haacute trecircs tipos de tons pitch accents phrase accents e boundary tones
31
ldquoum paracircmetro quantitativo de uma siacutelaba ou de uma fronteira que descreve a marcaccedilatildeo relativa agraves siacutelabas
vizinhas e fronteiras respectivamenterdquo 32
ldquoo termo foco eacute utilizado [] para descrever proeminecircncias prosoacutedicas que servem a funccedilotildees pragmaacuteticas e
semacircnticasrdquo 33
ldquorecebem acentos tonais de contorno especiacutefico que permitem distingui-los do fundo (ou background)rdquo
26
Geralmente o foco eacute marcado por um pitch accent que pode ser definido como ldquoa local
feature of a pitch contour ndash usually but not invariably a pitch change and often involving a
local maximum or minimumrdquo (LADD 1996 p 45-6 apud BEAVER amp CLARK 2008 p
11)34
Segundo Roach (2011 p 67) pitch
is an auditory sensation when we hear a regularly vibrating sound
such as a note played on a musical instrument or a vowel produced
by the human voice we hear a high pitch if the rate of vibration is
high and a low pitch if the rate of vibration is low35
Nooteboom (1997 p 641) atenta para o fato de que ldquoone should be aware however
that rather often the notion bdquopitch‟ is used to refer to f0 or the repetition frequency itself In
speech f0 is determined by the rate of vibration of the vocal cords located in the larynxrdquo36
Ademais Crystal (2008 p 369) adverte que ldquothere is however no direct or parallel
correlation between pitch and frequency other factors than frequency may affect our
sensation of pitch (measured in units known as mels)rdquo37
Pitch countour seria a marcaccedilatildeo dos
uacutenicos pitchs relevantes para a compreensatildeo de um perfil entoacional A teacutecnica da close
copy (cf t‟HART et al 1990) justamente realccedila o pitch countor atraveacutes de uma ldquosiacutentese que
satildeo eliminados movimentos de F0 que natildeo causam diferenccedila de percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao
aacuteudio originalrdquo (ROCHA 2011 p 106) De acordo com Crystal (2008 p 369-370) o termo
pitch accent
is used phonologically in the description of languages in which the
distribution of the tones within a word is totally predictable once one
has specified a particular tonal feature of the word (as in Japanese)
The notion has also been applied to English where some
phonological models analyse intonation CONTOURS as a sequence
of one or more pitch accents each associated with a STRESS-
prominent SYLLABLE in a word38
34
ldquoum traccedilo local de um pitch contour - geralmente mas natildeo invariavelmente variaccedilatildeo de pitch e muitas vezes
envolvendo um local maacuteximo ou miacutenimordquo 35
ldquoeacute uma sensaccedilatildeo auditiva quando ouvimos um som regularmente vibrando como uma nota tocada em um
instrumento musical ou uma vogal produzida pela voz humana noacutes ouvimos um pitch alto se a taxa de vibraccedilatildeo
eacute alta e um pitch baixo se a taxa de vibraccedilatildeo eacute baixardquo 36
ldquodeve-se estar ciente no entanto que muitas vezes a noccedilatildeo de pitch eacute utilizada para se referir a f0 ou a
frequecircncia da repeticcedilatildeo Na fala a f0 eacute determinada pela taxa de vibraccedilatildeo das cordas vocais localizadas na
laringerdquo 37
ldquonatildeo haacute poreacutem nenhuma correlaccedilatildeo direta ou paralelo entre pitch e frequecircncia outros fatores aleacutem
frequecircncia podem afetar a nossa sensaccedilatildeo de pitch (medido em unidades conhecidas como mels)rdquo 38
ldquoeacute usado fonologicamente na descriccedilatildeo das liacutenguas nas quais a distribuiccedilatildeo dos tons dentro de uma palavra eacute
totalmente previsiacutevel uma vez que se tenha especificado uma caracteriacutestica particular de tons da palavra (tal
como no japonecircs) A noccedilatildeo tambeacutem foi aplicada para o inglecircs em que alguns modelos fonoloacutegicos analisam os
CONTORNOS da entoaccedilatildeo como uma sequecircncia de um ou mais pitch accents cada um associado a uma
SIacuteLABA STRESS-proeminente em uma palavrardquo
27
O sistema ToBI reconhece 5 tipos de pitch accents enquanto Pierrehumbert (1980)
menciona 7 tipos Atraveacutes dessa classificaccedilatildeo eacute possiacutevel delimitar o accent prototiacutepico do
foco ou suas possiacuteveis variantes Beaver amp Clark (2008 p 12) mencionam que ldquoalthough
focus is frequently marked by an H accent [] other accents are possible For example in
yes-no questions focus is often by marked by an L+Hrdquo39
A importante pressuposiccedilatildeo teoacuterica de que toda oraccedilatildeo eacute resposta a uma pergunta
guia a metodologia de muitas investigaccedilotildees sobre o foco sobretudo de trabalhos
experimentais de leitura de sentenccedilas denominados testes de produccedilatildeo Com o pressuposto
teoacuterico da explicitaccedilatildeo do foco por meio de pergunta-resposta eacute possiacutevel delimitar o tipo de
foco a ser analisado broad focus (foco largo) narrow focus (foco estreito) ou contrastive
focus (foco contrastivo) (cf seccedilatildeo 121 p 14) Essa metodologia tem por caracteriacutestica
induzir guiar e restringir os padrotildees meloacutedicos da fala ao fornecer exemplos com contextos
preacutevios ou mesmo com o foco jaacute explicitado na sentenccedila para se obter o resultado desejado
Em investigaccedilatildeo sobre a marcaccedilatildeo prosoacutedica dos focos largo estreito e contrastivo em
alematildeo Baumann et al (2006 p 302) mencionam em sua metodologia de teste de leitura
que
reading material consisted of five question-answer pairs with the
answer bdquoManuela will Blumen malen‟ (Manuela wants to paint
flowers) The main criterion the target sentence had to fulfill was its
continuous voicing so as to be able to accurately measure exact peaks
and valleys in the F0 contour40
Dependendo do objetivo do trabalho ou da liacutengua a ser analisada podem-se controlar
outros fatores Por exemplo em trabalho sobre como o tom lexical e o foco contribuem para a
formaccedilatildeo e alinhamento dos F0 contours no chinecircs Xu (1999 p 58) menciona na
metodologia que
the factors manipulated in the experiment were segmental
composition of syllables lexical tones focus and and sentence types
Of these only lexical tones and focus were under direct scrutiny The
control of the other two factors was done by keeping their variation to
39
ldquoembora o foco seja frequentemente marcado por um accent H [] outros accents satildeo possiacuteveis Por
exemplo em perguntas sim-natildeo o foco eacute muitas vezes marcado por um H + Lrdquo 40
ldquoo material de leitura consistiu de cinco pares de pergunta-resposta com a resposta bdquoManuela will Blumen
malen‟ (Manuela quer pintar flores) O principal criteacuterio que a frase alvo tinha a cumprir era seu vozeamento
contiacutenuo de modo a ser capaz de medir com precisatildeo exata picos e vales no contorno da F0rdquo
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
RESUMEN
La focalizacioacuten es un fenoacutemeno pragmaacutetico-discursivo que pretende resaltar los elementos de
la declaracioacuten El realce dado a un elemento de la declaracioacuten se llama foco En el lenguaje
natural existen varias maneras de focalizar un elemento a traveacutes de caracteriacutesticas
prosoacutedicas construcciones sintaacutecticas afijacioacuten morfoloacutegica combinacioacuten con elementos
leacutexicos exclusivos etc Este trabajo tiene dos objetivos principales el primero es mapear
clasificar y analizar prosodicamente las estrategias de focalizacioacuten en el portugueacutes de Brasil
teniendo en cuenta el contexto pragmaacutetico de enunciacioacuten y haciendo uso del formalismo
semaacutentico como apoyo al anaacutelisis de datos asiacute como de la percepcioacuten para la identificacioacuten de
estas estrategias El segundo objetivo es proponer una distincioacuten entre el foco prosoacutedico y el
eacutenfasis fenoacutemenos que a menudo se consideran sinoacutenimos por presentar ciertas similitudes al
parecer sin embargo proponemos que existen diferencias entre los dos El mismo criterio se
adoptoacute para el anaacutelisis de datos relacionados con el segundo objetivo de este trabajo es decir
la prosodia el contexto pragmaacutetico y las propiedades semaacutenticas El corpus utilizado para esta
investigacioacuten fue el C-ORAL-BRASIL (RASO amp MELLO 2012) un corpus oral del
portugueacutes brasilentildeo hablado informalmente Cabe sentildealar que esta investigacioacuten es de tipo
cualitativo es decir no se tendraacute en cuenta paraacutemetros cuantitativos como apoyo para el
anaacutelisis de datos aunque creemos que todos sean importantes Otros objetivos tambieacuten se
contemplan por ejemplo la exposicioacuten de cada tipo de foco que se ilustra con ejemplos de
varios idiomas teniendo en cuenta las diferentes corrientes de estudio A traveacutes de la
investigacioacuten con tres textos del corpus C-ORAL-BRASIL fue posible clasificar las
ocurrencias de focalizacioacuten en el foco prosoacutedico llevado a cabo por una prominencia
prosoacutedica el foco morfoloacutegico expresado por una palabra dedicada a focalizar y el foco
sintaacutectico llevado a cabo a traveacutes de construcciones hendidas El foco prosoacutedico y el eacutenfasis
en el nivel pragmaacutetico se distinguen con diferentes contextos de enunciacioacuten y en el nivel
semaacutentico que presenta diferentes efectos de sentido
Palabras-clave focalizacioacuten foco eacutenfasis prosodia pragmaacutetica
LISTA DE FIGURAS
Figura 31 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02 37
Figura 32 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03 38
Figura 33 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Figura 34 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04 42
Figura 35 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Figura 36 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03 46
Figura 37 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03 47
Figura 38 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Figura 39 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03 51
Figura 310 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03 52
Figura 311 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03 53
Figura 312 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02 54
LISTA DE TABELAS
Tabela 31 - Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02 37
Tabela 32 - Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03 38
Tabela 33 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Tabela 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Tabela 35 - Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04 43
Tabela 36 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Tabela 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Tabela 38 - Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03 46
Tabela 39 - Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03 47
Tabela 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 50
Tabela 314 - Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03 51
Tabela 315 - Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03 52
Tabela 316 - Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03 53
Tabela 317 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02 54
Tabela 318 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02 55
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 12
2 PANORAMA GERAL DOS ESTUDOS SOBRE O FOCO 12
22 TIPOS DE FOCO 13
221 Foco sintaacutetico 14
222 Foco morfoloacutegico 18
223 Foco semacircntico 21
224 Foco prosoacutedico 24
3 METODOLOGIA DA PESQUISA 29
31 OBJETIVO 29
32 CORPUS 30
321 C-ORAL-ROM 30
322 C-ORAL-BRASIL 32
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 34
4 ANAacuteLISE DOS DADOS 35
41 FOCO PROSOacuteDICO 35
42 FOCO SINTAacuteTICO 41
43 FOCO MORFOLOacuteGICO 45
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE 47
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 55
REFEREcircNCIAS 56
12
1 INTRODUCcedilAtildeO
A focalizaccedilatildeo eacute um fenocircmeno linguiacutestico cada vez mais estudado e que possui
importante papel na comunicaccedilatildeo oral Sua importacircncia na gramaacutetica das liacutenguas naturais
bem como nas situaccedilotildees comunicativas eacute grande podendo ser observada pela assunccedilatildeo de
Davis (2009 p 2) ldquoFOCUS is present in every language and that it is present in every
utterance of every languagerdquo1 Embora haja divergecircncia por parte de alguns autores quanto agrave
proposta de Davis assume-se de qualquer forma que a focalizaccedilatildeo nas liacutenguas naturais eacute um
importante recurso comunicativo promovido nas diversas interaccedilotildees linguiacutesticas do cotidiano
pois sinaliza propriedades semacircnticas especiacuteficas atraveacutes de recursos prosoacutedicos
morfoloacutegicos e configuraccedilotildees sintaacuteticas dedicadas a destacar um item Nas liacutenguas romacircnicas
e germacircnicas sobretudo a estrateacutegia prosoacutedica da focalizaccedilatildeo eacute fundamental para a
realizaccedilatildeo do foco conforme mencionam Beaver amp Clark (2008 p xxi) ldquoRomance and
Germanic languages and English in particular focus is commonly marked by prosody with
changes in pitch used to mark focused expressionsrdquo2 Natildeo obstante estejam presentes e
podendo estar em co-ocorrecircncia nas liacutenguas desses troncos estrateacutegias sintaacuteticas como as
construccedilotildees clivadas e morfoloacutegicas como adveacuterbios e quantificadores focais o que poderaacute
ser constatado ao longo deste trabalho
Este trabalho estaacute divido em duas partes a primeira (cf seccedilatildeo 2 e subseccedilotildees) que
procura expor ao leitor atraveacutes da consideraccedilatildeo de diferentes estudos de variadas abordagens
teoacuterico-metodoloacutegicas uma revisatildeo bibliograacutefica ao mesmo tempo concisa e imparcial que
objetiva cobrir de modo satisfatoacuterio o tema da focalizaccedilatildeo e seus desdobramentos nos estudos
linguiacutesticos e a segunda (cf seccedilotildees 3 e 4 e subseccedilotildees) que consiste na exposiccedilatildeo do objetivo
e da metodologia da pesquisa do corpus utilizado da anaacutelise dos dados e das decorrentes
consideraccedilotildees sobre o foco no Portuguecircs Brasileiro falado informal aleacutem da discussatildeo sobre
a diferenciaccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase Por fim a seccedilatildeo 5 consiste nas
consideraccedilotildees finais
2 PANORAMA GERAL DOS ESTUDOS SOBRE O FOCO
O fenocircmeno da focalizaccedilatildeo tem sido estudado por vaacuterias aacutereas da linguiacutestica ndash
sintaxe semacircntica prosoacutedia etc ndash e sob diferentes abordagens teoacuterico-metodoloacutegicas ndash
1 ldquoO FOCO estaacute presente em toda liacutengua e estaacute presente em todo enunciado de toda liacutenguardquo
2 ldquoNas liacutenguas romacircnicas e germacircnicas e no inglecircs em particular o foco eacute marcado normalmente pela prosoacutedia
com variaccedilotildees no pitch para marcar as expressotildees focalizadasrdquo
13
formal funcional pragmaacutetica etc Cada estudo independente da aacuterea ou da abordagem
teoacuterica tem revelado que a focalizaccedilatildeo apresenta importante papel na gramaacutetica das liacutenguas
naturais pois o foco seu principal componente manifesta-se nelas por diferentes estrateacutegias
linguiacutesticas Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os diferentes meios em que o foco pode se
manifestar isto eacute os tipos de foco O objetivo deste capiacutetulo eacute mostrar que o foco ocorre
atraveacutes de diferentes estrateacutegias nas liacutenguas e que cada liacutengua escolhe uma ou mais
estrateacutegias para sua realizaccedilatildeo
21 TIPOS DE FOCO
O fenocircmeno que abrange o foco eacute a focalizaccedilatildeo que pode ser definida como o ldquoato de
focalizar ou seja de acentuar de ressaltar de pocircr em relevorealceevidecircncia um
determinado item do textordquo (GONCcedilALVES 1998 p 32) As liacutenguas naturais expressam esse
realce com diferentes estrateacutegias seja por meio da sintaxe da prosoacutedia ou da morfologia seja
com o uso de uma estrateacutegia ou de mais de uma atuando em conjunto A focalizaccedilatildeo eacute
considerada um fenocircmeno discursivo-pragmaacutetico ldquopois o usuaacuterio pode centrar sua atenccedilatildeo a
uma parcela do enunciado que julgue relevante enfatizando-ardquo (GONCcedilALVES 1998 p 33)
Assim sendo a focalizaccedilatildeo estaria vinculada tanto agraves estrateacutegias argumentativas do falante
quanto ao conteuacutedo informacional do enunciado Segundo Gonccedilalves (1998 p 39) o foco
ldquopode incidir em qualquer constituinte do enunciado (palavras morfemas sintagmas e
pequenas oraccedilotildees)rdquo
Mesmo com a definiccedilatildeo do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo as descobertas dos estudos
sobre a biparticcedilatildeo da frase a respeito do conceito de foco natildeo foram descartadas (cf
BARBOSA 2005) Gonccedilalves (1998 p 32) menciona que o constituinte focalizado eacute ldquoa
parcela do texto apresentada como a mais informativarelevanterdquo e que os elementos fora de
foco constituem ldquoinformaccedilatildeo apresentada previamente ao ouvinterdquo ou os elementos que os
interlocutores julgam conhecidos Ainda segundo Gonccedilalves o foco apresentaria informaccedilatildeo
nova Eacute neste ponto que pode haver confusatildeo Os autores ampliam o escopo de investigaccedilatildeo
mas manteacutem certos conceitos de estudos preacutevios e de diferentes correntes teoacutericas sem
explicitar qual ou quais estatildeo sendo levados em consideraccedilatildeo Para Gonccedilalves (1998 p 33) a
informaccedilatildeo nova isto eacute o que eacute focalizado eacute ldquonew natildeo porque natildeo foi mencionado
previamente mas eacute new exatamente porque o falante tende a interpretar como natildeo suscetiacutevel
de recuperaccedilatildeo (a) nem a partir do texto precedente (co-texto) e (b) nem por meio do
contexto pragmaacutetico (situacional) imediatordquo Nota-se que o autor utiliza uma noccedilatildeo
14
pragmaacutetica do que seria informaccedilatildeo novadada A diamesia oral eacute muito mais ampla do que a
escrita no sentido de que a unidade de referecircncia da fala eacute o enunciado ndash organizado segundo
princiacutepios pragmaacutetico-ilocucionaacuterios ndash jaacute na escrita a unidade de referecircncia eacute a frase ndash
organizada segundo princiacutepios loacutegico-sintaacuteticos ndash aleacutem de haver caracteriacutesticas distintivas
entre falaescrita por exemplo hesitaccedilotildees interrupccedilotildees sobreposiccedilotildees etc Como a
focalizaccedilatildeo eacute considerada um fenocircmeno discursivo as noccedilotildees estudadas no niacutevel da frase natildeo
conseguem abranger todos os aspectos que a liacutengua oral apresenta por isso novas definiccedilotildees
satildeo propostas contudo em muitos casos preservando determinadas terminologias de estudos
anteriores
Cada liacutengua escolhe uma ou mais estrateacutegias para a focalizaccedilatildeo Pode-se ateacute mesmo
classificaacute-las tipologicamente com relaccedilatildeo agrave manifestaccedilatildeo do foco em cada uma Contudo
muitas vezes essas estrateacutegias se organizam conjuntamente para a manifestaccedilatildeo do foco no
caso da focalizaccedilatildeo sintaacutetica e a prosoacutedica coocorrerem nas construccedilotildees clivadas por
exemplo Assim como um morfema poder licenciar um conjunto de alternativas semacircnticas
de escopo em uma sentenccedila servindo de gatilho para a manifestaccedilatildeo prosoacutedica do foco
Todavia nosso objetivo nesta seccedilatildeo eacute mostrar os vaacuterios tipos de foco em isolamento apesar
de que a interface com outro componente gramatical seraacute explicada quando necessaacuterio A
exposiccedilatildeo natildeo seraacute exaustiva uma vez que este tipo de trabalho natildeo permite uma discussatildeo
mais longa da literatura
221 Foco sintaacutetico
O foco tem recebido grande atenccedilatildeo nos estudos da sintaxe gerativa Itens de natureza
discursiva como o toacutepico e o proacuteprio foco passam a fazer parte da estrutura interna das
sentenccedilas dentro dessa abordagem teoacuterica Eles ocupam uma posiccedilatildeo na parte mais alta da
sentenccedila caracterizada por ser uma estrutura funcional sendo a outra parte da sentenccedila a
estrutura lexical Com a proposta de extensatildeo do sistema CP (RIZZI 1997)3 dois
subsistemas satildeo criados o primeiro constituiacutedo por ForceP e FinP e o segundo por TopP e
FocP A categoria ForceP determina o tipo de sentenccedila enquanto FinP determina sua
finitude Os constituintes toacutepico e foco satildeo interpretados em Spec de seus respectivos
sintagmas O sistema CP entatildeo passa a ser representado da seguinte forma (QUAREZEMIN
2009 p 22)
3 Segundo Quarezemin (200921) ldquoa extensatildeo do CP ocorre para acomodar certos constituintes com
propriedades discursivas e de escopo aleacutem de derivar sua interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo Spec-nuacutecleordquo
15
(1) ForceP
Force0 TopP
Top0 FocP
Foc0 TopP
Top0 FinP
Fin0 IP
As categorias TopP e FocP4 soacute aparecem na estrutura se houver constituintes com
funccedilotildees de toacutepico e foco na sentenccedila A categoria TopP aparece duas vezes na estrutura
porque eacute considerada recursiva Isso significa que pode haver mais de um toacutepico na sentenccedila
Na estrutura FocP natildeo aparece duas vezes pois a natureza quantificacional do foco natildeo
permite tal repeticcedilatildeo Para Rizzi (1997) e Belletti (2001) ldquoa noccedilatildeo de foco estaacute diretamente
relacionada agrave posiccedilatildeo que este constituinte ocupa na sentenccedila Para eles um constituinte eacute
interpretado como foco somente se ele ocupa a posiccedilatildeo de Spec de FocPrdquo (ASSIS 2003 p
360)
Nessa abordagem o toacutepico ldquoveicula informaccedilatildeo jaacute conhecida pelos participantes do
discursordquo enquanto o comentaacuterio ldquoeacute um tipo de predicado complexo que se aplica ao toacutepicordquo
(QUAREZEMIN 2009 p 22) No exemplo da autora your book eacute o toacutepico e o que estaacute
depois da viacutergula eacute o comentaacuterio
(2) Your book you should give t to Paul (not to Bill)5
Ela afirma que na fala o toacutepico eacute marcado por uma pausa Diferentemente do toacutepico
o foco eacute ldquodestacado por um acento proeminente e expressa a informaccedilatildeo do discurso natildeo
4 Haacute outras propostas sobre qual o lugar que as categorias funcionais TopP e FocP ocupam na estrutura da
sentenccedila extensatildeo de vP (Belletti 2001 2004a) e extensatildeo de DP (Giusti 2002) 5 ldquoSeu livro vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo para o Bill)rdquo
16
pressuposta pelo ouvinte enquanto a pressuposiccedilatildeo representa o conhecimento compartilhado
pelos interlocutoresrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 23)
(3) YOUR BOOK you should give t to Paul (not mine)6
Com isso Quarezemin (2009 p 46) afirma que ldquoa interpretaccedilatildeo semacircntica da
sentenccedila que apresenta a articulaccedilatildeo foco-pressuposiccedilatildeo natildeo deve ser confundida com a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila que tem a biparticcedilatildeo toacutepico-comentaacuteriordquo A autora menciona a
relaccedilatildeo entre foco-prosoacutedia dizendo que os paracircmetros acuacutesticos da descriccedilatildeo do foco satildeo a
F0 a duraccedilatildeo e a intensidade Na fonologia o foco recebe a proeminecircncia ou outro acento
tonal especiacutefico A autora diz que ldquoo foco ou um membro do sintagma focalizado sempre
recebe o acento principal da sentenccedila enquanto a pressuposiccedilatildeo natildeo pode ser acentuada nos
mesmos niacuteveisrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 52)
Em liacutenguas como o espanhol o italiano e o PE o foco de informaccedilatildeo ocupa uma
posiccedilatildeo no final da sentenccedila em casos que ocorre a inversatildeo do sujeito
(4) Egrave partitoha parlato [F Gianni]7
(Chi egrave partitoha parlato)
No exemplo de Quarezemin (2009 p 69) acima nota-se o foco estreito Gianni no
final da sentenccedila visto que esse item responde agrave pergunta chi egrave partitoparlato Haveria o
foco largo isto eacute toda a resposta de (4) seria foco se essa resposta correspondesse agrave pergunta
(QUAREZEMIN 2009 p 70)
(5) Che cosa egrave successo8
Um tipo especiacutefico de focalizaccedilatildeo sintaacutetica satildeo as construccedilotildees clivadas Resenes
(2009 p 17) explica que a clivagem eacute ldquoum processo sintaacutetico que serve para focalizar
constituintes porque prepara um lugar especiacutefico na sentenccedila para alojar o focordquo Os
elementos que cumprem essa funccedilatildeo satildeo a coacutepula o complementizador que ou um elemento
wh As propriedades semacircnticas e sintaacuteticas das sentenccedilas clivadas e pseudo-clivadas natildeo
6 ldquoO SEU LIVRO vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo o meu)rdquo
7 ldquoPartiufalou o Gianni (Quem partiufalou)rdquo
8 ldquoO que aconteceurdquo
17
seratildeo abordadas profundamente visto que esse natildeo eacute o objetivo principal deste trabalho As
sentenccedilas clivadas apresentam a estrutura [ser + XPi + que [IP eci]] jaacute as pseudo-clivadas [[CP
whi ti] + ser +XPi] (RESENES 2009 p 14) O XP deve ser a parte natildeo-pressuposta da
sentenccedila ou o foco da sentenccedila o sintagma que carrega a informaccedilatildeo nova e que segundo a
abordagem gerativa carrega tambeacutem a proeminecircncia prosoacutedica O foco dessas sentenccedilas eacute do
tipo de identificaccedilatildeo exaustiva isto eacute indicado pela propriedade semacircntica [x e apenas x]
Apresentamos como exemplo em PB uma clivada e uma pseudo-clivada respectivamente
(6) Foi [F a Luana] que comprou um livro
(7) Quem comprou um livro foi [F a Luana]
Em inglecircs as clivadas satildeo conhecidas como it-clefts pois nessa liacutengua eacute obrigatoacuteria a
realizaccedilatildeo do expletivo na posiccedilatildeo inicial da sentenccedila
(8) It was [F John] who died in a car crash9
Haacute vaacuterios tipos de realizaccedilatildeo dessas sentenccedilas por exemplo clivada sem coacutepula
clivada com dupla coacutepula pseudo-clivada reduzida etc
Na liacutengua Ayutla Mixteca em que a ordem canocircnica da sentenccedila eacute VSO a
focalizaccedilatildeo se daacute atraveacutes da mudanccedila de posiccedilatildeo do elemento que se deseja focalizar para
uma posiccedilatildeo preacute-verbal ldquobecause the first element of any list is perceptually salient
preverbal position tends to grant the item filling it some degree of highlighting This position
is therefore often used for constituents that a speaker wishes to focus in some wayrdquo
(HOLLENBACH 1995 p 1)10
Seguem os exemplos de Hills (1990 p 27-28 apud
HOLLENBACH 1995 p 2)
(9) mburu xi‟i‟ tikui
donkey drinks water
bdquoThe donkey is drinking water‟11
(10) tikui xi‟i‟ mburu
9 ldquoFoi [F o Joatildeo] que morreu num acidente de carrordquo
10 ldquoporque o primeiro elemento de qualquer lista eacute perceptualmente saliente a posiccedilatildeo preacute-verbal tende a
conceder ao item carregando-o com algum grau de realce Esta posiccedilatildeo eacute portanto frequentemente usada para
constituintes em que o falante deseja focalizar de algum modordquo 11
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo
18
water drinks donkey
bdquoThe donkey is drinking water‟12
Entretanto Hollenbach (1995 p 2) adverte que a relaccedilatildeo semacircntica do foco com a
posiccedilatildeo preacute-verbal eacute obscura jaacute que um constituinte pode ocorrer na posiccedilatildeo preacute-verbal sem
que o falante deseje focalizaacute-lo Entatildeo a autora investiga as condiccedilotildees para que a focalizaccedilatildeo
do constituinte preacute-verbal ocorra13
Ela identificou vaacuterias condiccedilotildees para a identificaccedilatildeo do
foco na posiccedilatildeo preacute-verbal nas liacutenguas do grupo Mixteca entre elas a pausa (11) e a inserccedilatildeo
de conjunccedilotildees coordenadas (12) depois do elemento focalizado
(11) juaacutea ta‟u da ntuku
John splits he firewood
bdquoAs for John he is splitting firewood‟ (Yosonduacutea FARRIS 1992 p 28 apud
HOLLENBACH 1995 p 3)14
(12) sa‟an mi neacute din tavi di kuidaacutedo di
man that and willdo very you care you (Cuicatec BRADLEY 1991
p 493 apud HOLLENBACH 1995 p 3)
Esses satildeo exemplos que a focalizaccedilatildeo natildeo se daacute exclusivamente pela sintaxe mas que
co-ocorre com ela ou seja eacute necessaacuterio que haja mais elementos linguiacutesticos aleacutem da
posiccedilatildeo preacute-verbal para que a focalizaccedilatildeo ocorra de forma satisfatoacuteria
222 Foco morfoloacutegico
O foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de certos morfemas que dependendo da
liacutengua seratildeo cliacuteticos ou morfemas livres Nesse caso ldquoum bdquoMorfema de Ecircnfase‟ seraacute o
elemento responsaacutevel pela iluminaccedilatildeo do elemento destacado no textordquo (GONCcedilALVES
1999 p 336) Natildeo obstante isso natildeo signifique que o foco natildeo possa ser expresso por outros
meios nas liacutenguas em que predominam o meio morfoloacutegico para que a focalizaccedilatildeo ocorra
Esse tipo de focalizaccedilatildeo eacute mais comum em liacutenguas natildeo-indo-europeias como em liacutenguas
12
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo 13
Hollenbach investigou as condiccedilotildees do foco natildeo soacute na liacutengua Ayutla Mixteca mas em seis variedades do
Mixteca duas do Trique e uma do Cuicatec Essas liacutenguas fazem parte grupo Mixteca que por sua vez faz
parte da famiacutelia das liacutenguas Otomangues faladas sobretudo no sul do Meacutexico As liacutenguas da famiacutelia
Otomangue apresentam a ordem canocircnica VSO 14
ldquoQuanto ao Joatildeo ele estaacute partindo a lenhardquo
19
indiacutegenas brasileiras por exemplo em marubo e em mekens O aacuterabe e o japonecircs tambeacutem
satildeo exemplos de liacutenguas em que ocorre a focalizaccedilatildeo morfoloacutegica Hagesawa (2010 p 1)
explica que no japonecircs ldquoone of the most general properties of focus particles is to relate a
proposition which is newly introduced by the sentence containing a focus particle and
propositions available in the contextrdquo15
Em japonecircs a partiacutecula -shika introduz a noccedilatildeo de exclusividade o que eacute expresso
pela palavra only em inglecircs Essa noccedilatildeo eacute a mesma do foco de identificaccedilatildeo encontrado nas
sentenccedilas clivadas do PB por exemplo Segue o exemplo de Hagesawa (2010 p 4)
(13) Miho-shika ko-na-katta
Miho-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoOnly Miho came‟16
No exemplo (13) a funccedilatildeo do morfema -shika pode ser parafraseada como ldquosomente
Miho veio e mais ningueacutemrdquo Quanto ao padratildeo prosoacutedico das partiacuteculas de foco no japonecircs
Hagesawa (2010 p 33) afirma que
although Japanese focus particles have their own accent patterns
when they occur without a focused constituent or they are stressed as
shown in (14) and (15) they lose their accent pattern and follow the
tone melody of their host when they are suffixed17
18
O autor apresenta os seguintes exemplos
(14) Shikamade-o jisyo-de shirabe-ta
HL HL
SHIKAMADE-ACC dictionary-with lookup-PAST
bdquoI looked up bdquoshika‟‟made‟ in a dictionary‟19
(15) A Yuka-mo ki-ta-no
Yuka-also come-PAST-Q
15
ldquouma das propriedades mais gerais das partiacuteculas de foco eacute relacionar uma proposiccedilatildeo que eacute receacutem-
introduzida pela sentenccedila contendo uma partiacutecula de foco e proposiccedilotildees disponiacuteveis no contextordquo 16
ldquoSomente Miho veiordquo 17
A numeraccedilatildeo dos exemplos natildeo segue a original 18
ldquoconquanto as partiacuteculas de foco do japonecircs tecircm seus padrotildees proacuteprios de accent quando ocorrem sem um
constituinte focalizado ou estatildeo stressed como mostrado em (14) e (15) elas perdem o seu padratildeo de accent e
seguem a melodia tonal do seu hospedeiro quando elas satildeo sufixadasrdquo 19
ldquoEu procurei bdquoshika‟‟made‟ em um dicionaacuteriordquo
20
bdquoDid Yuka also come‟
B Uun Yuka-shika ko-na-katta
HL
no Yuka-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoNo only Yuka came‟20
Na liacutengua Mekens todas as questotildees wh apresentam o cliacutetico foco te como no
exemplo abaixo de Galucio (2002 p 67)
(16) aapo=te o-tek pogabeg-a ke i-koop ikatildeotilde tete
Who=foc 1s-house open-Theme say 3s-aux+mov that time
bdquordquoWho opened my houserdquo She was saying that time‟21
Haacute tambeacutem o uso do recurso sintaacutetico pois o constituinte focalizado sempre aparece
no iniacutecio da sentenccedila A autora menciona que a informaccedilatildeo natildeo-pressuposta das respostas agraves
perguntas wh tambeacutem apareceratildeo na forma de construccedilotildees focalizadas Isso faz com que a
ordem canocircnica ndash SOV ndash dessa liacutengua se altere em sentenccedilas como (17) abaixo por exemplo
extraiacuteda de Galucio (2002 p 68) Notam-se nas duas oraccedilotildees que os sujeitos ocorrem
depois do verbo
(17) serek=te kɨpmatildekatildeỹ kweotildep =te ɨsɨɨ
split=foc floor climb+neg=foc deer
bdquoThe floor split and the deer sank‟22
Alguns autores consideram como morfemas de foco palavras como only also just e
even do inglecircs por exemplo porque elas cumprem a mesma funccedilatildeo semacircntica dos morfemas
de foco em liacutenguas como o japonecircs no exemplo da partiacutecula -shika bdquoonly‟ Na anaacutelise de
Quarezemin (2009 p 112) para as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB ela sugere que nas
construccedilotildees clivadas a coacutepula e o complementizador seriam morfemas de foco Nas palavras
da autora
20
ldquoA Yuka tambeacutem veio Natildeo somente a Yuka veiordquo 21
ldquoQuem abriu minha casa Ela estava dizendo aquela horardquo 22
ldquoO chatildeo se partiu e o veado afundourdquo
21
A hipoacutetese inicial eacute que de um modo geral os falantes do PB
preferem destacar o constituinte focalizado sintaticamente ao inveacutes
de destacaacute-lo apenas com recursos prosoacutedicos Disso surge a hipoacutetese
de que a coacutepula com funccedilatildeo de focalizar e o complementizador das
clivadas podem ser considerados morfemas de foco em PB
Em suma o foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de morfemas que tecircm por objetivo
sinalizar que o constituinte o qual estaacute afixado se encontra focalizado Eles tambeacutem podem
interagir com a sintaxe e a prosoacutedia no caso de aleacutem do morfema de foco estar afixado a um
constituinte que se deseja destacar ele tambeacutem esteja em uma posiccedilatildeo proacutepria para
construccedilotildees focalizadoras ou em casos em que aleacutem da marcaccedilatildeo morfoloacutegica do foco haja
uma proeminecircncia prosoacutedica no constituinte focalizado
223 Foco semacircntico
Em primeiro lugar salientamos que o termo bdquofoco semacircntico‟ pode causar certa
estranheza devido a que diferentemente dos outros tipos neste natildeo haacute uma manifestaccedilatildeo de
forma ldquovisiacutevelrdquo do foco no enunciado isto eacute natildeo haacute uma proeminecircncia prosoacutedica uma
construccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica ou um morfema afixado a um constituinte Antes se trata mais
de uma propriedade do significado da construccedilatildeo focalizadora em um enunciado
As trecircs principais propriedades semacircnticas do foco satildeo as dos enunciados que
apresentam o foco de informaccedilatildeo de identificaccedilatildeo e o contrastivo Geralmente para
determinar a propriedade semacircntica desses tipos de foco recorre-se ao contexto de pergunta-
whresposta ou a outro tipo de contexto induzido O foco de informaccedilatildeo23
introduz uma
informaccedilatildeo novanatildeo-pressuposta e ldquopresume uma pergunta wh como base discursiva para
ser estabelecidordquo (RESENES 2009 p 20) Segue o exemplo de Resenes (2009 p 20)
(18) a O que o Joatildeo bebeu
b O Joatildeo bebeu alguma coisa
c O Joatildeo bebeu [F o vinho]
A pergunta wh estaacute em (18a) Em (18b) encontra-se a pressuposiccedilatildeo expressa pelo
pronome indefinido O foco de informaccedilatildeo se encontra em (18c) e eacute o valor da expressatildeo wh
23
Resenes (2009) utiliza a nomenclatura de ldquofoco natildeo-contrastivordquo para esse tipo de foco
22
da pergunta em (18a) A autora menciona que na Estrutura de Asserccedilatildeo (AS)24
o foco de
(18c) seria representado como
(19) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 O x tal que o Joatildeo bebeu x = [o vinho]
O foco contrastivo corrige uma informaccedilatildeo preacutevia atraveacutes de uma prosoacutedia proacutepria
Resenes (2009 p 20) afirma que ldquoo contexto ideal para o foco contrastivo eacute aquele em que
haacute uma afirmaccedilatildeo preacutevia como base discursivardquo Segue o exemplo da autora (RESENES
2009 p 21)
(20) a O Joatildeo bebeu o vinho
b O Joatildeo bebeu [F a cerveja] (natildeo o vinho)
A AS de (20) seria
(21) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 Natildeo eacute o caso que o x tal que o Joatildeo bebeu x = vinho amp O x tal que o Joatildeo
bebeu o x = a cerveja
O foco de identificaccedilatildeo ldquorepresents a subset of the set of contextually or situationally
given elements for which the predicate phrase can potentially hold it is identified as the
exhaustive subset of this set for which the predicate phrase actually holdsrdquo (KISS 1998 p
245 apud RESENES 2009 p 21)25
Assim o foco de identificaccedilatildeo expressa exaustividade
que pode ser parafraseada como [x e apenas x] Esse tipo de foco eacute ilustrado por uma
sentenccedila clivada em (22) (RESENES 2009 p 21)
(22) Foi [F um perfume] que a Maria deu para o Joatildeo
24
Resenes (2009 p 20) explica que a AS eacute ldquoum niacutevel poacutes-LF (pragmaacutetico) que revela como a informaccedilatildeo estaacute
empacotada na sentenccedila Na AS vai estar explicitada a estrutura da focalizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo o foco e os
tipos de focordquo 25
ldquorepresenta um subconjunto do conjunto de elementos dados contextualmente ou situacionalmente para o qual
a expressatildeo do predicado pode potencialmente conter que eacute identificado como o subconjunto exaustivo deste
conjunto para o qual a expressatildeo de predicado efetivamente conteacutemrdquo
23
Em (22) o foco de identificaccedilatildeo eacute expresso pelo NP um perfume que significa que
dentro de uma seacuterie de possiacuteveis presentes que a Maria poderia ter dado ao Joatildeo ela deu
somente um perfume por isso [x e apenas x]
Contudo o fenocircmeno da focalizaccedilatildeo natildeo se restringe somente agraves respostas das
perguntas wh ou agraves respostas dos contextos induzidos Davis (2009 p 2) assinala que haacute dois
grandes aspectos da constituiccedilatildeo do foco ldquoThe first is its grammar how FOCUS is expressed
in language The second is its meaning It does not require much investigation to discover
that there is no grammatical consistency to FOCUS across languagesrdquo26
O autor nota que em
relaccedilatildeo ao primeiro item natildeo haveria uma forma uacutenica universal para o uso do foco ou seja
uma liacutengua utiliza a sintaxe outra a prosoacutedia outra a morfologia outra a sintaxe e a prosoacutedia
etc ele afirma que ldquoif there is some universal consistency to FOCUS across languages it is
not found in its expressionrdquo27
Quanto ao segundo item as liacutenguas a princiacutepio natildeo
diferenciariam muito em relaccedilatildeo agrave semacircntica do foco Entretanto a propriedade de
destaquerealce sempre estaraacute presente manifestando-se seja por meio da prosoacutedia do
arranjo sintaacutetico ou da marcaccedilatildeo morfoloacutegica Davis (2009 p 2) explica que
If FOCUS will be diferently constituted grammatically its presence
has to be recognized in its semantics One portion of that semantics is
that FOCUS is involved in the answering of wh- questions but not
every utterance is a response to such a question Yet utterances must
the claim says nevertheless contain the semantics (and some
grammar) of FOCUS FOCUS then cannot be only the content
which answers questions There must be more to FOCUS When we
examine languages we discover that FOCUS has an affinity for
certain other semantics and in discovering those affinities we can
amplify our conception of what constitutes FOCUS28
A partir da assunccedilatildeo acima sugere-se que os estudos sobre a focalizaccedilatildeo natildeo
poderiam se restringir agraves anaacutelises de dados de introspecccedilatildeo sobretudo aqueles que explicam o
fenocircmeno somente a partir de dados com contexto pergunta-whresposta A natureza
discursivo-pragmaacutetica da focalizaccedilatildeo faz com que esse fenocircmeno seja melhor compreendido
26
ldquoO primeiro eacute sua gramaacutetica como o FOCO eacute expresso na liacutengua O segundo eacute o seu significado Natildeo se
requer muita investigaccedilatildeo para descobrir que natildeo haacute coerecircncia gramatical do FOCO atraveacutes das liacutenguasrdquo 27
ldquose houver alguma consistecircncia universal para o FOCO entre as liacutenguas natildeo eacute encontrada na sua expressatildeordquo 28
ldquoSe o FOCO seraacute constituiacutedo diferente gramaticalmente a sua presenccedila tem de ser reconhecida em sua
semacircntica Uma parte dessa semacircntica eacute que o FOCO estaacute envolvido nas respostas de perguntas QU mas nem
todo enunciado eacute uma resposta a essas perguntas No entanto os enunciados devem a alegaccedilatildeo diz todavia
conter a semacircntica (e alguma gramaacutetica) do FOCO O FOCO entatildeo natildeo pode ser apenas o conteuacutedo que
responde a perguntas Deve haver mais para o FOCO Quando examinamos as liacutenguas descobrimos que o
FOCO tem uma afinidade com outras semacircnticas e descobrindo essas afinidades podemos ampliar a nossa
concepccedilatildeo do que constitui o FOCOrdquo
24
na liacutengua espontacircnea apesar de natildeo se poder excluir suas propriedades semacircnticas em
diferentes enunciados que podem ser analisados sem o uso de dados de liacutengua espontacircnea
como eacute o caso da investigaccedilatildeo das propriedades semacircnticas do foco em dados de introspecccedilatildeo
e de suas representaccedilotildees formais
224 Foco prosoacutedico
A prosoacutedia eacute um dos traccedilos da camada suprassegmental ou seja que se encontra
acima dos segmentos dispostos linearmente na cadeia sonora da fala Beaver amp Clark (2008
p 2) explicam que os traccedilos suprassegmentais satildeo assim chamados porque ldquothey spread out
across multiple segments (basic sound units) or even across multiple wordsrdquo29
Callou amp
Leite (1990 p31) afirmam que o ldquoconjunto de fenocircmenos dos quais se derivam tipos de
acento padrotildees entoacionais ritmos e velocidades de fala satildeo estudados sob o roacutetulo de
prosoacutediardquo Ao contraacuterio dos segmentos que satildeo descritos pelos movimentos dos articuladores
do aparelho fonador os suprassegmentos satildeo descritos ldquoem termos da accedilatildeo dos muacutesculos
respiratoacuterios que aumentam ou diminuem a energia do fluxo de ar ocasionando duraccedilotildees
frequumlecircncia fundamental e intensidade diferentes das vibraccedilotildees sonorasrdquo (CALLOU amp LEITE
1990 p 30) Paracircmetros acuacutesticos como frequecircncia fundamental intensidade e duraccedilatildeo fiacutesica
satildeo outros traccedilos suprassegmentais que satildeo percebidos respectivamente como pitch
loudness e length que por sua vez ldquoapresentam correlatos fiacutesicos frequumlecircncia amplitude e
tempordquo (LEITE 2009 p 17)30
A frequecircncia eacute medida em Hz (Hertz) a amplitude em dB
(decibeacuteis) e o tempo em ms (milissegundos)
Barbosa (2008) menciona que a prosoacutedia estaacute
associada a fatores linguumliacutesticos como acentuaccedilatildeo entoaccedilatildeo ecircnfase e
ritmo bem como a fatores para- e extra-linguiacutesticos tais como
marcadores discursivos (ldquoneacuterdquo ldquoentendordquo ldquoanhanrdquo) atitudes
emoccedilotildees imbricados a fatores sociais ou bioloacutegicos como gecircnero
faixa etaacuteria classe social entre outros
Segundo Leite (2009 p 18) a prosoacutedia exerceria funccedilotildees ldquogramatical atitudinal
informacional indexal e ilocucionaacuteriardquo Nota-se portanto que eacute muito importante levar em
29
ldquoeles se espalham em vaacuterios segmentos (unidades baacutesicas de som) ou mesmo atraveacutes de muacuteltiplas palavrasrdquo 30
Neste trabalho natildeo se pretende definir minuciosamente todos os conceitos dos correlatos foneacutetico-acuacutesticos
dos sons da fala estudados pela Foneacutetica Acuacutestica Para mais informaccedilotildees cf Ladefoged (1974) Malmberg
(1998) e Johnson (2003)
25
consideraccedilatildeo a prosoacutedia na anaacutelise linguiacutestica visto que ela desempenha funccedilotildees associadas a
fatores intrinsecamente linguiacutesticos bem como a fatores extralinguiacutesticos A prosoacutedia ainda
apresenta um importante papel na aquisiccedilatildeo da linguagem sendo recurso especial para a
crianccedila associar unidades sonoras a significado (cf BRUM DE PAULA 2010)
As investigaccedilotildees do Ciacuterculo Linguiacutestico de Praga sugeriram que os elementos dados
do discurso ou seja aqueles que jaacute haviam sido mencionados seriam prosodicamente menos
relevantes que os elementos novos Disso resulta que a informaccedilatildeo nova ou o foco seja
destacado prosodicamente isto eacute apresente proeminecircncia prosoacutedica A proeminecircncia
prosoacutedica eacute definida como ldquoa quantitative parameter of a syllable or a boundary that describes
markedness relative to surrounding syllables and boundaries respectivelyrdquo (PORTELE amp
HEUFT 1997 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 227)31
Haacute autores que classificam o
foco levando em conta sobretudo o fator proeminecircncia prosoacutedica por exemplo ldquothe term
focus is used [] to describe prosodic prominences serving pragmatic and semantic
functionsrdquo (ROOTH 1995 p 271 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 228)32
O foco prosoacutedico eacute definido por meio de uma proeminecircncia tonal (cf
BUTRAGUENtildeO 2005) Entretanto alguns estudos mostram que o foco natildeo seria marcado
somente com a proeminecircncia tonal ou prosoacutedica Proeminecircncias de outros traccedilos
suprassegmentais como duraccedilatildeo e intensidade tambeacutem marcariam o foco (cf TOLEDO
1989 SOSA 1999 QUAREZEMIN 2009 entre outros) Para Butraguentildeo (2005 p 141) os
focos prosoacutedicos ldquoreciben acentos tonales de contorno especiacutefico que permiten distinguirlos
del fondo (o background)rdquo33
Os paracircmetros de anaacutelise acuacutestica do foco satildeo os movimentos
de F0 o alinhamento entre siacutelabas e F0 duraccedilatildeo das siacutelabas e vogais intensidade da siacutelaba e
em alguns casos pausas e meacutedia entre picos de F0
As abordagens teoacutericas utilizadas nos trabalhos sobre o foco prosoacutedico guiam a
metodologia de anaacutelise dos dados Assim alguns autores que trabalham com uma abordagem
formal utilizando o sistema ToBI (cf SILVERMAN et al 1992) para a anaacutelise dos dados
representam a entoaccedilatildeo dos enunciados marcando as siacutelabas com acentos tonais que se
manifestam em acentos monotonais (H ou L) bitonais (H+L L+H etc) e ainda poderia
haver tons de juntura (H e L) que delimitam as fronteiras dos grupos meloacutedicos Na
Fonologia Entoacional haacute trecircs tipos de tons pitch accents phrase accents e boundary tones
31
ldquoum paracircmetro quantitativo de uma siacutelaba ou de uma fronteira que descreve a marcaccedilatildeo relativa agraves siacutelabas
vizinhas e fronteiras respectivamenterdquo 32
ldquoo termo foco eacute utilizado [] para descrever proeminecircncias prosoacutedicas que servem a funccedilotildees pragmaacuteticas e
semacircnticasrdquo 33
ldquorecebem acentos tonais de contorno especiacutefico que permitem distingui-los do fundo (ou background)rdquo
26
Geralmente o foco eacute marcado por um pitch accent que pode ser definido como ldquoa local
feature of a pitch contour ndash usually but not invariably a pitch change and often involving a
local maximum or minimumrdquo (LADD 1996 p 45-6 apud BEAVER amp CLARK 2008 p
11)34
Segundo Roach (2011 p 67) pitch
is an auditory sensation when we hear a regularly vibrating sound
such as a note played on a musical instrument or a vowel produced
by the human voice we hear a high pitch if the rate of vibration is
high and a low pitch if the rate of vibration is low35
Nooteboom (1997 p 641) atenta para o fato de que ldquoone should be aware however
that rather often the notion bdquopitch‟ is used to refer to f0 or the repetition frequency itself In
speech f0 is determined by the rate of vibration of the vocal cords located in the larynxrdquo36
Ademais Crystal (2008 p 369) adverte que ldquothere is however no direct or parallel
correlation between pitch and frequency other factors than frequency may affect our
sensation of pitch (measured in units known as mels)rdquo37
Pitch countour seria a marcaccedilatildeo dos
uacutenicos pitchs relevantes para a compreensatildeo de um perfil entoacional A teacutecnica da close
copy (cf t‟HART et al 1990) justamente realccedila o pitch countor atraveacutes de uma ldquosiacutentese que
satildeo eliminados movimentos de F0 que natildeo causam diferenccedila de percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao
aacuteudio originalrdquo (ROCHA 2011 p 106) De acordo com Crystal (2008 p 369-370) o termo
pitch accent
is used phonologically in the description of languages in which the
distribution of the tones within a word is totally predictable once one
has specified a particular tonal feature of the word (as in Japanese)
The notion has also been applied to English where some
phonological models analyse intonation CONTOURS as a sequence
of one or more pitch accents each associated with a STRESS-
prominent SYLLABLE in a word38
34
ldquoum traccedilo local de um pitch contour - geralmente mas natildeo invariavelmente variaccedilatildeo de pitch e muitas vezes
envolvendo um local maacuteximo ou miacutenimordquo 35
ldquoeacute uma sensaccedilatildeo auditiva quando ouvimos um som regularmente vibrando como uma nota tocada em um
instrumento musical ou uma vogal produzida pela voz humana noacutes ouvimos um pitch alto se a taxa de vibraccedilatildeo
eacute alta e um pitch baixo se a taxa de vibraccedilatildeo eacute baixardquo 36
ldquodeve-se estar ciente no entanto que muitas vezes a noccedilatildeo de pitch eacute utilizada para se referir a f0 ou a
frequecircncia da repeticcedilatildeo Na fala a f0 eacute determinada pela taxa de vibraccedilatildeo das cordas vocais localizadas na
laringerdquo 37
ldquonatildeo haacute poreacutem nenhuma correlaccedilatildeo direta ou paralelo entre pitch e frequecircncia outros fatores aleacutem
frequecircncia podem afetar a nossa sensaccedilatildeo de pitch (medido em unidades conhecidas como mels)rdquo 38
ldquoeacute usado fonologicamente na descriccedilatildeo das liacutenguas nas quais a distribuiccedilatildeo dos tons dentro de uma palavra eacute
totalmente previsiacutevel uma vez que se tenha especificado uma caracteriacutestica particular de tons da palavra (tal
como no japonecircs) A noccedilatildeo tambeacutem foi aplicada para o inglecircs em que alguns modelos fonoloacutegicos analisam os
CONTORNOS da entoaccedilatildeo como uma sequecircncia de um ou mais pitch accents cada um associado a uma
SIacuteLABA STRESS-proeminente em uma palavrardquo
27
O sistema ToBI reconhece 5 tipos de pitch accents enquanto Pierrehumbert (1980)
menciona 7 tipos Atraveacutes dessa classificaccedilatildeo eacute possiacutevel delimitar o accent prototiacutepico do
foco ou suas possiacuteveis variantes Beaver amp Clark (2008 p 12) mencionam que ldquoalthough
focus is frequently marked by an H accent [] other accents are possible For example in
yes-no questions focus is often by marked by an L+Hrdquo39
A importante pressuposiccedilatildeo teoacuterica de que toda oraccedilatildeo eacute resposta a uma pergunta
guia a metodologia de muitas investigaccedilotildees sobre o foco sobretudo de trabalhos
experimentais de leitura de sentenccedilas denominados testes de produccedilatildeo Com o pressuposto
teoacuterico da explicitaccedilatildeo do foco por meio de pergunta-resposta eacute possiacutevel delimitar o tipo de
foco a ser analisado broad focus (foco largo) narrow focus (foco estreito) ou contrastive
focus (foco contrastivo) (cf seccedilatildeo 121 p 14) Essa metodologia tem por caracteriacutestica
induzir guiar e restringir os padrotildees meloacutedicos da fala ao fornecer exemplos com contextos
preacutevios ou mesmo com o foco jaacute explicitado na sentenccedila para se obter o resultado desejado
Em investigaccedilatildeo sobre a marcaccedilatildeo prosoacutedica dos focos largo estreito e contrastivo em
alematildeo Baumann et al (2006 p 302) mencionam em sua metodologia de teste de leitura
que
reading material consisted of five question-answer pairs with the
answer bdquoManuela will Blumen malen‟ (Manuela wants to paint
flowers) The main criterion the target sentence had to fulfill was its
continuous voicing so as to be able to accurately measure exact peaks
and valleys in the F0 contour40
Dependendo do objetivo do trabalho ou da liacutengua a ser analisada podem-se controlar
outros fatores Por exemplo em trabalho sobre como o tom lexical e o foco contribuem para a
formaccedilatildeo e alinhamento dos F0 contours no chinecircs Xu (1999 p 58) menciona na
metodologia que
the factors manipulated in the experiment were segmental
composition of syllables lexical tones focus and and sentence types
Of these only lexical tones and focus were under direct scrutiny The
control of the other two factors was done by keeping their variation to
39
ldquoembora o foco seja frequentemente marcado por um accent H [] outros accents satildeo possiacuteveis Por
exemplo em perguntas sim-natildeo o foco eacute muitas vezes marcado por um H + Lrdquo 40
ldquoo material de leitura consistiu de cinco pares de pergunta-resposta com a resposta bdquoManuela will Blumen
malen‟ (Manuela quer pintar flores) O principal criteacuterio que a frase alvo tinha a cumprir era seu vozeamento
contiacutenuo de modo a ser capaz de medir com precisatildeo exata picos e vales no contorno da F0rdquo
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
LISTA DE FIGURAS
Figura 31 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02 37
Figura 32 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03 38
Figura 33 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Figura 34 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04 42
Figura 35 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Figura 36 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03 46
Figura 37 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03 47
Figura 38 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Figura 39 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03 51
Figura 310 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03 52
Figura 311 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03 53
Figura 312 - Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02 54
LISTA DE TABELAS
Tabela 31 - Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02 37
Tabela 32 - Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03 38
Tabela 33 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Tabela 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Tabela 35 - Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04 43
Tabela 36 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Tabela 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Tabela 38 - Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03 46
Tabela 39 - Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03 47
Tabela 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 50
Tabela 314 - Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03 51
Tabela 315 - Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03 52
Tabela 316 - Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03 53
Tabela 317 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02 54
Tabela 318 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02 55
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 12
2 PANORAMA GERAL DOS ESTUDOS SOBRE O FOCO 12
22 TIPOS DE FOCO 13
221 Foco sintaacutetico 14
222 Foco morfoloacutegico 18
223 Foco semacircntico 21
224 Foco prosoacutedico 24
3 METODOLOGIA DA PESQUISA 29
31 OBJETIVO 29
32 CORPUS 30
321 C-ORAL-ROM 30
322 C-ORAL-BRASIL 32
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 34
4 ANAacuteLISE DOS DADOS 35
41 FOCO PROSOacuteDICO 35
42 FOCO SINTAacuteTICO 41
43 FOCO MORFOLOacuteGICO 45
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE 47
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 55
REFEREcircNCIAS 56
12
1 INTRODUCcedilAtildeO
A focalizaccedilatildeo eacute um fenocircmeno linguiacutestico cada vez mais estudado e que possui
importante papel na comunicaccedilatildeo oral Sua importacircncia na gramaacutetica das liacutenguas naturais
bem como nas situaccedilotildees comunicativas eacute grande podendo ser observada pela assunccedilatildeo de
Davis (2009 p 2) ldquoFOCUS is present in every language and that it is present in every
utterance of every languagerdquo1 Embora haja divergecircncia por parte de alguns autores quanto agrave
proposta de Davis assume-se de qualquer forma que a focalizaccedilatildeo nas liacutenguas naturais eacute um
importante recurso comunicativo promovido nas diversas interaccedilotildees linguiacutesticas do cotidiano
pois sinaliza propriedades semacircnticas especiacuteficas atraveacutes de recursos prosoacutedicos
morfoloacutegicos e configuraccedilotildees sintaacuteticas dedicadas a destacar um item Nas liacutenguas romacircnicas
e germacircnicas sobretudo a estrateacutegia prosoacutedica da focalizaccedilatildeo eacute fundamental para a
realizaccedilatildeo do foco conforme mencionam Beaver amp Clark (2008 p xxi) ldquoRomance and
Germanic languages and English in particular focus is commonly marked by prosody with
changes in pitch used to mark focused expressionsrdquo2 Natildeo obstante estejam presentes e
podendo estar em co-ocorrecircncia nas liacutenguas desses troncos estrateacutegias sintaacuteticas como as
construccedilotildees clivadas e morfoloacutegicas como adveacuterbios e quantificadores focais o que poderaacute
ser constatado ao longo deste trabalho
Este trabalho estaacute divido em duas partes a primeira (cf seccedilatildeo 2 e subseccedilotildees) que
procura expor ao leitor atraveacutes da consideraccedilatildeo de diferentes estudos de variadas abordagens
teoacuterico-metodoloacutegicas uma revisatildeo bibliograacutefica ao mesmo tempo concisa e imparcial que
objetiva cobrir de modo satisfatoacuterio o tema da focalizaccedilatildeo e seus desdobramentos nos estudos
linguiacutesticos e a segunda (cf seccedilotildees 3 e 4 e subseccedilotildees) que consiste na exposiccedilatildeo do objetivo
e da metodologia da pesquisa do corpus utilizado da anaacutelise dos dados e das decorrentes
consideraccedilotildees sobre o foco no Portuguecircs Brasileiro falado informal aleacutem da discussatildeo sobre
a diferenciaccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase Por fim a seccedilatildeo 5 consiste nas
consideraccedilotildees finais
2 PANORAMA GERAL DOS ESTUDOS SOBRE O FOCO
O fenocircmeno da focalizaccedilatildeo tem sido estudado por vaacuterias aacutereas da linguiacutestica ndash
sintaxe semacircntica prosoacutedia etc ndash e sob diferentes abordagens teoacuterico-metodoloacutegicas ndash
1 ldquoO FOCO estaacute presente em toda liacutengua e estaacute presente em todo enunciado de toda liacutenguardquo
2 ldquoNas liacutenguas romacircnicas e germacircnicas e no inglecircs em particular o foco eacute marcado normalmente pela prosoacutedia
com variaccedilotildees no pitch para marcar as expressotildees focalizadasrdquo
13
formal funcional pragmaacutetica etc Cada estudo independente da aacuterea ou da abordagem
teoacuterica tem revelado que a focalizaccedilatildeo apresenta importante papel na gramaacutetica das liacutenguas
naturais pois o foco seu principal componente manifesta-se nelas por diferentes estrateacutegias
linguiacutesticas Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os diferentes meios em que o foco pode se
manifestar isto eacute os tipos de foco O objetivo deste capiacutetulo eacute mostrar que o foco ocorre
atraveacutes de diferentes estrateacutegias nas liacutenguas e que cada liacutengua escolhe uma ou mais
estrateacutegias para sua realizaccedilatildeo
21 TIPOS DE FOCO
O fenocircmeno que abrange o foco eacute a focalizaccedilatildeo que pode ser definida como o ldquoato de
focalizar ou seja de acentuar de ressaltar de pocircr em relevorealceevidecircncia um
determinado item do textordquo (GONCcedilALVES 1998 p 32) As liacutenguas naturais expressam esse
realce com diferentes estrateacutegias seja por meio da sintaxe da prosoacutedia ou da morfologia seja
com o uso de uma estrateacutegia ou de mais de uma atuando em conjunto A focalizaccedilatildeo eacute
considerada um fenocircmeno discursivo-pragmaacutetico ldquopois o usuaacuterio pode centrar sua atenccedilatildeo a
uma parcela do enunciado que julgue relevante enfatizando-ardquo (GONCcedilALVES 1998 p 33)
Assim sendo a focalizaccedilatildeo estaria vinculada tanto agraves estrateacutegias argumentativas do falante
quanto ao conteuacutedo informacional do enunciado Segundo Gonccedilalves (1998 p 39) o foco
ldquopode incidir em qualquer constituinte do enunciado (palavras morfemas sintagmas e
pequenas oraccedilotildees)rdquo
Mesmo com a definiccedilatildeo do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo as descobertas dos estudos
sobre a biparticcedilatildeo da frase a respeito do conceito de foco natildeo foram descartadas (cf
BARBOSA 2005) Gonccedilalves (1998 p 32) menciona que o constituinte focalizado eacute ldquoa
parcela do texto apresentada como a mais informativarelevanterdquo e que os elementos fora de
foco constituem ldquoinformaccedilatildeo apresentada previamente ao ouvinterdquo ou os elementos que os
interlocutores julgam conhecidos Ainda segundo Gonccedilalves o foco apresentaria informaccedilatildeo
nova Eacute neste ponto que pode haver confusatildeo Os autores ampliam o escopo de investigaccedilatildeo
mas manteacutem certos conceitos de estudos preacutevios e de diferentes correntes teoacutericas sem
explicitar qual ou quais estatildeo sendo levados em consideraccedilatildeo Para Gonccedilalves (1998 p 33) a
informaccedilatildeo nova isto eacute o que eacute focalizado eacute ldquonew natildeo porque natildeo foi mencionado
previamente mas eacute new exatamente porque o falante tende a interpretar como natildeo suscetiacutevel
de recuperaccedilatildeo (a) nem a partir do texto precedente (co-texto) e (b) nem por meio do
contexto pragmaacutetico (situacional) imediatordquo Nota-se que o autor utiliza uma noccedilatildeo
14
pragmaacutetica do que seria informaccedilatildeo novadada A diamesia oral eacute muito mais ampla do que a
escrita no sentido de que a unidade de referecircncia da fala eacute o enunciado ndash organizado segundo
princiacutepios pragmaacutetico-ilocucionaacuterios ndash jaacute na escrita a unidade de referecircncia eacute a frase ndash
organizada segundo princiacutepios loacutegico-sintaacuteticos ndash aleacutem de haver caracteriacutesticas distintivas
entre falaescrita por exemplo hesitaccedilotildees interrupccedilotildees sobreposiccedilotildees etc Como a
focalizaccedilatildeo eacute considerada um fenocircmeno discursivo as noccedilotildees estudadas no niacutevel da frase natildeo
conseguem abranger todos os aspectos que a liacutengua oral apresenta por isso novas definiccedilotildees
satildeo propostas contudo em muitos casos preservando determinadas terminologias de estudos
anteriores
Cada liacutengua escolhe uma ou mais estrateacutegias para a focalizaccedilatildeo Pode-se ateacute mesmo
classificaacute-las tipologicamente com relaccedilatildeo agrave manifestaccedilatildeo do foco em cada uma Contudo
muitas vezes essas estrateacutegias se organizam conjuntamente para a manifestaccedilatildeo do foco no
caso da focalizaccedilatildeo sintaacutetica e a prosoacutedica coocorrerem nas construccedilotildees clivadas por
exemplo Assim como um morfema poder licenciar um conjunto de alternativas semacircnticas
de escopo em uma sentenccedila servindo de gatilho para a manifestaccedilatildeo prosoacutedica do foco
Todavia nosso objetivo nesta seccedilatildeo eacute mostrar os vaacuterios tipos de foco em isolamento apesar
de que a interface com outro componente gramatical seraacute explicada quando necessaacuterio A
exposiccedilatildeo natildeo seraacute exaustiva uma vez que este tipo de trabalho natildeo permite uma discussatildeo
mais longa da literatura
221 Foco sintaacutetico
O foco tem recebido grande atenccedilatildeo nos estudos da sintaxe gerativa Itens de natureza
discursiva como o toacutepico e o proacuteprio foco passam a fazer parte da estrutura interna das
sentenccedilas dentro dessa abordagem teoacuterica Eles ocupam uma posiccedilatildeo na parte mais alta da
sentenccedila caracterizada por ser uma estrutura funcional sendo a outra parte da sentenccedila a
estrutura lexical Com a proposta de extensatildeo do sistema CP (RIZZI 1997)3 dois
subsistemas satildeo criados o primeiro constituiacutedo por ForceP e FinP e o segundo por TopP e
FocP A categoria ForceP determina o tipo de sentenccedila enquanto FinP determina sua
finitude Os constituintes toacutepico e foco satildeo interpretados em Spec de seus respectivos
sintagmas O sistema CP entatildeo passa a ser representado da seguinte forma (QUAREZEMIN
2009 p 22)
3 Segundo Quarezemin (200921) ldquoa extensatildeo do CP ocorre para acomodar certos constituintes com
propriedades discursivas e de escopo aleacutem de derivar sua interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo Spec-nuacutecleordquo
15
(1) ForceP
Force0 TopP
Top0 FocP
Foc0 TopP
Top0 FinP
Fin0 IP
As categorias TopP e FocP4 soacute aparecem na estrutura se houver constituintes com
funccedilotildees de toacutepico e foco na sentenccedila A categoria TopP aparece duas vezes na estrutura
porque eacute considerada recursiva Isso significa que pode haver mais de um toacutepico na sentenccedila
Na estrutura FocP natildeo aparece duas vezes pois a natureza quantificacional do foco natildeo
permite tal repeticcedilatildeo Para Rizzi (1997) e Belletti (2001) ldquoa noccedilatildeo de foco estaacute diretamente
relacionada agrave posiccedilatildeo que este constituinte ocupa na sentenccedila Para eles um constituinte eacute
interpretado como foco somente se ele ocupa a posiccedilatildeo de Spec de FocPrdquo (ASSIS 2003 p
360)
Nessa abordagem o toacutepico ldquoveicula informaccedilatildeo jaacute conhecida pelos participantes do
discursordquo enquanto o comentaacuterio ldquoeacute um tipo de predicado complexo que se aplica ao toacutepicordquo
(QUAREZEMIN 2009 p 22) No exemplo da autora your book eacute o toacutepico e o que estaacute
depois da viacutergula eacute o comentaacuterio
(2) Your book you should give t to Paul (not to Bill)5
Ela afirma que na fala o toacutepico eacute marcado por uma pausa Diferentemente do toacutepico
o foco eacute ldquodestacado por um acento proeminente e expressa a informaccedilatildeo do discurso natildeo
4 Haacute outras propostas sobre qual o lugar que as categorias funcionais TopP e FocP ocupam na estrutura da
sentenccedila extensatildeo de vP (Belletti 2001 2004a) e extensatildeo de DP (Giusti 2002) 5 ldquoSeu livro vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo para o Bill)rdquo
16
pressuposta pelo ouvinte enquanto a pressuposiccedilatildeo representa o conhecimento compartilhado
pelos interlocutoresrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 23)
(3) YOUR BOOK you should give t to Paul (not mine)6
Com isso Quarezemin (2009 p 46) afirma que ldquoa interpretaccedilatildeo semacircntica da
sentenccedila que apresenta a articulaccedilatildeo foco-pressuposiccedilatildeo natildeo deve ser confundida com a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila que tem a biparticcedilatildeo toacutepico-comentaacuteriordquo A autora menciona a
relaccedilatildeo entre foco-prosoacutedia dizendo que os paracircmetros acuacutesticos da descriccedilatildeo do foco satildeo a
F0 a duraccedilatildeo e a intensidade Na fonologia o foco recebe a proeminecircncia ou outro acento
tonal especiacutefico A autora diz que ldquoo foco ou um membro do sintagma focalizado sempre
recebe o acento principal da sentenccedila enquanto a pressuposiccedilatildeo natildeo pode ser acentuada nos
mesmos niacuteveisrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 52)
Em liacutenguas como o espanhol o italiano e o PE o foco de informaccedilatildeo ocupa uma
posiccedilatildeo no final da sentenccedila em casos que ocorre a inversatildeo do sujeito
(4) Egrave partitoha parlato [F Gianni]7
(Chi egrave partitoha parlato)
No exemplo de Quarezemin (2009 p 69) acima nota-se o foco estreito Gianni no
final da sentenccedila visto que esse item responde agrave pergunta chi egrave partitoparlato Haveria o
foco largo isto eacute toda a resposta de (4) seria foco se essa resposta correspondesse agrave pergunta
(QUAREZEMIN 2009 p 70)
(5) Che cosa egrave successo8
Um tipo especiacutefico de focalizaccedilatildeo sintaacutetica satildeo as construccedilotildees clivadas Resenes
(2009 p 17) explica que a clivagem eacute ldquoum processo sintaacutetico que serve para focalizar
constituintes porque prepara um lugar especiacutefico na sentenccedila para alojar o focordquo Os
elementos que cumprem essa funccedilatildeo satildeo a coacutepula o complementizador que ou um elemento
wh As propriedades semacircnticas e sintaacuteticas das sentenccedilas clivadas e pseudo-clivadas natildeo
6 ldquoO SEU LIVRO vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo o meu)rdquo
7 ldquoPartiufalou o Gianni (Quem partiufalou)rdquo
8 ldquoO que aconteceurdquo
17
seratildeo abordadas profundamente visto que esse natildeo eacute o objetivo principal deste trabalho As
sentenccedilas clivadas apresentam a estrutura [ser + XPi + que [IP eci]] jaacute as pseudo-clivadas [[CP
whi ti] + ser +XPi] (RESENES 2009 p 14) O XP deve ser a parte natildeo-pressuposta da
sentenccedila ou o foco da sentenccedila o sintagma que carrega a informaccedilatildeo nova e que segundo a
abordagem gerativa carrega tambeacutem a proeminecircncia prosoacutedica O foco dessas sentenccedilas eacute do
tipo de identificaccedilatildeo exaustiva isto eacute indicado pela propriedade semacircntica [x e apenas x]
Apresentamos como exemplo em PB uma clivada e uma pseudo-clivada respectivamente
(6) Foi [F a Luana] que comprou um livro
(7) Quem comprou um livro foi [F a Luana]
Em inglecircs as clivadas satildeo conhecidas como it-clefts pois nessa liacutengua eacute obrigatoacuteria a
realizaccedilatildeo do expletivo na posiccedilatildeo inicial da sentenccedila
(8) It was [F John] who died in a car crash9
Haacute vaacuterios tipos de realizaccedilatildeo dessas sentenccedilas por exemplo clivada sem coacutepula
clivada com dupla coacutepula pseudo-clivada reduzida etc
Na liacutengua Ayutla Mixteca em que a ordem canocircnica da sentenccedila eacute VSO a
focalizaccedilatildeo se daacute atraveacutes da mudanccedila de posiccedilatildeo do elemento que se deseja focalizar para
uma posiccedilatildeo preacute-verbal ldquobecause the first element of any list is perceptually salient
preverbal position tends to grant the item filling it some degree of highlighting This position
is therefore often used for constituents that a speaker wishes to focus in some wayrdquo
(HOLLENBACH 1995 p 1)10
Seguem os exemplos de Hills (1990 p 27-28 apud
HOLLENBACH 1995 p 2)
(9) mburu xi‟i‟ tikui
donkey drinks water
bdquoThe donkey is drinking water‟11
(10) tikui xi‟i‟ mburu
9 ldquoFoi [F o Joatildeo] que morreu num acidente de carrordquo
10 ldquoporque o primeiro elemento de qualquer lista eacute perceptualmente saliente a posiccedilatildeo preacute-verbal tende a
conceder ao item carregando-o com algum grau de realce Esta posiccedilatildeo eacute portanto frequentemente usada para
constituintes em que o falante deseja focalizar de algum modordquo 11
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo
18
water drinks donkey
bdquoThe donkey is drinking water‟12
Entretanto Hollenbach (1995 p 2) adverte que a relaccedilatildeo semacircntica do foco com a
posiccedilatildeo preacute-verbal eacute obscura jaacute que um constituinte pode ocorrer na posiccedilatildeo preacute-verbal sem
que o falante deseje focalizaacute-lo Entatildeo a autora investiga as condiccedilotildees para que a focalizaccedilatildeo
do constituinte preacute-verbal ocorra13
Ela identificou vaacuterias condiccedilotildees para a identificaccedilatildeo do
foco na posiccedilatildeo preacute-verbal nas liacutenguas do grupo Mixteca entre elas a pausa (11) e a inserccedilatildeo
de conjunccedilotildees coordenadas (12) depois do elemento focalizado
(11) juaacutea ta‟u da ntuku
John splits he firewood
bdquoAs for John he is splitting firewood‟ (Yosonduacutea FARRIS 1992 p 28 apud
HOLLENBACH 1995 p 3)14
(12) sa‟an mi neacute din tavi di kuidaacutedo di
man that and willdo very you care you (Cuicatec BRADLEY 1991
p 493 apud HOLLENBACH 1995 p 3)
Esses satildeo exemplos que a focalizaccedilatildeo natildeo se daacute exclusivamente pela sintaxe mas que
co-ocorre com ela ou seja eacute necessaacuterio que haja mais elementos linguiacutesticos aleacutem da
posiccedilatildeo preacute-verbal para que a focalizaccedilatildeo ocorra de forma satisfatoacuteria
222 Foco morfoloacutegico
O foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de certos morfemas que dependendo da
liacutengua seratildeo cliacuteticos ou morfemas livres Nesse caso ldquoum bdquoMorfema de Ecircnfase‟ seraacute o
elemento responsaacutevel pela iluminaccedilatildeo do elemento destacado no textordquo (GONCcedilALVES
1999 p 336) Natildeo obstante isso natildeo signifique que o foco natildeo possa ser expresso por outros
meios nas liacutenguas em que predominam o meio morfoloacutegico para que a focalizaccedilatildeo ocorra
Esse tipo de focalizaccedilatildeo eacute mais comum em liacutenguas natildeo-indo-europeias como em liacutenguas
12
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo 13
Hollenbach investigou as condiccedilotildees do foco natildeo soacute na liacutengua Ayutla Mixteca mas em seis variedades do
Mixteca duas do Trique e uma do Cuicatec Essas liacutenguas fazem parte grupo Mixteca que por sua vez faz
parte da famiacutelia das liacutenguas Otomangues faladas sobretudo no sul do Meacutexico As liacutenguas da famiacutelia
Otomangue apresentam a ordem canocircnica VSO 14
ldquoQuanto ao Joatildeo ele estaacute partindo a lenhardquo
19
indiacutegenas brasileiras por exemplo em marubo e em mekens O aacuterabe e o japonecircs tambeacutem
satildeo exemplos de liacutenguas em que ocorre a focalizaccedilatildeo morfoloacutegica Hagesawa (2010 p 1)
explica que no japonecircs ldquoone of the most general properties of focus particles is to relate a
proposition which is newly introduced by the sentence containing a focus particle and
propositions available in the contextrdquo15
Em japonecircs a partiacutecula -shika introduz a noccedilatildeo de exclusividade o que eacute expresso
pela palavra only em inglecircs Essa noccedilatildeo eacute a mesma do foco de identificaccedilatildeo encontrado nas
sentenccedilas clivadas do PB por exemplo Segue o exemplo de Hagesawa (2010 p 4)
(13) Miho-shika ko-na-katta
Miho-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoOnly Miho came‟16
No exemplo (13) a funccedilatildeo do morfema -shika pode ser parafraseada como ldquosomente
Miho veio e mais ningueacutemrdquo Quanto ao padratildeo prosoacutedico das partiacuteculas de foco no japonecircs
Hagesawa (2010 p 33) afirma que
although Japanese focus particles have their own accent patterns
when they occur without a focused constituent or they are stressed as
shown in (14) and (15) they lose their accent pattern and follow the
tone melody of their host when they are suffixed17
18
O autor apresenta os seguintes exemplos
(14) Shikamade-o jisyo-de shirabe-ta
HL HL
SHIKAMADE-ACC dictionary-with lookup-PAST
bdquoI looked up bdquoshika‟‟made‟ in a dictionary‟19
(15) A Yuka-mo ki-ta-no
Yuka-also come-PAST-Q
15
ldquouma das propriedades mais gerais das partiacuteculas de foco eacute relacionar uma proposiccedilatildeo que eacute receacutem-
introduzida pela sentenccedila contendo uma partiacutecula de foco e proposiccedilotildees disponiacuteveis no contextordquo 16
ldquoSomente Miho veiordquo 17
A numeraccedilatildeo dos exemplos natildeo segue a original 18
ldquoconquanto as partiacuteculas de foco do japonecircs tecircm seus padrotildees proacuteprios de accent quando ocorrem sem um
constituinte focalizado ou estatildeo stressed como mostrado em (14) e (15) elas perdem o seu padratildeo de accent e
seguem a melodia tonal do seu hospedeiro quando elas satildeo sufixadasrdquo 19
ldquoEu procurei bdquoshika‟‟made‟ em um dicionaacuteriordquo
20
bdquoDid Yuka also come‟
B Uun Yuka-shika ko-na-katta
HL
no Yuka-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoNo only Yuka came‟20
Na liacutengua Mekens todas as questotildees wh apresentam o cliacutetico foco te como no
exemplo abaixo de Galucio (2002 p 67)
(16) aapo=te o-tek pogabeg-a ke i-koop ikatildeotilde tete
Who=foc 1s-house open-Theme say 3s-aux+mov that time
bdquordquoWho opened my houserdquo She was saying that time‟21
Haacute tambeacutem o uso do recurso sintaacutetico pois o constituinte focalizado sempre aparece
no iniacutecio da sentenccedila A autora menciona que a informaccedilatildeo natildeo-pressuposta das respostas agraves
perguntas wh tambeacutem apareceratildeo na forma de construccedilotildees focalizadas Isso faz com que a
ordem canocircnica ndash SOV ndash dessa liacutengua se altere em sentenccedilas como (17) abaixo por exemplo
extraiacuteda de Galucio (2002 p 68) Notam-se nas duas oraccedilotildees que os sujeitos ocorrem
depois do verbo
(17) serek=te kɨpmatildekatildeỹ kweotildep =te ɨsɨɨ
split=foc floor climb+neg=foc deer
bdquoThe floor split and the deer sank‟22
Alguns autores consideram como morfemas de foco palavras como only also just e
even do inglecircs por exemplo porque elas cumprem a mesma funccedilatildeo semacircntica dos morfemas
de foco em liacutenguas como o japonecircs no exemplo da partiacutecula -shika bdquoonly‟ Na anaacutelise de
Quarezemin (2009 p 112) para as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB ela sugere que nas
construccedilotildees clivadas a coacutepula e o complementizador seriam morfemas de foco Nas palavras
da autora
20
ldquoA Yuka tambeacutem veio Natildeo somente a Yuka veiordquo 21
ldquoQuem abriu minha casa Ela estava dizendo aquela horardquo 22
ldquoO chatildeo se partiu e o veado afundourdquo
21
A hipoacutetese inicial eacute que de um modo geral os falantes do PB
preferem destacar o constituinte focalizado sintaticamente ao inveacutes
de destacaacute-lo apenas com recursos prosoacutedicos Disso surge a hipoacutetese
de que a coacutepula com funccedilatildeo de focalizar e o complementizador das
clivadas podem ser considerados morfemas de foco em PB
Em suma o foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de morfemas que tecircm por objetivo
sinalizar que o constituinte o qual estaacute afixado se encontra focalizado Eles tambeacutem podem
interagir com a sintaxe e a prosoacutedia no caso de aleacutem do morfema de foco estar afixado a um
constituinte que se deseja destacar ele tambeacutem esteja em uma posiccedilatildeo proacutepria para
construccedilotildees focalizadoras ou em casos em que aleacutem da marcaccedilatildeo morfoloacutegica do foco haja
uma proeminecircncia prosoacutedica no constituinte focalizado
223 Foco semacircntico
Em primeiro lugar salientamos que o termo bdquofoco semacircntico‟ pode causar certa
estranheza devido a que diferentemente dos outros tipos neste natildeo haacute uma manifestaccedilatildeo de
forma ldquovisiacutevelrdquo do foco no enunciado isto eacute natildeo haacute uma proeminecircncia prosoacutedica uma
construccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica ou um morfema afixado a um constituinte Antes se trata mais
de uma propriedade do significado da construccedilatildeo focalizadora em um enunciado
As trecircs principais propriedades semacircnticas do foco satildeo as dos enunciados que
apresentam o foco de informaccedilatildeo de identificaccedilatildeo e o contrastivo Geralmente para
determinar a propriedade semacircntica desses tipos de foco recorre-se ao contexto de pergunta-
whresposta ou a outro tipo de contexto induzido O foco de informaccedilatildeo23
introduz uma
informaccedilatildeo novanatildeo-pressuposta e ldquopresume uma pergunta wh como base discursiva para
ser estabelecidordquo (RESENES 2009 p 20) Segue o exemplo de Resenes (2009 p 20)
(18) a O que o Joatildeo bebeu
b O Joatildeo bebeu alguma coisa
c O Joatildeo bebeu [F o vinho]
A pergunta wh estaacute em (18a) Em (18b) encontra-se a pressuposiccedilatildeo expressa pelo
pronome indefinido O foco de informaccedilatildeo se encontra em (18c) e eacute o valor da expressatildeo wh
23
Resenes (2009) utiliza a nomenclatura de ldquofoco natildeo-contrastivordquo para esse tipo de foco
22
da pergunta em (18a) A autora menciona que na Estrutura de Asserccedilatildeo (AS)24
o foco de
(18c) seria representado como
(19) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 O x tal que o Joatildeo bebeu x = [o vinho]
O foco contrastivo corrige uma informaccedilatildeo preacutevia atraveacutes de uma prosoacutedia proacutepria
Resenes (2009 p 20) afirma que ldquoo contexto ideal para o foco contrastivo eacute aquele em que
haacute uma afirmaccedilatildeo preacutevia como base discursivardquo Segue o exemplo da autora (RESENES
2009 p 21)
(20) a O Joatildeo bebeu o vinho
b O Joatildeo bebeu [F a cerveja] (natildeo o vinho)
A AS de (20) seria
(21) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 Natildeo eacute o caso que o x tal que o Joatildeo bebeu x = vinho amp O x tal que o Joatildeo
bebeu o x = a cerveja
O foco de identificaccedilatildeo ldquorepresents a subset of the set of contextually or situationally
given elements for which the predicate phrase can potentially hold it is identified as the
exhaustive subset of this set for which the predicate phrase actually holdsrdquo (KISS 1998 p
245 apud RESENES 2009 p 21)25
Assim o foco de identificaccedilatildeo expressa exaustividade
que pode ser parafraseada como [x e apenas x] Esse tipo de foco eacute ilustrado por uma
sentenccedila clivada em (22) (RESENES 2009 p 21)
(22) Foi [F um perfume] que a Maria deu para o Joatildeo
24
Resenes (2009 p 20) explica que a AS eacute ldquoum niacutevel poacutes-LF (pragmaacutetico) que revela como a informaccedilatildeo estaacute
empacotada na sentenccedila Na AS vai estar explicitada a estrutura da focalizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo o foco e os
tipos de focordquo 25
ldquorepresenta um subconjunto do conjunto de elementos dados contextualmente ou situacionalmente para o qual
a expressatildeo do predicado pode potencialmente conter que eacute identificado como o subconjunto exaustivo deste
conjunto para o qual a expressatildeo de predicado efetivamente conteacutemrdquo
23
Em (22) o foco de identificaccedilatildeo eacute expresso pelo NP um perfume que significa que
dentro de uma seacuterie de possiacuteveis presentes que a Maria poderia ter dado ao Joatildeo ela deu
somente um perfume por isso [x e apenas x]
Contudo o fenocircmeno da focalizaccedilatildeo natildeo se restringe somente agraves respostas das
perguntas wh ou agraves respostas dos contextos induzidos Davis (2009 p 2) assinala que haacute dois
grandes aspectos da constituiccedilatildeo do foco ldquoThe first is its grammar how FOCUS is expressed
in language The second is its meaning It does not require much investigation to discover
that there is no grammatical consistency to FOCUS across languagesrdquo26
O autor nota que em
relaccedilatildeo ao primeiro item natildeo haveria uma forma uacutenica universal para o uso do foco ou seja
uma liacutengua utiliza a sintaxe outra a prosoacutedia outra a morfologia outra a sintaxe e a prosoacutedia
etc ele afirma que ldquoif there is some universal consistency to FOCUS across languages it is
not found in its expressionrdquo27
Quanto ao segundo item as liacutenguas a princiacutepio natildeo
diferenciariam muito em relaccedilatildeo agrave semacircntica do foco Entretanto a propriedade de
destaquerealce sempre estaraacute presente manifestando-se seja por meio da prosoacutedia do
arranjo sintaacutetico ou da marcaccedilatildeo morfoloacutegica Davis (2009 p 2) explica que
If FOCUS will be diferently constituted grammatically its presence
has to be recognized in its semantics One portion of that semantics is
that FOCUS is involved in the answering of wh- questions but not
every utterance is a response to such a question Yet utterances must
the claim says nevertheless contain the semantics (and some
grammar) of FOCUS FOCUS then cannot be only the content
which answers questions There must be more to FOCUS When we
examine languages we discover that FOCUS has an affinity for
certain other semantics and in discovering those affinities we can
amplify our conception of what constitutes FOCUS28
A partir da assunccedilatildeo acima sugere-se que os estudos sobre a focalizaccedilatildeo natildeo
poderiam se restringir agraves anaacutelises de dados de introspecccedilatildeo sobretudo aqueles que explicam o
fenocircmeno somente a partir de dados com contexto pergunta-whresposta A natureza
discursivo-pragmaacutetica da focalizaccedilatildeo faz com que esse fenocircmeno seja melhor compreendido
26
ldquoO primeiro eacute sua gramaacutetica como o FOCO eacute expresso na liacutengua O segundo eacute o seu significado Natildeo se
requer muita investigaccedilatildeo para descobrir que natildeo haacute coerecircncia gramatical do FOCO atraveacutes das liacutenguasrdquo 27
ldquose houver alguma consistecircncia universal para o FOCO entre as liacutenguas natildeo eacute encontrada na sua expressatildeordquo 28
ldquoSe o FOCO seraacute constituiacutedo diferente gramaticalmente a sua presenccedila tem de ser reconhecida em sua
semacircntica Uma parte dessa semacircntica eacute que o FOCO estaacute envolvido nas respostas de perguntas QU mas nem
todo enunciado eacute uma resposta a essas perguntas No entanto os enunciados devem a alegaccedilatildeo diz todavia
conter a semacircntica (e alguma gramaacutetica) do FOCO O FOCO entatildeo natildeo pode ser apenas o conteuacutedo que
responde a perguntas Deve haver mais para o FOCO Quando examinamos as liacutenguas descobrimos que o
FOCO tem uma afinidade com outras semacircnticas e descobrindo essas afinidades podemos ampliar a nossa
concepccedilatildeo do que constitui o FOCOrdquo
24
na liacutengua espontacircnea apesar de natildeo se poder excluir suas propriedades semacircnticas em
diferentes enunciados que podem ser analisados sem o uso de dados de liacutengua espontacircnea
como eacute o caso da investigaccedilatildeo das propriedades semacircnticas do foco em dados de introspecccedilatildeo
e de suas representaccedilotildees formais
224 Foco prosoacutedico
A prosoacutedia eacute um dos traccedilos da camada suprassegmental ou seja que se encontra
acima dos segmentos dispostos linearmente na cadeia sonora da fala Beaver amp Clark (2008
p 2) explicam que os traccedilos suprassegmentais satildeo assim chamados porque ldquothey spread out
across multiple segments (basic sound units) or even across multiple wordsrdquo29
Callou amp
Leite (1990 p31) afirmam que o ldquoconjunto de fenocircmenos dos quais se derivam tipos de
acento padrotildees entoacionais ritmos e velocidades de fala satildeo estudados sob o roacutetulo de
prosoacutediardquo Ao contraacuterio dos segmentos que satildeo descritos pelos movimentos dos articuladores
do aparelho fonador os suprassegmentos satildeo descritos ldquoem termos da accedilatildeo dos muacutesculos
respiratoacuterios que aumentam ou diminuem a energia do fluxo de ar ocasionando duraccedilotildees
frequumlecircncia fundamental e intensidade diferentes das vibraccedilotildees sonorasrdquo (CALLOU amp LEITE
1990 p 30) Paracircmetros acuacutesticos como frequecircncia fundamental intensidade e duraccedilatildeo fiacutesica
satildeo outros traccedilos suprassegmentais que satildeo percebidos respectivamente como pitch
loudness e length que por sua vez ldquoapresentam correlatos fiacutesicos frequumlecircncia amplitude e
tempordquo (LEITE 2009 p 17)30
A frequecircncia eacute medida em Hz (Hertz) a amplitude em dB
(decibeacuteis) e o tempo em ms (milissegundos)
Barbosa (2008) menciona que a prosoacutedia estaacute
associada a fatores linguumliacutesticos como acentuaccedilatildeo entoaccedilatildeo ecircnfase e
ritmo bem como a fatores para- e extra-linguiacutesticos tais como
marcadores discursivos (ldquoneacuterdquo ldquoentendordquo ldquoanhanrdquo) atitudes
emoccedilotildees imbricados a fatores sociais ou bioloacutegicos como gecircnero
faixa etaacuteria classe social entre outros
Segundo Leite (2009 p 18) a prosoacutedia exerceria funccedilotildees ldquogramatical atitudinal
informacional indexal e ilocucionaacuteriardquo Nota-se portanto que eacute muito importante levar em
29
ldquoeles se espalham em vaacuterios segmentos (unidades baacutesicas de som) ou mesmo atraveacutes de muacuteltiplas palavrasrdquo 30
Neste trabalho natildeo se pretende definir minuciosamente todos os conceitos dos correlatos foneacutetico-acuacutesticos
dos sons da fala estudados pela Foneacutetica Acuacutestica Para mais informaccedilotildees cf Ladefoged (1974) Malmberg
(1998) e Johnson (2003)
25
consideraccedilatildeo a prosoacutedia na anaacutelise linguiacutestica visto que ela desempenha funccedilotildees associadas a
fatores intrinsecamente linguiacutesticos bem como a fatores extralinguiacutesticos A prosoacutedia ainda
apresenta um importante papel na aquisiccedilatildeo da linguagem sendo recurso especial para a
crianccedila associar unidades sonoras a significado (cf BRUM DE PAULA 2010)
As investigaccedilotildees do Ciacuterculo Linguiacutestico de Praga sugeriram que os elementos dados
do discurso ou seja aqueles que jaacute haviam sido mencionados seriam prosodicamente menos
relevantes que os elementos novos Disso resulta que a informaccedilatildeo nova ou o foco seja
destacado prosodicamente isto eacute apresente proeminecircncia prosoacutedica A proeminecircncia
prosoacutedica eacute definida como ldquoa quantitative parameter of a syllable or a boundary that describes
markedness relative to surrounding syllables and boundaries respectivelyrdquo (PORTELE amp
HEUFT 1997 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 227)31
Haacute autores que classificam o
foco levando em conta sobretudo o fator proeminecircncia prosoacutedica por exemplo ldquothe term
focus is used [] to describe prosodic prominences serving pragmatic and semantic
functionsrdquo (ROOTH 1995 p 271 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 228)32
O foco prosoacutedico eacute definido por meio de uma proeminecircncia tonal (cf
BUTRAGUENtildeO 2005) Entretanto alguns estudos mostram que o foco natildeo seria marcado
somente com a proeminecircncia tonal ou prosoacutedica Proeminecircncias de outros traccedilos
suprassegmentais como duraccedilatildeo e intensidade tambeacutem marcariam o foco (cf TOLEDO
1989 SOSA 1999 QUAREZEMIN 2009 entre outros) Para Butraguentildeo (2005 p 141) os
focos prosoacutedicos ldquoreciben acentos tonales de contorno especiacutefico que permiten distinguirlos
del fondo (o background)rdquo33
Os paracircmetros de anaacutelise acuacutestica do foco satildeo os movimentos
de F0 o alinhamento entre siacutelabas e F0 duraccedilatildeo das siacutelabas e vogais intensidade da siacutelaba e
em alguns casos pausas e meacutedia entre picos de F0
As abordagens teoacutericas utilizadas nos trabalhos sobre o foco prosoacutedico guiam a
metodologia de anaacutelise dos dados Assim alguns autores que trabalham com uma abordagem
formal utilizando o sistema ToBI (cf SILVERMAN et al 1992) para a anaacutelise dos dados
representam a entoaccedilatildeo dos enunciados marcando as siacutelabas com acentos tonais que se
manifestam em acentos monotonais (H ou L) bitonais (H+L L+H etc) e ainda poderia
haver tons de juntura (H e L) que delimitam as fronteiras dos grupos meloacutedicos Na
Fonologia Entoacional haacute trecircs tipos de tons pitch accents phrase accents e boundary tones
31
ldquoum paracircmetro quantitativo de uma siacutelaba ou de uma fronteira que descreve a marcaccedilatildeo relativa agraves siacutelabas
vizinhas e fronteiras respectivamenterdquo 32
ldquoo termo foco eacute utilizado [] para descrever proeminecircncias prosoacutedicas que servem a funccedilotildees pragmaacuteticas e
semacircnticasrdquo 33
ldquorecebem acentos tonais de contorno especiacutefico que permitem distingui-los do fundo (ou background)rdquo
26
Geralmente o foco eacute marcado por um pitch accent que pode ser definido como ldquoa local
feature of a pitch contour ndash usually but not invariably a pitch change and often involving a
local maximum or minimumrdquo (LADD 1996 p 45-6 apud BEAVER amp CLARK 2008 p
11)34
Segundo Roach (2011 p 67) pitch
is an auditory sensation when we hear a regularly vibrating sound
such as a note played on a musical instrument or a vowel produced
by the human voice we hear a high pitch if the rate of vibration is
high and a low pitch if the rate of vibration is low35
Nooteboom (1997 p 641) atenta para o fato de que ldquoone should be aware however
that rather often the notion bdquopitch‟ is used to refer to f0 or the repetition frequency itself In
speech f0 is determined by the rate of vibration of the vocal cords located in the larynxrdquo36
Ademais Crystal (2008 p 369) adverte que ldquothere is however no direct or parallel
correlation between pitch and frequency other factors than frequency may affect our
sensation of pitch (measured in units known as mels)rdquo37
Pitch countour seria a marcaccedilatildeo dos
uacutenicos pitchs relevantes para a compreensatildeo de um perfil entoacional A teacutecnica da close
copy (cf t‟HART et al 1990) justamente realccedila o pitch countor atraveacutes de uma ldquosiacutentese que
satildeo eliminados movimentos de F0 que natildeo causam diferenccedila de percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao
aacuteudio originalrdquo (ROCHA 2011 p 106) De acordo com Crystal (2008 p 369-370) o termo
pitch accent
is used phonologically in the description of languages in which the
distribution of the tones within a word is totally predictable once one
has specified a particular tonal feature of the word (as in Japanese)
The notion has also been applied to English where some
phonological models analyse intonation CONTOURS as a sequence
of one or more pitch accents each associated with a STRESS-
prominent SYLLABLE in a word38
34
ldquoum traccedilo local de um pitch contour - geralmente mas natildeo invariavelmente variaccedilatildeo de pitch e muitas vezes
envolvendo um local maacuteximo ou miacutenimordquo 35
ldquoeacute uma sensaccedilatildeo auditiva quando ouvimos um som regularmente vibrando como uma nota tocada em um
instrumento musical ou uma vogal produzida pela voz humana noacutes ouvimos um pitch alto se a taxa de vibraccedilatildeo
eacute alta e um pitch baixo se a taxa de vibraccedilatildeo eacute baixardquo 36
ldquodeve-se estar ciente no entanto que muitas vezes a noccedilatildeo de pitch eacute utilizada para se referir a f0 ou a
frequecircncia da repeticcedilatildeo Na fala a f0 eacute determinada pela taxa de vibraccedilatildeo das cordas vocais localizadas na
laringerdquo 37
ldquonatildeo haacute poreacutem nenhuma correlaccedilatildeo direta ou paralelo entre pitch e frequecircncia outros fatores aleacutem
frequecircncia podem afetar a nossa sensaccedilatildeo de pitch (medido em unidades conhecidas como mels)rdquo 38
ldquoeacute usado fonologicamente na descriccedilatildeo das liacutenguas nas quais a distribuiccedilatildeo dos tons dentro de uma palavra eacute
totalmente previsiacutevel uma vez que se tenha especificado uma caracteriacutestica particular de tons da palavra (tal
como no japonecircs) A noccedilatildeo tambeacutem foi aplicada para o inglecircs em que alguns modelos fonoloacutegicos analisam os
CONTORNOS da entoaccedilatildeo como uma sequecircncia de um ou mais pitch accents cada um associado a uma
SIacuteLABA STRESS-proeminente em uma palavrardquo
27
O sistema ToBI reconhece 5 tipos de pitch accents enquanto Pierrehumbert (1980)
menciona 7 tipos Atraveacutes dessa classificaccedilatildeo eacute possiacutevel delimitar o accent prototiacutepico do
foco ou suas possiacuteveis variantes Beaver amp Clark (2008 p 12) mencionam que ldquoalthough
focus is frequently marked by an H accent [] other accents are possible For example in
yes-no questions focus is often by marked by an L+Hrdquo39
A importante pressuposiccedilatildeo teoacuterica de que toda oraccedilatildeo eacute resposta a uma pergunta
guia a metodologia de muitas investigaccedilotildees sobre o foco sobretudo de trabalhos
experimentais de leitura de sentenccedilas denominados testes de produccedilatildeo Com o pressuposto
teoacuterico da explicitaccedilatildeo do foco por meio de pergunta-resposta eacute possiacutevel delimitar o tipo de
foco a ser analisado broad focus (foco largo) narrow focus (foco estreito) ou contrastive
focus (foco contrastivo) (cf seccedilatildeo 121 p 14) Essa metodologia tem por caracteriacutestica
induzir guiar e restringir os padrotildees meloacutedicos da fala ao fornecer exemplos com contextos
preacutevios ou mesmo com o foco jaacute explicitado na sentenccedila para se obter o resultado desejado
Em investigaccedilatildeo sobre a marcaccedilatildeo prosoacutedica dos focos largo estreito e contrastivo em
alematildeo Baumann et al (2006 p 302) mencionam em sua metodologia de teste de leitura
que
reading material consisted of five question-answer pairs with the
answer bdquoManuela will Blumen malen‟ (Manuela wants to paint
flowers) The main criterion the target sentence had to fulfill was its
continuous voicing so as to be able to accurately measure exact peaks
and valleys in the F0 contour40
Dependendo do objetivo do trabalho ou da liacutengua a ser analisada podem-se controlar
outros fatores Por exemplo em trabalho sobre como o tom lexical e o foco contribuem para a
formaccedilatildeo e alinhamento dos F0 contours no chinecircs Xu (1999 p 58) menciona na
metodologia que
the factors manipulated in the experiment were segmental
composition of syllables lexical tones focus and and sentence types
Of these only lexical tones and focus were under direct scrutiny The
control of the other two factors was done by keeping their variation to
39
ldquoembora o foco seja frequentemente marcado por um accent H [] outros accents satildeo possiacuteveis Por
exemplo em perguntas sim-natildeo o foco eacute muitas vezes marcado por um H + Lrdquo 40
ldquoo material de leitura consistiu de cinco pares de pergunta-resposta com a resposta bdquoManuela will Blumen
malen‟ (Manuela quer pintar flores) O principal criteacuterio que a frase alvo tinha a cumprir era seu vozeamento
contiacutenuo de modo a ser capaz de medir com precisatildeo exata picos e vales no contorno da F0rdquo
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
LISTA DE TABELAS
Tabela 31 - Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02 37
Tabela 32 - Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03 38
Tabela 33 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Tabela 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02 40
Tabela 35 - Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04 43
Tabela 36 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Tabela 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03 44
Tabela 38 - Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03 46
Tabela 39 - Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03 47
Tabela 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 49
Tabela 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03 50
Tabela 314 - Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03 51
Tabela 315 - Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03 52
Tabela 316 - Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03 53
Tabela 317 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02 54
Tabela 318 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02 55
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 12
2 PANORAMA GERAL DOS ESTUDOS SOBRE O FOCO 12
22 TIPOS DE FOCO 13
221 Foco sintaacutetico 14
222 Foco morfoloacutegico 18
223 Foco semacircntico 21
224 Foco prosoacutedico 24
3 METODOLOGIA DA PESQUISA 29
31 OBJETIVO 29
32 CORPUS 30
321 C-ORAL-ROM 30
322 C-ORAL-BRASIL 32
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 34
4 ANAacuteLISE DOS DADOS 35
41 FOCO PROSOacuteDICO 35
42 FOCO SINTAacuteTICO 41
43 FOCO MORFOLOacuteGICO 45
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE 47
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 55
REFEREcircNCIAS 56
12
1 INTRODUCcedilAtildeO
A focalizaccedilatildeo eacute um fenocircmeno linguiacutestico cada vez mais estudado e que possui
importante papel na comunicaccedilatildeo oral Sua importacircncia na gramaacutetica das liacutenguas naturais
bem como nas situaccedilotildees comunicativas eacute grande podendo ser observada pela assunccedilatildeo de
Davis (2009 p 2) ldquoFOCUS is present in every language and that it is present in every
utterance of every languagerdquo1 Embora haja divergecircncia por parte de alguns autores quanto agrave
proposta de Davis assume-se de qualquer forma que a focalizaccedilatildeo nas liacutenguas naturais eacute um
importante recurso comunicativo promovido nas diversas interaccedilotildees linguiacutesticas do cotidiano
pois sinaliza propriedades semacircnticas especiacuteficas atraveacutes de recursos prosoacutedicos
morfoloacutegicos e configuraccedilotildees sintaacuteticas dedicadas a destacar um item Nas liacutenguas romacircnicas
e germacircnicas sobretudo a estrateacutegia prosoacutedica da focalizaccedilatildeo eacute fundamental para a
realizaccedilatildeo do foco conforme mencionam Beaver amp Clark (2008 p xxi) ldquoRomance and
Germanic languages and English in particular focus is commonly marked by prosody with
changes in pitch used to mark focused expressionsrdquo2 Natildeo obstante estejam presentes e
podendo estar em co-ocorrecircncia nas liacutenguas desses troncos estrateacutegias sintaacuteticas como as
construccedilotildees clivadas e morfoloacutegicas como adveacuterbios e quantificadores focais o que poderaacute
ser constatado ao longo deste trabalho
Este trabalho estaacute divido em duas partes a primeira (cf seccedilatildeo 2 e subseccedilotildees) que
procura expor ao leitor atraveacutes da consideraccedilatildeo de diferentes estudos de variadas abordagens
teoacuterico-metodoloacutegicas uma revisatildeo bibliograacutefica ao mesmo tempo concisa e imparcial que
objetiva cobrir de modo satisfatoacuterio o tema da focalizaccedilatildeo e seus desdobramentos nos estudos
linguiacutesticos e a segunda (cf seccedilotildees 3 e 4 e subseccedilotildees) que consiste na exposiccedilatildeo do objetivo
e da metodologia da pesquisa do corpus utilizado da anaacutelise dos dados e das decorrentes
consideraccedilotildees sobre o foco no Portuguecircs Brasileiro falado informal aleacutem da discussatildeo sobre
a diferenciaccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase Por fim a seccedilatildeo 5 consiste nas
consideraccedilotildees finais
2 PANORAMA GERAL DOS ESTUDOS SOBRE O FOCO
O fenocircmeno da focalizaccedilatildeo tem sido estudado por vaacuterias aacutereas da linguiacutestica ndash
sintaxe semacircntica prosoacutedia etc ndash e sob diferentes abordagens teoacuterico-metodoloacutegicas ndash
1 ldquoO FOCO estaacute presente em toda liacutengua e estaacute presente em todo enunciado de toda liacutenguardquo
2 ldquoNas liacutenguas romacircnicas e germacircnicas e no inglecircs em particular o foco eacute marcado normalmente pela prosoacutedia
com variaccedilotildees no pitch para marcar as expressotildees focalizadasrdquo
13
formal funcional pragmaacutetica etc Cada estudo independente da aacuterea ou da abordagem
teoacuterica tem revelado que a focalizaccedilatildeo apresenta importante papel na gramaacutetica das liacutenguas
naturais pois o foco seu principal componente manifesta-se nelas por diferentes estrateacutegias
linguiacutesticas Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os diferentes meios em que o foco pode se
manifestar isto eacute os tipos de foco O objetivo deste capiacutetulo eacute mostrar que o foco ocorre
atraveacutes de diferentes estrateacutegias nas liacutenguas e que cada liacutengua escolhe uma ou mais
estrateacutegias para sua realizaccedilatildeo
21 TIPOS DE FOCO
O fenocircmeno que abrange o foco eacute a focalizaccedilatildeo que pode ser definida como o ldquoato de
focalizar ou seja de acentuar de ressaltar de pocircr em relevorealceevidecircncia um
determinado item do textordquo (GONCcedilALVES 1998 p 32) As liacutenguas naturais expressam esse
realce com diferentes estrateacutegias seja por meio da sintaxe da prosoacutedia ou da morfologia seja
com o uso de uma estrateacutegia ou de mais de uma atuando em conjunto A focalizaccedilatildeo eacute
considerada um fenocircmeno discursivo-pragmaacutetico ldquopois o usuaacuterio pode centrar sua atenccedilatildeo a
uma parcela do enunciado que julgue relevante enfatizando-ardquo (GONCcedilALVES 1998 p 33)
Assim sendo a focalizaccedilatildeo estaria vinculada tanto agraves estrateacutegias argumentativas do falante
quanto ao conteuacutedo informacional do enunciado Segundo Gonccedilalves (1998 p 39) o foco
ldquopode incidir em qualquer constituinte do enunciado (palavras morfemas sintagmas e
pequenas oraccedilotildees)rdquo
Mesmo com a definiccedilatildeo do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo as descobertas dos estudos
sobre a biparticcedilatildeo da frase a respeito do conceito de foco natildeo foram descartadas (cf
BARBOSA 2005) Gonccedilalves (1998 p 32) menciona que o constituinte focalizado eacute ldquoa
parcela do texto apresentada como a mais informativarelevanterdquo e que os elementos fora de
foco constituem ldquoinformaccedilatildeo apresentada previamente ao ouvinterdquo ou os elementos que os
interlocutores julgam conhecidos Ainda segundo Gonccedilalves o foco apresentaria informaccedilatildeo
nova Eacute neste ponto que pode haver confusatildeo Os autores ampliam o escopo de investigaccedilatildeo
mas manteacutem certos conceitos de estudos preacutevios e de diferentes correntes teoacutericas sem
explicitar qual ou quais estatildeo sendo levados em consideraccedilatildeo Para Gonccedilalves (1998 p 33) a
informaccedilatildeo nova isto eacute o que eacute focalizado eacute ldquonew natildeo porque natildeo foi mencionado
previamente mas eacute new exatamente porque o falante tende a interpretar como natildeo suscetiacutevel
de recuperaccedilatildeo (a) nem a partir do texto precedente (co-texto) e (b) nem por meio do
contexto pragmaacutetico (situacional) imediatordquo Nota-se que o autor utiliza uma noccedilatildeo
14
pragmaacutetica do que seria informaccedilatildeo novadada A diamesia oral eacute muito mais ampla do que a
escrita no sentido de que a unidade de referecircncia da fala eacute o enunciado ndash organizado segundo
princiacutepios pragmaacutetico-ilocucionaacuterios ndash jaacute na escrita a unidade de referecircncia eacute a frase ndash
organizada segundo princiacutepios loacutegico-sintaacuteticos ndash aleacutem de haver caracteriacutesticas distintivas
entre falaescrita por exemplo hesitaccedilotildees interrupccedilotildees sobreposiccedilotildees etc Como a
focalizaccedilatildeo eacute considerada um fenocircmeno discursivo as noccedilotildees estudadas no niacutevel da frase natildeo
conseguem abranger todos os aspectos que a liacutengua oral apresenta por isso novas definiccedilotildees
satildeo propostas contudo em muitos casos preservando determinadas terminologias de estudos
anteriores
Cada liacutengua escolhe uma ou mais estrateacutegias para a focalizaccedilatildeo Pode-se ateacute mesmo
classificaacute-las tipologicamente com relaccedilatildeo agrave manifestaccedilatildeo do foco em cada uma Contudo
muitas vezes essas estrateacutegias se organizam conjuntamente para a manifestaccedilatildeo do foco no
caso da focalizaccedilatildeo sintaacutetica e a prosoacutedica coocorrerem nas construccedilotildees clivadas por
exemplo Assim como um morfema poder licenciar um conjunto de alternativas semacircnticas
de escopo em uma sentenccedila servindo de gatilho para a manifestaccedilatildeo prosoacutedica do foco
Todavia nosso objetivo nesta seccedilatildeo eacute mostrar os vaacuterios tipos de foco em isolamento apesar
de que a interface com outro componente gramatical seraacute explicada quando necessaacuterio A
exposiccedilatildeo natildeo seraacute exaustiva uma vez que este tipo de trabalho natildeo permite uma discussatildeo
mais longa da literatura
221 Foco sintaacutetico
O foco tem recebido grande atenccedilatildeo nos estudos da sintaxe gerativa Itens de natureza
discursiva como o toacutepico e o proacuteprio foco passam a fazer parte da estrutura interna das
sentenccedilas dentro dessa abordagem teoacuterica Eles ocupam uma posiccedilatildeo na parte mais alta da
sentenccedila caracterizada por ser uma estrutura funcional sendo a outra parte da sentenccedila a
estrutura lexical Com a proposta de extensatildeo do sistema CP (RIZZI 1997)3 dois
subsistemas satildeo criados o primeiro constituiacutedo por ForceP e FinP e o segundo por TopP e
FocP A categoria ForceP determina o tipo de sentenccedila enquanto FinP determina sua
finitude Os constituintes toacutepico e foco satildeo interpretados em Spec de seus respectivos
sintagmas O sistema CP entatildeo passa a ser representado da seguinte forma (QUAREZEMIN
2009 p 22)
3 Segundo Quarezemin (200921) ldquoa extensatildeo do CP ocorre para acomodar certos constituintes com
propriedades discursivas e de escopo aleacutem de derivar sua interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo Spec-nuacutecleordquo
15
(1) ForceP
Force0 TopP
Top0 FocP
Foc0 TopP
Top0 FinP
Fin0 IP
As categorias TopP e FocP4 soacute aparecem na estrutura se houver constituintes com
funccedilotildees de toacutepico e foco na sentenccedila A categoria TopP aparece duas vezes na estrutura
porque eacute considerada recursiva Isso significa que pode haver mais de um toacutepico na sentenccedila
Na estrutura FocP natildeo aparece duas vezes pois a natureza quantificacional do foco natildeo
permite tal repeticcedilatildeo Para Rizzi (1997) e Belletti (2001) ldquoa noccedilatildeo de foco estaacute diretamente
relacionada agrave posiccedilatildeo que este constituinte ocupa na sentenccedila Para eles um constituinte eacute
interpretado como foco somente se ele ocupa a posiccedilatildeo de Spec de FocPrdquo (ASSIS 2003 p
360)
Nessa abordagem o toacutepico ldquoveicula informaccedilatildeo jaacute conhecida pelos participantes do
discursordquo enquanto o comentaacuterio ldquoeacute um tipo de predicado complexo que se aplica ao toacutepicordquo
(QUAREZEMIN 2009 p 22) No exemplo da autora your book eacute o toacutepico e o que estaacute
depois da viacutergula eacute o comentaacuterio
(2) Your book you should give t to Paul (not to Bill)5
Ela afirma que na fala o toacutepico eacute marcado por uma pausa Diferentemente do toacutepico
o foco eacute ldquodestacado por um acento proeminente e expressa a informaccedilatildeo do discurso natildeo
4 Haacute outras propostas sobre qual o lugar que as categorias funcionais TopP e FocP ocupam na estrutura da
sentenccedila extensatildeo de vP (Belletti 2001 2004a) e extensatildeo de DP (Giusti 2002) 5 ldquoSeu livro vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo para o Bill)rdquo
16
pressuposta pelo ouvinte enquanto a pressuposiccedilatildeo representa o conhecimento compartilhado
pelos interlocutoresrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 23)
(3) YOUR BOOK you should give t to Paul (not mine)6
Com isso Quarezemin (2009 p 46) afirma que ldquoa interpretaccedilatildeo semacircntica da
sentenccedila que apresenta a articulaccedilatildeo foco-pressuposiccedilatildeo natildeo deve ser confundida com a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila que tem a biparticcedilatildeo toacutepico-comentaacuteriordquo A autora menciona a
relaccedilatildeo entre foco-prosoacutedia dizendo que os paracircmetros acuacutesticos da descriccedilatildeo do foco satildeo a
F0 a duraccedilatildeo e a intensidade Na fonologia o foco recebe a proeminecircncia ou outro acento
tonal especiacutefico A autora diz que ldquoo foco ou um membro do sintagma focalizado sempre
recebe o acento principal da sentenccedila enquanto a pressuposiccedilatildeo natildeo pode ser acentuada nos
mesmos niacuteveisrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 52)
Em liacutenguas como o espanhol o italiano e o PE o foco de informaccedilatildeo ocupa uma
posiccedilatildeo no final da sentenccedila em casos que ocorre a inversatildeo do sujeito
(4) Egrave partitoha parlato [F Gianni]7
(Chi egrave partitoha parlato)
No exemplo de Quarezemin (2009 p 69) acima nota-se o foco estreito Gianni no
final da sentenccedila visto que esse item responde agrave pergunta chi egrave partitoparlato Haveria o
foco largo isto eacute toda a resposta de (4) seria foco se essa resposta correspondesse agrave pergunta
(QUAREZEMIN 2009 p 70)
(5) Che cosa egrave successo8
Um tipo especiacutefico de focalizaccedilatildeo sintaacutetica satildeo as construccedilotildees clivadas Resenes
(2009 p 17) explica que a clivagem eacute ldquoum processo sintaacutetico que serve para focalizar
constituintes porque prepara um lugar especiacutefico na sentenccedila para alojar o focordquo Os
elementos que cumprem essa funccedilatildeo satildeo a coacutepula o complementizador que ou um elemento
wh As propriedades semacircnticas e sintaacuteticas das sentenccedilas clivadas e pseudo-clivadas natildeo
6 ldquoO SEU LIVRO vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo o meu)rdquo
7 ldquoPartiufalou o Gianni (Quem partiufalou)rdquo
8 ldquoO que aconteceurdquo
17
seratildeo abordadas profundamente visto que esse natildeo eacute o objetivo principal deste trabalho As
sentenccedilas clivadas apresentam a estrutura [ser + XPi + que [IP eci]] jaacute as pseudo-clivadas [[CP
whi ti] + ser +XPi] (RESENES 2009 p 14) O XP deve ser a parte natildeo-pressuposta da
sentenccedila ou o foco da sentenccedila o sintagma que carrega a informaccedilatildeo nova e que segundo a
abordagem gerativa carrega tambeacutem a proeminecircncia prosoacutedica O foco dessas sentenccedilas eacute do
tipo de identificaccedilatildeo exaustiva isto eacute indicado pela propriedade semacircntica [x e apenas x]
Apresentamos como exemplo em PB uma clivada e uma pseudo-clivada respectivamente
(6) Foi [F a Luana] que comprou um livro
(7) Quem comprou um livro foi [F a Luana]
Em inglecircs as clivadas satildeo conhecidas como it-clefts pois nessa liacutengua eacute obrigatoacuteria a
realizaccedilatildeo do expletivo na posiccedilatildeo inicial da sentenccedila
(8) It was [F John] who died in a car crash9
Haacute vaacuterios tipos de realizaccedilatildeo dessas sentenccedilas por exemplo clivada sem coacutepula
clivada com dupla coacutepula pseudo-clivada reduzida etc
Na liacutengua Ayutla Mixteca em que a ordem canocircnica da sentenccedila eacute VSO a
focalizaccedilatildeo se daacute atraveacutes da mudanccedila de posiccedilatildeo do elemento que se deseja focalizar para
uma posiccedilatildeo preacute-verbal ldquobecause the first element of any list is perceptually salient
preverbal position tends to grant the item filling it some degree of highlighting This position
is therefore often used for constituents that a speaker wishes to focus in some wayrdquo
(HOLLENBACH 1995 p 1)10
Seguem os exemplos de Hills (1990 p 27-28 apud
HOLLENBACH 1995 p 2)
(9) mburu xi‟i‟ tikui
donkey drinks water
bdquoThe donkey is drinking water‟11
(10) tikui xi‟i‟ mburu
9 ldquoFoi [F o Joatildeo] que morreu num acidente de carrordquo
10 ldquoporque o primeiro elemento de qualquer lista eacute perceptualmente saliente a posiccedilatildeo preacute-verbal tende a
conceder ao item carregando-o com algum grau de realce Esta posiccedilatildeo eacute portanto frequentemente usada para
constituintes em que o falante deseja focalizar de algum modordquo 11
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo
18
water drinks donkey
bdquoThe donkey is drinking water‟12
Entretanto Hollenbach (1995 p 2) adverte que a relaccedilatildeo semacircntica do foco com a
posiccedilatildeo preacute-verbal eacute obscura jaacute que um constituinte pode ocorrer na posiccedilatildeo preacute-verbal sem
que o falante deseje focalizaacute-lo Entatildeo a autora investiga as condiccedilotildees para que a focalizaccedilatildeo
do constituinte preacute-verbal ocorra13
Ela identificou vaacuterias condiccedilotildees para a identificaccedilatildeo do
foco na posiccedilatildeo preacute-verbal nas liacutenguas do grupo Mixteca entre elas a pausa (11) e a inserccedilatildeo
de conjunccedilotildees coordenadas (12) depois do elemento focalizado
(11) juaacutea ta‟u da ntuku
John splits he firewood
bdquoAs for John he is splitting firewood‟ (Yosonduacutea FARRIS 1992 p 28 apud
HOLLENBACH 1995 p 3)14
(12) sa‟an mi neacute din tavi di kuidaacutedo di
man that and willdo very you care you (Cuicatec BRADLEY 1991
p 493 apud HOLLENBACH 1995 p 3)
Esses satildeo exemplos que a focalizaccedilatildeo natildeo se daacute exclusivamente pela sintaxe mas que
co-ocorre com ela ou seja eacute necessaacuterio que haja mais elementos linguiacutesticos aleacutem da
posiccedilatildeo preacute-verbal para que a focalizaccedilatildeo ocorra de forma satisfatoacuteria
222 Foco morfoloacutegico
O foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de certos morfemas que dependendo da
liacutengua seratildeo cliacuteticos ou morfemas livres Nesse caso ldquoum bdquoMorfema de Ecircnfase‟ seraacute o
elemento responsaacutevel pela iluminaccedilatildeo do elemento destacado no textordquo (GONCcedilALVES
1999 p 336) Natildeo obstante isso natildeo signifique que o foco natildeo possa ser expresso por outros
meios nas liacutenguas em que predominam o meio morfoloacutegico para que a focalizaccedilatildeo ocorra
Esse tipo de focalizaccedilatildeo eacute mais comum em liacutenguas natildeo-indo-europeias como em liacutenguas
12
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo 13
Hollenbach investigou as condiccedilotildees do foco natildeo soacute na liacutengua Ayutla Mixteca mas em seis variedades do
Mixteca duas do Trique e uma do Cuicatec Essas liacutenguas fazem parte grupo Mixteca que por sua vez faz
parte da famiacutelia das liacutenguas Otomangues faladas sobretudo no sul do Meacutexico As liacutenguas da famiacutelia
Otomangue apresentam a ordem canocircnica VSO 14
ldquoQuanto ao Joatildeo ele estaacute partindo a lenhardquo
19
indiacutegenas brasileiras por exemplo em marubo e em mekens O aacuterabe e o japonecircs tambeacutem
satildeo exemplos de liacutenguas em que ocorre a focalizaccedilatildeo morfoloacutegica Hagesawa (2010 p 1)
explica que no japonecircs ldquoone of the most general properties of focus particles is to relate a
proposition which is newly introduced by the sentence containing a focus particle and
propositions available in the contextrdquo15
Em japonecircs a partiacutecula -shika introduz a noccedilatildeo de exclusividade o que eacute expresso
pela palavra only em inglecircs Essa noccedilatildeo eacute a mesma do foco de identificaccedilatildeo encontrado nas
sentenccedilas clivadas do PB por exemplo Segue o exemplo de Hagesawa (2010 p 4)
(13) Miho-shika ko-na-katta
Miho-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoOnly Miho came‟16
No exemplo (13) a funccedilatildeo do morfema -shika pode ser parafraseada como ldquosomente
Miho veio e mais ningueacutemrdquo Quanto ao padratildeo prosoacutedico das partiacuteculas de foco no japonecircs
Hagesawa (2010 p 33) afirma que
although Japanese focus particles have their own accent patterns
when they occur without a focused constituent or they are stressed as
shown in (14) and (15) they lose their accent pattern and follow the
tone melody of their host when they are suffixed17
18
O autor apresenta os seguintes exemplos
(14) Shikamade-o jisyo-de shirabe-ta
HL HL
SHIKAMADE-ACC dictionary-with lookup-PAST
bdquoI looked up bdquoshika‟‟made‟ in a dictionary‟19
(15) A Yuka-mo ki-ta-no
Yuka-also come-PAST-Q
15
ldquouma das propriedades mais gerais das partiacuteculas de foco eacute relacionar uma proposiccedilatildeo que eacute receacutem-
introduzida pela sentenccedila contendo uma partiacutecula de foco e proposiccedilotildees disponiacuteveis no contextordquo 16
ldquoSomente Miho veiordquo 17
A numeraccedilatildeo dos exemplos natildeo segue a original 18
ldquoconquanto as partiacuteculas de foco do japonecircs tecircm seus padrotildees proacuteprios de accent quando ocorrem sem um
constituinte focalizado ou estatildeo stressed como mostrado em (14) e (15) elas perdem o seu padratildeo de accent e
seguem a melodia tonal do seu hospedeiro quando elas satildeo sufixadasrdquo 19
ldquoEu procurei bdquoshika‟‟made‟ em um dicionaacuteriordquo
20
bdquoDid Yuka also come‟
B Uun Yuka-shika ko-na-katta
HL
no Yuka-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoNo only Yuka came‟20
Na liacutengua Mekens todas as questotildees wh apresentam o cliacutetico foco te como no
exemplo abaixo de Galucio (2002 p 67)
(16) aapo=te o-tek pogabeg-a ke i-koop ikatildeotilde tete
Who=foc 1s-house open-Theme say 3s-aux+mov that time
bdquordquoWho opened my houserdquo She was saying that time‟21
Haacute tambeacutem o uso do recurso sintaacutetico pois o constituinte focalizado sempre aparece
no iniacutecio da sentenccedila A autora menciona que a informaccedilatildeo natildeo-pressuposta das respostas agraves
perguntas wh tambeacutem apareceratildeo na forma de construccedilotildees focalizadas Isso faz com que a
ordem canocircnica ndash SOV ndash dessa liacutengua se altere em sentenccedilas como (17) abaixo por exemplo
extraiacuteda de Galucio (2002 p 68) Notam-se nas duas oraccedilotildees que os sujeitos ocorrem
depois do verbo
(17) serek=te kɨpmatildekatildeỹ kweotildep =te ɨsɨɨ
split=foc floor climb+neg=foc deer
bdquoThe floor split and the deer sank‟22
Alguns autores consideram como morfemas de foco palavras como only also just e
even do inglecircs por exemplo porque elas cumprem a mesma funccedilatildeo semacircntica dos morfemas
de foco em liacutenguas como o japonecircs no exemplo da partiacutecula -shika bdquoonly‟ Na anaacutelise de
Quarezemin (2009 p 112) para as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB ela sugere que nas
construccedilotildees clivadas a coacutepula e o complementizador seriam morfemas de foco Nas palavras
da autora
20
ldquoA Yuka tambeacutem veio Natildeo somente a Yuka veiordquo 21
ldquoQuem abriu minha casa Ela estava dizendo aquela horardquo 22
ldquoO chatildeo se partiu e o veado afundourdquo
21
A hipoacutetese inicial eacute que de um modo geral os falantes do PB
preferem destacar o constituinte focalizado sintaticamente ao inveacutes
de destacaacute-lo apenas com recursos prosoacutedicos Disso surge a hipoacutetese
de que a coacutepula com funccedilatildeo de focalizar e o complementizador das
clivadas podem ser considerados morfemas de foco em PB
Em suma o foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de morfemas que tecircm por objetivo
sinalizar que o constituinte o qual estaacute afixado se encontra focalizado Eles tambeacutem podem
interagir com a sintaxe e a prosoacutedia no caso de aleacutem do morfema de foco estar afixado a um
constituinte que se deseja destacar ele tambeacutem esteja em uma posiccedilatildeo proacutepria para
construccedilotildees focalizadoras ou em casos em que aleacutem da marcaccedilatildeo morfoloacutegica do foco haja
uma proeminecircncia prosoacutedica no constituinte focalizado
223 Foco semacircntico
Em primeiro lugar salientamos que o termo bdquofoco semacircntico‟ pode causar certa
estranheza devido a que diferentemente dos outros tipos neste natildeo haacute uma manifestaccedilatildeo de
forma ldquovisiacutevelrdquo do foco no enunciado isto eacute natildeo haacute uma proeminecircncia prosoacutedica uma
construccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica ou um morfema afixado a um constituinte Antes se trata mais
de uma propriedade do significado da construccedilatildeo focalizadora em um enunciado
As trecircs principais propriedades semacircnticas do foco satildeo as dos enunciados que
apresentam o foco de informaccedilatildeo de identificaccedilatildeo e o contrastivo Geralmente para
determinar a propriedade semacircntica desses tipos de foco recorre-se ao contexto de pergunta-
whresposta ou a outro tipo de contexto induzido O foco de informaccedilatildeo23
introduz uma
informaccedilatildeo novanatildeo-pressuposta e ldquopresume uma pergunta wh como base discursiva para
ser estabelecidordquo (RESENES 2009 p 20) Segue o exemplo de Resenes (2009 p 20)
(18) a O que o Joatildeo bebeu
b O Joatildeo bebeu alguma coisa
c O Joatildeo bebeu [F o vinho]
A pergunta wh estaacute em (18a) Em (18b) encontra-se a pressuposiccedilatildeo expressa pelo
pronome indefinido O foco de informaccedilatildeo se encontra em (18c) e eacute o valor da expressatildeo wh
23
Resenes (2009) utiliza a nomenclatura de ldquofoco natildeo-contrastivordquo para esse tipo de foco
22
da pergunta em (18a) A autora menciona que na Estrutura de Asserccedilatildeo (AS)24
o foco de
(18c) seria representado como
(19) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 O x tal que o Joatildeo bebeu x = [o vinho]
O foco contrastivo corrige uma informaccedilatildeo preacutevia atraveacutes de uma prosoacutedia proacutepria
Resenes (2009 p 20) afirma que ldquoo contexto ideal para o foco contrastivo eacute aquele em que
haacute uma afirmaccedilatildeo preacutevia como base discursivardquo Segue o exemplo da autora (RESENES
2009 p 21)
(20) a O Joatildeo bebeu o vinho
b O Joatildeo bebeu [F a cerveja] (natildeo o vinho)
A AS de (20) seria
(21) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 Natildeo eacute o caso que o x tal que o Joatildeo bebeu x = vinho amp O x tal que o Joatildeo
bebeu o x = a cerveja
O foco de identificaccedilatildeo ldquorepresents a subset of the set of contextually or situationally
given elements for which the predicate phrase can potentially hold it is identified as the
exhaustive subset of this set for which the predicate phrase actually holdsrdquo (KISS 1998 p
245 apud RESENES 2009 p 21)25
Assim o foco de identificaccedilatildeo expressa exaustividade
que pode ser parafraseada como [x e apenas x] Esse tipo de foco eacute ilustrado por uma
sentenccedila clivada em (22) (RESENES 2009 p 21)
(22) Foi [F um perfume] que a Maria deu para o Joatildeo
24
Resenes (2009 p 20) explica que a AS eacute ldquoum niacutevel poacutes-LF (pragmaacutetico) que revela como a informaccedilatildeo estaacute
empacotada na sentenccedila Na AS vai estar explicitada a estrutura da focalizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo o foco e os
tipos de focordquo 25
ldquorepresenta um subconjunto do conjunto de elementos dados contextualmente ou situacionalmente para o qual
a expressatildeo do predicado pode potencialmente conter que eacute identificado como o subconjunto exaustivo deste
conjunto para o qual a expressatildeo de predicado efetivamente conteacutemrdquo
23
Em (22) o foco de identificaccedilatildeo eacute expresso pelo NP um perfume que significa que
dentro de uma seacuterie de possiacuteveis presentes que a Maria poderia ter dado ao Joatildeo ela deu
somente um perfume por isso [x e apenas x]
Contudo o fenocircmeno da focalizaccedilatildeo natildeo se restringe somente agraves respostas das
perguntas wh ou agraves respostas dos contextos induzidos Davis (2009 p 2) assinala que haacute dois
grandes aspectos da constituiccedilatildeo do foco ldquoThe first is its grammar how FOCUS is expressed
in language The second is its meaning It does not require much investigation to discover
that there is no grammatical consistency to FOCUS across languagesrdquo26
O autor nota que em
relaccedilatildeo ao primeiro item natildeo haveria uma forma uacutenica universal para o uso do foco ou seja
uma liacutengua utiliza a sintaxe outra a prosoacutedia outra a morfologia outra a sintaxe e a prosoacutedia
etc ele afirma que ldquoif there is some universal consistency to FOCUS across languages it is
not found in its expressionrdquo27
Quanto ao segundo item as liacutenguas a princiacutepio natildeo
diferenciariam muito em relaccedilatildeo agrave semacircntica do foco Entretanto a propriedade de
destaquerealce sempre estaraacute presente manifestando-se seja por meio da prosoacutedia do
arranjo sintaacutetico ou da marcaccedilatildeo morfoloacutegica Davis (2009 p 2) explica que
If FOCUS will be diferently constituted grammatically its presence
has to be recognized in its semantics One portion of that semantics is
that FOCUS is involved in the answering of wh- questions but not
every utterance is a response to such a question Yet utterances must
the claim says nevertheless contain the semantics (and some
grammar) of FOCUS FOCUS then cannot be only the content
which answers questions There must be more to FOCUS When we
examine languages we discover that FOCUS has an affinity for
certain other semantics and in discovering those affinities we can
amplify our conception of what constitutes FOCUS28
A partir da assunccedilatildeo acima sugere-se que os estudos sobre a focalizaccedilatildeo natildeo
poderiam se restringir agraves anaacutelises de dados de introspecccedilatildeo sobretudo aqueles que explicam o
fenocircmeno somente a partir de dados com contexto pergunta-whresposta A natureza
discursivo-pragmaacutetica da focalizaccedilatildeo faz com que esse fenocircmeno seja melhor compreendido
26
ldquoO primeiro eacute sua gramaacutetica como o FOCO eacute expresso na liacutengua O segundo eacute o seu significado Natildeo se
requer muita investigaccedilatildeo para descobrir que natildeo haacute coerecircncia gramatical do FOCO atraveacutes das liacutenguasrdquo 27
ldquose houver alguma consistecircncia universal para o FOCO entre as liacutenguas natildeo eacute encontrada na sua expressatildeordquo 28
ldquoSe o FOCO seraacute constituiacutedo diferente gramaticalmente a sua presenccedila tem de ser reconhecida em sua
semacircntica Uma parte dessa semacircntica eacute que o FOCO estaacute envolvido nas respostas de perguntas QU mas nem
todo enunciado eacute uma resposta a essas perguntas No entanto os enunciados devem a alegaccedilatildeo diz todavia
conter a semacircntica (e alguma gramaacutetica) do FOCO O FOCO entatildeo natildeo pode ser apenas o conteuacutedo que
responde a perguntas Deve haver mais para o FOCO Quando examinamos as liacutenguas descobrimos que o
FOCO tem uma afinidade com outras semacircnticas e descobrindo essas afinidades podemos ampliar a nossa
concepccedilatildeo do que constitui o FOCOrdquo
24
na liacutengua espontacircnea apesar de natildeo se poder excluir suas propriedades semacircnticas em
diferentes enunciados que podem ser analisados sem o uso de dados de liacutengua espontacircnea
como eacute o caso da investigaccedilatildeo das propriedades semacircnticas do foco em dados de introspecccedilatildeo
e de suas representaccedilotildees formais
224 Foco prosoacutedico
A prosoacutedia eacute um dos traccedilos da camada suprassegmental ou seja que se encontra
acima dos segmentos dispostos linearmente na cadeia sonora da fala Beaver amp Clark (2008
p 2) explicam que os traccedilos suprassegmentais satildeo assim chamados porque ldquothey spread out
across multiple segments (basic sound units) or even across multiple wordsrdquo29
Callou amp
Leite (1990 p31) afirmam que o ldquoconjunto de fenocircmenos dos quais se derivam tipos de
acento padrotildees entoacionais ritmos e velocidades de fala satildeo estudados sob o roacutetulo de
prosoacutediardquo Ao contraacuterio dos segmentos que satildeo descritos pelos movimentos dos articuladores
do aparelho fonador os suprassegmentos satildeo descritos ldquoem termos da accedilatildeo dos muacutesculos
respiratoacuterios que aumentam ou diminuem a energia do fluxo de ar ocasionando duraccedilotildees
frequumlecircncia fundamental e intensidade diferentes das vibraccedilotildees sonorasrdquo (CALLOU amp LEITE
1990 p 30) Paracircmetros acuacutesticos como frequecircncia fundamental intensidade e duraccedilatildeo fiacutesica
satildeo outros traccedilos suprassegmentais que satildeo percebidos respectivamente como pitch
loudness e length que por sua vez ldquoapresentam correlatos fiacutesicos frequumlecircncia amplitude e
tempordquo (LEITE 2009 p 17)30
A frequecircncia eacute medida em Hz (Hertz) a amplitude em dB
(decibeacuteis) e o tempo em ms (milissegundos)
Barbosa (2008) menciona que a prosoacutedia estaacute
associada a fatores linguumliacutesticos como acentuaccedilatildeo entoaccedilatildeo ecircnfase e
ritmo bem como a fatores para- e extra-linguiacutesticos tais como
marcadores discursivos (ldquoneacuterdquo ldquoentendordquo ldquoanhanrdquo) atitudes
emoccedilotildees imbricados a fatores sociais ou bioloacutegicos como gecircnero
faixa etaacuteria classe social entre outros
Segundo Leite (2009 p 18) a prosoacutedia exerceria funccedilotildees ldquogramatical atitudinal
informacional indexal e ilocucionaacuteriardquo Nota-se portanto que eacute muito importante levar em
29
ldquoeles se espalham em vaacuterios segmentos (unidades baacutesicas de som) ou mesmo atraveacutes de muacuteltiplas palavrasrdquo 30
Neste trabalho natildeo se pretende definir minuciosamente todos os conceitos dos correlatos foneacutetico-acuacutesticos
dos sons da fala estudados pela Foneacutetica Acuacutestica Para mais informaccedilotildees cf Ladefoged (1974) Malmberg
(1998) e Johnson (2003)
25
consideraccedilatildeo a prosoacutedia na anaacutelise linguiacutestica visto que ela desempenha funccedilotildees associadas a
fatores intrinsecamente linguiacutesticos bem como a fatores extralinguiacutesticos A prosoacutedia ainda
apresenta um importante papel na aquisiccedilatildeo da linguagem sendo recurso especial para a
crianccedila associar unidades sonoras a significado (cf BRUM DE PAULA 2010)
As investigaccedilotildees do Ciacuterculo Linguiacutestico de Praga sugeriram que os elementos dados
do discurso ou seja aqueles que jaacute haviam sido mencionados seriam prosodicamente menos
relevantes que os elementos novos Disso resulta que a informaccedilatildeo nova ou o foco seja
destacado prosodicamente isto eacute apresente proeminecircncia prosoacutedica A proeminecircncia
prosoacutedica eacute definida como ldquoa quantitative parameter of a syllable or a boundary that describes
markedness relative to surrounding syllables and boundaries respectivelyrdquo (PORTELE amp
HEUFT 1997 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 227)31
Haacute autores que classificam o
foco levando em conta sobretudo o fator proeminecircncia prosoacutedica por exemplo ldquothe term
focus is used [] to describe prosodic prominences serving pragmatic and semantic
functionsrdquo (ROOTH 1995 p 271 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 228)32
O foco prosoacutedico eacute definido por meio de uma proeminecircncia tonal (cf
BUTRAGUENtildeO 2005) Entretanto alguns estudos mostram que o foco natildeo seria marcado
somente com a proeminecircncia tonal ou prosoacutedica Proeminecircncias de outros traccedilos
suprassegmentais como duraccedilatildeo e intensidade tambeacutem marcariam o foco (cf TOLEDO
1989 SOSA 1999 QUAREZEMIN 2009 entre outros) Para Butraguentildeo (2005 p 141) os
focos prosoacutedicos ldquoreciben acentos tonales de contorno especiacutefico que permiten distinguirlos
del fondo (o background)rdquo33
Os paracircmetros de anaacutelise acuacutestica do foco satildeo os movimentos
de F0 o alinhamento entre siacutelabas e F0 duraccedilatildeo das siacutelabas e vogais intensidade da siacutelaba e
em alguns casos pausas e meacutedia entre picos de F0
As abordagens teoacutericas utilizadas nos trabalhos sobre o foco prosoacutedico guiam a
metodologia de anaacutelise dos dados Assim alguns autores que trabalham com uma abordagem
formal utilizando o sistema ToBI (cf SILVERMAN et al 1992) para a anaacutelise dos dados
representam a entoaccedilatildeo dos enunciados marcando as siacutelabas com acentos tonais que se
manifestam em acentos monotonais (H ou L) bitonais (H+L L+H etc) e ainda poderia
haver tons de juntura (H e L) que delimitam as fronteiras dos grupos meloacutedicos Na
Fonologia Entoacional haacute trecircs tipos de tons pitch accents phrase accents e boundary tones
31
ldquoum paracircmetro quantitativo de uma siacutelaba ou de uma fronteira que descreve a marcaccedilatildeo relativa agraves siacutelabas
vizinhas e fronteiras respectivamenterdquo 32
ldquoo termo foco eacute utilizado [] para descrever proeminecircncias prosoacutedicas que servem a funccedilotildees pragmaacuteticas e
semacircnticasrdquo 33
ldquorecebem acentos tonais de contorno especiacutefico que permitem distingui-los do fundo (ou background)rdquo
26
Geralmente o foco eacute marcado por um pitch accent que pode ser definido como ldquoa local
feature of a pitch contour ndash usually but not invariably a pitch change and often involving a
local maximum or minimumrdquo (LADD 1996 p 45-6 apud BEAVER amp CLARK 2008 p
11)34
Segundo Roach (2011 p 67) pitch
is an auditory sensation when we hear a regularly vibrating sound
such as a note played on a musical instrument or a vowel produced
by the human voice we hear a high pitch if the rate of vibration is
high and a low pitch if the rate of vibration is low35
Nooteboom (1997 p 641) atenta para o fato de que ldquoone should be aware however
that rather often the notion bdquopitch‟ is used to refer to f0 or the repetition frequency itself In
speech f0 is determined by the rate of vibration of the vocal cords located in the larynxrdquo36
Ademais Crystal (2008 p 369) adverte que ldquothere is however no direct or parallel
correlation between pitch and frequency other factors than frequency may affect our
sensation of pitch (measured in units known as mels)rdquo37
Pitch countour seria a marcaccedilatildeo dos
uacutenicos pitchs relevantes para a compreensatildeo de um perfil entoacional A teacutecnica da close
copy (cf t‟HART et al 1990) justamente realccedila o pitch countor atraveacutes de uma ldquosiacutentese que
satildeo eliminados movimentos de F0 que natildeo causam diferenccedila de percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao
aacuteudio originalrdquo (ROCHA 2011 p 106) De acordo com Crystal (2008 p 369-370) o termo
pitch accent
is used phonologically in the description of languages in which the
distribution of the tones within a word is totally predictable once one
has specified a particular tonal feature of the word (as in Japanese)
The notion has also been applied to English where some
phonological models analyse intonation CONTOURS as a sequence
of one or more pitch accents each associated with a STRESS-
prominent SYLLABLE in a word38
34
ldquoum traccedilo local de um pitch contour - geralmente mas natildeo invariavelmente variaccedilatildeo de pitch e muitas vezes
envolvendo um local maacuteximo ou miacutenimordquo 35
ldquoeacute uma sensaccedilatildeo auditiva quando ouvimos um som regularmente vibrando como uma nota tocada em um
instrumento musical ou uma vogal produzida pela voz humana noacutes ouvimos um pitch alto se a taxa de vibraccedilatildeo
eacute alta e um pitch baixo se a taxa de vibraccedilatildeo eacute baixardquo 36
ldquodeve-se estar ciente no entanto que muitas vezes a noccedilatildeo de pitch eacute utilizada para se referir a f0 ou a
frequecircncia da repeticcedilatildeo Na fala a f0 eacute determinada pela taxa de vibraccedilatildeo das cordas vocais localizadas na
laringerdquo 37
ldquonatildeo haacute poreacutem nenhuma correlaccedilatildeo direta ou paralelo entre pitch e frequecircncia outros fatores aleacutem
frequecircncia podem afetar a nossa sensaccedilatildeo de pitch (medido em unidades conhecidas como mels)rdquo 38
ldquoeacute usado fonologicamente na descriccedilatildeo das liacutenguas nas quais a distribuiccedilatildeo dos tons dentro de uma palavra eacute
totalmente previsiacutevel uma vez que se tenha especificado uma caracteriacutestica particular de tons da palavra (tal
como no japonecircs) A noccedilatildeo tambeacutem foi aplicada para o inglecircs em que alguns modelos fonoloacutegicos analisam os
CONTORNOS da entoaccedilatildeo como uma sequecircncia de um ou mais pitch accents cada um associado a uma
SIacuteLABA STRESS-proeminente em uma palavrardquo
27
O sistema ToBI reconhece 5 tipos de pitch accents enquanto Pierrehumbert (1980)
menciona 7 tipos Atraveacutes dessa classificaccedilatildeo eacute possiacutevel delimitar o accent prototiacutepico do
foco ou suas possiacuteveis variantes Beaver amp Clark (2008 p 12) mencionam que ldquoalthough
focus is frequently marked by an H accent [] other accents are possible For example in
yes-no questions focus is often by marked by an L+Hrdquo39
A importante pressuposiccedilatildeo teoacuterica de que toda oraccedilatildeo eacute resposta a uma pergunta
guia a metodologia de muitas investigaccedilotildees sobre o foco sobretudo de trabalhos
experimentais de leitura de sentenccedilas denominados testes de produccedilatildeo Com o pressuposto
teoacuterico da explicitaccedilatildeo do foco por meio de pergunta-resposta eacute possiacutevel delimitar o tipo de
foco a ser analisado broad focus (foco largo) narrow focus (foco estreito) ou contrastive
focus (foco contrastivo) (cf seccedilatildeo 121 p 14) Essa metodologia tem por caracteriacutestica
induzir guiar e restringir os padrotildees meloacutedicos da fala ao fornecer exemplos com contextos
preacutevios ou mesmo com o foco jaacute explicitado na sentenccedila para se obter o resultado desejado
Em investigaccedilatildeo sobre a marcaccedilatildeo prosoacutedica dos focos largo estreito e contrastivo em
alematildeo Baumann et al (2006 p 302) mencionam em sua metodologia de teste de leitura
que
reading material consisted of five question-answer pairs with the
answer bdquoManuela will Blumen malen‟ (Manuela wants to paint
flowers) The main criterion the target sentence had to fulfill was its
continuous voicing so as to be able to accurately measure exact peaks
and valleys in the F0 contour40
Dependendo do objetivo do trabalho ou da liacutengua a ser analisada podem-se controlar
outros fatores Por exemplo em trabalho sobre como o tom lexical e o foco contribuem para a
formaccedilatildeo e alinhamento dos F0 contours no chinecircs Xu (1999 p 58) menciona na
metodologia que
the factors manipulated in the experiment were segmental
composition of syllables lexical tones focus and and sentence types
Of these only lexical tones and focus were under direct scrutiny The
control of the other two factors was done by keeping their variation to
39
ldquoembora o foco seja frequentemente marcado por um accent H [] outros accents satildeo possiacuteveis Por
exemplo em perguntas sim-natildeo o foco eacute muitas vezes marcado por um H + Lrdquo 40
ldquoo material de leitura consistiu de cinco pares de pergunta-resposta com a resposta bdquoManuela will Blumen
malen‟ (Manuela quer pintar flores) O principal criteacuterio que a frase alvo tinha a cumprir era seu vozeamento
contiacutenuo de modo a ser capaz de medir com precisatildeo exata picos e vales no contorno da F0rdquo
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 12
2 PANORAMA GERAL DOS ESTUDOS SOBRE O FOCO 12
22 TIPOS DE FOCO 13
221 Foco sintaacutetico 14
222 Foco morfoloacutegico 18
223 Foco semacircntico 21
224 Foco prosoacutedico 24
3 METODOLOGIA DA PESQUISA 29
31 OBJETIVO 29
32 CORPUS 30
321 C-ORAL-ROM 30
322 C-ORAL-BRASIL 32
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 34
4 ANAacuteLISE DOS DADOS 35
41 FOCO PROSOacuteDICO 35
42 FOCO SINTAacuteTICO 41
43 FOCO MORFOLOacuteGICO 45
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE 47
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 55
REFEREcircNCIAS 56
12
1 INTRODUCcedilAtildeO
A focalizaccedilatildeo eacute um fenocircmeno linguiacutestico cada vez mais estudado e que possui
importante papel na comunicaccedilatildeo oral Sua importacircncia na gramaacutetica das liacutenguas naturais
bem como nas situaccedilotildees comunicativas eacute grande podendo ser observada pela assunccedilatildeo de
Davis (2009 p 2) ldquoFOCUS is present in every language and that it is present in every
utterance of every languagerdquo1 Embora haja divergecircncia por parte de alguns autores quanto agrave
proposta de Davis assume-se de qualquer forma que a focalizaccedilatildeo nas liacutenguas naturais eacute um
importante recurso comunicativo promovido nas diversas interaccedilotildees linguiacutesticas do cotidiano
pois sinaliza propriedades semacircnticas especiacuteficas atraveacutes de recursos prosoacutedicos
morfoloacutegicos e configuraccedilotildees sintaacuteticas dedicadas a destacar um item Nas liacutenguas romacircnicas
e germacircnicas sobretudo a estrateacutegia prosoacutedica da focalizaccedilatildeo eacute fundamental para a
realizaccedilatildeo do foco conforme mencionam Beaver amp Clark (2008 p xxi) ldquoRomance and
Germanic languages and English in particular focus is commonly marked by prosody with
changes in pitch used to mark focused expressionsrdquo2 Natildeo obstante estejam presentes e
podendo estar em co-ocorrecircncia nas liacutenguas desses troncos estrateacutegias sintaacuteticas como as
construccedilotildees clivadas e morfoloacutegicas como adveacuterbios e quantificadores focais o que poderaacute
ser constatado ao longo deste trabalho
Este trabalho estaacute divido em duas partes a primeira (cf seccedilatildeo 2 e subseccedilotildees) que
procura expor ao leitor atraveacutes da consideraccedilatildeo de diferentes estudos de variadas abordagens
teoacuterico-metodoloacutegicas uma revisatildeo bibliograacutefica ao mesmo tempo concisa e imparcial que
objetiva cobrir de modo satisfatoacuterio o tema da focalizaccedilatildeo e seus desdobramentos nos estudos
linguiacutesticos e a segunda (cf seccedilotildees 3 e 4 e subseccedilotildees) que consiste na exposiccedilatildeo do objetivo
e da metodologia da pesquisa do corpus utilizado da anaacutelise dos dados e das decorrentes
consideraccedilotildees sobre o foco no Portuguecircs Brasileiro falado informal aleacutem da discussatildeo sobre
a diferenciaccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase Por fim a seccedilatildeo 5 consiste nas
consideraccedilotildees finais
2 PANORAMA GERAL DOS ESTUDOS SOBRE O FOCO
O fenocircmeno da focalizaccedilatildeo tem sido estudado por vaacuterias aacutereas da linguiacutestica ndash
sintaxe semacircntica prosoacutedia etc ndash e sob diferentes abordagens teoacuterico-metodoloacutegicas ndash
1 ldquoO FOCO estaacute presente em toda liacutengua e estaacute presente em todo enunciado de toda liacutenguardquo
2 ldquoNas liacutenguas romacircnicas e germacircnicas e no inglecircs em particular o foco eacute marcado normalmente pela prosoacutedia
com variaccedilotildees no pitch para marcar as expressotildees focalizadasrdquo
13
formal funcional pragmaacutetica etc Cada estudo independente da aacuterea ou da abordagem
teoacuterica tem revelado que a focalizaccedilatildeo apresenta importante papel na gramaacutetica das liacutenguas
naturais pois o foco seu principal componente manifesta-se nelas por diferentes estrateacutegias
linguiacutesticas Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os diferentes meios em que o foco pode se
manifestar isto eacute os tipos de foco O objetivo deste capiacutetulo eacute mostrar que o foco ocorre
atraveacutes de diferentes estrateacutegias nas liacutenguas e que cada liacutengua escolhe uma ou mais
estrateacutegias para sua realizaccedilatildeo
21 TIPOS DE FOCO
O fenocircmeno que abrange o foco eacute a focalizaccedilatildeo que pode ser definida como o ldquoato de
focalizar ou seja de acentuar de ressaltar de pocircr em relevorealceevidecircncia um
determinado item do textordquo (GONCcedilALVES 1998 p 32) As liacutenguas naturais expressam esse
realce com diferentes estrateacutegias seja por meio da sintaxe da prosoacutedia ou da morfologia seja
com o uso de uma estrateacutegia ou de mais de uma atuando em conjunto A focalizaccedilatildeo eacute
considerada um fenocircmeno discursivo-pragmaacutetico ldquopois o usuaacuterio pode centrar sua atenccedilatildeo a
uma parcela do enunciado que julgue relevante enfatizando-ardquo (GONCcedilALVES 1998 p 33)
Assim sendo a focalizaccedilatildeo estaria vinculada tanto agraves estrateacutegias argumentativas do falante
quanto ao conteuacutedo informacional do enunciado Segundo Gonccedilalves (1998 p 39) o foco
ldquopode incidir em qualquer constituinte do enunciado (palavras morfemas sintagmas e
pequenas oraccedilotildees)rdquo
Mesmo com a definiccedilatildeo do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo as descobertas dos estudos
sobre a biparticcedilatildeo da frase a respeito do conceito de foco natildeo foram descartadas (cf
BARBOSA 2005) Gonccedilalves (1998 p 32) menciona que o constituinte focalizado eacute ldquoa
parcela do texto apresentada como a mais informativarelevanterdquo e que os elementos fora de
foco constituem ldquoinformaccedilatildeo apresentada previamente ao ouvinterdquo ou os elementos que os
interlocutores julgam conhecidos Ainda segundo Gonccedilalves o foco apresentaria informaccedilatildeo
nova Eacute neste ponto que pode haver confusatildeo Os autores ampliam o escopo de investigaccedilatildeo
mas manteacutem certos conceitos de estudos preacutevios e de diferentes correntes teoacutericas sem
explicitar qual ou quais estatildeo sendo levados em consideraccedilatildeo Para Gonccedilalves (1998 p 33) a
informaccedilatildeo nova isto eacute o que eacute focalizado eacute ldquonew natildeo porque natildeo foi mencionado
previamente mas eacute new exatamente porque o falante tende a interpretar como natildeo suscetiacutevel
de recuperaccedilatildeo (a) nem a partir do texto precedente (co-texto) e (b) nem por meio do
contexto pragmaacutetico (situacional) imediatordquo Nota-se que o autor utiliza uma noccedilatildeo
14
pragmaacutetica do que seria informaccedilatildeo novadada A diamesia oral eacute muito mais ampla do que a
escrita no sentido de que a unidade de referecircncia da fala eacute o enunciado ndash organizado segundo
princiacutepios pragmaacutetico-ilocucionaacuterios ndash jaacute na escrita a unidade de referecircncia eacute a frase ndash
organizada segundo princiacutepios loacutegico-sintaacuteticos ndash aleacutem de haver caracteriacutesticas distintivas
entre falaescrita por exemplo hesitaccedilotildees interrupccedilotildees sobreposiccedilotildees etc Como a
focalizaccedilatildeo eacute considerada um fenocircmeno discursivo as noccedilotildees estudadas no niacutevel da frase natildeo
conseguem abranger todos os aspectos que a liacutengua oral apresenta por isso novas definiccedilotildees
satildeo propostas contudo em muitos casos preservando determinadas terminologias de estudos
anteriores
Cada liacutengua escolhe uma ou mais estrateacutegias para a focalizaccedilatildeo Pode-se ateacute mesmo
classificaacute-las tipologicamente com relaccedilatildeo agrave manifestaccedilatildeo do foco em cada uma Contudo
muitas vezes essas estrateacutegias se organizam conjuntamente para a manifestaccedilatildeo do foco no
caso da focalizaccedilatildeo sintaacutetica e a prosoacutedica coocorrerem nas construccedilotildees clivadas por
exemplo Assim como um morfema poder licenciar um conjunto de alternativas semacircnticas
de escopo em uma sentenccedila servindo de gatilho para a manifestaccedilatildeo prosoacutedica do foco
Todavia nosso objetivo nesta seccedilatildeo eacute mostrar os vaacuterios tipos de foco em isolamento apesar
de que a interface com outro componente gramatical seraacute explicada quando necessaacuterio A
exposiccedilatildeo natildeo seraacute exaustiva uma vez que este tipo de trabalho natildeo permite uma discussatildeo
mais longa da literatura
221 Foco sintaacutetico
O foco tem recebido grande atenccedilatildeo nos estudos da sintaxe gerativa Itens de natureza
discursiva como o toacutepico e o proacuteprio foco passam a fazer parte da estrutura interna das
sentenccedilas dentro dessa abordagem teoacuterica Eles ocupam uma posiccedilatildeo na parte mais alta da
sentenccedila caracterizada por ser uma estrutura funcional sendo a outra parte da sentenccedila a
estrutura lexical Com a proposta de extensatildeo do sistema CP (RIZZI 1997)3 dois
subsistemas satildeo criados o primeiro constituiacutedo por ForceP e FinP e o segundo por TopP e
FocP A categoria ForceP determina o tipo de sentenccedila enquanto FinP determina sua
finitude Os constituintes toacutepico e foco satildeo interpretados em Spec de seus respectivos
sintagmas O sistema CP entatildeo passa a ser representado da seguinte forma (QUAREZEMIN
2009 p 22)
3 Segundo Quarezemin (200921) ldquoa extensatildeo do CP ocorre para acomodar certos constituintes com
propriedades discursivas e de escopo aleacutem de derivar sua interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo Spec-nuacutecleordquo
15
(1) ForceP
Force0 TopP
Top0 FocP
Foc0 TopP
Top0 FinP
Fin0 IP
As categorias TopP e FocP4 soacute aparecem na estrutura se houver constituintes com
funccedilotildees de toacutepico e foco na sentenccedila A categoria TopP aparece duas vezes na estrutura
porque eacute considerada recursiva Isso significa que pode haver mais de um toacutepico na sentenccedila
Na estrutura FocP natildeo aparece duas vezes pois a natureza quantificacional do foco natildeo
permite tal repeticcedilatildeo Para Rizzi (1997) e Belletti (2001) ldquoa noccedilatildeo de foco estaacute diretamente
relacionada agrave posiccedilatildeo que este constituinte ocupa na sentenccedila Para eles um constituinte eacute
interpretado como foco somente se ele ocupa a posiccedilatildeo de Spec de FocPrdquo (ASSIS 2003 p
360)
Nessa abordagem o toacutepico ldquoveicula informaccedilatildeo jaacute conhecida pelos participantes do
discursordquo enquanto o comentaacuterio ldquoeacute um tipo de predicado complexo que se aplica ao toacutepicordquo
(QUAREZEMIN 2009 p 22) No exemplo da autora your book eacute o toacutepico e o que estaacute
depois da viacutergula eacute o comentaacuterio
(2) Your book you should give t to Paul (not to Bill)5
Ela afirma que na fala o toacutepico eacute marcado por uma pausa Diferentemente do toacutepico
o foco eacute ldquodestacado por um acento proeminente e expressa a informaccedilatildeo do discurso natildeo
4 Haacute outras propostas sobre qual o lugar que as categorias funcionais TopP e FocP ocupam na estrutura da
sentenccedila extensatildeo de vP (Belletti 2001 2004a) e extensatildeo de DP (Giusti 2002) 5 ldquoSeu livro vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo para o Bill)rdquo
16
pressuposta pelo ouvinte enquanto a pressuposiccedilatildeo representa o conhecimento compartilhado
pelos interlocutoresrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 23)
(3) YOUR BOOK you should give t to Paul (not mine)6
Com isso Quarezemin (2009 p 46) afirma que ldquoa interpretaccedilatildeo semacircntica da
sentenccedila que apresenta a articulaccedilatildeo foco-pressuposiccedilatildeo natildeo deve ser confundida com a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila que tem a biparticcedilatildeo toacutepico-comentaacuteriordquo A autora menciona a
relaccedilatildeo entre foco-prosoacutedia dizendo que os paracircmetros acuacutesticos da descriccedilatildeo do foco satildeo a
F0 a duraccedilatildeo e a intensidade Na fonologia o foco recebe a proeminecircncia ou outro acento
tonal especiacutefico A autora diz que ldquoo foco ou um membro do sintagma focalizado sempre
recebe o acento principal da sentenccedila enquanto a pressuposiccedilatildeo natildeo pode ser acentuada nos
mesmos niacuteveisrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 52)
Em liacutenguas como o espanhol o italiano e o PE o foco de informaccedilatildeo ocupa uma
posiccedilatildeo no final da sentenccedila em casos que ocorre a inversatildeo do sujeito
(4) Egrave partitoha parlato [F Gianni]7
(Chi egrave partitoha parlato)
No exemplo de Quarezemin (2009 p 69) acima nota-se o foco estreito Gianni no
final da sentenccedila visto que esse item responde agrave pergunta chi egrave partitoparlato Haveria o
foco largo isto eacute toda a resposta de (4) seria foco se essa resposta correspondesse agrave pergunta
(QUAREZEMIN 2009 p 70)
(5) Che cosa egrave successo8
Um tipo especiacutefico de focalizaccedilatildeo sintaacutetica satildeo as construccedilotildees clivadas Resenes
(2009 p 17) explica que a clivagem eacute ldquoum processo sintaacutetico que serve para focalizar
constituintes porque prepara um lugar especiacutefico na sentenccedila para alojar o focordquo Os
elementos que cumprem essa funccedilatildeo satildeo a coacutepula o complementizador que ou um elemento
wh As propriedades semacircnticas e sintaacuteticas das sentenccedilas clivadas e pseudo-clivadas natildeo
6 ldquoO SEU LIVRO vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo o meu)rdquo
7 ldquoPartiufalou o Gianni (Quem partiufalou)rdquo
8 ldquoO que aconteceurdquo
17
seratildeo abordadas profundamente visto que esse natildeo eacute o objetivo principal deste trabalho As
sentenccedilas clivadas apresentam a estrutura [ser + XPi + que [IP eci]] jaacute as pseudo-clivadas [[CP
whi ti] + ser +XPi] (RESENES 2009 p 14) O XP deve ser a parte natildeo-pressuposta da
sentenccedila ou o foco da sentenccedila o sintagma que carrega a informaccedilatildeo nova e que segundo a
abordagem gerativa carrega tambeacutem a proeminecircncia prosoacutedica O foco dessas sentenccedilas eacute do
tipo de identificaccedilatildeo exaustiva isto eacute indicado pela propriedade semacircntica [x e apenas x]
Apresentamos como exemplo em PB uma clivada e uma pseudo-clivada respectivamente
(6) Foi [F a Luana] que comprou um livro
(7) Quem comprou um livro foi [F a Luana]
Em inglecircs as clivadas satildeo conhecidas como it-clefts pois nessa liacutengua eacute obrigatoacuteria a
realizaccedilatildeo do expletivo na posiccedilatildeo inicial da sentenccedila
(8) It was [F John] who died in a car crash9
Haacute vaacuterios tipos de realizaccedilatildeo dessas sentenccedilas por exemplo clivada sem coacutepula
clivada com dupla coacutepula pseudo-clivada reduzida etc
Na liacutengua Ayutla Mixteca em que a ordem canocircnica da sentenccedila eacute VSO a
focalizaccedilatildeo se daacute atraveacutes da mudanccedila de posiccedilatildeo do elemento que se deseja focalizar para
uma posiccedilatildeo preacute-verbal ldquobecause the first element of any list is perceptually salient
preverbal position tends to grant the item filling it some degree of highlighting This position
is therefore often used for constituents that a speaker wishes to focus in some wayrdquo
(HOLLENBACH 1995 p 1)10
Seguem os exemplos de Hills (1990 p 27-28 apud
HOLLENBACH 1995 p 2)
(9) mburu xi‟i‟ tikui
donkey drinks water
bdquoThe donkey is drinking water‟11
(10) tikui xi‟i‟ mburu
9 ldquoFoi [F o Joatildeo] que morreu num acidente de carrordquo
10 ldquoporque o primeiro elemento de qualquer lista eacute perceptualmente saliente a posiccedilatildeo preacute-verbal tende a
conceder ao item carregando-o com algum grau de realce Esta posiccedilatildeo eacute portanto frequentemente usada para
constituintes em que o falante deseja focalizar de algum modordquo 11
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo
18
water drinks donkey
bdquoThe donkey is drinking water‟12
Entretanto Hollenbach (1995 p 2) adverte que a relaccedilatildeo semacircntica do foco com a
posiccedilatildeo preacute-verbal eacute obscura jaacute que um constituinte pode ocorrer na posiccedilatildeo preacute-verbal sem
que o falante deseje focalizaacute-lo Entatildeo a autora investiga as condiccedilotildees para que a focalizaccedilatildeo
do constituinte preacute-verbal ocorra13
Ela identificou vaacuterias condiccedilotildees para a identificaccedilatildeo do
foco na posiccedilatildeo preacute-verbal nas liacutenguas do grupo Mixteca entre elas a pausa (11) e a inserccedilatildeo
de conjunccedilotildees coordenadas (12) depois do elemento focalizado
(11) juaacutea ta‟u da ntuku
John splits he firewood
bdquoAs for John he is splitting firewood‟ (Yosonduacutea FARRIS 1992 p 28 apud
HOLLENBACH 1995 p 3)14
(12) sa‟an mi neacute din tavi di kuidaacutedo di
man that and willdo very you care you (Cuicatec BRADLEY 1991
p 493 apud HOLLENBACH 1995 p 3)
Esses satildeo exemplos que a focalizaccedilatildeo natildeo se daacute exclusivamente pela sintaxe mas que
co-ocorre com ela ou seja eacute necessaacuterio que haja mais elementos linguiacutesticos aleacutem da
posiccedilatildeo preacute-verbal para que a focalizaccedilatildeo ocorra de forma satisfatoacuteria
222 Foco morfoloacutegico
O foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de certos morfemas que dependendo da
liacutengua seratildeo cliacuteticos ou morfemas livres Nesse caso ldquoum bdquoMorfema de Ecircnfase‟ seraacute o
elemento responsaacutevel pela iluminaccedilatildeo do elemento destacado no textordquo (GONCcedilALVES
1999 p 336) Natildeo obstante isso natildeo signifique que o foco natildeo possa ser expresso por outros
meios nas liacutenguas em que predominam o meio morfoloacutegico para que a focalizaccedilatildeo ocorra
Esse tipo de focalizaccedilatildeo eacute mais comum em liacutenguas natildeo-indo-europeias como em liacutenguas
12
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo 13
Hollenbach investigou as condiccedilotildees do foco natildeo soacute na liacutengua Ayutla Mixteca mas em seis variedades do
Mixteca duas do Trique e uma do Cuicatec Essas liacutenguas fazem parte grupo Mixteca que por sua vez faz
parte da famiacutelia das liacutenguas Otomangues faladas sobretudo no sul do Meacutexico As liacutenguas da famiacutelia
Otomangue apresentam a ordem canocircnica VSO 14
ldquoQuanto ao Joatildeo ele estaacute partindo a lenhardquo
19
indiacutegenas brasileiras por exemplo em marubo e em mekens O aacuterabe e o japonecircs tambeacutem
satildeo exemplos de liacutenguas em que ocorre a focalizaccedilatildeo morfoloacutegica Hagesawa (2010 p 1)
explica que no japonecircs ldquoone of the most general properties of focus particles is to relate a
proposition which is newly introduced by the sentence containing a focus particle and
propositions available in the contextrdquo15
Em japonecircs a partiacutecula -shika introduz a noccedilatildeo de exclusividade o que eacute expresso
pela palavra only em inglecircs Essa noccedilatildeo eacute a mesma do foco de identificaccedilatildeo encontrado nas
sentenccedilas clivadas do PB por exemplo Segue o exemplo de Hagesawa (2010 p 4)
(13) Miho-shika ko-na-katta
Miho-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoOnly Miho came‟16
No exemplo (13) a funccedilatildeo do morfema -shika pode ser parafraseada como ldquosomente
Miho veio e mais ningueacutemrdquo Quanto ao padratildeo prosoacutedico das partiacuteculas de foco no japonecircs
Hagesawa (2010 p 33) afirma que
although Japanese focus particles have their own accent patterns
when they occur without a focused constituent or they are stressed as
shown in (14) and (15) they lose their accent pattern and follow the
tone melody of their host when they are suffixed17
18
O autor apresenta os seguintes exemplos
(14) Shikamade-o jisyo-de shirabe-ta
HL HL
SHIKAMADE-ACC dictionary-with lookup-PAST
bdquoI looked up bdquoshika‟‟made‟ in a dictionary‟19
(15) A Yuka-mo ki-ta-no
Yuka-also come-PAST-Q
15
ldquouma das propriedades mais gerais das partiacuteculas de foco eacute relacionar uma proposiccedilatildeo que eacute receacutem-
introduzida pela sentenccedila contendo uma partiacutecula de foco e proposiccedilotildees disponiacuteveis no contextordquo 16
ldquoSomente Miho veiordquo 17
A numeraccedilatildeo dos exemplos natildeo segue a original 18
ldquoconquanto as partiacuteculas de foco do japonecircs tecircm seus padrotildees proacuteprios de accent quando ocorrem sem um
constituinte focalizado ou estatildeo stressed como mostrado em (14) e (15) elas perdem o seu padratildeo de accent e
seguem a melodia tonal do seu hospedeiro quando elas satildeo sufixadasrdquo 19
ldquoEu procurei bdquoshika‟‟made‟ em um dicionaacuteriordquo
20
bdquoDid Yuka also come‟
B Uun Yuka-shika ko-na-katta
HL
no Yuka-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoNo only Yuka came‟20
Na liacutengua Mekens todas as questotildees wh apresentam o cliacutetico foco te como no
exemplo abaixo de Galucio (2002 p 67)
(16) aapo=te o-tek pogabeg-a ke i-koop ikatildeotilde tete
Who=foc 1s-house open-Theme say 3s-aux+mov that time
bdquordquoWho opened my houserdquo She was saying that time‟21
Haacute tambeacutem o uso do recurso sintaacutetico pois o constituinte focalizado sempre aparece
no iniacutecio da sentenccedila A autora menciona que a informaccedilatildeo natildeo-pressuposta das respostas agraves
perguntas wh tambeacutem apareceratildeo na forma de construccedilotildees focalizadas Isso faz com que a
ordem canocircnica ndash SOV ndash dessa liacutengua se altere em sentenccedilas como (17) abaixo por exemplo
extraiacuteda de Galucio (2002 p 68) Notam-se nas duas oraccedilotildees que os sujeitos ocorrem
depois do verbo
(17) serek=te kɨpmatildekatildeỹ kweotildep =te ɨsɨɨ
split=foc floor climb+neg=foc deer
bdquoThe floor split and the deer sank‟22
Alguns autores consideram como morfemas de foco palavras como only also just e
even do inglecircs por exemplo porque elas cumprem a mesma funccedilatildeo semacircntica dos morfemas
de foco em liacutenguas como o japonecircs no exemplo da partiacutecula -shika bdquoonly‟ Na anaacutelise de
Quarezemin (2009 p 112) para as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB ela sugere que nas
construccedilotildees clivadas a coacutepula e o complementizador seriam morfemas de foco Nas palavras
da autora
20
ldquoA Yuka tambeacutem veio Natildeo somente a Yuka veiordquo 21
ldquoQuem abriu minha casa Ela estava dizendo aquela horardquo 22
ldquoO chatildeo se partiu e o veado afundourdquo
21
A hipoacutetese inicial eacute que de um modo geral os falantes do PB
preferem destacar o constituinte focalizado sintaticamente ao inveacutes
de destacaacute-lo apenas com recursos prosoacutedicos Disso surge a hipoacutetese
de que a coacutepula com funccedilatildeo de focalizar e o complementizador das
clivadas podem ser considerados morfemas de foco em PB
Em suma o foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de morfemas que tecircm por objetivo
sinalizar que o constituinte o qual estaacute afixado se encontra focalizado Eles tambeacutem podem
interagir com a sintaxe e a prosoacutedia no caso de aleacutem do morfema de foco estar afixado a um
constituinte que se deseja destacar ele tambeacutem esteja em uma posiccedilatildeo proacutepria para
construccedilotildees focalizadoras ou em casos em que aleacutem da marcaccedilatildeo morfoloacutegica do foco haja
uma proeminecircncia prosoacutedica no constituinte focalizado
223 Foco semacircntico
Em primeiro lugar salientamos que o termo bdquofoco semacircntico‟ pode causar certa
estranheza devido a que diferentemente dos outros tipos neste natildeo haacute uma manifestaccedilatildeo de
forma ldquovisiacutevelrdquo do foco no enunciado isto eacute natildeo haacute uma proeminecircncia prosoacutedica uma
construccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica ou um morfema afixado a um constituinte Antes se trata mais
de uma propriedade do significado da construccedilatildeo focalizadora em um enunciado
As trecircs principais propriedades semacircnticas do foco satildeo as dos enunciados que
apresentam o foco de informaccedilatildeo de identificaccedilatildeo e o contrastivo Geralmente para
determinar a propriedade semacircntica desses tipos de foco recorre-se ao contexto de pergunta-
whresposta ou a outro tipo de contexto induzido O foco de informaccedilatildeo23
introduz uma
informaccedilatildeo novanatildeo-pressuposta e ldquopresume uma pergunta wh como base discursiva para
ser estabelecidordquo (RESENES 2009 p 20) Segue o exemplo de Resenes (2009 p 20)
(18) a O que o Joatildeo bebeu
b O Joatildeo bebeu alguma coisa
c O Joatildeo bebeu [F o vinho]
A pergunta wh estaacute em (18a) Em (18b) encontra-se a pressuposiccedilatildeo expressa pelo
pronome indefinido O foco de informaccedilatildeo se encontra em (18c) e eacute o valor da expressatildeo wh
23
Resenes (2009) utiliza a nomenclatura de ldquofoco natildeo-contrastivordquo para esse tipo de foco
22
da pergunta em (18a) A autora menciona que na Estrutura de Asserccedilatildeo (AS)24
o foco de
(18c) seria representado como
(19) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 O x tal que o Joatildeo bebeu x = [o vinho]
O foco contrastivo corrige uma informaccedilatildeo preacutevia atraveacutes de uma prosoacutedia proacutepria
Resenes (2009 p 20) afirma que ldquoo contexto ideal para o foco contrastivo eacute aquele em que
haacute uma afirmaccedilatildeo preacutevia como base discursivardquo Segue o exemplo da autora (RESENES
2009 p 21)
(20) a O Joatildeo bebeu o vinho
b O Joatildeo bebeu [F a cerveja] (natildeo o vinho)
A AS de (20) seria
(21) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 Natildeo eacute o caso que o x tal que o Joatildeo bebeu x = vinho amp O x tal que o Joatildeo
bebeu o x = a cerveja
O foco de identificaccedilatildeo ldquorepresents a subset of the set of contextually or situationally
given elements for which the predicate phrase can potentially hold it is identified as the
exhaustive subset of this set for which the predicate phrase actually holdsrdquo (KISS 1998 p
245 apud RESENES 2009 p 21)25
Assim o foco de identificaccedilatildeo expressa exaustividade
que pode ser parafraseada como [x e apenas x] Esse tipo de foco eacute ilustrado por uma
sentenccedila clivada em (22) (RESENES 2009 p 21)
(22) Foi [F um perfume] que a Maria deu para o Joatildeo
24
Resenes (2009 p 20) explica que a AS eacute ldquoum niacutevel poacutes-LF (pragmaacutetico) que revela como a informaccedilatildeo estaacute
empacotada na sentenccedila Na AS vai estar explicitada a estrutura da focalizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo o foco e os
tipos de focordquo 25
ldquorepresenta um subconjunto do conjunto de elementos dados contextualmente ou situacionalmente para o qual
a expressatildeo do predicado pode potencialmente conter que eacute identificado como o subconjunto exaustivo deste
conjunto para o qual a expressatildeo de predicado efetivamente conteacutemrdquo
23
Em (22) o foco de identificaccedilatildeo eacute expresso pelo NP um perfume que significa que
dentro de uma seacuterie de possiacuteveis presentes que a Maria poderia ter dado ao Joatildeo ela deu
somente um perfume por isso [x e apenas x]
Contudo o fenocircmeno da focalizaccedilatildeo natildeo se restringe somente agraves respostas das
perguntas wh ou agraves respostas dos contextos induzidos Davis (2009 p 2) assinala que haacute dois
grandes aspectos da constituiccedilatildeo do foco ldquoThe first is its grammar how FOCUS is expressed
in language The second is its meaning It does not require much investigation to discover
that there is no grammatical consistency to FOCUS across languagesrdquo26
O autor nota que em
relaccedilatildeo ao primeiro item natildeo haveria uma forma uacutenica universal para o uso do foco ou seja
uma liacutengua utiliza a sintaxe outra a prosoacutedia outra a morfologia outra a sintaxe e a prosoacutedia
etc ele afirma que ldquoif there is some universal consistency to FOCUS across languages it is
not found in its expressionrdquo27
Quanto ao segundo item as liacutenguas a princiacutepio natildeo
diferenciariam muito em relaccedilatildeo agrave semacircntica do foco Entretanto a propriedade de
destaquerealce sempre estaraacute presente manifestando-se seja por meio da prosoacutedia do
arranjo sintaacutetico ou da marcaccedilatildeo morfoloacutegica Davis (2009 p 2) explica que
If FOCUS will be diferently constituted grammatically its presence
has to be recognized in its semantics One portion of that semantics is
that FOCUS is involved in the answering of wh- questions but not
every utterance is a response to such a question Yet utterances must
the claim says nevertheless contain the semantics (and some
grammar) of FOCUS FOCUS then cannot be only the content
which answers questions There must be more to FOCUS When we
examine languages we discover that FOCUS has an affinity for
certain other semantics and in discovering those affinities we can
amplify our conception of what constitutes FOCUS28
A partir da assunccedilatildeo acima sugere-se que os estudos sobre a focalizaccedilatildeo natildeo
poderiam se restringir agraves anaacutelises de dados de introspecccedilatildeo sobretudo aqueles que explicam o
fenocircmeno somente a partir de dados com contexto pergunta-whresposta A natureza
discursivo-pragmaacutetica da focalizaccedilatildeo faz com que esse fenocircmeno seja melhor compreendido
26
ldquoO primeiro eacute sua gramaacutetica como o FOCO eacute expresso na liacutengua O segundo eacute o seu significado Natildeo se
requer muita investigaccedilatildeo para descobrir que natildeo haacute coerecircncia gramatical do FOCO atraveacutes das liacutenguasrdquo 27
ldquose houver alguma consistecircncia universal para o FOCO entre as liacutenguas natildeo eacute encontrada na sua expressatildeordquo 28
ldquoSe o FOCO seraacute constituiacutedo diferente gramaticalmente a sua presenccedila tem de ser reconhecida em sua
semacircntica Uma parte dessa semacircntica eacute que o FOCO estaacute envolvido nas respostas de perguntas QU mas nem
todo enunciado eacute uma resposta a essas perguntas No entanto os enunciados devem a alegaccedilatildeo diz todavia
conter a semacircntica (e alguma gramaacutetica) do FOCO O FOCO entatildeo natildeo pode ser apenas o conteuacutedo que
responde a perguntas Deve haver mais para o FOCO Quando examinamos as liacutenguas descobrimos que o
FOCO tem uma afinidade com outras semacircnticas e descobrindo essas afinidades podemos ampliar a nossa
concepccedilatildeo do que constitui o FOCOrdquo
24
na liacutengua espontacircnea apesar de natildeo se poder excluir suas propriedades semacircnticas em
diferentes enunciados que podem ser analisados sem o uso de dados de liacutengua espontacircnea
como eacute o caso da investigaccedilatildeo das propriedades semacircnticas do foco em dados de introspecccedilatildeo
e de suas representaccedilotildees formais
224 Foco prosoacutedico
A prosoacutedia eacute um dos traccedilos da camada suprassegmental ou seja que se encontra
acima dos segmentos dispostos linearmente na cadeia sonora da fala Beaver amp Clark (2008
p 2) explicam que os traccedilos suprassegmentais satildeo assim chamados porque ldquothey spread out
across multiple segments (basic sound units) or even across multiple wordsrdquo29
Callou amp
Leite (1990 p31) afirmam que o ldquoconjunto de fenocircmenos dos quais se derivam tipos de
acento padrotildees entoacionais ritmos e velocidades de fala satildeo estudados sob o roacutetulo de
prosoacutediardquo Ao contraacuterio dos segmentos que satildeo descritos pelos movimentos dos articuladores
do aparelho fonador os suprassegmentos satildeo descritos ldquoem termos da accedilatildeo dos muacutesculos
respiratoacuterios que aumentam ou diminuem a energia do fluxo de ar ocasionando duraccedilotildees
frequumlecircncia fundamental e intensidade diferentes das vibraccedilotildees sonorasrdquo (CALLOU amp LEITE
1990 p 30) Paracircmetros acuacutesticos como frequecircncia fundamental intensidade e duraccedilatildeo fiacutesica
satildeo outros traccedilos suprassegmentais que satildeo percebidos respectivamente como pitch
loudness e length que por sua vez ldquoapresentam correlatos fiacutesicos frequumlecircncia amplitude e
tempordquo (LEITE 2009 p 17)30
A frequecircncia eacute medida em Hz (Hertz) a amplitude em dB
(decibeacuteis) e o tempo em ms (milissegundos)
Barbosa (2008) menciona que a prosoacutedia estaacute
associada a fatores linguumliacutesticos como acentuaccedilatildeo entoaccedilatildeo ecircnfase e
ritmo bem como a fatores para- e extra-linguiacutesticos tais como
marcadores discursivos (ldquoneacuterdquo ldquoentendordquo ldquoanhanrdquo) atitudes
emoccedilotildees imbricados a fatores sociais ou bioloacutegicos como gecircnero
faixa etaacuteria classe social entre outros
Segundo Leite (2009 p 18) a prosoacutedia exerceria funccedilotildees ldquogramatical atitudinal
informacional indexal e ilocucionaacuteriardquo Nota-se portanto que eacute muito importante levar em
29
ldquoeles se espalham em vaacuterios segmentos (unidades baacutesicas de som) ou mesmo atraveacutes de muacuteltiplas palavrasrdquo 30
Neste trabalho natildeo se pretende definir minuciosamente todos os conceitos dos correlatos foneacutetico-acuacutesticos
dos sons da fala estudados pela Foneacutetica Acuacutestica Para mais informaccedilotildees cf Ladefoged (1974) Malmberg
(1998) e Johnson (2003)
25
consideraccedilatildeo a prosoacutedia na anaacutelise linguiacutestica visto que ela desempenha funccedilotildees associadas a
fatores intrinsecamente linguiacutesticos bem como a fatores extralinguiacutesticos A prosoacutedia ainda
apresenta um importante papel na aquisiccedilatildeo da linguagem sendo recurso especial para a
crianccedila associar unidades sonoras a significado (cf BRUM DE PAULA 2010)
As investigaccedilotildees do Ciacuterculo Linguiacutestico de Praga sugeriram que os elementos dados
do discurso ou seja aqueles que jaacute haviam sido mencionados seriam prosodicamente menos
relevantes que os elementos novos Disso resulta que a informaccedilatildeo nova ou o foco seja
destacado prosodicamente isto eacute apresente proeminecircncia prosoacutedica A proeminecircncia
prosoacutedica eacute definida como ldquoa quantitative parameter of a syllable or a boundary that describes
markedness relative to surrounding syllables and boundaries respectivelyrdquo (PORTELE amp
HEUFT 1997 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 227)31
Haacute autores que classificam o
foco levando em conta sobretudo o fator proeminecircncia prosoacutedica por exemplo ldquothe term
focus is used [] to describe prosodic prominences serving pragmatic and semantic
functionsrdquo (ROOTH 1995 p 271 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 228)32
O foco prosoacutedico eacute definido por meio de uma proeminecircncia tonal (cf
BUTRAGUENtildeO 2005) Entretanto alguns estudos mostram que o foco natildeo seria marcado
somente com a proeminecircncia tonal ou prosoacutedica Proeminecircncias de outros traccedilos
suprassegmentais como duraccedilatildeo e intensidade tambeacutem marcariam o foco (cf TOLEDO
1989 SOSA 1999 QUAREZEMIN 2009 entre outros) Para Butraguentildeo (2005 p 141) os
focos prosoacutedicos ldquoreciben acentos tonales de contorno especiacutefico que permiten distinguirlos
del fondo (o background)rdquo33
Os paracircmetros de anaacutelise acuacutestica do foco satildeo os movimentos
de F0 o alinhamento entre siacutelabas e F0 duraccedilatildeo das siacutelabas e vogais intensidade da siacutelaba e
em alguns casos pausas e meacutedia entre picos de F0
As abordagens teoacutericas utilizadas nos trabalhos sobre o foco prosoacutedico guiam a
metodologia de anaacutelise dos dados Assim alguns autores que trabalham com uma abordagem
formal utilizando o sistema ToBI (cf SILVERMAN et al 1992) para a anaacutelise dos dados
representam a entoaccedilatildeo dos enunciados marcando as siacutelabas com acentos tonais que se
manifestam em acentos monotonais (H ou L) bitonais (H+L L+H etc) e ainda poderia
haver tons de juntura (H e L) que delimitam as fronteiras dos grupos meloacutedicos Na
Fonologia Entoacional haacute trecircs tipos de tons pitch accents phrase accents e boundary tones
31
ldquoum paracircmetro quantitativo de uma siacutelaba ou de uma fronteira que descreve a marcaccedilatildeo relativa agraves siacutelabas
vizinhas e fronteiras respectivamenterdquo 32
ldquoo termo foco eacute utilizado [] para descrever proeminecircncias prosoacutedicas que servem a funccedilotildees pragmaacuteticas e
semacircnticasrdquo 33
ldquorecebem acentos tonais de contorno especiacutefico que permitem distingui-los do fundo (ou background)rdquo
26
Geralmente o foco eacute marcado por um pitch accent que pode ser definido como ldquoa local
feature of a pitch contour ndash usually but not invariably a pitch change and often involving a
local maximum or minimumrdquo (LADD 1996 p 45-6 apud BEAVER amp CLARK 2008 p
11)34
Segundo Roach (2011 p 67) pitch
is an auditory sensation when we hear a regularly vibrating sound
such as a note played on a musical instrument or a vowel produced
by the human voice we hear a high pitch if the rate of vibration is
high and a low pitch if the rate of vibration is low35
Nooteboom (1997 p 641) atenta para o fato de que ldquoone should be aware however
that rather often the notion bdquopitch‟ is used to refer to f0 or the repetition frequency itself In
speech f0 is determined by the rate of vibration of the vocal cords located in the larynxrdquo36
Ademais Crystal (2008 p 369) adverte que ldquothere is however no direct or parallel
correlation between pitch and frequency other factors than frequency may affect our
sensation of pitch (measured in units known as mels)rdquo37
Pitch countour seria a marcaccedilatildeo dos
uacutenicos pitchs relevantes para a compreensatildeo de um perfil entoacional A teacutecnica da close
copy (cf t‟HART et al 1990) justamente realccedila o pitch countor atraveacutes de uma ldquosiacutentese que
satildeo eliminados movimentos de F0 que natildeo causam diferenccedila de percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao
aacuteudio originalrdquo (ROCHA 2011 p 106) De acordo com Crystal (2008 p 369-370) o termo
pitch accent
is used phonologically in the description of languages in which the
distribution of the tones within a word is totally predictable once one
has specified a particular tonal feature of the word (as in Japanese)
The notion has also been applied to English where some
phonological models analyse intonation CONTOURS as a sequence
of one or more pitch accents each associated with a STRESS-
prominent SYLLABLE in a word38
34
ldquoum traccedilo local de um pitch contour - geralmente mas natildeo invariavelmente variaccedilatildeo de pitch e muitas vezes
envolvendo um local maacuteximo ou miacutenimordquo 35
ldquoeacute uma sensaccedilatildeo auditiva quando ouvimos um som regularmente vibrando como uma nota tocada em um
instrumento musical ou uma vogal produzida pela voz humana noacutes ouvimos um pitch alto se a taxa de vibraccedilatildeo
eacute alta e um pitch baixo se a taxa de vibraccedilatildeo eacute baixardquo 36
ldquodeve-se estar ciente no entanto que muitas vezes a noccedilatildeo de pitch eacute utilizada para se referir a f0 ou a
frequecircncia da repeticcedilatildeo Na fala a f0 eacute determinada pela taxa de vibraccedilatildeo das cordas vocais localizadas na
laringerdquo 37
ldquonatildeo haacute poreacutem nenhuma correlaccedilatildeo direta ou paralelo entre pitch e frequecircncia outros fatores aleacutem
frequecircncia podem afetar a nossa sensaccedilatildeo de pitch (medido em unidades conhecidas como mels)rdquo 38
ldquoeacute usado fonologicamente na descriccedilatildeo das liacutenguas nas quais a distribuiccedilatildeo dos tons dentro de uma palavra eacute
totalmente previsiacutevel uma vez que se tenha especificado uma caracteriacutestica particular de tons da palavra (tal
como no japonecircs) A noccedilatildeo tambeacutem foi aplicada para o inglecircs em que alguns modelos fonoloacutegicos analisam os
CONTORNOS da entoaccedilatildeo como uma sequecircncia de um ou mais pitch accents cada um associado a uma
SIacuteLABA STRESS-proeminente em uma palavrardquo
27
O sistema ToBI reconhece 5 tipos de pitch accents enquanto Pierrehumbert (1980)
menciona 7 tipos Atraveacutes dessa classificaccedilatildeo eacute possiacutevel delimitar o accent prototiacutepico do
foco ou suas possiacuteveis variantes Beaver amp Clark (2008 p 12) mencionam que ldquoalthough
focus is frequently marked by an H accent [] other accents are possible For example in
yes-no questions focus is often by marked by an L+Hrdquo39
A importante pressuposiccedilatildeo teoacuterica de que toda oraccedilatildeo eacute resposta a uma pergunta
guia a metodologia de muitas investigaccedilotildees sobre o foco sobretudo de trabalhos
experimentais de leitura de sentenccedilas denominados testes de produccedilatildeo Com o pressuposto
teoacuterico da explicitaccedilatildeo do foco por meio de pergunta-resposta eacute possiacutevel delimitar o tipo de
foco a ser analisado broad focus (foco largo) narrow focus (foco estreito) ou contrastive
focus (foco contrastivo) (cf seccedilatildeo 121 p 14) Essa metodologia tem por caracteriacutestica
induzir guiar e restringir os padrotildees meloacutedicos da fala ao fornecer exemplos com contextos
preacutevios ou mesmo com o foco jaacute explicitado na sentenccedila para se obter o resultado desejado
Em investigaccedilatildeo sobre a marcaccedilatildeo prosoacutedica dos focos largo estreito e contrastivo em
alematildeo Baumann et al (2006 p 302) mencionam em sua metodologia de teste de leitura
que
reading material consisted of five question-answer pairs with the
answer bdquoManuela will Blumen malen‟ (Manuela wants to paint
flowers) The main criterion the target sentence had to fulfill was its
continuous voicing so as to be able to accurately measure exact peaks
and valleys in the F0 contour40
Dependendo do objetivo do trabalho ou da liacutengua a ser analisada podem-se controlar
outros fatores Por exemplo em trabalho sobre como o tom lexical e o foco contribuem para a
formaccedilatildeo e alinhamento dos F0 contours no chinecircs Xu (1999 p 58) menciona na
metodologia que
the factors manipulated in the experiment were segmental
composition of syllables lexical tones focus and and sentence types
Of these only lexical tones and focus were under direct scrutiny The
control of the other two factors was done by keeping their variation to
39
ldquoembora o foco seja frequentemente marcado por um accent H [] outros accents satildeo possiacuteveis Por
exemplo em perguntas sim-natildeo o foco eacute muitas vezes marcado por um H + Lrdquo 40
ldquoo material de leitura consistiu de cinco pares de pergunta-resposta com a resposta bdquoManuela will Blumen
malen‟ (Manuela quer pintar flores) O principal criteacuterio que a frase alvo tinha a cumprir era seu vozeamento
contiacutenuo de modo a ser capaz de medir com precisatildeo exata picos e vales no contorno da F0rdquo
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
12
1 INTRODUCcedilAtildeO
A focalizaccedilatildeo eacute um fenocircmeno linguiacutestico cada vez mais estudado e que possui
importante papel na comunicaccedilatildeo oral Sua importacircncia na gramaacutetica das liacutenguas naturais
bem como nas situaccedilotildees comunicativas eacute grande podendo ser observada pela assunccedilatildeo de
Davis (2009 p 2) ldquoFOCUS is present in every language and that it is present in every
utterance of every languagerdquo1 Embora haja divergecircncia por parte de alguns autores quanto agrave
proposta de Davis assume-se de qualquer forma que a focalizaccedilatildeo nas liacutenguas naturais eacute um
importante recurso comunicativo promovido nas diversas interaccedilotildees linguiacutesticas do cotidiano
pois sinaliza propriedades semacircnticas especiacuteficas atraveacutes de recursos prosoacutedicos
morfoloacutegicos e configuraccedilotildees sintaacuteticas dedicadas a destacar um item Nas liacutenguas romacircnicas
e germacircnicas sobretudo a estrateacutegia prosoacutedica da focalizaccedilatildeo eacute fundamental para a
realizaccedilatildeo do foco conforme mencionam Beaver amp Clark (2008 p xxi) ldquoRomance and
Germanic languages and English in particular focus is commonly marked by prosody with
changes in pitch used to mark focused expressionsrdquo2 Natildeo obstante estejam presentes e
podendo estar em co-ocorrecircncia nas liacutenguas desses troncos estrateacutegias sintaacuteticas como as
construccedilotildees clivadas e morfoloacutegicas como adveacuterbios e quantificadores focais o que poderaacute
ser constatado ao longo deste trabalho
Este trabalho estaacute divido em duas partes a primeira (cf seccedilatildeo 2 e subseccedilotildees) que
procura expor ao leitor atraveacutes da consideraccedilatildeo de diferentes estudos de variadas abordagens
teoacuterico-metodoloacutegicas uma revisatildeo bibliograacutefica ao mesmo tempo concisa e imparcial que
objetiva cobrir de modo satisfatoacuterio o tema da focalizaccedilatildeo e seus desdobramentos nos estudos
linguiacutesticos e a segunda (cf seccedilotildees 3 e 4 e subseccedilotildees) que consiste na exposiccedilatildeo do objetivo
e da metodologia da pesquisa do corpus utilizado da anaacutelise dos dados e das decorrentes
consideraccedilotildees sobre o foco no Portuguecircs Brasileiro falado informal aleacutem da discussatildeo sobre
a diferenciaccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase Por fim a seccedilatildeo 5 consiste nas
consideraccedilotildees finais
2 PANORAMA GERAL DOS ESTUDOS SOBRE O FOCO
O fenocircmeno da focalizaccedilatildeo tem sido estudado por vaacuterias aacutereas da linguiacutestica ndash
sintaxe semacircntica prosoacutedia etc ndash e sob diferentes abordagens teoacuterico-metodoloacutegicas ndash
1 ldquoO FOCO estaacute presente em toda liacutengua e estaacute presente em todo enunciado de toda liacutenguardquo
2 ldquoNas liacutenguas romacircnicas e germacircnicas e no inglecircs em particular o foco eacute marcado normalmente pela prosoacutedia
com variaccedilotildees no pitch para marcar as expressotildees focalizadasrdquo
13
formal funcional pragmaacutetica etc Cada estudo independente da aacuterea ou da abordagem
teoacuterica tem revelado que a focalizaccedilatildeo apresenta importante papel na gramaacutetica das liacutenguas
naturais pois o foco seu principal componente manifesta-se nelas por diferentes estrateacutegias
linguiacutesticas Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os diferentes meios em que o foco pode se
manifestar isto eacute os tipos de foco O objetivo deste capiacutetulo eacute mostrar que o foco ocorre
atraveacutes de diferentes estrateacutegias nas liacutenguas e que cada liacutengua escolhe uma ou mais
estrateacutegias para sua realizaccedilatildeo
21 TIPOS DE FOCO
O fenocircmeno que abrange o foco eacute a focalizaccedilatildeo que pode ser definida como o ldquoato de
focalizar ou seja de acentuar de ressaltar de pocircr em relevorealceevidecircncia um
determinado item do textordquo (GONCcedilALVES 1998 p 32) As liacutenguas naturais expressam esse
realce com diferentes estrateacutegias seja por meio da sintaxe da prosoacutedia ou da morfologia seja
com o uso de uma estrateacutegia ou de mais de uma atuando em conjunto A focalizaccedilatildeo eacute
considerada um fenocircmeno discursivo-pragmaacutetico ldquopois o usuaacuterio pode centrar sua atenccedilatildeo a
uma parcela do enunciado que julgue relevante enfatizando-ardquo (GONCcedilALVES 1998 p 33)
Assim sendo a focalizaccedilatildeo estaria vinculada tanto agraves estrateacutegias argumentativas do falante
quanto ao conteuacutedo informacional do enunciado Segundo Gonccedilalves (1998 p 39) o foco
ldquopode incidir em qualquer constituinte do enunciado (palavras morfemas sintagmas e
pequenas oraccedilotildees)rdquo
Mesmo com a definiccedilatildeo do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo as descobertas dos estudos
sobre a biparticcedilatildeo da frase a respeito do conceito de foco natildeo foram descartadas (cf
BARBOSA 2005) Gonccedilalves (1998 p 32) menciona que o constituinte focalizado eacute ldquoa
parcela do texto apresentada como a mais informativarelevanterdquo e que os elementos fora de
foco constituem ldquoinformaccedilatildeo apresentada previamente ao ouvinterdquo ou os elementos que os
interlocutores julgam conhecidos Ainda segundo Gonccedilalves o foco apresentaria informaccedilatildeo
nova Eacute neste ponto que pode haver confusatildeo Os autores ampliam o escopo de investigaccedilatildeo
mas manteacutem certos conceitos de estudos preacutevios e de diferentes correntes teoacutericas sem
explicitar qual ou quais estatildeo sendo levados em consideraccedilatildeo Para Gonccedilalves (1998 p 33) a
informaccedilatildeo nova isto eacute o que eacute focalizado eacute ldquonew natildeo porque natildeo foi mencionado
previamente mas eacute new exatamente porque o falante tende a interpretar como natildeo suscetiacutevel
de recuperaccedilatildeo (a) nem a partir do texto precedente (co-texto) e (b) nem por meio do
contexto pragmaacutetico (situacional) imediatordquo Nota-se que o autor utiliza uma noccedilatildeo
14
pragmaacutetica do que seria informaccedilatildeo novadada A diamesia oral eacute muito mais ampla do que a
escrita no sentido de que a unidade de referecircncia da fala eacute o enunciado ndash organizado segundo
princiacutepios pragmaacutetico-ilocucionaacuterios ndash jaacute na escrita a unidade de referecircncia eacute a frase ndash
organizada segundo princiacutepios loacutegico-sintaacuteticos ndash aleacutem de haver caracteriacutesticas distintivas
entre falaescrita por exemplo hesitaccedilotildees interrupccedilotildees sobreposiccedilotildees etc Como a
focalizaccedilatildeo eacute considerada um fenocircmeno discursivo as noccedilotildees estudadas no niacutevel da frase natildeo
conseguem abranger todos os aspectos que a liacutengua oral apresenta por isso novas definiccedilotildees
satildeo propostas contudo em muitos casos preservando determinadas terminologias de estudos
anteriores
Cada liacutengua escolhe uma ou mais estrateacutegias para a focalizaccedilatildeo Pode-se ateacute mesmo
classificaacute-las tipologicamente com relaccedilatildeo agrave manifestaccedilatildeo do foco em cada uma Contudo
muitas vezes essas estrateacutegias se organizam conjuntamente para a manifestaccedilatildeo do foco no
caso da focalizaccedilatildeo sintaacutetica e a prosoacutedica coocorrerem nas construccedilotildees clivadas por
exemplo Assim como um morfema poder licenciar um conjunto de alternativas semacircnticas
de escopo em uma sentenccedila servindo de gatilho para a manifestaccedilatildeo prosoacutedica do foco
Todavia nosso objetivo nesta seccedilatildeo eacute mostrar os vaacuterios tipos de foco em isolamento apesar
de que a interface com outro componente gramatical seraacute explicada quando necessaacuterio A
exposiccedilatildeo natildeo seraacute exaustiva uma vez que este tipo de trabalho natildeo permite uma discussatildeo
mais longa da literatura
221 Foco sintaacutetico
O foco tem recebido grande atenccedilatildeo nos estudos da sintaxe gerativa Itens de natureza
discursiva como o toacutepico e o proacuteprio foco passam a fazer parte da estrutura interna das
sentenccedilas dentro dessa abordagem teoacuterica Eles ocupam uma posiccedilatildeo na parte mais alta da
sentenccedila caracterizada por ser uma estrutura funcional sendo a outra parte da sentenccedila a
estrutura lexical Com a proposta de extensatildeo do sistema CP (RIZZI 1997)3 dois
subsistemas satildeo criados o primeiro constituiacutedo por ForceP e FinP e o segundo por TopP e
FocP A categoria ForceP determina o tipo de sentenccedila enquanto FinP determina sua
finitude Os constituintes toacutepico e foco satildeo interpretados em Spec de seus respectivos
sintagmas O sistema CP entatildeo passa a ser representado da seguinte forma (QUAREZEMIN
2009 p 22)
3 Segundo Quarezemin (200921) ldquoa extensatildeo do CP ocorre para acomodar certos constituintes com
propriedades discursivas e de escopo aleacutem de derivar sua interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo Spec-nuacutecleordquo
15
(1) ForceP
Force0 TopP
Top0 FocP
Foc0 TopP
Top0 FinP
Fin0 IP
As categorias TopP e FocP4 soacute aparecem na estrutura se houver constituintes com
funccedilotildees de toacutepico e foco na sentenccedila A categoria TopP aparece duas vezes na estrutura
porque eacute considerada recursiva Isso significa que pode haver mais de um toacutepico na sentenccedila
Na estrutura FocP natildeo aparece duas vezes pois a natureza quantificacional do foco natildeo
permite tal repeticcedilatildeo Para Rizzi (1997) e Belletti (2001) ldquoa noccedilatildeo de foco estaacute diretamente
relacionada agrave posiccedilatildeo que este constituinte ocupa na sentenccedila Para eles um constituinte eacute
interpretado como foco somente se ele ocupa a posiccedilatildeo de Spec de FocPrdquo (ASSIS 2003 p
360)
Nessa abordagem o toacutepico ldquoveicula informaccedilatildeo jaacute conhecida pelos participantes do
discursordquo enquanto o comentaacuterio ldquoeacute um tipo de predicado complexo que se aplica ao toacutepicordquo
(QUAREZEMIN 2009 p 22) No exemplo da autora your book eacute o toacutepico e o que estaacute
depois da viacutergula eacute o comentaacuterio
(2) Your book you should give t to Paul (not to Bill)5
Ela afirma que na fala o toacutepico eacute marcado por uma pausa Diferentemente do toacutepico
o foco eacute ldquodestacado por um acento proeminente e expressa a informaccedilatildeo do discurso natildeo
4 Haacute outras propostas sobre qual o lugar que as categorias funcionais TopP e FocP ocupam na estrutura da
sentenccedila extensatildeo de vP (Belletti 2001 2004a) e extensatildeo de DP (Giusti 2002) 5 ldquoSeu livro vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo para o Bill)rdquo
16
pressuposta pelo ouvinte enquanto a pressuposiccedilatildeo representa o conhecimento compartilhado
pelos interlocutoresrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 23)
(3) YOUR BOOK you should give t to Paul (not mine)6
Com isso Quarezemin (2009 p 46) afirma que ldquoa interpretaccedilatildeo semacircntica da
sentenccedila que apresenta a articulaccedilatildeo foco-pressuposiccedilatildeo natildeo deve ser confundida com a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila que tem a biparticcedilatildeo toacutepico-comentaacuteriordquo A autora menciona a
relaccedilatildeo entre foco-prosoacutedia dizendo que os paracircmetros acuacutesticos da descriccedilatildeo do foco satildeo a
F0 a duraccedilatildeo e a intensidade Na fonologia o foco recebe a proeminecircncia ou outro acento
tonal especiacutefico A autora diz que ldquoo foco ou um membro do sintagma focalizado sempre
recebe o acento principal da sentenccedila enquanto a pressuposiccedilatildeo natildeo pode ser acentuada nos
mesmos niacuteveisrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 52)
Em liacutenguas como o espanhol o italiano e o PE o foco de informaccedilatildeo ocupa uma
posiccedilatildeo no final da sentenccedila em casos que ocorre a inversatildeo do sujeito
(4) Egrave partitoha parlato [F Gianni]7
(Chi egrave partitoha parlato)
No exemplo de Quarezemin (2009 p 69) acima nota-se o foco estreito Gianni no
final da sentenccedila visto que esse item responde agrave pergunta chi egrave partitoparlato Haveria o
foco largo isto eacute toda a resposta de (4) seria foco se essa resposta correspondesse agrave pergunta
(QUAREZEMIN 2009 p 70)
(5) Che cosa egrave successo8
Um tipo especiacutefico de focalizaccedilatildeo sintaacutetica satildeo as construccedilotildees clivadas Resenes
(2009 p 17) explica que a clivagem eacute ldquoum processo sintaacutetico que serve para focalizar
constituintes porque prepara um lugar especiacutefico na sentenccedila para alojar o focordquo Os
elementos que cumprem essa funccedilatildeo satildeo a coacutepula o complementizador que ou um elemento
wh As propriedades semacircnticas e sintaacuteticas das sentenccedilas clivadas e pseudo-clivadas natildeo
6 ldquoO SEU LIVRO vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo o meu)rdquo
7 ldquoPartiufalou o Gianni (Quem partiufalou)rdquo
8 ldquoO que aconteceurdquo
17
seratildeo abordadas profundamente visto que esse natildeo eacute o objetivo principal deste trabalho As
sentenccedilas clivadas apresentam a estrutura [ser + XPi + que [IP eci]] jaacute as pseudo-clivadas [[CP
whi ti] + ser +XPi] (RESENES 2009 p 14) O XP deve ser a parte natildeo-pressuposta da
sentenccedila ou o foco da sentenccedila o sintagma que carrega a informaccedilatildeo nova e que segundo a
abordagem gerativa carrega tambeacutem a proeminecircncia prosoacutedica O foco dessas sentenccedilas eacute do
tipo de identificaccedilatildeo exaustiva isto eacute indicado pela propriedade semacircntica [x e apenas x]
Apresentamos como exemplo em PB uma clivada e uma pseudo-clivada respectivamente
(6) Foi [F a Luana] que comprou um livro
(7) Quem comprou um livro foi [F a Luana]
Em inglecircs as clivadas satildeo conhecidas como it-clefts pois nessa liacutengua eacute obrigatoacuteria a
realizaccedilatildeo do expletivo na posiccedilatildeo inicial da sentenccedila
(8) It was [F John] who died in a car crash9
Haacute vaacuterios tipos de realizaccedilatildeo dessas sentenccedilas por exemplo clivada sem coacutepula
clivada com dupla coacutepula pseudo-clivada reduzida etc
Na liacutengua Ayutla Mixteca em que a ordem canocircnica da sentenccedila eacute VSO a
focalizaccedilatildeo se daacute atraveacutes da mudanccedila de posiccedilatildeo do elemento que se deseja focalizar para
uma posiccedilatildeo preacute-verbal ldquobecause the first element of any list is perceptually salient
preverbal position tends to grant the item filling it some degree of highlighting This position
is therefore often used for constituents that a speaker wishes to focus in some wayrdquo
(HOLLENBACH 1995 p 1)10
Seguem os exemplos de Hills (1990 p 27-28 apud
HOLLENBACH 1995 p 2)
(9) mburu xi‟i‟ tikui
donkey drinks water
bdquoThe donkey is drinking water‟11
(10) tikui xi‟i‟ mburu
9 ldquoFoi [F o Joatildeo] que morreu num acidente de carrordquo
10 ldquoporque o primeiro elemento de qualquer lista eacute perceptualmente saliente a posiccedilatildeo preacute-verbal tende a
conceder ao item carregando-o com algum grau de realce Esta posiccedilatildeo eacute portanto frequentemente usada para
constituintes em que o falante deseja focalizar de algum modordquo 11
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo
18
water drinks donkey
bdquoThe donkey is drinking water‟12
Entretanto Hollenbach (1995 p 2) adverte que a relaccedilatildeo semacircntica do foco com a
posiccedilatildeo preacute-verbal eacute obscura jaacute que um constituinte pode ocorrer na posiccedilatildeo preacute-verbal sem
que o falante deseje focalizaacute-lo Entatildeo a autora investiga as condiccedilotildees para que a focalizaccedilatildeo
do constituinte preacute-verbal ocorra13
Ela identificou vaacuterias condiccedilotildees para a identificaccedilatildeo do
foco na posiccedilatildeo preacute-verbal nas liacutenguas do grupo Mixteca entre elas a pausa (11) e a inserccedilatildeo
de conjunccedilotildees coordenadas (12) depois do elemento focalizado
(11) juaacutea ta‟u da ntuku
John splits he firewood
bdquoAs for John he is splitting firewood‟ (Yosonduacutea FARRIS 1992 p 28 apud
HOLLENBACH 1995 p 3)14
(12) sa‟an mi neacute din tavi di kuidaacutedo di
man that and willdo very you care you (Cuicatec BRADLEY 1991
p 493 apud HOLLENBACH 1995 p 3)
Esses satildeo exemplos que a focalizaccedilatildeo natildeo se daacute exclusivamente pela sintaxe mas que
co-ocorre com ela ou seja eacute necessaacuterio que haja mais elementos linguiacutesticos aleacutem da
posiccedilatildeo preacute-verbal para que a focalizaccedilatildeo ocorra de forma satisfatoacuteria
222 Foco morfoloacutegico
O foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de certos morfemas que dependendo da
liacutengua seratildeo cliacuteticos ou morfemas livres Nesse caso ldquoum bdquoMorfema de Ecircnfase‟ seraacute o
elemento responsaacutevel pela iluminaccedilatildeo do elemento destacado no textordquo (GONCcedilALVES
1999 p 336) Natildeo obstante isso natildeo signifique que o foco natildeo possa ser expresso por outros
meios nas liacutenguas em que predominam o meio morfoloacutegico para que a focalizaccedilatildeo ocorra
Esse tipo de focalizaccedilatildeo eacute mais comum em liacutenguas natildeo-indo-europeias como em liacutenguas
12
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo 13
Hollenbach investigou as condiccedilotildees do foco natildeo soacute na liacutengua Ayutla Mixteca mas em seis variedades do
Mixteca duas do Trique e uma do Cuicatec Essas liacutenguas fazem parte grupo Mixteca que por sua vez faz
parte da famiacutelia das liacutenguas Otomangues faladas sobretudo no sul do Meacutexico As liacutenguas da famiacutelia
Otomangue apresentam a ordem canocircnica VSO 14
ldquoQuanto ao Joatildeo ele estaacute partindo a lenhardquo
19
indiacutegenas brasileiras por exemplo em marubo e em mekens O aacuterabe e o japonecircs tambeacutem
satildeo exemplos de liacutenguas em que ocorre a focalizaccedilatildeo morfoloacutegica Hagesawa (2010 p 1)
explica que no japonecircs ldquoone of the most general properties of focus particles is to relate a
proposition which is newly introduced by the sentence containing a focus particle and
propositions available in the contextrdquo15
Em japonecircs a partiacutecula -shika introduz a noccedilatildeo de exclusividade o que eacute expresso
pela palavra only em inglecircs Essa noccedilatildeo eacute a mesma do foco de identificaccedilatildeo encontrado nas
sentenccedilas clivadas do PB por exemplo Segue o exemplo de Hagesawa (2010 p 4)
(13) Miho-shika ko-na-katta
Miho-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoOnly Miho came‟16
No exemplo (13) a funccedilatildeo do morfema -shika pode ser parafraseada como ldquosomente
Miho veio e mais ningueacutemrdquo Quanto ao padratildeo prosoacutedico das partiacuteculas de foco no japonecircs
Hagesawa (2010 p 33) afirma que
although Japanese focus particles have their own accent patterns
when they occur without a focused constituent or they are stressed as
shown in (14) and (15) they lose their accent pattern and follow the
tone melody of their host when they are suffixed17
18
O autor apresenta os seguintes exemplos
(14) Shikamade-o jisyo-de shirabe-ta
HL HL
SHIKAMADE-ACC dictionary-with lookup-PAST
bdquoI looked up bdquoshika‟‟made‟ in a dictionary‟19
(15) A Yuka-mo ki-ta-no
Yuka-also come-PAST-Q
15
ldquouma das propriedades mais gerais das partiacuteculas de foco eacute relacionar uma proposiccedilatildeo que eacute receacutem-
introduzida pela sentenccedila contendo uma partiacutecula de foco e proposiccedilotildees disponiacuteveis no contextordquo 16
ldquoSomente Miho veiordquo 17
A numeraccedilatildeo dos exemplos natildeo segue a original 18
ldquoconquanto as partiacuteculas de foco do japonecircs tecircm seus padrotildees proacuteprios de accent quando ocorrem sem um
constituinte focalizado ou estatildeo stressed como mostrado em (14) e (15) elas perdem o seu padratildeo de accent e
seguem a melodia tonal do seu hospedeiro quando elas satildeo sufixadasrdquo 19
ldquoEu procurei bdquoshika‟‟made‟ em um dicionaacuteriordquo
20
bdquoDid Yuka also come‟
B Uun Yuka-shika ko-na-katta
HL
no Yuka-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoNo only Yuka came‟20
Na liacutengua Mekens todas as questotildees wh apresentam o cliacutetico foco te como no
exemplo abaixo de Galucio (2002 p 67)
(16) aapo=te o-tek pogabeg-a ke i-koop ikatildeotilde tete
Who=foc 1s-house open-Theme say 3s-aux+mov that time
bdquordquoWho opened my houserdquo She was saying that time‟21
Haacute tambeacutem o uso do recurso sintaacutetico pois o constituinte focalizado sempre aparece
no iniacutecio da sentenccedila A autora menciona que a informaccedilatildeo natildeo-pressuposta das respostas agraves
perguntas wh tambeacutem apareceratildeo na forma de construccedilotildees focalizadas Isso faz com que a
ordem canocircnica ndash SOV ndash dessa liacutengua se altere em sentenccedilas como (17) abaixo por exemplo
extraiacuteda de Galucio (2002 p 68) Notam-se nas duas oraccedilotildees que os sujeitos ocorrem
depois do verbo
(17) serek=te kɨpmatildekatildeỹ kweotildep =te ɨsɨɨ
split=foc floor climb+neg=foc deer
bdquoThe floor split and the deer sank‟22
Alguns autores consideram como morfemas de foco palavras como only also just e
even do inglecircs por exemplo porque elas cumprem a mesma funccedilatildeo semacircntica dos morfemas
de foco em liacutenguas como o japonecircs no exemplo da partiacutecula -shika bdquoonly‟ Na anaacutelise de
Quarezemin (2009 p 112) para as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB ela sugere que nas
construccedilotildees clivadas a coacutepula e o complementizador seriam morfemas de foco Nas palavras
da autora
20
ldquoA Yuka tambeacutem veio Natildeo somente a Yuka veiordquo 21
ldquoQuem abriu minha casa Ela estava dizendo aquela horardquo 22
ldquoO chatildeo se partiu e o veado afundourdquo
21
A hipoacutetese inicial eacute que de um modo geral os falantes do PB
preferem destacar o constituinte focalizado sintaticamente ao inveacutes
de destacaacute-lo apenas com recursos prosoacutedicos Disso surge a hipoacutetese
de que a coacutepula com funccedilatildeo de focalizar e o complementizador das
clivadas podem ser considerados morfemas de foco em PB
Em suma o foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de morfemas que tecircm por objetivo
sinalizar que o constituinte o qual estaacute afixado se encontra focalizado Eles tambeacutem podem
interagir com a sintaxe e a prosoacutedia no caso de aleacutem do morfema de foco estar afixado a um
constituinte que se deseja destacar ele tambeacutem esteja em uma posiccedilatildeo proacutepria para
construccedilotildees focalizadoras ou em casos em que aleacutem da marcaccedilatildeo morfoloacutegica do foco haja
uma proeminecircncia prosoacutedica no constituinte focalizado
223 Foco semacircntico
Em primeiro lugar salientamos que o termo bdquofoco semacircntico‟ pode causar certa
estranheza devido a que diferentemente dos outros tipos neste natildeo haacute uma manifestaccedilatildeo de
forma ldquovisiacutevelrdquo do foco no enunciado isto eacute natildeo haacute uma proeminecircncia prosoacutedica uma
construccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica ou um morfema afixado a um constituinte Antes se trata mais
de uma propriedade do significado da construccedilatildeo focalizadora em um enunciado
As trecircs principais propriedades semacircnticas do foco satildeo as dos enunciados que
apresentam o foco de informaccedilatildeo de identificaccedilatildeo e o contrastivo Geralmente para
determinar a propriedade semacircntica desses tipos de foco recorre-se ao contexto de pergunta-
whresposta ou a outro tipo de contexto induzido O foco de informaccedilatildeo23
introduz uma
informaccedilatildeo novanatildeo-pressuposta e ldquopresume uma pergunta wh como base discursiva para
ser estabelecidordquo (RESENES 2009 p 20) Segue o exemplo de Resenes (2009 p 20)
(18) a O que o Joatildeo bebeu
b O Joatildeo bebeu alguma coisa
c O Joatildeo bebeu [F o vinho]
A pergunta wh estaacute em (18a) Em (18b) encontra-se a pressuposiccedilatildeo expressa pelo
pronome indefinido O foco de informaccedilatildeo se encontra em (18c) e eacute o valor da expressatildeo wh
23
Resenes (2009) utiliza a nomenclatura de ldquofoco natildeo-contrastivordquo para esse tipo de foco
22
da pergunta em (18a) A autora menciona que na Estrutura de Asserccedilatildeo (AS)24
o foco de
(18c) seria representado como
(19) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 O x tal que o Joatildeo bebeu x = [o vinho]
O foco contrastivo corrige uma informaccedilatildeo preacutevia atraveacutes de uma prosoacutedia proacutepria
Resenes (2009 p 20) afirma que ldquoo contexto ideal para o foco contrastivo eacute aquele em que
haacute uma afirmaccedilatildeo preacutevia como base discursivardquo Segue o exemplo da autora (RESENES
2009 p 21)
(20) a O Joatildeo bebeu o vinho
b O Joatildeo bebeu [F a cerveja] (natildeo o vinho)
A AS de (20) seria
(21) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 Natildeo eacute o caso que o x tal que o Joatildeo bebeu x = vinho amp O x tal que o Joatildeo
bebeu o x = a cerveja
O foco de identificaccedilatildeo ldquorepresents a subset of the set of contextually or situationally
given elements for which the predicate phrase can potentially hold it is identified as the
exhaustive subset of this set for which the predicate phrase actually holdsrdquo (KISS 1998 p
245 apud RESENES 2009 p 21)25
Assim o foco de identificaccedilatildeo expressa exaustividade
que pode ser parafraseada como [x e apenas x] Esse tipo de foco eacute ilustrado por uma
sentenccedila clivada em (22) (RESENES 2009 p 21)
(22) Foi [F um perfume] que a Maria deu para o Joatildeo
24
Resenes (2009 p 20) explica que a AS eacute ldquoum niacutevel poacutes-LF (pragmaacutetico) que revela como a informaccedilatildeo estaacute
empacotada na sentenccedila Na AS vai estar explicitada a estrutura da focalizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo o foco e os
tipos de focordquo 25
ldquorepresenta um subconjunto do conjunto de elementos dados contextualmente ou situacionalmente para o qual
a expressatildeo do predicado pode potencialmente conter que eacute identificado como o subconjunto exaustivo deste
conjunto para o qual a expressatildeo de predicado efetivamente conteacutemrdquo
23
Em (22) o foco de identificaccedilatildeo eacute expresso pelo NP um perfume que significa que
dentro de uma seacuterie de possiacuteveis presentes que a Maria poderia ter dado ao Joatildeo ela deu
somente um perfume por isso [x e apenas x]
Contudo o fenocircmeno da focalizaccedilatildeo natildeo se restringe somente agraves respostas das
perguntas wh ou agraves respostas dos contextos induzidos Davis (2009 p 2) assinala que haacute dois
grandes aspectos da constituiccedilatildeo do foco ldquoThe first is its grammar how FOCUS is expressed
in language The second is its meaning It does not require much investigation to discover
that there is no grammatical consistency to FOCUS across languagesrdquo26
O autor nota que em
relaccedilatildeo ao primeiro item natildeo haveria uma forma uacutenica universal para o uso do foco ou seja
uma liacutengua utiliza a sintaxe outra a prosoacutedia outra a morfologia outra a sintaxe e a prosoacutedia
etc ele afirma que ldquoif there is some universal consistency to FOCUS across languages it is
not found in its expressionrdquo27
Quanto ao segundo item as liacutenguas a princiacutepio natildeo
diferenciariam muito em relaccedilatildeo agrave semacircntica do foco Entretanto a propriedade de
destaquerealce sempre estaraacute presente manifestando-se seja por meio da prosoacutedia do
arranjo sintaacutetico ou da marcaccedilatildeo morfoloacutegica Davis (2009 p 2) explica que
If FOCUS will be diferently constituted grammatically its presence
has to be recognized in its semantics One portion of that semantics is
that FOCUS is involved in the answering of wh- questions but not
every utterance is a response to such a question Yet utterances must
the claim says nevertheless contain the semantics (and some
grammar) of FOCUS FOCUS then cannot be only the content
which answers questions There must be more to FOCUS When we
examine languages we discover that FOCUS has an affinity for
certain other semantics and in discovering those affinities we can
amplify our conception of what constitutes FOCUS28
A partir da assunccedilatildeo acima sugere-se que os estudos sobre a focalizaccedilatildeo natildeo
poderiam se restringir agraves anaacutelises de dados de introspecccedilatildeo sobretudo aqueles que explicam o
fenocircmeno somente a partir de dados com contexto pergunta-whresposta A natureza
discursivo-pragmaacutetica da focalizaccedilatildeo faz com que esse fenocircmeno seja melhor compreendido
26
ldquoO primeiro eacute sua gramaacutetica como o FOCO eacute expresso na liacutengua O segundo eacute o seu significado Natildeo se
requer muita investigaccedilatildeo para descobrir que natildeo haacute coerecircncia gramatical do FOCO atraveacutes das liacutenguasrdquo 27
ldquose houver alguma consistecircncia universal para o FOCO entre as liacutenguas natildeo eacute encontrada na sua expressatildeordquo 28
ldquoSe o FOCO seraacute constituiacutedo diferente gramaticalmente a sua presenccedila tem de ser reconhecida em sua
semacircntica Uma parte dessa semacircntica eacute que o FOCO estaacute envolvido nas respostas de perguntas QU mas nem
todo enunciado eacute uma resposta a essas perguntas No entanto os enunciados devem a alegaccedilatildeo diz todavia
conter a semacircntica (e alguma gramaacutetica) do FOCO O FOCO entatildeo natildeo pode ser apenas o conteuacutedo que
responde a perguntas Deve haver mais para o FOCO Quando examinamos as liacutenguas descobrimos que o
FOCO tem uma afinidade com outras semacircnticas e descobrindo essas afinidades podemos ampliar a nossa
concepccedilatildeo do que constitui o FOCOrdquo
24
na liacutengua espontacircnea apesar de natildeo se poder excluir suas propriedades semacircnticas em
diferentes enunciados que podem ser analisados sem o uso de dados de liacutengua espontacircnea
como eacute o caso da investigaccedilatildeo das propriedades semacircnticas do foco em dados de introspecccedilatildeo
e de suas representaccedilotildees formais
224 Foco prosoacutedico
A prosoacutedia eacute um dos traccedilos da camada suprassegmental ou seja que se encontra
acima dos segmentos dispostos linearmente na cadeia sonora da fala Beaver amp Clark (2008
p 2) explicam que os traccedilos suprassegmentais satildeo assim chamados porque ldquothey spread out
across multiple segments (basic sound units) or even across multiple wordsrdquo29
Callou amp
Leite (1990 p31) afirmam que o ldquoconjunto de fenocircmenos dos quais se derivam tipos de
acento padrotildees entoacionais ritmos e velocidades de fala satildeo estudados sob o roacutetulo de
prosoacutediardquo Ao contraacuterio dos segmentos que satildeo descritos pelos movimentos dos articuladores
do aparelho fonador os suprassegmentos satildeo descritos ldquoem termos da accedilatildeo dos muacutesculos
respiratoacuterios que aumentam ou diminuem a energia do fluxo de ar ocasionando duraccedilotildees
frequumlecircncia fundamental e intensidade diferentes das vibraccedilotildees sonorasrdquo (CALLOU amp LEITE
1990 p 30) Paracircmetros acuacutesticos como frequecircncia fundamental intensidade e duraccedilatildeo fiacutesica
satildeo outros traccedilos suprassegmentais que satildeo percebidos respectivamente como pitch
loudness e length que por sua vez ldquoapresentam correlatos fiacutesicos frequumlecircncia amplitude e
tempordquo (LEITE 2009 p 17)30
A frequecircncia eacute medida em Hz (Hertz) a amplitude em dB
(decibeacuteis) e o tempo em ms (milissegundos)
Barbosa (2008) menciona que a prosoacutedia estaacute
associada a fatores linguumliacutesticos como acentuaccedilatildeo entoaccedilatildeo ecircnfase e
ritmo bem como a fatores para- e extra-linguiacutesticos tais como
marcadores discursivos (ldquoneacuterdquo ldquoentendordquo ldquoanhanrdquo) atitudes
emoccedilotildees imbricados a fatores sociais ou bioloacutegicos como gecircnero
faixa etaacuteria classe social entre outros
Segundo Leite (2009 p 18) a prosoacutedia exerceria funccedilotildees ldquogramatical atitudinal
informacional indexal e ilocucionaacuteriardquo Nota-se portanto que eacute muito importante levar em
29
ldquoeles se espalham em vaacuterios segmentos (unidades baacutesicas de som) ou mesmo atraveacutes de muacuteltiplas palavrasrdquo 30
Neste trabalho natildeo se pretende definir minuciosamente todos os conceitos dos correlatos foneacutetico-acuacutesticos
dos sons da fala estudados pela Foneacutetica Acuacutestica Para mais informaccedilotildees cf Ladefoged (1974) Malmberg
(1998) e Johnson (2003)
25
consideraccedilatildeo a prosoacutedia na anaacutelise linguiacutestica visto que ela desempenha funccedilotildees associadas a
fatores intrinsecamente linguiacutesticos bem como a fatores extralinguiacutesticos A prosoacutedia ainda
apresenta um importante papel na aquisiccedilatildeo da linguagem sendo recurso especial para a
crianccedila associar unidades sonoras a significado (cf BRUM DE PAULA 2010)
As investigaccedilotildees do Ciacuterculo Linguiacutestico de Praga sugeriram que os elementos dados
do discurso ou seja aqueles que jaacute haviam sido mencionados seriam prosodicamente menos
relevantes que os elementos novos Disso resulta que a informaccedilatildeo nova ou o foco seja
destacado prosodicamente isto eacute apresente proeminecircncia prosoacutedica A proeminecircncia
prosoacutedica eacute definida como ldquoa quantitative parameter of a syllable or a boundary that describes
markedness relative to surrounding syllables and boundaries respectivelyrdquo (PORTELE amp
HEUFT 1997 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 227)31
Haacute autores que classificam o
foco levando em conta sobretudo o fator proeminecircncia prosoacutedica por exemplo ldquothe term
focus is used [] to describe prosodic prominences serving pragmatic and semantic
functionsrdquo (ROOTH 1995 p 271 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 228)32
O foco prosoacutedico eacute definido por meio de uma proeminecircncia tonal (cf
BUTRAGUENtildeO 2005) Entretanto alguns estudos mostram que o foco natildeo seria marcado
somente com a proeminecircncia tonal ou prosoacutedica Proeminecircncias de outros traccedilos
suprassegmentais como duraccedilatildeo e intensidade tambeacutem marcariam o foco (cf TOLEDO
1989 SOSA 1999 QUAREZEMIN 2009 entre outros) Para Butraguentildeo (2005 p 141) os
focos prosoacutedicos ldquoreciben acentos tonales de contorno especiacutefico que permiten distinguirlos
del fondo (o background)rdquo33
Os paracircmetros de anaacutelise acuacutestica do foco satildeo os movimentos
de F0 o alinhamento entre siacutelabas e F0 duraccedilatildeo das siacutelabas e vogais intensidade da siacutelaba e
em alguns casos pausas e meacutedia entre picos de F0
As abordagens teoacutericas utilizadas nos trabalhos sobre o foco prosoacutedico guiam a
metodologia de anaacutelise dos dados Assim alguns autores que trabalham com uma abordagem
formal utilizando o sistema ToBI (cf SILVERMAN et al 1992) para a anaacutelise dos dados
representam a entoaccedilatildeo dos enunciados marcando as siacutelabas com acentos tonais que se
manifestam em acentos monotonais (H ou L) bitonais (H+L L+H etc) e ainda poderia
haver tons de juntura (H e L) que delimitam as fronteiras dos grupos meloacutedicos Na
Fonologia Entoacional haacute trecircs tipos de tons pitch accents phrase accents e boundary tones
31
ldquoum paracircmetro quantitativo de uma siacutelaba ou de uma fronteira que descreve a marcaccedilatildeo relativa agraves siacutelabas
vizinhas e fronteiras respectivamenterdquo 32
ldquoo termo foco eacute utilizado [] para descrever proeminecircncias prosoacutedicas que servem a funccedilotildees pragmaacuteticas e
semacircnticasrdquo 33
ldquorecebem acentos tonais de contorno especiacutefico que permitem distingui-los do fundo (ou background)rdquo
26
Geralmente o foco eacute marcado por um pitch accent que pode ser definido como ldquoa local
feature of a pitch contour ndash usually but not invariably a pitch change and often involving a
local maximum or minimumrdquo (LADD 1996 p 45-6 apud BEAVER amp CLARK 2008 p
11)34
Segundo Roach (2011 p 67) pitch
is an auditory sensation when we hear a regularly vibrating sound
such as a note played on a musical instrument or a vowel produced
by the human voice we hear a high pitch if the rate of vibration is
high and a low pitch if the rate of vibration is low35
Nooteboom (1997 p 641) atenta para o fato de que ldquoone should be aware however
that rather often the notion bdquopitch‟ is used to refer to f0 or the repetition frequency itself In
speech f0 is determined by the rate of vibration of the vocal cords located in the larynxrdquo36
Ademais Crystal (2008 p 369) adverte que ldquothere is however no direct or parallel
correlation between pitch and frequency other factors than frequency may affect our
sensation of pitch (measured in units known as mels)rdquo37
Pitch countour seria a marcaccedilatildeo dos
uacutenicos pitchs relevantes para a compreensatildeo de um perfil entoacional A teacutecnica da close
copy (cf t‟HART et al 1990) justamente realccedila o pitch countor atraveacutes de uma ldquosiacutentese que
satildeo eliminados movimentos de F0 que natildeo causam diferenccedila de percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao
aacuteudio originalrdquo (ROCHA 2011 p 106) De acordo com Crystal (2008 p 369-370) o termo
pitch accent
is used phonologically in the description of languages in which the
distribution of the tones within a word is totally predictable once one
has specified a particular tonal feature of the word (as in Japanese)
The notion has also been applied to English where some
phonological models analyse intonation CONTOURS as a sequence
of one or more pitch accents each associated with a STRESS-
prominent SYLLABLE in a word38
34
ldquoum traccedilo local de um pitch contour - geralmente mas natildeo invariavelmente variaccedilatildeo de pitch e muitas vezes
envolvendo um local maacuteximo ou miacutenimordquo 35
ldquoeacute uma sensaccedilatildeo auditiva quando ouvimos um som regularmente vibrando como uma nota tocada em um
instrumento musical ou uma vogal produzida pela voz humana noacutes ouvimos um pitch alto se a taxa de vibraccedilatildeo
eacute alta e um pitch baixo se a taxa de vibraccedilatildeo eacute baixardquo 36
ldquodeve-se estar ciente no entanto que muitas vezes a noccedilatildeo de pitch eacute utilizada para se referir a f0 ou a
frequecircncia da repeticcedilatildeo Na fala a f0 eacute determinada pela taxa de vibraccedilatildeo das cordas vocais localizadas na
laringerdquo 37
ldquonatildeo haacute poreacutem nenhuma correlaccedilatildeo direta ou paralelo entre pitch e frequecircncia outros fatores aleacutem
frequecircncia podem afetar a nossa sensaccedilatildeo de pitch (medido em unidades conhecidas como mels)rdquo 38
ldquoeacute usado fonologicamente na descriccedilatildeo das liacutenguas nas quais a distribuiccedilatildeo dos tons dentro de uma palavra eacute
totalmente previsiacutevel uma vez que se tenha especificado uma caracteriacutestica particular de tons da palavra (tal
como no japonecircs) A noccedilatildeo tambeacutem foi aplicada para o inglecircs em que alguns modelos fonoloacutegicos analisam os
CONTORNOS da entoaccedilatildeo como uma sequecircncia de um ou mais pitch accents cada um associado a uma
SIacuteLABA STRESS-proeminente em uma palavrardquo
27
O sistema ToBI reconhece 5 tipos de pitch accents enquanto Pierrehumbert (1980)
menciona 7 tipos Atraveacutes dessa classificaccedilatildeo eacute possiacutevel delimitar o accent prototiacutepico do
foco ou suas possiacuteveis variantes Beaver amp Clark (2008 p 12) mencionam que ldquoalthough
focus is frequently marked by an H accent [] other accents are possible For example in
yes-no questions focus is often by marked by an L+Hrdquo39
A importante pressuposiccedilatildeo teoacuterica de que toda oraccedilatildeo eacute resposta a uma pergunta
guia a metodologia de muitas investigaccedilotildees sobre o foco sobretudo de trabalhos
experimentais de leitura de sentenccedilas denominados testes de produccedilatildeo Com o pressuposto
teoacuterico da explicitaccedilatildeo do foco por meio de pergunta-resposta eacute possiacutevel delimitar o tipo de
foco a ser analisado broad focus (foco largo) narrow focus (foco estreito) ou contrastive
focus (foco contrastivo) (cf seccedilatildeo 121 p 14) Essa metodologia tem por caracteriacutestica
induzir guiar e restringir os padrotildees meloacutedicos da fala ao fornecer exemplos com contextos
preacutevios ou mesmo com o foco jaacute explicitado na sentenccedila para se obter o resultado desejado
Em investigaccedilatildeo sobre a marcaccedilatildeo prosoacutedica dos focos largo estreito e contrastivo em
alematildeo Baumann et al (2006 p 302) mencionam em sua metodologia de teste de leitura
que
reading material consisted of five question-answer pairs with the
answer bdquoManuela will Blumen malen‟ (Manuela wants to paint
flowers) The main criterion the target sentence had to fulfill was its
continuous voicing so as to be able to accurately measure exact peaks
and valleys in the F0 contour40
Dependendo do objetivo do trabalho ou da liacutengua a ser analisada podem-se controlar
outros fatores Por exemplo em trabalho sobre como o tom lexical e o foco contribuem para a
formaccedilatildeo e alinhamento dos F0 contours no chinecircs Xu (1999 p 58) menciona na
metodologia que
the factors manipulated in the experiment were segmental
composition of syllables lexical tones focus and and sentence types
Of these only lexical tones and focus were under direct scrutiny The
control of the other two factors was done by keeping their variation to
39
ldquoembora o foco seja frequentemente marcado por um accent H [] outros accents satildeo possiacuteveis Por
exemplo em perguntas sim-natildeo o foco eacute muitas vezes marcado por um H + Lrdquo 40
ldquoo material de leitura consistiu de cinco pares de pergunta-resposta com a resposta bdquoManuela will Blumen
malen‟ (Manuela quer pintar flores) O principal criteacuterio que a frase alvo tinha a cumprir era seu vozeamento
contiacutenuo de modo a ser capaz de medir com precisatildeo exata picos e vales no contorno da F0rdquo
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
13
formal funcional pragmaacutetica etc Cada estudo independente da aacuterea ou da abordagem
teoacuterica tem revelado que a focalizaccedilatildeo apresenta importante papel na gramaacutetica das liacutenguas
naturais pois o foco seu principal componente manifesta-se nelas por diferentes estrateacutegias
linguiacutesticas Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os diferentes meios em que o foco pode se
manifestar isto eacute os tipos de foco O objetivo deste capiacutetulo eacute mostrar que o foco ocorre
atraveacutes de diferentes estrateacutegias nas liacutenguas e que cada liacutengua escolhe uma ou mais
estrateacutegias para sua realizaccedilatildeo
21 TIPOS DE FOCO
O fenocircmeno que abrange o foco eacute a focalizaccedilatildeo que pode ser definida como o ldquoato de
focalizar ou seja de acentuar de ressaltar de pocircr em relevorealceevidecircncia um
determinado item do textordquo (GONCcedilALVES 1998 p 32) As liacutenguas naturais expressam esse
realce com diferentes estrateacutegias seja por meio da sintaxe da prosoacutedia ou da morfologia seja
com o uso de uma estrateacutegia ou de mais de uma atuando em conjunto A focalizaccedilatildeo eacute
considerada um fenocircmeno discursivo-pragmaacutetico ldquopois o usuaacuterio pode centrar sua atenccedilatildeo a
uma parcela do enunciado que julgue relevante enfatizando-ardquo (GONCcedilALVES 1998 p 33)
Assim sendo a focalizaccedilatildeo estaria vinculada tanto agraves estrateacutegias argumentativas do falante
quanto ao conteuacutedo informacional do enunciado Segundo Gonccedilalves (1998 p 39) o foco
ldquopode incidir em qualquer constituinte do enunciado (palavras morfemas sintagmas e
pequenas oraccedilotildees)rdquo
Mesmo com a definiccedilatildeo do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo as descobertas dos estudos
sobre a biparticcedilatildeo da frase a respeito do conceito de foco natildeo foram descartadas (cf
BARBOSA 2005) Gonccedilalves (1998 p 32) menciona que o constituinte focalizado eacute ldquoa
parcela do texto apresentada como a mais informativarelevanterdquo e que os elementos fora de
foco constituem ldquoinformaccedilatildeo apresentada previamente ao ouvinterdquo ou os elementos que os
interlocutores julgam conhecidos Ainda segundo Gonccedilalves o foco apresentaria informaccedilatildeo
nova Eacute neste ponto que pode haver confusatildeo Os autores ampliam o escopo de investigaccedilatildeo
mas manteacutem certos conceitos de estudos preacutevios e de diferentes correntes teoacutericas sem
explicitar qual ou quais estatildeo sendo levados em consideraccedilatildeo Para Gonccedilalves (1998 p 33) a
informaccedilatildeo nova isto eacute o que eacute focalizado eacute ldquonew natildeo porque natildeo foi mencionado
previamente mas eacute new exatamente porque o falante tende a interpretar como natildeo suscetiacutevel
de recuperaccedilatildeo (a) nem a partir do texto precedente (co-texto) e (b) nem por meio do
contexto pragmaacutetico (situacional) imediatordquo Nota-se que o autor utiliza uma noccedilatildeo
14
pragmaacutetica do que seria informaccedilatildeo novadada A diamesia oral eacute muito mais ampla do que a
escrita no sentido de que a unidade de referecircncia da fala eacute o enunciado ndash organizado segundo
princiacutepios pragmaacutetico-ilocucionaacuterios ndash jaacute na escrita a unidade de referecircncia eacute a frase ndash
organizada segundo princiacutepios loacutegico-sintaacuteticos ndash aleacutem de haver caracteriacutesticas distintivas
entre falaescrita por exemplo hesitaccedilotildees interrupccedilotildees sobreposiccedilotildees etc Como a
focalizaccedilatildeo eacute considerada um fenocircmeno discursivo as noccedilotildees estudadas no niacutevel da frase natildeo
conseguem abranger todos os aspectos que a liacutengua oral apresenta por isso novas definiccedilotildees
satildeo propostas contudo em muitos casos preservando determinadas terminologias de estudos
anteriores
Cada liacutengua escolhe uma ou mais estrateacutegias para a focalizaccedilatildeo Pode-se ateacute mesmo
classificaacute-las tipologicamente com relaccedilatildeo agrave manifestaccedilatildeo do foco em cada uma Contudo
muitas vezes essas estrateacutegias se organizam conjuntamente para a manifestaccedilatildeo do foco no
caso da focalizaccedilatildeo sintaacutetica e a prosoacutedica coocorrerem nas construccedilotildees clivadas por
exemplo Assim como um morfema poder licenciar um conjunto de alternativas semacircnticas
de escopo em uma sentenccedila servindo de gatilho para a manifestaccedilatildeo prosoacutedica do foco
Todavia nosso objetivo nesta seccedilatildeo eacute mostrar os vaacuterios tipos de foco em isolamento apesar
de que a interface com outro componente gramatical seraacute explicada quando necessaacuterio A
exposiccedilatildeo natildeo seraacute exaustiva uma vez que este tipo de trabalho natildeo permite uma discussatildeo
mais longa da literatura
221 Foco sintaacutetico
O foco tem recebido grande atenccedilatildeo nos estudos da sintaxe gerativa Itens de natureza
discursiva como o toacutepico e o proacuteprio foco passam a fazer parte da estrutura interna das
sentenccedilas dentro dessa abordagem teoacuterica Eles ocupam uma posiccedilatildeo na parte mais alta da
sentenccedila caracterizada por ser uma estrutura funcional sendo a outra parte da sentenccedila a
estrutura lexical Com a proposta de extensatildeo do sistema CP (RIZZI 1997)3 dois
subsistemas satildeo criados o primeiro constituiacutedo por ForceP e FinP e o segundo por TopP e
FocP A categoria ForceP determina o tipo de sentenccedila enquanto FinP determina sua
finitude Os constituintes toacutepico e foco satildeo interpretados em Spec de seus respectivos
sintagmas O sistema CP entatildeo passa a ser representado da seguinte forma (QUAREZEMIN
2009 p 22)
3 Segundo Quarezemin (200921) ldquoa extensatildeo do CP ocorre para acomodar certos constituintes com
propriedades discursivas e de escopo aleacutem de derivar sua interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo Spec-nuacutecleordquo
15
(1) ForceP
Force0 TopP
Top0 FocP
Foc0 TopP
Top0 FinP
Fin0 IP
As categorias TopP e FocP4 soacute aparecem na estrutura se houver constituintes com
funccedilotildees de toacutepico e foco na sentenccedila A categoria TopP aparece duas vezes na estrutura
porque eacute considerada recursiva Isso significa que pode haver mais de um toacutepico na sentenccedila
Na estrutura FocP natildeo aparece duas vezes pois a natureza quantificacional do foco natildeo
permite tal repeticcedilatildeo Para Rizzi (1997) e Belletti (2001) ldquoa noccedilatildeo de foco estaacute diretamente
relacionada agrave posiccedilatildeo que este constituinte ocupa na sentenccedila Para eles um constituinte eacute
interpretado como foco somente se ele ocupa a posiccedilatildeo de Spec de FocPrdquo (ASSIS 2003 p
360)
Nessa abordagem o toacutepico ldquoveicula informaccedilatildeo jaacute conhecida pelos participantes do
discursordquo enquanto o comentaacuterio ldquoeacute um tipo de predicado complexo que se aplica ao toacutepicordquo
(QUAREZEMIN 2009 p 22) No exemplo da autora your book eacute o toacutepico e o que estaacute
depois da viacutergula eacute o comentaacuterio
(2) Your book you should give t to Paul (not to Bill)5
Ela afirma que na fala o toacutepico eacute marcado por uma pausa Diferentemente do toacutepico
o foco eacute ldquodestacado por um acento proeminente e expressa a informaccedilatildeo do discurso natildeo
4 Haacute outras propostas sobre qual o lugar que as categorias funcionais TopP e FocP ocupam na estrutura da
sentenccedila extensatildeo de vP (Belletti 2001 2004a) e extensatildeo de DP (Giusti 2002) 5 ldquoSeu livro vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo para o Bill)rdquo
16
pressuposta pelo ouvinte enquanto a pressuposiccedilatildeo representa o conhecimento compartilhado
pelos interlocutoresrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 23)
(3) YOUR BOOK you should give t to Paul (not mine)6
Com isso Quarezemin (2009 p 46) afirma que ldquoa interpretaccedilatildeo semacircntica da
sentenccedila que apresenta a articulaccedilatildeo foco-pressuposiccedilatildeo natildeo deve ser confundida com a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila que tem a biparticcedilatildeo toacutepico-comentaacuteriordquo A autora menciona a
relaccedilatildeo entre foco-prosoacutedia dizendo que os paracircmetros acuacutesticos da descriccedilatildeo do foco satildeo a
F0 a duraccedilatildeo e a intensidade Na fonologia o foco recebe a proeminecircncia ou outro acento
tonal especiacutefico A autora diz que ldquoo foco ou um membro do sintagma focalizado sempre
recebe o acento principal da sentenccedila enquanto a pressuposiccedilatildeo natildeo pode ser acentuada nos
mesmos niacuteveisrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 52)
Em liacutenguas como o espanhol o italiano e o PE o foco de informaccedilatildeo ocupa uma
posiccedilatildeo no final da sentenccedila em casos que ocorre a inversatildeo do sujeito
(4) Egrave partitoha parlato [F Gianni]7
(Chi egrave partitoha parlato)
No exemplo de Quarezemin (2009 p 69) acima nota-se o foco estreito Gianni no
final da sentenccedila visto que esse item responde agrave pergunta chi egrave partitoparlato Haveria o
foco largo isto eacute toda a resposta de (4) seria foco se essa resposta correspondesse agrave pergunta
(QUAREZEMIN 2009 p 70)
(5) Che cosa egrave successo8
Um tipo especiacutefico de focalizaccedilatildeo sintaacutetica satildeo as construccedilotildees clivadas Resenes
(2009 p 17) explica que a clivagem eacute ldquoum processo sintaacutetico que serve para focalizar
constituintes porque prepara um lugar especiacutefico na sentenccedila para alojar o focordquo Os
elementos que cumprem essa funccedilatildeo satildeo a coacutepula o complementizador que ou um elemento
wh As propriedades semacircnticas e sintaacuteticas das sentenccedilas clivadas e pseudo-clivadas natildeo
6 ldquoO SEU LIVRO vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo o meu)rdquo
7 ldquoPartiufalou o Gianni (Quem partiufalou)rdquo
8 ldquoO que aconteceurdquo
17
seratildeo abordadas profundamente visto que esse natildeo eacute o objetivo principal deste trabalho As
sentenccedilas clivadas apresentam a estrutura [ser + XPi + que [IP eci]] jaacute as pseudo-clivadas [[CP
whi ti] + ser +XPi] (RESENES 2009 p 14) O XP deve ser a parte natildeo-pressuposta da
sentenccedila ou o foco da sentenccedila o sintagma que carrega a informaccedilatildeo nova e que segundo a
abordagem gerativa carrega tambeacutem a proeminecircncia prosoacutedica O foco dessas sentenccedilas eacute do
tipo de identificaccedilatildeo exaustiva isto eacute indicado pela propriedade semacircntica [x e apenas x]
Apresentamos como exemplo em PB uma clivada e uma pseudo-clivada respectivamente
(6) Foi [F a Luana] que comprou um livro
(7) Quem comprou um livro foi [F a Luana]
Em inglecircs as clivadas satildeo conhecidas como it-clefts pois nessa liacutengua eacute obrigatoacuteria a
realizaccedilatildeo do expletivo na posiccedilatildeo inicial da sentenccedila
(8) It was [F John] who died in a car crash9
Haacute vaacuterios tipos de realizaccedilatildeo dessas sentenccedilas por exemplo clivada sem coacutepula
clivada com dupla coacutepula pseudo-clivada reduzida etc
Na liacutengua Ayutla Mixteca em que a ordem canocircnica da sentenccedila eacute VSO a
focalizaccedilatildeo se daacute atraveacutes da mudanccedila de posiccedilatildeo do elemento que se deseja focalizar para
uma posiccedilatildeo preacute-verbal ldquobecause the first element of any list is perceptually salient
preverbal position tends to grant the item filling it some degree of highlighting This position
is therefore often used for constituents that a speaker wishes to focus in some wayrdquo
(HOLLENBACH 1995 p 1)10
Seguem os exemplos de Hills (1990 p 27-28 apud
HOLLENBACH 1995 p 2)
(9) mburu xi‟i‟ tikui
donkey drinks water
bdquoThe donkey is drinking water‟11
(10) tikui xi‟i‟ mburu
9 ldquoFoi [F o Joatildeo] que morreu num acidente de carrordquo
10 ldquoporque o primeiro elemento de qualquer lista eacute perceptualmente saliente a posiccedilatildeo preacute-verbal tende a
conceder ao item carregando-o com algum grau de realce Esta posiccedilatildeo eacute portanto frequentemente usada para
constituintes em que o falante deseja focalizar de algum modordquo 11
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo
18
water drinks donkey
bdquoThe donkey is drinking water‟12
Entretanto Hollenbach (1995 p 2) adverte que a relaccedilatildeo semacircntica do foco com a
posiccedilatildeo preacute-verbal eacute obscura jaacute que um constituinte pode ocorrer na posiccedilatildeo preacute-verbal sem
que o falante deseje focalizaacute-lo Entatildeo a autora investiga as condiccedilotildees para que a focalizaccedilatildeo
do constituinte preacute-verbal ocorra13
Ela identificou vaacuterias condiccedilotildees para a identificaccedilatildeo do
foco na posiccedilatildeo preacute-verbal nas liacutenguas do grupo Mixteca entre elas a pausa (11) e a inserccedilatildeo
de conjunccedilotildees coordenadas (12) depois do elemento focalizado
(11) juaacutea ta‟u da ntuku
John splits he firewood
bdquoAs for John he is splitting firewood‟ (Yosonduacutea FARRIS 1992 p 28 apud
HOLLENBACH 1995 p 3)14
(12) sa‟an mi neacute din tavi di kuidaacutedo di
man that and willdo very you care you (Cuicatec BRADLEY 1991
p 493 apud HOLLENBACH 1995 p 3)
Esses satildeo exemplos que a focalizaccedilatildeo natildeo se daacute exclusivamente pela sintaxe mas que
co-ocorre com ela ou seja eacute necessaacuterio que haja mais elementos linguiacutesticos aleacutem da
posiccedilatildeo preacute-verbal para que a focalizaccedilatildeo ocorra de forma satisfatoacuteria
222 Foco morfoloacutegico
O foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de certos morfemas que dependendo da
liacutengua seratildeo cliacuteticos ou morfemas livres Nesse caso ldquoum bdquoMorfema de Ecircnfase‟ seraacute o
elemento responsaacutevel pela iluminaccedilatildeo do elemento destacado no textordquo (GONCcedilALVES
1999 p 336) Natildeo obstante isso natildeo signifique que o foco natildeo possa ser expresso por outros
meios nas liacutenguas em que predominam o meio morfoloacutegico para que a focalizaccedilatildeo ocorra
Esse tipo de focalizaccedilatildeo eacute mais comum em liacutenguas natildeo-indo-europeias como em liacutenguas
12
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo 13
Hollenbach investigou as condiccedilotildees do foco natildeo soacute na liacutengua Ayutla Mixteca mas em seis variedades do
Mixteca duas do Trique e uma do Cuicatec Essas liacutenguas fazem parte grupo Mixteca que por sua vez faz
parte da famiacutelia das liacutenguas Otomangues faladas sobretudo no sul do Meacutexico As liacutenguas da famiacutelia
Otomangue apresentam a ordem canocircnica VSO 14
ldquoQuanto ao Joatildeo ele estaacute partindo a lenhardquo
19
indiacutegenas brasileiras por exemplo em marubo e em mekens O aacuterabe e o japonecircs tambeacutem
satildeo exemplos de liacutenguas em que ocorre a focalizaccedilatildeo morfoloacutegica Hagesawa (2010 p 1)
explica que no japonecircs ldquoone of the most general properties of focus particles is to relate a
proposition which is newly introduced by the sentence containing a focus particle and
propositions available in the contextrdquo15
Em japonecircs a partiacutecula -shika introduz a noccedilatildeo de exclusividade o que eacute expresso
pela palavra only em inglecircs Essa noccedilatildeo eacute a mesma do foco de identificaccedilatildeo encontrado nas
sentenccedilas clivadas do PB por exemplo Segue o exemplo de Hagesawa (2010 p 4)
(13) Miho-shika ko-na-katta
Miho-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoOnly Miho came‟16
No exemplo (13) a funccedilatildeo do morfema -shika pode ser parafraseada como ldquosomente
Miho veio e mais ningueacutemrdquo Quanto ao padratildeo prosoacutedico das partiacuteculas de foco no japonecircs
Hagesawa (2010 p 33) afirma que
although Japanese focus particles have their own accent patterns
when they occur without a focused constituent or they are stressed as
shown in (14) and (15) they lose their accent pattern and follow the
tone melody of their host when they are suffixed17
18
O autor apresenta os seguintes exemplos
(14) Shikamade-o jisyo-de shirabe-ta
HL HL
SHIKAMADE-ACC dictionary-with lookup-PAST
bdquoI looked up bdquoshika‟‟made‟ in a dictionary‟19
(15) A Yuka-mo ki-ta-no
Yuka-also come-PAST-Q
15
ldquouma das propriedades mais gerais das partiacuteculas de foco eacute relacionar uma proposiccedilatildeo que eacute receacutem-
introduzida pela sentenccedila contendo uma partiacutecula de foco e proposiccedilotildees disponiacuteveis no contextordquo 16
ldquoSomente Miho veiordquo 17
A numeraccedilatildeo dos exemplos natildeo segue a original 18
ldquoconquanto as partiacuteculas de foco do japonecircs tecircm seus padrotildees proacuteprios de accent quando ocorrem sem um
constituinte focalizado ou estatildeo stressed como mostrado em (14) e (15) elas perdem o seu padratildeo de accent e
seguem a melodia tonal do seu hospedeiro quando elas satildeo sufixadasrdquo 19
ldquoEu procurei bdquoshika‟‟made‟ em um dicionaacuteriordquo
20
bdquoDid Yuka also come‟
B Uun Yuka-shika ko-na-katta
HL
no Yuka-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoNo only Yuka came‟20
Na liacutengua Mekens todas as questotildees wh apresentam o cliacutetico foco te como no
exemplo abaixo de Galucio (2002 p 67)
(16) aapo=te o-tek pogabeg-a ke i-koop ikatildeotilde tete
Who=foc 1s-house open-Theme say 3s-aux+mov that time
bdquordquoWho opened my houserdquo She was saying that time‟21
Haacute tambeacutem o uso do recurso sintaacutetico pois o constituinte focalizado sempre aparece
no iniacutecio da sentenccedila A autora menciona que a informaccedilatildeo natildeo-pressuposta das respostas agraves
perguntas wh tambeacutem apareceratildeo na forma de construccedilotildees focalizadas Isso faz com que a
ordem canocircnica ndash SOV ndash dessa liacutengua se altere em sentenccedilas como (17) abaixo por exemplo
extraiacuteda de Galucio (2002 p 68) Notam-se nas duas oraccedilotildees que os sujeitos ocorrem
depois do verbo
(17) serek=te kɨpmatildekatildeỹ kweotildep =te ɨsɨɨ
split=foc floor climb+neg=foc deer
bdquoThe floor split and the deer sank‟22
Alguns autores consideram como morfemas de foco palavras como only also just e
even do inglecircs por exemplo porque elas cumprem a mesma funccedilatildeo semacircntica dos morfemas
de foco em liacutenguas como o japonecircs no exemplo da partiacutecula -shika bdquoonly‟ Na anaacutelise de
Quarezemin (2009 p 112) para as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB ela sugere que nas
construccedilotildees clivadas a coacutepula e o complementizador seriam morfemas de foco Nas palavras
da autora
20
ldquoA Yuka tambeacutem veio Natildeo somente a Yuka veiordquo 21
ldquoQuem abriu minha casa Ela estava dizendo aquela horardquo 22
ldquoO chatildeo se partiu e o veado afundourdquo
21
A hipoacutetese inicial eacute que de um modo geral os falantes do PB
preferem destacar o constituinte focalizado sintaticamente ao inveacutes
de destacaacute-lo apenas com recursos prosoacutedicos Disso surge a hipoacutetese
de que a coacutepula com funccedilatildeo de focalizar e o complementizador das
clivadas podem ser considerados morfemas de foco em PB
Em suma o foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de morfemas que tecircm por objetivo
sinalizar que o constituinte o qual estaacute afixado se encontra focalizado Eles tambeacutem podem
interagir com a sintaxe e a prosoacutedia no caso de aleacutem do morfema de foco estar afixado a um
constituinte que se deseja destacar ele tambeacutem esteja em uma posiccedilatildeo proacutepria para
construccedilotildees focalizadoras ou em casos em que aleacutem da marcaccedilatildeo morfoloacutegica do foco haja
uma proeminecircncia prosoacutedica no constituinte focalizado
223 Foco semacircntico
Em primeiro lugar salientamos que o termo bdquofoco semacircntico‟ pode causar certa
estranheza devido a que diferentemente dos outros tipos neste natildeo haacute uma manifestaccedilatildeo de
forma ldquovisiacutevelrdquo do foco no enunciado isto eacute natildeo haacute uma proeminecircncia prosoacutedica uma
construccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica ou um morfema afixado a um constituinte Antes se trata mais
de uma propriedade do significado da construccedilatildeo focalizadora em um enunciado
As trecircs principais propriedades semacircnticas do foco satildeo as dos enunciados que
apresentam o foco de informaccedilatildeo de identificaccedilatildeo e o contrastivo Geralmente para
determinar a propriedade semacircntica desses tipos de foco recorre-se ao contexto de pergunta-
whresposta ou a outro tipo de contexto induzido O foco de informaccedilatildeo23
introduz uma
informaccedilatildeo novanatildeo-pressuposta e ldquopresume uma pergunta wh como base discursiva para
ser estabelecidordquo (RESENES 2009 p 20) Segue o exemplo de Resenes (2009 p 20)
(18) a O que o Joatildeo bebeu
b O Joatildeo bebeu alguma coisa
c O Joatildeo bebeu [F o vinho]
A pergunta wh estaacute em (18a) Em (18b) encontra-se a pressuposiccedilatildeo expressa pelo
pronome indefinido O foco de informaccedilatildeo se encontra em (18c) e eacute o valor da expressatildeo wh
23
Resenes (2009) utiliza a nomenclatura de ldquofoco natildeo-contrastivordquo para esse tipo de foco
22
da pergunta em (18a) A autora menciona que na Estrutura de Asserccedilatildeo (AS)24
o foco de
(18c) seria representado como
(19) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 O x tal que o Joatildeo bebeu x = [o vinho]
O foco contrastivo corrige uma informaccedilatildeo preacutevia atraveacutes de uma prosoacutedia proacutepria
Resenes (2009 p 20) afirma que ldquoo contexto ideal para o foco contrastivo eacute aquele em que
haacute uma afirmaccedilatildeo preacutevia como base discursivardquo Segue o exemplo da autora (RESENES
2009 p 21)
(20) a O Joatildeo bebeu o vinho
b O Joatildeo bebeu [F a cerveja] (natildeo o vinho)
A AS de (20) seria
(21) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 Natildeo eacute o caso que o x tal que o Joatildeo bebeu x = vinho amp O x tal que o Joatildeo
bebeu o x = a cerveja
O foco de identificaccedilatildeo ldquorepresents a subset of the set of contextually or situationally
given elements for which the predicate phrase can potentially hold it is identified as the
exhaustive subset of this set for which the predicate phrase actually holdsrdquo (KISS 1998 p
245 apud RESENES 2009 p 21)25
Assim o foco de identificaccedilatildeo expressa exaustividade
que pode ser parafraseada como [x e apenas x] Esse tipo de foco eacute ilustrado por uma
sentenccedila clivada em (22) (RESENES 2009 p 21)
(22) Foi [F um perfume] que a Maria deu para o Joatildeo
24
Resenes (2009 p 20) explica que a AS eacute ldquoum niacutevel poacutes-LF (pragmaacutetico) que revela como a informaccedilatildeo estaacute
empacotada na sentenccedila Na AS vai estar explicitada a estrutura da focalizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo o foco e os
tipos de focordquo 25
ldquorepresenta um subconjunto do conjunto de elementos dados contextualmente ou situacionalmente para o qual
a expressatildeo do predicado pode potencialmente conter que eacute identificado como o subconjunto exaustivo deste
conjunto para o qual a expressatildeo de predicado efetivamente conteacutemrdquo
23
Em (22) o foco de identificaccedilatildeo eacute expresso pelo NP um perfume que significa que
dentro de uma seacuterie de possiacuteveis presentes que a Maria poderia ter dado ao Joatildeo ela deu
somente um perfume por isso [x e apenas x]
Contudo o fenocircmeno da focalizaccedilatildeo natildeo se restringe somente agraves respostas das
perguntas wh ou agraves respostas dos contextos induzidos Davis (2009 p 2) assinala que haacute dois
grandes aspectos da constituiccedilatildeo do foco ldquoThe first is its grammar how FOCUS is expressed
in language The second is its meaning It does not require much investigation to discover
that there is no grammatical consistency to FOCUS across languagesrdquo26
O autor nota que em
relaccedilatildeo ao primeiro item natildeo haveria uma forma uacutenica universal para o uso do foco ou seja
uma liacutengua utiliza a sintaxe outra a prosoacutedia outra a morfologia outra a sintaxe e a prosoacutedia
etc ele afirma que ldquoif there is some universal consistency to FOCUS across languages it is
not found in its expressionrdquo27
Quanto ao segundo item as liacutenguas a princiacutepio natildeo
diferenciariam muito em relaccedilatildeo agrave semacircntica do foco Entretanto a propriedade de
destaquerealce sempre estaraacute presente manifestando-se seja por meio da prosoacutedia do
arranjo sintaacutetico ou da marcaccedilatildeo morfoloacutegica Davis (2009 p 2) explica que
If FOCUS will be diferently constituted grammatically its presence
has to be recognized in its semantics One portion of that semantics is
that FOCUS is involved in the answering of wh- questions but not
every utterance is a response to such a question Yet utterances must
the claim says nevertheless contain the semantics (and some
grammar) of FOCUS FOCUS then cannot be only the content
which answers questions There must be more to FOCUS When we
examine languages we discover that FOCUS has an affinity for
certain other semantics and in discovering those affinities we can
amplify our conception of what constitutes FOCUS28
A partir da assunccedilatildeo acima sugere-se que os estudos sobre a focalizaccedilatildeo natildeo
poderiam se restringir agraves anaacutelises de dados de introspecccedilatildeo sobretudo aqueles que explicam o
fenocircmeno somente a partir de dados com contexto pergunta-whresposta A natureza
discursivo-pragmaacutetica da focalizaccedilatildeo faz com que esse fenocircmeno seja melhor compreendido
26
ldquoO primeiro eacute sua gramaacutetica como o FOCO eacute expresso na liacutengua O segundo eacute o seu significado Natildeo se
requer muita investigaccedilatildeo para descobrir que natildeo haacute coerecircncia gramatical do FOCO atraveacutes das liacutenguasrdquo 27
ldquose houver alguma consistecircncia universal para o FOCO entre as liacutenguas natildeo eacute encontrada na sua expressatildeordquo 28
ldquoSe o FOCO seraacute constituiacutedo diferente gramaticalmente a sua presenccedila tem de ser reconhecida em sua
semacircntica Uma parte dessa semacircntica eacute que o FOCO estaacute envolvido nas respostas de perguntas QU mas nem
todo enunciado eacute uma resposta a essas perguntas No entanto os enunciados devem a alegaccedilatildeo diz todavia
conter a semacircntica (e alguma gramaacutetica) do FOCO O FOCO entatildeo natildeo pode ser apenas o conteuacutedo que
responde a perguntas Deve haver mais para o FOCO Quando examinamos as liacutenguas descobrimos que o
FOCO tem uma afinidade com outras semacircnticas e descobrindo essas afinidades podemos ampliar a nossa
concepccedilatildeo do que constitui o FOCOrdquo
24
na liacutengua espontacircnea apesar de natildeo se poder excluir suas propriedades semacircnticas em
diferentes enunciados que podem ser analisados sem o uso de dados de liacutengua espontacircnea
como eacute o caso da investigaccedilatildeo das propriedades semacircnticas do foco em dados de introspecccedilatildeo
e de suas representaccedilotildees formais
224 Foco prosoacutedico
A prosoacutedia eacute um dos traccedilos da camada suprassegmental ou seja que se encontra
acima dos segmentos dispostos linearmente na cadeia sonora da fala Beaver amp Clark (2008
p 2) explicam que os traccedilos suprassegmentais satildeo assim chamados porque ldquothey spread out
across multiple segments (basic sound units) or even across multiple wordsrdquo29
Callou amp
Leite (1990 p31) afirmam que o ldquoconjunto de fenocircmenos dos quais se derivam tipos de
acento padrotildees entoacionais ritmos e velocidades de fala satildeo estudados sob o roacutetulo de
prosoacutediardquo Ao contraacuterio dos segmentos que satildeo descritos pelos movimentos dos articuladores
do aparelho fonador os suprassegmentos satildeo descritos ldquoem termos da accedilatildeo dos muacutesculos
respiratoacuterios que aumentam ou diminuem a energia do fluxo de ar ocasionando duraccedilotildees
frequumlecircncia fundamental e intensidade diferentes das vibraccedilotildees sonorasrdquo (CALLOU amp LEITE
1990 p 30) Paracircmetros acuacutesticos como frequecircncia fundamental intensidade e duraccedilatildeo fiacutesica
satildeo outros traccedilos suprassegmentais que satildeo percebidos respectivamente como pitch
loudness e length que por sua vez ldquoapresentam correlatos fiacutesicos frequumlecircncia amplitude e
tempordquo (LEITE 2009 p 17)30
A frequecircncia eacute medida em Hz (Hertz) a amplitude em dB
(decibeacuteis) e o tempo em ms (milissegundos)
Barbosa (2008) menciona que a prosoacutedia estaacute
associada a fatores linguumliacutesticos como acentuaccedilatildeo entoaccedilatildeo ecircnfase e
ritmo bem como a fatores para- e extra-linguiacutesticos tais como
marcadores discursivos (ldquoneacuterdquo ldquoentendordquo ldquoanhanrdquo) atitudes
emoccedilotildees imbricados a fatores sociais ou bioloacutegicos como gecircnero
faixa etaacuteria classe social entre outros
Segundo Leite (2009 p 18) a prosoacutedia exerceria funccedilotildees ldquogramatical atitudinal
informacional indexal e ilocucionaacuteriardquo Nota-se portanto que eacute muito importante levar em
29
ldquoeles se espalham em vaacuterios segmentos (unidades baacutesicas de som) ou mesmo atraveacutes de muacuteltiplas palavrasrdquo 30
Neste trabalho natildeo se pretende definir minuciosamente todos os conceitos dos correlatos foneacutetico-acuacutesticos
dos sons da fala estudados pela Foneacutetica Acuacutestica Para mais informaccedilotildees cf Ladefoged (1974) Malmberg
(1998) e Johnson (2003)
25
consideraccedilatildeo a prosoacutedia na anaacutelise linguiacutestica visto que ela desempenha funccedilotildees associadas a
fatores intrinsecamente linguiacutesticos bem como a fatores extralinguiacutesticos A prosoacutedia ainda
apresenta um importante papel na aquisiccedilatildeo da linguagem sendo recurso especial para a
crianccedila associar unidades sonoras a significado (cf BRUM DE PAULA 2010)
As investigaccedilotildees do Ciacuterculo Linguiacutestico de Praga sugeriram que os elementos dados
do discurso ou seja aqueles que jaacute haviam sido mencionados seriam prosodicamente menos
relevantes que os elementos novos Disso resulta que a informaccedilatildeo nova ou o foco seja
destacado prosodicamente isto eacute apresente proeminecircncia prosoacutedica A proeminecircncia
prosoacutedica eacute definida como ldquoa quantitative parameter of a syllable or a boundary that describes
markedness relative to surrounding syllables and boundaries respectivelyrdquo (PORTELE amp
HEUFT 1997 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 227)31
Haacute autores que classificam o
foco levando em conta sobretudo o fator proeminecircncia prosoacutedica por exemplo ldquothe term
focus is used [] to describe prosodic prominences serving pragmatic and semantic
functionsrdquo (ROOTH 1995 p 271 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 228)32
O foco prosoacutedico eacute definido por meio de uma proeminecircncia tonal (cf
BUTRAGUENtildeO 2005) Entretanto alguns estudos mostram que o foco natildeo seria marcado
somente com a proeminecircncia tonal ou prosoacutedica Proeminecircncias de outros traccedilos
suprassegmentais como duraccedilatildeo e intensidade tambeacutem marcariam o foco (cf TOLEDO
1989 SOSA 1999 QUAREZEMIN 2009 entre outros) Para Butraguentildeo (2005 p 141) os
focos prosoacutedicos ldquoreciben acentos tonales de contorno especiacutefico que permiten distinguirlos
del fondo (o background)rdquo33
Os paracircmetros de anaacutelise acuacutestica do foco satildeo os movimentos
de F0 o alinhamento entre siacutelabas e F0 duraccedilatildeo das siacutelabas e vogais intensidade da siacutelaba e
em alguns casos pausas e meacutedia entre picos de F0
As abordagens teoacutericas utilizadas nos trabalhos sobre o foco prosoacutedico guiam a
metodologia de anaacutelise dos dados Assim alguns autores que trabalham com uma abordagem
formal utilizando o sistema ToBI (cf SILVERMAN et al 1992) para a anaacutelise dos dados
representam a entoaccedilatildeo dos enunciados marcando as siacutelabas com acentos tonais que se
manifestam em acentos monotonais (H ou L) bitonais (H+L L+H etc) e ainda poderia
haver tons de juntura (H e L) que delimitam as fronteiras dos grupos meloacutedicos Na
Fonologia Entoacional haacute trecircs tipos de tons pitch accents phrase accents e boundary tones
31
ldquoum paracircmetro quantitativo de uma siacutelaba ou de uma fronteira que descreve a marcaccedilatildeo relativa agraves siacutelabas
vizinhas e fronteiras respectivamenterdquo 32
ldquoo termo foco eacute utilizado [] para descrever proeminecircncias prosoacutedicas que servem a funccedilotildees pragmaacuteticas e
semacircnticasrdquo 33
ldquorecebem acentos tonais de contorno especiacutefico que permitem distingui-los do fundo (ou background)rdquo
26
Geralmente o foco eacute marcado por um pitch accent que pode ser definido como ldquoa local
feature of a pitch contour ndash usually but not invariably a pitch change and often involving a
local maximum or minimumrdquo (LADD 1996 p 45-6 apud BEAVER amp CLARK 2008 p
11)34
Segundo Roach (2011 p 67) pitch
is an auditory sensation when we hear a regularly vibrating sound
such as a note played on a musical instrument or a vowel produced
by the human voice we hear a high pitch if the rate of vibration is
high and a low pitch if the rate of vibration is low35
Nooteboom (1997 p 641) atenta para o fato de que ldquoone should be aware however
that rather often the notion bdquopitch‟ is used to refer to f0 or the repetition frequency itself In
speech f0 is determined by the rate of vibration of the vocal cords located in the larynxrdquo36
Ademais Crystal (2008 p 369) adverte que ldquothere is however no direct or parallel
correlation between pitch and frequency other factors than frequency may affect our
sensation of pitch (measured in units known as mels)rdquo37
Pitch countour seria a marcaccedilatildeo dos
uacutenicos pitchs relevantes para a compreensatildeo de um perfil entoacional A teacutecnica da close
copy (cf t‟HART et al 1990) justamente realccedila o pitch countor atraveacutes de uma ldquosiacutentese que
satildeo eliminados movimentos de F0 que natildeo causam diferenccedila de percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao
aacuteudio originalrdquo (ROCHA 2011 p 106) De acordo com Crystal (2008 p 369-370) o termo
pitch accent
is used phonologically in the description of languages in which the
distribution of the tones within a word is totally predictable once one
has specified a particular tonal feature of the word (as in Japanese)
The notion has also been applied to English where some
phonological models analyse intonation CONTOURS as a sequence
of one or more pitch accents each associated with a STRESS-
prominent SYLLABLE in a word38
34
ldquoum traccedilo local de um pitch contour - geralmente mas natildeo invariavelmente variaccedilatildeo de pitch e muitas vezes
envolvendo um local maacuteximo ou miacutenimordquo 35
ldquoeacute uma sensaccedilatildeo auditiva quando ouvimos um som regularmente vibrando como uma nota tocada em um
instrumento musical ou uma vogal produzida pela voz humana noacutes ouvimos um pitch alto se a taxa de vibraccedilatildeo
eacute alta e um pitch baixo se a taxa de vibraccedilatildeo eacute baixardquo 36
ldquodeve-se estar ciente no entanto que muitas vezes a noccedilatildeo de pitch eacute utilizada para se referir a f0 ou a
frequecircncia da repeticcedilatildeo Na fala a f0 eacute determinada pela taxa de vibraccedilatildeo das cordas vocais localizadas na
laringerdquo 37
ldquonatildeo haacute poreacutem nenhuma correlaccedilatildeo direta ou paralelo entre pitch e frequecircncia outros fatores aleacutem
frequecircncia podem afetar a nossa sensaccedilatildeo de pitch (medido em unidades conhecidas como mels)rdquo 38
ldquoeacute usado fonologicamente na descriccedilatildeo das liacutenguas nas quais a distribuiccedilatildeo dos tons dentro de uma palavra eacute
totalmente previsiacutevel uma vez que se tenha especificado uma caracteriacutestica particular de tons da palavra (tal
como no japonecircs) A noccedilatildeo tambeacutem foi aplicada para o inglecircs em que alguns modelos fonoloacutegicos analisam os
CONTORNOS da entoaccedilatildeo como uma sequecircncia de um ou mais pitch accents cada um associado a uma
SIacuteLABA STRESS-proeminente em uma palavrardquo
27
O sistema ToBI reconhece 5 tipos de pitch accents enquanto Pierrehumbert (1980)
menciona 7 tipos Atraveacutes dessa classificaccedilatildeo eacute possiacutevel delimitar o accent prototiacutepico do
foco ou suas possiacuteveis variantes Beaver amp Clark (2008 p 12) mencionam que ldquoalthough
focus is frequently marked by an H accent [] other accents are possible For example in
yes-no questions focus is often by marked by an L+Hrdquo39
A importante pressuposiccedilatildeo teoacuterica de que toda oraccedilatildeo eacute resposta a uma pergunta
guia a metodologia de muitas investigaccedilotildees sobre o foco sobretudo de trabalhos
experimentais de leitura de sentenccedilas denominados testes de produccedilatildeo Com o pressuposto
teoacuterico da explicitaccedilatildeo do foco por meio de pergunta-resposta eacute possiacutevel delimitar o tipo de
foco a ser analisado broad focus (foco largo) narrow focus (foco estreito) ou contrastive
focus (foco contrastivo) (cf seccedilatildeo 121 p 14) Essa metodologia tem por caracteriacutestica
induzir guiar e restringir os padrotildees meloacutedicos da fala ao fornecer exemplos com contextos
preacutevios ou mesmo com o foco jaacute explicitado na sentenccedila para se obter o resultado desejado
Em investigaccedilatildeo sobre a marcaccedilatildeo prosoacutedica dos focos largo estreito e contrastivo em
alematildeo Baumann et al (2006 p 302) mencionam em sua metodologia de teste de leitura
que
reading material consisted of five question-answer pairs with the
answer bdquoManuela will Blumen malen‟ (Manuela wants to paint
flowers) The main criterion the target sentence had to fulfill was its
continuous voicing so as to be able to accurately measure exact peaks
and valleys in the F0 contour40
Dependendo do objetivo do trabalho ou da liacutengua a ser analisada podem-se controlar
outros fatores Por exemplo em trabalho sobre como o tom lexical e o foco contribuem para a
formaccedilatildeo e alinhamento dos F0 contours no chinecircs Xu (1999 p 58) menciona na
metodologia que
the factors manipulated in the experiment were segmental
composition of syllables lexical tones focus and and sentence types
Of these only lexical tones and focus were under direct scrutiny The
control of the other two factors was done by keeping their variation to
39
ldquoembora o foco seja frequentemente marcado por um accent H [] outros accents satildeo possiacuteveis Por
exemplo em perguntas sim-natildeo o foco eacute muitas vezes marcado por um H + Lrdquo 40
ldquoo material de leitura consistiu de cinco pares de pergunta-resposta com a resposta bdquoManuela will Blumen
malen‟ (Manuela quer pintar flores) O principal criteacuterio que a frase alvo tinha a cumprir era seu vozeamento
contiacutenuo de modo a ser capaz de medir com precisatildeo exata picos e vales no contorno da F0rdquo
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
14
pragmaacutetica do que seria informaccedilatildeo novadada A diamesia oral eacute muito mais ampla do que a
escrita no sentido de que a unidade de referecircncia da fala eacute o enunciado ndash organizado segundo
princiacutepios pragmaacutetico-ilocucionaacuterios ndash jaacute na escrita a unidade de referecircncia eacute a frase ndash
organizada segundo princiacutepios loacutegico-sintaacuteticos ndash aleacutem de haver caracteriacutesticas distintivas
entre falaescrita por exemplo hesitaccedilotildees interrupccedilotildees sobreposiccedilotildees etc Como a
focalizaccedilatildeo eacute considerada um fenocircmeno discursivo as noccedilotildees estudadas no niacutevel da frase natildeo
conseguem abranger todos os aspectos que a liacutengua oral apresenta por isso novas definiccedilotildees
satildeo propostas contudo em muitos casos preservando determinadas terminologias de estudos
anteriores
Cada liacutengua escolhe uma ou mais estrateacutegias para a focalizaccedilatildeo Pode-se ateacute mesmo
classificaacute-las tipologicamente com relaccedilatildeo agrave manifestaccedilatildeo do foco em cada uma Contudo
muitas vezes essas estrateacutegias se organizam conjuntamente para a manifestaccedilatildeo do foco no
caso da focalizaccedilatildeo sintaacutetica e a prosoacutedica coocorrerem nas construccedilotildees clivadas por
exemplo Assim como um morfema poder licenciar um conjunto de alternativas semacircnticas
de escopo em uma sentenccedila servindo de gatilho para a manifestaccedilatildeo prosoacutedica do foco
Todavia nosso objetivo nesta seccedilatildeo eacute mostrar os vaacuterios tipos de foco em isolamento apesar
de que a interface com outro componente gramatical seraacute explicada quando necessaacuterio A
exposiccedilatildeo natildeo seraacute exaustiva uma vez que este tipo de trabalho natildeo permite uma discussatildeo
mais longa da literatura
221 Foco sintaacutetico
O foco tem recebido grande atenccedilatildeo nos estudos da sintaxe gerativa Itens de natureza
discursiva como o toacutepico e o proacuteprio foco passam a fazer parte da estrutura interna das
sentenccedilas dentro dessa abordagem teoacuterica Eles ocupam uma posiccedilatildeo na parte mais alta da
sentenccedila caracterizada por ser uma estrutura funcional sendo a outra parte da sentenccedila a
estrutura lexical Com a proposta de extensatildeo do sistema CP (RIZZI 1997)3 dois
subsistemas satildeo criados o primeiro constituiacutedo por ForceP e FinP e o segundo por TopP e
FocP A categoria ForceP determina o tipo de sentenccedila enquanto FinP determina sua
finitude Os constituintes toacutepico e foco satildeo interpretados em Spec de seus respectivos
sintagmas O sistema CP entatildeo passa a ser representado da seguinte forma (QUAREZEMIN
2009 p 22)
3 Segundo Quarezemin (200921) ldquoa extensatildeo do CP ocorre para acomodar certos constituintes com
propriedades discursivas e de escopo aleacutem de derivar sua interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo Spec-nuacutecleordquo
15
(1) ForceP
Force0 TopP
Top0 FocP
Foc0 TopP
Top0 FinP
Fin0 IP
As categorias TopP e FocP4 soacute aparecem na estrutura se houver constituintes com
funccedilotildees de toacutepico e foco na sentenccedila A categoria TopP aparece duas vezes na estrutura
porque eacute considerada recursiva Isso significa que pode haver mais de um toacutepico na sentenccedila
Na estrutura FocP natildeo aparece duas vezes pois a natureza quantificacional do foco natildeo
permite tal repeticcedilatildeo Para Rizzi (1997) e Belletti (2001) ldquoa noccedilatildeo de foco estaacute diretamente
relacionada agrave posiccedilatildeo que este constituinte ocupa na sentenccedila Para eles um constituinte eacute
interpretado como foco somente se ele ocupa a posiccedilatildeo de Spec de FocPrdquo (ASSIS 2003 p
360)
Nessa abordagem o toacutepico ldquoveicula informaccedilatildeo jaacute conhecida pelos participantes do
discursordquo enquanto o comentaacuterio ldquoeacute um tipo de predicado complexo que se aplica ao toacutepicordquo
(QUAREZEMIN 2009 p 22) No exemplo da autora your book eacute o toacutepico e o que estaacute
depois da viacutergula eacute o comentaacuterio
(2) Your book you should give t to Paul (not to Bill)5
Ela afirma que na fala o toacutepico eacute marcado por uma pausa Diferentemente do toacutepico
o foco eacute ldquodestacado por um acento proeminente e expressa a informaccedilatildeo do discurso natildeo
4 Haacute outras propostas sobre qual o lugar que as categorias funcionais TopP e FocP ocupam na estrutura da
sentenccedila extensatildeo de vP (Belletti 2001 2004a) e extensatildeo de DP (Giusti 2002) 5 ldquoSeu livro vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo para o Bill)rdquo
16
pressuposta pelo ouvinte enquanto a pressuposiccedilatildeo representa o conhecimento compartilhado
pelos interlocutoresrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 23)
(3) YOUR BOOK you should give t to Paul (not mine)6
Com isso Quarezemin (2009 p 46) afirma que ldquoa interpretaccedilatildeo semacircntica da
sentenccedila que apresenta a articulaccedilatildeo foco-pressuposiccedilatildeo natildeo deve ser confundida com a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila que tem a biparticcedilatildeo toacutepico-comentaacuteriordquo A autora menciona a
relaccedilatildeo entre foco-prosoacutedia dizendo que os paracircmetros acuacutesticos da descriccedilatildeo do foco satildeo a
F0 a duraccedilatildeo e a intensidade Na fonologia o foco recebe a proeminecircncia ou outro acento
tonal especiacutefico A autora diz que ldquoo foco ou um membro do sintagma focalizado sempre
recebe o acento principal da sentenccedila enquanto a pressuposiccedilatildeo natildeo pode ser acentuada nos
mesmos niacuteveisrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 52)
Em liacutenguas como o espanhol o italiano e o PE o foco de informaccedilatildeo ocupa uma
posiccedilatildeo no final da sentenccedila em casos que ocorre a inversatildeo do sujeito
(4) Egrave partitoha parlato [F Gianni]7
(Chi egrave partitoha parlato)
No exemplo de Quarezemin (2009 p 69) acima nota-se o foco estreito Gianni no
final da sentenccedila visto que esse item responde agrave pergunta chi egrave partitoparlato Haveria o
foco largo isto eacute toda a resposta de (4) seria foco se essa resposta correspondesse agrave pergunta
(QUAREZEMIN 2009 p 70)
(5) Che cosa egrave successo8
Um tipo especiacutefico de focalizaccedilatildeo sintaacutetica satildeo as construccedilotildees clivadas Resenes
(2009 p 17) explica que a clivagem eacute ldquoum processo sintaacutetico que serve para focalizar
constituintes porque prepara um lugar especiacutefico na sentenccedila para alojar o focordquo Os
elementos que cumprem essa funccedilatildeo satildeo a coacutepula o complementizador que ou um elemento
wh As propriedades semacircnticas e sintaacuteticas das sentenccedilas clivadas e pseudo-clivadas natildeo
6 ldquoO SEU LIVRO vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo o meu)rdquo
7 ldquoPartiufalou o Gianni (Quem partiufalou)rdquo
8 ldquoO que aconteceurdquo
17
seratildeo abordadas profundamente visto que esse natildeo eacute o objetivo principal deste trabalho As
sentenccedilas clivadas apresentam a estrutura [ser + XPi + que [IP eci]] jaacute as pseudo-clivadas [[CP
whi ti] + ser +XPi] (RESENES 2009 p 14) O XP deve ser a parte natildeo-pressuposta da
sentenccedila ou o foco da sentenccedila o sintagma que carrega a informaccedilatildeo nova e que segundo a
abordagem gerativa carrega tambeacutem a proeminecircncia prosoacutedica O foco dessas sentenccedilas eacute do
tipo de identificaccedilatildeo exaustiva isto eacute indicado pela propriedade semacircntica [x e apenas x]
Apresentamos como exemplo em PB uma clivada e uma pseudo-clivada respectivamente
(6) Foi [F a Luana] que comprou um livro
(7) Quem comprou um livro foi [F a Luana]
Em inglecircs as clivadas satildeo conhecidas como it-clefts pois nessa liacutengua eacute obrigatoacuteria a
realizaccedilatildeo do expletivo na posiccedilatildeo inicial da sentenccedila
(8) It was [F John] who died in a car crash9
Haacute vaacuterios tipos de realizaccedilatildeo dessas sentenccedilas por exemplo clivada sem coacutepula
clivada com dupla coacutepula pseudo-clivada reduzida etc
Na liacutengua Ayutla Mixteca em que a ordem canocircnica da sentenccedila eacute VSO a
focalizaccedilatildeo se daacute atraveacutes da mudanccedila de posiccedilatildeo do elemento que se deseja focalizar para
uma posiccedilatildeo preacute-verbal ldquobecause the first element of any list is perceptually salient
preverbal position tends to grant the item filling it some degree of highlighting This position
is therefore often used for constituents that a speaker wishes to focus in some wayrdquo
(HOLLENBACH 1995 p 1)10
Seguem os exemplos de Hills (1990 p 27-28 apud
HOLLENBACH 1995 p 2)
(9) mburu xi‟i‟ tikui
donkey drinks water
bdquoThe donkey is drinking water‟11
(10) tikui xi‟i‟ mburu
9 ldquoFoi [F o Joatildeo] que morreu num acidente de carrordquo
10 ldquoporque o primeiro elemento de qualquer lista eacute perceptualmente saliente a posiccedilatildeo preacute-verbal tende a
conceder ao item carregando-o com algum grau de realce Esta posiccedilatildeo eacute portanto frequentemente usada para
constituintes em que o falante deseja focalizar de algum modordquo 11
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo
18
water drinks donkey
bdquoThe donkey is drinking water‟12
Entretanto Hollenbach (1995 p 2) adverte que a relaccedilatildeo semacircntica do foco com a
posiccedilatildeo preacute-verbal eacute obscura jaacute que um constituinte pode ocorrer na posiccedilatildeo preacute-verbal sem
que o falante deseje focalizaacute-lo Entatildeo a autora investiga as condiccedilotildees para que a focalizaccedilatildeo
do constituinte preacute-verbal ocorra13
Ela identificou vaacuterias condiccedilotildees para a identificaccedilatildeo do
foco na posiccedilatildeo preacute-verbal nas liacutenguas do grupo Mixteca entre elas a pausa (11) e a inserccedilatildeo
de conjunccedilotildees coordenadas (12) depois do elemento focalizado
(11) juaacutea ta‟u da ntuku
John splits he firewood
bdquoAs for John he is splitting firewood‟ (Yosonduacutea FARRIS 1992 p 28 apud
HOLLENBACH 1995 p 3)14
(12) sa‟an mi neacute din tavi di kuidaacutedo di
man that and willdo very you care you (Cuicatec BRADLEY 1991
p 493 apud HOLLENBACH 1995 p 3)
Esses satildeo exemplos que a focalizaccedilatildeo natildeo se daacute exclusivamente pela sintaxe mas que
co-ocorre com ela ou seja eacute necessaacuterio que haja mais elementos linguiacutesticos aleacutem da
posiccedilatildeo preacute-verbal para que a focalizaccedilatildeo ocorra de forma satisfatoacuteria
222 Foco morfoloacutegico
O foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de certos morfemas que dependendo da
liacutengua seratildeo cliacuteticos ou morfemas livres Nesse caso ldquoum bdquoMorfema de Ecircnfase‟ seraacute o
elemento responsaacutevel pela iluminaccedilatildeo do elemento destacado no textordquo (GONCcedilALVES
1999 p 336) Natildeo obstante isso natildeo signifique que o foco natildeo possa ser expresso por outros
meios nas liacutenguas em que predominam o meio morfoloacutegico para que a focalizaccedilatildeo ocorra
Esse tipo de focalizaccedilatildeo eacute mais comum em liacutenguas natildeo-indo-europeias como em liacutenguas
12
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo 13
Hollenbach investigou as condiccedilotildees do foco natildeo soacute na liacutengua Ayutla Mixteca mas em seis variedades do
Mixteca duas do Trique e uma do Cuicatec Essas liacutenguas fazem parte grupo Mixteca que por sua vez faz
parte da famiacutelia das liacutenguas Otomangues faladas sobretudo no sul do Meacutexico As liacutenguas da famiacutelia
Otomangue apresentam a ordem canocircnica VSO 14
ldquoQuanto ao Joatildeo ele estaacute partindo a lenhardquo
19
indiacutegenas brasileiras por exemplo em marubo e em mekens O aacuterabe e o japonecircs tambeacutem
satildeo exemplos de liacutenguas em que ocorre a focalizaccedilatildeo morfoloacutegica Hagesawa (2010 p 1)
explica que no japonecircs ldquoone of the most general properties of focus particles is to relate a
proposition which is newly introduced by the sentence containing a focus particle and
propositions available in the contextrdquo15
Em japonecircs a partiacutecula -shika introduz a noccedilatildeo de exclusividade o que eacute expresso
pela palavra only em inglecircs Essa noccedilatildeo eacute a mesma do foco de identificaccedilatildeo encontrado nas
sentenccedilas clivadas do PB por exemplo Segue o exemplo de Hagesawa (2010 p 4)
(13) Miho-shika ko-na-katta
Miho-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoOnly Miho came‟16
No exemplo (13) a funccedilatildeo do morfema -shika pode ser parafraseada como ldquosomente
Miho veio e mais ningueacutemrdquo Quanto ao padratildeo prosoacutedico das partiacuteculas de foco no japonecircs
Hagesawa (2010 p 33) afirma que
although Japanese focus particles have their own accent patterns
when they occur without a focused constituent or they are stressed as
shown in (14) and (15) they lose their accent pattern and follow the
tone melody of their host when they are suffixed17
18
O autor apresenta os seguintes exemplos
(14) Shikamade-o jisyo-de shirabe-ta
HL HL
SHIKAMADE-ACC dictionary-with lookup-PAST
bdquoI looked up bdquoshika‟‟made‟ in a dictionary‟19
(15) A Yuka-mo ki-ta-no
Yuka-also come-PAST-Q
15
ldquouma das propriedades mais gerais das partiacuteculas de foco eacute relacionar uma proposiccedilatildeo que eacute receacutem-
introduzida pela sentenccedila contendo uma partiacutecula de foco e proposiccedilotildees disponiacuteveis no contextordquo 16
ldquoSomente Miho veiordquo 17
A numeraccedilatildeo dos exemplos natildeo segue a original 18
ldquoconquanto as partiacuteculas de foco do japonecircs tecircm seus padrotildees proacuteprios de accent quando ocorrem sem um
constituinte focalizado ou estatildeo stressed como mostrado em (14) e (15) elas perdem o seu padratildeo de accent e
seguem a melodia tonal do seu hospedeiro quando elas satildeo sufixadasrdquo 19
ldquoEu procurei bdquoshika‟‟made‟ em um dicionaacuteriordquo
20
bdquoDid Yuka also come‟
B Uun Yuka-shika ko-na-katta
HL
no Yuka-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoNo only Yuka came‟20
Na liacutengua Mekens todas as questotildees wh apresentam o cliacutetico foco te como no
exemplo abaixo de Galucio (2002 p 67)
(16) aapo=te o-tek pogabeg-a ke i-koop ikatildeotilde tete
Who=foc 1s-house open-Theme say 3s-aux+mov that time
bdquordquoWho opened my houserdquo She was saying that time‟21
Haacute tambeacutem o uso do recurso sintaacutetico pois o constituinte focalizado sempre aparece
no iniacutecio da sentenccedila A autora menciona que a informaccedilatildeo natildeo-pressuposta das respostas agraves
perguntas wh tambeacutem apareceratildeo na forma de construccedilotildees focalizadas Isso faz com que a
ordem canocircnica ndash SOV ndash dessa liacutengua se altere em sentenccedilas como (17) abaixo por exemplo
extraiacuteda de Galucio (2002 p 68) Notam-se nas duas oraccedilotildees que os sujeitos ocorrem
depois do verbo
(17) serek=te kɨpmatildekatildeỹ kweotildep =te ɨsɨɨ
split=foc floor climb+neg=foc deer
bdquoThe floor split and the deer sank‟22
Alguns autores consideram como morfemas de foco palavras como only also just e
even do inglecircs por exemplo porque elas cumprem a mesma funccedilatildeo semacircntica dos morfemas
de foco em liacutenguas como o japonecircs no exemplo da partiacutecula -shika bdquoonly‟ Na anaacutelise de
Quarezemin (2009 p 112) para as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB ela sugere que nas
construccedilotildees clivadas a coacutepula e o complementizador seriam morfemas de foco Nas palavras
da autora
20
ldquoA Yuka tambeacutem veio Natildeo somente a Yuka veiordquo 21
ldquoQuem abriu minha casa Ela estava dizendo aquela horardquo 22
ldquoO chatildeo se partiu e o veado afundourdquo
21
A hipoacutetese inicial eacute que de um modo geral os falantes do PB
preferem destacar o constituinte focalizado sintaticamente ao inveacutes
de destacaacute-lo apenas com recursos prosoacutedicos Disso surge a hipoacutetese
de que a coacutepula com funccedilatildeo de focalizar e o complementizador das
clivadas podem ser considerados morfemas de foco em PB
Em suma o foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de morfemas que tecircm por objetivo
sinalizar que o constituinte o qual estaacute afixado se encontra focalizado Eles tambeacutem podem
interagir com a sintaxe e a prosoacutedia no caso de aleacutem do morfema de foco estar afixado a um
constituinte que se deseja destacar ele tambeacutem esteja em uma posiccedilatildeo proacutepria para
construccedilotildees focalizadoras ou em casos em que aleacutem da marcaccedilatildeo morfoloacutegica do foco haja
uma proeminecircncia prosoacutedica no constituinte focalizado
223 Foco semacircntico
Em primeiro lugar salientamos que o termo bdquofoco semacircntico‟ pode causar certa
estranheza devido a que diferentemente dos outros tipos neste natildeo haacute uma manifestaccedilatildeo de
forma ldquovisiacutevelrdquo do foco no enunciado isto eacute natildeo haacute uma proeminecircncia prosoacutedica uma
construccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica ou um morfema afixado a um constituinte Antes se trata mais
de uma propriedade do significado da construccedilatildeo focalizadora em um enunciado
As trecircs principais propriedades semacircnticas do foco satildeo as dos enunciados que
apresentam o foco de informaccedilatildeo de identificaccedilatildeo e o contrastivo Geralmente para
determinar a propriedade semacircntica desses tipos de foco recorre-se ao contexto de pergunta-
whresposta ou a outro tipo de contexto induzido O foco de informaccedilatildeo23
introduz uma
informaccedilatildeo novanatildeo-pressuposta e ldquopresume uma pergunta wh como base discursiva para
ser estabelecidordquo (RESENES 2009 p 20) Segue o exemplo de Resenes (2009 p 20)
(18) a O que o Joatildeo bebeu
b O Joatildeo bebeu alguma coisa
c O Joatildeo bebeu [F o vinho]
A pergunta wh estaacute em (18a) Em (18b) encontra-se a pressuposiccedilatildeo expressa pelo
pronome indefinido O foco de informaccedilatildeo se encontra em (18c) e eacute o valor da expressatildeo wh
23
Resenes (2009) utiliza a nomenclatura de ldquofoco natildeo-contrastivordquo para esse tipo de foco
22
da pergunta em (18a) A autora menciona que na Estrutura de Asserccedilatildeo (AS)24
o foco de
(18c) seria representado como
(19) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 O x tal que o Joatildeo bebeu x = [o vinho]
O foco contrastivo corrige uma informaccedilatildeo preacutevia atraveacutes de uma prosoacutedia proacutepria
Resenes (2009 p 20) afirma que ldquoo contexto ideal para o foco contrastivo eacute aquele em que
haacute uma afirmaccedilatildeo preacutevia como base discursivardquo Segue o exemplo da autora (RESENES
2009 p 21)
(20) a O Joatildeo bebeu o vinho
b O Joatildeo bebeu [F a cerveja] (natildeo o vinho)
A AS de (20) seria
(21) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 Natildeo eacute o caso que o x tal que o Joatildeo bebeu x = vinho amp O x tal que o Joatildeo
bebeu o x = a cerveja
O foco de identificaccedilatildeo ldquorepresents a subset of the set of contextually or situationally
given elements for which the predicate phrase can potentially hold it is identified as the
exhaustive subset of this set for which the predicate phrase actually holdsrdquo (KISS 1998 p
245 apud RESENES 2009 p 21)25
Assim o foco de identificaccedilatildeo expressa exaustividade
que pode ser parafraseada como [x e apenas x] Esse tipo de foco eacute ilustrado por uma
sentenccedila clivada em (22) (RESENES 2009 p 21)
(22) Foi [F um perfume] que a Maria deu para o Joatildeo
24
Resenes (2009 p 20) explica que a AS eacute ldquoum niacutevel poacutes-LF (pragmaacutetico) que revela como a informaccedilatildeo estaacute
empacotada na sentenccedila Na AS vai estar explicitada a estrutura da focalizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo o foco e os
tipos de focordquo 25
ldquorepresenta um subconjunto do conjunto de elementos dados contextualmente ou situacionalmente para o qual
a expressatildeo do predicado pode potencialmente conter que eacute identificado como o subconjunto exaustivo deste
conjunto para o qual a expressatildeo de predicado efetivamente conteacutemrdquo
23
Em (22) o foco de identificaccedilatildeo eacute expresso pelo NP um perfume que significa que
dentro de uma seacuterie de possiacuteveis presentes que a Maria poderia ter dado ao Joatildeo ela deu
somente um perfume por isso [x e apenas x]
Contudo o fenocircmeno da focalizaccedilatildeo natildeo se restringe somente agraves respostas das
perguntas wh ou agraves respostas dos contextos induzidos Davis (2009 p 2) assinala que haacute dois
grandes aspectos da constituiccedilatildeo do foco ldquoThe first is its grammar how FOCUS is expressed
in language The second is its meaning It does not require much investigation to discover
that there is no grammatical consistency to FOCUS across languagesrdquo26
O autor nota que em
relaccedilatildeo ao primeiro item natildeo haveria uma forma uacutenica universal para o uso do foco ou seja
uma liacutengua utiliza a sintaxe outra a prosoacutedia outra a morfologia outra a sintaxe e a prosoacutedia
etc ele afirma que ldquoif there is some universal consistency to FOCUS across languages it is
not found in its expressionrdquo27
Quanto ao segundo item as liacutenguas a princiacutepio natildeo
diferenciariam muito em relaccedilatildeo agrave semacircntica do foco Entretanto a propriedade de
destaquerealce sempre estaraacute presente manifestando-se seja por meio da prosoacutedia do
arranjo sintaacutetico ou da marcaccedilatildeo morfoloacutegica Davis (2009 p 2) explica que
If FOCUS will be diferently constituted grammatically its presence
has to be recognized in its semantics One portion of that semantics is
that FOCUS is involved in the answering of wh- questions but not
every utterance is a response to such a question Yet utterances must
the claim says nevertheless contain the semantics (and some
grammar) of FOCUS FOCUS then cannot be only the content
which answers questions There must be more to FOCUS When we
examine languages we discover that FOCUS has an affinity for
certain other semantics and in discovering those affinities we can
amplify our conception of what constitutes FOCUS28
A partir da assunccedilatildeo acima sugere-se que os estudos sobre a focalizaccedilatildeo natildeo
poderiam se restringir agraves anaacutelises de dados de introspecccedilatildeo sobretudo aqueles que explicam o
fenocircmeno somente a partir de dados com contexto pergunta-whresposta A natureza
discursivo-pragmaacutetica da focalizaccedilatildeo faz com que esse fenocircmeno seja melhor compreendido
26
ldquoO primeiro eacute sua gramaacutetica como o FOCO eacute expresso na liacutengua O segundo eacute o seu significado Natildeo se
requer muita investigaccedilatildeo para descobrir que natildeo haacute coerecircncia gramatical do FOCO atraveacutes das liacutenguasrdquo 27
ldquose houver alguma consistecircncia universal para o FOCO entre as liacutenguas natildeo eacute encontrada na sua expressatildeordquo 28
ldquoSe o FOCO seraacute constituiacutedo diferente gramaticalmente a sua presenccedila tem de ser reconhecida em sua
semacircntica Uma parte dessa semacircntica eacute que o FOCO estaacute envolvido nas respostas de perguntas QU mas nem
todo enunciado eacute uma resposta a essas perguntas No entanto os enunciados devem a alegaccedilatildeo diz todavia
conter a semacircntica (e alguma gramaacutetica) do FOCO O FOCO entatildeo natildeo pode ser apenas o conteuacutedo que
responde a perguntas Deve haver mais para o FOCO Quando examinamos as liacutenguas descobrimos que o
FOCO tem uma afinidade com outras semacircnticas e descobrindo essas afinidades podemos ampliar a nossa
concepccedilatildeo do que constitui o FOCOrdquo
24
na liacutengua espontacircnea apesar de natildeo se poder excluir suas propriedades semacircnticas em
diferentes enunciados que podem ser analisados sem o uso de dados de liacutengua espontacircnea
como eacute o caso da investigaccedilatildeo das propriedades semacircnticas do foco em dados de introspecccedilatildeo
e de suas representaccedilotildees formais
224 Foco prosoacutedico
A prosoacutedia eacute um dos traccedilos da camada suprassegmental ou seja que se encontra
acima dos segmentos dispostos linearmente na cadeia sonora da fala Beaver amp Clark (2008
p 2) explicam que os traccedilos suprassegmentais satildeo assim chamados porque ldquothey spread out
across multiple segments (basic sound units) or even across multiple wordsrdquo29
Callou amp
Leite (1990 p31) afirmam que o ldquoconjunto de fenocircmenos dos quais se derivam tipos de
acento padrotildees entoacionais ritmos e velocidades de fala satildeo estudados sob o roacutetulo de
prosoacutediardquo Ao contraacuterio dos segmentos que satildeo descritos pelos movimentos dos articuladores
do aparelho fonador os suprassegmentos satildeo descritos ldquoem termos da accedilatildeo dos muacutesculos
respiratoacuterios que aumentam ou diminuem a energia do fluxo de ar ocasionando duraccedilotildees
frequumlecircncia fundamental e intensidade diferentes das vibraccedilotildees sonorasrdquo (CALLOU amp LEITE
1990 p 30) Paracircmetros acuacutesticos como frequecircncia fundamental intensidade e duraccedilatildeo fiacutesica
satildeo outros traccedilos suprassegmentais que satildeo percebidos respectivamente como pitch
loudness e length que por sua vez ldquoapresentam correlatos fiacutesicos frequumlecircncia amplitude e
tempordquo (LEITE 2009 p 17)30
A frequecircncia eacute medida em Hz (Hertz) a amplitude em dB
(decibeacuteis) e o tempo em ms (milissegundos)
Barbosa (2008) menciona que a prosoacutedia estaacute
associada a fatores linguumliacutesticos como acentuaccedilatildeo entoaccedilatildeo ecircnfase e
ritmo bem como a fatores para- e extra-linguiacutesticos tais como
marcadores discursivos (ldquoneacuterdquo ldquoentendordquo ldquoanhanrdquo) atitudes
emoccedilotildees imbricados a fatores sociais ou bioloacutegicos como gecircnero
faixa etaacuteria classe social entre outros
Segundo Leite (2009 p 18) a prosoacutedia exerceria funccedilotildees ldquogramatical atitudinal
informacional indexal e ilocucionaacuteriardquo Nota-se portanto que eacute muito importante levar em
29
ldquoeles se espalham em vaacuterios segmentos (unidades baacutesicas de som) ou mesmo atraveacutes de muacuteltiplas palavrasrdquo 30
Neste trabalho natildeo se pretende definir minuciosamente todos os conceitos dos correlatos foneacutetico-acuacutesticos
dos sons da fala estudados pela Foneacutetica Acuacutestica Para mais informaccedilotildees cf Ladefoged (1974) Malmberg
(1998) e Johnson (2003)
25
consideraccedilatildeo a prosoacutedia na anaacutelise linguiacutestica visto que ela desempenha funccedilotildees associadas a
fatores intrinsecamente linguiacutesticos bem como a fatores extralinguiacutesticos A prosoacutedia ainda
apresenta um importante papel na aquisiccedilatildeo da linguagem sendo recurso especial para a
crianccedila associar unidades sonoras a significado (cf BRUM DE PAULA 2010)
As investigaccedilotildees do Ciacuterculo Linguiacutestico de Praga sugeriram que os elementos dados
do discurso ou seja aqueles que jaacute haviam sido mencionados seriam prosodicamente menos
relevantes que os elementos novos Disso resulta que a informaccedilatildeo nova ou o foco seja
destacado prosodicamente isto eacute apresente proeminecircncia prosoacutedica A proeminecircncia
prosoacutedica eacute definida como ldquoa quantitative parameter of a syllable or a boundary that describes
markedness relative to surrounding syllables and boundaries respectivelyrdquo (PORTELE amp
HEUFT 1997 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 227)31
Haacute autores que classificam o
foco levando em conta sobretudo o fator proeminecircncia prosoacutedica por exemplo ldquothe term
focus is used [] to describe prosodic prominences serving pragmatic and semantic
functionsrdquo (ROOTH 1995 p 271 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 228)32
O foco prosoacutedico eacute definido por meio de uma proeminecircncia tonal (cf
BUTRAGUENtildeO 2005) Entretanto alguns estudos mostram que o foco natildeo seria marcado
somente com a proeminecircncia tonal ou prosoacutedica Proeminecircncias de outros traccedilos
suprassegmentais como duraccedilatildeo e intensidade tambeacutem marcariam o foco (cf TOLEDO
1989 SOSA 1999 QUAREZEMIN 2009 entre outros) Para Butraguentildeo (2005 p 141) os
focos prosoacutedicos ldquoreciben acentos tonales de contorno especiacutefico que permiten distinguirlos
del fondo (o background)rdquo33
Os paracircmetros de anaacutelise acuacutestica do foco satildeo os movimentos
de F0 o alinhamento entre siacutelabas e F0 duraccedilatildeo das siacutelabas e vogais intensidade da siacutelaba e
em alguns casos pausas e meacutedia entre picos de F0
As abordagens teoacutericas utilizadas nos trabalhos sobre o foco prosoacutedico guiam a
metodologia de anaacutelise dos dados Assim alguns autores que trabalham com uma abordagem
formal utilizando o sistema ToBI (cf SILVERMAN et al 1992) para a anaacutelise dos dados
representam a entoaccedilatildeo dos enunciados marcando as siacutelabas com acentos tonais que se
manifestam em acentos monotonais (H ou L) bitonais (H+L L+H etc) e ainda poderia
haver tons de juntura (H e L) que delimitam as fronteiras dos grupos meloacutedicos Na
Fonologia Entoacional haacute trecircs tipos de tons pitch accents phrase accents e boundary tones
31
ldquoum paracircmetro quantitativo de uma siacutelaba ou de uma fronteira que descreve a marcaccedilatildeo relativa agraves siacutelabas
vizinhas e fronteiras respectivamenterdquo 32
ldquoo termo foco eacute utilizado [] para descrever proeminecircncias prosoacutedicas que servem a funccedilotildees pragmaacuteticas e
semacircnticasrdquo 33
ldquorecebem acentos tonais de contorno especiacutefico que permitem distingui-los do fundo (ou background)rdquo
26
Geralmente o foco eacute marcado por um pitch accent que pode ser definido como ldquoa local
feature of a pitch contour ndash usually but not invariably a pitch change and often involving a
local maximum or minimumrdquo (LADD 1996 p 45-6 apud BEAVER amp CLARK 2008 p
11)34
Segundo Roach (2011 p 67) pitch
is an auditory sensation when we hear a regularly vibrating sound
such as a note played on a musical instrument or a vowel produced
by the human voice we hear a high pitch if the rate of vibration is
high and a low pitch if the rate of vibration is low35
Nooteboom (1997 p 641) atenta para o fato de que ldquoone should be aware however
that rather often the notion bdquopitch‟ is used to refer to f0 or the repetition frequency itself In
speech f0 is determined by the rate of vibration of the vocal cords located in the larynxrdquo36
Ademais Crystal (2008 p 369) adverte que ldquothere is however no direct or parallel
correlation between pitch and frequency other factors than frequency may affect our
sensation of pitch (measured in units known as mels)rdquo37
Pitch countour seria a marcaccedilatildeo dos
uacutenicos pitchs relevantes para a compreensatildeo de um perfil entoacional A teacutecnica da close
copy (cf t‟HART et al 1990) justamente realccedila o pitch countor atraveacutes de uma ldquosiacutentese que
satildeo eliminados movimentos de F0 que natildeo causam diferenccedila de percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao
aacuteudio originalrdquo (ROCHA 2011 p 106) De acordo com Crystal (2008 p 369-370) o termo
pitch accent
is used phonologically in the description of languages in which the
distribution of the tones within a word is totally predictable once one
has specified a particular tonal feature of the word (as in Japanese)
The notion has also been applied to English where some
phonological models analyse intonation CONTOURS as a sequence
of one or more pitch accents each associated with a STRESS-
prominent SYLLABLE in a word38
34
ldquoum traccedilo local de um pitch contour - geralmente mas natildeo invariavelmente variaccedilatildeo de pitch e muitas vezes
envolvendo um local maacuteximo ou miacutenimordquo 35
ldquoeacute uma sensaccedilatildeo auditiva quando ouvimos um som regularmente vibrando como uma nota tocada em um
instrumento musical ou uma vogal produzida pela voz humana noacutes ouvimos um pitch alto se a taxa de vibraccedilatildeo
eacute alta e um pitch baixo se a taxa de vibraccedilatildeo eacute baixardquo 36
ldquodeve-se estar ciente no entanto que muitas vezes a noccedilatildeo de pitch eacute utilizada para se referir a f0 ou a
frequecircncia da repeticcedilatildeo Na fala a f0 eacute determinada pela taxa de vibraccedilatildeo das cordas vocais localizadas na
laringerdquo 37
ldquonatildeo haacute poreacutem nenhuma correlaccedilatildeo direta ou paralelo entre pitch e frequecircncia outros fatores aleacutem
frequecircncia podem afetar a nossa sensaccedilatildeo de pitch (medido em unidades conhecidas como mels)rdquo 38
ldquoeacute usado fonologicamente na descriccedilatildeo das liacutenguas nas quais a distribuiccedilatildeo dos tons dentro de uma palavra eacute
totalmente previsiacutevel uma vez que se tenha especificado uma caracteriacutestica particular de tons da palavra (tal
como no japonecircs) A noccedilatildeo tambeacutem foi aplicada para o inglecircs em que alguns modelos fonoloacutegicos analisam os
CONTORNOS da entoaccedilatildeo como uma sequecircncia de um ou mais pitch accents cada um associado a uma
SIacuteLABA STRESS-proeminente em uma palavrardquo
27
O sistema ToBI reconhece 5 tipos de pitch accents enquanto Pierrehumbert (1980)
menciona 7 tipos Atraveacutes dessa classificaccedilatildeo eacute possiacutevel delimitar o accent prototiacutepico do
foco ou suas possiacuteveis variantes Beaver amp Clark (2008 p 12) mencionam que ldquoalthough
focus is frequently marked by an H accent [] other accents are possible For example in
yes-no questions focus is often by marked by an L+Hrdquo39
A importante pressuposiccedilatildeo teoacuterica de que toda oraccedilatildeo eacute resposta a uma pergunta
guia a metodologia de muitas investigaccedilotildees sobre o foco sobretudo de trabalhos
experimentais de leitura de sentenccedilas denominados testes de produccedilatildeo Com o pressuposto
teoacuterico da explicitaccedilatildeo do foco por meio de pergunta-resposta eacute possiacutevel delimitar o tipo de
foco a ser analisado broad focus (foco largo) narrow focus (foco estreito) ou contrastive
focus (foco contrastivo) (cf seccedilatildeo 121 p 14) Essa metodologia tem por caracteriacutestica
induzir guiar e restringir os padrotildees meloacutedicos da fala ao fornecer exemplos com contextos
preacutevios ou mesmo com o foco jaacute explicitado na sentenccedila para se obter o resultado desejado
Em investigaccedilatildeo sobre a marcaccedilatildeo prosoacutedica dos focos largo estreito e contrastivo em
alematildeo Baumann et al (2006 p 302) mencionam em sua metodologia de teste de leitura
que
reading material consisted of five question-answer pairs with the
answer bdquoManuela will Blumen malen‟ (Manuela wants to paint
flowers) The main criterion the target sentence had to fulfill was its
continuous voicing so as to be able to accurately measure exact peaks
and valleys in the F0 contour40
Dependendo do objetivo do trabalho ou da liacutengua a ser analisada podem-se controlar
outros fatores Por exemplo em trabalho sobre como o tom lexical e o foco contribuem para a
formaccedilatildeo e alinhamento dos F0 contours no chinecircs Xu (1999 p 58) menciona na
metodologia que
the factors manipulated in the experiment were segmental
composition of syllables lexical tones focus and and sentence types
Of these only lexical tones and focus were under direct scrutiny The
control of the other two factors was done by keeping their variation to
39
ldquoembora o foco seja frequentemente marcado por um accent H [] outros accents satildeo possiacuteveis Por
exemplo em perguntas sim-natildeo o foco eacute muitas vezes marcado por um H + Lrdquo 40
ldquoo material de leitura consistiu de cinco pares de pergunta-resposta com a resposta bdquoManuela will Blumen
malen‟ (Manuela quer pintar flores) O principal criteacuterio que a frase alvo tinha a cumprir era seu vozeamento
contiacutenuo de modo a ser capaz de medir com precisatildeo exata picos e vales no contorno da F0rdquo
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
15
(1) ForceP
Force0 TopP
Top0 FocP
Foc0 TopP
Top0 FinP
Fin0 IP
As categorias TopP e FocP4 soacute aparecem na estrutura se houver constituintes com
funccedilotildees de toacutepico e foco na sentenccedila A categoria TopP aparece duas vezes na estrutura
porque eacute considerada recursiva Isso significa que pode haver mais de um toacutepico na sentenccedila
Na estrutura FocP natildeo aparece duas vezes pois a natureza quantificacional do foco natildeo
permite tal repeticcedilatildeo Para Rizzi (1997) e Belletti (2001) ldquoa noccedilatildeo de foco estaacute diretamente
relacionada agrave posiccedilatildeo que este constituinte ocupa na sentenccedila Para eles um constituinte eacute
interpretado como foco somente se ele ocupa a posiccedilatildeo de Spec de FocPrdquo (ASSIS 2003 p
360)
Nessa abordagem o toacutepico ldquoveicula informaccedilatildeo jaacute conhecida pelos participantes do
discursordquo enquanto o comentaacuterio ldquoeacute um tipo de predicado complexo que se aplica ao toacutepicordquo
(QUAREZEMIN 2009 p 22) No exemplo da autora your book eacute o toacutepico e o que estaacute
depois da viacutergula eacute o comentaacuterio
(2) Your book you should give t to Paul (not to Bill)5
Ela afirma que na fala o toacutepico eacute marcado por uma pausa Diferentemente do toacutepico
o foco eacute ldquodestacado por um acento proeminente e expressa a informaccedilatildeo do discurso natildeo
4 Haacute outras propostas sobre qual o lugar que as categorias funcionais TopP e FocP ocupam na estrutura da
sentenccedila extensatildeo de vP (Belletti 2001 2004a) e extensatildeo de DP (Giusti 2002) 5 ldquoSeu livro vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo para o Bill)rdquo
16
pressuposta pelo ouvinte enquanto a pressuposiccedilatildeo representa o conhecimento compartilhado
pelos interlocutoresrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 23)
(3) YOUR BOOK you should give t to Paul (not mine)6
Com isso Quarezemin (2009 p 46) afirma que ldquoa interpretaccedilatildeo semacircntica da
sentenccedila que apresenta a articulaccedilatildeo foco-pressuposiccedilatildeo natildeo deve ser confundida com a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila que tem a biparticcedilatildeo toacutepico-comentaacuteriordquo A autora menciona a
relaccedilatildeo entre foco-prosoacutedia dizendo que os paracircmetros acuacutesticos da descriccedilatildeo do foco satildeo a
F0 a duraccedilatildeo e a intensidade Na fonologia o foco recebe a proeminecircncia ou outro acento
tonal especiacutefico A autora diz que ldquoo foco ou um membro do sintagma focalizado sempre
recebe o acento principal da sentenccedila enquanto a pressuposiccedilatildeo natildeo pode ser acentuada nos
mesmos niacuteveisrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 52)
Em liacutenguas como o espanhol o italiano e o PE o foco de informaccedilatildeo ocupa uma
posiccedilatildeo no final da sentenccedila em casos que ocorre a inversatildeo do sujeito
(4) Egrave partitoha parlato [F Gianni]7
(Chi egrave partitoha parlato)
No exemplo de Quarezemin (2009 p 69) acima nota-se o foco estreito Gianni no
final da sentenccedila visto que esse item responde agrave pergunta chi egrave partitoparlato Haveria o
foco largo isto eacute toda a resposta de (4) seria foco se essa resposta correspondesse agrave pergunta
(QUAREZEMIN 2009 p 70)
(5) Che cosa egrave successo8
Um tipo especiacutefico de focalizaccedilatildeo sintaacutetica satildeo as construccedilotildees clivadas Resenes
(2009 p 17) explica que a clivagem eacute ldquoum processo sintaacutetico que serve para focalizar
constituintes porque prepara um lugar especiacutefico na sentenccedila para alojar o focordquo Os
elementos que cumprem essa funccedilatildeo satildeo a coacutepula o complementizador que ou um elemento
wh As propriedades semacircnticas e sintaacuteticas das sentenccedilas clivadas e pseudo-clivadas natildeo
6 ldquoO SEU LIVRO vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo o meu)rdquo
7 ldquoPartiufalou o Gianni (Quem partiufalou)rdquo
8 ldquoO que aconteceurdquo
17
seratildeo abordadas profundamente visto que esse natildeo eacute o objetivo principal deste trabalho As
sentenccedilas clivadas apresentam a estrutura [ser + XPi + que [IP eci]] jaacute as pseudo-clivadas [[CP
whi ti] + ser +XPi] (RESENES 2009 p 14) O XP deve ser a parte natildeo-pressuposta da
sentenccedila ou o foco da sentenccedila o sintagma que carrega a informaccedilatildeo nova e que segundo a
abordagem gerativa carrega tambeacutem a proeminecircncia prosoacutedica O foco dessas sentenccedilas eacute do
tipo de identificaccedilatildeo exaustiva isto eacute indicado pela propriedade semacircntica [x e apenas x]
Apresentamos como exemplo em PB uma clivada e uma pseudo-clivada respectivamente
(6) Foi [F a Luana] que comprou um livro
(7) Quem comprou um livro foi [F a Luana]
Em inglecircs as clivadas satildeo conhecidas como it-clefts pois nessa liacutengua eacute obrigatoacuteria a
realizaccedilatildeo do expletivo na posiccedilatildeo inicial da sentenccedila
(8) It was [F John] who died in a car crash9
Haacute vaacuterios tipos de realizaccedilatildeo dessas sentenccedilas por exemplo clivada sem coacutepula
clivada com dupla coacutepula pseudo-clivada reduzida etc
Na liacutengua Ayutla Mixteca em que a ordem canocircnica da sentenccedila eacute VSO a
focalizaccedilatildeo se daacute atraveacutes da mudanccedila de posiccedilatildeo do elemento que se deseja focalizar para
uma posiccedilatildeo preacute-verbal ldquobecause the first element of any list is perceptually salient
preverbal position tends to grant the item filling it some degree of highlighting This position
is therefore often used for constituents that a speaker wishes to focus in some wayrdquo
(HOLLENBACH 1995 p 1)10
Seguem os exemplos de Hills (1990 p 27-28 apud
HOLLENBACH 1995 p 2)
(9) mburu xi‟i‟ tikui
donkey drinks water
bdquoThe donkey is drinking water‟11
(10) tikui xi‟i‟ mburu
9 ldquoFoi [F o Joatildeo] que morreu num acidente de carrordquo
10 ldquoporque o primeiro elemento de qualquer lista eacute perceptualmente saliente a posiccedilatildeo preacute-verbal tende a
conceder ao item carregando-o com algum grau de realce Esta posiccedilatildeo eacute portanto frequentemente usada para
constituintes em que o falante deseja focalizar de algum modordquo 11
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo
18
water drinks donkey
bdquoThe donkey is drinking water‟12
Entretanto Hollenbach (1995 p 2) adverte que a relaccedilatildeo semacircntica do foco com a
posiccedilatildeo preacute-verbal eacute obscura jaacute que um constituinte pode ocorrer na posiccedilatildeo preacute-verbal sem
que o falante deseje focalizaacute-lo Entatildeo a autora investiga as condiccedilotildees para que a focalizaccedilatildeo
do constituinte preacute-verbal ocorra13
Ela identificou vaacuterias condiccedilotildees para a identificaccedilatildeo do
foco na posiccedilatildeo preacute-verbal nas liacutenguas do grupo Mixteca entre elas a pausa (11) e a inserccedilatildeo
de conjunccedilotildees coordenadas (12) depois do elemento focalizado
(11) juaacutea ta‟u da ntuku
John splits he firewood
bdquoAs for John he is splitting firewood‟ (Yosonduacutea FARRIS 1992 p 28 apud
HOLLENBACH 1995 p 3)14
(12) sa‟an mi neacute din tavi di kuidaacutedo di
man that and willdo very you care you (Cuicatec BRADLEY 1991
p 493 apud HOLLENBACH 1995 p 3)
Esses satildeo exemplos que a focalizaccedilatildeo natildeo se daacute exclusivamente pela sintaxe mas que
co-ocorre com ela ou seja eacute necessaacuterio que haja mais elementos linguiacutesticos aleacutem da
posiccedilatildeo preacute-verbal para que a focalizaccedilatildeo ocorra de forma satisfatoacuteria
222 Foco morfoloacutegico
O foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de certos morfemas que dependendo da
liacutengua seratildeo cliacuteticos ou morfemas livres Nesse caso ldquoum bdquoMorfema de Ecircnfase‟ seraacute o
elemento responsaacutevel pela iluminaccedilatildeo do elemento destacado no textordquo (GONCcedilALVES
1999 p 336) Natildeo obstante isso natildeo signifique que o foco natildeo possa ser expresso por outros
meios nas liacutenguas em que predominam o meio morfoloacutegico para que a focalizaccedilatildeo ocorra
Esse tipo de focalizaccedilatildeo eacute mais comum em liacutenguas natildeo-indo-europeias como em liacutenguas
12
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo 13
Hollenbach investigou as condiccedilotildees do foco natildeo soacute na liacutengua Ayutla Mixteca mas em seis variedades do
Mixteca duas do Trique e uma do Cuicatec Essas liacutenguas fazem parte grupo Mixteca que por sua vez faz
parte da famiacutelia das liacutenguas Otomangues faladas sobretudo no sul do Meacutexico As liacutenguas da famiacutelia
Otomangue apresentam a ordem canocircnica VSO 14
ldquoQuanto ao Joatildeo ele estaacute partindo a lenhardquo
19
indiacutegenas brasileiras por exemplo em marubo e em mekens O aacuterabe e o japonecircs tambeacutem
satildeo exemplos de liacutenguas em que ocorre a focalizaccedilatildeo morfoloacutegica Hagesawa (2010 p 1)
explica que no japonecircs ldquoone of the most general properties of focus particles is to relate a
proposition which is newly introduced by the sentence containing a focus particle and
propositions available in the contextrdquo15
Em japonecircs a partiacutecula -shika introduz a noccedilatildeo de exclusividade o que eacute expresso
pela palavra only em inglecircs Essa noccedilatildeo eacute a mesma do foco de identificaccedilatildeo encontrado nas
sentenccedilas clivadas do PB por exemplo Segue o exemplo de Hagesawa (2010 p 4)
(13) Miho-shika ko-na-katta
Miho-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoOnly Miho came‟16
No exemplo (13) a funccedilatildeo do morfema -shika pode ser parafraseada como ldquosomente
Miho veio e mais ningueacutemrdquo Quanto ao padratildeo prosoacutedico das partiacuteculas de foco no japonecircs
Hagesawa (2010 p 33) afirma que
although Japanese focus particles have their own accent patterns
when they occur without a focused constituent or they are stressed as
shown in (14) and (15) they lose their accent pattern and follow the
tone melody of their host when they are suffixed17
18
O autor apresenta os seguintes exemplos
(14) Shikamade-o jisyo-de shirabe-ta
HL HL
SHIKAMADE-ACC dictionary-with lookup-PAST
bdquoI looked up bdquoshika‟‟made‟ in a dictionary‟19
(15) A Yuka-mo ki-ta-no
Yuka-also come-PAST-Q
15
ldquouma das propriedades mais gerais das partiacuteculas de foco eacute relacionar uma proposiccedilatildeo que eacute receacutem-
introduzida pela sentenccedila contendo uma partiacutecula de foco e proposiccedilotildees disponiacuteveis no contextordquo 16
ldquoSomente Miho veiordquo 17
A numeraccedilatildeo dos exemplos natildeo segue a original 18
ldquoconquanto as partiacuteculas de foco do japonecircs tecircm seus padrotildees proacuteprios de accent quando ocorrem sem um
constituinte focalizado ou estatildeo stressed como mostrado em (14) e (15) elas perdem o seu padratildeo de accent e
seguem a melodia tonal do seu hospedeiro quando elas satildeo sufixadasrdquo 19
ldquoEu procurei bdquoshika‟‟made‟ em um dicionaacuteriordquo
20
bdquoDid Yuka also come‟
B Uun Yuka-shika ko-na-katta
HL
no Yuka-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoNo only Yuka came‟20
Na liacutengua Mekens todas as questotildees wh apresentam o cliacutetico foco te como no
exemplo abaixo de Galucio (2002 p 67)
(16) aapo=te o-tek pogabeg-a ke i-koop ikatildeotilde tete
Who=foc 1s-house open-Theme say 3s-aux+mov that time
bdquordquoWho opened my houserdquo She was saying that time‟21
Haacute tambeacutem o uso do recurso sintaacutetico pois o constituinte focalizado sempre aparece
no iniacutecio da sentenccedila A autora menciona que a informaccedilatildeo natildeo-pressuposta das respostas agraves
perguntas wh tambeacutem apareceratildeo na forma de construccedilotildees focalizadas Isso faz com que a
ordem canocircnica ndash SOV ndash dessa liacutengua se altere em sentenccedilas como (17) abaixo por exemplo
extraiacuteda de Galucio (2002 p 68) Notam-se nas duas oraccedilotildees que os sujeitos ocorrem
depois do verbo
(17) serek=te kɨpmatildekatildeỹ kweotildep =te ɨsɨɨ
split=foc floor climb+neg=foc deer
bdquoThe floor split and the deer sank‟22
Alguns autores consideram como morfemas de foco palavras como only also just e
even do inglecircs por exemplo porque elas cumprem a mesma funccedilatildeo semacircntica dos morfemas
de foco em liacutenguas como o japonecircs no exemplo da partiacutecula -shika bdquoonly‟ Na anaacutelise de
Quarezemin (2009 p 112) para as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB ela sugere que nas
construccedilotildees clivadas a coacutepula e o complementizador seriam morfemas de foco Nas palavras
da autora
20
ldquoA Yuka tambeacutem veio Natildeo somente a Yuka veiordquo 21
ldquoQuem abriu minha casa Ela estava dizendo aquela horardquo 22
ldquoO chatildeo se partiu e o veado afundourdquo
21
A hipoacutetese inicial eacute que de um modo geral os falantes do PB
preferem destacar o constituinte focalizado sintaticamente ao inveacutes
de destacaacute-lo apenas com recursos prosoacutedicos Disso surge a hipoacutetese
de que a coacutepula com funccedilatildeo de focalizar e o complementizador das
clivadas podem ser considerados morfemas de foco em PB
Em suma o foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de morfemas que tecircm por objetivo
sinalizar que o constituinte o qual estaacute afixado se encontra focalizado Eles tambeacutem podem
interagir com a sintaxe e a prosoacutedia no caso de aleacutem do morfema de foco estar afixado a um
constituinte que se deseja destacar ele tambeacutem esteja em uma posiccedilatildeo proacutepria para
construccedilotildees focalizadoras ou em casos em que aleacutem da marcaccedilatildeo morfoloacutegica do foco haja
uma proeminecircncia prosoacutedica no constituinte focalizado
223 Foco semacircntico
Em primeiro lugar salientamos que o termo bdquofoco semacircntico‟ pode causar certa
estranheza devido a que diferentemente dos outros tipos neste natildeo haacute uma manifestaccedilatildeo de
forma ldquovisiacutevelrdquo do foco no enunciado isto eacute natildeo haacute uma proeminecircncia prosoacutedica uma
construccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica ou um morfema afixado a um constituinte Antes se trata mais
de uma propriedade do significado da construccedilatildeo focalizadora em um enunciado
As trecircs principais propriedades semacircnticas do foco satildeo as dos enunciados que
apresentam o foco de informaccedilatildeo de identificaccedilatildeo e o contrastivo Geralmente para
determinar a propriedade semacircntica desses tipos de foco recorre-se ao contexto de pergunta-
whresposta ou a outro tipo de contexto induzido O foco de informaccedilatildeo23
introduz uma
informaccedilatildeo novanatildeo-pressuposta e ldquopresume uma pergunta wh como base discursiva para
ser estabelecidordquo (RESENES 2009 p 20) Segue o exemplo de Resenes (2009 p 20)
(18) a O que o Joatildeo bebeu
b O Joatildeo bebeu alguma coisa
c O Joatildeo bebeu [F o vinho]
A pergunta wh estaacute em (18a) Em (18b) encontra-se a pressuposiccedilatildeo expressa pelo
pronome indefinido O foco de informaccedilatildeo se encontra em (18c) e eacute o valor da expressatildeo wh
23
Resenes (2009) utiliza a nomenclatura de ldquofoco natildeo-contrastivordquo para esse tipo de foco
22
da pergunta em (18a) A autora menciona que na Estrutura de Asserccedilatildeo (AS)24
o foco de
(18c) seria representado como
(19) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 O x tal que o Joatildeo bebeu x = [o vinho]
O foco contrastivo corrige uma informaccedilatildeo preacutevia atraveacutes de uma prosoacutedia proacutepria
Resenes (2009 p 20) afirma que ldquoo contexto ideal para o foco contrastivo eacute aquele em que
haacute uma afirmaccedilatildeo preacutevia como base discursivardquo Segue o exemplo da autora (RESENES
2009 p 21)
(20) a O Joatildeo bebeu o vinho
b O Joatildeo bebeu [F a cerveja] (natildeo o vinho)
A AS de (20) seria
(21) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 Natildeo eacute o caso que o x tal que o Joatildeo bebeu x = vinho amp O x tal que o Joatildeo
bebeu o x = a cerveja
O foco de identificaccedilatildeo ldquorepresents a subset of the set of contextually or situationally
given elements for which the predicate phrase can potentially hold it is identified as the
exhaustive subset of this set for which the predicate phrase actually holdsrdquo (KISS 1998 p
245 apud RESENES 2009 p 21)25
Assim o foco de identificaccedilatildeo expressa exaustividade
que pode ser parafraseada como [x e apenas x] Esse tipo de foco eacute ilustrado por uma
sentenccedila clivada em (22) (RESENES 2009 p 21)
(22) Foi [F um perfume] que a Maria deu para o Joatildeo
24
Resenes (2009 p 20) explica que a AS eacute ldquoum niacutevel poacutes-LF (pragmaacutetico) que revela como a informaccedilatildeo estaacute
empacotada na sentenccedila Na AS vai estar explicitada a estrutura da focalizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo o foco e os
tipos de focordquo 25
ldquorepresenta um subconjunto do conjunto de elementos dados contextualmente ou situacionalmente para o qual
a expressatildeo do predicado pode potencialmente conter que eacute identificado como o subconjunto exaustivo deste
conjunto para o qual a expressatildeo de predicado efetivamente conteacutemrdquo
23
Em (22) o foco de identificaccedilatildeo eacute expresso pelo NP um perfume que significa que
dentro de uma seacuterie de possiacuteveis presentes que a Maria poderia ter dado ao Joatildeo ela deu
somente um perfume por isso [x e apenas x]
Contudo o fenocircmeno da focalizaccedilatildeo natildeo se restringe somente agraves respostas das
perguntas wh ou agraves respostas dos contextos induzidos Davis (2009 p 2) assinala que haacute dois
grandes aspectos da constituiccedilatildeo do foco ldquoThe first is its grammar how FOCUS is expressed
in language The second is its meaning It does not require much investigation to discover
that there is no grammatical consistency to FOCUS across languagesrdquo26
O autor nota que em
relaccedilatildeo ao primeiro item natildeo haveria uma forma uacutenica universal para o uso do foco ou seja
uma liacutengua utiliza a sintaxe outra a prosoacutedia outra a morfologia outra a sintaxe e a prosoacutedia
etc ele afirma que ldquoif there is some universal consistency to FOCUS across languages it is
not found in its expressionrdquo27
Quanto ao segundo item as liacutenguas a princiacutepio natildeo
diferenciariam muito em relaccedilatildeo agrave semacircntica do foco Entretanto a propriedade de
destaquerealce sempre estaraacute presente manifestando-se seja por meio da prosoacutedia do
arranjo sintaacutetico ou da marcaccedilatildeo morfoloacutegica Davis (2009 p 2) explica que
If FOCUS will be diferently constituted grammatically its presence
has to be recognized in its semantics One portion of that semantics is
that FOCUS is involved in the answering of wh- questions but not
every utterance is a response to such a question Yet utterances must
the claim says nevertheless contain the semantics (and some
grammar) of FOCUS FOCUS then cannot be only the content
which answers questions There must be more to FOCUS When we
examine languages we discover that FOCUS has an affinity for
certain other semantics and in discovering those affinities we can
amplify our conception of what constitutes FOCUS28
A partir da assunccedilatildeo acima sugere-se que os estudos sobre a focalizaccedilatildeo natildeo
poderiam se restringir agraves anaacutelises de dados de introspecccedilatildeo sobretudo aqueles que explicam o
fenocircmeno somente a partir de dados com contexto pergunta-whresposta A natureza
discursivo-pragmaacutetica da focalizaccedilatildeo faz com que esse fenocircmeno seja melhor compreendido
26
ldquoO primeiro eacute sua gramaacutetica como o FOCO eacute expresso na liacutengua O segundo eacute o seu significado Natildeo se
requer muita investigaccedilatildeo para descobrir que natildeo haacute coerecircncia gramatical do FOCO atraveacutes das liacutenguasrdquo 27
ldquose houver alguma consistecircncia universal para o FOCO entre as liacutenguas natildeo eacute encontrada na sua expressatildeordquo 28
ldquoSe o FOCO seraacute constituiacutedo diferente gramaticalmente a sua presenccedila tem de ser reconhecida em sua
semacircntica Uma parte dessa semacircntica eacute que o FOCO estaacute envolvido nas respostas de perguntas QU mas nem
todo enunciado eacute uma resposta a essas perguntas No entanto os enunciados devem a alegaccedilatildeo diz todavia
conter a semacircntica (e alguma gramaacutetica) do FOCO O FOCO entatildeo natildeo pode ser apenas o conteuacutedo que
responde a perguntas Deve haver mais para o FOCO Quando examinamos as liacutenguas descobrimos que o
FOCO tem uma afinidade com outras semacircnticas e descobrindo essas afinidades podemos ampliar a nossa
concepccedilatildeo do que constitui o FOCOrdquo
24
na liacutengua espontacircnea apesar de natildeo se poder excluir suas propriedades semacircnticas em
diferentes enunciados que podem ser analisados sem o uso de dados de liacutengua espontacircnea
como eacute o caso da investigaccedilatildeo das propriedades semacircnticas do foco em dados de introspecccedilatildeo
e de suas representaccedilotildees formais
224 Foco prosoacutedico
A prosoacutedia eacute um dos traccedilos da camada suprassegmental ou seja que se encontra
acima dos segmentos dispostos linearmente na cadeia sonora da fala Beaver amp Clark (2008
p 2) explicam que os traccedilos suprassegmentais satildeo assim chamados porque ldquothey spread out
across multiple segments (basic sound units) or even across multiple wordsrdquo29
Callou amp
Leite (1990 p31) afirmam que o ldquoconjunto de fenocircmenos dos quais se derivam tipos de
acento padrotildees entoacionais ritmos e velocidades de fala satildeo estudados sob o roacutetulo de
prosoacutediardquo Ao contraacuterio dos segmentos que satildeo descritos pelos movimentos dos articuladores
do aparelho fonador os suprassegmentos satildeo descritos ldquoem termos da accedilatildeo dos muacutesculos
respiratoacuterios que aumentam ou diminuem a energia do fluxo de ar ocasionando duraccedilotildees
frequumlecircncia fundamental e intensidade diferentes das vibraccedilotildees sonorasrdquo (CALLOU amp LEITE
1990 p 30) Paracircmetros acuacutesticos como frequecircncia fundamental intensidade e duraccedilatildeo fiacutesica
satildeo outros traccedilos suprassegmentais que satildeo percebidos respectivamente como pitch
loudness e length que por sua vez ldquoapresentam correlatos fiacutesicos frequumlecircncia amplitude e
tempordquo (LEITE 2009 p 17)30
A frequecircncia eacute medida em Hz (Hertz) a amplitude em dB
(decibeacuteis) e o tempo em ms (milissegundos)
Barbosa (2008) menciona que a prosoacutedia estaacute
associada a fatores linguumliacutesticos como acentuaccedilatildeo entoaccedilatildeo ecircnfase e
ritmo bem como a fatores para- e extra-linguiacutesticos tais como
marcadores discursivos (ldquoneacuterdquo ldquoentendordquo ldquoanhanrdquo) atitudes
emoccedilotildees imbricados a fatores sociais ou bioloacutegicos como gecircnero
faixa etaacuteria classe social entre outros
Segundo Leite (2009 p 18) a prosoacutedia exerceria funccedilotildees ldquogramatical atitudinal
informacional indexal e ilocucionaacuteriardquo Nota-se portanto que eacute muito importante levar em
29
ldquoeles se espalham em vaacuterios segmentos (unidades baacutesicas de som) ou mesmo atraveacutes de muacuteltiplas palavrasrdquo 30
Neste trabalho natildeo se pretende definir minuciosamente todos os conceitos dos correlatos foneacutetico-acuacutesticos
dos sons da fala estudados pela Foneacutetica Acuacutestica Para mais informaccedilotildees cf Ladefoged (1974) Malmberg
(1998) e Johnson (2003)
25
consideraccedilatildeo a prosoacutedia na anaacutelise linguiacutestica visto que ela desempenha funccedilotildees associadas a
fatores intrinsecamente linguiacutesticos bem como a fatores extralinguiacutesticos A prosoacutedia ainda
apresenta um importante papel na aquisiccedilatildeo da linguagem sendo recurso especial para a
crianccedila associar unidades sonoras a significado (cf BRUM DE PAULA 2010)
As investigaccedilotildees do Ciacuterculo Linguiacutestico de Praga sugeriram que os elementos dados
do discurso ou seja aqueles que jaacute haviam sido mencionados seriam prosodicamente menos
relevantes que os elementos novos Disso resulta que a informaccedilatildeo nova ou o foco seja
destacado prosodicamente isto eacute apresente proeminecircncia prosoacutedica A proeminecircncia
prosoacutedica eacute definida como ldquoa quantitative parameter of a syllable or a boundary that describes
markedness relative to surrounding syllables and boundaries respectivelyrdquo (PORTELE amp
HEUFT 1997 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 227)31
Haacute autores que classificam o
foco levando em conta sobretudo o fator proeminecircncia prosoacutedica por exemplo ldquothe term
focus is used [] to describe prosodic prominences serving pragmatic and semantic
functionsrdquo (ROOTH 1995 p 271 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 228)32
O foco prosoacutedico eacute definido por meio de uma proeminecircncia tonal (cf
BUTRAGUENtildeO 2005) Entretanto alguns estudos mostram que o foco natildeo seria marcado
somente com a proeminecircncia tonal ou prosoacutedica Proeminecircncias de outros traccedilos
suprassegmentais como duraccedilatildeo e intensidade tambeacutem marcariam o foco (cf TOLEDO
1989 SOSA 1999 QUAREZEMIN 2009 entre outros) Para Butraguentildeo (2005 p 141) os
focos prosoacutedicos ldquoreciben acentos tonales de contorno especiacutefico que permiten distinguirlos
del fondo (o background)rdquo33
Os paracircmetros de anaacutelise acuacutestica do foco satildeo os movimentos
de F0 o alinhamento entre siacutelabas e F0 duraccedilatildeo das siacutelabas e vogais intensidade da siacutelaba e
em alguns casos pausas e meacutedia entre picos de F0
As abordagens teoacutericas utilizadas nos trabalhos sobre o foco prosoacutedico guiam a
metodologia de anaacutelise dos dados Assim alguns autores que trabalham com uma abordagem
formal utilizando o sistema ToBI (cf SILVERMAN et al 1992) para a anaacutelise dos dados
representam a entoaccedilatildeo dos enunciados marcando as siacutelabas com acentos tonais que se
manifestam em acentos monotonais (H ou L) bitonais (H+L L+H etc) e ainda poderia
haver tons de juntura (H e L) que delimitam as fronteiras dos grupos meloacutedicos Na
Fonologia Entoacional haacute trecircs tipos de tons pitch accents phrase accents e boundary tones
31
ldquoum paracircmetro quantitativo de uma siacutelaba ou de uma fronteira que descreve a marcaccedilatildeo relativa agraves siacutelabas
vizinhas e fronteiras respectivamenterdquo 32
ldquoo termo foco eacute utilizado [] para descrever proeminecircncias prosoacutedicas que servem a funccedilotildees pragmaacuteticas e
semacircnticasrdquo 33
ldquorecebem acentos tonais de contorno especiacutefico que permitem distingui-los do fundo (ou background)rdquo
26
Geralmente o foco eacute marcado por um pitch accent que pode ser definido como ldquoa local
feature of a pitch contour ndash usually but not invariably a pitch change and often involving a
local maximum or minimumrdquo (LADD 1996 p 45-6 apud BEAVER amp CLARK 2008 p
11)34
Segundo Roach (2011 p 67) pitch
is an auditory sensation when we hear a regularly vibrating sound
such as a note played on a musical instrument or a vowel produced
by the human voice we hear a high pitch if the rate of vibration is
high and a low pitch if the rate of vibration is low35
Nooteboom (1997 p 641) atenta para o fato de que ldquoone should be aware however
that rather often the notion bdquopitch‟ is used to refer to f0 or the repetition frequency itself In
speech f0 is determined by the rate of vibration of the vocal cords located in the larynxrdquo36
Ademais Crystal (2008 p 369) adverte que ldquothere is however no direct or parallel
correlation between pitch and frequency other factors than frequency may affect our
sensation of pitch (measured in units known as mels)rdquo37
Pitch countour seria a marcaccedilatildeo dos
uacutenicos pitchs relevantes para a compreensatildeo de um perfil entoacional A teacutecnica da close
copy (cf t‟HART et al 1990) justamente realccedila o pitch countor atraveacutes de uma ldquosiacutentese que
satildeo eliminados movimentos de F0 que natildeo causam diferenccedila de percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao
aacuteudio originalrdquo (ROCHA 2011 p 106) De acordo com Crystal (2008 p 369-370) o termo
pitch accent
is used phonologically in the description of languages in which the
distribution of the tones within a word is totally predictable once one
has specified a particular tonal feature of the word (as in Japanese)
The notion has also been applied to English where some
phonological models analyse intonation CONTOURS as a sequence
of one or more pitch accents each associated with a STRESS-
prominent SYLLABLE in a word38
34
ldquoum traccedilo local de um pitch contour - geralmente mas natildeo invariavelmente variaccedilatildeo de pitch e muitas vezes
envolvendo um local maacuteximo ou miacutenimordquo 35
ldquoeacute uma sensaccedilatildeo auditiva quando ouvimos um som regularmente vibrando como uma nota tocada em um
instrumento musical ou uma vogal produzida pela voz humana noacutes ouvimos um pitch alto se a taxa de vibraccedilatildeo
eacute alta e um pitch baixo se a taxa de vibraccedilatildeo eacute baixardquo 36
ldquodeve-se estar ciente no entanto que muitas vezes a noccedilatildeo de pitch eacute utilizada para se referir a f0 ou a
frequecircncia da repeticcedilatildeo Na fala a f0 eacute determinada pela taxa de vibraccedilatildeo das cordas vocais localizadas na
laringerdquo 37
ldquonatildeo haacute poreacutem nenhuma correlaccedilatildeo direta ou paralelo entre pitch e frequecircncia outros fatores aleacutem
frequecircncia podem afetar a nossa sensaccedilatildeo de pitch (medido em unidades conhecidas como mels)rdquo 38
ldquoeacute usado fonologicamente na descriccedilatildeo das liacutenguas nas quais a distribuiccedilatildeo dos tons dentro de uma palavra eacute
totalmente previsiacutevel uma vez que se tenha especificado uma caracteriacutestica particular de tons da palavra (tal
como no japonecircs) A noccedilatildeo tambeacutem foi aplicada para o inglecircs em que alguns modelos fonoloacutegicos analisam os
CONTORNOS da entoaccedilatildeo como uma sequecircncia de um ou mais pitch accents cada um associado a uma
SIacuteLABA STRESS-proeminente em uma palavrardquo
27
O sistema ToBI reconhece 5 tipos de pitch accents enquanto Pierrehumbert (1980)
menciona 7 tipos Atraveacutes dessa classificaccedilatildeo eacute possiacutevel delimitar o accent prototiacutepico do
foco ou suas possiacuteveis variantes Beaver amp Clark (2008 p 12) mencionam que ldquoalthough
focus is frequently marked by an H accent [] other accents are possible For example in
yes-no questions focus is often by marked by an L+Hrdquo39
A importante pressuposiccedilatildeo teoacuterica de que toda oraccedilatildeo eacute resposta a uma pergunta
guia a metodologia de muitas investigaccedilotildees sobre o foco sobretudo de trabalhos
experimentais de leitura de sentenccedilas denominados testes de produccedilatildeo Com o pressuposto
teoacuterico da explicitaccedilatildeo do foco por meio de pergunta-resposta eacute possiacutevel delimitar o tipo de
foco a ser analisado broad focus (foco largo) narrow focus (foco estreito) ou contrastive
focus (foco contrastivo) (cf seccedilatildeo 121 p 14) Essa metodologia tem por caracteriacutestica
induzir guiar e restringir os padrotildees meloacutedicos da fala ao fornecer exemplos com contextos
preacutevios ou mesmo com o foco jaacute explicitado na sentenccedila para se obter o resultado desejado
Em investigaccedilatildeo sobre a marcaccedilatildeo prosoacutedica dos focos largo estreito e contrastivo em
alematildeo Baumann et al (2006 p 302) mencionam em sua metodologia de teste de leitura
que
reading material consisted of five question-answer pairs with the
answer bdquoManuela will Blumen malen‟ (Manuela wants to paint
flowers) The main criterion the target sentence had to fulfill was its
continuous voicing so as to be able to accurately measure exact peaks
and valleys in the F0 contour40
Dependendo do objetivo do trabalho ou da liacutengua a ser analisada podem-se controlar
outros fatores Por exemplo em trabalho sobre como o tom lexical e o foco contribuem para a
formaccedilatildeo e alinhamento dos F0 contours no chinecircs Xu (1999 p 58) menciona na
metodologia que
the factors manipulated in the experiment were segmental
composition of syllables lexical tones focus and and sentence types
Of these only lexical tones and focus were under direct scrutiny The
control of the other two factors was done by keeping their variation to
39
ldquoembora o foco seja frequentemente marcado por um accent H [] outros accents satildeo possiacuteveis Por
exemplo em perguntas sim-natildeo o foco eacute muitas vezes marcado por um H + Lrdquo 40
ldquoo material de leitura consistiu de cinco pares de pergunta-resposta com a resposta bdquoManuela will Blumen
malen‟ (Manuela quer pintar flores) O principal criteacuterio que a frase alvo tinha a cumprir era seu vozeamento
contiacutenuo de modo a ser capaz de medir com precisatildeo exata picos e vales no contorno da F0rdquo
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
16
pressuposta pelo ouvinte enquanto a pressuposiccedilatildeo representa o conhecimento compartilhado
pelos interlocutoresrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 23)
(3) YOUR BOOK you should give t to Paul (not mine)6
Com isso Quarezemin (2009 p 46) afirma que ldquoa interpretaccedilatildeo semacircntica da
sentenccedila que apresenta a articulaccedilatildeo foco-pressuposiccedilatildeo natildeo deve ser confundida com a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila que tem a biparticcedilatildeo toacutepico-comentaacuteriordquo A autora menciona a
relaccedilatildeo entre foco-prosoacutedia dizendo que os paracircmetros acuacutesticos da descriccedilatildeo do foco satildeo a
F0 a duraccedilatildeo e a intensidade Na fonologia o foco recebe a proeminecircncia ou outro acento
tonal especiacutefico A autora diz que ldquoo foco ou um membro do sintagma focalizado sempre
recebe o acento principal da sentenccedila enquanto a pressuposiccedilatildeo natildeo pode ser acentuada nos
mesmos niacuteveisrdquo (QUAREZEMIN 2009 p 52)
Em liacutenguas como o espanhol o italiano e o PE o foco de informaccedilatildeo ocupa uma
posiccedilatildeo no final da sentenccedila em casos que ocorre a inversatildeo do sujeito
(4) Egrave partitoha parlato [F Gianni]7
(Chi egrave partitoha parlato)
No exemplo de Quarezemin (2009 p 69) acima nota-se o foco estreito Gianni no
final da sentenccedila visto que esse item responde agrave pergunta chi egrave partitoparlato Haveria o
foco largo isto eacute toda a resposta de (4) seria foco se essa resposta correspondesse agrave pergunta
(QUAREZEMIN 2009 p 70)
(5) Che cosa egrave successo8
Um tipo especiacutefico de focalizaccedilatildeo sintaacutetica satildeo as construccedilotildees clivadas Resenes
(2009 p 17) explica que a clivagem eacute ldquoum processo sintaacutetico que serve para focalizar
constituintes porque prepara um lugar especiacutefico na sentenccedila para alojar o focordquo Os
elementos que cumprem essa funccedilatildeo satildeo a coacutepula o complementizador que ou um elemento
wh As propriedades semacircnticas e sintaacuteticas das sentenccedilas clivadas e pseudo-clivadas natildeo
6 ldquoO SEU LIVRO vocecirc deve dar t para o Paul (natildeo o meu)rdquo
7 ldquoPartiufalou o Gianni (Quem partiufalou)rdquo
8 ldquoO que aconteceurdquo
17
seratildeo abordadas profundamente visto que esse natildeo eacute o objetivo principal deste trabalho As
sentenccedilas clivadas apresentam a estrutura [ser + XPi + que [IP eci]] jaacute as pseudo-clivadas [[CP
whi ti] + ser +XPi] (RESENES 2009 p 14) O XP deve ser a parte natildeo-pressuposta da
sentenccedila ou o foco da sentenccedila o sintagma que carrega a informaccedilatildeo nova e que segundo a
abordagem gerativa carrega tambeacutem a proeminecircncia prosoacutedica O foco dessas sentenccedilas eacute do
tipo de identificaccedilatildeo exaustiva isto eacute indicado pela propriedade semacircntica [x e apenas x]
Apresentamos como exemplo em PB uma clivada e uma pseudo-clivada respectivamente
(6) Foi [F a Luana] que comprou um livro
(7) Quem comprou um livro foi [F a Luana]
Em inglecircs as clivadas satildeo conhecidas como it-clefts pois nessa liacutengua eacute obrigatoacuteria a
realizaccedilatildeo do expletivo na posiccedilatildeo inicial da sentenccedila
(8) It was [F John] who died in a car crash9
Haacute vaacuterios tipos de realizaccedilatildeo dessas sentenccedilas por exemplo clivada sem coacutepula
clivada com dupla coacutepula pseudo-clivada reduzida etc
Na liacutengua Ayutla Mixteca em que a ordem canocircnica da sentenccedila eacute VSO a
focalizaccedilatildeo se daacute atraveacutes da mudanccedila de posiccedilatildeo do elemento que se deseja focalizar para
uma posiccedilatildeo preacute-verbal ldquobecause the first element of any list is perceptually salient
preverbal position tends to grant the item filling it some degree of highlighting This position
is therefore often used for constituents that a speaker wishes to focus in some wayrdquo
(HOLLENBACH 1995 p 1)10
Seguem os exemplos de Hills (1990 p 27-28 apud
HOLLENBACH 1995 p 2)
(9) mburu xi‟i‟ tikui
donkey drinks water
bdquoThe donkey is drinking water‟11
(10) tikui xi‟i‟ mburu
9 ldquoFoi [F o Joatildeo] que morreu num acidente de carrordquo
10 ldquoporque o primeiro elemento de qualquer lista eacute perceptualmente saliente a posiccedilatildeo preacute-verbal tende a
conceder ao item carregando-o com algum grau de realce Esta posiccedilatildeo eacute portanto frequentemente usada para
constituintes em que o falante deseja focalizar de algum modordquo 11
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo
18
water drinks donkey
bdquoThe donkey is drinking water‟12
Entretanto Hollenbach (1995 p 2) adverte que a relaccedilatildeo semacircntica do foco com a
posiccedilatildeo preacute-verbal eacute obscura jaacute que um constituinte pode ocorrer na posiccedilatildeo preacute-verbal sem
que o falante deseje focalizaacute-lo Entatildeo a autora investiga as condiccedilotildees para que a focalizaccedilatildeo
do constituinte preacute-verbal ocorra13
Ela identificou vaacuterias condiccedilotildees para a identificaccedilatildeo do
foco na posiccedilatildeo preacute-verbal nas liacutenguas do grupo Mixteca entre elas a pausa (11) e a inserccedilatildeo
de conjunccedilotildees coordenadas (12) depois do elemento focalizado
(11) juaacutea ta‟u da ntuku
John splits he firewood
bdquoAs for John he is splitting firewood‟ (Yosonduacutea FARRIS 1992 p 28 apud
HOLLENBACH 1995 p 3)14
(12) sa‟an mi neacute din tavi di kuidaacutedo di
man that and willdo very you care you (Cuicatec BRADLEY 1991
p 493 apud HOLLENBACH 1995 p 3)
Esses satildeo exemplos que a focalizaccedilatildeo natildeo se daacute exclusivamente pela sintaxe mas que
co-ocorre com ela ou seja eacute necessaacuterio que haja mais elementos linguiacutesticos aleacutem da
posiccedilatildeo preacute-verbal para que a focalizaccedilatildeo ocorra de forma satisfatoacuteria
222 Foco morfoloacutegico
O foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de certos morfemas que dependendo da
liacutengua seratildeo cliacuteticos ou morfemas livres Nesse caso ldquoum bdquoMorfema de Ecircnfase‟ seraacute o
elemento responsaacutevel pela iluminaccedilatildeo do elemento destacado no textordquo (GONCcedilALVES
1999 p 336) Natildeo obstante isso natildeo signifique que o foco natildeo possa ser expresso por outros
meios nas liacutenguas em que predominam o meio morfoloacutegico para que a focalizaccedilatildeo ocorra
Esse tipo de focalizaccedilatildeo eacute mais comum em liacutenguas natildeo-indo-europeias como em liacutenguas
12
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo 13
Hollenbach investigou as condiccedilotildees do foco natildeo soacute na liacutengua Ayutla Mixteca mas em seis variedades do
Mixteca duas do Trique e uma do Cuicatec Essas liacutenguas fazem parte grupo Mixteca que por sua vez faz
parte da famiacutelia das liacutenguas Otomangues faladas sobretudo no sul do Meacutexico As liacutenguas da famiacutelia
Otomangue apresentam a ordem canocircnica VSO 14
ldquoQuanto ao Joatildeo ele estaacute partindo a lenhardquo
19
indiacutegenas brasileiras por exemplo em marubo e em mekens O aacuterabe e o japonecircs tambeacutem
satildeo exemplos de liacutenguas em que ocorre a focalizaccedilatildeo morfoloacutegica Hagesawa (2010 p 1)
explica que no japonecircs ldquoone of the most general properties of focus particles is to relate a
proposition which is newly introduced by the sentence containing a focus particle and
propositions available in the contextrdquo15
Em japonecircs a partiacutecula -shika introduz a noccedilatildeo de exclusividade o que eacute expresso
pela palavra only em inglecircs Essa noccedilatildeo eacute a mesma do foco de identificaccedilatildeo encontrado nas
sentenccedilas clivadas do PB por exemplo Segue o exemplo de Hagesawa (2010 p 4)
(13) Miho-shika ko-na-katta
Miho-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoOnly Miho came‟16
No exemplo (13) a funccedilatildeo do morfema -shika pode ser parafraseada como ldquosomente
Miho veio e mais ningueacutemrdquo Quanto ao padratildeo prosoacutedico das partiacuteculas de foco no japonecircs
Hagesawa (2010 p 33) afirma que
although Japanese focus particles have their own accent patterns
when they occur without a focused constituent or they are stressed as
shown in (14) and (15) they lose their accent pattern and follow the
tone melody of their host when they are suffixed17
18
O autor apresenta os seguintes exemplos
(14) Shikamade-o jisyo-de shirabe-ta
HL HL
SHIKAMADE-ACC dictionary-with lookup-PAST
bdquoI looked up bdquoshika‟‟made‟ in a dictionary‟19
(15) A Yuka-mo ki-ta-no
Yuka-also come-PAST-Q
15
ldquouma das propriedades mais gerais das partiacuteculas de foco eacute relacionar uma proposiccedilatildeo que eacute receacutem-
introduzida pela sentenccedila contendo uma partiacutecula de foco e proposiccedilotildees disponiacuteveis no contextordquo 16
ldquoSomente Miho veiordquo 17
A numeraccedilatildeo dos exemplos natildeo segue a original 18
ldquoconquanto as partiacuteculas de foco do japonecircs tecircm seus padrotildees proacuteprios de accent quando ocorrem sem um
constituinte focalizado ou estatildeo stressed como mostrado em (14) e (15) elas perdem o seu padratildeo de accent e
seguem a melodia tonal do seu hospedeiro quando elas satildeo sufixadasrdquo 19
ldquoEu procurei bdquoshika‟‟made‟ em um dicionaacuteriordquo
20
bdquoDid Yuka also come‟
B Uun Yuka-shika ko-na-katta
HL
no Yuka-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoNo only Yuka came‟20
Na liacutengua Mekens todas as questotildees wh apresentam o cliacutetico foco te como no
exemplo abaixo de Galucio (2002 p 67)
(16) aapo=te o-tek pogabeg-a ke i-koop ikatildeotilde tete
Who=foc 1s-house open-Theme say 3s-aux+mov that time
bdquordquoWho opened my houserdquo She was saying that time‟21
Haacute tambeacutem o uso do recurso sintaacutetico pois o constituinte focalizado sempre aparece
no iniacutecio da sentenccedila A autora menciona que a informaccedilatildeo natildeo-pressuposta das respostas agraves
perguntas wh tambeacutem apareceratildeo na forma de construccedilotildees focalizadas Isso faz com que a
ordem canocircnica ndash SOV ndash dessa liacutengua se altere em sentenccedilas como (17) abaixo por exemplo
extraiacuteda de Galucio (2002 p 68) Notam-se nas duas oraccedilotildees que os sujeitos ocorrem
depois do verbo
(17) serek=te kɨpmatildekatildeỹ kweotildep =te ɨsɨɨ
split=foc floor climb+neg=foc deer
bdquoThe floor split and the deer sank‟22
Alguns autores consideram como morfemas de foco palavras como only also just e
even do inglecircs por exemplo porque elas cumprem a mesma funccedilatildeo semacircntica dos morfemas
de foco em liacutenguas como o japonecircs no exemplo da partiacutecula -shika bdquoonly‟ Na anaacutelise de
Quarezemin (2009 p 112) para as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB ela sugere que nas
construccedilotildees clivadas a coacutepula e o complementizador seriam morfemas de foco Nas palavras
da autora
20
ldquoA Yuka tambeacutem veio Natildeo somente a Yuka veiordquo 21
ldquoQuem abriu minha casa Ela estava dizendo aquela horardquo 22
ldquoO chatildeo se partiu e o veado afundourdquo
21
A hipoacutetese inicial eacute que de um modo geral os falantes do PB
preferem destacar o constituinte focalizado sintaticamente ao inveacutes
de destacaacute-lo apenas com recursos prosoacutedicos Disso surge a hipoacutetese
de que a coacutepula com funccedilatildeo de focalizar e o complementizador das
clivadas podem ser considerados morfemas de foco em PB
Em suma o foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de morfemas que tecircm por objetivo
sinalizar que o constituinte o qual estaacute afixado se encontra focalizado Eles tambeacutem podem
interagir com a sintaxe e a prosoacutedia no caso de aleacutem do morfema de foco estar afixado a um
constituinte que se deseja destacar ele tambeacutem esteja em uma posiccedilatildeo proacutepria para
construccedilotildees focalizadoras ou em casos em que aleacutem da marcaccedilatildeo morfoloacutegica do foco haja
uma proeminecircncia prosoacutedica no constituinte focalizado
223 Foco semacircntico
Em primeiro lugar salientamos que o termo bdquofoco semacircntico‟ pode causar certa
estranheza devido a que diferentemente dos outros tipos neste natildeo haacute uma manifestaccedilatildeo de
forma ldquovisiacutevelrdquo do foco no enunciado isto eacute natildeo haacute uma proeminecircncia prosoacutedica uma
construccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica ou um morfema afixado a um constituinte Antes se trata mais
de uma propriedade do significado da construccedilatildeo focalizadora em um enunciado
As trecircs principais propriedades semacircnticas do foco satildeo as dos enunciados que
apresentam o foco de informaccedilatildeo de identificaccedilatildeo e o contrastivo Geralmente para
determinar a propriedade semacircntica desses tipos de foco recorre-se ao contexto de pergunta-
whresposta ou a outro tipo de contexto induzido O foco de informaccedilatildeo23
introduz uma
informaccedilatildeo novanatildeo-pressuposta e ldquopresume uma pergunta wh como base discursiva para
ser estabelecidordquo (RESENES 2009 p 20) Segue o exemplo de Resenes (2009 p 20)
(18) a O que o Joatildeo bebeu
b O Joatildeo bebeu alguma coisa
c O Joatildeo bebeu [F o vinho]
A pergunta wh estaacute em (18a) Em (18b) encontra-se a pressuposiccedilatildeo expressa pelo
pronome indefinido O foco de informaccedilatildeo se encontra em (18c) e eacute o valor da expressatildeo wh
23
Resenes (2009) utiliza a nomenclatura de ldquofoco natildeo-contrastivordquo para esse tipo de foco
22
da pergunta em (18a) A autora menciona que na Estrutura de Asserccedilatildeo (AS)24
o foco de
(18c) seria representado como
(19) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 O x tal que o Joatildeo bebeu x = [o vinho]
O foco contrastivo corrige uma informaccedilatildeo preacutevia atraveacutes de uma prosoacutedia proacutepria
Resenes (2009 p 20) afirma que ldquoo contexto ideal para o foco contrastivo eacute aquele em que
haacute uma afirmaccedilatildeo preacutevia como base discursivardquo Segue o exemplo da autora (RESENES
2009 p 21)
(20) a O Joatildeo bebeu o vinho
b O Joatildeo bebeu [F a cerveja] (natildeo o vinho)
A AS de (20) seria
(21) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 Natildeo eacute o caso que o x tal que o Joatildeo bebeu x = vinho amp O x tal que o Joatildeo
bebeu o x = a cerveja
O foco de identificaccedilatildeo ldquorepresents a subset of the set of contextually or situationally
given elements for which the predicate phrase can potentially hold it is identified as the
exhaustive subset of this set for which the predicate phrase actually holdsrdquo (KISS 1998 p
245 apud RESENES 2009 p 21)25
Assim o foco de identificaccedilatildeo expressa exaustividade
que pode ser parafraseada como [x e apenas x] Esse tipo de foco eacute ilustrado por uma
sentenccedila clivada em (22) (RESENES 2009 p 21)
(22) Foi [F um perfume] que a Maria deu para o Joatildeo
24
Resenes (2009 p 20) explica que a AS eacute ldquoum niacutevel poacutes-LF (pragmaacutetico) que revela como a informaccedilatildeo estaacute
empacotada na sentenccedila Na AS vai estar explicitada a estrutura da focalizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo o foco e os
tipos de focordquo 25
ldquorepresenta um subconjunto do conjunto de elementos dados contextualmente ou situacionalmente para o qual
a expressatildeo do predicado pode potencialmente conter que eacute identificado como o subconjunto exaustivo deste
conjunto para o qual a expressatildeo de predicado efetivamente conteacutemrdquo
23
Em (22) o foco de identificaccedilatildeo eacute expresso pelo NP um perfume que significa que
dentro de uma seacuterie de possiacuteveis presentes que a Maria poderia ter dado ao Joatildeo ela deu
somente um perfume por isso [x e apenas x]
Contudo o fenocircmeno da focalizaccedilatildeo natildeo se restringe somente agraves respostas das
perguntas wh ou agraves respostas dos contextos induzidos Davis (2009 p 2) assinala que haacute dois
grandes aspectos da constituiccedilatildeo do foco ldquoThe first is its grammar how FOCUS is expressed
in language The second is its meaning It does not require much investigation to discover
that there is no grammatical consistency to FOCUS across languagesrdquo26
O autor nota que em
relaccedilatildeo ao primeiro item natildeo haveria uma forma uacutenica universal para o uso do foco ou seja
uma liacutengua utiliza a sintaxe outra a prosoacutedia outra a morfologia outra a sintaxe e a prosoacutedia
etc ele afirma que ldquoif there is some universal consistency to FOCUS across languages it is
not found in its expressionrdquo27
Quanto ao segundo item as liacutenguas a princiacutepio natildeo
diferenciariam muito em relaccedilatildeo agrave semacircntica do foco Entretanto a propriedade de
destaquerealce sempre estaraacute presente manifestando-se seja por meio da prosoacutedia do
arranjo sintaacutetico ou da marcaccedilatildeo morfoloacutegica Davis (2009 p 2) explica que
If FOCUS will be diferently constituted grammatically its presence
has to be recognized in its semantics One portion of that semantics is
that FOCUS is involved in the answering of wh- questions but not
every utterance is a response to such a question Yet utterances must
the claim says nevertheless contain the semantics (and some
grammar) of FOCUS FOCUS then cannot be only the content
which answers questions There must be more to FOCUS When we
examine languages we discover that FOCUS has an affinity for
certain other semantics and in discovering those affinities we can
amplify our conception of what constitutes FOCUS28
A partir da assunccedilatildeo acima sugere-se que os estudos sobre a focalizaccedilatildeo natildeo
poderiam se restringir agraves anaacutelises de dados de introspecccedilatildeo sobretudo aqueles que explicam o
fenocircmeno somente a partir de dados com contexto pergunta-whresposta A natureza
discursivo-pragmaacutetica da focalizaccedilatildeo faz com que esse fenocircmeno seja melhor compreendido
26
ldquoO primeiro eacute sua gramaacutetica como o FOCO eacute expresso na liacutengua O segundo eacute o seu significado Natildeo se
requer muita investigaccedilatildeo para descobrir que natildeo haacute coerecircncia gramatical do FOCO atraveacutes das liacutenguasrdquo 27
ldquose houver alguma consistecircncia universal para o FOCO entre as liacutenguas natildeo eacute encontrada na sua expressatildeordquo 28
ldquoSe o FOCO seraacute constituiacutedo diferente gramaticalmente a sua presenccedila tem de ser reconhecida em sua
semacircntica Uma parte dessa semacircntica eacute que o FOCO estaacute envolvido nas respostas de perguntas QU mas nem
todo enunciado eacute uma resposta a essas perguntas No entanto os enunciados devem a alegaccedilatildeo diz todavia
conter a semacircntica (e alguma gramaacutetica) do FOCO O FOCO entatildeo natildeo pode ser apenas o conteuacutedo que
responde a perguntas Deve haver mais para o FOCO Quando examinamos as liacutenguas descobrimos que o
FOCO tem uma afinidade com outras semacircnticas e descobrindo essas afinidades podemos ampliar a nossa
concepccedilatildeo do que constitui o FOCOrdquo
24
na liacutengua espontacircnea apesar de natildeo se poder excluir suas propriedades semacircnticas em
diferentes enunciados que podem ser analisados sem o uso de dados de liacutengua espontacircnea
como eacute o caso da investigaccedilatildeo das propriedades semacircnticas do foco em dados de introspecccedilatildeo
e de suas representaccedilotildees formais
224 Foco prosoacutedico
A prosoacutedia eacute um dos traccedilos da camada suprassegmental ou seja que se encontra
acima dos segmentos dispostos linearmente na cadeia sonora da fala Beaver amp Clark (2008
p 2) explicam que os traccedilos suprassegmentais satildeo assim chamados porque ldquothey spread out
across multiple segments (basic sound units) or even across multiple wordsrdquo29
Callou amp
Leite (1990 p31) afirmam que o ldquoconjunto de fenocircmenos dos quais se derivam tipos de
acento padrotildees entoacionais ritmos e velocidades de fala satildeo estudados sob o roacutetulo de
prosoacutediardquo Ao contraacuterio dos segmentos que satildeo descritos pelos movimentos dos articuladores
do aparelho fonador os suprassegmentos satildeo descritos ldquoem termos da accedilatildeo dos muacutesculos
respiratoacuterios que aumentam ou diminuem a energia do fluxo de ar ocasionando duraccedilotildees
frequumlecircncia fundamental e intensidade diferentes das vibraccedilotildees sonorasrdquo (CALLOU amp LEITE
1990 p 30) Paracircmetros acuacutesticos como frequecircncia fundamental intensidade e duraccedilatildeo fiacutesica
satildeo outros traccedilos suprassegmentais que satildeo percebidos respectivamente como pitch
loudness e length que por sua vez ldquoapresentam correlatos fiacutesicos frequumlecircncia amplitude e
tempordquo (LEITE 2009 p 17)30
A frequecircncia eacute medida em Hz (Hertz) a amplitude em dB
(decibeacuteis) e o tempo em ms (milissegundos)
Barbosa (2008) menciona que a prosoacutedia estaacute
associada a fatores linguumliacutesticos como acentuaccedilatildeo entoaccedilatildeo ecircnfase e
ritmo bem como a fatores para- e extra-linguiacutesticos tais como
marcadores discursivos (ldquoneacuterdquo ldquoentendordquo ldquoanhanrdquo) atitudes
emoccedilotildees imbricados a fatores sociais ou bioloacutegicos como gecircnero
faixa etaacuteria classe social entre outros
Segundo Leite (2009 p 18) a prosoacutedia exerceria funccedilotildees ldquogramatical atitudinal
informacional indexal e ilocucionaacuteriardquo Nota-se portanto que eacute muito importante levar em
29
ldquoeles se espalham em vaacuterios segmentos (unidades baacutesicas de som) ou mesmo atraveacutes de muacuteltiplas palavrasrdquo 30
Neste trabalho natildeo se pretende definir minuciosamente todos os conceitos dos correlatos foneacutetico-acuacutesticos
dos sons da fala estudados pela Foneacutetica Acuacutestica Para mais informaccedilotildees cf Ladefoged (1974) Malmberg
(1998) e Johnson (2003)
25
consideraccedilatildeo a prosoacutedia na anaacutelise linguiacutestica visto que ela desempenha funccedilotildees associadas a
fatores intrinsecamente linguiacutesticos bem como a fatores extralinguiacutesticos A prosoacutedia ainda
apresenta um importante papel na aquisiccedilatildeo da linguagem sendo recurso especial para a
crianccedila associar unidades sonoras a significado (cf BRUM DE PAULA 2010)
As investigaccedilotildees do Ciacuterculo Linguiacutestico de Praga sugeriram que os elementos dados
do discurso ou seja aqueles que jaacute haviam sido mencionados seriam prosodicamente menos
relevantes que os elementos novos Disso resulta que a informaccedilatildeo nova ou o foco seja
destacado prosodicamente isto eacute apresente proeminecircncia prosoacutedica A proeminecircncia
prosoacutedica eacute definida como ldquoa quantitative parameter of a syllable or a boundary that describes
markedness relative to surrounding syllables and boundaries respectivelyrdquo (PORTELE amp
HEUFT 1997 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 227)31
Haacute autores que classificam o
foco levando em conta sobretudo o fator proeminecircncia prosoacutedica por exemplo ldquothe term
focus is used [] to describe prosodic prominences serving pragmatic and semantic
functionsrdquo (ROOTH 1995 p 271 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 228)32
O foco prosoacutedico eacute definido por meio de uma proeminecircncia tonal (cf
BUTRAGUENtildeO 2005) Entretanto alguns estudos mostram que o foco natildeo seria marcado
somente com a proeminecircncia tonal ou prosoacutedica Proeminecircncias de outros traccedilos
suprassegmentais como duraccedilatildeo e intensidade tambeacutem marcariam o foco (cf TOLEDO
1989 SOSA 1999 QUAREZEMIN 2009 entre outros) Para Butraguentildeo (2005 p 141) os
focos prosoacutedicos ldquoreciben acentos tonales de contorno especiacutefico que permiten distinguirlos
del fondo (o background)rdquo33
Os paracircmetros de anaacutelise acuacutestica do foco satildeo os movimentos
de F0 o alinhamento entre siacutelabas e F0 duraccedilatildeo das siacutelabas e vogais intensidade da siacutelaba e
em alguns casos pausas e meacutedia entre picos de F0
As abordagens teoacutericas utilizadas nos trabalhos sobre o foco prosoacutedico guiam a
metodologia de anaacutelise dos dados Assim alguns autores que trabalham com uma abordagem
formal utilizando o sistema ToBI (cf SILVERMAN et al 1992) para a anaacutelise dos dados
representam a entoaccedilatildeo dos enunciados marcando as siacutelabas com acentos tonais que se
manifestam em acentos monotonais (H ou L) bitonais (H+L L+H etc) e ainda poderia
haver tons de juntura (H e L) que delimitam as fronteiras dos grupos meloacutedicos Na
Fonologia Entoacional haacute trecircs tipos de tons pitch accents phrase accents e boundary tones
31
ldquoum paracircmetro quantitativo de uma siacutelaba ou de uma fronteira que descreve a marcaccedilatildeo relativa agraves siacutelabas
vizinhas e fronteiras respectivamenterdquo 32
ldquoo termo foco eacute utilizado [] para descrever proeminecircncias prosoacutedicas que servem a funccedilotildees pragmaacuteticas e
semacircnticasrdquo 33
ldquorecebem acentos tonais de contorno especiacutefico que permitem distingui-los do fundo (ou background)rdquo
26
Geralmente o foco eacute marcado por um pitch accent que pode ser definido como ldquoa local
feature of a pitch contour ndash usually but not invariably a pitch change and often involving a
local maximum or minimumrdquo (LADD 1996 p 45-6 apud BEAVER amp CLARK 2008 p
11)34
Segundo Roach (2011 p 67) pitch
is an auditory sensation when we hear a regularly vibrating sound
such as a note played on a musical instrument or a vowel produced
by the human voice we hear a high pitch if the rate of vibration is
high and a low pitch if the rate of vibration is low35
Nooteboom (1997 p 641) atenta para o fato de que ldquoone should be aware however
that rather often the notion bdquopitch‟ is used to refer to f0 or the repetition frequency itself In
speech f0 is determined by the rate of vibration of the vocal cords located in the larynxrdquo36
Ademais Crystal (2008 p 369) adverte que ldquothere is however no direct or parallel
correlation between pitch and frequency other factors than frequency may affect our
sensation of pitch (measured in units known as mels)rdquo37
Pitch countour seria a marcaccedilatildeo dos
uacutenicos pitchs relevantes para a compreensatildeo de um perfil entoacional A teacutecnica da close
copy (cf t‟HART et al 1990) justamente realccedila o pitch countor atraveacutes de uma ldquosiacutentese que
satildeo eliminados movimentos de F0 que natildeo causam diferenccedila de percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao
aacuteudio originalrdquo (ROCHA 2011 p 106) De acordo com Crystal (2008 p 369-370) o termo
pitch accent
is used phonologically in the description of languages in which the
distribution of the tones within a word is totally predictable once one
has specified a particular tonal feature of the word (as in Japanese)
The notion has also been applied to English where some
phonological models analyse intonation CONTOURS as a sequence
of one or more pitch accents each associated with a STRESS-
prominent SYLLABLE in a word38
34
ldquoum traccedilo local de um pitch contour - geralmente mas natildeo invariavelmente variaccedilatildeo de pitch e muitas vezes
envolvendo um local maacuteximo ou miacutenimordquo 35
ldquoeacute uma sensaccedilatildeo auditiva quando ouvimos um som regularmente vibrando como uma nota tocada em um
instrumento musical ou uma vogal produzida pela voz humana noacutes ouvimos um pitch alto se a taxa de vibraccedilatildeo
eacute alta e um pitch baixo se a taxa de vibraccedilatildeo eacute baixardquo 36
ldquodeve-se estar ciente no entanto que muitas vezes a noccedilatildeo de pitch eacute utilizada para se referir a f0 ou a
frequecircncia da repeticcedilatildeo Na fala a f0 eacute determinada pela taxa de vibraccedilatildeo das cordas vocais localizadas na
laringerdquo 37
ldquonatildeo haacute poreacutem nenhuma correlaccedilatildeo direta ou paralelo entre pitch e frequecircncia outros fatores aleacutem
frequecircncia podem afetar a nossa sensaccedilatildeo de pitch (medido em unidades conhecidas como mels)rdquo 38
ldquoeacute usado fonologicamente na descriccedilatildeo das liacutenguas nas quais a distribuiccedilatildeo dos tons dentro de uma palavra eacute
totalmente previsiacutevel uma vez que se tenha especificado uma caracteriacutestica particular de tons da palavra (tal
como no japonecircs) A noccedilatildeo tambeacutem foi aplicada para o inglecircs em que alguns modelos fonoloacutegicos analisam os
CONTORNOS da entoaccedilatildeo como uma sequecircncia de um ou mais pitch accents cada um associado a uma
SIacuteLABA STRESS-proeminente em uma palavrardquo
27
O sistema ToBI reconhece 5 tipos de pitch accents enquanto Pierrehumbert (1980)
menciona 7 tipos Atraveacutes dessa classificaccedilatildeo eacute possiacutevel delimitar o accent prototiacutepico do
foco ou suas possiacuteveis variantes Beaver amp Clark (2008 p 12) mencionam que ldquoalthough
focus is frequently marked by an H accent [] other accents are possible For example in
yes-no questions focus is often by marked by an L+Hrdquo39
A importante pressuposiccedilatildeo teoacuterica de que toda oraccedilatildeo eacute resposta a uma pergunta
guia a metodologia de muitas investigaccedilotildees sobre o foco sobretudo de trabalhos
experimentais de leitura de sentenccedilas denominados testes de produccedilatildeo Com o pressuposto
teoacuterico da explicitaccedilatildeo do foco por meio de pergunta-resposta eacute possiacutevel delimitar o tipo de
foco a ser analisado broad focus (foco largo) narrow focus (foco estreito) ou contrastive
focus (foco contrastivo) (cf seccedilatildeo 121 p 14) Essa metodologia tem por caracteriacutestica
induzir guiar e restringir os padrotildees meloacutedicos da fala ao fornecer exemplos com contextos
preacutevios ou mesmo com o foco jaacute explicitado na sentenccedila para se obter o resultado desejado
Em investigaccedilatildeo sobre a marcaccedilatildeo prosoacutedica dos focos largo estreito e contrastivo em
alematildeo Baumann et al (2006 p 302) mencionam em sua metodologia de teste de leitura
que
reading material consisted of five question-answer pairs with the
answer bdquoManuela will Blumen malen‟ (Manuela wants to paint
flowers) The main criterion the target sentence had to fulfill was its
continuous voicing so as to be able to accurately measure exact peaks
and valleys in the F0 contour40
Dependendo do objetivo do trabalho ou da liacutengua a ser analisada podem-se controlar
outros fatores Por exemplo em trabalho sobre como o tom lexical e o foco contribuem para a
formaccedilatildeo e alinhamento dos F0 contours no chinecircs Xu (1999 p 58) menciona na
metodologia que
the factors manipulated in the experiment were segmental
composition of syllables lexical tones focus and and sentence types
Of these only lexical tones and focus were under direct scrutiny The
control of the other two factors was done by keeping their variation to
39
ldquoembora o foco seja frequentemente marcado por um accent H [] outros accents satildeo possiacuteveis Por
exemplo em perguntas sim-natildeo o foco eacute muitas vezes marcado por um H + Lrdquo 40
ldquoo material de leitura consistiu de cinco pares de pergunta-resposta com a resposta bdquoManuela will Blumen
malen‟ (Manuela quer pintar flores) O principal criteacuterio que a frase alvo tinha a cumprir era seu vozeamento
contiacutenuo de modo a ser capaz de medir com precisatildeo exata picos e vales no contorno da F0rdquo
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
17
seratildeo abordadas profundamente visto que esse natildeo eacute o objetivo principal deste trabalho As
sentenccedilas clivadas apresentam a estrutura [ser + XPi + que [IP eci]] jaacute as pseudo-clivadas [[CP
whi ti] + ser +XPi] (RESENES 2009 p 14) O XP deve ser a parte natildeo-pressuposta da
sentenccedila ou o foco da sentenccedila o sintagma que carrega a informaccedilatildeo nova e que segundo a
abordagem gerativa carrega tambeacutem a proeminecircncia prosoacutedica O foco dessas sentenccedilas eacute do
tipo de identificaccedilatildeo exaustiva isto eacute indicado pela propriedade semacircntica [x e apenas x]
Apresentamos como exemplo em PB uma clivada e uma pseudo-clivada respectivamente
(6) Foi [F a Luana] que comprou um livro
(7) Quem comprou um livro foi [F a Luana]
Em inglecircs as clivadas satildeo conhecidas como it-clefts pois nessa liacutengua eacute obrigatoacuteria a
realizaccedilatildeo do expletivo na posiccedilatildeo inicial da sentenccedila
(8) It was [F John] who died in a car crash9
Haacute vaacuterios tipos de realizaccedilatildeo dessas sentenccedilas por exemplo clivada sem coacutepula
clivada com dupla coacutepula pseudo-clivada reduzida etc
Na liacutengua Ayutla Mixteca em que a ordem canocircnica da sentenccedila eacute VSO a
focalizaccedilatildeo se daacute atraveacutes da mudanccedila de posiccedilatildeo do elemento que se deseja focalizar para
uma posiccedilatildeo preacute-verbal ldquobecause the first element of any list is perceptually salient
preverbal position tends to grant the item filling it some degree of highlighting This position
is therefore often used for constituents that a speaker wishes to focus in some wayrdquo
(HOLLENBACH 1995 p 1)10
Seguem os exemplos de Hills (1990 p 27-28 apud
HOLLENBACH 1995 p 2)
(9) mburu xi‟i‟ tikui
donkey drinks water
bdquoThe donkey is drinking water‟11
(10) tikui xi‟i‟ mburu
9 ldquoFoi [F o Joatildeo] que morreu num acidente de carrordquo
10 ldquoporque o primeiro elemento de qualquer lista eacute perceptualmente saliente a posiccedilatildeo preacute-verbal tende a
conceder ao item carregando-o com algum grau de realce Esta posiccedilatildeo eacute portanto frequentemente usada para
constituintes em que o falante deseja focalizar de algum modordquo 11
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo
18
water drinks donkey
bdquoThe donkey is drinking water‟12
Entretanto Hollenbach (1995 p 2) adverte que a relaccedilatildeo semacircntica do foco com a
posiccedilatildeo preacute-verbal eacute obscura jaacute que um constituinte pode ocorrer na posiccedilatildeo preacute-verbal sem
que o falante deseje focalizaacute-lo Entatildeo a autora investiga as condiccedilotildees para que a focalizaccedilatildeo
do constituinte preacute-verbal ocorra13
Ela identificou vaacuterias condiccedilotildees para a identificaccedilatildeo do
foco na posiccedilatildeo preacute-verbal nas liacutenguas do grupo Mixteca entre elas a pausa (11) e a inserccedilatildeo
de conjunccedilotildees coordenadas (12) depois do elemento focalizado
(11) juaacutea ta‟u da ntuku
John splits he firewood
bdquoAs for John he is splitting firewood‟ (Yosonduacutea FARRIS 1992 p 28 apud
HOLLENBACH 1995 p 3)14
(12) sa‟an mi neacute din tavi di kuidaacutedo di
man that and willdo very you care you (Cuicatec BRADLEY 1991
p 493 apud HOLLENBACH 1995 p 3)
Esses satildeo exemplos que a focalizaccedilatildeo natildeo se daacute exclusivamente pela sintaxe mas que
co-ocorre com ela ou seja eacute necessaacuterio que haja mais elementos linguiacutesticos aleacutem da
posiccedilatildeo preacute-verbal para que a focalizaccedilatildeo ocorra de forma satisfatoacuteria
222 Foco morfoloacutegico
O foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de certos morfemas que dependendo da
liacutengua seratildeo cliacuteticos ou morfemas livres Nesse caso ldquoum bdquoMorfema de Ecircnfase‟ seraacute o
elemento responsaacutevel pela iluminaccedilatildeo do elemento destacado no textordquo (GONCcedilALVES
1999 p 336) Natildeo obstante isso natildeo signifique que o foco natildeo possa ser expresso por outros
meios nas liacutenguas em que predominam o meio morfoloacutegico para que a focalizaccedilatildeo ocorra
Esse tipo de focalizaccedilatildeo eacute mais comum em liacutenguas natildeo-indo-europeias como em liacutenguas
12
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo 13
Hollenbach investigou as condiccedilotildees do foco natildeo soacute na liacutengua Ayutla Mixteca mas em seis variedades do
Mixteca duas do Trique e uma do Cuicatec Essas liacutenguas fazem parte grupo Mixteca que por sua vez faz
parte da famiacutelia das liacutenguas Otomangues faladas sobretudo no sul do Meacutexico As liacutenguas da famiacutelia
Otomangue apresentam a ordem canocircnica VSO 14
ldquoQuanto ao Joatildeo ele estaacute partindo a lenhardquo
19
indiacutegenas brasileiras por exemplo em marubo e em mekens O aacuterabe e o japonecircs tambeacutem
satildeo exemplos de liacutenguas em que ocorre a focalizaccedilatildeo morfoloacutegica Hagesawa (2010 p 1)
explica que no japonecircs ldquoone of the most general properties of focus particles is to relate a
proposition which is newly introduced by the sentence containing a focus particle and
propositions available in the contextrdquo15
Em japonecircs a partiacutecula -shika introduz a noccedilatildeo de exclusividade o que eacute expresso
pela palavra only em inglecircs Essa noccedilatildeo eacute a mesma do foco de identificaccedilatildeo encontrado nas
sentenccedilas clivadas do PB por exemplo Segue o exemplo de Hagesawa (2010 p 4)
(13) Miho-shika ko-na-katta
Miho-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoOnly Miho came‟16
No exemplo (13) a funccedilatildeo do morfema -shika pode ser parafraseada como ldquosomente
Miho veio e mais ningueacutemrdquo Quanto ao padratildeo prosoacutedico das partiacuteculas de foco no japonecircs
Hagesawa (2010 p 33) afirma que
although Japanese focus particles have their own accent patterns
when they occur without a focused constituent or they are stressed as
shown in (14) and (15) they lose their accent pattern and follow the
tone melody of their host when they are suffixed17
18
O autor apresenta os seguintes exemplos
(14) Shikamade-o jisyo-de shirabe-ta
HL HL
SHIKAMADE-ACC dictionary-with lookup-PAST
bdquoI looked up bdquoshika‟‟made‟ in a dictionary‟19
(15) A Yuka-mo ki-ta-no
Yuka-also come-PAST-Q
15
ldquouma das propriedades mais gerais das partiacuteculas de foco eacute relacionar uma proposiccedilatildeo que eacute receacutem-
introduzida pela sentenccedila contendo uma partiacutecula de foco e proposiccedilotildees disponiacuteveis no contextordquo 16
ldquoSomente Miho veiordquo 17
A numeraccedilatildeo dos exemplos natildeo segue a original 18
ldquoconquanto as partiacuteculas de foco do japonecircs tecircm seus padrotildees proacuteprios de accent quando ocorrem sem um
constituinte focalizado ou estatildeo stressed como mostrado em (14) e (15) elas perdem o seu padratildeo de accent e
seguem a melodia tonal do seu hospedeiro quando elas satildeo sufixadasrdquo 19
ldquoEu procurei bdquoshika‟‟made‟ em um dicionaacuteriordquo
20
bdquoDid Yuka also come‟
B Uun Yuka-shika ko-na-katta
HL
no Yuka-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoNo only Yuka came‟20
Na liacutengua Mekens todas as questotildees wh apresentam o cliacutetico foco te como no
exemplo abaixo de Galucio (2002 p 67)
(16) aapo=te o-tek pogabeg-a ke i-koop ikatildeotilde tete
Who=foc 1s-house open-Theme say 3s-aux+mov that time
bdquordquoWho opened my houserdquo She was saying that time‟21
Haacute tambeacutem o uso do recurso sintaacutetico pois o constituinte focalizado sempre aparece
no iniacutecio da sentenccedila A autora menciona que a informaccedilatildeo natildeo-pressuposta das respostas agraves
perguntas wh tambeacutem apareceratildeo na forma de construccedilotildees focalizadas Isso faz com que a
ordem canocircnica ndash SOV ndash dessa liacutengua se altere em sentenccedilas como (17) abaixo por exemplo
extraiacuteda de Galucio (2002 p 68) Notam-se nas duas oraccedilotildees que os sujeitos ocorrem
depois do verbo
(17) serek=te kɨpmatildekatildeỹ kweotildep =te ɨsɨɨ
split=foc floor climb+neg=foc deer
bdquoThe floor split and the deer sank‟22
Alguns autores consideram como morfemas de foco palavras como only also just e
even do inglecircs por exemplo porque elas cumprem a mesma funccedilatildeo semacircntica dos morfemas
de foco em liacutenguas como o japonecircs no exemplo da partiacutecula -shika bdquoonly‟ Na anaacutelise de
Quarezemin (2009 p 112) para as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB ela sugere que nas
construccedilotildees clivadas a coacutepula e o complementizador seriam morfemas de foco Nas palavras
da autora
20
ldquoA Yuka tambeacutem veio Natildeo somente a Yuka veiordquo 21
ldquoQuem abriu minha casa Ela estava dizendo aquela horardquo 22
ldquoO chatildeo se partiu e o veado afundourdquo
21
A hipoacutetese inicial eacute que de um modo geral os falantes do PB
preferem destacar o constituinte focalizado sintaticamente ao inveacutes
de destacaacute-lo apenas com recursos prosoacutedicos Disso surge a hipoacutetese
de que a coacutepula com funccedilatildeo de focalizar e o complementizador das
clivadas podem ser considerados morfemas de foco em PB
Em suma o foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de morfemas que tecircm por objetivo
sinalizar que o constituinte o qual estaacute afixado se encontra focalizado Eles tambeacutem podem
interagir com a sintaxe e a prosoacutedia no caso de aleacutem do morfema de foco estar afixado a um
constituinte que se deseja destacar ele tambeacutem esteja em uma posiccedilatildeo proacutepria para
construccedilotildees focalizadoras ou em casos em que aleacutem da marcaccedilatildeo morfoloacutegica do foco haja
uma proeminecircncia prosoacutedica no constituinte focalizado
223 Foco semacircntico
Em primeiro lugar salientamos que o termo bdquofoco semacircntico‟ pode causar certa
estranheza devido a que diferentemente dos outros tipos neste natildeo haacute uma manifestaccedilatildeo de
forma ldquovisiacutevelrdquo do foco no enunciado isto eacute natildeo haacute uma proeminecircncia prosoacutedica uma
construccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica ou um morfema afixado a um constituinte Antes se trata mais
de uma propriedade do significado da construccedilatildeo focalizadora em um enunciado
As trecircs principais propriedades semacircnticas do foco satildeo as dos enunciados que
apresentam o foco de informaccedilatildeo de identificaccedilatildeo e o contrastivo Geralmente para
determinar a propriedade semacircntica desses tipos de foco recorre-se ao contexto de pergunta-
whresposta ou a outro tipo de contexto induzido O foco de informaccedilatildeo23
introduz uma
informaccedilatildeo novanatildeo-pressuposta e ldquopresume uma pergunta wh como base discursiva para
ser estabelecidordquo (RESENES 2009 p 20) Segue o exemplo de Resenes (2009 p 20)
(18) a O que o Joatildeo bebeu
b O Joatildeo bebeu alguma coisa
c O Joatildeo bebeu [F o vinho]
A pergunta wh estaacute em (18a) Em (18b) encontra-se a pressuposiccedilatildeo expressa pelo
pronome indefinido O foco de informaccedilatildeo se encontra em (18c) e eacute o valor da expressatildeo wh
23
Resenes (2009) utiliza a nomenclatura de ldquofoco natildeo-contrastivordquo para esse tipo de foco
22
da pergunta em (18a) A autora menciona que na Estrutura de Asserccedilatildeo (AS)24
o foco de
(18c) seria representado como
(19) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 O x tal que o Joatildeo bebeu x = [o vinho]
O foco contrastivo corrige uma informaccedilatildeo preacutevia atraveacutes de uma prosoacutedia proacutepria
Resenes (2009 p 20) afirma que ldquoo contexto ideal para o foco contrastivo eacute aquele em que
haacute uma afirmaccedilatildeo preacutevia como base discursivardquo Segue o exemplo da autora (RESENES
2009 p 21)
(20) a O Joatildeo bebeu o vinho
b O Joatildeo bebeu [F a cerveja] (natildeo o vinho)
A AS de (20) seria
(21) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 Natildeo eacute o caso que o x tal que o Joatildeo bebeu x = vinho amp O x tal que o Joatildeo
bebeu o x = a cerveja
O foco de identificaccedilatildeo ldquorepresents a subset of the set of contextually or situationally
given elements for which the predicate phrase can potentially hold it is identified as the
exhaustive subset of this set for which the predicate phrase actually holdsrdquo (KISS 1998 p
245 apud RESENES 2009 p 21)25
Assim o foco de identificaccedilatildeo expressa exaustividade
que pode ser parafraseada como [x e apenas x] Esse tipo de foco eacute ilustrado por uma
sentenccedila clivada em (22) (RESENES 2009 p 21)
(22) Foi [F um perfume] que a Maria deu para o Joatildeo
24
Resenes (2009 p 20) explica que a AS eacute ldquoum niacutevel poacutes-LF (pragmaacutetico) que revela como a informaccedilatildeo estaacute
empacotada na sentenccedila Na AS vai estar explicitada a estrutura da focalizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo o foco e os
tipos de focordquo 25
ldquorepresenta um subconjunto do conjunto de elementos dados contextualmente ou situacionalmente para o qual
a expressatildeo do predicado pode potencialmente conter que eacute identificado como o subconjunto exaustivo deste
conjunto para o qual a expressatildeo de predicado efetivamente conteacutemrdquo
23
Em (22) o foco de identificaccedilatildeo eacute expresso pelo NP um perfume que significa que
dentro de uma seacuterie de possiacuteveis presentes que a Maria poderia ter dado ao Joatildeo ela deu
somente um perfume por isso [x e apenas x]
Contudo o fenocircmeno da focalizaccedilatildeo natildeo se restringe somente agraves respostas das
perguntas wh ou agraves respostas dos contextos induzidos Davis (2009 p 2) assinala que haacute dois
grandes aspectos da constituiccedilatildeo do foco ldquoThe first is its grammar how FOCUS is expressed
in language The second is its meaning It does not require much investigation to discover
that there is no grammatical consistency to FOCUS across languagesrdquo26
O autor nota que em
relaccedilatildeo ao primeiro item natildeo haveria uma forma uacutenica universal para o uso do foco ou seja
uma liacutengua utiliza a sintaxe outra a prosoacutedia outra a morfologia outra a sintaxe e a prosoacutedia
etc ele afirma que ldquoif there is some universal consistency to FOCUS across languages it is
not found in its expressionrdquo27
Quanto ao segundo item as liacutenguas a princiacutepio natildeo
diferenciariam muito em relaccedilatildeo agrave semacircntica do foco Entretanto a propriedade de
destaquerealce sempre estaraacute presente manifestando-se seja por meio da prosoacutedia do
arranjo sintaacutetico ou da marcaccedilatildeo morfoloacutegica Davis (2009 p 2) explica que
If FOCUS will be diferently constituted grammatically its presence
has to be recognized in its semantics One portion of that semantics is
that FOCUS is involved in the answering of wh- questions but not
every utterance is a response to such a question Yet utterances must
the claim says nevertheless contain the semantics (and some
grammar) of FOCUS FOCUS then cannot be only the content
which answers questions There must be more to FOCUS When we
examine languages we discover that FOCUS has an affinity for
certain other semantics and in discovering those affinities we can
amplify our conception of what constitutes FOCUS28
A partir da assunccedilatildeo acima sugere-se que os estudos sobre a focalizaccedilatildeo natildeo
poderiam se restringir agraves anaacutelises de dados de introspecccedilatildeo sobretudo aqueles que explicam o
fenocircmeno somente a partir de dados com contexto pergunta-whresposta A natureza
discursivo-pragmaacutetica da focalizaccedilatildeo faz com que esse fenocircmeno seja melhor compreendido
26
ldquoO primeiro eacute sua gramaacutetica como o FOCO eacute expresso na liacutengua O segundo eacute o seu significado Natildeo se
requer muita investigaccedilatildeo para descobrir que natildeo haacute coerecircncia gramatical do FOCO atraveacutes das liacutenguasrdquo 27
ldquose houver alguma consistecircncia universal para o FOCO entre as liacutenguas natildeo eacute encontrada na sua expressatildeordquo 28
ldquoSe o FOCO seraacute constituiacutedo diferente gramaticalmente a sua presenccedila tem de ser reconhecida em sua
semacircntica Uma parte dessa semacircntica eacute que o FOCO estaacute envolvido nas respostas de perguntas QU mas nem
todo enunciado eacute uma resposta a essas perguntas No entanto os enunciados devem a alegaccedilatildeo diz todavia
conter a semacircntica (e alguma gramaacutetica) do FOCO O FOCO entatildeo natildeo pode ser apenas o conteuacutedo que
responde a perguntas Deve haver mais para o FOCO Quando examinamos as liacutenguas descobrimos que o
FOCO tem uma afinidade com outras semacircnticas e descobrindo essas afinidades podemos ampliar a nossa
concepccedilatildeo do que constitui o FOCOrdquo
24
na liacutengua espontacircnea apesar de natildeo se poder excluir suas propriedades semacircnticas em
diferentes enunciados que podem ser analisados sem o uso de dados de liacutengua espontacircnea
como eacute o caso da investigaccedilatildeo das propriedades semacircnticas do foco em dados de introspecccedilatildeo
e de suas representaccedilotildees formais
224 Foco prosoacutedico
A prosoacutedia eacute um dos traccedilos da camada suprassegmental ou seja que se encontra
acima dos segmentos dispostos linearmente na cadeia sonora da fala Beaver amp Clark (2008
p 2) explicam que os traccedilos suprassegmentais satildeo assim chamados porque ldquothey spread out
across multiple segments (basic sound units) or even across multiple wordsrdquo29
Callou amp
Leite (1990 p31) afirmam que o ldquoconjunto de fenocircmenos dos quais se derivam tipos de
acento padrotildees entoacionais ritmos e velocidades de fala satildeo estudados sob o roacutetulo de
prosoacutediardquo Ao contraacuterio dos segmentos que satildeo descritos pelos movimentos dos articuladores
do aparelho fonador os suprassegmentos satildeo descritos ldquoem termos da accedilatildeo dos muacutesculos
respiratoacuterios que aumentam ou diminuem a energia do fluxo de ar ocasionando duraccedilotildees
frequumlecircncia fundamental e intensidade diferentes das vibraccedilotildees sonorasrdquo (CALLOU amp LEITE
1990 p 30) Paracircmetros acuacutesticos como frequecircncia fundamental intensidade e duraccedilatildeo fiacutesica
satildeo outros traccedilos suprassegmentais que satildeo percebidos respectivamente como pitch
loudness e length que por sua vez ldquoapresentam correlatos fiacutesicos frequumlecircncia amplitude e
tempordquo (LEITE 2009 p 17)30
A frequecircncia eacute medida em Hz (Hertz) a amplitude em dB
(decibeacuteis) e o tempo em ms (milissegundos)
Barbosa (2008) menciona que a prosoacutedia estaacute
associada a fatores linguumliacutesticos como acentuaccedilatildeo entoaccedilatildeo ecircnfase e
ritmo bem como a fatores para- e extra-linguiacutesticos tais como
marcadores discursivos (ldquoneacuterdquo ldquoentendordquo ldquoanhanrdquo) atitudes
emoccedilotildees imbricados a fatores sociais ou bioloacutegicos como gecircnero
faixa etaacuteria classe social entre outros
Segundo Leite (2009 p 18) a prosoacutedia exerceria funccedilotildees ldquogramatical atitudinal
informacional indexal e ilocucionaacuteriardquo Nota-se portanto que eacute muito importante levar em
29
ldquoeles se espalham em vaacuterios segmentos (unidades baacutesicas de som) ou mesmo atraveacutes de muacuteltiplas palavrasrdquo 30
Neste trabalho natildeo se pretende definir minuciosamente todos os conceitos dos correlatos foneacutetico-acuacutesticos
dos sons da fala estudados pela Foneacutetica Acuacutestica Para mais informaccedilotildees cf Ladefoged (1974) Malmberg
(1998) e Johnson (2003)
25
consideraccedilatildeo a prosoacutedia na anaacutelise linguiacutestica visto que ela desempenha funccedilotildees associadas a
fatores intrinsecamente linguiacutesticos bem como a fatores extralinguiacutesticos A prosoacutedia ainda
apresenta um importante papel na aquisiccedilatildeo da linguagem sendo recurso especial para a
crianccedila associar unidades sonoras a significado (cf BRUM DE PAULA 2010)
As investigaccedilotildees do Ciacuterculo Linguiacutestico de Praga sugeriram que os elementos dados
do discurso ou seja aqueles que jaacute haviam sido mencionados seriam prosodicamente menos
relevantes que os elementos novos Disso resulta que a informaccedilatildeo nova ou o foco seja
destacado prosodicamente isto eacute apresente proeminecircncia prosoacutedica A proeminecircncia
prosoacutedica eacute definida como ldquoa quantitative parameter of a syllable or a boundary that describes
markedness relative to surrounding syllables and boundaries respectivelyrdquo (PORTELE amp
HEUFT 1997 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 227)31
Haacute autores que classificam o
foco levando em conta sobretudo o fator proeminecircncia prosoacutedica por exemplo ldquothe term
focus is used [] to describe prosodic prominences serving pragmatic and semantic
functionsrdquo (ROOTH 1995 p 271 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 228)32
O foco prosoacutedico eacute definido por meio de uma proeminecircncia tonal (cf
BUTRAGUENtildeO 2005) Entretanto alguns estudos mostram que o foco natildeo seria marcado
somente com a proeminecircncia tonal ou prosoacutedica Proeminecircncias de outros traccedilos
suprassegmentais como duraccedilatildeo e intensidade tambeacutem marcariam o foco (cf TOLEDO
1989 SOSA 1999 QUAREZEMIN 2009 entre outros) Para Butraguentildeo (2005 p 141) os
focos prosoacutedicos ldquoreciben acentos tonales de contorno especiacutefico que permiten distinguirlos
del fondo (o background)rdquo33
Os paracircmetros de anaacutelise acuacutestica do foco satildeo os movimentos
de F0 o alinhamento entre siacutelabas e F0 duraccedilatildeo das siacutelabas e vogais intensidade da siacutelaba e
em alguns casos pausas e meacutedia entre picos de F0
As abordagens teoacutericas utilizadas nos trabalhos sobre o foco prosoacutedico guiam a
metodologia de anaacutelise dos dados Assim alguns autores que trabalham com uma abordagem
formal utilizando o sistema ToBI (cf SILVERMAN et al 1992) para a anaacutelise dos dados
representam a entoaccedilatildeo dos enunciados marcando as siacutelabas com acentos tonais que se
manifestam em acentos monotonais (H ou L) bitonais (H+L L+H etc) e ainda poderia
haver tons de juntura (H e L) que delimitam as fronteiras dos grupos meloacutedicos Na
Fonologia Entoacional haacute trecircs tipos de tons pitch accents phrase accents e boundary tones
31
ldquoum paracircmetro quantitativo de uma siacutelaba ou de uma fronteira que descreve a marcaccedilatildeo relativa agraves siacutelabas
vizinhas e fronteiras respectivamenterdquo 32
ldquoo termo foco eacute utilizado [] para descrever proeminecircncias prosoacutedicas que servem a funccedilotildees pragmaacuteticas e
semacircnticasrdquo 33
ldquorecebem acentos tonais de contorno especiacutefico que permitem distingui-los do fundo (ou background)rdquo
26
Geralmente o foco eacute marcado por um pitch accent que pode ser definido como ldquoa local
feature of a pitch contour ndash usually but not invariably a pitch change and often involving a
local maximum or minimumrdquo (LADD 1996 p 45-6 apud BEAVER amp CLARK 2008 p
11)34
Segundo Roach (2011 p 67) pitch
is an auditory sensation when we hear a regularly vibrating sound
such as a note played on a musical instrument or a vowel produced
by the human voice we hear a high pitch if the rate of vibration is
high and a low pitch if the rate of vibration is low35
Nooteboom (1997 p 641) atenta para o fato de que ldquoone should be aware however
that rather often the notion bdquopitch‟ is used to refer to f0 or the repetition frequency itself In
speech f0 is determined by the rate of vibration of the vocal cords located in the larynxrdquo36
Ademais Crystal (2008 p 369) adverte que ldquothere is however no direct or parallel
correlation between pitch and frequency other factors than frequency may affect our
sensation of pitch (measured in units known as mels)rdquo37
Pitch countour seria a marcaccedilatildeo dos
uacutenicos pitchs relevantes para a compreensatildeo de um perfil entoacional A teacutecnica da close
copy (cf t‟HART et al 1990) justamente realccedila o pitch countor atraveacutes de uma ldquosiacutentese que
satildeo eliminados movimentos de F0 que natildeo causam diferenccedila de percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao
aacuteudio originalrdquo (ROCHA 2011 p 106) De acordo com Crystal (2008 p 369-370) o termo
pitch accent
is used phonologically in the description of languages in which the
distribution of the tones within a word is totally predictable once one
has specified a particular tonal feature of the word (as in Japanese)
The notion has also been applied to English where some
phonological models analyse intonation CONTOURS as a sequence
of one or more pitch accents each associated with a STRESS-
prominent SYLLABLE in a word38
34
ldquoum traccedilo local de um pitch contour - geralmente mas natildeo invariavelmente variaccedilatildeo de pitch e muitas vezes
envolvendo um local maacuteximo ou miacutenimordquo 35
ldquoeacute uma sensaccedilatildeo auditiva quando ouvimos um som regularmente vibrando como uma nota tocada em um
instrumento musical ou uma vogal produzida pela voz humana noacutes ouvimos um pitch alto se a taxa de vibraccedilatildeo
eacute alta e um pitch baixo se a taxa de vibraccedilatildeo eacute baixardquo 36
ldquodeve-se estar ciente no entanto que muitas vezes a noccedilatildeo de pitch eacute utilizada para se referir a f0 ou a
frequecircncia da repeticcedilatildeo Na fala a f0 eacute determinada pela taxa de vibraccedilatildeo das cordas vocais localizadas na
laringerdquo 37
ldquonatildeo haacute poreacutem nenhuma correlaccedilatildeo direta ou paralelo entre pitch e frequecircncia outros fatores aleacutem
frequecircncia podem afetar a nossa sensaccedilatildeo de pitch (medido em unidades conhecidas como mels)rdquo 38
ldquoeacute usado fonologicamente na descriccedilatildeo das liacutenguas nas quais a distribuiccedilatildeo dos tons dentro de uma palavra eacute
totalmente previsiacutevel uma vez que se tenha especificado uma caracteriacutestica particular de tons da palavra (tal
como no japonecircs) A noccedilatildeo tambeacutem foi aplicada para o inglecircs em que alguns modelos fonoloacutegicos analisam os
CONTORNOS da entoaccedilatildeo como uma sequecircncia de um ou mais pitch accents cada um associado a uma
SIacuteLABA STRESS-proeminente em uma palavrardquo
27
O sistema ToBI reconhece 5 tipos de pitch accents enquanto Pierrehumbert (1980)
menciona 7 tipos Atraveacutes dessa classificaccedilatildeo eacute possiacutevel delimitar o accent prototiacutepico do
foco ou suas possiacuteveis variantes Beaver amp Clark (2008 p 12) mencionam que ldquoalthough
focus is frequently marked by an H accent [] other accents are possible For example in
yes-no questions focus is often by marked by an L+Hrdquo39
A importante pressuposiccedilatildeo teoacuterica de que toda oraccedilatildeo eacute resposta a uma pergunta
guia a metodologia de muitas investigaccedilotildees sobre o foco sobretudo de trabalhos
experimentais de leitura de sentenccedilas denominados testes de produccedilatildeo Com o pressuposto
teoacuterico da explicitaccedilatildeo do foco por meio de pergunta-resposta eacute possiacutevel delimitar o tipo de
foco a ser analisado broad focus (foco largo) narrow focus (foco estreito) ou contrastive
focus (foco contrastivo) (cf seccedilatildeo 121 p 14) Essa metodologia tem por caracteriacutestica
induzir guiar e restringir os padrotildees meloacutedicos da fala ao fornecer exemplos com contextos
preacutevios ou mesmo com o foco jaacute explicitado na sentenccedila para se obter o resultado desejado
Em investigaccedilatildeo sobre a marcaccedilatildeo prosoacutedica dos focos largo estreito e contrastivo em
alematildeo Baumann et al (2006 p 302) mencionam em sua metodologia de teste de leitura
que
reading material consisted of five question-answer pairs with the
answer bdquoManuela will Blumen malen‟ (Manuela wants to paint
flowers) The main criterion the target sentence had to fulfill was its
continuous voicing so as to be able to accurately measure exact peaks
and valleys in the F0 contour40
Dependendo do objetivo do trabalho ou da liacutengua a ser analisada podem-se controlar
outros fatores Por exemplo em trabalho sobre como o tom lexical e o foco contribuem para a
formaccedilatildeo e alinhamento dos F0 contours no chinecircs Xu (1999 p 58) menciona na
metodologia que
the factors manipulated in the experiment were segmental
composition of syllables lexical tones focus and and sentence types
Of these only lexical tones and focus were under direct scrutiny The
control of the other two factors was done by keeping their variation to
39
ldquoembora o foco seja frequentemente marcado por um accent H [] outros accents satildeo possiacuteveis Por
exemplo em perguntas sim-natildeo o foco eacute muitas vezes marcado por um H + Lrdquo 40
ldquoo material de leitura consistiu de cinco pares de pergunta-resposta com a resposta bdquoManuela will Blumen
malen‟ (Manuela quer pintar flores) O principal criteacuterio que a frase alvo tinha a cumprir era seu vozeamento
contiacutenuo de modo a ser capaz de medir com precisatildeo exata picos e vales no contorno da F0rdquo
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
18
water drinks donkey
bdquoThe donkey is drinking water‟12
Entretanto Hollenbach (1995 p 2) adverte que a relaccedilatildeo semacircntica do foco com a
posiccedilatildeo preacute-verbal eacute obscura jaacute que um constituinte pode ocorrer na posiccedilatildeo preacute-verbal sem
que o falante deseje focalizaacute-lo Entatildeo a autora investiga as condiccedilotildees para que a focalizaccedilatildeo
do constituinte preacute-verbal ocorra13
Ela identificou vaacuterias condiccedilotildees para a identificaccedilatildeo do
foco na posiccedilatildeo preacute-verbal nas liacutenguas do grupo Mixteca entre elas a pausa (11) e a inserccedilatildeo
de conjunccedilotildees coordenadas (12) depois do elemento focalizado
(11) juaacutea ta‟u da ntuku
John splits he firewood
bdquoAs for John he is splitting firewood‟ (Yosonduacutea FARRIS 1992 p 28 apud
HOLLENBACH 1995 p 3)14
(12) sa‟an mi neacute din tavi di kuidaacutedo di
man that and willdo very you care you (Cuicatec BRADLEY 1991
p 493 apud HOLLENBACH 1995 p 3)
Esses satildeo exemplos que a focalizaccedilatildeo natildeo se daacute exclusivamente pela sintaxe mas que
co-ocorre com ela ou seja eacute necessaacuterio que haja mais elementos linguiacutesticos aleacutem da
posiccedilatildeo preacute-verbal para que a focalizaccedilatildeo ocorra de forma satisfatoacuteria
222 Foco morfoloacutegico
O foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de certos morfemas que dependendo da
liacutengua seratildeo cliacuteticos ou morfemas livres Nesse caso ldquoum bdquoMorfema de Ecircnfase‟ seraacute o
elemento responsaacutevel pela iluminaccedilatildeo do elemento destacado no textordquo (GONCcedilALVES
1999 p 336) Natildeo obstante isso natildeo signifique que o foco natildeo possa ser expresso por outros
meios nas liacutenguas em que predominam o meio morfoloacutegico para que a focalizaccedilatildeo ocorra
Esse tipo de focalizaccedilatildeo eacute mais comum em liacutenguas natildeo-indo-europeias como em liacutenguas
12
ldquoO macaco estaacute bebendo aacuteguardquo 13
Hollenbach investigou as condiccedilotildees do foco natildeo soacute na liacutengua Ayutla Mixteca mas em seis variedades do
Mixteca duas do Trique e uma do Cuicatec Essas liacutenguas fazem parte grupo Mixteca que por sua vez faz
parte da famiacutelia das liacutenguas Otomangues faladas sobretudo no sul do Meacutexico As liacutenguas da famiacutelia
Otomangue apresentam a ordem canocircnica VSO 14
ldquoQuanto ao Joatildeo ele estaacute partindo a lenhardquo
19
indiacutegenas brasileiras por exemplo em marubo e em mekens O aacuterabe e o japonecircs tambeacutem
satildeo exemplos de liacutenguas em que ocorre a focalizaccedilatildeo morfoloacutegica Hagesawa (2010 p 1)
explica que no japonecircs ldquoone of the most general properties of focus particles is to relate a
proposition which is newly introduced by the sentence containing a focus particle and
propositions available in the contextrdquo15
Em japonecircs a partiacutecula -shika introduz a noccedilatildeo de exclusividade o que eacute expresso
pela palavra only em inglecircs Essa noccedilatildeo eacute a mesma do foco de identificaccedilatildeo encontrado nas
sentenccedilas clivadas do PB por exemplo Segue o exemplo de Hagesawa (2010 p 4)
(13) Miho-shika ko-na-katta
Miho-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoOnly Miho came‟16
No exemplo (13) a funccedilatildeo do morfema -shika pode ser parafraseada como ldquosomente
Miho veio e mais ningueacutemrdquo Quanto ao padratildeo prosoacutedico das partiacuteculas de foco no japonecircs
Hagesawa (2010 p 33) afirma que
although Japanese focus particles have their own accent patterns
when they occur without a focused constituent or they are stressed as
shown in (14) and (15) they lose their accent pattern and follow the
tone melody of their host when they are suffixed17
18
O autor apresenta os seguintes exemplos
(14) Shikamade-o jisyo-de shirabe-ta
HL HL
SHIKAMADE-ACC dictionary-with lookup-PAST
bdquoI looked up bdquoshika‟‟made‟ in a dictionary‟19
(15) A Yuka-mo ki-ta-no
Yuka-also come-PAST-Q
15
ldquouma das propriedades mais gerais das partiacuteculas de foco eacute relacionar uma proposiccedilatildeo que eacute receacutem-
introduzida pela sentenccedila contendo uma partiacutecula de foco e proposiccedilotildees disponiacuteveis no contextordquo 16
ldquoSomente Miho veiordquo 17
A numeraccedilatildeo dos exemplos natildeo segue a original 18
ldquoconquanto as partiacuteculas de foco do japonecircs tecircm seus padrotildees proacuteprios de accent quando ocorrem sem um
constituinte focalizado ou estatildeo stressed como mostrado em (14) e (15) elas perdem o seu padratildeo de accent e
seguem a melodia tonal do seu hospedeiro quando elas satildeo sufixadasrdquo 19
ldquoEu procurei bdquoshika‟‟made‟ em um dicionaacuteriordquo
20
bdquoDid Yuka also come‟
B Uun Yuka-shika ko-na-katta
HL
no Yuka-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoNo only Yuka came‟20
Na liacutengua Mekens todas as questotildees wh apresentam o cliacutetico foco te como no
exemplo abaixo de Galucio (2002 p 67)
(16) aapo=te o-tek pogabeg-a ke i-koop ikatildeotilde tete
Who=foc 1s-house open-Theme say 3s-aux+mov that time
bdquordquoWho opened my houserdquo She was saying that time‟21
Haacute tambeacutem o uso do recurso sintaacutetico pois o constituinte focalizado sempre aparece
no iniacutecio da sentenccedila A autora menciona que a informaccedilatildeo natildeo-pressuposta das respostas agraves
perguntas wh tambeacutem apareceratildeo na forma de construccedilotildees focalizadas Isso faz com que a
ordem canocircnica ndash SOV ndash dessa liacutengua se altere em sentenccedilas como (17) abaixo por exemplo
extraiacuteda de Galucio (2002 p 68) Notam-se nas duas oraccedilotildees que os sujeitos ocorrem
depois do verbo
(17) serek=te kɨpmatildekatildeỹ kweotildep =te ɨsɨɨ
split=foc floor climb+neg=foc deer
bdquoThe floor split and the deer sank‟22
Alguns autores consideram como morfemas de foco palavras como only also just e
even do inglecircs por exemplo porque elas cumprem a mesma funccedilatildeo semacircntica dos morfemas
de foco em liacutenguas como o japonecircs no exemplo da partiacutecula -shika bdquoonly‟ Na anaacutelise de
Quarezemin (2009 p 112) para as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB ela sugere que nas
construccedilotildees clivadas a coacutepula e o complementizador seriam morfemas de foco Nas palavras
da autora
20
ldquoA Yuka tambeacutem veio Natildeo somente a Yuka veiordquo 21
ldquoQuem abriu minha casa Ela estava dizendo aquela horardquo 22
ldquoO chatildeo se partiu e o veado afundourdquo
21
A hipoacutetese inicial eacute que de um modo geral os falantes do PB
preferem destacar o constituinte focalizado sintaticamente ao inveacutes
de destacaacute-lo apenas com recursos prosoacutedicos Disso surge a hipoacutetese
de que a coacutepula com funccedilatildeo de focalizar e o complementizador das
clivadas podem ser considerados morfemas de foco em PB
Em suma o foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de morfemas que tecircm por objetivo
sinalizar que o constituinte o qual estaacute afixado se encontra focalizado Eles tambeacutem podem
interagir com a sintaxe e a prosoacutedia no caso de aleacutem do morfema de foco estar afixado a um
constituinte que se deseja destacar ele tambeacutem esteja em uma posiccedilatildeo proacutepria para
construccedilotildees focalizadoras ou em casos em que aleacutem da marcaccedilatildeo morfoloacutegica do foco haja
uma proeminecircncia prosoacutedica no constituinte focalizado
223 Foco semacircntico
Em primeiro lugar salientamos que o termo bdquofoco semacircntico‟ pode causar certa
estranheza devido a que diferentemente dos outros tipos neste natildeo haacute uma manifestaccedilatildeo de
forma ldquovisiacutevelrdquo do foco no enunciado isto eacute natildeo haacute uma proeminecircncia prosoacutedica uma
construccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica ou um morfema afixado a um constituinte Antes se trata mais
de uma propriedade do significado da construccedilatildeo focalizadora em um enunciado
As trecircs principais propriedades semacircnticas do foco satildeo as dos enunciados que
apresentam o foco de informaccedilatildeo de identificaccedilatildeo e o contrastivo Geralmente para
determinar a propriedade semacircntica desses tipos de foco recorre-se ao contexto de pergunta-
whresposta ou a outro tipo de contexto induzido O foco de informaccedilatildeo23
introduz uma
informaccedilatildeo novanatildeo-pressuposta e ldquopresume uma pergunta wh como base discursiva para
ser estabelecidordquo (RESENES 2009 p 20) Segue o exemplo de Resenes (2009 p 20)
(18) a O que o Joatildeo bebeu
b O Joatildeo bebeu alguma coisa
c O Joatildeo bebeu [F o vinho]
A pergunta wh estaacute em (18a) Em (18b) encontra-se a pressuposiccedilatildeo expressa pelo
pronome indefinido O foco de informaccedilatildeo se encontra em (18c) e eacute o valor da expressatildeo wh
23
Resenes (2009) utiliza a nomenclatura de ldquofoco natildeo-contrastivordquo para esse tipo de foco
22
da pergunta em (18a) A autora menciona que na Estrutura de Asserccedilatildeo (AS)24
o foco de
(18c) seria representado como
(19) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 O x tal que o Joatildeo bebeu x = [o vinho]
O foco contrastivo corrige uma informaccedilatildeo preacutevia atraveacutes de uma prosoacutedia proacutepria
Resenes (2009 p 20) afirma que ldquoo contexto ideal para o foco contrastivo eacute aquele em que
haacute uma afirmaccedilatildeo preacutevia como base discursivardquo Segue o exemplo da autora (RESENES
2009 p 21)
(20) a O Joatildeo bebeu o vinho
b O Joatildeo bebeu [F a cerveja] (natildeo o vinho)
A AS de (20) seria
(21) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 Natildeo eacute o caso que o x tal que o Joatildeo bebeu x = vinho amp O x tal que o Joatildeo
bebeu o x = a cerveja
O foco de identificaccedilatildeo ldquorepresents a subset of the set of contextually or situationally
given elements for which the predicate phrase can potentially hold it is identified as the
exhaustive subset of this set for which the predicate phrase actually holdsrdquo (KISS 1998 p
245 apud RESENES 2009 p 21)25
Assim o foco de identificaccedilatildeo expressa exaustividade
que pode ser parafraseada como [x e apenas x] Esse tipo de foco eacute ilustrado por uma
sentenccedila clivada em (22) (RESENES 2009 p 21)
(22) Foi [F um perfume] que a Maria deu para o Joatildeo
24
Resenes (2009 p 20) explica que a AS eacute ldquoum niacutevel poacutes-LF (pragmaacutetico) que revela como a informaccedilatildeo estaacute
empacotada na sentenccedila Na AS vai estar explicitada a estrutura da focalizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo o foco e os
tipos de focordquo 25
ldquorepresenta um subconjunto do conjunto de elementos dados contextualmente ou situacionalmente para o qual
a expressatildeo do predicado pode potencialmente conter que eacute identificado como o subconjunto exaustivo deste
conjunto para o qual a expressatildeo de predicado efetivamente conteacutemrdquo
23
Em (22) o foco de identificaccedilatildeo eacute expresso pelo NP um perfume que significa que
dentro de uma seacuterie de possiacuteveis presentes que a Maria poderia ter dado ao Joatildeo ela deu
somente um perfume por isso [x e apenas x]
Contudo o fenocircmeno da focalizaccedilatildeo natildeo se restringe somente agraves respostas das
perguntas wh ou agraves respostas dos contextos induzidos Davis (2009 p 2) assinala que haacute dois
grandes aspectos da constituiccedilatildeo do foco ldquoThe first is its grammar how FOCUS is expressed
in language The second is its meaning It does not require much investigation to discover
that there is no grammatical consistency to FOCUS across languagesrdquo26
O autor nota que em
relaccedilatildeo ao primeiro item natildeo haveria uma forma uacutenica universal para o uso do foco ou seja
uma liacutengua utiliza a sintaxe outra a prosoacutedia outra a morfologia outra a sintaxe e a prosoacutedia
etc ele afirma que ldquoif there is some universal consistency to FOCUS across languages it is
not found in its expressionrdquo27
Quanto ao segundo item as liacutenguas a princiacutepio natildeo
diferenciariam muito em relaccedilatildeo agrave semacircntica do foco Entretanto a propriedade de
destaquerealce sempre estaraacute presente manifestando-se seja por meio da prosoacutedia do
arranjo sintaacutetico ou da marcaccedilatildeo morfoloacutegica Davis (2009 p 2) explica que
If FOCUS will be diferently constituted grammatically its presence
has to be recognized in its semantics One portion of that semantics is
that FOCUS is involved in the answering of wh- questions but not
every utterance is a response to such a question Yet utterances must
the claim says nevertheless contain the semantics (and some
grammar) of FOCUS FOCUS then cannot be only the content
which answers questions There must be more to FOCUS When we
examine languages we discover that FOCUS has an affinity for
certain other semantics and in discovering those affinities we can
amplify our conception of what constitutes FOCUS28
A partir da assunccedilatildeo acima sugere-se que os estudos sobre a focalizaccedilatildeo natildeo
poderiam se restringir agraves anaacutelises de dados de introspecccedilatildeo sobretudo aqueles que explicam o
fenocircmeno somente a partir de dados com contexto pergunta-whresposta A natureza
discursivo-pragmaacutetica da focalizaccedilatildeo faz com que esse fenocircmeno seja melhor compreendido
26
ldquoO primeiro eacute sua gramaacutetica como o FOCO eacute expresso na liacutengua O segundo eacute o seu significado Natildeo se
requer muita investigaccedilatildeo para descobrir que natildeo haacute coerecircncia gramatical do FOCO atraveacutes das liacutenguasrdquo 27
ldquose houver alguma consistecircncia universal para o FOCO entre as liacutenguas natildeo eacute encontrada na sua expressatildeordquo 28
ldquoSe o FOCO seraacute constituiacutedo diferente gramaticalmente a sua presenccedila tem de ser reconhecida em sua
semacircntica Uma parte dessa semacircntica eacute que o FOCO estaacute envolvido nas respostas de perguntas QU mas nem
todo enunciado eacute uma resposta a essas perguntas No entanto os enunciados devem a alegaccedilatildeo diz todavia
conter a semacircntica (e alguma gramaacutetica) do FOCO O FOCO entatildeo natildeo pode ser apenas o conteuacutedo que
responde a perguntas Deve haver mais para o FOCO Quando examinamos as liacutenguas descobrimos que o
FOCO tem uma afinidade com outras semacircnticas e descobrindo essas afinidades podemos ampliar a nossa
concepccedilatildeo do que constitui o FOCOrdquo
24
na liacutengua espontacircnea apesar de natildeo se poder excluir suas propriedades semacircnticas em
diferentes enunciados que podem ser analisados sem o uso de dados de liacutengua espontacircnea
como eacute o caso da investigaccedilatildeo das propriedades semacircnticas do foco em dados de introspecccedilatildeo
e de suas representaccedilotildees formais
224 Foco prosoacutedico
A prosoacutedia eacute um dos traccedilos da camada suprassegmental ou seja que se encontra
acima dos segmentos dispostos linearmente na cadeia sonora da fala Beaver amp Clark (2008
p 2) explicam que os traccedilos suprassegmentais satildeo assim chamados porque ldquothey spread out
across multiple segments (basic sound units) or even across multiple wordsrdquo29
Callou amp
Leite (1990 p31) afirmam que o ldquoconjunto de fenocircmenos dos quais se derivam tipos de
acento padrotildees entoacionais ritmos e velocidades de fala satildeo estudados sob o roacutetulo de
prosoacutediardquo Ao contraacuterio dos segmentos que satildeo descritos pelos movimentos dos articuladores
do aparelho fonador os suprassegmentos satildeo descritos ldquoem termos da accedilatildeo dos muacutesculos
respiratoacuterios que aumentam ou diminuem a energia do fluxo de ar ocasionando duraccedilotildees
frequumlecircncia fundamental e intensidade diferentes das vibraccedilotildees sonorasrdquo (CALLOU amp LEITE
1990 p 30) Paracircmetros acuacutesticos como frequecircncia fundamental intensidade e duraccedilatildeo fiacutesica
satildeo outros traccedilos suprassegmentais que satildeo percebidos respectivamente como pitch
loudness e length que por sua vez ldquoapresentam correlatos fiacutesicos frequumlecircncia amplitude e
tempordquo (LEITE 2009 p 17)30
A frequecircncia eacute medida em Hz (Hertz) a amplitude em dB
(decibeacuteis) e o tempo em ms (milissegundos)
Barbosa (2008) menciona que a prosoacutedia estaacute
associada a fatores linguumliacutesticos como acentuaccedilatildeo entoaccedilatildeo ecircnfase e
ritmo bem como a fatores para- e extra-linguiacutesticos tais como
marcadores discursivos (ldquoneacuterdquo ldquoentendordquo ldquoanhanrdquo) atitudes
emoccedilotildees imbricados a fatores sociais ou bioloacutegicos como gecircnero
faixa etaacuteria classe social entre outros
Segundo Leite (2009 p 18) a prosoacutedia exerceria funccedilotildees ldquogramatical atitudinal
informacional indexal e ilocucionaacuteriardquo Nota-se portanto que eacute muito importante levar em
29
ldquoeles se espalham em vaacuterios segmentos (unidades baacutesicas de som) ou mesmo atraveacutes de muacuteltiplas palavrasrdquo 30
Neste trabalho natildeo se pretende definir minuciosamente todos os conceitos dos correlatos foneacutetico-acuacutesticos
dos sons da fala estudados pela Foneacutetica Acuacutestica Para mais informaccedilotildees cf Ladefoged (1974) Malmberg
(1998) e Johnson (2003)
25
consideraccedilatildeo a prosoacutedia na anaacutelise linguiacutestica visto que ela desempenha funccedilotildees associadas a
fatores intrinsecamente linguiacutesticos bem como a fatores extralinguiacutesticos A prosoacutedia ainda
apresenta um importante papel na aquisiccedilatildeo da linguagem sendo recurso especial para a
crianccedila associar unidades sonoras a significado (cf BRUM DE PAULA 2010)
As investigaccedilotildees do Ciacuterculo Linguiacutestico de Praga sugeriram que os elementos dados
do discurso ou seja aqueles que jaacute haviam sido mencionados seriam prosodicamente menos
relevantes que os elementos novos Disso resulta que a informaccedilatildeo nova ou o foco seja
destacado prosodicamente isto eacute apresente proeminecircncia prosoacutedica A proeminecircncia
prosoacutedica eacute definida como ldquoa quantitative parameter of a syllable or a boundary that describes
markedness relative to surrounding syllables and boundaries respectivelyrdquo (PORTELE amp
HEUFT 1997 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 227)31
Haacute autores que classificam o
foco levando em conta sobretudo o fator proeminecircncia prosoacutedica por exemplo ldquothe term
focus is used [] to describe prosodic prominences serving pragmatic and semantic
functionsrdquo (ROOTH 1995 p 271 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 228)32
O foco prosoacutedico eacute definido por meio de uma proeminecircncia tonal (cf
BUTRAGUENtildeO 2005) Entretanto alguns estudos mostram que o foco natildeo seria marcado
somente com a proeminecircncia tonal ou prosoacutedica Proeminecircncias de outros traccedilos
suprassegmentais como duraccedilatildeo e intensidade tambeacutem marcariam o foco (cf TOLEDO
1989 SOSA 1999 QUAREZEMIN 2009 entre outros) Para Butraguentildeo (2005 p 141) os
focos prosoacutedicos ldquoreciben acentos tonales de contorno especiacutefico que permiten distinguirlos
del fondo (o background)rdquo33
Os paracircmetros de anaacutelise acuacutestica do foco satildeo os movimentos
de F0 o alinhamento entre siacutelabas e F0 duraccedilatildeo das siacutelabas e vogais intensidade da siacutelaba e
em alguns casos pausas e meacutedia entre picos de F0
As abordagens teoacutericas utilizadas nos trabalhos sobre o foco prosoacutedico guiam a
metodologia de anaacutelise dos dados Assim alguns autores que trabalham com uma abordagem
formal utilizando o sistema ToBI (cf SILVERMAN et al 1992) para a anaacutelise dos dados
representam a entoaccedilatildeo dos enunciados marcando as siacutelabas com acentos tonais que se
manifestam em acentos monotonais (H ou L) bitonais (H+L L+H etc) e ainda poderia
haver tons de juntura (H e L) que delimitam as fronteiras dos grupos meloacutedicos Na
Fonologia Entoacional haacute trecircs tipos de tons pitch accents phrase accents e boundary tones
31
ldquoum paracircmetro quantitativo de uma siacutelaba ou de uma fronteira que descreve a marcaccedilatildeo relativa agraves siacutelabas
vizinhas e fronteiras respectivamenterdquo 32
ldquoo termo foco eacute utilizado [] para descrever proeminecircncias prosoacutedicas que servem a funccedilotildees pragmaacuteticas e
semacircnticasrdquo 33
ldquorecebem acentos tonais de contorno especiacutefico que permitem distingui-los do fundo (ou background)rdquo
26
Geralmente o foco eacute marcado por um pitch accent que pode ser definido como ldquoa local
feature of a pitch contour ndash usually but not invariably a pitch change and often involving a
local maximum or minimumrdquo (LADD 1996 p 45-6 apud BEAVER amp CLARK 2008 p
11)34
Segundo Roach (2011 p 67) pitch
is an auditory sensation when we hear a regularly vibrating sound
such as a note played on a musical instrument or a vowel produced
by the human voice we hear a high pitch if the rate of vibration is
high and a low pitch if the rate of vibration is low35
Nooteboom (1997 p 641) atenta para o fato de que ldquoone should be aware however
that rather often the notion bdquopitch‟ is used to refer to f0 or the repetition frequency itself In
speech f0 is determined by the rate of vibration of the vocal cords located in the larynxrdquo36
Ademais Crystal (2008 p 369) adverte que ldquothere is however no direct or parallel
correlation between pitch and frequency other factors than frequency may affect our
sensation of pitch (measured in units known as mels)rdquo37
Pitch countour seria a marcaccedilatildeo dos
uacutenicos pitchs relevantes para a compreensatildeo de um perfil entoacional A teacutecnica da close
copy (cf t‟HART et al 1990) justamente realccedila o pitch countor atraveacutes de uma ldquosiacutentese que
satildeo eliminados movimentos de F0 que natildeo causam diferenccedila de percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao
aacuteudio originalrdquo (ROCHA 2011 p 106) De acordo com Crystal (2008 p 369-370) o termo
pitch accent
is used phonologically in the description of languages in which the
distribution of the tones within a word is totally predictable once one
has specified a particular tonal feature of the word (as in Japanese)
The notion has also been applied to English where some
phonological models analyse intonation CONTOURS as a sequence
of one or more pitch accents each associated with a STRESS-
prominent SYLLABLE in a word38
34
ldquoum traccedilo local de um pitch contour - geralmente mas natildeo invariavelmente variaccedilatildeo de pitch e muitas vezes
envolvendo um local maacuteximo ou miacutenimordquo 35
ldquoeacute uma sensaccedilatildeo auditiva quando ouvimos um som regularmente vibrando como uma nota tocada em um
instrumento musical ou uma vogal produzida pela voz humana noacutes ouvimos um pitch alto se a taxa de vibraccedilatildeo
eacute alta e um pitch baixo se a taxa de vibraccedilatildeo eacute baixardquo 36
ldquodeve-se estar ciente no entanto que muitas vezes a noccedilatildeo de pitch eacute utilizada para se referir a f0 ou a
frequecircncia da repeticcedilatildeo Na fala a f0 eacute determinada pela taxa de vibraccedilatildeo das cordas vocais localizadas na
laringerdquo 37
ldquonatildeo haacute poreacutem nenhuma correlaccedilatildeo direta ou paralelo entre pitch e frequecircncia outros fatores aleacutem
frequecircncia podem afetar a nossa sensaccedilatildeo de pitch (medido em unidades conhecidas como mels)rdquo 38
ldquoeacute usado fonologicamente na descriccedilatildeo das liacutenguas nas quais a distribuiccedilatildeo dos tons dentro de uma palavra eacute
totalmente previsiacutevel uma vez que se tenha especificado uma caracteriacutestica particular de tons da palavra (tal
como no japonecircs) A noccedilatildeo tambeacutem foi aplicada para o inglecircs em que alguns modelos fonoloacutegicos analisam os
CONTORNOS da entoaccedilatildeo como uma sequecircncia de um ou mais pitch accents cada um associado a uma
SIacuteLABA STRESS-proeminente em uma palavrardquo
27
O sistema ToBI reconhece 5 tipos de pitch accents enquanto Pierrehumbert (1980)
menciona 7 tipos Atraveacutes dessa classificaccedilatildeo eacute possiacutevel delimitar o accent prototiacutepico do
foco ou suas possiacuteveis variantes Beaver amp Clark (2008 p 12) mencionam que ldquoalthough
focus is frequently marked by an H accent [] other accents are possible For example in
yes-no questions focus is often by marked by an L+Hrdquo39
A importante pressuposiccedilatildeo teoacuterica de que toda oraccedilatildeo eacute resposta a uma pergunta
guia a metodologia de muitas investigaccedilotildees sobre o foco sobretudo de trabalhos
experimentais de leitura de sentenccedilas denominados testes de produccedilatildeo Com o pressuposto
teoacuterico da explicitaccedilatildeo do foco por meio de pergunta-resposta eacute possiacutevel delimitar o tipo de
foco a ser analisado broad focus (foco largo) narrow focus (foco estreito) ou contrastive
focus (foco contrastivo) (cf seccedilatildeo 121 p 14) Essa metodologia tem por caracteriacutestica
induzir guiar e restringir os padrotildees meloacutedicos da fala ao fornecer exemplos com contextos
preacutevios ou mesmo com o foco jaacute explicitado na sentenccedila para se obter o resultado desejado
Em investigaccedilatildeo sobre a marcaccedilatildeo prosoacutedica dos focos largo estreito e contrastivo em
alematildeo Baumann et al (2006 p 302) mencionam em sua metodologia de teste de leitura
que
reading material consisted of five question-answer pairs with the
answer bdquoManuela will Blumen malen‟ (Manuela wants to paint
flowers) The main criterion the target sentence had to fulfill was its
continuous voicing so as to be able to accurately measure exact peaks
and valleys in the F0 contour40
Dependendo do objetivo do trabalho ou da liacutengua a ser analisada podem-se controlar
outros fatores Por exemplo em trabalho sobre como o tom lexical e o foco contribuem para a
formaccedilatildeo e alinhamento dos F0 contours no chinecircs Xu (1999 p 58) menciona na
metodologia que
the factors manipulated in the experiment were segmental
composition of syllables lexical tones focus and and sentence types
Of these only lexical tones and focus were under direct scrutiny The
control of the other two factors was done by keeping their variation to
39
ldquoembora o foco seja frequentemente marcado por um accent H [] outros accents satildeo possiacuteveis Por
exemplo em perguntas sim-natildeo o foco eacute muitas vezes marcado por um H + Lrdquo 40
ldquoo material de leitura consistiu de cinco pares de pergunta-resposta com a resposta bdquoManuela will Blumen
malen‟ (Manuela quer pintar flores) O principal criteacuterio que a frase alvo tinha a cumprir era seu vozeamento
contiacutenuo de modo a ser capaz de medir com precisatildeo exata picos e vales no contorno da F0rdquo
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
19
indiacutegenas brasileiras por exemplo em marubo e em mekens O aacuterabe e o japonecircs tambeacutem
satildeo exemplos de liacutenguas em que ocorre a focalizaccedilatildeo morfoloacutegica Hagesawa (2010 p 1)
explica que no japonecircs ldquoone of the most general properties of focus particles is to relate a
proposition which is newly introduced by the sentence containing a focus particle and
propositions available in the contextrdquo15
Em japonecircs a partiacutecula -shika introduz a noccedilatildeo de exclusividade o que eacute expresso
pela palavra only em inglecircs Essa noccedilatildeo eacute a mesma do foco de identificaccedilatildeo encontrado nas
sentenccedilas clivadas do PB por exemplo Segue o exemplo de Hagesawa (2010 p 4)
(13) Miho-shika ko-na-katta
Miho-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoOnly Miho came‟16
No exemplo (13) a funccedilatildeo do morfema -shika pode ser parafraseada como ldquosomente
Miho veio e mais ningueacutemrdquo Quanto ao padratildeo prosoacutedico das partiacuteculas de foco no japonecircs
Hagesawa (2010 p 33) afirma que
although Japanese focus particles have their own accent patterns
when they occur without a focused constituent or they are stressed as
shown in (14) and (15) they lose their accent pattern and follow the
tone melody of their host when they are suffixed17
18
O autor apresenta os seguintes exemplos
(14) Shikamade-o jisyo-de shirabe-ta
HL HL
SHIKAMADE-ACC dictionary-with lookup-PAST
bdquoI looked up bdquoshika‟‟made‟ in a dictionary‟19
(15) A Yuka-mo ki-ta-no
Yuka-also come-PAST-Q
15
ldquouma das propriedades mais gerais das partiacuteculas de foco eacute relacionar uma proposiccedilatildeo que eacute receacutem-
introduzida pela sentenccedila contendo uma partiacutecula de foco e proposiccedilotildees disponiacuteveis no contextordquo 16
ldquoSomente Miho veiordquo 17
A numeraccedilatildeo dos exemplos natildeo segue a original 18
ldquoconquanto as partiacuteculas de foco do japonecircs tecircm seus padrotildees proacuteprios de accent quando ocorrem sem um
constituinte focalizado ou estatildeo stressed como mostrado em (14) e (15) elas perdem o seu padratildeo de accent e
seguem a melodia tonal do seu hospedeiro quando elas satildeo sufixadasrdquo 19
ldquoEu procurei bdquoshika‟‟made‟ em um dicionaacuteriordquo
20
bdquoDid Yuka also come‟
B Uun Yuka-shika ko-na-katta
HL
no Yuka-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoNo only Yuka came‟20
Na liacutengua Mekens todas as questotildees wh apresentam o cliacutetico foco te como no
exemplo abaixo de Galucio (2002 p 67)
(16) aapo=te o-tek pogabeg-a ke i-koop ikatildeotilde tete
Who=foc 1s-house open-Theme say 3s-aux+mov that time
bdquordquoWho opened my houserdquo She was saying that time‟21
Haacute tambeacutem o uso do recurso sintaacutetico pois o constituinte focalizado sempre aparece
no iniacutecio da sentenccedila A autora menciona que a informaccedilatildeo natildeo-pressuposta das respostas agraves
perguntas wh tambeacutem apareceratildeo na forma de construccedilotildees focalizadas Isso faz com que a
ordem canocircnica ndash SOV ndash dessa liacutengua se altere em sentenccedilas como (17) abaixo por exemplo
extraiacuteda de Galucio (2002 p 68) Notam-se nas duas oraccedilotildees que os sujeitos ocorrem
depois do verbo
(17) serek=te kɨpmatildekatildeỹ kweotildep =te ɨsɨɨ
split=foc floor climb+neg=foc deer
bdquoThe floor split and the deer sank‟22
Alguns autores consideram como morfemas de foco palavras como only also just e
even do inglecircs por exemplo porque elas cumprem a mesma funccedilatildeo semacircntica dos morfemas
de foco em liacutenguas como o japonecircs no exemplo da partiacutecula -shika bdquoonly‟ Na anaacutelise de
Quarezemin (2009 p 112) para as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB ela sugere que nas
construccedilotildees clivadas a coacutepula e o complementizador seriam morfemas de foco Nas palavras
da autora
20
ldquoA Yuka tambeacutem veio Natildeo somente a Yuka veiordquo 21
ldquoQuem abriu minha casa Ela estava dizendo aquela horardquo 22
ldquoO chatildeo se partiu e o veado afundourdquo
21
A hipoacutetese inicial eacute que de um modo geral os falantes do PB
preferem destacar o constituinte focalizado sintaticamente ao inveacutes
de destacaacute-lo apenas com recursos prosoacutedicos Disso surge a hipoacutetese
de que a coacutepula com funccedilatildeo de focalizar e o complementizador das
clivadas podem ser considerados morfemas de foco em PB
Em suma o foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de morfemas que tecircm por objetivo
sinalizar que o constituinte o qual estaacute afixado se encontra focalizado Eles tambeacutem podem
interagir com a sintaxe e a prosoacutedia no caso de aleacutem do morfema de foco estar afixado a um
constituinte que se deseja destacar ele tambeacutem esteja em uma posiccedilatildeo proacutepria para
construccedilotildees focalizadoras ou em casos em que aleacutem da marcaccedilatildeo morfoloacutegica do foco haja
uma proeminecircncia prosoacutedica no constituinte focalizado
223 Foco semacircntico
Em primeiro lugar salientamos que o termo bdquofoco semacircntico‟ pode causar certa
estranheza devido a que diferentemente dos outros tipos neste natildeo haacute uma manifestaccedilatildeo de
forma ldquovisiacutevelrdquo do foco no enunciado isto eacute natildeo haacute uma proeminecircncia prosoacutedica uma
construccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica ou um morfema afixado a um constituinte Antes se trata mais
de uma propriedade do significado da construccedilatildeo focalizadora em um enunciado
As trecircs principais propriedades semacircnticas do foco satildeo as dos enunciados que
apresentam o foco de informaccedilatildeo de identificaccedilatildeo e o contrastivo Geralmente para
determinar a propriedade semacircntica desses tipos de foco recorre-se ao contexto de pergunta-
whresposta ou a outro tipo de contexto induzido O foco de informaccedilatildeo23
introduz uma
informaccedilatildeo novanatildeo-pressuposta e ldquopresume uma pergunta wh como base discursiva para
ser estabelecidordquo (RESENES 2009 p 20) Segue o exemplo de Resenes (2009 p 20)
(18) a O que o Joatildeo bebeu
b O Joatildeo bebeu alguma coisa
c O Joatildeo bebeu [F o vinho]
A pergunta wh estaacute em (18a) Em (18b) encontra-se a pressuposiccedilatildeo expressa pelo
pronome indefinido O foco de informaccedilatildeo se encontra em (18c) e eacute o valor da expressatildeo wh
23
Resenes (2009) utiliza a nomenclatura de ldquofoco natildeo-contrastivordquo para esse tipo de foco
22
da pergunta em (18a) A autora menciona que na Estrutura de Asserccedilatildeo (AS)24
o foco de
(18c) seria representado como
(19) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 O x tal que o Joatildeo bebeu x = [o vinho]
O foco contrastivo corrige uma informaccedilatildeo preacutevia atraveacutes de uma prosoacutedia proacutepria
Resenes (2009 p 20) afirma que ldquoo contexto ideal para o foco contrastivo eacute aquele em que
haacute uma afirmaccedilatildeo preacutevia como base discursivardquo Segue o exemplo da autora (RESENES
2009 p 21)
(20) a O Joatildeo bebeu o vinho
b O Joatildeo bebeu [F a cerveja] (natildeo o vinho)
A AS de (20) seria
(21) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 Natildeo eacute o caso que o x tal que o Joatildeo bebeu x = vinho amp O x tal que o Joatildeo
bebeu o x = a cerveja
O foco de identificaccedilatildeo ldquorepresents a subset of the set of contextually or situationally
given elements for which the predicate phrase can potentially hold it is identified as the
exhaustive subset of this set for which the predicate phrase actually holdsrdquo (KISS 1998 p
245 apud RESENES 2009 p 21)25
Assim o foco de identificaccedilatildeo expressa exaustividade
que pode ser parafraseada como [x e apenas x] Esse tipo de foco eacute ilustrado por uma
sentenccedila clivada em (22) (RESENES 2009 p 21)
(22) Foi [F um perfume] que a Maria deu para o Joatildeo
24
Resenes (2009 p 20) explica que a AS eacute ldquoum niacutevel poacutes-LF (pragmaacutetico) que revela como a informaccedilatildeo estaacute
empacotada na sentenccedila Na AS vai estar explicitada a estrutura da focalizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo o foco e os
tipos de focordquo 25
ldquorepresenta um subconjunto do conjunto de elementos dados contextualmente ou situacionalmente para o qual
a expressatildeo do predicado pode potencialmente conter que eacute identificado como o subconjunto exaustivo deste
conjunto para o qual a expressatildeo de predicado efetivamente conteacutemrdquo
23
Em (22) o foco de identificaccedilatildeo eacute expresso pelo NP um perfume que significa que
dentro de uma seacuterie de possiacuteveis presentes que a Maria poderia ter dado ao Joatildeo ela deu
somente um perfume por isso [x e apenas x]
Contudo o fenocircmeno da focalizaccedilatildeo natildeo se restringe somente agraves respostas das
perguntas wh ou agraves respostas dos contextos induzidos Davis (2009 p 2) assinala que haacute dois
grandes aspectos da constituiccedilatildeo do foco ldquoThe first is its grammar how FOCUS is expressed
in language The second is its meaning It does not require much investigation to discover
that there is no grammatical consistency to FOCUS across languagesrdquo26
O autor nota que em
relaccedilatildeo ao primeiro item natildeo haveria uma forma uacutenica universal para o uso do foco ou seja
uma liacutengua utiliza a sintaxe outra a prosoacutedia outra a morfologia outra a sintaxe e a prosoacutedia
etc ele afirma que ldquoif there is some universal consistency to FOCUS across languages it is
not found in its expressionrdquo27
Quanto ao segundo item as liacutenguas a princiacutepio natildeo
diferenciariam muito em relaccedilatildeo agrave semacircntica do foco Entretanto a propriedade de
destaquerealce sempre estaraacute presente manifestando-se seja por meio da prosoacutedia do
arranjo sintaacutetico ou da marcaccedilatildeo morfoloacutegica Davis (2009 p 2) explica que
If FOCUS will be diferently constituted grammatically its presence
has to be recognized in its semantics One portion of that semantics is
that FOCUS is involved in the answering of wh- questions but not
every utterance is a response to such a question Yet utterances must
the claim says nevertheless contain the semantics (and some
grammar) of FOCUS FOCUS then cannot be only the content
which answers questions There must be more to FOCUS When we
examine languages we discover that FOCUS has an affinity for
certain other semantics and in discovering those affinities we can
amplify our conception of what constitutes FOCUS28
A partir da assunccedilatildeo acima sugere-se que os estudos sobre a focalizaccedilatildeo natildeo
poderiam se restringir agraves anaacutelises de dados de introspecccedilatildeo sobretudo aqueles que explicam o
fenocircmeno somente a partir de dados com contexto pergunta-whresposta A natureza
discursivo-pragmaacutetica da focalizaccedilatildeo faz com que esse fenocircmeno seja melhor compreendido
26
ldquoO primeiro eacute sua gramaacutetica como o FOCO eacute expresso na liacutengua O segundo eacute o seu significado Natildeo se
requer muita investigaccedilatildeo para descobrir que natildeo haacute coerecircncia gramatical do FOCO atraveacutes das liacutenguasrdquo 27
ldquose houver alguma consistecircncia universal para o FOCO entre as liacutenguas natildeo eacute encontrada na sua expressatildeordquo 28
ldquoSe o FOCO seraacute constituiacutedo diferente gramaticalmente a sua presenccedila tem de ser reconhecida em sua
semacircntica Uma parte dessa semacircntica eacute que o FOCO estaacute envolvido nas respostas de perguntas QU mas nem
todo enunciado eacute uma resposta a essas perguntas No entanto os enunciados devem a alegaccedilatildeo diz todavia
conter a semacircntica (e alguma gramaacutetica) do FOCO O FOCO entatildeo natildeo pode ser apenas o conteuacutedo que
responde a perguntas Deve haver mais para o FOCO Quando examinamos as liacutenguas descobrimos que o
FOCO tem uma afinidade com outras semacircnticas e descobrindo essas afinidades podemos ampliar a nossa
concepccedilatildeo do que constitui o FOCOrdquo
24
na liacutengua espontacircnea apesar de natildeo se poder excluir suas propriedades semacircnticas em
diferentes enunciados que podem ser analisados sem o uso de dados de liacutengua espontacircnea
como eacute o caso da investigaccedilatildeo das propriedades semacircnticas do foco em dados de introspecccedilatildeo
e de suas representaccedilotildees formais
224 Foco prosoacutedico
A prosoacutedia eacute um dos traccedilos da camada suprassegmental ou seja que se encontra
acima dos segmentos dispostos linearmente na cadeia sonora da fala Beaver amp Clark (2008
p 2) explicam que os traccedilos suprassegmentais satildeo assim chamados porque ldquothey spread out
across multiple segments (basic sound units) or even across multiple wordsrdquo29
Callou amp
Leite (1990 p31) afirmam que o ldquoconjunto de fenocircmenos dos quais se derivam tipos de
acento padrotildees entoacionais ritmos e velocidades de fala satildeo estudados sob o roacutetulo de
prosoacutediardquo Ao contraacuterio dos segmentos que satildeo descritos pelos movimentos dos articuladores
do aparelho fonador os suprassegmentos satildeo descritos ldquoem termos da accedilatildeo dos muacutesculos
respiratoacuterios que aumentam ou diminuem a energia do fluxo de ar ocasionando duraccedilotildees
frequumlecircncia fundamental e intensidade diferentes das vibraccedilotildees sonorasrdquo (CALLOU amp LEITE
1990 p 30) Paracircmetros acuacutesticos como frequecircncia fundamental intensidade e duraccedilatildeo fiacutesica
satildeo outros traccedilos suprassegmentais que satildeo percebidos respectivamente como pitch
loudness e length que por sua vez ldquoapresentam correlatos fiacutesicos frequumlecircncia amplitude e
tempordquo (LEITE 2009 p 17)30
A frequecircncia eacute medida em Hz (Hertz) a amplitude em dB
(decibeacuteis) e o tempo em ms (milissegundos)
Barbosa (2008) menciona que a prosoacutedia estaacute
associada a fatores linguumliacutesticos como acentuaccedilatildeo entoaccedilatildeo ecircnfase e
ritmo bem como a fatores para- e extra-linguiacutesticos tais como
marcadores discursivos (ldquoneacuterdquo ldquoentendordquo ldquoanhanrdquo) atitudes
emoccedilotildees imbricados a fatores sociais ou bioloacutegicos como gecircnero
faixa etaacuteria classe social entre outros
Segundo Leite (2009 p 18) a prosoacutedia exerceria funccedilotildees ldquogramatical atitudinal
informacional indexal e ilocucionaacuteriardquo Nota-se portanto que eacute muito importante levar em
29
ldquoeles se espalham em vaacuterios segmentos (unidades baacutesicas de som) ou mesmo atraveacutes de muacuteltiplas palavrasrdquo 30
Neste trabalho natildeo se pretende definir minuciosamente todos os conceitos dos correlatos foneacutetico-acuacutesticos
dos sons da fala estudados pela Foneacutetica Acuacutestica Para mais informaccedilotildees cf Ladefoged (1974) Malmberg
(1998) e Johnson (2003)
25
consideraccedilatildeo a prosoacutedia na anaacutelise linguiacutestica visto que ela desempenha funccedilotildees associadas a
fatores intrinsecamente linguiacutesticos bem como a fatores extralinguiacutesticos A prosoacutedia ainda
apresenta um importante papel na aquisiccedilatildeo da linguagem sendo recurso especial para a
crianccedila associar unidades sonoras a significado (cf BRUM DE PAULA 2010)
As investigaccedilotildees do Ciacuterculo Linguiacutestico de Praga sugeriram que os elementos dados
do discurso ou seja aqueles que jaacute haviam sido mencionados seriam prosodicamente menos
relevantes que os elementos novos Disso resulta que a informaccedilatildeo nova ou o foco seja
destacado prosodicamente isto eacute apresente proeminecircncia prosoacutedica A proeminecircncia
prosoacutedica eacute definida como ldquoa quantitative parameter of a syllable or a boundary that describes
markedness relative to surrounding syllables and boundaries respectivelyrdquo (PORTELE amp
HEUFT 1997 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 227)31
Haacute autores que classificam o
foco levando em conta sobretudo o fator proeminecircncia prosoacutedica por exemplo ldquothe term
focus is used [] to describe prosodic prominences serving pragmatic and semantic
functionsrdquo (ROOTH 1995 p 271 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 228)32
O foco prosoacutedico eacute definido por meio de uma proeminecircncia tonal (cf
BUTRAGUENtildeO 2005) Entretanto alguns estudos mostram que o foco natildeo seria marcado
somente com a proeminecircncia tonal ou prosoacutedica Proeminecircncias de outros traccedilos
suprassegmentais como duraccedilatildeo e intensidade tambeacutem marcariam o foco (cf TOLEDO
1989 SOSA 1999 QUAREZEMIN 2009 entre outros) Para Butraguentildeo (2005 p 141) os
focos prosoacutedicos ldquoreciben acentos tonales de contorno especiacutefico que permiten distinguirlos
del fondo (o background)rdquo33
Os paracircmetros de anaacutelise acuacutestica do foco satildeo os movimentos
de F0 o alinhamento entre siacutelabas e F0 duraccedilatildeo das siacutelabas e vogais intensidade da siacutelaba e
em alguns casos pausas e meacutedia entre picos de F0
As abordagens teoacutericas utilizadas nos trabalhos sobre o foco prosoacutedico guiam a
metodologia de anaacutelise dos dados Assim alguns autores que trabalham com uma abordagem
formal utilizando o sistema ToBI (cf SILVERMAN et al 1992) para a anaacutelise dos dados
representam a entoaccedilatildeo dos enunciados marcando as siacutelabas com acentos tonais que se
manifestam em acentos monotonais (H ou L) bitonais (H+L L+H etc) e ainda poderia
haver tons de juntura (H e L) que delimitam as fronteiras dos grupos meloacutedicos Na
Fonologia Entoacional haacute trecircs tipos de tons pitch accents phrase accents e boundary tones
31
ldquoum paracircmetro quantitativo de uma siacutelaba ou de uma fronteira que descreve a marcaccedilatildeo relativa agraves siacutelabas
vizinhas e fronteiras respectivamenterdquo 32
ldquoo termo foco eacute utilizado [] para descrever proeminecircncias prosoacutedicas que servem a funccedilotildees pragmaacuteticas e
semacircnticasrdquo 33
ldquorecebem acentos tonais de contorno especiacutefico que permitem distingui-los do fundo (ou background)rdquo
26
Geralmente o foco eacute marcado por um pitch accent que pode ser definido como ldquoa local
feature of a pitch contour ndash usually but not invariably a pitch change and often involving a
local maximum or minimumrdquo (LADD 1996 p 45-6 apud BEAVER amp CLARK 2008 p
11)34
Segundo Roach (2011 p 67) pitch
is an auditory sensation when we hear a regularly vibrating sound
such as a note played on a musical instrument or a vowel produced
by the human voice we hear a high pitch if the rate of vibration is
high and a low pitch if the rate of vibration is low35
Nooteboom (1997 p 641) atenta para o fato de que ldquoone should be aware however
that rather often the notion bdquopitch‟ is used to refer to f0 or the repetition frequency itself In
speech f0 is determined by the rate of vibration of the vocal cords located in the larynxrdquo36
Ademais Crystal (2008 p 369) adverte que ldquothere is however no direct or parallel
correlation between pitch and frequency other factors than frequency may affect our
sensation of pitch (measured in units known as mels)rdquo37
Pitch countour seria a marcaccedilatildeo dos
uacutenicos pitchs relevantes para a compreensatildeo de um perfil entoacional A teacutecnica da close
copy (cf t‟HART et al 1990) justamente realccedila o pitch countor atraveacutes de uma ldquosiacutentese que
satildeo eliminados movimentos de F0 que natildeo causam diferenccedila de percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao
aacuteudio originalrdquo (ROCHA 2011 p 106) De acordo com Crystal (2008 p 369-370) o termo
pitch accent
is used phonologically in the description of languages in which the
distribution of the tones within a word is totally predictable once one
has specified a particular tonal feature of the word (as in Japanese)
The notion has also been applied to English where some
phonological models analyse intonation CONTOURS as a sequence
of one or more pitch accents each associated with a STRESS-
prominent SYLLABLE in a word38
34
ldquoum traccedilo local de um pitch contour - geralmente mas natildeo invariavelmente variaccedilatildeo de pitch e muitas vezes
envolvendo um local maacuteximo ou miacutenimordquo 35
ldquoeacute uma sensaccedilatildeo auditiva quando ouvimos um som regularmente vibrando como uma nota tocada em um
instrumento musical ou uma vogal produzida pela voz humana noacutes ouvimos um pitch alto se a taxa de vibraccedilatildeo
eacute alta e um pitch baixo se a taxa de vibraccedilatildeo eacute baixardquo 36
ldquodeve-se estar ciente no entanto que muitas vezes a noccedilatildeo de pitch eacute utilizada para se referir a f0 ou a
frequecircncia da repeticcedilatildeo Na fala a f0 eacute determinada pela taxa de vibraccedilatildeo das cordas vocais localizadas na
laringerdquo 37
ldquonatildeo haacute poreacutem nenhuma correlaccedilatildeo direta ou paralelo entre pitch e frequecircncia outros fatores aleacutem
frequecircncia podem afetar a nossa sensaccedilatildeo de pitch (medido em unidades conhecidas como mels)rdquo 38
ldquoeacute usado fonologicamente na descriccedilatildeo das liacutenguas nas quais a distribuiccedilatildeo dos tons dentro de uma palavra eacute
totalmente previsiacutevel uma vez que se tenha especificado uma caracteriacutestica particular de tons da palavra (tal
como no japonecircs) A noccedilatildeo tambeacutem foi aplicada para o inglecircs em que alguns modelos fonoloacutegicos analisam os
CONTORNOS da entoaccedilatildeo como uma sequecircncia de um ou mais pitch accents cada um associado a uma
SIacuteLABA STRESS-proeminente em uma palavrardquo
27
O sistema ToBI reconhece 5 tipos de pitch accents enquanto Pierrehumbert (1980)
menciona 7 tipos Atraveacutes dessa classificaccedilatildeo eacute possiacutevel delimitar o accent prototiacutepico do
foco ou suas possiacuteveis variantes Beaver amp Clark (2008 p 12) mencionam que ldquoalthough
focus is frequently marked by an H accent [] other accents are possible For example in
yes-no questions focus is often by marked by an L+Hrdquo39
A importante pressuposiccedilatildeo teoacuterica de que toda oraccedilatildeo eacute resposta a uma pergunta
guia a metodologia de muitas investigaccedilotildees sobre o foco sobretudo de trabalhos
experimentais de leitura de sentenccedilas denominados testes de produccedilatildeo Com o pressuposto
teoacuterico da explicitaccedilatildeo do foco por meio de pergunta-resposta eacute possiacutevel delimitar o tipo de
foco a ser analisado broad focus (foco largo) narrow focus (foco estreito) ou contrastive
focus (foco contrastivo) (cf seccedilatildeo 121 p 14) Essa metodologia tem por caracteriacutestica
induzir guiar e restringir os padrotildees meloacutedicos da fala ao fornecer exemplos com contextos
preacutevios ou mesmo com o foco jaacute explicitado na sentenccedila para se obter o resultado desejado
Em investigaccedilatildeo sobre a marcaccedilatildeo prosoacutedica dos focos largo estreito e contrastivo em
alematildeo Baumann et al (2006 p 302) mencionam em sua metodologia de teste de leitura
que
reading material consisted of five question-answer pairs with the
answer bdquoManuela will Blumen malen‟ (Manuela wants to paint
flowers) The main criterion the target sentence had to fulfill was its
continuous voicing so as to be able to accurately measure exact peaks
and valleys in the F0 contour40
Dependendo do objetivo do trabalho ou da liacutengua a ser analisada podem-se controlar
outros fatores Por exemplo em trabalho sobre como o tom lexical e o foco contribuem para a
formaccedilatildeo e alinhamento dos F0 contours no chinecircs Xu (1999 p 58) menciona na
metodologia que
the factors manipulated in the experiment were segmental
composition of syllables lexical tones focus and and sentence types
Of these only lexical tones and focus were under direct scrutiny The
control of the other two factors was done by keeping their variation to
39
ldquoembora o foco seja frequentemente marcado por um accent H [] outros accents satildeo possiacuteveis Por
exemplo em perguntas sim-natildeo o foco eacute muitas vezes marcado por um H + Lrdquo 40
ldquoo material de leitura consistiu de cinco pares de pergunta-resposta com a resposta bdquoManuela will Blumen
malen‟ (Manuela quer pintar flores) O principal criteacuterio que a frase alvo tinha a cumprir era seu vozeamento
contiacutenuo de modo a ser capaz de medir com precisatildeo exata picos e vales no contorno da F0rdquo
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
20
bdquoDid Yuka also come‟
B Uun Yuka-shika ko-na-katta
HL
no Yuka-SHIKA come-NEG-PAST
bdquoNo only Yuka came‟20
Na liacutengua Mekens todas as questotildees wh apresentam o cliacutetico foco te como no
exemplo abaixo de Galucio (2002 p 67)
(16) aapo=te o-tek pogabeg-a ke i-koop ikatildeotilde tete
Who=foc 1s-house open-Theme say 3s-aux+mov that time
bdquordquoWho opened my houserdquo She was saying that time‟21
Haacute tambeacutem o uso do recurso sintaacutetico pois o constituinte focalizado sempre aparece
no iniacutecio da sentenccedila A autora menciona que a informaccedilatildeo natildeo-pressuposta das respostas agraves
perguntas wh tambeacutem apareceratildeo na forma de construccedilotildees focalizadas Isso faz com que a
ordem canocircnica ndash SOV ndash dessa liacutengua se altere em sentenccedilas como (17) abaixo por exemplo
extraiacuteda de Galucio (2002 p 68) Notam-se nas duas oraccedilotildees que os sujeitos ocorrem
depois do verbo
(17) serek=te kɨpmatildekatildeỹ kweotildep =te ɨsɨɨ
split=foc floor climb+neg=foc deer
bdquoThe floor split and the deer sank‟22
Alguns autores consideram como morfemas de foco palavras como only also just e
even do inglecircs por exemplo porque elas cumprem a mesma funccedilatildeo semacircntica dos morfemas
de foco em liacutenguas como o japonecircs no exemplo da partiacutecula -shika bdquoonly‟ Na anaacutelise de
Quarezemin (2009 p 112) para as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB ela sugere que nas
construccedilotildees clivadas a coacutepula e o complementizador seriam morfemas de foco Nas palavras
da autora
20
ldquoA Yuka tambeacutem veio Natildeo somente a Yuka veiordquo 21
ldquoQuem abriu minha casa Ela estava dizendo aquela horardquo 22
ldquoO chatildeo se partiu e o veado afundourdquo
21
A hipoacutetese inicial eacute que de um modo geral os falantes do PB
preferem destacar o constituinte focalizado sintaticamente ao inveacutes
de destacaacute-lo apenas com recursos prosoacutedicos Disso surge a hipoacutetese
de que a coacutepula com funccedilatildeo de focalizar e o complementizador das
clivadas podem ser considerados morfemas de foco em PB
Em suma o foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de morfemas que tecircm por objetivo
sinalizar que o constituinte o qual estaacute afixado se encontra focalizado Eles tambeacutem podem
interagir com a sintaxe e a prosoacutedia no caso de aleacutem do morfema de foco estar afixado a um
constituinte que se deseja destacar ele tambeacutem esteja em uma posiccedilatildeo proacutepria para
construccedilotildees focalizadoras ou em casos em que aleacutem da marcaccedilatildeo morfoloacutegica do foco haja
uma proeminecircncia prosoacutedica no constituinte focalizado
223 Foco semacircntico
Em primeiro lugar salientamos que o termo bdquofoco semacircntico‟ pode causar certa
estranheza devido a que diferentemente dos outros tipos neste natildeo haacute uma manifestaccedilatildeo de
forma ldquovisiacutevelrdquo do foco no enunciado isto eacute natildeo haacute uma proeminecircncia prosoacutedica uma
construccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica ou um morfema afixado a um constituinte Antes se trata mais
de uma propriedade do significado da construccedilatildeo focalizadora em um enunciado
As trecircs principais propriedades semacircnticas do foco satildeo as dos enunciados que
apresentam o foco de informaccedilatildeo de identificaccedilatildeo e o contrastivo Geralmente para
determinar a propriedade semacircntica desses tipos de foco recorre-se ao contexto de pergunta-
whresposta ou a outro tipo de contexto induzido O foco de informaccedilatildeo23
introduz uma
informaccedilatildeo novanatildeo-pressuposta e ldquopresume uma pergunta wh como base discursiva para
ser estabelecidordquo (RESENES 2009 p 20) Segue o exemplo de Resenes (2009 p 20)
(18) a O que o Joatildeo bebeu
b O Joatildeo bebeu alguma coisa
c O Joatildeo bebeu [F o vinho]
A pergunta wh estaacute em (18a) Em (18b) encontra-se a pressuposiccedilatildeo expressa pelo
pronome indefinido O foco de informaccedilatildeo se encontra em (18c) e eacute o valor da expressatildeo wh
23
Resenes (2009) utiliza a nomenclatura de ldquofoco natildeo-contrastivordquo para esse tipo de foco
22
da pergunta em (18a) A autora menciona que na Estrutura de Asserccedilatildeo (AS)24
o foco de
(18c) seria representado como
(19) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 O x tal que o Joatildeo bebeu x = [o vinho]
O foco contrastivo corrige uma informaccedilatildeo preacutevia atraveacutes de uma prosoacutedia proacutepria
Resenes (2009 p 20) afirma que ldquoo contexto ideal para o foco contrastivo eacute aquele em que
haacute uma afirmaccedilatildeo preacutevia como base discursivardquo Segue o exemplo da autora (RESENES
2009 p 21)
(20) a O Joatildeo bebeu o vinho
b O Joatildeo bebeu [F a cerveja] (natildeo o vinho)
A AS de (20) seria
(21) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 Natildeo eacute o caso que o x tal que o Joatildeo bebeu x = vinho amp O x tal que o Joatildeo
bebeu o x = a cerveja
O foco de identificaccedilatildeo ldquorepresents a subset of the set of contextually or situationally
given elements for which the predicate phrase can potentially hold it is identified as the
exhaustive subset of this set for which the predicate phrase actually holdsrdquo (KISS 1998 p
245 apud RESENES 2009 p 21)25
Assim o foco de identificaccedilatildeo expressa exaustividade
que pode ser parafraseada como [x e apenas x] Esse tipo de foco eacute ilustrado por uma
sentenccedila clivada em (22) (RESENES 2009 p 21)
(22) Foi [F um perfume] que a Maria deu para o Joatildeo
24
Resenes (2009 p 20) explica que a AS eacute ldquoum niacutevel poacutes-LF (pragmaacutetico) que revela como a informaccedilatildeo estaacute
empacotada na sentenccedila Na AS vai estar explicitada a estrutura da focalizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo o foco e os
tipos de focordquo 25
ldquorepresenta um subconjunto do conjunto de elementos dados contextualmente ou situacionalmente para o qual
a expressatildeo do predicado pode potencialmente conter que eacute identificado como o subconjunto exaustivo deste
conjunto para o qual a expressatildeo de predicado efetivamente conteacutemrdquo
23
Em (22) o foco de identificaccedilatildeo eacute expresso pelo NP um perfume que significa que
dentro de uma seacuterie de possiacuteveis presentes que a Maria poderia ter dado ao Joatildeo ela deu
somente um perfume por isso [x e apenas x]
Contudo o fenocircmeno da focalizaccedilatildeo natildeo se restringe somente agraves respostas das
perguntas wh ou agraves respostas dos contextos induzidos Davis (2009 p 2) assinala que haacute dois
grandes aspectos da constituiccedilatildeo do foco ldquoThe first is its grammar how FOCUS is expressed
in language The second is its meaning It does not require much investigation to discover
that there is no grammatical consistency to FOCUS across languagesrdquo26
O autor nota que em
relaccedilatildeo ao primeiro item natildeo haveria uma forma uacutenica universal para o uso do foco ou seja
uma liacutengua utiliza a sintaxe outra a prosoacutedia outra a morfologia outra a sintaxe e a prosoacutedia
etc ele afirma que ldquoif there is some universal consistency to FOCUS across languages it is
not found in its expressionrdquo27
Quanto ao segundo item as liacutenguas a princiacutepio natildeo
diferenciariam muito em relaccedilatildeo agrave semacircntica do foco Entretanto a propriedade de
destaquerealce sempre estaraacute presente manifestando-se seja por meio da prosoacutedia do
arranjo sintaacutetico ou da marcaccedilatildeo morfoloacutegica Davis (2009 p 2) explica que
If FOCUS will be diferently constituted grammatically its presence
has to be recognized in its semantics One portion of that semantics is
that FOCUS is involved in the answering of wh- questions but not
every utterance is a response to such a question Yet utterances must
the claim says nevertheless contain the semantics (and some
grammar) of FOCUS FOCUS then cannot be only the content
which answers questions There must be more to FOCUS When we
examine languages we discover that FOCUS has an affinity for
certain other semantics and in discovering those affinities we can
amplify our conception of what constitutes FOCUS28
A partir da assunccedilatildeo acima sugere-se que os estudos sobre a focalizaccedilatildeo natildeo
poderiam se restringir agraves anaacutelises de dados de introspecccedilatildeo sobretudo aqueles que explicam o
fenocircmeno somente a partir de dados com contexto pergunta-whresposta A natureza
discursivo-pragmaacutetica da focalizaccedilatildeo faz com que esse fenocircmeno seja melhor compreendido
26
ldquoO primeiro eacute sua gramaacutetica como o FOCO eacute expresso na liacutengua O segundo eacute o seu significado Natildeo se
requer muita investigaccedilatildeo para descobrir que natildeo haacute coerecircncia gramatical do FOCO atraveacutes das liacutenguasrdquo 27
ldquose houver alguma consistecircncia universal para o FOCO entre as liacutenguas natildeo eacute encontrada na sua expressatildeordquo 28
ldquoSe o FOCO seraacute constituiacutedo diferente gramaticalmente a sua presenccedila tem de ser reconhecida em sua
semacircntica Uma parte dessa semacircntica eacute que o FOCO estaacute envolvido nas respostas de perguntas QU mas nem
todo enunciado eacute uma resposta a essas perguntas No entanto os enunciados devem a alegaccedilatildeo diz todavia
conter a semacircntica (e alguma gramaacutetica) do FOCO O FOCO entatildeo natildeo pode ser apenas o conteuacutedo que
responde a perguntas Deve haver mais para o FOCO Quando examinamos as liacutenguas descobrimos que o
FOCO tem uma afinidade com outras semacircnticas e descobrindo essas afinidades podemos ampliar a nossa
concepccedilatildeo do que constitui o FOCOrdquo
24
na liacutengua espontacircnea apesar de natildeo se poder excluir suas propriedades semacircnticas em
diferentes enunciados que podem ser analisados sem o uso de dados de liacutengua espontacircnea
como eacute o caso da investigaccedilatildeo das propriedades semacircnticas do foco em dados de introspecccedilatildeo
e de suas representaccedilotildees formais
224 Foco prosoacutedico
A prosoacutedia eacute um dos traccedilos da camada suprassegmental ou seja que se encontra
acima dos segmentos dispostos linearmente na cadeia sonora da fala Beaver amp Clark (2008
p 2) explicam que os traccedilos suprassegmentais satildeo assim chamados porque ldquothey spread out
across multiple segments (basic sound units) or even across multiple wordsrdquo29
Callou amp
Leite (1990 p31) afirmam que o ldquoconjunto de fenocircmenos dos quais se derivam tipos de
acento padrotildees entoacionais ritmos e velocidades de fala satildeo estudados sob o roacutetulo de
prosoacutediardquo Ao contraacuterio dos segmentos que satildeo descritos pelos movimentos dos articuladores
do aparelho fonador os suprassegmentos satildeo descritos ldquoem termos da accedilatildeo dos muacutesculos
respiratoacuterios que aumentam ou diminuem a energia do fluxo de ar ocasionando duraccedilotildees
frequumlecircncia fundamental e intensidade diferentes das vibraccedilotildees sonorasrdquo (CALLOU amp LEITE
1990 p 30) Paracircmetros acuacutesticos como frequecircncia fundamental intensidade e duraccedilatildeo fiacutesica
satildeo outros traccedilos suprassegmentais que satildeo percebidos respectivamente como pitch
loudness e length que por sua vez ldquoapresentam correlatos fiacutesicos frequumlecircncia amplitude e
tempordquo (LEITE 2009 p 17)30
A frequecircncia eacute medida em Hz (Hertz) a amplitude em dB
(decibeacuteis) e o tempo em ms (milissegundos)
Barbosa (2008) menciona que a prosoacutedia estaacute
associada a fatores linguumliacutesticos como acentuaccedilatildeo entoaccedilatildeo ecircnfase e
ritmo bem como a fatores para- e extra-linguiacutesticos tais como
marcadores discursivos (ldquoneacuterdquo ldquoentendordquo ldquoanhanrdquo) atitudes
emoccedilotildees imbricados a fatores sociais ou bioloacutegicos como gecircnero
faixa etaacuteria classe social entre outros
Segundo Leite (2009 p 18) a prosoacutedia exerceria funccedilotildees ldquogramatical atitudinal
informacional indexal e ilocucionaacuteriardquo Nota-se portanto que eacute muito importante levar em
29
ldquoeles se espalham em vaacuterios segmentos (unidades baacutesicas de som) ou mesmo atraveacutes de muacuteltiplas palavrasrdquo 30
Neste trabalho natildeo se pretende definir minuciosamente todos os conceitos dos correlatos foneacutetico-acuacutesticos
dos sons da fala estudados pela Foneacutetica Acuacutestica Para mais informaccedilotildees cf Ladefoged (1974) Malmberg
(1998) e Johnson (2003)
25
consideraccedilatildeo a prosoacutedia na anaacutelise linguiacutestica visto que ela desempenha funccedilotildees associadas a
fatores intrinsecamente linguiacutesticos bem como a fatores extralinguiacutesticos A prosoacutedia ainda
apresenta um importante papel na aquisiccedilatildeo da linguagem sendo recurso especial para a
crianccedila associar unidades sonoras a significado (cf BRUM DE PAULA 2010)
As investigaccedilotildees do Ciacuterculo Linguiacutestico de Praga sugeriram que os elementos dados
do discurso ou seja aqueles que jaacute haviam sido mencionados seriam prosodicamente menos
relevantes que os elementos novos Disso resulta que a informaccedilatildeo nova ou o foco seja
destacado prosodicamente isto eacute apresente proeminecircncia prosoacutedica A proeminecircncia
prosoacutedica eacute definida como ldquoa quantitative parameter of a syllable or a boundary that describes
markedness relative to surrounding syllables and boundaries respectivelyrdquo (PORTELE amp
HEUFT 1997 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 227)31
Haacute autores que classificam o
foco levando em conta sobretudo o fator proeminecircncia prosoacutedica por exemplo ldquothe term
focus is used [] to describe prosodic prominences serving pragmatic and semantic
functionsrdquo (ROOTH 1995 p 271 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 228)32
O foco prosoacutedico eacute definido por meio de uma proeminecircncia tonal (cf
BUTRAGUENtildeO 2005) Entretanto alguns estudos mostram que o foco natildeo seria marcado
somente com a proeminecircncia tonal ou prosoacutedica Proeminecircncias de outros traccedilos
suprassegmentais como duraccedilatildeo e intensidade tambeacutem marcariam o foco (cf TOLEDO
1989 SOSA 1999 QUAREZEMIN 2009 entre outros) Para Butraguentildeo (2005 p 141) os
focos prosoacutedicos ldquoreciben acentos tonales de contorno especiacutefico que permiten distinguirlos
del fondo (o background)rdquo33
Os paracircmetros de anaacutelise acuacutestica do foco satildeo os movimentos
de F0 o alinhamento entre siacutelabas e F0 duraccedilatildeo das siacutelabas e vogais intensidade da siacutelaba e
em alguns casos pausas e meacutedia entre picos de F0
As abordagens teoacutericas utilizadas nos trabalhos sobre o foco prosoacutedico guiam a
metodologia de anaacutelise dos dados Assim alguns autores que trabalham com uma abordagem
formal utilizando o sistema ToBI (cf SILVERMAN et al 1992) para a anaacutelise dos dados
representam a entoaccedilatildeo dos enunciados marcando as siacutelabas com acentos tonais que se
manifestam em acentos monotonais (H ou L) bitonais (H+L L+H etc) e ainda poderia
haver tons de juntura (H e L) que delimitam as fronteiras dos grupos meloacutedicos Na
Fonologia Entoacional haacute trecircs tipos de tons pitch accents phrase accents e boundary tones
31
ldquoum paracircmetro quantitativo de uma siacutelaba ou de uma fronteira que descreve a marcaccedilatildeo relativa agraves siacutelabas
vizinhas e fronteiras respectivamenterdquo 32
ldquoo termo foco eacute utilizado [] para descrever proeminecircncias prosoacutedicas que servem a funccedilotildees pragmaacuteticas e
semacircnticasrdquo 33
ldquorecebem acentos tonais de contorno especiacutefico que permitem distingui-los do fundo (ou background)rdquo
26
Geralmente o foco eacute marcado por um pitch accent que pode ser definido como ldquoa local
feature of a pitch contour ndash usually but not invariably a pitch change and often involving a
local maximum or minimumrdquo (LADD 1996 p 45-6 apud BEAVER amp CLARK 2008 p
11)34
Segundo Roach (2011 p 67) pitch
is an auditory sensation when we hear a regularly vibrating sound
such as a note played on a musical instrument or a vowel produced
by the human voice we hear a high pitch if the rate of vibration is
high and a low pitch if the rate of vibration is low35
Nooteboom (1997 p 641) atenta para o fato de que ldquoone should be aware however
that rather often the notion bdquopitch‟ is used to refer to f0 or the repetition frequency itself In
speech f0 is determined by the rate of vibration of the vocal cords located in the larynxrdquo36
Ademais Crystal (2008 p 369) adverte que ldquothere is however no direct or parallel
correlation between pitch and frequency other factors than frequency may affect our
sensation of pitch (measured in units known as mels)rdquo37
Pitch countour seria a marcaccedilatildeo dos
uacutenicos pitchs relevantes para a compreensatildeo de um perfil entoacional A teacutecnica da close
copy (cf t‟HART et al 1990) justamente realccedila o pitch countor atraveacutes de uma ldquosiacutentese que
satildeo eliminados movimentos de F0 que natildeo causam diferenccedila de percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao
aacuteudio originalrdquo (ROCHA 2011 p 106) De acordo com Crystal (2008 p 369-370) o termo
pitch accent
is used phonologically in the description of languages in which the
distribution of the tones within a word is totally predictable once one
has specified a particular tonal feature of the word (as in Japanese)
The notion has also been applied to English where some
phonological models analyse intonation CONTOURS as a sequence
of one or more pitch accents each associated with a STRESS-
prominent SYLLABLE in a word38
34
ldquoum traccedilo local de um pitch contour - geralmente mas natildeo invariavelmente variaccedilatildeo de pitch e muitas vezes
envolvendo um local maacuteximo ou miacutenimordquo 35
ldquoeacute uma sensaccedilatildeo auditiva quando ouvimos um som regularmente vibrando como uma nota tocada em um
instrumento musical ou uma vogal produzida pela voz humana noacutes ouvimos um pitch alto se a taxa de vibraccedilatildeo
eacute alta e um pitch baixo se a taxa de vibraccedilatildeo eacute baixardquo 36
ldquodeve-se estar ciente no entanto que muitas vezes a noccedilatildeo de pitch eacute utilizada para se referir a f0 ou a
frequecircncia da repeticcedilatildeo Na fala a f0 eacute determinada pela taxa de vibraccedilatildeo das cordas vocais localizadas na
laringerdquo 37
ldquonatildeo haacute poreacutem nenhuma correlaccedilatildeo direta ou paralelo entre pitch e frequecircncia outros fatores aleacutem
frequecircncia podem afetar a nossa sensaccedilatildeo de pitch (medido em unidades conhecidas como mels)rdquo 38
ldquoeacute usado fonologicamente na descriccedilatildeo das liacutenguas nas quais a distribuiccedilatildeo dos tons dentro de uma palavra eacute
totalmente previsiacutevel uma vez que se tenha especificado uma caracteriacutestica particular de tons da palavra (tal
como no japonecircs) A noccedilatildeo tambeacutem foi aplicada para o inglecircs em que alguns modelos fonoloacutegicos analisam os
CONTORNOS da entoaccedilatildeo como uma sequecircncia de um ou mais pitch accents cada um associado a uma
SIacuteLABA STRESS-proeminente em uma palavrardquo
27
O sistema ToBI reconhece 5 tipos de pitch accents enquanto Pierrehumbert (1980)
menciona 7 tipos Atraveacutes dessa classificaccedilatildeo eacute possiacutevel delimitar o accent prototiacutepico do
foco ou suas possiacuteveis variantes Beaver amp Clark (2008 p 12) mencionam que ldquoalthough
focus is frequently marked by an H accent [] other accents are possible For example in
yes-no questions focus is often by marked by an L+Hrdquo39
A importante pressuposiccedilatildeo teoacuterica de que toda oraccedilatildeo eacute resposta a uma pergunta
guia a metodologia de muitas investigaccedilotildees sobre o foco sobretudo de trabalhos
experimentais de leitura de sentenccedilas denominados testes de produccedilatildeo Com o pressuposto
teoacuterico da explicitaccedilatildeo do foco por meio de pergunta-resposta eacute possiacutevel delimitar o tipo de
foco a ser analisado broad focus (foco largo) narrow focus (foco estreito) ou contrastive
focus (foco contrastivo) (cf seccedilatildeo 121 p 14) Essa metodologia tem por caracteriacutestica
induzir guiar e restringir os padrotildees meloacutedicos da fala ao fornecer exemplos com contextos
preacutevios ou mesmo com o foco jaacute explicitado na sentenccedila para se obter o resultado desejado
Em investigaccedilatildeo sobre a marcaccedilatildeo prosoacutedica dos focos largo estreito e contrastivo em
alematildeo Baumann et al (2006 p 302) mencionam em sua metodologia de teste de leitura
que
reading material consisted of five question-answer pairs with the
answer bdquoManuela will Blumen malen‟ (Manuela wants to paint
flowers) The main criterion the target sentence had to fulfill was its
continuous voicing so as to be able to accurately measure exact peaks
and valleys in the F0 contour40
Dependendo do objetivo do trabalho ou da liacutengua a ser analisada podem-se controlar
outros fatores Por exemplo em trabalho sobre como o tom lexical e o foco contribuem para a
formaccedilatildeo e alinhamento dos F0 contours no chinecircs Xu (1999 p 58) menciona na
metodologia que
the factors manipulated in the experiment were segmental
composition of syllables lexical tones focus and and sentence types
Of these only lexical tones and focus were under direct scrutiny The
control of the other two factors was done by keeping their variation to
39
ldquoembora o foco seja frequentemente marcado por um accent H [] outros accents satildeo possiacuteveis Por
exemplo em perguntas sim-natildeo o foco eacute muitas vezes marcado por um H + Lrdquo 40
ldquoo material de leitura consistiu de cinco pares de pergunta-resposta com a resposta bdquoManuela will Blumen
malen‟ (Manuela quer pintar flores) O principal criteacuterio que a frase alvo tinha a cumprir era seu vozeamento
contiacutenuo de modo a ser capaz de medir com precisatildeo exata picos e vales no contorno da F0rdquo
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
21
A hipoacutetese inicial eacute que de um modo geral os falantes do PB
preferem destacar o constituinte focalizado sintaticamente ao inveacutes
de destacaacute-lo apenas com recursos prosoacutedicos Disso surge a hipoacutetese
de que a coacutepula com funccedilatildeo de focalizar e o complementizador das
clivadas podem ser considerados morfemas de foco em PB
Em suma o foco morfoloacutegico eacute expresso atraveacutes de morfemas que tecircm por objetivo
sinalizar que o constituinte o qual estaacute afixado se encontra focalizado Eles tambeacutem podem
interagir com a sintaxe e a prosoacutedia no caso de aleacutem do morfema de foco estar afixado a um
constituinte que se deseja destacar ele tambeacutem esteja em uma posiccedilatildeo proacutepria para
construccedilotildees focalizadoras ou em casos em que aleacutem da marcaccedilatildeo morfoloacutegica do foco haja
uma proeminecircncia prosoacutedica no constituinte focalizado
223 Foco semacircntico
Em primeiro lugar salientamos que o termo bdquofoco semacircntico‟ pode causar certa
estranheza devido a que diferentemente dos outros tipos neste natildeo haacute uma manifestaccedilatildeo de
forma ldquovisiacutevelrdquo do foco no enunciado isto eacute natildeo haacute uma proeminecircncia prosoacutedica uma
construccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica ou um morfema afixado a um constituinte Antes se trata mais
de uma propriedade do significado da construccedilatildeo focalizadora em um enunciado
As trecircs principais propriedades semacircnticas do foco satildeo as dos enunciados que
apresentam o foco de informaccedilatildeo de identificaccedilatildeo e o contrastivo Geralmente para
determinar a propriedade semacircntica desses tipos de foco recorre-se ao contexto de pergunta-
whresposta ou a outro tipo de contexto induzido O foco de informaccedilatildeo23
introduz uma
informaccedilatildeo novanatildeo-pressuposta e ldquopresume uma pergunta wh como base discursiva para
ser estabelecidordquo (RESENES 2009 p 20) Segue o exemplo de Resenes (2009 p 20)
(18) a O que o Joatildeo bebeu
b O Joatildeo bebeu alguma coisa
c O Joatildeo bebeu [F o vinho]
A pergunta wh estaacute em (18a) Em (18b) encontra-se a pressuposiccedilatildeo expressa pelo
pronome indefinido O foco de informaccedilatildeo se encontra em (18c) e eacute o valor da expressatildeo wh
23
Resenes (2009) utiliza a nomenclatura de ldquofoco natildeo-contrastivordquo para esse tipo de foco
22
da pergunta em (18a) A autora menciona que na Estrutura de Asserccedilatildeo (AS)24
o foco de
(18c) seria representado como
(19) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 O x tal que o Joatildeo bebeu x = [o vinho]
O foco contrastivo corrige uma informaccedilatildeo preacutevia atraveacutes de uma prosoacutedia proacutepria
Resenes (2009 p 20) afirma que ldquoo contexto ideal para o foco contrastivo eacute aquele em que
haacute uma afirmaccedilatildeo preacutevia como base discursivardquo Segue o exemplo da autora (RESENES
2009 p 21)
(20) a O Joatildeo bebeu o vinho
b O Joatildeo bebeu [F a cerveja] (natildeo o vinho)
A AS de (20) seria
(21) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 Natildeo eacute o caso que o x tal que o Joatildeo bebeu x = vinho amp O x tal que o Joatildeo
bebeu o x = a cerveja
O foco de identificaccedilatildeo ldquorepresents a subset of the set of contextually or situationally
given elements for which the predicate phrase can potentially hold it is identified as the
exhaustive subset of this set for which the predicate phrase actually holdsrdquo (KISS 1998 p
245 apud RESENES 2009 p 21)25
Assim o foco de identificaccedilatildeo expressa exaustividade
que pode ser parafraseada como [x e apenas x] Esse tipo de foco eacute ilustrado por uma
sentenccedila clivada em (22) (RESENES 2009 p 21)
(22) Foi [F um perfume] que a Maria deu para o Joatildeo
24
Resenes (2009 p 20) explica que a AS eacute ldquoum niacutevel poacutes-LF (pragmaacutetico) que revela como a informaccedilatildeo estaacute
empacotada na sentenccedila Na AS vai estar explicitada a estrutura da focalizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo o foco e os
tipos de focordquo 25
ldquorepresenta um subconjunto do conjunto de elementos dados contextualmente ou situacionalmente para o qual
a expressatildeo do predicado pode potencialmente conter que eacute identificado como o subconjunto exaustivo deste
conjunto para o qual a expressatildeo de predicado efetivamente conteacutemrdquo
23
Em (22) o foco de identificaccedilatildeo eacute expresso pelo NP um perfume que significa que
dentro de uma seacuterie de possiacuteveis presentes que a Maria poderia ter dado ao Joatildeo ela deu
somente um perfume por isso [x e apenas x]
Contudo o fenocircmeno da focalizaccedilatildeo natildeo se restringe somente agraves respostas das
perguntas wh ou agraves respostas dos contextos induzidos Davis (2009 p 2) assinala que haacute dois
grandes aspectos da constituiccedilatildeo do foco ldquoThe first is its grammar how FOCUS is expressed
in language The second is its meaning It does not require much investigation to discover
that there is no grammatical consistency to FOCUS across languagesrdquo26
O autor nota que em
relaccedilatildeo ao primeiro item natildeo haveria uma forma uacutenica universal para o uso do foco ou seja
uma liacutengua utiliza a sintaxe outra a prosoacutedia outra a morfologia outra a sintaxe e a prosoacutedia
etc ele afirma que ldquoif there is some universal consistency to FOCUS across languages it is
not found in its expressionrdquo27
Quanto ao segundo item as liacutenguas a princiacutepio natildeo
diferenciariam muito em relaccedilatildeo agrave semacircntica do foco Entretanto a propriedade de
destaquerealce sempre estaraacute presente manifestando-se seja por meio da prosoacutedia do
arranjo sintaacutetico ou da marcaccedilatildeo morfoloacutegica Davis (2009 p 2) explica que
If FOCUS will be diferently constituted grammatically its presence
has to be recognized in its semantics One portion of that semantics is
that FOCUS is involved in the answering of wh- questions but not
every utterance is a response to such a question Yet utterances must
the claim says nevertheless contain the semantics (and some
grammar) of FOCUS FOCUS then cannot be only the content
which answers questions There must be more to FOCUS When we
examine languages we discover that FOCUS has an affinity for
certain other semantics and in discovering those affinities we can
amplify our conception of what constitutes FOCUS28
A partir da assunccedilatildeo acima sugere-se que os estudos sobre a focalizaccedilatildeo natildeo
poderiam se restringir agraves anaacutelises de dados de introspecccedilatildeo sobretudo aqueles que explicam o
fenocircmeno somente a partir de dados com contexto pergunta-whresposta A natureza
discursivo-pragmaacutetica da focalizaccedilatildeo faz com que esse fenocircmeno seja melhor compreendido
26
ldquoO primeiro eacute sua gramaacutetica como o FOCO eacute expresso na liacutengua O segundo eacute o seu significado Natildeo se
requer muita investigaccedilatildeo para descobrir que natildeo haacute coerecircncia gramatical do FOCO atraveacutes das liacutenguasrdquo 27
ldquose houver alguma consistecircncia universal para o FOCO entre as liacutenguas natildeo eacute encontrada na sua expressatildeordquo 28
ldquoSe o FOCO seraacute constituiacutedo diferente gramaticalmente a sua presenccedila tem de ser reconhecida em sua
semacircntica Uma parte dessa semacircntica eacute que o FOCO estaacute envolvido nas respostas de perguntas QU mas nem
todo enunciado eacute uma resposta a essas perguntas No entanto os enunciados devem a alegaccedilatildeo diz todavia
conter a semacircntica (e alguma gramaacutetica) do FOCO O FOCO entatildeo natildeo pode ser apenas o conteuacutedo que
responde a perguntas Deve haver mais para o FOCO Quando examinamos as liacutenguas descobrimos que o
FOCO tem uma afinidade com outras semacircnticas e descobrindo essas afinidades podemos ampliar a nossa
concepccedilatildeo do que constitui o FOCOrdquo
24
na liacutengua espontacircnea apesar de natildeo se poder excluir suas propriedades semacircnticas em
diferentes enunciados que podem ser analisados sem o uso de dados de liacutengua espontacircnea
como eacute o caso da investigaccedilatildeo das propriedades semacircnticas do foco em dados de introspecccedilatildeo
e de suas representaccedilotildees formais
224 Foco prosoacutedico
A prosoacutedia eacute um dos traccedilos da camada suprassegmental ou seja que se encontra
acima dos segmentos dispostos linearmente na cadeia sonora da fala Beaver amp Clark (2008
p 2) explicam que os traccedilos suprassegmentais satildeo assim chamados porque ldquothey spread out
across multiple segments (basic sound units) or even across multiple wordsrdquo29
Callou amp
Leite (1990 p31) afirmam que o ldquoconjunto de fenocircmenos dos quais se derivam tipos de
acento padrotildees entoacionais ritmos e velocidades de fala satildeo estudados sob o roacutetulo de
prosoacutediardquo Ao contraacuterio dos segmentos que satildeo descritos pelos movimentos dos articuladores
do aparelho fonador os suprassegmentos satildeo descritos ldquoem termos da accedilatildeo dos muacutesculos
respiratoacuterios que aumentam ou diminuem a energia do fluxo de ar ocasionando duraccedilotildees
frequumlecircncia fundamental e intensidade diferentes das vibraccedilotildees sonorasrdquo (CALLOU amp LEITE
1990 p 30) Paracircmetros acuacutesticos como frequecircncia fundamental intensidade e duraccedilatildeo fiacutesica
satildeo outros traccedilos suprassegmentais que satildeo percebidos respectivamente como pitch
loudness e length que por sua vez ldquoapresentam correlatos fiacutesicos frequumlecircncia amplitude e
tempordquo (LEITE 2009 p 17)30
A frequecircncia eacute medida em Hz (Hertz) a amplitude em dB
(decibeacuteis) e o tempo em ms (milissegundos)
Barbosa (2008) menciona que a prosoacutedia estaacute
associada a fatores linguumliacutesticos como acentuaccedilatildeo entoaccedilatildeo ecircnfase e
ritmo bem como a fatores para- e extra-linguiacutesticos tais como
marcadores discursivos (ldquoneacuterdquo ldquoentendordquo ldquoanhanrdquo) atitudes
emoccedilotildees imbricados a fatores sociais ou bioloacutegicos como gecircnero
faixa etaacuteria classe social entre outros
Segundo Leite (2009 p 18) a prosoacutedia exerceria funccedilotildees ldquogramatical atitudinal
informacional indexal e ilocucionaacuteriardquo Nota-se portanto que eacute muito importante levar em
29
ldquoeles se espalham em vaacuterios segmentos (unidades baacutesicas de som) ou mesmo atraveacutes de muacuteltiplas palavrasrdquo 30
Neste trabalho natildeo se pretende definir minuciosamente todos os conceitos dos correlatos foneacutetico-acuacutesticos
dos sons da fala estudados pela Foneacutetica Acuacutestica Para mais informaccedilotildees cf Ladefoged (1974) Malmberg
(1998) e Johnson (2003)
25
consideraccedilatildeo a prosoacutedia na anaacutelise linguiacutestica visto que ela desempenha funccedilotildees associadas a
fatores intrinsecamente linguiacutesticos bem como a fatores extralinguiacutesticos A prosoacutedia ainda
apresenta um importante papel na aquisiccedilatildeo da linguagem sendo recurso especial para a
crianccedila associar unidades sonoras a significado (cf BRUM DE PAULA 2010)
As investigaccedilotildees do Ciacuterculo Linguiacutestico de Praga sugeriram que os elementos dados
do discurso ou seja aqueles que jaacute haviam sido mencionados seriam prosodicamente menos
relevantes que os elementos novos Disso resulta que a informaccedilatildeo nova ou o foco seja
destacado prosodicamente isto eacute apresente proeminecircncia prosoacutedica A proeminecircncia
prosoacutedica eacute definida como ldquoa quantitative parameter of a syllable or a boundary that describes
markedness relative to surrounding syllables and boundaries respectivelyrdquo (PORTELE amp
HEUFT 1997 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 227)31
Haacute autores que classificam o
foco levando em conta sobretudo o fator proeminecircncia prosoacutedica por exemplo ldquothe term
focus is used [] to describe prosodic prominences serving pragmatic and semantic
functionsrdquo (ROOTH 1995 p 271 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 228)32
O foco prosoacutedico eacute definido por meio de uma proeminecircncia tonal (cf
BUTRAGUENtildeO 2005) Entretanto alguns estudos mostram que o foco natildeo seria marcado
somente com a proeminecircncia tonal ou prosoacutedica Proeminecircncias de outros traccedilos
suprassegmentais como duraccedilatildeo e intensidade tambeacutem marcariam o foco (cf TOLEDO
1989 SOSA 1999 QUAREZEMIN 2009 entre outros) Para Butraguentildeo (2005 p 141) os
focos prosoacutedicos ldquoreciben acentos tonales de contorno especiacutefico que permiten distinguirlos
del fondo (o background)rdquo33
Os paracircmetros de anaacutelise acuacutestica do foco satildeo os movimentos
de F0 o alinhamento entre siacutelabas e F0 duraccedilatildeo das siacutelabas e vogais intensidade da siacutelaba e
em alguns casos pausas e meacutedia entre picos de F0
As abordagens teoacutericas utilizadas nos trabalhos sobre o foco prosoacutedico guiam a
metodologia de anaacutelise dos dados Assim alguns autores que trabalham com uma abordagem
formal utilizando o sistema ToBI (cf SILVERMAN et al 1992) para a anaacutelise dos dados
representam a entoaccedilatildeo dos enunciados marcando as siacutelabas com acentos tonais que se
manifestam em acentos monotonais (H ou L) bitonais (H+L L+H etc) e ainda poderia
haver tons de juntura (H e L) que delimitam as fronteiras dos grupos meloacutedicos Na
Fonologia Entoacional haacute trecircs tipos de tons pitch accents phrase accents e boundary tones
31
ldquoum paracircmetro quantitativo de uma siacutelaba ou de uma fronteira que descreve a marcaccedilatildeo relativa agraves siacutelabas
vizinhas e fronteiras respectivamenterdquo 32
ldquoo termo foco eacute utilizado [] para descrever proeminecircncias prosoacutedicas que servem a funccedilotildees pragmaacuteticas e
semacircnticasrdquo 33
ldquorecebem acentos tonais de contorno especiacutefico que permitem distingui-los do fundo (ou background)rdquo
26
Geralmente o foco eacute marcado por um pitch accent que pode ser definido como ldquoa local
feature of a pitch contour ndash usually but not invariably a pitch change and often involving a
local maximum or minimumrdquo (LADD 1996 p 45-6 apud BEAVER amp CLARK 2008 p
11)34
Segundo Roach (2011 p 67) pitch
is an auditory sensation when we hear a regularly vibrating sound
such as a note played on a musical instrument or a vowel produced
by the human voice we hear a high pitch if the rate of vibration is
high and a low pitch if the rate of vibration is low35
Nooteboom (1997 p 641) atenta para o fato de que ldquoone should be aware however
that rather often the notion bdquopitch‟ is used to refer to f0 or the repetition frequency itself In
speech f0 is determined by the rate of vibration of the vocal cords located in the larynxrdquo36
Ademais Crystal (2008 p 369) adverte que ldquothere is however no direct or parallel
correlation between pitch and frequency other factors than frequency may affect our
sensation of pitch (measured in units known as mels)rdquo37
Pitch countour seria a marcaccedilatildeo dos
uacutenicos pitchs relevantes para a compreensatildeo de um perfil entoacional A teacutecnica da close
copy (cf t‟HART et al 1990) justamente realccedila o pitch countor atraveacutes de uma ldquosiacutentese que
satildeo eliminados movimentos de F0 que natildeo causam diferenccedila de percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao
aacuteudio originalrdquo (ROCHA 2011 p 106) De acordo com Crystal (2008 p 369-370) o termo
pitch accent
is used phonologically in the description of languages in which the
distribution of the tones within a word is totally predictable once one
has specified a particular tonal feature of the word (as in Japanese)
The notion has also been applied to English where some
phonological models analyse intonation CONTOURS as a sequence
of one or more pitch accents each associated with a STRESS-
prominent SYLLABLE in a word38
34
ldquoum traccedilo local de um pitch contour - geralmente mas natildeo invariavelmente variaccedilatildeo de pitch e muitas vezes
envolvendo um local maacuteximo ou miacutenimordquo 35
ldquoeacute uma sensaccedilatildeo auditiva quando ouvimos um som regularmente vibrando como uma nota tocada em um
instrumento musical ou uma vogal produzida pela voz humana noacutes ouvimos um pitch alto se a taxa de vibraccedilatildeo
eacute alta e um pitch baixo se a taxa de vibraccedilatildeo eacute baixardquo 36
ldquodeve-se estar ciente no entanto que muitas vezes a noccedilatildeo de pitch eacute utilizada para se referir a f0 ou a
frequecircncia da repeticcedilatildeo Na fala a f0 eacute determinada pela taxa de vibraccedilatildeo das cordas vocais localizadas na
laringerdquo 37
ldquonatildeo haacute poreacutem nenhuma correlaccedilatildeo direta ou paralelo entre pitch e frequecircncia outros fatores aleacutem
frequecircncia podem afetar a nossa sensaccedilatildeo de pitch (medido em unidades conhecidas como mels)rdquo 38
ldquoeacute usado fonologicamente na descriccedilatildeo das liacutenguas nas quais a distribuiccedilatildeo dos tons dentro de uma palavra eacute
totalmente previsiacutevel uma vez que se tenha especificado uma caracteriacutestica particular de tons da palavra (tal
como no japonecircs) A noccedilatildeo tambeacutem foi aplicada para o inglecircs em que alguns modelos fonoloacutegicos analisam os
CONTORNOS da entoaccedilatildeo como uma sequecircncia de um ou mais pitch accents cada um associado a uma
SIacuteLABA STRESS-proeminente em uma palavrardquo
27
O sistema ToBI reconhece 5 tipos de pitch accents enquanto Pierrehumbert (1980)
menciona 7 tipos Atraveacutes dessa classificaccedilatildeo eacute possiacutevel delimitar o accent prototiacutepico do
foco ou suas possiacuteveis variantes Beaver amp Clark (2008 p 12) mencionam que ldquoalthough
focus is frequently marked by an H accent [] other accents are possible For example in
yes-no questions focus is often by marked by an L+Hrdquo39
A importante pressuposiccedilatildeo teoacuterica de que toda oraccedilatildeo eacute resposta a uma pergunta
guia a metodologia de muitas investigaccedilotildees sobre o foco sobretudo de trabalhos
experimentais de leitura de sentenccedilas denominados testes de produccedilatildeo Com o pressuposto
teoacuterico da explicitaccedilatildeo do foco por meio de pergunta-resposta eacute possiacutevel delimitar o tipo de
foco a ser analisado broad focus (foco largo) narrow focus (foco estreito) ou contrastive
focus (foco contrastivo) (cf seccedilatildeo 121 p 14) Essa metodologia tem por caracteriacutestica
induzir guiar e restringir os padrotildees meloacutedicos da fala ao fornecer exemplos com contextos
preacutevios ou mesmo com o foco jaacute explicitado na sentenccedila para se obter o resultado desejado
Em investigaccedilatildeo sobre a marcaccedilatildeo prosoacutedica dos focos largo estreito e contrastivo em
alematildeo Baumann et al (2006 p 302) mencionam em sua metodologia de teste de leitura
que
reading material consisted of five question-answer pairs with the
answer bdquoManuela will Blumen malen‟ (Manuela wants to paint
flowers) The main criterion the target sentence had to fulfill was its
continuous voicing so as to be able to accurately measure exact peaks
and valleys in the F0 contour40
Dependendo do objetivo do trabalho ou da liacutengua a ser analisada podem-se controlar
outros fatores Por exemplo em trabalho sobre como o tom lexical e o foco contribuem para a
formaccedilatildeo e alinhamento dos F0 contours no chinecircs Xu (1999 p 58) menciona na
metodologia que
the factors manipulated in the experiment were segmental
composition of syllables lexical tones focus and and sentence types
Of these only lexical tones and focus were under direct scrutiny The
control of the other two factors was done by keeping their variation to
39
ldquoembora o foco seja frequentemente marcado por um accent H [] outros accents satildeo possiacuteveis Por
exemplo em perguntas sim-natildeo o foco eacute muitas vezes marcado por um H + Lrdquo 40
ldquoo material de leitura consistiu de cinco pares de pergunta-resposta com a resposta bdquoManuela will Blumen
malen‟ (Manuela quer pintar flores) O principal criteacuterio que a frase alvo tinha a cumprir era seu vozeamento
contiacutenuo de modo a ser capaz de medir com precisatildeo exata picos e vales no contorno da F0rdquo
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
22
da pergunta em (18a) A autora menciona que na Estrutura de Asserccedilatildeo (AS)24
o foco de
(18c) seria representado como
(19) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 O x tal que o Joatildeo bebeu x = [o vinho]
O foco contrastivo corrige uma informaccedilatildeo preacutevia atraveacutes de uma prosoacutedia proacutepria
Resenes (2009 p 20) afirma que ldquoo contexto ideal para o foco contrastivo eacute aquele em que
haacute uma afirmaccedilatildeo preacutevia como base discursivardquo Segue o exemplo da autora (RESENES
2009 p 21)
(20) a O Joatildeo bebeu o vinho
b O Joatildeo bebeu [F a cerveja] (natildeo o vinho)
A AS de (20) seria
(21) A1 Existe um x tal que o Joatildeo bebeu x
A2 Natildeo eacute o caso que o x tal que o Joatildeo bebeu x = vinho amp O x tal que o Joatildeo
bebeu o x = a cerveja
O foco de identificaccedilatildeo ldquorepresents a subset of the set of contextually or situationally
given elements for which the predicate phrase can potentially hold it is identified as the
exhaustive subset of this set for which the predicate phrase actually holdsrdquo (KISS 1998 p
245 apud RESENES 2009 p 21)25
Assim o foco de identificaccedilatildeo expressa exaustividade
que pode ser parafraseada como [x e apenas x] Esse tipo de foco eacute ilustrado por uma
sentenccedila clivada em (22) (RESENES 2009 p 21)
(22) Foi [F um perfume] que a Maria deu para o Joatildeo
24
Resenes (2009 p 20) explica que a AS eacute ldquoum niacutevel poacutes-LF (pragmaacutetico) que revela como a informaccedilatildeo estaacute
empacotada na sentenccedila Na AS vai estar explicitada a estrutura da focalizaccedilatildeo a pressuposiccedilatildeo o foco e os
tipos de focordquo 25
ldquorepresenta um subconjunto do conjunto de elementos dados contextualmente ou situacionalmente para o qual
a expressatildeo do predicado pode potencialmente conter que eacute identificado como o subconjunto exaustivo deste
conjunto para o qual a expressatildeo de predicado efetivamente conteacutemrdquo
23
Em (22) o foco de identificaccedilatildeo eacute expresso pelo NP um perfume que significa que
dentro de uma seacuterie de possiacuteveis presentes que a Maria poderia ter dado ao Joatildeo ela deu
somente um perfume por isso [x e apenas x]
Contudo o fenocircmeno da focalizaccedilatildeo natildeo se restringe somente agraves respostas das
perguntas wh ou agraves respostas dos contextos induzidos Davis (2009 p 2) assinala que haacute dois
grandes aspectos da constituiccedilatildeo do foco ldquoThe first is its grammar how FOCUS is expressed
in language The second is its meaning It does not require much investigation to discover
that there is no grammatical consistency to FOCUS across languagesrdquo26
O autor nota que em
relaccedilatildeo ao primeiro item natildeo haveria uma forma uacutenica universal para o uso do foco ou seja
uma liacutengua utiliza a sintaxe outra a prosoacutedia outra a morfologia outra a sintaxe e a prosoacutedia
etc ele afirma que ldquoif there is some universal consistency to FOCUS across languages it is
not found in its expressionrdquo27
Quanto ao segundo item as liacutenguas a princiacutepio natildeo
diferenciariam muito em relaccedilatildeo agrave semacircntica do foco Entretanto a propriedade de
destaquerealce sempre estaraacute presente manifestando-se seja por meio da prosoacutedia do
arranjo sintaacutetico ou da marcaccedilatildeo morfoloacutegica Davis (2009 p 2) explica que
If FOCUS will be diferently constituted grammatically its presence
has to be recognized in its semantics One portion of that semantics is
that FOCUS is involved in the answering of wh- questions but not
every utterance is a response to such a question Yet utterances must
the claim says nevertheless contain the semantics (and some
grammar) of FOCUS FOCUS then cannot be only the content
which answers questions There must be more to FOCUS When we
examine languages we discover that FOCUS has an affinity for
certain other semantics and in discovering those affinities we can
amplify our conception of what constitutes FOCUS28
A partir da assunccedilatildeo acima sugere-se que os estudos sobre a focalizaccedilatildeo natildeo
poderiam se restringir agraves anaacutelises de dados de introspecccedilatildeo sobretudo aqueles que explicam o
fenocircmeno somente a partir de dados com contexto pergunta-whresposta A natureza
discursivo-pragmaacutetica da focalizaccedilatildeo faz com que esse fenocircmeno seja melhor compreendido
26
ldquoO primeiro eacute sua gramaacutetica como o FOCO eacute expresso na liacutengua O segundo eacute o seu significado Natildeo se
requer muita investigaccedilatildeo para descobrir que natildeo haacute coerecircncia gramatical do FOCO atraveacutes das liacutenguasrdquo 27
ldquose houver alguma consistecircncia universal para o FOCO entre as liacutenguas natildeo eacute encontrada na sua expressatildeordquo 28
ldquoSe o FOCO seraacute constituiacutedo diferente gramaticalmente a sua presenccedila tem de ser reconhecida em sua
semacircntica Uma parte dessa semacircntica eacute que o FOCO estaacute envolvido nas respostas de perguntas QU mas nem
todo enunciado eacute uma resposta a essas perguntas No entanto os enunciados devem a alegaccedilatildeo diz todavia
conter a semacircntica (e alguma gramaacutetica) do FOCO O FOCO entatildeo natildeo pode ser apenas o conteuacutedo que
responde a perguntas Deve haver mais para o FOCO Quando examinamos as liacutenguas descobrimos que o
FOCO tem uma afinidade com outras semacircnticas e descobrindo essas afinidades podemos ampliar a nossa
concepccedilatildeo do que constitui o FOCOrdquo
24
na liacutengua espontacircnea apesar de natildeo se poder excluir suas propriedades semacircnticas em
diferentes enunciados que podem ser analisados sem o uso de dados de liacutengua espontacircnea
como eacute o caso da investigaccedilatildeo das propriedades semacircnticas do foco em dados de introspecccedilatildeo
e de suas representaccedilotildees formais
224 Foco prosoacutedico
A prosoacutedia eacute um dos traccedilos da camada suprassegmental ou seja que se encontra
acima dos segmentos dispostos linearmente na cadeia sonora da fala Beaver amp Clark (2008
p 2) explicam que os traccedilos suprassegmentais satildeo assim chamados porque ldquothey spread out
across multiple segments (basic sound units) or even across multiple wordsrdquo29
Callou amp
Leite (1990 p31) afirmam que o ldquoconjunto de fenocircmenos dos quais se derivam tipos de
acento padrotildees entoacionais ritmos e velocidades de fala satildeo estudados sob o roacutetulo de
prosoacutediardquo Ao contraacuterio dos segmentos que satildeo descritos pelos movimentos dos articuladores
do aparelho fonador os suprassegmentos satildeo descritos ldquoem termos da accedilatildeo dos muacutesculos
respiratoacuterios que aumentam ou diminuem a energia do fluxo de ar ocasionando duraccedilotildees
frequumlecircncia fundamental e intensidade diferentes das vibraccedilotildees sonorasrdquo (CALLOU amp LEITE
1990 p 30) Paracircmetros acuacutesticos como frequecircncia fundamental intensidade e duraccedilatildeo fiacutesica
satildeo outros traccedilos suprassegmentais que satildeo percebidos respectivamente como pitch
loudness e length que por sua vez ldquoapresentam correlatos fiacutesicos frequumlecircncia amplitude e
tempordquo (LEITE 2009 p 17)30
A frequecircncia eacute medida em Hz (Hertz) a amplitude em dB
(decibeacuteis) e o tempo em ms (milissegundos)
Barbosa (2008) menciona que a prosoacutedia estaacute
associada a fatores linguumliacutesticos como acentuaccedilatildeo entoaccedilatildeo ecircnfase e
ritmo bem como a fatores para- e extra-linguiacutesticos tais como
marcadores discursivos (ldquoneacuterdquo ldquoentendordquo ldquoanhanrdquo) atitudes
emoccedilotildees imbricados a fatores sociais ou bioloacutegicos como gecircnero
faixa etaacuteria classe social entre outros
Segundo Leite (2009 p 18) a prosoacutedia exerceria funccedilotildees ldquogramatical atitudinal
informacional indexal e ilocucionaacuteriardquo Nota-se portanto que eacute muito importante levar em
29
ldquoeles se espalham em vaacuterios segmentos (unidades baacutesicas de som) ou mesmo atraveacutes de muacuteltiplas palavrasrdquo 30
Neste trabalho natildeo se pretende definir minuciosamente todos os conceitos dos correlatos foneacutetico-acuacutesticos
dos sons da fala estudados pela Foneacutetica Acuacutestica Para mais informaccedilotildees cf Ladefoged (1974) Malmberg
(1998) e Johnson (2003)
25
consideraccedilatildeo a prosoacutedia na anaacutelise linguiacutestica visto que ela desempenha funccedilotildees associadas a
fatores intrinsecamente linguiacutesticos bem como a fatores extralinguiacutesticos A prosoacutedia ainda
apresenta um importante papel na aquisiccedilatildeo da linguagem sendo recurso especial para a
crianccedila associar unidades sonoras a significado (cf BRUM DE PAULA 2010)
As investigaccedilotildees do Ciacuterculo Linguiacutestico de Praga sugeriram que os elementos dados
do discurso ou seja aqueles que jaacute haviam sido mencionados seriam prosodicamente menos
relevantes que os elementos novos Disso resulta que a informaccedilatildeo nova ou o foco seja
destacado prosodicamente isto eacute apresente proeminecircncia prosoacutedica A proeminecircncia
prosoacutedica eacute definida como ldquoa quantitative parameter of a syllable or a boundary that describes
markedness relative to surrounding syllables and boundaries respectivelyrdquo (PORTELE amp
HEUFT 1997 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 227)31
Haacute autores que classificam o
foco levando em conta sobretudo o fator proeminecircncia prosoacutedica por exemplo ldquothe term
focus is used [] to describe prosodic prominences serving pragmatic and semantic
functionsrdquo (ROOTH 1995 p 271 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 228)32
O foco prosoacutedico eacute definido por meio de uma proeminecircncia tonal (cf
BUTRAGUENtildeO 2005) Entretanto alguns estudos mostram que o foco natildeo seria marcado
somente com a proeminecircncia tonal ou prosoacutedica Proeminecircncias de outros traccedilos
suprassegmentais como duraccedilatildeo e intensidade tambeacutem marcariam o foco (cf TOLEDO
1989 SOSA 1999 QUAREZEMIN 2009 entre outros) Para Butraguentildeo (2005 p 141) os
focos prosoacutedicos ldquoreciben acentos tonales de contorno especiacutefico que permiten distinguirlos
del fondo (o background)rdquo33
Os paracircmetros de anaacutelise acuacutestica do foco satildeo os movimentos
de F0 o alinhamento entre siacutelabas e F0 duraccedilatildeo das siacutelabas e vogais intensidade da siacutelaba e
em alguns casos pausas e meacutedia entre picos de F0
As abordagens teoacutericas utilizadas nos trabalhos sobre o foco prosoacutedico guiam a
metodologia de anaacutelise dos dados Assim alguns autores que trabalham com uma abordagem
formal utilizando o sistema ToBI (cf SILVERMAN et al 1992) para a anaacutelise dos dados
representam a entoaccedilatildeo dos enunciados marcando as siacutelabas com acentos tonais que se
manifestam em acentos monotonais (H ou L) bitonais (H+L L+H etc) e ainda poderia
haver tons de juntura (H e L) que delimitam as fronteiras dos grupos meloacutedicos Na
Fonologia Entoacional haacute trecircs tipos de tons pitch accents phrase accents e boundary tones
31
ldquoum paracircmetro quantitativo de uma siacutelaba ou de uma fronteira que descreve a marcaccedilatildeo relativa agraves siacutelabas
vizinhas e fronteiras respectivamenterdquo 32
ldquoo termo foco eacute utilizado [] para descrever proeminecircncias prosoacutedicas que servem a funccedilotildees pragmaacuteticas e
semacircnticasrdquo 33
ldquorecebem acentos tonais de contorno especiacutefico que permitem distingui-los do fundo (ou background)rdquo
26
Geralmente o foco eacute marcado por um pitch accent que pode ser definido como ldquoa local
feature of a pitch contour ndash usually but not invariably a pitch change and often involving a
local maximum or minimumrdquo (LADD 1996 p 45-6 apud BEAVER amp CLARK 2008 p
11)34
Segundo Roach (2011 p 67) pitch
is an auditory sensation when we hear a regularly vibrating sound
such as a note played on a musical instrument or a vowel produced
by the human voice we hear a high pitch if the rate of vibration is
high and a low pitch if the rate of vibration is low35
Nooteboom (1997 p 641) atenta para o fato de que ldquoone should be aware however
that rather often the notion bdquopitch‟ is used to refer to f0 or the repetition frequency itself In
speech f0 is determined by the rate of vibration of the vocal cords located in the larynxrdquo36
Ademais Crystal (2008 p 369) adverte que ldquothere is however no direct or parallel
correlation between pitch and frequency other factors than frequency may affect our
sensation of pitch (measured in units known as mels)rdquo37
Pitch countour seria a marcaccedilatildeo dos
uacutenicos pitchs relevantes para a compreensatildeo de um perfil entoacional A teacutecnica da close
copy (cf t‟HART et al 1990) justamente realccedila o pitch countor atraveacutes de uma ldquosiacutentese que
satildeo eliminados movimentos de F0 que natildeo causam diferenccedila de percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao
aacuteudio originalrdquo (ROCHA 2011 p 106) De acordo com Crystal (2008 p 369-370) o termo
pitch accent
is used phonologically in the description of languages in which the
distribution of the tones within a word is totally predictable once one
has specified a particular tonal feature of the word (as in Japanese)
The notion has also been applied to English where some
phonological models analyse intonation CONTOURS as a sequence
of one or more pitch accents each associated with a STRESS-
prominent SYLLABLE in a word38
34
ldquoum traccedilo local de um pitch contour - geralmente mas natildeo invariavelmente variaccedilatildeo de pitch e muitas vezes
envolvendo um local maacuteximo ou miacutenimordquo 35
ldquoeacute uma sensaccedilatildeo auditiva quando ouvimos um som regularmente vibrando como uma nota tocada em um
instrumento musical ou uma vogal produzida pela voz humana noacutes ouvimos um pitch alto se a taxa de vibraccedilatildeo
eacute alta e um pitch baixo se a taxa de vibraccedilatildeo eacute baixardquo 36
ldquodeve-se estar ciente no entanto que muitas vezes a noccedilatildeo de pitch eacute utilizada para se referir a f0 ou a
frequecircncia da repeticcedilatildeo Na fala a f0 eacute determinada pela taxa de vibraccedilatildeo das cordas vocais localizadas na
laringerdquo 37
ldquonatildeo haacute poreacutem nenhuma correlaccedilatildeo direta ou paralelo entre pitch e frequecircncia outros fatores aleacutem
frequecircncia podem afetar a nossa sensaccedilatildeo de pitch (medido em unidades conhecidas como mels)rdquo 38
ldquoeacute usado fonologicamente na descriccedilatildeo das liacutenguas nas quais a distribuiccedilatildeo dos tons dentro de uma palavra eacute
totalmente previsiacutevel uma vez que se tenha especificado uma caracteriacutestica particular de tons da palavra (tal
como no japonecircs) A noccedilatildeo tambeacutem foi aplicada para o inglecircs em que alguns modelos fonoloacutegicos analisam os
CONTORNOS da entoaccedilatildeo como uma sequecircncia de um ou mais pitch accents cada um associado a uma
SIacuteLABA STRESS-proeminente em uma palavrardquo
27
O sistema ToBI reconhece 5 tipos de pitch accents enquanto Pierrehumbert (1980)
menciona 7 tipos Atraveacutes dessa classificaccedilatildeo eacute possiacutevel delimitar o accent prototiacutepico do
foco ou suas possiacuteveis variantes Beaver amp Clark (2008 p 12) mencionam que ldquoalthough
focus is frequently marked by an H accent [] other accents are possible For example in
yes-no questions focus is often by marked by an L+Hrdquo39
A importante pressuposiccedilatildeo teoacuterica de que toda oraccedilatildeo eacute resposta a uma pergunta
guia a metodologia de muitas investigaccedilotildees sobre o foco sobretudo de trabalhos
experimentais de leitura de sentenccedilas denominados testes de produccedilatildeo Com o pressuposto
teoacuterico da explicitaccedilatildeo do foco por meio de pergunta-resposta eacute possiacutevel delimitar o tipo de
foco a ser analisado broad focus (foco largo) narrow focus (foco estreito) ou contrastive
focus (foco contrastivo) (cf seccedilatildeo 121 p 14) Essa metodologia tem por caracteriacutestica
induzir guiar e restringir os padrotildees meloacutedicos da fala ao fornecer exemplos com contextos
preacutevios ou mesmo com o foco jaacute explicitado na sentenccedila para se obter o resultado desejado
Em investigaccedilatildeo sobre a marcaccedilatildeo prosoacutedica dos focos largo estreito e contrastivo em
alematildeo Baumann et al (2006 p 302) mencionam em sua metodologia de teste de leitura
que
reading material consisted of five question-answer pairs with the
answer bdquoManuela will Blumen malen‟ (Manuela wants to paint
flowers) The main criterion the target sentence had to fulfill was its
continuous voicing so as to be able to accurately measure exact peaks
and valleys in the F0 contour40
Dependendo do objetivo do trabalho ou da liacutengua a ser analisada podem-se controlar
outros fatores Por exemplo em trabalho sobre como o tom lexical e o foco contribuem para a
formaccedilatildeo e alinhamento dos F0 contours no chinecircs Xu (1999 p 58) menciona na
metodologia que
the factors manipulated in the experiment were segmental
composition of syllables lexical tones focus and and sentence types
Of these only lexical tones and focus were under direct scrutiny The
control of the other two factors was done by keeping their variation to
39
ldquoembora o foco seja frequentemente marcado por um accent H [] outros accents satildeo possiacuteveis Por
exemplo em perguntas sim-natildeo o foco eacute muitas vezes marcado por um H + Lrdquo 40
ldquoo material de leitura consistiu de cinco pares de pergunta-resposta com a resposta bdquoManuela will Blumen
malen‟ (Manuela quer pintar flores) O principal criteacuterio que a frase alvo tinha a cumprir era seu vozeamento
contiacutenuo de modo a ser capaz de medir com precisatildeo exata picos e vales no contorno da F0rdquo
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
23
Em (22) o foco de identificaccedilatildeo eacute expresso pelo NP um perfume que significa que
dentro de uma seacuterie de possiacuteveis presentes que a Maria poderia ter dado ao Joatildeo ela deu
somente um perfume por isso [x e apenas x]
Contudo o fenocircmeno da focalizaccedilatildeo natildeo se restringe somente agraves respostas das
perguntas wh ou agraves respostas dos contextos induzidos Davis (2009 p 2) assinala que haacute dois
grandes aspectos da constituiccedilatildeo do foco ldquoThe first is its grammar how FOCUS is expressed
in language The second is its meaning It does not require much investigation to discover
that there is no grammatical consistency to FOCUS across languagesrdquo26
O autor nota que em
relaccedilatildeo ao primeiro item natildeo haveria uma forma uacutenica universal para o uso do foco ou seja
uma liacutengua utiliza a sintaxe outra a prosoacutedia outra a morfologia outra a sintaxe e a prosoacutedia
etc ele afirma que ldquoif there is some universal consistency to FOCUS across languages it is
not found in its expressionrdquo27
Quanto ao segundo item as liacutenguas a princiacutepio natildeo
diferenciariam muito em relaccedilatildeo agrave semacircntica do foco Entretanto a propriedade de
destaquerealce sempre estaraacute presente manifestando-se seja por meio da prosoacutedia do
arranjo sintaacutetico ou da marcaccedilatildeo morfoloacutegica Davis (2009 p 2) explica que
If FOCUS will be diferently constituted grammatically its presence
has to be recognized in its semantics One portion of that semantics is
that FOCUS is involved in the answering of wh- questions but not
every utterance is a response to such a question Yet utterances must
the claim says nevertheless contain the semantics (and some
grammar) of FOCUS FOCUS then cannot be only the content
which answers questions There must be more to FOCUS When we
examine languages we discover that FOCUS has an affinity for
certain other semantics and in discovering those affinities we can
amplify our conception of what constitutes FOCUS28
A partir da assunccedilatildeo acima sugere-se que os estudos sobre a focalizaccedilatildeo natildeo
poderiam se restringir agraves anaacutelises de dados de introspecccedilatildeo sobretudo aqueles que explicam o
fenocircmeno somente a partir de dados com contexto pergunta-whresposta A natureza
discursivo-pragmaacutetica da focalizaccedilatildeo faz com que esse fenocircmeno seja melhor compreendido
26
ldquoO primeiro eacute sua gramaacutetica como o FOCO eacute expresso na liacutengua O segundo eacute o seu significado Natildeo se
requer muita investigaccedilatildeo para descobrir que natildeo haacute coerecircncia gramatical do FOCO atraveacutes das liacutenguasrdquo 27
ldquose houver alguma consistecircncia universal para o FOCO entre as liacutenguas natildeo eacute encontrada na sua expressatildeordquo 28
ldquoSe o FOCO seraacute constituiacutedo diferente gramaticalmente a sua presenccedila tem de ser reconhecida em sua
semacircntica Uma parte dessa semacircntica eacute que o FOCO estaacute envolvido nas respostas de perguntas QU mas nem
todo enunciado eacute uma resposta a essas perguntas No entanto os enunciados devem a alegaccedilatildeo diz todavia
conter a semacircntica (e alguma gramaacutetica) do FOCO O FOCO entatildeo natildeo pode ser apenas o conteuacutedo que
responde a perguntas Deve haver mais para o FOCO Quando examinamos as liacutenguas descobrimos que o
FOCO tem uma afinidade com outras semacircnticas e descobrindo essas afinidades podemos ampliar a nossa
concepccedilatildeo do que constitui o FOCOrdquo
24
na liacutengua espontacircnea apesar de natildeo se poder excluir suas propriedades semacircnticas em
diferentes enunciados que podem ser analisados sem o uso de dados de liacutengua espontacircnea
como eacute o caso da investigaccedilatildeo das propriedades semacircnticas do foco em dados de introspecccedilatildeo
e de suas representaccedilotildees formais
224 Foco prosoacutedico
A prosoacutedia eacute um dos traccedilos da camada suprassegmental ou seja que se encontra
acima dos segmentos dispostos linearmente na cadeia sonora da fala Beaver amp Clark (2008
p 2) explicam que os traccedilos suprassegmentais satildeo assim chamados porque ldquothey spread out
across multiple segments (basic sound units) or even across multiple wordsrdquo29
Callou amp
Leite (1990 p31) afirmam que o ldquoconjunto de fenocircmenos dos quais se derivam tipos de
acento padrotildees entoacionais ritmos e velocidades de fala satildeo estudados sob o roacutetulo de
prosoacutediardquo Ao contraacuterio dos segmentos que satildeo descritos pelos movimentos dos articuladores
do aparelho fonador os suprassegmentos satildeo descritos ldquoem termos da accedilatildeo dos muacutesculos
respiratoacuterios que aumentam ou diminuem a energia do fluxo de ar ocasionando duraccedilotildees
frequumlecircncia fundamental e intensidade diferentes das vibraccedilotildees sonorasrdquo (CALLOU amp LEITE
1990 p 30) Paracircmetros acuacutesticos como frequecircncia fundamental intensidade e duraccedilatildeo fiacutesica
satildeo outros traccedilos suprassegmentais que satildeo percebidos respectivamente como pitch
loudness e length que por sua vez ldquoapresentam correlatos fiacutesicos frequumlecircncia amplitude e
tempordquo (LEITE 2009 p 17)30
A frequecircncia eacute medida em Hz (Hertz) a amplitude em dB
(decibeacuteis) e o tempo em ms (milissegundos)
Barbosa (2008) menciona que a prosoacutedia estaacute
associada a fatores linguumliacutesticos como acentuaccedilatildeo entoaccedilatildeo ecircnfase e
ritmo bem como a fatores para- e extra-linguiacutesticos tais como
marcadores discursivos (ldquoneacuterdquo ldquoentendordquo ldquoanhanrdquo) atitudes
emoccedilotildees imbricados a fatores sociais ou bioloacutegicos como gecircnero
faixa etaacuteria classe social entre outros
Segundo Leite (2009 p 18) a prosoacutedia exerceria funccedilotildees ldquogramatical atitudinal
informacional indexal e ilocucionaacuteriardquo Nota-se portanto que eacute muito importante levar em
29
ldquoeles se espalham em vaacuterios segmentos (unidades baacutesicas de som) ou mesmo atraveacutes de muacuteltiplas palavrasrdquo 30
Neste trabalho natildeo se pretende definir minuciosamente todos os conceitos dos correlatos foneacutetico-acuacutesticos
dos sons da fala estudados pela Foneacutetica Acuacutestica Para mais informaccedilotildees cf Ladefoged (1974) Malmberg
(1998) e Johnson (2003)
25
consideraccedilatildeo a prosoacutedia na anaacutelise linguiacutestica visto que ela desempenha funccedilotildees associadas a
fatores intrinsecamente linguiacutesticos bem como a fatores extralinguiacutesticos A prosoacutedia ainda
apresenta um importante papel na aquisiccedilatildeo da linguagem sendo recurso especial para a
crianccedila associar unidades sonoras a significado (cf BRUM DE PAULA 2010)
As investigaccedilotildees do Ciacuterculo Linguiacutestico de Praga sugeriram que os elementos dados
do discurso ou seja aqueles que jaacute haviam sido mencionados seriam prosodicamente menos
relevantes que os elementos novos Disso resulta que a informaccedilatildeo nova ou o foco seja
destacado prosodicamente isto eacute apresente proeminecircncia prosoacutedica A proeminecircncia
prosoacutedica eacute definida como ldquoa quantitative parameter of a syllable or a boundary that describes
markedness relative to surrounding syllables and boundaries respectivelyrdquo (PORTELE amp
HEUFT 1997 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 227)31
Haacute autores que classificam o
foco levando em conta sobretudo o fator proeminecircncia prosoacutedica por exemplo ldquothe term
focus is used [] to describe prosodic prominences serving pragmatic and semantic
functionsrdquo (ROOTH 1995 p 271 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 228)32
O foco prosoacutedico eacute definido por meio de uma proeminecircncia tonal (cf
BUTRAGUENtildeO 2005) Entretanto alguns estudos mostram que o foco natildeo seria marcado
somente com a proeminecircncia tonal ou prosoacutedica Proeminecircncias de outros traccedilos
suprassegmentais como duraccedilatildeo e intensidade tambeacutem marcariam o foco (cf TOLEDO
1989 SOSA 1999 QUAREZEMIN 2009 entre outros) Para Butraguentildeo (2005 p 141) os
focos prosoacutedicos ldquoreciben acentos tonales de contorno especiacutefico que permiten distinguirlos
del fondo (o background)rdquo33
Os paracircmetros de anaacutelise acuacutestica do foco satildeo os movimentos
de F0 o alinhamento entre siacutelabas e F0 duraccedilatildeo das siacutelabas e vogais intensidade da siacutelaba e
em alguns casos pausas e meacutedia entre picos de F0
As abordagens teoacutericas utilizadas nos trabalhos sobre o foco prosoacutedico guiam a
metodologia de anaacutelise dos dados Assim alguns autores que trabalham com uma abordagem
formal utilizando o sistema ToBI (cf SILVERMAN et al 1992) para a anaacutelise dos dados
representam a entoaccedilatildeo dos enunciados marcando as siacutelabas com acentos tonais que se
manifestam em acentos monotonais (H ou L) bitonais (H+L L+H etc) e ainda poderia
haver tons de juntura (H e L) que delimitam as fronteiras dos grupos meloacutedicos Na
Fonologia Entoacional haacute trecircs tipos de tons pitch accents phrase accents e boundary tones
31
ldquoum paracircmetro quantitativo de uma siacutelaba ou de uma fronteira que descreve a marcaccedilatildeo relativa agraves siacutelabas
vizinhas e fronteiras respectivamenterdquo 32
ldquoo termo foco eacute utilizado [] para descrever proeminecircncias prosoacutedicas que servem a funccedilotildees pragmaacuteticas e
semacircnticasrdquo 33
ldquorecebem acentos tonais de contorno especiacutefico que permitem distingui-los do fundo (ou background)rdquo
26
Geralmente o foco eacute marcado por um pitch accent que pode ser definido como ldquoa local
feature of a pitch contour ndash usually but not invariably a pitch change and often involving a
local maximum or minimumrdquo (LADD 1996 p 45-6 apud BEAVER amp CLARK 2008 p
11)34
Segundo Roach (2011 p 67) pitch
is an auditory sensation when we hear a regularly vibrating sound
such as a note played on a musical instrument or a vowel produced
by the human voice we hear a high pitch if the rate of vibration is
high and a low pitch if the rate of vibration is low35
Nooteboom (1997 p 641) atenta para o fato de que ldquoone should be aware however
that rather often the notion bdquopitch‟ is used to refer to f0 or the repetition frequency itself In
speech f0 is determined by the rate of vibration of the vocal cords located in the larynxrdquo36
Ademais Crystal (2008 p 369) adverte que ldquothere is however no direct or parallel
correlation between pitch and frequency other factors than frequency may affect our
sensation of pitch (measured in units known as mels)rdquo37
Pitch countour seria a marcaccedilatildeo dos
uacutenicos pitchs relevantes para a compreensatildeo de um perfil entoacional A teacutecnica da close
copy (cf t‟HART et al 1990) justamente realccedila o pitch countor atraveacutes de uma ldquosiacutentese que
satildeo eliminados movimentos de F0 que natildeo causam diferenccedila de percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao
aacuteudio originalrdquo (ROCHA 2011 p 106) De acordo com Crystal (2008 p 369-370) o termo
pitch accent
is used phonologically in the description of languages in which the
distribution of the tones within a word is totally predictable once one
has specified a particular tonal feature of the word (as in Japanese)
The notion has also been applied to English where some
phonological models analyse intonation CONTOURS as a sequence
of one or more pitch accents each associated with a STRESS-
prominent SYLLABLE in a word38
34
ldquoum traccedilo local de um pitch contour - geralmente mas natildeo invariavelmente variaccedilatildeo de pitch e muitas vezes
envolvendo um local maacuteximo ou miacutenimordquo 35
ldquoeacute uma sensaccedilatildeo auditiva quando ouvimos um som regularmente vibrando como uma nota tocada em um
instrumento musical ou uma vogal produzida pela voz humana noacutes ouvimos um pitch alto se a taxa de vibraccedilatildeo
eacute alta e um pitch baixo se a taxa de vibraccedilatildeo eacute baixardquo 36
ldquodeve-se estar ciente no entanto que muitas vezes a noccedilatildeo de pitch eacute utilizada para se referir a f0 ou a
frequecircncia da repeticcedilatildeo Na fala a f0 eacute determinada pela taxa de vibraccedilatildeo das cordas vocais localizadas na
laringerdquo 37
ldquonatildeo haacute poreacutem nenhuma correlaccedilatildeo direta ou paralelo entre pitch e frequecircncia outros fatores aleacutem
frequecircncia podem afetar a nossa sensaccedilatildeo de pitch (medido em unidades conhecidas como mels)rdquo 38
ldquoeacute usado fonologicamente na descriccedilatildeo das liacutenguas nas quais a distribuiccedilatildeo dos tons dentro de uma palavra eacute
totalmente previsiacutevel uma vez que se tenha especificado uma caracteriacutestica particular de tons da palavra (tal
como no japonecircs) A noccedilatildeo tambeacutem foi aplicada para o inglecircs em que alguns modelos fonoloacutegicos analisam os
CONTORNOS da entoaccedilatildeo como uma sequecircncia de um ou mais pitch accents cada um associado a uma
SIacuteLABA STRESS-proeminente em uma palavrardquo
27
O sistema ToBI reconhece 5 tipos de pitch accents enquanto Pierrehumbert (1980)
menciona 7 tipos Atraveacutes dessa classificaccedilatildeo eacute possiacutevel delimitar o accent prototiacutepico do
foco ou suas possiacuteveis variantes Beaver amp Clark (2008 p 12) mencionam que ldquoalthough
focus is frequently marked by an H accent [] other accents are possible For example in
yes-no questions focus is often by marked by an L+Hrdquo39
A importante pressuposiccedilatildeo teoacuterica de que toda oraccedilatildeo eacute resposta a uma pergunta
guia a metodologia de muitas investigaccedilotildees sobre o foco sobretudo de trabalhos
experimentais de leitura de sentenccedilas denominados testes de produccedilatildeo Com o pressuposto
teoacuterico da explicitaccedilatildeo do foco por meio de pergunta-resposta eacute possiacutevel delimitar o tipo de
foco a ser analisado broad focus (foco largo) narrow focus (foco estreito) ou contrastive
focus (foco contrastivo) (cf seccedilatildeo 121 p 14) Essa metodologia tem por caracteriacutestica
induzir guiar e restringir os padrotildees meloacutedicos da fala ao fornecer exemplos com contextos
preacutevios ou mesmo com o foco jaacute explicitado na sentenccedila para se obter o resultado desejado
Em investigaccedilatildeo sobre a marcaccedilatildeo prosoacutedica dos focos largo estreito e contrastivo em
alematildeo Baumann et al (2006 p 302) mencionam em sua metodologia de teste de leitura
que
reading material consisted of five question-answer pairs with the
answer bdquoManuela will Blumen malen‟ (Manuela wants to paint
flowers) The main criterion the target sentence had to fulfill was its
continuous voicing so as to be able to accurately measure exact peaks
and valleys in the F0 contour40
Dependendo do objetivo do trabalho ou da liacutengua a ser analisada podem-se controlar
outros fatores Por exemplo em trabalho sobre como o tom lexical e o foco contribuem para a
formaccedilatildeo e alinhamento dos F0 contours no chinecircs Xu (1999 p 58) menciona na
metodologia que
the factors manipulated in the experiment were segmental
composition of syllables lexical tones focus and and sentence types
Of these only lexical tones and focus were under direct scrutiny The
control of the other two factors was done by keeping their variation to
39
ldquoembora o foco seja frequentemente marcado por um accent H [] outros accents satildeo possiacuteveis Por
exemplo em perguntas sim-natildeo o foco eacute muitas vezes marcado por um H + Lrdquo 40
ldquoo material de leitura consistiu de cinco pares de pergunta-resposta com a resposta bdquoManuela will Blumen
malen‟ (Manuela quer pintar flores) O principal criteacuterio que a frase alvo tinha a cumprir era seu vozeamento
contiacutenuo de modo a ser capaz de medir com precisatildeo exata picos e vales no contorno da F0rdquo
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
24
na liacutengua espontacircnea apesar de natildeo se poder excluir suas propriedades semacircnticas em
diferentes enunciados que podem ser analisados sem o uso de dados de liacutengua espontacircnea
como eacute o caso da investigaccedilatildeo das propriedades semacircnticas do foco em dados de introspecccedilatildeo
e de suas representaccedilotildees formais
224 Foco prosoacutedico
A prosoacutedia eacute um dos traccedilos da camada suprassegmental ou seja que se encontra
acima dos segmentos dispostos linearmente na cadeia sonora da fala Beaver amp Clark (2008
p 2) explicam que os traccedilos suprassegmentais satildeo assim chamados porque ldquothey spread out
across multiple segments (basic sound units) or even across multiple wordsrdquo29
Callou amp
Leite (1990 p31) afirmam que o ldquoconjunto de fenocircmenos dos quais se derivam tipos de
acento padrotildees entoacionais ritmos e velocidades de fala satildeo estudados sob o roacutetulo de
prosoacutediardquo Ao contraacuterio dos segmentos que satildeo descritos pelos movimentos dos articuladores
do aparelho fonador os suprassegmentos satildeo descritos ldquoem termos da accedilatildeo dos muacutesculos
respiratoacuterios que aumentam ou diminuem a energia do fluxo de ar ocasionando duraccedilotildees
frequumlecircncia fundamental e intensidade diferentes das vibraccedilotildees sonorasrdquo (CALLOU amp LEITE
1990 p 30) Paracircmetros acuacutesticos como frequecircncia fundamental intensidade e duraccedilatildeo fiacutesica
satildeo outros traccedilos suprassegmentais que satildeo percebidos respectivamente como pitch
loudness e length que por sua vez ldquoapresentam correlatos fiacutesicos frequumlecircncia amplitude e
tempordquo (LEITE 2009 p 17)30
A frequecircncia eacute medida em Hz (Hertz) a amplitude em dB
(decibeacuteis) e o tempo em ms (milissegundos)
Barbosa (2008) menciona que a prosoacutedia estaacute
associada a fatores linguumliacutesticos como acentuaccedilatildeo entoaccedilatildeo ecircnfase e
ritmo bem como a fatores para- e extra-linguiacutesticos tais como
marcadores discursivos (ldquoneacuterdquo ldquoentendordquo ldquoanhanrdquo) atitudes
emoccedilotildees imbricados a fatores sociais ou bioloacutegicos como gecircnero
faixa etaacuteria classe social entre outros
Segundo Leite (2009 p 18) a prosoacutedia exerceria funccedilotildees ldquogramatical atitudinal
informacional indexal e ilocucionaacuteriardquo Nota-se portanto que eacute muito importante levar em
29
ldquoeles se espalham em vaacuterios segmentos (unidades baacutesicas de som) ou mesmo atraveacutes de muacuteltiplas palavrasrdquo 30
Neste trabalho natildeo se pretende definir minuciosamente todos os conceitos dos correlatos foneacutetico-acuacutesticos
dos sons da fala estudados pela Foneacutetica Acuacutestica Para mais informaccedilotildees cf Ladefoged (1974) Malmberg
(1998) e Johnson (2003)
25
consideraccedilatildeo a prosoacutedia na anaacutelise linguiacutestica visto que ela desempenha funccedilotildees associadas a
fatores intrinsecamente linguiacutesticos bem como a fatores extralinguiacutesticos A prosoacutedia ainda
apresenta um importante papel na aquisiccedilatildeo da linguagem sendo recurso especial para a
crianccedila associar unidades sonoras a significado (cf BRUM DE PAULA 2010)
As investigaccedilotildees do Ciacuterculo Linguiacutestico de Praga sugeriram que os elementos dados
do discurso ou seja aqueles que jaacute haviam sido mencionados seriam prosodicamente menos
relevantes que os elementos novos Disso resulta que a informaccedilatildeo nova ou o foco seja
destacado prosodicamente isto eacute apresente proeminecircncia prosoacutedica A proeminecircncia
prosoacutedica eacute definida como ldquoa quantitative parameter of a syllable or a boundary that describes
markedness relative to surrounding syllables and boundaries respectivelyrdquo (PORTELE amp
HEUFT 1997 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 227)31
Haacute autores que classificam o
foco levando em conta sobretudo o fator proeminecircncia prosoacutedica por exemplo ldquothe term
focus is used [] to describe prosodic prominences serving pragmatic and semantic
functionsrdquo (ROOTH 1995 p 271 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 228)32
O foco prosoacutedico eacute definido por meio de uma proeminecircncia tonal (cf
BUTRAGUENtildeO 2005) Entretanto alguns estudos mostram que o foco natildeo seria marcado
somente com a proeminecircncia tonal ou prosoacutedica Proeminecircncias de outros traccedilos
suprassegmentais como duraccedilatildeo e intensidade tambeacutem marcariam o foco (cf TOLEDO
1989 SOSA 1999 QUAREZEMIN 2009 entre outros) Para Butraguentildeo (2005 p 141) os
focos prosoacutedicos ldquoreciben acentos tonales de contorno especiacutefico que permiten distinguirlos
del fondo (o background)rdquo33
Os paracircmetros de anaacutelise acuacutestica do foco satildeo os movimentos
de F0 o alinhamento entre siacutelabas e F0 duraccedilatildeo das siacutelabas e vogais intensidade da siacutelaba e
em alguns casos pausas e meacutedia entre picos de F0
As abordagens teoacutericas utilizadas nos trabalhos sobre o foco prosoacutedico guiam a
metodologia de anaacutelise dos dados Assim alguns autores que trabalham com uma abordagem
formal utilizando o sistema ToBI (cf SILVERMAN et al 1992) para a anaacutelise dos dados
representam a entoaccedilatildeo dos enunciados marcando as siacutelabas com acentos tonais que se
manifestam em acentos monotonais (H ou L) bitonais (H+L L+H etc) e ainda poderia
haver tons de juntura (H e L) que delimitam as fronteiras dos grupos meloacutedicos Na
Fonologia Entoacional haacute trecircs tipos de tons pitch accents phrase accents e boundary tones
31
ldquoum paracircmetro quantitativo de uma siacutelaba ou de uma fronteira que descreve a marcaccedilatildeo relativa agraves siacutelabas
vizinhas e fronteiras respectivamenterdquo 32
ldquoo termo foco eacute utilizado [] para descrever proeminecircncias prosoacutedicas que servem a funccedilotildees pragmaacuteticas e
semacircnticasrdquo 33
ldquorecebem acentos tonais de contorno especiacutefico que permitem distingui-los do fundo (ou background)rdquo
26
Geralmente o foco eacute marcado por um pitch accent que pode ser definido como ldquoa local
feature of a pitch contour ndash usually but not invariably a pitch change and often involving a
local maximum or minimumrdquo (LADD 1996 p 45-6 apud BEAVER amp CLARK 2008 p
11)34
Segundo Roach (2011 p 67) pitch
is an auditory sensation when we hear a regularly vibrating sound
such as a note played on a musical instrument or a vowel produced
by the human voice we hear a high pitch if the rate of vibration is
high and a low pitch if the rate of vibration is low35
Nooteboom (1997 p 641) atenta para o fato de que ldquoone should be aware however
that rather often the notion bdquopitch‟ is used to refer to f0 or the repetition frequency itself In
speech f0 is determined by the rate of vibration of the vocal cords located in the larynxrdquo36
Ademais Crystal (2008 p 369) adverte que ldquothere is however no direct or parallel
correlation between pitch and frequency other factors than frequency may affect our
sensation of pitch (measured in units known as mels)rdquo37
Pitch countour seria a marcaccedilatildeo dos
uacutenicos pitchs relevantes para a compreensatildeo de um perfil entoacional A teacutecnica da close
copy (cf t‟HART et al 1990) justamente realccedila o pitch countor atraveacutes de uma ldquosiacutentese que
satildeo eliminados movimentos de F0 que natildeo causam diferenccedila de percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao
aacuteudio originalrdquo (ROCHA 2011 p 106) De acordo com Crystal (2008 p 369-370) o termo
pitch accent
is used phonologically in the description of languages in which the
distribution of the tones within a word is totally predictable once one
has specified a particular tonal feature of the word (as in Japanese)
The notion has also been applied to English where some
phonological models analyse intonation CONTOURS as a sequence
of one or more pitch accents each associated with a STRESS-
prominent SYLLABLE in a word38
34
ldquoum traccedilo local de um pitch contour - geralmente mas natildeo invariavelmente variaccedilatildeo de pitch e muitas vezes
envolvendo um local maacuteximo ou miacutenimordquo 35
ldquoeacute uma sensaccedilatildeo auditiva quando ouvimos um som regularmente vibrando como uma nota tocada em um
instrumento musical ou uma vogal produzida pela voz humana noacutes ouvimos um pitch alto se a taxa de vibraccedilatildeo
eacute alta e um pitch baixo se a taxa de vibraccedilatildeo eacute baixardquo 36
ldquodeve-se estar ciente no entanto que muitas vezes a noccedilatildeo de pitch eacute utilizada para se referir a f0 ou a
frequecircncia da repeticcedilatildeo Na fala a f0 eacute determinada pela taxa de vibraccedilatildeo das cordas vocais localizadas na
laringerdquo 37
ldquonatildeo haacute poreacutem nenhuma correlaccedilatildeo direta ou paralelo entre pitch e frequecircncia outros fatores aleacutem
frequecircncia podem afetar a nossa sensaccedilatildeo de pitch (medido em unidades conhecidas como mels)rdquo 38
ldquoeacute usado fonologicamente na descriccedilatildeo das liacutenguas nas quais a distribuiccedilatildeo dos tons dentro de uma palavra eacute
totalmente previsiacutevel uma vez que se tenha especificado uma caracteriacutestica particular de tons da palavra (tal
como no japonecircs) A noccedilatildeo tambeacutem foi aplicada para o inglecircs em que alguns modelos fonoloacutegicos analisam os
CONTORNOS da entoaccedilatildeo como uma sequecircncia de um ou mais pitch accents cada um associado a uma
SIacuteLABA STRESS-proeminente em uma palavrardquo
27
O sistema ToBI reconhece 5 tipos de pitch accents enquanto Pierrehumbert (1980)
menciona 7 tipos Atraveacutes dessa classificaccedilatildeo eacute possiacutevel delimitar o accent prototiacutepico do
foco ou suas possiacuteveis variantes Beaver amp Clark (2008 p 12) mencionam que ldquoalthough
focus is frequently marked by an H accent [] other accents are possible For example in
yes-no questions focus is often by marked by an L+Hrdquo39
A importante pressuposiccedilatildeo teoacuterica de que toda oraccedilatildeo eacute resposta a uma pergunta
guia a metodologia de muitas investigaccedilotildees sobre o foco sobretudo de trabalhos
experimentais de leitura de sentenccedilas denominados testes de produccedilatildeo Com o pressuposto
teoacuterico da explicitaccedilatildeo do foco por meio de pergunta-resposta eacute possiacutevel delimitar o tipo de
foco a ser analisado broad focus (foco largo) narrow focus (foco estreito) ou contrastive
focus (foco contrastivo) (cf seccedilatildeo 121 p 14) Essa metodologia tem por caracteriacutestica
induzir guiar e restringir os padrotildees meloacutedicos da fala ao fornecer exemplos com contextos
preacutevios ou mesmo com o foco jaacute explicitado na sentenccedila para se obter o resultado desejado
Em investigaccedilatildeo sobre a marcaccedilatildeo prosoacutedica dos focos largo estreito e contrastivo em
alematildeo Baumann et al (2006 p 302) mencionam em sua metodologia de teste de leitura
que
reading material consisted of five question-answer pairs with the
answer bdquoManuela will Blumen malen‟ (Manuela wants to paint
flowers) The main criterion the target sentence had to fulfill was its
continuous voicing so as to be able to accurately measure exact peaks
and valleys in the F0 contour40
Dependendo do objetivo do trabalho ou da liacutengua a ser analisada podem-se controlar
outros fatores Por exemplo em trabalho sobre como o tom lexical e o foco contribuem para a
formaccedilatildeo e alinhamento dos F0 contours no chinecircs Xu (1999 p 58) menciona na
metodologia que
the factors manipulated in the experiment were segmental
composition of syllables lexical tones focus and and sentence types
Of these only lexical tones and focus were under direct scrutiny The
control of the other two factors was done by keeping their variation to
39
ldquoembora o foco seja frequentemente marcado por um accent H [] outros accents satildeo possiacuteveis Por
exemplo em perguntas sim-natildeo o foco eacute muitas vezes marcado por um H + Lrdquo 40
ldquoo material de leitura consistiu de cinco pares de pergunta-resposta com a resposta bdquoManuela will Blumen
malen‟ (Manuela quer pintar flores) O principal criteacuterio que a frase alvo tinha a cumprir era seu vozeamento
contiacutenuo de modo a ser capaz de medir com precisatildeo exata picos e vales no contorno da F0rdquo
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
25
consideraccedilatildeo a prosoacutedia na anaacutelise linguiacutestica visto que ela desempenha funccedilotildees associadas a
fatores intrinsecamente linguiacutesticos bem como a fatores extralinguiacutesticos A prosoacutedia ainda
apresenta um importante papel na aquisiccedilatildeo da linguagem sendo recurso especial para a
crianccedila associar unidades sonoras a significado (cf BRUM DE PAULA 2010)
As investigaccedilotildees do Ciacuterculo Linguiacutestico de Praga sugeriram que os elementos dados
do discurso ou seja aqueles que jaacute haviam sido mencionados seriam prosodicamente menos
relevantes que os elementos novos Disso resulta que a informaccedilatildeo nova ou o foco seja
destacado prosodicamente isto eacute apresente proeminecircncia prosoacutedica A proeminecircncia
prosoacutedica eacute definida como ldquoa quantitative parameter of a syllable or a boundary that describes
markedness relative to surrounding syllables and boundaries respectivelyrdquo (PORTELE amp
HEUFT 1997 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 227)31
Haacute autores que classificam o
foco levando em conta sobretudo o fator proeminecircncia prosoacutedica por exemplo ldquothe term
focus is used [] to describe prosodic prominences serving pragmatic and semantic
functionsrdquo (ROOTH 1995 p 271 apud WOLTERS amp WAGNER 1998 p 228)32
O foco prosoacutedico eacute definido por meio de uma proeminecircncia tonal (cf
BUTRAGUENtildeO 2005) Entretanto alguns estudos mostram que o foco natildeo seria marcado
somente com a proeminecircncia tonal ou prosoacutedica Proeminecircncias de outros traccedilos
suprassegmentais como duraccedilatildeo e intensidade tambeacutem marcariam o foco (cf TOLEDO
1989 SOSA 1999 QUAREZEMIN 2009 entre outros) Para Butraguentildeo (2005 p 141) os
focos prosoacutedicos ldquoreciben acentos tonales de contorno especiacutefico que permiten distinguirlos
del fondo (o background)rdquo33
Os paracircmetros de anaacutelise acuacutestica do foco satildeo os movimentos
de F0 o alinhamento entre siacutelabas e F0 duraccedilatildeo das siacutelabas e vogais intensidade da siacutelaba e
em alguns casos pausas e meacutedia entre picos de F0
As abordagens teoacutericas utilizadas nos trabalhos sobre o foco prosoacutedico guiam a
metodologia de anaacutelise dos dados Assim alguns autores que trabalham com uma abordagem
formal utilizando o sistema ToBI (cf SILVERMAN et al 1992) para a anaacutelise dos dados
representam a entoaccedilatildeo dos enunciados marcando as siacutelabas com acentos tonais que se
manifestam em acentos monotonais (H ou L) bitonais (H+L L+H etc) e ainda poderia
haver tons de juntura (H e L) que delimitam as fronteiras dos grupos meloacutedicos Na
Fonologia Entoacional haacute trecircs tipos de tons pitch accents phrase accents e boundary tones
31
ldquoum paracircmetro quantitativo de uma siacutelaba ou de uma fronteira que descreve a marcaccedilatildeo relativa agraves siacutelabas
vizinhas e fronteiras respectivamenterdquo 32
ldquoo termo foco eacute utilizado [] para descrever proeminecircncias prosoacutedicas que servem a funccedilotildees pragmaacuteticas e
semacircnticasrdquo 33
ldquorecebem acentos tonais de contorno especiacutefico que permitem distingui-los do fundo (ou background)rdquo
26
Geralmente o foco eacute marcado por um pitch accent que pode ser definido como ldquoa local
feature of a pitch contour ndash usually but not invariably a pitch change and often involving a
local maximum or minimumrdquo (LADD 1996 p 45-6 apud BEAVER amp CLARK 2008 p
11)34
Segundo Roach (2011 p 67) pitch
is an auditory sensation when we hear a regularly vibrating sound
such as a note played on a musical instrument or a vowel produced
by the human voice we hear a high pitch if the rate of vibration is
high and a low pitch if the rate of vibration is low35
Nooteboom (1997 p 641) atenta para o fato de que ldquoone should be aware however
that rather often the notion bdquopitch‟ is used to refer to f0 or the repetition frequency itself In
speech f0 is determined by the rate of vibration of the vocal cords located in the larynxrdquo36
Ademais Crystal (2008 p 369) adverte que ldquothere is however no direct or parallel
correlation between pitch and frequency other factors than frequency may affect our
sensation of pitch (measured in units known as mels)rdquo37
Pitch countour seria a marcaccedilatildeo dos
uacutenicos pitchs relevantes para a compreensatildeo de um perfil entoacional A teacutecnica da close
copy (cf t‟HART et al 1990) justamente realccedila o pitch countor atraveacutes de uma ldquosiacutentese que
satildeo eliminados movimentos de F0 que natildeo causam diferenccedila de percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao
aacuteudio originalrdquo (ROCHA 2011 p 106) De acordo com Crystal (2008 p 369-370) o termo
pitch accent
is used phonologically in the description of languages in which the
distribution of the tones within a word is totally predictable once one
has specified a particular tonal feature of the word (as in Japanese)
The notion has also been applied to English where some
phonological models analyse intonation CONTOURS as a sequence
of one or more pitch accents each associated with a STRESS-
prominent SYLLABLE in a word38
34
ldquoum traccedilo local de um pitch contour - geralmente mas natildeo invariavelmente variaccedilatildeo de pitch e muitas vezes
envolvendo um local maacuteximo ou miacutenimordquo 35
ldquoeacute uma sensaccedilatildeo auditiva quando ouvimos um som regularmente vibrando como uma nota tocada em um
instrumento musical ou uma vogal produzida pela voz humana noacutes ouvimos um pitch alto se a taxa de vibraccedilatildeo
eacute alta e um pitch baixo se a taxa de vibraccedilatildeo eacute baixardquo 36
ldquodeve-se estar ciente no entanto que muitas vezes a noccedilatildeo de pitch eacute utilizada para se referir a f0 ou a
frequecircncia da repeticcedilatildeo Na fala a f0 eacute determinada pela taxa de vibraccedilatildeo das cordas vocais localizadas na
laringerdquo 37
ldquonatildeo haacute poreacutem nenhuma correlaccedilatildeo direta ou paralelo entre pitch e frequecircncia outros fatores aleacutem
frequecircncia podem afetar a nossa sensaccedilatildeo de pitch (medido em unidades conhecidas como mels)rdquo 38
ldquoeacute usado fonologicamente na descriccedilatildeo das liacutenguas nas quais a distribuiccedilatildeo dos tons dentro de uma palavra eacute
totalmente previsiacutevel uma vez que se tenha especificado uma caracteriacutestica particular de tons da palavra (tal
como no japonecircs) A noccedilatildeo tambeacutem foi aplicada para o inglecircs em que alguns modelos fonoloacutegicos analisam os
CONTORNOS da entoaccedilatildeo como uma sequecircncia de um ou mais pitch accents cada um associado a uma
SIacuteLABA STRESS-proeminente em uma palavrardquo
27
O sistema ToBI reconhece 5 tipos de pitch accents enquanto Pierrehumbert (1980)
menciona 7 tipos Atraveacutes dessa classificaccedilatildeo eacute possiacutevel delimitar o accent prototiacutepico do
foco ou suas possiacuteveis variantes Beaver amp Clark (2008 p 12) mencionam que ldquoalthough
focus is frequently marked by an H accent [] other accents are possible For example in
yes-no questions focus is often by marked by an L+Hrdquo39
A importante pressuposiccedilatildeo teoacuterica de que toda oraccedilatildeo eacute resposta a uma pergunta
guia a metodologia de muitas investigaccedilotildees sobre o foco sobretudo de trabalhos
experimentais de leitura de sentenccedilas denominados testes de produccedilatildeo Com o pressuposto
teoacuterico da explicitaccedilatildeo do foco por meio de pergunta-resposta eacute possiacutevel delimitar o tipo de
foco a ser analisado broad focus (foco largo) narrow focus (foco estreito) ou contrastive
focus (foco contrastivo) (cf seccedilatildeo 121 p 14) Essa metodologia tem por caracteriacutestica
induzir guiar e restringir os padrotildees meloacutedicos da fala ao fornecer exemplos com contextos
preacutevios ou mesmo com o foco jaacute explicitado na sentenccedila para se obter o resultado desejado
Em investigaccedilatildeo sobre a marcaccedilatildeo prosoacutedica dos focos largo estreito e contrastivo em
alematildeo Baumann et al (2006 p 302) mencionam em sua metodologia de teste de leitura
que
reading material consisted of five question-answer pairs with the
answer bdquoManuela will Blumen malen‟ (Manuela wants to paint
flowers) The main criterion the target sentence had to fulfill was its
continuous voicing so as to be able to accurately measure exact peaks
and valleys in the F0 contour40
Dependendo do objetivo do trabalho ou da liacutengua a ser analisada podem-se controlar
outros fatores Por exemplo em trabalho sobre como o tom lexical e o foco contribuem para a
formaccedilatildeo e alinhamento dos F0 contours no chinecircs Xu (1999 p 58) menciona na
metodologia que
the factors manipulated in the experiment were segmental
composition of syllables lexical tones focus and and sentence types
Of these only lexical tones and focus were under direct scrutiny The
control of the other two factors was done by keeping their variation to
39
ldquoembora o foco seja frequentemente marcado por um accent H [] outros accents satildeo possiacuteveis Por
exemplo em perguntas sim-natildeo o foco eacute muitas vezes marcado por um H + Lrdquo 40
ldquoo material de leitura consistiu de cinco pares de pergunta-resposta com a resposta bdquoManuela will Blumen
malen‟ (Manuela quer pintar flores) O principal criteacuterio que a frase alvo tinha a cumprir era seu vozeamento
contiacutenuo de modo a ser capaz de medir com precisatildeo exata picos e vales no contorno da F0rdquo
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
26
Geralmente o foco eacute marcado por um pitch accent que pode ser definido como ldquoa local
feature of a pitch contour ndash usually but not invariably a pitch change and often involving a
local maximum or minimumrdquo (LADD 1996 p 45-6 apud BEAVER amp CLARK 2008 p
11)34
Segundo Roach (2011 p 67) pitch
is an auditory sensation when we hear a regularly vibrating sound
such as a note played on a musical instrument or a vowel produced
by the human voice we hear a high pitch if the rate of vibration is
high and a low pitch if the rate of vibration is low35
Nooteboom (1997 p 641) atenta para o fato de que ldquoone should be aware however
that rather often the notion bdquopitch‟ is used to refer to f0 or the repetition frequency itself In
speech f0 is determined by the rate of vibration of the vocal cords located in the larynxrdquo36
Ademais Crystal (2008 p 369) adverte que ldquothere is however no direct or parallel
correlation between pitch and frequency other factors than frequency may affect our
sensation of pitch (measured in units known as mels)rdquo37
Pitch countour seria a marcaccedilatildeo dos
uacutenicos pitchs relevantes para a compreensatildeo de um perfil entoacional A teacutecnica da close
copy (cf t‟HART et al 1990) justamente realccedila o pitch countor atraveacutes de uma ldquosiacutentese que
satildeo eliminados movimentos de F0 que natildeo causam diferenccedila de percepccedilatildeo em relaccedilatildeo ao
aacuteudio originalrdquo (ROCHA 2011 p 106) De acordo com Crystal (2008 p 369-370) o termo
pitch accent
is used phonologically in the description of languages in which the
distribution of the tones within a word is totally predictable once one
has specified a particular tonal feature of the word (as in Japanese)
The notion has also been applied to English where some
phonological models analyse intonation CONTOURS as a sequence
of one or more pitch accents each associated with a STRESS-
prominent SYLLABLE in a word38
34
ldquoum traccedilo local de um pitch contour - geralmente mas natildeo invariavelmente variaccedilatildeo de pitch e muitas vezes
envolvendo um local maacuteximo ou miacutenimordquo 35
ldquoeacute uma sensaccedilatildeo auditiva quando ouvimos um som regularmente vibrando como uma nota tocada em um
instrumento musical ou uma vogal produzida pela voz humana noacutes ouvimos um pitch alto se a taxa de vibraccedilatildeo
eacute alta e um pitch baixo se a taxa de vibraccedilatildeo eacute baixardquo 36
ldquodeve-se estar ciente no entanto que muitas vezes a noccedilatildeo de pitch eacute utilizada para se referir a f0 ou a
frequecircncia da repeticcedilatildeo Na fala a f0 eacute determinada pela taxa de vibraccedilatildeo das cordas vocais localizadas na
laringerdquo 37
ldquonatildeo haacute poreacutem nenhuma correlaccedilatildeo direta ou paralelo entre pitch e frequecircncia outros fatores aleacutem
frequecircncia podem afetar a nossa sensaccedilatildeo de pitch (medido em unidades conhecidas como mels)rdquo 38
ldquoeacute usado fonologicamente na descriccedilatildeo das liacutenguas nas quais a distribuiccedilatildeo dos tons dentro de uma palavra eacute
totalmente previsiacutevel uma vez que se tenha especificado uma caracteriacutestica particular de tons da palavra (tal
como no japonecircs) A noccedilatildeo tambeacutem foi aplicada para o inglecircs em que alguns modelos fonoloacutegicos analisam os
CONTORNOS da entoaccedilatildeo como uma sequecircncia de um ou mais pitch accents cada um associado a uma
SIacuteLABA STRESS-proeminente em uma palavrardquo
27
O sistema ToBI reconhece 5 tipos de pitch accents enquanto Pierrehumbert (1980)
menciona 7 tipos Atraveacutes dessa classificaccedilatildeo eacute possiacutevel delimitar o accent prototiacutepico do
foco ou suas possiacuteveis variantes Beaver amp Clark (2008 p 12) mencionam que ldquoalthough
focus is frequently marked by an H accent [] other accents are possible For example in
yes-no questions focus is often by marked by an L+Hrdquo39
A importante pressuposiccedilatildeo teoacuterica de que toda oraccedilatildeo eacute resposta a uma pergunta
guia a metodologia de muitas investigaccedilotildees sobre o foco sobretudo de trabalhos
experimentais de leitura de sentenccedilas denominados testes de produccedilatildeo Com o pressuposto
teoacuterico da explicitaccedilatildeo do foco por meio de pergunta-resposta eacute possiacutevel delimitar o tipo de
foco a ser analisado broad focus (foco largo) narrow focus (foco estreito) ou contrastive
focus (foco contrastivo) (cf seccedilatildeo 121 p 14) Essa metodologia tem por caracteriacutestica
induzir guiar e restringir os padrotildees meloacutedicos da fala ao fornecer exemplos com contextos
preacutevios ou mesmo com o foco jaacute explicitado na sentenccedila para se obter o resultado desejado
Em investigaccedilatildeo sobre a marcaccedilatildeo prosoacutedica dos focos largo estreito e contrastivo em
alematildeo Baumann et al (2006 p 302) mencionam em sua metodologia de teste de leitura
que
reading material consisted of five question-answer pairs with the
answer bdquoManuela will Blumen malen‟ (Manuela wants to paint
flowers) The main criterion the target sentence had to fulfill was its
continuous voicing so as to be able to accurately measure exact peaks
and valleys in the F0 contour40
Dependendo do objetivo do trabalho ou da liacutengua a ser analisada podem-se controlar
outros fatores Por exemplo em trabalho sobre como o tom lexical e o foco contribuem para a
formaccedilatildeo e alinhamento dos F0 contours no chinecircs Xu (1999 p 58) menciona na
metodologia que
the factors manipulated in the experiment were segmental
composition of syllables lexical tones focus and and sentence types
Of these only lexical tones and focus were under direct scrutiny The
control of the other two factors was done by keeping their variation to
39
ldquoembora o foco seja frequentemente marcado por um accent H [] outros accents satildeo possiacuteveis Por
exemplo em perguntas sim-natildeo o foco eacute muitas vezes marcado por um H + Lrdquo 40
ldquoo material de leitura consistiu de cinco pares de pergunta-resposta com a resposta bdquoManuela will Blumen
malen‟ (Manuela quer pintar flores) O principal criteacuterio que a frase alvo tinha a cumprir era seu vozeamento
contiacutenuo de modo a ser capaz de medir com precisatildeo exata picos e vales no contorno da F0rdquo
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
27
O sistema ToBI reconhece 5 tipos de pitch accents enquanto Pierrehumbert (1980)
menciona 7 tipos Atraveacutes dessa classificaccedilatildeo eacute possiacutevel delimitar o accent prototiacutepico do
foco ou suas possiacuteveis variantes Beaver amp Clark (2008 p 12) mencionam que ldquoalthough
focus is frequently marked by an H accent [] other accents are possible For example in
yes-no questions focus is often by marked by an L+Hrdquo39
A importante pressuposiccedilatildeo teoacuterica de que toda oraccedilatildeo eacute resposta a uma pergunta
guia a metodologia de muitas investigaccedilotildees sobre o foco sobretudo de trabalhos
experimentais de leitura de sentenccedilas denominados testes de produccedilatildeo Com o pressuposto
teoacuterico da explicitaccedilatildeo do foco por meio de pergunta-resposta eacute possiacutevel delimitar o tipo de
foco a ser analisado broad focus (foco largo) narrow focus (foco estreito) ou contrastive
focus (foco contrastivo) (cf seccedilatildeo 121 p 14) Essa metodologia tem por caracteriacutestica
induzir guiar e restringir os padrotildees meloacutedicos da fala ao fornecer exemplos com contextos
preacutevios ou mesmo com o foco jaacute explicitado na sentenccedila para se obter o resultado desejado
Em investigaccedilatildeo sobre a marcaccedilatildeo prosoacutedica dos focos largo estreito e contrastivo em
alematildeo Baumann et al (2006 p 302) mencionam em sua metodologia de teste de leitura
que
reading material consisted of five question-answer pairs with the
answer bdquoManuela will Blumen malen‟ (Manuela wants to paint
flowers) The main criterion the target sentence had to fulfill was its
continuous voicing so as to be able to accurately measure exact peaks
and valleys in the F0 contour40
Dependendo do objetivo do trabalho ou da liacutengua a ser analisada podem-se controlar
outros fatores Por exemplo em trabalho sobre como o tom lexical e o foco contribuem para a
formaccedilatildeo e alinhamento dos F0 contours no chinecircs Xu (1999 p 58) menciona na
metodologia que
the factors manipulated in the experiment were segmental
composition of syllables lexical tones focus and and sentence types
Of these only lexical tones and focus were under direct scrutiny The
control of the other two factors was done by keeping their variation to
39
ldquoembora o foco seja frequentemente marcado por um accent H [] outros accents satildeo possiacuteveis Por
exemplo em perguntas sim-natildeo o foco eacute muitas vezes marcado por um H + Lrdquo 40
ldquoo material de leitura consistiu de cinco pares de pergunta-resposta com a resposta bdquoManuela will Blumen
malen‟ (Manuela quer pintar flores) O principal criteacuterio que a frase alvo tinha a cumprir era seu vozeamento
contiacutenuo de modo a ser capaz de medir com precisatildeo exata picos e vales no contorno da F0rdquo
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
28
a minimum To control the segmental effects simple CV syllables
with a sonorant as the initial consonant [] were used41
Vaacuterias outras pesquisas que utilizam essa metodologia poderiam ser citadas por
exemplo Arnhold (2011) e Vainio amp Jaumlrvikivi (2007) para o finlandecircs Frota (2002) para o
portuguecircs europeu Fernandes-Svartman (2007) para o PB e o PE Howell (2008) para o
inglecircs etc Contudo Butraguentildeo (2005 p 118) afirma que ldquola lectura de enunciados aislados
distorsiona las patrones meloacutedicos tal como se encuentran en el discursordquo42
O autor ainda
propotildee que ldquola complejidad misma de los hechos apoya el principio metoacutedico de analizar los
datos bajo bases empiacutericas no con ejemplos cuya estructura focal y prosoacutedica se obtenga
introspectivamenterdquo43
(idem p 130)
Outra metodologia de anaacutelise do foco prosoacutedico eacute a de percepccedilatildeo Geralmente satildeo
gravadas sentenccedilas com o intuito de que o participante diga se haacute ou em qual palavra ou
siacutelaba se encontra a proeminecircncia prosoacutedica Nesses casos eacute dada preferecircncia a participantes
treinados como no experimento de Howell (2008 p 258) por exemplo ldquosix linguistically
trained listeners participated in a forced-choice and acceptability listening experimentrdquo44
Haacute
trabalhos que fazem uso da siacutentese de fala (speech synthesis) ao inveacutes de gravaccedilotildees naturais
de sentenccedilas Um exemplo eacute o trabalho de Wolters amp Wagner (1997 p 227) que buscava
checar se a proeminecircncia ldquoprovides a basis for signalling wide narrow and contrastive focus
in Concept-to-Speech synthesisrdquo45
As autoras deram preferecircncia tambeacutem a participantes
treinados como se pode notar na metodologia ldquofive phoneticians including the authors
participated in the experiment Because of the exploratory nature of this experiment we
decided not to use paid native subjectsrdquo (WOLTERS amp WAGNER 1997 p 231)46
Haacute
outros estudos de percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica que natildeo estatildeo necessariamente
relacionados ao foco por exemplo Hermes amp Rump (1994) Gussenhoven et al (1997)
Gussenhoven amp Rietveld (1998) Eriksson et al (2001) entre outros
41
ldquoos fatores manipulados no experimento foram composiccedilatildeo segmental das siacutelabas tons lexicais foco e e
tipos de frases Destes apenas os tons lexicais e o foco estavam sob escrutiacutenio direto O controle dos outros dois
fatores foi feito mantendo a sua variaccedilatildeo ao miacutenimo Para controlar os efeitos segmentais siacutelabas CV simples
com uma soante como a consoante inicial [] foram utilizadasrdquo 42
ldquoa leitura de enunciados isolados distorce os padrotildees meloacutedicos tal como se encontram no discursordquo 43
ldquoa complexidade dos fatos apoia o princiacutepio metodoloacutegico de analisar os dados em termos empiacutericos e natildeo
com exemplos cujas estruturas focais e prosoacutedicas satildeo obtidas introspectivamenterdquo 44
ldquoseis ouvintes linguisticamente treinados participaram de um experimento de percepccedilatildeo de escolha forccedilada e
de aceitabilidaderdquo 45
ldquofornece uma base para a sinalizaccedilatildeo do foco largo estreito e contrastivo na siacutentese Concept-to-Speechrdquo 46
ldquocinco foneticistas incluindo os autores participaram do experimento Devido agrave natureza exploratoacuteria desta
experiecircncia decidimos natildeo usar participantes nativos pagosrdquo
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
29
Haacute ainda estudos que guiados pelos pressupostos teoacutericos buscam analisar o foco
prosoacutedico sem fazer uso das metodologias de produccedilatildeo ou percepccedilatildeo Esses estudos se
baseiam somente em dados de introspecccedilatildeo Pode-se citar como exemplo o estudo de Othero
(2011 p 1) que analisa ldquorespostas possiacuteveis em PB e em PE a perguntas com elementos-QU
que trazem constituintes focalizadosrdquo O autor considera que ldquoo constituinte que serve de
resposta agrave pergunta eacute a informaccedilatildeo nova ou seja eacute o elemento que serve de foco
informacionalrdquo (OTHERO 2011 p1) Atraveacutes da Teoria da Otimalidade Othero busca
investigar ldquocomo restriccedilotildees prosoacutedicas sintaacuteticas e de estrutura informacional competem
entre si e atuam de maneira determinante na ordem dos elementos da frase em PBrdquo (idem p
4)
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seccedilatildeo eacute destinada aos objetivos do presente trabalho aos procedimentos
metodoloacutegicos tomados na pesquisa bem como para a explicaccedilatildeo do corpus utilizado
31 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo (i) mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no Portuguecircs
Brasileiro atraveacutes de dados de fala espontacircnea retirados do corpus que seraacute descrito na
proacutexima seccedilatildeo o C-ORAL-BRASIL e (ii) distinguir o foco prosoacutedico de ecircnfase com dados
desse corpus Natildeo seraacute levado em consideraccedilatildeo o papel da frequecircncia tampouco seraacute feita
uma anaacutelise quantitativa dos dados O aspecto qualitativo da anaacutelise dos dados eacute primordial
neste trabalho47
O objetivo principal eacute fornecer uma visatildeo panoracircmica da focalizaccedilatildeo na fala
espontacircnea aleacutem de propor uma classificaccedilatildeo para o foco prosoacutedico e a ecircnfase As anaacutelises
seratildeo semacircnticas levando consideraccedilatildeo o formalismo que se ajusta melhor agrave representaccedilatildeo da
entoaccedilatildeo do foco pragmaacuteticas baseadas no contexto discursivo em que o enunciado foi
proferido bem como prosoacutedicas com auxiacutelio do software Praat (BOERSMA amp WEENINK
2011) para medir os paracircmetros acuacutesticos A percepccedilatildeo da proeminecircncia prosoacutedica tem papel
fundamental na identificaccedilatildeo do foco prosoacutedico e da ecircnfase pois foi a partir dela que se
retiraram os dados para a posterior anaacutelise
47
Natildeo obstante a anaacutelise quantitativa seja de igual importacircncia ainda que natildeo a abordemos no presente
trabalho
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
30
Muito se tem estudado sobre as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo do PB contudo em vaacuterios
desses estudos os dados utilizados e seus respectivos contextos de ocorrecircncia satildeo possiacuteveis
candidatos a aparecerem na comunicaccedilatildeo oral entretanto natildeo haacute muitos estudos que mostram
que realmente a situaccedilatildeo ou determinado dado ocorre de fato na liacutengua e como esse dado
ocorre Em (i) procurar-se-aacute mostrar as estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB com dados de fala
espontacircnea isto eacute dados orais da comunicaccedilatildeo humana em situaccedilotildees reais estabelecendo a
relaccedilatildeo contexto pragmaacutetico de enunciaccedilatildeoentoaccedilatildeopropriedade semacircntica extraiacutevel
Foco prosoacutedico e ecircnfase muitas vezes satildeo confundidos ou satildeo considerados como
sendo um fenocircmeno uacutenico por exemplo As diferenccedilas podem ser sutis mas eacute fato que se
trata de fenocircmenos distintos Alguns autores classificam tipos de ecircnfase dentro do fenocircmeno
do foco prosoacutedico Gonccedilalves (1997) por exemplo menciona a Ecircnfase Contrastiva a Ecircnfase
Intensiva e a Ecircnfase por Silabaccedilatildeo como tipos de foco prosoacutedico e ainda subdivide outros
tipos de ecircnfase dentro das jaacute mencionadas Apoiando-se em Gonccedilalves (1997) Batista (2007)
classifica a ecircnfase como ldquoo ato de acentuar ressaltar focalizar de por em evidecircncia em
determinado item do textordquo (grifo nosso) ou seja a ecircnfase seria um fenocircmeno mais amplo
que abrangeria a tambeacutem a focalizaccedilatildeo Em (ii) tentar-se-aacute propor uma nova classificaccedilatildeo
para o foco prosoacutedico e para a ecircnfase a fim de contribuir na desambiguizaccedilatildeo desses dois
fenocircmenos
32 CORPUS
O corpus utilizado para a pesquisa neste trabalho foi o C-ORAL-BRASIL Esse
corpus eacute a quinta ramificaccedilatildeo do corpus C-ORAL-ROM que seraacute brevemente descrito na
proacutexima seccedilatildeo
321 C-ORAL-ROM
C-ORAL-ROM (cf CRESTI et al 2002 MONEGLIA 2002 CRESTI amp
MONEGLIA 2003a 2003b 2005 CRESTI amp GRAMIGNI 2004 CRESTI et al 2004
MONEGLIA 2005) eacute um projeto coordenado pelos professores Emanuela Cresti e Massimo
Moneglia ambos do LABLITA48
(Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica
dell‟Universtiagrave di Firenze) na Universidade de Florenccedila Esse projeto reuacutene corpora de fala
48
Cf lthttplablitaditunifiitgt
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
31
espontacircnea49
das principais liacutenguas romacircnicas da Europa espanhol francecircs italiano e
portuguecircs europeu As universidades que participam do projeto satildeo sobretudo Universitagrave di
Firenze Universiteacute de Provence Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa e Universidad
Autoacutenoma de Madrid
A extensatildeo do C-ORAL-ROM totaliza 772 textos 1300000 palavras e 1232735h
de fala Os arquivos de som de cada gravaccedilatildeo satildeo em formato wav (Windows PCM 22050hz
a 16bit) As transcriccedilotildees satildeo em formato CHAT (MAC WHINNEY 1994) com metadados
em formato CHAT e IMDI Em cada gravaccedilatildeo haacute um alinhamento textosom em formato
xml que pode ser visualizado com o software WinPitch (MARTIN 2005) Esse alinhamento
consiste em que ldquoeach unit of text (be syllable word syntagm or sentence) receives a time
index corresponding to the time position in the sound filerdquo (MARTIN 2004)50
Assim
quando esse processo eacute estabelecido ldquoan operator can select an aligned unit of text and listen
to the corresponding speech segmentrdquo (idem)51
O C-ORAL-ROM natildeo pretende representar a variaccedilatildeo foneacutetica diatoacutepica mas procura
representar a variaccedilatildeo diafaacutesica da liacutengua bem como a variedade de atos de fala De acordo
com Moneglia (2005) os paracircmetros de variaccedilatildeo privilegiados no C-ORAL-ROM satildeo a)
canal b) estrutura do evento comunicativo c) domiacutenio social do uso d) uso formal e informal
e) domiacutenio de aplicaccedilatildeo da variedade formal Levando em consideraccedilatildeo esses paracircmetros o
corpus foi divido em dois usos principais formal e informal No uso formal haacute os canais
natural (pex debate poliacutetico pregaccedilatildeo religiosa conferecircncia etc) e de miacutedia (pex de
raacutedio ou televisatildeo noticiaacuterio entrevista reportagem etc) aleacutem de gravaccedilotildees telefocircnicas
privadas ou interaccedilatildeo homem-maacutequina No uso informal haacute os contextos privado-familiar e
puacuteblico ambos contando com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Nos metadados da cada
gravaccedilatildeo haacute informaccedilotildees do falante como sexo idade profissatildeo e grau de escolaridade e da
gravaccedilatildeo como descriccedilatildeo da situaccedilatildeo duraccedilatildeo qualidade acuacutestica e nuacutemero de palavras Os
corpora satildeo anotados quanto as partes do discurso (PoS) e do lema tendo para cada liacutengua
uma tecnologia diferente Pi-Tagger (Italiano) Cordial Analyzer (Francecircs) Brill (Portuguecircs)
e Grampal (Espanhol)
49
Por fala espontacircnea entende-se ldquoa fala que natildeo eacute previamente programada natildeo realiza um texto anterior a sua
execuccedilatildeo e portanto eacute passiacutevel de menor controle por parte do falanterdquo (ROCHA 2010 p 22) Cresti amp
Moneglia (2003a p 713) ainda mencionam que ldquola imprevedibilitagrave e variabilitagrave egrave la caratteristica dominante del
parlalo spontaneordquo
ldquoa imprevisibilidade e a variabilidade eacute a caracteriacutestica dominante da fala espontacircneardquo 50
ldquocada unidade de texto (seja siacutelaba palavra sintagma ou sentenccedila) recebe um iacutendice de tempo correspondente
agrave posiccedilatildeo de tempo no arquivo de somrdquo 51
ldquoum operador pode selecionar uma unidade alinhada de texto e ouvir o segmento de fala correspondenterdquo
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
32
Esse corpus eacute arquitetado seguindo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato (cf
CRESTI 2000) A TLA eacute uma teoria pragmaacutetica da liacutengua que atraveacutes da pesquisa de
corpora de liacutengua oral espontacircnea busca descrever as possiacuteveis unidades informacionais da
fala e seus respectivos padrotildees prosoacutedicos bem como os fenocircmenos linguiacutesticos orais sejam
segmentais suprassegmentais informacionais morfossintaacuteticos de variaccedilatildeo etc Cresti
(2000) afirma que cada enunciado corresponde a um ato de fala que veicula portanto uma
accedilatildeo A prosoacutedia eacute um importante componente para construccedilatildeo da teoria pois seu papel eacute
mediar o domiacutenio da accedilatildeo (ilocuccedilatildeo) e o domiacutenio da expressatildeo linguiacutestica (enunciado) De
acordo com a TLA a fala espontacircnea pode ser segmentada em enunciados Essa segmentaccedilatildeo
se basearia em criteacuterios prosoacutedicos em que perfis entoacionais ou quebras prosoacutedicas
percebidas como terminais marcariam o fim de cada enunciado Portanto as transcriccedilotildees satildeo
segmentadas prosodicamente isto eacute haacute uma marcaccedilatildeo a cada quebra prosoacutedica Sendo
percebida como natildeo-terminal a quebra eacute marcada com uma barra simples bdquo‟ sendo
percebida como terminal a quebra eacute marcada com uma barra dupla bdquo‟ o que indica o fim de
um enunciado Essas quebras podem ser segmentadas fazendo uso da percepccedilatildeo bem como
ter seu status checado atraveacutes da curva de F0 Cresti et al (2004 p 577) por exemplo
mencionam que ldquothe utterance boundaries frequently occur together with significant wave
interruptionsrdquo52
Parte do corpus recebe tambeacutem uma anotaccedilatildeo com as unidades
informacionais descritas pela TLA e pela Informational Patterning Theory53
(CRESTI
2000)
322 C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL54
(cf RASO amp MELLO 2009 2010 2012 RASO amp
MITTMANN 2009 MITTMANN et al 2009) eacute um projeto que busca estudar o portuguecircs
brasileiro oral espontacircneo atraveacutes da compilaccedilatildeo de um corpus e se constitui a quinta
52
ldquoos limites do enunciado frequentemente ocorrem em conjunto com significativas interrupccedilotildees de ondardquo 53
Acerca dos pressupostos dessa teoria Cresti amp Moneglia (2010 p 14) explicam que ldquothe core of the utterance
corresponds to a part called Comment which necessarily deals with one prosodic unit (PU) and constitutes the
information unit (IU) whose function is to accomplish the illocutionary force of the utterancerdquo A prosoacutedia
entatildeo seria o recurso que desempenharia a estrutura informacional do enunciado A estrutura informacional do
enunciado eacute constituiacuteda por sua unidade principal - o Comentaacuterio Contudo haacute outras unidades opcionais
internas ao comentaacuterio A correspondecircncia entre o padratildeo prosoacutedico e o padratildeo informacional eacute a base da
Informational Patterning Theory (CRESTI amp MONEGLIA 2010)
ldquoo nuacutecleo do enunciado corresponde a uma parte chamada de Comentaacuterio que necessariamente lida com uma
unidade prosoacutedica (UP) e constitui a unidade de informaccedilatildeo (UI) cuja funccedilatildeo eacute realizar a forccedila ilocucionaacuteria do
enunciadordquo 54
Cf lthttpwwwc-oral-brasilorggt
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
33
ramificaccedilatildeo do projeto C-ORAL-ROM O C-ORAL-BRASIL eacute coordenado pelos professores
Tommaso Raso e Heliana Mello ambos da Faculdade de Letras55
(FALE) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Os trabalhos satildeo desenvolvidos no Laboratoacuterio de Estudos
Empiacutericos e Experimentais da Linguagem56
(LEEL) atualmente coordenado pelo professor
Tommaso Raso
O C-ORAL-BRASIL iniciado oficialmente em 2007 segue os moldes dos corpora
do projeto C-ORAL-ROM Contudo foram feitas algumas adaptaccedilotildees em relaccedilatildeo ao projeto
principal que refletem a realidade sociolinguiacutestica do Brasil Por exemplo a fala de uma
pessoa europeia que possui segundo grau equivaleria agrave de uma pessoa brasileira que possui o
tiacutetulo de terceiro grau desde que natildeo exerccedila uma profissatildeo que necessite desse tiacutetulo Nesse
sentido o corpus pretende representar de certa forma a variaccedilatildeo diastraacutetica pois consta
ldquocom falantes das vaacuterias faixas soacutecio-culturais tanto interagindo com falantes da mesma
faixa quanto com falantes de faixas diferentesrdquo (RASO amp MELLO 2009 p 22) A variedade
diatoacutepica foi sobretudo a de Belo Horizonte e regiatildeo metropolitana
Seguindo o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem privilegiou a variaccedilatildeo
diafaacutesica em detrimento da diatoacutepica Assim haacute diversos contextos situacionais que satildeo
definidos de acordo com a combinaccedilatildeo das seguintes variaacuteveis tipo de atividade nuacutemero e
tipologia dos participantes da atividade lugar da interaccedilatildeo e assunto da interaccedilatildeo (RASO amp
MELLO 2009) As gravaccedilotildees se dividem nos contextos familiar-privado e puacuteblico aleacutem de
ambos contarem com monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees Acerca da definiccedilatildeo de contextos
familiar-privado e puacuteblico Raso amp Mello (2009 p 23) explicam que esta ldquodeve ser
entendida com base no papel exercido pelo falante no momento da interaccedilatildeordquo Assim
considerou-se o comportamento do falante como fator para definir o contexto se se comporta
com base social o contexto eacute puacuteblico se se comporta com base particular-individual o
contexto eacute familiar-privado
Assim como o C-ORAL-ROM o C-ORAL-BRASIL tambeacutem conta com uma parte de
gravaccedilotildees de fala formal e outra informal todavia apenas a segunda estaacute concluiacuteda e
publicada a parte formal ainda estaacute em fase de compilaccedilatildeo Assim sendo sempre que o
corpus C-ORAL-BRASIL for mencionado neste trabalho seja atraveacutes de sua descriccedilatildeo seja
pelos dados coletados para a anaacutelise se referiraacute somente agrave parte informal
O corpus eacute constituiacutedo por 139 textos contendo 208130 palavras totalizando
210852h de fala Os arquivos de som satildeo em formato wav as transcriccedilotildees em rtf os
55
Cf lthttpwwwletrasufmgbrsitegt 56
Cf lthttpwwwletrasufmgbrCMSindexasppasta=leelgt
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
34
arquivos de alinhamento que podem ser visualizados com o software Winpitch (MARTIN
2005) em xml e os metadados (informaccedilotildees extra-textuais que especificam as caracteriacutesticas
dos falantes ndash idade sexo profissatildeo grau de escolaridade etc ndash e as particularidades da
situaccedilatildeo) em txt As gravaccedilotildees foram feitas com gravadores digitais PDD60 Marantz e com
kits wireless (microfones de lapela receivers e transmitters) Sennheiser Evolution EW100
G2 em algumas gravaccedilotildees fez-se uso de microfones omnidirecionais Sennheiser MD 421 e
do mixer Xenyx 1222
As transcriccedilotildees obedecem ao formato CHILDES-CLAN (MAC WHINNEY 2000)
buscando ldquocapturar fenocircmenos que podem refletir fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e
lexicalizaccedilatildeo em cursordquo (RASO amp MELLO 2009 p26-27) Alguns deles satildeo por exemplo
afeacutereses (estar gt taacute) apoacutecopes (olha gt o‟) reduccedilatildeo de preposiccedilotildees (para gt pra) etc para
informaccedilotildees mais detalhadas sobre o processo e formaccedilatildeo de transcritores bem como dos
criteacuterios adotados para a transcriccedilatildeo dos fenocircmenos de gramaticalizaccedilatildeo e lexicalizaccedilatildeo e da
segmentaccedilatildeo prosoacutedica do C-ORAL-BRASIL cf Mello et al (2012) O parser adotado para
a anotaccedilatildeo morfossintaacutetica do corpus foi o PALAVRAS (BICK 2000)57
Apresenta-se um exemplo de um trecho de uma transcriccedilatildeo segmentada
prosodicamente e etiquetada informacionalmente do corpus C-ORAL-BRASIL
(29) bfamcv03
TON [41] eacute =EXP= se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido =TOP= tava vivo
=CMB= tava com noventa-e-seis ano =COM=$
CAR [42] hhh bicho bobo =COM=$ [43] vai abrir =SCA= ltumgt quadrinho
=COM=$
A sigla bfamcv03 significa corpus bdquoBrasil‟ (b) contexto familiar (fam) nuacutemero de
falantes conversaccedilatildeo (cv) e 03 o nuacutemero do texto TON e CAR satildeo as iniciais dos
participantes da interaccedilatildeo Os nuacutemeros entre colchetes [41] [42] e [43] indicam o nuacutemero de
cada enunciado As barras simples bdquo‟ marcam uma unidade tonal no niacutevel acuacutestico e uma
informacional no niacutevel pragmaacutetico As barras duplas bdquo‟ marcam o fim de um enunciado As
siglas EXP TOP CMB COM e SCA indicam as unidades informacionais de expressivo
toacutepico comentaacuterios muacuteltiplos ligados comentaacuterio e escansatildeo respectivamente
33 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
57
Para mais informaccedilotildees sobre esta anotaccedilatildeo cf Bick (2012)
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
35
Com o intuito de identificar o fenocircmeno em questatildeo no corpus pesquisado foram
tomados os seguintes procedimentos metodoloacutegicos
(i) Foram escolhidos aleatoriamente 3 textos do corpus C-ORAL-BRASIL
(ii) Em seguida o pesquisador escutou cada texto e ao mesmo tempo lendo a
transcriccedilatildeo marcou os enunciados que eram possiacuteveis candidatos a ser foco
prosoacutedico ou ecircnfase ou seja aqueles que apresentavam uma proeminecircncia
prosoacutedica mais saliente
(iii) Os enunciados escolhidos foram recortados atraveacutes do software Winpitch (MARTIN
2005)
(iv) Novamente com a transcriccedilatildeo e com o arquivo de aacuteudio foi observado o contexto de
enunciaccedilatildeo dos enunciados
(v) Atraveacutes do contexto de enunciaccedilatildeo o item foi julgado ser foco ou ecircnfase Mais
detalhes desse julgamento seratildeo mostrados na seccedilatildeo 4
(vi) Por fim foi feita a anaacutelise acuacutestica dos enunciados com o software Praat (BOERSMA
amp WEENINK 2011) considerando duraccedilatildeo da siacutelaba e da vogal (ms) F0 maacutexima e
miacutenima (Hz) e intensidade maacutexima e miacutenima (dB) de cada siacutelaba do enunciado
Salientamos que dado a natureza do trabalho a escolha por priorizar o aspecto
qualitativo em detrimento do quantitativo resultou ser mais produtivo embora de forma
alguma acreditamos que a anaacutelise qualitativa substitua a quantitativa mais bem as duas
seriam o ideal Eacute necessaacuterio salientar tambeacutem que o uso da percepccedilatildeo para a identificaccedilatildeo
dos fenocircmenos estudados neste trabalho foi fundamental ainda que a participaccedilatildeo de
mais informantes seria mais eficaz na validaccedilatildeo dos enunciados que apresentam os
fenocircmenos considerados
4 ANAacuteLISE DOS DADOS
Primeiramente seratildeo mostrados os dados do C-ORAL-BRASIL referentes agraves
estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB A estrateacutegia prosoacutedica seraacute a primeira seguida da sintaacutetica e
da morfoloacutegica Logo depois a anaacutelise se voltaraacute para o objetivo (ii) deste trabalho ou seja o
da proposta de distinccedilatildeo entre foco prosoacutedico e ecircnfase
41 FOCO PROSOacuteDICO
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
36
O foco prosoacutedico possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva expressa por propriedades
semacircnticas sejam elas de contrastividade ou exclusividade O objetivo do foco prosoacutedico eacute
destacar um item por meio de uma proeminecircncia prosoacutedica Haacute um contexto especiacutefico para
sua ocorrecircncia No caso do foco prosoacutedico expressando contrastividade esse contexto deve
ser o contraste por meio da negaccedilatildeo ou correccedilatildeo do conteuacutedo proposicional ou a adiccedilatildeo de
um conteuacutedo informativo para contrastar um enunciado ou uma accedilatildeo extralinguiacutestica anterior
O foco deve apresentar uma proeminecircncia prosoacutedica indicando a contrastividade
(30) bfamcv02
TER [135] e aiacute ela taacute assim matildee $
TER [136] soacute falta soacute o sofaacute $
TER [137] ltaiacute eugt falei assim entatildeo lthhh osgt [1] os +$
RUT [138] ltNossagt $
JAE [139] ltocecirc vai dargt $
TER [140] natildeo $
TER [141] o sofaacute vatildeo vez que agraves vezes a Rute distribui com ela Tonita ltCcedilatildeogt $
RUT [142] lta famiacuteliagt toda $
TER [143] a famiacutelia toda e daacute um sofaacute lthhhgt $
RUT [144] lteacute pobre mas ampsogt [2] mas ltsofaacute nũ deve sergt barato natildeo $
TER [145] ltmas eacute carogt $
TER [146] eacute caro $
RUT [147] sofaacute eacute caro $
TER [148] eacute $
Em (30) trecircs amigas conversam sobre o casamento da filha de uma delas As
participantes discutem quem deveria dar um sofaacute de presente para a noiva Em tom de humor
TER menciona que com a ajuda de toda a famiacutelia um sofaacute poderia ser dado agrave noiva RUT
diz entatildeo que um sofaacute natildeo deve ser barato e TER realizando uma proeminecircncia prosoacutedica
focaliza o item bdquocaro‟ dizendo que um sofaacute eacute caro Este exemplo se trata de um foco
prosoacutedico com a propriedade semacircntica de contrastividade isto eacute x e natildeo y bdquoum sofaacute eacute caro
e natildeo barato‟ A afirmaccedilatildeo de RUT de que um sofaacute natildeo deve ser barato natildeo implica que esse
sofaacute seja caro podendo custar um preccedilo mediano contudo TER focaliza contrastivamente
dizendo que o preccedilo de um sofaacute de fato eacute caro
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
37
FIGURA 31 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [146] do texto bfamcv02
TABELA 31 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [146] do texto bfamcv02
Trans58
eacute ca ro
DurS 0224236 0245923 0160544
DurV 0224236 0199333 0116313
F0Mx 203020 253046 267004
F0Mn 171728 168452 157687
IntMx 56577 65168 62412
IntMn 41397 47293 57097
No enunciado [146] nota-se que a siacutelaba tocircnica do foco ou seja bdquoca‟ eacute a mais longa
do enunciado bem como apresenta o maior valor de intensidade maacutexima Essa siacutelaba
apresenta o segundo maior valor de F0 maacutexima do enunciado A duraccedilatildeo da vogal da tocircnica
do foco eacute a segunda maior O movimento da curva de F0 eacute descendente-ascendente
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a contrastividade sem fazer referecircncia a um
enunciado anterior Isso acontece quando a situaccedilatildeo pragmaacutetica permite a ocorrecircncia desse
foco Em (31) cinco amigos jogam sinuca conversam e datildeo palpites sobre o jogo Em algum
58
As abreviaturas das tabelas e as medidas de cada paracircmetro acuacutestico satildeo respectivamente Transcriccedilatildeo
Duraccedilatildeo da Siacutelaba (ms) Duraccedilatildeo da Vogal (ms) F0 Maacutexima (Hz) F0 Miacutenima (Hz) Intensidade Maacutexima (dB) e
Intensidade Miacutenima (dB)
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
38
momento do jogo CEL adverte que TON deve matar a bola nuacutemero cinco Pelos enunciados
[64] e [65] infere-se que REN estava tentando matar a bola nuacutemero oito e natildeo a cinco
Mesmo sem REN disser bdquoeu vou matar o cinco‟ a accedilatildeo que ele deveria estar fazendo
motivou CEL a utilizar o foco prosoacutedico expressando contrastividade isto eacute bdquomate a bola
cinco e natildeo a oito‟
(31) bfamcv03
CEL [58] ltagora tem que matar o cincogt $
CAR [59] cecirc erra lttambeacutem Toninho aiacute ficava o seisgt +$
CEL [60] ltocirc Toninho cecirc tem que matar o cinco socircgt $
REN [61] agora cecirc mata o onze aiacute $
REN [62] nũ daacute natildeo $
CEL [63] natildeo socirc o cinco Renato $
CEL [64] oito $
CEL [65] que isso $
FIGURA 32 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [63] do texto bfamcv03
TABELA 32 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [63] do texto bfamcv03
Trans natildeo socirc o cin co Re na to
DurS 027001
0
018228
6
012190
3
020279
3
0069 0076 013671
4
0063
DurV 022330
0
012076
4
012190
3
015038
6
0039 0043 009570
0
0031
F0Mx 385043 315052 282677 378799 33082 29844 259569
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
39
8 5
F0Mn 189641 273705 272320 236444 29844
5
25956
9
180851
IntM
x
81422 79349 66697 64525 66930 71806 70096 4633
7
IntM
n
52731 59860 51980 48394 47298 67619 48102 4570
3
Haacute duas proeminecircncias prosoacutedicas no enunciado [63] a primeira eacute na palavra bdquonatildeo‟ e
a segunda em bdquocinco‟ A palavra bdquonatildeo‟ apresenta os maiores valores de F0 intensidade e
duraccedilatildeo do enunciado em segundo lugar aparece a palavra bdquocinco‟ O foco prosoacutedico
expressando contrastividade estaacute na palavra bdquocinco‟ O movimento da siacutelaba tocircnica dessa
palavra eacute ascendente A negaccedilatildeo eacute uma preparaccedilatildeo para o foco expressando contrastividade
portanto ela faz parte do conteuacutedo informativo desse foco o que explica sua proeminecircncia
prosoacutedica
O foco prosoacutedico tambeacutem pode expressar a propriedade semacircntica de exclusividade
O contexto deve ser a identificaccedilatildeo de um referente discursivo geralmente concreto
apontando a propriedade daquele referente ser uacutenico isto eacute x e apenas x Em (32) o texto e o
contexto pragmaacutetico satildeo os mesmos do exemplo (31) TER estaacute em duacutevida se deve convidar
certas pessoas Entatildeo TER pede a opiniatildeo de RUT RUT menciona que todos devem ser
convidados dizendo que o convite de casamento poderia ser enviado para todos isto eacute
somente o convite de casamento ou bdquoo convite de casamento e apenas o convite de
casamento‟ mas sobre o convite de padrinhos TER deveria analisar melhor
(32) bfamcv02
TER [329] aiacute cecirc acha que eu devo convidar o Guilherme $
TER [330] todo mundo ltneacute Rutegt $
RUT [331] ltcom certeza Terezinhagt $
TER [332] lte Zeacutegt Levi $
RUT [333] ltnatildeogt $
TER [334] lttodogt mundo $
RUT [335] convite de casamento cecirc pode mandar pa todo mundo $
RUT [336] agora ltpadrimgt aiacute que ocecirc tem que ver $
TER [337] ltuhngt $
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
40
FIGURA 33 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [335] do texto bfamcv02
TABELA 33 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Trans con vi te ca sa men to
DurS 0191610 0135 0144 0113 0204674 0096 0071
DurV 0135 0091 0089 0072 0139 0053 0045
F0Mx 256514 304153 291765 280289 285227 245024 265390
F0Mn 212644 196220 281560 264338 233187 221826 228981
IntMx 66291 65029 64208 64913 72972 64631 64774
IntMn 47786 54857 50092 50373 58897 62212 56991
TABELA 34 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [335] do texto bfamcv02
Tran
s
cecirc po‟ man dar pa‟ to do mun do
DurS 0144 0113 0120 0071 0113 0069 0122 025910
9
022694
3
Dur
V
0113 0068 0080 0057 0085 0056 0073 015459
5
016379
9
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
41
F0M
x
31782
0
32405
5
32150
1
27948
2
27586
1
28496
6
42944
7
430694 229315
F0M
n
23317
6
31367
6
27163
6
27312
6
26991
3
27534
9
27367
0
227488 166450
IntM
x
62460 67888 66204 67044 55718 60146 55540 63855 59687
IntM
n
49076 59249 61124 56423 45721 54173 51685 52940 48748
Novamente haacute duas proeminecircncias no exemplo (32) uma na palavra bdquocasamento‟ e
outra na palavra bdquomundo‟ O foco prosoacutedico expressando exclusividade se encontra na siacutelaba
preacute-tocircnica de bdquocasamento‟ Os valores de F0 intensidade e duraccedilatildeo dessa siacutelaba satildeo os
segundos maiores do enunciado O movimento da curva de F0 no foco inteiro isto eacute bdquoconvite
(de) casamento‟ eacute descendente-ascendente-descendente jaacute o movimento de F0 da preacute-tocircnica
eacute descendente A proeminecircncia com maiores valores dos paracircmetros acuacutesticos estaacute na siacutelaba
tocircnica da palavra bdquomundo‟ e se trata de uma ecircnfase Nota-se que o foco prosoacutedico e a ecircnfase
podem coocorrer em um mesmo enunciado mas natildeo na mesma palavra desse enunciado
42 FOCO SINTAacuteTICO
O foco sintaacutetico se realiza atraveacutes de uma configuraccedilatildeo sintaacutetica especiacutefica que
viabiliza o destaque de algum item No PB a construccedilatildeo sintaacutetica focalizadora mais
conhecida eacute a famiacutelia das clivadas As propriedades semacircnticas que o foco sintaacutetico carrega
satildeo geralmente de exclusividade mas tambeacutem em alguns casos de contrastividade No
exemplo (33) quatro estudantes jogam Imagem e Accedilatildeo um jogo de miacutemica cujo objetivo eacute
os demais participantes adivinharem o que certo participante estaacute tentando demonstrar atraveacutes
de miacutemicas LUC pergunta a BRU se HEL deve adivinhar BRU entatildeo responde
afirmativamente BRU faz miacutemicas para HEL adivinhar a palavra retirada anteriormente por
BRU HEL realiza vaacuterias tentativas e por fim acerta a palavra que era bdquorolha‟ BRU faz uso
da sentenccedila clivada expressando exaustividade para dizer que a vez de fazer a miacutemica
naquele momento eacute de HEL isto eacute bdquoagora eacute vocecirc e apenas vocecirc que faz a miacutemica‟ Nota-se
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
42
que o uso da sentenccedila clivada neste contexto natildeo ocorre depois de uma pergunta-wh como eacute
mostrado frequentemente na literatura sobretudo gerativista
(33) bfamcv04
LUC [430] a [1] ea [1] ea ela tem que adivinhar $
BRU [431] ela vai adivinhar $
HEL [432] hhh barril $
HEL [433] alambique $
HEL [434] garrafa $
BRU [435] uhn $
HEL [436] gargalo $
HEL [437] tampa $
HEL [438] amphe tampinha $
LUC [439] hhh lttampinhagt $
HEL [440] ltampabrigt +$
HEL [441] amphe bico $
HEL [442] amphe amphe saca-rolhas $
HEL [443] champanhe $
HEL [444] hhh garrafa $
HEL [445] ampgarra +$
HEL [446] rolha $
BRU [447] uhn $
BRU [448] yes hhh $
BRU [449] yyyy $
HEL [450] ltai que fodagt $
BRU [451] ltyyyy neacutegt $
HEL [452] ltNossagt $
BRU [453] agora eacute ocecirc que faz $
LUC [454] pera aiacute $
LUC [455] xaacute eu voltar lta coisagt $
HEL [456] ltseacuteriogt $
LUC [457] ltpera aiacute pera pera aiacutegt soacute um segundo soacute vatildeo esperar o [1] a ampulheta ltdesnegoccedilargt $
BRU [458] ltseacuteriogt $
CEL [459] lteacutegt $
BRU [460] eacute $
FIGURA 34 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [453] do texto bfamcv04
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
43
TABELA 35 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [453] do texto bfamcv04
Trans a go ra eacute o cecirc que faz
DurS 010437
0
009976
5
0033 0043 0051 007290
5
006216
1
026570
3
DurV 010437
0
007751
0
0021 0043 0051 0041 0039 015059
0
F0Mx 251498 245231 25694
1
26990
6
27177
8
378012 361189 145208
F0Mn 237585 236796 24456
7
25694
1
25507
9
353182 354922 118886
IntM
x
68780 72611 68144 63588 54560 62731 62253 55523
IntM
n
54609 52862 64718 57507 50837 53245 43720 38202
A configuraccedilatildeo sintaacutetica clivada que focaliza a palavra bdquoocecirc‟ apresenta uma
proeminecircncia prosoacutedica na siacutelaba tocircnica bdquocecirc‟ O movimento da curva de F0 nessa siacutelaba eacute
descendente
No exemplo (34) o contexto eacute o mesmo de (31) TON faz uma jogada e daacute palpites na
vez de CAR jogar CAR entatildeo adverte TON fazendo uso de uma sentenccedila pseudo-clivada
de que era ele ou seja CAR que iria jogar e natildeo TON Nesse caso a propriedade semacircntica
do foco bdquoeu‟ eacute de contrastividade bdquoquem joga agora sou eu e natildeo vocecirc‟
(34) bfamcv03
CAR [149] ltToninho nũ erra igual da outra vez natildeo meugt $
REN [150] ltnatildeogt $
REN [151] ltampchut [1] vou dar ideacuteia natildeogt $
REN [152] ltsei quegt cecirc faz o [1] o serviccedilo ltseugt $
CEL [153] lthhhgt errar de bola assim eacute feio demais $
CEL [154] isso $
CAR [155] ltuhngt $
CEL [156] ltinda bem que eugt fiquei hhh $
CAR [157] pocircs ela atraacutes das outras $
CAR [158] que ltgostosogt $
CEL [159] ltagora vou matar o oitogt $
TON [160] ltmatou isso aiacute jaacutegt $
TON [161] lta laacutegt como eacute que eu pus atraacutes das outra $
CEL [162] ltxxxgt $
TON [163] olha p‟ ltcecirc vergt $
CEL [164] ltpra matargt tem que fazer um $
REN [165] joguei atraacutes das suas bola $
CAR [166] entatildeo eacute que o Damiatildeo [2] o [1] o [1] o [1] o [1] o ampTonin [2] o Renato entatildeo $
TON [167] eacute $
TON [168] foi atraacutes das outras $
CAR [169] pocircs ueacute $
CAR [170] pocircs ltnatildeogt $
CEL [171] ltuhngt $
CAR [172] laacute na frente $
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
44
TON [173] daacute pra ampma [3] daacute pra jogar ela aqui ela vem na frente da quatro o $
CAR [174] natildeo $
CAR [175] quem vai jogar agora sou eu Toninho $
CAR [176] cecirc nũ faz besteira natildeo porque $
CAR [177] cecirc nũ entendeu cecirc nũ $
FIGURA 35 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [175] do texto bfamcv03
TABELA 36 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans quem vai jo gar a go ra
DurS 0174941 0106587 0118145 0132271 0063 0059 0057
DurV 0120714 0072 0076 0095030 0063 0036 0037
F0Mx 145602 153098 150254 135667 121244 121947
F0Mn 131133 138345 124577 123965 113979 120801
IntMx 56293 58265 59735 61245 54030 60826 60549
IntMn 49830 48106 50059 52471 46798 57012 47919
TABELA 37 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [175] do texto bfamcv03
Trans sou eu To nim
DurS 0205470 0209322 0078 0057
DurV 0097598 0209322 0054 0037
F0Mx 178175 176814 133573
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
45
F0Mn 173078 122288 133573
IntMx 63245 63901 55134 55635
IntMn 42993 39753 39146 45532
No enunciado [175] acima a proeminecircncia prosoacutedia se encontra no item bdquoeu‟ que
apresenta maior duraccedilatildeo da siacutelaba e da intensidade O movimento da curva de F0 desse item
eacute descendente-ascendente
43 FOCO MORFOLOacuteGICO
O foco morfoloacutegico no PB objetiva destacar um item atraveacutes da combinaccedilatildeo com uma
palavra que funciona como um focalizador Caetano (2012) investigando o estatuto do
adveacuterbio bdquomesmo‟ no corpus C-ORAL-BRASIL encontrou ocorrecircncias em que esse
adveacuterbio exercia uma funccedilatildeo focalizadora como segue no exemplo abaixo
(35) bfamcv03
TON [179] ah aqui nũ daacute natildeo $
TON [180] vai ter que ser ltaquigt $
CEL [181] ltpuxagt esse trecircs caacute pra cima socirc $
TON [182] natildeo $
TON [183] que puxa ltcaacute pra cimagt $
CAR [184] ltnatildeogt $
CAR [185] ltquemgt joga agora sou eu Toninho $
CAR [186] cecirc nũ entendeu $
TON [187] aqui mesmo ampCel $
TON [188] aqui mesmo amphe ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc [1] ocirc Crossinho $
CEL [189] tem que pensar muito natildeo Renato $
CEL [190] isso aqui ou cecirc joga pra caacute +$
Os enunciados [187] e [188] do exemplo (35) mostram o adveacuterbio bdquomesmo‟
exercendo uma funccedilatildeo focalizadora isto eacute ele destaca o item bdquoaqui‟ TON daacute uma opiniatildeo de
jogada para Crossinho que deveria jogar em determinado lugar usando o decircitico bdquoaqui‟ e
destacando-o com o adveacuterbio bdquomesmo‟ Esse destaque carrega a noccedilatildeo semacircntica de
exclusividade ou seja deve-se jogar aqui e apenas aqui Os enunciados com o focalizador
foram proferidos provavelmente em um contexto de um possiacutevel momento de duacutevida de um
participante da conversaccedilatildeo sobre onde ou em qual bola jogar O focalizador no caso o
adveacuterbio mesmo estaacute sempre apoacutes a palavra focalizada isto eacute sua posiccedilatildeo eacute fixa no
enunciado A funccedilatildeo focalizadora desse adveacuterbio pode ser extraiacuteda tambeacutem atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre pares de sentenccedilas por exemplo (a) joga aqui Crossinho (b) joga aqui
mesmo Crossinho Comparando (a) e (b) nota-se que o uso de bdquomesmo‟natildeo eacute necessaacuterio
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
46
mas se usado realiza um destaque do item anterior isto eacute focaliza a palavra bdquoaqui‟ Natildeo haacute
uma proeminecircncia prosoacutedica mais saliente nos exemplos de focalizaccedilatildeo morfoloacutegica atraveacutes
do adveacuterbio bdquomesmo‟
FIGURA 36 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [187] do texto bfamcv03
TABELA 38 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [187] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo
DurS 0111756 0102494 0131513
DurV 0080266 0074710 0069770
F0Mx 266747 265505 229641
F0Mn 235914 220822 157671
IntMx 61161 68484 67270
IntMn 42868 61969 53923
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
47
FIGURA 37 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [188] do texto bfamcv03
TABELA 39 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [188] do texto bfamcv03
Trans (a)qui me(s) mo o o o o o Cro ssim
DurS 0231061 0145563 0172029 0860143 0153124 0266550
DurV 0093 0098 0108 0860143 0081 0143672
F0Mx 300619 306303 266660 412361 131558 123111
F0Mn 226775 258885 144610 89683 120871 102182
IntMx 60308 63534 58808 57417 56870 49754
IntMn 44024 56545 56472 38126 41930 36870
44 FOCO PROSOacuteDICO VERSUS EcircNFASE
Na seccedilatildeo 31 foram mostrados o contexto de ocorrecircncia e as propriedades prosoacutedicas e
semacircnticas do foco prosoacutedico com dados de uso espontacircneo da liacutengua O fenocircmeno que
instaura o foco prosoacutedico eacute conhecido geralmente como focalizaccedilatildeo lexical Nem todo
enunciado possui focalizaccedilatildeo lexical mas possui necessariamente um foco funcional59
59
Na TLA o foco funcional eacute definido como ldquoum nuacutecleo prosoacutedico que marca o valor funcional da unidaderdquo
(RASO 2012 p 107) Rocha (2010 p 33) explica que o foco funcional eacute ldquoum segmento prosoacutedico que eacute o
nuacutecleo de relevacircncia semacircntica do enunciado A essa relevacircncia corresponde um movimento tonal saliente e
assim o foco natildeo pode ser nunca uma parte entonativa opcional de um perfilrdquo
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
48
expresso por uma proeminecircncia prosoacutedica que marca o tipo de toacutepico na unidade de toacutepico
e uma ilocuccedilatildeo na unidade de comentaacuterio A ecircnfase por sua vez possui a mesma funccedilatildeo do
foco prosoacutedico ou seja a de ressaltar de colocar um item em evidecircncia de destacar etc
entretanto natildeo possui as propriedades semacircnticas desse foco A ecircnfase possui motivaccedilatildeo
pragmaacutetica de reforccedilo de um item atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica ou outros
paracircmetros que seratildeo mostrados abaixo O foco prosoacutedico apresenta uma carga semacircntico-
informativa que pode ser decodificada atraveacutes de paracircmetros formais sendo veiculada
tambeacutem uma proeminecircncia prosoacutedica na sua realizaccedilatildeo Essa carga semacircntico-informativa
possui motivaccedilatildeo pragmaacutetico-discursiva que dependendo da situaccedilatildeocontexto expressaraacute
contrastividade ou exclusividade A seguir seratildeo apresentados exemplos de ecircnfase
encontrados no corpus C-ORAL-BRASIL
O exemplo (36) mostra a ecircnfase dos itens bdquonoventa-e-seis ano‟ Nota-se que o objetivo
dessa ecircnfase eacute causar humor o que pode ser constatado pelo riso de CAR logo apoacutes o
enunciado ser dito por TON Nesse exemplo a ecircnfase eacute expressa por uma proeminecircncia
prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquonoventa‟ O contexto natildeo dizia respeito ao assunto da idade
dos pais dos participantes da conversaccedilatildeo portanto considera-se que o contexto da ecircnfase
pode ser mais livre Vale lembrar que o contexto de bfamcv03 jaacute foi explicado em seccedilotildees
anteriores
(36) bfamcv03
CAR [36] quase bateu pro oito hein $
REN [37] ltahngt $
CEL [38] ltquasegt $
CEL [39] cair mais ltum pouquinho velhogt $
REN [40] ltquase neacutegt $
TON [41] eacute se o meu pai tambeacutem nũ tivesse morrido tava vivo tava com noventa-e-seis ano $
CAR [42] hhh bicho bobo $
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
49
FIGURA 38 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [41] do texto bfamcv03
TABELA 310 - Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans eacute se o meu pai tam (b)eacutem
DurS 0226406 0089 0060 0073 0188 0095 0105
DurV 0226406 0029 0060 0053 0102 0060 0105
F0Mx 147302 194984 171208 163991 181090 167051 168318
F0Mn 127245 171208 161540 156635 124890 164119 164546
IntMx 62464 52723 51716 59314 66119 57082 55948
IntMn 39810 41783 50023 53691 53027 53420 53438
TABELA 311 - Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans nũ ti ve sse mo rri do
DurS 0054 0070 0070 0108 0108 0092 0092
DurV 0032 0040 0043 0059 0063 0054 0056
F0Mx 167693 160357 160245 183948 173052 171917 172975
F0Mn 147585 147937 157387 156411 145188 155314 157502
IntMx 52626 59175 61729 53356 54056 65422 63042
IntMn 50759 51866 55037 45094 51877 56129 47588
TABELA 312 - Terceira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans ta va vi vo ta va com
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
50
DurS 0086 0111 0095 0089 0063 0051 0082
DurV 0051 0070 0055 0054 0039 0031 0052
F0Mx 184356 183770 165924 166477 169631 158380 170374
F0Mn 172001 138271 137253 155939 153813 152652 153841
IntMx 63056 61964 58818 60431 63384 63192 57634
IntMn 56045 52954 52051 52748 52481 57573 55069
TABELA 313 - Quarta tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [41] do texto bfamcv03
Trans no ven ta e seis a no
DurS 0117 0216840 0082 0066 0290182 0137 0140
DurV 0077 0127 0046 0066 0095 0137 0086
F0Mx 169530 234191 213926 187128 186084 149999 152775
F0Mn 137897 118920 187128 175849 134796 137288 143796
IntMx 61839 65323 63285 62810 58049 55148 53158
IntMn 53036 48029 43081 47437 41350 49910 40177
Geralmente se consideram as perguntas totais e as interjeiccedilotildees sendo intrinsecamente
enfaacuteticas dado seu caraacuteter de surpresa e de saliecircncia prosoacutedica em vaacuterios casos O exemplo
(37) mostra justamente a ecircnfase de uma pergunta total e de uma interjeiccedilatildeo CEL faz uma
afirmaccedilatildeo que aparentemente deixa CAR surpreso Entatildeo CAR faz uma pergunta enfaacutetica
atraveacutes de uma proeminecircncia prosoacutedica na tocircnica da palavra bdquosinuca‟ podendo ser constatada
sua surpresa em relaccedilatildeo ao que CEL afirmou CEL responde afirmativamente a pergunta de
CAR que expressando surpresa realiza a interjeiccedilatildeo gramaticalizada bdquoNossa Senhora‟
tambeacutem fazendo uso de uma proeminecircncia prosoacutedica que se encontra na siacutelaba bdquono‟ O
contexto das ecircnfases mostrado nesse exemplo natildeo eacute tatildeo livre quanto em (36) jaacute que elas se
realizam em decorrecircncia de uma afirmaccedilatildeo preacutevia
(37) bfamcv03
CAR [284] ampra [1] ltampra [1] abre o dois uaigt $
TON [285] ltraspou ele todogt $
CEL [286] ltdeu sinucagt Zeacute $
CEL [287] jaacute deu sinuca $
CAR [288] deu sinuca $
CEL [289] deu uai $
CAR [290] Nossa Senhora $
CAR [291] entatildeo bate aiacute o‟ $
CEL [292] ltmas nũ deugt sinuca aiacute $
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
51
FIGURA 39 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [288] do texto bfamcv03
TABELA 314 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [288] do texto bfamcv03
Trans deu si Nu ca
DurS 0122260 0137539 0194610 0155931
DurV 0088459 0073621 0141534 0103997
F0Mx 179542 144766 261137 167716
F0Mn 154681 136336 140137 87041
IntMx 66579 54583 65448 64582
IntMn 54424 48078 48848 52450
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
52
FIGURA 310 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [290] do texto bfamcv03
TABELA 315 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [290] do texto bfamcv03
Trans No ss(a) Se nho ra
DurS 0126984 0166992 0114807 0101761 0067841
DurV 0080887 0051
F0Mx 180941 180144 124917 116792
F0Mn 139315 179750 116792 88124
IntMx 49876 48232 44881 45846 42784
IntMn 37791 40437 37743 43687 40552
A ecircnfase pode ser realizada natildeo soacute atraveacutes da proeminecircncia prosoacutedica mas tambeacutem
atraveacutes de outros paracircmetros como alongamento de siacutelabas no exemplo (38) e mudanccedila da
qualidade de voz no exemplo (39) Em (38) TON sente um odor vindo de determinado lugar
e comenta que Onofre poderia ter causado esse odor realizando uma sentenccedila clivada bdquoeacute ocecirc
Onofre que taacute cagando assim‟ CAR entatildeo menciona que natildeo se pode falar palavratildeo devido
a que a conversa estava sendo gravada Como uma reprovaccedilatildeo descontraiacuteda ele usa a ecircnfase
com alongamento da siacutelaba bdquofei‟ na palavra bdquofeio‟
(38) bfamcv03
TON [247] eacute ocecirc Onofre que taacute cagando assim $
TON [248] n‟ eacute o senhor natildeo neacute $
TON [249] hhh eacute isso nũ po‟ falar natildeo ltogt $
CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ po‟ falar natildeo $
CAR [251] viu senhor $
CAR [252] muito feio $
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
53
CAR [253] entatildeo falar c‟ ocecircs igual eu falo com o Antocircnio Guru todo dia $
REN [254] eh $
REN [255] vai suicidar $
CEL [256] vai sair soacute o dois aiacute $
TON [257] joga mais na cara dela entatildeo uai $
FIGURA 311 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [252] do texto bfamcv03
TABELA 316 ndash Dados acuacutesticos do enunciado [252] do texto bfamcv03
Trans mui to fei o
DurS 0167352 0101026 0337227 0048
DurV 0120946 0066165 0210589 0048
F0Mx 153892 302091 292875 126147
F0Mn 129466 135581 126147 119805
IntMx 60851 54784 64039 53335
IntMn 43825 42324 37248 47139
No exemplo (39) RUT menciona que natildeo deseja ser convidada para ser madrinha do
casamento da filha de uma das participantes da conversa Ela explica que sente muita
vergonha de ldquodesfilarrdquo e que em outro casamento nem chegou a entrar na igreja Para
reforccedilar essa afirmaccedilatildeo ela enfatiza usando dupla negaccedilatildeo aleacutem da mudanccedila da qualidade da
voz que se torna mais aguda nas palavras bdquofui natildeo‟ mostrando assim certeza na informaccedilatildeo
(39) bfamcv02
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
54
RUT [75] nũ me convida pa ser amppa [1] madrinha natildeo hein $
TER [76] ltnatildeogt $
RUT [77] ltjaacute vougt avisando com antecedecircncia $
RUT [78] ltmorro de vergonhagt $
TER [79] ltescuta soacute que que agt Dani tava ltfalandogt $
RUT [80] ltmorro degt vergonha de ltdesfilargt $
TER [81] ltpsiugt $
RUT [82] Nossa ltSenhoragt $
TER [83] ltheingt $
TER [84] eacute porque eacute da famiacutelia laacute dele neacute $
TER [85] lto‟gt $
RUT [86] lteacutegt $
TER [87] a matildee da ampFa [2] da +$
JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai $
RUT [89] natildeo $
RUT [90] pra quecirc $
RUT [91] eu nũ quero natildeo $
RUT [92] Deus me livre $
JAE [93] ocecirc ltTonita yyyygt $
RUT [94] ltmorro de vergonha $
RUT [95] cecirc nũ viu que ogt da Tiane eu nem ltentreigt na igreja $
JAE [96] lteacutegt $
RUT [97] eu nũ fui natildeo minha filha laacute natildeo $
RUT [98] morro de vergonha $
FIGURA 312 ndash Anaacutelise acuacutestica do enunciado [97] do texto bfamcv02
TABELA 317 ndash Primeira tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans eu nũ fui natildeo
DurS 0128495 0132086 0154100 0159280
DurV 0128495 0076 0098417 0123021
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
55
F0Mx 201954 250872 467107 454788
F0Mn 176228 201954 248482 365720
IntMx 59090 59261 58928 62075
IntMn 56566 48279 43583 50370
TABELA 318 ndash Segunda tabela dos dados acuacutesticos do enunciado [97] do texto bfamcv02
Trans mi nha f(i) lh(a) laacute natildeo
DurS 0074 0073 0091942 0103597 0129496 0205898
DurV 0043 0039 0080 0130791
F0Mx 378418 351537 242231 186186 200084
F0Mn 351537 236135 183755 176981 168506
IntMx 51335 53807 46332 53596 57507 56597
IntMn 49950 49060 42700 47560 53728 45069
Tendo em vista essas consideraccedilotildees elencamos as diferenccedilas entre o foco prosoacutedico e
a ecircnfase e suas principais caracteriacutesticas (i) o contexto linguiacutestico ou extralinguiacutestico em que
o foco eacute enunciado o habilita a desempenhar a carga semacircntica que o faz ser
informativamente foco isto eacute atraveacutes do efeito de contrastividade ou exclusividade e da
proeminecircncia prosoacutedica (ii) a motivaccedilatildeo da ecircnfase condicionada pelo contexto faz com que
ela apresente efeitos de sentido diversos dependendo tambeacutem da intenccedilatildeo do falante por
exemplo humor surpresa certeza da informaccedilatildeo etc (iii) Foco prosoacutedico e ecircnfase podem
apresentar o mesmo perfil prosoacutedico ou funccedilatildeo isto eacute a de possuir uma proeminecircncia
prosoacutedica e a de chamar a atenccedilatildeo do ouvinte destacando um item o que diferencia um do
outro estaacute no plano semacircntico com as propriedades e efeitos de sentido e no pragmaacutetico
com os contextos de enunciaccedilatildeo O que eacute semacircntico eacute aquilo que expressa significaccedilatildeo em
sentido mais estrito que pode ser extraiacutedo atraveacutes de paracircmetros formais jaacute o que eacute
pragmaacutetico eacute aquilo que pode ser inferido do contexto das vaacuterias situaccedilotildees comunicativas
sendo essencial para compreensatildeo e anaacutelise do fenocircmeno da focalizaccedilatildeo
5 CONDIERACcedilOtildeES FINAIS
Neste trabalho foram expostos os tipos de foco ndash sintaacutetico prosoacutedico morfoloacutegico e
suas propriedades semacircnticas ndash que podem ocorrer nas liacutenguas atraveacutes de vaacuterios quadros
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
56
teoacutericos Essa exposiccedilatildeo teve por objetivo situar o leitor em relaccedilatildeo agraves possibilidades de
realizaccedilatildeo do foco e mostrar que dependendo do autor todos esses tipos satildeo considerados
possiacuteveis de ocorrer no Portuguecircs Brasileiro A anaacutelise dos dados coletados do corpus C-
ORAL-BRASIL se baseou em paracircmetros acuacutestico-perceptuais prosoacutedicos semacircntico-
formais e pragmaacuteticos As estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no PB apresentadas foram prosoacutedica
sintaacutetica e morfoloacutegica A presenccedila da proeminecircncia prosoacutedica foi essencial para a percepccedilatildeo
do foco bem como para a anaacutelise Constatou-se que o contexto de realizaccedilatildeo do foco eacute
condicionado linguiacutestica e extralinguisticamente fazendo com que sua realizaccedilatildeo carregue
propriedades semacircnticas sejam de contrastividade ou exclusividade Foi proposta tambeacutem
uma distinccedilatildeo entre o foco prosoacutedico e a ecircnfase baseada em diferenccedilas semacircnticas e
pragmaacuteticas Pela anaacutelise dos dados foi constatado que o foco prosoacutedico e a ecircnfase natildeo
poderiam ser tratados como fenocircmenos idecircnticos embora possuam certa semelhanccedila A
ecircnfase apresenta um contexto mais livre de ocorrecircncia sendo manifestada assim como o
foco por uma proeminecircncia prosoacutedica entretanto ela pode apresentar efeitos de sentido
diversos diferentes daqueles do foco Nesse sentido a ecircnfase se aproxima mais da definiccedilatildeo
que Reis (2005 apud Batista 2007 p 61) oferece a ecircnfase seria um recurso ldquousado pelo
locutor quando aleacutem da informaccedilatildeo presente no significado proposicional da sentenccedila se
quer ressaltar uma(s) palavra(s) dando uma qualidade de seguranccedila da informaccedilatildeo ou de
indignaccedilatildeo entre outros ou apenas para chamar a atenccedilatildeo do ouvinterdquo Acreditamos que este
natildeo eacute um assunto esgotado embora a literatura linguiacutestica natildeo distinga esses dois fenocircmenos
comumente Investigaccedilotildees futuras levando em consideraccedilatildeo aspectos quantitativos satildeo
essenciais para melhor sustentaccedilatildeo das anaacutelises qualitativas
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ARNHOLD A Multiple prosodic parameters signalling information structure parallel focus
marking in Finnish In Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences
(ICPhS) Hong Kong 2011 p 248-250 2011
ASSIS C A K de Foco tipo e distribuiccedilatildeo Anais do 5ordm Encontro do Celsul Curitiba-PR
p 360-366 2003
BARBOSA J Foco e toacutepico algumas questotildees terminoloacutegicas In G Rio-Torto O M
Figueiredo F Silva (eds) Estudos em homenagem de Maacuterio Vilela p 339-351 Porto
Faculdade de Letras da U do Porto 2005
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
57
BARBOSA P Verbetes Prosoacutedia 2008 Disponiacutevel em
lthttppsicolinguisticaletrasufmgbrwikiindexphpProsC3B3diagt Acesso em
29062012
BATISTA R J A ecircnfase na locuccedilatildeo do repoacuterter de telejornal (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2007
BAUMANN S et al Prosodic marking of focus domains categorical or gradient In
Proceedings Speech Prosody 2006 Dresden Germany p 301-304 2006
BEAVER D I amp CLARK B Z Sense and sensitivity How focus determines meaning
MaldenOxford Wiley-Blackwell 2008
BELLETTI A Aspects of the low IP area ms Universitagrave di Siena 2001
BELLETTI A Aspects of the low IP area In Rizzi L (ed) The structure of CP and IP
The Cartography of Syntactic Structures v 2 p16-51 New York Oxford University Press
2004
BICK E The Parsing System Palavras ndash Automatic Grammatical Analysis of Portuguese in
a Constraint Grammar Framework Aarhus Aarhus University Press 2000
BICK E A anotaccedilatildeo grammatical do C-ORAL-BRASIL In RASO T amp MELLO H
(orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal
Belo Horizonte Editora UFMG 2012
BRADLEY D P A preliminary syntactic sketch of Concepcioacuten Paacutepalo Cuicatec In Bradley
amp Hollenbach (eds) Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 3 p409-506 Dallas
Summer Institute of Linguistics and the University of Texas at Arlington 1991
BRUM DE PAULA M R Broto da fala o papel da prosoacutedia no despertar da linguagem In
Revista Virtual de Estudos da Linguagem v 8 n 15 p 82-94 2010
BOERSMA P amp WEENINK D Praat doing phonetics by computer 2012 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpraatgt Acesso em 09072012
BUTRAGUENtildeO P M La construcioacuten prosoacutedica de la estructura focal em espantildeol In G
Knauer amp V Bellosta (eds) Variacioacuten gramatical un reto para las teoriacuteas de la sintaxis
Tuumlbingen Niemeyer p 117-144 2005
CAETANO R O estatuto do adveacuterbio modal mesmo na fala espontacircnea um estudo de
corpus Trabalho apresentado no ELC 2012 Satildeo Carlos 2012
CALLOU D amp LEITE Y Iniciaccedilatildeo agrave foneacutetica e agrave fonologia Rio de Janeiro Jorge Zahar
Editor 1990
CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca v1 2000
CRESTI E amp GRAMIGNI P Per una linguistica corpus based dell‟italiano parlato le unitagrave
di riferimento In F Albano Leoni F Cutugno F Pettorino M Savy (eds) ldquoIl parlato
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
58
italianordquo Atti del Convegno internazionale (Napoli 13-15 febbraio 2003) CD-ROM
DrsquoAuria Editore Napoli p (M06) 1-23 2004
CRESTI E amp MONEGLIA M Il progetto C-ORAL-ROM In N Maraschio e T Poggi
Salani (eds) Atti del XXXIV Congresso SLI Italia Linguistica anno 1000- Italia Linguistica
anno 2000 Bulzoni Roma p 709-722 2003a
CRESTI E amp MONEGLIA M L‟archiviazione del parlato italiano nel progetto C-ORAL-
ROM In Atti della conferenza TIPI Ministero delle Poste Roma in LA
COMUNICAZIONE Istituto Superiore CTI Numero speciale vol LI p 229-234 2003b
CRESTI E amp MONEGLIA M C-ORAL-ROM Integrated reference corpora for spoken
romance languages AmsterdamPhiladelphia John Benjamins 2005
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Project New methods for spoken language archives
in a multilingual romance corpus In C Rodriguez amp C Suarez Araujo (eds) Proceedings
of the III LREC Conference vol 1 ELRAPARIS p 2-10 2002
CRESTI E et al The C-ORAL-ROM Corpus a multilingual resource of spontaneous
speech for romance languages In MT Lino MF Xavier F Ferraira R Costa R Silva
(eds) Prococeedings of the 4th LREC Conference ELRA Paris vol 2 ELRA Paris p 575-
578 2004
CYSTAL D A dictionary of linguistics and phonetics MaldenOxfordVictoria Blackwell
Publishing 2008
DAVIS P W Introduction The constitution of focus In Syntax and Semantics Disponiacutevel
em lthttpwwwphilipwdaviscomsands03pdfgt Acesso em 26062012
ERIKSSON A et al Syllable prominence a matter of vocal effort phonetic distinctness
and top-down processing In INTERSPEECH 2001 p 399-402 2001
FARRIS E R A syntactic sketch of Yosonduacutea Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds)
Studies in the syntax of Mixtecan languages vol 4 p1-171 Dallas Summer Institute of
Linguistics and the University of Texas at Arlington 1992
FERNANDES-SVARTMAN F R 2007 Tonal association of neutral and subject-narrow-
focus sentences in Brazilian Portuguese a comparison with European Portuguese In Journal
of Portuguese Linguistics 56 p 91-115 2007
FROTA S The prosody of focus a case-study with cross-linguistic implications In
Proceedings of Speech Prosody 2002 Aix en Provence p 319-322 2002
GALUCIO A V Word order and constituent structure in Mekens In Revista da Abralin
v1 n2 p1-73 2002
GIUSTI J The functional structure of noun phrases A bare phrase structure approach In
Cinque G (ed) Functional Structure in DP and IP The Cartography of Syntactic Structures
v 1 p54-90 New York Oxford University Press 2002
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
59
GONCcedilALVES C A Focalizaccedilatildeo no Portuguecircs do Brasil (Tese de Doutorado) Rio de
Janeiro UFRJ 1997
GONCcedilALVES C A Foco e topicalizaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e confronto de estruturas In Revista
de Estudos da Linguagem Belo Horizonte v7 n1 p31-50 1998
GUSSENHOVEN C et al The perceptual prominence of fundamental frequency peaks In
J Acoust Soc Am 102 p 3009-3022 1997
GUSSENHOVEN C amp RIETVELD T On the speaker-dependence of the perceived
prominence of F0 peaks In Journal of Phonetics 26 p 371-380 1998
HAGESAWA A The semantics and pragmatics of Japanese focus particles (PhD Tesis)
New York University at Buffalo State University of New York 2010
HERMES D J amp RUMP H H Perception of prominence in speech intonation induced by
rising and falling pitch movements In J Acoust Soc Am 96 p 83-92 1994
HILLS R A A syntactic sketch of Ayutla Mixtec In Bradley amp Hollenbach (eds) Studies
in the syntax of Mixtecan languages vol 2 p1-260 Dallas Summer Institute of Linguistics
and the University of Texas at Arlington 1990
HOLLENBACH B E A preliminary catalog of focus devices in mixtecan languages SIL
Mexico Workpapers 11 SI sn p1-16 1995
HOWELL J Second occurrence focus and the acoustics of prominence In C B Chang amp
H J Haynie (eds) Proceedings of the 26th
West Coast Conference on Formal Linguistics p
252-260 Somerville MA Cascadilla Proceedings Project 2008
JOHNSON K Acoustic and Auditory Phonetics Oxford Blackwell Publishing 2003
KISS Eacute Identificational focus versus information focus In Language v74 n2 p245-273
1998
LADD D R Intonational Phonology Cambridge Cambridge University Press 1996
LADEFOGED P Elements of Acoustics Phonetics ChicagoLondon The University of
Chicago Press 1974
LEITE D R Estudo prosoacutedico sobre as manifestaccedilotildees de foco (Dissertaccedilatildeo de Mestrado)
Belo Horizonte UFMG 2009
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk New Jersey Lawrence
Erlbaum Associates Hillsdale 1994
MAC WHINNEY B The CHILDES project tools for analyzing talk Mahwah NJ
Lawrence Erlbaum 2 vol 2000
MALMBERG B A foneacutetica Lisboa Livros do Brasil 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
60
MARTIN P WinPitch 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwwinpitchcomgt Acesso em
09072012
MARTIN P WinPitch Corpus a Text to Speech Alignment Tool for Multimodal Corpora
In 4th
International Conference On Language Resources and Evaluation - LREC 2004
Lisboa Portugal 2004 Disponiacutevel em
lthttplablitaditunifiitcoralrompapersPhilippe_Martinpdfgt Acesso em 09072012
MELLO H et al Transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo prosoacutedica do corpus C-ORAL-BRASIL
criteacuterios de implementaccedilatildeo e validaccedilatildeo In RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-
BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo Horizonte
Editora UFMG 2012
MITTMANN M M et al The C-ORAL-BRASIL corpus methodological basis for the
treatment of spontaneous speech In STIL Brazilian Symposium in Information and Human
Language Technology 7 2009 Satildeo Carlos ProceedingshellipWashington IEEE p179-182
2009
MONEGLIA M The spoken romance corpus comparability in a multilingual general
resources of spontaneous speech In D Firmonte (ed) Informatica umanistica dalla ricerca
allinsegnamento Proceedings of the CLIP seminars 1999 -2000 Roma Bulzoni p 160-184
2002
MONEGLIA M C-ORAL-ROM Um corpus di riferimento del parlato spontaneo per
l‟italiano e le lingue romanze In Korzen J amp Jansen H(eds) Lingua Cultura e
intercultura Lrsquoitaliano e le altre lingue Atti del VIII convegno SILFI Copenhagen Businnes
School of Economics Luglio 2004 Samfunzliteratur p 229-242 2005
NOOTEBOOM S The prosody of speech melody and rhythm In W J Hardcastle amp J
Laver (eds) The Handbook of Phonetic Sciences Oxford Basil Blackwell Limited p640-
673 1997
OTHERO G A Sintaxe vs Prosoacutedia na marcaccedilatildeo de foco informacional em Portuguecircs In
III Coloacutequio Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Belo Horizonte Resumos do III Coloacutequio
Brasileiro de Prosoacutedia da Fala 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwletrasufmgbrprosodia2011data1arquivos16pdfgt Acesso em 03072012
PIERREHUMBERT J B The Phonology and Phonetics of English Intonation Cambridge
MA MIT dissertation 1980
PORTELE T amp HEUFT B Towards a prominence-based speech synthesis system In
Speech Communication 21 p 61-72 1997
QUAREZEMIN S Estrateacutegias de focalizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro uma abordagem
cartograacutefica (Tese de Doutorado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RASO T O C-ORAL-BRASIL e a Teoria da Liacutengua em Ato In T Raso amp H Mello (orgs)
C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs brasileiro falado informal Belo
Horizonte Editora UFMG 2012
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
61
RASO T amp MELLO H Paracircmetros de compilaccedilatildeo de um corpus oral o caso do C-ORAL-
BRASIL In Veredas UFJF v13 p20-35 2009
RASO T amp MELLO H The C-ORAL-BRASIL corpus In M Moneglia amp A Panunzi
(eds) Bootstraping information from corpora in a cross-linguistic perspective Firenze
FUP p 193-213 2010
RASO T amp MELLO H (orgs) C-ORAL-BRASIL I Corpus de referecircncia do portuguecircs
brasileiro falado informal Belo Horizonte Editora UFMG 2012
RASO T amp MITTMANN M Validaccedilatildeo estatiacutestica dos criteacuterios de segmentaccedilatildeo da fala
espontacircnea no corpus C-ORAL-BRASIL In Revista de Estudos da Linguagem vol17 p
73-92 2009
REIS C Prosoacutedia e telejornalismo In GAMA A C C KYRILLOS L FEIJOacute D (Org)
Fonoaudiologia e Telejornalismo Relatos do IV encontro nacional de Fonoaudiologia da
Central Globo de Jornalismo Rio de Janeiro Revinter 2005
RESENES M S de Sentenccedilas pseudo-clivadas do portuguecircs brasileiro (Dissertaccedilatildeo de
Mestrado) Florianoacutepolis UFSC 2009
RIZZI L The fine structures of left periphery In L Haegeman (ed) Elements of Grammar
p 281-337 DordrechtBostonLondon Klumer Academic Publishers 1997
ROACH P Glossary A little encyclopaedia of phonetics In English phonetics and
phonology Cambridge Cambridge University Press 2011 Disponiacutevel em
lthttpwwwcambridgeorgother_filescmsPeterRoachPeterRoach_Glossarypdfgt Acesso
em 29062012
ROCHA B M A unidade informacional de introdutor locutivo no portuguecircs brasileiro uma
anaacutelise baseada em corpus (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2010
ROCHA B N R de M Caracteriacutesticas prosoacutedicas do toacutepico em PE e o uso do pronome
lembrete (Dissertaccedilatildeo de Mestrado) Belo Horizonte UFMG 2011
ROOTH M Focus In S Lappin (ed) Handbook of Contemporary Semantic Theory
Oxford Blackwell p 271-297 1995
SILVERMAN K et al ToBI A Standard for Labelling English Prosody In Proceedings of
the International Conference on Spoken Language Proessing (ICSLP) vol 2 p 867-860
Banff 1992
SOSA J M La entonacioacuten del espantildeol Su estructura foacutenica variabilidad y diatectologiacutea
Madrid Caacutetedra 1999
TOLEDO G A Sentildeales prosoacutedicas del foco In Revista Argentina de Linguumliacutestica 5 p 205-
203 1989
VAINIO M amp JAumlRVIKIVI J Focus in production tonal shape intensity and word order
In J Acoust Soc Am 121 p 55-61 2007
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998
62
XU Y Effects of tone and focus on the formation and alignment of F0 contours In Journal
of Phonetics 27 p 55-105 1999
WOLTERS M amp WAGNER P Focus perception and prominence In W Hess B
Schroumlder W Lenders amp T Portele (eds) Computers Linguistics and Phonetics between
Language and Speech Proceedings of the 4th
Conference on Natural Language Processing
KONVENS-98 volume 1 of Computer Studies in Language and Speech p 227-236 Peter
Lang 1998