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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária Dissertação CLOSTRIDIOSES EM RUMINANTES NO SUL DO RIO GRANDE DO SUL Pedro de Souza Quevedo Pelotas, 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária

Dissertação

CLOSTRIDIOSES EM RUMINANTES NO SUL DO

RIO GRANDE DO SUL

Pedro de Souza Quevedo

Pelotas, 2010

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PEDRO DE SOUZA QUEVEDO

CLOSTRIDIOSES EM RUMINANTES NO SUL DO RIO GRANDE DO SUL

Dissertação apresentada à Universidade Federal de

Pelotas, sob a orientação da Dra. Ana Lucia Schild, como

parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em

Veterinária, para a obtenção do título de Mestre em

Ciências (M.Sc.).

Orientadora: Dra. Ana Lucia Schild

PELOTAS

Rio Grande do Sul - Brasil

Dezembro de 2010

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Dados de catalogação na fonte: Ubirajara Buddin Cruz – CRB-10/901 Biblioteca de Ciência & Tecnologia - UFPel

Q3c Quevedo, Pedro de Souza

Clostridioses em ruminantes no sul do Rio Grande do Sul / Pedro de Souza Quevedo. – Pelotas, 2010. – 65f. – Disserta-ção (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Veterinária. Área de concentração: Patologia animal. Faculdade de Vete-rinária. Universidade Federal de Pelotas. Pelotas, 2010. - Ori-entador Ana Lucia Schild.

1.Veterinária. 2.Carbúnculo sintomático. 3.Botulismo.

4.Edema maligno. 5.Hemoglobinúria bacilar. 6.Tétano. 7.Enterotoxemia. 8.Clostridium spp. I.Schild, Ana Lucia.. I-I.Título.

CDD: 636.08969318

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Banca examinadora

Dra. Ana Lucia Schild

(Orientadora)

Prof. Dra. Glaucia Denise Kommers

Prof. Dr. Claudio Severo L. de Barros

Prof. Dra. Eliza Simone Viégas Sallis

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RESUMO

QUEVEDO, Pedro de Souza. Clostridioses em ruminantes na região sul do Rio Grande do Sul. 2010.65f. Dissertação (Mestrado em Veterinária) – Laboratório Regional de Diagnóstico, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal de Pelotas. Foi realizado um estudo retrospectivo dos diagnósticos de clostridioses ocorridos na região sul do Rio Grande do Sul correspondente a área de influência do Laboratório Regional de Diagnóstico da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal de Pelotas entre janeiro 1978 e janeiro de 2008 e acompanhados os casos de clostridioses diagnosticados nos anos 2009 e 2010. De um total de 5.446 materiais de bovinos provenientes de necropsias ou órgãos enviados 91 (1,67%) correspondiam a enfermidades causadas por bactérias do gênero Clostridium sendo 30 (0,55%) de carbúnculo sintomático, 15 (0,27%) de hemoglobinúria bacilar, 9 (0,16%) de botulismo, 9 (0,16%) de edema maligno e 28 (0,51%) de tétano. De 860 materiais de ovinos 49 (5,69%) diagnósticos corresponderam a doenças bacterianas e desses 14 (28,57%) foram de surtos de clostridioses. Dos 14 surtos de clostridioses observados em ovinos 10 (1,16%) foram de tétano, três (0,34%) de edema maligno e um (0,11%) de enterotoxemia. Concluiu-se que algumas clostridioses causam prejuízos econômicos à bovinocultura da região, principalmente o carbúnculo sintomático, recomendando-se a vacinação sistemática dos bovinos jovens contra esta clostridiose. Recomenda-se, também, a vacinação contra botulismo, em áreas de campo nativo onde ocorre carência de fósforo e contra hemoglobinúria bacilar em áreas de campos baixos onde ocorre infecção por Fasciola hepatica. Em bovinos o tétano pode ocorrer como surtos com prejuízos econômicos importantes, recomendando-se, também, a vacinação dos animais. Em ovinos as clostridioses têm pouca importância, sendo o tétano a mais frequente. Para a profilaxia desta doença em ovinos recomenda-se utilizar práticas de manejo, como descola e castração, em condições adequadas de higiene. Enterotoxemia é uma enfermidade rara na região por que a maioria dos ovinos permanece em campos nativos com limitada produção de foragem; recomenda-se a vacinação somente em animais em pastagens cultivadas ou suplementados com concentrados. Palavras chave: Carbúnculo sintomático. Botulismo. Edema maligno. Hemoglobinúria bacilar. Tétano. Enterotoxemia. Clostridium spp.

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ABSTRACT

QUEVEDO, Pedro de Souza. Clostridial diseases in ruminants in southern Rio Grande do Sul. 65f. Dissertação (Mestrado em Veterinária) – Laboratório Regional de Diagnóstico, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal de Pelotas. A retrospective study of clostridial diagnosed in ruminants from 1978-2008 in southern Rio Grande do Sul, was conducted in the influence area of the Regional Diagnostic Laboratory of the Federal University of Pelotas. Out of 5.446 bovine specimens sent by practitioners or from necropsies performed 91 (1,67%) were diagnosed as clostridiosis. Of those, 30 (0.55%) were diagnosed as by black leg, 15 (0.27%) as bacillary hemoglobinuria, 9 (0.16%) as botulism, 9 (0.16%) as malignant edema, and 28 (0.51%) as tetanus. Out of 860 sheep specimens 49 (5.69%) were bacterial diseases and 14 (28,57%) of those were diagnosed as clostridiosis, being 10 (1.16%) cases of tetanus, 3 (0.34%) of malignant edema, and 1 (0.11%) %) of enterotoxemia. It was concluded that some clostridiosis cause important losses in livestock in Rio Grande do Sul, mainly black leg. The vaccination of young stock against black leg is recommended in the whole state. Vaccination against botulism is recommended in areas of native pastures where phosphorus deficieny occurs, and vaccination against bacillary hemoglobinuria is recommended in low lands where fasciolosis is enzootic. In cattle, tetanus may occur as outbreaks with significant economic losses, recommending also the vaccination of animals. In sheep clostridioses are less important being tetanus the more frequent. Good hygienic practices, mainly during castration or tail are recommended to prevent the disease. Enterotoxemia is a rare disease in the region, because most sheep are raised in native pastures with limited grass production; vaccination is only recommended in sheep grazing in cultivate pastures or supplemented with concentrates. KEY WORDS: Black leg. Botulism. Malignant edema. Bacillary hemoglobinúria. Tetanus. Enterotoxemia. Clostridium spp.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1

Mapa com os municípios nos quais foram diagnosticados os casos de clostridioses no período entre 1978 e 2009. Pelotas (1), Capão do Leão (2), Pedro Osório (3), Arroio Grande (4), Rio Grande (5), Santa Vitória do Palmar (6), Jaguarão (7), Herval (8), Canguçú (9), São Lourenço do Sul (10), Camaquã (11), Piratini (12), Candiota (13), Rosário do Sul (14)......................................................................

38

Figura 2 Botulismo. Sinais clínicos. A. Animal com paralisia parcial dos membros pélvicos. B. Animal com paralisia flácida da língua.............

39

Figura 3 Distribuição sazonal dos casos de carbúnculo sintomático

diagnosticados na área de influência do Laboratório Regional de Diagnóstico.....................................................................................................

40 Figura 4 Carbúnculo sintomático. Bovino com aumento de volume na região

escapular esquerda..............................................................................

40 Figura 5 Edema maligno. Bovino com aumento de volume no membro

posterior direito.....................................................................................

41 Figura 6 Tétano. Bovinos afetados nos diversos surtos diagnosticados em

decúbito lateral com os membros esticados, afastados do solo e opistótono (A, B, C e D). Observa-se timpanismo acentuado (D)........

42 Figura 7 Carbúnculo sintomático. Há necrose hemorrágica acentuada da

musculatura do membro anterior esquerdo.........................................

42

Figura 8 Edema maligno. Observa-se edema hemorrágico subcutâneo afetando também a superfície muscular............................................

43

Figura 9 Tétano. Bovino com lesão necrossupurativa e edema nos músculos

da tábua do pescoço............................................................................

43 Figura 10 Hemoglobinúria bacilar. Há icterícia da carcaça, os intestinos estão

avermelhados, embebidos por hemoglobina e há petequias e sufusões nas serosas...........................................................................

44

Figura 11 Hemoglobinúria bacilar. A. Fígado de coloração alaranjada com foco

necrótico característico. B. Urina avermelhada característica da enfermidade.........................................................................................

45 Figura 12 Tétano. Camundongo inoculadado com soro de bovino com tétano.

Há paralisia espástica do membro inoculado e da cauda...................

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Relação entre os cinco tipos de Clostridium perfringens (A-E) e as quatro principais exotoxinas (alfa, beta, épsilon e iota)................

47

Tabela 2 Aspectos epidemiológicos e clínicos dos surtos de botulismo diagnosticados em bovinos no sul do Rio Grande do Sul entre 1978-2009........................................................................................

48 Tabela 3 Aspectos epidemiológicos e clínicos dos surtos de carbúnculo

sintomático diagnosticados em bovinos no sul do Rio Grande do Sul entre 1978-2009..........................................................................

49

Tabela 4 Aspectos epidemiológicos e clínicos dos surtos de edema maligno diagnosticados em bovinos no sul do Rio Grande do Sul entre 1978-2009........................................................................................

51

Tabela 5 Aspectos epidemiológicos e clínicos dos surtos de edema maligno em ovinos no sul do Rio Grande do Sul entre 1978-2009................

52

Tabela 6 Aspectos epidemiológicos e clínicos dos surtos de hemoglobinúria bacilar diagnosticados em bovinos no sul do Rio Grande do Sul entre 1978-2009...............................................................................

53

Tabela 7 Aspectos epidemiológicos e clínicos dos surtos de tétano diagnosticados em ovinos no sul do Rio Grande do Sul entre 1978-2009........................................................................................

55

Tabela 8 Aspectos epidemiológicos e clínicos dos surtos de tétano diagnosticados em bovinos no sul do Rio Grande do Sul entre 1978-2009.........................................................................................

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SUMÁRIO

RESUMO...................................................................................................... IV

ABSTRACT.................................................................................................. V

LISTA DE FIGURAS ................................................................................... VI

LISTA DE TABELAS.................................................................................... VII

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................ 9

2. REVISÃO DE LITERATURA .................................................................. 10

2.1 Gênero Clostridium ............................................................................... 10

2.2.Principais clostridioses que afetam ruminantes ............................... 10

2.2.1. Botulismo ................................................................................... 10

2.2.2. Tétano ....................................................................................... 13

2.2.3. Carbúnculo Sintomático ............................................................ 15

2.2.4. Gangrena gasosa ou Edema maligno ....................................... 18

2.2.5. Hemoglobinúria Bacilar ............................................................. 21

2.2.6. Enterotoxemia ........................................................................... 23

3. MATERIAL E MÉTODOS........................................................................ 25

3.1. Estudo retrospectivo e prospectivo ................................................. 25

3.2. Patologia.......................................................................................... 25

3.3. Diagnóstico laboratorial................................................................... 26

4. RESULTADOS......................................................................................... 28

4.1. Epidemiologia e sinais clínicos ........................................................ 28

4.2. Patologia.......................................................................................... 30

4.3. Diagnóstico laboratorial................................................................... 31

5. DISCUSSÃO ........................................................................................... 33

6. FIGURAS................................................................................................. 38

7. TABELAS................................................................................................ 47

8. CONCLUSÃO ......................................................................................... 60

9. REFERÊNCIAS ....................................................................................... 61

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1. INTRODUÇÃO

O termo clostridiose é utilizado com frequência por veterinários e

produtores rurais para designar genericamente algumas enfermidades

causadas por microorganismos do gênero Clostridium (QUINN et al. 1994). Os

clostrídios são bacilos gram-positivos, anaeróbios e microaerófilos,

esporulados, fermentadores e catalase-negativo. São conhecidas mais de 100

espécies de clostrídios (CARTER et al. 1995). Os reservatórios naturais dos

clostrídios são o solo e trato gastrintestinal dos mamíferos. Aproximadamente

10% das espécies do gênero são patogênicas. Estes agentes podem ser

agrupados em neurotrópicos, C. botulinum e C. tetani; histotóxicos, C.

chauvoei, C. septicum, C. novyi tipos A, B e C, C. sordellii e C. haemolyticum;

e enterotoxêmicos, C. perfringens tipos A, B, C, D (QUINN et al. 1994). A

maior parte das clostridioses é adquirida por ingestão das toxinas produzidas

pelos clostridios ou pela contaminação de feridas (CARTER et al. 1995).

Na área de influência do Laboratório Regional de Diagnóstico (LRD) da

Faculdade de Veterinária da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) entre

1978 e 2009 de um total de 5.446 materiais de bovinos provenientes de

necropsias realizadas ou órgãos enviados ao Laboratório, 91 (1,67%)

corresponderam a enfermidades causadas por bactérias do gênero Clostridium.

Em ovinos de um total de 860 materiais provenientes de necropsias ou

órgãos enviados ao Laboratório por veterinários e/ou produtores 14 (1,62%)

tiveram diagnóstico de clostridiose.

O objetivo deste trabalho foi estudar a epidemiologia, a patologia e sugerir

as possíveis formas de controle de enfermidades provocadas por bactérias do

gênero Clostridium em ruminantes na área de influência do Laboratório

Regional de Diagnóstico.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Gênero Clostridium

As bactérias do gênero Clostridium são responsáveis pela produção de

diversas toxinas causando diferentes enfermidades de acordo com o efeito que

cada uma produz sobre o organismo animal (CARTER et al. 1995). Desse

modo, os clostrídios são divididos em três grupos. O primeiro é o grupo

neurotóxico (tétano e botulismo) o segundo grupo consiste de clostridios com

efeito histotóxico (carbúnculo sintomático, edema maligno e hemoglobinúria

bacilar), e o terceiro é o enterotoxigênico (enterotoxemia) (QUINN et al. 1994).

2.2 Principais clostridioses que afetam ruminantes

2.2.1. Botulismo

Botulismo é uma enfermidade não febril (BARROS et al. 2006) causada

pela ingestão de neurotoxinas produzidas pelo Clostridium botulinum (BARROS

et al. 2006, COSTA et al. 2008, FERNANDES 2007), caracterizada

principalmente pela paralisia da musculatura esquelética. Afeta mamíferos,

aves e peixes. O microrganismo é um bacilo gram-positivo, anaeróbio estrito,

formador de esporos e putrefativo (BARROS et al. 2006, FERNANDES 2007,

SILVA et al.1998). Os esporos podem estar presentes em água estagnada,

solo ou trato digestivo e cadáveres de animais (BARROS et al. 2006,

FERNANDES 2007). É relevante citar o risco à saúde pública, pois acomete

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pessoas sendo os casos geralmente relacionados à produção e conservação

de alimentos. Este risco é considerado devido a sua gravidade e alta letalidade.

As neurotoxinas dos tipos A, B, E e F são patogênicas para o homem

(FIGUEIREDO et al. 2006). A evolução do quadro clínico está relacionada com

a quantidade de toxinas circulantes e a letalidade se relaciona ao período de

incubação: quanto mais curto, maior o risco de morte. A toxina botulínica atua

no sistema nervoso periférico bloqueando a transmissão neuromuscular,

atingindo as membranas pré-sinápticas onde impede a liberação da acetilcolina

nas terminações nervosas, ocasionando a paralisia. O soro antibotulínico deve

ser administrado o mais rápido possível propiciando a eliminação da toxina

circulante (FIGUEIREDO et al. 2006).

A ocorrência de surtos de botulismo em bovinos está intimamente

relacionada à osteofagia, decorrente da deficiência de fósforo no solo e em

forrageiras. Tem maior incidência em sistemas extensivos de criação sendo

atualmente diagnosticado em quase todo o território nacional (COSTA et al.

2008). A prática de se deixar cadáver bovino em decomposição no campo,

coloca em risco a saúde animal favorecendo e intensificando a contaminação

ambiental (CURCI et al. 2007). Assim, o esporo se desenvolve produzindo

toxinas que impregnam ossos porosos, tendões e ligamentos (FERNANDES

2007). Surtos ocorrem, também, pela ingestão de toxina via alimentos

incorretamente armazenados (silagem, ração, feno), administração de cama de

frango para os bovinos e ainda água contaminada (BARROS et al. 2006). Na

região Centro-Oeste do Brasil, a enfermidade ocorre fundamentalmente entre

os meses de outubro e maio, pois nesta época há maior oferta protéica nos

campos e, portanto maior necessidade de fósforo (BARROS et al. 2006). Uma

vez ingeridas as toxinas C e D, são absorvidas e transportadas via hematógena

aos neurônios. Agem nas junções neuromusculares provocando paralisia

flácida, sem alterar a função sensorial (BARROS et al. 2006). Afeta

principalmente o sistema nervoso periférico, bloqueando a liberação de

acetilcolina, desta maneira impedindo a chegada do impulso nervoso ao tecido

muscular acarretando paralisia flácida (FERNANDES 2007).

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Os sinais clínicos consistem em dificuldade na locomoção, paralisia

flácida progressiva, acentuadamente dos membros pélvicos, decúbito external

ou lateral, poliflexão dos membros e emboletamento, movimentos de

pedalagem, diminuição do tônus da musculatura da língua e cauda, sialorreia

nos casos superagudos (DUTRA et al. 2005), dificuldade respiratória, com

inspiração bifásica predominantemente abdominal, bradicardia, posição de

auto-auscultação com apoio do queixo ao solo e diminuição dos movimentos

ruminais (BARROS et al. 2006, COSTA et al. 2008, DUTRA et al. 2005,

FERNANDES 2007). O bom estado nutricional associado ao decúbito

permanente e estado mental aparentemente normal mesmo após paralisia

flácida muscular são característicos (FERNANDES 2007). Estes sinais clínicos

são indícios claros do botulismo e auxiliam no diagnóstico clínico, diferenciando

o botulismo de outras enfermidades do sistema nervoso dos bovinos (BARROS

et al. 2006, DUTRA et al. 2005, FERNANDES 2007).

Não necropsias não são observadas lesões, uma vez que a toxina age

nas junções neuromusculares provocando desordem neurotrópica (BARROS et

al. 2006, DUTRA et al. 2005, FERNANDES 2007). Porções ósseas

encontradas no rumem são indicativos de osteofagia e reforçam a suspeita de

botulismo (FERNANDES 2007). Alterações inespecíficas incluem necrose de

massas musculares devido ao decúbito, acúmulo de líquido no saco pericárdico

e, em casos mais prolongados, degeneração gordurosa no fígado (BARROS et

al. 2006). Para realização do diagnóstico considera-se: epidemiologia;

histórico de vacinação, não suplementação com sal mineral e indícios de

osteofagia; sinais clínicos de paralisia flácida com estado mental

aparentemente normal e respiração bifásica; ausência de lesões macro e

microscópicas (DUTRA et al. 2005). Isso permite diferenciar o botulismo de

outras enfermidades do sistema nervoso central como raiva, listeriose,

encefalite por herpes vírus bovino-5, intoxicação por cloreto de sódio e

chumbo, e polioencefalomalacia (FERNANDES 2007). Enfermidades como

miopatias nutricionais, intoxicação por Senna occidentalis e antibiótico ionóforo

devem, também, ser diferenciadas de botulismo (BARROS et al. 2006).

Para a confirmação do diagnóstico clínico é necessária detecção das

toxinas botulínicas, tipos C ou D, nas vísceras de animais que morreram com

sintomatologia compatível a do botulismo (DUTRA et al. 2005). Quando a

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toxina age na sinapse neuromuscular, perde a atividade biológica, dificultando

consideravelmente sua detecção (BARROS et al. 2006). Mesmo assim, a

inoculação intraperitoneal em camundongos (ensaio biológico) de extrato

hepático, soro sanguíneo, conteúdo ruminal, conteúdo intestinal de animais

com sinais clínicos evidentes é o teste mais específico (FERNANDES 2007). O

material que deve ser enviado ao laboratório é composto por fígado (100g),

conteúdos ruminal e intestinal (20 ml) e soro sanguíneo dos bovinos

acometidos, sob refrigeração ou congelados (BARROS et al. 2006,

FERNANDES 2007). Entretanto, considera-se o diagnóstico clínico eficiente.

Em casos de dúvida podem ser utilizados outros métodos de diagnóstico, tais

como o ensaio imunoenzimático (ELISA) (FERNANDES 2007). Tentativas de

tratamento recomendam o fornecimento de solução saturada de hidróxido de

magnésio aos bovinos expostos a toxina, cerca de dois litros por animal, via

oral (COSTA et al. 2008). Por conseguinte, um quadro diarréico é induzido e

desta forma minimiza-se a absorção intestinal da toxina. Além disso, pode-se

realizar a aplicação de antitoxina botulínica. Com essa medida, alguns casos

clínicos mais amenos podem ser estabilizados e os animais recuperados, no

entanto a letalidade em geral chega a 100% (COSTA et al. 2008).

Medidas de controle e profilaxia compreendem a suplementação mineral

do rebanho com níveis adequados de fósforo, eliminação de maneira correta

das carcaças (incinerar) e a vacinação (BARROS et al. 2006, FERNANDES

2007). A vacina contém toxóide botulínico bivalente C e D e deve ser utilizada

em bovinos a partir dos 120 dias, com reforço em 42 dias (BARROS et al.

2006, FERNANDES 2007, SILVA et al.1998).

2.2.2. Tétano

Tétano é uma doença infecciosa não contagiosa de etiologia conhecida

desde o século XIX, quando foi experimentalmente reproduzida (SARAIVA et

al.1984). É altamente letal e acomete todos os mamíferos (LOBATO & ASSIS

2005, LOBATO et al. 2007), porém os equinos são mais sensíveis (LOBATO &

ASSIS 2005). Em ovinos, o tétano é mais frequente que em bovinos, ocorrendo

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em consequência da castração, assinalação ou por feridas de tosquia (RIET-

CORREA et al.1998).

O agente é comumente encontrado em solos contaminados por fezes de

animais (TORTORA et al. 2000b). É um bacilo gram-positivo, anaeróbico estrito

formador de esporos terminais arredondados até ovais (CARTER 1995,

SARAIVA et al.1984). A patogenia da doença envolve a penetração de esporos

de C. tetani (LOBATO & ASSIS 2005) ou bacilo de Nicolaier (LOBATO &

ASSIS 2005, LOBATO et al. 2007) em feridas, com consequente multiplicação

e produção de uma potente neurotoxina, a tetanospasmina (LOBATO et al.

2007). Para a manifestação clínica do tétano é necessário ferimento ou solução

de continuidade que possibilite a introdução da bactéria em ambiente

anaeróbio (RAPOSO 2007). O clostrídio em ambiente favorável produz três

exotoxinas conhecidas: toxina não espasmogênica, tetanolisina, que promove

necrose tissular, e tetanoespasmina que produz os sinais clínicos do tétano

(BARROS et al. 2006). A tetanoespasmina liga-se às terminações nervosas e

segue em fluxo retrógrado do sistema nervoso periférico (local do ferimento) ao

sistema nervoso central (RAPOSO 2007). Por fim, a toxina chega ao interior de

neurônios inibidores, impedindo a liberação dos neurotransmissores: ácido

gama amino butírico (GABA) e glicina (BARROS et al. 2006). A capacidade de

inibir informações indesejáveis que partem do sistema nervoso rumo à

musculatura é perdida. Devido à falta de inibição dos neurônios motores ocorre

rigidez muscular (BARROS et al. 2006).

O período de incubação varia de 7 a 21 dias para a maioria das espécies

susceptíveis. Em bovinos, no entanto o período de incubação pode variar de 18

horas a quatro semanas (BARROS et al. 2006). Os sinais clínicos iniciam em

geral em 7 a 15 dias após a contaminação do animal (BARROS et al. 2006).

Trismo mandibular, marcha trôpega, prolapso de terceira pálpebra, orelhas

eretas, timpanismo e rigidez dos membros são comumente manifestados

(BARBOSA et al. 2009).

A necropsia não revela lesões macroscópicas, exceto eventuais áreas

de necrose no local onde o clostrídio teve condições de proliferar (BARBOSA et

al. 2009). Não existem lesões histológicas específicas da doença (BARROS et

al. 2006). A ocorrência desta enfermidade em geral é esporádica, mas surtos

têm ocorrido em bovinos após práticas zootécnicas como, por exemplo,

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aplicação de vermífugos ou vacinas com o uso de equipamentos não

higienizados devidamente ou através da contaminação da pele por poeira ou

lama durante tais práticas (DUTRA et al. 2001).

O diagnóstico é geralmente baseado nos sinais clínicos. A tentativa de

isolamento do organismo geralmente não é realizada, por ser de difícil

obtenção (CARTER et al.1995). Para o diagnóstico laboratorial de tétano

preconiza-se a utilização do bioensaio em camundongos (SARAIVA et al.1984).

O tratamento visa neutralizar a toxina circulante, cessar a sua produção

e ainda promover o relaxamento muscular do animal (BARROS et al. 2006,

RAPOSO 2007). Para tanto, a associação de penicilina com soro antitetânico é

o recomendado. Em situações que permitam a identificação do local da lesão,

onde o agente foi inoculado, o debridamento e higienização devem ser

realizados com o devido cuidado (BARROS et al. 2006).

Como medida profilática preconiza-se a vacinação e a adoção de

medidas de assepsia e anti-sepsia na realização de práticas de manejo

(BARROS et al. 2006).

2.2.3. Carbúnculo sintomático

Carbúnculo sintomático, também chamado manqueira, mal-de-ano, é

uma infecção endógena, não contagiosa, altamente fatal causada por C.

chauvoei que afeta bovinos, ovinos e caprinos (ASSIS et al. 2005, LOBATO et

al. 2005, GREGORY et al. 2006). O agente está amplamente distribuído no

ambiente (solo, poeira, água e parte da flora bacteriana (GREGORY et al.

2006). O microorganismo tem a capacidade de esporular e produzir, assim

como os demais clostrídios, mais toxinas protéicas do que qualquer outro

gênero bacteriano (GREGORY et al. 2006). Na forma de esporo pode manter-

se potencialmente infectante no solo por longos períodos, sendo resistente ao

calor, o que é um fator de extrema relevância na epidemiologia (GREGORY et

al. 2006), representando um risco significativo para a população animal e

humana (LOBATO et al. 2005). Os esporos se mantem viáveis diante da

presença de matéria orgânica e umidade (LOBATO et al. 2005). A doença

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ocorre geralmente em campos com histórico, ou seja, contaminados (RIET-

CORREA 2007a).

O carbúnculo sintomático afeta bovinos de seis meses a três anos de

idade, em geral em bom estado nutricional. O microrganismo é carreado via

circulação sanguínea para o tecido muscular, onde se multiplica se as

condições forem favoráveis (ASSIS et al. 2005, GREGORY et al. 2006).

Nos bovinos, a patogenia do carbúnculo sintomático é ainda incerta.

Entretanto, conforme a hipótese mais aceita, a infecção é de origem endógena

associada à ingestão de esporos presentes em pastos contaminados (ASSIS et

al. 2005). Estes, uma vez no intestino, são veiculados por macrófagos até a

musculatura esquelética onde permanecem em latência. Traumas nas grandes

massas musculares criam um ambiente de baixo potencial de óxido-redução e

atmosfera de anaerobiose, desencadeando a germinação dos esporos e a

consequente produção de toxinas alfa (hemolítica, necrótica e letal), beta

(Dnase), gama (hialuronidase), delta (hemolisina) e neuraminidase (GREGORY

et al. 2006, LOBATO et al. 2005). Um aspecto intrigante é que os valores da

creatina cinase e a aspartato aminotransferase estão por vezes apenas

levemente elevados. De fato, as enzimas liberadas dos músculos de uma

região miosite profunda não podem ter acesso ao sangue periférico devido à

trombose vascular e destruição criadas pelas endotoxinas dos clostrídios

(DIVERS 2008). A evolução para morte ocorre geralmente em até 72 horas

(ASSIS et al. 2005).

Sinais clínicos comumente observados consistem em hipertermia,

anorexia, depressão e manqueira quando um membro é atingido (ASSIS et al.

2005, GREGORY et al. 2006, RIET-CORREA 2007a). O local afetado

apresenta aumento de sensibilidade, inchaço, além de se tornar frio e

edematoso com crepitação ao toque (GREGORY et al. 2006). Alguns animais

têm morte súbita (RIET-CORREA 2007a).

As lesões macroscópicas estão localizadas principalmente nas regiões

de maior massa muscular (quarto traseiro, diafragma, coração, pescoço e

região escapular (GREGORY et al. 2006; LOBATO et al. 2005). Alterações nos

órgãos internos não são marcantes, exceto hemorragias no pulmão e ligeira

congestão hepática. As cavidades pleural e peritoneal frequentemente contém

fluido sanguinolento (LOBATO et al. 2005). O tecido muscular afetado torna-se

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edematoso com acentuado odor rançoso, de coloração vermelho-enegrecida e

crepitante à palpação, presença de bolhas de gás, áreas de enfisema

produzidas pela multiplicação da bactéria (ASSIS et al. 2005).

Microscopicamente, o exame histopatológico revela a presença de

moderado infiltrado inflamatório mononuclear, além de focos de degeneração

vacuolar e hialina das fibras musculares. Estas alterações são acompanhadas

de áreas de hemorragia e edema intersticial (ASSIS et al. 2005).

O diagnóstico clínico é baseado na anamnese (mortes súbitas em

rebanho não vacinado contra clostridioses), epidemiologia (região ou potreiro

com histórico de mortes súbitas em animais com no máximo 36 meses),

eventual observação de sinais clínicos (manqueira) e alterações características

visualizadas na necropsia (musculatura crepitante e edemaciada com

hemorragia e necrose). Para confirmação laboratorial é necessário isolamento

do C. chauvoei, a partir de fragmentos de músculos da região afetada que

devem ser remetidos sob refrigeração ou em condições de anaerobiose (ASSIS

et al. 2005, RIET-CORREA 2007a). Alternativamente, pode-se enviar ao

laboratório um osso longo (metacarpo ou metatarso) do animal para isolamento

ou realização de prova biológica (inoculação em cobaio). Há, também, a

possibilidade de realização de imuno-histoquímica (RIET-CORREA 2007a),

imunofluorescência direta (GREGORY et al. 2006) e reação em cadeia da

polimerase (PCR) (ASSIS et al. 2005).

Tentativas de tratamento em geral são infrutíferas e economicamente

inviáveis sendo que a mortalidade é em torno de 100%. Entretanto, pode-se

utilizar a terapia com antibiótico de largo espectro. C. chauvoei é sensível às

penicilinas que podem ser utilizadas, assim como o soro hiperimune no local da

lesão. Tetraciclinas e cloranfenicol podem ser empregados nos estágios iniciais

da doença. Porém o tratamento para as infecções por clostrídios é, de maneira

geral, considerado inútil, pois quando os animais estão clinicamente afetados a

morte é iminente (GREGORY et al. 2006).

A erradicação da enfermidade é praticamente impossível. O controle e

profilaxia devem ser feitos a partir de medidas adequadas de manejo e com

vacinações sistemáticas de todo o rebanho, já que os animais estão em

permanente contato com o agente e com os fatores que poderão desencadear

a enfermidade (LOBATO et al. 2005). O emprego de vacinas não confere

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proteção total aos animais, pois ocorre mutação rápida do agente dependendo

das condições ambientais. Pode haver, ainda, a presença de diferentes cepas,

de acordo com a região (GREGORY et al. 2006).

Em surtos a medida a ser adotada consiste em imunização e reforço,

após 15–21 dias, de todos os animais com a opção de utilizar a aplicação de

penicilina de ação retardada (RIET-CORREA 2007a). No entanto, sabe-se que

o custo é relativamente alto e os resultados são duvidosos, tornando o

tratamento economicamente inviável. Por esta razão preconiza-se utilização de

programas de imunização preventiva dos animais, evitando o aparecimento de

carbúnculo sintomático e sua repercussão econômica (GREGORY et al. 2006,

RIET-CORREA 2007a).

As vacinas (toxóides) são cultivos inativados (GREGORY et al. 2006). A

imunização de bovinos inicia aos 3-6 meses e depois anualmente. É

aconselhável a revacinação 15-21 dias após a primeira dose (RIET-CORREA

2007a).

2.2.4. Gangrena gasosa ou edema maligno

Gangrena gasosa é uma infecção exógena que causa necrose de

tecidos moles em consequência da proliferação de bactérias do gênero

Clostridium quando há lesões traumáticas nestes tecidos (PACHECO 1954). A

gangrena gasosa é também chamada de edema maligno e tem ampla

distribuição mundial (ASSIS et al. 2002, LOBATO & ASSIS 2005, LOBATO et

al. 2008). Alguns autores preferem distinguir as duas denominações conforme

suas apresentações morfológicas; edema maligno como uma forma de celulite

(inflamação do tecido celular subcutâneo com edema) e gangrena gasosa para

casos de miosite com formação de bolhas gasosas no músculo. A qualidade do

suprimento sangüíneo ao músculo é um fator importante em determinar se a

inflamação ficará confinada ao tecido celular subcutâneo (edema maligno) ou

envolverá o músculo com formação de bolhas de gás (gangrena gasosa)

(VLEET & VALENTINE 2007) São susceptíveis equinos, ovinos, bovinos e muitas outras espécies,

inclusive humanos (JONES et al. 2000, PINTO et al. 2005). A enfermidade é

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causada por C. septicum, C. chauvoei, C. novyi tipo A, C. sordellii e C.

perfringens tipo A, associados ou isoladamente (ASSIS et al. 2002, LOBATO &

ASSIS 2005, LOBATO et al. 2008, PINTO et al. 2005). Estes microorganismos

são encontrados no solo e também habitam o trato digestivo dos animais

(LOBATO et al. 2008, JONES et al. 2000). Por estarem intimamente

relacionados à presença de animais, os clostrídios penetram facilmente no

organismo através da pele ou membranas mucosas feridas (ASSIS et al. 2002,

PINTO et al. 2005, TORTORA et al. 2000a). Alguns procedimentos, tais como

castrações, tosquias, partos e punções venosas, contaminação de feridas

decorrentes de práticas cirúrgicas e/ou de manejo sem cuidados assépticos ou

ainda através do cordão umbilical, podem ser porta de entrada para a

contaminação bacteriana (LOBATO et al. 2008, PINTO et al. 2005, RIET-

CORREA 2007b, TORTORA et al. 2000a). A partir destas lesões teciduais

contaminadas com o clostrídio ocorre proliferação do microorganismo com

consequente diminuição do oxigênio molecular, acarretando em um baixo

potencial de óxido-redução, promovendo a germinação dos esporos dos

clostrídios (LOBATO et al. 2008). Uma vez instaurada, a infecção promove

fermentação dos carboidratos nos tecidos, produzindo dióxido de carbono e

hidrogênio. Estes gases produzem o efeito de crepitação (TORTORA et al.

2000a). Este ambiente propicia a produção de toxinas que transitam ao longo

dos feixes musculares, produzindo a morte celular e, promovendo necrose que

favorece o crescimento subsequente da população contaminante (LOBATO et

al. 2008, TORTORA et al. 2000a).

No Brasil, surtos de edema maligno desencadeados por traumatismos

são eventuais, mas quando ocorre um surto o número de animais afetados é

elevado (LOBATO et al. 2004, RIET-CORREA 2007b). Os sinais clínicos

caracterizam-se por febre, anorexia, taquicardia e depressão. O tecido

subcutâneo torna-se edematoso e/ou crepitante (LOBATO & ASSIS 2005). O

aumento de volume tende a ocorrer nas áreas baixas do corpo do animal,

acumulando gás e transudato no ventre e membros inferiores (LOBATO &

ASSIS 2005, PINTO et al. 2005). Dependendo da localização da lesão,

observa-se claudicação severa (RIET-CORREA 2007b). A pele frequentemente

apresenta áreas com intenso inchaço e coloração violácea (PINTO et al. 2005).

A doença tem curso rápido. Os animais morrem em decorrência de toxemia em

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algumas horas ou geralmente de um a três dias após o início dos sinais clínicos

(LOBATO & ASSIS 2005, PINTO et al. 2005, RIET-CORREA 2007b).

O diagnóstico do edema maligno é realizado rotineiramente a campo

apenas com base nos dados clínicos e/ou lesões de necropsia (ASSIS et al.

2002, LOBATO et al. 2004, PINTO et al. 2005, RIET-CORREA 2007b). Para

confirmação do diagnóstico deve-se levar sempre em consideração a

epidemiologia, os sinais clínicos, os achados de necropsia e histopatológicos e

o isolamento e identificação do(s) agente(s) envolvido(s). Os métodos

auxiliares de diagnóstico compreendem a imunofluorescência direta (IFD), a

imuno-histoquímica (IHQ) e a reação em cadeia da polimerase (PCR) (ASSIS

et al. 2005, PINTO et al. 2005). Destas, a prova de IFD é mais frequentemente

empregada para diagnóstico do edema maligno. O material utilizado consiste

em impressões de tecidos lesados. A IHQ e a PCR permitem o diagnóstico a

partir de material incluído em parafina ou formolizado, possibilitando a

realização de estudos retrospectivos (PINTO et al. 2005).

Nos animais necropsiados observa-se tumefação das grandes massas

musculares, com crepitação à palpação. Edema hemorrágico no tecido

subcutâneo e entre as fibras musculares que exalam acentuado odor rançoso,

também é constatado (LOBATO & ASSIS 2005, RIET-CORREA 2007b).

Quando há acometimento de fibras musculares, estas apresentam coloração

vermelho enegrecida, com desorganização estrutural e aparência desvitalizada.

Os achados histológicos revelam a presença de infiltrado inflamatório composto

de células mononucleares entre as fibras musculares. Pode ser observada,

também, degeneração vacuolar e hialina de fibras musculares, embora a

celulite seja mais característica e típica que a miosite (LOBATO & ASSIS 2005,

PINTO et al. 2005, RIET-CORREA 2007b).

Para tratar animais afetados, o debridamento do tecido necrótico

conjuntamente com altas doses de penicilinas ou antibióticos de amplo

espectro, é o recomendado (RIET-CORREA 2007b, TORTORA et al. 2000a).

Como medida profilática é necessário evitar a contaminação,

principalmente com terra, de instrumentos e seringas utilizados em

procedimentos que geram ferimentos nos animais (RIET-CORREA 2007b).

Como forma de controle os animais devem ser vacinados anualmente, com

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vacinas que contenham principalmente C. septicum, C. chauvoei, C. novyi, C.

sordellii (ASSIS et al. 2002, RIET-CORREA 2007b).

2.2.5. Hemoglobinúria Bacilar

Hemoglobinúria bacilar (HB) é uma doença infecciosa de evolução

aguda caracterizada por necrose hepática. É conhecida há cerca de um século

como importante causa de perdas para a pecuária no oeste dos Estados

Unidos, onde é enzoótica (OLANDERJ et al.1966). Acomete bovinos e,

esporadicamente, ovinos, suínos e equinos (LINDSAY et al. 1997, LOBATO et

al. 2008). Uma condição semelhante à HB, com necrose hepática aguda, é

provocada pelo C. piliforme em animais domésticos, selvagens e de laboratório

(doença de Tyzzer). Apesar de ser rara em bovinos esta enfermidade foi

observada no Japão nesta espécie animal (IKEGAMI et al. 1999).

O C. haemolyticum produz as toxinas β e fosfolipase C (CARTER 1995).

A doença parece ser desencadeada pela toxina fosfolipase C que causa

necrose e lise de eritrócitos (CARTER 1995, VAN KAMPEN & KENNEDY

1969). A toxina é ávida pelo complexo protéico contendo lecitina na superfície

dos eritrócitos (VAN KAMPEN & KENNEDY 1969). A morte dos animais ocorre

provavelmente por anóxia devido à hemólise provocada pela toxina (CARTER

1995).

A doença é descrita em regiões úmidas, de campos baixos ou drenagem

insuficiente e é precedida de injúria hepática. A bactéria é propagada por

inundações, fenos contaminados, fezes de animais portadores e transporte de

restos de carcaças por carnívoros (SCHILD 2007). Os esporos do C.

haemolyticum são ingeridos e atingem a circulação chegando ao fígado

(CARTER et al.1995, LOBATO et al. 2008). Para a germinação dos esporos é

necessária a condição de anaerobiose. O principal fator desencadeador está

relacionado à migração de vermes trematódeos pelo parênquima hepático

(LOBATO et al. 2008). No Rio Grande do Sul a relação da HB com campos

baixos é estabelecida pela ocorrência de Fasciola hepatica, incitante da

condição de anaerobiose necessária à proliferação do clostrídio. Como

resultado desta migração ocorre à condição de anaerobiose, favorável à

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germinação dos esporos e consequente proliferação do agente com produção

de toxinas que provocam destruição dos eritrócitos com liberação de

hemoglobina (LOBATO et al. 2008, SCHILD 2007). Animais em boas condições

corporais são mais susceptíveis (SCHILD 2007).

Os sinais clínicos precedem a morte dos animais em aproximadamente

24 horas (SCHILD 2007). A hemoglobinúria é o sinal clínico mais característico,

ocorrendo, também, depressão, anorexia, icterícia e dores abdominais

(LOBATO et al. 2008, SCHILD 2007).

A necropsia revela icterícia na carcaça, edema gelatinoso, hemorragia

generalizada, peritonite fibrinosa, esplenomegalia, e, nas cavidades, há

presença de líquido serossanguinolento (LINDSAY et al.1997, SCHILD 2007).

No entanto, a lesão macroscópica característica da hemoglobinúria bacilar é

uma extensa área de necrose circular (até 10 cm de diâmetro), de odor fétido,

coloração amarelada, circundada por uma linha hiperêmica na superfície de

corte do fígado (SCHILD 2007, VAN KAMPEN & KENNEDY 1969).

O exame histológico do fígado revela áreas de necrose de coagulação

aguda, bem demarcadas, margeadas por uma linha hemorrágica. No centro

das áreas necróticas há uma grande coleção de neutrófilos degenerados e

bacilos gram-positivos. Outra alteração encontrada é a eritrofagocitose por

células de Kupffer (LINDSAY et al. 1997). Necrose de coagulação do epitélio

tubular, hemorragia e edema na pelve renal podem ser também observados

(OLANDERJ et al.1966).

A enfermidade é diagnosticada em municípios de baixo relevo e campos

planos, comumente cultivados com arroz e consorciados com pecuária. A

característica geográfica destes campos é propícia à ocorrência de caramujos

do gênero Lymnea, hospedeiro intermediário da F. hepatica. Além dos

prejuízos em virtude da ocorrência da fasciolose, a presença do platelminto

provoca lesões que determinam uma condição de anaerobiose, favorável à

ocorrência do C. haemolyticum (SCHILD 2007). O diagnóstico é possibilitado

pelos dados epidemiológicos somados aos sinais clínicos e, principalmente,

achados de necropsia. Para confirmação laboratorial é necessária detecção da

toxina ou imunofluorescência (LINDSAY et al. 1997). O diagnóstico diferencial

de HB inclui a babesiose que frequentemente apresenta-se com

hemoglobinúria (SCHILD 2007).

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O tratamento desta clostridiose deve ser efetuado imediatamente após o

início das manifestações clínicas e, consiste na administração de penicilinas de

amplo espectro (CARTER 1995). Como medida profilática, a vacinação, contra

HB deve ser preconizada, principalmente em regiões onde a incidência de F.

hepatica é alta (SCHILD 2007).

2.2.4. Enterotoxemia

Enterotoxemia é o nome dado a enfermidade provocada por toxinas

produzidas pelo C. perfringens no trato intestinal e veiculadas pelo sangue até

local de ação. As diversas toxinas produzidas são o que determina a

classificação do C. perfringens em tipo A, B, C, D ou E. Este microorganismo é

comensal do trato intestinal dos ruminantes (CARTER 1995). Os tipos de C.

perfringens são diferenciados de acordo com a produção de toxinas (Tabela1).

A toxina épsilon, responsável pela manifestação da enfermidade, é produzida

em maior quantidade pelo C. perfringens tipo D (NIILO et al.1974). Esta toxina

é ativada em contato com enzimas proteolíticas, tripsina e pepsina, no intestino

delgado, adquirindo um caráter necrosante e altamente letal (CARTER 1995).

Bovinos, ovinos, caprinos, equinos e o homem são susceptíveis aos efeitos das

toxinas produzidas por Clostridium perfringens (COLODEL et al. 2003,

LOBATO et al. 2006, UZAL et al. 2004).

É uma doença de animais jovens. Ovinos acometidos têm entre três e

10 semanas de vida (RIET-CORREA 2007c). Alguns fatores que resultam em

alterações do ambiente intestinal predispõem a ocorrência da enfermidade e

entre eles ressalta-se a administração de elevados níveis de carboidratos,

proteínas e pastagens luxuriantes (COLODEL et al. 2003). Estas condições,

em conjunto com alterações da flora ruminal e passagem de alimentos não

digeridos para o intestino delgado propiciam um meio favorável para a

multiplicação do clostrídio e consequente produção de toxina (LOBATO et al.

2006). Comumente os animais afetados apresentam bom escore corporal e

desenvolvimento (COLODEL et al. 2003).

Por ser uma enfermidade de curso clínico agudo, a observação de sinais

clínicos pode ser difícil (RIET-CORREA 2007c). Em condições experimentais,

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ovinos apresentam dispnéia, depressão, opistótono, convulsões, coma e morte

em até nove horas (UZAL et al. 2004). Outra alteração constatada é a

glicosúria (UZAL et al. 2004).

Na necropsia em geral os animais estão em bom estado corporal

(COLODEL et al. 2003). Um indicativo da enfermidade pode ser a presença de

leite coagulado no interior do abomaso (NIILO et al.1974). Os rins estão

congestos e de consistência amolecida, com aspecto autolítico, ainda que a

necropsia seja realizada imediatamente após a morte do animal. A esta

condição atribui-se o termo rim polposo (RIET-CORREA 2007c). As lesões

observadas no cólon e ceco consistem em avermelhamento da serosa que, por

vezes, está edematosa e com conteúdo líquido de coloração verde-escuro ou

avermelhado (COLODEL et al. 2003). Os linfonodos mesentéricos podem estar

aumentados de volume e hemorrágicos (NIILO et al. 1974). Pode haver líquido

nas cavidades e hemorragia nas serosas endocárdica e pericárdica (RIET-

CORREA 2007c). Pode haver, ainda, edema e congestão pulmonar, congestão

hepática com vesícula biliar espessa e repleta por conteúdo líquido, com

grumos de fibrina. Observam-se, também, petéquias e equimoses em vários

órgãos (COLODEL et al. 2003).

O exame histológico revela congestão e hemorragia com inflamação

fibrinosa e descamação do epitélio do ceco e cólon. Há grande concentração

de bactérias bacilares basofílicas na luz intestinal (COLODEL et al. 2003). Os

rins apresentam eosinofilia e tumefação do epitélio tubular, cariólise e

cariorrexia nuclear (UZAL et al. 2004). Quando afetado, o cérebro dos ovinos

apresenta edema e acúmulo perivascular de material proteináceo eosinofílico,

principalmente na região do tálamo, cápsula interna, pedúnculos cerebelares e

cerebelo (UZAL et al. 2004).

O diagnóstico clínico da enterotoxemia em geral é realizado com base

nos dados epidemiológicos e sinais clínicos. Coloração de gram do conteúdo

intestinal, buscando grande quantidade de clostrídio, achados de necropsia e

histopatologia podem, também, auxiliar no diagnóstico. No entanto, para

confirmá-lo é necessária a detecção de toxina épsilon em quantidade superior

as demais, do conteúdo intestinal de animais acometidos através das técnicas

de PCR e ELISA (UZAL et al. 2004). Como medida de controle eficiente, a

vacinação dos animais é o mais indicado (RIET-CORREA 2007c).

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3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Estudo retrospectivo e prospectivo

Foi realizado um estudo retrospectivo dos casos de clostridioses

diagnosticados em ruminantes na área de influência do Laboratório Regional

de Diagnóstico da Faculdade de Veterinária da UFPel entre 1978 e 2008.

Foram revisados os protocolos de necropsia resgatando-se os dados

epidemiológicos, sinais clínicos, patologia e bacteriologia, quando estes dados

estavam disponíveis nos mesmos.

A partir do ano 2009 foram acompanhados surtos ou casos esporádicos

de clostridioses diagnosticados, tanto por visitas às propriedades afetadas

como por exame de vísceras ou cadáveres que chegaram ao LRD.

3.2 Patologia

Nos casos de carbúnculo sintomático, edema maligno e hemoglobinúria

bacilar, além da observação das lesões macroscópicas nos músculos, tecido

subcutâneo e fígado, respectivamente, foi realizado estudo histológico dos

órgãos afetados para observação das lesões características. O diagnóstico

histológico de enterotoxemia foi baseado em lesões características no

encéfalo. Em todos os casos de botulismo foi realizado estudo histológico do

encéfalo para constatar ausência de lesões. Os diagnósticos de tétano foram

feitos pela epidemiologia, sinais clínicos e ausência de lesões macroscópicas e

histológicas no sistema nervoso central.

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3.3 Diagnóstico laboratorial

Para a confirmação dos diagnósticos foram remetidos ao laboratório de

bacteriologia do LRD fragmentos de músculo no caso de suspeita de

carbúnculo sintomático e tecido subcutâneo para edema maligno, conteúdo

intestinal e/ou ruminal para botulismo e enterotoxemia, e fragmentos de fígado

para hemoglobinúria bacilar. Esses materiais foram semeados em meio CMM e

incubados a 37º C por 48-72 horas. De acordo com a clostridiose suspeita o

material foi filtrado e inoculado em camundongos por diferentes vias. No caso

de carbúnculo sintomático a cultura acrescida de cloreto de cálcio 3,3% era

inoculada por via intramuscular. No caso de suspeita de botulismo o soro,

macerado de fígado, e conteúdo do rúmen e intestino do animal afetado,

quando possível, foi inoculado por via intraperitoneal em camundongos (QUINN

et al. 1994).

Dos surtos de tétano ocorridos no ano 2009 coletou-se sangue para

obtenção de soro e fragmentos musculares com lesões suspeitas de serem a

porta de entrada do agente. A partir do soro e do exsudato seroso das lesões,

foi realizado estudo comparativo quanto à eficiência no diagnóstico utilizando a

técnica de bioensaio em camundongos. As lesões musculares foram utilizadas

na tentativa de isolamento do C. tetani e impressões dessas lesões foram

corados pelo método de gram. O material foi dividido em duas partes. Uma foi

semeada em Agar sangue ovino a 5% e colocada em jarra com sistema de

anaerobiose (ANAEROBAC - PROBAC DO BRASIL), outra foi semeada em

meio de Robertson. As culturas foram incubadas a 37º C por 48 a 72 horas.

As amostras em meio de Robertson que apresentaram crescimento

bacteriano, com turvação do meio e presença de gás, foram semeadas em

Agar sangue ovino 5%, para a observação das colônias. Uma alíquota do

mesmo meio de Robertson foi utilizada para inoculação em camundongos.

Os cultivos semeados, primeiramente em Agar sangue ovino a 5%, que

apresentaram colônias típicas de Clostridium sp foram submetidos à coloração

de gram e posteriormente foram semeados em meio de Robertson para

produção de toxina e inoculação em camundongo.

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Para a inoculação foram utilizados 48 camundongos divididos em grupos

de quatro, os quais foram inoculados com soro sanguíneo de bovinos afetados.

Dois camundongos de cada grupo foram protegidos com 0,5 ml de soro

antitetânico com título em torno de 100 a 200 UI/ml 2 horas antes da

inoculação (CARTER et al. 1995, SARAIVA et al. 1984). Outros 24

camundongos foram inoculados com 0,2 - 0,5 ml do sobrenadante do meio de

Robertson, sendo que metade era protegida com soro antitetânico nas mesmas

condições descritas anteriormente. Mais 24 camundongos foram inoculados

com o exsudado coletado nas lesões musculares utilizando a mesma

metodologia de proteção em metade dos animais. Os camundongos ficaram

aos pares em caixas com ração, água e cama de serragem.

Nas propriedades, onde ocorreram surtos no ano 2009, foram recolhidos

38 frascos lacrados ou abertos dos medicamentos utilizados até 30 dias antes

dos animais adoecerem. Estes medicamentos foram inoculados em 38 bovinos.

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4. RESULTADOS

4.1 Epidemiologia e sinais clínicos

Mediante a revisão dos protocolos de necropsia do LRD, de 1978 a 2008

e somando-se a estes os casos ocorridos no ano 2009 foi constatado que de

um total de 5.446 materiais de bovinos provenientes de necropsias realizadas

ou órgãos enviados ao laboratório 1.049 (19,26%) tiveram diagnóstico de

doenças bacterianas. Desses casos, 91 (8,67%) ocorreram em consequência

de alguma clostridiose, sendo 30 surtos de carbúnculo sintomático, 15 de

hemoglobinúria bacilar, nove de botulismo, nove de edema maligno e 28 de

tétano. De 860 materiais de ovinos, 49 (5,69%) diagnósticos corresponderam a

doenças bacterianas e desses, 14 (28,57%) foram de surtos de clostridioses.

Dos 14 surtos de clostridioses observados em ovinos, 10 foram de tétano, três

de edema maligno e um de enterotoxemia.

Os dados epidemiológicos relativos aos surtos de cada uma das

enfermidades, bem como os sinais clínicos são apresentados nas Tabelas 1-7.

Na Figura 1 é apresentado um mapa com os municípios nos quais foram

diagnosticados os casos de clostridioses no período estudado.

Em todos os nove surtos ou casos esporádicos de botulismo os bovinos

estavam em campo nativo, em somente um dos surtos os animais eram

suplementados com sal mineral. Os sinais clínicos observados foram paralisia

parcial dos membros pélvicos e paralisia flácida da língua (Figura 2.). A maioria

dos casos (5/9) ocorreu no município de Rio Grande em áreas alagadiças as

quais não são utilizadas para culturas por ficarem submersas boa parte do ano.

Em três dos nove surtos foi relatada a presença de cadáveres de animais no

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pasto, incluindo cascos de tartarugas. Dos nove surtos, sete ocorreram nos

meses de verão (janeiro, fevereiro e março). Os dois restantes ocorreram um

em novembro e o outro em maio (Tabela 1).

Dos 30 surtos ou casos esporádicos de carbúnculo sintomático

diagnosticados, oito ocorreram na primavera, 13 no inverno, seis no outono e

três no verão (Figura 3). A idade dos animais afetados variou de quatro meses

a dois anos, sendo que um surto ocorreu em animais de quatro anos (Tabela

2). Em 17 surtos a maioria dos animais morreu após um curso clínico

hiperagudo ou foi encontrada morta. Em alguns casos os sinais clínicos

apresentados foram claudicação, aumento de volume dos membros (Figura 4)

e crepitação dos músculos afetados que evoluía rapidamente para decúbito e

morte em no máximo 24 horas.

Em oito dos nove surtos de edema maligno diagnosticados em bovinos,

havia histórico de traumatismo coletivo seja pela utilização de vacinas ou

medicamentos em um período que variou de 24 horas a 10 dias antes de

ocorrerem às mortes (Tabela 3). Os sinais clínicos observados foram aumento

de volume e crepitação ao toque das regiões afetadas (Figura 5). Em dois dos

três surtos de edema maligno observados em ovinos havia, também, histórico

de vacinação e tosquia entre 3-5 dias antes das mortes dos animais (Tabela 4).

Hemoglobinúria bacilar ocorreu em todas as épocas do ano (Tabela 5).

Todos os surtos foram observados em municípios de Rio Grande, Santa Vitória

do Palmar e Arroio Grande, formados por terrenos baixos utilizados

principalmente para plantio de arroz. O principal sinal clínico observado foi a

coloração vermelho-escura da urina.

Um surto de enterotoxemia foi diagnosticado em ovinos no município de

Rio Grande. Um total de 23 cordeiros, com aproximadamente 40 dias de idade,

morreram subitamente em um lote de 127 nascidos. Os animais estavam em

bom estado corporal e em regime de campo nativo de boa qualidade.

Tétano em ovinos foi diagnosticado em 10 oportunidades tendo um surto

ocorrido fora da área do LRD (Tabela 6). Em bovinos foram observados 28

surtos (Tabela 7). No ano de 2009, 25 surtos de tétano foram diagnosticados,

entre abril e dezembro. Estes surtos aconteceram em 11 municípios e foram

precedidos de oito a 25 dias por vacinações e/ou everminações. Nos 25 surtos

de tétano diagnosticados no ano 2009, morreram 248 bovinos de um total de

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15.726 sob risco, em 11 municípios da área de influência do LRD. A morbidade

variou de 0,2% a 39,4% e a letalidade de 88,8% a 100%.

Em todos os casos foi mencionada a aplicação de vacinas ou

vermífugos nos animais, pelo menos 25 dias antes da manifestação clínica do

tétano. O período de incubação nos 25 surtos variou de 8 a 25 dias. Em todos

os surtos, os bovinos afetados apresentavam timpanismo leve a moderado,

rigidez muscular, tremores, trismo mandibular, andar com os membros rígidos,

prolapso de terceira pálpebra e orelhas eretas. Com a evolução do quadro os

bovinos permaneciam em decúbito lateral com opistótono, em alguns casos,

com os membros esticados e afastados do solo (Figura 6). Alguns

apresentavam timpanismo (Figura 6D).

4.2 Patologia

Nos casos de botulismo não foram observadas lesões macroscópicas ou

histológicas no sistema nervoso central e demais órgãos das cavidades

torácicas e abdominais, nos animais submetidos à necropsia.

As lesões observadas nos animais afetados por carbúnculo sintomático

caracterizavam-se por miosite hemorrágica em grandes massas musculares,

principalmente nas regiões superiores dos membros (Figura 7) com presença

de gás. As lesões encontradas nos bovinos afetados por edema maligno

caracterizaram-se por edema hemorrágico subcutâneo e entre as fibras

musculares superficiais que apresentam coloração vermelho-enegrecida

(Figura 8).

Nos casos de tétano, macroscopicamente os animais não apresentavam

lesões no sistema nervoso central ou nos demais órgãos. Em 12 necropsias

realizadas havia lesão de necrose muscular em alguns casos com presença de

edema e pus (Figura 9) na tábua do pescoço, onde havia sido realizada

aplicação de medicamentos ou vacinas. Histologicamente não foram

observadas lesões no sistema nervoso central e órgãos das cavidades

torácicas e abdominais.

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Nos casos de hemoglobinúria bacilar as lesões caracterizaram-se por

icterícia generalizada, presença de hemorragias, principalmente nas serosas,

coloração avermelhada das serosas devido embebição pela hemoglobina,

alteração que começa antes mesmo do animal morrer (Figura 10). O fígado era

avermelhado ou amarelado com presença de foco necrótico bem demarcado

(Figura 11A), em alguns casos rodeado por um halo hiperêmico, e a urina em

todos os casos apresentava cor avermelhada (Figura 11B). No surto de

enterotoxemia os ovinos necropsiados apresentavam intestino vazio, estrias

hemorrágicas na aorta e consistência gelatinosa dos rins e do fígado.

Microscopicamente foi observado edema eosinofílico perivascular no sistema

nervoso central.

4.3. Diagnóstico laboratorial

Em oito casos suspeitos de botulismo o diagnóstico foi realizado pelas

evidências epidemiológicas, sinais clínicos e ausência de lesões. Em um caso

o diagnóstico foi confirmado pela soroneutralização realizada em

camundongos. Em sete casos de carbúnculo sintomático foi isolado das lesões

musculares C. chauvoei e nos demais o diagnóstico foi realizado

presuntivamente pelas lesões observadas nas necropsias. Em um caso de

edema maligno em bovinos foi isolado Clostridium sp.. C. haemolyticum foi

isolado das lesões hepáticas em três casos de hemoglobinúria bacilar, nos

demais o diagnóstico foi realizado pelas lesões características observadas nas

necropsias.

No diagnóstico laboratorial do tétano, dos 24 camundongos não

protegidos, inoculados com soro de animais doentes, provenientes de 12

surtos, seis manifestaram os sinais clínicos e cinco morreram. Dos 12

camundongos inoculados com líquido seroso, associado a regiões de necrose

muscular, dois morreram. Dos 12 camundongos inoculados com o

sobrenadante das três amostras do meio de Robertson que produziram gás e

turvação do meio, dois morreram. Os sinais clínicos iniciaram de 12 a 72 horas

após a inoculação nos camundongos. Foi observada rigidez muscular (Figura

9), xifose, hiperexcitabilidade e morte. Não foi possível isolar o C. tetani em

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nenhuma amostra semeada em Agar sangue. Das colorações realizadas, a

partir do exsudato seroso, foi possível identificar em duas oportunidades C.

tetani. Nenhum dos bovinos inoculados com os medicamentos e/ou vacinas

recolhidos nas propriedades em que ocorreram surtos de tétano apresentou

sinais clínicos da doença.

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5. DISCUSSÃO

De acordo com os resultados obtidos observou-se que as doenças

bacterianas representaram 19,26% dos diagnósticos realizados no LRD em um

período de 31 anos e 8,57% dessas doenças foram causadas por bactérias do

gênero Clostridium, representando 1,65% do total de diagnósticos realizados

no LRD entre 1978-2009. Dados de prevalência das clostridioses no Brasil,

com exceção de botulismo são escassos. Em um levantamento de prevalência

das clostridioses na região de Botucatu, São Paulo, por um período de 10 anos

carbúnculo sintomático, tétano, gangrena gasosa e enterotoxemia foram as

mais frequentemente observadas (CORREA et al. 1980). Esses autores

consideraram gangrena gasosa e edema maligno como doenças diferentes.

Por outro lado, de todas as clostridioses diagnosticadas no Setor de Patologia

Veterinária (SPV) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) no

período entre 1996-2010 as mais importantes foram tétano, botulismo e

enterotoxemia (RAYMUNDO 2010).

Em todas as enfermidades causadas por bactérias do gênero

Clostridium observou-se taxa de letalidade em torno de 100%, o que demonstra

sua importância como causa de morte em ruminantes quando ocorre um surto.

Entretanto, ficou evidenciado que algumas clostridioses são pouco importantes

na região de influência do LRD pelo pequeno número de surtos observados.

Enterotoxemia não foi diagnosticada em bovinos na região. Em ovinos a

enterotoxemia é frequente em animais bem alimentados, em geral criados em

pastagens ou que recebem suplementação com rações comerciais com alto

teor de proteína, fato que não é prática comum na região sul do Estado, na

qual os ovinos são criados em campo nativo. Na região Central do Estado são

descritos cinco surtos de enterotoxemia em caprinos, porém em todos os casos

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os animais eram confinados ou semiconfinados e recebiam ração com 20% ou

mais de proteína (COLODEL et al. 2003).

A despeito dessas observações, muitos são os materiais que chegam ao

laboratório com essa suspeita. Aparentemente, isso se deve a crença de que

animais que morrem subitamente estão afetados por clostridiose, termo

utilizado com frequência por veterinários e produtores sem estabelecer uma

suspeita que esteja de acordo com a epidemiologia, sinais clínicos ou lesões

observadas em cada uma dessas enfermidades. Dentre as clostridioses,

apenas carbúnculo sintomático e edema maligno tem lesões similares e podem

ser causadas por agentes idênticos, embora possam ser diferenciadas

epidemiologicamente.

Carbúnculo sintomático é a clostridiose mais importante que ocorre em

bovinos na região de influência do LRD, correspondendo a um terço dos casos

de clostridioses observados. A distribuição sazonal dos casos de carbúnculo

sintomático diagnosticados na área de influência LRD revela que a doença foi

mais frequente no inverno seguido da primavera. É conhecido que carbúnculo

sintomático afeta principalmente animais em bom estado nutricional e a maior

ocorrência dos surtos nos meses de inverno parece contradizer esta

observação, já que no Rio Grande do Sul nesta época do ano, de modo geral,

há escassez de forragem. Por outro lado, nos protocolos de necropsia

resgatados, uma observação frequente era o bom estado corporal dos animais

afetados. Em alguns casos os bovinos eram mantidos em pastagens cultivadas

de inverno como azevém (Lolium multiflorum) e aveia (Avena sativa), ou eram

suplementados com rações concentradas o que poderia explicar a ocorrência

da doença mais frequentemente nesta época do ano.

Com relação ao tétano em bovinos, chama a atenção que 25 surtos

ocorreram no ano 2009. No ano 2001 ocorreram, também, diversos surtos de

tétano em bovinos e ovinos no Rio Grande do Sul, incluindo o surto em Rosário

do Sul (Tabela 7) e foi demonstrado que estes surtos ocorreram em

consequência da contaminação de um anti-helmíntico utilizado em várias

propriedades do Estado naquele ano (DRIEMEIER et al, 2007). Apesar de que

o tétano aparentemente não é uma clostridiose importante em bovinos na área

de influência do LRD, já que entre 1978-2008 foram observados três surtos,

mortalidades altas podem ocorrer em determinadas circunstâncias causando

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prejuízos econômicos importantes como os que ocorreram no ano 2001 e no

ano 2009. A vacinação dos animais parece não ser eficiente para proteção dos

mesmos já que alguns surtos ocorreram em animais vacinados com vacinas

polivalentes que incluíam o C. tetani.

Chama a atenção que a maioria dos surtos de botulismo ocorreu em

uma região de campos planos e alagadiços, com pastagens nativas, que por

permanecerem boa parte do ano submersos não são utilizados para culturas,

não havendo adubação e/ou correção do solo. O surto observado no município

de São Lourenço do Sul ocorreu em uma propriedade às margens da Lagoa

dos Patos onde havia cascos de tartarugas mortas, dos quais foi isolado C.

botulinum. A carência de fósforo que ocorre nos campos nativos do sul do Rio

Grande do Sul (TOKARNIA et al. 2000) associada à presença de cadáveres

nos campos aparentemente favoreceu a ocorrência da doença. A utilização de

vacinas contendo toxóide botulínico diminuiu consideravelmente a ocorrência

de surtos da doença na região, especialmente no município de Rio Grande

onde era mais significativa.

Hemoglobinúria bacilar foi observada em três municípios da zona sul,

todos eles com solos baixos e planos, frequentemente utilizados para o plantio

de arroz. Estas regiões são caracterizadas pela presença de caramujos do

gênero Lymnea que são hospedeiros intermediários da Fasciola hepatica,

parasita importante na espécie ovina (SCHILD 2007). Em bovinos, apesar da

pouca importância, este parasito pode causar lesões que determinam um

ambiente de anaerobiose favorável à multiplicação de C. haemolyticum. Surtos

de hemoglobinúria bacilar também foram relatados em Santa Catarina, na

região do litoral onde a fasciolose também ocorre (GAVA 1998).

Em cinco surtos de carbúnculo sintomático os bovinos estavam

vacinados contra a doença há pelo menos um mês, tempo suficiente para o

estabelecimento da proteção adequada, o que sugere que as vacinas não

seriam totalmente eficientes. As vacinas polivalentes produzidas no Brasil

contêm de cinco a 11 antígenos, sendo que apenas C. chauvoei e o toxóide

botulínico são testados oficialmente quanto à esterilidade, inocuidade e

potência pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA),

ficando os demais antígenos a critério dos laboratórios produtores das vacinas

(LOBATO et al. 2004). Em um trabalho de teste de vacinas comercializadas no

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Brasil, apenas três de 12 testadas foram eficientes quando desafiadas com C.

sordellii (LOBATO et al. 2004). Em um estudo de eficiência de vacinas, duas de

seis induziram resposta satisfatória de antitoxinas beta e épsilon de C.

perfringens em coelhos e bovinos (LOBATO et al. 2000). Isso poderia explicar

a ocorrência de carbúnculo sintomático em rebanhos vacinados, o qual

eventualmente pode ser causado por outras espécies de Clostridium como C.

novyi, C. septicum e C. sordellii. Entretanto, têm sido postulado que uma vacina

é eficaz quando protege sete de oito animais vacinados (87,5%) em um desafio

ou 12 de 16 animais vacinados (75%) em dois desafios, caso apenas seis

sobrevivam ao primeiro desafio (EUA 1991). No presente estudo observou-se

que apesar de que ocorreram alguns surtos em rebanhos vacinados o número

de mortes nestes casos foi sempre menor do que o esperado pelos testes de

eficiência de vacinas (EUA 1991). Em apenas um surto houve mortalidade de

33% porém não foi informado há quanto tempo os bovinos haviam sido

vacinados. Deve considerar-se, também, que em animais primovacinados

muitas vezes não é realizada a dose de reforço 20-30 dias após. Outra

possibilidade é o fato de que as cepas utilizadas tanto para a produção da

vacina como para os testes de eficiência podem ser diferentes das cepas de

campo causadoras dos surtos.

Com base no que foi observado em um período de 31 anos pode se

concluir que a clostridiose mais importante em bovinos na zona sul do RS é

carbúnculo sintomático. Por outro lado, enterotoxemia é uma doença rara a

despeito de frequentemente ser a primeira suspeita quando bovinos ou ovinos

morrem subitamente em propriedades da região. Ficou evidenciado que dentre

todas as doenças bacterianas as clostridioses devem ser consideradas como

causa importante de prejuízos econômicos na bovinocultura da região. Por

outro lado, em ovinos criados na zona sul do Rio Grande do Sul a única

clostridiose a ser considerada é o tétano que é mais frequente como causa de

mortes esporádicas quando são realizadas práticas de manejo como descola e

castração em condições higiênicas não adequadas.

A vacinação dos animais pode ser um meio eficiente de proteger os

rebanhos, entretanto, para as doenças causadas por Clostridium, vale o

mesmo princípio adotado para outras doenças no que se refere à vacinação.

Primeiramente é preciso ter certeza de que a doença ocorre, ou tem

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possibilidades reais de ocorrer na propriedade, posteriormente, se ela ocorre,

os prejuízos que causa devem ser maiores que o custo da vacina (RIET-

CORREA 2002).

No caso das clostridioses que ocorrem na região sul do Rio Grande do

Sul é evidente que para carbúnculo sintomático os bovinos devem ser

vacinados sistematicamente a partir dos 5-6 meses de idade até no mínimo os

18 meses. A doença ocorre em todos os municípios da área de influência do

LRD e é a mais importante das clostridioses diagnosticadas na região.

Enterotoxemia não foi observada em bovinos no período estudado o que

sugere que esta enfermidade não é importante nesta espécie animal na região.

Por outro lado, em ovinos criados em campos nativos também não tem sido

observados surtos da doença. Ovinos criados para a venda como reprodutores

que recebem suplementação alimentar com rações ricas em proteína ou que

são criados em pastagens cultivadas ou campos nativos melhorados devem

ser vacinados contra esta clostridiose o que parece já ser uma prática de rotina

nestes estabelecimentos.

Bovinos criados em campos baixos e alagadiços como na região dos

municípios de Rio Grande e São Lourenço do Sul devem ser vacinados para

botulismo e suplementados com fósforo. Na região de Santa Vitória do Palmar

onde os animais são criados em restevas de arroz e campos baixos onde a

incidência de F. hepática é alta devem ser vacinados também para

hemoglobinúria bacilar.

Com relação a edema maligno e tétano, aparentemente são doenças

ligadas ao manejo e às condições higiênico-sanitárias dos rebanhos. Práticas

simples como a boa desinfecção de feridas de castração e descole em ovinos e

o uso de agulhas e seringas bem lavadas e desinfetadas no tratamento e

vacinação de bovinos podem evitar a ocorrência de surtos em bovinos e

ovinos.

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Figura 1. Mapa com os municípios nos quais foram diagnosticados os casos de

clostridioses no período entre 1978 e 2009. Pelotas (1), Capão do Leão (2), Pedro Osório (3), Arroio Grande (4), Rio Grande (5), Santa Vitória do Palmar (6), Jaguarão (7), Herval (8), Canguçú (9), São Lourenço do Sul (10), Camaquã (11), Piratini (12), Candiota (13), Rosário do Sul (14).

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Figura 2. Botulismo. Sinais clínicos. A. Animal com paralisia parcial

dos membros pélvicos. B. Animal com paralisia flácida da língua.

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40

Figura 3. Distribuição sazonal dos casos de carbúnculo sintomático diagnosticados na área de influência do LRD.

Figura 4. Carbúnculo sintomático. Bovino com aumento de volume na região escapular esquerda.

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41

Figura 5. Edema maligno. Bovino com aumento de volume no

membro posterior direito.

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42

Figura 6. Tétano. Bovinos afetados nos diversos surtos diagnosticados em decúbito lateral com os membros esticados, afastados do solo e opistótono (A, B, C e D). Observa-se timpanismo acentuado (D).

Figura 7. Carbúnculo sintomático. Há necrose hemorrágica acentuada da musculatura do membro anterior esquerdo.

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43

Figura 8. Edema maligno. Observa-se edema hemorrágico subcutâneo afetando também a superfície muscular.

Figura 9. Tétano. Bovino com lesão necrossupurativa e edema nos

músculos da tábua do pescoço.

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44

Figura 10. Hemoglobinúria bacilar. Há icterícia da carcaça, os intestinos estão avermelhados, embebidos por hemoglobina e há petéquias e sufusões nas serosas.

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45

Figura 11. Hemoglobinúria bacilar. A. Fígado de coloração alaranjada com foco necrótico característico. B. Urina avermelhada característica da enfermidade.

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46

Figura 12. Tétano. Camundongo inoculadado com soro de bovino com

tétano. Há paralisia espástica do membro inoculado e da cauda.

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47

Tabela1. Relação entre os cinco tipos de Clostridium perfringens (A-E) e as quatro principais exotoxinas (alfa, beta, épsilon e iota).

++ = quantidade significativa de toxina, + = pequena quantidade, - = não-detectada

Toxina

C. perfringens Alfa Beta Épsilon Iota

Tipo A ++ _ _ _

Tipo B + ++ + _

Tipo C + ++ _ _

Tipo D + - ++ _

Tipo E + - _ ++

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48

Tabela 2. Aspectos epidemiológicos e clínicos dos surtos de botulismo diagnosticados em bovinos no sul do Rio Grande do Sul entre 1978-2009.

Surto

Município Mês/Ano Idade Animais sob risco

Morbidade (%)

Mortalidade (%)

Sinais clínicos/ evolução Observações

1 Rio Grande 02/1986 adulta 990 20 (2,02) 20 (2,02) Paralisia flácida, decúbito, evolução em 24-48 horas.

Ni

2 Rio Grande 03/1989 adulta 270 11 (4,07) 11 (4,07) Incoordenação do trem posterior e anterior, decúbito

permanente

Havia carcaças no campo, animais suplementados com

sal mineral. 3 Rio Grande 02/1992 4 anos Ni 1 1 Paralisia dos membros

posteriores e anteriores, decúbito permanente.

Ni

4 Pelotas 11/1992 1,5-3 anos 130 4 (3,07) 4 (3,07) Paralisia dos membros posteriores e anteriores, decúbito permanente.

Havia carcaças no campo, cascos de tartarugas.

5 Rio Grande 01/1996 6 anos 600 3 (0,5) 1 (0,16) Ni Ni 6 Rio Grande 02/1996 2,5 anos 260 7 (2,69) 7 (2,69) Paralisia dos membros

posteriores, anteriores, decúbito permanente.

Ni

7 São Lourenço 05/1997 4 anos 350 6 (1,71) 6 (1,71) Evolução em 24 horas Havia grande quantidade de cascos tartarugas no campo

8 São Lourenço 03/2001 2,5-3 anos 70 3 (4,28) 3 (4,28) Paralisia dos membros anteriores e decúbito

permanente.

Ni

9 Canguçu 01/2002 3 meses 65 9 (13,84) 7 (10,76) Animais encontrados em decúbito

Ni

Total 2.735 64 (2,34) 60 (2,19)

Ni= não informado na ficha

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49

Tabela 3. Aspectos epidemiológicos e clínicos dos surtos de carbúnculo sintomático diagnosticados em bovinos no sul do Rio Grande do

Sul entre 1978-2009.

Surto

Município Mês/Ano Idade Animais sob risco

Morbidade (%)

Mortalidade (%)

Sinais clínicos/ evolução

Observações

1 Pedro Osório 12/1980 1-1,5 anos 60 15 (25) 5 (8,33) Claudicação Vacinados5 dias antes contra Cs

2 Capão do Leão 09/1981 1 ano Ni 2 2 Encontrado morto Ni 3 Capão do Leão 05/1984 6 meses 36 1 1 Encontrado morto Vacinados 1 mês

antes contra Cs 4 Arroio Grande 07/1984 6-7 meses 300 5 (1,6) 5 (1,6) Encontrado morto Vacinados 3 meses

antes contra Cs 5 Pelotas 08/1984 8-12 meses 120 7 (5,83) 7 (5,83) Encontrado morto Vacinados 15 dias

antes contra Cs. 6 Canguçu 09/1984 1 ano 140 7 (5) 7 (5) Encontrado morto Vacinados 4 meses

antes contra Cs 7 Herval 01/1986 5 meses 4 2 (50) 2 (50) Aumento de

temperatura, dificuldade respiratória

Vacinados 2 meses antes contra Cs

8 Pelotas 03/1986 1 ano 12 6 (50) 6 (50) Claudicação e decúbito permanente

Ni

9 Sta Vitória do Palmar

07/1986 1 ano Ni 5 5 Decúbito, edema dos membros

Vacinados 3 meses antes contra Cs e

Em 10 Pelotas 06/1987 6 meses 2 1 (50) 1 (50) Decúbito e morte em 12

horas Ni

11 Capão do Leão 10/1987 7 meses 50 2 (4) 2 (4) Claudicação Não vacinados 12 Jaguarão 08/1988 1 ano 40 3 (7,%) 3 (7,5) Encontrado morto Ni 13 São Lourenço do

Sul 10/1989 6 meses Ni 1 1 Ni Ni

14 Herval 12/1989 Ni Ni 1 1 Encontrado morto Ni 15 Pelotas 10/1990 Ni Ni 1 1 Ni Confinamento 16 Pelotas 10/1991 2 anos 300 7 (2,33) 7 (2,33) Encontrado morto Ni 17 Piratini 07/1992 8-10 meses 51 20 (39,21) 5 (9,80) Apatia, tremores,

Encontrado morto Ni

18 Capão do Leão 04/1994 5 meses 145 1 (0,68) 1 (0,68) Encontrado morto Ni

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50

Surto

Município Mês/Ano Idade Animais sob risco

Morbidade (%)

Mortalidade (%)

Sinais clínicos/ evolução

Observações

19

Sta.Vitória do

Palmar

07/1994

4 anos

3000

2 ( 0,06)

2 (0,06)

Encontrado morto

Ni

20 Camaquã 11/1994 1-2 anos 170 18 (10,58) 18 (10,58) Claudicação, morte em 24 horas

Vacinados 2 meses antes contra Cs

21 Capão do Leão 08/1995 1-1,5 anos 550 12 (2,18) 8 (1,45) Claudicação Vacinados 2 dias antes contra Cs

22 Jaguarão 10/1996 11 meses 6 1 (16,6) 1 (16,6) Encontrado morto Vacinados em diferentes épocas

contra Cs 23 São Lourenço 11/1996 4 meses 20 4 (20) 4 (20) Encontrado morto Ni 24 Pedro Osório 04/1998 4 meses Ni 1 1 Encontrado morto Ni 25 Herval 08/2000 1,5 anos 130 8 (6,15) 8 (6,15) Manqueira Não vacinados 26 Canguçu 08/2002 1-2 anos 761 6 (0,78) 6 (0,78) Encontrado morto Não vacinados 27 Capão do Leão 02/2003 4 meses 4 1 (25) 1 (25) Apatia decúbito Ni 28 São Lourenço 05/2003 5-6 meses 30 13 (43,33) 12 (40) Ni Ni 29 Pelotas 07/2006 10 meses 6 2 (33,33) 2 (33,33) Encontrado morto Não vacinados 30 Herval 08/2008 10 meses 300 10 (3,33%) 4 (1,33%) Claudicação, aumento

de volume no membro afetado e morte

Vacinados contra Cs

Total 6.237 151 (2,42) 129 (2,06)

Cs= carbúnculo sintomático, Ni= não informado na ficha, Em= edema maligno

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51

Tabela 4. Aspectos epidemiológicos e clínicos dos surtos de edema maligno diagnosticados em bovinos no sul do Rio Grande do Sul entre

1978-2009.

Surto

Município Mês/Ano Idade Animais sob risco

Morbidade (%)

Mortalidade (%)

Sinais clínicos/ evolução

Observações

1 Canguçu 10/1978 1 ano 54 54 (100) 54 (100) Encontrado morto

Vacinados 2 dias antes contra Cs

2 Capão do Leão 11/1978 1 mês Ni 1 1 Encontrado morto

Medicado com soro fisiológico 1

dia antes 3 Pedro Osório Ni Vacas 150 30 (20) 30 (20) Encontrado

morto Vacinadas 24 horas antes contra Em

4 Arroio Grande 02/1985 1-1,5 anos 156 8 (5,12) 6 (3,84) Encontrado morto

Vacinados 5 dias antes contra Cs

5 Capão do Leão 05/1985 1 ano 8 1 (12,5) 1 (12,5) Encontrado morto

Ni

6 Pedro Osório 02/1993 5-6 meses 144 42 (29,16) 21 (14,58) Encontrado morto, evolução de 12-24 horas.

Vacinados 10 dias antes contra Cs

7 Capão do Leão 08/1996 1,5 anos 6 1 (16,6) 1 (16,6) Encontrado morto

Animais experimentais

inoculados com Babesia sp. 24

horas antes 8 Pedro Osório 11/1998 3 anos 20 14 (70) 13 (65) Encontrado

morto Vacinados 24

horas antes Cs, Em, Hb

9 Capão do Leão 01/2008 5 meses 11 5 (45,45) 3 (27,27) Encontrado morto, evolução de 12h, edema no pescoço e

torax

Vacinados contra Fa 24 horas antes

Total 549 156 (28,41) 130 (23,67)

Cs= carbúnculo sintomático, Ni= não informado na ficha, Em= edema maligno, Hb= hemoglobinúria bacilar, Fa= febre aftosa

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Tabela 5. Aspectos epidemiológicos e clínicos dos surtos de edema maligno em ovinos no sul do Rio Grande do Sul entre 1978-2009.

Surto

Município Mês/Ano Categoria afetada

Animais sob risco

Afetados Mortos Sinais clínicos/ evolução

Observações

1 Capão do Leão 11/1981 Adulto Ni 1 1 Encontrado morto ou curso

hiperagudo

Tosquiados 3 dias antes

2 Piratini 05/1991 Adulto Ni 6 6 Encontrado morto ou curso

hiperagudo

Vacinados 3-5 dias antes*

3 Capão do Leão 12/1999 Ni Ni 1 1 Encontrado morto ou curso

hiperagudo

Ni

Ni= não informado na ficha * Não informado na ficha que vacina os animais receberam

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Tabela 6. Aspectos epidemiológicos e clínicos dos surtos de hemoglobinúria bacilar diagnosticados em bovinos no sul do Rio Grande do Sul

entre 1978-2009.

Surto

Município Mês/Ano Idade Animais sob risco

Morbidade (%)

Mortalidade (%)

Sinais clínicos/ evolução

Observações

1 Rio Grande 10/1979 1,5-2,5 anos 800 2 (0,25) 2 (0,25) Encontrado morto Ni 2 Rio Grande 12/1985 3-4 anos 150 26 (17,33) 26 (17,33) Tremores musculares,

depressão, dificuldade de locomoção e urina escura. Evolução de

12-24 horas

Ni

3 Rio Grande 05/1986 1,5-2,5 anos 500 6 (1,2) 6 (1,2) Encontrado morto Ni 4 Santa Vitória do Palmar 12/1987 4 anos 700 20 (2,85) 20 (2,85) Encontrado morto Ni 5 Arroio Grande 07/1990 1,5-2,5 anos 1000 10 (1) 10 (1) Encontrado morto Ni 6 Arroio Grande 01/1992 4 anos 600 30 (5) 30 (5) Tremores musculares,

depressão, dificuldade de locomoção e urina escura. Evolução de

12-24 horas

Animais vacinados contra Hb

7 Santa Vitória do Palmar 01/1992 3-4 anos 700 60 (8,57) 58 (8,28) Encontrado morto, urina escura, evolução em 12

horas

Animais vacinados contra Hb no

momento do surto 8 Santa Vitória do Palmar 04/1992 4 anos 1200 40 (3,33) 40 (3,33) Encontrado morto Ni 9

Santa Vitória do Palmar

05/2007 10 anos 350 20 (5,71)

20 (5,71)

Cambaleio Animais vacinados contra Hb e Cs

10 Santa Vitória do Palmar

08/2008

Adulto 550 3 (0,54)

3 (0,54)

Encontrado morto Animais vacinados contra Hb e Cs

11 Rio Grande 08/2008 1,2-2 anos 31 3 (9,7)

3 (9,7)

Tremores musculares. Vacinados contra clostridioses 2 meses antes de morrerem.

12 Santa Vitória do Palmar

06/2009 2,5 Anos 500 11 (2,2)

11 (2,2)

Encontrado morto Ni

13 Rio Grande 06/2009 Adulto 32 1 (3,1)

1 (3,1)

Dor abdominal, gemidos, e anorexia.

Evolução de 24 horas.

Ni

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Surto

Município Mês/Ano Idade Animais sob risco

Morbidade (%)

Mortalidade (%)

Sinais clínicos/ evolução

Observações

14 Rio Grande

07/2009 2 anos 31 1 (3,2)

1 (3,2)

Urina escura, evolução de 36 horas

Ni

15

Rio Grande

10/2009

Adulto

400

4 (1,0)

4 (1,0)

Depressão, mucosa congesta, anorexia, fezes e urina com

sangue. Evolução em 24 - 48 horas

Ni

Total 7544 237 (3,14) 235 (3,11)

Ni = não informado na ficha, Hb=hemoglobinúria bacilar, Cs= carbúnculo sintomático

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Tabela 7. Aspectos epidemiológicos e clínicos dos surtos de tétano diagnosticados em ovinos no sul do Rio Grande do Sul entre 1978-2009.

Surto

Município Mês/Ano Idade Animais sob risco

Morbidade %

Mortalidade %

Sinais clínicos/ evolução

Observações

1 Capão do Leão 10/ 1982 4 anos Ni 4 4 Tetania, dispnéia e salivação.

Assinalação há 15 dias

2 Pelotas 11/1982 3 meses Ni 1 1 Tetania dos membros e pescoço, movimentos de

pedalagem.

Ferida na cauda

3 Rosário do Sul1

01/1985 2-3 anos 80 5 (6,25) 4 (5) Incoordenação, ataxia e tetania

Tosquiados há 13 dias

4 Rio Grande 12/1990 5 anos Ni 1 1 Ni 5 Rio Grande 09/1991 4 meses 120 2 (1,66) 2 (1,66) Tetania muscular,

prolapso de terceira pálpebra.

Animais castrados

6 Pelotas 07/1996 7-15 dias 30 6 (20) 5 (16,66) Tetania 7 São Lourenço do

Sul 11/1996 7-15 dias Ni 15 15 Ni Castração e descola

8 Pedras Altas2

06/2001 2-4 anos 2.830 50 (1,76) 50 (1,76) Tetania, opistótono Everminados 8- 15 antes

9 Capão do Leão 08/2001 6 meses 38 1(2,63) 1(2,63) Rigidez dos membros, quedas, tetania e

opistótono.

Abscesso na bolsa escrotal.

10 Capão do Leão 10/2002 3 meses 7 1 (14,28) 1 (14,28) Tetania, opistótono, hiperexcitabilidde

Ni

Total 3.067 86 (2,80)

84 (2,73)

1Surto diagnosticado fora da área de influência do LRD;

2 Surto descrito por Driemeier et al. 2007

Ni= não informado na ficha

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Tabela 8. Aspectos epidemiológicos e clínicos dos surtos de tétano diagnosticados em bovinos no sul do Rio Grande do Sul entre 1978-2009.

Surto

Município Mês/Ano Idade Animais sob risco

Morbidade (%)

Mortalidade (%)

Sinais clínicos/ evolução Observações

1 São Lourenço do Sul 05/1982 1,5 anos 193 19 (9,84) 19 (9,84) Andar rígido e tetania Animais em resteva de arroz

2 Capão do Leão 06/1992 adulto 38 1 (2,63) 1 (2,63) Incoordenação e tetania Pariu há 20 dias. Extração forçada

da placenta. 3 Rosário do Sul

1

06/2001

1 ano 150

10 (6,66)

10 (6,66)

Tetania, membros rígidos,

prolapso de terceira pálpebra. Evolução de 24-48 horas.

Andar rígido, prolapso de terceira pálpebra e tetania

Everminados 8 – 15 antes

4 São Lourenço do Sul

04/2009 1,5 anos 3000

19 (0,63)

17 (0,57)

Febre, ptialismos, enrijecimento muscular com opistótono, prolapso de 3ª pálpebra.

Evolução de 24 horas

Vacinados contra CH há 20 dias

5 Turuçu

04/2009

1,5 anos 1400

10 (0,71)

10 (0,71)

Andar rígido e tetania. Vacinados contra CH

2 e

everminados há 10 dias

6 Cristal

05/2009

8 meses 352

17 (4,82)

17 (4,82)

Andar em círculos, decúbito, prolapso de 3ª pálpebra, orelhas eretas desvio lateral da cabeça e cauda embandeirada. Evolução

de 12 horas.

Vacinados contra clostridioses e everminados

7 Morro Redondo

05/2009

1,5 anos 50

7 (14,0) 7 (14,0) Tremor muscular, tetania, timpanismo, opistótono e prolapso de 3

a pálpebra.

Vacinados contra clostridises e everminados

8 Pelotas

05/2009

Adulto 380

22 (5,78)

22 (5,78)

Rigidez na marcha, rigidez do pescoço, cauda embandeirada, timpanismo, dispnéia e disfagia.

Vacinados CH e everminados há

12 dias

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57

Surto

Município Mês/Ano Idade Animais sob risco

Morbidade (%)

Mortalidade (%)

Sinais clínicos/ evolução Observações

9 Cristal

05/2009

Variada 350

17 (4,85)

17 (4,85)

Olhos arregalados, musculatura contraída com extensão dos

membros. Evolução de poucas horas.

Vacinados contra CH e clostridises e everminados.

10

Dom Pedrito

05/2009

Adulto

720

9 (1,25)

9 (1,25)

Incoordenação, opistótono, prolapso de 3

a pálpebra, posição

de cavalete e andar rígido.

Vacinados contra CH e clostridises, everminados há

16 dias. 11

Capão do Leão

05/2009

248

27 (10,88)

24 (9,67)

Rigidez na marcha, rigidez do pescoço, cauda embandeirada, timpanismo, dispnéia e disfagia

Vacinados CH e everminados há

12 dias 12

São Lourenço do Sul

06/2009

Variada 225

16 (7,11)

16 (7,11)

Rigidez na marcha, cauda embandeirada, quedas, prolapso

de 3a pálpabra.

Vacinados clostridioses e

CH e everminados há

9 dias. 13 Cristal

06/2009

Adultos 561

14 (2,49)

14 (2,49)

Andar rígido e tetania

Vacinados

clostridioses e CH e

evermifugados há 9 dias

14

Rio Grande

06/2009

4meses a 3 anos

1000

7 (0,7)

7 (0,7)

Andar rígido e tetania

Vacinados contra clostridioses há

25 dias 15

Santa Vitória

06/2009

2 anos 800

6 (0,75)

6 (0,75)

Membros rígidos, cola afastada do corpo, ptialismo, decúbito e

opistótono.

Vacinados contra CH e

clostridioses há 20 dias.

16 São Lourenço do Sul

07/2009

2,5 a 3 anos

1000

2 (0,2)

2 (0,2)

Enrijecimento muscular, posição de cavalete, orelhas eretas, decúbito com os membros

afastados do solo e opistótono.

Vacinados contra leptospirose.

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Surto

Município Mês/Ano Idade Animais sob risco

Morbidade (%)

Mortalidade (%)

Sinais clínicos/ evolução Observações

17 Dom Pedrito

07/2009

1,5 anos 84

7 (8,3)

7 (8,3)

Trismo, salivação, prolapso de 3a

pálpebra e opistótono. Evolução 24- 48 horas.

Vacinados contra CH e clostridoses

há 10 dias.

18

Canguçu 07/2009

2 anos 38

15 (39,47)

15 (39,47)

Andar rígido, decúbito, opistótono e membros distantes do solo.

Evolução em 48 horas.

Everminados 25 dias antes.

19 Dom Pedrito 07/2009

1,5 anos 150 7 (4,66) 7 (4,66) Andar rígido, orelhas eretas, decúbito lateral com membros afastados do solo e esticados,

salivação intensa e olhos arregalados.evolução de 3 a

dias.

Vacinados CH, febre aftosa e

everminados há 20 dias

20

Canguçu 07/2009

2 anos 80

7 (8,75)

7 (8,75)

Andar rígido, tremores musculares, salivação excessiva, prolapso de 3

a pálpebra e cola

embandeirada.

Vacinados CH e everminados 25

dias antes.

21

Uruguaiana

08/2009

1,5 anos 700

8 (1,14)

8 (1,14)

Andar rígido e tetania Vacinados CH, everminados há

10 dias. 22 São Lourenço do Sul

09/2009

1,5 anos 300 3 (1,0)

3 (1,0)

Andar rígido, orelhas eretas,

olhos arregalados, timpanismo e tremores musculares. Evolução

de 48 horas

Vacinados contra CH

23

Cristal 10/2009

1 ano 2500

5 (0,2) 5 (0,2) Vacinados contra CH há 25 dias e everminados há

16 dias 24

São Lourenço do Sul

10/2009 1,5 anos 251

5 (1,99)

5 (1,99)

Andar rígido, cola embandeirada e opistótono

Vacinados contra clostridioses e CH há 20 dias.

25 Dom Pedrito 11/2009 2 - 3 anos

600 04 (0,66) 04 (0,66) Membros enrijecidos e opistótono Vacinados contra CH

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Surto

Município Mês/Ano Idade Animais sob risco

Morbidade (%)

Mortalidade (%)

Sinais clínicos/ evolução Observações

26 Canguçu

11/2009 8 meses 65 3 (4,61)

3 (4,61)

Andar rígido, decúbito e opistótono.

Vacinados contra CH e

clostridioses há 7 dias

27 Canguçu

12/2009 Adultos 440 12 (2,72)

12 (2,72)

Vacinados contra CH e

clostridioses há 12 dias

28 Canguçu

12/2009 3 meses 51 4 (7,84)

4 (7,84)

Rigidez dos membros, exoftalmia e opistótono.

Vacinados contra CH e

clostridioses e everminado há

18 dias Total 15.726 253 (1,64) 248 (1,57)

1 Surto observado fora da área de influência do LRD, descrito por Driemeier et al. 2007; CH= carbúnculo hemático

Ni= não informado na ficha

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8. CONCLUSÕES

1. Na área de influência do Laboratório Regional de Diagnóstico (LRD) as

clostridioses mais frequentes e que causam maiores prejuízos

econômicos são carbúnculo sintomático, hemoglobinúria bacilar e

edema maligno.

2. Na área de influência do LRD carbúnculo sintomático ocorre com mais

frequência no inverno.

3. Os surtos de tétano em bovinos no ano 2009 têm características

epidemiológicas semelhantes aos observados no ano 2001.

4. Tétano é a clostridiose mais importante em ovinos.

5. Botulismo e enterotoxemia não são clostridioses importantes na área de

influência do LRD.

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